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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA JAIME PEREIRA DE SOUZA JUNIOR SISTEMA DEPOSICIONAL DAS FORMAÇÕES AÇURUÁ E TOMBADOR NAS IMEDIAÇÕES DA CIDADE DE BARRA DA ESTIVA, BAHIA. Salvador Bahia 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

CURSO DE GEOLOGIA

JAIME PEREIRA DE SOUZA JUNIOR

SISTEMA DEPOSICIONAL DAS FORMAÇÕES AÇURUÁ E TOMBADOR NAS

IMEDIAÇÕES DA CIDADE DE BARRA DA ESTIVA, BAHIA.

Salvador –Bahia

2011

JAIME PEREIRA DE SOUZA JUNIOR

SISTEMA DEPOSICIONAL DAS FORMAÇÕES AÇURUÁ E TOMBADOR NAS

IMEDIAÇÕES DA CIDADE DE BARRA DA ESTIVA, BAHIA.

Monografia apresentada ao Curso de Geologia, Instituto

de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como

requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em

Geologia.

Orientador: Prof. Msc. Antonio Jorge C. Magalhães

Co-orientador: Prof. Bs. Cícero da Paixão Pereira

Salvador – Bahia

2011

_________________________________________________________

S729 Souza Junior, Jaime Pereira de.

Sistema deposicional das formações Açuruá e Tombador nas

imediações da cidade de Barra da Estiva, Bahia / Jaime Pereira de

Souza Junior. - Salvador, 2011.

112f. : il.

Orientador: Prof. Msc. Antonio Jorge C. Magalhães.

Monografia (graduação em Geologia) – Universidade Federal da

Bahia. Instituto de Geociências, 2011.

1. Geologia – Barra da Estiva, Bahia. 2. Estruturas sedimentares.

3. Estuários. I. Magalhães, Antonio Jorge Campos. II. Universidade

Federal da Bahia. Instituto de Geociências. III. Título.

CDU:551.3.051(813.8)

TERMO DE APROVAÇÃO

JAIME PEREIRA DE SOUZA JUNIOR

SISTEMA DEPOSICIONAL DAS FORMAÇÕES AÇURUÁ E TOMBADOR

NAS IMEDIAÇÕES DA CIDADE DE BARRA DA ESTIVA, BAHIA.

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia,

Universidade Federal da Bahia, Instituto de Geociências, pela seguinte banca examinadora:

Antonio Jorge Campos Magalhães – Orientador_____________________________________

Mestre em Sedimentologia e Petrologia Sedimentar pela Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP

Cícero da Paixão Pereira – Co-orientador__________________________________________

Especialista em Geologia pela Universidade Federal de Ouro Preto ANP-UFBA

Flavio Miranda de Oliveira_____________________________________________________

Mestre em Estratigrafia e Sedimentologia pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul –

UFRGS.

Ruy kenji Papa de Kikuchi_____________________________________________________

Doutor em Geologia pela Universidade Federal da Bahia – UFBa

Aprovada em__ de _______________ 2011.

A Maria Lucia Melo Bispo, minha mãe, por ser uma

pessoa especial na minha vida.

AGRADECIMENTO

Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado a oportunidade de conhecer pessoas que se

dedicaram ao meu conhecimento. Aos meus pais pela educação, em especial à minha mãe

pelo esforço e pela luta de ter acredito em mim, por sua dedicação, pelas horas de apoio e

pelas palavras de ajuda, como também, pela lição de vida. Ao co-orientador Cícero da Paixão

Pereira, por ter me enquadrado no grupo onde foram realizados os TFGs na Chapada

Diamantina. Em especial também, ao orientador Jorge Campos Magalhães, pela dedicação e

paciência nos trabalhos em campo, na realização da escrita do trabalho de graduação, por ter

só acrescentado muito ao meu conhecimento e as “resenhas” nos momentos vagos de campo.

Agradecimentos à ANP pelo financiamento durante os estágios de campo e ao professor

Hédison K Sato e coordenador da bolsa, por ter ajudado no tramite da viabilização do

financiamento. Agradeço a Evandro, bibliotecário do Instituto de Geociências, pela

disponibilidade da devida ajuda nos termos técnicos da ABNT.

Aos meus colegas Paulo Ricardo, Valter, Asafe Santana, Josafá, Acácio e Caio que

participaram da equipe de campo na Chapada Diamantina e aos colegas que fiz nesse período

de faculdade. Agradecimentos ao colega Dario por ter ajudado e ter dado dicas na realização

do mapa geológico, local da área de estudo, e aos professores Flavio Sampaio, Marcos

Pereira, Ângela Beatriz, Simone Cruz, Johildo e dentre outros pelos conhecimentos

adquiridos nos períodos de curso. A Tiala por ter e ser uma pessoa também especial nessa fase

de formação do curso, pela sua paciência, por transmitir boas energias e palavras de conforto

nas horas difíceis, a minha amiga Licia por ter sido também importante em toda minha

trajetória de curso.

“Se fiz descobertas valiosas, foi mais por ter

paciência do que qualquer outro talento”

Issac Newton

RESUMO

O principal foco para a construção do presente trabalho foi uma feição geomorfológica

situada dentro da cidade de Barra da Estiva, localizada na porção sul da Chapada Diamantina.

Essa feição constitui o Morro da Torre e nela afloram as formações Açuruá e Tombador, a

primeira de idade Paleoproterozóica e a segunda Mesoproterozóica. Essas se constituíram nos

alvos para realização de um perfil de empilhamento vertical, com o objetivo de caracterizar as

fácies, associação das fáceis e estudo das formas geométricas dos corpos para identificação

dos elementos arquiteturais. Para identificação dos sistemas deposicionais, nesse trabalho

utilizou-se o agrupamento de elementos arquiteturais presentes nas referidas formações.

Em Ambas as formações foram identificadas barras de marés e canais de maré, característicos

de sistemas estuarinos. Na base da Formação Açuruá foram encontrados sedimentos lamosos,

característicos de depósitos de planície de maré. Durante a descrição do perfil vertical

observou-se variações cíclicas de elementos arquiteturais, evidenciando variações do nível de

base seguido de ciclos de transgressões e regressões marinhas. Para a separação dos

elementos pertencentes a cada Formação utilizou-se como critério os sentidos das

paleocorrentes, sendo na Formação Açuruá predominantemente para leste e na Formação

Tombador para oeste.

Palavras-chave: Geologia – Barra da Estiva, Bahia. Estruturas sedimentares. Estuários.

ABSTRACT

The main focus to construction this work was a situated geomorphological feature in situated

located the city of Barra da Estiva, located in the south portion of the Chapada Diamantina.

This feature is the Morro da Torre in it the Tombador Formations of age Mesoproterozoic and

Açuruá arise, of Paleoproterozoic age, had been white main for accomplishment of a profile

of vertical piling up, having as objective characterization of facies study and, that association

easy of the geometric form of the bodies that hold facies for identification of the architectural

element. The architectural element is used in this work as critical element to identifying of the

formations present in the depositional systems present in the formations. Both the formations

had been deposited in a estuarine system. In the base of the Açuruá Formation sediments of

tidal flat deposits had. In the Formations Tombador and Açuruá to tidal bundles and tidal

channel of had been identified. During the description of the vertical profile observed a cyclic

variation facies, placing overlapping repetitions of architectural elements showing the

variation of the base level followed by cycles of marine transgressions and regressions. For

the separation of the elements belonging to each training we used the criterion of

paleocurrent, which are predominant paleocurrent east belong Training and paleocurrent

Açuruá showing predominance west belong to Tombador.

Key-Word: Geology – Barra da Estiva, Bahia. Sedimentary structures. Estuary.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localização e acesso das principais rodovias. O símbolo com a letra “A” indica a

cidade de Barra da Estiva. ........................................................................................................ 19

Figura 2 - Mapa de localização da área de estudo limitada na área em vermelho. .................. 20

Figura 3 - Ilustração do Cráton do São Francisco .................................................................... 23

Figura 4 - Carta estratigráfica da Chapada Diamantina referente ás rochas supracrustais do

Cráton do São Francisco e coberturas recentes. ....................................................................... 26

Figura 5 - Mapa geológico local em destaque área de estudo em contorno vermelho. ............ 27

Figura 6 - Coluna Estratigráfica da Formação Açuruá. ............................................................ 29

Figura 7 - Fluxograma de análise de fácies definindo as etapas para determinação de um

ambiente deposicional. ............................................................................................................. 31

Figura 8 - Representação do sistema de planície de maré e canal de maré. ............................ 34

Figura 9 - Ilustração de estruturas em perfil vertical geradas pela maré, em verde argila e em

amarelo areia............................................................................................................................. 36

Figura 10 - Ilustra um esquema mostrando a gênese da estrutura flaser em um ambiente de

marés. ........................................................................................................................................ 37

Figura 11 - Bloco diagrama ilustrando vários tipos de camadas onduladas produzidas por

diferentes espessuras de camadas de lama. .............................................................................. 38

Figura 12 - Ilustração do bloco diagrama mostrando as camadas lenticures isoladas lama. .... 39

Figura 13: Ilustração do modelo deposicional de uma secessão de ambiente estuarino

conjugado com perfil de raio-gama com curva em sino. .......................................................... 41

Figura 14 - Representação dos estuários; dominados por onda e por maré e do aumento das

energias de ondas e da maré. .................................................................................................... 42

Figura 15 - Empilhamento vertical de seções estuarinas resultantes de uma transgressão, a)

representa estuário dominado por onda e b) estuário dominado por maré. .............................. 43

Figura 16 - Ilustração da morfologia e sedimentação do estuário. ........................................... 44

Figura 17 - Classificação das marés associadas ao ciclo lunar. ............................................... 45

Figura 18 - Diagrama com tidal bundles associados a ciclos de marés de sizígia e quadratura

formados durante acreção lateral .............................................................................................. 46

Figura 19 - Esquema desenvolvido para formação de bandas (bundle) de maré de sizígia e

quadratura. ................................................................................................................................ 47

Figura 20 - Modelo explicativo, formação de mud couplet. A seta indicando o par de lama. . 47

Figura 21 - Representação da legenda para todos os perfis do Morro da Torre. ...................... 50

Figura 22: Perfil vertical do Morro da Torre. ........................................................................... 88

Figura 23: Diagramas de rosetas das paleocorrentes nas estratificações cruzadas das

Formações Tombador e Açuruá, N=numero de medidas. ........................................................ 97

Figura 24: Diagrama de rosetas das paleocorrentes nos elementos arquiteturais; planície de

maré, barras de maré e canal de maré pertencentes a Formação Açuruá. N=numero de

medidas ..................................................................................................................................... 99

Figura 25: Diagrama de rosetas das paleocorrentes dos elementos arquiteturais; barras de

maré e canal de maré pertencentes a Formação Tombador. N=números de medidas. ............. 99

Figura 26: Modelo de um sistema estuarino e apresentação dos perfis a cada região estuarina.

