laura kinsale a sombra e a estrela[1]

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Laura

Kinsale

Serie

Ashland

02

A

Sombra

e

a

estrela

Pesquisa,

traduo

e

reviso

Lizzy.

Londres,

1887.

Delegaes

de

todo

o

mundo

vo

capital

britnica

para

somar-se

aos

festejos

pelo

jubileu

da

rainha

Vitria.

E

acompanhando

misso

diplomtica

das

longnquas

ilhas

Hava

chegou

um

homem

enigmtico.

Atrativo,

culto

e

rico,

Samuel

Gerard

oculta

atrs

uma

personalidade

atraente

as

cicatrizes

de

uma

infncia

cruel.

Unicamente

a

disciplina

e

o

domnio

de

si

mesmo

conseguiram

lhe

apartar

do

que

ele

percebe

como

seu

lado

mais

sombrio,

onde

habitam

os

desejos

que

esteve

reprimindo

at

que

entra

em

sua

vide

Leda

toile.

Mame,

papai,

Cindy,

Ubba,

av,

av,

Elva,

Tootsie,

Bud,

Frances,

Sue,

Georgia,

tia,

Christine

Okage

sama

de:

Sou

o

que

sou

graas

a

sua

generosidade

No

existe

terra

alheia

no

mundo

que

exera

em

mim

atrao

mais

profunda

e

intensa

que

aquela,

nem

terra

alguma

que

me

tenha

obcecado

como

ela

com

tanto

amor

e

tanto

encanto,

em

sonhos

e

acordado,

ao

longo

de

meia

vida.

Outras

coisas

me

abandonam,

mas

ela

permanece

inaltervel.

Para

mim

no

cessa

de

sopro

sua

brisa

clida

nem

de

refulgir

sob

o

sol

seu

mar

de

estio;

o

rumor

de

seu

fluxo

ressoa

em

meus

ouvidos;

vejo

seus

penhascos

engalanados,

suas

cascatas

cantarinas,

os

penachos

de

suas

palmeiras

sonolentas

nas

praias,

suas

cpulas

longnquas

que

flutuam

qual

ilhas

sobre

anis

de

nuvens

Pervive

em

meu

olfato

o

aroma

de

umas

flores

que

se

murcharam

faz

vinte

anos.

Mark

TWAIN

E

lei

kau,

e

lei

ho'oilo

i

ke

aloha.

O

amor

nos

rodeia

como

uma

grinalda

ao

longo

de

invernos

e

estios.

A

sombra

do

guerreiro

1887

Deixou

em

suspense

o

pensamento

em

um

lugar

escuro

e

silencioso.

Apartando

do

vasto

falatrio

da

humanidade,

permitiu

que

o

sussurro

da

suave

brisa

que

movia

as

cortinas

alagasse

sua

mente.

Contemplou

sua

tnue

imagem

no

espelho

at

que

o

rosto

ali

refletido

se

converteu

no

de

um

desconhecido,

em

um

conjunto

de

traos

sem

expresso

alguma

nos

olhos

prateados

nem

na

boca

impassvel

e

depois

em

algo

menos

que

um

desconhecido,

em

uma

simples

mscara

austera

e

depois

em

algo

ainda

mais

frente:

em

umas

formas

elementares,

sem

rastro

humano.

S

um

espectro

de

luz

e

sombra,

uma

substncia

visvel

e

invisvel.

Dedicou-se

a

transformar

a

realidade

circundante

para

adequ-la

a

seus

fins.

Para

ocultar

seus

cabelos

dourados,

utilizou

um

recurso

do

teatro

kabuki,

o

capuz

negro

com

o

que

se

cobriam

os

kuroko

ao

introduzir-se

sigilosos

em

uma

cena

para

trocar

o

cenrio.

Para

esconder

seu

rosto,

rechaou

por

inadequados

a

pintura

ou

a

fuligem:

era

muito

difcil

tirar-lhe

com

rapidez

e

uma

prova

do

mais

flagrante

se

tirava

o

chapu

sua

presena.

