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Evolução das lesões pré-malignas orais: Orientações para os médicos dentistas Joana Filipa Coelho Patrício|061301048 Ano lectivo 2010/2011 - 1 - Porto, Junho de 2011 123 Mestrado Integrado em Medicina Dentária Disciplina de Monografia de Investigação Revisão Bibliográfica “EVOLUÇÃO DAS LESÕES PRÉ- MALIGNAS ORAIS: ORIENTAÇÕES PARA OS MÉDICOS DENTISTAS” Joana Filipa Coelho Patrício

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Evolução das lesões pré-malignas orais: Orientações para os médicos dentistas

Joana Filipa Coelho Patrício|061301048

Ano lectivo 2010/2011

- 1 -

Porto, Junho de 2011

123

Mestrado Integrado em Medicina Dentária

Disciplina de Monografia de Investigação

Revisão Bibliográfica

“EVOLUÇÃO DAS LESÕES PRÉ-

MALIGNAS ORAIS:

ORIENTAÇÕES PARA OS

MÉDICOS DENTISTAS”

Joana Filipa Coelho Patrício

Evolução das lesões pré-malignas orais: Orientações para os médicos dentistas

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Ano lectivo 2010/2011

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Porto, Junho de 2011

Mestrado Integrado em Medicina Dentária

Disciplina de Monografia de Investigação

Revisão Bibliográfica

“EVOLUÇÃO DAS LESÕES PRÉ-

MALIGNAS ORAIS: ORIENTAÇÕES

PARA OS MÉDICOS DENTISTAS”

Joana Filipa Coelho Patrício

Orientador

Professor Doutor Filipe Poças de Almeida Coimbra

Professor Auxiliar, Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto

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Agradecimentos

Agradeço aos meus pais, João e Noémia, pelo amor incondicional e por serem a minha

inspiração e a motivação que me faz procurar sempre o melhor da melhor maneira e que me

impele a continuar, mesmo quando os obstáculos, por vezes, me obrigam a abrandar ou mesmo a

seguir outro caminho.

Agradeço à minha irmã, Raquel, por saber, como mais ninguém, chamar-me à razão nos

momentos exactos.

Agradeço à minha família, de um modo geral, pela admiração e pelo carinho demonstrados

e, principalmente por acreditarem em mim…

Agradeço ao Professor Filipe Coimbra pelo conhecimento transmitido e pela forma como o

transmitiu, pois foram um contributo fundamental no despertar, e também na manutenção, do

meu fascínio especial pela Patologia Oral. Muito obrigada!

Agradeço à Márcia, a minha binómia, por todos os momentos partilhados. Pelos bons e

pelos menos bons. E na recta final, só lhe posso desejar, sem dúvida, o melhor.

Agradeço à FMDUP e a todos os que dela fazem parte, sem distinção, pois é a soma de

todas as partes que faz o todo.

A TODOS OS QUE, DIRECTA OU INDIRECTAMENTE, CONTRIBUÍRAM PARA A

REALIZAÇÃO DESTE TRABALHO. MUITO OBRIGADA!

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I – Resumo

Apesar de a cavidade oral ser de fácil acessibilidade, os carcinomas locais são, muitas

vezes, reconhecidos tardiamente, quando as opções terapêuticas são já escassas. Por isso,

importa detectar precocemente as lesões pré-malignas da cavidade oral.

Pretendemos neste trabalho rever os dados mais recentes publicados a seu respeito com

especial atenção para as respectivas medidas terapêuticas a adoptar.

Focaremos principalmente quatro lesões pré-malignas: a leucoplasia, a mais frequente; a

eritroplasia, que embora menos comum tem maior potencial para malignizar; a queilite actínica

que se julga ser a lesão precursora do carcinoma escamoso do lábio inferior; e o líquen plano

oral.

Palavras-chave - lesão oral pré-maligna, carcinoma oral escamoso, leucoplasia, eritroplasia,

queilite actínica, líquen plano oral, diagnóstico precoce, modalidades de tratamento,

transformação maligna

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Abstract

Although the oral cavity is easily accessible, local carcinomas are often recognized late,

when treatment options are already scarce. Therefore, early detection of precancerous lesions is

mandatory.

We intend to review the most recent data published about them with special attention to

the therapeutic measures to be followed.

We will focus mainly on four premalignant lesions: leukoplakia the most frequent;

erythroplakia less common but with greater malignant potential; actinic cheilitis thought to be

the precursor lesion of squamous cell carcinoma of the lower lip; and oral lichen planus.

Key-words - pre-malignant lesion, oral squamous cell carcinoma, leukoplakia, erythroplakia,

actinic cheilitis, oral lichen planus, early diagnosis, treatment modalities, malignant

transformation

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Conteúdo

Índice das Figuras ..................................................................................................................................... - 9 -

Índice das Tabelas .................................................................................................................................. - 11 -

Índice dos Esquemas .............................................................................................................................. - 12 -

Índice dos Anexos ................................................................................................................................... - 13 -

Índice das Abreviaturas .......................................................................................................................... - 14 -

III – Introdução ....................................................................................................................................... - 15 -

IV – Desenvolvimento ............................................................................................................................ - 17 -

Leucoplasia .............................................................................................................................. - 17 -

PREVALÊNCIA ................................................................................................................................. - 17 -

DEFINIÇÃO ...................................................................................................................................... - 17 -

DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS ........................................................................................................ - 18 -

........................................................................................................................................................ - 18 -

TRANSFORMAÇÃO MALIGNA ......................................................................................................... - 19 -

ETIOLOGIA ...................................................................................................................................... - 21 -

GÉNERO .......................................................................................................................................... - 22 -

IDADE .............................................................................................................................................. - 22 -

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS ........................................................................................................... - 22 -

CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS .................................................................................................. - 24 -

LOCALIZAÇÃO ................................................................................................................................. - 26 -

FACTORES DE RISCO PARA A TRANSFORMAÇÃO MALIGNA .......................................................... - 26 -

TRATAMENTO E ACOMPANHAMENTO .......................................................................................... - 29 -

Eritroplasia .............................................................................................................................. - 33 -

DEFINIÇÃO ...................................................................................................................................... - 33 -

DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS ........................................................................................................ - 33 -

PREVALÊNCIA ................................................................................................................................. - 34 -

ETIOLOGIA ...................................................................................................................................... - 34 -

GÉNERO .......................................................................................................................................... - 34 -

IDADE .............................................................................................................................................. - 34 -

LOCALIZAÇÃO ................................................................................................................................. - 34 -

TAMANHO ...................................................................................................................................... - 35 -

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS ........................................................................................................... - 35 -

CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS .................................................................................................. - 36 -

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TRANSFORMAÇÃO MALIGNA ......................................................................................................... - 36 -

TRATAMENTO E ACOMPANHAMENTO .......................................................................................... - 37 -

Queilite actínica ....................................................................................................................... - 38 -

DEFINIÇÃO ...................................................................................................................................... - 38 -

GÉNERO, IDADE E RAÇA ................................................................................................................. - 38 -

LOCALIZAÇÃO ................................................................................................................................. - 39 -

OUTROS FACTORES ETIOLÓGICOS ALÉM DA RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA ..................................... - 39 -

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS ........................................................................................................... - 40 -

CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS .................................................................................................. - 40 -

TRATAMENTO ................................................................................................................................. - 42 -

ACOMPANHAMENTO ..................................................................................................................... - 44 -

Líquen plano oral ..................................................................................................................... - 45 -

DEFINIÇÃO ...................................................................................................................................... - 45 -

PREVALÊNCIA ................................................................................................................................. - 45 -

LOCALIZAÇÃO ................................................................................................................................. - 45 -

GÉNERO E IDADE ............................................................................................................................ - 45 -

ETIOLOGIA ...................................................................................................................................... - 46 -

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS ........................................................................................................... - 46 -

CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS .................................................................................................. - 48 -

TRANSFORMAÇÃO MALIGNA ......................................................................................................... - 49 -

TRATAMENTO ................................................................................................................................. - 51 -

........................................................................................................................................................ - 52 -

ACOMPANHAMENTO ..................................................................................................................... - 53 -

V - Conclusões ........................................................................................................................................ - 54 -

VI - Index Medicus .................................................................................................................................. - 56 -

VII - Referências bibliográficas ............................................................................................................... - 57 -

VIII – Anexos ........................................................................................................................................... - 62 -

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II - Materiais e métodos

A presente revisão bibliográfica foi realizada baseando-nos numa vigorosa pesquisa

bibliográfica, utilizando a PUBMED como motor de busca. Os termos utilizados para obter os

artigos pretendidos foram os seguintes: “pre-malignant lesions”, “leukoplakia”, “erithroplakia”,

“actinic queilitis”, “oral liquen planus”, “malignant transformation”, “follow-up”, “treatment

modalities”.

Todos os artigos foram seleccionados e lidos pelo mesmo indivíduo. Foi dada prioridade

aos artigos mais recentes, no entanto, também foram privilegiadas revisões bibliográficas mais

antigas que ainda hoje são referenciadas nesses mesmos artigos.

Para uma melhor compreensão de todo o trabalho indicamos a visualização do ANEXO 1

onde se encontra uma tabela que pretende evidenciar os artigos de investigação nos quais nos

apoiámos. Os artigos que não constam da tabela são revisões bibliográficas.

A maioria das tabelas foi adaptada de vários artigos, outras foram construídas através da

compilação de informações de vários autores.

As imagens foram retiradas maioritariamente de livros que constam da bibliografia.

Algumas também foram retiradas dos artigos.

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Índice das Figuras

Figura 1: Semelhança clínica entre a leucoplasia oral e a candidíase…………………………..18

Figura 2: Displasia epitelial leve………………………………………………………………..21

Figura 3: Displasia epitelial moderada………………………………………………………….21

Figura 4: Displasia epitelial severa ou grave……………………………………………………21

Figura 5: CIS……………………………………………………………………………………21

Figura 6: Leucoplasia homogénea – notar as fissuras pouco profundas que se espalham um

pouco por toda a lesão…………………………………………………………………………...23

Figura 7: Leucoplasia granular – mancha branca irregular no pavimento da boca……………..23

Figura 8: Leucoplasia verrucosa – lesão com características exofíticas marcadas……………..23

Figura 9: Leucoeritroplasia – lesão mista, branca e vermelha, na superfície lateral da

língua…………………………………………………………………………………………….23

Figura 10: Leucoplasia verrugosa proliferativa – notar o atingimento difuso de toda a superfície

da língua e mucosa jugal……………………………………………………………...………….24

Figura 11:Esquema representativo dos aspectos clínicos e histológicos dos vários tipos de

LO………………………………………………………………………………………………..25

Figura 12: Aspecto látero-ventral da língua no qual se podem observar vários dos tipos clínicos

da LO…………………………………………………………………………………………….25

Figura 13: Candidíase eritematosa no dorso da língua. É um dos principais diagnósticos

diferenciais com a eritroplasia…………………………………………………………………...33

Figura 14: Mácula vermelha no pavimento da boca, sugerindo eritroplasia. A biópsia revelou a

presença de um carcinoma de células escamosas………………………………………………..35

Figura 15: Displasia severa……………………………………………………………………..36

Figura 16: Carcinoma in situ………………………………………………………...…….……36

Figura 17: Queilite actínica formando uma lesão na pele……………………………..………..39

Figura 18: Queilite actínica do lábio. Notar que a perda de limites entre a mucosa e a pele do

lábio é notória neste caso………………………………………………………………………...39

Figuras 19, 20, 21: Heterogeneidade clínica da QA…………………………………………….40

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Figura 22: Aspecto histológico da queilite actínica. Notar a hiperortoqueratose e a atrofia

epitelial e a impressionante elastose solar abaixo do epitélio……………………………………41

Figura 23: Líquen erosivo mimetizando gengivite descamativa………………………………..45

Figuras 24, 25: Líquen plano reticulado………………………………………………………...47

Figuras 26, 27: Líquen plano erosivo…………………………………………………………...47

Figura 28: Aspecto histológico do LPO. Notar o infiltrado inflamatório linfocítico logo abaixo

da membrana basal……………………………………………………………………………….48

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Índice das Tabelas

Tabela I - Listagem de Lesões pré-malignas vs Condições pré-malignas…………….………...16

Tabela II - Definições internacionais para a LO…………………………….………………….17

Tabela III - Lesões brancas mais comuns da cavidade oral e o seu critério diagnóstico

major……………………………………………………………………………………………..18

Tabela IV - Grau de certeza para o diagnóstico de leucoplasia…………………………………19

Tabela V- Taxas de transformação maligna encontradas em vários estudos para a LO………..19

Tabela VI - Critérios a ter em conta para diagnosticar displasia epitelial………………………20

Tabela VII - Distinção dos diferentes graus de displasia……………………………………….24

Tabela VIII - Listagem dos marcadores biológicos e suas características principais…………..28

Tabela IX - Substâncias mais utilizadas no tratamento não cirúrgico para a LO e suas

características principais…………………………………………………………………………32

Tabela X - Taxas de transformação maligna para a EO………………………………………...36

Tabela XI - Tratamentos disponíveis para a QA………………………………………………..42

Tabela XII - Características histológicas utilizadas no diagnóstico do LPO…………………...48

Tabela XIII - Taxas de transformação maligna para o LP oral descritas por vários

autores……………………………………………………………………………………………49

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Índice dos Esquemas

Esquema A – Nomenclatura utilizada para classificar o tamanho de uma leucoplasia…………26

