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    1/42

    E X P R E S S E S !Mais que dizer - transmitir. Ed. 16 Ano 2

    Jos Danilo Rangel - Rafael de Andrade - Douglas Digenes - Laisa Winter - Moiss Costa - Leo Vincey -Carlos Moreira - Saulo de Souza - Csar Augusto - Elias Balthazar - Herbert Weil - Isabel Almeida - Boca

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    2/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 02

    EDITOR

    Jos Danilo Rangel

    CO-EDITOR:

    Rafael de Andrade

    COLABORADORES:

    Laisa Winter - Quadro a Quadro

    Leo Vincey - Crnica

    Moiss Costa - Ilustrao

    Douglas Digenes - 10 dicas, Poesia

    Carlos Moreira - Poesia

    Saulo de Souza - Poesia

    Csar Augusto - PoesiaElias Balthazar - Poesia

    Herbert Weil - Poesia

    Isabel Almeida - Fotos

    Boca - Gravura

    Capa: Detalhe de Rio Madeira, Entardecer e Reexo,de Moiss Costa

    e x p e d i e n t e

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    3/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 03

    NDICE

    Prembulo..................................................................04C.I.C.E..........................................................................06Sapato Vermelho.......................................................................11Os Livres, Mas Nem Tanto............................................................14O Regionalismo Enquanto Esttica da Resistncia..............18eles entraram ou ele entrou............................................22Conspirando.........................................................23Isto Poesia?.................................................................24Pequeno Drama de Escritrio..................................................25Evidncias..........................................26Suposies................................................27Relativo Pendente..................................................................28Era Uma Vez................................................................29Nunca Estou Onde Meu Corpo .......................................30Pgina..........................................................................31Quadro a Quadro: O Amor Em Cinco Tempos................................3310 Dicas de Fotografa......................................................36Do Leitor.......................................................................42Envio de Material........................................................................43

    C.I.C.E.Por Rafael de Andrade

    Conto

    Sapato VermelhoPor Leo Vincey

    Crnica

    pg. 06

    pg. 11

    FotografaPor Douglas Digenes

    10 dicas de

    pg. 36

    Os Livres, Mas Nem TantoPor Jos Danilo Rangel

    Decodificano

    pg. 14

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    4/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 04

    A revista EXPRESSES!, por se tratar de um projeto em andamento,

    que se estabelece ao longo do tempo de acordo com as possibilidades presentes, por

    isso mesmo, est sempre apta a se adaptar, tanto para receber novidades, como para as

    perder. Trato do assunto, porque nesse nmero no teremos o Vises Poticas, Csar

    Augusto decidiu dar um tempo na proposta. Mas nem por isso vamos fcar sem poesias

    dele. Outra mudana a ausncia da seo Grande Angular. Depois de ocupar o EX-TRA e optar por inaugurar uma seo para si, a inquieta Ana Paiva encontrou novos

    desafos e escolheu por os enrentar. Agradecemos pelo trabalho realizado e fcamos

    na torcida.

    Comeando pela otgraa Isabel Almeida que atualmente est desen-

    volvendo um trabalho com moda; voc pode conerir no site www.asheslapoa.com.

    Com otos que, se organizadas num ensaio, este poderia receber o nome de Anseios da

    Mariposa, por buscarem a luz, Isabel nos apresenta exatamente isso, essa busca. A capa:

    detalhe da obra Rio Madeira, Entardecer e Reexo, de autoria de Moiss Costa e az

    parte da exposio In Constante. Para nossa sorte, os trabalhos esto reunidos numa

    anpage, no acebook, para acessar e conerir estes e outros trabalhos de Moiss Costa s clicar aqui! Ainda de Moiss Costa, temos duas ilustraes. A primeira do conto

    C.I.C.E., de Raael de Andrade. Neste conto, Raael se utiliza de uma narrao baseada

    em atos sociais verdadeiros para reetir sobre como os smbolos se estabelecem e se

    mantm e mais, sobre a difculdade de os superar. A segunda ilustrao de Moiss Cos-

    ta adorna a capa da crnica de Leo Vincey, Sapato Vermelho, onde vemos criticado o

    comportamento consumista eminino.

    Adiante, no decodifcando, alo um pouco sobre um tipo de indivduo

    com quem tenho me encontrado muito - os livres, mas nem tanto. Aquelas pessoas

    que assumiram um conjunto de ideias que alguns consideram revolucionrias e que

    nos enchem o saco com isso. Depois, temos, em Literatura em Rede, O RegionalismoEnquanto Esttica da Resistncia, do Raael. Quem o conhece, vai pensar impossvel

    ser dele a deesa do tema sugerido no ttulo, mas verdade, alm do mais, depois de ler,

    d para perceber que no se trata de algo to absurdo.

    Poesias, temos muitas tambm, de Csar Augusto, de Elias Balthazar, de

    Herbert Weil (que de Vilhena), de Saulo de Souza, de Douglas Digenes e minhas. O

    destaque fca para um trabalho do Carlos Moreira. A Poesia consiste num apanhado de

    versos que se misturam pelo uso corretssimo do cavalgamento, que quando um verso

    termina no incio do verso seguinte, outra coisa a reparar o eeito causado pelas repe-

    ties presentes, pela pontuao, ausente, e o poema se constituir de uma s estroe: o

    poder do clmax da narrativa acaba por se distribuir por toda a poesia.

    Em Quadro a Quadro, mais uma vez a Laisa Winter me az pensar: onde

    oi que ela achou esse flme? No sei se a sensao s minha, em todo caso, o flme

    O Amor Em Cinco Tempos, com sua narrativa invertida, inusitadamente orte. Em

    dez dicas, temos Douglas Digenes, do Mosh Photography, dando dicas de Fotografa.

    Espero que goste.

    Porto Velho - Novembro de 2012Jos Danilo Rangel

    PREMBULO

    https://www.facebook.com/pages/Vidaearte-Mois%C3%A9s-Costa/308304659246826?fref=tshttps://www.facebook.com/pages/Vidaearte-Mois%C3%A9s-Costa/308304659246826?fref=ts
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    5/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 05

    p a r c e i r o s :

    http://www.flasheslapoa.com/http://www.selmovasconcellos.com.br/http://bandavuaderafatal.webnode.com//http://www.moshphotography.com/http://www.newsrondonia.com.br/http://www.expressoespvh.blogspot.com/http://www.facebook.com/pages/Revista-EXPRESS%C3%B5ES/219207738122421
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    6/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 06

    Conto

    C . I . C . E..............................................................................................Texto: Rafael de Andrade

    Ilustrao: Moiss Costa

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    7/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 07

    Neste estado varonil e bem amado,existem muitas instituies respeitosas. Forma-das pelos mais belos e inteligentes trabalhado-res funcionais que podem existir. Uma prova debeleza e inteligncia requerida para se poder

    entrar na folha de pagamento destas institui-es. Entretanto, uma chama ateno por suafuncionalidade, por sua importncia: a Casa deInstituies de Cultura do Estado, o CICE tam-bm conhecida por confraria local, e angariaa colaborao de artistas e intelectuais locais, aelite da nata da superioridade artstica, cheia deprmios e certicados.

