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ESTADO DO PARÁ MINISTÉRIO PÚBLICO PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ITAITUBA Página 1 de 22 Maurim Lameira Vergolino Promotor de Justiça Substituto EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUÍZ(A) FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE ITAITUBA/PA O membro do MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL em exercício no 2º cargo da Promotoria de Itaituba, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, vem, respeitosamente perante Vossa Excelência, com fulcro no Art. 129, III, da CRFB e Art. 5º, I, da Lei nº 7.347/1985, propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER com preceito cominatório e pedido de antecipação de tutela C/C CONDENAÇÃO A INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS para defesa do patrimônio ambiental artificial, do patrimônio público do Estado do Pará, do consumidor e de outros direitos difusos Em desfavor da UNIÃO, pessoa jurídica de direito público interno, representada pela Advocacia-Geral da União, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 26.994.558/0001-23, com Procuradoria Seccional em Santarém/PA na Travessa Moraes Sarmento, 480, bairro Santa Clara, Santarém/PA CEP: 68005-360; e do DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES DNIT, pessoa jurídica de direito público submetido ao regime de autarquia, CNPJ/MF nº 04.892.707/0001-00, com superintendência e Procuradoria na Rodovia BR 316, km 0 s/n Castanheira CEP: 66.645-000 Belém/PA, pelas seguintes razões de fato e de direito.

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Maurim Lameira Vergolino Promotor de Justiça Substituto

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUÍZ(A) FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE ITAITUBA/PA

O membro do MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL em exercício no 2º cargo da Promotoria de Itaituba, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, vem, respeitosamente perante Vossa Excelência, com fulcro no Art. 129, III, da CRFB e Art. 5º, I, da Lei nº 7.347/1985, propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER

com preceito cominatório e pedido de antecipação de tutela C/C CONDENAÇÃO A INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS

para defesa do patrimônio ambiental artificial, do patrimônio público do Estado do Pará, do consumidor e de outros direitos difusos

Em desfavor da UNIÃO, pessoa jurídica de direito público interno, representada

pela Advocacia-Geral da União, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 26.994.558/0001-23, com Procuradoria Seccional em Santarém/PA na Travessa Moraes Sarmento, 480, bairro Santa Clara, Santarém/PA – CEP: 68005-360; e do DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES – DNIT, pessoa jurídica de direito público submetido ao regime de autarquia, CNPJ/MF nº 04.892.707/0001-00, com superintendência e Procuradoria na Rodovia BR 316, km 0 s/n – Castanheira – CEP: 66.645-000 – Belém/PA, pelas seguintes razões de fato e de direito.

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1. PRELIMINARMENTE.

1.1. Da legitimidade do Ministério Público Estadual para atuar perante a justiça federal.

A presente ação visa defender os direitos dos cidadãos de Itaituba à livre

locomoção, à segurança pública, ao meio ambiente urbano equilibrado, à proteção do consumidor, bem como prevenir danos ao Patrimônio Público do Estado do Pará empregados na Superintendência Regional do Tapajós da Polícia Civil, no 7º Grupamento Bombeiro Militar (7º GBM) e no 15º Batalhão da Policia Militar (15º BPM), diante da omissão ilegal dos requeridos quanto à conservação e recuperação dos 8 Km de trecho urbano da Rodovia Transamazônica (BR-230), nesta cidade.

Portanto, os interesses difusos sendo defendidos são de âmbito estritamente

local, o que evidencia a atribuição do Ministério Público Estadual, pela Promotoria de Justiça de Itaituba, conferida pelo Art. 129, III da CRFB e Art. 5º, I, da Lei nº 7.347/1985.

Entretanto, aos juízes federais compete processar e julgar as causas em que a

União figurar como ré, nos termos do Art. 109, I, da Lei Maior. Logo, o Ministério Público Estadual tem atribuição e a competência é da Justiça Federal.

O Art. 5º, § 5º, da Lei nº 7.347/1985, admite “litisconsórcio facultativo entre os

Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta lei”. Se o Ministério Público do Estado do Pará pode ser litisconsorte, é porque pode ser parte individualmente.

ÉDIS MILARÉ (Direito do Ambiente, 6.ed.rev.,atual.ampl.-São Paulo: Editora

Revista dos Tribunais, 2009, pg. 1083) defende esse entendimento:

O Ministério Público, como instituição nacional una e indivisível, tem legitimidade ativa para ajuizar as ações pertinentes ao acautelamento dos direitos e interesses relacionados com o meio ambiente, independentemente de sua atuação na União ou nos Estados. Daí a expressa previsão legal do litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União e dos Estados. Que dizer, o Ministério Público Estadual pode demandar na Justiça Federal, facultado igual iniciativa ao Ministério Público Federal para a propositura de ação civil pública na Justiça Estadual. De fato como bem assinala Kazuo Watanabe, „desde que a defesa dos interesses e direitos difusos e coletivos esteja dentro das atribuições que a lei confere ao um órgão do Ministério Público, a este é dado atuar em qualquer das justiças, até mesmo em atuação conjunta com outro órgão do Ministério Público igualmente contemplado com a mesma atribuição. A alusão ao litisconsórcio é feita,

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precisamente, para consagra a possibilidade dessa atuação conjunta, com o que evitarão discussões doutrinárias estéreis a respeito do tema e, mais do isso, um inútil e absurdo conflito de atribuições, o que não raro revela muito mais uma disputa de vaidades do que defesa efetiva da atribuição privativa de um órgão do Ministério Público‟.

Não existe nenhuma razão lógica ou jurídica para que o Ministério Público Estadual

não possa, individualmente, defender interesse difuso de âmbito estritamente local em desfavor da União, autarquias e empresas públicas federais, perante a Justiça Federal. O entendimento contrário cassa a autonomia dos Ministérios Públicos estaduais e restringe a defesa de direitos sociais de âmbito local, que estariam na dependência do Ministério Público Federal, mesmo quando este não se faça presente na Comarca.

