fabiana vanessa silva gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/fabiana vanessa... ·...

33
outubro de 2015 Fabiana Vanessa Silva Gomes Prevalência de Comportamentos Alimentares Disfuncionais em Mulheres Idosas Universidade do Minho Escola de Psicologia

Upload: lyque

Post on 17-Nov-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

outubro de 2015

Fabiana Vanessa Silva Gomes

Prevalência de Comportamentos Alimentares Disfuncionais em Mulheres Idosas

Universidade do MinhoEscola de Psicologia

Page 2: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas
Page 3: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

Dissertação de Mestrado Mestrado em Psicologia Aplicada Área de Especialização em Psicologia Clínica e da Saúde

Trabalho realizado sob orientação da

Doutora Eva Conceição

e do

Doutor Paulo Machado

outubro de 2015

Fabiana Vanessa Silva Gomes

Prevalência de Comportamentos Alimentares Disfuncionais em Mulheres Idosas

Universidade do MinhoEscola de Psicologia

Page 4: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas
Page 5: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

ii

Índice

Índice .......................................................................................................................................... ii

Agradecimentos ......................................................................................................................... iii

Resumo ...................................................................................................................................... iv

Introdução ................................................................................................................................... 1

Objetivos .................................................................................................................................... 6

Materiais e Método ..................................................................................................................... 7

Desenho do estudo e Participantes ......................................................................................... 7

Procedimento .......................................................................................................................... 7

Instrumentos ........................................................................................................................... 8

Estratégias de análise de dados ............................................................................................... 9

Resultados ................................................................................................................................ 10

Discussão .................................................................................................................................. 17

Figuras

Figura 1…………………………………………………………………………………….10

Tabelas

Tabela 1……………………………………………………………………………………….11

Tabela 2……………………………………………………………………………………….12

Tabela 3……………………………………………………………………………………….14

Tabela 4……………………………………………………………………………………….16

Page 6: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

iii

Agradecimentos

Em primeiro lugar, agradeço à Doutora Eva Conceição pela preciosa orientação,

interesse, compreensão e constante disponibilidade. Pela partilha de conhecimentos, confiança

e pelo suporte com que me acompanhou ao longo da concretização deste projeto.

Ao Doutor Paulo Machado pelo apoio para que este projeto pudesse ser concretizado.

À Ana Pinto Bastos por ter sido incansável no arranque deste projeto. Pela

disponibilidade imediata e pelo incentivo demonstrado.

Um agradecimento especial aos meus pais pelo apoio constante nos momentos felizes

e pelas palavras de alento nos momentos mais difíceis. Pela atitude de incentivo e reforço no

processo de recolha de amostra.

Ao meu namorado, pela paciência e pela compreensão em muitos momentos de

ausência. Pela motivação e carinho sempre demonstrado.

À “amiga” - Dulcelina – pela escuta ativa, pelo apoio, por me tranquilizar quando

pensei no pior.

Às minhas amigas, por estarem sempre presentes e me incentivarem no percurso deste

projeto.

Page 7: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

iv

Prevalência de Comportamentos Alimentares Disfuncionais em Mulheres Idosas

Resumo

Comportamentos alimentares disfuncionais são frequentes em jovens, mas pouco se

sabe sobre a sua prevalência em mulheres idosas. Este estudo consiste em estudar a

prevalência pontual de comportamentos alimentares disfuncionais em mulheres com 65 anos

ou mais.

Estudo de prevalência constituído por um momento de avaliação de duas fases com

342 mulheres entre os 65 e 94 anos. Na primeira fase foram administrados os instrumentos:

Mini Mental State Examination; Weight Concerns Scale; Sick, Control, One, Fat, Food;

Escala de Restrição Alimentar do Eating Disorder Examination – Questionnaire; três questões

para avaliar petisco contínuo e ingestão alimentar noturna. Mulheres que reportaram

comportamentos alimentares disfuncionais (n=118) foram selecionadas para a segunda fase e

entrevistadas com a Eating Disorder Examination.

Prevalência de Perturbações do Comportamento Alimentar e da Ingestão foi de 2.4%

(0.9% para IAC; 0.3% para Bulimia Nervosa e 1.2% Perturbação da Alimentação e da

Ingestão com Outra Especificação. Prevalência de petisco continuo foi de 18.9%.

Comportamentos alimentares disfuncionais e comportamentos de controlo de peso em

idosas são pouco frequentes, mas aproximam-se dos valores encontrados em populações mais

jovens. Este estudo é um contributo para o estudo de comportamentos alimentares

disfuncionais em mulheres idosas.

Palavras-chave: prevalência; mulheres idosas; comportamento alimentar disfuncional;

petisco contínuo; preocupações com o peso e forma corporal.

Page 8: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

v

Prevalence of Dysfunctional Eating Behaviors in Elderly Women

Abstract

Dysfunctional eating behaviors are frequent among young women. However, little is

known about its prevalence in elderly women. This study is to examine the point prevalence

of dysfunctional eating behaviors in women aged 65 or over.

This is a two staged design prevalence study. Our sample consisted of 342 women

between 65 and 94 years. In the first phase, the following screening instruments were

administered: Mini Mental State Examination; Weight Concerns Scale; Sick, Control, One,

Fat, Food; subscale Restraint of Eating Disorder Examination – Questionnaire; three

questions to assess picking or nibbling and night eating. Women who reported dysfunctional

eating behaviors (n=118) were selected for the second phase of the study and were

interviewed with the Eating Disorder Examination.

The prevalence of Feeding and Eating Disorders was 2.4% (for IAC 0.9%; for bulimia

nervosa 0.3%; and 1.2% for Other Specified Feeding or Eating Disorder). The prevalence of

picking or nibbling was 18.9%.

Dysfunctional eating behaviors and weight control behaviors in women aged 65 or

over are uncommon, but they reach rates similar to younger populations. Our study is a

contribution to the study of eating disordered behaviors in elderly women.

Keywords: prevalence; elderly women; dysfunctional eating behaviors; picking or nibbling,

weight and shape concerns.

Page 9: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

1

Introdução

Comportamento alimentar e envelhecimento

As perturbações do comportamento alimentar (PCA) são um grupo heterogéneo de

perturbações psiquiátricas complexas, caraterizadas por comportamentos alimentares

disfuncionais que levam a uma alta taxa de morbilidade, ou mesmo à morte, caso não sejam

tratadas (Berkman, Lohr & Bulik, 2007). Problemas alimentares originam padrões

alimentares patogénicos e comportamentos de controlo alimentar que resultam de cognições

disfuncionais acerca do próprio corpo e de pensamentos que interferem com o funcionamento

diário (Midlarsky & Nitzburg, 2008).

As PCA como a anorexia nervosa, bulimia nervosa e a ingestão alimentar compulsiva

(IAC) são diagnosticadas principalmente na adolescência ou em jovens adultos, pelo que a

maioria dos estudos acerca destas perturbações têm como alvo estas faixas etárias (Luca, Luca

& Calandra, 2014). A prevalência de PCA em pessoas idosas ainda é pouco estudada. Porém,

estudos, apesar de reduzidos, evidenciam que as PCA estão presentes em mulheres na meia-

idade e idosas, podendo surgir em qualquer idade (Ferraro et al., 2008; Gagne et al., 2012;

Lewis & Cachelin, 2001;Mangweth-Matzek et al., 2006). Algo que atualmente é aceite,

embora com algum ceticismo (Luca, Luca & Calandra, 2014).

Estudos assinalam que existem mulheres na meia-idade e idosas que manifestam

perturbações alimentares com início tardio ou que foram diagnosticadas quando eram jovens e

que mais tarde recaíram (Midlarsky & Nitzburg, 2008). É considerado uma perturbação

alimentar com início tardio quando é diagnosticada a partir dos 40 anos (Guerdjikova et

al.,2012). Em Portugal a prevalência de PCA em jovens do sexo feminino é de 3,06%

(Machado, Machado, Gonçalves & Hoek, 2007). Embora os estudos sejam escassos, Gadalla

(2008) evidenciou uma prevalência de comportamentos alimentares disfuncionais em

mulheres idosas canadianas de 1,8%. Ainda, no estudo de Mangweth-Matzek et al. (2006)

evidenciou uma prevalência de comportamentos alimentares disfuncionais em mulheres

idosas austríacas de 3,8%. Para Gagne et al. (2012) comportamentos alimentares

disfuncionais, comportamentos compensatórios, métodos purgativos e preocupações com o

peso e forma corporal estão presentes em mulheres idosas.

