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9ª Promotoria de Justiça da Capital 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA _____ VARA DE FEITOS DAS FAZENDAS E REGISTROS PÚBLICOS DA COMARCA DE PALMAS, TO. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO TOCANTINS, através do Promotor de Justiça que esta subscreve, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 37, caput e § 4º, 127 e 129, inciso III, da Constituição da República, na Lei nº 8.429/92, no art. 25, inciso IV, alíneas “a” e “b”, da Lei n.º 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), na Lei n.º 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), no Código de Processo Civil e microssistema de tutela jurisdicional coletiva, formado pelas Leis 7.347/85 e 8.078/90, vem perante Vossa Excelência ajuizar a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA RESPONSABILIZAÇÃO POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA CUMULADA COM DECLARAÇÃO DE NULIDADE DE ATO ADMINISTRATIVO, COM PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA/EVIDÊNCIA, contra 1. CLEMENTE BARROS NETO, brasileiro, divorciado, atual Secretário de Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins, portador da Cédula de Identidade nº 53519-SSP/GO, inscrito no CPF sob o nº 030.338.991-53, residente à Quadra 604 Sul, Alameda 13, Lote 71, Palmas, TO, 2. JOSÉ HUMBERTO DE OLIVEIRA, brasileiro, divorciado, servidor público ocupante do cargo de Diretor de Administração da Secretaria de Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins, portador da Cédula de Identidade nº 1035630-SSP/TO, inscrito no CPF sob o nº 426.256.029-53, residente à Quadra 604 Sul, Alameda 10, Lote 29, Palmas, TO, 3. AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP, Pessoa Jurídica de Direito Privado, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 20.238.080/0001-25, com sede na Rua Osvaldo Goeldi nº 08, Jardim Três Marias, São Paulo, SP, representado por seu procurador Mário Tsuyoshi Sugimoto, estrangeiro, portador da Cédula de Identidade nº 10.130.694-SSP/SP, inscrito no CPF sob o nº 044.252.698-96, 4. V3 ESTRUTURAS ESPECIAIS LOCAÇÕES E EVENTOS EIRELI, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 03.736.076/0001-78 com sede à Quadra 1012 Sul, Alameda 09, Lote 11, Setor Industrial, Palmas, TO, representado por seu diretor, Sr. Daniel Correa Veloso, brasileiro, casado,

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Page 1: EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE … · interno, inscrito no CNPJ/MF ... conforme vem decidindo o STF1. 3. DA LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DO ESTADO DO ... AGRAVO

9ª Promotoria de Justiça da Capital 1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA _____ VARA DEFEITOS DAS FAZENDAS E REGISTROS PÚBLICOS DA COMARCA DEPALMAS, TO.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO TOCANTINS, atravésdo Promotor de Justiça que esta subscreve, no exercício de suas atribuiçõesconstitucionais e legais, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, comfundamento nos artigos 37, caput e § 4º, 127 e 129, inciso III, da Constituição daRepública, na Lei nº 8.429/92, no art. 25, inciso IV, alíneas “a” e “b”, da Lei n.º 8.625/93(Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), na Lei n.º 7.347/85 (Lei da Ação CivilPública), no Código de Processo Civil e microssistema de tutela jurisdicional coletiva,formado pelas Leis 7.347/85 e 8.078/90, vem perante Vossa Excelência ajuizar apresente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA RESPONSABILIZAÇÃO POR ATO DEIMPROBIDADE ADMINISTRATIVA CUMULADA COM DECLARAÇÃO DE

NULIDADE DE ATO ADMINISTRATIVO, COM PEDIDO DE TUTELAPROVISÓRIA DE URGÊNCIA/EVIDÊNCIA, contra

1. CLEMENTE BARROS NETO, brasileiro, divorciado, atualSecretário de Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins,portador da Cédula de Identidade nº 53519-SSP/GO, inscrito no CPF sob o nº030.338.991-53, residente à Quadra 604 Sul, Alameda 13, Lote 71, Palmas, TO,

2. JOSÉ HUMBERTO DE OLIVEIRA, brasileiro, divorciado, servidorpúblico ocupante do cargo de Diretor de Administração da Secretaria de Desenvolvimentoda Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins, portador da Cédula de Identidade nº1035630-SSP/TO, inscrito no CPF sob o nº 426.256.029-53, residente à Quadra 604 Sul,Alameda 10, Lote 29, Palmas, TO,

3. AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP, Pessoa Jurídica deDireito Privado, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 20.238.080/0001-25, com sede na RuaOsvaldo Goeldi nº 08, Jardim Três Marias, São Paulo, SP, representado por seuprocurador Mário Tsuyoshi Sugimoto, estrangeiro, portador da Cédula de Identidade nº10.130.694-SSP/SP, inscrito no CPF sob o nº 044.252.698-96,

4. V3 ESTRUTURAS ESPECIAIS – LOCAÇÕES E EVENTOSEIRELI, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob o nº03.736.076/0001-78 com sede à Quadra 1012 Sul, Alameda 09, Lote 11, Setor Industrial,Palmas, TO, representado por seu diretor, Sr. Daniel Correa Veloso, brasileiro, casado,

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empresário, portador do RG nº 8756838 SSP/MG, inscrito no CPF sob o nº 804.414.671-72 e

5. ESTADO DO TOCANTINS, pessoa jurídica de direito públicointerno, inscrito no CNPJ/MF sob o nº 01.786.029/0001-03, presentado em juízo, nostermos do art. 75, inciso II, do CPC, na pessoa do Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral, Dr. Sérgio Rodrigo do Vale, podendo ser localizado à Praça dos Girassóis,Esplanada das Secretarias, Marco Central, Palmas-TO, pelas razões de fato e de direito aseguir aduzidas.

1. DA SÚMULA DA AÇÃO

A presente ação civil pública para responsabilização pela prática de atosde improbidade administrativa, cumulada com declaração de nulidade de atoadministrativo, tem por escopo obter provimento jurisdicional, no seguinte sentido:

1 – Responsabilizar os agentes públicos e particulares que figuram no polopassivo da presente ação de improbidade administrativa, nas sanções do art. 12,II e III, da Lei Federal nº 8.429/92, pela prática de atos de improbidadeadministrativa tipificado no art. 10, caput, inciso XII e art. 11, caput e I, ambos daLei Federal nº 8.429/92, decorrentes da adesão ilegal à Ata de Registro de Preçosnº 01/2016, oriunda do Pregão Eletrônico nº 01/2016 – Processo nº23101.000059/2016-31, proveniente do Órgão Gerenciador denominadoFundação Universidade Federal do Tocantins – UFT, assim como asubcontratação ilícita do objeto integral do Contrato Administrativo dePrestação de Serviços nº 015/2017, celebrado pelo Estado do Tocantins,através da Secretaria do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária e aempresa AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP, no valor de R$ 6.572.920,25(seis milhões, quinhentos e setenta e dois mil, novecentos e vinte reais e vinte ecinco centavos);

2 – Declarar a nulidade/invalidação dos seguintes atos e contrato: i) despachoGASEC nº 081/2017, que autorizou a adesão à Ata de Registro de Preços nº01/2016, do Pregão Eletrônico nº 01/2016, decorrente do Processo nº23101.000059/2016-31, oriundo do Órgão Gerenciador denominado FundaçãoUniversidade Federal do Tocantins – UFT; ii) Contrato Administrativo dePrestação de Serviços nº 015/2017, celebrado pelo Estado do Tocantins,através da Secretaria do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária e aempresa denominada AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP, no valor de R$6.572.920,25 (seis milhões, quinhentos e setenta e dois mil, novecentos e vintereais e vinte e cinco centavos), por se revelarem nulo de pleno direito, emdecorrência de violação aos princípios da legalidade, economicidade evantajosidade, ocasionando lesão ao erário estadual.

2. DA LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A legitimidade ativa do Ministério Público para a defesa do patrimôniopúblico e social (seja na acepção material – ressarcimento dos prejuízos pecuniários aoerário, seja na acepção imaterial – ofensa aos princípios constitucionais da administração

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pública) e imposição de demais sanções previstas nas legislações aplicáveis à espécie,inclusive para promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção dopatrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos,como, in casu, que se pretende a responsabilização de agentes públicos e particularespor cometimento de ato de improbidade administrativa, além da impugnação de atos econtrato administrativo de prestação de serviços, maculado por vício insuscetível deconvalidação, se revela pacífica, conforme vem decidindo o STF1.

3. DA LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DO ESTADO DOTOCANTINS

3.1 – DA POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DE AÇÃO PARA RESPONSABILIZAÇÃOPOR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA COM DECLARAÇÃO DE NULIDADEDE ATO ADMINISTRATIVO – PRECEDENTES DOS TRIBUNAIS

Prefacialmente, insta salientar que o fato de o Estado do Tocantins,enquanto pessoa jurídica de direito público, não se sujeitar às sanções decorrentes docometimento de ato de improbidade administrativa, previstas na Lei Federal nº 8.429/92(ressarcimento integral do dano, perda da função pública, suspensão dos direitospolíticos, pagamento de multa, etc.) não induz, por si só, à ilação de que o EntePúblico seja parte ilegítima para responder a ação quando se tratar de ação comcumulação de pedidos.

Isso porque, no bojo dos pedidos constantes desta ação, consta adeclaração de nulidade/invalidação dos atos e Contrato Administrativo dePrestação de Serviços nº 015/2017, celebrado pelo Estado do Tocantins, medianteinterveniência da Secretaria do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária e a empresadenominada AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP, denotando ser plenamentepossível a cumulação de ação de improbidade administrativa com declaração denulidade/invalidação de ato administrativo, conforme vem decidindo os tribunaispátrios:

EMENTA – TJGO – AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ATODE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. LEGITIMIDADE DO MUNICÍPIO PARAFIGURAR NO POLO PASSIVO. Impõe-se a manutenção do Município no polopassivo pelo fato de que o julgamento de procedência da ação, nos termosrequeridos na inicial, implicará declaração de nulidade de atos da própriaAdministração Municipal e a obrigação de fazer consistente na anulação decontratos administrativos lastreados em licitação possivelmente fraudada.AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO. (TJGO, AGRAVO DEINSTRUMENTO 249936-28.2016.8.09.0000, Rel. DR(A). WILSON SAFATLEFAIAD, 6ª CÂMARA CÍVEL, julgado em 11/07/2017, DJe 2311 de 19/07/2017).

1O entendimento adotado no acórdão recorrido não diverge da jurisprudência firmada no âmbitodeste Supremo Tribunal Federal, no sentido da legitimidade do Ministério Público para propor açãocivil pública com o objetivo de defender o patrimônio público. Precedentes.... Agravo regimentalconhecido e não provido.(RE 642590 AgR, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em05/08/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-213 DIVULG 29-10-2014 PUBLIC 30-10-2014).

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Nessa esteira, torna-se inequívoco que o Estado do Tocantins podefigurar no polo passivo da demanda, haja vista que um dos pedidos da inicial é aanulação de atos e contrato administrativos em que ele figura como contratante.

3.2 – DA LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DOS AGENTES PÚBLICOS EPARTICULARES – ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Infere-se da intelecção da Lei Federal nº 8.429/92 que, o sujeito ativonas ações de improbidade administrativa é aquele que pratica ou concorre para aocorrência do ato de improbidade.

Segundo a Lei de Improbidade Administrativa, podem ser autores de atosímprobos; o agente público (art. 2º); ou terceiros (art. 3º). Vejamos o artigo segundo :“Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce, aindaque transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação,contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, empregoou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.

Nesse aspecto, considerando que os requeridos Clemente Barros Netoe José Humberto de Oliveira atuam como integrantes da estrutura administrativa daSecretaria de Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins,ocupando os cargos de Secretário de Estado e Diretor de Administração, os mesmos seenquadram como agentes públicos, sendo, por conseguinte, sujeitos ativos dosatos de improbidade administrativa sob persecução.

Por outro prisma, em relação às pessoas jurídicas de direito privado queforam arroladas ao polo passivo desta ação (AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP eV3 ESTRUTURAS ESPECIAIS – LOCAÇÕES E EVENTOS EIRELI), cabe salientar, queo Superior Tribunal de Justiça, já sedimentou o entendimento sobre a legitimidadepassiva para fins de responsabilização por ato de improbidade administrativa, o que seaplica ao caso vertente. Confira-se:

EMENTA – STJ - PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSOESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE. VIOLAÇÃO AOARTIGO 535 DO CPC INOCORRENTE. PESSOA JURÍDICA DE DIREITOPRIVADO. LEGITIMIDADE PASSIVA.2. Considerando que as pessoas jurídicas podem ser beneficiadas econdenadas por atos ímprobos, é de se concluir que, de forma correlata,podem figurar no polo passivo de uma demanda de improbidade, ainda quedesacompanhada de seus sócios. 3. Recurso especial não provido. (REsp970.393/CE, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgadoem 21/06/2012, DJe 29/06/2012). Grifos nossos.

Logo, suas condutas são responsabilizáveis pela Lei Federal nº 8.429/92em razão de, mesmo não sendo agente público, terem se beneficiados diretamente pelaprática do ato de improbidade administrativa, concorrendo para o seu cometimento2

2Lei 8.429/92, Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo

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Assim, revela-se de forma inequívoca a pertinência subjetiva deles, para,também, figurarem no polo passivo da presente ação por ato de improbidadeadministrativa, na esteira do disposto nos arts. 2º e 3º da Lei Federal 8.429/92.

4. DOS FATOS

Em data de 12 de janeiro de 2017, o Estado do Tocantins, porintermédio da Secretaria do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária – SEAGRO,solicitou, junto às empresas privadas que atuam no ramo de locação e montagem deestruturas para eventos, a elaboração de orçamento referente a materiais, equipamentose serviços constantes do termo de referência anexo, sob o fundamento de que osorçamentos das empresas iriam compor o mapa de preço médio, balizador das ofertas dopregão eletrônico, com fontes financiadoras 0100 (Recursos do Tesouro Estadual).

Esses orçamentos seriam utilizados em pregão eletrônico a serdeflagrado pela Secretaria do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado doTocantins, por intermédio da Superintendência de Compras e Central de Licitações daSecretaria de Estado da Fazenda, com o objetivo de contratação de empresa deprestação de serviços de locação, com montagem, manutenção e desmontagem deestruturas para eventos, com a finalidade de dotar o Centro Agrotecnológico deinfraestrutura básica, em apoio à realização da Feira da Agrotins, ano 2017, prevista parao período de 09 a 13 de maio de 2017 (doc. anexos).

