estudo e concepÇÃo de um sistema para...

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ESTUDO E CONCEPÇÃO DE UM SISTEMA PARA CARACTERIZAÇÃO DE ESFORÇOS EM MÁQUINAS DE PERFURAÇÃO DIRECIONAL Marcelo Ferreira Quélhas DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA MECÂNICA. Aprovada por: Prof. Max Suell Dutra, Dr.-Ing. Prof. Luciano Santos Constantin Raptopoulos, D.Sc. Prof. Fernando Augusto de Noronha Castro Pinto, Dr.-Ing. Prof. Moysés Zindeluk, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL OUTUBRO DE 2005

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ESTUDO E CONCEPÇÃO DE UM SISTEMA PARA CARACTERIZAÇÃO DE

ESFORÇOS EM MÁQUINAS DE PERFURAÇÃO DIRECIONAL

Marcelo Ferreira Quélhas

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS

PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM

ENGENHARIA MECÂNICA.

Aprovada por:

Prof. Max Suell Dutra, Dr.-Ing.

Prof. Luciano Santos Constantin Raptopoulos, D.Sc.

Prof. Fernando Augusto de Noronha Castro Pinto, Dr.-Ing.

Prof. Moysés Zindeluk, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

OUTUBRO DE 2005

ii

QUÉLHAS, MARCELO FERREIRA

Estudo e Concepção de um Sistema para

Caracterização de Esforços em Máquinas de

Perfuração Direcional [Rio de Janeiro] 2005

XI, 132 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ,

M.Sc., Engenharia Mecânica, 2005)

Dissertação – Universidade Federal do

Rio de Janeiro, COPPE

1 Perfuração direcional

2 Célula de carga

3 Processamento de sinais

I. COPPE/UFRJ II. Título (série)

iii

A meus pais, meu irmão, Nadja, meu avô e a

todos amigos. Em especial, a meus avós,

Valdemiro, Joaquina e Ilza que, infelizmente,

não podem estar aqui neste momento tão

importante.

iv

Agradecimentos

A meu orientador Prof. Max Suell Dutra, pela paciência, amizade, dedicação,

incentivo, confiança e oportunidades ao longo destes três anos de trabalho, desde o

início do curso.

Ao co-orientador e Prof. Luciano Raptopoulos pela participação na avaliação de

meu trabalho, incentivo e pela imensa contribuição dada.

A todos integrantes do Laboratório de Robótica (LabRob), pelo ambiente de

trabalho, apoio e incentivo em todos os momentos, sempre em espírito de grupo.

A todos os professores do Programa de Engenharia Mecânica da COPPE.

Agradeço ao Programa de Engenharia Mecânica da COPPE pela oportunidade

singular, e a todos os funcionários do corpo técnico do programa pelo ótimo serviço

prestado durante este período, e em especial à Vera e a Maysa, pela ajuda sempre

imediata.

A meus pais, José Mauro e Maria José, meu irmão, Mauricio, meu avô, José

André e a Nadja pelo apoio irrestrito, amor, paciência, compreensão e por tudo, sempre.

A todos os meus parentes pelo incentivo e apoio.

A todos os colegas de curso, que tanto me ajudaram durante e após as disciplinas,

pelas trocas de conhecimento e experiência, incentivo e apoio.

A todos meus amigos e pessoas que comigo estiveram no decorrer do trabalho e

que contribuíram para a consecução deste meu sonho.

v

Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

ESTUDO E CONCEPÇÃO DE UM SISTEMA PARA CARACTERIZAÇÃO DE

ESFORÇOS EM MÁQUINAS DE PERFURAÇÃO DIRECIONAL

Marcelo Ferreira Quélhas

Outubro/2005

Orientador: Max Suell Dutra

Programa: Engenharia Mecânica

Este trabalho tem por objetivo estudar as máquinas de perfuração direcional,

desenvolvendo uma célula de carga para a caracterização da força e torque a que este

tipo de máquina se encontra submetida, durante a execução do furo para a passagem de

utilidades públicas. Sinais com interferências e ruídos captados pela célula de carga, são

transmitidos por um sistema proposto, e posteriormente comparados a um sinal de ruído

correlacionado àqueles. Para supressão dos ruídos foi sugerido o método de filtragem

adaptativa, que é um método vantajoso, pelo fato de não ser necessário ter informações

sobre o sinal ou o ruído. Depois de filtrados, os sinais devem ser analisados por uma

lógica de controle, capaz de interromper o funcionamento da máquina, caso seja

excedida a carga máxima tolerada, evitando-se danos. Para proporcionar o

desenvolvimento do projeto, foi introduzido um breve histórico sobre este tipo de

perfuração, assim como a motivação para este trabalho. Em seguida, foi feita uma

introdução sobre solos. Ainda como base para o projeto, foi apresentada toda a

metodologia sobre este tipo de perfuração, seguida de uma apresentação sobre

extensometria, telemetria e processamento de sinais. Na última parte, foi realizado o

desenvolvimento do projeto propriamente dito.

vi

Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

STUDY AND CONCEPTION OF A SYSTEM FOR CHARACTERIZATION OF

FORCES IN DIRECTIONAL DRILLING MACHINES

Marcelo Ferreira Quélhas

October/2005

Advisor: Max Suell Dutra

Department: Mechanical Engineering

The purpose of this work is to study the directional drilling machines, developing a

load cell for force and torque characterization during the tunneling task, for public

utilities installation. Signals with noise and interference picked up by load cell, are

transmitted by the proposed system, and lately compared to a noise signal correlated to

those ones. Adaptive filtering was suggested to remove noise, as an advantageous

method, because it is not necessary to have any information about signal and noise.

After filtering, a logic control must analyze the signals and stop the machine if the

maximum load is exceeded, avoiding damage. To provide the development of this

project, it is introduced a brief explanation on the history of this drilling method, and the

motivation for it. Then, a brief discussion on soils is presented. Also as the basis for this

project, the whole methodology of directional drilling method is presented, followed by

telemetry, signal processing and strain gage presentation. In the last part the project is

reported.

vii

ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................1

1.1 ESTE PROJETO............................................................................................................................2 1.2 O ESTADO DA ARTE...................................................................................................................4

1.2.1 Primeiros relatos sobre perfuração horizontal ....................................................................9 1.3 ORGANIZAÇÃO DOS CAPÍTULOS...............................................................................................13

2 PRINCÍPIOS DA GEOLOGIA APLICADOS AO PROBLEMA..............................................14 2.1 PRIMEIROS ESTUDOS DO SOLO.................................................................................................14 2.2 ORIGEM DOS SOLOS..................................................................................................................15 2.3 GRANULOMETRIA ....................................................................................................................18 2.4 SOLOS ARGILOSOS....................................................................................................................20 2.5 SOLOS ARENOSOS ....................................................................................................................21 2.6 SOLOS ROCHOSOS ....................................................................................................................22 2.7 INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA ...................................................................................................22

3 PERFURAÇÃO DIRECIONAL....................................................................................................25 3.1 PESQUISA SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA PERFURAÇÃO HORIZONTAL .................................25 3.2 DESCRIÇÃO E COMPOSIÇÃO DOS EQUIPAMENTOS DE PERFURAÇÃO HORIZONTAL ....................27

3.2.1 Unidade de perfuração.......................................................................................................29 3.2.2 Unidade de bombeamento/mistura de fluido ......................................................................31 3.2.3 Fluidos de perfuração ........................................................................................................32 3.2.4 Unidade de detecção de contato com linha elétrica energizada ........................................32 3.2.5 Eletrônicos de monitoramento da perfuração ....................................................................33

3.3 COMPONENTES PRINCIPAIS NAS ETAPAS DO MÉTODO NÃO DESTRUTIVO...................................34 3.3.1 Etapa de Perfuração: .........................................................................................................34

3.3.1.1 Hastes de perfuração ............................................................................................................... 34 3.3.1.2 Cabeça de perfuração .............................................................................................................. 35 3.3.1.3 Bit de perfuração ..................................................................................................................... 36 3.3.1.4 Haste intermediária (Transition Sub) ...................................................................................... 36 3.3.1.5 Emissor de sinais (beacon)...................................................................................................... 37 3.3.1.6 Receptor de sinais (Tracker) ................................................................................................... 37

3.3.2 Etapa de Alargamento e Puxada do Produto a Ser Instalado ............................................38 3.3.2.1 Hastes...................................................................................................................................... 38 3.3.2.2 Haste Intermediária (Transition Sub) ...................................................................................... 38 3.3.2.3 Alargador com jatos ................................................................................................................ 39 3.3.2.4 Distorcedor (swivel) ................................................................................................................ 40 3.3.2.5 Dispositivo de Puxada (Pulling Head) .................................................................................... 40

3.4 PROCESSOS DA PERFURAÇÃO – PROCEDIMENTOS PARA EXECUÇÃO DO FURO DIRECIONADO ...40 3.4.1 Análise da capacidade de puxada do equipamento............................................................41 3.4.2 Análise do projeto...............................................................................................................41 3.4.3 Inspeção do local a ser perfurado ......................................................................................41 3.4.4 Planejamento do perfil do furo...........................................................................................42 3.4.5 Posicionamento da unidade de perfuração ........................................................................42 3.4.6 Preparo do fluido de perfuração ........................................................................................43 3.4.7 Execução do furo piloto......................................................................................................43 3.4.8 Montagem das ferramentas de alargamento e puxada de dutos.........................................46 3.4.9 Término da puxada.............................................................................................................48 3.4.10 Isolamento da tubulação e limpeza................................................................................48 3.4.11 Retirada de lama e resíduos de fluido de perfuração ....................................................48 3.4.12 Desmobilização do equipamento ...................................................................................48

3.5 OPERAÇÕES FUNDAMENTAIS DURANTE A EXECUÇÃO DO FURO ................................................49 3.5.1 Rotação...............................................................................................................................49 3.5.2 Avanço ................................................................................................................................50 3.5.3 Rotação conjugada com o avanço......................................................................................50 3.5.4 Localização eletrônica da cabeça de perfuração...............................................................51

viii

3.5.5 Alargamento e puxada da tubulação a ser instalada .........................................................55 3.5.6 Alargamento com puxada simultânea do(s) duto(s) ...........................................................55 3.5.7 Operação de pré-alargamento ...........................................................................................57

4 INSTRUMENTAÇÃO....................................................................................................................59 4.1 EXTENSOMETRIA......................................................................................................................59

4.1.1 Extensômetros.....................................................................................................................60 4.1.2 Tipos de Extensômetro........................................................................................................61 4.1.3 Seleção de Extensômetros...................................................................................................63 4.1.4 Ponte de Wheatstone ..........................................................................................................64 4.1.5 Tipos de Ligações ...............................................................................................................66

4.2 SISTEMA DE MONITORAMENTO REMOTO (TELEMETRIA) .........................................................68 4.3 PROCESSAMENTO DE SINAIS .....................................................................................................69

4.3.1 Digitalização de sinais .......................................................................................................71 4.3.2 Supressão de ruído .............................................................................................................76 4.3.3 Filtragem adaptativa ..........................................................................................................79

4.3.3.1 Filtro de Wiener Ótimo ........................................................................................................... 82 4.3.3.2 LMS (least-mean-square) ....................................................................................................... 85 4.3.3.3 NLMS (normalized-least-mean-square) ................................................................................. 86 4.3.3.4 Supressão de Ruído com filtragem adaptativa......................................................................... 87

5 MODELAGEM DAS FORÇAS ATUANTES PARA DIMENSIONAMENTO E PROJETO DA CÉLULA DE CARGA ......................................................................................................................89

5.1 TRECHO DA MÁQUINA A SER MODELADO .................................................................................90 5.2 PROJETO DA CÉLULA DE CARGA ..............................................................................................92

5.2.1 Modelo da célula de carga .................................................................................................92 5.2.2 Ponte de Wheatstone para medir Fz ...................................................................................93

5.2.2.1 Cálculo da deformação nos extensômetros ............................................................................. 94 5.2.2.2 Cálculo da Força Fz ................................................................................................................. 95

5.2.3 Ponte de Wheatstone para medir Mz ..................................................................................96 5.2.3.1 Cálculo da deformação nos extensômetros ............................................................................. 96 5.2.3.2 Cálculo do momento Mz.......................................................................................................... 98

5.3 CALIBRAÇÃO DA CÉLULA DE CARGA.......................................................................................98 5.4 MONTAGEM DA CÉLULA DE CARGA E DISPOSITIVOS DE TELEMETRIA .....................................105 5.5 SUPRESSÃO DE RUÍDOS NAS MEDIÇÕES DA CÉLULA DE CARGA...............................................113

5.5.1 Modelo para obtenção de ruído .......................................................................................114 5.5.2 Pontes de Wheatstone para medir R(Fz) e R(Mz)..............................................................115 5.5.3 Montagem dos dispositivos de telemetria para captação de ruído...................................117 5.5.4 Simulação gráfica da supressão de ruídos .......................................................................120

5.6 PROCESSAMENTO DOS DADOS ................................................................................................122 5.7 CUSTO ESTIMADO DE IMPLANTAÇÃO DO PROJETO..................................................................124

6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS.......................................126 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................129

ix

ÍNDICE DE FIGURAS

FIGURA 1-1. DIAGRAMA DA LÓGICA DE CONTROLE IDEALIZADA. 4 FIGURA 1-2. TRAVESSIA PARA PASSAGEM DE UTILIDADE (SITE FABRICANTE VERMEER). 5 FIGURA 1-3. EQUIPAMENTO DE PERFURAÇÃO PARA APLICAÇÕES DE PEQUENO PORTE (CATÁLOGO

FABRICANTE DITCH WITCH). 6 FIGURA 1-4. EQUIPAMENTO DE PERFURAÇÃO DIRECIONAL PARA APLICAÇÕES DE PEQUENO PORTE

(CATÁLOGO FABRICANTE DITCH WITCH). 6 FIGURA 1-5. EQUIPAMENTO DE PERFURAÇÃO DIRECIONAL PARA APLICAÇÕES DE PEQUENO PORTE

(CATÁLOGO FABRICANTE DITCH WITCH). 7 FIGURA 1-6. EQUIPAMENTO DE PERFURAÇÃO DIRECIONAL PARA APLICAÇÕES DE MÉDIO PORTE (CATÁLOGO

FABRICANTE DITCH WITCH). 7 FIGURA 1-7. EQUIPAMENTO DE PERFURAÇÃO DIRECIONAL PARA APLICAÇÕES DE GRANDE PORTE

(CATÁLOGO FABRICANTE DITCH WITCH). 8 FIGURA 1-8. EQUIPAMENTO PERFURANDO ROCHA E NO DETALHE, CABEÇA DE PERFURAÇÃO TRI-CÔNICA

(SITE FABRICANTE VERMEER). 9 FIGURA 1-9. VARIAÇÃO DA QUANTIDADE DE TÚNEIS DESDE 1991 A 1995 (THE CHARLES MACHINES WORKS,

INC.). 10 FIGURA 1-10. FORÇAS ATUANTES NA TUBULAÇÃO DURANTE A PASSAGEM DESTA NO TÚNEL. 12 FIGURA 2-1. CURVAS GRANULOMÉTRICAS DE ALGUNS SOLOS BRASILEIROS [PINTO, 2000]. 19 FIGURA 2-2. GRANULOMETRIA – ESCALA DE GRADUAÇÃO DO SOLO [CAPUTO, 1969]. 20 FIGURA 2-3. ILUSTRAÇÃO DO ENSAIO SPT [SCHNAID, 2000]. 24 FIGURA 3-1. DIFERENÇA ENTRE POÇO OCULTO E POÇO CONTÍNUO. 26 FIGURA 3-2. FUNCIONAMENTO DO TROLE DURANTE PERFURAÇÃO. 27 FIGURA 3-3. ANCORAMENTO DA UNIDADE DE PERFURAÇÃO DIRECIONAL POR ESTACA (THE CHARLES

MACHINES WORKS, INC.). 28 FIGURAS 3-4. A E B – ANTES E APÓS ANCORAMENTO DAS ESTACAS RESPECTIVAMENTE. 29 FIGURA 3-5. VISTA LATERAL DE UMA UNIDADE DE PERFURAÇÃO DIRECIONAL 30 FIGURA 3-6. EQUIPAMENTO EM FUNCIONAMENTO DURANTE TENTATIVA DE TRAVESSIA 30 FIGURA 3-7. UNIDADE DE BOMBEAMENTO 31 FIGURA 3-8. VISTA DA UNIDADE DE DETECÇÃO DE CONTATO COM LINHA ELÉTRICA ENERGIZADA. 33 FIGURA 3-9. HASTES DE PERFURAÇÃO (EXTREMIDADE MACHO E EXTREMIDADE FÊMEA). 34 FIGURA 3-10. VISTA EM CORTE DA EXTREMIDADE MACHO DE UMA HASTE CONECTANDO-SE NA

EXTREMIDADE FÊMEA DE OUTRA HASTE. 35 FIGURA 3-11. CABEÇA DE PERFURAÇÃO SEM DEGRADAÇÃO POR USO. 35 FIGURA 3-12. CABEÇA DE PERFURAÇÃO COM EMISSOR DE SINAIS APÓS PERFURAÇÃO. 36 FIGURA 3-13. BITS DE PERFURAÇÃO PARA DIVERSAS APLICAÇÕES (SITE FABRICANTE DITCH WITCH). 36 FIGURA 3-14. HASTE INTERMEDIÁRIA. 37 FIGURA 3-15. EMISSOR DE SINAIS (CATÁLOGO FABRICANTE DITCH WITCH). 37 FIGURA 3-16. RECEPTOR DE SINAIS. 38 FIGURA 3-17. ALARGADORES PARA ARGILA E TERRENO PEDREGOSO. 39 FIGURA 3-18. TIPOS DE ALARGADORES [SITE AIR SERVICE]. 39 FIGURA 3-19. DISTORCEDOR COM PINO. 40 FIGURA 3-20. SISTEMA DE LOCALIZAÇÃO DE DUTOS E CABOS ENTERRADOS COM TODOS OS ACESSÓRIOS. 41 FIGURA 3-21. SISTEMA DE RADAR PARA MAPEAMENTO DO SUBSOLO. 42 FIGURA 3-22. DISPLAY DO RECEPTOR DE SINAIS. 44 FIGURA 3-23. CABEÇA DE PERFURAÇÃO PENETRANDO NA VALA INICIAL (MANUAL FABRICANTE DITCH

WITCH). 44 FIGURA 3-24. VISTA LATERAL EM CORTE DA PERFURAÇÃO. NOTA-SE A DIFERENÇA AO SE TRABALHAR COM

PITCH DE ENTRADA DIFERENTES (MANUAL FABRICANTE DITCH WITCH). 45 FIGURA 3-25. OPERAÇÃO DE LOCALIZAÇÃO DO EMISSOR DURANTE PERFURAÇÃO. 46 FIGURA 3-26. CRIAÇÃO DE TÚNEL HORIZONTAL COM ALARGAMENTO: A) PERFURAÇÃO DE POÇO CONTÍNUO,

B) ALARGAMENTO COM PUXADA DA TUBULAÇÃO, C) TÚNEL ACABADO (THE CHARLES MACHINES WORKS, INC.). 47

FIGURA 3-27. PERFURAÇÃO DIRECIONAL – MOVIMENTO DE ROTAÇÃO CONJUGADA COM AVANÇO (THE CHARLES MACHINES WORKS, INC.). 50

FIGURA 3-28. CONJUNTO COMPLETO ― SISTEMA DE LOCALIZAÇÃO. 52 FIGURA 3-29. PAINEL DE OPERAÇÃO DO RECEPTOR DE SINAIS (TRACKER). 53

x

FIGURA 3-30. SÍMBOLOS DE NÍVEL DE TEMPERATURA E BATERIA DO EMISSOR DE SINAIS (BEACON)

MOSTRADOS NO DISPLAY DO RECEPTOR (TRACKER). 53 FIGURA 3-31. COMPORTAMENTO DO RECEPTOR DURANTE EMISSÃO DO SINAL. 54 FIGURA 3-32. ALARGADOR MONTADO NA PONTA DA COLUNA DE PERFURAÇÃO PARA A OPERAÇÃO DE

ALARGAMENTO. 55 FIGURA 3-33. ALARGADOR, SWIVEL E CABEÇA DE PUXADA. TUBULAÇÃO PRONTA PARA SER PUXADA

ATRAVÉS DO MICRO-TÚNEL. 56 FIGURA 3-34. PONTA DA TUBULAÇÃO INSTALADA NO TÉRMINO DA PUXADA 57 FIGURA 3-35. ESFERA CONECTADA NA PONTA DA COLUNA DE PERFURAÇÃO PARA OPERAÇÕES DE PRÉ-

ALARGAMENTO. 58 FIGURA 4-1. DIMENSÃO DO EXTENSÔMETRO. 62 FIGURA 4-2. ALGUNS MODELOS DE EXTENSÔMETROS DE RESISTÊNCIA ELÉTRICA. 63 FIGURA 4-3. CODIFICAÇÃO DE MATERIAL PARA EXTENSOMETRIA. 64 FIGURA 4-4. CONFIGURAÇÕES PARA A PONTE DE WHEATSTONE: (A) ¼ DE PONTE, (B) ½ PONTE E (C) PONTE

COMPLETA [RAPTOPOULOS, 2003]. 65 FIGURA 4-5. MODELOS DE ELEMENTO ELÁSTICO. 67 FIGURA 4-6. APLICAÇÃO DE TELEMETRIA EM PROPULSOR DE AERONAVE. 69 FIGURA 4-7. APLICAÇÃO DE TELEMETRIA EM EIXO DE TREM. 69 FIGURA 4-8. AMOSTRAGEM DE UM SINAL ANALÓGICO: (A) FORMA DE ONDA ANALÓGICA ORIGINAL, (B)

INSTANTES DE AMOSTRAGEM, (C) AMOSTRAGEM DISCRETA NO TEMPO. 72 FIGURA 4-9. QUANTIZAÇÃO DO SINAL. 74 FIGURA 4-10. CONFIGURAÇÃO GERAL DE FILTRAGEM ADAPTATIVA. 80 FIGURA 4-11. FILTRO ADAPTATIVO. 81 FIGURA 4-12. MÉTODO DE BUSCA DA SOLUÇÃO ÓTIMA. 84 FIGURA 4-13. MODELO DE SUPRESSÃO DE RUÍDO. 88 FIGURA 5-1. HASTE INICIAL. 90 FIGURA 5-2. TRECHO QUE COMPORTARÁ A CÉLULA DE CARGA. 91 FIGURA 5-3. REFERENCIAL LOCAL DA CÉLULA DE CARGA. 92 FIGURA 5-4. LOCALIZAÇÃO DOS EXTENSÔMETROS NA SUPERFÍCIE DA CÉLULA DE CARGA. 93 FIGURA 5-5. PONTE DE WHEATSTONE UTILIZADA PARA MEDIR FZ. 93 FIGURA 5-6. PONTE DE WHEATSTONE UTILIZADA PARA MEDIR MZ. 96 FIGURA 5-7. COROA CIRCULAR (CÁLCULO DA ÁREA). 101 FIGURA 5-8. CURVA DE CALIBRAÇÃO (TEÓRICA) DA PONTE DE WHEATSTONE PARA FORÇA AXIAL. 103 FIGURA 5-9. CURVA DE CALIBRAÇÃO (TEÓRICA) DA PONTE DE WHEATSTONE PARA O TORQUE. 103 FIGURA 5-10. ESTRUTURA MODULAR - CÉLULA DE CARGA. 105 FIGURA 5-11. ESQUEMA DE MONTAGEM DA CÉLULA DE CARGA NA HASTE INICIAL. 106 FIGURA 5-12. MONTAGEM DE ESTRUTURA MODULAR NA HASTE INICIAL. 106 FIGURA 5-13. MODULO DE AQUISIÇÃO DE SINAL. 107 FIGURA 5-14. ENCODER COM 8 CANAIS. 108 FIGURA 5-15. MODULO DE TRANSMISSÃO DE SINAL. 108 FIGURA 5-16. FIXAÇÃO DA ANTENA E MÓDULO DE TRANSMISSÃO AO EIXO. 109 FIGURA 5-17. CONJUNTO ANTENA / DECODIFICADOR. 109 FIGURA 5-18. CARTÃO DE INTERFACE E CABO DE CONEXÃO COM COMPUTADOR. 110 FIGURA 5-19. MONTAGEM DOS MÓDULOS NO EIXO. 110 FIGURA 5-20. SEQÜÊNCIA DE FIXAÇÃO DO CONJUNTO DE TELEMETRIA. 111 FIGURA 5-21. INSTALAÇÃO DA ANTENA DE RECEPÇÃO. 112 FIGURA 5-22. CONCEPÇÃO DA HASTE INICIAL COM ACABAMENTO DA CÉLULA DE CARGA. 112 FIGURA 5-23. TRECHO PROPOSTO PARA CAPTAÇÃO DE RUÍDO. 114 FIGURA 5-24. LOCALIZAÇÃO DOS EXTENSÔMETROS PARA OBTENÇÃO DE RUÍDO. 115 FIGURA 5-25. PONTES DE WHEATSTONE UTILIZADAS PARA MEDIR R(FZ) E R(MZ). 116 FIGURA 5-26. ESQUEMA DE MONTAGEM DO ENVIO DE SINAIS (TELEMETRIA). 118 FIGURA 5-27. ESQUEMA DA CONCEPÇÃO FINAL DA HASTE INICIAL, COM ACABAMENTO DA CÉLULA DE

CARGA E LIGAÇÃO COM PONTE DE WHEATSTONE PARA SUPRESSÃO DE RUÍDO. 119 FIGURA 5-28. DIAGRAMA COM A SUPRESSÃO DE RUÍDO INTRODUZIDA. 119 FIGURA 5-29. SIMULAÇÃO DE SINAIS CAPTADOS E SINAL IDEAL. 121 FIGURA 5-30. SIMULAÇÃO DE SUPRESSÃO DE RUÍDO. 122 FIGURA 5-31. JANELAS DO SOFTWARE MICRO-LAB. 123

xi

ÍNDICE DE TABELAS

TABELA 2-1. ESCALA GRANULOMÉTRICA – LIMITES DAS FRAÇÕES DE SOLO PELO TAMANHO DOS GRÃOS (ABNT – NBR 6502/95)...................................................................................................................16

TABELA 4-1.VANTAGENS E DESVANTAGENS DE ALGUNS MÉTODOS DE SUPRESSÃO DE RUÍDOS. .................78 TABELA 5-1. DESCRIÇÃO TÉCNICA DA MÁQUINA DE PERFURAÇÃO DIRECIONAL (FABRICANTE DITCH

WITCH). .............................................................................................................................................89 TABELA 5-2. CARACTERÍSTICAS DAS HASTES DE PERFURAÇÃO (FABRICANTE DITCH WITCH). ...................89 TABELA 5-3. LIMITES DE CARGA DA MÁQUINA (FABRICANTE DITCH WITCH). ............................................99 TABELA 5-4. RESISTÊNCIA AO ESCOAMENTO E À TRAÇÃO DE ALGUNS AÇOS (SHIGLEY). .........................99 TABELA 5-5. RESUMO DE CUSTOS ENVOLVIDOS NO PROJETO. ...................................................................125

1

Capítulo 1

1 Introdução

Com o crescimento dos centros urbanos, tornou-se necessária a melhoria e a

expansão da rede de utilidades públicas (água, esgoto, eletricidade, telefonia e fibra

ótica, entre outras). Em áreas densamente edificadas, com grande ocupação do espaço

subterrâneo, a execução de obras subterrâneas, utilizando-se do emprego de valas a céu

aberto, causa impactos sócio-econômicos e ambientais cada vez maiores. Por menores

que sejam a extensão e a profundidade necessárias, obras subterrâneas executadas a céu

aberto causam enormes transtornos nos centros urbanos e nas vias principais, em

especial pela intervenção no trânsito naturalmente intenso. Desta forma, obras pouco

dispendiosas, com baixo orçamento, inviabilizam-se devido aos altos custos sociais

inerentes às perturbações que ocasionam a milhares de pessoas, muitas vezes por

períodos prolongados. Inúmeras vezes a necessidade de interrupção do trânsito torna

inexeqüível a execução de obras imprescindíveis para a comunidade.

