estudo de catalisadores Ácidos heterogÊneos...

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Filipe Hespanhol Maffei ESTUDO DE CATALISADORES ÁCIDOS HETEROGÊNEOS UTILIZADOS NA PRODUÇÃO DE BIODIESEL Lorena - SP 2014

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Filipe Hespanhol Maffei

ESTUDO DE CATALISADORES ÁCIDOS HETEROGÊNEOS UTILIZADOS NA

PRODUÇÃO DE BIODIESEL

Lorena - SP

2014

Filipe Hespanhol Maffei

ESTUDO DE CATALISADORES ÁCIDOS HETEROGÊNEOS UTILIZADOS NA

PRODUÇÃO DE BIODIESEL

.

Monografia apresentada à Escola de

Engenharia de Lorena da

Universidade de São Paulo para

obtenção da Graduação em

Engenharia Química

Orientadora: Professora Livia Melo

Carneiro

Lorena - SP

2014

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIOCONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA AFONTE

Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Automatizadoda Escola de Engenharia de Lorena,

com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Maffei, Filipe Hespanhol ESTUDO DE CATALISADORES ÁCIDOS HETEROGÊNEOSUTILIZADOS NA PRODUÇÃO DE BIODIESEL / FilipeHespanhol Maffei; orientadora Livia Melo Carneiro. -Lorena, 2014. 50 p.

Monografia apresentada como requisito parcialpara a conclusão de Graduação do Curso de EngenhariaQuímica - Escola de Engenharia de Lorena daUniversidade de São Paulo. 2014Orientadora: Livia Melo Carneiro

1. Catalisadores ácidos heterogêneos para produçãode biodiesel. 2. Biodiesel. 3. Catálise ácidaheterogênea. I. Título. II. Carneiro, Livia Melo,orient.

AGRADECIMENTOS

À minha família, por sempre me apoiar e estar sempre ao meu lado, não importa

quão fácil difícil fosse a situação por mim vivida.

À professora Livia Melo Carneiro, pela paciência, atenção e todo o seu apoio

durante o processo de realização da monografia.

À Escola de Engenharia de Lorena – EEL/USP, pela oportunidade de realização

do curso superior de Engenharia Química.

A todos os professores da Escola de Engenharia de Lorena – EEL/USP, que

participaram diretamente da minha formação e da minha caminhada ao longo dos

anos na faculdade, me desenvolvendo tanto academicamente quanto

pessoalmente.

“Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha.”

Confúcio

Resumo

Maffei, F. H. Estudo de catalisadores ácidos heterogêneos utilizados na

produção de biodiesel. 2014. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso de

Engenharia Química) Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São

Paulo, Lorena.

Atualmente observa-se uma crescente demanda mundial por fontes de energia

renováveis. O biodiesel é um combustível renovável que se apresenta como uma

alternativa promissora para a substituição do diesel de petróleo. Este

biocombustível pode ser obtido através de reações de esterificação e/ou

transesterificação de fontes renováveis como óleos vegetais ou residuais e

gordura animal, com a utilização de catalisadores ácidos, básicos ou enzimáticos

em fase homogênea ou heterogênea. Na indústria os ésteres alquílicos são

produzidos via catálise homogênea, porém, esse é um processo que apresenta

alguns problemas, como a separação dos produtos, alto consumo de

catalisadores e saponificação. Pesquisas recentes de novos catalisadores

heterogêneos, principalmente óxidos metálicos e heteropoliácidos que atuam em

uma fase diferente no meio reacional, e que minimizam muitos dos problemas

encontrados com a utilização de catalisadores homogêneos, têm sido

desenvolvidas. Nesse sentido, o presente trabalho visou apresentar os diferentes

tipos de catalisadores ácidos mais reportados na literatura e realizar uma

comparação de seus desempenhos.

Palavras-chave: Biodiesel, Catálise, Catalisadores Heterogêneos.

Abstract

Maffei, F. H. Study of heterogeneous acid catalysts used in the production of

biodiesel. 2014. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso de Engenharia

Química) Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena.

Nowadays, it can be observed an increase in the world demand for renewable

energy. Biodiesel is a renewable fuel that presents itself as a promising alternative

to replace diesel from oil. This biofuel can be obtained through sterification or

transterification reactions of renewable source such as vegetable oils, residual oils

and animal fat, using basic, acid or enzymatic catalysts, in homogeneous or

heterogeneous phase. In the industry, the alquil esters are produced through

homogeneous catalysis. However, this process have some problems, such as

separation of the products, high consumption of catalysts and saponification

reactions. Recent researches of new heterogeneous catalysts, specially metal

oxides and heteropolyacids that act in different phases from the reactional mixture

and minimizes many of the problems found with the use of homogeneous

catalysts, have been developed. Accordingly to that, the present work aimed to

exhibit the different types of acid catalysts more reported on the literature and

make a comparison of their performance.

Keywords: Biodiesel, Catalyst, Heterogeneous catalysts.

Lista de Figuras

Figura 1: Etapas da transesterificação .................................................................. 15

Figura 2: Mecanismo da reação de esterificação de ácidos graxos catalisada por

ácidos de Brønsted. .............................................................................................. 17

Figura 3: Estrutura de uma zeólita. ....................................................................... 23

Figura 4: Estrutura esquemática do ânion fosfomolibdato. ................................... 27

Figura 5: Sequência de formação de aluminas via tratamento térmico. ................ 30

Figura 6: Fluxograma esquemático do processo Bayer. ....................................... 31

Figura 7: Tipo de álcool utilizado, em porcentagem. ............................................. 33

Figura 8: Tipo de matéria prima utilizada nos trabalhos, em porcentagem. .......... 34

Figura 9: Tipo de catalisador utilizado, em porcentagem. ..................................... 35

Figura 10: Efeito da variação de acidez dos líquidos iônicos sobre o rendimento

da esterificação do ácido oleico com metanol. Condições de reação: 2,82g de

ácido oleico, 10% de catalisador, razão molar de metanol/ácido oleico de 2:1,

temperatura de 80 °C e agitação de 500 rpm ....................................................... 41

Figura 11: Resultados das maiores conversões em porcentagem de alquil ésteres,

observadas nos diferentes trabalhos da literatura. ................................................ 42

Lista de Tabelas

Tabela 1: Composição de alguns óleos e gorduras utilizados para produção de

biodiesel (em %). ....................................................................................................... 18

Tabela 2: Propriedades das zeólitas mais comuns. .................................................. 24

Tabela 3: Dados de experimentos utilizando heteropoliácidos como catalisadores. . 37

Tabela 4: Dados de experimentos utilizando óxidos metálicos como catalisadores. 39

Tabela 5: Dados de experimentos líquidos iônicos como catalisadores. .................. 40

Lista de Siglas

BEA – Família da estrutura a qual pertence a Zeólita Beta

[BHSO3MIM]HSO4 – 1-sulfobutyl-3-methylimidazolium hydrosulfate

[BMIM]ClO4 – 1-butyl-3-methylimidazoliumperchlorate

[BMIM]H2SO4 – 1-butil-3-methylimidazoliumhydrosulfate

EtOH – Etanol

[EPy]Br – 1-ethylpyridiniumbromide

[EPy]HSO4 – N-ethylpyridinium hydrosulfate

FAU – Faujasita, fampilia da estrutura a qual pertencem as Zeólitad X e Y

HPW – Ácido fosfotúngstico

LTA – Linde tipo A, família da estrutura a qual pertence a Zeólita A

LTL – Linde tipo L, família da estrutura a qual pertence a Zeólita L

MetOH – Metanol

MFI – Família da estrutura a qual pertence a Zeólita ZSM-5

MOR – Modernita, família a qual pertence a Zeólita Modernita

pKa – Constante de acidez

POM – Polioxometalato

RSM – Método de superfície de resposta

SAR – Silica alumina ratio

TAG – Triglicerídeo

[TEAm]Cl – Tetraethylammoniumchloride

[TEAm]HSO4 – Tetraethylammonium hydrosulfate

Sumário 1. Introdução ............................................................................................................................... 11