Em respeito à autonomia dos Ministérios Públicos estaduais, o Plenário do

Supremo Tribunal Federal – STF, na QO no RE 593.727/MG, Rel. Min. Cezar Peluso, 21.6.2012, proclamou a legitimidade do Ministério Público Estadual para atuar diretamente no âmbito da Corte Constitucional nos processos em que figurar como parte. Recentemente, no julgamento do EDcl no AgRg no AgRg no AREsp 194892/RJ o colendo Superior Tribunal de Justiça acompanhou a evolução jurisprudencial, admitindo que os Ministérios Públicos dos Estados, nos casos em que figurarem como parte, exerçam todos os meios inerentes à defesa da sua pretensão, nos processos que tramitam naquela Corte:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. ATUAÇÃO COMO PARTE NO ÂMBITO DO STJ. POSSIBILIDADE. NOVO ENTENDIMENTO FIRMADO PELO PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (QO NO RE 593.727/MG, REL. MIN. CEZAR PELUSO, 21.6.2012). VÍCIOS DO ART. 535 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. EFEITOS INFRINGENTES. INVIABILIDADE. PREQUESTIONAMENTO DE DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. INADEQUAÇÃO. PRECEDENTES DO STJ. REJEIÇÃO DOS EMBARGOS DECLARATÓRIOS. 1. Sustenta o embargante, em síntese, que "os equívocos do julgado relacionam-se a (1) falta de competência para processar e julgar as arguições de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, essa atribuída à Corte Especial; (2) negar vigência ao art. 128, § 1º, dentre outros indicados, da CF e aos dispositivos da Lei Orgânica do MPU, notadamente aos artigos 37, I, 47 § 1º e 66, compreendendo-se pela declaração implícita de inconstitucionalidade; (3) falta de competência para decidir sobre alteração do regimento interno, ao proclamar o MPE como parte legítima para atuar no STJ na qualidade de autor; (4) contradição e obscuridade do julgado ao vislumbrar o modo de atuação de custos legis e ter dado provimento a ambos os recursos; (5) o acórdão no seu dispositivo ou conclusão não consignar o conhecimento do agravo do MP/RJ" (fl. 4.881). Alega que a revisão da jurisprudência afrontou os princípios do devido processo legal, contraditório e o princípio da razoabilidade.

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Defende, ainda, a necessidade de prequestionamento dos arts. 1º, 3º, 5º, XXXV, XXXVII e LIII, 18, 105, 125, 127, I, 127, § 2º, 128, I e II, 128 §§ 1º, 3º e 5º, 129, II e 129, § 4º, da Constituição Federal. Requer o acolhimento dos embargos declaratórios, com efeitos infringentes, para sanar os defeitos apontados. 2. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, na QO no RE 593.727/MG, Rel. Min. Cezar Peluso, 21.6.2012, em inequívoca evolução jurisprudencial, proclamou a legitimidade do Ministério Público Estadual para atuar diretamente no âmbito da Corte Constitucional nos processos em que figurar como parte e estabeleceu, entre outras, as seguintes premissas (Informativo 671/STF): a) em matéria de regras gerais e diretrizes, o PGR poderia desempenhar no Supremo Tribunal Federal dois papéis simultâneos, o de fiscal da lei e o de parte; b) nas hipóteses que o Ministério Público da União (MPU) figurar como parte no processo, por qualquer dos seus ramos, somente o Procurador Geral da República (PGR) poderia oficiar perante o Supremo Tribunal Federal, o qual encarnaria os interesses confiados pela lei e pela constituição ao referido órgão; c) nos demais casos, o Ministério Público Federal exerceria, evidentemente, a função de fiscal da lei e, nessa última condição, a sua manifestação não poderia preexcluir a das partes, sob pena de ofensa ao contraditório; d) A Lei Complementar federal 75/93 somente teria incidência no âmbito do Ministério Público da União (MPU), sob pena de cassar-se a autonomia dos Ministérios Públicos estaduais que estariam na dependência, para promover e defender interesse em juízo, da aprovação do Ministério Público Federal; e) a Constituição Federal distinguiu "a Lei Orgânica do MPU (LC 75/93) - típica lei federal -, da Lei Orgânica Nacional (Lei 8.625/93), que se aplicaria em matéria de regras gerais e diretrizes, a todos os Ministérios Públicos estaduais"; f) a Resolução 469/2011 do Supremo Tribunal Federal determina a intimação pessoal do Ministério Público estadual nos processos em que figurar como parte; g) não existiria subordinação jurídico-institucional que submetesse o Ministério Público dos estados à chefia do Ministério Público da União (MPU), instituição que a Constituição teria definido como chefe o Procurador Geral da República (PGR); h) não são raras as hipóteses em que seriam possíveis situações processuais que estabelecessem posições antagônicas entre o Ministério Público da União e o Ministério Público estadual e, em diversos momentos, o parquet federal, por meio do Procurador Geral da República (PGR), teria se manifestado de maneira contrária ao recurso interposto pelo parquet estadual; i) a privação do titular do Parquet Estadual para figurar na causa e expor as razões de sua tese consubstanciaria exclusão de um dos sujeitos da relação processual; j) a tese firmada pelo Supremo Tribunal Federal "denotaria constructo que a própria práxis demonstrara necessário, uma vez que existiriam órgãos autônomos os quais traduziriam pretensões realmente independentes, de modo que poderia ocorrer eventual cúmulo de argumentos". 3. Importante consignar que, o próprio Ministério Público Federal, por meio da 2ª Câmara de Coordenação e Revisão, no processo nº 08100.004785/99-69, em voto do ex-Procurador Geral da República Claudio Fonteles, expressamente reconheceu a legitimidade do Ministério Público do Distrito Federal e dos Estados Membros "não só à titulação da provocação recursal das instâncias excepcionais - especial e extraordinária - , como à titulação dos

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recursos que signifiquem desdobramentos possíveis à definição da provocação originária", ressalvando aos Subprocuradores-Gerais da República a garantia de sempre atuar como custos legis no âmbito do Superior Tribunal de Justiça. 4. Portanto, diante das premissas estabelecidas, é possível estabelecer que: a) o Ministério Público dos Estados, somente nos casos em que figurar como parte nos processos que tramitam no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, poderá exercer todos os meios inerentes à defesa da sua pretensão (v.g. Interpor recursos, realizar sustentação oral e apresentar memoriais de julgamento); b) a função de fiscal da lei no âmbito deste Tribunal Superior, será exercida exclusivamente pelo Ministério Público Federal, por meio dos Subprocuradores-Gerais da República designados pelo Procurador-Geral da República. 5. O Poder Judiciário tem como uma de suas principais funções, a pacificação de conflitos. O reconhecimento da tese de legitimidade do Ministério Público estadual para atuar no âmbito do Superior Tribunal de Justiça não objetiva gerar confronto entre o Ministério Público Federal e Estadual, mas reconhecer a importância e imprescindibilidade de ambas as instituições no sistema judicial brasileiro e estabelecer os limites de atuação do Ministério Público brasileiro no âmbito das Cortes Superiores. Ademais, a plena atuação do Ministério Público estadual na defesa de seus interesses, trará mais vantagens à coletividade e aos direitos defendidos pela referida instituição. 6. A simples leitura da fundamentação do acórdão embargado permite afirmar que, em nenhum momento, foi declarada a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo e, consequentemente, eventual usurpação de competência atribuída à Corte Especial, tampouco desrespeito aos precedentes do referido órgão sobre o tema, em razão da inexistência de julgamento da questão após a recente modificação de entendimento firmado pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal (QO no RE 593.727/MG, Rel. Min. Cesar Peluso). 7. Igualmente, é manifesto que o julgado embargado não determinou a alteração do regimento interno deste Tribunal Superior, pois apenas reconheceu, no caso concreto, a legitimidade do Ministério Público Estadual para atuar como parte no Superior Tribunal de Justiça. Entretanto, por óbvio, não impede a efetiva modificação por meio da via adequada de revisão da norma interna. 8. Efetivamente, a Primeira Seção deste Tribunal Superior, ao julgar a controvérsia, não negou vigência a nenhuma norma constitucional ou infraconstitucional, mas interpretou a legislação pertinente e aplicou o novo entendimento jurisprudencial firmado pela Corte Constitucional. 9. Por outro lado, é evidente que o provimento do agravo regimental interposto pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro pressupõe o conhecimento do referido recurso, o que afasta a pertinência de discussão sobre a questão. Por fim, é indispensável consignar que o julgamento do acórdão embargado transcorreu na forma processual e regimental pertinente, com a intimação das partes interessadas e regular julgamento pelo órgão julgador. 10. A atribuição de efeitos infringentes, em sede de embargos de declaração, somente é admitida em casos excepcionais, os quais exigem, necessariamente, a ocorrência de qualquer dos vícios previstos no art. 535 do Código de Processo Civil. Hipótese não configurada nos autos.

