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73 Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.1, p. 73-89, jan./abr. 2004 Estudos sobre educação rural no Brasil: estado da arte e perspectivas 1 Maria Nobre Damasceno Bernadete Beserra Universidade Federal do Ceará Resumo O presente estudo mapeia e discute o conhecimento produzido na área da Educação Rural, nas décadas de 1980 e 1990, com o objetivo de esboçar o “estado da arte” neste campo de investigação. Entre outros aspectos, apresenta e discute as temáticas de estudo mais re- correntes, a organização regional dessa produção e, ao final, as ten- dências atuais e as temáticas ainda não suficientemente exploradas. Caracterizadamente bibliográfico, e restrito à produção acadêmica na área de Educação, este estudo baseou-se nas seguintes fontes: 1. a produção discente de mestrado e doutorado do banco de resumos de dissertações e teses da Associação Nacional de Pós-graduação e Pes- quisa em Educação – ANPEd; 2. os periódicos acadêmicos nacionais; e 3. os principais livros enfocando a temática da Educação Rural publicados no período. Uma das conclusões é que é cada vez maior o número de trabalhos que discutem o problema da educação rural da perspectiva da população a que se destina, ou seja, os trabalhado- res rurais. Tal tendência, porém, não nasce da clarividência ou exces- siva sensibilidade dos estudiosos do tema, mas das próprias circuns- tâncias da realidade sob estudo, já que são os próprios trabalhadores rurais que, por meio da sua organização política, tornam-se suficien- temente visíveis para chamarem sobre si a atenção dos estudiosos. Palavras-chave: Estado da arte — Educação rural — Educação rural no Brasil — Movimento social no campo. Correspondência: Maria Nobre Damasceno Rua Joaquim Trajano, 136 60874-650 – Fortaleza – CE e-mail: [email protected] 1. Uma versão preliminar deste ar- tigo foi apresentada no III Congresso / Argentino y Latino Americano de An- tropologia Rural. Tilcara, Jujuy, Argen- tina, em março de 2004.

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73Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.1, p. 73-89, jan./abr. 2004

Estudos sobre educação rural no Brasil: estado da arte eperspectivas1

Maria Nobre DamascenoBernadete BeserraUniversidade Federal do Ceará

Resumo

O presente estudo mapeia e discute o conhecimento produzido naárea da Educação Rural, nas décadas de 1980 e 1990, com o objetivode esboçar o “estado da arte” neste campo de investigação. Entreoutros aspectos, apresenta e discute as temáticas de estudo mais re-correntes, a organização regional dessa produção e, ao final, as ten-dências atuais e as temáticas ainda não suficientemente exploradas.Caracterizadamente bibliográfico, e restrito à produção acadêmica naárea de Educação, este estudo baseou-se nas seguintes fontes: 1. aprodução discente de mestrado e doutorado do banco de resumos dedissertações e teses da Associação Nacional de Pós-graduação e Pes-quisa em Educação – ANPEd; 2. os periódicos acadêmicos nacionais;e 3. os principais livros enfocando a temática da Educação Ruralpublicados no período. Uma das conclusões é que é cada vez maioro número de trabalhos que discutem o problema da educação ruralda perspectiva da população a que se destina, ou seja, os trabalhado-res rurais. Tal tendência, porém, não nasce da clarividência ou exces-siva sensibilidade dos estudiosos do tema, mas das próprias circuns-tâncias da realidade sob estudo, já que são os próprios trabalhadoresrurais que, por meio da sua organização política, tornam-se suficien-temente visíveis para chamarem sobre si a atenção dos estudiosos.

Palavras-chave:

Estado da arte — Educação rural — Educação rural no Brasil —Movimento social no campo.

Correspondência:Maria Nobre DamascenoRua Joaquim Trajano, 13660874-650 – Fortaleza – CEe-mail: [email protected]

1. Uma versão preliminar deste ar-tigo foi apresentada no III Congresso /Argentino y Latino Americano de An-tropologia Rural. Tilcara, Jujuy, Argen-tina, em março de 2004.

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.1, p. 73-89, jan./abr. 200474

Studies on rural education in Brazil: State-of-the-art andperspectives1

Raquel Goulart BarretoUniversidade do Estado do Rio de Janeiro

Abstract

This work maps out and discusses the knowledge created in the areaof Rural Education during the 1980s and 1990s, with the purpose ofoutlining the 'state-of-the-art' in this field of investigation.Among other aspects, this article introduces and discusses themost recurring themes of study, the regional organization of thisproduction and, towards the end, the current trends and thethemes still not sufficiently explored.Markedly bibliographical, and restricted to the academicproduction in the area of Education, this work is based on thefollowing sources: 1. Master and doctoral dissertations found inthe ANPEd (National Association for Graduate Studies andResearch in Education) database; 2. Brazilian academic journals;and 3. the main books focusing on the theme of rural educationpublished within this period of time. One of the conclusions isthat there is an increasing academic production discussing theissue of rural education from the point of view of the targetpopulation, that is, the rural workers. Such trend, however, isnot born out of foresight or extreme sensitivity on the part ofthe researchers, but springs from the circumstances of thereality under study, since the rural workers, through theirpolitical organization, have become sufficiently visible to drawto themselves the attention of researchers.

Keywords

State-of-the-art — Rural education — Rural education in Brazil —Rural social movement.

