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Livro de Antonio Ramane

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  • 4EDICO DO AUTOR2015

  • 5Antonio RomaneO jornalista paranaense Antonio Romane, que vive h

    dcadas em So Paulo, tambm poeta. Publicou Alenter-ra, 1977; Certas pessoas e outra gente, 1980; Espelho ab-soluto, 1992; Hierofanias, 1994. Poesia para crianas: Co-leo de slides, 1987, e Noite transfigurada, 2004. lbum collage: Um comeo para Catrina & Aristeu, 2002.

    Foi editor de O escritor, jornal da Unio Brasileira de Escritores, e da revista Pau Brasil, pioneira em questes ambientais, participando ainda de vrias antologias. Tra-duziu, para a Escuta Editora, livros de Jacques Derrida.

  • 6

  • 7JaneiroIsto quer dizer que Deus criou o mundo para fazer-se

    companhia, to solito estava Ele?

    Obrigada por no me fazer entender, ttulo de um con-to romntico numa coletnea tadjique, traduzido da lngua original para o alemo e, da, para o francs e, bem poste-riormente, para o portugus do Brasil.

    Pois o que se diz por a: essa gente no acredita no poder da justia, mas, sim, na justia do poder.

    Basta rir por ltimo, no necessariamente melhor.

    Super, extra, macro, mega, maxi, ultra, hiper, o que mais der e vier.

    evidente que diversas clulas no so o mesmo que clulas diversas ou, ainda, molculas diversas e diversas molculas. Assim tambm um bom poltico no necessa-riamente um poltico bom.

    Delrio paranico tambm pode ser bastante realista basta ver os discursos desse famoso lder.

  • 8Do tuiteiro @O_Desaforista: isso a, francamente: a exposio dos gays tanta que acho que so vtimas de marketing homofbico e nem percebem.

    Robs humanoides tero a pele de que cor?

    Cara, o Brasil realmente fantstico. At pouqussimo tempo atrs, o negcio era fundar uma igreja, agora o caso de fundar um partido e ao longo desse tempo, que se fun-de tambm uma ONG que, em nosso pas, uma instituio no-governamental governamental.

    Medo eu s tenho de no aparecer bem na televi-so. Est num filme, desses com muita bomba, tiros, ban-didos, mocinho e mocinha.

    So Sebastio, praia de Guaec. Ali est Ilhabela. Con-tra o anil, l vem l vai o monomotor verde arrastando a faixa Mxima proteo contra o envelhecimento solar e o nome do produto. Pode at ser um bom produto, mas no consigo imaginar como faz-lo proteger o astro-rei da ine-xorvel decrepitude.

    Homem Scrates que , lgico.

    O que no tem remendo, remendado no est.

  • 9S quem ouviu um filho da puta esquerdista cham-lo

    de covarde por no pegar em armas sabe o quo filho da

    puta pode chegar a ser um esquerdista tanto quanto um

    filho da puta direitista.

    Por mais que seja lavado, aquele tipo sempre exalar alguma sujeira.

    Tempo metfora, agora desde outrora: ontem foi hoje e amanh, hoje ser amanh e ontem, amanh teria sido morte, mas bem poder ter acontecido vida.

    POP PQP Apenas o rabo do gato.

    Para os jornalistas teimosos, a mxima O fim do mun-do cabe em trs caracteres, FIM. Pode tambm ser em mi-nsculas: fim. E sem ponto final: fim O ponto de exclamao

    fica a critrio do pobre redator. Na dvida, interrogao.

    No existe tentao totalitria para quem nela est mergulhado.

    Mistrio total, indevassvel: A absurdidade da exis-tncia. Por que no inefabilidade?

    Quem tem padrinho no morre cago.

  • 10

    Ningum nasce na idade de saber se a noite o re-verso do dia, menos ainda pleno de liberdade ou mesmo saudoso da imortalidade.

    Jean Franois Billeter me ensina que muitas palavras de lnguas ocidentais no possuem correspondentes chine-sas que recubram o mesmo campo semntico, por exemplo, poltica e razo. Nem por isso os chineses deixam de fazer poltica e fazer uso da razo (ou no).

    Brasil, paraso da oligarquia econmica nos bastido-res da espetacularizao do poder poltico.

    O sal na lesma, o sol no aventesma.

    Eu bem preferiria a ordem poltica, ao trabalho, ao amor, arte ento eu teria perdido a vida ordeiramente.

    Por que o nome das coisas nunca suficiente?

    May we live long and die out. Thank you for not bre-eding. o slogan de uma organizao no-governamental norte-americana proslita da extino da raa humana. En-to, por que, democraticamente, no se suicidam? Pode ser que, para eles, como para Cioran, a constncia da ideia de suicdio ajude a suportar a vida.

  • 11

    Sim, existe delinquncia intelectual pra tudo quanto lado: A uma forma nova e inusitada de pensar, os gregos deram o nome de Filosofia. Assim comea Introduo Histria da Filosofia de Marilena Chau. Algum pode ar-gumentar que se trata de um livro dirigido a estudantes, da o tom didtico. Se assim , ento se trata de corrupo da juventude.

    Mentira como mtodo, corrupo como norma, des-graas a Deus.

  • 12

    FevereiroPobre 8, espremido entre 9 e 7, sem carisma nem ms-

    tica, s pode sentir-se feliz quando em decbito dorsal ou ventral, infinito.

    A nuvem no se sabe, mas chove-se.

    Nem humilde nem orgulhoso, apenas o que pretende fazer crer ser, assim mesmo, trs verbos na sequncia.

    Quem vivo sempre desaparece.

    Mais importante do que saber se o que nasceu primei-ro foi o ovo ou a galinha descobrir se este macuco aqui um urubu que no sabe voar ou se aquele urubu l um macuco que aprendeu a levantar e sustentar voo.

    Existe fidelidade canina, existe fidelidade cadela?

    A generosa esperana no amanh radioso que desem-boca no crime real com a cumplicidade de artistas e in-telectuais.

    A vaca vai pro brejo, a juvenca para a lama.

  • 13

    Voc me pede o exemplo de uma besta quadrada que as pessoas acham bastante inteligente. Bem, tanta gente, homens e mulheres... Antigamente, as mulheres pareciam menos estpidas porque tinham menos voz pblica do que hoje. Mas o que antigamente?