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11. É pacífico o entendimento jurisprudencial no sentido de que o Superior Tribunal de Justiça não é competente para analisar, em sede de recurso especial, eventual violação de dispositivos constitucionais, nem sequer a título de prequestionamento. 12. Embargos de declaração rejeitados. (EDcl no AgRg no AgRg no AREsp 194892/RJ, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/06/2013, DJe 01/07/2013)

Como bem observa o julgado, não são raras as hipóteses de posições antagônicas

entre o Ministério Público da União e o Ministério Público Estadual e de pareceres contrários do parquet federal, por meio do Procurador Geral da República, a recurso interposto pelo parquet estadual. Fechar as portas da Justiça Federal para os Ministérios Públicos dos Estados causa indevido desequilíbrio no pacto federativo. Não se justifica que o Ministério Público Federal possa defender o patrimônio público e interesses difusos da União em desfavor de entes e agentes públicos estaduais e municipais, mas o Ministério Público do Estado não possa defender interesse difuso de âmbito estritamente local em desfavor da União, autarquias e empresas públicas federais, fazendo-o perante a Justiça Federal.

Por outro lado, a plena atuação do Ministério Público estadual traz mais vantagens

à coletividade e aos direitos defendidos pela instituição, motivo pelo qual deve ser reconhecida a sua legitimidade para propor a presente demanda, especialmente em razão do MPF ainda não ter se instalado em Itaituba.

1.2. Da legitimidade passiva ad causam da União e do DNIT A pretensão contida nesta ação é dirigida em desfavor do DNIT em razão desta

Autarquia ter a atribuição de administrar, diretamente ou por meio de convênios de delegação ou cooperação, os programas de operação, manutenção, conservação, restauração e reposição de rodovias federais, de acordo com o Art. 81, II, e Art. 82, IV, da Lei nº 10.233/2001.

Entretanto, a manutenção e a conservação das rodovias federais dependem dos

valores provenientes do Orçamento Anual da União, pelo que esta tem interesse jurídico na demanda, já que a sentença produz efeitos em sua esfera jurídica. A legitimidade passiva da União neste tipo de demanda já foi afirmada pelo Egrégio TRF da 1ª Região:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REPARAÇÃO DE RODOVIA FEDERAL. INTERESSES DIFUSOS. LETIGIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO E DO DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM RECONHECIDA. AUSÊNCIA DE OFENSA AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES. 1. Cuida-se, originariamente, de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público Federal contra a União e o DNIT, objetivando a restauração das rodovias federais que cortam o Estado de Goiás. 2. Não há que se falar em ilegitimidade passiva

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dos Apelantes, uma vez que a existência de interesse a amparar a presença da União e do DNIT no feito é evidente. Como bem colocado pelo Ministério Público Federal (fls. 840/845), a União detém a titularidade dominial quando se tratar de rodovias federais, tendo consequentemente interesse jurídico na demanda, pois a sentença produz efeitos em sua esfera jurídica. E ainda que a responsabilidade de conservação e de fiscalização seja exclusiva do DNIT, o art. 175 da CF/88 atribui ao poder público, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, a prestação dos serviços públicos. Além disso, a União aprova e concede verbas públicas para uso da referida Autarquia, que caracterizam o interesse e legitimidade passiva ad causam da Entidade Federativa na presente demanda. Nesse sentido é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, que por intermédio de sua Segunda Turma, assim já se expressou no RECURSO ESPECIAL - 959395 Relator(a) HERMAN BENJAMIN, DJE DATA 24/09/2010 - LEXSTJ VOL. 255, p. 132. 3. O Princípio da Separação dos Poderes não pode servir para fundamentar o esvaziamento da função judicial de controle da Administração Pública, sobretudo quando estiverem em jogo a vida e a segurança das pessoas. 4 - Manutenção da conclusão do juízo de origem que condenou os réus à realização de obras e serviços necessários à restauração dos trechos das rodovias indicadas a fls. 536/538, bem como a instalação dos postos de pesagem, em conformidade com as diretrizes definidas pelo Plano Diretor de Pesagem de Veículos em Rodovias Federais (fls. 540/574), com prazo de conclusão em vinte e quatro meses; determinar à União que inclua no orçamento dos exercícios financeiros seguintes montantes necessários à realização das obras e instalação dos equipamentos. 5 - Apelações improvidas. (AC 0005094-66.2002.4.01.3500 / GO, Rel. JUIZ FEDERAL GRIGÓRIO CARLOS DOS SANTOS, 4ª TURMA SUPLEMENTAR, e-DJF1 p.112 de 11/04/2012)

Como referido no julgado, o entendimento tem fundamento na jurisprudência do Colendo STJ:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REPARAÇÃO DE RODOVIA FEDERAL. INTERESSES DIFUSOS. OFENSA AO ART. 535 DO CPC. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. SÚMULA 284/STF. LETIGIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO RECONHECIDA. AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR NÃO CONFIGURADA. PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES. CONTINÊNCIA DE AÇÕES. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. 1. Cuida-se, originariamente, de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público Federal contra a União e o DNIT, objetivando a restauração das rodovias BR 158 e BR 377 – trecho compreendido entre o Município de Palmeira das Missões e Cruz Alta em direção a Ibirubá. 2. O Tribunal de origem concluiu pela procedência parcial da Ação, condenando os réus à realização das obras de restauração e conservação da pista de rolamento e acostamento das rodovias nos trechos indicados.

