excelentÍssimo senhor doutor juiz federal da … · com a previdÊncia social cumulada com...
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ___ VARA FEDERAL DE SÃO
BERNARDO DO CAMPO/SP.
NOME, brasileiro, aposentado, inscrito no CPF sob o n.º XXX.XXX.XXX-
XX, residente e domiciliado na Rua X, n.º X, X, X/SP, CEP n.º XXXXXXX, neste ato
representado por sua advogada que esta subscreve (mandato anexo), respeitosamente
vem a presença de Vossa Excelência, conforme art. 319 e ss. do Código de Processo Civil,
propor a presente
em face da UNIÃO (FAZENDA NACIONAL), pessoa jurídica de direito público, na pessoa
de seu Procurador, pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos
AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE OBRIGAÇÃO DO APOSENTADO PARA CONTRIBUIR
COM A PREVIDÊNCIA SOCIAL CUMULADA COM REPETIÇÃO DE INDÉBITO
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I - DOS FATOS
1. Consta que o Autor requereu sua aposentadoria em XX/XX/XXXX
na modalidade aposentadoria por tempo de serviço, código XX e na época contava com
mais de XX anos de contribuição. O seu benefício atualmente tem o número XXXXXXXXX,
espécie XX, com DIB XX/XX/XXXX.
2. Ocorre que o Autor, mesmo se aposentando, e, supõe-se, estaria
podendo enfim desfrutar do seu merecido descanso após anos de labor, não obteve a
renda desejada e foi compelido a retornar ao mercado de trabalho.
3. Continuou desta forma o Requerente, a recolher contribuições ao
INSS em virtude de seu registro de trabalho e em decorrência de ser contribuinte
obrigatório da Previdência.
4. Analisando a CTPS do Demandante, verifica-se que este trabalhou
e contribuiu após a sua aposentadoria nos seguintes períodos, e deseja a restituição
destas contribuições, pois as mesmas não trouxeram qualquer benefício ao autor:
5. (CNIS EM ANEXO DEMONSTRANDO O PERÍODO RECOLHIDO PÓS
APOSENTAÇÃO)
6. Irresignado com tal cobrança, exigido pela Ré, o Autor utiliza-se
deste procedimento judicial para obter uma prestação jurisdicional que determine: (i) a
inexistência da obrigação do aposentado de contribuir com a previdência social; e (ii) a
repetição dos valores pagos indevidamente.
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II - DO DIREITO
QUESTÕES PRELIMINARES
II. 1 - DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA
7. Antes de adentrar no mérito da presente lide, o Requerente
requer lhe sejam deferidos os benefícios da Justiça Gratuita, por não poder arcar com
os ônus financeiros da presente ação, sem que com isso sacrifique o seu próprio
sustento e o de sua família, conforme declaração que segue em anexo, e nos termos dos
arts. 98 a 102 do Código de Processo Civil.
II. 2 - DA TRAMITAÇÃO PRIORITÁRIA
8. É assegurado o atendimento prioritário ao idoso com idade igual
ou superior a 60 anos na tramitação dos processos e procedimento e na execução dos
atos e diligências judiciais em qualquer instância. O autor preenche as condições e
requer este benefício, conforme artigo 71, § 1° da Lei 10.741/2003 e artigo 1.048 do
Código de Processo Civil.
II. 3 - DA LEGITIMIDADE PASSIVA
9. Com a edição da Lei nº 11.457/2007, a Secretaria da Receita
Federal passou a ser denominada de Secretaria da Receita Federal do Brasil – SRFB,
(chamada Lei da “Super Receita”) e, segundo os artigos 1º e 2º, caput, assumiu todas as
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atribuições referentes à fiscalização, arrecadação, cobrança e recolhimento das
contribuições previdenciárias.
10. Nessas condições, a pretensão de repetição do indébito de
contribuições previdenciárias deve ser dirigida à União, eis que o sujeito ativo de tais
obrigações tributárias passou a ser a Receita Federal do Brasil (SRFB). Assim, resta
evidente a sua legitimidade passiva na presente demanda.
III - DO MÉRITO
11. O que se discute na presente demanda é a restrição injustificada,
do ponto de vista constitucional, que um contribuinte obrigatório da Previdência Social
sofre só pelo fato de ser aposentado. Isso se dá por conta da redação do §2º do art. 18
da Lei 8.213/91, que assim prescreve:
§2º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social–RGPS que
permanecer em atividade sujeita a este Regime, ou a ele retornar, não
fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do
exercício dessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação
profissional, quando empregado. (Redação dada pela Lei nº 9.528, de
1997). (grifo nosso).
12. Diante dessa discriminação, os seguintes tópicos da presente
exordial demonstrarão que, além de não haver uma justificativa para tal discrímen, tal
norma viola determinados direitos fundamentais.
13. Quanto aos direitos fundamentais, vale ressaltar, que estes são
guarnecidos por um regime jurídico mais denso, protetivo do que os demais, no qual,
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com o objetivo de protegê-los e emprestar-lhes o máximo de efetividade possível, há
uma maior amplitude no controle e no limite da atuação estatal quando esta for dirigida
a estes direitos.
14. Em outras palavras, quando o Estado excede na restrição de um
direito fundamental ou quando ele o protege insignificativamente, em ambas as
hipóteses, houve uma inobservância por parte do legislador ao regime jurídico dado pela
CF/88 aos direitos fundamentais.
15. Portanto, além de violar determinados direitos fundamentais em
espécie, tal prescrição normativa contida no §2º do art. 18 da Lei 8.213/91, acaba
também por violar o próprio regime jurídico dos direitos fundamentais estabelecido
pela Constituição da República de 1988.
16. Nossa Previdência Social é regida pelo princípio CONTRIBUTIVO X
RETRIBUTIVO, onde TODA contribuição deve reverter em retribuição, o que não ocorre
no caso em tela. Exigir contribuição e em troca assegurar o salário maternidade e
reabilitação profissional se mostra um escárnio com o aposentado.
IV - PREVIDÊNCIA SOCIAL COMO DIREITO FUNDAMENTAL
17. Como cediço, o surgimento de uma visão antropocêntrica consiste
em dizer que a pessoa humana está inserida no centro, como a mais importante.
18. A ideia de direitos fundamentais é tipicamente uma construção da
Modernidade. A visão predominante afirmava que a fundação da sociedade civil não
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eliminava os direitos naturais, que são os direitos pré-políticos, ou seja, direitos
existentes antes da própria sociedade e que, portanto, os governantes tinham que
respeitá-los.
