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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS –GRADUAÇÃO “ LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE Estudo sobre o impacto do Emissário Submarino de Icaraí na qualidade da água da Baia de Guanabara. POR: HAMILTON PIRES BARBOSA MENDES ORIENTADOR PROFª Mestre Esther Araújo RIO DE JANEIRO 2011

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Page 1: Estudo sobre o impacto do Emissário Submarino de Icaraí na ... · Plano de esgotamento sanitário para a bacia da Baía ... quais são os pontos positivos e negativos da implantação

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS –GRADUAÇÃO “ LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Estudo sobre o impacto do Emissário Submarino de Icaraí na qualidade da água da Baia de Guanabara.

POR: HAMILTON PIRES BARBOSA MENDES

ORIENTADOR

PROFª Mestre Esther Araújo

RIO DE JANEIRO

2011

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Apresentação de monografia à Universidade

Cândido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Gestão

ambiental.

Por: Hamilton Pires Barbosa Mendes

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AGRADECIMENTO

1) Agradeço ao IAVM e à UCM por proporcionarem um ensino de qualidade ;

2) Agradeço a Minha Orientadora , professora Esther Araújo, pela paciência e dedicação;

3) Agradeço ao Profº Dr. Ronaldo Leão Guimarães por todo apoio;

4) Agradeço a todos que direta e indiretamente têm me ajudado a alcançar meus objetivos.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia aos meus País e a

todos que me ajudaram a seguir em frente,

e concluir esta Pós-graduação.

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RESUMO

O objetivo do trabalho é apresentar uma breve explanação sobre um dos problemas ambientas

mais graves que o Rio de Janeiro vem afrentando: a poluição da Baía de Guanabara. São

apresentados alguns fatos publicados por autores que vêm desde muito tempo debatendo o assunto.

Uma das soluções propostas por pesquisadóres e engenheiros, é a implantação de emissários

submarinos. O estudo foca o caso de emissários que desembocam na baía de guanabara, como é o

caso do emissário submarino de Icaraí. O grave estágio atual de degradação ambiental das águas da

Baía de Guanabara e de seus rios afluentes, principalmente, pelos resíduos sólidos é sinal de que há

problemas na coleta e na disposição final do lixo na região da Bacia Hidrográfica da Guanabara.

Devido a sua composição sólida, o lixo é a mais visível forma de poluição em um corpo d’água. A

sujeira acumulada nas margens da baía e os detritos que bóiam por todo o seu espelho d’água

poluem e causam prejuízos enormes: à saúde da população, aos pescadores, à balneabilidade da

praias, ao turismo, ao lazer e a beleza estética da Baía de Guanabara, o cartão postal do Brasil.

Segundo o IBGE (2000) com relação aos resíduos sólidos urbanos, são coletadas 17.447,2 toneladas

diárias, no Estado do Rio de Janeiro, dos quais, aproximadamente, 78% são provenientes da Região

Metropolitana (RMRJ) e destes, 62% são oriundos da cidade do Rio de Janeiro. Identificou-se que o

Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho, conhecido popularmente por “Lixão de Caxias”, recebe

aproximadamente 8.000 toneladas diárias de lixo. Outro dado importante é que a capacidade desse

aterro já não suporta mais o peso do lixo, apresentando problemas de fissuras, trincaduras e

possíveis deslocamentos horizontais que podem verter para a Baía de Guanabara causando grandes

impactos ambientais e risco à saúde da população local. Pretende-se com essa pesquisa, entender o

a problemática ambiental pela qual passa a Baia de Guanabara

Palavras-chave: Baía de Guanabara. Lixo. PDBG.

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METODOLOGIA

Este trabalho trata de uma pesquisa bibliográfica aprofunda. Hoje em dia a comunidade

científica se mostra mais interessada no estudo da causas e consequêcias da degradação da Baia de

Guanabara, por isso, o numero de trabalhos publicados sobre o assunto é abundante e crescente. Os

pricipais autores utilizados na realização deste trabalho foram Aguinaldo Nepomuceno Marques

Júnior; Mirian Araujo Carlos Crapez; Conceição Denise Nunes Barboza. Pesquisadores que têm

dado atenção especial a problemática da poluição na Baia de Guanabara.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I – A História da Baía de Guanabara 12

1.1 Aspectos sociais e ambientais. 14

1.2 Aspectos históricos e culturais 15

CAPÍTULO II – Cenário Atual da Baía de Guanabara 17

2.1. Estratégias de recuperação da Baia de Guanabara 18

2.2. O Progra de despoluição da Baía de Guanabara 19

CAPÍTULO III – Soluções para a recuperação da Baía de Guanabara 21

3.1. tecnicas de recuperação de corpos d’água. 22

3.2. Plano para melhoria da qualidade da água. 23

3.3. Plano de esgotamento sanitário para a bacia da Baía de Guanabara 25

CONCLUSÃO 26

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 29

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INTRODUÇÃO

O tema desta pesquisa é o impacto do emissário submarino de Icaraí na qualidade da água da

Baia de Guanabara. Este trabalho gira em torno da questão central que é tentar entender se o

emissário submarino de Icaraí trouxe melhorias à qualidade da água da Baia de Guanabara.