    A CICE foi criada antes mesmo dequalquer noo de cultura ou lngua e depois da

    criao da tal Casa, tudo se tornou uma repeti-o, uma histria cristalizada, cheia de smbo-los que representam todo o resto, nada mais foialgo, apenas representao. A CICE foi criadapor um grupo de homens que dominavam asestruturas sociais, em outras palavras a elite,os reconhecidos artistas, os ricos, os cultos,os genunos, os civilizados, os detentores daspalavras sagradas, os Poetas, os Literatos, osHistoriadores, os Arquelogos, os detentores do

    poder, ou do que se costuma chamar de vida.Esta elite criou uma instituio que

    pudesse regular o que bom e o que ruim se-gundo seus interesses prprios. Pode-se armar

    que no o zeram por maldade, mas por pura

    reproduo e realmente creio nisso. A maldade a prtica de outra espcie de espritos, os de-cididos.

    Uma vez (ou naquele tempo) esta eli-te foi forte, poderosa e inteligente. No momento,ela mantm o poder por pura reproduo. Osheris de hoje so os avs dos dominantes dehoje e todos pensam: nada mais justo que esteshomens que so herdeiros diretos destes herisnos dominem ou estejam em uma posio su-perior. O mesmo ocorre nos locais de venda, decultura, de histria, o CICE que determina oque bom e o que mal.

    Um exemplo prtico. H duzendosanos atrs, um homem barbudo resolveu lutarcontra o CICE e a favor de um outro CICE, queseria formado a partir de uma nova elite. At aitudo bem, uma renovao. O CICE atual logo sepronticou em dizer que o que ele fazia e escre-

    via era uma besteira, que no era algo cultural,muito pelo contrrio, que era lixo. A Mo Armada

    do Estado (aglomerado de elites) conseguiu ma-tar o tal barbudo revolucionrio.

    Fez-se a merda. O tal barbudo se tor-nou um heri: o CICE resolveu pegar a imagemdo morto e transformar em mercadoria, em umsmbolo bom, de cultura e inteligncia e a partirda, todo descolado usa este smbolo.

    Um exemplo no to prtico. H qua-se quatrocentos anos um escritor lutava para serdenido pelo CICE enquanto um grande literato,

    mas mesmo aps enviar centenas de manus-critos ao departamento de livros e escritos, oescritor no conseguiu ser lido. O sonho desteera ser lido e amado por todos, mas ele escreviasobre boas coisas da vida e sobre noites semdormir.

    Este escritor olhou ao redor e perce-beu que os diretores do CICE queriam. na ver-dade. divulgar os heris do Estado e seus mo-numentos. Tudo que era publicado e premiadofalava sobre tais objetos ou pessoas no m-ximo, uma confraria publicava sobre nada, poisnada, fugir da vida e da transformao da mes-ma, leva ao torpor e torpor faz sucesso.

    Esta elite criou uma ins-tituio que pudesse re-

    gular o que bom e o que ruim segundo seus inte-resses prprios. Pode-seafrmar que no o fzeram

    por maldade, mas por pura

    reproduo e realmentecreio nisso. A maldade aprtica de outra espciede espritos, os decididos.

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    8/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 08

    Deixou de lado sua vida e passou aescrever sobre a curva do rio, sobre animais, so-

    bre a terra vermelha, sobre a lua que nunca viu eespecialmente sobre as mudanas que no sofeitas (nada, confraria). Falou tambm sobre osheris da elite e passou a fazer sucesso. O di-retor da repartio livros e escritos respondeu:sim, meu caro, disso que nosso amado pasprecisa, de jovens escritores como voc.

    Este escritor no era to jovem as-sim, demorou quarenta anos para descobrir oque agrada ao CICE, mas conseguiu. Quandoo escritor morreu, passou a ser lido como aquiloque representava a terra, o pas, o Estado, quedizia: vamos, vamos, publiquem suas memriaspstumas sobre o nada na terra em chamas.E o estagirio respondia: Mas senhor, ele osobrinho de meu tio! Ele nunca escreveu suasmemrias pstumas. Mas mesmo assim algofoi escrito s pressas para ser publicado.

    O livro foi ento publicado e fez umvelho sucesso de sempre. A regra simples:um homem escreve sobre algo que simboliza oEstado, a cultura pois sonha com o sucesso efama. O pblico compra a obra, pois pensa queaquilo fala algo sobre ele, quando, na verdade,

    fala sobre uma histria que no diz nada sobreele, s diz sobre os dominantes e para os domi-nados.

    Um exemplo rpido do CICE: umjovem escreveu uma tal de metamorfose e foi

    negado pois falava sobre insetos, contra o tra-balho, contra a famlia opressora (sendo que afamlia opressora e o trabalho servil so alicer-ces do Estado). Algumas perguntas foram feitas:O inseto era de uma espcie nacional? No,respondeu o jovem escritor, apenas um inse-to. O protagonista era um danarino local ou umtrabalhador da terra? No, ele apenas um ven-dedor sem terra. O texto fala sobre nada, comum ttulo pomposo como virtudes, quando na

    verdade fala sobre nada? No, o texto enfrentaalgo grandioso e presente. Sinto muito, jovemsenhor, seu texto ser negado e nunca ser pu-blicado, disse o diretor, ele precisa ser localiza-do ou confrariado para ser aceito.

    Estes exemplos pouco importam. Vin-te anos atrs, em um barraco na beira do barran-co uma senhora de vinte anos chorou e gritou,pois pariu seu lho. Quando o menino nasce, ele

    no chora, a mulher chora porque acredita que

    pariu um demnio. Mas para sua sorte, o choroinicial deu incio a uma grande alegria. O meninose tornou um bom estudante e um bom leitor detodas as obras publicadas pelo CICE ele tinhaum futuro brilhante.

    E o processo exatamente este: vocl e passa a admirar as obras do CICE e entovoc chamado para ser um dos funcionriosse tiver certa beleza. O jovem passou ento atrabalhar na Casa de Cultura e foi encarregadoda funo de auxiliar do almoxarifado VI, res-ponsvel por cuidar das obras arquivadas.