19. De todo modo, eram direitos que voltavam-se contra o Estado, o
qual era o seu destinatário, e tinham um conteúdo negativo, isto é, o Estado respeitava
esses direitos quando se abstinha de violá-los. Não era uma postura positiva e sim uma
postura negativa que concretizava esses direitos. Considera-se nesse momento a
primeira geração dos direitos fundamentais.
20. O descompasso para com os problemas sociais e o agravamento
da desigualdade social põe em xeque esse constitucionalismo liberal, e uma série de
reivindicações tentou romper com o status quo. Surgi daí os direitos sociais, que
caracteriza-se na segunda dimensão dos direitos fundamentais.
21. O discurso desses direitos sociais estabelecia que os direitos não
são mais concebidos só como abstenções estatais, passa-se a verificar que a intervenção
estatal é necessária para assegurar a igualdade, a liberdade e a dignidade. Então, direitos
positivos e prestacionais passam a ser reconhecidos como, por exemplo, a educação, a
saúde, a previdência.
22. Cabe dizer que a força motriz dessa nova compreensão entre
Estado/indivíduo foi o princípio da igualdade. Assim, esses direitos são denominados
como “sociais”, não porque são direitos da coletividade, mas por estarem ligados às
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reivindicações de justiça social. Na grande maioria, estes direitos têm por titulares
indivíduos singularizados.1
23. Diante da premissa de que direito social também é direito
fundamental titularizado por indivíduos singularmente considerados, o art. 6º da CF/88
cumpriu o papel de positivá-los. Desde o texto originário do referido dispositivo
constitucional (sem as posteriores alterações), a previdência social já constava em seu
rol.
24. Portanto, ao tratarmos da previdência social estamos, antes de
mais nada, tratando de um direito fundamental arraigado no princípio da Igualdade (art.
5º, caput CF) e, que tem como seu núcleo irredutível, pelo simples fato de ser direito
fundamental, a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III CF).
25. Assim é a conclusão de Paulo Gustavo Gonet Branco e Gilmar
Ferreira Mendes:
“Os direitos fundamentais assumem posição de definitivo realce na
sociedade quando se inverte a tradicional relação entre Estado e
indivíduo e se reconhece que o indivíduo tem, primeiro, direitos, e,
depois, deveres perante o Estado, e que os direitos que o Estado tem
em relação ao indivíduo se ordenam ao objetivo de melhor cuidar das
necessidades dos cidadãos”.2
1 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet: Curso de Direito Constitucional: 8ª ed.: 2013: Saraiva. 2 Mendes e Gonet, Curso de Direito Constitucional, p. 136.
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V - REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA QUE UM REGIME SEJA ADJETIVADO COMO
“PREVIDENCIÁRIO”
26. Um determinado regime ou sistema está calcado em prescrições
normativas, que o estabelece e o qualifica. Portanto, pode-se concluir que não existe
um sistema que seja ontologicamente previdenciário.
27. Assim, na criação de um Regime Previdenciário deve haver
requisitos sem os quais não será possível considerá-lo como tal. Pelo fato de a
Previdência Social ser um direito do cidadão que contribui, é forçoso concluir que tal
regime deve prever determinadas prestações para assim ser considerado.
28. Não obstante, tais prestações devem ser suficientes para garantir
o que o direito fundamental à previdência social exige. Nessa linha, vale a transcrição de
excerto da seguinte decisão judicial:
“(...). A contribuição previdenciária possui dimensão fundamental
justamente por ser direito especial relativo à vida, daí porque deve ser
vertida a um regime suficiente a garantir, no mínimo, cobertura
securitária nos casos de doença, velhice, invalidez e morte. É o que se
vê do histórico do sistema constitucional brasileiro. A primeira
Constituição Federal a expressar claramente o direito previdenciário
foi a de 1934, a qual previa, em seu artigo 121, § 1º, "h", o direito à
"instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, do
empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da
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maternidade e nos casos de acidente de trabalho ou de morte".
Trilhando o mesmo norte, o artigo 157, XVI, da Constituição Federal de
1946 enfatizou o caráter teleológico do sistema previdenciário
contributivo para garantir a previdência em favor "da maternidade e
contra as consequências da doença, da velhice, da invalidez e da
morte", no que foi seguida igualmente pelo artigo 158, XVI, da
Constituição Federal de 1967. A Constituição Federal de 1988 recebeu
o rótulo de "Constituição cidadã" justamente por ressaltar o
individuo como base antropológica do seu discurso, daí a clareza
solar ao estabelecer a previdência social para atender,
principalmente, a "cobertura de eventos de doença, invalidez, morte
e idade avançada" (artigo 201, I). (...).” (grifos nossos). (0000091-
85.2017.4.03.6334).
29. Desse modo, a existência de um sistema previdenciário pressupõe
no mínimo cobertura de doença, velhice, invalidez e morte. Na sequência, continua a
fundamentação da acertada decisão supratranscrita:
“(...). Nessa linha intelectiva, qualquer regime, seja público ou privado,
somente obterá o status de "previdenciário" se ofertar, no mínimo,
cobertura securitária para os casos de doença, velhice, invalidez ou
morte. Assim, quando o inciso I do artigo 201 da Constituição Federal
de 1988 estabeleceu que "a previdência social atenderá... I - a
cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte ou idade avançada
nos termos da lei...", quis o legislador constitucional originário
densificar as diretrizes que a lei deveria seguir ao regulamentar a
questão, ou seja, definiu os nortes principiológicos dos quais não
poderia o legislador distanciar-se à concretização do direito
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fundamental à cobertura previdenciária, até porque essa é a única
interpretação capaz de atender ao critério da máxima efetividade da
norma constitucional ante as circunstâncias do caso concreto.
Interpretação contrária será impassível de aptidão à produção dos
efeitos esperados e ao alcance da finalidade para a qual a norma foi
gerada. Ao legislador infraconstitucional foi permitido editar a
respectiva lei regulamentando os mecanismos necessários a permitir,
contributivamente, a garantia de acesso a regime previdenciário que
assegurasse, no mínimo, "cobertura dos eventos de doença, invalidez,
morte ou idade avança". (...)”