2. Objetivos ................................................................................................................................. 13

3. Revisão Bibliográfica ............................................................................................................ 14

3.1 Biodiesel ......................................................................................................................... 14

3.2 A reação de transesterificação .................................................................................... 14

3.3 A reação de esterificação ............................................................................................. 16

3.4 Composição dos óleos vegetais ................................................................................. 18

3.5 Catálise ........................................................................................................................... 18

3.5.1 Catálise Homogênea ......................................................................... 19

3.5.2 Catálise heterogênea enzimática ...................................................... 20

3.5.3 Catálise heterogênea química ........................................................... 20

3.6 Parâmetros da reação .................................................................................................. 21

3.7 A acidez dos catalisadores heterogêneos ................................................................. 22

3.8 Zeólitas ............................................................................................................................ 22

3.9 Óxidos e sais inorgânicos ............................................................................................ 25

3.10 Compostos de coordenação ........................................................................................ 26

3.11 Resinas trocadoras de íons ......................................................................................... 26

3.12 Heteropoliácidos ............................................................................................................ 26

3.13 Líquidos Iônicos ............................................................................................................. 28

3.14 Suportes mais utilizados .............................................................................................. 28

3.14.1 Sílica .................................................................................................. 28

3.14.2 Alumina ............................................................................................. 29

4. Metodologia ............................................................................................................................ 32

5. Resultados e discussão........................................................................................................ 33

6. Conclusões ............................................................................................................................. 43

7. Referências Bibliográficas.................................................................................................... 45

11

1. Introdução

A crescente preocupação mundial com a escassez de combustíveis fósseis

tem contribuído significantemente para o desenvolvimento de pesquisas nas

áreas relacionadas à produção de combustíveis renováveis. Neste cenário,

destaca-se a produção de biodiesel, que se mostra como uma alternativa viável.

O biodiesel é um composto constituído de ésteres alquílicos que, por sua

vez, são obtidos a partir da reação de transesterificação dos triglicerídeos e/ou

esterificação de ácidos graxos, presentes principalmente em óleos vegetais e

gorduras animais. Essa reação é conduzida na presença de um álcool de cadeia

curta, normalmente metanol ou etanol, e de um catalisador (KNOTHE et al.,

2006).

Na indústria é usado um processo catalítico homogêneo de

transesterificação do óleo vegetal na presença de metanol, e catalisadores como

hidróxido de potássio ou de sódio. Esses catalisadores possuem vantagens como

o baixo custo, e um alto grau de conversão dos triglicerídeos ao éster

correspondente. Porém, em concentrações de ácido graxo superiores a 1%, esse

processo se torna impraticável devido à formação de sabão, que impede a

separação da glicerina do biodiesel final, além de necessitar de grande

quantidade de catalisador. Para esse tipo de matéria-prima, o ideal é converter

em biodiesel as duas frações (triglicerídeos e ácidos graxos livres). Para tanto, é

necessária uma reação de esterificação dos ácidos graxos livres, seguida de uma

transesterificação alcalina realizada em meio homogêneo a fim de produzir os

ésteres alquílicos a partir dos triglicerídeos que sobraram.

A reação de esterificação é a reação de um ácido graxo com um álcool de

cadeia curta, na presença de um catalisador. Os catalisadores homogêneos,

usualmente ácidos minerais fortes, apresentam excelentes rendimentos, porém

são associados a problemas de corrosão de equipamentos, e também dificultam a

separação do produto. Portanto, o desafio tecnológico para o aprimoramento do

processo de obtenção de biodiesel por esterificação de ácidos graxos é o

desenvolvimento de catalisadores ácidos heterogêneos que apresentem alta

atividade, fácil separação dos produtos e que não apresentem corrosividade para

os equipamentos. Outras vantagens dos catalisadores ácidos heterogêneos em

12

relação aos catalisadores homogêneos é a eliminação do descarte de lodo ácido

e a diminuição dos riscos envolvidos na manipulação de grandes quantidades de

ácidos.

Para a utilização apropriada em processos industriais, os catalisadores

ácidos heterogêneos devem apresentar estabilidade nas condições operacionais,

alta resistência mecânica e térmica, elevada seletividade e atividade, e grande

área superficial.

Dessa forma, esse trabalho abordou os diversos tipos de catalisadores

ácidos heterogêneos, suas condições de uso e desempenho, integrando diversos

trabalhos já publicados.

13

2. Objetivos

O objetivo geral deste trabalho consistiu em analisar os diferentes tipos de

catalisadores ácidos heterogêneos utilizados na produção de biodiesel, assim

como suas condições de operação e desempenho, por meio de uma pesquisa

bibliográfica.

Para este fim, foram realizadas as seguintes etapas:

- Pesquisa bibliográfica em base de dados indexados;

- Organização das informações bibliográficas encontradas;

- Avaliação dos diferentes catalisadores utilizados em reações de

esterificação e de transesterificação;

- Comparação dos desempenhos dos diversos catalisadores.

14

3. Revisão Bibliográfica

3.1 Biodiesel

Desde a criação dos motores movidos a Diesel, tem sido considerada a

possibilidade de utilização de óleos vegetais como substitutos do diesel

proveniente do petróleo. Rudolph Diesel, criador do motor de combustão baseado

na ignição por compressão, já afirmava que sua invenção poderia ser alimentada

por óleos vegetais (KNOTHE et al., 2006). Porém, diversas desvantagens do uso

direto desses óleos foram observadas, como por exemplo, problemas de ordem

mecânico (entupimento de partes do motor devido à geração de resíduos) e de

ordem ambiental (formação de acroleína, uma substância carcinogênica). Assim,

para resolver essas desconformidades, fez-se necessário o desenvolvimento de

uma metodologia para transformar os óleos vegetais em uma forma mais

adequada de combustível. Surgiram então, na primeira metade do século XX,

propostas para a transesterificação dos óleos vegetais, a fim de se obter ésteres

alquílicos com menor ponto de fluidez, melhores propriedades de ignição, e

menor densidade específica e viscosidade (KNOTHE et al., 2006).

O biodiesel consiste de uma mistura de ésteres alquílicos, produtos da

transesterificação de uma mistura de várias cadeias de triacilgliceróis com um

álcool de cadeia curta (os mais utilizados são o metanol e o etanol), na presença

de um catalisador. Uma rota alternativa para sua produção é a esterificação de

ácidos graxos de cadeias carbônicas simples na presença de um álcool de cadeia

curta e um catalisador (KNOTHE et al., 2006).

3.2 A reação de transesterificação

A reação de transesterificação ocorre quando álcoois de cadeias curtas, na

presença de um catalisador, reagem com os triacilglicerídeos (TAG), para formar

monoésteres de ácidos graxos e glicerina (subproduto). Esse processo ocorre por

meio de três reações consecutivas e reversíveis, o que requer um excesso de

álcool no meio reacional, formando como produtos intermediários

15

monoacilglicerídeos e diacilglicerídeos. A Figura 1 mostra as etapas da reação de

transesterificação.

Figura 1: Etapas da transesterificação

Fonte: VIEIRA (2011).

