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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS90ª Promotoria de Justiça de Goiânia
EXCELENTÍSSIMO SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA____VARA DA
FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL DA COMARCA DE GOIÂNIA/GO
URGENTE
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por
intermédio da Promotora de Justiça que esta subscreve, titular da 90ª Promotoria de Justiça
do Estado de Goiás, no uso de suas atribuições constitucionais, e com fulcro no artigo 129,
inciso III, artigo 37, § 4º, ambos da Constituição Federal, artigo 5º, inciso I, da Lei 7.347/85,
na Lei Federal 8.429/92 e 8.625/93, no artigo 46, inciso VI, alínea “a”, da Lei Complementar
Estadual n. 25/98, vem perante Vossa Excelência propor
AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA DECLARAÇÃO DE NULIDADE
DE ATO ADMINISTRATIVO com pedido liminar
observado-se o rito ordinário e disposições especiais previstas na Lei 7.347/85, em desfavor
do
MUNICÍPIO DE GOIÂNIA/GO, pessoa jurídica de
direito público, CNPJ nº 1612092000123, ora
representado pelo Procurador-Geral do Município de
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de JustiçaRua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia -
Goiás.
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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS90ª Promotoria de Justiça de Goiânia
Goiânia, nos termos do artigo 12, inciso II, do Código de
Processo Civil, com sede no Centro Administrativo
Municipal, Avenida do Cerrado, n.º 999, Park Lozandes,
Palácio das Campinas Venerando de Freitas Borges, CEP
74.884-900, nesta Capital e
CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO
ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES – sociedade civil sem fins
lucrativos, inscrito no CNPJ com nº 05.095.628/0001-31,
com sede na Av. Padre Antônio Tomás nº 240, salas 303 a
306, CEP 60.140-160, Fortaleza e com escritório regional
na Rua 03, nº 800, Qd. C 06, Lt. 73/75, sala 112, Setor
Oeste, Oficce Tower, representado por seu Presidente
Leonardo Carlos Chaves, brasileiro, divorciado,
advogado, inscrito na OAB/CE, nº 15.116, portador do
RG nº 9500223782/SSP/CE, inscrito no CPF com nº
655.518.773-53, residente e domiciliado na Rua Padre
Antônio Tomás nº 3377, Cocó, Fortaleza/CE,
pelos fundamentos fáticos e jurídicos a seguir expostos.
I – DOS FATOS
Aos 27 de março de 2012 o MUNICÍPIO DE GOIÂNIA
celebrou com o CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO
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ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – o
contrato nº 006/2012 - processo nº 47337658/2012 – (anexo I), para a prestação de serviços
especializados em planejamento, organização, execução de concursos públicos a toda a
Administração Municipal, durante 12 (doze) meses, contados a partir de sua assinatura, no
valor estimado de R$ 3.997.000,00 (três milhões novecentos e noventa e sete mil reais).
Referido contrato nº 006/2012 foi celebrado de forma direta,
mediante dispensa de licitação, com fulcro no artigo 24, inciso XIII, da Lei nº 8.666/93,
conforme publicado no Diário Oficial do Município de Goiânia/GO nº 5.319, de 28 de março
de 2012 (anexo I).
Conforme se extrai dos autos de processo nº 47337658/2012,
referido contrato foi celebrado sem que a Administração Pública Municipal, em
procedimento prévio ao ato de dispensa de licitação, adotasse as medidas necessárias à
identificação da necessidade da contratação, fixação do objeto a ser contratado, verificação
dos preços praticados no mercado, a fim de possibilitar a verificação da melhor forma de
prestação. Não foram realizadas pesquisas e estudos que permitissem chegar à conclusão da
necessidade de contratação direta.
Conforme se verifica do referido processo, o procedimento de
dispensa de licitação foi inaugurado com a proposta do réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES – “para a prestação de serviços de organização e realização de
concurso público para a Prefeitura de Goiânia, conforme especificações e condições a nós
solicitadas”, nos termos do item I – objeto da proposta. (anexo I)
Conforme constou do item 17 da proposta apresentada, o réu
CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO,
ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – executaria os serviços pelos
valores arrecadados com as inscrições no montante de R$110,00 (cento e dez reais) para os
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cargos de nível superior, R$ 60,00 (sessenta reais) para os cargos de nível médio, R$ 45,00
(quarenta e cinco reais) para os cargos de nível fundamental completo e R$ 38,00 (trinta e
oito reais) para os cargos de nível fundamental incompleto.
Segundo constou da proposta, ainda, seria repassado 3% do
valor de inscritos que ultrapassasse a estimativa de inscritos por cada cargo, conforme anexo
fornecido pelo Município (anexo I).
Apresentada a proposta, a Assessoria de Planejamento,
Qualidade e Controle – divisão de gestão de contratos e convênios da SMARH – pronunciou-
se pela contratação direta do Instituto Cidades com os seguintes argumentos:
- a necessidade de Concursos Públicos para atender toda Administração Municipal;- o Município de Goiânia não dispõe de condições estruturais e nem de pessoal com qualificação técnica para a realização de todas as etapas dos referidos certames;- a necessidade de contratação de uma instituição para a elaboração impressão, aplicação, segurança, fiscalização, avaliação, correção das provas, respostas aos recursos, bem como emissão de resultados, com o intuito de viabilizar e dar maior transparência e qualidade possível na realização dos concursos públicos;- por meio do Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta – TAC, celebrado entre o Ministério Público do Estado de Goiás, o Ministério Público do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás e o Município de Goiânia, ficou estabelecido a homologação de Concurso Público para provimento de 60 (sessenta) vagas para o cargo de Procurador Jurídico no prazo de 150 (cento e cinquenta) dias, contados a partir do referido Termo de Ajuste;- o Instituto Cidades – Centro Integrado de Desenvolvimento Administrativo, Estatística e Social apresentou proposta (anexado às fls.05 a 36 dos autos) que atende as necessidades do Município de Goiânia;- conforme o estatuto social anexo às fls. 61 a 81 o Instituto Cidades é uma sociedade civil, sem fins lucrativos, que busca contribuir para o desenvolvimento técnico-científica das instituições públicas e privadas;- a regularidade do Instituto Cidades, conforme certidões anexas ás fls.82 a 89;- há comprovação da reputação ético-profissional e da qualidade dos serviços prestados pelo Instituto Cidades, conforme atestados de TRT da 1ª Região, Ministério Público do Estado da Paraíba, Ministério Público do Estado da Bahia, Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, Agência Goiânia de Comunicação do Estado de Goiás,
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Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Prefeitura Municipal de Natal; Ministério Público do Estado de São Paulo, dentre outros anexados nos autos às fls.97 a 160;- a possibilidade de dispensa de licitação, nos termos do artigo 24, inciso XIII, da Lei Federal nº 8.666/1993
Quanto ao preço pontuou que:
O valor estimado do presente contrato será de R$ 3.997.000,00 (três milhões, novecentos e noventa e sete reais) para fins de faturamento da contratada. O Município de Goiânia, contratante, remunerará a contratada com base no montante das inscrições pelo valor arrecado com as mesmas, portanto, não haverá qualquer ônus ao Município de Goiânia, sendo que a contratada deverá executar por sua conta e risco, a prestação de serviços descritos acima, sendo de inteira responsabilidade da mesma, os encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais, e de todos as outras despesas decorrentes da execução do contrato.O valor arrecadado com a inscrições, até o limite de 20.000 (vinte mil) candidatos para os cargos de nível superior, sendo o limite de 10.000 (dez mil) para o cargo de Procurador Jurídico e 10.000 (dez mil) para os demais cargos de nível superior, 700 (setecentos_ candidatos para os cargos de nível médio e de 1000 (hum mil) candidatos para os cargos de nível fundamental completo e de 45.000 (quarenta e cinco) mil candidatos para os cargos de nível fundamental incompleto ou alfabetizado, fixadas estas em R$ 110,00 (cento e dez reais) para os cargos de nível superior , R$ 60,00 (sessenta reais( para os cargos de nível médio, R$ 45,00 (quarenta e cinco reais) para os cargos de nível fundamental completo e em R$ 38,00 (trinta e oito) reais para os cargos de nível fundamental incompleto ou alfabetizado, de acordo com o anexo do Termo de Referência que acompanha os autos, será repassado à contratada.Dos valores arrecadados com as inscrições que ultrapassarem o limite acima mencionado, 50% (cinquenta por cento) será repassado à empresa contratada e, 50%¨(cinquenta por cento) será receita do Fundo Municipal de Capacitação e desenvolvimento do Servidor Público de Goiânia – FUMCADES (criado pela Lei nº 9086, de 04 de outubro de 2011).Caberá a contratada arcar com o ônus da taxa bancária dos servições de cobrança simples e de débito automático, de obrigações concernentes ao recebimento das inscrições dos concursos públicos que serão realizados através da presente contratação. Sendo assim, do valor a ser repassado pelo Município a contratada será descontado o serviço prestado pela instituição bancária (Banco do Brasil Contrato nº 002/2012), correspondente a tarifa de R$ 2,50 (dois reais e cinquenta centavos) por boleto bancário liquidado e de R$ 1,50 (hum real e cinquenta centavos) no caso dos pagamentos de inscrições realizadas por débito em conta.
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Por meio do despacho GAB-SMARH nº 0686/2012, o
Secretário Municipal de Administração e Recursos Humanos deliberou pela legalidade da
contratação direta (anexo I).
Por meio do parecer PAA nº 240/2012, acatado por meio do
despacho 554/2012, a Procuradoria-Geral do Município pronunciou-se pela legalidade da
contratação direta (anexo I).
Pelo despacho nº 054/2012, o Prefeito Paulo Garcia “ratificou a
dispensa de licitação” e autorizou a contratação direta do réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES – para a prestação de serviços especializados em planejamento,
organização e execução de concursos público para provimento de cargos da Administração
Pública Municipal, no período de 12 (doze) meses (anexo I).
Nos termos do contrato 006/2012, os preços dos serviços
resultaram ajustados da seguinte forma (anexo I):
4. CLÁUSULA QUARTA – DO PREÇO DOS SERVIÇOS4.1 - O preço estimado do contrato é de R$3.997.000,00 (três milhões, novecentos e noventa e sete mil reais), para fins de faturamento da contratada, sendo que o Município de Goiânia remunerará a entidade Instituto Cidades com base no montante das inscrições pelo valor arrecadado com as mesmas, não havendo qualquer ônus ao Município de Goiânia, devendo a contratada executar, por sua conta e risco, a prestação dos serviços relacionados na Cláusula Terceira deste Instrumento Contratual, sendo de inteira responsabilidade da mesma, os encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais, bem como, de todas outras despesas decorrentes da execução do contrato.4.1.1 – O valor arrecadado com a inscrições, até o limite de 20.000 (vinte mil) candidatos para os cargos de nível superior, sendo o limite de 10.000 (dez mil) para o cargo de Procurador Jurídico e 10.000 (dez mil) para os demais cargos de nível superior, 700 (setecentos_ candidatos para os cargos de nível médio e de 1000 (hum mil) candidatos para os cargos de nível fundamental completo e de 45.000 (quarenta e cinco) mil candidatos para os cargos de nível fundamental
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incompleto ou alfabetizado, fixadas estas em R$ 110,00 (cento e dez reais) para os cargos de nível superior , R$ 60,00 (sessenta reais( para os cargos de nível médio, R$ 45,00 (quarenta e cinco reais) para os cargos de nível fundamental completo e em R$ 38,00 (trinta e oito) reais para os cargos de nível fundamental incompleto ou alfabetizado, de acordo com o anexo do Termo de Referência que acompanha os autos, será repassado à contratada.4.1.2 – Dos valores arrecadados com as inscrições que ultrapassarem o limite acima mencionado, 50% (cinquenta por cento) será repassado à empresa contratada e, 50%¨(cinquenta por cento) será receita do Fundo Municipal de Capacitação e desenvolvimento do Servidor Público de Goiânia – FUMCADES (criado pela Lei nº 9086, de 04 de outubro de 2011.
Encaminhados os autos à Controladoria-Geral do Município de
Goiânia, o Controlador-Geral, por meio do despacho nº 032/2012- GAB, determinou (anexo
I)::
- justificar o preço e a razão da escolha do fornecedor, conforme inciso II e III do artigo 26 da Lei Federal 8.666/93, além de comprovar a compatibilidade com os preços de mercado;- juntar documentação de solicitação às instituições para apresentarem propostas para execução do certame bem como os valores ofertados.- providenciar empenho para despesa, em atendimento ao art.60 da Lei federal nº 4.320/64;- juntar o Ato Constitutivo da Comissão do Concurso em atendimento as determinações do Tribunal de Contas dos Municípios, através do Acórdão AC/IM nº 03714/2011.
Em atendimento à determinação da Controladoria-Geral, foram
acostadas aos autos cópia de proposta apresentada pelo Centro de Seleção da UFG, datada de
20 de junho de 2011 relativa a prestação de serviços especializados em planejamento,
organização e execução de um concurso público para provimento de 1662 (mil seiscentos e
sessenta e dois cargos da Administração Pública Municipal, não coincidentes com os cargos
mencionados na planilha encaminhada ao réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES – bem como uma proposta apresentada pela FUNCAB – Fundação
Professor Carlos Augusto Bittencourt, relativa exclusivamente ao concurso de Procurador
Jurídico do Município de Goiânia, datada de 03 de novembro de 2011.
