estudo comparativo da dimensão mésio-distal entre segundos
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Programa de Mestrado em Odontologia
Estudo Comparativo da Dimensão Mésio-distal entre
Segundos Molares Decíduos e Segundos Pré-molares
Inferiores em Pacientes Portadores de Más Oclusões de
Classe I, II e III de Angle
José Luiz Tarsia Zeferino
Belo Horizonte
2007
José Luiz Tarsia Zeferino
Estudo Comparativo da Dimensão Mésio-distal entre
Segundos Molares Decíduos e Segundos Pré-molares
Inferiores em Pacientes Portadores de Más Oclusões de
Classe I, II e III de Angle
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Odontologia: área de concentração em Ortodontia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Odontologia (Ortodontia). Orientador: Prof. Dr. Dauro Douglas Oliveira Co-Orientador: Prof. Eustáquio Afonso Araújo
Belo Horizonte
2007
FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Zeferino, José Luiz Tarsia Z43e Estudo comparativo da dimensão mésio-distal entre segundos molares decíduos e segundos pré-molares inferiores em pacientes portadores de más oclusões de Classe I, II e III de Angle / José Luiz Tarsia Zeferino. Belo Horizonte, 2007. 53f. : il. Orientador: Dauro Douglas Oliveira Co-orientador: Eustáquio Afonso Araújo Dissertação (Mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Programa de Pós-Graduação em Odontologia. Bibliografia. 1. Mantenedor de espaço 2. Dentadura mista. 3. Má oclusão de Angle I. Oliveira, Dauro Douglas. II. Araújo, Eustáquio Afonso. III. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Odontologia. IV. Título.
CDU: 616.314-089.23
FOLHA DE APROVAÇÃO
DEDICO À minha mãe, Teresa Cristina pelo maravilhoso exemplo que
pude seguir. Seus ensinamentos passados, seu apoio
incondicional, seus esforços para a melhor educação possível
e principalmente o seu amor, foram essenciais para a
realização deste trabalho.
DEDICO A todas as pessoas que acreditaram na realização deste
trabalho, apoiaram a iniciativa e torceram pelos melhores
resultados possíveis.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por todos os momentos em que me iluminou para cumprir mais esse
objetivo.
À minha avó Vera, pela minha criação, pelo grande carinho e amor maternal,
dedicado desde os primeiros anos de minha vida até os dias atuais. Suas palavras
sábias levaram aos primeiros ensinamentos da escola da vida, guardados para
sempre.
Ao meu pai, pelos poucos, mas valorosos momentos que vivemos juntos,
pelas conversas e conselhos passados.
A todos meus familiares, tia Dora, meus irmãos Felipe, Guilherme e Carolina,
avó Tereza, avô Zé, tios e primos, pela presença e preocupação constantes. Sem o
carinho de vocês, ficaria tudo mais difícil.
À Tenille, pelo grande amor e carinho depositado e pela compreensão da
minha ausência durante este período. Apesar de distante geograficamente, sua
presença marcante foi fundamental como um enorme incentivo para que esse
objetivo fosse conquistado. Obrigado por tudo.
Ao Professor Doutor Dauro Douglas Oliveira, Coordenador do Mestrado em
Ortodontia da Faculdade de Odontologia da PUC Minas, pela orientação neste
trabalho, estímulo científico, exemplo profissional e interesse constante com a
melhora do aprendizado dos alunos e a preocupação com a qualidade e respeito da
instituição.
Ao Professor Eustáquio Afonso Araújo, Professor Titular em Ortodontia da
PUC Minas, pela idealização e orientação deste trabalho, pelo carinho e
preocupação com o curso e pelo belo exemplo de liderança.
À Faculdade de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais, na pessoa de seu Diretor e Professor do Curso de Mestrado em Ortodontia,
Tarcísio Junqueira Pereira.
Ao Professor Doutor Roberval de Almeida Cruz, Coordenador dos Programas
de Mestrado em Odontologia, pela seriedade, responsabilidade e destreza com os
cursos de nossa instituição.
Aos meus amigos de turma, Klinger, Larissa, Leonardo, Mariana e Thiago
pelos indescritíveis momentos de companheirismo, união, cumplicidade, alegrias e
comemorações. Pessoas especiais que levarei sempre comigo como exemplos de
bom caráter e ótima convivência.
Aos demais amigos do curso de mestrado das turmas M5, M6, M7, M8 e M9,
Livia, Cássio, Valéria, Jordana, Milena, Luciana, Mariana Pacheco, Silvana, Barbra,
Murilo, Cristhiane, Bruna, Ana Paula, Flávio, Ludmila, Roberta, Tony, Rafael, Bruno
Gribel, Bruno Fonseca, Maria Rita, Sara, Paula, Marcelo, Nilson e André, pelo
grande relacionamento pessoal e profissional.
Aos meus professores do curso de mestrado, Heloísio Leite, Hélio Brito,
Wellington Pacheco, José Maurício, José Eymard, Armando Lima, Ênio Mazzieiro,
Flávio Almeida, Julio Brant, Tarcísio Junqueira, Ildeu Andrade, Marcos Carvalho,
Henrique Torres, por todo conhecimento transmitido e preocupação em sempre
lapidar ortodontistas de excelência e caráter. Mestres, muito obrigado pelos
ensinamentos
Ao Professor Doutor Roberto Carlos Bodart Brandão, coordenador da
Disciplina de Ortodontia da Universidade Federal do Espírito Santo, pelos conselhos
passados e pela oportunidade de ingressar na ortodontia pela “porta da frente”.
Ao Professor Doutor Martinho Campolina Rebello Horta, Professora Doutora
Ângela Maria Quintão Lanna e Professor Rodrigo Norremose Costa pela
disponibilidade e apoio estatístico prestado.
Aos meus amigos e amigas capixabas, pela amizade, companheirismo e
preocupação com minha ausência durante esses anos.
Aos funcionários da PUC Minas, em especial à Andreza e ao Diego pela
assistência e agilidade para tornar o ambiente de aprendizado o mais eficiente
possível.
A todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para a realização deste
trabalho.
EPÍGRAFE
“Para evitar críticas, não faça nada, não diga nada, não seja nada.”
Elbert Hubbard
RESUMO
Grande parte das más oclusões podem ser interceptadas, minimizadas ou até
mesmo solucionadas com um correto diagnóstico e planejamento na fase da
dentadura mista. Neste período, o aproveitamento do espaço-E (diferença da
dimensão mésio distal entre segundo molar decído e segundo pré-molar inferior)
pode favorecer, por exemplo, a solução do apinhamento anterior ou a correção da
Classe II dentária moderada pela migração mesial dos molares permanentes
inferiores. Apesar de sua importância clínica, a preservação do espaço-E ainda é
negligenciada por alguns ortodontistas, odontopediatras e clínicos gerais. Assim,
algumas más oclusões que seriam facilmente tratadas, caso o espaço-E tivesse sido
preservado, se tornam um desafio quando da implementação da ortodontia corretiva.
