estudo do lugar e aluno cidadão

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O ESTUDO DO LUGAR E A FORMAÇÃO DO ALUNO CIDADÃO Janete Aparecida de Lima¹ Sergio Luiz Thomaz² RESUMO: Uma educação pautada na concepção teórica Histórico-crítica não pode medir seus resultados apenas em dados numéricos de notas e porcentagens de aprovações e reprovações. Mais que isso, a observação das transformações que ocorrem no comportamento do educando e na sociedade também deveriam ser avaliadas. Analisando os resultados da educação por esse viés, teríamos que nos atentar se os objetivos da educação estão sendo efetivamente alcançados. Parece consenso acreditar que a educação está bem quando as notas e o número de reprovações e desistências são satisfatórios. Nesse sentido, o artigo discute a importância de irmos além dos números e propor metodologias que de fato colaborem para uma educação transformadora, como pretendem as Diretrizes Curriculares de Geografia para os anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio / PR. Acreditamos que o estudo do lugar do aluno, nas aulas de Geografia, prática que deve ser constante em todos os níveis de ensino, colabora para a efetivação dos objetivos da educação. PALAVRAS-CHAVE: Educação. Lugar, Metodologias, Concepção teórica. Cidadania. ABSTRACT: An education based on historical-critical theory conception cannot measure their results only in numerical data of marks and approvals and disapprovals percentages. More than that, the observation of the transformations that take place in the behavior of the student and society should be also evaluated. Analyzing the results of education on this perspective, we would look if the objectives are being effectively achieved. It seems consensus to believe that education is well when the marks and numbers of disapprovals and failures are satisfactory. The article discusses the importance of going beyond numbers and proposes methodologies that actually work for an education sector as wish the Geography Curriculum Guidelines for the final years of elementary school and the high school/PR. We believe that study of the place, in geography lessons, a practice that should be constant at levels of education, contributes to the realization of the educational. KEY-WORDS: Education. Place. Methodologies. Theory Conception. Citizenship. ¹Professora de Geografia do Ensino Fundamental e Médio da Rede Estadual de Ensino/ PR integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional/PR (PDE), sob orientação do professor Sergio Luiz Thomaz. / UEM. Hotmail: [email protected] ²Professor Dr. Sergio Luiz Thomaz. Departamento de Geografia/CCh / UEM. Av. Colombo, 5790–Zona 7 Fone (44)3261 4290. CEP 87020-900- Maringá – PR. E-mail: [email protected]

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  • O ESTUDO DO LUGAR E A FORMAO DO ALUNO CIDADO

    Janete Aparecida de LimaSergio Luiz Thomaz

    RESUMO: Uma educao pautada na concepo terica Histrico-crtica no pode medir seus resultados apenas em dados numricos de notas e porcentagens de aprovaes e reprovaes. Mais que isso, a observao das transformaes que ocorrem no comportamento do educando e na sociedade tambm deveriam ser avaliadas. Analisando os resultados da educao por esse vis, teramos que nos atentar se os objetivos da educao esto sendo efetivamente alcanados. Parece consenso acreditar que a educao est bem quando as notas e o nmero de reprovaes e desistncias so satisfatrios. Nesse sentido, o artigo discute a importncia de irmos alm dos nmeros e propor metodologias que de fato colaborem para uma educao transformadora, como pretendem as Diretrizes Curriculares de Geografia para os anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Mdio / PR. Acreditamos que o estudo do lugar do aluno, nas aulas de Geografia, prtica que deve ser constante em todos os nveis de ensino, colabora para a efetivao dos objetivos da educao. PALAVRAS-CHAVE: Educao. Lugar, Metodologias, Concepo terica. Cidadania.

    ABSTRACT: An education based on historical-critical theory conception cannot measure their results only in numerical data of marks and approvals and disapprovals percentages. More than that, the observation of the transformations that take place in the behavior of the student and society should be also evaluated. Analyzing the results of education on this perspective, we would look if the objectives are being effectively achieved. It seems consensus to believe that education is well when the marks and numbers of disapprovals and failures are satisfactory. The article discusses the importance of going beyond numbers and proposes methodologies that actually work for an education sector as wish the Geography Curriculum Guidelines for the final years of elementary school and the high school/PR. We believe that study of the place, in geography lessons, a practice that should be constant at levels of education, contributes to the realization of the educational.KEY-WORDS: Education. Place. Methodologies. Theory Conception. Citizenship.

    Professora de Geografia do Ensino Fundamental e Mdio da Rede Estadual de Ensino/ PR integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional/PR (PDE), sob orientao do professor Sergio Luiz Thomaz. / UEM. Hotmail: [email protected] Dr. Sergio Luiz Thomaz. Departamento de Geografia/CCh / UEM. Av. Colombo, 5790Zona 7 Fone (44)3261 4290. CEP 87020-900- Maring PR. E-mail: [email protected]

  • 1 - INTRODUO

    [...] temos de assumir o nosso papel no ensino e na sociedade; temos de assumir nosso espao algo um tanto bvio, para uma Cincia que tem como objeto de estudo o prprio espao...[...] no podemos deixar de ensinar Geografia! No queremos formarpequenos gegrafos, mas sim cidados que saibam utilizar o conhecimento geogrfico para compreender a evoluo do mundo emque vivem e, assim, nele assegurar a sua efetiva participao.(MORAES, 2006, p.65)

    O presente artigo, resultante do Programa de Desenvolvimento Educacional PDE

    implementado pelo governo do estado do Paran, prope uma reflexo sobre a

    necessidade da abordagem da escala local nas aulas de geografia, alm dos contedos

    existentes nos livros didticos. Essa abordagem a qual nos referimos importante que

    seja desempenhada em todas as sries do Ensino Fundamental e Mdio para que os

    objetivos da Geografia possam ser efetivamente alcanados.