Esquema B – Algoritmo para o tratamento da Leucoplasia Oral……………………………….31

Esquema C – Tratamentos disponíveis para o LPO…………………………………………….52

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Índice dos Anexos

Anexo 1 – Artigos de investigação utilizados na realização deste trabalho…………...…….…..62

Anexo 2 – Tratamentos utilizados para a LO…………….……………………………………...68

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Índice das Abreviaturas

CIS – Carcinoma In Situ

EO – Eritroplasia oral

LO – Leucoplasia Oral

LPM – Lesão pré-maligna

LPO – Líquen Plano Oral

MD – Médico Dentista

OMS – Organização Mundial de Saúde

QA – Queilite Actínica

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III – Introdução

O conceito de pré-cancro ou lesão pré-maligna (LPM) surgiu quando, em estudos

longitudinais, áreas de tecido com alterações clínicas que tinham sido detectadas na primeira

consulta como tendo potencial para malignizar se tornaram, posteriormente, malignas. Além

disso, algumas delas, nomeadamente as lesões brancas e vermelhas, ocorriam frequentemente

nas margens dos carcinomas escamosos orais. Outras partilhavam alguns dos aspectos das lesões

epiteliais malignas mas sem invasão do tecido conjuntivo. Estudos mostraram que entre 16 e

62% dos carcinomas orais estão associados a lesões leucoplásicas quando são

diagnosticados.[4,38,48,49,50]

Por último, mas não menos importante, alterações cromossómicas,

genómicas e moleculares, características dos carcinomas invasivos, podem também ser

detectadas nas lesões pré-malignas.[2]

Segundo Shue-Sang Hsue et al (2007), dois critérios devem ser tidos em conta para sermos

capazes de diagnosticar correctamente as lesões que possuem, efectivamente, capacidade de

transformação maligna: o primeiro é que o cancro que poderá advir da lesão inicial deverá

localizar-se no local da primeira biópsia. O segundo critério é que o tempo de transformação

maligna deverá exceder os 6 meses. Este período de latência é utilizado para excluir a

possibilidade de apresentações concomitantes.[3]

Quanto à prevalência de lesões orais potencialmente malignas, ela parece variar entre 1% e

5%, consoante o país de origem, a natureza da população, o uso de tabaco e a definição de uma

dada LPM.[15]

Alguns autores preferem usar o termo desordem potencialmente maligna em vez de lesão

pré-maligna ou pré-cancro, uma vez que, a segunda e a terceira expressões levam-nos a pensar

que essa lesão irá progredir irremediavelmente para cancro o que não é, de todo, verdade. Além

disso, adoptou-se o termo desordens em vez de lesões, já que, uma lesão potencialmente maligna

implica que a lesão maligna, caso ocorra, se desenvolva no local dessa mesma lesão. No entanto,

também existem condições potencialmente malignas quando a lesão maligna surge num local de

tecido com aparência clínica normal.[1,2,31,38]

Na TABELA I listamos algumas lesões pré-malignas orais e condições pré-malignas orais.

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Pretende-se, com este trabalho, trazer à luz os conhecimentos existentes sobre as desordens

pré-malignas orais nomeadamente, a leucoplasia oral (LO), a eritroplasia oral (EO), a queilite

actínica (QA) e o líquen plano oral (LPO), dando ênfase muito especial ao potencial de

transformação maligna que essas mesmas lesões possuem e à conduta que deverá ser adoptada

pelo Médico Dentista (MD) quando se encontra perante doentes com estas lesões.

Desordens potencialmente malignas

Lesões pré-malignas Condições pré-malignas

Leucoplasia Fibrose submucosa

Eritroplasias Queilite actínica

Eritroleucoplasia Líquen plano

Lúpus eritematoso discóide

Tabela I – Listagem de Lesões pré-malignas vs Condições pré-malignas.

Fonte: Warnakulasuriya et al, 2007. (adaptado).[2]

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ido

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IV – Desenvolvimento

Leucoplasia

PREVALÊNCIA

É a lesão potencialmente maligna mais comum da cavidade oral.[10,44]

Pensa-se que a sua

prevalência a nível mundial deverá rondar os 2%. No entanto, esta é variável pois existem

diferenças geográficas importantes.[1]

DEFINIÇÃO

Segundo Warnakulasuriya et al devemos entender as leucoplasias como “placas brancas

de malignização possível após exclusão daquelas que não transportam tal risco”.[2]

Esta é a

definição de leucoplasia proposta em 2007 e que tem vindo a ser mais adoptada.[1,2,5,27,41]

Outras

definições existem e estão descritas na

literatura (ver TABELA II).

Uma outra particularidade das

leucoplasias é o facto de não poderem

ser removidas por raspagem.[32,34]

Este

facto, auxilia a distinção clínica com a

Candidíase pseudomembranosa (ver

FIGURA 1).[34]

Hoje em dia, a maioria dos

autores concordam que o diagnóstico

inicial de leucoplasia, o diagnóstico

clínico, deverá ser considerado

provisório, e confirmado

histologicamente passadas cerca de 2-4

semanas, caso a lesão não tenha

desaparecido espontaneamente, e

quando todos os outros factores

etiológicos possíveis tenham sido postos de parte (ver TABELAS III e IV). O diagnóstico

Definições para a LO propostas nas últimas décadas

OMS (1978) Uma mancha ou placa branca que não

pode ser clínica ou patologicamente

caracterizada como nenhuma outra

doença

Axéll et al (1984) Uma mancha ou placa branca que não

pode ser clínica ou patologicamente

caracterizada como nenhuma outra

doença e que não está associada a

nenhum factor etiológico, excepto o

tabaco.

Axéll et al (1996) Uma lesão predominantemente branca da

mucosa oral e que não pode ser

caracterizada como nenhuma outra

entidade conhecida

OMS (1997) Uma lesão predominantemente branca da

mucosa oral e que não pode ser

caracterizada como nenhuma outra

entidade conhecida

OMS (2005) Não definida (não é feita distinção com

outras lesões brancas)

Warnakulasuriya

et al (2007)

Placas brancas de malignização possível

após exclusão daquelas que não

transportam tal risco

Tabela II - Definições internacionais para a LO

Fonte: Warnakulasuriya et al, 2007. (adaptado).[2]

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definitivo para uma lesão pré-maligna com características clínicas de LO é, assim, o histológico,

logo nestes casos, a biópsia é indispensável.[1,5,10,38,44]

DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS

Outras lesões brancas ou predominantemente brancas da

mucosa oral e o seu critério diagnóstico principal

Queimadura química

(aspirina p.ex.)

História conhecida, o local da lesão

corresponde ao da queimadura,

dolorosa e de rápida resolução

Candidíase

pseudomembranosa

Aspecto clínico (pseudomembranas,

por vezes com padrão simétrico). São

removíveis por raspagem, deixando

uma superfície eritematosa

Candidíase hiperplásica

Não há consenso na literatura em

como reconhecer estas lesões. Alguns

preferem referir-se a elas como

leucoplasia associada a Candida

Queratose por fricção

História de trauma local, o factor

etiológico é aparente, reversível após

remoção do estímulo responsável

“Leucoplasia pilosa”

Aspecto clínico (superfície lateral da

língua), bilateral, histologia (EBV).

A denominação não é muito correcta,

pois a lesão não é pré-maligna

Leucoedema

Aspecto clínico (padrão simétrico na

mucosa jugal), desaparece com o

estiramento

Linha alba Aspecto clínico (localização na linha

de oclusão da mucosa oral)

Lúpus eritematoso História de lesões na pele, aspecto

clínico (padrão simétrico), histologia

Morsicatio (acção de

chupar ou morder lábios,

língua, bochechas)

História desses hábitos

Papiloma e lesões

similares Aspecto clínico, histologia

Figura 1: Semelhança clínica entre a leucoplasia oral e a candidíase

pseudomembranosa.

Fonte: Crispian Scully, 2004.[54]

Tabela III - Lesões brancas mais comuns da cavidade oral e o seu critério diagnóstico major.

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Grau de certeza (Factor-C) no diagnóstico de leucoplasia

C1 – Evidência obtida a partir da primeira visita e tendo em conta o exame clínico (inspecção e

palpação) DIAGNÓSTICO CLÍNICO PROVISÓRIO

C2 – Evidência obtida a partir da exclusão de todos os factores etiológicos possíveis, p. ex. trauma

mecânico, durante um período de 2-4 semanas ou a partir da ausência de qualquer factor etiológico

DIAGNÓSTICO CLÍNICO DEFINITIVO C3 – Igual a C2 mas complementado por uma biópsia incisional DIAGNÓSTICO

HISTOPATOLÓGICO PROVISÓRIO C4 – Evidência obtida a partir da excisão e exame histopatológico da amostra DIAGNÓSTICO

HISTOPATOLÓGICO DEFINITIVO

TRANSFORMAÇÃO MALIGNA

A percentagem de transformação maligna para a LO é bastante variável de acordo com os

países nos quais os estudos foram realizados (ver TABELA V).[38]

Taxas de transformação maligna para a LO

Estudo/ano País Amostra Observação (anos) % de transformação maligna

Pindborg et al, 1968 Dinamarca 248 3,9 4,4

Silverman and Rosen, 1968 EUA 117 1-11 6,0

Kramer et al, 1970 Reino Unido 187 ? 4,8

Mehta et al, 1972 Índia 117 10 0,9

Silverman et al, 1976 Índia 4762 2 0,13

Bánóczy, 1977 Hungria 670 9,8 6,0

Silverman et al, 1984 EUA 257 7,2 17,5

Lind, 1987 Noruega 157 9,3 8,9

Schepman et al, 1998 Holanda 166 2,5 12,0

P. J. Thomson et al, 2002 Reino Unido 55 1,5-8,5 6,6-36,4

Sífilis secundária Aspecto clínico, presença de

Treponema pallidum, serologia

Lesões induzidas pelo uso

de tabaco

Características clínicas da lesão.

História de uso de tabaco

Estomatite nicotínica

Aspecto clínico característico. Cor

branca acinzentada. História de uso

de tabaco

Líquen plano reticulado Aspecto clínico (estrias de wickham),

padrão bilateral e difuso

Nevo branco esponjoso

Detectado numa idade precoce,

história familiar, aspecto clínico (por

vezes com padrão simétrico)

Tabela IV - Grau de certeza para o diagnóstico de leucoplasia.

Fonte: van der Wall, 2009. (adaptado).[1]

Tabela V- Taxas de transformação maligna encontradas em vários estudos para a LO.

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Tal pode ser devido ao facto de estes autores estudarem populações muito díspares, que

têm hábitos tabágicos e dietéticos divergentes.

Mais recentemente, vários autores enfatizam o intervalo de variação das taxas de

transformação maligna. P. S. van der Hem et al (2005) referem que a taxa de transformação

maligna para a leucoplasia varia entre 0,13 e 17,5%. Já Jesper Reibel (2003) defende que estas

taxas variam entre <1 e 18%. Adriana Spínola Ribeiro et al, num artigo de 2010 consideram que,

baseando-se na literatura, as taxas de transformação maligna para a LO variam entre 0,1 e

17%.[35,38,41]

Embora todos apontem a displasia epitelial como um factor preditivo importante de

transformação maligna,

devemos ter presente que nem

todas as lesões com displasia

histológica se tornarão

malignas.[5,10,34]

Além disso, e

não menos importante, é o

facto de lesões sem displasia

no exame histológico poderem

tornar-se malignas, pelo que

deverão ser seguidas.[5,10,34,44]

Todas as leucoplasias deverão

ser abordadas como tendo

potencial para malignizar.[39]

Os critérios usados para

diagnosticar estas alterações estão descritos na TABELA VI e quanto mais marcados e

proeminentes forem, mais severo será o grau de displasia (ver FIGURAS 2, 3, 4, 5).[38]

Critérios utilizados para diagnosticar a displasia epitelial (Pindborg et

al., 1997)

Perda da polaridade das células basais

Presença de mais do que uma camada de células com aspecto

basalóide

Aumento da proporção núcleo/citoplasma

Estratificação epitelial irregular

Aumento do número de mitoses

Presença de mitoses anormais

Presença de figuras mitóticas na metade superficial do epitélio

Pleomorfismo celular e nuclear (alterações da forma)

Hipercromatismo nuclear

Núcleos aumentados

Núcléolos aumentados e numerosos

Perda da aderência intercelular

Queratinização de células únicas ou grupos de células do estrato

espinhoso

Pérolas de queratina dentro das cristas epiteliais

Cristas epiteliais em forma de gota de água

Tabela VI – Critérios a ter em conta para diagnosticar displasia epitelial. A negrito

encontramos os critérios citológicos. Os restantes manifestam-se a nível arquitectural.

