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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Fundada em 18 de Fevereiro de 1808 Monografia Exposição a urânio natural em águas subterrâneas e efeitos renais: uma revisão de literatura Gerson Silva Gomes Salvador (Bahia) Março, 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA

Fundada em 18 de Fevereiro de 1808

Monografia

Exposição a urânio natural em águas subterrâneas e efeitos

renais: uma revisão de literatura

Gerson Silva Gomes

Salvador (Bahia)

Março, 2013

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SIBI/Biblioteca Gonçalo Moniz: Memória da Saúde Brasileira

Gomes GS.

G633 Exposição a urânio natural em águas subterrâneas e efeitos renais / Gerson S. Gomes.

Salvador: G.S.G., 2013.

41p. : il.

Orientadora: Prof.ª Drª. Rita de Cássia Franco Rêgo.

Monografia (Conclusão de Curso) Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Medicina da Bahia,

Salvador, 2013.

1. Nefrotoxidade. 2. Urânio natural. 3. Águas subterrâneas. I. Rêgo, Rita de Cássia Franco II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Medicina da Bahia. III. Título.

CDU - 612.462

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA

Fundada em 18 de Fevereiro de 1808

Monografia

Exposição a urânio natural em águas subterrâneas e efeitos

renais: uma revisão de literatura

Gerson Silva Gomes

Professor orientador: Rita de Cássia Franco Rêgo

Monografia de Conclusão do Componente

Curricular MED-B60/2012.2, como pré-

requisito obrigatório e parcial para conclusão

do curso médico da Faculdade de Medicina da

Bahia da Universidade Federal da Bahia,

apresentada ao Colegiado do Curso de

Graduação em Medicina.

Salvador (Bahia)

Março, 2013

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Monografia: Exposição a urânio natural em águas subterrâneas e efeitos renais: uma revisão

de literatura, de Gerson Silva Gomes.

Professor orientador: Rita de Cássia Franco Rêgo

COMISSÃO REVISORA

Rita de Cássia Franco Rêgo (Presidente), Professora Adjunta do Departamento de

Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade

Federal da Bahia. Doutora em Saúde Pública.

Maria do Rosário Zucchi, Professora do Departamento de Física da Terra e do Meio

Ambiente do Instituto de Física da Universidade Federal da Bahia.

Angelina Acosta, Professora Associada II do Departamento de Pediatria da Faculdade

de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia.

Adriana Campos Sasaki, Doutoranda do Curso de Doutorado do Programa de Pós

Graduação em Ciências da Saúde (PPgCS) da Faculdade de Medicina da Bahia da

Universidade Federal da Bahia.

Membro Suplente

Lilian Lessa Andrade Lino, Professora do Departamento de Ciência de Alimentos da

Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia.

TERMO DE REGISTRO ACADÊMICO: Monografia avaliada pela Comissão Revisora, e

julgada apta à apresentação pública no IV Seminário Estudantil de Pesquisa da Faculdade

de Medicina da Bahia/UFBA, com posterior homologação do registro final do conceito pela

coordenação do Núcleo de Formação Científica e de MED-B60 (Monografia IV). Chefia do

Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Bahia-UFBA.

Salvador (Bahia), em _____de _____________de 2013.

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Qualquer trabalho científico, qualquer

invenção é um trabalho universal. Ele está

condicionado, em parte pela cooperação de

contemporâneos e em parte pela utilização

do trabalho de seus predecessores.

KARL MARX

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EQUIPE

Rita de Cássia Franco Rêgo, Faculdade de Medicina da Bahia/ UFBA

Gerson Silva Gomes, Faculdade de Medicina da Bahia/ UFBA

INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

o Faculdade de Medicina da Bahia

FONTE DE FINANCIAMENTO

o Recursos próprios

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AGRADECIMENTOS

À Prof. (a) orientadora, Rita Rêgo, pela dedicação em todas as etapas deste trabalho.

À minha família, Pedro Gomes e Odete da Silva (pais) e irmãos, George Gomes e Ana

Angélica Gomes, pela confiança e motivação.

Ao amigo e colega, Rafael Gomes da Silva, pela força e incentivo.

A todos que, de algum modo, colaboraram para a realização e finalização deste

trabalho.

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Aos meus pais, Pedro Gomes e

Odete da Silva, porque acima de

qualquer outro motivo, são os

mais importantes.

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ÍNDICE

1. LISTA DE ILUSTRAÇÕES.......................................................................................................2

2. LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS................................................................................3

3. LISTA DE SÍMBOLOS..............................................................................................................4

4. RESUMO.........................................................................................................................................5

5. ABSTRACT.................................................................................................................................6

6. INTRODUÇÃO...........................................................................................................................7

7. OBJETIVOS..............................................................................................................................10

8. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................................................11

8.1. BREVE HISTÓRICO SOBRE O URÂNIO ............................................................. 11

8.2. PROPRIEDADES FÍSICAS, QUÍMICAS E RADIOLÓGICAS DO URÂNIO.......... 12

8.3. EXPOSIÇÃO AMBIENTAL DO URÂNIO....................................................................... 13

8.4. TOXICOLOGIA E TRATAMENTO DA EXPOSIÇÃO AO URÂNIO........................15

8.5. TOXICIDADE DO URÂNIO...........................................................................................17

8.6. DISTRIBUIÇÃO E EXCREÇÃO....................................................................................19

9. MATERIAIS E MÉTODOS...................................................................................................................21

10. RESULTADOS.............................................................................................................................22

11. DISCUSSÃO..................................................................................................................................... 34

12. CONCLUSÃO ............................................................................................................................ 36

13. REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 38

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1. LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 ....................................................................... 18

Figura 2 ....................................................................... 19

Figura 3 ....................................................................... 20

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2. LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ALP. ................................................................................................................................. FOSFATASE ALCALINA

BMG. ....................................................................................................................... BETA-2-MICROGLOBULINA

BQ. ........................................................................................................................................................ BECQUEREL

GGT. ..................................................................................................... GAMA-GLUTAMIL-TRANSPEPTIDASE

LDH. ....................................................................................................................... LACTATO DESIDROGENASE

NAG. .................................................................................................................. N-ACETILGLUCOSAMINIDASE

PB. ............................................................................................................................................................... CHUMBO

UO2. ........................................................................................................................................... ÓXIDO DE URÂNIO

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3. LISTA DE SÍMBOLOS

α – alfa

β – beta

γ – gama

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4. RESUMO

GOMES GS. EXPOSIÇÃO A URÂNIO NATURAL EM ÁGUAS SUBTERRÂNEAS E

EFEITOS RENAIS: UMA REVISÃO DE LITERATURA

INTRODUÇÃO: Os seres humanos estão constantemente expostos à determinada quantidade

de urânio, uma vez que esse elemento está presente de forma heterogênea e natural nos

alimentos, ar, solo e água. Assim, pequenas quantidades de urânio podem ser ingeridas e/ou

inaladas por qualquer indivíduo, principalmente, por residentes em áreas cronicamente expostas

ao urânio natural que se encontra presente na água potável oriunda de poços subterrâneos.

Níveis elevados de urânio natural em águas subterrâneas têm sido encontrados em todo o

mundo e diversos estudos fornecem evidências de efeitos adversos renais, sobretudo, danos em

túbulos proximais. OBJETIVO: O presente trabalho tem como objetivo fazer uma revisão

bibliográfica acerca dos efeitos renais devido à ingestão de água originária de poços

subterrâneos contendo urânio natural. MÉTODOS: Realizou-se uma revisão de literatura a

partir da consulta de artigos originais e de revisão contendo as palavras-chave urânio natural,

águas subterrâneas e nefrotoxicidade. As fontes de pesquisa envolveram consulta ao PubMed,

Scielo, Lilacs e dissertações do portal de periódicos da Coordenação de Apoio à Pesquisa e

Extensão (CAPES). CONCLUSÃO: Os resultados são controversos, alguns estudos

evidenciam efeitos em túbulos proximais renais detectados por aumentos de biomarcadores

urinários tais como cálcio, glicose, β-2-microglobulina e proteínas de baixo peso molecular. Já

outros estudos não relatam qualquer indicio de nefrotoxicidade por ingestão de urânio natural

procedente de águas subterrâneas.

PALAVRAS-CHAVE: urânio natural, águas subterrâneas, nefrotoxicidade.

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5. ABSTRACT

GOMES GS. EXPOSURE TO NATURAL URANIUM IN GROUNDWATER AND RENAL

EFFECTS: A REVIEW OF LITERATURE

INTRODUCTION: Humans are constantly exposed to a certain amount of uranium, since that

element is present in a heterogeneous manner and natural in food, air, soil and water. Thus,

small amounts of uranium can be ingested and / or inhaled by any person, mainly by living in

areas chronically exposed to natural uranium which is present in drinking water coming from

underground wells. Elevated levels of natural uranium in groundwater have been found

throughout the world and several studies provide evidence of renal adverse effects, especially

damage to proximal tubules. OBJECTIVE: This study aims to review existing literature about

the renal effects due to the ingestion of water sourced from underground wells containing

natural uranium. METHODS: We performed a literature review from the consultation of

original and review articles containing the keywords natural uranium, groundwater and

nephrotoxicity. The sources of research involved consultation with PubMed, Scielo, Lilacs and

dissertations portal serial Coordination Support Research and Extension (CAPES).