Contact:Maria Nobre DamascenoRua Joaquim Trajano, 13660874-650 – Fortaleza – CEe-mail: [email protected]

1. A preliminary version of this articlehas been presented to the III Congres-so Argentino y Latino Americano deAntropologia Rural, Tilcara, Jujuy,Argentina, March 2004.

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Introdução

O objetivo do presente estudo é mapeare discutir o conhecimento produzido na área daEducação Rural, nas décadas de 1980 e 1990,com o propósito de esboçar o “estado da arte”neste campo da investigação. Entre outros as-pectos, estamos interessadas em explicar astemáticas privilegiadas, a organização regionaldessa produção e, ao final, apresentar e discu-tir as tendências atuais e as temáticas ainda nãoexploradas suficientemente.

Um dos primeiros problemas com quenos defrontamos quando se discutem e se ava-liam os estudos na área de Educação Rural hojeé o do próprio estatuto do termo rural. Diferen-temente do que se propalava quando a educa-ção rural era um projeto ligado ao desenvolvi-mento do país cuja vocação de país agrícolademandava políticas específicas de educaçãorural, hoje a realidade é bastante distinta e onovo rural brasileiro guarda pouca semelhançacom o da década de 1950, inclusive no sentidoda revalorização ocorrida com a crise das cida-des (Sorj, 1998; Graziano, 1999; Veiga, 2002).2

Diferentemente do que propunham osEstados Unidos e os outros países que tomarama dianteira e o controle do desenvolvimentoindustrial, não faz mais sentido pensar em voca-ção agrícola ou qualquer outro tipo de vocaçãodas nações fora das políticas imperialistas ecolonialistas que as definem. Portanto, quandonos idos de 1950 falava-se de uma educaçãorural que promovesse a valorização do trabalhorural supunha-se que fosse possível organizarartificialmente o já iniciado processo de urbani-zação do país. Supunha-se, contra as políticas eideologias industriais e urbanas mais gerais, quefosse possível convencer os trabalhadores ruraisde que o seu papel era o de garantir o sentidoda vocação agrícola do país. Uma vez educadosno sentido de valorizar o trabalho agrícola (quecontraditoriamente não era valorizado por maisninguém), tais trabalhadores aceitariam a suamissão de salvaguardar a vocação agrícola dopaís. Mas, por que graça conseguiriam os pro-

fessores, sozinhos, lutar contra todos os outrosmeios de comunicação que insistentemente afir-mavam que o urbano era sinônimo de progres-so, civilização e de todos os valores positivosque se difundiam à época?

É nesse contexto que vários programasde educação rural são implementados e, porrazões óbvias, além das dificuldades da disper-são da população rural, sistematicamente fracas-sam — ou pelo menos fracassam em relação àsmetas propostas (Calazans, 1993). De tal modoque até hoje o problema da educação ruralbásica não foi resolvido, e não é por acaso queos mais altos índices de analfabetismo do paísestão localizados na zona rural e, dentre elas,naquelas das regiões cuja posição na divisãonacional do trabalho não exige uma produçãobaseada no trabalho qualificado.3

A despeito de tímidas iniciativas no finaldo século XIX, é somente a partir da década de1930 e, mais sistematicamente, das décadas de1950 e 1960 do século XX que o problema daeducação rural é encarado mais seriamente — oque significa que paradoxalmente a educaçãorural no Brasil torna-se objeto do interesse doEstado justamente num momento em que to-das as atenções e esperanças se voltam para ourbano e a ênfase recai sobre o desenvolvimen-to industrial. Lembremo-nos, por exemplo, dameta do governo Juscelino Kubitschek de de-senvolver cinqüenta anos em cinco. As ideolo-gias do progresso que incluíam necessariamen-te a extensão do urbano destroem a vocaçãoagrícola de todas as gerações independente-mente de se em países de vocação agrícola ou

2. De acordo com o IBGE, Censo de 2000, 82% da população brasileiraé urbana. Veiga (2002) argumenta, porém, que a metodologia de cálculoatualmente utilizada não é adequada porque inclui na categoria de urbanomunicípios que, de acordo com a OCDE – Organização de Cooperação e deDesenvolvimento Econômico, são rurais já que apresentam densidadedemográfica inferior a 150 Hb/km2. Se os critérios de urbanizaçãoadotados pela OCDE fossem aplicados ao Brasil, apenas cerca de 60% dapopulação seria considerada urbana.3. Em 2000, 29,8% da população rural era analfabeta contra 10,3% dapopulação urbana. O índice do analfabetismo rural no Nordeste era o maisalto de todos: 42,7% contra, por exemplo, o índice do Sul que era o maisbaixo de todos e quase quatro vezes menor do que o do Nordeste: 12,5%.Fonte IBGE – Censo Demográfico de 2000.

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não. O progresso e o desenvolvimento, princi-pais expressões da narrativa evolucionista, exi-giam o fim do campo e do camponês, — já queambos eram sinônimos de passado e atraso. Emtal narrativa cabiam todas as matizes políticas,independentemente de capitalistas ou socialistas.Mas o que fazer com a vocação dos países entãodenominados subdesenvolvidos? Investir naagricultura e na produção e difusão do conhe-cimento técnico agrícola e, por meio dessesinvestimentos, desenvolver uma mentalidade derespeito e valorização da atividade agrícola.Tanto a vocação quanto a forma de torná-larealidade são decididas já pelo novo centrohegemônico do ocidente no pós-guerra, os Es-tados Unidos. Não é à toa que os programas eprojetos de educação rural sob o patrocínio deinstituições norte-americanas tomam grandeimpulso a partir de então. É o caso, por exem-plo, da Associação Brasileira de Assistência Téc-nica e Extensão Rural (ABCAR), que, criada em21 de junho de 1956, e incumbida de coorde-nar programas de extensão e captar recursostécnicos e financeiros, era patrocinada por orga-nizações ditas de cooperação técnica diretamen-te ligadas ao governo dos Estados Unidos (IIAA,ICA, AID, Aliança para o Progresso, etc.) ou aogrande capital monopolista americano (Funda-ções Ford, Rockefeller, Kellog, etc.).4