O comportamento alimentar mais frequente nas mulheres idosas é a IAC, com uma

prevalência de 3.5% (Gagne et al., 2012), sendo a que a frequência mínima da realização

desse comportamento pelo menos uma vez por semana (Gagne et al., 2012; Mangweth-

Matzek et al.,2006). Estudo de Guerdjikova, O’Melia, Mori, McCoy & McElroy (2012)

realizado com 20 indivíduos (65 a 77 anos) todos descrevem episódios de IAC com uma

Page 10: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

2

média de 2,9 episódios por semana. As razões habituais associadas à ingestão alimentar

consistiam no tédio (80%), hábito (75%) e falta de força de vontade (75%) Estudo de Hay,

Mond, Buttner e Darby (2008) demonstrou que em 205 indivíduos, cerca de 6.2 % com mais

de 65 anos apresentavam IAC pelo menos uma vez por semana nos últimos três meses.

No DSM - 5 (APA, 2013) já se inclui como PCA a IAC que é caracterizada por:

Comer num período curto de tempo uma quantidade de alimentos que é definitivamente

superior à que a maioria das pessoas comeria num período de tempo semelhante e nas

mesmas circunstâncias; Sensação de perda de controlo sobre o ato de comer durante o

episódio. Sem recurso a comportamento compensatórios; Pelo menos três das seguintes

características associadas ao episódio de IAC devem estar presentes: ingestão muito mais

rápida que o habitual; comer até se sentir desagradavelmente cheia; comer sozinha por se

sentir envergonhada pela sua voracidade; sentir-se desgostosa consigo própria, deprimida ou

com grande culpabilidade depois da ingestão compulsiva.

Estudo realizado por Donini et al. (2013), com 527 indivíduos idosos indicou que a

prevalência de anorexia foi de 21,2%, sendo mais elevada nas mulheres do que nos homens.

Ainda segundo estes autores, as mulheres que viviam em instituições de saúde a prevalência

de anorexia foi de 33,3%, nas que viviam em lares de idosos foi de 34,1% e as que viviam na

sua habitação foi de 3,3%. Cornali, Franzoni, Frisoni e Trabucchi (2005) referem que em 316

idosos, cerca de 50 indivíduos (15,8%) têm o diagnóstico de anorexia.

Até à data, nenhum estudo avaliou os diferentes episódios de ingestão alimentar, i.e.,

episódios bulímicos (objetivos e subjetivos) e episódios de ingestão exagerada (objetiva e

subjetiva), sendo que habitualmente reportam comportamentos com base em medidas de auto-

-relato, sendo que estes tendem a sobrestimar a presença de comportamentos alimentares

desajustados.

Métodos purgativos e comportamentos compensatórios

Estudos demonstram que as mulheres de 65 ou mais anos demonstram insatisfação

com o seu peso e forma corporal, do mesmo modo que adotam comportamentos com o intuito

de perder e/ou controlar o peso. De acordo com vários estudos (Allaz, Bernstein, Rouget,

Archinard & Morabia, 1998; Gagne et al., 2012; Hay et al., 2008; Mangweth-Matzek et al.,

2006), os métodos purgativos mais utilizados por mulheres idosas consistem no uso de

diuréticos, uso de laxantes, vómito auto-induzido e jejum. Os métodos compensatórios mais

evidenciados nesta população consistem em comprimidos para emagrecer, excesso de

exercício físico, verificação de peso, restrição alimentar e dieta.

Page 11: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

3

No estudo de Gagne et al. (2012), os comportamentos evidenciados pelas mulheres

idosas para perder/controlar o peso consistiam na utilização de comprimidos para emagrecer

(7,5%), no excesso de exercício físico (6,8%), uso de diuréticos (2,5%), uso de laxantes

(2,2%) e vómito auto-induzido (1,2%). De acordo com Mangweth-Matzek et al. (2006), os

comportamentos adotados pelas mulheres referiam-se a verificação de peso (71%), exercício

físico (69%), jejum (10%), uso de laxantes e diuréticos (6%) e vómito auto-induzido (1%).

Estudo de Hay et al. (2008) indica que em 54 mulheres com 65 ou mais anos, cerca de

20,1% apresentavam métodos purgativos semanalmente, como uso de laxantes, diuréticos e

vómito auto-induzido.

Matsumoto et al. (2001) refere que o abuso de laxantes é o comportamento mais

evidente entre os indivíduos idosos com PCA, provavelmente devido a um maior

conhecimento acerca da existência de laxantes e o seu fácil acesso. Além disso, verificou que

o recurso ao vómito auto-induzido e abuso de laxantes são menos frequentes nas mulheres

diagnosticadas com anorexia nervosa com início precoce do que nas mulheres diagnosticadas

com início tardio de anorexia nervosa.

Existem poucos estudos relativamente aos métodos purgativos e métodos

compensatórios em mulheres idosas. No entanto, estudo realizado com 715 mulheres entre os

40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas perturbação do comportamento alimentar sem

outra especificação, das quais seis após ingerir uma pequena quantidade de comida tinham

comportamentos purgatórios, nomeadamente: abuso de laxantes (duas mulheres), abuso de

diuréticos (três mulheres) e comprimidos inibidores de apetite (uma mulher)

(Mangweth‐Matzek et al., 2014).

Além de serem escassos os estudos que avaliam comportamento purgativos e

comportamentos compensatórios, na sua maioria utilizam medidas de auto relato para estudar

a prevalência desses comportamentos, bem como alguns estudos não avaliam alguns

comportamentos compensatórios como o exercício físico em excesso.

Petisco Contínuo

O petisco contínuo é um comportamento alimentar estudado recentemente, descrito

como um padrão alimentar caracterizado pela ingestão alimentar repetitiva e não planeada

entre as refeições e lanches (Conceição, Mitchell, Vaz et al., 2014). Apesar de existir na

literatura várias definições para petisco contínuo, existe uma falta de coerência em relação ao

estabelecimento de critérios de diagnóstico para avaliar este comportamento. No entanto,

existem semelhanças entre as definições, nomeadamente caracteriza-se por um

Page 12: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

4

comportamento repetitivo em que se ingere pequenas quantidades de comida (Conceição,

Mitchell, Engel et al., 2014).

Apesar da escassa investigação acerca do petisco contínuo, este é um comportamento

que tem demonstrado uma prevalência elevada, tanto em amostras não-clínicas bem como em

indivíduos com PCA, obesos e em pessoas submetidas à cirurgia bariátrica (Conceição et al.,

2013; Conceição, Mitchell, Engel et al., 2014). O petisco contínuo demonstra uma

prevalência de 89,8 % em amostras clinicas (Masheb, Roberto & White, 2013) e de 91% em

amostras não-clinicas (Reas, Wisting, Kapstad & Lask, 2012). Estudo de Conceição et., al.

(2013) com indivíduos adultos, o petisco contínuo foi evidenciado em 44% dos indivíduos

com IAC, 57,6% em indivíduos com bulimia nervosa e 34,3% em pessoas com anorexia

nervosa. De acordo com Shadar, Shai, Vardi & Fraser (2003) demonstrou que cerca de 44,6%

das mulheres entre os 65 e 74 anos afirmavam consumir alimentos entre as refeições. Nas

mulheres com mais de 75 anos, cerca de 36% também evidenciavam este comportamento. O

petisco contínuo está associado a hábitos alimentares disfuncionais, com implicações

significativas relativamente ao peso (Conceição, Mitchell, Engel et al., 2014). Até à data não

se conhecem dados de prevalência de petisco contínuo em indivíduos com mais de 65 anos.

Ingestão Alimentar Noturna

Perante o DSM - 5 (APA, 2013) a ingestão alimentar noturna (IAN) consiste numa

categoria em estudo que se caracteriza por episódios recorrentes de ingestão alimentar antes

de deitar ou a meio da noite. O indivíduo pode ter estes episódios durante a noite, isto é,

levantar-se a meio da noite para comer, ou comer uma grande quantidade de comida antes de

dormir. Nestes episódios os indivíduos estão conscientes.

