estudo brasileiros 2 - ronald de carvalho

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    RONALD DE CARVALHO

    ESTUDOSBRASILEIROS

    2? SRIE

    F. BRIGUIET & Cia. - EditoresR. S. JOS, 38 Rio de Janeiro1931

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    ESTUDOS BRASILEIROS2. SERIE

    *V*

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    OBRAS DE RONALD DE CARVALHOPOESIA

    Lua Gloriosa, 1913 (esgotado).Poemas e Sonetos, 1. edio, 1919. 2. edio, 1922.Epigrammas Irnicos e Sentimentaes, 1.* edio, 1922.2.* edio, 1925. /toda a America, 1.* edio, 1926.Jogos Pueris, 1926 (esgotado).PROSA

    Pequena Historia da Literatura Brasileira, 1.' edio,1919. 2/ edio, 1922. 3. edio, 1925. 4. edio, 1929.O Espelho de Ariel, 1922 (esgotado).Estudos Brasileiros, 1. serie, 1924. 2.* edio, 1930.Imagens do Mxico, 1929.Estudos Brasileiros, 2.* serie, 1931.A APPABECEB

    Estudos Brasileiros, 3.* serie.O Claro Riso dos Modernos.Bbelais e o Riso do Renascimento.Conferncias.O Imprio do Brasil e a Independncia do Urvg%ay.A Misso de Lord Strangford na C&tte do Rio deJaneiro (1808-1816).Itinerrio.

    OBRAS TRADUZIDASToda Ia America, verso espanhola e prefacio deFrancisco Villaespesa. Alejandro Pueyo. Ma-

    drid, 1930.Historia de Ia Literatura Brasilena. Tradaco eprlogo de F. Villaespesa. Alejandro P u t j o .Madrid, 1931. 2 volumes.

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    ESTUDOS BRASILEIROS2. SERIE

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    OBRAS DE RONALD DE CARVALHOP O E S I A

    Luz Gloriosa, 1 9 1 3 ( e s g o t a d o ) .Poemas e Sonetos, 1 / ed io, 1919 . 2.* edio, 1922 .Epigrammas Irnicos e Sentimentaes, 1.* edio, 1922.2.* edio, 1925. 'Toda a America, 1. ' edio, 1926.Jogos Pueris, 1926 (esgo tado ) .P R O S A

    Pequen a Historia da Literatura Brasileira, 1.* edio,1919 . 2 .' edio, 1922. 3.* edio, 1925. 4. edio, 1 9 2 9 .0 Espelho de Ariel, 1 9 2 2 ( e s g o t a d o ) .Estudos Brasileiros, 1.* ser ie , 1924. 2.' edio, 1930.Imagens do Mxico, 1 9 2 9 .Estudos Brasileiros, 2." serie , 1931.A APPARECEB

    Estudos Brasileiros, 3.* ser ie .O Claro Riso dos Mo dernos.Babelais e o Riso do Benascim ento.Conferncias.O Imprio do Brasil e a Independeneimo Uruguai.A Misso de Lord Strangford na Corte do Rio deJaneiro ( 1 8 0 8 1 8 1 6 ) .Itinerrio.O B R A S T R A D U Z I D A S

    Toda Ia America, verso espanhola e prefacio deFrancisi-o V i l l a e s p e s a . Alejandro Pueyo. Ma-dr id , 1930.Historia de Ia Literatura Brasilenu, Trnduco eprlogo do F . Vil laespesa . Alejandro Pueyo .Madrid, 1931. 2 volumes.

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    RONALD DE CARVALHO

    E s t u d o sB r a s i l e i r o s2? SERIE

    Graa Aranha, Guilherme de Almeida,Felippe D'01iveira, Ribeiro Couto, Raul deLeoni, Agrippino Grieco, TristSo deAthayde, Renato Almeida, Alberto Rangel,Tristo da Cunha, Matheus de Albuquerque.Affoneo Arinos, Jackson de Figueiredo,Mario de Andrade.Theoria do Romance. Ensaio sobreEsthetica Moderna

    F. BRIGUIET & Cia. EditoresR. S, JOS, 38 Rio de Janeiro1931

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    POLYPTICO DE GRAAARANHA

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    MACHADO DE ASSIS E JOAQUIMNABUCO JULGADOS PORGRAA ARANHA

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    Sobre a correspondncia e n t r e J o a q u i mNabuco e Machado de Ass is , que a fam l ia donobre d ip lomata e e s t ad i s t a re so lveu da r es t ampa , e sc reve Graa Aranha , em a d m i r ve l p re fac io , a lgumas pag inas que devem se rpesadas e med i t adas pe los homens novos doB r a s i l .Graa Aranha tem o pr iv i leg io em nossopa iz , de no pe r t ence r exc lus ivamen te suagerao , de no se haver es t ra t i f icado na rocha ine r t e dos p reconce i to s de um momentod e t e rmi n a d o , c o mo a g e n e ra l i d a d e d o s n o s sos escr ip tores , com excepo de um Joo Ri be i ro e pou cos m ais . Seu esp i r i to possue af re scu ra das guas l iv res e e te rnas , po is , notu rb i lho das fo rmas encon t radas , sabe o r i en t a r - s e g e n e ro s a me n t e , " d o mi n a n d o a matriaun ive rsa l " Graa A ran ha , em s i m esm o,na l a rga expanso do seu rythmo cr iador , om a i s bello espec tacu lo da in te l l igencia bras i le i ra c o n t e m p o r n e a . E ' o nico h o m e m ,ent re ns , que v ive rea lmente as suas idas ,que as represen ta , que vae , por e l las , ao encont ro do sacr i f ic io , que no as esconde , por

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    1 0 ESTUDOS BRASILEIROSt emor ou ca lcu lo , e as j o g a , a p a i x o n a d a m e n te , n o t u mu l t o d a s c o u s a s .D e s d e o " C h a n a a n " , a s u a t r a j e c t o r i a u m s m p e t o . m p e t o d e e n e rg i a , d e fo r aconcen t rada , que no se desv ia do ob jec t ivo ,e no diminue a ve loc idade in i c i a l , pa ra conse rv a r i n t ac t a a ve loc idade re s t an te . Ne l l e ,o a r t i s t a se desd obra no po l t i co . P a r e aembora , a r t i f i c io so , nem por i s so se r menos ve rdade i ro t a l ju i zo . F i lho do no r t e doBras i l , descenden te , po r t an to , da a r i s toc rac i aque fo rmou o e sque le to da nossa raa , quelhe deu resistncia e so l idez , no poder ia seuinconsc ien te des l iga r - se dos e l emen tos imper a t i v o s q u e o g e r a r a m . O q u e n o s d e p a raa sua obra no somente a p e n e t r a o e s -the t i ca , mas tambm a f , no apenas oes ti lo , m as a i r ra d ia o do gnio po l t i co .A p e s a r d a a d m i r a o literria que lhevo ta , no pde G r a a A r a n h a n u t r i r a r d e n t es y mp a t h i a p e l o d e s e n c a n t a d o e n g e n h o d eM acha do de As s is . A inde c iso , a t imid ez , odesconsolo fcil dos que se con ten tam comas ra zes amargas da ex p e r i n c i a , o t emor , are s ignao , o e span to da rea l idade , e i s o queelle c o n d e m n a e r e p e l l e . G ra a A ra n h a t e mh o r r o r a o s q u e n e g a m . A R e n a n , a F r a n c e ,a Thackeray , a Ar i s tophanes . So e sses o sque ma i s fac i lmen te se submet t em, os que

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    ESTUDOS BRASILEIROS 1 1s e a l i me n t a m d a q u e l l a desarticulada i ron ia ,m a i s h u m i l h a n t e q u e a e s c r a v i d o .

    "O humorismo e o sa rcasmo so cousasp a s s a g e i r a s . Pe r t e n c e m a u m a p o c a, v o- sec o m e l l a s . . . A s o r t e d o s e s c r ip t o r e s h u m o r i s tas p r e c r i a . S pelo gnio se l i be r t amdo esq uec im en to . Ou s vezes o a ssum ptoq u e m a n t m impereciveis as obras sa t r icaso u h u mo r s t i c a s . Se o t h e a t ro d e A r i s t o p h a -nes a in da nos in te r essa n o pe lo qu e hanelle de s t i r a , ma s p o rq u e o a s s u mp t o asoc iedade de uma Grcia i m m o r r e d o u r a e o sp e r s o n a g e n s s o Scrates e ou t ros da mesmap r o j e c o . N a s stiras de Juvena l re f l ec t em-se os cos tumes de Roma: so documen tos dah i s to r i a i n t ima de uma g rande c iv i l i zao .Vo l t a i re no enve lhece no "Cand ide" e no" In g n u " , p o rq u e a stira de o rdem t ogera l e t o humana , t o p ro funda e t o f re s ca sob re tudo , que uma a l e g r i a p e rma n e n t e .Swift tambm allia ao seu "humour" u m a s t i r a t o gen ia l e p i t t o resca que a e t e rn i za .Ao passo que mi l ou t ros humor i s t a s f o r a m -se, c o mo T h a c k e ra y c o m a s u a f a mo s a " V a -n i ty F a i r " . E ' de rece i a r que o m esm o acont ea com Ea de Que i roz , cu jo humor i smo de uma cer ta poca , de uma cer ta te r ra , deu m a ce r t a ge n te . N o se r en tend ido emou t ra poca , em ou t ra s t e r r a s e po r ou t ra sg e n t e s . O esp i r i to de M achad o de Ass is

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    1 2 ESTUDOS BRASILEIROSma i s g e ra l , ma i s h u ma n o , p o r m, n o t o i n t enso qu e p e r d u re . s vezes , f a l t a - lhe g raaao "humour" e nada ma i s mor t fe ro que a in -s i p i d ez . U m t i t u l o c o mo " D o m C a s mu r ro "t raz a p re t enso de impress iona r i ron ica m en te , m as sem sabor , n o faz r i r nemc h o ra r . "A i ron ia o pudor do en thus i a smo , ot e mo r d e e s p e rd i a r a v i d a . G ra a A ra n h adesp resa aque l l a a rma de soph i s t a . Seu e sp i r i t o um ins t rumen to de aco . A 'Estheticada Vida" um conse lho pa ra c r i a r , pa ra t rans fo rmar a subs t anc ia da rea l idade em va lo resa f f irma t ivos e p r t i c os . P o r que prticos?p e r g u n t a r o . P o r q u e elle faz da von tade oeixo de todo o seu sy ste m a. Qu e o " C h a -naan" , po r exemplo , se no o poema da vont ade ? Ha , a l i, um a ra a am ea ad a , co lh idade improv i so , na phase embryonar i a dos p r i me i ros ca ldeamen tos , po r e l emen tos pe r tu r b a d o re s d a s u a fo rm a o n o rm a l . D o p r pr io pe r igo , en t re t an to , saem a s a r m a s p a r ac o mb a t e l -o . O art is ta no se sat isfaz com aplas t ic idade inf in i ta do espec tacu lo un iversa l , mas in te rvm nes te , a cada passo , p lasma-o vo lup tuosamen te , sonda-o , pene t ra - lheos segredos m ais n t im os , a t sobrepu ja l -o ,t r a n s fo rma n d o -o n u m i n s t ru me n t o c a p a z d eobedecer s energ ias que o devem di r ig i r .