30. Portanto, a própria Constituição de 1988 reconheceu, ao
prescrever o inciso I do art. 201, que um regime só pode ser considerado como
“previdenciário”, do ponto de vista constitucional, se assegurar ao seu contribuinte a
“cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada”.
31. Assim, somente é possível uma única conclusão diante da análise
comparativa entre o §2º do art. 18 da Lei 8.213/91 e o inciso I do art. 201 da CF/88: o
aposentado que, por dificuldade financeiro-econômica, retorna ao mercado de trabalho
e torna-se novamente contribuinte obrigatório, está, em termos constitucionais, à
margem do Regime Previdenciário. Quer dizer, ele contribui para um regime do qual não
está inserido.
32. Pela tamanha incompatibilidade entre os dispositivos, deve-se
priorizar a aplicação de apenas um deles. Dar prevalência ao dispositivo
infraconstitucional é inverter a lógica do sistema jurídico, ou seja, é ler a Constituição
com base na legislação infraconstitucional e não a legislação com base na Constituição.
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33. Portanto, diante do regime previdenciário imposto pela CF/88 no
qual inadmite que um contribuinte ainda mais obrigatório não tenha como direito a
cobertura de eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada, enxerga-se
claramente a inconstitucionalidade material do §2º do art. 18 da Lei 8.213/91.
VI - PRINCÍPIO DA IGUALDADE
34. O art. 5º caput da CF/88 enfatiza a palavra igualdade. A igualdade
junto com a dignidade da pessoa humana é o centro do sistema dos direitos
fundamentais. Desse modo, a igualdade é a regra do ordenamento jurídico.
35. Evidentemente, não é qualquer diferença de tratamento que
corresponde a uma violação à igualdade. Pelo contrário, o Direito tem até o dever de
conferir diferença no tratamento quando tem como escopo preservar e atingir o
princípio da igualdade. Assim, a igualdade não é absoluta, mas sim relativa, na qual exige
um critério de comparação para a sua concretização.
36. Desse modo, faz-se necessário averiguar qual critério fora
adotado para discriminar. Como a CF/88 estabeleceu como regra do ordenamento o
princípio da igualdade, qualquer medida discriminatória, portanto, deve conter em seu
bojo um critério diferenciador que seja constitucionalmente válido. Isto é, para uma
discriminação atender o princípio da igualdade, esta precisa adotar uma justificativa
constitucionalmente válida.
37. No entanto, não é somente o critério adotado para desigualar que
basta para verificar a ofensa, ou não, à igualdade. A finalidade pela qual a discriminação
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foi adotada também é um ponto de análise. Quer dizer, a finalidade buscada com a
diferenciação também deve encontrar fundamentação constitucional. Qual é a legítima
finalidade que o Estado quer alcançar?
38. Em relação ao caso em testilha, é patente a diferença de
tratamento que o legislador ordinário concedeu ao aposentado que continua ou retorna
ao mercado de trabalho em comparação aos demais contribuintes obrigatórios do
Regime Geral da Previdência Social. Enquanto estes últimos fazem jus às coberturas dos
eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada, o aposentado contribuinte
somente faz jus ao salário-família e à reabilitação profissional.
39. Assim, o aposentado contribuinte não tem os mesmos direitos
que os demais. Como já dito, ele está à margem do que a Constituição estabelece como
um Regime Previdenciário.
40. Quanto ao critério adotado pelo legislador, ao prescrever o §2º do
art. 18 da Lei 8.213/91, é evidente que tal critério é o fato de aquela pessoa já ter se
aposentado. Agora, indaga-se: é constitucionalmente válido tal critério?
41. A resposta é negativa, tendo em vista que quando o aposentado
volta a trabalhar ele se torna contribuinte obrigatório assim como os demais. Ele não
tem a faculdade de contribuir. Ou seja, na hora de cobrar, a legislação o coloca em pé
de igualdade com os demais prevendo a sua obrigatoriedade na contribuição, mas na
hora de conceder o Estado o discrimina e o expurga do Sistema Previdenciário.
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42. Quanto ao salário-família e à reabilitação profissional, vale trecho
da mesma decisão já supramencionada:
“(...). Obviamente, a deleteriedade dos efeitos dessa discriminação
injustificada lhes permite atingir patamares transponentes da mera
formalidade, isso porque acabam, verdadeiramente, por excluir de
qualquer proteção previdenciária àqueles que continuaram a
contribuir para o Regime Geral de Previdência Social nas mesmas
condições e efeitos de todo e qualquer contribuinte, e pelo simples fato
de já terem obtido uma aposentadoria. Continuidade essa, realce-se,
imposta por lei, e não fruto de mera liberalidade do trabalhador.
Elegeu-se o termo "excluir de qualquer proteção" em atenção ao seu
caráter substantivo, já que o parágrafo 2º do artigo 18 da 8.213/91
coloca a salvo os benefícios de "reabilitação profissional" e "salário-
família". Ocorre, no entanto, que esses "benefícios" são previstos
apenas formalmente porque não chegam a ser concretizados aos
contribuintes nessa situação (já aposentados e que continuam
trabalhando e contribuindo como segurados obrigatórios). Isso porque
o "salário-família" é pago limitadamente àqueles que, inserindo-se no
conceito de "baixa renda", possuam filhos de até 14 anos de idade
(artigo 66 da Lei nº 8.213/91). Logo, é extremamente difícil, senão
impossível na grande maioria dos casos, que o segurado atinja o
período necessário de contribuição (30 ou 35 anos) com idade hábil a
possuir filhos menores de 14 anos. Por outro lado, assegurar
"reabilitação profissional" tão somente, sem prévia concessão de
auxílio-doença ou outro benefício que permita ao segurado obter os
medicamentos ou tratamentos indispensáveis à sua melhora sem
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necessitar abater de seus vencimentos - que de tão parcos exigiram a
continuidade no trabalho mesmo depois de obtida a aposentação -
equivale a colocar o segurado obrigatório em situação altamente
iníqua por absoluto abandono em estado doentio, relegando-o à
própria sorte, e, se sobrevier a cura da doença, por si mesmo, aí sim
terá direito à reabilitação. Reabilitação sem prévia concessão de
oportunidade de tratamento é um engodo, uma situação
absolutamente inviável no contexto social por revelar a
despreocupação do sistema previdenciário público com a efetiva cura
ou consolidação da doença, situação que beira a verdadeira
irresponsabilidade estatal. (...).” (grifo nosso).
