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3ª Promotoria de Justiça de Caldas Novas Gabinete do Promotor de Justiça

_________________________________________________________________________________EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUÍZ(A) DE DIREITO DA VARA DE FAZENDAS PÚBLICAS DA COMARCA DE CALDAS NOVAS/GO,

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por intermédio dos Promotores de Justiça que esta subscrevem, no exercício de suas atribuições legais e constitucionais, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 129, inciso III da Constituição Federal, 17 da Lei 8.429/92 e 25, inciso IV, alínea b, da Lei n.º 8.625/93, propor

MEDIDA CAUTELAR - PREPARATÓRIA DE AÇÃO

POR ATO DE IMPROBIDADE Av. C, s/n◦, Setor Itaguaí III, Caldas Novas (GO)

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ADMINISTRATIVA

em face de FRANÇOIS FÁBIO COSTA FARIA, brasileiro, divorciado, Diretor de Presídio/Agente de Segurança Prisional, portador do RG n◦ 3740480 DGPC/GO, filho de Dores Teodora Costa Faria e Francisco Vieira de Faria Filho, natural de Anápolis/GO, nascido aos 07 de maio de 1979, endereço Rua 25, Quadra F, Lote 04, Jardim Paraíso II, Bairro do Turista I, Caldas Novas/GO, telefones: (64) 3454-6699 ou 8425-4023, também podendo ser localizado nas dependências da Unidade Prisional de Caldas Novas/GO, em razão dos fatos e motivos a seguir expostos:

O Ministério Público do Estado de Goiás instaurou o Inquérito Civil Público n.º 05/2011 (que instrui a inicial), visando apurar irregularidades na administração da Unidade Prisional de Caldas Novas, bem como eventual violação dos direitos e garantias fundamentais da pessoa humana, por parte do Diretor do Presídio/Agente de Segurança Prisional/requerido.

Após regular instrução do inquérito civil público, com coleta de provas orais e documentais, restou demonstrada a prática de

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_________________________________________________________________________________atos de improbidade administrativa, os quais atentam contra os princípios da administração pública.

Senão vejamos:

1- DOS FATOS

1.a) Do desvio de produtos alimentícios da população carcerária

Constatou-se nas investigações, que o requerido apropriou-se de produtos alimentícios destinados a alimentação da população carcerária para servi-los em “festa” particular promovida pela direção do presídio local.

Com efeito, no ocaso do ano de 2010, e para comemorar o advento do ano de 2011, foi promovido, em clube da cidade, um lauto jantar, cujo cardápio trazia nada menos, que a carne pouco antes recebida no presídio local para sustentar a alimentação da população carcerária.

Não qualquer carne enviada pela administração pública estadual para a unidade prisional, o requerido apropriou-se apenas dos produtos de primeira qualidade. Vejamos o depoimento de Luiz Erlânio Pereira Nogueira:

“O declarante estava Av. C, s/n◦, Setor Itaguaí III, Caldas Novas (GO)

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trabalhando na cozinha do presídio. Informa que, os presos que prestavam serviços na cozinha foram levados para trabalharem em uma festa de confraternização dos agentes prisionais, seus familiares e convidados de outras unidades prisionais, ocorrida no mês de dezembro/2010. Informa que os presos foram levados para prepararem a alimentação e servirem aos convidados. Somente os que estavam no sistema extra-cela foram levados. Informa que a carne e a verdura servida na festa de confraternização citada foi fornecida pelo Estado de Goiás para alimentação dos presos. Os agentes prisionais obtiveram doação de outros alimentos, p.ex., leitoas, cabritos, frutas e bebidas. O declarante esclarece que recebeu, juntamente com Eduardo Monte, a carne e a verdura utilizada na festa quando chegaram na unidade prisional. O declarante é açougueiro, por isso foi o encarregado de cortar e preparar a carne servida na festa. Assim que o carregamento de carne chegou ao presídio, o diretor François determinou que o declarante efetuasse a separação de toda a



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carne de 1ª qualidade, para que esta fosse descongelada, cortada e preparada para a festa citada. E assim foi feito. Foram 60 (sessenta) quilos de carne (filé, contra-filé, alcatra e colchão mole) e aproximadamente 20 (vinte) quilos de carne de frango. A carne não foi totalmente consumida no decorrer da festa. Assim sendo, o diretor François anunciou que faria a doação para um asilo. O declarante não sabe se feita a doação anunciada, mas pode afirmar que a carne não retornou para o presídio local. Atualmente está sendo servida na unidade prisional uma alimentação consistente apenas de arroz, feijão, macarrão e soja. Carne não integra a dieta dos presos.”