Estima-se que a prevalência de IAN na população geral é de 1,5% (Rand, Macgregor

& Stunkard,1997). De acordo com o estudo de De Zwaan, Müller, Allison, Brähler e Hilbert

(2014) com indivíduos entre os 14 e os 85 anos, demonstrou que cerca de 1,1 % da amostra

apresentava comportamentos de IAN. Mais, 6,2% da amostra referiu ingerir mais de 25% da

ingestão calórica diária após o jantar. Estudo de Andersen, Stunkard, Sørensen, Petersen e

Heitmann (2004) com indivíduos com mais de 55 anos, demostrou que a IAN é mais

prevalente em mulheres (9,1%) do que em homens (7,1%). Até à data não se conhecem dados

de prevalência de IAN em indivíduos com mais de 65 anos.

Page 13: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

5

Preocupações com o peso e forma corporal

Com o envelhecimento as mulheres acarretam várias preocupações com a imagem

corporal, especificamente pressões sociais e culturais acerca de manter uma aparência jovem,

vontade de manter o corpo atraente e perfeccionismo. Fatores que estão significativamente

relacionados com os comportamentos alimentares disfuncionais (Hall & Driscoll, 1993;

Midlarsky & Nitzburg, 2008). Mulheres idosas estão mais vulneráveis relativamente às

preocupações com a imagem corporal influenciando a sua autoestima e a forma como estas se

auto-avaliam (Shaw, Ebbeck & Snow, 2000). Estas preocupações representam uma fonte de

angústia para a maioria das mulheres, sendo notória em mulheres idosas e associada a várias

psicopatologias como as PCA, depressão e ansiedade (Lewis & Cachelin, 2001; Tylka, 2004).

As mulheres idosas, da mesma forma que as adolescentes, estão suscetíveis à pressão

social de que o corpo da mulher deve ser magro. Assim, identificam um corpo magro como a

forma corporal atraente para os homens e socialmente aceite (Ferraro et al., 2008; Lewis &

Cachelin, 2001).

A maioria das mulheres demonstra insatisfação com o seu peso e forma corporal,

sendo que a partes do corpo com maior insatisfação consiste no estômago (Gagne et al., 2012;

Mangweth-Matzek et al., 2006). De acordo com Mangweth-Matzek et al. (2006), cerca de

60% das mulheres apresentavam insatisfação com o seu corpo, e 80% praticavam algum

método para controlar o peso. Além disso, algumas mulheres restringem a sua alimentação de

modo a evitar o aumento de peso (Gagne et al., 2012; Mangweth-Matzek et al., 2006).

Comparativamente com os homens idosos, as mulheres idosas evidenciam maior preocupação

com a sua forma corporal, despendendo mais tempo a pensar sobre a forma do corpo e peso -

mais do que uma vez por dia - e têm maior desejo de perder peso (Ferraro et al., 2008; Gagne

et al., 2012). Estudo de Guerdjikova et al. (2012) evidenciou que as mulheres com mais de 65

anos apresentam uma preocupação moderada com a sua forma corporal e com o seu peso,

revelando uma importância significativa na sua auto-avaliação.

Num estudo realizado por Allaz et al. (1998) com mulheres entre os 30 e os 74 anos de

idade, demonstrou que as mulheres apresentavam insatisfação com o peso e adotavam

comportamentos de controlo de peso, nomeadamente a realização de dieta mesmo

apresentando um peso considerado normal para a sua altura. Também demostrou que a

maioria das mulheres entre os 65 e os 74 anos de idade pretendem perder peso, mesmo que

essas mulheres apresentassem um peso normal.

Page 14: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

6

Objetivos

Estudos, apesar de escassos, sobre a prevalência de comportamentos alimentares

disfuncionais em mulheres idosas, apresentam algumas limitações. Nomeadamente o pequeno

tamanho da amostra (Guerdjikova et al., 2012), a avaliação dos comportamentos alimentares

através de questionários de auto-relato (Mangweth‐Matzek et al., 2006; Gagne et al., 2012), a

baixa validade nos resultados devido comprometimento cognitivo e morbidades médicas ou

psiquiátricas das mulheres idosas (Donini et al., 2013), bem como avaliação de IAC cingir-se

apenas à avaliação de episódios bulímicos objetivos, não avaliando outros comportamentos

disfuncionais (Guerdjikova et al., 2012; Hay et al., 2008). Além disso, alguns estudos também

não avaliam a prevalência de exercício físico excessivo (Hay et al., 2008).

Através desta metodologia, o nosso estudo pretende avaliar a presença de diferentes

episódios de ingestão alimentar disfuncional, realizando uma avaliação detalhada dos

episódios de IAC (objetivos e subjetivos) e de comportamentos que ainda não foram

estudados em mulheres com 65 ou mais anos, nomeadamente o petisco contínuo e a IAN.

Além de usarmos uma entrevista clínica, pretendemos controlar o grau de validade das

respostas através da avaliação do comprometimento cognitivo.

Assim, o principal objetivo deste trabalho será realizar um estudo de prevalência

pontual de modo a analisar a prevalência de comportamentos alimentares disfuncionais e

preocupações com o peso e forma corporal em mulheres com 65 anos ou mais. Assim sendo,

este estudo tem como objetivos específicos: (1) Avaliar a prevalência de episódios de ingestão

alimentar compulsiva, especificamente pretende-se avaliar o número de dias por mês com

presença de episódios bulímicos objetivos, episódios bulímicos subjetivos, episódios de

ingestão exagerada objetiva e episódios de ingestão exagera subjetiva; (2) Avaliar prevalência

de petisco contínuo; (3) Avaliar prevalência ingestão alimentar noturna; (4) Avaliar a

presença de comportamentos purgativos, nomeadamente a indução de vómito; utilização de

laxantes; e utilização de diuréticos (5) Avaliar a presença de comportamentos compensatórios,

especificamente o jejum e o exercício físico excessivo; (6) Avaliar a preocupação com peso e

forma corporal, nomeadamente a preocupação com o peso preocupação com a forma corporal,

medo de engordar e o sentimento de estar gorda.

O presente estudo propõe-se a ultrapassar as limitações dos estudos anteriores

avaliando diferentes comportamento alimentares desajustados e estabelecer diagnósticos de

comportamento alimentar de acordo com o DSM - 5, através de uma entrevista clínica semi-

estruturada “gold-standard” para avaliação e diagnóstico de perturbações do comportamento

alimentar.

Page 15: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

7

Materiais e Método

Desenho do estudo e Participantes

Estudo de prevalência pontual constituído por duas fases que decorre num único

momento de avaliação sobre a prevalência de comportamentos alimentares disfuncionais.

Foram adotados como seguintes critérios de inclusão: sexo feminino; idade igual ou superior

a 65 anos; e nacionalidade portuguesa. Como critérios de exclusão definiram-se: condições

cognitivas que impossibilitem a resposta de forma autónoma e consciente aos instrumentos;

situações de surdez e situações de deterioração cognitiva.

Procedimento

Para a recolha de dados, foi selecionada uma amostra de mulheres da Ilha Terceira,

nos Açores. Na Ilha Terceira existem cerca de 8048 indivíduos (4782 mulheres) com 65 ou

mais anos. A amostra foi recolhida no Centro de Saúde de Praia da Vitória, em 23 centros de

convívio das duas cidades da Ilha Terceira e na Universidade Sénior de Angra do Heroísmo.

Em primeiro lugar foram efetuados pedidos de autorização nos locais de recolha da

amostra. Foi acordado com o Conselho de Administração do centro de saúde da Praia da

Vitória o procedimento a utilizar, i.e., o convite para participar foi feito às participantes pela

investigadora na sala de espera antes da consulta médica. Foi decidido o dia/hora semanal

onde teve lugar a recolha. A investigadora explicou às participantes como será o estudo, assim

como as questões éticas associadas à participação. As que aceitaram participar, a recolha teve

lugar nas salas de espera. Nos Centros de Convívio e na Universidade Sénior foi marcado

dia/hora para proceder à recolha dos dados. Nesses dias, foi facultado às participantes um

esclarecimento individual acerca da investigação e de todas as questões associadas à

participação, ficando ao entender das participantes participar ou não.

