estudo dos efeitos da metformina na eletrogênese cardíaca · 1. diabetes mellitus 2....

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOQUÍMICA E FISIOLOGIA TESE DE DOUTORADO Estudo dos efeitos da Metformina na eletrogênese cardíaca Lindalva Layse de Lima Malagueta Vieira Recife 2015

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Page 1: Estudo dos efeitos da Metformina na eletrogênese cardíaca · 1. Diabetes Mellitus 2. Espectrometria 3. Eletrofisiologia I. Vieyra, Adalberto (orientador) II. Título 616.462 CDD

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOQUÍMICA

E FISIOLOGIA

TESE DE DOUTORADO

Estudo dos efeitos da Metformina na

eletrogênese cardíaca

Lindalva Layse de Lima Malagueta Vieira

Recife

2015

Page 2: Estudo dos efeitos da Metformina na eletrogênese cardíaca · 1. Diabetes Mellitus 2. Espectrometria 3. Eletrofisiologia I. Vieyra, Adalberto (orientador) II. Título 616.462 CDD

II

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOQUÍMICA

E FISIOLOGIA

TESE DE DOUTORADO

Estudo dos efeitos da Metformina na

eletrogênese cardíaca

Doutoranda Lindalva Layse de Lima Malagueta Vieira

Orientador Adalberto Vieyra

Co-orientadores Prof. Dr. Emiliano Medei

Profª. Drª. Mónica Gallego

Recife

2015

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Catalogação na fonte

Elaine Barroso

CRB 1728

Vieira, Lindalva Layse de Lima Malagueta Estudo dos efeitos da Metformina na eletrogênese cardíaca/ Lindalva Layse de Lima Malagueta Vieira – Recife: O Autor, 2015.

121 folhas : il., fig., tab. Orientador: Adalberto Vieyra Co-orientadores: Prof. Dr. Emiliano Medei; Profª. Drª. Mónica Gallego

Tese (doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco. Centro de Ciências Biológicas, Bioquímica e Fisiologia, 2015. Inclui bibliografia

1. Diabetes Mellitus 2. Espectrometria 3. Eletrofisiologia I. Vieyra,Adalberto (orientador) II. Título

616.462 CDD (22.ed.) UFPE/CCB-2015-155

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III

Lindalva Layse de Lima Malagueta Vieira

Estudo dos efeitos da Metformina na eletrogênese cardíaca

Tese apresentada para o cumprimento parcial das exigências para obtenção do título de Doutor em Bioquímica e Fisiologia pela Universidade Federal de Pernambuco

Aprovado por:

Prof. Dr. Adalberto Vieyra - Presidente

Prof. Dr. José Geraldo Mill

Prof. Dr. Cláudio Gabriel Rodrigues

Prof. Dr. Romildo de Albuquerque Nogueira

Prof. Dr. Dinaldo Cavalcanti de Oliveira

Data: 02/07/2015

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IV

Agradeço ao meu Deus, pai e criador

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do

céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou (Eclesiastes 3:1-2).

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V

Dedico aos meus pais

Maria Fatima de Lima

Luiz Aurélio Malagueta Vieira

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VI

(In memoriam) do Professor. Dr. Oleg Krasilnikov

meu eterno orientador

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VII

AGRADECIMENTOS

Ao meu co-orientador Professor Emiliano Medei por todo apoio e oportunidades no

decorrer destes anos de trabalho.

A minha co-orientadora Professora Mónica Gallego os maiores e mais sinceros

agradecimentos, sua confiança e dedicação foram capazes de me fazer trilhar por um

crescimento profissional que julgava impossível em tão pouco tempo. Sua forma de fazer

ciência é admirável, você é a grande responsável por apreciar e querer dedicar-me a

eletrofisiologia cardíaca.

Ao Professor Oscar Casis, palavras são poucas para descrever o carinho e admiração

que tenho por ti, um ser humano fantástico, profissional exemplar e excelente

cientista/eletrofisiologista e que hoje representa um espelho para minha vida pessoal e

profissional.

Aos Professores Claudio Gabriel Rodrigues, Márcia Bezerra da Silva e Reginaldo

Pereira da Silva, que fazem parte do laboratório de Biofísica e Células-tronco Professor Oleg

Krasilnikov, grata por todos os momentos compartilhados, por sermos uma linda família de

cientistas, por terem sido minha base em momentos tão difíceis, por toda atenção, cuidado e

carinho.

À Professora Liliya Yuldasheva por continuar contribuindo cientificamente com nosso

laboratório e também por conseguir atenuar a falta que sentimos do Prof. Oleg.

A Juan Manuel por todo Apoio técnico, dedicação, paciência e amizade durante minha

estância na Espanha.

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VIII

A todos os meus colegas e amigos da UFRJ, em especial Mara Santos, Micaela

Lopez, Julieta Fernandez por toda cumplicidade, amizade e atenção, a Rosilane Taveira

pelo seu otimismo e lindas palavras, a Paulo André pela sua tranquilidade e paciência, a

Gustavo Monnerat e Humberto Muzi por todo apoio e ajuda.

Aos meus grandes amigos da UFPE em especial Gisely Albertim, Dijanah Cota, Sheila

Barros, Juliana Aguiar, Renata Valença, Edjair Cabral, Wyndly Daniel, Carolina Melo, Artur

Alves, Jeann Branco, Deborah Fortes vocês foram essenciais nesta caminhada.

As amizades que foram construídas durante minha estância na Espanha em especial,

Ainhoa Rodriguez, Hiart Alonso, Cristina del Pozo, Xiomara Hernandez.

À minha avó Joseja Farias por sua fé e por criar e manter essa família amiga e incrível

que temos.

Aos meus irmãos Ana e Luiz o meu maior presente, obrigada por todo incentivo, amor,

companheirismo, paciência e confiança, amo vocês.

Aos meus tios e tias pelo carinho, apoio e torcida.

A Luis Del Pozo, meu amor, as coisas nunca acontecem por acaso, juntos somos mais

fortes, obrigada por toda dedicação, paciência, atenção, motivação, você foi fundamental

para eu chegar até aqui.

Aos meus grandes amigos Juliana Brandão, Marina Ferraz, Marcela Melo, Tiago

Araújo, Vilma Gomes, cada um de sua forma me incentivou e contribuiu para essa

conquista.

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IX

Este trabalho foi financiado pelas agências de fomento (CNPq, CAPES, FAPERJ),

Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia e Departamento de Educação, Universidades e

Investigação do Governo Vasco (GV) pelo apoio e financiamento deste estudo.

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X

RESUMO

A Diabetes Mellitus (DM) é um grave problema de saúde pública, sendo uma

das maiores causas de morbimortalidade na grande maioria dos países. Diferentes

órgãos são acometidos pela DM; contudo, as doenças cardiovasculares são as

maiores responsáveis pela elevada mortalidade vinculada à diabetes. A metformina

é atualmente o principal fármaco utilizado para o tratamento da DM do tipo 2 (DM2),

embora os riscos-benefícios cardiovasculares dessa droga não estejam totalmente

elucidados. O presente estudo teve como objetivo avaliar o potencial arritmogênico

da metformina em corações e cardiomiócitos de ratos saudáveis. No tratamento por

10 semanas com metformina os parâmetros biométricos e a glicemia plasmática não

foram modificados, mas foi constatado um prolongamento dos intervalos PR, QT e

QTc no eletrocardiograma, e uma redução da corrente transitória de saída de K+, Ito.

Quando os cardiomiócitos foram incubados por 24 h com metformina, a amplitude da

corrente Ito foi reduzida, enquanto aumentou a duração do potencial de ação

cardíaco (DPA). A exposição de cardiomiócitos isolados à metformina por um

período de 30 min, não reduziu a amplitude da corrente Ito, comprovando que a

redução da corrente Ito em cardiomiócitos tratados por 10 semanas e incubados por

24 h com metformina, não ocorreu por uma ligação direta da droga ao canal. A

corrente de cálcio tipo L (ICa-L) e a dependência de voltagem da inativação e

recuperação da inativação da corrente Ito não foram afetadas em ambas as

situações experimentais. Os níveis de RNAm que codifica as subunidades KV4.2,

KV4.3 e KChIP2 do canal Ito não foram alterados, sugerindo que a redução da

corrente Ito não ocorreria por uma menor síntese proteica das subunidades que

compõem o canal Ito. Propõe-se que, esta redução seria resultante de uma

acelerada degradação dos canais ou de uma deficiência funcional destes na

membrana celular. A partir dos resultados obtidos na presente tese, conclui-se que a

metformina apresenta potenciais efeitos arritmogênicos sobre o coração de animais

saudáveis, capazes de levar eventualmente à morte súbita.

Palavras-chave: Diabetes mellitus; Canais iônicos; Eletrofisiologia cardíaca.

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XI

ABSTRACT

Diabetes Mellitus (DM) is a major public health problem, and is one of the

biggest causes of morbidity and mortality in most countries. Many different human

organs are affected by the DM, but cardiovascular diseases are the leading causes of

mortality in patients with DM. Even today, the leading drug used to treat type-2

diabetes is metformin. However, its cardiovascular risk-benefits are not entirely clear.

This study aimed to determine the potential arrhythmogenic effect of metformin in

cardiomyocytes from healthy animals. Therefore, a 10 week treatment with metformin

was performed, and it was proved that biometric and metabolic parameters were not

affected. However, a lengthening of the PR, QT and QTc interval was found on the

electrocardiogram, as well as a reduction in the output of the transitory potassium Ito

current. When cardiomyocytes were incubated for 24 h with metformin, the amplitude

of the Ito current was reduced and duration of cardiac action potential (APD)

increased. Exposure of cardiomyocytes treated with metformin over a period of 30

min did not reduce the amplitude of the current Ito, demonstrating that the reduction

in Ito current cardiomyocytes treated for 10 weeks and incubated for 24 h with

metformin, does not occur by direct binding of the drug to the canal. The L-type

calcium current (ICa-L) and the kinetic properties of voltage-dependent inactivation and

recovery from inactivation of Ito current remained unchanged in both experimental

conditions. RNAm levels of KV4.2, KChIP2 4.3 and Kv subunits remained unchanged.

This suggests that the reduction of the Ito current may not be caused by a decrease in

the protein synthesis subunit which is part of the Ito channel.Therefore, this reduction

may be caused by a main degradation of the channels or by a worse operating

performance in the cell membrane. Experiments accomplished during this thesis try

to demonstrate that metformin causes arrhythmogenic effects in the heart of healthy

animals.

Keywords: Diabetes mellitus; Ion channels; electrophysiology heart.

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XII

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1. MAPA DO MUNDO ILUSTRANDO NÚMERO DE DIABÉTICOS NAS DIFERENTES REGIOES NO

ANO DE 2014. . ................................................................................................................. 25

FIGURA 2. POTENCIAL DE AÇÃO DE TRÊS REGIÕES DO MÚSCULO VENTRICULAR. . .............. . 28

FIGURA 3. TRAÇADO REPRESENTATIVO DA CORRENTE DE POTÁSSIO TRANSITÓRIA DE SAÍDA EM

CARDIOMIÓCITOS DO VENTRÍCULO ESQUERDO DE RATO. . ............................................. 30

FIGURA 4. A) PLANTA MEDICINAL GALEGA OFFICINALIS. B) ESTRUTURA QUÍMICA

DA METFORMINA. ........................................................................................................................ 31

FIGURA 5. MECANISMO DE AÇÃO DA METFORMINA PELA INIBIÇÃO DO COMPLEXO I DA CADEIA

RESPIRATÓRIA. ................................................................................................................. 36

FIGURA 6. FASES DO POTENCIAL DE AÇAO CARDÍACO. ........................................................... 38

FIGURA 7. ESTRUTURA DOS CANAIS DE K+ DEPENDENTES DE VOLTAGEM. ............................. 39

FIGURA 8. REGISTRO DE ELETROCARDIOGRAMA EM RATA SPRAGUE-DAWLEY CONTROLE NA

DERIVAÇÃO II. ................................................................................................................... 52

FIGURA 9. REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DOS PARÂMETROS AVALIADOS DURANTE O POTENCIAL

DE AÇÃO CARDÍACO NO VENTRÍCULO ESQUERDO. .......................................................... 55

FIGURA 10. FOTOGRAFIA DE CARDIOMIOCITOS DE RATA ISOLADOS DO EPICARDIO DO VENTRÍCULO

ESQUERDO. ....................................................................................................................... 57

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XIII

FIGURA 11. APROXIMAÇÃO DA MICROPIPETA A MEMBRANA DO CARDIOMIÓCITO. ............. 58

FIGURA 12. PARAMETROS BIOMÉTRICOS RELACIONADOS À MASSA CORPORAL E À MASSA

CARDÍACA DE ANIMAIS SAUDÁVEIS TRATADOS COM METFORMINA. ............................. 66

FIGURA 13. GLICEMIA PLASMÁTICA DE ANIMAIS TRATADOS COM METFORMINA. ................ 68

FIGURA 14. ELETROCARDIOGRAMA DE ANIMAL TRATADO COM METFORMINA. ................... 69

FIGURA 15. PARAMETROS ELETROCARDIOGRÁFICOS EM ANIMAIS TRATADOS

COM METFORMINA. ................................................................................................................ 70

FIGURA 16. CORRENTE TRANSITÓRIA DE SAÍDA DE POTÁSSIO EM CARDIOMIÓCITOS DE ANIMAIS

TRATADOS COM METFORMINA. ....................................................................................... 72

FIGURA 17. DEPENDÊNCIA DE VOLTAGEM DA INATIVAÇÃO DA CORRENTE ITO EM CARDIOMIÓCITO

DE ANIMAIS TRATADOS COM METFORMINA. .................................................................. 74

FIGURA 18. RECUPERAÇÃO DA INATIVAÇÃO DA CORRENTE ITO EM CARDIOMIÓCITOS DE ANIMAIS

TATADOS COM METFORMINA. ......................................................................................... 75

FIGURA 19. DENSIDADE DA CORRENTE DE CÁLCIO TIPO L (ICA-L) EM CARDIOMIÓCITOS DE ANIMAIS

TRATADOS COM METFORMINA. ....................................................................................... 76

FIGURA 20. EXPOSIÇÃO POR 30 MIN À METFORMINA EM CARDIOMIÓCITOS DE ANIMAIS

SAUDÁVEIS. ....................................................................................................................... 78

FIGURA 21. EXPOSIÇÃO À METFORMINA DURANTE 24 HORAS EM FATIAS DE EPICARDIO DO

VENTRÍCULO ESQUERDO DE ANIMAIS SAUDÁVEIS. .......................................................... 79

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XIV

FIGURA 22. INCUBAÇÃO COM METFORMINA DURANTE 24 HORAS EM CARDIOMIÓCITOS DE

ANIMAIS SAÚDAVEIS. ....................................................................................................... 82

FIGURA 23. DEPENDÊNCIA DE VOLTAGEM DA INATIVAÇÃO DA CORRENTE ITO EM CARDIOMIÓCITOS

INCUBADOS COM METFORMINA DURANTE 24 HORAS. ................................................... 83

FIGURA 24. RECUPERAÇÃO DA INATIVAÇÃO DA CORRENTE ITO EM CARDIOMIÓCITOS INCUBADOS

COM METFORMINA DURANTE 24 HORAS. ....................................................................... 84

FIGURA 25. DENSIDADE DA CORRENTE DE CÁLCIO TIPO L (ICA-L) EM CARDIOMIÓCITOS INCUBADOS

COM METFORMINA DURANTE 24 HORAS. ....................................................................... 86

FIGURA 26. GENES QUE CODIFICAM PARA AS SUBUNIDADES DO CANAL ITO. ......................... 87

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XV

LISTA DE TABELAS

TABELA 1. PROGRESSÃO DA DIABETES MELLITUS PARA O ANO DE 2035. ............................... 26

TABELA 2. PAINEL ILUSTRANDO A DIVERSIDADE DA CORRENTE TRANSITÓRIA DE SAÍDA DE K+ (ITO)

EM CARDIOMIÓCITOS DE MAMÍFEROS. ........................................................................... 42

TABELA 3. PAINEL ILUSTRATIVO: CANAIS DE CÁLCIO DEPENDENTES DE VOLTAGEM (ICA-L)

CODIFICADOS POR DISTINTOS GENES. ............................................................................. 48

TABELA 4. PARÂMETROS AVALIADOS NO ECG DE ANIMAIS CONSCIENTES DURANTE O PERÍODO DE

10 SEMANAS. .................................................................................................................... 53

TABELA 5. OLIGONUCLEOTÍDEOS UTILIZADOS NAS REAÇÕES DE QRT-PCR. ............................ 63

TABELA 6. PARÂMETROS ELETROCARDIOGRÁFICOS ANALISADOS EM DIFERENTES TEMPOS EM

ANIMAIS SAUDÁVEIS. ....................................................................................................... 71

TABELA 7. PARÂMETROS DO POTENCIAL DE AÇÃO (PA) REGISTRADOS EM FATIAS DE TECIDO DE

EPICARDIO ESQUERDO. .................................................................................................... 80

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XVI

LISTA DE ABREVIATURAS

4-AP 4-aminopiridina

ACC Acetil-CoA Carboxilase

AMP Adenosina monofosfato

AMPc Adenosina monofosfato cíclica

AMPK Proteína quinase ativada por AMP

APA Amplitude do potencial de ação

ATP Adenosina trifosfato

Cavs Canal de cálcio dependente de voltagem

Ct Ciclo de threshold

DAG Diacilglicerol

DM Diabetes Mellitus

DM1 Diabetes Mellitus tipo 1

DM2 Diabetes Mellitus tipo 2

DPA Duração do potencial de ação

DPA30 Duração do potencial de ação a 30% de repolarização

DPA90 Duração do potencial de ação a 90% de repolarização

dQT Dispersão do intervalo QT

EASD Associação Européia para o Estudo da Diabetes

ECG Eletrocardiograma

EPM Erro padrão médio

GAPDH Glicerol-aldeído-3-fosfato-desidrogenase

HMG-CoA redutase Hidroxi-metil-glutaril coenzima A redutase

IC Insuficiencia cardíaca

ICa-L Canal de cálcio tipo L

IK Correntes retificadores de potássio

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XVII

IP3 Inositol trifosfato

KB Kraftbühe (do alemão) ou “sopa da força”

KChIPs Proteína regulatória dos canais KV

KV Canal de potássio dependente de voltagem

LKB1 Proteína quinase hepática B1 (do inglês)

MCD Miocardiopatia diabética

NCS Sensores de cálcio neuronal

OCT Transportadores catiônicos orgânicos

PA Potencial de ação

PCR Reação em Cadeia da Polimerase

PKA Proteína quinase A

PKC Proteína quinase C

PLC Fosfolipase C

PRM Potencial de repouso da membrana

RNAm RNA mensageiro

SBD Sociedade Brasileira de Diabetes

Ser Serina

TEA Tetraetilamonio

Thr Treonina

Thr172 Treonina 172

UKPDS United Kingdom Prospective Diabetes Study

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XVIII

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 20

1.1. Considerações Iniciais .......................................................................................... 20

1.2. Diabetes Mellitus ................................................................................................... 22