16

3.3 A reação de esterificação

A reação de esterificação é uma reação reversível. A formação dos ésteres

alquílicos se dá por meio da reação de um ácido graxo com um álcool de cadeia

curta (etanol ou metanol) na presença de um catalisador. Por ser reversível, o

progresso da reação vai depender do deslocamento do equilíbrio químico no

sentido de formação de produtos, e isso ocorre otimizando-se as condições

reacionais tais como temperatura, concentração de catalisador, e a quantidade de

reagentes (VIEIRA, 2011).

Devido a essa reversibilidade, o catalisador irá catalisar tanto a reação

direta de formação do éster como a reação inversa (hidrólise do éster) (KNOTHE,

et al., 2006).

Na reação de esterificação, o ácido graxo é protonado por um ácido de

Brønsted, facilitando o ataque nucleofílico do álcool à carbonila, formando um

intermediário tetraédrico que posteriormente sofre um rearranjo, seguido da perda

de uma molécula de água e formando uma molécula de éster. O mecanismo da

reação de esterificação de ácidos graxos está mostrado na Figura 2.

17

Figura 2: Mecanismo da reação de esterificação de ácidos graxos catalisada por ácidos de Brønsted.

Fonte: VIEIRA (2011).

18

3.4 Composição dos óleos vegetais

Nos óleos e gorduras, os ácidos graxos podem ser encontrados livres ou,

preferencialmente, combinados. Na forma combinada, seus derivados são

normalmente encontrados como monoacilglicerídeos, diacilglicerídeos e

triacilglicerídeos, os principais compostos dos óleos e gorduras. Deve-se salientar

que uma fonte oleaginosa costuma ter mais de 10 ácidos graxos diferentes, os

quais se encontram randomicamente ligados à glicerina. Ou seja, nos óleos e

gorduras existe uma quantidade muito grande de derivados de ácidos graxos.

Assim, como um óleo ou gordura é uma mistura complexa de uma quantidade

muito grande de moléculas, é comum expressar a sua composição química em

função dos ácidos graxos presentes e não dos compostos químicos efetivamente

presentes na mistura (RAMALHO, SUAREZ, 2013). Na Tabela 1 podemos ver a

composição, em porcentagem, de alguns dos óleos e gorduras utilizados na

produção de biodiesel, em relação aos ácidos graxos presentes.

Tabela 1: Composição de alguns óleos e gorduras utilizados para produção de biodiesel (em %).

Referência Neto et

al.,(2000)

Fonseca, Gutierrez

(1974)

Grimaldi et al., (2005)

Anthonisen et al., (2007)

Araújo et al., (2009)

Fonseca, Gutierrez

(1974) N° de

C Ácidos Graxos Soja Oliva Palma Girassol Coco Sebo

C12:0 láurico 0,1 - 1,1 - 42,49 - C14:0 mirístico 0,2 - 1 - 19,93 1,59 C16:0 palmítico 9,9 14,23 40,7 6 11,61 22,4 C16:1 palmitoleico 0,2 2,52 - - - 4,2 C18:0 esteárico 3 3,41 5 4,4 2,23 15,27 C18:1 oleico 17,7 71,1 42 20,5 9,44 40,4 C18:2 linoleico 49,7 6,76 10,2 65,2 3,44 12,43 C18:3 linolênico 5,5 1,36 - 0,1 - 2,23 C20:0 araquídico 0,5 0,58 - 0,3 - 0,2

Outros 13,2 - - 3,5 10,86 1,28

Fonte: o próprio autor.

3.5 Catálise

A reação de transesterificação é muito lenta. Por essa razão, o uso de

catalisadores é indicado para aumentar a velocidade da reação. Esses

catalisadores podem ser divididos em dois grandes grupos: homogêneos, e

heterogêneos que podem ser químicos ou enzimáticos (ROSSET, 2011).

19

3.5.1 Catálise Homogênea

Podem ser utilizados catalisadores básicos ou ácidos de Brønsted na

reação; entre os catalisadores básicos, os hidróxidos de metais alcalinos são os

mais utilizados. Hidróxido de sódio e potássio são comumente utilizados em

indústrias, uma vez que são relativamente baratos, e também muito ativos. A

catálise com esses óxidos pode produzir altos rendimentos de metil-éster em

condições relativamente brandas (temperatura de 60 °C, pressão atmosférica) e

em tempos de reação curtos (aproximadamente uma hora). Os catalisadores

homogêneos básicos são menos corrosivos em relação aos ácidos (TREMILIOSI,

2009).

Por outro lado, alguns problemas operacionais são observados no uso de

catalisadores básicos homogêneos:

Sua higroscopicidade elevada dificulta sua manipulação além de introduz

água no meio reacional.

A absorção de CO2 atmosférico levando a carbonatos inorgânicos ou

orgânicos.

Formação de sabão, que consome o catalisador, decresce o rendimento do

biodiesel, aumenta a viscosidade e dificulta as etapas de separação e

purificação (TREMILIOSI, 2009).

A catálise ácida homogênea geralmente é mais lenta que a catálise

alcalina, requer temperaturas mais elevadas, produz resíduos mais perigosos e

tem potencial corrosivo maior, apesar de prevenir a formação de sabão. Porém,

apesar dessas desvantagens, a catálise ácida é recomendável para a produção

direta de biodiesel por meio de óleos e gorduras com alto teor de ácidos graxos

livres (óleo de fritura e sebo, por exemplo), gerando redução no custo de

produção através da utilização de matéria-prima de baixo custo, e atingindo

rendimentos maiores, por realizarem a transesterificação e a esterificação

simultaneamente (VIEIRA, 2011).

20

3.5.2 Catálise heterogênea enzimática

Nesse tipo de catálise, enzimas hidrolíticas são utilizadas, imobilizadas em

um suporte inerte, como biocatalisadores. Tais enzimas não necessitam de

coenzimas, são razoavelmente estáveis, toleram a presença de solventes

orgânicos e tem um bom potencial de síntese regiosseletiva e enantiosseletiva,

fatores esses que tem contribuído para o aumento das pesquisas com esse tipo

de catalisadores. Contudo, o tempo elevado de reação e principalmente o custo

das enzimas são fatores desfavoráveis quando comparados aos outros tipos de

catálise (TREMILIOSI, 2009).

3.5.3 Catálise heterogênea química

Em ambas as rotas de produção do biodiesel, o uso de um catalisador é

necessário, pois ele diminui a energia necessária para que a reação ocorra,

diminuindo assim o tempo de reação, e ainda auxiliando na obtenção de melhores

rendimentos em determinadas condições de trabalho (CORDEIRO et al., 2011).

A catálise ácida heterogênea tem como principal vantagem, a reutilização

do catalisador, provendo ao processo baixo custo e baixo impacto ambiental,

simplificando os processos de produção e purificação do biodiesel (VIEIRA,

2011). Esse tipo de catalisador também reduz a ocorrência das reações

indesejadas de saponificação.

As condições de reação da catálise ácida heterogênea (pressão, e

temperatura) são mais severas em relação à catálise homogênea. Isso se deve

ao fato de o meio ser composto por duas fases, o que influencia diretamente no

processo de transferência de massa.

Sólidos que possuem sítios ácidos e/ou básicos de Lewis estão entre os

mais testados como catalisadores em potencial para a produção do biodiesel

(CORDEIRO et al., 2011). Ainda segundo Cordeiro e colaboradores, tais

catalisadores podem ser divididos nas seguintes categorias: zeólitas, óxidos e

sais inorgânicos, compostos de coordenação e líquidos iônicos, resinas

trocadoras de íons, ácidos e bases orgânicos, e materiais lamelares (que incluem

hidroxissais lamelares, carboxilatos lamelares, hidróxidos duplos lamelares e

21

óxidos estruturados oriundos da calcinação controlada de hidróxidos duplos

lamelares).

