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OSCAMINHOSDETHELEMANO BRASILUma entrevista exclusiva com Soror Babalon sobre a trajetria de Thelema e da O.T.O. no Brasil. pg. 8
Revista da Loja Quetzalcoatl, Ordo Templi Orientis
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NDICEEditorial
pg. 3
Notciaspg. 3
O Lugar e o Eupg. 4
ESCREVAPARANS!
Alm de ajudar a melhorar nosso
trabalho com sua opinio, apro-
veite nosso espao de comunica-
o para tirar dvidas, dar ideias e
manter contato com os membrosda O.T.O. no Brasil.
E-mails para:
Matria de CapaOs Caminhos de
Thelema no Brasil6
EstudosThelema e o Taosmo
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Biblioteca ThelmicaLiber Cheth vel Abiegni
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EDITORIAL
Avida um entrecruzar contnuo de mltiplas vias que nos
levam a uma escolha eterna onde o ltimo passo deter-
mina o prximo cruzamento onde deverei fazer a minha
prxima escolha. E assim vivemos a vida de escolha em escolha.
Me pergunto se no seria possvel apenas ficar parado no ponto
central do cruzamento. Nos pouparia angstia. Mas claro que
aquela que pergunta j sabe antecipadamente que a resposta
no. Sendo a vida movimento, ficar parado seria uma grave contra-
veno, ou no?
Minha mente voa ao passado e me traz as lembranas do momento
em que optei pela liderana da O.T.O. Um bom amigo me alertava
contra o sacrilgio que estava prestes a fazer com a minha prpria
vida. Mas meu corao alava voo em ventos idealistas e a audio
se ensurdeceu diante do sonho.
Aps todos estes anos e j bem mais madura, quando olho para
o percurso percorrido at aqui, meu corao se contrai diante da
viso da dor. Sou obrigada a concordar com aquele meu amigo.
Um gosto amargo me sobe do corao boca quando me lembro
do que poderia ter sido a minha vida se tivesse feito outras escolhas.
No fiz.
A amargura provm da lembrana do que no foi e do futuro que
jamais chegar a ser, uma frustrao proveniente de uma impossibi-
lidade sob Vontade. O ser ou no ser um dilema injustificvel, uma
nostalgia imprpria ao esprito, embora ntima da persona.
A Revista Estrela Rubi um fruto maduro originado em verdejantes
colheitas, optamos pelo devorar do fruto proibido. Ousamos alcan-
ar sabedoria e abandonar a tenra ignorncia que nos mantinha
protegidos em nossa prpria inocncia.
De Acampamento nos tornamos Osis e agora Loja Quetzalcoatl,
estamos agora aptos a divulgar nossa palavra.
Que assim seja!
Sucesso a nossa prova!
Soror Babalon, Mestra da Loja Quetzalcoatl e
Representante do Frater Superior para o Brasil
NOTCIASInaugurao do Acampamento Opus Solis
Nos dias 16 e 17 de janeiro de 2010 e.v. foi realizada a abertu-
ra oficial do Acampamento Opus Solis, primeiro Corpo Local
da O.T.O. em Belo Horizonte, Minas Gerais. Foram dias e noites
de muito trabalho comunitrio, confraternizao, ansiedade,
emoo e espiritualidade.
A Missa Gnstica que celebrou a inaugurao tambm a
primeira j feita em territrio mineiro foi realizada pelo Sa-
cerdote Frater Achad ZAA Ayin, tendo Soror Atalanta exercido
a funo de Sacerdotisa e Frater Pan Ain Soph a de Dicono. O
ritual foi assistido por Irmos, Hspedes e um grande nmero
de convidados.
O esprito fraterno e a devoo Grande Obra foram, nestes
dois dias, revitalizados pelo nascimento de uma nova estrela
na constelao da O.T.O.: boas vindas ao Acampamento Opus
Solis.
Feliz Anno Novo!
