estupro dignidade sexual: atributo intrínseco de todo indivíduo que decorre da própria natureza...

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ESTUPRO • Dignidade sexual: atributo intrínseco de todo indivíduo que decorre da própria natureza humana • Bem Jurídico: liberdade ou autodeterminação sexual do homem ou da mulher 1.Liberdade dinâmica: direito de escolha e livre disposição do corpo 2.Liberdade estática: direito de não ser submetido passivamente ao ato sexual sem a sua escolha • Crime hediondo

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Page 1: ESTUPRO Dignidade sexual: atributo intrínseco de todo indivíduo que decorre da própria natureza humana Bem Jurídico: liberdade ou autodeterminação sexual

ESTUPRO• Dignidade sexual: atributo intrínseco de todo

indivíduo que decorre da própria natureza humana

• Bem Jurídico: liberdade ou autodeterminação sexual do homem ou da mulher

1. Liberdade dinâmica: direito de escolha e livre disposição do corpo

2. Liberdade estática: direito de não ser submetido passivamente ao ato sexual sem a sua escolha

• Crime hediondo

Page 2: ESTUPRO Dignidade sexual: atributo intrínseco de todo indivíduo que decorre da própria natureza humana Bem Jurídico: liberdade ou autodeterminação sexual

Sujeitos do Crime

• Sujeitos ativo e passivo: homem ou mulher1.Primeira parte da descrição legal: sujeito ativo

e passivo: pessoas de sexo diferente2.Segunda parte da descrição legal: pessoas de

sexo diferente ou pessoas do mesmo sexo• Primeira parte do tipo penal: Constranger

alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal

Page 3: ESTUPRO Dignidade sexual: atributo intrínseco de todo indivíduo que decorre da própria natureza humana Bem Jurídico: liberdade ou autodeterminação sexual

Primeira parte da descrição legal do artigo 213, do CP

• Mulher casada:1. Não pode ser vítima do crime sendo autor o

marido (Noronha, Hungria, Bento de Faria e Fragoso). Admitiam apenas a possibilidade em casos excepcionais Noronha (contaminação do marido); Hungria (razões de ordem moral, separação judicial)

2. Pode ser vítima: Delmanto (há abuso de direito)3. Paulo José da Costa Júnior: o marido responderia

apenas pela violência física

Page 4: ESTUPRO Dignidade sexual: atributo intrínseco de todo indivíduo que decorre da própria natureza humana Bem Jurídico: liberdade ou autodeterminação sexual

Primeira parte da descrição legal do artigo 213, do CP

• Núcleo verbal: constranger: forçar, obrigar• Meio: violência ou grave ameaça1. Violência: contra a vítima, terceiro, coisa2. Ameaça: promessa de mal grave, certo, verossímil,

iminente e inevitável• Violência psíquica: tirar cadeira de rodas ou muletas de

deficiente (ativa), negar alimentos a quem precisa (omissiva)

• Temor reverencial: não é aceito pela doutrina. Deve existir a violência ou grave ameaça

• Violência durante a conjunção carnal: lesão corporal

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Primeira parte da descrição legal do artigo 213, do CP

• Conjunção carnal: cópula vagínica completa ou incompleta. Cópula vestibular ou vulvar: não há estupro

• Vítima deve resistir, opor-se com veemência• Dissenso: deve existir sempre, no entanto a

resistência pode ser vencida com violência ou grave ameaça

• Não desaparece o delito se a vítima aceita dinheiro ou recompensa após a conjunção carnal

• Violência durante a conjunção carnal: lesão corporal

Page 6: ESTUPRO Dignidade sexual: atributo intrínseco de todo indivíduo que decorre da própria natureza humana Bem Jurídico: liberdade ou autodeterminação sexual

Primeira parte da descrição legal do artigo 213, do CP

• Tipo subjetivo:1.Dolo2.Presença de elemento subjetivo: intenção de

manter relação sexual, satisfação da lascívia. Há autores que entendem inexistir (Navarete)

Page 7: ESTUPRO Dignidade sexual: atributo intrínseco de todo indivíduo que decorre da própria natureza humana Bem Jurídico: liberdade ou autodeterminação sexual

Primeira parte da descrição legal do artigo 213, do CP

• Consumação: introdução mesmo que incompleta do pênis na vagina

• Irrelevante: satisfação sexual, ejaculação• Tentativa: admissível, desde que inequívocos

os atos• Cópula vestibular que resulta gravidez:

anteriormente entendia-se haver a tentativa. Cremos não haver razão para mudança

Page 8: ESTUPRO Dignidade sexual: atributo intrínseco de todo indivíduo que decorre da própria natureza humana Bem Jurídico: liberdade ou autodeterminação sexual