Catuneanu, 2006. .................................................................................................................... 103

LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1- Vista do Morro da Torre na cidade de Barra da Estiva/BA, área de estudo ....... 18

Fotografia 2 - Estrutura sedimentar tipo mud crack na região do Morro da Torre e do sinclinal

de Ituaçu. .................................................................................................................................. 35

Fotografia 3 - Formação Stellarton na Pennsylvanian evidenciando rachaduras da estrutura

sedimentar synaeresis cracks. ................................................................................................... 36

Fotografia 4 - Imagem de satélite Landsat de um ambiente estuarino da região de Pamlico-

Albermarle da Carolina do Norte. ............................................................................................ 40

Fotografia 5 - Visão do afloramento do elemento barra de maré no Morro do Pai Inácio na

Chapada Diamantina com detalhe para estrutura típica de ambiente de maré tipo tidal bundle.48

Fotografia 6 -: Fácies H - Vista geral do afloramento da Formação Açuruá na BA 142 nas

imediações da cidade de Barra da Estiva próximo ao Morro da Torre. ................................... 52

Fotografia 7- Fácies H - Detalhe do afloramento da BA 142 com camada de siltito de cor

rosada. - Fácies Pml - Detalhe do afloramento da BA 142 com camada de siltito de cor rosada.53

Fotografia 8: Fácies H - A caneta aponta para a estrutura sedimentar do tipo mud crack. ...... 53

Fotografia 9 - Fácies - H Ilustração de lentes de arenitos sendo envelopados por lama (siltito)

na foto A ................................................................................................................................... 54

Fotografia 10 - Fácies H – Ilustração da rocha de cor cinza esverdeado com lente de arenito

com climbing ripples com paleocorrente para N35°. ............................................................... 54

Fotografia 11 - Fácies H – As circunferências detalham as estruturas sedimentares do tipo

vulcões de areia. ....................................................................................................................... 55

Fotografia 12 - Fácies H - Rocha de cor creme avermelhado do afloramento da BA 142

próximo ao Morro da Torre. ..................................................................................................... 55

Fotografia 13 - Fácies H – Detalhe para estrutura sedimentar climbing ripples no corte de

estrada subindo para o Morro da Torre. ................................................................................... 56

Fotografia 14 - Fácies Afmx - Vista geral do afloramento do corte de estrada não pavimentada

subindo em direção ao Morro da Torro. ................................................................................... 58

Fotografia 15 - Fácies Afmx – Detalhe para a estrutura do tipo tidal bundles e para o nível

lamoso na base da barra abaixo da escala. Foto ao lado direito detalhe da estrutura sedimentar

com lama no set. ....................................................................................................................... 59

Fotografia 16 - Fácies Afmx – Detalhe para laminação sub-horizontal. .................................. 59

Fotografia 17 - Fácies Afmx – Detalhe para estratificação cruzada tabular de pequeno porte.60

Fotografia 18 - Fácies Afmx – Detalhe para a laminação plano paralela na letra A. Na letra B

realce com linhas escuras para as laminações. ......................................................................... 60

Fotografia 19 - Fácies Afmx – Visão geral do afloramento no corte de estrada em direção ao

morro com exposição da estratificação cruzada tangencial...................................................... 61

Fotografia 20 - Fácies AfGx – Na letra A detalhe para a barra de arenito maciço acima da

escala. Foto B a linha escura separa a barra de arenito do siltito laminado. ............................ 62

Fotografia 21 - Fácies AfGx – Detalhe da fotográfica para os grânulos dispersos .................. 62

Fotografia 22 - Fácies AfGx – Na letra A vista geral do afloramento. Na letra B as estruturas

sedimentares realçadas com linha pretas. ................................................................................. 63

Fotografia 23 - Fácies: AfGx – Detalhe na foto para estratificação cruzada tabular com

paleocorrente N20° onde se encontra a escala e acima do lápis estrutura do tipo ripple. ....... 64

Fotografia 24 -Fácies AfGx – Detalhe para os grânulos nas laminações plano paralela. A cor

escura é devido ao intemperismo.............................................................................................. 64

Fotografia 25 - Fácies AfGx – Detalhe para granulometria de areia média a grossa e a forma

em barra maciça. ....................................................................................................................... 65

Fotografia 26 -Fácies AfGx – Na foto A detalhe da escala apontando para a estratificação

cruzada tangencial com granulo no set com paleocorrente N2°. Na foto B as linhas escuras

realçam a estratificação. ........................................................................................................... 65

Fotografia 27: Fácies AGx – Visão geral das formas de lóbos sigmóidal no afloramento no

corte de estrada cascalhosa no Morro da Torre. ....................................................................... 66

Fotografia 28: Fácies AGx – Detalhe para a estratificação sigmóidal. A foto a direita realça a

estrutura sedimentar com linhas escuras. ................................................................................. 66

Fotografia 29 - Fácies Afmr - Arenito de granulometria de areia media. Detalhe para caneta

que aponta para estrutura sedimentar do tipo ripples. .............................................................. 67

Fotografia 30 - Fácies Amgl – Visão geral para os arenitos com laminações sub-horizontais.67

Fotografia 31 -Fácies Pp - Visão geral do afloramento de siltito argiloso laminado. .............. 68

Fotografia 32 - Fácies Pp – Detalhe para o siltito argiloso laminado....................................... 68

Fotografia 33 - Fácies AFSx – Na foto A visão geral do afloramento. Foto B delimitação da

rocha com interlaminado de arenito e silte e a rocha com lamelas de silte .............................. 69

Fotografia 34 - Fácies Amg – Detalhe para as barras de arenitos maciço................................ 70

Fotografia 35 - Fácies Amg – Na foto A visão geral do afloramento com barras espessas de

arenitos maciços intercaladas por filmes de lama. Foto B filmes de lamas sendo realçados por

linhas escuras ............................................................................................................................ 70

Fotografia 36 - Fácies Amgx – Visão geral do afloramento na subida do Morro da Torre ..... 72

Fotografia 37 -Fácies Amgx - Detalhe para granodecrescencia dos grãos de areia. ................ 72

Fotografia 38 - Fácies Amgx – Detalhe para forma do deposito do tipo barras de maré com

bandas de maré. A foto a direita detalha a estratificação cruzada com lama no set. ................ 73

Fotografia 39 - Fácies AgGc – Visão geral do afloramento no Morro da Torre no corte de

estrada cascalhosa ..................................................................................................................... 74

Fotografia 40 - Fácies AgGc – Foto A detalhe para a base do canal erodindo a camada de

siltito laminado. Na letra B detalhe para a estratificação cruzada acanalada onde se encontra a

escala dentro do canal. .............................................................................................................. 74

Fotografia 41 - Fácies AgGc – A caneta aponta para o nível granuloso. ................................. 75

Fotografia 42 - Fácies AgGc – Detalhe para o corpo de siltito laminado. ............................... 76

Fotografia 43 - Fácies AFGx - Visão geral do afloramento na fotografia a esquerda. A foto a

direita apresenta com detalhe para os grânulos dispersos. ....................................................... 77

Fotografia 44 - Fácies AFGx – Foto A visão geral do afloramento no corte de estrada

cascalhosa no Morro da Torre. Na foto B a linha tracejada realça o acamamento ondulado... 77

Fotografia 45 - Fácies AFGx – A) a caneta aponta forma ondulada na base erosiva que erode a

camada abaixo. ......................................................................................................................... 78

Fotografia 46 - Fácies AFGx – Detalhe para granodecrescencia para a barra de arenito médio

na base e siltito a areia muito fina no topo. .............................................................................. 78

Fotografia 47 - Fácies AFGx – Detalhe para as estratificações cruzadas indistintas com

paleocorrentes para N355° acima da escala. ............................................................................ 79

Fotografia 48 - Fácies AFGx – Detalhe para laminação sub-horizontal. ................................. 79

Fotografia 49 - Fácies AFGx – Foto A mostra a barra de arenito no topo do afloramento com

estratificação cruzada acanalada. Foto B detalhe as estratificações com realce de linhas

escuras ...................................................................................................................................... 80

Fotografia 50 - Fácies AFGx – Detalhe para a foto da esquerda realçando com linhas pretas a

estrutura do tipo corte preenchimento. ..................................................................................... 81

Fotografia 51 - Fácies AFGx – Destaque para barra de arenito fino com laminação plano

paralela...................................................................................................................................... 81

Fotografia 52: Fácies AFGx – Visão geral do afloramento próximo ao topo do Morro da

Torre. ........................................................................................................................................ 82

Fotografia 53 -Fácies AFGx – Detalhe para estratificação cruzada acanalada, com

paleocorrente N235°. ................................................................................................................ 82

Fotografia 54 - Fácies AFGx - Detalhe para estratificação cruzada tabular. Com paleocorrente

N240°. ....................................................................................................................................... 83

Fotografia 55 - Fácies AFGx - Detalhe para estratificação cruzada tangencial. Com

paleocorrente para N265°. ........................................................................................................ 83

Fotografia 56: Fácies AFGx – Detalhe para as laminações sub-horizontais. ........................... 84

Fotografia 57: Fácies AfSx – Visão geral do afloramento no topo do Morro da Torre. .......... 84

Fotografia 58: Fácies AfSx – Detalhe para laminação sub-horizontal e estratificação cruzada

tabulara na base com paleocorrente para N185°. ..................................................................... 85

Fotografia 59 - Fácies AfSx – Detalhe para laminações do arenito médio a grosso e silte ..... 85

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Apresentação e associação das fácies com o elemento arquitetural e o ambiente

deposicional. ............................................................................................................................. 51

Tabela 2: Paleocorrentes da Formação Tombador no Morro da Torre .................................. 100

Tabela 3:. Paleocorrentes da Formação Açuruá no Morro da Torre. ..................................... 101

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 16

1.1 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 16

1.2 METODOLOGIA ............................................................................................................... 17

1.3 LOCALIZAÇÃO E ACESSOS .......................................................................................... 19

2 TRABALHOS ANTERIORES ........................................................................................... 21

3 GEOLOGIA REGIONAL .................................................................................................. 22

4.1 FORMAÇÃO AÇURUÁ .................................................................................................. 28

4.2 FORMAÇÃO TOMBADOR ........................................................................................... 30

5.1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS .................................................................................. 32

5.1.1 Ambiente marinho raso ............................................................................................................... 32

5.1.2 Ambiente de planície de maré .................................................................................................. 33

5.1.3 Ambiente estuarino ...................................................................................................................... 39

6 TRATAMENTO DE DADOS ............................................................................................ 49

6.1 INTERPRETAÇÃO DO PERFIL VERTICAL DO MORRO DA TORRE. ............. 50

6.1.1 Planície de maré ............................................................................................................................ 51

6.1.1.1 Interpretação ............................................................................................................................... 57

6.1.2 Barras de maré ............................................................................................................................... 58

6.1.2.1 Interpretação ............................................................................................................................... 73

6.1.3 Canal de maré ................................................................................................................................ 74

7 RESULTADOS E DISCUSSÕES ...................................................................................... 97

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 102

16

1 INTRODUÇÃO

O Morro da Torre é uma feição geomorfológica localizada nas imediações da cidade

de Barra da Estiva situada na porção Sul da Chapada Diamantina. Essa feição é constituída

pela Formação Açuruá, na base do morro e constituída por fácies de ritmitos finos de areia e

lama que apresentam laminações cruzadas bidirecionais, com camadas lenticulares e estrutura

sedimentar do tipo wavy. A Formação Tombador possui fáceis com arenitos de granulometria

muito fina, a muito grossa, com presença de grânulos com, estratificações cruzada acanalada,

barra de maré e camadas pelíticas. Essas rochas sedimentares foram depositadas por sistemas

estuarinos, sendo palco para realização deste trabalho final de graduação.

Em campo foi coletado dados dos sentidos de paleocorrentes das formações Açuruá e

Tombador, servindo como medidas para realizações dos diagramas de rosetas. Pode-se

verificar em campo e nos diagramas de rosetas a inversão das paleocorrentes, nos elementos

arquiteturais. Podendo ser traçado o contato no perfil vertical entre as duas formações. Essa

inversão dos sentidos das paleocorrentes, pode está relacionado com a mudança da linha de

costa.

1.1 OBJETIVOS

Este trabalho teve como objetivo:

a) Realizar perfil vertical através de descrições dos afloramentos da área de

estudo onde afloram as formações Açuruá e Tombador;

b) reconhecimento descritivo de fácies sedimentares e dos elementos

arquiteturais;

c) análise sedimentar e interpretação do ambiente de sedimentação.

17

1.2 METODOLOGIA

Este trabalho foi realizado em 3 etapas:

1ª Etapa- A primeira etapa aconteceu fora da área de estudo, no intuito de preparar e

adquirir aprendizado antes de ir à área para coletas de dados. Nessa fase aconteceram:

a) Cursos em sala de aula administrado pelos orientadores;

b) estudo de fotomosaicos de afloramentos;

c) descrição dos afloramentos com base na interpretação dos fotomosaicos;

d) identificação das fácies e dos elementos arquiteturais que compõe os

afloramentos;

e) traçar as superfícies estratigráficas nos fotomosaicos;

f) estudo através de fotos de satélite do Google Earth no intuito de utilizar como

mais ferramenta para área de estudo.

2ª Etapa- A segunda etapa consistiu coleta dos dados na área de estudo. Dentre as

atividades realizadas estão:

a) Estudo do mapa Geológico do Estado da Bahia de escala de 1: 1.000.000 para

verificar a relação de contato entre as formações Tombador e Açuruá;

b) levantamento de um perfil vertical no afloramento da estrada de acesso e no

Morro da Torre (Fotografia 1) na cidade de Barra da Estiva/BA;

c) utilização de uma régua de madeira como método de medição ortogonal as

camadas dos afloramentos para fabricação do perfil vertical;

d) a descrição dos afloramentos feita a partir do reconhecimento estruturas

sedimentares, interpretação das fácies, observação e estudo das mudanças de fácies, estudos

da geometria externa dos corpos sedimentares, estudos dos elementos arquiteturais e

mudanças dos elementos arquiteturais, definição do ambiente deposicional;

e) mapeamento da discordância entre a Formação Tombador e a Formação

Açuruá, com base na mudança do sentido das paleocorrentes, com auxilio da bússola e do

GPS.