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3. A recorrente sustenta que o art. 535, II, do CPC foi violado, mas deixa de apontar, de forma clara, o vício em que teria incorrido o acórdão impugnado. Assevera apenas ter oposto Embargos de Declaração no Tribunal a quo, sem indicar as matérias sobre as quais deveria pronunciar-se a instância ordinária, nem demonstrar a relevância delas para o julgamento do feito. Aplicação da Súmula 284/STF. Precedentes do STJ. 4. A União tem legitimidade para integrar o pólo passivo da Ação Civil Pública originária – pois a manutenção e a conservação das rodovias federais dependem dos valores provenientes do seu Orçamento Anual –, bem como é parte diretamente responsável pela concretização das medidas requeridas. 5. As condições mínimas de segurança e trafegabilidade das rodovias são típicos interesses difusos. Há, portanto, interesse de agir da Procuradoria Geral da República na presente demanda, que cuida de estrada federal. 6. O Princípio da Separação dos Poderes não é mote – nem pode ser transformado em tal – para o esvaziamento da função judicial de controle da Administração Pública, sobretudo quando estiverem em jogo a vida e a segurança das pessoas. 7. Não é caso de continência de ações, uma vez que inexiste identidade entre os pedidos nas demandas indicadas como supostamente conexas. 8. É inadmissível Recurso Especial quanto a questão que, a despeito da oposição de Embargos Declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal de origem. Incidência da Súmula 211/STJ. 9. É defeso ao STJ analisar violação de dispositivo constitucional, por se tratar de competência reservada ao Supremo Tribunal Federal. 10. Recurso Especial parcialmente conhecido e não provido. (REsp 959395/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/04/2009, DJe 24/09/2010)

1.3. Da possibilidade de cumulação entre as obrigações de

recompor/restaurar/recuperar e a obrigação de indenizar A possibilidade de cumulação de obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar,

em ação civil pública, é questão pacífica no STJ:

PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER (REPARAÇÃO DA ÁREA DEGRADADA) E DE PAGAR QUANTIA CERTA (INDENIZAÇÃO). 1. Cuida-se, originariamente, de Ação Civil Pública Ambiental, em razão de o agravante ter, sem autorização da autoridade competente, extraído argila próximo a curso natural de água, em área de 750 m², no Município de Penha/SC. 2. A jurisprudência do STJ está firmada no sentido da viabilidade, no âmbito da Lei 7.347/85 e da Lei 6.938/81, de cumulação de obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar (REsp 1.145.083/MG, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 4.9.2012; REsp 1.178.294/MG, Rel. Ministro Mauro

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Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 10.9.2010; AgRg nos EDcl no Ag 1.156.486/PR, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma, DJe 27.4.2011; REsp 1.120.117/AC, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 19.11.2009; REsp 1.090.968/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 3.8.2010; REsp 605.323/MG, Rel. Ministro José Delgado, Rel. p/ Acórdão Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJ 17.10.2005; REsp 625.249/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJ 31.8.2006, entre outros). 3. Agravo Regimental não provido. (AgRg no AREsp 202.156/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/06/2013, DJe 01/08/2013) AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL. DANOS AMBIENTAIS. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. OBRIGAÇÕES DE RECOMPOR/RESTAURAR/REPARAR E OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR. CUMULAÇÃO. POSSIBILIDADE. 1. Trata-se, na origem, de ação civil pública ajuizada com o objetivo de condenar o recorrido a abster-se de intervir em área de especial proteção ambiental, a averbar a reserva legal, a recompô-la e a pagar uma indenização pecuniária. A instância ordinária entendeu que não é possível cumular as obrigações de recompor e de indenizar, uma vez que a perícia técnica entendeu que é possível recuperar in natura a área afetada. 2. Nas razões recursais, sustenta a parte recorrente ter havido violação aos arts. 2º, 4º e 14 da Lei n. 6.938/81 e 3º da Lei n. 7.347/85, ao argumento de que é cabível a cumulação entre condenação em obrigação de fazer ou não fazer e condenação de pagar para fins de completo retorno ao status quo ante tendo em conta a degradação ambiental. 3. É pacífico nesta Corte Superior o entendimento segundo o qual é possível a cumulação entre as obrigações de recompor/restaurar/recuperar as áreas afetadas por danos ambientais e a obrigação de indenizar em pecúnia. Precedentes. 4. Recurso especial provido. (REsp 1264250/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/11/2011, DJe 11/11/2011)

2. DOS FATOS Itaituba/PA é o principal município da microrregião composta por: Aveiro, Itaituba,

Jacareacanga, Novo Progresso, Rurópolis e Trairão. Sua importância para os demais municípios é sentida nas mais diversas áreas, como saúde, educação, segurança pública e etc. Exemplos dessa relevância estão nas obras de construção e instalação de um Hospital Regional; na instalação de um campus da Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA; na presença da Superintendência Regional do Tapajós da Polícia Civil, à qual estão vinculadas as Delegacias de Aveiro, Castelo dos Sonhos, Itaituba, Jacareacanga, Novo Progresso, Placas, Rurópolis e Trairão; na presença do Comando de Policiamento Regional X - CPR X; na recente instalação desta Subseção Judiciária Federal e etc. Futuramente, o Município receberá grandes investimentos, entre os quais se destacam o Complexo Hidrelétrico do Tapajós, composto por 5 usinas a serem construídas no Rio

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Tapajós, e o Porto de Miritituba. O IBGE estima a popoluação do Municipío em 2012 como sendo na ordem de 97.908 habitantes.

Apesar de toda a sua importância para a região, o Município se encontra em estado

de quase abandono pelo Poder Público Federal, situação que é sentida de forma mais dramática nas condições atuais do trecho urbano da Rodovia Transamazônica (BR-230), com uma extensão de 8 KM.

Como é notório nesta cidade e pode ser constado pelas imagens feitas durante

constatação realizada por este Promotor de Justiça no dia 21/08/2013, o trecho da Rodovia em questão se encontra sem condições mínimas de trafegabilidade e segurança. Não estamos falando de alguns ou de muitos buracos, mas sim de incontáveis crateras ao longo de 8 KM de trecho urbano que liga diversos bairros e onde estão localizados a Seccional Urbana de Polícia Civil, o 7º Grupamento Bombeiro Militar (7º GBM), o 15º Batalhão da Policia Militar (15º BPM), grandes supermercados e outros estabelecimentos comerciais e o acesso ao Aeroporto.

Desde o início do trecho da rodovia, a partir da rotatória localizada no Km 0, já se

observa as dificuldades para os veículos trafegarem devido aos constantes buracos (ver vídeo SN15001), levando os motoristas, muitas vezes, a invadirem as faixas de pedestres e também entrarem na contramão. Como medida paliativa, a Prefeitura Municipal removeu o asfalto no trecho da 6ª rua da cidade baixa até as proximidades da 5ª rua da cidade alta (vídeo SN5001), causando o levantamento de tamanha quantidade de poeira que é necessário molhar o trecho constantemente com carro pipa (videoSN56002 e video0014).

Um dos pontos mais críticos se encontra justamente em frente ao 15ª BPM e o 7º

GBM, no qual os veículos saem totalmente da rodovia se misturando com os transeuntes. Ali não se consegue mais distinguir o que é rodovia, acostamento e passeio público, pois os veículos precisam passar por todos os lugares possíveis devido às imensas crateras que existem em ambas as faixas da rodovia (SN5002).