O Equincio de Outono, no dia 20 de maro de 2010 e.v., mar-
ca a chegada do Anno Novo Thelmico IV:xviii, ou o Ciclo do
Imperador e o Ano da Lua. Que o Imperador inspire vitria econquista, e que nos seus braos queimem a fora de Ra-Ho-
or-Khuit. E que dentro de cada um Kephra conduza seu barco
atravs da imensido da Meia-Noite, trazendo certeza de que
o Sol nunca se ps de verdade, mas brilha mesmo nas profun-
dezas da madrugada.
Aniversrio da Lder da O.T.O. no Brasil
No dia 21 de fevereiro comemorou-se o aniversrio de Soror
Babalon, lder da O.T.O. no Brasil e Mestre da Loja Quetzalcoatl.
A Missa, que tambm reabriu os trabalhos da Loja para o ano,
ainda fez lembrar a todos que, no ano de 2010 e.v, comemo-
ram-se os 15 anos da chegada da O.T.O. no Brasil: anos de tra-
balho duro e sangramento de Soror Babalon. Que seu esforo,
resistncia, dedicao e garra sejam o prenncio de muitos
ciclos de 15 anos. Parabns Babalon e a O.T.O. no Brasil!
Trs dias da escrita do Livro da Lei
Nos dias 8, 9 e 10 de abril estar ocorrendo a festa dos trs dias
da escrita do Livro da Lei e, para celebr-la, no ltimo dia serrealizada uma Missa Gnstica experimental.
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LojaQuetzalcoatl
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O LUGAREOEUNOVCUODEIXADOPELOFIASCODADCIMAQUINTACONFERNCIADASPARTES(COP15) DAONU...
Artigo
Lendo o ensaio Re-habitar (contido no livro homnimo) do
poeta, ex-beatnik, Zenbudista e antroplogo americano
Gary Snyder, tive vontade de comentlo. Creio que os hori-
zontes abertos pela discusso de Snyder sejam essenciais para qual-
quer um que se interesse ou se preocupe por questes que dizem
respeito, grosso modo, ao futuro da humanidade. Mais especifica-
mente: o sentido da globalizao, poltica e economia, ecologia e
novas tica, moral e espiritualidade.
Snyder convida reflexo sobre a ideia de lugar: a importncia do lu-
garno apenas geogrfico, mas como continuidade cultural e ances-
tral onde o indivduo est inserido. Onde ele nasceu, o que o nutriu,
aquilo que sua me. E de como a era contempornea mata o lugar.
Resultado: hoje h bilhes de pessoas no planeta que no so ha-
bitantes dele. Apinham cidades grandes, que engordam em frenesi
de consumo. A suposta conscincia do mundo globalizado na
verdade alienao, inconscincia do que se passa ao redor. Tais pes-
soas vivem sem saber ondeesto, que papel desempenham no seu
habitat, o impacto que produzem na terra e na sociedade (tampou-
co o impacto que sofrem), sem nem saber o que as compele a estetranse. Esto perdidas e sem um lar.
O preo disso: pessoas outrora enraizadas terra, camponeses,
sociedades primitivas que estiveram acostumadas a um modo
de habitar no seu espao especfico, foram cercadas por indstrias
e sufocadas por taxas impostas por elites urbanas. Lhes foi dito
que tudo que eles eram e sabiam no mais importava. Despreza-
do pelas elites intelectuais, o trabalho braal, campesino, foi rotu-
lado como bruto, rudimentar. Ignorouse a sutileza, criatividade
e sabedoria que existe no cultivo de alimentos, para transformar
essa prtica elementar da vida numa mquina que trata a agricul-
tura como minerao: explorando, drenando e consumindo at
a exausto.