Assim, a Secretaria do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuáriado Estado do Tocantins – SEAGRO – encaminhou solicitação de orçamento para asseguintes empresas, a saber:

i) Agil Locações Eventos;ii) J. M. de Lima Distribuidora ME;iii) Pro 2 Produções e Estruturas para Eventos Ltda ME;iv) V3 Estruturas Especiais;v) AMBP Promoções e Eventos Empresariais Ltda;vi) Tendas Araguaiavii) Ap Producões;viii) Df4;ix) Fernanda Fs Eventos;x) Ph Visual;

Em data de 24 de janeiro de 2017, a Secretaria doDesenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins – SEAGRO – reiterouo expediente às empresas privadas que atuam no ramo de locação e montagem deestruturas para eventos, solicitando o envio dos mencionados orçamentos (doc. anexos).

Naquela ocasião, ao encaminhar os mencionados expedientes às

agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquerforma direta ou indireta.

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empresas privadas, a SEAGRO solicitou cotação de preços referentes aos seguintesobjetos a serem licitados:

i) Contratação de montagem das estruturas da Agrotins 2017;ii) Contratação de serviços especiais de recepção, vigilantes e limpeza geral paraa Agrotins 2017;iii) Locação de som, climatização e sanitários para a Agrotins 2017;iv) Paisagismo e decoração para a Agrotins 2017.

Em data de 24 de fevereiro de 2017, a Secretaria doDesenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins, valendo-se do Ofícionº 190/2017/SEAGRO/GASEC/DIA/GAD, no bojo do processo SEAGRO nº20173300000008, manifestou interesse em aderir à Ata de Registro de Preços nº01/2016, do Pregão Eletrônico nº 01/2016, decorrente do Processo nº23101.000059/2016-31, oriundo do Órgão Gerenciador denominado FundaçãoUniversidade Federal do Tocantins – UFT, numa demonstração clara de que o Estadodo Tocantins, através daquela unidade gestora, pretendia contratar a empresa AWAIDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP para a execução de serviços de estruturação dasdependências da Feira de Tecnologia Agropecuária – AGROTINS 2017, prevista para operíodo de 09 a 13 de maio de 2017.

Posteriormente, em data de 03 de março de 2017, a FundaçãoUniversidade Federal do Tocantins – UFT, órgão gerenciador da ata de registro de preços,encaminhou o pedido de adesão de ata ao fiscal de contrato da instituição.

Em data de 14 de março de 2017, a Fundação Universidade Federaldo Tocantins – UFT, respondeu que o órgão solicitante estava autorizado a aderir à Ata deRegistro de Preços nº 01/2016, ou seja, que a Secretaria do Desenvolvimento daAgricultura e Pecuária do Estado do Tocantins estava autorizada a adquirir os serviços equantitativos descritos na solicitação encaminhada e constante da ata registrada.

Ademais, em data de 16 de março de 2017, a Secretaria doDesenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins – SEAGRO – atravésdo Despacho SEAGRO/DIAF nº 001/2017, da lavra do Senhor Diretor de Administração eFinanças, informou ao setor competente que haveria disponibilidade de aderir à atade registro de preços que atenderia as demandas para a realização do evento Agrotins2017, numa demonstração clara de que não mais realizaria licitação na modalidadepregão eletrônico, como anunciara em janeiro de 2017.

Assim, em data de 16 de março de 2017, foi deflagrado e assinadoo termo de referência constante anexo do formulário DITEC nº 034/2017, trazendo comoobjetos a serem contratados, dentre outros inúmeros, os seguintes itens:

1) Van: direção hidráulica, com capacidade para 15 passageiros, com motorista uniformizado comterno e gravata, Diária de 8 hs combustível e ar-condicionado; quantidade 150;2) Micro-ônibus - Até 28 lugares; Diária de 8 hs; quantidade 150;3) Veículo de passeio: duas portas, 1.0. Com motorista, combustível e ar-condicionado; Diária de 8 hs;quantidade 50;4) Coffee break - Tipo 1 Fornecimento de lanche de intervalo de evento com pessoal de apoio, comtrês tipos de salgados, variando entre sanduíches, tortas e salgados assados, dois tipos de bolos

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doces, com café, leite, água mineral, com montagem de ilha de alimentos e bebidas, dotada de mesas,toalhas, com copos, talheres e pratos necessários para o serviço. Preço por pessoa; Unidade/pessoa;quantidade 20.000;5) Coffee break - Tipo 2 - Fornecimento de lanche de intervalo de evento com pessoal de apoio, comseis tipos de salgados, variando entre sanduíches, tortas e salgados assados, três tipos de doces,frutas e petitfours doces e salgados, com café, leite, água mineral, refrigerante normal e diet/light,edois tipos de suco, com montagem de ilha de alimentos e bebidas, dotada de mesas, toalhas, comcopos, talheres e pratos necessários para o serviço. Preço por pessoa; Unidade/pessoa; quantidade10.000;6) Almoço/ jantar - Refeição em eventos. Refeição com no mínimo 2 carnes (uma vermelha e umabranca, sendo no mínimo uma delas grelhada), uma massa, guarnições (2 tipos) e salada, 1sobremesa. Espaço adequado para refeições contendo mesas, toalhas, talheres, serviço de garçom,ar-condicionado e copos de vidro. Bebida não alcoólica. Preço por pessoa. Distância máxima do locala ser definido para o evento não deve ser superior a 50Km do Campus; Unidade; quantidade 18.000;7) Coquetel - Fornecimento de lanche de intervalo de evento, com pelo menos 4 tipos de canapés,antepastos (cestas de minipães temperados, minitorradinhas e pelo menos 1 molho e 1 pasta), tábuade frios e variedade de salgadinhos (pelo menos 3 tipos fritos e 3 tipos assados), água mineral,refrigerante normal e diet/light, e um tipo de suco, com montagem de ilha de alimentos e bebidasdotada de mesas, toalhas, copos, talheres e pratos necessários para o serviço e pessoal de apoio deacordo com a necessidade do evento. Eventos de 20 a 2000 pessoas. (preço por pessoa); quantidade7.000;22) Projeto e serviço de decoração de ambientes; Serviço; quantidade 20;25) Locação de equipamentos de som para até 1.000 pessoas. mesa de som com 36 canais,amplificador, caixas acústicas e cabeamento necessário, microfones e mixer para microfone, ousuperior; Unidade/diária; quantidade 50;28) Locação de equipamentos de som para até 150 pessoas. mesa de som com 24 canais,amplificador, caixas acústicas e cabeamento necessário, microfones e mixer para microfone, ousuperior; Unidade/diária; quantidade 140;34) Fone para tradução simultânea. Locação de Equipamento (fone) para serviços de traduçãosimultânea. Com receptor integrado e mesa para distribuição do sinal; Unidade/diária; quantidade5.000;50) Serviço de registro simples de evento, realizado com 1 câmera, operador e entrega do materialbruto em DVD; Unidade/diária; quantidade 80;51) Serviço de cobertura fotográfica do evento. Com 1 fotógrafo e câmara acima de 20 mega pixel.Entrega de DVD com no mínimo 100 fotos em alta resolução; Unidade/diária; quantidade 150;52) Serviço de transmissão simultânea para a web. Serviço de transmissão de áudio e/ou vídeo aovivo e sob demanda com streaming com banda livre para transmissão ao vivo de no mínimo 15.000kbps, integrado a home page do evento. - Espaço em disco para vídeos pré-gravados (sob demanda),de no mínimo, 10 GB, opção de transmissão de vídeo. Configuração de servidor receptor, conversor etransmissor de mídia, O serviço deve incluir todos os equipamentos necessários, sendo no mínimo 02câmeras, 02 tripés para câmera de vídeo, 02 microfones, 01 mesa de som, 02 computadores + placade captura de vídeo; cabos e conexões para uso no equipamento e para a captura de áudio a partir desistema de som; Profissionais treinados, incluindo link dedicado. A empresa deverá entregar trêscópias em formato digital (DVD/CD) do conteúdo captado do evento; Diária/serviço; quantidade 8;61) Ponto de internet acesso rápido 10 MB; Ponto; quantidade 30;71) Gerador de 150 kwa Locação, montagem, instalação e desinstalação de conjunto geradorsupersilencioso, motor de 150 kva, 60 hz automático, microprocessado e quadro de transferência, 75db a 1,5 metro, para funcionamento em regime “contínuo” para atender sistema de iluminação;Unidade/diária; quantidade 20;72) Gerador de 300 kwa Locação, montagem, instalação e desinstalação de conjunto geradorsupersilencioso, motor de 300 kva, 60 hz automático, microprocessado e quadro de transferência, 75db a 1,5 metro, para funcionamento em regime "contínuo" para atender palco com 12 horas defuncionamento; Unidade/diária; quantidade 15;75) Projetor multimídia - 6000 Ansi lumens. Locação projetor 6000 Ansi lumens com tecnologia 3LCD,resolução nativa de no mínimo 1024x768 pixels e taxa de contraste de no mínimo 2000:1, voltagem220V; Unidade/diária; quantidade 50;84) Painel de Led; M²; quantidade 300; 93) Pórtico montado; m²/diária; quantidade 900;95) Estrutura de box truss - Montagem de estrutura de box truss Q30 para sustentação deequipamentos e montagem de sinalização; Metro linear; quantidade 1500;101) Cenografia; m²/ diária; quantidade 1500; 107) Montagem de estande - Estande básico - painel de TS dupla face 2,20A;m²/ diária; quantidade4000; 108) Estande Especial construído; m²/ diária; quantidade 2.600;109) Estande Modelo misto; m²/ diária; quantidade 3.500;114) Palco Semigeo; m²/ diária; quantidade 3.600; 115) Palco Casa duas águas; m²/ diária; quantidade 3.200;118) Piso com nivelamento; m²/ diária; quantidade 5.000;119) Piso elevado em madeira; m²/ diária; quantidade 6.000;

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122) Passadeira em carpete forração 4mmm com aproximadamente 2,0 metros de largura. (cor acombinar); metro linear /diária; quantidade 8000; 124) Tenda; m²/ diária; 40.000; 147) Lona sanlux, com impressão digital e acabamento com ponteiras plásticas ou ilhós para bannerou painel fundo de palco; m²; quantidade 1000;148) Painel adesivado em vinil com laminação; m²; quantidade 2000;152) Bolsa em algodão; Unidade; quantidade 4000;162) Camiseta - malha gola careca, com aplicação de logomarca em 4 cores, frente; Unidade;quantidade 5000; 174) Mestre de Cerimônias. Com experiência comprovada. Deverá conduzir a abertura dos eventos equanto solicitado pelo contratante, nas recepções institucionais (coquetel de abertura e jantaresinstitucionais). O profissional deverá elaborar roteiro, possuir desenvoltura e experiência paraapresentação de eventos, conhecimentos de normas do cerimonial público, possui características deimprovisador, ter segurança e conhecer os passos do evento, ter cuidado com a aparência discrição,postura correta e trajar roupas bem talhadas e discretas (homem: terno e gravata e mulher: tailler);Diária; quantidade 50; 175) Operador de equipamentos audiovisuais. Profissional capacitado para realização de serviço deoperação de equipamentos audiovisuais; Diária; quantidade 300; 177) Operador de som. Profissional capacitado para a realização de serviços de operação deequipamentos de sonorização, PA e monitores; Diária; quantidade 400;179) Recepcionista. Realização de serviços de recepção e distribuição de material no evento.Profissional capacitado para preparo de lista de convidados, montagens de lista de pré-inscritos,cadastramento, preparo e tabulação de questionários de avaliação e preparo de lista e emissão decertificados para os convidados/participantes; Diária; quantidade 400;183) Serviço de limpeza e manutenção dos locais de eventos. Profissional capacitado para realizaçãode serviço de limpeza com agentes devidamente uniformizados com material completo para limpeza emanutenção do evento;Agente/dia; quantidade 400;185) Vigilante civil. Fornecimento de posto de trabalho para vigilância patrimonial do evento,uniformizado, equipado com rádio comunicador e lanterna para vigilância da estrutura do evento,dentre outras atividades inerentes; Diária 8h; quantidade 200; 193) Hospedagem tipo single. Hospedagem em hotel padrão confortável ou superior (segundo o Guia4 Rodas), com café da manhã, em apartamento single, para apresentações de coralistas, alunos,servidores, palestrantes, convidados, músicos e atores da UFT no Brasil. As datas e horários serãodefinidas próximas aos eventos; Unidade/diária; quantidade 500;194) Hospedagem – tipo dupla. Hospedagem em hotel padrão confortável ou superior (segundo o Guia4 Rodas), com café da manhã, em apartamento duplo, para apresentações de coralistas, alunos,servidores, palestrantes, convidados, músicos e atores da UFT no Brasil. As datas e horários serãodefinidas próximas aos eventos; Unidade/diária; quantidade 700;195) Hospedagem tipo tripla. Hospedagem em hotel padrão confortável ou superior (segundo o Guia 4Rodas), com café da manhã, em apartamento triplo, para apresentações de coralistas, alunos,palestrantes, convidados, músicos e atores da UFT no Brasil. As datas e horários serão definidaspróximas às apresentações/palestras/visitas; Unidade/diária; quantidade 450.

Vários outros produtos constaram do termo de referência e do contratoadministrativo nº 015/2017, todavia para não tornar exaustiva a leitura desta peçaconstaram apenas aqueles de valores mais expressivos, declinados no parágrafoanterior.

Em data de 20 de abril de 2017, o requerido Clemente Barros Neto,na condição de Secretário do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado doTocantins, através da decisão exarada no despacho GASEC nº 081/2017, no bojo doprocesso SEAGRO nº 2017.33000.0008, autorizou a adesão à Ata de Registro dePreços nº 01/2016, com origem no Pregão Eletrônico nº 01/2016, no valor total de R$6.572.920,25 (seis milhões, quinhentos e setenta e dois mil, novecentos e vintereais e vinte e cinco centavos).

Em data de 05 de maio de 2017, o Estado do Tocantins, através daSecretaria do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantinscelebrou o contrato nº 015/2017 com a empresa AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI

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EPP, no valor de R$ 6.572.920,25 (seis milhões, quinhentos e setenta e dois mil,novecentos e vinte reais e vinte e cinco centavos), objetivando a contratação deserviços para locação com montagem, manutenção e desmontagem de estruturas paraeventos, como: estandes para exposição, pisos, forração de carpete, galpões vinílicos,eletrificações de pavilhões, tendas, fechamentos e calhas para tendas e pavilhões,grounds, arquibancadas, fechamento para animais, palco, bem como mobiliários,refrigeração e equipamentos de comunicação e informática, materiais de comunicaçãoaudiovisual, alimentação e hospedagens dentre outros, conforme especificados no item3.1 – Memorial Descritivo das atividades a serem Desenvolvidas e detalhamentoscontidos no Termo de Referência.

A SEAGRO, para alcançar tal desiderato, utilizou-se da Ata deRegistros de Preços nº 01/2016, do Pregão Eletrônico nº 01/2016, decorrente doProcesso nº 23101.000059/2016-31, oriundo do Órgão Gerenciador denominadoFundação Universidade Federal do Tocantins – UFT.