18

Fotografia 1- Vista do Morro da Torre na cidade de Barra da Estiva/BA, área de estudo

Fonte: O Autor

3° Etapa- A terceira etapa consistiu na fase pós-campo, com o tratamento dos dados

obtidos para fabricação do trabalho de graduação:

a) Análise dos dados para as devidas correções;

b) atilização do software ArcGis 9.3.0 na realização de um mapa temático

geológico e um mapa de localização para uma melhor apresentação da área de estudo;

c) processamento e tratamento dos dados para elaboração final do perfil vertical

utilizando o software CorelDraw X5;

d) para o tratamento estatístico das medidas de paleocorrentes foi utilizado o

programa Stereonet, através do qual buscou-se confirmar o contato entre as formações.

Utilizou-se prioritariamente o critério da paleocorrente. Foi contabilizado 80 medidas de

paleocorrentes, bem como, 43 medidas foram tomadas da Formação Açuruá e 37 medidas

foram tomadas da Formação Tombador. As paleocorrentes dominantes para E pertencem a

Formação Açuruá e para W pertencem a Formação Tombador;

e) realizações de pesquisas bibliográficas no intuito de dados para complementos

a serem apresentados no presente trabalho.

19

1.3 LOCALIZAÇÃO E ACESSOS

O estudo foi feito a partir de um empilhamento vertical dos afloramentos localizados

no Morro da Torre com cerca de 1450 m de altitude. O Morro é o principal foco turístico da

cidade de Barra da Estiva e no mesmo afloram as formações Açuruá e Tombador. Partindo de

Salvador em linha reta para a cidade de Barra da Estiva possui uma distância de 317 Km. O

acesso é dado saindo de Salvador pela BR 116 passando pela cidade de Feira de Santana, a

BR 116 que liga a BR 242 passando pela cidade de Itaberaba indo em direção a Mucugê na

BA 142 seguindo mais ao sul chegando à cidade de Barra da Estiva. A figura 1 ilustra o mapa

de acesso as rodovias que ligam a cidade de estudo e a figura 2 ilustra um mapa temático para

acesso a área de estudo delimitada em linhas vermelhas.

Figura 1 - Localização e acesso das principais rodovias. O símbolo com a letra “A” indica a cidade de Barra da

Estiva.

Fonte: Google Maps

20

Figura 2 - Mapa de localização da área de estudo limitada na área em vermelho. Os pontos numerados indicam os

afloramentos descritos.

Fonte: O Autor

21

2 TRABALHOS ANTERIORES

Menezes Filho (1998) em sua dissertação de mestrado descreve afloramentos bem

didáticos nos cortes de estrada da BA 142 entre o Morro do Ouro e o Morro da Torre

caracterizando as fácies ou litotipos como pertencentes à Formação Açuruá por ele chamada

de Unidade Velhas. Esse autor descreve fácies de ritmitos finos zebrados de areia e lama que

apresentam laminações cruzadas com bipolaridade, assumem camadas lenticulares com

variedade de estrutura do tipo flaser, ocorrência de pequenos diques ramificados de areia,

estruturas de exposição aérea, estrutura sedimentar do tipo ondulas cavalgantes. Nas fácies de

arenitos grossos/seixosos define uma geometria em forma de “U” e as formas acanaladas com

geometria de U preenchidas de lama ou areia grossa a granulosa representam prováveis

depósitos de canais de maré sinuosos que migram lateralmente através de uma planície de

intermarés.

Santana (2007) em seu trabalho de graduação descreve um afloramento na cidade de

Seabra e um outro afloramento na cidade de Barra da Estiva aplicando ciclicidade em registro

sedimentar no intervalo superior do Grupo Paraguaçu. Descreve um afloramento na BA 142

na base do Morro da Torre na cidade de Barra da Estiva caracterizando com oito fácies sendo

que as fácies são contidas em um contexto geral por argilito branco, lâminas de argila a silte e

areia fina com presença da estrutura sedimentar do tipo syneresis crack, pequenos diques de

areia, arenito esbranquiçado de granulometria fina com estratificação sigmoidal.

22

3 GEOLOGIA REGIONAL

O Morro da Torre está localizado no Cráton do São Francisco (Figura 3). O Cráton

envolve a borda oeste da Chapada Diamantina e a borda leste da Serra do Espinhaço e está

posicionado ortogonalmente ás faixas de dobramento Rio Preto a noroeste, e Araçuaí a

sudeste (Alkmim et al., 1993; Rocha & Dominguez, 1993 apud Arcanjo et al., 2005), que

corresponde a um segmento crustal consolidado no Paleoproterozóico (Cruz, 2004). O interior

do cráton é coberto por unidades pré-cambrianas e Fanerozóicas. As áreas de cobertura

Fanerozóicas compreendem as unidades morfotectônicas da Bacia do São Francisco, do

Aulacógeno do Paramirim e uma parte do Rifte Recôncavo – Tucano – Jatobá (Alkmim,

2004).

O Aulacógeno do Paramirim (Figura 3) ou Corredor de Deformação do Paramirim é

uma grande feição morfoestrutural que abrange a serra do Espinhaço setentrional, os vales do

Paramirim e do São Francisco e a Chapada Diamantina (Cruz, 2004). Corresponde a um par

de riftes Paleo/Meso e Neoproterozóico superpostos e parcialmente invertidos (Cruz et al.,

2005). Essa feição morfoestrutural abriu espaço para sedimentação do Super Grupo

Espinhaço e São Francisco, como unidades de preenchimento do aulacógeno com duas

principais fases rifte de subsidência ocorridas a 1,75 e 1,0 Ga (SCHOBBENHAUS, 1996;

DANDERFER Fo, 2000 apud ALKMIM, 2004) e durante o Neoproterozóico o aulacógeno

experimentou intensa inversão tectônica (ALKMIM, 2004).

23

Figura 3 - Ilustração do Cráton do São Francisco

Fonte: (CRUZ et al. 2007).

O Super Grupo Espinhaço possui em seu substrato rochas do embasamento arqueano e

paleoproterozóico denominados do Complexo Metamórfico-Migmatítico do Ciclo

Orogenético Transamazônico conhecido como embasamento Pré-Espinhaço (GUIMARÃES,

1996) composto por gnaisse TTG (Tonalito-Granodiorito-Granítico) e migmatitos. Segundo

Guimarães (2005), o supergrupo Espinhaço corresponde ao preenchimento de um rifte

composto pelas fases pré-rift, rift e pós-rift representados pelas rochas da Formação Serra da

Gameleira, do Grupo Rio dos Remédios (figura 4), do Grupo Paraguaçu, respectivamente, que

são sobrepostas pelo Grupo Chapada Diamantina representante de uma bacia sinéclise

pertencente ao mesmo Supergrupo.

A Formação Serra da Gameleira é formada por associações de litofácies siliclástica,

metaquartzarenito bimodal de fino a grosso. Possui estratificação cruzada de grande porte,

flaser, metargilito, metagrauvaca e matarcóseo. Os metaconglomerados polimíticos são

associados aos depósitos de fluxo gravitacional subaéreos do tipo fluxo dentrítico. Essa

Formação é interpretada com base nas litofácies em um sistema eólico de um paleoambiente

desértico (GUIMARÃES et al., 2008).

24

O Grupo Rio dos Remédios possui rochas vulcânicas ácidas e metassedimentares

segundo Pedreira (1994). Formação Novo Horizonte, Formação Lagoa de Dentro e a

Formação Ouricuri do Ouro constituem o Grupo Rio dos Remédios.

Formação Novo Horizonte compreende rochas vulcânicas, subvulcânicas,

piroclásticas, e epiclásticas como dacito, riolito, quartzo pórfiro e feno andesito. Este conjunto

de rochas vulcânicas está bastante modificado devido à ação de fluidos magmáticos primário

e secundários, devido a reações metamórficas (GUIMARÃES et al., 2008).

Formação Lagoa de Dentro é caracterizada por sedimentação lacustre e a Formação

Ouricuri do Ouro corresponde a conglomerados mal selecionados com seixos e matacões bem

arredondados de quartizito, quartzo leitoso, gnaisse, itabirito e rochas metavulcanicas ácida e

matriz arenosa, arcosiana e areno-argilosa. Essas características permitem interpretar

processos de um sistema de leque aluvial (SCHOBBENHAUS & KAUL, 1971 apud

PEDREIRA, 1994) e arenitos de ambiente fluvial e eólicos.

O Grupo Paraguaçu é subdividido na Formação Mangabeira e a Formação Açuruá,

que marcam a fase pós-rift ou a fase rift-sag. São depósitos de uma superseqüência

continental costeira e marinha rasa (GUIMARÃES et al., 2008). A Formação Mangabeira é

composta por arenitos bimodais de médios a finos, que apresentam estratificações cruzadas

acanaladas de grande porte que truncam entre se. As estratificações cruzadas tabulares têm

níveis de argila que separam essas camadas estratificadas e marcas onduladas. Possuem seixos

de areia nas seqüências frontais das estratificações cruzadas tabulares. Essa Formação

apresenta na seqüência de arenitos médios com lentes de arenitos grossos apresentando um

padrão granocrescentes produzido por fluxo de grãos (PEDREIRA, 1994) ligado a um sistema

desértico.

Segundo Pedreira (1994) a Formação Açuruá ocorre em afloramento a sudoeste da

Serra do Sincorá, no anticlinal do Pai Inácio, no vale do Patis a leste da serra do

Esbarrancado, a sudeste de Ibicoara e na área de Mundo Novo onde no geral as fácies

assumem a seguinte descrição: argilitos vermelhos cinza e lilazes com laminações plano-

paralelas, intercalação de uma camada de conglomerado na camada de pelito com

estratificação cruzada tabular, presença de estratificação plano-paralela em arenitos argilosos,

cruzadas de baixo ângulo, marcas onduladas de crista reta e evidências de exposição subaérea

(mud cracks), definindo que essa Formação foi depositada por um sistema deltaico.

O Grupo Chapada Diamantina é constituído pela Formação Tombador, Formação

Cabloco e Formação Morro do Chapéu. A fase deposicional de formação do Grupo Chapada

Diamantina evidencia a fase de bacia sinéclise representando por depósitos continentais

25

costeiros do tipo eólicos e fluvial e depósitos de ambiente marinho raso (GUIMARÃES et al.,

2008) relacionando a uma plataforma rasa.

A Formação Tombador possui um contato discordante erosivo sobre a Formação

Açuruá. Possui uma vasta representação na Chapada Diamantina constituído no topo por

conglomerados descrito por Derby (1906 apud PEDREIRA 1994). A Formação Cabloco

possui sua maior ocorrência na região de Morro do Chapéu (BATTILANI et al., 1996), sendo

identificado siltitos, arenitos e pelitos. Esta Formação possui de forma secundária lamitos alg

AFS, calcarenito e estromatólitos colunares. Foi descrita pelos mesmos autores citados.

A sequência deposicional da Formação Morro do Chapéu é constituída por arenito de

fino a médio com intercalação de siltitos, lamitos subordinados e arenito conglomerático. Nos

arenitos de granulação de médio a grossa ocorrem estratificações cruzadas acanaladas sendo

caracterizado por uma granodecrescencia ascendente nos festões das estratificações

acanaladas. Essa Formação é interpretada em um sistema deposicional fluvial e um sistema

deposicional marinho raso (BATTILANI et al. 1996)

O Grupo Una compõe o topo das superseqüência deposicional (Figura 4) que estão

estratigraficamente sobrepostas ao Supergrupo Espinhaço. A Formação Bebedouro está

localizada na base e a Formação Salitre no topo do Grupo.

Pedreira (1994) descreve a Formação Bebedouro que aflora a leste da “bacia” de Irecê

composta de diamictitos, como um maciço de estrutura desorganizada que possui clasto de

gnaisse, pegmatito, sílex, argilito, quartzito e calcário. A matriz pode ser roxa, argilosa ou

arenosa. Esses diamictitos podem ser maciços ou estratificados, com gradação normal. Pelitos

laminados com clastos, associados com arenitos com clastos caídos, e diamictitos representam

litofácies de uma glaciação marinha ou glácio – lacustre. Sendo que os clastos caídos são

provenientes do degelo de icebergs desprendidos do lençol de gelo (GUIMARÃES, 1996).