Em

seu

lugar,

atou

sobre

o

rosto

uma

mscara

que

s

deixava

ao

descoberto

os

olhos,

de

um

tecido

mais

escuro

que

o

carvo

e

de

uma

malha

suave

e

flexvel

similar

ao

do

capote

cinza,

escuro

como

a

meia-noite,

que

ajustou

cintura

com

um

cinturo.

Sob

as

escuras

roupagens

levava

os

meios

para

escalar

um

muro,

para

propinar

um

golpe

fulminante,

para

escapar

ou

ferir;

para

matar.

Em

lugar

de

sapatos,

escolheu

os

flexveis

tabi1

com

o

fim

de

no

fazer

rudo

ao

andar

e

de

manter

o

contato

com

a

terra.

Terra

gua

ar

fogo

e

o

vazio.

Sentou-se

no

cho

com

as

pernas

cruzadas.

Os

ouvidos

atentos

a

suave

brisa

que

nenhum

homem

tinha

poder

suficiente

para

deter.

Sentiu

nos

ossos

a

fora

imensa

e

profunda

que

emanava

da

terra.

Deixou

que

nada

ocupasse

sua

mente.

Imvel,

fundiu-se

com

a

noite:

invisvel

no

espelho,

inadvertido

na

brisa.

Com

os

dedos

entrelaados,

invocou

o

poder

de

suas

intenes

para

mudar

o

mundo

tal

como

era.

Ficou

em

p

e

desapareceu.

Londres,

1887

Leda

despertou

de

repente

em

plena

noite.

Tinha

estado

sonhando

com

cerejas.

Seu

corpo

sentiu

o

sobressalto

da

transio,

uma

sacudida

desagradvel

que

a

obrigou

a

tragar

o

ar,

que

estremeceu

seus

msculos

e

lhe

acelerou

o

corao

enquanto

olhava

a

escurido

e

tratava

de

recuperar

o

flego,

de

entender

as

diferenas

entre

a

realidade

e

os

sonhos.

Eram

cerejas

e

ameixas?

tratava-se

de

um

bolo?

De

uma

sobremesa?

Da

receita

de

um

refresco?

No

ah

no,

do

chapu.

Fechou

os

olhos.

Deixou

que

a

mente

sonolenta

se

deslizasse

ante

a

questo

de

se

deviam

ser

cerejas

ou

ameixas

as

que

adornassem

o

chapu

alto,

terminado

em

ponta,

que

poderia

comprar

no

fim

de

semana

quando

madame

Elise

lhe

pagasse

o

trabalho

dirio.

Vagamente

intuiu

que

o

chapu

era

um

tema

muito

menos

perigoso

e

mais

agradvel

no

que

pensar

que

o

que

sabia

que

deveria

ocupar

seus

pensamentos:

sua

escura

habitao

e

os

distintos

rinces

ainda

mais

escuros,

e

que

alterao

podia

ter

sido

a

causa

de

seu

despertar

de

um

torpor

profundo

e

muito

necessrio.

O

silncio

da

noite

era

quase

total,

s

interrompido

pelo

tique-taque

do

relgio

e

a

suave

brisa

que

entrava

pela

janela

do

sto

onde

se

encontrava

sua

habitao

e

que

essa

noite

lhe

levava

o

aroma

do

Tamisa

e

no

os

aromas

normais

a

vinagre

e

destilaria.

A

esse

vero

antecipado

o

chamavam

tempo

da

rainha,

e

Leda

o

notou

na

face.

As

celebraes

do

jubileu

da

rainha

Vitria

faziam

que

pelas

noites

as

ruas

estivessem

mais

ruidosas

que

de

costume,

o

que

se

somava

s

multides

e

o

alvoroo

dos

espetculos,

aos

estrangeiros

extravagantes

procedentes

de

todos

os

rinces

do

mundo

que

se

viam

em

qualquer

parte,

cobertos

com

turbantes

e

jias,

e

que

parecia

que

acabavam

de

desmontar

de

seus

elefantes.

