excelentÍssima senhora doutora juÍza de...

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- 1 - EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE CASTRO/PR O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ , por seu Promotor de Justiça signatário, no uso de suas atribuições junto à 3º PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CASTRO, com fulcro nos artigos 129, inciso III, da Constituição Federal, 25, inciso IV, letras "a" e "b", da Lei 8.625/93, e 17, da Lei 8.429/92, e com base nas investigações realizadas no inquérito civil nº 31.11.60-6, vem propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA em face de: 1) MOACYR ELIAS FADEL JUNIOR, brasileiro, casado, Prefeito Municipal, Engenheiro Agrônomo, portador do RG nº 3.044.220-2/PR, inscrito no CPF nº 792.370.299-34, residente na Rua Francisco Botogoski, nº 82, CEP nº 84172- 170, Castro/PR;

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    EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA VARA

    CÍVEL DA COMARCA DE CASTRO/PR

    O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ , por seu

    Promotor de Justiça signatário, no uso de suas atribuições junto à 3º

    PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CASTRO, com fulcro nos

    artigos 129, inciso III, da Constituição Federal, 25, inciso IV, letras "a" e "b", da

    Lei 8.625/93, e 17, da Lei 8.429/92, e com base nas investigações realizadas

    no inquérito civil nº 31.11.60-6, vem propor

    AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE

    IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA em face de:

    1) MOACYR ELIAS FADEL JUNIOR, brasileiro, casado, Prefeito Municipal,

    Engenheiro Agrônomo, portador do RG nº 3.044.220-2/PR, inscrito no CPF nº

    792.370.299-34, residente na Rua Francisco Botogoski, nº 82, CEP nº 84172-

    170, Castro/PR;

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    2) VIAÇÃO CIDADE DE CASTRO LTDA, pessoa jurídica de Direito Privado,

    inscrita no CNPJ/MF nº 81.659.286/0001-13, com sede na Avenida Rio de

    Janeiro, nº 1235, Jardim das Araucárias, Castro/PR, representada pelo seu

    sócio gerente Marcelo Jorge Fadel, brasileiro, casado, inscrito no CPF nº

    704.949.409-72;

    3) NILSON MEDEIROS DE MELLO , brasileiro, casado, sócio da empresa

    Viação Cidade de Castro Ltda., inscrito no CPF nº 003.300.949/04, residente e

    domiciliado na Rua Pasteur, 126, apto 51, Curitiba, Paraná;

    4) MARCELO JORGE FADEL , brasileiro, casado, inscrito no CPF nº

    704.949.409-72, sócio da empresa Viação Cidade de Castro Ltda, residente e

    domiciliado na Rua Xavier da Silva, 440, Ponta Grossa, Paraná;

    5) MARIO JORGE FADEL , brasileiro, casado, sócio da empresa Viação

    Cidade de Castro Ltda., inscrito no CPF nº 010.266.239-87, residente e

    domiciliado à Rua Santana, 695, apto 08, Ponta Grossa, Paraná;

    6) LOURIVAL LEITE DE CARVALHO FILHO, brasileiro, advogado, OAB/PR

    18.906, residente na Rua Urbano Borges Martins, 388, Bairro Água Suja,

    Castro, Paraná, também podendo ser encontrado na sede da Prefeitura

    Municipal de Castro;

    7) NELSON SCHMITKE, brasileiro, servidor público, membro da comissão

    municipal de licitação de Castro, portador do CPF 061.489.309-78, residente na

    Rua Otávio Torres Pereira, 395, Vila Rio Branco, Castro, Paraná, também

    podendo ser encontrado na sede da Prefeitura Municipal de Castro;

  • - 3 -

    8) JUCINEI IANKE, brasileiro, servidor público, membro da comissão municipal

    de licitação de Castro, portador do CPF 675.466.339-15, residente na Rua

    Professor Canderoy Mainardes, 805, Morada do Sol IV, Castro, Paraná,

    também podendo ser encontrado na sede da Prefeitura Municipal de Castro;

    9) GIOVANNI DE CASTRO ZADRA brasileiro, servidor público, membro da

    comissão municipal de licitação de Castro, portador do CPF 957.034.629-91,

    residente na Rua Romário Martins, 828, Centro, Castro, Paraná, também

    podendo ser encontrado na sede da Prefeitura Municipal de Castro;

    10) VIAÇÃO SANTANA IAPÓ LTDA. , pessoa jurídica de Direito Privado,

    inscrita no CNPJ/MF nº 76.803.766/0001-76, com sede na Avenida Monteiro

    Lobato, 2001, Jardim Carvalho, Ponta Grossa, Paraná, representada pelo seu

    sócio administrador, Mario Jorge Fadel, brasileiro, casado, inscrito no CPF nº

    010.266.239-87;

    11) VANI DE QUADROS FADEL, brasileira, empresária, sócia da empresa

    Viação Santana Iapó Ltda., casada, inscrita no CPF n. 508.519.189-72,

    residente e domiciliada na Rua Santana, 695, apto 08, Ponta Grossa, Paraná e;

    12) MUNICIPIO DE CASTRO, pessoa jurídica de Direito Público Interno,

    inscrito no CNPJ/MF nº 77.001.311/0001-08, representado por seu Prefeito

    Municipal, com sede na Praça Pedro Kaled, nº 22, Centro, Castro/PR;

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    1- DOS FATOS

    Os documentos e depoimentos coligidos nestes autos demonstram,

    estreme de dúvida, a existência de um conluio voltado à manutenção da

    empresa Viação Cidade de Castro como prestadora dos serviços de transporte

    público urbano neste município de Castro, a qual também seria beneficiada

    pelo pagamento a menor de ISS (Imposto Sobre Serviços) e pela injustificada

    majoração das tarifas de transporte público (tudo isto obtido por meio da

    adulteração dos registros dos números de passageiros transportados), em

    troca do pagamento periódico de propina, feito pela referida empresa, em favor

    de Moacyr Elias Fadel Junior, atual Prefeito de Castro.

    Os primeiros indícios dos ilícitos foram identificados por meio do

    inquérito civil n. 24/2008, que tramitou perante esta Promotoria de Justiça, e

    que iria fundamentar a ação civil pública que tramita nesta comarca sob o n.

    4595-43.2011.8.16.0064. Nos referidos autos, restou apurado que,

    contrariando a Lei de Licitações, o contrato firmado, no ano de 1992, entre o

    Município de Castro e a empresa Viação Cidade de Castro Ltda., foi

    prorrogado, diversas vezes, sem a devida fundamentação legal, bem assim

    extrapolando o prazo máximo de prorrogação previsto em lei. Tais ilícitos

    contavam com o concurso do réu Moacyr Elias Fadel Junior desde 1º de

    janeiro de 2005, data em que este passou a ocupar o cargo de Prefeito de

    Castro e manteve, dolosamente, e consciente da ilicitude de sua conduta, a

    irregular prorrogação do contrato do município com a empresa Viação Cidade

    de Castro Ltda.

    Porém, foi a partir das notícias apresentadas por Adolfo Rodrigues Neto,

    que ensejariam a instauração do inquérito civil nº 31.11.60-6, o qual

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    fundamenta a presente demanda, que todo o esquema seria revelado.