A Formação Salitre, segundo Menezes Filho (1998) nos afloramentos do sinclinal de

Ituaçu foi caracterizada pela presença de lamintos crípto-alg AFS, apresentando geometria

externa e aspecto zebrado devido ao acamamento plano-paralelo irregular levemente

ondulado. As lâminas com presença de sedimentos carbonáticos, calcisiltito e calcarentios

finos, são rochas carbonáticas desenvolvidas nas litofácies de calcilutitos com laminações

microbianas.

26

Figura 4 - Carta estratigráfica da Chapada Diamantina referente ás rochas supracrustais do Cráton do São

Francisco e coberturas recentes.

Fonte: (GUIMARÃES et al., 2005, apud SANTOS, 2011).

27

4 GEOLOGIA LOCAL

A área de trabalho está localizada na cidade de Barra da Estiva, onde foi feito um

perfil vertical no Morro da Torre que expõe bons afloramentos da Formação Açuruá e da

Formação Tombador. A Formação Açuruá esta localizada na porção baixo do Morro da Torre

e a Formação Tombador está mais para o topo do Morro, ambas depositadas em sistemas

deposicionais estuarinos. O mapa geológico local (Figura 5) foi feito a partir da base do mapa

geológico do Estado da Bahia de escala 1:1.000.000. No mapa os pontos com preenchimento

preto representam os principais afloramentos estudados na BA 142 (base do Morro) e ao

longo do Morro da Torre.

Figura 5 - Mapa geológico local em destaque área de estudo em contorno vermelho.

Fonte: O Autor

28

4.1 FORMAÇÃO AÇURUÁ

Essa Formação ocorre nas cidades de Brotas de Macaúbas, Seabra, a leste de Boninal,

Piatã, oeste de Mucugê e leste de Ibicoara. No caminho de Guiné – Patis ocorre como

metassiltitos, pelitos e metargilitos intercalados com metassiltitos. Para sul da Região de

Ibicoara – Mundo Novo, a Formação fica mais intraformacional com padrão de

granocrescência normal (PEDREIRA, 1994).

Pedreira (1994) define afloramentos ao norte de Seabra na encosta da Serra do

Bebedor evidenciando que o topo da Formação Açuruá apresenta arenitos médios bem

selecionados que formam bandas de maré (tidal bundles).

Menezes Filho (1998) define as litofácies no afloramento em exposição no corte de

estrada da BA 142 que fica na base do Morro da Torre como Formação Açuruá. Essa

Formação é caracterizada por ritmitos finos de areia e lama com acamamento ondulado,

possui faixas irregulares de areia e lama com laminações cruzadas.

Os ritmitos finos de areia e lama exibem acamamento lenticular com formas

geométricas de lentes conectadas ou não conectadas apresentando uma variedade de flaser e

formas estruturais sedimentares como ondulas cavalgantes. Nos arenitos finos a médios

imaturos com coloração avermelhada existem fragmentos angulares de pelitos vermelhos. Em

locais onde esses litotipos com aspectos maciços ocorrem, por vezes, estratos cruzados

acanalados de médio porte.

Em arenitos grossos a seixosos ocorrem feições geométricas de canais escavados em

forma de “U” aberto com base erosiva preenchidos por arenitos grossos a

microconglomeráticos, estratos cruzados acanalados de médio porte e pequeno ângulo

mergulhando na direção para o centro do canal. As paleocorrentes das principais estruturas

sedimentares da Formação Açuruá estão representadas na figura 6.

29

Figura 6 - Coluna Estratigráfica da Formação Açuruá.

Fonte: (PEDREIRA, 1994).

FORMAÇÃO AÇURUÁ

30

4.2 FORMAÇÃO TOMBADOR

No texto explicativo do Mapa Geológico da Bahia a Formação Lavras trata-se de uma

continuação lateral da Formação Tombador. Localmente as litofácies entre as cidades de

Lençóis e Mucugê apresentam arenitos conglomeráticos exibindo estratificação cruzada do

tipo tabular e acanalada. Na Serra do Sincorá essas estratificações apresentam paleocorrentes

indicando fluxos invariavelmente para oeste (DOMINGUEZ et al., 1996).

Conforme Menezes Filho (1998) define o Morro do Ouro é formado pela Formação

Tombador (PEDREIRA 1975, Brito NEVES e PEDREIRA 1992 apud MENEZES FILHO

1998). É caracterizado de arenitos feldspáticos a arcosianos de cor cinza clara a

esbranquiçado. A granulometria varia de areia média a grossa/granulosa e possui cimento

silicoso na porção basal das litofácies. Predomina um arcóseo branco a cinza claro de

granulometria de areia muito grossa a seixo.

Nos arenitos arcoseanos e feldspáticos encontram-se estruturas sedimentares como

estratificação cruzada acanalada e estratificação cruzada tabular geralmente delimitadas por

marcas de ondulação simétrica e assimétrica. Em conglomerados ocorrem estratificações

cruzadas dos tipos acanaladas e tabulares; os sets dos estratos cruzados são separados por

superfície erosivas irregulares.

Os arenitos grossos representam o inicio de um evento transgressivo, relacionando as

litofácies descritas a um ambiente estuarino. Nessas litofácies apresentam uma diminuição da

granulometria dos sedimentos no sentido da base para o topo (MENEZES FILHO, 1998).

Além da presença de areia fina a média no topo dos arenitos grossos a granulosos mal

selecionados, ocorrem paleocorrentes unidirecion AFS, relacionadas a um sistema fluvial

entrelaçado. As paleocorrentes das estratificações cruzadas acanaladas têm uma

predominância para NW. O topo dessas camadas de areia fina a média com presença de níveis

pelíticos freqüentemente retrabalhados por ondas apresentam paleocorrentes reversas.

31

5 REFERENCIAL TEÓRICO

A geologia sedimentar tem como um dos principais objetivos determinar o ambiente

em que uma determinada sucessão de rochas sedimentares foi depositada (NICHOLS, 1999).

Análise de fácies (Figura 7) é um método essencial para a reconstrução paleodeposicional de

ambientes, bem como para a compreensão das mudanças climáticas e a história das bacias

sedimentares. O entendimento de fácies e suas associações são também essenciais para a

interpretação correta da sucessão de superfícies estratigráficas (CATUNEANU, 2006).

Figura 7 - Fluxograma de análise de fácies definindo as etapas para determinação de um ambiente deposicional.

Fonte: (NICHOLS, 1999).

32

5.1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Fácies: É caracterizada pela soma de características como litologias, estruturas

sedimentares, tamanho do grão, cor e conteúdo biogênico (NICHOLS, 1999).

Associação de Fácies: Nichols (1999) define como um padrão de distribuição que

pode ser investigado, podendo ser refletido na combinação de processos que ocorrem em um

ambiente deposicional. Esses processos são observados e estudos com a relação temporal e

espacial entre fácies deposicionais nos dias atuais e registradas nas rochas sedimentares

(WALTHER, 1894 apud NICHOLS, 1999).

Elemento Arquitetural: Miall (1985 apud CATUNEANU 2006) surgeriu que o

elemento arquitetural é composto por uma combinação de uma série de litofácies que

comunitariamente tem uma geometria definida. Os elementos arquiteturais são representantes

em maior escala, como componentes de um sistema deposicional.

Ambiente Deposicional: O estudo dos sistemas deposicionais está intimamente

relacionada com os conceitos de fácies, associações de fácies e modelos de fácies

(CATUNEANU, 2006). Reineck & Singh (1973) definem o ambiente deposicional como uma

unidade geomorfológica na qual a deposição ocorre em um lugar pela associação de

características físicas, biológicas e químicas, incluindo a montagem tridimensional dos

estratos cuja geometria e a fácies levam à interpretação de um ambiente paleodeposicional.

5.1.1 Ambiente marinho raso

Ambientes marinhos rasos representam ambientes costeiros, onde que a foz do rio

representa entrada de sedimentos em meio marinho de linhas costeiras abertas. Esses

ambientes costeiros de águas rasas são moldados pela interação entre a oferta de sedimento e

pelos processos de retrabalhamento de sedimentos (CATUNEANU, 2006). Esses ambientes

podem estar relacionados a vários fatores como ação das marés, ondas reforçadas

episodicamente por tempestades, fluxo hiperpicnal (mais denso que água do mar), fluxo

33

hipopicnal (menos densos que a água do mar) e uma séries de correntes que podem ser

orientadas como correntes de retorno, correntes paralelo à costa litorânea e correntes oblíquas.

Della Fávera (2008) classificou os principais ambientes dominados pela maré em:

a) Planície de maré: ambiente costeiro a marinho raso.

b) Lagunas e deltas de maré.

c) Estuário: delta dominado pela maré.

d) Cristas de areia formadas pela maré: associadas a praias ou ambientes de

plataforma.

e) Maciços estuarinos rasos.

5.1.2 Ambiente de planície de maré

Ambiente de planície de maré corresponde as regiões costeiras baixas ou protegidas ao

longo da costa. As correntes de maré superam as ondas e boa parte dos sedimentos

depositados são expostos durante as fases de refluxo. Ambientes estuarinos, lagunares ou

deltas podem ocorrer associados a esse ambiente. Segundo Mendes (1984) planície de maré

podem ser distinguíveis em dois tipos; a planície de maré siliciclástica que correspondem aos

depósitos de areia fina, silte e argila e a planície de maré carbonática.

De acordo com Mendes (1984) as planícies de maré (Figura 8) podem ser separadas

em 3 subambientes ou zonas:

Zonas de Supramaré: Constitui a porção que facilmente é exposta devido à variação

da maré, possui sedimentos lamosos e arenosos podendo ocorre rápida deposição dos

sedimentos e costuma ser retrabalhada por um número de canais ramificados que podem

sofrer influencia da maré. Nessa zona podem formar estruturas sedimentares do tipo linsen,

climbing ripples e wavy.

Zonas de Intermaré: São cobertas pela preamar e expostas na baixa mar. Nos

sedimentos depositados nessa zona desenvolvem-se estratificação cruzada de pequeno porte

34

apresentando por vezes do tipo “Espinha de Peixe” (herringbone) e bandas de maré. Nessas

zonas também ocorre sedimentação de areia e lama (silte e argila) que podem originar

estratificação do tipo flaser, ondulada, lenticular e rítmica.

Zonas de Inframaré: Consiste na porção inferior da planície de maré que não chega a

ser exposta durante a baixa-mar. Observa-se canais de maré (tidal channels) nessas zonas.

Depósitos nessas zonas originam-se da migração lateral dos canais de maré. Esses depósitos

podem ocorrer com a sedimentação de areia com estratificação do tipo “Espinha de Peixe”

(herringbone) e bandas de maré.

Figura 8 - Representação do sistema de planície de maré e canal de maré.

Fonte: (a partir de Van Straaten, 1952, 1954, modificado de Klein, 1967 apud Boyd et al., 2006).

Nas regiões que possuem climas relativamente semi-áridos as planícies de maré

lamosas que sofrem exposição ao ar formam fendas de dissecação nas lamas (mud cracks) ou

gretas de dissecação (MENDES 1984). Mud cracks são definidas por Reineck e Singh (1973)

como superfícies em áreas poligonais desenvolvidas em áreas típicas, formando redes

poligonais. Os polígonos possuem lados retilíneos ou curvos visto em planta devido a

dissecação e compactação de sedimentos lamosos saturados em água. No sistema de fissura

de retração geralmente apresentam com três a seis lados, podendo ter uma forma equiradial

muito alongada (Fotografia - 2).

35

Fotografia 2 - Estrutura sedimentar tipo mud crack na região do Morro da Torre e do sinclinal

de Ituaçu.

Fonte: (MENEZES FILHO, 1998).

Em um meio subaquático formam gretas de retração chamadas de synaeresis cracks

(JUNGST, 1934 apud REINECK e SINGH, 1973) contrária a estrutura mud crack formada

em um meio subaéreo. Synaeresis cracks (Foto 3) diferencia-se de mud crack devido as

rachaduras de encolhimento não tão bem desenvolvidas, são bastante estreitas e não possuem

uma forma em “V” bem desenvolvida. As rachaduras de encolhimentos subaquáticas são

devidas à formação de camadas de argila que floculada rapidamente desenvolve fissuras de

retração devido a compactação e desidratação (WHITE, 1961 apud REINECK e SINGH,

1973). As fissuras aparecem menos regulares e muitas vezes incompletas ocorrendo de forma

curvas isoladas ou com uma orientação preferencial.