Dentro desse panorama, a tecnologia da perfuração horizontal não-destrutiva, ou

seja, uma das vertentes da perfuração direcional, tornou-se atraente frente à utilização

de métodos tradicionais, como a solução em valas a céu aberto, na execução de obras

públicas subterrâneas, por minimizar os impactos no cotidiano da comunidade, além de

oferecer uma maior produtividade.

Justifica-se assim o interesse de se intensificar os estudos e pesquisas sobre essa

tecnologia que, apesar das diferentes aplicações (saneamento, eletricidade, etc), ainda

carece de suporte técnico capaz de estimar melhor as variáveis operacionais do sistema

de cravação e suporte da frente da escavação, para os quais este trabalho se propõe a

contribuir.

Para que se tenha um melhor entendimento quanto ao objetivo desse projeto,

pode-se citar uma definição mais precisa, segundo THOMAS (2001), para a perfuração

direcional, que a caracteriza conforme apresentado a seguir:

“A perfuração direcional é a técnica de, intencionalmente, desviar a trajetória

de um poço da vertical, para atingir objetivos que não se encontram diretamente

2

abaixo da sua localização na superfície. Os poços direcionais são perfurados com

várias finalidades”.

Segundo a definição acima, as várias finalidades para a perfuração de poços

direcionais podem ser, além desta que é o objetivo desta dissertação, a busca de lençóis

freáticos, extração de água mineral, extração de petróleo, além de outras.

Os principais elementos de um poço direcional são: a profundidade do ponto de

desvio, o afastamento horizontal, a direção locação-objetivo, a profundidade vertical

final do poço e a inclinação do trecho reto inclinado.

1.1 Este Projeto

Este trabalho contempla o estudo da perfuração horizontal não destrutiva (MND

- Método Não Destrutivo), um ramo da perfuração direcional, tendo como objetivo

estudar e desenvolver um sistema para a caracterização dos esforços durante a operação

de perfuração.

A terminologia “Método Não Destrutivo” aplica-se a operação de instalação

subterrânea de dutos através de perfuração direcionada, o que evita o rompimento de

calçadas, ruas e estradas.

Os produtos a serem instalados por esse método incluem dutos de polietileno

para passagem de cabos de fibra óptica, eletricidade e esgoto. Também são instaladas

tubulações metálicas para gás, necessitando para tanto pequena alteração na

metodologia de trabalho em relação às tubulações plásticas.

Desta forma, o desenvolvimento de um sistema conforme o proposto neste

projeto, englobaria as seguintes áreas do conhecimento:

• Engenharia Mecânica ― Dimensionamento de atuadores, mecanismos,

sensores, transmissão de torque, etc; planificação dos movimentos;

metodologia para análise de mecanismos em situações estáticas e

dinâmicas; cálculos estruturais; parâmetros de fabricação e montagem

dos componentes; e testes de desempenho do sistema;

3

• Engenharia Elétrica – Eletrônica ― Projeto de sensores, interfaces,

servo-atuadores, hardware, transmissão de sinais (telemetria) e

processamento de sinais;

• Informática ― Diagnose de sistemas/componentes e informações ao

operador;

• Geologia ― Análise das condições do terreno, considerando-se

resistência dos solos, temperatura, etc;

• Aspectos Econômicos e Sociais.

Neste trabalho, são contemplados principalmente os aspectos da Engenharia

Mecânica, uma vez que o objetivo é a análise dos esforços a que o sistema está

submetido durante o processo de perfuração do solo. A quebra de uma cabeça de

perfuração gera um prejuízo considerável para a empresa, por ser, em alguns casos,

impossível a recuperação da peça (sob uma via de grande movimento, por exemplo).

Tendo por finalidade o estudo de esforços durante o procedimento de

perfuração, com o emprego de célula de carga (extensometria) – visto com mais

detalhes no capítulo 4 – realizou-se nesta tese uma abordagem matemática visando

investigar métodos mais eficientes de solução de problemas essenciais ao controle do

mecanismo responsável pela perfuração (rotação, deslocamento/avanço e rotação com

deslocamento). Sua concepção, dimensionamento e detalhamento foram feitos levando-

se em conta os torques e forças envolvidas.

Desta forma, pretende-se chegar a concepção de uma célula de carga, com um

sistema agregado, capaz de desempenhar a tomada de decisões, reduzindo a

possibilidade de falha e, conseqüentemente, os custos da operação. Na Figura 1-1

apresenta-se um diagrama da lógica de controle idealizada para evitar que os problemas

acima mencionados, venham a ocorrer.

4

Figura 1-1. Diagrama da lógica de controle idealizada.

A tomada de decisões, a partir da lógica de controle, seria o mecanismo capaz de

proporcionar a continuidade da perfuração, ou mesmo uma interrupção da mesma, caso

os limites de carga da máquina sejam ultrapassados. Por exemplo, poderiam ser

desempenhadas as seguintes medidas:

• Caso o sinal recebido seja ≤ 80 % do limite de carga, liga Led verde; • Caso, 80 % < sinal recebido ≤ 90 % do limite de carga, liga Led amarelo; • Caso o sinal recebido seja > 90 % do limite de carga, liga Led vermelho e

alarme; • Caso sinal recebido ≥ 100 % da carga, ocasiona a parada da máquina.

Contudo, para se medirem tais sinais, deve-se considerar que, provavelmente, o

equipamento estará submetido a alguns ruídos. Estes ruídos deverão ser extraídos,

através do emprego de filtragem dos sinais, para que se obtenha um sinal mais exato

possível. Sendo assim, no capítulo 4, são apresentadas algumas técnicas de supressão de

ruídos, e aquela que melhor se adaptar ao problema proposto será sugerida como a

técnica a ser adotada.

1.2 O Estado da Arte

Historicamente, a necessidade de direcionamento das perfurações fez com que

houvesse uma maior abrangência da tecnologia de mini túneis, confeccionados a partir

5

de perfuração horizontal não destrutiva (MND), técnica largamente adotada em muitos

países, mas de aplicação ainda embrionária no cenário brasileiro.

Se ainda não é adotado em escala maior, o simples surgimento desta tecnologia

no mercado brasileiro foi, no entanto, uma das conseqüências do acirramento da

competitividade, imposta a todo setor de utilidades públicas ao longo da última década.

Este ambiente trouxe a demanda por tecnologias capazes de assegurar ganhos de

produtividade e economia, sob padrões de qualidade e segurança elevados. Para os

empreiteiros que executam esse tipo de perfuração, esses parâmetros passaram a ser

imperativos sob o ponto de vista dos investidores e contratantes desse serviço. Neste

contexto, fatores como durabilidade, custo operacional e impacto ambiental e social

passaram a ser observados com extrema atenção. Essa tecnologia se tornou

revolucionária pelo fato de executar instalações subterrâneas sem causar distúrbio no

trânsito de ruas e rodovias, provocando o mínimo de danos a pavimentos e superfícies,

com a vantagem do equipamento ser compacto e utilizar mão-de-obra reduzida.

Na Figura 1-2 é possível verificar o que foi exposto acima. Com a aplicação de

um equipamento de pequeno porte, pode-se fazer uma perfuração sob uma via e passar

uma determinada tubulação sem a necessidade de interrupção do trânsito.

Figura 1-2. Travessia para passagem de utilidade (Site Fabricante Vermeer).

A evolução dessa tecnologia permitiu que fossem desenvolvidos pequenos

equipamentos. Alguns, utilizados principalmente para instalações muito compactas,

conforme os modelos das figuras seguintes (Figura 1-3 e Figura 1-4) geram um impacto

muito pequeno no local da instalação.

Outros equipamentos, apesar do pequeno porte (Figura 1-5), e com uma

configuração diferente dos dois modelos apontados anteriormente, necessitam de um

pouco mais de espaço para o seu posicionamento.

6

Figura 1-3. Equipamento de perfuração para aplicações de pequeno porte

(Catálogo Fabricante Ditch Witch).

Figura 1-4. Equipamento de perfuração direcional para aplicações de pequeno

porte (Catálogo Fabricante Ditch Witch).

As máquinas de pequeno porte são utilizadas em travessias de até 180 m de

extensão, com diâmetros variando entre 50 mm e 300 mm, atingindo uma profundidade

máxima de 4,5 m.

7

Figura 1-5. Equipamento de perfuração direcional para aplicações de pequeno

porte (Catálogo Fabricante Ditch Witch).

Além das maquinas de pequeno porte, existem equipamentos intermediários

(Figura 1-6), os quais já dependem de uma infra-estrutura complementar, como, por

exemplo, um reservatório independente para o fluido de perfuração.

Figura 1-6. Equipamento de perfuração direcional para aplicações de médio porte

(Catálogo Fabricante Ditch Witch).

As máquinas de médio porte são utilizadas em travessias de até 300 m de

extensão, com diâmetros variando entre 300 mm e 600 mm, atingindo uma

profundidade máxima de 23 m.

8

Existem também os equipamentos de grande porte (Figura 1-7), capazes de

executar travessias de até 2.000 m de extensão e diâmetros variando entre 600 mm e

1.200 mm, podendo atingir a profundidade máxima de até 61 m.

Figura 1-7. Equipamento de perfuração direcional para aplicações de grande porte

(Catálogo Fabricante Ditch Witch).

Além da economia e praticidade, outra vantagem do método é a sua capacidade

de direcionamento durante a perfuração, o que permite desviá-la de uma série de

obstáculos subterrâneos, tais como: tubulações de água, gás, esgoto e cabos enterrados

de telefone, fibra óptica e eletricidade.

Os equipamentos de médio e grande porte, além de serem capazes de realizar

travessias com maiores extensões, também podem ser dotados de cabeças de perfuração

(brocas) especiais, para a execução de travessias através de superfícies bastante duras,

como, por exemplo, rochas. Na figura seguinte, pode ser observada uma máquina

dotada de uma cabeça de perfuração especial, tri-cônica (Figura 1-8).

9

Figura 1-8. Equipamento perfurando rocha e no detalhe, cabeça de perfuração tri-

cônica (Site Fabricante Vermeer).

1.2.1 Primeiros relatos sobre perfuração horizontal

O início desta indústria é creditado às empresas de perfuração, que apostaram no

desconhecido mercado de poços horizontais (túneis), desenvolvendo tecnologia própria

(projetos e planos de instalação) e mercado, e assumindo o risco da instalação de poços,

propondo novos projetos.

Após o pioneirismo dos EUA no mercado de perfuração horizontal não

destrutiva, no início dos anos 70, que agregou a tecnologia dos poços verticais com

pesquisas em técnicas de direcionamento, essa indústria consolidou-se a partir de 1995

(Figura 1-9). Após a aparição das primeiras máquinas de perfuração horizontal, a

tecnologia vem se aprimorando com a incorporação de sistemas de informática,

automação e direcionamento a laser. Este processo, apesar de suas vantagens, ainda não

é utilizado em larga escala no país, principalmente fora do eixo Rio de Janeiro – São

Paulo.

10

Figura 1-9. Variação da quantidade de túneis desde 1991 a 1995 (The Charles

Machines Works, INC.).

A utilização da técnica de perfuração horizontal vem crescendo cada vez mais

devido, principalmente, aos seguintes fatores:

• A educação da indústria com relação à eficiência dos poços horizontais;

• O refinamento do projeto e métodos de instalação dos poços horizontais;

• A preservação das características do local a ser perfurado; e

• A redução da mão de obra.

É um erro o desconhecimento das características do local a ser perfurado, o que

poderia gerar danos a outras utilidades já instaladas, assim como, também, o

desconhecimento do tipo de solo, com conseqüente emprego de equipamento sub-

dimensionado.

Além disso, a equipe precisa caracterizar a hidrologia do local para um melhor

posicionamento do túnel, assim como, também, é necessário conhecer o perfil geológico

do local para se obter melhores condições de perfuração. No capítulo 2, serão

apresentados os princípios da geologia aplicados à perfuração.

Neste âmbito, também é importante considerar alguns critérios determinantes na

escolha da máquina a ser empregada em uma perfuração específica, quais sejam:

11

• Atratividade econômica ― A perfuração horizontal não destrutiva

compete diretamente com a vala a céu aberto, na instalação de dutos,

particularmente quando a profundidade é superior a 2,4 m. Segundo

HARPER (1999), este limite é baseado na competitividade de alguns

projetos de instalação de tubulações de esgoto. Sendo assim, assumiu-se

esse valor como sendo o limite econômico para seleção de perfuração

horizontal não destrutiva e que, teoricamente, para profundidades

inferiores a 2,4 m, seria mais interessante a utilização de valas a céu

aberto. Entretanto, sabe-se que para a maioria das aplicações,

principalmente instalações urbanas, este tipo de perfuração não é

possível pelos impactos sociais, e que inclusive vêem sendo proibidas

pelos governos;

• Condições do local ― Os critérios para as condições do local são

identificados para taxar o nível de dificuldade experimentado ao se

utilizar o método de vala a céu aberto. A existência de interferências

como rios, linhas férreas e estradas, entre outras, pode ser um obstáculo

para a adoção do método da vala a céu aberto. Regulamentações

ambientais já não permitem a instalação de tubulações nos leitos de rios;

• Diâmetro da tubulação ― A escolha da máquina irá variar de acordo

com o tipo de tubulação a ser instalada. Para tanto, poderão ser

executados túneis variando de 50 mm a 1.200 mm de diâmetro, para os

quais deverão ser utilizados alargadores de grandes dimensões;

• Profundidade da instalação ― Uma das limitações da perfuração

horizontal não destrutiva é a profundidade da instalação. Esta

profundidade depende da presença e/ou ausência de utilidades

enterradas. A profundidade também está relacionada ao diâmetro da

tubulação. A profundidade do túnel deve ser tal que o solo entre a

superfície e o túnel seja resistente o suficiente para suportar as cargas

provenientes da superfície. Pesquisas com construtores mostram que a

profundidade mínima deve ser de 0,6 m, podendo-se atingir

profundidades, dependendo da capacidade da máquina, de até 60 m;

12

• Comprimento ― O comprimento do túnel é determinado pelas

condições geológicas e pelas características do local a ser perfurado,

sendo também limitado pela capacidade da máquina. Por outro lado, o

limite mínimo será determinado pelas condições econômicas, devido aos

custos de mobilização e desmobilização de equipamentos e pessoal. Um

comprimento pequeno também dificultará a curvatura da tubulação,

acarretando grandes concentrações de tensão. Em geral, são perfurados

túneis que variam de 12 m a 2.000 m;

• Condições do solo ― O completo sucesso da execução do túnel está

diretamente relacionado ao conhecimento antecipado das condições do

subsolo e conseqüente seleção e utilização do equipamento mais

adequado à operação;

• Carga a ser puxada ― A estimativa da carga a ser puxada é um dos

fatores importantes na seleção da máquina. A carga depende do peso da

tubulação que será puxada; do atrito entre a tubulação e a superfície; e do

atrito de arrasto da tubulação dentro do túnel.

Figura 1-10. Forças atuantes na tubulação durante a passagem desta no túnel.

Na Figura 1-10, N1, N2 e N3 são as reações normais da tubulação em contato

com o solo, o peso da tubulação é indicado por W, Fd é a força de arrasto, T1 e T2 são as

trações em ambas as extremidades e µ é o coeficiente de atrito.

Outro fator importante a ser considerado é o acompanhamento da perfuração,

que deve ser realizado através do monitoramento de um furo piloto, checando-se a

interferência eletromagnética e erros de calculo, o que poderia acarretar em elevação da

superfície. Isto acontece quando a haste de perfuração penetra muito rente à superfície,

ocasionando o deslocamento de terra que se tornará aparente.

13

1.3 Organização dos Capítulos

Este texto está dividido em 6 capítulos: o primeiro capítulo contém a introdução

do trabalho, a motivação e o estado da arte no que se refere à perfuração direcional; o

capítulo 2 apresenta uma breve apresentação sobre o estudo de geologia; o capítulo 3

contém o detalhamento do funcionamento da perfuração horizontal não destrutiva, com

todos os equipamentos e acessórios envolvidos e necessários ao processo; o capítulo 4

apresenta uma breve introdução à extensometria, à telemetria e ao processamento de

sinais; o capítulo 5 apresenta a modelagem das forças atuantes na perfuração; e no

capítulo 6 são apresentadas as conclusões finais deste trabalho.

14

Capítulo 2

2 Princípios da Geologia Aplicados ao problema

Segundo a Enciclopédia Mirador Internacional (1985), geologia é o nome dado à

ciência que estuda a Terra em seu conjunto, quanto à estrutura geral, a composição

química e litológica das diferentes partes que a constituem e, ainda, quanto aos

pormenores existentes nas partes acessíveis à observação direta. Este estudo requer

desde o microscópio eletrônico ou os raios X até as fotografias tiradas por satélites

artificiais, com o auxilio das radiações infravermelhas, que permitem a análise

geológica de grandes áreas da superfície terrestre.

A geologia é uma ciência complexa relacionada com muitas outras, como a

física, a química, a matemática, a astronomia e a biologia. Alguns ramos da geologia

são mais afins das ciências exatas, como, por exemplo, o estudo das condições em que

se forma este ou aquele mineral, esta ou aquela rocha. Já outros se relacionam

diretamente com as ciências biológicas, como, por exemplo, o estudo das condições de

crescimento dos antigos recifes de coral ou da gênese do carvão mineral e do petróleo.

Outros ramos chegam a ser especulativos, como o da origem do planeta em que o

homem vive.

Entretanto, o objetivo deste trabalho não é estudar o solo em si, mas sim

conhecer algumas propriedades necessárias para executar uma determinada perfuração.

O conhecimento destas propriedades vai propiciar o emprego da máquina de uma

maneira otimizada.

2.1 Primeiros Estudos do Solo

De acordo com CAPUTO (1969), a necessidade de o homem trabalhar com os

solos se originou nos tempos mais remotos. Como exemplo, podem-se citar grandes

construções, como, a Muralha da China, as Pirâmides do Egito, os templos da

Babilônia, entre outras que, provavelmente, para manterem a estrutura atual, mesmo

depois de passados centenas de anos, necessitaram ter seu solo bem preparado para

resistir a tamanhas estruturas, tanto em dimensões como em peso.

15

Ainda, segundo CAPUTO (1969), a bibliografia mostra que os primeiros

trabalhos sobre o comportamento quantitativo do solo vão ser encontrados somente a

partir do século XVII, e que estes trabalhos remontam aos estudos de VAUBAN (1687),

COULOMB e RANKINE (1856), entre outros.

2.2 Origem dos solos

Todos os solos se originam da decomposição das rochas que constituíam

inicialmente a crosta terrestre. A decomposição é decorrente de agentes físicos, ou seja,

intemperismo (ou meteorização das rochas), por desintegração mecânica ou

decomposição química. Variações de temperatura provocam trincas, nas quais penetra a

água, atacando quimicamente os minerais. O congelamento da água nas trincas, entre

outros fatores, exerce elevadas tensões, do que decorre maior fragmentação dos blocos.

A presença da fauna e flora promove o ataque químico, através de hidratação, hidrólise,

oxidação, lixiviação, troca de cátions e carbonatação. O conjunto destes processos, que

são muito mais atuantes em climas quentes do que em climas frios, leva à formação dos

solos. Estes, em conseqüência, são misturas de partículas pequenas que se diferenciam

pelo tamanho e pela composição química. A maior ou menor concentração de cada tipo

de partícula num solo depende da composição química da rocha que lhe deu origem.

A primeira característica que diferencia os solos é o tamanho das partículas que

os compõem. Numa primeira aproximação, pode-se identificar que alguns possuem

grãos perceptíveis a olho nu, como os grãos de pedregulho ou areia do mar, e que outros

têm os grãos tão finos que, quando molhados, se transformam numa pasta (barro), não

se podendo visualizar as partículas individualmente.

A diversidade de tamanho dos grãos é enorme. Existem grãos de areia com

dimensões de 1 a 2 mm, mas existem, também, partículas de argila com espessuras da

ordem de 10 Angstrons (0,000001 mm). Isto significa que, se uma partícula de argila

fosse ampliada de forma a ficar com o tamanho de uma folha de papel, o grão de areia

acima citado ficaria com diâmetros da ordem de 100 a 200 metros, ou seja, um

quarteirão.

Denominações específicas são empregadas para as diversas faixas de tamanho

de grãos; seus limites, entretanto, variam conforme os sistemas de classificação. Os

16

valores adotados pela ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas – NBR

6502/95 – são os indicados na Tabela 2-1.

Tabela 2-1. Escala granulométrica – limites das frações de solo pelo tamanho dos

grãos (ABNT – NBR 6502/95).

FRAÇÃO DIÂMETRO EQUIVALENTE

Matacão 200 < φ ≤ 1000 mm

Pedra de mão 60 < φ ≤ 200 mm

Pedregulho 2,0 < φ ≤ 60 mm

Pedregulho grosso 20 < φ ≤ 60 mm

Pedregulho médio 6,0 < φ ≤ 20 mm

Pedregulho fino 2,0 < φ ≤ 6,0 mm

Areia 0,06 < φ ≤ 2,0 mm

Areia Grossa 0,6 < φ ≤ 2,0 mm

Areia Média 0,2 < φ ≤ 0,6 mm

Areia fina 0,06 < φ ≤ 0,2 mm

Silte 0,002 < φ ≤ 0,06 mm

Argila φ ≤ 0,002 mm

O conjunto de silte e argila é denominado como a fração de finos do solo,

enquanto o conjunto areia e pedregulho é denominado como fração grossa ou grosseira

do solo. Por outro lado, a fração argila é considerada, com freqüência, como a fração

abaixo do diâmetro de 0,002 mm, que corresponde ao tamanho mais próximo das

partículas de constituição mineralógica dos minerais-argila.

As partículas resultantes da desagregação das rochas dependem da composição

da rocha matriz. Algumas partículas maiores, dentre os pedregulhos, são constituídas

freqüentemente de agregações de minerais distintos. É mais comum, entretanto, que as

partículas sejam constituídas de um único mineral.

O quartzo, presente na maioria das rochas, é bastante resistente à desagregação e

forma grãos de siltes e areias. Sua composição química é simples (SiO2), as partículas

são equidimensionais, como cubos ou esferas, e ele apresenta baixa atividade

17

superficial. Outros minerais, como feldspato, gipsita, calcita e mica, também podem ser

encontrados neste tamanho.

A composição química dos principais minerais componentes dos solos grossos

é: silicatos, óxidos, carbonatos e sulfatos.

Os feldspatos são silicatos duplos de Al e de um metal alcalino ou alcalino-

ferroso (K, Na, ou Ca). Os feldspatos são os minerais mais atacados pela natureza,

dando origem aos argilo-minerais, que constituem a fração mais fina dos solos,

geralmente com dimensão inferior a 2 mm.

Não só o reduzido tamanho mas, principalmente, a constituição mineralógica

fazem com que estas partículas tenham um comportamento extremamente diferenciado

em relação ao dos grãos de silte e areia.

A Pedologia é a ciência que tem por objeto o estudo das camadas superficiais da

crosta terrestre, em particular a sua formação e classificação, levando-se em conta a

ação de agentes climatológicos. Segundo os estudos realizados por pesquisadores desta

área, a formação de um solo (s) é função da rocha de origem (r), da ação dos

organismos vivos (o), do clima (cl), da fisiografia (p) e do tempo (t), isto é:

s = f (r,o,cl,p,t). (1-1)

Em pedologia, as camadas que constituem um perfil são denominadas horizontes

e designam-se pelas letras A (camada superficial), B (subsolo) e C (camada profunda).

Esses horizontes, que se diferenciam pela cor e composição química, são ainda

subdivididos em outros: A0, A1, .... B1, B2 .....

De acordo com o critério Pedológico, os solos se classificam em três divisões:

zonais ou climatogênicos, intrazonais e azonais.

Como exemplo de solos zonais cita-se o grupo laterítico, característico de clima

quente e úmido, e muito conhecido por sua enorme ocorrência. Suas propriedades

principais são: baixa plasticidade, pouca expansibilidade e baixa fertilidade. Abaixo,

serão descritos os três tipos de solos:

18

• Solos residuais (ou autóctones) ― São os que permanecem no local da

rocha de origem, observando-se uma gradual transição do solo até a

rocha;

• Solos sedimentares (ou alotóctones) ― São os que sofrem a ação de

agentes transportadores, podendo ser aluvionares (quando transportados

pela água), eólicos (quando pelo vento), coluvionares (pela ação da

gravidade) e glaciais (pelas geleiras). As texturas desses solos variam

com o tipo de agente transportador e com a distância de transporte; e

• Solos de formação orgânica ― São os de origem essencialmente

orgânica, seja de natureza vegetal (plantas, raízes) ou animal (conchas).

