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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS Instituto de Ciência e Tecnologia Campus Avançado de Poços de Caldas MG RAFAELA FERFOGLIA IELO SUELLEN YAÑES DA SILVA ESTUDO DE CASO: APLICAÇÃO DA FERRAMENTA HAZOP EM SEGURANÇA DE PROCESSOS EMPRESA M&G - POÇOS DE CALDAS/MG Poços de Caldas/ MG 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS

Instituto de Ciência e Tecnologia

Campus Avançado de Poços de Caldas – MG

RAFAELA FERFOGLIA IELO

SUELLEN YAÑES DA SILVA

ESTUDO DE CASO: APLICAÇÃO DA FERRAMENTA HAZOP EM SEGURANÇA DE

PROCESSOS – EMPRESA M&G - POÇOS DE CALDAS/MG

Poços de Caldas/ MG

2015

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RAFAELA FERFOGLIA IELO

SUELLEN YAÑES DA SILVA

ESTUDO DE CASO: APLICAÇÃO DA FERRAMENTA HAZOP EM SEGURANÇA DE

PROCESSOS – EMPRESA M&G - POÇOS DE CALDAS/MG

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como parte dos requisitos para

a obtenção do título de Bacharel em

Engenharia de Química pela Universidade

Federal de Alfenas-MG. Sob orientação do

Prof. Dr. Leandro Lodi.

Poços de Caldas /MG

2015

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I229e Ielo, Rafaela Ferfoglia .

Estudo de caso: aplicação da ferramenta hazop em segurança de processos –

empresa M&G - Poços de Caldas /MG . /Rafaela Ferfoglia Ielo ; Suellen Yañes

da Silva ;

Orientação de Leandro Lodi . Poços de Caldas: 2015.

38 fls.: il.; 30 cm.

Inclui bibliografias: fls. 35-37

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Química) –

Universidade Federal de Alfenas– Campus de Poços de Caldas, MG.

1. Segurança de Processos. 2. Análise de Riscos. 3. HAZOP I. Silva, Suellen Yañes

da . II. Lodi, Leandro (orient.). III. Universidade Federal de Alfenas – Unifal. IV.

Título.

CDD 658.38

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, que nos permitiu que todo este sonho se concretizasse, que

nunca nos desamparou ao longo dessa caminhada, principalmente em todos os momentos de

apreensão e desespero.

Aos nossos pais, que sempre foram o nosso alicerce, sempre nos apoiando de forma

incondicional nos momentos mais difíceis.

Ao nosso orientador, o professor Leandro Lodi por todo o ensinamento, incentivo,

paciência e dedicação em todo o período acadêmico.

A todos os amigos que, mesmo de longe contribuíram com palavras de ânimo, carinho e

com energias positivas para que tudo isso acontecesse. Às amizades construídas em Poços de

Caldas ao longo desses anos de convivência, em especial à nossa grande amiga Verônica, que

realmente esteve presente em todos os momentos, seja nos momentos de máxima alegria

assim como nos momentos mais aflitivos.

Ao Engenheiro Químico Marcos Guerra, da M&G Fibras Brasil Ltda., pela total

disponibilidade e confiança em nos ajudar e fornecer os dados essenciais para que este

trabalho fosse realizado.

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RESUMO

A tentativa de minimizar a ocorrência de acidentes operacionais de processos industriais

tornou-se um assunto primordial nas grandes corporações. A segurança de processos tem

como objetivo propor soluções para amenizar tais ocorrências. Há diversas ferramentas

utilizadas em segurança de processos. Entre elas destaca-se o HAZOP, que busca identificar

possíveis causas e consequências de falhas no processo, propondo, se possível, soluções e/ou

melhorias para essas falhas. O presente trabalho tem o intuito de aplicar a ferramenta de

segurança de processos HAZOP, no qual definiu-se como sendo o escopo da análise a caldeira

utilizada para a geração de vapor utilizando o gás natural como combustível na empresa

Mossi & Ghisolfi S.p.A. (M&G). A partir do fluxograma P&ID disponibilizado pela empresa

e de conhecimentos adquiridos através da literatura tornou-se possível o desenvolvimento da

planilha do método de acordo com a norma, contendo a análise de riscos, assim como o plano

de ações com as possíveis soluções para o processo. No decorrer do trabalho, percebeu-se que

não seria necessário propor planos de ações com melhorias visto que o equipamento já está

implantado há anos na empresa e que a mesma possui um rigoroso sistema de controle e

inspeções periódicas que são suficientes para garantir a segurança do processo. No entanto,

este estudo não perde sua validade, pois conforme proposto, o resultado esperado foi

alcançado já que o intuito era aplicar a ferramenta em um ambiente real, garantindo um

aprendizado tanto do método quanto do processo.

Palavras-chaves: Segurança de Processos. HAZOP. Análise de Riscos.

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ABSTRACT

The attempt to minimize the occurrence of accidents of industrial processes has become a

major issue in large corporations. The security processes aims to propose solutions to mitigate

such occurrences. There are several tools used in security processes. Among them stands out

the HAZOP in order to identify possible causes and consequences of failures in the process,

proposing, if possible, solutions and / or improvements to these failures. This paper aims to

apply the HAZOP process safety tool, which was defined as the scope of the analysis the

boiler used to generate steam using natural gas as fuel in the company Mossi & Ghisolfi SpA

(M & G). From the flow diagram P & ID provided by the company and knowledge acquired

through literature has become possible the development of spreadsheet method according to

the norm, containing risk analysis, as well as the action plan with possible solutions for the

process. Through the work, it was realized that would not be possible to propose action plans

with seen improvements that the equipment is already in place for years in the company and it

has a strict system of control and periodic inspections which are sufficient to ensure the safety

of process. However, this study does not lose its validity, since as proposed, the expected

outcome has been achieved the intention was to apply the tool in a real environment, ensuring

learning both the method and the process.

Keywords: Process Safety. HAZOP. Risk analysis.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 8

2. OBJETIVO ................................................................................................................................. 9

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................................... 9

3.1 Principais conceitos .............................................................................................................. 13

3.2 Desenvolvimento de um estudo HAZOP .............................................................................. 13

3.2.1 Definição do escopo e objetivos ....................................................................................... 14

3.2.2 Escolha da equipe de estudo ............................................................................................. 14

3.2.3 Organização dos documentos necessários ao estudo ........................................................ 16

3.2.4 Etapas de execução da análise .......................................................................................... 17

3.2.5 Elaboração do relatório com o plano de ação ...................................................................... 18

3.3 Geração de vapor .................................................................................................................. 19

3.3.1 Tipos de caldeiras ................................................................................................................ 20

3.3.2 Acidentes de caldeiras ......................................................................................................... 21

4. MÉTODO ................................................................................................................................. 23

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................................ 24

6. CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 33

REFERÊNCIAS ................................................................................................................................... 35

ANEXO.................................................................................................................................................38

