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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA MARIANA CAYRES SAMPAIO ANÁLISE ESTRATIGRÁFICA E QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DO GRUPO BARREIRAS NA REGIÃO DE PORTO SEGURO - BAHIA. SALVADOR 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

CURSO DE GEOLOGIA

MARIANA CAYRES SAMPAIO

ANÁLISE ESTRATIGRÁFICA E QUALIDADE DAS ÁGUAS

SUBTERRÂNEAS DO GRUPO BARREIRAS NA

REGIÃO DE PORTO SEGURO - BAHIA.

SALVADOR

2011

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MARIANA CAYRES SAMPAIO

ANÁLISE ESTRATIGRÁFICA E QUALIDADE DAS ÁGUAS

SUBTERRÂNEAS DO GRUPO BARREIRAS NA

REGIÃO DE PORTO SEGURO – BAHIA.

Monografia apresentada ao Curso de Geologia, Instituto

de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como

requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em

Geologia.

Orientador: Prof. Dr. Cristovaldo Bispo dos Santos.

Co-Orientador: Amilton de Castro Cardoso.

SALVADOR

2011

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TERMO DE APROVAÇÃO

MARIANA CAYRES SAMPAIO

ANÁLISE ESTRATIGRÁFICA E QUALIDADE DAS ÁGUAS

SUBTERRÂNEAS DO GRUPO BARREIRAS NA

REGIÃO DE PORTO SEGURO – BAHIA.

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia,

Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:

_________________________________________________________ 1° Examinador - Prof. Dr. Zoltan Romero Cavalcante Rodrigues

INGÁ/INEMA

_________________________________________________________

2° Examinador - Prof. MSc. Hailton Mello da Silva

Instituto de Geociências, UFBA/NEHMA

_________________________________________________________ 3° Examinador - Amilton de Castro Cardoso

CPRM

Salvador, 22 de Novembro de 2011

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“Dedico este trabalho a minha mãe e a minha filha, Milla, pela força em todos

os momentos e por contribuírem por esta etapa em minha vida.”

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, energia superior, por me guiar e ser razão de todas as

minhas conquistas. A minha mãe, Marta Maria Cayres Sampaio por todo o seu amor e a

minha filha, Milla Cayres Sampaio Barbosa, fonte de inspiração.

Meu muito obrigado é para uma pessoa extremamente especial que colaborou por

completo nessa minha conclusão do curso, Dr. Paulo Maia.

Aos professores do Instituto de Geociências da UFBa, pelos conhecimentos

repassados em especial a Sergio Nascimento, Ângela Beatriz, Geraldo Girão, Flávio Sampaio,

Haroldo Sá, Simone Cruz , Antônio Pedreira e Godofredo.

Aos amigos de rocha, Eula, Gleide (Boi), André Lyrio, Luciano (Seu Boneco),

Guilherme (Guiga), Gontijo, Fabiane, Lila, Gleice, Acácio e em especial Dira (meu ponto de

equilíbrio)

Enfim a todos que direta ou indiretamente contribuíram para minha formação.

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“A persistência é o menor caminho do êxito.”

Charles Chaplin

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RESUMO

A área de estudo está situada no município de Porto Seguro, Região Sul do Estado

da Bahia, onde ocorrem unidades litológicas do Complexo Gnáissico-Granítico e Grupo

Macaúbas de idade pré-cambriana; sedimentos areno-argilosos do Grupo Barreiras do

Terciário e depósitos quaternários. O principal domínio hidrogeológico é representado pelos

aquíferos granulares do grupo supracitado, onde a água subterrânea encontra-se

acondicionada nos espaços intergranulares que se constituem em reservatórios de boa

potencialidade de grande importância para esta região. Este trabalho tem por objetivo,

caracterizar a estratigrafia do Grupo Barreiras e avaliar a qualidade de suas águas.

Inicialmente foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre a região, em seguida foram feitas

as interpretações dos perfis elétricos e radioativos. Utilizando dados geológicos e perfilagens

de três poços, foi construído um perfil estratigráfico paralelo à linha de costa, com direção N-

S, que permitiu entender o comportamento espacial das duas fácies. Apesar da completação

dos poços, com filtros nas duas seções, favorecer a mistura das águas das duas unidades, foi

possível identificar, por meio dos perfis de resistividade, a variação vertical da salinidade;

com águas mais doces na fácies superior, com alta resistividade e mais salinas na fácies

inferior, com resistividade mais baixa. Utilizando os resultados das análises de água dos

poços foram construídos diagramas de Stiff e Piper que permitiram classificar e avaliar a

distribuição espacial das águas subterrâneas para tentar identificar os controles das

ocorrências.

Palavras-chave: Análise Estratigráfica; Água Subterrânea; Grupo Barreiras; Perfilagens.

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ABSTRACT

The study area is located in the city of Porto Seguro in Southern Bahia, where there

are lithological units Granitic Complex Gneissic-old pre-Cambrian rocks consist of

metamorphic basement rocks, sandy-clay sediments Grupo Barreiras Tertiary and quaternary

deposits. The main hydrogeological field is represented by the aforementioned group of

granular aquifers, where groundwater is wrapped in the intergranular spaces that constitute

good potential reservoirs of great importance for this region. This study aims to characterize

the stratigraphy of the Grupo Barreiras and evaluate the quality of its waters. Initially a

literature search was performed on the region then were made interpretations of electric logs

and radioactive materials, integrated with the descriptions of the rail samples and the results

of water tests, which resulted in the identification of a framework that divides electrical Grupo

Barreiras in two distinct electro-facies. Using geological data and logging three wells, a

stratigraphic profile was built parallel to the coastline with the N-S direction that allowed us

to understand the spatial behavior of the two facies. Despite the completion of the wells with

filters in two sections, encourage mixing of waters of the two units were identified by means

of resistivity profiles, the vertical variation of salinity with water, sweeter than the facies with

high resistivity and more salt in the lower facies with lower resistivities. Using the results of

the water wells were built Stiff and Piper diagrams that allowed us to classify and evaluate the

spatial distribution of groundwater to try to identify the controls of the events.

Keywords: Stratigraphic Analysis, Groundwater, Grupo Barreiras; Logging.

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Sumário

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 11

1.1 Objetivo ..................................................................................................................... 11

1.2 Justificativa ................................................................................................................ 11

1.3 Localização e Acesso ................................................................................................. 12

1.4 Aspectos Fisiográficos ............................................................................................... 13

1.4.1 Relevo ................................................................................................................. 13

1.4.2 Vegetação ........................................................................................................... 14

1.4.3 Clima .................................................................................................................. 14

1.5 Aspecto hidrogeológico ............................................................................................. 14

2. METODOLOGIA ............................................................................................................. 17

2.1 Coleta de dados geológicos e dados de poços tubulares ............................................ 17

2.2 Tratamento de dados físico-químicos da água ........................................................... 17

2.3 Construção do modelo ............................................................................................... 17

3. GEOLOGIA REGIONAL ................................................................................................. 18

3.1 Introdução .................................................................................................................. 18

3.2 Embasamento ............................................................................................................. 18

3.2.1 Complexo Gnaíssico-Granítico - Paleoproterozóico .......................................... 18

3.2.2 Grupo Macaúbas - Neoproterozóico................................................................... 18

3.3 Terciário ..................................................................................................................... 19

3.3.1 Grupo Barreiras .................................................................................................. 19

3.4 Planícies Quaternária ................................................................................................. 19

3.4.1 Cordões litorâneos .............................................................................................. 19

3.4.2 Aluviões .............................................................................................................. 20

3.5 Estruturas ................................................................................................................... 20

3.6 Interpretação estrutural .............................................................................................. 23

3.7 Tectônica cenozóica ................................................................................................... 24

4. GEOLOGIA LOCAL ........................................................................................................ 26

4.1 Grupo Barreiras .......................................................................................................... 26

4.1.1 Litofácies do Grupo Barreiras ............................................................................ 30

5. ANÁLISE ESTRATIGRÁFICA ....................................................................................... 32

5.1 Teoria do método geofísico ....................................................................................... 32

5.2 Correlação dos perfis elétricos e radioativos ............................................................. 33

5.3 Identificação do marco elétrico .................................................................................. 35

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5.4 Caracterização das eletro-fácies ................................................................................. 36

5.5 Salinidade X Resistividade ........................................................................................ 36

5.6 Caracterização das Litofácies .................................................................................... 36

6. CLASSIFICAÇÃO DA ÁGUA SUBTERRÂNEA .......................................................... 39

6.1 Diagrama triangular de Piper ..................................................................................... 40

6.2 Gráfico de Stiff .......................................................................................................... 41

6.3 Distribuição espacial das águas ................................................................................. 43

6.4 Característica Físico-Química da água ...................................................................... 44

7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ......................................................................... 51

8. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................... 52

ANEXO.....................................................................................................................................57

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1. INTRODUÇÃO

O município de Porto Seguro possui uma área de 2.408 km2, apresentando uma média

populacional de 125 mil habitantes com maior concentração na área urbana, uma densidade

demográfica superior a zona rural, contrastando com os demais municípios da região Sul

cujas populações, majoritariamente, continuam residindo e trabalhando no campo. Isso

provavelmente decorre da condição de pólo turístico regional que impacta principalmente o

setor de serviços.