Eduardo Luiz do Monte aduziu:

“(...)Informa que a alimentação é ruim. Esclarece que a carne de boa qualidade fornecida no presídio é servida nas festas patrocinadas pelos agentes prisionais. O declarante já foi em festas em que era servida carne do presídio. O declarante sabe disso, porque era o próprio declarante a pessoa



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responsável em receber o produto.”

Gilmar da Rocha Barbalho Júnior disse:

“(...) Soube da festa de final de ano dos agentes prisionais, ocorrida em um clube da cidade. Não sabe se a carne servida na festa era oriunda da dispensa do presídio. Sabe que vários presos foram levados para trabalharem na citada festa.”

Extrai-se das declarações acima, que o requerido se apropria indevidamente dos gêneros alimentícios originalmente destinados à população carcerária, bem como utiliza o trabalho indevido/irregular/gratuito dos presos da unidade prisional como garçons e cozinheiros para favorecer os interesses próprios, dos servidores públicos lotados no presídio e pessoas afins.

Além disso, com certa frequência são realizadas “churrascadas” no interior do presídio, participando destes eventos o requerido, os agentes carcerários e poucos presos previamente selecionados e privilegiados.

Eduardo Luiz do Monte disse:

“Esclarece que a carne de boa qualidade fornecida no presídio é servida nas festas



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patrocinadas pelos agentes prisionais.”

O requerido e seus subordinados agentes prisionais valem-se da função pública que exercem para efetuarem retiradas da dispensa da Unidade Prisional, de diversos alimentos(arroz, feijão, verduras e carnes), sendo que o diretor/réu colocou-os no interior de seu veículo, dando destino ignorado a comida que deveria ser servida aos presos(fls. 149/150).

Luiz Erlânio Pereira Nogueira disse:

“A carne não foi totalmente consumida no decorrer da festa. Assim sendo, o diretor François anunciou que faria a doação para um asilo. O declarante não sabe se feita a doação anunciada, mas pode afirmar que a carne não retornou para o presídio local. Atualmente está sendo servida na unidade prisional uma alimentação consistente apenas de arroz, feijão, macarrão e soja. Carne não integra a dieta dos presos. O diretor do presídio, determinada ocasião, determinou que uma cesta básica fosse retirada da dispensa, pois efetuaria a doação para um asilo. Em outra ocasião, duas caixas de carne



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tiveram o mesmo destino. Não sabe se os produtos foram efetivamente encaminhados para um asilo.”

Enquanto isto, a população carcerária sofre com a alimentação insuficiente e inadequada que é servida na unidade prisional, sendo que tal situação está gerando graves transtornos, inclusive, ao Juízo da Execução Penal de Caldas Novas, que no último dia 04 de maio de 2011 demonstrou sua preocupação em expediente enviado à 3ª Promotoria de Justiça de Caldas Novas, lavrado com base em expediente firmado pelo requerido informando que “teve conhecimento que os fornecedores de planificados (sic) (pães) e verdura (cenoura, beterraba, batata, jiló, quiabo, etc), suspenderam o fornecimento devido a falta de pagamento a aproximadamente a (sic) 8 meses (...)”.

O expediente é datado de 04 de maio de 2011. Porém, ouvido na 3ª Promotoria de Justiça de Caldas Novas em 09 de maio de 2011 (cinco dias depois), o requerido disse: “Informa que o fornecimento de alimentação no presídio está ocorrendo normalmente”.

O dolo para a prática de improbidade administrativa é explícito, e merece ser sancionado nos termos da lei.