H milnios, desde o fim da Era Glacial e do perodo das grandes
caas, as sociedades nmades se estabeleceram em ecossistemas
locais. Isso significa que aprenderam a integrar espaos especficos,
entendendo que tipo de plantas aquele solo suportava, construin-
do habitaes condizentes com o clima e vestindo-se de modo
compatvel, conhecendo e respeitando a importncia do rio local,
da montanha e da floresta, desde a Copaba gigante at o menordos fungos. Alimentava-se, assim, o elo mgico com todas as coi-
sas que o etnlogo LvyBruhl cunhou como participao mstica:
o homem se via parte da Natureza, associado vida da grama, dos
bichos e de tudo que o cercava, vendo nessas coisas entidades, sa-
cralidade e uma ponte mgica para as dimenses mais ocultas do
prprio homem. A Natureza era manifestao do homem e vice
versa: o modo de se conhecer a si mesmo era viver alinhado com as
leis dela, com o jeito prprio de experimentla que cada ser tem.
Consequentemente, isto viver pela sua prpria Lei.
Mas o homem ainda e sempre ser parte da Natureza. O
divrcio entre Me e filhos s aconteceu pretensamente, e muito
recentemente, se considerarmos a imensido da histria da huma-
nidade. E nesse curto perodo de milnios a frmula da participao
converteuse na ignorncia da alienao, em nome do suposto
progresso da razo e da conscincia.
No fascinante livro Ismael, Daniel Quinn compara a civilizao mo-
derna com um avio que se atirou de um precipcio. A princpio, os
passageiros acham que esto voando, que a mquina est funcio-
nando, que eles esto planando no cu. S com a viso do cho
do abismo a se aproximar que se do conta que o avio sempre
esteve em queda livre.
Argumentando sobre tal viso, poderiam dizer que, se esse modelode civilizao dominante no o nico que existe, sua proporo
planetria e prosperidade o elegem como melhor representante
da natureza humana. Sem exatamente discordar, eu diria que essa
prosperidade deixa a todos fragilizados: o Terceiro Mundo explora-
do e os supostos senhores do mundo confinados atrs das grades
de seus condomnios, mimados e dependentes da imensa maioria
como fornecedora de servios bsicos. Este , portanto, um sistema
de escravos, ao longo de toda sua linha de montagem.
Ainda assim, diriam que este o homem: violento, competitivo, des-
truidor. Portanto, talvez seja natural que ele se cause sofrimento, se
extinga, ou que poucos acabem sobrevivendo. E que esta seria a
aplicao da lei dos fortes. Talvez. Mas este apenas um lado da
moeda. A Natureza tambm um tecido de organismos realizando
conjuntamente funes microscpicas que resultam na fartura da
vida. Ento, a Natureza tambm cooperativa. Logo, o homem no
naturalmente competitivo nem cooperativo. Ele ambos. Se cul-
tuamos simplesmente Marte, adoeceremos, como um organismo
tendo overdose de uma substncia que, em equilbrio com Vnus,
seria o elixir da vida. O culto da competio trar consequncias
humanas e ambientais na mesma intensidade que o dano infligidopor sua prtica.
Disse o ndio Seattle, em seu clssico discurso de 1855: Vocs, ho-
mens brancos, tambm passaro. Talvez antes que outras tribos.
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NO BRASIL
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Soror Babalon foi uma das principais responsveis por trazer
a Ordo Templi Orientis ao Brasil, em 1995 e.v. Desde ento,
investe seu tempo e energia na superao de percalos e
na continuidade de um trabalho pioneiro: foi escritora e editora da
consagrada revista thelmica Safira Estrela, viu Corpos Locais da
Ordem nascerem e morrerem, amizades e grupos se formarem e
se dissolverem. Hoje ela a FSR, isto , Representante brasileira do
Frater Superior da O.T.O., Hymenaeus Beta, alm de Mestre da Loja
Quetzalcoatl, que opera na cidade do Rio de Janeiro desde o ano
de 2000 e.v.
com essa bagagem que Soror Babalon conta um pouco de sua
histria e da histria de Thelema no Brasil. Explica, tambm, a filoso-
fia que a O.T.O. vem consolidando ao longo desse tempo.