Na primeira fase foi apresentado o estudo e os seus objetivos de forma individual a

todas as mulheres com 65 ou mais anos que estavam presentes no Centro de Saúde da Praia

da Vitória, nos Centros de Convívio e na Universidade Sénior, nos dias que a investigadora se

dirigiu aos locais. Após as participantes assinarem o protocolo de consentimento informado

foi-lhes administrado um teste de screening inicial para identificação de comprometimento

cognitivo sério que impedisse a participação no estudo.

As mulheres que não apresentassem deterioração cognitiva foi-lhes administrada a

seguinte bateria de testes de rastreio: WCS; SCOFF; Escala de Restrição Alimentar do EDE;

uma pergunta acerca do petisco contínuo; e duas sobre a ingestão alimentar noturna.

Page 16: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

8

Para a segunda fase do estudo, foram selecionadas todas as participantes que

preenchiam pelo menos um dos seguintes critérios: uma ou mais respostas afirmativas no

SCOFF; pelo menos uma resposta afirmativa numa das perguntas acerca do petisco contínuo

ou ingestão alimentar noturna; valores superiores a 52 pontos na WCS; pontuação igual ou

superior a 3 pontos na subescala da restrição alimentar do EDE.

As mulheres que foram selecionadas para a segunda fase do estudo foram

entrevistadas para confirmação da presença de comportamento alimentar disfuncional. Todas

as entrevistas foram realizadas pela investigadora, tendo esta sido treinada para utilizar a

entrevista clínica. Além disso, todos os resultados das entrevistas foram discutidos pelo um

grupo de investigadores com experiência clínica nas PCA.

A recolha realizou-se individualmente, apenas com a investigadora e a participante.

Devido à possibilidade das participantes não saberem escrever e/ou ler ou exibirem

dificuldades em fazê-lo, a administração dos questionários foi oral a todas as participantes.

Instrumentos

Questionário sociodemográfico. Teve o intuito de avaliar variáveis como a idade,

estado civil, escolaridade, se tem filhos, história de peso, se tem problemas de saúde, cuidados

com a alimentação devido a problemas de saúde, com quem vive e como costuma passar o

dia.

Instrumentos para a primeira fase.

Mini Exame do Estado Mental (MMSE). Usado para screening de comprometimento

cognitivo na primeira fase. Desenvolvido por M. Folstein, S. Folstein e McHugh (1975),

adaptado para a população portuguesa por Guerreiro et. al. (1994) Utilizado para detetar

alterações cognitivas, principalmente nas populações geriátricas. Constituído por 30 questões

divididas em seis domínios: orientação, retenção, atenção e cálculo, evocação, linguagem e

habilidade construtiva. Apresenta boas propriedades psicométricas demonstrando um alfa de

cronbach de 0.89 (Guerreiro et. al. 1994).

Weight Concerns Scale (WCS). Desenvolvida por Killen et al. (1994) e avalia as

preocupações e os comportamentos acerca do peso e forma corporal. Composta por cinco

perguntas acerca da preocupação com o peso e forma corporal, medo de engordar, história de

dieta, sentimentos de estar gorda e importância do peso. A pontuação total pode variar de zero

a 100 pontos, sendo que zero indica que não existe preocupação com o peso e 100 indica uma

preocupação máxima. Demonstra uma excelente fidelidade teste-reteste (r = 0,71) (killen et

Page 17: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

9

al., 1994) e o alfa de cronbach foi de 0,82 numa amostra de mulheres (C.M. Markey, P.M.

Markey & Birch, 2001).

SCOFF Questionnaire. Desenvolvido por Morgan, Reid e Lacey (1999) e com

contribuição para a validação para a população portuguesa por Lima (2012). Instrumento de

rastreio simples que pretende avaliar a hipótese da existência de uma PCA. Constituído por

cinco questões, em que as respostas são dicotómicas acerca das características principais das

PCA (Morgan et al., 1999). Revelou propriedades psicométricas aceitáveis na amostra

portuguesa, apresentando um alfa de cronbach de 0.64, evidenciando uma boa consistência

interna, dado o número de itens do instrumento (Lima, 2012).

Eating Disorder Examination - Questionnaire (EDE-Q). Desenvolvido por Fairburn e

Beglin (1994) e adaptado para a população portuguesa por Machado (2007). Avalia sintomas

das PCA ao longo dos últimos 28 dias e é composto por quatro subescalas: restrição

alimentar, preocupação alimentar, preocupação com a forma e preocupação com o peso. Para

esta investigação foi apenas utlizada a subescala da restrição alimentar. A subescala da

restrição alimentar demonstra um alfa de Cronbach de 0,74.

Entrevista para a segunda fase.

Eating Disorder Examination. Entrevista estandardizada direcionada para as PCA, de

acordo com os critérios do DSM-IV-TR. Desenvolvida por Fairburn e Cooper (2000).

Foram utilizadas questões para identificar episódios bulímicos e outros episódios de

ingestão exagerada; Módulo para a avaliação de petisco continuo; módulo para a avaliação de

ingestão alimentar noturna; módulo para a avaliação de comportamentos compensatórios e

métodos purgativos e módulo de preocupação com o peso e forma corporal. É considerado

um método de avaliação rigoroso com índices excelentes de consistência interna, de

fidelidade teste-reteste, e de validade discriminante e concorrente (Fairburn & Cooper, 2000).

Estratégias de análise de dados

O tratamento e análise estatística dos dados foram executados através do programa

Statistical Package for Social Sciences, versão 20. Foi utilizado o nível de significância de 5%

(p=0,05).

O IMC foi calculado através da seguinte fórmula: (peso/(altura*altura)). A prevalência

relativamente aos comportamentos alimentares disfuncionais foi acompanhada por intervalos

de confiança de 95% (95% - CI). Foram realizadas análises de estatísticas descritivas,

nomeadamente frequências e descritivas.

Page 18: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

10

Resultados

Primeira fase

Na primeira fase do estudo foram inquiridas 342 mulheres com 65 ou mais anos que

estavam presentes nos dias em que a investigadora se dirigiu aos locais de recolha da amostra.

A figura 1 representa o número de participantes na primeira e segunda fase da

investigação. Na primeira fase, cerca de 4 mulheres não prosseguiram a entrevista devido à

existência de detioração cognitiva. Foram aplicados todos os instrumentos da primeira fase a

338 mulheres, e 118 mulheres preencheram os critérios de inclusão para a segunda fase da

investigação, tendo sido alvo de uma entrevista clínica semi-estruturada.

Figura 1- Fluxograma dos participantes na primeira e segunda fase.

Total de avaliados

N=342

Cumpriram os critérios de inclusão

N=338

Casos selecionados para a fase 2

N=118 (34,9%)

Casos que não foram selecionados para a fase

2

N= 220 (65,1%)

Excluidos por não cumprirem critérios de

inclusão (MMSE)

N=4 (1,2%)

Page 19: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

11

A tabela 1 demonstra-nos o número de participantes que foram selecionados através

dos critérios de inclusão para a segunda fase do estudo, assim como a média e desvio padrão

dos scores dos questionários relativamente à população total avaliada.

Tabela 1. Caracterização da amostra avaliada na primeira fase do estudo: número e

percentagem das 338 participantes que cumpriam cada um dos critérios de inclusão

para a segunda fase do estudo; média e desvio padrão dos scores dos questionários

relativamente à população total avaliada.

Nota. EDE-Q = Eating Disorder Examination – Questionnaire; SCOFF = Sick, Control, One,

Fat, Food; WCS= Weight Concerns Scale; IAN = Ingestão Alimentar Noturna.

A idade das 338 participantes na primeira fase da investigação variou entre os 65 e os

94 anos, sendo a média de idades de 72.5 anos (SD=6.5). Relativamente à caracterização

socio-demográfica das participantes, no que concerne ao estado civil, a maioria das mulheres

eram casadas ou viviam com um companheiro (54.2%) e viúvas (36.4%), sendo que cerca de

93.8% tinham filhos. Relativamente ao nível de escolaridade, cerca de 62.1% tinham o 1º

ciclo do ensino básico ou completado o ensino primário; 23.1% das mulheres eram

analfabetas; 6.8% concluíram o 2º ciclo do ensino básico; 3.6% completaram o 9º ano; 3.6%

detinham o 12º ano e 0.9% frequentaram o ensino superior.

