estudo desoneracao cadeia ligistica reversa

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Proposta de Implementação dos Instrumentos Econômicos Previstos na Lei nº 12.305/2010 por meio de Estímulos à Cadeia de Reciclagem e Apoio aos Setores Produtivos Obrigados à Logística Reversa Brasília 2014

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Estudo Desoneracao Cadeia Ligistica Reversa

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  • Proposta de Implementao dos Instrumentos Econmicos Previstos

    na Lei n 12.305/2010 por meio de Estmulos Cadeia de Reciclagem e

    Apoio aos Setores Produtivos Obrigados Logstica Reversa

    Braslia 2014

  • Proposta de Implementao dos Instrumentos Econmicos Previstos

    na Lei n 12.305/2010 por meio de Estmulos Cadeia de Reciclagem e

    Apoio aos Setores Produtivos Obrigados Logstica Reversa

  • CONFEDERAO NACIONAL DA INDSTRIA CNI Robson Braga de Andrade Presidente Diretoria de Relaes Institucionais Mnica Messenberg Guimares Diretora Diretoria de Desenvolvimento Industrial Carlos Eduardo Abijaodi Diretor Diretoria de Educao e Tecnologia Rafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciotti Diretor Julio Sergio de Maya Pedrosa Moreira Diretor Adjunto Diretoria de Polticas e Estratgia Jos Augusto Coelho Fernandes Diretor Diretoria de Comunicao Carlos Alberto Barreiros Diretor Diretoria de Servios Corporativos Fernando Augusto Trivellato Diretor Diretoria Jurdica Hlio Jos Ferreira Rocha Diretor

  • Proposta de Implementao dos Instrumentos Econmicos Previstos

    na Lei n 12.305/2010 por meio de Estmulos Cadeia de Reciclagem e

    Apoio aos Setores Produtivos Obrigados Logstica Reversa

    Braslia 2014

  • 2014. CNI Confederao Nacional da Indstria. Qualquer parte desta obra poder ser reproduzida, desde que citada a fonte.

    CNI Gerncia Executiva de Meio Ambiente e Sustentabilidade GEMAS

    FICHA CATALOGRFICA

    C748p

    Confederao Nacional da Indstria. Proposta de implementao dos instrumentos econmicos previstos na lei n 12.305/2010 por meio de estmulos cadeia de reciclagem e apoio aos setores produtivos obrigados logstica reversa. Braslia : CNI, 2014.

    141 p. : il.

    1.Instrumentos Econmicos. 2. Lei 12305/2010. 3. . I. Ttulo.

    CDU: 330.101.8

    CNI - Confederao Nacional da Indstria Servio de Atendimento ao Cliente - SAC Setor Bancrio Norte Tels.: (61) 3317-9989 / 3317-9992 Quadra 1 Bloco C [email protected] Edifcio Roberto Simonsen 70040-903 Braslia DF Tel.: (61) 3317- 9000 Fax: (61) 3317- 9994 http://www.cni.org.br

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Fluxograma da logstica reversa de embalagens, valores de 2011 ................................ 31 Figura 2: Fluxograma da logstica reversa de leos lubrificantes, valores de 2011 ...................... 35 Figura 3: Fluxograma da logstica reversa de embalagens de leo lubrificante ............................ 39 Figura 4: Fluxograma da Logstica Reversa de Embalagens de Agrotxicos, valores de 2012, R$ mil......................................................................................................................................................... 41 Figura 5: Fluxograma da Logstica Reversa de Pneus, valores de 2011 ....................................... 44 Figura 6: Fluxograma da Logstica Reversa atual de Lmpadas Fluorescentes ........................... 47 Figura 7: Fluxograma da Logstica Reversa de Lmpadas Fluorescentes no Modelo com Entidade Gestora ..................................................................................................................................... 48 Figura 8: Fluxograma da Logstica Reversa atual de REEE............................................................. 52 Figura 9: Fluxograma da Logstica Reversa de REEE no Modelo com Entidades Gestoras ...... 54 Figura 10: Exemplo de incidncia de PIS/COFINS na cadeia de logstica reversa ...................... 61 Figura 11: Exemplo de desequilbrio competitivo entre MP virgem e reciclada ............................. 63 Figura 12: Exemplo sem diferimento do ICMS na cadeia de logstica reversa .............................. 67 Figura 13: Exemplo de diferimento do ICMS na cadeia de logstica reversa ................................. 67 Figura 14: Distribuio da tributao, segundo as cadeias de logstica reversa (R$ milhes e % do total) ..................................................................................................................................................... 76 Figura 15: Distribuio da tributao, segundo as atividades (R$ milhes e % sobre o total) .. 77 Figura 16: Distribuio da tributao, por tipo de tributo (R$ milhes e % do total) .................... 78 Figura 17: Exemplo da incidncia de PIS/COFINS aps as medidas propostas .......................... 86 Figura 18 Exemplo da incidncia do ICMS aps as medidas propostas ..................................... 89 Figura 19 Desonerao completa do material reciclado ................................................................ 90 Figura 20: Desonerao dos servios de terceiros ............................................................................ 92 Tabela 16: Simulao do aumento do custo da logstica reversa na presena de tributao na cadeia ........................................................................................................................................................ 94 Tabela 17 Cobrana do Ecovalor destacada na Nota Fiscal......................................................... 96 Tabela 18 Clculo do crdito presumido (MVA = 56%) ................................................................. 99 Tabela 19 Simulao da desonerao do custo da logstica reversa com crdito presumido . 99 Tabela 20 Renncia tributria com mudana da forma de cobrana da contribuio previdenciria ao INSS (valores de 2013) ......................................................................................... 104

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Tributao da logstica reversa, 2013, R$ milhes ........................................................... 17 Tabela 2: Custo das renncias tributrias (R$ milhes de 2013) .................................................... 24 Tabela 3: Metas estabelecidas pela Portaria Interministerial MMA/MME 59/2012 para coleta de OLUC, para o perodo de 2012 a 2015 ................................................................................................ 37 Tabela 4: Receitas e despesas do programa Jogue Limpo, valores de 2012 ............................... 40 Tabela 5: Formas de Destinao dadas aos Pneus Inservveis pela Reciclanip .......................... 46 Tabela 6: Custo da descontaminao de lmpadas, ....................................................................... ..48 Tabela 7: Estrutura de receitas e despesas da gestora de lmpadas ............................................ 49 Tabela 8: Custos da logstica reversa de pilhas e baterias, 2012 .................................................... 51 Tabela 9: Custos Operacionais por Etapa do Sistema, 2014-2021 ................................................. 55 Tabela 10: Tributos e alquotas, por tipo de empresa e atividade desenvolvida ........................... 59 Tabela 11: Percentuais de crdito presumido determinados pelo Decreto 7.619/11 ................... 64 Tabela 12: Incidncia tributria sobre as cadeias de logstica reversa, R$ milhes (valores corrigidos para 2013) .............................................................................................................................. 72 Tabela 13: Estimativa do custo do crdito presumido de IPI ............................................................ 83 Tabela 14: Estimativa do custo do crdito presumido de PIS/COFINS .......................................... 84 Tabela 15: Estimativa do custo do crdito presumido de ICMS ....................................................... 84 Tabela 16: Simulao do aumento do custo da logstica reversa na presena de tributao na cadeia ........................................................................................................................................................ 94 Tabela 17 Cobrana do Ecovalor destacada na Nota Fiscal......................................................... 96 Tabela 18 Clculo do crdito presumido (MVA = 56%) ................................................................. 99 Tabela 19 Simulao da desonerao do custo da logstica reversa com crdito presumido . 99 Tabela 20 Renncia tributria com mudana da forma de cobrana da contribuio previdenciria ao INSS (valores de 2013) ......................................................................................... 104 Tabela 21 Custo das renncias tributrias, 2013, R$ milhes .................................................... 105 Tabela 22 Hipteses para a evoluo das quantidades de resduos ......................................... 105 Tabela 23 Renncia esperada para o PIS/COFINS, R$ milhes de 2013 ................................ 106 Tabela 24 Renncia esperada para o ICMS, R$ milhes de 2013 ............................................ 107 Tabela 25 Renncia esperada para o IPI, R$ milhes de 2013.................................................. 107 Tabela 26 Renncia esperada para o ISS, R$ milhes de 2013 ................................................ 107 Tabela 27 Renncia esperada para a contribuio previdenciria, R$ milhes de 2013 ...... 107 Tabela 28 Renncia total com desoneraes, R$ milhes de 2013 .......................................... 108

  • SUMRIO

    Sumrio Executivo .......................................................................................................................... 11

    Introduo ......................................................................................................................................... 27

    1 Logstica reversa: funcionamento atual e propostas dos setores ................................. 29 1.1 Embalagens ps-consumo ................................................................................................... 30 1.2 leo lubrificante usado ou contaminado (OLUC) .............................................................. 35 1.3 Embalagens de leos lubrificantes ...................................................................................... 38 1.4 Embalagens de agrotxicos ................................................................................................. 41 1.5 Pneus inservveis ................................................................................................................... 43 1.6 Lmpadas fluorescentes ....................................................................................................... 46 1.7 Pilhas e baterias ..................................................................................................................... 49 1.8 Resduos de eletroeletrnicos (REEE) ............................................................................... 51

    2 Principais tributos incidentes sobre a operao de logstica reversa .......................... 57 2.1 Incidncia de IPI, PIS/COFINS e ISS e suas alquotas ................................................... 60

    2.1.1 PIS/COFINS ....................................................................................................................... 60 2.1.2 Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) ............................................................... 63 2.1.3 Imposto sobre Servios (ISS) .......................................................................................... 64

    2.2 Incidncia de ICMS e benefcios tributrios existentes .................................................... 65

    3 Quantificao da incidncia tributria ................................................................................ 71

    4 Propostas de desonerao tributria para a logstica reversa ....................................... 79 4.1 Desonerao dos resduos reaproveitados como matria-prima ................................... 80

    4.1.1 Crdito presumido sobre uso de resduos slidos como matria-prima ................... 81 4.1.2 Ampliao da suspenso da incidncia de PIS/COFINS ............................................ 85 4.1.3 Harmonizao e ampliao do diferimento ou iseno na cobrana do ICMS ........ 87 4.1.4 Impacto consolidado das medidas propostas ............................................................... 89 4.1.5 Servios de terceiros ......................................................................................................... 91

    4.2 Reduo do custo da logstica reversa onerosa ............................................................... 92 4.2.1 Reduo do impacto para os consumidores finais ....................................................... 93 4.2.2 Incentivo direto ao investimento e financiamento do custeio da logstica reversa 101 4.2.3 Desonerao das entidades gestoras sem fins lucrativos ........................................ 103

    4.3 Desonerao da folha das cooperativas .......................................................................... 103 4.4 Renncia tributria ............................................................................................................... 104

    Referncias ..................................................................................................................................... 109

    Anexo I: Clculo da renda e de sua distribuio entre os agentes da cadeia de logstica reversa de resduos com valor econmico............................................................................... 113

    Anexo II: Metodologia de clculo dos tributos ........................................................................ 119

    Anexo III: Tratamento tributrio ICMS nas operaes com sucata ...................................... 135

  • Anexo IV: Estimativa da recuperao potencial de resduos descartados e no reaproveitados e seus respectivos valores monetrios ........................................................ 139

    Notas Explicativas ......................................................................................................................... 141 Variveis Econmico-contbeis ...................................................................................................... 141

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    SUMRIO EXECUTIVO A Lei n 12.305, de 2010, que instituiu a Poltica Nacional de Resduos Slidos (PNRS), define a logstica reversa como um instrumento de desenvolvimento econmico e social caracterizado por um conjunto de aes, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituio dos resduos slidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinao final ambientalmente adequada. A nova legislao traz avanos expressivos nas prticas ambientais do Pas ao inaugurar conceitos como o de responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos e o de acordos setoriais, que envolvem toda a sociedade no objetivo de dar destinao ambientalmente adequada aos resduos slidos.

