estudo dirigido - resumo lynch e branding

Upload: jessyca-medeiros

Post on 01-Mar-2016

218 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Resumo dos textos de Lynch e Branding sobre as Reformas Bourbônicas e sua repercussão na América Espanhola.

TRANSCRIPT

Estudo DirigidoTerceiro Resumo

UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDACurso: Histria LicenciaturaDisciplina: Histria das Amricas IAluno(a): Jessyca Felippe de Almeida Medeiros

Professora Vernica PiresRio de Janeiro2015.1Lynch inicia colocando que, em fins do sculo XVIII, aps trs sculos de domnio imperial, a Amrica espanhola ainda encontrava em sua ptria-me um reflexo de si mesma. Entretanto, as duas economias diferiam em uma questo importantssima, j que as colnias produziam metais preciosos e a metrpole no. Frente situao, o Lynch coloca que esse um caso curioso da Histria moderna, no qual uma economia colonial dependente de uma metrpole subdesenvolvida.J Branding coloca que a m administrao do reinado dos Habsburgo levou ao enfraquecimento da Coroa espanhola e a sucesso dos Bourbons. Outros fatores essenciais foram a crise econmica espanhola; a Paz de Utrecht, que resolveu a crise de sucesso espanhola, mas abriu mo de diversos territrios e do direito ao trono francs; e a prpria crise de sucesso.Durante a segunda metade do sculo XVIII, a Espanha bourbnica buscou uma forma de modernizar sua economia, sociedade e instituies. Para encontrar solues, convocaram-se fisiocratas, cuja funo era estabelecer a primazia da agricultura e o papel do Estado. Foi a partir desses, tambm, que surgiram na Espanha as ideias do mercantilismo, do liberalismo econmico e da ilustrao. O intuito principal era reformar as estruturas existentes, com o objetivo econmico de melhorar a agricultura e promover a indstria. Nesse ponto, observa-se como os elementos tradicionais limitam o incio da modernizao.Para Branding, Reformas Bourbnicas se iniciam com Felipe V, que busca fortalecer a Coroa espanhola com a formao de um Estado Absolutista. Em seguida, Carlos II torna as reformas mais visveis, com a burocratizao do Estado, a criao de funcionrios de carreira e maior protecionismo nas colnias. O Novo Sistema de Governo Econmico para a Amrica, de 1793, segundo mencionada a obra de Campillo, foi um grande programa de reformas na Espanha, cujas principais medidas foram fornecimento de fora militar, de forma a salvaguardar contra ataques estrangeiros e sublevaes internas; maior poder sobre a Igreja, com a expanso dos jesutas em seguimento ao exemplo portugus do Marqus de Pombal e que advertia a Igreja sobre a necessidade de obedincia e subjugao ao poder real; e reforma da administrao civil, cujo resultado foi uma mudana radical no equilbrio geopoltico do continente.Acima de tudo, Campillo via nas colnias um grande mercado inexplorado para a indstria espanhola: sua populao, os ndios, que agora eram o tesouro da monarquia. Durante toda a primeira metade do sculo XVIII, a Espanha envolveu-se numa batalha desesperada pela retomada do controle sobre o comrcio colonial. Alm do contrabando, havia ainda barcos britnicos dedicados pirataria.No sculo XVIII, o crescimento demogrfico pressionou a terra, fez crescer a demanda por produtos agrcolas e pela posse de terras, aumentou os preos e aboliu as leis que no permitiam o desenvolvimento do livre comrcio para dar espao a melhorias econmicas. Essas, no entanto, no implicaram em uma grande modificao social, pois os espanhis no tinham o desejo de acumular capital para investir na indstria, nem tampouco fomentar as indstrias artesanais, preferindo adquirir mais terras e importar produtos de luxo. Outros fatores, como o transporte, prejudicavam o crescimento econmico, que desde 1790 no suportava a demanda existente. Por isso, a Espanha foi privada do desenvolvimento de sua prpria indstria ou de se converter em um mercado para a indstria de outras regies. exceo da Catalunha e de outros portos no Norte da Espanha, a organizao mercantil era bastante fraca.Enquanto isso, na Amrica havia um fornecedor alternativo com o qual a Espanha no contava: a Gr-Bretanha. A economia britnica