Trabalhando h mais de quinze anos, o panorama que ela tem da
divulgao de Thelema em terras brasileiras no exatamente oti-
mista. Ao seu ver, guerras de ego e incapacidade de organizao
foram os principais ingredientes de um cenrio pouco frutfero para
um trabalho srio. O choque da Lei de Thelema com a cultura brasi-
leira outra questo que revela no uma realidade doce, mas dura
como a iniciao.
ESTRELARUBI: Como voc chegou a Thelema? E como voc encon-
trou a O.T.O.?
SORORBABALON: No meio thelmico eu estou desde 1992. Na verdade
o primeiro nome que me chegou foi do livro Chamando os Filhos
do Sol de Marcelo Motta, e fui at a Biblioteca Nacional procur-lo,
pois aps ouvir uma referncia a esta obra foi impossvel tir-la da
minha cabea. Chegando l, havia milhares de gavetinhas reche-
adas de milhares de fichas, no havia computador e eu tambm
no sabia o nome do autor. Abri por acaso uma delas para verificar
o nmero de referncias bibliogrficas ali contidas, xinguei e bati
nas fichas por puro desespero e, para minha sorte, elas se abriram
exatamente naquela que continha o ttulo Chamando os Filhos do
Sol, onde o Motta divulga Thelema, o Livro da Lei...
Depois disso, sa da Biblioteca com a firme determinao de encon-
trar a O.T.O., mas no havia como contat-la. O endereo no livro do
Motta era muito antigo, no havia Internet... ento a pessoa mais
prxima naquela ocasio era o Euclydes Lacerda de Almeida, disc-
pulo do Marcelo Motta, que falava de Thelema, do Livro da Lei, de
Crowley, e que quis me conhecer e me abriu as portas da sua A...A.
..
e da Sociedade Novo Aeon, da qual era lder.
Em outubro de 1992 eu iniciei meus primeiros exerccios na A. ..A...
sob tutela do Euclydes, mas infelizmente acabou no dando certo.
ENTREVISTACOMSORORBABALONSOBREOPANORAMADADIVULGAODETHELEMAEMTERRASBRASILEIRASESOBREOTRABALHODAO.T.O.EMSEUS15 ANOSDEEXISTNCIANOBRASIL
MatriadeCapa
O Euclydes era uma excelente pessoa para se tomar um choppe,
para se bater um papo, mas como lder ele era inexistente. Ele no
tinha tino para organizao. Ento acabei ficando bastante frustra-
da com a liderana dele na A...A... e com a organizao thelmica no
Brasil. Fiz os meus dirios corretamente, entreguei, e at hoje estou
esperando... Nunca tive resposta. Eu senti que havia necessidade de
partir para a fonte. Se eu no puxasse essa fonte para o Brasil, senti
que no haveria um caminho srio em Thelema neste pas.
Foi a que eu procurei, na poca junto com o Carlos Raposo, o en-
dereo da O.T.O. nos Estados Unidos, e quem veio a me dar esse
endereo foi o prprio Euclydes. Escrevemos para a O.T.O., entramos
em negociao com eles e em 14 de dezembro de 1995 eles vieram
fazer as primeiras iniciaes no Brasil.
ER: J que voc fez parte ativamente da histria de Thelema no pas,
que panorama voc tem da divulgao da Lei ao longo desses anos?
SB: Um movimento brasileiro thelmico no chegou a ocorrer. Exis-
tem alguns grupos, mas a maioria deles no absolutamente sria.
Os grupos thelmicos so vergonhosos. No h Thelema, mas uma
briga de egos fantstica, um desrespeito pessoa do outro, vida
ntima, a tudo. No se ouve discutir algo de foro realmente inicitico,algo realmente espiritual, que seja uma luta consciente, organizada
e sria em busca da instalao do Novo Aeon em terras brasileiras.