    Alguns setores especialmente aqueles responsveis pelo destino final de embalagens e produtos descartados que constituem resduos perigosos j possuem estruturas de logstica reversa implantadas, nos termos definidos pelos rgos ambientais. Com a PNRS, no entanto, a tendncia que haja uma expanso relevante da logstica reversa de resduos slidos, tendo por base acordos setoriais celebrados entre os responsveis pela logstica reversa e as autoridades ambientais.

    A ampliao da logstica reversa de resduos slidos tende a resultar em externalidades positivas relevantes ou na reduo de externalidades negativas. Dentre essas externalidades, possvel destacar a reduo da disposio inadequada de contaminantes resultando em preservao da gua e do solo e na reduo de doenas , a reduo dos resduos destinados a aterros sanitrios e a reduo do uso de matrias-primas virgens (cuja explorao tem impactos ambientais) no processo industrial.

    Tais benefcios justificam a concesso de incentivos pelo setor pblico, seja para estimular a atividade de recuperao e reciclagem de resduos slidos, seja para reduzir o custo a ser incorrido pelo setor privado (e pelos consumidores) na

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    implantao de estruturas de logstica reversa ou na expanso das estruturas existentes.

    Nesse contexto, a Confederao Nacional da Indstria (CNI) demandou LCA Consultores a elaborao do presente estudo, que tem como objetivo estimar a tributao incidente sobre as cadeias de logstica reversa de resduos slidos atualmente existentes e propor medidas de desonerao tributria voltadas a estimular a ampliao da reciclagem e a reduo do custo para os setores obrigados pela PNRS a instituir ou ampliar estruturas de logstica reversa.

    As cadeias de logstica reversa e os resduos analisados neste trabalho foram definidos pela CNI e so os seguintes:

    a. leo lubrificante usado ou contaminado (OLUC); b. embalagens de leo lubrificante;

    c. embalagens de agrotxicos;

    d. pneus inservveis;

    e. lmpadas fluorescentes, de vapor de sdio e mercrio e de luz mista;

    f. pilhas e baterias;

    g. produtos eletroeletrnicos;

    h. embalagens que compem a frao seca dos resduos slidos urbanos, as quais so consideradas segundo o material predominante na embalagem, a saber:

    i. papel e papelo; ii. plstico (inclusive PET); iii. vidro; iv. alumnio; v. ao.

    Para as quatro primeiras categorias de resduos, as estruturas de logstica reversa j esto implementadas, embora, em alguns casos, ainda estejam em uma fase de expanso para reas mais remotas do Pas. Para as trs categorias seguintes, as estruturas de logstica reversa existentes ainda so incipientes. Por fim, para as embalagens, h sistemas de logstica reversa que j operam via mercado, embora uma parcela relevante das embalagens ainda no tenha uma destinao ambientalmente adequada.

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    * * *

    Na primeira seo do estudo feita uma descrio das estruturas de logstica reversa de resduos slidos atualmente existentes. Nessa descrio feita uma distino entre as cadeias de logstica reversa que operam via mercado (caso das embalagens) daquelas cuja operao depende do aporte de recursos por parte responsveis pela logstica reversa (caso dos demais produtos).

    No caso das embalagens ps-consumo, feita uma descrio da estrutura de logstica reversa atual, buscando-se identificar o volume movimentado, o valor da receita, a renda gerada e os tributos indiretos recolhidos nas principais etapas da cadeia. Na etapa de coleta, triagem e transporte de resduos h a participao, alm dos servios pblicos de coleta de resduos e de catadores independentes, de cooperativas de catadores e do comrcio atacadista de material reciclvel (CAMR).

    Usualmente as cooperativas atuam nas etapas iniciais do processo de triagem, geralmente no obtendo escala e qualidade suficientes para viabilizar a venda dos resduos triados para a indstria recicladora. Por sua vez, o CAMR possui empresas de diversos portes que adquirem resduos de catadores independentes, das cooperativas de catadores ou fazem a coleta diretamente e, na maior parte dos casos, revendem os produtos para empresas de maior porte do prprio CAMR. Ao se obter escala e qualidade (limpeza, separao e compactao) suficientes, o CAMR revende os resduos para a indstria recicladora.

    A indstria recicladora aquela que adquire os resduos slidos (sucata) e os utiliza como matria-prima no processo de industrializao. No caso do plstico, na maior parte dos casos a indstria recicladora formada por empresas de pequeno porte que usam a sucata como matria-prima para a produo de pellets, vendidos como insumo para a indstria transformadora de plsticos.

    No caso dos demais materiais (papel e papelo, vidro, ao e alumnio), a indstria recicladora usualmente a prpria indstria de transformao (de grande porte), que utiliza tanto matria-prima virgem como sucata como insumo. Assim, por exemplo, de modo geral, a sucata de ao adquirida pela indstria siderrgica, os resduos de vidro pela indstria produtora de produtos de vidro etc.

    Para as demais cadeias de logstica reversa analisadas neste trabalho cuja operao exige o aporte de recursos por parte dos responsveis pela logstica reversa de suas embalagens e produtos descartados no ps-consumo , feita uma descrio

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    das estruturas atualmente existentes, de seu custo, do valor dos aportes feitos pelas empresas responsveis pela logstica reversa e da receita obtida com a venda de resduos aps a descontaminao. No caso das estruturas atualmente existentes, algumas operam com entidades gestoras sem fins lucrativos, que centralizam a gesto do sistema (caso das embalagens vazias de agrotxicos e dos pneus inservveis), enquanto outras operam com gestoras privadas (caso das embalagens de leo lubrificante) ou diretamente com a contratao de empresas de transporte e descontaminao (caso do leo lubrificante usado ou contaminado).

    Vale notar que, mesmo entre os setores com logstica reversa onerosa (ou seja, cuja operao exige o aporte de recursos por parte dos responsveis pela logstica reversa), as situaes so bastante distintas. Em alguns casos, a venda dos resduos descontaminados representa parcela importante do financiamento da cadeia de logstica reversa. Em outros casos, os resduos praticamente no tm valor.

    Por fim, na primeira seo do trabalho tambm so descritas, de forma sucinta, as propostas de acordo setorial encaminhadas pelos setores visando implantao dos sistemas de logstica reversa e as metas de ampliao do alcance dos sistemas existentes. Entre essas propostas, merecem destaque aquelas relativas aos resduos de equipamentos eletroeletrnicos (REEE) e s lmpadas fluorescentes, que ainda no possuem uma estrutura de logstica reversa implantada.

    Merece destaque tambm a proposta da Coalizo Empresarial para a ampliao da logstica reversa das embalagens ps-consumo. Por essa proposta, a logstica reversa de embalagens seguiria sendo feita via mercado, mas com investimentos das empresas na instalao de pontos de entrega voluntria (PEV), em campanhas educativas, em equipamentos para as cooperativas de catadores e em qualificao dos catadores cooperados.

    * * *

    Na segunda seo do trabalho feita uma descrio dos tributos atualmente incidentes sobre as cadeias de logstica reversa, com destaque para os tributos indiretos. As principais caractersticas dessa estrutura de tributao so descritas a seguir.

    No caso do PIS/COFINS, a legislao prev a suspenso da incidncia desses tributos nos casos de venda de sucata para empresas do regime de lucro real (exceto quando a venda feita por empresas do SIMPLES), vedando-se a apropriao de

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    crdito por parte das empresas que adquiriram a sucata com suspenso de PIS/COFINS.

    Ao que tudo indica, o objetivo da suspenso seria diferir a cobrana desses tributos das etapas de coleta, triagem e transporte at a indstria recicladora. De fato, se todas as empresas da cadeia de reciclagem fossem do lucro real, esses tributos seriam pagos apenas quando da venda dos produtos da indstria recicladora ( alquota de 9,25%). Isso no representaria uma desonerao dos resduos, mas apenas a postergao de seu recolhimento at a sada da indstria recicladora. Nesse caso, parte dos tributos recolhidos pela indstria recicladora corresponderiam tributao diferida da sucata utilizada como matria-prima.

    No entanto, como as cadeias de coleta, triagem e transporte no so formadas apenas por empresas do lucro real (sendo, ao contrrio, formadas predominantemente por empresas do SIMPLES ou do lucro presumido), h uma tributao cumulativa (no beneficiada pela suspenso) que no compensada posteriormente. Nesse caso, se nas etapas finais da cadeia h empresas do lucro real, a incidncia cumulativa e no compensada de PIS/COFINS resulta em uma carga tributria mais elevada sobre os resduos slidos, inclusive comparativamente quela incidente sobre a matria-prima virgem.

    No caso do ICMS, a legislao do imposto incidente sobre as operaes com resduos slidos definida por cada estado. Na grande maioria dos estados, adota-se o diferimento da incidncia de ICMS nas operaes internas com sucata. Nesse caso, o imposto diferido cobrado na entrada da sucata na indstria recicladora ou apenas quando da sada do produto elaborado com sucata da indstria recicladora. Em todos os estados, o diferimento se encerra quando da sada da sucata para outros estados, usualmente exigindo-se o pagamento antecipado do imposto pela empresa que est fazendo a operao interestadual.

    O modelo de incidncia de ICMS nas operaes internas adotado pela maioria dos estados equivale a uma postergao do recolhimento do imposto incidente sobre os resduos at a entrada ou sada da indstria. No entanto, a interrupo do diferimento nas operaes interestaduais cria uma complexidade que dificulta essas operaes.