Fonte: Jesper Reibel, 2003. (adaptado).[11]

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ETIOLOGIA

Etiopatogenicamente, a LO engloba duas categorias: a LO de etiologia desconhecida ou

idiopática e a LO associada com o uso de tabaco.[41]

Segundo JM Baric et al (1982), a LO é 6

vezes mais comum em fumadores do que em não-fumadores.[1]

A maioria dos autores defende

que a LO idiopática apresenta uma maior taxa de transformação maligna quando comparada com

a leucoplasia associada com o uso de tabaco. Por seu lado, van der Wall e Axéll num artigo de

2002 referem que estes dois tipos de leucoplasia não são assim tão distintos. Primeiro porque é

muito difícil quantificar e qualificar os hábitos tabágicos de um paciente. Segundo, porque temos

de ter em conta outros intervenientes tais como, o álcool, o tabaco de mascar e a dieta.[44]

Figura 2: Displasia epitelial leve. Figura 3: Displasia epitelial moderada. Figura 4: Displasia epitelial severa ou grave. Figura 5: Carcinoma in

situ (CIS)

Fonte: Neville et al, 2002.[53]

2 3

4 5

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GÉNERO

Apesar de a prevalência de leucoplasia favorecer os homens, as mulheres são as que

apresentam uma maior percentagem de transformação maligna.[4,5,27,41]

Na Hungria foi

encontrada uma proporção de transformação maligna H:M de 1:2,4. O mesmo autor encontrou,

num estudo mais alargado uma proporção de 1:1,9.[51]

Num estudo na Noruega a leucoplasia

esteve presente em 102 homens e 55 mulheres. O carcinoma escamoso surgiu em 8 homens e 6

mulheres.[52]

Também na Holanda, num estudo realizado numa população de 166 indivíduos (76

homens e 90 mulheres), o carcinoma escamoso desenvolveu-se em 4 homens e 16 mulheres.[53]

Também em relação ao sexo, em estudos realizados na Índia, existe uma forte

predominância masculina. Já em estudos feitos nos países ocidentais, essa discrepância não é tão

significativa, podendo mesmo ser encontradas relações H:M de 1:1.[10,27]

Tais diferenças dever-

se-ão, provavelmente, aos hábitos tabágicos das diferentes culturas. Axéll T. num estudo de 1987,

estudou 20333 indivíduos suecos e verificou que a proporção H:M foi de 3:1. Quando esta

proporção foi considerada de acordo com a etiologia da leucoplasia verificou-se que, em

indivíduos fumadores foi de 6:1 e em não fumadores foi de 5:1.[45]

IDADE

No que diz respeito á idade, notamos uma clara predominância nas pessoas em idade mais

avançada (entre a 4ª e a 7ª décadas de vida). Segundo Ribeiro S. et al (2010), estima-se que

menos de 1% dos homens tenham idade inferior a 30 anos e que a prevalência aumente para 8%

em pacientes do sexo masculino com idade superior a 70 anos e para 2% para mulheres com

idade superior a 70 anos.[41]

No entanto, uma vez mais em estudos realizados na Índia e também

devido aos hábitos tabágicos, estas lesões poderão ser detectadas em idades bastante mais

precoces.[14]

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

No que respeita aos aspectos clínicos, a maioria dos autores concorda que existem dois

tipos clínicos principais: o tipo homogéneo e o não-homogéneo.[1,2,5,6,10]

O primeiro é caracterizado por uma área plana, fina, uniformemente branca que exibe

pequenas fissuras pouco profundas na superfície queratinizada. O segundo tipo pode ser dividido

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em 3 grupos: Leucoeritroplasia é uma lesão mista, branca e vermelha, na qual a cor branca

predomina; granular ou nodular, quando há crescimentos polipóides ou nodulares brancos numa

base eritematosa; verrucoso, se a superfície da lesão tem aspecto enrugado, único aspecto que a

distingue do tipo homogéneo, uma vez que, também se apresenta com uma coloração branca

uniforme (ver FIGURAS 6, 7, 8, 9).[1,2,5,6,10]

De acordo com Pinera-Marques et al (2010), embora a vasta maioria das transformações

malignas ocorra nas lesões não-homogéneas, cerca de 5% das lesões do tipo clínico homogéneo

irão progredir para a malignidade. A displasia epitelial poderá ser encontrada em leucoplasias

homogéneas, mas é mais comum nas não-homogéneas.[2,38]

Um tipo de lesão muito agressiva, a leucoplasia verrugosa proliferativa quase

invariavelmente progride para malignidade (74%).[32,33,38,43]

Começa como uma hiperqueratose

da mucosa oral que rapidamente se torna multifocal e, nos estadios mais avançados, exofítica,

podendo desenvolver também áreas eritroplásicas que se tornam carcinomas (ver FIGURA 10).

Pensa-se que seja mais comum em mulheres de idade avançada que tenham tido leucoplasias de

Figura 6: Leucoplasia homogénea – notar as fissuras pouco profundas que se espalham um pouco por toda a lesão. Figura 7: Leucoplasia granular –

mancha branca irregular no pavimento da boca. Figura 8: Leucoplasia verrucosa – lesão com características exofíticas marcadas. Figura 9:

Leucoeritroplasia – lesão mista, branca e vermelha, na superfície lateral da língua.

Fonte: Neville et al, 2002.[53]

6 7

8 9

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longa duração.[1,32,33]

Poderá haver ou não história de uso de tabaco.

[1] Bágan e Scully (2010)

encontraram em 87% dos casos lesões localizadas nas gengivas. Outros autores também

consideram a mucosa oral e alveolar e a

língua, locais comuns para o seu

aparecimento.[33]

Apesar de não haver

certezas em relação à sua etiopatogenia,

pensa-se que poderá estar associada à

infecção por HPV. É importante notar

que, sendo a leucoplasia verrugosa

proliferativa uma entidade muito

heterogénea, deverão ser feitas biópsias

de vários locais da lesão. Estas lesões

são, normalmente, resistentes ao tratamento e as recorrências são frequentes.[32,33]

CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS

As características histológicas de ambos os tipos clínicos de leucoplasia são variáveis,

podendo ser observadas: hiperplasia epitelial (acantose), com ou sem orto ou paraqueratose,

inflamação crónica moderada e

alterações displásicas de vários

graus.[35,39,41]

A análise histológica de

uma leucoplasia, que foi clinicamente

diagnosticada como tal, tem dois

objectivos: excluir qualquer outro tipo

de lesão branca (ver TABELA III) e

estabelecer o grau de displasia, se

presente (ver TABELA VII).

Apesar de a displasia epitelial não

estar associada a nenhuma aparência

clínica específica, as leucoplasias e as

eritroplasias são as lesões mais

frequentemente associadas com

Estadios histopatológicos das lesões epiteliais precursoras

Hiperplasia

escamosa

Poderá ocorrer na camada espinhosa

(acantose) e/ou na camada basal

(hiperplasia de células basais); a

arquitectura mostra estratificação

regular sem atipia celular*

Displasia leve As alterações arquitecturais estão

limitadas ao terço inferior do epitélio e

são acompanhadas de atipias celulares

Displasia moderada As alterações arquitecturais estendem-

se até ao terço médio do epitélio.

Presença de atipias celulares

Displasia grave As alterações arquitecturais envolvem

mais de dois terços do epitélio. No

entanto se a atipia celular no terço

médio do epitélio for muito marcada,

poderemos considerar que estamos

perante displasia grave

Carcinoma in situ

(CIS)

Toda a espessura ou quase toda a

espessura do epitélio foi envolvida.

Atipias celulares muito marcadas

Tabela VII - Distinção dos diferentes graus de displasia.

Fonte: van der Wall, 2009. (adaptado).[1]

Figura 10: Leucoplasia verrugosa proliferativa – notar o atingimento

difuso de toda a superfície da língua e mucosa jugal.

Fonte: Neville et al, 2002.[53]

*A atipia celular engloba todas as alterações morfológicas e estruturais que as células

de um determinado processo tumoral sofrem. Como exemplos poderemos citar: o

hipercromatismo nuclear e as mitoses atípicas (ver alterações citológicas TABELA VI).

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alterações displásicas.[2,38]

A frequência de displasia epitelial na leucoplasia varia entre <1% até

30% (Mehta et al., 1969; Bánóczy and Csiba, 1976; Waldron and Shafer, 1975; Silverman et al.,

1976, 1984; Burkhardt and Seifert, 1977; Eversole and Shopper, 1981; Lind, 1987).[38]

No FIGURA 11 estão representadas as variantes clínicas da leucoplasia oral, com ênfase

para os aspectos histológicos, nomeadamente a displasia epitelial.

Figura 11:Esquema representativo dos aspectos clínicos e histológicos dos vários tipos de LO.

Fonte: Neville et al, 2002.(adaptado) .[53]

Figura 12: Aspecto látero-ventral da língua no qual se podem observar vários dos tipos

clínicos da LO (seta vermelha – zona eritroplásica; seta azul – leucoplasia verrucosa; seta

amarela – leucoplasia homogénea).

Fonte: Neville et al, 2002.[53]

Camada de queratina

Hifas de Candida

Linfócitos

Epitélio

Normal

Mucosa

Normal

Eritroleucoplasia Leucoplasia Granular

Leucoplasia Verrucosa

Leucoplasia Homogénea

Hiperqueratose

Acantose

Linfócitos

(ocasional)

Hiperqueratose

Acantose

Linfócitos

(ocasional)

Displasia

(leve/moderada)

Eri

tro

pla

sia

Congestão vascular

Hiperqueratose irregular

Papilas dérmicas bulbosas e

próximas entre si

Atrofia epitelial (à direita)

Linfócitos (em número elevado)

Displasia grave (à esquerda)

CIS (à direita)

Congestão vascular

Hiperqueratose irregular

(hiperqueratose verruciforme)

Papilas dérmicas bulbosas

Linfócitos (em número

moderado)

Displasia moderada/grave

Congestão vascular

Hifas de Candida (talvez)

LEGENDA

Células

epiteliaias

displásicas

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LOCALIZAÇÃO

Qualquer local da cavidade oral poderá estar afectado.[14]

No entanto, há certos locais que

são considerados de alto risco para a transformação maligna, nomeadamente o bordo e ventre da

língua e o pavimento da boca.[4,5,14,27,35,41]

Apesar de a maioria dos autores concordar com tais

resultados, Schepman et al (1998) na pesquisa realizada não conseguiram associar um maior

risco de progressão maligna para as leucoplasias do pavimento da boca.[38]

Menos

frequentemente são citadas, como sendo locais de alto risco, as gengivas e o palato mole.[4,5]

Este

aspecto é importante, pois no caso de leucoplasias com displasia leve ou mesmo sem displasia, a

decisão de tratar ou não depende, principalmente, da localização na cavidade oral.[10]

Segundo Schepman et al (2001) existe uma correlação entre a localização de uma dada

lesão e os hábitos tabágicos do indivíduo. Em indivíduos fumadores as lesões aparecem

normalmente no pavimento da boca, enquanto que, em indivíduos não-fumadores são mais

comum nos bordos laterais da língua.[38]

FACTORES DE RISCO PARA A TRANSFORMAÇÃO MALIGNA

Os vários autores estão de acordo em relação aos factores que potenciam a transformação

maligna: presença

de displasia

epitelial, tipo

clínico (o tipo não

homogéneo é o que

oferece maior

potencialidade), a

localização, o

tamanho (há autores que revelam que quanto maior o tamanho, maior o potencial maligno.

Tamanho> 200mm2 apresentam risco elevado; no ESQUEMA A apresentamos a classificação

relativa ao tamanho de uma leucoplasia.), género feminino, a duração da leucoplasia, resistência

aos tratamentos, lesões múltiplas em vez de única, infecção vírica, presença de C. albicans, por

último, e não menos importante, a leucoplasia idiopática, ou seja, aquela que está associada a não

fumadores.[1,6,10,14,27,34,35,38,41]

Esquema A - Nomenclatura utilizada para classificar o tamanho de uma leucoplasia

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A displasia epitelial é, segundo a maioria dos autores, o factor prognóstico mais

importante de transformação maligna.[3,34,37,41]

Lesões displásicas são comumente classificadas

em lesões com displasia leve, moderada e severa ou grave, de acordo com a extensão epitelial

que se encontra envolvida na histologia (ver TABELA VII). Quando a lâmina própria é invadida

estamos perante um carcinoma de células escamosas1.[34]

Apesar disto, reconhece-se que lesões

não displásicas podem progredir para cancro, enquanto que nem todas as lesões displásicas irão

progredir para malignidade.[1,34,38]

De facto, já foram observadas regressões espontâneas,

especialmente devido à cessação de certos hábitos como o tabaco e a ingestão de álcool, bem

como mudanças no estilo de vida, principalmente a nível dietético.[34,38]

Estabelecer a taxa de transformação maligna baseando-nos somente no grau de displasia

é difícil devido a uma variedade de factores. Alguns já foram vistos acima. O mais importante

talvez seja a subjectividade inerente aos sistemas de classificação das displasias. Segundo van

der Wall (2009), a displasia epitelial é um espectro e, por isso, divisões precisas entre os vários

tipos de displasia não são possíveis.[1]

Mais ainda, no diagnóstico de uma displasia também

temos de ter em conta a variabilidade inter e intra-observadores.[1,30,34,38,44]

Existem autores que

defendem a criação de um sistema binário para a classificação da displasia (baixo risco – sem

displasia/questionável/displasia leve e alto risco – displasia moderada/displasia grave) com vista

a ultrapassar estes obstáculos.[30]

Além disso, Michael Brennan et al (2007) defendem que

teremos de dar mais atenção aos marcadores biológicos (VER TABELA VIII) que têm sido

estudados, pois estes serão, possivelmente, um elemento bastante confiável quando pretendemos

fazer uma avaliação prognóstica de uma dada lesão, complementando as características clínicas e

histológicas usadas nessa avaliação.[30,34]

1 Também chamado carcinoma escamoso ou carcinoma epidermóide.

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Os marcadores melhor caracterizados em determinar o desenvolvimento de cancro nas lesões orais

pré-malignas

1 – Marcadores genómicos

a) Quantidade de DNA

Células aneuplóides são um factor preditivo importante de transformação maligna, tanto nas leucoplasias como nas eritroplasias, enquanto que células com quantidade correcta de DNA (diplóides) apresentam baixo risco.

b) Aberrações cromossómicas

Perda de material cromossómico numa região do cromossoma que contenha genes supressores de tumores parece ser um factor preditivo de transformação maligna. Locais de risco no cromossoma poderão ser: os braços 3p e 9p, sendo os mais importantes e ainda, 4q, 8p, 11q, 13q, 17p.

c) Mudanças na expressão de oncogenes e

de genes supressores de tumores (p53)

É importante ao prevenir o acúmulo de alterações genéticas prejudiciais nas células por 2 mecanismos: reparação do dano antes da divisão celular ou morte celular. Mutações nesta proteína levam à perda das suas funções supressoras. Estudos demonstraram que muitas lesões pré-malignas apresentam sobrexpressão desta proteína.

