estudo: coberutra midiática de aspectos relacionados à redução da maioridade penal
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7/25/2019 estudo: Coberutra miditica de aspectos relacionados reduo da maioridade penal
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A mdia brasileira e as regras de
responsabilizao dos adolescentes
em conflito com a lei
BRASLIA, DEZEMBRO DE2013
PARTE I
A imprensa tem a capacidade de
moldar o debate dos temas da
agenda social, afetando, a partir do
enquadramento da notcia, tanto
de tais assuntos.
(Sntese da Teoria Agenda-Setting)
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Embora as notcias sejam uma
ao acontecimento, e, desse modo,
constroem o acontecimento ou
(Sntese da Teoria Construcionista)
5
Ao longo dos ltimos anos, a ANDI
desenvolveu diversos estudos sobre a
cobertura jornalstica de temas
relacionados aos adolescentes emconflito com a lei.
A presente anlise aprofunda a leitura
de um aspecto fundamental do
noticirio: a abordagem das regras de
responsabilizao deste grupamento.
7
Os principais resultados da anlise
apontam para uma prtica editorial
que no condiz com um dos papis
centrais do jornalismo o de fornecerinformao qualificada sociedade,
com pluralidade de pontos de vista e
contextualizao dos fatos.
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De carter nitidamente ideolgico,
grande parte do noticirio sobre o
tema construdo praticamente
sobre uma tese exposta de modofrgil, baseada em mitos e descolada
dos dados da realidade.
9
Em sntese, as tendncias aqui
registradas expem a forte presena de
um noticirio reducionista, que:
1. Negligencia o debate sobre osistema socioeducativo (seus
desafios e potencialidades), e
2. Catalisa o medo coletivo, no raro
induzindo a populao ao clamor
pela reduo da idade penal.
10
So narrativas que alimentam a
sensao de que a soluo para a
problemtica simples, enfraquecendo
o debate tecnicamente maisconsistente (portanto, mais
consequente) sobre as regras de
responsabilizao e ressocializao.
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A metodologia empregada a mesma
utilizada nas sries histricas de anlise
da cobertura jornalstica realizadas h
mais de 15 anos pela ANDI.
Em resumo, o estudo de caso foi
estruturado a partir dos parmetros
registrados a seguir.
13
Objetivo
Esboar a tendncia geral da cobertura
Mtodo
Anlise de contedo
Universo
08 jornais, 04 revistas, 01 programa de TV
Perodo
01 de abril a 15 de maio de 2013
Amostra
266 textos e 05 matrias de TV14
Este documento-sntese destaca sete
(07) das principais tendncias do
noticirio sobre as regras de
responsabilizao dos adolescentesem conflito com a lei, identificadas no
processo de monitoramento realizado
pela ANDI.
15
Cada tendncia noticiosa ilustrada por:
1.Dados numricos coletados por blocos de
veculos (Indicadores quantitativos).
2.Interpretao qualitativa dos dados
quantitativos (Percepes construdas).
3.Contrapontos s percepes sociais
construdas a partir do noticirio:
Verdades negligenciadas (dados e
anlises de especialistas).
Realidades (observao do quadro social).16
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Importante frisar que no material
analisado h textos que fogem
tendncia geral do noticirio.
Mas eles so numericamenteinsuficientes para contrapor o volume
dos contedos que alcanam e formam
a mentalidade da populao brasileira.
Alguns desses textos (e outros colhidos
no mesmo perodo) so citados adiante,
como Narrativas contra-hegemnicas1.17
1 Algumas dasnarrativas contra-hegemnicas situam-se fora do perodoanalisado.
JORNAIS DE ALCANCE NACIONAL(NAC)
Folha de S.Paulo
O Estado de S.Paulo
O Globo
Correio Braziliense
18
JORNAIS DE ALCANCE REGIONAL(REG)
O Povo (CE) verso online
Gazeta do Povo (PR)
A Tarde (BA) verso online
Jornal de Braslia (DF)
REVISTAS(REV)
poca
Veja
Isto
Carta Capital
19
TELEVISO(TV)
Jornal Nacional / Rede Globo
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1. Centrado em crimes graves contra apessoa envolvendo adolescentes.
2. Restrito legislao que regula as
regras de responsabilizao destegrupamento.