    Ha , no " C h a n a a n " como na 'Tavola R e-

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    ESTUDOS BRASILEIROS 1 3d o n d a " , n a " C a n o d e R o l a n d o " o u n a " D i v ina Comedia" , a lm do in te resse a r t s t ico ,u m fu n d a me n t a l p ro b l e ma h u ma n o e s o c i o lg ico . Desenha-se , a l i , o conflicto do homem an t igo , p reso a ca t egor i a s moraes e re l i g iosas , com o homem moderno , ac ima dobem e do ma l , p roduc to a inda in fo rme dasmassas vo lve i s , em busca de novas fo rmula s de f ixa o . A m ora l ida de dessa fbulat ranscendente c la ra , a mesma que se encon t ra na "E s the t i ca da Vida" , a m esm adesse t o p ro fundo quan to incomprehendido"Malaza r t e" : vence r a na tu reza pe l a in t e l l i -genc ia . Ora , es t aqu i a supe r io r idade man i fes ta de Graa Aranha sobre todos os nossos escr ip tores de f ico . O a l imento do seuestilo a prpria vi d a . Seu es t ilo n o sebase i a na ossa tu ra r i j a do rac ioc n io nem nac a rn e p a l p i t a n t e d a i m a g i o . E q u i l i b r a - s eent re esses do is fac tores , rea l izando o mi lag re de uma a r t e que , ao mesmo t empo , ac t i -v a e c o n t e mp l a t i v a .Pa ra no reco r re r a ou t ra s fon tes , bas t a ,a f im de apo ia r a s minhas cons ide raes , r e ve la r ce r t a s passa gens desse p re fac io m enc ionado , em que , por vezes , seu esp i r i to pro-j e c t a , n a r e mb ra n d t e s c a p e n u mb ra q u e a t r a v e s s a mo s , u ma l u z p u ra e p ro mi s s o ra . D e a n -te de Nabuco e Machado de Ass is , Graa Ara-

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    1 4 ESTUDOS BRASILEIROSnh a e squece os ind iv duo s , pa ra ju s t i f i ca r ,pe l a excepo , a reg ra ge ra l ."A essncia i n t e l l ec tua l de Nabuco p ro vm das suas or igens e por i sso que nellese accentua , mais do que o a r t i s ta o pensado r po l t i co . E ' um a t rad i o e sp i r i t ua l queelle conse rva e e l eva a um g r o supe r io r ,a in da que a essa voc ao abs o lu ta se alliea sens ib i l idade -ar t s t ica . El le no fo i a r t i s ta abso lu to e exc lus ivo ; a sua a t t racope la h i s tor ia e o cu l to do pas sa do so m an i fe s t aes de um t emperamen to po l t i co .Nos es tudos histricos N a b u c o c o s i d e ra v a ,sobre tudo , a evoluo soc ia l , a d i rec t r iz pol t ica das soc iedad es . He rdou do pa e o am orda perfeio, o gosto do concei to , a formulaexpress iva e g r a p h i c a , a que e l le a jun tou amodern idade do e sp i r i t o , a cu r ios idade cos mopo l i t a , o sabor da nov idade e o a rdo r ro mntico ."Machado de Ass is no tem h is tor ia defa m l i a . O que se sabe das suas or igens imprec iso ; a vaga e vu lgar f i l i ao , cominte i ra ignorncia d a q u a l i d a d e p s y c h o l o -gica desses pes , dessa h ie rar ch ia , de on dedimana a sens ib i l i dade do s ingu la r e sc r ip to r .E po r isso accentua-se m ais o aspe c to sor-p re h e n d e n t e d o s e u t e mp e ra me n t o r a ro , e d i vergente do que se en tende por a lma bras i le i r a . Ha um encanto nesse m yster io or ig i -

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    ESTUDOS BRASILEIROS 1 5nal , e a b rusca e inexplicvel reve lao dota l en to concor re v igo rosamen te pa ra fo r t i f i car-se o secre to a t t rac t ivo que sen t imos port o e s t r an ho esp i r i t o . De onde lhe vem osenso agu do da v ida ? Que legados de gnio , ou de im ag in a o , recebeu e l le? N in gum sabe . De onde e ssa amargura e e ssede sen can to? De on de esse r i so fa t ig ado ? Deonde a me igu ice? A volpia? 0 p u d o r ? D eonde e sse en jo dos humanos? Essas qua l idades e esses defei tos esto no sangue, noso -adqui r idos pe la cu l tur a i n d i v i d u a l . A expresso psychologica de Machado de Ass is mui to in t ensa pa ra que possa se r a t t r i bu idaao es tudo , observao p r p r i a . "Quere is , agora , a expl icao pol t i ca esociolgica do an tagonismo en t re esses do isg ra n d e s h o me n s d o sculo p a s s a d o ? E n t r eo que , an te o e sc ravo acuado , se commove ese ap ieda , a inda in fan te , na fazenda so la ren -ga, e o que r i do soff r imento humano, e sop ra , como bo lhas de a r , a s a lmas inqu ie t a s?Eil-a :"O h e ro s mo d e J o a q u i m N a b u c o fo i ode sepa ra r - se da a r i s toc rac i a e faze r a abol i o . O hero smo de Machado de Ass is fo iuma marcha inve rsa , da p l ebe a r i s toc rac i ape la a scenso e sp i r i t u a l . Am bos t i ve ram deromper com as suas c l a sses e he ro icamen tea f f i rmar a s suas prprias p e r s o n a l i d a d e s . "

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    1 6 ESTUDO S BRASILEIROSGraa Aranha , no ta - se bem, p re fe re o

    he ro smo de Nabuco ao de Machado de Ass i s . . Po r qu e? P or e s t a r m a i s de acco rd ocom o seu gnio p o l t i c o . O h e ro s mo d eNabuco uma a f f i rmao gene rosa do e sp i r i t o que , numa syn these a r ro jada , submettetodos os factores secundrios ida p r inc i p a l . F az er a abol io , ser ia sa lv ar o Bra s i lmo ra l me n t e , ma s t a l v e z perdel-o m a t e r i a l m en te . Nab uco , en t re t an to , fecha os o lhosaos a rgumen tos econmicos , pa ra s ve r o spsycho log icos . A pa ix o fo i a sua l g i ca .Machado de Assis , ao revs, o here dode sd m . Seu her o sm o o do ser qu e secompara , mas no se cons ide ra . E ' o do ho mem que ana lysa , e a ana lyse uma ope ra o a t rev ida , onde a physionomia das cousasse decompe t r i s t em en te . M achado de Assis veri f ica , e so rr i . A lgica foi a suap a i x o .Graa Aranha v iu nesses do i s he ro smosa p r p r i a tragdia da nac iona l idade , po i s , aambos fa l ta r ia uma condio que se lhe a f i g u ra indispensvel a o h o m e m b r a s i l e i r o : osen t imento da l iberdade inf in i ta , o dese jo dep rovo ca r o des t ino e v ive r pe r igo sam en te .Elles n o quizeram " t r a n s p o r o s b a l u a r t e s d af rel igiosa e da duvida m e t a p h y s i c a . N oforam possu idos da ten tao de ser Deus , nogoza ram a spera volpia de. c r i a r o Un ive r -

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    ESTUDOS BRASILEIROS 1 7so , d e c o m m a n d a r e s e r e m o b e d e ci d o s, d ep e s a r s o b re o s d e s t i n o s h u ma n o s "

    Mais uma vez se observa , aqui , a marcad o h o me m d e a c o , c u j o p e n s a me n t o p ro cu ra conver t e r - se em ac tos , em fo ras quev o f e c u n d a r a r e a l i d a d e .Ningum def in iu me lhor e sse pensamento , t r a n s fo rma n d o - s e e m e n e rg i a c r i a d o ra , d oque o au to r da "Es the t i ca da Vida" nes t a pa g ina , que , s imu l t aneamen te , agua - fo r t e ,pe l a agudez a dos con to rnos , ba ixo re l evo ,p e l o v o l u me d a i ma g e m e s y mp h o n i a p e l oareo r u m o r d o r y t h m o . E ' a l egenda deuma raa , o que se l nes tas l inhas soberanas , onde a h i s tor ia de ixa de ser descr ip ta ,p a ra v i v e r n o mo v i me n t o p e rp e t u o d o mpe to v i t a l :"Foi no cas te l lo de Hat f ie ld que lord Sa-lisbury ao demittir-se de pres idente do conse lho , por occas io da coroao do re i , quando en tendeu chegada a ho ra da re t i rada , fezas suas despedidas soc iedade e po l t i ca ,n u m a "g a r d e r - p a r t y " , a que convocou aT e r r a i n t e i r a ."Hindus r e l u z i a m c o mo e n o rme s b e s o u -r o s . O cas t e l lo e s t end ia pe r f idamen te a somb ra n e g ra s o b re a s mu l h e re s , q u e e s c a p a v a m obscuridade a t t ra ida s pe l a fa sc inao daluz, onde os seus vul tos esguios de galgas in -g lezas v ib ravam t rans lc idos . No fa l tou ao

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    1 8 ESTUDOS BRASILEIROSfestim a po rc e l l ana ch in eza . Cabeas dem a n d a r i n s , s u rg i n d o d e u m a a p o t h e o s e d esedas e de p in tu ras , oscillavam c o m o p n d u l o s abo r rec id os . Os occ iden taes , em t ra j e smontonos e fune r r io s , i n fes t avam a a l eg r i adas fo rm as e das co re s . Mas sob re o g r am ado indeciso Ras Markonen , abyss in io fa i s -can te , de canel la f ina , den tes agudos , barb i -nha em ca raco l , segurando a adaga , a r reba t ava tudo pa ra o dese r to , numa co r re r i alouca de caval los r ab es . Os escossezes n oc a v a l g a v a m n e s s a i ma g i n a o ; f i c a v a m,como grandes meninos de sa io tes escossezes ,bonz inho capadoc io , a t oca r pif a n o . O ve lholord assen tara-se sombra do cas te l lo , cercado de cherubins ing lezes que eram os seusnet inhos , e p res id iu aos seus a n t e - f u n e r a e s .Desf i la ram as gentes fami l ia res e as genteses t ranha s , p r nc ipes , p r inceza s , lords e la -dies, actrizes e c lowns , d ip lomatas e t ra f i c a n t e s ; d e s f i l a r a m ro x o s mo n s e n h o re s , b r a n cos che iks , va r i egados mara jahs , neg ros pa -gs da fr ica . E o ve lho av m is tu rav a asua in fan t i l idade octogenria cu r ios idadeinqu ie t a e s r ia das c r i a n as . E ra um m agnfico e raro divert imento inglez, em que seb r incava com o mundo in t e i ro e o s bonecose ram va r i ado s e s ing u la re s . Caf res de ca -be l los t in tos de ouro , a tados com immensospentes de ta r ta ruga , invadiam o cas te l lo com

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    ESTUDOS BRASILEIROS 1 9vac i l lan tes pass os in f an t i s . Os Cafres sorr i r a m p a r a o s me n i n o s d e lord Sa l i s b u ry .E s t e s a p p ro x i ma ra m-s e e a r r i s c a r a m o s n veos dedos na neg ra pelle a f r i cana , e span ta dos de no f i ca rem t i sna do s . O fo lguedocom as c r i anas despe r tou nos neg ros os an -ces t raes appe t i t e s c a n n i b a l e s c o s . Os dentesf i ca ram- lhes ma i s b rancos de dese jos e s t ra n h o s . O s d o u ra d o s c h e ru b i n s s e n t i r a m agu la p r e t a e aconhegaram-se a o a v . Oolhar do urso ing lez , d ian te do a taque , re -l a m p e j o u . As duas se lvager ias , a da te r rab ra n c a d o s gelos e a da te r ra rubra do so l ,e n f r e n t a r a m - s e . O olhar ing lez en f u r eceu - se .O s n e g ro s r e c u a r a m e r e c o l h e ra m o r i s o .O ve lho marquez de Sa l i sbu ry so r r iu nos seusdentes po s t io s . As sub jug ad as gentes cont i n u a r a m a a d o r m e c e r n a i n c o m m e n s u r a v e lb e a t i t u d e b r i t a n n i c a . "H a, em ta l pa ine l , o movimento de Miche-let, do Michele t que descreveu o despe r t a r dasc o m m u n a s , n o sculo XIII, e as lutas n o r m a n -das do sculo XV; e naque l l e s "den tes pos t i os de lord Sal isbury", o sal de Carlyle , doCarly le c rue l da Revoluo Franceza. Mas ac o mb i n a o d e s s a dr e desse r iso , dessa piedade e desse sarcasmo s a in tu io pol i t i cado ar t i s ta ser ia capaz de consegui r . Essa intu io pol i t i ca , prpria d o s g ra n d e s c r i a d o -

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    2 0 ESTUDOS BRASILEIROSr e s , o fe rm en to ac t ivo da ima g ina o enrg ica de Graa A ra n ha . E i s po rqu e a sua m e -t aphys i ca o ma i s bello i n s t r u m e n t o p a r ac o m p r e h e n d e r e a m a r a r e a l i d a d e . P o r e s s ametaphys ica e s t e l l e ma i s pe r to dos homensq u e a f f i r m a m , e, p o r t a n t o , d e N a b u c o , d oque de Machado de Ass is , o mais capr ichosoe i n s i n u a n t e d o s h o me n s q u e n e g a m. E n t r eRabe la i s e Mon ta igne , Graa Aranha f i ca r i acom o r i so numeroso de Gargan tua , com avida, em s u m m a .