Várias pesquisas recentes relacionadas às reações de esterificação e

transesterificação envolvem o uso de catalisadores ácidos heterogêneos. O uso

de zeólitas, por exemplo, como catalisador para a reação de esterificação foi

reportado por Suppes e colaboradores (2004). A esterificação foi realizada com

metanol, a uma temperatura de 120 ºC utilizando-se uma proporção de 0,03 g de

catalisador para 0,3 mL de solução estoque de óleo de soja em um tempo total de

reação de 24 horas. O rendimento da reação foi da ordem de 90% de obtenção

de ésteres. A utilização de óxido de estrôncio (SrO) como catalisador em reações

de esterificação de óleo de soja foi avaliada no trabalho de Liu e colaboradores

(2007). Os autores reportaram um rendimento de 95% nas reações de

esterificação realizadas na presença de SrO em um teor de 3% (m/m) a uma

temperatura de 65 ºC por 30 minutos.

3.6 Parâmetros da reação

Há vários parâmetros que afetam o equilíbrio da reação, como temperatura

(a temperatura ideal tende a ser próxima da temperatura de ebulição do álcool

utilizado no meio reacional), relação molar álcool/óleo (deve ser usado um

excesso de álcool), agitação (deve ser a mais elevada possível por se tratar de

uma mistura de duas fases) e o catalisador utilizado (LI et al., 2014)

Pode ser citado como exemplo o trabalho de Li e colaboradores (2014),

onde o estudo da influência da temperatura, quantidade de catalisador (líquido

iônico) e o tempo de reação influenciaram diretamente no rendimento, sendo que

após a utilização de um método de otimização das condições reacionais (método

de superfície de resposta), o melhor resultado obtido para 1 hora de reação foi de

97,7% de rendimento, a uma temperatura de 130 oC utilizando 10% de catalisador

em relação a massa do ácido oleico.

22

3.7 A acidez dos catalisadores heterogêneos

Um dos principais desafios na avaliação da acidez em sólidos resume-se à

busca de uma escala simples e representativa para a sua caracterização. Ou

seja, enquanto, no meio líquido, é relativamente fácil estabelecer um padrão para

a acidez, como o pKa ou a escala de Hammett (H0), no sólido, apenas a acidez

de Hammett tem algum significado prático, embora restrito. Como as superfícies

dos sólidos são usualmente complexas, podem ocorrer vários tipos de interações

ácido-base. A acidez de um sólido abrange quatro conceitos subjacentes e

complementares: força ácida, número de sítios ácidos, distribuição de sua força e

tipos de sítios, Brønsted e Lewis (VIEIRA, 2011).

Portanto, não existe um modelo simples que possa fornecer um valor

característico para o entendimento e a caracterização da acidez em sólidos.

Existem, entretanto, diversas técnicas (normalmente complementares) que se

habilitam a qualificá-los determinando a densidade de sítios ou a natureza dos

sítios ácidos. Cada um desses procedimentos quando executados isoladamente,

limitam as interpretações, e algumas vezes ainda geram resultados incompatíveis

com outros resultados esperados (VIEIRA, 2011).

3.8 Zeólitas

Utilizadas como catalisadores e adsorventes em uma variedade de campos

como a petroquímica e química fina, por exemplo, as zeólitas são uma classe de

aluminossilicatos caracterizados como materiais cristalinos com microporos em

sua estrutura. A vasta gama de aplicações desse tipo de material está

intimamente ligada a suas propriedades únicas, provenientes de sua rede

intracristalina que possui microporos na faixa de 0,25-1nm, tais como capacidade

de troca iônica, acidez, seletividade de forma e grande área superficial

(MARTINS, CARDOSO, 2006).

As zeólitas por serem microporosas apresentam desvantagens em relação

à acessibilidade dos seus sítios ativos quando utilizadas em aplicações que

envolvem compostos de grande porte. Os compostos volumosos não conseguem

acessar, em muitos casos, a área da superfície interna das zeólitas, o que

23

restringe o uso desses catalisadores em processos químicos importantes. As

zeólitas podem, ainda, originar limitações de difusão, relacionadas com o

transporte intracristalino dos reagentes, para alcançar sítios ativos, e de produtos,

para afastarem-se desses sítios. (FERREIRA, 2012).

A Figura 3 exemplifica a estrutura básica de uma zeólita, com seus

microporos e a superconcavidade, que são os sítios ativos onde irão ocorrer as

reações.

Figura 3: Estrutura de uma zeólita.

Fonte: MARTINS, CARDOSO (2006).

As zeólitas são caracterizadas por diferentes tipos de canais, diâmetro de

poros (que variam na faixa de 0,45 nm a 0,76 nm), volume dos poros (0,15 a 0,35

mL/g) e proporção de Sílica/Alumínio, como pode ser observado na Tabela 2.

É habitual se referir as zeólitas pelo seu teor de silício e alumínio na rede

em base atômica, Si/Al, ou como razão molar dos óxidos, SiO2/Al2O3 conhecida

como Silica Alumina Ratio (SAR). Quanto à proporção Si/Al na estrutura é usual

utilizar-se o termos: baixa, média e alta sílica. As zeólitas naturais são geralmente

de baixa sílica, havendo em algumas ocorrências minerais de sílica intermediária.

As zeólitas de alta sílica são obtidas sinteticamente, seja por síntese direta ou por

modificação termoquímica da estrutura de zeólitas de menor Si/Al (SOUZA,

2007).

24

Tabela 2: Propriedades das zeólitas mais comuns.

Nome usual Código de 3 letras* Tipo de canais Diâmetro dos

poros (nm) Volume dos poros (mL/g)

Razão Si/Al

Zeólita A LTA

3D, gaiolas

conectadas

com janelas,

cúbico

0,45 0,30 1

Zeólita X FAU

3D, gaiolas

conectadas

com janelas,

tetragonal

0,75 0,35 1-1,5

Zeólita Y FAU

3D, gaiolas

conectadas

com janelas,

tetragonal

0,75 0,35 ≥2,5

Modernita MOR

1D, dois canais

paralelos

contínuos

0,65-0,70 0,20 ≥5

Zeólita L LTL 1D, um canal

contpinuo - - -

ZSM-5 MFI

2D, um canal

contínuo

sinuoso e um

contínuo,

mutuamente

perpendiculares

0,55 0,15 ≥10

Zeólita Beta BEA

3D, dois canais

contínuos e um

sinuoso,

perpendiculares

0,64-0,76 0,25 ≥5

*Representação da estrutura cristalina

Fonte: CHORKENDORFF, NIEMANTSVERDRIET (2003).

25

3.9 Óxidos e sais inorgânicos

Óxidos inorgânicos têm sido amplamente investigados como catalisadores

para produção de biodiesel, sendo comum o uso de óxidos simples ou mistos,

que podem ser obtidos pela calcinação de um sal na presença do óxido de

interesse. Neste sentido, a utilização de suportes inertes como Al2O3 ou SiO2 tem

sido comum (CORDEIRO et al., 2011).

