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Realização: Apoio: TÍTULO: EVOLUÇÃO URBANA DA CIDADE DE PIRACICABA: A INFLUÊNCIA DO URBANISMO POMBALINO NA FORMAÇÃO TERRITORIAL. CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS SUBÁREA: Arquitetura e Urbanismo INSTITUIÇÃO: FACULDADES INTEGRADAS EINSTEIN DE LIMEIRA - FIEL AUTOR(ES): LETÍCIA CRISTINA SILVA, CHIRLEY DA SILVA ARAUJO ORIENTADOR(ES): MARCELO CACHIONI COLABORADOR(ES): AMANDA VILLAS BOAS MACEDO

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Realização: Apoio:

TÍTULO: EVOLUÇÃO URBANA DA CIDADE DE PIRACICABA: A INFLUÊNCIA DO URBANISMO POMBALINONA FORMAÇÃO TERRITORIAL.

CATEGORIA: EM ANDAMENTO

ÁREA: CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS

SUBÁREA: Arquitetura e Urbanismo

INSTITUIÇÃO: FACULDADES INTEGRADAS EINSTEIN DE LIMEIRA - FIEL

AUTOR(ES): LETÍCIA CRISTINA SILVA, CHIRLEY DA SILVA ARAUJO

ORIENTADOR(ES): MARCELO CACHIONI

COLABORADOR(ES): AMANDA VILLAS BOAS MACEDO

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EVOLUÇÃO URBANA DA CIDADE DE PIRACICABA: A INFLUÊNCIA DO URBANISMO POMBALINO NA FORMAÇÃO

TERRITORIAL.

RESUMO

O povoamento de Piracicaba, localizada no interior do Estado de São Paulo,

ocorreu em função do abastecimento do Forte de Iguatemi e dos tropeiros a caminho

das minas de ouro em Cuiabá. Entretanto, sua fundação oficial deu-se após o declínio

das atividades originais em 1767, por meio da restauração da Capitania de São Paulo,

para intensificar a densidade demográfica no território paulista. A Freguesia recebeu

seu primeiro desenho urbano apenas quando promovida à Vila, em 1822, seguindo o

formato hipodâmico (traçado urbano semelhante a um tabuleiro de xadrez). Esta

pesquisa pretende identificar e relacionar, com base na cartografia oficial, a influência

do urbanismo pombalino português no arruamento da cidade de Piracicaba e também a

origem dos seus atuais bairros, a partir da compreensão da regra urbanística do

governo imperial em São Paulo, aplicada pelo Dr. Nicolau Vergueiro, por meio da

identificação do processo de ocupação territorial que possibilitou sua evolução urbana

em decorrência de desmembramentos das antigas sesmarias, fazendas ou chácaras. A

partir da construção do traçado do primeiro perímetro urbano, a cidade se desenvolveu

em antigas áreas rurais, sendo que os loteamentos promovidos no perímetro urbano

em geral, ocorreram em antigas fazendas de cana-de-açúcar pertencentes a

particulares ou usinas. A cidade carece ainda do levantamento sistemático sobre a

origem da construção de seus bairros e assentamentos, sendo necessário realizar o

mapeamento de acordo com o parcelamento do solo e da aprovação dos loteamentos,

principalmente no século XX, com base em pesquisa documental e cartográfica, desde

sua fundação até a definição do atual abairramento, em arquivos públicos e privados.

Pretende-se, com a utilização e produção de mapas, demonstrar a construção

morfológica da cidade de Piracicaba, a partir do seu arruamento original.

Palavras-Chaves: Piracicaba; urbanismo pombalino; formação territorial.

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ABSTRACT

The settlement of Piracicaba, São Paulo, was occurred due to the supply of the

Iguatemi Fort and the troupers on the way to the gold mines in Cuiabá, although its

official foundation was given after the decline of the original activities in 1767, when the

Captaincy of São Paulo restoration, to intensify the population density in the São Paulo

territory. The Parish received its first street only when promoted to village in 1822,

following naturally the urban pattern in force at the time. The research of Scientific

Initiation intends to identify, on the basis of official cartography, the Portuguese

Pombaline urbanism influence, in the official hypodamic layout on Piracicaba and also

the present neighborhoods origins, from the understanding of the urbanistic rule of the

imperial government in São Paulo, applied by Dr. Nicolau Vergueiro, through the

identification about the territorial occupation process of that allowed its urban evolution,

as a result of dismemberments of the old sesmarias, farms or farmsteads. From the

construction of the first urban perimeter, the city developed in old rural areas, and the

developments promoted in the in the urban perimeter, generally occurred in old sugar

cane farms, owned by individuals or plants. The city still needs to systematically survey

the origin of the construction of its neighborhoods and settlements, and it is necessary

to carry out the mapping according to the land parceling and the approval of the lots,

mainly in the XX century, based on documentary and cartographic research, since its

foundation up to the definition of the current tumbling, in public and private archives. It is

intended, with the use and production of maps, to demonstrate the morphological

construction of the Piracicaba city, from its original street.

Keywords: Piracicaba; Pombaline urbanism; territorial formation.

1. INTRODUÇÃO

O estudo da evolução morfológica de uma determinada cidade, até a sua atual

forma urbana, ajuda a compreender a sua evolução, as principais dificuldades de

desenvolvimento e seus aspectos atuais, direcionando uma linha de pensamento e

planejamento para possíveis projetos e diretrizes urbanísticas. Assim, essa análise

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caracteriza-se por um poderoso instrumento de avaliação e planejamento urbano, pois

estudar esse espaço permite compreender o desenvolvimento, não apenas de uma

cidade, mas também de uma região.

