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CADEIA DE LOGÍSTICA REVERSA GERENCIADA PELO INSTITUTO IREVA Rafael Vescovi Bassani (Unisinos) Resumo: Com as empresas se conscientizando e tentando se adaptar às novas tendências ambientais, foram inseridos, dentro das organizações, os conceitos de gestão ambiental e de desenvolvimento sustentável, a fim de se promover o crescimento econômico, com o mínimo de impacto ambiental possível, sem comprometer as futuras gerações. Atendendo a tais necessidades, sob essa visão, a Logística Reversa passou a ganhar espaço, para o descarte de embalagens de agrotóxicos, através de um processo correto e controlado. Com o objetivo de dar uma destinação adequada às embalagens vazias de agrotóxicos, foi criada, em 2000, a Lei Federal 9.974, em que ficam estipuladas as obrigações para todos os segmentos que estejam envolvidos diretamente com agrotóxicos - dentre eles, os fabricantes dos produtos, as revendas utilizadas como canais de comercialização e os agricultores. Esta pesquisa se apresenta como um estudo de caso, com base no método qualitativo explicativo, fundamentada pela descrição e pela exploração do ambiente, através das análises e das pesquisas de dados. Analisou-se a cadeia de Logística Reversa gerenciada pelo (IREVA). Palavras-chaves: logística reversa. ISSN 1984-9354

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CADEIA DE LOGÍSTICA REVERSA GERENCIADA PELO INSTITUTO IREVA

Rafael Vescovi Bassani

(Unisinos)

Resumo: Com as empresas se conscientizando e tentando se adaptar às novas tendências ambientais, foram inseridos, dentro das organizações, os conceitos de gestão ambiental e de desenvolvimento sustentável, a fim de se promover o crescimento econômico, com o mínimo de impacto ambiental possível, sem comprometer as futuras gerações. Atendendo a tais necessidades, sob essa visão, a Logística Reversa passou a ganhar espaço, para o descarte de embalagens de agrotóxicos, através de um processo correto e controlado. Com o objetivo de dar uma destinação adequada às embalagens vazias de agrotóxicos, foi criada, em 2000, a Lei Federal 9.974, em que ficam estipuladas as obrigações para todos os segmentos que estejam envolvidos diretamente com agrotóxicos - dentre eles, os fabricantes dos produtos, as revendas utilizadas como canais de comercialização e os agricultores. Esta pesquisa se apresenta como um estudo de caso, com base no método qualitativo explicativo, fundamentada pela descrição e pela exploração do ambiente, através das análises e das pesquisas de dados. Analisou-se a cadeia de Logística Reversa gerenciada pelo (IREVA).

Palavras-chaves: logística reversa.

ISSN 1984-9354

X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014

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1. Introdução

Os agrotóxicos surgiram, no Brasil, nas décadas de 1960/1970, para o controle das pragas

existentes nas lavouras. Na tentativa de aumentar a produção agrícola através de produtos

químicos, iniciou-se em 1950, na Europa, o movimento denominado “Revolução Verde”, a fim de

expandir as fronteiras agrícolas e incentivar a mecanização da produção de agrotóxico. A

participação do Brasil nessa ação começou com o aumento da importação de agrotóxicos, com a

instalação de empresas produtoras desses agentes químicos e, também, através do incentivo

oferecido pelo governo para a aquisição de agrotóxicos e fertilizantes (MOREIRA et al., 2002).

Segundo a Associação Nacional de Defesa Vegetal (ANDEF) (2010), o Brasil ocupa uma área de

11% com agricultura que corresponde a ¼ do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Ainda segundo

a ANDEF a sustentabilidade do Brasil passa pelos campos do país.

Mesmo sendo pequena a área ocupada pela agricultura, os problemas com agrotóxicos acontecem

em grande proporção; o uso indiscriminado de grandes doses dos produtos e a forma equivocada

de interpretar as necessidades do solo e plantas vêm causando impactos na saúde e na natureza.

