estudo de caso da coleta seletiva de resÍduos...

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(1) Engenheira Sanitarista e Ambiental pela Universidade Federal do Pará. Estudante de Pós-graduação em Gestão de Projetos pela Faculdade Ideal, em Belém/PA. (2) Engenheira Civil pela Universidade Federal do Pará. Estudante de Pós-graduação em Gestão de Projetos pela Faculdade Ideal, em Belém/PA. ESTUDO DE CASO DA COLETA SELETIVA DE RESÍDUOS SÓLIDOS RECICLÁVEIS NO BAIRRO DA PEDREIRA-BELÉM/PA Ariani Samara Oliveira de Souza FACI Michelle Azulay Ramos FACI Pablo Queiroz Bahia - FACI RESUMO Os maiores beneficiados pela coleta seletiva são o meio ambiente e a saúde da população. A reciclagem e a reutilização de papéis, vidros, plásticos e metais representam em torno de 40% do lixo doméstico, o que reduz a utilização dos aterros sanitários, prolongando sua vida útil. Além disso, a reciclagem e a reutilização implicam uma redução significativa dos níveis de poluição ambiental e do desperdício de recursos naturais, através da economia de energia e matérias- primas. Assim, o presente trabalho apresenta uma avaliação da coleta seletiva porta a porta de resíduos sólidos recicláveis, implantada pela prefeitura de Belém- PA em parceria com a Rede Recicla Pará (RRP) no início do ano de 2012 no Bairro da Pedreira, com intuito de se adequar a Lei nº 12.305/2010. A avaliação foi desenvolvida através da descrição da área de estudo e levantamento de informações, acerca do histórico da coleta seletiva no município de Belém/PA, da implantação da coleta seletiva porta a porta no bairro da Pedreira, de seus aspectos operacionais e da evolução quantitativa dos materiais recicláveis mais coletados, além dos principais problemas encontrados. Como resultado deste estudo, percebeu-se um crescimento inicial na quantidade de materiais recicláveis coletados no bairro, porém por problemas estruturais este crescimento foi prejudicado. A participação da população poderia ser maior se houvesse ampla divulgação da coleta, um exemplo disso é a falta de informação de alguns moradores quanto os tipos de materiais recicláveis arrecadados pelos catadores. A avaliação da coleta seletiva porta a porta no bairro da Pedreira vem contribuir com a identificação dos problemas no sistema atual e sugerir soluções e/ou ajustes para tais, visando a melhora do sistema. Palavras chaves - Coleta Seletiva Porta a Porta. Resíduos Sólidos. Bairro da Pedreira. Cooperativas.

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(1) Engenheira Sanitarista e Ambiental pela Universidade Federal do Pará. Estudante de Pós-graduação em Gestão de Projetos pela Faculdade Ideal, em Belém/PA. (2) Engenheira Civil pela Universidade Federal do Pará. Estudante de Pós-graduação em Gestão de Projetos pela Faculdade Ideal, em Belém/PA.

ESTUDO DE CASO DA COLETA SELETIVA DE RESÍDUOS

SÓLIDOS RECICLÁVEIS NO BAIRRO DA PEDREIRA-BELÉM/PA

Ariani Samara Oliveira de Souza – FACI

Michelle Azulay Ramos – FACI

Pablo Queiroz Bahia - FACI

RESUMO

Os maiores beneficiados pela coleta seletiva são o meio ambiente e a saúde da

população. A reciclagem e a reutilização de papéis, vidros, plásticos e metais

representam em torno de 40% do lixo doméstico, o que reduz a utilização dos

aterros sanitários, prolongando sua vida útil. Além disso, a reciclagem e a

reutilização implicam uma redução significativa dos níveis de poluição ambiental e

do desperdício de recursos naturais, através da economia de energia e matérias-

primas. Assim, o presente trabalho apresenta uma avaliação da coleta seletiva

porta a porta de resíduos sólidos recicláveis, implantada pela prefeitura de Belém-

PA em parceria com a Rede Recicla Pará (RRP) no início do ano de 2012 no Bairro

da Pedreira, com intuito de se adequar a Lei nº 12.305/2010. A avaliação foi

desenvolvida através da descrição da área de estudo e levantamento de

informações, acerca do histórico da coleta seletiva no município de Belém/PA, da

implantação da coleta seletiva porta a porta no bairro da Pedreira, de seus

aspectos operacionais e da evolução quantitativa dos materiais recicláveis mais

coletados, além dos principais problemas encontrados. Como resultado deste

estudo, percebeu-se um crescimento inicial na quantidade de materiais recicláveis

coletados no bairro, porém por problemas estruturais este crescimento foi

prejudicado. A participação da população poderia ser maior se houvesse ampla

divulgação da coleta, um exemplo disso é a falta de informação de alguns

moradores quanto os tipos de materiais recicláveis arrecadados pelos catadores. A

avaliação da coleta seletiva porta a porta no bairro da Pedreira vem contribuir com

a identificação dos problemas no sistema atual e sugerir soluções e/ou ajustes para

tais, visando a melhora do sistema.

