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Victor Manuel Moura Gomes Evolução do Plano Curricular das Ciências Farmacêuticas Universidade Fernando Pessoa Faculdade de Ciências da Saúde Porto, 2018

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  • Victor Manuel Moura Gomes

    Evoluo do Plano Curricular das Cincias Farmacuticas

    Universidade Fernando Pessoa

    Faculdade de Cincias da Sade

    Porto, 2018

  • Victor Manuel Moura Gomes

    Evoluo do Plano Curricular das Cincias Farmacuticas

    Universidade Fernando Pessoa

    Faculdade de Cincias da Sade

    Porto, 2018

  • Victor Manuel Moura Gomes

    Evoluo do Plano Curricular das Cincias Farmacuticas

    (Atesto a originalidade)

    Trabalho apresentado Universidade Fernando Pessoa como parte dos requisitos

    para obteno do grau de mestre em Cincias Farmacuticas

  • i

    RESUMO

    Neste estudo, apresentamos a evoluo do Plano Curricular das Cincias Farmacuticas em

    Portugal.

    Em primeiro lugar, iremos fazer a contextualizao das Cincias Farmacuticas no quadro

    do desenvolvimento destas cincias, quer no plano internacional, quer, mais

    particularmente, em Portugal, onde se far referncia atividade do boticrio, antecessor

    do atual farmacutico.

    Seguidamente, faremos uma reflexo acerca da evoluo dos planos curriculares ao longo

    do ltimo sculo. E, medida que percorremos as vrias alteraes curriculares, iremos

    analisar a luta entre o que seria necessrio a nvel de afirmao cientfica e o que era

    politicamente e socialmente permitido.

    Iremos ainda referir as implicaes decorrentes da implementao do Processo de Bolonha

    na reforma curricular atual, dando conta da importncia do currculo em permanente

    construo, numa incessante busca de maturao.

    Palavras-chave: Reforma curricular, planos curriculares, Bolonha, reforma legislativa,

    ensino superior; cincias farmacuticas.

  • ii

    ABSTRACT

    In this study, we present the evolution of the Curricular Plan of the Pharmaceutical

    Sciences Degree in Portugal.

    First, we will contextualize the Pharmaceutical Sciences within the framework of the

    development of these sciences, both internationally and, more particularly, in Portugal,

    where we will reference the activity of the apothecary, predecessor of the current

    pharmacist.

    We will then reflect on the evolution of the curricula over the last century. Additionally, as

    we go through the various curricular changes in this timeframe, we are going to look at the

    struggle between what was needed at the level of scientific affirmation and what was

    politically and socially permissible.

    We will also mention the implications of the implementation of the Bologna Process in the

    current curricular reform, noting the importance of the curriculum in permanent

    construction, in an incessant search for maturation.

    Keywords: Curricular reform, curricular plans, Bologna, legislative reform, higher

    education; Pharmaceutical Sciences.

  • iii

    AGRADECIMENTOS

    minha Me, irmo e avs pelo apoio demonstrado em todas as fases da minha formao,

    pela ajuda prestada nesta ltima fase que sem o seu apoio seria impossvel ter sido

    concluda.

    A todos os amigos pelo apoio prestado e motivao, com especial agradecimento a

    Antnio Silva que foi sem dvida um apoio, mas tambm um grande amigo nesta aventura

    que foi a concluso desta etapa. Agradeo tambm Rute Batista que sem a sua motivao

    inicial nunca seria possvel a sua concluso deste Curso.

    Ao Professor Doutor Pedro Barata pela sua orientao, compreenso e disponibilidade,

    dedicada ao longo deste trabalho.

  • iv

    NDICE

    I | INTRODUO ................................................................................................................. 1

    II | CONTEXTUALIZAO HISTRICA ......................................................................... 2

    III | O ENSINO NO INCIO DO SCULO XX: O LIBERALISMO ................................... 5

    IV | O PROGRESSO NO ENSINO, UM DOS TRUNFOS DA I REPBLICA .................. 9

    4.1 | Elevao a Escolas Superiores ................................................................................. 11 4.2 | A criao de Faculdades de Farmcia e da licenciatura .......................................... 14

    V | O ENSINO E AS ALTERAES GOVERNAMENTAIS .......................................... 14

    5.1 | Reaparecimento das escolas superiores de farmcia ............................................... 16 5.2 | A extino da Faculdade de Farmcia de Coimbra ................................................. 16 5.3 | A extino da Faculdade de Farmcia de Lisboa .................................................... 17

    VI | O PRIMEIRO SINAL DE EVOLUO APS 4 DCADAS ................................... 21

    6.1 | Contextualizar o ensino Portugus com outros pases Europeus ............................. 22

    6.2 | Autonomia pedaggica das Faculdades ................................................................... 26

    VII | ALINHAMENTO EUROPEU .................................................................................... 27

    VIII | ASCENSO DO CURSO DE CINCIA FARMACUTICAS AO ENSINO

    PRIVADO ........................................................................................................................... 30

    IX | PROCESSO DE BOLONHA ....................................................................................... 33

    9.1 | Introduo do Processo de Bolonha na UFP ........................................................... 35 9.2 | Reviso do Plano de Estudos da UFP de 2006 ........................................................ 35

    9.3 | Plano de Estudos atual da UFP ................................................................................ 37

    X | ALTERAES NOS PLANOS CURRICULARES COM A INTRODUO DO

    ACORDO DE BOLONHA NAS INSTITUIES DE ENSINO PORTUGUESAS ......... 39

    XI | PS BOLONHA, POSICIONAMENTO ATUAL DO ENSINO DE FARMCIA

    FACE A EUROPA .............................................................................................................. 42

    11.1 | Monotorizao do Processo de Bolonha: pharmine .............................................. 43

    XII | CONCLUSO ............................................................................................................ 44

    XIII | BIBLIOGRAFIA: ...................................................................................................... 46

  • v

    NDICE DE FIGURAS

    Figura 1: Dispensatrio Farmacutico. (imagem retirada FFUC patrimnio Histrico-

    Farmacutico) ........................................................................................................................ 5

    Figura 2 - Organizao do ensino de farmcia em 1902. (imagem retirada no arquivo

    digital Archeevo) ................................................................................................................... 7

    Figura 3 - Quadro docente de uma escola de farmcia em 1902 ........................................... 8

    Figura 4 - Plano oramental para uma escola de farmcia em 1932. (retirado do Decreto

    N21853) .............................................................................................................................. 21

    Figura 5 - Plano oramental de uma faculdade de farmcia em 1932. (retirado do Decreto

    N21853) .............................................................................................................................. 21

    Figura 6 - Instituio da capacidade das faculdades alterarem o seu plano curricular.

    (Decreto N 17/83) ............................................................................................................... 26

    Figura 7 - Estrutura do curso e dos ciclos de estudo. (adaptado do artigo consultado on line

    The PHARMINE study on the impact of the European Union directive on sectoral

    professions and of the Bologna declaration on pharmacy education in Europe) ............. 34

  • vi

    NDICE DE TABELAS

    Tabela 1 - Plano curricular de 1902 (adaptado do D. do G. n 161, de 22 julho) ................. 6

    Tabela 2 - Plano curricular de 1911 (adaptado do Decreto de 22 de maio de 1911) .......... 10

    Tabela 3 - Quadro geral do ensino de farmcia 1918 (adaptado do Decreto n 4653) ........ 12

    Tabela 4 - Plano curricular de 1926 (adaptado do Decreto 12698) ..................................... 15

    Tabela 5 - Plano curricular de 1930 (adaptado do Decreto n 18432)................................. 17

    Tabela 6 - Plano curricular do 1 ciclo de estudos de 1932 lecionado nas escolas superior

    de farmcia e na faculdade de farmcia do Porto (adaptado do decreto 21853) ................. 19

    Tabela 7 - Plano curricular do 2 ciclo de estudos de 1932 lecionado na Faculdade de

    Farmcia do Porto (retirado do decreto 21853) ................................................................... 20

    Tabela 8 - Plano curricular comum entre as opes em 1978 (adaptado do decreto n

    111/78)..24

    Tabela 9 - plano curricular segundo as diferentes Opes de 1978, plano aplicado nas ento

    trs faculdades (adaptado do decreto 111/78).25

    Tabela 10 - reas obrigatrias de conhecimento em 1988 (retirado da portaria n

    528/88)..28

    Tabela 11 - Plano curricular da Universidade de Lisboa de 1988 (retirado da portaria

    530/88)..29

    Tabela 12 - Plano curricular da UFP de 2001 (retirado da portaria 116/2001)31

    Tabela 13 - plano curricular da UFP de 2013 (retirado do Dirio da Republicas, 2. Srie-

    N 184-24 de Setembro de 2013).38

    Tabela 14: Representao percentual das horas lecionadas posteriormente a implementao

    do processo de Bolonha. (adaptado dos planos curriculares respetivos).40

    Tabela 15: Representao percentual das horas lecionadas apos a implementao do

    processo de Bolonha. (adaptado dos planos curriculares respetivos)..41

    Tabela 16 - Percentagem de horas dadas nas diferentes reas lecionadas em Cincias

    farmacuticas (adaptado de Heterogeneity of Pharmacy Education in Europe).42

  • vii

  • 1

    I | INTRODUO

    As cincias farmacuticas so um ramo dinmico e interdisciplinar que foca a sua ateno

    no desenvolvimento, manuteno e dispensa do medicamento.

    O curso de Cincias Farmacuticas foi objeto de grandes mudanas no ltimo sculo,

    inicialmente motivadas pela afirmao da profisso e, mais recentemente, movidas pelas

    alteraes decorrentes do Processo de Bolonha.

    Neste sentido, traamos como objetivos para este estudo, um levantamento e anlise dos

    vrios Planos Curriculares do curso de Cincias Farmacuticas e a sua evoluo.

    Por questes metodolgicas, pareceu-nos correto seguir neste estudo uma lgica temporal.

    Conscientes de que qualquer tentativa de caracterizao histrica da profisso de

    farmacutico ao longo dos tempos redutora, inicimos este trabalho tecendo um breve

    retrato histrico da profisso ao longo dos tempos.

    Faremos tambm uma reflexo acerca de como as decises curriculares institudas por

    vrios governos ao longo da histria de Portugal so permeadas por um processo complexo

    deliberativo, fundamentado, no s em teorias curriculares, mas tambm em necessidades

    sociopolticas.

    Por ltimo, iremos constatar como, pela mo do tratado de Bolonha, a globalizao altera a

    organizao das propostas curriculares. Estas comeam a ser delineadas, no s em funo

    do nacional, mas tambm visando um futuro global. Iremos ainda ver como a

    aprendizagem ao longo da carreira e a aquisio de novas competncias, lingusticas,

    tecnolgicas e de gesto so fatores importantes na organizao curricular.

    Quanto metodologia adotada, optmos pela pesquisa de vrios fundos documentais,

    assumindo o papel principal o Dirio da Repblica.

    Finalmente, apresentaremos as concluses retiradas ao longo do processo deste estudo, por

    forma a contribuirmos para a reforma do Plano Curricular deste curso com a esperana de

    que a nova abordagem resolva os desafios do momento.

  • 2

    II | CONTEXTUALIZAO HISTRICA

    Onde quer que a civilizao surja, encontramos vestgios da atividade farmacutica, j que

    esta surge como resposta a uma das necessidades bsicas do homem, a sobrevivncia. Esse

    esforo para recolher da natureza o que nos protege em caso de aflio fsica muito

    antigo e inerente ao ser humano.