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1. INTRODUÇÃO

Gerenciar o processo de identificação de riscos requer o auxílio de recursos humanos,

métodos, orçamentos e técnicas a fim de impedir que acidentes possam ocorrer provocando

perturbações ao meio ambiente assim como a saúde dos funcionários e ao bom funcionamento

do empreendimento. A partir disso torna-se imprescindível identificar as possíveis falhas,

idealizar as medidas corretivas, ações capazes de resguardar os riscos, e supervisionar todo o

processo para garantir a eficiência contínua. (LAGE,2006)

No quesito Segurança, Meio Ambiente e Saúde as empresas tem buscado a excelência

na gestão dos mesmos, uma vez que estes se tornaram metas estratégicas a serem alcançadas

garantindo a sustentabilidade dos negócios. (THEOBALD E LIMA, 2007)

Para se obter tal excelência se faz necessário a realização de medidas de gerenciamento

da segurança dos processos produtivos, das quais se destacam a realização de estudos que

permitam identificar os perigos e avaliar os riscos a eles associados, bem como o adequado

gerenciamento destes. (CARDELLA, 2011)

Neste estudo foi proposto o uso da ferramenta de Análise de Risco HAZOP (Hazard

and Operability Study), ou seja, o estudo de perigos e operabilidade. (BANK,1985)

HAZOP é uma técnica qualitativa desenvolvida nos anos 60 pela Industrial Chemical

Industries e, em 1977, a Associação das Indústrias Químicas, através da publicação de um

guia, incentivou sua utilização (LEES, 2005). Tal técnica trabalha em cima do processo total e

questiona sistematicamente cada parte, baseado no uso de palavras-chaves com o intuito de

descobrir como os possíveis desvios do projeto ou operação ocorrem. Tal procedimento deve

ocorrer de forma multidisciplinar e seu êxito está diretamente relacionado à experiência dos

participantes.

Assim como em outras empresas, a M&G objeto deste estudo utiliza tal técnica em suas

atividades, uma vez que o conceito de segurança de processos não deve ser somente um

desdobramento das atividades industriais, e sim, um alicerce para elas (NASCIMENTO,

2012).

A empresa M&G se localiza na cidade de Poços de Caldas. Ela foi fundada na Itália por

Vittorio Ghisolfi a fim de criar embalagens para detergentes e produtos de higiene pessoal.

Nos anos 70 a empresa entrou no segmento da produção de produtos PET. O grupo M&G

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opera mundialmente com três unidades de negócios: polímeros, embalagens e acetatos.

(M&G, 2014).

Ainda segundo a M&G (2014), suas unidades operam em um sistema verticalizado, a

partir da matéria-prima básica do poliéster, tornou-se um fornecedor diferenciado de resinas

para embalagens PET e de fibras de poliéster para a indústria têxtil. A M&G possui operações

industriais em: São Paulo; Paulínia e Indaiatuba, em Minas Gerais; Poços de Caldas e em

Pernambuco; Cabo e Porto de Suape.

Na empresa M&G, durante a instalação de sua planta, a análise de HAZOP já foi

realizada. No entanto, tal estudo pode ser atualizado sempre que haja necessidade de

pesquisar possíveis causas, consequências e salvaguardas do processo em andamento, visando

assim propor medidas para redução dos riscos quando necessário. (BANK,1985)

Dessa forma, o presente estudo projeto visa averiguar possíveis riscos e problemas

existentes no cenário escolhido da planta M&G Poços de Caldas, gerando um novo HAZOP

para a área analisada, baseado nas normas vigentes.

2. OBJETIVO

Este projeto tem por objetivo realizar um estudo de caso sobre a aplicação da ferramenta

HAZOP em segurança de processos industriais, para que tal propósito fosse alcançado este

estudo teve como alicerce a documentação da empresa M&G/Poços de Caldas, de onde foram

obtidos os dados base para avaliação da aplicação da ferramenta em estudo.

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A segurança dentro de uma indústria pode apresentar duas categorias distintas:

Segurança de Processos e Segurança Ocupacional. A segurança ocupacional está interligada

com acidentes de trabalhos comuns como quedas, tropeços, atropelamento, dentre outros. Já a

segurança de processos relaciona-se aos acidentes provocados por falhas dos equipamentos de

processo, como quebra ou vazamento de equipamentos que podem provocar explosões,

incêndios ou intoxicações respiratórias (SOUZA, 2013).

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Ainda segundo o mesmo autor, o gerenciamento de segurança de processos conta com

alguns princípios básicos com a finalidade de atingir um bom desempenho na técnica, sendo

eles:

Informações de Segurança de Processos: Gera e atualiza os dados necessários

para a análise de riscos.

Análise de Riscos de Processo: Ação ininterrupta que deve ocorrer em todos os

estágios do processo, aplicando técnicas como: Análise Preliminar de Riscos, What If –

Check list, Análise de Modos de Falha e Efeitos, Análise de Árvore de Falhas, HAZOP.

Procedimentos Operacionais e Práticas Seguras: Capazes de possibilitar uma

clara compreensão dos procedimentos operacionais, assim como o que deve ser feito durante

uma parada seja ela normal ou emergencial. Sugere ações que podem ser tomadas mediante os

procedimentos fora dos limites de segurança predefinidos.

Gerenciamento de Mudanças de Tecnologia: As mudanças só podem ocorrer

após uma qualificada análise de riscos. Esta deve apresentar muitas vantagens e não pode

afetar a economia, os materiais utilizados no processo, nem oferecer risco aos trabalhadores.

Qualidade Assegurada: Devem-se cumprir todas as especificações de

fabricação, transporte e as devidas condições de armazenamento, garantindo menos riscos.

Revisões de Segurança de Pré-partida: Devem- se verificar todos os

equipamentos e mudanças expressivas para certificar que todos os elementos citados

anteriormente foram aplicados apropriadamente, garantindo que as instalações do processo

possam ser iniciadas de maneira segura.

Integridade mecânica: Tem a finalidade de monitorar periodicamente máquinas

ou equipamentos, além de prever e corrigir qualquer dano. Devem-se realizar treinamentos

para todos que exercem métodos de controle de qualidade, modificações e inspeções.

Gerenciamento de mudanças de instalações: Todas as modificações devem ser

gerenciadas por meio de uma análise completa, sendo esta análise posteriormente aprovada

por um grupo especializado.

Treinamento e Desempenho: Instruir todos os funcionários, principalmente os

operários e técnicos, sobre o entendimento de todos os procedimentos. É imprescindível que

todos os funcionários sejam capazes de seguir todas as recomendações.

Comunicação e Investigação de Acidentes e Incidentes: Todo aprendizado

sobre as causas de acidentes, assim como formas de solucioná-los, deve ser divulgadas aos

demais.

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Planejamento e Resposta a Emergências: A empresa deve estar pronta para

qualquer eventual risco que não possa ser controlado e que possa provocar acidentes.

Auditoria: O processo de auditoria deve exercer influência no processo.

Uma das técnicas de identificação e análise de risco é o ciclo PDCA, que é uma

ferramenta de qualidade capaz de gerenciar a tomada de decisões, visando garantir a obtenção

de metas indispensáveis à continuidade da organização. Apesar de ser simples, apresenta um

desenvolvimento eficaz para o planejamento. As iniciais do PDCA vêm do inglês Plan, Do,

Check, Action, e significam (LEONEL, 2008):

Planejamento: Desenvolve os objetivos e metodologias para alcançar os

resultados predeterminados.