A presente pesquisa de iniciação científica tem a finalidade de contribuir para a

compreensão sobre a influência do urbanismo pombalino português no arruamento

oficial da cidade de Piracicaba e a origem dos seus atuais bairros, oriundos de antigas

sesmarias, fazendas ou chácaras. Desta forma, é necessário compreender o

urbanismo pombalino e sua influência nas cidades brasileiras após o terremoto de

Lisboa em 1755, e como o Iluminismo influenciou tal plano desenvolvido para a

reconstrução de Lisboa e outras cidades portuguesas atingidas pelo cismo.

Além das reconstruções em Portugal, a regra urbanística também foi aplicada no

arruamento de vilas e cidades brasileiras e paulistas. Neste sentido, é necessária a

compreensão do processo de ocupação territorial e a identificação da evolução urbana

de Piracicaba, em decorrência de desmembramentos de antigas sesmarias, fazendas

ou chácaras, verificando, com base na cartografia oficial, o arruamento original de

Piracicaba, no sentido de identificar como a regra urbanística foi implantada.

Com a utilização e produção de mapas, objetiva-se demonstrar a evolução

morfológica da cidade de Piracicaba, a partir do seu arruamento original. Para tanto,

faz-se necessário mapear a evolução urbana de Piracicaba de acordo com o

parcelamento do solo e da aprovação dos loteamentos, principalmente no século XX,

por meio de pesquisas em arquivos públicos e privados para reunião de documentação

e bibliografia, além de pesquisa cartográfica para identificar a evolução urbana de

Piracicaba, desde sua fundação até a definição do atual abairramento.

2.1 TRAÇADO HIPODÂMICO - HIPÓDAMO DE MILETO

O primeiro relato de um traçado regular na construção urbana é datado em

2.000 a.C., na cidade de Ur na Mesopotâmia. Mesmo não tendo um tipo de

planejamento já pré-estabelecido, ela acabou se desenvolvendo como cidades

recentes, próximas a rios e vales. Segundo Moreno (2002, p.19 – 21, apud Bruchere),

“[...] Babilônia é o marco inicial da tentativa de planejamento urbano, em razão do

código que leva o nome Hamurábi - um dos mais antigos documentos escritos que

conhecemos”.

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Foi na Grécia Antiga, na primeira metade do século V, que a cidade de Mileto foi

reconstruída após o ataque dos persas, com projeto urbano elaborado pelo filósofo e

arquiteto Hipódamo de Mileto, pré-determinado em uma malha ortogonal conforme

figura 01. Segundo Abiko et al (1995, p.16) “[...] O urbanismo de Mileto não se limita ao

rigor do traçado, distingue-se também um certo zoneamento: porto militar, ágora,

santuários, emporion (porto comercial) e setores residenciais”

Figura 01 - Planta da cidade de Mileto, organizada no século V a. C. por Hipódamo.

Fonte: BENEVOLO, 1993, apud BRUCHERE, 2015, página 10.

Esse modelo urbanístico já foi classificado como uma visão da democracia

grega, onde as cidades são igualitárias e não existe hierarquia. As cidades teriam um

numero pré-determinado de habitantes, e caso esse numero fosse ultrapassado, os

novos moradores migrariam para terrenos próximos com a mesma divisão, criando

assim novas cidades. Por meio deste, foi criado o conceito de centro urbano. Assim,

Outra característica inovadora da planta de Mileto é a modulação centrada na casa com dimensões padrão, mas com possibilidade de adaptar-se a serviços e equipamentos que exigissem superfícies maiores que a unidade-base. Esse princípio de racionalismo vem junto com preocupações ligadas à higiene, que igualmente influenciam a planta da cidade (MORENO, 2002, p. 25).

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As antigas cidades romanas, conforme explica Lamas (1993 p. 100): “[...]

provinham da disposição de dois traçados ortogonais principais (cardus e decumanus

maximus), eles próprios na sua orientação e posição recíproca revestidos de atributos

cósmicos e religiosos [...]”, ou seja, além da questão topográfica, o que orientava todo o

crescimento de um município eram as obras católicas, além de seu formato remeter à

cruz.

Na Idade Média, novos modelos deste traçado urbano começaram a aparecer,

especialmente após o século XX. O que antes era pensado por questão estética, a

partir de então passou a ter maior importância na demarcação das propriedades. Além

disso, o traçado era uma forma de impor poder para as cidades, mostrando toda sua

organização baseada em esquemas geométricos, onde as atividades poderiam ser

separadas por setores diferentes (LAMAS, 2011).

Outro exemplo importante deste modelo foi a reconstrução da parte baixa de

Lisboa, após o terremoto de 1755 que devastou essa área por completo.

[...] A quadrícula continua a servir às necessidades distributivas, de organização habitacional e divisão cadastral; adapta-se na perfeição ao ideal renascentista de uniformização estética e disciplina racional do espaço e permite a hierarquização das diferentes ruas - como na Baixa Pombalina, em Lisboa (LAMAS, 2011, p. 174).

Posteriormente, as vantagens de se obter um sistema em formato ‘tabuleiro de

xadrez’ ficaram cada vez mais claras, pois neste método existia a regularidade no solo

e melhor aproveitamento deste, além da facilidade de acesso em pontos específicos de

abastecimento nas cidades. Da mesma forma, foi estabelecido no Brasil, nos centros

urbanos mais antigos até os mais recentes, partindo da área litorânea do país até áreas

próximas a leitos de rios (BRUCHERE, 2015).

2.2 MÉTODO POMBALINO NA RECONSTRUÇÃO DE LISBOA

Após o desastre datado de 1755 em Lisboa, onde mais de 10 mil habitantes

perderam a vida, muitas discussões despontaram em torno da forma de construir das

cidades. Para isso, foi criado o Plano de Proteção Civil de Lisboa. O então secretário

de Estado português, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal,

providenciou todas as ferramentas necessárias para conter as catástrofes que

sucederam o terremoto, assim como possibilitar o processo de planejamento para

reconstrução da cidade (PEREIRA, 2011).