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    A VIAGEM MARAVILHOSA

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    1. Retrato de Graa Aranha

    A exemplo dos p r ime i ros mes t re s da suafo rma o , R o u s s e a u e C h a t e a u b r i a n d , G ra a A r a n h a u m gnio i n q u i e t o . D e s d e m e n i n o , quando l i a , no so l a r pa t e rno da t ranqu i l l ap rov nc ia de S . Lu iz do Maranho , a s i nvenes de Le Sage , seu esp i r i to acos tumou-se ar e d u z i r a r e a l i d a d e a p u r o s s c h e m a s c e r e -b r a e s . R o d e a d o d e d o u t o re s , q u e f a l a v a mgravemen te , no e s t i l o de Joo Franc i sco L i s b o a , comprimido n u m c i r c u l o aristocrticode ba res ju r i s t a s e gen t i shomens ca tho l i cos ,seus sonhos in fan t i s se povoaram dos an josluminosos da Theo log ia e das imagens clss i c a s d o mu n d o m e d i t e r r n e o .Cedo , entretanto,-o gil demnio coxo doseu au to r p red i l ec to comeou a q ue br a r orythmo igua l e melanclico d a q u e l l a s p l a n u -ras que lhe fa t igavam os o lhos v idos e in -so m ne s . Sua cu r ios id ade venceu os l imi t e sda raz o e t ran sbo rdo u na duv ida , an t e op ro b l e m a d o i n c r i a d o . C a r t e s i a n o , s e m o

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    saber , aos dez annos o descendente de senhores bea tos e span tou os sace rdo tes que o in s t r u a m , affirmando-lhes s e r D e u s u ma idai n n a t a .Su a p r i m e i r a b a t a l h a t r a v o u -a , a s s i m ,c o m a t r a d i o . A lgica i m p r e s s i o n a n t edesse de t e rmin i smo exp l i ca -se fac i lmen te .Um com plexo de p reconce i to s rem otos condensa ra -se na a tmosphera que e l l e re sp i rava .P r o c e d i a m d e vrios quadran tes e sses in f lu xos sub t i s . Do sang ue ce l t ibe ro , exa l t ado rdo my s t ic i smo dos seus an tep ess ad os . Dotrgico rom anc e nav a l v iv ido pe los po r tu -guezes do sculo XVI, en t re cu jos cap i tes see n c o n t r a v a m g e n te s d a s u a l i n h a g e m . D odrama t e r r ve l da conqu i s t a amer i cana , ondeA ra n h a s e C a rn e i ro s Monteiros se dist inguir a m c o mo b a n d e i r a n t e s n a s e n t r a d a s p e l o sse r tes de Pe rnambuco , do Cear e do Mar a n h o . T a e s f a ct or e s c o n t r i b u r a m p a r ac o mp o r a physionomia dessas fam l i a s no r t i s tas , esp lendidos typos de clans c o n s e rv a dores , im pre gn ad os do pre ju zo da le i , dorespe i to da a u t o r i d a d e , das p ra t i cas re l ig io sas , e onde o art i f ic io pol t ico do Imprio fo ibusca r a sua me lhor e ma i s honrada c l i en te l a .

    A inqu ie t ao de Graa Aranha vem doseu passado longnquo, das ra zes ce l t iberasque o i m p e l l e m . N a espcie j a q u i e t a d ape la fo r tuna , ado rmec ida na posse de he ran -

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    ESTUDOS BRASILEIROS 2 5as conqu i s t adas a t ravs de lu t a s immensas ,b ro tou , de sb i to , o aven tu re i ro , o revo luc io nrio insa t i s fe i to , le cadet gascon. O t a t a -rane to dos cap i t es p icos su rg iu , de impro viso, no f i lho do magis t rado sereno , do hum a n i s t a ciceroniano e t h o mi s t a .No se con ten tou , po i s , com a t rad io .Pre fe r iu a ex p e r i n c i a , para conceber o un i v e r s o . P re f e r i u a R e p u b l i c a , p a r a c o mp re -hen der o B ras i l . D i sc pu lo de Tobias B a r reto , sua adolescncia extas iou-se an te o m o -nismo de Haeckel . A fo rmu l a g e r m n i c a , e n t r e t a n t o , p a r ece r - l h e - i a , em b reve , e s t re i t a .Seu espir i to la t ino exigia -uma base social , em,que a e specu lao me taphys ica se t rans fo r m a s s e n u m a r e g r a p a r a attingir a fe l ic idadeh u m a n a .

    R edu zi r a sc ienc ia a u m a d isc ip l ina deaco, a *um i n s t r u m e n t o p a r a dominar area l idade fo i a sua p r ime i ra experincia p e s soa l . Dessas cogi taes nasceu o " C h a n a a n "Sempre mov ido pe lo in t e resse sociolgico, la t en te na sua ob ra , Graa Aranha p rocu ra co o rd e n a r o s e l e me n t o s q u e s e a ma l g a ma r i a mp a ra p ro d u z i r u m B ra s i l ma i o r . Se m a c e i t a ro exaggero do a ryan i smo de Gob ineau ou deC h a mb e r l a i n , s e m a d mi t t i r o r a c i o n a l i s mode Renan , en to em voga , na America e naE u ro p a , G ra a A ra n h a p ro p o z , n o " C h a n a a n " , u ma s o l u o lcida p a r a o p r o b l e m a

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    2 6 ESTUDOS BRASILEIROSbras i l e i ro : vence r a mes t i agem, pe lo ca ldea -mento das co r ren tes migratrias l a t i nas eg e rmn i c a s , e o e mp i r i s mo i mp ro v i s a d o r ,pe la cu l tura sc ien t i fica e pe la ed uc a o dav o n t a d e .A ' medida que escrev ia o " C h a n a a n " , seuins t inc to de rebe ld i a ag i t ava -o no va m en te .O c o n ta c to q u e , n e s se m o m e n t o , m a n t i n h acom os ve lhos ins t i tu tos po l t i cos da Europa ,nu t r i a - lhe o e sp i r i t o de a l imen tos e s t ranhos .As re iv indicaes das c lasses proletrias choc a v a m-s e c o m a a rma d u ra f e u d a l e b u rg u e z ados governos nasc idos da Igre ja , da Reformae da Rev o lu o . Na I ng la t e r ra , o nde e l let r a b a l h a v a c o m J o a q u i m N a b u c o , a ma j e s ^tade da ra vic tor iana d isso lv ia-se nos c la m ores das c la sses op pr im ida s pe lo cap i t a l i smo que , pe l a mo dos g randes chefes J i b e -raes e conse rv adores , d i l a t a ra , na s gue r rasd a Cr i m a , da nd ia e do Transvaa l , o poderio da c o r o a .

    O imper i a l i smo de Glads tone , de D i s rae l ie de Chamber l a in p r inc ip i ava a de f ron ta r -se com as foras tenazes da "T or y De m o-c racy" , emergen tes das p ro fundezas p r o l e t r i a s . As reve laes do censo de Char lesBoo th , accusando , na cap i t a l do Impr io , aexistncia de 32 por cen to de miserveis , esp a n t a r a m a o p i n i o d a s e l i t e s . D e s e n h a v a - s e ,a t e m o r i z a d o r a , nos c rcu los de St . James e

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    ESTUDOS BRASILEIROS 2 7nos clubs po l t i cos , a ameaa de um Par t idoT ra b a l h i s t a c o h e s o , enrgico e seguro do seupres t ig io na Cmara d o s C o mmu n s . N a e s t ru -c tu ra dos partidos t r ad ic ionaes ab r i a - se , derepen te , uma f re s t a pe r igosa , po r onde se en cadea r i am os vendavaes que , desde 1848 , a si d a s ma rx i s t a s d e s p re g a ra m s o b re a E u ro p a . A feb re do con t inen te con tam inav a oesplendido isolamento das I lhas de Sa l i sbu ry .

    A in f luenc ia do romance russo , po r ou t ro l ado , impr imia l i t e ra tu ra de f i co umacoen tuado ca rac t e r po l t i co . Turguenef f ,Tols to i , Dosto iewsk i , i nvad iam, com os seuspe rsonagens sombr ios , ge rados no t e r ro r , aimag inao occ iden ta l . Esse e spec tacu lo imp ress ionou a sens ib i l i dade de Graa Aranha .A violncia d o s e u t e m p e r a m e n t o extremadol e v o u -o q u a s i a o a n a rc h i s mo i n t e g ra l . Pa re ceu - lhe , en t o , que a p i edade humana se r i ao move i da a r t e .Sua m ara v i lh osa in tu i o do un ive rso ,sa lvou-o , po rm, desse e s t re i to ap r io r i smo .El le sen t iu , desde logo , que a fe l ic idade noes t ava na aco , nas fo rmulas da experinciasoc ia l , naque l l a "conqu i s t a do po" , de Kro -po tk ine , ou nas ingnuas t aboas de va lo resdo supe r -homem de Nie t z sche , mas na vont ade de se r l i v re . Os fun dam en to s da suap h i l o s o p h i a c o me a ra m a d e l i n e a r - s e n o p ro b l e m a d a l i b e r d a d e . D o m i n a r a r e a l i d a d e

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    2 8 ESTUDOS BRASILEIROScon t ingen te , se r um com o un ive rso , vence ro melanclico d u a l i s mo , q u e s e p a ra o h o me mdo " todo abso lu to" , e i s a p reoccupao queo a s s a l t o u ." M a l a z a r t e " o s y mb o l o d e s s a c r i s e .Apesa r de t an ta s vezes rep i sado , o exemplode Ibsen no se rve p a r a exp l i ca r a e s t ranh af i g u ra d o me s t r e b r a s i l e i ro . " M a l a z a r t e " n o u m caracter, c o mo o B ra n d t o u H e d d a G a -bler. No se rege po r theo rem as nem ab -s t r a c e s c a p r i c h o s a s . O p lano soc ia l no ol im i t a . E l l e no qu e r impor n e n h u m a r e g r ade conduc ta , nem lhe impor t a se rv i r de mode lo a uma comparsa r i a de dou to res requ in t a d o s . " M a l a z a r t e " a i ma g i n a o d e fo r-madora do re a l . Na sua m o , o m un do sef r a g me n t a n u m e n o rme j o g o d e p ro b a b i l i d a d e s . Se m a c re d i t a r n a v e rd a d e n e m n o e r ro ,e l le no se fa t iga , em sua perpe tua re la t iv i d a d e . " M a l a z a r t e " i n v e n t a o mu n d o a c a d apa ss o . Desag rega -o , desa r t i cu la -o , sem pe ne t ra r na sua sub s t an c ia . E ' a l uz , que en gendra a fo rma e a suppr ime , no sbito my s -ter io do seu f lu ido .