A cidade de Porto Seguro apresenta uma economia dinâmica que gira em torno do

turismo que atrai mais de um milhão de turista por ano. A maior parte da água consumida

advém de poços perfurados nos aquíferos do Grupo Barreiras que apresentam vazão alta e

águas de boa qualidade para o consumo humano.

A captação de água é feita em filtros posicionados nas seções arenosas dos depósitos

sedimentares de idade Terciária (Grupo Barreiras) e secundariamente nos de idade

Quaternária. As seções penetradas são constituídas por materiais clásticos, argilosos, siltosos

e arenosos inconsolidados, sendo que os argilitos se comportam como selante, protegendo e

confinando localmente o manancial subterrâneo.

1.1 Objetivo

Este trabalho tem por objetivo caracterizar a estratigrafia do Grupo Barreiras e avaliar

a qualidade das águas subterrâneas no município de Porto Seguro Bahia.

1.2 Justificativa

Nas proximidades e na sede do município há escassez de água de boa qualidade

superficial para o consumo humano e é justamente aí onde a demanda exige maiores

suprimento para fomentar o desenvolvimento da região. Por isso a importância de trabalhos

de pesquisa para se entender melhor o aqüífero e subsidiar uma exploração sustentável do

aquífero.

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1.3 Localização e Acesso

A área de estudo possui aproximadamente 370 km² e situa-se nas imediações da

cidade de Porto Seguro e Arraial D’Ajuda e engloba a parte das bacias, especificamente as

Foz dos rios Buranhém, Itaipe, São Francisco, Barra e Trancoso entre outros que deságuam no

Atlântico (Figuras 1.3.1).

O acesso a área pode ser feito por via rodoviária partindo-se de Salvador através da

BR-101 por 653 km até a cidade de Eunápolis onde então toma-se a rodovia BR-367 por mais

65km até a cidade de Porto Seguro (Figura 1.3.2.).

igura 1.3.1 – Mapa de Localização e Situação da área de estudo. Fonte: PERH (2006), SRTM.

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Figura 1.3.2 – Mapa dos acessos. Fonte: CEI (1994).

1.4 Aspectos Fisiográficos

1.4.1 Relevo

Delimitada por uma morfologia que inclui, na sua porção interior, o relevo alto e

colinoso do embasamento cristalino, ao sopé do qual foram depositados os sedimentos

continentais do Grupo Barreiras, durante o Plioceno, que sofreu processos de aplainamento

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das superfícies de acumulação apresentando topografia característica de formas tabulares

dissecadas em vales profundos com encostas de declividade acentuada, sendo o relevo

predominante suave ondulado, feições típicas do Grupo Barreiras (Brasil, 1987).

1.4.2 Vegetação

A região em estudo está situada em áreas originalmente cobertas por Mata Atlântica

com dois tipos distintos de formação vegetacional, denominados Floresta Ombrófila Densa

das Terras Baixas, compostas por árvores cujo porte varia de 20 a 30 metros, submata arbórea

com lianas e epífitas e o Sistema Edáfico de Primeira Ocupação ou Formações Pioneiras que

se subdivide em: Contato Savana/Floresta Ombrófila Densa (Muçunungas) de composição

vegetal representada por Savana Gramíneo-Lenhosa e Áreas de Influência Marinha

(Restingas) que são cobertas por vegetação Arbórea e Herbáceo-arbustiva (Brasil, 1987,

Veloso et al., 1991).

1.4.3 Clima

Considerando a sua localização geográfica, o regime de chuvas no verão e de seca no

inverno. Entretanto, durante o inverno, bem como no outono, ocorrem precipitações associada

à Frente Polar Atlântica que, nestes períodos do ano, freqüentemente alcançam esta região.

Portanto, segundo Martin et al. (1999), o clima desta região pode ser classificado como

"pseudo-equatorial sem estação seca", com chuvas bem distribuídas durante todo o ano. A

precipitação total varia entre 1600 e 2000 mm/ano.

1.5 Aspecto hidrogeológico

Em termos hidrogeológicos da área de estudo, excetuando-se a camada superior do

sistema, que atua como aqüífero livre, as demais camadas areno-conglomeráticas funcionam

como aqüíferos confinados superpostos, a maioria com boa porosidade e permeabilidade, o

que confere ao sistema, como um todo, um bom potencial como aqüífero.

As multicamadas que compõem o grupo Barreiras foram consideradas por Medeiros &

Ponte (1981) como originadas por um complexo de sistemas aluviais e fluviais, o que lhes

confere uma grande variação lateral e vertical de fácies, dificultando uma análise e correlação

efetiva sobre a produtividade de poços perfurados em sua área de ocorrência.

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A recarga desse sistema aqüífero ocorre diretamente sobre as áreas aflorantes dos

sedimentos do grupo Barreiras, em função principalmente da infiltração das águas pluviais.

Alguns poços locados no manancial subterrâneo Barreiras atingiram vazões de até

100m³/h e uma profundidade variando de 99 a 200m, definindo um aqüífero de alta

potencialidade.

As áreas que apresentam maiores índices de recarga são aquelas onde predominam as

litologias arenosas e areno-conglomeráticas da unidade, cujo caráter poroso e permeável,

aliado ao relevo pouco inclinado, favorece a infiltração das águas. De um modo geral, a

natureza tipicamente arenosa das porções superiores do grupo Barreiras condiciona uma taxa

de infiltração relativamente alta.

A área de Estudo foi subdividida em quatro unidades, que estão representada na figura

1.5.1:

c5 – aquífero livre a semi-confinado, com boa porosidade e permeabilidade, o sistema

apresenta um bom potencial como aqüífero, refere-se ao aquífero Barreiras;

a3 – depósitos aluvionares, aquíferos intergranulares descontínuos, livres;

b3 - depósitos aluvionares, constituem aquíferos intergranulares, livres, subordinados

a cursos d’água;

d1 – são terrenos de pântanos e mangues. Constituem coberturas impermeáveis ou

semipermeáveis.

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Figura 1.5.1 – Mapa Hidrogeológico - CBPM

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2. METODOLOGIA

2.1 Coleta de dados geológicos e dados de poços tubulares

Esta monografia foi elaborada a partir de um processo sistematizado de pesquisa

bibliográfica e documental. Os dados dos quatorze poços tubulares com as análises físico-

químicas foram coletados no cadastro da Companhia de Engenharia Rural da Bahia - CERB.

Também foi cedido por esta Companhia um jogo de perfis elétricos e radioativos de

três poços, pela HYDROLOG Serviços de Perfilagem Ltda., constando dos perfis de raios

gama (GR), indução (DIR) e sônico (DT) dos poços perfilados.

2.2 Tratamento de dados físico-químicos da água

Os dados das análises físico-químicas foram consistidos e tratados utilizando

softwares específicos, tais como: Microsoft Excel, QualiGraf, ArcGis 9.3.