passara por um crescimento comercial sem precedentes que se baseava principalmente na produo de tecidos, assim como na produo de ferro e ao. Ao longo do sculo XVIII, o comrcio britnico contou com o mercado colonial. Ainda que no houvesse mercado de grande poder aquisitivo, a Amrica apresentava um meio de intercambio vital: a prata. Em consequncia, a Gr-Bretanha buscou meios de expandir seu comrcio com a Amrica espanhola, fosse atravs da reexportao a partir da Espanha, fosse por redes de contrabando.Lynch deixa claro que a poltica britnica na Amrica espanhola nunca teve carter imperialista, seus interesses eram meramente comerciais. Entretanto, os espanhis queriam impedi-lo a todo custo, razo de diversas guerras entre as duas potncias. Aps 1796, quando a frota britnica bloqueou o porto de Cdiz, as exportaes britnicas se ocuparam de suprir a escassez nas colnias espanholas. O contraste entre a Gr-Bretanha e a Espanha, entre crescimento e estagnao, exerceu um efeito importante no imaginrio dos hispano-americanos: o de que os imprios tambm podem cair.No sculo XVIII, as oligarquias locais estavam bem estabelecidas ao longo de toda a Amrica. A fraqueza do governo real e sua necessidade de recursos vindos da colnia permitiram a esses grupos desenvolver formas de resistncia frente ao distante governo imperial, como, por exemplo, a compra de ofcios, acordos informais etc. Os Bourbons, ao assumirem o poder espanhol, revisaram o governo imperial, centralizaram o controle e modernizaram a burocracia, criando novos vice-reinados e outras unidades administrativas, designando novos funcionrios (intendentes) e introduzindo novos mtodos de governo. Esses planos administrativos e fiscais implicaram em uma superviso mais prxima da populao americana. A elites coloniais, por sua vez, interpretaram essas medidas como um ataque aos interesses locais.A Ordenao de Intendentes (Per 1784, Mxico 1786) foi o instrumento bsico das reformas bourbnicas, acabando com os repartimientos e substituindo os corregedores e os alcades pelos intendentes. A nova legislao introduziu funcionrios remunerados e garantiu aos indgenas o direito de comercializar e a trabalhar como quisessem. Sem dvida, essa reforma no teve o efeito esperado pela Espanha. A abolio dos repartimientos era uma ameaa tambm aos indgenas, visto que esses no estavam acostumados a usar dinheiro em um mercado livre. Assim, houve confuso e a produo e comrcio saram prejudicados. A poltica dos Bourbons foi sabotada nas colnias, pois as elites locais no aceitaram o absolutismo e passaram a fazer planos para tomar o poder poltico antes que novas medidas chegassem.O papel dos intendentes, segundo Branding, era o de realizar uma inspeo profunda na mquina governamental da colnia. Eles eram funcionrios de origem peninsular que incorporariam todas as ambies administrativas e intervencionistas do Estado Bourbon. Foi nas capitais das provncias, portanto, que a reforma causou maior impacto, visto que a os intendentes agiam em maior atividade, pavimentando ruas, construindo pontes e prises e reprimindo desordens e levantamentos populares.J a burocracia de carreira, chama Branding, foi a responsvel pela independncia local. Livre de sua antiga dependncia do crdito mercantil, a administrao colonial foi fortalecida pela nomeao de burocratas de carreira, que, em razo de sua origem peninsular, preservavam sua independncia da sociedade que governavam. A nomeao de uma burocracia assalariada, apoiada numa ampla legio de guardas, permitiu monarquia espanhola extrair uma extraordinria colheita fiscal da expanso da atividade econmica resultante de suas reformas no comrcio e do incentivo dado s exportaes coloniais.Os Bourbons tambm enfraqueceram o poder da Igreja. Em 1767, expulsaram os jesutas. Consideravam que esse grupo religioso tinha muitas liberdades e, por sua vez, os Bourbons queriam reafirmar seu controle imperial. Os hispano-americanos consideraram a expulso dos jesutas como um ato de despotismo, um ataque direto contra seus compatriotas e a seus prprios pases, porque muitos dos expulsos eram j nascidos no continente. Os reformistas bourbnicos