CONCLUSION: The results are controversial, some studies show effects in renal proximal

tubules detected by increases in urinary biomarkers such as calcium, glucose, β-2-

microglobulin and low molecular weight proteins. Other studies report no hint of

nephrotoxicity by ingestion of natural uranium coming from groundwater.

KEYWORDS: natural uranium, groundwater, nephrotoxicity.

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6. INTRODUÇÃO

O urânio natural é um elemento químico de símbolo U, sólido, metálico, pouco

radioativo, de meia vida longa (bilhões de anos), o qual por meio do isótopo U235

é usado como

matéria-prima para elaboração de combustível para usinas nucleares e armas para indústria

bélica. Em relação ao urânio natural, existem muitas preocupações em torno dos efeitos na

saúde humana, sobretudo no que tange ao aumento das chances de desenvolvimento de

doenças, principalmente, câncer, contudo, essa relação ainda não está bem esclarecida. Existe

pouca informação na literatura que comprova a relação entre os danos renais por ingestão

aguda ou crônica de urânio, porém, há algumas evidências de que a exposição a esse metal a

longo prazo pode levar à diminuição da função reabsortiva tubular renal, devido à atividade

química do urânio sobre os rins humanos (ATSDR, 2011).

Estudos recentes de literatura apontam que as águas subterrâneas em muitas partes

do mundo são contaminadas com o elemento químico – urânio, oriundo de fontes naturais e

industriais. Ao mesmo tempo observa-se que a exposição ao urânio da água potável está

crescendo rapidamente com mais pessoas dependendo cada vez mais de águas subterrâneas

como principal fonte de água. Essas pessoas, em geral, residem em locais com poucos rios,

baixa pluviosidade e em locais onde os rios congelam. Dessa maneira, estão sujeitas a

utilizarem fontes de água subterrânea o que as expõem a maior risco de contaminação pelo

urânio (ATSDR, 2011).

Desde o início do século XX, as fontes de exposição ao urânio têm aumentado

significativamente devido a atividades humanas (por exemplo, minas de urânio), o que

contribui para deterioração lenta e gradual do meio ambiente decorrente da utilização de

produtos químicos e contaminação com produtos radioativos. Essa exposição ao urânio natural,

que possui dupla toxicidade (química e radiológica) pode participar do aumento dos riscos

potenciais ligados a uma possível contaminação de lençóis freáticos em regiões onde a

atividade antrópica exploratória se desenvolve (ATSDR, 2011).

Estas situações sejam pela escassez de água que leva as pessoas a consumirem água

de poços contaminados, ou pela contaminação ambiental humana devido à exploração do

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minério contribuem para aumentar a probabilidade de exposição do homem ao urânio e,

consequentemente, induzir efeitos deletérios à saúde humana.

Sabe-se que as rochas contendo o urânio natural sofrem desgaste e os

radionuclídeos nela contidos são expostos com o passar do tempo. Com a ação da água de

chuvas, esse processo é acelerado, fazendo com que essa água que carrega materiais contendo

urânio dissolvido se desloque para os lençóis freáticos. Por isso, geralmente águas superficiais

não contém tanto radionuclídeos (átomos instáveis que emitem radiação para se tornar mais

estável) do que águas profundas, já que essas estocam o minério por mais tempo (Nriagu et al,

2012).

Nesse sentido, como águas subterrâneas frequentemente contêm concentrações

mais altas de radionuclídeos naturais do que águas de fontes não subterrâneas, diversos estudos

tentaram vincular a exposição crônica de urânio natural de fontes subterrâneas a lesão renal,

determinada através de alterações em alguns marcadores urinários, tais como fosfatase alcalina

beta-2-microglobulina e N-acetilglucosaminidase (Nriagu et al, 2012).

O urânio natural dissolvido na água é um metal tanto radioativo quanto uma toxina

química. Os estudos em animais, bem como estudos em pessoas ocupacionalmente expostas,

têm mostrado que o efeito importante do urânio é a toxicidade química renal, devido às suas

propriedades químicas (Kurttio et al, 2002). Por outro lado, devido à radioatividade especifica

do urânio natural ser baixa, parece não haver nenhum perigo evidente de câncer por efeitos

radiológicos (Vicente-Vicente et al, 2010)

Essa toxicidade é o resultado da exposição excessiva ao urânio natural, gerando

acúmulo do elemento no organismo. Todavia essa acumulação depende da via de entrada

(inalação, ingestão ou contato com a pele), duração da exposição, da dose, do composto

químico do qual faz parte e de sua absorção. Além disso, essa toxicidade depende ainda do

sexo, idade, massa corporal e da espécie. Por isso, a toxicidade induzida pelo urânio natural é

determinada por uma série de variáveis (Vicente-Vicente et al, 2010).

É importante, sobretudo, deixar claro que nefrotoxicidade por urânio natural em

seres humanos é muito pouco documentada, exceto em casos relatados por exposição a urânio

empobrecido, que faz parte do resíduo final de enriquecimento do urânio. A maioria dos

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estudos é de caráter experimental em animais de laboratório, o que justifica a falta de dados

referentes a humanos (Zamora et al, 2009).

Como dito anteriormente, há uma grande variedade de estudos associando efeitos

renais em humanos e urânio empobrecido, resíduo que se transforma em metal utilizado em

blindagens de veículos de guerra, cápsulas de bombas, que uma vez exposto em humanos,

acaba tendo um efeito renal significante. No entanto, para fins epidemiológicos essa abordagem

do urânio empobrecido, tem pouca aplicabilidade, exceto quando esse material é descartado

inapropriadamente no subsolo e que venha a contaminar lençóis freáticos, mas pouco se relata a

respeito dessa forma de contaminação (Arzuaga et al, 2010)

Nessa perspectiva, o presente estudo tem como objetivo fazer uma revisão

bibliográfica acerca dos efeitos renais em indivíduos expostos ao urânio natural, já que se trata

de um tema ainda pouco discutido na literatura, sobretudo, em indivíduos que ingerem esse

elemento oriundo de poços subterrâneos, situados em áreas em abundância de urânio natural. E

visa conhecer se a exposição prolongada a esse minério pode trazer riscos iminentes à saúde

humana.

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7. OBJETIVOS

Principal

1. Realizar uma revisão de literatura acerca dos efeitos renais em indivíduos expostos ao

urânio natural de águas subterrâneas, a fim de analisar a associação entre a exposição do

urânio e os efeitos nefrotóxicos em seres humanos.

Secundário

1. Identificar se a exposição aguda e crônica ao urânio causa doenças renais, sobretudo,

neoplasias.

2. Analisar se o consumo de água com urânio tem alguma implicação na saúde das pessoas

a longo prazo.

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8. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

8.1 BREVE HISTÓRICO SOBRE O URÂNIO

Em 1780, o farmacêutico Martin Heirinch Klaproth, principal químico do século

XVIII da Alemanha, descobriu que ao adicionar acido nítrico a um material rochoso, este

dissolvia e precipitava, formando um composto amarelo quando neutralizado com hidróxido de

sódio. Percebeu também que quando aquecia este precipitado com carvão, era obtido um pó

preto. A partir desse momento, Klaproth constatou que havia descoberto um novo metal,

denominando-o de “uran” que mais tarde passou a ser chamado de urânio, já que na época tinha

sido descoberto o planeta Urânio (Nordberg, 2007).

Novos testes foram feitos e descobriu-se, posteriormente, que o metal que Klaproth

havia descoberto era um dos óxidos de urânio. Apesar desse achado, somente em 1841, que

Eugene Peligot, professor de Química Analítica em Paris, conseguiu isolar a primeira amostra

de urânio metálico, através do aquecimento de tetracloreto de urânio com potássio. Durante o

século XIX, o urânio não era considerado um metal potencialmente perigoso. Somente em

1896, que se descobriu a radioatividade do urânio, quando Henri Becquerel, em Paris, ao

colocar por acaso uma amostra de urânio em cima de uma gaveta contendo um rolo fotográfico,

este foi danificado como se tivesse sido exposto à luz (Nordberg, 2007).

Em 1934, Enrico Fermi, cientista italiano, promoveu a primeira fissão nuclear do

urânio, por meio da desintegração de átomos pesados com nêutrons. Em 1942, oito mais tarde

da sua primeira experiência, Enrico Fermi, desencadeou uma reação em cadeia usando o

processo de fissão nuclear em um reator contendo pilhas de camadas de óxido de urânio e

grafite. Em 1945, os Estados Unidos lançam a primeira bomba atômica sobre Hiroshima,

desenvolvida pelo programa Manhattan Project, provocando uma explosão por fissão nuclear

contendo urânio enriquecido e causando a morte de mais de cem mil pessoas (Nordberg, 2007).

A partir da década de 1940, em plena vigência da segunda guerra, que os estudos

direcionados sobre os efeitos tóxicos do urânio através de varias rotas começaram a se

desenvolver. Estes estudos basicamente eram realizados em grande parte utilizando animais de

laboratório nos experimentos e os critérios de toxicidade oral eram estabelecidos com base na

mortalidade, diminuição da taxa de mortalidade e alterações histopatológicas. O principal

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achado histológico detectado nos animais estudados foi atrofia de túbulos renais bem como

necrose de córtex renal. Em seres humanos, os primeiros estudos foram feitos no Hospital da

Universidade Rochester e Boston-Oak Ridge com objetivo principal de estudar o metabolismo

do urânio, ao invés de seu efeito na saúde (Zamora et al, 1998).