A literatura ortodôntica ainda carece de maiores informações sobre a relevância do
espaço-E no diagnóstico e tratamento dos diferentes tipos de más oclusões. Dessa
forma, o objetivo deste estudo foi comparar os espaços-E e a dimensão mésio-distal
dos segundos molares decíduos e segundos pré-molares inferiores, entre os
diferentes tipos de más oclusões de Angle. A amostra foi composta de 255 pacientes
na fase da dentadura mista e início da dentadura permanente, divididos em três
grupos (110 pacientes Classe I, 63 meninos e 47 meninas; 115 Classe II, 47
meninos e 68 meninas e 30 Classe III, 18 meninos e 12 meninas). A média e o
desvio padrão foram calculados e o teste T de Student e análise de variância
(ANOVA) foram usados para análise estatística. Os resultados demonstraram que
não houve diferença estatisticamente significante (p > 0,05) para os segundos
molares decíduos, segundos pré-molares e espaços-E inferiores, tanto para amostra
total comparando os três grupos de má oclusão, quanto considerando ambos os
gêneros independentes. Da mesma forma não houve dimorfismo sexual quando
comparados os espaços-E entre os gêneros em cada grupo de má oclusão
separadamente.
Palavras-chave: espaço-E, leeway space, dentadura mista, discrepância dentária, má oclusão.
SUMMARY
The correct use of the E-Space (difference of the sum of mesio-distal width of
second deciduous molar and second premolar) could be a key factor in obtain
successful correction of certain types of malocclusion in the mixed dentition, such
moderate anterior crowding or mild to moderate dental Class II due to the mesial
migration of the lower first permanent molars. The importance of the E-Space in
interceptive orthodontics is still misunderstood by some orthodontists, general
dentists and pediatric dentists. Some clinical conditions that were not properly
corrected in the mixed dentition stages may became a challenging task when its
correction is implemented in the permanent dentition. There is a lack of reliable
information about possible differences tooth size differences among the different
groups of Angle malocclusions in the brazilian population. The purpose of this study
was to compare the E-space and the mesio-distal widths of second deciduous molars
and second premolars in all three groups of Angle malocclusions. The sample
consisted of 255 patients that were divided in three groups: 110 Class I patients (63
males and 47 females), 115 Class II (47 males and 68 females) and 30 Cass III (18
males and 12 females). The orthodontic models evaluated were previously obtained
during the late mixed dentition and early permanent dentition. Mean and standard
deviation values were calculated using the Students T test and analysis of variance
(ANOVA). The results of the present investigation showed that there were no
significant statistical differences (p > 0,05) for the three measurements evaluated
among the different malocclusion groups and both genders studied.
Key words: E-space, leeway space, mixed dentition, tooth discrepancy, malocclusion.
LISTA DE FIGURAS Página MATERIAIS E MÉTODOS
FIGURA 1 - Espaço-E representado em uma radiografia interproximal... 17
FIGURA 2 - Foto oclusal demonstrando os segundos molares decíduos
presentes no arco inferior na fase da dentadura mista..............................
19
FIGURA 3 - Foto oclusal do mesmo paciente após esfoliação do 75 e 85
e irrupção do 35 e 45 evidenciando o espaço-E em ambos lados
na dentadura permanente........................................................................
20
FIGURA 4 – Paquímetro digital com precisão de 0,01mm
(Masel, Bristol, PA – USA).........................................................................
25
FIGURA 5 – Medida da dimensão mésio-distal do elemento 75 com
paquímetro digital......................................................................................
26
FIGURA 6 – Medida da dimensão mésio-distal do elemento 35 com
paquímetro digital......................................................................................
26
ARTIGO
FIGURA 1 – Média em mm dos espaços-E dos lados direito e esquerdo
entre os diferentes grupos de má oclusão (+/- 1 Desvio Padrão).............
38
LISTA DE TABELAS Página TABELA 1 - Análise descritiva dos segundos molares decíduos direito
e esquerdo e o valor de p para o teste ANOVA comparando os
diferentes grupos de má oclusão............................................................
37
TABELA 2 - Análise descritiva dos segundos pré-molares direito e
esquerdo e o valor de p para o teste ANOVA comparando os
diferentes grupos de má oclusão............................................................
37
TABELA 3 - Análise descritiva dos espaços-E direito e esquerdo e o
valor de p para o teste ANOVA comparando os diferentes grupos de
má oclusão..............................................................................................
38
TABELA 4 - Média, desvio padrão e valor de “p” para os elementos
dentários e espaços-E na amostra total e dividida por gênero...............
39
TABELA 5 - Valor de “p” para comparação dos gêneros em interação
com os grupos de má oclusão para cada variável analisada (2 x 3).......
40
LISTA DE ABREVIATURAS EEE Espaço-E Esquerdo EED Espaço-E Direito
EUA Estados Unidos da América mm Milímetros
USA United States Of America
SUMÁRIO Página
1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 16
2 PROPOSIÇÕES................................................................................... 21
3 HIPÓTESES......................................................................................... 22
4 MATERIAIS E MÉTODOS................................................................... 23
4.1 Amostra............................................................................................ 23
4.1.1 Seleção da amostra...................................................................... 23
4.1.2 Divisão da amostra....................................................................... 24
4.2 Métodos de Registro....................................................................... 24
4.3 Métodos de Medida......................................................................... 25
5 ARTIGO............................................................................................... 28
6 CONCLUSÕES GERAIS..................................................................... 48
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................... 49
ANEXO.................................................................................................... 52
16
1. INTRODUÇÃO
O diagnóstico e tratamento das más oclusões na dentadura mista
representam alguns dos maiores desafios da Ortodontia, pelo fato de poderem ser
interceptadas, minimizadas ou até solucionadas em grande parte dos casos. Essa
abordagem poderia evitar um tratamento mais complexo e duradouro na dentadura
permanente, além de prevenir intervenções desnecessárias, ou com maior grau de
dificuldade para o profissional e maiores riscos para o paciente.
Segundo Gianelly (1995b), o apinhamento pode estar presente em todas as
Classes de má oclusão e, provavelmente, é o problema mais comum a ser
solucionado com o tratamento ortodôntico na dentadura mista. Dessa forma,
diversos ortodontistas pesquisaram uma solução mais conservadora para esta
condição, sendo Nance (1947), o idealizador do “leeway space ” ou “espaço livre de
Nance”. Este espaço é representado pela diferença entre o somatório das
dimensões mésio-distal dos dentes decíduos (caninos, primeiros e segundos
molares) e dentes permanentes (caninos, primeiros e segundos pré-molares),
variando quantitativamente em diferentes indivíduos e resultando em uma média
positiva de 1,7 mm, tanto para o lado direito, quanto para o lado esquerdo no arco
inferior e 0,9 mm, em cada lado, no arco superior.
O “leeway space” pode ser representado pelo “espaço-E” (nomenclatura
utilizada nos EUA para o segundo molar decíduo) ou a diferença entre a medida
mésio-distal do segundo molar decíduo e do segundo pré-molar (GIANELLY,
1995a). Isto se deve ao fato de a soma da dimensão mésio-distal do canino e
primeiro molar decíduo ser aproximadamente igual à soma da mesma distância do
canino permanente e primeiro pré-molar no arco inferior, simplificando assim, o
cálculo do “leeway space”.(MOORREES et al, 1957; GIANELLY, 1995a) (Figura 1).