No vivi essa poca, mas acredito que tivemos um perodo com o
Marcelo Motta em que talvez tivssemos pessoas com uma proposta
sria. Mas, no meu entender, Marcelo Motta chegou num ponto da
vida dele em que simplesmente enlouqueceu. E quando enlouque-
ceu, enlouqueceu Thelema no Brasil junto com ele. Saiu espalhando
os discpulos para tudo que canto, e a baguna se formou.
Se voc for falar em Thelema no Brasil hoje em dia, em termos de
um ramo srio, eu diria que s existe um, e a O.T.O. Brasil. O pessoal
chama de Califado, de O.T.O. americana, chama de uma srie de
O.T.O.(s), mas a O.T.O.. Por qu? Porque a nica que faz um traba-
lho srio. a nica que tem uma linhagem sria a partir do Crowley,
a nica com um trabalho inicitico organizado e com a proposta de
uma transformao social e espiritual de seus membros. E a nica
que voc no v envolvida em fofocas por a.
ER: H quem diga que a O.T.O. uma ordem externa por ser
social. Como voc defenderia a importncia do trabalho iniciticoem grupo?
SB: Primeiramente, essa definio de A...A... como trabalho interno
e O.T.O. como trabalho externo pueril, um conceito extremamen-
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te imaturo sobre as duas Ordens. Na O.T.O.,
o indivduo iniciado, suas energias so
alteradas, seus Chakras so ativados, ele
estimulado sempre a descobrir a si mesmo.
Voc no pode dizer que um trabalho que
leve o indivduo ao conhece-te a ti mes-
mo seja externo.
O que acontece que alm da proposta de
trabalho individual, a O.T.O. tambm tem a
proposta de mudana social. Ento, fazendo
com que o indivduo floresa, a O.T.O. pro-
move as suas transformaes sociais. A van-
tagem de se trabalhar em grupo que as
pessoas podem trocar experincia, conhe-
cimento, desenvolver afinidades. E nessas
afinidades, uma ajudar a outra em momen-
tos difceis, fortalecer um ao outro, criar uma
fraternidade. E, mais do que isso, aprender
a viver sua prpria individualidade com res-
peito Vontade do outro. o prprio pano-
rama estelar. Cada estrela possui sua prpria
rbita, mas so todas elas que em conjunto
fazem com que o cu estrelado se revele
diante de nossos olhos maravilhados.
ER: O trabalho em grupo mais difcil quando
se trata de um grupo de thelemitas?
SB: Sim. muito mais difcil. Em Thelema
voc vai estimular a pessoa a seguir sua Ver-
dadeira Vontade, a defender sua prpria indi-
vidualidade. No h como voc ter cordeiri-
nhos simplesmente obedecendo, baixando
a cabea. Voc tem que estimular a rebelio
nessas pessoas. Elas tm que se rebelar con-
tra a educao social, contra tudo aquilo que
no so eles. E mesmo Thelema pode no
ser eles! Mas isso no nos interessa. Thelema
tem um sentido maior, que a descoberta da
Verdadeira Vontade. Ento a O.T.O. tem essa
proposta: fazer o indivduo concluir qual e
agir em sintonia com a sua Verdadeira Von-
tade. E se sua Vontade no estiver no sistema
de Thelema, pois ento que seja o Budismo,
Cristianismo, qualquer coisa. Isso importan-
te, porque isso liberdade. Voc no cria um
grupo para dogmatizar. Voc cria um grupo
para libertar esse grupo e para que cada pes-
soa se fortalea individualmente para mani-
festar sua Vontade.
Evidente que os conflitos so inevitveis.
Eles so esperados, inclusive so deseja-
dos. Ento liderar um grupo thelmico que
trabalhe seriamente um trabalho muito,
muuuuuito difcil!
ER: O que voc espera, como FSR e Mestre
de Loja, do thelemita que est iniciando?
Alguma sugesto para o aspirante?
SB: Eu no espero absolutamente nada.
Se eu esperasse algo eu j estaria determi-
nando o caminho dessa pessoa, dizendo o
que ela deveria fazer ou no. Na verdade,
se eu tivesse que dar um conselho e se
conselho fosse bom, se vendia , eu diria
que olhe para si mesmo sem preconceito.