1.2.1. Complicações Cardiovasculares ........................................................................... 27

1.3. Metformina ............................................................................................................ .29

1.3.1. Aspectos gerais da metformina ............................................................................. .29

1.3.2. Mecanismo de ação da metformina ...................................................................... .33

1.4. Canais iônicos envolvidos na repolarização cardíaca .......................................... 37

1.4.1. Estrutura dos canais de potássio dependente de voltagem (KV) .......................... 37

1.4.2. Corrente transitória de saída de potássio (Ito) ....................................................... 37

1.4.3. Papel fisiológico da corrente Ito ............................................................................. 41

1.5. Regulação da corrente Ito pelo sistema nervoso simpático ................................... 43

1.5.1. Receptores adrenérgicos no coração ................................................................... 43

1.5.2. Efeitos da estimulação noradrenérgica sobre a corrente Ito .................................. 44

1.5.3. Efeitos inibitórios sobre a corrente Ito .................................................................... 45

1.6. Canais de Cálcio Dependentes de Voltagem (CAVS) .......................................... 45

2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 49

2.1. Objetivo geral ........................................................................................................ 49

2.2. Objetivos específicos ............................................................................................ 49

3. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................... 50

3.1. Animais ................................................................................................................. 50

3.2. Estudo dos efeitos do tratamento de ratos saudáveis com metformina durante 10 semanas sob: glicemia, peso e ECG .................................................. 50

3.2.1. Avaliaçao dos parâmetros biométricos ................................................................. 51

3.2.2. Avaliaçao da glicemia .......................................................................................... 51

3.2.3. Monitoramento e análise do ECG dos animais conscientes ................................. 51

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XIX

3.3. Estudo do efeito direto de metformina sob a repolarização ventricular ................ 54

3.3.1. Registro do potencial de ação .............................................................................. 54

3.3.2. Registro das correntes iônicas Ito e ICa-L ................................................................ 56

3.3.3. Registro da corrente transitória de saída de K+ (Ito) e da corrente de Ca2+ do tipo L (ICa-L) ....................................................................................................... 57

3.3.4. Protocolo de registro e medições da corrente Ito .................................................. 59

3.3.5. Amplitude da corrente Ito ....................................................................................... 59

3.3.6. Dependencia de voltagem de inativação da Ito ..................................................... 60

3.3.7. Recuperação da inativação da corrente Ito ........................................................... 60

3.3.8. Protocolo de registro e medições da amplitude da corrente ICa-L .......................... 61

3.4. Medida dos níveis de RNAm por qRT-PCR .......................................................... 62

3.5. Análise estatística ................................................................................................. 64

4. RESULTADOS ..................................................................................................... 65

4.1. Efeitos do tratamento com metformina nos parâmetros biométricos e metabólicos em animais saudáveis ...................................................................... 65

4.2. Implicações do tratamento com metformina no remodelamento elétrico cardíaco em animais saudáveis ............................................................................ 67

4.3. Efeitos da perfusão durante 30 min ou da incubação por 24 h com metformina no remodelamento elétrico de cardiomiócitos saudáveis .................. 77

4.4. Expressão de RNAm que codificam para subunidades que compõem o canal Ito. ................................................................................................................. 85

5. DISCUSSÃO ......................................................................................................... 89

6. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 96

7. REFERÊNCIAS .................................................................................................... 97

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20

1. INTRODUÇÃO

1.1. Considerações iniciais

Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome caracterizada por hiperglicemia

crônica e alterações no metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas,

associadas com deficiência total ou parcial da secreção ou atividade da insulina.

Atualmente classifica-se a DM em 3 tipos principais, Diabetes Mellitus tipo 1 ou

insulino-dependente (DM1), Diabetes Mellitus tipo 2 ou resistente à insulina (DM2) e

Diabetes Mellitus Gestacional. Dentre os tipos de DM, a DM2 é a de maior incidência

na população com cerca de 90% dos casos, sendo elevado o número de óbitos,

principalmente, por doenças cardiovasculares (BOUDINA et al., 2007; OLOKOBA et

al., 2012; Cho et al., 2013). A DM Gestacional é aquela desenvolvida em mulheres

durante a gestação. Por fim, temos outros tipos de diabetes ocasionados por

defeitos genéticos, utilização de drogas ou indutores químicos (AMERICAN

DIABETES ASSOCIATION, 2012).

Nos últimos anos tem sido relatado que pacientes diabéticos sofrem de uma

forma de doença miocárdica que não está relacionada a doença arterial coronariana

ou à hipertensão arterial sistêmica, denominada de miocardiopatia diabética. A

miocardiopatia diabética (MCD) tem sido reconhecida como uma doença cardíaca

específica que incide em aproximadamente 30% dos pacientes com DM1 (Codinach-

HUIX & FREIXA-PAMIAS, 2002; OKOSHI et al., 2007), sendo primeiramente

descrita por RUBLER e colaboradores (1972). Esta patologia causa alterações

funcionais no sistema elétrico cardíaco, podendo ser constatada através do

eletrocardiograma (ECG). O ECG de pacientes diabéticos quando comparado com

indivíduos saudáveis pode apresentar prolongamento do intervalo QT, QTc (corrigido

pela frequência cardíaca) e aumento da dispersão do intervalo QT (QTd), alterações

que estão associadas a uma maior predisposição destes pacientes sofrerem

arritmias e morte súbita (KAHN et al., 1987; CARDOSO et al., 2001; VEGLIO et al.,

2002).

Apesar dos diversos tratamentos existentes para a Diabetes Mellitus,

associados a uma mudança no estilo de vida (alimentação, atividade física), a

metformina é o fármaco preferencialmente utilizado para o tratamento de DM2.

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21

No ano de 1998 foi apresentado, no encontro anual da Associação Européia

para o Estudo da Diabetes (EASD), o estudo multicêntrico, desenvolvido no Reino

Unido denominado UK Prospective Diabetes Study (UKPDS, 34). Para este estudo,

foram recrutados pacientes portadores de DM2, com e sem sobrepeso. Estes foram

tratados somente com dieta ou com dieta e sulfonilureia ou metformina. Os

resultados mostraram um controle adequado da glicemia pelo uso de metformina e,

ainda, redução significativa dos riscos de doenças cardiovasculares e mortalidade.

Ademais, foi visto que este fármaco está associado a uma redução do peso e que

não induz hipoglicemia quando comparado à insulina e à sulfonilureia (UKPDS 33,

1998; UKPDS 34, 1998). Portanto, desde a publicação do UKPDS 34, a metformina

tornou-se o antidiabético oral mais utilizado na maioria dos países

(INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION, 2005; NATHAN et al., 2009).

Todavia, apesar da publicação do estudo clínico randomizado (UKPDS 34)

relatando benefícios do fármaco, atualmente têm surgido questionamentos com

relação ao risco/benefício do seu uso terapêutico (BOUSSAGEON et al., 2012).

Estes questionamentos foram observados no ano de 2012, através da publicação

dos estudos de meta-análise de ensaios clínicos randomizados onde se avaliaram

os riscos e benefícios da metformina, baseados na morbimortalidade por doenças

cardiovasculares em pacientes com DM2 Estes estudos de meta-análise advertem

para efeitos negativos da metformina, relatando um aumento na mortalidade dos

pacientes diabéticos, não obesos, tratados somente com metformina o quando o

tratamento associa metformina e sulfonilureia em relação àqueles indivíduos que

controlam a diabetes apenas com dieta e exercício. Entretanto, a comunidade

científica frequentemente apenas enfatiza os resultados positivos para metformina

obtidos no UKPDS 34, ignorando os dados que foram desfavoráveis

(BOUSSAGEON et al., 2012) e que incluem aumentos de mortalidade por doenças

cardiovasculares entre os usuários da droga.

Em modelos animais de diabetes induzida, foram comprovadas alterações no

ECG, que se refletem no prolongamento da duração do potencial de ação (DPA)

cardíaco (LEGAYE et al., 1988; CASIS et al., 2000). Sendo este prolongamento

causado por mudanças na corrente transitória de saída de K+(Ito), corrente de K+

retificadora retardada ultra-rápida (IKur), rápida (IKr;), lenta (IKs), corrente retificadora de

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entrada (IK1) e corrente de Ca2+ do tipo L (Ica-L), que estão envolvidas na repolarização

cardíaca (JOURDON & FEUVRAY, 1993; GALLEGO & CASIS, 2014). Foi

previamente demonstrado em cardiomiócitos provenientes de animais diabéticos,

que a amplitude da corrente Ito, responsável pela fase 1 do potencial de ação

cardíaco, está reduzida (MAGYAR et al., 1992; TORRES-JACOME et al., 2013).

Dentre os reguladores da corrente Ito está à proteína quinase ativada por AMP

(AMPK), uma enzima que atua como sensor energético intracelular e que pode ser

ativada em resposta ao estresse metabólico, seja ele fisiológico ou patológico, capaz

de causar alterações na relação AMP/ATP (XU et al., 1996; TORRES-JACOME et

al., 2013). A ativação da AMPK leva à estimulação de vias catabólicas que geram

ATP e inibe vias anabólicas que consomem ATP, como a síntese de determinadas

proteínas (HARDIE, 2014). Vários trabalhos têm relatado o envolvimento desta

quinase na regulação das correntes de K+ (IKs, IKr, Ito) e de Na+ (INa) (LIGHT et al.,

2003; ALESUTAN et al., 2011a; TORRES-JACOME et al., 2013).

Ainda não se conhece o mecanismo de ação pelo qual atua a AMPK

regulando a Ito; entretanto, sabe-se que a metformina é descrita como um ativador

da AMPK (ZHOU et al., 2001; COUGHLAN et al, 2014). Assim, pelo potencial

impacto da AMPK nas atividades metabólica, elétrica e contrátil emerge a extrema

importância conhecer os efeitos da metformina na atividade de canais iônicos

presentes em cardiomiócitos, visto que é o fármaco mais utilizado para o tratamento

da DM2 como previamente destacado (FORETZ & VIOLLET, 2014).

Sabendo-se então que a metformina ativa a AMPK e considerando que esta

enzima participa na regulação da corrente Ito (TORRES-JACOME et al., 2013), a

hipótese de trabalho da presente tese de doutorado é a de que a metformina poderia

alterar as correntes iônicas que participam da fase de repolarização ventricular,

comportando-se assim como um fármaco potencialmente arritmogênico.

1.2. Diabetes Mellitus

Como destacado no ponto anterior, a Diabetes Mellitus (DM) é classificada em

dois tipos principais. A DM1 ou insulino-dependente – que representa cerca de 10%

dos casos de diabetes – ocorre por uma deficiência na produção de insulina devido

a uma reação auto-imune, onde a presença de auto-anticorpos pode levar à

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destruição de células β das ilhotas pancreáticas de Langerhans. Entretanto, nesta

patologia ainda existem situações onde ocorre destruição das células β na ausência

de auto-anticorpos e, por isso, a DM1 é denominada de idiopática. Já a DM2 ou

resistente à insulina, é aquela onde geralmente o pâncreas produz insulina

normalmente, mas os pacientes apresentam uma resistência à insulina e intolerância

à glicose; este tipo de diabetes representa cerca de 90-95% dos casos, como

mencionado anteriormente (OLOKOBA et al., 2012).

Segundo a Federação Internacional de Diabetes o número de casos de DM2

duplicará até o ano de 2035. Pacientes com DM2 geralmente apresentam

sobrepeso, estilo de vida sedentário e dieta hipercalórica

(www.idf.org/diabetesatlas/2014), fatores ambientais que contribuem para a

resistência à insulina.

Assim, a DM constitui um grave problema de saúde pública mundial devido ao

aumento da prevalência e na morbimortalidade. Pelos dados epidemiológicos

podemos relatar que esta síndrome é uma epidemia em curso, com alta incidência

em todos os continentes. Segundo a Federação Internacional de Diabetes, em 2014,

foram relatados aproximadamente 387 milhões de pessoas com diabetes, com uma

projeção para o ano 2035 de 592 milhões de pessoas diabéticas (Figura 1) e no ano

de 2014 foram constatadas 4,9 milhões de mortes por DM. A maioria das pessoas

acometidas tem entre 40−59 anos de idade, e cerca de 80% delas vivem em países

com poucos recursos (http://www.idf.org/diabetesatlas/2014).

No Brasil, um estudo multicêntrico sobre a prevalência da DM envolvendo

indivíduos de 9 estados no período de 1986 a 1988, numa faixa etária de 30−69

anos, relatou um percentual de 7,6% para casos de DM (MALERBI & FRANCO,

1992). Após 10 anos, outro estudo multicêntrico realizado no estado de São Paulo

seguindo os mesmos padrões anteriormente utilizados, constatou uma prevalência

de 12,1% para DM (TORQUATO et al., 2003). Ainda, segundo Wild e colaboradores

(2004) a população brasileira total portadora de diabetes no ano de 2000 foi

estimada em 4,6 milhões de pessoas, ocupando o oitavo lugar entre os países com

maior prevalência de DM no mundo, com uma previsão para 2030 de 11,3 milhões

de pessoas, chegando assim ao sexto lugar.

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Figura 1. Mapa do mundo ilustrando o número de pessoas diabéticas nas diferentes regiões

(continentes e subcontinentes) no ano de 2014. (http://www.idf.org/diabetesatlas/update-2014).

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Além dos vários problemas de saúde causados por esta enfermidade, a DM

tem gerado um alto impacto econômico. Grande parte dos recursos para os serviços

públicos de saúde é destinada para o tratamento desta patologia e suas

complicações, estimando-se o total mundial em mais de 600 bilhões de dólares. (Um

quadro da DM na saúde pública pode ser encontrada na Tabela 1)

(http://www.idf.org/diabetesatlas/2014).

1.2.1. Complicações Cardiovasculares

Evidências epidemiológicas indicam que a diabetes é um fator de risco

independente adicional para as doenças cardiovasculares e complicações

microvasculares. Estima-se que a taxa de doenças cardiovasculares é cerca de duas

vezes maior em pessoas com diabetes (GARCIA et al., 1974; OKOSHI et al., 2007).

Como já mencionado acima, em 1972 foi mostrado pela primeira vez que

pacientes com DM sofrem de uma doença denominada de miocardiopatia diabética

(MCD). Essa patologia é definida como uma disfunção ventricular na ausência de

doença arterial coronariana, doença valvular cardíaca ou hipertensão arterial

(RUBLER et al., 1972). A MCD é um fator de risco para o desenvolvimento de

insuficiência cardíaca em humanos. Esta informação foi comprovada em estudos

epidemiológicos que mostraram um aumento entre 2 (homens) e 5 vezes (mulheres)

na incidência de insuficiência cardíaca (IC) em diabéticos, quando comparado com

indivíduos não diabéticos (KANNEL & MCGEE, 1979; OKOSHI et al., 2007).

As principais manifestações clínicas em pacientes com MCD estão

relacionadas com a alta incidência de arritmias cardíacas, dentre elas a fibrilação

ventricular, principal causadora de morte súbita. Estas arritmias podem ser

comprovadas pelo fato de pacientes diabéticos apresentarem variações no ECG, tais

como no intervalo QT, na onda T e aumento da dispersão do QT (QTd). Estas

alterações no ECG refletem o aumento da duração do potencial de ação e

consequente redução das correntes iônicas envolvidas na repolarização cardíaca

(ROBILLON et al., 1999; CASIS & ECHEVARRIA, 2004; GALLEGO et al., 2009).

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Tabela 1. Projeção da Diabetes Mellitus para o ano de 2035.

Diabetes no mundo (20 – 79 anos) 2014 2035

População adulta (bilhões) 4,6 5,9

Casos diabetes (milhões) 386,7 591,9

Prevalência global de diabetes (%) 8,3 10,1

Prevalência comparativa (%) 8,2 8,8

Casos não diagnosticados (milhões) 179,2 -Total de mortes por diabetes (milhões) 4,9 -Total de mortes menores de 60 anos de idade (%) 48,2 -Total de gastos com saúde (USD milhões) 612,2 627,3

Número de casos da doença, prevalência no mundo, casos não diagnosticados, morte por diabetes,

mortes com idade inferior a 60 anos e total de gastos em serviços de saúde associados à DM

(http://www.idf.org/diabetesatlas/update-2014).

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Casis e colaboradores (2000), empregando um modelo animal de DM

induzida, mostraram que existe uma variabilidade regional na duração do PA

cardíaco e que em cardiomiócitos diabéticos o prolongamento do PA é maior no

endocárdio do ventrículo esquerdo e menor no ventrículo direito (Figura 2). O

prolongamento, observado pelos autores na duração do PA pode ser explicado por

uma alteração na densidade da corrente repolarizante (Ito) envolvida no PA.

Em resumo, tem sido descrito que a DM causa redução na amplitude da

corrente Ito (Figura 3) de maneira evidente e bastante homogênea em todas as

regiões cardíacas (MAGYAR et al., 1992; CASIS et al., 2000). Vários trabalhos

utilizando modelos animais de DM induzida relatam uma redução dessa corrente

(MAGYAR et al., 1992; JOURDON & FEUVRAY, 1993; SHIMONI et al., 1994).

1.3. Metformina

1.3.1. Aspectos gerais da metformina

O cloridrato de metformina (dimetilbiguanida) é um derivado da guanidina, um

composto ativo hipoglicemiante identificado pela primeira vez em 1918 na planta

Galega officinalis. Essa planta medicinal, também conhecida como Lilac Francês (Figura 4), foi utilizada por séculos na Europa desde a época medieval como

tratamento popular para poliúria durante a diabetes (ROVARIS et al., 2010; FORETZ

& VIOLLET., 2014).

Em 1957 foram realizados os primeiros experimentos com a classe das

biguanidas: fenformina (feniletilbiguanida), butformina (n-butil-guanidina) e

metformina (dimetilbiguanida), mostrando que entre as biguanidas, a metformina foi

a que apresentou o melhor índice de risco/benefício. Entre 1958 e 1959 as

biguanidas foram introduzidas para uso clínico; entretanto a fenformina e butformina

eram os agentes antidiabéticos de eleição na Alemanha e EUA (FORETZ &

VIOLLET, 2014). Atualmente a metformina é o único fármaco da classe das

biguanidas disponível para o tratamento de DM2, pois em 1976 a fenformina foi

retirada do mercado por causar acidose láctica e problemas cardiovasculares. Diante

dessa situação, a reputação da metformina também foi inicialmente prejudicada

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Figura 2. Potencial de ação de três regiões do músculo ventricular: Ventrículo direito (RV), epicardio

do ventrículo esquerdo (EpiALV) e endocárdio do ventrículo esquerdo (EndoBLV) . (A) cardiomiócito

de animal controle; (B) cardiomiócito de animal diabético. Figura retirada de Casis et al., 2000.

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Figura 3. Traçado representativo da corrente de potássio transitória de saída (Ito) em cardiomiócitos

do ventrículo esquerdo de ratos. A) Representação da corrente Ito em cardiomiócitos de animais

saudáveis; B) Representação da corrente Ito em cardiomiócitos de animais diabéticos. Para isso, foi

utilizado um protocolo de voltagem despolarizante, num tempo de 500 ms e incremento de 10 mV.

Figura retirada de Casis et al., 2000.