Mas

nesse

momento

a

noite

estava

em

silncio.

Ante

a

janela

aberta

distinguiu

apenas

a

silhueta

do

gernio

e

o

vulto

de

seda

rosa

que

tinha

terminado

de

costurar

s

duas

da

manh.

O

traje

de

baile

devia

entregar-

1 Tradicionais sapatos japoneses.

se

antes

das

oito,

com

as

costuras

e

as

dobras

feitas

e

os

bordados

da

cauda

terminados.

A

prpria

Leda

devia

estar

vestida

e

na

porta

de

atrs

de

madame

Elise

antes

dessa

hora,

por

volta

das

seis

e

meia,

com

o

traje

em

uma

cesta

de

vime

a

fim

de

que

uma

das

garotas

da

oficina

o

provasse

para

comprovar

que

no

tinha

defeitos

antes

que

o

repartidor

o

levasse

consigo.

Tentou

recuperar

aquele

sonho

to

prezado,

mas

tinha

o

corpo

tenso

e

o

corao

no

cessava

de

pulsar

com

fora.

Era

aquilo

um

rudo?

No

sabia

com

segurana

se

o

que

ouvia

era

um

som

real

ou

o

batimento

do

seu

prprio

corao.

Assim,

como

era

de

esperar,

os

batimentos

do

corao

cobraram

ainda

mais

fora,

e

aquela

idia

difusa

que

levava

um

tempo

lhe

rondando

o

pensamento

sem

que

o

reconhecesse

se

apropriou

por

completo

de

sua

mente:

havia

algum

ali

com

ela

na

pequena

habitao.

A

sensao

de

medo

que

experimentou

Leda

teria

feito

soprar

senhorita

Myrtle.

A

senhorita

Myrtle

tinha

uma

atitude

valorosa.

Ela

no

teria

ficado

na

cama

morta

de

medo

com

o

corao

desbocado.

Teria

se

posto

em

p

de

um

salto

e

agarrado

o

atiador

que

teria

deixado

junto

ao

travesseiro,

porque

a

senhorita

Myrtle

tinha

o

hbito

de

planejar

adiantado

emergncias

desse

tipo,

como

descobrir

que

no

estava

sozinha

em

sua

prpria

habitao

no

meio

da

escurido.

Leda

no

era

feita

dessa

fibra.

Sabia

que

a

esse

respeito

tinha

sido

uma

decepo

para

a

senhorita

Myrtle.

Tinha

um

atiador,

mas

no

se

acordou

de

coloc-lo

perto

da

cama

antes

de

deitar-se,

j

que

estava

esgotada

e

era

filha

de

uma

frvola

francesa.

Ao

estar

desarmada,

no

ficava

mais

que

dar

o

seguinte

passo

lgico:

convencer-se

a

si

mesmo

de

que

com

toda

segurana

no

havia

ningum

mais

em

sua

habitao.

Era

evidente

que

no.

De

onde

se

encontrava

a

podia

ver

em

quase

sua

totalidade,

e

a

sombra

da

parede

no

era

outra

coisa

que

seu

casaco

e

seu

guarda-chuva

no

cabide,

onde

os

tinha

pendurado

fazia

um

ms,

depois

dos

ltimos

frios

de

meados

de

maio.

Tinha

uma

cadeira

e

uma

mesa

com

a

mquina

de

costurar

alugada;

um

mvel

lavabo

com

sua

bacia

e

jarra.

Teve

um

susto

momentneo

ao

ver

a

silhueta

do

manequim

junto

chamin;

mas,

ao

olhar

com

mais

parada,

deu-se

conta

de

que,

atravs

da

malha

aberta

do

torso

e

a

saia,

podia

ver

a

forma

quadrada

do

lar

da

chamin.