17
Figura 1 – Espaço-E representado em uma radiografia interproximal
Foram realizados então, diversos estudos comparando a relação entre a
dimensão mésio-distal da coroa dos dentes decíduos e permanentes por meio de
diferentes métodos de medição. Moorrees et al, (1957); Lyssel e Myberg (1982);
Yuen et al, (1996) e Pacheco et al, (2005), investigaram o “ leeway space” em
diferentes grupos étnicos e encontraram um espaço-E para o gênero masculino e
feminino de 2,54mm / 2,62mm ; 2,48mm / 2,5mm; 2,8mm / 2,9mm; 2,4mm / 2,5mm
respectivamente, não observando diferenças estatisticamente significativas em
ambos os gêneros.
Diante disso, fica evidente que o espaço-E depende diretamente do tamanho
e da forma dos segundos molares decíduos e de seus sucessores permanentes. A
hipótese de que os permanentes sucessores mantêm uma dimensão proporcional
semelhante aos decíduos foi objeto de estudos. Entretanto, o pequeno coeficiente
de correlação observado, inviabilizou o seu uso como previsão (YUEN et al, 1996).
Sendo assim, acredita-se que as características dos dentes, inclusive o seu
tamanho, sejam controladas por fatores genéticos. Outros fatores ambientais que
poderiam influenciar suas dimensões são a saúde da mãe durante a gestação, o
tamanho e o peso da criança ao nascer, a dieta, o clima e doenças congênitas ou
adquiridas (BISHARA et al, 1989; LINDSTEN, OGAARD. e LARSON, 2002).
Somado a esses fatores, Sassouni (1969) relatou uma correlação entre a dimensão
dentária e a má oclusão. O autor considerou que indivíduos portadores de má
oclusão de Classe III de Angle, com deficiência de crescimento maxilar,
apresentavam maior prevalência de alterações de tamanho, forma e agenesias
dentárias no arco superior.
Segundo Bolton (1958), os dentes superiores deveriam ser maiores
proporcionalmente na dimensão mésio-distal comparados com os dentes inferiores,
dentro de um desvio padrão aceitável, para que haja uma boa acomodação oclusal.
18
Caso contrário, haveria dificuldades na fase de finalização dos tratamentos.
Conseqüentemente, diversos autores estudaram essa relação nos diferentes tipos
de más oclusões de Angle (ANGLE, 1899).
Lavelle (1972), comparou o tamanho dentário de 160 indivíduos leucodermas
do gênero masculino com más oclusões esqueléticas e dentárias de Classe I,
Classe II divisão 1ª, Classe II divisão 2ª e Classe III de Angle. Esse autor observou
que, no arco inferior, a dimensão mésio distal dos dentes é maior na Classe III
seguido pela Classe I e Classe II.
Diante da suspeita clínica de que indivíduos portadores de má oclusão de
Classe III apresentavam excesso proporcional de massa dentária no arco inferior,
em relação ao superior, Sperry et al. (1977), encontraram numa amostra de 130
indivíduos, maior prevalência de excesso de tamanho dentário inferior em pacientes
Classe III comparando com Classes I e II, confirmando a suspeita clínica levantada
pelos autores.
Nie e Lin (1999), estudaram a prevalência das discrepâncias de Bolton em
300 indivíduos chineses de ambos os gêneros nos diferentes tipos de má oclusão de
Angle. Concluíram que pacientes Classe III apresentavam excesso na dimensão
mésio-distal dos dentes no arco inferior comparando com pacientes Classe I e II sem
dimorfismo sexual para os gêneros.
Recentemente, outros trabalhos que relacionaram a discrepância de tamanho
dentário em diferentes tipos de má oclusão, demonstrando que os pacientes com má
oclusão de Classe III, também apresentavam dentes inferiores mais largos
proporcionalmente, fortalecendo a evidência clínica levantada. (AN TA et al, 2001;
ARAUJO e SOUKI, 2003; AL-KHATEEB e ABU ALHAIJA, 2006)
No entanto, estudos semelhantes, desenvolvidos por outros autores, não
encontraram correlação entre tamanho dentário e o tipo de má oclusão. Crosby e
Alexander (1989), buscando estudar a discrepância de tamanho dentário em
diferentes tipos de má oclusão (Classe I, II divisão 1ª, II divisão 2ª, e Classe II
cirúrgica), avaliaram a dimensão mésio-distal de todos os dentes permanentes
superiores e inferiores, exceto segundos molares de 109 indivíduos. Concluíram não
haver diferenças estatisticamente significante para a incidência de discrepância de
tamanho dentário entre as más oclusões observadas.
Uysal et al, 2005 compararam a dimensão dentária de 560 indivíduos com
diferentes tipos de má oclusão (Classes I, II/1, II/2 e III) com o grupo controle de 150
19
indivíduos com oclusão normal não tratados. Observaram que não houve diferença
significante na discrepância de tamanho dentário, assim como para ambos os
gêneros entre os diferentes grupos de má oclusão de Angle.
Da mesma forma, Basaran et al (2006), estudaram a prevalência da
discrepância de tamanho dentário entre os grupos de má oclusão em 300 pacientes,
sendo 60 de cada grupo de má oclusão (Classe I, II, II/1,II/2 e III) comparando com
um grupo controle composto por 150 indivíduos com oclusão normal não tratados.
Concluíram que não houve diferença significante no tamanho dentário proporcional
entre os diferentes grupos de má oclusão, assim como para ambos os gêneros.
Apesar dos diversos estudos encontrarem diferenças relacionando a
dimensão mésio-distal dos dentes permanentes com o tipo de má oclusão, não há
na literatura científica, estudos fazendo esta inferência em dentes decíduos. Criou-
se então, um interesse particular em estudar o espaço-E nos diferentes tipos de má
oclusão de Angle. É evidente que este espaço representa uma considerável
importância clínica não apenas para a solução do apinhamento, mas também para
uma migração mesial dos primeiros molares permanentes inferiores na transição da
dentadura mista para a dentadura permanente.(Figuras 2 e 3).
Figura 2 – Foto oclusal demonstrando os segundos molares decíduos presentes no arco inferior na
fase da dentadura mista
20
Figura 3 – Foto oclusal do mesmo paciente após esfoliação do 75 e 85 e irrupção do 35 e 45
evidenciando o espaço-E em ambos os lados na dentadura permanente
Outras considerações importantes são o favorecimento da relação molar de
Classe I de Angle quando os molares se apresentam em relação de Classe II e
principalmente a manutenção preventiva deste espaço em pacientes com relação de
Classe I e III já estabelecida. Caso pacientes Classe III apresentem o espaço-E
maior que Classes I e II, reforçaria a importância de impedir a mesialização
fisiológica do primeiro molar inferior e, conseqüentemente, evitar a perpetuação da
Classe III dentária. Adquire-se assim, mais espaço para minimizar as compensações
dentárias de uma eventual camuflagem ortodôntica.
Motivado pelas dúvidas levantadas a partir da literatura ortodôntica, na
ausência de trabalhos similares e em percepções clínicas, uma investigação
comparativa para a avaliação do espaço-E no arco inferior em pacientes portadores
de má oclusão de Classe I, II e III de Angle se apresenta como de alta relevância
para a especialidade, sendo o objetivo do presente trabalho.
21
2. PROPOSIÇÕES
Os propósitos deste estudo foram:
2.1 Comparar possíveis discrepâncias na dimensão mésio-distal dos
segundos molares decíduos inferiores nos três tipos de má oclusão de Angle no arco
inferior;
2.2 Comparar possíveis discrepâncias na dimensão mésio-distal dos
segundos pré-molares inferiores nos três tipos de má oclusão de Angle no arco
inferior;
2.3 Comparar o espaço-E nos três tipos de má oclusão de Angle no arco
inferior;
2.4 Comparar a dimensão mésio-distal dos segundos molares decíduos,
segundos pré-molares e espaços-E entre os gêneros masculino e feminino.