2 – Marcadores de proliferação

3 – Marcadores de diferenciação

a) Queratinas

Foi demonstrada a existência de uma relação entre a severidade da displasia epitelial e alterações na expressão das queratinas. Nomeadamente, nas displasias graves as queratinas K4/K13 e K1/K10 associadas com a diferenciação epitelial normal, estão diminuídas ou praticamente ausentes.

b) Carbohidratos de superfície Alterações a este nível estão presentes nas lesões pré-malignas mesmo antes de ser visível a displasia histológica. No entanto, a importância destas no prognóstico das lesões pré-malignas não é bem compreendida, uma vez que também poderão ser vistas noutros contextos como, por exemplo, a cicatrização de feridas.

As características clínicas (subtipo de leucoplasia) e histológicas (presença ou ausência de

displasia) são ainda os parâmetros mais importantes para prever a ocorrência de transformação

maligna nas lesões orais pré-malignas, no diagnóstico rotineiro.[29,38]

Um cuidadoso exame oral

aliado à biópsia são fundamentais para podermos estabelecer um tratamento eficaz. No presente,

Tabela VIII - Listagem dos marcadores biológicos e suas características principais

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ainda não existe nenhum método, clínico ou microscópico, que permita identificar com certeza

se uma lesão irá evoluir para cancro ou não.[1,39]

O uso de marcadores biológicos nessa tarefa

tem-se revelado prometedor, no entanto ainda não foram descritos métodos que possam ser

prontamente aplicados no diagnóstico de rotina.[1,30,38]

TRATAMENTO E ACOMPANHAMENTO

Outro facto interessante foi o encontrado por Holmstrup et al (2006), que observaram taxas

de transformação maligna similares entre lesões com displasia leve e displasia grave.[8]

Isto

levanta alguma controvérsia em relação à posição que devemos ter quando estamos perante

lesões com displasia leve. No tratamento de uma LO devemos, e isto é defendido pela maioria

dos autores, ter em conta o grau de displasia presente. Normalmente, a remoção cirúrgica só está

recomendada na presença de displasias moderadas ou graves.[27,41]

O mesmo acontece quando as

lesões estão localizadas em locais considerados de alto risco ou quando os próprios indivíduos

são considerados como tendo um risco elevado para o desenvolvimento maligno (alcoólicos ou

fumadores).[38]

Lesões pequenas são normalmente excisadas. Em lesões de grandes dimensões ou

com padrões de apresentação difusos, o tratamento não está indicado, a menos que se apresentem

marcadamente displásicas.[1,38,44]

Segundo Van der Waal (2009) as razões para tratarmos a LO poderão ser o quadro

sintomatológico que uma dada lesão apresenta bem como, a tentativa de prevenirmos a sua

evolução para malignidade.[1]

Embora não exista evidência científica que nos indique que o tratamento da LO, seja de

que natureza for, previne realmente a progressão maligna futura, parece ser uma prática segura

que o tratamento da leucoplasia oral seja implementado, independentemente da presença ou não

de displasia epitelial.[1]

Concluímos então que, independentemente do grau de displasia que uma lesão apresenta, a

sua excisão cirúrgica poderá ser completa ou incompleta e a decisão deverá ter em conta outros

factores, tais como, a localização, o tamanho e, no caso de pacientes fumadores, o interesse do

paciente em deixar o hábito.[41,44]

No que respeita ao tratamento a adoptar, existem duas modalidades de tratamento para a

LO: o cirúrgico e o não cirúrgico (ver ANEXO 2). As modalidades de tratamento adoptadas,

mais frequentemente, no tratamento da LO são a excisão cirúrgica e a terapia com laser.

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Apesar de muitas lesões serem tratadas cirurgicamente, a percentagem de transformação

maligna poderá não variar significativamente com o tratamento. As recorrências são vistas

frequentemente e a progressão para cancro oral, embora menos frequente, também é vista.[38]

van der Wall (2009) refere que as taxas de recorrência após ser instituído tratamento para a

LO variam entre 0 e 30%.[1]

Já Adriana Spinola Ribeiro et al (2010) referem que as taxas de

recorrência após tratamento cirúrgico para a LO variam entre 10 e 35%.[41]

Em relação à margem de segurança que deverá ser tida em conta, não existem indicações

cientificamente estabelecidas que orientem o profissional responsável por remover a lesão. É

reconhecido que as alterações epiteliais características da displasia epitelial estão presentes muito

para além da leucoplasia clinicamente visível.[1]

A maioria dos estudos apresenta como limitação principal a duração do acompanhamento

destes doentes. De facto, quase metade das leucoplasias (33 a 42%) evolui para malignidade

cerca de 2 anos após o diagnóstico.[39]

Além disso, a incidência de transformação maligna

aumenta com o aumento do período de seguimento. Aqui podemos verificar a importância de

recorrermos a um acompanhamento longo.

Devemos ter em conta outro aspecto importante. Quando a transformação maligna é

precoce, tal poderá significar que a amostra sujeita a biópsia não era significativa, ou seja,

quando a amostra é pequena a probabilidade de termos falhado uma região importante da lesão é

grande. Normalmente, as lesões maiores requerem mais do que uma biópsia.[35]

Em lesões de

grandes dimensões devemos recolher amostras dos locais que clinicamente demonstrem mais

alterações à normalidade (zonas erodidas e de aspecto verrugoso, por exemplo), zonas

endurecidas ou zonas sintomáticas.[10,35]

No ESQUEMA B apresentam-se as directivas a seguir quando estamos perante um caso de

LO.

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Esquema B- Algoritmo para o tratamento da LO. * Na generalidade, e segundo a maioria dos autores, o tratamento que é adoptado mais frequentemente para a LO é a excisão cirúrgica ou a terapia com laser.

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Segundo van der Wall e Axéll (2002) deverão ser considerados controlos periódicos com

intervalos entre 6 e 12 meses, quer para pacientes que são tratados, quer para pacientes não

tratados. No entanto, poder-se-ão considerar intervalos mais curtos, de 3 meses, em pacientes

com lesões displásicas que, por exemplo devido à extensão da lesão, não foram tratadas.[44]

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Eritroplasia

DEFINIÇÃO

Segundo Warnakulasuriya et al (2007), a definição de eritroplasia mantém-se praticamente

inalterada e continua a ser largamente usada, desde

1978, quando a Organização Mundial de Saúde

(OMS) a definiu da seguinte forma “uma mancha

vermelha que não pode ser caracterizada clínica ou

patologicamente como nenhuma outra doença

conhecida”.[1,2,26,34]

Esta definição é amplamente

aceite, uma vez que é baseada num diagnóstico feito

por exclusão. Tal como acontece com a leucoplasia,

com a eritroplasia devemos ter em conta o

diagnóstico provisório e o diagnóstico definitivo. O

primeiro é feito quando a lesão, ao exame clínico,

não pode ser reconhecida como nenhuma outra

doença da mucosa oral com aparência vermelha. O

segundo faz-se como resultado da identificação, e se

possível da eliminação de factores etiológicos

prováveis e, no caso de lesões persistentes, através do

exame histológico.[26]

O termo eritroplasia, tal como

o termo leucoplasia, não transporta uma conotação

histológica, mas apenas clínica.

DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS

Numerosas máculas ou placas vermelhas que

surgem na mucosa oral devem ser excluídas para que se possa fazer o diagnóstico de eritroplasia

(ver TABELA IX). De entre as lesões que clinicamente poderão ser confundidas com EO, a

candidíase eritematosa e o LPO atrófico são as mais importantes (ver FIGURA 13).

Lesões vermelhas que se assemelham à EO

1 Infecções micóticas

a) Candidíase eritematosa

b) Eritema generalizado por Candida

c) Estomatite por prótese

d) Histoplasmose

2 Infecções bacterianas

a) Tuberculose

3 Doenças da mucosa

a) LPO atrófico

b) Lúpus eritematoso

c) Pênfigo, penfigóide

4 Outros

a) Melanoma amelanótico

b) Hemangioma

c) Telangiectasia, varizes linguais

d) Sarcoma de Kaposi

e) Púrpura oral

Tabela IX - Lesões vermelhas que poderão mimetizar a EO.

Fonte: Warnakulasuriya et al, 2007. (adaptado).[2]

Figura 13 – Candidíase eritematosa no dorso da

língua. É um dos principais diagnósticos diferenciais

com a EO.

Fonte: Neville et al, 2002.[53]

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PREVALÊNCIA

Na generalidade, é aceite que a eritroplasia é uma LPM bastante mais rara que a

leucoplasia.[26]

Entre os artigos disponíveis que se dedicaram a estudar a prevalência das

eritroplasias, encontrámos um intervalo de variação entre 0,02 e 0,83.[1,26]

No entanto, os estudos

que existem são na sua maioria provenientes da Ásia, sendo necessário que se façam mais

estudos noutras áreas geográficas.

ETIOLOGIA

Também aqui se torna importante ter em conta certos factores de risco, nomeadamente o

tabaco e o álcool. Hosni et al num estudo de 2009 encontraram uma prevalência de 100% e 46%,

respectivamente, entre a população estudada.[1,25]

GÉNERO

Apesar de controverso e contrariamente à leucoplasia, a EO não apresenta preferência pelo

sexo.[1,26]

No entanto, outros autores há que referem maior prevalência entre homens em idade

mais avançada.[9,26]

IDADE

A EO ocorre em indivíduos de meia-idade e mais idosos, preferencialmente entre a 6ª e a

7ª décadas de vida.[26]

É interessante notar que, pacientes com EO na Índia são 10 a 20 anos mais

novos. Tal é devido aos hábitos tabágicos desta população.

LOCALIZAÇÃO

Qualquer local da cavidade oral poderá estar afectado, apesar disso, segundo Neville et al

(2010), os locais mais frequentemente afectados são o pavimento da boca, o bordo lateral da

língua, a almofada retromolar e o palato mole.[9]

Segundo outros autores, os locais mais

comummente afectados pela EO são o palato mole, o pavimento da boca e a mucosa oral. Shafer

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e Waldron (1975), numa das poucas revisões que existem acerca do tema, observaram diferentes

localizações consoante o sexo. O local mais comum para a ocorrência de EO em homens foi o

pavimento da boca. Já em mulheres afecta preferencialmente a mucosa alveolar mandibular, a

gengiva mandibular e o sulco mandibular. Nos homens estes locais são os menos afectados.

Também segundo estes autores, e contrariamente ao referido por Neville et al, a língua é um

local raramente afectado em ambos os sexos.

TAMANHO

Tipicamente, a lesão eritroplásica apresenta menos de 15mm de diâmetro e metade são

menores do que 10mm. Ultimamente têm sido observadas lesões com mais de 40mm.[26]

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

A aparência clínica é, na maioria das vezes, plana, mas também poderá ser depressiva e

com uma superfície lisa ou granular. As margens da lesão estão, normalmente, bem definidas.[26]

As eritroplasias homogéneas, por si só, são

muito pouco comuns. A aparência mais

comum é na forma de manchas brancas e

vermelhas (leucoeritroplasia ou

eritroleucoplasia, conforme as que são

predominantes). Nestes casos, a lesão

insere-se no grupo das leucoplasias não-

homogéneas. O profissional responsável

por realizar a biópsia neste tipo de lesões

deverá colectar tecido de ambas as partes,

tanto vermelha como branca. Na verdade,

numa lesão mista, o componente de cor vermelha demonstra mais comummente características

de displasia do que o componente branco.[9]

Normalmente a ocorrência de lesões múltiplas deste

tipo é rara, sendo que a lesão é normalmente solitária. Tal facto é muito útil para podermos

efectuar clinicamente o diagnóstico diferencial com o LPO, o lúpus eritematoso, a candidíase

eritematosa, uma vez que estas lesões são quase sempre bilaterais.[1]

Por vezes, a eritroplasia

Figura 14 – Mácula vermelha no pavimento da boca, sugerindo

eritroplasia. A biopsia revelou a presença de um carcinoma de células

escamosas.