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Ao período que antecede o ocorrido, as ruas de Lisboa eram descritas como

“estreitas, sujas e incômodas” (FRANÇA, 1965). Para a reconstrução, foi considerado

que eles não dispunham de condições financeiras favoráveis, então respostas

financeiras rápidas e um trabalho executado simultaneamente foram essenciais para o

sucesso, além de impedirem as especulações imobiliárias. Os nomes responsáveis

pelo projeto são os de Eugenio dos Santos e Carlos Madel. A cidade foi refeita no

mesmo local, porém, as vias foram reformuladas, assim como os próprios edifícios.

Figura 02 - Planta de reconstrução de Lisboa, de Eugénio dos Santos e Carlos Madel.

Fonte: PEREIRA, 2011, pg. 15

Toda sua reconstrução baseou-se no traçado de Hipódamo de Mileto,

anteriormente retratado, porém com determinadas alterações nos formatos das

quadras, que agora seriam retangulares e não quadradas. O primeiro local a ser

reconstruído foi o Bairro Alto, que é considerado também a primeira reconstrução

urbanística Renascentista de Lisboa. A figura mostra a malha reticular que foi

planejada, com ruas perpendiculares e paralelas. Outro ponto considerado foi o de que

a altura dos edifícios não poderia ultrapassar a largura das quadras.

[...] O traçado renascentista desenvolve-se numa malha ortogonal N/S e L/O, a qual se desfaz perante os grandes declives e diferenças de cotas e barreiras a Este. A regularidade dos traçados define um conjunto de quadriláteros subdivididos em lotes e com logradouros no interior. Ainda hoje, estes espaços livres servem de descompressão às estreitas ruas, dando respiração à estrutura habitacional. Na sua simplicidade de traçado, a estrutura do Bairro Alto é já diferente da Lisboa medieval e representou, para a época, um grande progresso nas regras de composição espacial (LAMAS, 2011, p. 190).

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Assim, a reconstrução da Baixa lisboeta é considerada o modelo chave de

urbanização das cidades modernas, pois com o estudo preliminar de caso, foi possível

estabelecer parâmetros que a dividissem de forma satisfatória.

2.3 DESENVOLVIMENTO NO BRASIL

O processo de colonização do Brasil, realizado a partir de 1530 pelos

portugueses, influenciou diretamente o sistema de distribuição de terras, parcelamento

e ocupação do solo, realizados pelos métodos portugueses de ocupação territorial. A

urbanização luso-brasileira teve diversas fases de acordo com a contextualização

histórica portuguesa, a qual recebeu influências diversas. Entretanto, a urbanização

pós-terremoto de Lisboa em 1755 no período do Iluminismo, configura-se como uma

das mais importantes, pois influenciou de forma significativa o arruamento de novas

cidades brasileiras. Após o terremoto que destruiu parte da cidade de Lisboa, o

secretário de Estado de Portugal, o Marquês de Pombal convocou arquitetos para

traçarem o plano de reconstrução da cidade. O plano foi desenvolvido no formato

clássico hipodâmico para facilitar a circulação e eventual fuga dos habitantes, no caso

de uma nova catástrofe (OLIVEIRA; FRANCO, 2016).

As Câmaras passaram a utilizar o plano pombalino de formato hipodâmico para

os novos arruamentos, fator determinante para o desenvolvimento das novas cidades.

O plano pombalino, como ficou conhecido, também passou a ser utilizado no Brasil,

servindo de modelo para novos arruamentos. Como exemplo, a criação ou implantação

de núcleos urbanos no interior paulista, por meio do sistema de proposto pelo Inspetor

Particular das Estradas do distrito da freguesia de Constituição (atual Piracicaba), Dr.

Nicolau Pereira de Campos Vergueiro1, este relacionado com o sistema determinado

pelo Marquês de Pombal.

1 Nicolau Pereira de Campos Vergueiro nasceu em 20 de dezembro de 1778 em Vale da Porca - Portugal, e, faleceu

no Brasil na cidade do Rio de Janeiro em 18 de setembro de 1859. Considerado culto, dinâmico e progressista, com vasto e profundo conhecimento, teve uma carreira política e profissional das mais destacadas: “Bacharel em direito civil pela Universidade de Coimbra (1801); Advogado nos auditórios de São Paulo (1803-1815); Promotor dos Resíduos (1806); Juiz das Sesmarias (1811) Juiz Ordinário em São Paulo (1811); Vereador da Câmara Municipal de São Paulo (1813); Inspetor Particular das Estradas do distrito da freguesia de Piracicaba (1820); Membro do Governo Provisório da Província de S. Paulo (1821); Deputado à Constituinte Portuguesa (1822); Deputado à Constituinte Brasileira (1823) Deputado Geral pela Província de São Paulo (1826-1828); Senador por Minas Gerais (1828-1859); Membro do Conselho de Governo de São Paulo - 1ª e 2ª legislaturas (1826-1829) - (1830-1833); Membro da regência trina provisória (1831); Ministro do Império - 3º Gabinete da minoridade, 13 de setembro de 1832; Ministro da Fazenda - 3º Gabinete da minoridade 13-9-1832; Deputado à Assembleia Provincial de São Paulo (1835-1847); Agricultor e Colonizador adiantado em São Paulo (1807-1859); Vice-Presidente da Província de São

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Esse fator de relacionamento entre as ideias do Senador Vergueiro e do

Marquês de Pombal pode ser contemplado em Santos (2000), o qual destaca que o

período caracterizado pelo maior processo de ocupação e povoamento das terras do

interior paulista, foi o século XVIII,

[...] em decorrência do caminho que levava às minas em Mato Grosso e Goiás, para a exploração de pedras preciosas. Ao longo deste percurso formaram-se diversos pousos que visavam o abastecimento das tropas que demandavam aquela região. A localização destas pequenas aglomerações humanas resultaram mais tarde numa relativa disposição em linha reta das futuras cidades que ali emergiram (SANTOS, 2000, p. 13).