1.b) Da violação de direitos dos presos

Os indivíduos que estão encarcerados na Unidade Prisional de Caldas Novas se encontram em situação de risco pelas



_________________________________________________________________________________atitudes arbitrárias do requerido.

Inicialmente, a população carcerária do presídio local não recebe a assistência médica adequada.

A presidente do Conselho da Comunidade de Caldas Novas Tânia Maria Magalhães aduziu:

“A declarante é Presidente do Conselho da Comunidade de Caldas Novas. A declarante diz que existe um verdadeiro descaso da administração do Centro de Reintegração Social do Município de Caldas Novas com relação a observância dos direitos fundamentais dos presos. A declarante tem recebido muitas reclamações dos presos atinentes aos encaminhamentos para tratamento de saúde. Vários presos noticiam que os agentes prisionais não comparecem na cela mesmo quando são chamados desesperadamente por aqueles que estão encarcerados. Alguns presos precisão de medicamentos e tratamentos específicos mais isso é postergado pela administração do presídio. Demoram a efetuar o encaminhamento.”



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Além disso, o requerido impede que medicamentos levados pelos familiares cheguem ao seu destinatário.

Neuzimar Alves Pereira disse:

“O declarante informa que é cunhado de Robson Correia da Silva, que ficou preso na Cadeia Pública no período compreendido entre os dias 06/05/2011 até 11/05/2011. Assim, no dia 10 (dez) de maio do corrente ano foi até a Unidade Prisional desta Comarca, por volta das 16:30 horas, para levar a seu cunhado 03 (três) cartelas do medicamento de uso controlado “PREDNISONA” 20 mg. NA ocasião foi atendido pelo o agente prisional que estava de plantão, não sabe precisar o nome do mesmo. Porém, ocorre que tais medicamentos não foram entregues ao destinatário. Na data de hoje Robson Correia da Silva foi solto e informou ao declarante não ter recebido os medicamento. Informa ainda, que por não serem remédios de uso controlado não pode ser adquiridos no momento, podendo ser comprado apenas mediante receita médica, motivo



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pelo qual se faz imprescindível rever tais medicamentos.”


“O declarante informa que os atendimentos médicos e os medicamentos dos presos não estão sendo fornecidos pela unidade prisional, dentro da rapidez exigida.

O tempo é o dos agentes prisionais. De acordo apenas com a vontade deles. Há um preso (Leandro Magno) na cela do declarante portador do vírus HIV, que, inobstante a necessidade de medicação diária, esta não está sendo fornecida todos os dias. Há três dias o preso em comento não recebe a sua medicação.”

E mais, a aplicação indiscriminada de sanções degradantes, de maneira sumária, é rotina no estabelecimento prisional em questão.

Luiz Erlânio Pereira Nogueira disse:

“As sanções são aplicadas sem propiciar a defesa dos presos. Existe uma ‘cela de castigo’. Na cela tem apenas as camas,



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sendo que os colchões devem ser levados pelos presos. A água do chuveiro existente na cela é fria. Não há direito de acesso a qualquer eletrodoméstico.”


“Duas semanas atrás, ante a interrupção no fornecimento de sua medicação, o declarante solicitou ao agente prisional que a providenciasse. O agente prisional Rodrigo ficou irritado e levou o declarante para o pátio da unidade prisional. Colocou o declarante sentado ao chão, algemado em uma grade por mais de uma hora, sob o sol a pino.”

Os abusos e omissões do requerido contaminaram seus subordinados, que passaram a adotar em seu comportamento funcional desvios equivalentes àqueles cometidos pelo chefe.

2- DO DIREITO

2.a) Da legitimidade do Ministério Público

A legitimidade ad causam do Ministério Público decorre de sua própria origem e tem como primeiro alicerce o próprio texto Constitucional que atribui à instituição o dever de



_________________________________________________________________________________proteção aos interesses difusos e coletivos, em sua concepção mais ampla.

O artigo 129, inciso III, da Constituição da República conferiu ao Ministério Público a função de promover ação civil pública para a proteção de interesses difusos e coletivos, como um dos instrumentos ensejadores da consecução das finalidades institucionais, isto é, a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (artigo 127, da CF).