36

Fotografia 3 - Formação Stellarton na Pennsylvanian evidenciando rachaduras da estrutura

sedimentar synaeresis cracks.

Fonte: http://pluto.potsdam.edu/geologywii/index.php/Syneresis_caracs.

A figura 9 abaixo ilustra um modelo em perfil vertical da litologia e estruturas

sedimentares encontradas em ambientes deposicionais do tipo planície de maré.

Figura 9 - Ilustração de estruturas em perfil vertical geradas pela maré, em verde argila e em amarelo

areia.

Fonte: (REINECK e SINGH, 1973).

A estrutura sedimentar do tipo flaser é caracterizada por uma fina camada de lama

depositada sobre ripples após a maré de quadratura. A lama é mais espessa na cava do que nas

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cristas, onde pode ser erodida com o aumento da energia das correntes associado ao aumento

da altura das marés com a aproximação da sizígia como mostra a figura 10 abaixo:

Figura 10 - Ilustra um esquema mostrando a gênese da estrutura flaser em um ambiente de marés.

Fonte: (REINEC e SINGH, 1973).

Nota: A letra a indica uma inundação atual, letra b indica períodos de águas altas, a letra c indica

vazante da maré e a letra d indica água de baixa de paradas e assim por diante.

As camadas do tipo wavy ou camadas onduladas (Figura 11), segundo Reineck e Singh

(1973), correspondem a camadas onduladas de lama e camadas alternadas de areia contínuas.

As camadas de lama quase enchem por completamente a crista ondulada, de modo que a

superfície da camada de lama apenas ligeiramente segue a concavidade e convexidade da

superfície subjacente ondulada.

Quando apenas uma camada de lama ondulada estiver presente, deve ser contabilizada

como uma única ocorrência e descrito como uma camada de lama ondulada. Somente quando

há uma seqüência de muitas camadas de lama onduladas alternando com ondulações nas

camadas arenosas ela é identificada como um fundamento ondulado. Em contraste com a

38

camada flaser, as ondulações nas camadas de areia são verticalmente descontínuas e isoladas

de vários tipos de camadas onduladas.

Figura 11 - Bloco diagrama ilustrando vários tipos de camadas onduladas produzidas por diferentes

espessuras de camadas de lama.

Fonte: (AFTER REINECK e WUNDERLICH, 1968b apud REINECK e SINGH, 1973).

Na estrutura sedimentar do tipo linsen ou camada lenticular, ondulações de areia ou

lentes são descontínuas e isoladas, não só na vertical, mas também no sentido horizontal.

Assim, ondulações são produzidas sob a forma de corpos lenticulares isolado sobre um

substrato lamoso. A camada lenticular é produzida quando as ondulações de areia incompletas

são formadas em substrato lamoso e preservado como um resultado da deposição da camada

de lama que será depósitada acima. O fornecimento de areia é escassa, de modo que apenas

ondulações incompletas são produzidas (REINECK e SINGH 1973). A figura 12 ilustra o

regime de gênese e desenvolvimento de camadas lenticulares isoladas

39

Figura 12 - Ilustração do bloco diagrama mostrando as camadas lenticures isoladas lama.

Fonte: (AFTER REINECK and WUNDERLICH, 1968b apud REINECK and SINGH, 1973).

5.1.3 Ambiente estuarino

Contrariamente a deltas, estuários apresentam taxa de fornecimento de sedimento

inferior á sua capacidade de retrabalhamento por processos bacinais (Rossetti 2008). Estuários

(Fotografia 4) consistem em feições alongadas e estreitas na planície costeira que se

desenvolvem em direção a um vale fluvial até o limite superior da maré (DALRYMPLE et al.

1992 apud ROSSETTI, 2008).

Estuários contêm grande variabilidade lateral e vertical o que requer detalhado

trabalho de mapeamento para sua reconstrução além do entendimento da hidrodinâmica do

fluxo controlador do transporte e deposição dos sedimentos neste tipo de assentamento

(ROSSETTI, 2008).

40

Fotografia 4 - Imagem de satélite Landsat de um ambiente estuarino da região de Pamlico-

Albermarle da Carolina do Norte.

Fonte: (BOYD et Amgl, 2006).

Na figura 13 está representado o modelo em perfil vertical para depósitos estuarinos.

A base representa superfícies de erosão que registram escavamento na desembocadura do

canal fluvial marcado por depósitos granulosos a seixos. A camada em cor amarela apresenta

a camada de arenito em um padrão retrogradante com estratificação cruzada tangencial

relacionada a um deposito de canal estuarino e na camada sobreposta uma camada de lama

com lentes de areia relacionado a um ambiente de planície de maré.

Durante a transgressão os vales são afogados resultando em sucessões sedimentares

retrogradacionais a agradacionais sendo depositada sobre as superfícies basais erosivas.

Observa - se o padrão geométrico em sino do perfil de raio gama que gradam para cima,

diferenciando dos deltas que são representados por corpos de sedimentos com característica

dominantemente progradacionais.

41

Figura 13: Ilustração do modelo deposicional de uma sucessão de ambiente estuarino conjugado com perfil

de raio-gama com curva em sino.

Fonte: (ROSSETTI, 2008).

Rossetti (2008) define estuários dominados por onda, maré e corrente de maré em suas

classificações:

Estuários dominados por ondas (Figura 14) ocorrem em duas áreas bem definidas,

uma localizada na desembocadura e outra próxima à cabeceira. Área da desembocadura do

estuário corresponde à zona externa que mais recebe um volume significativo de sedimentos

derivados do retrabalhamento da linha de costa. Neste local desenvolvem-se complexo de

ilhas-barreiras que funcionam como anteparo para as energias de ondas e correntes de maré.

Dessa forma áreas internas dos estuários ficam protegidas e são dominadas por processos de

sedimentação por suspensão.

Estuários dominados por maré (Figura 14) umas das principais característica é a

forma em funil (Boyd et al., 2006) e desenvolvem-se melhor em costas de regimes de macro

maré. Possui empilhamento faciológico de canais estreitos meandrante influenciados por maré

e está representado por planície de maré mista areno-argilosa, planície de maré arenosa com

42

estratificação plano-paralela e barra de maré arenosa. A figura 15 faz uma ilustração

representativa de 2 perfis de empilhamento vertical de estuários influenciado por maré e

ondas.

Estuários dominados por corrente de maré avançam em direção as zonas estuarinas

mais internas aumentando a velocidade da maré de inundação o que produz um acúmulo de

sedimentos em sua desembocadura ocorrendo na forma de barras alongadas paralela a

margem estuarina.

Figura 14 - Representação dos estuários; dominados por onda e por maré e do aumento das energias de ondas e da maré.

Classificação segundo Boyd et al. (1992 apud BOYD et al. 2006).

43

Figura 15 - Empilhamento vertical de seções estuarinas resultantes de uma transgressão, a) representa

estuário dominado por onda e b) estuário dominado por maré.

Fonte: (Rossetti, 2008).

A zona interna dominada por processos fluviais está localizado no funil do estuário e

em canais estuarinos. A zona central dominada por processos de baixa energia que

predominam depósitos lamosos e ocorre um equilíbrio entre processos marinhos e fluvial. Na

zona externa ocorre o domínio de processos marinhos (ondas e correntes de maré) com

predominância de depósitos de areia. As zonas internas e externas são dominados por

depósitos sedimentares de granulometria mais grossa que a zona central. A figura 16 ilustra a

morfologia e o tipo de sedimentação de 4 tipos principais de estuários.

44

Figura 16 - Ilustração da morfologia e sedimentação do estuário.

Fonte: (REISON, 1992 apud WALKER, 2006).

Flutuações periódicas do nível de água consistem na formação da maré, gerada pela

atração gravitacional da lua e secundariamente do sol. As variações de maré de menor escala

consistem em maré cheia (flood tide) e de vazante (ebb tide). Durante as fases de lua cheia ou

nova quando a lua e o sol acham-se alinhados em relação à Terra, altura e amplitude de maré

atingem valores máximos caracterizando as marés de sizígia (spring tides) como mostra na

figura 17.

Quando a maré atinge amplitudes mínimas o sol e a lua estão alinhadas, formam um

ângulo reto em relação à Terra, caracterizando como maré de quadratura (neap tides) como

mostra na figura 17. Os ciclos de maré de cheia-vazante possuem cerca de 14 e 28 ciclos em

regime diurno e semi-diurno.

45

Figura 17 - Classificação das marés associadas ao ciclo lunar.

Fonte: www.cem.ufpr.br/ecoturismo/texto.htm.

As marés que atingem os estuários originam-se de ondas de maré oceânicas, cujas

amplitudes são em geral baixas. As variações de corrente de maré registradas em ambientes

estuarinos produzem uma variedade de estruturas sedimentares. Estruturas diagnósticas de

maré são formadas devido a sua natureza cíclica, refletida em mudanças periódicas de

direcionamento e velocidades reconhecidas tanto em estratos cruzados como em depósitos

horizontalizados acrescidos verticalmente.

Nos ambientes estuarinos, as zonas de maior ação marinha estão próximas a

desembocadura caracterizados por depósitos de barras de areia alongado, que podem ser barra

de maré com estratificação cruzada tabular com lama nos sets (tidal bundle), delimitados por

camadas de lama devido a processos de marés marcados por acamamento heterolíticos.

Acamamento heterolítico é caracterizado por depósitos de camadas lenticulares

(linsen) mostrada na figura 12, estruturas do tipo flaser (Figura 10) e wavy (Figura 11). Nas

barras de areia predominam estratificação cruzada tangencial, estratificação cruzada tabular e

bandas de maré (tidal bundle). No processo de formação das bandas de maré podem ocorre

pares de lama (mud couplet).

Tidal bundle (Figura 18) são feições mais utilizadas para reconhecimento de processos

de maré sendo caracterizados por processos de flutuações periódicas de maré cheia e vazante.

Quando há um estágio de maré dominante (Figura 19) ocorre deposição de areia de bandas

46

mais espessas, nos período subseqüente de paradas da maré depositam lâminas de argila sobre

essas bandas.

Durante os processos de maré subordinada (Figura 19) deposita-se bandas menos

espessas de areia podendo erodir partes das lâminas de argila depositadas nos períodos de

paradas. Nos períodos de paradas da maré dominante deposita uma lâmina de argila sobre as

bandas de areia. Ao fim da atuação da maré subordinada deposita uma nova lâmina de argila.

Juntando essas lâminas de argila depositadas durante a maré dominante e a maré subordinada

forma uma estrutura sedimentar chamada de par de lama ou mud couplet (Figura 20).

A fotografia 5B mostra uma típica barra de maré localizada próximo ao topo do morro

do Pai Inácio e a fotografia 5A detalha a estrutura sedimentar do tipo mud couplet encontrada

na mesma barra de maré.

Figura 18 - Diagrama com tidal bundles associados a ciclos de marés de sizígia e quadratura formados

durante acreção lateral

Fonte: Modificado de Tessier & Gigot, (1989 apud MENEZES FILHO, 1998).

47

Figura 19 - Esquema desenvolvido para formação de bandas (bundle) de maré de sizígia e quadratura.

Fonte: (TESSIER & GIBOT, 1989 apud MENEZES FILHO, 1998).

Figura 20 - Modelo explicativo, formação de mud couplet. A seta indicando o par de lama.

Fonte: (VISSER, 1980).

48

Fotografia 5 - Visão do afloramento do elemento barra de maré no Morro do Pai Inácio na Chapada Diamantina

com detalhe para estrutura típica de ambiente de maré tipo tidal bundle.

Fonte: O autor

Nota: A seta indica uma estrutura sedimentar do tipo par de lama (mud couplet). Descrição feita fora da área de

estudo.

49

6 TRATAMENTO DE DADOS

Este capítulo aborda a descrição e interpretação dos dados levantados no perfil vertical

que comportam as formações Açuruá e Tombador, sendo descritas no total de 13 fácies

(tabela 1) e identificado 3 elementos arquiteturais. O perfil tem sua escala original de campo

de 1:40, mas, para a descrição neste trabalho o perfil está dividido em nove trechos com letras

maiúsculas e teve sua escala gráfica reduzida para 1:160. Foi empilhado cerca de 426m de

rochas, mas dentre essa espessura, 247m descrito de afloramento.

Os valores em metros apresentados no perfil na tabela de altitudes são valores

arbitrários. Esses valores foram colocados no perfil no intuito de simular e melhor localizar a

qual profundidade está a camada no Morro. Podendo ser utilizado como pontos guias de

campo, para elaboração da espessura total do perfil. O valor de 1323m representa o topo e o

valor de 1720m é a base do perfil.