No Brasil, o uso de agrotóxicos é controlado pela legislação vigente, mas, ainda é preciso que a

fiscalização seja mais participativa (VEIGA, 2007).

Em 2000, foi instaurada a Lei Federal 9.974, com objetivo de viabilizar uma destinação adequada

às embalagens vazias de agrotóxicos utilizados no Brasil. A lei estipula obrigações para todos os

segmentos que estejam envolvidos diretamente com agrotóxicos, entre eles, os fabricantes dos

produtos, as revendas utilizadas como canais de comercialização e os agricultores.

2. Logística Reversa

Segundo dados da Associação Brasileira do comércio de sementes e mudas (ABCSEM)

(2011), o volume de embalagens vazias de defensivos agrícolas retiradas do meio ambiente, no

primeiro trimestre do ano, foi 17%, maior do que no ano anterior; neste período, O Rio Grande do

Sul registrou um aumento de 78% de destinação correta das embalagens.

Desde a criação da lei, a Logística Reversa tem sido uma aliada no retorno das embalagens

de agrotóxicos, já que seu objetivo é prolongar a vida útil dos produtos e embalagens, bem como

reduzir custos operacionais com reutilização pós-uso e, de forma indireta, diminuir os impactos. A

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Logística Reversa ganha espaço nas empresas brasileiras, que vêm tentando se adequar aos novos

padrões ecológicos. Uma questão a ser observada é a destinação após o uso das embalagens vazias

de agrotóxicos já que a maior parte é embalada em recipiente plásticos, que apresentam riscos de

contaminação do solo se descartados incorretamente. Para que aja um controle o setor

fitossanitário trabalha ligado a entidades, desenvolvendo projetos de conhecimento do controle

ambiental e logístico neste descarte (LEITE, 2009).

3. Problema de pesquisa

Com base nos dados mencionados, a pesquisa analisou a cadeia de logística reversa gerenciada

pelo IREVA quanto a sustentabilidade. Seus objetivos específicos foram os de demonstrar a

cadeia de logística reversa utilizada pela empresa analisada, destacar os tipos de embalagens

utilizados e propor alternativas viáveis.

4. Método

4.1. Delineamento da pesquisa

Tendo em vista os objetivos traçados, esta pesquisa se estrutura como um estudo de caso, com

base no método qualitativo explicativo. Primeiramente, foram feitas a descrição e a exploração do

ambiente, através das análises e da pesquisa de dados.

O problema de pesquisa é classificado como qualitativo, pois, permite estudar, analisar as

descobertas mais detalhadamente e compreender a complexidade do problema - no caso, a cadeia

Logística Reversa gerenciada pelo Instituto de Recolhimento das Embalagens Vazias de

Agrotóxicos no Estado do Rio Grande do Sul (IREVA). A escolha de um Estado específico deu-se

devido ao elevado número de abrangência dessa cadeia logística. Esse método possibilita a

avaliação da eficácia do sistema utilizado e a proposta para uma melhoria (COLLIS; HUSSEY,

2006). Como o objetivo da pesquisa se relaciona à autossustentabilidade da cadeia reversa de

descarte de embalagens vazias, utilizada pelo IREVA, optou-se por um estudo de caso. Yin (2010,

p. 24) diz que:

[...] O estudo de caso permite que os investigadores retenham as

características holísticas e significativas dos eventos da vida real - como os

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ciclos individuais da vida, o comportamento dos pequenos grupos, os

processos organizacionais e administrativos, a mudança de vizinhança, o

desempenho escolar, as relações internacionais e a maturação das

indústrias.

Yin (2010) afirma, ainda, que o estudo de caso permite ao pesquisador uma profundidade nos

detalhamentos do problema, ao buscar examinar os fenômenos, dentro de seu contexto. Quanto ao

método a ser utilizado, optou-se pelo exploratório, devido ao tema ser pouco explorado, o que

torna difícil a formulação de hipóteses mais precisas (GIL, 2008).