A maioria das mulheres afirmam passar o dia com o marido ou companheiro (31.1%),

outras 25.4% referem passar o dia num centro de convívio; 15.7% dizem ficar sozinhas;

22.2% mencionam passar o dia com amigos ou familiares; 0.9% expõe que ainda trabalham.

Relativamente à existência de problemas de saúde, cerca de 83.4% assegura ter problemas de

saúde, pelo que 41.1% menciona apresentar mais do que um problema de saúde. Ainda,

N= 338 N (%) Média Desvio

Padrão

EDE- Q Escala de restrição

alimentar

10 (3) 0,29 0,17

SCOFF 47 (14) 0,14 0,35

WCS 2 (1,7) 0,17 0,13

Petisco Contínuo 68 (20,1) - -

IAN 1 (0,3) - -

Page 20: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

12

59.8% refere ter cuidado com a alimentação devido aos problemas de saúde e 24.3% cita não

ter cuidado com a alimentação devido a problemas de saúde.

O Índice de Massa Corporal (IMC) variou entre 18.4 e 69.3 (M = 29.4; SD=5). Cerca

de 3.1% encontra-se desnutrida; 6.8% encontra-se em risco de desnutrição; 25.6 % encontra-

se em eutrofia; 38.9% encontra-se pré-obesa; 22.2% encontra-se com obesidade e 3,4%

encontra-se com obesidade severa.

Segunda fase

A tabela 2 demonstra-nos o número e percentagem de mulheres que apresentaram os

diferentes episódios de ingestão alimentar, de entre as 118 mulheres que foram selecionadas

para a segunda fase da investigação. Além disso, mostra os resultados da entrevista EDE

relativamente à caracterização de comportamentos alimentares disfuncionais pelo menos uma

vez no último mês e pelo menos quatro vezes por mês nos últimos três meses.

Tabela 2. Número e percentagens das 118 mulheres avaliadas na segunda fase do estudo

relativamente aos comportamentos alimentar disfuncionais.

N=118 Número de pessoas

em que ocorreu pelo

menos uma vez no

último mês (%)

Número de pessoas em

que ocorreu pelo menos

quatro vezes por mês nos

últimos três meses (%)

Episódios bulímicos (objetivos e subjetivos) 19 (16.1) 12 (10.2)

Episódios bulímicos objetivos 12 (10.2) 6 (5.1)

Episódios bulímicos subjetivos 8 (6.8) 4 (3.4)

Episódios de ingestão exagerada (objetiva e

subjetiva)

21 (17.8) 14 (11.9)

Episódios de ingestão exagerada

objetiva

4 (3.4) 4 (3.4)

Episódios de ingestão exagerada

subjetiva

17 (14.4) 10 (8.5)

Petisco contínuo 64 (54.2) 55 (46.6)

Síndrome de Ingestão Alimentar Noturna 0 0

Page 21: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

13

Ingestão Alimentar Compulsiva e Episódios de Ingestão Exagerada

Tendo em conta as 338 participantes avaliadas, cerca de 6% evidenciavam episódios

bulímicos (objetivos e subjetivos) pelo menos uma vez no último mês. Além disso, cerca de

3,5% evidenciam pelo menos um episódio bulímico (objetivos e subjetivos) por semana nos

últimos três meses.

Estima-se uma prevalência de 3.6% de episódios bulímicos objetivos ocorridos pelo

menos uma vez no último mês, sendo a média de 8 episódios por mês (SD= 6). A prevalência

de episódios bulímicos subjetivos ocorridos pelo menos uma vez no último mês foi de 2,4%,

sendo que, de entre os participantes que reportaram estes episódios, a média de episódios por

mês de 7.5 (SD=8).

Das 338 participantes, 6.1% evidenciou Episódios de Ingestão Exagerada (objetivos e

subjetivos) pelo menos uma vez no último mês. Além disso, cerca 4.1% evidenciava pelo

menos um episódio de ingestão exagerada (objetivo ou subjetivo) por semana nos últimos três

meses.

Estima-se uma prevalência de 1.1% de episódios de ingestão exagerada objetivos

ocorridos pelo menos uma vez no último mês, pelo que a média desses episódios é de 10,5

(SD=7.5). Relativamente aos episódios de ingestão exagerada subjetivos estima-se uma

prevalência de 5% sendo que este comportamento acontecia pelo menos uma vez no último

mês, pelo que, de entre os participantes que reportaram estes episódios, a média desses

episódios é de 10.5 (SD=7,3).

Petisco contínuo

Do total das 338 mulheres inquiridas, 18.9% apresentam a presença de petisco

contínuo pelo menos uma vez no último mês. E cerca de 16.3% apresentam a presença de

petisco contínuo pelo menos quatro vezes nos últimos três meses.

Das 64 participantes que evidenciavam petisco contínuo, a média do número de dias da

ocorrência desses episódios é de 13.7 (SD=6.5) dias no último mês. A média do número de

dias da ocorrência desses episódios nos últimos três meses é de 12.7 (SD=7.3). Além disso,

cerca de 42.2% das participantes apresentam a presença desse comportamento com uma

ocorrência de 5 vezes por semana. Ainda, 23.4% evidenciam esse comportamento cerca de 12

dias do mês, pelo que ocorre cerca de 3 vezes por semana

Page 22: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

14

Síndrome de Ingestão Alimentar Noturna

Não foram detetados casos de mulheres que evidenciavam síndrome de ingestão

alimentar noturna.

Utilização de métodos purgativos e compensatórios

A tabela 3 demonstra-nos o número e percentagens de mulheres que apresentaram

métodos purgativos e compensatórios, de entre as 118 mulheres que foram selecionadas para

a segunda fase da investigação. Além disso, mostra os resultados da entrevista EDE

relativamente à ocorrência de métodos purgativos e compensatórios pelo menos uma vez no

último mês e pelo menos quatro vezes por mês nos últimos três meses.

Tabela 3. Número e percentagens das 118 mulheres relativamente aos métodos

compensatórios e purgativos.

N=118 Número de pessoas em que

ocorreu pelo menos uma vez

no último mês (%)

Número de pessoas em que

ocorreu pelo menos quatro

vezes por mês nos últimos três

meses (%)

Jejum relacionado com o peso 3 (2.5) 2 (1.69)

Jejum não relacionado com o

peso

14 (11.8) 8 (6.8)

Vómito auto-induzido

relacionado com o peso

1 (0.8) 1 (0.8)

Vómito auto-induzido não

relacionado com o peso

6 (5.1) 0

Utilização de laxantes

relacionados com o peso

1 (0.8) 0

Utilização de laxantes não

relacionados com o peso

22 (18.6) 6 (5.1)

Utilização de diuréticos

relacionados com o peso

0 0

Utilização de diuréticos não

relacionados com o peso

10 (8.5) 9 (7.6)

Exercício físico excessivo 0 0

Page 23: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

15

No total das 338 participantes, os métodos mais utilizados de controlo de peso

consistiram no recurso ao jejum (0,9%), o vómito auto-induzido (0,3%) e a utilização de

laxantes (0.3%). Todos estes comportamentos aconteceram pelo menos uma vez no último

mês.

Estes métodos também foram evidenciados pelas participantes, não estando

relacionado com o peso, especificamente 4.1% das participantes evidenciou fazer jejum pelo

menos uma vez no último mês, e 2.4% indica fazer jejum pelo menos quatro vezes nos

últimos três meses; 1.8% refere provocar o vómito devido a desconforto físico pelo menos

uma vez no último mês; Cerca de 6.5% menciona utilizar laxantes devido a obstipação pelo

menos uma vez no último mês e 1.8% indica utilizar laxantes pelo menos quatro vezes por

mês nos últimos três meses; 3% refere utilizar diuréticos não relacionados com o peso pelo

menos uma vez no último mês, essencialmente por prescrição médica, da mesma forma que

2.7% indica utilizar diuréticos pelo menos quatro vezes nos últimos três meses.