Segunda parte da descrição legal do artigo 213, do CP

• Segunda parte do tipo penal: constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso

• Marido contra esposa: possível• Prática de ato libidinoso: com a vítima, pela

vítima ou sobre a vítima: conduta da vítima pode ser ativa ou omissiva

• Tipo penal não definiu ato libidinoso, apenas diferenciou-o da conjunção carnal

Page 9: ESTUPRO Dignidade sexual: atributo intrínseco de todo indivíduo que decorre da própria natureza humana Bem Jurídico: liberdade ou autodeterminação sexual

Segunda parte da descrição legal do artigo 213, do CP

• Ato libidinoso: elemento normativo de valoração extrajurídica (Prado)

• Ato libidinoso: é ato objetivamente libidinoso (ato sexual obsceno), independentemente da compreensão da vítima, e subjetivamente libidinoso (movido pela lascívia)

• Ato libidinoso: equivalente ou sucedâneo da conjunção carnal ou outros atos que têm por fim a satisfação da libido

Page 10: ESTUPRO Dignidade sexual: atributo intrínseco de todo indivíduo que decorre da própria natureza humana Bem Jurídico: liberdade ou autodeterminação sexual

Segunda parte da descrição legal do artigo 213, do CP

• Coube à doutrina e jurisprudência definir o ato libidinoso: há concordância que o coito oral e anal é libidinoso

• Há divergência quanto a outras práticas sexuais:1. Beijo lascivo, com fim erótica: é crime. Beijo

roubado (não é crime: Paulo José da Costa Jr.) Pugnam pela desclassificação para Contravenção (61): Cezar, Delmanto, Nucci e Pierangeli

Page 11: ESTUPRO Dignidade sexual: atributo intrínseco de todo indivíduo que decorre da própria natureza humana Bem Jurídico: liberdade ou autodeterminação sexual

Segunda parte da descrição legal do artigo 213, do CP

2. Contato físico: é dispensável (Nucci e Capez). É imprescindível (Fragoso). Vítima não precisa ser desnudada

3. Contemplação lasciva: é crime (Bento de Faria e Prado). Não é crime (Pierangeli). A simples assistência, sem ter concorrido para o ato, não é crime. Se usa violência ou grave ameaça: participa do crime

Page 12: ESTUPRO Dignidade sexual: atributo intrínseco de todo indivíduo que decorre da própria natureza humana Bem Jurídico: liberdade ou autodeterminação sexual

Segunda parte da descrição legal do artigo 213, do CP

4. Carícias ou tateios: Delmanto/Cezar (Contravenção: artigo 65)

• Obrigar terceiro a assistir ato de libidinagem: constrangimento ilegal

• Tipo subjetivo: o mesmo da primeira parte• Consumação: com a prática do ato libidinoso• Tentativa: 1. Impossibilidade (Galdino Siqueira e Bento de Faria2. Admissível: Hungria e Fragoso. Noronha afirma ser de

difícil constatação, pois para a prática do ato libidinoso há necessidade de praticar vários atos e, em determinados casos, o crime já se consuma com a prática do primeiro ato

Page 13: ESTUPRO Dignidade sexual: atributo intrínseco de todo indivíduo que decorre da própria natureza humana Bem Jurídico: liberdade ou autodeterminação sexual

Contravenções

• Artigo 61: Importunar (incomodar) alguém, em lugar público ou acessível ao público, de modo ofensivo ao pudor

• Artigo 65: Molestar (incomodar) alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade (atrapalhar) por acinte (intenção de perturbar) ou por motivo reprovável (censurável)

Page 14: ESTUPRO Dignidade sexual: atributo intrínseco de todo indivíduo que decorre da própria natureza humana Bem Jurídico: liberdade ou autodeterminação sexual

Problemas• Estupro contra mulher praticado no âmbito doméstico

e familiar• Tipo misto alternativo ou cumulativo:1. Tipo misto alternativo: crime único (Nucci)2. Tipo misto cumulativo: concurso material (Mirabete).