    Adolfo Rodrigues Neto, que trabalhou, de agosto de 1994 até agosto de

    2009, na empresa Viação Cidade Castro Ltda., à época administrada pelos

    sócios Mario Jorge Fadel, Marcelo Jorge Fadel e Nilson Medeiros de Mello, às

    fls. 12/15, declarou o seguinte:

    “que ratifica integralmente as declarações que prestou na escritura

    pública lavrada no livro 391, folha 144, junto ao Tabelionato Ubiraci,

    sediado no município de Ponta Grossa, Paraná; que trabalhou na

    empresa VIAÇÃO CIDADE DE CASTRO LTDA., entre agosto de 1994 e

    agosto de 2009; que era encarregado geral, isto é, era responsável pela

    compra de peças, escala de funcionários, parte de mecânica e

    pagamento de compras; que a empresa VIAÇÃO CIDADE DE CASTRO

    LTDA, antes do seu ingresso na firma, já prestava serviços ao Município

    de Castro; que tal serviço se referia ao transporte público de

    passageiros; que, em junho de 2009, a pedido do proprietário da

    empresa, Sr. MARCELO JORGE FADEL, realizou a gravação de DVD,

    onde consta a entrega de dinheiro para o Prefeito Municipal de Castro,

    Sr. MOACIR ELIAS FADEL; que MARCELO forneceu um pequeno

    gravador e uma caneta; que o depoente utilizou uma câmera de uso

    pessoal; que, antes da data desta gravação, já havia entregue dinheiro

    para o Prefeito Municipal de Castro; que, a partir de 2005, a empresa

    pagava, periodicamente, valores para o Prefeito Municipal; que os

    pagamentos eram feitos sempre em espécie; que o Prefeito Municipal

    esteve outras vezes na empresa, mas que foi apenas desta vez que

    conseguiu gravar; que todas as compras e pagamentos feitos pelo

    declarante eram documentados, menos esses pagamentos em espécie

  • - 6 -

    feitos para o Prefeito de Castro, Moacyr Elias Fadel, que esses

    pagamentos eram feitos para favorecimento da empresa Viação Cidade

    de Castro nas licitações feitas pelo Município de Castro, também para

    que fossem aumentadas as tarifas das passagens de transporte coletivo

    urbano no município de Castro e ainda para facilitar o pagamento, a

    menor, do ISS, pois as roletas eram fraudadas, como exemplo, o

    declarante esclarece que, se a empresa transportava 130 mil

    passageiros por mês, as roletas dos ônibus eram fraudadas, por meio de

    adulteração dos números das roletas, para constar que a empresa teria

    transportado somente 110 mil passageiros por mês, que todo mês as

    roletas eram adulteradas em cerca de 18 a 20 mil passageiros a menos,

    desse modo, a empresa pagava menos ISS e, em troca desse

    favorecimento, entregava propina ao Prefeito de Castro; que, na semana

    passada, o declarante viu na internet que o Prefeito de Castro estava

    sendo denunciado pela prática de outras irregularidades e, por isso,

    ficou animado para trazer esses fatos ao conhecimento da Justiça; que

    não sabe dizer o motivo de o dono da empresa ter ordenado ao

    declarante para que fizesse a gravação da entrega do dinheiro para o

    prefeito de Castro; que o declarante fez a gravação, pegou uma cópia da

    gravação para si e deu uma cópia da gravação para Marcelo Jorge

    Fadel; que o declarante acredita que Marcelo Jorge Fadel, Mario Jorge

    Fadel e Moacyr Elias Fadel são parentes distantes; que Marcelo disse

    ao declarante que destruiu sua cópia da gravação; que, entre os anos de

    2005 e 2009, cerca de 50 vezes, o declarante entregou dinheiro em

    espécie para Moacyr Elias Fadel; que no início era entregue a

    importância mensal de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), depois 6.000,00

    (seis mil reais), R$ 8.000,00 (oito mil reais), R$ 12.000,00 (doze mil

    reais), R$ 15.000,00 (quinze mil reais), R$ 20.000,00 (vinte mil reais) e

  • - 7 -

    nos últimos seis meses o valor era de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil

    reais); que o declarante deixou a empresa em virtude de

    desentendimentos com o sócio Marcelo, porém, nada relacionado aos

    fatos aqui relatados; que o declarante também presenciou, várias vezes,

    os próprios sócios da empresa, Nilson Medeiros, Mário Jorge Fadel e

    Marcelo Jorge Fadel entregarem dinheiro em espécie para o Prefeito de

    Castro, Moacyr Elias Fadel; que houve uma licitação no ano de 2006 e a

    empresa Viação Cidade de Castro não tinha os ônibus aptos para

    participar da licitação (a empresa tinha somente 6 ônibus com a idade

    necessária, ou seja, com menos de 10 anos de uso, quando o

    necessário eram 12 ônibus com menos de 10 anos de uso); que então a

    empresa Viação Cidade de Castro combinou com a empresa Iapó, que

    pertence aos mesmos sócios, que carros da empresa Iapó seriam

    transferidos para a empresa Viação Cidade de Castro, apenas para que

    essa pudesse estar habilitada para participar da licitação; que a empresa

    Viação Cidade de Castro venceu a licitação e depois os ônibus referidos

    retornaram para empresa Iapó; que o declarante não tem conhecimento

    de outros expedientes que a empresa Viação Cidade de Castro possa

    ter utilizado para vencer as licitações em Castro; que as imagens

    gravadas no DVD hoje entregue para esta Promotoria de Justiça foram

    feitas em junho de 2009; que a gravação foi feita na sede da empresa

    Viação Cidade de Castro, no escritório do declarante, por volta das 10

    horas da manhã; que na gravação aparecem duas pessoas, o

    declarante e o prefeito de Castro, Moacyr Elias Fadel; que o declarante

    é o que está posicionado, a maior parte do tempo, atrás da mesa; que

    Moacyr Elias Fadel é aquele que a maior parte do tempo fica sentado

    em um banco localizado ao lado da janela e também é o que recebe,

    das mãos do declarante, três maços de dinheiro; que cada maço de

  • - 8 -

    dinheiro que é visto na gravação contém a importância de R$ 5.000,00

    (cinco mil reais); que na gravação o declarante diz que estava

    entregando a importância de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) e que o

    restante, ou seja, outros R$ 10.000,00 (dez mil reais) seriam entregues

    ao Prefeito na quarta-feira seguinte; que durante a gravação o

    declarante telefonou para o sócio Marcelo e então Marcelo combinou

    com Moacyr a forma de entrega dos demais R$ 10.000,00 (dez mil

    reais); que na referida quarta-feira o declarante entregou os R$

    10.000,00 (dez mil reais), em espécie, para Moacyr Elias Fadel, só que a

    entrega desses R$ 10.000,00(dez mil reais) não foi gravada.”

    Moacyr Elias Fadel Junior, de acordo com as declarações prestadas por

    Adolfo Rodrigues Neto, recebeu, periodicamente, propina da empresa Viação

    Cidade de Castro, administrada pelos sócios Mario Jorge Fadel, Marcelo Jorge

    Fadel e Nilson Medeiros de Mello. Os valores teriam iniciado com a importância

    de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), depois teriam passado para R$ 6.000,00

    (seis mil reais), R$ 8.000,00 (oito mil reais), R$ 12.000,00 (doze mil reais), R$

    15.000,00 (quinze mil reais), R$ 20.000,00 (vinte mil reais) e, no ano de 2009, o

    valor já estaria atingindo a cifra de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais). Nos

    termos da declaração prestada por Adolfo Rodrigues Neto, Moacyr Elias Fadel

    Junior teria recebido, por aproximadamente 50 (cinquenta vezes), a quantia

    média R$ 12.857,14 (doze mil, oitocentos e cinquenta e sete reais e quatorze

    centavos), totalizando a importância de R$ 642.857,00 (seiscentos e quarenta

    e dois mil, oitocentos e cinquenta e sete reais), isto até o mês de agosto de

    2009, quando Adolfo deixou a empresa.

    O DVD acostado às fls. 511 mostra o Prefeito de Castro, Moacyr Elias

    Fadel Junior, recebendo de Adolfo Rodrigues Neto maços de dinheiro, tal como

  • - 9 -

    descrito pelo mesmo.

    Analisando-se o certame licitatório n. 06/06 (fls. 18 e seguintes),

    observamos clara finalidade de se restringir o número de competidores, pois foi

    desrespeitado o parágrafo 6º do artigo 30 da Lei de Licitações, vez que nos

    itens 2.3 e 5.2 do Edital (fls. 30 e 35) foi feita a exigência de comprovação da

    propriedade dos ônibus, por parte das empresas concorrentes, observe-se:

    “2.3- Propriedade: prova documental de propriedade ou arrendamento

    mercantil em seu nome, de frota de pelo menos, 12 (doze) veículos, tipo

    ônibus urbano, com chassi e carroceria, fabricados no mesmo ano, dotado

    de 02 (duas) ou 03 (três) portas, sendo obrigatória a previsão de

    embarque e desembarque que facilite as pessoas portadoras de

    deficiência física, possuir catracas numeradoras e controladora do número

    de passageiros. Idade máxima dos veículos 10 (dez anos) considerando o

    ano de fabricação, devidamente comprovado, conforme certificado

    expedido pelo DETRAN.”