    Nesta funo ele se sentiu muito bem.Passou a ler os originais dos grandes clssicos,zelar por sua preservao e ainda recebia poristo! No poderia estar melhor, tirou sua me dobarranco e moravam bem, bem no centro. Dan-ava com as meninas, fumava seu cachimbo ecomia seu bife com salada, tudo bem.

    Andando pelo depsito, encontrouuma sala chamada grandes piadas. Entrou eviu um grande nmero de originais, recusadospelos mais variados motivos: recusado por serclssico demais, recusado por ter romance en-

    A regra simples:um homem escreve sobre

    algo que simboliza o Esta-do, a cultura, pois sonhacom o sucesso e fama. Opblico compra a obra,pois pensa que aquilo fala

    algo sobre ele, quando, naverdade, fala, sobre umahistria que no diz nada

    sobre ele...

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    9/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 09

    tre homens, recusado por falar de outra religioque no a ocial, recusado por destruir verdades

    absolutas, recusado pela estranheza do autor,recusado, recusado, recusado. Largou tudo econtinou a limpar os clssicos.

    O jovem voltou para casa e no con-seguiu parar de pensar nas grandes piadas. Oque elas tinham para serem recusadas, seriamobras boas tambm, mas ele no podia duvidarda capacidade dos grandes crticos do CICE,doutores e heris. Noutro dia, ele roubou umaobra daquelas piadas que ningum dava a me-nor importncia. Lendo noite com o leite mornoque sua me fez, o jovem descobriu a grandiosi-dade daquela obra justamente por falar algo di-

    ferente da poesia que todos fazem, melhor queos premiados versos, melhor que tudo que lera.

    Nos meses seguintes, ele leu asgrandes piadas e descobriu algo diferente. Efoi chamado na sala do diretor para falar sobreseu baixo rendimento, nenhum livro havia sidolimpo nas ltimas semanas. O jovem nada jus-ticou. Enquanto o diretor falava, o jovem pen-sava com grande fria que estava na frente deum mentiroso, de que tudo era uma mentira, um

    acordo entre amigos. E ouviu tudo calado.Voltou para casa, ganhou uma se-

    mana de licena. Nesta semana, ele leu algunsclssicos que devorou durante a infncia. Nadamais era bom. Tudo que seus colegas escreviamera ruim, era pouco, repetido, mal feito perto dotrabalho das grandes piadas. Sentado na es-crivaninha com aquela sensao de mal estar,desconforto, algo precisava ser feito. A semanapassou.

    No outro dia, o jovem chegou sor-rindo ao trabalho, abraando os colegas. O di-retor pensou bom, a semana lhe fez bem esentou sossegado em sua sala, trabalho feito.O jovem sentou em sua mesinha e olhou paraaqueles livros ao redor. Foi ao almoxarifado II,no horrio de almoo, e pegou algumas coisas.Estas algumas coisas colocaram fogo nos livrose documentos de todo o almoxarifado VI e nasgrandes piadas. O jovem fugiu com alguns ori-ginais, com algumas piadas boas.

    Ele no foi encontrado. O povo cou

    aturdido com aquilo que foi destrudo e o CICEtentou reconstruir as grandes histrias a partir

    do que era lembrado, mas pouco foi lembrado.

    Aqueles livros no importavam de fato, apenascomo elemento que justica os lugares e os lu-gares. Justicou-se mudar o nome do Estado.

    Na mesa do diretor foi encontrada uma cpia dotexto sobre o grande inseto.

    O nico texto que restara, e foi aceitocomo obra local com as devidas correes. Mu-daram o nome do lugar, chamando-o de terra debaratas ou inseto-terra. A terra dos insetos. Ape-sar do fogo, da violncia, nada mudou na mente

    dos jovens, o CICE ainda domina e ainda diz oque certo e o que errado.O estranho caso nunca foi esquecido.

    Nunca ser esquecido, no disso que se fazemos hrois? Logo o CICE lanou um livro sobre ojovem: O Fogo da Renovao: O Incndio Sal-vador.

    E jovens poetas j amam os seusclssicos pstumos.

    ........................................................

    Nos meses seguintes, eleleu as grandes piadas e

    descobriu algo diferente. Efoi chamado na sala do di-retor para falar sobre seubaixo rendimento, nenhumlivro havia sido limpo nas

    ltimas semanas. O jovemnada justifcou.

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    10/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 10Foto : Isabel Almeida

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    11/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 11

    Crnica

    Sapato VermelhoSapato VermelhoTexto: Leo Vincey

    Ilustrao: Moiss Costa

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    12/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 12

    Parada em frente a uma dessas lojas que exploramo desejo de consumo feminino,a mulher deixara claro a quem avisse o que ela queria. Seus olhos denunciavam que aquele obje-to era mais que essencial. Ao lado dela estava o marido, pareciaaborrecido por ter que acompanhar a mulher s compras.Carre-

    gava algumas sacolas, estava bem vestido, roupas nas, cabelobem cortado, pele que no conhecia o sol.Como pde viver emum pas tropical preservando a pele to alva?

    A esposa e uma rvore de natal seriam fceis de seconfundir, usava acessrios em demasia, era linda, mas a faltade bom senso a colocou no patamar de perua. Devia se orgu-lhar disso, seus gestos s conrmavam.

    Disse ao marido para entrar. Ele, meio acanhado, li-mitou-se a car sentado em um canto da loja. Ficou prximo de

    mim.Comeou a puxar conversa falando inicialmente de coisas

    banais. Clima, poltica, futebol, religio.Detivera-se bastante tem-po nisso. De repente, a demora da esposa fez-lhe falar da com-pulsividade que as mulheres tm em consumir sapatos.Armam

    que para cada ocasio h um que se encaixe, at mesmo sempreciso bom ter um de reserva. Elas se consideram nuas semeles.So o fetiche delas. Os homens tambm apreciam ver ps esapatos lindos. No necessariamente nessa ordem.

    Fomos ns quem as viciamos? Muitos diro que no,que coisa de mulher.Talvez elas digam o contrrio. Elas socompetitivas, bobos os homens que pensam que as namoradas,

    esposas se arrumam para eles.O homem do meu lado prefereacreditar que a companheira se arruma para ele. No dou minhaopinio, embora ele insistisse.

    Uma confuso chama a ateno de todos presentesna loja. Duas mulheres brigavam por um sapato vermelho, o ge-rente da loja tentava acalmar os nimos acirrados. Uma delasestava com a maquiagem toda borrada pelo suor da disputa, aoutra tinha a ala do vestido arrebentada. Continuaram insistindoem levar o o produto para si, subitamente no puxa daqui e daliintenso, o sapato destrudo.