Apesar de não se ter encontrado dados de mulheres que mencionavam realizar

exercício físico excessivo, cerca de 14.2% (N=48) faziam exercício físico regularmente.

Perturbações da Alimentação e da Ingestão

Tendo em conta as 338 participantes avaliadas, e de acordo com os dados obtidos

através da entrevista EDE, foi possível realizar diagnósticos de Perturbações da Alimentação

e da Ingestão de acordo com os critérios de diagnóstico segundo o DSM - 5.

Verificou-se uma prevalência de 0.9% de Ingestão Alimentar Compulsiva (N=3). A

gravidade desses episódios, caracterizada pela frequência dos episódios de ingestão

compulsiva, foi de ligeira (cerca de 8 a 13 episódios por semana) para uma dessas mulheres;

moderada (cerca de 4 a 7 episódios por semana) para uma mulher; e grave (cerca de 8 a 13

episódios por semana) para a outra mulher.

Estima-se a prevalência de 0.3% de Bulimia Nervosa (N=1), pelo que o nível de

gravidade é ligeiro uma vez que em média, ocorriam 2 episódios de comportamentos

compensatórios, i.e., jejum relacionado com o peso por semana. Esta mulher preenchia dois

critérios de diagnóstico de acordo com o DSM - 5.

Prevê-se uma prevalência de 1.2% (N=4) de diagnóstico de Perturbação da

Alimentação e da Ingestão com Outra Especificação. Estima-se a prevalência de 0.9 % (N=3)

de Perturbação de ingestão alimentar compulsiva de baixa frequência, pelo que todos os

critérios para perturbação de ingestão alimentar compulsiva estavam presentes, exceto o fato

de que a ingestão compulsiva ocorre, em média, menos do que uma vez por semana e durante

Page 24: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

16

menos de três meses. Além disso, prevê-se uma prevalência de 0.3% (N=1) Bulimia Nervosa

de baixa frequência, em que todos os critérios para bulimia nervosa estão presentes, exceto o

fato de que a ingestão compulsiva e os comportamentos compensatórios inapropriados

ocorrem, em média, menos do que uma vez por semana durante menos três meses.

Preocupação com o peso e forma corporal

A preocupação com o peso e forma corporal foi avaliada através da entrevista EDE

que continha os seguintes itens de avaliação: importância com o peso, importância da forma

corporal, medo de ganhar peso e sentimento de estar gorda no último mês.

A tabela 4 demonstra-nos a caracterização da amostra relativamente à importância do

peso e forma corporal.

Tabela 4. Número e percentagens das 118 mulheres relativamente aos níveis de

importância com o peso e forma corporal.

N=118 Importância com o peso

N (%)

Importância com a forma

corporal N (%)

Sem importância 24 (20.3) 58 (49.2)

Pouca importância 11 (9.3) 16 (13.6)

Alguma importância 7 (5.9) 8 (6.8)

Importante 9 (7.6) 5 (4.2)

Importância moderada 21 (17.8) 10 (8.5)

Importância moderada-extrema 27 (22.9) 12 (10.2)

Importância extrema 20 (16.9) 10 (8.5)

De acordo com a tabela 4 no que diz respeito à importância que as participantes

atribuíam ao seu peso, cerca de 22.9% preocupa-se de forma moderada-extrema, ou seja,

consideram que o peso é um aspeto claro na sua auto-avaliação; 20.3% refere que o peso não

tem qualquer importância na forma como se auto-avaliam. Além disso, para 20 participantes

(16.9%) o peso é um aspeto crucial na sua auto-avaliação, pelo que não existe nada mais

importante que o peso. A média de preocupação com o peso das 118 participantes consiste em

3,2 (SD=2.19), que resulta numa importância moderada com o peso.

Page 25: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

17

Quanto à importância da forma corporal, 49.2% indica que a forma do corpo não tem

qualquer importância para a sua auto-avaliação, referindo que existe aspetos da sua vida

claramente mais importantes do que a forma corporal. Cerca de 10 participantes (8.5%) indica

que nada é mais importante do que a forma corporal no seu esquema de auto-avaliação. A

média de importância com a forma corporal consiste em 1.7 (SD=2.16), que reporta uma

pouca importância com a forma corporal.

Relativamente ao medo de ganhar peso, 25.2% não apresenta medo de engordar ou de

ganhar peso; 20.2% apresenta medo claro de ganhar peso em 1 a 5 dias no último mês; 5.9%

indica medo de engordar ou ganhar peso em menos de metade dos dias no último mês; 8.4%

refere medo claro de engordar ou ganhar peso em metade dos dias; 9.2% indica medo claro de

engordar ou ganhar peso em mais de metade dos dias no último mês; 9.2% também refere

medo de engordar ou ganhar peso quase todos os dias no último mês; e 21.8% refere medo

claro de engordar ou ganhar peso quase todos os dias no último mês. Das 118 mulheres

entrevistadas na segunda fase, o medo de engordar consiste numa média de 2.7 (SD=2.35),

que reporta num medo de engordar em metade dos dias no último mês.

No que concerne ao sentimento de estar gorda, 31.1% refere não ter esse sentimento;

12.6% refere que se sentiu gorda em 1 a 5 dias; 7.6% sentiu-se gorda em menos de metade

dos dias; 8.4% sentiu-se gorda em metade dos dias; 5% sentiu-se gorda em mais de metade

dos dias; 14.3% sentiu-se gorda quase todos os dias: e 21% sentiu-se gorda todos os dias. Das

118 mulheres entrevistadas na segunda fase, a média de sentimento de estar gorda consiste em

2.7 (SD=2.4), que consiste num sentimento de estar gorda em menos de metade dos dias no

último mês.

Discussão

Esta investigação consiste no primeiro estudo a utilizar uma entrevista clínica com o

intuito de avaliar comportamentos alimentares disfuncionais em mulheres com 65 ou mais

anos. Este método de recolha de amostra é eficaz, tendo em conta estudos que avaliam o

comportamento alimentar regularmente utilizam questionários de auto-relato, resultando num

número considerável de falsos positivos (Celio,Wilfley, Crow, Mitchell, & Walsh, 2004).

O nosso estudo demonstrou uma prevalência de Perturbações do Comportamento Alimentar e

da Ingestão de acordo com o DSM - 5 em mulheres com 65 ou mais anos de 2.4%. A nossa

prevalência de diagnóstico de Perturbações do Comportamento Alimentar e da Ingestão é

inferior ao encontrado noutro estudo semelhante que avaliava mulheres entre os 60 e 70 anos

(Mangweth‐Matzek et al., 2006).

Page 26: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

18

A prevalência de IAC no nosso estudo foi de 0.9%, para a Bulimia Nervosa foi de

0.3% e para Perturbação da Alimentação e da Ingestão com Outra Especificação foi de 1.2%

(0.9 % para perturbação de ingestão alimentar compulsiva de baixa frequência e 0.3% para

bulimia nervosa de baixa frequência). No estudo de Machado et al. (2007) foi utilizado uma

metodologia idêntica em mulheres jovens, que indicou prevalências superiores ao nosso

estudo nos diagnósticos de Perturbações do Comportamento Alimentar e da Ingestão (3.06%)

e de anorexia nervosa (0.39%). No entanto, o nosso estudo e o estudo de Machado et al.

(2007) indicam prevalências de bulimia nervosa idênticas (0.3%). Porém, a prevalência

pontual para bulimia nervosa no nosso estudo encontra-se inferior em comparação a um

estudo com mulheres na meia-idade (0.6%) (Mangweth‐Matzek et al., 2014). Similarmente

aos resultados de Mangweth‐Matzek et al. (2014), não foram detetados casos de anorexia

nervosa.

A prevalência pontual de IAC foi maior no nosso estudo comparativamente ao estudo

de Mangweth‐Matzek et al. (2014) que indicou uma prevalência de 0.7%. No estudo de Hay

et al. (2008) que incluía mulheres com 65 anos ou mais, foi encontrada uma prevalência

superior à do nosso estudo (6.2%), apesar de também utilizar uma entrevista clínica. O nosso

estudo revelou uma prevalência de IAC semelhante às encontradas em populações mais

jovens portuguesas e em estudos em diferentes países que variam entre 0.5 a 1.9 (Kessler, et

al., 2013; Ribeiro et al., 2014).