Apesar do esforço de implantação dasua hegemonia sobre o Brasil e toda a Améri-ca Latina, inclusive claramente expresso empolíticas como a Política da Boa Vizinhança, dogoverno Roosevelt, em 1932, não há, porém,no período que vai do fim da Segunda Guerraaté o Golpe Militar de 1964 nenhuma tendên-cia absolutamente hegemônica. De tal modoque muitos programas de Educação Rural ser-viam de instrumentos de difusão de ideologiasinclusive opostas às pretendidas pelo governoamericano. Semeadas numa sociedade em tran-sição e marcada por extraordinária desigualda-de social, tais projetos e políticas têm conse-qüências as mais diversas, inclusive a de mobi-lizar as populações rurais já vítimas da moder-nização no campo, contra os efeitos negativos

que esta vem produzindo sobre as suas vidas. Éo caso do conjunto de movimentos sociais que,articulados aos partidos políticos de esquerda ouà Igreja católica, vão produzir um estilo de edu-cação e um tipo de saber bastante diferente dospretendidos pelas necessidades imperialistas dogoverno americano, entre os quais se destaca apedagogia de Paulo Freire que vai, depois, influ-enciar uma das tendências acadêmicas do estu-do do rural: a da educação e movimentos so-ciais no campo (Damasceno, 1992).

Após a ditadura militar, período durante oqual as políticas industriais e agrícolas mudaramcompletamente a face do país, são outros os pro-blemas e questões que se apresentam tanto parao rural quanto para a educação rural. É tambémdurante esse período e já em conseqüência dainfluência do sistema educacional americano sobreo brasileiro que os primeiros programas de pós-graduação em educação são fundados, e surgetambém uma pesquisa mais sistemática sobre aeducação brasileira, inclusive motivada pelas asso-ciações nacionais de pós-graduação e pesquisaque proliferam a partir dos meados de 1970.

Estudos rurais no Brasil: ummapa

Embora tenhamos consciência de queoutras disciplinas, especialmente a agronomia ea sociologia, também produzem conhecimentona área de Educação Rural, concentramos anossa atenção na produção científica na áreade Educação. Com o propósito de apresentarum quadro da produção acadêmica no períodocitado, pesquisamos: 1. a produção discente demestrado e doutorado do banco de resumos dedissertações e teses da ANPEd;5 2. os periódi-cos acadêmicos nacionais e, neste caso, como

4.Ver, entre outros, Vieira, 1954; Padilha, 1982; Calazans, 1979, 1993;Demo, 1980; Gusso, 1978; Maia, 1982; Pinto, 1981; Werebe, 1968.5. Também pesquisamos a base de dados da Capes do período 1996-2001 e os resultados confirmam, em termos numéricos, os da base dedados da ANPEd, embora surjam novos temas em função dos interessesdas diversas disciplinas no mundo rural. Ou seja, ao invés de pesquisarmosespecificamente a educação rural, pesquisamos o rural e tudo que foi in-cluído sob este descritor.

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é marginal a temática, consultamos tambémperiódicos “regionais” entre os quais o da nos-sa própria Faculdade de Educação, a RevistaEducação em Debate;6 e 3. os principais livrosenfocando a temática da educação rural publi-cados no período.7

A primeira observação se refere à quan-tidade de estudos produzidos na área e o seulugar relativo em relação às outras áreas. Comopodemos observar no Quadro1 a proporçãomédia ao longo do período pesquisado é dedoze trabalhos na área de Educação Rural paramil trabalhos nas demais áreas da Educação.Uma porcentagem dezessete vezes inferior à donúmero de habitantes no campo em relação aoda cidade, se tomarmos como referência osdados estatísticos do IBGE do ano 2000, deacordo com os quais a população rural repre-senta 18,75% da população brasileira.8

É claro que nenhum lugar político ousocial numa sociedade capitalista pode serdefinido em função da porcentagem de certasclasses ou grupos em relação à população to-tal. Ao contrário, as políticas são definidas nomais das vezes em função do poder de barga-nha dos setores envolvidos. Nesse caso, a im-portância relativa do tema está relacionadaantes de qualquer coisa ao valor relativo dosetor agrícola em relação aos setores industriale de serviços. Além disso, é importante chamaratenção para o fato de que a própria idéiada universalização da educação é decorrente dauniversalização da demanda do mercado de tra-balho por um nível mínimo de educação/espe-cialização.9 Não sendo um requisito para otrabalho rural e, nesse caso, indispensável paraa reprodução do capital, a educação rural énegligenciada. Já do ponto de vista da priori-dade a programas de educação rural, semprevaleu aquela idéia que um dia Darcy Ribeirodefendeu a respeito da educação de adultos(Ribeiro, 1978). Ou seja, considerando que osrecursos estatais para as políticas públicas sem-pre foram bastante limitados, seria preferívelinvestir recursos em áreas que a médio ou lon-go prazos apresentariam resultados positivos.