    “5.2 - A proposta Técnica, dever ser formalizada em 02 (duas) vias,

    devidamente assinada pelo representante legal da proponente,

    constando:

    - Relação dos veículos ônibus, titulares, discriminado o ano/modelo,

    número de portas e capacidade de transporte de passageiros sentados

    - Relação de veículos ônibus reservas, discriminando o ano/modelo,

    número de portas e capacidade de transporte de passageiros sentados

  • - 10 -

    - Certificados emitidos pelo DETRAN, de cada veículo ônibus,

    comprovando a propriedade, e as demais informações.

    - Ano/modelo do veículo de apoio (item 2.4), com comprovação através de

    certificado emitido pelo DETRAN.

    Confrontando os itens 2.3 e 5.2, presentes no edital nº 06/06, com o

    disposto no parágrafo 6º do artigo 30 da Lei de Licitações, o qual trata da

    documentação referente a qualificação, constata-se, a olhos desarmados, a

    flagrante ilicitude das mesmas. A fim de que não paire dúvida alguma, urge

    reproduzir o artigo em comento:

    “Art. 30 A documentação relativa à qualificação técnica limitar-se-á a:

    (...)

    6º As exigência mínimas relativas a instalações de canteiros, máquinas,

    equipamentos e pessoal técnico especializado, considerados essenciais

    para o cumprimento do objeto da licitação, serão atendidas mediante a

    apresentação de relação explícita e da declaração formal da sua

    disponibilidade, sob as penas cabíveis, vedadas as exigências de

    propriedade e de localização prévia." (grifei)

    Como se pode observar, a Lei de licitações apenas exige que a

    empresa concorrente demonstre que possui a disponibilidade dos ônibus e não

    a sua propriedade.

    Neste sentido, reiteradas decisões de nossos Tribunais. Observe-se:

  • - 11 -

    ADMISTRATIVO - LICITAÇÃO -EXIGÊNCIA DE COMPROVAÇÃO

    PRÉVIA DE PROPRIEDADE DE VEÍCULOS -DISCREPÂNCIA COM AS

    REGRAS DA LEI 8.666/93 -ILEGALIDADE DO ITEM DO EDITAL -

    ILEGALIDADE DO ATO QUE TEVE COMO FUNDAMENTO A NORMA

    EDITALÍCIA -INABILITAÇÃO INDEVIDA. I - O regramento do Edital

    Tomada de Preço nº 05/97 consta em seu item 2.6.2, como exigência de

    capacidade técnica, a comprovação, através de cópias do DUT RECIBO

    e do IPVA em nome da licitante, todos quitados com relação ao ano de

    1997, de que possui frota constituída de, no mínimo, 11 veículos dos

    tipos discriminados em seu subitem. II - Ao passo que a parte final do

    § 6o do art. 30 da Lei nº 8.666/93 diz que são veda das as exigências

    de propriedade e de localização prévia.§ 6, 30, Lei 8.666/93 - Dessarte,

    é dado observar que os regramentos expostos no Edital de Tomada de

    Preço nº 05/95, notadamente no item discrepam da norma legal que

    concede disciplina às licitações em âmbito federal. Assim, com base

    nesse entendimento, visualizo a ocorrência de ilegalidade na exigência

    contida na mencionada regra do certame, de modo que o ato

    administrativo que a tomou como fundamento padece do mesmo mal de

    ilegalidade, tornando-se, por isso, írrito e nulo. III -Remessa oficial

    improvida. (TRF 3ª Região - 22833 98.02.28461-0, Relator:

    Desembargador Federal THEOPHILO MIGUEL, Data de Julgamento:

    29/03/2006, SÉTIMA TURMA ESPECIALIZADA, Data de Publicação:

    DJU - Data::26/05/2006 - Página::331) (grifei e coloquei em negrito)

    Outro ponto que merece ser salientado, e que demonstra claramente a

    intenção de restringir o número de participantes no certame, encontra-se no

    fato de que o item 5.2 do Edital 06/06 não discriminava qual documento deveria

  • - 12 -

    ser apresentado para comprovar a propriedade dos veículos. Assim, tanto o

    CRLV - Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (apresentado, por

    exemplo, pela empresa Viação Campos Gerais - fls. 391 e seguintes), quanto o

    CRV - Certificado de Registo de Veículo (apresentado pela empresa Viação

    Cidade de Castro), deveriam ser aceitos para comprovar a propriedade dos

    ônibus. O DETRAN/PR, em parecer de fls. 447 (vide especialmente o último

    parágrafo), apenas declarou que o CRV bastaria para a comprovação, mas não

    que seria o único documento hábil a comprovar a propriedade do veículo. Aliás,

    observe-se que os nossos Tribunais entendem que o CRVL é documento que

    comprova a propriedade do veículo. Vejamos:

    “Não obstante serem os veículos automotores considerados bens

    móveis, a prova da propriedade se dá através do Certificado de

    Registro e Licenciamento de Veículo e/ou outro documento expedido

    pelo Departamento Estadual de trânsito, comprovando de forma

    inequívoca que o bem constrito encontra-se em nome daquele que

    consta no certificado. A pretensão do terceiro embargante em

    desconstituir penhora incidente sobre veículo automotor que diz ser de

    sua propriedade, o fazendo através da apresentação de contrato

    particular (convênio) celebrado com a executada, sem estar registrado

    no Cartório de Registro Público competente, não encontra respaldo

    jurídico a garantir lhe sucesso na demanda, pois que inobservado o

    art. 221 do Código Civil Brasileiro, que prevê o registro do instrumento

    para ter efeito e validade contra terceiros. (TRT 1º Região. Julgado em

    25 de abril de 2006. PROCESSO nº 00134.2005.421.14.00-

    .RELATORA JUZA VANIA MARIA DA ROCHA ABENS) (grifei).

  • - 13 -

    Porém, em razão de tais abusivas exigências, a empresa Viação

    Campos Gerais S/A, com larga experiência no ramo, que faz anos detém a

    concessão do transporte público do Município de Ponta Grossa, e que inclusive

    obteve a maior pontuação no itens 7.1.1, 7.1.2, 7.1.3 e 7.1.4 do Edital (vide ata

    de fls. 324), foi indevidamente desclassificada do certame licitatório pelo

    prefeito Moacyr Elias Fadel Junior (vide fls. 494), o qual agiu dolosamente, e

    consciente da ilicitude de sua conduta, tendo a empresa Viação Cidade de

    Castro sido declarada a única habilitada para a fase de abertura de proposta de

    preço da licitação, tudo como se constata às fls. 481, e, ao final, vencido o

    certame licitatório.

    Para tanto, o prefeito Moacyr Elias Fadel Junior contou com o apoio dos

    réus Nelson Schimitke, Jucinei Ianke e Giovanni de Castro Zadra, membros da

    Comissão de Licitação, os quais, dolosamente, e conscientes da ilicitude de

    suas condutas, julgaram inabilitada a empresa Viação Campos Gerais (vide fls.

    469), contrariando as disposições contidas na Lei de Licitações, e também

    desconsiderando os CRVL's apresentados pela referida empresa. O prefeito

    contou ainda com o apoio do advogado e réu Lourival Leite de Carvalho Filho,

    que, também dolosamente, e consciente da ilicitude de sua conduta, elaborou o

    parecer jurídico de fls. 451/454 e 468, voltado à inabilitação da empresa Viação

    Campos Gerais, em flagrante desrepeito à Lei de Licitações, e também

    desconsiderando os CRVL's apresentados pela referida empresa.

    Também a demonstrar que o certame estava direcionado para a vitória

    da empresa Viação Cidade de Castro Ltda., observamos que no Edital (vide

    fls. 30), item "2.6 Instalações", constava a exigência de a empresa vencedora

    comprovar "a propriedade ou direito de uso de imóvel, na cida de de

    Castro, com área mínima de 5.000 (cinco mil) metros quadrados" e, não

  • - 14 -

    por coincidência, como se constata às fls. 1.204, observamos a matrícula

    imobiliária n. 14.879, onde consta que a empresa Viação Cidade de Castro

    Ltda. era e é proprietária de uma área de 5.650,00 metros quadrados, neste

    município, onde funciona a sua garagem, imóvel que adquiriu justamente do

    município de Castro.

    Resta claro, dessa forma, a ação voltada para frustrar o caráter

    competitivo da licitação.