22
3. HIPÓTESES
3.1 Hipótese Nula
H0 = Não existem diferenças estatisticamente significativas na dimensão do
espaço-E inferior em pacientes portadores de má oclusão de Classe I, II ou III de
Angle.
3.2 Hipótese Alternativa
H1 = Existem diferenças estatisticamente significativas na dimensão do
espaço-E inferior em pacientes portadores de má oclusão de Classe I, II ou III de
Angle.
23
4. MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 Amostra
4.1.1. Seleção da amostra
Para o presente estudo, foram selecionados arquivos de diagnóstico
ortodôntico de 255 indivíduos brasileiros de etnia variada, residentes na região da
Grande Belo Horizonte, sendo 128 do gênero masculino e 127 do gênero feminino.
Esses pacientes iniciaram o tratamento na fase de dentadura mista e finalizaram na
fase da dentadura permanente na clínica de ortodontia do Programa de Mestrado
em Ortodontia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Para inclusão dos indivíduos na amostra, os seguintes critérios foram
avaliados:
- Telerradiografia inicial em norma lateral de boa qualidade;
- Modelos iniciais de diagnóstico em gesso em bom estado de conservação com os
elementos 75 e 85 presentes;
- Modelos finais de diagnóstico em gesso em bom estado de conservação com os
elementos 35 e 45 presentes;
- Ausência de cáries e restaurações interproximais nos elementos 35, 45 ,75 e 85;
- Ausência de anomalias dentárias ou outros defeitos congênitos;
- Ausência de tratamento ortodôntico prévio;
- Ausência de redução interproximal nos elementos 35, 45 ,75 e 85 durante a
terapêutica ortodôntica.
Por ser uma pesquisa que envolveu exames de diagnóstico de seres
humanos, esse trabalho foi submetido à avaliação pelo Comitê de Ética e Pesquisa
da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, sendo previamente aprovado.
(Anexo 1).
24
4.1.2. Divisão da amostra
A amostra foi dividida a partir dos valores cefalométricos obtidos para ângulo
ANB, idealizado por Riedel em 3 grupos de má oclusão de Classe I, II e III
(STEINER, 1953).
Foram considerados Classe I, indivíduos com 0º ≤ ANB ≤ 4º, Classe II,
indivíduos com ANB > 4º e Classe III, indivíduos com ANB < 0º.
Obteve-se a seguinte divisão:
- 110 indivíduos portadores de má oclusão de Classe I (63 do gênero masculino e 47
do gênero feminino);
- 115 indivíduos portadores de má oclusão de Classe II (47 do gênero masculino e
68 do gênero feminino);
- 30 indivíduos portadores de má oclusão de Classe III (18 do gênero masculino e 12
do gênero feminino).
4.2 Métodos de registro
O contorno anatômico das estruturas presentes nas telerradiografias iniciais
em norma lateral, foi desenhado pelo mesmo pesquisador em folhas de acetato de
0,05 mm de espessura com uma lapiseira técnica 0,5 mm (PENTEL P205®,
Columbia, ST – USA) sobre um negatoscópio cuja fonte de luz, era a única presente
no ambiente.
A avaliação da dimensão mésio-distal dos dentes foi realizada em modelos de
gesso, obtidos a partir de moldagens realizadas com alginato, por meio de um
paquímetro digital (Masel, Bristol, PA – USA), com precisão de medida de 0,01 mm
(Figura 4).
25
Figura 4: Paquímetro digital com precisão de 0,01mm (Masel, Bristol, PA – USA)
4.3 Métodos de medida
A divisão da amostra foi determinada pela medida cefalométrica esquelética
angular ântero-posterior ANB em indivíduos portadores de má oclusão de Classe I,
II e III de Angle, conforme descrito por Steiner (1953).
As medições da dimensão mésio-distal foram realizadas em um local bem
iluminado com os modelos de gesso apoiados sobre uma mesa. As extremidades
do paquímetro foram posicionadas por acesso vestibular, nos pontos de contato das
faces proximais mesial e distal da coroa da unidade dentária, perpendiculares ao
seu longo eixo e paralelas ao plano oclusal de acordo com o método apresentado
por Moorrees et al, (1957). A precisão usada nas medições foi de 0,01 mm,
metodologia esta, de acordo com Oliveira et al, (2007) (Figuras 5 e 6).
26
Figura 5: Medida da dimensão mésio-distal do elemento 75 com paquímetro digital.
Figura 6: Medida da dimensão mésio-distal do elemento 35 com paquímetro digital.
27
Todas as medições foram realizadas pelo mesmo examinador, sendo os
valores obtidos para cada elemento dentário imediatamente anotados em um
formulário próprio e, posteriormente, transferidos para o computador, armazenados
em planilha desenvolvida no programa Microsoft Office Excel 2007 ®. Nesta
planilha, os valores encontrados para os dentes decíduos e seus sucessores
permanentes, foram anotados e calculados, respectivamente.
28
5. ARTIGO
Estudo Comparativo da Dimensão Mésio-distal entre Segundos
Molares Decíduos e Segundos Pré-molares Inferiores em Pacientes
Portadores de Más Oclusões de Classe I, II e III de Angle
ZEFERINO, J.L.T., ARAÚJO, E.A., OLIVEIRA, D.D.
A ser submetido ao:
American Journal of Orthodontics & Dentofacial Orthopedics
29
Estudo Comparativo da Dimensão Mésio-distal entre Segundos
Molares Decíduos e Segundos Pré-molares Inferiores em Pacientes
Portadores de Más Oclusões de Classe I, II e III de Angle
Comparative Study from Mesio-distal Widths among Second
Deciduous Molars and Lower Second Premolars in Class I, II and III
Angle´s Malocclusion Patients
José Luiz Tarsia Zeferino * Rodrigo Norremose Costa** Eustáquio Afonso Araújo *** Dauro Douglas Oliveira **** * Mestrando em Ortodontia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG. ** Mestre em Clínica Odontológica pela Universidade Federal de Minas Gerais. Especialista em Ortodontia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG. *** Mestre em Ciências Odontológicas pela Universidade de Pittsburg, U.P., EUA. Professor Titular da Universidade de Saint Louis, EUA. **** Doutor em Ortodontia pela UFRJ. Mestre em Ortodontia pela Universidade da Marquette, Milwalkee, EUA. Coordenador do Mestrado em Ortodontia da PUC Minas, Belo Horizonte, MG. Endereço para correspondência: José Luiz Tarsia Zeferino Av. João Batista Parra, 713 / 1103 Praia do Suá, Vitória, ES, 29052-123 Tel. (27) 3314-2992 E-mail: [email protected]
30
Estudo Comparativo da Dimensão Mésio-distal entre Segundos Molares
Decíduos e Segundos Pré-molares Inferiores em Pacientes Portadores de Más
Oclusões de Classe I, II e III de Angle
Comparative Study from Mesio-distal Widths among Second Deciduous Molars
and Lower Second Premolars in Class I, II and III Angle´s Malocclusion Patients
Resumo
Grande parte das más oclusões podem ser interceptadas, minimizadas ou até
mesmo solucionadas com um correto diagnóstico e planejamento na fase da
dentadura mista. Neste período, o aproveitamento do espaço-E (diferença da
dimensão mésio distal entre segundo molar decído e segundo pré-molar inferior)
pode favorecer, por exemplo, a solução do apinhamento anterior ou a correção da
Classe II dentária moderada pela migração mesial dos molares permanentes
inferiores. Apesar de sua importância clínica, a preservação do espaço-E ainda é
negligenciada por alguns ortodontistas, odontopediatras e clínicos gerais. Assim,
algumas más oclusões que seriam facilmente tratadas, caso o espaço-E tivesse sido
preservado, se tornam um desafio quando da implementação da ortodontia corretiva.