Palavras chaves - Coleta Seletiva Porta a Porta. Resíduos Sólidos. Bairro da

Pedreira. Cooperativas.

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1 INTRODUÇÃO

Uma das maiores preocupações ambientais da sociedade

contemporânea é a questão dos resíduos sólidos, cujas quantidades crescentes

são resultados de novos padrões culturais impostos pela sociedade industrial.

O volume de resíduos descartados diariamente é aumentado de modo

permanente pela obsolescência dos bens de consumo, levando a uma oferta cada

vez maior de energia e matérias-primas (SCHNEIDER, 2004).

O descarte inadequado dos resíduos sólidos provoca consequências

não apenas ao meio ambiente, mas à qualidade de vida da população,

principalmente no que diz respeito à saúde. Para solucionar a problemática dos

resíduos sólidos é necessário um planejamento para o gerenciamento dos

mesmos, que consiste no acondicionamento, coleta, transporte, tratamento e

destinação final adequada dos resíduos, sendo de fundamental importância

também à realização de campanhas educativas para a conscientização da

população a respeito de suas ações referente ao lixo, pois sendo estes a fonte

geradora, devem ser sensibilizados e conhecedores dos impactos negativos

decorrentes da falta de consciência de seus atos.

A coleta seletiva é um processo de coleta e segregação dos resíduos na

fonte geradora e parte integrante do gerenciamento dos resíduos sólidos, além de

proporcionar a recuperação do valor agregado nos resíduos e de promover a

inserção social dos catadores.

Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo geral avaliar a coleta

seletiva porta a porta de resíduos sólidos recicláveis, tendo como área de estudo o

Bairro da Pedreira, localizado no município de Belém-PA, bem como, responder os

seguintes questionamentos: a infraestrutura oferecida pela Prefeitura Municipal de

Belém (PMB) atende as necessidades do sistema de coleta seletiva proposto? e

quais os seus principais problemas?.

3

2 METODOLOGIA

Para alcançar os objetivos traçados neste trabalho foi desenvolvida e

aplicada no período de agosto de 2011 a agosto de 2012 uma metodologia que

compreende as seguintes etapas: levantamento bibliográfico, descrição da área de

estudo e levantamento de informações, acerca do histórico da coleta seletiva no

município de Belém/PA, seus aspectos operacionais, tipos de materiais recicláveis

coletados, bem como a quantidade desses materiais, além dos principais

problemas enfrentados.

2.1 ÁREA DE ESTUDO

O Bairro da Pedreira é um bairro residencial de classe média, localizado

entre a periferia e o centro de Belém, delimitado pela Passagem São Luiz,

Visconde de Inhaúma, Travessa Antônio Baena e Rua Nova.

A Pedreira está passando atualmente por um intenso processo de

verticalização, sua população está estimada em 69.608 habitantes (IBGE, 2010).

Sua localização pode ser vista no Mapa 1.

2.2 LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÕES

Baseando-se na pesquisa bibliográfica, as diretrizes para o trabalho de

campo foram traçadas, buscando dados para a avaliação da coleta seletiva porta a

porta de resíduos sólidos implantada no bairro da Pedreira. As informações

levantadas foram:

Mapa 1– Localização do bairro da Pedreira.

Fonte: Rodrigues, 2012.

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a) Levantamento do histórico da coleta seletiva no município de Belém, obtidas

através de materiais digitais fornecidos pela Secretaria Municipal de

Saneamento de Belém (SESAN).

b) Implantação da coleta seletiva porta a porta no Bairro da Pedreira, obtidas

através de entrevistas com Representantes da Rede Recicla Pará (RRP),

Técnicos e Engenheiro Sanitarista da SESAN e conversas informais com a

população.

c) Aspectos operacionais do sistema de coleta seletiva porta a porta no Bairro

da Pedreira, conseguidas através de entrevistas com Representantes da

RRP, acompanhamento da coleta seletiva na área de estudo e visitas à

estrutura de apoio, onde foi observado os seguintes aspectos:

Equipamentos de Proteção Individual (EPI).