    Mas, não bastasse o direcionamento da licitação, a empresa Viação

    Cidade de Castro Ltda., à época administrada pelos sócios Mario Jorge Fadel,

    Marcelo Jorge Fadel e Nilson Medeiros de Mello, que a princípio também não

    preenchia os requisitos previstos no item 2.3, haja vista que tinha somente 07

    ônibus com a idade necessária, ou seja, com menos de 10 anos de uso,

    quando o necessário para participar da licitação eram 12 ônibus com menos de

    10 anos de uso, dolosamente, em conluio com empresa Viação Santana do

    Iapó, à época administrada pelos sócios Marcelo Jorge Fadel, Vani de Quadros

    Fadel e Mario Jorge Fadel, simularam a transferência da propriedade de 05

    ônibus da empresa Viação Santana do Iapó Ltda. para a empresa Viação

    Cidade de Castro Ltda., apenas para que esta pudesse estar habilitada para o

    certame. Terminada a licitação, os 05 ônibus voltaram para a propriedade da

    empresa Viação Santana do Iapó Ltda. Tal situação é perfeitamente

    comprovada por meio dos documentos acostados nestes autos. Vejamos:

    O ônibus com RENAVAM n. 83442575-0, como se constata no CRV -

    Certificado de Registro de Veículo - acostado às fls. 335, em novembro de

    2006, foi transferido da propriedade da empresa Viação Santana do Iapó para

    a propriedade da empresa Viação Cidade de Castro e, como podemos verificar

  • - 15 -

    às fls. 670, aos 10 de maio de 2007, ou seja, após o término do certame

    licitatório, o veículo voltou para a propriedade da empresa Viação Santana do

    Iapó Ltda.

    O ônibus com RENAVAM n. 83442571-8, como se constata no CRV -

    Certificado de Registro de Veículo - acostado às fls. 336, em novembro de

    2006, foi transferido da propriedade da empresa Viação Santana do Iapó para

    a propriedade da empresa Viação Cidade de Castro e, como podemos verificar

    às fls. 669, aos 10 de maio de 2007, ou seja, após o término do certame

    licitatório, o veículo voltou para a propriedade da empresa Viação Santana do

    Iapó Ltda.

    O ônibus com RENAVAM n. 85923642-0, como se constata no CRV -

    Certificado de Registro de Veículo - acostado às fls. 337, em novembro de

    2006, foi transferido da propriedade da empresa Viação Santana do Iapó para

    a propriedade da empresa Viação Cidade de Castro e, como podemos verificar

    às fls. 672, aos 10 de maio de 2007, ou seja, após o término do certame

    licitatório, o veículo voltou para a propriedade da empresa Viação Santana do

    Iapó Ltda.

    O ônibus com RENAVAM n. 85923644-7, como se constata no CRV -

    Certificado de Registro de Veículo - acostado às fls. 337, em novembro de

    2006, foi transferido da propriedade da empresa Viação Santana do Iapó para

    a propriedade da empresa Viação Cidade de Castro e, como podemos verificar

    às fls. 671, aos 10 de outubro de 2007, ou seja, após o término do certame

    licitatório, o veículo voltou para a propriedade da empresa Viação Santana do

    Iapó Ltda.

  • - 16 -

    O ônibus com RENAVAM n. 70848216-3, como se constata no CRV -

    Certificado de Registro de Veículo - acostado às fls. 341, em dezembro de

    2006, foi transferido da propriedade da empresa Viação Santana do Iapó para

    a propriedade da empresa Viação Cidade de Castro e, como podemos verificar

    às fls. 664, aos 10 de maio de 2007, ou seja, após o término do certame

    licitatório, o veículo voltou para a propriedade da empresa Viação Santana do

    Iapó Ltda.

    Finalmente, Fabiano Rodrigues, que trabalhou na empresa Viação

    Cidade de Castro Ltda. entre agosto de 1994 e julho de 2009, também

    confirmou a existência dos ilícitos. Fabiano era o responsável pela aduteração

    das catracas dos ônibus. Vejamos as declarações que prestou às fls. 521 e

    seguintes:

    “que foi empregado da Viação Cidade de Castro Ltda. durante 15 anos,

    entre agosto de 1994 e julho 2009; que sempre trabalhou no setor de

    manutenção da frota de ônibus da empresa; que os proprietários da

    empresa, ou seja, Marcelo Jorge Fadel, Mario Jorge Fadel e Nilson

    Medeiros de Melo, costumavam estar na empresa todas as terças-feiras;

    que, em uma terça-feira de janeiro do ano de 2004, o declarante foi

    chamado no escritório, pelos proprietários, quando estes comunicaram

    ao declarante que o número das roletas dos ônibus seria diminuído para

    que a empresa pagasse menos ISS (Imposto Sobre Serviços); que

    Nilson Medeiros era quem tinha o controle do caixa e da numeração das

    roletas de cada ônibus; que Nilson então passou o número dos ônibus

    que deveriam ter os números das roletas baixados; que até então o

    declarante nada tinha ouvido dizer sobre o envolvimento de Prefeitos;

    que Nilson passava para o declarante, anotado em pedaços de papel, o

  • - 17 -

    número dos ônibus e o total dos números que deveriam ser baixados

    nas catracas; que o declarante, nesta data, entrega para a Promotoria

    de Justiça tais documentos; que, após receber os pápeis de Nilson, o

    declarante baixava o número das catracas; que as catracas não tinham

    lacre; que o declarante desmontava as catracas e alterava os números;

    que as catracas eram mecânicas e era fácil baixar a numeração; que no

    início o total de números baixados, por mês, era de 12 mil e depois foi

    aumentado gradativamente; que o declarante tem tudo anotado; que

    todos os meses, por volta do dia 20, Nilson entregava para o declarante

    as anotações com os números dos ônibus e com o total que deveria ser

    baixado em cada catraca; que, em determinada ocasião, entre os anos

    de 2005 e 2006, o declarante foi chamado pelo Nilson, que iria lhe

    entregar as anotações, sendo que o sócio Marcelo também estava

    presente, foi quando Marcelo comentou com o declarante que teriam de

    baixar ainda mais os números das catracas porque o 'Prefeito de Castro

    os estava comendo pelas pernas'; que a ordem foi cumprida e continuou

    a diminuir, ainda mais, os números das catracas; que, quando o

    declarante terminava o trabalho de baixar os números das roletas, ele

    informava, às vezes por escrito, às vezes por telefone, para o

    funcionário Rubens Antonio Alves, a numeração que tinha sido colocada

    na roleta; que Rubens anotava os números no 'Livro Caixa' de

    anotações das roletas; que cada cobrador tem uma ficha onde é

    anotado, no início do turno, o número inicial da roleta e o número final no

    fim do turno; que existe também um livro verde, que ficava guardado em

    uma gaveta no escritório de Nilson, e esse livro continha o controle real

    do faturamento; que a maioria dos papéis entregues pelo declarante

    nesta data contém anotações feitas pelo Nilson, com o número dos

    ônibus e o número a ser baixado na roleta; que alguns papéis também

  • - 18 -

    entregues hoje contém anotações feitas pelo próprio declarante, pois em

    algumas oportunidades Nilson deixava a cargo do declarante decidir o

    quanto baixar em cada ônibus, porém, sempre mantendo aquela média

    de adulteração nos registros; que todos os primeiros dias de cada mês

    os fiscais de prefeitura se dirigiam até a garagem da empresa, ou

    mesmo na rua, e anotavam a numeração das roletas para o controle de

    ISS; que como a numeração das roletas era baixada entre o dia 20 e dia

    30 de cada mês, os fiscais da prefeitura não tinham como perceber a

    adulteração; que os fiscais não confrontavam suas anotações com o

    'Livro Caixa' que ficava com o funcionário Rubens; que o declarante,

    nesta data, também entrega alguns documentos com as anotações dos

    controles de roleta feitos pelos fiscais da prefeitura; que as fichas diárias

    que eram entregues para os cobradores eram revisadas e assinadas

    pelos sócios; que as roletas foram adulteradas entre os anos de 2004 e

    2009, pelo o que é de conhecimento do declarante; que as adulterações

    não eram feitas tomando por base uma linha, pois os ônibus não eram

    fixos de uma linha e a adulteração era feita com base nos ônibus que

    mais pegassem passageiros; que o declarante foi orientado a fazer a

    adulteração sozinho e não comentar com ninguém; que o declarante não

    recebia nada a mais por esse serviço; que a adulteração era feita na

    própria garagem, no momento em que o declarante fazia a manutenção

    dos ônibus; que o declarante fazia as adulterações nos momentos de

    pouco movimento na oficina; que no livro de Rubens tudo era anotado

    como revisão de roleta, sendo então anotados os números atuais,

    depois da adulteração; que não havia qualquer empresa responsável

    pela manutenção das catracas; que tudo era feito pelo próprio

    declarante; que o declarante acredita que os carros mais antigos

    mantém o mesmo sistema de catracas, mas que os carros mais novos

  • - 19 -

    possuem catraca eletrônica; que até julho de 2009, enquanto o

    declarante trabalha na empresa, as roletas eram todas mecânicas; que

    as roletas eram sempre as originais dos fabricantes dos ônibus; que,

    como as roletas não tinha lacre, o declarante acredita que não seja

    possível realizar uma perícia para atestar a adulteração, que só pode ser

    comprovada com o livro caixa do Rubens, com as fichas dos cobradores

    e com os documentos hoje entregues pelo declarante.”