2.3 Granulometria

Os solos são caracterizados de acordo com as dimensões de suas partículas

constituintes, dentro de determinados limites convencionais, fazendo com que as frações

constituintes recebam designações próprias. As frações, de acordo com a escala

granulométrica brasileira (ABNT – NBR 6502/95), são: pedregulho, areia e argila, cujas

dimensões foram apontadas na Tabela 2-1.

Em um determinado tipo de solo, geralmente convivem partículas de diversos

tamanhos. Nem sempre é fácil identificar as partículas porque grãos de areia, por

exemplo, podem estar envoltos por uma grande quantidade de partículas argilosas,

finíssimas, apresentando o mesmo aspecto de uma aglomeração formada

exclusivamente por estas partículas argilosas.

Quando secas, as duas formações são dificilmente diferenciáveis. Quando

úmidas, entretanto, a aglomeração de partículas argilosas se transforma em uma pasta

fina, enquanto que a partícula arenosa revestida é facilmente reconhecida pelo tato.

Portanto, numa tentativa de identificação tátil-visual dos grãos de um solo, é

fundamental que ele se encontre bastante úmido [PINTO, 2000].

19

Figura 2-1. Curvas granulométricas de alguns solos brasileiros [PINTO, 2000].

A análise granulométrica, ou seja, a determinação das dimensões das partículas

do solo e das proporções relativas em que elas se encontram, é representada,

graficamente, pela curva granulométrica. Esta curva (Figura 2-1) é traçada por pontos

em um diagrama semi-logarítmico, no qual, sobre o eixo das abscissas, são marcados os

logaritmos das dimensões das partículas e, sobre o eixo das ordenadas, as porcentagens,

em peso, de material que tem dimensão média menor que a dimensão considerada.

Para o reconhecimento dos tamanhos dos grãos de um solo, realiza-se a análise

granulométrica, que consiste, em geral, de duas fases: peneiramento e sedimentação. O

peso do material que passa em cada peneira, referido ao peso seco da amostra, é

considerado como a “porcentagem que passa”, e representado graficamente em função

da abertura da peneira, em escala logarítmica. A abertura nominal da peneira é

considerada como o “diâmetro equivalente”, pois as partículas não são esféricas

[PINTO, 2000].

20

Figura 2-2. Granulometria – escala de graduação do solo [CAPUTO, 1969].

Sendo assim, em função do exposto, acredita-se ser importante, basicamente, o

entendimento de apenas três tipos de solo, os quais certamente são os mais encontrados

nas áreas em que este tipo de perfuração é executada: solo argiloso, solo arenoso e solo

rochoso.

2.4 Solos argilosos

O solo argiloso apresenta aspectos bem distintos, de acordo com o seu teor de

umidade. Quando muito úmido, seu comportamento se assemelha ao de um líquido,

quando perde parte da água, fica com características plásticas, e quando mais seco,

torna-se quebradiço.

Quando se manuseia uma argila, percebe-se certa consistência, ao contrário das

areias que se desmancham facilmente. Desta forma, o estado em que se encontra uma

argila costuma ser indicado pela resistência que ela apresenta.

A resistência das argilas pode ser quantificada por meio de um ensaio de

compressão simples, que consiste na ruptura por compressão de um corpo de prova de

argila, geralmente cilíndrico. A resistência das argilas depende do arranjo entre os grãos

21

e da quantidade de interstícios apresentada. Foi observado que quando se submetem

certas argilas ao manuseio, a sua resistência diminui, ainda que o índice de vazios seja

mantido constante. Sua consistência após o manuseio pode ser menor do que no estado

natural [PINTO, 2000].

Os solos argilosos têm a característica de absorver água e incharem, tornando

difícil a rotação da coluna de perfuração e impregnando as ferramentas, causando

inclusive entupimento nos jatos de fluido de perfuração, o que faria com que houvesse

aumento de temperatura na ponta de perfuração.

Para evitar tal problema, é utilizado um tipo de polímero (como, por exemplo, o

EZ MUD plus), cuja função é inibir a absorção de água por parte da argila, evitando que

a mesma inche. Essa substância é composta de uma cadeia carbônica longa, sendo,

portanto um produto orgânico e com a característica de ser biodegradável.

2.5 Solos Arenosos

O estado em que se encontra uma areia pode ser expresso pelo seu índice de

vazios. Este dado isolado, entretanto, fornece pouca informação sobre o comportamento

da areia, pois com o mesmo índice de vazios uma areia pode estar compacta e outra

fofa. É necessário analisar o índice de vazios natural de uma areia em confronto com os

índices de vazios máximos e mínimos que ela pode apresentar. Em geral, areias

compactas apresentam maior resistência e menor deformabilidade. Estas características,

entre as diversas areias, dependem também de outros fatores, como a distribuição

granulométrica e o formato dos grãos. Entretanto, o estado de compactação é um fator

importante [PINTO, 2000].

Os solos arenosos são solos instáveis, ou seja, não adquirem boas propriedades

de compactação e sustentação durante o corte do micro-túnel1, estando propensos ao

desbarrancamento. Também tem a característica de serem extremamente permeáveis,

provocando a “filtragem” ou absorção da água. Para evitar ou retardar ao máximo esse

problema, usa-se bentonita dissolvida na água de perfuração. A bentonita é um tipo de

argila altamente refinada e sua função no micro-túnel, em terrenos arenosos, é a de

formar uma camada de isolamento nas paredes, evitando que o fluido de perfuração

1 Micro-túnel é o furo com pequeno diâmetro criado após a perfuração.

22

penetre nos espaços intergranulares da areia, provocando a instabilidade das paredes

com o conseqüente colapso.

A bentonita também tem como funções a lubrificação e a suspensão das

partículas de perfuração, devido a sua consistência de gel, quando dissolvida em água e

após a sua hidratação.

Embora seja primordial o uso de bentonita no fluido de perfuração para

trabalhos em solos arenosos, é comum utilizar polímero na composição do fluido de

perfuração, pois o mesmo promove aumento na viscosidade do fluido, melhora a

propriedade de lubrificação e reduz o fenômeno de filtragem do fluido pelas paredes do

micro-túnel.

2.6 Solos Rochosos

Sendo o oposto dos solos arenosos, os rochosos são estáveis, compactos e auto –

sustentáveis durante o corte do micro-túnel.

Em função da resistência deste tipo de solo, são necessárias ferramentas

especiais para conseguir sua transposição, como, por exemplo, a cabeça de perfuração

tri-cônica já apresentada anteriormente.

Estas ferramentas são lubrificadas a água para evitar o superaquecimento da

ponta de perfuração, além de limpar a área perfurada, liberando espaço para a

continuidade da perfuração.

2.7 Investigação Geotécnica

O reconhecimento das condições do subsolo, quanto a disposição, natureza e

espessura de suas camadas, é um fator preponderante tanto para projetos de fundações

seguros e econômicos, como para investidas de perfuração, para que se tenha a melhor

aproximação possível das características adequadas da máquina a ser empregada, e,

conseqüentemente, a broca a ser utilizada.

Segundo SCHNAID (2000), no Brasil, o custo envolvido na execução de

sondagens de reconhecimento varia normalmente entre 0,2 % a 0,5 % do custo total da

obra. Com isso, as informações geotécnicas obtidas são indispensáveis à previsão dos

23

custos fixos associados ao projeto e a sua solução, pois, conforme evidenciado

anteriormente, este resultado vai influenciar no tipo de máquina e broca a ser

empregada.

Os projetos geotécnicos de qualquer natureza são normalmente executados com

base no resultado dos ensaios de campo, cujas medidas permitem uma definição

satisfatória da estratigrafia do subsolo e uma estimativa realista das propriedades

geomecânicas dos materiais envolvidos.

Em decorrência da diversidade de equipamentos e procedimentos disponíveis no

mercado, estabelecer um plano racional de investigação constitui a etapa crítica do

projeto. Deve-se ter experiência prática e conhecimento das normas e de práticas

regionais, para que se obtenha um julgamento geotécnico adequado, para o bom

desempenho do projeto.

Um dos mais reconhecidos e mais utilizados ensaios utilizados em investigação

geotécnica é o SPT (Standard Penetration Test), o qual permite uma indicação da

densidade de solos granulares, também aplicado na identificação da consistência de

solos coesivos e mesmo de rochas brandas.

O ensaio SPT constitui-se em uma medida de resistência dinâmica conjugada a

uma sondagem de simples reconhecimento. Amostras representativas do solo são

coletadas a cada metro de profundidade por meio de um amostrador padrão, de diâmetro

externo de 50 mm. O procedimento de ensaio consiste na cravação deste amostrador no

fundo de uma escavação (revestida ou não), usando um peso de 650 N, caindo de uma

altura de 750 mm.

As vantagens deste ensaio, com relação aos demais, são: simplicidade do

equipamento, baixo custo e obtenção de um valor numérico de ensaio que pode ser

relacionado com regras empíricas de projeto. Na Figura 2-3, pode-se observar a

estrutura necessária para a realização deste teste, de forma a se obter uma maior

familiarização do processo.

24

Figura 2-3. Ilustração do Ensaio SPT [SCHNAID, 2000].

Apesar da importância deste ensaio, cabe ressaltar que este tipo de estudo

somente é aplicado em grandes projetos (extensos e em regiões ainda inabitadas), para

que se verifique a viabilidade deste e o tipo de equipamentos a serem empregados. No

caso de pequenos projetos, como, por exemplo, pequenas travessias em regiões urbanas,

onde se normalmente atravessa uma rua, este tipo de teste não é utilizado. Apesar do

custo e aparatos, normalmente já se tem o conhecimento do tipo de solo, sendo, neste

caso, necessário um mapa daquela região, para que se tenha conhecimento das

utilidades (esgoto, gás, eletricidade, etc) que por ali já passam, de forma que não haja

interferência com o novo projeto.

Com o capítulo apresentado, percebe-se a importância do conhecimento das

condições do solo, para a continuidade e aprofundamento ao estudo da perfuração

direcional. O capítulo a seguir apresenta as particularidades inerentes a esta técnica de

perfuração.

25

Capítulo 3

3 Perfuração Direcional

A perfuração direcional, que possui como uma de suas vertentes a perfuração

horizontal não destrutiva, objeto deste trabalho, teve seu desenvolvimento e

aperfeiçoamento a partir da tecnologia empregada na perfuração de poços de extração

de petróleo a partir de 1860.

Na prática não existe poço rigorosamente vertical, pois o poço desvia-se

naturalmente da trajetória. Estes desvios devem ser quantificados e, se ultrapassarem

certos limites de inclinações, normalmente 5º (cinco graus), ações corretivas devem ser

implementadas no sentido de reduzir a sua inclinação. Estes desvios trazem problemas

de mapeamento do subsolo e podem atingir a profundidade final numa posição bastante

afastada da desejada.

Com isso, foram feitos estudos que culminaram com a descoberta de uma

técnica mais avançada de perfuração, onde é possível realizar o direcionamento dos

poços para quaisquer pontos que se desejasse atingir, o que ficou conhecido como

perfuração direcional.

3.1 Pesquisa sobre o desenvolvimento da Perfuração Horizontal

Os recentes avanços na perfuração direcional mudaram para sempre a imagem

dos poços. Um poço já não mais precisa ser um cilindro vertical, pois a perfuração

direcional pode criar buracos com qualquer trajetória. Poços que se curvam para uma

orientação horizontal são particularmente apropriados para aplicações ambientais.

Os poços horizontais não são tecnicamente uma inovação, uma vez que as

indústrias de suprimento de água já utilizavam esta técnica de poços horizontais para

coletar água de rios e de outros mananciais de água.

Métodos de perfuração direcional utilizam brocas especiais para curvar o furo

num arco controlado, de forma que a trajetória é controlada com sensores eletrônicos.

Isto faz com que o furo comece com um ângulo relativamente suave desde a superfície e

vá se curvando gradualmente até a horizontal.

Poços ocultos terminam no subsolo, e são utilizados quando se deseja atingir

alguma região profunda, que não seja possível diretamente da vertical. Por outro lado,

quando se deseja atingir uma certa profundidade, por algum objetivo específico, e

posteriormente retornar à superfície, chamamos este de poço contínuo (Figura 3-1).

A maioria dos poços horizontais é perfurada aproximadamente em linha reta,

mas curvas laterais são prováveis e podem ser importantes e desejadas em certas

circunstâncias.

Figura 3-1. Diferenç

Poços inclinados podem

convencionais, após serem basculad

com determinada inclinação. Neste

sejam executados a partir de uma su

Por outro lado, em alguns

inclinada, consegue-se obter um poç

vez que o ângulo dependerá exclusi

o

Poço ocult

26

a entre poço oculto e poço contínuo.

ser criados com equipamentos de perfuração

os (inclinados) para que desempenhem a perfuração

caso, estes poços não podem ser horizontais, caso

perfície reta.

casos, perfurando-se a partir de uma superfície

o horizontal, e até mesmo inclinado para cima, uma

vamente do posicionamento do equipamento.

Poço contínuo

27

3.2 Descrição e composição dos equipamentos de Perfuração

Horizontal

A perfuração direcional (horizontal) utiliza três componentes especiais, que são:

um equipamento de perfuração para imprimir força ao sistema; um bit curvo, para criar

um furo direcional; e um sistema de rastreamento para localizar e guiar o furo.

O equipamento de perfuração direcional é tipicamente constituído de um

carrinho (trole), que se desloca em um trilho e sustenta a haste de perfuração sob um

determinado ângulo, que irá variar de acordo com a profundidade que se deseja alcançar

(Figura 3-2).

Na maioria dos casos, um acionamento hidráulico é responsável por imprimir a

força é necessária para a penetração (avanço e retrocesso) da haste de perfuração, sendo

em algumas aplicações utilizada uma corrente de transmissão.

Figura 3-2. Funcionamento do trole durante perfuração.

Na Figura 3-2 é possível observar claramente o dispositivo de cravação das

hastes de perfuração em funcionamento. Conforme explicado anteriormente, a ação se

dá através do deslocamento de um carrinho (trole), onde na figura é possível verificar

que este movimento acontece da esquerda para a direita. Com isso, as hastes de

perfuração (trecho da haste assinalado na figura), são encravadas no solo com uma leve

Haste conectada durante perfuração

28

inclinação, que normalmente varia entre 8º e 18º na entrada (avanço) e entre 8º e 12º na

saída (retrocesso).

Uma bomba no equipamento, capaz de imprimir jatos de 1 a 30 Mpa (145 a

4.300 psi), é tipicamente usada para injetar fluido de perfuração. A unidade de

bombeamento será apresentada mais adiante.

O equipamento ainda é composto de uma esteira de deslocamento, para

possibilitar a locomoção de todo o conjunto, e se encontra disponível em diversos

tamanhos, distinguindo-se basicamente pelo torque e força de arrasto.

Quando se perfura um poço vertical, o peso da cabeça de perfuração (conjunto

motor + haste) imprime uma força (peso) ao bit de perfuração. Já na perfuração

direcional, o equipamento de perfuração deve imprimir uma força de avanço, sendo

necessário, portanto, que todo o conjunto esteja ancorado através de uma estaca, para

evitar o deslocamento da máquina.

As estacas são posicionadas utilizando-se de cilindros hidráulicos, e devem ser

capazes de suportar as cargas inerentes a realização da travessia de toda a distância

planejada. Assim, evita-se que a máquina se desloque de sua posição de trabalho, com o

processo reativo da força, o que prejudicaria o alinhamento da perfuração e poderia

danificar alguns componentes. Na Figura 3-3 está evidenciado por um círculo, o

posicionamento da estaca, durante o ancoramento da unidade.

Figura 3-3. Ancoramento da unidade de perfuração direcional por e

Charles Machines Works, INC.).

o

Sol

staca (The

Nas Figuras 3-4 A e B, pode-se observar uma máquina no momento exatamente

anterior à cravação das estacas (A), e após cravação das estacas (B), sendo apontado

pelas setas indicativas.

Fig

sistema

apresen

3.2.1

hidrául

de fluid

unidade

túnel pa

outras

aliment

modern

A

Figura 3-4

29

uras 3-4. A e B – Antes e após ancoramento das estaca

Um equipamento de perfuração direcional é composto ba

s distintos, cada um com suas características particulare

tados a seguir, de forma que se tenha um maior detalham

Unidade de perfuração

A unidade de perfuração (Figura 3-5) é constituída p

ico, que aciona as funções de avanço e rotação da cabeça

o. A energia necessária ao sistema é fornecida por m

.

A unidade de perfuração é a que executa mecanicamente

ra a puxada do(s) duto(s). Essa unidade é dotada, além d

funções hidráulicas, como: nivelamento de estrutu

ação do trole com hastes de perfuração (automática

os), ancoragem da unidade (estacas) e locomoção (esteira

Figura 3-4 B

s respectivamente.

sicamente de 05 (cinco)

s. Esses sistemas serão

ento de cada um deles.

or um sistema eletro-

de perfuração e bomba

otor diesel contido na

a perfuração do micro-

as funções já citadas, de

ra, freio das hastes,

em equipamentos mais

s de deslocamento).

30

A unidade de perfuração será determinada de acordo com os critérios já

apontados anteriormente: atratividade econômica, condições do local, diâmetro da

tubulação, profundidade da instalação, comprimento, condições do solo e carga a ser

puxada (pullback).

Figura 3-5. Vista lateral de uma unidade de perfuração direcional

Como caracterização da importância de escolha da máquina ideal, está

representado na Figura 3-6 um caso típico de má aplicação de uma máquina, onde não

foi possível a realização da perfuração, com a confecção do túnel.

Figura 3-6. Equipamento em funcionamento durante tentativa de travessia

Para as condições geográficas do local, ou seja, uma área de aterro com bastante

rocha, foi utilizada uma máquina considerada obsoleta por suas características

tecnológicas, mas, principalmente, pelas condições ruins de manutenção da mesma.

Além disso, outro fator que pode ter contribuído bastante foi a aplicação indevida de um

31

determinado tipo de broca, não específico para a perfuração das rochas utilizadas na

composição do aterro.

Os fatores apontados anteriormente fizeram com que após algumas tentativas de

travessia, ou seja, execução do túnel, fosse necessária a realização da escavação por vala

a céu aberto para a travessia da estrada e conclusão de uma das etapas da obra (método

que se deseja abolir para o tipo de travessia em questão).

3.2.2 Unidade de bombeamento/mistura de fluido

A unidade de bombeamento e mistura de fluido de perfuração é a responsável

por enviar fluido pressurizado, pelo interior das hastes de perfuração, até a ponta da

cabeça de perfuração. É sua função também misturar os produtos químicos juntamente

com a água, através de um sistema de venturi e recirculação, causando um

turbilhonamento no reservatório de fluido.

Conforme pode ser observado na Figura 3-7, a unidade de bombeamento é um

conjunto de apoio à unidade de perfuração, requerendo, em função do tamanho de sua

estrutura, um caminhão à parte para que todo este conjunto seja deslocado e operado

adequadamente. A expressão “caminhão à parte” se justifica pelo fato de a unidade de

perfuração já necessitar de um caminhão exclusivamente para o seu transporte.

Dependendo da dimensão do projeto, ou seja, comprimento do furo, ou furos

dentro de uma determinada região ou local, ainda será necessário um caminhão pipa

para o abastecimento de água na unidade de bombeamento, uma vez que o reservatório

de água não é grande o suficiente para a quantidade requerida.

Figura 3-7. Unidade de bombeamento

32

3.2.3 Fluidos de perfuração

Constituem o aspecto fundamental na operação de perfuração e alargamento do

micro-túnel durante a puxada do(s) duto(s). A sua seleção depende do tipo de solo no

qual se trabalha (argila, areia, rocha, etc), tendo como função lubrificar o micro-túnel e

refrigerar a cabeça de perfuração, e, conseqüentemente, o emissor de sinais que se

encontra instalado dentro da cabeça de perfuração. Outra função é sustentar as paredes

do micro-túnel em solos instáveis (Ex. areia), quando neste caso, é utilizada a bentonita,

junto ao fluido de perfuração.

As bentonitas são argilas ultrafinas formadas, em sua maioria, pela alteração

química de cinzas vulcânicas. Em sua composição predomina a montmorilonita2, o que

explica sua tendência ao inchamento. Graças a esta propriedade, as injeções de

bentonita são também usadas para vedação em barragens e escavações.

3.2.4 Unidade de detecção de contato com linha elétrica energizada

Esse sistema está relacionado à segurança da equipe e do equipamento. Sua

função é avisar através de sinal sonoro, visual e gráfico a eminência de contato da

cabeça de perfuração com algum cabo elétrico enterrado ou o acidente já ocorrido. É de

vital importância o perfeito funcionamento de tal sistema, pois esse tipo de acidente

pode ocasionar morte do operador do equipamento e de integrantes da equipe.

Este equipamento é uma unidade redundante de segurança, já que antes do início

da execução da perfuração é extremamente necessária uma investida “geográfica” do

local a ser perfurado, para que se tenha pleno conhecimento das condições do subsolo,

evitando desta forma interferências com outras utilidades públicas.

Apesar do estudo do subsolo, não se pode descartar em hipótese alguma o uso da

unidade de detecção de contato com linha elétrica, pois muitas vezes os mapas de

subsolo apresentam erros de posicionamento, dificultando o trabalho da equipe de

perfuração.

Devido à característica de construção, o equipamento é isolado para o caso de

um contato elétrico subterrâneo. Através da Figura 3-8, pode se ter uma idéia do perfil e

funções desta unidade de detecção.

2 Montmorilonita é um dos principais grupos de argilominerais.

33

Figura 3-8. Vista da unidade de detecção de contato com linha elétrica energizada.

1. Display Alfanumérico 2. Indicador de contato elétrico 3. Botão de interrupção de alarme 4. Indicador de problema de voltagem 5. Indicador de problema de corrente 6. Indicador de OK 7. Indicador de fornecimento de energia elétrica 8. Botão de autoteste

3.2.5 Eletrônicos de monitoramento da perfuração

É o sistema responsável pelo direcionamento e controle do encaminhamento da

cabeça de perfuração. É composto de um emissor de sinais, que fica alojado no interior

da cabeça de perfuração, e que envia para o receptor as informações necessárias à

condução da perfuração. Há também um receptor remoto, montado no painel do

operador da máquina, que capta as informações recebidas do receptor e acompanha os

sinais da cabeça de perfuração, permitindo ao operador da máquina acompanhar todos

os detalhes do processo, facilitando a operação do equipamento.

É de vital importância o controle da temperatura do emissor de sinais no interior

da cabeça de perfuração. Caso o jato de fluido de perfuração fique obstruído, o fluxo

através da cabeça de perfuração fica interrompido, cessando a refrigeração do emissor

de sinais, com a sua conseqüente queima. Pode também ocorrer uma elevação da

temperatura do emissor em condições adversas de perfuração.

Outro aspecto importante que merece atenção por parte do rastreador é o nível

de bateria do emissor. Deve-se operar apenas com pilhas alcalinas de excelente

qualidade e que estejam em um nível de energia suficiente. Usar pilhas comuns ou que

estejam com o nível de energia baixo causará a interrupção da perfuração e a

necessidade de se retirar as hastes de dentro do micro-túnel para se efetuar a troca das

pilhas, atrasando em muito a operação.

34

3.3 Componentes principais nas etapas do método não destrutivo

3.3.1 Etapa de Perfuração:

Nesta etapa é executado o furo piloto (micro-túnel), por onde, futuramente, será

puxada a tubulação a ser instalada, envolvendo os seguintes elementos principais do

processo de perfuração não destrutiva:

3.3.1.1 Hastes de perfuração

A haste de perfuração é o elemento responsável por transmitir o movimento de

rotação e avanço gerado pela máquina à cabeça de perfuração, bem como levar até a

mesma o fluido de perfuração, que passa pelo seu interior. É composta de um tubo

metálico flexível com uma das extremidades com rosca cônica fêmea e a outra

extremidade com pino macho rosqueado. A sua estrutura é oca contendo um tubo de

PVC interno para o transporte de fluido de uma haste a outra.

Figura 3-9. Hastes de perfuração (extremidade macho e extremidade fêmea).

As hastes de perfuração são enroscadas umas nas outras conforme a perfuração

avança, formando o que se chama de coluna de perfuração. Ao se enroscar uma haste a

outra se deve fazê-lo suavemente, moderando principalmente o avanço para que não se

estrague um ou mais fios de rosca. O mesmo procedimento serve para a desconexão das

hastes. Na Figura 3-10 é possível observar, em corte, como é a conexão entre uma haste

35

e outra. O comprimento das hastes e o diâmetro variam de acordo com o porte da

máquina.

Figura 3-10. Vista em corte da extremidade macho de uma haste conectando-se na

extremidade fêmea de outra haste.

3.3.1.2 Cabeça de perfuração

A cabeça de perfuração é uma peça cilíndrica composta de uma parte interna

oca, onde fica alojado o emissor de sinais. Na sua ponta é fixado o bit de perfuração.

Pela cabeça de perfuração é lançado o jato de fluido de perfuração em alta pressão no

interior do micro-túnel, para manutenção de suas características, sem que haja

desmoronamento. O jato também é importante para a lubrificação da ferramenta de

corte (bit de perfuração).

Na Figura 3-12 apresenta-se uma cabeça de perfuração recém utilizada, com um

emissor de sinais (amarelo) ao lado, o qual durante operação fica no interior desta

cabeça.

Figura 3-11. Cabeça de perfuração sem degradação por uso.

Fig

3.3.1.3

A

direcion

metálica

Figur

3.3.1.4

É

perfuraç

intermed

assim, u

Emissor de sinais.

ura 3-12. Cabeça de perfuraçã

Bit de perfuração

função do bit de perfuraç

amento à cabeça de perfuração

com material de corte de alta d

a 3-13. Bits de perfuração par

Haste intermediária (Transiti

uma haste de perfuração c

ão e a primeira haste. É compo

iárias entre a cabeça de perfu

m efeito de amortecimento da

O emissor de sinais é instalado nointerior da cabeça de perfuração.

36

o com emissor de sinais após perfuração.

ão é executar o corte do micro-túnel e dar

na qual ele fica fixado. É composto de uma base

ureza na sua ponta.

a diversas aplicações (Site fabricante Ditch

Witch).

on Sub)

urta que, fica localizada entre a cabeça de

sta de um material de características mecânicas

ração e as hastes de perfuração, promovendo,

carga imposta à cabeça de perfuração. Pode-se

37

comparar a sua aplicação, à utilização de um fusível na rede elétrica, pois em caso de

sobrecarga mecânica, será esta que deverá ser danificada, uma vez que a cabeça de

perfuração e as hastes de perfuração, as quais estão diretamente conectadas, são

elementos de custo bastante elevado.