Consta ainda que o contrato celebrado previa o seguinte objeto:

“O presente contrato tem por objeto a contratação de serviços para locaçãocom montagem, manutenção e desmontagem de estruturas para eventos,como estandes para exposição, pisos, forração de carpete, galpõesvinílicos, eletrificações de pavilhões, tendas, fechamentos e calhas paratendas e pavilhões, grounds, arquibancadas, fechamento para animais,palco, bem como mobiliários, refrigeração e equipamentos de comunicaçãoe informática, materiais de comunicação audiovisual, alimentação ehospedagens dentre outros, conforme especificados no item 3.1 – MemorialDescritivo das atividades a serem Desenvolvidas e detalhamentos contidosno Termo de Referência.”

Desta forma, o Estado do Tocantins, através da Secretaria doDesenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins celebrou o contrato nº015/2017 com a empresa AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP, e ao final do eventodenominado AGROTINS 2017 foram efetuados despesas no valor de R$ 4.282.332,38(quatro milhões, duzentos e oitenta e dois mil, trezentos e trinta e dois reais e trintae oito centavos), decorrente da contratação de serviços para locação com montagem,manutenção e desmontagem de estruturas para eventos e outros equipamentos eobjetos, conforme consulta efetuada junto ao SIAFEM3 e documentos remetidos aoParquet pela SEAGRO.

Por outro prisma, o Ministério Público do Estado do Tocantins, emdata de 28 de abril de 2017, após receber representação popular apontando ilegalidadeno procedimento administrativo que tramitava junto à SEAGRO, instaurou o InquéritoCivil Público nº 2017.0000281, com vistas a apurar a suposta prática de atos deimprobidade administrativa por agentes públicos e servidores do Estado do Tocantins,tipificados nos arts. 9º, 10 e 11, da Lei Federal nº 8.429/92, em decorrência da eventualcontratação ilegal de empresa privada pelo Estado do Tocantins, por intermédio da

3http://www.compras.to.gov.br/sgc/FormSiafem.aspx

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Secretaria do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária, tendo como objeto aexecução de serviços de locação, com montagem, manutenção e desmontagem deestruturas para eventos, com a finalidade de dotar o Centro Agrotecnológico dePalmas, TO, de infraestrutura básica, em apoio à realização da Agrotins 2017, previstapara o período de 09 a 13 de maio de 2017.

O Ministério Público do Estado do Tocantins, após análise minuciosado procedimento administrativo que ensejou na contratação da empresa AWA IDEIASINTEGRADAS EIRELI EPP, no valor de R$ 6.572.920,25 (seis milhões, quinhentos esetenta e dois mil, novecentos e vinte reais e vinte e cinco centavos), expediurecomendação aos seguintes Secretários de Estado:

i) Recomendação ao eminente Secretário do Desenvolvimento da Agriculturado Estado do Tocantins, Sr. Clemente Barros Neto, que promova aSUSPENSÃO DA EFICÁCIA do Contrato nº Administrativo nº 05/2017,celebrado no dia 05 de maio de 2017, entre o Estado do Tocantins, porintermédio da Secretaria do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária doEstado do Tocantins e a empresa denominada AWA IDEIAS INTEGRADASEIRELI EPP, ABSTENDO-SE de efetuar a liquidação e pagamento relacionadoao contrato mencionado, até que ocorra a conclusão dos trabalhos investigatóriasreferentes ao presente inquérito civil público;

ii) Recomendação ao eminente Secretário de Fazenda do Estado do Tocantins,Sr. Paulo Antenor de Oliveira, que abstenha-se de efetuar pagamentosreferente ao Contrato nº Administrativo nº 05/2017, celebrado no dia 05 demaio de 2017, entre o Estado do Tocantins, por intermédio da Secretaria doDesenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins e aempresa denominada AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP, abstendo-sede efetuar a liquidação e pagamento relacionado ao contrato mencionado, atéque ocorra a conclusão dos trabalhos investigatórias referentes ao presenteinquérito civil público.

Recebida a recomendação ministerial, o Estado do Tocantins,atendeu parcialmente os seus termos, apenas e tão somente para fins de se abster deefetuar os pagamentos decorrentes da prestação de serviços oriundas do contratoadministrativo, mantendo essa suspensão até o mês de novembro de 2017, ocasião emque resolveu efetuar o pagamento parcial dos serviços prestados.

Consta nos documentos anexos que a Secretaria doDesenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins, até a data doajuizamento desta ação, já efetuou pagamentos no valor total de R$ 3.503.66,70 (trêsmilhões, quinhentos e três mil e sessenta e seis reais e vinte e setenta centavos),decorrente da contratação de serviços para locação com montagem, manutenção edesmontagem de estruturas para eventos e outros equipamentos e objetos.

No curso do inquérito civil foram realizadas algumas diligênciasinvestigatórias e inquirido um representante legal de empresa privada. Da mesma forma,ainda foram requisitados documentos, para melhor instrução e elucidação dos fatos,contendo um número considerável de páginas.

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De análise acurada de todo o procedimento investigatório, constata-se a existência de diversos atos que inquinaram de nulidade, a saber: i) a adesão à Atade Registros de Preços nº 01/2016, oriunda do Pregão Eletrônico nº 01/2016, decorrentedo Processo nº 23101.000059/2016-31; ii) o contrato nº 015/2017 celebrado entre aSecretaria do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins e aempresa AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP, no valor de R$ 6.572.920,25 (seismilhões, quinhentos e setenta e dois mil, novecentos e vinte reais e vinte e cincocentavos), como se demonstrará a seguir.

O Ministério Público, na sua concepção, vislumbrando a presençade atos de improbidade administrativa, ajuíza a presente ação de improbidadeadministrativa, objetivando-se evitar prejuízos ao patrimônio público, aos princípiosconstitucionais da legalidade, igualdade, moralidade, publicidade, impessoalidade eeficiência na deflagração e realização dos atos acima mencionados. Pretende tambémobter provimento jurisdicional no sentido de se anular os atos e contrato administrativosadiante declinados.

5. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

5.1 – DA VIOLAÇÃO À LEI FEDERAL Nº 8.666/93 – ILEGALIDADE NA ADESÃO ÀATA DE REGISTROS DE PREÇOS Nº 01/2016, DO PREGÃO ELETRÔNICO Nº 01/2016– CELEBRAÇÃO DE CONTRATO GUARDA CHUVA - VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOSDA LEGALIDADE, IMPESSOALIDADE E MORALIDADE - PRECEDENTES

De análise acurada de todo o procedimento investigatório, constata-se aexistência de diversos atos que inquinaram de nulidade o processo administrativo,iniciando-se pela adesão à Ata de Registros de Preços nº 01/2016, oriunda do PregãoEletrônico nº 01/2016, decorrente do Processo nº 23101.000059/2016-31.

Assim, ficou comprovado, por meio de prova documental, que aSEAGRO, em data de 12 de janeiro de 2017, pretendia realizar licitação, na modalidadepregão eletrônico, para contratação de serviços para locação com montagem,manutenção e desmontagem de estruturas para eventos, para dotar as estruturas daFeira Agrotins 2017, a ser realizado em Palmas, TO.

Desta forma, o Estado do Tocantins, por intermédio da SEAGRO,elaborou termo de referência com os seguintes objetos: i) contratação de montagemdas estruturas da Agrotins 2017; ii) contratação de serviços especiais de recepção,vigilantes e limpeza geral para a Agrotins 2017; iii) locação de som, climatização esanitários para a Agrotins 2017; iv) paisagismo e decoração para a Agrotins 2017,os quais se encontram descritos nas minutas de termo de referência constante doque se denominou processos nº 008/2017, datado de 14 de Setembro de 2016 eprocessos nº 008/2017, datado de 19 de Setembro de 2016.

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Na minuta do termo de referência constante do que se denominouprocesso nº 008/2017, datado de 14 de Setembro de 2016, estavam previstos paracontratação o quantitativo de 32 (trinta e dois) itens.

Não obstante isso, na minuta do termo de referência constante do que sedenominou processo nº 018/2017, datado de 19 de Setembro de 2016, estavam previstospara contratação o quantitativo de 7 (sete) itens.

Todavia, o que se constatou na prática foi que os quantitativos de itensconstantes da Ata de Registro de Preços em alusão, foram progressivamente maiores doque aqueles constantes dos Termos de Referências confeccionados no bojo dosProcessos nº 008 e 018/2017, evidenciando, em tese, de que foram contratados itensdesnecessários, decorrentes desse superdimensionamento quantitativo ou que nãohouve o adequado planejamento, de forma a identificar qual seria a real demanda,violando princípios da administração pública.

A Secretaria do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado do

Tocantins – SEAGRO – sem justificativa plausível, após enviar pedido de orçamentospara as empresas privadas, desistiu de realizar a LICITAÇÃO, NA MODALIDADEPREGÃO ELETRÔNICO, para aderir a uma ata de registro de preços.

Por assim ser, a Secretaria do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuáriado Estado do Tocantins, no bojo do processo SEAGRO nº 2017.33000.0008, autorizou aadesão à Ata de Registro de Preços nº 01/2016, com origem no Pregão Eletrônico nº01/2016, no valor total de R$ 6.572.920,25 (seis milhões, quinhentos e setenta e doismil, novecentos e vinte reais e vinte e cinco centavos), desprezando os princípios dalegalidade, moralidade, impessoalidade e eficiência.

Não obstante isso, após análise dos documentos encartados no Processoadministrativo SEAGRO nº 20173300000008, destinado à formalização de adesão à Atade Registro de Preços nº 01/2016, do Pregão Eletrônico nº 01/2016, oriunda do Processonº 23101.000059/2016-31, proveniente do Órgão Gerenciador denominado FundaçãoUniversidade Federal do Tocantins – UFT, o Estado do Tocantins, por intermédio daSecretaria do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária, em data de 05 de maio de2017, celebrou a contratação da empresa denominada AWA IDEIAS INTEGRADASEIRELI EPP, no valor total de R$ 6.572.920,25 (seis milhões, quinhentos e setenta e doismil, novecentos e vinte reais e vinte e cinco centavos), para a prestação de serviços, numtotal de 195 (cento e noventa e cinco) itens, conforme Termo de Referência anexo.

Pois bem. Em assim agindo, os requeridos fizeram o que se denominacoloquialmente de “contrato guarda-chuva” ou “licitação emprestada”, englobandomais de um serviço em seu objeto, em grave violação ao princípio da competitividade,caracterizando burla à regra da licitação.

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Vale ressaltar que, a chamada licitação “guarda-chuva4” ocorre quando ocontratante não descreve adequadamente o objeto da licitação, realizando umprocedimento licitatório genérico do qual decorre contrato com objeto amplo, contrariandoo disposto no art. 23, § 1º, no art. 54, § 1º, e no art. 55, inciso I, da Lei nº 8.666/1993,verbis:

Art.23. As modalidades de licitação a que se referem os incisos I a III do artigo anteriorserão determinadas em função dos seguintes limites, tendo em vista o valor estimado dacontratação:

§1o As obras, serviços e compras efetuadas pela Administração serão divididas emtantas parcelas quantas se comprovarem técnica e economicamente viáveis,procedendo-se à licitação com vistas ao melhor aproveitamento dos recursosdisponíveis no mercado e à ampliação da competitividade sem perda da economia deescala. (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994).

Art. 54. Os contratos administrativos de que trata esta Lei regulam-se pelas suas cláusulase pelos preceitos de direito público, aplicando-se-lhes, supletivamente, os princípios dateoria geral dos contratos e as disposições de direito privado.

§1o Os contratos devem estabelecer com clareza e precisão as condições para suaexecução, expressas em cláusulas que definam os direitos, obrigações e responsabilidadesdas partes, em conformidade com os termos da licitação e da proposta a que se vinculam.

Art. 55. São cláusulas necessárias em todo contrato as que estabeleçam:I- o objeto e seus elementos característicos.

No presente caso, infere-se dos autos que a ata de registro de preçoseleita pelo Estado do Tocantins, adotada pelo órgão gerenciador do certame -adjudicação por grupos, em detrimento da adjudicação por itens –, em princípio, contrariao disposto nos arts. 15, inciso IV, e 23, § 1º, da Lei 8.666/1993 e a jurisprudência doTribunal de Contas da União (Acórdãos 2.977/2012, 2695/2013, 48/2013 e 343/2014,todos do Plenário).

Isto porque, numa licitação, o agrupamento de itens em lotes deveser visto como alternativa excepcional, uma vez que o parcelamento do objeto émedida que se impõe como regra, desde que não haja prejuízo para o conjunto aser licitado nem perda da economia de escala, conforme preconiza a jurisprudênciaconsolidada no enunciado sumular 247 do TCU, verbis:

É obrigatória a admissão da adjudicação por item e não por preço global, noseditais das licitações para a contratação de obras, serviços, compras ealienações, cujo objeto seja divisível, desde que não haja prejuízo para o conjuntoou complexo ou perda de economia de escala, tendo em vista o objetivo depropiciar a ampla participação de licitantes que, embora não dispondo decapacidade para a execução, fornecimento ou aquisição da totalidade do objeto,possam fazê-lo com relação a itens ou unidades autônomas, devendo asexigências de habilitação adequar-se a essa divisibilidade.

A regularidade da adjudicação por grupos, então, dependerá dejustificativa apta a comprovar a vantajosidade de tal modelagem licitatória, pois,

4http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,da-utilizacao-de-licitacao-guarda-chuva-no-ambito-dos-convenios,44052.html

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nesse caso, pretere-se o resultado natural (perseguido pela lei de licitações) daampliação da disputa nos certames envolvendo apenas itens.

Nesse momento, impende reconhecer que não há nos documentospreviamente apresentados pela Secretaria do Desenvolvimento da Agricultura ePecuária, informações capazes de demonstrar de forma robusta e circunstanciadaque a escolha pelo agrupamento representou medida administrativa econômica etecnicamente mais vantajosa do que a regra da licitação por itens isolados.

A despeito disso, insta salientar que, no critério de julgamento fundado nomenor preço global por grupos, e não por itens, existe a forte possibilidade decontratações antieconômicas e potencialmente lesivas ao erário, na medida em que há orisco de a proposta do licitante vencedor (que ofertou o menor valor global por lote) conteritens com preços superiores aos propostos por outros competidores.

Essa situação, por sinal, nos termos do art. 54, § 1o da Lei Federal nº8.666/93, os contratos devem estabelecer com clareza e precisão as condições para suaexecução, expressas em cláusulas que definam os direitos, obrigações eresponsabilidades das partes, em conformidade com os termos da licitação e daproposta a que se vinculam.

Nesse sentido, nos termos do art. 23, § 1º, da Lei Federal nº 8.666/1993,quando o objeto é divisível e não há prejuízo para o conjunto a ser licitado, éobrigatória a licitação por itens.