A Lei nº 7.347/85, em seu artigo 1º, inciso IV prevê a possibilidade de propositura de ação civil pública para tutela de todo e qualquer interesse difuso ou coletivo, bem como a legitimidade do Ministério Público para seu ajuizamento no artigo 5º.

A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei nº 8.625/93), por outro lado, atribuiu ao Ministério Público a função de promover a ação civil pública destinada à proteção, prevenção e reparação dos danos causados a interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos.

Assim, na medida em que se discute na presente ação matéria que interessa a toda população carcerária, inegável a adequação do meio processual utilizado e a legitimidade ativa do Ministério Público.

2.b) Da Competência da Vara das Fazendas Públicas da Comarca de Caldas Novas.



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O Código de Organização Judiciária do Estado de Goiás determina que o Juízo competente para processar as causas em que o Estado de Goiás, suas autarquias, empresas públicas e fundações por ele mantidas, forem réus e neste sentido dita que:

Art. 30 - Compete ao Juiz de Direito:

I - Na Vara da Fazenda Pública Estadual:a) processar e julgar:1 - as causas em que o Estado de Goiás, suas autarquias, empresas públicas e fundações por ele mantidas, forem autores, réus, assistentes, intervenientes ou oponentes, e as que lhes forem conexas ou acessórias;

Está mais que provado nos autos que a conduta do requerido François Fábio Costa Faria consubstancia-se em GRAVE LESÃO moralidade administrativa e aos direitos humanos, o que deve ser corrigido pelo Poder Judiciário via da ação judicial cabível, cujo objeto deverá ser resguardado por meio da presente medida cautelar, por natureza acessória daquela.2.c) Do cabimento da medida cautelar

É evidenciado pela Lei de Improbidade Administrativa que o legislador procura responsabilizar os agentes públicos ou terceiros colhidos em práticas atentatórias à moralidade administrativa. Daí a natureza de suas sanções, que são eminentemente civis.



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Por outro lado, ainda se verifica todo o esforço do legislador no sentido de prevenir e reprimir os danos causados pela conduta do administrador ímprobo.

O art. 20, parágrafo único, da Lei 8.429/921 estabelece o afastamento do agente público quando a medida se fizer necessária à instrução processual, excepcionando o que dispõe o caput do mesmo dispositivo legal, que determina a perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos somente após o trânsito em julgado da sentença condenatória.

Assim, havendo indícios de que o agente público, seja qual cargo, emprego ou função que exerça na administração pública, ficando no cargo, poderá perturbar, de algum modo, a eficácia do processo, o afastamento liminar se impõe imediatamente, inexistindo poder discricionário da autoridade judiciária.

“A intenção do legislador, com essa disposição, é facultar medida acautelatória de afastamento do agente público do cargo ou função para manter, durante o transcorrer do processo, íntegra a situação existente quando da propositura da ação, resguardando, desse modo, os interesses públicos, que são superiores ao interesse

1 “Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória. Parágrafo Único: A autoridade judicial ou administrativa competente poderá determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução processual.”



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privado daquele que se encontra investido.”2

O legislador não fez distinção para o afastamento do agente público, permitindo o afastamento independente de ter-se dado a investidura por concurso público, por cargo de confiança, como no caso do requerido, ou se decorrente de eleição popular.

No presente caso, a inquietação do requerido em ameaçar os presos sob sua guarda para embaraçar a instrução do presente inquérito civil público é evidente, senão vejamos:

“O declarante está cumprindo pena no presídio de Caldas Novas. É o autor da carta encaminhada a Juíza da Execução Penal reclamando do tratamento dispensado pela direção do presídio à população carcerária. Antes de detalhar os fatos, faz questão de dizer que o conteúdo e a autoria da citada carta é do conhecimento do diretor do presídio François Fábio Costa Faria desde a última segunda-feira (09/05). Desde então, o declarante está sofrendo retaliações e ameaças por parte do citado diretor do presídio. Na presente data, antes de sair para depor na Promotoria de Justiça foi chamado pelo diretor do

2 Fábio Medina Osório - em Improbidade Administrativa, Editora Síntese. 1998. p. 242.



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presídio em sua sala. Na ocasião foram feitas ameaças, no sentido de que somente retornaria ao trabalho se tomasse ‘cuidado’ com o que dissesse ao Promotor de Justiça. O declarante estava trabalhando na cozinha, mas desde quinta-feira retornou para a cela. A pior cela do presídio. O diretor do presídio alegou que o declarante estava passando drogas e aparelhos celulares dentro do presídio. O diretor do presídio disse que ‘colocará isso tudo no papel’ para que o declarante perca direitos e benefícios previstos na LEP(...)” – Eduardo Luiz do Monte.