4.2. Definições da unidade de análise

Com objetivo de controlar o descarte das embalagens vazias, foi criado no Rio Grande do Sul um

Instituto, aqui alterado a sua denominação para Insituto de Recolhimento das Embalagens Vazias

de Agrotóxicos no Estado do Rio Grande do Sul (IREVA) por pedido de seus gestores.

A pesquisa foi delineada a partir de análises das práticas utilizadas pelo instituto, na cadeia

Logística Reversa de descarte das embalagens vazias de agrotóxicos. Foram realizadas entrevistas

e questionários, com os agentes envolvidos com a cadeia reversa em questão, bem como com as

centrais e os postos de recolhimento, os fabricantes de agrotóxicos, as recicladoras, as

incineradoras, as transportadoras e centrais de distribuição e revendas e o coordenador da cadeia

no Estado a ser estudado. Para a definição do público-alvo, considerou-se a proximidade com a

cadeia, visto que suas respostas forneceram informações necessárias à resolução do problema

proposto.

4.3. Técnica de coleta de dados

Para detalhar as informações referentes ao tema de estudo, foram aplicadas entrevistas em

profundidade do tipo semiestruturadas e, também, questionários. Conforme Roesch (2009), este

tipo de entrevista mostra um nível superior de respostas, através das quais os entrevistadores

podem emitir maiores explicações sobre o problema de pesquisa, assegurando, assim, que o

entrevistado não fique com dúvidas, quanto às perguntas e evitando equívocos na pesquisa.

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Ainda para Roesch (2009), as entrevistas semiestruturadas permitem um nível maior de captação

das respostas, já que as questões são abertas e diretas, o que evita que se tornem cansativas. As

entrevistas foram feitas através de telefone e de e-mail, com cada entrevistado; o roteiro de

questões foi elaborado conforme o nível de proximidade com a cadeia logística a ser estudada,

visando à melhor forma de extrair somente informações de relevância, condizentes com a

pesquisa. Artigos, referências bibliográficas e registros documentais, também, serviram de base

para o estudo, como fontes confiáveis. Essas ações têm como objetivo fazer com que o

levantamento da coleta de dados seja o mais completo possível, extraindo-se o máximo de

informações que contribuam, efetivamente, para o tema em questão.

No Quadro 1, é possível visualizar a forma com que foram distribuídos as entrevistas e os

questionários, o número de documentos enviados e o retorno e a descrição do meio de

comunicação o qual foi utilizado.

Quadro 1: Elos da Cadeia de Logística Reversa Gerenciado pelo IREVA, selecionados para

Entrevista.

ELO MEIOS DE

COMINICAÇÃO

NÚMEROS DE

ENTREVISTAS E

QUESTIONÁRIOS

RETORNO

Central de Recebimento Telefone/e-mail 4 2

Fabricante Telefone/e-mail

2 Indicou a

“IREVA”

Gerenciador Telefone/e-mail 1 1

Incineradora Telefone/e-mail 2 1

Posto Recebimento Telefone/e-mail 4 1

Recicladora Telefone/e-mail 3 1

Revenda/Distribuidor Telefone/e-mail 2 1

Transportadora Telefone/e-mail 1 Não retornou

Fonte: Elaborado pelos autores.

Foram realizados dezenove contatos para as entrevistas sendo que sete responderam as entrevistas.

Os entrevistados dos postos de recebimento que responderam às entrevistas se identificaram como

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engenheiros agrônomos e os que responderam as demais entrevistas foram definidos como

gerentes das empresas.

4.4. TÉCNICAS DE ANÁLISE

Para a análise dos dados coletados, foi utilizada a análise do conteúdo; através das entrevistas e

dos questionários, pretendeu-se capturar as perspectivas das respostas dadas pelos entrevistados,

tomando cuidado para não distorcer o que foi respondido.

Yin (2010) salienta que, para o estudo de caso, deve-se seguir uma estratégia analítica geral,

definindo-se as prioridades. A análise dos dados consiste no exame, na categorização, na

classificação ou nas recombinações de evidências, construindo-se links com a problemática da

pesquisa, para, assim, fundamentar-se as conclusões e, como consequência, as respostas para o

problema em questão.