Tipos de materiais recicláveis coletados.

Forma de trabalho e equipamentos utilizados para a coleta.

Estrutura de Apoio.

Triagem, transporte, pesagem e venda dos materiais coletados.

d) Evolução quantitativa de materiais recicláveis coletados, no Bairro da

Pedreira, obtidas através de documentos fornecidos pela RRP.

e) Identificação dos principais problemas no sistema de Coleta Seletiva Porta a

Porta do Bairro da Pedreira, conseguidas através de entrevistas com

catadores da RRP e moradores do bairro e observações realizadas na área

de estudo, como:

Mão de obra.

Equipamentos de Proteção Individual (EPI).

Transporte dos catadores.

Grandes geradores.

Edifícios.

Falhas na divulgação da coleta seletiva.

Falta de informação por parte da população.

Interferência na quantidade de materiais coletados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 HISTÓRICO DA COLETA SELETIVA NO MUNICÍPIO DE BELÉM

Segundo informações obtidas na SESAN, em 1997 ocorreu organização

dos grupos de catadores havendo a realização de cursos para os mesmos, neste

período, havia coleta seletiva pontuais atendendo grandes geradores de resíduos.

O Programa “Coleta Seletiva” teve início em 2001, em parceria com a Cooperativa

de Trabalho dos Profissionais do Aurá (COOTPA).

Somente em 2002, foi realizada a distribuição de containers verdes nos

bairros centrais e condomínios, implantando-se os PEV’S. Em 2005, a coleta

seletiva passa a ser realizada por um grupo de catadores em parceria informal com

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a PMB, ocorrendo em 2007 à reestruturação do Programa “Coleta Seletiva” com a

parceria entre a PMB e Associação das cooperativas de Coleta Seletiva de Belém

(ACCSB).

Sendo que a partir de então a coleta passa a ser realizada através de

roteiro nos bairros centrais, no entanto tal iniciativa restou também infrutífera como

as anteriores. Finalmente em 2012, ocorreu a ampliação do Programa “Coleta

Seletiva”, em parceria entre a PMB e Rede Recicla Pará.

A coleta passa então a ser realizada de porta em porta seguindo a um

roteiro preestabelecido, com o intuito de se adequar a Lei 12.350 de 2010 na qual

se instituiu a política Nacional de Resíduos Sólidos, definindo o acesso aos

recursos encaminhados da União aos municípios que implantem programas de

coleta seletiva com a participação de trabalhadores de baixa renda, visando à

inclusão destes no mercado de trabalho.

3.1.1 Rede Recicla Pará

A Rede de Economia Solidária de Catadores de Matérias Reutilizáveis e

Recicláveis do Estado do Pará, que atua sob o nome “fantasia” “REDE RECICLA

PARÁ”, foi lançada em 7 de junho de 2011, mesma data em que é comemorado o

Dia Nacional do Catador, no auditório da Superintendência de Desenvolvimento da

Amazônia (SUDAM), em Belém.

A RRP possibilitou a integração de várias cooperativas e associações de

catadores, antes da rede elas eram dispersas e cada uma tentava isoladamente

garantir espaço dentro do mercado da reciclagem e das políticas públicas do setor.

A rede tem por objetivo unir os catadores do Estado, contribuindo para o

fortalecimento da economia solidária. A filosofia da Rede segundo Nathália

(integrante da RRP, 2011) é que: “No Pará catador não cata, mas coleta, reutiliza e recicla, ou seja, nosso

desenvolvimento se dará pela prática efetiva da coleta seletiva solidária

em nosso Estado. Nosso slogan é “Sustentabilidade na Amazônia”

Segundo reportagem do dia 12 de junho de 2011 do blog do Grupo de

Combate ao Lixo de Belém (GCLB), fazem parte da RRP 15 cooperativas e

associações do Estado do Pará, como representado no Quadro 7.

Nome Sigla Município

Cooperativa de Trabalho dos Profissionais do Aurá COOTPA Ananindeua

Cooperativa dos Catadores da Pedreira COOCAPE Belém

Cooperativa de Produção e Reciclagem COOPROREM Moju

Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis de

Abaetetuba COOMCLIMA Abaetetuba

Cidadania para Todos - Belém

Associação de Curuçá - Curuçá

Cooperativa de Castanhal - Castanhal

Associação dos Recicladores das Águas Lindas ARAL Ananindeua

Quadro 1 - Cooperativas e associações do Estado do Pará.