A grande quantidade de objetos contratados decorrente da adesão à Atade Registro de Preços nº 01/2016, do Pregão Eletrônico nº 01/2016, oriunda do Processonº 23101.000059/2016-31, proveniente do Órgão Gerenciador denominado FundaçãoUniversidade Federal do Tocantins – UFT, pelo Estado do Tocantins, por intermédio daSecretaria do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária, em data de 05 de maio de2017, por meio da contratação da empresa denominada AWA IDEIAS INTEGRADASEIRELI EPP, no valor total de R$ 6.572.920,25 (seis milhões, quinhentos e setenta edois mil, novecentos e vinte reais e vinte e cinco centavos), num total de 195 (centoe noventa e cinco) itens, caracteriza a reprovável prática do “contrato guarda-chuva”.

Nos termos do artigo 54, da Lei nº 8.666/93, não se admite a existênciade cláusulas no edital contendo objetos genéricos. Os objetos genéricoscontrariam a Súmula do Tribunal de Contas da União nº 247.

Ao proferir o Acórdão 3.009/2015, o plenário do Tribunal de Contas daUnião refutou a justificativa de que a existência de empresa no mercado capaz deprestar todos os serviços licitados seria capaz de afastar o parcelamento do objetoe autorizar adjudicação global dos itens, como no caso em debate.

Restou consignado naquele excerto que a decisão de parcelar ou não oobjeto deve sempre estar devidamente justificada nos autos, cabendo ao agente

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público, após definido o objeto da licitação, verificar se é possível eeconomicamente viável licitá-lo em parcelas (itens, lotes ou etapas) que aproveitemas peculiaridades e os recursos disponíveis no mercado.

Em caso análogo, o Tribunal de Contas da União – TCU – determinou àPETROBRAS que se abstivesse de firmar contratos do tipo “guarda-chuva”, ou seja,com objeto amplo e/ou com vários objetos, promovendo os devidos certameslicitatórios em quantos itens forem técnica e economicamente viáveis (item 9.7.3,TC-005.991/2003-1, Acórdão n° 1.663/2005-Plenário – DOU de 27.10.2005, S. 1, p. 289-), em observância aos termos do art. 54, § 1º, da Lei nº 8.666/93.

E ainda, o Tribunal de Contas da União – TCU – recomendou aoMinistério dos Esportes a não realização de contratação com objeto amplo e indefinido,do tipo "guarda-chuva", em observância aos termos do art. 54, § 1º, da Lei no 8.666/1993,justificando nos autos do processo licitatório o parcelamento ou não do objeto,levando em consideração a viabilidade técnica e econômica para tal, a necessidadede aproveitar melhor as potencialidades do mercado e a possível ampliação dacompetitividade do certame, sem perda de economia de escala, conforme dispostonos arts. 8º, 15, inc. IV, e 23, §§ 1º e 2º, da Lei no 8.666/1993 e na Súmula/TCU nº 247(item 9.2.5, TC-009.218/2011-4, Acórdão Nº 1.996/2011-Plenário), rechaçandocomportamentos semelhantes ao que ora se apura.

Não por acaso, em parecer da Advocacia-Geral da União – AGU5,manifestando-se sobre caso análogo, a compulsória e adequada descrição do objetocontratado decorre do princípio constitucional da igualdade, e objetiva assegurar que omaior número de interessados efetivamente participem do procedimento e tornem acompetição salutar, afastando toda e qualquer possibilidade de favoritismo,conforme se infere do Parecer nº 12/2011/PF-SUDECO/PGF/AGU – Processo nº59150.000098/2009-71, tendo como interessado o Município de Goiânia.

Como é cediço, os contratos “guarda-chuva” violam gravemente osprincípios constitucionais da moralidade, eficiência, da impessoalidade e daeconomicidade, sendo que tais modelos de contrato têm sido objeto de severas críticas epunições por parte do Tribunal de Contas da União, conforme se depreende do Acórdãono 2.592/2010-2ª Câmara), além de configurar hipótese de violação aos princípios daisonomia, da ampla competição, da impessoalidade e da legalidade.

Ocorre que não existe razão técnica para a contratação de todos osserviços e materiais na proporção acima descrita numa só canetada, pois em setratando de equipamentos e objetos a serem utilizados em eventos de grande proporçãoe magnitude seria imprescindível a deflagração de procedimento licitatório por itens,Somente assim estar-se-ia demonstrando zelo para com a coisa pública, o que nãoocorreu na adesão à ata de registro de preços.

5www.agu.gov.br/page/download/index/id/10403658

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5.2 – DA VIOLAÇÃO À LEI FEDERAL Nº 8.666/93 – ILEGALIDADE NASUBCONTRATAÇÃO TOTAL E/OU PARCIAL DOS SERVIÇOS – VIOLAÇÃO AOSPRINCÍPIOS DA LEGALIDADE, IMPESSOALIDADE E MORALIDADE EECONOMICIDADE

Outro ponto impugnado na presente ação é o que diz respeito àsubcontratação total e/ou parcial dos serviços contratados pelo Estado do Tocantins, comflagrante violação aos princípios constitucionais da administração pública.

O Estado do Tocantins, por intermédio da Secretaria do Desenvolvimentoda Agricultura e Pecuária, em data de 05 de maio de 2017, celebrou a contratação daempresa denominada AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP, no valor total de R$6.572.920,25 (seis milhões, quinhentos e setenta e dois mil, novecentos e vintereais e vinte e cinco centavos), para a prestação de serviços, num total de 195 (cento enoventa e cinco) itens.

O Contrato nº 15/2017, celebrado entre o Estado do Tocantins, porintermédio da Secretaria do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária com a empresaAWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP (CNPJ 25.089.137/0001-95), para a prestaçãodos diversos serviços para a feira AGROTINS 2017, transformou-se em verdadeiracontratação direta por via transversa.

Após análise dos documentos encartados no Processo administrativoSEAGRO nº 20173300000008, constata-se que não há solicitação dos serviços para aempresa e nem tampouco o Plano de Execução exigido na Cláusula Sétima, item “a” doContrato nº 015/2017.

Apurou-se que a empresa AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPPsubcontratou diversas empresas para a execução do contrato nº 015/2017.

Restou provado que uma das empresas subcontratadas foi a empresadenominada V3 Brasil Produções e Eventos. No que concerne a essa subcontratação,a mesma se revela, eis que o item 12, da cláusula sexta, da Ata de Registro dePreços nº 01/2016, do Pregão Eletrônico nº 01/2016, oriunda do Processo nº23101.000059/2016-31, proveniente do Órgão Gerenciador denominado FundaçãoUniversidade Federal do Tocantins, veda a subcontratação total ou parcial do objetodo contrato, o que foi inobservado no presente caso, demonstrando a ilicitude dosatos estatais.

Por outro prisma, buscando elucidar o caso noticiado, em diligênciarealizada em data de 10 de maio de 2017, por servidores do Ministério Público do Estadodo Tocantins, na Feira de Tecnologia Agropecuária – AGROTINS, localizada na zona ruraldo Município de Palmas, TO, foi constatado o seguinte:

[…] 2) A empresa AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP não está prestando os[…] 2) A empresa AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP não está prestando osserviços decorrentes de sua contratação pelo Estado do Tocantins, relativos àserviços decorrentes de sua contratação pelo Estado do Tocantins, relativos à

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locação, com montagem, manutenção e desmontagem de estruturas para eventoslocação, com montagem, manutenção e desmontagem de estruturas para eventosna Feira de Tecnologia Agropecuária – AGROTINS 2017. na Feira de Tecnologia Agropecuária – AGROTINS 2017. Ainda, ficou evidenteque a empresa V3, que conta, inclusive, com um escritório instalado dentro daFeira, realizou toda a montagem dos stands institucionais e é responsável pelaadministração de todos os serviços que estão sendo prestados no evento. […]

As diligências investigatórias empreendidas pelo Ministério Públicoconfirmaram que a execução dos serviços de locação de tendas e outras atividadesficaram a cargo da empresa denominada V3 Brasil Produções e Eventos, decorrente dasua subcontratação pela empresa AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP.

A subcontratação da empresa denominada V3 Brasil Produções eEventos revela-se ilegal, eis que o item 12, da cláusula sexta, da Ata de Registro dePreços nº 01/2016, do Pregão Eletrônico nº 01/2016, oriunda do Processo nº23101.000059/2016-31, proveniente do Órgão Gerenciador denominado FundaçãoUniversidade Federal do Tocantins – UFT, veda a subcontratação total ou parcial doobjeto do contrato, o que foi inobservado no caso vertente.

Cabe salientar que, o Pregão Presencial nº 01/2016, inicialmente nãoadmitia a subcontratação do objetos licitados pelo Sistema de Registro de Preços.Todavia, inusitadamente, após o Ministério Público ter instaurado o mencionado InquéritoCivil Público, a Secretaria do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária, buscando daraparência de legalidade ao procedimento impugnado, em data de 13 de setembro de2017, encaminhou à 9ª Promotoria de Justiça da Capital, o Ofício nº0919/2017/SEAGRO/GASEF/DIAF, noticiando a publicação subjacente de errata,retificando o item 12, da cláusula sexta, da Ata de Registro de Preços nº 01/2016, doPregão Eletrônico nº 01/2016, oriunda do Processo nº 23101.000059/2016-31,proveniente do Órgão Gerenciador denominado Fundação Universidade Federal doTocantins – UFT, com o nítido propósito de assegurar a possibilidade de subcontrataçãoparcial do objeto entre os limites mínimos e máximos de 1% e 15%, respectivamente, dovalor total do contrato.

Ocorre que, ainda que se admitisse essa possibilidade de subcontrataçãoparcial do objeto entre os limites mínimos e máximos de 1% e 15%, respectivamente, dovalor total do contrato, decorrente da permissibilidade outorgada pela errata 01,encaminhada por intermédio do Ofício nº 0919/2017/SEAGRO/GASEF/DIAF, aindaassim, os requeridos não conseguiriam se desvencilhar das ilegalidades imputadaspelo Parquet, pois, do ponto de vista fático, o que se constatou foi asubcontratação total da requerida V3 BRASIL PRODUÇÕES E EVENTOS EIRELI,pela AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP (CNPJ 25.089.137/0001-95), transgredindoos percentuais admitidos pela errata 01, além de incorrer em flagrante violação ao art. 72da Lei Federal nº 8.666/93.

Veja excelência que, o dolo na conduta dos requeridos, se manifestajustamente nesse aspecto, pois, embora a princípio não se fosse admitido asubcontratação parcial e/ou total do objeto estabelecido pelo Pregão Presencial nº01/2016 e pelo contrato administrativo de prestação de serviços impugnado,

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posteriormente, com o nítido propósito de dar aparência de legalidade ao procedimentode adesão à ata de registro de preços em alusão, houve alteração, criando essapermissibilidade, possibilitando a subcontratação parcial do objeto entre os limitesmínimos e máximos de 1% e 15%, respectivamente, do valor total do contrato e, mesmoassim, os requeridos ignoraram esta limitação e efetuaram a subcontratação total doobjeto licitado, denotando o animus volitivo necessário a configuração do ato deimprobidade administrativa, pois sequer respeitaram os percentuais por eles mesmosdelimitados, não havendo como alegar desconhecimento e/ou imperícia administrativa.

Como o Contrato Administrativo de Prestação de Serviços celebradoentre o Estado do Tocantins e a empresa denominada AWA IDEIAS INTEGRADASEIRELI EPP, foi no valor total de R$ 6.572.920,25 (seis milhões, quinhentos e setenta edois mil, novecentos e vinte reais e vinte e cinco centavos), para a prestação deserviços, num total de 195 (cento e noventa e cinco) itens e, após a edição da errata 01,se admitiu a possibilidade de subcontratação parcial do objeto entre os limites mínimos emáximos de 1% e 15%, respectivamente, do valor total do contrato, vale ressaltar que, olimite máximo de subcontratação no importe de 15% do valor total do contrato,corresponde a no máximo R$ 985.938,038,00 (novecentos e oitenta e cinco mil,novecentos e trinta e oito reais e trinta e oito centavos).

Todavia, apenas para a requerida V3 BRASIL PRODUÇÕES EEVENTOS EIRELI, subcontratada pela AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP (CNPJ25.089.137/0001-95), houve o pagamento no exorbitante valor de R$ 2.722.560,00 (doismilhões, setecentos e vinte e dos mil, quinhentos e sessenta reais), transgredindo ospercentuais admitidos pela errata 01, além de incorrer em flagrante violação ao art. 72 daLei Federal nº 8.666/93.

Isso implica dizer que a empresa V3 Brasil Produções e Eventos –Locações e Eventos Eireli, com sede em Palmas, TO, executou mais de 50% (cinquentapor cento) dos serviços contratados, ou seja, em percentual muito superior ao previsto noEdital do Pregão Eletrônico nº 01/2016, violando, por conseguinte, o art. 72, da LeiFederal nº 8.666/93.

Nesse aspecto, os serviços não foram prestados de forma lícita,caracterizando verdadeira subcontratação ilícita. Houve, em verdade, uma terceirizaçãodessas atividades contratada. De tal sorte, os pagamentos efetuados à empresarepresentam verdadeiros pagamentos indevidos, ilegais, sem qualquer título jurídico.

Portanto, não restam dúvidas de que a empresa V3 Brasil Produções eEventos – Locações e Eventos Eireli, aqui também demandada, deve ressarcir osprejuízos causados aos cofres públicos, ao tempo dos fatos, no valor de R$ 2.722.560,00(dois milhões, setecentos e vinte e dos mil, quinhentos e sessenta reais), tendo em vistaque o recebimento pela empresa, de pagamento originário do Poder Público, comviolação à ordem jurídica, configura claramente atos ímprobos que se sujeitam àsreprimendas da Lei nº 8.429/92.

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Vale enfatizar que, a subcontratação total ou mesmo a parcial efetuadaacima do limite convencionado é motivo para a rescisão do contrato celebrado, conformese extrai do teor do art. 78, VI, primeira parte, da Lei Federal nº 8.666./93, todavia osrequeridos agentes públicos nada fizeram para cumprir esse comando legal. Ao contrário,ficaram em silêncio num verdadeiro pacto de conluio.

Por assim ser, não se admite a subcontratação sobre itens fundamentaisdo objeto do contrato, já que o Contratado, em vez de ocupar-se em entregar o objetocontratado, passaria a “terceirizar” sua obrigação essencial, o que não se admite, poróbvio. Foi exatamente o que ocorreu no presente caso. Assim, se percebe que a empresaAWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP (CNPJ 25.089.137/0001-95) “terceirizou” a suaobrigação essencial, especialmente para empresa V3 Brasil Produções e Eventos, no queconcerne à locação de tendas, o que não se admite, por óbvio, conforme destacado.