    Fabiano Rodrigues também apresentou os documentos de fls. 526-554 e

    557-562, os quais teriam sido elaborados por Nilson Medeiros de Mello, à

    época sócio administrador da empresa Viação Cidade de Castro Ltda. Tais

    documentos, que Nilson entregava mensalmente para Fabiano, indicam os

    ônibus que deveriam ter as catracas adulteradas, bem como a diminuição que

    teria de ser feita nas roletas.

    Os documentos acostados às fls. 525, 555, 556 e 563 foram elaborados

    pelo próprio Fabiano, que obedecia as orientações de Nilson Medeiros de

    Mello. Tais documentos também indicam os ônibus que deveriam ter as

    catracas adulteradas, bem com a diminuição que teria de ser feita nas roletas.

    Os documentos acostados às fls. 525-634 estão a indicar que, mantida a

    média de adulteração mensal nos registros de passageiros transportados

    (18.587 números a menos), até o mês de novembro de 2011, foram baixados

    cerca de 1.765.816 (um milhão, setecentos e sessenta e cinco mil, oitocentos e

    dezesseis) registros de passageiors. Apenas a título de exemplo, pois o real

    montante somente será conhecido após a necessária perícia, considerando

    que o preço atual de cada passagem de ônibus é de R$ 2,30 (dois reais e trinta

    centavos), temos que a empresa Viação Cidade de Castro arrecadou, sem

  • - 20 -

    constar em sua contabilidade oficial, a partir do ano de 2004, inclusive, cerca

    de R$ 4.061.376,80 (quatro milhões, sessenta e um mil, trezentos e setenta e

    seis reais e oitenta centavos). Assim, considerando a alíquota de 3% (três por

    cento), a título de ISS, prevista no Edital (fls. 43), temos que a empresa Viação

    Cidade de Castro Ltda. deixou de recolher cerca de R$ 121.841,30 (cento e

    vinte e um mil, oitocentos e quarenta e um reais e trinta centavos) para os

    cofres públicos do município de Castro.

    Também, como se constata às fls. 50 e seguintes, o número de

    passageiros transportados é de fundamental importância para a fixação do

    preço da tarifa do transporte. Quanto maior o número de passageiros

    transportados pelos ônibus, menor é o preço da tarifa. Quanto menor o número

    de passageiros transportados, maior é o preço da tarifa. Então, com a

    adulteração dos registros de passageiros transportados, a empresa pôde

    manter elevado, acima do que seria direito, o valor das passagens de ônibus

    no município de Castro.

    Como se constata às fls. 52, ao final, o preço da tarifa é encontrado por

    meio da divisão do "valor do km rodado" pelo "IPK - índice de passageiro km",

    sendo que o "IPK" é encontrado por meio da seguinte operação: "passageiros

    transportados" dividido pela frota (número total dos ônibus) e dividido pelo

    "Km/veículo/mês". Tomando por base a planilha apresentada pela empresa às

    fls. 738 e seguintes, utilizada para fixar a atual tarifa de transporte público

    urbano do muncípio (R$ 2,30), observamos o seguinte:

    a) às fls. 738, temos o total de 87.924 passageiros/mês;

    b) dividindo-se o número 87.924 pelo número de veículos da frota (12), e

  • - 21 -

    depois dividindo o resultado pelo "km/veículo/mês" (5.3209), foi encontrado o

    "IPK" no valor de 1,3770;

    c) finalmente, no tópico "TARIFA", foi feita a divisão do "Valor do Km

    rodado" (3,55) pelo "IPK" (1,3770) e, após, foi adicionado 3% (três por cento) a

    título de ISS (Imposto Sobre Serviços), tendo sido encontrada a tarifa de R$

    2,65 (dois reais e sessenta e cinco centavos). Obs.: o prefeito autorizou, no

    entanto, a fixação da tarifa em apenas R$ 2,30 (dois reais e trinta centavos).

    Porém, considerando a adulteração média mensal de 1 8.587

    (dezoito mil, quinhentos e oitenta e sete) passagei ros, para menos, no

    registro de pessoas transportadas, vejamos as conse quências no valor

    da tarifa:

    a) às fls. 738, teríamos o total de 106.511 passageiros/mês (87.924 +

    18.587 - total dos números adulterados ao longo de cada mês);

    b) dividindo-se o número 106.511 pelo número de veículos da frota (12)

    e depois dividindo o resultado pelo "km/veículo/mês" (5.3209), teríamos o "IPK"

    no valor de 1,6681;

    d) finalmente, no tópico "TARIFA", fazendo a divisão do "Valor do Km

    rodado" (3,55) pelo "IPK" (1,6681) e, após, adicionando 3% (três por cento) a

    título de ISS (Imposto Sobre Serviços), teria sido encontrada a tarifa de R$

    2,18 (dois reais e dezoito centavos).

    A diferença entre R$ 2,65 (dois reais e sessenta e cinco centavos) e R$

    2,18 (dois reais e quinze centavos) é de aproximadamente 18% (dezoito por

  • - 22 -

    cento), ou seja, podemos observar, por meio de simples cálculo aritm ético,

    que a adulteração de aproximadamente 18.587 (dezoit o mil, quinhentos e

    oitenta e sete) números de passageiros, para menos, por mês, resulta em

    uma pressão da ordem de 18% (dezoito por cento) no preço da tarifa de

    transporte público urbano no município de Castro.

    Concluindo, a tarifa atual dos ônibus neste municíp io é de R$ 2,30

    (dois reais e trinta centavos), quando, como demons tramos, deveria

    custar à população de Castro o valor de R$ 2,18 (do is reais e dezoito

    centavos).

    Ainda, a partir das planilhas e demais documentos acostados nestes

    autos (fls. 722 e seguintes), podemos observar o seguinte:

    a) no período (janeiro/05 a junho/06) em que a tarifa foi fixada em R$

    1,60 (fls. 727), e a média de passageiros mensais transportados era de

    100.588, o valor correto da tarifa seria R$ 1,52 (chegamos a esse valor

    diminuindo 18% da tarifa de R$ 1,85, proposta pela empresa, como se constata

    às fls. 731) e, por isso, a empresa Viação Cidade de Castro recebeu,

    indevidamente, dos usuários do transporte coletivo urbano deste município a

    importância aproximada de R$ 144.846,72, sem contar outros R$ 26.765,28,

    arrecadados dos 18.587 passageiros mensais não contabilizados, perfazendo

    um total de R$ 171.612,00;

    b) no período (julho/06 a fevereiro/09) em que a tarifa foi fixada em R$

    1,85 (fls. 727) não constatamos irregularidades e;

    c) no período (julho/11 a novembro/11) em que a tarifa foi fixada em R$

  • - 23 -

    2,30 (fls. 727), e a média de passageiros mensais transportados era de 87.924,

    o valor correto da tarifa seria R$ 2,18 (chegamos a esse valor diminuindo 18%

    da tarifa de R$ 2,65, proposta pela empresa, como se constata às fls. 740) e,

    por isso, a empresa Viação Cidade de Castro recebeu, indevidamente, dos

    usuários do transporte coletivo urbano deste município a importância

    aproximada de R$ 52.754,40, sem contar outros R$ 11.152,20, arrecadados

    dos 18.587 passageiros mensais não contabilizados, perfazendo um total de

    R$ 63.906,60.