    Ao chegar perto do alvoroo, ele descobre que suamulher est envolvida. Para minha surpresa a outra a minha.Antes que a polcia fosse chamada e solidrios com as nossasesposas,dividimos a despesa. Na sada,as duas se olham e es-boam um sorriso.

    V entender.

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

    Para mais de Leo Vincey, acesse: http://poesiemoco.blogspot.com.br/

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    13/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 13Foto : Isabel Almeira

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    14/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 14

    D3C0D1F1C4NDO

    OS LIVRES,

    MAS NEM TANTOPor Jos Danilo Rangel

  • 7/30/2019 EXPRESSES!_16

    15/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 15

    Engaiolados

    H dois pssaros na mesma gaiola,um deles no sabe que est preso, o outro pen-sa que est livre, pergunta: qual dos dois est

    mais enganado? Passei a ltima semana pen-sando no assunto, e acabei concluindo que osegundo. A lgica a seguinte: o que no sabeque est preso, cedo ou tarde, vai ter que lidarcom a realidade do seu crcere, enquanto quepara o pssaro que se pensa livre tal constata-o mais difcil, exatamente por conta de suaconvico.

    Quando me perguntei qual dos doispssaros o mais chato, respondi prontamente:

    o segundo, porque, convicto de sua liberdade ede que o outro est errado e que deve ser, porisso mesmo, confrontado, questionado, interpe-lado, enm, incomodado de muitas maneiras,

    geralmente apresenta o comportamento comuma todas as aves que, encarceradas, imaginam--se livres e assumem para si a misso de con-verter a outra a se libertar.

    Claro que no estou falando de ps-saros, mas de um tipo de pessoa que tenho en-

    contrado at que com bastante frequncia peloslugares que ando. Essas pessoas so timasem defender as ideias que viram aqui, ou acol,nesse ou naquele livro, nesse ou naquele do-cumentrio, conceitos de Marx, de Nietzsche,de Foucault, muito hbeis em falar a respei-to de ideologia, controle social e religio, masque, contudo, quando interpelados com algumaquesto a respeito das premissas que susten-tam seu pensamento, apelam para a obviedade,so intolerantes e acreditam mesmo que todo omundo deve aderir ao seu pensamento pois so-mente assim, do jeito deles que se alcana aliberdade.

    A Gaiola

    Estamos todos dentro da mesma di-nmica social que, dentre outras coisas, consti-tui-se de um conjunto, embora variado, bem nito

    de ideias disponveis a que a populao em ge-ral, no participando de sua produo, simples-

    mente adere ou rejeita, concorda ou discorda.O mais interessante que, ao pegarmos essasideias, que so muito variadas, encontramos ne-las certa polaridade e assim, podemos dizer quetemos ideias positivas e negativas, consideran-

    do, entanto, que o conjunto geral desses pensa-mentos so componentes da mesma e restritaconjuntura ideolgica.

    Digamos que se h um conjunto deideias que defenda o que h de bom em obede-cer, sendo, sem dvida, um discurso favorvel obedincia, haver, portanto, um outro conjunto,defendendo o ruim de se obedecer, falando, por-tanto, contra a obedincia. No posso dizer que

    isso sempre se d, ou seja, que para cada ideiacorrente h uma contraideia, to diversas soas concepes que pelo mundo vagueiam, oponto que h pessoas que, assimilando certasideias, fazem como aquelas que entrando paraum determinado partido, passam a confrontarqualquer pessoa de outro partido s pelo fato deela ser de outro partido.

    Lado A, Lado B

    As pessoas que esto do lado posi-tivo da conjuntura (deixando claro que essa uma denio arbitrria e serve apenas para

    assinalar a polaridade anteriormente admiti-da) assumem as ideias mais difundidas comoverdadeiras. A diferena entre elas e as outraspessoas, aquelas que esto do outro lado da

    H dois pssaros na mesma

    gaiola, um deles no sabe

    que est preso, o outro pensa

    que est livre, pergunta: qual

    dos dois est mais engana-

    do?

  • 7/30/2019 EXPRESSES!_16

    16/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 16

    gangorra, no lado negativo, que estas, geral-mente, assumem ideias menos comuns. No seise cou claro, mas no houve, nos casos apre-sentados, reexo, apenas a escolha de um dos

    lados, assim como a aceitao de suas concep-

    es como verdadeiras.O problema das pessoas que so

    como pssaros engaiolados que se sentem li-vres o fato de assumirem um lado e passaremno s a defend-lo, mas a difundi-lo, com o in-tuito de conseguir mais e mais adeptos. Isso econsiderando que elas acreditam que, de fato,no precisam mais estar atentas s limitaesde que no se acham vtimas, faz com que elasnada faam seno defender o lado a que aderi-

    ram e a acreditar que esto realmente pensan-do, quando no esto.

    A Campanha

    Acho que todos ns conhecemos pelomenos uma pessoa que acredita que conhece aVerdade e que continuamente est tentando

    convencer o mundo de que est do lado certo eque tem autonomia. Acontece que esse tipo depessoa s mais um dos tipos comuns reali-dade social, no est, portanto, alm dela, ou,dizendo de outra forma, fora da gaiola.

    Consideremos aquele tipo que acre-dita que a religio uma forma de a humanida-de no lidar com as suas fraquezas mantendo ailuso de que h deuses ou deusas e um mundopara depois da morte, ele no muito diferentedo evanglico que vai a a Igreja todos os domin-gos, contudo, eles se assemelham, mais at doque se suspeita. Os dois no desenvolveram se-quer uma premissa das concluses que defen-dem, defendem-nas, contudo, a despeito disso,com todo o fervor que tm.

    A Ironia

    Quem j ouviu que pensar di e quefelicidade para os ignorantes? No parece queeste um discurso muito favorvel para quem

    no nos quer pensando? Parece ou no pare-ce? Imaginemos a complexidade de lidar comuma grande multido pensante, capaz de veri-car fatos antes de tomar decises, sempre dis-posta a questionar. Seria ou no seria muito de-

    sinteressante para qualquer conglomerado quequeira manipular a massa?

    Esse, contudo, o mesmo discursode muitos dos livres pensadores que conheo.Eles dizem abertamente que a maior alegria dohomem no pensar e que se entreter com ati-vidades intelectuais leva a uma vida de conitos

    e dor. Percebem a gaiola? Percebem porque oschamo de pssaros engaiolados que pensam

    estar livres?O que acho mais irrisrio o fato de

    eles sempre estarem prontos a contribuir nacampanha contra a ignorncia, sendo que elesmesmo propagandeiam a inteligncia como umcastigo dos cus. Comumente, eles so dram-ticos e falam aos ventos de como seria melhorcaso ainda tivessem os olhos vendados pelasiluses popularescas, outro argumento muitocomum em seus discursos o de que muitotriste ser inteligente.