6

Associação dos Catadores de Belém Belém

Cooperativa de Materiais Recicláveis dos Caetés COOMARCA Bragança

Associação dos Catadores de Benevides - Benevides

Associação dos Catadores do Marajó - Marajó

Cooperativa de Abaetetuba - Abaetetuba

Associação de Catadores de Resíduos Sólidos e Matérias

Recicláveis ASCAMARE Marituba

Projeto Ação7 e Cidadania - Belém

3.2 IMPLANTAÇÃO DA COLETA SELETIVA PORTA A PORTA NO BAIRRO DA

PEDREIRA

Em Janeiro de 2012, a PMB representada pela Secretaria Municipal de

Saneamento de Belém (SESAN), implantou a coleta seletiva porta a porta no bairro

da Pedreira, oferecendo suporte infraestrutural aos catadores, disponibilizando

ônibus, alimentação, Equipamentos de Proteção Individual (EPI`s), caminhões, big

bag’s, contêineres, galpão para armazenamento e triagem dos materiais e suporte

técnico, como a elaboração dos roteiros de coleta.

A divulgação no bairro foi realizada por técnicos da SESAN e pelos

próprios catadores, através de conversas com os moradores, informando os tipos

de materiais que podem ser reciclados, a importância da colaboração dos mesmos

para o êxito do projeto, assim como os dias e horários de coleta. Para a

identificação dos participantes do programa, utilizou-se um adesivo como o

ilustrado na ¡Error! No se encuentra el origen de la referencia., os quais eram afixados nas

fachadas das residências com o intuito de estimular a comunidade a participar do

projeto, além dos adesivos, foram distribuídos também sacos plásticos, como

ilustrado na ¡Error! No se encuentra el origen de la referencia., para o acondicionamento

do material reciclável.

Fotografia 1- Adesivo de identificação das residências que participam da coleta seletiva.

Fotografia 2 - Sacos plásticos distribuídos aos moradores.

Fonte: Pesquisa direta, 2012. Fonte: Pesquisa direta, 2012.

Fonte: blog do Grupo de Combate ao Lixo de Belém (GCLB), 2011.

7

3.3 ASPECTOS OPERACIONAIS DO SISTEMA DE COLETA SELETIVA PORTA

A PORTA NO BAIRRO DA PEDREIRA

Os catadores são conduzidos dos bairros onde moram até o bairro de

coleta por um ônibus cedido pela SESAN, com motorista da secretaria e abastecido

de combustível, a secretaria também é responsável pelo transporte de retorno dos

mesmos para os bairros onde moram.

A coleta é realizada no horário das 08h às 17h. Para melhor organização

da coleta foi feita a setorização do bairro em setores A e B, no setor A a coleta é

realizada as segundas-feiras na área da poligonal da Doutor Freitas, Visconde de

Inhauma, Antônio Baena e Pedro Miranda e no setor B a coleta é realizada as

quartas-feiras na área da poligonal da Doutor Freitas, Rua Nova, Antônio Baena e

Pedro Miranda, conforme pode ser observado no Mapa 2.

Algumas ruas de coleta são de grande extensão, por isso compreendem

tanto ao setor A quanto ao B, tais ruas são apresentadas no Quadro 8.

Nº Ruas

1 Avenida Doutor Freitas

2 Travessa Alferes Costa

3 Travessa Perebebuí

4 Travessa Pirajá

5 Travesso Enéas Pinheiro

6 Travessa Lomas Valentina

7 Travessa Angustura

Mapa 2 – Setorização do bairro da Pedreira.

Quadro 2 - Ruas de coleta do bairro da Pedreira.

Fonte: Rodrigues, 2012.

8

8 Travessa Barão do Triunfo

9 Travessa Mauriti

10 Travessa Mariz e Barros

11 Travessa Timbó

12 Travessa Vileta Costa

13 Travessa Humaitá Costa

14 Travessa Chaco

15 Travessa Curuzu

16 Travessa Antônio Baena

Nos outros dias da semana a coleta seletiva porta a porta é realizada

nos bairros da Marambaia (quintas-feiras) e no Marco (terças- feiras), já nas

sextas-feiras não há coleta nas ruas, pois é o dia reservado para triagem final e

venda dos materiais. Segundo Marcelo Rocha (2012), presidente da RRP, o bairro

da Pedreira corresponde a 55% do total de material coletados nos três bairros.