    Mas enfim, sim ou no?

    Talvez sim, talvez no. Mas talvez j no sim ou no? Talvez.

    Buscar as causas pode fazer chegar compreenso; no entanto, compreender no significa tolerar.

    Lazarenta oc, Eva, que deu a fruita proibida! (Uma comadre muito brava)

    Parece que a ideia da religio como freio moral vem de Horrio. Horcio pode ser tomado como exemplo de cris-tandade?

    Rande Funto, enlogo paraguayo: Se o vinho no vem a ti, tu deves ir fonte da Transfigurao. No en-tendi direito, mas me parece uma boa frase.

    O orgulho do humilde, a honra do sbio, o sal da terra.

  • 14

    O falecido Carlos Fuentes, grande escritor mexicano, democrata, botou na boca do narrador de Adn en Edn (primeira edio em 2009): Paradoja: en un pas de po-bres, la cocina es rica. Ele bem sabia do que falava. En-quanto isso, no Brasil, onde aconteceu recentemente o mi-lagre de a pobreza ter sido suprimida (agora s falta abolir a misria, ou melhor, a extrema pobreza, sendo o resto tudo classe mdia), a cozinha est cada vez mais pobre. Se os jo-vens desprezam o arroz & feijo (por vergonha?), o que con-cluir? Sei l, talvez que na Frana e na Itlia s exista gente pauprrima.

    Carne. Entre a neblina e a pedra.

    Num castelo em chamas voc filosofa; de um castelo

    em chamas voc foge descabeladamente, gritando aos qua-torze ventos: No fui eu! No fui eu!

    Eu? No, nadaver.

    Por incrvel que parea, esse eu de ento, esse tambm era eu.

    Interessante, se a economia cresce, por virtude do governo; se a economia decresce, por culpa do mercado.

  • 15

    Conversa de botequim Cite alguma coisa que voc aprendeu a comer de

    uns tempos para c. Lasanha de abobrinha.

    Olhos de guia ou de lince parece que ele tem, imagi-nao que no o seu forte.

    A vida no comea no nascimento nem termina na morte. Esta no uma observao mstica, religiosa, espi-ritualista, mas, sim, uma constatao materialista.

    Estamos muito mais prximos do universo do que so-nha aquele vo testa.

    A chuva densa me oferece uma ideia de totalidade des-ta cidade, desta grande cidade, desta megalpole. A densa chuva que permite a vida, no o horror.

    O cara ficou realmente bravo com a crendice da petista

    e sapecou: Jesus o teu pastor e Lula o teu macho alfa.

    Tu s Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha

    igreja. Tu es Petrus, et super hanc petram aedificabo ec-clesiam meam. m Deus!, o que esperar de uma civiliza-o assentada num trocadilho?

  • 16

    Se o homem foi criado no sexto dia depois dos ani-mais domsticos e selvagens e antes da mulher e do descan-so do Senhor , por que cazzo essas igrejas no admitem que, tendo o universo e a terra existncia anterior ao ho-mem, o darwinismo pode ter alguma razo? Nem precisa ser toda razo, apenas alguma. Ainda mais que, a rigor, de acordo com Gnesis 2:7, o homem se fez depois de ter sido moldado: E formou o Senhor Deus o homem do p da ter-ra, e soprou-lhe nas narinas o flego da vida; e o homem tornou-se alma vivente. Se considerarmos dois momen-tos, o surgimento material e o surgimento da alma, ento bem que pode ter havido um instante macaco entre um e outro, hem?

  • 17

    MaroOnde termina o processo gentico e comea o cultural?

    A tica das biscateiras no aquela das biscates, ainda que existam muitos pontos em comum de resto, como em todas as ticas.

    er que aqueole enhor acredita memo na batata-da que di o tempo todo? e acredita, bem, e no acredita, ento... Brasil, e cobrir vira irco, e ercar vira hopio (apud Aldir Blanc).

    Fujo banalidade das conversas e esse um pro-blema que, a depender das circunstncias, torna-se gravs-simo.

    No estou nem quero estar a par de tudo o que acon-tece. No tenho vocao para deus.

    Falar, at que ela fala, o drama a sintaxe.

    Roubam, mas desfazem.

    dipo sabia que era mais jovem do que Jocasta?

  • 18

    Por no ter poder (ainda) de criar a polcia poltica, cria-se a poltica policial.

    Predio: amanh acordarei vivo.

    Vulgaridade no tem cura e bem baratinha.

    A decncia tem andado minoritria.

    O hbito leva a certezas acomodadas, porm nem sempre 2 + 3 = 4 ou 6.

    O cara foi muito macho ao botar casa na ordem.

    Sinais de tempos: Que voc est vivo eu sei, a ques-to se voc se sente vivo, rapaz.

    Falemos sobre a finitude dos sonhos: vivemos j no

    pas outrora do futuro.

    Na astrologia voc cr, na astronomia voc v.

    No posso respeitar quem se autointitula figura pblica.

  • 19

    Com tanto jogador de futebol que vai embora, o Bra-sil um exportador de p de obra.

    Iguais perante Deus, desiguais para o Diabo.

    Cada vez mais verde e amarela, parece recitar o lo-cutor de voz pegajosa, o que ouo cada vez mais imatura e medrosa.

    Existem o chato circunstancial e o chato orgnico. O chato circunstancial , como o nome indica, dependente da ocasio, s vezes pode at no parecer chato para alguns ou muitos voc e eu no estamos imunes a s-lo. O chato orgnico, bem, esse no tem jeito, chato ensimesmado, chato entusiasmado, debaixo dgua, na terra, no ar, nasceu chato, ressuda chatice, mais chato ainda quando se faz de simptico ou mesmo brilhante. O pior chato aquele que no quer s-lo? No, nenhum chato sabe, sequer desconfia

    de que um chato e morrer chato.

    Tantos analistas, especialistas e expertos me levam a crer que a violncia da classe mdia tem razes psicolgi-cas e a violncia dos pobres, razes sociolgicas.

    Ultrapassei algumas dcadas de vida terceira idade a puta que vos pariu!

  • 20

    Ado j nasceu circuncidado?

    Daqui, o que vejo no me parece uma invaso brbara, acho que... Sim!, uma exploso demogrfica com seu epi-centro l onde menos se espera.