    A escolha do tema reflete a angstia de muitos professores que no tem

    conseguido, responder as freqentes curiosidades que os alunos tm a respeito do

    lugar em que vivem e a dificuldade em colocar em prtica o estudo da Geografia na

    escala local. Diante dessa realidade, que bastante comum, enfatizamos que a

    confeco de um Caderno Pedaggico onde a Geografia do municpio esteja

    sistematizada.

    Se a falta de conhecimento do aluno sobre os aspectos geogrficos na escala local

    uma verdade, tambm verdade que parte dos professores de geografia o

    desconhecem. Pensamos que, com a globalizao, a geografia do lugar perdeu

    importncia, pois o mundo est dentro de casa atravs dos vrios meios de

    comunicao e, as grandes manchetes tornam-se mais importantes no contexto escolar

    do que as questes locais. Como diz CALLAI:

    Na nossa vida, muitas vezes sabemos coisas do mundo, admiramos paisagens maravilhosas, nos deslumbramos por cidades distantes, temos informaes de acontecimentos exticos ou interessantes de vrios lugares que nos impressionam, mas no sabemos o que existe e o que est acontecendo no lugar onde vivemos.

    Outro fator que contribuiu para isso que nas sries finais do Ensino Fundamental

    e Mdio os contedos, que esto organizados nos livros didticos abordam contedos

  • menos especficos, ou seja, trata de regies, de continentes, de pases e, raramente,

    estados. A grande ironia que queremos que conheam o mundo, mas esquecemos

    que desconhecem o prprio lugar. Destacamos ainda que, quando os professores

    passaram a adotar a Geografia Crtica como concepo terica, muitos deixaram de se

    ocupar com nmeros e conceitos, considerando muitas vezes como isso ser antiquado

    e afirmando que o entendimento das relaes que eram importantes para a

    Geografia. Tambm concordamos que precisamos entender as relaes. Mas no d

    para analisar as relaes existentes entre os componentes do espao sem

    primeiramente conhecer quais so esses componentes, sejam eles nmeros ou

    conceitos.

    Alm disso, lembramos que os professores que atuam nas sries finais do Ensino

    Fundamental e no Ensino Mdio no tiveram obrigatoriamente que estudar a Geografia

    do municpio onde atua e nem metodologias para isso, ou seja, se j fazem isso, foi por

    iniciativa do prprio professor na nsia de poder ter mais subsdios para suas aulas.

    A partir dessas constataes, concordamos que o resgate do estudo da escala

    local para ns crucial, se pretendemos formar alunos crticos. Em SANTOS (1999):

    Em cada sociedade, a educao deve ser concebida para atender, ao mesmo tempo, ao interesse social e ao interesse dos indivduos. da combinao desses interesses que emergem os seus princpios fundamentais e so estes que devem nortear a elaborao dos contedos do ensino, as prticas pedaggicas e a relao da escola com a comunidade e com o mundo.

    Para tratar desse tema to importante, inicialmente elucidaremos o conceito de lugar

    empregado nas DCEs (Diretrizes Curriculares de Geografia para os anos finais do

    Ensino Fundamental e para o Ensino Mdio) do estado do Paran, que, por sua vez,

    apia-se em vrios autores da vertente da Geografia Crtica. Posteriormente

    discutiremos a relao entre o estudo do lugar e a formao do aluno cidado, os

    desafios para implementao desse estudo e os contedos que devem estruturar o

    estudo da Geografia do municpio.

  • 2 - O CONCEITO DE LUGAR

    [...] A Geografia, ao proporcionar novas leituras do espao vivido cotidianamente, um poderoso instrumento para a construo da cidadania ao fortalecer a identidade atravs da valorizao do lugar e da compreenso da articulao deste com o espao global. (AIGNER, 211,p.213)

    Nossa proposta de entendimento sobre Lugar fundamentada na

    perspectiva da Geografia Crtica, adotada nas DCEs do Paran que o denomina como

    local onde os fenmenos geogrficos, fsicos ou no, acontecem. o resultado de

    polticas globais, mas que tambm tem suas especificidades, ou seja, as atividades ali

    realizadas ou o modo de organizao social a ver com o sistema econmico adotado

    em quase todos os pases, que o capitalismo. Todavia, algumas caractersticas lhes

    so peculiares e se mantm apesar do processo de globalizao. Neste artigo, vamos

    considerar, para fins pedaggicos, o municpio como a extenso territorial do lugar.

    Entendemos que seja importante para o aluno conhecer esse conceito e, a

    partir de sua sistematizao, devemos instig-los a indagar sobre como o lugar onde

    vivem foi e organizado. Deveremos torn-los capazes de procurar respostas para a

    razo da existncia das desigualdades sociais e espaciais em seu municpio e, mais

    que isso, de os capacitarem a interferirem nessa realidade.

    A partir do momento que o aluno assimila o conceito de lugar, passa a ter noo de

    pertencimento a este lugar e que tambm um dos construtores / organizadores desse

    espao, que ao mesmo tempo singular/global. Enquanto essa noo de

    pertencimento no existir, o sujeito/aluno torna-se estranho ao local e dificilmente

    contribuir para que, sendo necessrio, outra realidade seja construda. STRAFORINI

    (2004: 56) diz que a Geografia no pode e no deve permitir que os alunos saiam da

    escola reproduzindo um sistema que os sufoca.

    Ainda que o estudo do lugar seja imprescindvel, devemos nos atentar para que o

    contedo no se limite a essa escala. preciso ir alm, ou seja, estudar o nvel global,

    sem o qual no conseguiremos entender o prprio lugar. Como explicar, por exemplo,

    os diferentes bairros residenciais da cidade se ao menos compreendemos que o

    sistema capitalista impera no Globo? Ou ainda porque a cultura dominante do municpio

  • a de soja quando o consumo local desse gro nfimo? Para SANTOS (1994,

    p.321):

    A localidade no se ope globalidade, mas tambm se confunde com ela e o mundo, todavia, nosso estranho. Entretanto se, pela sua essncia, ele pode esconder-se, no pode faz-lo pela sua existncia, que se d nos lugares.