Darcy dizia que era melhor investir na educa-ção básica porque o analfabetismo adulto se-ria resolvido mais dia menos dia pela morte.Crença semelhante sempre rondou a educaçãorural já que se acreditava que a evolução na-tural da sociedade capitalista levaria à extinçãodo rural. Noutras palavras: acaba-se o rural eacabam-se juntos os problemas da educaçãorural. A despeito disto, porém, e em função depressões internas e externas, várias campanhasde educação rural foram empreendidas, inclu-sive campanhas diferenciadas como a doEdurural, que funcionou entre 1981 e 1987, ecuja realização exclusivamente no Nordeste ti-nha o objetivo de diminuir a diferença entre osíndices de analfabetismo rural nesta região enas demais.10

Além do valor relativo do rural — ou doseu valor ideológico-cultural — a escassez deestudos na área é também fruto da dificuldadede financiamento de pesquisas e da relativafacilidade de desenvolvimento de pesquisas nasáreas urbanas onde o próprio pesquisador ha-bita. Mas a nossa hipótese é de que, alémdesses motivos apresentados, o desinteressegeneralizado pela temática reflete o desinteres-se do Estado pelo problema pelos motivosacima apresentados. Aqui é importante abrir um

6. Para uma lista de todos os periódicos pesquisados ver Quadro 5.7. Utilizamos os seguintes descritores para a busca no bando de dados daANPEd: educação rural, meio rural, zona rural, assentamentos rurais,assentados rurais, movimento dos sem- terra, movimentos sociais, cam-po, trabalhadores rurais.8. Se compararmos o número de estudos com o número de habitantespara cada ano investigado a proporção geral de estudos é ainda menor.9. Este raciocínio explica porque a extensão rural foi organizada muitomais eficientemente do que a educação rural. O que significa que maisimportante do que a educação universal para o homem do campo semprefoi o treinamento específico em técnicas e conhecimentos que permitis-sem a modernização da agricultura nos termos em que interessava aoscentros internacionais de poder, especialmente, os Estados Unidos.10. Concebido como uma estratégia para diminuir a defasagem econô-mica entre o Nordeste e as demais regiões do país, o “Programa de Edu-cação Básica para o Nordeste Brasileiro (Edurural) foi lançado em 1980 eenvolveu recursos da ordem de 92 milhões de dólares, dos quais 32 mi-lhões foram originários de um empréstimo do Banco Mundial. O seu obje-tivo era expandir, em 18% dos municípios nordestinos, o acesso das cri-anças à escola primária, reduzir o desperdício de recursos adicionais coma diminuição das taxas de repetência e evasão e melhorar o rendimentoescolar dos alunos com a oferta de instrução de melhor qualidade” (GomesNeto et al., 1994, p. 47).

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parêntese para uma breve reflexão sobre a rela-tiva coerência entre os interesses dominantes noEstado e os interesses dominantes na Universi-dade. Em função do financiamento prioritário doEstado de determinadas áreas de pesquisa, asuniversidades e demais centros de pesquisa aca-bam também concentrando a sua atenção nasmesmas áreas e deixando de lado áreas que,embora importantes para a sociedade, são mar-ginais aos interesses do Estado que, por sua vez,decide a prioridade dos seus interesses tambémpressionado pelas instituições internacionais decrédito, como o Banco Mundial, por exemplo(Gentili, 1998).

O desinteresse pela educação rural econseqüentemente pela pesquisa nessa área doconhecimento também reflete, obviamente, olimite da pressão dos movimentos sociais ruraissobre o poder público. Inclusive, o recente in-teresse por esta área, verificado nos últimosdez anos, mas insignificantemente expresso naspercentagens abaixo, está relacionado ao poderde pressão do Movimento dos TrabalhadoresSem-Terra. Apesar desse fato, o interesse pelapesquisa na área continua insignificante em re-

lação à pesquisa nas demais áreas. Isto é, ob-servamos, estudando o Quadro 1, que a percen-tagem média de produção de dissertações e te-ses cai de 2,1%, na década de 1980, para 0,9%na década de 1990, o que revela o crescentedesinteresse por esta área de estudos. Fenôme-no semelhante é observado na produção aca-dêmica veiculada em revistas científicas, con-forme apresentado nos quadros 5 e 6 (Anexo).Observa-se uma média de apenas dois artigossobre educação rural publicados por ano. A pu-blicação de livros, conforme pode ser conferi-do na bibliografia, também acompanha estamesma tendência confirmando que a educaçãorural é considerada tema de menor importânciatanto pelo governo federal quanto pelas univer-sidades e centros de pesquisa.

De um certo modo, a marginalização daeducação rural revela-se também nas temáticasprivilegiadas pelos estudos realizados, como ob-servaremos a seguir, na discussão sobre os te-mas. Após separarmos as 102 dissertações eteses encontradas no banco de dados 1981-1998 da ANPEd, nós as classificamos sob os se-guintes temas:

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Sob o tema Ensino fundamental (Escolarural) incluímos todos os trabalhos que anali-sam, discutem ou avaliam as condições geraisdo ensino e da aprendizagem na escola rural.