    N o d y n a m i s m o d e " M a l a z a r t e " r e p o n t a mas raizes da "E s the t i ca da V ida" Aqu i sedef ine a i nqu ie t ao angus t io sa que ab razout od a a j u v e n t u d e d e G ra a A ra n h a . E ' u m aobra de a l t i tude , onde se evaporam os re le vos de encostas sp era s , ga lg ada s soff rega-

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    ESTUDOS BRASILEIROS 2 9m e n t e . Fu n d i n d o - s e c o m o u n i v e r s o , p e l o ssen t imentos da a r te , da re l ig io e do amor , ohomem chega pe rpe tua a l eg r i a , que l l ab e a t i t u d e s u p re ma d o sr que se in tegra notodo inf i n i to . A "E sth e t ica da V ida " , ass i m , u ma p h i l o s o p h i a d a l i b e rd a d e a b s o l u t a .2. O Artista

    E s s a viagem maravilhosa, a t ravs do seue s p i r i t o , G ra a A ra n h a r e n o v o u -a n a h u ma n i d a d e t r g ica , no l i r i smo genia l do seu u l t i m o r o m a n c e . Crebro que no se fat iga, omeio onde o c r i ado r p ro jec t a a s suas c r i a t u r a s d e u ma c o mp l e x i d a d e , d e u ma r i q u e za de matria desconhec ida em l i t e ra tu ra deindole l a t i n a . O espec tacu lo do cosmos t rop ica l exerce , nesse l iv ro , todas as fasc inaesdo seu p r imi t iv i smo sensua l . O p e n s a m e n t om etaphys ico vae de sen r o land o , a t rav s deum t ec ido de imagens em mov imen to inces san te , os schemas dos seus desenhos abs t ra -c tos . Sob o in f luxo poderoso da e specu laopura , que as d i r ige e as concer ta , as sensaes e l emen ta res vo su rg indo das cousas ed o s v o l u me s i n a n i m a d o s . T a l v e z o e x a c e r bado ce reb ra l i smo das anno taes do Pellase de Petruchka possa t ransmi t t i r a poes i a

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    3 0 ESTUDOS BRASILEIROSde aca l an to que fecha o p r ime i ro cap i tu lo daViagem Maravilhosa:

    " T h e re z a e x a l t a v a - s e c o m e s s a se m a n a e s d o p e n s a m e n t o r u d i m e n t a r , que se d i l a t ava em im ag en s . L i b r a v a - s e tambm n o s o n h o . Noctur-n o t r a n s c e n d e n t e . N o h a v i a n e m ore a l n e m o i r r e a l . O u n i v e r s o d e s m a -ter ia l iza-se , escapa-se em fugas esp i -r i t uaes , t o rn a a cond ensa r - se e f ra gm en ta -se nas ap pa r i e s sens ve i s .Todos os ob jec tos v ivem sua i n co m -m e n s u r a v e l vida mollecular. As pe dras , as a rvores , o mar , as es t re l las , osc o rp o s h u ma n o s , o s g r a n d e s e i mp e r cep t ve i s f ragmen tos da m a t r i a , to dos infatigavelmente se consomem es e t r a n s fo rma m n a e t e rn i d a d e d a d u ra o , i nde pen den tes do e sp i r i t o quedel les se apos sa e os t ra ns f ig ur a . Amesma fo ra dynamica move os se rese m q u e s e d e c o mp e o T o d o . T h e re z ae ra a r ra s t ad a inconsc ien te no mo v i me n t e my s t e r io s o e i r r e p r i m v e l . Ome n i n o a d o rme c i a n a s f ro n t e i r a s d oi r r ea l . Th e reza abso rv eu , no co llo, oco rpo da c r i ana , como u m a conc h a a g a s a l h a ma t e rn a l me n t e u m mo l -lu sco . "

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    ESTUDOS BRASILEIROS 3 1E m G ra a A ra n h a , o s e n t i me n t o p i c t o r i -co desapparece no dynamismo psycho log ico

    d a. c o n s t ru c o p e rm a n e n t e . A matria sol ida en t ra , apenas , como subs t anc ia que a suain te l l igencia ordena em le i g e o m t r i c a . Oprocesso desc r ip t ivo de qu e se serv iu , noChanaan, e ra a inda remin i scenc ia r o m n t i ca . In t eg rava -se , pe r fe i t am en te , na t rad i o eloqente da nossa l i t e ra tu ra , desde Ba-silio da Gama e A lenca r a t Euc lydes daC u n h a .A es the t ica da Viagem Maravilhosa n o um esp ec tac u lo . E ' um a c r i ao , um a in veno con t inua de vo lu m es p ls t icos , dema ssas sono ras e t re p id an tes . Dos co rposm ai s s imp les aos de m a io r com plex ida de ,sen te-se o domnio da razo a r c h i t e c t o n i c a .Tudo es t su je i to , tudo se subord ina ao pr incipio da mecnica u n i v e r s a l . N e m a p e d r a ,n e m o p e r fu me , n e m o h o me m, n e m o p e n s a me n t o s e d e s a g re g a m d a n a t u re z a , nica eind iv i s ve l . Tu do se decom pe em schem asm ecn icos . Com a ve r t i ca l de um co rpo demulhe r e a s curvilineas do oceano e da pra ia ,Graa Aranha c r i a e s t e mi l ag re de mus ica ee s c u l p t u r a :

    "Na f ren te de todos Thereza ca m i n h a v a . A p ra i a e r a l a rg a e f r a n ca . As on das longas , possan tes e

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    3 2 ESTUDOS BRASILEIROSco lo r idas , e rgu iam-se , dobravam-se ,mugiam e a fo g a v a m-s e n a s e s p u ma s .O v o l u m e d a i m m e n s a m a s s a ocen ica v inha ro l ando sob re a t e r ra , queo s t e n t a v a a s s u a s p e s a d a s mo n t a n h a se o des p ra i a do das a r e i a s . As casasn u me ro s a s e n c h i a m d e f a n t a s i a eab r igos o e spao g lo r io so . Therezac a mi n h a v a . A s u a c o n s t ru c o e r a d eg rande sob r i edade de vo lumes , o s i n dispensveis p a ra o s mo v i me n t o s s i mp l e s . H a v i a nella uma syn these dee lemen tos v ivos pa ra os mltiplosd e s e n v o l v im e n t o s m e c n i c o s . N a d alhe pe r tu rb av a a fun co da ac t iv i -d a d e , do equi l ib r io , da rea l izaopl en a . Er guia -se do so lo , e rec ta , del i n h a s f in a s , a r m a d a s . O s p e q u e n o se os g randes vo lumes l i gavam-se e s t re i t amen te en t re s i e o mov imen todo a l to comple tava-se em toda a d i -reco a t em ba ix o . To dos os seusp lanos os ma i s sub t i s un iam-se , p ro duz indo a superf c ie l i sa e in t ima,que reve la a p ro fun de za . P o r toda apa r t e o s mov imen tos execu tam-seschematicos e de t e rminados pe l a cons t ruco i n ex o r v e l , p a t e n t e a n d o aa l eg r i a de uma l ibe rdade t ranscen -

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    ESTUDOS BRASILEIROS 3 3dente . Thereza era uma maravKlhosa machina de viver."

    A composio de Graa Aranha attin-giu a nudez da pura. Jogando apenas, comoo engenheiro, com sries de linhas e movimentos, sua arte retira da Natureza o tumulto , reduzindo-a a simples coordenadas de espao e du ra o. A cr, de que tanto abusaram os escriptores latinos, absorve-se naluz . A sensibilidade disciplina-se. A intel-l igencia commanda.3. A Tragdia de Philippe

    Dentro do quadro vertiginoso do Brasilcontemporneo, o Philippe, da Viagem Maravilhosa, vive os desesperos da sua inquieta o . Bras ileiro de velha estirpe, ligado,pelo sangue, aos primeiros forjadores daconscincia nacional, tudo lhe marcava o destino dos condemnados de fim de raa. Educado num ambiente de inexorvel mysticis-mo, que lhe recalcava os mpetos de um temperamento enrgico, o complexo da libertao actuou, desde cedo, sobre o seu caracteradolescente. A principio, quand o se distra-hia a olhar o co violento, deitado sombra

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    3 4 ESTUDOS BRASILEIROSd a s p i t a n g u e i r a s , d a s e l v a g e m C o p a c a b a n ada sua i n fnc ia , Phi l ippe no sab ia do quese l i b e r t a r . Ta lvez dos excessivos ca r in hosm a t e rn o s , q u e u m a v i u v ez p re c o c e a g g ra -v a v a p e s a d a m e n t e . T a l v e z d a s o l id o q u ea s s u a s p e r g u n t a s s o n d a v a m i n u t i l m e n t e .Talvez da sua prpria a lma , que se deba t i anessa tragdia incessan te do ins t inc to subt i lda m en in ic e . A l i o do a r l i v re , da p l en i tude do trpico a rden te , i n i c iou -o nas ans io sas experincias de a l eg r i a . A t ravs das ap -p a re n c i a s , d a s frmas e dos ry thmos, e l le con h e c e u o m u n d o i n s o n d a v e l d a s c o u s a s . Aar t e foi, a s s im, a sua p r im e i r a l i be r t a o .O s r a p a z e s d a s u a g e ra o p ro l o n g a v a mum es the t i c i smo romn t i co , sem f ina l idade ,que , nos ltimos t empos do Impr io , consu mi ra a s suas fo ras de aco nos mov imentos do abo l i c ion ism o e da R ep ub l i ca . Ph i l ip p e , como os seus companhe i ros , se a l iment a v a d e u m re s d u o . Fa l t a v a - l h e o p l a n oconc re to , a bas e re a l . Ao co nt r ar io de Miranda , seu pae , fo rmado nos deba tes da Es cola do Recife, sectrio e d o u t r i n a d o r , c o maspi raes def in idas e seguro de p ra t i c a l - a s ,merc das opportunidades que lhe offereciaum reg ime em d i s so luo , Ph i l ippe e ra umav o n t a d e p ro c u ra d e u m e n t h u s i a s mo .Onde es ta r ia a matria p r i m a p a r a s e r v i r ao in s t rumen to de l i cado e pe r fe i to? Ph i -

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    ESTUDOS BRASILEIROS 3 5lippe n o conhe c ia o B ras i l . A escola n ol h e m i n i s t r a r a , t a m b m , aquel las noessc ien t i f icas que do ao prazer de pensar umder iva t ivo co ns t r uc to r . E l l e exp l i cava o un i v e r s o p e l a i ma g i n a o . O sen t imen to e ain t e l l i genc ia j az i am em melanclico r e p o u s o . A n g u s t i a v a -o , e n t r e t a n t o , o p ro b l e ma do sr.