Seguindo na Rodovia no sentido do Aeroporto, continuamos a trafegar em meio à

buraqueira e por diversas vezes observamos os veículos invadindo a faixa da contramão assim como os acostamentos (SN5002). Outro ponto crítico encontra-se em frente ao posto de gasolina Equador (SN50002), em que enormes buracos atrapalham a passagem dos veículos, que passaram a usar os acostamentos. Às proximidades ao posto Dado, no KM 03, presenciamos vários veículos trafegando por um desvio (vídeo 0010) improvisando onde deveria existir calçada para pedestres. Observamos crianças que estavam a caminho da escola de bicicletas passando nesse trecho (SN50002).

2.1. Dos danos ao direito de livre locomoção.

Como pode se constatar facilmente, muito mais do que meros transtornos, a

ausencia de conservação da rodovia e os inumeros e imensos buracos nela existentes,

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estão a ponto de inviabilizar a trafegabilidade de veículos. Em diversos pontos é impossivel passar dos 20 km/h e circular por todo o trecho significa assumir o risco de danificar o veículo e se envolver em acidentes, já que é preciso a todo tempo tomar a contra-mão e passar pelos acostamentos.

Os hábitos da população local tiveram de ser alterados. As pessoas não fazem

mais compras nos supermercados e lojas de sua preferencia, tendo abandonado aqueles que estão localizados na rodovia, assim como também, não frequentam mais balneários cujo o acesso se dá pela Transamazônica. Essa realidade vem causando prejuízos, revolta e protestos por parte de comerciantes e outros profissionais afetados, como taxistas, mototaxistas e etc.

Em relação a esses danos, os requeridos devem ser obrigados

recompor/restaurar/recuperar o trecho da rodovia objeto desta ação. 2.2. Dos danos à Segurança Pública. Em razão das incontáveis crateras, os condutores que circulam no trecho da

rodovia são obrigados a desviar bruscamente o tempo todo, tomando a contramão em alguns momentos, e em outros circulando pelos acostamentos e até por calçadas. Essa situação põe em risco a vida e a integridade física de condutores de veículos, ciclistas e pedestres. No trecho em que a cobertura asfaltica foi removida o perigo é ainda maior em razão da poeira. Constantes acidentes vem ocorrendo, muitos deles com vítimas fatais, conforme se verifica nas noticias dos blogs e jornais locais que seguem anexas.

Além disso, no trecho em questão estão localizados a Delegacia de Polícia o 7º

GBM e o 15º BPM. Todos esses órgãos necessitam deslocar com rapidez as suas viaturas para atender ocorrências graves e urgentes, o que é impossível nas condições atuais.

Também em relação a esses danos, os requeridos devem ser obrigados à

recomposição/restauração/recuperação. 2.3. Do perigo de danos ao Patrimônio Público do Estado do Pará.

Como dito no item anterior, as viaturas da Policia Civil, do 7º GBM e do 15º BPM

precisam transitar diariamente em meio a toda buraqueira, ocasionando, evidentemente, danos mecânicos aos veículos, além de sério risco daqueles se envolverem em acidentes.

Em relação a esses danos, a pretensão veiculada nesta ação é eminentemente de

prevenção, a qual será obtida com a recomposição/restauração/recuperação do trecho da rodovia.

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2.4. Dos danos materiais e morais coletivos em vista do Patrimônio Ambiental Artificial.

Sabemos que o direito ao meio ambiente equilibrado, que propicie a sadia

qualidade de vida não se refere apenas ao meio ambiente natural. Édis Milaré (op cit., pg. 282) nos ensina:

A conceituação de Meio Ambiente, como vista anteriormente, vai além dos constitutivos naturais dos espaços planetário e humano. Esses espaços trabalhados pela cultura (que é o produto mais significativo da nossa espécie) acumulam incontáveis artifícios do homo sapiens, que também compõe a sua ambiência resultante da „interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas‟, como ensina José Afonso da Silva. Explicitam-se, assim, os três aspectos do meio ambiente: o natural, o cultural e o artificial. São estes mesmos aspectos que determinam a caracterização do patrimônio ambiental, como sabemos. Ainda segundo o citado mestre, meio ambiente artificial é aquele „constituído pelo espaço urbano construído, consubstanciado no conjunto de edificações (espaço urbano fechado) e dos equipamentos públicos (ruas, praças, áreas verdes, espaços livres em geral: espaço urbano aberto).

Portanto, o trecho urbano da Transamazônica em Itaituba é patrimônio ambiental

artificial dos seus cidadãos, a ser defendido diante do descaso dos requeridos. Nas condições em que se encontra, ao contrário de garantir a sadia qualidade de vida o equipamento público em tela vem causando o inverso. A população sofre com a destruição de seu patrimônio e já chegou a interditar a rodovia protestando contra os buracos, a poeira e a lama. Em seus protestos, manifestantes exibiram cartazes contendo frases como: “Regredimos 30 anos. Bem vindo à Transpoeirão”.

É evidente que uma população que estava acostumada a se deslocar em uma

rodovia asfaltada, sofre danos morais ao ter que conviver diariamente com incontáveis buracos, lama, poeira acidentes e mortes.Além disso, a própria sensação de abandono pelo Poder Público Federal causa um terrível sofrimento psicológico aos munícipes. Os cidadãos itaitubenses ainda se vêem vítimas de chacotas e gracejos de pessoas que visitam a cidade e logo que saem do aeroporto local passam pela agora denominada “transpoeirão”.

Em relação aos danos materiais ao meio ambiente urbano, a pretensão também

é de recomposição/restauração/recuperação do trecho da rodovia. Entretanto, com relação ao danos moral coletivo a pretensão é de indenização em dinheiro, a ser revertido ao Fundo Estadual de Defesa dos Direitos Difusos – FEDDD, criado pela Lei Complementar Estadual Nº 23/1994, como determina o Art. 13 da Lei nº 7.347/1985.

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2.5. Dos danos materiais e morais aos consumidores de bens e serviços de transporte em Itaituba

A Lei nº 10.233/2001 estabelece, em seu Art. 11, que o gerenciamento da infra-

estrutura e a operação dos transportes aquaviário e terrestre tem por princípios gerais proteger os interesses dos usuários quanto à qualidade e oferta de serviços de transporte e dos consumidores finais quanto à incidência dos fretes nos preços dos produtos transportados.

É evidente e independe de prova a conclusão de que as atuais condições da

rodovia diminuem drasticamente a qualidade e a oferta de serviços de transporte e elevam os preços desses serviços e dos fretes, o que, por sua vez, eleva os preços dos produtos transportados. Assim, mês após mês cada consumidor de Itaituba sofre prejuízos materiais e morais, inclusive diante da diminuição do seu poder aquisitivo, com reflexos na própria qualidade de vida, especialmente para a população mais carente.

Portanto a omissão ilegal dos requeridos está causando danos aos direitos

difusos à qualidade e oferta de serviços de transporte e danos a direitos individuais homogêneos pela elevação dos gastos despendidos por cada consumidor com transporte e com a aquisição de bens, no último caso em razão da elevação do valor dos fretes e sua incidência nos preços dos produtos transportados.