    Não foi possível apurar o ocorrido nos períodos "ja neiro/04 a

    dezembro/04" e "março/09 e junho/11", em virtude de a empresa e o

    prefeito de Castro não terem enviado as planilhas r eferentes a tais

    períodos, embora devidamente notificados para tanto , vide fls. 516, 517,

    722/914 e 919/1181. Desse modo, restou prejudicada a instrução

    processual.

    Nada obstante, observando o ocorrido nos períodos "janeiro/05 a

    junho/06" e "julho/11 a novembro/11", verificamos que a empresa Viação

    Cidade de Castro arrecadou, indevidamente, dos usuários do sistema de

    transporte público urbano deste município, somente nos mencionados

    períodos, a importância total aproximada de R$ 235.518,60 (duzentos e trinta e

    cinco mil, quinhentos e dezoito reais e sessenta centavos).

    Assim, comprovado está a existência de conluio voltado à manutenção

    da empresa Viação Cidade de Castro como prestadora dos serviços de

    transporte público urbano neste município de Castro, a qual também seria

    beneficiada pelo pagamento a menor de ISS (Imposto Sobre Serviços) e pela

    injustificada majoração das tarifas de transporte público, em troca do

  • - 24 -

    pagamento periódico de propina, feito pela referida empresa, em favor de

    Moacyr Elias Fadel Junior, atual Prefeito de Castro.

    2. DOS ATOS DE IMPROBIDADE PRATICADOS PELO RÉUS

    As condutas acima descritas violam a Lei Federal n° 8.429, de 02 de

    junho de 1992, configurando atos de improbidade administrativa.

    As condutas improbas de recebimento de propina e de majoração

    indevida das tarifas dos ônibus subsumem-se ao disposto no artigo 09, "caput"

    e inciso I, da Lei de improbidade administrativa, que prevêem o seguinte:

    “Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativ a importando

    enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial

    indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou

    atividade nas entidades mencionadas no art. 1° dest a lei, e

    notadamente:

    I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel,

    ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de

    comissão, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha

    interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por

    ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público;

    (...)”

    A improbidade concernente a sonegação de imposto, amolda-se ao

    contido no artigo 10, caput, e inciso XII, da Lei nº 8429/92. Observe-se:

  • - 25 -

    “ Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao

    erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda

    patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos

    bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e

    notadamente:

    (...)

    XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça

    ilicitamente”

    No que tange a fraude à licitação, a mesma violou o artigo 10, inciso,

    VIII, da Lei de Improbidade Administrativa, o qual dispõe:

    “ Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao

    erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda

    patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos

    bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e

    notadamente:

    VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo

    indevidamente; ”

    Ademais, com tais condutas improbas, os réus feriram os princípios

    norteadores da Administração Pública, ou seja, os princípios da LEGALIDADE,

    MORALIDADE e IMPESSOALIDADE, previstos na Constituição Federal.

    3) DAS SANÇÕES A SEREM APLICADAS

  • - 26 -

    Tendo os réus Moacyr Elias Fadel Junior, Viação Cidade de Castro,

    Ltda., Nilson Medeiros de Mello, Marcelo Jorge Fade l e Mario Jorge Fadel

    concorrido para os atos de improbidade administrativa previstos nos artigos

    09, "caput" e inciso I, e 10, caput, e incisos VIII e XII, da Lei 8.429/92, devem

    receber as sanções previstas no artigo 12, incisos I e II, da multifalada lei, cujo

    teor é o seguinte:

    “Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas,

    previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de

    improbidade administrativa sujeito às seguintes cominações:

    I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou v alores acrescidos

    ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando

    houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito

    a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do

    acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou

    receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou

    indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja

    sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;

    II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda

    dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer

    esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos

    políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas

    vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou

    receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou

    indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja

    sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;

  • - 27 -

    (...)”

    No que tange a Lourival Leite de Carvalho Filho, Nelson Schmitke,

    Jucinei Ianke, Giovanni de Castro Zadra, Viação San tana Iapó Ltda., e

    Vani de Quadros Fadel, os quais concorreram para os atos de improbidade

    administrativa previstos pelo artigo 10, inciso VIII, da Lei de Improbidade

    Administrativa, deverão receber as sanções ministradas no artigo 12, inciso II,

    do mencionado diploma legal.

    4. DO AFASTAMENTO LIMINAR DO REQUERIDO MOACYR ELIAS FADEL

    JUNIOR DO CARGO DE PREFEITO

    Objetivando proteger cautelarmente a população de agentes improbos, a

    Lei 8.429/92, em seu art. 20, parágrafo único, estabeleceu o seguinte:

    “A autoridade judicial ou administrativa competente poderá determinar o

    afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou

    função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer

    necessária à instrução processual”.

    Este dispositivo, de natureza cautelar, condiciona o afastamento do

    cargo à necessidade da instrução processual.

    Pois bem, no caso em tela, ao invés de o réu e prefeito Moacyr Elias

    Fadel Junior , ante a evidência das ilegalidades acima apresentadas, apressar-

    se em rescindir o contrato com a empresa Viação Cidade de Castro Ltda. e

    determinar a imediata abertura de processo licitatório para a contratação de

    nova empresa para a prestação dos serviços de transporte coletivo urbano no

    município, preferiu agir para tumultuar a apuração do fatos, p rocurando a

  • - 28 -

    autoridade policial para noticiar que estaria sendo extorquido por Adolfo

    Rodrigues Neto. Note-se, às fls. 16/17, que, perant e a autoridade policial,

    para justificar as imagens gravadas no DVD, onde re cebe os maços de

    dinheiro, disse que havia comparecido na empresa pa ra receber dinheiro

    proveniente de doação para sua campanha eleitoral. Porém, como foi

    amplamente veiculado pelos órgãos de imprensa, vide DVD acostado às

    fls. 519, em flagrante contradição, afirmou que os maços de dinheiro eram

    provenientes do recebimento de empréstimos que havi a feito para Adolfo

    Rodrigues Neto.

    Inclusive, quanto à versão de que teria recebido os maços de

    dinheiro a título de doação para campanha eleitoral , isso não corresponde

    à verdade, pois, como podemos verificar a partir do s documentos

    acostados às fls. 1.188/1.194 (oriundos da Justiça Eleitoral de Castro),

    não consta, seja na prestação de contas do candidat o Moacyr Elias Fadel

    Junior, seja na prestação de contas do seu Partido Político, qualquer

    doação de dinheiro para a campanha eleitoral, de Mo acyr ou de seu

    Partido Político, feita pela Viação Cidade de Castr o Ltda. ou por seus

    sócios. Aliás, tendo em vista que a empresa Viação Cidade de Castro é

    concessionária de serviço público no município de C astro, tal doação, se

    tivesse existido, seria vedada pela legislação elei toral, nos termos do

    inciso III do artigo 24 da Lei 9.504/97.

    Finalmente, novamente prejudicando a instrução proc essual, o

    prefeito de Castro, Moacyr Elias Fadel Junior, tamb ém não apresentou as

    planilhas que teriam fundamentado a fixação das tar ifas de transporte

    público urbano nos períodos "janeiro/04 a dezembro/ 04" e "março/09 e

    junho/11". Sem a apresentação de tais planilhas, fo i impossível a

  • - 29 -

    realização dos cálculos tendentes à descoberta do c orreto valor da tarifa

    (ou seja, do valor da tarifa, descontada a pressão gerada pela adulteração

    dos registros dos passageiros transportados) e, con sequentemente, do

    montante arrecadado, indevidamente, dos usuários do serviço de

    transporte coletivo urbano de Castro, nos períodos "janeiro/04 a

    dezembro/04" e "março/09 e junho/11".

    Estes comportamentos adotados pelo Prefeito Moacyr Elias Fadel

    Junior são a prova cabal de que trabalha para dific ultar a instrução

    processual!!!