Muitos óxidos metálicos já foram estudados, produzindo resultados

satisfatórios, dentre eles, podemos citar alguns exemplos:

ZrO2 sulfatado, preparado pela dissolução de ZrOCl2.8H2O em água,

seguido da precipitação de hidróxido de zircônia em pH = 9 em solução de

NH3, lavado e secado a 120°C por 16 horas, e impregnado com ácido

sulfúrico e calcinado por 4 horas em 650°C. Em uma razão de

metanol/ácido dodecanóico de 8:1, atingiu uma conversão de 96% em

apenas 1 hora de reação com 3% de catalisador a 180°C (ARDIZZONE et

al., 2004);

ZnO, utilizado na sua forma pura, obteve uma conversão de óleo de palma

na ordem de 90,3%, utilizando uma razão de metanol:óleo de 6:1 em

apenas 1 hora de reação, utilizando 3% de catalisador a 300°C (JITPUTTI

et al., 2006);

Al2O3/ZrO2/WO3, preparado a partir de uma solução de metatungstato de

amônio (com 50% de WO3) misturada com TiO2/ZrO2 e Al2O3/ZrO2 em

água deionizada, seguida de calcinação a 800°C por 1 hora. A uma

temperatura de 200 °C, com uma razão de metanol:óleo de soja de 4,5:1 e

utilizando 4 gramas de catalisador, após 20 horas atingiu-se 100% de

conversão, em um reator de leito fixo (FURUTA et al., 2004);

SO4-2/SnO2-SiO2, preparado pela adição dos óxidos SnO2 e SiO2 a ácido

sulfúrico 2,0M e agitado a 600 rpm por 6 horas, filtrado e calcinado a 300°C

por 2 horas. Utilizando 3% do catalisador a uma temperatura de 150°C

durante 3 horas de reação, com uma razão molar de metanol:óleo de

cozinha residual de 15:1, atingiu-se uma conversão de 92,3% (LAM et al.,

2009).

26

3.10 Compostos de coordenação

Composto de coordenação, ou complexos de coordenação, são termos

utilizados para se referir a combinação de um ácido de Lewis (átomo central) com

vários ligantes (bases de Lewis). Os compostos de coordenação são moléculas

constituídas de um ou mais ácidos de Lewis ligados a uma ou mais bases de

Lewis.

Diversos compostos bimetálicos de cianeto já foram testados na

esterificação do ácido oleico e na alcoólise de triglicerídeos como catalisadores,

como Fe2+-Cu2+, Fe2+-Zn2+, Fe2+-Ni2+ e Fe2+-Co2+. Foi observado que o melhor

rendimento foi do complexo de Fe2+-Zn2+, e esse fato foi atribuído à maior

concentração de sítios ácidos de Lewis desse composto em relação aos outros

(CORDEIRO et al., 2011).

3.11 Resinas trocadoras de íons

As resinas trocadoras de íons são definidas como matrizes poliméricas

insolúveis que contém grupos ionizáveis fixos em sua microestrutura, por meio

dos quais podem ocorrer as trocas iônicas.

Vários exemplos de utilização de resinas trocadoras de íons como

catalisadores nas reações de esterificação de ácidos graxos e de alcoólise de

óleos e gorduras são encontrados na literatura. Algumas das resinas utilizadas

são resinas sulfônicas, sulfonadas, Amberlyst 15, Amberlyst 16 dentre outras

(CORDEIRO et al., 2011).

3.12 Heteropoliácidos

Os heteropoliácidos devido a suas características físico-químicas únicas,

são largamente utilizados como catalisadores tanto homogêneos como

heterogêneos. Em muitos casos, os catalisadores à base de heteropoliácidos

possuem maior atividade catalítica do que os catalisadores mais conhecidos

(óxidos metálicos, por exemplo) (TIMOFEEVA, 2003).

27

A estrutura básica desses compostos dispõe de um tetraedro central XO4

rodeado por estruturas octaédricas metal-oxigênio (SANI et al., 2013). A Figura 4

representa um exemplo de um heteropoliácido: o ânion fosfomolibdato.

Figura 4: Estrutura esquemática do ânion fosfomolibdato.

Fonte: SANI et al., (2013)

A melhor representação para esse tipo de catalisador é XM12O40x-8, onde X

representa o átomo central (que pode ser Si+4, ou P+5 por exemplo) e M

representa os íons metálicos (normalmente W+6 ou Mo+6) (SANI et al., 2013).

No preparo desse tipo de catalisadores, um suporte (sílica, por exemplo)

deve ser utilizado. Podemos citar o composto Cs2HPW12O40 preparado por

Hamad e colaboradores (2008): o ácido H3PW12O40.24H2O foi recristalizado em

água deionizada antes do uso; foi, então, dispersado em SiO2 até uma

quantidade de W igual a 34%.

28

3.13 Líquidos Iônicos

Os líquidos iônicos são sais constituídos de cátions orgânicos e ânions

orgânicos e inorgânicos, que continuam líquidos à temperatura ambiente, ou em

temperaturas relativamente baixas (em torno de 100 °C) (LI et al. 2014).

Ainda segundo Li e colaboradores (2014), esses líquidos tem alta

densidade ácida, similar aos catalisadores líquidos, além de não serem voláteis.

Em adição a isso, como catalisadores, os líquidos iônicos podem ser facilmente

separados dos produtos, e podem possuir alta estabilidade térmica.

Recentemente, uma nova família de catalisadores vem sendo estudada:

materiais híbridos orgânicos/inorgânicos sintetizados a partir de uma combinação

de polioxometalatos (POM) e líquidos iônicos. Esses híbridos possuem as

propriedades do ânion do POM e do cátion do líquido iônico (RAFIEE, EAVANI,

2014).

3.14 Suportes mais utilizados

Como a maioria dos catalisadores são partículas muito pequenas, sua

estabilidade é atingida adicionando-se as partículas sólidas em matrizes porosas

de um suporte inerte. Todos os tipos de materiais que são termicamente estáveis

e relativamente estáveis quimicamente podem ser utilizados como suportes, mas

a alumina e a sílica são os mais comuns (CHORKENDORFF,

NIEMANTSVERDRIET, 2003).

3.14.1 Sílica

A sílica é um suporte utilizado em processos que operam a temperaturas

relativamente baixas (abaixo de 300 °C). Suas propriedades tais como tamanho

do poro, tamanho de partícula e área de superfície são facilmente ajustáveis para

atender as especificações de cada processo. A maioria dos suportes de sílica são

produzidos por duas rotas:

29

Precipitação sol-gel: uma solução alcalina (pH=12) de sódio silicato

chamada de água de vidro, é misturada com ácido sulfúrico. A um pH

baixo, os íons silicato se convertem a monômeros Si(OH)4 que polimerizam

a partículas de sílica coloidais e se aglomeram em um hidrogel (rede

tridimensional de esferas). Em seguida o sódio e o sulfato são removidos

por lavagem. A posterior secagem a 150-200 °C produz o chamado xerogel

de sílica (CHORKENDORFF, NIEMANTSVERDRIET, 2003).

Hidrólise em chamas: SiCl4 e gás hidrogênio são alimentadas em um reator

de chamas, onde a mistura reage produzindo um aerosol de partículas

nanométricas de SiO2 e HCl (removido por um fluxo de ar em leito fixo)

(CHORKENDORFF, NIEMANTSVERDRIET, 2003).

3.14.2 Alumina

Devido às suas excelentes estabilidades térmica e mecânica, a alumina é

amplamente utilizada como suporte para catalisadores. Embora exista em

inúmeras estruturas, o óxido de alumínio é utilizado em três estruturas de

interesse: não poroso α-Al2O3, que tem estrutura trigonal (hexagonal

romboédrica), e os porosos amorfos η- Al2O3 e ɣ-Al2O3. O último possui estrutura

cúbica e é instável a altas temperaturas, se transformando em α-Al2O3

(CHORKENDORFF, NIEMANTSVERDRIET, 2003); (AZEVÊDO, 2010). A Figura

5 apresenta uma sequência de transformações, não reversíveis, sofridas pela

alumina quando submetida a tratamento térmico.