Em relação aos danos aos direitos difusos, a pretensão desta ação também é de

indenização em dinheiro, a ser revertido ao FEDDD. No que tange aos direitos individuais homogêneos, a pretensão é de condenação genérica, fixando-se a responsabilidade dos réus pelos danos causados, para posterior liquidação e execução, nos termos do Art. 95 e seguintes do CDC.

3. DO DIREITO 3.1. Da possibilidade de intervenção do Poder Judiciário diante da omissão

ilegal dos réus Há limites para a discricionariedade administrativa, especialmente quando existe

dispositivo legal peremptório determinando a ação do Poder Público. A Lei nº 10.233/2001 determina em seu Art. 82, IV, ser atribuição do DNIT, em sua

esfera de atuação, administrar, diretamente ou por meio de convênios de delegação ou cooperação, os programas de manutenção, conservação, restauração e reposição de rodovias.

É evidente que essa atribuição não configura uma mera faculdade, mas sim um

poder-dever. Se o Poder Público insiste em desconsiderar a norma, fazendo dessa previsão letra morta, cabe controle e intervenção do Judiciário, uma vez que, nestes casos, deixa-se

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o critério da razoabilidade para adentrar-se a seara da arbitrariedade, fato que, em último grau, caracteriza a omissão como ilegal.

Revendo os atos administrativos no que tange aos princípios constitucionais, o

Excelso STF já fixou orientação, no tocante à possibilidade de tal controle pelo Poder Judiciário, quanto à escolha e à implementação das diversas políticas públicas. O assunto foi discutido em sede de Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, ADPF nº 45. Cite-se breve trecho:

Não obstante a formulação e a execução de políticas públicas dependam de opções políticas a cargo daqueles que, por delegação popular, receberam investidura em mandato eletivo, cumpri reconhecer que não se revela absoluta, nesse domínio, a liberdade de conformação do legislador, nem de atuação do Poder Executivo. É que, se tais Poderes do Estado agirem de modo irrazoável ou procederem com a clara intenção de neutralizar, comprometendo-a a eficácia dos direitos sociais, econômicos e culturais, afetando, como decorrência causal de uma injustificável inércia estatal ou de um abusivo comportamento governamental, aquele núcleo intangível, consubstanciador de um conjunto irredutível de condições mínimas necessárias a uma existência digna e essenciais à própria sobrevivência do individuo, ai, então, justificar-se-á, como precedentemente já enfatizado – e até mesmo por razões fundadas em um imperativo ético-jurídico –, a possibilidade de intervenção do Poder Judiciário, em ordem a viabilizar, a todos, o acesso aos bens cuja fruição lhes haja sido injustamente recusada pelo Estado.

No mesmo sentido, orienta o STJ, admitindo que a inércia do Administrador,

quando existia o dever de agir e a violação ao critério da razoabilidade também caracterização ilegalidade e a consequente possibilidade de controle do Poder Judiciário.

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. ENSINO SUPERIOR. PÓS-GRADUAÇÃO. RESIDÊNCIA MÉDICA. OFERECIMENTO DE ALOJAMENTO E ALIMENTAÇÃO PELO PODER PÚBLICO DURANTE O PERÍODO DA RESIDÊNCIA (AUXÍLIOS IN NATURA). LEI N. 6.932/81. DIREITO À TUTELA JURISDICIONAL QUE ENVOLVE A ADEQUAÇÃO DOS PROVIMENTOS JUDICIAIS. TUTELA ESPECÍFICA. IMPOSSIBILIDADE. ART. 461, § 1º, DO CPC. CONVERSÃO EM MEDIDA QUE GARANTA RESULTADO PRÁTICO EQUIVALENTE. AUXÍLIO EM PECÚNIA. 1. Trata-se de recurso especial em que se discute se a Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul tem o dever legal de oferecer alojamento e alimentação aos residentes de Medicina e, em não o fazendo, se é cabível a conversão da obrigação em pecúnia. 2. É a seguinte a redação do art. 4º, § 4º, da Lei n. 6.932/81: "As instituições de saúde responsáveis por programas de residência médica oferecerão aos residentes alimentação e moradia no decorrer do período de residência". 3. Há limites para a discricionariedade administrativa, especialmente quando o dispositivo legal é peremptório a respeito da obrigatoriedade no fornecimento de alojamento e alimentação.

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4. Se o Poder Público insiste em desconsiderar a norma, fazendo dessa previsão letra morta, caberá controle e intervenção do Judiciário, uma vez que, nestes casos, deixa-se o critério da razoabilidade para adentrar-se a seara da arbitrariedade, fato que, em último grau, caracteriza a omissão como ilegal. 5. A partir do momento em que opta pela inércia não autorizada legalmente, a Administração Pública se sujeita ao controle do Judiciário da mesma forma que estão sujeitas todas as demais omissões ilegais do Poder Público, tais como aquelas que dizem respeito à consecução de políticas públicas (v., p. ex., STF, AgR no RE 410.715/SP, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, DJU 3.2.2006). 6. É óbvio que o Judiciário não tem o condão de determinar que a Secretaria de Estado competente forneça pontualmente moradia e alimentação (i.e., de forçar que este órgão crie um mecanismo bastante para atender a um residente específico), pois isso seria contrariar uma premissa pragmática inafastável, qual seja, a de que o magistrado, no exercício de sua função, não possui condições para avaliar, no nível macro, as condições financeiro-econômicas de certo Estado-membro para viabilizar tal e qual política de assistência. 7. Contudo, a simples inexistência de previsão legal para conversão de auxílios que deveriam ser fornecidos in natura em pecúnia não é suficiente para obstaculizar o pleito recursal, pois é evidente que se insere dentro do direito constitucional individual à tutela jurisdicional (art. 5º, inc. XXXV, da Constituição da República vigente) a necessidade de que a prestação jurisdicional seja adequada. 8. É por isso que o Código de Processo Civil, em seu art. 461, § 1º, dispõe que, na impossibilidade de tutela específica, é dado ao Poder Judiciário determinar medidas que garantam um resultado prático equivalente - ou mesmo se que converta a obrigação em perdas e danos. 9. Na inicial, a recorrente pede que os magistrados fixem um percentual sobre a bolsa de estudos em substituição ao dever estatal de prestação de alojamento e alimentação. Nada obstante, esta instância especial não tem poderes para analisar questões fático-probatórias para auxiliar a fixação desses valores, sob pena de violação à Súmula n. 7 desta Corte Superior. 10. Recurso especial provido, determinando o retorno dos autos à origem a fim de que lá seja determinado um valor razoável que garanta um resultado prático equivalente ao que determina o art. 4º, § 4º, da Lei n. 6.932/81. (REsp 813408/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/06/2009, DJe 15/06/2009)

Tratando especificamente da restauração das rodovias federais, temos precedente do Egrégio TRF da 1ª Região:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REPARAÇÃO DE RODOVIA FEDERAL. INTERESSES DIFUSOS. LETIGIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO E DO DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM RECONHECIDA. AUSÊNCIA DE OFENSA AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES. 1. Cuida-se, originariamente, de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público Federal contra a União e o DNIT, objetivando a restauração das rodovias federais que cortam o Estado de Goiás. 2. Não há que se falar em ilegitimidade passiva dos Apelantes, uma vez