Fazer, executar: Realizar as ações propostas na etapa do planejamento.

Checar, verificar: Verificar se os dados coletados na etapa citada anteriormente

estão de acordo com a meta proposta.

Agir: Desenvolver ações para proporcionar melhorias continua no processo.

É fundamental que todos os setores participem dessa prática, bem como utilizar e

empregar as Sete Ferramentas da Qualidade para a promoção de melhores resultados

(VIEIRA, 2012).

Para o estudo de identificação de possíveis riscos é elaborada uma análise numérica em

que os resultados devem ser confrontados com critérios de riscos aceitáveis pela organização.

Com base nesta comparação, é possível verificar a aceitação ou não das disposições

estabelecidas no projeto, facilitando assim a tomada de decisões (CROWL, 2001).

De acordo com a norma BS IEC 61882 (2001), a análise de HAZOP é um levantamento

detalhado feito por uma equipe com os mais diversos profissionais responsáveis pelo

gerenciamento dos perigos e riscos encontrados em um processo industrial. Essa técnica

identifica potenciais desvios da elaboração do projeto, examinando suas possíveis causas e

avaliando suas consequências.

Em complemento a isso, o CETESB (2003) define o HAZOP como a realização de uma

revisão da instalação, com o objetivo de identificar os perigos potenciais e/ou problemas de

operabilidade, através de encontros nos quais uma equipe multidisciplinar discute

metodicamente o projeto da instalação, buscando através de um conjunto de palavras-guias

enfatizar os desvios dos parâmetros estabelecidos para o processo ou para operação em

análise.

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As principais características de análise seguem alguns parâmetros (BS IEC 61882,

2001):

A análise é um processo criativo, feito por meio de uma série de palavras

chaves a fim de avaliar os possíveis desvios da elaboração do projeto, prevendo como e onde

podem acontecer.

A análise é feita sob a orientação de uma equipe de profissionais treinados e

experientes para que haja uma ampla cobertura de todos os cenários envolvidos no processo.

De posse dos possíveis riscos operacionais, deve-se realizar um registro de tais

dados para uma futura avaliação e resolução.

Os profissionais envolvidos nesta análise devem possuir conhecimentos

interdisciplinares e habilidades específicas capazes de contribuir de forma eficaz para tal

estudo.

As soluções dos problemas identificados não são o objetivo principal da análise

HAZOP, mas eles são considerados pelos responsáveis do projeto, que avaliarão se

assumirão esses riscos ou não.

O estudo do HAZOP pode ser feito em conjunto com outras técnicas de análise de risco,

como por exemplo, o FMEA (Análise do Modo e Efeito de Falha), cuja técnica consiste em

analisar sistematicamente as possíveis falhas que venham a ocorrer em todas as etapas de um

processo industrial, assim como o seu efeito analisando o sistema com um todo. O FMEA é

uma ferramenta que investiga as possíveis falhas em uma determinada etapa do processo, de

tal forma que analisa minuciosamente essa provável falha e a sua influência em relação ao

sistema no geral. Já o HAZOP detecta prováveis equívocos durante a realização de um

projeto, levantando suas possíveis causas assim como suas consequências. A análise HAZOP

também pode ser associada a outra ferramenta chamada de árvore de falhas, que objetiva

determinar uma sequência de falhas que podem levar a obtenção de um fenômeno indesejável

(BS IEC 61882, 2001; CARDELLA, 2008).

Mesmo o HAZOP sendo um método amplamente utilizado em diversas plantas

industriais, devem ser considerados alguns aspectos, pois esta técnica, assim como as outras,

também apresenta algumas restrições. O HAZOP por si só não garante que todos os riscos e

problemas de operabilidade sejam verificados. Por isso se faz necessário a sua utilização em

conjunto com outras técnicas relevantes a fim de garantir a máxima segurança possível para o

processo. Deve-se ter em mente que os processos industriais funcionam como um grande

sistema interligado, e assim, é preciso considerar que alterações em partes específicas da

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planta podem implicar eventos inesperados como, por exemplo, um acidente de trabalho ou

até mesmo perda de matéria-prima. Dessa forma, comumente um grave perigo abrange

diversas partes do processo, sendo necessário um estudo mais rigoroso e detalhado sobre os

riscos envolvidos utilizando ferramentas de análise mais específica como a árvore de falhas

ou a árvore de eventos (BS IEC 61882, 2001; CARDELLA, 2008).

O êxito do estudo HAZOP está relacionado diretamente com a experiência, habilidade,

perspicácia e interação entre todos os membros da equipe de estudo. O HAZOP apenas

considera as atividades e operações que estão presentes na representação gráfica da planta do

processo (ANEXO) (BS IEC 61882, 2001; CARDELLA, 2008).

3.1 Principais conceitos

Antes de aplicar um estudo de HAZOP, é necessário compreender alguns conceitos

fundamentais que constituem o desenvolvimento de uma Análise de Riscos, como: Nó de

estudos-de-estudo, Intenção de operação, Desvios, Causas, Consequências, Parâmetros de

processo, e Palavras-guia (BS IEC 61882, 2001; CARDELLA, 2008).

O “Nó de estudo” consiste em um local do processo que pode ser estudado caso desvios

possam acontecer. Este local é especificado nos fluxogramas. “Intenção de operação”

estabelece os parâmetros de desempenho da planta, na falta de desvios. Desvios são

perturbações provocadas no equilíbrio do sistema. Causas são as razões para que os desvios

aconteçam; tais causas podem ser desde falhas do sistema, alterações externas, operações

inesperadas, até erros humanos. Consequências são os efeitos provenientes de um desvio da

intenção de operação em um dado nó de estudo . Os parâmetros de processo são componentes

físicos e procedimentos de operação. E as palavras-guia são palavras fáceis usadas para

classificar os desvios e orientar o grupo de estudo auxiliando-o no levantamento de questões

para aplicar o brainstorming (BS IEC 61882, 2001; CARDELLA, 2008).

3.2 Desenvolvimento de um estudo HAZOP

Para executar um estudo detalhado sobre os perigos e problemas de operabilidade de

uma instalação de processo é necessário seguir um cronograma para que as atividades de

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planejamento prévio sejam desenvolvidas. Sendo assim, o processo de estudo pode ser divido

em algumas etapas como (BS IEC 61882, 2001; CARDELLA, 2008):

Definição do escopo e objetivos do estudo.

Escolha da equipe de estudo.

Organização dos documentos necessários ao estudo.

Etapas de execução da análise.

Elaboração do relatório com o plano de ação.

Tais etapas serão discutidas detalhadamente a seguir.

3.2.1 Definição do escopo e objetivos

O escopo e os objetivos do HAZOP devem ser bem explicitados, da forma mais

transparente possível, delimitando a área de atuação da equipe encarregada pelo estudo,

fazendo com que a equipe não se preocupe com fatores irrelevantes para atingir o objetivo

final do estudo. É preciso definir os locais em que a equipe irá atuar, isto é, estabelecer os

motivos pelos quais está se analisando tal sistema. É possível mencionar alguns dos variados

motivos que levam à implementação de um HAZOP, como: verificar os limites físicos do

sistema, como, por exemplo, onde uma unidade industrial pode ser construída; examinar os

itens e equipamentos de segurança do projeto; aprimorar a segurança de uma planta existente;

examinar se os procedimentos de operação são seguros para o processo; entre outros (BS IEC

61882, 2001; CARDELLA, 2008).