    H alguns benefcios de ICMS aprovados pelo CONFAZ que alcanam vrios estados. Em sua maioria, esses benefcios visam apenas simplificar a operao com resduos sem valor de mercado relevante (como pneus inservveis, pilhas e baterias usadas e

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    embalagens vazias de agrotxicos). H apenas uma medida aprovada pelo CONFAZ que representa um benefcio efetivo na utilizao de resduos slidos como matria-prima, que diz respeito produo de adesivo hidroxilado com garrafas PET.

    Em contrapartida, alguns estados especialmente, mas no apenas, os da regio Sul concedem benefcios prprios para a utilizao de sucata como matria-prima. Por no serem aprovados pelo CONFAZ, esses benefcios podem ser questionados legalmente (a exemplo dos demais benefcios da chamada guerra fiscal).

    No tocante ao IPI, a incidncia se d apenas na indstria recicladora. Como o material reciclado utilizado como matria-prima no gera crdito, a incidncia de IPI sobre o produto final elaborado pela indstria recicladora implica a efetiva tributao dos resduos utilizados como matria-prima.

    A nica exceo quando a indstria recicladora adquire sucata diretamente de cooperativas formadas exclusivamente por pessoas fsicas. Nesse caso, o Decreto n 7.619, de 2011, regula a concesso de crdito presumido sobre a sucata adquirida, em uma porcentagem que varia de 10% a 50% do valor da aquisio, segundo o material. Na prtica, esse benefcio praticamente no tem efeito, pois a indstria recicladora raramente adquire sucata diretamente das cooperativas.

    Por fim, no que diz respeito ao ISS, o que h hoje a incidncia sobre servios prestados por terceiros ao longo da cadeia de coleta, triagem, processamento e transporte de resduos. Essa incidncia no elevada, mas afeta principalmente as estruturas de logstica reversa onerosa, nas quais comum haver a contratao de servios de terceiros para processamento ou destinao de resduos ou para seu transporte (nesse caso, se o servio de transporte for intermunicipal ou interestadual, h incidncia de ICMS e no de ISS).

    * * *

    Na terceira seo do estudo so apresentadas estimativas de incidncia tributria sobre as cadeias de logstica reversa atualmente existentes. Alm das estimativas de incidncia tributria sobre a cadeia de logstica reversa de embalagens ps-consumo e sobre as cadeias de logstica reversa onerosa, apresentada tambm uma estimativa da incidncia tributria sobre a cadeia de reciclagem de outros resduos com logstica reversa via mercado produzidos com os mesmos materiais das embalagens (papel e papelo, plstico, vidro, ao e alumnio). Esses resduos podem ser pr-consumo (resduos industriais) ou resduos ps-consumo que no embalagens.

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    A razo para se quantificar a incidncia tributria sobre esses demais resduos com logstica reversa via mercado que dificilmente ser possvel conceder benefcios tributrios para a sucata originria de embalagens sem que esses benefcios alcancem tambm a sucata dos mesmos materiais oriunda de outras fontes.

    Na Tabela 1 apresenta-se um resumo das estimativas de incidncia tributria em 2013 sobre as cadeias de logstica reversa. Essas estimativas so discriminadas em resduos com valor econmico (embalagens ps-consumo e demais resduos com valor de mercado) e resduos com logstica reversa onerosa1.

    Tabela 1: Tributao da logstica reversa, 2013, R$ milhes

    Fonte: LCA Consultores

    Buscou-se estimar a incidncia de cada tributo indireto (PIS/COFINS, ICMS, IPI e ISS). No caso das empresas do SIMPLES, cuja tributao feita de forma consolidada, estimou-se a receita total, sem abertura por tributo. Tambm se apresentou uma estimativa da tributao da folha de salrios nas cadeias de resduos com valor econmico2.

    Como se v, dos R$ 2,83 bilhes de incidncia tributria sobre as cadeias de coleta, triagem, transporte e reciclagem dos resduos slidos analisados, R$ 2,76 bilhes correspondem incidncia sobre os resduos com valor econmico e R$ 70 milhes incidncia sobre as cadeias de logstica reversa onerosa.

    1 As estimativas no correspondem a dados precisos, mas sim melhor aproximao possvel

    com os dados disponveis. Em alguns casos (como o das cooperativas) foi preciso fazer hipteses sobre o grau de informalidade para elaborar as estimativas. O detalhamento das hipteses utilizadas feito na seo 3 do trabalho e no seu Anexo II. 2 No foi possvel obter dados sobre a tributao da folha para as cadeias de logstica reversa

    onerosa (a no ser para a gestora, no caso das embalagens de agrotxicos). Isso significa que a carga tributria apresentada est ligeiramente subestimada, mas no afeta as concluses do estudo, at porque no foram apresentadas propostas de desonerao da folha, exceto para cooperativas.

    Estadual MunicipalPIS/COFINS IPI ICMS ISS SIMPLES INSS

    1. Resduos com valor econmico 846,2 47,8 1.435,6 0,0 256,2 2.585,8 172,5 2.758,31.1 Embalagens (papel, vidro, ao e alumnio) 402,7 32,7 629,3 0,0 131,9 1.196,5 102,5 1.299,01.1.1 Coleta e triagem 95,9 - 188,3 - 89,2 373,5 62,9 436,3 Cooperativas 4,6 - - - - 4,6 18,8 23,41.1.2 Reciclador 306,7 32,7 441,0 - 42,7 823,1 39,6 862,7

    Tributos diferidos 281,4 - 423,1 - - 704,6 - 704,61.2. Demais resduos com logstica reversa via mercado 443,5 15,1 806,3 0,0 124,3 1.389,3 70,0 1.459,31.2.1 Coleta e triagem 88,4 - 220,7 - 104,6 413,7 51,7 465,41.2.2 Reciclador 355,2 15,1 585,6 - 19,7 975,6 18,3 993,9

    Tributos diferidos 343,5 - 572,4 - - 915,9 - 915,92. Resduos com logstica reversa onerosa 37,7 4,4 23,1 3,4 0,0 68,7 2,0 70,72.1 leo lubrificante contaminado (OLUC) 28,4 - 2,0 0,2 - 30,6 - 30,62.2 Embalagens de leo lubrificante 0,7 0,4 1,3 0,6 0,0 2,9 0,0 2,92.3 Pneus 2,0 - 5,5 1,7 - 9,3 nd 9,32.4 Embalagens de agrotxicos 6,2 4,1 14,2 0,4 - 24,9 2,0 26,82.5 Lmpadas 0,4 - 0,0 0,6 - 0,9 nd 0,92.6 Eletroeletrnicos nd nd nd nd nd nd nd nd2.7 Pilhas e baterias 0,0 - 0,1 0,0 - 0,1 nd 0,1TOTAL GERAL 883,9 52,3 1.458,7 3,4 256,2 2.654,5 174,5 2.829,0

    Setores/Tributos Tributos indiretos Total

    tributosMo de

    obra Total geralFederal

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    Dos tributos incidentes sobre os resduos com valor econmico, parte refere-se aos tributos incidentes nas fases de coleta e triagem dos resduos e parte aos tributos incidentes na indstria recicladora. Os tributos incidentes na fase de coleta e triagem correspondem basicamente queles no diferidos para a etapa de industrializao.

    Por sua vez, a maior parte dos tributos incidentes na indstria recicladora corresponde a tributos diferidos, ou seja, tributos incidentes sobre o material reciclado que normalmente seriam cobrados na fase de coleta e triagem, mas cuja cobrana foi postergada por conta da suspenso da incidncia de PIS/COFINS e do diferimento de ICMS3.

    Ou seja, o valor dos tributos incidentes sobre os resduos reincorporados como matria-prima no processo produtivo corresponde soma daqueles incidentes na fase de coleta e triagem com aqueles cobrados com diferimento na indstria recicladora.

    Os demais tributos incidentes na indstria recicladora correspondem basicamente tributao do valor adicionado por essa indstria. No presente trabalho considerou-se apenas a tributao da indstria recicladora de plsticos, pois nos demais setores no h distino da produo realizada com matria-prima virgem ou reciclada.

    No agregado, a tributao das embalagens ps-consumo alcana R$ 1,3 bilho enquanto a tributao dos demais resduos com valor de mercado alcana pouco menos de R$ 1,5 bilho.

    Tambm se estimou a tributao das cooperativas de catadores, na qual se destaca a contribuio previdenciria, de pouco menos de R$ 19 milhes.

    No que diz respeito aos setores com logstica reversa onerosa, o custo mais elevado est nos setores de leo lubrificante usado ou contaminado (R$ 30,6 milhes) e embalagens de agrotxicos (R$ 26,8 milhes). Esse resultado compreensvel, pois so setores cujo produto da reciclagem tem valor de mercado (cuja venda tributada): leo lubrificante bsico produzido a partir da descontaminao do leo usado e plstico reciclado, no caso do setor de embalagens de agrotxicos.

    3 Adotou-se como hiptese que a indstria recicladora de plstico formada por empresas do

    lucro presumido ou do SIMPLES e que as demais indstrias recicladoras so empresas do regime de lucro real.

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    Dentre os demais setores, destaca-se o custo tributrio na logstica reversa de pneus inservveis, que alcana R$ 9,3 milhes em um setor que no tem receita com a venda dos produtos da reciclagem4.

    * * *

    A quarta e ltima seo do trabalho dedicada apresentao das propostas formuladas para a desonerao tributria da logstica reversa, bem como de uma estimativa de seu impacto sobre a receita tributria.

    As propostas de desonerao formuladas buscam atender a dois objetivos principais: a) desonerao dos resduos reaproveitados como matria-prima ou insumo pela indstria; e b) reduo do custo para os setores obrigados implementao de logstica reversa pela PNRS. A seguir so feitos comentrios sobre as medidas voltadas a atender cada um desses objetivos. Tambm apresentada uma proposta para desonerar a folha das cooperativas de catadores. Por fim, apresenta-se uma estimativa de custo das medidas propostas.

    Desonerao dos resduos reaproveitados como matria-prima pela indstria

    Como mencionado anteriormente, os resduos slidos reincorporados no processo produtivo como matria-prima so tributados na fase de coleta e triagem ou, com diferimento, na indstria recicladora. Visando estimular o uso de material reciclado como insumo pela indstria, prope-se, no estudo, uma srie de medidas voltadas a desonerar total ou parcialmente os resduos slidos de tributos indiretos.

    O conceito que justifica a desonerao dos resduos que eles j foram tributados quando originalmente produzidos com matria-prima virgem. Do ponto de vista econmico, a desonerao dos resduos slidos, alm de estimular o uso de resduos como matria-prima, contribui para elevar a renda gerada na cadeia de coleta, triagem, transporte e reciclagem dos resduos.

    Para viabilizar a desonerao dos resduos slidos de tributos indiretos, prope-se um conjunto de medidas complementares. A mais importante dessas medidas a criao de um mecanismo de crdito presumido de ICMS, PIS/COFINS e IPI sobre o valor dos resduos adquiridos pela indstria recicladora. O mecanismo proposto

    4 A receita resultante da venda de produtos elaborados a partir dos pneus inservveis fica com

    as empresas contratadas como prestadoras de servios pela entidade gestora do setor.