Fonte: Neville et al, 2002.[53]

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poderá surgir associada com o LPO. Este tipo de lesões distingue-se clinicamente do LPO

atrófico, pois este último apresenta margens mal definidas e está localizado ao mesmo nível da

mucosa adjacente.[26]

No que diz respeito à aparência clínica podemos dividir a EO em três tipos: a homogénea,

a eritroplasia granular e a eritroleucoplasia. A eritroplasia granular é caracterizada por uma

superfície irregular e granular vermelha, interposta com focos brancos. Já a speckled leukoplakia

é caracterizada por numerosos focos de leucoplasia dispersos na lesão eritroplásica. A grande

diferença entre as duas é a textura, uma vez que, a granular apresenta-se irregular. A eritroplasia

é mole à palpação e não se torna endurecida até evoluir para carcinoma invasivo.[26]

CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS

Histologicamente, a eritroplasia mostra sempre algum grau de displasia epitelial e, por

vezes, CIS ou carcinoma invasivo (ver

FIGURAS 15 e 16).[1]

Em alguns

estudos com uma prevalência de 90% da

população estudada. Deste modo, a EO,

apesar de rara, é considerada a lesão

potencialmente maligna com maior

potencial de transformação maligna na

mucosa oral.[2,25]

De facto, é sabido que a

maioria das eritroplasias irá culminar em

cancro. Segundo alguns autores, embora a

malignização seja mais frequente nas eritroplasias, as leucoeritroplasias não deverão ser

negligenciadas, uma vez que, as manchas vermelhas nestas lesões apresentam-se

histologicamente similares à eritroplasia homogénea.[25]

TRANSFORMAÇÃO MALIGNA

Na TABELA X apresentam-se as taxas de transformação maligna, incluindo aquelas lesões

diagnosticadas como carcinoma invasivo logo na primeira biópsia, encontradas em vários

estudos, que variaram entre os 14 e os 50%.[26]

Figura 15 – Displasia severa. Figura 16 – Carcinoma in situ. Achados

histológicos comuns na EO.

Fonte: Warnakulasuriya et al, 2008.[30]

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Taxa de transformação maligna para a EO em lesões com displasia severa ou CIS

(Bouquot e Ephros, 1995)47

Autores País Amostras Taxa de transformação maligna (%)

Lumerman et al EUA 7 14,3

Bouqout et al EUA 32 15,6

Mincer et al EUA 16 18,8

Banoczy e Csiba Hungria 23 21,8

Vedtofte et al Dinamarca 14 35,7

Silverman et al EUA 22 36,0

Amagasa et al Japão 12 50,0

Total 126 26,3*

*É uma estimativa balanceada tendo em conta a dimensão da população estudada que era variável nos estudos.

TRATAMENTO E ACOMPANHAMENTO

Ao contrário do que acontece com as leucoplasias, a maioria das eritroplasias são sujeitas a

tratamento, não só devido ao seu potencial para malignizar, que é maior, como também devido

ao quadro sintomatológico que apresentam.[1]

Hosni et al num artigo de 2009 referem que a

presença de sintomatologia dolorosa foi vista em cerca de 61,5% dos pacientes que

apresentavam eritroplasias ou leucoeritroplasias.[25]

O tratamento recomendado para as lesões

orais que apresentam risco elevado de transformação maligna tem sido a excisão cirúrgica das

lesões com displasia epitelial severa e CIS e o acompanhamento através de visitas regulares das

lesões com displasia epitelial moderada ou leve. No entanto, mais uma vez, parece ser uma

prática segura, proceder à remoção cirúrgica destas lesões independentemente do grau de

displasia presente e a um controlo periódico regular, tal como nas leucoplasias.[26]

No que se refere à excisão cirúrgica das lesões, não existem orientações que nos indiquem

a profundidade a que a mesma deve ser realizada, nem as margens de segurança a respeitar.[1]

Os estudos que relatam as taxas de recorrência após tratamento são muito poucos, mas

estima-se que sejam altas. Amagasa et al, num estudo de 1985 encontraram uma recorrência para

a EO de 5 em cada 7 casos.[46]

Tabela X – Taxas de transformação maligna para a EO.

Fonte: Reichart P et al. 2005. (adaptado)[26]

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Queilite actínica

DEFINIÇÃO

É o termo clínico que se usa para descrever uma inflamação que surge na zona vermelha

dos lábios, inferior ou superior, e é causada pela exposição crónica excessiva à radiação solar

ultravioleta.[1,23,41]

É uma lesão que merece especial atenção, pois sabe-se que se insere no grupo de lesões

com potencialidade de transformação maligna. De facto, há autores que a consideram a

precursora do carcinoma de células escamosas do lábio inferior.[21]

Outros autores há que a

consideram uma forma superficial e incipiente de carcinoma escamoso do lábio.[14]

Importa notar

que, uma vez que este carcinoma se desenvolva, a invasão linfática é muito mais rápida do que

no caso de aparecer na pele. Segundo Amishi et al num estudo de 2010, o carcinoma de células

escamosas do lábio metastiza mais frequentemente do que os análogos da pele e da cavidade

oral, com uma percentagem de 11% para o carcinoma do lábio e de 1% para o da pele.[21]

Num

outro estudo de 2006, a taxa de metastização para o carcinoma do lábio variou entre 3% e 20%.

Apesar disto, o prognóstico deste cancro é melhor quando em comparação com os cancros intra-

orais.[22]

O diagnóstico de QA é baseado nos achados demográficos, clínicos e histológicos.[23]

GÉNERO, IDADE E RAÇA

O perfil típico de uma pessoa com elevado risco para a QA é o de um homem caucasiano,

de idade superior a 50 anos, que fuma e que tenha história de exposição crónica ao sol.[21,22,23,24]

Kaugars et al em 1999 encontraram uma média de idades de 61,8 anos.[24]

Estes mesmos

autores verificaram que os homens eram afectados mais frequentemente do que as mulheres

(81,3% vs 18,7%). Quase todos os pacientes estudados eram caucasianos (99,3%) e apenas um

dos pacientes era de raça negra.

A queilite actínica ocorre quase exclusivamente em pessoas com a pele clara que

trabalham longas horas ao ar livre, sujeitas à exposição solar crónica.[28,14,41]

É bastante mais comum em pessoas de idade mais avançada, devido ao facto de

apresentarem uma maior acúmulo de exposição solar.

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É, de acordo com a maioria dos autores, mais frequente no sexo masculino uma vez que as

mulheres apresentam um maior cuidado a nível da aparência, nomeadamente a nível do uso de

batom com factor protector e, além disso, não apresentam uma taxa tão elevada de actividades ao

ar livre2, sendo menos sujeitas à exposição solar crónica.

LOCALIZAÇÃO

No que diz respeito à localização, é mais comum no lábio inferior, pois trata-se de um

local directamente exposto ao sol. Além disso, o lábio tem uma barreira protectora menos

eficiente do que a pele, uma vez que, o epitélio é fino, não possuindo a camada de queratina

espessa que a pele possui; na população de pele mais clara apresenta menos melanócitos e menos

secreções provenientes das glândulas sudoríparas e sebáceas.[23,24]

OUTROS FACTORES ETIOLÓGICOS ALÉM DA RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA

Também o aparecimento da QA parece estar, pelo menos em parte, associado ao uso de

tabaco. Num estudo de Markopoulos et al de 2004, cerca de 50% da população estudada

apresentava lesões do lado direito do lábio inferior. Esses pacientes apresentavam história

relacionada ao uso de tabaco e referiram preferir usar o lado direito dos lábios para segurar os

seus cigarros. Tais resultados estão também de acordo com um estudo realizado por Kaugars et

al em 1999.[24]

2 Na bibliografia designadas de outdoor activities. É muito comum entre pescadores, por exemplo.

Figura 17 – Queilite actínica formando uma lesão na pele. Figura 18 – Queilite actínica do lábio. Notar que a perda de limites entre a

mucosa e a pele do lábio é notória neste caso.

Fonte: Neville et al, 2002.[53]

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CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

Clinicamente aparece com uma lesão heterogénea (ver FIGURAS 19, 20, 21). O lábio

encontra-se seco e enrugado, pode não apresentar áreas atróficas, eritema, erosões, ulcerações,

fissuras superficiais e regiões escamosas, com tendência a

formar uma crosta visível à superfície.[1,14]

Uma

particularidade importante é a perda de limites entre o

lábio e a pele. As características encontradas com mais

frequência são secura dos lábios, atrofia e lesões

escamosas. Num estudo de Markopoulos et al de 2004,

numa amostra de 65 pacientes, a QA apareceu em 19

como uma lesão branca não ulcerada, em 31 como uma

lesão ulcerada e em 15 pacientes como lesões mistas

(componente branco + componente ulcerado).[23]

As áreas

esbranquiçadas representam lesões hiperqueratóticas,

enquanto as lesões vermelhas ulceradas conferem a

queilite.

As lesões de QA são frequentemente

assintomáticas.[24,41]

Em lesões mais exuberantes, há

queixas de desconforto estético.[41]

A palpação é importante para se fazer o diagnóstico

clínico diferencial com o carcinoma escamoso.

A lesão tem uma evolução muito lenta e raramente é

detectada numa fase inicial, uma vez que, os pacientes

normalmente atribuem o seu aparecimento ao normal processo de envelhecimento e, deste modo,

negligenciam este achado até este atingir estadios mais avançados. Como acontece com outras

condições, a análise histológica é essencial para confirmar o diagnóstico.[14]

CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS

O espectro histológico é variável, desde uma simples hiperqueratose sem displasia, até

displasias nos seus vários graus. Mais grave é o surgimento de carcinoma escamoso oral que se

manifesta na histologia, por alterações basofílicas na lâmina própria.[1]

Segundo um estudo feito

Figuras 19, 20, 21 – Heterogeneidade clínica da QA.

Fonte: Michaell Huber, 2010.[4];

Savage NW et al, 2010.[7]

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por Cavalcante et al (2008), variadas alterações histológicas poderão ser encontradas em

pacientes com queilite actínica.[28]

Por ordem de frequência temos: displasia, elastose, infiltrado

inflamatório, vasodilatação, hiperplasia e/ou acantose, hiperparaqueratose, hiperortoqueratose,

atrofia epitelial, granulose, hipergranulose, paraqueratose, ortoqueratose.[23,24,28]

De notar que a

displasia epitelial foi encontrada em 100% dos casos. Num outro estudo efectuado por

Markopoulos et al (2004), resultados semelhantes foram encontrados.[23,28]

Os vasos na região

destas alterações estão, normalmente, dilatados. As alterações basofílicas do tecido conjuntivo

(elastose) são um achado constante na QA. Ocorrem devido à substituição do colagéneo por um

material amorfo e basofílico.

A verdade é que a elastose solar e a QA crónica vistas histologicamente na zona vermelha

do lábio, ocorrem adjacentes ao tumor na maioria dos casos, havendo uma forte evidência da

existência de uma relação entre estas duas condições.[22]

Num estudo de Marilda Abreu et al de

2006, verificou-se que a taxa de metastização de um carcinoma escamoso do lábio com QA

adjacente é consideravelmente melhor do que a taxa de metastização de uma mesma lesão que

não apresente QA associada (10,5% vs 62,5). Ora, mesmo quando a QA está ausente, se na

histologia observarmos a presença de elastose solar adjacente a um dado carcinoma, a

probabilidade de ocorrerem metástases será muito menor (25%). Daqui poderemos concluir que

a QA e a elastose solar estão, de facto, intimamente relacionadas e que a presença de QA no

tecido adjacente de um dado carcinoma escamoso do lábio poderá ser considerada um indicador

de um melhor prognóstico para essa lesão.[22]

Figura 22: Aspecto histológico da queilite actínica. Notar a

hiperortoqueratose e a atrofia epitelial e a impressionante elastose

solar abaixo do epitélio.

Fonte: Neville et al, 2002.[53]

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Num estudo de 1999 verificou-se que certos achados histológicos estariam relacionados

com a severidade do dano epitelial, aumentando o grau de displasia epitelial, sendo eles:

acantose, alterações basofílicas do tecido conjuntivo, alterações inflamatórias do tecido

conjuntivo, inflamação perivascular e espessura da camada de queratina.[24]

Deste modo, quando a gravidade destes achados histológicos aumentar, também aumentará

a gravidade das alterações epiteliais.

TRATAMENTO

Os sinais precoces do dano solar ao lábio inferior são subtis e as diferenças detectadas

clinicamente não estão necessariamente relacionadas com a quantidade de mudanças que

ocorreram a nível epitelial e do tecido conjuntivo.[4,23,24]

O clínico não deverá tomar a decisão de

tratar ou não a QA apenas com base no aspecto clínico da lesão. Para instituirmos um dado

tratamento para a QA, a biópsia é essencial.

Lesões que na histologia apresentem displasia epitelial leve não deverão ser tratadas

através da excisão cirúrgica, mas sim apenas sujeitas a monitorização periódica (instruir os

pacientes para a protecção dos lábios contra o dano solar). Deverão ser instituídas medidas

preventivas tais como: evitar a exposição solar, proteger os lábios, bem como toda a face, nas

horas de maior calor. À semelhança do que ocorre com outras lesões, caso as alterações

histológicas da lesão sejam preocupantes, estas deverão ser removidas. Cerca de metade dos

pacientes com lesões maiores que 10mm de diâmetro apresentam já carcinoma do lábio. A

maioria dos autores concorda que a QA deverá ser tratada o mais brevemente possível, após o

diagnóstico.