“(...)Informa que, no decorrer desta semana foi determinado o encaminhamento do declarante ao Fórum local. Ocorre que, antes de deixar a unidade prisional foi abordado pelo diretor François Fábio Costa Faria. O diretor disse ao declarante: “Toma cuidado com a língua, porque você tá falando coisa que não existe”. Não sabe sobre o que falava o diretor da unidade prisional. Acredita que se referia a uma declaração prestada pelo declarante ao Superintendente da Regional da SUSEPE. Naquela ocasião, o declarante informou que o



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agente prisional Adalberto da Silva Magalhães exigiu R$500,00 (quinhentos reais) para permitir que o declarante continuasse a realizar trabalhos extra-cela. O declarante não pagou, mas continuou trabalhando normalmente por 08 (oito) meses. O diretor do presídio determinou que o declarante fosse retirado do trabalho há dois meses atrás. O diretor do presídio alegou que o declarante bebeu, juntamente com outros presos, uma garrafa de vinho. Informa que a garrafa de vinho foi levada para a unidade pelo agente prisional Rodrigo Espindola. Os outros presos que ingeriram a bebida levada pelo agente prisional não sofreram qualquer sanção(...)” – Luiz Erlânio Pereira Nogueira.

E mais, o requerido não se preocupa com a veracidade das informações que presta ao Juízo da Execução Penal e ao Ministério Público, preocupando-se, apenas, manter o atual status do presídio, em que as informações necessárias aos demais atores da execução penal são sonegadas, fazendo com que todos exerçam suas atribuições receosos e inseguros.

Além das cautelares específicas, outras típicas do processo civil comum ou especial (tutela antecipada, arts. 273 e 460 do Código de Processo Civil; liminar ou cautelar



_________________________________________________________________________________específica da ação civil pública nos termos dos artigos 40, 12 e 21 da Lei Federal n◦ 7.347/85, com integração aos arts. 83 e 84 da Lei Federal n◦ 8.078/90) poderão ser utilizadas, sejam dependentes ou preparatórias.

O art. 798 do Código de Processo Civil que determina:

"Art. 798. Além dos procedimentos cautelares específicos, que este Código regula no Capítulo II deste Livro, poderá o juiz determinar as medidas provisórias que julgar adequadas, quando houver fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de difícil reparação."

No caso em questão, a necessidade de afastamento do requerido François Fábio Costa Faria, do cargo de Diretor Regional de Agência Prisional, se impõe, ainda, para resguardar o direito a vida e à saúde, da população carcerária de Caldas Novas/GO.

Ademais, revela-se que o requerido deve ficar afastado de qualquer atividade que se relacione com a administração pública, sob pena do objeto da ação principal (Ação de Improbidade Administrativa) se veja perdido definitivamente.

É evidente a presença do "fumus Av. C, s/n◦, Setor Itaguaí III, Caldas Novas (GO)

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_________________________________________________________________________________boni juris", um dos requisitos da tutela cautelar, que vem a ser a previsão mais do que razoável da existência do "bom direito", a respaldar a pretensão do requerente, notadamente o direito à vida e à saúde daqueles que estão encarcerados no Presídio local.

O "periculum in mora" está claro pelo irreparável prejuízo que poderão sofrer a população carcerária, sendo, indiretamente atingidos, a moralidade administrativa e a dignidade da justiça.