    Fsseis de plantas com propriedades medicinais foram encontrados junto aos restos de

    Neandertais, indicando que o homem pr-histrico (50.000 aC.) usou essas plantas como

    forma curativa. (Goldfinch, 2015)

    Uma tbua sumeriana descoberta em Nippur o exemplo mais antigo de que h

    conhecimento de uma receita mdica. Uma srie de documentos egpcios referenciam a

    importncia do uso de frmacos naturais. Estes incluem o Papiro de Kahun que remonta a

    1850 a.C., onde so apresentadas solues para problemas de ginecologia, obstetrcia e

    veterinrios, O papiro de Edwin Smith, o de Hearst e o de Lesser Berlin entre outros, so

    algumas referncias que nos levam a refletir sobre a importncia da teraputica no antigo

    Egito. Atendendo quantidade de documentos de natureza farmacutica, podemos concluir

    que os antigos egpcios possuam um grau considervel de sabedoria farmacutica. (Pita,

    2007)

    J na Grcia antiga, o mdico Hipcrates (460-377 a.C.), considerado pelo mundo

    moderno como o Pai da medicina, referiu mais de 200 medicamentos, muitos dos quais

    ainda so familiares nos tempos modernos, incluindo canela, cicuta, genciana, mirra, entre

    outros. (Robert, 1998)

    Nos primeiros sculos do cristianismo, Galeno (131-200 a.C.), um mdico grego que vivia

    em Roma, defendeu o uso de um extenso formulrio de extratos de ervas, cremes e loes.

    Nas suas obras descreve 473 remdios de origem vegetal, animal e mineral. O seu nome

    tornou-se sinnimo de tais preparaes, - "galnicas" ainda hoje usadas. Entre os sculos

    VIII e XI, os povos rabes que habitavam a Palestina, o Egito, o Norte de frica e a

    Pennsula Ibrica j praticavam farmcia separadamente da medicina, feito que s sculos

    mais tarde viria a acontecer na Europa. Os rabes aperfeioaram o processo de fabricao

    farmacutica, com regras sobre a dosagem e misturas para mascarar o sabor amargo dos

  • 3

    remdios. Estes foram responsveis pela introduo de especiarias como almscar, mirra e

    cravo, entre outras, bem como o uso de xaropes e guas aromticas. Ser tambm um feito

    da cultura rabe a criao da primeira farmcia, em Bagdad, no ano 775 a.C. (Pita, 2007)

    Durante a Idade Mdia o ensino em geral estava ligado s escolas religiosas, e esta situao

    tambm se verificou no campo da farmcia. Com o decorrer do tempo as escolas religiosas

    deram lugar s primeiras Universidades, contudo, o curso de farmcia ainda teria que

    esperar muito tempo para ser reconhecido no espao universitrio.

    O boticrio no tinha formao especfica, exercia sim uma atividade com base no

    conhecimento que adquiria na prtica. O primeiro obstculo para o aspirante a boticrio

    seria a escolha de um mestre disposto a ensinar-lhe os segredos da sua arte. O boticrio no

    tinha obrigao de contratar ou treinar um futuro boticrio. Frequentemente, as

    oportunidades de aprendizagem ocorreriam num contexto familiar.

    Durante os sculos XV e XVI, na Europa, houve inmeros movimentos para harmonizar a

    terapia farmacutica em vrias reas. A consequncia mais evidente foi o aparecimento de

    livros de compilaes de remdios simples e compostos, especialmente selecionados de

    uma ampla gama de literatura farmacolgica anterior. Estas compilaes foram definidas

    como "normas" pelos vrios governos de cada pas para orientarem as necessidades dos

    seus boticrios.

    Em Portugal a primeira farmacopeia data de 1704, Pharmacopea Lusitana redigida por D.

    Caetano de Santos, Boticrio no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Seguem-se muitas

    outras. Contudo, a primeira reconhecida oficialmente foi a Pharmacopea Geral para o

    Reino e Domnios de Portugal, que data do ano de 1794, durante o reinado de D. Maria,

    sendo que este reconhecimento tinha como inteno combater a desordem existente na

    profisso. (Pita, 1999)

    O sculo XIX foi uma poca decisiva na afirmao da carreira farmacutica. Inovaes e

    descobertas importantes que abrangeram a Lei de Lavoisier, o aparecimento de

    anestsicos, analgsicos e antissticos impulsionaram os estudos farmacuticos.

    O primeiro grande momento da farmcia em Portugal poder ser atribudo s medidas

    impostas pelo Rei Afonso V em 1461, quando este ordenou a separao entre medicina e

  • 4

    farmcia. Entre as vrias normas de referir a impossibilidade dos mdicos prepararem os

    seus prprios medicamentos, bem como dos boticrios diagnosticarem e tratarem docentes.

    Esta regulamentao foi de extrema importncia para a diferenciao das duas profisses,

    sendo que o boticrio v ento a sua independncia profissional. D. Afonso V atribui ainda

    privilgios aos boticrios como forma de incentivo.

    Em 1572 foi elaborado um regimento dos boticrios da cidade de Lisboa, onde eram

    estipuladas uma srie de obrigaes que ditavam quais os livros que cada botica deveria

    ter, bem como as medidas e pesos necessrios ao exerccio da profisso. Ficou ainda

    estabelecido que s o boticrio poderia vender medicamentos, e na sua ausncia poderia

    ser substitudo por um aprendiz com pelo menos dois anos de prtica e licena para tal.

    A Universidade de Coimbra assume um papel importante na formao dos boticrios, em

    1604, no reinado de D. Sebastio, estabelecendo uma ponte entre candidatos a boticrios e

    boticas dispostas a receber os estudantes. Ficava ainda sobre a alada da Universidade a

    realizao de um exame final. Paralelamente existia tambm a via do Fsico-Mor.

    Durante o sculo XVI o ensino farmacutico processou-se fora dos muros da Universidade

    sendo de cariz essencialmente prtico. Mais tarde, pela mo do ministro Marqus de

    Pombal importantes reformas ocorreram no campo das cincias. A criao do Dispensrio

    Farmacutico na Universidade de Coimbra leva o ensino farmacutico para o espao

    universitrio, este funcionava como um curso de Boticrios marcado pelo ensino de cariz

    prtico. A criao deste curso existiu paralelamente forma tradicional de formao nas

    boticas com exame pelo Fsico-Mor. Um importante marco histrico surge com o Decreto-

    lei de 29 de dezembro de 1836, que veio criar as Escolas de Farmcia de Coimbra, Lisboa

    e Porto.

  • 5

    Figura 1: Dispensatrio Farmacutico. (imagem retirada FFUC patrimnio Histrico-Farmacutico)

    III | O ENSINO NO INCIO DO SCULO XX: O LIBERALISMO

    Perante os grandes avanos sentidos no final do sculo XIX e incios do sculo XX, tais

    como a descoberta de novas substncias ativas, excipientes e formas teraputicas podemos

    considerar esta poca como uma revoluo teraputica .

    Todas estas inovaes criaram a necessidade de desenvolver o leque de conhecimentos do

    farmacutico, surgindo novos estudos analticos, que vo fazer da qumica o maior aliado

    dos farmacuticos.

    Desde o final do sculo XIX, inmeros artigos foram publicados sobre os caminhos para a

    educao farmacutica em Portugal. Estes apontavam para a necessidade de mudanas

    radicais e inovaes na estrutura e no processo de educao farmacutica a todos os nveis.

    Em 1902 concebida uma reforma no s relativamente ao plano de estudos, mas tambm

    organizao das escolas de farmcia. Hintze Ribeiro prope ao Parlamento um projeto no

    qual todos os candidatos a farmacuticos teriam que se submeter a uma formao instituda

    por plano de estudos, por forma a criar um leque de qualificaes transversal profisso. A

    instituio deste plano curricular veio acabar com a distino entre farmacuticos de

    primeira e farmacuticos de segunda classe. Homogeneizando a formao e a classe

    farmacutica, esta reforma vem pr fim a uma formao antiquada e cientificamente

    desajustada, como sentida pela comunidade farmacutica. (Pita, 2009)

  • 6

    Seguidamente, podemos observar uma tabela com a ortografia em vigor na poca onde se

    apresenta o Plano Curricular do Curso de Farmcia de 1902.

    1

    Ano

    1 Cadeira

    Historia Natural das Drogas

    Posologia

    2 Cadeira Qumica Farmacutica

    Analises Microscpicas

    Qumica Aplicadas Medicina e Farmcia

    Pratica nos Respetivos Laboratrios

    2

    Ano

    3 Cadeira

    Farmacotecnia

    Esterilizaes e Pratica no laboratrio Farmacutico

    4 Cadeira Analises Toxicolgicas

    Qumica Legal

    Alteraes e Falsificaes do Medicamento e Alimento

    Pratica no Laboratrio Qumico

    Tabela 1 - Plano curricular de 1902 (adaptado do D. do G. n 161, de 22 julho)

    Analisando a tabela anterior, vemos que o curso era constitudo por dois anos letivos,

    sendo que em cada ano eram lecionadas duas cadeiras, perfazendo um total de apenas

    quatro cadeiras. O reduzido nmero de cadeiras indica que dentro destas eram abrangidas

    vrias reas distintas.

    Hoje -nos permitido inferir que seria um curto prazo de tempo de aprendizagem e que

    haveria pouca especificidade cientfica na organizao das cadeiras sobre as vrias

    temticas. Mesmo assim, temos que considerar um passo importante na tentativa de

    fornecer um conjunto de qualificaes aos farmacuticos da poca por forma a dotar estes

  • 7

    profissionais de um melhor conhecimento prtico e cientifico necessrio ao desempenho da

    atividade.

    Outro evento determinante foi, sem dvida, a publicao da Carta de lei de 19 de julho de

    1902:

    Figura 2 - Organizao do ensino de farmcia em 1902. (imagem retirada no arquivo digital Archeevo)

    O 1 e 2 Artigo da Carta de lei de 19 de julho de 1902 concede o estatuto de ensino

    superior ao curso e institui que o respetivo curso seria lecionado em escolas de farmcia,

    sendo estas anexadas s Faculdades de Medicina de Coimbra, Lisboa e Porto. O programa

    curricular teria que ser idntico nas trs escolas e com a mesma durao de dois anos.

    Durante a progresso do curso a avaliao seria feita por exames as vrias cadeiras perante

    um jri de 3 professores nas respetivas escolas de farmcia.

    Contudo, no final do segundo ano, era obrigatrio a realizao de um exame

    essencialmente prtico abrangendo todas a as matrias lecionadas nas diferentes cadeiras,

    perante um jri constitudo por professores da escola de farmcia e o presidente, um lente

    da matria mdica da respetiva Faculdade de Medicina anexa.

    Pode assim concluir-se que neste momento havia uma reduzida individualizao do curso

    de farmcia face medicina visto que no s estaria numa situao de anexa a esta, mas a

    aprovao final dependia tambm de uma autoridade da faculdade de medicina

    De acordo com o artigo 6 da Carta de lei de 19 de julho de 1902: as habilitaes

    necessrias para a matrcula no curso eram as seguintes:

  • 8

    1. Cursos complementares dos liceus, ou somente um curso geral seguido de prtica

    farmacutica durante 3 anos.