Veja o seu lado negro, os seus vcios, com
tanto carinho como voc v suas virtudes.Porque na verdade os vcios so virtudes
em desequilbrio, foras da natureza fora
de controle. Quando equilibradas, elas se
tornam grandes virtudes e conquistam
grandes batalhas. Aprenda a beijar sua face
negra com a mesma paixo com que beija
sua face de luz. Ponto.
ER: O que voc acha que a O.T.O. tem a
oferecer para a sociedade brasileira?
SB: Muita coisa. Eu acho que precisamos
de thelemitas para mudar este pas. O the-
lemita aquele que olha seus problemas e
os problemas sociais de frente. Ele no vai
disfarar, ele no vai pintar de corderosa,
ele no vai criar iluses. Ele vai rasgar os
vus da iluso, achar a fonte do problema
e mexer nela. Eu acho que este pas precisa
de pessoas com mais vontade, conscientes
da sua trajetria espiritual e principalmente
conscientes da realidade social, dispostos a
lutar por mudanas.
Thelema o fim do jeitinho brasileiro.
Seria a grande conquista de Thelema no
Brasil! o fim do escorrega por aqui, escor-
rega por ali. cara a cara, olho no olho e
vamos luta. Isso Thelema. Por que no
Brasil isso seria importante? importante
para o indivduo construir uma conscincia
em que ele no precise mais do jeitinho
brasileiro para escamotear, em que ele se
torne um indivduo srio, que luta direta-
mente por melhorias no seu pas.
ER: E para os trabalhos da Loja Quetzalcoatl
no ano de 2010, qual sua previso?
SB: Ns temos vivido um crescimento bas-
tante promissor do nmero de membros,
mas eu ainda espero mais comprometi-mento das pessoas da Loja e espero que
a gente possa realizar mais trabalhos. Mais
Missas Gnsticas, mais ritos. Pr o pesso-
al para trabalhar com diversas energias,
ver que resultado isso produz e pesquisar
cientificamente. Eu realmente espero que
esse ano seja marcado por uma progresso
mgicka, tanto terica quanto prtica. Eu
espero que at o final do ano a gente possa
ter... no grandes Magistas, porque Magis-
tas levam muitas vidas para se formarem,
mas eu diria que grandes promessas mgi-
ckas para o futuro.
Foto: Frater Heru Behdet
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Apesar de nascido no Velho on, remontando at a antigui-
dade da era matrifocal, o Taosmo filosfico tem conceitos
estritamente prximos a Thelema. Suas vises de mundo
e da dinmica do Tao (o Caminho, o fluxo e modo do Universo ser),
conforme apresentada no clssico Tao Te Ching, atribudo a Lao Tse,
enriquecem a percepo do que nos realmente natural e do con-
ceito de Verdadeira Vontade.
Diferentemente do intelecto ocidental, o Taosmo exige um grau de
apreciao da realidade relacionado ao sentimento de unio e inte-
rao entre todas as coisas que existem. A Conscincia do Ego (Eu),
que cumpre sua funo de analisar isto , separar as coisas
para conheclas, no raro se vicia em seu prprio modus operandi
e passa a entender que a realidade um amontoado de coisas di-
vididas, desarmoniosas entre si. Quase sempre, tambm se obceca
com os mapas tericos sistemas que criou para organizar a
realidade em categorias compreensveis para si, passando, no fim
das contas, a confundir o terreno que explorado com o mapa que
feito dele, cultuando o modelo e a cincia antes da prpria coisa
concreta e objetiva.
Allan Watts, renomado estudioso de filosofias orientais como o
Taosmo e o ZenBudismo, explica que essa percepo viciada da
realidade baseada na separao entre as coisas cria um estilo de
perceber o que se , a prpria identidade e a individualidade
como algo que est separado de todo o resto, como ele deta-
lha: Isso consiste simplesmente em separlos de tudo o mais, em
destacar suas caractersticas diferentes como o mais importante.