Para melhor demonstrar as técnicas metodológicas a serem utilizadas nesta pesquisa, criou-se um

fluxograma demonstrado na Figura 1, a partir do qual, se pôde estabelecer um comparativo entre

as técnicas utilizadas para elaboração da pesquisa, com os resultados obtidos, posteriormente.

Figura 1: Metodologia da Pesquisa

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Fonte: Elaborado pelos autores

5. Análise dos dados

Para a realização desta pesquisa, o local escolhido foi o Estado do Rio Grande do Sul. Os

entrevistados são agentes envolvidos nos elos ligados à cadeia de Logística Reversa, gerenciada

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pelo IREVA. A coleta foi feita através de entrevistas. A identificação dos entrevistados foi

preservada e empregaram-se letras para diferenciá-los, como demonstra o Quadro 2:

Quadro 2: Identificação dos Entrevistados

ELO IDENTIFICAÇÃO NA

PESQUISA

Central de Recebimento A, A1

Gerenciador B

Incineradora C

Posto Recebimento D

Recicladora E

Revenda/Distribuidor F

Fonte: Elaborado pelos autores.

No Estado do Rio Grande do Sul, conforme o Entrevistado D (2011), os postos de recebimento

apresentam, no mínimo, 80m², e são gerenciados por uma associação de

Distribuidores/Cooperativas, onde, normalmente, trabalham, em média, seis funcionários na

expedição, no recebimento e no processamento das embalagens vazias, atendendo, em média,

quarenta municípios. Segundo o Entrevistado D (2011), ainda, as responsabilidades dos postos de

recebimento são: receber e inspecionar as embalagens não lavadas e as lavadas, fazer a emissão de

recibos de entrega das embalagens e encaminhar as embalagens para as centrais de recebimento.

O entrevistado salienta que é de responsabilidade do agricultor o transporte das embalagens vazias

de agrotóxico até os postos de recebimento, sendo que ainda é necessária a observação do prazo

de validade, que consta na nota fiscal (e deve ser entregue junto com a embalagem) - no caso, um

ano após a compra (ENTREVISTADO D, 2011).

As centrais de recebimento têm, no mínimo, 160m² e lá trabalham, em média, oito funcionários.

As informações do Entrevistado A (2011) revelam que os recursos são provenientes da

gerenciadora da cadeia ao IREVA, que representa os fabricantes, da associação de revendas - que

é formada por todas as revendas que comercializam agrotóxicos na zona de abrangência da central

- e, também, da remessa de embalagens para as recicladoras. A central é deficitária, pois, a

receita gerada com a remessa de embalagens não cobre o custo da manutenção da central;

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sendo assim, os recursos são divididos em 50% do déficit para o IREVA e 50% para a associação

de revendas.

Na Figura 1, observa-se, através do fluxograma, o que foi descrito pelos entrevistados, em relação

ao fluxo da devolução das embalagens vazias de agrotóxico, desde a chegada à central de

recebimento, até a definição pela reciclagem ou pela incineração e seu retorno à cadeia.

Figura 1: Fluxograma da Devolução das Embalagens segundo os Entrevistados.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Dados da ABCSEM (2011) informam que a devolução das embalagens vazias de agrotóxico,

no Brasil, no primeiro trimestre deste ano, foi de 8.092 toneladas, o que equivale a um valor

17% maior que o ano de 2010, que devolveu 6.915 toneladas. Só o Rio Grande do Sul

devolveu 982 toneladas - 12% do total nacional no ano de 2011; no ano de 2010, o Estado

havia devolvido 551 toneladas. No Quadro 3, é demonstrado, de forma mais clara, o

comparativo do volume de embalagens de agrotóxicos devolvidas no Rio Grande do Sul, em

relação ao Brasil, no primeiro trimestre de 2010 X 2011.