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que a existência de interesse a amparar a presença da União e do DNIT no feito é evidente. Como bem colocado pelo Ministério Público Federal (fls. 840/845), a União detém a titularidade dominial quando se tratar de rodovias federais, tendo consequentemente interesse jurídico na demanda, pois a sentença produz efeitos em sua esfera jurídica. E ainda que a responsabilidade de conservação e de fiscalização seja exclusiva do DNIT, o art. 175 da CF/88 atribui ao poder público, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, a prestação dos serviços públicos. Além disso, a União aprova e concede verbas públicas para uso da referida Autarquia, que caracterizam o interesse e legitimidade passiva ad causam da Entidade Federativa na presente demanda. Nesse sentido é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, que por intermédio de sua Segunda Turma, assim já se expressou no RECURSO ESPECIAL - 959395 Relator(a) HERMAN BENJAMIN, DJE DATA 24/09/2010 - LEXSTJ VOL. 255, p. 132. 3. O Princípio da Separação dos Poderes não pode servir para fundamentar o esvaziamento da função judicial de controle da Administração Pública, sobretudo quando estiverem em jogo a vida e a segurança das pessoas. 4 - Manutenção da conclusão do juízo de origem que condenou os réus à realização de obras e serviços necessários à restauração dos trechos das rodovias indicadas a fls. 536/538, bem como a instalação dos postos de pesagem, em conformidade com as diretrizes definidas pelo Plano Diretor de Pesagem de Veículos em Rodovias Federais (fls. 540/574), com prazo de conclusão em vinte e quatro meses; determinar à União que inclua no orçamento dos exercícios financeiros seguintes montantes necessários à realização das obras e instalação dos equipamentos. 5 - Apelações improvidas. (AC 0005094-66.2002.4.01.3500 / GO, Rel. JUIZ FEDERAL GRIGÓRIO CARLOS DOS SANTOS, 4ª TURMA SUPLEMENTAR, e-DJF1 p.112 de 11/04/2012)

Como referido no julgado, o entendimento tem fundamento na jurisprudência do Colendo STJ:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REPARAÇÃO DE RODOVIA FEDERAL. INTERESSES DIFUSOS. OFENSA AO ART. 535 DO CPC. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. SÚMULA 284/STF. LETIGIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO RECONHECIDA. AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR NÃO CONFIGURADA. PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES. CONTINÊNCIA DE AÇÕES. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. 1. Cuida-se, originariamente, de Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público Federal contra a União e o DNIT, objetivando a restauração das rodovias BR 158 e BR 377 – trecho compreendido entre o Município de Palmeira das Missões e Cruz Alta em direção a Ibirubá. 2. O Tribunal de origem concluiu pela procedência parcial da Ação, condenando os réus à realização das obras de restauração e conservação da pista de rolamento e acostamento das rodovias nos trechos indicados. 3. A recorrente sustenta que o art. 535, II, do CPC foi violado, mas deixa de apontar, de forma clara, o vício em que teria incorrido o acórdão impugnado. Assevera apenas ter oposto Embargos de Declaração no Tribunal a quo, sem

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indicar as matérias sobre as quais deveria pronunciar-se a instância ordinária, nem demonstrar a relevância delas para o julgamento do feito. Aplicação da Súmula 284/STF. Precedentes do STJ. 4. A União tem legitimidade para integrar o pólo passivo da Ação Civil Pública originária – pois a manutenção e a conservação das rodovias federais dependem dos valores provenientes do seu Orçamento Anual –, bem como é parte diretamente responsável pela concretização das medidas requeridas. 5. As condições mínimas de segurança e trafegabilidade das rodovias são típicos interesses difusos. Há, portanto, interesse de agir da Procuradoria Geral da República na presente demanda, que cuida de estrada federal. 6. O Princípio da Separação dos Poderes não é mote – nem pode ser transformado em tal – para o esvaziamento da função judicial de controle da Administração Pública, sobretudo quando estiverem em jogo a vida e a segurança das pessoas. 7. Não é caso de continência de ações, uma vez que inexiste identidade entre os pedidos nas demandas indicadas como supostamente conexas. 8. É inadmissível Recurso Especial quanto a questão que, a despeito da oposição de Embargos Declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal de origem. Incidência da Súmula 211/STJ. 9. É defeso ao STJ analisar violação de dispositivo constitucional, por se tratar de competência reservada ao Supremo Tribunal Federal. 10. Recurso Especial parcialmente conhecido e não provido. (REsp 959395/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/04/2009, DJe 24/09/2010)

3.2. Da proteção constitucional aos direitos violados

Conforme expusemos ao norte, a omissão ilegal dos requeridos quanto à conservação e recuperação da Rodovia Transamazônica vem atentando contra os direitos dos cidadãos à livre locomoção, à Segurança Pública, à proteção enquanto consumidores e ao meio ambiente equilibrado. Todos esses direitos são fundamentais e por isso estão assegurados pela nossa Lei Maior, senão vejamos:

Art. 5º (...) XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz (...); Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos (...); Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) V - defesa do consumidor; Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao

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Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.

Além disso, cabe ao Ministério Público do Estado do Pará adotar medidas para prevenir danos ao Patrimônio Público empregado na Superintendência Regional do Tapajós da Polícia Civil, no 7º Grupamento Bombeiro Militar (7º GBM) e no 15º Batalhão da Policia Militar (15º BPM), nos termos do Art. 129, III, da CRFB e Súmula 329 do STJ.

3.3. Da responsabilidade objetiva do Estado

É tema mais do que conhecido e por isso dispensa maiores comentários a

responsabilidade objetiva do Estado pelos danos causados por seus agentes, prevista no § 6º do Art. 37 da CRFB:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...) § 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Assim, não há que se perquirir quanto à culpa pelos danos que são objeto desta

ação, sendo suficiente a demonstração de que decorreram da omissão ilegal por parte dos requeridos.

3.4. Das reparações pretendidas nesta ação

O art. 3º da Lei nº 7.347/1985 dispõe que “a ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer”.

O Art. 11 da referida lei autoriza o juiz, na ação que tenha por objeto o cumprimento

de obrigação de fazer, a determinar o cumprimento da prestação da atividade devida. A tutela inibitória, também tem amparo legal nas disposições do artigo 461 do CPC e do artigo 84 do CDC. Essa tutela deve ser deferida na forma específica, sob o manto mandamental (ordem sob pena de multa) e executiva (determinação de que o fazer seja prestado por um terceiro às custas do réu).

Já o Art. 13 da Lei nº 7.347/1985determina que, havendo condenação em dinheiro,

a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público e

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representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados.