    2. Aprovao nos exames de qumica inorgnica, qumica orgnica, anlise qumica e

    botnicos realizados na Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra ou nas Escolas

    Politcnicas de Lisboa e Porto

    3. Prtica farmacutica em qualquer farmcia do pas: anterior ao curso complementar dos

    liceus seriam necessrios dois anos de prtica; aps a criao do curso complementar

    seriam necessrios trs anos.

    4. Aprovao no exame de validao prtica.

    So institudos tambm os cargos necessrios para a formao das escolas de farmcia.

    Como podemos comprovar na seguinte imagem seriam necessrias oito pessoas, sendo

    metade composta pelo corpo docente.

    Figura 3 - Quadro docente de uma escola de farmcia em 1902

    Devido necessidade de criao de escolas de farmcia, foi necessrio um grande

    investimento por parte do Estado, assim sendo, cobrava-se aos estudantes uma

    comparticipao anual de forma a minimizar os encargos impostos pela criao destas

    escolas.

  • 9

    IV | O PROGRESSO NO ENSINO, UM DOS TRUNFOS DA I REPBLICA

    Com a implantao da Repblica em 5 de outubro de 1910, foram executadas grandes

    reformas a nvel estatal, no ficando de fora o ensino, sendo este usado como um dos

    grandes trunfos do recente estado, como representao da Repblica e do progresso.

    Nestas alteraes de notar a constituio das Universidades do Porto e Lisboa, ficando

    estas com o mesmo estatuto que a Universidade de Coimbra, j existente com esta

    designao desde 1290.

    Aps aprovao do referido decreto, que institui que a aprendizagem da profisso

    farmacutica pode apenas ser realizada nas escolas de farmcia das trs faculdades de

    medicina existentes, verifica-se que o artigo 3 determina que todas as escolas de farmcia

    gozam dos mesmos privilgios e direitos.

    Acaba-se assim com o antigo grau de equivalncia por anos de prtica, criando novamente

    uma homogeneizao quanto ao grau de conhecimentos, percurso acadmico e estatuto da

    carreira dos farmacuticos.

    Vive-se num perodo positivo, onde o pensamento cientfico exaltado.

    Analisemos, seguidamente, o Plano curricular de 1911 (adaptado do Decreto de 22 de maio

    de 1911):

    Ano letivo Unidade curricular

    1 Curso de Qumica Inorgnica

    Curso de Qumica Orgnica

    Curso de Botnica Geral

    Curso de Fsica Farmacutica

  • 10

    2 Curso de Qumica Analtica Qualitativa e Quantitativa

    Curso de Zoologia Farmacutica

    Curso de Botnica

    Criptogamia e Fermentaes

    Curso de Mineralogia, Geologia e Hidrologia

    3 Qumica Farmacutica

    Curso de Bacteriologia

    Historia Natural das Drogas

    Posologia

    Curso de Qumica Biolgica

    Curso de Analise Bromatolgica e Falsificaes de Medicamentos

    4 Farmacotecnia

    Curso de Analise Toxicolgica e Qumica Legal

    Curso de Legislao e Deontologia Farmacutica

    Tabela 2 - Plano curricular de 1911 (adaptado do Decreto de 22 de maio de 1911)

    Neste mbito encontramos vrias alteraes curriculares sendo uma das mais facilmente

    visveis, o duplicar dos anos de curso passando de dois para quatro, divididos por dois

    semestres cada. Este aumento cria a possibilidade, no s de introduzir novas reas a

    lecionar, mas tambm a possibilidade de aprofundar reas j anteriormente lecionadas.

    Encontramos na reforma de 1911 uma semelhana com os planos curriculares atuais, no

    s pela organizao das matrias, mas tambm pelas temticas lecionadas.

    Vemos o primeiro ano com reas cientficas gerais como qumica orgnica e inorgnica,

    fsica e botnica.

    No segundo ano, surge a introduo de zoologia e reas como geologia e hidrologia,

    criando-se assim as bases fundamentais de vrias temticas, para uma melhor perceo de

    temas que surgiro no decorrer do curso como qumica farmacutica, posologia,

    farmacocintica, toxicologia.

  • 11

    Esta orientao ainda hoje usada de forma a criar nos primeiros anos as bases das

    diversas reas cientficas, para que depois possam ser usadas como ligao em reas mais

    especficas.

    Vemos ainda, a disciplina de legislao e deontologia o que refora que o conhecimento

    adquirido no deve ser apenas cientfico, mas tambm criar noes na formao de bons

    profissionais de sade com impacto positivo para a sociedade, honrado assim a prpria

    profisso.

    Foi adicionado tambm um estgio de 240 dias em farmcia hospitalar que seriam

    executados no Hospital de S. Jos (Lisboa), Hospital de Santo Antnio (Porto) e Hospital

    da Universidade de Coimbra.

    Para a inscrio no curso de farmcia seria necessrio apresentar: certido a comprovar

    idade superior a 16 anos, certificado de registo criminal e certido comprovativa da

    concluso do curso geral dos liceus.

    Os custos associados pela frequncia nas escolas de farmcia eram diferenciados pela

    durao das cadeiras; anuais seriam 20 mil reis, semestrais 10 mil reis e trimestrais 5 mil

    reis, o que corresponderia a 560 euros, 320 euros e 160 euros respetivamente.

    A aprovao s disciplinas resultaria num primeiro momento da aprovao na componente

    pratica e s depois desta concluda seria realizada a componente terica. Os alunos s

    poderiam ser avaliados na componente terica aps aprovao na componente prtica.

    Instituiu-se a criao de duas pocas de exames em maro e julho.

    4.1 | Elevao a Escolas Superiores

    Com a aprovao do decreto n 4653, existe uma atualizao de escolas de farmcia para

    escolas superiores de farmcia, continuando a ser lecionados nas 3 universidades existentes

    de Lisboa, Porto e Coimbra.

    de salientar que a passagem para escolas superiores extremamente importante, j que

    constitui uma elevao, no s para a formao, mas tambm para a profisso.

  • 12

    Existe uma reviso curricular, mais uma vez seguindo o modelo de introduo de

    disciplinas mais gerais como curso geral de qumica nos anos iniciais, criando assim bases

    de conhecimentos.

    Analisemos agora o Quadro geral do ensino de farmcia 1918 (adaptado do Decreto n

    4653)

    Seco Cursos/ Disciplinas Nmero de semestres

    a) Qumica geral

    Curso geral de qumica 2

    Analise qumica qualitativa 2

    Analise qumica quantitativa 2

    b) Qumica aplicada Farmcia qumica inorgnica 2

    Farmcia qumica orgnica 2

    Analises bioqumicas 2

    Bromatologia e anlises 1

    Bromatolgicas 2

    Toxicologia e anlises toxicolgicas 2

    Hidrologia 2

    c) Historia natural

    Curso geral de botnica 2

    Criptogamia e fermentaes 2

    Bacteriologia 1

    Histria natural das drogas 2

    Zoologia farmacutica 2

    d) Farmcia Fsica farmacutica 1

    Tcnica farmacutica 1

    Farmcia Galnica 3

    Deontologia e legislao farmacutica 1

    Tabela 3 - Quadro geral do ensino de farmcia 1918 (adaptado do Decreto n 4653)

    Apesar da maioria das disciplinas serem lecionadas nas Escolas Superiores de Farmcia,

    algumas ainda assim estariam a ser lecionadas nas Faculdades de Cincias, tais como:

  • 13

    Curso Geral de Qumica, Curso Geral Botnica, Anlise Qumica Qualitativa e Anlise

    Qumica Quantitativa.

    Pode constatar-se que se mantm o mesmo nmero de disciplinas lecionadas (18).

    Algumas disciplinas foram retiradas do programa, como a cadeira de Mineralogia,

    Geologia e Hidrologia, a cadeira de Qumica Biolgica e a cadeira Auxiliar de Iamotecnia.

    O que indica a diminuio do valor da geologia nesta rea.

    Estas cadeiras retiradas dariam lugar a outras cadeiras tais como: Curso de Qumica Geral,

    Hidrologia, Anlises Bioqumicas e Farmcia Galnica.

    Esta situao demonstra uma atualizao do curso bastante relevante. J foi aqui referido

    anteriormente a importncia de Curso Geral de Qumica numa fase inicial do curso, mas

    tambm de referir a importncia relativa aos grandes avanos na farmcia qumica. Assim

    sendo, a importncia do conhecimento qumico ter sido vista como um elemento

    fundamental e imprescindvel no campo teraputico, visto que estamos na ascenso de

    algumas substncias como o cido Acetilsaliclico introduzida no ano 1908 em Portugal,

    entre outros.

    A introduo da disciplina de Bioqumica igualmente importante, j que os seus

    contedos de anlise e compreenso de parmetros so uma mais-valia para qualquer

    profisso na rea da sade. Pode dizer-se que se est mais uma vez perante uma nova

    adaptao do plano de estudos farmacutico sensvel aos avanos cientficos daquela

    poca.

    Por fim, a introduo da cadeira de Farmcia Galnica que constitui uma disciplina

    importante no mbito da profisso farmacutica, pois engloba conhecimentos sobre o

    medicamento manipulado e as suas formas farmacuticas.

    ainda extinto o estgio em farmcia hospitalar, que tinha sido introduzido em 1911,

    atravs do artigo 6 do decreto 4653.

    Em 1919, o decreto 5463 institui que a concluso do plano curricular apresentado e

    aprovado em 1918 confere o grau de Licenciado.

  • 14

    4.2 | A criao de Faculdades de Farmcia e da licenciatura

    atravs do Decreto N. 7238 de 18 de janeiro de 1921 que surge um dos avanos mais

    importantes, no s para o ensino de farmcia, mas tambm para o estatuto da profisso de

    farmacutico. precisamente neste momento que as Escolas Superiores de Farmcia de

    Lisboa, Porto e Coimbra passam a ser designadas de Faculdades.

    O Conselho seria constitudo por um presidente que seria tambm diretor, e que pertenceria

    apenas faculdade de farmcia. Este passo vem determinar a desvinculao e

    independncia ganhas pela administrao do curso de farmcia, face ao curso de medicina,

    sob o qual esteve sempre dependente.

    V | O ENSINO E AS ALTERAES GOVERNAMENTAIS

    Perante a instabilidade politica sentida no incio de 1926 devido queda da Primeira

    Repblica Portuguesa, e implementao de uma ditadura militar que mais tarde se

    intitulou de Ditadura Nacional, grandes reformas foram executadas.

    Apenas alguns meses depois da tomada de posse procedeu-se atualizao da organizao

    das faculdades de farmcia atravs do Decreto de lei 12698 desse mesmo ano.

    A primeira medida tomada foi a reduo de um ano letivo. Apesar desta reduo letiva, as

    disciplinas no seriam afetadas, j que a reduo curricular apenas registou uma reduo de

    18 disciplinas para 17.

    tambm criado um curso preparatrio de um ano, a ser lecionado nas faculdades de

    cincias, que contemplava as seguintes disciplinas:

    Curso Geral de Qumica,

    Analise Qumica Pura e Aplicada,

    Curso Geral de Botnica,

    Curso Preparatrio de Fsica

    Curso Preparatrio de Zoologia.

  • 15

    O curso de farmcia passa a ter trs anos letivos, contudo, de certa forma, pode considerar-

    se que ainda teria quatro, j que era obrigatria a concluso do ano preparatrio lecionado

    nas faculdades de cincias.