A literatura ortodôntica ainda carece de maiores informações sobre a relevância do
espaço-E no diagnóstico e tratamento dos diferentes tipos de más oclusões. Dessa
forma, o objetivo deste estudo foi comparar os espaços-E e a dimensão mésio-distal
dos segundos molares decíduos e segundos pré-molares inferiores, entre os
diferentes tipos de más oclusões de Angle. A amostra foi composta de 255 pacientes
na fase da dentadura mista e início da dentadura permanente, divididos em três
grupos (110 pacientes Classe I, 63 meninos e 47 meninas; 115 Classe II, 47
meninos e 68 meninas e 30 Classe III, 18 meninos e 12 meninas). A média e o
desvio padrão foram calculados e o teste T de Student e análise de variância
(ANOVA) foram usados para análise estatística. Os resultados demonstraram que
não houve diferença estatisticamente significante (p > 0,05) para os segundos
31
molares decíduos, segundos pré-molares e espaços-E inferiores, tanto para amostra
total comparando os três grupos de má oclusão, quanto considerando ambos os
gêneros independentes. Da mesma forma não houve dimorfismo em gênero quando
comparados os espaços-E entre os gêneros em cada grupo de má oclusão
separadamente.
Palavras-chave: espaço-E, leeway space, dentadura mista, discrepância dentária, má oclusão.
32
Comparative Study from E-Space Dimensions Among Different Angle´s
malocclusion groups
Abstract
The correct use of the E-Space (difference of the sum of mesio-distal
width of second deciduous molar and second premolar) could be a key factor in
obtain successful correction of certain types of malocclusion in the mixed dentition,
such moderate anterior crowding or mild to moderate dental Class II due to the
mesial migration of the lower first permanent molars. The importance of the E-Space
in interceptive orthodontics is still misunderstood by some orthodontists, general
dentists and pediatric dentists. Some clinical conditions that were not properly
corrected in the mixed dentition stages may became a challenging task when its
correction is implemented in the permanent dentition. There is a lack of reliable
information about possible differences tooth size differences among the different
groups of Angle malocclusions in the brazilian population. The purpose of this study
was to compare the E-space and the mesio-distal widths of second deciduous molars
and second premolars in all three groups of Angle malocclusions. The sample
consisted of 255 patients that were divided in three groups: 110 Class I patients (63
males and 47 females), 115 Class II (47 males and 68 females) and 30 Cass III (18
males and 12 females). The orthodontic models evaluated were previously obtained
during the late mixed dentition and early permanent dentition. Mean and standard
deviation values were calculated using the Students T test and analysis of variance
(ANOVA). The results of the present investigation showed that there were no
significant statistical differences (p > 0,05) for the three measurements evaluated
among the different malocclusion groups and both genders studied.
Key words: e-space, leeway space, mixed dentition, tooth discrepancy, malocclusion
33
INTRODUÇÃO
Os principais objetivos de qualquer tratamento ortodôntico são alcançados
quando se estabelece um correto diagnóstico e um plano de tratamento adequado e
individualizado às necessidades de cada paciente. Além da harmonia e estética do
sorriso, os principais objetivos envolvem boa funcionalidade e relação oclusal
satisfatória dos dentes, favorecendo diretamente a estabilidade dos resultados.
Para se estabelecer uma relação oclusal adequada entre os dentes
permanentes, é necessário existir uma proporção ideal no tamanho mésio-distal dos
dentes superiores em relação aos inferiores, caso contrário, podem-se encontrar
dificuldades de acomodação oclusal na fase de finalização do tratamento
ortodôntico.1
Acredita-se que as características dos dentes, inclusive o seu tamanho, seja
controlado por fatores genéticos. Outros fatores que poderiam influenciar suas
dimensões são a saúde da mãe durante a gestação, o tamanho e o peso da criança
ao nascer, a dieta, o clima e doenças congênitas ou adquiridas. 2,3 Somado a esses
fatores, Sassouni4 foi o primeiro a relatar uma correlação entre a proporção dentária
e a má oclusão. O autor considerou que indivíduos portadores de má oclusão de
Classe III de Angle, com deficiência de crescimento maxilar, apresentam maior
prevalência de alterações de tamanho, forma e agenesias dentárias no arco
superior.
Conseqüentemente, diversos autores estudaram essa relação nos diferentes
tipos de maloclusão de Angle.5 Alguns desses pesquisadores observaram que os
indivíduos portadores de má oclusão de Classe III de Angle tendem a ter dentes
inferiores proporcionalmente maiores que os superiores.6,7,8 Da mesma forma, Nie &
Lin9 observaram esses resultados em pacientes Classe III. Entretanto na Classe II,
existiu maior tendência de excesso de tamanho dentário no arco superior.
Outros autores não encontraram correlação entre o tamanho dentário e o tipo
de má oclusão 10,11,12.
Apesar de os diversos estudos encontrarem diferenças relacionando a
dimensão mésio-distal dos dentes permanentes com o tipo de má oclusão, não há
na literatura científica, estudos fazendo esta inferência em dentes decíduos. Dessa
34
forma, criou-se um interesse em estudar uma característica na dentadura mista de
extrema importância clínica para o ortodontista; o “ leeway space” ou “espaço livre
de Nance”, diretamente relacionado com a dimensão mésio-distal dos dentes
decíduos e seus sucessores permanentes, entre os diferentes tipos de má oclusão
de Angle. Isto é justificado, caso pacientes Classe III apresentarem um “leeway
space” maior que Classes I e II, para impedir maior mesialização do primeiro molar
inferior e conseqüente perpetuação da Classe III dentária, e também, para obter
mais espaço para minimizar as compensações dentárias de uma eventual
camuflagem ortodôntica.
Nance13 descreveu este espaço, como sendo a diferença entre o somatório
das dimensões mésio-distal dos dentes decíduos (caninos, primeiros e segundos
molares) e o somatório das dimensões mésio-distal dos dentes permanentes
(caninos, primeiros e segundos pré-molares), variando quantitativamente em
diferentes indivíduos e resultando em uma média positiva de 1,7 mm, em cada lado,
para o arco inferior e 0,9 mm, tanto para o lado direito, quanto do esquerdo, para o
arco superior.