buscaram uma maneira de colocar o clero sob a jurisdio dos tribunais seculares e, segundo esse intento, reduziram bastante a imunidade eclesistica, seus poderes e privilgios.Os exrcitos tambm foram afetados pelas reformas bourbnicas. A Espanha no dispunha de meios suficiente para manter grandes guarnies na Amrica, apoiando-se em milcias americanas. Em 1760, criou-se uma nova milcia. Nesse ponto, as reformas bourbnicas eram contraditrias, j que a maneira encontrada de estimular o recrutamento era atravs da concesso de charters militares, status aos criollos, proteo de uma lei militar etc. Quando da revolta indgena de 1780 no Peru, os oficiais de alta patente constituam-se apenas de espanhis. Cortou-se o charter militar e as carreiras militares dos criollos foram cortadas, o que gerou vrios ressentimentos. Tanto os peruanos como os mexicanos se viram afetados no plano militar pelas reformas bourbnicas, j que viam restrita principalmente a participao criolla nas foras militares e, claro, nos comandos hierrquicos.Ao mesmo tempo em que limitaram os privilgios na Amrica, exerciam um controle econmico, que pesava em duas medidas principais: por um lado, criaram-se monoplios sobre vrias mercadorias, como tabaco, aguardente, plvora, sal e outros; por outro, o governo assumiu a administrao direta dos impostos, cuja coleta era tradicionalmente arrendada.Tais medidas, e aquelas relacionadas carga tributria, no geraram na Amrica revoltas que exigissem a independncia, mas se criou um clima de ressentimento e desejo de estabelecer um grau de autonomia local. Desde 1765, a resistncia fiscal foi constante e violenta, e, desde 1779, durante a guerra contra os ingleses, a Espanha passou a exigir mais impostos, originando diferentes focos de resistncia na Amrica. Alm de haver capacidade para recolhimento de impostos, no Mxico, um decreto de 26 de dezembro de 1804 fez a "consolidao de vales de reais", segundo o qual ordenava-se o confisco dos fundos de caridade da Amrica e seu reenvio Espanha. Com a implementao do decreto, capelas e igrejas da colnia perderam muitas de suas riquezas. Isso afetou no apenas Igreja, mas tambm aos interesses econmicos de muitos que contavam com os fundos da Igreja para obteno de capital e crdito. O decreto foi suspenso no Mxico aps a invaso napolenica da Pennsula Ibrica.Os reformadores de Bourbon desejavam exercer uma presso fiscal crescente sobre uma economia controlada e em expanso. Entre 1765 e 1776, desmantelaram a antiga estrutura do comrcio transatlntico e abandonado antigas regras e restries. Uma de suas principais medidas foi permitir o comrcio entre as colnias. Em suma, foi-se estendendo um comrcio livre e seguro entre a Espanha e a Amrica, que, em 1778, foi aplicado a Chile, Buenos Aires e Peru, e posteriormente a outras regies. O objetivo do livre comrcio foi o desenvolvimento de Espanha, atravs da aproximao da economia das colnias com a metropolitana. Entre 1782 e 1796, as exportaes da Espanha para a Amrica Latina consistiam de produtos agrcolas processados (como vinho, azeite, aguardente, farinha) e txteis. Todos produtos que poderiam ser produzidos na colnia, mas cuja produo era restrita. Alm disso, as exportaes espanholas, ao invs de complementarem aquelas vindas dos Estados Unidos, competiam com eles e o livre comrcio no ajudava na sincronizao das duas economias. Ao contrrio, foi projetado para estimular a agricultura. O vazio na indstria, por sua vez, foi preenchido pelos poderes transatlnticos. O livre comrcio na Amrica Latina estimulou alguns setores da produo colonial. As rotas tradicionais da Amrica se ampliaram e as exportaes americanas para Espanha foram se multiplicando a partir de 1782.O fato de que a Espanha era incapaz produzir ela mesma os produtos necessrios s suas colnias. Isso, no entanto, no era suficiente para invalidar sua poltica, de acordo com o governo. Entre os estadistas e funcionrios espanhis havia a convico de que a dependncia econmica era uma pr-condio de subordinao poltica e do crescimento da produo nas colnias levaria autossuficincia e autonomia. Assim, o governo dizia no poder permitir a expanso