Não houve grandes esforços desde os anos 1950 a fim de atualizar a toxicologia de

urânio como uma nefrotoxina. Muitos estudos isolados foram conduzidos para estabelecer os

mecanismos tóxicos do urânio em altas a moderadas doses agudas em animais experimentais.

No entanto, poucos estudos foram feitos sobre os efeitos biológicos da ingestão crônica de

urânio em seres humanos. As descobertas epidemiológicas mais recentes sugerem uma relação

entre o urânio natural e envolvimento renal. No entanto, devido à escassez de dados humanos,

em termos de proteção radiológica, extrapolam-se para seres humanos conclusões derivadas de

dados em animais (Zamora et al, 1998).

8.2 PROPRIEDADES FÍSICAS, QUÍMICAS E RADIOLÓGICAS DO URÂNIO

O urânio está presente na crosta terrestre em torno de 2-4 ppm (partes por milhão).

As maiores concentrações de urânio no mundo estão presentes no Canadá, Rússia, Austrália e

África Central. O Brasil tem a sexta maior reserva de urânio do mundo com 309.307 toneladas.

Após ser extraído do solo, contendo uma mistura de óxidos, o urânio é submetido a um

processo industrial que gera um liquor, que é levado para uma usina de beneficiamento para ser

clarificado e filtrado, transformando-se em um sal de cor amarela (conhecido como yellow-

cake), o concentrado de urânio, que por sua vez, pode ser reduzido transformando-se em um

metal branco, prateado, maleável e flexível (Greenpeace, 2008).

O urânio pertence ao grupo dos actnideos, podendo ser encontrado em seis estados

de oxidação. Quando encontrado no estado tetravalente, o urânio é relativamente estável e

geralmente está associado com hidróxidos, fosfatos e fluoretos. No estado hexavalente, o

urânio apresenta um comportamento mais estável e em geral está dissolvido na água (Ingá,

2010)

Atualmente, são reconhecidos vinte e dois isótopos de urânio, todos radioativos. Os

isótopos de urânio que ocorrem naturalmente são U234

, U235

e U238

, os quais sofrem processos de

decaimento radioativo, ou seja, se transformam em outros materiais com consequente emissão

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de partículas radioativas. Por exemplo, o U235

transforma-se onze vezes em diferentes nuclideos

até se tornar Pb207

(lê-se chumbo-207). Da mesma maneira, o U238

transforma-se quatorze vezes

(uma das quais produz U234

), até se transformar em Pb206

(Ingá, 2010).

8.3 EXPOSIÇÃO AMBIENTAL DO URÂNIO

O urânio natural é encontrado nas rochas e no solo na proporção de 2×10-

6 (0,05 Bq/g), sendo menos concentrado em rochas básicas (por exemplo, basalto) e maior em

rochas ácidas e granito. Ele está presente tanto nos alimentos quanta na água, já que trata-se de

um elemento natural do solo. No ar, pode ser encontrado através da ressuspensão do urânio do

solo para o ar ou por materiais transformados do urânio que são liberados no ar (p.ex, gás

radônio). As concentrações ambientais são determinadas por redistribuição por processos

naturais (vento, dissolução, erosão hídrica, precipitação, ação vulcânica) e atividades humanas

(exploração do minério e/ou processamento do urânio), sendo que a última contribui

decisivamente para aumentar a exposição humana a esse elemento, sobretudo, através da

contaminação de alimentos e água (ATSDR, 2011).

Nos alimentos, a maior parte do urânio é encontrada sob a forma de resíduo, pois a

maioria das plantas e animais não biocentram urânio. Isso pode ser provado por evidências que

mostram que as concentrações de urânio diminuem em níveis tróficos superiores. Além do

mais, o urânio, presente nos alimentos, pode ser reduzido quando se realiza medidas de limpeza

nos alimentos durante o preparo das refeições, reduzindo, por sua vez, a quantidade de urânio

ingerida pelos seres humanos (ATSDR, 2011).

A ingestão de urânio natural presente na água e a sua dose de radiação depende

muito da fonte. As concentrações de urânio têm uma tendência de ser menores na superfície do

que em águas profundas, isso porque a água armazenada em fontes subterrâneas passa,

inicialmente, por um processo de lixiviação do solo (ou seja, lavagem do solo) seguido de um

processo lento e gradual de deposição de urânio, que leva a uma maior concentração de urânio.

E esse fenômeno não acontece com as águas superficiais. Os fatores que contribuem para essa

mobilidade da água são concentração de urânio natural do solo, potencial de oxidação-redução,

pH da água e a natureza das matérias absorventes (materiais químicos associados à água). Em

geral, segundo o EPA (Agência de Proteção Ambiental), as águas superficiais não excedem 30

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mg de U/L, ao passo que em águas subterrâneas esses valores são naturalmente superiores

(Hakonson-Hayes et at, 2002).

Existem evidências de que comunidades próximas a minas de urânio podem sofrer

exposição maior aos efeitos do urânio. Em 2008, o grupo Greenpeace coletou amostras de

águas de poços artesianos nas cidades de Caetité e Lagoa Real, situadas no sudoeste da Bahia,

num raio de 20 km da área da mina instalada no território. Os resultados mostraram que pelo

menos duas amostras de água utilizada para consumo humano apresentaram contaminação

muito acima dos índices adequados preconizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e

pela legislação brasileira do Conselho Nacional de Meio ambiente (Conama), que é 0,02 mg

U/L, cerca de 20 ppb (Greenpeace, 2008).

No estudo do Greenpeace (2008) na mesma região de Caetité e Lagoa Real, uma

das amostras de água foi coletada de um poço artesiano a cerca de oito quilômetros da mina e

apresentou concentrações de urânio sete vezes maiores do que os limites máximos indicados

pela OMS e cinco vezes maiores do que os especificados pelo Conama. A outra amostra que

apresentou indícios de contaminação foi coletada de uma torneira que bombeia água de poços

artesianos da área de influencia direta da mina. Os índices de urânio contidos nessa amostra de

água eram o dobro do limite estabelecido pela OMS e acima do índice Conama. A publicação

“Avaliação dos recursos hídricos visando a saúde humana e agricultura na província uranífera

Lagoa real, região centro-oeste do estado da Bahia – Lagoa Real, 2008” do Serviço Geológico

do Brasil (CPRM) e da Secretaria de Minas e Metalurgia do Ministério de Minas e Energia foi

utilizada como referência (OLIVEIRA, 2008) (Quadro1).

Quadro 1: Localização e medida de urânio coletados em poços artesianos de Lagoa Real, Bahia, ano 2008

Fonte: OLIVEIRA, JE. Avaliação dos recursos hídricos visando a saúde humana e agricultura na província uranífera lagoa real,

região centro-oeste do estado da Bahia – Lagoa Real, 2008.

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15

Em 2010, o Ingá (Instituto de Gestão das Águas e Clima) estudando 22 poços da

área de Caetité-Ba, identificou cinco amostras de água que extrapolaram os valores

recomendados pela OMS/2004 para consumo humano, sendo que três destas amostras tiveram

valores superiores a 0,2 mSv/ano. Entretanto, a legislação brasileira ainda não possui uma

definição para qualidade de água relativa a radiações naturais, por isso utiliza-se a legislação

internacional da Organização Mundial de Saúde – OMS (Recomendações para a qualidade da

água potável, 30 edição, 2004, que prevê um limite de dose efetiva de 0,1 milésimos de Sievert

por ano (mSv/ano) para água de consumo humano.) (Ingá, 2010).

Logo, é possível sugerir que usinas de beneficiamento de urânio como a de Caetité,

onde ocorre a extração do minério a céu aberto, podem estar sujeitas a transbordamento e

vazamentos nas dependências da mina causando dispersão de resíduos de urânio e seus

subprodutos, contaminando o solo e água, afetando, portanto, a saúde da população que faz uso

da água para consumo.

8.4 TOXICOLOGIA E TRATAMENTO DA EXPOSIÇÃO AO URÂNIO

A toxicologia e a farmacologia dos compostos de urânio foram objetos de intensa

pesquisa a partir da segunda guerra, sendo os principais trabalhos publicados nos período entre

1949 e 1953. Nestes trabalhos a maior parte dos dados foi colhida de experiências realizadas

em animais. Posteriormente, vários estudos foram executados e muitos resultados foram

apresentados sobre exposições de homens a compostos de urânio, incluindo resultados de

análises de autopsias. Estes dados são de grande valor, pois, o comportamento nos homens não

deve ser exatamente o mesmo que para os animais (Zamora et al, 1998).

Como para qualquer outra substância, a biotransformação dos compostos de urânio

apresenta as seguintes etapas: assimilação do composto e sua passagem à corrente sanguínea;

transferência do sangue para os diversos sítios do organismo e eliminação do urânio pelas vias

de excreção. O organismo humano contém em média 90 μg de urânio, incorporados através do

consumo normal de água e alimento, e também por ar inalado. Aproximadamente 66% se

encontram no esqueleto, 16% no fígado, 8% em rins e 10% em outros tecidos. Na excreção

urinária ou nas fezes elimina-se mais de 95% do urânio que entra no corpo (OMS, 2001).

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Tipicamente, entre 0,2 e 2% do urânio contido nos alimentos e na água é absorvido

pelo trato gastrointestinal. Do urânio que é absorvido no sangue, aproximadamente 67% é

filtrado pelos rins e excretado pela urina, nas primeiras 24 horas. Um fator importante a

considerar na absorção é a solubilidade do urânio em água. Por extensão, para propósitos de

Proteção Radiológica, supõe-se que a solubilidade seja a mesma para os fluidos do organismo

apesar do fenômeno, na realidade, ser mais complexo. Em se tratando de um composto dito

solúvel a passagem para o sangue é muito rápida e no caso de insolúvel a passagem é lenta.