    Ano letivo Disciplinas

    1 Ano Qumica Farmacutica Inorgnica

    Histria Natural das Drogas

    Bacteriologia, Micologia Fermentaes

    Anlises Fsicas e Fsico-Qumicas

    Tcnica Farmacutica

    Tcnica Microbiolgica

    2 Ano Qumica Farmacutica Orgnica

    Histria Natural das Drogas

    Farmcia Galnica

    Hidrologia Farmacutica

    Qumica Biolgica e Anlises Bioqumicas

    3 Ano Bromatologia e Anlises Bromatolgicas

    Toxicologia e Anlises Toxicolgicas

    Farmacodinmica

    Farmcia Galnica

    Industria Farmacutica

    Deontologia e Legislao Farmacutica

    Tabela 4 - Plano curricular de 1926 (adaptado do Decreto 12698)

    de salientar que as disciplinas lecionadas no ano preparatrio so excludas do programa

    do curso, dando espao para novas disciplinas como Indstria Farmacutica, possivelmente

    resultante da grande evoluo por parte da indstria farmacutica, sentida nos finais do

    sculo XIX, com o aparecimento de novas tecnologias resultantes da revoluo industrial.

  • 16

    5.1 | Reaparecimento das escolas superiores de farmcia

    Em 1928, Antnio de Oliveira Salazar nomeado para o cargo de Ministro das Finanas.

    As mudanas ocorridas nos planos curriculares do ensino superior do Estado Novo, foram

    marcadas por ideias provenientes de um estado de conteno.

    Nesta altura e devido a essa doutrina de conteno de custos, o ensino farmacutico sofre

    mais um retrocesso, a Faculdade de Farmcia de Coimbra v o estatuto de faculdade

    desaparecer para Escola de Farmcia novamente, facto que muito entristece a comunidade

    farmacutica.

    5.2 | A extino da Faculdade de Farmcia de Coimbra

    Aps a perda de ttulo de Faculdade de Farmcia de Coimbra, apenas Lisboa e Porto se

    mantiveram com o estatuto de Faculdade. Decorridos quatro anos desde a estruturao do

    curso pelo decreto de 1926, feita uma reorganizao atravs do Decreto de lei 18432.

    Esta nova reorganizao retoma os quatro anos de durao do curso, e eliminado o curso

    preparatrio de um ano, anteriormente lecionado nas Faculdades de Cincias.

    Tal como se pode observar na tabela seguinte, as disciplinas encontram-se agora divididas

    por dois grupos e em quatro anos letivos.

    Ano letivo Disciplinas

    1 Curso Geral de Qumica

    Curso de Anlise Qumica Qualitativa

    Anlises Fsicas e Fsico-qumicas Aplicadas a Farmcia

    Curso Geral Botnica

    Curso de Tcnica Farmacutica

    2 Curso de Anlise Qumica Quantitativa

    Qumica Farmacutica Inorgnica

    Histria Natural das Drogas

    Criptogamia e fermentaes

    Tcnica microbiolgica

  • 17

    3 Qumica Farmacutica Orgnica

    Histria Natural das Drogas

    Farmcia Galnica

    Qumica Biolgica e Anlises Bioqumicas

    Hidrologia Farmacutica

    Higiene

    4 Bromatologia e Anlises Bromatolgicas

    Toxicologia e Anlises Toxicolgicas

    Farmacodinmica

    Farmcia Galnica

    Industria Farmacutica

    Deontologia e Legislao farmacutica

    Tabela 5 - Plano curricular de 1930 (adaptado do Decreto n 18432)

    As principais alteraes constaram em:

    - Eliminao do curso preparatrio

    -Com a perda do curso preparatrio, as disciplinas a lecionadas, Curso Geral de Qumica

    e Curso Geral de Botnica, voltam a fazer parte do primeiro ano do curso de farmcia.

    - A disciplina de Anlises Fsicas e Fsico-Qumicas passam a denominar-se: Anlises

    Fsicas e Fsico-Qumicas aplicadas farmcia, respetivamente.

    - A disciplina Bacteriologia, Micologia e Fermentaes substituda pela antiga cadeira de

    Criptogamia e Fermentaes.

    - Devido a sua importncia para a profisso, existe tambm a disciplina de Tcnicas

    Microbiolgicas.

    5.3 | A extino da Faculdade de Farmcia de Lisboa

    Segundo o Decreto de lei 21853, a Faculdade de Farmcia de Lisboa v o mesmo destino

    que a Faculdade de Farmcia de Coimbra, ou seja, tambm convertida novamente em

    Escola Superior de Farmcia.

  • 18

    A justificao para tal deciso seria que a previso de frequncia do curso seria pequena, o

    que ento no justificava o esforo econmico por parte do Estado em manter o estatuto de

    faculdade em trs universidades.

    Apenas a Faculdade de Farmcia do Porto se mantem como tal, sob a justificao de que

    possua melhores servios laboratoriais e dispunha do material necessrio para o

    funcionamento do curso.

    Ficaria assim diverso, no s o ensino, mas tambm o grau profissional. A duplicidade do

    curso de cincias farmacuticas desenhava agora um curso habilitador para o desempenho

    de farmcia de oficina e outro de carter acadmico. Segundo os artigos 4 e 5 o plano

    curricular lecionado nas escolas superiores seria mais que suficiente para a habilitao

    profissional.

    O debate sobre a unicidade ou duplicidade da formao vai dividir farmacuticos. Em

    questo est, no s a duplicidade do curso, mas tambm dos estatutos socioprofissionais.

    Defensor da duplicidade, Emlio Fragoso, primeiro Presidente do Sindicato Nacional dos

    Farmacuticos, vai acusar os licenciados de passarem tempo a mais com cadeiras tericas

    em detrimento do ensino pratico. O Sindicato Nacional dos Farmacuticos foi o precursor

    da Ordem dos Farmacuticos que ainda hoje prevalece. (Pita,2009)

    Os defensores da unificao do curso relembram que a dualidade vai levar ao interior do

    pas pessoas menos qualificadas, contribuindo para o desajustamento social. Assiste-se

    assim, a uma crise de identidade destes profissionais sendo que o Estado tem o controlo da

    profisso.

    Seguidamente, apresenta-se na tabela 6, os planos curriculares do primeiro ciclo, lecionado

    nas Escolas Superiores de Farmcia de Lisboa, Coimbra e na Faculdade de Farmcia do

    Porto.

  • 19

    Ano

    letivo

    Disciplinas Semestres Lecionado em:

    1 Curso Geral de Qumica 2 Faculdade Cincias

    Curso de Anlise Qumica 2 Faculdade Cincias

    Curso Geral Botnica 2 Faculdade Cincias

    Curso de Farmacofsica 1 Escola de Farmcia

    Curso de Tcnica Farmacutica 1 Escola de Farmcia

    2 Curso de Anlise Qumica, 2 parte 2 Faculdade Cincias

    Cadeira de Qumica Farmacutica Inorgnica 2 Escola de Farmcia

    Cadeira de Farmacognosia 2 Escola de Farmcia

    Cadeira de Farmcia Galnica 2 Escola de Farmcia

    3 Cadeira de Qumica Farmacutica Orgnica 2 Escola de Farmcia

    Cadeira de Farmcia Galnica 1 Escola de Farmcia

    Cadeira de Bromatologia e Anlises

    Bromatolgicas

    2 Escola de Farmcia

    Curso de Deontologia e Legislao 1 Escola de Farmcia

    Tabela 6 - Plano curricular do 1 ciclo de estudos de 1932 lecionado nas escolas superior de farmcia e

    na faculdade de farmcia do Porto (adaptado do decreto 21853)

    A candidatura ao curso de Farmcia continuaria a ser avaliada pela aprovao no Curso

    Complementar dos Liceus e por admisso em exame decretado pelo governo.

    O programa da Faculdade de Farmcia do Porto estava dividido em dois ciclos, o primeiro

    ciclo de trs anos era correspondente ao lecionado nas Escolas de Farmcia. Na Faculdade

    do Porto tambm era possvel apenas a concluso do primeiro ciclo com grau equivalente

    ao das escolas de farmcia.

    O segundo ciclo, tal como se afirma no artigo 42, teria como finalidade ministrar o

    complemento dos conhecimentos de alta cultura indispensveis obtendo ento o grau

    de Qumico Farmacutico. O curso complementar ou segundo ciclo seria destinado, entre

    outras aspiraes, tal como estava expresso no artigo 44 do referido Decreto, a alunos com

    inteno de virem a exercer lugares de chefia laboratorial.

  • 20

    O segundo ciclo, sendo este lecionado na Faculdade de Farmcia do Porto, tal como se

    pode observar na tabela 7, era constitudo por dois anos letivos com a seguinte organizao

    disciplinar:

    Ano letivo Disciplinas

    4 Criptogamia e Fermentaes

    Qumica Biolgica e Anlises Bioqumicas

    Farmacognosia, 2 parte

    Toxicologia e Anlises Toxicolgicas

    5 Industria Farmacutica

    Hidrologia

    Higiene

    Farmacodinmica e Experimental

    Anlises Fsico-Qumicas

    Estudo Comparativo das Farmacopeias

    Tabela 7 - Plano curricular do 2 ciclo de estudos de 1932 lecionado na Faculdade de Farmcia do

    Porto (retirado do decreto 21853)

    Para o aluno se matricular no curso complementar, teria que ter uma classificao de bom

    (14 valores) no primeiro ciclo de estudos, independentemente da concluso do curso na

    Faculdade do Porto ou numa das Escolas de Farmcia.

    Para prosseguir para uma formao ps-graduada de doutoramento seria necessria uma

    classificao final de 16 valores, obter a aprovao do reitor e conceber uma dissertao

    impressa.

    A estruturao do curso, com a existncia de dois graus diferentes, abre a possibilidade

    para uma mais rpida formao de profissionais de farmcia, j que era possvel a

    concluso do 1 ciclo de estudos em apenas trs anos.

    A inteno de diminuir ao nmero de faculdades seria uma resposta procura reduzida por

    parte dos candidatos, mas podia ser tambm o resultado dos cortes das despesas do Estado

  • 21

    com a educao, j que a reduo do nmero de faculdades no foi apenas sentida no

    mbito do ensino de Farmcia.

    Um exemplo de como o Estado pouparia com a transformao de faculdades em Escolas,

    pode ser observvel nas Figuras nmeros 3 e 4, onde constam o oramento das Escolas

    Superiores de Farmcia de Coimbra e Lisboa em comparao com o oramento para a

    Faculdade de Farmcia do Porto.

    Figura 4 - Plano oramental para uma escola de farmcia em 1932. (retirado do Decreto N21853)

    Figura 5 - Plano oramental de uma faculdade de farmcia em 1932. (retirado do Decreto N21853)

    VI | O PRIMEIRO SINAL DE EVOLUO APS 4 DCADAS

    Decorreram trinta e seis anos sem que tenha havido qualquer alterao na formao do

    farmacutico. Com a queda do governo institudo em 1928 e aps dois meses da ascenso

    de Marcelo Caetano ao cargo, o Decreto de lei 48696 concede novamente o ttulo de

  • 22

    Faculdade de Farmcia s Escolas de Farmcia de Lisboa e Coimbra, ficando estas a

    operar da mesma forma que a Faculdade de Farmcia do Porto.

    As razes para esta implementao esto definidas no Decreto de lei, onde se pode saber

    da incapacidade da Faculdade de Farmcia do Porto para produzir licenciados suficientes

    face s necessidades de recrutamento da indstria, mas tambm dos servios pblicos.