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Figura 4. A) Planta medicinal Galega officinalis utilizada desde a idade média para o tratamento de

DM2. B) Estrutura química da metformina composta por duas moléculas biguanidas, descrita em

1922. Figura retirada de Foretz & Viollet, 2014.

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(FORETZ & VIOLLET, 2014). No entanto, a partir da publicação do UKPDS 34 a

metformina tornou-se o fármaco mais prescrito para o tratamento da DM2 e,

atualmente, está entre os 10 medicamentos mais utilizados em todo o mundo.

Estima-se que em torno de 120 milhões de pessoas usem este fármaco (FORETZ &

VIOLLET, 2014).

Apesar do tratamento com metformina mostrar efeitos benéficos em pacientes

com DM2, um ensaio clínico randomizado destinado a avaliar – dentre os inúmeros

estudos existentes – se o tratamento intensivo para redução da glicose em pacientes

com DM2 causa complicações microvasculares, mortes em geral ou mortes por

causa cardiovascular (BOUSSAGEON et al., 2011), evidenciou um limite nos

benefícios dos fármacos que são utilizados para o tratamento da DM2 com

resultados preocupantes em relação à incidência de mortes cardiovasculares. Os

resultados obtidos indicaram um aumento de 43% para mortes por problemas

cardiovasculares e 19% por quaisquer outras causas. Portanto, o risco/benefício dos

fármacos utilizados no controle da glicemia e na prevenção de eventos

cardiovasculares necessita de maiores esclarecimentos. A partir de então, surgiu

uma maior preocupação não só com o controle da glicemia, mas também com os

efeitos adversos que os agentes farmacológicos como a metformina poderiam estar

causando (BOUSSAGEON et al., 2011). O mesmo grupo publicou em 2012 um novo

estudo de meta-análise, agora avaliando a eficácia da metformina no tratamento de

DM2. A partir dos dados obtidos, a eficiência da metformina na prevenção de morte

ou eventos cardiovasculares não foi confirmada. Portanto, não se pode assegurar se

este fármaco aumenta ou reduz os riscos de mortalidade, seja por causa

desconhecida ou por doenças cardiovasculares (BOUSSAGEON et al., 2012). Os

estudos de meta-análise alertam para os fármacos utilizados no tratamento de DM2.

Estes têm como papel principal controlar os níveis glicêmicos, entretanto a

preocupação deve ir mais além e é extremamente importante conhecer os potenciais

efeitos destes fármacos principalmente para o sistema cardiovascular

(BOUSSAGEON et al., 2011; BOUSSAGEON et al., 2012), visto que pacientes com

DM2 já apresentam alterações cardiovasculares decorrentes da própria patologia.

A metformina é apresentada em comprimidos de 500, 850 e 1000 mg, com

dose máxima de 2500 mg ao dia (http://www.mdsaude.com/2011/01/cloridrato-

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metformina.html; ARAÚJO et al., 2000). Entretanto de acordo com os resultados de

alguns autores, a dose de 2000 mg/dia é mais efetiva (GARBER et al., 1997). A

administração deste fármaco ocorre por via oral (VIOLLET et al., 2012). Este

fármaco não é metabolizado pelo fígado, pois não se liga a proteínas carreadoras

plasmáticas, sendo excretado de forma inalterada pelos rins. Aproximadamente 30%

da dose oral é eliminada diretamente nas fezes e 50 a 60% absorvida através da

borda em escova do epitélio intestinal (BRODY et al., 2006; ROVARIS et al., 2010).

A análise de suas propriedades farmacocinéticas, revela que esta droga apresenta

um tempo de meia-vida que varia de 2−4 h (BRODY et al., 2006).

Os efeitos colaterais da metformina (não incluindo aqueles potencialmente

exercidos na atividade elétrica cardíaca) são bastante reduzidos, quando

comparados a os de outros antidiabéticos. Estima-se que em torno de 20−30% dos

pacientes que utilizam este fármaco apresentam distúrbios gastrointestinais como

náuseas, desconforto abdominal e diarréia (NEVES et al., 2009). Ademais, este

fármaco apresenta uma baixa incidência de acidose láctica: em torno de 1−10 casos

por cada 100.000/ano (WILLS et al., 2010). Este fármaco é conta-indicado para

indivíduos que apresentam problemas renais crônicos ou processos patológicos que

causem hipóxia ou isquemia (THOMSEN & MORCOS, 2003).

1.3.2. Mecanismo de ação da metformina

A metformina tem como principais alvos o fígado, intestino, músculo

esquelético e rim. Essa molécula é altamente hidrofílica, motivo pelo qual sua

passagem por difusão através da membrana plasmática é praticamente nula. Sendo

assim, necessita de um mecanismo que permite sua entrada nas células (FORETZ &

VIOLLET, 2014).

O transporte da metformina ocorre através dos transportadores catiônicos

orgânicos OCT-1 e OCT-2 (WANG et al., 2002; VIOLLET et al., 2012). O

transportador catiônico orgânico tipo 1 OCT-1 está presente na parede intestinal,

fígado e rim, já o OCT-2 encontra-se no rim (WANG et al., 2002). O fato do fígado

apresentar abundantes transportadores OCT-1 e não metabolizar a metformina torna

este órgão mais propício para o acúmulo deste fármaco (FORETZ & VIOLLET,

2014). Shu e colaboradores (2007) constataram que os transportadores OCT-1

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33

desempenham papel importante não só na captação de metformina pelas células

hepáticas, como também no controle dos níveis da glicose na corrente sanguínea.

Este grupo suprimiu o gene para OCT-1 em camundongos, tratou os mesmos com

dieta rica em gordura e observou que nestes animais o tratamento com metformina

foi incapaz de reduzir os níveis de glicose sanguínea. Entretanto, no grupo de

camundongos expressando OCT-1 houve redução dos níveis de glicose quando

tratados com metformina (SHU et al., 2007).

A redução da glicemia através da metformina deve-se, principalmente, a suas

ações em nível hepático e muscular. A metformina atua como um ativador da AMPK,

quinase que, como mencionado anteriormente, funciona como um sensor energético

celular, onde em situações de estresse celular ocorre uma diminuição da relação

ATP/AMP e essa quinase passa a ser ativada. A partir de então, a AMPK inibe vias

anabólicas que demandem gasto de ATP e estimula vias catabolicas que gerem

ATP, tentando assim recuperar a homeostase energética celular (YOUNG et al.,

2005; HARDIE, 2014).

Diversos trabalhos comprovaram que a metformina é capaz de ativar a AMPK

em hepatócitos, em músculo esquelético de ratos (ZHOU et al., 2001), e em

hepatócitos humanos (células HepG2) insulino-resistentes (ZANG et al., 2004). Nas

células hepáticas (Figura 5), a inibição da gliconeogênese parece ser o primeiro

efeito da metformina resultante da ativação da AMPK, induzindo também uma

redução da síntese de ácidos graxos, colesterol e lipoproteínas, através da

fosforilação e consequente inativação da acetil-CoA carboxilase (ACC) e da

hidroximetil-glutaril-CoA redutase (HMG-CoA redutase) (ZHOU et al., 2001). Essa

ação contribui para o aumento da oxidação dos ácidos graxos, melhora na

sensibilidade à insulina e com consequente redução dos níveis de glicose sanguínea

(FULLERTON et al., 2013). Já no músculo esquelético, a ativação desta enzima

potencializa a captação de glicose, tanto durante o exercício físico quanto no

repouso (MUSI et al., 2001), contribuindo para o aumento da translocação dos

transportadores GLUT-4 (transportador de glicose insulino-sensível) para a

membrana plasmática independente dos níveis de insulina (TURBAN et al., 2012;

MALIN & KASHYAP, 2014).

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34

Figura 5. Mecanismo de ação da metformina pela inibição do complexo I da cadeia respiratória. No

fígado, o transportador catiônico orgânico (OCT-1) é o responsável por transportar a metformina para

dentro dos hepatócitos. Já dentro da célula a metformina tem a capacidade de inibir parcialmente a

cadeia respiratória mitocondrial, mais precisamente o complexo I. Isso se traduz em um declínio das

concentrações de ATP e aumento das de AMP. Essa modificação se reflete na redução da

gliconeogênese hepática. Figura retirada de Violett et al., 2012.

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35

Estas informações levaram atualmente a formular 2 principais hipóteses

acerca dos mecanismos de ação da metformina para o controle dos níveis de

glicose. A primeira propõe que ocorra por inibição do complexo I da cadeia

respiratória mitocondrial, diminuindo o fluxo de elétrons ao longo do sistema de

transporte de elétrons e colapsando parcialmente o potencial eletroquímico para H+,

resultando numa diminuição na relação ATP/AMP. O aumento do AMP induz a

ativação da AMPK, levando a inibição da gliconeogênese no fígado como descrito

acima. Sugerindo, portanto, que o complexo I da cadeia respiratória é o alvo primário

da metformina e que a ativação da AMPK ocorre de forma secundária (EL-MIR et al.,

2000; OWEN et al., 2000). Esta hipótese foi comprovada em outros tipos celulares

como músculo esquelético (BRUNMAIR et al., 2004), células endoteliais (DETAILLE

et al., 2005), células ß pancreáticas (HINKE et al., 2007) e neurônios (EL-MIR et al.,

2008).

A segunda hipótese foi formulada uma década atrás, através de um trabalho

publicado por Shaw e colaboradores (2005), demonstrando que a deleção do gene

para o supressor de tumor humano liver kinase B1 (LKB1) em ratos tratados com

metformina, reduziu a fosforilação da AMPK no resíduo Thr172. O gene LKB1, como

demonstrado há mais de 10 anos, codifica uma Ser/Thr quinase que fosforila

diretamente e ativa a AMPK (HONG et al., 2003). Essa hipótese perdurou por muitos

anos (SHAW et al., 2005; FORETZ & VIOLLET, 2009). Contudo, um trabalho mais

recente publicado por Foretz e colaboradores (2010) demonstrou que silenciando

simultaneamente os genes para LKB1/AMPK (LKB1-/AMPK-), a metformina foi

também capaz de reduzir os níveis de glicose por inibição da gliconeogênese

hepática, sugerindo que a metformina age independente de LKB1/AMPK (FORETZ

et al., 2010). Portanto, os mecanismos de ação da metformina continuam

controversos e obscuros, necessitando de maiores estudos para definir os efeitos

dependentes e independentes da AMPK, inclusive ao nível de alvos cardíacos

potencialmente envolvidos nos efeitos arritmogênicos da droga.

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1.4. Canais iônicos envolvidos na repolarização cardíaca

Durante o processo de repolarização cardíaca, diferentes correntes de K+ (Ito,

IKur, IKr, IKs, IK1) e Ca2+ (Ica-L) desempenham papel importante nas fases da

repolarização ventricular (Figura 6). Sabemos que pacientes diabéticos apresentam

um aumento na duração do potencial de ação (PA) que é decorrente da redução da

corrente Ito. Esta corrente é responsável pela rápida repolarização inicial e também

determina a amplitude e duração da fase 2 ou platô do potencial de ação junto com

a corrente ICa-L (GALLEGO & CASIS, 2014). Portanto, uma alteração nesta corrente

pode repercutir nas demais. Assim sendo, uma redução de Ito pode alterar também a

amplitude da corrente ICa-L envolvida na fase 2 do PA cardíaco.

1.4.1. Estrutura dos canais de K+ dependentes de voltagem (KV)

Dentre todos os tipos canais iônicos conhecidos, os canais de K+ constituem o

maior e mais diversificado grupo,, apresentando cerca de 70 locus conhecidos no

genoma de mamíferos. Estes canais compartilham uma propriedade comum: são

seletivos aos íons K+. Os canais de K+ dependentes de voltagem constituem a maior

e mais diversificada família, composta por 40 tipos distribuidos em 12 subfamílias

(KV1−KV12). Estas subfamílias são divididas de acordo com a semelhança entre as

sequências de aminoácidos (GUTMAN et al., 2005).

Os canais de K+ dependentes de voltagem (KV) são compostos por

subunidades funcionais e regulatórias. As subunidades α são as responsáveis por

formar o canal, sendo que para este ser funcional é necessário um arranjo de 4

subunidades do tipo α. Diante dessa característica, estes canais são denominados

de tetraméricos, podendo apresentar estrututura homotetramérica ou

heterotetramérica variando de acordo com a espécie. O domínio transmembrana

destes canais consiste de 6 segmentos (S1−S6) onde os segmentos S1−S4

funcionam como um domínio sensível a voltagem e os segmentos S5 e S6

participam na formação do filtro de seletividade do canal (Figura 6) (GRIZEL et al.,

2014).

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Kv4.2Kv4.3Kv1.4

Vista superior Vista frontal

Genes que codificam a

subunidade α

A B

C D

Figura 6. Estrutura dos canais de K+ dependentes de voltagem responsáveis por conduzir a corrente

Ito. (A) Estrutura tetramérica do canal de K+ dependentes de voltagem, este para ser funcional

necessita de 4 subunidades α. Ainda observa-se em distintas cores que os segmentos S5 e S6 de

cada subunidade α de arranjam com os outros segmentos S5 e S6 das outras subunidades e formam

o poro do canal, conferindo a seletividade do respectivo canal. (B) Vista frontal do arranjo das

subunidades α na membrana plasmática associada à subunidade regulatória intracelular que em

cardiomiócitos a principal é a KChIP2. (C) Estrutura de uma subunidade α, composta por 6

segmentos transmembrana (S1−S6), onde o S4 funciona como sensor de voltagem e S5 e S6 formam

o poro do canal. (D) Diferentes genes responsáveis por codificar a subunidade α. Em humanos esta

subunidade é codificada somente por por KV4.3 (resultando num homotetramero). Já no epicárdio de

ratos os genes respectivos codificam um heterotetramero de KV4.2/KV4.3, enquanto no endocárdio

encontra-se um homotetramero de KV4.3, produto do gene KV4.3. O gene KV1.4 está presente em

ambos mamíferos, contudo em menor expressão. Figura adaptada de Pongs & Chwarz, 2010; Grizel

et al., 2014.

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1.4.2. Corrente transitória de saída de K+ (Ito)

A corrente Ito é responsável por modular o início da repolarização ventricular

que vai desde o pico do PA até a fase 2. Na década de 60−70, se realizaram os

primeiros experimentos para registrar esta corrente, utilizando preparações

multicelulares obtidas a partir das fibras de Purkinje (DECK et al., 1964; FOZZARD &

HIRAOKA, 1973). No ano de 1984, Josephson e colaboradores (1984) registraram

pela primeira vez esta corrente em cardiomiócitos ventriculares de ratos.

A corrente Ito subdivide-se em 2 grupos, sendo eles o de correntes rápidas

(Ito,fast ou Ito,f) e o de correntes lentas (Ito,slow ou Ito,s) (XU et al., 1999; NERBONNE,

2000), subdivisão que ocorre de acordo com as propriedades moleculares, cinéticas

e farmacológicas das respectivas correntes (PATEL & CAMPBELL, 2005).

Os genes KV1.4, KV4.2 ou KV4.3 codificam as subunidades α, responsáveis

por conduzir as correntes Ito. Atualmente está bem aceito que KV1.4 conduz Ito,s,

KV4.2 e KV4.3 conduzem a Ito,f (DIXON et al., 1996), sendo que o arranjo destas

proteínas pode variar de acordo com a espécie animal. Por exemplo, em humanos a

estrutura responsável pela Ito é um homotetrâmero de canais KV4.3, em ratos é o

heterotetrâmero de canais KV4.2/KV4.3; em coelho é o homotetrâmero de canais

KV1.4. Contudo, a estrutura básica é bastante semelhante para todos como descrito

em 1.4.1, se diferenciando nas propriedades cinéticas (PATEL & CAMPBELL, 2005;

GALLEGO et al., 2009).

Os grupos de correntes de K+ transitórias de saída já foram descritas no

coração de diferentes mamíferos (Tabela 2). Por exemplo, a Ito,f, está presente em

cardiomiócitos ventriculares humanos (AMOS et al., 1996), de rato (WICKENDEN et

al., 1999), de gato (FURUKAWA et al., 1990), de cachorro (LITOVSKY &

ANTZELEVITZ, 1988), de furão (CAMPBELL et al., 1993) e de camundongo (XU et

al., 1999); já a Ito,s apresenta-se especialmente em coelhos (GILES & IMAZUMI,

1988). Ainda, as duas correntes foram descritas em camundongos (Xu et al., 1999),

humanos (NÄBAUER et al., 1996) e em ratos (WICKENDEN et al., 1999).

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Tabela 2. Painel ilustrando a diversidade da corrente transitória de saída de K+ (Ito) em cardiomiócitos

de mamíferos.

As correntes Ito são subdivididas em 2 grupos: Ito,fast ou Ito,f corrente que tem como característica

principal uma ativação/inativação rápida; e a Ito,slow ou Ito,s que apresenta uma ativação/inativação

lenta.

Corrente Ativação Inativação Gene Localização Espécie

Ito, fast Rápida Rápida KV4.2 e/ou

KV4.3 Aurícula

Humano, rato, cachorro

e camundongo

Ito, fast Rápida Rápida KV4.2 e/ou

KV4.3 Ventrículo

Gato, humano, rato,

cachorro, camundongo

Ito, slow Lenta Lenta KV1.4 Aurícula,

Nodo Coelho

Ito, slow Lenta Lenta KV1.4 Ventrículo

Furão, humano,

camundongo, rato, coelho

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40

Apesar de existirem ambas as correntes na maioria das espécies,

normalmente uma predomina sobre a outra; por exemplo, em humanos (AMOS et

al., 1996) e ratos predomina a Ito,f (WICKENDEN et al., 1999).

As principais subunidades regulatórias da Ito são as chamadas KV channel

interating proteins (KChIPs), membros da família dos sensores de Ca2+ neuronal

(NCS), uma subfamília de proteínas de ligação de Ca2+ que interagem com os

canais KV através do domínio citoplasmático N-terminal (IKURA, 1996). An e

colaboradores (2000) identificaram 3 isoformas das KChIPs (KChIP1, KChIP2 e

KChIP3) codificadas por diferentes genes. No coração a isoforma presente é a

KChIP2 (AN et al., 2000; ROSATI et al., 2001) responsável por regular as

subunidades α da subfamília KV4.x (AN et al., 2000). As isoformas da proteína

regulatória KChIPs podem modular a corrente Ito, por exemplo diminuindo a

velocidade de inativação do canal, acelerando o componente lento de inativação, ou

acelerando a recuperação da inativação (PATEL & CAMPBELL, 2005). Alguns

destes processos foram investigados na presente tese ao analisar os efeitos da

metformina na atividade elétrica cardíaca.

1.4.3. Papel fisiológico da corrente Ito

Durante as fases do PA cardíaco, diferentes correntes iônicas estão

envolvidas, sendo que na fase 0 a corrente de entrada de Na+ (INa) é a principal

responsável por esta fase; já na fase 1 a corrente transitória de saída de K+ (Ito)

desempenha papel fundamental na repolarização rápida e inicial; na fase 2 ocorre

um contrabalanço entre a corrente de entrada ICa-L e as correntes de K+ retificadoras

rápida e lenta (IKr e IKs). Durante a fase 3 do PA ocorre o fechamento dos canais de

Ca2+ tipo L e abertura com aumento das correntes de K+. Finalmente, a corrente de

K+ retificadora retardada IK1 restaura e mantém o potencial de membrana durante a

fase 4 do PA (observar na Figura 7) (GALLEGO et al., 2014).