Figura 3-14. Haste intermediária.

3.3.1.5 Emissor de sinais (beacon)

É um aparelho eletrônico que trabalha com ondas de rádio, transmitindo ao

receptor informações sobre a posição da cabeça de perfuração, tais como: profundidade,

inclinação, deslocamento lateral e informações relativas ao próprio emissor

(temperatura e nível da bateria, por exemplo). Mais adiante serão explicados seu

funcionamento e rastreamento.

Figura 3-15. Emissor de sinais (Catálogo fabricante Ditch Witch).

3.3.1.6 Receptor de sinais (Tracker)

O receptor de sinais é um aparelho eletrônico cuja função é receber as

informações relativas à cabeça de perfuração, informações essas enviadas pelo emissor

de sinais (beacon). Baseado nessas informações o navegador dá instruções ao operador

da máquina para que o furo tenha o direcionamento necessário para atingir o alvo final

38

da perfuração. Na Figura 3-16 é possível observar, à esquerda, a unidade instalada na

unidade de perfuração, e, à direita, a unidade móvel manuseada por um

operador/navegador.

Figura 3-16. Receptor de sinais.

3.3.2 Etapa de Alargamento e Puxada do Produto a Ser Instalado

Após a execução do furo piloto realiza-se a operação inversa, ou seja, as hastes

que foram introduzidas são puxadas para fora do solo, desconectando-se umas das

outras, enquanto o furo é alargado e a tubulação a ser instalada é puxada para dentro do

micro-túnel. Essa etapa envolve os seguintes elementos principais:

3.3.2.1 Hastes

São as responsáveis pela transmissão do movimento de rotação (corte) e avanço

do alargador, bem como a transmissão da força de puxada (tração) para a tubulação que

está sendo instalada. Também enviam o fluido de perfuração até os jatos existentes no

alargador.

3.3.2.2 Haste Intermediária (Transition Sub)

Este elemento mantém-se presente na coluna de perfuração durante essa fase,

localizando-se entre o alargador e a primeira haste, exercendo a mesma função da etapa

anterior, ou seja, criando uma zona de transição entre o alargador e a primeira haste da

coluna.

39

3.3.2.3 Alargador com jatos

O alargador de perfuração é a peça responsável pelo alargamento do diâmetro do

micro-túnel aberto. Esse alargamento é necessário para que haja uma folga entre a

tubulação a ser puxada e o micro-túnel aberto. Dependendo do diâmetro da tubulação a

ser puxada, haverá a necessidade de se efetuar mais de um alargamento antes da puxada

definitiva da tubulação, o que é denominado pré-alargamento.

Durante a fase de alargamento e puxada da tubulação é injetado mais fluido de

perfuração no micro-túnel, através de jatos localizados no corpo do alargador.

A superfície do alargador é dotada também de material cortante de alta dureza,

soldado em forma de pastilhas ou dentes numa disposição tal que ocorra o corte e a

limpeza do micro-túnel através do escoamento dos detritos de corte. Existem diversos

tamanhos de alargadores, com formatos variados.

Figura 3-17. Alargadores para argila e terreno pedregoso.

Figura 3-18. Tipos de alargadores [Site Air Service].

40

3.3.2.4 Distorcedor (swivel)

Essa peça trabalha entre o alargador e a tubulação que está sendo puxada. Sua

função é evitar que o movimento de rotação (corte) do alargador seja transmitido à

tubulação. A interrupção do movimento de rotação do alargador para a tubulação é

efetuada por um rolamento no interior do distorcedor (swivel).

Figura 3-19. Distorcedor com pino.

3.3.2.5 Dispositivo de Puxada (Pulling Head)

Também conhecida como cabeça de puxada, essa peça “veste” a ponta da

tubulação a ser puxada sendo posteriormente apertada, permitindo desta forma que,

através de um olhal em sua outra extremidade, a mesma seja conectada ao distorcedor

(swivel) por meio de um pino, manilha ou cabo-de-aço.

Este dispositivo permite que a tubulação seja passada simultaneamente a última

passada do alargador, evitando assim, uma nova passagem, para a travessia exclusiva da

tubulação. Este processo reduz o tempo e custos de operação.

3.4 Processos da Perfuração – Procedimentos para execução do furo

direcionado

A fase de execução do furo piloto, que é o local por onde será puxada a

tubulação a ser instalada, compreende, em geral, as seguintes etapas:

41

3.4.1 Análise da capacidade de puxada do equipamento

Antes da execução do furo e puxada da tubulação deve-se levar em conta a

dimensão total a ser executada. Calcula-se o peso total da coluna a ser puxada, o qual

dependerá das dimensões da tubulação, e, de acordo com as empresas que trabalham

com este tipo de perfuração, adiciona-se 30% a esse resultado em decorrência da força

de atrito da parede da tubulação nas paredes do micro-túnel. O resultado obtido deve ser

comparado com a capacidade de puxada (pullback) do equipamento, de forma que seja

empregada uma máquina capaz de exercer a força requerida.

3.4.2 Análise do projeto

Nesta etapa faz-se uma análise da solicitação do projeto e da necessidade de uma

eventual adequação ao método não destrutivo. É feita também uma visita in loco para

checar as condições de posicionamento do equipamento e os serviços de terraplanagem

e limpeza que porventura possam ser necessários

3.4.3 Inspeção do local a ser perfurado

Nesta inspeção verificam-se as interferências subterrâneas existentes ao longo da

trajetória do furo a ser feito. Em geral, as interferências consistem em cabos telefônicos

e de fibra óptica, eletricidade, tubulações de água, esgoto, gás e galerias de águas

pluviais.

A inspeção pode ser feita visualmente, com o acompanhamento de plantas

fornecidas pelas concessionárias de serviços, ou por intermédio de aparelhos de indução

de freqüência eletromagnética e radares.

Figura 3-20. Sistema de localização de dutos e cabos enterrados com todos os

acessórios.

42

Após o mapeamento das interferências subterrâneas existentes faz-se o

planejamento do furo piloto. Entretanto, este mapeamento pode não ser muito confiável,

em função de obras complementares ou alterações de projeto, que não tenham sido

atualizadas nas plantas. Com isso, a utilização de radares e aparelhos de indução de

freqüência eletromagnética devem principalmente ser utilizados quando se trata de

perfuração em um centro urbano, onde já existe uma vasta quantidade de utilidades no

subsolo.

Figura 3-21. Sistema de radar para mapeamento do subsolo.

3.4.4 Planejamento do perfil do furo

Após a coleta dos dados de projeto, topografia do terreno e interferências

subterrâneas existentes faz-se o planejamento do perfil da perfuração baseando-se no

raio natural de curvatura da tubulação a ser instalada, descrito na norma NBR 1404

(para tubulações de aço especificamente). Neste planejamento são considerados todos

os dados relevantes sobre a perfuração a ser executada, tais como: cotas de topografia,

profundidade a ser atingida, extensão do furo, diâmetro a ser instalado, raio de curvatura

da tubulação a ser instalada, particularidades do terreno e do local tais como rios e

estradas, e por último, tipos e localização de interferências subterrâneas.

3.4.5 Posicionamento da unidade de perfuração

Ao se decidir pelo encaminhamento do furo piloto, posiciona-se a máquina na

posição de entrada da perfuração e ancora-se a mesma com a inclinação inicial para a

perfuração. Posiciona-se também todo o restante do sistema e veículos de apoio, tal

como a unidade de bombeamento. A área ocupada pela unidade de perfuração e sistema

de fluido é isolada através de cones de sinalização refletivos e fitas de isolamento. São

colocadas placas de aviso na via e cones de sinalização.

43

3.4.6 Preparo do fluido de perfuração

Inicialmente identifica-se o solo e em seguida, prepara-se o fluido de perfuração

de acordo com o tipo de terreno a ser perfurado. Para terrenos argilosos usa-se,

basicamente, polímero de perfuração diluído em água através do sistema de mistura e

recirculação do equipamento. Para terrenos predominantemente arenosos prepara-se

uma mistura de bentonita e polímero diluído em água, tomando-se o cuidado de se diluir

primeiramente a bentonita em pó, diluindo-se em seguida o polímero, pois caso

contrário, a bentonita formará bolotas em suspensão no polímero, não conseguindo se

dissolver totalmente. Para situações mais específicas podem-se adotar aditivos

suplementares.

3.4.7 Execução do furo piloto

O furo piloto é executado com base no planejamento do seu perfil e

encaminhamento, o que é função da topografia do terreno, interferências existentes,

exigências de projeto e tipo de material a ser instalado (raio de curvatura).

Cabe ressaltar, que o posicionamento da cabeça de perfuração é conhecido em

horas, imaginando-se o funcionamento de um relógio. Ou seja, se a ponta de perfuração

está posicionada para baixo, posição inicial de entrada no solo, entende-se como 6

horas. Se a ponta está posicionada para cima, entende-se como 12 horas, se virada para

a direita, 3 horas e se virada para a esquerda, 9 horas. O resultado da leitura pelo

aparelho de varredura (receptor de sinais) é apresentado em horas, conforme se pode

observar na Figura 3-22.

Após o ancoramento da máquina na posição de entrada, escava-se uma valeta

inicial para a penetração da cabeça de perfuração. Empurra-se então a haste nesta

posição até que haja uma penetração satisfatória da cabeça de perfuração no solo. Tão

logo haja a penetração da cabeça de perfuração gira-se o resto da haste com avanço e

localiza-se a cabeça de perfuração com o receptor, ao final da haste, anotando-se os

dados na planilha de perfuração. Repete-se esse processo para cada haste perfurada,

apenas alterando-se os comandos de perfuração de acordo com as necessidades de

direcionamento e inclinação.

44

Figura 3-22. Display do receptor de sinais.

Para execução do furo piloto, é de extrema importância o conhecimento de três

aspectos:

• Ponto de entrada ― É o ponto escolhido para o início da perfuração,

onde é escavada uma pequena valeta para a penetração inicial da cabeça

de perfuração. É também o ponto final da operação, ao se terminar de

puxar o alargador e a tubulação a ser instalada;

Figura 3-23. Cabeça de perfuração penetrando na vala inicial (Manual Fabricante

Ditch Witch).

• Ponto de saída ― É o ponto onde termina a operação de perfuração do

micro-túnel, geralmente ocorrendo a saída da cabeça de perfuração. É

também o ponto onde se troca a cabeça de perfuração pelo alargador,

• Pitch (inclinação) ― O Pitch é uma medida de inclinação da cabeça de

perfuração, expressa em porcentagem (%). Quando a cabeça de

perfuração está descendo (ganhando profundidade), a inclinação é

negativa. Quando está subindo (perdendo profundidade), a inclinação é

positiva. O Pitch é um número que expressa a taxa de ganho ou perda de

profundidade da cabeça de perfuração em cada haste introduzida no solo.

Um pitch de –20% significa que a cada metro de haste de perfuração

45

introduzido no solo a cabeça de perfuração estará descendo 20 cm. De

modo análogo, se tivermos um pitch de +20%, significa que a cada metro

de haste de perfuração introduzido no solo a cabeça de perfuração estará

subindo 20 cm. Quanto maior o pitch mais profundo será o furo. Um

pitch menor permitirá que se alcance o nivelamento mais rápido, com

menos profundidade e com menor curvatura das hastes.

Figura 3-24. Vista lateral em corte da perfuração. Nota-se a diferença ao se

trabalhar com pitch de entrada diferentes (Manual Fabricante Ditch Witch).

Durante a execução do furo piloto mantém-se a inclinação negativa até que se

atinja uma profundidade próxima a profundidade desejada, quando então se começa a

variar a declividade para que a mesma atinja 0% (nivelada). Para que se obtenha essas

alterações na inclinação, posiciona-se a cabeça de perfuração em 12 horas e empurra-se

a mesma, sem rotação, até que a inclinação tenha uma variação de no máximo 7%

(depende do modelo do equipamento).

Ex: Ao se perfurar com uma inclinação de –24% (descendo 24 cm por metro de

haste introduzido), caso seja necessário alterar essa inclinação, então a cabeça de

perfuração deverá ser empurrada sem rotação, na posição 12 horas até que o pitch

(inclinação) varie 7%, ou seja, variação de –24% a –17%.

Caso haja a necessidade de se efetuar uma correção lateral, devido à cabeça estar

se desviando lateralmente do seu alvo, usa-se o mesmo princípio do relógio,

empurrando-se a cabeça de perfuração parada em 3 horas (correção para a direita) ou

em 9 horas (correção para a esquerda). Ao se fazer este tipo de operação só é permitido

empurrar no máximo 2 pés (60 cm) em cada haste.

No momento em que a perfuração estiver caminhando nivelada (PITCH = 0) e

houver a necessidade de se alterar a inclinação para cima, para se começar a subir, pára-

se a cabeça de perfuração em 12 horas e empurra-se a mesma até que o pitch varie de

46

0% para +7%. Na próxima haste a ser perfurada, pára-se a cabeça de perfuração

novamente em 12 horas e empurra-se sem rotação, até que o pitch varie de (+7%) para

(+14%). Continua-se variando o pitch até que se chegue a um valor necessário à saída

da cabeça de perfuração.

Para a perfeita execução do furo piloto, é imprescindível o acompanhamento

simultâneo, em tempo quase que integral, utilizando-se do receptor de sinais e do

emissor de sinais, instalado na cabeça de perfuração, conforme já apresentado

anteriormente. Baseado nessas informações o navegador dá instruções ao operador da

máquina para que o furo tenha o encaminhamento.

Na Figura 3-25 pode-se observar como é o sistema de acompanhamento da

cabeça de perfuração durante o andamento da execução de um túnel, utilizando-se de

um receptor de sinais. Este sistema de emissão e recepção das informações de

posicionamento será melhor explicado mais adiante.

Figura 3-25. Operação de localização do emissor durante perfuração.

3.4.8 Montagem das ferramentas de alargamento e puxada de dutos

Ao se terminar o furo piloto retira-se a cabeça de perfuração e monta-se o

alargador, distorcedor e tubulação a ser puxada. Caso não seja possível puxar a

tubulação nessa etapa e seja necessário um ou mais pré-alargamentos, monta-se o

alargador sozinho e conectam-se hastes de perfuração na sua traseira, enquanto o

mesmo é puxado através do micro-túnel, que vai sendo alargado.

No caso de se fazer puxada de tubulação de gás, solda-se na ponta da mesma

uma cabeça metálica cônica com olhal, o qual será conectado ao distorcedor para a

47

puxada da coluna. Na Figura 3-26 é possível observar as diferenças entre as etapas de

perfuração, alargamento e túnel pronto com tubulação passada.

Figura 3-26. Criação de túnel horizontal com alargamento: a) perfuração de poço

contínuo, b) alargamento com puxada da tubulação, c) túnel acabado (The Charles

Machines Works, INC.).

Ao se puxar uma coluna de aço previamente soldada e inspecionada há a

necessidade de se içar a mesma através de caminhões munk (braço hidráulico acoplado

ao caminhão para içar peças pesadas de acordo com a capacidade do braço), para que a

mesma seja puxada na inclinação de entrada do micro-túnel. Essa inclinação de entrada

deve estar de acordo com o raio natural de curvatura da tubulação. Caso a tubulação seja

alimentada através de uma janela horizontal (poço de lançamento), ela pode ser apoiada

em roletes.

A coluna de tubulação de gás a ser puxada poderá ser soldada e inspecionada

antecipadamente, de acordo com a estimativa de comprimento do furo, deixando-se a

48

mesma na posição de puxada pelo equipamento ou soldada no momento da puxada,

interrompendo-se a puxada pelo equipamento e executando-se a solda e a inspeção de

cada lance.

3.4.9 Término da puxada

Ao se terminar a puxada do(s) duto(s), desconecta-se o alargador, o distorcedor e

a cabeça de puxada. Desancora-se a unidade de perfuração e afasta-se a mesma do local.

No caso de tubulação de gás de grande diâmetro (φ > 10”), interrompe-se a

puxada ao se alcançar a região de profundidade exigida pelo projeto e faz-se a

escavação com retroescavadeira para se encontrar a ponta da tubulação e se desconectar

as ferramentas de alargamento e puxada. Pode-se construir antecipadamente uma janela

horizontal (poço receptor), onde se dará o término da puxada da tubulação.

3.4.10 Isolamento da tubulação e limpeza

Tampona-se a boca da tubulação com fita de isolamento ou tampão apropriado e

retira-se o excesso de lama da região da saída e entrada da tubulação. Isola-se o local de

início e término da perfuração com material e sinalização adequada.

3.4.11 Retirada de lama e resíduos de fluido de perfuração

Caso necessário, coleta-se a lama resultante da perfuração para um caminhão

caçamba e lava-se o local com o caminhão pipa. Pode-se utilizar equipamento sugador

de lama para que o local fique em condições adequadas de trânsito, tanto de veículos

como de pedestres.

3.4.12 Desmobilização do equipamento

Após o término de todo o serviço, a unidade de perfuração deverá ser recolhida e

os demais equipamentos e veículos de apoio deverão ser mobilizados para a próxima

execução, onde:

49

• O caminhão pipa ― Fornece a água necessária ao preparo do fluido de

perfuração empregado no furo guia e no alargamento e puxada do duto a

ser instalado;

• A escavadeira ou retroescavadeira ― Faz a abertura de valas para o

posicionamento do duto a ser instalado pela perfuração direcionada,

quando necessário;

• O caminhão de carroceria aberta ― Carrega o sistema de fluido,

ferramentas, acessórios de perfuração, unidade de bombeamento e

produtos químicos utilizados no fluido de perfuração;

• O caminhão munk ― Transporta as bobinas de polietileno a serem

instaladas e, no caso de tubulação de gás, sustenta a tubulação soldada na

inclinação de entrada no micro-túnel; e

• Automóvel de passeio ― Para uso geral de locomoção da equipe, sendo

utilizado também para a compra de materiais em caráter de emergência,

caso haja necessidade durante uma perfuração.

3.5 Operações fundamentais durante a execução do furo

A execução do furo, no processo de perfuração, depende de algumas operações

fundamentais, as quais serão aqui apontadas, para melhor entendimento do estado da

técnica.

3.5.1 Rotação

É a função responsável pelo corte do micro-túnel e do posicionamento do bit de

perfuração no momento da operação de alteração da inclinação da cabeça de perfuração.

Também é responsável pelo corte e alargamento do micro-túnel por intermédio do

alargador, durante o processo de retorno.

50

3.5.2 Avanço

É a função responsável pelo avanço da cabeça de perfuração, enquanto a mesma

está cortando o micro-túnel, ou do retrocesso do alargador, enquanto o mesmo estiver

alargando e cortando o micro-túnel.

Quando se necessita alterar a inclinação da cabeça de perfuração, deve-se manter

somente o avanço, sem rotação, numa posição adequada para que a mesma comece a

alterar sua inclinação.

Essa alteração na inclinação se dá devido ao formato do bit (tipo “cunha”),

localizado na ponta da cabeça de perfuração, que reagindo com o terreno, faz com que a

cabeça de perfuração altere a sua inclinação. O posicionamento do bit, para alterar a

inclinação da cabeça de perfuração, se dá através do sistema de horas explicado

anteriormente.

3.5.3 Rotação conjugada com o avanço

É a conjugação das duas funções acima citadas para que haja o corte do micro-

túnel e ao mesmo tempo o avanço do mesmo até se chegar ao destino final do furo

piloto ou ao término da puxada da tubulação até a máquina.

Quando se gira a cabeça de perfuração e se avança ao mesmo tempo, a mesma

corta um micro-túnel mantendo a inclinação anterior. Na Figura 3-27 é apresentada a

diferença dos trajetos, conforme o tipo de movimento empregado, em um determinado

momento da perfuração.

Figura 3-27. Perfuração direcional – movimento de rotação conjugada com avanço

(The Charles Machines Works, INC.).

51

3.5.4 Localização eletrônica da cabeça de perfuração

Através de um sistema de rastreamento por radio freqüência é possível localizar

um alvo móvel ou estático, em uma determinada profundidade, de forma que se trace,

efetuando-se correções necessárias, um caminho no subsolo por onde será realizada a

passagem da tubulação.

O sistema de localização encontra-se próximo a broca de perfuração e possui

como finalidade:

• Localizar o ponto final da coluna de perfuração (cabeça de perfuração);

• Fornecer o deslocamento lateral e inclinação do conjunto; e

• Fornecer a orientação da broca (tipo cunha), segundo a determinação dos

“horários”, já explicada anteriormente.

Estas informações, combinadas com o comprimento medido da coluna de

perfuração, podem ser usadas para calcular o posicionamento de todo o conjunto.

O emissor de sinais é uma sonda operada com bateria, que envia um sinal de

radio do subsolo durante o processo de perfuração. Um rastreador manual, disposto na

superfície, localiza a posição do emissor (beacon), calcula a profundidade até este e

indica, em seu display, a orientação da face da cabeça de perfuração. Por se tratar de um

emissor alimentado através de uma bateria, o tempo de operação será limitado à duração

da mesma, a qual deve ter sua carga sempre verificada para que se evite interrupção do

processo de perfuração.

Como este método depende de um técnico posicionado com o rastreador na

superfície, sempre “acima” da cabeça de perfuração (emissor de sinais), não pode ser

utilizado em locais onde seja impossibilitada a permanência deste técnico, por exemplo,

durante a travessia de um rio com correnteza ou uma via com trânsito muito intenso.

Na Figura 3-28 apresenta-se um sistema completo de localização, composto de:

emissor de sinais (localizado na cabeça de perfuração); receptor de sinais (local),

utilizada pelo funcionário rastreador; e unidade remota de recepção de sinais, utilizada

pelo operador da máquina.

52

Figura 3-28. Conjunto completo ― Sistema de localização.

Outras informações, como intensidade do sinal, sensibilidade do receptor, status

da bateria e temperatura, também são indicados na unidade da superfície (rastreador).

Na Figura 3-29 pode-se ver o formato do painel do receptor de sinais, onde se tem as

informações apontadas acima. Na Figura 3-30 tem-se, à esquerda, o nível de

temperatura, que pode ser observado no painel do receptor de sinais e, à direita, tem-se

o nível da bateria.

A temperatura do emissor é expressa em três segmentos que se acendem dentro

do símbolo de temperatura no display, cada segmento representando 33 % da

temperatura de queima. Ao se acender o terceiro segmento, o símbolo de temperatura

pisca indicando a iminência de queima do emissor de sinais.

É importante ressaltar que é necessário o controle de ambos os níveis, uma vez

que altas temperaturas são responsáveis pela queima do emissor de sinais, e são

atingidas quando a saída do jato de água está entupida por causa da lama. O

entupimento pode ser verificado através do manômetro de pressão do fluido de

perfuração, existente no painel de operação da máquina (o mesmo fica fixo em um valor

de pressão e não se altera, mesmo com a diminuição da vazão de fluido).

Em caso de queima, o rastreamento não poderá ser realizado e, com isso, a

perfuração não poderá ser concluída. Neste aspecto, o nível de bateria também se torna

importante, pois caso a bateria fique descarregada, também não poderá ser realizada a

emissão de sinais.

53

Figura 3-29. Painel de operação do receptor de sinais (Tracker).

Figura 3-30. Símbolos de nível de temperatura e bateria do emissor de sinais

(Beacon) mostrados no display do receptor (Tracker).

Os sinais captados pelo receptor são retransmitidos para o operador do

equipamento, que terá as mesmas informações indicadas em sua tela, na cabine de

operação. Estes sinais, conforme já explicados, variam em intensidade, dependendo da

posição do emissor, o que nos dá o resultado da leitura em horas. Isto propicia a

determinação da posição correta da cunha da cabeça de perfuração, identificando se o

conjunto está em deslocamento para cima, para baixo ou para os lados. Na Figura 3-31 é

possível observar, de forma mais clara, como é o comportamento do receptor durante a

leitura do sinal enviado pelo emissor, onde se percebe que a leitura varia desde uma

posição sem sinal até uma outra posição com sinal forte.

54

Figura 3-31. Comportamento do receptor durante emissão do sinal.

Nos equipamentos mais modernos, atuando como item de segurança, o técnico,

de posse do receptor (localizador), é capaz de desabilitar à distância, através de seu

aparelho, as funções de rotação e avanço da máquina durante o momento da troca de

ferramentas na ponta da coluna de perfuração. Essa fase do trabalho de perfuração é a

mais propensa a acidentes, pois um acionamento acidental do joystick de comando na

cabine de operação da máquina causará a rotação na coluna de perfuração, podendo

provocar sérios ferimentos em quem estiver na outra extremidade.

A popularidade deste sistema de rastreamento deve-se ao seu custo de aquisição

baixo, e aos baixos custos de operação e manutenção. Eles são largamente encontrados

no mercado e de fácil utilização, com resultados satisfatórios para a perfuração de

profundidades da ordem de 17 metros.

Para se localizar a posição da cabeça de perfuração faz-se um rastreamento em

cruz, procurando-se o pico de sinal no sentido da perfuração e depois no sentido

transversal à perfuração. Na interseção dos rastreamentos tem-se a localização exata da

cabeça de perfuração. Esse pico de sinal é apresentado no receptor por uma escala

gráfica, numérica e sonora, todas indicando o ponto de sinal máximo, simultaneamente.

Ao se fazer a localização exata da cabeça de perfuração faz-se uma marca no

solo no ponto rastreado, para que se tenha visualmente o encaminhamento da

perfuração.

55

Quando se necessita de um acompanhamento mais preciso da profundidade e

inclinação é usual fazer leituras no meio e no final das hastes de perfuração.

3.5.5 Alargamento e puxada da tubulação a ser instalada

Após a conclusão do furo piloto vem a fase do alargamento, na qual é retirada a

cabeça de perfuração e conectado o alargador, que deverá ser entre 30% a 50% maior

que o diâmetro da tubulação ou conjunto de tubulações a ser puxado.

Figura 3-32. Alargador montado na ponta da coluna de perfuração para a

operação de alargamento.

Dependendo do diâmetro do duto a ser instalado, em relação ao furo piloto

executado, pode ser necessário um ou mais pré-alargamentos, ou seja, alargamento em

mais de uma etapa até chegar ao diâmetro final do micro-túnel. Deve-se levar em conta

também, a capacidade de puxada (pullback) e torque do equipamento para o

dimensionamento apropriado ao serviço a ser executado.