3. Focado na (pretensa) impunidade queseria garantida pelo ECA.
4. Reduz problemtica ao do sujeito,ignorando o contexto de produo dofenmeno.
21
5. Focado no ato infracional,negligenciando desdobramentoslegais.
6. Limitado defesa de mudanas nalegislao que regula as regras deresponsabilizao.
7. Defende principalmente a reduoda idade penal como soluo para ofenmeno.
22
O debate sobre as regras de
responsabilizao domina o noticirio a
partir da ocorrncia de crimes graves
contra a pessoa envolvendo menores de18 anos como agentes da violncia.
O dado confirma perspectiva verificada
em anlise anterior1, com foco na
cobertura geral das temticas relacionadas
aos adolescentes em conflito com a lei.
24
1 ANDI, 2012a.
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Pesquisa anterior da ANDI demonstra que
a ampla maioria (84,5%) dos textos sobre
adolescentes em conflito com a lei
publicados entre 2006 e 2010 esteve
concentrada em 2007, ano da morte do
garoto Joo Hlio.
26
De modo anlogo, a maioria do noticirio
sobre responsabilizao dos adolescentes em
conflito com a lei (78,7%) registra a morte de
Victor Deppman, sendo impulsionado por
este crime e alimentado por ocorrncias
anteriores e subsequentes.
02468
1012141618202224262830
Caso Victor Deppman
Caso Chyntia de Souza
27
ATOS VIOLENTOS ENVOLVENDO ADOLESCENTES1
OCORRNCIAS DATA %
Caso Victor Hugo Deppman 09/04/13 78.7
Caso Cinthya de Souza (dentista ) 25/04/13 13.0
Estupro em nibus no Rio 03/05/13 6.5
Crime Champinha 2003 6.5
Estupro em van no Rio 30/03/13 4,6
Assalto em restaurante 11/04/13 2.8
Caso Joo Hlio Vietes 2007 2.8
Assalto a posto de gasolina no DF 19/03/13 0.9
Caso Marcela Montenegro 2010 0.9
Caso Luiza Pastor 1970 0.9
Caso ndio Galdino 1997 0.9
Tentativa de furto a condomnio 12/05/13 0.9
1 Um texto pode citarmais de um caso, ounenhum.
Percentual calculadosobre o nmero detextos que mencionamatos violentosespecficos envolvendoadolescentes (40%).
Quando a cobertura jornalstica sobre
regras de responsabilizao fica
excessivamente centrada em crimes
violentos, termina por construir,
dentre outras, a percepo social de
que os adolescentes so os grandes
responsveis pela violncia letal
praticada no Pas.
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Contrapondo esta percepo
construda, h o dado
(negligenciado) de que a
populao carcerria no Passoma 514.582 indivduos1, e que
os adolescentes privados de
liberdade representam menos de
4% deste total.
29
1 InfoPen, 2011.
CRIMES ENVOLVENDO ADOLESCENTES E ADULTOS
OCORRNCIAS N ADULTOS
Caso Dentista Cinthya de Souza 03
Estupro em van no Rio 04
Crime Champinha 05
Caso Joo Hlio Vietes 04
Caso Marcela Montenegro 02
Caso ndio Galdino 0430
Mais: a observao direta da realidade
revela que, na maioria dos crimes
noticiados, os adolescentes no esto ss
o que aponta para a cooptao e...
31
...para o uso destes como escudos para
encobrir a autoria de atos infracionais
(fenmenos tambm negligenciados).
Faculdade de graa para menor1 1 Sobre bolsa deestudos que teria sidodada pela torcidaGavies da Fielaadolescente queassumiu a morte degaroto boliviano,lanando suspeitassobre a autoria do ato echamando a atenosobre o fenmeno douso de garotos/as comoescudos (Folha deS.Paulo, 07/03/13).
A partir desse enquadramento noticioso
tambm constri-se a mentalidade de que:
a) os adolescentes so mais agressores
que vtimas da violncia letal praticadano Brasil, e
b) os mortos tm o perfil de Joo Hlio
Vietes e Victor Deppman: classe mdia,
brancos, com todos os direitos
garantidos desde o nascimento...32
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Um total de 8.600 crianas e
adolescentes foram assassinados
no Brasil em 20101, sem que o
noticirio registrasse a indignaodemonstrada em relao
aos casos em foco.