    Eu os acho engraados tambm porque eles no percebem o quanto contraditrio,e mesmo estpido, exigir que todos pensemao mesmo tempo em que defendem que pensardi. Pensem nisso, garanto que no di.

    .....................................................................

    O que acho mais irrisrio o

    fato de eles sempre estarem

    prontos a contribuir na cam-

    panha contra a ignorncia,

    sendo que eles mesmo pro-

    pagandeiam a inteligncia

    como um castigo dos cus.

  • 7/30/2019 EXPRESSES!_16

    17/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 17Foto : Isabel Almeida

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    18/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 18

    Texto: Rafael de AndradeArte: Camisa BeraStyle - Boca

    Estava reetindo sobre a armao

    do crtico literrio marxista Werneck Sodr so-bre o regionalismo enquanto defesa nal da co-lonizao capitalista em direo aos momentosainda tradicionais, locais, regionais dos espaosgeogrcos e culturais e, por consequncia, ar-tsticos. Creio que o regionalismo, enquanto mo-vimento cultural, mesmo que no to coeso, temexatamente essa funo: ao elevar as carac-tersticas regionais, locais, ele se monta como

    Literatura em Rede

    O Regionalismo enquantoEsttica da Resistncia

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    19/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 19

    um espao de resistncia contra os avanosviolentos da alienao e barbrie capitalistas.Esse avano do processo de globalizao oumundializao para o socilogo Renato Ortiz caracterizado pela destruio das narrativas eexpresses tradicionais em prol de uma forma

    de vida mais lquida, malevel, totalmente pron-ta para receber as ordens dos grandes patres.

    Imaginem que somos todos membrosde um povo pr-colombiano me perdoem, es-tou simplicando todo o processo e que se faz

    necessrio extrair reservas de ouro de nossasterras tradicionais. O colonizador, obviamente,tentar comprar nossos lderes ou de outra for-ma corromper nossas estruturas sociais, nos-sos deuses, nossa lngua, nossa arte. Desde os

    tempos coloniais at os dias atuais destruir oscones smbolos tradicionais a forma maisefetiva de dominao. Esvaziando os sujeitosde seu signicado, sua reicao ou coisica-o, os avanos do capital deixam os homenscomo o barro, prontos para serem moldados.

    Mais do que criar um pblico consu-midor, a arte local rondoniense arte no senti-do adorniano, enquanto reexo da vida deve

    atentar principalmente para a resistncia e pre-servao desses espaos de cultura tradicio-nal, cultura cabocla em relao com a negra eindgena. Quando falo cultura cabocla, negra eindgena, falo no sentido do antroplogo CliffordGeertz, a cultura dada pelos prprios nativos eno pelos leitores da cultura, que criam socio-logias, artes, antropologias, mas no cultura. Emais, olhar e trabalhar com estes grupos sociaise no cuidado com sua existncia em relao aosprocessos legais e assassinos do mundo oci-dental, colonizador e capitalista.

    Outra forma de cultura, marcada pelavitria burguesa e que intenciona recriar aqui emRondnia sua realidade deixada para trs emsua migrao est ganhando espao dentro docenrio do Estado. Como exemplo, a cultura su-lista dos grandes proprietrios de terra empurracada vez mais para a marginalidade a culturacabocla, se impondo enquanto dominante. Essemomento de tenso pode at ser consideradosaudvel, desde que uma no elimine a outra.

    Vejo o movimento Bera como umaforma de defesa e de criar um pblico e umaprtica que benecie a cultura cabocla. Movi-

    mento marcado pelo combate, principalmentede alguns mais engajados. Temo violentamenteque ele no cumpra sua funo social como mo-vimento que e que por m eu no oua mais a

    narrativa dos velhos, mesmo que ressignicada

    nas msicas e poesias dos artistas locais.

    Reforando meu chamado no sarauIsso poesia? na Casa de Cultura Ivan Mar-rocos, convoco meus companheiros, regiona-listas beraderos, ps-modernos dotados daintensa fora de falar apenas de suas viagensinternas e da palavra, como se a Poesia fossepalavra e o de extrema esquerda da discor-dncia geral, onde me encaixo para transfor-mar a arte em uma forma de resistncia estticaaos avanos do sistema destruidor de tradies

    chamado capitalismo que, em troca, coloca suarazo doentia, alienada, malevel, lquida e ps--modernista.

    Arte conito e resistncia em prol

    da existncia, educao e manifestao do pen-samento. Dentro das mquinas da matrix no hpensamento, s condicionamento. E a literatura,losoa e o cinema j concordaram que, por me-tforas ou no, ainda estamos todos dentro domesmo sistema da matrix. Sem resistncia noh arte, apenas reproduo da programao.

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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    20/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 20Foto : Isabel Almeida

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    21/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 21

    P O E S I A

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    22/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 22

    eles entraram ou ele entrou...

    eles entraram eles entraram ou ele entrouno sei bem porque no vi eu no estava lno meio do caminho no havia pedra nemoutro qualquer obstculo eles simplesmenteou ele simplesmente no sei bem eu noestava l entrou no meio do caminho no seise ez sinal com a mo beira da estradano sei nem se a parada fcava ali ou se

    do meio do caminho apontou com a armano meio do caminho eu no estava l ouse quem estava havia avisado sobre o roteirodo caminho s sei que entraram ou ele entroue de repente tudo fcou branco tudo fcounegro tudo fcou vermelho e metade fcoucego assim de repente eito eu que no vieu no estava l mas o primeiro tiro oi nopescoo assim ao lado do pescoo onde fcammarcas quando namoramos ou coamos a picadade um pernilongo assim ao lado do pescoo onde

    passamos o perume com a ponta mole do indicadorassim o segundo tiro oi na cabea ao lado da tiaraentre o vu e a tiara entre a tiara o vu e a pelesem esquecer o plo que se guarda com o vue a cabea dentro do vu por baixo do plo maseu no vi eu no estava l quando ela nem gritouela nem disse ei eu no estava l quando ela disseoi eu te conheo j vi a tua oto num jornal ou disseassim voc tio da menina que mora na rua de baixo

    voc o homem do sorriso aberto voc o homem

    do gatilho negro e da barba negra voc o homemque acenou ou no acenou no meio do caminho maseu no vi nada eu no estava l quando tudo sacudiuquando tudo balanou como se em terra estivssemosna gua balanando entre as ondas e o som da maresiaquando tudo fcou cinza e branco e rosa de repente ea paz se conundiu com o sangue e todos gritaram juntose correram e agradeceram por seus pescoos e tiarase cabelos e cabeas mas nem sei por que porque euno estava l eu no estava l eu no estava l eu no estava

    Carlos Moreira

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    23/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 23

    CONSPIRANDO

    Muito cobro de mimO preo de no escreverPenso no tempo, na alta.Mas de uma coisa no largoEntre um memorando aquie fchas acolPenso.