A aplicação do software Qualigraf permitiu gerar gráficos qualitativos das análises de

água que propiciou a avaliação qualitativa do universo amostral para poder quantificá-los. Os

dados das análises das águas dos poços foram tratados e convertidos no formato shape e raster

com informações dos isoteores de cada parâmetro analisado nas águas esse resultado foi

obtido através do Arc View 9.3 (GIS) de propriedade autoral da ESRI. As interpretações das

informações produzidas permitiram extrair parte dos resultados desta monografia.

2.3 Construção do modelo

O modelo proposto a partir das interpretações dos perfis geofísicos permitiu, através

da eletro-fácies, subdividir o grupo Barreiras em uma unidade superior e outra inferior, nos

quais a correlação dos perfis e das litologias descritas nas amostras de calha apresentaram as

mesmas similaridades e assinaturas elétricas e radioativas nos três poços da seção

estratigráfica.

Para subsidiar a construção do modelo foi preciso a elaboração de uma seção

estratigráfica, tabelas e gráficos que contribuíram para se obter conclusões valiosas sobre esse

importante sistema aqüífero.

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3. GEOLOGIA REGIONAL

3.1 Introdução

A geologia desta região é monótona visto que quase a totalidade da área encontra-se

recoberta pelos sedimentos do Grupo Barreiras que são caracterizados geomorfologicamente

como tabuleiros costeiros (Projeto Radam Brasil). O contato do Grupo Barreiras se dá de

maneira discordante com o embasamento (Complexo Gnaíssico-Granítico e metassedimentos

do Grupo Macaúbas) e sobreposto a este grupo estão Aluviões Quaternários em especial os do

rio Buranhém, o maior da área. Na figura 3.3.1 o mapa geológico da área, publicado pela

CBPM em 1999

3.2 Embasamento

3.2.1 Complexo Gnaíssico-Granítico - Paleoproterozóico

O Complexo Gnáissico-Granítico ocorre descontinuamente nas porções oeste e

noroeste da Costa do Descobrimento, em zona de relevo aplainado a suavemente ondulado.

Aflora cerca de 10 km a oeste de Porto Seguro (exposição na margem do rio Buranhém),

exibe coloração creme-esverdeado, granulação média, mostra-se igualmente foliado e foi

petrograficamente classificado como biotita monzogranito gnáissico. As datações

geocronológicas efetivadas por Delhall & Demaiffe (apud Silva et al. 1987), pelo método U-

Pb em análise de zircões apresentam idade de formação de 2.000 Ma, durante o ciclo

Transamazônico.

3.2.2 Grupo Macaúbas - Neoproterozóico

Embora o Grupo Macaúbas seja amplamente distribuído e com controvérsias com

relação a sua subdivisão na área abrangida pela folha SE-V-B (Projeto Sul da Bahia) podem

ser encontrados mica-xistos granatíferos, localmente contendo cianita possuindo na base um

horizonte descontínuo de quartzito. Estes xistos granatíferos podem gradar a filitos às vezes

grafitosos. Nesta região correlaciona-se sua idade ao ciclo Brasiliano.

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3.3 Terciário

3.3.1 Grupo Barreiras

O termo Barreiras originou-se da designação Grupo Barreiras, dada aos sedimentos

continentais costeiros, Terciários - Mioceno / Plioceno, que formam extensos tabuleiros,

freqüentemente cortados por falésias junto à linha de costa. A parte superior dos sedimentos

Barreiras foi uniformizada resultando numa superfície aplainada que forma o topo dos

tabuleiros costeiros.

Foi subdividido da base para o topo em duas formações, a saber, Guararapes e Riacho

Morno que são separadas por uma discordância erosiva (Bigarella & Andrade, 1964; in Saadi,

1999). Os principais constituintes litológicos são:

conglomerados polimíticos

arenitos maturos

fração pelítica.

A espessura destes sedimentos é variável; nas proximidades de Eunápolis estão em

torno de 30 metros, enquanto que, nas falésias das imediações de Porto Seguro possuem em

torno de 200 metros.

3.4 Planícies Quaternária

Os depósitos Quaternários são representados principalmente por sedimentos flúvio-

marinhos e fluviais. Os primeiros dispõem-se ao longo de toda a costa e principalmente na

desembocadura dos rios Buranharém e João de Tiba. Os depósitos fluviais têm maior

expressão nos rios acima citados.

3.4.1 Cordões litorâneos

Os cordões litorâneos ocorrem entre a linha de praia atual e na base das falésias da

Formação Barreiras. Representam praias antigas, ora apresentando-se paralelos, ora oblíquos

às praias atuais. São depósitos arenosos contendo minerais pesados. Na porção nordeste da

área de estudo a foram os sedimentos da ultima transgressão marinha (Inda, 1979).

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3.4.2 Aluviões

Os aluviões são caracterizados por material arenoso e areno-argiloso, no leito e nas

planícies de inundação e terraços dos principais rios. As areias brancas que ocorrem no topo

do Grupo Barreiras podem ser originadas dos próprios sedimentos Barreiras por lixiviação do

material mais argiloso.

Figura 3.3.1 – a) Mapa Geológico – Escala reduzida 1: 150.000. Fonte: CBPM, 1999.

3.5 Estruturas

As principais estruturas desta região são classificadas em 5 famílias e/ou tipos bem

distintos, quais sejam:

a) falhas com direção NW-SE

b) falhas de direção NE-SW

c) grábens dos baixos cursos fluviais

d) zonas de falhas de direção E-W

e) blocos basculados

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a) Falhas de direção NW-SE

Estas falhas apresentam-se como as mais evidentes do ponto de vista de seus efeitos

morfotectônicos. Caracterizam-se por lineamentos muito fortes, representados por vales

perfeitamente retilíneos e profundos, assemelhando-se a cânions. Seus traços persistem com a

mesma expressão tanto sobre a cobertura sedimentar, quanto sobre as rochas do

embasamento, sugerindo uma reativação de estruturas antigas, elas interrompem claramente a

extensão ocidental dos grábens que abrigam os baixos cursos dos rios principais. A análise

das anomalias impostas ao comportamento da rede de drenagem, em especial a geometria das

deflexões sugere um sentido de movimentação dextrógiro.

b) Falhas de direção NE-SW

Também são muito representativas na região e em especial na área de estudo, onde

abordaremos em maior detalhe no capítulo 4. Tratam-se na maioria das vezes de feixes de

falhas e/ou fraturas com direções variando no intervalo N40E a N60E e largura variável.

Freqüentemente, o feixe é caracterizado por uma ou duas falhas principais, relativamente bem

marcadas na morfologia, associadas a uma série de lineamentos curtos repetitivos.

A expressão morfológica são trechos de vales retilíneos e encaixados, associados as

deflexões fluviais, estes traços de maneira geral são menores que os das falhas NW-SE da

ordem de quilômetros e por serem recortadas por estas podem ser consideradas mais antigas.

Aparenta ter caráter transcorrente sinistral, e a espessura reduzida do traço, associada à

ausência de feições morfotectônicas indicadoras de movimentação vertical, sugere representar

falhas transcorrentes inversas. Possuem direções variando entre N40E e N60E, sendo que

várias mostram um prolongamento sobre o substrato pré-cambriano, o que possibilita a

correlação a falhas classicamente reconhecidas neste embasamento, cujas direções variam

entre N30E e N60E, podendo-se, por conseguinte concluir que estas representam reativações

de antigas estruturas deste substrato.

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c) Grábens dos baixos cursos fluviais

Este tipo de estrutura é proposto baseado numa interpretação morfotectônica, e que

anteriormente já foi comprovada esta hipótese no litoral oriental do Rio Grande do Norte por

Bezerra et al, 1993; in Saadi,1999, com base no uso integrado de métodos geomorfológicos,

geológicos e geofísicos.