33
1 Mapa da Violncia2012.
34
1 Mapa da Violncia2012.
Perfil dos mortos1
Jovens do sexo
masculino, negros,moradores de bairros
perifricos, com baixa
escolaridade.
Seus sobrenomes:
Silva, Santos...
Outro sentido construdo a
partir desse modo noticioso o
de que os adolescentes esto
ficando cada vez mais perigosos,cometendo crimes mais graves.
35
A violncia creditada aos adolescentes
no tem aumentado.
Pelo contrrio: entre 2002 e 2011,
houve reduo1 nos casos de:Homicdio (de 14,9% para 8,4% do
total de atos infracionais).
Latrocnio (de 5,5% para 1,9%).
Estupro (de 3,3% para 1%).
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1 SDH, 2011.
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Mais: o recente Levantamento
Nacional do Sistema Socioeducativo1
ratifica que a maioria dos atos
infracionais no contra a vida:
38,1% so roubo.
26,5%, trfico de entorpecentes.
8,4%, homicdio.
5,6%, furto.
37
1 SDH, 2011.
O debate sobre as regras de
responsabilizao dos
adolescentes em conflito com a
lei restringe-se praticamente legislao que as
regula, ignorando o sistema e os
poderes responsveis por sua
aplicao.
39 40
TEMTICA MAJORITRIA DA NARRATIVAX BLOCOS DE VECULOS
FOCO DO TEXTO NAC REG REV TV TOTAL
Marco legal, idade penal 58.3% 61.3% 53.3% 80.0% 59.8%
Grupamento em geral 13.6% 12.6% 13.3% 0.0% 12.9%
Ato infracional especfico 9.1% 3.4% 13.3% 20.0% 7.0%
Violncia na adolescncia 8.3% 5.0% 6.7% 0.0% 6.6%
Violncia em geral 3.8% 6.7% 13.3% 0.0% 5.5%
Medidas socioeducativas 3.8% 8.4% 0.0% 0.0% 5.5%
Sistema de Justia Juvenil 0.8% 0.0% 0.0% 0.0% 0.4%
SGD1 0.0% 0.8% 0.0% 0.0% 0.4%
Polticas pblicas 0.8% 0.0% 0.0% 0.0% 0.4%
Indicadores de violncia2 0.0% 0.8% 0.0% 0.0% 0.4%
Outros 1.5% 0.8% 0.0% 0.0% 1.1%
TOTAL 100% 100% 100% 100% 100%
2 Cometidas por econtra adolescentes.
1 Sistema de Garantiade Direitos.
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A mensagem emitida pela cobertura
a de que o problema est nos
marcos legais brasileiros, que no
preveem o enfrentamento dacriminalidade e a punio dos
adolescentes que cometem atos
infracionais.
41
O ECA1 prev seis tipos de medidas
socioeducativas para adolescentes em
conflito com a lei:
Advertncia.
Obrigao de reparar o dano.
Prestao de servio comunidade.
Liberdade assistida.
Semiliberdade.
Internao (privao de liberdade).
42
1 Estatuto da Crianae do Adolescente.
Tanto quanto o ECA, a legislao que
orienta a execuo das medidas
socioeducativas (lei do Sinase1)
responde aos parmetros
internacionais.
Como demonstrado em diversos
estudos, oproblema no est nos
marcos legais, mas em sua aplicao
ou, na verdade, em sua no aplicao.
43
1 Sistema Nacional deAtendimentoSocioeducativo.
Na maioria dos estados brasileiros, o
Sistema Nacional de Atendimento
Socioeducativo ainda precisa ser
ajustado s normas da lei. Verificam-se:Ausncia de polticas de educao e
ressocializao, e
Violncias graves contra os internos1.
44
1 ANCED, 2010.
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Uma evidncia extrema desta
realidade adversa: levantamento
constatou a ocorrncia de nada
menos do que 73 homicdios contrainternos das unidades de privao
de liberdade de 11 estados
brasileiros, entre 2007 e 20101.
45
1 ANCED, 2010.
No obstante os inmeros
problemas flagrados, verificam-se
avanos significativos na gesto e
no funcionamento do sistema1
verdades tambm ignoradas pelo
noticirio analisado pela ANDI.
46
1 ANDI, 2012b.
Desde o Caso Joo Hlio, a
legislao sobre as regras de
responsabilizao dos adolescentes
em conflito com a lei avanou1; o
sistema de atendimento
socioeducativo, idem. O noticirio
sobre o assunto, no2.