3.5.6 Alargamento com puxada simultânea do(s) duto(s)

Quando o diâmetro da tubulação a ser puxada não é muito maior que o furo

piloto executado, faz-se o alargamento simultâneo à puxada dos dutos.

É conectado o alargador à barra de transição, o distorcedor e em seguida a

cabeça de puxada à qual é conectada à tubulação a ser puxada.

56

Na Figura 3-33 é possível observar, no canto superior direito, o final da haste de

perfuração conectada ao alargador, o qual está conectado ao distorcedor, que na figura é

a peça onde se pode observar o rolamento para evitar a rotação da tubulação, que está

conectada ao distorcedor através da cabeça de puxada.

Figura 3-33. Alargador, swivel e cabeça de puxada. Tubulação pronta para ser

puxada através do micro-túnel.

O alargamento é feito com rotação e avanço do alargador, utilizando-se também

fluido de perfuração, o qual é lançado pelo alargador através de jatos existentes em seu

corpo. O avanço/puxada do alargador é realizado através da puxada das hastes e a

desconexão destas, sendo, conforme se pode observar, o inverso da operação de

perfuração.

Ao ser puxado o conjunto, a tubulação entra no micro-túnel sem girar, devido à

não transmissão do movimento de rotação do alargador para a mesma por intermédio do

distorcedor. Já no término do alargamento e puxada da tubulação, desancora-se a

máquina e desconecta-se o conjunto de puxada da mesma, limpando-se a área ao redor e

tamponando-se a entrada e a saída da tubulação.

57

Figura 3-34. Ponta da tubulação instalada no término da puxada

3.5.7 Operação de pré-alargamento

Quando o diâmetro do micro-túnel a ser aberto para a passagem da tubulação for

muito maior que o diâmetro do furo piloto, é necessário que a operação de pré-

alargamento seja realizada. O pré-alargamento também é justificado em situações de

terreno difícil e muito compactado, ou com incidência de argila plástica, que é pegajosa

e tende a prender as ferramentas de perfuração.

Para se efetuar o pré-alargamento, desconecta-se a cabeça de perfuração e

conecta-se o alargador à haste de transição. Faz-se o alargamento do micro-túnel com

esse alargador sozinho, sem nada conectado ao mesmo. Ao se terminar o alargamento,

tem-se o furo alargado com o primeiro diâmetro, porém com as hastes de perfuração

recolhidas de volta ao equipamento. Conecta-se então uma esfera metálica na barra de

transição, conforme é possível observar na Figura 3-35, e introduz-se a mesma no

micro-túnel já aberto, fazendo com que a mesma siga por dentro deste até sair

novamente no ponto final da perfuração. O motivo de se usar uma esfera advém do fato

de que ela não possui superfície de corte, não tendo a tendência a penetrar em um novo

micro-túnel, seguindo naturalmente o caminho que já se encontra aberto.

58

Figura 3-35. Esfera conectada na ponta da coluna de perfuração para operações de

pré-alargamento.

Caso haja necessidade de mais um alargamento intermediário, retira-se a esfera

metálica da haste de transição e conecta-se o próximo alargador, maior que o seu

antecessor e repete-se a operação de alargamento, novamente recolhendo-se todas as

hastes de volta à máquina, havendo a necessidade de se conectar novamente a esfera à

haste de transição e lançar a mesma pelo micro-túnel até o seu ponto final.

Outro método para se executar operações de pré-alargamento consiste em usar

um adaptador preso ao distorcedor com uma fêmea de rosca igual à das hastes. Nessa

fêmea se conecta a primeira haste a ser enroscada após o alargador. À medida que o

alargador vai avançando pelo interior do micro-túnel, vai-se enroscando manualmente

uma haste a outra. Após o término do alargamento, quando o alargador sair junto à

máquina, se terá novamente a coluna montada dentro do micro-túnel.

De acordo com as empresas que trabalham com perfuração, é importante o

planejamento adequado do abastecimento de água durante o alargamento e puxada da

tubulação, pois o mesmo requer mais fluido que o necessário na fase de furo piloto.

Ainda segundo estas empresas, um furo piloto utiliza em média 5 GPM (galões por

minuto) de fluido de perfuração, enquanto que na fase de alargamento e puxada utiliza-

se em média 18 GPM.

59

Capítulo 4

4 Instrumentação

Após apresentação de toda a metodologia desta técnica de perfuração,

objetivando um melhor conhecimento, para implementação da idéia proposta nesta

dissertação, neste capítulo serão introduzidos os dispositivos necessários ao

desenvolvimento do projeto da célula de carga para máquinas de perfuração direcional.

A célula de carga irá captar os esforços provenientes da perfuração, através da

utilização de extensômetros, que irão medir a deformação da peça. Em seguida, a

informação medida deverá ser enviada para fora do eixo rotativo.

Sendo assim, este capítulo tem como objetivo proporcionar uma base de

conhecimento em extensometria e telemetria, para que o projeto seja desenvolvido,

utilizando-se destes dispositivos.

A captação de sinais utilizando sensores em equipamentos em operação é

dificultada pela incorporação de ruído e interferências, tanto conduzidos quanto

induzidos. Para que seja possível uma correta interpretação dos sinais é desejado, em

muitas aplicações, o pré-processamento do sinal de forma a incrementar a razão sinal-

ruído, aumentando a “clareza” do sinal, através da implementação de um algoritmo de

supressão de ruído (denoising). Neste capítulo, serão investigadas algumas técnicas de

denoising descritas na literatura, apontando as vantagens e desvantagens da utilização

de cada uma para a aplicação em questão.

No capítulo seguinte será realizada a abordagem e a modelagem do projeto da

célula de carga propriamente dita.

4.1 Extensometria

Durante o processo de perfuração, a ponta de perfuração estará sempre

submetida a esforços, os quais irão variar de pequena a grande intensidade, dependendo

do tipo de subsolo, conforme foi evidenciado no capítulo 2. Tanto a fase de perfuração

como de alargamento, basicamente estarão sujeitas à força de atrito e cisalhamento do

60

solo, enquanto a primeira também estará sujeita a compressão e a segunda, além

daquelas, também a tração.

A capacidade de a máquina suportar as forças a que está submetida é

considerada no cálculo de sua estrutura, onde, para os esforços acima evidenciados, são

dimensionados o torque principalmente para a fase de perfuração e a carga a ser puxada

durante a fase de alargamento. Também é importante o controle do esforço a que a

máquina está submetida durante a fase de perfuração. Nesta fase, dependendo do tipo de

solo e da potência, a máquina poderá não concluir a perfuração, caso haja pedregulhos,

no subsolo, com resistência superior aquela à que a máquina pode ser submetida.

Como o equipamento é dotado de atuadores hidráulicos, atualmente o controle

destes esforços é realizado através da leitura do manômetro, onde se constata a pressão

do fluido. Mesmo com este controle, ainda existe imprecisão na avaliação dos esforços

por parte do operador do equipamento, e os danos são freqüentes. Entretanto, para um

maior controle dos esforços durante a perfuração e o alargamento, está sendo sugerida a

implementação de uma célula de carga para o controle efetivo dos esforços de operação.

Sendo assim, neste capítulo será apresentada uma breve introdução, objetivando

proporcionar um melhor conhecimento sobre extensômetros e células de carga, que irão

compor o transdutor de forças e torque projetado no capítulo 5.

4.1.1 Extensômetros

Segundo HOFFMANN (1989) os extensômetros podem ser encontrados sob os

seguintes tipos: resistivos, semi-condutores, vapor-depositado, capacitivos,

piezoelétricos e fotoelásticos.

Entretanto, para efeito de apresentação, este capítulo se resumirá ao estudo dos

extensômetros resistivos. Estes extensômetros são baseados na propriedade elétrica de

um fio que, quando submetido a um alongamento ou a um encurtamento, apresenta uma

variação da resistência elétrica proporcional ao alongamento.

L∆Lα

R∆R (4-1)

61

onde: R é a resistência elétrica do fio indeformado, em (Ω); L é o comprimento do fio

indeformado em (m); ∆L é a variação do comprimento do fio, em (m); e ∆R é a variação

da resistência elétrica em Ω. Sabe-se que a resistência de um fio de metal é dada por:

ALρR = (4-2)

onde: ρ é o coeficiente de resistividade do material, em (Ωm); A é a área, em (m2); L é

o comprimento, em (m) e R é a resistência elétrica do condutor, em (Ω).

Verifica-se experimentalmente que a relação entre a resistência elétrica e o

alongamento (extensão ou contração) é linear, caso os esforços não ultrapassem os

limites elásticos do fio. Dessa forma, a expressão (4-1) passa a ser:

εKR∆R

⋅= (4-3)

onde: K é a constante característica do extensômetro; e ε, a deformação específica.

Para a obtenção de uma resistência mecânica pequena, aliada a uma resistência

elétrica total relativamente grande, os extensômetros devem ser feitos de um condutor

muito fino e bem longo.

O maior comprimento dos fios dispostos paralelamente, deverá ser distribuído,

também de forma paralela, a uma direção fixa que se deseja realizar a medição. Com

isso, pôde-se chegar à configuração compacta deste dispositivo, conforme poderá ser

observado mais adiante.

Em principio todo extensômetro pode ser usado para a solução de problemas em

experimentos de análise de tensões e para a construção de transdutores. Entretanto há

algumas diferenças entre tipos de extensômetros, cada um adequado a uma determinada

aplicação.

4.1.2 Tipos de Extensômetro

Dentre as possibilidades de escolha dos diversos tipos de extensômetros, que

variam em formato e tamanho, um fator importante é o comprimento da grade

(configuração) de medição do extensômetro, assim como a disposição dos terminais que

62

irão ser ligados aos instrumentos. O comprimento da grade não tem efeito na

sensibilidade dos extensômetros, entretanto, grades de pequenos comprimentos somente

devem ser utilizadas quando o espaço a ser analisado for insuficiente, e quando se

desejar uma analise de concentração de tensões pontual, e não uma tensão média.

A dimensão do extensômetro refere-se ao comprimento da grade, que é a parte

sensível, conforme mostrado na Figura 4-1. A dimensão é uma consideração de grande

importância, pois o extensômetro deve ser colado na região de maior deformação.

Cada tipo de material utilizado como base, em combinação com o material

utilizado na fabricação da lâmina, faz com que o extensômetro tenha uma aplicação

específica para: medição dinâmica, medição estática, ou para utilização em alta

temperatura e outras. Com o desenvolvimento da tecnologia de materiais, os

extensômetros atualmente são produzidos com vários tipos de materiais de base:

poliamida, epóxi, fibra de vidro reforçada com resina fenólica, baquelita ou poliéster.

Figura 4-1. Dimensão do extensômetro.

Existem disponíveis no mercado, diversos tipos de extensômetros elétricos, que

podem ser classificados de acordo com os materiais empregados para o elemento

resistivo, a configuração da grade e em função do tipo de aplicação. Na Figura 4-2,

podem ser observados alguns modelos de extensômetros encontrados no mercado.

Terminais de solda

Marcações de alinhamento

63

Figura 4-2. Alguns modelos de extensômetros de resistência elétrica.

Existem modelos unidirecionais simples, duplos e a 45º, modelos espinha de

peixe, modelos roseta dupla a 90º, modelos roseta tripla a 60º e 120º, modelos para

determinação de gradientes de tensão e tensões internas, modelos diafragma e modelos

para aplicação em concreto, entre outros.

4.1.3 Seleção de Extensômetros

Os extensômetros deverão ser escolhidos de acordo com os parâmetros de

medição e com a meta a ser obtida. A seguir podem ser observados alguns critérios de

escolha: qualidade de medição, temperatura de utilização, alongamento máximo,

resistência, geometria e compensação térmica.

A seleção de extensômetros e o método de instalação dependem inicialmente do

material e geometria da superfície a ser medida, da temperatura exterior esperada, da

área disponível para instalação e da natureza das medidas de tensão almejadas

(dinâmica ou estática e unidirecional ou bidirecional). Também são importantes, a

duração do teste e o número de ciclos de carregamento. O planejamento da instalação de

extensômetros deve considerar toda a fiação e conexões, especialmente aquelas partes

expostas à influência do ambiente, que pode incluir temperaturas extremas, choque e

vibração e interferência eletro-magnética [NORTON, 1989].

64

Os extensômetros são fabricados para aplicações diversas, podendo ser aplicados

tanto na fabricação de transdutores, como também em analise de tensões. Por se

tratarem de instrumentos de medição, os transdutores requerem extensômetros de maior

qualidade, em termos de estabilidade e acurácia. Neste caso, os suportes, assim como os

metais usados na fabricação destes tipos de extensômetros, são de melhores

características que os usados para análise de tensões.

Os catálogos fornecidos pelos fabricantes de extensômetros são bem detalhados

e possuem toda informação necessária para que se escolha corretamente o extensômetro

de resistência elétrica. Cada fabricante adotou um sistema de codificação para facilitar a

escolha do tipo de extensômetro, e esses sistemas de codificação, compostos de um

conjunto de letras e números, visando a identificação do extensômetro conforme suas

características, possuem uma certa semelhança entre si. Na ilustração abaixo (Figura

4-3), pode-se observar a codificação adotada por um dos fabricantes de material para

extensometria.

Figura 4-3. Codificação de material para extensometria.

4.1.4 Ponte de Wheatstone

Desde a invenção do extensômetro, a ponte de Wheatstone tornou-se o melhor

circuito para a instrumentação deste dispositivo. Isto ocorre, principalmente devido ao

desempenho deste tipo de circuito para detectar pequenas mudanças de resistência

produzidas pelo extensômetro em função da mudança de forma, por permitir ajuste da

65

tensão e pela possibilidade de compensar a variação de temperatura do extensômetro no

circuito.

A variação da resistência de um extensômetro é normalmente convertida em

voltagem através da conexão de 2 (duas) ou 4 (quatro) resistências em um circuito em

ponte de Wheatstone. Uma excitação é aplicada através da ponte, fazendo com que seja

gerada uma tensão (V) de saída, que é proporcional a medida da deformação constatada

por cada extensômetro.

Ao utilizar uma ponte de Wheatstone como configuração para monitoração de

uma determinada variação, esta poderá ser utilizada nas seguintes configurações: ¼ de

ponte, ½ ponte e ponte completa. Na Figura 4-4 é possível verificar como funcionam na

prática estas configurações.

Figura 4-4. Configurações para a Ponte de Wheatstone: (a) ¼ de ponte, (b) ½ ponte

e (c) ponte completa [RAPTOPOULOS, 2003].

Na montagem em ¼ de ponte, apenas um extensômetro está ativo, enquanto os

outros apenas completam a ponte. Esta configuração possui duas principais

desvantagens:

• A primeira é que o sinal obtido é fraco. As montagens em ½ ponte e

ponte completa fornecem o sinal multiplicado por 2 e 4 respectivamente,

o que facilita a leitura; e

• A segunda desvantagem é a ausência de compensação de temperatura.

Nas montagens em ½ ponte e ponte completa, variações de temperatura

são naturalmente canceladas.

66

Enquanto balanceada, a diferença de potencial na saída da ponte de Wheatstone

é nula, entretanto, após a deformação, a resistência elétrica equivalente nos braços da

ponte de Wheatstone varia, e a diferença de potencial entre os pólos de saída da ponte,

passa a não ser nula. Com esta variação, a deformação do corpo poderá ser conhecida, e

da equação (4-3), considerando a mesma sensibilidade para todos os extensômetros,

temos a seguinte relação:

[ ]4321 εεεε4

KV∆E −+−⋅

= (4-4)

Da equação (4-4) conclui-se que os braços opostos de uma ponte de Wheatstone

se somam e os braços adjacentes se subtraem.

4.1.5 Tipos de Ligações

O aperfeiçoamento da técnica de confecção dos extensômetros possibilitou

desenvolver inúmeras formas de extensômetros, que são extremamente úteis na medição

da deformação em determinadas direções. Com isso, passaram a ser empregados em

redes complexas como as usadas em transdutores para medição de força, pressão, torque

e outras variáveis mecânicas.

Os principais transdutores construídos com extensômetros são utilizados como

células de carga, em aplicações de medição de peso e força (tração e compressão),

pressão, deslocamento, inclinação e aceleração (acelerômetros).

Transdutores são dispositivos que fornecem uma grandeza de saída que tem uma

correlação determinada com uma grandeza de entrada. No caso de uma célula de carga,

correlaciona-se deformação à tensão.

Os transdutores podem ser construídos segundo diversos tipos de elementos

elásticos. Na Figura 4-5 são apresentados alguns modelos de elementos elásticos

segundo os quais os transdutores são construídos, dependendo do tipo de aplicação a

que serão destinados.

67

Figura 4-5. Modelos de elemento elástico.

O sensor, através de circuito em ponte de Wheatstone, é o elemento constituinte

do transdutor que responde diretamente ao mensurando (força, torque, etc) e é

convertido em variações da resistência elétrica, devido a uma deformação.

Os componentes básicos de uma célula de carga são o elemento elástico e os

extensômetros, que normalmente são acompanhados de itens para enclausuramento,

selagem, entre outros para proteção do sensor. A forma e o tamanho da célula de carga

são determinados pelo tipo de elemento elástico utilizado.

A correta escolha do elemento elástico e os componentes de montagem

dependem dos seguintes itens:

• A direção do carregamento aplicado (tração, compressão, cisalhamento);

• Valor da capacidade máxima aplicada, tanto a carga de serviço como a

carga de falha;

• A precisão de medição requerida;

• Requerimentos de configuração como, por exemplo, a altura total

compacta;

• Carregamentos adicionais como força lateral, torção e tensões de

cisalhamento.

68

4.2 Sistema de Monitoramento Remoto (Telemetria)

O Sistema de Monitoramento Remoto, conhecido como Telemetria, e aqui

chamado desta forma, é a transmissão, sem a utilização de cabos, e posterior recepção e

utilização dos dados provindos de uma ou múltiplas máquinas remotas (equipamentos),

distribuídas em uma área geográfica de forma pré-determinada, para o monitoramento,

medição e controle dos parâmetros. Este termo também é usado em referência aos sinais

que contêm tais dados.

As soluções de telemetria são ferramentas úteis para redução dos custos

provenientes de práticas ineficientes de monitoramento manual de equipamentos ou

para se evitar perdas de receitas, que ocorrem quando o mau funcionamento de algum

equipamento não é percebido.

Como exemplos de aplicações de Telemetria, podem ser usados sensores para a

medição de pressão, temperatura, vazão, força, torque e outros, além de dispositivos

transmissores de dados e software, necessário para adquirir os dados dos sensores, tratá-

los e enviá-los a uma ou mais estações de gerência para a realização de controle e

monitoramento.

No exemplo supracitado, as estações de gerência executariam o software, para

armazenar as informações enviadas pelos sistemas de telemetria em um banco de dados,

para poderem então ser consultadas em uma estação local, ou até mesmo remota,

através da Internet, pelas pessoas envolvidas na manutenção ou operação do

equipamento. É possível inclusive configurar o sistema de telemetria e/ou as estações de

gerência para enviar alarmes em situações consideradas mais graves.

Os segmentos de mercado com maior demanda potencial por serviços de

telemetria são: serviços de utilidade pública e leitura de medição automática, segurança

e monitoramento de alarmes, controle e monitoramento de equipamentos industriais,

dutos e tanques, máquinas dispensadoras, caixas eletrônicos, e monitoramento em geral.

Nas figuras seguintes (Figura 4-6 e Figura 4-7), é possível observar exemplos de

aplicação de um sistema com transmissão por telemetria, em um propulsor de aeronave

e em roda de trem respectivamente.

69

Figura 4-6. Aplicação de telemetria em propulsor de aeronave.

Figura 4-7. Aplicação de telemetria em eixo de trem.

Conforme apresentado anteriormente, os esforços de tração / compressão e

torque, serão monitorados através de uma célula de carga montada com extensômetros

no próprio eixo em que estes esforços estarão atuando. E para o envio das informações

coletadas, será necessária a aplicação da Telemetria, por se tratar de um eixo em

rotação, que também possui deslocamento.

No capítulo seguinte, onde será feita a abordagem do projeto desta célula, será

apresentada, também, a formatação da montagem do envio do sinal por Telemetria.

4.3 Processamento de sinais

O termo sinal é geralmente utilizado para designar uma medida ou observação

que contém informações, direta ou indiretamente, de um certo fenômeno em que se está

interessado, podendo ser de natureza elétrica, magnética e mecânica, em geral.

70

Os sinais sonoros percebidos pelo ouvido, por exemplo, carregam a informação

diretamente, pois, no mesmo meio em que são gerados são aproveitados. Entretanto os

sinais também podem carregar a informação de forma indireta, por exemplo, quando são

adquiridos por um transdutor, e transmitidos ou armazenados em natureza elétrica. No

caso da voz, após ser gerada acusticamente pode ser adquirida por um microfone e

convertida em um sinal elétrico, isto é, um sinal de tensão ou corrente.

Um sinal pode ser representado em uma ou mais dimensões, contínua ou

discretamente em função de uma ou mais variáveis. Exemplos de sinais são:

• Som (voz, música) ― De natureza mecânica (acústica), a voz é um sinal

unidimensional percebido continuamente em função do tempo;

• Temperatura ― Pode ser função de diferentes variáveis, por exemplo, a

temperatura em um ambiente é em geral medida continuamente em função do

tempo. Por outro lado, a temperatura em uma peça de metal pode ser,

dependendo do formato da mesma, de uma ou mais dimensões, medidas

discretamente com a distância;

• Imagens ― Sinais bidimensionais, discretos em função de pixels, quando

armazenadas em computador, por exemplo.

• Vídeos ― Sinais tridimensionais em função de pixels – vertical e horizontal – e

do tempo. Entre outros exemplos de sinais.

Neste trabalho o termo sinais será usado para designar uma grandeza que varia

em função exclusivamente do tempo. O conteúdo da informação é representado pelas

variações na amplitude com o passar do tempo, isto é, a informação está contida nas

ondulações da forma de onda do sinal. Geralmente essas formas de onda são difíceis de

serem caracterizadas matematicamente, ou seja, não é fácil descrever uma forma de

onda com uma aparência arbitrária. Esta descrição seria de grande importância para o

projeto dos circuitos de processamento de sinais.

A aquisição de informações coerentes através de sensores e transdutores passa,

necessariamente, pelo processamento desses sinais. Ou seja, deseja-se retirar de um

sinal uma parte de interesse para o estudo de um fenômeno observado.

O processamento de sinais pode-se dar no âmbito analógico, discreto no tempo

ou digital. Os analógicos são aqueles que apresentam continuamente no tempo e na

71

amplitude o valor medido. Sinais discretos no tempo apresentam valores quaisquer para

a amplitude em instantes específicos no tempo. Em geral, estes instantes de tempo são

eqüidistantes e o intervalo entre um instante e outro é definido como período de

amostragem (Ta). Sinais digitais são obtidos a partir de quaisquer outros sinais, ou

gerados diretamente em computadores (ou equipamentos similares, como

microcontroladores). Sinais digitais são seqüências de números binários que carregam a

informação, sendo discretos no tempo e na amplitude. A obtenção desta última forma de

representação de sinais é descrita a seguir.

4.3.1 Digitalização de sinais

Os sinais digitais podem ser obtidos tanto de sinais analógicos quanto de sinais

discretos no tempo. A digitalização de sinais, designada por conversão analógico-digital

(A/D) pode ser resumida em três etapas principais: amostragem, quantização e

codificação. A amostragem de sinais é a operação exclusivamente efetuada em sinais

analógicos e pode ser representada por uma operação de abertura e fechamento de chave

(sample-and-hold) em instantes específicos de tempo, n×Ta, onde n é um número

inteiro. Esta é a etapa que converte um sinal analógico em um sinal discreto no tempo.

Na Figura 4-8 ilustra-se a amostragem de um sinal analógico qualquer.

Os computadores são poderosas ferramentas de processamento digital, sendo

exigida, portanto, a conversão analógico-digital dos sinais disponíveis. Entretanto, os

computadores apresentam uma restrição quanto à representação de sinais, o número

limitado de bits.

Ou seja, não é possível representar um número infinito de amplitudes, como é

feito em sinais analógicos. Deve-se converter a amplitude do sinal discretizado no

tempo (na etapa anterior) para valores pré-estabelecidos, que são definidos pelo número

de bits com que se vai trabalhar.

É extremamente importante nesta etapa avaliar o comportamento do sinal que se

deseja digitalizar, definindo a mínima (Vmin) e a máxima (Vmax) amplitudes do sinal

analógico obtido.

72

Figura 4-8. Amostragem de um sinal analógico: (a) forma de onda analógica

original, (b) instantes de amostragem, (c) amostragem discreta no tempo.

Quando trabalhando com M bits tem-se a possibilidade de utilizar 2M níveis de

sinal, que estarão preferencialmente compreendidos entre Vmin e Vmax. Por exemplo, se

escolher trabalhar com M = 1 bit, ter-se-ia somente dois possíveis níveis de sinal, que

seriam escolhidos como Vmin – representado pelo bit 0 – e Vmax – representado pelo bit

1. Neste caso ter-se-ia uma resolução na amplitude de Vmax - Vmin. No caso da utilização

de M = 2 bits, 4 níveis de amplitude são definidos: V0 = Vmin, V1, V2, V3 = Vmax. Em

geral a resolução de amplitudes é fixa, ou seja, os intervalos entre os níveis definidos

são iguais. Logo:

min1122max VVVVVV −=−=− (4-5)

∆V3)V(V3VV min1minmax ×=−×=− (4-6)

( )minmax VV31∆V −×= (4-7)

73

E, portanto, V1 = Vmin + ∆V e V2 = Vmin + 2×∆V. Generalizando para um

número M qualquer de bits, tem-se:

( )minmaxM VV12

1∆V −×−

= (4-8)

10,1,...,2i∆V,iVV M

mini −=×+= (4-9)

Para uma vasta gama de aplicações deseja-se que Vmin = - Vmax. Quando isto for

desejado, a amplitude zero estará fora do conjunto de níveis discretos para a amplitude,

contudo haverá mesmo número de níveis para a representação das amplitudes positivas

e negativas [HAYKIN]. Quando forçada a utilização do nível de amplitude zero haverá

um número superior em uma unidade em uma das faixas – positiva ou negativa. Ambas

as formas de divisão de níveis são encontradas na prática, entretanto, consideremos o

primeiro caso, com igual distribuição de níveis, por simplicidade.