Por outro lado e não menos relevante, a vedação à subcontratação totaljustifica-se pela dificuldade que promove na fiscalização efetiva da prestação dos serviçoscontratados, eis que a empresa de fato contratada sequer entra em contato com o PoderPúblico, não sendo possível aos órgãos de controle identificarem a veracidade sobre aqualidade ou a quantidade dos objetos contratados. Em suma, uma verdadeira fraude asuposta execução dos serviços por parte da empresa AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELIEPP (CNPJ 25.089.137/0001-95).

A vedação à subcontratação total justifica-se pela dificuldade quepromove na fiscalização efetiva da prestação dos serviços contratados, pois aempresa de fato contratada sequer entra em contato com o Poder Público, não sendopossível aos órgãos de controle identificarem a veracidade sobre a qualidade ou aquantidade dos objetos contratados.

Como é cediço, o Sistema de Registros de Preços - SRP, instituído peloart. 15 da Lei Federal nº 8.666/93, regulamentado no âmbito da Administração PúblicaFederal por intermédio do Decreto Federal nº 7.829, de 23 de janeiro de 2013, a despeitode permitir a adesão dos órgãos não participantes dos procedimentos iniciais da licitação,desde que atendido os requisitos do aludido Decreto, vincula o órgão aderente a todasàs condições estabelecidas pelo órgão gerenciador, que, no caso vertente, é a FundaçãoUniversidade Federal do Estado do Tocantins – UFT, impedindo, assim, a empresadenominada AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP, de subcontratar de forma total eparcial o objeto do Contrato nº 005/2017, por ela celebrado com o Estado do Tocantins;

Nessa linha de intelecção, vem se manifestando o Tribunal de Contas daUnião, conforme se infere do ACÓRDÃO nº 2814/2016 Plenário, julgado em data de 09de novembro de 2016, in verbis

Enunciado: A utilização do sistema de registro de preços deve estar adstrita àshipóteses autorizadoras, sendo a adesão medida excepcional. Tanto a utilizaçãocomo a adesão devem estar fundamentadas e não podem decorrer de merocostume ou liberalidade.

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O Plenário do Tribunal de Contas da União, ao julgar em data de 27 deabril de 2016, o ACÓRDÃO nº 998/2016, estabeleceu que, a adesão a ata de registro depreços requer planejamento da ação, com levantamento das reais necessidades daadministração contratante, não se admitindo a contratação baseada tão-somente nademanda originalmente estimada pelo órgão gerenciador.

O Plenário do Tribunal de Contas da União, ao julgar em data de 13 demaio de 2015, o ACÓRDÃO nº 1151/2015, estabeleceu que, no Sistema de Registro dePreços, não cabe ao órgão gerenciador a verificação da vantagem da adesão de cadainteressado, compete ao órgão ou entidade não participante utilizar os preços previstosna ata combinando com os quantitativos da contratação que pretende realizar para avaliare demonstrar a economicidade de sua adesão.

O Plenário do Tribunal de Contas da União, ao julgar em data de 11 demarço de 2015, o ACÓRDÃO nº 509/2015, estabeleceu que a adesão a ata de registrode preços deve ser justificada pelo órgão não participante mediante detalhamentodas necessidades que pretende suprir por meio do contrato e demonstração da suacompatibilidade com o objeto discriminado na ata, não servindo a esse propósito amera reprodução, parcial ou integral, do plano de trabalho do órgão gerenciador,sendo que a comprovação da vantagem da adesão deve estar evidenciada pelo confrontoentre os preços unitários dos bens e serviços constantes da ata de registro de preços ereferenciais válidos de mercado.

Desta forma, a despeito do item 12, da cláusula sexta, da Ata deRegistro de Preços nº 01/2016, do Pregão Eletrônico nº 01/2016, oriunda do Processonº 23101.000059/2016-31, proveniente do Órgão Gerenciador denominado FundaçãoUniversidade Federal do Tocantins – UFT, vedar a subcontratação total ou parcial doobjeto do contrato, se constatou que o Estado do Tocantins, além de não se sujeitarintegralmente às condições estabelecidas pela UFT, maculou a lisura da execuçãocontratual, descumprindo às condições originárias, além de aquiescer com asubcontratação pela empresa AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP, da empresadenominada V3 Brasil Produções e Eventos, violando dolosamente o art. 78, VI,primeira parte, da Lei Federal nº 8.666./93.

5.3 – DA VIOLAÇÃO À LEI FEDERAL Nº 8.666/93 – ILEGALIDADE NA ADESÃO AATA DE REGISTROS DE PREÇOS Nº 01/2016, DECORRENTE DO PLANEJAMENTODEFICIENTE OU INEXISTENTE, POR MAJORAREM SUPERVENIENTEMENTE OQUANTITATIVO DE ITENS A SEREM CONTRATADOS

Outro ponto que também merece destaque é o que diz respeito aoplanejamento deficiente ou inexistente no que tange aos serviços a serem contratados.

Isso porque, salta aos olhos a diferença de quantitativos entre o Termo deReferência inicialmente esboçado em setembro/2016 com a Ata de Registro de Preços àqual o Estado do Tocantins aderiu. O que se constatou, foi que a Administração Públicaantes pretendia a realização de licitação tendo como objeto, apenas a contratação de

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estrutura para eventos com vistas a realização da Agrotins, em torno de 43 (quarenta etrês) itens, conforme Termo de Referência data de 14.09.2016 (doc. anexo).

Todavia, sem motivo aparente, a SEAGRO passou a admitir necessidadeidêntica à contida na Ata de Registro de Preços nº 01/2016, oriunda do Pregão Eletrôniconº 01/2016, promovido pela Universidade Federal do Tocantins (UFT), desprovida dequalquer justificativa plausível, violando, por conseguinte, o princípio da eficiência.

Tanto foi assim, que a planilha para a cotação de preços junto a outrosfornecedores continha a redação dos itens idêntica aos estabelecidos na Ata nº 01/2016,apontando, que, de forma espantosa, foi contratado uma considerável quantidade deveículos alugados, além de hospedagem em hotéis, de lanches e refeições, assim comoa própria estrutura contrastando com o porte e a duração do evento Agrotins, de apenas 5dias (de 9 a 13 de maio de 2017).

A título de exemplo, em média, seriam 30 vans por dia, com capacidadepara 15 passageiros (item 1) e também 30 micro-ônibus por dia, com capacidade para 28pessoas (item 2), além de 10 veículos de passeio (item 3).

Estranhamente, no que se refere ao evento denominado AGROTINS2017, o Estado do Tocantins, de forma imotivada, promoveu adesão a Ata de Registro dePreços gerenciada pela UFT – Universidade Federal do Tocantins, que por sinalapresentou quantitativos superiores ao que a SEAGRO havia idealizado.

Esta circunstância, apenas evidencia a absoluta falta de planejamento,violando, por conseguinte, o princípio da eficiência, tendo em vista que, o ente público emalusão, sequer possuía noção da sua real necessidade no que se refere ao quantitativode serviços a serem contratados, adquirindo serviços em itens bastante superiores aoque havia inicialmente previsto.

Vale ressaltar que, a ausência desse planejamento preliminar, impede ademonstração da viabilidade técnica e o adequado dimensionamento da real demanda aser adquirida pelo serviço público, além de impedir a dimensão exata da avaliação docusto do serviço a ser contratado com elementos necessários e suficientes para oadequado dimensionamento, como forma de se preservar a economicidade, evitandolesão ao erário estadual.

6. DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS DOS REQUERIDOS

6.1. CLEMENTE BARROS NETO

O requerido Clemente Barros Neto, na condição de Secretário deDesenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins, autorizou,contratou, permitiu e concorreu para que a empresa AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELIEPP, se enriquecesse ilicitamente, por meio do contrato nº 015/2017, causando, ao tempodos fatos, prejuízo total de R$ 4.282.332,38 (quatro milhões, duzentos e oitenta e dois

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mil, trezentos e trinta e dois reais e trinta e oito centavos), ao erário estadual,decorrente das ações dolosas perpetradas em conjunto com os demais requeridos.

Isso porque, na condição de Secretário de Desenvolvimento daAgricultura e Pecuária do Estado do Tocantins, assinou os seguintes documentos: i)pedido de autorização para aderir à Ata de Registro de Preços nº 01/2016, do PregãoEletrônico nº 01/2016, decorrente do Processo nº 23101.000059/2016-31, oriundo doÓrgão Gerenciador denominado Fundação Universidade Federal do Tocantins – UFT; ii)a justificativa nº 014/2017 para embasar o pedido de autorização para aderir à Ata deRegistro de Preços nº 01/2016; iii) assinou a autorização, através do DespachoGASEC nº 081/2017, para aderir à Ata de Registro de Preços nº 01/2016, do PregãoEletrônico nº 01/2016, decorrente do Processo nº 23101.000059/2016-31, oriundo doÓrgão Gerenciador denominado Fundação Universidade Federal do Tocantins – UFT.

E mais ainda. O Sr. Clemente Barros Neto, na condição de Secretário deDesenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins, assinou, emdata de 05 de maio de 2017, o contrato nº 015/2017, culminando por contratar aempresa denominada AWA Ideias Integradas Eireli EPP, ora requerida.

Mas não é só.

O Sr. Clemente Barros Neto, na condição de Secretário doDesenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins, até a data doajuizamento desta ação, assinou notas de empenho e notas de pagamento à empresaAWA Ideias Integradas Eireli EPP, que geraram pagamentos no valor total de R$3.503.66,70 (três milhões, quinhentos e três mil e sessenta e seis reais e vinte esetenta centavos), decorrente da contratação acima mencionada.

Nesse contexto, é necessário responsabilizar e puni-lo por ato deimprobidade administrativa o requerido Clemente Barros Neto, pois condição deSecretário do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins,celebrou o contrato nº 015/2017 com a empresa AWA Ideias Integradas, totalizando ovalor de R$ 4.282.332,38 (quatro milhões, duzentos e oitenta e dois mil, trezentos etrinta e dois reais e trinta e oito centavos), dos quais já foram pagos a quantia deR$ 3.503.66,70 (três milhões, quinhentos e três mil e sessenta e seis reais e vinte esetenta centavos), decorrente da contratação de serviços com essa empresa.

Assim agindo, praticou, em tese, os atos de improbidade descritos nosartigos 10º, caput e inc. XII e 11, caput e I, ambos da Lei de Improbidade Administrativa.

6.2. JOSÉ HUMBERTO DE OLIVEIRA

O requerido José Humberto de Oliveira, na condição de servidor daSEAGRO, ocupante do cargo de Diretor de Administração e Finanças, em data de 17 dejunho de 2016, foi nomeado, através do Ato nº 778 – DSG, para responder pelaSecretaria do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária, inclusive quanto ao

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ordenamento de despesas, nos impedimentos legais e eventuais do titular , cujo atofora publicado no Diário Oficial do Estado do Tocantins nº 4.642, pag. 15, datado de11.09.2009 (doc. anexo).

Desta forma, no exercício do cargo de Secretário de Desenvolvimento daAgricultura e Pecuária do Estado do Tocantins, assinou vários documentos importantes,os quais tramitaram no processo administrativo SEAGRO nº 20173300000008, queculminou na contratação da empresa AWA Ideias Integradas Eireli EPP, avocando assim,a sua pertinência subjetiva para figurar no polo passivo desta ação, nos termos do art. 2ºda Lei Federal nº 8.429/92.

Assim, o requerido José Humberto Oliveira, no exercício do cargo deSecretário de Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins ,assinou os seguintes documentos:

i) assinou o pedido de autorização para aderir à Ata de Registro de Preços nº 01/2016, doPregão Eletrônico nº 01/2016, decorrente do Processo nº 23101.000059/2016-31, oriundodo Órgão Gerenciador denominado Fundação Universidade Federal do Tocantins – UFT;ii) assinou o pedido de anuência para adesão à Ata de Registro de Preços no 01/2016, doPregão Eletrônico n° 01/2016, Processo no 23101.000059/2016-31, encaminhado para aempresa AWA Ideias Integradas Eireli EPP, cumprindo exigência legal; iii) assinou odespacho SEAGRO/DIAF nº 0001/2017, informando que havia disponibilidade de Ata deRegistro de Preços que atende as demandas para a realização do evento Agrotins 2017;iv) assinou, na condição de ordenador de despesas, a solicitação de serviços nº 093/2017,para aderir à ata de registro de preços para realização da Feira da Agrotins 2017; v)assinou, na condição de ordenador de despesas, a declaração nº 011/2017, com afinalidade de atender o disposto no art. 167, § 1º, da Constituição Federal, que tratadespesa com prévia dotação orçamentária; vi) assinou, na condição de ordenador dedespesas, solicitação de crédito adicional à Secretaria de Estado do Planejamento eOrçamento, encaminhando o formulário respectivo;

Nesta esteira, restou evidenciado que o requerido José Humberto deOliveira teve importante participação na empreitada ilícita, eis que assinou algunsdocumentos que ensejaram na formalização do contrato administrativo, colaborando,efetivamente, para a ocorrência das ilicitudes impugnadas no bojo desta ação.

Como se vê, mediante comunhão de esforços e propósitos, o requeridoJosé Humberto de Oliveira já estava previamente combinado ou ajustado com o requeridoClemente Barros Neto, no sentido de viabilizar a contratação da empresa AWA IdeiasIntegradas Eireli EPP, o que de fato ocorreu.

Nesse contexto, não há dúvidas, com base nas provas amealhadas, deque os requeridos José Humberto de Oliveira e Clemente Barros Neto devem serresponsabilizados, visto que se valeram dos cargos de Secretário do Desenvolvimentoda Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins e Diretor de Administração eFinanças da SEAGRO, respectivamente, sendo que o primeiro, ora exercia o cargointerino de Secretário do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado doTocantins, ora exercia o cargo Diretor de Administração e Finanças da SEAGRO,para que a empresa AWA Ideias Integradas Eireli EPP, se enriquecesse ilicitamente,causando, ao tempo dos fatos, o prejuízo total R$ 4.282.332,38 (quatro milhões,

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duzentos e oitenta e dois mil, trezentos e trinta e dois reais e trinta e oito centavos),dos quais já foram pagos a quantia de R$ 3.503.66,70 (três milhões, quinhentos etrês mil e sessenta e seis reais e vinte e setenta centavos).

Por assim agir, praticou, em tese, os atos de improbidade descritos nosartigos 10º, caput e inc. XII e 11, caput e I, ambos da Lei de Improbidade Administrativa.

6.3. A EMPRESA AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP

A empresa AWA Ideias Integradas Eireli EPP, mediante a pactuação docontrato nº 015/2017, cujo objeto consistia na execução de serviços para locação commontagem, manutenção e desmontagem de estruturas para eventos, como estandes paraexposição, pisos, forração de carpete, galpões vinílicos, eletrificações de pavilhões,tendas, fechamentos e calhas para tendas e pavilhões, grounds, arquibancadas,fechamento para animais, palco, bem como mobiliários, refrigeração e equipamentos decomunicação e informática, materiais de comunicação audiovisual, alimentação ehospedagens dentre outros, conforme especificados no item 3.1 – Memorial Descritivodas atividades a serem Desenvolvidas e detalhamentos contidos no Termo de Referência,comprometeu-se a prestar o serviço de forma a respeitar as cláusulas contratuais.