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1 ANDI, 2012b.
1 ANDI, 2012a.
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Atribuir diretamente ao Estatuto da
Criana e do Adolescente a pretensa
impunidade dos adolescentes em
conflito com a lei, bem como os ndicesde reincidncia na prtica de delitos,
abrindo mo de problematizar a no
aplicao da lei.
50
ARGUMENTOS PR MUDANAS NAS REGRASX BLOCOS DE VECULOS1
ARGUMENTOS NAC REG REV TV TOTAL
J teriam condies deresponder por seus atos
20.5% 16.0% 26.7% 0.0% 18.5%
Conscincia da impunidadeaumenta infraes
7.6% 12.6% 13.3% 40.0% 10.7%
Se podem exercer direitos apartir dos 16, devemresponder criminalmente
6.8% 11.8% 26.7% 0.0% 10.0%
Adultos os usam para aprtica de crimes, por sereminimputveis
12.1% 5.9% 20.0% 0.0% 9.6%
ECA diretamenteresponsabilizado peloaumento da criminalidade
9.8% 5.9% 13.3% 40.0% 8.9%
Outro 5.3% 0.0% 0.0% 0.0% 2.6%
No menciona 53.8% 63.9% 26.7% 40.0% 56.5%
1 Varivel permite
mltipla marcao.
Ao reproduzir, de modo acrtico, o
senso comum, o noticirio no
apenas reflete, mas constria ideia
de que a reincidncia e a (pretensa)
impunidade do adolescente autor de
ato infrancional so geradas pela lei
o que enfraquece o debate sobre a
necessidade de sua implementao.
51
A reincidncia entre adolescentes no se
deve ao ECA, mas ao descaso da
administrao pblica, que no investe
em programas que possibilitem a incluso
social do autor de ato infracional.
A inadequao dos programas em meio
aberto e dos centros de internao o
expe ainda mais criminalidade e ao
desrespeito aos seus direitos1. 1 Ilanud
52
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E apesar das falhas da administrao
pblica, as taxas de reincidncia no
sistema de atendimento socioeducativo
so muito menores que no sistemaprisional:
Em 2010, na Fundao Casa, a
reincidncia foi de 12,8%1.
No sistema prisional, foi de 60%.
53
1 Fundao CASA, 2010.
O percentual de 12,8% de reincidncia da
Fundao Casa ganha maior significado
comparando-se com ndices anteriores:
em 2009, era de 13,5%; em 2006, 29%1.
A queda sucessiva foi consequncia da
descentralizao do atendimento, como
determinam o ECA e o Sinase o que
aponta para a efetividade dos marcos
legais em vigor.
54
1 Fundao CASA, 2010.
-clube que est1
O presdio de baixa-segurana da ilha
de Bastoy, na Noruega, conseguiu
alcanar a menor taxa dereincidncia criminal do mundo.
Apenas 16% dos que cumpriram
pena em Bastoy voltam ao crime; no
Brasil, o ndice ronda os 70%.
55
1 Revista Samuel,
abril de 2012.
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Circunscrio da problemtica dos
adolescentes em conflito com a lei
ao do sujeito, ignorando o contexto
de produo do fenmeno enegligenciando o debate sobre
polticas pblicas para este
grupamento.
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ARGUMENTOS PR MUDANAS NAS REGRASX BLOCOS DE VECULOS1
ARGUMENTOS NAC REG REV TV TOTAL
J teriam condies deresponder por seus atos
20.5% 16.0% 26.7% 0.0% 18.5%
Conscincia da impunidadeaumenta infraes
7.6% 12.6% 13.3% 40.0% 10.7%
Se podem exercer direitos apartir dos 16, devemresponder criminalmente
6.8% 11.8% 26.7% 0.0% 10.0%
Adultos os usam para a prticade crimes, por sereminimputveis
12.1% 5.9% 20.0% 0.0% 9.6%
ECA diretamenteresponsabilizado peloaumento da criminalidade
9.8% 5.9% 13.3% 40.0% 8.9%
Outro 5.3% 0.0% 0.0% 0.0% 2.6%
No menciona 53.8% 63.9% 26.7% 40.0% 56.5%
1 Varivel permite
mltipla marcao.
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2 Cometidas por e
contra adolescentes.