    Moo, libertrio; velho, liberticida.

    Christian Godin me lembra: a glria cedeu lugar celebridade; a celebridade cedeu lugar popularidade. E agora? Agora melhor nem pensar no depois. E depois... haver um depois?

    A cano de Balona genial. A performance de Calino genial. O poema de Dolane genial. A receita de batatinha frita de Filuna genial. O filme de Guleno genial. O pente-ado de Jorana genial. A roupa de Kireso genial. E eu que pensava que genial era obra de gnio.

    Cincia & Liberdade. Cincias e liberdades. Caram-ba!, o que no se pode complexificar?

    Simples, realmente edificante: Quando o clericado

    domina, a inteligncia regride, Michel Onfray, Les sages-ses antiques. O clericado de qualquer religio, diga-se.

  • 21

    AbrilDe repentemente, cai-me sob os olhos esta foto dita

    oficial. Bode, peguei bode deste senhor e seus perfeitssi-mos setenta e oito dentes. Antes era antipatia, e no apenas pessoal. Dizem que ele mesmo um ignorantao, mas mui-to, muitssimo inteligente. Peguei bode de inteligncia?

    Todos temos o direito universal de cometer sonetos. Que eu saiba, em nenhum pas do mundo est o soneto proibido.

    Porque slido em sendo lquido, o chuchu desafia as

    leis da fsica newtoniana.

    Aproxima-se um tempo em que confiana passar a

    ser o produto mais cobiado no mercado.

    H anos, um sujeito apelidado Rei cantava que queria ter um milho de amigos; mais recentemente, mensagens do Facebook assinadas por pessoas que nunca vi pergun-tando se eu queria ser seu amigo (j so mais de um bilho de amigos); depois, Steve Wozniak, cofundador da Apple, dizendo que o computador se tornar o melhor amigo das pessoas. Banalizam a amizade assim como banalizam o mal.

  • 22

    Em poesia, a flecha cria o alvo. Ser que li isso? Li-vro? Onde? Quando?

    O rei do Brasil careca? Embora formulada correta-mente, a questo no pode ser respondida pela bvia razo de que no existe rei no Brasil. Porm, do ponto de vista irnico, pode-se responder afirmativa ou negativamente:

    acontece que, no Brasil, sob o aspecto da absurdidade, a ironia , voluntria ou involuntariamente, norma.

    Na poltica brasileira, ningum d com os burros ngua. J burros dgua existem s pampas, cerrados e ca-atingas.

    Superstio, ignorncia, fanatismo. Atire a primeira pedra.

    Ver. Ouvir. Verouvir. Ouviver. Viver. Ou.

    Eu verouo, tu verouves, ns verouvimos.

    Alguns tantos esto sentados nos ombros de gigantes, muitos outros em pilhas de cadveres.

    Publilius Syrus: Quando se perde a honra, para qu salvar o resto? Isso quando se tem honra a perder.

  • 23

    Buganvlias de abril, noivas de maio.

    No contentes em nos responsabilizar, eles querem nos culpar. Responsveis e culpados pela misria histrica brasileira porque no posamos de heris.

    A mentira tem pernas longas, calipgia e nunca tem os olhos vendados.

    Concordo com voa eelnia, nobre enador: no e repeita um homem pelo eu cabelo acaju, porque o ca-nalha tambm rejuveneem.

    Tudo nada.

    Esse po de queijo sua frente, ou voc o come (opo nica) ou joga fora, guarda no congelador, d pro cachorro e outras muitas opes.

    O poder do espetculo, o espetculo do poder.

    Toda filosofia autoajuda alguns Epicuro, multi-des Paulo Coelho.

    Toda rua termina, o cu comea na terra.

  • 24

    Essas vozes... Essas vozes me do engulho. Para no vomitar, desvio meu olhar das imagens.

    Mesmo o melhor conservador a oeste deve admitir que possa haver melhor conservador a leste. E vice-versa. Talvez seja esta a verdadeira entente dos mundos.

    Morte: primeira, ltima, nica.

    Nascimento: primeiro, ltimo, nico.

    Ele vivia dizendo aos estagirios: Aqui, vocs vo aprender mais com os erros do que com os acertos; pres-tem mais ateno no que no se deve fazer do que em como fazer.

    J que a matemtica indiferente aos nossos desejos, por que no nos unimos todos para louv-La?

    Empdocles descalou as sandlias e atirou-se ao Etna. Acontece que no Brasil no cultivamos vulces, por isso temos deuses feito homens de sobra.

    Tudo matematizvel, todos somos psicologizveis isso eu aceito em princpio. Resta a questo de saber quem matematiza e quem psicologiza.

  • 25

    MaioTeria sido observando a redondez da lua que o homem

    criou a roda? Ou teria conseguido isso observando uma pe-dra a rolar? At a relativamente simples conjecturar, bem mais complicado pensar na criao do eixo. Rolar qual-quer tronco ou seixo rola, mas a disciplina da rolagem, a j so outros muitos milhares e milhares de anos.

    Minha amiga, se o negociante faz uma liquidao em que oferece 79% ou 89% de desconto, ento esse comer-ciante estava cobrando muito alm do razovel. 79%? 89%? Por favor, no v me dizer que ele est tendo prejuzo.

    Quem gosta de ser respeitado no temido geral-mente se respeita.

    A guerra e o fanatismo, tambm o niilismo.

    O cometa e sua cabeleira frise?!

    Motto of the corrupt in Brazil: no news, good news; good answers, no questions.

    To eloquente quanto cego para a verdade.

  • 26

    Ainda que a histria no ensine coisa alguma isto , podemos no aprender com a histria , sempre apon-tar para algo, alguma coisa, se prestarmos um pouco de ateno. Entre o desaparecimento do mundo micnico e o surgimento da polis grega, a escrita chegou a ser esquecida, o que pode querer dizer, para ns, brasileiros, que o nosso pas tem chance, l por volta do ano da graa de 2087, quem sabe?

    Do invisvel eu posso escrever; do visvel, posso falar.

    Escravo de suas obsesses, sim, mas no sofre por isso um dspota.

    Ora, voc v pelo buraco da fechadura sem a chave que, se usvel, ou est dentro da casa ou fora da casa. Da mesma forma, ou se est sendo levado pelo avio ou se est fora do avio, trem, caminho, barco. Tambm da roda-gi-gante.