    Um aluno do Ensino Mdio, que j deve ter formado vrios conceitos geogrficos

    no Ensino Fundamental, dever estar apto a fazer sempre esse jogo de escalas e, se

    no consegue ainda, necessrio repensarmos sobre o processo de

    ensino/aprendizagem. Uma vez que o aluno no consiga relacionar a existncia de

    diferentes bairros ao sistema econmico mundial ou que o domnio da cultura da soja

    para suprir o mercado internacional, um bom indicador que algo precisa ser mudado,

    ainda mais hoje onde as questes globais interferem tanto no local. No cabe mais

    ensinar o lugar pelo lugar, j que ele no se explica sozinho. O que queremos, portanto,

    que todas as escalas sejam de fato estudadas e no que uma seja privilegiada em

    detrimento de outra. Entendemos que no existir aprendizagem efetiva se uma das

    escalas ficar em segundo plano. Um planejamento bem elaborado um dos requisitos

    para se garantir o estudo do espao geogrfico em todas as escalas.

    Estudar o espao geogrfico em nvel local fundamental para que possa haver

    maior participao do aluno na comunidade onde vive. Conhecer os aspectos

    geogrficos relevantes como os socioeconmicos e ambientais pode levar o aluno

    reflexo e busca de solues para possveis problemas que estejam acontecendo

    nesse espao. Por outro lado, a marginalizao do conhecimento por parte do aluno

    sobre o mundo mais prximo tem provocado indiferena e desestimulado aes, uma

    vez que os assuntos trazidos para sala de aula fogem do controle do aluno. Dificilmente

    os alunos buscaro solues para problemas que no estejam ao seu alcance.

    Tomemos como exemplo a poluio dos mananciais. Se o professor apenas relata

    problemas de rios que no fazem parte do seu cotidiano, no devemos esperar que os

    alunos se mobilizem para resoluo de tais problemas. Essa indiferena observada

    claramente em nosso cotidiano, onde so raros os movimentos estudantis que cobram

    polticas pblicas municipais para resoluo de problemas instalados no municpio do

  • aluno. Se isso uma realidade, a Geografia no est cumprindo totalmente os seus

    objetivos.

    Enquanto o ensino da Geografia estiver pautado na enumerao de informaes

    desconexas e distantes da realidade do aluno, no poderemos almejar a sonhada

    transformao social. SANTOS (1994, p. 321) diz:

    Atravs do entendimento desse contedo geogrfico do cotidiano poderemos, talvez, contribuir para o necessrio entendimento (e,talvez teorizao) dessa relao entre o espao e movimentos sociais, enxergando na materialidade, esse componente imprescindvel do espao geogrfico, que ao mesmo tempo, uma condio para a ao; uma estrutura de controle, um limite ao; um convite ao. Nada fazemos hoje que no seja a partir dos objetos que nos cercam.

    Devemos repensar nossa prtica pedaggica e propormos objetivos mais

    ambiciosos para cada aula, para que a educao no continue vazia e pouco

    significativa, atendendo apenas anseios particulares e no comunitrios. preciso que

    os educadores se conscientizem sobre a necessidade urgente de tornar os contedos

    mais significativos e, para isso, acreditamos que s materializando a proposta das

    DCEs do estado do Paran, que estabelece que o nvel de escala local tambm deve

    ser estudado, isso se tornar possvel. Notamos que alunos e professores esto

    habituados a essa pouca significncia dos contedos, ao menos questionam se o

    estudo da escala local poderia ser uma das alternativas para mudar o quadro

    educacional que no tem obtido resultados satisfatrios.

    Se o estudo do lugar do aluno por si s no capaz de suprir as deficincias da

    educao, tambm verdade que sem esse estudo tais deficincias no sero supridas

    por completo. Para que isso se torne realidade necessrio que se sistematize esse

    estudo e busque fontes confiveis e metodologias que alcancem os objetivos. RUA

    (2005, p. 3) diz:

    Trabalhando com base no conhecimento emprico da realidade do aluno, seguir-se ia, depois, para a teoria e, com sua ajuda, se voltaria quela realidade para reinterpret-la, agora no mais apenas com base no conhecimento emprico. Realidade - Teoria Realidade, este seria um caminho a ser seguido, a partir das observaes e das reflexes iniciais dos alunos Na teoria, buscam-se a fundamentao, o aprofundamento e a generalizao das reflexes iniciais. Volta-se ento, realidade, criticando-a e analisando-a luz da teoria, cientificizando-se os conceitos.

  • Como a Secretaria de Educao do Estado do Paran deixa claro em sua proposta

    que o ensino da Geografia deve estar pautada na corrente Histrico Crtica, onde

    ressalta como objetivos a transformao de nossa sociedade, indiscutvel que o Lugar

    do aluno faa parte do componente curricular e que os resultados sejam observados

    tambm a partir das mudanas referentes conduta do aluno em sua participao

    social. Para CAVALCANTE (1998, p.11):

    [...] o pensar geogrfico contribui para a contextualizao do prprio aluno como cidado do mundo, ao contextualizar espacialmente os fenmenos, ao conhecer o mundo em que vive, desde a escala local regional, nacional e mundial. O conhecimento geogrfico , pois, indispensvel formao de indivduos participantes da vida social medida que propicia o entendimento do espao geogrfico e do papel desse espao nas prticas sociais.