    O novo governo v a formao como condio imprescindvel para o desempenho de

    cargos oficiais, pblicos, mas tambm em organizaes privadas. Refere ainda, que existia

    uma injustia social que levava muitos alunos das escolas de farmcia a concluir os seus

    estudos apenas num primeiro ciclo devido a razes socioeconmicas.

    Esta implementao extremamente importante, no s para os alunos das regies mais a

    sul, que com esta alterao ganham forma de continuar a sua formao, mas tambm pela

    perceo do novo Estado que entendia que era necessrio aumentar a quantidade de

    licenciados em farmcia face ao futuro.

    As polticas governamentais de reduo de custos com o ensino no tiveram um impacto

    positivo, e vrios eventos o comprovam, como foi o caso da extino da licenciatura em

    Lisboa e Coimbra supostamente pela no procura do curso tendo-se registado uma falta de

    profissionais qualificados trinta anos depois. As consequncias tambm se fizeram sentir,

    no s na falta de profissionais, mas tambm na qualidade dos profissionais formados.

    6.1 | Contextualizar o ensino Portugus com outros pases Europeus

    Assiste-se neste momento, e j durante a democracia, primeira reforma no mbito do

    Ensino. notria a preocupao com atualizao e especializao face s novas exigncias

    da profisso, mas tambm evidente a noo de acompanhar o ensino feito noutros pases.

    Nomeadamente europeus.

    A necessidade de dar trmino ao grau profissional com a noo de que as novas exigncias

    profissionais necessitavam de uma melhor preparao, e de que os trs anos de estudo no

  • 23

    seriam suficientes, e tambm a necessidade de uma especializao nas diferentes reas,

    demonstram a preocupao com a formao em tecnologias que avanavam fortemente na

    altura e permitem inferir ainda o provvel atraso existente em Portugal face a outros pases.

    Com a aprovao do decreto n 111/78 de 19 de outubro v-se extinto o Curso Profissional

    de Farmcia resultante da concluso do primeiro ciclo de estudos lecionado nas Faculdades

    de Farmcia de Coimbra, Lisboa e Porto.

    Esta deciso resulta da compreenso de que as disciplinas lecionadas apenas no segundo

    ciclo de licenciatura eram indispensveis para a atividade de um farmacutico, outra razo

    seria a baixa taxa de alunos que ficariam apenas pelo primeiro ciclo de estudos.

    tambm introduzido por este decreto-lei o conceito de especializao em diferentes reas

    da farmcia, tendo-se adotado exemplos de vrios pases da Europa e Amrica.

    Assim sendo, segundo o artigo 1 do mesmo decreto, institudo que atravs das

    faculdades de farmcia existentes se pode obter o grau de licenciado em farmcia nas trs

    opes existentes:

    Opo A Farmcia de Oficina e Hospitalar

    Opo B Farmcia Industrial

    Opo C Anlises Qumico-biolgicas

    Atravs da Tabela 8, pode observar-se o Plano Curricular comum existente em 1978, entre

    as opes.

    Ano letivo

    Semestre Disciplinas

    1 1 Semestre Histria da Farmcia e Orientao Profissional

    Matemtica Aplicada

    Qumica Fsica

    Noes de Qumica Orgnica

    Fsica Aplicada

    2 Semestre Qumica Orgnica I

    Analise Qumica I

    Biologia I

    Elementos de Anatomia Humana

  • 24

    2 1 Semestre

    Qumica Orgnica II

    Analise Qumica II

    Biologia II

    Botnica Farmacutica

    Qumica Farmacutica Inorgnica

    2 Semestre

    Qumica Farmacutica Orgnica I

    Mtodos Instrumentais de Anlise I

    Farmacognosia

    Fisiologia Humana

    3 1 Semestre

    Qumica Farmacutica Orgnica II

    Mtodos Instrumentais de Anlise II

    Bioqumica I

    Criptogamia

    2 Semestre

    Qumica Farmacutica Orgnica III

    Microbiologia

    Parasitologia Geral

    Farmcia Galnica

    4 1 Semestre

    Farmcia Galnica II

    Bioqumica II

    Farmacologia I

    Elementos de Sociologia

    2 Semestre

    Farmacologia II

    Elementos de Semiologia e Patologia

    5 1 Semestre Nutrio e Diettica

    Hidrologia e Anlises Hidrolgicas

    2 Semestre Deontologia e Legislao Farmacutica

    Toxicologia e Anlises Toxicolgicas Tabela 8 - Plano curricular comum entre as opes em 1978 (adaptado do decreto n 111/78)

    Assim, verifica-se que o Plano de Estudos durante os trs primeiros anos era o mesmo,

    independentemente da especializao pretendida, tendo ainda disciplinas iguais no quarto e

    quinto ano.

    Verifica-se ainda que, independentemente da rea de especializao pretendida, os

    conhecimentos base de Qumica, Criptogamia, Botnica, Biologia, Fsica, Matemtica,

    Farmcia Galnica, Microbiologias, entre outras disciplinas, eram cruciais para a formao

    de um farmacutico.

  • 25

    Apresenta-se seguidamente, na Tabela 9, o Plano Curricular segundo as diferentes Opes

    (A,B,C) de 1978:

    Ano letivo Semestre Opo

    Disciplina

    4 1 Semestre

    Opo A Primeiros Socorros

    Opo B Tecnologia Geral

    Opo C Bacteriologia Aplicada I

    2 Semestre

    Opo A Noes de Farmcia Industrial

    Farmcia hospitalar

    Dermofarmacia e Cosmtica

    Opo B Sntese Qumica Orgnica

    Tecnologia Farmacutica Industrial I

    Opo C Bacteriologia Aplicada II

    Bioqumica Clinica I

    Imunologia

    5 1 Semestre

    Opo A Ecologia e Ecotoxicologia

    Farmacoterapia I

    Gesto Farmacutica

    Opo B Microbiologia Industrial

    Tecnologia Farmacutica Industrial II

    Organizao Farmacutica Industrial

    Opo C Hematologia I

    Parasitologia e Micologia Aplicada

    Bioqumica Clinica II

    Virologia

    2 Semestre

    Opo A Farmacoterapia II

    Analises Bromatolgicas

    Higiene e Educao Sanitria

    Estagio Hospitalar

    Opo B Organizao e Mtodos de Controle de Medicamentos

    Matrias-primas de Origem natural

    Estagio Laboratorial

    Opo C Semitica Laboratorial

    Hematologia II

    Analises Biotoxicologicas

    Estatstica e Controle de Qualidade

    Estagio Laboratorial

    Tabela 9 - plano curricular segundo as diferentes Opes de 1978, plano aplicado nas ento trs

    faculdades (adaptado do decreto 111/78)

  • 26

    6.2 | Autonomia pedaggica das Faculdades

    As grandes restruturaes feitas em 1978 conduziram introduo da especializao no

    Curso de Farmcia e conceo do Curso Profissional de Farmcia, correspondente ao 1

    ciclo de estudos, que veria o seu fim no ano letivo de 1982-1983 (Decreto 16/83), apesar

    da sua extino s se verificar em 1985, pelo Decreto 9/85.

    Seguidamente, atravs do Decreto 17/83 de 19 de outubro regista-se como uma das

    alteraes a denominao de opes para ramos.

    A principal alterao introduzida por este decreto a atribuio de autonomia pedaggica

    s universidades, criando a capacidade de as mesmas apresentarem alteraes ao plano

    curricular desde que estas no causem discrepncias relativamente aos objetivos comuns.

    Segundo o artigo 1 deste Decreto, estas alteraes teriam que ser apresentadas pelas

    faculdades e aprovadas pelo Ministrio da Educao, tal como se pode observar na Figura

    5:

    Figura 6 - Instituio da capacidade das faculdades alterarem o seu plano curricular. (Decreto N

    17/83)

  • 27

    VII | ALINHAMENTO EUROPEU

    Em 1988, assiste-se ao final dos ramos da licenciatura. Entre as vrias razes que

    presidiram a esta deciso, as mais importantes seriam a harmonizao do currculo e do

    estatuto profissional do farmacutico com o do resto da Europa.

    Um dos fatores que contriburam para esta restruturao prende-se com a necessidade de

    equipararem o ensino portugus com o europeu, j que se d a adeso de Portugal CEE,

    em 1985. Inicia-se assim uma nova tendncia na qual um farmacutico formado em

    Portugal ou em qualquer pas integrante da CEE deveria ter o mesmo tipo e qualidade de

    formao.

    Outra das razes para o trmino dos ramos na licenciatura de farmcia provem de que a

    realidade no correspondeu s espectativas formuladas em 1978, j que a restruturao na

    formao no correspondeu s alteraes do exerccio da profisso. Assim sendo, fica

    apenas em vigor o grau de licenciatura em Cincias Farmacuticas atribudo pelas

    faculdades de Coimbra, Lisboa e Porto.

    A obteno do grau de licenciado estaria dependente da aprovao em todas unidades

    curriculares e da realizao de um estgio com a durao de seis meses que se realizaria

    em farmcia comunitria ou hospitalar.

    decretado tambm que a especializao passaria a ser obtida atravs de cursos de

    especializao e ps-graduaes lecionados e institudos pelas faculdades de farmcia,

    criando-se assim o que hoje cada vez mais comum e importante: a formao contnua. O

    farmacutico de hoje tem plena conscincia de que o conhecimento no esta limitado

    apenas s cadeiras lecionadas na licenciatura.

    Existiu tambm por parte da comunidade europeia uma harmonizao nas normas de

    formao como se pode constatar na diretiva 85/ 432 de 16 setembro de 1985. Esta pode

    ser consultada em anexo.

    tambm dada autonomia s faculdades que podem, a partir de ento, desenvolver os seus

    planos de estudos, sendo que esses programas dependem da aprovao do Ministrio do

  • 28

    Ensino, que cria ainda um mapa de reas de conhecimento obrigatrias, tal como e pode

    constatar atravs da Tabela 10.

    reas obrigatrias de conhecimentos

    1- Matrias propeduticas: 1.1 Anatomia. 1.2 Bioestatstica. 1.3 Biologia Celular. 1.4 Biologia Molecular. 1.5 Bioqumica. 1.6 Fsica. 1.7 Fisiologia Humana. 1.8 Fisiopatologia Humana. 1.9 Histologia e Embriologia. 1.10 Imunologia. 1.11 Matemtica. 1.12 Mtodos Instrumentais de

    Anlise.

    1.13 Microbiologia. 1.14 Qumica Analtica. 1.15 Qumica Fsica. 1.16 Qumica Geral. 1.17 Qumica Orgnica. 1.18 Tcnicas de Laboratrio.

    2- Matrias especficas: 2.1 Bio farmcia e Farmacocintica.

    2.2 Bioqumica Aplicada (Mdica).

    2.3 Botnica Farmacutica.

    2.4 Bromatologia e Anlises

    Bromatolgicas.

    2.5 Deontologia e Legislao

    Farmacutica (Direito Farmacutico).

    2.6 Dermofarmcia e Cosmtica.

    2.7 Farmcia Clnica.

    2.8 Farmcia Galnica.

    2.9 Farmacognosia.

    2.10 Farmacologia.

    2.11 Farmacoterapia.

    2.12 Hidrologia e Anlises

    Hidrolgicas.

    2.13 Histria e Sociologia da

    Farmcia.

    2.14 Micologia.

    2.15 Organizao e Gesto

    Farmacutica.

    2.16 Parasitologia.

    2.17 Qumica Farmacutica

    Inorgnica.