Para determinar os objetivos do estudo, é importante considerar com que finalidade

serão utilizados os resultados do estudo, a fase do ciclo de vida em que o sistema se encontra,

o risco envolvendo bens ou pessoas, problemas de operabilidade que geram efeitos sobre o

produto final e até mesmo padrões de segurança exigidos por órgãos competentes (BS IEC

61882, 2001; CARDELLA, 2008).

3.2.2 Escolha da equipe de estudo

O estudo HAZOP envolve uma equipe multidisciplinar com diversos especialistas que

trabalham em conjunto, de forma a examinar sistematicamente um processo, levantando os

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possíveis riscos e problemas de operabilidade. Esta equipe deve ser composta por

profissionais competentes e com experiência, capazes de levantar ideias e discussões acerca

dos problemas identificados durante o estudo. Geralmente, o líder da equipe deve possuir

experiência em estudos anteriores de HAZOP, coordenando e direcionando de forma mais

eficiente os rumos da análise durante o estudo. Já os demais membros da equipe devem ter

conhecimentos em diversas áreas relacionadas com a implantação do projeto. Relatos na

literatura comprovam que equipes muito grandes desenvolvem o trabalho lentamente. Então

opta-se, geralmente, por grupos menores onde os profissionais estejam aptos a cobrir todas as

áreas de atuação do projeto (BS IEC 61882, 2001; CARDELLA, 2008).

A equipe de estudos em plantas industriais em fase de projeto é composta basicamente

por (BS IEC 61882, 2001; CARDELLA, 2008):

Líder de equipe: deve ser um especialista em estudos HAZOP,

preferencialmente que não seja ligado ao projeto analisado. Sua função é garantir que a

metodologia do HAZOP seja seguida corretamente pela equipe do estudo, preocupando-se em

identificar os riscos e problemas de operação daquela planta, sem obrigatoriamente solucioná-

los.

Chefe do projeto: geralmente é o responsável por se comprometer com os

custos propostos para o orçamento do projeto. Deve ter em mente que, quanto antes forem

descobertos os riscos e problemas operacionais, menores os gastos para solucionar estes

problemas.

Engenheiro de Processos: normalmente é o engenheiro que construiu o

fluxograma do processo.

Engenheiro de Instrumentação e Controle: é o responsável pelos sistemas

automatizados implementados no projeto.

Engenheiro eletricista: é importante para os processos que forneçam energia,

sendo primordial em processos contínuos.

Engenheiro Mecânico: é importante no desenvolvimento e supervisão dos

equipamentos e máquinas necessários à implantação do projeto.

Engenheiro de Segurança: é o responsável pelo desenvolvimento de atividades

seguras, tanto para as pessoas quanto para o local, em relação ao processo.

Chefe de operação: é o responsável pela operação da planta.

Em plantas em funcionamento, além dos profissionais citados anteriormente, é

necessário o auxílio de outros técnicos de operação, como por exemplo, o supervisor-chefe da

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unidade, já que ele é responsável pelo o que ocorre de fato no “chão de fábrica” da planta

durante a sua operação (BS IEC 61882, 2001; CARDELLA, 2008).

3.2.3 Organização dos documentos necessários ao estudo

A organização dos documentos necessários ao estudo está diretamente relacionada à

complexidade e à dimensão do projeto a ser analisado. Esta organização do material

fundamental para o estudo divide-se em quatro etapas (BS IEC 61882, 2001; CARDELLA,

2008):

Coleta dos dados essenciais.

Conversão dos dados para torná-los compatíveis ao estudo.

Planejamento da ordem de estudo.

Planejamento das reuniões fundamentais.

A coleta dos dados baseia-se especificamente nos fluxogramas do processo, na

metodologia operacional, na classificação dos equipamentos, layouts da planta, entre outros.

Tais dados necessitam ser analisados previamente com o intuito de comprovar sua relevância

no estudo (BS IEC 61882, 2001; CARDELLA, 2008).

A conversão dos dados depende do tipo de processo requerido, pois cada operação

apresenta uma preparação característica. Em processos descontínuos, normalmente em

batelada, a organização dos dados é geralmente extensa, em especial por conter operações

manuais. Estes dados são encontrados nas instruções de operação e esquemas de

equipamentos. Já nos processos contínuos, a preparação dos dados é menos extensa se

comparada ao processo descontínuo, visto que neste caso são necessárias apenas as

informações contidas nos fluxogramas de equipamentos e tubulações (FARIA, 2009; CICCO

et al., 2003. CARDELLA, 2008).

O planejamento da ordem de estudo requer um líder de equipe que se encarrega de

idealizar as ações e assuntos a serem discutidos nas reuniões, sendo essas ações expressas

preferencialmente no inicio das reuniões, com a finalidade de certificar-se que todos os itens

da planta sejam estudados. Em processos descontínuos, o planejamento é respaldado na

sequência das operações. Já em processos contínuos, o planejamento baseia-se no fluxograma

do processo e a equipe examina cada nó de estudo (BS IEC 61882, 2001; CARDELLA,

2008).

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Já o planejamento das reuniões tem o objetivo de estimar o tempo essencial de estudo.

Normalmente, cada item, assim como cada procedimento, como um simples “ligar tanque”,

necessita de aproximadamente quinze minutos de estudo ou três horas para cada equipamento,

lembrando que cada equipamento (reator, trocador de calor, coluna de destilação) possui

vários itens a serem analisados. Tal estimativa pode variar uma vez que, em processos novos,

o tempo pode ser superior a três horas. Em processos em que o grupo já tenha um

conhecimento prévio, o tempo estimado pode ser reduzido (BS IEC 61882, 2001;

CARDELLA, 2008).

Posteriormente à suposição do tempo, torna-se possível organizar as reuniões. As

reuniões não podem ser muito extensas, a fim de evitar o desgaste do grupo, sendo

basicamente divididas em quatro sessões semanais de no máximo três horas cada. É

importante ressaltar que reuniões após o término do estudo devem ser realizadas

esporadicamente, de modo que o grupo acompanhe o progresso de suas recomendações (BS

IEC 61882, 2001; CARDELLA, 2008).

3.2.4 Etapas de execução da análise

O HAZOP necessita, primeiramente, que a planta do projeto se divida em nós de

estudos e a análise do processo em palavras-guia. Assim sendo, as etapas têm o intuito de

aplicar a cada parâmetro de processo do nó de estudo uma palavra guia, resultando em

desvios de intenção operacional, proporcionando a capacidade de analisar as causas, assim

como, sugerir soluções ou mitigação para essas causas, por meio de perguntas e respostas. Ao

final de cada ponto averiguado, o grupo segue para o próximo nó de estudo , continuando a

adotar palavras guias aos parâmetros de processo (FARIA, 2003).