43. Assim, configura-se que a única finalidade adotada pelo legislador
ao prever o §2º do art. 18 da Lei 8.213/91 foi arrecadatória, ignorando por completo a
pessoa do aposentado diante de suas eventuais contingências no decorrer do labor. O
Estado exige um prestação do aposentado sem, contudo, garantir-lhe nenhuma
contraprestação quando necessitar. Afigura-se ilegítima tal finalidade.
44. Assim, não há critério que seja constitucionalmente válido a ponto
de justificar tal discriminação, tendo em vista que a única finalidade estatal, ao prever
tal discrímen, é arrecadatória, desconsiderando em sua inteireza o direito fundamental
que o aposentado contribuinte tem à previdência social, assim como têm os demais
contribuintes obrigatórios. Para ilustrar, vale o trecho da decisão supracitada:
“(...). Ao impor à determinada a pessoa a condição de segurado
obrigatório, exigindo-lhe a canalização de contribuições
previdenciárias sem, contudo, assegurar-lhe a contrapartida da
cobertura previdenciária, a Administração Pública esmaga a
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dignidade da pessoa humana desse contribuinte por lhe tolher um
conjunto de benefícios imprescindíveis a assegurar-lhe a existência
digna, livre e igual, mormente por não lhe blindar, através da
proteção social, dos riscos e mazelas típicas a que sujeito pelo mero
exercício de atividade laboral. Retirando do segurado obrigatório
aposentado qualquer grau mínimo de segurança previdenciária, o
Estado olvida a condição intrínseca e distintiva reconhecida em cada
ser humano que o fez merecedor de respeito e consideração,
impondo-lhe um tratamento discriminatório, degradante e
desumano que lhe retira as condições mínimas à manutenção de uma
vida saudável da ponto de vista da segurança protetiva, esvaziando
o princípio da dignidade da pessoa humana (artigo 1º, III, CF). (...).”
(grifo nosso).
45. Não há diferença entre contribuintes obrigatórios, o aposentado
não contribui menos pelo fato de ser aposentado. Assim, o tratamento entre tais
contribuintes deve ser igualitário em sua plenitude. Portanto, viola o princípio da
igualdade tal diferenciação entre contribuintes obrigatórios, pois, situações iguais estão
sendo tratadas de modo diferente.
46. É de observar que a CF de 88 ao dispor acerca da Ordem Social,
criou um título próprio em seu corpo normativo (Título VIII). Assim, ao estabelecer
diretrizes, acabou por estabelecer uma autonomia sistêmica da Seguridade Social, ao
prever princípios, objetivos e regras próprias da Seguridade Social.
47. Diante do sistema constitucional previdenciário, o Constituinte
achou por bem concretizar o princípio da igualdade, que está previsto de forma genérica
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no art. 5º caput, em uma regra que consiste na universalidade da cobertura e do
atendimento, prevista no art. 194, parágrafo único, inciso I da CF.
48. Desse modo, o que o Constituinte buscou foi concretizar, no
próprio plano normativo-constitucional, o princípio da igualdade em uma regra, com o
objetivo de não dar margem ao legislador ordinário de estabelecer escolhas quanto ao
princípio da igualdade em matéria previdenciária. Em outras palavras, ele vinculou a
atuação do legislador ordinário quanto ao princípio da igualdade, retirando-lhe qualquer
margem discricionária que pudesse vir a colidir com a universalidade da cobertura e do
atendimento.
49. Portanto, além de malferir o princípio da igualdade previsto art.
5º caput da CF, o legislador ofende a regra da igualdade do art. 194, parágrafo único,
inciso I da CF/88, ao prever o §2º do art. 18 da lei 8.213/91. Assim, configura-se uma
dupla violação à igualdade, seja em seu aspecto principiológico, seja em relação à sua
concretização como regra do sistema constitucional previdenciário.
VII - PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA PROTEÇÃO DEFICIENTE
50. Um direito fundamental não é somente um direito subjetivo no
qual um indivíduo pode, com base nele, exigir que se faça ou que não se faça algo. Os
direitos fundamentais também possuem uma dimensão objetiva, ou seja, o direito
fundamental não é considerado exclusivamente sob a ótica individualista, mas também
do ponto de vista do próprio bem jurídico que é tutelado por aquele direito
fundamental. Assim, parte-se para um viés objetivo relacionado ao próprio bem jurídico
tutelado e não somente ao seu titular (aspecto subjetivo).
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51. Desse modo, o Estado deve tutelar aquele bem jurídico protegido
por determinado direito fundamental de forma adequada e eficiente. Nessa toada, nos
direitos fundamentais estão envolvidos deveres de proteção. Quer dizer, os direitos
fundamentais por ter uma faceta positiva impõem ao Estado o dever de proteger
determinados bens jurídicos.
52. Assim, quando o Estado protege menos do que deveria proteger,
incorre na violação dessa proteção. Por isso que há uma vedação à proteção insuficiente.
Vale ressaltar que esse princípio também é um direito fundamental implícito,
podendo a sua positivação ser extraída do §2º do art. 5º da Constituição da República.
53. Nesse contexto, as medidas tomadas pelo legislador devem ser
suficientes para uma proteção adequada e eficiente. Em outras palavras, as medidas
tomadas pelo legislador ordinário devem ser suficientes para assegurar um padrão
mínimo de proteção constitucionalmente exigido.
54. Isso não quer dizer que somente uma omissão estatal seria capaz
de violar o princípio da proibição da proteção insuficiente. Um ato comissivo também é
capaz de violar tal princípio, como ocorre no presente caso. Outra passagem da mesma
decisão aduz com precisão esse tópico:
“(...). A regra fundante da universalidade da cobertura, mais
precisamente da previdenciária, tem sua eficácia condicionada à
dilatação de sua dimensão para servir não apenas de instrumento de
realização do direito constitucional à igualdade de tratamento, mas
também, e principalmente, de concretização do princípio da vedação
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da proteção insuficiente. Intitulado como o aspecto positivo da
proporcionalidade, o princípio da proteção insuficiente assegura que o
direito fundamental social prestacional não pode ser iludido pelo
Poder Público, quer omissiva - através inércia no dever de
implementar as políticas públicas necessárias à satisfação desses
direitos - ou comissivamente - adoção de política pública inadequada
ou insuficiente, como o é a opção por norma infraconstitucional
excluidora. (...). (grifo nosso).