A quantização do sinal, ou em outras palavras, a discretização da amplitude do

sinal, é a etapa que aproxima as amplitudes obtidas na discretização temporal do sinal

para os níveis pré-estabelecidos pelo método acima (lembrando que as amplitudes do

sinal discreto no tempo podem assumir número infinito de valores). Existem diferentes

regras para a quantização do sinal, entretanto existe uma que minimiza o erro de

quantização – fator que deteriora o sinal digitalizado [HAYKIN]. Dada a amplitude a se

discretizar, o método consiste em procurar o nível Vi mais próximo e aproximá-lo.

Neste caso, o erro máximo de quantização é dado por ∆/2. O exemplo a seguir ilustra a

etapa de quantização.

Exemplo 1: Seja o sinal xa(nTa) discreto no tempo, definido para uma faixa de

valores de ±1,5 Volt, o qual deseja-se quantizar utilizando 2 bits. Na figura 4-9, a

ilustração superior mostra o sinal xa(nTa) nos primeiros 10 instantes de tempo (n = 0, 1,

..., 9). A ilustração inferior da figura 4-9 apresenta o sinal quantizado xQ(nTa), com as

características propostas. As linhas tracejadas mostram os níveis quantizados, e as

linhas pontilhadas mostram os níveis de decisão do quantizador (A, B, C). As tomadas

de decisão são definidas por:

• -∞ < xa(nTa) ≤ C ⇒ xQ(nTa) = V0;

74

• C < xa(nTa) ≤ B ⇒ xQ(nTa) = V1;

• B < xa(nTa) ≤ A ⇒ xQ(nTa) = V2;

• A < xa(nTa) < ∞ ⇒ xQ(nTa) = V3.

Figura 4-9. Quantização do sinal.

O último passo na digitalização de sinais analógicos consiste em codificar as

amostras discretizadas, ou seja, atribuir um número binário para cada instante de tempo.

Dado que o computador opera com M bits, na etapa de quantização definiram-se os 2M

níveis de amplitudes discretizadas, as quais podem ser associadas a um número binário

específico. Por exemplo, no exemplo de M = 1 bit, a codificação natural é a escolha de

Vmin igual ao bit 0 Vmax igual ao bit 1.

No exemplo 1, acima, são utilizados M = 2 bits, ou seja, 4 níveis de amplitude

discretas. São possíveis 2M combinações binárias, no exemplo, 4 combinações (00, 01,

10 e 11). São permitidas diferentes atribuições dos níveis aos números binários. Uma

possível simples escolha é relacionar o índice dos níveis discretos à contagem dos

números binários. Isto é, sendo assim se faria:

75

• V0 ⇒ 00

• V1 ⇒ 01

• V2 ⇒ 10

• V3 ⇒ 11

Esta regra pode ser utilizada para qualquer valor de M. Existem outros métodos

de codificação, mas o interesse aqui é apenas para ilustração. O sinal apresentado no

exemplo 1 acima seria, então, representado digitalmente como a seqüência de bits

abaixo:

xD = 10 01 10 10 10 11 00 10 01 01

Todos os procedimentos para a digitalização do sinal foram mostrados, partindo

do sinal analógico até a obtenção do sinal digital. Caso se deseje obter o sinal analógico,

fazendo o sentido inverso de conversão, ou seja, efetuar a conversão digital-analógico

(D/A), parte-se da seqüência de bits, relacionando cada número binário ao nível de

amplitude correspondente. A última etapa deste processo é reter a amostra do tempo

nTa por todos os instantes de tempo no intervalo [nTa (n+1)Ta), através de um retentor,

por exemplo, de ordem zero (ZOH – zero-order holder).

Como se pode notar, não é possível obter o sinal analógico original na saída

desta conversão, obtendo um sinal aproximado ao da entrada do processo. A escolha

dos parâmetros da conversão A/D é que determina a qualidade da aproximação do sinal

convertido. Pode-se concluir que quanto maior o número de bits melhor a aproximação,

pois se aumenta a resolução de amplitudes. Se fosse possível utilizar um número infinito

de bits a aproximação seria perfeita. Entretanto questões de processamento, como

velocidade e complexidade, assim como armazenamento dos sinais, restringem a

escolha do número de bits.

Uma forma básica de modulação do pulso digital é conhecida como PCM

(pulse-code modulation), onde o sinal é representado de forma discreta, tanto no tempo

como na amplitude. Esta forma de representação do sinal permite a transmissão deste

como uma seqüência de pulsos binários codificados.

76

Neste trabalho são consideradas conversões utilizando 12 bits (4096 níveis de

amplitude), o que se mostrará suficiente para a aplicação em questão.

Fundamentos teóricos complementares podem ser obtidos em [HAYKIN, S.,

Modern Filters. MacMillan, 1989].

4.3.2 Supressão de ruído

Como mencionado no início da seção, em muitos casos são utilizados

transdutores para a aquisição de um sinal de natureza qualquer e transformação em

sinais elétricos. Em geral, em quase a totalidade das aplicações práticas a aquisição do

sinal é acompanhada de aquisição de ruídos e interferência, deteriorando o sinal e

dificultando o processamento dos mesmos.

Nestes casos, faz-se necessário um pré-processamento do sinal de forma a

prepará-lo para a extração das informações originais. Existem diversas formas de pré-

processamento – também chamado de condicionamento de sinais – para um

processamento mais eficiente e rápido. Uma forma de pré-processamento de sinais é a

supressão de ruído, também chamada de denoising.

É importante ter um conhecimento, ao menos superficial, do ruído com o qual se

trabalhará. Em geral, pode-se generalizar para um ruído considerado aditivo, ou seja,

que pode ser relacionado com os sinais de interesse e adquirido por:

x(t) = s(t) + n(t) (4-10)

onde: s(t) é o sinal de interesse, que se desejaria medir isoladamente; n(t) é o ruído

aditivo; e x(t) é o sinal aquisitado.

É comum assumir que o ruído aditivo seja branco e gaussiano (AWGN – aditive

white gaussian noise). A designação de ruído branco deve-se ao fato de apresentar

composição espectral plana para todas as freqüências, da mesma forma como a cor

branca apresenta todos os espectros de luz na faixa visível. Esta aproximação é válida

mesmo que o ruído não seja propriamente branco, mas apresente o espectro plano em

uma faixa de freqüências maior do que a freqüência de amostragem do sistema.

77

O ruído é gaussiano quando apresenta uma função distribuição de probabilidades

que segue uma curva gaussiana (ou normal). Pelo Teorema do Limite Central

[HAYKIN], quando existem várias fontes de ruído atuando de forma independente e

contribuindo para a adição de ruído ao sinal aquisitado, pode-se então assumir que n(t)

apresenta uma distribuição de probabilidades gaussiana.

Em aquisição de sinais usando transdutores entende-se um canal como um ponto

de acesso à informação. Isto é, cada sensor (ou conjunto) significa um canal. Por

exemplo, no caso de gravação de voz, cada microfone gera um sinal diferente, sendo

estes designados como canais.

Existem diferentes técnicas de supressão de ruído, estando elas divididas em

dois grandes grupos. No primeiro grupo estão as técnicas que exigem um conhecimento

prévio das características do sinal, permitindo, portanto, que seja utilizado apenas um

canal de obtenção do sinal corrompido. Alguns exemplos deste grupo são a

transformada wavelet, subtração espectral e filtro de Wiener. No segundo grupo estão os

algoritmos que utilizam dois ou mais canais de informação, entre os quais cita-se

filtragem adaptativa de sinais e análise de componentes independentes (ICA –

independent component analysis).

O segundo grupo de técnicas de supressão de ruído apresenta desvantagem em

custo de instalação. Entretanto, como mencionado anteriormente, não é necessário um

estudo prévio do sinal ou ruído que serão encontrados. Além disso, são mais robustos

quanto a mudanças nas características das condições de trabalho – mudança nas

estatísticas dos sinais. E por fim, são, em geral, menos custosos computacionalmente,

sendo mais facilmente implementados em aplicações de tempo real. Estas características

serão levadas em consideração quando da escolha pelo método mais eficiente.

Os fundamentos teóricos relacionados a processamentos de sinais, necessários

para se entender tais métodos, podem ser encontrados em [HAYKIN, S., Modern filters.

MacMillan, 1989] e [DINIZ, P. S. R., SILVA, E. A. B. e NETTO, S. L., Digital signal

processing, Cambridge University Press, 2002].

Como o objetivo aqui não é estudar cada método existente, mas sim, apontar

aquele que será utilizado, nesta seção, apenas como ilustração, será apresentada a

Tabela 4-1, contendo as principais vantagens e desvantagens de cada método, e em

78

seguida será feita uma breve introdução do método que melhor se adapta ao objetivo

desta dissertação.

Tabela 4-1.Vantagens e desvantagens de alguns métodos de supressão de ruídos.

Método Vantagens Desvantagens

Subtração espectral

Utiliza apenas um canal. Não é necessária qualquer informação sobre o sinal propriamente dito.

É necessário estimar o período de silêncio. O denoising depende da estimativa de silêncio.

Filtro de Wiener

Utiliza apenas um canal. Não é necessária qualquer informação sobre o sinal propriamente dito.

Além disso, o filtro atua de forma mais intensa de acordo com a SNR3.

É necessário estimar o período de silêncio. O denoising depende da estimativa de silêncio.

Transformada Wavelet

Utiliza apenas um canal. Não é necessário estimar o espectro de

ruído.

É necessário ter uma noção da forma do sinal para seleção da wavelet principal. Além disso, a seleção dos limiares ainda é

uma grande dificuldade.

Filtragem adaptativa

Não é necessário ter informações sobre o sinal ou sobre o ruído.

São necessários dois canais. É um método iterativo e a

convergência é dependente da estacionariedade do processo.

Análise de componentes independentes

Se o ruído é totalmente independente do sinal, a separação é próxima da

ótima.

São necessários dois canais perfeitamente sincronizados,

além de não fornecer informação sobre amplitude.

Os três primeiros métodos na Tabela 4-1 apresentam em comum a dificuldade de

se trabalhar em ambientes não-estacionários, o que dificultaria a aplicação dos métodos

no processamento considerado neste trabalho. O método de análise de componentes

independentes requer o perfeito sincronismo entre os canais de informação, situação

pouco confortável de se obter na prática e em tempo real. A filtragem adaptativa de

sinais tem como desvantagem o emprego de dois canais de sinais – sendo um canal de

sinal corrompido por ruído e outro canal de ruído correlacionado – entretanto,

dependendo da escolha do algoritmo, é a opção mais viável para aplicação em tempo

real em ambientes não-estacionários. Por estes motivos, na seção a seguir é descrito o

método de filtragem adaptativa.

3 SNR é a relação entre o sinal e o ruído.

79

4.3.3 Filtragem adaptativa

Os filtros adaptativos são programáveis por um algoritmo numérico que realiza

um processo de otimização de acordo com uma figura de mérito especificada. O

trabalho em filtragem adaptativa envolve o estudo de algoritmos e de estruturas de

filtragem de forma a melhorar o desempenho dos sistemas adaptativos existentes.

Na implementação de filtros adaptativos, busca-se um alto nível de

cancelamento do sinal de erro, associado a maior velocidade possível de convergência.

Áreas de aplicação de filtragem adaptativa incluem a identificação de sistemas físicos, o

cancelamento de ecos em sistemas de comunicação, o cancelamento de interferências, a

codificação de sinais e o controle ativo de ruído acústico e de vibrações.

O sinal de vibração, por exemplo, tomado em algum ponto de um determinado

equipamento, será a soma das respostas vibratórias da estrutura deste equipamento às

diferentes freqüências dos esforços excitadores, atrapalhando a aquisição de um sinal

desejado. Este sinal pode ser caracterizado, e o ruído proveniente da vibração pode ser

extraído (ou minimizado) do sinal coletado, para que se obtenha um sinal “limpo”.

Esse método faz parte do conjunto de métodos denominados multicanal. Esse

nome é justificado pelo fato de ser necessário ter acesso a mais de um sinal de

informação (e não apenas ao sinal corrompido, como nos outros métodos mencionados).

A idéia deste método é, ao invés de tentar impedir a captura do ruído que corrompe o

sinal, permitir que o sinal seja capturado com ruído, capturando também em um outro

sensor outro ruído que tenha alguma correlação com o primeiro. Dessa forma, espera-se

que este segundo ruído forneça alguma informação que possibilite a identificação e

remoção do primeiro, restaurando o sinal de interesse e obtendo-se um resultado melhor

do que aquele que seria obtido ao não se permitir a captura do ruído.

O projeto de filtros digitais com coeficientes fixos requer conhecimento prévio

das especificações de funcionamento do sistema. Entretanto, em muitas aplicações as

especificações não são conhecidas ou são variantes no tempo, como ocorre na supressão

de ruído. Estes casos requerem a aplicação de filtros com coeficientes variáveis,

chamados filtros adaptativos.

O ambiente de filtragem adaptativa baseia-se no esquema mostrado na Figura

4-10, onde k é o número da iteração – amostra, x(k) é o sinal de entrada, y(k) é o sinal

80

de saída do filtro adaptativo e d(k) é o sinal desejado. O sinal de erro é calculado como

d(k) – y(k), e é usado como função custo de algum algoritmo adaptativo para uma

atualização apropriada dos coeficientes do filtro adaptativo.

e(k) = d(k) – y(k) (4-11)

A minimização da função custo implica na aproximação do sinal y(k) ao sinal de

referência d(k) em algum sentido – dependente da aplicação.

Figura 4-10. Configuração geral de filtragem adaptativa.

O filtro adaptativo é, em geral, não recursivo, ou seja, uma linha de atraso

(tapped delay line), como ilustrado na Figura 4-11. Desta forma a saída y(k) do filtro

adaptativo é dada por:

( ) ( ) ( ) ( ) =⋅=−⋅= ∑=

kxkrkxkwy(k) TN

0rr w

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )Nkxkw...1kxkwkxkwy(k) N10 −⋅++−⋅+⋅= , (4-12)

onde, N é a ordem do filtro; wr(k) são os coeficientes do filtro adaptativo no instante k;

x(k–r) é o valor do sinal de entrada no instante k menos r amostras; wT(k) é um vetor

linha contendo os coeficientes wr(k) em suas colunas:

wT(k) = [w0(k) w1(k) w2(k) … wN(k)] (4-13)

Algoritmo Adaptativo

+Filtro Adaptativo

x(k) y(k)

d(k)

e(k)

81

E, x(k) é um vetor coluna contendo x(k–r) em suas linhas:

x(k) = [x0(k) x1(k) x2(k) … xN(k)]T (4-14)

Desta forma, a saída y(k) é uma combinação linear dos coeficientes do filtro,

ponderada pelo valor do sinal de entrada nos instantes k–r. O bloco z-1 representa a

operação de atraso do sinal em uma amostra no tempo. Ou seja, se no instante k a

entrada do bloco é x0, no instante k+1 a saída será x0.

A escolha do algoritmo de atualização dos coeficientes do filtro é uma etapa

importante na implementação destas estruturas. Determina-se o algoritmo pela escolha

do método de busca, da função custo e da natureza do sinal de erro. Esta escolha

determinará importantes aspectos do processo, como a escolha de soluções não ótimas,

a complexidade computacional e o tempo de convergência, entre outros.

Figura 4-11. Filtro adaptativo.

wN(k)

z-1

z-1

z-1

+

x(k)

y(k)

x(k–1)

x(k–N)

x(k)⋅w0(k)

x(k-1)⋅w1(k)

x(k-N)⋅wN(k)

Algoritmo Adaptativo

+

d(k)

e(k)

w0(k)

w1(k)

82

4.3.3.1 Filtro de Wiener Ótimo

Comumente se utiliza como função custo em filtragem adaptativa o erro médio

quadrático MSE (mean square error), definido como:

F(e(k)) = ξ(k) = E[e2(k)] = E[(d(k) – y(k))2] =

= E[d2(k) – 2d(k)y(k) + y2(k)] (4-15)

A equação pode ser reescrita como:

ξ(k) = E[d2(k) – 2d(k)wT(k)x(k) + wT(k)x(k)xT(k)w(k)] =

= E[d2(k)] – 2 E[d(k)wT(k)x(k)] + E[wT(k)x(k)xT(k)w(k)] (4-16)

Levando-se em conta que o valor esperado do produto4 (E[v]) de uma constante

por uma variável aleatória (VA) é igual ao produto da constante pelo valor esperado da

VA, e também que o valor esperado da soma de duas VA’s é a soma dos valores

esperados de cada uma VA. Se v1 e v2 são duas variáveis aleatórias e α uma constante,

então:

E[α⋅v1] = α⋅E[ v1 ] (4-17)

E[ v1 + v2 ] = E[ v1 ] + E[ v2 ] (4-18)

Por ora, considera-se o filtro ótimo que minimiza a função custo, com

coeficientes fixos w. Neste caso, w é uma constante dentro do valor esperado, e então a

função custo se reduz a:

ξ(k) = E[d2(k)] – 2 wT E[d(k) x(k)] + wT E[x(k)xT(k)] w =

= E[d2(k)] – 2 wTp + wT R w, (4-19)

4 E[v] denota o valor esperado da variável aleatória v.

83

onde: p é o vetor de correlação cruzada entre o sinal desejado e o sinal de entrada e R é

a matriz de autocorrelação do sinal de entrada, podendo-se equacioná-los da seguinte

forma:

p = E[d(k) x(k)] (4-20)

R = E[x(k)xT(k)] (4-21)

Supondo conhecidos p e R, tem-se que o gradiente da função custo em relação

aos coeficientes do filtro é dado por:

T

∂∂

∂∂

∂∂

=∂∂

=N10 wξ

wξξ

Lw

gw (4-22)

Rwpg w 2-2 += (4-23)

Igualando o gradiente a zero, para obter o mínimo da função, e assumindo R não

singular5 chega-se aos coeficientes do filtro que minimiza a função custo:

pRw0

1−= (4-24)

Esta é chamada de solução ótima de Wiener. Entretanto, infelizmente não se têm

na prática a matriz R e o vetor p por indisponibilidade das estatísticas do sinal durante

todo o tempo de funcionamento do processo. Por outro lado, é possível utilizar médias

temporais para estimar R e p, o que é implicitamente efetuado por algoritmos

adaptativos, que serão explicados adiante.

Os algoritmos adaptativos podem utilizar diferentes métodos de busca da

solução ótima, entre eles o método de Newton e o método steepest-descent. Neste

último caso, utiliza-se apenas o gradiente da função custo ou uma estimativa do

gradiente para a atualização dos coeficientes do filtro. Os algoritmos considerados neste

5 Uma matriz não singular apresenta determinante diferente de zero.

84

trabalho baseiam-se exclusivamente neste método, que apresenta a fórmula geral de

atualização:

w(k+1) = w(k) – µ gw(k) (4-25)

Neste método de atualização dos coeficientes, gw(k) é uma estimativa do

gradiente e determina o sentido de atualização, enquanto o parâmetro µ define o passo

de atualização, isto é, o quanto se deve andar na direção gw(k) de forma que se aproxime

do valor ótimo, ao mesmo tempo em que impede a divergência.

A Figura 4-12 ilustra duas possíveis escolhas para o valor de µ. No primeiro

caso, escolheu-se um valor alto, µ1, que resulta em divergência do método, uma vez que

o processo afastou-se da solução ótima. No segundo caso, para um valor baixo, µ2, a

atualização ocorre para um valor w(k+1) mais próximo a wo que w(k). Ou seja, o

método aproxima-se da solução de Wiener. Por outro lado, caso se escolha um valor

muito pequeno para o passo de atualização µ o algoritmo pode demorar muitas iterações

para a convergência, o que dificultaria o rastreamento de uma alteração na posição da

solução ótima – fato ocorrente em ambientes não-estacionários.

Figura 4-12. Método de busca da solução ótima.

Outros fatores influenciam na velocidade de convergência na busca pela solução

ótima dos coeficientes do filtro adaptativo. O principal fator é a escolha do algoritmo de

atualização dos parâmetros, que altera, em muitos casos, a função custo devido à

escolha das estimativas (k)R da matriz R e (k)p do vetor p.

ξ

w(k+1) w(k+1)

w(k) wo

µ1

µ2

w

85

A seguir é apresentado o algoritmo LMS (least-mean-square), o mais utilizado

em processamento adaptativo devido a inúmeras razões, como: a baixa complexidade

computacional e a garantia de convergência em ambientes estacionários, entre outras.

Em seguida, o método NLMS (normalized-least-mean-square) é apresentado

sucintamente como solução para melhoria na taxa de convergência e redução da

dependência na escolha do valor de µ.

4.3.3.2 LMS (least-mean-square)

O mérito deste método é aplicar uma estimativa praticamente viável para o

gradiente gw da função custo. Utilizam-se as estimativas:

(k)R = x(k) xT(k) (4-26)

(k)p = d(k) x(k) (4-27)

Então, a expressão para a atualização dos coeficientes, a partir das equações (4-

20) e (4-21) é:

w(k+1) = w(k) – µ (k)ˆ wg (4-28)

= w(k) + 2 µ ( (k)p – (k)R w(k) )

= w(k) + 2 µ ( d(k) x(k) – x(k) xT(k) w(k) )

w(k+1) = w(k) + 2 µ x(k) ( d(k) – xT(k) w(k) ) (4-29)

Nota-se que o produto escalar xT(k) w(k) = wT(k) x(k) = y(k). A partir da

equação (4-11), tem-se:

w(k+1) = w(k) + 2 µ x(k) (d(k) – y(k))

= w(k) + 2 µ e(k) x(k) (4-30)

A expressão acima governa a atualização dos coeficientes do filtro adaptativo

em determinada iteração k, obtendo o conjunto de coeficientes, w(k+1), para a iteração

86

seguinte k+1. Sendo, w(k) o conjunto de coeficientes, e(k) o erro calculado e x(k) o

vetor de entrada na iteração em andamento.

O método LMS apresenta reduzida complexidade computacional, sendo esta a

característica mais marcante do algoritmo, assim como a garantia de convergência em

ambientes estacionários, com a devida escolha do parâmetro µ [DINIZ, “Adaptive

Filtering”]. Entretanto, o método apresenta baixa velocidade de convergência,

dificultando sua implementação prática para ambientes sujeitos a sinais e ruídos não-

estacionários, como os considerados neste texto.

Outro ponto negativo do algoritmo é o passo de atualização constante µ, o que

pode provocar o fenômeno conhecido como desajuste. Neste caso, o algoritmo ficaria

oscilando em torno do ponto ótimo sem alcançá-lo, pois neste momento o passo seria

muito “elevado”.

Ou seja, o rendimento do algoritmo LMS é extremamente dependente do passo

de atualização. Para reduzir esta dependência migra-se para outros algoritmos ditos

LMS-based, entre eles o NLMS.

4.3.3.3 NLMS (normalized-least-mean-square)

Para aumentar a velocidade de convergência e evitar o desajuste, propôs-se a

implementação de um passo de atualização variável:

w(k+1) = w(k) + 2 µk e(k) x(k) (4-31)

Altera-se a função custo para o erro quadrático instantâneo e2(k), uma escolha

simples e boa estimativa para o MSE. Sendo assim, mostra-se [DINIZ, “Adaptive

Filtering”] que o passo de atualização, que minimiza o erro quadrático instantâneo, é

dado por:

(k)(k)21µ Tk xx ⋅⋅

= (4-32)

87

O termo no denominador é uma estimativa da potência média do sinal de

entrada. Em algumas situações este termo pode tender a zero, fazendo o passo (µ)

tender a infinito, levando à divergência do procedimento. Para garantir o funcionamento

em situações adversas introduz-se um fator constante, somado ao denominador. Além

disso, de forma a manter ainda um certo controle sobre o algoritmo introduz-se no

numerador da expressão acima um termo constante µN, na faixa de 0 a 2. Com a escolha

pode-se ter um controle sobre o desajuste final. Entretanto, o algoritmo NLMS é

extremamente menos dependente da escolha de µN do que o algoritmo LMS da escolha

de µ. Sendo assim, a expressão para atualização dos coeficientes pelo método NLMS é:

(k))k(e(k)(k)γ

µ)1k()1k( TN x

xxww ⋅

⋅+++=+ , (4-33)

onde: γ é uma constante muito menor que a potência média do sinal de entrada. O

algoritmo NLMS apresenta vantagens já discutidas em relação ao LMS (muito embora

seja um algoritmo não-ótimo), e por isso será considerado para aplicações práticas no

decorrer deste trabalho.

4.3.3.4 Supressão de Ruído com filtragem adaptativa.

Também chamado “enriquecimento de sinais”. Nesta aplicação tem-se como o

sinal de referência d(k) um sinal captado por um sensor (microfone, extensômetro, etc),

que consiste na soma de um sinal desejado s(k) e um ruído n1(k).

O sinal na entrada do filtro adaptativo é um ruído n2(k) captado por outro sensor,

mas que seja necessariamente correlacionado a n1(k). Em geral, os ruídos n1(k) e n2(k)

apresentam um atraso entre eles, o que deve ser considerado na aplicação.

O sinal desejado s(k) deve ser não-correlacionado aos ruídos n1(k) e n2(k). A

Figura 4-13 ilustra a aplicação de supressão de ruído.

88

Figura 4-13. Modelo de supressão de ruído.

O bloco z–L indica um atraso de L amostras e é utilizado para aumentar a

correlação entre os ruídos, eliminando um possível atraso na captação dos sinais. Nesta

aplicação o sinal de erro é dado por:

( ) ( ) ( ) ( )kyLknLkske 1 −−+−=

( ) ( ) ( ) ( ) ( )rknkwLknLkske 2

N

0rr1 −⋅−−+−= ∑

=

(4-34)

Pela equação acima, se o filtro adaptativo for capaz de prever perfeitamente o

ruído n1(k), tendo como entrada o ruído correlacionado n2(k), então o sinal de erro seria

exatamente o sinal s(k). Ou seja, se for escolhido um algoritmo suficientemente bom,

ordem apropriada do filtro adaptativo e L equivalente ao atraso de captação dos sinais,

então na saída da estrutura ter-se-á o sinal desejado de captação s(k), como o sinal de

erro.

89

Capítulo 5

5 Modelagem das forças atuantes para dimensionamento e

projeto da célula de carga

Para a realização deste trabalho, foi selecionada uma máquina de médio porte,

que é bastante utilizada em centros urbanos, em função das suas características técnicas

e dimensionais. Para que sejam conhecidas algumas variáveis importantes para o

desenvolvimento deste trabalho, segue abaixo a Tabela 5-1, com algumas informações

técnicas sobre o equipamento de perfuração direcional.