    " Pa ra Ph i l i p p e o p l a n o u n i v e r sa l no podia ser a vontade de ume n t e e s t r a n h o matria d o U n i v e r s o .A sua in te l l igencia no se aca lmavanes t a qu ie tude de uma long iqua c r i a o , q u a n d o t u d o l h e p a re c i a e m p e r p e t u a e i n e x t in g u i v e l t r a n s fo rm a o ,e no comprehend ia que os se res t e r mi n a s s e m e m u m c r i a d o r c o n s c i e n t e ,q u a n d o e s t e c r i a d o r s e r i a f a t a l me n t ea c r ia tura de ou t ros , que se succede-riam ao in f in i to . N en hu m a luz lhev inha do ens ino dos pad res pa ra e sseconfuso e in s t inc t ivo d e t e r m in i s m o .P ra t i c a me n t e Ph i l i p p e i a p e rc e b e n d oque a mecnica dominava a v ida emt o rn o delle e o seu pendor e ra para oses tudos ma themat i cos , fon te e exp l i cao do g ra nd e seg redo da m e c n ica un ive rsa l . "

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    3 6 ESTUDOS BRASILEIROSC o a g i d o p e l o s t e mo re s ma t e rn o s , Ph i

    l i p p e f e z - s e b a c h a re l , r e n u n c i a n d o " p r e p a rao t echn ica , que a mecnica l he reve lou es e r ia a m a rc a d a p o c a m o d e r n a . Fo i e s tabase que fa l tou sem pre sua cu l tu ra " E mt o rn o del le , desenvo lv ia - se uma nova moci-d a d e , p u r a m e n t e m u s c u l a r . R e m a d o r e s , foot-bal le rs , d i scobolos , sa l tadores de vara , t en-n i s t a s , n a d a d o re s , v i n h a m s u b s t i t u i r o s me n inos s i zudos ou bohemios de ou t r ' o ra . A in -d i f fe rena pe lo Bras i l c resc ia , por d iversosm ot ivos , de todos os la d os . Os in te l lec tua ess o r r i a m, p e d a n t e s , e m f a c e d a p a i s a g e m b ra si le i ra , sem ruinas a c a d m i c a s . O s s p o r t i s-t a s be r ravam, com os pu lmes de ao , pa raos seus campees p red i l ec tos . O Brasi l f icav a , n a s c h o ro g ra p h i a s , c o m a s ma n c h a s v e r des , vermelhas , azues e amarellas dos seusEs tados e sp ra i ando-se pe lo mappa do cont i nen te , a recua r e spavor ido an te a p resso in -so len te das t e r r a s i nv as o r as . E n t r e a i n t e l l igencia amora l e as descargas de uma a leg r i a mu s c u l a r , p e rma n e c i a a ptria m y t h o -log ica e d i s tan te .

    A gue r ra , no improv i so da sua ameaa ,despe r tou nos b ras i l e i ro s a imagem do Bra s i l . "O sen t imen to nac iona l reve lou -se b rus camen te em Ph i l ippe , que p rev i ra na v i c to r i aa l l em a mut i l ao do Bras i l , e sboada nossonhos da conquis ta g e r m n i c a , que se rea -

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    ESTUDOS BRASILEIROS 3 7l i za r i a na absu rda Allemanha A n t a r c t i c a .O e s t u d a n t e i n s p i r a d o t o rn o u - s e a g i t a d o r p a t r i o t a e u n i v e r s a l "4. Philippe e o Brasil

    O art i f ic io esthet ico fora v e n c i d o . A v o n t ade de Ph i l ippe encon t ra a sua fo rmula dee n t h u s i a s m o : a a c o . Se u n a c i o n a l is moexal ta -se com a v ic tor ia sobre o imper ia l i s m o ge rm n ico . A r t i cu la r o Bras i l , d i sc ip l i -nal-o p e l a fo rm a o d e u m a g e n e ro s a c o n scincia publ ica , e i s o seu movei . O ar t i f i -c ial ismo dos nossos inst i tu tos pol t icos, agrosseiria da nossa cu l tu ra civica, o e mp i r i s -mo dos nossos sys t emas de governo impe l -lem-no para a r e v o l u o . S a r e fo rm a r a d i ca l e v io l en ta lhe pa rece capaz de acco rda ro B ra s i l , t r a n s fo rma n d o -o n a potncia f o r m i dvel em que um d ia se conver t e r .A ans i edade de re so lve r mu i t a s das nos sas incgnitas p e r t u r b a - l h e , n a t u r a l m e n t e , a sco r ren tes de op t imismo que e s t o no fundodo seu ca rac t e r , d e i x an d o - l h e , n a i m a g i n a o , um t ravo de m e lan co l i a . Mas e ssa m el anco l i a apenas uma inqu ie t ao da e spe rana . Os que v ivem, po r an tec ipao , o fu tu ro do Bras i l , de u m Bras i l i n t e i ram en te

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    3 8 ESTUDOS BRASILEIROSaprove i t ado , na sua matria p r i ma d e e n e r g i a s n a t u ra e s e h u m a n a s , s o ff re m a c o n t i n gncia d a e s p e ra n a . Ph i l i p p e t o rn a - s e , p o i s ,um che fe r e v o l u c i o n r i o . A obra de p rose -ly t i smo empo lga -o , de t a l mane i ra , que nol h e d e i x a e n x e rg a r c e r t o s p h e n o me n o s i ne lu -t ave is , de cu jas causas s mais ta rde se apod e r a p l e n a m e n t e a s u a r a z o .A juven tude que o ce rca , i dea l i s t a , i n sp i rada e mov ida po r pa ixes sem in t e resse , nopossue a sua c l a r i v i d e n c i a . Fru t o s d a e s t r e i -teza dos nossos methodos de ins t ruco , f i lhos do caos p ed ag g i co , cega-os, a taes desespe rados , a impacincia de conq u i s t a r , dechof re , um es t ado de cu l tu ra po l i t i ca imposs ve l de ob te r pe lo p rocesso rad ica l .

    N o B ra s i l a e s c o l a p r e p a ra r e v o l t a d o s .Ao longo de todo o nosso curso gymnasia l es u p e r i o r a p re n d e mo s , n u m p e r i g o s o d e l r i opa t r i t ico , que o Bras i l o mais r ico , o maisdotad o de todos os pa izes do g lo bo . Nossai m a g i n a o a d o r m e c e n u m t o r p o r d e m a r a v i l h a s . M o n t a n h a s d e o u ro , d e e s me ra l d a s ,de fe rro , cachoei ras e sa l tos cu ja fora hy-d rau l i ca se mu l t ip l i ca po r mi lhes de cava l -los , t e r r a s d e u ma exuberncia i nc r ve l , sub solo de inesgotvel opu lenc ia , e i s a mi ragemcom que nos ac en am . A t ravess am os a in fncia e a p u b e rd a d e t o n t o s d e t a ma n h a fo r tuna , ce r to s de que , semelhana daque l l e s

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    ESTUDOS BRASILEIROS 3 9ingnuos b a n d e i r a n t e s , b a s t a metter a m on a t e r r a p a ra c o n h e c e rmo s a e t e rn a a b a s t a n - a . E m q u a n t o n o c h e g a e ss e d i a , v a m o ss o n h a n d o , s o n h a n d o . S o n h a m o s u m a h i s t o r i a que no nossa , uma geograph ia que no nossa , uma geologia que no nossa . E od e s l u m b r a m e n t o c o n t i n u a . O Brasi l umbanco a t tes tado , espera dos nossos desej o s . Tod os nos sen t imo s de lph ins . Br in camos com a in te l l igencia e a fan tas ia seguro s d a p a r t i l h a f a r t a . T o rn a m o -n o s sbiose m t u d o . Su b i mo s a A c ro p o l e, a n d a m o s n a squadr igas da I l l i ada , conqu i s t amos o mundono ca l canhar dos l eg iona r ios de Csar, fa l a mo s t o d a s a s l n g u a s , p r e p a ra m o -n o s , e m-f i m , p a ra u ma existncia de itinerantes des -occupados , amveis e p re g u i o s o s .

    Q u a n d o n o s p e n e t r a mo s , p o r m, d o s e n t imen to do rea l , t oda e ssa me taphys ica dafe l ic idade bras i le i ra se desvanece . E a nossav i d a se t r a n s fo rm a n u m a a c c u s a o m o n s t ruosa . No sabemos ve r , po rque no nose n s i n a ra m a v e r . D e b a t e mo -n o s , i n u t i l me n te , num tu rb i lho de des t roos que nos op -p r i m e m . N o p o d e m o s c r e r n a r e a l i d a d e .N o t e mo s c o ra g e m d e e n f r e n t a r o p ro b l e maq u e n o s d e p a ra o mu n d o b ra s i l e i ro . O p h e -nomeno immed ia to obscu rece -nos a consc inc ia d a s c a u s a s r e m o t a s . N o q u e re m o s co n vencer-nos de que somos um paiz cu jas JJOS-

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    s ib i li dades m a te r i aes s po de ro se r ap ro v e i t a d a s c u s t a d e a b u n d a n t e s c a p i t e s . N oqueremos convence r -nos de que a nossa in -cu l tura po l i t i ca conseqncia da nossa po b re z a , q u e s o mo s u ma g ra n d e c a s a d e p ro l e t r i o s , c o n d e mn a d o s a i n d a p o r mu i t o s a n -nos , me rc d a s f a t a l i d a d e s geoh i s to r i cas , adescon ta r o s ju ros do ou ro que nos empres t a o e s t r a n g e i ro . N o q u e re m o s c o n v e n c e r -nos de que a nossa na tu reza , t o mi racu losa , um dos nossos peo res in imigos , po rque nosv e m a r r e b a t a r , a o me n o r d e s c u i d o , o s r e s u l t a d o s d o n o s s o p e n o s o l a b o r . N o q u e re mo sconvence r -nos , em f i m , d e q u e a i mme n s i d a -de das , nossa s te rxas , de spo vo ad as e agre stes , um dos ma io res impec i lhos do nossod e s e n v o l v i m e n t o . E c o mo n o e s t a mo s p re p a ra d o s p a ra c o n s i d e ra r p r a t i c a me n t e e s s a sd i f f i cu ldades , ac red i t amos na regene raop e l a r e v o l t a .

    5. O encontro com TherezaPouco e pouco , t odav ia , P h i l ipp e vaed e s p re n d e n d o - s e d o s c o mp a n h e i ro s . N e s t e s ,po r i gua l , o sen t im en to da revo lu o to m arum o d i f fe ren te . Uns e ou t ro s , com exce -p do revolucionrio i n t rans igen te , p reso a

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    ESTUDOS BRASILEIROS 4 1concepes g rega r i a s de p r imr io , vo rec t i -f i cando as suas d i rec t r i zes . Sen tem , qu e r o sd e p e n d o re s e o m m n i s t a s , quer o s idelogosd em o cr t i co s , que as revolues soc iaes nose improv i sam nos qua r t i s , nem devem t e r m i n a r n o soerguimento de a lguns do los , emde t r im en to de ou t ro s . A h i s to r i a da Am er i ca La t ina m os t ra -no s cop iosos exem plosdessa fa ra de revo lues faanhudas e pue ris , em que , ao cabo de a lguns annos de sang ren ta ex p e r i n c i a , o s c h a ma d o s Pa r t i d o sRevolucionrios t r i u mp h a n t e s s o a c c u s a d o sde reacc iona r i smo pe los caud i lhos menos fe lizes, que dese r t am de l l e s , pa ra atacal-osp e la s a r m a s . A r e v o l u o u m remdio deluxo , compor t ave l somente em paizes de excess iva cu l tura po l i t i ca .

    A v iso de S. P au lo dy nam ico inf i l t rou-se, i n sens ive lmen te , na duv ida inqu ie t a dePh i l ipp e . E l l e obse rvou , po r en t r e a g r i t a r ia dos metaes e dos vapores e scapando-sedos f re ios e das ca lde i ras da locomot iva , queo a r r e b a t a v a a t r a v s d a p a i s a g e m p a u l i s t a .