Para o diagnóstico das Perturbações do Comportamento Alimentar e da Ingestão

foram utilizados os critérios de diagnóstico do DSM - 5. Contudo, no que concerne ao

diagnóstico da Perturbação de Ingestão Alimentar Compulsiva, o critério C., descrito como

mal-estar marcado ao recordar as ingestões alimentares, no nosso estudo o mal-estar foi

avaliado como moderado e não marcado.

O nosso estudo é o primeiro a avaliar e a caracterizar os diferentes episódios de

ingestão alimentar, i.e., episódios bulímicos (objetivos e subjetivos) e episódios de ingestão

exagerada (objetiva e subjetiva) em mulheres com 65 ou mais anos, que não preenchem os

critérios de diagnóstico no DSM - 5.

Os nossos resultados demonstram uma prevalência pontual considerável (12.1%) de

comportamentos alimentares disfuncionais quanto aos episódios de ingestão alimentar. A

prevalência pontual de episódios bulímicos foi de 6% (3.6% para episódios bulímicos

objetivos e 2.4% para episódios bulímicos subjetivos). Todos estes indivíduos apresentavam

perda de controlo e, de acordo com Niego, Pratt e Agras (1997), esta é a caracteística mais

relevante nos episódios de ingestão alimentar compulsiva, por estar associada a níveis

Page 27: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

19

elevados de comprometimento psicológico, independentemente da quantidade ingerida. A

prevalência de episódios de ingestão exagerada (objetivos e subjetivos) foi de 6.1% (1.1%

para episódios de ingestão exagerada objetivos e 5% para episódios de ingestão exagerada

subjetivos). Estas participantes não apresentavam perda de controlo, sendo a única diferença

entre os episódios a quantidade de alimentos ingeridos.

No nosso estudo não foram encontrados dados de prevalência de ingestão alimentar

noturna, contrariamente aos dados encontrados por DeZwaan et al. (2014) que encontrou uma

prevalência de 1.1% em indivíduos entre os 14 e 85 anos. O nosso estudo foi o primeiro a

avaliar a existência de ingestão alimentar noturna em mulheres com 65 ou mais anos. Porém,

seria fundamental mais investigação de forma a avaliar este comportamento em mulheres

idosas.

Os nossos resultados sugerem que o petisco contínuo é um comportamento alimentar

frequente nas mulheres com 65 anos ou mais, evidenciando uma prevalência de 18.9%.

Devido ao escasso número de investigações relativamente ao petisco contínuo é fundamental

que exista mais investigação epidemiológica acerca deste comportamento. Porém, dados de

frequência encontrados por Reas et al. (2012) demonstra uma prevalência elevada numa

amostra não clínica de mulheres jovens (91%) O nosso estudo é o primeiro a reportar este

comportamento em mulheres idosas.

Os nossos resultados evidenciam que o comportamento de controlo de peso mais

presente nas mulheres com 65 ou mais anos consiste no recurso ao jejum (0.9%),

comportamento que ocorria pelo menos uma vez no último mês. Este resultado é muito

inferior ao encontrado nos Mangweth-Matzek et al. (2006) que reportaram que cerca de

4.14% das participantes recorriam ao jejum não relacionado com o peso. Apesar de não ter

sido estudado, as principais razões que as participantes evidenciam para o recurso do jejum

consistiam no esquecimento, não sentir fome, e não ter vontade de cozinhar e/ou comer

sozinha. Não foi encontrado estudos de forma a comparar estes resultados.

Cerca de 0.3% das participantes recorriam ao vómito auto-induzido (pelo menos uma

vez no último mês) como método de controlo de peso, dados semelhantemente encontrados

por Gagne et al. 2012 relativamente a pessoas com 65 ou mais anos e inferior ao encontrado

por Mangweth-Matzek et al. (2006).

Além disso, o nosso estudo indicou que cerca 1.8% das participantes recorriam ao

vómito auto induzido não relacionado com o peso, como forma de aliviar o desconforto físico.

Não foram encontrados dados de mulheres que utilizavam diuréticos relacionados com o

peso, contrariamente ao que acontece no estudo de Gagne et al. (2012) que refere que 0.3%

Page 28: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

20

dos indivíduos com 65 ou mais anos demonstravam esse comportamento. Os nossos

resultados evidenciam que cerca de 5.3% utilizam diuréticos não relacionados com o peso,

referindo ter sido prescrito pelo médico, especialmente nas mulheres com hipertensão.

Contrariamente ao que acontece noutros estudos (Gagne et al., 2012) os nossos

resultados não reportaram mulheres que recorriam a exercício físico excessivo. Porém, cerca

de 14.2% das mulheres praticavam exercício físico regularmente, dados que vão de encontro

ao estudo de Shahar, Shai, Vardi e Fraser (2003).

A maioria das mulheres entrevistadas na segunda fase do estudo apresentava

preocupação moderada-extrema com o seu peso, semelhantemente aos resultados de outras

investigações (Allaz et al., 1998; Guerdjikova et al., 2012). As razões pelas quais estas

mulheres davam importância ao peso consistiam no forte impacto que o peso tem na sua auto-

avalição (Guerdjikova et al., 2012), bem como a associação da importância do peso a

questões de saúde, como por exemplo a dificuldades em andar, como o impacto que a falta de

saúde poderá ter nos familiares.

Conclusão

Os resultados do nosso estudo acerca dos comportamentos alimentares disfuncionais,

comportamentos de controlo de peso e preocupações com o peso e forma corporal em

mulheres com 65 anos ou mais, sugerem que as Perturbações do Comportamento Alimentar e

da Ingestão estão presentes em mulheres idosas, da mesma forma que os comportamentos

alimentares disfuncionais. Além disso, o nosso estudo é um contributo no que diz respeito ao

estudo do petisco contínuo, sendo este comportamento bastante frequente nas mulheres

idosas. Apesar das preocupações com o peso e forma corporal estarem presentes, o nosso

estudo demonstrou uma importância elevada com o peso e pouca importância relativamente à

forma corporal.

Esta investigação apresenta algumas limitações nomeadamente o reduzido tamanho da

amostra. No entanto, corresponde a 7.1% das mulheres com 65 ou mais anos da Ilha Terceira;

não ter sido avaliado a verificação de peso, pelo que no decurso das entrevistas realizadas foi

possível identificar mulheres que se pesavam com regularidade. Para investigações futuras

seria interessante associar variáveis psicológicas (stresse, ansiedade e depressão) e variáveis

de qualidade de vida aos comportamentos alimentares disfuncionais.

Page 29: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

21

Referências

Allaz, A. F., Bernstein, M., Rouget, P., Archinard, M., & Morabia, A. (1998). Body weight

preoccupation in middle‐age and ageing women: a general population

survey. International Journal of Eating Disorders, 23(3), 287-294.

American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental

disorders (5ª ed.). Arlington, VA: American Psychiatric Publishing.

Andersen, G. S., Stunkard, A. J., Sørensen, T. I., Petersen, L., & Heitmann, B. L. (2004).

Night eating and weight change in middle-aged men and women. International

journal of obesity, 28(10), 1338-1343.

Berkman, N. D., Lohr, K. N., & Bulik, C. M. (2007). Outcomes of eating disorders: a

systematic review of the literature. International Journal of Eating Disorders, 40(4),

293-309.

Celio, A., Wilfley, D., Crow, S., Mitchell, J., & Walsh, B. (2004). A comparison of the Binge

Eating Scale, Questionnaire for Eating and Weight Patterns-Revised and Eating

Disorder Examination Questionnaire with Instructions with the Eating Disorder

Examination in the Assessment of Binge Eating Disorder and its Symptoms.

International Journal of Eating Disorders, 36, 434–444.

Conceição, E. M., Crosby, R., Mitchell, J. E., Engel, S. G., Wonderlich, S. A., Simonich, H.

K., Peterson, C. B., Crow, S.J., & Grange, D. (2013). Picking or nibbling: frequency

and associated clinical features in bulimia nervosa, anorexia nervosa, and binge

eating disorder. International Journal of Eating Disorders, 46(8), 815-818.