Quadro 3: Embalagens Devolvidas no Primeiro Trimestre de 2010 X 2011.

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Volume

2010(toneladas)

Volume

2011(toneladas) Crescimento (%)

Brasil 6.915 8.092 17

Rio Grande do Sul 551 982 78

Fonte: Adaptado de ABCSEM (2011).

A quantidade de embalagens vazias de agrotóxicos recebidas nos postos de recolhimento, segundo

dados do Entrevistado D (2011), varia bastante. A média, por ano, é de 110 mil embalagens -

aproximadamente 450 por dia. Um dos motivos dessa variação é a época do ano, já que a os

produtos são utilizados nas lavouras de soja, trigo, arroz e milho.

Em relação às centrais de recebimento, dados trazidos pelo Entrevistado A (2011) demonstram

que o volume de embalagens recebidas, no ano de 2010, foi de 220 toneladas; neste ano, o

esperado é de 270 toneladas. Já em outra central, a situação não é muito diferente: o Entrevistado

A1 (2011) estima que a quantidade devolvida seja de 240 toneladas anuais.

Do total de embalagens devolvidas, o Entrevistado E (2011) calcula que, em média, 200 toneladas

das embalagens foram recicladas, e o restante - cerca de 8 toneladas - foram incineradas, no ano

passado, de acordo com o Entrevistado C (2011). Estes números encontram-se no Gráfico 1, para

a melhor comparação dos dados citados pelos entrevistados A, A1, C e E. Ainda neste gráfico, é

possível visualizar que a maior parte das embalagens é destinada à reciclagem e, uma parte muito

pequena, à incineração.

G

r

á

f

i

c

o

Rio Grande do Sul

Central de recebimento

Central de recebimento 1

Recicladora Incineradora0

200

400

600

800

1000

1200

Embalagens devolvidas

toneladas

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1: Embalagens Devolvidas em Toneladas

Fonte: Elaborado pelos autores.

O Entrevistado F (2011) - responsável por uma revenda que, também, é licenciada para

recolhimento das embalagens vazias e que atende, principalmente, a serra gaúcha e a região de

Porto Alegre - descreve que existe um controle rigoroso, para a entrega de embalagens vazias de

agrotóxicos, que só são aceitas mediante a apresentação do talão de produtor; assim, é feita uma

contra nota, que é entregue ao agricultor.

A verificação de procedência é executada por funcionários treinados, na hora da entrega das

embalagens: as que estiverem em desacordo com a legislação são devolvidas ao produtor, que

recebe as informações corretas de como devem ser entregues. Nessa revenda, é possível ficar

armazenado o equivalente a dois caminhões de embalagens vazias.

Assim como o Entrevistado F, o Entrevistado D (2011) também salienta a importância do rigoroso

controle de embalagens, através do qual os dados são computados e lançados no sistema da

empresa, garantindo um controle total da entrada no posto de recolhimento. Segundo o mesmo

respondente, “esse controle é necessário, pois, no final de cada ano, deve ser enviado à Fundação

Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler (FEPAM) uma planilha, constando toda

entrada e saída de embalagens, em cada mês, no posto de recolhimento” (ENTREVISTADO D,

2011).

Segundo a ANDEF (2010), este controle é feito de forma que somente com receituário

agronômico, emitido por engenheiro agrônomo ou engenheiro florestal, é que as embalagens

podem ser devolvidas no local indicado na Nota Fiscal; após a conferência, o agricultor receberá

um Comprovante de Recebimento / Recibo, onde estarão descritos as quantidades e os tipos de

embalagens recebidas. No caso de embalagem em desacordo com a legislação, deverão constar,

também, a quantidade e as condições das embalagens entregues.

Para fazer o gerenciamento das informações do processo de recebimento e de destinação de

embalagens, foi desenvolvido um software - o Sistema de Informação das Centrais (SIC) - assim

integrando em 100% as centrais, o que permite um controle da movimentação dos materiais desde

os estoques, as ordens de coleta, as despesas e a rastreabilidade das embalagens. Todas as ordens

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de coletas emitidas pelas centrais, para que a carga siga para o destino final, são emitidas via SIC,

conforme informações fornecidas pelo Entrevistado B (2011) e confirmadas pelos Entrevistados F

e D (2011).