Os nós de estudos devem ser estipulados pelo líder da equipe. Apesar dos nós de

estudos serem definidos durante as reuniões, é possível que alterações ocorram no decorrer do

desenvolvimento do estudo. Caso um risco seja detectado por causa de um desvio no

processo, cabe ao líder do grupo esclarecer as razões e o que este risco pode ocasionar. Assim,

os membros da equipe devem entrar em acordo para sugerir as medidas capazes de reduzir ou

extinguir tal risco (CARDELLA, 2008; FARIA, 2003).

Há medidas que podem ser tomadas imediatamente. Porém, nem sempre é possível

encontrar uma solução imediata para um risco específico. Há casos em que precisa-se de

muitas reuniões, sendo as vezes necessário que um especialista seja convidado para participar

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do grupo, pois este apresenta conhecimentos que outros membros desconhecem (FARIA,

2009; CICCO et al., 2003. CARDELLA, 2008).

3.2.5 Elaboração do relatório com o plano de ação

É importante ter conhecimento das anotações dos resultados adquiridos durante o estudo

da planta do projeto. Os desvios devem ser corretamente identificados por meio das palavras

guias, assim como suas causas e possíveis soluções. Mesmo em casos em que o desvio é

considerado irreal para condições diárias do processo, é necessário relatar os motivos pelo

qual tal desvio não pode ocorrer (CARDELLA, 2008).

Deve ser registrada qualquer dificuldade encontrada no decorrer da análise, até mesmo a

falta de conhecimento dos membros da equipe. Qualquer desenvolvimento ou ocorrências que

possam surgir ao longo do estudo, devem ser escritos de maneira correta e clara, para

possibilitar a compreensão das pessoas que não participam do grupo. Não há um membro

específico para executar o registro do estudo, porém, o líder é responsável por verificar todas

as anotações realizadas (CICCO et al., 2003; CARDELLA, 2008).

Durante as reuniões não é possível realizar todas as anotações e assim faz-se o uso de

gravadores. Algumas empresas informatizaram seu sistema de registro. Mas, de modo geral, o

importante é garantir que todo o conteúdo discutido seja conservado, pois na finalização do

relatório uma ação pode ser substituída pela outra ou ser adicionada, principalmente quando a

planta pode sofrer alterações (FARIA, 2009).

Os registros ficam contidos em uma planilha que apresenta os seguintes itens: os

parâmetros, as palavras guias, os desvios, as possíveis causas, as consequências, salva guarda

se necessário, comentários, ações requeridas e o responsável. A Figura 1, representa tais

itens citados (BS IEC 61882, 2001).

Figura 1 – Planilha modificada conforme a norma HAZOP, baseado em BS IEC 61882.

Fonte: BS IEC 61882, 2001

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19

3.3 Geração de vapor

Geradores de vapor são popularmente conhecidos como caldeiras, podendo ser definido

basicamente como um trocador de calor complexo capaz de gerar vapor de água com pressões

superiores à pressão atmosférica, através da energia proveniente de um combustível e de um

comburente, que é normalmente o ar. Este equipamento apresenta inúmeras aplicações nos

diversos segmentos sejam eles industriais ou até mesmo na geração de energia elétrica,

usualmente conhecidas como centrais termelétricas. Deste modo, as indústrias que precisam

de vapor para o seu funcionamento certamente possuem uma caldeira, provavelmente para

geração de vapor de água, visto que a água apresenta um baixo valor agregado e é de fácil

aquisição por ser um composto abundante (BAZZO,1995; LEITE, 2008).

Os geradores de vapor são formados por uma junção de diversos componentes de modo

a um equipamento completo. Sendo assim, alguns componentes são constituírem

tradicionalmente encontrados em uma caldeira, tais como (NOGUEIRA, 2005):

Cinzeiro: local onde as cinzas ou os restos de combustíveis que não completaram a

combustão serão depositados.

Fornalha: lugar onde começa o processo de queima dos combustíveis.

Câmara de combustão: recipiente onde todo o combustível deve ser consumido antes dos

produtos da combustão alcançarem o feixe de tubos. Muitas vezes a câmara de

combustão faz parte da fornalha ou, às vezes ambas podem ser separadas completamente.

Tubos Evaporadores: são tubos fechados e pressurizados preenchidos com água que, ao

entrarem em contato com calor, converte-se em vapor.

Superaquecedor: eleva a temperatura do vapor saturado produzido na caldeira.

Economizador: local em que a temperatura da água na alimentação é elevada, onde o

calor sensível dos gases residuais da combustão é aproveitado.

Pré-aquecedor de ar: responsável pelo aquecimento do ar de combustão que será inserido

na fornalha, utilizando o calor sensível dos gases da combustão.

Canais de gases: são tubos de alvenaria ou de chapas de aço, onde os gases de combustão

circulam até a chaminé.

Chaminé: é o componente responsável pela expulsão dos gases de combustão para o

ambiente com determinadas altura e velocidade, garantindo uma eficaz circulação dos

gases quentes através do sistema.

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20

3.3.1 Tipos de caldeiras

Há atualmente dois tipos básicos de caldeiras, que são: as aquatubulares e

flamotubulares, sendo as aquatubulares objeto deste estudo estas serão explicadas mais

detalhadamente.

As aquatubulares são basicamente caldeiras cuja produção do vapor ocorre no interior

dos tubos, sendo normalmente dois ou mais tubos cilíndricos conhecidos como tubulão

inferior e tubulão superior, sendo que os gases circulam externamente a esses tubos. O

tubulão inferior é responsável pela circulação de água na caldeira e pela decantação dos

sólidos provenientes da água. Esta água que sai é transportada para o tratamento de água. Já o

tubulão superior tem o objetivo de separar a água do vapor, ambos saturados, sendo

necessária a presença de instrumentos de controle e segurança. A tubulação pode ser curvada

ou reta, cada qual de acordo com o seu objetivo que é garantir maior eficiência na circulação

de água. Tubos retos apresentam maior facilidade de limpeza. Já os tubos curvados são mais

complexos, porém proporcionam às câmaras de combustão o seu isolamento por completo

através de paredes de água (BAZZO,1995; LEITE, 2008).

Por serem mais complexas, as caldeiras aquatubulares possuem maior rendimento,

maior produção de vapor, maior superfície de aquecimento e melhor adaptação aos diversos

tipos de combustíveis. Porém são necessárias grandes áreas para sua implantação, maior

exigência em relação à qualidade da água e aos instrumentos de controle, além de possuírem

uma montagem difícil e elevado custo de aquisição e manutenção (NOGUEIRA, 2005).

As flamotubulares são opostas ao modo de produção das aquatubulares, visto que neste

caso internamente circula-se os gases proporcionando a vaporização da água externamente.

Podem ser encontradas de duas maneiras: verticais e horizontais (LEITE, 2008; NOGUEIRA,

2005).

Nas verticais a tubulação é disposta verticalmente em uma estrutura cilíndrica vedada

por placas, conhecidas como espelhos. Na parte interna do espelho se localiza a fornalha

interna, já a fornalha externa tem como intuito aproveitar a queima de combustíveis de pobre

poder calorífico. Assim, os tubos tem a capacidade de subir os gases, aquecendo-os e fazendo

com que a água ao seu redor seja vaporizada (LEITE, 2008; NOGUEIRA, 2005).