    Douglas Digenes

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    24/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 24

    ISTO POESIA?

    Encarar-seEm seu tempo, em seu espaoOu no espao de seu tempoCaminhar entre nuvensSaltar nas sombrasBuscar antasias,Realidades e absurdos.

    PereccionandoLetras apaixonadasQue divergem os sentidosElaboradas e modifcadasPela cortesia de quem as aprecia.

    Fazer versos em pequenos vosDirios, em segundosTrs palavras e uma arte:

    Artesia,Melodia nas artrias.Respiro versosDa terra,Das rvoresDe pessoas

    Isto poesia?

    Saulo de Souza

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    25/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 25

    PEQUENO DRAMA DE ESCRITRIO

    Enquanto digito dados numa tabela,a quase dormir sobre a mesa,porque as muitas horas do diaduram bem mais queas poucas horas da noite,

    na outra sala,

    num silncio de setor vazio,num rio de ar condicionado,minha amiga engole o choroe tenta se convencerde que assim mesmoe de que no houtro modo de ser.

    Ela,que quase pranteou ainda h pouco,

    frmou-se - no sei em qu,mas frmou-se e, frmando-se,endireitou a postura e disse assim mesmo, ponto,o que se pode azer aceitar.

    assim, ponto,voc aprende, cedo ou tarde,com mais ou menos dor e pranto,debaixo de mais ou menos golpes,

    voc aprende e aceita,ela disse,

    mas a imagem do seu semblanteque no desgosto ainda ora um risome az pensar que no to cil,que no s aceitar e ponto,que h muito mais de morte nissodo que o que ela quer acreditar.

    Jos Danilo Rangel

  • 7/30/2019 EXPRESSES!_16

    26/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 26

    EVIDNCIAS

    O outro portadorde outros anseios e sonhos,resultado de outras escolhas,conhecedor de outros caminhos.

    dessa mesma argilaque somos todos,

    mas moldados por mos,s vezes, bem diversasdas mos que nos moldaram,flhos e flhas de circunstnciasque no nos pariram.

    Mas talvez, no outro,o que mais nos inquiete e espante,no primeiro instante de o encontrar,sejam as notcias que trazem consigo

    de realidades que nem sonhamos.

    Embora saibamos que o mundo,bem maior que o que conhecemos dele,guarda, portanto, seus segredos,ter diante de si as evidncias disso,eito em pessoa, alando e agindode modos estranhosaos da nossa convivncia, outra coisa...

    Jos Danilo Rangel

  • 7/30/2019 EXPRESSES!_16

    27/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 27

    SUPOSIES

    O palavra Fogo supe o calor,Tal como suspiros supe chegar...O onema am[ar] conta com o arQue pode no vir para supor.

    Ento,Com supostas correntes nas pernas

    Supomos tantos onemas de dor,sangrando eridas nunca abertasamputando o que nunca nos vitimou.

    Medicamos vida tantos remdios,para supostas doenas do sentiralecendo em suposies glidoss de supor tudo que estar por vir.

    haveremos de supor enfm

    palavras para supor pontose histrias para supor um fme heris para supor monstros.

    e haveremos de esperar para supor a vidahaveremos tal locutores de ns mesmosde escrever uma fco de emoes e medosSem ter cativado uma nica razo sentida.

    E na doena de supor, to artos

    haveremos, de luto ao nascimentosupor a morte dos momentosFugindo da certeza dos atos.

    Csar Augusto

  • 7/30/2019 EXPRESSES!_16

    28/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 28

    RELATIVO PENDENTE

    Desistamos de ver o reala verdade corroeu os caminhosas pedras, os jovens e os sbiosEntre um olho e outroque olhah uma imensa distoro de tudo aquiloque nunca teve orma

    Ora, desistamos de dissecar as pedraso tempo, mapear o espaoalastrar a origem dos medosdos grandesDesistemos sem relutarolhos veem o que lhes cabe e nada mais pode ser vistoas revelaes, as poesias terceirizadasos olhos emprestados de poetasas lentesas telas

    os livrosOra, o que h nos livros,Os deuses, os iluminados e suas lanternas estreitasDesistamos dos mapastudo est aqui um plasma sem ormaE o que depende de quem olha

    Elias Balthazar

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    29/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 29

    ERA UMA VEZ

    (neste exato momentosem lugar certo;ou tempo,nem as condiesque aparentementese deseja;sem abbora nem beijo,

    para que uma boa estria seja)a Vida...

    Elias Balthazar

  • 7/30/2019 EXPRESSES!_16

    30/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 30

    NUNCA ESTOU ONDE MEU CORPO

    Nunca estou onde meu corpo Fico sempre aonde manda o olharNa janela, na estrada, no coador de caVivo no aqui, mas em todo lugar

    Eu ui a mim em todo cantoNo entanto, nunca pude sentir

    Nada alm da ria nsiaDe viver no que via distncia

    Sou no o que sou, mas o que serA espera, o porvir pregnanteSou onde penso e me vejo a pensarO que quero, o que vejo, a todo instante

    Nunca estou onde meu corpo

    Herbert Weil

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    31/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 31

    PGINA

    Enquanto li as entrelinhasPassei o dedo na lnguaE esreguei na quinaDa pgina

    Lambi outra vezE um sabor literrio me veio

    Eervescendo letras de gs carbnicoO co2 potico subiu ao cuAquecimento bucalBiotnico hermtico

    A fta do marcador, fo-dentalBoca desdentada e abertaQue engole a almaE sem abraar aperta

    s vezes demoro na leituraDegusto cada ondulao das vogaisDe ato, escuto-asE enquanto leio-a, esta me curaEm trocas mtuas

    Ah, pginaVamos virar e comear de novo?

    Herbert Weil

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    32/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 32

    Todos anseiam pelo voo,

    mas quantos arranjam tempo

    para exercitar as asas?

    Jos Danilo Rangel

    Tweet Potico

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    33/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 33

    Em O Amor em Cinco Tempos,Franois Ozon decide contar uma histriade amor a partir de uma separao, pas-sando pelo relacionamento e terminandono incio da historia de dois amantes ondemuitos lmes terminam, passando a ideia

    de felizes para sempre. Lutaram contra a

    ex-namorada perseguidora ou a me do-minadora, pronto, nada os poder deter,nem mesmo a Vida.