Tais estudos apresentam dados quepermitem concluir que a educação rural apre-senta problemas graves de origem; ou seja,planejada a partir da escola urbana, a escolarural parece tão alienada do seu meio quantoo são também as escolas urbanas para as clas-ses populares (Willis, 1991). Deste modo, aspesquisas recorrentemente confirmam as discre-pâncias existentes entre as expectativas do pla-nejamento governamental e as das populaçõesrurais beneficiárias. Afirmam, portanto, que, talcomo se apresenta, a escola rural é inadequa-da ao seu meio (Leite, 1999; Moreira; Silva,1994; McLaren, 1997; Damasceno; Therrien,2000). Apesar de reconhecerem que a escolapública rural é limitada e precária, tanto aspopulações rurais pesquisadas como os estu-diosos consideram que essa instituição tem pa-pel fundamental na divulgação do saber univer-sal para a população rural, devendo por isso seravaliada e, sobretudo, ter sua função socio-pedagógica e conteúdos curriculares rede-finidos para que de fato venha a atender aosreais interesses dos grupos sociais a que sedestina (Damasceno, 1995, 1998, Grecio, 1982;Almeida, 1990; Martins, 1982, 1992; Maurício,1989; Rizzoli, 1988; Viana, 1982).

Os estudos envolvendo este tema e osdois seguintes, Professores rurais e Políticaspara a educação rural, buscam dar suportecientífico tanto à formulação de políticas quan-

to de programas educacionais adequados à rea-lidade da população camponesa. Assim, as pes-quisas nessa área procuram contemplar a ação doEstado, como instância formuladora de políticaseducativas, analisar as condições da rede escolarexistente e, ainda, compreender a ação pedagó-gica realizada nesse contexto, enfatizando a for-mação do professor, sua prática pedagógica esuas condições de vida e de trabalho (Barreto,1983; Spayer, 1983; Therrien, 1987, 1988;Freitas, 1990; Reis, 1992).

Embora o problema do descompassoentre a realidade da vida rural e a escola ruralseja tratado sob o tema Políticas para a educa-ção rural, é sob o tema Currículos e saberes querelacionamos os trabalhos que discutem direta-mente a questão. Vê-se, portanto, nesses traba-lhos que é grande a distância entre o currícu-lo da escola rural e a vida da sua clientela,conseqüência evidente do desconhecimentodas populações-alvo pela burocracia que plane-ja (Brandão, 1997; Caldart, 2001; Furtado,1997; Queiroz, 1992; Rivas, 1992).

Apesar de enfatizar aspectos distintos, osprimeiros quatro temas relacionados se referemao estudo da escola rural como ela é. Conside-rado individualmente, é o tema Educação popu-lar e movimentos sociais no campo que maisconcentra a atenção dos estudiosos. Na verda-de, interesse tão especial busca encontrar, nes-ses espaços alternativos de educação, pistas paraa solução dos problemas existentes na escolarural. Além disso, esses estudos compreendemque a educação não se limita apenas ao espa-ço escolar, mas está também presente nas diver-sas expressões da luta social e é justamente aparticipação nesta luta que cria as condições deprodução e apropriação de um saber que permiteuma compreensão transformadora da realidade.

As práticas educativas dos movimentossociais compreendem, portanto, um vasto e ricocampo que vem sendo investigado, destacan-do-se o próprio processo de constituição des-ses movimentos, o estudo do conjunto dasações que seus atores desenvolvem para aconstrução de sua identidade como sujeitos

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coletivos e, também, o saber gestado no coti-diano dessas lutas.

Em suma, essa vertente de pesquisaparte da premissa de que no tocante à educa-ção rural é preciso considerar, no conjunto dossaberes historicamente produzidos, aquele sa-beres gerados pelos atores sociais em suas prá-ticas produtivas e políticas, tendo em vista queesses saberes têm especificidades em virtudedas diversificadas condições de vida e trabalho.Por conseguinte, diferentes formas de organi-zação criam variadas visões de mundo nas quaisnovos processos educativos são permanentementeelaborados (Brandão, 1997; Caldart, 2000, 1997,1996, 1995; Calado, 1993; Damasceno, 1998,1994, 1992, 1990; Furtado, 2000, 1998;Grzybowski, 1986, 1982; Souza, 1989; Therrien,1991; Vendramini, 1997).

As investigações têm constatado ser defundamental importância averiguar os condi-cionantes estruturais e conjunturais que produzeme reproduzem as ações educativas, bem como osatores sociais das referidas práticas com suas lutas,representações e identidades.

Tais estudos também mostram que osmovimentos sociais no campo, especialmente oMovimento dos Trabalhadores Sem-Terra, vêmse constituindo em espaços privilegiados deresistência, de luta e, conseqüentemente, deorganização de um saber que traduz a realida-de de seus atores. Assim, o ato de repensar aeducação deve ser mediado pelos interesses dogrupo a quem ela se destina, especialmente poraqueles interesses expressos através dos movi-mentos sociais, posto ser esta a instância decompreensão e reelaboração do saber nas rela-ções sociais dos atores envolvidos (Caldart,1999).

Também relacionados com os saberesque se produzem nas práticas sociais estão ostrês últimos temas: Educação e trabalho rural,Extensão rural e Relações de gênero. No casodo primeiro, a atenção se concentra na relaçãoentre educação escolar e educação do trabalho,mostrando ora como a educação rural estádistante da realidade do trabalho rural ou como

uma influencia a outra, seja positiva ou nega-tivamente (Bianchetti, 1982; Souza, 1990;Almeida, 1990; Masseli, 1998). Seguindo a tri-lha proposta por Paulo Freire (1975a), os estu-dos sobre a Extensão rural também discutem oproblema da comunicação entre duas lógicasque se negam. A Extensão rural, concebidacomo alternativa instrumental à educação uni-versal no campo, também se constitui numespaço de domínio do rural pelo urbano eapresenta basicamente as mesmas dificuldadesda escola pública rural. Tanto uma como aoutra convivem com o problema de incutir nohomem do campo um saber que não necessa-riamente lhe interessa ou do qual ele possa tirarproveito nas suas práticas sociais. Isto, claro, écompletamente diferente de propostas alterna-tivas elaboradas pelos próprios grupos sociaisinteressados e a partir dos seus interesses(Arroyo, 1982; Beserra, 1994, 1996; Caldart,1995; Camini, 1998; Damasceno, 1992, 1994;Damasceno; Therrien, 1993; Furtado, 2002,2000, 1998; Holanda, 2000; Ibanez, 1995;Janes, 1998; Masselli, 1994; Melo, 1983; Pon-tes, 1990; Portilho, 1998; Queda, 1982).