Existem numerosas modalidades de tratamento com o objectivo de remover o epitélio

alterado destas lesões. (ver TABELA XI).[21]

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Modalidades de tratamento

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Tabela XI – Tratamentos disponíveis para a QA

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Mais recentemente alguns autores dedicaram-se a estudar o efeito do diclofenac (3%) num

gel de ácido hialurónico a 2,5% na remissão da QA. Este tratamento apresenta como vantagens

ser pouco invasivo e apresentar poucos efeitos adversos. Neste estudo feito com 27 indivíduos,

12 apresentaram remissão completa das lesões enquanto que 15 apresentaram remissão

parcial.[40]

ACOMPANHAMENTO

Após o tratamento, estes doentes deverão ser inseridos num regime de consultas

periódicas, de modo a detectar evidências de recorrência da lesão e a evitar a sua progressão

maligna. A motivação dos pacientes deverá fazer parte da rotina das consultas de controlo e o

incentivo para o uso de protector solar na zona é importante.

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Líquen plano oral

DEFINIÇÃO

O líquen plano é uma doença inflamatória crónica relativamente comum, que afecta a

população adulta. É caracterizado por ter potencial de recorrência, causar um ligeiro prurido, ser

não contagioso e atingir a pele e as mucosas.[4]

PREVALÊNCIA

Segundo Abbate et al (2006), a incidência na população geral é de, aproximadamente, 1%.

Já Michaell Huber (2010) refere uma prevalência de 1 a 2%.[4]

LOCALIZAÇÃO

Na mucosa oral surge mais frequentemente

na mucosa jugal, na zona dos molares, e na

língua e menos frequentemente na mucosa labial

e nas gengivas (se for erosivo confunde-se com

gengivite descamativa, ver FIGURA 23). É raro

no palato e no pavimento da boca.[18]

GÉNERO E IDADE

Pode ser encontrado em ambas as raças e em ambos os sexos com uma predominância,

segundo alguns autores, no sexo feminino entre a 3ª e a 6ª décadas de vida.[4,18]

Figura 23 – Líquen erosivo mimetizando gengivite descamativa.

Fonte: Neville et al, 2002.[53]

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ETIOLOGIA

A etiopatogenia do LPO é apenas parcialmente compreendida. Deriva de um processo

auto-imune mediado por um complexo de células T, embora não se saiba qual o mecanismo que

despoleta este fenómeno que leva à apoptose de células orais epiteliais.

Pensa-se que possa estar também associado a alguns vírus tais como: HPV 16, HPV 18,

EBV, HHV-6 e HCV.

Casos relatados existem que relacionam o aparecimento do líquen com a utilização de

certos medicamentos, materiais restauradores como o amálgama e ainda, certos alimentos.

Nestes casos denominamos a lesão como reacção liquenóide.[4,18]

O diagnóstico do LP deve ser baseado nas suas características clínicas e histológicas.

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

A nível clínico, a característica mais comumente aceite para o LPO é a presença de estrias

em forma de padrão reticulado de cor branca e/ou pápulas brancas que permitem distinguir,

normalmente, estas lesões de outras que partilhem características semelhantes. Uma outra

característica clínica é a bilateralidade da lesão que permite fazer o diagnóstico diferencial com

reacções liquenóides, visto que, a nível histológico as lesões são similares.[13]

Ainda clinicamente

podemos fazer a distinção dos vários tipos de LPO:

Reticular – é sem dúvida a forma mais comum que se caracteriza por pápulas pequenas e

isoladas que, por vezes podem confluir ou ainda um padrão de linhas brancas que toma o nome

de estrias de Wickham.

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Erosivo ou ulcerado – caracteriza-se por lesões dolorosas que podem atingir vários

tamanhos.

Atrófico – é o menos comum, por vezes confunde-se com o anterior, caracterizando-se por

lesões avermelhadas de superfície irregular e com margens pouco definidas.

Hipertrófico – placas brancas que se confundem com leucoplasia.

Bulhoso – muito raro, mimetiza pênfigóide.

O LPO é quase sempre assintomático. No entanto, no caso do erosivo, pode haver uma

ligeira ardência ou mesmo sensação dolorosa ou irritação quando ocorrer contacto com certos

alimentos.[4,18]

Figuras 24, 25 – Líquen plano reticulado.

Fonte: Neville et al, 2002.[53]; Michaell Huber, 2010.

[4]

Figuras 26, 27 – Líquen plano erosivo[53]

Fonte: Neville et al, 2002.[53]

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CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS

O LPO é caracterizado por edema e por um denso infiltrado linfocítico, localizado na zona

das papilas dérmicas. Ao longo destas papilas poderão ser encontrados corpos hialinos PAS

positivos (Corpos de Civatte) que

contêm imunoglobulinas, primariamente

IgM, evidentes na imunofluorescência

directa e queratinócitos em

degeneração.[18]

As características histológicas do

LPO incluem alterações epiteliais tais

como: hiperqueratose, atrofia ou

hiperplasia, acantose, cristas

interpapilares com forma de dentes de

serra, degeneração vacuolar da camada

basal, acantólise das células basais, perda de hemidesmossomas responsáveis pela adesão de

células basais. Uma zona homogénea sem células está frequentemente presente nas proximidades

da membrana basal. O tecido conjuntivo subepitelial mostra um infiltrado em banda dominado

por linfócitos e macrófagos (ver FIGURA 28).[13]

Garcia de Sousa et al (2009) dedicaram-se a estudar as semelhanças histológicas existentes

entre o LPO e o carcinoma de células escamosas, uma vez que, sendo entidades clínicas tão

diferentes, somente na histologia poderiam demonstrar alguma semelhança.[42]

O estudo revelou

que alterações celulares, como a proporção núcleo/citoplasma aumentada, distribuição irregular

da cromatina, espessura diminuída da membrana nuclear, perda da adesão celular, aumento do

tamanho e do número dos nucléolos, mais do que um núcleo são características que poderão ser

encontradas tanto no LPO como no carcinoma. Tal poderá dever-se ao facto de as características

inflamatórias presentes no líquen serem similares às encontradas nas doenças malignas. Estas

características deverão ser avaliadas com muito cuidado, pois existe evidência de que a

inflamação crónica presente no LPO poderá criar condições capazes de afectar a semi-vida

celular, o crescimento, proliferação e a diferenciação celulares o que estará relacionado com a

progressão maligna.[42]

Não é, por isso incomum, que alguns patologistas confundam

histologicamente o líquen com a displasia epitelial quando a inflamação é intensa. As alterações

celulares que ocorrem no processo inflamatório típico do líquen plano, também poderão ser

Figura 28 – Aspecto histológico do LPO (pequeno aumento). Notar o

infiltrado inflamatório linfocítico logo abaixo da membrana basal (setas).

Fonte: Neville et al, 2002.[53]

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confundidas com o carcinoma epidermóide. Como esta situação, infelizmente, não é rara, a OMS

definiu, recentemente, outra condição

denominada displasia liquenóide. Esta condição é similar ao LPO. No entanto mostra variados

graus de displasia epitelial e, por conseguinte, maior potencial em progredir para malignidade.

Outras condições poderão apresentar

também, características histológicas

similares ao líquen: reacção liquenóide,

lúpus eritematoso, leucoplasia,

eritroleucoplasia e a leucoplasia verrugosa

proliferativa.[42]

No entanto, o mesmo autor

sugeriu que as mitoses atípicas e

diferenciação celular anormal estão

inerentes ao carcinoma epidermóide e que o

policromatismo nuclear bem como o

pleomorfismo celular são vistos, mais

frequentemente, no cancro do que no LPO.

Estas diferenças poderão ajudar a separar

LPO de outras doenças displásicas que são potencialmente malignas. Os autores concluíram

então que as alterações encontradas no LPO diferem consideravelmente daquelas encontradas no

carcinoma epidermóide, indo de encontro ao facto de que estas duas condições são diferentes.[42]

TRANSFORMAÇÃO MALIGNA

Apesar de ser uma doença bastante comum, o potencial de transformação maligna do LPO

tem sido alvo de grande controvérsia.[42]

Vários autores dedicaram-se a estudar a capacidade do

LPO evoluir para malignidade (ver TABELA XIII). Esses estudos sugeriram que uma dada lesão

originalmente diagnosticada como LPO tem entre 0,65% e 6,51% de hipóteses de se tornar

maligna num dado período de tempo. Foi baseando-se nestas pesquisas que a OMS a incluiu no

grupo das LPM’s.[42]

No entanto, outros autores há que não concordam com esta classificação,

uma vez que, tal taxa de transformação maligna ainda não se encontra correctamente

documentada. Para estes autores faltam tanto critérios clínicos como histológicos que auxiliem

no diagnóstico preciso do líquen plano.[42]

Critérios histológicos para o diagnóstico do LPO

Achados essenciais

Liquefacção da camada basal

Infiltrado linfocítico intenso nas camadas abaixo do epitélio

Maturação normal das células epiteliais

Outros achados (não essenciais)

Cristas interpapilares em forma de “dentes de serra”

Hiperparaqueratose

Corpos de Civatte

Separação do epitélio da lâmina própria

Critérios de exclusão

Células com núcleos grandes e hipercromáticos

Presença de disqueratose

Número aumentado de mitoses e mitoses atípicas

Projecção de cones epiteliais

Ausência de liquefacção da camada basal

Perda de estratificação epitelial

Infiltrado inflamatório heterogéneo

Extensão do infiltrado para as camadas mais profundas

Infiltrado perivascular

Tabela XII – Características histológicas utilizadas no diagnóstico do LPO.

Fonte: Cervantes Garcia de Sousa FA, 2009.(adaptado)[42]

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Na literatura a taxa de transformação maligna para o LP varia entre 0 e 9%. Aparentemente

este fenómeno poderá ocorrer em qualquer um dos tipos de líquen.[4,17]

Van der Meij et al (2007) num estudo feito com 192 indivíduos verificaram que, apenas 4

indivíduos do grupo relativo às reacções liquenóides sofreram transformação maligna, enquanto

o grupo correspondente ao LPO não experimentou nenhum caso de progressão para a

malignidade.[12]

Este grupo defende que as reacções liquenóides orais deveriam se consideradas

lesões precursoras.

Autores Ano País Nº de

pacientes com

LPO

Nº de pacientes que

desenvolveram cancro

Taxa de

transformação

maligna (%)

Shklar 1972 EUA 600 3 0,5

Fulling 1973 Dinamarca 225 1 0,4

Kovesi and

Banoczy

1973 Hungria 274 1 0,4

Silverman et al 1985 EUA 570 7 1,2

Murti el al 1986 Índia 702 3 0,4

Holmstrump et al 1988 Dinamarca 611 9 1,5

Salem 1989 Arábia

Sáudita

72 4 5,6

Siverman et al 1991 EUA 214 5 2,3

Sigurgeirsson and

and Lindelof

1991 Suécia 2071 8 0,4

Voûte et al 1992 Holanda 113 3 2,7

Barnard et al 1993 Reino

Unido

241 8 3,3

Moncarz et al 1993 Israel 280 6 2,1

Gosky et al 1996 Israel 157 2 1,3

Markopoulos et al 1997 Grécia 326 4 1,3

Silverman et and

Bahl

1997 EUA 95 3 3,2

Lo Muzio et al 1998 Itália 263 13 4,9

Ragentheran et al 1999 Reino

Unido

832 7 0,8

Mignona et al 2001 Itália 502 18 3,6

Chainani-Wu et al 2001 EUA 229 4 1,7

Eisen 2002 EUA 723 6 08

Lanfranchi et al 2003 Argentina 719 32 4,5

Van der Meij et al 2003 Holanda 173 3 1,7

Rodstrom et al 2004 Suécia 1028 5 0,5

Xue et al 2005 China 674 4 0,6

Laeijendecker et al 2005 Holanda 200 3 1,5

Bornstein et al 2006 Suiça 145 4 2,8

Tabela XII – Taxas de transformação maligna para o LP oral descritas por vários autores.

Fonte: van der Meij et al, 2007. (adaptado).[12]

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TRATAMENTO

Segundo Michaell Huber (2010), as estratégias delineadas no que diz respeito ao

tratamento do LPO têm os seguintes objectivos: limitar a progressão da doença, reduzir as

exacerbações e promover o alívio dos sintomas.[4,]

Os pacientes deverão ser motivados para a higiene oral regular que é essencial para reduzir

a carga inflamatória, bem como para prevenir possíveis exacerbações.[4,]

No ESQUEMA C estão representados os tratamentos aconselhados para o LPO reticulado

e erosivo, os mais comuns, e ainda outros tratamentos que estão disponíveis para esta doença.

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Esquema C – Tratamentos disponíveis para o LPO.

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ACOMPANHAMENTO

Pacientes com diagnóstico clínico e histológico de LPO apresentam um risco aumentado

para o desenvolvimento de cancro oral. Apesar disto, a incidência de ocorrência de cancro é

extremamente baixa e variável com os vários autores. Ainda não foi demonstrado que

acompanhamento intensivo destes pacientes, de modo a interceptar precocemente a lesão

maligna, conduz a uma redução significativa da morbilidade e da mortalidade, melhorando o

prognóstico. Consequentemente, na prática não será justificado o acompanhamento contínuo

destes mesmos pacientes. Tal deve-se o facto de que, as características clínicas e histológicas do

líquen não permitem estabelecer qualquer tipo de correlação com malignidade. Não existem

possibilidades eficazes de prevenir a transformação maligna do LPO.[17]

Ainda assim, e apesar de não haver muito consenso em relação ao acompanhamento que

deverá ser instituído nestes doentes, vários autores delegam alguns intervalos para o mesmo:

Segundo Van der Meij et al (2007) deverão ser consideradas consultas de controlo para os

pacientes com LPO, pelo menos três vezes por ano.[12]

Num outro estudo de Abbate et al (2006)

é defendido que estas consultas deverão ser feitas de 3 em 3 meses após o primeiro

diagnóstico.[18]

É importante, no entanto, que cada profissional de saúde oral seja instruído a detectar

precocemente qualquer sinal de cancro oral para assegurar que estas lesões são identificadas

quando os pacientes são observados rotineiramente. O paciente terá de ser também instruído para

divulgar alterações clínicas visíveis na condição.