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Por meio do despacho 0147/2012, a Secretaria Municipal de
Administração e Recursos Humanos informou que:
[…] Quanto à justificativa de preço e a razão de escolha do fornecedor, lembramos que não haverá qualquer ônus ao Município de Goiânia, sendo que a contratada deverá executar, por sua conta e risco, a prestação de serviços, sendo de inteira responsabilidade da mesma, os encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais, e de todas as outras despesas decorrentes da execução do contrato, sendo que o Município de Goiânia, contratante, remunerá a contratada com base no montante das inscrições pelo valor arrecadado com as mesmas, da seguinte forma:- Até o limite de 20.000 (vinte mil) candidatos para os cargos de nível superior, sendo o limite de 10.000 (dez mil) para o cargo de Procurador Jurídico e 10.000 (dez mil) para os demais cargos de nível superior, 700 (setecentos_ candidatos para os cargos de nível médio e de 1000 (hum mil) candidatos para os cargos de nível fundamental completo e de 45.000 (quarenta e cinco) mil candidatos para os cargos de nível fundamental incompleto ou alfabetizado, fixadas estas em R$ 110,00 (cento e dez reais) para os cargos de nível superior , R$ 60,00 (sessenta reais( para os cargos de nível médio, R$ 45,00 (quarenta e cinco reais) para os cargos de nível fundamental completo e em R$ 38,00 (trinta e oito) reais para os cargos de nível fundamental incompleto ou alfabetizado, de acordo com o anexo do Termo de Referência que acompanha os autos, será repassado à contratada.- Quanto à compatibilidade de preços de mercado, anexamos aos autos as propostas de preços solicitadas junto a Universidade Federal de Goiás – UFG e a Fundação Professor Carlos Augusto Bittencourt -FUNCAB, sendo que a proposta do Instituto Cidades foi considerada a mais vantajosa e que atende às necessidades do Município de Goiânia para a realização destes certames. (grifou-se)Ressaltamos que conforme o estatuto social anexo às fls. 61 a 81, o Instituto Cidades é uma sociedade civil, sem fins lucrativos,que busca contribuir para o desenvolvimento técnico-profissional das instituições públicas ou privadas.Há comprovação da reputação ético-profissional e da qualidade dos serviços prestados pelo Instituto Cidades, conforme atestados de TRT da 1ª Região, Ministério Público do Estado da Paraíba, Ministério Público do Estado da Bahia, Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, Agência Goiânia de Comunicação do Estado de Goiás, Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Prefeitura Municipal de Natal; Ministério Público do Estado de São Paulo, dentre outros anexados nos autos às fls.97 a 160.[…]Sendo assim, considerando o Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta – TAC, celebrado entre o Ministério Público do Estado de Goiás, Ministério Público do Tribunal de Contas dos
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Municípios do Estado de Goiás e o Município de Goiânia, ficou estabelecido, a homologação do Concurso Público para provimento de 60 (sessenta) vagas do cargo de Procurador Jurídico, no prazo de 150 (cento e cinquenta) dias, contados da publicação do referido Termo de Ajuste, solicitamos a Vossa Senhoria, a gentileza quanto à liberação do certificado do Contrato nº 006/2012, seja em caráter excepcional.
Foi acostada aos autos nota de empenho relativa à despesa para
pagamento do contrato celebrado com o CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES - relativamente à execução dos serviços especializados em
planejamento, organização e execução do concurso público para Procurador Jurídico no valor
de R$ 610.940,00 (seiscentos e dez mil, novecentos e quarenta reais) datada de 18/07/2012
(anexo I)
Por meio do despacho 0636/2012 - DVCD a Secretaria
Municipal de Compras e Licitações advertiu que a liquidação da despesa deveria ocorrer
considerando o valor das inscrições confirmadas e o valor com elas arrecadado, conforme
reza o contrato n. 06/2012, cláusula quarta, item 4.1. (anexo I)
Celebrado o contrato, aos 12 de junho de 2012, por meio da
Secretaria Municipal de Administração e Recursos Humanos – SMARH, o Município de
Goiânia/GO publicou o edital nº 003/2012 (anexo II), relativo ao concurso público para o
provimento de cargos de Procurador Jurídico do Município de Goiânia.
Nos termos do edital nº 003/2012 e seus respectivos aditivos, o
concurso para o provimento de cargos de Procurador Jurídico do Município de Goiânia
realizar-se-á aos 26 de agosto de 2012, em etapa única, compreendendo uma prova objetiva e
discursiva, ambas de caráter eliminatório e classificatório.
Entretanto, no dia 13 de junho de 2012, foram encaminhadas
diversas representações ao Ministério Público do Estado de Goiás, noticiando a falta de
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idoneidade do réu CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO
ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES -, escolhido
para a realização das provas (anexo III).
Em razão disso, a Promotora de Justiça titular da 78º
Promotoria de Justiça, Villis Marra, a quem foram distribuídas as representações, instaurou,
aos 10 de julho de 2012, Inquérito Civil Público por meio da Portaria nº 41/2012 (autos de
protocolo nº 201200314743), a fim de apurar irregularidades apontadas (anexo III).
Outrossim, já eram objeto de investigação, também no âmbito
da 78ª Promotoria de Justiça outros dois concursos públicos realizados pelo Instituto Cidades:
Defensoria Pública do Estado de Goiás e Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de
Goiás (anexo III).
Deflagradas as investigações nos autos do Inquérito Civil
Público nº 201200314743, constatou-se que o réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES - e seu Presidente Leonardo Carlos Chaves são alvo de
investigações em vários Estados do país, por seu envolvimento em fraudes em concursos
públicos realizados pelo referido instituto, o que está a macular de ilegalidade o ato de
dispensa de licitação, fulcrado no artigo 24, inciso XIII, da Lei 8.666/93 e, em consequência,
o contrato 006/2012, celebrado entre o Município de Goiânia e o CENTRO INTEGRADO
DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES.
No Estado do Amazonas foi realizado, no dia 26 de junho de
2011, o concurso público para o cargo de Defensor Público do Estado, cuja instituição
realizadora do certame foi o réu CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO
ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES.
Entretanto, em razão de inúmeras representações veiculadas na imprensa e encaminhadas ao
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Ministério Público do Amazonas - MPAM - acerca sérios indícios de fraude no mencionado
concurso, especialmente quanto a venda de vagas, o Ministério Público do Amazonas
instaurou Procedimento Investigatório Criminal nº 045/2011-GAECO (anexo IV).
Concluídas as investigações e em razão da robustez de seus elementos probatórios, foi
oferecida denúncia criminal pelo Procurador-Geral de Justiça do Estado do Amazonas contra
o Presidente do CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO
ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES - Leonardo
Carlos Chaves, bem como contra os demais envolvidos nas fraudes apuradas, dentre eles o
então Defensor-Geral do Estado do Amazonas, Tibirçá Valério de Holanda. O processo
criminal, de nº 2011005058-0, ainda se encontra em tramitação na 1ª Câmara Criminal do
Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas (anexo IV).
Dentre as provas colhidas nos autos no processo de nº
2011005058, convém destacar o Laudo Pericial nº 844/2011 – SETEC/SR/DPF/AM
realizado pelo Departamento de Polícia Federal no Estado do Amazonas, cujo teor constata a
alteração de gabaritos da prova para Defensor Público do Estado do Amazonas, in verbis:
A falta de correspondência das marcações no caderno de questões com o do cartão de resposta, e o número alto de acertos, é uma evidência extremamente forte de que o resultado foi obtido mediante fraude. O fato de haver uma quantidade razoável de questões que estão corretas no caderno de provas mas que no cartão de respostas o item marcado está errado, indicam que os candidatos deixaram pelo menos a maior parte das questões em branco no cartão de respostas para serem marcadas posteriormente, ou seja, teriam conhecimento prévio de que a fraude seria feita.
Segundo ainda consta na denúncia ofertada pelo Procurador-
Geral de Justiça do Estado do Amazonas:
O Laudo de Perícia Criminal elaborado pela Polícia Federal (fls. 343/354) demonstra de maneira clara e irretocável a incompatibilidade manifesta entre o caderno de questões e o cartão de respostas submetido à leitura ótica dos candidatos AMÉRICO GORAYEB NETO, LUIZ DOMINGOS ZAHLUTH LINS, TIBIRIÇÁ VALÉRIO DE HOLANDA FILHO e NEWTON SAMPAIO MELO.
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Assinale-se que, de acordo com o resultado oficial divulgado pelo Instituto Cidades (fls. 22/39), os candidatos ora acusados e denunciados figuram, em estranha e improvável coincidência, todos com a mesma pontuação, qual seja, 80 (oitenta) pontos. Ao se fazer uma análise levada a efeito nos respectivos cadernos de questões (fls. 348, 349, 350, e 350), essa incongruência fica mais evidente, a saber:- AMÉRICO GORAYEB NETO: 28 acertos mais 4 questões anuladas totalizando 32 pontos;- NEWTON SAMPAIO MELO: 37 acertos mais 4 questões anuladas totalizando 41 pontos;- TIBIRIÇÁ VALÉRIO DE HOLANDA FILHO: 48 acertos mais 4 questões anuladas totalizando 52 pontos;- LUIZ DOMINGOS ZAHLUTH LINS: Não foi possível fazer uma estimativa devido à carência de marcações válidas no caderno de questões. Mas das 35 questões com marcação clara apenas 09 estão corretas. (doc.12).
Em razão dos fatos noticiados e em investigação na esfera
judicial penal, envolvendo o Presidente do CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES - Leonardo Carlos Chaves, o Governador do Estado do Amazonas,
por meio do Decreto nº 31.487, de 02 de agosto de 2011, resolveu por anular o concurso
público para o provimento de vagas na carreira de Defensor Público do Estado do Amazonas
(anexo V).
Por meio da Portaria nº 001/2012 – CS/DPE/AM, publicada no
Diário Oficial do Estado do Amazonas aos 20 de janeiro de 2012 (anexo V), o Presidente do
Conselho Superior da Defensoria Pública do Estado do Amazonas, em exercício, José
Ricardo Vieira Trindade, resolveu por:
Art.1º: ANULAR o II Concurso Público para ingresso na Carreira de Defensor Público do Estado do Amazonas, originado pelo Edital datado de 11 de abril de 2011.Art.2º: DESTITUIR a Comissão organizadora do II Concurso Público para ingresso na Carreira de Defensor Público do Estado do Amazonas.Art.3º: INSTAURAR processo administrativo sancionatório contra o Instituto Cidades, instituição realizadora do Concurso Público em testilha, visando apurar os danos e a consequente responsabilização civil e administrativa, de modo a se poder garantir, inclusive, o ressarcimento das taxas de inscrição aos candidatos participantes do certame. (grifo nosso)
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Goiás.
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[…]
No Município de São Luís do Curu/CE, o réu CENTRO
INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E
SOCIAL – INSTITUTO CIDADES - responde por ato de improbidade administrativa nos
autos da ação civil pública de nº 78-82.2009.8.06.0165/0, em trâmite na Vara Única da
Comarca de São Luís do Curu/CE (anexo VI).
Segundo consta, o Município de São Luís do Curu/CE em
conjunto com o réu CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO
ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES -, realizou
o Concurso Público de Provas destinado a selecionar candidatos para provimento de vagas do
Quadro Permanente de Pessoal da Prefeitura Municipal, do Poder Legislativo e Formação de
Cadastro de Reserva, regido pelo Edital nº 001/2007. A contratação do réu CENTRO
INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E
SOCIAL – INSTITUTO CIDADES - deu-se por dispensa de licitação.
Neste excerto da petição inicial, o Ministério Público do Ceará
esclarece os motivos que levaram ao exercício do poder de ação:
Foi eleita como instituição executora do concurso o INSTITUTO CIDADES – Centro Integrado de Desenvolvimento Administrativo, Estatística e Social. Portanto, tão logo foi publicado o edital, o Ministério Público, já conhecedor da má fama da referida instituição (referido “instituto” ficou nacionalmente conhecido com a polêmica em torno do Concurso Público do Tribunal de Justiça do Piauí, o qual foi anulado pelo Conselho Nacional de Justiça-CNJ, dentre outros motivos por entender que o Instituto Cidades não tinha “inquestionável reputação ético-profissional”), procurou investigar a lisura do concurso. Como consequência, as investigações realizadas detectaram uma infinidade de irregularidades, especialmente a escolha viciada da instituição, com manifesta ofensa ao princípio da isonomia, haja vista que os acionados forjaram um processo de dispensa de licitação apenas para maquiar a indevida contratação direta de referida instituição, sem obediência mínima das formalidades legais. (grifou-se)
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Complementa, ainda, que:
A realidade que se evidencia é muito clara e tem sido uma constante em todo o Estado do Ceará: o Instituto Cidades, presidido pelo denunciado Leonardo Carlos Chaves, que pratica todos os atos referentes ao instituto, após “seduzir” o administrador público com a oferta de seus “serviços”, contrata um “pacote de falcatruas”, desde um processo licitatório totalmente forjado, dirigido à sua contratação, até a execução do concurso, que também atende aos interesses pessoais e escusos do gestor, tudo em completa ofensa ao princípio da moralidade e impessoalidade. (grifou-se)
Impende mencionar que, além das sérias denúncias envolvendo
a dispensa indevida de licitação e a violação do princípio da impessoalidade e da lisura nos
concursos públicos, o objeto da mencionada ação também aponta para a violação do dever de
moralidade no âmbito público pelo réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES -, pois que, conquanto se atribua a condição de instituição sem fins
lucrativos, na verdade não é, haja vista ter sido o único beneficiado direto do valor arrecado
pelas taxas de inscrições do concurso realizado no Município de São Luís do Curu/CE.