Para alguns pesquisadores o “espaço livre de Nance” pode ser representado
pelo “espaço-E” (nomenclatura utilizada nos EUA para a diferença entre a dimensão
mésio-distal apenas do segundo molar decíduo e a dimensão do segundo pré-
molar). 14 Isto se deve ao fato de o somatório da dimensão mésio-distal do canino e
primeiro molar decíduo ser aproximadamente igual ao somatório da mesma
dimensão do canino permanente e primeiro pré-molar no arco inferior, simplificando
assim, o cálculo do “espaço livre de Nance”. 14,15
Diante disso, fica evidente que o espaço-E possui uma considerável
importância clinica, fornecendo um espaço não somente para a resolução do
apinhamento, mas também para uma migração mesial dos primeiros molares
permanentes inferiores na transição da dentadura mista para a dentadura
permanente. Sendo assim, a partir das dúvidas levantadas na literatura ortodôntica,
na ausência de trabalhos similares e em evidências clínicas, os objetivos deste
estudo foram:
- Comparar o espaço-E nos diferentes tipos de má oclusão;
- Avaliar possíveis discrepâncias na dimensão mésio-distal dos segundos
molares decíduos inferiores nos diferentes tipos de má oclusão;
- Avaliar possíveis discrepâncias na dimensão mésio-distal dos segundos
35
pré-molares inferiores nos diferentes tipos de má oclusão.
- Avaliar possível dimorfismo sexual para o espaço-E.
MATERIAIS E MÉTODOS
Os dados do presente estudo foram obtidos dos arquivos de diagnóstico do
Programa de Mestrado em Ortodontia da Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais. A amostra consistiu de modelos de diagnóstico inicial e final nas fases de
dentadura mista e permanente, respectivamente, e telerradiografias laterais iniciais
de 255 crianças de etnia variada (128 do gênero masculino e 127 do gênero
feminino), residentes na região da Grande Belo Horizonte.
Como critério de inclusão, as fichas de anamnese, telerradiografias laterais,
modelos de diagnóstico iniciais e finais deveriam estar em bom estado de
conservação. Além disso, os elementos 35, 45, 75 e 85 deveriam estar íntegros,
sem cáries, restaurações interproximais ou coroas protéticas. Outros critérios como
presença anomalias dentárias, defeitos congênitos, tratamento ortodôntico prévio e
desgates interproximais durante o tratamento ortodôntico corretivo foram motivos de
exclusão da amostra.
A amostra foi dividida em 3 grupos de má oclusão a partir da classificação de
Angle em Classe I, II e III, sendo o padrão esquelético adotado, pelo ângulo ANB de
Riedel.16 Cada grupo foi composto de diferentes indivíduos na seguinte distribuição:
Classe I (110) , 63 meninos e 47 meninas; Classe II (115), 47 meninos e 68
meninas; e Classe III (30), 18 meninos e 12 meninas.
Os dentes a serem estudados tiveram suas dimensões mésio-distal medidas
com um paquímetro digital com precisão de medida de 0,01 mm (Masel ® – Bristol,
PA – USA). As pontas medidoras foram posicionadas por acesso vestobular,
paralelamente ao plano oclusal, conforme previamente descrito por Moorrees et al15
e Oliveira et al.17 Todas aferições foram realizadas pelo mesmo examinador em local
bem iluminado.
36
RESULTADOS
Para determinar a análise de erro intra-examinador, foram selecionados 30
modelos aleatoriamente. A medição dos valores dos elementos 35, 45, 75 e 85 foi
registrada em um intervalo de 15 dias entre as medidas. Os dados obtidos foram
analisados por meio do coeficiente de confiabilidade de correlação intra-classe
(ICC). Não foram constatadas diferenças estatisticamente significantes entre as
duas medidas realizadas para os valores individuais de cada dente, apresentando
portanto, uma concordância significativa (ICC = 0,969).
A amostra apresentou distribuição normal (p > 0,05) ao aplicar o teste de
Kolmogorov-Smirnov (Lilliefors) e homogeneidade de variâncias quando submetida
ao teste de Cochran e Bartlett. Diante desses resultados, para determinar se houve
diferença estatisticamente significante para os elementos 75, 35 , 85, 45, assim
como para os espaços-E direito e esquerdo entre os grupos de má oclusão, foi
utilizado o teste de análise de variância (ANOVA one way).
As tabelas 1, 2 e 3 resumem a média, amplitude, variância, desvio padrão e o
valor de “p” referente ao teste ANOVA aplicado para os segundos molares decíduos,
segundos pré-molares e espaços-E de cada lado, entre os diferentes grupos de má
oclusão, demonstrando não haver diferença estatisticamente significante (p > 0,05)
para os valores encontrados.
A figura 1 exibe a média em mm com um desvio padrão acima e abaixo da
média dos espaços-E dos lados direito e esquerdo entre os diferentes grupos de má
oclusão. Apesar da média dos espaços-E ser maior nos indivíduos com má oclusão
de Classe III em números absolutos, não houve diferença estatisticamente
significante para ambos os lados (P > 0,05).
37
Tabela 1: Análise descritiva dos segundos molares decíduos direito e esquerdo e o valor de p para o teste ANOVA comparando os diferentes grupos de má oclusão
Dentes ___________________________________________
75C1 75C2 75C3 85C1 85C2 85C3
Tamanho da amostra 110 115 30 110 115 30
Mínimo 8.44 8.69 9.23 8.5 8.76 8.99
Máximo 12.11 11.38 11.32 11.93 11.44 11.57
Média Aritmética 10.004 10.072 10.122 10,001 10.058 10.093
Variância 0.3275 0.3089 0.3003 0.316 0.3086 0.3152
Desvio Padrão 0.5723 0.5558 0.5922 0.5631 0.5521 0.6024
Erro Padrão 0.0543 0.0521 0.1001 0.0534 0.052 0.1025
Valor de p 0.5009 0.6353
Tabela 2: Análise descritiva dos segundos pré-molares direito e esquerdo e o valor de p para o teste ANOVA comparando os diferentes grupos de má oclusão.
Dentes ___________________________________________
35C1 35C2 35C3 45C1 45C2 45C3
Tamanho da amostra 110 115 30 110 115 30
Mínimo 6.38 6.47 5.6 6.14 6.41 5.61
Máximo 9.2 9.05 8.26 9.39 9.61 8.56
Média Aritmética 7.5337 7.5810 7.4843 7.5280 7.5530 7.463
Variância 0.3134 0.2412 0.3011 0.3202 0.2609 0.3437
Desvio Padrão 0.5584 0.4926 0.5404 0.5647 0.5109 0.6202
Erro Padrão 0.0531 0.046 0.1002 0.0537 0.0478 0.107
Valor de p 0.6226 0.7226
38
Tabela 3: Análise descritiva dos espaços-E direito e esquerdo e o valor de p para o teste ANOVA comparando os diferentes grupos de má oclusão.
Espaços-E ___________________________________________
EEEC1 EEEC2 EEEC3 EEDC1 EEDC2 EEDC3
Tamanho da amostra 110 115 30 110 115 30
Mínimo 1.43 1.57 1.66 1.12 1.63 1.49
Máximo 3.46 4.01 3.76 3.59 3.73 4.07
Média Aritmética 2.4706 2.4917 2.6376 2.4735 2.5057 2.6306
Variância 0.22 0.2037 0.2557 0.2416 0.1907 0.3128
Desvio Padrão 0.4703 0.4616 0.5004 0.4932 0.4435 0.5469
Erro Padrão 0.0445 0.0423 0.0923 0.0467 0.0409 0.1021
Valor de p 0.2208 0.2818
Figura 1: Média em mm dos espaços-E dos lados direito e esquerdo entre os diferentes grupos de má oclusão (+/- 1 Desvio Padrão).