TEMTICA MAJORITRIA DA NARRATIVAX BLOCOS DE VECULOS
FOCO DO TEXTO NAC REG REV TV TOTAL
Marco legal, idade penal 58.3% 61.3% 53.3% 80.0% 59.8%
Grupamento em geral 13.6% 12.6% 13.3% 0.0% 12.9%
Ato infracional especfico 9.1% 3.4% 13.3% 20.0% 7.0%
Violncia na adolescncia 8.3% 5.0% 6.7% 0.0% 6.6%
Violncia em geral 3.8% 6.7% 13.3% 0.0% 5.5%
Medidas socioeducativas 3.8% 8.4% 0.0% 0.0% 5.5%
Sistema de Justia Juvenil 0.8% 0.0% 0.0% 0.0% 0.4%
SGD1 0.0% 0.8% 0.0% 0.0% 0.4%
Polticas pblicas 0.8% 0.0% 0.0% 0.0% 0.4%
Indicadores de violncia2 0.0% 0.8% 0.0% 0.0% 0.4%
Outros 1.5% 0.8% 0.0% 0.0% 1.1%
TOTAL 100% 100% 100% 100% 100%
1 Sistema de
Garantia de Direitos.
Ao priorizar a perspectiva
individual e o ato violento, o
noticirio constri a ideia de que a
soluo para a problemtica
restringe-se represso ao sujeito,
em detrimento de medidas
preventivas e estruturais.
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Como questiona um especialista,
forte associao entre
delinquncia e contexto de
socializao, como argumentar que
marginalidade e querer
responsabilizar individualmente o
(Tulio Kahn, doutor em cincia poltica pela USP)
61 62
Apesar de a anlise haver identificado
uma evidente hegemonia no noticirio,
no mesmo perodo foi possvel observar a
veiculao de matrias que apontam parao contexto de produo do fenmeno.
o caso da narrativa registrada a seguir,
da Revista Samuel, que expe, ainda,
o carter ideolgico da poltica de
encarceramento.
63
perptua so negros, pobres e vtimas de1
79% presenciou violncia domstica.
Metade sofreu agresso fsica (80%entre as garotas).
Um em cada cinco sofreu violnciasexual (77% das meninas foramestupradas). 1 Revista Samuel,
abril de 2013.
Os jornalistas reproduzem acriticamente
o argumento de que os adolescentes de
16 anos devem responder criminalmente,
porque sabem o que fazem, uma vez que
podem votar.
Entretanto, omitem o fato de que:
O voto para eles facultativo, e
Eles podem votar, mas no podemser votados.
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A cobertura tambm tende a negligenciar
as especificidades desse
grupamento, cientificamente
no um rascunho de um crebro adulto.
Ele foi primorosamente forjado por nossa
histria evolutiva para ter caractersticas
diferenciadas do crebro de crianas e de
adultos
(Jay Giedd, National Institute of Mental Health, 2011)65
A imprensa tambm pouco debate as
recomendaes tcnicas contrrias ao
trata de sua [dos adolescentes]capacidade de entendimento, e sim da
inconvenincia de submet-los ao
mesmo sistema reservado aos adultos,
(Tulio Kahn, doutor em cincia poltica pela USP)
66
68
A maioria dos jornalistas costuma
enfocar a cena do ato infracional
e a apreenso do adolescente,
negligenciando os desdobramentos
legais e a imposio de medidas
socioeducativas.
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TEMTICA MAJORITRIA DA NARRATIVAX BLOCOS DE VECULOS
FOCO DO TEXTO NAC REG REV TV TOTAL
Marco legal, idade penal 58.3% 61.3% 53.3% 80.0% 59.8%
Grupamento em geral 13.6% 12.6% 13.3% 0.0% 12.9%
Ato infracional especfico 9.1% 3.4% 13.3% 20.0% 7.0%
Violncia na adolescncia 8.3% 5.0% 6.7% 0.0% 6.6%Violncia em geral 3.8% 6.7% 13.3% 0.0% 5.5%
Medidas socioeducativas 3.8% 8.4% 0.0% 0.0% 5.5%
Sistema de Justia Juvenil 0.8% 0.0% 0.0% 0.0% 0.4%
SGD1 0.0% 0.8% 0.0% 0.0% 0.4%
Polticas pblicas 0.8% 0.0% 0.0% 0.0% 0.4%
Indicadores de violncia2 0.0% 0.8% 0.0% 0.0% 0.4%
Outros 1.5% 0.8% 0.0% 0.0% 1.1%
TOTAL 100% 100% 100% 100% 100%
2 Cometidas por e
contra adolescentes.