Tabela 5-1. Descrição técnica da máquina de perfuração direcional (Fabricante

Ditch Witch).

Características Dimensões Comprimento 6,1 m Largura 2,0 m Altura 1,6 m Peso 92.360 N Rotação do cabeçote 225 rpm Torque do cabeçote 4.300 Nm Força aplicada na perfuração 120 KN Força aplicada na puxada 120 KN Velocidade de deslocamento da máquina 2,7 Km/h Potência bruta do motor da máquina 93 KW Rotação do motor 2.400 rpm

Na Tabela 5-2, estão apresentadas as características das hastes de perfuração,

onde percebe-se que há variação dos diâmetros externos e internos da haste, em função

da junta, que conecta uma haste a outra, onde há uma rosca cônica utilizada na união.

Tabela 5-2. Características das hastes de perfuração (Fabricante Ditch Witch).

Características Dimensões Comprimento 3.000 mm Diâmetro externo da junta 76,0 mm Diâmetro interno da junta 23,0 mm Diâmetro externo da haste 56,6 mm Comprimento do trecho cônico 85,0 mm Diâmetro interno da haste 43,5 mm Peso da haste 370 N

5.1 Trecho da máquina a ser modelado

Após conhecimento de algumas características da máquina e da tubulação

escolhidas para a modelagem do projeto da célula de carga, é importante determinar o

local da máquina empregado na modelagem.

Inicialmente pensou-se em medir os esforços diretamente na cabeça de

perfuração, por ser a parte do equipamento que está diretamente executando o esforço

durante a execução do furo. Entretanto, esta aplicação necessitaria de cabos

desempenhando a transmissão dos dados do subsolo até a superfície, o que

impossibilitaria este tipo de aplicação. Este fato gerou a busca de um outro trecho capaz

de proporcionar um resultado confiável.

Durante a perfuração, é o trole da máquina que imprime a força necessária para

a cravação das hastes de perfuração no subsolo, para a confecção do túnel. Este trole é

dotado de uma haste fixa (haste inicial) conectada ao cabeçote (Figura 5-1), onde a

outra extremidade é dotada de rosca cônica, para que os tubos sejam afixados, e

posteriormente cravados no subsolo.

para fu

l

Haste inicia

90

Figura 5-1. Haste inicial.

Com isso, pensou-se em uma solução onde a esta haste seria acrescido um trecho

ncionar como célula de carga, entretanto, esta alternativa ocasionaria alteração de

91

projeto também na alimentação das hastes de perfuração, alterando o ponto de entrada

das hastes, o que tornaria o projeto inviável.

Na Figura 5-2 apresenta-se a haste inicial, do equipamento utilizado como

referência para o estudo, que possui 300 mm de comprimento, a qual comportará a

célula de carga proposta para o sistema, visando o controle efetivo da força e do torque

durante a perfuração.

Figura 5-2. Trecho que comportará a célula de carga.

Na figura anterior, a haste inicial será seccionada de forma que o trecho extraído

dará lugar a célula de carga (módulo), que será responsável pela medição da força axial

e do torque. Mais adiante serão apresentados os desenhos da nova configuração para

esta haste inicial, que terá a célula de carga confeccionada com o mesmo material da

haste inicial, ou seja, aço 4340.

Depois de ter sido definido o trecho onde funcionará a célula de carga, será

definido o esquema de ligação dos extensômetros, com os cálculos necessários para o

projeto da célula de carga.

Haste onde será acoplada a célula de carga para coleta de dados.

92

5.2 Projeto da Célula de Carga

Para medir os esforços atuantes no cabeçote da máquina de perfuração

horizontal não destrutiva e, em seguida, de posse dos dados provenientes da medição,

armazená-los para posterior controle durante a execução da perfuração, foi idealizada

uma célula de carga biaxial. Esta célula é capaz de medir o componente de força Fz e o

momento Mz que agem sobre o trecho selecionado.

A célula de carga é composta de extensômetros, e montada em um pequeno

segmento de tubo, conforme subitem anterior (trecho da máquina a ser modelado), onde

foi apontado na máquina o local da aplicação. O objetivo desta opção foi manter o

dimensionamento original do conjunto, utilizando-se do mesmo material que compõe a

haste inicial.

5.2.1 Modelo da célula de carga

No modelo da célula de carga proposto, serão medidas duas variáveis. Sendo

assim, a primeira, Fz, será a força axial ao tubo, coincidente com o eixo z, e que

responderá pela força de tração e compressão durante as etapas de perfuração e

alargamento, respectivamente. A outra variável, Mz, representará o momento ao redor

do eixo axial do tubo, caracterizando o torque durante a perfuração. Na Figura 5-3 está

representado o nível onde serão colados os extensômetros, e o referencial da célula de

carga.

Figura 5-3. Referencial local da célula de carga.

Fz Mz

Linha de colagem dos

extensômetros

93

Com os extensômetros da Figura 5-4, serão montadas duas pontes de

Wheatstone, sendo uma responsável pela medida da força e outra responsável pela

medida do torque. Nesta figura, também é possível observar como serão colados os

extensômetros e os seus respectivos posicionamentos, em função da planificação da

superfície do tubo. Serão empregados 12 extensômetros na instrumentação da célula de

carga, sendo distribuídos por 4 rosetas de 90º (nº 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8) e 2 rosetas à 45º

(espinhas de peixe) (nº 9, 10, 11 e 12).

Figura 5-4. Localização dos extensômetros na superfície da célula de carga.

5.2.2 Ponte de Wheatstone para medir Fz

Este circuito é composto pelos extensômetros 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8 e é usado para

medir o comportamento da força coincidente com o eixo z do referencial da célula de

carga. Na Figura 5-5 é apresentada a Ponte de Wheatstone utilizada neste circuito.

Figura 5-5. Ponte de Wheatstone utilizada para medir Fz.

A diferença de potencial elétrico na saída da ponte representada pela Figura 5-5

é dada pela Equação (5-1).

Linha de colagem dos

extensômetros

94

[ ]867542311

1 εεεεεεεε4

KV∆E −−++−−+⋅

= , (5.1)

onde: ∆E1 é a ddp (diferença de potencial) na saída; V1 é a tensão de alimentação; K é o

“gage factor” – sensibilidade à deformação; e εi (i = 1, 2, 3, ...., 8) são as deformações

nos extensômetros.

5.2.2.1 Cálculo da deformação nos extensômetros

Sabe-se que a tensão sob tração e/ou compressão de um corpo com seção na

forma de coroa circular é:

)d(D4π

FAFσ

22 −== , (5-2)

onde: F é a força externa; D é o diâmetro externo; d é o diâmetro interno; e σ é a tensão.

Como pela Lei de Hooke a tensão é:

εEσ ⋅= , (5-3)

onde: σ é a tensão; E é o módulo de elasticidade ou módulo de Young; e ε é a

deformação. Com isso, pode-se chegar a equação:

)d(DπEF4

Eσε 22 −⋅⋅

⋅== (5-4)

Através desta equação, pode-se conhecer a deformação nos extensômetros 1, 3,

5 e 7.

)d(DπEF4ε 221 −⋅⋅

⋅= (5-5)

)d(DπEF4ε 223 −⋅⋅

⋅= (5-6)

)d(DπEF4ε 225 −⋅⋅

⋅= (5-7)

95

)d(DπEF4ε 227 −⋅⋅

⋅= (5-8)

Os extensômetros 2, 4, 6 e 8 medem a deformação transversal ou radial do

corpo. Assim, como εradial = - ν εaxial, onde ν é o coeficiente de Poisson, temos:

)d(DπEFν4ε 222 −⋅⋅

⋅⋅−= (5-9)

)d(DπEFν4ε 224 −⋅⋅

⋅⋅−= (5-10)

)d(DπEFν4ε 226 −⋅⋅

⋅⋅−= (5-11)

)d(DπEFν4ε 228 −⋅⋅

⋅⋅−= (5-12)

5.2.2.2 Cálculo da Força Fz

Agora, substituindo estas deformações na equação da diferença de potencial

elétrico na saída da ponte, temos:

+

−⋅⋅⋅⋅

+−⋅⋅

⋅+

−⋅⋅⋅

⋅⋅= K)d(DπE

Fν4)d(DπE

F4)d(DπE

F4K4

V∆E 222222

11

KK +−⋅⋅

⋅+

−⋅⋅⋅

+−⋅⋅

⋅⋅)d(DπE

F4)d(DπE

F4)d(DπE

Fν4222222

−⋅⋅

⋅⋅+

−⋅⋅⋅⋅

)d(DπEFν4

)d(DπEFν4

2222K (5-13)

−⋅⋅

⋅⋅+

−⋅⋅⋅

⋅⋅=)d(DπE

Fν16)d(DπE

F16K4

V∆E 2222

11 (5-14)

( )

( )221

1 dDπEν1FKV4∆E

−⋅⋅+⋅⋅⋅⋅

= (5-15)

96

Substituindo, a força Fz será:

( )

( ) 11

22

z ∆Eν1KV4

dDπEF ⋅

+⋅⋅⋅

−⋅⋅= (5-16)

5.2.3 Ponte de Wheatstone para medir Mz

Este circuito é composto pelos extensômetros 9, 10, 11 e 12 e mede o

comportamento do momento coincidente com o eixo z do referencial da célula de carga.

Na Figura 5-6 é apresentada a Ponte de Wheatstone utilizada neste circuito.

Figura 5-6. Ponte de Wheatstone utilizada para medir Mz.

A diferença de potencial elétrico na saída da ponte representada pela Figura 5-6

é dada pela Equação (5-1).

[ ]11129102

2 εεεε4

KV∆E −+−⋅

= , (5-17)

onde: ∆E2 é a ddp (diferença de potencial) na saída; V2 é a tensão de alimentação; K é o

“gage factor”; e εi (i = 9,...., 12) são as deformações nos extensômetros.

5.2.3.1 Cálculo da deformação nos extensômetros

Sabe-se que a tensão de cisalhamento sob torção pura, de um corpo com seção

na forma de coroa circular, é:

97

( )44z

44

z

dDπDM16

2D

)d(D32π

MrJTτ

−⋅⋅⋅

=⋅−

=⋅= , (5-18)

onde: Mz é o torque externo; D é o diâmetro externo; d é o diâmetro interno; e τ é a

tensão cisalhante.

Como pela Lei de Hooke a tensão é:

γGτ ⋅= (5-19)

onde: G é o módulo de cisalhamento; e γ é a deformação. Assim tem-se:

( )4d4DπG

DzM16γ

−⋅⋅

⋅⋅= (5-20)

Mas sabe-se que:

ε2γ ⋅= (5-21)

Logo,

( ) ( )44z

44z

dDπGDM8

dDπG2DM16ε

−⋅⋅⋅⋅

=−⋅⋅⋅

⋅= (5-22)

Através desta equação, pode-se determinar a deformação nos extensômetros 9,

10, 11 e 12.

)d(DπG

DM8ε 44z

9 −⋅⋅⋅⋅−

= (5-23)

)d(DπGDM8ε 44

z10 −⋅⋅

⋅⋅= (5-24)

98

)d(DπGDM8ε 44

z11 −⋅⋅

⋅⋅−= (5-25)

)d(DπGDM8ε 44

z12 −⋅⋅

⋅⋅= (5-26)

5.2.3.2 Cálculo do momento Mz

Agora, substituindo estas deformações na equação da diferença de potencial

elétrico na saída da ponte, temos:

( )

−⋅⋅

⋅⋅+

−⋅⋅⋅⋅

+−⋅⋅

⋅⋅+

−⋅⋅⋅⋅

= 44z

44z

44z

44z2

2 dDπGDM8

)d(DπGDM8

)d(DπGDM8

)d(DπGDM8

4KV∆E

)d(DπGDMKV8

∆E 44z2

2 −⋅⋅⋅⋅⋅⋅

= (5-27)

Logo o momento Mz será:

( )

22

44

z ∆EDKV8dDπGM ⋅

⋅⋅⋅−⋅⋅

= (5-28)

5.3 Calibração da Célula de Carga

Os extensômetros que serão utilizados para a construção da célula de carga são

da marca Excel Ltda. Serão utilizadas 4 rosetas duplas de 90º básicas, com

compensação de temperatura, especificação PA-06-125TG-350-B, e duas rosetas

modelo espinha de peixe básico, com compensação de temperatura, especificação PA-

06-125TA-350-B. Os extensômetros especificados são de 350 Ω e têm fator de

sensibilidade (gage factor) de 2,1.

Na Tabela 5-3 podem ser observados alguns limites de carga da máquina,

necessários para o dimensionamento da célula de carga.

99

Tabela 5-3. Limites de carga da máquina (Fabricante Ditch Witch).

Características Dimensões Torque do cabeçote 4.300 Nm Força aplicada na perfuração 120 KN Força aplicada na puxada 120 KN

De posse do material escolhido para a célula de carga (aço 4340) e das

informações dos limites de carga da máquina, pôde-se definir alguns parâmetros, para

que de posse destes, e com a aplicação de algumas fórmulas, se pudesse chegar a

calibração da célula de carga. Para a manipulação destes resultados, foi utilizado o

Software Matlab6 versão 6.5. Segue o desenvolvimento destes valores, e o cálculo

necessário para a obtenção dos gráficos de calibração apresentados mais adiante.

Considerando as propriedades mecânicas do aço 4340, resistência ao

escoamento (Sy) e resistência à tração (Sut), foram selecionadas algumas opções de

projeto de forma que seja definida, mais adiante, uma que atenda ao projeto em questão.

Na Tabela 5-4 podem ser observadas as propriedades para alguns tratamentos do aço

selecionado. O tratamento para o aço empregado no projeto será determinado mais

adiante.

Tabela 5-4. Resistência ao escoamento e à tração de alguns aços (SHIGLEY).

Sy (Mpa) Sut (Mpa) HR 475,41 695,89 CD 682,11 764,79 Drawn 600 1.612,26 1.791,4 Drawn 1000 1.116,18 1.253,98

Considerando as constantes físicas dos aços:

• Módulo de elasticidade (E) = 207 GPa;

• Módulo de rigidez (G) = 79,3 GPa; e

• Coeficiente de Poisson (ν) = 0,27.

Utilizando-se do módulo de elasticidade para o aço, pode-se calcular a tensão

(σc) na célula de carga, pela lei de Hooke, para uma deformação específica na célula de

carga, definida como (εc) = 1000 µst:

6 O software Matlab é de propriedade da empresa Mathworks Inc.

100

cc εEσ ⋅= (5-29)

69c 101.00010207σ −⋅⋅⋅= (5-30)

MPa 207σ c = (5-31)

Em seguida, após definição da tensão (σc), deverá ser estimado o fator de

segurança (F.S.) para carga estática:

cσSyF.S. = (5-32)

Utilizando a equação (5-32), será calculado o fator de segurança (F.S.) para cada

uma das opções de tratamento do aço apresentadas acima, para que seja escolhida a que

atenda melhor ao projeto:

6

6

1020710475,41F.S.(HR)

⋅⋅

= (5-33)

2,29F.S.(HR) = (5-34)

6

6

1020710682,11F.S.(CD)

⋅⋅

= (5-35)

3,29F.S.(CD) = (5-36)

6

6

10207101.612,26600)F.S.(Drawn

⋅⋅

= (5-37)

7,78600)F.S.(Drawn = (5-38)

6

6

10207101.116,181000)F.S.(Drawn

⋅⋅

= (5-39)

5,391000)F.S.(Drawn = (5-40)

Através dos resultados apresentados nas equações (5-34), (5-36), (5-38) e (5-40),

foi escolhido o aço (HR) laminado a quente, pois, apesar de possuir o menor fator de

segurança encontrado, apresenta um valor que já é bastante satisfatório.

101

Em seguida, de posse da tensão (σc) calculada, e da força axial máxima que será

exercida na haste (120 KN), conforme apresentado na Tabela 5-3, será calculada a área

da seção transversal da célula de carga (Ac) sujeita a estes esforços.

cc A

Fσ = (5-41)

6

3

c 1020710120A⋅⋅

= (5-42)

24c m 105,8A −⋅= (5-43)

2c mm 580A = (5-44)

Com o cálculo da área requerida na equação (5-44), pode-se obter o diâmetro da

célula de carga. Vale lembrar que a célula de carga, assim como as hastes, deverá

permitir a passagem do fluido de perfuração, o que implica no cálculo de uma coroa

circular (Figura 5-7), para definição dos diâmetros.

Tomando-se como referência um valor intermediário entre os diâmetros internos

da junta e da haste, definiu-se o diâmetro interno da célula de carga (dc) em 30 mm e

com isso pode-se calcular o diâmetro externo (Dc).

Figura 5-7. Coroa circular (c

( )2c

2cc dD

4πA −=

( )2c 30

π5804D +

=

Dd

álculo da área).

(5-45)

(5-46)

102

mm 40,5Dc = (5-47)

De posse do resultado em (5-47), decidiu-se estabelecer o diâmetro externo

como sendo 42 mm. Pode-se com isso, determinar o valor da espessura (e) da célula de

carga, segundo a relação a seguir:

=2

dDe (5-48)

=2

3042e (5-49)

e 6 mm= (5-50)

A conversão A/D (analógico em digital) do sinal, conforme será observado mais

adiante, será realizada pelo próprio módulo de aquisição do sinal, com uma resolução de

12 bits, para uma faixa de trabalho de ±5 V. Em seguida, pelo número de bits (n) e pela

tensão, será feita a determinação da resolução (res):

[ ]V/bit;12

Vres(nbits) n −= (5-51)

[ ]V/bit;12

10)res(12bits 12 −= (5-52)

mV/bit 2,44)res(12bits = (5-53)

Em seguida, utilizando-se da equação (5-15) para uma resolução de 12 bits e

ganho = 100, será calculada a diferença de potencial na saída da ponte de Wheatstone

para obtenção da curva de calibração de Fz.

Foi considerado um intervalo entre a força máxima de compressão (-120.000 N)

e a força máxima de tração (+120.000 N), levando-se em conta os seguintes valores:

V1(Fz) = 10 V (±5 V) e K = 2,1 (gage factor). A curva de calibração pode ser observada

na Figura 5-8.

103

-1000 -500 0 500 1000

-1

-0.5

0

0.5

1

x 105

Sinal de Saída [mV]

Forç

a A

xial

[N]

Figura 5-8. Curva de calibração (teórica) da Ponte de Wheatstone para força axial.

Em seguida, utilizando-se da equação (5-27) para uma resolução de 12 bits e

ganho = 100, será calculada a diferença de potencial na saída da ponte de Wheatstone

para obtenção da curva de calibração de Mz.

Foi considerado um intervalo entre o torque mínimo (0 Nm) e o torque máximo

(4.300 Nm), levando-se em conta os seguintes valores: V2(Mz) = 10 V (±5 V) e K = 2,1

(gage factor). A curva de calibração pode ser observada na Figura 5-9.

0 500 1000 1500 2000 25000

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

Sinal de Saída [mV]

Torq

ue [N

m]

Figura 5-9. Curva de calibração (teórica) da Ponte de Wheatstone para o torque.

104

Sendo S o sinal de saída do sistema e F o vetor de forças e momentos aplicados

no sistema, a seguinte relação pode ser escrita:

[ ] SF ⋅= C (5-54)

A matriz [C], que correlaciona os vetores S e F, é chamada de matriz de

calibração e sua dimensão depende do número de canais de saída da célula de carga. No

projeto em questão, serão utilizados 2 canais de saída, gerando uma matriz de calibração

2x2, definida em função das curvas de calibração. Sendo assim, a matriz [C] de

calibração, terá a forma:

=

2221

1211

cccc

[C] , (5-55)

onde os elementos cij (i = 1 e 2, j = 1 e 2) correspondem à correlação entre os canais de

saída do sistema e as forças e momentos de força aplicados sobre o sistema. Os

elementos que estão localizados fora da diagonal principal da matriz [C] correspondem

aos efeitos cruzados ou cross-talk do sistema, que possuem varias causas, como:

tolerância dimensional; tolerância na orientação e no posicionamento dos

extensômetros, a tolerância no fator do extensômetro (gage factor); e as variações

geométricas da célula de carga durante as deformações elásticas.

No caso deste projeto, por se tratar de um estudo teórico, este efeito será

considerado nulo, e a matriz de calibração terá o formato:

=

1,470089,99

[C] [N/mV] e [Nm/mV] (5-56)

Do resultado na matriz de calibração [C], constata-se que para a força axial, ter-

se-á uma saída com variação de 89,99 N/mV. Em contrapartida, observando-se a

equação (5-53), cuja resolução é 2,44 mV/bit, através de uma regra de três, e supondo

uma variação de força linear, obtém-se uma variação de 219,58 N/bit.

105

Por analogia, pode-se empregar a mesma transformação para o torque,

utilizando-se da mesma matriz de calibração [C], e da equação (5-53) e supondo

também a variação linear, o que apresentará uma variação de 3,59 Nm/bit.

5.4 Montagem da célula de carga e dispositivos de telemetria

Na Figura 5-2, apresentada no início do capitulo, mostra-se o trecho da máquina

(haste inicial) em que será instalada a célula de carga para medição dos esforços de

tração / compressão e torque durante a perfuração horizontal não destrutiva. Para isso,

será retirado um trecho de 110 mm desta peça, para que dê lugar à célula de carga, que

será afixada por meio de flanges (estrutura modular), conforme Figura 5-10. Nesta

figura é possível observar que foi projetado nos flanges da célula de carga, um ressalto

para garantir o alinhamento e centralização com os flanges fixos que também serão

acrescentados à haste inicial, formando a configuração de uma estrutura modular.

Também há um furo, para passagem de fio(s), para possível ligação com estrutura

externa. A estrutura modular permite que a célula de carga seja instalada em outras

máquinas que tenham a haste inicial adaptada para a medição dos esforços.

Figura 5-10. Estrutura modular - célula d

o

Furo para passagem de fio

Alinhament

e carga.

106

O trecho modelado possuirá 58 mm de extensão e deverá ser confeccionado em

aço 4340, similar ao tubo original (haste inicial) do equipamento, com diâmetro externo

de 42 mm e interno de 30 mm. Os flanges deverão ter 120 mm de diâmetro por 13 mm

de espessura e serão fixados por 8 parafusos Allen.

Ao novo trecho acrescentado (célula de carga), serão colados os extensômetros

já determinados anteriormente, para a coleta das medidas requeridas neste projeto,

conforme esquema de montagem na Figura 5-11.

Figura 5-11. Esquema de montagem da célula de carga na haste inicial.

Com a apresentação do esquema acima, torna-se mais fácil entender a montagem

da célula de carga na haste inicial da máquina. Na Figura 5-12 encontra-se a nova

configuração da haste inicial, com a inclusão da estrutura modular da célula de carga.

Figura 5-12. Montagem de estrutura modular na haste inicial.

107

Após fixação dos extensômetros, o novo trecho será preenchido com uma resina

para proteção dos extensômetros e melhor acabamento da célula de carga. Será

apresentada, mais adiante, a configuração da haste inicial, com a inclusão do trecho que

funcionará como célula de carga e o acabamento com resina.

Após o esquema de montagem da célula de carga apresentado, será montada a

parte referente à telemetria, que será responsável pelo envio do sinal coletado pelos

extensômetros (dispositivos sensitivos), para fora do eixo.

Assim como os módulos, a bateria que os alimentará será afixada ao eixo. A

cada canal de ligação dos extensômetros (ponte de Wheatstone) serão ligados módulos

de aquisição dos sinais. Serão utilizados dois módulos de aquisição para a captação dos

sinais referentes à carga de trabalho.

Na Figura 5-13 apresenta-se um módulo de aquisição de sinal, que é responsável

por captar dos sensores (extensômetros) o sinal analógico, fazendo, em seguida, a

amplificação, filtragem e posterior digitalização do sinal, para que este seja enviado

para o encoder7. O módulo de aquisição também é responsável por manter a

alimentação da ponte de Wheatstone. O módulo de aquisição apresenta uma resolução

de 12 bits.

Figura 5-13. Modulo de aquisição de sinal.

Aos dois módulos de aquisição, será ligado 01 (um) encoder (Figura 5-14), que

é o dispositivo responsável pela codificação das informações provenientes de todos os

módulos de aquisição. O encoder do fabricante selecionado é o que possui o menor

número de entradas, recebendo até 8 módulos de aquisição para este tipo de aplicação.

Será utilizado um canal para medição de força e outro para medição do torque. Outros

7 A literatura especializada no assunto chama de encoder, o dispositivo responsável pela codificação dos sinais (multiplexação), tornando-os mais resistentes a ruídos e interferências.

Sensor Encoder

108

dois canais serão utilizados em aplicação apresentada mais adiante. Do encoder, os

dados são enviados para um transmissor (Figura 5-15), este ainda afixado ao eixo.

Figura 5-14. Encoder com 8 canais.

A codificação realizada pelo encoder consiste na classificação do sinal, através

da transformação em um bit PCM (pulse-code modulation), para que, após a

transmissão, estes sinais sejam identificados e reaproveitados através da decodificação.

Figura 5-15. Modulo de transmissão de sinal.

O transmissor recebe o sinal multiplexado pelo encoder, modula e o amplifica

antes de seu envio. O transmissor é ligado a uma antena através da qual os sinais serão

enviados por radio freqüência para fora do eixo. Podem ser utilizadas até 4 freqüências

diferentes (433,3 MHz, 433,7 MHz, 434,1 MHz ou 434,5 MHz), a qual irá variar de

acordo com a possibilidade de utilização no local Na Figura 5-16 apresenta-se a forma

de fixação do módulo de transmissão e o local (ressaltado no eixo) em que deverá ser

instalada a antena responsável pela emissão de radio freqüência, que será captada por

um receptor fora do eixo. A antena deverá ser instalada ao menos a 6 mm da superfície

metálica do eixo, motivo pelo qual há o ressalto apresentado, preparado com material

isolante.

Módulo de aquisição

Módulo de transmissão

Encoder Antena

109

Figura 5-16. Fixação da antena e módulo de transmissão ao eixo.

Um decodificador será responsável pela recepção e decodificação do sinal

digital que sai do eixo. Na Figura 5-17 mostra-se o decodificador e a antena receptora.