No caso da região em apreço, estes aparecem nos baixos cursos dos rios João de Tiba,

Buranhém e dos Frades, com extensões respectivas de aproximadamente 17,30 e 35 km e

largura entre 1 e 2,5 km. A interpretação baseia-se nos seguintes aspectos geomorfológicos:

Vales muitos largos com fundos perfeitamente planos e margens constituídas por

escarpas verticais a sub-verticais;

Esses vales apresentam um traçado retilíneo em distâncias de dezenas de quilômetros;

Esta morfologia é impressa em sedimentos do tipo arenitos argilosos, sem que o perfil

das escarpas tenha sido amenizado pela erosão e nem que o traçado dessas tenha sido

festonado pela dissecação;

Aliado a este critério, há o fato desses trechos de vales, contrariamente ao esperado,

comportar-se como linhas dispersoras da drenagem secundária;

Seus fundos são ocupados por sedimentos holocênicos, de origem flúvio-marinha,

indicando uma provável subsidência contínua,

Os grábens dos rios Buranharém e dos Frades a direção é N60W, com deflexão

sinistrógira da extremidade oeste relacionada com a interrupção operada pelas falhas NW-SE

e secundariamente, NE-SW. No caso do rio João de Tiba a direção é E-W, com interrupções

dos dois lados motivadas pelas falhas NE-SW.

d) Zonas de falhas de direção E-W

Essas estruturas são caracterizadas por feições hidro-geomorfológicas conspícuas, no

entanto relativamente claras sobre a cobertura sedimentar pliocênica: pequenos trechos de

drenagem orientados e extremamente repetitivos, contidos em faixas E-W bem delimitadas

que estreitam regularmente, à medida que se estendem em direção a oeste, onde a ausência do

substrato proterozóico torna-se evidente. Uma característica permanente dessas faixas é a

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ocorrência de formas romboédricas compostas pela direção E-W e a direção da família de

falhas que vier a ser seccionada, NE-SW ou NW-SE.

e) Blocos basculados

São blocos crustais com formas romboédrica ou triangular, sobre os quais os fluxos

de drenagem mostram variações repentinas de direção marcadas em mapa por sistemas de

vales paralelos cuja escavação foi controlada por níveis de base totalmente diferentes.

A análise dessas direções de fluxo hidrológico, que naturalmente são interpretados

com basculamentos tectônicos mostra que estas respondem coletivamente a uma organização

regional caracterizada por duas direções principais de inclinação opostas. Ao norte do gráben

do baixo rio Buranharém os blocos são inclinados globalmente em direção a ENE, enquanto

que a sul deste, a inclinação média é para SE.

3.6 Interpretação estrutural

Ainda segundo Saadi (1999), a organização estrutural desta área é composta por:

falhas de direção N35-40W herdadas de estruturas antigas do embasamento,

provavelmente dextrais-normais, que parecem ter apresentado a movimentação mais

antiga;

falhas de direção N40-60E herdadas de estruturas antigas do embasamento,

provavelmente sinistrais-inversas, cuja ultima movimentação parece ter sido a das

falhas NW-SE;

falhas de direção E-W interligadas a grábens de direção N60W a E-W, mais

novas de todas, mostrando provável processo de formação e expansão para oeste. Sua

movimentação é ainda mal definida, apesar de os grábens dos baixos cursos fluviais, aos quais

elas se interligam denotando um caráter distensional ao menos nos trechos orientais.

A partir destas conclusões o referido autor propõe um campo de tensões definido por

um eixo compressivo de direção NW-SE e uma direção de distensão NE-SW, o que

corresponde aos resultados encontrados em grande parte da Plataforma Brasileira,

Mendiguren & Richter 1978; Assumpção et al, 1985; Torres et al, 1990; Saadi, 1993; Saadi

& Torquato, 1993; entre outros.

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Quanto aos blocos basculados, o eixo composto pelo gráben do baixo rio Buranharém

e a falha E-W que o prolonga a oeste, comporta-se como um alto estrutural, a partir do qual se

operou os basculamentos divergentes das áreas situadas a norte e sul. Isto parece indicar a

ocorrência de um soerguimento, que no caso específico, poderia ser relacionado com um

gradiente térmico elevado residual do vulcanismo responsável pela formação do Banco

Charlotte, estrutura ígnea paleogênica da margem continental (Asmus & Guazelli 1981,

Guazelli & Carvalho 1981; in Saadi, 1999). Este alto estrutural, conclue Saadi, é adjacente a

outro de origem e idade semelhantes que é o Banco de Abrolhos sendo os dois ladeados por

bacias sedimentares do período Sulatlantiano, que possuem espessuras de 4 a 5 km, o que

constitui um fator gerador de desequilíbrios isostáticos.

3.7 Tectônica cenozóica

A partir da fragmentação cretácea do Supercontinente Gondwana-Oeste, inicia-se a

deriva e individualização da Placa Sul-Americana, palco dos eventos geomorfodinâmicos

(Figura 3.5.1). Este rifteamento, de acordo com Cesero e Ponte (1997) foi acompanhado do

soerguimento de seus flancos, sobre os quais, ainda no Aptiano, iniciaram acelerados

processos erosivos. Em continuidade, a rede de drenagem incipiente se articula ao nível de

base do nascente Oceano Atlântico aptiânico, acelerando o recuo erosivo dos flancos

soerguidos do rifte, adentrando o continente.

Figura 3.5.1 - O Evento Sul-Atlantiano. Fonte: Cesero e Ponte (1997).

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De acordo com Ferraz et al. (2005), a estratigrafia das bacias marginais do leste

brasileiro subsidia a hipótese de que, durante o Aptiano Superior/Albiano, um relevo de baixo

gradiente topográfico já deveria caracterizar ao menos a fachada sub-litorânea do continente,

uma vez que tal morfogênese é acompanhada do desenvolvimento das primeiras plataformas

carbonáticas nessas bacias. Segundo estes autores, neste contexto, iniciava-se a elaboração da

mais antiga superfície de aplanamento identificada na área investigada, de gênese principiada

durante o Aptiano, denominada como Superfície Cimeira. Essa superfície provavelmente

ocupou extensa área geográfica (Figura 3.5.2-A), ocorrendo desde as proximidades do litoral

cretáceo até os escarpamentos que indicam a amplitude do recuo erosivo dos flancos do rifte.

Figura 3.5.2 - Reconstituição esquemática da geomorfodinâmica da área investigada durante o Aptiano-Neógeno (A), Mio-

Plioceno (B) e Pleistoceno- Holoceno (C). Fonte: Ferraz (2006).

No Neógeno ocorre soerguimento continental que interrompe a elaboração dessa

superfície, em função de forte incisão da rede de drenagem ao soerguimento associada, que

passa a arrasar os testemunhos do aplanamento de cimeira. Esta não deve ter sido a única

reativação tectônica cenozóica ocorrida no sul da Bahia, pois no Plioceno, movimentações

transcorrentes da falha são responsáveis pela abertura do Gráben (Figura 3.5.2-B), que rebaixa

tectonicamente remanescentes dessa superfície, basculando outros demais para NE (SAADI e

PEDROSA-SOARES, 1990). Nesse período, tem início a deposição dos sedimentos, no piso

do gráben.

Os soerguimentos mio-pliocênicos que findam o desenvolvimento da Superfície

Cimeira são gatilho para a elaboração da Superfície Sublitorânea, que ocupa proximidades do

litoral sul da Bahia. Esse aplanamento alcança o Pleistoceno, evento simultâneo ao fim da

deposição do Grupo Barreiras, às deformações tectônicas nas proximidades das

desembocaduras dos canais fluviais e da formação de falésias na região costeira (FERRAZ et

al, 2005; FERRAZ, 2006).

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É plausível a hipótese de que esse soerguimento regional pleistocênico tenha se

refletido também no interior do continente, sendo responsável pela ascensão altimétrica dos

testemunhos da Superfície Cimeira e conseqüente capeamento de tais remanescentes por

sedimentos (Figura 3.5.2-C).

4. GEOLOGIA LOCAL

A área de estudo é representada pelas coberturas tércio-quaternárias situadas em toda

área estudada. As unidades quaternárias são representadas pelo aluvião, constituído por

sedimentos basicamente arenosos concentrados nos leitos e terraços dos cursos d’ água e pelo

cordão litorâneo que margeia toda linha de costa. A cobertura Terciária é o Grupo Barreira

que recobre 50% da área de estudo e se encontra discordantemente sobre o embasamento

cristalino.