    3 - DESAFIOS SOBRE O ESTUDO DO LUGAR Estudar o lugar no to fcil quanto aparenta. Se no passado a Geografia

    estudava seus objetos separadamente e em gradao de escalas, normalmente

    partindo do local para o mundial, nesse mundo globalizado no h mais como fazer

    dessa maneira. Segundo STRAFORINI (2004, p.82):

    Na nossa viso de mundo, a realidade evoca a idia de realidade. No h como conceber o mundo linearmente, estudando as partes: casa, rua, bairro, cidade, estado, pas, continente separadamente para depois junt-los, formando assim o mundo. No atual perodo histrico, o mundo fragmentado nos sentido de que a globalizao produz espaos da globalizao, ou seja, os espaos hegemnicos e os hegemonizados, os que ditam as ordens e os que as executam. Mas o mundo no a somatria desses espaos tomados separadamente, mas sim uma totalidade, ou seja, esses espaos s fazem sentido no conjunto da totalidade.

    Nesse sentido, as DCEs do estado do Paran so claras quanto a necessidade de

    estudar os contedos de Geografia nas sries do Ensino Fundamental e Mdio desde a

    escala global local. Porm, sabemos que nem todos o professores conhecem essa

    exigncia e mesmo os que conhecem tratam de forma muito aligeirada e ainda sem

    estabelecer relaes entre as diversas escalas espaciais, inviabilizando um ensino de

    qualidade.

  • A seguir enumeramos vrios fatores que tm prejudicado a materializao do

    estudo do Lugar:

    Desconhecimento das DCEs; Falta de material pedaggico de qualidade e fontes de pesquisa

    referentes Geografia do Municpio;

    Diante dessas premissas vamos discutir, a seguir, sobre cada um desses itens.

    3.1 - AS DIRETRIZES CURRICULARES DO ESTADO DO PARAR

    Se as Diretrizes Curriculares devem nortear o trabalho do professor, a partir delas

    que devemos construir nosso Plano de Trabalho, elegendo os contedos,

    estabelecendo mtodos, metodologias e objetivos. Sem essas Diretrizes, cada

    professor ficaria livre para desenvolver seu trabalho segundo seus critrios e objetivos

    que poderiam coincidir ou no com os da educao paranaense. Portanto, conhec-las

    indispensvel ao processo pedaggico. Sem elas, as aulas de Geografia poderiam

    tambm perder o objetivo. CAVALCANTE (1998, p. 25) tambm ressalta a necessidade

    de se estabelecer objetivos, contedos e mtodos de ensino quando diz:

    [...] o ensino um processo de conhecimento pelo aluno, mediado pelo professor e pela matria de ensino, no qual devem estar articulados seus componentes fundamentais: objetivos, contedos e mtodos de ensino. Nesse sentido, os objetivos sciopolticos e pedaggicos gerais do ensino e os objetivos especficos da Geografia escolar que orientam a seleo e organizao de contedos para uma situao de ensino. No entanto, o uso de um mtodo de ensino adequado que pode viabilizar os resultados almejados.

    STRAFORINI (2004, p.51) tambm revela sua preocupao em relao essa questo:

    [...] faz-se necessrio questionarmos os seu papel nas escolas, pois sem uma clara definio desse papel no podemos escolher uma corrente terico-metodolgica que d sustentao para a nossa viso de mundo, evitando, dessa forma, o risco de ensinarmos uma Geografia Tradicional escamoteada por fragmentos de vrias linhas e correntes terico-metodolgicas, ou seja, uma verdadeira colcha de retalhos, porm, sem o encanto da simplicidade e o colorido, mas sim confusa e tnue..

  • Entendemos que estudar os vrios nveis de escala significa, estudar o Globo, os

    continentes, o pas, a regio, o estado, o municpio e at o bairro. Assim tanto no

    Ensino Fundamental, como no Mdio, estudar o bairro ou o municpio to necessrio

    quanto o pas ou o continente. No podemos mais deixar isso passar desapercebido ou

    esperar que os alunos cobrem o estudo nesta escala, at porque elas so

    indissociveis. Segundo STRAFORINI (2004, p.93):

    O mundo de hoje globalizado e todas as dimenses espaciais, sejam elas o bairro ou o pas, o local ou o global, se encontram numa ntima relao de proximidade. [...] Na verdade, no o ponto de partida o bairro ou o mundo o que significativo, mas sim o estabelecimento das relaes entre esses. Alm disso, fundamental o local seja estudado, uma vez que, d ferramentas aos nossos educandos para que possam entender com maior facilidade os fenmenos geogrficos que os cercam.

    Ainda para CERBATO: O conhecimento geogrfico poder formar cidados cada vez mais

    crtico e politizados. Para que isso ocorra, preciso que conheam o espao que estabelecem suas relaes cotidianas.

    (2008, pg.63)

    Alm das questes pontuadas acima sabemos que a discusso desse tema ainda

    recente e no h ainda disseminado metodologias sistematizadas para que os

    professores possam se orientar. Poucos so os livros de Geografia do Ensino Mdio

    que disponibilizam atividades relacionadas ao estudo do municpio, como tambm

    pequeno o nmero de livros que tratam especificamente desse assunto. A elaborao e

    a distribuio de cadernos com atividades para estudo do municpio tambm uma

    ferramenta que pode ser eficaz para democratizar as metodologias.

    A carncia de metodologias sistematizadas promove rupturas no trabalho do

    professor. O planejamento consistente de como vai ser trabalhado cada contedo em

    nvel municipal, organiza o trabalho do professor e contribui para que uma mesma

    atividade seja no realizada vrias vezes pelos mesmos alunos (sem intencionalidade),

    enquanto outra fique sem ser realizada. No podemos trabalhar na improvisao. O

    improviso no garante que uma atividade que foi realizada com sucesso num

  • determinado ano letivo seja novamente realizada nos anos posteriores, principalmente,

    porque h uma rotatividade bastante grande dos professores. Portanto urgente que

    se trabalhe em prol da construo desses cadernos ou da incluso de atividades nos

    livros didticos.

    No queremos aqui transparecer que os professores sejam incapazes de construir

    suas prprias metodologias, no isso. O que queremos que tais metodologias

    estejam sistematizadas no Plano de Trabalho do professor. imprescindvel que os

    professores consigam, antes do incio das aulas, estabelecer quais atividades sero

    realizadas em cada srie, de modo a garantir que o aluno, quando chegar no ltimo ano

    do Ensino Mdio, tenha um conhecimento amplo do seu municpio.