Compostos solúveis do urânio são mais bem absorvidos do que compostos insolúveis, porque a

mobilidade do íon uranila (UO2)2+

é similar à mobilidade do cátion Ca+2

(OMS, 2001).

Como o urânio transita majoritariamente pelos rins, seu efeito toxicológico mais

importante é a nefrotoxicidade. No rim, a toxicidade do urânio retido depende de sua

concentração: em altas concentrações pode causar necrose no túbulo proximal enquanto que,

em quantidades não letais, o dano ao túbulo é regenerado, com subsequente tolerância a doses

maiores de urânio. Ainda que os rins sejam o órgão onde o urânio exerça sua toxicidade

química mais importante, os ossos são considerados críticos para os estudos dos efeitos a longo

prazo da exposição ao urânio, já que apresentam afinidade pelo urânio, retendo-o por grandes

períodos e prolongando a exposição, pois o elemento é liberado da estrutura óssea durante o

remodelamento desta (PRADO, 2007).

O urânio, assim como outros metais pesados, tem grande afinidade pelo osso. Desta

forma, este órgão é um dos mais importantes acumuladores biológicos de radionuclídeos de

vida longa. Por outro lado, é preocupante que nele se concentrem as células hematopoiéticas da

medula óssea e células progenitoras do osso. Por estas razões, o estudo do metabolismo de

urânio em tecidos ósseos, em quantidades que sejam suficientemente baixas para não induzir

um efeito severo imediato pró-toxidade química ou radiológica em outros órgãos, é

fundamental para avaliar riscos à saúde ao longo prazo principalmente em etapas de

crescimento do indivíduo (PRADO, 2007).

Quanto ao tratamento da exposição ao urânio por consumo de água e alimentos

contaminados, visa-se reduzir a concentração do elemento em órgãos-alvo como o rim e o osso,

principais locais de armazenamento a curto e a longo prazo, respectivamente. Em exposição

excessiva, devem-se coletar amostras do material contaminado, bem como urina, fezes, vômito

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e secreções para serem analisadas. Além disso, deve-se quantificar o urânio internalizado, antes

e durante o tratamento para avaliar a sua eficácia.

O método de tratamento recomendado é alcalinizar a urina com o propósito de

reduzir danos renais, sobretudo, necrose tubular renal. Para tanto, usa-se o bicarbonato de sódio

como recurso principal, já que trata-se de uma substância adequada para formar complexos

com o urânio, mobilizando o urânio de tecidos sensíveis ou locais de armazenamento (fígado,

rim e osso), facilitando sua eliminação (Cooper et al, 1992).

Segundo protocolo da Radiation Emergency Asssistance Center/Training Site

(REACT/TS), o tratamento baseia-se em dissolver duas ampolas de bicarbonato de sódio em

1000 cm3 de solução salina e administra-se por via intravenosa em 125 cm

3/hora.

Alternativamente, podem-se administrar dois comprimidos de bicarbonato a cada 4 horas até

que a urina chegue a um pH alcalino de 8 a 9. Métodos específicos de tratamento como

indução de vômitos e lavagem pulmonar devem ser realizados somente com supervisão médica.

8.5 TOXICIDADE DO URÂNIO

Os efeitos tóxicos do urânio natural variam segundo a quantidade absorvida e a

velocidade de passagem através do epitélio de proteção. Se a absorção for maciça, a quantidade

no sangue exerce a maior influência e o urânio comporta-se como um tóxico químico agudo.

Por outro lado, se a absorção for lenta, o urânio permanecerá por tempo maior nas portas de

entrada e os efeitos tóxicos manifestar-se-ão neste local onde o urânio comporta-se como um

toxico radioativo. Assim o urânio apresenta, ao mesmo tempo, toxicidade química e radioativa;

uma ou outra será importante dependendo também, da solubilidade do composto em questão

(Li et al, 2005).

O urânio concentra-se na parte cortical dos rins, principalmente nos túbulos

contorcidos proximais, sendo esta a primeira região a sofrer danos. O íon uranila combina-se

com as proteínas das células renais, bloqueando a ação da enzima hexoquinase, pela formação

do complexo ATP-uranil-hexoquinase, impedindo o mecanismo de fosforilação celular,

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podendo provocar a morte das células renais. Um sinal precoce do efeitos tóxicos é a presença

de albumina na urina. (Vicente-Vicente et. al, 2010) Veja a Figura I a seguir:

Figura I: Modelo do efeito celular do urânio.

Fonte: VICENTE-VICENTE L, Quiros Y, Pérez-Barriocanal F, López-Novoa JM, López-Hernández FJ, Morales AI.

Nephrotoxicity of uranium: pathophysiological, diagnostic and therapeutic perspectives. Toxicological sciences : an official

journal of the Society of Toxicology. 2010 Dec;118(2):324–47

Propriedades nocivas do urânio natural

As principais situações nas quais os compostos de urânio podem provocar danos são:

a) Por simples exposição: Os riscos de exposição à radiação causados pelos compostos de

urânio limitam-se a alguns descendentes emissores beta. Os isótopos de urânio são

emissores alfa e gama de baixa energia e, portanto, como a radiação alfa é pouco

penetrante e a gama é de energia baixa, a dose recebida pela exposição aos isótopos é

mínima.

b) Por contaminação externa: esta se dá pela deposição dos compostos de urânio sobre a

pele. Os danos causados pela radiação são locais. Por causa de sua baixa penetração, a

radiação alfa não consegue ultrapassar a camada morta da epiderme. O maior risco,

nessa situação, seria uma possível contaminação interna posterior.

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c) Por contaminação interna: esta constitui o maior risco potencial causado pelos

compostos de urânio natural, tanto pela toxicidade radioativa como pela química. Essa

contaminação se dá por ingestão de alimentos e água com o material e por inalação de

partículas. As partículas alfa emitidas transferem sua energia numa porção localizada da

matéria e, por isso, causam maior dano. Veja Figura II.

Figura II: Distribuição do urânio pelo organismo

Fonte: VICENTE-VICENTE L, Quiros Y, Pérez-Barriocanal F, López-Novoa JM, López-Hernández FJ, Morales AI.

Nephrotoxicity of uranium: pathophysiological, diagnostic and therapeutic perspectives. Toxicological sciences : an official

journal of the Society of Toxicology. 2010 Dec;118(2):324–47

8.6 DISTRIBUIÇÃO E EXCREÇÃO

Qualquer que seja a via de entrada, o urânio, após a absorção, segue o mesmo caminho

de distribuição e excreção. Absorvido, o urânio difunde-se pelo sangue e se dispersa pelo meio

extracelular concentrando-se em determinados órgãos. Certa fração da quantidade circulante no

sangue é eliminada diariamente. Sabe-se que o urânio é convertido em urânio hexavalente após

a absorção. E também sabe-se, que o urânio encontra-se no sangue sob duas formas, uma

indifusível, ligada a proteínas (40%) e uma difusível, ligada a bicarbonato (60%) (Mirto et al,

1999). Em 1999, Mirto et al, correlacionou a presença do complexo urânio nas células e seu

efeito tóxico. Observou que o urânio pode entrar ou não nas células tubulares exercendo o seu

potencial tóxico. O urânio pode entrar nas células formando o complexo citrato-urânio,

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exercendo um efeito tóxico significativo, ao passo que ao combinar com o bicarbonato, forma-

se o complexo bicarbonato-urânio que não entra nas células e exercem o efeito tóxico menor.

Por autorradiografia dos rins constatou-se que o urânio não se distribui de maneira uniforme,

concentrando-se, principalmente, nas estruturas corticais e sobre as células do túbulo

contorcido proximal (Mirto et. al, 1999).

O urânio não permanece fixo a nenhum tecido mole em particular, mas tem grande

afinidade pelo tecido ósseo (troca com os íons cálcio). A dissociação do urânio do osso faz-se

de maneira lenta. Sob condições fisiológicas, o urânio associado a proteínas causa pouca ou

nenhuma desnaturação. A fração ligada ao bicarbonato é filtrada através dos glomérulos renais

e o íon bicarbonato é reabsorvido nos túbulos renais. Simultaneamente, à queda da

concentração de bicarbonato, o íon uranila livre pode se combinar com grupos ativos das

células que revestem os túbulos renais resultando aí o dano celular (Mirto et al, 1999). Veja

Figura III.

Figura III: Mecanismo de absorção e respectivos efeitos renais na intoxicação pelo urânio

Fonte: SOUIDI M, Tissandie E, Racine R, Soussan H Ben, Rouas C, Grignard E, Dublineau I, Uranium : propriétés et effets

biologiques après contamination interne. Annales de Biologie Clinique. janvier-février. 2009;67(1):23–38

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9. MATERIAIS E MÉTODOS

A revisão de literatura incluiu artigos originais, relatos de casos e revisões

sistemáticas, publicados nos últimos 20 anos entre os anos de 1992 e 2012. A pesquisa foi

realizada entre os anos de (08/03/2011 e 15/12/2012). Entre os tipos de estudos

epidemiológicos foram considerados os de coorte transversal, caso-controle e coorte, que

tivessem utilizados populações abastecidas por fontes de águas subterrâneas que continham

urânio natural.