30

Figura 5: Sequência de formação de aluminas via tratamento térmico.

Fonte: AZEVÊDO (2010).

A alumina é comumente obtida através de hidróxidos de alumínio

presentes em minérios, principalmente bauxita. Comercialmente, o método

utilizado para tal fim é o processo Bayer, ilustrado na Figura 6, que consiste na

moagem da bauxita em solução de NaOH, o que permite a separação do

hidróxido de alumínio na forma de aluminato de sódio (que é solúvel nessa

solução aquosa a quente). Após a separação da lama vermelha, que consiste no

rejeito contendo os demais componentes da bauxita, são adicionadas partículas

de Al(OH)3 na solução saturada de aluminato de sódio, a fim de precipitar todo o

aluminato na forma de hidróxido. O precipitado é então separado, lavado para

eliminação do sódio residual e então calcinado, para obter um óxido de alumínio

com 99% de pureza (AZEVÊDO, 2010).

31

Figura 6: Fluxograma esquemático do processo Bayer.

Fonte: CONSTANTINO et al., (2002)

Na produção de alumina há necessidade de se introduzir algumas

modificações no processo Bayer e no tratamento térmico (temperaturas que

variam de 1250ºC a 1500ºC), visando principalmente reduzir o teor de Na2O e

controlar a forma e o tamanho dos cristais que tem influência sobre propriedades

finais do produto cerâmico. Dessa forma, são obtidos inúmeros tipos de óxidos de

alumínio, cada um com determinadas características e campo de aplicações

(AZEVÊDO, 2010).

32

4. Metodologia

Para atingir os objetivos desse trabalho, foram realizadas pesquisas

bibliográficas, onde foram avaliados diversos estudos que reportam a produção

de biodiesel com a utilização de catalisadores ácidos heterogêneos.

A avaliação dos catalisadores mais utilizados foi feita por meio da bases de

dados de artigos científicos Science Direct.

Foram avaliadas as condições reacionais como temperatura, razão entre

óleo e álcool, tempo reacional, concentração de catalisadores e rendimento total

do processo.

33

5. Resultados e discussão

O resultado da pesquisa de artigos disponíveis na base de dados Science

Direct quando se utilizou os termos “biodiesel” e “catálise ácida”, ordenando-se

das publicações mais recentes para as mais antigas, mostrou um total de 4601

resultados. Analisando-se 8 páginas, cada uma contendo 25 publicações e

fazendo uma análise individual de cada artigo, foram selecionados 29 artigos que

dizem respeito à produção de Biodiesel via catálise ácida heterogênea. Os artigos

foram classificados quanto ao tipo de álcool utilizado, o tipo de matéria prima, e o

tipo de catalisador utilizado. Foram então construídas as Figuras 7, 8 e 9,

representando o tipo de álcool utilizado, o tipo de matéria prima (alguns artigos

utilizaram mais de uma matéria prima e/ou catalisador) e o tipo de catalisador,

respectivamente.

A maioria dos trabalhos encontrados reportam o uso de metanol nas

reações de transesterificação, sendo que apenas uma pequena parcela dos

trabalhos (por volta de 6%) demonstram o uso de etanol como pode ser

observado na Figura 7. Isso se deve, pois o metanol tem uma cadeia mais curta,

e é mais polar, o que facilita a reação, e mais barato do que o etanol. Por outro

lado, o uso de etanol vem crescendo, pois ele é muito menos tóxico do que o

metanol, além de poder ser obtido por fontes renováveis.

Figura 7: Tipo de álcool utilizado, em porcentagem.

Fonte: o próprio autor.

Metanol 94%

Etanol 6%

34

Na Figura 8, podemos observar uma diversidade na matéria prima a ser

utilizada na produção de biodiesel. Dentre os óleos vegetais, o mais utilizado foi o

óleo de soja, que tem um custo baixo e grande produção no Brasil, seguido do

óleo de palma e o óleo de cozinha residual proveniente de frituras.

Figura 8: Tipo de matéria prima utilizada nos trabalhos, em porcentagem.

Fonte: o próprio autor.

Porem, o ácido oleico é a matéria-prima mais utilizada, pois, como pode se

observar na Tabela 1 do item 3.4, a maioria dos óleos possui grande quantidade

desse ácido em sua composição, o que o torna um bom padrão para se realizar

as reações de esterificação.

A partir da análise da Figura 9, vemos que os óxidos metálicos e os

heteropoliácidos são os catalisadores mais difundidos e mais estudados, sendo

que o uso destes catalisadores representa 55,88% e 20,59% dos trabalhos

analisados nesta revisão, respectivamente.

0 5 10 15 20 25

Ácido Benzóico

Ácido Oleico

Gordura animal

Óleo ácido (resíduo industrial)

Óleo de cozinha residual

Óleo de coco

Óleo de Girassol

Óleo de Oliva

Óleo de Palma

Óleo de semente de Colza

Óleo de semente de Stauntonia chinensis

Óleo de Soja

35

Figura 9: Tipo de catalisador utilizado, em porcentagem.

Fonte: o próprio autor.

Porém, outros tipos de catalisadores vêm mostrando resultados

interessantes, como os líquidos iônicos.

Utilizando os dados obtidos na literatura, foi possível construir as Tabelas

3, 4, e 5 que listam as condições reacionais experimentais descritas pelos autores

e os catalisadores utilizados, classificados como: heteropoliácidos, óxidos

metálicos e líquidos iônicos.

Na grande maioria dos trabalhos analisados, podemos notar que a

temperatura utilizada para conduzir a reação de transesterificação é próxima à

temperatura de ebulição do álcool: 64,6 °C para metanol e 78,3 °C para o etanol.

Como exemplos, podemos citar os trabalhos que utilizaram heteropoliácidos como

catalisadores como os trabalhos de Singh e Patel (2014) que utilizaram o metanol

a uma temperatura de 60 °C e obtiveram uma conversão de ácido oleico a ésteres

de 97%, e também o trabalho de Yin e colaboradores (2012) que utilizaram etanol

em temperaturas que variaram de 90 a 120 °C, sendo que a temperatura ótima

encontrada foi de 112 °C com conversão de 77,02±0,62% de ácido oleico a

ésteres.

Já em relação à razão molar entre álcool e óleo, pode-se observar que

sempre foi utilizado um excesso do álcool. Isso se deve, dentre outros fatores, ao

fato de todo triglicerídeo possuir três hidroxilas, podendo-se formar três mols de

Heteropoliácidos 24,14%

Óxidos metálicos 65,52%

Líquidos iônicos 10,34%

36

éster de alquila para cada mol de óleo, utilizando assim três mols do álcool para

cada mol de triglicerídeo. Essa razão de álcool e óleo variou de 4:1 quando se

utilizaram líquidos iônicos como catalisadores, como no trabalho de Rafiee e

Eavani (2014) e Li e colaboradores (2014), até um valor máximo de 50:1 no

trabalho de Singh e Patel (2014) que utilizaram o ácido 12-tungstenofosfórico

como catalisador.

Quanto à quantidade de catalisador utilizado no meio reacional, podemos

notar também uma grande faixa de valores: Amani e colaboradores (2014)

utilizaram uma faixa que variou de 0,5% a 6,5% de óxidos mistos de cálcio e

zircônio em relação à massa de óleo de palma para a produção de ésteres de

alquila. O máximo de catalisador utilizado foi de 15,5% em relação à massa de

ácido oleico no trabalho de Yin e colaboradores (2012) na etanólise desse ácido

utilizando ácido organofosfônico como catalisador.