Para nomear as fácies foram utilizadas letras maiúsculas e minúsculas para o tipo de

rocha, granulometria e estratificações presentes nas rochas. A letra maiúscula A caracteriza o

arenito, letra maiúscula S caracteriza rocha que intercalam siltito na litologia e a letra

maiúscula P para rocha pelitica. As letras minúsculas f, g e m foram vinculadas a

granulometria de areia fina, médio e grossa, bem como a letra x, l e p nas nomenclaturas

marcam respectivamente rochas com estratificações, contendo laminações e rochas peliticas

com laminações plano paralelas. As letras maiúsculas F e G foram vinculadas a granulometria

de areia muito fina e muito grossa respectivamente. A letra maiúscula H caracteriza a fácies

heterolitica. Devido à ciclicidade faciológica ocorre no perfil vertical repetições das fácies ao

longo de toda seção.

50

6.1 INTERPRETAÇÃO DO PERFIL VERTICAL DO MORRO DA TORRE.

A figura 21 abaixo representa a legenda utilizada para todos os perfis verticais e a

tabela 1 contém as fácies para os respectivos elementos arquiteturais e ambiente deposicional,

separados por Formação.

Figura 21 - Representação da legenda para todos os perfis do Morro da Torre.

Fonte: O autor

51

Tabela 1 - Apresentação e associação das fácies com o elemento arquitetural e o ambiente deposicional.

FORMAÇÃO TOMBADOR

Am

bie

nte

s E

stu

arin

os

Amg, AFSx, Amgx,

Amgl, Pp

Barras de Maré

AgGc, AFGx, Amgl Canal de Maré

FORMAÇÃO AÇURUÁ

H Planície de Maré

AFGx, AGx, Afmr,

Amgl, Pp Amgx e

AFmx.

Barra de Maré

AFSx, AFGx, AgGc,

Amg

Canal de Maré

Fonte: O autor

6.1.1 Planície de maré

a) Fácies H

A fácies é representada por siltito de cor rosada a acinzentado (Fotografia 6). No

afloramento (Fotografia 7) apresenta cor avermelhada devido ao intemperismo. Apresenta

siltito com estrutura sedimentar do tipo mud crack ou gretas de contração (Fotografia 8).

Arenito de cor creme acinzentado possui granulometria fina a muito fina. Esses arenitos estão

em forma de lentes sendo envelopado por lama (siltito). Quando conectadas as lentes formam

estrutura do tipo wavy como mostra na Fotografia 9.

A fácies também apresenta rocha de cor cinza esverdeado, arenito com granulometria

muito fino em forma de lente com interlaminações plano paralela entre arenito e siltito no

topo da camada e climbing ripples (Fotografia 10) em lentes de arenito. Na rocha apresenta

estrutura do tipo diques de areia (Fotografia 11) ou vulcões de areia, evidenciando processos

rápidos de deposição.

No afloramento pode-se encontrar rocha de cor creme avermelhado com granulometria

de areia muito fina e interlaminações do arenito muito fino com siltitos. Na rocha está exposto

52

estrutura sedimentar do tipo marca de carga (Fotografia 12), formada devido à deposição de

sedimentos mais densos sobre sedimentos de menor densidade e as laminações planos

paralelas. Na subida, em direção ao morro, foi encontrado rochas de cor branca acinzentada,

com arenito de granulometria muito fina em forma de barra. A estrutura sedimentar mais

evidente é do tipo climbing ripple (Fotografia 13) com duas direções de paleocorrente N 180°

e N190° para SW.

Fotografia 6 -: Fácies H - Vista geral do afloramento da Formação Açuruá na BA 142 nas

imediações da cidade de Barra da Estiva próximo ao Morro da Torre.

Fonte: O autor

53

Fotografia 7- Fácies H - Detalhe do afloramento da BA 142 com camada de siltito de cor rosada. - Fácies Pml -

Detalhe do afloramento da BA 142 com camada de siltito de cor rosada.

Fonte: O autor

Fotografia 8: Fácies H - A caneta aponta para a estrutura sedimentar do tipo mud crack.

Fonte: O autor

54

Fotografia 9 - Fácies - H Ilustração de lentes de arenitos sendo envelopados por lama (siltito) na foto A

Fonte: O autor

Fotografia 10 - Fácies H – Ilustração da rocha de cor cinza esverdeado com lente de arenito com climbing

ripples com paleocorrente para N35°.

Fonte: O autor.

Nota: Na letra A estrutura sedimentar do tipo climbing ripples com forma de leito bem definida. Na letra B a estrutura

sedimentar realçada com linhas escuras.

A B

A B

55

Fotografia 11 - Fácies H – As circunferências detalham as estruturas sedimentares do tipo vulcões

de areia.

Fonte: Idem

Fotografia 12 - Fácies H - Rocha de cor creme avermelhado do afloramento da BA 142 próximo ao Morro da

Torre.

Fonte: Idem.

Nota: Na letra A interlaminado de arenito de muito fino e siltito com marca de carga. Letra B realce da estrutura do tipo

marca de carga.

A B

56

Fotografia 13 - Fácies H – Detalhe para estrutura sedimentar climbing ripples no corte de estrada subindo para o

Morro da Torre.

Fonte: Idem.

Nota: A) rocha de cor branca acinzentado com climbing ripple. B) realce com linhas escuras para

estrutura sedimentar com sua forma de leito.

A

B

57

6.1.1.1 Interpretação

Com descrição e com base na interpretação das fácies H apresentada no perfil vertical

trecho I (Figura 22). As fácies Afmx, que caracterizam o elemento arquitetural barras de

maré, foram colocadas sobrepostas ao elemento planície, devido a um aumento de nível de

base do mar. A sobreposição desse elemento foi de grande importância para caracterização do

elemento planície.

Em geral as fáceis descritas, possuem granulometria de areia muito fina e silte, as

estruturas sedimentares como marca de carga, diques arenosos, mud crack e climbing ripples.

Climbing ripples são estruturas formadas por tração mais suspensão (REINECK e SINGH,

1973), em ambientes que tenham grandes quantidades de sedimentos em suspensão, para

serem rapidamente depositados, preservando as estruturas onduladas. A estrutura do tipo wavy

formadas em ambientes onde a ação de correntes de maré de vazante ou quadratura ocorre em

ambientes de planícies lamosas que também ocorre deposição de sedimentos arenosos. A

intercalação de areia/silte/areia evidencia intervalos diferentes de deposição durante a subida e

descida da maré, devido a esse processo alguns autores classificam a rocha como ritmitos.

As estruturas do tipo mud crack em ambientes lamosas como nas planícies lamosas em

regiões estuarinas indicam uma variação do rebaixamento do nível de base que expõe o

sedimento lamoso ao ar livre. Em zonas do tipo supramaré localizados acima do nível médio

da preamar geralmente ocorrem esses tipos de estruturas.

A análise das fácies e as paleocorrentes indicam que a base do Morro da Torre

pertence a Formação Açuruá. Mas foi possível definir o elemento planície devido a

associação com a fácies Afmx formada tipicamente associadas às zonas de inframaré e

intermaré respectivamente em regiões mais profundas e intermediárias. Devido as

interpretações, pode-se definir que a base do Morro da Torre foi depositada por um sub-

sistema de planícies de maré.

58

6.1.2 Barras de maré

a) Fácies Afmx

A rocha apresenta-se no afloramento (Fotografia 14) com cor branca acinzentada com

granulometria de arenito fino na base gradando para um arenito de granulometria médio no

topo. Os arenitos tem forma de barra e o conjunto segue um padrão granocrescente para o

topo, sendo limitado no topo por um nível de siltito.

A estrutura sedimentar encontrada na barra com arenito fino é do tipo estratificação

cruzada com argila no set (Fotografia 15) ou estrutura sedimentar do tipo tidal bundles

(bandas de maré) na base, com paleocorrente N150° e o topo com laminações sub-horizontais

(Fotografia 16). Na barra com arenito médio possui estratificação cruzada tabular de pequeno

porte (Fotografia 17) na base com paleocorrente N 195° e laminações plano paralelas no topo

(Fotografia 18).

A fácies também é formada por rocha de cor creme de granulometria de areia grossa.

A principal estrutura sedimentar encontrada no arenito em forma de barra é do tipo

estratificação cruzada tangencial na base da camada, como mostra a fotografia 19.

Fotografia 14 - Fácies Afmx - Vista geral do afloramento do corte de estrada não pavimentada

subindo em direção ao Morro da Torro.

Fonte: O autor

59

Fotografia 15 - Fácies Afmx – Detalhe para a estrutura do tipo tidal bundles e para o nível lamoso na base da barra abaixo da

escala. Foto ao lado direito detalhe da estrutura sedimentar com lama no set.

Fonte: O Autor.

Fotografia 16 - Fácies Afmx – Detalhe para laminação sub-horizontal.

Fonte: Idem.

60

Fotografia 17 - Fácies Afmx – Detalhe para estratificação cruzada tabular de pequeno porte.

Fonte: O autor

Fotografia 18 - Fácies Afmx – Detalhe para a laminação plano paralela na letra A. Na letra B realce com linhas escuras

para as laminações.

Fonte: Idem.

A B

61

Fotografia 19 - Fácies Afmx – Visão geral do afloramento no corte de estrada em direção ao morro com

exposição da estratificação cruzada tangencial

Fonte: O autor

Nota: Na fotografia B detalhe da estratificação com linhas escuras realçando a estrutura sedimentar.

b) Fácies AfGx

As fácies apresentam rochas de cor esbranquiçada a creme com granulometria de areia

fina a muito grossa podendo conter grânulos dispersos (Fotografia 21). Na fácies os arenitos

podem está apresentados em forma de barra. Essa forma pode ser observada nas fotografias

20 e 25. As barras podem apresentar padrões granocrescente e granodecrescente e serem

limitadas no topo e na base por níveis de siltito

A

B

62

As estruturas sedimentares presentes nas fácies são estratificações cruzada tangencial

na base (Fotografia 22), laminação sub-horizontal no topo (Fotografia 22), estratificação

cruzada tabular (Fotografia 23), laminações plano paralela com níveis granulosos (Fotografia

24). As estratificações cruzadas tangenciais podem apresentar paleocorrentes preferências

para N10°, N6°, N2° e N18° todas para NE. Por vezes essas estratificações contém grânulos

no set (Fotografia 26).

Fotografia 20 - Fácies AfGx – Na letra A detalhe para a barra de arenito maciço acima da escala. Foto B a linha

escura separa a barra de arenito do siltito laminado.

Fonte: O Autor.

Fotografia 21 - Fácies AfGx – Detalhe da fotográfica para os grânulos dispersos

Fonte: O Autor.

A B

63

Fotografia 22 - Fácies AfGx – Na letra A vista geral do afloramento. Na letra B as estruturas sedimentares

realçadas com linha pretas.

Fonte: O autor

A

B

64

Fotografia 23 - Fácies: AfGx – Detalhe na foto para estratificação cruzada tabular com

paleocorrente N20° onde se encontra a escala e acima do lápis estrutura do tipo ripple.

Fonte: O autor

Fotografia 24 -Fácies AfGx – Detalhe para os grânulos nas laminações plano paralela. A cor escura é

devido ao intemperismo.

Fonte: O autor.

65

Fotografia 25 - Fácies AfGx – Detalhe para granulometria de areia média a grossa e a forma em barra maciça.

Fonte: O autor.

Fotografia 26 -Fácies AfGx – Na foto A detalhe da escala apontando para a estratificação cruzada tangencial com

granulo no set com paleocorrente N2°. Na foto B as linhas escuras realçam a estratificação.

Fonte: O autor.

c) Fácies AGx

A fácies é formada por rochas de cor esbranquiçada de granulometria de areia muito

grossa a granulosa na base, gradando para grânulos no topo. Os arenitos seguem um padrão

granocrescente em forma de lóbos sigmoidais (Fotografia 27). A principal estrutura sedimentar

encontrada nos lóbos são estratificações sigmóidal com grânulos no set (Fotografia 28)

apresentando paleocorrente bidirecional para N196° e N17°.

A B

66

Fotografia 27: Fácies AGx – Visão geral das formas de lóbos sigmóidal no afloramento no corte de

estrada cascalhosa no Morro da Torre.

Fonte: O autor.

Fotografia 28: Fácies AGx – Detalhe para a estratificação sigmóidal. A foto a direita realça a estrutura sedimentar com

linhas escuras.