    Quais metodologias so viveis para o estudo do municpio?

    Quanto a esse questionamento, podemos responder que so muitas e variadas e que

    sero eleitas conforme critrio do professor. Por isso que o planejamento prvio to

    importante. evidente que possa haver necessidade de mudanas no decorrer do ano,

    mas isso tambm deve de certo modo ser previsto. A seguir vamos apresentar

    algumas metodologias que podero ser aplicadas ao estudo do municpio:

    3.1.1 - Aulas de campo: como o estudo do municpio enfoca espao prximo do aluno,

    a sada a campo se torna bastante vivel. Tomamos como exemplo uma sada em torno

    do quarteiro da escola para reconhecer as espcies de rvores existentes nesse

    espao. Tambm pode ser observada a conservao das caladas, se existe lixo

    jogado, qual a funo principal do bairro (residencial ou comercial), enfim,

    dependendo do contedo que o professor estiver trabalhando, ele vai orientar seus

    alunos a observarem e depois faz se discusso em sala de aula sobre o assunto

    estudado. Segundo CERBATO (pg. 63):

    [...] o trabalho de campo funciona como um instrumento de verificao e apreenso da realidade, bem como um registro de mudanas nas paisagens, sendo, portanto um recurso de anlise da realidade espacial em escala local e regional.

    Sendo a escola um lugar para aprender cientificamente a Geografia, devemos

    cuidar para que a aula no seja um simples passeio. A sada dos alunos da sala de

    aula deve ter objetivos claros. A anlise do contedo da paisagem deve ser explicada

  • agora sob o ponto de vista cientfico e no mais pelo senso comum. No interessa

    tambm a simples enumerao de fatos observados. Ns professores de Geografia

    temos que ser capazes de fazer uma leitura das inter-relaes desses fatos e incitar

    para que os alunos faam o mesmo diante de qualquer paisagem.

    3.1.2 - Confeco de maquetes: alm de ser uma atividade muito til na disciplina de

    Geografia, em geral os alunos participam bastante. Atravs da maquete o aluno tem

    uma viso tridimensional de aspectos importantes da Geografia, que seria muito

    trabalhoso e menos prazeroso se o aluno tivesse que utilizar somente a forma plana.

    Na representao do relevo e de bacias hidrogrficas o uso de maquete

    primordial. O aluno ser capaz de perceber onde esto as reas de maior risco de

    eroso ou de enchentes e tomar conscincia de que algumas reas, em funo da

    inclinao do terreno, por exemplo, so imprprias para construes habitacionais ou

    para a prtica da agricultura.

    3.1.3 Entrevistas: por ser de fcil aplicao e resultados formidveis, a entrevista se

    torna uma excelente opo para o estudo do municpio. Por exemplo, se o contedo

    que est sendo trabalhado no momento espao cultural, pode-se entrevistar

    moradores mais antigos da cidade para que descrevam as transformaes que o

    espao do municpio vem passando. Se for agricultura, tambm pode ser perguntado

    sobre as diferenas entre as tcnicas de cultivo do passado e as atuais. So poucos os

    contedos da Geografia do municpio que no podem ser estudadas por meio de

    entrevistas. Muitas vezes a entrevista pode ser substituda por uma palestra, pois ao

    invs dos alunos irem at o entrevistado, o entrevistado que vem at o aluno.

    3.1.4 - Trabalho com mapas e cartas: a utilizao de mapas e cartas constituem

    ferramentas indispensveis nas aulas de geografia. a partir dessas ferramentas que o

    aluno poder se localizar espacialmente. Sem a utilizao deles, parte do processo

    educativo ficar comprometido. Ao ensinar limites do municpio, se o aluno no tem um

    mapa ao seu alcance, impossvel que ela venha compreender esse contedo.

  • Tambm no poder ter outras noes como a zona de iluminao onde se encontram,

    proximidade ou distanciamento do mar e a influncia deste no clima local. importante

    que o professor disponibilize vrios mapas de vrias escalas e vrios temas. Ser

    atravs deles que podero situar os fenmenos geogrficos e entender, por exemplo,

    por que os rios do municpio correm para o Norte e no para outra direo.

    Ainda sobre esse tema, orientamos para que os professores se habituem a

    apresentar mapas ou cartas no sentido horizontal, podendo ser no cho e se for de

    tamanho reduzido, na carteira mesmo. Temos observado que os alunos apresentam

    muita dificuldade para se orientarem espacialmente e, um dos meios para superar essa

    dificuldade a disposio dos mapas na horizontal e orientados corretamente (Norte do

    mapa para o Norte da Terra).

    Uma atividade simples, mas de grande valia, colocar o mapa no cho do ptio da

    escola (orientado corretamente o mapa) e, a partir dele mostrar aos alunos as direes

    na cidade ou no municpio. Podemos explorar a direo de alguns pontos de referncia

    da cidade (igreja, hospital...), os limites dos municpios, at a direo da residncia de

    cada aluno.

    Quando esta atividade no realizada, o aluno provavelmente ter a noo de que

    Sul para baixo e Norte para cima e que as direes mudam se voc virar o mapa, o

    que consideremos como um dos grandes pecados da Geografia.

    3.1.5 - Pesquisa em cartrios e igrejas: essas duas instituies so fontes valiosssimas

    de informaes. Por esse meio podemos pesquisar dados demogrficos de vrios

    temas, como origem dos habitantes do municpio, taxas de natalidade e mortalidade,

    entre outros. Tambm, atravs dos registros de imveis, podemos conhecer a realidade

    agrria daquele municpio, se houve concentrao de terras, por exemplo.