Segundo o autor,

[...] Inicialmente, vieram os primeiros negociantes que supriam as necessidades dos viajantes; em seguida vieram os sesmeiros e o processo de ocupação das terras; junto com eles a manifestação espiritual, simbolizada pela construção da capela. Sob a marcha comandada pelo capital mercantil desenvolveram-se as grandes propriedades, de início ligadas ao plantio da cana-de-açúcar. Parcela significativa dos homens que lá se instalaram levava consigo escravos, agregados, força individual e dinheiro [...] (SANTOS, 2000, p. 13).

Após ter se casado em 1804, com Maria Angélica de Vasconcelos, filha do

Capitão José de Andrade Vasconcelos, que possuía fazenda na vila de Constituição

(Piracicaba), Dr. Campos Vergueiro mudou-se e comprou parte da sesmaria

demarcada em 1817, de Joaquim Galvão de França e Manoel de Barros Ferraz, dando

origem à Fazenda Ibicaba, então em Limeira e, logo em seguida, outra fazenda em São

João Batista do Ribeirão Claro, dando a ela o nome de sua esposa (Fazenda Angélica),

a qual era dedicada ao cultivo da cana-de-açúcar (SANTOS, 2000, p. 15).

Vergueiro era integrante e líder da Sociedade do Bem Comum, responsável pelo

desenvolvimento de um modelo de organização espacial implantado ao longo da

segunda metade do século XIX, quando:

[...] colocaram em prática na freguesia um modelo de arruamento e ordenação urbana baseado na ortogonalidade das quadras - como um tabuleiro de xadrez - quase paralela aos pontos cardeais, com 40 braças de lado, ou seja, 88,80 metros e, inclusive, cuidando das medidas das ruas, de 60 palmos, de 13,32 metros, exemplificados pelas cidades de Limeira e Constituição (atual Piracicaba) (SANTOS, 2000, p. 16).

Paulo - 1ª legislatura (1835-1836); Presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (1835-1837); Diretor da Faculdade de Direito de São Paulo (1837-1842); Sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro (1839); Grã-Cruz Imperial Ordem do Cruzeiro (1841); Gentil Homem da Casa Imperial (1846); Ministro da Justiça - 7º Gabinete da maioridade, 22 de maio de 1847; Ministro do Império - 7º Gabinete da maioridade, 20 de outubro de 1847, e Presidente e Membro do Conselho de S. M. o Imperador” (ALMEIDA, 1951).

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De acordo com Marx (1980), as vilas e cidades características da colônia

portuguesa refletem as especificidades de sua época, tanto em nível econômico, como

social:

[...] no século XVII elas possuíam um incipiente traçado geometrizado, mas não chegando a demonstrar regularidade, em virtude da relativa autonomia das Câmaras Municipais perante as autoridades coloniais, como Itu, São Sebastião, Caraguatatuba e Taubaté. No século XVIII, porém, já ocorreu uma proliferação de construções de vilas com desenhos mais rigorosos e estrategicamente pensados, principalmente nas regiões sul, norte e centro-oeste, impressionando pela ortogonalidade das ruas, preocupação com a praça central e a largura das ruas, dentre outras medidas, sendo ‘o próprio sítio urbano preferido distinguem-se das formações mais antigas’ (MARX, 1980 in SANTOS, 2000, p. 17).

Santos (2000) afirma que desta forma, é importante perceber que:

no decorrer do século XVIII com a descoberta das minas ocorreu uma redefinição na política portuguesa no que concerne à ocupação do espaço, justamente a fim de se ampliar o domínio da região que passava a representar um aumento à receita da Metrópole. [...] (SANTOS, 2000, p. 17; 18).

No final do século XIX e início do XX,

as cidades brasileiras passaram a ser caracterizadas por uma grande simetria, principalmente aquelas que despontavam no curso da frente pioneira do café, com a praça da Igreja Matriz passando a ser o foco de irradiação com ruas largas e bem delineadas com a mesma largura; e essa característica é um exemplo prático do que se processou na próspera região do café, ‘... que se repetiram às centenas’ (SANTOS, 2000, p. 18).

A tendência teria se originado das diretrizes pombalinas para o planejamento de

cidades na segunda metade do século XVIII, quando foi realizada a política de

ocupação por meio da criação de novas vilas nas regiões Sul e Oeste, com o objetivo

de controlar as riquezas extraídas das minas. Neste sentido, Santos (2000) destaca

que:

[...] mesmo o projeto nascendo ‘nas pranchetas’ de Portugal, elas nunca foram colocadas em prática na própria Metrópole, exceto após o terremoto que assolou Lisboa em 1755, quando sua reconstrução se deu nos mesmos modelos já aplicados em sua colônia da América, pois acreditavam que tais medidas além de proporcionar resultados administrativos práticos poderiam também ser mais propícios à manutenção da autoridade e à instauração da civilidade (SANTOS, 2000, p. 18).

Seguindo este raciocínio, é possível entender que a urbanização realizada nas

décadas de 1820 e 1830 na Província de São Paulo está ligada aos planos pombalinos

de ocupação, com vilas planejadas em três etapas, sendo que a primeira etapa tinha

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como objetivo construir Piracicaba, Botucatu, Faxina (Itapeva), Lages (atualmente em

Santa Catarina) e outras duas litorâneas, segundo Santos (2000, p. 19). O autor

destaca a influência exercida por Nicolau de Campos Vergueiro na implantação desse

modelo, pois: “ele era originariamente de Portugal, e, como homem tipicamente

citadino, nada mais natural que buscasse transpor suas experiências de vida à região

que naquele momento tinha como moradia e onde paulatinamente crescia sua

influência econômica, social e política” (SANTOS, 2000, p. 21).