Entender o impacto do emissário de Icaraí é de grande importância pois permite obter dados sobre o

impacto de emissários na região. São portanto, objetivos desta pesquisa saber quais são os pontos

positivos e negativos da implantação do emissário de icaraí na Baía de Guanabara.

Todo o processo de degradação ambiental na Baía de Guanabara iniciou-se com a descoberta

da região pelos portugueses, no ano de 1502. À primeira vista, naquela época os 3 navegantes

acharam que o lugar se parecia muito com a desembocadura de um grande rio, e batizaram o

acidente geográfico com o nome de Rio de Janeiro, por ser o dia primeiro de janeiro daquele ano. A

geografia da região era um atrativo a mais para a exploração daquele novo território e ideal para a

construção de portos seguros e instalação de cidades. Este acontecimento foi o marco inicial da

degradação ambiental da Baía de Guanabara pelo homem, segundo Amador, que explana: Tudo

começou num 1º de janeiro de 1502, quando três naus comandadas por Gonçalo Coelho, penetraram

na Baía de Guanabara, desvendando para o mundo ocidental a imagem de um paraíso tropical.

Naquele longínquo verão, nas águas da Guanabara, houve um choque de dois mundos, de duas

concepções de vida e de universos. Dentro das naus impulsionadas pelos ventos, vinham agentes do

mercantilismo europeu, preocupados em conquistar novas terras e mercados para a produção de

mercadorias de valor de troca. Nas frágeis canoas e ubás, impelidas por braços fortes, estavam os

povos do paraíso tropical, organizados num sistema primitivo de socialismo, despreocupados com a

acumulação de bens e riquezas (AMADOR, 1997, p.7).

Após, desencadeou-se o processo de colonização e ocupação do território aliados aos modelos

de desenvolvimento existente, sempre subordinados aos interesses da Coroa Portuguesa e do capital

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internacional. Através das modificações no cenário físico, econômico e humano, aquelas ações

transformariam completamente a região da Guanabara, numa área de exploração de seus recursos

naturais e humanos, como a extração e a comercialização do pau-brasil1 e a catequização dos índios

como mão-de-obra, por exemplo, iniciando e potencializando o seu processo de degradação

ambiental (AMADOR, op. cit.).

Ao falar em degradação ambiental na Baía de Guanabara sabe-se que o derramamento de óleo,

o lançamento de efluentes domésticos (esgoto) e industriais (metais pesados), ambos sem o devido

tratamento, e o lixo, que bóia em suas águas, compõem um dos principais problemas que afetam

esse rico ecossistema guanabarino. Ao contrário dos demais efluentes, o lixo é o que causa o maior

impacto visual devido à consistência sólida de seus resíduos, agravados principalmente pela

produção de embalagens, sacos plásticos e garrafas de plástico, do tipo PET. Porém, cabe observar

que, não se pode esquecer de dois grandes agentes poluidores resultantes da decomposição do lixo

que são: o chorume, em sua forma líquida e o metano, gasoso. O lixo, de origem doméstica ou

industrial, bóiam nas águas da baía e se depositam nas margens de rios e praias, gerando a poluição

das águas, das areias e dos manguezais, desencadeando: a degradação do meio ambiente, a sujeira,

o mau cheiro, a proliferação de vetores de doenças de veiculação hídrica, a poluição visual, o

transtorno para a navegação marítima e o detrimento da prática do lazer e do ecoturismo, entre

outros problemas.

A observação sobre o lixo ou os resíduos sólidos, depositados nas margens dos rios afluentes e

no espelho d’água da baía, evidencia problemas de coleta e disposição final do lixo, na área do

entorno da Baía de Guanabara compreendida por sua bacia hidrográfica. As águas da Baía de

Guanabara funcionam como um termômetro e vêm chamando a atenção das autoridades públicas e

da população há tempos. Caracterizar, equacionar e resolver o problema da degradação ambiental

na Baía de Guanabara torna-se difícil, devido a sua grande complexidade quanto aos aspectos

humanos e ambientais. Outro ponto importante a ser considerado é que a BG é o local receptor das

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águas de aproximadamente 55 rios afluentes que carregam toda a poluição, na forma líquida e

sólida, da bacia para a baía. A questão não envolve somente a baía, mas sim toda a sua bacia

hidrográfica e os seus dezesseis municípios por ela abrangidos, com diversificadas gestões públicas

e delimitadas por fronteiras administrativas. Estudar um determinado fenômeno ambiental sob a

ótica da bacia hidrográfica é importante, pois as questões ambientais nem sempre coincidem com às

fronteiras político-administrativas dos municípios, mas sim por fronteiras geográficas.