Chegase assim concluso de que a identidade uma questo
de separao. A consequncia dessa percepo a ignorncia de
como tudo se influencia constantemente, e como o Universo, rela-
cionando suas diversas partes, opera um bloco integrado.
A NATUREZANARELAO
Para o Taosmo, o Tao que pode ser descrito no o verdadeiro Tao, que
incognoscvel. Seu modo de agir baseiase na mutao constante de
todas as coisas, tal como o rio de Herclito, que no pode ser definido,
porque no instante em que se o faa, ele j passou. Do mesmo modo,
o ideograma I, contido no milenar I Ching, denota um sentido camale-
nico a cada um dos ideogramas, que esto em constante metamorfo-se, transformandose uns nos outros. Mas esta mutao mudana do
qu? Existe algo fixo para ser mutado? A realidade est no movimento
e no na coisa movida: at porque nada existe ou conceituado fixa-
mente, dependendo sempre de uma relao com outra coisa.
Aquilo que conhecemos e definimos depende sempre de compa-
rao, que um jogo de relaes: o rio depende de suas margens
para ser conceituado. Se tirarmos as margens do rio, ele deixa de
slo, do mesmo modo que se retirarmos o observador de uma ex-
perincia, aquilo que era observado perde sua definio. Portanto,
tudo que conhecido feito atravs de um sistema dividido, dual.
A natureza das coisas determinada por uma relao entre tais coi-
sas: do mesmo modo, Hrus contm em si seus gmeos opostos,
RaHoorKhuit e Hoorpaarkraat. Ser e NoSer se definem um ao
outro, e convivem um no outro.
E THELEMA?
Conflumos, finalmente, na cosmogonia thelmica e na frmula 0 =
2, que expressa numericamente os versculos do Livro da Lei:
Pois eu estou dividida por causa do amor, pela chance
de unio.
(Liber AL I:29)
Esta a criao do mundo, que a dor da diviso como nada, e a alegria da dissoluo tudo.
(Liber AL I:30)
A diviso na verdade um jogo de imagens, uma iluso de tica a
fim de que o Universo veja e conhea a si mesmo. Opostos como
NuitHadit, TherionBabalon, Fogogua, BemMal so miragens
polarizadas para vermos e vivermos o modo de ser das coisas o
Tao. E entendermos que, no fim das contas, o Nada o que muda, e
nada muda substancialmente, uma vez que toda dualidade Yin
e Yang so apenas fases da manifestao. Tudo como sempre
foi (Liber AL II:58). E, diante do 0 da dissoluo, os opostos comun-
gam e excedem aquilo que eram antes: observador e objeto ob-
servado tornam-se uma coisa s, no havendo por fim separao
entre agente e fenmeno. No fim, o iluminado o prprio Universo
simplesmente acontecendo espontaneamente, sem restrio.
Para maior aprofundamento, recomendamos a leitura do Liber CL-
VII. Relaes entre conceitos taostas e thelmicos so tecidos por
Crowley, como a comparao de Hadit, o doador de vida, mas cujo
conhecimento o conhecimento da morte, com o Wu Wei (ao
sem ao), o estado de esprito taosta onde se est perfeitamentevazio e, neste vcuo, Tudo isto , o modo espontneo do Univer-
so o que o preenche. Recomendamos tambm o livro A Alqui-
mia Interior Taosta, de Mantak Chia, referente parte alqumica do
taosmo, muito til para entendimento de Tantra e Magia Sexual.
EstudosTHELEMAEOTAOSMO
A LOJAQUETZALCOATLOFERECEMENSALMENTEASEUSMEMBROSUMASRIEDEINSTRUESEMDIVERSOSTEMASRELACIONADOSATHELEMA, AFIMDEAJUD-LOSAENTENDEREMELHORAPLICARASUAFILOSOFIA.