4.1 Grupo Barreiras

O Grupo Barreiras dada aos sedimentos continentais costeiros Terciários – (Mioceno /

Plioceno) que formam extensos tabuleiros freqüentemente cortados por falésias junto à linha

de costa, embora algumas fácies de conglomerados contenham fósseis marinhos, esta fácies

foi formada em ambiente continental. O fato de esse conglomerado possuir fragmentos

calcários revela que, pelo menos naquelas imediações, os sedimentos do Grupo Barreiras não

derivaram diretamente do embasamento, o que diferencia essa litofácies das demais

encontradas ao longo do litoral sul da Bahia. É possível que essas camadas sejam

correlacionáveis àquelas de idade miocênica. A preservação das equinodermas ocorreu pelo

fato dos mesmos possuírem uma estrutura calcária rígida, tendo sido transportados e

depositados por fluxos de detritos verdadeiros, em um período onde o nível do mar estava

bastante recuado. Nesses fluxos, as frações cascalhosas são transportadas em suspensão numa

matriz argilosa, o que facilita a preservação das carapaças, conchas e esqueletos de animais

marinhos.

Foi criado um modelo (Mitsuru Arai, 2005) que explica a razão da existência

abundante de fósseis pré-tortonianos retrabalhados dentro de estratos tortonianos e pós-

tortonianos das bacias submersas da margem continental (Fig. 4.1.1).

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Fig. 4.1.1 - Esquema de evolução do Grupo Barreiras. A. Burdigaliano – Serravaliano: Sistema de mar alto. Vermelho=

sedimentos pré-miocênicos; Laranja= fácies continental do Barreiras Inferior; Amarelo= fácies transacional do Barreiras

Inferior; Verde= fácies marinha (unidades coevas do Barreiras Inferior). B. tortonianos: Sistema de mar baixo. Observar

cunha de mar baixo no canto direito (em amarelo). C. Plioceno: Sistema transgressivo do Zancleano. Marrom= fácies

continental do Barreiras Superior; Amarelo= fácies transicional do Barreiras Superior; Verde= fácies marinha (unidades

coevas do Barreiras Superior). D. Pleistoceno: Fase erosiva no máximo da regressão pleistocênica. E. Holoceno: Erosão e

retrabalhamento dos sedimentos do Grupo Barreiras. Sedimentos quaternários em cor castanha. A linha tracejada no interior

do Barreiras Inferior representa a superfície de inundação máxima ocorrida provavelmente no Mesomioceno (Langhiano –

Serravalliano). Fonte: Mitsuru Arai, 2005.

A sedimentação do Barreiras parece não estar unicamente relacionada a ciclicidade

climática (durante os climas úmidos atuava o intemperismo químico no embasamento,

enquanto que nos períodos de clima semi-árido havia a desagregação mecânica e transporte

por correntes fluviais), mas também o soerguimento epirogenético pós-neogênico, aliado à

queda eustática, que remonta ao Terciário Inferior, e que criou condições para a acumulação,

na região a jusante, dos sedimentos produzidos pelos processos erosivos atuantes no interior.

De acordo com Valadão (1998 apud Bigarella, 2003), em estudo na zona sublitorânea

da Bahia, o Grupo Barreiras é estratigraficamente caracterizado pela comatação de duas

unidades similares, uma superior e outra inferior. Unidades estas individualizadas por

marcante discordância erosiva reconhecida no Estado da Bahia (Anjos; Bastos,1968; Brito;

Neves, 1971; Bigarella, 1975; 1976; Vilas Boas et al, 1992 apud Bigarella, 2003)

A parte superior dos sedimentos Barreiras foi uniformizada resultando numa superfície

aplainada que forma o topo dos tabuleiros costeiro. Foi subdividido da base para o topo em

duas formações, a saber, Guararapes e Riacho Morno que são separadas por uma discordância

erosiva (Bigarella & Andrade; 1964, in Saadi). Essa subdivisão é correlacionada a duas fases

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bem marcadas de pediplanação que ocorreram durante o Cenozóico ao longo de toda a costa

brasileira (Figura 4.1.2).

Foram identificadas duas fases de deposição para a Formação Barreiras no litoral sul

da Bahia descrita por Uchôa et al., 2006 . Na primeira fase (Figura 4.1.2. A), foram

depositados arenitos arcoseanos e argilitos claros, contendo abundantes gretas de contração.

Essas características levam à interpretação de que houve o predomínio de canais entrelaçados

e, mais raramente, fluxos de detritos em uma planície onde predominou o clima quente e seco.

Pequenos lagos temporários (playa) teriam existido, tendo sido submetidos à exposição

subaérea, originando as grandes gretas de contração observadas.

A segunda fase deposicional (Figura 4.1.2. B) é registrada por arenitos e argilitos

espessos, que se intercalam. Os arenitos são predominantemente quartzosos e os argilitos,

diferentemente dos depositados na primeira fase, não exibem gretas de contração. Nesta fase,

apesar da ocorrência de canais menores, canais entrelaçados bem definidos, com até mais que

3 m de profundidade e largura de algumas dezenas de metros, teriam existido.

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Figura 4.1.2. A. Fase inicial, onde predominaram canais entrelaçados e lagos temporários em clima quente e seco. Arcóseos

e argilitos são as litofácies mais comuns. B. Fase onde predominaram canais entrelaçados maiores, com desenvolvimento de

planícies de inundação. Arenitos quartzosos e argilitos são as litofácies predominantes. Fonte: Uchôa et al, 2006.

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4.1.1 Litofácies do Grupo Barreiras

As descrições das Litofáceis que compõem o grupo Barreira foram descrito abaixo,

segundo Uchôa et al., 2006.

Conglomerados maciços sustentados por lama (Cmf)

A litofácies Cmf foi observada em um único afloramento e aparece, em geral,

sustentada por matriz areno-lamosa, embora, em alguns locais, haja contato entre os clastos.

Ocorrem desde pequenos seixos a calhaus arredondados. As camadas formam corpos

tabulares que alcançam espessura de até 2 m e estendem-se lateralmente por algumas dezenas

de metros.

Conglomerados maciços sustentados por clastos (Cmc)

Esses conglomerados são constituídos principalmente por seixos que podem ou não

estar associados a calhaus intraformacionais e secundariamente por grânulos, com menos de

10% de matriz areno-argilosa. Os grãos variam de arredondados a subangulosos, e são

compostos principalmente por quartzo e secundariamente por feldspatos. Embora maciços na

maioria dos afloramentos encontrados, os sedimentos da litofácie Cmc apresentam

granodecrescência ascendente em alguns locais, onde o conglomerado passa para arenito

conglomerático e arenito grosso, mal selecionado.

Arenitos maciços conglomeráticos (Amc)

Esta litofácies é composta por duas variedades diferenciadas pela composição

mineralógica: arenitos conglomeráticos quartzosos e arcoseanos. Ambas possuem matriz

lamosa, são abundantes nas falésias e contêm grânulos e pequenos seixos imersos. Os grãos

são mal selecionados e variam de angulosos a subangulosos e, mais raramente,

subarredondados, possuindo, em muitos locais, cimentação silicosa. Os arenitos

conglomeráticos arcoseanos são semelhantes aos quartzosos, exceto pela presença de

feldspato, que pode atingir até 40% do total de grãos. Do ponto de vista estratigráfico, os

arenitos arcoseanos ocorrem sempre abaixo dos arenitos conglomeráticos quartzosos.

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Arenitos maciços lamosos (Aml)

Esses arenitos possuem granulometria fina a grossa, com grãos angulosos a

subarredondados. Esta litofácie apresenta abundante matriz caulínica, sem, no entanto,

apresentar grânulos imersos. Os grãos são mal selecionados, constituídos predominantemente

por quartzo hialino e secundariamente por fragmentos de argilitos e feldspato caulinizado. As

camadas são tabulares e possuem entre 0,5 a 1,2 m de espessura. O arenito lamoso pode

gradar em sua parte superior para siltito com grãos de areia imersos.

Folhelhos (Fm)

Folhelhos de cor cinza escura em camadas tabulares, com até 1m de espessura. Em

alguns locais, os folhelhos aparecem associados aos siltitos laminados.