Porém, esses serviços não foram prestados de forma lícita. Houve, emverdade, uma terceirização de todas as atividades contratadas. De tal sorte, ospagamentos efetuados à empresa representam verdadeiros pagamentos indevidos,ilegais, sem qualquer título jurídico.

Com efeito, o ente empresarial empresa AWA Ideias Integradas Eireli EPPtem pertinência subjetiva ao polo passivo da demanda, lastreada nos art. 3º, c/c art. 10,XII, da Lei nº 8.492/92, eis que não efetuou os serviços contratados, ou seja,subcontratou outras empresas para a execução dos serviços, que além de não ter sidoexecutado licitamente, favorecia os seus interesses financeiros.

Portanto, não restam dúvidas de que a empresa aqui demandada, deveressarcir os prejuízos causados aos cofres públicos, ao tempo dos fatos, no valor de R$4.282.332,38 (quatro milhões, duzentos e oitenta e dois mil, trezentos e trinta e doisreais e trinta e oito centavos), tendo em vista que o recebimento pela empresa, depagamento originário do Poder Público, com violação à ordem jurídica, configuraclaramente atos ímprobos que se sujeitam às reprimendas da Lei nº 8.429/92.

6.4. A EMPRESA V3 ESTRUTURAS ESPECIAIS – LOCAÇÕES E EVENTOS EIRELI

A subcontratação da empresa denominada V3 Brasil Produções eEventos revela-se ilegal, eis que o item 12, da cláusula sexta, da Ata de Registro dePreços nº 01/2016, do Pregão Eletrônico nº 01/2016, oriunda do Processo nº23101.000059/2016-31, proveniente do Órgão Gerenciador denominado FundaçãoUniversidade Federal do Tocantins – UFT, veda a subcontratação total ou parcial doobjeto do contrato, o que foi inobservado no presente caso.

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Ocorre que, ainda que se admitisse essa possibilidade de subcontrataçãoparcial do objeto entre os limites mínimos e máximos de 1% e 15%, respectivamente, dovalor total do contrato, decorrente da permissibilidade outorgada pela errata 01,encaminhada por intermédio do Ofício nº 0919/2017/SEAGRO/GASEF/DIAF, aindaassim, os requeridos não conseguiriam se desvencilhar das ilegalidades imputadaspelo Parquet, pois, do ponto de vista fático, o que se constatou foi asubcontratação total da requerida V3 BRASIL PRODUÇÕES E EVENTOS EIRELI,pela AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP (CNPJ 25.089.137/0001-95), transgredindoos percentuais admitidos pela errata 01, além de incorrer em flagrante violação ao art. 72da Lei Federal nº 8.666/93.

Veja Excelência que, o dolo na conduta dos requeridos se manifestajustamente nesse aspecto, pois, embora, em princípio não fosse admitida asubcontratação parcial e/ou total do objeto estabelecido pelo Pregão Presencial nº01/2016 e pelo contrato administrativo de prestação de serviços impugnado,posteriormente, com o nítido propósito de dar aparência de legalidade aoprocedimento de adesão à ata de registro de preços em alusão, houve alteração,criando essa permissibilidade, possibilitando a subcontratação parcial do objeto entre oslimites mínimos e máximos de 1% e 15%, respectivamente, do valor total do contrato e,mesmo assim, os requeridos ignoraram esta limitação e efetuaram a subcontratação totaldo objeto licitado, denotando o animus volitivo necessário a configuração do ato deimprobidade administrativa, haja vista que sequer respeitaram os percentuais por elesmesmos delimitados, não havendo como alegar desconhecimento e/ou imperíciaadministrativa.

Vale ressaltar que, a empresa V3 Brasil Produções e Eventos jáparticipou de várias licitações, seja junto ao Estado do Tocantins, seja junto ao Municípiode Palmas, tendo logrado êxito em vários certames, não podendo invocar como escusa, arepelir a ocorrência dos atos de improbidade administrativa, a circunstância de que seriadesprovida de expertise no que se refere à subcontratação ou aspectos de contratos daadministração pública.

A propósito, o proprietário da V3 Brasil Produções e Eventos, DanielCorrea Veloso, quando inquirido no curso do presente inquérito civil público, na presençade seu advogado, afirmou ao Ministério Público o seguinte:

“Que a empresa V3 Brasil, de propriedade do declarante, prestou em diversos anosserviços para locação com montagem, manutenção e desmontagem de estruturas paraeventos para compor a feira da AGROTINS isto nos anos de 2010 a 2015; esclarece queno período de 2010 a 2015 participou de licitações na modalidade pregão eletrônico, salveengano; que no ano de 2016 a SEAGRO aderiu a uma ata de registro de preços de umórgão publico, cujo nome não se recorda (…) que em meados de abril/2017 o senhor MárioSugimoto, proprietário da empresa AWA Idéias efetuou um contado telefônico com odeclarante, perguntando se a empresa V3 Brasil tinha interesse em prestar serviços para aempresa AWA Ideias, consistentes em serviços de locação para estruturas e montagem dosestandes, sendo que o declarante responde que, “dependendo das condições poderia fazê-lo”; que passados alguns dias o Sr. Mário Sugimoto efetuou nova ligação solicitando umorçamento com relação ao serviço que haveria eventualmente que atender, sendo que

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posteriormente o declarante encaminhou o orçamento à empresa AWA; fizeram algumastratativas prévias, tais como preço e forma de pagamento; após entabularem essastratativas resolveram fazer um contrato de prestação de serviços de locação de tendas eoutras estruturas e equipamentos;”

Como se vê, a empresa AWA Ideias Integradas Eireli EPP, que tem sedeem São Paulo, SP, transferiu para a empresa V3 Brasil Produções e Eventos – Locaçõese Eventos Eireli, com sede em Palmas, a totalidade dos serviços de locação de tendasprevistos no Contrato nº 15/2017, dentre os quais se destacam, a locação de tendas,infraestrutura e equipamentos para o evento denominado Agrotins 2017, no valor de R$2.722.560,00 (dois milhões, setecentos e vinte e dos mil, quinhentos e sessentareais.

Isto implica dizer que a empresa V3 Brasil Produções e Eventos –Locações e Eventos Eireli, com sede em Palmas, TO, executou mais de 50% (cinquentapor cento) dos serviços contratados, ou seja, em percentual muito superior ao previsto noEdital do Pregão Eletrônico nº 01/2016, violando, por conseguinte, o art. 72 da LeiFederal nº 8.666/93.

Nesse aspecto, os serviços não foram prestados de forma lícita,caracterizando verdadeira subcontratação ilícita. Houve, em verdade, uma terceirizaçãodessas atividades contratada. De tal sorte, os pagamentos efetuados à empresarepresentam verdadeiros pagamentos indevidos, ilegais, sem qualquer título jurídico.

Portanto, não restam dúvidas de que a empresa V3 Brasil Produções eEventos, aqui também demandada, deve ressarcir os prejuízos causados aos cofrespúblicos, ao tempo dos fatos, no valor de R$ 2.722.560,00 (dois milhões, setecentos evinte e dos mil, quinhentos e sessenta reais), tendo em vista que o recebimento pelaempresa, de pagamento originário do Poder Público, com violação à ordem jurídica,configura claramente atos ímprobos que se sujeitam às reprimendas da Lei nº 8.429/92,demonstrando assim, a sua pertinência subjetiva para figurar no polo passivo desta AIA.

7 – DA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE, PREVISTO NOARTIGO 37, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVADO BRASIL – ATO ADMINISTRATIVO MACULADO

As investigações efetuadas pelo Ministério Público do Estado doTocantins, evidencia, de plano, a violação ao postulado da legalidade, pois oCONTRATO ADMINISTRATIVO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS Nº015/2017 , padece de vício insanável, tendo em vista que, de formasubjacente, houve a sua subcontratação total, em desconformidadecom as condições estabelecidas pelo Pregão Eletrônico Edital nº01/2016, sendo insuscetível de convalidação, por ser nulo de plenodireito, por violar o art. 72 da Lei Federal nº 8.666/93 .

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A despeito disso, José dos Santos Carvalho Filho 6 , com aacuidade jurídica que lhe é peculiar, discorre sobre o princípio dalegalidade. Veja-se:

O princípio da legalidade é certamente a diretriz básica da conduta dos agentes daAdministração. Significa que toda e qualquer atividade administrativa deve serautorizada por lei. Não o sendo, a atividade é ilícita7.Tal postulado, consagrado após séculos de evolução política, tem por origem mais próximaa criação do Estado de Direito, ou seja, do Estado que deve respeitar as próprias leis queedita.O princípio "implica subordinação completa do administrador à lei. Todos os agentespúblicos, desde o que lhe ocupe a cúspide até o mais modesto deles, devem serinstrumentos de fiel e dócil realização das finalidades normativas". Na clássica e feliz comparação de HELY LOPES MEIRELLES, enquanto os indivíduos nocampo privado podem fazer tudo o que a lei não veda, o administrador público só podeatuar onde a lei autoriza.[…] Por isso é que administrar é função subjacente à de legislar. O princípio da legalidadedenota exatamente essa relação: só é legítima a atividade do administrador público seestiver condizente com o disposto na lei.

Partindo-se dessa premissa, considerando que toda e qualquer atividadeadministrativa deve ser autorizada por lei e, não o sendo, a atividade administrativa setorna ilícita, como no caso presente, em que restou inequívoco que os atosadministrativos impugnados se encontram maculados, pois foram executados emdesconformidade com os preceitos legais invocados.

No presente caso, restou demonstrado que o contrato nº 015/2017padece das seguintes ilegalidades: (a) que o conjunto dos serviços e objetos licitadosnão se adequam às exigências da Lei Federal nº 8.6666/93 (artigos 54 e 24), eis que agrande quantidade de objetos contratados através da adesão à Ata de Registro de Preçosnº 01/2016 não podem subsistir, dado que haveria necessidade de se fazer licitações poritens; (b) a subcontratação das empresas não poderiam ser efetuadas à luz dasregras de direito público, como restou inequivocamente demonstrado.

7.1 – DA INVALIDAÇÃO/NULIDADE DO CONTRATO ADMINISTRATIVODE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS Nº 015/2017 – SEAGRO, PORSER INSUSCETÍVEL DE CONVALIDAÇÃO

José dos Santos Carvalho Filho 8, de forma elucidativa,discorre sobre a invalidação/nulidade dos atos administrativos,insuscetíveis de convalidação, como no caso em debate. A propósito:

Firmadas as l inhas que caracter izam a inval idação, podemos conceituá-la como sendo a forma de desfazimento do ato administrat ivo em

6Manual de direito administrativo / José dos Santos Carvalho Filho. P– 31. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Pgs. 19/20, Atlas, 2017.744 SAYAGUÉS LASO, Tratado de derecho administrativo, v. I, p. 383: "La administración debe actuar ajustándose estrictamente a las regias de derecho. Si transgrede ditas regias, la actividad administrativa se vuelve ilícita y eventualmente apareja responsabilidad."8Manual de direito administrativo / José dos Santos Carvalho Filho. P– 31. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Pgs. 155/156, Atlas, 2017.

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virtude da existência de vício de legal idade.O pressuposto da inval idação é exatamente a presença do vício delegal idade. Como já examinamos, o ato administrat ivo precisaobservar seus requisi tos de val idade para que possa produzirnormalmente os seus efei tos. Sem eles, o ato não poderá ter aef icácia desejada pelo administrador. Por isso é que para seprocessar a inval idação do ato é imprescindível que esteja ausenteum desses requisi tos. A presença destes torna o ato vá l ido e idôneo àprodução de efe i tos, não havendo a necess idade do desfaz imento.O víc io no e lemento competência decorre da inadequação ent re aconduta e as at r ibu ições do agente. É o caso em que o agente prat ica atoque refoge ao c í rcu lo de suas at r ibu ições (excesso de poder) . Comoexemplo, c i te-se a prát ica de ato por agente subord inado, cu ja matér ia éda competência de super ior h ierárquico.No e lemento f ina l idade, o v íc io consis te na prát ica de ato d i rec ionado ain teresses pr ivados, e não ao in teresse públ ico, como ser ia o correto(desv io de f ina l idade) .Ocorre ta l v íc io , por exemplo, quando, ent re vár ios in teressados, oagente confere autor ização apenas àquele a quem pretende benef ic iar.Aqui há a v io lação também do pr incíp io da impessoal idade.O víc io de forma provém do ato que inobserva ou omi te o meio deexter ior ização ex ig ido para o ato, ou que não atende ao procedimentoprev is to em le i como necessár io à dec isão que a Admin is t ração desejatomar. Para exempl i f icar, ve ja-se a h ipótese em que a le i ex i ja ajust i f icação do ato e o agente a omi te quando de sua prát ica. Da mesmaforma, conf igura-se como víc io no refer ido e lemento a punição sumár iade serv idor públ ico, sem que se tenha instaurado o necessár io processodisc ip l inar com a garant ia da ampla defesa e do cont rad i tór io .No que toca ao e lemento mot ivo, o v íc io pode ocorrer de t rês modos,mui to embora a Le i nº 4 . 7 1 7/ 1 9 6 5 só se ref i ra à inex is tênc ia dosmot ivos (ar t . 2º , parágrafo ún ico, "d" ) : ( I º ) inex is tênc ia de fundamentopara o ato;1 65 (2º ) fundamento fa lso, va le d izer, incompat íve l com averdade rea l ; (3º ) fundamento desconexo com o objet ivo pretendido pelaAdmin is t ração. Se o agente prat ica o ato sem qualquer razão, há v íc io noelemento "mot ivo" . O mesmo sucede se baseia sua mani festação devontade em fato que não ex is t iu , como, v. g . , se o ato de cassação deuma l icença é produzido com base em determinado evento que nãoocorreu. Exemplo da terce i ra modal idade desse v íc io é aquele em que oagente apresenta just i f icat iva que não se coaduna com o objet ivocol imado pelo ato.Por f im, o vício no objeto consiste, basicamente, na prát ica de atodotado de conteúdo diverso do que a le i autor iza ou determina. Hávício se o objeto é i l íc i to, impossível ou indeterminável . Comoexemplo, c i te-se a h ipótese em que o ato permi te que o ind iv íduo exerçaat iv idade pro ib ida, como a autor ização para menores em local vedado àsua presença. Em sede puni t iva, há v íc io no objeto quando o agente,d iante do fa to prev is to na le i , ap l ica ao ind iv íduo sanção mais grave quea adequada para o fa to. Outro exemplo: um decreto expropr ia tór io sem aind icação do bem a ser desapropr iado.