    "as massas das p l an taes , o s vo lumes dos morros ca r regados de ca -fezaes escuros , os capes nos camposcheios de gado es t rangei ro , de carab ra n c a o u ma n c h a d o d e p r e t o e b r a n -

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    4 2 ESTUDOS BRASILEIROSco, d e mi s t u r a c o m o s c a r a c s n a c i o -n a e s . C a m i n h e s c o r r e n d o n a s e s t r a d as , t r a c t o r e s a r a n d o t e r r a d e s b ra v a d a . A e n e rg i a d o h o m e m t r a n s fo r m a d o r a . V e l h a s mattas subs t i t u dasp e l a c u l t u r a . C a f e z a e s , c a f e z a e s . . . "

    E l l e v iu tudo i s so , e exc lamou : "O novoBras i l vence o t e r ro r"O encon t ro com Thereza l i be r tou Ph i l ip pe de todos e sses complexos . Nem a a r t e nema a c o p u d e ra m c o n c e d e r - l h e a b e a t i t u d e .A mb o s a s p i r a v a m ro mp e r a me l a n c o l i a q u eos a m e s q u i n h a v a . O mons t ro que se e rgu iaem face de Thereza , e ra Radagas io , o seu mar i d o . R a d a g a s i o r e p re s e n t a a contingnciamedoc re , o eterno quotidiano, a lasc v ia daescrav ido aos v c ios , aos ty rannos , aos pot e n t a d o s , r o t i n a d e g ra d a n t e .Se, ao redor de Ph i l ippe , se movem to dos os ideaes t ranscendentes ; se , em vol ta deThereza , g rav i t am todos os dynamismos doun ive rso , na sua numerosa p resena e spec ta -cular; em torno de R ad aga s io se a g i ta umbes t i a r io t rg ic o . Deuses de m ac um ba , se xos demonacos, fe i t ios, t a b u s , ven t re s a to r men tados , succubos , g ryphos , t odas a s i nvenes da pedra gtica se animalizam p a r a

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    ESTUDOS BRASILEIROS 4 3dansar-lhe n a s o m b r a m g i c a . R a d a g a s i ono uma ca r i ca tu ra , como o Re i -Ubu ou oconse lhe i ro Accac io , um complexo da mest i a g e m b ra s i l e i r a e a m e r i c a n a . A c c u m u -lam-se nos seus gestos, no seu impudor, n asua amora l idade , na sua cova rd ia , o s medos ,as humi lhaes , a es tup idez das tabas e dassenza las , que m ys te r io sos e a longad os ca l -deam en tos t ro ux er am supe r f c ie das nos s as s o c i ed a d e s h y b r i d a s . R a d a g a s i o u m aformula v iva do escravo que acordou , subi t amen te , na pelle d o s e n h o r .D e f ro n t a n d o - s e c o m T h e re z a , Ph i l i p p ec o mp re h e n d e u q u e h a v i a u ma a c o ma i o r ar e a l iz a r : o a m o r . " N e n h u m a actividade m a i spoderosa , nem a da sc ienc ia , nem a da a r t e ,nem a da re l ig i o . O Universo de ixa de serespec tacu lo , t r ans fo rma-se em v ida , quandoa ene rg ia do amor o conqu i s t a pa ra a v i agemmarav i lhosa , que rea l i zamos nos e sp r i t o s enas cousas . "O amor fo i a sup rema l ibe r t ao de Ph i l i ppe e de Thereza . Aos r ev o l u c i o n r i o s , seusan t igos camaradas , que , desa l en tados , l hep e rg u n t a v a m p o rq u e n o s e r e t i r a v a d o B ra sil, *Philippe r e s p o n d e g l o r i o s a m e n t e : " N os i n t o n e c e s s i d a d e d e e v a d i r -me . Pe rma n e oa q u i . A m i n h a v i a g e m o u t r a " O s a mi g o spe rcebem que pe rde ram o che fe , e um o ex -

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    p ro b a : " T u r e a l i z a s t e a e v a s o s u p re ma . T unos fug is te e ao B ra s i l " E Ph i l ip pe se desp e d e :"E u dese jo a vocs a m ara v i lhaque m e aco n tece u . S a ss im vocsde ixa ro de se r i nqu ie tos . "

    Es ta rep l i ca de Ph i l ippe condensa a ph i -lo soph ia de Graa Aranha e a mag ia dos se re s que el la , pe lo mi l ag re da c r i ao , fecundou e p r od uz iu . S o am or venc e o dua l i s m o , q u e s e p a ra o h o m e m d o U n i v e r s o . N omeio b ras i l e i ro , t o mag i s t ra lmen te evocado ,no me io trgico de to r tu ras , ambies , e spe r a n a s , p e s s i mi s mo s , infmias e desa t inos ,a s f igu ras de Ph i l ippe e Thereza nada ma i se s p e r a m . O amor a a l eg r i a , a pe rpe tual i b e r t a o .

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    GUILHERME DE ALMEIDA

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    A poes i a moderna vo l t a s fo rmas s imp l e s . A matria c o m q u e t r a b a l h a o p o e t ade hoje cada vez mais pura , mais che ia derea l ida de e m a i s i n t en sa . Depo i s do generoso pe r odo romn t i co , de Byron , Cha teau -briand e Pe , a Baude la i re , Ver l a ine e D 'An-nunzio , depois dessas grandes vozes de t ra gdia e desespe ro , que fo ra m p rogress iva men te c re scendo de vo lume a t ao d i apasofu tur i s ta de Marine t t i , comeou a dec l inar opres t ig io da grandiloqncia na po es i a . Domesmo passo , o l i r i smo cap r i choso de a lgunspoe tas menores , cu lminan te na ob ra de umBanvi l le ou de um Mendes , esgotou-se coma ge rao do pa rnas i an i smo fc i l , na repe t i o dos mesmos sone tos , ba i l adas , odes e b a l -lad i lhas , em que os jogos de pa lavras subs t i tu am o ca lo r das idas va ron i s .En t re ns , po rm, onde a c r i t i ca l i t e r r i a exe rc ida , rea lmen te , po r um ou ou t roescriptor de ve rdade , vu lga r suppor , mercda f i l auc ia de d ive r t idos paspa lhes fan ta s iados de c r i t i ca lhos , que a poes ia moderna

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    4 8 ESTUDOS BRASILEIROSa i n d a n o u l t r a p a s s o u a s b r i n c a d e i r a s d "Toi e t Moi" do menino Pa u l G e ra l d y . M a ld i r ig ido , em gera l , desconhece o publ ico le t rado nomes que so vu lga res na Europa ena A m er ic a . A fo ra ind i sc ip l inad a e mar a v i l h o s a d e u m Wh i t ma n , a desabusada m elancol ia de um Moras , a musa re l ig iosa deu m C h a r l e s Gu r i n , a s ru d e z a s buclicas deu m F r a n c i s J a m m e s , o h u m o r d e u m W a l t e rD e L a ma re , a d o u ra p e n e t r a n t e d e u m G o -vone ou de um Fo lgore so e s t ranhas m a i o r ia dos nossos i n t e l l e c t u ae s . N a Itlia, p aramos em Stecchet i , D 'Annunzio e San Be-ne l l i , na Frana , em Samain e Rostand, naAl lemanha , em He ine , nos Es t ados Un idosem Longfe l low e no "Corvo" , traduzido p o rMachado de Ass is , na Blgica , em Maeter-linck, e a s s i m p o r d e a n t e . O r e s t o do m u n do, p a ra n s , u m my s t e r i o . N o admira,pois , que famoso escriptor l a t i n o -a me r i c a n oaff i rmasse que a poes ia bras i le i ra e ra ume t e rn o s o n e t o , c o n t i n u a me n t e e me n d a d o , o r apa ra m e lhor , o ra pa ra peo r , consoan te sp re fe renc ias das novas ge raes .

    E ' cont ra esse e te rno soneto que reag i mos p re sen tem en te . De fac to , qu em estudasse a nossa l i t e ra tura po t i ca , d u r a n t e au l t ima me tade do sculo XIX e*o pr imei roquar te l do sculo XX, f i ca r ia e m ba ra a do sequizesse a t tenuar a venenosa i ron ia do m e n -

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    ESTUDOS BRASILEIROS 4 9c i o n a d o c o n c e i t o . O soneto e ra o vehicu lofa ta l de todas as co isas , a medida da insp i r a o a mo ro s a e d a i n s p i r a o i n d u s t r i a l .D e p e n d u ra v a - s e d o s b o n d e s , e s g u e i r a v a - s ed a c a r t e i r a d o s a m a n u e n s e s e p u l a v a d a s b a l a s d e e s t a l o . Pa s s a p o r t e p a ra o c a s a m e n t o ,pa ra o su i c d io ou pa ra a ce l eb r idade subur bana , e ra sempre a chave mgica d a f a m a .De ta l modo se inve terou em nossos cos tume s , q u e f i cmos , i n sen s i v e l m en t e , m a r g e mde toda a evoluo literria d o u n i v e r s o .A s s i m , q u a n d o a p p a re c e ra m a s p r i me i ra s man i fe s t aes de ve rdade i ra poes i a l i v re ,impe tuosa e pessoa l dos nossos a r t i s t a s modernos , os confeiteiros e os seus ingnuosa p re g o a d o re s p e rd e r a m o sa n g u e f ri o q u elhes e ra m u i to pe cu l i a r . N ad a m a i s p i t t o -resco e l i songei ro que essa ba ta l ha pro vo c a d a p e l a g e n t e m o d e r n a . E m t o rn o d o s h o m e n s n o v o s s e a g r u p a r a m , n u m a r o n d a f nebre de pesados ps e l en t a s cabeor ras dema n i p a n o s , t o d o s o s e l e p h a n t e s inteis d anossa l i t e r a t o l i c e . O b a ru l h o d a s t r o mb a sfofas e o rumor das o re lhas ag i t adas no a t e m o r i z a r a m n i n g u m , e n t r e t a n t o . A s a r m a sda gen te moderna so os l i v ros , a rmas pe r i g o s a s , q u a n d o b e m t e mp e ra d a s , p o rq u e n oe n f e r r u j a m .O novo l iv ro de Guilherme de Almeida u m a d e ss a s t r e m e n d a s a r m a s . H a , n a " F r a u -

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    5 0 ESTUDOS BRASILEIROSt a que eu pe rd i " , o v i o das muscu la tu ras jo v e n s . Gu i lhe rme de Almeida rea l i zou e sseprodg io que rev iver a Grcia s e m o p re conce i to g rego . Es t amos affeitos a u m a Grc i a , que nos ve io da t rad io human i s t a doRenasc imen to i t a l i ano , onde todos os t emplos so brancos , todas as es ta tu tas so seren as , todas as a rvores so o l ive i ras e todas asc o ll in a s s o P a r n a s o s . A Grcia v e r d a d e i r a ,que surg iu dos crepsculos da civi l izao doEgeu, que se levantou das ruinas d e " C re t adas cem c idades" , essa a inda nos poucofa m i l i a r . C o n h e c e mo s a A t h e n a s d e W i n -cke lmann ou de Goe the , a dos dou to res flo-ren t inos e a dos mercadores venez ianos , ej m u i to sab e r . A Grcia dos archeologose dos an th ropo logos , de Evans , de At k i n so n ,de Hogar th , de Sch l i emann , de Schuchhard tou de Seager , dos es cav ado res q ue for amdes per ta r , deba ixo da te r ra , o s i lenc io dosre is , dos heroes e dos bardos, essa invisivela q u i . T a n t o n o s f a l a r a m d e " p o r p o r o " ed e " me d i d a " o s ma n u a e s f r a n c e z e s , o s ca t logos de museu e os d i sc ipu los de Renan , que ,af ina l , reduzimos uma c iv i l izao de dez sculos Acropole , como se , por exemplo , todaa Frana se concen t ra sse no Trianon e nosp a rq u e s d e V e r s a l h e s .