A corrente transitória de saída de K+ é uma das correntes repolarizantes

presente no coração e determina a DPA cardíaco. A DPA depende da amplitude da

corrente Ito, ou seja, quanto maior a corrente, menor a DPA. Por exemplo, em

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Figura 7. Traçado representativo ilustrando as 5 fases envolvidas no potencial de

ação cardíaco (P0, P1, P2, P3 e P4) e suas respectivas correntes ionicas. Estão

representadas as correntes de saída de K+ (Ito, IKs, IKr), corrente retificadora IK1 e as

correntes de entrada de Ca2+ e Na+ respectivamete (Ica-L e INa). Em vermelho damos

ênfase as fases 1 e 2 do potencial de ação cardíaco visto que neste trabalho

inicialmente será abordada a corrente Ito responsável pelo início da fase 1 e duração

da fase 2 do PA cardíaco. Figura retirada e adaptada de Curran & Mohler, 2015.

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cardiomiócitos de roedores adultos e em células auriculares humanas, a fase 2 dura

menos, refletindo em uma menor DPA (WETTWER et al., 1993; WANG et al., 1994;

AMOS et al., 1996; RODEN & GEORGE, 1997; CASIS et al., 1998).

A fase 2 do PA inicia-se quando a corrente Ito começa se inativando. Portanto,

quanto maior a amplitude da corrente Ito, mais tempo esta corrente necessita para se

inativar e, com isso, a fase platô ocorre em potenciais mais repolarizados. Isso

explica por que em regiões ventriculares onde a amplitude da corrente Ito é maior,

como por exemplo, em ventrículo direito e epicardio do ventrículo esquerdo, o PA é

menor (CASIS et al., 1998). Por outro lado, a redução na amplitude da corrente Ito

prolonga a DPA (DUKES & MORAD, 1989). O prolongamento na DPA pode ser

encontrado em distintas patologias como diabetes, hipertrofia, insuficiência

cardíaca, isquemia, infarto do miocárdio. Este prolongamento pode ser explicado

por uma redução na amplitude da corrente Ito, redução essa que gera o surgimento

de arritmias e uma maior susceptibilidade de morte súbita (LUE & BOYDEN, 1992;

BEUCKELMANN et al., 1993; RODEN & GEORGE, 1997). Esta foi uma ideia que

esteve presente ao delinear os objetivos da presente tese.

1.5. Regulação da corrente Ito pelo sistema nervoso simpático

1.5.1. Receptores adrenérgicos no coração

O sistema nervoso simpático desempenha papel importante no que se

refere à forma e duração do PA cardíaco, uma vez que tem a capacidade de regular

as correntes iônicas envolvidas no processo de repolarização ventricular (GALLEGO

et al., 2014). Os receptores adrenérgicos fazem parte da família de receptores

acoplados à proteína G. Essa proteína é composta por uma cadeia polipeptídica,

contendo 7 segmentos transmembrana, com o extremo N- terminal extracelular e o

extremo C-terminal intracelular. Na região entre os segmentos S5 e S6 ocorre à

interação entre o receptor e a proteína G (HOELZ et al., 2013).

Os receptores α-adrenérgicos subdividem-se em α1 e α2, sendo expresso no

coração apenas o receptor do tipo α1. Existem diferentes subtipos de receptores α1,

sendo que o mais expresso no coração e predominante em humanos é o do tipo α1A

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(BYLUND et al., 1994; PRICE et al., 1994). Em geral, os receptores α1-adrenérgicos

estão ligados à proteína Gαq e sua ativação estimula a PLC. Essa enzima produz IP3

que estimula a saída do Ca2+ armazenado nos compartimentos intracelulares e DAG

que estimula a PKC. Essa quinase é capaz de regular diversas proteínas celulares,

dentre elas, os canais iônicos de Ca2+ e K+ (SINGER-LAHAT et al., 1992;

NAKAMURA et al., 1997).

Os receptores β-adrenérgicos são os maiores reguladores quando se analisa

a fisiologia cardíaca como um todo. Existem 4 tipos de receptores β (β1, β2, β3 e β4)

todos presentes no coração dos seres humanos (BYLUND et al., 1998). A ativação

destes receptores resulta da ligação com a proteína Gαs, e leva a um aumento nos

níveis de AMPc, resultando na ativação de PKA. Dentre os tipos de receptores

citados, o tipo β1 é amplamente distribuído no tecido cardíaco, produzindo efeitos

inotrópicos (aumento da força de contração cardíaca) e cronotrópicos (aumento do

ritmo cardíaco) positivos (SETIÉN et al., 2013).

A noradrenalina é um tipo de catecolamina que atua sobre a corrente Ito de

duas formas distintas. Através dos receptores β-adrenérgicos (β-AR), desempenha

um efeito trófico sobre a corrente Ito assegurando sua ocorrência em níveis

fisiológicos normais. Enquanto que através dos receptores α1-adrenérgicos (α-AR)

atua de forma oposta, estimulando a redução da amplitude da corrente Ito

(GALLEGO et al., 2005).

1.5.2. Efeitos da estimulação noradrenérgica sobre a corrente Ito

Ao estudar os efeitos da noradrenalina obtiveram-se informações

contraditórias no que diz respeito aos efeitos que este hormônio exerce sobre a

corrente Ito. Vários trabalhos têm sido publicados relatando que o sistema nervoso

simpático exerce efeitos tróficos sobre várias correntes iônicas, dentre as quais

encontra-se a Ito. A maioria dos trabalhos relata que durante o desenvolvimento

embrionário a amplitude da corrente Ito é pequena. Por exemplo, em cachorros, a

maturação da corrente Ito ocorre entre a 10ª e a 20ª semana de desenvolvimento

pós-natal (JECK & BOYDEN, 1992; PACIORETTY & GILMOUR, 1995), período

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também em que se completa a maturação do sistema nervoso simpático (URSELL et

al., 1990). Em ratos, a maturação da inervação do sistema nervoso simpático e a

maturação da corrente Ito ocorrem de forma paralela entre o 5ª e o 15ª dia de

desenvolvimento pós-natal (LIU et al., 1998; CHAPARRO et al., 1998), efeitos que

são mediados pelos receptores β-adrenérgicos.

Como já citado anteriormente, diversos estudos demonstraram que distintas

patologias causam redução da corrente Ito, dentre elas estão a DM1 (CASIS et al.,

2000), a hipertrofia cardíaca (TOMITA et al., 1994), o infarto do miocárdio (LUE &

BOYDEN, 1992), as arritmias ventriculares (FREEMAN et al., 1997), e a insuficiência

cardíaca (NÄBAUER et al., 1993). Além disso, nestas patologias em que ocorre uma

redução da corrente Ito, o sistema nervoso simpático também está alterado devido a

uma diminuição na produção da adrenalina, noradrenelina e dopamina, sugerindo

uma redução na atividade neuronal simpática (YOSHIDA et al., 1985; PACIORETTY

& GILMOUR, 1998; GALLEGO et al., 2014). O sistema nervoso simpático

desempenha papel importante na regulação da frequência cardíaca, força de

contração como também de diferentes correntes de K+ cardíacas, incluindo a

corrente Ito (GALLEGO et al., 2014; SETIÉN et al., 2013).

1.5.3. Efeitos inibitórios sobre a corrente Ito

De maneira contrastante, outros estudos vêm demonstrando que a estimulação

noradrenérgica reduz a Ito em diferentes modelos experimentais como rato (TOHSE

et al., 1990), cachorro (NAKAYAMA & FOZZARD, 1988), gato (HARTMANN et al.,

1988), frango (LEATHERMAN et al., 1987), coelho (FEDIDA et al., 1990). A redução

desta corrente parece dever-se à ativação dos receptores α1-adrenérgicos. Em

cardiomiócitos de rato, o mecanismo responsável pela ativação dos receptores α1-

adrenérgicos (GALLEGO & CASIS, 2001; GALLEGO et al., 2005), induzindo a

redução da corrente Ito, essa redução parece estar relacionado também à ativação

da proteína Gαs. Este acoplamento ativa a via AMPc/PKA, fosforilando o canal Ito e,

com isso, reduzindo a amplitude da corrente Ito em até 35%. Claramente, estes

efeitos opostos resultam da fosforilação seletiva de diferentes aminoácidos

associados à ativação de uma ou outra classe de receptores adrenérgicos.

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1.6. Canais de Ca2+ dependentes de voltagem

As subunidades dos canais de Ca2+ são codificadas por 10 diferentes genes.

Historicamente vários nomes foram dados aos produtos destes genes, originando

nomenclaturas distintas e muitas das vezes confusas. Atualmente, a nomenclatura

utilizada para os canais de Ca2+ é baseada na definida para os canais de K+, ou

seja, utilizando o símbolo químico do principal íon permeável (Ca2+), associado ao

seu regulador fisiológico (voltagem) (CATTERALL et al., 2005).

As subunidades dos CAVS (canais de cálcio dependentes de voltagem) são

divididas em 3 famílias (Cav1, Cav2 e Cav3) de acordo com sua estrutura e

funcionalidade (Ertel et al., 2000). A família Cav1 apresenta as subfamílias

Cav1.1-Cav1.4, contendo as isoformas α1s, α1D e α1F as quais conduzem as corrente

de Ca2+ tipo L (ICa-L). Das 10 isoformas da subunidade α1, somente a α1c (Cav 1.2)

encontra-se em altos níveis no músculo cardíaco e vascular, representando mais de

80% das subunidades α1 associadas ao canal de Ca2+ tipo L. A isoforma α1D (Cav

1.3) também está presente no músculo atrial, porém em nível menor (NASCIMENTO

et al., 2008).

Conforme as diferentes características de suas correntes, estes canais foram

divididos nos tipos T, L, N, P, Q e R (conforme mostrado na Tabela 3). Dentre os

tipos de canais de Ca2+ citados anteriormente, 2 estão presentes no coração: o tipo L

e o tipo T. O papel fisiológico dos canais do tipo T depende da espécie do mamífero,

idade e região cardíaca. Duas isoformas de canais de Ca2+ tipo T (Cav3.1 e Cav3.2)

são funcionalmente expressas no coração de embriões; contudo durante o

desenvolvimento embrionário essa expressão torna-se reduzida. Em indivíduos

adultos este tipo de canal é praticamente indetectável em cardiomiócitos

ventriculares, prevalecendo nas células envolvidas no sistema de condução

cardíaco, facilitando assim a despolarização do nodo sinoatrial (ONO & LIJIMA,

2010).

As correntes de Ca2+ tipo L (ICa-L) presentes no átrio e ventrículo direito de

cardiomiócitos humanos exibem propriedades semelhantes quando comparadas as

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Tabela 3. Painel ilustrativo canais de cálcio dependentes de voltagem (ICa) codificados por distintos

genes.

Os canais de Ca2+ dependentes de voltagem se agrupam em 3 famílias (CaV1, CaV2 e CaV3), com

distintos tipos de canais (L, P/Q, N, R e T), conforme indicado acima, segundo Catterall et al., 2005.

Família/subfamília Canal/corrente Gene

CaV1.1 L CACNA1S

CaV1.2 L CACNA1C

CaV1.3 L CACNA1D

CaV1.4 L CACNA1F

CaV2.1 P/Q CACNA1A

CaV2.2 N CACN1B

CaV2.3 R CACNA1E

CaV3.1 T CACNA1G

CaV3.2 T CACNA1H

CaV3.3 T CACNA1I

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encontradas em outras espécies de mamíferos (CORABOEUF & NARGEOT, 1993;

RICHARD et al., 1998). A amplitude da ICa-L é maior no ventrículo quando

comparada com a da aurícula, sendo também maior em indivíduos na idade adulta

que durante a infância (COHEN & LEDERER, 1993). As propriedades cinéticas

deste tipo de canal em humanos são similares às encontradas em cardiomiócitos de

animais (BEUCKELMANN et al., 1991; OUADID et al., 1991; SUN et al., 1997;

PELZMANN et al., 1998). Os canais de Ca2+ do tipo L desempenham um papel

principal no processo de acoplamento, excitação e contração desencadeando a

liberação de íons Ca2+ armazenados no reticulo sarcoplasmático, como também são

responsáveis por manter o longo período de despolarização da fase 2 do PA atrial e

ventricular, bem como pela fase 0 do PA lento nas células do nodo sinoatrial e nodo

atrioventricular (HAGIWARA et al., 1988; MCDONALD et al., 1994).

Observa-se que, quando se comparam as correntes de Ca2+dependentes de

voltagem tipo L e tipo T, apesar das duas serem correntes de influxo, existe algumas

diferenças como: (i) os canais do Ca2+ tipo L (Ica, L) são ativados a partir de potenciais

menos negativos (-30 a -20 mV) e quanto à cinética inativam-se mais lentamente; (ii)

os canais de Ca2+ do tipo T (ICa,T) são ativados quando o potencial de membrana

alcança -60 a -50 mV e cineticamente se ativam e inativam mais rapidamente.

Os canais de Ca2+ do tipo L apresentam 2 tipos principais de inativação: (i)

dependente de voltagem; (ii) dependente de Ca2+. A substituição no meio

extracelular dos íons Ca2+ por Ba2+ é uma forma de eliminar a componente de

inativação dependente do Ca2+, restando assim apenas o componente de inativação

dependente de voltagem. Atualmente se aceita que há 2 principais mecanismos de

inativação dependentes de voltagem, por constrição do poro (inativação do tipo C)

ou oclusão do poro (inativação do tipo N), tipos de inativação que também podem

ser vistos nos canais de Na+ e KV. A inativação dos canais de Ca2+ tipo T parece

ocorrer pelo mecanismo de "bola e cadeia" (inativação tipo N); entretanto este

mecanismo ainda não foi totalmente esclarecido (NASCIMENTO et al., 2008).

As correntes descritas nas seções anteriores podem estar envolvidas nos

mecanismos fisiopatogênicos de arritmias ocasionados pela administração de

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metformina. Por isso, elas foram levadas em consideração para formular os objetivos

e para delinear diversos protocolos experimentais da presente tese.

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2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral

O objetivo geral desta tese foi investigar o efeito da metformina na

eletrogênese cardíaca e seu potencial arritmogênico, avaliando potenciais

mecanismos subjacentes ao nível de canais de K+ e Ca2+.

2.2. Objetivos Específicos

Avaliar se o tratamento prolongado (10 semanas) com metformina modulam os parâmetros eletrocardiográficos em animais saudáveis;

Investigar se a exposição à metformina modifica as principais correntes que participam na repolarização ventricular, estudando as correntes Ito e ICa-L;

Definir os mecanismos moleculares responsáveis por alterações nas correntes estudadas.

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Animais

Os procedimentos experimentais desenvolvidos na presente tese foram

aprovados pelo comitê de ética da Universidade del País Vasco (UPV/EHU,

CEBA/273M/2012). Os protocolos de manipulação, tratamento e sacrifício destes

animais seguiram as diretrizes nacionais (Real Decreto 223 de 14 de março de

1988) e européias (Diretriz 609 do Conselho da Comunidade Econômica Européia

de 24 de março de 1986). Uma vez que partes dos resultados foram obtidos na

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) os procedimentos também contaram

com a aprovação da Comissão de Ética para o Uso de Animais em Pesquisa do

Centro de Ciências da Saúde da UFRJ (CEUA, número 26).

Foram utilizados ratos fêmeas Sprague-Dawley entre 2 e 3 meses de idade,

com peso entre 220 e 250 g, mantidos em um ambiente controlado de temperatura

(22 ± 1º C) e exposição à luz num ciclo padrão claro/escuro (12 h/12 h). Para os

experimentos de potencial de ação e reação em cadeia da polimerase em tempo real

(qRT-PCR) – conduzidos na UFRJ − foram utilizadas fêmeas Wistar com idade e

peso semelhantes aos do grupo anterior.

3.2. Estudo dos efeitos do tratamento de ratos saudáveis com metformina durante 10 semanas sob: glicemia, peso e ECG

Para avaliar o efeito da metformina nos parâmetros eletrocardiográficos foram

utilizados 2 grupos experimentais: (i) grupo controle; (ii) grupo tratado com

metformina 35 mg/kg por dia (Sigma-Aldrich®), administrada diariamente na água de

beber durante 10 semanas consecutivas. Neste estudo foram utilizadas

concentrações de 35 mg/kg por dia de metformina em 40 ml de água, mimetizando

assim a dose utilizada nos pacientes que necessitam de doses altas deste fármaco.

Ainda, o tempo de tratamento por 10 semanas foi escolhido para simular um

tratamento prolongado. Após e durante o tempo experimental (10 semanas)

diferentes parâmetros biométricos e funcionais foram registrados, tal como descrito a

seguir.

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3.2.1. Avaliação dos parâmetros biométricos

Os animais de ambos os grupos experimentais foram pesados ao inicio

(tempo 0) e semanalmente durante 10 semanas em balança analítica (Mettler). Ao

final dos experimentos descritos em cada protocolo e das avaliações in vivo, os

animais foram anestesiados e sacrificados mediante uma injeção intraperitoneal de

hidrato de cloral (Sigma-Aldrich®) a 6% diluído em soro fisiológico (NaCl 0,9%). Os

corações foram pesados e a massa cardíaca foi aferida em termos absolutos (g) e

relativos, normalizando o peso do coração pelo peso corporal correspondente

(mg/g), uma relação utilizada para detectar hipertrofia cardíaca (SCHAIBLE &

SCHEUER, 1979).

3.2.2. Avaliação da glicemia

Como a metformina é um agente utilizado na Diabetes Mellitus visando

diminuir os níveis glicêmicos, no presente trabalho foi acompanhada a glicemia dos

animais em jejum de 12 h. A primeira medida foi realizada antes de iniciar o

tratamento com metformina (Tempo 0) e depois a cada 15 dias, durante o período de

tratamento de 10 semanas. Para dosar a glicose plasmática foi utilizado um

glicosímetro e tiras-reagentes apropriadas (Onetouch®). Os animais foram

anestesiados com isoflurano (Sigma-Aldrich®) com auxílio de uma câmara de

ventilação. Posteriormente, utilizando uma agulha de 0,60 × 25 mm (Sterican®) foi

coletada uma gota de sangue caudal, colocada na fita reagente e, com o

glicosímetro, foram aferidos os valores de glicemia.

3.2.3. Monitoramento e análise do eletrocardiograma (ECG) de animais conscientes

Para aquisição do ECG, foram implantados três eletrodos subcutâneos de aço

cirúrgico mediante anestesia com isoflurano e auxílio de uma câmara de ventilação.

Para isso, as áreas de interesse foram depiladas, desinfestadas com álcool 70% e,

com auxílio de uma agulha de 0,13 × 65 mm (Sterican®), a pele foi perfurada para

rapidamente inserir os eletrodos no tecido subcutâneo. Os eletrodos foram

localizados nas seguintes regiões: (i) acima da pata traseira direita; (ii) acima da pata

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traseira esquerda; e (iii) acima da pata dianteira direita, correspondendo à derivação

DII do ECG, o que permite obter um registro típico como o mostrado na Figura 8.