Fonte: O autor.

d) Fácies Afmr

A fácies é caracterizada por rocha de cor creme com granulometria de areia fina a

media. A principal estrutura sedimentar é do tipo ripples (Fotografia 29). No topo da camada

da rocha pode está retrabalhado por onda.

67

Fotografia 29 - Fácies Afmr - Arenito de granulometria de areia media. Detalhe para caneta que aponta

para estrutura sedimentar do tipo ripples.

Fonte: O autor

e) Fácies Amgl

A fácies é formada por rochas de cor cinza a um cinza esbranquiçado, tem forma de

barras de arenitos com granulometria variante de areia média a grossa. A principal estrutura

sedimentar encontrada é do tipo laminações sub-horizontais (Fotografia 30).

Fotografia 30 - Fácies Amgl – Visão geral para os arenitos com laminações sub-horizontais.

Fonte: O autor.

68

f) Fácies Pp

A rocha é de cor branca acinzentada com granulometria de silte a argila como está

mostrado no afloramento na fotografia 31. A camada espessa de siltito argiloso apresenta

principal estrutura sedimentar laminações plano paralela (Fotografia 32). Por vezes essa fácies

no afloramento pode ocorrer com intercalação de barras de arenitos de granulometria de areia

média a grossa.

Fotografia 31 -Fácies Pp - Visão geral do afloramento de siltito argiloso laminado.

Fonte: O autor

Fotografia 32 - Fácies Pp – Detalhe para o siltito argiloso laminado.

Fonte: O autor.

69

g) Fácies AFSx

No afloramento (Fotografia 33) a rocha é de cor branca acinzentada com

granulometria de areia muito fina, intercalada por níveis de silte e com níveis granulosos. A

camada espessa que está sobreposta ao interlaminado possui presença de lamelas de silte. A

principal estrutura sedimentar é a estratificação cruzada tangencial na base com paleocorrente

N290°.

Fotografia 33 - Fácies AFSx – Na foto A visão geral do afloramento. Foto B delimitação da rocha com interlaminado de

arenito e silte e a rocha com lamelas de silte

Fonte: O autor

h) Fácies Amg

A rocha apresenta cor branca acinzentada e cor creme. O arenito possui granulometria

variante de areia média a areia grossa e está em forma de barra maciça (Fotografia 34) no

afloramento. Por vezes essas barras podem estar intercaladas por lama (Fotografia 35).

A B

70

Fotografia 34 - Fácies Amg – Detalhe para as barras de arenitos maciço.

Fonte: O autor

Fotografia 35 - Fácies Amg – Na foto A visão geral do afloramento com barras espessas de arenitos maciços

intercaladas por filmes de lama. Foto B filmes de lamas sendo realçados por linhas escuras

A

71

Fonte: O autor

h) Fácies Amgx

A fácies Amgx pode ser relacionada a fácies AfGx descrita na Formação Açuruá

devido a ciclicidade faciológica imposta no empilhamento vertical. A diferença entre as fácies

está correspondente a proporção encontrada da estrutura sedimentar do tipo tidal bundles,

dando características próprias para as fácies serem separadas. No afloramento (Fotografia 36)

a rocha apresenta cor branca, possui barras de arenitos com granulometria de areia grossa e

com granulometria de areia media.

As barras apresentam intercaladas por níveis lamosos (siltito argiloso ou silte)

laminados. Algumas barras tem padrões granodecrescente (Fotografia 37) com granulometria

de areia grossa na base gradando para areia de granulometria média no topo. A principal

estrutura sedimentar é do tipo tidal bundles (Fotografia 38) com paleocorrentes para NW e

SW.

B

72

Fotografia 36 - Fácies Amgx – Visão geral do afloramento na subida do Morro da Torre

Fonte: O autor

Fotografia 37 -Fácies Amgx - Detalhe para granodecrescencia dos grãos de areia.

Fonte: O autor.

73

Fotografia 38 - Fácies Amgx – Detalhe para forma do deposito do tipo barras de maré com bandas de maré. A foto a direita

detalha a estratificação cruzada com lama no set.

Fonte: O autor.

6.1.2.1 Interpretação

Segundo o contexto da descrição das fácies e associação das fácies AFGx, fácies AGx,

fácies Afmr, fácies Sl, fácies Amgx e a fácies Amg apresentadas no perfil de empilhamento

vertical (Figura 22) do Morro da Torre. Essas fácies ocorrem na Formação Açuruá bem como

na Formação Tombador e podem apresentar predominância da paleocorrente para NW.

As fácies descritas apresentam de maneira geral arenitos em forma de barras de

coloração esbranquiçada de granulometria de areia média a grossa com presença de grânulos e

padrões granodecrescente e granocrescente. As barras são limitadas na base e no topo com

níveis de siltito e apresentam principal estrutura sedimentar ou não dominante do tipo bandas

de maré (tidal bundles), mas foram descritas laminações sub-horizontal, estratificação cruzada

tabular, estratificação cruzada tangencial e estratificação cruzada simóidal.

Segundo Rossetti (2008) estruturas diagnósticas de maré são formadas devida a uma

natureza cíclica em mudanças periódicas de direcionamento reconhecidos em estratos

cruzados em depósitos horizontalizados acrescidos verticalmente. No perfil as barras de

arenitos com estruturas sedimentares apresentam paleocorrente bidirecional como mostra nas

fáceis AfGx (Figura 22), denunciando flutuações periódicas de maré cheia e vazante ou

predominância de duas direções de correntes. A fácies Amgx é tipicamente formada em

regiões onde a maior predominância da ação da maré, sendo relacionadas a depósitos de

barras de areia formados em ambientes estuarinos próximo a desembocadura do estuário

74

Devido às sucessões das fáceis e a superfície limitante, chega-se a um elemento

arquitetural predominante. O elemento arquitetural descrito são barras de marés e lobos

sigmóidal, esses elementos são típicos de ambientes estuarinos nas partes ou regiões em que

há maior predominância da ação marinha.

6.1.3 Canal de maré

a) Fácies AgGx

Apresenta rocha de cor branco acinzentado, no afloramento (Fotografia 39) a cor

escura é devido ao intemperismo. A fácies é formada por arenito de granulometria de areia

grossa a muito grossa. No afloramento foi encontrado associado a barra de arenito uma feição

de canal (Fotografia 39) com base erosiva (Foto 40A) e níveis com grânulos (Fotografia 41)

que o mesmo é limitado no topo e na base por níveis de siltito laminado (Fotografia 42).

A principal estrutura sedimentar encontrada é do tipo estratificação cruzada acanalada

(Fotografia 34B) e lentes de siltito. Essa estrutura apresenta paleocorrente N275°.

Fotografia 39 - Fácies AgGc – Visão geral do afloramento no Morro da Torre no corte de estrada

cascalhosa.

Fonte: O autor.

Fotografia 40 - Fácies AgGc – Foto A detalhe para a base do canal erodindo a camada de siltito laminado. Na letra

B detalhe para a estratificação cruzada acanalada onde se encontra a escala dentro do canal.

75

Fonte: O autor

Fotografia 41 - Fácies AgGc – A caneta aponta para o nível granuloso.

Fonte: O autor.

A B

76

Fotografia 42 - Fácies AgGc – Detalhe para o corpo de siltito laminado.

Fonte: O autor

b) Fácies AFGx

A fácies possui rochas de cor creme e cor branca acinzentada, no afloramento

(Fotografia 43A) apresenta cor escura devido ao intemperismo. A granulometria na fácies

varia de areia muito fina a muito grossa com níveis granulosos ou dispersos (Fotografia 43B),

com presença de lentes de arenito de granulometria de grosso a muito grosso. Os arenitos

possuem forma de barra com acamamento ondulado (Fotografia 44), forma de barra maciça e

barras com presença de estruturas sedimentares do tipo ripples com base erosiva (Fotografia

45).

No afloramento algumas barras de arenitos apresentam padrões granodecrescente

(Fotografia 46) e intercaladas por filme de lama (siltito). As principais estruturas sedimentares

encontradas são do tipo estratificação cruzada indistinta (Fotografia 47), laminações sub-

horizontal (Fotografia 48), estratificação cruzada acanalada (Fotografia 49), níveis de siltitos

argilosos laminados com presença de veio de quartzo (Fotografia 46) intraestratal, corte

preenchimento (Fotografia 50), estratificação cruzada tabular e laminação plano paralela

(Fotografia 51)

77

Fotografia 43 - Fácies AFGx - Visão geral do afloramento na fotografia a esquerda. A foto a direita apresenta com

detalhe para os grânulos dispersos.

Fonte: O autor.

Fotografia 44 - Fácies AFGx – Foto A visão geral do afloramento no corte de estrada cascalhosa no Morro da Torre.

Na foto B a linha tracejada realça o acamamento ondulado.

Fonte: O autor.

A B

A B

78

Fotografia 45 - Fácies AFGx – A) a caneta aponta forma ondulada na base erosiva que erode a camada

abaixo.

Fonte: O Autor

Fotografia 46 - Fácies AFGx – Detalhe para granodecrescencia para a barra de arenito médio na base e

siltito a areia muito fina no topo.

Fonte: Idem.

79

Fotografia 47 - Fácies AFGx – Detalhe para as estratificações cruzadas indistintas com paleocorrentes

para N355° acima da escala.

Fonte: O autor

Fotografia 48 - Fácies AFGx – Detalhe para laminação sub-horizontal.

Fonte: O autor.

80

Fotografia 49 - Fácies AFGx – Foto A mostra a barra de arenito no topo do afloramento com

estratificação cruzada acanalada. Foto B detalhe as estratificações com realce de linhas escuras.

.Fonte: O autor

A

B

81

Fotografia 50 - Fácies AFGx – Detalhe para a foto da esquerda realçando com linhas pretas a estrutura do tipo corte

preenchimento.

Fonte: O autor.

Fotografia 51 - Fácies AFGx – Destaque para barra de arenito fino com laminação plano paralela.

Fonte: O autor.

Essa fácies é também descrita nas porções próximas ao topo do perfil. A rocha é de

cor branca acinzentada. No afloramento (Fotografia 52) a cor escura é devido ao

intemperismo. A granulometria predominante é de areia media, apresenta estruturas

sedimentares dominante do tipo estratificação cruzada acanaladas de médio porte (Foto 53),

estratificação cruzada tabular (Fotografia 54), estratificação cruzada tangencial de médio

porte (Fotografia 55) e laminações sub-horizontal (Fotografia 56). As paleocorrentes podem

ter predominância para SW.

82

O topo da fácies é formado por arenitos de granulometria de areia média a grossa. A

estrutura sedimentar presente é do tipo estratificação cruzada tabular com paleocorrente para

SW. Na fáceis à ocorrência de barras de arenito com padrão granocrescente com

granulometria de areia média na base para areia grossa no topo e presença de estratificação

cruzada acanalada.

Fotografia 52: Fácies AFGx – Visão geral do afloramento próximo ao topo do Morro da Torre.

Fonte: O autor.

Fotografia 53 -Fácies AFGx – Detalhe para estratificação cruzada acanalada, com paleocorrente

N235°.

Fonte: O autor.

83

Fotografia 54 - Fácies AFGx - Detalhe para estratificação cruzada tabular. Com paleocorrente N240°.

Fonte: Idem

Fotografia 55 - Fácies AFGx - Detalhe para estratificação cruzada tangencial. Com paleocorrente para

N265°.

Fonte: Idem

84

Fotografia 56: Fácies AFGx – Detalhe para as laminações sub-horizontais.

Fonte: O autor.

b) Fácies AfSx

A rocha no afloramento (Fotografia 57) é de cor cinza esbranquiçada, apresenta

interlaminado de arenito com granulometria fina e siltito. As laminações sub-horizontais e

estratificações cruzadas tabulares (Fotografia 58) na base com paleocorrente para SW são

principais estruturas sedimentares encontradas. No topo do Morro da Torre, essa fácies ocorre

com interlaminado de arenito com granulometria de areia média a grossa e silte (Fotografia

59).

Fotografia 57: Fácies AfSx – Visão geral do afloramento no topo do Morro da Torre.

Fonte; O autor.

85

Fotografia 58: Fácies AfSx – Detalhe para laminação sub-horizontal e estratificação cruzada tabulara

na base com paleocorrente para N185°.

Fonte: O autor.