    Mas, por Zeus, a Grcia bella e e t e rnap o rq u e p ro fu n d a m e n t e h u m a n a , e, p o i s,

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    ESTUDOS BRASILEIROS 5 1b a rb a ra , l i v r e , p u ra e c r i m i n o s a , a o me s mot e m p o ! O s g u e r r e i ro s d e H o m e ro s o m u i t od i f fe ren tes daque l l e s que p in tou e rep in touo grecisismo a c a d m i c o . Antes da pe le ja ,mane jando as suas l anas de b ronze , a co be r to dos enormes e scudos e p ro t eg idos po rc n e mi d a s p o d e ro s a s , elles se invec t ivavamsem mal c ia , e toda a se iva da sua te r ra dep e d r a s speras ench ia de dio b ru t o a s p a l a v ras mass i as e desconformes q u e a b a l a v a mo s a r e s d a p u g n a . E ' illuso i nnocen te ju l ga r que todos os mercadores de Athenas t i n h a m n o s lbios o mel de Pla to , o subt i l , ouque os escravos , semelhana das c r iadas deserv i r do sculo XVII , em Par i s , davam ssuas ph rases o bo le io das syn taxes e rud i t a s .Essa Grcia u ma i mp o s t u ra d o s p e d a n t e s ,q u e n o p o d e m c o mp re h e n d e r c o mo A l c i b i a -des, que usava c igarras de ouro nos cabel los ,acabou, sem e legncia , s mos de sicariosa p o s t a d o s p a ra o c r i me .

    E x t e rmi n e mo s d e u ma v e z e s s a Grciados idy l l ios pos t ios , que os romanos t rans-m i t t i r a m a o eruditismo occ id en ta l . No hal i t e ra tu ra m a i s v io l en ta que a da Gr c i a .No ha pa ixes ma i s t e r r ve i s que a s de Es -chylo, n e m r i s a d a s m a i s desabridas que as deA r i s t o p h a n e s . A cu l tu ra av i sada de Gu i lhe r me de Almeida , fe l i zmen te , r e in t eg rou , nasc a n e s g r e g a s d a " F ra u t a q u e e u p e rd i " , a

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    5 2 ESTUDOS BRASILEIROSv e r d a d e i r a Grcia nos seus ju s tos l im i t e s .No o esp i r i to de Athenas , mas o de Alexandr i a , o que an ima a sua ob ra . Poe ta dosmais a l tos do nosso pa iz , a sua poes ia , t a l ados g regos de Luc iano , t em a s imp l i c idadesabia das inscripes a n o n y m a s . O a u t o rde "Mess ido r" e do "L iv ro de Horas de Soro rDolo rosa" chegou , a t ravs de uma d i sc ip l inae x t r a o r d i n r i a , ao fundo da sua pe rsona l i da de . Os ry th m os de m a io r agud ez so umjogo pa ra e l l e . Toda a mu l t ip l i c idade in f i n i ta da v ida cabe nas formas que e l le invent a , e o mundo se renova con t inuamen te notu rb i lho das suas im ag en s . N o conheom aio r c r i ad o r de ima gens em nossa l i t e ra tu ra . H a no que e l le ex p r im e a remin i scen -c ia daqui l lo que v imos e no soubemos t ra duz i r Os e l em en tos b r inc am na sua imag i na o . A exem plo dos o r i en taes , dos picosda nd ia e dos vo luptuosos da P r s i a , Guilhe rme de Almeida faz da sua poes i a umafes ta dos sen t ido s . E ' um fogo la te n te deappar ies success ivas que arde , como nosm i lagres de Sc her aza da , em todos os seusc a n t o s .

    Ella a rosa.Na sala do festim, ella fina e altaentre todas. E silenciosa.

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    ESTUDOS BRASILEIROS 5 3As tocadoras de flautasoltam as notas de prataque vibram no ar como cigarras rpidas.Os homens tm as mos pallidasdesfallecendo sobre os copos;s vezeselles tm gestos que desnudam; e seus corposso brancos como os mem bros dos deuses.

    Ella a rosa. E dansa. E est toda nua.E parece um vo, tanto o seu gesto fluctua.Ella uma corola aberta; e as trs manchas[pretasda Deusa so trs borboletasnuma grande flor amorosa.Em torno delia, todos os olhos accesos,exaggerados de desejos,rodam como abelhas. Porque ella a rosa.

    A jus t ez a do toque im pr i m e expressodo poe ta um b r i lho c l a ro de me ta l . Sua a r t e um a v i b r a o . A a l eg r i a de v ive r jo r radas suas imagens , como um sangue ou comou m v i n h o d e p e r t u r b a d o r a es s n c i a . A sor-p resa das co i sas p r imi t ivas , a g raa das in venes ingnuas so o ma io r encan to dosp o e m a s d a " F ra u t a q u e e u p e rd i " So be d e s sas canes um che i ro ag res t e de pa i sagensl u m i n o s a s , u m r u m o r d e c a n n a s h u m i d a s ,

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    5 4 ESTUDOS BRASILEIROSde guas c respas ond e sa l t am pe ixe s , u ma ro ma d e o n d a l a s c i v a e mo l l i n h o s a .Estes lrios frescos, cheios de madrugada,esta ma toda molhadae este favo de mel sobre estas folhas hum idas,ainda todo sonoro das azas laboriosas,estas coisas simples foram as nicasque achei para trazer-te. Goza-astodas, bem longamentee com volpia. Senteo perfume pastoral destes lrios alvos;os mltiplos contadosdesta folhagem nova;provaa acidez fina desta fruta,olha a cr de sol deste mel; escutacomo a cera ca do favo ainda temuma musica de azas para os teus ouvidosl

    Eis ah i a energ ia saudvel das cousass i mp l e s . A fo rm a q u e s e r e n o v a c o n t i n u a men te , a imagem que vae c r i ando inde f in i damen te a sua prpria musica , a fora dodesenho rea l , que se no compromet t e com oar t i f ic io das sy l labas medidas ou da r ima engenhosa , e i s o seg redo da poes i a moderna .Ao cont rar io do vers i f icador pac ien te e agri-l hoado , i ncapaz de inven ta r e de t i r a r de

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    ESTUDOS BRASILEIROS 5 5si mesmo o profundo mysterio da vida, opoeta moderno, como Guilherme de Almeida, despren dend o-se da rede enganosa dasformas fixas, inicia uma nova famlia de"trouv res" A poesia volta simp licidade,ao ar livre, aos jogos claros, terra virgem.Guilherme de Alm eida achou um a frau tadigna de rythmar-lhe o vo dos ps ligeiros.

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    FELIPPE D'OLIVEIRA

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    U ma t a rd e , e m T o n a l , R o b e r t o M n t e -neg ro l evou-me casa de um ve lho can ta do r m ex ican o , m es t r e das m e lhore s v io l a sde todo o E sta do de Ja l i sc o . Ole i ro de p ro f i sso , sua pa lhoa de adobe e p i so de te r rab a t i d a e r a u m p e q u e n i n o m u s e u m a ra v i lhoso . No ba r ro cos ido e nas a rg i l a s endurec idas ao fogo t emperado dos fo rnos p r imi t ivos , ba i l avam os ry thmos l i v res da sua imag inao em mpe tos de frmas e cores, de volumes en rg icos , mode lados po r um inexgot-tavel e my s t e r i o s o l i r i s mo g e o m t r i c o .Aque l l e homem, que a l i e s t ava a ssen ta do, em f ren te da po r t a abe r t a sob re um pa -t eo p l an tado de ca rdos mass i os , t i nha a indan a s m o s t r e mu l a s o frmito dos po t ros se l vagens , e nos ps , de msculos sa l t ados comora zes , o p de todos os p lana l tos , que e l lev a ro u e m l o n g a s c o r r e r i a s .J u a n B e l m o n t e e r a o r e s d u o d e u m a p o c a . Ningum ad iv inha r i a , na sua pa l a v ra molle e a r ra s t ada , aque l l a voz de com-

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    6 0 ESTUDOS BRASILEIROSbate , aquel les gr i tos imper iosos que , no dor-s o d a s mo n t a n h a s n a t a e s o u n a o n d u l a omac ia dos va l l e s , moveram, em ou t ros d i a s ,c o mo n u m taboleiro de xad rez , o s geis peesd e b ro n z e d a s s u a s h o s t e s i mp ro v i s a d a s .Can tador e gue r re i ro , pas to r e a l fa re ro ,B e l mo n t e e r a a p e n a s u m s y mb o l o me l a n c l i co . Morr i a , com e l l e , uma v i rgem Amer icade az t ecas e mayas , de incas e gua ran i s . Seuges to so lemne e trgico recuava o e sp i r i t op a ra o t e mp o d a c o n q u i s t a . Su a n a r r a t i v a ,p i t t o r e s c a e d e r r a ma d a , r e p ro d u z i a a linguaen t rav ad a e f lo r ida de um ch ron i s t a e spa nho l da ra dos Vice -Re i s .B e l mo n t e c r i a v a , e s p o n t a n e a me n t e , u maa t mo s p h e ra d e c l a u s t ro c h u r r i g u e r e s c o . R e-surg ia o pos da pedra co lonia l . Balces earch ivol tas , fon tes rendadas e azu le jos de ta -lavera , to rres e l in te i s , g ran i tos , mrmores etezon tl e s rub ros rev oa ra m no a r . E eu v i,a t ravs da sua gu i t a r ra , a Amer ica dos j e su tas e dos dominicanos , dos ga lees a rmo-riados e bo judos como ca rapaas de g lyp to -don tes , a Amer ica das rumorosas massas dend ios ca r regando b locos pa ra a s py ramidesde Teu t ihuacn e pa ra os t emplos de Cho lu lae Te po tzo t l n . Be lm on te e ra be m o v a r ode uma doce Amer ica , dramtica e innocen-te, q u e n o a p re n d e ra a rir Estava dean tede mim o homem do fe i t io , do to tem, das

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    ESTUDOS BRASILEIROS 6 1masca ras inqu ie t a s , dos amule tos c ru i s , daA m e r i c a s o m b r i a , q u e se p r e p a r a v a p a ramo r re r , q u e a s p i r a v a a o a n i q u i l a m e n t o .Em to rno de ns , p i cado de luzes humi l des, o pueblo, com os seus muros p r - co l o m -binos , a u g m e n t a v a o m e u e s p a n t o . A fo lh aa g u d a d o s ma g u e y e s b a l a n a v a p e s a d a me n t epe los qu in t a l e jos . S a l an te r na de um F ord ,lu s t roso de ve rn izes como um p re to de Bar bados , me l ibe r tou do pesade lo de Juan Be l m o n t e .A Lanterna Verde, de Fel ippe d '01 ive i ra ,pde l i be r t a r mu i t a gen te desse mesmo pe sadelo . Nossa l i t e ra tura soff re , ho je , o pesade lo de Ju an Be lm on te . P a r a fug i r ren d i -lh a churrigueresca dos nossos escr ip tores ,re so lvemos com pl i ca r a s im p l i c id ade . In v e n t a m o s u m a nova- d i m e n s o . A d i m e n s odo espontneo a r t i f i c i a l . Re duz im os a Am er ica , por um ca lcu lo subt i l , a uma Arca deNo, che ia de b ichos bocs , amare l les eapa rva lhados nas suas du ras a r t i cu l aes dep inho e de pe ro ba . Co n t inuam os , po i s , ab r i n c a r d e co ln ia , b e m c o mp o r t a d i n h o s a otoque das Metrpoles m a t r e i r a s . Q u a n d o ,po rve n tu ra , ap pa r ece um b icho novo , comvontade de pu lar , vae logo fazer uma es tao de cura na Arca, e f ica teso, de repente ,como um peru de Na ta l , den t ro do annel q u eo aper ta e o immobiliza n o c h o .