39
Para verificar o dimorfismo sexual presente na dimensão dos dentes, assim
como para os espaços-E, a amostra total foi subdividida em gênero masculino e
feminino para cada medida analisada. Assim, o teste T de Student foi utilizado para
comparação entre os gêneros.
Houve diferença estatisticamente significante para os elementos 35, 45, 75 e
85 entre os gêneros (P < 0,05), sendo as medidas no gênero masculino maiores que
no gênero feminino para todos os dentes. Contudo, não houve diferença estatística
significante para os espaços-E (Tabela 4).
Tabela 4: Média, desvio padrão e valor de “p” para os elementos dentários e espaços-E na amostra total e dividida por gênero.
VARIÁVEL GÊNERO MÉDIA DESVIO PADRÃO "p"
M 10.212 0.588
Dente 75 F 9.884 0.491
M + F 10.049 0.562 0.0001*
M 7.655 0.562
Dente 35 F 7.442 0.476
M + F 7.549 0.531 0.0013*
M 2.557 0.522
EEE F 2.442 0.406
M + F 2.499 0.47 0.0507
M 10.205 0.59
Dente 85 F 9.869 0.476
M + F 10.038 0.561 0.0001*
M 7.657 0.583
Dente 45 F 7.405 0.475
M + F 7.531 0.546 0.002*
M 2.548 0.542
EED F 2.464 0.402
M + F 2.506 0.478 0.1619 Nota: M = 128 indivíduos do gênero masculino. F = 127 indivíduos do gênero feminino M + F = 255 indivíduos de ambos os gêneros * = significância (p < 0,05) Fonte: Dados da pesquisa
Com o objetivo de analisar se a variável “gênero” poderia interferir nos
resultados obtidos quando comparados os grupos de má oclusão, a amostra foi
subdividida em dois subgrupos (masculino e feminino) dentro de cada Classe de má
oclusão e outro teste de variância (ANOVA two way) foi aplicado para verificar uma
interação entre os fatores, formando os grupos da seguinte maneira: (2 gêneros × 3
40
Classes = 6 combinações): Classe I, feminino; Classe I masculino; Classe II
feminino; Classe II masculino; Classe III feminino e Classe III masculino para cada
dente ou espaço-E analisado.
Não houve diferenças estatisticamente significantes (p > 0,05) para todas as
medidas entre os grupos em interação com os gêneros para cada fator analisado
(75, 85, 35, 45, EEE, EED), demonstrado na tabela 5.
Tabela 5: Valor de “p” para comparação dos gêneros em interação com os grupos de má oclusão para cada variável analisada (2 x 3).
ANOVA Dente 75 Dente 85 Dente 35 Dente 45 EEE EED
Two-way
(p) = 0.6903 0.6032 0.5197 0.6093 0.5402 0.6268
DISCUSSÃO
O momento oportuno de minimizar ou solucinar certas condições clínicas
importantes como o apinhamento e a relação molar, é muitas vezes negligenciado
por ortodontistas, odontopediatras e clínicos gerais pelo não aproveitamento do
espaço-E na fase da dentadura mista. Apesar de o estudo não demonstrar
diferenças significantes para o espaço-E entre os três grupos de má oclusão de
Angle, os pacientes Classe III apresentaram um espaço-E médio maior em números
absolutos (2,63mm +/- 0,52), comparando com os pacientes Classe I (2,47 mm +/-
0,48) e Classe II ( 2,49 mm +/- 0,45). Considerando a diferença encontrada, o desvio
padrão apresentado e o fato de cada paciente apresentar dois espaços-E no arco
inferior, essa diferença pode ser considerada clinicamente relevante, em alguns
casos, reforçando a necessidade de maior atenção por parte desses profissionais.
Dessa forma, outros estudos são necessários para investigar o espaço-E e chegar a
conclusões mais substânciais.
A importância dos estudos de discrepâncias de tamanho dentário entre os
diferentes tipos de má oclusão, é relatada por diversos autores como mais uma
abordagem de diagnóstico ortodôntico. Contudo, esses estudos são realizados
41
principalmente para a avaliação da proporção do somatório dos dentes entre os
arcos superior e inferior descrito por Bolton.1 Os resultados desses estudos, foram
relacionados com os resultados do presente trabalho tanto para a comparação da
dimensão dos dentes como para o espaço-E, uma vez que não há estudos na
literatura comparando este espaço nos diferentes tipos de má oclusão.
A dimensão dos segundos molares decíduos e segundos pré-molares
inferiores foram maiores estatisticamente no gênero masculino, entretanto, para os
espaços-E direito e esquerdo, não houve dimorfismo sexual. Esses resultados estão
de acordo com Moorrees et al,15 Lyssel e Myberg,18 Yuen et al,19 e Pacheco et al,20
que investigaram o “ leeway space” em diferentes grupos étnicos, por meio de
medições em dentes decíduos e permanentes, e encontraram um espaço-E médio
para o gênero masculino e feminino de 2,54 mm / 2,62 mm ; 2,48 mm / 2,5 mm; 2,8
mm / 2,9 mm; 2,4 mm / 2,5 mm respectivamente. Isto pode ser explicado, por
diferenças proporcionais no tamanho do segundo molar decíduo e segundo pré-
molar inferior entre os gêneros, não interferir significantemente na dimensão espaço-
E, já que sua dimensão depende diretamente da diferença desses dois elementos.
Apesar desses estudos não considerarem a comparação entre os diferentes tipos de
má oclusão, os dados se apresentam semelhantes, porém, com uma pequena
variação, comparados com os resultados obtidos para a população estudada. Assim,
diferentes etnias podem apresentar alterações na dimensão de alguns dentes.21,22
Contrário à dúvida levantada, os pacientes Classe III não apresentaram os
elementos 35, 45, 75, 85 e os espaços-E direito e esquerdo maiores
estatisticamente que os pacientes Classe I e II. Entretanto, o espaço-E foi maior em
números absolutos, quando comparados com pacientes Classe I e Classe II.
Nos pacientes Classe III, a dimensão dos elementos 75 e 85 foi maior em
números absolutos, porém não estatísticos, assim como a dimensão dos elementos
35 e 45 foi menor, quando comparados com os pacientes Classe I e II. Isso
caracteriza um fator imperativo pelo espaço-E ser maior nos pacientes Classe III.
Esses resultados não coincidem com os aqueles apresentados nos estudos de
Levelle,6 Sperry et al,7 Araujo e Souki, 8 An Ta et al,23 Al-Khateeb e Abu Alhaija,24
que relataram que pacientes com má oclusão de Classe III presentavam a dimensão
dos dentes permanentes inferiores maiores proporcionalmente aos demais tipos de
má oclusão.
Lavelle6 concluiu que os pacientes com má oclusão de Classe III
42
apresentavam dentes inferiores maiores proporcionalmente seguido pelos pacientes
Classe I e II. Apesar da significância estatística encontrada, é importante salientar
que seu criterio de divisão da amostra, foi realizado pela classificação dentária de
Angle e posterior classificação clínica e facial de Ballard. Isto poderia levantar
dúvidas quanto à homogeneidade dos grupos já que uma relação dentária
estabelecida, muita vezes não correlaciona com a atual classificação esquelética
apresentada. Além disso, a classificação facial da linha de perfil de Ballard,
analisada clínicamente, geralmente leva a resultados subjetivos e muitas vezes
questionáveis.