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    semelhante ao atualmente existente para o IPI (regulamentado pelo Decreto n 7.619, de 2011), porm sem distino em funo da origem da sucata adquirida pela indstria, ou seja, o crdito presumido ser calculado sobre o total dos resduos adquiridos pela indstria recicladora.

    No caso do ICMS e do IPI, o crdito presumido seria calculado pela aplicao da alquota do imposto incidente sobre o produto vendido pela indstria recicladora sobre o valor total ou parcial da sucata adquirida pela indstria.

    No caso do PIS/COFINS, o mecanismo seria o mesmo, mas a alquota poderia variar em funo do regime de incidncia desses tributos. Para indstrias do regime no cumulativo de PIS/COFINS, a alquota seria de 9,25% enquanto para indstrias do regime cumulativo a alquota seria de 3,65%.

    Caso o crdito presumido seja integral (ou seja, incidente sobre a totalidade do valor da sucata adquirida) e no haja incidncia ao longo da fase de coleta e triagem, isso significa que no haveria qualquer incidncia de tributos indiretos sobre o material reciclado, havendo, no entanto, a tributao do valor adicionado pela indstria recicladora.

    Complementarmente ao crdito presumido na indstria, prope-se a ampliao da suspenso da incidncia de PIS/COFINS para toda a cadeia de coleta e triagem de resduos. O objetivo, nesse caso, evitar a incidncia cumulativa ao longo das fases de coleta e triagem dos resduos. Essa medida importante para evitar que, apesar do crdito presumido, haja a incidncia no compensvel de tributos ao longo da cadeia.

    De forma semelhante, prope-se a harmonizao da legislao estadual sobre o diferimento de ICMS e a adoo da iseno nas transaes interestaduais com sucata. O objetivo dessa medida simplificar as operaes com sucata inclusive as interestaduais , o que poderia contribuir para a reduo de custos e o funcionamento mais eficiente do sistema de logstica reversa. Alternativamente ao diferimento, poderia ser adotada a iseno tambm nas operaes internas com sucata (desde que preservado o crdito presumido).

    Por fim, sugere-se a desonerao de ISS, PIS/COFINS e ICMS dos servios de terceiros prestados ao longo da cadeia de coleta, triagem, processamento e destinao dos resduos. Essa desonerao importante para que as cadeias em que parte do servio terceirizada no sejam mais tributadas que aquelas em que as

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    operaes so verticalizadas. Pela proposta, tal desonerao alcanaria tambm as operaes das gestoras privadas contratadas pelas empresas obrigadas a implantar sistemas de logstica reversa.

    importante ressaltar que as medidas sugeridas so complementares e no alternativas. apenas com a adoo de todas essas medidas que se pode alcanar a efetiva desonerao dos tributos indiretos incidentes sobre os resduos slidos reincorporados no processo produtivo.

    Reduo do custo para os setores com logstica reversa onerosa

    Se as propostas apresentadas no item anterior so relevantes para as cadeias de reciclagem de resduos cujo valor de mercado suficiente para cobrir o custo da logstica reversa, as propostas deste item tm como objetivo principal contribuir para reduzir o custo (e o impacto desse custo para o consumidor) dos setores cuja logstica reversa implica nus para as empresas responsveis pela logstica reversa de suas embalagens e produtos descartados no ps-consumo.

    Uma preocupao relevante para os setores obrigados implementao de sistemas de logstica reversa onerosa diz respeito ao impacto sobre o preo aos consumidores do repasse do custo da logstica reversa5. Mantido o regime atual, se as empresas incorporarem a seus preos o custo da logstica reversa, o aumento dos preos para o consumidor pode ser muito superior ao custo da logstica reversa. Isso ocorre porque o valor transferido ao preo pelas empresas ser base de tributao e tambm pela incidncia da margem de comercializao sobre esse valor.

    A depender do custo da logstica reversa (como proporo do preo do produto vendido) e da elasticidade-preo do mercado, o impacto desse aumento de custo sobre a demanda e, portanto, sobre o volume de produo e a renda gerada pode ser muito significativo.

    Nesse contexto, entende-se ser necessrio adotar medidas que visem evitar que o custo da logstica reversa para o consumidor final seja muito superior ao custo para a indstria. Em particular, entende-se que o aumento de preo da indstria decorrente

    5 importante destacar que, em mercados competitivos, a tendncia que o aumento dos

    custos para as empresas decorrentes da obrigao de implementar sistemas de logstica reversa seja repassado aos preos.

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    do financiamento de sistemas de logstica reversa no deve ser tributado, uma vez que decorre de uma obrigao criada pelo prprio Poder Pblico.

    Uma forma de alcanar esse objetivo a adoo de um sistema de visible fee, semelhante ao adotado por alguns pases da Europa. No Brasil, sugere-se que a visible fee seja chamada de Ecovalor.

    Por esse sistema, o custo da logstica reversa (Ecovalor) repassado, em cada etapa do processo de produo e comercializao do produto, de forma destacada do preo do produto, no constituindo base de incidncia de qualquer tributo. Assim, por exemplo, na venda da indstria para o atacado a nota fiscal discrimina separadamente o preo do produto e o Ecovalor. O mesmo ocorre na venda do atacado para o varejo e na venda do varejo para o consumidor final.

    A vantagem desse sistema que ele transparente com o consumidor tendo uma noo precisa do custo da logstica reversa (Ecovalor) do produto que est comprando e permite que o custo para o consumidor final seja exatamente igual ao valor desembolsado pela indstria para o financiamento da logstica reversa.

    A desvantagem que o sistema operacionalmente complexo, exigindo um acompanhamento (e obrigaes acessrias) por parte da indstria e de todas as empresas da cadeia de comercializao do produto. Uma segunda desvantagem a dificuldade de compatibilizar esse sistema com a forma de operao de setores que no possuem uma entidade gestora sem fins lucrativos para operacionalizar a logstica reversa. Uma terceira desvantagem o risco de que a cobrana em destacado do Ecovalor venha a ser questionada com base na legislao de defesa do consumidor.

    Nesse contexto, sugere-se uma segunda alternativa para alcanar o mesmo objetivo, que seria a concesso de um crdito presumido de ICMS, PIS/COFINS e, se for o caso, IPI, de modo a compensar ao menos em parte o aumento da tributao e o aumento de custo para o consumidor final.

    Por essa proposta, a empresa obrigada a financiar programa de logstica reversa teria direito a um crdito presumido que compensaria a tributao do aumento de preo resultante do repasse do custo da logstica reversa. No caso do ICMS e do PIS/COFINS, esse crdito presumido seria calculado com base no custo da logstica reversa, acrescido de uma estimativa da margem de comercializao (usualmente chamada de margem de valor adicionado MVA). No caso do IPI (caso a empresa

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    que financie o programa de logstica reversa seja sujeita incidncia de IPI), a base para o clculo do crdito presumido seria o custo da logstica reversa.

    A vantagem desse sistema, relativamente ao sistema de visible fee, que operacionalmente mais simples e permite reduzir de forma significativa o acrscimo de custo para o consumidor final, decorrente do financiamento da logstica reversa. A desvantagem que um sistema menos transparente, que no permite o repasse exato do custo da logstica reversa para o consumidor. Adicionalmente, sua implementao pode ser dificultada no caso de setores que j possuem benefcios fiscais e o sistema pode agravar o problema de acmulo de crditos tributrios que j onera algumas empresas.

    Na prtica, o regime de visible fee mais adequado para alguns setores como os de eletroeletrnicos, lmpadas fluorescentes e pneus e o regime de crdito presumido mais adequado para outros setores, em particular aqueles que no possuem uma entidade gestora sem fins lucrativos (como leo lubrificante e suas embalagens). O ideal que os dois regimes fossem regulamentados, cabendo aos diferentes setores optar pelo mais adequado.

    Por fim, paralelamente s medidas descritas anteriormente, voltadas a minimizar o repasse aos consumidores do aumento de custo das empresas em funo da logstica reversa, possvel propor medidas voltadas a reduzir o prprio custo da logstica reversa. Nesse contexto, prope-se permitir que as empresas deduzam do imposto de renda devido parte dos recursos aplicados em investimento ou custeio de programas de logstica reversa.

    O mecanismo seria semelhante ao atualmente existente para o financiamento de atividades culturais (Lei Rouanet) ou desportivas. Pela proposta, 50% dos valores despendidos pelas empresas em investimentos ou custeio de programas de logstica reversa poderiam ser deduzidos do imposto de renda devido, observado o limite de 4% do imposto (esse limite seria adicional ao j existente para atividades culturais e desportivas).

    Esse mecanismo tem a vantagem de apresentar uma boa relao custo-benefcio em termos de renncia tributria e desenvolvimento de programas de logstica reversa. Sua principal desvantagem que no possvel aplic-lo para empresas do SIMPLES e do regime de lucro presumido.

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    Desonerao da folha de salrio das cooperativas de catadores

    Uma proposta especfica apresentada a reduo do custo das contribuies previdencirias para as cooperativas de catadores. Para tanto, sugere-se adotar, para as cooperativas, um regime semelhante ao atualmente vigente para os microempreendedores individuais (MEI).

    Pela proposta, a cooperativa recolheria como contribuio previdenciria o valor de 5% do salrio mnimo para cada catador cooperado. Os benefcios dos catadores seriam semelhantes queles oferecidos para os microempreendedores individuais.

    Essa medida se justifica dado o perfil de renda e a alta informalidade ainda vigente nas cooperativas de catadores.

    Custo das medidas propostas

    Na Tabela 2, a seguir, apresenta-se uma estimativa do custo, em 2013, das medidas de desonerao propostas.

    Tabela 2: Custo das renncias tributrias (R$ milhes de 2013)

    Fonte: LCA Consultores

    As medidas com maior custo so, obviamente, aquelas relativas desonerao de tributos indiretos da cadeia de logstica reversa dos resduos com valor de mercado, especialmente o crdito presumido na aquisio de sucata pela indstria recicladora. Na Tabela 2 apresenta-se o custo do crdito presumido integral de ICMS, PIS/COFINS e IPI, o qual alcana R$ 2,6 bilhes6. A ampliao da suspenso da incidncia de

    6 importante notar que o custo da desonerao de IPI, apresentado na Tabela 2, no consta

    da incidncia tributria apresentada na Tabela 1, pois como as fases de coleta e triagem de resduos no so base de incidncia de IPI, no h como falar de diferimento da tributao, como ocorre com o ICMS e o PIS/COFINS.