Ademais, o réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES - teve suas contas bancárias bloqueadas por ordem judicial,
correspondente ao valor arrecadado com a taxa de inscrição do concurso de São Luís do
Curu/CE, na importância de R$ 115.955,00 (cento e quinze mil reais e novecentos e
cinquenta e cinco reais), diante da existência de sérios indícios de fraude no processo de
dispensa de licitação, bem como em razão do pedido formulado pelo Ministério Público de
condenação ao ressarcimento dos valores relativos às 1.930 (um mil novecentas e trinta)
inscrições efetivadas.
No ano de 2004, o Município de Bela Cruz/CE contratou o réu
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Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
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ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES - para a prestação de serviços
referentes à realização de concursos públicos no âmbito municipal. Também prestavam
serviços ao referido município, em razão de contrato celebrado diretamente, por
inexigibilidade de licitação, o escritório de advocacia “Chaves & Chaves”, cujos sócios-
proprietários eram justamente o Presidente do CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES - Leonardo Carlos Chaves, e seu pai, Francisco das Chagas
Mendes Chaves.
Assim, em investigação deflagrada pelo Ministério Público do
Estado do Ceará, em razão das notícias que apontavam irregularidades na contratação do
CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO,
ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES -, apurou-se que o seu Presidente
Leonardo Carlos Chaves e Francisco das Chagas Mendes Chaves, atuando como advogados
contratados pelo município, usaram de sua função para beneficiamento próprio à custa do
Município de Bela Cruz, porquanto opinaram pela anulação de um concurso público
realizado antes da contratação CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO
ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – e de
conseguinte, pela realização de um novo concurso, porém agora, pelo mencionado Instituto.
Para expressar a repugnância dos atos praticados pelo
CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO,
ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES - especialmente, por seu
representante e atual Presidente, Leonardo Carlos Chaves, cita-se o seguinte aresto da petição
inicial (anexo VII):
O escritório de advocacia contratado pelo Município de Bela Cruz/CE, já à época do concurso, no caso Chaves & Chaves Advogados e Consultores S/C, foi responsável pelo parecer que opinou pela anulação do concurso público anteriormente realizado pelo Município de Bela Cruz/CE, quando da gestão da Srª Maria Vanúsia de Oliveira Sousa, cf. se infere nos autos, no doc.37, bem como do termo de contrato administrativo firmado entre o Município
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Goiás.
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de Bela Cruz/CE e o referido escritório, em 02/01/2003, neste caso, temos ainda a agravante de que o proprietário do Instituto Cidades, Leonardo Carlos Chaves, é um dos que, pasmem, assina o parecer.
Todos esses fatos fundamentaram a ação civil pública por ato
de improbidade administrativa proposta em desfavor do CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES - e de seu Presidente, Leonardo Carlos Chaves, cujos autos de nº
764-81.2006.8.06.0050/0 encontram-se em trâmite na Vara Única da Comarca de Bela
Cruz/CE (anexo VII).
Em razão de tais fatos, foram propostas em outros cantos do
país ações civis públicas para a declaração de nulidade do ato de dispensa de licitação, com
base no artigo 24, inciso XIII, para a contratação do CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES.
O Ministério Público do Estado do Mato Grosso instaurou
Inquérito Civil Público registrado com o número n.º 002476.009.2012, após notícia, em 19 de
junho de 2009, de que o réu CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO
ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES - foi
mencionado em uma matéria jornalística exibida no programa “Fantástico” da REDE
GLOBO TV, por envolvimento em escândalos de fraudes em concursos públicos.
Após as devidas investigações, constatou-se também que o
Município de Tangará da Serra/MT operou dispensa de licitação com fundamento no artigo
24, inciso XIII, da Lei nº 8.666/93 para a contratação do réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES - a fim de realizar concurso público no âmbito municipal. Saliente-
se que, assim como no caso vivenciado nestes autos, o Ministério Público do Estado do Mato
Grosso também recomendou ao Município a suspensão do concurso e a realização de
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processo licitatório para a escolha de uma nova empresa, mas a recomendação não foi
acatada pela municipalidade.
Em razão disso, o Ministério Público do Estado do Mato
Grosso, por meio da Promotora de Justiça titular da Promotoria de Tangará da Serra, propôs
ação civil pública, com nº de protocolo nº 0016565-60.2008.4.01.3600, para a declaração de
nulidade de ato administrativo de dispensa de licitação, fundamentado no artigo 24, inciso
XIII, da Lei 8.666/93. (anexo VIII)
A respeito da questionabilidade da reputação ético-profissional
do CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO,
ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES - frisou o Ministério Público do
Estado do Mato Grosso que:
Anota-se, que contar a entidade com “inquestionável reputação ético-profissional” é dizer ser idônea dando a segurança que a administração pública precisa para lisura exigida pela lei.O foco da ilicitude debatida está exclusivamente, sobre a qualidade da entidade contratada, ou seja, a sua credibilidade perante a sociedade brasileira, diante do seu envolvimento em diversas irregularidades e fraudes em concurso público.Observa-se, ainda, que a Prefeitura não teve o cuidado e o zelo de buscar informações quanto a “boa fama” da empresa contratada, a motivar o processo de dispensa de processo licitatório.Em simples busca, pela internet, o Município teria encontrado diversas matérias vinculando o nome da empresa contrata em escândalos de fraudes e irregularidades em concurso público pelo país.Reforça-se, que a mídia tem reiteradamente publicado matérias quanto a empresas envolvidas em irregularidades e fraudes em concurso público, sendo o Instituto Cidades uma das empresas envolvidas em escândalos.[...]Neste compasso, o Instituto Cidades, empresa contratada pela municipalidade local para realização do concurso público Edital n.º 001/2012, não apresenta elementos concretos a ter a sua reputação inquestionável, sendo, no mínimo duvidosa.
Frisa-se, que o requisito atinente à inquestionável reputação ético-profissional ganha destaque, uma vez que, ao lado dos princípios da obrigatoriedade da licitação e da excepcionalidade da dispensa, devem ser observados plenamente outros, como da
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impessoalidade, moralidade, eficiência e da obrigatoriedade do concurso público (artigo 37, caput da CF/88), o que não foi analisado cuidadosamente pelo Município de Tangará da Serra/MT, sendo o processo de dispensa imotivado. (grifou-se)
O Município de Cajazeiras diante das matérias veiculadas na
imprensa que o presidente do CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO
ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES - Leonardo
Carlos Chaves, teve sua prisão provisória decretada pelo Juiz da Comarca de Manaus
cancelou a realização do concurso público que seria realizado pelo instituto.
Tal providência foi concretizada por meio do decreto nº
002/2012 (anexo IX) que, além de anular o concurso, determinou que a Procuradoria Jurídica
do Município acionasse judicialmente o réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES – a fim de devolver o valor pago pelos candidatos como taxa de
inscrição no concurso.
Também o Ministério Público de Contas do Estado do
Amazonas propôs representação ao Tribunal de Contas do Estado do Amazonas, com vista na
imediata suspensão do concurso público relativo ao Edital de nº 002/2011 e de nº 003/2011
para ingresso nos quadros da Secretaria Municipal de Educação do Estado do Amazonas
(anexo X).
Segundo aponta o Ministério Público de Contas junto ao
Tribunal de Contas do Estado do Amazonas:
[…] a Prefeitura de Manaus, por intermédio da SEMAD, realizou a contratação direta do INSTITUTO CIDADES, com dispensa do processo licitatório, baseando-se na prerrogativa do art.24, XIII, da Lei nº8.666/93.[…]Ocorre que no caso do Instituto Cidades, essa condição não se mostra presente atualmente, já que entidade está sendo alvo de investigação
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pelo Ministério Público do Estado do Amazonas, em decorrência de denúncias de fraude no concurso da Defensoria Pública do Estado (DPE), que teve sua primeira fase realizada em 26.6.2011, pelo Instituto Cidades.Tais denúncias, que levaram o Governador do Estado, Omar Aziz, a anular o concurso, foram elaboradas por participantes aprovados na primeira fase do concurso e indicam o favorecimento de filhos de defensores públicos e de secretários municipais, além do irmão do superintendente regional do DNIT.[…]Em razão dos fortes indícios de inidoneidade do Instituto Cidades não há como se permitir que a entidade realize o concurso público da SEMED, cujas inscrições continua, abertas normalmente, conforme consulta ao site do Instituto Cidades, em 10.8.2011.
Há notícias, ainda, veiculadas inclusive pela Internet, de que
diversos concursos públicos realizados pelo réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES - foram suspensos e outros anulados pela Administração Pública
ou por ordem judicial, em razão das denúncias de fraudes e outras irregularidades, bem como
de irregularidades na sua contratação, pela indevida dispensa de licitação, como ocorrido nos
certames no município de Ibicuitinga/CE, Santa Rita/PB, Natal/RN, Luís Correia/PI,
Terezina/PI, conforme se extrai das notícias acostadas (anexo XI).
Diante de todos esses fatos, das provas constantes do Inquérito
Civil Público nº 201200314743 e objetivando evitar maiores danos ao patrimônio público e
aos cidadãos que participarão dos certames realizados pelo réu CENTRO INTEGRADO
DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES - com base no contrato 006/2012, esta Promotora de Justiça
encaminhou, ao Prefeito de Goiânia, a Recomendação nº 003/2012 (anexo XII).
Ao Prefeito de Goiânia/GO foi recomendada:
a) a SUSPENSÃO com a urgência que o caso requer a realização do concurso público para ingresso na carreira de Procurador Jurídico do Município de Goiânia, deflagrado pelo Edital nº 003 de 12 de junho de 2012 de outros concursos que, porventura, já tenham sido deflagrados para a realização pelo Instituto Cidades, em razão do
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contrato 006/2012;
b) a DECLARAÇÃO DE NULIDADE do ato de dispensa de licitação e do contrato 006/2012, celebrado com o Instituto Cidades – Centro Integrado de Desenvolvimento Administrativo, Estatística e Social – para a prestação de serviços especializados em planejamento, organização, execução de concursos públicos para preenchimento de vagas dos cargos relacionados no Termo de Referência, para atender toda a Administração Municipal;
c) a adoção de medidas para REAVER OS VALORES porventura já repassados ao Instituto Cidades, pelos concursos já deflagrados, em cumprimento às cláusulas 5.1.1 e 5.2 do contrato 006/2012.
No prazo de 05 (cinco) dias deverão ser encaminhadas, por escrito, a este órgão ministerial, informações acerca das providências adotadas para o cumprimento da presente recomendação, acompanhadas dos documentos necessários à sua comprovação.
Deverão, na mesma oportunidade, ser encaminhadas a este órgão ministerial informações pormenorizadas acerca dos valores já pagos ao Instituto Cidades - Centro Integrado de Desenvolvimento Administrativo, Estatística e Social – em cumprimento à cláusula 5 do contrato 006/2012.
Aos 13 de agosto de 2012, a recomendação foi recebida na
Prefeitura de Goiânia. Aos 20 de agosto de 2012, em resposta, o Prefeito de Goiânia
informou o seguinte (anexo XII):
Ab initio, impende esclarecer, douta Promotora que ausentes a conclusão dos atos investigativos deflagrados pelo procedimento administrativo 201200210943, a recomendação em apreço por si só é despida da presunção que leve a um juízo de valor que justifique a suspensão e/ou anulação de um certame sério, necessário, veementemente requisitado pelo próprio Ministério Público e aguardado a muito, pelos munícipes goianos.
Tanto assim o é, que nenhuma declaração de inidoneidade em desfavor do Instituto Cidades foi encartada entre as notícias apresentadas junto à recomendação. Com efeito, o procedimento administrativo condutor da escolha da sociedade empresária escolhida para a realização do certame objurgado concede à municipalidade a tranquilidade de prosseguir no concurso.
Noutra senda, acaso atendido a recomendação apresentada, estaria-se-ia (sic) a municipalidade ferindo de morte o constitucional princípio da legalidade, em especial o do devido processo legal, do contraditório e o da ampla defesa, encartados na Carta Magna.
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De mais a mais, admitir a recomendação ofertada seria mesmo que de forma transversa, declaração de incompetência e até mesmo, de leviana, cometimento de crime, das ilibadas pessoas e Instituições envolvidas no procedimento administrativo que primou, em homenagem aos constitucionais princípio da honestidade, imparcialidade e legalidade, pelo cumprimento do art. 24, III da Lei 8.666/93.
Corroborando a tudo isso, foi apresentado a esta municipalidade o recente atestado de capacidade técnica do Instituto, por parte do TCM – Tribunal de Contas dos Municípios de Goiás e manifestação conclusiva da auditoria 00524/2012 – GAHH do TCE – Tribunal de Contas do Estado de goiás, constante do processo nº 201200047000769-311, que aliás é a base da recomendação em apreço.