Os registros sempre foram realizados nos animais acordados e após 24 h de

terem sido implantados os eletrodos, visando evitar influências do anestésico nos

registros. Ainda, os mesmos se realizaram sempre nos horários da manhã, evitando

assim efeitos do ritmo circadiano no ECG. Os eletrodos permaneceram nos animais

durante todo o tratamento e, como mencionado acima, foram conectados aos cabos

de registro na posição adequada para obter a derivação DII. Estes por sua vez,

foram conectados a um amplificador (Biopac Mp35®) com sinal filtrado em 150 Hz e

o ECG foi registrado a uma velocidade de 50 mm/s por aproximadamente 10 min

com auxílio de um computador acoplado. Vale ressaltar que a aquisição dos dados

foi realizada pelo menos 5 a 10 min após a conexão dos cabos aos eletrodos,

visando não influenciar os dados com o estado “agitado” dos animais nesses

primeiros momentos. Os dados foram armazenados no computador e analisados off-

line com o auxílio do software LabChart 7 (ADInstruments). Para as análises dos

registros foram selecionados 10 batimentos cardíacos estáveis e consecutivos de

pelo menos 3 tempos diferentes durante o total do registro (10 min). Os parâmetros

analisados estão resumidos na Tabela 4.

3.3. Estudo do efeito direto de metformina sob a repolarização ventricular

3.3.1. Registro do potencial de ação

Com o objetivo de avaliar o efeito da metformina sob o potencial de ação

cardíaco (PA), foram utilizados ratos Wistar fêmeas de 200−250 g. Os animais foram

heparinizados (500 µl de uma solução de heparina sódica diluída em 0,25 ml de

água ultrapura Hemofol® por 100 g de peso do animal), anestesiados com isoflurano

e posteriormente sacrificados por deslocamento cervical. Primeiramente, os

corações foram extraídos da cavidade torácida e rapidamente colocados em um

sistema de Langendorff onde foram canulados pela artéria aorta e perfundidos com

um fluxo constante de 10 ml/min com 50 ml de solução Tyrode por aproximadamente

5 min, contendo (em mM): NaCl 150,8; KCl 5,4; CaCl2 1,8; MgCl2 1, glicose 11;

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Figura 8. Registro de eletrocardiograma em rato Sprague-Dawley controle na derivação II. A letras

sinalizam as ondas clásicas do ECG.

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Tabela 4. Parâmetros avaliados no ECG de animais conscientes durante o período de 10 semanas.

Parâmetro ECG Unidade Descrição

Intervalo RR ms Intervalo entre duas ondas R. Representa a frequência de despolarização ventricular.

Intervalo PR ms

Intervalo entre o início da onda P e início do complexo QRS. Corresponde ao tempo de despolarização dos átrios e à condução do impulso elétrico desde o nodo atrio-ventricular até os ventrículos.

Complexo QRS ms Complexo medido desde o começo da onda Q até o final da onda S. Corresponde à despolarização ventricular.

Intervalo QT ms

Intervalo medido desde o começo do complexo QRS até o final da onda T. Reflete a duração da atividade elétrica ventricular.

Intervalo QTc ms

Duração do intervalo QT corrigido pela frequência cardíaca. O intervalo QT foi corrigido pela fórmula de Bazett: QTc = QT/√RR, onde RR corresponde ao intervalo (em s) desde o começo de um complexo QRS até o início do seguinte (Bazett, 1920).

Tpeak-Tend ms

Duração do intervalo correspondente desde o pico da onda T até o final da onda T. Representa a dispersão transmural da repolarização (Mill, 2008).

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HEPES 10 (pH ajustado para 7,4 com NaOH). A solução foi mantida a temperatura

constante de 37 ± 0,5 °C. Um grupo de corações foi perfundido com solução Tyrode

acrescida de metformina (10 mM), após 5 min de perfusão, o ventrículo esquerdo de

cada coração foi isolado e incubado por 24 h a 4 °C nas mesmas soluções com as

quais foram perfundidos. A concentração de metformina escolhida obedece ao fato

de que já foi demostrado que 10 mM do fármaco é suficiente para ativar a AMPK,

enzima que participa no postulado mecanismo pelo qual a metformina poderia

modular diferentes correntes iônicas envolvidas na gênese do PA (ZHOU et al.,

2001).

Após 24 h de incubação, os ventrículos foram colocados em uma cuba de

acrílico, inicialmente a temperatura ambiente. Durante 20−30 min a cuba era

aquecida e a temperatura aumentada gradativamente até chegar a 37 ± 0,5 °C. O

tecido era fixado com pequenos alfinetes de aço inoxidável no fundo da câmara

revestida com Sylgard (Sylgar®) mantendo a superfície epicárdica exposta para

cima. As preparações foram continuamente perfundidas a fluxo constante de 5

ml/min com auxílio de uma bomba peristáltica (Gibson®) empregando uma solução

Tyrode oxigenada, mantidas a 37 °C e estimuladas nas frequências de 300, 500,

800 e 1000 ms com auxílio de um estimulador (Digitimer DS2) e de um controlador

de frequência (Digitimer D4030).

Os potenciais transmembrana foram registrados utilizando microeletrodos de

vidro (resistência de 10–40 MΩ) obtidos através de uma microforja (Narishige®) e

preenchidos com uma solução de KCl 3 M. Os sinais amplificados foram

digitalizados (Digidata 1440A interface AD/DA system Axon Instrument) e

armazenados no computador para posterior análise utilizando o software Clampfit

(Axon Instruments). Foram avaliados os seguintes parâmetros: potencial de repouso

da membrana (PRM); amplitude do PA (APA); duração do PA (DPA) aos níveis de

30% (DPA30) e 90% (DPA90) da repolarização; e triangulação do PA (DPA90 - DPA30)

(Figura 9).

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Figura 9. Representação esquemática dos parâmetros avaliados durante o registro do PA cardíaco

no ventrículo esquerdo. Para descrição dos parâmetros ver texto.

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57

3.3.2. Registro das correntes iônicas Ito e ICa-L

Para obtenção dos registros foi utilizada a técnica do patch-clamp, na

configuração whole-cell. Os cardiomiócitos de corações de ratos adultos foram

isolados conforme previamente descrito por Mitra & Morad (1985). Este

procedimento combina a utilização da enzima colagenase do tipo 1 e da enzima

protease XIV (Sigma-Aldrich®) em distintas proporções, conforme descrito a seguir.

Inicialmente, os animais foram anestesiados com uma injeção intraperitoneal

de hidrato de cloral 6% (Sigma-Aldrich®) na proporção de 3 ml desta solução por kg

de peso. Em seguida, a cavidade torácica foi aberta e o coração retirado e

rapidamente canulado pela artéria aorta em um aparelho de Langendorff. Este foi

perfundido com solução Tyrode contendo (em mM): KCl 5,4; NaH2PO4 0,42; HEPES-

Na 25; NaCl 130; NaHCO3 5,8; glicose 12; taurina 20; MgCl2 1,05; CaCl2 1,8;

durante um período de aproximadamente 5 min.

Posteriormente, a solução foi substituída por uma solução Tyrode sem Ca2+

(nominal 0) por 10 min. Depois de decorrido este tempo, foi utilizada esta última

solução suplementada com colagenase tipo 1 (0,5 mg/ml) e protease tipo XIV (0,03

mg/ml) (Sigma-Aldrich®) por 15 min. Por último, foi usada uma solução de Kraftbühe

(KB – “sopa da força”) contendo (em mM): taurina 10; ácido glutâmico 70; creatina 5;

ácido succínico 5; glicose 10; KH2PO4 10; KCl 20; HEPES-K 10; EGTA-K 0,2;

durante 5 min. Em todas as soluções utilizadas o pH foi ajustado para 7,4 com

NaOH ou KOH. Durante todo o experimento as soluções eram borbulhadas com O2

e a temperatura mantida a 37 ± 0,5 oC.

Ao final do processo o coração foi retirado do aparelho de Langendoff e o

epicárdio do ventrículo esquerdo foi utilizado para obter os cardiomiócitos por

agitação mecânica após digestão enzimática. Após o isolamento os cardiomiócitos

(Figura 10) foram guardados em 10 ml de solução KB e permaneceram nesta

solução por um período mínimo de 2 h a 4 °C antes da obtenção dos registros

eletrofisiológicos.

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Figura 10. Fotografia de cardiomiocitos de rato isolados do epicárdio do ventrículo esquerdo. Obtida

no Laboratório de Eletrofisiológia Cardíaca Antonio Paes de Carvalho, IBCCF, UFRJ.

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3.3.3. Registro da corrente transitória de saída de K+ (Ito) e da corrente de Ca2+ do tipo L (ICa-L)

Como mencionado anteriomente, as correntes foram registradas utilizando a

técnica de patch-clamp na configuração whole-cell. Uma pequena quantidade de

cardiomiócitos foi colocada em uma câmara com volume de 0,5 ml montada em um

microscópio invertido (Leica Microsystems).

Após um tempo de aproximadamente 15 min, as células se depositam no

fundo da câmara. Para registrar a corrente Ito foi utilizada uma solução externa

contendo (em mM): NaCl 86, KCl 4; CaCl2 0,5; MgCl2 1; CoCl2 2; HEPES-Na 10;

tetraetilamônio (TEA-Cl) 50; glicose 11. Para registrar as correntes ICa-L foi utilizada a

seguinte solução externa (em mM): NaCl 86, MgCl2 1; KCl 4; HEPES-Na 10; CaCl2

1,8; glicose 12; TEA-Cl 50; 4-aminopiridina (4-AP) 4. Em ambas soluções externas o

pH foi ajustado para 7,4 com NaOH.

Para obtenção dos registros foi utilizado um amplificador (Axopatch 200A),

conectado a um conversor analógico digital Digidata 1200 (Axon Instruments). As

micropipetas foram fabricadas a partir de tubos de borosilicato (Sutter Instruments®)

utilizando um esticador de pipeta vertical PP-830 (Narishige). As micropipetas

utilizadas tiveram uma resistência entre 1 e 3 MΩ. As pipetas foram preenchidas

com uma solução interna contendo (em mM) L-Asp 80; KH2PO4 10; MgSO4 1; ATP-

Na 3; EGTA-K 10; KCl 50; HEPES-K 5 O pH da solução foi ajustado para 7,2 com

KOH.

Após o contato da micropipeta com a membrana celular (Figura 11) realiza-se

um primeira pressão negativa com auxílio de uma seringa de 1 ml, com o intuito de

que a resistência entre a micropipeta e a membrana celular chegue a gigaohm. A

partir de então é aplicada uma segunda pressão negativa na célula para romper a

membrana e permitir o contato direto entre micropipeta e interior da célula, obtendo

a configuração whole-cell.

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Figura 11. Aproximação da micropipeta à membrana do cardiomiócito. O micromanipulador em que

está conectada a micropipeta apresenta movimentos rápidos e lentos, permitindo que a micropipeta

se aproxime da célula lentamente, até conseguir contato com a membrana celular. Obtida no Laboratório de Eletrofisiológia Cardíaca Antonio Paes de Carvalho, IBCCF, UFRJ.

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Uma vez realizado o patch a capacitância da membrana foi compensada

eletronicamente. Para isto era utilizado um protocolo de voltagem partindo de um

potencial de holding de -40 mV realizando pulsos de voltagem desde -50 para -60

mV. Os protocolos utilizados foram controlados usando o programa Clampex do

software pClamp 5.1 (Axon Instruments).

3.3.4. Protocolo de registro e medições da corrente Ito

Para isolar e registrar esta corrente foram utilizados bloqueadores químicos e

o protocolo de voltagem específico, como citado acima. Assim, na solução externa

foi adicionado Co2+ para bloquer as correntes de Ca2+ e TEA-Cl para bloquear

outras correntes de K+ diferentes da Ito. Ademais, foi aplicado um protocolo de pulsos

partindo de um potencial holding de -60 mV, visando inativar os canais de Na+.

A utilização de bloqueadores químicos e a estimulação elétrica adequada

isola parcialmente a Ito do restante das correntes de K+. Mas não pode se evitar a

superposição com a corrente de estado estacionário ou sustentado (Iss), que se ativa

no mesmo potencial de Ito. Entretanto, a Iss é independente de tempo e, portanto,

pode ser substraída digitalmente dos registros de Ito sem alterar suas características

(CASIS et al., 1998).

3.3.5. Amplitude da corrente Ito

Para estudar a dependência de voltagem da corrente Ito foi utilizado um

protocolo de pulsos partindo de um potencial de holding de -60 mV e pulsos

crescentes que vão desde -30 mV à +50 mV com incrementos de 10 mV com

duração de 500 ms. A amplitude da corrente Ito foi normalizada pela capacitância da

célula (veja detalhes acima) e expressa como densidade de corrente (pA/pF).

Como citado anteriormente, no protocolo de estimulação foi registrada

simultaneamente tanto a corrente Ito quando a corrente Iss. Uma das principais

diferenças é que a corrente Ito se inativa a 200 ms, enquanto que a corrente Iss é

independente do tempo e somente se inativa quando a estimulação é interrompida.

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A partir destas diferenças foi criado um protocolo de estimulação que permitiu

separá-las para uma melhor análise. Para isto utilizou-se um protocolo onde o tempo

do pulso era de 500 ms. Inicialmente as duas correntes estavam presentes,

momento no qual aparece a amplitude máxima da corrente Ito, mas no final do

estímulo a corrente Ito está completamente inativada e o que se registra é apenas a

corrente Iss. Portanto, subtraindo-se a amplitude da corrente Iss ao final do estímulo,

foi possível obter os valores de amplitude máxima para a corrente Ito.

3.3.6. Dependência de voltagem de inativação da Ito

O fenômeno de inativação da corrente Ito foi estudado em: (i) cardiomiócitos

isolados de ventrículos provenientes de animais tratados com metformina oral por 10

semanas e nos respectivos controles (solução de Kraftbühe apenas), e (ii)

cardiomiócitos isolados de animais saudáveis expostos ou não a metformina 10 mM

durante 24 h. A partir de um potencial holding de -60 mV foram aplicados pré-pulsos

crescentes desde -100 mV até +10 mV com incrementos de 5 mV e duração do

pulso de 5 s. Após os 5 s, aplicou-se um pulso de voltagem desde o pré-pulso até

+50 mV com duração do pulso de 500 ms. A dependência de voltagem de inativação

foi obtida através dos valores da amplitude da corrente pico em cada valor de

voltagem, dividida pela amplitude da corrente máxima (I/Imax). A função de

Boltzmann I/Imax = A/[1 + exp(V-Vh/S)] + R foi ajustada aos pontos experimentais em

cada ensaio individual no estudo de 10 semanas para obter valores médios da

voltagem média de inativação (Vh). Nos experimentos de exposição aguda foi

utilizada a equação I/Imax = A/[1+ exp (V-Vh/S], uma vez que não foi encontrada, na

relação corrente/voltagem (curva I/V), uma fração residual de corrente a um

potencial de pré-pulso de 0 mV (compare, nos Resultados, as Figuras 16 e 22).

Assume-se que os valores de “S” não foram modificados pelo tratamento com

metformina nos 2 grupos experimentais, em função da estreita proximidade entre os

valores de I/Imax para cada potencial de pré-pulso.

Vh é a voltagem média de inativação da corrente, onde 50% dos canais estão

inativos; S representa a inclinação e indica a dependência de voltagem da

inativação, já que quanto maior a inclinação maior a dependência; A representa a

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proporção ou amplitude relativa máxima do componente de inativação da Ito; R é a

proporção da corrente Iss que não se inativa; V é a voltagem do pré-pulso.

3.3.7. Recuperação da inativação da corrente Ito

Para avaliar a recuperação da inativação da corrente Ito foi utilizado um

protocolo de pulsos que consta de um pré-pulso inicial (p) que vai desde -60 mV até

+50 mV com duração do pulso de 100 ms. Logo um pulso teste (t) partindo de -60

mV até +50 mV com uma duração do pulso de 200 ms. Entre o pré-pulso e o pulso

teste o intervalo de tempo é crescente com incrementos de 25 ms. À medida que

aumenta o intervalo de tempo aumenta o número de canais disponíveis e, portanto,

observa-se uma maior densidade de corrente Ito.

As curvas de recuperação da inativação da corrente Ito de cardiomiócitos

saudáveis foram obtidas a partir da relação entre a amplitude do pulso teste (It) e

seu respectivo pré-pulso (Ip), graficados com respeito ao intervalo de tempo entre o

pré-pulso e o pulso teste. A equação It/Ip = A (1 - e(-t/τ)) foi ajustada aos pontos da

curva de recuperação da inativação para obter os valores da constante de tempo de

recuperação da inativação τ que indica o tempo necessário para que 63,2% dos

canais passem do estado inativo para o de repouso.

3.3.8. Protocolo de registro e medição da amplitude da corrente de Ca2+ do tipo L (ICa-L)

Para registrar e isolar a corrente de Ca2+ do tipo L foram utilizados os

bloqueadores químicos 4-AP e TEA-Cl, ambos inibidores de correntes de K+.

Protocolos de voltagem específicos foram utilizados visando eliminar a corrente de

Na+. A maioria dos canais de Ca2+ se tornam ativados ou inativados de um podo que

parece ser idéntico aos canais de Na+, mas no caso dos canais de Ca2+ do tipo L, o

mais abundante no coração, a transição parece ocorrer mais lentamente e a

potenciais mais positivos. Com o intuito de evitar que as correntes de Na+

interferissem no registro da corrente de Ca2+ do tipo L, foi aplicado um pré-pulso a -

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30 mV com duração de 30 ms partindo de um potencial de holding de -70 mV. A

partir desta condição, com os canais de Na+ inativados, foi aplicado um protocolo de

pulsos de voltagem partindo de -30 mV até +50 mV com duração do pulso de 500

ms. Os valores de corrente obtidos em cada pulso foram normalizados pela

capacitância da sua respectiva célula, obtendo assim valores de densidade de

corrente corrigidos por sua respectiva capacitancia da célula (pA/pF).

3.4. Medida dos níveis de RNAm por qRT-PCR

Os níveis de RNAm dos genes KV4.3, KV4.2 e KChIP2 do ventrículo esquerdo

foram medidos por PCR em tempo real (qRT-PCR). Os tecidos utilizados em

experimentos funcionais, previamente incubados ou não por 24 h com metformina,

foram conservados a -80 °C. O RNAm foi extraído utilizando 30 mg de tecido

utilizando RNeasy® Fibrous Tissue mini kit (Qiagen), seguindo as instruções do

fabricante. Após a extração a concentração de RNA foi determinada utilizando o

espectrofotômetro (NanoDrop 2000, Thermo Scientific). Para o ensaio de

transcriptase reversa foram processados 1000 ng de cDNA (Applied Byosistems) de

acordo com as instruções do fabricante. As reações foram realizadas num

termociclador (MJ Research) com variações de temperatura, inicialmente a 25 °C

por 10 min, 37 °C por 120 min, 85 °C por 5 min e 4 °C por 10 min.