Nos trabalhos em que foram utilizados catalisadores do tipo heteropoliácido

(Tabela 3), é possível observar altas conversões em diferentes condições de

reação: temperatura variando na faixa de 60 a 120 °C, razão molar de

metanol/óleo variando de 6:1 até 50:1 e conversão mínima de 77,02±0,62% (YIN

et al., 2012) e máxima de 100% (GONG et al., 2014).

37

Tabela 3: Dados de experimentos utilizando heteropoliácidos como catalisadores.

Referência

ALEGRÍA et al., (2014)

SHAH et al., (2014)

YIN et al., (2012)

ANDRIJANTO et al., (2012)

SINGH, PATEL (2014)

GONG et al., (2014)

NARKHEDE et al., (2014)

Fonte: o próprio autor.

Conversão (%)

96

99,02

77,02

acima de 80

97

100

86

Fonte de ácidos graxos

Semente de Girassol

Óleo ácido (resíduo

industrial)

Ácido oleico

Ácido oleico

Ácido oleico

Ácido oleico

Óleo de cozinha residual

Tempo de reação

3 h

6 h

10 h

2 h

8 h

5 h

8 h

Temperatura (°C)

70

80

112

não informado

60

80

65

Razão molar cat/óleo

0,11 : 1

4%

14,5%

não informado

0,1 g

7%

0,3g

Razão molar álcool/óleo

6 : 1

15 : 1

8,8 : 1

não informado

50 : 1

10 : 1

8 : 1

Álcool

MetOH

MetOH

EtOH

MetOH

MetOH

MetOH

MetOH

Catalisador

Ácido 4-dodecilbenzenosulfônico

Ácido organosulfônico SBA-15

Ácido organofosfônico em sílica

Purolite D5081

Ácido 12-tungstenofosfórico

Ácido 12-tungstenofosfórico

Ácido 12-tungstenofosfórico

38

Gong e colaboradores (2014) mostraram uma conversão total de ácido

oleico a éster alquílico utilizando um catalisador preparado pela adição lenta de

uma solução de ácido picolínico a uma solução de ácido fosfotúngstico (HPW)

sob vigorosa agitação. Após a adição, a mistura foi mantida sob agitação por duas

horas, e o sólido branco resultante foi então filtrado, e seco a 110°C. Para atingir

a conversão máxima, foi utilizada uma proporção de 1:1 de ácido picolínico e

HPW na produção do catalisador, numa reação de esterificação conduzida a 80°C

por 5 horas, com uma razão molar de metanol/ácido oleico de 10:1 e 7% de

catalisador (em relação à quantidade de ácido oleico). Porém, os autores

relataram que os experimentos utilizando esse tipo específico de heteropoliácido

se comportaram como catálises homogêneas, visto que a solubilidade do

catalisador no meio reacional é extremamente alta, dificultando sua recuperação.

O tipo de catalisador mais utilizado, óxido metálico, mostrou, resultados

interessantes do ponto de vista do tempo reacional e condições de reação

(Tabela 4). Em temperaturas que variaram na faixa de 50°C (DIAS et al., 2013) a

um extremo de 300°C (FURUTA et al., 2004) em reações conduzidas na faixa de

10 minutos (CHEN et al., 2012) até 20 horas (FURUTA et al., 2004) foram obtidas

conversões das matérias primas aos respectivos alquil ésteres de no mínimo

79,2% (XIE, WANG, 2013) na transesterificação do óleo de soja e um máximo de

cerca de 100% quando se utilizaram óleo de oliva (CHEN et al., 2012), óleo de

soja (FAN et al., 2012) e gordura animal (DIAS et al., 2012).

39

Tabela 4: Dados de experimentos utilizando óxidos metálicos como catalisadores. Referência

DOMINGUES et al., (2013)

SÁNCHEZ et al., (2014)

ALVES et al., (2012)

FAN et al., (2012)

DIAS et al., (2013)

AMANI et al., (2014)

LUKIC et al., (2013)

WANG et al., (2014)

CHEN et al., (2012)

DIAS et al., (2012)

XIE, WANG (2013)

DIAS et al., (2012) ARDIZZONE et al.,

(2004) FURUTA et al., (2004)

JITPUTTI et al., (2006)

JITPUTTI et al., (2006)

JITPUTTI et al., (2006)

JITPUTTI et al., (2006)

LAM et al., (2009)

Fonte: o próprio autor.

Conversão (%)

85,9

85-93,2

acima de 95

97,9

94,3

acima de 87

acima de 90

acima de 90

98,3

97,3

79,2

acima de 80

acima de 60

acima de 80

90,3

90,3

80,6

86,3

92,3

Fonte de ácidos graxos

Semente de Colza

Óleo de Soja Óleo de cozinha

residual

Óleo de Soja

Óleo de cozinha residual

Óleo de Palma

Óleo de Girassol

Óleo de semente de Stauntonia chinensis

Óleo de Oliva

Óleo de Soja

Óleo de Soja

Gordura animal

Ácido Benzóico

Óleo de soja

Óleo de palma

Óleo de palma

Óleo de coco

Óleo de coco

Óleo de cozinha residual

Tempo de reação

6 h

1,32-4,68 h

2 h

2,5 h

8 h

0,5-12 h

2-4 h

3 h

1 h

3 h

5 h

8 h

8 h

20 h

4 h

4 h

4 h

4 h

3 h

Temperatura (°C)

125

60

60-200

65

50

70-180

60-96

65

65

67

110

60

160

200-300

200

200

200

200

150

Razão molar cat/óleo

5%

3,32-6,68%

1-10%

2%

3%

0,5-6,5%

2%

3%

5%

5%

5%

1-5%

2,5 g

4 g

3%

3%

3%

3%

3%

Razão molar álcool/óleo

15 : 1

4,6-7,96 : 1

40 : 1

9 : 1

18 : 1

6-21 : 1

10: 1

10 : 1

6 : 1

9 : 1

30 : 1

9 : 1 não

informado 40 : 1

6 : 1

6 : 1

6 : 1

6 : 1

15 : 1

Álcool

MetOH

MetOH

MetOH/EtOH

MetOH

MetOH

MetOH

MetOH

MetOH

MetOH

MetOH

MetOH

MetOH

MerOH

MetOH

MetOH

MetOH

MetOH

MetOH

MetOH

Catalisador

Fosfato de Vanádio

Óxidos metálicos em alumina

Aluminato de Zn

Óxidos de cálcio e magnésio com KF

Óxido de cálcio e manganês

Óxidos mistos de Ca e Zr

Óxido de cálcio e zinco

Óxido de cálcio modificado

Óxido de estrôncio modificado

Óxido de estrôncio e magnésio

Óxido de vanádio

Óxido de cálcio e manganês

Zirconia sulfatada

Óxido de vanádio e zircônio

Óxido de estanho sulfatado

Zirconia sulfatada

Óxido de estanho sulfatado

Zirconia sulfatada

Óxido de estanho sulfatado

40

Devido os altos valores de conversão obtidos, é compreensível o fato do

uso dos óxidos metálicos ser tão difundido e estudado nos dias de hoje. Como um

exemplo, podemos citar Chen e colaboradores (2012), que conseguiram

rendimentos de 95% em apenas 10 minutos de reação, atingindo um máximo de

98,3% ao fim de uma hora de reação, utilizando óxido de estrôncio suportado em

sílica, em condições de reação relativamente brandas: uma temperatura de 65 °C,

razão de metanol/óleo de oliva de 6:1, agitação de 600 rpm e 5% de catalisador

no meio reacional. Os autores observaram que a temperatura é uma variável que

influencia diretamente na velocidade de reação: a 45 °C, o mesmo catalisador nas

mesmas condições reacionais chegou a apenas cerca de 80% de conversão em

uma hora de reação, enquanto que a 65 °C a reação obteve 95% de rendimento

em apenas 10 minutos.