Siltitos laminados (Fl)

Os siltitos ocorrem sobrepostos a argilitos, em camadas com até 0,9 m de espessura. A

passagem entre ambos é gradacional, ou marcada por intercalações de folhelhos.

Siltitos/argilitos rítmicos (Fr)

Esta litofácie é composta por siltitos e argilitos. Camadas com alguns decímetros de

espessura de arenito fino aparecem, por vezes, intercaladas entre as seqüências rítmicas.

Folhelhos com gretas de contração (Fg)

O folhelho observado possui coloração cinza esverdeada, com arenito arcoseano

preenchendo as gretas de contração. Em perfil, os corpos arenosos que preenchem as gretas de

contração se apresentam sob a forma de colunas irregulares e contínuas. No plano horizontal,

ocorrem várias gretas, com diâmetros e espessura de preenchimentos variados.

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5. ANÁLISE ESTRATIGRÁFICA

A análise estratigráfica foi feita neste trabalho através da relação entre três poços perfilados e

as descrição das amostra de calha. Na Figura 5.1 pode ser observado a espacialização dos poços

Trancoso, Arraia d’ Ajuda e Porto Seguro inseridos na área de estudo.

5.1 Teoria do método geofísico

A distinção entre unidades deposicionais pode ser realizada, com certa facilidade, e

dentro de condições favoráveis, pela observação do formato da curva do perfil de Raios Gama

Convencional (RG), preferentemente, registrado em unidades normatizadas pelo API

(Instituto Americano do Petróleo). Na ausência de condições favoráveis, faz-se necessário,

também, o uso da resistividade profunda, obtida por método indutivo (DIR). Eventualmente,

pode-se utilizar a normal curta (SN), embora esta não seja muito aconselhável por sofrer

fortes influências ambientais (lama e/ou invasão do filtrado).

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Quantitativamente, as curvas de resistividade investigam volumes radiais distintos de

rocha (a DIR, a zona virgem e a SN, a zona lavada) e devem, sempre, ser registradas em uma

mesma escala, expressa em Ohm.m, para fins de comparação numérica.

Qualitativamente, pode-se admitir que a tendência a baixos valores da DIR e SN, com

uma eventual superposição entre elas, corresponda a uma camada impermeável. Razão pela

qual, nos argilitos, por não haver invasão, é observada uma tendência à superposição. Por

outro lado, nas camadas permoporosas, ocorre uma separação correspondente à invasão e a

conseqüente presença de fluidos distintos (água original e filtrado invasor, respectivamente).

O SP, nem sempre é confiável, por isso pouco usado nas interpretações, por incorporar

potenciais telúricos ou originados próximos à superfície (caso das áreas industrializadas).

5.2 Correlação dos perfis elétricos e radioativos

As curvas dos perfis nos três poços avaliados apresentam uma boa correlação

definindo bem duas eletrofácies; uma superior e outra inferior. A assinatura das duas unidades

identificadas é realçada pelos padrões das curvas e pelos valores medidos nos diversos perfis.

(Figura 5.1.1)

Na unidade Inferior os perfis de raios gama e resistividade, apresentaram forma de

sino, as curvas de resistividades variando de 5 a 220 ohm-m, o raio gama variando

aproximadamente de 45 a 330 GAPI e a curva sônico variando de 120 a 180 usec/ft, enquanto

que na unidade Superior o perfil de raios gama e resistividade, demonstraram a forma

serrilhada, a curva de resistividades apresenta-se muito além da escala não sendo possível

obter valores absolutos, a curva de raio gama variando de 65 a 570 GAPI e o sônico

apresentando valores entre 80 a 300 usec/ft.

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POÇO TRANCOSO POÇO ARRAIL D’ ÁJUDA POÇO PORTO SEGURO

Figura 5.1.1 – As perfilagens geofísica

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5.3 Identificação do marco elétrico

As correlações dos perfis permitiram identificar um marco elétrico presente nos três

poços, separando ou individualizando as duas unidades na área avaliada. Trata-se de uma

camada de argila presente nos poços perfilado que separa padrões observados principalmente

nos perfis de Raio Gama e Resistividade (DIR e SN).

O marco elétrico é a resposta dos perfis a uma camada de argila que separa

diferentes comportamentos das curvas, nos intervalos de 11 a 75 m (unidade superior) e 75 a

200 m (unidade inferior), e que aqui foi denominado de Marco. (Figura 5.2.1). A argila que

define o marco apresenta cor variando de cinza a cinza esverdeado, segundo foi descrito nas

amostras de calha.

Figura 5.2.1 – Correlação do perfis elétricos e radioativos com as amostras de calha

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5.4 Caracterização das eletro-fácies

As eletro-fácies da unidade inferior apresentaram as curvas de Resistividade e Raio

Gama relativamente baixa, consequentemente menores concentrações de material radioativo e

resistivo. A curva do Sônico caracteriza-se por sucessões monótonas. Esta eletrosseqüência

ocorre entre o intervalo de 75 e 200 metros.

As eletro-fácies da unidade Superior mostrou no geral as curvas Resistividade e Raio

Gama alta, indicando concentração elevada de material radioativo e consequentemente de alta

resistividade, percebendo-se também uma maior oscilação da eletro-fácie Sônico. Estas

características das eletro-fácies ocorre entre o intervalo de 11 e 75 metros.

5.5 Salinidade X Resistividade

Na Unidade Inferior os corpos argilosos se comportam, com suas resistividades DIR e

SN bem mais baixas quando comparada com a unidade superior e as areias com DIR e SN

mais altas, separadas, onde a SN tem menor valor que o DIR, indicando que as águas da

formação são mais salgadas do que as superiores, enquanto que a Unidade superior apresenta

alta resistividade (curva DIR) indicando água doce.

5.6 Caracterização das Litofácies

A unidade Inferior é caracterizado por arenitos mal selecionados de cores variando de

róseo a cinza, esbranquiçados, hialinos, quartzosos, sub-angulares com granulometria

variando de fino a grosso intercalados por argilitos com cores variando de cinza a cinza

esverdeado, os pacotes de arenito com até 11m de espessura. Esses dados são referente as

amostras de calha.

A unidade Superior é caracterizado por arenitos argilosos mal selecionados,

predominantemente avermelhado, róseo, esbranquiçados também hialinos, quartzosos, sub-

angulares com granulometria variando de média a grossa intercalados com argilas variando de

creme, amarela, rósea avermelhada e esbranqueçada. Esses dados são referentes às amostras

de calha.

Não foi possível identificar relação entre as fácies sedimentares de Uchôa et al. (2006)

e de Bigarella & Andrade, (1964) com as eletro-fácies e amostra de calha neste trabalho. A

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tabela 1 mostra a relação dos dados Geofísico, descrição da amostra de calha e a descrição de

Uchôa et al. (2006) e Bigarella & Andrade, (1964).

Tabela 1 – Integração dos dados geofísico com as amostras de calha e as Litofácies descrito por Uchôa et al, 2006

e Bigarella & Andrade, (1964).

TRANCOSO

ARRAIAL

D'AJUDA

PORTO

SEGURO

(sede)

TRANCOSO

ARRAIAL

D'AJUDA

PORTO

SEGURO

BIGARELLA &

ANDRADE, 1964

FORMAÇÃO RIACHO

MORNO NO TOPO E

FORMAÇÃO

GUARARAPES NA

BASE

2ª FASE

DEPOSICIONAL:

ARENITOS E

ARGILITOS

ESPESSOS, QUE SE

INTERCALAM. OS

ARENITOS SÃO

PREDOMINANTE -

MENTE

QUARTZOSOS E OS

ARGILITOS NÃO

EXIBEM GRETAS DE

CONTRAÇÃO

1ª FASE

DEPOSICIONAL

FORAM

DEPOSITADOS

ARENITOS

ARCOSEANOS E

ARGILITOS CLAROS,

CONTENDO

ABUNDANTES

GRETAS DE

CONTRAÇÃO

UCHOA et al .,

2006

ARENITOS ARGILOSOS MAL

SELECIONADOS,

PREDOMINANTEMENTE

AVERMELHADO, RÓSEO,

ESBRANQUIÇADOS TAMBÉM

HIALINOS, QUARTZOSOS, SUB-

ANGULARES COM

GRANULOMETRIA VARIANDO DE

MÉDIA A GROSSA INTERCALADOS

COM ARGILAS VARIANDO DE

CREME, AMARELA, RÓSEA

AVERMELHADA E

ESBRANQUEÇADA.