As reações de amplificação foram realizadas em placas de 96 poços pelo

sistema de PCR em tempo real com volume final de 15 µl, contendo 2,5 µl de cDNA

diluído 10 vezes (grupos controle ou metformina 24 h), 7,5 µl de Power SYBR

Master Mix (Applied Biosystems) e 150 nM de oligos sense e anti-sense de KV4.2,

Kv4.3 e KChIP2 (ver a sequência dos oligonucleotídeos na Tabela 5), seguindo as

instruções do fabricante. O programa de amplificação teve os seguintes ciclos de

variação de temperatura: 55 ºC durante 2 min, 95 ºC durante 10 min, 40 ciclos a 95

ºC por 30 s e 58 ºC por 1 min. Os experimentos foram realizados em duplicatas. O

gene GAPDH foi utilizado como normalizador interno. A quantificação relativa de

RNAm do gene específico foi determinado pelo método de Ct (ciclo de threshold),

expresso pela fórmula 2- (∆∆Ct), onde ∆Ct se refere ao Ct do gene alvo menos o Ct do

controle endógeno (GAPDH). O ∆∆Ct do grupo metformina é definido como a

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Tabela 5. Oligonucleotídeos utilizados nas reações de qRT-PCR.

Nome do Gene Senso 5`3` Anti-senso 5`3`

KV4.2 AGCAAGTTCACCAGCATCC TCCGCTCAGAGAGCAGATAGAC

KV4.3 GCCAGCAAGTTCACAAGCAT CAGAGCAATGACCAGGACGC

KChIP2 TGTACCGAGGCTTCAAGAAC GGTTGGTGTCAAAGGCATTG

GAPDH TGATTCTACCCACGGCAAGT AGCATCACCCCATTTGATGT

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diferença entre ∆Ct do grupo tratado e a média do ∆Ct do grupo controle. A mudança

na expressão relativa dos genes alvos foi representada em média ± EPM do 2-(ΔΔCt).

3.5. Análise estatística

Para análise dos dados foram utilizados os softwares Graphpad Prism® 5

(GraphPad Prism 5) e origin® 8 (Originlab Corporation). Para comparar duas médias

os resultados foram submetidos ao teste t de Student. E para comparar mais de

duas médias os resultados foram submetidos a análise de variância (ANOVA, 2

fatores). A significância estabelecida para a análise estatística foi de P < 0,05.

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4. RESULTADOS

4.1. Efeitos do tratamento com metformina nos parâmetros biométricos e metabólicos em animais saudáveis

Neste estudo foi inicialmente avaliado se o tratamento com metformina

influencia no peso corporal de animais saudáveis. O peso corporal dos animais foi

medido uma vez por semana durante um período de 10 semanas. Observou-se

que o tratamento com metformina não modificou o peso dos animais saudáveis

quando comparados com animais não tratados com metformina, conforme mostra a

Figura 12A. Buscou-se também investigar se a utilização deste fármaco em

animais saudáveis seria capaz de causar hipertrofia cardíaca. Os animais foram

sacrificados após um período de 10 semanas e os corações foram pesados. Os

resultados mostraram que o tratamento com metformina não alterou nem o peso do

coração nem a relação peso coração/peso corporal (mg/g), parâmetro amplamente

aceito como indicador de hipertrofia cardíaca (Sen et al., 1974) (Figura 12B, C).

Um controle inicial destes experimentos foi avaliar se o tratamento com metformina

nestes animais saudáveis, não diabéticos, seria capaz de alterar os níveis de

glicose plasmática. Para isso, foram medidas as glicemias em jejum (12 h), dos

animais controles e tratados com metformina, a cada 15 dias por um período de 10

semanas. Os dados obtidos demonstraram que o tratamento com metformina não

mudou os valores de glicose plasmática em animais saudáveis, conforme mostrado

na Figura 13.

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A B

NS

NS

Controle Metformina0

1

2

3

4

5

Peso

Car

díac

o re

lativ

o (m

g/g)

C

Controle Metformina0,0

0,5

1,0

1,5

Peso

car

díac

o (g

)

NS

Controle Metformina

0 2 4 6 8 100

50

100

150

200

250

300

350

400

Peso

cor

pora

l (g)

Tempo (semanas)

NS

Figura 12. O tratamento com metformina não altera dados biométricos relacionados à massa

corporal e à massa cardíaca de animais saudáveis. Avaliação temporal do peso corporal em

animais controle (n = 11) e tratado com metformina durante 10 semanas (n = 16) (A); B e C: peso do

coração e relação peso coração/peso corporal ao final de 10 semanas, em animais controle e

tratado com metformina. Os valores foram expressos em médias ± EPM. NS: sem diferença

estatisticamente significativa. No caso da evolução da massa corporal, não houve diferenças entre

os valores ponderais correspondentes a cada uma das semanas analisadas (ANOVA, 2 fatores,

comparando os pares C e M de cada semana). Ainda, com relação à massa cardíaca, também não

houve diferença significativa entre os dois grupos experimentais após as 10 semanas (teste t de

Student).

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Figura 13. O tratamento com metformina não alterou os valores de glicemia no grupo de animais

saudáveis. Valores de glicemia (mg/dL) em jejum (12 h) no grupo (C) controle (n = 11) e tratado com

metformina (M) durante 10 semanas (n = 16). Os valores foram expressos em médias ± EPM. NS:

sem diferença estatisticamente significativa entre os valores pareados de cada semana (ANOVA, 2

fatores comparando os pares C e M de cada semana).

0 2 4 6 8 100

50

100

150

200

Glic

emia

(mg/

dL)

Tempo (semanas)

Controle Metformina

NS

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70

4.2. Implicações do tratamento com metformina no remodelamento elétrico cardíaco em animais saudáveis

Investigou-se se o fármaco administrado em um animal não diabético tem a

capacidade de induzir alterações nos diferentes parâmetros eletrocardiográficos. O

ECG foi registrado semanalmente e os parâmetros eletrocardiográficos avaliados.

São apresentados na Figura 14, traçados representativos de um ECG em um

mesmo animal saudável antes de iniciar o tratamento com metformina (Figura 14A,

C) e após 10 semanas de tratamento (Figura 14B, D). Observou-se que a

metformina é capaz de causar alterações elétricas no animal saudável 10 semanas

após tratamento, apresentando um prolongamento, tanto do intervalo PR como o

intervalo QT. A evolução temporal dos parâmetros eletrocardiográficos analisados

pode ser também observada na Figura 15. A Tabela 6 apresenta os valores (média

± EPM) dos parâmetros de eletrocardiografia analisados no tempo inicial e após 1,

4, 7 e 10 semanas.

Com o intuito de avaliar de forma mais detalhada os efeitos do fármaco na

função elétrica cardíaca de animais saudáveis, foi analisado, através da técnica de

patch-clamp na configuração de whole-cell, se a corrente transitória de saída de

potássio (Ito) e/ou a corrente de cálcio do tipo L (ICa-L) poderiam estar envolvidas no

aumento dos intervalos QT e QTc do ECG observado nos animais tratados. A

Figura 16 mostra uma redução da corrente Ito em cardiomiócitos do ventrículo

esquerdo de animais saudáveis que foram tratados com metformina durante 10

semanas, quando comparado ao grupo de animais que não receberam tratamento,

como pode ser inicialmente apreciado nos registros representativos (Figura 16A,

B). A Figura 16C mostra na curva corrente-voltagem, que avalia a densidade da Ito,

corrigida pela capacitância das células em diferentes voltagens, observando-se

diferenças significativas desde os +20 mV até +50 mV.

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71

Intervalo PR

Intervalo QT

CA

Intervalo QT

D

Intervalo PR

0.25

mV

100 ms0.25

mV

100 ms

0.25

mV

100 ms 0.25

mV

100 ms

Semana 10

B

Antes do tratamento

Semana 10

Após tratamento Após tratamento

Antes do tratamento

Figura 14. O tratamento com metformina aumenta a duração do intervalo PR e do intervalo QT.

ECGs representativos mostrando por meio de linhas pontilhadas os intervalos PR e QT de

diferentes animais, antes de iniciar tratamento (A, C) e após 10 semanas de tratamento com

metformina (B, D). Os traçados demonstram um prolongamento do intervalo PR (compare A e B) e

outro do intervalo QT (compare C e D) após 10 semanas de tratamento com metformina.

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72

F de interação = 7,46P = 0,1076

F de interação = 13,68P = 0,0024

F de interação = 4,67P = 0,3345

F de interação = 7,94P = 0,0830

F de interação = 4,37P = 0,01718

F de interação = 5,18P = 0,02114

Figura 15. O tratamento com metformina aumentou os intervalos PR, QT e QTc no ECG. Os

gráficos acima mostraram o aumento no intervalo PR na semana 10 e dos intervalos QT e QTc a

partir da semana 7 em animais tratados com metformina (n = 16), quando comparado aos animais

controles na mesma semana (n = 11). Não foram observadas diferenças nos outros parâmetros

eletrocardiográficos analisados. Os valores foram expressos em médias ± EPM. * P < 0,05 em

relação ao grupo controle na mesma semana (ANOVA, 2 fatores, comparando os pares (C e M) de

cada semana).

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73

Tabela 6. Parâmetros eletrocardiográficos analisados em diferentes tempos em animais saudáveis.

Parâmetros

ECG

Tempo (semanas)

0 1 4 7 10

RR (ms) C 144,5 ± 1,6 146,3 ± 3,8 151,8 ± 3,2 146,7 ± 5,6 140,6 ± 2,2

M 139,6 ± 3,2 144 ± 2,2 144,5 ± 2,9 144,3 ± 2,3 147,6 ± 4,1

PR (ms) C 41,8 ± 0,8 41,9 ± 0,8 42,8 ± 1,0 41,9 ± 1,0 41,7 ± 1,1

M 43,5 ± 0,6 42,2 ± 0,9 43,7 ± 1,3 44,9 ± 1,1 48,9 ± 1 *

QRS (ms) C 16,7 ± 0,7 15,8 ± 0,2 16,5 ± 0,2 16,3 ± 0,2 17,2 ± 1,8

M 16 ± 0,5 17,1 ± 0,7 17,1 ± 0,3 18,5 ± 0,7 16,3 ± 0,1

QT (ms) C 62,9 ± 0,61 63,2 ± 0,82 63,2 ± 2,05 61,9 ± 1,57 61,4 ± 1,52

M 63,5 ± 1,18 65,4 ± 1,63 67,0 ± 1,33 69,8 ± 2,01 * 70,0 ± 1,85 *

QTc (ms) C 168,7 ± 2,8 166,7 ± 3,3 162,5 ± 4,4 161,5 ± 5,3 165,7 ± 3,2

M 168,8 ± 1,6 170,5 ± 3,2 173,2 ± 2,9 177,7 ± 4,3 * 182,7 ± 3,5 *

Tpeak-Tend (ms)

C 34,4 ± 0,98 35,5 ± 1,63 34,7 ± 1,97 31,9 ± 2,22 26,6 ± 5,92

M 34, 1 ± 1,74 33,1 ± 1,55 34,9 ± 1,8 34,9 ± 2,41 34,3 ± 3,23

Os valores correspondem a médias ± EPM. * P < 0,05 quando comparado ao grupo controle na

mesma semana. C: grupo controle (n = 11); M: grupo metformina (n = 16). As diferenças

estatisticamente significativas foram também sombreadas para uma melhor visualização; ANOVA, 2

fatores, comparando os pares (C e M) de cada semana.

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100 ms10pA

/pF

ControleControle

Metformina

C

B

100 ms10pA

/pF

A

-40 -20 20 40 60

5

10

15

20

25

***De

nsid

ade

de C

orre

nte

(pA/

pF)

Potencial de Membrana (mV)

Controle Metformina

*

Controle

-60 mV

+50 mV 500 ms

-60 mV

-30 mV

Figura 16. O tratamento com metformina reduz a corrente transitória de saída de potássio (Ito). Para

registrar a corrente Ito foi utilizado um protocolo de voltagem (veja figura entre os dois traçados

representativos A e B), partindo de um potencial holding de -60 mV com pulsos crescentes de 10

mV, desde -30 mV até +50 mV, durante 500 ms. Traçado representativo da corrente Ito em

cardiomiócito de animal controle (A) e animal tratado com metformina por 10 semanas (B). C: curva

corrente-voltagem da Ito em cardiomiócitos controle (n = 5; 17 células) e tratados com metformina (n

= 5; 12 células). Os valores de amplitude da corrente foram normalizados pela capacitância de sua

respectiva célula. Os valores foram expressos em médias ± EPM; * P < 0,05, em relação ao grupo

controle na mesma voltagem (ANOVA, 2 fatores).

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75

Pelo fato da Ito estar reduzida no tratamento com metformina precisava-se

analisar se esta diminuição poderia estar sendo causada por mudanças nas

propriedades biofísicas deste canal. Para isso, foi avaliada a dependência de

voltagem da inativação em cardiomiócitos de animal controle e tratado com

metformina. Os experimentos mostrados na Figura 17 permitiram constatar que o

tratamento com metformina não altera a dependência de voltagem de inativação e

a voltagem média de inativação (Vh). Outro parâmetro biofísico analisado foi a

constante de tempo (τ) de recuperação da inativação da corrente Ito e, conforme

observado na Figura 18, não foram constatadas diferenças nesse parâmetro.

O conjunto seguinte de experimentos mostra que o tratamento com

metformina não afeta a densidade da ICa-L, a partir da análise inicial dos traçados

representativos (Figura 19A, B). A Figura 19C apresenta curva corrente-voltagem,

onde a +10 mV observa-se a amplitude máxima da ICa-L na condição controle (-4,65

± 0,85 pA/pF) e tratado com metformina (-5,11 ± 1,10 pA/pF) não existindo

diferença entre os grupos experimentais.

Após os resultados obtidos transcorridas 10 semanas de tratamento com

metformina em animais saudáveis, que mostram prolongamento dos intervalos QT

e QTc, foram realizados experimentos também utilizando animais saudáveis,

visando investigar se os efeitos da droga sobre a repolarização ventricular seriam

decorrentes de um efeito direto ou induzidos por um conjunto de respostas

fisiológicas deflagradas em resposta à longa exposição à droga. Num conjunto de

experimentos, cardiomiócitos isolados de epicardio do ventrículo esquerdo foram

expostos de forma aguda à metformina (10 mM, 30 min), avaliando a densidade da

corrente Ito, antes, durante e após a perfusão com a droga. Em outro conjunto de

experimentos, tiras (preparação multicelular) de epicardio ventricular esquerdo

foram incubadas por 24 h sem e com metformina (10 mM) avaliando o perfil do

registro do potencial de ação (PA) e das correntes iônicas Ito, uma das principais

implicadas na repolarização ventricular no coração de rato.

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Figura 17. O tratamento com metformina por 10 semanas não afeta a dependência de voltagem da

inativação da corrente Ito. A: protocolo de voltagem (esquerda) e registro representativo da corrente

após pré-pulso (direita) para estudo da corrente Ito em cardiomiócito controle. B: representação

gráfica dos valores obtidos utilizando o protocolo de dependência de voltagem da inativação da

corrente Ito em cardiomiócitos de animais controles (n = 3; 10 células) e tratados com metformina (n

= 5; 8 células). O gráfico mostra os valores de I/Imax (amplitude da corrente pico em cada valor de

voltagem, dividida pela amplitude da corrente máxima) como médias ± EPM. ANOVA, 2 fatores, foi

aplicado como teste de significância para avaliar diferenças entre os pontos experimentais (observar

em B) nas condições controle e metformina. A função de Boltzmann I/Imax = A/[1 + exp(V-Vh/S)] + R

(ver ponto 3.8.3 de Materiais e Métodos) foi ajustada aos pontos experimentais em cada

experimento individual para obter valores Vh expressos em médias ± EPM. (C) NS: sem diferença

estatisticamente significativa (P > 0,05, teste t de Student). Assume-se que os valores de “S” não

foram modificados pelo tratamento com metformina em função da estreita proximidade entre os

valores de I/Imax para cada potencial de pré-pulso.

C

-100 -80 -60 -40 -20 20

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

I/Im

ax

Potencial de Pré-Pulso (mV)

Controle Metformina

NS

B 5 s 500 ms

A+10 mV

5 s-100 mV

Pré-pulso

-60 mV

+50 mV

-60 mV

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77

0 100 200 300 400 5000,00

0,25

0,50

0,75

1,00

I t/Ip

Intervalo (ms)

Controle Metformina NS

B C

APulso

Teste (t)

200 ms

Pré-pulso

(p)

100 ms

100 ms

- 60 mV

+ 50 mV20

00 p

A

Pré-pulsoPulsos

Figura 18. O tratamento com metformina não altera a constante de tempo (τ) de recuperação da

inativação da corrente Ito em cardiomiócitos. A: representação esquemática do protocolo de pulsos

(esquerda) e registro representativo de recuperação da inativação da corrente Ito em cardiomiócito

de animal controle (direita); B: curva de recuperação da inativação da corrente Ito de cardiomiócitos

de animais controle (n = 4; 5 células) e tratados com metformina durante 10 semanas (n = 4; 9

células). Cada ponto representa a relação entre a amplitude do pulso teste (It) e seu respectivo pré-

pulso (Ip), graficados em relação ao intervalo de tempo “t” entre o pré-pulso e o pulso teste. ANOVA,

2 fatores, foi aplicado como teste de significância para avaliar os pontos experimentais nas

condições controle e metformina (em B) nos diferentes intervalos de tempo. C: a equação I/Ic = A(1-

e(-t/τ)) foi ajustada aos pontos do gráfico B para obter os valores da constante de tempo de

recuperação da inativação (τ), expressos em médias ± EPM. NS: sem diferença estatisticamente

significativa (P > 0,05, teste t de Student).

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A

B

Controle

Metformina

2,5

pA/p

F

100 ms

2,5

pA/p

F

100 ms

-40 -20 20 40 60

-7

-6

-5

-4

-3

-2

-1

1

Dens

idad

e de

Cor

rent

e (p

A/pF

)

Potencial de Membrana (mV)

Controle Metformina

NS

500 ms

-70 mV-70 mV

-30 mV

+50 mV

30 ms

C

Figura 19. O tratamento com metformina por 10 semanas não altera a densidade da ICa-L de

cardiomiócitos isolados. Para registrar a corrente ICa-L, foi utilizado um protocolo de pulsos partindo

de um potencial holding de -70 mV, com pulsos crescentes de -30 mV a +50 mV em um tempo de

500 ms, com incrementos de 10 mV (observar entre os dois traçados superiores). Para inativar

outras correntes entrantes (por exemplo INa) foi aplicado um pré-pulso despolarizante partindo de

um potencial holding de -70 mV até -30 mV, com duração de 30 ms. Traçado representativo da

corrente ICa-L de cardiomiócitos de animais (controle) (A) e tratados com metformina durante 10

semanas (B). C: relação corrente-voltagem de ICa-L de cardiomiócitos de animais controle (n = 4; 8

células) e tratados com metformina (n = 4; 8 células). Os valores de amplitude da corrente foram

normalizados pela capacitância de sua respectiva célula. Os valores foram expressos em médias ±

EPM. NS: sem diferença significativa quando se comparam valores na mesma voltagem (ANOVA, 2

fatores).