A elevada concentração antrópica na região da Guanabara é outro fator importante e de

destaque, principalmente, devido às várias ocupações irregulares de parte da população em

determinadas áreas cruciais, sem o devido planejamento urbano, como a falta de um sistema de

coleta de lixo e esgoto adequados, por exemplo. Outra questão de grande relevância é que as

soluções imediatas de redução da degradação ambiental se manifestam através de ações públicas e

de grandes obras de engenharia, que envolvem recursos econômicos de grande vulto, requerendo os

investimentos do Estado ou investimentos internacionais de cooperação. A partir da década de 90,

devido ao grave panorama de degradação ambiental da Baía de Guanabara, o Governo do Estado do

Rio de Janeiro iniciou o Programa de Despoluição da Baía da Guanabara – PDBG. Tal iniciativa do

Governo Estadual foi motivada por três acontecimentos de cunho ambiental com repercussão

internacional, que geraram pressões múltiplas e incluíram a questão ambiental na agenda dos países

tanto desenvolvidos como subdesenvolvidos. O primeiro acontecimento foi a Conferência das

Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano – CNUMAD, na Suécia em

1972. O segundo acontecimento, considerado o marco referencial do conceito de desenvolvimento

sustentável, ocorreu em 1987, após a divulgação do Relatório Brundtland, intitulado Nosso Futuro

Comum, em português. O terceiro acontecimento foi a ECO-92 ou RIO-92, conhecida como Cúpula

da Terra, no Rio de Janeiro, em 1992, de onde surgiu um documento de grande importância,

conhecido como a Agenda 21 (VARGAS, 2001).

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A Agenda 21 é definida, conforme Guimarães: Uma carta de intenções para implementar um

novo modelo de desenvolvimento no século 21, a ser debatida e aplicada pelas mais diversas e

diferentes comunidades de todo o mundo, respeitando suas culturas, suas peculiaridades e, de modo

especial, seus recursos naturais, de forma a propiciar o manejo sustentável dos recursos naturais, a

preservação da biodiversividade resguardando a qualidade de vida das gerações futuras. Nessa

Agenda fica estabelecido o compromisso com o equilíbrio ambiental e a justiça social entre as

nações. (GUIMARÃES, 2008, p. 10-11). Um novo cenário de consciência ambiental emerge frente

às necessidades de mudanças do comportamento humano para reduzir o alto grau de degradação

ambiental não só na Baía de Guanabara como em todo o planeta, de maneira a preservar os

ecossistemas que ainda permanecem e preservar o bem estar humano que depende da natureza.

Verifica-se que existe preocupação relacionada às questões da sustentabilidade de modo utilizar e

manter os recursos naturais evitando a sua escassez para as gerações atuais e as futuras. Dessa

consciência crescente, a partir de um novo conceito de modelo de desenvolvimento, que surgiu em

1987, destaca-se a importância e a relevância internacional do meio ambiente, com o

comprometimento das nações, que se traduz pela denominação de desenvolvimento sustentável.

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CAPÍTULO I – A História da Baía de Guanabara

foto: (SDM)

A Baía de Guanabara foi o elemento fundamental da posição desempenhada pela Cidade do

Rio de Janeiro no cenário brasileiro, por ser ampla e bem abrigada, devido ao estreito espaço de sua

barra, 1.600 metros, ladeados por dois morros que formam um baluarte natural de proteção: o Pão

de Açúcar e o de Santa Cruz. Seu interior é calmo, de boa profundidade e grande espaço para

ancoragem de navios, chegando a ter vinte e oito quilômetros de extensão na direção norte-sul.

Nas suas duas pontas de entrada foram construídas duas importantes Fortalezas: a de Santa

Cruz e a de São João e qualquer embarcação que penetrasse a barra ainda teria que passar pela

Fortaleza de Lage, construída um pouco mais para dentro, formando com as outras duas Fortalezas

da barra um triângulo.

Desta forma a Baía do Rio de Janeiro era uma praça mais fortificada que a da Bahia, tendo

chegado a abrigar nove Fortalezas e tendo ainda o Arsenal do Trem para abastecimento, que possuía

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material de reposição para as Fortalezas. A posição da Baía permitiu que nela se desenvolvesse um

importante Porto da Cidade. Segundo o Instituto Baía de Guanabara(IBG), estas condições

transformaram a cidade em um centro econômico importante e nele se estabeleceram os armazéns

reais que forneciam materiais bélicos para o Rio Grande, no sul do Brasil, mas esta situação

despertava também, a cobiça de outros povos interessados nas riquezas que a cidade guardava em

seus muros e a manutenção e conservação de todo o seu poderio bélico era oneroso e demandava

muito trabalho.