2.4 O ARRUAMENTO DE CONSTITUIÇÃO (PIRACICABA):

Assim como a maioria das povoações decorrentes de doação de sesmarias pela

Coroa Portuguesa, as terras de Piracicaba somente foram ocupadas para: garantir o

ouro de Cuiabá e a defesa do Forte de Iguatemi na fronteira com os territórios

espanhóis. Apesar da determinação do Capitão General de São Paulo, o Morgado de

Matheus, para fundar a nova povoação em outro lugar que fosse mais

estrategicamente cercado de rios, o povoador destinado para a função, Antônio Corrêa

Barbosa, escolheu outro terreno de sua preferência, localizado mais próximo da

estrada para Itu (CACHIONI, 2002).

Poucos anos depois do descobrimento das minas de Cuiabá, parte do território de

Piracicaba já estava povoado. A prova seria a requisição de Pedro de Morais

Cavalcanti em 1693 de uma sesmaria, a qual abrangia ‘uma e outra banda do rio,

ficando-lhe o salto no meio’, sendo a alegação do peticionário a intenção de povoá-la

com toda a sua família. Na margem esquerda do Rio Piracicaba foi aberto um picadão

entre 1723 e 1725, com a finalidade de ligar São Paulo a Cuiabá. Por aquele caminho

(atual Rua Moraes Barros), circularam os primeiros desbravadores paulistas

comandados pelo bandeirante Luís Pedroso de Barros. É possível que Cavalcanti não

tenha tomado posse da sesmaria nem feito os melhoramentos exigidos pela lei, de

modo que, em 1726 estavam devolutas as terras (NEME, 1974).

O primeiro povoador de Piracicaba foi o ituano Felipe Cardoso que, em 1726 obteve

terras de sesmaria que circundavam o porto do rio, exatamente no local em que a atual

cidade viria a nascer e se desenvolver. A sesmaria de Piracicaba foi-lhe concedida em

26 de junho de 1726 por gratidão real aos serviços prestados, mas sob a condição de

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que o mesmo povoasse o local com sua gente e desenvolvesse a propriedade às

próprias custas (NEME, 1974; TORRES, 1975; PERECIN, 1990).

Entre 1726 e 1760 foi se formando uma sociedade integrada por índios, mestiços e

brancos, dedicada aos roçados de milho, mandioca e feijão; à exploração da caça, da

pesca e da salsaparrilha, e principalmente à construção de barcos. Quando este

primitivo núcleo de povoamento entrou em decadência pela retirada do sesmeiro Felipe

Cardoso, o local já era bastante conhecido por Itu e Araritaguaba - futura Porto Feliz

(PERECIN, 1989).

A Fundação da ‘nova povoação de Piracicaba’ foi uma iniciativa da Coroa

portuguesa, deliberada pelo capitão-general de São Paulo, o Morgado de Matheus,

como parte da estratégia de povoamento dos vales dos rios Tietê e Paraná, com o

objetivo de fixar as fronteiras que os bandeirantes abriram em terras da Coroa da

Espanha para deter os espanhóis, os argentinos e os paraguaios nos limites

aproximados pelo Tratado de Madri, de 1750 (PERECIN, 1990).

Por meio de uma provisão de 24 de julho de 1766 o armador das monções em

Porto Feliz, Antônio Corrêa Barbosa foi nomeado para o cargo de Diretor e Povoador

de Piracicaba. A expedição partiu de Itu, chegando em 01 de agosto de 1767, data de

fundação em caráter oficial da ‘nova povoação de Piracicaba’. A povoação era

considerada a mais entranhada no sertão, indispensável como fonte de abastecimento

do Forte de Iguatemi em embarcações e gêneros (NEME, 1974; PERECIN, 1990).

Antônio Corrêa Barbosa desobedeceu as ordens superiores do capitão general, que

havia escolhido por local da nova povoação, a barra do Piracicaba no Tietê, e por

motivos diversos, não se estabeleceu nas imediações da foz do Piracicaba no Tietê e

foi se localizar nas proximidades do Salto (NEME, 1974; PERECIN, 1990).

Figura 03: Localização da fundação de Piracicaba.

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Seta 1: Local determinado para a fundação pelo Capitão General de São Paulo, o Morgado de Matheus; Seta 2: Local onde foi fundada pelo Capitão Antonio Corrêa Barbosa. Fonte: Cachioni, 2002.

Assim,

[...] em terreno fronteiro ao páteo da Matriz, entre a Rua Direita (Moraes Barros), e as casas de João Vicente e para os fundos com a rua nova do Conselho (Regente Feijó), foi demarcada para uma praça de cento e oitenta e seis palmos de frente com quatrocentos de fundo, que vai contestar na dita rua nova do Conselho cuja frente foi destinada por elle Ministro para factura da Casa da Câmara e casinhas, ficando ao centro o Pelourinho [...] (GUERRINI, 2009).

O arruamento descrito pelo Juiz de Sesmarias e Inspetor de Estradas, Dr.

Nicolau Vergueiro, possivelmente orientado pelo Instituto Topográfico de São Paulo,

criado pelo cel. Daniel Pedro Müller2 foi utilizado para a nova Vila de Constituição em

1822, seguindo a regra hipodâmica, partindo provavelmente, do plano pombalino.

Sobre a concepção do núcleo urbano da Vila Nova da Constituição, é importante

destacar que as cinco primeiras ruas e suas travessas foram traçadas segundo o plano

que foi oferecido pelo dr. Vergueiro, e executado pelo alferes José Caetano Rosa, na

margem esquerda do rio Piracicaba, logo abaixo do Salto do Rio Piracicaba. Vergueiro

também foi responsável por desempenhar uma iniciativa de colonização, trazendo às

lavouras da região de Piracicaba, trabalhadores europeus, formando assim algumas

colônias de imigrantes (TORRES, 1975, p. 35).