    A poeta italiana Cacciupa Prego declamou: Eternit! Eternit! Leternit esisterebbe se io non dovessi mostrare la mia identit e dichiarare la mia vera et. No uma graa?

    Fragmento, ainda que o sonho total.

  • 27

    Voc pe f num pas em que baldeao virou cone-xo, pasta de dentes agora dentifrcio, bilhete foi trocado por ticket, lixo tornou-se parque de valorizao de resdu-os urbanos e discurso speech? Voc realmente acredita num pas que importa cabide de roupa e bolinha de gude da China? Parabns, voc um otimista. Se no acredita, voc um traidor da ptria!

    Liberdade do corpo ou planificao? Decida, se for

    capaz.

    O que mais se desmilinge no mundo?N por nada, no, apenas para encher lingia com

    a palavra cuja etimologia um mistrio e para protestar

    (nunca tarde para protestar) contra a morte por decreto do trema. O que os brasileiros ganhamos com a morte do trema? No sei o que ganhamos, sei que perdemos uma das delcias da nossa lngua escrita. Cinqenta pragas de urubu nessa gente!

    E se fosse crepuscular para a vida e matinal para a morte?

    Admitindo que deuses existam, voc acha que eles precisariam enviar notcias, ainda mais atravs e repassa-das por seres humanos?

  • 28

    A alma do negcio, o negcio da alma: o culto do nada, o nada do culto.

    Imagino se no devia ser Os olhos da selva, no Os olhos na selva.

    No, no a conheo nem pessoalmente nem por ouvir dizer, mas aposto que a conheo melhor do que voc.

    s vezes surge a palavra morte no sei o que fazer dela, pois continuo vivo e escrevendo bobagens.

    Reforma gentica: diminuir para a metade os caroos da lichia e da jabuticaba, aumentar os gros da rom e a

    casca mais amigvel ao abacaxi com garantia de doura, tudo com a manuteno do tamanho e formato dos frutos e de sua descendncia.

    A ento que se d o encontro da fome com a vonta-de de comer e a perda de apetite com a anorexia.

    Que terrvel a situao do primeiro homem que per-cebeu a possibilidade do fim do mundo! No o fim de um

    mundo, o fim do mundo no o apocalipse, no a presena

    de deuses e demnios, apenas o ser humano.

  • 29

    Logo no incio do Alcoro, na Sura da Vaca, est es-crito: Esse o Livro. Nele no h dvida alguma. Ento, duvidar pra qu, no mesmo? A Bblia pelo menos oferece muitos causos, o Livro dos Salmos, a histria de Jos, o san-guinolento Davi, Salomo, o rei filsofo, para alm do iras-cvel Deus. O que me oferece a mais esse outro livro para que eu nunca venha a duvidar dEle?

    Leia-O e vers! Democracia, teu nome tambm pode ser tolerncia.

    E por acaso alguma soma um todo?

    Os genomas do homem e do chimpanz so similares em 95 por cento ou mais, o que talvez explique a diferena: o chimpanz parece no pensar em si mesmo e o homem capaz de agir contra si prprio.

    do jogo democrtico. No Brasil, mais jogo do que democrtico.

    Quem diz coletivo j diz seletivo.

    No, meu amigo, o seu deus no desaparecer, desa-parecero os homens que nele acreditam.

  • 30

    JunhoTalvez at seja possvel imaginar uma sntese do

    passado musical no ocidente, ao menos , mas falar de uma sntese do futuro musical mais fcil:

    Difcil acreditar que voc leve a srio um filsofo que

    escreve Todas as extravagncias de Leonardo da Vinci per-dem sua magia aos primeiros acordes do Tristo. A Filar-mnica de Berlim no refeitrio de Santa Maria delle Grazie?

    Por que a democracia, que em princpio o regime das liberdades, pode descambar para a servido? Pior: para a servido consentida, voluntria, especialmente por parte dos intelectuais?

    Diz-se que o correto escrever galxias a bilhes de anos-luz de distncia da Terra, mas estou convencido de que galxias h bilhes de anos-luz de distncia tambm est correto no se deve distinguir espao e tempo, no ? Tempspao.

    O mau carter, voc sabe que se trata de um mau ca-rter. O problema o falto de carter: nunca se sabe o que pode aprontar um falto de carter.

  • 31

    Toda grande literatura moralizante ou, pelo menos, enfrenta um risco moral.

    Donde vem a arrogncia de algum que se dirige a Deus como sendo Seu interlocutor privilegiado?

    Os tolos nunca saem de sua zona de conforto. Se o fi-zessem, no seriam tolos.

    Nestas alturas, sbado, 21:17, horrio de Braslia, quantos milhes e milhes de chineses j foram missa?

    Quem sou eu para desacreditar do nada absoluto?

    S mesmo um tolo pode pretender que esse imbecil e aquele estpido tenham grandeza de alma.

    Acontece, pessoal, que a cerveja brasileira uma porcaria, salvo as rarssimas medianas excees. Isso no desmerece a bebida, porque milhes de pessoas continu-am a beb-la e os publicitrios a louv-la. Vox populi, vox cervesia.

    Artistas. Se no podem no devem e/ou no querem criar beleza nem feira, por que no criar o indiferente? Com a vantagem de que o indiferente no exige sentimento.

  • 32

    Parece que Zeno de Ctio, fundador da escola estoica, gostava de inventar palavras, nomes. Como tinha ideias no-vas, precisava forjar termos adequados para express-las. Pois ento, decado, Zeno tem sua sombra atravessando os sculos e atualmente habita um pool de indstrias farma-cuticas ou voc acha que so gerao espontnea nomes como Felicitax, Almavit, PanAlegrol, Bluhmor, Energuen, Sujeital, Eukssim?

    bem possvel ao sorriso cnico ocultar-se sob um sorriso amarelo, impossvel a um sorriso imbecil passar por sorriso irnico.

    Aquele sujeito no tem o rabo preso com ningum: livre para oferec-lo a quem bem entender.

    Estes tmulos abandonadosainda conservam os nomesde muito antigos viventesque no inspiram traslados

    Do uso do verbo espelhar: Espelho, espelho eu, existe botox mais bem aplicado que o meu?