    3.2 AUSNCIA DE MATERIAL DIDTICO ADEQUADO REFERENTE GEOGRAFIA

    DO MUNICPIO

    Os livros de Geografia do Ensino Fundamental (5 a 8 srie) abordam a geografia

    geral, continentes, pases e regies. Em alguns casos chegam at o nvel estadual. O

  • gargalo sobre o estudo da escala municipal est justamente a. O estudo do municpio

    no contemplado mais, a no ser em algumas sugestes de atividades no final de

    cada captulo. Sabemos que os livros, que so distribudos em nvel nacional, no

    teriam como contemplar os mais de cinco mil municpios existentes no Brasil, no

    entanto, concordamos com a necessidade de se acrescer obrigatoriamente um captulo

    com metodologias objetivando o estudo do municpio do aluno, cabendo ao professor

    viabilizar esse estudo, dando apoio bibliogrfico e metodolgico para seus alunos.

    A falta de fontes de informao adequadas pode dificultar o estudo prtico, uma

    vez que nem todos os municpios constam de material didtico sistematizado, todavia,

    o uso da Internet pode contribuir extraordinariamente para que essa lacuna seja

    preenchida, uma vez que contamos com vrios sites oficiais, como o IBGE (Instituto

    Brasileiro de Geografia e Estatstica), Ipeadata (site que disponibiliza os dados do Ipea

    Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada), Inep ( Instituto Nacional de Pesquisas

    Educacionais Ansio Teixeira), Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento

    Econmico e Social ) e CNM (Confederao Nacional dos Municpios) que trazem

    informaes minuciosas sobre cada municpio brasileiro, destacando desde aspectos

    ambientais at os socioeconmicos.

    A utilizao da Internet imprescindvel para a coleta de dados dos mais variados

    temas e pocas. Para tanto, as escolas precisam dispor dessa ferramenta, onde

    professores e alunos podero ter acesso aos inmeros sites oficiais que disponibilizam

    as informaes. No caso da Internet ser de alcance somente dos professores, este

    dever buscar com antecedncia o contedo de interesse e repassar posteriormente

    aos alunos. A prtica contnua de busca de dados/informaes oficiais permite

    atualizao de contedos e comprovao ou negao de fatos observados, por

    exemplo, no podemos dentro da instituio escolar trabalhar com o eu acho que a

    rea de cultivo de cana-de-acar aumentou. Isso no cabe escola. Devemos,

    portanto, atravs da coleta dos dados, como os do IBGE, dizer o que realmente

    aconteceu. O professor de geografia, mais do que de outras reas, tem que ser

    obrigatoriamente um pesquisador e se atualizar constantemente, uma vez que utiliza

    muitos conceitos e dados numricos que se alteram com freqncia. No podemos

    aceitar mais, diante de tantos meios de informao, professores trabalhando ano aps

  • anos com os mesmos conceitos e nmeros (a menos que no tenham mudado) e muito

    menos com suposies. Tambm cremos que essa busca torne-se hbito tanto de

    educadores como de educandos e a partir do momento em que ambos se familiarizem

    com os sites, as pesquisas ficam mais fceis e rpidas.

    Diante das informaes obtidas interessante sistematiz-las. Isso demanda

    tempo e organizao, mas indispensvel para que o ensino saia da abstrao e do

    senso comum tornando-se realmente significativo e com base cientfica. Tambm

    oportuno dizer que os dados estatsticos coletados nos diversos rgos devem ser

    analisados contextualizando-os, pois os dados por si s se tornam simples nmeros.

    Lembramos que o referencial terico aqui utilizado no o da Geografia Quantitativa e

    sim da Crtica.

    A oferta de cursos direcionados aos professores do Ensino Fundamental e Mdio

    abordando metodologias que ressaltem a importncia do estudo do municpio uma

    das aes que pode colaborar bastante para instrumentaliz-los essa prtica.

    Outro canal, embora mais burocrtico, para se buscar informaes municipais,

    atravs das secretarias da Prefeitura Municipal, tais como as da Educao, Sade e

    Meio Ambiente. Ocorre que nem sempre os funcionrios desses rgos esto

    disponveis para nos atender, s vezes por falta de tempo, outras vezes, at por medo

    de revelar alguns dados sobre o municpio que at ento se mantinham velados.

    4 - OS CONTEDOS ESTRUTURANTES NO ESTUDO DA GEOGRAFIA DO

    MUNICPIO

    As Diretrizes Curriculares de Geografia para os anos finais do Ensino Fundamental

    e para o Ensino Mdio apontam quatro contedos estruturantes que vo nortear o

    planejamento do professor em cada srie trabalhada. Esses contedos, segundo as

    Diretrizes so:

    os conhecimentos de grande amplitude que identificam e organizam os campos de estudos de uma disciplina escolar, considerados fundamentais para a compreenso de seu objeto de estudo e ensino, So neste caso, dimenses geogrficas da realidade a partir das quais os contedos especficos devem ser trabalhados (DCEs, 2008).

  • Nessas Diretrizes Curriculares, os contedos estruturantes so analisados em

    quatro dimenses de mbito geogrfico, a saber: Econmica, Poltica,

    Socioambiental e Demogrfica e Cultural. Portanto, o professor de Geografia estar

    menos propenso de tratar de contedos que fujam completamente do objeto da

    disciplina, que o Espao Geogrfico, pois muitas vezes, partimos para caminhos que

    particular da Filosofia ou da Sociologia e deixamos de fazer a abordagem geogrfica.

    Sendo assim, ao selecionar os contedos especficos, o professor ter que estar

    habilitado para desenvolver os contedos estruturantes em cada um dos contedos

    especficos, por exemplo, ao selecionar o contedo gua, o professor viabiliza a

    abordagem econmica, poltica, socioambiental, demogrfica e cultural. Esse

    mecanismo deve ser uma regra para todos os contedos especficos.