O traçado proposto por Vergueiro é de formato ‘hipodâmico’, cuja característica

apresenta em sua malha, a forma de um reticulado ortogonal com base no quadrado,

como um padrão quase dominante na região do oeste paulista. Esses retângulos

regulares, onde a forma simplificada geralmente encontra com dimensões próximas

das de um hectare, que era a medida rural essencialmente utilizada pelos arruadores,

responsáveis pelo traçado urbano da época, constituem-se, em um dos principais

elementos mais característicos da morfologia urbana, principalmente das cidades do

Oeste Paulista (PUPIM, 2008).

As ruas foram traçadas com largura uniforme (12 metros), formando ângulos

retos e cortando a povoação de uma a outra extremidade, em quadras regulares de 88

2 O cel. Daniel Pedro Müller organizou o Instituto Topográfico de São Paulo, iniciado em 1806, por ordem do

governador França e Horta. Uma das atribuições do instituto, além do desenvolvimento de mapas cartográficos e traçados de estradas, era a formação de “profissionais habilitados na direção e construção das diversas obras públicas requisitadas pela província, em especial, estradas, pontes, arruamentos e calçadas” (ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, SEGOF. Ofícios diversos. Cx. 88. Pasta 1. Doc., 31 in p. 330).

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metros de face, obedecendo a um programa padrão ‘hipodâmico’ em ângulos retos

conhecido popularmente como ‘tabuleiro de xadrez’. Segundo Neme (1974) “o plano de

arruamento (Figura 2), que a Piracicaba valeu a fama de ser uma das cidades mais

bem delineadas do Brasil, foi obra de Nicolau Pereira de Campos Vergueiro e a sua

execução se deve a diligência do alferes José Caetano Rosa, nomes esses que a

gratidão dos piracicabanos guarda com reconhecimento” (NEME, 1974).

Figura 04: Planta da Vila Nova da Constituição em 1823. Sem escala. Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo.

No mapa da Vila (Figura 2) executado em 1823, encontram-se as seguintes

ruas: da Praia (Av. Beira Rio), do Rosário, da Constituição ou do Pau Queimado

(Alferes José Caetano), da Matriz (Boa Morte), de Santo Antonio (Gov. Pedro de

Toledo), da Glória (Benjamim Constant), estas paralelas ao Rio Piracicaba. As

perpendiculares eram: a dos Passos (Prudente de Moraes), do Conselho (São José),

Estrada do Picadão para Mato Grosso (Rua Moraes Barros), da Quitanda (XV de

Novembro), e dos Ourives (Rangel Pestana). As atuais ruas Santo Antonio e

Tiradentes começavam a se configurar, mas não tinham sido abertas à servidão

pública. Todas estas ruas e os quarteirões que se formavam, configuravam a área do

perímetro demarcado para a Vila, com aproximadamente 113 casas. A área era

limitada pelos Rios Piracicaba e Itapeva e pelas propriedades rurais dos herdeiros de

Carlos Bartolomeu de Arruda e do Coronel Theobaldo da Fonseca e Souza. Os bairros

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da Vila Nova da Constituição nessa época eram: o bairro do rio abaixo, Corumbataí

(Distrito de Santa Terezinha); do rio acima, Taquaral (Campus da Unimep); Rio das

Pedras; Toledo e Morro Azul - em Limeira (GUERRINI, 2009). O interessante é que o

rossio só contava com as ruas que ‘cercavam’ a Matriz, sendo que as ruas dos outros

bairros existentes não são mencionadas em plantas e relatos (CACHIONI, 2002).

Pela Ata da Câmara de 26 de abril de 1824, sabe-se que Vila Nova da

Constituição desde seu princípio, era alinhada em ruas retas devido ao cuidado do

Governo da Província e da Câmara de Porto Feliz, antes da elevação de Piracicaba à

Vila. Este traçado regular manteve o alinhamento reticulado do centro original de

Piracicaba até os dias atuais. A partir do traçado do primeiro perímetro urbano, a

cidade se desenvolveu em antigas áreas rurais, sendo que os loteamentos promovidos

na cidade, em geral ocorreram em antigas fazendas de produção de cana-de-açúcar,

pertencentes a particulares ou usinas (CACHIONI, 2002).

2.6 PIRACICABA A PARTIR DO SÉCULO XIX

Na segunda metade do século XIX a paisagem rural de Piracicaba apresentava

sensíveis modificações. Tendia a diminuição da produção açucareira ao mesmo tempo

em que aumentava a produção cafeeira e a lavoura algodoeira progredia. A vila não

mudou muito na questão agrária, entre 1822 e 1836 onde persistia o regime de posse

de terras devolutas, embora não houvesse mais concessão de sesmarias, sendo que

em 1836 já não havia mais terras devolutas em Vila Nova da Constituição (TORRES,

1975).

O território de Piracicaba, apesar de ser atualmente um dos 20 maiores

municípios do Estado de São Paulo, foi muito reduzido pelo processo de

desmembramentos. Esse procedimento de parcelamento do solo servia para criar

novas áreas de povoamentos e permitir o melhor controle da terra e ações de

desenvolvimento. Territórios extensos eram difíceis de gerenciar e muitas áreas

ficavam sem intervenção administrativa (abandonadas), por falta de recursos humanos

e financeiros. Assim, os desmembramentos eram essenciais para o desenvolvimento

de São Paulo, pois eram criados centros administrativos (vilas e cidades) que

intercederiam diretamente naquela porção de terra recém-formada.

Neste sentido,

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Em 10 de julho de 1832, Piracicaba ‘perdeu’ uma grande área, com a criação da Vila de Araraquara. O segundo desmembramento ocorreu a partir da Lei Provincial nº 25, de 08 de março de 1842, quando foi fundada a Vila de Limeira. Em 1846 e 1867, Santa Bárbara D’Oeste e Anhembi, respectivamente, são anexadas a Piracicaba, sendo a primeira fruto do processo de desmembramento do município de Campinas. Já em 1869, Anhembi é desmembrada de Piracicaba e anexada a Botucatu e no mesmo ano ocorre o desmembramento de Santa Bárbara D’Oeste. A partir daí outras áreas foram fragmentadas de Piracicaba, como São Pedro, em 1881, e Rio das Pedras, em 1894. Em 1953, Charqueada se emancipa de Piracicaba, tornando-se um município autônomo, e, por último, Saltinho, emancipado em 19 de maio de 1991, apoiada pela Lei Federal nº 27.664, de 30 de dezembro de 1991 (FERREIRA, 2006, p. 27).