Finalmente, sob Relações de gêneroestão estudos específicos sobre a mulher pro-fessora ou camponesa e a educação rural. Sãoestudos mais recentes que revelam a influênciados novos movimentos sociais que incluem,dentre outras novidades, a atenção a grupossociais que, embora também façam parte daclasse trabalhadora, têm características especí-ficas que precisam ser consideradas separada-mente (Nodari, 1987; Vigolvino, 1989; Werle,1992).

A leitura do resumo desses trabalhosrevela também que são estudos pontuais, rara-mente parte de projetos mais abrangentes, oque nos leva a supor que o seu impacto é tam-bém bastante limitado. São estudos de cunhosocioantropológico desenvolvidos em geral porindivíduos ligados — por razões pessoais ou deofício — às populações rurais. Em seu conjun-to, porém, representam grande contribuição àcompreensão da educação rural no Brasil.

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Estudos sobre a educaçãorural no Brasil: distribuição porregião e instituições de ensino

Os quadros 3 e 4, a seguir, mostram adistribuição de estudos na área de educaçãorural por instituição de ensino superior e porregião. Vê-se, como esperado, a concentraçãode estudos (55%) na região Sudeste, o que éuma conseqüência da concentração do proces-so de desenvolvimento do país naquela região.Em seguida, vêm o Sul e Nordeste com, respec-tivamente, 24 e 15% da produção nacional naárea. Os motivos pelos quais essas regiões apa-recem nesta ordem são praticamente os mes-mos que explicam o primeiro lugar da regiãoSudeste. Ou seja, pela proximidade do Sudeste,o Sul é o beneficiário mais imediato da expan-são do desenvolvimento nacional que inclui,entre outras coisas, a criação de instituições deensino superior e a qualificação dos seus pro-fissionais. Isso porque, na verdade, o que estaconcentração de estudos e pesquisas revela éque foi nessas regiões que os primeiros progra-mas de pós-graduação foram implantados.

Considerando o número de instituiçõesde ensino superior nas diversas regiões e operíodo de criação dos seus programas de pós-graduação, podemos afirmar que a proporçãode estudos na área de Educação Rural é maiorno Sul e Nordeste. Tal fenômeno pode estarrelacionado com fatores como a importância dorural nessas regiões, em primeiro lugar, e, emdecorrência disso, a formação de grupos depesquisa dedicados ao tema. O caso da pesqui-sa desenvolvida por professores da Universida-de Federal do Ceará sobre o Edurural é umexemplo disso. Tal investigação foi o ponto departida para a composição de um grupo deestudo que se consolidou e, com o apoio doCNPq, desenvolveu vários projetos de pesquisavoltados para a problemática da educação rural,fato que possibilitou a produção e a publicaçãode diversos artigos e livros, além da orientaçãode dissertações e teses nas décadas examinadas.Uma das conseqüências desse esforço é que o

referido grupo exerceu a liderança nacionalnessa área temática, inclusive coordenando osGTs de Educação Rural e Educação e Movimen-tos Sociais no Campo da ANPEd por mais deuma década.

Conclusões: tendências dosestudos de educação rural

Considerados em relação aos estudossobre educação rural desenvolvidos nas déca-das anteriores, os estudos aqui enfocados(1981-1998) caracterizam-se por uma preocu-pação cada vez maior em discutir o problemada educação rural da perspectiva da populaçãoa que se destina, ou seja, os trabalhadoresrurais. Tal tendência, porém, não nasce da

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clarividência ou excessiva sensibilidade dos es-tudiosos do tema, mas das próprias circuns-tâncias da realidade sob estudo, ou seja, sãoos próprios trabalhadores rurais que, por meiode sua organização política, tornam-se sufici-entemente visíveis para chamarem sobre si aatenção dos estudiosos. A partir daí a educa-ção rural deixa de fazer parte apenas de umplano geral de desenvolvimento da nação etorna-se uma reivindicação de uma classe so-cial. Em gestação desde os movimentos cam-poneses das décadas de 1950-60, esta ten-dência se consolida com o surgimento doMovimento dos Sem-Terra (MST). Nesse sen-tido, é interessante observar que mesmo semserem guiados pelos mesmos interesses teóri-co-metodológicos, a maioria dos estudos pro-duzidos na área apresenta dados que instigama discussão de propostas alternativas de edu-cação rural em cujo centro estejam os interes-ses dos trabalhadores rurais. A disposição deexperimentar novas práticas educativas, po-rém, parece nascer mais do conhecimento depráticas já testadas noutros países, como é ocaso das Escolas Família Agrícola (EFA) e dasCasas Familiares Rurais (CFR), do que pro-priamente da sugestão de resultados de pes-quisas acadêmicas (Furtado, 2003). Um estu-do recente traz uma abordagem detalhadadessas novas experiências no campo da educa-ção rural no Brasil, inclusive da Escola Ativa(Bof; Morais; Silva, 2003).