55. Em vista dos argumentos apresentados, quando o legislador
regulamentou o art. 201, I da CF e decidiu excluir de qualquer cobertura previdenciária
o aposentado que se mantém ou retorna ao mercado de trabalho, houve flagrante
afronta ao dever de proteger de forma suficiente o bem jurídico tutelado pelo direito
fundamental da previdência social.
56. Isso porque, o direito fundamental à previdência social visa
tutelar, ao fim e ao cabo, o próprio direito à vida e o direito a uma subsistência digna e,
por corolário, a dignidade da pessoa humana. Será que alguém já aposentado, com seus
60 ou 70 anos de idade quer realmente se manter ou voltar ao mercado de trabalho?
Por óbvio que não. Não se trata simplesmente de opção por parte do aposentado, mas
sim da necessidade de cobrir os seus gastos e de sua família.
57. Portanto, a partir de o momento em que há um dispositivo legal
limitando o acesso desse aposentado ao Regime Previdenciário constitucionalmente
estabelecido como sendo a cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade
avançada, patente é violação ao princípio da proibição da proteção deficiente, deixando
o aposentado contribuinte totalmente desprotegido de qualquer contingência que vier
a sofrer. O aposentado só pode contar com a sorte do destino.
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58. Assim, se o contribuinte, ainda que aposentado, mantém a
qualidade de segurado, e cumpre todos os seus requisitos, deve ele continuar fazendo
jus à proteção previdenciária. A sentença inúmeras vezes aqui transcrita assim diz:
“(...). A obtenção de uma aposentadoria espontânea não pode
importar na caducidade dos direitos inerentes à qualidade de
segurado obrigatório. O elementar direito à qualidade de segurado é
justamente o abrigo contra eventos casuais que têm possibilidade para
subverter a normalidade com que se conduz a vida. Essas
contingências, a despeito de individuais, jamais puderem ser
prevenidas ou remediadas, daí a importância da proteção social. (...).”
(grifo nosso).
“O princípio constitucional da universalidade da cobertura
(artigo 194, parágrafo único, I, CF) serve, portanto, de instrumento à
concretização do direito também constitucional à igualdade de
tratamento (artigo 5º, caput, CF). Portanto, à efetiva concretização da
igualdade, no plano previdenciário, não pode haver exclusão da
cobertura daqueles que efetivamente contribuem ao sistema. Logo,
quando aludida norma sibila que "o aposentado pelo Regime Geral de
Previdência Social - RGPS que permanecer em atividade sujeita a este
Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da
Previdência Social em decorrência do exercício dessa atividade" está
inegavelmente impondo um condição de discriminação e, portanto,
absolutamente excluidora por tratar diferentemente segurados sem
qualquer argumento justificante, mormente porque ambos
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encontram-se em idêntica situação de "segurados obrigatórios
contribuintes do sistema...".
“...Evidente, portanto, que a cobrança contributiva, nessa forma,
esvazia o princípio constitucional da universalidade da cobertura
previdenciária por excluir da proteção securitária determinadas
pessoas mediante eleição, sem justificativa racional, da obtenção de
aposentadoria como causa de discriminação quando a essência da
regra fundante da igualdade estabelece que todos são iguais perante
a lei, sem distinção de qualquer natureza (artigo 5º, CF). o impor à
determinada a pessoa a condição de segurado obrigatório, exigindo-
lhe a canalização de contribuições previdenciárias sem, contudo,
assegurar-lhe a contrapartida da cobertura previdenciária, a
Administração Pública”
VIII - ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA POR PARTE DO ESTADO E O PRINCÍPIO DA
MORALIDADE ADMINISTRATIVA
59. Se a partir do momento em que a pessoa recebe um benefício de
aposentadoria do INSS, permanece contribuindo e não terá mais direito de cobertura
dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada, tal cobrança é ilícita, pois,
não terá como contraprestação uma cobertura previdenciária.
60. Ao admitir que o ordenamento jurídico brasileiro veda o
enriquecimento sem causa, tais contribuições pagas por quem já é aposentado e não
conseguirá qualquer outro benefício é ilícita. Ainda mais se considerarmos que o Poder
Judiciário julgou improcedente os pedidos de desaposentação, assim, o próprio
Judiciário admitiu que não é possível que o aposentado obtenha qualquer outro
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benefício com as contribuições posteriores, acarretando uma desarmonia no equilíbrio
atuarial, tendo em vista que a Estado passará a enriquecer-se em prol do contribuinte.
61. Quanto ao princípio da moralidade administrativa, previsto no art.
37, caput da CF/88, compreende a necessidade de a conduta do administrador estar
pautada por parâmetros éticos. O ato estatal não deve somente observar a lei, mas
também deve ser moralmente legítimo e socialmente aceitável. Deve distinguir o que é
honesto do que é desonesto.
62. A partir de o momento em que o Estado exige do aposentado que
se mantém ou que retorna ao mercado de trabalho um valor a título de contribuição
previdenciária, esse mesmo Estado deveria assegurá-lo na cobertura de eventual
contingência.
63. Fica claro que para o Estado só há um lado, o dele. O apetite feroz
do Estado em arrecadar faz com que seja instalada uma cegueira moral, capaz de fazer
tábula rasa do direito fundamental à previdência social quando o assunto é o
aposentado que por necessidade volta a ser contribuinte obrigatório do Regime Geral
da Previdência Social. Tal comportamento estatal desconsidera, de forma absoluta, a
condição humana desse grupo de pessoas.
64. Mesmo admitindo a aplicação do princípio da solidariedade, este
não pode ser estendido ao ponto de tributar segurado que não poderá aferir, de forma
pragmática, nada de substancial em contrapartida.
65. A solidariedade tem limites no princípio da razoabilidade. Não é
por outro motivo que o art. 201, §11, da CF/88 prevê a relação entre salários-de-
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contribuição e salário-benefício. O absurdo tributário neste caso é grave – cobrança de
quem não se coloca à disposição um mínimo de prestações que justifique a exação.
66. Em se tratando de previdência social, não se pode impor a
cobrança a quem, a rigor, não está vinculado ao sistema porque nada dele poderá fruir.
Não existe plano de previdência se não se oferece, ao menos, aposentadoria e pensão
(é a exigência mínima para existência de regime previdenciário, interpretação que se
obtém também da leitura do art. 10, §3º, do Dec. 3.048/99).