    PIS-COFINS ICMS IPI ISS INSS TOTAL

    Desonerao completa dos tributos indiretos 1.000,5 1.424,5 435,6 3,4 0,0 2.864,1Harmonizao e ampliao do diferimento para o ICMS - - - - - -Suspenso do PIS-COFINS 190,2 na na na na 190,2 Crdito presumido (*) 797,4 1.386,7 435,6 na na 2.619,7Servios de terceiros (**) 13,0 37,8 na 3,4 na 54,2

    Reduo dos custos para setores com logstica reversa onerosa 43,8 82,8 17,3 0,0 0,0 143,9 Desonerao do custo da logstica reversa (ecovalor) 43,8 82,8 17,3 na na 143,9

    Incentivo direto ao investimento e custeio da logstica reversa nd nd nd nd nd -Desonerao do custo da mo de obra p/ as cooperativas na na na na 6,4 6,4TOTAL 1.044,3 1.507,4 452,9 3,4 6,4 3.014,5(*) Considera-se na soma apenas o critrio de 100% de crdito presumido.(**) Inclui gestoras privadas de logstica reversa.

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    PIS/COFINS teria um custo de R$ 190 milhes e a desonerao dos servios de terceiros um custo de R$ 54 milhes.

    No que diz respeito aos setores com logstica reversa onerosa, estimou-se o custo da adoo de uma visible fee (Ecovalor). A rigor, para os setores que ainda no tm a logstica reversa implementada, no haveria renncia tributria (apenas deixar-se-ia de arrecadar tributos sobre um custo criado pela PNRS). No entanto, para os setores que j esto operando sistemas de logstica reversa, haveria uma perda de receita em relao situao atual (correspondente incidncia de tributos sobre o repasse ao consumidor do custo da logstica reversa para as empresas) estimada em R$ 144 milhes.

    O custo da proposta de incentivo direto (via deduo do IRPJ devido) aos programas de logstica reversa no foi estimado, pois depende de uma quantificao dos investimentos a serem realizados, que no foi possvel fazer no mbito deste trabalho.

    Por fim, o custo de desonerao da folha das cooperativas de catadores seria bastante reduzido, da ordem de R$ 6,4 milhes.

    No estudo apresenta-se tambm uma estimativa da evoluo da renncia tributria at 2020.

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    INTRODUO Este trabalho, desenvolvido a pedido a Confederao Nacional das Indstrias (CNI), tem o objetivo de avaliar o estado atual da tributao das atividades desenvolvidas pelas diferentes cadeias de logstica reversa de resduos slidos e de propor mecanismos de desonerao tributria que permitam o seu desenvolvimento, mensurando os impactos econmicos das propostas em especial no que se refere ao impacto sobre a receita tributria.

    A razo da demanda da CNI decorre da ampliao relevante dos setores obrigados a implantar e manter sistemas de logstica reversa de resduos slidos, em decorrncia da Lei n 12.305, de 2010, que instituiu a Poltica Nacional de Resduos Slidos (PNRS). Esse dispositivo obriga fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de diversos setores a estruturar e implantar sistemas de logstica reversa mediante retorno dos produtos aps o uso pelo consumidor.

    As cadeias de logstica reversa e os resduos analisados neste trabalho foram definidos pela CNI e so os seguintes:

    a. leo lubrificante usado e contaminado (OLUC); b. embalagens de leo lubrificante;

    c. embalagens de agrotxicos;

    d. pneus inservveis;

    e. lmpadas fluorescentes, de vapor de sdio e mercrio e de luz mista;

    f. pilhas e baterias;

    g. produtos eletroeletrnicos;

    h. embalagens que compem a frao seca dos resduos slidos urbanos, as quais sero consideradas segundo o material predominante na embalagem, a saber:

    i. papel e papelo; ii. plstico (inclusive PET); iii. vidro; iv. alumnio; v. ao.

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    O trabalho est dividido em quatro sees, alm desta introduo. A primeira seo descreve o funcionamento atual das cadeias de logstica reversa dos setores/produtos analisados, buscando identificar, para cada elo da cadeia, o valor da receita bruta, o valor adicionado, o total de impostos indiretos pagos, entre outras informaes. Dessa seo consta tambm resumo das propostas de cada setor para o cumprimento das exigncias da PNRS, expressas nos acordos setoriais.

    A segunda seo descreve sucintamente a atual estrutura de tributao das cadeias de logstica reversa, com foco sobre os tributos incidentes sobre bens e servios (tributos indiretos). A terceira seo combina as informaes das duas primeiras e apresenta uma estimativa da carga tributria, por atividade, das cadeias de logstica reversa analisadas.

    Finalmente, com base na anlise prvia, na quarta seo apresentam-se algumas alternativas de desonerao das cadeias de logstica reversa de resduos slidos analisadas, estimando-se seu custo em termos de renncia tributria.

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    1 LOGSTICA REVERSA: FUNCIONAMENTO ATUAL E PROPOSTAS DOS SETORES

    Esta seo resume o funcionamento atual das cadeias de logstica reversa analisadas, assim como as propostas e metas apresentadas pelos diversos setores visando ao cumprimento das exigncias da PNRS.

    Antes de iniciar esta exposio, importante deixar claro que, do ponto de vista econmico, h diferenas significativas entre as cadeias de logstica reversa das diversas categorias de resduos analisadas.

    Por um lado, h cadeias de logstica reversa que j operam via mercado, com seu custo sendo financiado pelo valor da venda do material recuperado. Esse o caso da logstica reversa das embalagens ps-consumo de papel, papelo, vidro, plstico, alumnio e ao. No entanto, mesmo entre as diversas categorias de embalagens, as situaes podem variar muito, em funo do valor de mercado dos resduos e do custo de seu transporte. Essas variaes se refletem no alcance geogrfico da logstica reversa que vivel via mercado.

    Por outro lado, h resduos cuja logstica reversa no vivel apenas pela operao do mercado, implicando custos para os responsveis pela logstica reversa. Esse o caso dos demais resduos abrangidos por este trabalho: (i) leo lubrificante usado ou contaminado; (ii) embalagens de leo lubrificantes; (iii) embalagens de agrotxico; (iv) pneus; (v) lmpadas fluorescentes; (vi) pilhas e baterias e (vii) eletroeletrnicos. Na maior parte dos casos, esses resduos contm materiais prejudiciais sade humana e ao meio ambiente, e sua destinao ambientalmente correta implica o transporte e tratamento em ambiente controlado, o que eleva consideravelmente o custo da logstica.

    Em geral, aps a descontaminao e separao dos componentes desses resduos, possvel comercializar os subprodutos da reciclagem, mas as receitas auferidas com a venda dos resduos comercializveis so insuficientes para cobrir todo o custo da logstica reversa. Tambm nesses casos a situao pode variar de forma significativa entre setores: em alguns casos, o valor da venda dos resduos cobre parte importante dos custos da logstica reversa; em outros casos, praticamente no h receita com a venda dos resduos.

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    Esta seo explica o funcionamento dessas cadeias e os custos envolvidos na logstica reversa dos diversos resduos/setores analisados.

    1.1 Embalagens ps-consumo

    Esta subseo dedicada anlise da logstica reversa das embalagens ps-consumo de papel, papelo, vidro, plstico, alumnio e ao, cuja logstica reversa atualmente realizada via mercado.

    Antes de iniciar a apresentao da estrutura da logstica reversa das embalagens ps-consumo, cabe mencionar que, ao se conceder benefcios fiscais para a recuperao e reciclagem desses materiais, ser provavelmente muito difcil separar os resduos provenientes de embalagens daqueles provenientes de outras fontes, mas que so constitudos dos mesmos materiais. Esse o caso de outros resduos ps-consumo que no so embalagens, como, por exemplo, utenslios domsticos de ao, alumnio ou plstico, papel branco de impresso etc. o caso tambm dos resduos pr-consumo, provenientes de grandes empresas (estabelecimentos comerciais e grandes prestadores de servio) e de processos e instalaes industriais.

    Nesse contexto, embora no pertencessem originalmente ao escopo deste trabalho, os demais resduos de papel, papelo, vidro, plstico, alumnio e ao com logstica reversa via mercado tambm foram considerados tanto na mensurao da carga tributria atual quanto nas estimativas de custo das propostas de desonerao, uma vez que, na prtica, muito difcil separar resduos de embalagens de resduos de no embalagens para fins de incentivos tributrios.

    Nesta subseo apresenta-se o funcionamento das cadeias de logstica reversa das embalagens ps-consumo de papel, papelo, vidro, plstico, alumnio e ao, e feita uma estimativa da renda gerada nessas cadeias e de sua distribuio. O dimensionamento da cadeia de logstica reversa dos outros resduos ps e pr-consumo desses mesmos materiais feito no Anexo I.

    * * *

    A cadeia de logstica reversa de embalagens ps-consumo est estruturada de acordo com o fluxograma da Figura 1. Foram estimadas as seguintes variveis econmico-contbeis: receita bruta, impostos indiretos, valor adicionado e excedente operacional

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    bruto7. A receita bruta simplesmente o conceito tradicional de receita com a venda dos resduos de embalagens (e, no caso da indstria recicladora de plstico, com a venda dos pellets produzidos a partir da reciclagem de embalagens plsticas). Os impostos indiretos compreendem ICMS, PIS/COFINS, IPI e ISS, quando aplicveis. O valor adicionado o montante residual obtido pela subtrao dos insumos e tributos indiretos da receita bruta. O excedente operacional bruto corresponde remunerao do capital prprio e de terceiros: lucro, aluguis, juros e dividendos8.

    Figura 1: Fluxograma da logstica reversa de embalagens, valores de 2011

    Fonte: ABAL, ABEAO, ABIPET, Abiplast, ABIVIDRO, ANAP, Bracelpa, CEMPRE, Censo/IBGE 2010, PAC/IBGE 2011, PIA/IBGE 2011, Plastivida, RAIS/MTE 2011

    Depois de descartados pelo consumidor, os resduos de embalagens podem ser coletados pela prefeitura, por meio de coleta regular ou seletiva, pelas cooperativas (que em alguns casos tambm recepcionam os resduos da coleta seletiva municipal e aqueles provenientes de pontos de entrega voluntria), por catadores no cooperados

    7 Para detalhes de como esses valores foram estimados, consultar Anexo I.

    8 Para maiores detalhes a respeito da conceituao das variveis analisadas, consultar as

    notas explicativas.