Destarte, em resposta à recomendação, objetivamente, o Município de Goiânia não vislumbra motivo para a suspensão do concurso em trâmite.
Ante o não-atendimento à Recomendação nº 003/2012 e, tendo
em vista os sérios indícios de violação a princípios e a normas constitucionais e legais no ato
de dispensa de licitação e, consequentemente, na celebração do contrato nº 006/2012 entre o
Município de Goiânia e o CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO
ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES - ao
Ministério Público alternativa não restou senão exercitar o seu poder de ação na defesa do
patrimônio público, da coletividade e do cumprimento das leis.
II – DO DIREITO
A) DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO
A legitimidade do Ministério Público para promover a defesa
do patrimônio público por meio da Ação Civil Pública advém tanto da Constituição Federal
quanto da legislação infraconstitucional.
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Ao tratar das funções institucionais do Ministério Público,
assim estabeleceu a Constituição Federal:
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
A Constituição do Estado de Goiás, de seu turno, determina:
Art. 117. São funções institucionais do Ministério Público:
[…]
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
[…].
A Lei n.º 7.347 de 24 de julho de 1985, que disciplina a ação
civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a
bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, em seu artigo 5º,
inciso, I, com redação dada pela Lei n.º 11.448, de 15 de janeiro de 2007, estabelece:
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação dada pela Lei n.º 11.448, de 2007)
I - o Ministério Público; (Redação dada pela Lei n.º 11.448, de 2007)
[...]
Já a Lei n.º 8.429 de 02 de junho de 1992, que dispõe sobre as
sanções aplicáveis aos agentes públicos pela prática de ato de improbidade administrativa
dispõe:
Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, dentro de trinta dias da efetivação da medida cautelar.
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[...]
§ 4º O Ministério Público, se não intervir no processo como parte, atuará obrigatoriamente, como fiscal da lei, sob pena de nulidade.
A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público – Lei 8.625 de
12 de fevereiro de 1993 – estabelece:
Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público:
[...]
IV - promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei:
a) proteção, prevenção e reparação de danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e a outros interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos;
[…].
Por fim, prevê a Lei Complementar nº 25/98 – Lei Orgânica do
Ministério Público do Estado de Goiás:
Art. 46. Além das funções previstas na constituição Federal, na Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, na Constituição Estadual e em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público:
[…]
VI – promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei, para:
a) proteção, prevenção e reparação de danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, e a outros interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos;
b) anulação ou declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio público ou à moralidade administrativa do Estado ou do Município, de suas administrações direta, indireta ou fundacional ou de entidades privadas de que participem.
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Os atos normativos ora mencionados, especialmente a
Constituição Federal, evidenciam a atribuição do Ministério Público para o exercício da Ação
Civil Pública e assentam a adequação dessa via para a defesa do patrimônio público.
Logo, dúvidas não pairam quanto à legitimidade ativa do
Ministério Público para figurar no polo ativo desta ação, inclusive para a declaração de
nulidade de ato administrativo que viole princípios e regras norteadores da Administração
Pública.
B) DOS VÍCIOS DO “PROCESSO” DE DISPENSA DE LICITAÇÃO
Segundo o artigo 37, inciso XIII, da Constituição Federal:
Art. 37. [...]
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.
A exegese desse dispositivo impõe a licitação como regra
fundamental nas contratações públicas. Somente em casos excepcionais e taxativamente
previstos na legislação infraconstitucional, especialmente nos artigos 24 e 25 da Lei nº
8.666/93, é que o processo licitatório poderá ser inexigível ou dispensado:
A obrigação de licitar não é mera formalidade burocrática, decorrente apenas de preceitos. Ela se funda em dois princípios maiores: os da isonomia e da impessoalidade, que asseguram a
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todos os que desejam contratar com a administração a possibilidade de competir com outros interessados em fazê-lo, e da eficiência, que exige a busca da proposta mais vantajosa para a administração.Assim, ao contrário do afirmado nas justificativas apresentadas, a licitação, além de ser exigência legal, quando bem conduzida, visa – e permite – a obtenção de ganhos para a administração. E quando a possibilidade de prejuízos existe, a própria lei, novamente com base no princípio da eficiência, prevê os casos em que o certame licitatório pode ser dispensado” (TCU, Acórdão nº 34/2011, Plenário, Min. Rel. Aroldo Cedraz) (grifou-se).
Por outro lado, falar em dispensa de licitação não implica
conferir ao administrador público uma ampla liberdade de contratação sem observância de
formalidades essenciais à escolha da melhor opção de contratação.
Conforme enfatiza Justen Filho:
[…] é incorreto afirmar que a contratação direta exclui um procedimento licitatório. Os casos de dispensa e inexigibilidade de licitação envolvem, na verdade, um procedimento especial e simplificado para a seleção do contrato mais vantajoso para a Administração Pública. Há uma série ordenada de atos, colimando selecionar a melhor proposta e o contratante mais adequado. Ausência de licitação não significa desnecessidade de observar formalidades prévias tais como a verificação da necessidade e conveniência da contratação, a disponibilidade de recursos etc.) Devem ser observados os princípios fundamentais da atividade administrativa, buscando selecionar a melhor contratação possível, segundo só princípios da licitação.(JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 14 ed. São Paulo: Dialética, 2010)
Complementa o autor:
[…] a contratação direta não consiste em oportunidade concedida pela Lei para o agente público realizar contratações inadequadas ou prejudiciais. O agente tem de buscar a melhor licitação possível, nas circunstâncias. Muitas vezes, essas circunstâncias tornam inviável produzir o melhor contrato possível. Ou seja, as dificuldades que conduzem à contratação direta poderão desencadear seleção de proposta que se verifica, posteriormente, como não sendo a mais vantajosa. […] O que não se admite, haja ou não licitação, é avençar contrato tendo conhecimento de indícios de insucesso. Não se permite a negligência na contratação, o que se caracteriza quando não adotadas cautelas indispensáveis à proteção dos interesses colocados
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sob a tutela do Estado. (JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 14 ed. São Paulo: Dialética, 2010)
Nessa linha de intelecção, sustenta Justen Filho que a etapa
interna do procedimento na contratação direta não se diferencia dos casos de licitação, uma
vez que a Administração deverá definir previamente o objeto a ser contratado e as condições
contratuais a serem observadas, além de realizar, também de forma preliminar, pesquisa dos
preços praticados no mercado.
Outro não é o entendimento do Tribunal de Contas da União:
Identifica-se a necessidade, motiva-se a contratação, para então, partir-se para a verificação da melhor forma de sua prestação. Ou seja, a decisão pela contratação direta, por inexigibilidade ou dispensa, é posterior a toda uma etapa preparatória que deve ser a mesma para qualquer caso. A impossibilidade ou a identificação da possibilidade da contratação direta, como a melhor opção para a administração, só surge após a etapa inicial de estudos. Como a regra geral é a licitação, a sua dispensa ou inexigibilidade configuram exceções. Como tal, portanto, não podem ser adotadas antes das pesquisas e estudos que permitam chegar a essa conclusão. (Acórdão nº 994/2006, Plenário, Rel. Min. Ubiratan Aguiar)
Os processos de dispensa de licitação devem conter documentos que indiquem a prévia pesquisa de preços de mercado, em relação ao objeto a ser contratado/adquirido, e a habilitação do respectivo fornecedor/prestador de serviços. (Acórdão nº 2.986/2006, 1º C. Rel. Min. Augusto Nardes)
Uma vez identificado que a contratação direta é a forma que
mais atende aos interesses da Administração, deverá esta adotar todas as providências para
efetivar a escolha de um contratante qualificado e da proposta mais vantajosa possível.
Necessário, portanto, ofertar aos pretendentes à contratação direta, de forma mais ampla
possível, a possibilidade de participar do processo de escolha. Conforme Assevera Justen
Filho,
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se a Administração tinha acesso a diversas propostas e escolheu aquela que não era a mais vantajosa, sua atuação foi inválida. Se a Administração poderia ter obtido contratação melhor atuando com maior diligência, houve vício. (JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 14 ed. São Paulo: Dialética, 2010)
Em qualquer hipótese, deverá ser observado, com rigor, o
disposto no artigo 26 da Lei 8.666/93:
Art. 26. […]
Parágrafo único. O processo de dispensa, de inexigibilidade ou de retardamento previsto neste artigo, será instruído, no que couber, com os seguintes elementos:
I – caracterização da situação emergencial ou calamitosa que justifique a dispensa, quando for o caso;II – razão da escolha do fornecedor ou executante;III – justificativa do preço;IV – documento de aprovação dos projetos de pesquisa aos quais os bens serão alocados.
No caso dos autos, ressoa evidente que o Município de Goiânia
não observou requisitos indispensáveis ao processo de dispensa de licitação para a
contratação do réu CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO
ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES.
Com efeito, conforme se verifica da cópia do processo nº
47337658/2012, o processo de dispensa foi inaugurado com a proposta do réu CENTRO
INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E
SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – previamente solicitada pela Administração Pública
Municipal, sem que, em etapa preliminar, tivesse a Administração identificado o objeto
da contratação, a necessidade da contratação, bem como os valores praticados no
mercado.
Também não cuidou o Município de Goiânia de efetivamente
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verificar se, dentre as instituições existentes no país, com os atributos previstos no artigo 24,
inciso XIII, da Lei 8.666/93, quais delas oferecia a “melhor” proposta, relativamente ao
objeto que se pretendia contratar, tanto do ponto de vista técnico, como do ponto de vista
financeiro.
E assim se afirma porque não consta dos autos de dispensa de
licitação (anexo I) nenhum documento que comprove que o MUNICÍPIO DE GOIÂNIA
tenha solicitado a apresentação de proposta, relativamente ao objeto que se pretendia
contratar (até porque este não resultou definido previamente no processo de dispensa
de licitação) a instituições detentoras dos atributos previstos no artigo 24, inciso XIII, da Lei
8.666/93.
O que foi acostado aos autos foi uma proposta apresentada pelo
Centro de Seleção da UFG, no mês de junho de 2011 (portanto, antes mesmo que fosse
celebrado o TAC com o Ministério Público para a realização do concurso de Procurador
Jurídico do Município), e que se relacionava a objeto completamente diverso do contratado
com o réu CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO,
ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES.
Pela data em que foi subscrita – 20 de junho de 2011 – e pelo
objeto de contratação a que se refere, tal documento evidencia a má-fé do Administrador
Público, que no afã de “legitimar” a escolha feita em desacordo com a lei e os princípios
regentes da Administração Pública, acostou-o aos autos, sem que tivesse alguma pertinência
com o objeto da contratação ora discutida.
Também foi acostada aos autos uma proposta oferecida, aos 03
de novembro de 2011, pela FUNCAB – Fundação Professor Carlos Augusto Bittencourt –
relativa, exclusivamente, ao concurso de Procurador Jurídico do Município, a qual, embora se
referisse a apenas parte do objeto contratado, conforme se verá adiante, era mais vantajosa à
Administração Pública Municipal, do ponto de vista financeiro.
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Apresentada a proposta pelo réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES – e, deflagrado, então o “processo” (se é que pode ser assim
nominado) de dispensa de licitação, foi que o Administração Pública Municipal cuidou de
justificar a necessidade, não de uma contratação direta, mas da contratação direta do réu
CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO,
ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – como se não existisse no país
outra Instituição que possuísse os atributos previstos no inciso XIII, do artigo 24 da Lei
8.666/93.
E mais: a justificativa da contratação somente se deu após
determinação da Controladoria-Geral do Município, quando então, fazendo juntar as
propostas acima mencionadas, uma do Centro de Seleção da UFG e outra da FUNCAB, a
Secretaria Municipal de Administração e Recursos Humanos, apresentou como justificativa
para a escolha do réu CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO
ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES:
Quanto à justificativa de preço e a razão da escolha do fornecedor, lembramos que não haverá qualquer ônus para o município de Goiânia, sendo que a contratada deverá executar, por sua conta e risco, a prestação de serviços, sendo de inteira responsabilidade da mesma, os encargos trabalhistas, previdenciários fiscais e comerciais e de todas as outras despesas decorrentes da execução do contrato, sendo que o Município de Goiânia contratante remunerará a contratante com base no montante das inscrições pelo valor arrecadado com as mesmas, da seguinte forma:
Até o limite de 20.000 (vinte mil) candidatos para os cargos de nível superior, sendo o limite de 10.000 (dez) mil para o cargo de Procurador Jurídico e 10.000 (dez mil) para os demais cargos de nível superior, de 700 9setecentos) candidatos para os cargos de nível médio, de 1000 (mil) candidatos para os cargos de nível fundamental completo e de 45.000 (quarenta e cinco mil) candidatos para os cargos de nível fundamental incompleto ou alfabetizado, fixadas estas em R$ 110,00 (cento e dez reais) para os cargos de nível superior R$ 60,00 (sessenta reais) para os cargos de nível médio, R$ 45,00 (quarenta e cinco reais) para os cargos de nível fundamental completo e R$ 38,00 (trinta e oito reais) para os cargos de nível incompleto ou
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alfabetizado, será repassado à contratada.
Quanto à compatibilidade de preços de mercado anexamos aos autos as propostas de preços solicitadas junto à Universidade Federal de Goiás – UFG e a Fundação Professor Carlos Augusto Bittencourt – FUNCAB, sendo que a proposta do Instituto Cidades foi considerada mais vantajosa e que atende às necessidades do Município de Goiânia para a realização destes certames.