Os artigos considerados foram obtidos nos periódicos indexados nas seguintes

bases de dados: PubMed (Public Medical Literature Analysis and Retrieval System Online),

Scielo (Scientific Eletronic Library Online) , Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe

em Ciências da Saúde) e RIMA (Rede Informática de Medicina Avançada) utilizando-se como

estratégia de busca resumos que contivessem as palavras-chave em português e a

correspondente em inglês, com o uso do operador booleano “AND” da seguinte forma:

nefrotoxicidade (nephrotoxicity), AND urânio natural (natural uranium), AND águas

subterrâneas (groundwater). Foram consideradas 50 publicações inicialmente, sendo

computadas 25 publicações para urânio natural, 10 para águas subterrâneas e 15 para

nefrotoxicidade, totalizando 45 artigos originais e 5 artigos de revisão. Como critérios de

inclusão foram aceitas publicações, que tivessem como objetivo de estudo os efeitos renais em

populações humanas expostas ao urânio natural; publicações escritas em português, inglês,

francês e espanhol que possuíssem, no mínimo, o resumo disponível nos sites de busca. Foram

excluídas do estudo as publicações que avaliavam somente comportamento do urânio em rins

de ratos, camundongos e cães, ou seja, aqueles que não diziam respeito a seres humanos;

estudos que tratava de outros meios de exposição que não fosse à água; estudos que não

tivessem relação direta com toxicidade renal e urânio natural; estudos que tratavam de urânio

empobrecido e seus efeitos.

Após a leitura de títulos e resumos de publicações, os artigos foram pré-

selecionados pelos critérios de exclusão e inclusão acima citados e a revisão foi refinada com

base no foco da pesquisa. A busca dos textos completos foi realizada nos próprios sites de

busca, quando disponíveis gratuitamente, ou no portal de periódicos da Coordenação de Apoio

à Pesquisa e Extensão (CAPES), quando não era possível extrair os textos pelos sites de busca.

Ao final foram selecionados, dezoito artigos originais e dois artigos de revisão.

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10. RESULTADOS

Inicialmente foram identificados na pesquisa de base de dados um total de 50

publicações, das quais 45 eram artigos originais e 5 artigos de revisão. A leitura dos resumos

indicou aqueles adequados a este estudo, que foram lidos na íntegra, sendo selecionados 20

artigos (Tabela 1). Os principais motivos de exclusão estão listados na Tabela 2. A Tabela 3

resume as principais informações dos artigos selecionados.

Tabela 1: Total de artigos pré-selecionados após aplicação dos critérios de inclusão/exclusão por base de dados

Bases de Dados No

de artigos encontrados No

de artigos selecionados

LILACS 5 (10%) 2 (10%)

MEDLINE 45 (90%) 18 (90%)

TOTAL 50 20

Tabela 2. Principais motivos de exclusão dos artigos pré-selecionados

Motivo Artigos excluídos n (%)

Sem resumo disponível 2 (7%)

Idioma diferente do

Português/Inglês/Espanhol/Francês

1 (3%)

Objeto de estudo diferente (não seres

humanos)

23 (76%)

Sem relação direta com urânio natural e

efeitos renais

4 (14%)

TOTAL 30 (100%)

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Tabela 3. Artigos selecionados para o estudo

Ano País Autor(es) Tipo de estudo Amostra Achado cientifico principal

2012 EUA Nriagu et al Quali-Quant. 129 Riscos a saúde e exploração de águas subterrâneas 2011 EUA Wagner et al Coorte `- Relação entre urânio natural e câncer

2010 Espanha Vicente-

Vicente et.al Rev. Literatura - Efeitos renais em seres humanos e animais

2010 França Renault et al Estudo experimental

- Inibição da gliconeogênese renal por nitrato de uranila

2010 EUA Arzuaga et al Rev. Literatura -

Lesões renais com urânio empobrecido

2009

Canadá

Zamora et al

Coorte Pop.

Exposição crônica ao urânio e danos renais

2009

Suécia

Seldén et al

Caso-Controle

271

Nefrotoxicidade por urânio em água potável

2007 EUA Magdo et al Relato de caso 5 crianças Nefrotoxicidade em criança exposta a água contaminada

com urânio

2006 Finlândia Kurttio et al Coorte

386 Risco de câncer em órgãos urinários e água de poço

2006 Finlândia Kurttio et al Coorte 193 Toxicidade renal e urânio ingerido

2005 Japão Bo Li et al Estudo

experimental

- Modelo biocinético do urânio após ingestão

2004 EUA Orloff et al Coorte 79 Concentração de urânio ingerido na urina

2002

Finlãndia Kurttio et al Coorte 325 Efeitos renais do uranio na água de beber

2002 México Hakonson-

Hayes et. al

Quanti-Quali

72

poços

Avaliação de riscos a exposição a urânio de água de poço

1999 EUA Mirto et al Estudo

experimental

Comportamento intracelular do urânio em célula renal em

cultura

1998 Canadá Zamora et al Caso-Controle 50 Efeitos renais devido ingestão crônica de uranio

1996 EUA Pavlakis et al Relato de caso 1 adulto Nefrotoxicidade aguda por ingestão de acetato de uranilo

1996 EUA Russell, JJ.,

Kathren et al

Coorte 80 Histologia renal de mineiros de urânio

1995 Canadá Mao et al Coorte 100 Relação entre exposição de urânio e excreção de albumina

1992 EUA Zimmerli B,

Schlatte Ch et.

al

Quanti-Quali - Urânio na dieta: riscos de radioatividade e

nefrotoxicidade

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Após ingestão de compostos de urânio, na forma de urânio transportável (urânio

hexavalente), este é carreado pelo sangue, sofre filtração glomerular e é, em parte, excretado na

urina. A contaminação interna pode induzir toxicidade radiológica e química. No contexto da

toxicidade química do urânio, o rim ou mais precisamente o epitélio tubular proximal é um alvo

importante dos tecidos. A lesão mais frequente observada no rim de animais por urânio é a

necrose aguda que afeta o segmento S3 do túbulo proximal (Henge –Napoli, et al, 1999)

Uma vez absorvido na circulação sistêmica, os depósitos de urânio se instalam,

principalmente, nos ossos e, em quantidades menores, no fígado e rim. A eliminação do urânio

é complexa: cerca de dois terços do urânio é excretado nas primeiras 24 h e cerca de 75% é

excretado dentro de 5 dias. Do restante, a maioria desse composto é lentamente excretada ao

longo de um período de meses, mas uma pequena porção é retida e é excretada durante anos

(Orloff et al, 2004). Em 2004, altas concentrações de urânio (média=620 ug/L) foram

detectados em amostras de águas coletadas em poços privados em comunidade residencial nos

EUA, (Orloff et al, 2004). Elevadas concentrações de urânio (média= 0,4 µg/g creatinina)

foram detectados em amostras de urina e 85% das concentrações de urânio na urina ultrapassou

a concentração do percentil 95 de uma população de referência. Os resultados demonstraram

que após longo prazo de urânio na água potável, elevadas concentrações de urânio na urina

podem ser detectados até 10 meses após exposição ter sido parada. No entanto, nesse estudo

não avaliou o impacto na saúde das pessoas analisadas durante a exposição. Veja Gráfico III.

Gráfico III: Urânio presente na urina ao longo do tempo

Fonte: ORLOFF KG, Mistry K, Charp P, Metcalf S, Marino R, Shelly T, et al. Human exposure to uranium in groundwater.

Environmental research . 2004 Mar;94(3):319–26.

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25

Em modelos de animais, tem sido possível caracterizar os danos causados pelo

elemento sob condições experimentais controladas. Nesses experimentos de forma aguda, o

urânio é capaz de alterar funções tubulares refletidas pelo aumento da excreção de diversos

eletrólitos, proteínas, β-2-microglobulina e glicose. Além disso, verificaram-se o aparecimento

significativo de enzimas urinárias como N-acetilglucosaminidase (NAG) e fosfatase alcalina,

esta última ligada à perda de microvilosidades nos túbulos proximais. Aumentos de outras

enzimas na urina como gama-glutamil transpeptidase (GGT), lactato desidrogenase (LDH)

também apontaram para a presença de lesões renais (Vicente-Vicente et al., 2010).

Ainda em relação a estudos relacionados a animais, sabe-se que o nitrato de uranila

em doses tóxicas (5-20 mg/kg) causa dano especifico em segmentos S2 e S3 em túbulo

proximal, vacuolização de células, perda da membrana da borda em escova e aumento da massa

vacuolar. Em doses muito elevadas, pode causar necrose dos túbulos proximais. Apesar dessa

constatação em animais, é importante salientar que a maioria desses experimentos foi

conduzida tomando ratos como referência, espécie muito sensível a toxicidade do urânio. Em

cães, por exemplo, o limiar toxico por urânio é maior do que para ratos, que por sua vez, em

relação a humanos é bem menor. Portanto, varias espécies de forma aguda sofrem algum grau

de insuficiência renal de uma maneira dose-dependente. (Vicente-Vicente et. al, 2010).