    Não fosse o bastante, como se constata às fls. 1184/1185, temos a

    notícia de que um genro de Nilson Medeiros de Mello (que é um dos sócios da

    empresa Viação Cidade de Castro Ltda.), procurou familiares de Adolfo

    Rodrigues Neto e Fabiano Rodrigues para ameaçá-los de morte. A fim de

    aclarar os fatos, urge reproduzir as declarações de Fabiano Rodrigues, nas

    quais relata as ameaças sofridas:

    “ (...) que o declarante mencionou ao Ministério Público o nome das

    pessoas que idealizaram e coorderam a fraude, basicamente

    consistente em direcionamento de licitação pela prefeitura em favor da

    empresa Viação Cidade de Castro, bem como adulteração das catracas

    dos ônibus para obter a redução da numeração indicativa da quantidade

    de passageiros e, com isso, reduzir a base de cálculo do imposto ISS, a

    par de funcionar como argumentação para o aumento do preço das

    tarifas. Ocorre que, na presente data, pela manhã (por volta das

    09h00min) o declarante foi entrevistado acerca dos fatos pela emissora

    RPC, após o que, ao chegar em sua residência, recebeu a notícia de

  • - 30 -

    seus familiares de que um indivíduo cujo nome não sabe declinar,

    sabendo apenas se tratar do genro de Nilson Medeiros de Melo (um dos

    proprietários da empresa Viação Cidade de Castro), compareceu ao

    local e disse 'que Adolfo (pai do declarante) não devia ter feito isso,

    que ele foi induzido a desencadear as investigações contra o sogro

    e o prefeito de Castro, que muitas coisas ruins iri am acontecer co

    ele (pai do declarante) e que os delatados iriam ma tá-lo'. Que, em

    razão disso, o declarante está se sentindo muito atemorizado por

    imaginar que a sua integridade e a de sua família correm grande

    risco.(...)”

    Outrossim, tendo em vista as irregularidades sobejamente

    demonstradas, bem como a gravidade e lesividade das condutas, e ainda

    considerando que o réu e prefeito de Castro, Moacyr Elias Fadel Junior, insiste

    na manutenção do contrato com a empresa Viação Cidade de Castro Ltda., é

    certo que a permanência de Moacyr Elias Fadel Junior no cargo de Prefeito

    implica na continuidade do desfalque aos cofres públicos e prejuízo aos

    usuários do transporte público urbano de Castro. Sua permanência no cargo

    também aprofunda a sensação de impunidade reinante neste país,

    repercutindo em indelével prejuízo à preservação da legalidade e da ordem

    jurídica. Assim, mostra-se mister o afastamento de Moacyr Elias Fadel Junior

    do cargo de Prefeito do município de Castro, não somente para garantir a

    instrução processual, mas também por questões de ordem pública. Digno de

    registro, inclusive, que a população de Castro clama pelo afastamento do

    prefeito, conforme se pode constatar pelas reportagens veiculadas na imprensa

    (vide fls. 518/519 e 708/715).

  • - 31 -

    O Superior Tribunal de Justiça, tomando por base o grave risco de lesão

    a ordem pública, assim vem decidindo nos casos de afastamento cautelar:

    “Visualiza-se, no caso, risco de grave lesão à ordem pública,

    consubstanciada na manutenção no cargo de agente político sob

    investigação por atos de improbidade administrativa, na qual há

    veementes indícios de esquema de fraudes em licitações, apropriação

    de bens e desvio de verbas públicas. Além disso, o afastamento do

    agente de suas funções objetiva garantir o bom andamento da instrução

    processual na apuração das irregularidades apontadas.Conforme

    salientou o ilustre representante do Ministério Público Federal, 'a

    existência de indícios concretos de legitimidade do mandatário para o

    exercício do cargo público, comprometendo o voto de confiança dado

    nas urnas'. Bem ressaltou, em casos como nos autos, o interesse

    público em afastar o agente ímprobo deve estar acima do interesse

    particular do mandatário em permanecer no cargo especialmente

    quando este utiliza-se do mandato para criar obstáculos ao devido

    processo legal e às investigações dos órgãos públicos (fl. 449).” (STJ.

    Rel. Min. Barros Monteiro. AgRg na Suspensão de Liminar e de

    Sentença nº 467-PR, j. 07.11.07.)

    Portanto, tendo em vista a robustez das provas; a gravidade dos fatos;

    sua repercussão no seio da sociedade; o perigo de manutenção dos ilícitos,

    vez que a empresa continua operando na cidade e; a demonstração dada pelo

    prefeito, de que pretende prejudicar a instrução processual, o Ministério Público

    do Estado do Paraná, com fundamento no artigo 20 da Lei de Improbidade

    Administrativa, requer o afastamento cautelar do réu Moacyr Elias Fadel Junior

  • - 32 -

    do cargo de Prefeito do município de Castro, para a garantia da instrução

    processual e da própria ordem pública.

    5. DO PEDIDO DE INDISPONIBILIDADE DE BENS

    Deve ser decretada a indisponibilidade dos bens dos réus Moacyr Elias

    Fadel Junior , Viação Cidade de Castro Ltda. e Viação Santana Iapó Ltda.,

    vez que presentes os requisitos legais.

    Com efeito, como demonstramos acima, presente está o requisito

    atinente ao "fumus boni juris", vez que tais réus integraram grupo de pessoas

    que se voltaram à manutenção da empresa Viação Cidade de Castro como

    prestadora dos serviços de transporte público urbano neste município de

    Castro, a qual também seria beneficiada pelo pagamento a menor de ISS

    (Imposto Sobre Serviços) e pela injustificada majoração das tarifas de

    transporte público, em troca do pagamento periódico de propina, feito pela

    referida empresa, em favor de Moacyr Elias Fadel Junior, atual Prefeito de

    Castro.

    Ainda, quanto ao requisito referente ao "periculum in mora", tendo em

    vista o elevado montante de dinheiro já desviado dos cofres públicos do

    município de Castro, bem assim do conjunto de sua população, seja por meio

    da sonegação do ISS (Imposto Sobre Serviços), seja por meio da majoração

    indevida da tarifa de transporte coletivo urbano, certo é que, sendo condenados

    ao ressarcimento dos valores aos cofres públicos, assecuratória é a medida de

    tornar seus bens indisponíveis, para a garantia do futuro ressarcimento ao

    município e à população de Castro.

  • - 33 -

    O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que

    "A indisponibilidade de bens na ação civil pública por ato de

    improbidade, pode ser requerida na própria ação, independentemente

    de ação cautelar autônoma".

    Na Lei n. 8.492/92, a indisponibilidade de bens está disciplinada em seu

    art. 7º, cuja redação segue transcrita abaixo:

    "O art. 7º - Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio

    público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá à autoridade

    administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério

    Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado.

    Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo

    recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou

    sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito."

    Finalmente, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, em acórdão da

    lavra do Desembargador Cid Goulart, decidiu o seguinte:

    "AGRAVO DE INSTRUMENTO – IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA –

    INDISPONIBILIDADE DOS BENS – REQUISITOS DO FUMUS BONI

    JURIS E PERICULUM IN MORA PRESENTES. A caracterização do

    periculum in mora nas medidas cautelares tradicionais depende da

    comprovação de que o agente esteja dilapidando o seu patrimônio, ou,

    ao menos, esteja na iminência de dissipá-lo. Todavia, tal pensamento

    não se coaduna com o espírito da Lei n. 8.429/92 (Lei de Improbidade

    Administrativa), porquanto esta legislação, ao reverso das antigas Leis

    n. 3.164/57 (Lei Pitombo Godói Ilha) e n. 3.502/58 (Lei Bilac Pinto), tem

  • - 34 -

    por desiderato resguardar o patrimônio público da forma mais eficaz

    possível, impondo, para tanto, sanções e medidas rigorosas. Por esta

    razão, o perigo na demora reside na própria possibilidade de o erário

    não ser ressarcido, porque o bem tutelado pertence à própria

    coletividade. Isto não quer dizer que todo ato ímprobo esteja sujeito à

    indisponibilidade do bens, pois o periculum in mora deve ser analisado

    em cada caso concreto, devendo o julgador sopesar a gravidade do

    fatos, os indícios da prática do ato, bem como as conseqüências

    trazidas ao erário. No caso em tela, presentes indícios suficientes de

    que o agente público praticou infração prevista na Lei de Improbidade

    Administrativa, que teria acarretado prejuízo ao erário, mostra-se

    acertada a decretação da indisponibilidade de seus bens,

    independentemente da comprovação de dilapidação patrimonial, haja

    vista o risco de a sociedade não ser restituída dos danos causados."