Por primeiro, impõe-se salientar que a justificativa apresentada
pela Administração apenas objetivou cumprir uma formalidade, porquanto dela não se extrai
as razões de fato que fizeram da proposta apresentada pelo réu CENTRO INTEGRADO
DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES – a mais vantajosa.
Isso porque, dizer que, do ponto de vista da compatibilidade da
proposta com os preços de mercado, a proposta é mais vantajosa, sem explicitar o por quê,
bem como que mais atende às necessidades do Município de Goiânia para a realização dos
certames, sem também dizer o por quê, é a mesma coisa que não dizer nada, que não
justificar nada.
Ademais, as justificativas apresentadas, além de não atender ao
que impõe o artigo 26, inciso II e III da Lei 8.666/93, resultaram sufragadas pelos elementos
contidos no próprio “processo” de dispensa de licitação, porquanto, como se verá adiante, o
que resultou contratado por meio do contrato 006/2012 não foi o que efetivamente o réu
CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO,
ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – ofereceu e, ainda, foi muito mais
oneroso e, portanto, desvantajoso, para a Administração Pública Municipal do que o ofertado
pela FUNCAB.
Da análise da proposta apresentada pelo réu CENTRO
INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E
SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – constata-se, com relação ao preço, que se
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consubstanciou no seguinte:
Para a consecução dos serviços propostos acima, e examinado os documentos a nós informados quanto ao número de cargos e vagas, ofertamos executá-los pelos valores arrecadados com as inscrições.
Trabalhamos pelo risco, referente à arrecadação das inscrições.
Os valores das taxas de inscrição sugeridos são os descritos no quadro abaixo, por candidato, arcando com o ônus da taxa bancária de boletos bancários.
NÍVEL DE ESCOLARIDADE VALOR DA TAXA DE INSCRIÇÃO
Nível Superior R$ 110,00 (cento e dez reais)
Nível Médio R$ 60, 00 (sessenta reais)
Nível Fundamental Completo R$ 45,00 (quarenta e cinco reais)
Nível Incompleto ou Alfabetizado
R$ 38, 00 (trinta e oito reais)
Esses valores serão cobrados diretamente dos candidatos.
Será repassado 3% (três por cento) do valor de inscritos que ultrapassar a estimativa de inscritos por cada cargo, conforme anexo fornecido pela prefeitura.
O preço da proposta já inclui todos os custos e despesas relacionados com a execução dos serviços, tais como impostos, fretes, seguros e obrigações, sendo de nossa inteira responsabilidade os encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais, resultantes da execução do contrato.
Entretanto, pela análise do contrato 006/2012, constata-se que o
preço resultou fixado de outra forma. É o que se verifica da cláusula 4 do referido contrato:
4. CLÁUSULA QUARTA – DO PREÇO DOS SERVIÇOS4.1 - O preço estimado do contrato é de R$3.997.000,00 (três milhões, novecentos e noventa e sete mil reais), para fins de faturamento da contratada, sendo que o Município de Goiânia remunerará a entidade Instituto Cidades com base no montante das inscrições pelo valor arrecadado com as mesmas, não havendo qualquer ônus ao Município de Goiânia, devendo a contratada executar, por sua conta e risco, a prestação dos serviços relacionados na Cláusula Terceira deste Instrumento Contratual, sendo de inteira
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responsabilidade da mesma, os encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais, bem como, de todas outras despesas decorrentes da execução do contrato.4.1.1 – O valor arrecadado com a inscrições, até o limite de 20.000 (vinte mil) candidatos para os cargos de nível superior, sendo o limite de 10.000 (dez mil) para o cargo de Procurador Jurídico e 10.000 (dez mil) para os demais cargos de nível superior, 700 (setecentos_ candidatos para os cargos de nível médio e de 1000 (hum mil) candidatos para os cargos de nível fundamental completo e de 45.000 (quarenta e cinco) mil candidatos para os cargos de nível fundamental incompleto ou alfabetizado, fixadas estas em R$ 110,00 (cento e dez reais) para os cargos de nível superior , R$ 60,00 (sessenta reais( para os cargos de nível médio, R$ 45,00 (quarenta e cinco reais) para os cargos de nível fundamental completo e em R$ 38,00 (trinta e oito) reais para os cargos de nível fundamental incompleto ou alfabetizado, de acordo com o anexo do Termo de Referência que acompanha os autos, será repassado à contratada.4.1.2 – Dos valores arrecadados com as inscrições que ultrapassarem o limite acima mencionado, 50% (cinquenta por cento) será repassado à empresa contratada e, 50%¨(cinquenta por cento) será receita do Fundo Municipal de Capacitação e desenvolvimento do Servidor Público de Goiânia – FUMCADES (criado pela Lei nº 9086, de 04 de outubro de 2011).
A proposta do réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES – relativamente aos repasses do que excedesse o limite de
inscrições estabelecido no contrato era de 3%. No contrato, resultou fixado em 50%.
De outro lado, embora tenha o Município afirmado que, do
ponto de vista da compatibilidade da proposta acatada com os preços de mercado e diante das
propostas apresentadas, a proposta ofertada pelo réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES – foi a mais “vantajosa”, constata-se que isso é uma falácia.
Inicialmente, cumpre repisar que não adotou a Administração
Pública Municipal as providências necessárias a obter a melhor contratação possível. E isso
se constata por não constar dos autos de dispensa de licitação (anexo I) solicitações do
Município com objeto definido e propostas de outras instituições possuidoras dos atributos
previstos no artigo 24, inciso XIII, da Lei 8.666/93. Tanto isso é verdade que uma das duas
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propostas acostadas aos autos, apresentada pelo Centro de Seleção da UFG, não guarda
correspondência com o objeto contratado com o réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES _ o que demonstra o propósito malicioso da Administração Pública
Municipal de, a qualquer modo, justificar a contratação previamente definida, sem a
observância dos requisitos legais formais e materiais.
No que concerne à proposta oferecida pela FUNCAB –
Fundação Carlos Augusto Bittencourt – embora se refira a objeto mais restrito do que o
contratado com o réu CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO
ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES –
porquanto se referia, apenas, ao concurso de Procurador Jurídico do Município de Goiânia,
constata-se que era a mais vantajosa, do ponto de vista financeiro.
Nos termos da proposta, a referida instituição seria responsável
pelo planejamento e execução das atividades previstas no seu plano de trabalho e arcaria,
também, integralmente, com todas as despesas e encargos sociais, trabalhistas,
previdenciários, impostos e taxas de contribuições que incindissem sobre os custos dos
serviços prestados em todas as suas etapas.
Quanto ao custo dos serviços, foram estes ofertados pelo valor
fixo de R$ 70,00 (setenta reais) por candidato inscrito.
Além de o objeto da contratação ser diverso, haja vista que a
proposta oferecida pela FUNCAB restringia-se ao concurso de Procurador Jurídico do
Município, há que ponderar que a proposta por ela apresentada, do ponto de vista financeiro,
era mais vantajosa ao Município.
Isso porque cindível o objeto da contratação, era possível a
escolha de entidade para a realização exclusiva do concurso de Procurador Jurídico do
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Município.
Analisando as propostas, verifica-se que o preço contratado
com o réu CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO,
ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – foi equivalente a R$ 110,00
(cento e dez reais) por candidato inscrito, em se cuidando do concurso de Procurador Jurídico
do Município. De outro lado, o preço apresentado pela FUNCAB foi de R$ 70,00 (setenta
reais) por candidato inscrito, ou seja, quase a metade do valor cobrado pelo réu CENTRO
INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E
SOCIAL – INSTITUTO CIDADES.
É dizer: das propostas apresentadas, não foi a eleita – a ofertada
pelo réu CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO,
ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – a mais vantajosa para a
Administração Pública Municipal. Primeiro, porque das duas propostas juntadas aos autos,
somente uma se refere, em parte, ao objeto contratado com o réu CENTRO INTEGRADO
DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES. Segundo, porque tal proposta, apresentada pela FUNCAB,
relativamente a esta parte do objeto, plenamente cindível, era mais vantajosa, porque menos
onerosa, para a Administração Pública Municipal.
Não obstante, o MUNICÍPIO DE GOIÂNIA optou por
celebrar o contrato com o réu CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO
ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES –
fundamentando sua decisão no fato de ser essa contratação mais vantajosa para a
Administração Pública Municipal, mesmo ciente de que estava a pagar, por uma parte do
objeto contratado, quase o dobro do que outra instituição, com os mesmos atributos, ofereceu
para a execução do objeto do contrato.
Não se argumente que a proposta apresentada pelo réu
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CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO,
ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – era a mais vantajosa por não
implicar em ônus para a Administração Pública Municipal, uma vez que os pagamentos
seriam efetivados com os valores recolhidos com a taxa de inscrição.
Tal argumento é equívoco.
Apesar de em doutrina haver discussão sobre a natureza
tributária ou não-tributária das taxas de inscrição em concurso público, segundo Tourinho,
invocando lição de Gasparini, certo é que tem ela
[…] natureza de receita própria do ente contratante. Considerada receita pública, deverá obedecer ao regime das despesas e receitas instituído pela Lei Federal nº 4.320/64, devendo ingressar e sair dos cofres públicos obedecendo as regras estabelecidas pelo referido diploma. (TOURINHO, Rita. Da ação civil pública no controle da contratação de empresa para realização de concurso público. Disponível em www.esmp.mp.se.gov.br/Portal/RevistaESMP; acesso aos 22/08/2012)
Outro não é o entendimento do Tribunal de Constas da União
que há muito já assentou que os valores arrecadados como taxa de inscrição constituem
receita pública:
[...]21. Sobre a primeira questão, cumpre destacar a posição, pacífica nesta Corte, sobre a exigência de certame licitatório para o caso em tela. O voto exarado no processo TC n 600.067/94-7, citado pelo responsável em sua defesa, é inequívoco ao considerar irregular a contratação sem certame licitatório de empresa de seleção de pessoal. Esse entendimento, corroborado por outras decisões deste Tribunal, fundamenta-se não só na exigência constitucional de assegurar igualdade de condições a todos os concorrentes como também no entendimento de que os recursos arrecadados a título de taxa de inscrição em concursos constitui receita pública (TC nº 014.861/93-3), não havendo como prosperar a tese de que, na contratação dessas empresas, remuneradas exclusivamente com a arrecadação de taxas de inscrição, não há gasto público envolvido. (Decisão 228/97 – Plenário).(grifou-se)
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Assim, os valores arrecadados com taxa de inscrição é receita
pública e deve obedecer o regime de despesas públicas delineado na Lei 4.320/64. Deverão
ser gastos conforme os critérios legais e não ao bel prazer do Administrador, como se
recursos privados fossem.
Da análise dos autos, constata-se que, além de todos os vícios
formais que estão a macular o “processo” de dispensa de licitação ora em discussão, os
motivos invocados pelo réu MUNICÍPIO DE GOIÂNIA para a contratação direta, por
dispensa de licitação, do réu CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO
ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – no que se
refere ao preço ajustado e, também como se verá adiante, no que se refere à escolha da
contratada, conforme disposto no artigo 26, inciso II e III, não corresponde à realidade fática,
razão por que nulo é o ato de dispensa de licitação e, em consequência, o contrato 006/2012.
No Estado Democrático de Direito, não se concebe o exercício
da Administração Pública desvinculada dos fins constitucionais.
Nessa perspectiva, a motivação dos atos administrativos
constitui instrumento de controle da atividade administrativa e é erigida, no Estado
Democrático de Direito, a princípio constitucional, cuja inobservância reconduz à nulidade
do ato.
Com efeito, o princípio da motivação dos atos administrativos
pode ser extraído do princípio democrático, porquanto somente por meio da motivação é que
se pode realizar o controle dos atos administrativos e verificar sua adequação à finalidade
constitucional. Pode também tal princípio ser extraído do disposto no artigo 93, inciso X, da
Constituição Federal, o qual dispõe:
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Art. 93. Lei complementar de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:
[…]
X – as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros;
[…].
Se o Judiciário, no exercício de função atípica – a função
administrativa –, deve motivar as suas decisões, não há razão para que o administrador, no
exercício de função que lhe é típica, também não o faça.
Ademais, cumpre salientar que, conforme disposto no artigo 5º,
inciso XXXV, da Constituição Federal de 1988, “a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito”. O efetivo controle dos atos do Poder Público pelo
Poder Judiciário está a exigir a sua motivação.
Por outro lado, conforme bem acentua Figueiredo:
A motivação atende ás duas faces do due process of law: a formal – porque está expressa no texto constitucional básico; e a substancial – sem a motivação não há possibilidade de aferição da legalidade ou ilegalidade, da justiça ou da injustiça de uma decisão administrativa. (FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. 9. ed. rev. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 2008)
Ressalta-se, ainda, que a motivação, para dar concretude ao
princípio constitucional do devido processo legal, que em última análise, reconduz ao
princípio democrático, há de ser efetiva, é dizer, suficiente para explicitar as razões da prática
do ato e demonstrar a sua correspondência com os requisitos legais e a finalidade
constitucional.MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça
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No caso ora em análise, além de o réu MUNICÍPIO DE
GOIÂNIA não ter apresentado, de forma efetiva, os motivos que justificaram a escolha e o
levaram a considerar a proposta apresentada pelo réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES – a mais vantajosa, do ponto de vista da compatibilidade com os
preços de mercado, constata-se pelos elementos contidos nos autos que os motivos
invocados, não correspondem à realidade fática, porquanto fora apresentada proposta
relativamente a parte do objeto da contratação cindível, menos onerosa.