A exposição maciça ao urânio em humanos é muito rara e desconhecida, sendo

poucos casos documentados, como suicídios, administrações via oral controlada com fins de

pesquisa em voluntários e acidentes profissionais com posterior inalação do material. Na

maioria desses casos, há clara evidência de nefrotoxicidade, resultando em diminuição da

filtração glomerular (medido pela depuração de creatinina), ou como consequência desta, o

aumento de creatinina plasmática. Aumento na excreção de proteínas urinárias, aminoácidos e

catalase urinária também têm sido relatados. Outros estudos também descreveram aumento na

excreção de certas proteínas tais como albumina. Em outros casos, tem sido relatado que o

urânio afeta a reabsorção e a excreção de solutos. Todas essas descobertas sugerem que

dependendo da dose aguda com urânio pode levar a insuficiência renal de intensidade variável,

que é fortemente dependente das circunstâncias da exposição (Vicente-Vicente et. al, 2010).

Poucos dados de pesquisa em seres humanos que descrevem adequadamente a

toxicidade dose-resposta de urânio após uma exposição oral estão disponíveis. Num estudo

humano caso de relatório, a nefrotoxicidade aguda foi diagnosticada em um homem após a

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ingestão voluntária de 15 g de acetato de uranilo (cerca de 131 mg / kg com um peso de corpo

de referência de 70 kg), em conjunto com um quantidade desconhecida de benzodiazepínicos,

em uma tentativa fracassada de suicídio. O sangue inicial do individuo era normal, no entanto,

16 horas após a admissão, os seus níveis de uréia no sangue dobrou e os níveis de creatinina

aumentou 3,5 vezes, o que sugere lesão renal. O paciente foi submetido a terapia de quelação e

diálise. Aos 6 meses após o insulto tóxico inicial, o paciente ainda sofria de uma síndrome de

Fanconi incompleta (acidose tubular renal). Uma úlcera péptica pré-existente neste paciente

pode ter exacerbado a toxicidade por aumento da absorção de urânio através da camada mucosa

do estômago danificada (Pavlakis et al. 1996).

.

Mao et al. (1995) encontrou uma associação significativa entre a exposição ao

urânio cumulativo (relatou número médio de copos de água consumidos por dia, e o total de

anos na residência atual) e os níveis de albumina na urina (expressa em mg / mmol creatinina)

em adultos residentes em domicílios com elevados níveis de urânio na água potável. Os níveis

médios de urânio na água potável foram 19,6 e 14,7 mg / L no grupo exposto e 0,71 mg / L no

grupo de controle. Apesar da descoberta de uma associação significativa entre a exposição ao

urânio cumulativa e níveis de albumina na urina, os níveis de albumina estavam dentro da faixa

normal para a maioria dos indivíduos.

Sabe-se por estudos anteriores que a dose por exposição aguda via oral por mais de

15 mg U/kg em humanos é necessária para alterações renais mais importantes começarem a

aparecer. Porém, para animais o urânio é nefrotoxico em condições mínimas: as doses de 5 mg

U/kg são suficientes para causar nefrotoxicidade importante em ratos, camundongos e cães.

Doses superiores a 0,5 mg U/ kg são nefrotóxicos, pelo menos, para ratos. Os seres humanos

expostos a 5 mg U/kg mostrou proteinúria como a alteração mais significativa, ao passo que

tanto a creatinina sérica e uréia aumentou em ratos submetidos a mesma dose. Isso indica que

os seres humanos foram submetidos a certo grau de alteração renal (provavelmente

túbulorrecaptação) que não terminam na disfunção renal visto em ratos (Vicente-Vicente et al,

2010).

.

É importante, sobretudo, deixar claro que estudos em animais divergem de estudos

em seres humanos quanto a via de exposição, que é um fator determinante do urânio em níveis

de biodisponibilidade no sangue e tecidos. No entanto, é evidente que a intoxicação aguda com

urânio leva a nefrotoxicidade em animais e seres humanos de maneira dose-dependente. Nos

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casos documentados em humanos, algumas pesquisas indicam que a intoxicação crônica por

urânio produz, em poucas situações, redução da filtração glomerular e azotemia, tais como uma

diminuição na taxa da filtração glomerular e um aumento da creatinina plasmática e da

concentração de uréia. Na maioria dos estudos, entretanto, não existem praticamente alterações

nesses parâmetros, embora alguns autores descreveram alterações em estruturas tubulares

(Vicente-Vicente et al, 2010).

Alguns autores como Kurttio et al, 2002; Zamora et. al., 1998, 2009, relataram

alterações na função tubular em humanos, após a exposição crônica ao urânio, tais como

aumento na excreção de cálcio, glicose e fosfato. Outros estudos recentes sugerem ainda que a

exposição crônica ao urânio possa estar associada com um aumento na concentração da renina

plasmática, resultando em uma elevação da pressão sanguínea e, portanto, levando a uma

predisposição à hipertensão arterial em indivíduos expostos ao urânio (Kurttio et al, 2006).

Em 1998, Zamora (1998) realizou um estudo em 50 indivíduos com tempos

diferentes de residência do Canadá e foram divididos em dois grupos: um grupo de baixa

exposição, cuja água era obtida a partir de água municipal e continha menos de 1µg de

urânio/L e o grupo de alta exposição, cuja água potável era obtida de poços perfurados e com

níveis de urânio entre 2 a 781 µ/L. Anos de residência variou de 1 a 33 anos no grupo de baixa

exposição e de 3 a 59 anos no grupo de alta exposição. Os indicadores de função renal medidos

incluiu creatinina, glicose, proteínas, β-2 microglobulina, e os indicadores de toxicidade celular

foram fosfatase alcalina, γ-glutamil transferase, desidrogenase lática e N-acetil-β-D-

glucosaminidase. A associação significativa entre os níveis de ingestão de urânio e glicose

urinária, β2-microglobulina, e os níveis de fosfatase alcalina foi observada em homens e

mulheres que viveram na área contendo níveis elevados de urânio na água de beber. Em

contraste, os indicadores para lesão glomerular, creatinina e proteína não foram

estatisticamente significantes. Este estudo sugeria que doses de urânio de 0,0004 ug/kg a 9

ug/kg de peso por ingestão crônica de urânio na água de beber afetaria a função renal e o túbulo

proximal.A ingestão de urânio total variou 3-570 µg / kg (0,00004-,0085 mg / kg / dia, com

base num peso corporal de referência de 70 kg.

Um estudo de uma comunidade indígena foi conduzido para determinar se a função

renal foi afetada pela ingestão crônica de urânio (durante 15 anos) na água potável de poços

perfurados, cujas concentrações de urânio variaram de menos de 1 a 1.418 ppb (partes por

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bilhão). A dose média de radiação foi de 0,2 mSv (milisievert). Amostras de água e urina foram

coletadas. Concluiu-se que a população tanto de machos quanto de fêmeas tinham a capacidade

de reabsorção diminuída. A correlação positiva de excreção urinária de BMG com ingestão de

urânio corrobora esse fato. No entanto, os efeitos renais representam manifestações subclinicas

que não conduziram necessariamente a doença manifesta ou insuficiência renal. Nesse estudo,

os níveis urinários de urânio (ajustado para a ingestão de líquidos) foram positivamente

significativas correlacionada com o volume de urina, gravidade específica, níveis de γ-glutamil

transferase e β2-microglobulina de um grupo de 54 moradores expostos a vários níveis de

urânio na água potável. A ingestão de urânio média estimada para o grupo foi de 0,00065 mg /

kg / dia, no entanto, a ingestão de urânio foi estimada a partir dos dados para todos os sujeitos,

que incluíram oito indivíduos, com um consumo de urânio de menos de 0,0000013 mg / kg /

dia (1,3 ng / kg / dia) (Zamora et al, 2009).

Quanto à informação histológica em humanos após exposição crônica ao urânio,

Russel & Kathren, 2004, verificaram zonas escleróticas em glomérulos juntamente com

infiltração de linfócitos e zonas de arteriosclerose em rins de mineiros expostos ao urânio por

anos. Em geral, os dados histológicos obtidos em seres humanos não permitem uma ideia clara

a ser adquirido do tipo de dano causado por exposição crônica ao urânio.

Segundo Kurttio (2002), a exposição ao urânio é fracamente associada a alteração

da função do túbulo proximal. E a despeito de haver ingestão crônica de urânio, não observou

nenhum efeito sobre a função glomerular em humanos. Ademais, em outro estudo, realizado

pelo mesmo autor e colaboradores, em 2006, na Finlândia, concluiu que a ingestão de urânio a

partir de poços perfurados, mesmo em exposições relativamente altas, não era suficiente para

causar efeitos citotóxicos em rins humanos. No estudo de 2002, a pesquisa foi desenvolvida e

tendo como amostra 325 finlandeses que faziam uso de 194 poços em 24 municípios com alta

concentração de urânio mediante aplicação de questionário sobre utilização de água de poço,

consumo diário de água de poço perfurado, história de tabagismo, ocupação, uso de

medicamentos. Além disso, obtiveram-se informações sobre doenças renais e cardiovasculares,

diabetes, bem como exposição a metais pesados. Amostras de urina, sangue e água foram

coletadas num momento em que as pessoas do estudo tinham consumido água de poço

perfurado por pelo menos 1ano. Verificou-se que um aumento no consumo diário de 1mg de

urânio de água potável estaria associado com um aumento de 0,21 ng de urânio na urina/ mmol

de creatinina. Veja gráfico I.

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Gráfico I: Quantidade de urânio na urina por consumo de água contaminada

Fonte KURTTIO P, Auvinen A, Salonen L, Saha H, Pekkanen J, Mäkeläinen I, et al. Renal effects of uranium in drinking

water. Environmental health perspectives. 2002 Apr;110(4):337–42.