67. Desse modo, ao aposentado que volta a trabalhar nenhum
benefício significativo é dado. Muito embora as contribuições continuem a ser vertidas
ao sistema de forma absolutamente integral.
68. Ora, se o segurado continua contribuindo para o sistema após a
obtenção de sua aposentadoria, não há igualmente vedação atuarial para a concessão
de um novo benefício obedecendo-se assim as premissas atuariais e financeiras a que
se deve submeter à hermenêutica previdenciária, sem se cogitar o locupletamento ilícito
pela não devolução.
69. Como se não bastasse, há uma patente violação ao direito
fundamental da propriedade, esculpido no art. 5º, XXII da Constituição Federal. Pois,
a partir do momento em que se exige do aposentado que trabalha uma contribuição
obrigatória, retira-lhe parcela de seu vencimento. Se essa parcela destinada ao Estado
não pode se converter em uma cobertura previdenciária, o Estado está exigindo mais
do aposentado do que dos demais contribuintes obrigatórios.
70. Ao retirar parcela de seu vencimento, retira-lhe, por conseguinte,
a oportunidade de buscar um outro meio que lhe possa garantir a cobertura de
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eventuais contingências. O Estado viola o direito de propriedade ao se imiscuir nos
vencimentos do aposentado exigindo-lhe a contribuição e não prestando a devida
contraprestação e, reflexamente, o prejudicando a buscar outra forma de se segurar.
71. Para concluir citamos 2 julgados:
“O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS) que
permanecer em atividade sujeita a este Regime, ou a ele retornar, não
fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do
exercício dessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação
profissional, quando empregado”, diz o parágrafo 2º da lei 8.213/91.
(1012371-03.2017.4.01.3400)
72. De acordo com tal julgado, a exclusão expressa do contribuinte
gera uma situação de aparente incompatibilidade com os objetivos da Constituição para
o sistema de previdência e assistência social. E, sob o ponto de vista fiscal, “ofende a
proporcionalidade ao excepcionar o trabalhador aposentado, que retorna ou
permanece em atividade, do limite máximo do salário de contribuição, submetendo-o a
verdadeira bi-tributação”.
73. Para o juiz, o pagamento das contribuições dos aposentados que
continuam trabalhando – mas não têm direito aos benefícios da Previdência Social –
“resulta no enriquecimento sem causa da Administração, uma vez que expressamente
exclui o contribuinte dos benefícios”.
74. Podemos destacar o brilhante entendimento jurisprudencial da 1ª
Turma Recursal do Rio de Janeiro sobre o tema:
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“Cuida-se de ação em que o autor pleiteia a devolução de valores
vertidos ao INSS a título de contribuição previdenciária na qualidade
de aposentado que retorna ao trabalho em relação às competências
de 09/1994 a 01/2000.
Rejeito a argumentação e ocorrência de prescrição da pretensão de
repetição de indébito, considerando que o prazo prescricional
qüinqüenal somente se inicia a partir do decurso do prazo de
homologação do lançamento que, no caso das contribuições em tela,
é de dez anos (quando da prolação do voto ainda não estava em vigor
a LC no. 118/2005).
A questão a ser dirimida consiste na verificação da existência de
relação jurídica tributária justificadora de pagamento de contribuição
pelo segurado do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) que
retorna à atividade laborativa após a aposentação.
A Lei nº 8.213/91, em sua redação original previa o pagamento de
pecúlio ao segurado que voltasse a exercer atividade laborativa
vinculada ao RGPS, consistindo o benefício no pagamento único de
valor correspondente à soma das importâncias relativas às
contribuições do segurado no exercício da nova atividade laboral
desenvolvida após a aposentadoria...
...O pecúlio era basicamente o benefício previdenciário que justificava
a cobrança de contribuições previdenciárias referentes ao novo
exercício de atividade laboral pelos aposentados (observe-se que não
se trata de tributação de aposentadoria ou pensão, mas sim de
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contribuição incidente sobre a remuneração auferida na nova
atividade desenvolvida), estabelecendo vínculo jurídico novo entre o
trabalhador e a previdência. Além dele, poderia ainda ser fruído o
auxílio-acidente, a reabilitação profissional e transformação da
aposentadoria em aposentadoria acidentária. Portanto, quando o
trabalhador voltava a exercer nova atividade laboral, após a
aposentadoria, estabelecia-se nova filiação junto ao RGPS, distinta da
anterior que proporcionou a inatividade, colocando-se a sua disposição
para fruição o pecúlio, o auxílio-acidente, a reabilitação profissional e
a transformação da aposentadoria em acidentária.
Não era por outro motivo que previa o art. 18, parágrafo 2º, da Lei nº
8.213/91:
“O aposentado pelo Regime Geral da Previdência Social que
permanecer em atividade sujeita a este regime, ou a ele retornar,
somente tem direito a reabilitação profissional, ao auxílio-acidente e
aos pecúlios, não fazendo jus a outras prestações, salvo as decorrentes
de sua condição de aposentado, observado o disposto no art. 122 desta
Lei.”
A Lei nº 8.870/94 extinguiu o pecúlio e isentou os aposentados de
pagamento de contribuição. Contudo, a partir da entrada em vigor da
Lei no. 9.032/95, voltaram a figurar como segurados obrigatórios. Com
a revogação dos artigos 81/85 da Lei nº 8.213/91 (RGPS) e a adição do
parágrafo 4º, ao art. 12, da Lei nº 8.212/91 (plano de custeio da
seguridade social) ficou explícita a cobrança da contribuição
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anteriormente prevista genericamente na mesma lei:
“Art.12....
Parágrafo 4º O aposentado pelo regime Geral de Previdência Social
(RGPS) que estiver exercendo ou que voltar a exercer atividade
abrangida por este regime é segurado obrigatório em relação a essa
atividade, ficando sujeito às contribuições de que trata esta lei, para
fins de custeio da Seguridade Social.”
E ainda alterou o parágrafo 2º, do art. 18, da Lei nº 8.213/91:
“Art.18....
Parágrafo 2º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social
(RGPS) que permanecer em atividade sujeita a este regime, ou a ela
retornar, não fará jus a prestação alguma de Previdência Social em
decorrência do exercício dessa atividade, exceto ao salário-família, à
reabilitação profissional e ao auxílio-acidente, quando empregado.”
Por fim, a Lei nº 9.582/97 ainda exclui o auxílio-acidente nessa
situação.