O contrato administrativo de prestação de serviços em alusão,padece de vício insanável, tendo em vista que, de forma subjacente, houvea sua subcontratação total, em desconformidade com as condiçõesestabelecidas pelo Pregão Eletrônico Edital nº 01/2016, sendoinsuscetível de convalidação, por ser nulo de pleno direito, por violar oart. 72 da Lei Federal nº 8.666/93.

No caso em debate, como o contrato administrativo impugnado

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foi SUBCONTRATADO integralmente, em flagrante violação ao art. 72 daLei Federal nº 8.666/93, maculando-o, em razão do seu vício no objeto.

A propósito, em casos desse jaez , José dos Santos CarvalhoFilho9, respalda a tese invocada pelo Ministério Público :

Por f im, o vício no objeto consiste, basicamente, na prát ica de atodotado de conteúdo diverso do que a le i autor iza ou determina. Hávício se o objeto é i l íc i to, impossível ou indeterminável . […]Inquinado o ato de vício de legal idade, pode ele ser inval idado peloJudiciár io ou pela própria Administração. O fundamento dessainiciat iva reside no pr incípio da legal idade (art . 37, caput, CF) . Defato, o administrador não observaria o pr incípio se, diante de um atoadministrat ivo viciado, não declarasse a anomal ia através de suainval idação. Essa é a razão por que, nas corretas palavras de MIGUELREALE, a inva l idação conf igura-se como "um ato de tu te la jur íd ica, dedefesa da ordem legal const i tu ída, ou, por out ras palavras, um ato quesob cer to pr isma pode ser considerado negat ivo, v is to não ter o efe i to deproduzi r consequências novas na órb i ta admin is t ra t iva, mas antes a dere instaurar o status quo ante " . Em conclusão, temos duas formaspossíveis de inval idação: uma processada pelo Judiciár io e outrapela própria Administração. Diga-se, a inda, que essa dupla v ia já mereceu consagração junto aoSupremo Tribunal Federa l em suas conhecidas Súmulas, as de nº 346 e473. Acrescente-se, por f im, que a inva l idação por qualquer das refer idasv ias at inge todo t ipo de atos admin is t ra t ivos com víc io de legal idade.Sem ênfases no or ig ina l .

Logo, como o contrato administrativo impugnado foi celebradoem desconformidade com o art. 72 da Lei Federal nº 8.666/93, ele restoumaculado, em razão do seu vício de i legalidade e do objeto.

7.2 – DO DEVER DE INVALIDAÇÃO DO CONTRATOADMINISTRATIVO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS Nº 015/2017

O art. 2º e seus dispositivos seguintes, da Lei Federal nº4.717/65, denominada de Lei da Ação Popular, estabelece que são nulosos atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigoanterior, nos casos de ilegalidade do objeto, que consiste em violaçãode lei, regulamento ou outro ato normativo .

Conforme reiteradamente vem decidindo o Superior Tribunalde Justiça1 0 , é patente a possibilidade de utilização da lei de regênciada Ação Popular (Lei 4.717/1965) como fonte do microssistemaprocessual de tutela coletiva, prevalecendo, inclusive, sobredisposições gerais do Código de Processo Civil.

9Manual de direito administrativo / José dos Santos Carvalho Filho. P– 31. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Pgs. 155/156, Atlas, 2017.10(AgInt no REsp 1379659/DF, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,julgado em 28/03/2017 , DJe 18/04/2017).

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A existência dos microssistemas processuais em nossoOrdenamento Jurídico, permitindo a completa interação entre a Lei da AçãoPopular com a da Lei da Ação Civil Pública, Código de Defesa doConsumidor, etc, é reconhecida em diversas searas de direitos coletivos, deforma que os seus instrumentos podem ser uti l izados com o escopo depropiciar sua adequada e efetiva tutela.

No caso em apreço, o contrato administrativo de prestação deserviços em alusão, padece de vício insanável, tendo em vista que, deforma subjacente, houve a sua subcontratação total, emdesconformidade com as condições estabelecidas pelo PregãoEletrônico Edital nº 01/2016, sendo insuscetível de convalidação, porser nulo de pleno direito, por violar o art. 72 da Lei Federal nº 8.666/93 ,sendo insuscetível de convalidação, por ser nulo de pleno direito , nostermos do art. 2º, parágrafo único, alínea “c”, da Lei Federal nº 4.717/65 –denominada de Lei da Ação Popular.

Art . 2º São NULOS os atos lesivos ao patr imônio das ent idadesmencionadas no art igo anter ior, nos casos de:[ . . . ]C) ILEGALIDADE DO OBJETO;Parágrafo ún ico. Para a conceituação dos casos de nul idade observar-se-ão as seguintes normas:c) a i legal idade do objeto ocorre QUANDO O RESULTADO DO ATOIMPORTA EM VIOLAÇÃO DE LEI , regulamento ou outro ato normativo.[ . . . ]

Sob esse prisma, valendo-se do art. 2º, parágrafo único,alínea “c”, da Lei Federal nº 4.717/65, revela-se evidente que o contratoadministrativo impugnado é nulo, em decorrência de sua ilegalidade doobjeto , devendo, portanto, ser invalidado.

A respeito do dever de invalidação, o magistério de José dosSantos Carvalho Filho 11, preconiza que

A melhor pos ição consis te em considerar-se como regra aquela segundoa qual , em face de ato contaminado por vício de legal idade, oadministrador deve realmente anulá- lo. A Administração atua sob adireção do pr incípio da legal idade (art .37, CF) , de modo que, se o atoé i legal , cumpre proceder à sua anulação para o f im de restaurar alegal idade malfer ida. Não é possíve l , em pr incíp io , conc i l iar a ex igênciada legal idade dos atos com a complacência do admin is t rador públ ico emdeixá- lo no mundo jur íd ico produzindo normalmente seus efe i tos; ta lomissão ofende l i teralmente o pr incípio da legal idade.

Carvalho Filho, aborda sobre os efeitos da invalidação:

A inval idação opera ex tunc, vale dizer, ' fu lmina o que já ocorreu, no

11Manual de direito administrativo / José dos Santos Carvalho Filho. P– 31. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Pgs. 155/156, Atlas, 2017.

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sentido de que se negam hoje os efei tos de ontem". É conhecido oprincípio segundo o qual os atos nulos não se conval idam nem pelodecurso do tempo. Sendo assim, a decretação da inval idade de umato administrat ivo vai a lcançar o momento mesmo de sua edição.Isso signif ica o desfazimento de todas as relações jur ídicas que seoriginaram do ato invál ido, com o que as partes que nelas f iguraramhão de retornar ao statu quo ante . Para ev i tar a v io lação do d i re i to deterce i ros, que de nenhuma forma cont r ibuí ram para a inva l idação do ato,resguardam-se ta is d i re i tos da esfera de inc idência do desfaz imento,desde que, é c laro, se tenham conduzido com boa- fé.É preciso não esquecer que o ato nulo, por ter v ício insanável , nãopode redundar na cr iação de qualquer direi to. O STF, de modoperemptór io , já sumulou que a Admin is t ração pode anular seus própr iosatos i legais , porque deles não se or ig inam di re i tos. Coerente com ta lentendimento, o STJ, dec id indo questão que envolv ia o tema, consignouque o ato nu lo nunca será sanado e nem terce i ros podem rec lamard i re i tos que o ato i legí t imo não poder ia gerar.[…]Vícios insanáveis tornam os atos inconval idáveis. Assim, inviávelserá a conval idação de atos com vícios no motivo, no objeto (quandoúnico) , na f inal idade e na fal ta de congruência entre o motivo e oresultado do ato.

Nessa tri lha de pensamento, restou demonstrado de formaplausível, que os atos administrativos impugnados são insuscetíveis deconvalidação, por serem nulos de pleno direito, nos termos do art. 2º,parágrafo único, alínea “c”, da Lei Federal nº 4.717/65, em decorrência desua i legalidade e vício do objeto, devendo, portanto, serem invalidadosjudicialmente, diante da omissão estatal.

8 – DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 37, § 4º, dispõe:

Art. 37. A administração pública, direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos poderes daUnião, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios dalegalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência e, também, ao seguinte:§ 4º. Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos,a perda da função pública, a indisponibilidade e o ressarcimento ao erário, na forma egradação prevista em lei, sem prejuízo da ação penal cabível”.

Promulgada a Constituição da República/1988, os mecanismos decombate à corrupção ganharam ainda mais força com o advento da Lei Federal nº8.429/92, cuja aplicação se revela imprescindível para o banimento dessas condutasabjetas, mesquinhas e egoísticas de certos administradores e agentes públicos queenlameiam as cores da Bandeira Pátria.

Pois elas disseminam a desilusão, destroem a autoestima do cidadão,alimentam o mau exemplo entre os criminosos, fortalecem o cinzento sentimento deimpunidade e ainda se sentem encorajados a vociferar contra os que perseguemimplacavelmente o império da Constituição e da Justiça.

O referido diploma normativo contempla três categorias de atos deimprobidade administrativa, a saber: em seu artigo 9º, os atos de improbidade

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administrativa que importam enriquecimento ilícito do agente ou de terceiros; em seuartigo 10, os atos de improbidade administrativa que causam prejuízo ao erário; e noartigo 11, os atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios daadministração pública.

No caso objeto desta ação, certo é que a conduta dos requeridos emalusão amoldam-se aos arts. 10, caput, XII, c/c 11, caput, I, todos da Lei Federal nº8.429/92, por força do disposto nos arts. 2º e 3º da Lei 8.429/92, incorrendo também,em violação aos princípios constitucionais da legalidade, moralidade, impessoalidade eeficiência, previstos no art. 37, caput, da Constituição da República Federativa do Brasil,vulnerando, além do mais, seu dever funcional previsto no art. 4º da Lei 8.429/9212

Isso porque, os requeridos José Humberto de Oliveira de ClementeBarros Neto devem ser responsabilizados, visto que se valeram dos cargos de Secretáriodo Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins e Diretor deAdministração e Finanças da SEAGRO, respectivamente, sendo que o primeiro, oraexercia o cargo interino de Secretário do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuáriado Estado do Tocantins ora exercia o cargo Diretor de Administração e Finanças daSEAGRO, para que a empresa AWA Ideias Integradas Eireli EPP, se enriquecesseilicitamente, causando, ao tempo dos fatos, o prejuízo total R$ 4.282.332,38 (quatromilhões, duzentos e oitenta e dois mil, trezentos e trinta e dois reais e trinta e oitocentavos), dos quais já foram pagos a quantia de R$ 3.503.66,70 (três milhões,quinhentos e três mil e sessenta e seis reais e vinte e setenta centavos),subsumindo às suas condutas aos arts. 10, caput, XII, c/c 11, caput, I, todos da LeiFederal nº 8.429/92, por força do disposto nos arts. 2º e 3º da Lei 8.429/92.

Diante do exposto, faz-se necessária a condenação dos requeridos pelosatos de improbidade administrativa imputados, devendo ser-lhes aplicadas as sançõesprevistas no artigo 12, II e III, da Lei 8.429/92.

Calha destacar que, a configuração do ato de improbidade, a atrair assanções da Lei Federal nº 8.429/92, depende, além da configuração dos elementosnucleares dos tipos previstos nos artigos 9º, 10 e 11 da referida legislação, da presençado elemento anímico na conduta do agente, já que é vedado reconhecimento deimprobidade administrativa em razão de responsabilidade objetiva, sendoinequivocamente demonstrado no caso presente.

Veja excelência que, o dolo na conduta dos requeridos, se manifestajustamente nesse aspecto, pois, embora a princípio não se fosse admitido asubcontratação parcial e/ou total do objeto estabelecido pelo Pregão Presencial nº01/2016 e pelo contrato administrativo de prestação de serviços impugnado,posteriormente, com o nítido propósito de dar aparência de legalidade ao procedimentode adesão à ata de registro de preços em alusão, houve alteração, criando essa

12 Art. 4º Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar pela estritaobservância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dosassuntos que lhe são afetos.

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permissibilidade, possibilitando a subcontratação parcial do objeto entre os limitesmínimos e máximos de 1% e 15%, respectivamente, do valor total do contrato e, mesmoassim, os requeridos ignoraram esta limitação e efetuaram a subcontratação total doobjeto licitado, denotando o animus volitivo necessário a configuração do ato deimprobidade administrativa, pois sequer respeitaram os percentuais por eles mesmosdelimitados, não havendo como alegar desconhecimento e/ou imperícia administrativa.

Como o Contrato Administrativo de Prestação de Serviços celebradoentre o Estado do Tocantins e a empresa denominada AWA IDEIAS INTEGRADASEIRELI EPP, foi no valor total de R$ 6.572.920,25 (seis milhões, quinhentos e setenta edois mil, novecentos e vinte reais e vinte e cinco centavos), para a prestação deserviços, num total de 195 (cento e noventa e cinco) itens e, após a edição da errata 01,se admitiu a possibilidade de subcontratação parcial do objeto entre os limites mínimos emáximos de 1% e 15%, respectivamente, do valor total do contrato, vale ressaltar que, olimite máximo de subcontratação no importe de 15% do valor total do contrato,corresponde a no máximo R$ 985.938,038,00 (novecentos e oitenta e cinco mil,novecentos e trinta e oito reais e trinta e oito centavos).

Assim, considerando a ocorrência de lesão ao patrimônio público, os réussujeitar-se-ão, ainda, ao art. 5º da Lei 8.429/92, ou seja, à obrigação de ressarcimentointegral do dano (“Art. 5° Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou omissão,dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano.”).

Ao procederem assim, os réus comprovadamente concorreram para aconsumação do ato improbo ora perseguido, conforme se denota do caderno probatóriocoligido aos autos.

9. DA NECESSIDADE DE RESSARCIMENTO AO ERÁRIO

A necessidade de restituir ao patrimônio público aquilo que lhe é devidoem razão da prática de atos de improbidade, é decorrente da própria sistemática legalvigente, sendo corolário do direito da responsabilidade civil de quem danifica deve reparare ainda, a ninguém é dado se locupletar à custa de outrem, configurando ato ilícito ainfringência ao previsto na Lei 8429/92.

A preservação da normalidade administrativa – ideal cultivado pelasociedade organizada – tem escopo em colunas mestras, entre as quais avulta a ideia deque há um patrimônio econômico de todos, que não deve ser pilhado por ninguém, muitomenos pelos agentes públicos.

Todavia, uma vez que essa apropriação ocorra, em virtude de conduta

desses oficiais – servidores públicos, cabe-lhes receber as consequências lógicasimpostas pelo Direito, das quais a mais importante é a restauração do patrimônio lesado.A reparação não tem apenas o caráter satisfativo da res pública, mas se constitui naresposta da sociedade aos que abusaram de seu patrimônio, precisamente quando

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tinham o dever funcional de protegê-lo13.