As horizontais apresentam diversos modelos, com grandes volumes de água até as mais

compactas. São basicamente constituídas por tubulões internos onde há a combustão dos

gases e que por eles que os gases quentes se transportam, podem conter mais de um tubulão

por fornalha (LEITE, 2008; NOGUEIRA, 2005).

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As caldeiras flamotubulares são aplicadas a baixas produções de vapor, apresentando

um baixo rendimento térmico, sendo excelente para pequenas instalações e de fácil construção

(LEITE, 2008; NOGUEIRA, 2005).

3.3.2 Acidentes de caldeiras

No inicio do processo industrial, acidentes de caldeiras eram muito frequentes, devido

principalmente falta de informações sobre como evitar explosões e alguns riscos aos

operários. Em 1970, o Brasil atingiu o primeiro lugar no mundo em número de acidentes, fato

este que se modificou ao decorrer dos anos, com o aprimoramento do controle e segurança

das indústrias, assim como a criação da Norma Regulamentadora (NR13), a qual estipula os

métodos de gestão das caldeiras, vasos de pressão e toda a tubulação, garantindo assim maior

segurança aos funcionários, à indústria e à sociedade. (PALMIERI et al, 2011).

Conforme o mesmo autor, os acidentes de caldeiras são conhecidos por se tratar de

explosões capazes de provocar muitas vítimas, pois qualquer descuido pode ser fundamental

para que o acidente aconteça. Assim é de extrema importância que os funcionários sejam

devidamente treinados, que sejam feitas periódicas manutenções e que a indústria possua

instrumentos de controle.

Um dos casos mais recentes ocorreu em uma indústria de alimentos na cidade Sousa, no

sertão da Paraíba, no dia seis de julho de 2015. O acidente provocou ferimentos em treze

pessoas, além de duas mortes. Ainda sem o laudo oficial dos peritos, algumas possíveis

causas são levantadas, como, a falha em uma válvula de segurança, e até mesmo a qualidade

da água que pode não estar devidamente tratada (G1, 2015).

Outro caso internacionalmente famoso é o da explosão da caldeira da Exxon Mobil, em

Singapura em 2000. Uma caldeira aquatubular operava com combustível GLP. Porém, os

operários receberam uma ordem de ascender os queimadores com diesel. A primeira tentativa

em dar a partida com o diesel não obteve sucesso e ao tentarem novamente, a caldeira apagou.

Sem obter sucesso com o diesel, os operadores resolveram acender a caldeira como de

costume com o GLP. Ao realizarem tal tentativa, houve uma intensa explosão no interior da

caldeira, resultando em duas mortes e três funcionários com 50% de queimaduras pelo corpo.

Conforme as Figuras 2 e 3, é possível visualizar o antes e o depois do acidente descrito acima

(MEIRA, 2013).

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22

Figura 2- Caldeira da Exxon Mobil antes da explosão.

Fonte: MEIRA, 2013.

Figura 3- Caldeira da Exxon Mobil após a explosão.

Fonte: MEIRA, 2013.

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4. MÉTODO

A metodologia de análise utilizada no presente trabalho foi um estudo de caso de um

processo real envolvendo o funcionamento de uma caldeira, utilizando um P&ID como base

para que seja elaborado um HAZOP. Primeiramente, a partir do P&ID, foi construído um

diagrama de blocos, conforme a Figura 4, contendo as entradas e as saídas na caldeira, a fim

de facilitar a visualização dos principais Nós de estudos analisados.

Figura 4- Diagrama de blocos da caldeira.

Fonte: Próprio autor

A Figura 4 mostra as alimentações da caldeira de modo genérico, contendo a entrada de

combustível, a água abrandada, o ar de combustão e a chama piloto. Neste caso, o

combustível utilizado é o gás natural e a água passa por um tratamento de dureza e por isso

recebe o nome de água abrandada.

A partir do diagrama de blocos, conceitos adquiridos através da literatura e informações

adicionais de professores com experiência na área de caldeira, tornou-se possível o

desenvolvimento da ferramenta HAZOP, que será abordada no item Resultados e Discussões

a seguir.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir do estudo de caso proposto, desenvolveu-se o estudo sobre a técnica da

ferramenta HAZOP baseado em um processo industrial já existente. A caldeira, por ser

comum às indústrias de modo geral, já que grande parte das indústrias necessita de geração de

vapor para produzir a energia necessária para o funcionamento da fábrica, foi o cenário

escolhido.

O desenvolvimento da planilha do HAZOP seguiu as normas da BS IEC 61882, sendo

uma ferramenta padrão de aplicação. Porém, é comum cada empresa adotar sua própria

planilha com seus conceitos quanto à linguagem da mesma. Mas de qualquer modo, a

apresentação dos parâmetros e análises destes quanto aos seus riscos, causas, consequências e

barreiras de proteção, são de extrema importância.

As planilhas elaboradas para este estudo de caso encontram-se a seguir, visto que cada

uma representa um nó de estudo. Os nós de estudos estão representados como:

Nó de estudo 1 - Água Abrandada na Alimentação;

Nó de estudo 2- Caldeira Aquatubular;

Nó de estudo 3- Ar de Combustão; e

Nó de estudo 4- Gás Natural;

O Nó de estudo 1, analisou-se a sua dureza, o nível do reservatório e a temperatura,

apresentado na Planilha 1 . Este Nó de estudo refere-se à água que alimenta a caldeira e que

se localiza no reservatório. Neste caso, a água entra e sai na forma de vapor saturado. É de

extrema importância que a água seja devidamente tratada antes de entrar em qualquer

caldeira, como a eliminação de sais, apresentar pH equilibrado e não conter materiais

orgânicos, além de estar isenta de oxigênio e outros gases dissolvidos, evitando assim que

futuros problemas possam vir a ocorrer (NOGUEIRA et al., 2005; ASSUNÇÃO et al., 2008).

Na Planilha 2, referente ao Nó de estudo 2 observou-se a pressão e uma possível

reação em seu interior, esta se refere a caldeira propriamente dita. Neste caso, o tipo de

caldeira é a aquatubular, sendo que neste estudo serão abordados apenas os tubos e não a

fornalha. O controle interno da mesma deve ser realizado criteriosamente, com as inspeções

pré-estabelecidas pelo fabricante, assim como manutenções e a automatização dos

instrumentos de controle do processo (OLIVEIRA et al.,2011; NR13).

O Nó de estudo 3 (Planilha 3) e o Nó de estudo 4 (Planilha 4) são respectivamente o

ar de combustão e o gás natural. Ambos são responsáveis pela alimentação da caldeira e

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25

devem possuir instrumentos de controle capazes de identificar quaisquer modificações no

sistema, visto que qualquer alteração e/ou descuido podem provocar acidentes e explosões.

A descrição dos códigos utilizados para a confecção das planilhas HAZOP estão

especificadas na Figura 5.