3.3.1 Equipamento de Proteção Individual - EPI

A SESAN fornece aos catadores EPI’s compostos de calças compridas

ou saias, blusas de mangas compridas, chapéus com proteção para o pescoço,

botas para proteção contra contaminação e objetos perfurantes e luvas

3.3.2 Tipos de Materiais Recicláveis Coletados

Os tipos de materiais recicláveis coletados no bairro da Pedreira são

apresentados no Quadro 9.

Materiais

Fibrosos

Papelão

Caixa

Papel branco

Papel misto

Jornal

Plástico

Água sanitária (branco)

Água sanitária (color)

Água mineral

Plástico duro

Plástico filme

PVC

Embalagem margarina

PET

Metais não ferrosos Alumínio

Cobre

Inox

Metais ferrosos Lata

Quadro 3 - Materiais recicláveis coletados.

Fonte: Pesquisa direta, 2012.

9

Aço

Ferro

Oleosos Óleo de cozinha

Tecnológico

Cartucho / Tonner

Bateria

Eletroeletrônico

Borracha Pneu

Vidro Garrafa

3.3.3 Forma de Trabalho e Equipamentos Utilizados para a Coleta

Os catadores são divididos em três grupos, um fica responsável em

distribuir os contêineres e big bag’s (grandes sacos de nylon), como representado

nas Fotografias 3 e 4 respectivamente, outro grupo faz a triagem dos materiais

recicláveis coletados e o último é deslocado para coleta porta a porta.

Fotografia 3 - Distribuição de contêineres Fotografia 4 - Distribuição de big bag’s.

Fonte: Pesquisa direta, 2012. Fonte: Pesquisa direta, 2012.

Os catadores deslocados para a coleta porta a porta são divididos em

duplas, ficando as mesmas responsáveis pela coleta de dois quarteirões, um pelo

período da manhã e outro pela tarde, com cada dupla são deixados dois

contêineres e dois bags torre. Os catadores visitam as residências perguntando

aos moradores se têm materiais recicláveis a serem coletados, como mostra a

Fotografia 5.

Os materiais arrecadados são acondicionados dentro dos contêineres

para posteriormente serem transportados até os bags, conforme ilustrado na

Fotografia 6, que ficam posicionados nas esquinas dos quarteirões até a chegada

da caçamba de coleta.

Fonte: RRP, 2012.

10

Fotografia 5 - Catadores visitando residência.

Fotografia 6 - Transferência dos materiais coletados dos contêineres para os big bag’s.

Fonte: Pesquisa direta, 2012. Fonte: Pesquisa direta, 2012.

A rota de coleta da caçamba pode ser observada no Mapa 3, a

arrecadação dos materiais pela caçamba é feita no final da manhã e da tarde,

sendo os materiais transportados até o galpão de armazenamento e triagem.

Mapa 3 - Rota de coleta da caçamba.

Vale ressaltar que existem grandes geradores de materiais recicláveis

no bairro, como gráficas, conforme pode ser observado na Fotografia 7. E para

alguns destes geradores são destinados contêineres de capacidade de 750 litros

como pode ser visto na Fotografia 8¡Error! No se encuentra el origen de la

referencia., que são coletados periodicamente.

Fonte: Rodrigues, 2012.

11

Fotografia 7 - Coleta de material reciclável em gráfica.

Fotografia 8 – Contêineres para os grandes geradores de resíduos.

Fonte: Pesquisa direta, 2012. Fonte: Pesquisa direta, 2012.

3.3.4 Estrutura de Apoio

A estrutura de apoio até o termino desta pesquisa foi constituída por um

galpão improvisado localizado dentro da SESAN, como apresentado na Fotografia

9, sendo utilizado para armazenamento e triagem dos materiais recicláveis

coletados, este espaço é provisório, pois a prefeitura já dispõem de um galpão

estruturado, com silos para recepção dos materiais, mesas manuais de triagem,

baias para armazenamento dos materiais triados, balança, empilhadeira, máquina

de prensa, banheiros, refeitório, depósito e administração, conforme a Fotografia

10, para a alocação das cooperativas e associações, porém por questões

burocráticas e organizacionais ainda não estava em funcionamento.

Fotografia 09 – Galpão improvisado localizado dentro da SESAN.

Fotografia 10 - Futuro galpão de alocação das cooperativas e associações.