Conceição, E., Mitchell, J.E., Engel, S.G., Machado, P.P.P., Lancaster, K., & Wonderlich,

S.A. (2014). What is “grazing”? Reviewing its definition, frequency, clinical

characteristics, and impact on bariatric surgery outcomes and proposing a

standardized definition. Surgery for Obesity and Related Diseases.

Page 30: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

22

Conceição, E., Mitchell, J.E., Vaz, A. R., Bastos, A. P., Ramalho, S., Silva, C., ... &

Machado, P. P. (2014). The presence of maladaptive eating behaviors after bariatric

surgery in a cross sectional study: importance of picking or nibbling on weight

regain. Eating behaviors, 15(4), 558-562.

Cornali, C., Franzoni, S., Frisoni, G. B., & Trabucchi, M. (2005). Anorexia as an independent

predictor of mortality. Journal of the American Geriatrics Society, 53(2), 354-355.

De Zwaan, M., Müller, A., Allison, K. C., Brähler, E., & Hilbert, A. (2014). Prevalence and

correlates of night eating in the German general population. PLoS One, 9(5).

Donini, L. M., Poggiogalle, E., Piredda, M., Pinto, A., Barbagallo, M., Cucinotta, D., & Sergi,

G. (2013). Anorexia and eating patterns in the elderly. PloS one, 8(5), 1-8.

Fairburn CG, Cooper Z. (2000).Eating Disorder Examination (14ª ed), version 14.3. Oxford,

UK: University of Oxford

Fairburn, C. G., & Beglin, S. J. (1994). The assessment of eating disorders: interview or self-

report questionnaire? International Journal of Eating Disorders, 16(4), 363-370.

Ferraro, F. R., Muehlenkamp, J. J., Paintner, A., Wasson, K., Hager, T., & Hoverson, F.

(2008). Aging, body image, and body shape. The Journal of general

psychology, 135(4), 379-392.

Folstein, M. F., Folstein, S. E., & McHugh, P. R. (1975). Mini-Mental State: a pratical

method for grading the cognitive state of patients for the clinician. Journal of

Psychiatric Research, 12(3), 189-198.

Gadalla, T. M. (2008). Eating disorders and associated psychiatric comorbidity in elderly

canadian women. Archives of women's mental health, 11 (5-6), 357-362.

Gagne, D. A., Von Holle, A., Brownley, K. A., Runfola, C. D., Hofmeier, S., Branch, K. E.,

& Bulik, C. M. (2012). Eating disorder symptoms and weight and shape concerns in

a large web‐based convenience sample of women ages 50 and above: results of the

Page 31: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

23

gender and body image (GABI) study. International Journal of Eating Disorders, 45

(7), 832-844.

Guerdjikova, A. I., O'Melia, A. M., Mori, N., McCoy, J., & McElroy, S. L. (2012). Binge

eating disorder in elderly individuals. International Journal of Eating

Disorders, 45(7), 905-908.

Guerreiro, M., Silva, A. P., Botelho, M. A., Leitão, O., Castro-Caldas, A., & Garcia, C.

(1994). Adaptação à população portuguesa da tradução do "Mini Mental State

Examination" (MMSE). Revista Portuguesa de Neurologia, 1(9), 9-10.

Hall, P., & Driscoll, R. (1993). Anorexia in the elderly—an annotation. International Journal

of Eating Disorders, 14(4), 497–499.

Hay, P. J., Mond, J., Buttner, P., & Darby, A. (2008). Eating disorder behaviors are

increasing: findings from two sequential community surveys in South

Australia. PLoS One, 3(2).

Kessler, R. C., Berglund, P. A., Chiu, W. T., Deitz, A. C., Hudson, J. I., Shahly, V., ... &

Xavier, M. (2013). The prevalence and correlates of binge eating disorder in the

World Health Organization World Mental Health Surveys.Biological

psychiatry, 73(9), 904-914.

Killen, J. D., Taylor, C. B., Hayward, C., Wilson, D. M., Haydel, K. F., Hammer, L. D., ... &

Kraemer, H. (1994). Pursuit of thinness and onset of eating disorder symptoms in a

community sample of adolescent girls: a three‐year prospective

analysis. International Journal of Eating Disorders, 16(3), 227-238.

Lewis, D. M., & Cachelin, F. M. (2001). Body image, body dissatisfaction, and eating

attitudes in midlife and elderly women. Eating Disorders: The Journal of Treatment

& Prevention, 9 (1), 29-39.

Page 32: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

24

Lima, C. S. M. (2012). Contributo para a validação da versão portuguesa do Questionário

SCOFF para deteção de casos de perturbação do comportamento alimentar.

(Doctoral dissertation). Universidade do Porto: Porto.

Luca, A., Luca, M., & Calandra, C. (2014). Eating disorders in late-life. Aging and Disease, 5

(3), 1-8.

Machado, P. P., Machado, B. C., Gonçalves, S., & Hoek, H. W. (2007). The prevalence of

eating disorders not otherwise specified. International Journal of Eating

Disorders, 40 (3), 212-217.

Mangweth‐Matzek, B., Hoek, H. W., Rupp, C. I., Lackner‐Seifert, K., Frey, N., Whitworth,

A. B., ... & Kinzl, J. (2014). Prevalence of eating disorders in middle‐aged

women. International Journal of Eating Disorders, 47(3), 320-324.

Mangweth‐Matzek, B., Rupp, C. I., Hausmann, A., Assmayr, K., Mariacher, E., Kemmler, G.,

... & Biebl, W. (2006). Never too old for eating disorders or body dissatisfaction: A

community study of elderly women. International Journal of Eating

Disorders, 39(7), 583-586.

Markey, C. N., Markey, P. M., & Birch, L. L. (2001). Interpersonal predictors of dieting

practices among married couples. Journal of Family Psychology, 15(3), 464.

Masheb, R. M., Roberto, C. A., & White, M. A. (2013). Nibbling and picking in obese

patients with binge eating disorder. Eating behaviors, 14(4), 424-427.

Matsumoto, H., Takei, N., Kawai, M., Saito, F., Kachi, K., Ohashi, Y., ... & Mori, N. (2001).

Differences of symptoms and standardized weight index between patients with

early‐onset and late‐onset anorexia nervosa. Acta Psychiatrica Scandinavica, 104(1),

66-71.

Midlarsky, E., & Nitzburg G. (2008). Eating disorders in middle-aged women. Journal of

General Psychology, 135, 393-407.

Page 33: Fabiana Vanessa Silva Gomesrepositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/38645/1/Fabiana Vanessa... · Fabiana Vanessa Silva Gomes ... 40 e 60 anos, cerca de 23 foram diagnosticadas

25

Morgan, J. F., Reid, F., & Lacey, J. H. (1999). The SCOFF questionnaire: assessment of a

new screening tool for eating disorders. Bmj, 319(7223), 1467-1468.

Niego, S. H., Pratt, M. P., & Agras, W. S. (1997). Subjective or objective binge: Is the

distinction valid? International Journal of Eating Disorders, 22, 291–298.

Rand, C. S., Macgregor, A., & Stunkard, A. J. (1997). The night eating syndrome in the

general population and among postoperative obesity surgery patients. International

Journal of Eating Disorders, 22(1), 65-69.

Reas, D. L., Wisting, L., Kapstad, H., & Lask, B. (2012). Nibbling: frequency and

relationship to BMI, pattern of eating, and shape, weight, and eating concerns among

university women. Eating behaviors, 13(1), 65-66.

Ribeiro, M., Conceição, E., Vaz, A. R., & Machado, P. P. (2014). The prevalence of binge

eating disorder in a sample of college students in the north of Portugal. European

Eating Disorders Review, 22(3), 185-190.

Shahar, D., Shai, I., Vardi, H., & Fraser, D. (2003). Dietary intake and eating patterns of

elderly people in Israel: who is at nutritional risk? European journal of clinical

nutrition, 57(1), 18-25.

Shaw, J. M., Ebbeck, V., & Snow, C. M. (2000). Body composition and physical self-concept

in older women. Journal of women & aging, 12(3-4), 59-75.

Tylka, T. L. (2004). The relation between body dissatisfaction and eating disorder

symptomatology: an analysis of moderating variables. Journal of Counseling

Psychology, 51(2), 178-191.