Apesar da possibilidade de ser alimentado com 110/220 V, o decodificador deverá ser

alimentado com uma bateria de 12 V, para trabalhos de campo. O decodificador irá

fornecer em um canal os dados referentes à força e em outro os dados referentes ao

torque. Outros dois canais serão utilizados para aplicação apresentada mais adiante.

Figura 5-17. Conjunto antena / decodificador.

Depois de decodificado, o sinal (PCM) é disponibilizado para um cartão de

interface (PCMCIA), que faz a aquisição dos dados para um computador (notebook ou

outro), proporcionando visualização on-line e armazenamento dos dados. Na Figura

110

5-18 é possível observar o cartão de interface de dados com o computador, junto com o

cabo de conexão.

Figura 5-18. Cartão de interface e cabo de conexão com computador.

Depois de adquiridos pelo computador, as informações referentes ao sinal

deverão ser analisadas e tratadas, extraindo-se os ruídos somados aos sinais, para que

estes sejam posteriormente enviados para um software de aquisição, que será

apresentado mais adiante.

É apresentada na Figura 5-19 a formatação da montagem do conjunto (módulos)

no eixo, devendo-se observar o posicionamento de cada um dos módulos, de forma que

haja uma distribuição uniforme ao longo do eixo, numa tentativa de minimizar o

desbalanceamento, uma vez que não há problema quanto a proximidade entre os

módulos.

Figura 5-19. Montagem dos módulos no eixo.

111

Na Figura 5-20 apresenta-se a seqüência de fixação dos módulos e do conjunto

responsável pelo envio de sinais. É utilizada uma fita adesiva (Fig.5-20B), conforme

pode ser observado na figura seguinte, além de uma fita dupla-face (Fig.5-20A) entre o

módulo e o eixo. Na Fig.5-20C, o conjunto já aparece todo afixado, e na Fig.5-20D é

possível observar a soldagem dos fios.

Vale ressaltar que a etapa de fixação dos fios por solda, assim como a aplicação

da fita, é de extrema importância, uma vez que o eixo gira com uma rotação elevada, o

que fatalmente poderia ocasionar o desprendimento destas partes, com possibilidades de

danos aos módulos.

Com o objetivo de garantir maior segurança na fixação dos componentes

(módulos), e até mesmo visando obter harmonia no acabamento da montagem do

conjunto, optou-se por recobrir com resina o trecho da célula de carga, conforme poderá

ser observado em figura mais adiante.

Figura 5-20. Seqüência de fixação do conjunto de telemetria.

Na demonstração abaixo, apenas de caráter ilustrativo (Figura 5-21), pode-se

verificar como fica a montagem final dos módulos ao eixo rotativo, incluindo a fixação

por fita adesiva, que funciona como reforço à fixação já apresentada, e o espaçamento

entre o eixo e a antena, que faz a captação do sinal enviado por radio freqüência.

112

Figura 5-21. Instalação da antena de recepção.

Entretanto, conforme exposto anteriormente, estes módulos também serão

cobertos com a mesma resina que fará a cobertura dos extensômetros. Sendo assim, a

Figura 5-22 apresenta a concepção do conjunto após ter sido feita toda a instalação dos

módulos de transmissão e o acabamento da célula de carga.

Figura 5-22. Concepção da haste inicial com acabamento da célula de carga.

A antena de transmissão ficará por fora deste acabamento para melhorar o envio

dos sinais. Além da antena, a bateria também deverá ficar afixada pelo lado de fora da

resina, por necessitar ser trocada ao término de sua carga.

113

A geometria final deste novo conjunto, após inserção da célula de carga, em

nada influenciará no equipamento de perfuração direcional, de forma que apenas este

pequeno trecho está sendo remodelado.

Após ter sido definido o projeto da célula de carga e todo o desenvolvimento

para montagem do sistema para transmissão dos sinais por telemetria, na seção seguinte

será proposta uma forma de supressão de ruídos, de forma que se obtenha uma medição

dos esforços ao menos mais próxima da realidade.

5.5 Supressão de ruídos nas medições da célula de carga

Conforme descrito no capítulo 4, em quase a totalidade das aplicações práticas, a

aquisição do sinal é acompanhada de aquisição de ruídos e interferência, deteriorando o

sinal e dificultando o processamento dos mesmos.

Tomando-se como base o contexto supracitado, propõe-se, também, um sistema

adicional ao de captação (célula de carga) e envio (telemetria) dos dados coletados,

referentes aos esforços durante a perfuração direcional. O sistema agregado contempla a

captação dos ruídos provenientes do meio, através do emprego de outros dois sensores,

similares àqueles empregados na célula de carga.

Como exemplificação para a aplicação em questão, pode ser citado um possível

mal engrenamento da máquina de perfuração, vibração do motor e a passagem de

veículos pela via ao lado do equipamento, como sendo alguns dos fatores que geram

ruídos e interferências, que serão somados ao sinal, atrapalhando o resultado final da

medição. Contudo, o objetivo aqui não será identificar cada uma destas interferências

mencionadas, mas sim, subtraí-las para que o resultado final seja o sinal mais limpo

possível, para que a tomada de decisões não seja mascarada, conforme será visto

adiante.

Com isso, será empregada a filtragem adaptativa, que conforme apresentado

anteriormente, é o método em que, ao invés de tentar impedir a captura do ruído que

corrompe o sinal, permite que o sinal seja capturado com ruído, capturando também em

um outro sensor similar, outro ruído que tenha alguma correlação com o primeiro.

Dessa forma, espera-se que este segundo ruído forneça alguma informação que

possibilite a identificação e remoção do primeiro, restaurando o sinal de interesse e

114

obtendo-se um resultado melhor do que aquele que seria obtido ao não se permitir a

captura do ruído.

Como o objetivo da filtragem adaptativa é buscar um ruído com alguma

correlação com aquele adicionado ao sinal, deverá ser escolhida uma região com

pequena deformação, para que se tenha a maior relação ruído/sinal possível.

Conseqüentemente, pode-se, com isso, extrair uma janela da Figura 5-2, apresentando a

Figura 5-23 a seguir, onde se encontra assinalado o trecho da máquina proposto para

captação de ruído, por possuir uma estrutura bem mais rígida que aquela dimensionada

para a célula de carga.

Figura 5-23. Trecho proposto pa

Sendo assim, tomando-se como base a mo

colados extensômetros para a captação dos sinais

irão proporcionar a filtragem adaptativa deverá

características.

5.5.1 Modelo para obtenção de ruído

O modelo proposto para obtenção do sina

de duas variáveis, assim como foi apresentado p

Sendo assim, a primeira, R(Fz), será o sinal de

ca o

Local para

ptação de ruíd

ra captação de ruído.

ntagem da célula de carga, onde serão

requeridos, a captação dos sinais que

funcionar exatamente com as mesmas

l de ruído é responsável pela medição

ara a modelagem da célula de carga.

ruído correlacionado à força axial ao

115

tubo, coincidente com o eixo z, durante atuação das forças de tração e compressão nas

etapas de alargamento e perfuração, respectivamente. A outra variável, R(Mz), será o

sinal de ruído correlacionado ao momento ao redor do eixo axial do tubo, e coincidente

com o eixo z, em função do torque durante a perfuração.

A linha de colagem dos extensômetros para obtenção do sinal de ruído segue o

mesmo padrão daquela apresentada para a colagem dos extensômetros da célula de

carga, apresentado na Figura 5-3.

Na Figura 5-24 é apresentada a localização dos extensômetros para a montagem

de duas pontes de Wheatstone utilizadas para obtenção do sinal de ruído, das quais, uma

medirá o ruído referente à força (R(Fz)), e outra responsável pela medida do ruído

referente ao torque (R(Mz)). Nesta figura apresenta-se o posicionamento dos

extensômetros, em função da planificação da superfície do tubo (haste). Assim como na

célula de carga, serão empregados 12 extensômetros na obtenção do sinal de ruído,

sendo distribuídos por 4 rosetas de 90º (nº 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19 e 20) e 2 rosetas à

45º (espinhas de peixe) (nº 21, 22, 23 e 24).

Figura 5-24. Localização dos extensômetros para obtenção de ruído.

Os extensômetros utilizados são os mesmos aplicados no projeto da célula de

carga, ou seja, 4 rosetas duplas de 90º, especificação PA-06-125TG-350-B, e duas

rosetas modelo espinha de peixe, especificação PA-06-125TA-350-B, ambas de 350 Ω e

com fator de sensibilidade (gage factor) de 2,1, da marca Excel Ltda.

5.5.2 Pontes de Wheatstone para medir R(Fz) e R(Mz)

Na Figura 5-25 (Fig. A), pode-se observar o circuito composto pelos

extensômetros 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19 e 20, que será responsável pela captação do

Linha de colagem dos

extensômetros

116

sinal de ruído (R(Fz)), referente ao comportamento da força coincidente com o eixo z do

referencial apresentado na Fig. 5-3.

Ainda na Figura 5-25 (Fig. B), pode-se observar o circuito composto pelos

extensômetros 21, 22, 23 e 24, responsável pela captação do sinal de ruído (R(Mz)),

referente ao comportamento do momento coincidente com o eixo z do referencial

apresentado também na Figura 5-3.

Figura 5-25. Pontes de Wheatstone utilizadas para medir R(Fz) e R(Mz).

Conforme exposto anteriormente, os elementos sensores para a captação dos

ruídos e interferências serão os mesmos que aqueles utilizados no projeto da célula de

carga, e, portanto, todo o desenvolvimento aplicado à configuração daquelas pontes de

Wheatstone (seções 5.2.2 e 5.2.3), pode ser validado para as pontes desta seção.

Com o objetivo de verificar a deformação no trecho proposto para a captação de

ruído (εr), e servindo como comparação com a deformação estabelecida no projeto da

célula de carga (εc), a seguir serão calculadas algumas variáveis, utilizando-se das

equações (5-29), (5-41) e (5-45), aplicadas anteriormente, para a obtenção da área (Ar) e

da tensão (σr) neste novo trecho.

O diâmetro externo neste trecho (Dr) é de 80 mm, entretanto, seu diâmetro

interno (dr) é desconhecido e, portanto, para que fosse possibilitado o desenvolvimento

das equações, foi considerado como sendo o mesmo da haste (Tabela 5-2), ou seja, 43,5

mm.

( )22r 0,04350,08

4πA −=

117

23

r m 103,54A −×= (5-57)

3-

3

r 103,5410120σ

××

=

MPa 33,9σ r = (5-58)

910207

61033,9rε

×

×=

st 0,16rε µ= (5-59)

Comparando-se o resultado de deformação obtido na equação (5-59), com

aquele definido no projeto da célula de carga (1000 µst), pode-se observar que a

deformação do trecho para captação de ruído, em relação à célula de carga, é de

0,016%.

Teoricamente, este resultado é satisfatório, uma vez que, conforme indicado

anteriormente, é desejável que a região para obtenção de ruído tenha uma porção de

sinal pequena ou, se fosse possível, até mesmo nulo. Sendo assim, a manutenção da

proposta do local para obtenção do ruído permanece inalterada, devendo sua

confirmação ser realizada através de testes práticos.

5.5.3 Montagem dos dispositivos de telemetria para captação de ruído

Os sinais com ruído serão transmitidos da mesma forma que os sinais de força e

torque, sendo necessário, portanto, o mesmo sistema de telemetria já apresentado

anteriormente. Uma vez que o encoder (Figura 5-14) selecionado é capaz de codificar

até 8 canais diferentes, será necessária apenas a inclusão de dois módulos de aquisição

(Figura 5-13), onde um irá captar o ruído referente à força axial (R(Fz)) e o outro

módulo captará o ruído referente ao torque (R(Mz)).

Dando continuidade ao processo, o sinal é transmitido do encoder para o módulo

de transmissão (Figura 5-15) e em seguida enviado por radio freqüência para o

decodificador (Figura 5-17) fora do eixo, que encaminha o sinal digitalizado para o

computador.

118

Após a definição de toda a seqüência da transmissão das informações, descrita

para o envio dos sinais de força, torque e ruído, distribuídos por 4 canais, onde cada

canal representa um sinal, pode-se observar, na Figura 5-26, um esquema de toda a

montagem do envio de sinais pelo sistema de telemetria.

Todos os módulos do sistema de telemetria selecionados, e que são afixados ao

eixo (módulo de aquisição, encoder e modulo de transmissão), possuem a mesma

dimensão (52 x 27 x 10 mm) e, em função do tamanho compacto, é possível mantê-los

afixados por baixo do acabamento da célula de carga (resina), assim como os módulos

de envio de sinais desta.

Figura 5-26. Esquema de montagem do envio de sinais (telemetria).

Na Figura 5-27, em que é apresentada a concepção final de todo o conjunto da

haste inicial, encontra-se assinalado um esquema (apenas de caráter ilustrativo) de

ligação entre o local em que estarão colados os extensômetros para aquisição do ruído, e

a célula de carga.

Conforme indicado anteriormente, um pequeno furo na estrutura da célula de

carga irá possibilitar a passagem dos fios, proporcionando um melhor acabamento de

todo o conjunto.

119

Figura 5-27. Esquema da concepção final da haste inicial, com acabamento da

célula de carga e ligação com ponte de Wheatstone para supressão de ruído.

No capítulo 1, foi apresentado um diagrama idealizado, que serviria como

referência para o desenvolvimento desta dissertação. Contudo, conforme constatado que

os sinais estão sujeitos a ruídos, e que estes devem ser suprimidos, foi feita uma

alteração no diagrama, com acréscimo de filtragem digital, e após definição da

montagem de todo o conjunto, o novo diagrama é apresentado na Figura 5-28.

Figura 5-28. Diagrama com a supressão de ruído introduzida.

120

5.5.4 Simulação gráfica da supressão de ruídos

Como descrito no Capítulo 4, a filtragem adaptativa é um poderoso método para

aplicação de supressão de ruído. Para cada canal com sinal corrompido adquirido, deve-

se prover outro canal com ruído, etapa esta descrita na seção anterior. Sendo assim, na

medição dos esforços considerados neste texto, têm-se dois pares de canais. Nesta

seção, será ilustrada a aplicação de supressão de ruído, utilizando um par de canais,

referente ao esforço axial conseqüente da etapa de alargamento.

São utilizados sinais (tração) artificiais, pela indisponibilidade de sinais práticos.

Cabe ressaltar que o sinal de esforço considerado não possui um padrão, pois a variação

de carga depende do tipo de solo a que a máquina estará submetida, realizando mais ou

menos esforço.

Na Figura 5-29A apresenta-se o sinal de deformação sintetizado. Este é o sinal

idealizado, o qual seria obtido caso não houvesse aquisição de ruído. Nota-se que o sinal

atinge dois picos superiores a 1 Volt, ou seja, próximos ao limite operacional da

máquina, como descrito anteriormente.

Para simular os sinais reais adquiridos na célula de carga, adiciona-se um ruído

ao sinal de tração sintetizado. Este sinal corrompido é mostrado na Figura 5-29B. O

ruído adicionado ao sinal é correlacionado ao ruído adquirido no canal paralelo, o qual

será utilizado na supressão. Este segundo ruído é apresentado na Figura 5-29C,

observando que ele apresenta amplitude muito menor que a do sinal adquirido, por ser

captado numa região mais rígida. Pelas duas últimas figuras nota-se que a potência do

ruído varia com o tempo, por se tratar de um sistema não estacionário.

O objetivo agora é ilustrar a eficiência do método de filtragem adaptativa para a

supressão de ruído, através de simulação no software Matlab. Considera-se o algoritmo

NLMS (Capítulo 4), em função da melhor taxa de convergência para sistemas não

estacionários.

121

Figura 5-29. Simulação de sinais captados e sinal ideal.

Nas Figuras 5-30A e B apresentam-se os mesmos sinais das Figuras 5-29A e B,

sendo que agora também é ilustrada a tensão de 1,33 Volts, referente ao limite

operacional da máquina (definido na curva de calibração teórica para a força axial).

Caso o sinal de deformação fosse adquirido sem ruído a perfuração seria interrompida

uma vez, em torno da amostra k = 2.800, por ultrapassar o limite. Como na prática o

sinal adquirido é corrompido, observa-se pela Figura 5-30B que a perfuração seria

interrompida inúmeras vezes.

Na Figura 5-30C, pode-se observar que ao submeter os sinais adquiridos à

filtragem adaptativa, consegue-se recuperar o sinal, tornando-o bem próximo do sinal de

deformação idealizado. Observa-se um ruído somado a este sinal deformado, entretanto

reduz-se a duas as ocorrências de interrupção do processo, por ultrapassar o limite. Ou

seja, com a implementação da supressão de ruído através da filtragem adaptativa, o

sistema foi capaz de evitar um número excessivo de paradas, obtendo maior eficiência.

122

Figura 5-30. Simulação de supressão de ruído.

5.6 Processamento dos dados

Visto que a amplitude dos sinais varia bastante em função dos ruídos

adicionados, após o emprego da filtragem adaptativa, o sinal está pronto para ser

adquirido pelo software. Desta forma, pode-se sugerir o software Micro-Lab como

sendo o responsável pela aquisição dos dados e análise, para que o operador do

equipamento tenha as informações (dados) de força e torque, necessárias, através de

gráficos e tabelas. Além de captar os dados, o software também é capaz de gerar saída,

de forma que alguma ação seja tomada após realização de uma análise. Como caráter

ilustrativo, na Figura 5-31 são apresentadas algumas janelas deste software.

123

Figura 5-31. Janelas do software Micro-Lab.

Em seguida, as informações serão processadas por uma lógica de controle,

conforme já introduzido no capítulo inicial, e que será responsável pela tomada de

decisões. A perfuração deverá ser mantida em curso, ou até mesmo interrompida, em

função dos resultados, visto que o objetivo é garantir que o equipamento de perfuração

direcional não seja danificado por sobrecarga. Desta forma, a lógica de controle seria

responsável pelas seguintes ações:

• Caso o sinal recebido seja ≤ 80 % do limite de carga, liga led verde;

• Caso, 80 % < sinal recebido ≤ 90 % do limite de carga, liga led amarelo;

• Caso o sinal recebido seja > 90 % do limite de carga, liga led vermelho e

alarme; e

• Caso o sinal recebido ≥ 100 % da carga, ocasiona a parada da máquina.

Com a lógica acima estabelecida, sabe-se que a máquina dificilmente irá quebrar

com os excessos cometidos pelos operadores, que muitas vezes estimulam a sobrecarga.

Também, após emprego da filtragem adaptativa, sabe-se que a lógica de controle não irá

124

interromper a operação da máquina, antes que alcance o seu limite real de carga de

trabalho.

5.7 Custo estimado de implantação do projeto

É importante ressaltar que para o desenvolvimento do projeto desta dissertação,

não foi realizado um EVTE (Estudo de viabilidade técnica e econômica) para verificar

as possibilidades reais de implantação da proposta. Todavia, após conhecimento de

causa, ou seja, ocorrências de quebra de cabeças de perfuração durante execução do

furo, optou-se por manter a realização do projeto, visto que este tipo de dano possui um

custo elevado.

Com isso, prevaleceu a idéia de otimização do processo de perfuração,

garantindo a confiabilidade operacional do equipamento, sem manter o foco na questão

financeira que viria a ser agregada ao projeto da célula de carga. Por este motivo, não

foi feita uma pesquisa de mercado visando alcançar valores mais accessíveis, contudo,

decidiu-se acrescentar esta seção, apenas como ilustração do custo estimado.

De acordo com a proposta desta dissertação, será feita uma pequena alteração

mecânica na estrutura de uma máquina de perfuração de médio porte, conforme

apresentado anteriormente; entretanto, será acrescido um aparato tecnológico a esta

máquina, de forma que se garanta a confiabilidade operacional do equipamento durante

execução da perfuração, para evitar danos estruturais.

Sabe-se que o aparato tecnológico referenciado acima envolve toda a parte de

captação, emissão, recepção e processamento dos sinais, que contém os dados que

interessam para a manutenção da integridade do equipamento de perfuração, durante a

realização do esforço.

O valor de um equipamento de perfuração novo, similar ao utilizado como

referência neste projeto, gira em torno de R$ 600.000,00, e, quando se fala em danos

estruturais causados na perfuração, utilizando como exemplo a quebra de uma cabeça de

perfuração, conforme exposto anteriormente, podem ser estimados prejuízos da ordem

de R$ 45.000,00.

Cabe ressaltar que o custo aqui apresentado com implantação do projeto se ateve

apenas com a estimativa de despesas para a instalação dos equipamentos em apenas

125

uma máquina, excluindo-se o custo de desenvolvimento do projeto propriamente dito,

ou seja, as horas trabalhadas na criação da idéia.

O gasto total com os equipamentos que devem ser instalados no projeto proposto

é de aproximadamente R$ 40.000,00, dentre os quais, estariam envolvidos os seguintes

itens:

• Confecção da célula de carga (mecânica);

• Material de extensometria;

• Material para transmissão e recepção dos sinais (telemetria);

• Filtragem dos sinais;

• Cartão de interface;

• Notebook;

• Software de aquisição.

Pode-se observar na Tabela 5-5 o resumo dos custos apresentados anteriormente,

os quais estariam envolvidos no projeto.

Tabela 5-5. Resumo de custos envolvidos no projeto.

Valor

(R$)

Percentual do equipamento

novo (%)

Equipamento de perfuração novo 600.000,00 100,0

Implantação do projeto 40.000,00 6,7

Quebra da cabeça de perfuração 45.000,00 7,5

Com o exposto, percebe-se que o custo unitário de implantação do projeto não

corresponde a um valor muito elevado, quando comparado ao valor de um equipamento

novo (6,7%), o qual certamente seria minimizado caso fosse item de série.

Ainda assim, vale ressaltar que os R$ 40.000,00 de implantação do projeto

proposto correspondem a 88,9 % do custo com a quebra da cabeça de perfuração, o que

seria perfeitamente aceitável, mesmo que este valor do projeto fosse superior ao

referente a um evento de quebra.

126

Capítulo 6

6 Conclusões e Sugestões para trabalhos futuros

Este trabalho teve como principal objetivo o estudo de um sistema para

caracterizar os esforços a que uma máquina de perfuração horizontal não destrutiva está

submetida, de forma que se evitem danos neste tipo de equipamento, devido à

sobrecarga operacional durante o processo de perfuração.

Após caracterização de dois esforços inerentes ao método, ou seja, torque e

força, foi desenvolvida uma célula de carga para medição destas variáveis. Os sinais

captados devem ser processados para a subtração de ruídos adicionados ao sistema, e

conseqüentemente, um micro computador é responsável pelo controle do processo.

Neste sentido, foram estudadas as características operacionais da máquina como

um todo, bem como os tipos de esforços a que está submetida, de forma a obter a

elaboração de um projeto que represente um primeiro passo para o desenvolvimento de

um sistema de controle dos esforços neste tipo de equipamento.

Na tentativa de aperfeiçoar o equipamento de perfuração direcional, foram

pensadas algumas alternativas de aplicação de uma célula de carga, passando-se por

uma solução que funcionaria na própria cabeça de perfuração, mas que se inviabiliza

pela necessidade de passagem de cabos pelo túnel perfurado, até uma alternativa que

seria acoplada na própria haste inicial, mas que acarretaria no prolongamento desta,

gerando a necessidade de alteração de projeto em outros componentes do sistema, como

por exemplo, a alimentação da máquina com hastes de perfuração.

Dentro do panorama exposto, optou-se pelo uso de uma célula de carga

projetada especificamente para um determinado modelo de médio porte, a qual

apresenta uma geometria em harmonia com a peça original (haste inicial) para onde foi

projetada, mas que também pode ser facilmente adaptada a outros modelos, de pequeno

ou grande porte.

Além do projeto da célula de carga, foi proposto o acréscimo de um filtro

adaptativo, de forma a garantir sinais mais limpos, ou seja, com menos ruído e

interferência, e que, com isso, a lógica de controle tenha uma decisão mais precisa.

127

O projeto proposto garante a confiabilidade operacional em qualquer tipo de

equipamento, devido ao controle destes esforços em tempo real, com a conseqüente

tomada de decisão em função do percentual de carga alcançado. Neste caso, não há

necessidade de alteração do projeto da máquina, uma vez que esta alternativa necessita

apenas de uma pequena alteração na haste inicial, que será seccionada e terá flanges

adicionados, para a posterior inserção da célula de carga, que irá ocupar o trecho

extraído da haste inicial.

A calibração da célula de carga desta tese contou com as informações reais

necessárias a sua realização, entretanto, por não terem sido desenvolvidas atividades

práticas, foram elaboradas curvas de calibração teóricas para as pontes de Wheatstone

empregadas na medição de força axial e torque.

Ficou constatado teoricamente, através dos gráficos apresentados, referentes a

um sinal simulado, que a adição de ruído ao sinal é bastante prejudicial ao sistema, pois

os limites de carga são alcançados de forma prematura, fato que causaria a interrupção

do funcionamento da máquina antes do previsto.

Apesar de não ter sido levada em consideração a questão financeira de

implantação do projeto, visto que o objetivo era a otimização do processo, com redução

de custo por causa de quebra, observou-se que o custo de implantação é bastante

pequeno se comparado ao custo de uma máquina nova, e inferior ao custo referente a

um evento de quebra, o que justificaria plenamente uma implantação deste porte.

Uma próxima tarefa proposta aqui para a continuidade deste projeto, é a efetiva

confecção da célula de carga e realização de testes operacionais com o conjunto,

visando a concretização e certificação da funcionalidade do projeto. Dentro do quesito

funcionalidade, também é de extrema importância a concatenação da leitura da célula de

carga com a transmissão de sinais pelo sistema de telemetria, para posterior

processamento dos sinais.

Também deverão ser confrontados os valores teóricos encontrados para a

calibração da célula de carga, com os valores práticos, os quais provavelmente serão

distintos, uma vez que para os valores teóricos, foram desconsiderados os possíveis

erros introduzidos no processo, como, por exemplo, os efeitos cruzados (cross talk),

provenientes de folgas, atritos, desalinhamentos e outros.

128

Não obstante, fica sugerida a proposta adicional para realização de testes

práticos para adaptação de um método de subtração de ruídos, baseado em filtragem

adaptativa, onde deveria ser constatada a possibilidade de coleta dos dados junto ao

cabeçote rotativo do equipamento de perfuração, visando a obtenção de sinais ruidosos.

Com isso, poder-se-á realizar testes visando utilizar o sistema proposto em

aplicações específicas, como, por exemplo, em algum outro tipo de processo de

perfuração.

129

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