  • 33

    JulhoUm litro de cerveja, um quilo de manteiga isso no

    existe in natura, medidas e produtos.

    Aquela mulher remarcou muito a vida dele.

    Indstria do turismo, fbrica de lazer, comrcio de en-tretenimento, misria da razo.

    O sujeito que escreve suas memrias faz autobiogra-fia? E se o sujeito escreve autobiografia?

    Se as pessoas no querem compreender, mas inter-pretar, fazer o qu? Dessas pessoas est cheio o jornalismo.

    Ser que Nelson Rodrigues dizia que toda unanimida-de burra na esperana de que todos aqueles que tomassem conhecimento da frase concordariam com ela? Se assim foi, ele esperava pela unanimidade ansiaria, ento, pela pr-pria burrice? Se concordamos com o dito, eu, voc e mais dois ou trs amigos, ento formamos um bloco unnime, um bloco de burros, pois no? No entanto, se o dramaturgo di-zia que toda unanimidade burra esperando que nem todos concordariam com a afirmao, com quem estaria a burrice?

  • 34

    O nmero 3 azul. Ou qualquer outra cor que voc queira.

    Crer muito montono, a dvida apaixonante, disse Oscar Wilde. Ento, a f chatssima e o agnosticismo um deslumbramento?

    H males que vm para bem, verdade, e bens que vm para mal: a energia com base no combustvel fssil para o progresso material, por exemplo produzir custa al-guma coisa. Alm do qu, there aint no such thing as a free lunch.

    Aquele que sabe no se torna automaticamente s-bio, assim como imaginar-se assassino no leva maqui-nalmente ao assassnio.

    No existe morte prolixa.

    Pode ser um arco-ris ambulante. Ou melhor, volan-te. E !, quantas rimas e trocadilhos com borboleta! Muito volteis.

    Palhao tambm faz planto? Pergunto porque, se sim, ento, sentado na arquibancada, posso dizer Ah, no to engraado, um palhao de planto.

  • 35

    Cumprir seu papel histrico. Toda vez que ouvir isso, acredite: o que se quer que voc esteja disposto a morrer por algum demagogo.

    Tudo comea pelo comeo, disse o rei da tautologia.

    J se disse que so sete os verbos essenciais: ser, agir, poder, ver, ter, saber, dizer. No entanto, o nmero de ver-bos dicionarizados continua a crescer, ainda que muitos (a maioria?) venham morrendo pelo caminho.

    O bom da democracia que podemos ser resistentes sem cair na clandestinidade.

    Pode ser que a poesia deseje ser, num primeiro mo-mento, adjetivo, adjetivos naquele primeiro jato, na im-presso, na circunstncia, na indignao, no maravilha-mento, no enternecimento, naquele primeiro sentimento. Num segundo momento, exige-se ser um tanto ou muito mais substantiva. Exige-se isso da boa poesia, pelo menos.

    Quem tudo sabe no tem opinio.

    Que me ajudava a viver, que me ajuda a morrer.

    Estrada desastrada pode ser?

  • 36

    Anacronismo... Anacronismo... Sim, sim... O que anacronismo mesmo?

    Errare humanum est, perseverare autem diaboli-cum. A frase j est em Ccero Cuiusvis est errare: nullius nisi insipientis, in errore perseverare e a primeira fonte crist est em Santo Agostinho, Sermes 1 64,14: Huma-num fuit errare, diabolicum est per animositatem in erro-re manere, cair no erro prprio do homem, mas diabli-co insistir no erro por soberba. Hoje em dia, a frase volta ao seu sentido pr-cristo, aquele de Tito Lvio (Histria, VIII, 35): Venia dignus est humanus error: todo erro humano merece perdo. este o sentido amado pelos tementes a Deus polticos brasileiros.

    Ardiloso e dissimulado, virtuoso como ele s.

    Laranjeira. Voc j passou por perto de uma em flor e

    sentiu o perfume?

    Houve um tempo em que se dizia que a msica era a voz de Deus; o tempo passou e o que ouvimos so alaridos e urros divinizados.

    O Cruzeiro do Norte formado pela estrelas Jardim, Academia, Liceu e Prtico.

  • 37

    Publicitrio eminente e iminente.

    De fato, o ser humano o animal que mais rpido e melhor se adapta s circunstncias, haja vista seu compor-tamento frente ao lixo cultural. E o ser humano brasileiro sabe adaptar-se mais gil e profundamente ainda.

    Coragem mesmo teve Max Ernst: Mais me conheo, menos me entendo.

    Sejamos realulistas: nossa legitimidade acontecer com a legalidade que havemos de implantar, professa o to jovem e j bastante experientemente esperto causdico.

  • 38

    AgostoOs internacionalistas que se danem, prefiro o pas que

    respeita os direitos universais do homem e isto s pode acontecer numa democracia. Do contrrio, ser admirar e apoiar regimes discricionrios.

    Minha vida de bigrafo, ttulo interessante, dos mais vendidos na lista de fico.

    Tempo vir em que, no Brasil, a ferrovia ser res-suscitada. Arr! Isto sim que profecia!

    No se colhe delicadamente uma rosa: essa flor cor-tada do caule com a tesoura. Meter a tesoura suavemente?

    Nenhum corte suave, sequer nas margaridas-do-campo ou mesmo nas marias-sem-vergonha.

    Alguns pensadores entendem que a histria pode ace-lerar-se ou retardar-se. Se assim, o que seria a velocidade normal da histria?

    Fernando Arrabal: Escrever e publicar uma loucu-ra excrementicial. Este, sim, tem bosta na cabea.

  • 39

    O no-ser como algo, alguma coisa, no no ser, u!

    Ento, milagre dos milagres, o bando de hienas se fez vegetariano.

    Pela eficincia do rito, no as virtudes do dogma, deve ter pensado o padreco na hora h.

    Por que deveria eu beber arsnico para provar que 1) trata-se de um veneno, 2) veneno mortal? Uma dvida de morte.

    Resignao fatalista passiva isso o que eles espe-ram. Em troca, no matam voc.

    Voc j ouviu algum reclamar de dor na mente, choramingar por causa de dor de mente?

    Demente?

    Sabe uma das coisas de que mais gosto assistir? A lgica formal implacvel esborrachar a cara contra a rea-lidade em movimento.