A baía do Rio de Janeiro, possuía uma grande possibilidade de interiorização através do Rio

Paraíba do Sul e seus afluentes, que vinham desaguar na Baía estabelecendo uma importante

ligação. No século XVII a cana de açúcar foi o fator de desenvolvimento do Porto do Rio de

Janeiro, que só perdia para a Bahia e para Pernambuco, os dois centros de produção açucareira

nordestina. No século XVIII, com a descoberta do ouro, o porto passou a ser o "porto do ouro", mas

a partir de 1770 o açúcar voltaria a ter sua importância, com a diminuição do ouro das Minas. O

açúcar manteve sua importância até o século XIX, quando o café tomou o seu lugar. O Porto do Rio

de Janeiro teve sua importância até o início do século XX e existe uma corrente que acha que o

esvaziamento do Rio de Janeiro teve seu início não com a transferência da capital para Brasília, mas

no final do século XIX, quando o Porto de Santos passou a ser o mais importante da região.

A Baía está repleta de ilhas: a maior delas o do Governador com 32 Km2, onde do final do

século XVI até o do século XVII operou o principal engenho açucareiro da família Sá, inicialmente

pertencente ao Governador Salvador Correia de Sá; seguida da de Paquetá com aproximadamente 1

Km2 de extensão. Hoje muitas ilhas foram integradas ao continente.

As ilhas foram inicialmente locais de fortificação militar, zonas de produção de alimentos e

colônias de pesca. A Marinha sempre teve importantes instalações nas ilhas, como: a de

Villegagnon que abriga a Escola Naval; a Ilha das Cobras com o Arsenal de Marinha; a Ilha Fiscal

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onde atualmente se encontra um Centro Cultural, mas que já foi sede do Centro Oceanográfico da

Marinha e a Ilha das Enxadas ocupada pelo Centro de Treinamento da Marinha. Muitas ilhas se

transformaram em depósitos de petróleo e derivados de munições e a Baía tem sido muitas vezes

castigada por desastres ecológicos deles provenientes. A Ilha de Sapucaia foi utilizada como

depósito de lixo e hoje está incorporada à Cidade Universitária da Ilha do Fundão.

1.3 Aspectos sociais e ambientais.

Foto: Nelson Rodrigues- Lixo flutuante na baía do Guanabara segue apesar de programa de despoluição

Não é de hoje que se sabe dos graves problemas ambientais que afetam a Baía de Guanabara

(BG) em seu ecossistema. Milhares de toneladas de lixo são depositadas diariamente em aterros

próximos a baía e outra parcela é jogada diretamente nos corpos hídricos ou em terrenos

clandestinos (vazadouros) próximos, que através das chuvas e ventos chegam às águas da BG. Estas

ações contribuem para o progressivo aumento do lixo e do assoreamento, que são potencializados

ainda pelas ocupações irregulares às margens ribeirinhas, pelos desmatamentos predatórios da mata

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nativa e pelas obras de canalizações dos cursos dos rios, que fazem parte da Bacia Hidrográfica da

Baía de Guanabara (BHBG), vindo a desaguar nas águas da BG espalhando-se por todo o seu

espelho d’água.

1.4 Aspectos históricos e culturais

Baía da Guanabara

A Baía de Guanabara é uma das mais importantes referências naturais e culturais do Brasil, do

Estado do Rio de Janeiro e de todos os municípios que a margeiam. A beleza da sua paisagem e a

sua natureza exuberante foram repetidamente e entusiasticamente ressaltadas por viajantes, pintores,

poetas, estudiosos e, por tantos, anônimos admiradores. O reconhecimento da sua importância

começou muito antes da chegada dos colonizadores europeus. Por muitos séculos, desde os

primeiros povos - os construtores dos sambaquis - aos tupinambás, tupiniquins e outras populações

indígenas encontradas pelos primeiros navegantes europeus, o ecossistema da Baía de Guanabara e

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seu entorno eram permanentemente disputados por numerosos grupos rivais. A baía lhes garantia

alimentação farta e o privilégio de sua primazia garantia vida fácil e saudável.

O colonizador também veio atraído pelas riquezas locais, mas logo percebeu que o porto calmo

e seguro também possuía grande valor estratégico, como suporte à navegação de suas embarcações

ao longo do litoral, como para o acesso às terras e às riquezas do interior do país. Era de se esperar

que ao longo da história, um local tão atraente assim, só poderia mesmo acabar por atrair um grande

contingente de população. A cidade do Rio de Janeiro foi crescendo em importância nacional e

internacional e, em pouco tempo já era a capital da Colônia, com a chegada da família real

portuguesa tornou-se a capital do Reino, com a independência do Brasil a capital do Império e,

posteriormente, foi a capital da República. A Cidade do Rio de Janeiro cresceu e fundiu-se com as

cidades vizinhas em um processo de conurbação que contornou as águas da Baía e que gerou uma

grande região metropolitana, uma das maiores do planeta. Só na Região Hidrográfica da Baía da

Guanabara existe uma população de cerca de 10 milhões de pessoas. Com o crescimento urbano

desenvolveu-se junto à Baía de Guanabara um dos maiores parques industriais do Brasil e do

continente, fatos esses que ocorreram de forma concomitante e em um processo de mútua

retroalimentação.