1 Sistema de
Garantia de Direitos.
70
A nfase no ato infracional e o
desprezo pelos processos de
responsabilizao estabelecidos na
legislao vigente alimentam amentalidade de que os adolescentes
podem praticar crimes vontade, pois
no so punidos, ou tm punio leve.
idade (que na verdade ainda
psicologicamente uma criana) que
comete atos infracionais (crimes) pode
ser internado (preso),processado,sancionado (condenado) e, se for o caso,
cumprir a medida socioeducativa (pena)
em estabelecimentos educacionais, que
so verdadeiros presdios
(Jos Heitor dos Santos, Promotor de Justia em SP)
71 72
A
reclamada nos veculos de imprensa ,
na verdade, a sensao de impunidade,
alimentada e amplificada pelo prprio
campo da comunicao o que expe a
contribuio miditica na construo da
percepo da sociedade brasileira sobre
o fenmeno dos adolescentes em
conflito com a lei.
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Como alertado por tericos da
parea ser simplesmente descritiva,pode funcionar [...] como performativa,
na medida em que sua repetida
enunciao pode acabar produzindo
1.
(Tomaz Tadeu da Silva)73
1 SILVA, 2000.
Conscientes da influncia do campo
simblico na construo de realidades,
os legisladores que elaboraram o ECA
recusaram os conceitos usados nocontrato penal destinado a adultos.
Dessa forma, buscaram distanciar o
sistema destinado responsabilizao
dos adolescentes de um modelo
repressivo comprovadamente falido.
74
A construo da sensao de
impunidade, porm, foi mais veloz do
que a construo de mentalidade e
dispositivos (como o Sinase) necessrios
ao estabelecimento de um sistema de
responsabilizao e reeducao
eficiente, pautado pelo respeito
incondicional aos direitos humanos.
75
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Parte considervel do noticirio
analisado limita-se praticamente
defesa de mudanas na legislao
que regula as regras deresponsabilizao, sem
problematizar sua (no) aplicao.
77 78
POSIO DA NARRATIVA EM RELAO LEIX BLOCOS DE VECULOS
POSIO NAC REG REV TELEJ TOTAL
Favorvel a mudanas 43.2% 31.9% 66.7% 40.0% 39.5%
Contrria a mudanas 25.0% 38.7% 20.0% 20.0% 30.6%
No emite opinies.Descreve o tema
16.7% 12.6% 6.7% 20.0% 14.4%
Favorvel e contrria.Peso p/ 1 opo
8.3% 6.7% 6.7% 20.0% 7.7%
Favorvel e contrria.Peso p/ 2 opo
5.3% 6.7% 0.0% 0.0% 5.5%
Favorvel e contrriana mesma proporo
1.5% 3.4% 0.0% 0.0% 2.2%
TOTAL 100% 100% 100% 100% 100%
O volume de informao desse
tipo gera na sociedade a sensao
de que a soluo para a
criminalidade simples e resume-
se ao aumento da represso e ao
endurecimento da legislao.
79
agravamento de pena no diminuem
violncias. Exemplo: a Lei dos Crimes
Hediondos, que pretendia diminuir
incidncia no mundo adulto (o nmero
de crimes praticados e a superlotao
das cadeias so indicadores da1.
(Instituto Recriando, Rede ANDI Brasil) 1 Ilanud
80
-
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A reduo da idade penal a principal
mudana defendida nos diversos
blocos de veculos analisados
exceo dos jornais de circulaoregional, que focam majoritariamente
a manuteno da atual regra.
82
83
MUDANAS PROPOSTAS NAS REGRASX BLOCOS DE VECULOS
MUDANA NAC REG REV TV TOTAL
Reduo da idade penal 45.5% 28.5% 46.7% 20.0% 37.6%
Manuteno da idadepenal
24.2% 35.3% 6.7% 20.0% 28.0%
Meno pontual ao tema 15.9% 18.5% 0.0% 20.0% 16.2%
Aumento do tempo deinternao
6.1% 9.2% 20.0% 20.0% 8.5%
No foi possvel identificar 6.8% 5.9% 20.0% 0.0% 7.0%
Outro 1.5% 2.5% 6.7% 20.0% 2.6%
TOTAL 100% 100% 100% 100% 100%
O sentido construdo com esse
volume de informao o de que
somente com a diminuio da
idade penal e o encarceramento
de adolescentes haveria uma
diminuio da violncia nessa
faixa etria.