Para a reparação dos danos à livre locomoção, à segurança pública, e dos danos materiais ao meio ambiente urbano, bem como para a prevenção de danos ao patrimônio público empregado na Superintendência Regional do Tapajós da Polícia Civil, no 7º Grupamento Bombeiro Militar (7º GBM) e no 15º Batalhão da Policia Militar (15º BPM), a pretensão é de condenação dos requeridos à obrigação de fazer a restauração dos 8 Km de trecho urbano da Rodovia Transamazônica (BR-230), nesta cidade de Itaituba.

Já para a reparação dos danos morais coletivos decorrentes da ofensa ao

Patrimônio Ambiental Artificial, bem como para reparação dos danos difusos à qualidade e oferta de serviços de transporte, a pretensão é de indenização em dinheiro, a ser revertido ao Fundo Estadual de Defesa dos Direitos Difusos – FEDDD, criado pela Lei Complementar Estadual Nº 23/1994, como determina o Art. 13 da Lei nº 7.347/1985.

Entendo que para dar uma resposta econômica aos prolongados danos difusos

sofridos pelos cidadãos e consumidores de Itaituba, e dissuadir futuros comportamentos semelhantes dos réus, é suficiente e razoável o pagamento de R$ 100,00 (cem reais) por habitante, o que significa R$ 678,00 x 97.908 habitantes, totalizando R$ 66.381.624,00 (sessenta e seis milhoes trezentos e oitenta e um mil seiscentos e vinte e quatro reais).

Finalmente, para a reparação dos danos aos direitos individuais homogêneos

dos consumidores, decorrentes da elevação dos gastos com transporte e dos preços dos produtos em razão da incidência da elevação do valor dos fretes, a pretensão é de condenação genérica, fixando-se a responsabilidade dos réus pelos danos causados, para posterior liquidação e execução, nos termos do Art. 95 e seguintes do CDC.

3.5. Da necessidade de antecipação dos efeitos da tutela quanto ao

cumprimento da prestação da atividade devida

Não se pode deixar de detectar a presença indisfarçável dos pressupostos da tutela

de urgência. Resta configurado o FUMUS BONI IURIS em vista do imperativo da Lei nº

10.233/2001, a qual determina, em seu Art. 82, IV, que o DNIT, em sua esfera de atuação, administre, diretamente ou por meio de convênios de delegação ou cooperação, os programas de manutenção, conservação e restauração de rodovias.

Também se vê presente o PERICULUM IN MORA, diante dos constantes danos à

integridade física de pessoas e da perda de vidas humanas, nos freqüentes acidentes causados pelas condições da rodovia.

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O artigo 273 do CPC constitui contribuição essencial e qualitativa ao nosso direito

processual, admitindo a realização satisfativa do direito, possibilitando a efetividade da prestação jurisdicional. Presente prova inequívoca e suficiente a convencer o Juiz da verossimilhança do quanto alegado, a prestação jurisdicional poderá ser adiantada sempre que haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, ou, ainda, quando fique caracterizado abuso no direito de defesa.

Na Ação Civil Pública, a possibilidade de antecipação de tutela ganha relevo na

medida em que, este instrumento processual em geral tem por objeto a salvaguarda de interesses difusos e coletivos de destacada relevância, e in casu, a tutela de direitos fundamentais.

No caso posto sub judice, os requisitos exigidos pela lei processual para o

deferimento da tutela antecipada encontram-se presentes. No que concerne à verossimilhança da alegação, emerge inquestionável dos autos, conforme exaustivamente exposto acima, uma vez que os fatos afirmados são notórios nesta cidade e podem ser constatados com uma mera visita ao trecho da rodovia e até mesmo pelas notícias nos blogs e jornais locais. O descumprimento do direito é fato que está sobejamente comprovado, assim preenchendo o requisito da verossimilhança da alegação (artigo 273 do CPC). Por outro lado, é evidente o fundado receio de danos irreparáveis com a morte e a invalidez de pessoas em acidentes de trânsito.

São essas as razões que justificam a concessão do provimento antecipatório como

forma de impor ao demandado que adote as providências necessárias fixando-se, desde logo, o prazo de 10 (dez) dias para que dê início à restauração da rodovia ou celebre convênio delegando a atividade.

4. DOS PEDIDOS EM RAZÃO DE TODO O EXPOSTO, requer-se:

4.1. O recebimento e a autuação da presente petição e documentos

anexos, determinando o seu regular processamento;

4.2. A concessão de LIMINAR, nos termos do artigo 12 da Lei nº 7.347/1985, de natureza mandamental e vinculativa a fim de obrigar o DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES – DNIT e a UNIÃO a darem início à restauração dos 8 Km de trecho urbano da Rodovia Transamazônica (BR-230), nesta cidade de Itaituba, ou celebrarem convênio delegando essa atividade, no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de MULTA DIÁRIA de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) pelo descumprimento, a ser

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Maurim Lameira Vergolino Promotor de Justiça Substituto

recolhida ao Fundo Estadual de Defesa dos Direitos Difusos – FEDDD, criado pela Lei Complementar Estadual Nº 23/1994, como determina o Art. 13 da Lei nº 7.347/1985.

4.3. A posterior CITAÇÃO dos requeridos por suas procuradorias em Santarém/PA e Belém/PA, para, querendo, contestarem os pedidos desta ação, no prazo da lei, sob pena de confissão e revelia, nos termos do disposto no artigo 285 e artigo 319, todos do Código de Processo Civil;

4.4. No MÉRITO:

4.4.1. A procedência definitiva da pretensão relativa à restauração da rodovia, tornando definitiva a tutela antecipada, mediante a condenação dos requeridos a darem início à restauração dos 8 Km de trecho urbano da Rodovia Transamazônica (BR-230), nesta cidade de Itaituba, ou celebrarem convênio delegando essa atividade, no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de MULTA DIÁRIA de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) pelo descumprimento, a ser recolhida ao FEDDD;

4.4.2. A condenação dos réus ao pagamento de indenização no valor de R$ 66.381.624,00 (sessenta e seis milhoes trezentos e oitenta e um mil seiscentos e vinte e quatro reais), pelos danos morais coletivos decorrentes da ofensa ao Patrimônio Ambiental Artificial e da diminuição da qualidade e da oferta de serviços de transporte, valor a ser revertido ao FEDDD;

4.4.3. A condenação genérica, fixando-se a responsabilidade dos

réus pelos danos aos direitos individuais homogêneos dos consumidores, decorrentes da elevação dos gastos com transporte e dos preços dos produtos, em razão da incidência da elevação do valor dos fretes, para posterior liquidação e execução, nos termos do Art. 95 e seguintes do CDC.

Protesta por provar o alegado através da prova documental que segue com a

presente petição e pelos demais meios admitidos em direito, eventualmente necessários e por serem requeridos no momento processual adequado.

Dá-se à causa o valor de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais).

Itaituba, 22 de agosto de 2013.

ESTADO DO PARÁ

MINISTÉRIO PÚBLICO PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ITAITUBA

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Maurim Lameira Vergolino Promotor de Justiça Substituto

MAURIM LAMEIRA VERGOLINO Promotor de Justiça Substituto

em exercício no 2º cargo e JECrim de Itaituba