Fonte: Pesquisa direta, 2012. Fonte: Pesquisa direta, 2012.

3.3.5 Triagem, Transporte, Pesagem e Venda dos Materiais Coletados

Após a chegada dos materiais recicláveis coletados no bairro da

Pedreira ao galpão da SESAN, como mostra a Fotografia 11 é realizada a triagem

12

dos mesmos por um grupo de catadores, os materiais são separados de acordo

com os tipos e colocados em big bag’s, conforme ilustra a Fotografia 12.

Fotografia 31 – Chegada do material coletado. Fotografia 12 - Triagem dos materiais.

Fonte: Pesquisa direta, 2012. Fonte: Pesquisa direta, 2012.

Posteriormente a triagem, os big bag’s abastecidos são enfileirados na

rua em frente ao galpão aguardando o transporte para venda, como mostra a

¡Error! No se encuentra el origen de la referencia. 13.

Apenas os papelões não são armazenados em big big bag’s, pois devido

apresentarem grandes volumes e o galpão não possuir prensa os mesmos são

transportado soltos dentro do caminhão, como mostra a Fotografia 14.

Fotografia 43 – Big bag’s abastecidos de materiais, aguardando para venda.

Fotografia 54 - Armazenamento de papelão para venda.

Fonte: Pesquisa direta, 2012. Fonte: Pesquisa direta, 2012.

A venda dos materiais é realizada todas as sextas – feiras, porém

quando a coleta da semana é produtiva atingindo a quantidade de 16 big bag’s

antes deste dia, os materiais são transportados antecipadamente até as empresas

compradoras, onde são pesadas, pois o galpão da SESAN não dispõe de uma

balança. O pagamento da carga é realizado no ato da compra e o dinheiro

13

respectivo à venda é dividido igualmente entre os catadores, entretanto quem falta

durante a semana sem justificativa, não recebe o valor total referente à sua parte

do pagamento, sendo descontados os dias de faltas e o valor subtraído dividido

entre os demais.

3.4 EVOLUÇÃO QUANTITATIVA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS MAIS

COLETADOS NO BAIRRO DA PEDREIRA

No Gráfico 1, pode ser observado o crescimento da quantidade de

materiais recicláveis mais coletados no bairro da Pedreira durante os meses de

Fevereiro, Março, Abril e Maio de 2012, isso se deve ao fato da maior participação

da população a coleta, entretanto no mês de Maio houve redução na frequência da

coleta devido problemas estruturais e de mão de obra, o que causou a redução da

quantidade de materiais coletados.

4 PRINCIPAIS PROBLEMAS ENCONTRADOS

4.1 MÃO DE OBRA

Através de entrevistas com os representantes da RRP e SESAN,

constatou-se que na coleta seletiva porta a porta no bairro da Pedreira atuam

somente 41 catadores, esse número é insuficiente para cobrir todo o bairro, isso

acontece porque a maioria dos catadores cooperados ainda trabalha de forma

individual em outros locais, como no lixão do Aurá, pois alegam que trabalhando

por conta própria ganham mais. Declaram também que se houvesse vínculo

empregatício ou qualquer tipo de auxilio financeiro por parte da prefeitura, o

Gráfico 1 - Evolução quantitativa de materiais recicláveis coletados do bairro da Pedreira, durante os meses de Fevereiro, Março, Abril e Maio de 2012.

Fonte: Pesquisa direta, 2012.

0,00

5000,00

10000,00

15000,00

20000,00

25000,00

30000,00

FEVEREIRO MARÇO ABRIL MAIO

Kg

po

r m

ate

rial

co

leta

do

Materiais

Evolução quantitativa dos materiais recicláveis mais coletados no bairro

da Pedreira, durante os meses de fevereiro e março de 2012

Fibrosos

Metais

Plásticos

14

número de catadores provavelmente seria maior, pois os mesmos teriam garantia

de renda fixa.

O número de faltas dos catadores que atuam no bairro é outro problema

que prejudica a regularidade e a pontualidade da coleta, pois alguns catadores

ainda não têm o hábito do trabalho “organizado”, com horários e regras, já que não

era a forma que costumavam trabalhar, por serem informais. Foi constatado que o

dia mais crítico de ausências são as segundas – feiras.

4.2 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL (EPI’s)

Não são todos os catadores que utilizam os EPI’s fornecidos pela

SESAN, pois alegam que o uniforme causa incômodo. Outro problema encontrado

foi o não fornecimento de bloqueador solar aos catadores, pois os mesmos se

expõem aos raios solares diariamente.