Fotografia 59 - Fácies AfSx – Detalhe para laminações do arenito médio a grosso e silte

A

86

. Fonte: O autor

6.1.3.1 Interpretação

A sucessão de fácies aqui descrita e pela associação das fácies AgGc, fácies AfGx e a

fácies AfSx, apresentadas no perfil de empilhamento vertical do Morro da Torre mostradas na

figura 22 no perfil trecho A. As fácies apresentam no geral arenitos de granulometria de areia

grossa a muito grossa com presença de níveis cascalhosos e com grânulos dispersos.

Principais estruturas sedimentares encontradas são do tipo estratificações cruzadas acanaladas

e estratificações cruzadas tabulares, atentando para as poucas laminações sub-horizontais.

As estratificações cruzadas possuem paleocorrente em grande maioria com um

direcionamento para SE e presença de estratificação cruzada indistinta com paleocorrente

direcionando para NW, evidenciando interações de duas correntes de formação. Em grande

maioria os arenitos sofrem padrões granocrescente ascendente (coarse upwards) mostrada na

fácies AfGx na figura 22 nos trechos F e G e granodecrescente ascendente (fining upwards)

mostrada na fáceis Amgx na figura 22 trecho E. Os corpos de arenitos possuem níveis de

siltito e níveis de siltitos argilosos limitando a base e o topo das barras.

Em destaque para a fácies AgGc foi encontrado uma feição em forma de canal, com

base erodindo uma camada de lama. Apresenta arenito de granulometria granulosa com

estratificação cruzada acanalada, lentes de lama (siltito) e limitado no topo por níveis de siltito

com laminações plano paralela. A fácies Afmr descrita no perfil da Formação Açuruá também

B

87

é encontrada o elemento canal, também é descrita no elemento barra de maré. Devido a

ciclicidade faciológica essa fácies é colocada sobrepostas aos arenitos que preencheram o

canal.

O elemento arquitetural do tipo barras de maré descrito neste capitulo, foram de

fundamental importância para o reconhecimento do ambiente deposicional. No perfil da

figura 22 no trecho G, pode-se observar repetições dos elementos arquiteturais canal/barra, ou

seja, uma repetição faciológica.

Com base na descrição de fácies, associação das fácies e as formas geométricas dos

corpos sedimentares pode-se chegar a um principal elemento arquitetural determinante para

identificação do sistema deposicional. O elemento encontrado é do tipo canal que foi

preenchido por arenitos ao longo do acréscimo vertical. Esses canais estão relacionados a

canais de maré típicos de um ambiente estuarino.

Foram interpretadas fácies com destaque no padrão granulométrico das barras de

arenitos grossos a granulosos com estratificações cruzadas acanaladas, por vezes com

estratificações tabular e tangencial, para interpretação dos canais. Pode-se propor que esse

padrão sedimentar encontrado pode estar relacionado a canais de uma maior influência

fluvial.

88

Figura 22: Perfil vertical do Morro da Torre.

89

90

91

92

93

94

95

96

97

Fonte: O autor

7 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com base nos tratamentos de dados pode-se identificar os elementos pertences as

formações Açuruá e Tombador. O contato entre as formações foi inferido dentro de um gap

ou hiato, no intervalo das altitudes de 1495m a 1590m. A partir da altitude de 1495m para o

topo foi observado a mudança das paleocorrentes em relação a parte inferior. Os dados

obtidos de paleocorrentes foi de fundamental importância para marca o contato. Da reunião

das medidas de paleocorrentes, pode-se criar diagramas de rosetas para cada Formação e por

elemento arquitetural.

A Formação Açuruá apresentou no diagrama de roseta (Figura 23) orientação das

medidas N-S e sentido preferencial para o quadrante NE, mas, é observado no diagrama uma

segunda preferência dos dados para o quadrante SW, podendo estar relacionado a influência

de duas correntes de deposição dos sedimentos. O diagrama (Figura 23) da Formação

Tombador apresentou uma forte orientação das medidas de paleocorrentes para W e direções

preferências para os quadrantes NW e SW.

Figura 23: Diagramas de rosetas das paleocorrentes nas estratificações cruzadas das Formações Tombador e

Açuruá, N=numero de medidas.

Fonte: O autor

Os diagramas de rosetas da figura 24 foram feitos a partir das medidas de

paleocorrentes por elemento arquitetural correspondente a cada Formação, no intuito de

98

melhor visualização e comportamento dos fluxos de deposição dos elementos planície, barra e

canal.

As paleocorrentes dos elementos arquiteturais barras de maré e planície de maré

pertencentes a Formação Açuruá, demonstram uma certa orientação N-S e direção

preferencial para o quadrante NE. O elemento arquitetural canal, demonstra duas orientações:

N-S e uma orientação E-W. As orientações E-W estão aproximadamente ortogonais as

direções de paleocorrentes das barras de maré e planície de maré podem significar depósitos

em canais de maré meandrantes. Na observação do diagrama de rosetas do elemento canal da

Formação Açuruá, apresentou duas orientações para as paleocorrente. Com a correlação da

descrição da fáceis AgGc, pode-se propor que a orientação N-S, pode estar relacionado a

canais mais influenciados por maré e as medidas com orientação E-W podem está

relacionadas a canais que sofrem maior influência fluvial.

As paleocorrentes dos elementos arquiteturais barras de maré (Figura 25) e canal de

maré (Figura 25) da Formação Tombador, demonstram orientação E-W e direção preferencial

dos canais para o quadrante SW e direções preferenciais das paleocorrentes nas barras para o

quadrante NW e uma segunda direção para o quadrante SW. Para as duas direções de

paleocorrente (E-W) encontradas no diagrama do elemento canal, pode-se propor ações de

duas correntes de deposição típicas em ambientes de marés: uma, a favor da descarga fluvial,

e outra a favor da maré. As tabelas 2 e 3 contêm todas as medidas de paleocorrentes utilizadas

na preparação dos diagramas de rosetas.

Os dados demonstrados nos diagramas das figuras 23, 24 e 25, mostram claramente

sentidos contrários das paleocorrentes da Formação Açuruá em relação a Formação

Tombador, confirmando uma inversão das paleocorrentes. Essa inversão pode estar

relacionado a um basculamento da bacia devido a processos tectônicos ou climáticos,

impondo uma mudança na linha de costa.

99

Figura 24: Diagrama de rosetas das paleocorrentes nos elementos arquiteturais; planície de maré, barras de maré e

canal de maré pertencentes a Formação Açuruá. N=numero de medidas

Fonte: O Autor

Figura 25: Diagrama de rosetas das paleocorrentes dos elementos arquiteturais; barras de maré e canal de maré

pertencentes a Formação Tombador. N=números de medidas.

Fonte: O autor

100

Tabela 2: Paleocorrentes da Formação Tombador no Morro da Torre.

Formação Tombador

Coordenadas Paleocorrentes

E.Arquitetural Latitudes Longitudes Elevação(m) Direção(°) Quadrante B

arr

a d

e M

aré

249896 8485576 1285 290 NW 249953 8485548 1295 280 W

300 NW

285 NW

240 SW

235 SW

Canal de

Maré 249993 8485564 1310 210 SW

Barra de

Maré 290 NW

250003 8485688 1346 300 NW

Canal de

Maré

250104 8485680 1354 260 SW

320 NW

270 W

Barra de

Maré 250307 8485808 1369 230 SW

Sis

tem

a d

e C

an

ais

240 SW

240 SW

235 SW

260 SW

70 NE

90 E

135 SE

250077 8485802 1384 315 NW Barra de

Maré

250073 8485864 1391 350 NW 250150 8485878 1415 310 NW

Can

al

de

Maré

250198 8485888 1445 235 SW

240 SW

265 SW

250 SW

200 SW

290 NW

275 NW

325 NW

300 NW

295 NW

260 SW

190 SW

280 NW

280238 8485960 1462 185 SW Fonte: O autor.

101

Tabela 3: Paleocorrentes da Formação Açuruá no Morro da Torre.

Formação Açuruá E.Arquitetural Coordenadas Paleocorrentes

Pla

níc

ie d

e M

aré

Latitudes Longitudes Elevação(m) Direção(°) Quadrante 250520 8487150 1135 30 NE 250537 848709 1148 35 NE

7 NE

28 NE

250523 8487072 1151 210 SW

247 SW

35 NE

25 NE

205 SW

Barr

a d

e M

aré

249434 8485464 1166 195 SW 249412 8485084 1169 350 NW

180 S

10 NE

20 NE

15 NE

24 NE

249408 8485046 1170 196 SW

17 NE

249405 8485040 1175 2 NE

187 SW

6 NE

Can

al

de

Maré

249405 8485000 1173 275 NW

185 SW

188 SW

190 SW

30 NE

355 NW

272 SW

165 SE

Barra de Maré 183 SW

187 SW

5 NE

Canal de Maré 249416 8484934 1177 290 NW

350 NW

Barr

a d

e M

aré

155 SE

0 N

0 N

0 N

6 NE

120 SE

355 NW

355 NW

249479 8484784 1190 10 NE

Fonte: O autor.

102

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho abordado tem como principal foco caracterizar as fácies e o sistema

deposicional das formações Açuruá e Tombador. Com base na caracterização das fácies e dos

elementos arquiteturais, pode-se chegar ao ambiente deposicional. Na base do Morro da Torre

os sedimentos depósitos, estão associados a um sub-ambeinte de planície de maré podendo ser

classificar e separados em zonas de supramaré onde ocorre estruturas do tipo mud crack que

evidencia exposição área dos sedimentos lamosos. Acima da planície de maré foi identificado

barras de maré típicas em regiões mais profundas e intermediarias, associando a zonas de

inframaré e intermaré.

Na descrição dos afloramentos correspondentes as formações Açuruá e Tombador

foram observados corpos de arenitos com granulometria muito grossa a granulosa com

padrões granocrescente, estratificação cruzada acanaladas e feições de canais. Com base nessa

descrição pode-se propor que as formações tiveram depósitos relacionados a sistema de canais

com maior influência fluvial e os corpos de arenitos com padrões granodecrescentes com

variação granulométrica de areia média a grossa e areia média a fina limitado na base e no

topo por níveis de lama (siltito), apresentando estratificação cruzada acanalada e lentes de

siltito, foram interpretados como canais de maré que sofrem mais influência do sistema

estuarino.

Conforme nas análises feitas em campo e no perfil vertical descrito do Morro da

Torre, conclui-se que a Formação Açuruá foi depositada por um sistema estuarino e a

Formação Tombador por outro sistema estuarino dominados por maré. Chegou-se a essa

conclusão com base na interpretação dos dados de paleocorrentes e no estudo detalhado dos

diagramas de roseta. Com base nos dados foi possível verificar que a direção das

paleocorrentes dos estuários estão posicionadas ortogonalmente ou quase ortogonalmente,

logo os estuários podem ter sido colocados ortogonalmente, impondo uma discordância entre

as formações.

A inversão dos sentidos das paleocorrentes podem está relacionadas a processos

tectônicos ocorrido em intervalos de tempo diferentes ou climático. A figura 26 abaixo ilustra

um modelo de estuário. Separado em regiões estuarinas com seus respectivos perfis verticais

com padrões granulométricos e estruturas sedimentares, podendo ser contextualizado com a

área de estudo. Apesar do perfil vertical representar um padrão meramente progradante, o

103

conjunto das fácies e da sobreposição dos elementos arquiteturais barra/canal, ou seja as

barras de maré colocadas acima da planície de maré e dos canais, evidenciam subidas do nível

de base da água, denunciando um padrão transgressivo.

Figura 26: Modelo de um sistema estuarino e apresentação dos perfis a cada região estuarina. Catuneanu, 2006.

Fonte: O autor

O Morro da Torre pode ser utilizado como um modelo laboratorial para pesquisas

geológicas relacionada a geologia econômica. Aplicando a sedimentologia e a estratigrafia de

seqüência para estudos na exploração em pesquisa na prospecção de água, na exploração de

petróleo e na exploração de minério para depósitos de placer.

Na exploração de petróleo as planícies lamosas ricas em matéria orgânica podem ser

modelo deposicionais para rochas geradoras de petróleo, as barras arenosas servem como

modelo de reservatório, podendo o óleo ser migrado das rochas geradas a partir de um sistema

de falhas e as lamas que intercalam as barras arenosas servem como um sistema de rochas

selante ou barreira de fluxo. Na exploração de água as barras arenosas podem ser bons

reservatórios de água. Para exploração de minério pode-se propor um mapeamento mais

detalhado da área usando os devidos critérios para exploração mineral relacionado aos

depósitos de canais mais influenciados por um sistema fluvial mapeando meandros

abandonados que podem conter depósitos do tipo placer.

104

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