Figura 5 – Descrição dos códigos

Fonte: M&G

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HAZOP

Identificação do sistema: Caldeira 2

Fluxograma nº: Rev: 0 Data rev:

Subsistema: Nó de estudo 1- Água Abrandada na Alimentação

Responsável: Participantes: Data: 05/10/2015

Nº Parâmetro Palavra

guia

Desvio Possíveis

causas

Consequências Salva

guardas

Comentários Ações

requeridas

Resp.

1 Dureza Alta Alta

dureza

Tratamento

inadequado

acarretando em

concentração alta de

sais.

Incrustação,

reduzindo a

produção de vapor e

eficiência térmica do

processo.

Barreiras

existentes:

FIC 0741,

LIC 0739

Reduz a

transferência de

calor do aço para a

água, aumentando

a temperatura da

caldeira de forma

excessiva,

ultrapassando os

limites de

resistência,

ocasionando

explosão.

Não se

aplica.

2 Dureza Baixa Baixa

dureza

Não se aplica. Sem riscos de

explosão ou danos à

caldeira.

Não se

aplica.

Não se

aplica.

3 Nível

no

reservatório

Baixo Baixo

nível

Furos nas tubulações

devido a negligência

nos procedimentos de

manutenção;

Falha do operador ao

realizar a leitura

incorreta no

controlador de nível.

Ruptura das paredes

metálicas ou

superaquecimento

das placas metálicas

com risco de

explosão.

Barreiras

existentes:

LT 0739,

LSLL 0977

Caso o nível de

água esteja abaixo

do limite e a

chama não for

apagada, pode

ocasionar uma

deformação na

caldeira.

Não se

aplica.

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27

Continuação da planilha referente ao Nó de estudo 1.

4 Nível no

reservatório

Alto Alto nível Leitura inadequada

do controlador de

nível.

Diminuição na

transferência de

calor sensível

ocasionando a

queda da

temperatura na

caldeira.

Barreiras

existentes

: LT

0739,

LSLL

0977

Demora ao

atingir a

temperatura

desejada,

acarretando

em maior

consumo de

energia e

menor

eficiência.

Não se

aplica.

5 Temperatura Alta/ Baixa Temperatura

alta/ baixa

Não se aplica. Não se aplica. Este fato não

visto que a

temperatura da

água já é pré-

determinada.

Não se

aplica.

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HAZOP

Identificação do sistema: Caldeira 2

Fluxograma nº: Rev: 0 Data rev:

Subsistema: Nó de estudo 2 – Caldeira Aquatubular

Responsável: Participantes: Data: 05/10/2015

Nº Parâmetro Palavra

guia

Desvio Possíveis

causas

Consequências Salva

guardas

Comentários Ações

requeridas

Resp.

1 Pressão

(tubos)

Menos

Menos

pressão

Vazamento

proveniente da

entrada de ar

de combustão e

do gás natural;

Falha no

controlador de

pressão.

Menor rendimento da

produção, gerando

gastos com a

manutenção e atraso

na produção.

Risco de explosão ou

graves acidentes.

Barreiras

existentes:

PT 0965,

PIC 0965,

PR 0965.

Fato decorrente da

falta de

manutenção e

treinamento

operacional

adequado.

Não se aplica.

2 Pressão

(tubos)

Mais Mais

pressão

Falha no

controlador de

pressão

(manômetro);

Excesso de

entrada de ar

de combustão e

gás natural

Idem ao de menos

pressão.

Barreiras

existentes:

PT 0965,

PIC 0965,

PR 0965.

Idem ao de menos

pressão.

Não se aplica.

3 Reação

Também Reação

secundária

Proveniente de

qualquer

impureza/conta

minação

presente nos

componentes

da alimentação.

Incrustação. Os

componentes podem

reagir entre si e

provocar uma explosão

ou acidente, como

também pode haver a

formação de vapor

contaminado.

Não se

aplica

devido à

existência

de laudos

referentes às

matérias-

primas.

Os fornecedores

do combustível já

fornecem laudos

contendo toda a

composição da

matéria-prima.

Não se aplica.

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HAZOP

Identificação do sistema: Caldeira 2

Fluxograma nº: Rev: 0 Data rev:

Subsistema: Nó de estudo 3 – Ar de combustão

Responsável: Participantes: Data: 05/10/2015

Nº Parâmetro Palavra

guia

Desvio Possíveis

causas

Consequências Salva

guardas

Comentários Ações

requeridas

Resp.

1 Vazão Mais Mais vazão Maior ingestão de

ar, diminuindo a

temperatura e o

comprimento da

chama.

Dependendo , pode

provocar o

apagamento total

da chama.

Menor eficiência

de combustão.

Risco de

acidente/explosão.

Parada obrigatória

para remoção do

excesso de gás.

Barreiras

existentes:

FT 3905 UV,

PSL 3903

UV, FAL

3905,

PAL 3903.

Falha do

controlador de

vazão.

Não se

aplica.

2 Vazão

Menos

Menos

vazão

Menor ingestão de

ar resultante de

vazamentos ou

entupimentos na

tubulação

Combustão

incompleta e

formação de CO2,

fuligem e fumaça.

Risco de

acidente/explosão

devido ao acúmulo

de combustível não

queimado.

Barreiras

existentes:

FT 3905 UV,

PSL 3903

UV, FAL

3905,

PAL 3903.

Falha do

controlador de

vazão.

Não se

aplica.

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HAZOP

Identificação do sistema: Caldeira 2

Fluxograma nº: Rev: 0 Data rev:

Subsistema: Nó de estudo 4 – Gás natural

Responsável: Participantes: Data: 05/10/2015

Nº Parâmetro Palavra

guia

Desvio Possíveis

causas

Consequências Salva

guardas

Comentários Ações

requeridas

Resp.

1 Fluxo Mais

Mais

fluxo

Ingestão de excesso

de gás na

alimentação,

acarretando no

apagamento da

chama.

Risco de

acidente/explosão

devido ao acúmulo

de gás decorrente

da combustão

incompleta.

Barreiras

existentes:

PSH 3885

UV, BS

3899/3900U

V, PXV 3881

UV, XV

3887 UV.

Falha no controlador de

vazão.

Não se

aplica.

2 Fluxo

Menos Menos

fluxo

Menor ingestão de

gás resultante de

vazamentos ou

entupimentos na

tubulação.

Menor quantidade

de vapor

produzido.

Pode ocorrer

flashback e

apagamento da

chama, com riscos

de acidentes.

Barreiras

existentes:

PSH 3885

UV, BS

3899/3900U

V, PXV 3881

UV, XV

3887 UV

Idem ao de mais fluxo. Não se

aplica.

3 Fluxo Também Fluxo

também

Componentes

indevidos presentes

no combustível.

Possíveis riscos de

acidentes.

O combustível já vem

com laudos dos

fornecedores

certificando sua

composição.

Não se

aplica.

4 Fluxo Nenhum Nenhum

fluxo

Falha nas bombas

de alimentação de

combustível.

Possíveis riscos de

acidentes.

Somente o ar frio

passará pela fornalha,

que aquecerá saindo

pela chaminé e

resfriando a caldeira.

Não se

aplica.