É talvez porque tal compreensão abran-ge tanto os movimentos sociais quanto a pro-dução acadêmico-universitária que os novosprogramas de Educação Rural, de iniciativa doEstado ou dos próprios trabalhadores rurais,refletem uma experiência rica em exemplossobre o que faz ou não sentido em educaçãorural e refletem principalmente a diferença deuma experiência de cuja execução os própriosinteressados participam.

Detenhamo-nos por alguns instantesnas tendências práticas da educação rural paradepois voltarmos a relacioná-las aos estudosproduzidos.

Uma das novidades dos últimos anos éde iniciativa do Estado (nos âmbitos federal, es-tadual e municipal) e visa atender à Constituiçãode 1988, que determina a obrigatoriedade doensino fundamental para todas as crianças. Com-pete, portanto, à União, estados e municípiosproporcionar meios de acesso à educação, garan-tindo, inclusive, o transporte dos alunos do en-sino fundamental. Isso significa que o poder pú-blico precisa garantir a igualdade de condiçõespara o acesso e permanência dos alunos na es-cola independente do local onde residam.

Desse modo, a escolinha isolada e assuas classes multisseriadas, que já foram o re-trato mais comum do ensino no meio ruralbrasileiro, vêm se tornando cada vez mais ra-ras em muitas regiões do país. Observa-se, emcontrapartida, a aglutinação de escolas e, con-seqüentemente, a concentração de alunos deuma dada área numa mesma escola de maiorporte, seguindo o modelo do grupo escolarurbano, tornando-se, assim, possível levar parao campo o ensino fundamental completo, coma inclusão do ensino de quinta à oitava série.Tal transformação requer grandes investimentosem dois setores: a) o da construção de escolasmaiores, com várias salas de aula, para compor-tar os estudantes da microrregião onde a escolase situa e b) o do transporte escolar, serviço queos municípios implantaram para cumprir a leique os obriga a manter as crianças na escola.É óbvio que tal projeto é tanto mais viávelquanto maior a concentração demográfica dasdiversas áreas rurais e, em implantação, não foiainda submetido a uma avaliação mais sistemá-tica e profunda.

A segunda tendência nasce no seio dosmovimentos sociais e procura atender o princí-pio da adequação do ensino aos interesses daspopulações rurais. Conforme evidenciam osestudos que discutem o significado da escolarural para o camponês (Damasceno, 1995,1998; Brandão, 1997; Furtado, 1998; Caldart,1995), o movimento social do campo vemrealizando ações com vistas à construção deuma escola pública sintonizada com os interes-

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ses dos seus beneficiários, os camponeses. Naconcretização dessa escola torna-se necessáriodeslocar radicalmente os sujeitos e os propósi-tos da educação escolar, colocando no centroos usuários e seus interesses. Isso significa, emúltima instância, que a luta pela escola do tra-balhador rural está intimamente vinculada à lutapela superação das desigualdades sociais. Aspesquisas mostram também que, embora a re-alização do projeto político-pedagógico daescola do trabalhador rural seja uma tarefacomplexa, o próprio movimento popular vemhistoricamente atuando na sua construção, ten-do em vista que esta nova escola torna-se cadavez mais necessária como instrumento de apoiotécnico, intelectual e político nas lutas que oscamponeses travam diariamente. O caminhoapontado para se redimensionar a educaçãorural consiste em privilegiar o próprio produtorrural (como entidade coletiva na sua atividadereal e nas suas lutas) como sujeito desse pro-cesso de recriação da educação e da escola,visando a recriação da cultura mediante a apro-priação do saber e a reelaboração deste emfunção dos seus interesses.

No cerne desse processo de reelabo-ração do saber encontra-se a necessidade deuma efetiva articulação entre a prática peda-gógica realizada pela escola (que deve serredimensionada) e as práticas sociais dos cam-poneses. Isso implica em transformar a esco-la num instrumento que opere a vinculação dosaber sistematizado, dito universal, com o sa-ber alternativo que vem sendo gestado naspráticas das lutas sociais. Assim, como propõeArroyo (1987), se quisermos que a escola pú-blica não murche ainda mais precisamosenxertá-la na árvore vigorosa e florescentedos movimentos sociais, pois esse caminhopermite que o trabalhador passe da condiçãode receptor para a de produtor do conheci-mento. Na condição de sujeitos que pensama sua história, esses trabalhadores têm cons-ciência de que escola querem e dos conteú-dos intelectuais e morais que ela deve produ-zir e transmitir:

a escola deveria preparar o aluno para nãoaceitar essa situação onde poucos têm muito ea maioria não tem nem o que comer (...) sei queé difícil mas a escola devia se preocupar com otrabalho da gente, que dá duro todo dia; pensoque as professoras e os trabalhadores juntos po-diam fazer uma escola diferente. (Damasceno,1998, p. 140)

Em suma, na visão de parte dos traba-lhadores rurais, notadamente daqueles que in-tegram o Movimento dos Sem-Terra, o eixo parase buscar a transformação da educação resideem considerar as relações de trabalho (incluin-do sua dimensão sociopolítica, representadapelas lutas sociais) como as bases a partir dasquais a educação popular como um todo e aescola em particular devem ser repensados.Coerentes com tais diretrizes, as experiênciasdirecionadas para a construção da escola dotrabalhador do campo vêm privilegiando agestão democrática da escola pública nos níveispolítico, administrativo e pedagógico.