    Abordaremos aqui como cada contedo estruturante poder ser estudado na

    escala municipal:

    4.1 - Dimenso Econmica: nessa dimenso devemos enfatizar como a sociedade se

    apropria do meio natural, possibilitando ao aluno a compreenso scio-histrica das

    relaes de produo capitalista e como ela se manifesta no espao geogrfico. Nesse

    mbito o aluno ter que se conscientizar que tambm um agente da construo desse

    espao. Portanto, cabe a Geografia subsidi-los para que interfiram de modo

    consciente na realidade.

    Na escala municipal essa dimenso tem um leque bastante grande a ser estudado

    uma vez que numa sociedade capitalista, como a nossa, o econmico comanda

    quase que exclusivamente na organizao espacial, ou seja, a maneira como o espao

    est organizado resultado, em grande parte, do sistema econmico que impera.

    Sendo assim, preciso que no Plano de Trabalho Docente o estudo da dimenso

    econmica esteja sistematizado, ou seja, que o professor estabelea como executar

    essa tarefa, quais atividades sero realizadas e como sero realizadas, a fim de que no

    final de determinado contedo, o aluno consiga explicar como seu espao foi

    construdo, quais interesses levaram a organiz-lo de tal maneira e ainda ser capaz de

    propor uma nova organizao desse espao, uma vez que no acabado. Portanto,

    alguns pontos que podem ser estudados aqui so: as atividades econmicas do

    municpio, a renda per capita, as diferenas entre bairros e o ndice de gini.

  • Salientamos que o professor dever fazer com que o aluno entenda como o modelo

    econmico adotado interferiu na organizao espacial do seu municpio. comum que

    alunos de sries finais do Ensino Fundamental no consigam distinguir ao menos qual

    sistema econmico adotamos. Se isso ocorre, no adianta o professor falar em

    organizao espacial no modelo capitalista antes que ele entenda como esse sistema

    funciona. necessrio ento que ns professores estejamos sempre investigando

    quais conceitos os alunos j conhecem. O entendimento dos conceitos estudados no

    contedo um pr-requisito imprescindvel. Exemplificamos: quando o professor for

    trabalhar o tema agropecuria, dever partir no imediatamente das atividades

    realizadas no municpio, mas sim o que significa agropecuria e quais so o tipos de

    agropecuria ou, se o contedo indstria, o aluno ter que conhecer primeiramente os

    conceitos acerca dessa atividade, tais como, indstria de base, de bens de

    equipamentos e de bens de consumo.

    Outra questo que devemos lembrar que quase todos os contedos trazem em si

    os quatro temas estruturantes, citados anteriormente. Diante, por exemplo, do tema

    gua, o professor poder explorar na dimenso econmica o crescimento do mercado

    da gua, se no municpio a gua foi privatizada, o valor de cada litro de gua e qual

    empresa responsvel pelo tratamento e distribuio. Na dimenso socioambiental

    poder estudar poluio da gua no municpio, se existe estao de tratamento de

    esgoto e quais rios recebem a gua tratada. Na dimenso demogrfica e cultural

    poder pesquisar se existem pessoas sem acesso a gua potvel, se existe poltica que

    orienta a utilizao da gua, quais os usos da gua, etc.

    4.2 - Dimenso poltica: essa dimenso engloba os interesses relativos aos territrios e

    s relaes de poder, econmicas e sociais que os envolvem. O professor dever

    possibilitar ao aluno o entendimento sobre as foras que regem a organizao do

    espao, ou seja, quem tem o poder de deciso para organizar o espao. Sabemos que

    nem sempre o poder pblico municipal capaz de decidir sobre como seu espao

    dever ser organizado, uma vez que poderes de outras esferas podem decidir sobre

    eles. Alm disso, uma grande empresa, por exemplo, pode ter mais poder sobre

    determinado municpio do que o prprio poder municipal representado pela prefeitura.

  • Essas empresas acabam por vezes decidindo sobre quais so as aes que o prefeito

    dever tomar.

    Consideramos muito importante que o aluno compreenda nessa dimenso que a

    sociedade da qual ele faz parte tambm est representada pelo poder pblico que est

    a servio dessa sociedade e no o contrrio. Ao conhecer seu espao atravs de um

    estudo cientfico proporcionado nas aulas de Geografia, o aluno tende a manifestar

    sobre seus anseios em relao ao seu municpio. SEVERINO (1994, p.71) diz que:

    Ocorre uma pulsao entre o jogo de fora que constituem a sociedade e o jogo de foras que se concretizam a educao, de tal modo que, de um lado, a forma desta se organizar reflete e reproduz integralmente a forma de estruturao da sociedade; mas de outro lado, o processo de atuao especificamente educacional pode ter efeitos desestruturadores sobre a sociedade, sendo ento fator de mudana social.

    Portanto, as atividades realizadas para o estudo dos contedos nessa dimenso

    tm como funo dar ao aluno a idia de pertencimento, de sujeito da organizao

    espacial. O estudo do Plano Diretor do municpio deve ser contemplado nessa

    dimenso.

    4.3 - Dimenso socioambiental: uma vez que consideramos como objeto de estudo da

    Geografia o espao geogrfico, que o espao produzido pela sociedade, fica evidente

    que na dimenso socioambiental deve se levar o aluno compreender o processo de

    transformao que essa sociedade provocou no ambiente natural. No entanto, somente

    compreenso no basta, preciso ousar mais e fazer o aluno reconhecer que ele ator

    tambm dessa sociedade e como tal deve entender os mecanismos da natureza,

    entender como ela funciona para a partir da, quando necessrio, intervir nela. Isso

    pode garantir que antes mesmo de agir sobre essa natureza, j se tenha previso dos

    danos ambientais conseqentes.