    Somando-se os valores do ISS (Imposto Sobre Serviços) sonegado (R$

    121.841,30 - cento e vinte e um mil, oitocentos e quarenta e um reais e trinta

    centavos) com os valores cobrados indevidamente dos usuários do transporte

    coletivo urbano (R$ 235.518,60 - duzentos e trinta e cinco mil, quinhentos e

    dezoito reais e sessenta centavos - trata-se de cálculo parcial, em virtude da

    falta de planilhas) e com os valores da propina que teria sido paga ao prefeito

    de Castro (R$ 642.857,00 - seiscentos e quarenta e dois mil, oitocentos e

    cinquenta e sete reais), temos importância total de R$ 1.000.216,90 (um

    milhão, duzentos e dezesseis reais e noventa centavos), que sujeita os

    infratores à perda dos valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio (incisos I e

    II do artigo 12 da Lei 8.429/92), ressarcimento integral do dano (incisos I e II do

    mesmo artigo), pagamento de multa civil de até três vezes do valor do

    acrescimento patrimonial (inciso I do art. 12 da Lei 8.429/92 ) ou de até duas

    vezes do valor do dano (inciso II do mesmo artigo).

  • - 35 -

    Assim, deve ser decretada a indisponibilidade dos seguintes bens dos

    infratores:

    a) matrícula imobiliária n. 15.721 (fls. 1.202 - bem de propriedade do réu

    Moacyr Elias Fadel Junior);

    b) matrículas imobiliárias n. 14.879 e 18.646 (fls. 1204 e 1206 - bens de

    propriedade da ré Viação Cidade de Castro Ltda.);

    c) matrícula imobiliária n. 19.957 (fls. 1.205 - bem de propriedade da ré

    Viação Santana Iapó);

    d) ônibus com os RENAVAM's n. 32.548194-6, n. 32.700922-5, n.

    32.715098-0, n. 32.700559-9, n. 32.687721-5, n. 32.699977-9, n. 32.714834-9,

    n. 32.698378-3, n. 32.700732-0 e n. 32.698177-2 (fls. 691/693 - bens de

    propriedade da ré Viação Santana do Iapó Ltda) e;

    e) ônibus com os RENAVAM'S n. 93.887810-7, n. 97.321092-3, n.

    25.957863-0, n. 25.957873-8, n. 25.957874-6, n. 25.957503-8, n. 25.957882-7,

    n. 25.957878-9, n. 25.957128-8 e n. 25.957868-1 (fls. 703/707, bens de

    propriedade da ré Viação Cidade de Castro Ltda).

    6. DA PROIBIÇÃO DE CONTRATAR COM O PODER PÚBLICO

    Outro ponto a ser enfrentado, por fundamental à garantia do patrimônio

    público - aqui tratada em termos de tutela de urgência - é o afastamento da

    possibilidade de empresas de propriedade dos réus Marcelo Jorge Fadel, Mario

  • - 36 -

    Jorge Fadel, Nilson Medeiros de Mello e Vani de Quadros Fadel (excetuada a

    empresa Viação Cidade de Castro - pois pedido a respeito de tal empresa foi

    deduzido em ação própria), participar de nova licitação para a prestação do

    serviço público de transporte urbano no município de Castro.

    Tais réus concorreram para os ilícitos acima descritos, razão pela qual

    desnecessário argumentar novamente sobre as razões do afastamento dos

    mesmos, no que diz respeito à prestação do serviço público de transporte

    urbano neste município de Castro.

    A sanção ora pretendida poderia ser aplicada administrativamente pelo

    Secretário Municipal competente - vide artigo 87, inciso IV, combinado com o

    seu parágrafo 3º, da Lei de Licitações, porém, considerando que tal

    administrador ocupa cargo de confiança do prefeito, o qual concorreu para os

    ilícitos acima descritos, entendemos que tal medida deve ser imposta por este

    r. juízo, com fundamento em seu poder geral de cautela.

    7. DOS PEDIDOS FINAIS

    1. liminarm ente , seja determinado o afastamento

    cautelar de Moacyr Elias Fadel Junior do cargo de prefeito, com fundamento

    nos argumentos expostos no 4º tópico desta inicial;

    2. liminarmente, seja decretada a indisponibilidade

    dos bens dos bens dos réus Moacyr Elias Fadel Junior, Viação Cidade de

    Castro Ltda. e Viação Santana do Iapó Ltda., com fundamento nos

    argumentos expostos no 5º tópico desta inicial;

  • - 37 -

    3. liminarmente , seja determinado o afastamento da

    possibilidade de empresas de propriedade dos réus Marcelo Jorge Fadel, Mario

    Jorge Fadel, Nilson Medeiros de Mello e Vani de Quadros Fadel (excetuada a

    empresa Viação Cidade de Castro - pois pedido a respeito de tal empresa foi

    deduzido em ação própria), participar de nova licitação para a prestação do

    serviço público de transporte urbano no município de Castro, com fundamento

    nos argumentos expostos no 6º tópico desta inicial.

    4. seja a presente ação autuada e em seguida

    ordenada a NOTIFICAÇÃO dos réus preambularmente qualificados e

    endereçados para, no prazo legal, querendo, oferecer sua manifestação por

    escrito a respeito dos fatos articulados na presente ação e, após o recebimento

    da inicial, sejam atendidos os pleitos abaixo especificados:

    5. a citação dos réus preambularmente qualificados

    e endereçados, para, querendo, contestar os termos da presente, sob pena de

    revelia. Quanto ao Município de Castro/PR, deverá ser ressaltado que o

    mesmo poderá contestar, abster-se de contestar, bem como atuar ao lado do

    Ministério Público, conforme artigo 17, § 3º, da Lei 8.429/1992;

    6. a observância do art. 18 da Lei 7.347/85 e do art.

    27 do Código de Processo Civil, quanto aos atos processuais requeridos pelo

    Ministério Público;

    7. a produção de todos os tipos de provas em direito

    admitidas, documental e pericial, esta última, se necessária, bem como a

    juntada de documentos supervenientes, na medida do contraditório, e a ouvida

    das testemunhas Adolfo Rodrigues Neto e Fabiano Rodrigues;

  • - 38 -

    8. seja oficiado ao município de Castro para que

    remeta as planilhas que fundamentaram a fixação da tarifa de ônibus no

    município nos períodos "janeiro/04 a dezembro/04" e "março/09 e junho/11";

    9. seja oficiado à Receita Federal para que remeta

    cópia das seis últimas declarações de imposto de renda dos réus;

    10. seja oficiado aos cartórios de registro de imóvel

    de Arapoti, Tibagi, Siqueira Campos e Ponta Grossa para que informem sobre

    a existência de bens imóveis de propriedade de Moacyr Elias Fadel Junior,

    Viação Cidade de Castro Ltda. e Viação Santana Iapó Ltda, para fins de

    eventual complementação de pedido de indisponibilidade de bens;

    11. a intimação pessoal do Ministério Público para

    todos os atos e audiências a serem realizados no trâmite da presente ação;

    12. seja julgada procedente a presente AÇÃO CIVIL

    PÚBLICA, condenando-se Moacyr Elias Fadel Junior, Viação Cidade de

    Castro, Ltda., Nilson Medeiros de Mello, Marcelo Jo rge Fadel e Mario

    Jorge Fadel nas sanções do artigo 12, incisos I e II, da Lei de Improbidade

    administrativa e;

    13. seja julgada procedente a presente AÇÃO CIVIL

    PÚBLICA, condenando-se Lourival Leite de Carvalho Filho, Nelson

    Schmitke, Jucinei Ianke, Giovanni de Castro Zadra, Viação Santana Iapó

    Ltda. e Vani de Quadros Fadel, nas sanções do artigo 12, inciso II, da Lei de

    Improbidade administrativa;

  • - 39 -

    Dá-se à causa o valor de R$ 1.000.216,90 (um

    milhão, duzentos e dezesseis reais e noventa centavos).

    Termos em que, com os inclusos documentos, pede-

    se e espera deferimento.

    Castro, 06 de dezembro de 2011.

    PAULO CONFORTO

    PROMOTOR DE JUSTIÇA

    DOCUMENTOS ANEXOS:

    INQUÉRITO CIVIL PÚBLICO N° 031.11.60-6 (6 volumes, 1.290 folhas)