    ColetaColeta seletiva prefeitura Coleta regular prefeituraCooperativas

    Quantidade (mil ton/ano): 661,2 Catadores no cooperados Receita bruta (R$ milhes): 272,6 Pequenos depsitos Impostos indiretos (R$ milhes): 10,4 CAMR Valor adicionado (R$ milhes): 200,9 Salrios e encargos: 200,9 Nmero de cooperados: 30.390Rendimento mdio mensal (R$): 551,0

    Quantidade (mil ton): 5.461,6Receita bruta (R$ milhes): 3.649,8Impostos indiretos (R$ milhes): 311,7 Valor adicionado (R$ milhes): 748,4 Salrios e encargos: 392,0 Excedente operacional bruto: 356,4

    Quantidade (mil ton): 713,6 Quantidade (mil ton): 4.748,0 Compra Reciclvel: 1.044,2 Compra reciclvel (R$ milhes): 2.605,5 Receita bruta (R$ milhes): 1.586,2 Ind. de Embs. de papel, cartolina etc. Valor adicionado (R$ milhes): 370,9 Fabr. de Embs. de Vidro Salrios e encargos: 225,1 Ind. de Metalurgia do Alumnio e suas Ligas INSS: 44,7 Ind. de Siderurgia e Prod. de Tubos de Ao Excedente operacional bruto: 145,8

    Fabr. de Produtos de Material Plstico

    Reciclador Plstico Indstria de transformao

    Indstria de transformao

    Consumidor/Gerador

    Cooperativas

    Comrcio Atacadista Material Reciclvel (CAMR)

    Plstico Papel e papeloVidroAoAlumnio

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    ou pelo comrcio atacadista de material reciclvel (CAMR). A maior parte dos resduos de embalagens coletados, no entanto, no transita pelas cooperativas.

    De maneira geral, as cooperativas no operam com escala e padro de qualidade exigido pelo reciclador. Assim, o resduo por elas coletado, bem como o proveniente dos catadores no cooperados e o de pequenos depsitos (que fazem a coleta e triagem da maior parte do material), vendido ao CAMR, que o grande fornecedor da indstria recicladora. O CAMR vende ao reciclador o material separado, tratado e prensado.

    No caso do papel, papelo, vidro, alumnio e ao, a reciclagem feita pela prpria indstria de transformao, como, por exemplo, a indstria metalrgica no caso do alumnio e os fabricantes de produtos de vidro, no caso do vidro. No caso do plstico, existe um grande nmero de micro, pequenas e mdias empresas que fazem a reciclagem do resduo de plstico ps-consumo, produzindo pellets reciclados que so posteriormente utilizados como matria-prima pela indstria de transformados plsticos.

    Segundo as estimativas realizadas, em 2011, as cooperativas faturaram R$ 273 milhes, sendo que o valor adicionado correspondeu a R$ 201 milhes, depois de deduzidos os impostos e as despesas operacionais. O rendimento mdio mensal dos cooperados, de R$ 551, ficou em linha com o salrio mnimo do perodo9. Segundo o IBGE, havia 30.390 trabalhadores atuando em cooperativas de catadores em 2010.

    A menor importncia das cooperativas na triagem de embalagens ps-consumo pode ser dimensionada quando se compara seu faturamento com o do CAMR. A quantidade de resduos movimentada por estes foi 8,3 vezes maior que o das cooperativas. O comrcio atacadista pea fundamental no funcionamento do sistema de logstica reversa, uma vez que atualmente s ele capaz de oferecer a combinao quantidade/qualidade exigida pelo reciclador, alm de prover liquidez para as cooperativas e pequenos comerciantes de resduos. Segundo as estimativas apresentadas na Figura 1, em 2011, a receita bruta do CAMR foi de R$ 3,7 bilhes com embalagens ps-consumo, com valor adicionado de cerca de R$ 748 milhes.

    O elo seguinte ao comrcio atacadista o do reciclador. Nessa etapa h uma importante diferenciao na cadeia. Como mencionado acima, os recicladores de

    9 O salrio mnimo foi de R$ 540 de 01/01/2011 at 01/03/2011 e de R$ 545 de 02/03/2011 at

    01/01/2012.

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    materiais plsticos representam um segmento industrial especfico, em que as firmas, em sua maioria pequenas e mdias empresas, dedicam-se transformao do resduo plstico em matria-prima (pellets) que ser posteriormente adquirida por outras indstrias e utilizada para fabricao de produtos de material plstico de uso geral. Para os demais materiais, normalmente, o reciclador a prpria indstria de transformao. Por exemplo, as siderrgicas adquirem o resduo de ao e o incorporam no seu processo produtivo, da mesma forma que o faz a indstria de embalagens de papel e papelo com os resduos de papel, e assim por diante, conforme ilustra a Figura 1.

    Como se explica adiante, a importncia da caracterizao da indstria recicladora est no fato de que o momento da entrada do resduo em estabelecimento industrial, combinado com o tipo de empresa (se lucro real, presumido ou SIMPLES), determina variaes importantes na estrutura de tributao dos resduos.

    Em 2011, a receita bruta dos recicladores com embalagens de materiais plsticos foi de R$ 1,6 bilho e a agregao de valor foi de R$ 371 milhes. Por sua vez, a indstria de transformao adquiriu resduos dos demais materiais analisados no valor de R$ 2,6 bilhes no mesmo perodo. Nesse ltimo caso, para fins deste trabalho, s interessa o valor da aquisio do resduo, motivo pelo qual as demais variveis, como receita bruta e valor adicionado no foram computados. Voltaremos a esse ponto na seo 2.

    De modo geral, na cadeia de reciclagem de embalagens ps-consumo, as cooperativas so o elo mais frgil. Alm da elevada informalidade, elas so caracterizadas pela baixa produtividade e reduzido investimento em ativos permanentes e em qualificao da mo de obra. Tudo isso limita grandemente sua capacidade de absorver um aumento repentino da oferta de resduos.

    Por essa razo, um dos eixos principais da proposta de acordo setorial apresentada pela Coalizo de Empresas coordenada pelo Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE) a realizao de investimentos em ativos e em qualificao nas cooperativas como meio de cumprir as exigncias da PNRS com incluso social, ao aumentar a escala, a agregao de valor e a renda gerada para os catadores cooperados. O plano da Coalizo prev o aumento em 20% na taxa de reciclagem de resduos ps-consumo no Brasil em trs anos e ser implantado paulatinamente,

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    abrangendo primeiro as cidades-sede da Copa do Mundo de futebol. Essa experincia ser til para, numa segunda fase, expandir a atuao para o restante do pas10.

    A proposta da Coalizo Empresarial vale para todos os materiais, com exceo do vidro. Para este ltimo, a proposta do setor vidreiro de criao de uma gestora. O resduo de vidro o material com mais baixo valor de mercado por tonelada triada. Por isso, invivel economicamente recolher vidro a grandes distncias, em funo do alto custo de transporte. A ABIVIDRO calcula em 130 km ao redor do reciclador (que est concentrado na faixa litornea brasileira) a distncia economicamente vivel para a logstica reversa do vidro. Por essa razo, os produtores, por meio da ABIVIDRO, propem um modelo de logstica reversa com uma gestora nacional nica, que seria capaz de cobrir todo o territrio nacional, mas sua implantao est condicionada concesso de incentivos tributrios pelo governo e sua participao na operacionalizao do sistema11.

    Resumidamente, no modelo proposto pela ABIVIDRO, os municpios seriam responsveis pela coordenao da coleta seletiva e o resduo coletado seria encaminhado s cooperativas, devidamente equipadas e certificadas, responsveis pela triagem. A gestora, por acordo de compra, adquiriria o vidro triado pela cooperativa e, por contrato de beneficiamento, aprimoraria o resduo proveniente da cooperativa junto ao beneficiador. Por sua vez, os fabricantes de embalagens utilizariam o vidro recuperado por meio de um acordo de compra de resduo com a gestora. As receitas da gestora proveriam do material vendido aos vidreiros e de uma tarifa paga pelos envasadores por embalagem colocada no mercado.

    De qualquer forma, enquanto as condies para a implantao da gestora no esto dadas, o processo de logstica reversa do vidro no deve se diferenciar muito do aplicvel aos demais materiais, a no ser pela coordenao que a ABIVIDRO poder exercer junto aos demais participantes da cadeia para recolhimento dos resduos de vidro dentro do raio de 130 km do reciclador.

    10 Uma anlise da proposta da Coalizo Empresarial pode ser encontrada em LCA e E2 (2012).

    11 A proposta de acordo setorial do vidro detalha a operacionalizao da logstica reversa com

    uma entidade gestora nacional nica.

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    1.2 leo lubrificante usado ou contaminado (OLUC) A Figura 2 apresenta as etapas e os agentes envolvidos na logstica reversa dos leos lubrificantes usados ou contaminados (OLUC), bem como os custos financeiros da coleta do resduo.

    Figura 2: Fluxograma da logstica reversa de leos lubrificantes, valores de 2011

    Fonte: SINDIRREFINO; PIA/IBGE 2011

    O recolhimento, a coleta e a disposio final do OLUC so regulados pela Resoluo CONAMA n 362/2005, alterada pela Resoluo n 450/2012. Essa resoluo determina que todo OLUC coletado seja destinado reciclagem por meio do rerrefino, que considerado a melhor alternativa ambiental para esse resduo, classificado como classe I perigoso12. O recolhimento fica a cargo dos produtores, importadores, revendedores, bem como dos geradores (os consumidores), num modelo de responsabilidade compartilhada, como previsto na PNRS.

    Os produtores e importadores de leo lubrificante acabado so responsveis por coletar ou garantir a coleta e a destinao final do OLUC, proporcionalmente ao volume de leo lubrificante por eles comercializado. Esses agentes podem contratar

    12 De acordo com a PNRS, so resduos perigosos aqueles que, em razo de suas caractersticas de

    inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, apresentam significativo risco sade pblica ou qualidade ambiental, de acordo com lei, regulamento ou norma tcnica.

    Consumidor

    Revendedores (postos, oficinas etc.)

    Coletores e Pontos de acmulo

    Rerrefinaria

    Pagamento dos rerrefinadores a ttulo

    de custeio da armazenagem correta

    do produto(R$ 0,35/litro)

    Produtor / Importador

    Ressarcimento prod. e import. para coleta (R$

    0,26 a 0,30/litro)

    Veculos operacionais: 0,27 113,8Custos da Base (inclui folha de pagamento): 0,03 14,5Custo da administrao central: 0,02 7,2Custo do frete de transbordo at unidade de processamento: 0,18 72,9

    Custo mdio nacional 0,50 208,4Contribuio para pontos de coleta 0,35 145,8Total 0,85 354,2

    Detalhamento custosR$ por

    litro coletado

    Total (R$ milhes)

    Quantidade coletada (milhes litros) 417Ressarcimento por coleta (R$ milhes): 117Custos totais (R$ Milhes): 354Impostos indiretos (R$ milhes): 4

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    uma empresa coletora autorizada pelo rgo regulador da indstria do petrleo, ou se habilitarem para a coleta conforme a legislao do mesmo rgo. Os produtores e importadores no se isentam da responsabilidade pela coleta e destinao legal ao contratar um coletor terceirizado, estando sujeitos a responder pelas aes dos seus contratados.