Fundamenta:no misto alternativo:as condutas são preparatórias ou fases de uma mesma conduta ou a realização de mais de uma conduta enseja um único resultado. No misto cumulativo: prática isolada de cada uma das condutas é diretamente ofensiva ao bem que se protege. O legislador não teve intenção de punir menos severamente o crime de estupro

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Problemas

3. Tipo misto cumulativo ou alternativo: ambos possível (Vicente Greco Filho): há necessidade de se analisar de acordo com os princípios da especialidade, subsidiariedade e consunção (progressão). Será crime único: se uma conduta absorve a outra ou se é fase da execução da seguinte. Se não houver nos atos sucessivos ou simultâneos nexo de causalidade: delitos autônomos

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Problemas

• Crime continuado• Vários estupros e vários agentes:1.Fragoso: crime único qualificado pelo número

de agentes2.Crime em concurso material (Mirabete): autor

do estupro e partícipe da conduta do terceiro

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Formas qualificadas

• Conduta resulta: 1. Idade da vítima: vítima menor de 18 e maior

de 14 anos. • Lei Anterior: menor de 14 anos. Fragoso, Hungria,

Pierangeli, Prado, Cezar e Damásio: não é maior de 14 anos de idade: até a data em que a vítima atingir 14 anos, ou seja, até a data do aniversário.

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Formas Qualificadas

• Lei Atual• Nucci: entre 12 e 13 anos – presunção relativa. Menos

de 12 anos: absoluta• Damásio (comunga com entendimento de André

Estefam): maior de 14 anos (213 § 1º); menor de 14 anos (217-A). No dia em que completa 14 anos: aplica-se o artigo 213 § 1º)

• Prado: vulnerável: “desde que esteja na faixa etária dos quatorze anos”

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Formas Qualificadas

2. Lesões corporais graves3. Morte• Conduta final: dolo ou culpa (Nucci). A pena

prevista não permite admitir a punição apenas pela culpa (Mirabete)

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Formas qualificadas

• Conduta final culposa • Exemplos de Hungria:1.Autor do crime derruba a vítima ao solo, vindo

a fraturar um braço2.Vítima que, ao se livrar da violência, cai,

ferindo-se gravemente3.O autor do crime, ao tentar abafar os gritos da

vítima, mata-a asfixiando-a

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Formas qualificadas

• Cont. exemplos Hungria4. Se o agente, visando a dominar a vítima, aplica-

lhe forte pancada na cabeça, ferindo-a gravemente: há concurso do crime sexual mais a lesão corporal grave

5. Se a vítima ao fugir do agente é atingida por uma telha que cai de uma casa: o resultado mais grave é decorrente de caso fortuito, respondendo o agente apenas pelo crime sexual

Page 22: ESTUPRO Dignidade sexual: atributo intrínseco de todo indivíduo que decorre da própria natureza humana Bem Jurídico: liberdade ou autodeterminação sexual

Formas qualificadas

• O resultado é decorrente da conduta: não é qualquer conduta, mas a dirigida ao estupro

• Conduta diversa que resulta lesão corporal ou morte: concurso de crimes

• Tentativa da forma qualificada: se resulta lesão corporal grave ou morte, na forma consumada, e o crime sexual resultante não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente: não se aplica a causa de diminuição da pena da tentativa.

Page 23: ESTUPRO Dignidade sexual: atributo intrínseco de todo indivíduo que decorre da própria natureza humana Bem Jurídico: liberdade ou autodeterminação sexual

Ação Penal

• Ação Penal nas formas qualificadas: representação (artigo 225, do CP/ação pública (artigo 101, CP). ADIN nº 4301

• Lesões leves: Súmula 608 do STF: No crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada

• Fragoso: entendia que se tratava de crime complexo, sendo aplicável o artigo 101, do CP

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Ação Penal

• A interpretação da Súmula comporta outra posição: distinção do crime complexo em sentido amplo e em sentido estrito: a súmula só seria aplicada ao crime complexo em sentido estrito (forma qualificada)

• O crime de estupro: crime complexo em sentido amplo, enquanto a opção do legislador foi a de admitir o crime complexo em sentido estrito

• Nucci: súmula é contra legem. Trata-se de opção de política legislativa• Estupro com lesões leves: Damásio/Nucci e Delmanto: contra a Súmula.

Se as lesões corporais forem graves: lei atual: aplica-se a Súmula 608 do STF (Damásio)

• Lei 9099/95: lesões (pública condicionada à representação).Capez sustentava a permanência da Súmula, citando julgado do STJ posterior a entrada em vigor da Lei 9099/95 (HC 76019, DJ 18/10/07). Também HC 79227 DJ 09/02/09 – STJ.