    2.18 Qumica Farmacutica Orgnica.

    2.19 Sade Pblica.

    2.20 Tecnologia Farmacutica.

    2.21 Toxicologia e Anlises

    Toxicolgicas. Tabela 10 - reas obrigatrias de conhecimento em 1988 (retirado da portaria n 528/88)

    Atravs deste as faculdades desenvolvem o seu plano

    Anlise dos planos de estudo.

  • 29

    Ano

    letivo

    Semestre Disciplina

    1 1

    Semestre

    Matemtica I, Fundamentos de Qumica, Biologia Celular I,

    Qumica Analtica I, Tcnicas de Laboratrio

    Histria e Sociologia da Farmcia

    2

    Semestre

    Matemtica II, Qumica Orgnica I, Biologia Celular II

    Qumica Analtica II, Anatomia Humana, Botnica

    Farmacutica

    2 1

    Semestre

    Fsica I, Mtodos Instrumentais de Anlise I, Qumica

    Orgnica II

    Fisiologia Humana, Bioestatstica, Histologia e Embriologia

    2

    Semestre

    Fsica II, Mtodos Instrumentais de Anlise II, Qumica

    Orgnica III

    Fisiopatologia Humana Qumica Fsica, Introduo

    Hematologia

    3 1

    Semestre

    Farmacologia I, Bioqumica I, Farmacognosia I, Qumica

    Farmacutica Orgnica I, Farmcia Galnia, Imunologia

    Qumica Farmacutica Inorgnica

    2

    Semestre

    Farmacologia II, Bioqumica II, Farmacognosia II, Qumica

    Farmacutica Orgnica II, Microbiologia Geral, Parasitologia

    4 1

    Semestre

    Bio farmcia e Farmacocintica, Bromatologia e Anlises

    Bromatolgicas, Tecnologia Farmacutica I, Farmacologia

    III

    Biologia Molecular, Opo

    2

    Semestre

    Micologia, Organizao e Gesto Farmacutica

    Microbiologia Aplicada, Hidrologia e Anlises Hidrolgicas

    Tecnologia Farmacutica II, Dermofarmcia e Cosmtica,

    Opo

    5 1

    Semestre

    Toxicologia e Anlises Toxicolgicas I, Tecnologia

    Farmacutica III

    Virologia, Farmacoterapia, Sade Pblica, Opo

    2

    Semestre

    Toxicologia e Anlises Toxicolgicas II, Tecnologia

    Farmacutica IV

    Bioqumica Clnica, Farmcia Clnica, Deontologia e

    Legislao Farmacutica, Biotecnologia Industrial,

    Farmacutica, Opo Tabela 11 - Plano curricular da Universidade de Lisboa de 1988 (retirado da portaria 530/88)

  • 30

    VIII | ASCENSO DO CURSO DE CINCIA FARMACUTICAS AO ENSINO

    PRIVADO

    Na dcada de 90, assiste-se ao alargamento do ensino de Farmcia s instituies de ensino

    privado, isto , s instituies de ensino privado confere-se a capacidade de lecionar e

    atribuir o grau de licenciado em Cincias Farmacuticas. Esta situao est exarada na

    Portaria n 215/93 de 22 de fevereiro que vem conferir esta capacidade ao Instituto

    Superior de Cincias da Sade. Em 1995 concebida a mesma capacidade ao Instituto

    Superior de Cincias da Sade- Norte / Cespu.

    Seguindo as mesmas normas e obrigaes institudas em 1993, segue se a Universidade

    Lusfona de Humanidades e Tecnologias, em 1999

    Atravs da portaria n 117/2001 de 22 de fevereiro autorizado o funcionamento do curso

    de Cincias Farmacuticas na Universidade Fernando Pessoa. O curso teria uma durao

    de seis anos, com um nmero mximo de inscries para 50 alunos.

    Na Tabela 10 , apresenta-se o Plano Curricular da Licenciatura em Cincias Farmacuticas

    da Universidade Fernando Pessoa (UFP), de 2001.

    Ano letivo Semestre Disciplina

    1 Ano 1 Semestre Biomatemtica, Histria e Sociologia da Farmcia

    Biologia Celular, Lngua Estrangeira, Lngua Inglesa I

    Mtodos e Tcnicas da Comunicao, Tcnicas

    Laboratoriais

    2 Semestre Bioestatstica, Qumica Geral, Histologia Geral e

    Embriologia

    Qumica Farmacutica Inorgnica, Lngua Inglesa II

    Microbiologia Geral, Estudos Europeus

    2 Ano 1 Semestre Qumica Analtica I, Qumica Orgnica I, Anatomia

    Botnica Farmacutica, Farmacognosia I, Fisiologia

    Humana

    Biofsica

  • 31

    2 Semestre Qumica Analtica II, Qumica Orgnica II

    Qumica Farmacutica Orgnica I, Gentica Molecular

    Qumica Fsica, Farmacognosia II, Bioqumica I

    3 Ano 1 Semestre Bioqumica II, Mtodos Instrumentais de Anlise I

    Qumica Farmacutica Orgnica II, Farmacologia I

    Hematologia, Fisiopatologia Humana

    2 Semestre Farmcia Galnica, Mtodos Instrumentais de Anlise II

    Biofarmcia e Farmacocintica, Farmacologia II

    Tecnologia Farmacutica I, Imunologia

    4 Ano 1 Semestre Tecnologia Farmacutica II, Bromatologia e Anlises

    Bromatolgicas I, Parasitologia, Medicamentos e Aditivos

    Toxicologia e Anlises Toxicolgicas I, Fitoterapia,

    Opo

    2 Semestre Tecnologia Farmacutica III, Bromatologia e Anlises

    Bromatolgicas II, Micologia, Nutrio e Diettica

    Toxicologia e Anlises Toxicolgicas II,

    Organizao e Gesto Farmacutica, Farmcia Clnica e

    Hospitalar

    5 Ano 1 Semestre Deontologia e Legislao Farmacutica

    Higiene Social e Sade Pblica

    Hidrologia e Anlises Hidrolgicas

    Tecnologia Farmacutica IV

    Bioqumica Clnica

    Biotecnologia Industrial Farmacutica

    Controlo de Qualidade em Anlises de Medicamentos e

    Alimentos

    2 Semestre Virologia

    Ecologia e Ecotoxicologia

    Dermofarmcia e Cosmtica

    Tecnologia Farmacutica V

    Farmacoterapia

    Opo

    Monografia

    6 Ano Anual Estgio Tabela 12 - Plano curricular da UFP de 2001 (retirado da portaria 116/2001)

    Constata-se que existem algumas diferenas relativamente ao quadro de disciplinas Plano

    de Estudos atual, sendo que, a diferena mais destacvel ser a existncia de um estgio

    anual.

    Em 2005, a Fundao Ensino e Cultura Fernando Pessoa, apresenta tutela um

    requerimento que propunha uma alterao do Plano de Estudos, sendo o mesmo deferido.

    As principais alteraes foram as seguintes:

  • 32

    - A introduo de algumas disciplinas como: Gestos Bsicos em Sade, introduzida no

    primeiro semestre do primeiro ano. Trata-se de uma disciplina de carter geral e transversal

    em sade, no sendo apenas especfica do curso de cincias farmacuticas.

    - A introduo da cadeira de Organizao Poltica da UE, tambm uma disciplina de

    carter transversal, com o propsito de elevar o conhecimento cultural e social.

    - A disciplina de Bacteriologia tambm adicionada ao plano curricular. Esta adio pode

    considerar-se muito importante, j que se trata de uma rea de interesse e fundamental para

    a formao do farmacutico.

    Este plano faz tambm algumas alteraes estruturais como a transio da disciplina de

    Higiene Social e Sade Pblica que se encontrava no quinto ano, para o primeiro ano e a

    passagem de Microbiologia do primeiro ano para o quarto.

    Faz se ainda uma alterao na denominao da unidade curricular Monografia para Projeto

    de Graduao.

  • 33

    IX | PROCESSO DE BOLONHA

    O Processo de Bolonha um processo intergovernamental e interinstitucional que procura

    estabelecer uma rea Europeia de Ensino Superior, envolvendo originalmente vinte e nove

    pases signatrios europeus e agora abrangendo quarenta e sete pases membros.

    O movimento criado para harmonizar as licenciaturas, os quadros de qualificaes e

    padres de qualidade em toda a Europa comeou h dezoito anos com a assinatura da

    Declarao de Bolonha, em 1999.

    A inteno deste processo remete para o facto de que os pases signatrios possam

    implementar linhas de ao acordadas para assegurar a confiana e o reconhecimento

    mtuo e para melhorar a qualidade e a compatibilidade das qualificaes, bem como para

    promover a mobilidade dos estudantes.

    Antes da adoo da Declarao de Bolonha, a variedade de estruturas de ensino superior na

    Europa era incrivelmente variada o que condicionava a mobilidade quer de alunos quer de

    licenciados.

    Apesar da harmonizao do Plano Curricular da licenciatura em Cincias Farmacuticas

    feita com a entrada de Portugal na CEE, podemos dizer que o processo de Bolonha

    definitivamente o momento em que que a Europa cria um esforo para unificar e equalizar

    a formao, no s quanto ao currculo, mas tambm quanto ao estatuto do farmacutico.

    Na maioria dos pases, a diretiva seguida foi a 2005/36/ec, esta diretiva vincula que o

    tempo de formao de cinco anos, agrupados em dois ciclos, correspondendo

    licenciatura e ao mestrado. No primeiro ciclo, o conhecimento ser mais genrico

    contemplando reas como anatomia, fisiologia, qumicas, fsica e matemtica. Neste

    perodo so ainda desenvolvidas outras competncias tais como: competncias ticas,

    lingusticas e informticas. Cria-se, assim, uma base de conhecimentos para o

    prosseguimento de estudos no segundo ciclo, mas tambm se cria desde j, um quadro de

    competncias exigidas para o mercado de trabalho.

  • 34

    Na Figura 6, apresenta-se a estrutura do curso de Cincias Farmacuticas, bem como a

    conceo do mesmo em dois ciclos de estudo:

    Figura 7 - Estrutura do curso e dos ciclos de estudo. (adaptado do artigo consultado on line The

    PHARMINE study on the impact of the European Union directive on sectoral professions and of the

    Bologna declaration on pharmacy education in Europe)

    O segundo ciclo de formao traduz se na obteno de conhecimentos mais especficos e

    aprofundados, nomeadamente abrangendo reas que diferenciam os diferentes ramos de

    farmcia, tais como farmcia hospitalar, comunitria e industrial.

    Este ciclo de estudos promove o aprofundamento de reas mais amplas que foram

    lecionadas no primeiro ciclo, conjugando estas com novas reas de conhecimento, tais

    como: toxicologia, microbiologia clnica, tecnologia farmacutica e farmacoterapia, entre

    outras.

    O segundo ciclo incorpora tambm o estgio, sendo este um dos elementos mais

    importantes da aprendizagem, mas tambm um culminar de todo o conhecimento obtido.

    Em Portugal, o Processo de Bolonha foi liderado pelo Ministrio da cincia, Tecnologia e

    Ensino Superior (MCTES). O processo de reforma curricular das vrias Faculdades de

    Farmcia foi visto como uma oportunidade para desenvolver a educao em cincias

    farmacuticas, bem como um momento de reflexo sobre os conceitos modernos de

    aprendizagem e ensino superior.