    Os produtores e importadores tm ainda como obrigao divulgar nas embalagens de leo lubrificante acabado e informes tcnicos como o consumidor deve retornar corretamente o OLUC, bem como os danos decorrentes da disposio inadequada do resduo, que deve estar contido tambm na propaganda e publicidade do produto acabado. Por sua vez, o consumidor tem o dever de entregar o resduo perigoso ao ponto de recolhimento (revendedor) ou outro coletor autorizado. Uma vez que a maior parte do OLUC descartada justamente no ponto de recolhimento (ponto de troca de leo), o cumprimento dessa obrigao bastante facilitado.

    O revendedor assume o papel de ligao entre o consumidor e os agentes de reciclagem do leo lubrificante usado ou contaminado (OLUC), os coletores. Sua responsabilidade consiste em dispor de instalaes adequadas e licenciadas pelo rgo ambiental para recolher de forma segura o OLUC em seu estabelecimento. O resduo deve ser entregue exclusivamente ao coletor, que dar prosseguimento destinao ambientalmente adequada.

    Em 2011 foram coletados 416,6 milhes de litros de OLUC, o que representa 37,0% do OLUC reciclvel comercializado no perodo (1.126,0 milhes de litros), superando a meta estabelecida para o perodo. O Ministrio do Meio Ambiente (MMA) e o de Minas e Energia (MME) estabelecem em ato normativo conjunto as metas a serem cumpridas pelo setor, que so divulgadas em portarias interministeriais. Os produtores e importadores so obrigados a contribuir com o custeio da coleta de OLUC efetivamente realizada, mesmo que superada a meta estabelecida na Portaria Interministerial para o perodo, na proporo do leo acabado que colocarem no mercado. A Tabela 3 apresenta as metas atuais.

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    Tabela 3: Metas estabelecidas pela Portaria Interministerial MMA/MME 59/2012 para coleta de OLUC, para o perodo de 2012 a 2015

    Fonte: SINDIRREFINO

    O rerrefinador autorizado pelo rgo regulador da indstria do petrleo e licenciado pelo rgo ambiental competente. Sua atividade consiste em remover os contaminantes do resduo perigoso e produzir leo lubrificante bsico, conforme as especificaes da Agncia Nacional do Petrleo. Esse processo pode ocorrer indefinidamente, sem perda de qualidade do leo reciclado. A maioria dos rerrefinadores atuam na cadeia de logstica reversa de OLUC tambm como coletores autorizados13.

    O leo lubrificante bsico rerrefinado possui valor de mercado. Segundo o IBGE, a receita da indstria de rerrefino somou R$ 607,4 milhes em 2011 para uma produo de 28814 milhes de litros. No entanto, a atividade de rerrefino no seria vivel economicamente sem o aporte de recursos de produtores e importadores. A Figura 2 mostra que a atividade de coleta, feita pelos prprios rerrefinadores ou por empresas terceirizadas por eles contratadas, altamente deficitria. De fato, os rerrefinadores recebem dos produtores e importadores um ressarcimento de R$ 0,26 a R$ 0,30 por litro de OLUC coletado, valor inferior ao custo total estimado de R$ 0,85/litro, que inclui parcela paga aos revendedores (postos de gasolina, oficinas mecnicas etc.) de R$ 0,35 por litro do resduo corretamente armazenado, de modo a evitar mistura com gua e outros contaminantes.

    Na logstica reversa do leo lubrificante contaminado, a gerao de renda tributvel ocorre em trs momentos: (i) na coleta, por meio da incidncia de PIS/COFINS no valor recebido a ttulo de ressarcimento pela coleta; (ii) na comercializao do produto industrializado acabado, pela tributao de PIS/COFINS sobre a receita das vendas de leo bsico rerrefinado; e (iii) na contratao pelas empresas rerrefinadoras de

    13 Das 19 empresas autorizadas pela ANP a exercer a atividade de rerrefino, 15 atuam tambm como

    coletores autorizados pelo mesmo rgo. Disponvel em: http://www.anp.gov.br/?id=670. 14

    Cabe notar que a quantidade produzida de leo bsico difere da quantidade coletada de OLUC devido s perdas no processo de rerrefino, que giram em torno de 30%.

    Ano Nordeste Norte Centro-Oeste Sudeste Sul Brasil2012 26,0% 26,0% 32,0% 42,0% 36,0% 36,90%2013 28,0% 28,0% 33,0% 42,0% 36,0% 37,40%2014 30,0% 30,0% 34,0% 42,0% 37,0% 38,10%2015 32,0% 31,0% 35,0% 42,0% 37,0% 38,50%

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    servios de transporte de terceiros, particularmente para a coleta do OLUC15. No h incidncia de IPI no setor e o recolhimento de ICMS feito apenas na sada do leo lubrificante acabado, elaborado a partir do leo lubrificante bsico e de aditivos.

    1.3 Embalagens de leos lubrificantes

    A logstica reversa de embalagens de leo lubrificante foi a primeira implantada nos moldes de acordos setoriais16, como previsto na PNRS, e est estruturada conforme a Figura 3.

    A responsabilidade pela logstica reversa compartilhada entre os produtores e importadores de leo lubrificante, os produtores de embalagens plsticas de leo lubrificante, o comrcio (atacadista e varejista), o consumidor e o governo. Cabe aos produtores e importadores de leo acabado o custeio do programa de logstica, intitulado programa Jogue Limpo e que conta com quatro empresas gestoras privadas, contratadas via licitao, operando em mbito estadual, em seis unidades federativas e no Distrito Federal.

    15 Para maiores detalhes, ver Anexo II. 16

    Segundo a definio da PNRS, Lei n 12.305/2010, artigo 3, acordo setorial o ato de natureza contratual firmado entre o poder pblico e fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes, tendo em vista a implantao da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto. Disponvel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm.

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    Figura 3: Fluxograma da logstica reversa de embalagens de leo lubrificante

    Fonte: SINDICOM

    Os consumidores de leo lubrificante deixam a embalagem no estabelecimento comercial onde o produto foi adquirido quando da troca do leo, ou posteriormente, se o produto tiver sido adquirido e utilizado em outro local. Os estabelecimentos comerciais so responsveis por receber as embalagens devolvidas pelo consumidor, bem como aquelas geradas no prprio local. O material deve ser armazenado adequadamente (garantindo a segregao de outros resduos) e retornado via unidades de recebimento itinerante ou encaminhado s centrais de recebimento.

    As unidades de recebimento itinerantes emitem um certificado de recebimento/retirada e pesam as embalagens. Essas informaes so transferidas a um sistema de monitoramento disponibilizado pelos fabricantes e importadores. O rgo ambiental possui acesso a esse banco de dados, podendo notificar os estabelecimentos credenciados no Programa Jogue Limpo que aps trs visitas consecutivas no forneceram embalagens gestora.

    O material recebido diretamente nas centrais de recebimento passa pelo mesmo processo que ocorre nas unidades itinerantes e, em adio, ocorre a drenagem do resduo remanescente nas embalagens. A drenagem tambm realizada nas embalagens provenientes das unidades itinerantes. As centrais ainda consolidam e acumulam a coleta das unidades itinerantes.

    Os produtores de embalagens plsticas de leos lubrificantes tm a obrigao de desenvolver novas tecnologias que possibilitem que percentual crescente de material

    Produtores/importadores

    Consumidores Ponto de Recebimento

    Gestoras

    Custeio da logstica

    Empresas Recicladoras Licenciadas

    Unidades de Recebimento

    Itinerantes

    Centrais de Recebimento

    Responsabilidade das gestoras

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    reciclado, com o mnimo inicial de 10%, seja utilizado na fabricao de novas embalagens, at que seja atingido o mximo tecnicamente possvel. Cabe Unio monitorar a implantao do Programa Jogue Limpo, junto aos signatrios do acordo setorial e aos rgos ambientais competentes, alm de participar dos programas de divulgao do acordo setorial.

    No acordo setorial, o setor se comprometeu a, at o final de 2016, dobrar o peso total das embalagens plsticas de leo lubrificante17 recuperadas no ano de 2011, quando foram destinadas 2,2 milhes de toneladas de embalagens, em conformidade com o cronograma e etapas estabelecidos na clusula quinta do acordo setorial. Estima-se que o cumprimento da meta acarretar no aumento das despesas do Programa Jogue Limpo em 114% e que 150 novos empregos diretos sejam criados18.

    Como se constata na Tabela 4, a receita com a venda do material plstico das embalagens (R$ 1,1 milho) fica muito aqum dos custos da logstica reversa, que somaram R$ 10 milhes em 2012, gerando um desequilbrio que coberto pelos responsveis legais mencionados.

    Tabela 4: Receitas e despesas do programa Jogue Limpo, valores de 2012

    Fonte: SINDICOM

    Para fins de tributao, o fluxo de logstica reversa engloba o trabalho feito pelas gestoras de coleta, armazenamento temporrio e beneficiamento; a contratao de servios de transporte especializado pelas gestoras para envio do material acumulado s recicladoras e a prpria atividade de reciclagem do plstico. O valor total de impostos indiretos pagos nessas trs atividades somou R$ 2,6 milhes, a preos de 2011.

    17 O acordo setorial alcana apenas as embalagens plsticas de leo lubrificante de um litro ou

    menos. 18

    Atualmente o Programa Jogue Limpo responsvel por 100 empregos diretos, segundo apresentao do Programa Jogue Limpo na Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hdricos e Cincia e Tecnologia da Paraba (SERHMACT PB).

    R$ de 2012Itens 2012Despesa (R$ milhes) 10,00Receita (R$ milhes) 1,10Despesa - Receita (R$ milhes) 8,90Quantidade (ton) 2.890Quantidade (mil embalagens) 57.800Custo lquido para gestora (R$/kg) 3,1

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    1.4 Embalagens de agrotxicos

    A logstica reversa de embalagens de agrotxicos, denominada de Sistema Campo Limpo, realizada pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV), gestora sem fins lucrativos que atua desde 2003 em cumprimento Lei Federal n 9.974/2000 e ao Decreto Federal n 4.074/2002. A legislao dispe sobre a responsabilidade compartilhada entre os agricultores, os canais de distribuio, a indstria e o poder pblico pela destinao ambientalmente adequada desse tipo de resduo, classificado em parte como perigoso (classe I). O licenciamento ambiental dos estabelecimentos que recebem as embalagens de agrotxico, para a posterior destinao final, regulado pela Resoluo Conama n 334. O Sistema Campo Limpo referncia mundial. Em 2012, o inpEV recuperou 94% de todas as embalagens colocadas no mercado.

    A Figura 4 apresenta o funcionamento detalhado da cadeia de logstica reversa, gerenciada pelo inpEV, que financiada pelas empresas associadas, a quem cabe o custeio do Sistema Campo Limpo e cujas contribuies lquidas somaram R$ 48 milhes em 2012.