    O nome do lme corresponde

    s cinco cenas de momentos importantes

    na vida do casal que vo montando umquebra-cabea e nos mostram cada bata-lha de um casamento para responder umapergunta simples e complexa: Por que Ma-rion e Gilles se separaram? At porque ocomeo do lme com os dois protagonis-tas assinando os papis do divrcio no

    a cena mais romntica para um lme queretrata um jovem e bonito casal.

    Franois Ozon fez um belotrabalho ao, propositalmente, nos mostraras vrias fases de um relacionamento dei-

    O Amor Em Cinco Tempos

    uadrouadro

    a

    por Laisa Winter

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    34/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 34

    xando um nico lme com o aspecto de

    vrios. Vemos uma relao desgastadapor anos de convivncia com altos e bai-xos que o tempo destruiu e que comea naparte mais dramtica e vai aos poucos setornando suave. O lme encerra em uma

    cena to clich e bela, que nos faz pensar:No foi to ruim. Deu certo durante umtempo, no deu? O fato de passar os mo-

    mentos na ordem contrria em que foramvividos nos deixa desorientados. difcilsaber a prxima cena/fase do casal.

    Quando ocorre um rompimen-to, os ltimos acontecimentos, assim comoas ltimas brigas parecem ser respons-veis pelo m, e tudo que se possa lamen-tar e ainda est presente na memria, aoser avaliado, aparenta ser bem pior do quena poca do acontecimento, e ento pen-

    samos: No tinha mesmo como dar certo.Vocs j assistiram um lme

    onde uma personagem importante ou que-rida morre? Se assistirem ao lme pela se-gunda vez vo torcer pelo melhor, mesmosabendo que intil. mais do que nor-mal torcer pelo casal, mesmo j sabendodo nal. Queremos um nal feliz sempre,

    mais a vida no uma comdia romntica.Em O Amor em Cinco Tem-

    pos usado um artifcio conhecido em Ofantasma da Opera (2005). A personagemChristine Daae aparece de formas diferen-tes ao longo do lme. Com o Visconde de

    Chagny sua aparncia romntica e deli-

    cada, mas ao lado do fantasma da opera,Christine uma mulher sensual e decidida.O mesmo ocorre no lme de Ozon, a cena

    fria e sem cores do incio vai e esvaindo eo m to iluminado e com cores quentes

    que esquecemos do incio.

    .......................................................

    Ficha Tcnica

    Diretor: Franois Ozon

    Elenco: Valeria Bruni Tedeschi,

    Stphane Freiss, Graldine Pailhas,

    Franoise Fabian, Michael Lonsdale,Antoine Chappey, Marc Ruchmann, Ja-

    son Tavassoli, Jean-Pol Brissart.

    Produo: Olivier Delbosc, Marc Mis-

    sonnier

    Roteiro: Franois Ozon, Emmanule

    Bernheim

    Fotografa: Yorick Le Saux

    Trilha Sonora: Philippe Rombi

    Durao: 90 min.

    Ano: 2004

    Pas: Frana

    Gnero: Drama

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    35/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 35Foto : Isabel Almeida

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    36/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 36

    Gr nde

    F o t o g r a f i aQuando o Danilo me convidou para escrever 10 dicas de foto-graas para a revista, j de cara, eu quei receoso. Admito que

    seja tmido, alm de estar a pouco tempo estudando seriamen-te a fotograa e sabendo ainda de um tanto de amigos que se-riam mais capacitados tecnicamente para assinar esse texto,mas como j havia aceitado e participado de uma apresenta-o comentada de fotograa, no Isso poesia? (tremendo de

    nervoso), encarei mais essa.

    Procurei separar dicas que ajudem quem est comeando nafotograa, sem me aprofundar em tcnicas, mais um apa-nhado da minha experincia e do que acho importante paracomear.

    Ento, vamos s dicas?

    10 dicas de

    Por Douglas Digenes

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    37/42EXPRESSES! Nov de 2012 | 37

    1. ENQUADRAMENTO

    Simples, dividir o visor em trs colu-nas e trs linhas (9 retngulos), pra ser mais claro s dividir como se osse um jogo da velha (geral-mente as cmeras j vem com a opo de mostraressa diviso direto no visor). Geralmente, quandovamos otograar, instintivamente posicionamoso objeto no centro do visor, mas a dica posicio-nar o ponto mais importante da imagem nas in-terseces das linhas da diviso, essa a chamadaregra dos teros que existe para voc ugir do cli-ch das otos em que, como disse anteriormente,o objeto posicionado no centro da otografa.

    2. TRINGULO DE EXPOSIO

    Essa dica importante demais, mas s possvel se a cmera oerecer o modo manual.Mas saber isso essencial pra dominar o resulta-do da oto e no depender mais de dar sorte da c-mera entender como voc quer que saia a oto.O tringulo divido em ISO, abertura e velocida-de. Ajustando essas trs caractersticas voc def-ne como ser sua oto.

    O ISO (que a galera da poca das c-meras de flmes conhece como ASA) a sensibi-lidade de entrada de luz no sensor. Geralmente,comea em 100 e o limite defnido pela cmera,nas compactas chega, em mdia, a 3200. Quantomaior o ISO, mais luz captada pelo sensor. Tam-bm quanto maior o ISO, mais granulao a oto

    ter. A abertura (identifcada como ) ,como o nome diz, a abertura do diaragma quefca na lente da cmera (nas compactas as aber-turas maiores giram em torno de 3.5) e a nu-merao se d ao contrrio do ISO, aqui quantomenor o nmero, mais aberto ser o diaragma econseqentemente mais luz entrar no sensor damquina. Cabe atentar tambm nesse caso, a pro-undidade de campo. Aqueles eeitos de desoque

    do undo so conseguidos utilizando uma grandeabertura (1.8 por exemplo), enquanto, se vocquer otograar uma turma, voc deve usar umaabertura menor e assim o oco estar em todos

    que esto ali na oto (7.1 por exemplo).Velocidade tambm j mata de cara o

    que , a velocidade em que o obturador dispa-ra. Na prtica se voc usa 1/125s de velocidade, jconsegue congelar uma imagem e evitar borres,mas se voc usar 1/20s de velocidade e o objetivoestiver em movimento, a imagem sair borrada.Pra fnalizar essa dica, uma oto tirada com ISO100, abertura 3.5 e velocidade 1/50s ter a mes-ma luz de uma oto tirada no mesmo ambientecom ISO 200, abertura 3.5 e velocidade 1/100s.Com a dierena que na primeira a oto podersair borrada, se o objeto estiver em movimento,enquanto na segunda j ser possvel congelar a

    ao do objeto.