Conforme o Entrevistado D (2011), a periodicidade de recolhimento para as centrais varia,

conforme o estoque de embalagens, que são armazenadas no posto de recolhimento. A partir do

momento em que são completados trinta big bags de embalagens contaminadas ou de embalagens

tríplices lavadas, é solicitada a coleta. Em média, são solicitadas, aproximadamente, seis a sete

coletas por ano.

Estes big bags são transportados por funcionários da empresa, devidamente equipados com

equipamentos de proteção individual (EPIs) até o caminhão baú e encaminhados para a central de

recebimento. O recolhimento das embalagens pela central, segundo os Entrevistados A e A1

(2011), é feito durante o ano todo, sem uma data preestabelecida, sendo o controle realizado

através dos agendamentos de entrega, tendo em vista que há uma exigência legal, que obriga o

controle das embalagens vazias de agrotóxico.

De acordo com a ANDEF (2010), o local onde ficam armazenadas as embalagens vazias de

agrotóxico precisa estar ao abrigo das intempéries, com acesso restrito, ser ventilado e ter piso

pavimentado. As embalagens não lavadas deverão ficar separadas das lavadas, em local segregado

e identificado com placas de advertência.

Na central de recolhimento, segundo o Entrevistado A (2011), as embalagens são prensadas, a fim

de reduzir o volume; quando o estoque chega a doze mil quilos, é gerada uma ordem de coleta,

para que o material seja retirado da central, o que leva de quinze a trinta dias. Para o

processamento das embalagens vazias, as centrais disponibilizam caminhão para o recolhimento,

prensa para compactar as embalagens, esteiras, balanças e empilhadeiras; além desses

equipamentos, o computador é indispensável, pois, é utilizado para emitir notas, recibos e fazer o

agendamento das entregas.

Após a separação das embalagens, o Entrevistado E (2011) salienta que as embalagens que podem

ser encaminhadas para reciclagem tornam-se: tampas para embalagens de defensivos agrícolas,

embalagens para óleo lubrificante, conduítes corrugados, vergalhões de aço, luvas para emenda,

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dutos corrugados, economizadores de concreto, sacos plásticos para lixo hospitalar, barricas de

papelão, produzidos a partir do reaproveitamento.

A reciclagem de materiais é vista por Leite (2009) como fundamental para a estrutura de um canal

reverso, pela sua viabilidade econômica e técnica de processo. No canal de distribuição, a

reciclagem é a última etapa da cadeia de pós-consumo, visto que permite que os materiais sejam

reintegrados no ciclo de produção, tornando-se um novo produto ou um produto similar.

Seguindo as recomendações citadas, o Entrevistado A (2011) revela que as embalagens

contaminadas - sendo elas as embalagens flexíveis, que não permitem a lavagem sob pressão ou a

tríplice lavagem, como as tampas, os rótulos de produtos, incluindo-se as embalagens que não

foram lavadas - são prensadas e, posteriormente, encaminhadas às incineradoras autorizadas;

geralmente, são levadas para os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. Conforme a

recomendação da ANDEV (2010), nos postos de recebimento, as embalagens que estiverem

contaminadas devem ser armazenadas separadas das não contaminadas e das lavadas, em local

isolado, identificado com placas de advertência, ao abrigo das intempéries, com piso pavimentado,

ventilado, fechado e de acesso restrito.

No caso das embalagens flexíveis não laváveis, o Entrevistado C (2011) diz que são levadas para

incineração, num processo de combustão controlada e completa, transformando-as em cinzas e

gases, ambientalmente corretos. Para Macêdo (2002), esta prática tem o custo alto de transporte e

deve ser usada somente nas embalagens contaminadas, o que as torna impróprias para reciclagem.