RG - 65 a 570 GAPI

RE > 200 ohm.m

SÔNICO -80 a 300 usec/ft

SALINIDADE - MAIS BAIXA

ARENITOS MAL SELECIONADOS DE

CORES VARIANDO DE RÓSEO A

CINZA, ESBRANQUIÇADOS,

HIALINOS, QUARTZOSOS, SUB-

ANGULARES COM

GRANULOMETRIA VARIANDO DE

FINO A GROSSO INTERCALADOS

ARGILAS VARIANDO DE CINZA A

CINZA ESVERDEADO.

RG - 45 a 330 GAPI

RE -5 a 220 ohm-m

SÔNICO - 120 a 180 usec/ft

SALINIDADE - MAIS ALTA

11 a 75 m

75 a 200 m

POÇOSDESCRIÇÃO DAS AMOSTRAS

DE CALHAPERFILAGEM GEOFÍSICAPROFUNDIDADE

A Integração dos dados dos poços de Trancoso, Arraial d’Ajuda e de Porto Seguro

permitiu a construção de uma seção estratigráfica mostrando a subdivisão do Grupo Barreiras

em duas unidades litoestratigráfica (Figura 5.5.3).

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38

Figura 5.5.3– Modelo geológico interpretado para o perfil sul-norte.

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39

6. CLASSIFICAÇÃO DA ÁGUA SUBTERRÂNEA

A classificação das águas subeterrâneas foi feitas a partir dos dados de análises

química dos quatorze poços inserido na área de estudo e consequentemente foram avaliados

as concentrações dos Ions, Condutividade Elétrica (CE), Dureza, Sólidos totais dissolvidos

(STD) e pH. A tabela 2 representa os dados do poços; as coordenadas em WGS 84 e o nome

dos poços e na Figura 6.1 as águas dos poços analisadas e espacializadas.

Tabela 2 – Poços inseridos na área de estudo.

Ponto Stiff Classificação da água LOCALIDADE WGS 84 - 24L

X Y

1 200 Bicarbonatada Ca++

TRANCOSO 489155 8165797

2 184 TRACOSO II 489303 8165643

3 110

Cloretada Na+

COQUEIRO ALTO 484768 8167822

4 195 ARRAIAL 491669 8176614

5 101 MIRANTE DO RIO VERDE 488711 8163892

6 143 COQUEIRO ALTO 482722 8169265

7 158 SAPIRARA 482280 8165577

8 170 PORTO SEGURO 493919 8188169

9 141

Cloretada ou sulfatada Ca++

ARRAIAL 492825 8177322

10 140 TRANCOSO 490221 8165859

11 167 UBALDINAO 487365 8185892

12 109 ROÇA DO POVO/MANGABEIRA 492169 8186140

13 100 ASS RIO DOS MANGUES 489737 8187153

14 195 PORTO SEGURO 490242 8184419

Figura 6.1 – Poços espacializado na área de estudo

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40

6.1 Diagrama triangular de Piper

Os gráficos de Piper (1944) expostos pela Figura 6.1.1, mostra uma predominância das

águas cloretada Na+, bicarbonatada Ca

++ e cloretada ou sulfatada Ca

++ (água diluída),

representando uma influência da água meteórica para a água cloretada sódica e sulfatada ou

cloretada Ca, ou seja, ambientes mais rasos, enquanto que a água bicarbonatada cálcica

representa uma água mais profunda.

Os tipos geoquímicos e sua freqüência relativa foram determinados através do

gráfico de Piper (Figura 6.1.1), plotando os percentuais de mili-equivalentes dos principais

cátions e ânions.

Em 14 poços verificou-se água doce, apresentando respectivamente água do tipo

cloretado-sódicos, Cloretada ou sulfatada-cálcica e bicarbonatada-cálcica (Figura 6.4.3). Se

considerarmos que as águas subterrâneas evoluem geoquimicamente de cloretada para

bicarbonatada, podemos afirmar que elas estão pouco evoluídas em seis dos poços estudados

que apresentam águas cloretadas.

Figura 6.1.1. - Diagrama de Piper representando os três grupos identificados pela análise estatística.

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41

6.2 Gráfico de Stiff

Os diagramas de Stiff foram elaborados para as 14 amostras. Esses diagramas foram

utilizados para facilitar a comparação entre as amostras dos diferentes grupos. As Figuras

6.2.1, 6.2.2 e 6.2.3 apresentam os diagramas de Stiff construídos para as amostras das águas

do tipo Bicarbonatada Ca++

, Cloretada ou Sulfatada Ca++

e Cloretada Na+, respectivamente.

Figura 6.2.3 - Água Bicarbonatada Ca++.

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Figura 6.2.1 – Água Cloretada ou Sulfatada Ca++.

Figura 6.2.2 - Água Cloretada Na+.

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43

6.3 Distribuição espacial das águas

O mapa de distribuição das águas do aqüífero Barreiras apresentam tendência

evolutiva de cloretadas Na+ (6 amostras), onde a concentração maior se encontra na porção

SW da área de estudo, para cloretada ou sulfatada Ca++

(6 amostras), apresentam maior

concentração na porção NNE da área estudada (Figura 6.3.1). Por serem representados como

água diluída e apresentarem aquífero rasos, sofrem influência recarga direta das águas

meteóricas.

Além dessas fácies, ocorrem neste aqüífero mais uma fácie hidroquímica,

bicarbonatada Ca++

(2 amostras), tais características revelam os processos químicos de maior

interação da água com a formação e possivelmente aquífero mais profundo.

Figura 6.3.1 – Distribuição espacial do poços (SRTM, CERB)

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44

6.4 Característica Físico-Química da água

As suas águas subterrâneas apresentam valores médios (mediana) normais para todos

os parâmetros analisados segundo a Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde, exceto o

parâmetro pH.

Ânions

Encontram-se dentro dos padrões estabelecidos pela Portaria 518/2004 do Ministério

da Saúde. O cálculo estatístico (Tabela 3) da mediana encontrada no cloreto foi de

13,01mg/L, bicarbonato 9,92mg/L e do sulfato de 8,98mg/L. Com os valores obtidos na

análise dos 14 poços foram gerados mapas de isoteores com o objetivo de esclarecer os níveis

de concentrações referente a esses ânions (figura 6.4.1). Os mapas mostram que os teores de

sulfato e bicarbonato apresentam padrões de distribuição similares, com concentrações mais

elevadas na porção sudeste (valores máximos de 33,3mg/L e 167,01mg/L, respectivamente).

Altas concentrações de cloreto ocorrem na porção central (valor máximo de 44,3 mg/L).

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45

Figura 6.4.1 - Distribuição geoquímica dos ânions nas águas do aqüífero Barreiras.

Cátions

Nenhuma anomalia foram identificada nos dados dos 14 poços, conseqüentemente

foram construídos mapas de isoteores, para a área de estudo, referente aos cátions. Na figura

6.4.2 mostra que os teores de potássio encontra-se concentrado na parte central e sul da área

de estudo (22,50mg/L), enquanto que o sódio concentra-se ao sudeste da área (16,01mg/L), o

magnésio concentra-se exclusivamente na parte central (5,62mg/L) enquanto o cálcio tende a

se concentrar da parte leste e sul (28,26mg/L).

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46

Figura 6.4.2 - Distribuição geoquímica dos cátions e nas águas do aqüífero Barreiras.

Condutividade Elétrica

Está relacionada com a presença de íons dissolvidos na água, que são partículas

carregadas eletricamente. Quanto maior for a quantidade de íons dissolvidos, maior será a

condutividade elétrica da água que pode variar também de acordo com a temperatura e o pH

(MOTA, 1995). O cálculo estatístico (Tabela 3) representa o valor médio (mediana) da

condutividade elétrica é de 92,35 μS/cm.

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Tabela 3 - Sumário estatístico de análise química.