Figura 05: Território de Piracicaba entre 1821 e 1832. Fonte: Ferreira, 2006.

Em vista do seu relativo desenvolvimento, a Vila Nova da Constituição foi

elevada à categoria de Cidade com o mesmo nome, por lei provincial de 24 de abril de

1856. Desenvolvimento este, que não excluía problemas de toda a ordem, mas que

apresentava uma pequena cidade equipada com quatro Igrejas ou capelas católicas,

uma Casa de Câmara e Cadeia, um Teatro, duas pontes; além de quatro pátios e 16

ruas alinhadas, sendo oito paralelas e oito perpendiculares ao pátio da Matriz. A Matriz

de Santo Antonio estava prestes a ganhar novo frontispício com elementos da

arquitetura Barroca, por meio de projeto de Miguel Dutra (CACHIONI, 2002).

Na categoria de cidade, Constituição que havia perdido os territórios referentes à

Araraquara e Limeira - limitando bastante seu espaço físico - intensificava a produção

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de café e algodão, à medida que a lavoura de cana-de-açúcar perdia território. Com o

desmembramento de Araraquara, Constituição perdeu a maior área da propriedade e

com o desmembramento de Limeira, perdeu as terras mais favoráveis à lavoura

cafeeira e também deixou de receber um maior contingente de imigrantes europeus

destinados às fazendas. O município de Constituição sofreria o retalhamento das

sesmarias graças ao sistema de meação e partilhas e a paisagem rural se modificou

com o desenvolvimento da cultura cafeeira ao lado da lavoura de cana e da indústria

açucareira apresentando aspecto diversificado. Além disso, o imigrante europeu trazia

pequenas alterações no ‘modus vivendi’ da região e Leis contra o tráfico diminuíram o

número de escravos a porcentagem de negros escravos na população (TORRES,

1975).

Piracicaba foi pioneira no processo de industrialização e na navegação fluvial

em São Paulo, mas aguardou por certo tempo as ferrovias. À medida que a produção

agrícola de Constituição crescia a população também se desenvolvia especialmente

quando da intensificação das correntes imigratórias. Os alemães e suíços foram os

primeiros a se instalar, sendo que os suíços montaram a primeira casa industrial de

Piracicaba, também a primeira do gênero em São Paulo. Consequentemente, outras

empresas foram abertas e começaram a configurar um aspecto industrial na cidade.

Geralmente próximas aos mananciais, o ribeirão Itapeva, ou o rio Piracicaba, elas

formavam fileiras industriais na Rua do Porto (CACHIONI, 2002).

A cidade de Piracicaba caminhava para o século XX registrando muitas

‘melhorias’. Certa euforia de desenvolvimento pode ser notada na literatura da época.

Quase na virada do século XX, o Almanak do ‘Jornal do Povo’ de 1894 trazia uma

descrição de Piracicaba em aspectos gerais:

A nossa cidade, que actualmente se acha no auge de seu progresso material e moral, está situada á margem esquerda do rio Piracicaba, a 200 kilometros ao noroeste da Capital (S. Paulo). Sua população é de 15 mil habitantes, em cujo numero figuram Portuguezes, Italianos, Allemaes, Hespanhóes, norte-Americanos, Inglezes, etc. Como é natural predominam os brazileiros, em sua grande maioria descendentes de portuguezes. Piracicaba é, apóz S. Paulo, Santos e Campinas, a cidade mais importante do Estado. Ha em Piracicaba 3 Egrejas que são: a Matriz, a de S. Benedicto e a da Bôa Morte. Actualmente estão construindo um novo templo, a Egreja do Sagrado Coração de Jesus, obra que não se concluirá com menos de 400:000$000. Um engenho central, uma fabrica de tecidos de algodão de differentes cores, uma fabrica de curtume, uma de sabão, tres de cerveja, eis o progresso fabril e textil de Piracicaba. Seu theatro é regular, não tem a cidade bibliotheca; seu commercio é activissimo, pois conta Piracicaba 1 Banco, 1 casa de desconto, 1 Mercado, 15 lojas de fasendas, 4 de ferragens, 2 de armarinhos, 2 casas especiaes de

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louças, vidros, etc., 1 de calçado, 2 de chapéus, 5 depositos de generos do paiz e extrangeiros, 4 pharmacias, 2 ourivesarias, cerca de 300 tabernas, 3 hoteis, 4 restaurantes, e todos fazem muito negocio. Estabelecimentos de caridade existem dois - a Santa Casa de Mizericordia e o Lazareto dos morpheticos, ambos custeados pelo povo. Ha tambem a Conferencia de S. V. de Paula, arrimo de muitas familias pobres desta cidade. O valor total da exportação de Piracicaba calcula-se em 12 mil contos. A cidade tem 2 sociedades de dansas, 3 collegios - o da Assumpção, o Collegio Rosa e o Piracicabano; possue diversas escolas e dois jornaes, A Gazeta de Piracicaba e o Jornal do Povo, sendo este editado diariamente e aquelle duas vezes por semana. Sobre a índole dos piracicabanos, eis o que disse um altivo escriptor: ‘Não possue esta cidade minas de ouro e diamantes como outras de outras zonas do Brazil. A natureza, comtudo, está cheia de compensações. Ella poz uma mina de ouro no coração dos filhos de Piracicaba (NEME, 1936).

A cidade se expandia e as ruas listadas em 1822 e 1858 já haviam ganhado

muito em extensão. Novas ruas foram abertas e outras já se configuravam. Todas, no

entanto, seguindo o rumo do traçado original hipodâmico. Segundo Torres (2009, p.