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CAPÍTULO II – Cenário Atual da Baía de Guanabara

Baía de Guanabara vista ( NASA)

Após 15 anos do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG) divide opiniões, os

envolvidos concordam que os resultados aparecem de maneira mais tímida do que era de se esperar.

Mas eles também superam obstáculos que vão da burocracia ao desvio de verbas. Segundo José

Maria Pugas, presidente da Federação dos Pescadores do Rio de Janeiro (Feperj), a baía sofre pela

posição estratégica, pelo tamanho e pela profundidade e por haver cinco mil indústrias

potencialmente poluidoras, e mais de 70% não têm tratamento de resíduos de qualquer ordem.

São 16 os municípios ao redor da Baía de Guanabara e até há bem pouco tempo todos

despejavam resíduos líquidos e sólidos em suas águas, por meio dos rios que nascem no interior do

Estado, sobretudo nas áreas industriais da zona Norte e da baixada Fluminense.

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De acordo com os órgãos oficiais, a despoluição caminha na proporção dos recursos. As

estações de tratamento de esgoto (ETE) de Paquetá, da Ilha do Governador, de Icaraí (Niterói) e da

Alegria, no bairro do Caju, operam em toda a capacidade ou de maneira ainda parcial.

2.1. Estratégias de recuperação da Baia de Guanabara

Emissários da Barra, Ipanema e de Icaraí- Niteroi

A recuperação da Baía de Guanabara se dará em conseqüência de ações realizadas na sua

Região Hidrográfica. Ela não é uma piscina que pode ter a sua água limpa artificialmente.. A água

doce que ela recebe dos rios, cerca de 200 mil litros por segundo, conduz todo tipo de sujeira,

efluentes industriais e, principalmente, muito esgoto doméstico e lixo. A grande maioria das

indústrias já cuida dos seus dejetos mas nenhum dos 16 municípios da área conseguiu ainda

resolver seus problemas com o tratamento dos esgotos e com o destino final do lixo. E o que vai

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para as galerias de águas pluviais ou para o rio, acaba na Baía. Portanto, os projetos de recuperação

da Baía de Guanabara têm que ser realizados no seu entorno, e os 9 milhões de habitantes também

precisam colaborar, daí a importância dos programas de informação e de educação ambiental.

2.2. O Progra de despoluição da Baía de Guanabara

Foto por Alexandre-Azevedo/Projeto Maqua (Uerj)

Muito dinheiro têm sido investido na recuperação da qualidade da águas da Baía e os principais

projetos nos últimos anos, foram: 1 - Projeto de Despoluição da Baía de Guanabara – PDBG,

assinado em 1994 e realizado desde então pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro. O orçamento

inicial teve recursos do BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento (350 milhões de dólares);

da agência japonesa JBIC - Japan Bank for International Cooperation (237 milhões de dólares) e

206 milhões de dólares provenientes do governo estadual. O Projeto constou de seis componentes:

saneamento (coleta e tratamento de esgotos sanitários e racionalização do abastecimento de água)

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melhoria na coleta de lixo, controle de inundações, mapeamento digital da região e diversos

projetos ambientais. Detalhes deste projeto podem ser obtidos em www.cibg.rj.gov.br.

A maior parte dos recursos desta etapa, que é a primeira do Projeto de Despoluição da Baía de

Guanabara, é destinada a obras de saneamento básico, não somente esgotos domésticos mas

também a melhoria dos sistemas de abastecimento de água. O esquema acima, embora não

atualizado, permite visualizar a magnitude da intervenção. 2 - Programa de Revitalização Ambiental

da Baía de Guanabara. Lançado em cerimônia pública em 5 de fevereiro de 2001, na presença do

então Ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, foi administrado pelo IBAMA.

O orçamento original era de 51 milhões de reais, utilizando os recursos da multa recolhida pela

Petrobras em conseqüência do vazamento acidental de óleo na Baía de Guanabara em janeiro de

2000. Dividia-se em quatro componentes: Projetos em parceria com os municípios; aprimoramento

operacional dos órgãos ambientais; revitalização e proteção de Unidades de Conservação e

Pesquisa, recuperação e educação ambiental. 3 - Projeto Baia Azul Como parte do Programa de

Revitalização Ambiental da Baía de Guanabara, foi prevista a aplicação de 2,4 milhões de reais em

atividades de educação ambiental e replantio de manguezais por um Consórcio de seis ONGs

liderado pela Fundação Onda Azul e do qual o IBG participou com a incumbência da elaboração de

um Banco de Dados para reunir informações.

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CAPÍTULO III – Soluções para a recuperação da Baía de Guanabara

No caso da Baía de Guanabara, o processo de recuperação começa nos afluentes que cortam os

centros urbanos e chegam à baía. Os componentes clima, solo, água e ar, em regiões urbanas,

respondem sensivelmente aos impactos humanos, os quais são, usualmente, muito mais intensos do

que nas áreas rurais. Tendo em vista que a porcentagem da população mundial que vive nas cidades

está aumentando, a conservação dos recursos naturais e da biota urbana é extremamente importante.