Vale relembrar que o motivo do ato administrativo faz parte de
sua configuração legal e sua verificação está incluída na análise da legalidade. Apurar se
realmente ocorreu a situação de fato definida ou não em lei como autorizadora da prática do
ato não encerra um juízo acerca da razoabilidade ou conveniência do ato, mas apenas acerca
da existência da sua causa. Constatada a falsidade do motivo, é dizer, a inocorrência do fato
autorizador que justifica a prática do ato, este é ilegal, porquanto baseado em fato inexistente.
Conforme se vê, pela cópia do processo nº 47337658
apresentada pelo réu MUNICÍPIO DE GOIÂNIA em atendimento à requisição do
Ministério Público (anexo I), o “processo” (se é que pode ser assim denominado) de dispensa
de licitação foi deflagrado não para a verificação da melhor forma de contratação e da
entidade mais capacitada para atender à Administração Pública, mas para a contratação de
empresa escolhida previamente pelo Administrador, porquanto não foram observadas as
etapas preliminares necessárias para a definição do objeto da contratação, verificação do
valor de mercado, adequação da contratação direta e oportunidade de obtenção de propostas
diversas. Ao contrário, foi inaugurado pela proposta do réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES – apresentada, conforme consta do documento de apresentação,
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Goiás.
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item 1 – objeto da proposta - por solicitação do réu MUNICÍPIO DE GOIÂNIA.
Dessa forma, por violar o princípio da legalidade (no sentido
formal e material), da impessoalidade, da moralidade administrativa e da eficiência, o
contrato 006/2012, celebrado entre o réu MUNICÍPIO DE GOIÂNIA e o réu CENTRO
INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E
SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – é inválido e, portanto, deve ser declarado nulo.
C) DA VIOLACÃO AO ARTIGO 24, INCISO XIII, DA LEI Nº 8.666/93
Conforme se extrai dos autos, a contratação direta do réu
CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO,
ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – para a prestação de serviços
especializados de planejamento, organização e execução de concursos públicos para o
Município de Goiânia baseou-se no artigo 24, inciso XIII, da Lei nº 8.666/93, que assim
enuncia:
Art.24. É dispensável a licitação:
[…]
XIII - na contratação de instituição brasileira incumbida regimental ou estatutariamente da pesquisa, do ensino ou do desenvolvimento institucional, ou de instituição dedicada à recuperação social do preso, desde que a contratada detenha inquestionável reputação ético-profissional e não tenha fins lucrativos.
São, portanto, requisitos para a contratação direta com base no
referido dispositivo legal:
1) ser a contratada instituição incumbida regimental ou
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Goiás.
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estatutariamente da pesquisa, do ensino ou do desenvolvimento
institucional;
2) deter a contratada inquestionável reputação ético-
profissional;
3) não possuir a contratada fins lucrativos.
A primeira questão a ser analisada diz respeito à inclusão da
atividade de realização de concursos públicos no conceito de desenvolvimento institucional.
A indeterminabilidade do que seja desenvolvimento
institucional tem ensejado muita discussão em doutrina e no âmbito dos Tribunais sobre o
tema.
Segundo Lima,
[…] associar, milimetricamente, o termo concurso público ao termo desenvolvimento institucional, como exige a exegese vertente do inciso, nos parece demais. O conceito daquele está mais associado a uma ideia de continuidade própria dos processos, sendo que o deste a um conjunto de mudanças qualitativas em uma organização, incluindo mudanças de paradigmas, relações e estruturas, do que uma ideia de procedimento, de uma ação específica.
Entendo que o concurso público está mais para uma adaptação administrativa (exigência legal, condição ex ante da nomeação em cargo/emprego público) do que para um desenvolvimento institucional, podendo aquele ser inclusive uma ação a ser implementada devido ao resultado de um processo de desenvolvimento de uma instituição. Essa expressão não suporta, data venia, uma interpretação tão extensiva como defende boa parte dos doutrinadores da matéria, incluindo aí o próprio Egrégio Tribunal de contas da União, quer seja pela vontade legislativa, quer sejam pelos limites do princípio da legalidade, do qual nasce a máxima jurídica de não caber ao intérprete fazer aquilo que o legislador não quis.
A regra é licitar. As exceções ou faculdades da lei dever ser interpretadas da forma mais restrita possível. Para corroborar isso, o Ministro Augusto Sherman Cavalcante, do Egrégio Tribunal de contas da União, em excertos do seu voto nos autos do Processo TC 019.027/2003, assim se manifesta sobre qual deva ser a interpretação
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das hipóteses do artigo 24 da Lei n. 8.666/93:
Ora, se a dispensa de licitação se configura em exceção à regra constitucional e, mais, se o instituto incide sobre situações nas quais a realização de licitação seria viável, claro está que o art, 24 da Lei n. 8.666/93 deve ser aplicado com o máximo de rigor e cautela, de modo a se evitar a utilização indevida da autorização legal para fugir à realização da licitação. Nesse caso, deve operar uma das regras fundamentais da hermenêutica: aquela que determina que as exceções sejam interpretadas restritivamente. Veja-se, assim, que é exatamente nessa linha que segue a jurisprudência desta Corte, bem como a doutrina, ao afirmarem que a enumeração constante do art. 24 da Lei de Licitações é exaustiva, não admitindo interpretação extensiva ou analogia.[…].Em consequência dessa restrição, uma determinada situação fática somente será alcançada pela hipótese de dispensa de licitação se apresentar elementos que preencham perfeitamente os requisitos estabelecidos na norma. (LIMA, Emílio Bandeira. A impossibilidade legal da contratação de instituição brasileira para a realização de concurso público com fundamento no art. 24, XIII, da lei geral de licitação e contratos administrativos. Revista do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, jul/ago.set/2011, v.80, nº 3, ano XXIX, p.42)
Completa o autor:
Ad exemplum, um processo típico de desenvolvimento institucional ocorreu quando o Governo do Estado do Maranhão nos idos de 1990 iniciou um processo de modernização administrativa. Naquela época, decidiu implementar um conjunto de medidas visando a um processo de reforma administrativa, que perpassava por uma mudança do paradigma administrativo, trazendo para dentro da estrutura estatal um conceito gerencial e descentralizador em oposição ao conceito vigente, meramente político e concentrador. Tal fato, por subsumir-se ao que se amolda a um conceito de desenvolvimento institucional, é passível, pois, de contratação pela hipótese do inciso XIII do art. 24 da Lei de Licitações e Contratos. (LIMA, Emílio Bandeira. A impossibilidade legal da contratação de instituição brasileira para a realização de concurso público com fundamento no art. 24, XIII, da lei geral de licitação e contratos administrativos. Revista do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, jul/ago.set/2011, v.80, nº 3, ano XXIX, p.42)
Por fim, ao analisar decisão exarada pelo Tribunal de Contas da
União, conclui:
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Não restam dúvidas quanto à pertinência do termo concurso público com o termo desenvolvimento institucional conforme afirmado pelo ministro. Existe um sem-número de órgãos públicos que melhoraram sua eficiência em razão da mão-de-obra selecionada por tal instrumento. Mas, daí afirmar que concurso público é desenvolvimento institucional ou que desenvolvimento institucional passa necessariamente pelo concurso público, como exige a norma do inciso XIII do art. 24 da Lei de Licitações e Contratos, é por demais grave, principalmente porque não foi esse o sentido que quis dar o legislador à norma. Não existe subsunção dos termos concurso público ao de desenvolvimento institucional e vice-versa, eles não se amoldam milimetricamente.(LIMA, Emílio Bandeira. A impossibilidade legal da contratação de instituição brasileira para a realização de concurso público com fundamento no art. 24, XIII, da lei geral de licitação e contratos administrativos. Revista do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, jul/ago.set/2011, v.80, nº 3, ano XXIX, p.42)
Recentemente, o entendimento do Tribunal de Contas da União,
favorável à aplicação do artigo 24, inciso XIII, da Lei de Licitações na hipótese de
contratação de instituição para a realização de concursos públicos, sofreu um viés
modificativo pelo Poder Judiciário. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos teve seu
concurso anulado em razão de uma ação civil pública, mesmo recebendo parecer favorável
daquele Tribunal de Contas. Entre outros fundamentos, o Poder Judiciário acolheu a tese de
que não cabe dispensa do procedimento licitatório para a realização de concurso público,
fundamentada no inciso XIII do art. 24 da Lei Federal n. 8.666/93 (Ação civil Pública DF n.
47922-08.2010.4.01.3400)
Em recente decisão exarada no Procedimento de Controle
Administrativo n. 0001444-15.2011.2.00.0000, o Conselho Nacional de Justiça entendeu pela
ilegalidade da dispensa de licitação fundamentada no art. 24, inciso XIII para a contratação
de instituição brasileira cujo objeto versava sobre a realização de concurso público. Para o
relator, Conselheiro José Adonis Callou de Araújo Sá, tal fundamento não embasa esse tipo
de contratação direta:
Entendo que a regra do artigo 24, XIII da Lei nº 8.666/93 não serve de fundamento para a contratação, com dispensa de licitação, de entidade para a organização de concurso público.
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Parece-nos evidente que a realização de concurso público não está inserida nas finalidades indicadas na norma, relativa à pesquisa, ao ensino, ao desenvolvimento institucional ou à recuperação social do preso. É necessária a pertinência entre o objeto da contratação pretendida e as finalidades indicadas na norma. Não é possível alargar o conceito de desenvolvimento institucional ao ponto de alcançar até mesmo o processo de seleção de interessados na delegação de atividades notariais e de registro.É perfeitamente viável a realização de licitação para contratação de instituição visando a realização do concurso público, inclusive para as atividades notariais e de registro. E é sabido que existem diversas instituições com vasta experiência e dotadas de notória aptidão para a realização de concursos públicos, algumas delas vinculadas a entidades públicas como a Esaf e o Cesp.
Alfim, melhor juízo não há senão considerar ilegal a
contratação direta, por dispensa de licitação fulcrada no artigo 24, inciso XIII, da Lei nº
8.666/93, para a contratação de instituições que realizam concursos públicos, como é o caso
dos autos.
No que pertine ao requisito consubstanciado na inquestionável
reputação ético-profissional da instituição contratada, constata-se que o réu CENTRO
INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E
SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – não preenche o requisito legal.
Conforme já relatado no item I desta inicial, o réu CENTRO
INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E
SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – e seu Presidente Leonardo Carlos Chaves são alvos
de investigação administrativa e judicial, inclusive na seara penal, em diversos Estados do
país, por envolvimento em fraudes e irregularidades em concursos públicos por ele
realizados.
Embora tais investigações não tenham chegado ao fim, certo é
que, para a finalidade do disposto no artigo 24, inciso XIII, da Lei 8.666/93, a simples
discussão administrativa ou judicial quanto à idoneidade da instituição já se apresenta
suficiente para dela retirar a qualidade prevista no referido dispositivo legal e impedir a sua
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contratação de forma direta, por dispensa de licitação.
Isso porque dizer que uma instituição possui reputação ético-
profissional inquestionável é dizer que possui atributos éticos, morais no âmbito de sua
atuação profissional sobre os quais não pairam quaisquer dúvidas.
O fato de haver processo criminal instaurado para apuração do
envolvimento do Presidente do réu CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO
ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – em
fraudes no concurso público para provimento de cargos de Defensor Público do Estado do
Amazonas, fraudes essas demonstradas de forma documental, inclusive por perícias, é
suficiente para lançar a dúvida sobre os atributos ético-profissionais do réu CENTRO
INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E
SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – e afastar a qualidade exigida pela legislação no artigo
24, inciso XIII, da Lei 8.666/93.
Isso porque, conforme estabelece o Código de Processo Penal,
para o oferecimento de uma denúncia criminal, necessário a existência de prova da
materialidade do crime e de indícios suficientes de autoria. No caso acima mencionado, a
denúncia já foi, inclusive, recebida. (anexo IV)
O mesmo se diga com relação à ação civil pública por ato de
improbidade administrativa. Uma vez exercitado o poder de ação pelo Ministério Público é
porque, no mínimo, sérios indícios existem. O recebimento da inicial em uma ação de
improbidade administrativa, notadamente diante da existência de uma fase preliminar que
possibilita defesa ao réu, reafirma a seriedade de tais indícios. Nos casos relatados no item I,
as ações de improbidade administrativa foram devidamente recebidas.
O fato de o réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
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INSTITUTO CIDADES – ter juntado aos autos do “processo” de dispensa de licitação
“atestados” de capacidade técnico-profissional, um deles, inclusive, emitido pela Presidente
do Tribunal de Contas dos Municípios, não se constitui em presunção juris tantum de
idoneidade.
E assim se afirma porque o fato de ter realizado, sem problemas
detectados, determinados concursos públicos, não exclui a possibilidade de envolvimento em
fraudes em outros.
Ademais, é importante ressaltar que, na maioria dos casos que
se encontram em apuração, o gestor público pactuou com a ilegalidade perpetrada.
Também não socorre o réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES – o argumento de não ter, na esfera administrativa, declaração de
inidoneidade em seu desfavor.