    E ento, como anda sua vida sexual? Pauprrima, com nfase no possvel trocadilho.

  • 40

    Houve um momento um momento em que o mundo chegou a ser plural, pleno, natural: foi nas primei-ras dcadas aps a chegada de Cristvo Colombo a este continente, quando se descobriu um Outro. Logo, logo o mundo voltaria a ser branco, ocidental e cristo. Onde foi que eu li isso?

    Usar o prprio corpo como causa pblica... Isso no indecente, no?

    Se como Simon Leys observa Buda, Confcio, Scrates e Jesus no deixaram nada escrito e so grandes mestres do pensamento , ento devemos esperar por Lula nesse panteo.

    Ele? Cheio de inspirao, vazio de ideias.

    Da obviedade dos sentimentos: o co tambm no nos diz que sofre, mas nem por isso deixamos de perceber seu sofrimento. E com que intensidade um outro co percebe o sofrimento deste? Os ces e os cachorros sabem sofrer calados.

    Absolutamente nada. Se se trata de nada, s pode ser absolutamente ou qualquer outro adjetivo que, afinal,

    nada acrescenta ou diminui qualidade nada. Nihil clarior.

  • 41

    Ontem, mensagem subliminar; hoje, merchandising. Amanh, tudo grtis s lhe custar a vida.

    Empresa cidad... O sujeito d uma esmola, descon-ta o montante na declarao de imposto de renda e anun-cia por a (o que pecado) que ofereceu a esmola a isto chamam marketing institucional. Marketing institucional e empresa cidad de mos dadas com responsabilidade so-cial: assim tem caminhado o empresariado, que parece no mais interessar-se pelo lucro, ora vejam.

    No sei se humilde ou orgulhosamente, os msicos de jazz costumam saber que um depende do outro e que cada um tem a chance de ser indivduo.

    Um desejo que nunca ser satisfeito: ler todas as pu-blicaes bilinges da Les Belles Lettres.

    Todo estado escravagista acaba indo pro belelu. O Brasil no fugiu regra e continua a fugir ainda hoje.

    Reparando bem, que grande conquista da civilizao o itlico e o negrito. Sem esquecer o versalete.

    So monotesmos, cada um com o seu deus particular, com Deus em particular.

  • 42

    De certos trechos, pedaos, panoramas, lugares e seres no dizer mais agradveis, mas menos desagradveis. Mais agradvel pressupe algum grau de agradabilidade.

    Dio? Cos , se vi pare.

    sopa no mel, diz a formiga para a cascavel.

    Vamos imaginar que eu passe a ser um daqueles que esto dispostos a acreditar na existncia de Deus o que, ento, ter sido apresentado a mim como prova de haver tal existente? Se assim fosse, teria sido solucionada uma dvi-da, no resolvido o problema.

  • 43

    SetembroTanta informao deixar lugar para a memria?

    A ser verdade o que ouvimos dizer, a cincia imps um modelo de racionalidade universal e o que sentimos o irracionalismo triunfante.

    Esquerdismo uma espcie de autismo poltico. Eu disse autismo, mas podia ter dito automatismo.

    Redator, redutor.

    Ter sido necessria a existncia da bicicleta para que a televiso fosse inventada? Isso que dvida me-tafsica.

    Animais, insetos, amebas e idiotas em geral se comu-nicam. Eu gosto de conversar.

    E, afinal, Minas est onde sempre esteve: nadando

    de braada num mar de (p)rosas.

    Dissolver-se no silncio isto s pode acontecer com o som. To bobinha quanto encantadora essa constatao.

  • 44

    Mais que apolnea!, aponta a retilnea para a curvilnea.

    O limite das guas : guas no limite.

    Eles adoram inaugurar, seja l como e o que for. Acho que tm a certeza de que, com isso, inauguram um mundo novinho em folha.

    Mercado para morrer, cercado para correr.

    Da limalha ao im, no desvo da memria, pois algu-ma memria h de haver.

    A ilosofia realmente (f)til na busca de elicidade?

    Deus, no sei, do que tenho certeza que Jesus falou melhor latim e grego do que aramaico.

    Adeus, estatsticas! Serei eternamente o ltimo dos mortos.

    Aquele homem no uno nem mltiplo, no imvel nem mvel, no bem nem mal, no esprito nem corpo, no concreto nem abstrato. Aquele homem o indizvel.

  • 45

    Ensina teu filho, assim te conhecers a ti mesmo. Mas como, se, segundo Wordsworth, the child is father of the man?

    Uma gente to pobrezinha, to pobrezinha que nem conhece a moral do trabalho.

    J aqueloutra gente to miservel que ali no cabe assistncia social, mas paleoantropologia.

    Esta paisagem de outro mundo disse o na-morado.

    Mas outro mundo observou a namorada. Ento o mundo mudou? perguntou ele para a

    amada. No, o mundo o mesmo. que voc est en-

    cantado.

    No Brasil, entre os polticos, cada um pede beno ao padrinho que lhe convm.

    Quando os casais amigos se vo, deixando as garrafas vazias, cheio o corao.

    I heard the shadows dancing, ttulo de uma compo-sio de Gerry Mulligan.

  • 46

    No sculo X antes de Cristo, os brmanes colocaram no ponto o snscrito. ...Acho que voc no entendeu, eu disse sculo X, 10, dez sculos antes de Cristo.

    O Brasil um lugar em que o ladro faz a ocasio.

    Ouo Bach e Haydn, quase entendo por que no amo Mozart.

    Um tanto de recato no faria mal a ningum, me di-zia dia desses um mais velho amigo, que se chama... O que recato mesmo, hem?

    vampiros contra lobisomens BUM lobisomens contra zumbis ARGH zumbis contra fantasmas CRASH fantas-

    mas contra extraterrestres CLANG extraterrestres contra humanos BLEARGH humanos contra demnios AI- de-mnios contra lobisomens OH lobisomens contra zumbis BANG zumbis contra fadas ZUM fadas contra elfos PAM

    elfos contra lobisomens PUM lobisomens contra Deus I Deus contra extraterrestres FLASH extraterrestres

    contra demnios BOING demnios ad infinitum teletrans-portado THE END

    Com essa algazarra, o que eles querem impor o siln-cio razo da minoria.