"São condições da ação cautelar o "fumus boni juris” e o “pericuium in mora" Há que se distinguir relativamente ao primeiro, o interesse no processo do interesse jurídico substancial, exigindo-se, que outra não é senão fumaça do direito, até porque se estaria eliminando a necessidade da ação principal se viável fosse o question merito do direito material já no âmbito estreito do processo cautelar se o autor reúne em si as condições ou requisitos da ação de mérito, ou, por outra, se é titular do direito de ação ou direito ao processo principal - que se tutela com a cautelar - preenche as condições e, assim, tem ela, a ação cautelar, possibilidade de vida, a tutela do direito material é espécie de exclusiva perquirição



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na ação principal. Já o "periculum in mora" se apura do estado do perigo no qual se encontra o direito principal, ou a perspectiva, ou mesma a certeza, de que a atuação normal do direito chegará tarde. Em outras palavras, é o risco de dano provável, fundado, o direito da parte. antes do julgamento da ação principal, isto é. enquanto se espera a entrega da tutela definitiva" (ac. Unân. da 4a câm. do TJBA de 7.12.88. na Apel. 474, Rel. Des. Paulo Furtado. Adcoas. 1989, no 123.181).

2.d) Do mérito

Prevê o artigo 37, § 4º, da Constituição Federal:

“Art. 37. A administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade e moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:(...)§ 4º. Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos,



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a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.”

Regulamentando tais dispositivos constitucionais, temos a Lei Federal nº 8.429/92 que descreve as infrações contra a probidade administrativa e explicita as respectivas sanções a serem aplicadas quando da prática daqueles atos ilícitos por qualquer agente público ou terceiro que deles se beneficie.

Para os fins da lei, considera-se agente público todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outro vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em qualquer entidade pública ou mesmo privada, desde que nesta última hipótese o Estado concorra com mais da metade de seu patrimônio (art. 2º). Nesse conceito (de sujeito ativo da infração) está inserido o réu que, exerce o cargo de diretor do presídio local, bem como dos seus subordinados agentes prisionais, que no decorrer da instrução restarem eventualmente identificados.

No pólo oposto, ou seja, como sujeitos passivos dos atos de improbidade administrativa temos a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Territórios, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de



_________________________________________________________________________________entidades para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual (art. 1º).

Pois bem, tendo o réu realizado os atos de improbidade indicados, no exercício do cargo de diretor da unidade prisional de Caldas Novas, incidiu, por conseguinte, no que for cabível, na prática das infrações tipificadas no art. 9, caput e incisos IV e XI, art. 10 caput e incisos I e III e artigo 11, caput e inciso I, da Lei n.º 8.429/92. Senão vejamos:

“Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente:(...) IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidores públicos, empregados ou terceiros contratados por essas entidades;



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(...) XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei;”

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente: I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;(...)III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que de fins educativos ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância



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das formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie”;

E ainda:

“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:

I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto na regra de competência;

II – retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício”;

Nessa vertente e observado o

vínculo com tais infrações, tem-se que o réu está incurso nas sanções elencadas no artigo 12, incisos II e III, presentes no mesmo texto legal:

“Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas, previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações:



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I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;

II - na hipótese do art. 10º, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento da multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo



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prazo de 5 (cinco)anos.

III - na hipótese do art. 11º, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 3 (três) a 5 (cinco) anos, pagamento de multa civil de até 100 (cem) vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 3 (três) anos.”

Aqui, importante é frisar, que o reconhecimento dos itens mais graves prejudicará o reconhecimento dos posteriores menos graves.

Na verdade, o réu, como chefe da unidade prisional, deveria ser o primeiro a dar exemplos de legalidade, moralidade, trato impessoal da coisa pública e lealdade à entidade que conduzem. Todavia, ao invés, incidiu em sérios desvios de condutas, sem qualquer interesse público ou causa justa, praticando diversos atos contrários aos princípios administrativos Constitucionais.