Leite (2009) segue a mesma linha, no que se refere à incineração, como forma de destinar somente

produtos que não podem ser reutilizados e sem revalorização. O autor salienta, ainda, que o

processo de incineração deve ser feito sem causar impactos ao meio ambiente.

O transporte das embalagens vazias de agrotóxicos dos postos de recebimento para as centrais é de

responsabilidade do IREVA, de onde as embalagens já devem sair separadas, quanto à sua

categoria - de lavadas ou não lavadas - e pelo tipo de matéria-prima. As embalagens para

incineração são transportadas diretamente para uma das incineradoras licenciadas do sistema de

destinação de embalagens, de acordo com os Entrevistados A, A1, B, D e F (2011).

No caso das embalagens de agrotóxico vazias, o Entrevistado B (2011) explica que é utilizada a

Logística Reversa, ou seja, o mesmo caminhão que traz a embalagem com o produto para ser

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utilizado pelo agricultor, por exemplo, é o que vai levar a embalagem vazia, já a granel ou

compactada, para reciclagem ou incineração. A utilização do frete para o retorno garante

eficiência, segurança e redução de custos.

Este tipo de material exige, também, cuidados no transporte: o veículo apropriado à caminhonete,

com sinalização de transporte de produto perigoso, já que não podem ser transportados

agrotóxicos junto com pessoas, animais, alimentos, rações ou medicamentos; durante o transporte

de agrotóxicos, deve-se estar sempre com a nota fiscal do produto, observando a legislação de

transportes perigosos (ANDEF, 2010).

Ao serem questionados sobre os meios de transporte, os Entrevistados A, A1, D e F(2011),

consideram adequado o modo como é feito e a periodicidade de transporte das embalagens, tendo

em vista que atendem às necessidades apresentadas, até o momento. As informações obtidas sobre

a questão do transporte das embalagens foram retiradas das entrevistas dos demais elos da cadeia,

já que a empresa responsável pela logística não respondeu às perguntas para os levantamentos de

dados. Assim como a transportadora, os fabricantes também não se propuseram a responder as

questões - nem pessoalmente, nem por e-mail - delegando a responsabilidade de informações ao

IREVA.

Quanto à percepção dos Entrevistados D e A (2011), em relação à participação na cadeia de

logística gerenciada pelo IREVA, destaca-se que é uma relação muito boa, pois, são eficientes e

comprometidos, até então, têm funcionado e dado bons resultados, devido ao comprometimento e

à atitude de cada uma das partes envolvidas.

Ainda em relação à cadeia, há certa divergência de ideias, no que tange à necessidade de

melhorias, sendo que, na visão de alguns, não é necessária uma melhoria no momento,

considerando-se que o processo é simples e o recolhimento das embalagens tem sido um sucesso.

Já na opinião dos demais entrevistados - E, F e C (2011) - o ideal seria que 100% dos agricultores

devolvessem as embalagens vazias, devidamente lavadas, para que, assim, possam ser recicladas.

Outro problema encontrado é a questão das incineradoras, já que são poucas para dar o destino

adequado para as embalagens contaminadas.

Percebe-se que existe uma visão diferente, na imagem da empresa que recolhe as embalagens

vazia, sendo mais um serviço ofertado aos clientes. Conforme o Entrevistado A1 (2011),

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acima de tudo, o fator que mais agrega em imagem para a empresa é mostrar o grande

interesse na preservação do meio ambiente. É fazer as pessoas entenderem que a empresa

não é apenas uma simples comerciante de agrotóxicos. Ela preza por uma produção

elevada e de qualidade, mas que ao mesmo tempo seja sustentável e limpa.

A partir dos dados coletados percebe-se que ocorreu um aumento na devolução das embalagens

vazias de agrotóxico, desde a criação do IREVA, mas, que ainda é necessário conscientizar e

capacitar os agricultores, para que façam a devolução correta das embalagens, após seu uso.