  • 35

    Este processo foi tambm visto como uma oportunidade para desenvolver, no s o

    contedo dos diplomas, mas tambm para melhorar a qualidade da aprendizagem e, alm

    disso, para melhorar a integrao da teoria e da prtica.

    O Processo de Bolonha criou um sistema de atribuio de diferenciao entre licenciatura e

    mestrado com a ideia de ambos os ciclos possurem capacidades suficientes para a funo

    indicada e para assegurar que todos os pases produzem indivduos com currculos

    compatveis e com as mesmas qualificaes.

    Na temtica da mobilidade, uma das implementaes foi a criao de ects (european credit

    transfer system), que vem facilitar a transferncia de crditos entre as faculdades.

    Ao criar uma quantificao da disciplina, cria uma forma mais fcil de validar e creditar a

    disciplina, seja face a uma possvel movimentao de um aluno entre os estados que usem

    este sistema, seja para avaliao interna.

    9.1 | Introduo do Processo de Bolonha na UFP

    Em 2006, o processo de Bolonha posto em prtica pela UFP. Atravs do despacho n

    16236/2006 introduzido o conceito de ects, e o respetivo grau acadmico proveniente dos

    dois ciclos de estudos lecionados.

    Assim sendo, o curso de Cincias Farmacuticas possui um nmero de 300 ects

    correspondendo concluso dos dois ciclos de estudos.

    A concluso dos 300 ects atribui o grau de mestre e o curso teria a durao de dez

    semestres. tambm conferido o grau de licenciado em farmcia aps o trmino de seis

    semestres e aprovao em 180 ects.

    9.2 | Reviso do Plano de Estudos da UFP de 2006

    No mesmo ano, aps o envio do requerimento do novo plano curricular, o mesmo

    deferido atravs do despacho n 18575 / 2006.

    As principais alteraes estruturais so:

  • 36

    - Introduo de crditos distribudos pelas diferentes disciplinas.

    - Passagem de total do curso de seis anos para cinco anos.

    - Identificao dos dois ciclos de estudos, sendo o primeiro referente aos primeiros seis

    semestres, e o segundo ciclo, que atribui o grau de mestre, constitudo por mais quatro

    semestres.

    O Plano de Estudos tambm objeto de algumas alteraes tais como:

    Trmino de disciplinas como Tcnicas Laboratoriais, Botnica Farmacutica,

    Controlo de Qualidade em anlises de medicamentos e alimentos;

    Algumas disciplinas que existiam em duas unidades curriculares separadas seriam

    assimiladas em apenas uma como no caso de Bromatologia e Anlise

    Bromatolgica e Farmacognosia, que passaram a ser lecionadas em apenas um

    semestre;

    A disciplina de Anatomia foi alterada para Anatomofisiologia I;

    Na disciplina de Bioestatstica adicionada a componente de Epidemiologia

    ficando a unidade curricular a designar-se Bioestatstica e Epidemiologia;

    A disciplina de Biologia Celular alterada para Biologia Molecular e Celular;

    So adicionadas ao Plano Curricular algumas disciplinas tais como Farmcia

    Comunitria, Nutrio e Diettica, Medicamentos e Aditivos de Uso Veterinrio e

    por fim a cadeira de Novos Sistemas Teraputicos.

  • 37

    9.3 | Plano de Estudos atual da UFP

    Em 2013, apresentada uma alterao curricular em que no so alterados os objetivos do

    ciclo de estudos. Assim, pode-se constatar atravs da Tabela 11, o Plano Curricular da UFP

    de 2013 e que constitui o plano curricular que lecionado atualmente.

    Ano Letivo Semestre Disciplina Crdito

    s

    1 Ano 1

    Semestre

    Biofsica

    Anatomofisiologia

    Biologia Molecular e Celular

    Lngua Inglesa I

    Gramtica da Comunicao e Terminologia Mdia

    Qumica Geral e Inorgnica

    Histria e Sociologia da Farmcia

    4

    7

    6

    3

    3

    5

    2

    2

    Semestre

    Bioestatstica

    Fisiologia Geral

    Embriologia, Histologia e Citologia

    Biologia Vegetal e Animal

    Lngua Inglesa II

    Profilaxia e Epidemiologia

    Gestos Bsicos em Sade

    5

    5

    5

    5

    3

    4

    3

    2 Ano Qumica Analtica I 5

    1

    Semestre

    Qumica Orgnica

    Bioqumica Fisiolgica

    Gentica Molecular

    Farmacognosia e Fitoterapia

    Mtodos e Instrumentais de Analise

    5

    5

    4

    7

    4

    2

    Semestre

    Qumica Analtica II

    Hematologia

    Qumica Farmacutica I

    Farmacologia I

    Qumica Fsica

    Farmcia Galnica

    Bioqumica Clnica

    5

    4

    4

    5

    3

    5

    4

    3 Ano 1

    Semestre

    Bromatologia e Anlises Bromatolgicas

    Farmacologia II

    Qumica Farmacutica II

    Toxicologia e Anlises Toxicolgicas I

    Microbiologia Geral

    Tecnologia Farmacutica

    Imunologia

    5

    4

    4

    4

    5

    4

    4

    2

    Semestre

    Bacteriologia

    Nutrio e Diettica

    Toxicologia e Anlises Toxicolgicas II

    Tecnologia Farmacutica II

    Parasitologia e Micologia

    tica e Deontologia Profissional

    6

    4

    6

    6

    5

    3

  • 38

    4

    Ano

    1

    Semestre

    Tecnologia Farmacutica III

    Farmacoterapia e Farmacovigilncia I

    Virologia

    Medicamentos e Aditivos para uso Veterinrio

    Hidrologia e Anlises Hidrolgicas

    Fisiopatologia Humana

    Biotecnologia Industrial Farmacutica

    5

    5

    5

    4

    3

    4

    4

    2

    Semestre

    Tecnologia Farmacutica IV

    Cuidados Farmacuticos

    Microbiologia Clnica

    Biofarmcia e Farmacocintica

    Farmacoterapia a Farmacovigilncia II

    Organizao e Gesto Farmacutica

    Farmcia Comunitria

    5

    4

    3

    5

    4

    5

    4

    5

    Ano

    1

    Semestre

    Regulamentao, Registos e Qualidade Farmacutica

    Farmcia Clinica Hospitalar

    Novos Sistemas Teraputicos

    Dermofarmcia e Cosmtica

    Dissertao

    3

    4

    5

    5

    13

    2

    Semestre

    Estgio 30

    Tabela 13 - plano curricular da UFP de 2013 (retirado do Dirio da Republicas, 2. Srie-N 184-24 de

    setembro de 2013)

    Na anlise deste Plano Curricular pode observar-se como principais alteraes as

    seguintes:

    Eliminao da unidade curricular Biomatemtica;

    Unidades como Qumica Geral e Qumica Inorgnica veem-se fundidas numa

    unidade, dando origem a Qumica Geral e Inorgnica. Farmacognosia e Fitoterapia

    provem das unidades independentes de Farmacognosia e Fitoterapia;

    A unidade Bioestatstica e Epidemiologia separam-se dando origem a duas

    unidades curriculares, ficando a disciplina com a temtica de Epidemiologia na

    nova unidade curricular de Profilaxia e Epidemiologia;

  • 39

    So adicionadas ao Plano de Estudos disciplinas tais como: Biologia Vegetal e

    Animal e Fisiopatologia Humana. Farmacoterapia e Farmacovigilancia separam-se

    em duas unidades curriculares em semestres distintos;

    A distribuio de ects sofre tambm alterao, contudo o total de crditos o

    mesmo, sendo o resultado da concluso do curso equivalente aos 300 ects.

    X | ALTERAES NOS PLANOS CURRICULARES COM A INTRODUO DO

    ACORDO DE BOLONHA NAS INSTITUIES DE ENSINO PORTUGUESAS

    Na seguinte tabela representado a percentagem de horas lecionadas para cada rea dentro

    das cincias farmacuticas em planos curriculares lecionados antes da implementao do

    acordo de Bolonha nas diferentes faculdades que lecionavam o curso em Portugal.

    As diferentes unidades curriculares foram agrupadas segundo 7 reas usados tambm nos

    estudos de monotorizao do Pharmine.

    omitido na seguinte representao as horas referentes ao estagio e projetos de

    dissertao.

    A metodologia utilizada baseou-se na converso de horas lecionadas para cada unidade

    curricular e posteriormente convertidas em percentagens em relao as horas totais do

    curso. A anlise percentual foi realizada individualmente para cada plano curricular

    referente as faculdades de farmcia representadas, a classificao de 7 reas distintas foi

    executada da mesma forma para todos os planos curriculares e por 2 pessoas de forma a

    obter-se resultados com maior conformidade.

  • 40

    Instituio

    de ensino

    Qumica

    (%)

    Fsica

    Matemtica

    (%)

    Biologia

    Bioqumica

    (%)

    Tecnologia

    Farmacutica

    (%)

    Medicina

    Farmacologia

    Toxicologia

    (%)

    Legislao

    e tica

    (%)

    Competncias

    Gerais

    (%)

    Faculdade

    de Lisboa

    1988

    18.8 8.5 15.7 13.6 19.7 0.9 2.7

    Faculdade

    de Coimbra

    1988

    20.8 5.7 11.3 10.5 20.5 1.8 13.7

    Faculdade

    do Porto

    1988

    22.3 6.6 14.6 12.9 17.6 0.6 13.4

    Cespu

    1999

    19.9 5.6 16.8 10.9 20.2 2.5 2.4

    Egas Moniz

    2000

    14.1 6.2 15.6 11.1 20.4 1.1 5.9

    Lusfona

    2002 14

    7.1 12.5 12.8 19.6 0.9 7.4

    Ufp

    2001

    17.1 3.5 12.7 16.5 17.4 2.1 15

    Tabela 14: Representao percentual das horas lecionadas posteriormente a implementao do

    processo de Bolonha. (adaptado dos planos curriculares respetivos).

    Seguindo os mesmos critrios de avaliao e apresentao, a seguinte tabela demonstra a

    percentagem de horas lecionadas em diversas temticas pertencentes ao curso de cincias

    farmacuticas nas diferentes instituies aps a integrao nos seus planos curriculares do

    processo de Bolonha.

  • 41

    Instituio

    de ensino

    Qumica

    (%)

    Fsica

    Matemtica

    (%)

    Biologia

    Bioqumica

    (%)

    Tecnologia

    Farmacutica

    (%)

    Medicina

    Farmacologia

    Toxicologia

    (%)

    Legislao

    e tica

    (%)

    Competncias

    Gerais

    (%)

    Egas Moniz

    2014 10.6 4.3 11.6 10.7 19.5 2.3 20.6

    Universidade

    da Beira

    interior

    2014

    14.3 2.9 5.7 8.9 27.2 4.7 17.9

    Faculdade

    do Porto

    2007

    16.8 3.6 14.2 5.8 20 0.7 16

    Faculdade de

    Coimbra

    2016

    14.7 6.4 13.4 12.2 20.8 2.2 11.5

    Faculdade de

    Lisboa

    2010

    17.9 5.2 17.1 12.9 21.2 2.9 8.2

    Universidade

    Lusfona

    2009

    17.3 7.6 13.7 14.8 22 1.8 8.3

    Universidade

    do Algarve

    2012

    19.6 7.4 11.8 5.1 23.3 2.8 2.6

    UFP

    2013 11.5 3.2 14.1 13.8 24.9 1.7 11

    Cespu

    2007 17.3 3.1 15.7 10.1 22.7 1.9 10.4

    Tabela 15: Representao percentual das horas lecionadas apos a implementao do processo de

    Bolonha. (adaptado dos planos curriculares respetivos).