Sperry et al7 demonstraram que individuos com má oclusão de Classe III,
associadas ao prognatismo mandibular, apresentaram maior tendência de excesso
dentário no arco inferior comparando com os outros grupos de má oclusão. De forma
similar, An Ta et al23 e Al-Khateeb e Alhaija24 também encontraram tendência a um
excesso dentário no arco inferior nos indivíduos com má oclusão de clase III. No
entanto, nenhum dos autores apresentaram em seus estudos, o critério de
classificação de seus grupos, dificultando a reprodutibilidade e comparação com os
resultados obtidos, cujos grupos, foram divididos esqueleticamente pelo ângulo
ANB.
Araújo e Souki8 investigaram a discrepância de tamanho dentário de Bolton
nos seis dentes anteriores entre os diferentes grupos de má oclusão. Os autores
concluíram que os pacientes com má oclusão de Classe III, apresentavam a
proporção entre o arco inferior e superior para a soma dos 6 dentes anteriores,
maior que os demais grupos de má oclusão. Em relação aos valores individuais dos
dentes analisados, não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas
(p>0,05) entre os grupos. Assim, apesar de existirem diferenças significativas nas
somas das proporções dentárias entre os grupos, essas não ocorrem em cada
elemento dentário analisado individualmente, demonstrando que, provavelmente,
pequenas variações em cada dente devem levar a uma variação importante na
proporção de um grupo de dentes. De forma semelhante, o presente trabalho
também não encontrou essa significância estatística quando comparados os
elementos dentários 35, 45, 75 e 85 assim como os espaços-E nos diferentes
grupos de más oclusões.
Crosby e Alexander10 não encontraram diferenças significativas quando
compararam as discrepâncias de tamanho dentário e má oclusão. Embora seus
43
resultados corroborem com o presente trabalho, os autores não consideraram a
divisão dos grupos em um padrão de classificação esquelético como realizado neste
estudo. Isto pode ter um importante efeito na divisão da amostra. Por exemplo,
alguns individuos com má oclusão de Classe II esquelética, podem se tornar Classe
I dentária por uma migração mesial do primeiro molar permanente inferior numa
condição de perda precoce do segundo molar decíduo. Assim, no grupo de Classe I,
podem conter indivíduos Classe I e Classe II esqueléticas. Além disso, os autores
analisaram apenas Classe I, Classe II/1ª divisão, Classe II/2ª divisão e Classe II
cirúrgicos, desconsiderando os pacientes Classe III. Essa divisão dificulta a
comparação dos resultados com o atual trabalho, que analisou 3 grupos com
características particulares e distintas de cada tipo de má oclusão. Os autores
também não diferenciaram sua amostra quanto ao gênero e não mencionaram a
quantidade distribuída em cada grupo. A falta desses dados substânciais,
desconsiderando o dimorfismo sexual para o tamanho dentário, impossibilita uma
eventual comparação.
Uysal et al11 compararam entre si 150 indivíduos com oclusão normal não-
tratados com 460 indivíduos divididos em diferentes tipos de má-oclusão (Classes I,
II/D1, II/D2 e III). Da mesma forma, Basaran et al12 com um estudo semelhante,
compararam 60 indivíduos não tratados com oclusão normal com 300 indivíduos
(Classes I, II e III). Ambos utilizaram a classificação esquelética pelo ângulo ANB.
Concluíram que não há discrepância de tamanho dentário entre os diferentes grupos
de má oclusão comparados entre si e com o grupo controle. Esses resultados estão
de acordo com os resultados obtidos para a dimensão dos elementos analisados e
do espaço-E. Ainda, os autores não encontraram dimorfismo sexual quando
consideraram a proporção para a soma dos 6 dentes anteriores e 12 dentes de cada
arco para a proporção da discrepância Bolton, concordando com os resultados
apresentados no estudo para o espaço-E. Obviamente é importante salientar que os
autores analisaram a soma dos 6 dentes anteriores e 12 dentes de cada arco e sua
proporção inter-arcos e não os dentes individualmente, sendo uma possível variável
a considerar.
Mesmo os dentes decíduos, permanentes e o espaço-E não apresentarem
diferenças significativas nos diferentes tipos de má oclusão, o estudo de suas
medidas, deve continuar ser pesquisada em outros trabalhos. Considerando-se
ainda, o fato do espaço-E em pacientes Classe III ser maior em números absolutos,
44
porém, não siginificativos, uma maior atenção clínica deve ser dada, pois qualquer
espaço para minimizar essa má oclusão, será importante para prevenir algumas
intervenções desnecessárias.
CONCLUSÃO
• Os resultados demostraram que não houve diferenças estatisticamente significantes
na dimensão mésio-distal dos segundos molares decíduos, segundos pré-molares e
nos espaços-E, entre os três grupos de má oclusão de Angle no arco inferior;
• Quando os grupos foram subdivididos quanto ao gênero e comparados para verificar
uma eventual tendência que esta variável poderia interferir nos resultados, também
não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes para todas as
medidas analisadas entre os diferentes grupos de má oclusão;
• Com o objetivo de comparar o espaço-E entre os dois gêneros, o teste T de Student
demonstrou não haver diferença estatisticamente significante para o dimorfismo
sexual
• Os pacientes do gênero masculino apresentaram os elementos 75, 85, 35 e 45
maiores estatisticamente confirmando o dimorfismo sexual.
• São necessários mais estudos, talvez com amostras maiores e mais homogênias
numericamente, para investigar a relação do espaço-E entre os tipos de má oclusão
de Angle para chegar a conclusões mais substânciais.
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6. CONCLUSÕES GERAIS
Os resultados do trabalho demostraram que não houve diferenças
estatisticamente significantes na dimensão mésio-distal dos segundos molares
decíduos, segundos pré-molares e nos espaços-E, entre os três grupos de má
oclusão de Angle no arco inferior.
Quando os grupos foram subdivididos quanto ao gênero e comparados para
verificar uma eventual tendência que esta variável poderia interferir nos resultados,
também não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes para todas
as medidas analisadas entre os diferentes grupos de má oclusão.
Os pacientes do gênero masculino apresentaram os elementos 75, 85, 35 e
45 maiores estatisticamente confirmando o dimorfismo sexual. Entretanto, não
houve dimorfismo sexual quando o teste T de Student foi aplicado para comparar os
espaços-E entre os gêneros.
Sugere-se que mais estudos são necessários para investigar a relação do
espaço-E entre os diferentes tipos de má oclusão de Angle.
49
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52
ANEXO 1
Carta de aprovação do comitê de ética e pesquisa da Pontifícia UniversidadeCatólica
de Minas Gerais
Belo Horizonte, 26 de outubro de 2007. De: Profa. Maria Beatriz Rios Ricci Coordenadora do Comitê de Ética em Pesquisa Para: José Luiz Tarsia Zeferino Faculdade de Odontologia – PUC Minas Prezado(a) pesquisador(a), O Projeto de Pesquisa CAAE - 0165.0.213.000-07 “Estudo comparativo da dimensão mésio-
distal entre segundos molares decíduos e segundos pré-molares inferiores em pacientes
portadores de maloclusões de classe I, II e III de Angle” foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da PUC Minas. Atenciosamente,
Profa. Maria Beatriz Rios Ricci
Coordenadora do Comitê de Ética em Pesquisa – PUC Minas
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Pró-Reitoria de Pesquisa e de Pós-Graduação
Comitê de Ética em Pesquisa