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79

4.3. Efeitos da perfusão durante 30 min ou da incubação por 24 h com metformina no remodelamento elétrico de cardiomiócitos saudáveis

O primeiro conjunto de experimentos permite avaliar se a metformina reduz

a corrente Ito por interação direta no canal. A Figura 20 apresenta registros

representativos mostrando que a exposição dos cardiomiócitos à metformina (B)

não alterou a densidade da corrente Ito quando comparado ao grupo controle (A). A

Figura 20C mostra a curva corrente-voltagem da Ito indicando que não existe

diferença entre os grupos, permitindo concluir que a redução da densidade de

corrente (observada na Figura 16) não ocorre por bloqueio direto do canal. Por fim,

a Figura 20D mostra que em nenhum intervalo entre 0 e 30 min houve diminuição

da corrente Ito. Outros experimentos mostrados adiante poderão oferecer

alternativas para explicar – ao menos em parte – este fenômeno de redução.

Passando aos experimentos com uma preparação multicelular, a Figura 21 mostra

que a incubação de tiras do epicárdio do ventrículo esquerdo com metformina por

24 h induziu o prolongamento do PA (incubado; traçado cinza no painel A) quando

comparado ao traçado correspondente obtido utilizando o ventrículo não incubado

com metformina (controle; traçado preto no painel A). Ainda, foi constatado que

este prolongamento do PA é independente da frequência de estimulação, visto que

em todas os ciclos de estimulação utilizadas no protocolo (300, 500, 800 e 1000

ms) foi observado o prolongamento do potencial de ação aos 90% da repolarização

(DPA90) (Figura 21B). Observou-se também prolongamento do potencial de ação a

30% da repolarização (DPA30) nos ciclos de estimulação de 300, 800 e 1000,

exceto em 500 ms (Figura 21C), dados também agrupados na Tabela 7. Quando

se analisa a triangulação (DPA90 - DPA30), parâmetro que representa a duração da

fase 3 do PA e cujo aumento é considerado um preditor de arritmias (Casis et al.,

2000), foi constatado um aumento nas distintas frequências de estimulação com

relação a situação controle. Ainda, na Tabela 7 apreciam-se os valores dos outros

parâmetros do registro do potencial de ação que foram avaliados nas diferentes

condições experimentais: A amplitude do potencial de ação (APA) e potencial de

repouso da membrana (PRM) que não foram modificados pela incubação com

metformina.

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80

-40 -20 20 40 60

5

10

15

20

25

Dens

idad

e de

Cor

rent

e (p

A/pF

)

Potencial de Membrana (mV)

Controle Metformina 30 min

NS

A

B

C

-60 mV

+50 mV 500 ms

-60 mV

-30 mV

100 ms

10pA

/pF

100 ms

10pA

/pF

D

0 5 10 15 20 25 300

5

10

15

20

25 Metformina 30 min

Dens

idade

de

Corre

nte

+ 50

mV

(pA/

pF)

Tempo (min)

Figura 20. A exposição por 30 min à metformina não afeta a densidade da corrente Ito de

cardiomiócitos isolados de animais saudáveis. Para registrar a corrente Ito foi utilizado um protocolo

de voltagem (observar protocolo entre os dois traçados representativos), partindo de um potencial

holding de -60 mV com pulso crescentes de 10 mV, desde -30 mV até +50 mV, durante 500 ms.

Registro representativo de corrente Ito em cardiomiócito controle (A) e após 30 min de exposição à

metformina (10 mM) (B). (C): Curva corrente-voltagem de células controle (n = 5; 11 células) e

expostas a metformina por 30 min (n = 5; 11 células). D: Amplitude de corrente registrada durante o

período de incubação com metformina (até 30 min). Os valores de amplitude da corrente foram

normalizados pela capacitância de sua respectiva célula. Os valores foram expressos em médias ±

EPM. NS: sem diferença significativa quando se comparam os valores na mesma voltagem

(ANOVA, 2 fatores).

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300 600 9000

10

20

30

**

Dur

ação

do

PA

30

(ms)

Controle Metformina 24 h

*

300 600 9000

50

100

150

Controle Metformina 24 h

* **

Dur

ação

do

PA

90

(ms)

Ciclo de estimulação (ms)

*

BA

Controle

Metformina 24 h

100 ms

C

Ciclo de estimulação (ms)

50 m

V

Figura 21. A exposição à metformina de fatias de epicardio de ventrículo esquerdo durante 24 h

prolonga a duração do potencial de ação (PA). A: traçado representativo do PA no epicardio do

ventrículo esquerdo, obtido a uma frequência de estimulação de 500 ms na condição controle

(traçado preto) e incubado por 24 h na presença de metformina (traçado cinza). Duração do PA a

90% (B) e a 30% de repolarização (C) nas frequências de estimulação de 300, 500, 800 e 1000 ms

nas condições controle (n = 4; 12 células) e incubado com metformina (10 mM durante 24 h; n = 4;

12 células). Os valores foram expressos em médias ± EPM. * P < 0,05, em relação ao controle na

respectiva frequência de estimulação (ANOVA, 2 fatores).

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Tabela 7. Parâmetros do potencial de ação (PA) registrados em fatias de tecido de epicardio

esquerdo.

Parâmetros

PA

Ciclos de estimulação (ms)

300 500 800 1000

APA (mV) C 63,21 ± 1,77 61,89 ± 2,04 62,22 ± 2,19 61,81 ± 2,14

M 62,37 ± 1,48 65,15 ± 3,49 67,11 ± 2,63 65,53 ± 3,05

PRM (mV) C -67,91 ± 2,36 -68,05 ± 2,71 -68,84 ± 2,09 -67,73 ± 1,73

M -67,53 ± 2,11 -67,45 ± 1,75 -68,58 ± 1,81 -69,32 ± 1,81

DPA30 (ms) C 15,24 ± 1,79 17,95 ± 1,31 14,43 ± 1,78 12,98 ± 1,81

M 22,33 ± 1,56 * 20,91 ± 1,66 20,86 ± 1,72 * 20,10 ± 1,55 *

DPA90 (ms) C 90,84 ± 4,39 101,77 ± 5,11 98,56 ± 4,19 104,78 ± 4,21

M 114,19 ± 4,22 * 122,27 ± 5,03 * 126,16 ± 6,06 * 124,93 ± 6,33 *

Triangulação (ms)

C 75,60 ± 4,38 83,82 ± 5,51 84,13 ± 4,51 91,83 ± 4,63

M 91,83 ± 4,38 * 101,35 ± 4,65 * 105,20 ± 5,55 * 105,70 ± 6,56 *

APA: amplitude do potencial de ação; PRM: potencial de repouso da membrana; DPA30: duração do

potencial de ação aos 30% da repolarização; DPA90: duração do potencial de ação aos 90% da

repolarização; triangulação: DPA90 - DPA30. Parâmetros registrados nas condições controle (n = 4;

12 células) e incubado 24 h com metformina 10 mM (n = 4; 12 células). * P < 0,05 comparado com o

respectivo controle na mesma frequência (ANOVA, 2 fatores). As diferenças estatísticas foram

também sombreadas para uma melhor visualização.

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Já que a diminuição da corrente de Ito não estaria relacionada a uma união

direta da metformina com o canal decidiu-se a seguir, investigar se a incubação por

24 h com a droga, tempo suficiente para induzir mudanças genômicas em

cardiomiócitos (Torres-Jacome et al., 2013; Monnerat-Cahli et al., 2014), poderia

explicar, pelo menos em parte, a menor densidade de Ito observada nos animais

tratados durante 10 semanas na Figura 16. A Figura 22 mostra como a incubação

de cardiomiócitos por 24 h com metformina induz a redução da densidade da

corrente Ito quando comparado ao grupo de cardiomiócitos não incubados

(controle) como pode ser observado já nos registros representativos (A e B). O

gráfico da Figura 22C representa a densidade da corrente a diferentes voltagens.

No pulso a +50 mV observa-se valor máximo da corrente Ito (pA/pF) em

cardiomiócitos incubados por 24 h com metformina (12,66 ± 1,16) e em

cardiomiócitos controle (20,11 ± 2,48). A diferença entre os grupos foi significativa a

partir do pulso a +30 mV. Após ter sido constatado que a incubação com

metformina reduz a densidade da Ito, parâmetros biofísicos como dependência de

voltagem da inativação e recuperação da inativação foram avaliados no intuito de

investigar se estes poderiam ser os mecanismos responsáveis por tal redução. Foi

seguido o protocolo mostrado na figura 23A (esquerda) que, após um pré-pulso de

5s permite obter registros como aquele mostrado na mesma figura. A Figura 23B

mostra que a incubação por 24 h com metformina não afetou a dependência de

voltagem da inativação. A Figura 23C confirma que não existe diferença nos

valores de voltagem média de inativação (Vh) entre os 2 grupos experimentais.

Outro parâmetro avaliado, e que poderia ter sido alterado pela incubação

com metformina, é a recuperação da inativação da corrente Ito. Se a recuperação

da inativação destes canais estiver mais lenta, é possível que estes canais não

tenham tempo suficiente para passar do estado inativo para o de repouso, e

estarem disponíveis para abrir novamente, podendo retardar a repolarização

ventricular do PA. Foi aplicado o protocolo esquematizado na Figura 24A

(esquerda) com pré-pulso e pulso separados por intervalos crescentes de tempo

para modificar a fração da população de canais que transitaram para o estado

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84

A

-40 -20 20 40 60

5

10

15

20

25

**

Dens

idad

e de

Cor

rent

e (p

A/pF

)

Potencial de Membrana (mV)

Controle Metformina 24 h

*

B

Metformina 24 h

100 ms

10pA

/pF

100 ms

10pA

/pF

C

Controle

-60 mV

+50 mV 500 ms

-60 mV

-30 mV

Figura 22. A incubação com metformina durante 24 h reduz a densidade da corrente Ito em

cardiomiócitos saudáveis. Para registrar a corrente Ito foi utilizado um protocolo (inserido entre os

traçados dos painéis A e B) partindo de um potencial holding de -60 mV com pulsos crescentes de

10 mV, desde -30 mV até +50 mV, durante 500 ms. Traçado representativo da Ito em cardiomiócito

controle (A) e incubado por 24 h com metformina (10 mM) (B). C: curva corrente-voltagem da Ito em

cardiomiócitos na situação controle (n = 4; 8 células) e incubado com metformina por 24 h (n = 5; 15

células). Os valores de corrente foram normalizados pela capacitância de suas respectivas células e

expressos em médias ± EPM. * P < 0,05 quando comparado ao controle na mesma voltagem

(ANOVA, 2 fatores).

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85

-100 -75 -50 -25

0,25

0,50

0,75

1,00

Potencial de Pré-Pulso (mV)

Controle Metformina 24 h

I/Im

ax

NS

BC

5 s 500 ms

A+10 mV

5 s-100 mV

Pré-pulso

-60 mV

+50 mV

-60 mV

Figura 23. A Incubação com metformina 10 mM por 24 h não altera a dependência de voltagem da

inativação da corrente Ito. A: protocolo de voltagem (esquerda) e registro representativo da corrente

após pré-pulso para estudo da corrente Ito em cardiomiócitos controle (direita). B: representação

gráfica dos valores obtidos utilizando o protocolo de dependência de voltagem da inativação da

corrente Ito em cardiomiócitos controle (n = 4; 6 células) e incubados com metformina 24 h (n = 3; 7

células). O gráfico mostra os valores de I/Imax (amplitude da corrente pico em cada valor de

voltagem, dividida pela amplitude da corrente máxima) como médias ± EPM. O teste estatístico

ANOVA, 2 fatores, foi aplicado como teste de significância para avaliar os pontos experimentais (em

B) nas condições controle e metformina 24 h. A função de Boltzmann I/Imax = A/[1 + exp(V-Vh/S)] (ver

ponto 3.8.3 de Materiais e Métodos) foi ajustada aos pontos experimentais em cada experimento

individual para obter valores Vh expressos em médias ± EPM (C). NS: sem diferença

estatisticamente significativa (teste t de Student). Assume-se que os valores de “S” não foram

modificados pela incubação 24 h com metformina em função da clara proximidade entre os valores

de I/Imax para cada potencial de pré-pulso.

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86

A

B C

0 100 200 300 400 5000,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

I t/Ip

Intervalo (ms)

Controle Metformina 24 h

NS

Pulso

Teste (t)

200 ms

Pré-pulso

(p)

100 ms

100 ms

- 60 mV

+ 50 mV

2000

pA

Figura 24. A Incubação por 24 h com metformina não altera a recuperação da inativação e a

constante de tempo de recuperação da inativação da corrente Ito de cardiomiócitos. A: representação

esquemática do protocolo de pulsos (esquerda) e registro representativo de recuperação da

inativação da Ito de cardiomiócito de animal controle (direita). B: curva de recuperação da inativação

da corrente Ito de cardiomiócitos de animais controle (n = 3; 6 células) e incubados com metformina

24 h (n = 4; 9 células). Cada ponto representa a relação entre a amplitude do pulso teste (It) e seu

respectivo pré-pulso (Ip) graficados com respeito ao intervalo de tempo entre o pré-pulso e o pulso

teste. O teste estatístico ANOVA, 2 fatores, foi aplicado como teste de significância para avaliar os

pontos experimentais nas condições controle e metformina (observar em B) nos diferentes

intervalos de tempo. C: a equação It/Ip = A(1-e(-t/τ)) foi ajustada aos pontos do gráfico B, para obter

os valores da constante de tempo de recuperação da inativação (τ), expressos em médias ± EPM.

NS: sem diferença estatisticamente significativa (teste t de Student).

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87

aberto. Isto foi verificado no experimento representativo mostrado no lado direito da

mesma figura. Na Figura 24B observa-se que a incubação com metformina não

afeta a recuperação da inativação da corrente Ito quando comparado com a

situação não incubado (controle) em todos os intervalos entre o pré-pulso e pulso

(variando entre 25 e 475 ms). Foi constatado, como mostrado na Figura 24C, que a

constante de tempo de recuperação da inativação (τ) que representa o tempo que

demoram 63,2% dos canais para passarem do estado inativo para o estado de

repouso não foi afetada pela incubação com metformina por 24 h.

Na Figura 25 observa-se que a incubação de cardiomiócitos com metformina

durante 24 h também não afetou a densidade da corrente de cálcio do tipo L (ICa-L)

quando comparada ao grupo não incubado (controle). Empregando o protocolo

esquematizado entre os painéis A e B desta figura foram obtidos os registos

representativos nas duas condiçoes experimentais. A Figura 25C apresenta a curva

corrente-voltagem da ICa-L a diferentes voltagens, sendo que a amplitude máxima

da corrente foi observada a +10 mV. Neste potencial, a densidade de corrente no

grupo controle foi -4,65 ± 0,85 pA/pF e 5,68 ± 0,54 pA/pF no grupo incubado 24 h

com metformina.

4.4. Expressão de RNAm que codificam para subunidades que compõem o canal Ito.

Como observado nos resultados, foi encontrada uma diminuição na corrente

Ito, mas não na ICa-L. Este achado poderia justificar, pelo menos em parte, o

prolongamento do PA quando o ventrículo foi incubado com metformina por 24 h.

Ainda, como os parâmetros biofísicos estudados na corrente Ito não apresentaram

alterações 24 h após incubação com metformina, foi formulada a hipótese de que

os estudos de expressão gênica apresentados a seguir poderiam esclarecer se a

redução na densidade da corrente Ito poderia ser decorrente de uma menor

síntese/expressão das subunidades que formam este canal. A Figura 26 mostra

que a expressão de RNAm que codificam para as subunidades KV4.2, KV4.3 e

KChIP2 não foi reduzida após incubação durante 24 h com metformina.

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88

2,5

pA/p

F

100 ms

-40 -20 20 40 60

-7

-6

-5

-4

-3

-2

-1

1

Den

sida

de d

e C

orre

nte

(pA

/pF)

Controle Metformina 24 h

Potencial de Membrana (mV)

NS

A

B

Controle

Metformina 24 h

2,5

pA/p

F

100 ms

500 ms

-70 mV-70 mV

-30 mV

+50 mV

30 ms

C

Figura 25. A incubação com metformina durante 24 h não altera a densidade da corrente ICa-L em

cardiomiócitos isolados. Para registrar a corrente ICa-L, foi utilizado um protocolo de pulsos a partir

de um potencial holding de -70 mV, com pulsos despolarizantes de -30 mV a +50 mV, com

incrementos de 10 mV com duração de 500 ms (protocolo representado entre os traçados dos

painéis A e B). Para inativar outras correntes de entrada (por exemplo INa) foi aplicado um pré-pulso

despolarizante partindo de um potencial holding de -70 mV até -30 mV, com duração de 30 ms.

Traçados representativos da corrente ICa-L em cardiomiócitos de animal controle (A) e incubados por

24 h com metformina (B). C: curva corrente-voltagem de ICa-L em cardiomiócitos controle (n = 4; 8

células) e incubados com metformina 24 h (n = 4; 5 células). Os valores de corrente foram

normalizados pela capacitância da célula. Os valores foram expressos em médias ± EPM. NS: sem

diferença significativa quando se comparam valores na mesma voltagem (ANOVA, 2 fatores).

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89

ANS

Kv 4.20,0

0,5

1,0

1,5

Exp

ress

ão re

lativ

a

Controle Metformina 24 h

Kv 4.30,0

0,5

1,0

1,5

Exp

ress

ão re

lativ

a

Controle Metformina 24 h

B

NS

KChIP20,0

0,5

1,0

1,5

Exp

ress

ão re

lativ

a

Controle Metformina 24 h C

NS

Figura 26. A incubação com metformina não altera os níveis de RNAm que codificam para

subunidades do canal Ito. Níveis de RNAm das subunidades KV4.2 (A), KV4.3 (B) e KChIP2 (C). O

gráfico de barras corresponde a médias de 5 experimentos realizados em duplicata ± EPM. Os

valores obtidos foram normalizados pelo controle interno gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase

(GAPDH). NS: sem diferença significativa quando comparado com controle (teste t de Student).

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90

Diante dos resultados obtidos, formularam-se novas hipóteses que possam

explicar redução da corrente Ito e níveis de RNAm normais. Estas novas idéias

serão abordadas com maiores detalhes durante o decorrer da discussão.

5. DISCUSSÃO

Neste estudo constatou-se que o tratamento com metformina não afetou a

evolução do peso corporal (Figura 12), resultado controle de efeito da droga no

metabolismo global e no rendimento energético em animais saudáveis que não

apresentavam obesidade. Vários trabalhos destacam que o uso da metformina é

capaz de controlar o peso corporal, tanto em animais obesos e/ou diabéticos

(ROURU et al., 1992; MATSUI et al., 2010). Ainda, um estudo clínico randomizado

realizado pelo Healthcare Research and Quality nos EUA (LeBLANC et al., 2011)

comprovou que a metformina reduz o peso corporal em adultos com sobrepeso ou

obesos quando comparado ao um efeito placebo. Uma das possíveis explicações

para redução do peso corporal em mamíferos não saudáveis pode ser resultado da

ativação da proteína quinase ativada por AMP (AMPK) pela metformina afetando,

nestas populações com anabolismo incrementado, a carga celular de adenilato.