industrial nem mesmo durante perodos de guerra, pois tiraria fora de trabalho das tarefas essenciais da minerao de ouro e prata e produo de frutas coloniais.A produo de prata aumentou gradativamente a partir de 1730, graas ao trabalho indgena forado. O ltimo ciclo de minerao colonial, embora importante, no foi inteiramente para servir aos interesses coloniais. Em primeiro lugar, a metrpole recebia das colnias presses cada vez maiores para sustentar o fornecimento vital de mercrio e equipamentos, algo que, obviamente, era impossvel de cobrir durante a guerra. A Espanha, portanto, era vista como um obstculo ao crescimento. Em segundo lugar, em uma das grandes ironias da histria colonial espanhola, o auge da produo de prata coincidiu com a destruio do poder naval espanhol, e, portanto, do seu comrcio colonial. Na agricultura, como na minerao, era impossvel conciliar os interesses da Espanha com a Amrica. Os criollos proprietrios de terras buscavam maiores mercados para as suas exportaes do que permitia a Espanha.No sculo XVIII, diz Branding, as grandes propriedades estavam ajustadas desde o incio economia de mercado e produo para as cidades. As estancias de criao de gado trabalhavam especialmente para os mercados domsticos, somente os couros da Argentina eram enviados em grande quantidade para a metrpole. As haciendas que produziam cereais e outros alimentos bsicos para as provncias, campos de minerao e portos negociavam com mercadorias volumosas de baixo preo que no encontravam facilmente mercado devido ao custo do transporte. Na medida em que a expanso da economia de exportao ocasionou um aumento na populao urbana, provocou tambm um aumento no cultivo de alimentos bsicos.O setor domstico manteve seu prprio ritmo de produo, e os preos flutuaram de acordo com as variaes anuais e sazonais da oferta. A tendncia nas haciendas era apoiar-se num pequeno ncleo de pees residentes no local e contratar mo-de-obra sazonal nas aldeias vizinhas ou entre os prprios rendeiros da propriedade. No Mxico, muitos proprietrios de terra cediam uma parte de suas terras em troca de dinheiro, j no Chile, essa prtica transformou os antigos rendeiros em inquilinos, e no Peru, os pees eram pagos pela cesso da terra para a cultura de subsistncia.\Somente na Nova Espanha foi mantido o equilbrio entre os pees, presos s propriedades por dvidas, e os rendeiros que pagavam renda e forneciam mo-de-obra sazonal. O desenvolvimento da grande propriedade foi, assim, acompanhado pelo surgimento de uma nova classe camponesa, composta de mestios, mulatos, espanhis pobres e ndios aculturados.Deve-se observar que o fluxo do comrcio interno se modificou drasticamente durante o perodo Bourbon. O renascimento da concorrncia por parte da Europa e de outros centros coloniais destituiu a prosperidade da indstria txtil da Puebla e Quito. Na Amrica do Sul, a abertura de novas rotas martimas reduziu drasticamente os preos dos tecidos importados. As mudanas no comrcio regional de produtos agrcolas foram menos drsticas que nos txteis. No Cone Sul, o comrcio Atlntico foi imposto sobre o padro interno de comrcio sem muitas distores perceptveis, pois embora os metais preciosos chilenos se tenham tornado o produto de exportao mais valioso, as remessas de trigo e de gordura para Lima continuam ainda a aumentar, apesar de uma queda na curva de preos. Enquanto as plantaes tropicais com sua fora de trabalho servil geravam uma demanda relativamente pequena para a produo local, o setor mineiro fornecia um amplo mercado indstria agrcola e a domstica. evidente que o setor de exportaes gerava grandes lucros tornando possvel um acmulo de capital em alta escala na economia domstica. Porm, vale ressaltar que sem um certo aumento nas remessas de metal precioso para a Europa a produo mineira teria cado em consequncia da inflao ocasionada por uma superabundncia da prata. Dessa forma, a era Bourbon constituiu um perodo relativamente curto de equilbrio entre o setor interno e o externo da economia.O papel imperial da Espanha e dependncia americana foram testados durante a longa guerra que foi contra a Gr-Bretanha, a partir de 