192) em 1896, os limites da cidade foram demarcados, conforme Ata da Sessão da

Câmara Municipal de 3 de novembro de 1896, da seguinte forma:

[...] ponte sobre o rio Piracicaba no Salto, margem esquerda; ponte sobre o ribeirão do Enxofre, na rua do Porto; portão na rua da Boa Morte; extremo da rua do Comércio até a última casa existente do lado de cima; alto do espigão do Bairro Alto até a casa de Zeferino Bacchi; Caixa d’Água da Empresa Elétrica até o portão da Escola; ponte sobre o riacho que vem da Cbácara de Bibiano Costa Silveira, no caminbo que vai para a fazenda São João da Montanha [...].

Em 1900 as ruas listadas no ‘Almanak de Piracicaba para 1900’ foram as

seguintes: do Porto, Alferes José Caetano, Bernardino de Campos, Boa Morte, Boa

Vista (Visconde do Rio Branco), Bom Jesus, Caixa D’água (Mons. Manuel Francisco

Rosa), Commercio (Gov. Pedro de Toledo), Direita, Conselho (Prudente de Moraes),

Esperança (D. Pedro II), Floriano Peixoto, Glória (Benjamin Constant), Gomes

Carneiro, Hospital (Manuel Ferraz de Arruda Campos), José Ferraz de Carvalho, Luiz

de Queiroz, Misericórdia (José Pinto de Almeida), Moraes Barros (Alfredo Guedes),

Municipal (D. Pedro I), Nova (Av. Saldanha Marinho), Palma (Rua Tiradentes),

Piracicaba (Voluntários de Piracicaba), Ponte (Rua Campos Salles), Prudente de

Moraes, Quinze de Novembro, Rangel Pestana, Riachuelo, Rossio (Rua Cristiano

Cleopath), do Rosário, Sabão (Antonio Corrêa Barbosa), Saldanha Marinho, Salto

(Regente Feijó), Santa Cruz, Santo Antonio, São João, São José, Silva Jardim, Treze

de Maio, Vergueiro e Ipiranga, e havia também, algumas ruas que não tinham nome

oficial e segundo Camargo (1899), ‘... outras cujo nome ignoramos, e que só terão

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importância no futuro. São estas em número de 10 aproximadamente, não se contando

ainda algumas projetadas’ (CAMARGO, 1899).

Figura 06: Planta da cidade de Piracicaba - 1900. Fonte: Ferreira, 2006.

No decorrer do século XX, antigas chácaras urbanas passaram a ser loteadas

em virtude da valorização das terras mais próximas ao centro de Piracicaba, com

traçados baseados em outras legislações e teorias urbanísticas, incluindo morfologia

inspirada nas cidades jardins. Além das chácaras, muitas fazendas de produção de

cana de açúcar, em sua maioria, fornecedoras de matéria-prima para o Engenho

Central e Usina Monte Alegre, estas já inseridas ou muito próximas da zona urbana,

passaram a ser loteadas, principalmente na década de 1970. Tais loteamentos não

seguiram o alinhamento original a partir das primeiras ruas abertas, justificados pela

geografia da região, marcada pela presença de cursos d’água que formam ondulações

naturais na paisagem.

A partir da reunião dos dados históricos sobre a formação territorial de

Piracicaba, faz-se necessário verificar por meio de pesquisas em arquivos públicos e

privados, para localização de cartas de sesmarias e cartografia no sentido de identificar

sua evolução urbana, desde sua fundação até a definição do atual abairramento.

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Para tanto, foram realizadas visitas técnicas ao Arquivo Público do Estado de

São Paulo e demais arquivos municipais para identificação e reunião das fontes

documentais e cartográficas. Com o término da leitura das fontes bibliográficas e a

interpretação das cartas das sesmarias, a próxima etapa corresponde à reconstrução

dos mapas da cidade a partir da elevação da freguesia à vila, e dos períodos

subsequentes, comparando-os ao atual, identificando as áreas originalmente ocupadas

por fazendas e chácaras que foram loteadas e transformadas em bairros urbanos; além

da finalização do texto que contemplará a análise final baseada nos dados históricos e

documentais, assim, comprovando o processo evolutivo e as influências apontadas na

bibliografia.

3. RESULTADOS E ANÁLISES

Os resultados obtidos com esta pesquisa comprovam que a área Central da cidade

de Piracicaba, onde deu-se o início de seu desenvolvimento, obedece aos padrões

semelhantes à proposta Pombalina para a fundação de cidades, ou seja, quadras

formando ângulos retos e com dimensões de aproximadamente 88 metros

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a localização de bases cartográficas que atestam as áreas das antigas

fazendas e chácaras que foram loteadas, também será possível comprovar a evolução

das estruturas urbanas a partir do traçado original hipodâmico e as alterações

promovidas no decorrer dos anos com a inserção de novas vias e quadras, já seguindo

novos padrões urbanísticos. Além disso, foi possível afirmar a importância de Vergueiro

na construção da cidade de Piracicaba, assim como de outras cidades brasileiras.

5. REFERÊNCIAS

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Ilustrativo do município de Rio Claro. 1ª edição. Rio Claro.

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província de São Paulo (1835-1849)”. 320-337, jul. In: Revista Brasileira de História

da Ciência, Rio de Janeiro

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Dissertação de Mestrado. Campinas.

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PUPIM, Rafael Giácomo. 2008. Cidade e território do Oeste paulista: mobilidade e

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TORRES, Maria Celestina Teixeira Mendes. 1975. Aspectos da evolução da

propriedade rural em Piracicaba - no tempo do império. Piracicaba.

Bibliografia complementar:

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FORJAZ, Djalma. 1938. Ensaio de um Quadro Demonstrativo do

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LOBO, Manuel Leal da Costa. 2012. Urbanismo de Colina. Uma tradição luso-

brasileira. São Paulo.

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