4.3 TRANSPORTE DOS CATADORES

Por haver apenas um ônibus disponível para o transporte dos catadores

até os locais de coleta, quando o mesmo tem algum problema que impede seu

funcionamento, os catadores são transportados na carroceria das caçambas de

distribuição dos bags e contêineres, como mostra a Fotografia 15.

Fotografia 15 - Transporte inadequado dos catadores.

Fonte: Pesquisa direta, 2012.

4.4 GRANDES GERADORES

Não são todos os grandes geradores do bairro que aceitam manter o

contêiner, pois alegam que além de ocupar um espaço considerável a geração de

resíduos recicláveis não é constante. Fato este que acaba causando transtornos

aos catadores, pois durante a coleta estes têm que armazenar grandes volumes de

material de tal estabelecimento,¡Error! No se encuentra el origen de la

referencia. preenchendo rapidamente os bags o que ocasiona a não conclusão do

percurso planejado, foi observado ainda que alguns materiais são deixados na

15

calçada, ¡Error! No se encuentra el origen de la referencia.principalmente o

papelão por ocupar grande volume.

4.5 EDIFÍCIOS

Em alguns edifícios os moradores não dispõem os resíduos recicláveis

em locais predeterminados, fazendo com que os catadores se desloquem de

pavimento em pavimento, acompanhados pelo zelador em busca dos materiais, o

que acaba causando atrasos no itinerário ou o não cumprimento do mesmo por

completo, transmitindo descredibilidade a população, que já estava à espera da

coleta e a mesma não ocorre.

4.6 FALHAS NA DIVULGAÇÃO DA COLETA SELETIVA

A divulgação da coleta não atingiu 100% da população, pois não havia

pessoal e material suficientes para cobertura de todo o bairro, fazendo-se

necessária uma melhor divulgação e ações continuadas para adaptação da

população ao novo serviço.

4.7 FALTA DE INFORMAÇÃO POR PARTE DA POPULAÇÃO

Uma parcela significativa da população ainda tem dúvidas sobre quais

os tipos de materiais recicláveis são coletados, pois foi verificado no trabalho de

campo que em muitas residências são separados materiais recicláveis, porém não

coletados, pois em Belém não há mercado para venda de tais matérias, como por

exemplo o isopor.

4.8 INTERFERÊNCIA NA QUANTIDADE DE MATERIAIS COLETADOS

A quantidade de materiais coletados sofre interferência de catadores

autônomos, que se aproveitam do momento em que não há nenhum catador

próximo aos big bag’s, para retirar os materiais recicláveis com maior valor

econômico.

Fonte: Pesquisa direta, 2012.

16

5 CONCLUSÃO

A Coleta Seletiva Porta a Porta implantada pela Prefeitura de Belém no

Bairro da Pedreira apesar de não atender o bairro todo, pois há um reduzido

número de catadores e de não ter sido realizado um trabalho efetivo de

sensibilização da população, em um primeiro momento obteve bons resultados,

como pode ser observado no gráfico da produção quantitativa dos materiais

recicláveis no qual se estabeleceu um comparativo entre os meses de Fevereiro,

Março, Abril e Maio de 2012.

Nos três primeiros meses de implantação do sistema houve crescimento

da produção de um mês para o outro, no entanto, a partir do mês de Maio a

infraestrutura oferecida pela prefeitura veio a apresentar várias falhas, como ônibus

e caçambas de coleta com defeitos mecânicos, assim como a falta de motorista e

combustível, o que prejudica a frequência da coleta, causando impacto direto na

quantidade de materiais recicláveis coletados e por consequência a desistência de

alguns catadores, já que trabalham por produção, causando também

descredibilidade junto à população que aguarda por um serviço que não passa nos

dias e horários pré-estabelecidos. A fim de minimizar estes inconvenientes, é

necessário que haja por parte da Prefeitura um trabalho de manutenção preventiva

nos equipamentos que são utilizados para a realização da coleta seletiva.

Além disso, outro problema encontrado foi a falta de orientação e

treinamento aos catadores por parte da prefeitura de como lidar com a população,

sendo necessários cursos de capacitação e algum tipo de ajuda de custo para

incentivar o comprometimento em relação ao trabalho de coleta, pois muitos

buscam trabalhos externos para complementar a renda já que trabalham por

produção e a renda não é fixa, com isso provavelmente o número de catadores

aumentaria e por consequência a coleta abrangeria todo o Bairro, o que

possibilitaria também a fiscalização por parte dos próprios catadores da rede aos

big bag’s, que sofrem interferência de catadores autônomos que se aproveitam do

momento em que não há nenhum catador próximo, para retirar os materiais

recicláveis com maior valor econômico.