Entretanto, segundo Sukopp (2004), em muitas partes do mundo o entendimento dos ecossistemas

urbanos e dos respectivos processos impactantes, como um requisito preliminar à conservação, não

são suficientemente estudados.

No Brasil, muitos dos problemas urbanos que ocorrem, ordinariamente, na época das chuvas

quedas de barreiras, deslizamentos de encostas nos morros, enchentes, escorrimento superficial e

conseqüente assoreamento dos rios são ocasionados pelo desmatamento e mau uso do solo, os quais

poderiam ser evitados com o planejamento e a pesquisa (FRANCO et al.,2004). Esses fatos podem

ser constatados nos municípios do interior do Estado de São Paulo, onde o crescimento das cidades,

até pouco tempo atrás, ocorria sem estudos, sem planejamento, de maneira desorganizada e sem

preocupação em relação à preservação das áreas naturais remanescentes. O que observamos, na

atualidade, são os reflexos desse tipo de “desenvolvimento”. Em zonas urbanas, um dos poucos

locais com vegetação natural remanescente são as áreas marginais aos corpos d'água. Entretanto, na

maior parte dos casos, nem mesmo esses espaços têm sido mantidos ou respeitados. Uma forma de

recobrar as benesses de um meio ambiente equilibrado e saudável, propiciando melhor

qualidade de vida à população, em especial aos residentes das áreas adjacentes, é revitalizar as áreas

marginais a esses corpos d'água. Nesse sentido, para que uma vegetação se desenvolva a contento é

necessário que o solo disponha de condições físicas, químicas e biológicas mínimas para o seu

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rescimento, além de proporcionar maior infiltração de água das chuvas, concorrendo para a

iminuição do volume de enxurrada que chega ao córrego.

3.1. tecnicas de recuperação de corpos d’água.

A Resolução CONAMA 357/05 introduziu, além das diretrizes ambientais para o

enquadramento dos corpos d’água em classes de usos preponderantes, o conceito de metas

intermediárias progressivas de melhoria da qualidade da água. Com base em critérios de viabilidade

técnica e econômica, as medidas de controle possíveis seriam escalonadas com vistas ao

atendimento de metas intermediárias progressivas. Assim, cada conjunto de medidas estaria

relacionado com a melhoria progressiva da qualidade da água, em termos de redução de carga

poluente e das condições de qualidade remanescentes no corpo de água. Com base nos conceitos da

Resolução CONAMA 357/2005, os padrões de qualidade de água estabelecidos pela legislação

estadual (DZ-105) foram, inicialmente, considerados como a meta de qualidade de água a ser

atingida. Por outro lado, uma meta evidente a ser alcançada é a eliminação ou minimização das

condições inaceitáveis de poluição da área oeste, particularmente nos Canais entre o continente e as

Ilhas do Fundão e do Governador. As metas para a melhoria da qualidade de água da Baía de

Guanabara foram, portanto, avaliadas, visando obter um equilíbrio entre os objetivos de qualidade

de água desejados e a viabilidade das medidas de controle — sistemas de esgotamento sanitário —

a serem implementadas. Cabe lembrar que, a DBO foi definida como o indicador a ser utilizado,

tanto para criar cenários sobre o estado de qualidade da água da água, quanto para aferir ou

acompanhar os resultados da implantação de medidas de controle que possibilitem atingir o objetivo

de melhoria de qualidade de água desejado. Dessa forma, as metas progressivas, foram expressas

em termos de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), indicador de qualidade de água que deve

decrescer como resultado da implantação de sistemas de tratamento de esgotos. Ainda, para definir

a estratégia para recuperação da qualidade de água da Baía de Guanabara, foi assumida a premissa

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de que o foco central do plano de despoluição seria a adoção de medidas de controle visando a

implantação de rede e tratamento de esgotos. Apesar de ser um método confiável de redução de

poluição, a implantação de esgotamento sanitário tem as seguintes limitações:

· Na prática, não é possível ter cobertura total de rede de esgotos na bacia da Baía de Guanabara e,

algum efluente remanescente, sem tratamento, será lançado na baía;

· Os sistemas de esgotamento reduzem somente as cargas provenientes de fontes pontuais, não

atuando na redução das cargas de poluentes provenientes de fontes não-pontuais, tais como, águas

de drenagem de áreas urbanas e runoff de agricultura, que muitas vezes são significativas,

representando carga adicional de nutrientes que contribuem para a eutrofização do corpo d´água.