Sobre o tema, vale trazer à baila a jurisprudência do órgão de cúpula do poder judiciário goiano sobre o tema:



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TJGO - “Apelação cível. Ação civil pública por ato de improbidade administrativa. Lei 8.429/92. conduta dolosa verificada. (…). 1. Para caracterização do ato ímprobo, previsto no art. 9º, IV, e 11, caput, e inciso I, da Lei n. 8.429/92, é necessária a configuração de um vínculo subjetivo unindo o agente ao resultado pretendido. Ou seja, um desvio de conduta ética, uma transgressão consciente de um dever jurídico, resultante, na espécie, de uma conduta omissiva, contrária aos princípios da Administração Pública; 2. (…); 3. (…). (A.C. n.º 233593-61.1999.8.09.0158 - 5ª Câmara Cível. Rel. Des. Geraldo Gonçalves da Costa. DJ 816, de 11/05/2011).As condutas praticadas pelo

requerido demonstram que, além das improbidades administrativas, ele agiu em desconformidade com a Lei Estadual n.º 10.460/88, especificamente incidiu na prática prevista no artigo 304.

O referido dispositivo legal, elenca uma série de condutas que constituem transgressões disciplinares, quanto aos funcionários ocupantes de cargo inerentes às funções de segurança prisional.

Dentre as condutas Av. C, s/n◦, Setor Itaguaí III, Caldas Novas (GO)

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_________________________________________________________________________________taxativamente expressas no referido artigo, constata-se que o requerido praticou aquelas descritas nos incisos XVIII, XXI, XXXVII.

Restou demonstrado que o requerido maltrata presos sob sua guarda, no exercício da função de segurança prisional(inc. XVIII); prevalece-se, abusivamente da condição de funcionário da administração penitenciária(inc. XXI); omite-se no zelo da integridade física e/ou moral dos presos sob sua guarda.

O requerido tem ciência de suas obrigações, porém não as cumpre, demonstrando menosprezo com sua função e causando prejuízo a terceiros.

Debatendo a questão, o professor Waldo Fazzio Júnior preleciona:

“O advérbio indevidamente é elemento normativo indiciário de consciência da ilegalidade da conduta. O agente público conhece seu dever administrativo, mas não o cumpre. Sabe que ao retardar ou não praticar ato de oficio, invade o território da ilegalidade.

Portanto, se o agente público, desprezando os deveres ratione officii, sobretudo o de efetivar os atos oficiais, sem qualquer motivo escusável, protela-os, ou, o que é pior, não os pratica,



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ainda que não mire qualquer vantagem ou interesse, está cometendo esta espécie de ato de improbidade”3

3- DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer o Ministério Público:

3.a) seja autuada a presente ação, com o Inquérito Civil Público n.º 05/2011 e documentos que o instruem, bem como o recebimento da presente ação;

3.b) seja afastado liminarmente (inaudita altera pars) o requerido François Fábio Costa Faria, do cargo que ocupa como Diretor da Unidade Prisional de Caldas Novas, na forma do art. 798, do Código de Processo Civil;

3.c) seja determinada a abertura de procedimento investigatório de amplo espectro junto à Superintendência do Sistema de Execução Penal - SUSEPE, com o fim de apurar a conduta de todos os agentes públicos lotados na unidade prisional de Caldas Novas,em especial os servidores públicos Adalberto da Silva Magalhães e Rodrigo Espíndola;

3.d) seja o requerido citado para, querendo, ofertar contestação no prazo legal, sob pena de revelia;

3.e) seja o Estado de Goiás cientificado da presente ação para, caso queira, integrar o pólo ativo da demanda, conforme artigo 3 Atos de Improbidade Administrativa, Editora Atlas, 2ª edição, 2008, pág. 185



_________________________________________________________________________________17, § 3º da Lei 8.429/92;

3.f) seja determinado o afastamento do Diretor da Unidade Prisional François Fábio Costa Faria até julgamento final da ação por improbidade administrativa que será intentada nos 30 (trinta) dias que se seguirem à efetivação da medida.

Requer que, com ou sem manifestação do requerido, seja a presente medida cautelar julgada procedente.

Protesta por provar o alegado por todos os meios em direito permitidos.

Dá-se o valor da causa o valor de R$ 545,00 (quinhentos e quarenta e cinco reais).

Requer deferimento,

Caldas Novas, 20 de maio de 2011.

Publius Lentulus Alves da RochaPromotor de Justiça

3ª Promotoria de Justiça de Caldas Novas

Giordane Alves NavesPromotor de Justiça

4◦ Promotoria de Justiça de Caldas Novas


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