Durante a análise, percebeu-se que a conscientização da tríplice lavagem ainda é um fator

importante, visto que as embalagens contaminadas acabam por ter que ser incineradas, não

podendo retornar ao ciclo produtivo.

5. Conclusão

Verificou-se, a partir dos dados coletados, que o Rio Grande do Sul está andando, a passos largos,

na devolução das embalagens de agrotóxico, considerando-se o número de devoluções das

embalagens, em relação ao Brasil. Este significativo número de devoluções, também, se deve à

participação de todos os envolvidos na cadeia de Logística Reversa, gerenciada pelo IREVA.

Realizada a pesquisa, observou-se que, sem a aplicação prática dos conceitos de Logística

Reversa, a devolução das embalagens de agrotóxicos seria muito precária. Mesmo não existindo

legislação que obrigue a devolução das embalagens, é visível a necessidade do aumento da

fiscalização do poder público, já que, como demonstrado através das análises, muitos agricultores

não devolvem as embalagens ou devolvem contaminadas, por falta de informações. Nesse sentido,

é importante o investimento em orientação e em conscientização, para que o maior número de

embalagens seja retirado do meio ambiente, evitando a contaminação dos solos e afluentes,

diminuindo os riscos de contaminação e, ao mesmo tempo, aumentando o número de embalagens

passíveis de reciclagem, que podem voltar ao seu ciclo de produção.

Outro problema enfrentado se relaciona ao número de recicladoras cadastradas ao IREVA, visto

que, atualmente, nenhuma está situada no Estado, o que dificulta o deslocamento das embalagens.

Quando encaminhadas para as recicladoras, elas seguem um longo caminho até seu destino, já que

as nove recicladoras ficam em outros Estados.

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Visando à melhor distribuição das embalagens e em menor tempo, é essencial a construção de

recicladoras no Estado do Rio Grande do Sul, o que traria, além da agilidade no processamento

das embalagens em matéria-prima, também, redução de custos e recursos para a cadeia de

Logística Reversa do Estado, refletindo diretamente no foco da cadeia, em se tornar

autossustentável.

A criação de postos de recebimento e centrais é outro ponto necessário, para assegurar a

destinação das embalagens, pois, quanto mais perto do produtor rural, mais fácil será a devolução.

Entretanto, ainda é preciso diminuir a ilegalidade dos agrotóxicos, já que as embalagens

provenientes de contrabando não podem ser devolvidas corretamente.

Quanto as embalagens, são necessárias novas embalagens, que substituam as que não podem ser

recicladas, evitando a incineração e aumentando os ganhos, através da produção de novos

produtos, que retornem ao ciclo produtivo. Uma alternativa é rever a forma de retirar as

embalagens que não podem ser entregues por falta de nota fiscal, para que não acabem enterradas

ou jogadas, de forma indiscriminada, na natureza.

A proposta de alternativas e de soluções, para o melhor andamento da cadeia, sintetizou a

pesquisa, todavia, até mesmo a questão de novas recicladoras, incineradoras, centrais e postos de

recebimento, são propostas de médio e longo prazo, considerando-se que os investimentos para

essas construções são altos. É claro que a realização de tais propostas traria um melhor

desempenho para toda a cadeia e a autossustentabilidade estaria cada vez mais perto de se realizar.

Ao analisar os dados coletados, percebeu-se a importância da colaboração de todos os agentes

envolvidos na cadeia de Logística Reversa, gerenciada pelo IREVA, para que o processo de

devolução das embalagens vazias de agrotóxico ocorra, conforme o estipulado e sem problemas.

Ainda visando ao alcance dos objetivos, verificou-se que, para alcançar a autossustentabilidade, o

IREVA necessita desenvolver alguns projetos, sendo que os que se destacam são os relacionados à

prestação de serviços, à gestão dos agrotóxicos obsoletos e impróprios e às alternativas de destinos

para embalagens contaminadas. A gerenciadora ainda tem objetivos, a curto prazo, como a

verticalização das recicladoras e incineradoras, a prestação de serviços e o redesenho da

organização.

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6. Bibliografia

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