O estudo também provou uma fraca associação significativa entre os níveis de

urânio urinário e excreção fracional de cálcio e fosfato observados nos 325 residentes na

Finlândia expostas ao urânio na água potável de poços furados (Kurttio et al 2002). Uma

tendência de aumento da excreção de glicose também foi observada. Verificou-se um aumento

de 1,5% da fração de excreção de cálcio, 13% de fosfato e 0,7 mmol/min na excreção de

glicose. No entanto, a falta de informação precisa sobre os níveis de cálcio e de fosfato na água

de beber limita a interpretação destes resultados. Observa-se desse estudo que os níveis de

excreção de fosfato de cálcio, e glicose encontravam-se praticamente dentro do intervalo

normal. Níveis de urânio urinário variaram de 1 a 5650 µg / L (1,9-955 ng / creatinina mmol) e

os níveis médios e medianas foram 424 e 78 µg / L (73 a 13 ng / creatinina mmol),

respectivamente. A ingestão de urânio média foi de 3,2 mg / kg / dia. Não foram encontradas

associações significativas para β2-microglobulina níveis ou indicadores de disfunção

glomerular (clearance de creatinina ou albumina urinária). Veja gráfico II.

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Gráfico II: Excreção de Cálcio por quantidade de urânio excretada na urina

Fonte: KURTTIO P, Auvinen A, Salonen L, Saha H, Pekkanen J, Mäkeläinen I, et al. Renal effects of uranium in drinking

water. Environmental health perspectives. 2002 Apr;110(4):337–42.

Em 2010, Renault et. al, estudou a nefrotoxicidade do nitrato de uranilo em córtex e

túbulos renais de humanos e ratos. Os resultados indicaram que o urânio natural é um inibidor

da gluconeogênese renal em humanos e ratos, na presença de 3 mM de nitrato de uranilo.O

nitrato de uranilo, segundo Renault (2010), na concentração de 3 mM em humanos pode

interromper a gluconeogênese renal, devido a inibição de enzimas gilconeogênicas. Túbulos

renais proximais de humanos e ratos foram obtidos e encubadas em solução de nitrato de

uranilo. As amostras foram calculadas utilizando o método de Espectroscopia de RMN do

carbono 13 e após 60 min, provou-se que o nitrato de uranilo diminui a utilização de lactato nos

processos metabólicos, devido a interferência em determinadas enzimas, como a lactato

desidrogenase. Essa diminuição da utilização da média de lactato, causa uma produção

diminuída de ATP celular e de Acetil-Coa, marcadores importantes de viabilidade celular.

Segundo Magdo et al (2007) os efeitos renais em diferentes faixas etárias

demonstram que a ingestão crônica de urânio em crianças e adultos com insuficiência renal tem

maior predisposição à lesão renal, determinada por aumento da excreção urinária de β-2

microglobulina.

Em se tratando de radiação ionizante e câncer, muitos estudos têm relacionado os

riscos potenciais entre sobreviventes da bomba atômica ou vazamentos em indústrias nucleares.

Porém, poucos estudos avaliaram os riscos de câncer do urânio natural na água potável. A

relação da concentração de urânio em águas subterrâneas e seus produtos de decaimento com

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câncer de osso, pulmão, bexiga, mama é bem relatado. No entanto, possivelmente devido ao

limitado poder estatístico, níveis baixos de exposição ou outros fatores, pouco se sabe

exatamente a respeito dessa relação câncer/urânio (Kurttio et al, 2006)

Partículas alfa emitidas pelo urânio são facilmente absorvidos pelo corpo humano e

podem danificar o DNA, resultando em mutações genéticas, aberrações cromossômicas ou

alteração em processos apoptóticos (morte celular programada) que resultam em anomalias em

atividade mitótica e proliferação celular, facilitando o processo de carcinogênese (Wagner et al

2010). Em 2010, Wagner et. al, forneceu a primeira sugestão de uma relação entre a ingestão de

urânio de águas subterrâneas e aumento do risco de câncer colorretal. Entre os anos de 1996 e

2005, Wagner et. al 2010, estudou a Carolina do Sul nos seus diferentes territórios censitários

com níveis diferentes de depósitos de urânio em águas subterrâneas, com objetivo de relacionar

o urânio com a incidência aumentada de câncer nessa região. Verificou que indivíduos que

faziam uso de água subterrânea com níveis aumentados de urânio tinham um risco aumentado

de câncer colorretal, rim, mama e próstata. Porém, como durante a investigação teve um

numero relativamente pequeno de casos (n=110), o poder estatístico foi limitado.

Em 2006, Kurttio et al, aplicou questionário em 95 homens e 98 mulheres, na faixa

etária entre 18 e 81anos que utilizavam água potável de poços perfurados em media há 16 anos.

Coletou amostras de água, cabelo, urina e amostras de sangue e empregou na sua pesquisa

indicadores mais sensíveis de nefrotoxicidade como enzimas N-acetil-β-glucosaminidase

(NAG), fosfatase alcalina (ALP),γ- glutamiltransferase, lactato desidrogenase e glutationa-S-

transferase (GST). A mediana da ingestão diária de água foi de 36 µg/L.Verificou-se que, em

geral, os indicadores de função renal e danos estavam dentro dos valores de referência. Apenas

destacou desfechos esperados como, por exemplo, maior pressão arterial sistólica e diminuição

da depuração da creatinina com aumento da idade. Concentrações de urânio na urina não foram

estatisticamente significantes e não se associou com indicadores de danos na função tubular

renal proximal ou função glomerular. No entanto, uma associação significativa entre o

consumo de urânio acumulado e os níveis de glicose na urina foi encontrada.

Em 2002, Hakonson-Haes et al, avaliou poços com concentrações de urânio de até

1200 µg/L na região do Nambe (norte do Novo México). As estimativas da dose, com base em

ingestão de água indicam que a exposição à água contendo até 1200 µg/L não resultará em

riscos radiológicos significativos à saúde renal, uma vez que as concentrações de urânio no rim

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não excedeu 1µg U/g de rim, um limiar considerado baixo para produzir efeitos radiológicos no

rim.

Outro estudo relativamente grande incluiu 301 participantes do oeste da Suécia

(Bedrock) que viviam em áreas com níveis elevados de urânio na água de beber obtida a partir

de poços e 151 controles de uma cidade próxima com abastecimento de água da cidade (Selden

et. al, 2009). Dos participantes, 23 eram diabéticos e foram excluídos. Dados de questionário

relativos a consumo de água potável, história de tabagismo e outras exposições potenciais

forma coletados, amostras de urina durante a noite foram também coletados. Os níveis de

cádmio, chumbo e mercúrio nas amostras de água forma baixos (menos de 0,5 µg/L). Nesse

estudo, verificou-se que níveis de proteínas de baixo peso molecular (β-2 microglobulina,

cadeias kappa e proteínas HC) foram aumentados para concentrações de urânio na urina entre

0,003 e 0,0149 ug/L. Para β -2 microglobulina, a média geométrica foi aproximadamente 50%

maior. Não houve diferenças significativas nos parâmetros da função renal encontrados nos 301

moradores que consumiam água potável de poços perfurados em áreas Bedrock e dos 153 que

consumiam água municipal (Selden et al. 2009). Quando as duas populações foram

combinadas, os níveis urinários de urânio estavam significativamente correlacionados com β2-

microglobulina, cadeias leves kappa de imunoglobulina, e os níveis de proteína de HC, no

entanto, não houve uma relação dose-resposta. A mediana, média e níveis de urânio na água

potável a partir de poços foram 6,7, 25,2, e menos de 0,20-470 µg / L, respectivamente, e os

níveis de urânio municipais de água estavam abaixo do limite de detecção de 0,2 µg / L. As

respectivas mediana e média geométrica dos níveis de urânio na urina foram 0,013 e 0,016

nmol / mmol creatinina no grupo de água de poço e 0,0019 e 0,0020 nmol / mmol creatinina no

grupo de água municipal.

Em estudo caso-coorte, Kurttio (2006) selecionou uma população finlandesa que fazia

uso de poços artesianos e viviam fora do abastecimento de água municipal entre os anos de

1981-1995. O estudo envolveu 61 casos de câncer de bexiga e 51 casos de câncer de rim

diagnosticados no período entre 1981 e 1995 (sendo que para tanto foram excluídos casos com

fatores de risco para câncer de bexiga e rim, tais como tabagismo e elevado índice de massa

corpórea) e selecionou 274 pessoas de referência (não doentes) que faziam uso de água de poço

há 13 anos, escolhidos randomicamente. Amostras de água dos casos e controles foram

analisadas a cegas. A dose de radiação média efetiva devido a ingestão de radônio, rádio e

urânio na água foi de cerca de 100 mSv/ ano tanto para a coorte de referência quanto os casos

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de câncer de bexiga e rim e o nível de atividade dos radionucleotídeos nos poços coletados

foram praticamente semelhante. Ou seja, praticamente as pessoas não doentes do estudo ao

longo desse tempo receberam praticamente a mesma dose de radiação que as doentes e não

tiveram câncer.

Embora haja risco potencial, a longo prazo, para a carcinogenicidade radiológica do

urânio em ossos, uma vez que emite principalmente radiação alfa e se acumula com o tempo no

osso (Zimmerli e Schlatter, et. al 1992), nenhuma evidência conclusiva foi encontrado ate o

presente momento dessa pesquisa, de que o urânio natural em águas subterrâneas produz câncer

em rins em seres humanos. Com poucas exceções, no entanto, estudos in vitro de

genotoxicidade de urânio em vários tipos de células eucarióticas produziram resultados

positivos (ATSDR, 2011).