A uma, porque o artigo 24, inciso XIII, da Lei 8.666/93 assim
não estabelece. A duas, porque a “inquestionável” idoneidade (lembre-se que lei impõe uma
qualidade ético-profissional incontestável e incontestada da instituição contratada) pode ser
afastada de outas formas, a não ser pela declaração formal de inidoneidade.
Reafirma-se: a contratação direta de instituição, nos termos do
disposto do artigo 24, inciso XIII, da Lei 8.666/93 exige que a entidade possua uma
reputação ético-profissional incontestável e incontestada. É dizer: que sobre ela não recaia
nenhuma dúvida acerca de seus atributos ético-profissionais, o que não se verifica nos
presentes autos.
Acerca da importância dessa exigência, ensina Justen Filho:
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Deve ser indiscutível a capacitação para o desempenho da atividade objetivada. Exigem-se as virtudes éticas relacionadas direta e necessariamente com o perfeito cumprimento do contrato. (JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 15.ed. São Paulo: Dialética, 2002, p. 369)
Ademais, na hipótese ora tratada – contratação de instituição, de
forma direta, para os fins do artigo 24, inciso XIII, da Lei 8.666/93, o requisito atinente à
inquestionável reputação ético-profissional ganha relevância redobrada, na medida em que,
ao lado dos princípios da obrigatoriedade da licitação e da excepcionalidade da dispensa,
devem ser plenamente observados princípios outros, especialmente quanto aos da
impessoalidade, moralidade, eficiência, todos consagrados pelo art. 37, caput c/c inciso II, da
Constituição da República.
Nesse passo, uma vez constatado que a entidade contratada não
preenche os requisitos taxativamente enunciados no artigo 24, inciso XIII, da Lei 8.666/93,
dentre eles a inquestionável reputação ético-profissional, é de concluir que o ato de dispensa
de licitação foi ilegal e, em consequência, inafastável será o reconhecimento da nulidade do
contrato dele decorrente e todos os atos de execução do contrato, em especial o concurso
público para Procurador Jurídico do Município de Goiânia, já deflagrado por meio do edital
003/2012, cuja prova realizar-se-á no dia 26 de agosto de 2012, domingo próximo.
Quanto à ausência de finalidade lucrativa, constata-se, também,
pelos documentos lançados aos autos, que o réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES – não preenche tal requisito legal.
Isso porque, embora no artigo 1º de seu estatuto social conste,
expressamente, que não tem a referida entidade finalidade lucrativa, a outra conclusão se
chega pela análise do contrato firmado com o réu MUNICÍPIO DE GOIÂNIA.
Eis o que dispõe a cláusula quarta, do contrato nº 006/2012,
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firmado entre o réu CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO
ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – e o réu
MUNICÍPIO DE GOIÃNIA:
4. - CLAÚSULA QUARTA – DO PREÇO DOS SERVIÇOS4.1. – O valor do contrato é de R$ 3.997.000,00 (três milhões, novecentos e noventa e sete mil reais), para fins de faturamento da contratada, sendo que o Município de Goiânia remunerará a entidade Instituto Cidades com base no montante das inscrições pelo valor arrecadado com as mesmas, não havendo qualquer ônus ao Município de Goiânia, devendo a contratada executar, por sua conta e risco, a prestação dos serviços relacionados na Cláusula Terceira deste Instrumento Contratual, sendo de inteira responsabilidade da mesma, os encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais, bem como de todas as outras despesas decorrentes da execução do contrato;4.1.1 – O valor arrecadado com a inscrições, até o limite de 20.000 (vinte mil) candidatos para os cargos de nível superior, sendo o limite de 10.000 (dez mil) para o cargo de Procurador Jurídico e 10.000 (dez mil) para os demais cargos de nível superior, 700 (setecentos_ candidatos para os cargos de nível médio e de 1000 (hum mil) candidatos para os cargos de nível fundamental completo e de 45.000 (quarenta e cinco) mil candidatos para os cargos de nível fundamental incompleto ou alfabetizado, fixadas estas em R$ 110,00 (cento e dez reais) para os cargos de nível superior , R$ 60,00 (sessenta reais( para os cargos de nível médio, R$ 45,00 (quarenta e cinco reais) para os cargos de nível fundamental completo e em R$ 38,00 (trinta e oito) reais para os cargos de nível fundamental incompleto ou alfabetizado, de acordo com o anexo do Termo de Referência que acompanha os autos, será repassado à contratada.4.1.2 – Dos valores arrecadados com as inscrições que ultrapassarem o limite acima mencionado, 50% (cinquenta por cento) será repassado a empresa contratada e 50% (cinquenta por cento) será receita do Fundo de Capacitação e Desenvolvimento do Servidor Público de Goiânia – FUMCADES (criado pela Lei nº 9086 de 04 de outubro de 2011).
Ora, não se coaduna com a natureza não lucrativa da
contratação direta, autorizada pelo artigo 24, inciso XIII, da Lei 8.666/93, a existência de
uma cláusula que permita uma remuneração variável, que não reflita retribuição pelo custo
dos serviços.
Uma coisa é a fixação de um valor fixo por candidato inscrito,
outra é a fixação da retribuição no valor de inscrição de um limite X de candidatos, como
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parte fixa, e outra variável, consubstanciada no valor excedente de inscrições.
Ou o valor fixo remunera o serviço prestado e o que se constitui
em parte variável é lucro, ou o valor fixo não remunera o serviço na sua integralidade, e a
instituição correrá o risco de ter prejuízos, na hipótese de não se inscreverem candidatos em
número superior ao previsto no contrato, o que é incogitável em se cuidando de instituição
que não tem fins lucrativos.
A forma como resultou fixado o preço dos serviços no contrato,
aliada à circunstância já mencionada anteriormente de estar o preço contratado com o réu
CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO,
ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – acima do valor de mercado, torna
claro o intuito de lucro da “empresa”, porque em verdade é disso que se trata a referida
entidade, não de “instituição” como exige a lei.
Ademais, pela atenta análise do “estatuto social”, pode-se
constatar que a amplitude dos “objetivos sociais” da mencionada entidade está a corroborar a
sua real natureza empresarial, já demonstrada pelos termos do contrato.
Inquestionável que a contratação direta do réu CENTRO
INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E
SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – nos termos do disposto no artigo 24, inciso XIII, da
Lei 8.666/93, além de afrontar o princípio da lealidade, por não preencher referida entidade
os requisitos previstos no citado dispositivo legal, afronta o princípio da impessoalidade, da
eficiência e, principalmente, da moralidade administrativa.
A Administração Pública tem por dever constitucional zelar
pela igualdade e pela probidade administrativa, não podendo permitir tratamento desigual ou
favorecimentos imorais a empresas ou instituições que com ela desejam celebrar contratos.
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O princípio da moralidade administrativa acomoda em seu
conteúdo o dever de a Administração Pública corresponder à confiança nela depositada pelo
cidadão. Nada mais é, senão a boa-fé que a Administração Pública deve inspirar, em todos os
seus atos; é a postura que corresponda à expectativa do cidadão.
Mello aponta a lealdade e a boa-fé como conteúdos da
moralidade administrativa:
[...] compreendem em seu âmbito, como é evidente, os chamados princípios da lealdade e boa-fé [...] Segundo os cânones da lealdade e da boa-fé, a Administração haverá de proceder em relação aos administrados com sinceridade e lhaneza, sendo-lhe interdito qualquer comportamento astucioso, eivado de malícia, produzido de maneira a confundir, dificultar ou minimizar o exercício dos direitos por parte dos cidadãos.(MELLO, Celso Antônio Bandeira. Curso de direito administrativo, 26 ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Malheiros, 2009)
Ao apontar que a boa-fé é imanente ao princípio da moralidade
administrativa, Lúcia Valle Figueiredo ensina que:
Na verdade, a boa-fé é conatural, implícita ao princípio da moralidade administrativa. Não poderá a Administração agir de má-fé e, ao mesmo tempo, estar a respeitar o princípio da moralidade. Deveras, não poderá a Administração desrespeitar a boa-fé do administrado, não lhe dar importância, ignorá-la. Mesmo no Direito Administrativo colacionam-se exemplos ilustrativos do princípio, quer seja na impossibilidade de a Administração invalidar atos administrativos que geraram direitos, sobretudo quando seus beneficiários estiverem de boa-fé, quer seja na anulação de contratos administrativos, indenizando-se aqueles que de boa-fé trabalharam para a Administração, portanto, em pleno respeito também à vedação do enriquecimento sem causa, outro princípio geral latente a todo ordenamento jurídico. (FIGUEIREDO, Lúcia Valle. Curso de direito administrativo. 9.ed. rev. ampl. Atual. São Paulo: Malheiros, 2008)
Nesse sentido, o princípio da moralidade impõe à
Administração Pública o dever de estar vigilante, a fim de manter a confiança nela depositada
pela cidadão.
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No caso dos autos, diante das flagrantes ilegalidades
perpetradas no “processo” (se é que assim pode ser denominado) de dispensa de licitação,
bem como no ato da celebração do contrato, com o réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES – resulta evidente a má-fé dos gestores públicos envolvidos no
fato e, em consequência, flagrante é a violação ao princípio da moralidade administrativa,
consagrado pela Constituição Federal de 1988.
Cumpre mencionar aqui, apenas a título de informação, que,
pelos termos do contrato, a remuneração do réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES – pela realização do concurso público regido pelo edital 003/2012,
seria no valor de R$ 110,00 (cento e dez reais), por candidato inscrito, até o limite de
10.000,00, mais 50% do valor das inscrições que excedessem esse quantitativo.
Ocorre que, como verificado no sítio da Prefeitura de Goiânia, o
número de candidatos inscritos no referido certame foi de 3.811 (três mil, oitocentos e onze).
Assim, nos termos do contrato, seria pago ao réu CENTRO
INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E
SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – pela realização de tal concurso o valor de R$
419.210,00 (quatrocentos e dezenove mil, duzentos e dez reais).
Entretanto, conforme se extrai da nota de empenho acostada aos
autos (anexo I), o valor empenhado para pagamento ao réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES – pela realização de referido concurso foi, aos 08 de agosto de
2012, quando já se findaram as inscrições, de R$ 610.940,00 (seiscentos e dez mil,
novecentos e quarenta reais).
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Goiás.
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Essas questões já são objeto de investigação e serão discutidas
em ação apartada, a ser proposta para a responsabilização dos agentes públicos responsáveis
pela ilegalidade dos atos.
Forte nas razões expostas e diante da recusa do réu
MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, de rever os atos administrativos eivados de ilegalidades e
inconstitucionalidades, conforme se extrai da resposta à Recomendação 003/2012 da 90ª PJ
(anexo XII) é que o Ministério Público do Estado de Goiás bate às portas do Poder Judiciário
para que, como guardião da Constituição e das leis, faça cessar as ilegalidades perpetradas.
III) DA LIMINAR
A possibilidade de concessão de medida acautelatória liminar,
na ação civil pública, é expressamente prevista no artigo 12 da Lei 7.347/85:
Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com o sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.
Tal dispositivo concretiza, no âmbito da jurisdição coletiva, o
poder geral de cautela do magistrado, a ser exercido, na forma e observados os requisitos
expressos no artigo 798 do Código de Processo Civil, in verbis:
Art. 798. Além dos procedimentos cautelares específicos, que este Código regula no Capítulo II deste livro, poderá o juiz determinar as medidas provisórias que julgar adequadas, quando houver fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de difícil reparação. (grifou-se)
Assim, no exercício do poder geral de cautela poderá o
magistrado determinar medidas provisórias, a fim de assegurar o resultado prático do
processo, presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora.
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Goiás.
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No caso dos autos, todos os elementos acostados demonstram,
com altíssimo grau de probabilidade, que o contrato 006/2012, celebrado entre o
MUNICÍPIO DE GOIÂNIA e o CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO
ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – mediante
dispensa de licitação, encontra-se eivado de nulidade absoluta.
Tal nulidade, se reconhecida, ao final, na sentença, conduzirá à
nulidade do contrato 006/2012 e de todos os atos de execução do referido contrato, em
especial, os concursos públicos que forem realizados pelo CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES – bem como todos os pagamentos efetivados pelo MUNICÍPIO
DE GOIÂNIA, como contraprestação, decorrentes do contrato 006/2012.
O reconhecimento da nulidade, ao final, se não for, de imediato,
suspenso o contrato 006/2012 e também o concurso público regido pelo edital 003/2012, que
se realizará aos 26 de agosto de 2012, domingo próximo, causará incomensuráveis prejuízos
a todos os cidadãos que participarem do referido certame e de outros concursos públicos que
forem deflagrados para execução pelo CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES.
E isso porque, se realizados tais concursos e empossados os
aprovados, a declaração de nulidade levará, inexoravelmente, ao reconhecimento da nulidade
de tais concursos e das nomeações que, porventura, já houverem se efetivado, com sérios
prejuízos àqueles que, confiando na Administração Pública, terão feito investimentos,
deixado empregos para assumir o cargo para o qual haviam sido aprovados.