    Analisando ambas as tabelas possvel compreender que houve um decrscimo de horas

    lecionadas em reas como: qumica, matemtica, fsica, biologia e tecnologia farmacutica.

    Por sua vez ouve um aumento das horas lecionadas em unidades curriculares relacionadas

    com a Farmacologia, medicina, toxicologia, legislao, tica e competncias gerais.

    Isto vai de encontro com a ideia de no s necessrio criar profissionais com elevadas

    competncias cientficas, mas tambm com competncias mais generalistas.

    Todos os planos curriculares podem ser consultados em anexo.

  • 42

    XI | PS BOLONHA, POSICIONAMENTO ATUAL DO ENSINO DE FARMCIA

    FACE A EUROPA

    O ensino de farmcia em Portugal, ao contrrio de outras reas, esteve desde o incio

    atualizado relativamente a outros pases da Europa, com reformas curriculares que

    acompanharam as atualizaes sentidas.

    de frisar que o maior atraso foi sentido durante as contenes implementadas pelo

    regime salazarista, contudo, apesar deste percalo, rapidamente se fizeram atualizaes e

    com a chegada Unio Europeia a homogeneidade foi conseguida.

    Torna-se necessria uma constante e sistemtica monitorizao para que tal uniformidade

    seja sempre um objetivo a alcanar.

    Seguidamente podemos observar, na Tabela 14, a representao em percentagem de horas

    atribudas por cada pas em cada rea de estudos do ensino em cincias farmacuticas:

    Pas Qumica Fsica

    Matemtica

    Biologia

    Bioqumica

    Tecnologia

    Farmacutica

    Medicina

    Farmacologia

    Toxicologia

    Legislao

    e tica

    Competncias

    Gerais

    Alemanha 39.8 4.5 10.9 13.4 28.3 2.1 3.8

    Espanha 23.5 5.5 19.9 11.0 27.6 3.4 6.8

    Frana 17.6 9.5 17.9 5.9 42.0 2.2 5.0

    Itlia 32.4 7.2 10.4 9.1 31.5 4.8 2.2

    Portugal 19.6 6.8 14.6 14.9 32.2 12.0 1.2

    Tabela 16 - Percentagem de horas dadas nas diferentes reas lecionadas em Cincias farmacuticas

    (adaptado de Heterogeneity of Pharmacy Education in Europe)

    O quadro acima apresentado , como j e disse, a representao em percentagem de horas

    atribudas por cada pas em cada rea de estudos do ensino em Cincias Farmacuticas.

    Este quadro permite tambm ver o posicionamento de Portugal face a outros pases da

    Europa considerados de elite, no que respeita ao tempo disponibilizado e importncia que

    se d s diversas reas lecionadas.

  • 43

    Podemos concluir, numa avaliao rpida, que Portugal se encontra alinhado com os

    restantes pases, tendo um valor respeitvel em reas como tecnologia farmacutica,

    legislao e tica.

    tambm de frisar que se encontra abaixo dos padres nas reas associadas qumica e

    a competncias gerais.

    No que respeita rea de competncias gerais apesar do valor bastante abaixo dos pases

    analisados, a UFP destaca-se por incluir no seu plano curricular uma panplia de unidades

    letivas tais como lnguas, gramtica da comunicao e terminologia mdica.

    A UFP tem vindo a contrariar essa tendncia negativa. Regista-se um esforo considervel

    da UFP em considerar que a formao de um bom profissional passa pela obteno de

    competncias de carter geral.

    11.1 | Monotorizao do Processo de Bolonha: Pharmine

    O projeto PHARMINE reuniu os membros acadmicos da Associao Europeia de

    Faculdades de Farmcia, bem como as associaes parceiras da UE que representam

    profissionais farmacuticos das reas comunitria, hospitalar e industrial.

    O consrcio Pharmine produziu perfis para os pases da rea Europeia de Ensino Superior,

    examinando a prtica de farmcia e recursos, gesto e planos curriculares dos cursos de

    farmcia. Os recursos e os planos curriculares foram analisados detalhadamente.

    O consrcio Europeu PHARMINE (Pharmacy Education in Europe) realizou um inqurito

    relativo educao e s prticas farmacuticas, em 2012. Esse inqurito foi atualizado em

    2017 para publicao na revista Pharmacy. O consrcio pharmine tem mostrado interesse

    no impacto do acordo de Bolonha sobre educao no que se refere s cincias

    farmacuticas.

    As pesquisas agora publicadas sero teis para os responsveis pela organizao curricular,

    bem como para estudantes interessados na mobilidade entre diferentes pases europeus e /

    ou no europeus.

  • 44

    XII | CONCLUSO

    Durante sculos, a forma exclusiva de entrar na profisso foi atravs da aprendizagem. Sob

    este sistema, o farmacutico aspirante, provavelmente conhecido como aspirante a

    boticrio, trabalharia lado a lado com um profissional estabelecido, aprendendo,

    observando e fazendo atividades sob a tutela do boticrio.

    Os vrios processos de reforma curricular foram vistos como uma oportunidade para

    desenvolver, no s o contedo dos diplomas, mas tambm como uma oportunidade de

    melhorar a qualidade da aprendizagem, e ainda, melhorar a integrao da teoria e da

    prtica.

    A reestruturao de um Plano curricular no pode ser tomada de nimo leve. Os desafios

    so ditados pela sociedade, quer cientfica, quer poltica ou social. Olhando para o passado,

    poderemos observar que as mudanas curriculares foram conduzidas em diferentes

    momentos por necessidades diferentes, por vezes cientificas, outras, puramente polticas.

    Da observao das mltiplas mudanas curriculares ao longo da nossa histria mais recente

    podemos deduzir que a mudana , por vezes, necessria. Os vrios planos curriculares

    foram um produto do momento, contudo torna-se necessrio reforar a necessidade de

    abertura para a realizao de mudanas oportunas.

    Assim, pode considerar-se pertinente e necessrio repetir, de tempos a tempos, anlises,

    como as realizadas pela Pharmine, para avaliar a adaptao curricular e assim, promover a

    criao de novas estratgias e ajustes, bem como promover a consolidao das prticas que

    esto implementadas.

    Alguns aspetos da profisso tm-se mantido constantes, quase inalterados, ao longo dos

    tempos, entre os quais: a inteno de ajudar os pacientes a lidar com a doena, a

    capacidade de aplicar a compreenso contempornea da cincia e da tecnologia para

    questes relacionadas com a sade. Outros aspetos evoluram de forma acentuada nos

    ltimos anos.

  • 45

    Nos ltimos cem anos, as alteraes realizadas no setor do ensino farmacutico em

    Portugal podem dividir-se em dois grandes momentos: antes e depois de Bolonha. As

    modificaes operadas na legislao farmacutica portuguesa at 2006 foram alteraes

    fundamentadas em questes nacionais que estruturavam o setor e o do exerccio da

    atividade, Bolonha traz consigo a globalizao. Hoje, impossvel imaginar um futuro

    para a educao farmacutica que no envolva o mundo para alm das fronteiras fsicas

    Desde o incio que a empregabilidade e a importncia para o mercado de trabalho tm sido

    objetivos centrais do Processo de Bolonha, em grande parte, devido preocupao com

    altas taxas de desemprego em ps-graduados em muitos pases membros da UE. Acresce

    ainda a preocupao com o facto de que os cidados da UE tm o direito de trabalhar em

    qualquer outro pas que seja membro da UE.

    O mapeamento e a reviso do Plano Curricular agora uma iniciativa esperada com o

    intuito de melhorar a qualidade dos planos de estudo do curso de cincias farmacuticas.

    Implementar e sustentar efetivamente essa expectativa pode ser um desafio para as

    instituies de ensino superior e requer um conjunto de professores dedicados, uma

    abordagem sistemtica, criatividade e, talvez, a liderana demonstrada em todos os nveis

    do sistema educativo.

    A necessidade de mudana, o desejo de mudar e a vontade de executar a mudana parte

    integrante da nossa cultura. O futuro limitado apenas pela imaginao e habilidades

    daqueles que entram e lideram a profisso. A mudana uma certeza

  • 46

    XIII | BIBLIOGRAFIA:

    Bibliografia legislativa:

    Carta de lei de 19 de julho de 1902. [Em linha]. Disponvel em:

    http://www.cdf.pt/archeevo/details?id=1004009&ht=farmacia

    >. [Consultado em 22/08/2017].

    Decreto de 26 de maio de 1911. [Em linha]. Disponvel em:

    http://www.cdf.pt/archeevo/details?id=1004100

    >. [Consultado em 22/08/2017].

    Decreto N. 4653 de 14 de julho de 1918. [Em linha]. Disponvel em:

    http://www.cdf.pt/archeevo/details?id=1004110&ht=1918

    >. [Consultado em 22/08/2017].

    Decreto N. 7238 de 18 de janeiro de 1921. [Em linha]. Disponvel em:

    http://www.cdf.pt/archeevo/details?id=1004118&ht=1921

    >. [Consultado em 22/08/2017].

    Decreto N. 12698 de 17 de novembro de 1926. [Em linha]. Disponvel em:

    http://www.cdf.pt/archeevo/details?id=1004137&ht=1926|19

    >. [Consultado em 22/08/2017].

    Decreto N. 15365 12 de abril de 1928. [Em linha]. Disponvel em:

    http://www.cdf.pt/archeevo/details?id=1004148&ht=1928|decreto

    >. [Consultado em 22/08/2017].

    http://www.cdf.pt/archeevo/details?id=1004009&ht=farmaciahttp://www.cdf.pt/archeevo/details?id=1004100http://www.cdf.pt/archeevo/details?id=1004110&ht=1918http://www.cdf.pt/archeevo/details?id=1004118&ht=1921http://www.cdf.pt/archeevo/details?id=1004137&ht=1926|19http://www.cdf.pt/archeevo/details?id=1004148&ht=1928|decreto
  • 47

    Decreto N. 18432 de 6 de junho de 1930. [Em linha]. Disponvel em:

    http://www.cdf.pt/archeevo/details?id=1004158&ht=1930|decreto

    >. [Consultado em 12/08/2017].

    Decreto N. 21853 de 8 de novembro de 1932. [Em linha]. Disponvel em:

    http://www.cdf.pt/archeevo/details?id=1004165&ht=21853

    >. [Consultado em 12/08/2017].

    Decreto-Lei N. 48696 de 22 de novembro de 1968. [Em linha]. Disponvel em:

    http://www.cdf.pt/archeevo/details?id=1004231&ht=48696

    >. [Consultado em 15/08/2017].

    Decreto N. 111/78 de 19 de outubro. [Em linha]. Disponvel em:

    http://www.cdf.pt/archeevo/details?id=1004202&ht=111/78|

    >. [Consultado em 16/08/2017].

    Decreto do Governo N. 17/83 de 25 de fevereiro. [Em linha]. Disponvel em:

    http://www.cdf.pt/archeevo/details?id=1004208&ht=111/78|

    >. [Consultado em 17/08/2017].

    Decreto do Governo N. 9/85 de 8 de maio. [Em linha]. Disponvel em:

    http://www.cdf.pt/archeevo/details?id=1004209&ht=9/85

    >. [Consultado em 17/08/2017].

    Diretiva 85/433/CEE do Conselho, de 16 de setembro