    Figura 4: Fluxograma da Logstica Reversa de Embalagens de Agrotxicos, valores de 2012, R$ mil

    Fonte: inpEV

    Empresas Importadoras/ Fabricantes

    Contribuies lquidas das associadas

    R$ 47.978inpEV (A)

    Taxa de credenciamento de recicladores:

    Ingressos para custeio das URE:

    R$ 9.059

    R$ 21.231Receitas (B)

    Campo LimpoRecicladora

    Outras Recicladoras Incineradoras

    Transporte: R$ 13.388 Gasto: R$ 6.940Transporte: R$ 730

    Custeio das URER$ 30.404

    Centrais de Recebimento (separao por tipo,

    compactao e enfardamento do plstico) URE

    Agricultores (devoluo

    impositiva da embalagem)

    Postos de Recebimento

    URE

    Legendas

    Fluxo financeiro

    Fluxo fsico

    Transporte realizado pelo inpEV

    Transporte por conta do Agricultor

    (A) Este diagrama no considera as despesas com infraestrutura e com suporte.

    Arrendamento mercantil operacional R$ 4.982Dividendos R$ 3.458

    (B) Outras receitas do inpEV oriundas da Campo Limpo recicladora:

    2. A taxa de remessa (custeio das URE) de aprox. R$ 0,60/kg.1. A taxa de credenciamento dos recicladores de aprox. R$ 0,40/kg.

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    No ato de compra do agrotxico, o agricultor informado sobre como lavar, armazenar, transportar e devolver suas embalagens vazias, bem como o endereo da Unidade de Recebimento de Embalagens (URE) na qual o resduo deve ser entregue, no prazo de um ano aps a aquisio. O local discriminado na nota fiscal do produto e a devoluo da embalagem impositiva, estando o agricultor sujeito a autuao por crime ambiental no caso de no cumprir com a entrega ou no lavar as embalagens adequadamente19. O inpEV monitora os ndices de entrega e informa as autoridades responsveis pela fiscalizao quando as devolues esto abaixo do esperado.

    As centrais de recebimento so usualmente administradas por Associaes de Distribuidores/Cooperativas, com o cogerenciamento do inpEV. Cabe tambm a este transportar as embalagens dos postos para as centrais de recebimento, onde elas so separadas por tipo (PET, COEX, PEAD MONO, metlica, papelo), enfardadas e compactadas por tipo de material. Alguns consumidores devolvem suas embalagens diretamente s centrais. O inpEV transporta o resduo para a destinao final aps receber uma ordem de coleta da central.

    O inpEV utiliza o frete de retorno para o transporte entre as URE e a destinao final das embalagens. Essa operao logstica consiste no aproveitamento do caminho que retorna do abastecimento do comrcio de agrotxicos. A viagem de volta empregada para levar o material armazenado nas URE. As embalagens que tiverem sido adequadamente lavadas e inutilizadas so transportadas a uma das nove empresas recicladoras parceiras, enquanto as no lavadas e no lavveis so encaminhadas para a incinerao. Em 2012, foram gastos R$ 13,4 milhes e R$ 730 mil no transporte para a destinao final at as recicladoras e as incineradoras, respectivamente.

    Alm da receita proveniente das contribuies das empresas associadas, o inpEV conta com recursos oriundos da recicladora Campo Limpo (arrendamento mercantil operacional e dividendos) e das outras recicladoras parceiras (taxa de credenciamento e ingressos para custeio das URE).

    A Campo Limpo Reciclagem e Transformao de Plsticos S.A. foi criada com o intuito de prover a autossustentabilidade econmica da logstica reversa de embalagens de agrotxico. A recicladora foi idealizada pelo inpEV e possui 30 acionistas, todos

    19 A embalagem de agrotxico s pode ser reciclada se a lavagem trplice ou lavagem sob

    presso tiver sido realizada pelo usurio logo aps seu uso. Alm disso, a embalagem deve ser inutilizada com o fundo perfurado.

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    fabricantes de defensivos agrcolas. O Instituto dono de todo o ativo fsico da recicladora e do terreno onde a empresa opera. Decorre da as receitas de R$ 5 milhes com arrendamento mercantil operacional e de R$ 3,5 milhes em dividendos auferidos pela gestora. Vale ressaltar que os dividendos devem ser investidos no aperfeioamento do sistema de logstica da destinao final de embalagens vazias de agrotxicos.

    As embalagens de agrotxicos so feitas com plstico de alta qualidade. O inpEV, que responsvel pela destinao final das embalagens usadas, faz uma simples remessa desse material aos recicladores, com um valor simblico de R$ 0,01/kg.

    Os recicladores credenciados ao Sistema Campo Limpo20 repassam ao instituto recursos necessrios para o custeio das URE e tambm para ressarcimento dos custos de recebimento e preparao das embalagens vazias pelos postos e centrais de recebimento.

    O Instituto recolhe PIS sobre a folha de salrio. As demais atividades sujeitas tributao na logstica reversa de embalagens de agrotxicos so os servios de coleta, transporte e incinerao, que so contratados pelo inpEV, alm da reciclagem propriamente dita do material plstico.

    1.5 Pneus inservveis

    A regulao da logstica reversa de pneumticos teve incio com a Resoluo n 258/99 do CONAMA, atualizada pela resoluo n 416/09, que dispe sobre a destinao ambientalmente adequada dos pneus inservveis21, entre outras providncias. A resoluo determina que para cada novo pneu comercializado (por

    20 Correspondente transferncia de conhecimento acerca dos processos de utilizao das

    embalagens de agroqumicos na produo de novos artefatos, bem como aos treinamentos de funcionrios das recicladoras para que ocorra a gesto adequada dos resduos. 21

    Destinao ambientalmente adequada de pneus inservveis: procedimentos tcnicos em que os pneus so descaracterizados de sua forma inicial, e que seus elementos constituintes so reaproveitados, reciclados ou processados por outra(s) tcnica(s) admitida(s) pelos rgos ambientais competentes, observando a legislao vigente e normas operacionais especficas de modo a evitar danos ou riscos sade pblica e segurana e a minimizar os impactos ambientais adversos. Disponvel em: http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=616

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    fabricantes ou importadores) para o mercado de reposio22 um pneu inservvel seja coletado e destinado adequadamente. A logstica reversa dos pneus inservveis concebida pela Reciclanip, entidade da indstria nacional de pneumticos, e da Associao Brasileira de Importadores e Distribuidores de Pneus (ABIDIP) obedece ao esquema da Figura 5. A responsabilidade pela destinao compartilhada por todos os elos da cadeia: distribuidores, revendedores, destinadores, consumidores finais e o poder pblico.

    A presena de pelo menos um ponto de coleta em todas as cidades com mais de cem mil habitantes obrigatria. Atualmente, esses locais so disponibilizados e administrados pelas prefeituras municipais. Os pneus so encaminhados pelo servio municipal de limpeza, por borracheiros e muncipes. Esses estabelecimentos devem obedecer a certas exigncias de segurana e higiene, como cobertura e proteo, a fim de que no se acumule gua no local e se evite a propagao de doenas.

    Figura 5: Fluxograma da Logstica Reversa de Pneus, valores de 2011

    Fonte: Reciclanip

    22 Segundo a Resoluo Conama n 416/2009, o mercado de pneus resulta da seguinte

    frmula: MR = (P + I) (E + EO), em que: MR = Mercado de Reposio de pneus; P = total de pneus produzidos; I = total de pneus importados; E = total de pneus exportados; EO = total de pneus que equipam veculos novos. As metas so fiscalizadas em toneladas. Para o clculo, aplicado um fator de desgaste de 30% sobre o peso do pneu novo. Disponvel em: http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=616

    Consumidor

    Lojas pneus Borracharias

    Pneus reformados / Segunda mo

    Pontos de coleta

    Produtores Importadores

    Custo sistema - Reciclanip Custo total (R$ mil): 63.569,90Pneus coletados (mil ton) 285,14

    26.942,09Transporte 36.627,80Custo triturao, granulao, laminao e extrao de ao

    Custo sistema - ImportadoresCusto total (R$ mil): 39.532,10Pneus coletados (mil ton) 177,32

    16.754,43Transporte 22.777,66Custo triturao, granulao, laminao e extrao de ao

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    Cabe s entidades, fabricantes ou importadoras, a gesto da logstica de retirada dos pneus inservveis dos pontos de coleta e a destinao ambientalmente adequada para empresas licenciadas pelos rgos ambientais e homologadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renovveis (IBAMA).

    Existem duas formas de destinar adequadamente os pneus inservveis: pela valorizao energtica ou pela reutilizao do material. De acordo com o relatrio de pneumticos do IBAMA, as empresas declararam utilizao das seguintes tecnologias consideradas destinaes adequadas em 2011:

    coprocessamento: utilizao dos pneus inservveis em fornos de clnquer como substituto parcial de combustveis e como fonte de elementos metlicos;

    laminao: processo de fabricao de artefatos de borracha;

    reciclagem: processo industrial de fabricao de borracha moda, em diferentes granulagens, com separao e aproveitamento do ao;

    regenerao da borracha: processo industrial de desvulcanizao da borracha;

    industrializao do xisto: processo industrial de coprocessamento do pneumtico inservvel juntamente com o xisto betuminoso.

    Segundo dados da Reciclanip, a entidade investiu R$ 194 milhes nas atividades de coleta e de destinao de pneus inservveis entre 1999 e dezembro de 2012. Em 2011, o custo total do sistema foi de R$ 63,6 milhes. A maior parte desses gastos realizada com transporte, R$ 36,6 milhes. A destinao final (triturao, valorizao energtica, granulao e extrao de ao) custou R$ 26,9 milhes. A triturao e a valorizao energtica nas cimenteiras a principal destinao utilizada pela Reciclanip (67% dos pneus inservveis coletados), com a qual foram gastos R$ 16,5 milhes em 201123. A granulao, laminao e extrao de ao custou R$ 10,4 milhes em 2011.

    23 Em muitos casos, antes da queima, o pneu precisa ser triturado.

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    Tabela 5: Formas de Destinao dadas aos Pneus Inservveis pela Reciclanip

    Fonte: Reciclanip

    Todas essas atividades so base de tributao. A Reciclanip contrata servios de transporte e de destinao ambientalmente adequada dos resduos e no possui receita prpria. A receita auferida pela comercializao dos subprodutos da reciclagem dos pneus fica com as empresas recicladoras contratadas, normalmente firmas pequenas e mdias.

    De acordo com o relatrio de pneumticos do IBAMA, foram coletadas e recicladas 462,5 mil toneladas de pneus inservveis em 2011. Desse total, a Reciclanip coletou 285,2 mil toneladas, o que representa 101,79% da sua meta. Os importadores coletaram 177,3 mil toneladas, o equivalente a 66,74% da meta do perodo. Replicando a mesma estrutura de custos da Reciclanip, proporcionalmente aos pneus coletados pelos importadores,