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    6 2 ESTUDOS BRASILEIROSFe l ippe d ' 01 ive i ra um crebro a m e r i c a n o . E ' o homem do l i t o ra l , o homem queaprende , t odos os d i a s , a v ive r . O h o m e mque sabe r i r . F i lho do Pampa indus t r i a l , doPampa co r t ado de chamins e f io s t e l eg ra -phicos , dos paredes l i sos dos armazns dex a rq u e , e l l e t e m o mo v i me n t o clere e gild a s m a c h i n a s m o d e r n a s . Su a i n te ll ig e n c ian o h es i t a ' n o entrecruzamento d a s l i n h a s .Nasceu pa ra dec id i r . Reve la o t re ino do com-ma n d o , n o i mp ro v i s o d a o rd e m r p i d a :

    Ncleo de convergncia no bojo da noite oval.Lanterna verde(amndoa phosphorescentedentro da casca carbonizada).Longitudinal, centrifugo,o trem racha em duas metadesa espessura do escuroe, cuspindo pela bocca da chaminas estreitas inteis propulso,atira-se desenfreadonos trilhos livres.Mas se o machinista fosse daltonicoa locomo tiva teria parado .

    Este p r ime i ro poema do l i v ro de Fe l ipped '01 ive i ra um prec ip i tado lgico das ' suas

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    ESTUDOS BRASILEIROS 6 3q u a l i d a d e s ma i s a c t i v a s . O mysterio da suapoes i a re su l t a , ge r a lm en te , da fo r a . E ' afo ra a subs t anc ia mgica d a s u a c r i a o .A sensao do inespe rado , em sua ob ra , p ro vm desses e lementos de energ ia que se a just a m i n o p i n a d a me n t e , p a r a d e f l a g ra r e m s u r p r e s a .Pe re c e b e - s e i mme d i a t a me n t e q u e a s u av ida um f ru to que amadurece ao a r l i v re ,v i d a b ru t a l , ma s s e mp re d o mi n a d a p e l a i n te l l igencia pura das cousas , r ica de imagenssensor iaes , imagens que o rac ioc n io corr ige ,a c a d a m o m e n t o . O e x a me d o p o e ma t r a n s -c r ip to , o f fe rece pa r t i cu la r id ad es c u r io sas .Ha que no ta r , desde logo , a economia da mat r i a . Fu g in do ao p i to resco desc r ip t ivo , opoe ta desp reza os e l emen tos da s imp les t rans pos i o vu lga r , com que qua lque r ou t ro a r ma r i a a e q u a o d e u m q u a d ro , p a r a f i x a ro r e a l .D o me c a n i s mo d e c e r t o s mo v i me n t o s r e -gulare s e prec isos m ass as que se des locam , p rov oc and o a t r i t o s cons t an tes consegue e l le desprender e i so lar a prpria sug-ges t o da no i t e m od er na . No i t e de metaesque v ib ram, de t r i l hos de ao , rampas de conc re to , p l a t a fo rmas g i ra t r i a s , rodas , pon tes ,gu ind as t e s , cab reas , t ubos qu e desca r regamv a p o r a c c u mu l a d o , p o s t e s sem ap h o r i co s , lu zes que c i rcu lam no f io de p l a t ina das I a m -

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    6 4 ESTUDOS BRASILEIROSp a d a s . N o i t e q u e s e s a t u r a d e d y n a mi s mo scon t nuos , que abso rve a s mltiplas velocidades do machinismo c o n t e m p o r n e o .Fel ippe d '01 ive i ra tem, a inda , a o r ig inal idade , en t re o s nossos g ran de s poe tas m ode rnos , de cons t ru i r , mu i t a s vezes , a imagempe lo som, pe l a mo la d i sc ip l inada dos ry th -m os . Es t e ve rso , po r exe m plo , o m a i s bellop l a g i o d o ma r :A onda bate a cadncia do seu gongo liquido.

    Seu l iv ro reve la , t a m b m , o p raze r dor i sco , a seduco dos equilibrios p e r i g o s o s .Circo e Nmeros de Magic Hall esto nessec a s o . O poeta no esconde o gos to in fan t i lde exhib i r a muscula tura g i l , o desenho vert ig inoso do sa l to l iv re , da mo que arremessa a pe dr a , do corp o qu e se des loca pa ravenc er o ob s t cu lo . Sente-se que e l le tem afa s c in a o d a s fo rm a s h u m a n a s p ro j e c ta n -do-se no e spao , c r i ando mi l ag res i ns t an t neos de resistncias i m p r e s s i o n a n t e s . O numero 3 , do Circo, um jogo e x t r a o r d i n r i o .Parece um d ive r t imen to de P icasso ou uman a t u re z a -mo r t a d e L e g e r . S o Los Krupinos:Irmos.Da mesma idade.Parelhos.

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    ESTUDOS BRASILEIROS 6 5Com a mesma cabea reluzente de cosmtico.Com o mesm o epithelio de maillot nos troncos iguaes.Os pbis isoceles brilham de lantejoulas so-[bre o velludo azule se empilham.Cinco. Quatro. Trs. Dois. Um.A face da Pyramide Hum anainscreve no cone do reflectorum tringulo scintillante.As peas se desmontam,se recolhem desarticuladas, uma a um a,para traz da cortina carmezim.Brinquedo de armar que volta desarrumado[para a caixa.As crianas se deleitam.As governantas acham bonito.Parece um soneto.

    Talvez no haja, neste poema, seno umbrinqu edo m arav ilhoso . Mas elle pode sug-gerir, sem duvida, o riso com que o artistase desforra da estupidez hu m an a. Esse jogode cubos, que se arma e se desmancha ao sabor da opportunidade, tre a zombaria ao

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    6 6 ESTUDOS BRASILEIROSesp i r i to de cas ta , ao sno bism o de todos osp a l e rma s q u e r e d u z e m o u n i v e r s o a u m g ru po de idas p r imar i a s , a um schema de ac tosre f l exos , a um au tomat i smo de in s t inc tos se c u n d r i o s . P u c h k i n e e s cr e ve u u m p o e m ac o n t r a o i n s p e c t o r d e q u a r t e i r o . N o crebrodesse pobre d iabo , o v ic io do respe i to b ie -ra rch ia se man i fe s t a de t a l modo , que todo oseu sr v a e , a o s p o u c o s , s e t r a n s fo rma n d on u m a a g u d a e n f e r m i d a d e t o p o g r a p h i c a . El leacaba po r t raduz i r t odas a s cousas em fun -co do t rans i to . E en louquece , a f ina l , po rno te r conseguido ev i ta r o choque dos do isnicos t r a n s e u n t e s d o s e u c r e b ro : a a v a re z ae a fom e . E m Los Krupinos, e n t r e t a n t o , astira mu i t o ma i s l i mp a . H a u ma i n t e n o exc lus iva de poes i a pu ra , que in t e r fe recom o rea l no pon to exac to .Est c la ro que todo esse equilibrismo d apoes i a de Fe l ippe d ' 01 ive i ra rep resen ta umndice d e fo r a . O h o me m fo r t e e a c r i a n agil so os nicos seres ma t i n a e s d a t e r r a , o snicos i n d i v d u o s q u e s a b e m b r i n c a r . O spoe tas , como Fe l ippe d ' 01 ive i ra , conso lam agente da es tup idez do "homo sap iens" , dohomem que e s t sempre co r r ig indo as reg rasdo jogo , m as que n o sabe jo ga r . E u noaconse lha r i a ao ma i s av i sado "homo sap iens"a desmon ta r e sse b r inquedo t e r r ve l que Fe l ippe d'01iveira c o n s t r u i u .

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    RIBEIRO COUTO

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    Poesia , no Bras i l , quer d izer e l o q n c i a .R e s p i r a mo s u m a mb i e n t e s a t u r a d o d e g y ra n -dolas , de fumaradas espessas , de fogos e la b a r e d a s a l t e r o s a s . O poe ta que dese ja r umtriumpho rpido t e m q u e s e t r a n s fo rma rnum pyro techn ico hb i l , capaz de p r b i chase bombas ch i l enas nos seus endecassy labos ,b u s c a p s e sa l t a - m o l eq u es . n a s s u a s r e d o n -d i lhas , foguetes de assobio nos seus a lexand r i n o s . D e v e p o s s u i r u m a r s e n a l d e i m a g e n s c a m p a n u d a s , m o n t a n h a s d e p a p e l o p i n t ado , soes de fo lhas de f l and res , me teo ros del a t o , c re spuscu los e au ro ras de ou ro -bana -n a . Sem esses cond ime n tos p i can tes , semessa mostardari c o m p l i c a d a o p a l a d a r co m -mum n o e n c o n t r a r s a b o r n o s s e u s v e r s o s .E ' de bom aviso , t a m b m , no esquece r opoeta o vesturio cus toso das mytho log iasc lss icas , ass im como os respec t ivos a t t r i b u -tos das d iv indades i l lus t res , a concha de A m -phyt r i te , o fe ixe de ra ios de Zeus , o caduceude Hermes , o s ga lgos de Ar t emisa . Tudo i s soalternar, p re s e n t e m e n t e , c o m o s C a a p ra s ,

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    7 0 ESTUDOS BRASILEIROSos Sacys , o s Cor rup i ra s e a s Uyras da t rad i o ind gena . En t re a s so l ides in t ac t a s doser to e a rad iosa g lor ia do Olympo c a m i n h a r o , ass im, os nossos bardos dese josos defama , l evando aos hombros as suas bilhasche ias de r im as sono ras e ru t i l a n t e s . Comtaes a rmas na mo , t udo lhes se r fcil e p ro picio , o so r r i so das musas , o s ga l a rdes dai mp re n s a e o cacarejar fes t ivo da c r i t i ca lhas i n i s t r a .Ha, po rm, a lguns a r t i s t a s bas t an te co ra jo sos que chegam a t roca r o ve rso re luzen tee a r ima fa t a l po r uma en t idade quas i m e t a -phys ica , desconhec ida da ma io r i a dos nos sos versej ado res off ic iaes . H a , en t re ns , a l guns poe tas que fazem p oe s i a . P a r a e sses , oque ex is te no so os met ros , as formulas eo s mo d e l o s , ma s a r e a l i d a d e d a v i d a . Unspre fe rem p in t a r e ssa rea l idade no que e l l atem de mais grac ioso , nos seus aspec tos s imp les , na v i rg indade das suas fo rmas in f in i tas , em toda a seduco das suas ga l a s ex te r io r es . Ou t ros vo p r oc u r a r o s seus seg re dos profundos , as foras obscuras que a ag i t am, a mys te r io sa ene rg ia que a an ima .Aquel les d a n s a m , numa ronda de luz , sob rea relva d o s g ra mma d o s v e l l u d o s o s ; e s t e s p e ne t ram os bosques s i l enc iosos , desapparecemn o s s e u s me a n d ro s e n c o n t r a d o s . A s o mb ra o sten ta , a fasc inao do mysterio o s e m p o l g a .

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    ESTUDOS BRASILEIROS 7 1A -poesia v e r d a d e i r a m e n t e n o v a , n o B r a s i l , soff re as in f luencias dessa es t ranha sug-ges t o da sombra e do s i l enc io . O br i lho dom u n d o c o n t i n g e n t e n o l h e e n c o n t r a u mecho f a v o r v e l . . No a p in tura o que e l lama i s a d mi ra , s e n o a mu s i c a , u ma espciede musica mui to espec ia l , fe i ta de sons ve lados , de su rd inas , de tons menores , onde p re d o m i n a a r e s o n a n c i a g r a v e d o s p e d a e s . A sp a l a v ra s n o v a l e m,