3.2. Plano para melhoria da qualidade da água.

Segundo Cristina (2006), é possível estabelecer um Plano para Melhoria da Qualidade de Água

da Baía de Guanabara, com metas progressivas de curto, médio e longo prazos, conforme descrito, a

seguir:

i. Metas de curto prazo – Relacionadas às medidas urgentes para eliminação das condições

intoleráveis de um ambiente altamente poluído, como as áreas próximas aos canais entre o

continente e as Ilhas do Fundão e do Governador, estabelecendo como objetivo de qualidade de

água valores de DBO menor que 10 mg/L, na baía como um todo, até o ano 2012. Pode ser

alcançada, com o desenvolvimento prioritário de sistema de esgotamento sanitário na bacia

noroeste, com tratamento biológico, sendo, ainda necessária, adição de coagulante para remoção de

parte do Fósforo Total do efluente, tecnologia já adotada em algumas estações de tratamento de

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esgotos do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG). De acordo com as simulações

realizadas, a redução de poluição para atender às metas de curto prazo, ou seja, a redução de

poluição para melhorar a qualidade de água da parte noroeste da baía, também afeta a qualidade de

água da baía como um todo, aumentando as áreas com DBO menor que 5mg/L (padrão de

qualidade de água da legislação estadual) na direção da parte nordeste da baía. Como o objetivo das

metas de curto prazo é reduzir os impactos localizados na qualidade de água da Baía de Guanabara,

seria recomendável, no curto prazo, a implantação de sistemas de esgotamento e tratamento na área

leste, nas sub-bacias com alta concentração populacional e lançamentos significativos de esgotos

sanitários na baía.

ii. Metas de longo prazo – Não há, atualmente, tecnologia de controle disponível para que a

melhoria da qualidade de água alcance os padrões de qualidade de água da classificação

estabelecida pela legislação estadual. Dessa forma, o enquadramento da Baía de Guanabara definido

na legislação estadual é impróprio como meta realizável e deve ser revisto. Propõe-se considerar os

objetivos de qualidade de água definidos pela legislação estadual, como meta de longo prazo, ou

seja, uma meta desejável sem prazo para ser alcançado.

iii. Metas de médio prazo – Uma faixa intermediária entre as metas de curto prazo e as metas

estabelecidas pela legislação estadual pode representar uma meta mais factível, que pode ser

alcançada por meio de medidas de controle viáveis. Assim, este estudo estabelece uma meta de

médio-prazo, que visa minimizar as áreas da baía com DBO acima de 5m/L. A meta de médio prazo

é a meta a ser alcançada pelo Plano Estratégico proposto no item Infra-estrutura Física. O Plano

Estratégico deve ser estabelecido com base no desenvolvimento de sistemas de esgotamento para a

bacia como um todo e, formulado, a partir de cenários previstos para o futuro, podendo o ano de

2020 ser considerado como um horizonte possível de ser atingido para as metas de médio prazo. As

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metas de médio prazo para a população de 2000 corresponderiam a 90% de remoção de DBO, 30%

de remoção de Nitrogênio Total e 50% de remoção de Fósforo Total, para o objetivo de qualidade

de água, com DBO menor que 5mg/L na baía, exceto nas áreas noroeste e nordeste.

3.3. Plano de esgotamento sanitário para a bacia da Baía de Guanabara

A partir dos dados disponíveis, foi desenvolvido o Plano Estratégico de Esgotamento Sanitário

para a Bacia da Baía de Guanabara. As principais informações sobre o Plano de Esgotamento

Sanitário são: a área a ser esgotada, a população a ser atendida (90% da população estimada para

2020), a capacidade das estações de tratamento de esgotos planejadas, bem como a extensão das

redes de esgotamento que deverão conduzir os esgotos às Estações de Tratamento de Esgotos

(ETE’s) projetadas.

Considerando a necessidade de atendimento à legislação estadual vigente, ou seja, aos padrões

de lançamento estabelecidos para esgotos sanitários (DZ-215), foi prevista, no desenvolvimento do

Plano de Esgotamento Sanitário, a adoção de tecnologia capaz de produzir efluente dentro dos

padrões, tendo sido projetadas estações de tratamento, a nível secundário, pelo processo de Lodos

Ativados. Entretanto, para atendimento às metas progressivas de qualidade de água para a Baía de

Guanabara, será necessário, paulatinamente, o aprimoramento das estações de tratamento por meio

da implantação de equipamentos e unidades adicionais, capazes de remover 30% de Nitrogênio

Total e 50% de Fósforo Total.

A remoção de Fósforo Total poderá ser obtida por meio da adição de coagulantes e floculantes,

tais como sulfato de alumínio ou cloreto férrico nos tanques de aeração. O processo demandará uma

área adicional para o armazenamento de produto químico, equipamentos de dosagem e mistura, que

são facilmente incorporados numa planta de tratamento de esgotos sanitários, do tipo Lodos

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Ativados. Por outro lado, a remoção simultânea de Fósforo Total e Nitrogênio Total, quer seja pela

adoção de processos para nitrificação e denitrificação (Anoxic/Oxic Process), seguido de adição de

coagulante, quer seja pela adoção de tratamento do tipo Anareobic/Anoxic/Oxic Process, requer

modificação significativa no tratamento secundário por Lodos Ativados, previsto para a primeira

fase. De qualquer forma, não seria viável num estágio inicial, a implantação de sistema de

tratamento completo, mas a complementação do tratamento para remoção de Fósforo Total e

Nitrogênio Total deverá estar contemplada em etapas subseqüentes.