Considerando que a tributação permaneceu exatamente a mesma,
veja-se a alteração procedida nos benefícios colocados à disposição do
segurado aposentado que retorna aotrabalho: Lei nº 8.213/91
(original) Lei nº 8.213/91 (atual)
PECÚLIO (com a devolução do total das contribuições corrigidas pelos
índices da caderneta de poupança) ----------------------
AUXÍLIO-ACIDENTE -----------------------
TRANSFORMAÇÃO DA APOSENTADORIA EM APOSENTADORIA POR
INVALIDEZ ACIDENTÁRIA, SE MAIS VANTAJOSA. -----------------------
REABILITAÇÃO PROFISSIONAL (é um serviço, portanto, não é prestado
em pecúnia).
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SALARIO-MATERNIDADE (previsto nos Decretos regulamentadores.
Obviamente, devido à idade das aposentadas, é um benefício de difícil
fruição na prática. De qualquer forma, os homens estão excluídos).
SALARIO-MATERNIDADE (previsto no Decreto 3.048/99, art. 103.
Obviamente, devido à idade das aposentadas, é um benefício de difícil
fruição na prática. De qualquer forma, os homens estão excluídos).
SALÁRIO-FAMÍLIA (no valor aproximado de R$ 10,00, é pago somente
a empregados e avulsos, mesmo que não retornem ao trabalho).
Mantendo-se a mesma contribuição, substituiu-se a completa
devolução dos valores vertidos, o pagamento do auxílio-acidente e a
possibilidade de transformação da aposentadoria em aposentadoria
por invalidez mais vantajosa pelo simbólico salário-família. Aliás, diga-
se que ainda há um sofisma legislativo, porque o salário-família é pago
ao aposentado independentemente do fato de este ter voltado a
trabalhar, nos termos do art. 65 e seu parágrafo único da Lei nº
8.213/91 (e após a EC nº 20/98, somente aos segurados de baixa
renda).
Portanto, com todas as letras: NÃO EXISTEM BENEFÍCIOS QUE
JUSTIFIQUEM A COBRANÇA DE CONTRIBUIÇÃO INCIDENTE SOBRE A
REMUNERAÇÃO OBTIDA NAS ATIVIDADES LABORAIS
DESEMPENHADAS PELOS SEGURADOS QUE VOLTAM A TRABALHAR.
Sobre o assunto já tive a oportunidade de me manifestar em sede
acadêmica 1:
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“A norma , além de possuir caráter extremamente injusto,
desrespeita o princípio da contraprestação relativo Às contribuições
devidas pelos segurados, tendo em vista que as prestações oferecidas
ao aposentado que retorna à atividade são insignificantes, diante dos
valores recolhidos. Pode-se afirmar, inclusive, que pela natureza das
prestações oferecidas (salário-família, reabilitação profissional e
salário-maternidade) não haveria filiação a regime previdenciário; pois
a lei não admite nova aposentação do segurado, recálculo da
aposentadoria anterior ou prevê o pagamento de pecúlio – as novas
prestações vertidas não garantem as espécies mínimas de benefícios
para que se tenha um regime previdenciário: nova aposentadoria ou
nova pensão. O salário-família, benefício pago somente a segurados
de baixa renda empregados e avulsos, provavelmente não será devido
ao idoso, e praticamente já seria em casos de aposentadoria sem novo
exercício de atividade; os demais segurados não farão jus, de qualquer
forma. O salário-maternidade provavelmente, não será fruído pela
aposentada; de qualquer forma, os segurados homens não poderão
fruí-lo. A reabilitação profissional é um serviço, não envolvendo
qualquer tipo de retorno pecuniário ao utilizador que, uma vez
aposentado, não terá, obrigatoriamente, desejo de se submeter a este
tipo de tratamento.”
As contribuições sociais são tributos “que, como tais, podem
assumir a feição de impostos ou de taxas. 2” Em relação aos
trabalhadores, as contribuições previdenciárias assumem a feição de
taxas, pois estão vinculadas obrigatoriamente à contraprestação
Estatal relativa a um plano de previdência. Roque Antônio Carraza
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leciona: “para o empregado (ou para o empregador, enquanto paga a
sua própria ´contribuição previdenciária` ), não passa de uma taxa de
serviço, exigível porque os serviços previdenciários para os casos de
doença, velhice, invalidez e morte, seguro-desemprego, seguro contra
acidente do trabalho e proteção da maternidade lhe são postos À
disposição, vale dizer, lhe são direta e imediatamente referidos. 3”
Completa José Eduardo Soares de Melo 4 “Creio que as notas
características e peculiares da exação permitem tipificar as
contribuições previdenciárias dos trabalhadores como taxas,
considerando-se que não é necessário a utilização “efetiva” dos
serviços públicos, desde que eles se apresentem potencialmente (regra
contida no inciso II do art. 145 da CF)... Por tais fundamentos,
considerada a contribuição social dos trabalhadores como taxa, deve
ser atendido o princípio da retribuição, procurando-se adequá-lo a
uma certa proporcionalidade, pela dificuldade de a remuneração
corresponder exatamente à prestação dos serviços, mormente no caso
de serem colocados à disposição dos beneficiários.”
“Frequentemente a autarquia defende-se, sustentando que o
sistema previdenciário é caracterizado pelo caráter de solidariedade
entre gerações, sistema de repartição simples, ou que não há relação
entre o que se contribui e o valor das prestações que se recebem.
Ocorre que, admitindo-se a aplicação do princípio da solidariedade,
mesmo assim, não se pode estende-lo ao ponto de tributar segurado
que não poderá auferir em tese nada de substancial em contrapartida.
A solidariedade tem limites no princípio da razoabilidade. Não é por
outro motivo que o art. 201 parágrafo 3º da CF prevê a relação entre
salários-de-contribuição e salário-benefício. O absurdo tributário neste
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caso é grave – cobrança de quem não se coloca à disposição um
mínimo de prestações que justifique a exação; isto é, para os
aposentados que retornam à atividade, inexiste plano previdenciário
mínimo. Em se tratando de previdência social, não se pode impor a
cobrança a quem, a rigor, não está vinculado ao sistema porque nada
dele poderá fruir – não exista plano de previdência se não se oferece,
ao menos, aposentadoria e pensão (é a exigência mínima para
existência de regime previdenciário, interpretação que se obtém da
leitura do art. 10, parágrafo 3º, do Dec. 3.048/99). Nem se argumente
que a contribuição sobre a remuneração do aposentado que volta a
trabalhar poderia ser utilizada para custear a saúde e assistência
social; para tanto, existem todas as contribuições das empresas e
participação do Estado, não havendo base para cobrança de tributo
equiparado a taxa, repito, de quem, nem em tese, poderia fruir de
alguma prestação previdenciária substancial – o art. 12, parágrafo 4º
da Lei nº 8.212/91 e o art. 11, parágrafo 3º, da Lei nº 8.213/91 não são
compatíveis com os princípios constitucionais previstos no art. 194,
parágrafo único, I, III e V, bem como o art. 195, II, uma vez que os
aposentados que retornam à atividade não podem ser considerados
trabalhadores ou demais segurados da previdência social para efeito
de incidência tributária, pois se nada lhes é prestado, a nada estão
filiados; logo, nada lhes pode ser cobrado.