Alguns trabalhos reportam também o uso de líquidos iônicos como

catalisadores (Tabela 5). Todos os resultados dos trabalhos analisados

apresentaram boas conversões, sempre acima de 80%, sendo observado um

máximo de 97,7% no trabalho de Li e colaboradores (2014).

Tabela 5: Dados de experimentos líquidos iônicos como catalisadores.

Catalisador Álcool

Razão álcool/

óleo

Razão cat/óleo

T (°C)

Tempo (h)

Fonte de

ácidos graxos

Conversão (%) Referência

CH3(OCH2CH2)nIm MetO

H 10 : 1 0,017 : 1 68 4 h Ácido oléico cerca de 80

WU et al., (2013)

[QPS]PW MetOH 4 : 1 4% 65 2 h Ácido

oléico 92,4 RAFIEE, EAVANI (2014)

[BHSO3MIM]HSO4

MetOH

4 : 1 10% 130 4 h Ácido oléico

97,7 LI et al., (2014)

Fonte: o próprio autor.

No trabalho de Li e colaboradores (2014), por exemplo, foram testados

diversos líquidos iônicos como catalisadores: 1-butil-3-

methylimidazoliumhydrosulfate [BMIM]H2SO4, N-ethylpyridinium hydrosulfate

[EPy]HSO4, tetraethylammonium hydrosulfate [TEAm]HSO4, 1-sulfobutyl-3-

methylimidazolium hydrosulfate [BHSO3MIM]HSO4, 1-butyl-3-

methylimidazoliumperchlorate [BMIM]ClO4, 1-ethylpyridiniumbromide [EPy]Br e

tetraethylammoniumchloride [TEAm]Cl. Foi determinado que a acidez dos

diferentes líquidos iônicos na esterificação do ácido oleico é um fator importante.

De acordo com a Figura 11, os autores afirmaram que o melhor catalisador dentre

41

os estudados é o [BHSO3MIM]HSO4, e este foi escolhido para otimização da

reação utilizando o método de superfície de resposta (RSM).

Figura 10: Efeito da variação de acidez dos líquidos iônicos sobre o rendimento da esterificação do ácido oleico com metanol. Condições de reação: 2,82g de ácido oleico, 10% de catalisador, razão molar de metanol/ácido oleico de 2:1,

temperatura de 80 °C e agitação de 500 rpm

Fonte: LI et al., (2014)

Por meio dessa otimização, os autores determinaram as condições ótimas

de reação que levariam ao máximo previsto de 100% de conversão, tendo sido

obtido 97,7% de conversão durante o experimento de confirmação. As condições

experimentais otimizadas foram: o uso de 10% de catalisador, razão molar de

metanol/ácido oleico de 4:1, e temperatura de 130 °C em um balão de fundo

redondo acoplado com um condensador de refluxo, aquecido em banho de óleo

com agitação magnética de 500 rpm. (LI et al., 2014).

De acordo com os melhores resultados observados nos trabalhos da

literatura para cada tipo de catalisador, nota-se que todos eles possuem potencial

para atingir elevadas conversões, como pode ser visto na Figura 11.

42

Figura 11: Resultados das maiores conversões em porcentagem de alquil ésteres, observadas nos diferentes trabalhos da literatura.

Fonte: o próprio autor

Apesar de atingir a conversão total (100%) de ácido oleico em metil

ésteres, Gong e colaboradores (2014) precisaram conduzir a reação por 5 horas

utilizando um heteropoliácido como catalisador. Por outro lado, Chen e

colaboradores (2012) atingiram 95% de conversão de óleo de oliva em metil

ésteres em apenas 10 minutos, utilizando um óxido metálico em uma temperatura

15 °C menor, e uma razão de metanol óleo de 6:1, em detrimento de 10:1

utilizado por Gong e colaboradores. Li e colaboradores (2014) ao utilizarem um

líquido iônico [BHSO3MIM]HSO4 como catalisador conduziram a reação a uma

temperatura de 130 °C, mais elevada do que a apresentada nos outros trabalhos,

durante 4 horas de reação para atingir uma conversão de 97,7% de ácido oleico

em meti ésteres. Portanto, com relação ao parâmetro tempo de reação e de

acordo com os trabalhos avaliados, o catalisador mais recomendado seria o óxido

de estrôncio utilizado por Chen e colaboradores (2012).

90 92 94 96 98 100

LI et al. (2014) - [BHSO3MIM]HSO4

GONG et al. (2014) - Ácido 12-tungstenofosfórico

CHEN et al. (2012) - Óxido de estrôncio modificado

Conversão (%)

Conversão (%)

43

6. Conclusões

A partir dos resultados apresentados nesse trabalho, verifica-se que a

pesquisa por catalisadores ácidos heterogêneos continua se intensificando para o

desenvolvimento de uma rota industrial alternativa à catálise básica homogênea.

Novos catalisadores estão sendo estudados, e vem produzindo resultados

satisfatórios em escala laboratorial.

Uma boa alternativa a essa rota produtiva são os líquidos iônicos, os

heteropoliácidos, e os óxidos metálicos, todos eles apresentando resultados

promissores. Porém, para a utilização a nível industrial desses catalisadores,

estudos de scale up devem ser realizados para confirmar a viabilidade ou não

desses catalisadores em grande escala.

Os resultados da pesquisa bibliográfica mostraram que o tipo de

catalisador mais amplamente utilizado são os óxidos metálicos, que também são

os que levaram um tempo significantemente menor para atingir altas conversões

quando comparado aos catalisadores do tipo heteropoliácidos e líquidos iônicos.

Os óxidos metálicos que apresentaram melhores resultados foram o óxido de

estrôncio modificado demonstrado no trabalho de Chen et al., (2012) que atingiu

uma conversão de 98,3% na metanólise do óleo de oliva em uma hora de reação,

e o óxido misto de cálcio e magnésio, como mostrado por FAN et al., (2012), que

atingiu 97,9% de conversão na metanólise do óleo de soja em apenas 2,5 horas

de reação.

A utilização dos óxidos metálicos, porém, requer o uso de temperaturas

mais elevadas, normalmente na faixa de 120 a 300 °C e isso foi reportado na

maioria dos trabalhos. Por outro lado, os trabalhos de Chen e colaboradores

(2012) e Fan e colaboradores (2012), que utilizaram óxidos de estrôncio

suportado em sílica e óxidos mistos de cálcio e magnésio modificados com KF,

mostraram condições mais brandas de reação: temperatura de apenas 65 °C, e

mesmo assim apresentaram os melhores resultados dentre todos os trabalhos

observados. Isso se deve ao fato de os autores terem observado uma elevada

atividade catalítica e reatividade do óxido no caso de Chen, e, no caso de Fan, foi

mostrada que a elevada atividade catalítica dos óxidos foi devida a formação de

cristais de KCaF3 e K2MgF4.

44

Em contrapartida, as pesquisas com líquidos iônicos ainda são muito

recentes, e esse tipo de catalisador pode se revelar uma alternativa interessante

para a produção de biodiesel pela rota catalítica heterogênea.

Notamos então que, apesar de muitos estudos estarem sendo realizados

na busca por catalisadores alternativos para a produção de biodiesel, a

funcionalidade desses catalisadores em escala piloto e até industrial ainda não foi

testada. O uso de óxidos metálicos e de líquidos iônicos que produzirem

resultados satisfatórios a nível laboratorial deveria ser estudado para o uso

industrial melhorando assim a tecnologia de produção de biodiesel no Brasil.

45

7. Referências Bibliográficas

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