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Conforme descrito nas Planilhas 1, 2, 3 e 4, a caldeira apresenta constantes riscos de

acidentes, desta forma a análise de riscos é de suma importância para esta instalação no

processo industrial. Por este fato se fez a escolha destes Nó de estudos para serem analisados

por estes se apresentarem como principais meios de propagações de acidentes.

No primeiro Nó de estudo, água abrandada, abordou-se a sua dureza, o nível do

reservatório e a temperatura. A dureza, como relatado, apresenta grandes impactos na

caldeira, visto nos trabalhos realizados por Nogueira et al. (2005), o que torna indispensável o

tratamento da água, conforme estudado por Altafini (2002), que deve ser realizado

corretamente, assim como a realização de análises periódicas para comprovar sua baixa

dureza, uma vez que não há atualmente um instrumento que seja capaz de controlar e relatar a

falha do tratamento da água, sendo constatada apenas por meio de análises laboratoriais.

Foi observado que no nível do reservatório também podem ocorrer acidentes e até

explosões provocadas devido falhas operacionais, segundo Assunção et al. (2008) tanto de

controladores quanto pela falta de manutenção nas tubulações responsáveis pela alimentação

da mesma na caldeira. Assim, as medidas adotadas de modo geral devem ser a inspeções

diárias tanto nas tubulações quanto nos instrumentos de controle. Já o parâmetro temperatura

não apresenta grandes riscos ao sistema (OLIVEIRA et al., 2011).

Na caldeira propriamente dita, apresentada no Nó de estudo 2, foi analisada a pressão e

uma possível reação em seu interior. Foi observado que a oscilação da pressão é um risco a

ser visto com cuidado, já que a falha nos controladores e/ ou vazamento nas tubulações das

entradas dos combustíveis são os principais causadores de acidentes, além de ocasionar baixos

rendimentos de produção (ALTAFINI, 2002; NOGUEIRA et al., 2005).

Em geral, do mesmo modo que no Nó de estudo 1, em relação ao nível do reservatório,

medidas diárias de inspeção da tubulação e instrumentos de controle devem ser realizadas. Já

a reação que pode vir a ocorrer, refere-se a uma inadequada análise dos componentes da

alimentação da caldeira, que, se apresentarem impurezas, essas substâncias impuras podem

reagir entre si ou formarem incrustações no interior da caldeira, podendo resultar em

acidentes. Mas este caso é resguardado pela apresentação de laudos técnicos no ato da compra

(ALTAFINI, 2002; NOGUEIRA et al., 2005).

No ar de combustão, que pode ser visto no Nó de estudo 3, avaliou-se apenas o

parâmetro vazão, com capacidade de provocar menor eficiência de combustão e combustão

incompleta, ambas com risco de acidentes e/ou explosão. No entanto, estão prevenidas pelos

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controladores de vazão e por inspeções periódicas nas tubulações que podem estar entupidas

ou com vazamentos (NOGUEIRA et al., 2005).

Ainda em acordo com autor já citado, na análise do Nó de estudo 4, gás natural, foi

verificado apenas o parâmetro fluxo, com este sofrendo desvios. Apenas o mais fluxo neste

caso apresenta riscos oriundos de excesso de ingestão capazes de provocar o apagamento da

chama. No entanto este caso está resguardado pelo instrumento de controle de vazão.

De modo geral, os desvios menos, também e nenhum, são importantes relatos de

possíveis desvios, com possibilidade de riscos, porém estes possuem medidas eficientes,

evitando a ocorrência destes fatos.

Pode ser verificado através das análises do HAZOP que por se tratar de um

equipamento com constantes riscos, este já possui, antes da sua construção, medidas

preventivas. Em concordância com Assunção et al. (2008), tais medidas são os instrumentos

de controle que devem ser inseridos em todas as áreas de riscos, assim como o treinamento

adequado dos operadores de caldeira.

Como previsto, não é possível propor melhorias em um equipamento em funcionamento

que, pelo fato de já estar em atividade e possuir muitas salva guardas. Porém, é importante

relatar todos os possíveis riscos que o aparelho pode promover, pois acidentes podem

acontecer por um simples descuido operacional.

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6. CONCLUSÃO

A segurança de processos é responsável por propor soluções capazes de reduzir e

gerenciar os riscos oriundos de acidentes operacionais, tornando-a um assunto de extrema

relevância para as grandes corporações. No presente trabalho, foi proposto um estudo de caso

aplicando a ferramenta HAZOP em um processo industrial real em operação, a fim de

identificar possíveis causas e consequências de falhas operacionais, bem como sugerir

possíveis melhorias para o processo.

O cenário escolhido foi a caldeira, por ser amplamente utilizada na maioria das

indústrias. O desenvolvimento da planilha do HAZOP neste estudo seguiu as normas da BS

IEC 61882. Vale ressaltar que a maioria das organizações normalmente adota sua própria

planilha do HAZOP. Porém, a planilha apresentada contém os mesmos parâmetros e análises

de extrema relevância referentes aos seus riscos, causas, consequências e barreiras de

proteção. Durante o estudo de caso, tornou-se possível evidenciar a existência de inúmeros

riscos de acidentes que podem ser proporcionados por uma caldeira.

Na análise verificou-se que o nível do reservatório pode ocasionar acidentes devido a

falhas operacionais, tanto de controladores quanto pela falta de manutenção nas tubulações

responsáveis pela alimentação da mesma na caldeira. Na caldeira propriamente dita, se faz

necessária as inspeções programadas da tubulação e os instrumentos de controle.

No ar de combustão, analisando-se o parâmetro vazão, foi observado que controlando

este parâmetro é possível minimizar os riscos de acidentes e em relação ao gás natural, na

análise do fluxo, o mais fluxo e menos fluxo apresentam riscos oriundos de excesso ou falta

de ingestão capazes de provocar o apagamento da chama. No entanto este caso está

resguardado pelo instrumento de controle de vazão.

Lembra-se que a caldeira é resguardada por uma norma NR13, que estabelece ações de

controle e segurança. Como pressuposto, a geração de vapor é um processo onde é necessário

levantar todas as possíveis causas e consequências relacionadas à possíveis riscos de

acidentes, assim como as medidas a serem tomadas, devem ser descritas e apresentadas a

todos os colaboradores da corporação, visto que um simples descuido pode ser fatal.

Sendo assim, este trabalho tornou-se importante para adquirir conhecimentos tanto

sobre uma possível aplicação da ferramenta de segurança de processos HAZOP como de um

sistema de geração de vapor para quaisquer processos industriais que é a caldeira.

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Por fim, conclui-se que o objetivo principal deste trabalho em adquirir e aprimorar

conhecimentos tanto sobre uma possível aplicação da ferramenta de segurança de processos

HAZOP em um processo real como também conhecer o funcionamento e precaver-se dos

prováveis riscos envolvidos no emprego de um equipamento consolidado há anos no mercado

industrial que é a caldeira, foi alcançado de forma satisfatória, comprovando a efetividade

deste trabalho e contribuindo para a formação e crescimento profissional dos acadêmicos

envolvidos do curso de graduação em Engenharia Química.

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ANEXO – P&ID Caldeira 2 Combustível Gás Natural M&G