  • 47

    OutubroOnde e quando comea o antigamente? Plato j dizia

    que os egpcios eram palaioi, isto , antigos. Plato viveu entre 427 e 347 a.C. Por isso que eu acho que o antigamen-te comea bem pra l de Ado e Eva.

    Ele, demnico e numinoso como Ele s, deve ter ob-servado o tal assessor espiritual.

    Voc no chegado do Homem, voc chegado no Homem.

    Dizem que Dziga-Vertov (o prprio, no o grupo de Jean-Luc Godard) teria afirmado que quem no tem nada a

    dizer hipertrofia o cenrio. Razo ele tinha, mas quem, em

    s conscincia, teria coragem de mandar atrofiar o cenrio?

    Caiu do poo a jacaroa. (Gramtica degenerativa presidencial)

    No ingnuo quem acredita que sombra do poder prospera a virtude tolo.

    Sophronesis.

  • 48

    A arte de bajular. Muito da escrota, mas arte. Arte? Arte, engenho.

    Escapou do aborto (nasceu num puteiro), fugiu eu-tansia (morreu cristmente de morte morrida), vai direto para o cu, o canalha.

    No um ninho de cobras, mas uma ninhada de ju-mentos.

    Belo acrnimo, Excelncia. E no era para s-lo? L isso era, para melhor t-lo. Acrstico tambm cincia.

    Um trombone pode ser figura de retrica? Pode. Deve.

    Estio nesta estada desventurosa, implacvel estrela de amanh, rosa, bicho, coisa, ddiva, recitava o bbado zombando de passadas vidas.

    Guerra guerra, negcio negcio, puta puta, fre-gus no se escolhe.

    To tonta que, quando v o Grande Lder, os lbios de baixo mandam beijinhos.

  • 49

    Abacate: tem semente grandona, redondona, boa pra pr num copo dgua e ver brotar e crescer. Depois, o drama de arranjar um canto onde plantar.

    Essas bolinhas de gude... s vezes, quando as vejo me vem quase que a mesma sensao de quando menino que as cobiava.

    Professor de semitica, vivia afirmando Este mundo

    uma vastssima iconografia. Certa vez, ao ser pergunta-do sobre a possibilidade de um outro mundo, resmungou: Uma infinita iconografia.

    Repare: aquelas mulheres querem revolucionar a so-ciedade, mas, enquanto isso no acontece, tambm elas participam da revoluo do corpo.

    Esta paisagem me cansa disse o psiquiatra com cncer no esfago, afagando a cabea da namoradinha assustada.

    uma paisagem cansada disse a namorada, controlando-se para no escorregar na grama molhada.

    to facilzinho quando se coloca no diminutivozinho.

    Sujeito pachorra, nunca se importa com esta zorra.

  • 50

    Est morto meu querido amigo Roberto Guerra, aque-le que se recusava a comer ou beber em p encostado nal-gum balco: No sou cavalo.

    Pombas paulistanas, ai,tristes voos pra quem vos quer?Resistir! Resistir! Resistir!No sabem mas fazem

    Ao fim da leitura de Quelque part dans linachev, de Janklvich, ficou, entre tantas, uma grande pergunta no ar: por que que no podemos ser, na poltica e na filosofia,

    pluralistas e plurais como o somos na msica?

    Mistificismo, mistifisicismo.

    Toalha branca sobre a mesa e meus caros espritos olhando de soslaio. Dou de ombros e sorvo a sopa.

    Encontraremos o labirinto?

    Nenhuma frase est escrita na natureza. E inscrita!

    Morte sempre ser a dos outros.

  • 51

    As estaes do metr de So Paulo sob a avenida Pau-lista (a parte mais alta da capital) esto na sequncia Con-solao > Trianon > Brigadeiro no sentido oeste-leste (da esquerda para a direita), vistas do sul para o norte; vistas do norte para o sul, ainda no sentido oesteleste (da direita para a esquerda), esto na sequncia Brigadeiro > Trianon > Consolao, evidentemente. Esta a viso vai-no-vem do trem. Para o vaivm, basta reverter as setas.

  • 52

    NovembroAssim sendo, podemos considerar esse partido como

    o coveiro do capitalismo no Brasil. Coveiro necrfilo.

    Muitos milhes de brasileiros no acreditam em Pa-pai Noel, mas acham que existe almoo grtis.

    Se voc est com vontade de cagar, cague logo. Do contrrio, vai sair peidando e sujando a cueca ou a calcinha aos poucos, mas firmemente. Fausto Lete-Fuss, Prof. Dr.

    do Depto. de Filosofia da Universidade de So Paulo Aps-tolo (USPA).

    Tudo o que vemos, pensamos.

    Nunca saberamos qual a face do dado se nos mostra se no estivesse numerada.

    Morrerei sabendo que o tempo inesgotvel e o espa-o infinito. Faria diferena se eu no soubesse disso ou se

    no fosse verdade? Para o morto, no. Mas me faz diferena saber que o tempo e o espao desaparecero, para alm da humanidade j ento extinta.

  • 53

    No me foi pedido, mas no resisti ao conselho (por escrito): Comece por no ler gente como esse tal Osho. Ainda assim no vai dar tempo de ler tudo, mas pelo menos no vai perder tempo tentando ler todos.

    Se voc salta altas muralhas, por que no se arrisca com esse magro crrego?

    S porque o sujeito deixou de bater minha carteira eu tenho de sair por a dizendo que ele tico? Esse tipo pior do que aquele que bate minha carteira e grita Pega ladro!

    Eu sei o que penso. Isso que conscincia indi-vidual.

    Trao meu caminho e sigo em frente pela rua. Isso que coragem de ser.

    Passou correndo um gato amarelo!

    Rouba, mas diz que faz. Expropria, mas diz que di-vide. Assalta, mas diz que distribui. Assedia, mas relaxa. Quem?

    Zpido escondeu o pente no bolso do palet na lenta esperana de a moa olhar prele bem nos .

  • 54

    Simples: se a histria tem um sentido o sentido apontado por Marx ento tudo permitido em nome da Revoluo. Por outra: o fim justifica os meios. A Idade do Ouro, a legtima, est ali na esquina: se o meio no justifica,

    ao menos explica os fins.