Existe a associação de câncer de pulmão e radônio, um produto de decaimento do

urânio, apontando em diversos estudos, principalmente em ambientes domésticos fechados.

Porém esses estudos revelam pouco acometimento de órgãos urinários. A inalação seria a rota

importante de exposição ao radônio, já que este é um gás. Logo, embora os utilizadores de

poços perfurados recebam, em ordem de magnitude, maior dose de radiação a partir de água

potável do que a população mundial em média, estes níveis de exposição sugerem que não

estão associados a um risco aumentado de câncer renal (Kurttio et. al, 2006).

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11. DISCUSSÃO

Atualmente, sabe-se que a intoxicação aguda por urânio é dose-dependente,

podendo levar a insuficiência renal de intensidade variável, a depender das circunstâncias da

exposição. Porém, não se sabe se episódios de intoxicação aguda são capazes de desencadear

lesões renais crônicas que progridem de forma irreversível e autônoma independentemente da

presença do metal. Isso porque existem poucos dados disponíveis sobre intoxicações agudas em

humanos.

Há evidências significativas de acordo com a maioria dos estudos de que a

exposição maciça ao urânio em humanos acarreta nefrotoxicidade de intensidade variável, com

aumento de creatinina plasmática e excreção de proteínas urinárias. Alguns estudos apontam,

além disso, aumento na excreção de certas proteínas tais como albumina. Em outros casos, tem

sido relatado que o urânio afeta a reabsorção e a excreção de solutos. Todas essas descobertas

sugerem que dependendo da dose aguda de urânio pode levar a insuficiência renal de

intensidade variável, que é fortemente dependente das circunstâncias da exposição.

Em animais é possível bem caracterizar os danos causados pelo urânio porque são

mais suscetíveis aos efeitos do urânio do que os seres humanos. Nos estudos verificaram-se

aumentos significativos de enzimas urinárias como N-acetilglucosaminidase, fosfatase alcalina,

gama-glutamil transpeptidase e lactato desidrogenase, bem como dano especifico em

segmentos S2 e S3 em túbulo proximal causando necrose dos mesmos.

Quanto aos efeitos do urânio à exposição crônica alguns autores relataram

alterações na função tubular em humanos, após a exposição crônica ao urânio, tais como

aumento na excreção de cálcio, glicose e fosfato. Já outros não relataram nenhuma alteração

tubular após exposição ao urânio a longo prazo. Isso mostra uma controvérsia dos estudos no

que tange a exposição crônica. Vários estudos epidemiológicos têm tentado vincular a

exposição crônica de urânio e lesão renal, geralmente determinada através de alterações nos

parâmetros como microalbuminúria, glicosúria e β-2-microglobulinuria. Contudo, essas

resultados são inconsistentes com os obtidos por outros autores como Kurttio et al, 2006,

Zamora et. al, 1998.

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Kurttio et, al, 2006 e Zamora et, 2009, fizeram estudos medindo umas serie de

enzimas urinárias como, fosfatase alcalina (ALP), γ.glutamil transferase(GGT), N-

acetilglucosaminidase (NAG) marcadores de dano renal após ingestão crônica de urânio.

Nesses estudos, Kurttio (2006) verificou alterações mínimas dessas enzimas, no entanto,

Zamora (2009) verificou alterações de algumas enzimas principalmente BMG após ingestão

crônica de urânio.

Porém, como existem poucas informações epidemiológicas sobre a exposição ao

urânio e os efeitos renais em humanos, há a necessidade de um maior aprofundamento do tema.

Além disso, existe a dificuldade de saber avaliar o número correto de pessoas expostas; se de

fato essas pessoas foram submetidos a certo grau de dano renal; há dificuldade em saber sobre

as características de cada episódio de exposição (duração, dose, via de exposição); a

impossibilidade, às vezes, de saber da existência de outras comorbidades, conhecidas ou não

(diabetes, por exemplo, é a principal causa de insuficiência renal crônica)

Sobre a toxicidade radiológica do urânio o estudo de Wagner et. al 2010 aponta que

indivíduos que faziam uso de água subterrânea com níveis aumentados de urânio tinham um

risco aumentado de câncer colorretal, rim, mama e próstata. Porém, nesse estudo a maioria das

pessoas do estudo não teve câncer após consumo de água contendo urânio por décadas. Essa

última constatação é corroborada pelo estudo de Kurttio (2006), o qual avaliando poços

perfurados na Finlândia dos quais há mais de 20 anos pessoas faziam uso da água proveniente

desses poços contendo altas concentrações de urânio, verificou que embora poços perfurados

sejam uma fonte de exposição à radiação, não estão associados a um risco aumentado de câncer

de bexiga e de outros órgão urinários. E também não encontraram associações significativas

entre os níveis de urânio urinário e cálcio, fosfato e excreção de glicose.

Embora o rim seja o principal órgão de excreção do urânio sabe-se que o maior

efeito do urânio é sobre os ossos, já que o mesmo tem grande afinidade pelos ossos

prolongando a exposição e retendo por muito tempo. E também existe um risco aumentado de

desenvolvimento de câncer pulmonar, não pelo urânio em si, mas, sobretudo pelo radônio,

radionuclideo transformado a partir do urânio.

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12. CONCLUSÃO

Existem fortes evidências de que o urânio natural é nefrotoxico para os seres

humanos a partir de ingestão de águas de poços contaminados, seja pela toxicidade química

quanto pela toxicidade radiológica. Além do mais, rochas contendo o urânio natural apresentam

também níveis de rádio, que apesar de não provocarem danos renais, acometem,

principalmente, ossos, foco que não foi abordado nesse trabalho.

Quanto à toxicidade química do urânio natural sabe-se através dos poucos trabalhos

publicados em seres humanos, de que o urânio natural é nefrotoxico, a depender do nível e

quantidade de exposição, via de entrada (inalação, ingestão) e da duração dessa exposição.

Porém não se sabe exatamente os danos que ocorrem em rins humanos, sob diferentes doses do

elemento. Sabe-se que ocorre dano, mas não exatamente que tipo de dano não se sabe.

A maioria dos trabalhos indica que ocorre um prejuízo na função tubular proximal,

levando uma perda de reabsorção de certos eletrólitos como cálcio, fosfato, b-2-microglobulina,

ALP, GGT. Outros estudos não relatam qualquer prejuízo na função reabsortiva dos rins,

apenas destacando níveis de excreção de glicose, aumento da renina plasmática e consequente

aumenta de HAS ( hipertensão arterial sistêmica) nos grupos envolvidos.

Quanto à toxicidade radiológica, os estudos são também controversos. Um dos

estudos apontou uma relação entre aumento do numero de cânceres de mama, colorretal,

próstata e exposição ao urânio natural. Porém, outros descartam essa possibilidade, já que o

urânio natural emite poucas partículas de radionucleotídeos e é um material de longa vida,

inviabilizando um possível evento cancerígeno. Exceção se faz ao acúmulo de urânio natural

nos ossos, a longo prazo, isso porque o urânio natural tem grande facilidade de troca iônica

com o Ca+2

, provocando, um efeito radiológico mais intenso.

Existem trabalhos que relatam que o urânio natural não aumenta a mortalidade

provocada por doenças renais em indivíduos expostos ao urânio, como trabalhadores de minas.

Na grande maioria dos casos, existe a relação de câncer de pulmão e radônio(Rn) nesse grupo

especifico. Isso porque o urânio natural é convertido em Rn, que é um gás radioativo, e uma

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vez inalado pode provocar câncer de pulmão. No entanto, efeitos renais crônicos nesses

indivíduos, bem como câncer de bexiga e rim não foram identificados.

Sabe-se, desde a década de 80, que o urânio natural quando ingerido agudo ou

cronicamente em animais, como ratos, camundongo, coelhos, pode provocar desde danos da

função tubular proximal até a mortalidade. Porém, em seres humanos existem poucos casos

documentados e por isso os conhecimentos dos efeitos do urânio natural acabam sendo

imprecisos, seja pela pouco número de pessoas expostas, a duração limitada de exposição ao

elemento e por não saber a dose exata dessa exposição.

Como as informações presentes na literatura são divergentes, não há certeza

absoluta de que as pessoas que ingerem água a partir de fontes subterrâneas contaminadas com

urânio venham a desenvolver doenças. O que se sabe é que o ser humano, comparado com

outras espécies, é muito insensível, de modo geral, aos efeitos internos provocados pelo urânio,

uma vez que o mesmo é eliminado com grande facilidade pelos rins. Dessa forma, o que se

pode esperar é uma maior probabilidade de ocorrer uma diminuição da reabsorção de alguns

eletrólitos e deposição de urânio nos ossos pela exposição crônica.

Enfim, em face de um risco aumentado de desenvolvimento de neoplasias ósseas a

longo prazo e câncer de pulmão pela exposição ao radônio liberado no ar pela transformação do

urânio, cabe às autoridades políticas e sanitárias avaliarem com mais atenção e rigor a

qualidade da água e os níveis de radônio presentes no ar, principalmente, em regiões onde a

exploração uranifera é realizada. Isso porque há evidências conclusivas de que o maior efeito

do urânio não é sobre os rins (exceção em casos de superexposição aguda), apesar de ser o local

maior de excreção, mas sim sobre os ossos e pulmão.

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