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V - Conclusões

O cancro oral assume, hoje em dia, um lugar importante, com preocupantes taxas de

mortalidade e morbilidade.

A chave para que se consiga um melhor prognóstico para este tipo de lesões é, sem

dúvida, o diagnóstico precoce.

É aceite que o desenvolvimento do cancro oral é precedido por lesões precursoras

identificáveis, mas sem capacidade invasiva. Muitos autores referem-se a este fenómeno como o

processo de duas fases (“two-step”) ou multifásico (“multi-step”) para o desenvolvimento do

cancro.

O conhecimento das particularidades das lesões precursoras orais contribuirá certamente

para alcançar essa meta.

O MD desempenha um papel fundamental no reconhecimento dessas lesões e deverá

possuir os conhecimentos mínimos, para que não as negligencie, pois estará assim, também, a

negligenciar a saúde do doente que vai à consulta, e tendo em conta as consequências danosas

que daí poderão advir.

É um facto aceite que o diagnóstico definitivo destas lesões só é feito após a biópsia das

mesmas. No entanto, o MD através de um exame clínico minucioso da lesão poderá interceptá-la

e activar todas as outras entidades que deverão intervir, de modo a proporcionar ao doente o

melhor cuidado e um tratamento e acompanhamento adequados.

Mesmo quando, após a biópsia, se verifica que uma dada lesão, que clinicamente foi

diagnosticada como sendo uma leucoplasia, não apresenta características displásicas, esta lesão

deverá ser seguida pois a transformação maligna poderá, ainda assim, ocorrer.

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Não existe um tempo definido para a ocorrência de transformação maligna numa dada

lesão pré-maligna oral. Portanto, não existem períodos cientificamente estabelecidos durante os

quais uma dada lesão pré-maligna deva ser seguida. Por isso, é essencial levar a cabo um

acompanhamento a longo prazo nestes doentes.

Além disso, quando se aplica um determinado tratamento, e mesmo quando se verifica

remissão total da lesão após a implementação desse mesmo tratamento, não há garantias de que a

mesma não recidive. Este facto reforça também a necessidade de um acompanhamento longo.

No caso do LPO, não existem factos que justifiquem um acompanhamento contínuo

destes pacientes, uma vez que, tanto as características histológicas da lesão como as clínicas, não

nos permitem prever ou não a sua evolução para cancro.

É da responsabilidade do MD organizar e agendar as consultas de controlo dos doentes e

motivá-los para uma presença assídua às mesmas, reforçando a sua necessidade e importância.

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VI - Index Medicus

Acta Otorrinolaring Esp – Acta otorhinolaryngologica Espanica

Acta Otorhinolaryngol Ital - Acta otorhinolaryngologica Italica

Australian Dental Journal

Brazilian Journal of Otorhinolaryngology

CA Cancer J Clin – CA: A Cancer Journal for Clinicians

Clinics

Clinics in Dermatology

Comm Dent Oral Epidemiol – Community Dentistry and Oral Epidemiology

Critical Reviews in Oral Biology & Medicine

Int. J. Cancer - International Journal of Cancer

International Journal of Dermatology

Int. J. Oral Maxillofac. Surg. - International Journal of Oral and Maxillofacial Surgery

J Maxillofac Surg - Journal of Maxillofacial Surgery

J Appl Oral Sci – Journal of Applied Dental Science

Journal of Dental Education

J Oral Pathol Med - Journal of Oral Pathology & Medicine

J Can Dent Assoc - Journal of the Canadian Dental Association

Med Oral Patol Oral Cir Bucal – Medicina Oral Patología Oral Y Cirurgía Bucal

Oral Diseases

Oral Oncology

Oral Surgery Oral Medicine Oral Pathology

Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod - Oral Surgery, Oral Medicine, Oral

Pathology, Oral Radiology & Endodontics

Pract Periodontics Aesthet Dent -

Scand J Dent Res - Scandinavian Journal of Dental Research

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VII - Referências bibliográficas

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surgery in patients with oral leukoplakia: a 25 year follow up. Oral Oncology. (2005) 41,

31–37;

36. Thomson PJ, Wylie J. Interventional laser surgery: an effective surgical and diagnostic

tool in oral precancer managemen., Int. J. Oral Maxillofac. Surg. 2002; 31: 145–153;

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- 60 -

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37. Ishii J, Fujita K, Komori T. Laser surgery as a treatment for oral leukoplakia. Oral

Oncology. (2003) 39 759–769;

38. Reibel J. Prognosis of oral pre-malignant lesions: significance of clinical, histopathological

and molecular biological characateristics. Crit Rev Oral Biol Med. 14(1):47-62 (2003);

39. Lodi G, Sardella A, Bez C, Demarosi F, Carrassi A. Systematic Review of Randomized

Trials for the Treatment of Oral Leukoplakia. Journal of Dental Education. Volume 66, No.

8;

40. Lima GS, Silva GF, Gomes APN, Araújo LMA, Salum FG. Diclofenac in hyaluronic acid

gel: an alternative treatment for actinic cheilitis. J Appl Oral Sci. 2010;18(5):533-7;

41. Ribeiro AS, Salles PR, Silva TA, Mesquita RA. A Review of the Nonsurgical Treatment of

Oral Leukoplakia. Hindawi Publishing Corporation International Journal of Dentistry.

Volume 2010, Article ID 186018, 10 pages;

42. Garcia de Sousa FAC, Paradella TC, Brandão AAH, Rosa LEB. Comparative study of cell

alterations in oral lichen planus and epidermoid carcinoma of the mouth mucosa. Braz J

Otorhinolaryngol. 2009;75(2):245-8;

43. van der Waal I, Axéll T. Oral leukoplakia: a proposal for uniform reporting. Oral

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44. Axell T. Occurrence of leukoplakia and some other oral white lesions among 20333 adult

Swedish people. Comm Dent Oral Epidemiol. 1987; 15: 46–51;

45. Amagasa T, Yokoo E, Sato K, Tanaka N, Shioda S, Takagi M. A study of the clinical

characteristics and treatment of oral carcinoma in situ. Oral Surg Oral Med Oral Pathol.

1985; 60:50–5.

46. Bouquot JE, Ephros H. Erythroplakia: the dangerous red mucosa. Pract Periodontics

Aesthet Dent. 1995;7:59–67.

47. Bouquot JE, Weiland LH, Kurland LT. Leukoplakia and carcinoma in situ synchronously

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Oral Surg Oral Med Oral Pathol. 1988 Feb;65(2):199-207;

48. Schepman K, van der Meij E, Smeele L, van der Waal I. Concomitant leukoplakia in

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50. Bánóczy J. Follow-up studies in oral leukoplakia, J Maxillofac Surg. 1977 Feb;5(1):69-75;

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51. Schepman KP, van der Meij EH, Smeele LE, van der Waal I. Malignant transformation of

oral leukoplakia: a follow-up study of a hospital-based population of 166 patients with oral

leukoplakia from The Netherlands, Oral Oncology. 1998 Jul;34(4):270-5;

52. Lind PO. Malignant transformation in oral leukoplakia. Scand J Dent Res. 1987

Dec;95(6):449-55;

53. Neville et al. Oral and Maxillofacial Pathology. Second Edition. 2002. Sauders Company.

pp. 189-197; 337-346; 353-354; 680-685;

54. Crispian Scully. Oral and Maxillofacial Medicine. 2004. Elsevier. pp. 252-268; 287-302.

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VIII – Anexos

Anexo 1 – Artigos de investigação utilizados na realização deste trabalho

Autor Ano

Dimensão

da

amostra

População

estudada Objectivos Conclusões

Shue-Sang

Hue et al[3]

2007 1458 Tailandesa

Determinar a taxa e o

tempo de transformação

maligna num grupo de

doentes com lesões orais

pré-malignas

Verificou-se que os doentes

com lesões orais pré-malignas

necessitam de acompanhamento

a longo prazo

Jang-Jaer

Lee[5]

2006 1046 Tailandesa

Determinar a prevalência

de carcinoma e displasia

em leucoplasias na altura

do diagnóstico clínico e

identificar os factores de

risco associados na

população em causa

Verificou-se que certas

leucoplasias apresentam-se

histologicamente, com

características de malignidade

logo na altura do primeiro

diagnóstico (12,9%)

Lesões com determinadas

características são mais

propensas à transformação

maligna, no entanto, nenhuma

característica clínica está

associada em 100% dos casos a

malignidade. Todas as

leucoplasias deverão ser sujeitas

a análise histológica antes da

implementação de qualquer

tratamento ou

acompanhamento.

Rocío

Vázquez-

Álvarez et

al[6]

2010 54 Espanhola

Estabelecer a correlação

entre o diagnóstico

clínico e histológico da

leucoplasia oral, com

ênfase na displasia

epitelial

Verificou-se que o local mais

comum para o aparecimento de

lesões com displasias graves ou

mesmo carcinoma invasivo foi

a superfície lateral da língua, o

pavimento da boca e as

gengivas. Um grau de displasia

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avançado deverá ser alvo de

suspeita nas leucoplasias não

homogéneas. É importante

acompanhar as lesões que

histologicamente não

apresentem características de

displasia epitelial.

Holmstrup P

et al[8]

2006 269 Dinamarquesa

Conhecer a evolução de

leucoplasias e

eritroplasias, com e sem

tratamento, e relacionar

as taxas de transformação

maligna obtidas com

supostos factores de risco

(tipo clínico, tamanho,

localização, presença de

displasia epitelial, tabaco.

Verificou-se que a cirurgia não

previne a transformação

maligna posterior das lesões.

Foi possível correlacionar o tipo

clínico da lesão, bem como o

tamanho da lesão, com a

progressão para malignidade.

Neste estudo as outras variáveis

mostraram-se insignificantes.

Verificou-se ainda que a

presença de displasia oral não

está directamente relacionada

com a transformação maligna e

que lesões que histologicamente

não mostraram características

displásicas evoluíram para

malignidade durante o

acompanhamento.

Van der Meij

EH et al[12]

2006 192 Holandesa

Determinar o possível

carácter maligno do

líquen plano oral.

Verificou-se que a

transformação maligna apenas

ocorreu em doentes com

reacções liquenóides e que não

houve progressão para cancro

em nenhum dos doentes com

líquen plano oral.

Karine

Piñera-

Marques et

al[14]

2010 125 Brasileira

Fazer a análise clínica,

histológica e citológica

de lesões localizadas no

lábio inferior de um

grupo de pescadores

relacionadas com a

exposição solar crónica.

Verificou-se que a análise

citológica não é útil para

detectar displasia epitelial ou

alterações malignas.

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Haya

Fernández

MC et al[19]

2001 112 Espanhola

Estudar a associação de

lesões pré-malignas,

nomeadamente

leucoplasia e líquen

plano oral, em 112

pacientes com carcinoma

oral de células

escamosas.

Dos pacientes estudados 27

(24,10%) apresentavam lesões

pré-malignas associadas com o

cancro oral. estas lesões

apresentavam maior predilecção

pelo sexo feminino e menor

associação com tabaco e álcool.

Além disso, o tumor associado

com estas lesões manifestava-se

menos agressivo.

Martínez A et

al[20]

2005 26 Chilena

Verificar a presença de

certas proteínas celulares

reguladoras da

proliferação na queilite

actínica e comparar a sua

quantidade com as que se

encontram presentes na

mucosa labial normal.

Observou-se que as células com

alterações no ADN são

eliminadas na queilite actínica,

uma vez que, nesta condição, há

uma sobrexpressão das

proteínas responsáveis por essa

regulação.

Milanez

Morgado de

Abreu MA et

al[22]

2006 31 Brasileira

Estabelecer uma relação

entre a presença de

queilite actínica e o

prognóstico do carcinoma

escamoso do lábio.

Concluiu-se que tumores

associados com a queilite

actínica apresentam melhor

prognóstico.

Markopoulos

A et al[23]

2004 64 Grega

Avaliar as apresentações

clínica e histológica da

queilite actínica.

A nível clínico a queilite

actínica apresenta-se bastante

variável. A nível histológico

poderão ocorrer uma variedade

de alterações entre as quais

poderemos destacar a displasia

epitelial e a inflamação

perivascular. Uma elevada

percentagem de lesões evolui

para malignidade.

Kaugars GE

et al[24]

1999 152 Americana

Determinar se alguma

das características

clínicas ou histológicas

da queilite actínica está

associada com a

severidade da displasia

A presença de qualquer uma das

características presentes na

queilite actínica deverá levar a

uma avaliação minuciosa da

lesão na procura de displasia

epitelial ou carcinoma.

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epitelial.

Elaini Sickert

Hosni et al[25]

2009 13 Brasileira

Investigar as

características

clinicopatológicas da

eritroplasia e da

eritroleucoplasia.