As transformações ainda em curso naescola pública rural, em conseqüência das no-vas exigências constitucionais, estão ainda porser avaliadas pelo próprio fato de não teremainda a abrangência geográfica ou o tempo deexperiência indispensável para isto. Estudossobre outros aspectos da escola rural conti-nuam sendo desenvolvidos porque os proble-mas que os motivam persistem. Desse modo,dentro da relativa escassez que caracteriza osestudos no campo da Educação Rural, há umacerta abundância de estudos que mostra a pre-cariedade das condições físicas e intelectuais daescola rural. E, como já mencionamos anterior-mente, em função do espaço que o movimen-to social no campo passou a ter na definiçãode políticas educacionais rurais, há uma gran-de quantidade de estudos sobre a incompatibi-lidade entre o atual projeto de educação ruraldefinido do ponto de vista das necessidades evalores da cidade e um novo e futuro projetoque considere as necessidades e valores daspopulações rurais.

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Os estudos que se concentram em re-lacionar e discutir a discrepância entre a edu-cação rural oferecida hoje pelo Estado e a de-sejada pelo movimento dos trabalhadoresrurais caracterizam-se, em geral, pela adoção deuma perspectiva teórico-metodológica clara-mente política, o que é interessante na medidaem que questiona de frente a suposta neutra-lidade científica, mas, por outro lado, leva àprodução de vários problemas. Por exemplo, há,de um lado, um senso crítico agudíssimo quefunciona para a análise dos projetos e expe-riências governamentais e, de outro lado, umacerta condescendência em relação aos projetose experiências populares. Apesar dessas limita-ções, esses estudos são importantes porquetrazem à tona aspectos da realidade nem sem-pre conhecidos pelos planejadores, emborasaibamos que o conhecimento da realidade nãooferece em si nenhuma garantia da sua trans-formação. Ou seja, não é por desconhecimen-to da realidade que as políticas sociais sãoprecárias, mas porque os recursos públicos di-rigidos ao trabalho e à sua reprodução sãoevidentemente limitados numa sociedade que secaracteriza pela exploração do trabalho pelocapital. Isso não significa que as massas traba-lhadoras não possam, aqui e ali, e em funçãodo seu poder de pressão, ampliar os seus direi-tos, mas não podemos esquecer que nessestempos de políticas neoliberais as conquistaspopulares têm ficado cada vez mais restritas.

Esses estudos, portanto, denunciamfatos e apontam caminhos, mas não preenchemas tantas lacunas existentes no projeto de umconhecimento mais abrangente e mais profun-do da educação rural ou educação no campo,como alguns pesquisadores e políticos preferemnomeá-la em função da abrangência exagera-da e conteúdo político do termo rural. Nessesentido, não seria extravagante propor um pro-grama de ação afirmativa para essa área deestudos. A exemplo de outras áreas, como a daEducação Afrodescendente, seria de fundamen-tal importância para o fortalecimento da áreaque as instituições financiadoras de pesquisa

abrissem concursos ou programas específicos depesquisa sobre a educação rural e que o Minis-tério da Educação oferecesse incentivo especialaos estudantes e pesquisadores que escolhes-sem enfrentar tal temática.

Uma vez criadas as condições de pes-quisa, há uma diversidade de temas cujo desen-volvimento levaria o conhecimento sobre aeducação rural para um outro patamar. Umprimeiro aspecto a se considerar atualmente éo de que, ao contrário de outros períodos his-tóricos, este é particularmente favorável à tarefade se repensar o rural/campo porque a crise daurbanização e a incipiente consciência da ne-cessidade de um desenvolvimento sustentávelcriaram um espaço especial para isto. Por ou-tro lado, a própria organização camponesacriou efetivamente as condições para se repen-sar o campo sobre bases não necessariamenteurbanas. Considerados esses aspectos, e os jádiscutidos ao longo do artigo, sugerimos que,além dos temas mais comumente explorados,que são os relacionados no Quadro 1, seria deenorme utilidade a produção de estudos sobrea história da educação rural nas diversas re-giões brasileiras.11 Estudos mais abrangentes,que incluam dados quantitativos e qualitativos,também fariam grande diferença para um co-nhecimento mais profundo sobre a área. Final-mente, considerando a extrema variedade docampo brasileiro, é fundamental a produção deestudos etnográficos que ofereçam elementospara uma ação mais eficaz tanto do Estadoquanto dos movimentos sociais. A organizaçãode grupos de pesquisa interregionais que pos-sam desenvolver estudos comparativos tambémajudaria bastante a mudar favoravelmente opanorama do conhecimento sobre a educaçãorural no Brasil e, conseqüentemente, esperamos,influenciar a realização de novas e mais ade-quadas políticas educacionais para o campo.

11. Embora não tenham aparecido na nossa amostra em número sufici-ente para figurarem entre as temáticas dominantes, nos últimos cinco anos,os estudos sobre juventude rural têm cada vez mais ocupado a atenção dosestudiosos. Infelizmente a nossa análise interrompe-se no ano de 1998.Ver, entre outros, Andrade (1998).

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Recebido em 05.03.04Aprovado em 28.04.04

Maria Nobre Damasceno é doutora em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pesquisadora do CNPqe professora colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Ceará.

Bernadete Beserra é PhD em Antropologia pela Universidade da Califórnia, é professora-adjunta da Universidade Federaldo Ceará.