Recentemente, o STJ manifestou-se em caso semelhante
(informativo nº 136), em que se discutia a incidência de contribuição
sobre a parcela da remuneração do servidor efetivo vinculada ao
exercício de cargo, apesar de contribuir sobre o valor total da
remuneração do servidor, apesar de contribuir sobre o valor total da
remuneração, somente poderia se aposentar considerando a
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remuneração de seu cargo efetivo. Naquele caso, também houve
sustentação pelo réu de que o Regime Previdenciário dos servidores é
baseado na solidariedade, em repartição simples, mas a decisão
considerou que não deveria haver incidência da contribuição, pois a
cobrança estaria estabelecendo uma relação solidária desarrazoada.”
Processo: 2003.51.51.065331-4-1 (TR RJ)
IX - DO DIREITO À REPETIÇÃO DO INDÉBITO
75. Como sabido por todos, desde a Constituição de 1988 as
contribuições foram alçadas à categoria de tributo e, por assim ser, aplicam-se às
contribuições as normas gerais da legislação tributária inseridas em Lei Complementar,
conforme prescreve o art. 149 caput c/c com art. 146, III, ambos da CF/88.
76. Forçoso concluir, portanto, que no presente caso o Código
Tributário Nacional é plenamente aplicável. Diante disso, quanto ao pedido de repetição
dos valores pagos, aplica-se o art. 165 e seguintes do Código Tributário Nacional.
77. Assim, pelo fato de as contribuições terem sido pagas
indevidamente, conforme acima demonstrado, faz jus o Requerente à repetição desses
valores limitados aos últimos 5 (cinco) anos, nos termos do art. 165, I do CTN.
X - DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA SATISFATIVA
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78. Posto isso, por se encontrarem presentes os requisitos do fumus
boni iuris e do periculum in mora, requer a concessão, in limine, da tutela antecipada,
conforme art. 300 e ss. do Código de Processo Civil.
79. O fumus boni iuris está patentemente demonstrado ante os
comprovantes de contribuições realizadas pelo Requerente.
80. Quanto ao periculum in mora, evidente a lesão ao patrimônio da
requerente, posto que mensalmente os valores são retidos na fonte de pagamento a
título de contribuição.
81. Desse modo, como forma de economia processual, pleiteia o
Requerente que a decisão concessiva da tutela antecipada seja expedida aos órgãos
competentes no sentido de autorizar a cessação do pagamento das contribuições
vincendas, já para o próximo mês de referência, bem como seja expedido ofício à
Empregadora para deixar de reter na folha de pagamento a contribuição do Empregado.
82. Caso Vossa Excelência entenda de outra forma, requer, de modo
prudente, a concessão da tutela provisória para que a Empregadora, ao reter do
Requerente o valor correspondente à contribuição, deposite em juízo a respectiva
quantia até o trânsito em julgado da sentença.
XII - PREQUESTIONAMENTO
83. Prequestiona o autor, para eventuais recursos às instâncias
superiores, o (i) parágrafo 2º do artigo 18 da lei 8.213/91, (ii) violação ao princípio da
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isonomia 5º, caput (igualdade), artigo 194, I, (iii) violação ao princípio contributivo –
retributivo, alicerce do RGPS artigo 201, I e § 11 da Constituição Federal.
XIII - DOS PEDIDOS
84. Ante o exposto, requer:
I. A concessão da justiça gratuita, nos termos do art. dos arts. 98
a 102 do Código de Processo Civil.
II. A Tramitação Prioritária do Idoso conforme artigo 71, § 1° da
Lei 10.741/2003 e artigo 1.048 do Código de Processo Civil.
III. A concessão, in limine, da tutela antecipada para suspender a
cobrança das contribuições previdenciárias do Requerente a
partir do próximo mês, expedindo-se o necessário aos órgãos
competentes, conforme art. 300 e seguintes do Código de
Processo Civil;
IV. Ou, de forma subsidiária, a concessão, in limine, da tutela
antecipada para que a Empregada deposite em juízo os valores
alusivos à contribuição previdenciária descontada do
Requerente, nos termos do art. 300 e seguintes do Código de
Processo Civil.
V. A citação da União (Fazenda Nacional) no endereço constante
do preâmbulo, com os benefícios legais, para, querendo,
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contestarem a presente ação, conforme art. 335 do Código de
Processo Civil, sob pena de serem reputados como verdadeiros
os fatos aqui alegados, nos termos do art. 344, do Código de
Processo Civil, dentro dos limites aplicados à Fazenda Pública;
VI. A declaração de inexistência da obrigação do aposentado de
contribuir com a previdência social, com base nos argumentos
expostos na causa de pedir;
VII. A condenação da União ao pagamento das custas, despesas
processuais, além dos honorários advocatícios a serem fixados
no máximo legal, bem como à devolução dos valores pagos nos
últimos 05 (cinco) anos, nos termos do art. 165 e seguintes do
CTN, devidamente atualizados, com base nos argumentos
ventilados na causa de pedir.
VIII. Pretende-se provar o alegado através de prova documental,
testemunhal, depoimento pessoal e demais provas em Direito
admitidas, previstas no Código de Processo Civil.
IX. Por fim, requer sejam todas as publicações veiculadas no Diário
Oficial, intimações e qualquer ato de comunicação no presente
processo sejam feitas EXCLUSIVAMENTE em nome do Dr.
Murilo Gurjão Silveira Aith, OAB/SP n.º 251.190, sob pena de
nulidade dos atos que vierem a ser praticados, em consonância
ao parágrafo 1º, do artigo 236, do Código de Processo Civil.