Verificou-se que apesar da

baixa prevalência devemos

incluir as eritroplasias

homogéneas e as

eritroleucoplasias no grupo das

lesões que apresentam maior

risco de transformação maligna.

Qin GZ et

al[27]

1999 24 Americana

Comparar a prevalência

de mutações da p53 na

eritroplasia com a

prevalência dessas

mesmas mutações na

leucoplasia (este último

já havia sido avaliado

num estuda anterior).

Verificou-se que mutações no

gene da p53 poderão estar

relacionadas, pelo menos em

parte, com o elevado potencial

de transformação maligna das

eritroplasias.

Van der Hem

PS et al[35]

2004 282 Holandesa

Determinar a eficácia do

laser de CO2 no

tratamento da leucoplasia

oral.

Tendo em conta as baixas taxas

de recorrência, verificou-se que

o laser de CO2 é um tratamento

eficaz para a leucoplasia oral.

Thomson PJ

et al[36]

2002 57 Inglesa

Verificar a eficácia da

utilização precoce do

laser no tratamento de

lesões pré-malignas.

Foi verificada a eficácia deste

tratamento e as taxas de sucesso

foram elevadas. No entanto, não

se deve descuidar o

acompanhamento regular destes

doentes.

Ishii J et al[37]

2003 Japonesa

Verificar a eficácia da

utilização do laser no

tratamento da leucoplasia

oral e observar as taxas

de recorrência, estudando

os mecanismos

subjacentes ao seu

aparecimento.

Verificou-se que a taxa de

recorrência após tratamento

com laser foi de 29,3% e a

transformação maligna esteve

presente em 1,2% dos casos. A

utilização do laser é favorável

para o tratamento da leucoplasia

oral.

Lima GS et

al[40]

2009 34 Brasileira

Avaliar o efeito de 3% de

diclofenac num gel com

2,5% de ácido

hialurónico.

Verificou-se que a utilização

deste componente no tratamento

da queilite actínica é

promissora. Tem a vantagem de

ser não invasivo e apresentar

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poucos efeitos adversos.

Cervantes

Garcia de

Sousa FA et

al[42]

2009 Brasileira

Analisar e comparar as

alterações a nível das

células epiteliais

encontradas tanto no

líquen plano oral como

no carcinoma de células

escamosas oral

As alterações encontradas

diferem significativamente.

Aqui podemos verificar quão

distintas são estas duas lesões.

Schepman K

et al[48]

1999 100 Holandesa

Determinar a presença de

leucoplasia concomitante

em doentes com

carcinoma oral de células

escamosas. Avaliar as

diferenças clínicas e

histológicas entre os

carcinomas com e sem

leucoplasia associada.

Quase 50% dos carcinomas

escamosos orais estão

associados ou são precedidos

pela leucoplasia oral.

Scheifele C et

al[49]

1998 101 Alemã

Avaliar a prevalência de

leucoplasia em doentes

com diagnóstico

histológico de carcinoma

invasivo.

Verificou-se que a prevalência

de leucoplasia em doentes com

carcinoma invasivo é

relativamente baixa e não está

relacionada com o prognóstico

do tumor.

Bánóczy J[50]

1977 670

Levar a cabo um

acompanhamento longo

em doentes com

leucoplasia oral de modo

a verificar as taxas de

transformação maligna

dessas lesões.

Verificou-se que das lesões que

apresentavam características

displásicas, 13% evoluíram para

cancro. O bordo lateral da

língua foi o local de risco, no

qual as lesões apresentavam

mais características de displasia

e evolução para carcinoma. As

leucoeritroplasias foram as

lesões que apresentaram maior

risco de transformação maligna.

Schepman KP

et al[51]

1998 166 Alemã

Verificar as taxas de

transformação maligna

para a leucoplasia oral.

Na população estudada

verificou-se que a taxa anual de

transformação maligna foi de

2,9%. Nenhum local da

cavidade oral foi considerado

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como tendo maior risco do que

outros.

Lind PO[52]

1987 157 Norueguesa

Observar a incidência de

transformação maligna na

leucoplasia oral.

Verificou-se que incidência de

transformação maligna

aumentou com o aumento do

tempo de acompanhamento.

Verificou-se que as

características displásicas foram

encontradas mais

frequentemente nas mulheres do

que nos homens.

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Anexo 2 – Tratamentos utilizados no tratamento da LO

1 - Tratamento cirúrgico

A)Vaporização com laser de CO2

Van der Hem et al, num estudo de 2004, estudaram um grupo de 200 pacientes e de 282

leucoplasias desde 1976 até 2001, encontrando os seguintes resultados: num período de

seguimento que variou entre 1 e 219 meses, 251 (89%) das leucoplasias tratadas não mostraram

qualquer tipo de recorrência; 28 (9,9%) recorrências locais foram observadas passados 5 a 168

meses após o tratamento; 3 (1,1%) carcinomas escamosos surgiram nas áreas tratadas

respectivamente, 7, 17 e 19 meses após o tratamento. Este estudo, com um período de

seguimento bastante alargado, mostrou que o tratamento com laser de CO2 é um tratamento

profiláctico favorável para a LO.[35]

Num estudo de Thomson et al (2002) foi avaliada uma

amostra de 55 pacientes sujeitos ao tratamento, 24% dos quais apresentaram recorrências ou

lesões displásicas ou malignas novas durante o período de acompanhamento (1-44 meses).

Segundo estes mesmos autores, o achado mais interessante do estudo foi, sem dúvida, o facto de

não ser possível prever ou identificar, tanto clínica com histologicamente, qual ou quais as lesões

que iriam recorrer ou progredir para malignidade.[36]

Com este método a dissecção tecidular é

rápida e precisa, os tecidos moles podem ser removidos com o mínimo dano térmico ao tecido

adjacente, o que resulta num pós-operatório com pouco edema e dor e, além disso, a cicatriz é

mínima o que permite reconhecer sem dificuldade um carcinoma escamoso que surja.[35,36]

A

aceitação por parte do paciente é excelente.[36]

B) Crioterapia

C) Excisão cirúrgica

As duas últimas modalidades de tratamento causam contracção tecidular, deixando cicatriz,

o que poderá mascarar sinais precoces de recorrência.[35]

No geral, com a excisão, a criocirurgia e o tratamento com laser de CO2 boas taxas de cura

poderão ser obtidas.[35]

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2 - Tratamento não cirúrgico

Esta modalidade de tratamento poderá oferecer aos pacientes mínimos efeitos adversos,

especialmente aos pacientes com LO disseminadas que envolvem uma ampla área de mucosa

oral ou em pacientes com problemas médicos e, consequentemente, de elevado risco cirúrgico.

Outras vantagens incluem a fácil aplicação e a relativa economia.[41]

Na tabela seguinte

apresentamos as características principais das substâncias mais utilizadas no tratamento não

cirúrgico.

Substâncias utilizadas no tratamento não cirúrgico

1 – Carotenóides

a) Beta-caroteno Os efeitos protectores contra o cancro derivam

da acção anti-oxidante. Não há consenso em

relação ao facto de apresentarem ou não efeitos

adversos. No entanto há autores que relataram

cefaleias e dores musculares em alguns doentes.

b) Licopeno Os efeitos protectores contra o cancro derivam

da acção anti-oxidante. Tem também a

capacidade de modificar as junções intercelulares

o que é considerado um mecanismo anti-cancro.

Não existe relato de efeitos adversos causados

por esta substância.

2 – Vitaminas

a) Ácido L-ascórbico

(Vitamina C)

Tem propriedades anti-oxidantes e reage com o

superóxido produzido como resultado do

metabolismo normal das células. Esta

inactivação do superóxido inibe a formação de

nitrosamidas durante a digestão proteica e ajuda

a impedir o dano ao ADN e às proteínas

celulares. A toxicidade deste componente não se

manifesta desde que as vitaminas são solúveis

em água.

b) Alfa-tacofenol (Vitamina

E)

É um anti-oxidante efectivo para altos níveis de

oxigénio, protegendo as membranas celulares.

Não estão relatados efeitos secundários.

c) Ácido retinóico

(Vitamina A)

Estão relatados os seguintes efeitos secundários:

hipervitaminose, toxicidade, efeitos

teratogénicos e alterações em vários sistemas

orgânicos.

d) Fenretinide Inibe o crescimento celular através da inibição da

apoptose. É menos tóxico do que muitos outros

análogos da vitamina A.

3 – Bleomicina Aplicada topicamente para o tratamento da LO é

usada com doses de 0,5%/dia durante 12 a 15

dias ou de 1%/dia durante 14 dias. Os efeitos

adversos conhecidos são: estomatite, alopecia,

eritema prurítico e vesículas na pele.

4 – Terapia fotodinâmica Consiste numa reacção fotoquímica não térmica

que requer a presença simultânea de uma droga

fotossensível, de O2 e de luz visível. O agente

fotossensível é portador de uma baixa toxicidade

sistémica.

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1 – Carotenóides

a) De acordo com Liede et al uma dieta rica em beta-caroteno (cenouras e outros vegetais)

poderá prevenir alterações da mucosa oral, especialmente em pacientes fumadores, que

apresentam níveis séricos mais baixos de beta-caroteno e vitamina C, quando

comparados com não-fumadores. Além disso, tem-se demonstrado que os resultados

desta terapêutica são melhores quando aplicada a pacientes fumadores. Garewal et al

(1999) numa avaliação feita a 50 pacientes tratados com beta-caroteno, 2 pacientes

(4%) mostraram resolução completa. Recorrências foram encontradas em 4 pacientes.

Segundo uma recente revisão da literatura que englobou estudos desde 1983 até 2009, a

resolução clínica da LO usando este método variou entre 4 e 54%.[41]

b) Nagao et al (2000) avaliou os níveis séricos de licopeno em pacientes com LO e no

grupo controlo. Os níveis de licopeno dos pacientes com LO eram significativamente

mais baixos do que os do grupo controlo. Singh et al (2004) verificaram a eficácia do

uso de licopeno no tratamento da LO. Encontraram resolução clínica em 55% dos casos

tratados com 8mg/dia de licopeno. Este é o único estudo sobre o uso desta

substância.[41]

2 – Vitaminas

a) Existem poucos estudos que avaliam os benefícios que a vitamina C exerce sobre a

mucosa oral. Num desses foi verificada a prevalência de lesões orais num grupo com

níveis séricos de ácido ascórbico baixos e noutro grupo controlo. As lesões observadas,

para além de outras, incluíam as leucoplasias. Verificou-se que existia uma diferença

estatisticamente significativa entre os dois grupos. Além disso, se o tabaco se

associasse aos baixos níveis de ácido ascórbico essa diferença era maior. Não existem

estudos que abordem o uso de ácido ascórbico, por si só, para o tratamento das

leucoplasias.[41]

b) Num estudo de Scardina et al (2006) a resolução clínica da lesão foi observada em

85% dos casos. Além disso, a displasia epitelial desapareceu e houve uma diminuição

significativa do tamanho da lesão.[41]

c) Lippman et al (2006) encontraram uma remissão completa em 34,3% dos 35 pacientes

com LO que foram tratados com fenretinide.[41]

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3 - A bleomicina a 0,5% levou à descamação das placas brancas de leucoplasia. A

superfície foi reepitelizada nos 14 dias que se seguiram. Biópsias repetidas mostraram uma

redução significativa da displasia e da queratinização. A bleomicina a 1% é usada em

leucoplasias displásicas. As biópsias feitas imediatamente após o tratamento mostraram que 75%

dos 19 pacientes que foram sujeitos à terapia tiveram resolução da displasia. 94% dos pacientes

alcançou no mínimo resolução parcial. Após um acompanhamento de cerca de 3,4 anos, 31,6%

dos pacientes não apresentavam lesões visíveis. Em 2 pacientes (11%) desenvolveu-se

carcinoma escamoso.[41]

4 – A terapia fotodinâmica é um método não invasivo usado no tratamento de lesões

LPM’s da cavidade oral. Os danos causados aos tecidos por esta técnica cicatrizam por

regeneração tecidular e não causam contracção e consequente cicatriz. Zakrzewska et al

relataram 3 formas de tratamento para 10 casos de leucoplasia verrucosa proliferativa: cirurgia,

laser de CO2 e terapia fotodinâmica. A terapia fotodinâmica foi aplicada a 5 pacientes dos quais

3 não tiveram recorrências. Os resultados revelaram recorrências de 100% no caso da enucleação

cirúrgica e de 85,7% com a vaporização com laser de CO2. Neste caso, a terapia fotodinâmica

revelou o melhor prognóstico em relação com os outros 2 métodos. Siéron et al (2001) trataram

5 pacientes com LO usando esta terapia. 4 dos 5 pacientes tiveram remissão completa, enquanto

observaram apenas uma recorrência passados 6 meses. No entanto, após 2 sessões extra a lesão

regrediu completamente. Este mesmo autor em 2003 observou a remissão total em 83% dos

pacientes tratados com terapia fotodinâmica, apesar de uma recorrência ter sido observada após 6

meses de acompanhamento. Chen et al num estudo de 2005 verificaram que se se prolongar a

terapia por mais tempo (2 semanas em vez de uma) os resultados são mais favoráveis e a taxa de

resposta positiva é maior. Segundo uma recente revisão da literatura que englobou estudos desde

1983 até 2009, a resolução clínica da LO usando estes métodos variou entre 25 e 80%.[41]