    Embora seja evidente que os alunos estejam mais conscientes dos danos

    ambientais provocados pela sociedade, percebemos tambm que se consideram

    isentos dessa sociedade que destri. Precisamos aplicar, portanto atividades que os

    levem a refletir sobre suas atitudes e quais poderiam ser mudadas em prol do ambiente.

    preciso ainda que entendam que a busca insacivel pelo lucro, que quase sempre se

    concentra em poucas mos, no pode legitimar desastres ambientais que atingiro toda

  • a sociedade. A busca por informaes sobre o meio ambiente (mananciais, destino do

    lixo, mata ciliar etc.) no municpio, via poder pblico municipal (Secretaria do Meio

    Ambiente) pode ser um caminho para fazer com que os alunos conheam a realidade

    prxima e que possam propor e cobrar solues para os possveis problemas

    existentes.

    4.3 - Dimenso cultural e demogrfica: nessa dimenso deve permitir a anlise do

    espao geogrfico sob a tica das relaes sociais e culturais, bem como da

    constituio, distribuio e mobilidade demogrfica. Na escala local podemos analisar

    vrios aspectos como o movimento pendular da populao, a composio tnica, os

    ndices demogrficos, as marcas culturais reconhecidas na organizao do espao e as

    transformaes que a cultura local vem passando com o processo de massificao.

    Essa dimenso fundamental para que o aluno se identifique na sociedade, se

    reconhea e descubra que as diferentes culturas produziram espaos geogrficos

    diferentes, que muitas vezes so singulares. A observao e anlise do espao

    geogrfico capaz de revelar ao aluno muitos aspectos culturais de seu municpio,

    como por exemplo, se h grande quantidade de igrejas/capelas catlicas denuncia que

    ali existem muitos fiis dessa religio. Podemos avanar nesta dimenso analisando os

    ndices demogrficos e ao contrastar com outros municpios ou com os do Brasil, ou de

    pases desenvolvidos podero reconhecer se esses ndices so bons ou no e

    discutirem as polticas pblicas necessrias para melhorar os ndices quando se

    apresentarem insatisfatrios.

    Em municpios de formao recente, a pesquisa sobre a origem dos imigrantes que

    o formou e os motivos que os trouxeram se torna uma ferramenta importante para

    explicar as migraes nas outras escalas. Ainda, analisando a organizao do espao

    geogrfico, os alunos devero ser capazes de reconhecerem como a sociedade est

    organizada. importante que os alunos entendam que as diferentes caractersticas do

    espao geogrfico tambm fruto das diferentes culturas e que cada vez mais h uma

    homogeneizao da paisagem criada pela massificao da cultura.

  • 5 - CONCLUSO

    A postura crtica no aquela que destri o que existe, mas aquela que supera, abrindo a perspectiva de se discutir a realizao concreta da histria. [...] assim, os alunos devem assumir um papel ativo no seu processo de formao, pois mais do que habilitar tcnicos, devemos formar uma massa crtica para influir sobre a realidade com uma perspectiva de mudana. Cabe ao professor incentivar o aluno nessa direo.(CARLOS, 2008 p. 98)

    Aps quase dois anos pesquisando sobre o estudo do lugar nas aulas de

    Geografia, observamos uma grande deficincia desse estudo. No raro alunos no

    conseguirem caracterizar aspectos simples da Geografia do Lugar onde vivem. A

    escola parece ainda privilegiar a transmisso do contedo apenas e est perdendo de

    vista os objetivos dela. Muitos professores se sentem tranqilos quando d conta de

    todo o contedo do livro, importando pouco se tais contedos foram significativos. Se a

    escola assume como concepo terica da Geografia Crtica, no mnimo, seus alunos

    deveriam conseguir fazer uma leitura geogrfica do seu espao de vivncia, ou seja,

    que fossem capaz, em Geografia, de citar os elementos que compe esse espao e

    como eles se relacionam. inconcebvel que ao estudar sobre formas de relevo ou

    biomas os alunos no sejam capazes de distinguir quais dos aspectos se manifestam

    no seu espao. Compartilhamos da idia de que se no consegue fazer isso porque

    no aprendeu o contedo. Da mesma maneira um aluno que aprendeu sobre zonas de

    iluminao deve conseguir explicar as caractersticas do clima do seu lugar (quando

    esse o fator principal).

    Partimos do pressuposto que se os professores desde as sries iniciais

    estimulassem seus alunos a observarem a paisagem que os cerca, alm de instigarem

    a explicar porque ele assim (claro que considerando o nvel intelectual de cada fase

    do aluno), ao findar o Ensino Mdio, esses alunos teriam muito menos dificuldades em

    compreender a organizao espacial em outros nveis de escala.

    Tambm acreditamos que, se a escola objetiva que os alunos, a partir do

    conhecimento cientfico, possam transformar a realidade atual em uma outra melhor,

    no h como isso ocorrer de fato se desconhecerem as deformidades de seu prprio

    espao. A noo de pertencimento ou estranhamento, que vai orientar os alunos a uma

  • ao ou a simples aceitao da realidade, est relacionada ao conhecimento da

    geografia do lugar do aluno.

    Percebemos que a participao dos alunos nas discusses em sala de aula acerca

    dos contedos so muito mais acaloradas quando tratamos de questes locais e no

    das que parecem mais distantes, pois quando se trata do seu lugar, sentem que podem

    comandar a organizao do espao conforme anseiam. A atitude desses alunos

    diferente quando o contedo no tratado em nvel local, onde mais ouvem do que

    discutem, afinal, propor o que para questes to distantes?

    urgente que, se desejamos uma sociedade melhor do que a que temos, as aulas

    de Geografia devem indiscutivelmente assumir o estudo do Lugar do aluno dentro da

    proposta da Geografia Crtica. Enquanto isso no acontece, ela continuar livresca,

    conteudista e incapaz de cumprir com seus objetivos.

    6 REFERNCIAS

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    CERBATO, F., Para fora da classe!. Discutindo Geografia. Pg. 62 -63. Escala Editorial, ano 4, n 20 , So Paulo

    MORAES, P.R., Ensinar geografia no podemos perder o bonde da histria: Discutindo Geografia. Pgs 64-65. Escala Editorial, ano 2, n 11. So Paulo.

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