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LIBERCHETHVELABIEGNISUBFIGURACLVI
PUBLICAOEMCLASSEADAASTRUMARGENTUM
Este o segredo do Santo Graal, que o vaso sagrado de Nossa1.
Senhora, a Mulher Escarlate, Babalon, a Me das Abominaes,
a noiva do Caos, que cavalga sobre Nosso Senhor, a Besta.
Tu escoars o teu sangue, que a tua vida, para dentro da taa2.
sagrada da fornicao dela.
Tu misturars tua vida com a vida universal. Tu no reters uma3.
s gota.
Ento, o teu crebro ser mudo, e teu corao no mais4.
bater, e toda a tua vida se ir de ti; e tu sers banido sobre a
estrumeira, e os pssaros do ar festejaro sobre a tua carne, e
teus ossos branquearo no sol.
Ento, os ventos reunirseo e carregarteo como a um5.
amontoado de p numa folha que tem quatro cantos, e elesdaro isto aos guardies do abismo.
E, porque no h vida ali, os guardies do abismo ordenaro6.
aos anjos do vento que passem. E os anjos deitaro teu p na
Cidade das Pirmides, e o nome disso no mais haver.
Agora, portanto, para que tu possas realizar este ritual do Santo7.
Graal, livrate de todos os teus bens.
Tu tens riqueza; dla queles que tm necessidade dela,8.
porm no a desejam.
Tu tens sade; sacrificate no fervor do teu abandono a Nossa9.
Senhora. Que a tua carne penda frouxa sobre os teus ossos, e
que os teus olhos penetrem com tua volpia inapagvel no
Infinito, com tua paixo pelo Desconhecido, por Ela, que est
alm do Conhecimento, o maldito.
Tu tens amor; arranca tua me do teu corao e cospe na face10.
de teu pai. Que teu p pisoteie a barriga de tua mulher, e que o
beb no seio dela seja a presa de cachorros e abutres.
Pois se tu no fizeres isto com tua vontade, ento Ns o11.
faremos, a despeito da tua vontade. Assim, que tu consigas o
Sacramento do Graal na Capela das Abominaes.
E v! Se em segredo tu guardas para ti mesmo um pensamento12.
de ti, ento tu sers banido para dentro do abismo para sempre;
e tu sers o solitrio, o comedor de estrume, o aflito no dia do
SConosco.
Sim, realmente, esta a Verdade, esta a Verdade, esta 13.
a Verdade. A ti ser garantida alegria, e sade, e riqueza, e
sabedoria, quando tu no fores mais tu.
Ento cada ganho ser um novo sacramento, e no te14.
corromper; tu festejars com o libertino na praa de mercado,
e virgens atiraro rosas sobre ti, e mercadores curvaro seus
joelhos e te traro ouro e especiarias. Tambm jovens meninos
derramaro vinhos maravilhosos para ti, e os cantores e
danarinos cantaro e danaro para ti.
Porm, no deves tu estar ali, pois tu deves ser esquecido, p15.
perdido no p.
Nem o prprio aeon te ser proveitoso nisto; pois, do p, uma16.
cinza branca ser preparada por Hermes, o Invisvel.
E esta a ira de Deus, que estas coisas devam ser assim.17.
E esta a graa de Deus, que estas coisas devam ser assim.18.
Portanto, eu vos ordeno que venhais a mim no Comeo,19.
pois, se vs dais sequer um passo neste Caminho, vs deveis
inevitavelmente chegar ao final dele.
Este Caminho est alm da Vida e da Morte; ele tambm est20.
alm do Amor; mas isso vs no sabeis, pois vs no conheceis
o Amor.
E o final dele nem mesmo conhecido por Nossa Senhora21.
ou pela Besta sobre a qual Ela cavalga; nem pela Virgem,
sua filha, ou por Chaos, seu Senhor legtimo; mas, pela
Criana Coroada, ele conhecido? Ele no conhecido se
ele for conhecido.
Portanto, a Hadit e a Nuit seja a Glria no Fim e no Incio; sim,22.
no Fim e no Incio.
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