Na+ K+ Ca++ Mg++ Cl- CO3- HCO3- SO4- STD pH Dureza CE

Média 7,62 2,65 10,03 1,88 13,91 0,00 11,93 8,43 68,67 5,87 17,40 98,10

Erro padrão 1,29 0,62 2,23 0,21 1,35 0,00 3,28 0,84 6,40 0,29 2,83 9,15

Mediana 8,50 1,75 8,50 1,70 13,01 0,00 9,92 8,98 64,65 5,76 15,50 92,35

Modo 1,00 1,00 3,00 − − 0,00 3,00 − − − − −

Desvio padrão 4,83 2,31 8,33 0,76 5,05 0,00 12,26 3,14 23,95 1,10 10,57 34,22

Variância da amostra 23,34 5,32 69,43 0,57 25,55 0,00 150,22 9,86 573,74 1,20 111,74 1170,90

Curtose -1,27 -0,12 0,85 -0,97 5,03 − 4,57 -1,10 0,76 -0,92 0,34 0,76

Assimetria -0,39 1,10 1,31 0,29 1,91 − 2,12 -0,17 1,20 0,37 1,01 1,20

Intervalo 13,00 7,20 24,20 2,45 20,08 0,00 43,40 9,70 78,54 3,38 33,42 112,20

Mínimo 1,00 0,30 3,00 0,78 8,42 0,00 3,00 3,00 39,76 4,24 5,18 56,80

Máximo 14,00 7,50 27,20 3,23 28,50 0,00 46,40 12,70 118,30 7,62 38,60 169,00

Soma 106,70 37,10 140,46 24,38 194,73 0,00 166,97 118,02 961,38 82,20 243,63 1373,40

Contagem 14,00 14,00 14,00 13,00 14,00 11,00 14,00 14,00 14,00 14,00 14,00 14,00

Maior(1) 14,00 7,50 27,20 3,23 28,50 0,00 46,40 12,70 118,30 7,62 38,60 169,00

Menor(1) 1,00 0,30 3,00 0,78 8,42 0,00 3,00 3,00 39,76 4,24 5,18 56,80

Nível de

confiança(95,0%) 2,79 1,33 4,81 0,46 2,92 0,00 7,08 1,81 13,83 0,63 6,10 19,76

O mapa de isoteor (Figura 6.4.3) indica valores elevados deste parâmetro na porção

central e sul (máximo de 169μS/cm). A distribuição espacial para as concentrações de

condutividade elétrica é coincidente com a distribuição espacial para as concentrações de

cátions e ânions.

Por fim, é possível observar correlação linear muito boa (Tabela 4) para os íons de Ca

x HCO3 e Cl x Mg, assim como entre Ca x CE e HCO3 x CE.

As análises de correlação linear (Pearson) executadas com o programa Qualigraf da

Fundação Cearense de Meteorologia mostraram que os responsáveis maiores pelos valores de

condutividade elétrica e, portanto, da salinidade das águas subterrâneas no Grupo Barreiras é

o bicarbonato que apresentou um coeficiente de correlação linear (r=0,84), entre os anions.

Entre os cátions temos o cálcio (r=0,76. Para o nível de significância de 95% e n = 14 poços,

os valores significativos de r estão acima de 0,70.

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48

Tabela 4 - Matriz de correlação linear de Pearson (1900).

Na K Ca Mg Cl HCO3 SO4 CE

Na 1,00

K 0,68 1,00

Ca 0,26 0,25 1,00

Mg 0,37 0,49 0,50 1,00

Cl 0,45 0,58 0,31 0,73 1,00

HCO3 0,34 0,24 0,89 0,53 0,28 1,00

SO4 0,27 0,42 0,18 0,42 0,53 0,36 1,00

CE 0,54 0,59 0,76 0,64 0,58 0,84 0,62 1,00

Dureza

Nos 14 poços analisados, as águas foram representadas como brandas (dureza < 50

mg/L de CaCO3). A análise indica teores aceitáveis de dureza, conforme a portaria n° 518/04

do Ministério da Saúde, a qual estabelece a concentração de 500 mg/L em termos de CaCO3

como o Valor Máximo Permitido (VMP) para água potável. O comportamento espacial da

dureza das águas estudadas encontra-se representado na Figura 6.4.3, aonde os valores de

dureza mais elevados são encontrados na região sudeste da área de estudo (dureza entre 27,6 a

38,6 mg/L de CaCO3).

pH

Tomando-se por base os valores de pH encontrado nos 14 poços analisados, 8

apresentam valores de pH variando de 4,24 – 5,77, pouco abaixo do estabelecido pela Portaria

518/2004 do Ministério da Saúde, a qual estabelece limites de 6,0 a 9,5, portanto deverá ser

feita a correção do pH para valores adequados. A possível causa dessa anomalia do pH é a

concentração do teor de ferro que se encontra acima dos padrões máximos (0,30 mg/L)

estabelecido para o abastecimento humano. De forma espacializada foi construído um mapa

de isoteor (Figura 6.4.3), onde se pode observar na porção sudeste da área a concentração do

pH abaixo do permitido, sendo a mediana estabelecida nos cálculos estatístico foi de 5,76.

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49

STD

Os valores de STD medidos em 14 amostras de água têm mediana de 64,65 mg/L,

onde 100% são águas de boa qualidade para consumo humano.

A Figura 6.4.3 apresenta o mapa de isoteores de STD, onde se observa uma maior

concentração de íons na parte central e sul da área. Em todo o restante da área os valores de

STD das águas são de ótima qualidade. Devido a essa particularidade da concentração do

sólido total dissolvido não descaracterizou a classificação da água doce. A Tabela 3 apresenta

o resultado do estudo estatístico.

Os valores máximos de condutividade elétrica para as águas do Grupo Barreiras

refletem as áreas de maior concentração de sais dissolvidos, coincidindo com as regiões onde

ocorrem os maiores teores de cátions e ânions. Trata-se conseqüentemente das áreas cuja

salinidade da água é maior, mesmo assim não comprometendo a boa qualidade da água.

Desta forma, nota-se que a recarga direta (água meteórica) tem forte influência na

evolução hidroquímica destas águas, assim como o tempo e a interação com a formação, que

as tornam mais salinas quanto maior for a concentração de sais do tipo cloreto e

subordinadamente sulfato.

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50

Figura 6.4.3 - Distribuição geoquímica da Dureza, CE, STD e pH nas águas dos aqüíferos.

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51

7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A integração dos dados da perfilagem elétrica e radioativa com as amostras de calha

permitiu definir a existência de duas unidades distintas no Grupo Barreiras, separadas pelo

marco.

Os dados da análise química da água não apresentaram nenhuma definição enquanto

característica singular das unidades mapeadas na perfilagem geofísica, pois os poços da

CERB têm implantado filtros por toda coluna vertical do mesmo, para garantir uma melhor

produtividade, com isso as águas coletadas para análise química apresentam-se misturada,

comprometendo a correlação com as fácies definidas na perfilagem.

As águas subterrâneas presentes nas duas unidades apresentam salinidades diferentes

diagnosticada pelo perfil de resistividade.

Pode-se constatar que o aquífero inferior é menos vulnerável a contaminantes

produzidos por atividades impactantes sobre os aquíferos, por ser protegido pelas argilas da

unidade superior, enquanto que a unidade inferior está mais susceptível a intrusão de cunha

salina em caso de superexplotação.

Não foi possível identificar relação entre as fácies sedimentares de Uchôa et al. (2006)

e a Formação de Bigarella & Andrade, (1964) com as eletro-fácies e amostra de calha neste

trabalho.

Recomenda-se o controle das atividades impactantes na superfície do terreno para

evitar a contaminação das águas de excelentes potabilidade existente na unidade superior do

aquífero Barreiras.

Recomenda-se ainda que deve se monitorar a salinidade das águas dos poços mais

próximos do litoral com a finalidade diagnosticar a presença de intrusões salinas, e caso

constatado deve se tomar medidas mitigadoras, tais como, redução de vazão ou mesmo

tamponamento dos poços.

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52

8. BIBLIOGRAFIA

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ANEXO