CONCLUSÃO

Desde os anos 1970, já era conhecido que a Baía de Guanabara estava bastante poluída por

carga orgânica, principalmente esgotos domésticos e despejos industriais, apresentando valores

relativamente altos de DBO, principalmente nas áreas costeiras, com todas as praias interiores fora

dos padrões de balneabilidade. Já existia, também, a preocupação com o problema da eutrofização e

o risco de se agravar esse problema, na medida em que tratamento secundário de esgotos fosse

implantado, aumentando a transparência da água. Esses estudos serviram de base para a negociação

do Projeto de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG), nos anos 1990. Ainda, na década de

1990, foram realizados vários estudos para o melhor entendimento do comportamento do

ecossistema, principalmente em relação ao processo de eutrofização, com o aprimoramento dos

modelos de qualidade de água para coliformes, OD/DBO, nitrogênio, fósforo, fitoplâncton/clorofila

e transparência.

Pesquisadores apresentaram propostas viáveis para recuperação da qualidade de água da Baía

de Guanabara, que é centrada em implantação de tratamento de esgotos para atendimento às metas

de qualidade de água de curto, médio e longo prazos, tendo a Demanda Bioquímica de Oxigênio

(DBO) como parâmetro indicador da melhoria de qualidade de água desejada. Para melhorias mais

imediatas na baía, correspondendo a um cenário de qualidade de água que elimina as condições de

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anaerobiose e possibilita concentrações de DBO menores que 10 mg/L na baía como um todo, foi

considerada prioritária a adoção de sistemas de tratamento por lodos ativados nas bacias do Pavuna-

Meriti, Sarapuí e Bangu, na costa oeste e, iniciada a primeira fase de implantação dos sistemas

Alcântara e Imboassu, na costa leste. As metas de médio prazo para a população de 2000

correspondem a 90% de remoção de DBO, 30% de remoção de Nitrogênio Total e 50% de remoção

de Fósforo Total, para o objetivo de qualidade de água, com DBO menor que 5mg/L na baía, exceto

nas áreas noroeste e nordeste. A falência do modelo do PLANASA a partir dos anos 1990 criou

uma lacuna no setor de saneamento básico. Por outro lado, o conjunto de reformas econômicas da

última década modificou as bases sobre as quais se dava à atuação do Estado no domínio

econômico e diminuiu de forma expressiva a atuação empreendedora do Estado, transferindo sua

responsabilidade principal para o campo da regulação e fiscalização dos serviços delegados à

iniciativa privada. É nesse contexto que se propõe a concessão dos serviços de saneamento da bacia

da Baía de Guanabara para a iniciativa privada, cabendo à agência reguladora estadual, o encargo

de celebrar convênios com os municípios, zelar pelo contrato de concessão e fiscalizar a

implementação do plano de esgotamento sanitário e, conseqüentemente, o atendimento às metas de

qualidade de águas de curto, médio e longo prazos, necessárias para melhoria da qualidade da Baía

de Guanabara. O consórcio público de municípios conveniado com o Estado e coordenado pela

agência reguladora estadual, não contraria a lógica constitucional, baseada no princípio de

eficiência, quanto à distribuição de competência para os serviços de saneamento, função pública de

interesse comum na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Essa ação coordenada garante, ainda,

o interesse ambiental de recuperação da qualidade de água da Baía de Guanabara, em consonância

com a Política Nacional de Recursos Hídricos e com a legislação ambiental vigente A partir das

avaliações realizadas e considerando que uma bacia de esgotamento com potencial de arrecadação

muito alto, deve suportar os investimentos necessários na bacia com potencial de arrecadação muito

baixo, são propostas duas concessões dos serviços de saneamento para a bacia da Baía de

Guanabara. O primeiro compreende as bacias de esgotamento de Alegria, Penha, Ilha do

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Governador, Pavuna-Meriti, Sarapuí e Bota; e a segunda cobre as bacias da Zona Sul, Iguaçu,

Estrela, Roncador, Macacu, Guaxindiba, Alcântara e Imboassu. Por outro lado, o sucesso do

financiamento do plano de esgotamento sanitário pressupõe estabilidade e clareza do aparato legal e

regulatório, de forma que os riscos possam ser minimizados. Como uma alternativa de crédito de

longo prazo capaz de viabilizar os projetos, destaca-se o papel do project finance, que possibilita

montar uma estrutura financeira capaz de financiar projetos a partir do seu próprio fluxo de caixa.

Em resumo, o escopo da regulação do saneamento na bacia da Baía de Guanabara visa atingir de

um resultado prático, que alie a maior satisfação do interesse público significativo com o menor

sacrifício possível de outros interesses constitucionalmente protegidos, bem como,

secundariamente, com o menor dispêndio dos recursos públicos disponíveis.

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