Para o réu MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, prejuízos também
advirão, porquanto, uma vez efetivados os pagamentos, em montante aproximado de R$
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4.000.000,00 (quatro milhões de reais), valor estimado do contrato 006/2012, para a
realização de concursos públicos que, ao final, serão considerados nulos, dificilmente poderá
o ente público reavê-los na sua integralidade, nos termos do que dispõe o artigo 59, parágrafo
único, da Lei de Licitações:
Art. 59. A declaração de nulidade do contrato administrativo opera retroativamente impedindo os efeitos jurídicos que ele, ordinariamente, deveria produzir, além de desconstituir os já produzidos.
Parágrafo único. A nulidade não exonera a Administração do dever de indenizar o contratado pelo que este houver executado até a data em que ela for declarada e por outros prejuízos regularmente comprovados, contanto que não lhe seja imputável, promovendo-se a responsabilidade de quem lhe deu causa.
É dizer: terá a Administração Pública Municipal despendido a
vultosa quantia de aproximadamente R$4.000.000,00 (quatro milhões de reais) sem obter, de
forma válida, o serviço contratado, o qual deverá ser novamente realizado, com novo ônus
para a Administração Pública Municipal, além de ter de devolver, aos cidadãos que se
inscreveram nos concursos, os valores pagos, a título de taxa de inscrição.
Nessa hipótese, alternativa não restará senão buscar o
ressarcimento ao erário em ação própria, de improbidade administrativa.
Ademais, conforme o item 9.1 do edital nº 006/2012, as provas
serão aplicadas em etapa única, ambas em caráter eliminatório e classificatório, no dia 26 de
agosto de 2012, domingo próximo, o que está a impor a suspensão do contrato 006/2012 e do
concurso regido pelo edital 003/2012, antes que se realize a referida prova.
Assim, diante de toda a documentação acostada aos autos, que
demonstra, à evidência, a nulidade do contrato 006/2012, celebrado entre o MUNICÍPIO
DE GOIÂNIA e o CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO
ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – bem MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de Justiça
Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás.
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como diante da concreta possibilidade de grave lesão e de difícil reparação, tanto para os
cidadãos que participarão dos certames, como para o MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, portanto,
presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora indispensáveis ao deferimento da medida
cautelar, inafastável é a suspensão do contrato 006/2012 e do concurso público regido pelo
edital 003/2012, liminarmente.
A medida deverá ser deferida sem a ouvida prévia do réu
MUNICÍPIO DE GOIÂNIA.
O artigo 2º da Lei n. 8.437/92 dispõe que na ação civil pública,
a liminar será concedida após a audiência do representante judicial da pessoa jurídica de
direito público, que deverá se pronunciar no prazo de setenta e duas horas.
Não obstante a dicção legal, o Superior Tribunal de Justiça e o
Tribunal de Justiça do Estado de Goiás têm firmado o entendimento pela relativização do
referido dispositivo em razão da possibilidade de graves danos decorrentes da demora no
cumprimento da liminar, uma vez observada a referida norma. Vejamos:
ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. CONCESSÃO DE LIMINAR SEM OITIVA DO PODER PÚBLICO. ART. 2° DA LEI N. 8.437/1992. POSSIBILIDADE. PRAZO DECADENCIAL DE 120 DIAS. IMPETRAÇÃO PREVENTIVA. INAPLICABILIDADE.1. No caso dos autos, o Tribunal a quo, ao indeferir o pedido de suspensão da segurança, concluiu que não se afigurava o risco de grave lesão aos bens protegidos pela Lei n. 8.437/1992, mas, por outro lado, afirmou que a plausibilidade do direito se encontrava presente na ação em razão de sustentada interferência direta nas atividades do recorrido, já que este determinou a prestação de serviços sem interesse dos estabelecimentos afetados e o ato impugnado influiria na livre iniciativa das empresas.2. Sobre a alegada ofensa ao art. 2º da Lei n. 8.437/92, cumpre observar que esta Corte Superior tem mitigado, com base em uma interpretação sistemática, a aplicação do citado dispositivo, sobretudo quando o Poder Público, embora não tenha sido ouvido antes da concessão da medida liminar, deixa de comprovar prejuízo. Precedentes. (...)4. Recurso especial não provido. (REsp 1052430/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 12/04/2011, DJe 27/04/2011).
ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONCESSÃO DE
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LIMINAR SEM OITIVA DO PODER PÚBLICO. ART. 2° DA LEI 8.437/1992. AUSÊNCIA DE NULIDADE.1. O STJ, em casos excepcionais, tem mitigado a regra esboçada no art. 2º da Lei 8437/1992, aceitando a concessão da Antecipação de Tutela sem a oitiva do poder público quando presentes os requisitos legais para conceder medida liminar em Ação Civil Pública.2. No caso dos autos, não ficou comprovado qualquer prejuízo ao agravante advindo do fato de não ter sido ouvido previamente quando da concessão da medida liminar 3. Agravo Regimental não provido.
RECURSO ESPECIAL. AUDIÊNCIA PRÉVIA. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO. LIMINAR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ART. 2º DA LEI N.º 8.437/92. PRINCÍPIO DA EVENTUALIDADE. PRINCÍPIO DA IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA. MITIGAÇÃO. PODER GERAL DE CAUTELA. 1. A medida liminar foi requerida em ação civil pública, em face do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, quando ainda tramitava o processo perante a justiça estadual, ocasião na qual a autarquia federal, após ser devidamente intimada, nos termos do art. 2º da Lei n.º 8.437/92, preferiu manifestar-se apenas sobre a incompetência absoluta daquele juízo. À luz dos princípios da eventualidade e da impugnação específica, informadores do sistema processual brasileiro, o recorrente não suscitou toda a matéria de defesa, disponível no momento em que foi chamado a manifestar-se nos autos, deixando de impugnar os fatos alegados pelo autor, que serviram de fundamento para a concessão da cautelar, acarretando a preclusão consumativa do direito processual que lhe foi outorgado, por força do art. 2º da Lei n.º 8.437/92. Precedentes. 3. O Superior Tribunal de Justiça tem flexibilizado o disposto no art. 2º da Lei n.º 8.437/92 a fim de impedir que a aparente rigidez de seu enunciado normativo obste a eficiência do poder geral de cautela do Judiciário. Precedentes. 4. Recurso especial não provido. (AgRg no Ag 1314453/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/09/2010, DJe 13/10/2010)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PERMUTA DE IMÓVEIS. LEI MUNICIPAL Nº 1483/2008. PRELIMINAR. AUSÊNCIA DE OITIVA PRÉVIA DO ENTE PÚBLICO. VIOLAÇÃO DO ART. 2º DA LEI Nº 8437/92. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO PESSOAL DO REPRESENTANTE LEGAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. APRESENTAÇÃO DAS CONTRARRAZÕES ATEMPADAMENTE. NULIDADE NÃO CONFIGURADA. DECISÃO ULTRA PETITA CONFIGURADA. I- Não é ilegal a decisão judicial proferida na ação civil pública sem a audiência do representante judicial da pessoa jurídica de direito público para pronunciamento no prazo de setenta e duas (72) horas, pois tal ordem encontra-se mitigada no nosso ordenamento jurídico em face da possibilidade de ocorrer graves danos decorrente da demora no cumprimento da liminar, mormente se há nos autos provas suficientemente fortes. II - É de se rejeitar a arguição de nulidade de intimação do órgão ministerial ante a ausência de intimação pessoal se a sua representante legal ofertou, dentro do prazo legal, a peça de defesa, fato que supriu a suposta falha sem que houvesse prejuízo a quaisquer das partes. III- Em sendo a decisão recorrida proferida além da quantificação indicada na petição inicial pelo autor, deve-se reconhecer a sua
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nulidade em relação ao excesso, cabendo ao órgão recursal extirpá-lo, adequando-a ao pleito inicial. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E PROVIDO. (TJGO, AGRAVO DE INSTRUMENTO 260359-57.2010.8.09.0000, Rel. DES. JEOVA SARDINHA DE MORAES, 6A CAMARA CIVEL, julgado em 05/04/2011, DJe 800 de 14/04/2011)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. ACAO CIVIL PUBLICA. LIMINAR CONTRA O PODER PUBLICO. INAUDITA ALTERA PARS. EXCEPCIONALIDADE. PERIGO DE DANO IRREVERSIVEL. PRESENCA DO FUMUS BONI IURIS. EMBORA O ARTIGO 2 DA LEI N. 8.437/92 ESTABELECA QUE A CONCESSAO DE LIMINAR EM ACAO DE MANDADO DE SEGURANCA COLETIVO E EM ACAO CIVIL PUBLICA ESTA CONDICIONADA A PREVIA AUDIENCIA DO REPRESENTANTE DA PESSOA JURIDICA DE DIREITO PUBLICO, QUE DEVERA PRONUNCIAR-SE NO PRAZO DE SETENTA E DUAS HORAS, NAO TEM A REGRA CARATER ABSOLUTO, DEVENDO SER INTERPRETADA EM CONFORMIDADE COM O ARTIGO 12 DA LEI N. 7347/85, SENDO QUE A LEI N. 8.437/92 VISOU APENAS COIBIR ABUSO NO MANEJO DE MEDIDAS CAUTELARES CONTRA A ADMINISTRACAO PUBLICA, MAS NAO TEM O EFEITO DE SOBREPOR-SE A PROPRIA EFICIENCIA DA TUTELA JURIDICA QUE O ESTADO REALIZA POR MEIO DO PROCESSO. AGRAVO DE INSTRUMENTO IMPROVIDO (TJGO, AGRAVO DE INSTRUMENTO 69490-0/180, Rel. DES. CARLOS ESCHER, 4A CAMARA CIVEL, julgado em 23/04/2009, DJe 337 de 20/05/2009)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA. NULIDADE DE ATO LEGISLATIVO. PEDIDO LIMINAR. OITIVA DO ÓRGÃO PÚBLICO MUNICIPAL. DESNECESSIDADE. PRESSUPOSTOS. EVIDENCIAÇÃO. 1. Comprovada a possibilidade de dano irreparável e/ou de difícil reparação (periculum in mora) e relevante o fundamento do recurso (fumus boni iuris), em face da situação concreta dos fatos relatados nos autos, impõe-se a concessão da medida liminar independentemente de prévia oitiva do órgão público municipal. 2. Omissis. 3. Omissis. Recurso conhecido e improvido (TJGO, 4ª Câmara Cível, DJ 272 de 09/02/2009, acórdão de 27/11/2008, AI 65512-0/180, reator DES. STENKA I. NETO.)
Pelas razões expostas, em especial pela iminência da
realização do concurso público regido pelo edital 003/2012, no dia 26 de agosto de 2012,
domingo próximo, necessária a concessão da medida liminar, nos termos do artigo 12 da Lei
7.347/85, sem a ouvida prévia do representante legal do réu MUNICÍPIO DE GOIÂNIA.
V) DOS REQUERIMENTOS FINAIS E DO
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS - 90ª Promotoria de JustiçaRua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, Jardim Goiás, sala 342, CEP 74.805-100, Goiânia -
Goiás.
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PEDIDO
Diante o exposto, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE GOIÁS:
a) o recebimento da petição inicial;
b) a adoção do rito ordinário, nos termos do disposto no artigo
19 da Lei 7.347/85 c/c artigo 282 e seguintes do Código de Processo Civil;
c) a concessão de medida liminar, sem a ouvida do
MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, nos termos do artigo 12 da Lei 7.347/85, a fim de
SUSPENDER A EXECUÇÃO DO CONTRATO 006/2012, CELEBRADO ENTRE O
MUNICÍPIO DE GOIÂNIA E O CENTRO INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO
ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – EM
ESPECIAL A REALIZAÇÃO DO CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO DE
CARGOS DE PROCURADOR JURÍDICO DO MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, A
REALIZAR-SE DIA 26 DE AGOSTO DE 2012;
d) a citação do réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES – para que conteste o pedido, no prazo legal;
e) a citação do réu MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, na pessoa do
Procurador-Geral do Município, nos termos do artigo 12, inciso II, do Código de Processo
Civil, para que conteste o pedido no prazo legal;
f) a produção de todas as provas em direito admitidas, inclusive
testemunhal, cujo rol será oportunamente ofertado;
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Goiás.
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g) a isenção do pagamento de taxas e emolumentos,
adiantamentos de honorários periciais e quaisquer outras despesas processuais.
Postula, por fim, a PROCEDÊNCIA DO PEDIDO, para:
a) DECLARAR A NULIDADE do ato de dispensa de licitação
e do contrato 006/2012, celebrado entre o MUNICÍPIO DE GOIÂNIA e o CENTRO
INTEGRADO DE DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E
SOCIAL – INSTITUTO CIDADES – para a prestação de serviços especializados em
planejamento, organização, execução de concursos públicos para preenchimento de vagas dos
cargos da Administração Municipal, pelo período de 12 (doze) meses;
b) CONDENAR o réu CENTRO INTEGRADO DE
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO, ESTATÍSTICA E SOCIAL –
INSTITUTO CIDADES – a devolver ao MUNICÍPIO DE GOIÂNIA os valores já
eventualmente pagos em decorrência do contrato 006/2012, a serem apurados em
liquidação de sentença.
Dá à causa o valor de R$ 3.997.000,00 (três milhões,
novecentos e noventa e sete mil reais), valor estimado do contrato.
Nestes termos,
Pede e espera deferimento.
Goiânia, 22 de agosto de 2012.
FABIANA LEMES ZAMALLOA DO PRADO PROMOTORA DE JUSTIÇA
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