Tendo em vista que a AMPK é expressa nas células neuronais (TURNLEY et al.,

1999) do hipotálamo, e que participa na regulação da ingestão energética e do

peso corporal, esta quinase poderia estar regulando os sinais anorexígenos no

hipotálamo em mamíferos com sobrepeso (XUE & KAHN, 2006; SIMLER et al.,

2007)

A observação de que o tratamento com metformina não causou hipoglicemia

em animais saudáveis com glicemia normal (Figura 13) se insere no mesmo quadro

de metabolismo não afetado o que não é o caso quando há combinação de

dislipidemis e hiperglicemia. Há, por exemplo, trabalhos que relatam a capacidade

deste fármaco em reduzir os níveis de hemoglobina glicosilada e melhorar o perfil

lipídico dos pacientes com hiperglicemia (BAILEY, 1999; FISMAN et al., 2004).

Costa e colaboradores (2008) descrevem que doses baixas (3,5 μg/g por dia) e

intermediárias (30 μg/g por dia) de metformina reduzem significativamente os níveis

de glicose plasmática quando comparado com ratos diabéticos sem tratamento. De

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91

forma contrastante, o mesmo estudo ressalva que apesar dos efeitos benéficos

deste fármaco, o uso da metformina em altas doses 74 μg/g por dia não diminui a

hiperglicemia e que este fato predispõe a um aumento nas doenças

cardiovasculares (BAILEY et al., 2005; AN et al., 2006).

Os dados de glicemia plasmática obtidos no presente estudo foram de

extrema importância como controle para os experimentos de eletrocardiograma

(ECG), visto que a hipoglicemia causa uma maior susceptibilidade de gerar

arritmias (CHOW et al., 2014), e isso poderia mascarar um possível efeito da

metformina no ECG.

Ao avaliarmos a atividade elétrica cardíaca através do ECG (Figura 14,

Figura 15 e Tabela 6) foi constatado que o tratamento com metformina numa dose

alta (35 mg/kg por dia) – a mesma utilizada por um paciente diabético – mostrou

um risco para aparecimento de arritmias ventriculares e uma possível

predisposição à morte súbita, observados através do prolongamento do intervalo

QT e QTc. Estes achados se tornam assim especialmente relevantes tendo em

vista que foram utilizados animais saudáveis. Prolongamentos como estes foram

observados por Costa e colaboradores (2008) utilizando uma concentração de

metformina (74 μg/g por dia), uma dose considerada alta, usada por pacientes

diabéticos. Contudo, a literatura relata que a dose administrada em um paciente

diabético varia entre 500-2500 mg por dia, equivalente a 7,14 mg/kg por dia e 35,71

mg/kg por dia respectivamente o que preliminarmente poderia levar a pensar que

haveria pouco risco de aparecimento deste remodelamento elétrico com estas

últimas doses. Se observarmos a dose utilizada por este grupo (74 μg/g por dia),

portanto 100 vezes menor quando comparada com a dose baixa (7,14 mg/kg por

dia) administrada por um diabético, as alterações no intervalo QT, QTc e QTd

constatadas em ratos diabéticos podem estar atreladas às alterações geradas pela

própria doença. Apesar disso, Costa e colaboradores atribuiram estas mudanças

no ECG a possíveis alterações nos canais de K+ dependentes de voltagem, como

também a uma hipercalcemia, uma vez que o aumento da concentração de Ca2+

diminui a velocidade de condução ventricular, encurtando o período refratário,

podendo assim causar arritmias (KIEWIET et al., 2004).

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NAJEED e colaboradores (2002) de forma contrastante ao observado por

Costa e colaboradores e no presente estudo verificaram uma redução no intervalo

QT, enquanto que o intervalo QTd permaneceu inalterado quando comparado ao

QTd dos pacientes (humanos) antes de iniciar o tratamento com metformina. Esta

redução do QT foi atribuída ao fato de que a metformina não causa bloqueio dos

canais de K+ sensíveis ao ATP, sugerindo que poderia existir uma seletividade da

droga em relação aos diferentes canais de K+ presentes em tecidos excitáveis. De

maneira interessante, há estudos demonstrando que o tratamento com metformina

aumenta a frequência cardíaca e a pressão sanguínea quando comparado à

repaglinida uma nova classe de anti-diabético oral (LUND et al., 2008), no que

poderia representar um fator adverso adicional. Por outro lado, os resultados

obtidos num estudo de Sundaresan e colaboradores (1997), comparando efeitos da

metformina e glibenclamida, apontam também para a redução do QT, como

demonstração de que os efeitos da metformina constituem uma questão em aberto

desde as últimas décadas, que ainda assim permanece. Contribuindo para ampliar

a diversidade de observações, outros trabalhos não constataram diferenças

significativas na frequência cardíaca com o uso metformina (CAMPBELL et al.,

1987; NATALI et al., 2004) e repaglinida (WOLFFENBUTTEL et al., 1993;

MARBURY et al., 1999; MADSBAD et al., 2001). O aumento da frequência

cardíaca é um fator de relevância, visto que está diretamente relacionado com o

aumento da mortalidade (THAULOW & ERIKSEN, 1991), e que a utilização de

agentes β-bloqueadores reduz o índice de mortalidade na proporção que diminuem

a frequência cardíaca (KJEKSHUS, 1986). Possivelmente, uma conjunção de

fatores como dose, comorbidades, patrimônio genético − dentre outros − podem

contribuir para este variado espectro de respostas, ainda não totalmente

compreendido. Todavia, a possibilidade clara de arritmias demonstrada na

presente tese, torna o uso da metformina em pessoas saudáveis como um fator de

risco.

Apesar do tratamento com metformina ter demonstrado claramente um

potencial arritmogênico (Figura 14 e Figura 15, Tabela 6), a quantificação de

arritmias (como extrasistoles e salvas) no ECG de animais saudáveis mostrou

eventos muito esporádicos em intervalos de dias e até semanas, o que a princípio

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poderia apontar para uma possibilidade bastante remota de ocorrência em grandes

populações que utilizem esta droga. Mas, em contrapartida, um estudo clínico no

ano de 2011, com um paciente diabético tratado com metformina, demonstrou que

este fármaco induziu a fibrilação atrial após 48 h de tratamento, e quando

interrompida a administração a atividade elétrica cardíaca normal foi reestabelecida

(BOOLANI et al., 2011). Porém, até onde chega nosso conhecimento, não há

estudos que possam confirmar esta informação referente à induçao de arritmias e

sua reversão pela suspensão do tratamento.

Os dados obtidos neste estudo constaram que a metformina causa redução

da corrente transitória de saída de potássio (Ito) (Figura 16 e Figura 22), sem alterar

os parâmetros biofísicos de dependência de voltagem da inativação (Figura 17 e

Figura 23) e recuperação da inativação (Figura 18 e Figura 24), como também as

correntes de cálcio do tipo L (Figura 19 e Figura 25). Estes resultados são

interessantes e ao mesmo tempo intrigantes se pensarmos que a corrente Ito se

mostrou reduzida em cardiomiócitos de animais saudáveis que foram submetidos

ao tratamento com metformina em uma dose alta como as utilizadas por um

paciente diabético (Figura 16). De maneira ainda não completamente

compreendida, alterações semelhantes também podem ser encontradas em

modelos animais diabéticos induzidos (CASIS et al., 2000; MEDEI et al., 2010;

TORRES-JACOME et al., 2013), o que reforça a visão que associa impacto desta

corrente com o remodelamento elétrico revelado no ECG. E, diante do fato das

propriedades biofísicas da corrente Ito e da densidade da corrente de Ca2+ tipo L

não estarem alteradas, sugerimos que a redução da densidade da corrente Ito

poderia estar associada a uma diminuição na quantidade de canais funcionais de

K+ na membrana plasmática. Estes resultados, associados aos mostrados na

Figura 26, nos levaram também a postular que a metformina pode potencializar

alterações no ECG já existente nos pacientes diabéticos, através das alterações

pós-translacionais que diminuem a quantidade de canais funcionalmente

competentes, já que a transcrição de mRNAs (pelo menos os que codificam para

subunidades de alguns destes canais) não foi alterado pela droga (Figura 26).

Os dados referentes ao ECG discutidos acima parecem confirmar que existe

um efeito na repolarização ventricular associados à exposição à metformina,

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possivelmente como consequência da diminuição da densidade da corrente Ito.

Dado que no animal inteiro temos a influencia de outros sistemas, tais como

sistema nervoso, sistema endócrino, sistema imune, dentre outros, a realização de

experimentos in vitro ajudaram a ampliar a visão sobre o efeito deste fármaco sob a

repolarização ventricular e a postular possíveis mecanismos.

Para tentar elucidar o mecanismo pelo qual ocorre a redução da corrente Ito

realizaram-se experimentos agudos (Figura 20) com metformina por 30 min. Estes

resultados sugerem fortemente que a redução da corrente Ito não ocorre por uma

união direta do fármaco ao canal que ocorreria em tempos muito curtos. Conforme

descrito previamente em alguns trabalhos (GALLEGO & CASIS, 2001; GALLEGO

et al., 2005), 15 min é tempo suficiente para a ativação dos receptores α-

adrenérgicos e consequentemente para a redução da densidade da corrente Ito

através da fosforilação do canal mediada por PKA. Ainda, foi relatado que a

perfusão aguda com imipramina por um período menor que 15 min é suficiente

para bloquear completamente a corrente Ito (CASIS & SÁNCHEZ-CHAPULA,

1998), mostrando que outras drogas hipoglicemiantes seriam capazes de deflagrar

processos muito rápidos envolvendo talvez redes de sinalização. Assim, estes

resultados agudos nos permitiram postular que a redução da corrente Ito observada

in vivo, pode estar sendo causada pela influencia de outros sistemas ou poderia

esta sendo ocasionada por um efeito do fármaco através de mecanismos que

necessitam de um tempo maior para sua manifestação, como o processamento

pós-transducional e a inserção funcionalmente competente na membrana dos

cardiomiócitos.

Os resultados de cardiomiócitos incubados durante 24 h com metformina à

10 mM mostraram que este é um tempo suficiente para que ocorra prolongamento

na duração e aumento da triangulação do potencial de ação cardíaco (Figura 21,

Tabela 7), como também redução da corrente Ito (Figura 22). Em recente trabalho,

foi mostrado que 24 h de incubação com ativadores de receptores de membrana é

tempo suficiente para modular a repolarização ventricular no PA cardíaco

(MONNERAT-CAHLI et al., 2014). Outros estudos demonstraram que em

cardiomiócitos diabéticos isolados, a incubação com fatores tróficos como insulina

ou noradrenalina por 24 h é suficiente para recuperar a densidade desta corrente

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(GALLEGO et al., 2000; TORRES-JACOME et al., 2013; SETIÉN et al., 2013),

dados que apontam fortemente para a ativação de eventos rápidos que envolvem

primeiros mensageiros chave em vias de sinalização chave em processos

metabólicos, como as vias de utilização/processamento de glicídeos e lipídeos.

Em termos de metabolismo energético, as alterações na atividade elétrica

cardíaca observada tanto in vivo como in vitro poderiam ser explicadas, pelo menos

em parte, pelo efeito exercido através metformina sobre a AMPK. Esta hipótese se

apoia nos dados obtidos por Torres-Jacome e colaboradores (2013), mostrando

que a incubação de cardiomiócitos provenientes de animais saudáveis com um

análogo do AMP (AICAR), utilizado habitualmente como ativador desta quinase, foi

capaz de reduzir a densidade da corrente Ito. Interessantemente, outros autores já

relataram que a ativação de AMPK pode gerar uma diminuição em outras correntes

iônicas que participam da gênese do potencial de ação cardíaco tais como: (i) a

corrente de Na+; (ii) a corrente IKs; (iii) a corrente retificadora retardada IK1; e (iv) a

corrente IKr (LIGHT et al., 2003; ALESUTAN et al., 2011a; ALESUTAN et al., 2011b;

ALMILAJI et al., 2013).

Como discutido acima, os resultados obtidos nesta tese pareciam

inicialmente sugerir um efeito genômico sobre corrente Ito. Foi assim proposta a

hipótese de que a metformina provocaria uma diminuição da expressão de RNAm

que codificam as subunidades α do canal de K+ que conduz a corrente Ito (PATEL &

CAMPBELL, 2005). No entanto, ao avaliar os níveis de RNAm dos genes que

codificam estas subunidades (Figura 26), observou-se que a exposição a

metformina não causou redução na expressão relativa do RNAm, portanto a

redução da corrente Ito seria devida a outros mecanismos que impactariam o

funcionamento competente dos canais responsáveis pela sua gênese.

Uma das possíveis explicações para os níveis de RNAm normais – e ao

mesmo tempo com uma densidade da corrente Ito reduzida − é que a integridade do

citoesqueleto nos cardiomiócitos possa ter sido afetada pela exposição à

metformina. Um trabalho publicado por Shimoni e colaboradores (1998), mostra

que o aumento da amplitude da corrente Ito induzidas por ativação da MAPK ocorre

devido a um aumento na síntese protéica do canal (SHIMONI et al., 1998),

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sugerindo que o oposto poderia ocorrer com a diminuição da síntese. Contudo,

este efeito entre abundância proteica e amplitude da corrente depende da

integridade do citoesqueleto, o que permitiria a translocação dos canais recém-

formados para membrana plasmática (SHIMONI et al., 1999).

Um outro ponto que se deve levar em consideração é que a expressão

funcional dos canais iônicos na membrana celular é um resultado de um equilíbrio

entre a síntese e o transporte por um lado e a internalização e a degradação por

outro. Muitas proteínas de membrana são degradadas nos lisossomos após ter

sido convenientemente marcadas com um único resíduo de ubiquitina por enzimas

ubiquitina ligases (HAGLUND et al., 2003). Dos canais iônicos ativados por

voltagem presentes no coração, o processo de degradação que provavelmente

melhor se conhece é o do canal HERG (human éter-a-go-go related gene)

responsável pela corrente IKr no ventrículo humano. Trabalhos realizados em

cultivos celulares e em cardiomiócitos neonatais de rato demonstraram que o canal

HERG é retirado da membrana plasmática mediante um processo de endocitose

dependente de caveolina-3. Esta proteína facilita a ubiquitinação do canal pela

ubiquitina ligase Nedd-4-2 gerando sua posterior degradação (GUO et al, 2011;

ALBESA et al., 2011). Diante dos resultados obtidos nesta tese, poderia ser

sugerido que a ativação da AMPK através da metformina poderia acelerar o

processo de degradação do canal pela correspondente ubiquitina ligase. Podendo

assim explicar a redução na expressão funcional do canal na membrana celular,

mesmo quando a expressão do RNAm esteja preservada. Esta hipótese está

reforçada pelo fato de que tanto os canais HERG como o canal Ito estão associados

à caveolina-3 em cardiomiócitos ventriculares de rato (ALDAY et al., 2010).

Por fim, recentes estudos vêm demonstrando o papel dos microRNAs

(miRNAs) em diferentes doenças (FIGUEIRA et al., 2014), um aspecto que merece

consideração no contexto da presente tese e de futuros direcionamentos deste

trabalho. Os miRNAs são pequenas moléculas de RNA que atuam como

reguladores de expressão de proteínas em células eucarióticas, tendo a

capacidade de impedir processos traducionais e, consequentemente, estimular a

degradação de RNAs transcritos (CAI et al., 2010; COLLINO et al., 2011). Cada

miRNA tem a capacidade de regular múltiplos genes, e uma deficiência na

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regulação destes, pode causar mudanças fisiológicas severas. Atualmente

correlaciona-se o envolvimento de miRNAs específicos com processos patológicos

na miocardiopatia diabética por meio da modulação de genes alvos e das proteínas

associadas. Destaca-se o aumento do miR-133, responsável por causar uma

redução dos canais de K+ e possivelmente pela geração de arritmias em coração

de coelho diabético (XIAO et al., 2007). Esse fato nos leva a postular que uma

possível participação de miRNAs específicos teria um papel relevante na

modulação dos canais de K+ dependentes de voltagem responsáveis por conduzir a

corrente Ito.

Apesar de inúmeros trabalhos citarem a metformina como exercendo efeitos

cardioprotetores em situações patológicas como infarto do miocárdio (CALVERT et

al., 2008), insuficiência cardíaca (GUNDERWAR et al., 2009) e hipertrofia cardíaca

(ZHANG et al., 2011), as implicações deste fármaco na atividade elétrica cardíaca

necessita de maiores esclarecimentos. Especialmente porque a metformina vem

sendo amplamente indicada para pacientes portadores de síndrome metabólica,

que não são diabéticos e que, portanto, estariam fazendo uso deste fármaco de

forma indiscriminada (ORCHARD et al., 2005).

Mas, apesar desta primeira visão negativa, diversos trabalhos vem

descrevendo que os fármacos utilizados para o controle da glicose sanguínea

podem ser um alvo importante como regulador de peso corporal (LIM & ECKEL,

2014). Um estudo publicado por Mkrtumian e colaboradores (2014) demonstraram

que o tratamento com metformina foi capaz de reduzir o peso corporal e a

circunferência abdominal em pacientes com obesidade abdominal, sugerindo que

este fármaco poderia ser introduzido na clínica para tratar e prevenir obesidade

abdominal. Corroborando com os dados anteriores, Savchenko e colaboradores

(2013) constataram que a associaçao da metformina com ramipril reduz a

obesidade abdominal em pacientes com sindrome metabólica, sendo esta

associaçao de fármacos sugerida como uma profilaxia para o desenvolvimento de

DM2 e complicaçoes cardiovasculares. Ladeira-Lopes e colaboradores (2014)

mostraram, num estudo de fase II, que o tratamento com metformina em pacientes

não-diabéticos com sindrome metabólica foi capaz de melhorar a disfunção

ventricular esquerda quando comparado apenas a uma mudança no estilo de vida.

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Estes resultados nos mostram que este fármaco poderia ser indicado para o uso

em pacientes com sindrome metabólica. Mas os resultados apresentados nesta

tese demonstraram claramente os efeitos negativos deste fármaco na função

elétrica cardíaca em corações saudáveis, o que torna seu emprego na sindrome

metabólica como controlador de peso corporal, como uma estratégia terapêutica

que requer prudência e novos estudos.

6. Conclusão

Os resultados obtidos nesta tese constataram que a metformina provocou

um aumento dos intervalos PR, QT, QTc, prolongamento na duração do PA a

30% e 90% da repolarização, aumento na triangulação do PA e redução da

corrente Ito, alertando para um grande potencial arritmogênico deste fármaco

em corações saudáveis.

O mecanismo pelo qual a metformina reduz a corrente Ito não seria

resultado de uma união direta ao canal, e nem de alterações na transcrição

das principais subunidades formadoras do canal, indicando para diversas

possibilidades de mudanças pos-traducionais, como por exemplo

fosforilações regulatórias mediadas por cinases.

Os dados obtidos abrem novas perspectivas para elucidar os mecanismos

de ação da metformina e suas implicações para a atividade elétrica cardíaca

em indivíduos saudáveis, inclusive aquelas capazes de levar à morte súbita.

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