Os grandes geradores que não aceitam manter o contêiner para

armazenamento dos materiais recicláveis ocasionam atrasos no percurso da coleta

e consequentemente a não conclusão deste, pois os catadores têm que repetir

várias vezes o mesmo trajeto. Uma sugestão para solucionar este problema é

realizar a coleta nesses locais ao final do dia com o caminhão que coleta os big

bag’s, entretanto os materiais já teriam que estar separados e organizados pelos

catadores responsáveis pela coleta daquele quarteirão.

Um trabalho constante de sensibilização mostrando a importância dos

EPI’s na prevenção de acidentes, como no possível contato com materiais

contaminados que podem prejudicar a saúde dos catadores se faz necessários,

pois há resistência quanto a utilização, devendo existir também fiscalização da

Prefeitura (SESAN), assim como da Rede Recicla Pará (RRP) quanto ao uso

efetivo dos EPI’s pelos catadores.

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O galpão utilizado para armazenamento e triagem dos materiais

recicláveis coletados no início da implantação da Coleta Seletiva Porta a Porta no

Bairro da Pedreira fugia aos padrões estabelecidos pelo Ministério do Meio

Ambiente (MMA) e do Ministério das Cidades (MC), pois era um espaço

improvisado sem silos, mesas de triagem, baias, prensa, balança, estoque de

fardos, depósito e local adequado para descarga de materiais e carregamento de

fardos, dentre outros problemas observados. No entanto, o novo galpão para onde

foram transferidas as atividades supracitadas atende parcialmente os padrões

estabelecidos pelo MMA e MC, pois possui silos, mesas de triagem, baias, prensa,

balança, estoque de fardos, depósito e local adequado para descarga de materiais

e carregamento de fardos, vestiários, refeitório e administração, em contrapartida

necessita de ajustes para otimização de seu funcionamento. Vale resaltar que

aparentemente o novo galpão é pequeno para atender todo o Município de Belém,

pois todas as cooperativas e associações que fazem parte da Rede e atuam no

município de Belém deverão trabalhar neste espaço.

Durante a pesquisa foi observado que um trabalho de divulgação e

mobilização mais amplo se faz necessário, como divulgação em rádios, jornais e

TV, assim como, parcerias com escolas, igrejas e centros comunitários para que a

população tome conhecimento da coleta de uma forma mais ampla, e tenham

noção da importância social e ambiental da coleta seletiva visando desta forma

aumentar o número de adesões ao projeto.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.004. Resíduos

Sólidos, Classificação. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.

BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de

Resíduos Sólidos; altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras

providências, Brasília.

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA. Resolução 275/01.

Estabelecer o código de cores para os diferentes tipos de resíduos, a ser

adotado na identificação de coletores e transportadores, bem como nas

campanhas informativas para a coleta seletiva. Disponível em:

<http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res01/res27501.html> Acessado em:

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ampliada. Florianópolis, 2009. 90p.

18

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408p.

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Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos. Rio de Janeiro: 2001. 193 p.

INSTITUTO DE PESQUISA TECNOLÓGICA – IPT, COMPROMISSO

EMPRESARIAL PARA RECICLAGEM – CEMPRE. Lixo Municipal: Manual de

Gerenciamento Integrado. 2ª ed. São Paulo: IPT, 2000. 370 p.

MANO, Eloisa Biasotto; PACHECO, Élen B. A. V.; BONELLI, Cláudia M. C. Meio

ambiente, poluição e reciclagem. 2ª Ed. São Paulo: Blucher, 2010.

BARROS, Raphael T. de. V. et allii. Manual de Saneamento e Proteção

Ambiental para os Municípios, vol 2. Saneamento. Belo horizonte: Escola de

Engenharia da UFMG, 1995. 221p.

PHILIPPI, Arlindo Júnior. Saneamento, Saúde e Ambiente: Fundamentos para um

desenvolvimento sustentável. Coleção Ambiental 2. São Paulo: Universidade de

São Paulo, Faculdade de Saúde Pública, Núcleo de Informações em Saúde

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<http://www.ibge.gov.br/home/mapa_site/mapa_site.php#populacao> Acesso em

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15/08/2012.

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2012.