    3. OLHOS NOS OLHOS

    Depois de a segunda dica ser densa etcnica demais, essa muito simples. Tire a otona altura dos olhos da pessoa. Se or uma crian-a ou um animal, abaixe para conseguir fcar nonvel do seu objeto otogrfco. Assim a oto sairmais natural, sem achatar ou alongar o objeto daotografa.

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    4. LUZ NATURAL

    A luz do Sol, geralmente, melhor queusar o ash que vem na compacta, posicione-secom o Sol s suas costas e desligue o ash. O re-sultado ser bem mais satisatrio e muito maisnatural. Os dias em que o Sol est mais encobertopelas nuvens so os melhores para retratos, por-que a luz fca mais suave, disarando as imperei-es que podem existir no rosto do otograado.Ou voc pode virar de rente pro Sol e azer belasotos de silhuetas.

    5. FLASH

    Tem muitas horas em que o ash desnecessrio, como as situaes em que alei nadica anterior ou, por exemplo, quando se otogra-a um show e quando vai olhar s se consegue ver

    mos da platia iluminadas, o ash certamentevai parar no objeto mais prximo e iluminar ele,desprezando o objeto principal que o palco. En-to nessa hora, desligue o ash e aproveite parausar a iluminao do palco mesmo (quando essailuminao existe, em Porto Velho dicil).Mas o ash no s eneite no, ele alm de sermuito til e necessrio em ambiente de breu total,tambm salva as otos contra o sol, ento se vocquer pegar aquele por do sol lindo e tambm apessoa otograada, utilize o ash para iluminara pessoa e ainda recebe a luz do sol sem intere-rncia.

    6. EQUIPAMENTO

    No ache que, se voc comprar umacmera de 5 mil reais, as suas otos sairo timas.Claro, no tem como exigir muito de uma com-pacta se comparada a uma cmera profssional,mas o ponto mais importante o otgrao, af-nal a cmera no otograa sozinha. Na internetexistem milhes de otos lindas que oram tira-das com um celular ou com compactas, enquantotambm existem milhes de otos tiradas com c-meras profssionais, mas que no so agradveis ea vamos prxima dica.

    7. PRATIQUE O OLHAR

    Pra mim essa uma das mais impor-

    tantes dicas, pratique o seu olhar, visualize comoenquadrar um momento qualquer no seu dia-a--dia, veja as coisas como se ossem otografas otempo inteiro. Passe algumas horas olhando oto-grafas que ache interessante pela internet. Perce-ba elementos interessantes nas coisas. Condicioneo seu olhar a um olhar otogrfco.

    8. ESTUDE DE GRAA

    Eu no fz nenhum curso de otografa,tudo que aprendi (e ainda estou aprendendo) vemda pesquisa diria pela internet e de dezenas de li-

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    vros que emprestei da biblioteca da aculdade emque curso publicidade e propaganda. A internet de cara a maior aliada na hora de estudar, sodezenas de sites e runs sobre otografa que aju-dam bastante nessa hora, alm dos grupos comoaqui em Rondnia em que existe o Fotoclube Ron-dnia que tem um grupo no Facebook, alm deorganizar diversos passeios onde pode ser muitousado para um aprendizado timo, afnal os maisexperientes sempre tem algo a mais para ensinar.

    9. SAIBA USAR SUA CMERA

    Leia o manual, muito importante enele existem muitas dicas teis para otograarmelhor. Alm disso, sempre mexa na sua cmera,aa todas as combinaes possveis nela, use to-dos os modos disponveis (menos o automtico),saiba onde esto todos os botes e quais suas un-

    es. Fotografa momento e no queira perd-loenquanto procura onde est o boto do obtura-dor.

    10. FOTOGRAFE

    Parece a dica mais clich de todas,mas, pra mim, a mais importante. Obviamen-te, o conhecimento tcnico necessrio para vocsaber o que est azendo, mas a teoria de nadaadianta se voc no praticar, ande com a cmerapra l e pra c. Se o dia est chuvoso, otograedentro do quarto, aproveite pra testar novas pers-

    pectivas, iluminaes. Depois de um tempo, voce sua cmera vo ser um s e voc (assim comoeu) corre o risco de ser questionado se aconteceualgo quando aparecer sem ela ao seu lado, masaproveite.

    Fotograe!

    Espero que tenham gostado, entendido as coisas mais complexas e tirado proveito do que escrevi. AFotografa nunca aprendida por completo, ento todos ns estamos em processo de aprendizadodessa arte, que me encantou desde quando eu era mais novo e que espero que fsgue voc tambm.

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    DO LEITOR

    [email protected]

    A EXPRESSES! tem se moldado ao longo do tempo, e por diversasorientaes, uma delas a opinio dos leitores que sempre do interes-santes feedbacks a respeito de toda ela, mas, pelo acebook. Se voc temuma crtica, uma sugesto, mande para ns, temos bons ouvidos,

    Obrigado.Jos Danilo Rangel

    mailto:[email protected]:[email protected]
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    ENVIO DEMATERIAL

    Para submeter o seu texto, oto ou desenho para a revista EXPRESSES!, muito cil: escreva um e-mail explicitando a vontade de ter o seu tra-balho publicado na revista, anexe o material, na extenso em que ele es-tiver, .doc, .jpeg, e outros, e seus dados (nome, idade, ocupao, cidade)com a extenso .doc, para o endereo:

    [email protected]

    Para contos, a ormatao a seguinte, onte arial, 12, espao simples,mximo de 10 pginas.

    Para crnicas, arial, 12, espao simples, mximo de 5 pginas,

    Para poesia, arial, 12, espao simples, mximo de 10 pginas.

    Ainda temos as sees Decodifcando, que abarca leituras de diversostemas, e a 10 Dicas, tambm com proposta de abraar uma temtica di-erenciada, onde voc pode sugerir flmes, revistas, msica, conselhos

    e no sei mais o qu, alm dessas, a seo EXTRA, visa abranger o queainda no couber nas outras sees.

    Para otos ou desenhos, a preerncia por imagens com resoluesgrandes, por conta da edio, e orientao retrato, por conta da estticada revista.

    A revista EXPRESSES! sai todo dia 10, de cada ms, ento, at o dia 20de cada ms aceitamos material,

    Porto Velho - Outubro de 2012Jos Danilo Rangel

    mailto:[email protected]:[email protected]
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    Nmero Anterior

    http://www.scribd.com/doc/109800360/EXPRESSoES-15