1796. Em 1797, os britnicos bloquearam o porto de Cdiz. Ao mesmo tempo, bloquearam portos americanos e atacaram navios espanhis no mar. O comrcio de Cdiz para a Amrica estava paralisado.Por toda a Amrica, consulados relatavam a extrema escassez de bens de consumo e das provises mais importantes. E enquanto os interesses americanos pressionavam para que se permitisse o comrcio com fornecedores estrangeiros, os comerciantes de Cdiz insistiam que o monoplio fosse mantido. Enquanto a Espanha ponderava o dilema, acabou por perder a batalha. Havana abriu seus portos para navios norte-americanos e de outros pases neutros. A Espanha foi forada a permitir o mesmo a todos as colnias latino-americanas ou corria o risco de perder o controle e a renda. Como medida de emergncia, um decreto foi emitido, em setembro 1797, permitindo o comrcio legal e taxado com a Amrica Latina em navios neutros. O objetivo era fazer dos pases neutros um instrumento de comrcio com as colnias de forma a melhor evadir o bloqueio britnico e a cobrir a falta de navios espanhis.Frente falta de fornecedores espanhis que suprissem as exigncias americanas, os britnicos voltaram a preencher o vazio. Lentamente, a Espanha foi perdendo seu imperialismo nas colnias, seus barcos e monoplio comercial. O que lhe restava era o controle poltico, mas mesmo esse estava sujeito a uma crescente tenso. Apesar da poltica dos Bourbon, ainda havia uma estreita ligao entre famlias de poder local e funcionrios do governo. Em toda a Amrica, as independncias foram guerras civis, entre defensores e opositores da Espanha, e os criollos tinham representantes em ambos os lados. Assim, as funes, interesses e relaes de parentesco podem ser vislumbradas como mais relevantes do que a dicotomia criollo-espanhol.Ao mesmo tempo, enquanto houve uma reao espanhola nos ltimos anos de regime imperial, houve tambm uma reao nativa. Os criollos perderam a confiana no governo espanhol e comearam a questionar a inteno da Espanha de defende-los. Levantavam um dilema urgente, vendo-se presos entre o governo colonial e as massas.Quando a monarquia caiu em 1808, os criollos no poderia permitir que o vcuo poltico assim se mantivesse e que suas vidas e bens permanecessem sem proteo. Tiveram de agir rapidamente a fim de evitar a rebelio popular, convencidos de que, se no o fizessem, outros setores sociais mais perigosos o fariam.De fato, todos os setores sociais da colnia tinham alguma queixa contra a poltica real e, inicialmente, isso se refletiu nas revoltas. O movimento popular resultou de uma aliana temporria entre patrcios e plebeus, entre brancos e pessoas de cor, que se opunham opresso burocrtica e s inovaes fiscais. Os lderes eram proprietrios de terras e comerciantes de nvel mdio que lideraram a revolta para controla-la e conduzi-la segundo seus interesses. Muitos criollos, entretanto, preferiam a dependncia da Espanha anarquia.Na dcada de 1770, Tupac Amaru comeou uma manifestao pacfica para obter as reformas e o fez buscando justia nos tribunais espanhis. Levou seus seguidores a uma insurgncia violenta, com ataques a magistrados, saques dos moinhos e ocupao dos povoados. O movimento comeou em Cuzco, em novembro de 1780, e logo se espalhou para o sul do Peru, e, em um segundo momento mais radical, pelos territrios de aymar do Alto Peru. Seu objetivo era que no mais houvessem corregedores, bem como postos de controle, cobranas de mita em Potos, alfandegas e outras representaes espanholas nocivas. Aps luta violenta e muitas mortes dentre os indgenas, o movimento de Tupac Amaru fracassou. Em janeiro de 1782, os espanhis recuperaram o controle, os intendentes substituram os corregedores e os repartimientos foram abolidos. A verdadeira revoluo de Tupac Amaru, no entanto, foi contra o privilgio branco, independente se criollo ou espanhol, e seu desejo maior era acabar com a subjugao dos ndios.Brading diz que as reaes coloniais s reformas so resultado de alguns fatores. No caso das Revoltas de Tupac Amaru, teria sido o tardio reflorescimento da minerao do Vice-Reino do Peru, aliado a crise econmica e a insatisfao dos indgenas, que trouxeram