A autorização para o ressarcimento dos danos causados ao patrimôniopúblico, bem como a sua imprescritibilidade é oriunda da Constituição da RepúblicaFederativa do Brasil ao estabelecer no art. 37, § 5º, verbis:

“Art. 37 – (...)§ 5º - A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados porqualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas asrespectivas ações de ressarcimento.”

Uma das razões desta ação civil é o ressarcimento integral do danocausado aos cofres públicos tendo como causa de pedir a lesão ao erário evidenciadopelas provas carreadas aos autos. Ademais, a integralidade do dano deve incluir os jurose correções monetárias devidas, sob pena de não ser integral.

Como já demonstrado no corpo da presente peça, os atos do Requeridocausaram lesão ao Estado do Tocantins no tocante ao dano material, cujo valor, até omomento, perfaz o montante de R$ 4.282.332,38 (quatro milhões, duzentos e oitenta edois mil, trezentos e trinta e dois reais e trinta e oito centavos), acrescido de juros ecorreção monetária, dano esse que deve ser recomposto pelos Requeridos.

10 – DO PEDIDO DE TUTELA DE EVIDÊNCIA DE INDISPONIBILIDADEDE BENS E ATIVOS DOS REQUERIDOS

A Constituição Federal, em seu artigo 37, § 4°, ao dispor sobre osatos de improbidade administrativa, prevê como uma de suas consequências naturais adecretação da indisponibilidade de bens e o ressarcimento ao erário:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dosEstados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

(…)

§ 4º. Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitospolíticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento aoerário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

A Lei nº 8.429/92, em seus arts. 5º e 7º, estabelece a medida cautelar deindisponibilidade de bens como decorrência lógica da prática de atos ímprobos, in verbis:

Art. 5°. Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou omissão, dolosa ou culposa, doagente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano.[...]Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejarenriquecimento ilícito, caberá à autoridade administrativa responsável pelo inquéritorepresentar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado.

13 FAZZIO JUNIOR, Waldo. Atos de Improbidade Administrativa. Doutrina, Legislação e Jurisprudência. Editora Atlas. São Paulo: 2007.

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Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairá sobrebens que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimopatrimonial resultante do enriquecimento ilícito.

No presente caso, estão satisfeitos todos os requisitos para a decretaçãodesta medida cautelar, a saber, o fumus boni juris e o periculum in mora, comodemonstraremos.

10.1. DO FUMUS BONI JURIS.

O fumus boni juris decorre naturalmente de toda a narrativa fática dapetição inicial, instruída com farta prova documental, expondo grave prática de atosímprobos por parte dos requeridos, com expressiva lesão ao erário e aos princípios daadministração pública, em razão da prática de atos de improbidade administrativadecorrente da adesão à ata de preços e, por consequência, da subcontratação total daempresa V3 BRASIL pela AWA IDEIAS INTEGRADAS EIRELI EPP.

10.2. DO PERICULUM IN MORA – DA JURISPRUDÊNCIA DO STJ SOB ASISTEMÁTICA DO RECURSO REPETITIVO: DECORRÊNCIA NATURALDA PRÁTICA DO ATO ÍMPROBO.

Consoante reiterado entendimento do Superior Tribunal de Justiça, aindisponibilidade cautelar dos bens, no caso de improbidade administrativa, não estácondicionada à comprovação concreta, caso a caso, de que os réus os estejamdilapidando, ou com intenção de fazê-lo, exigindo-se apenas a demonstração de fumusboni juris, consistente em fundados indícios da prática de improbidade. Nesse sentido:

EMENTA – STJ - DIREITO SANCIONADOR. REGIMENTAL EM ARESP. ACP PORIMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. AGRAVO DE INSTRUMENTO INTERPOSTO PELOIMPLICADO NA ORIGEM CONTRA DECISÃO DE PRIMEIRO GRAU QUEDETERMINOU A INDISPONIBILIDADE DE BENS DO RÉU. PRETENSÃO NESTACORTE SUPERIOR DE REFORMA DO ARESTO DO TJ/MT QUE CONFIRMOU ADECISÃO PRIMITIVA, ESTA QUE APONTOU PARA A DESNECESSÁRIAEVIDENCIAÇÃO DE ATOS DE DILAPIDAÇÃO PATRIMONIAL PELO RÉU PARA QUESE DEFIRA A MEDIDA CAUTELAR CONSTRICTIVA EM AÇÃO DEIMPROBIDADE. CONCLUSÃO MANTIDA PELA PRESIDÊNCIA DESTE TRIBUNALSUPERIOR, AO APLICAR PRECEDENTE JULGADO NESTE TRIBUNAL SOB ORITO DO ART. 543-C DO CPC/73 (RESP.1.366.721/BA, REL. P/ACÓRDÃO MIN. OG FERNANDES, DJE 19.9.2014). A PARTEAGRAVANTE, PORÉM, PRETENDE A REFORMA DA DECISÃO POR EXIGIR PROVADE QUE O ACUSADO DISSIPOU BENS, ARGUMENTO AFRONTOSO AO CITADOPRECEDENTE. AGRAVO REGIMENTAL DO IMPLICADO DESPROVIDO.1. Esta Corte Superior, em interpretação ao art. 7º da Lei 8.429/92, firmou oentendimento de que a decretação de indisponibilidade de bens em ACP porImprobidade Administrativa dispensa a demonstração de dilapidação ou a tentativade dilapidação do patrimônio para a configuração do periculum in mora, o qual estáimplícito ao comando normativo do art. 7o. da Lei 8.429/92, bastando a demonstraçãodo fumus boni juris, que consiste em indícios de atos ímprobos (REsp.1.366.721/BA.Rel. p/Acórdão Min. OG FERNANDES, DJe 19.9.2014). […] 4. AgravoRegimental do implicado desprovido. (AgRg no AREsp 733.681/MT, Rel. MinistroNAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 20/06/2017, DJe28/06/2017).

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Com efeito, esse entendimento está plenamente consentâneo com o art.37, § 4º, da Constituição da República Federativa do Brasil, que prevê a decretação daindisponibilidade de bens como decorrência natural, lógica e necessária da comprovadaprática de ato ímprobo que cause lesão ao erário.

Da mesma forma, também o art. 7º da Lei 8.429/92 prevê aindisponibilidade como consectário imediato e imperativo do ato ímprobo, a fim deque salvaguardar o erário e a moralidade administrativa.

10.3. DO PERICULUM IN MORA NO CASO CONCRETO.

No caso vertente, conforme assinalado em capítulo próprio, as provasexistentes nos autos sugerem a ocorrência de fatos contrastantes com a dimensãoontológica dos princípios da administração pública e, por isso, ajustáveis aos tipos da LeiFedera nº 8.429/92. Em outras palavras, os fatos imputados aos Requeridos, eexaminados em tópicos precedentes, evidenciam a presença da plausibilidade do direitosubstancial vindicado. A propósito:

ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE. INDISPONIBILIDADE DE BENS. PERICULUM INMORA PRESUMIDO. 1. A Primeira Seção, em sede de recurso especial repetitivo (REsp n.1.366.721/BA), firmou o entendimento de que o magistrado que preside a ação deimprobidade, desde que de forma fundamentada, pode decretar a indisponibilidadecautelar de bens do demandado, quando presentes indícios da prática de atosímprobos - como no caso vertente -, estando o periculum in mora implícito no comandolegal que rege a matéria. 2. Agravo interno não provido. (AgInt no REsp 1504360/RO, Rel.Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 09/05/2017, DJe20/06/2017).

A bem da verdade, não seria razoável, em absoluto, esperar que oprocesso permaneça tramitando (não raras as vezes levam-se anos e anos para sejulgar uma ação improbidade), sem a adoção de uma providência acautelatóriacomo a que ora se postula, pois certamente abriria precedente à dilapidaçãopatrimonial, cuja chance de ocorrência é bem maior agora, com o ajuizamento daação, e aumenta a cada nova fase do processo que passa, em direção ao trânsitoem julgado, podendo, até mesmo, inviabilizar o ressarcimento ao erário estadual,tornando-se inócua a prestação jurisdicional.

Assim, justa e necessária a indisponibilidade de bens dos requeridos.

11. DOS PEDIDOS

Pelo exposto, o Ministério Público requer a Vossa Excelência oseguinte:

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1 – EM SEDE DE TUTELA DE URGÊNCIA/EVIDÊNCIA:

1.1 – na forma do art. 7º, da Lei Federal nº 8.429/92, a decretação daindisponibilidade dos bens dos acionados, no valor de R$ 4.282.332,38 (quatromilhões, duzentos e oitenta e dois mil, trezentos e trinta e dois reais e trinta e oitocentavos), correspondente ao dano ocasionado ao erário estadual, recaindopreferencialmente sobre dinheiro, nos termos do art. 835, I, do CPC14, a ser efetivadapelo Sistema de penhora on-line do Banco Central – Bacen Jud15, pois em casosdesse jaez, o STJ16 perfilha do entendimento que a responsabilidade é solidária até ainstrução final do feito, momento em que se delimita a quota de responsabilidade de cadaagente para fins de dosimetria da pena, observando, ainda, que a jurisprudência do STJ17

conclui pela possibilidade de a indisponibilidade recair sobre bens adquiridos antes dofato descrito na inicial;

1.2) Decretada a MEDIDA CAUTELAR DE INDISPONIBILIDADE DEBENS e valores, REQUER-SE, com fundamento no art. 189, I, do CPC, a DECRETAÇÃODO SIGILO dos autos evidenciados até o cumprimento das diligências adianteelencadas, para se assegurar a sua efetividade e operacionalização, levantando-o emseguida, por não mais justificar a necessidade de se repousar o sigilo:

1.3) Emissão de ordem de indisponibilidade por intermédio da CNIB –Central Nacional de Indisponibilidade de Bens18, instituída pelo Provimento nº3919/2014 da Corregedoria Nacional de Justiça do CNJ, de todos os imóveis localizadosem nome dos requeridos;

1.4.) caso não seja possível a efetivação da medida em espécie, queseja realizada a indisponibilidade on-line de todos os veículos dos réus por intermédio doSistema RENAJUD20 – Restrições Judiciais Sobre Veículos Automotores, ou,alternativamente, seja oficiado ao DETRAN-TO, no sentido de que informe a esse Juízosobre a existência de veículos registrados em nome dos requeridos, e, sendo positiva a

14Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem: I - dinheiro, em espécie ou em depósito ouaplicação em instituição financeira;15https://www3.bcb.gov.br/bacenjud2/dologin16EMENTA – STJ - ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RESSARCIMENTO DE DANOS CAUSADOS POR ATODE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. […] 3. Nos casos de improbidadeadministrativa, a responsabilidade é solidária até a instrução final do feito, momento em que se delimita a quotade responsabilidade de cada agente para a dosimetria da pena. AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.314.061 - SP(2012/0051743-8) RELATOR : MINISTRO HUMBERTO MARTINS,Brasília (DF), 02 de maio de 2013 (Data doJulgamento).17(AgRg no AREsp 698.259/CE, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em19/11/2015, DJe 04/12/2015) 18https://www.indisponibilidade.org.br/institucional19https://www.indisponibilidade.org.br/downloads/ provimento _39.pdfCNIB – Central Nacional de Indisponibilidade de Bens - é um sistema de alta disponibilidade, criado eregulamentado pelo Provimento Nº 39/2014, da Corregedoria Nacional de Justiça, que se destina a integrartodas as indisponibilidades de bens decretadas por Magistrados e por Autoridades Administrativas recaindosobre todos os imóveis localizados dos demandados.20 https://renajud.denatran.serpro.gov.br/login.html

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resposta, seja, imediatamente e no mesmo ato, gravada a indisponibilidade de tais bens;

2) Seja esta petição inicial autuada com os documentos que aacompanham, notificando-se os réus para, querendo, apresentarem manifestação préviano prazo de quinze dias, consoante disposto no artigo 17, § 7º, da Lei Federal n.º8.429/92 e dispositivos seguintes;

3 – após o recebimento da petição inicial, requer a citação dosRequeridos para apresentar contestação, no prazo legal;

4 – a citação do Estado do Tocantins para integrar a lide, apóssuperada a fase de apresentação de defesa preliminar (art. 17, § 7º), ou seja, queseja citado na fase do art. 17, § 9º, da Lei nº 8.429/92, no que tange ao pedido deanulação de atos e contrato administrativos;

5) após o oferecimento de tal manifestação, ou transcorrido o prazo legalsem sua apresentação, seja recebida esta petição inicial, citando-se os réus para,querendo, ofertarem contestação, no prazo ordinário de quinze dias, conforme dispostono artigo 17, § 9º, da Lei Federal n.º 8.429/92;

6 – NO MÉRITO

6.1. a CONDENAÇÃO dos requeridos nas sanções dos art. 12, II, da LeiFederal nº 8.429/92, inclusive no que se refere ao integral ressarcimento do danocausado ao Estado do Tocantins, qual seja, ressarcir ao patrimônio do Estado doTocantins, na quantia de R$ 4.282.332,38 (quatro milhões, duzentos e oitenta e doismil, trezentos e trinta e dois reais e trinta e oito centavos), acrescida de juros ecorreção monetária, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 5(cinco) a 8 (oito) anos, pagamento de multa civil equivalente a duas vezes o valor do danoe proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscaisou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica daqual seja sócio majoritário, pelo prazo de 5 (cinco) anos; alternativamente, caso VossaExcelência assim não entenda que sejam os requeridos condenados nas sanções do art.12, III, da LIA;

6.2. DECRETAR A NULIDADE E/OU INVALIDAÇÃO do atoadministrativo que autorizou a adesão à Ata de Registro de Preços nº 01/2016, comorigem no Pregão Eletrônico nº 01/2016, no valor total de R$ 6.572.920,25 (seis milhões,quinhentos e setenta e dois mil, novecentos e vinte reais e vinte e cinco centavos), qualseja o despacho GASEC nº 081/2017;

6.3. DECRETAR A NULIDADE E/OU INVALIDAÇÃO do contrato nº015/2017, celebrado entre o Estado do Tocantins e a empresa AWA IDEIASINTEGRADAS EIRELI EPP, no valor de R$ 6.572.920,25 (seis milhões, quinhentos esetenta e dois mil, novecentos e vinte reais e vinte e cinco centavos);

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6. A produção de todos os meios de prova admitidos em lei, inclusivejuntada de novos documentos, prova pericial, prova testemunhal e depoimento pessoaldos requeridos;

Atribui-se à causa o valor de 6.572.920,25 (seis milhões, quinhentos esetenta e dois mil, novecentos e vinte reais e vinte e cinco centavos), correspondente aovalor integral do contrato administrativo de prestação de serviços impugnado.

Palmas, TO, 19 de janeiro de 2018.

EDSON AZAMBUJAPromotor de Justiça