84
-
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encarceramento nos EUA subiram 65%,
mas, em Nova Iorque, elas caram 28%.
Assim, a cidade norte-americana queapresentou os melhores resultados na
reduo do crime e da violncia foi
aquela que menos empregou as penas
de priso
(Thomas Rogers, 2011)
85
Em outra narrativa miditica atpica,
noticiada a inteno do governo
1, sinalizando paraa efetividade de polticas preventivas
de violncias e criminalidades
perspectiva ignorada pelo noticirio
analisado, apesar dos alertas de
especialistas, como veremos.
86
1 Revista Samuel,
Junho de 2013.
No enfrentamento ao racismo, a
mentalidade paralisante era a de que
existia um passivo muito grande para
ser confrontado com celeridade o
que as polticas de cotas vm
contradizendo.
87
Em relao aos adolescentes em
conflito com a lei, a tendncia
invertida: o argumento da
urgncia que interdita o debate
sobre polticas pblicas capazes de,
efetivamente, enfrentar a
problemtica.
88
-
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E se em relao ao racismo a
mentalidade impedia o efetivo
enfrentamento da questo, no
debate em foco, a percepoconstruda no sparalisa a ao
preventiva, como estimula a
adoo de medidas que tendem a
agravar o fenmeno da violncia.
89
A problemtica das drogas (e sua
poltica de enfrentamento no Brasil)
ilustra com preciso o risco de
agravamento do fenmeno daviolncia que a reduo da idade
penal acarreta.
90
O nmero de adolescentes
cooptados pelo trfico de drogas
vem crescendo, impulsionado
nitidamente por dois fatores:
a) As condies socioeconmicas
dos cooptados, e
b) A propaganda enganosa da
impunidade do grupamento.
91
no narcotrfico tambm merece
Crianas no narcotrfico1
92
1 OIT, 2002.
destaque a mdia caiude entre 15 e 16 anos no
incio dos anos 90 para
entre 12 e 13 anos no
ano 2000
-
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Seguindo a tendncia da cooptao,
a quantidade de adolescentes
apreendidos por envolvimento no
trfico de drogas vem aumentandovertiginosamente.
Em sentido inverso, o nmero de
internos por roubo vem diminuindo.
93
1 Folha de S.Paulo,
maio de 2003.
1
1 Folha de S.Paulo,
maio de 2003.
1
96
1
1 Folha de S.Paulo,
agosto de 2013.
-
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97
1
2002 2011 Variao
SP 5,8% 39,6% 33,8%
ES 1,7% 24,4% 22,7%
MG 1,9% 23,3% 21,4%
BA 2% 22,9% 20,9%
RS 0,9% 21,6% 20,7%
Brasil 7,5% 26,6% 19,1%
Jovens cumprindo medida deprivao de liberdade por trfico
1 Folha de S.Paulo,
agosto de 2013.
98
1
1 Folha de S.Paulo,
agosto de 2013.
Distante da mentalidade do Estado
holands, que privilegia polticas
preventivas para enfrentar a questo das
drogas, o Estado brasileiro vem
provocando o inchao do Sistema de
Justia Juvenil o que diminui
significativamente as chances de
desenvolvimento pleno da cidadania dos
adolescentes cooptados para esse ilcito.
99 100
E esta poltica implementada sem a
necessria problematizao no debate
travado por/nos meios de comunicao
analisados, focado no senso comum,
que ignora, por exemplo, o fato de que
crime hediondo no [s] o crime
1. 1 IDECRIM, 2011.
-
7/25/2019 estudo: Coberutra miditica de aspectos relacionados reduo da maioridade penal
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Um senso comum que tambm
ignora a superlotao do sistema
carcerrio, em funo desta
poltica, e clama pela insero deindivduos cada vez mais novos
nesta escola de violncias
e crimes.
101
Como alertam os especialistas,
contribuir para aumentar ainda mais
a criminalidadedentre outros indicadores, pela taxa
de reincidncia no sistema carcerrio,
1.
102
1Tulio Kahn.