    O sol tambm raia nas latrinas, dizia Digenes de Snope, j l se vo 2.400 anos. Isto lanaria luzes e ajuda-ria a compreender o j raiou a liberdade no horizonte do Brasil, no fosse o complemento do filsofo: mas nem por

    isso se suja.

    Mudana ou deriva? Ctico.

    Ento, agora assim, oferecendo bons preceitos por no ter mais, a esta altura da vida, condies de dar maus exemplos.

    Assim como o meio ambiente no reconhece frontei-ras, o bajulador no deve economizar elogios e louvores, n no, Fulano?

    Livre-arbtrio. Tem certeza?

    Vestida de vento, bem mais radical do que caminhan-do contra o vento.

  • 55

    Morir en la carne, pero vivir eternamente en al alma del pueblo! (Bolivariano en su delirio potico coti-diano)

    A folha morre trs dias antes de se desprender da r-vore? A folha morre no momento em que se desprende da rvore? Quando cai da rvore, a folha est morta ou semi-morta? A folha morre no ar enquanto cai da rvore? A fo-lha morre no terceiro dia depois de ter cado da rvore? A morte da uma folha pode ser uma bela questo, mas acho melhor ir logo ao verbete apoptose.

    . rude esprito!

    Meus queridos, ainda que possa ser dodo, preciso admitir que ser maioria no significa representar o melhor

    de um pas e mesmo o melhor para si prpria.

    A palavra contra o silncio, o texto contra a leitura, o gesto contra. No tenho ideia do que isto significa, mas simptico.

    Voc prefere ser recebido como cliente ou como hs-pede naquele antigo, vetusto, agradvel hotel? E naquele bar, aquele velho bar onde no existe msica ambiente, cliente ou fregus?

  • 56

    Contra ratos no h argumentos.

    Dos novos ramos da cincia e da tica, dois deles mui-to me fascinam: a etnomatemtica e a biotica, que so, evi-dentemente, a matemtica tnica e a tica biolgica. Estu-dos apontam para a possibilidade do surgimento vigoroso da etnofarmacologia, etnoveterinria e etnotica (que seria a tica tnica, no se confundindo com a notica), alm da arquittica (tica na arquitetura arcaica), estettica (tica na esttica), protesttica (a tica das relaes prteseprotes-to) e proctettica (que, ao contrrio do que o nome sugere, a tica das placas tectnicas). Ouvi dizer que no complexo PUC-USP, mais conhecido como PUCUSP, em So Paulo, j se discute a etnossemitica, com o consequente desdobra-mento na semiotica.

    Cincia: ela finge que ensina e eu finjo que aprendo.

    Por So Paulo no morrer de amores, no morrer e amores.

  • 57

    DezembroA humanidade evolui? No sei. Voc prefere a frmula

    Amars o teu prximo como a ti mesmo ou No faas ao outro o que no farias a ti mesmo? A primeira crist; a segunda, pag.

    Justificar o erro apontando o erro alheio uma bai-xeza sem igual. Eppur si muove.

    Eles vivem emparedados entre o internacionalismo revolucionrio e o internacionalismo da mercadoria. So estridentes, irritantes, chatos, mas no inofensivos, no: no poder, querem nos mandar para o inferno.

    Burros e loucos nunca admitem serem burros ou lou-cos. Apenas que loucura pode ser controlada.

    O verbo e o jabuti, a rvore e a beatitude, mas o co e a nuvem.

    E ento? Desde ento no nasci outra vez. Desde agora,

    pois, no me obrigo a morrer em vo e eternamente.

  • 58

    Op-erstica.

    Gelatina uma cor que se come.

    Este pas de merda que no passou, no passa, que no se sabe se passar, se ter passado, se haveria tido pas-sado, se houvera passado.

    Laboratrio amador: Da ferrugem nalvorada saem brancos morcegos. Escapam de brancos aventais (eslavos aventando!) vestidos de inflexos condicionais.

    Se ele est com medo do vazio, que se iluda como bem entender desde que no procure preencher-se custa do outro. A realidade sua imagem e semelhana que fique l

    com ele.

    Boa sade aquela do silncio dos rgos, sade per-feita aquela do silncio dos rgos e do mundo.

    Em ltima instncia, a razo, v l. Melhor seria a ra-zo em primeira instncia.

    O que leva esse partido a imaginar que o que faz sempre justo, belo e bom?

  • 59

    Clera e covardia de um transformam-se em dio e coragem de muitos.

    Sbio para este mundo, Jesus para o outro.

    Marcel Conche observa que no existem provas da existncia de Deus, o que existem so argumentos. Se hou-vesse provas, no haveria f.

    A riqueza nas mos de poucos, mas ainda pouca a riqueza. Brasil.

    O capitalismo no objetiva coisa alguma, o capitalis-mo ; o mercado no tem humor, o mercado ; a vida no tem significado, a vida .

    Grcia foi mesmo aquela da escolha de Roma. A en-to, bem, a chegaram os cristos.

    Era um co enorme, um crbero. J o Quincas, o bea-gle, vinha deitar-se aos meus ps.

    Sigam-me os fracos!, parece ter sido o lema de Fran-cisco de Assis, o tom mais suave.

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    No seminal Vidas e doutrinas dos filsofos ilustres, Digenes Larcio conta que Scrates, passeando pelo mer-cado de Atenas, exclamou: Quanta coisa de que no pre-ciso. Feliz Natal.

    Animal? Qual o problema em ser animal? o que sou, no?

    Ma, mals.

    Expunha eu minhas dvidas sobre ser cliente ou pa-ciente, quando o doutor Abro saiu-se com esta: De mim, voc paciente; do hospital, cliente. Est bem assim?

    Por que papagaio verde e se chama louro? Se fosse loiro, eu saberia, mas, como se trata de um condimento, no sei.

    Pssaro um bicho antigo que comea com seis letras e termina em ovo.

    Num velho caderno: O realirismo insiste, resfolega, apanha de sair sangue, nestes tempos de matar a saudade por medo de ser romntico.

  • 61

    Muitos rezam pelo defunto, poucos so aqueles que ainda rezam pela alma do falecido.

    A vida no uma sucesso de acontecimentos, a vida um fluxo contnuo de realidades em que alguns aconteci-mentos perceptveis se fixam em nossa memria. Bom Ano

    Novo.

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