complicaes. A instalao do sistema colonial espanhol na Amrica foi marcada por um processo de eliminao das populaes indgenas, que de vez em quando faziam resistncia frente ao colonizador. No entanto, nem toda a populao indgena era contra a dominao dos espanhis. Alguns curacas faziam acordos com os colonizadores para obter parte dos tributos ou para livrar-se do trabalho compulsrio. No sul do Peru, Jos Gabriel Condorcanqui, um chefe indgena local, assumiu o nome de Tupac Amaru, o ltimo imperador inca, com o propsito de unir a classe camponesa indgena contra o regime colonial. O tema comum a todas essas rebelies populares era o ressentimento contra as novas taxas impostas pelo Estado Bourbon. No entanto, enquanto no Mxico os criollos ricos cooperaram com Glvez para derrotar os rebeldes, no Peru vrios chefes nativos apoiaram Typac Amaru. Em resumo, qualquer que tenha sido o grau de mobilizao popular, o agente decisivo foi o envolvimento e a liderana da elite criolla.Lynch coloca que o perodo pr-independncia viu o nascimento de uma literatura de identidade, na qual os americanos glorificavam seus pases, exaltando recursos valiosos e seu povo. Apesar de ter sido um nacionalismo cultural e no poltico e, por isso, no necessariamente incompatvel com a unidade do imprio, preparou o povo para a independncia, para lembr-los de que a Amrica tinha recursos suficientes.A Amrica espanhola poderia aprender a nova filosofia diretamente de suas fontes originais na Inglaterra, Frana e Alemanha, visto que a literatura do Iluminismo circulou de forma relativamente livre. Entretanto, de modo algum o Iluminismo difundido na Amrica sobreviveu intacto, influenciado como foi pelo conservadorismo e limitado pela tradio. Comeou a se enraizar apenas em 1810.Em geral, o Iluminismo inspirou seus discpulos criollos, mais do que como uma filosofia de libertao ou uma atitude independente frente s ideias e s instituies, significou uma preferncia pela razo ante a autoridade. Sem dvida, esses foram influncias constantes na Amrica espanhola, mas, no momento, como agentes de reforma e no de destruio.Os criollos tiveram muitas objees ao regime colonial, mas eram mais pragmticas do que ideolgicas. Em ltima anlise, a maior ameaa ao poder espanhol veio de interesses americanos ao invs de ideias europeias. A influncia norte-americana, por sua vez, foi exercida por sua prpria existncia, por ser o exemplo mais prximo de da liberdade e do republicanismo, permaneceu como uma fonte de inspirao ativa na Amrica Latina. O comrcio dos EUA com a Amrica espanhola foi tambm uma forma de introduo no apenas de produtos e servios, mas tambm de livros e ideias. A partir de 1810, os hispano-americanos passaram a buscar, na experincia republicana de seus vizinhos, um guia para os direitos vida, liberdade e felicidade.Outro exemplo importante foi a proclamao da primeira repblica negra na Amrica, com o novo Estado do Haiti em 1804. Foram reconhecidas como haitianas quaisquer descendncias negras e pardas nascidas em outras colnias africanas, escravas ou livres, e convidadas a desertar. Por outro lado, declarou guerra ao comrcio de escravos. Essas medidas sociais e raciais para o Haiti tornaram-no um inimigo aos olhos do domnio colonial na Amrica.A crise ocorreu em 1808, o culminar de duas dcadas de depresso e guerra. As reformas bourbnicas na Espanha foram interrompidos pelo impacto da Revoluo Francesa, em 1808, no culminar de duas dcadas de depresso e guerra. A crise agrria de 1803 causara grande escassez, fome e mortalidade, o que prova o quo pouco os Bourbons haviam feito para melhorar a agricultura, o comrcio e as comunicaes. Quando Napoleo decidiu reduzir Espanha sua vontade e invadiu a Pennsula Ibrica, o governo Bourbon foi dividido e o pas indefeso ante ao ataque. Na sequencia, os espanhis comearam a se levantar pela independncia dos franceses.Na Amrica, esses acontecimentos criaram uma crise de legitimidade poltica. Os criollos tiveram de decidir a melhor maneira de preservar seu patrimnio e manter seu controle. Amrica espanhola no podia continuar a ser uma colnia sem metrpole, nem uma monarquia sem rei.

8

2