Negligenciadas pelo noticirio em
foco, tais ponderaes apontam, de
modo inequvoco, para as
consequncias nefastas da reduo
da idade penal no s para os
adolescentes cooptados para ilcitos,
mas para a sociedade em geral.
103
-
7/25/2019 estudo: Coberutra miditica de aspectos relacionados reduo da maioridade penal
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Enfim, as 7 tendncias quantificadas
pelo estudo da ANDI convergem
para caracterizar, no noticirio
analisado, uma tendncia geral dedefesa da reduo da idade de
imputabilidade penal.
105
Sendo a imprensa uma das mais
respeitadas instituies do mundo
contemporneo, a defesa repetida
da reduo da idade penal gera nasociedade brasileira a ideia de uma
medida tecnicamente
inquestionvel e, portanto,
universalmente adotada.
106
A maioria dos pases desenvolvidos
rejeita esta soluo, considerando
imputveis os indivduos com 18
anos ou acima (83,2% das
legislaes pesquisadas), como
veremos a seguir.
107
DEFINIO DE ADULTO N %
Homem 16 anos ou acima; mulher 18 ou acima 1 1,7
Pessoa 15 anos ou acima 3 5,2
Pessoa 16 anos ou acima 4 7,0
Pessoa 17 anos ou acima 2 3,5
Pessoa 18 anos ou acima 35 61,4
Pessoa 19 anos ou acima 3 5,2
Pessoa 20 anos ou acima 3 5,2
Pessoa 21 anos ou acima 4 7,0
Pessoa 21 anos ou acima, ou pessoa casada 1 1,7
Pessoa responsvel 18 anos ou acima 1 1,7
TOTAL1 57 100,0
1 O total refere-se a
57 legislaes de
55 pases.
108
Fonte: Crime Trends /
ONU.
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Com exceo de Estados Unidos e
Inglaterra, os pases pesquisados que
consideram adultos menores de 18
anos so considerados pela ONUcomo de mdio ou baixo ndice de
Desenvolvimento Humano (IDH).
109
Fonte: Crime Trends /
ONU.
Diante de tantas e to contundentes
evidncias que apontam para um
noticirio em grande parte distorcido,
que no encontra respaldo nos dados
da realidade, da esfera tcnico-
cientfica ou da comunidade
internacional resta questionar o
porqu desse modo de operao.
111
imperativo que o campo da
comunicao reflita sobre o assunto,
porque quaisquer que sejam os vetores
que moldam esse tipo de noticirio, ele
distancia-se demasiadamente da
prtica jornalstica que legitima e d
credibilidade instituio imprensa.
112
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7/25/2019 estudo: Coberutra miditica de aspectos relacionados reduo da maioridade penal
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Ainda que esse tipo de noticirio
esteja sendo construdo de modo
automatizado, a partir de rotinas
produtivas naturalizadas, ele carregaideologias que podem levar a graves
retrocessos no mbito dos direitos
no apenas dos adolescentes em
conflito com a lei, mas da sociedade
brasileira como um todo.
113
Entretanto, importante no perder
de vista que o campo do jornalismo
no um bloco homogneo, e sim
um ecossistema complexo, compostopor diferentes nveis de poderes,
prticas e estratgias
comunicacionais.
114
Assim, apesar da tendncia
homogeneizante do noticirio, h
diferenas nos discursos emitidos,
em decorrncia desses variados
nveis de poderes, prticas e
estratgias de comunicao.
115
O carter multidimensional e
multifacetado do campo
miditico evidenciado na
Parte II dos documentos-sntese
da anlise realizada pela ANDI,
que estuda mais a fundo o perfil
de cada veculo.
116
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Para alm da responsabilidade
profissional e da preciso tcnica,
necessrio que o campo da
comunicao miditica no percade vista a perspectiva tica.
118
Deste modo, legtimo que se
pergunte que tipo de sociedade a
imprensa deve ajudar a construir.
A que convive com limiares altosde tolerncia a
violncias, extraordinariamente
alimentados pelo debate sobre
como violentar os que violentam?
119
Ou uma sociedade que rejeite
qualquer atentado contra a vida
humana, buscando maneiras de evitar
tanto os atos dos que violentam em
nome da prpria (miservel) condio
humana quanto os daqueles que
violentam os que violentam, em nome
da segurana da sociedade?
120
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