Podia

distinguir

todas

essas

coisas,

inclusive

na

escurido;

sua

cama

estava

prxima

parede

do

pequeno

sto,

assim,

a

no

ser

que

o

intruso

estivesse

pendurado

qual

morcego

da

viga

do

teto

que

havia

sobre

sua

cabea,

devia

estar

sozinha.

Fechou

os

olhos.

Abriu-os

de

novo.

Moveu-se

a

sombra?

No

era

um

tanto

larga

para

ser

a

de

seu

casaco

e

desaparecer

na

escurido

nas

proximidades

do

cho?

No

tinha

aquela

mancha

ainda

mais

escura

a

forma

dos

ps

de

um

homem?

Tolices.

O

esgotamento

lhe

impedia

de

ver

com

claridade.

Fechou

os

olhos

de

novo

e

respirou

profundamente.

Abriu-os.

Fixou

o

olhar

na

sombra

de

seu

casaco

e,

continuando,

apartou

os

lenis,

levantou-se

apressada

e

gritou:

Quem

?

Aquela

pergunta

to

genrica

obteve

um

silncio

por

toda

resposta.

Ali

de

p,

descala

sobre

a

madeira

fria

e

rugosa

do

cho,

sentiu-se

estpida.

Riscou

um

crculo

com

o

p

para

comprovar

a

profunda

sombra

sob

seu

casaco.

Deu

quatro

passos

para

trs,

para

a

chamin,

e

procurou

provas

o

atiador.

Com

aquele

utenslio

na

mo,

sentiu-se

muito

mais

proprietria

da

situao.

Moveu

o

atiador

em

direo

ao

casaco

e

com

a

barra

de

ferro

mediu

o

tecido

de

cima

abaixo,

e

depois

o

passou

por

todos

os

rinces

escuros

da

habitao,

inclusive

por

debaixo

da

cama.

Nas

sombras

no

havia

nada.

Nenhum

intruso

escondido.

Nada

a

no

ser

espao

vazio.

O

alvio

fez

que

relaxasse

os

msculos.

Levou

a

mo

ao

peito,

rezou

uma

curta

prece

em

agradecimento

e,

antes

de

voltar

para

a

cama,

comprovou

que

a

porta

estivesse

fechada

com

chave.

A

janela

aberta

no

oferecia

nenhum

perigo;

dava

ao

enlodado

canal

e

s

se

podia

acessar

a

ela

de

um

telhado

ngreme.

Mas,

em

que

pese

a

tudo,

deixou

o

atiador

mo,

no

cho.

Depois

de

cobrir-se

com

o

remendado

lenol

at

o

nariz,

voltou

a

sumir-

se

em

um

agradvel

sonho

no

que

teve

um

destacado

papel

um

tentilho2

dissecado,

muito

bonito

e

elegante,

e

to

de

acordo

com

os

cnones

da

moda

do

momento

que

a

uma

a

podiam

persuadir

de

que,

para

adornar

um

chapu,

era

mil

vezes

prefervel

s

cerejas

e

as

ameixas.

O

jubileu

fazia

que

todas

as

coisas

e

todo

mundo

cobrassem

um

ritmo

amalucado.

Logo

que

tinha

amanhecido

quando

Leda

subiu

a

escada

traseira

de

Regent

Street,

mas

encontrou

a

todas

as

moas

da

oficina

com

a

agulha

na

mo

e

inclinadas

sobre

seus

trabalhos

luz

dos

abajures

de

gs.

Dava

a

impresso

de

que

a

maioria

delas

tinha

passado

ali

toda

a

noite,

algo

de

tudo

provvel.

Esse

ano,

as

pressas

anuais

da

temporada

de

festejos

se

aceleraram:

festas,

piqueniques

campestres,

e

todas

as

jovens

bonitas

e

as

damas

com

estilo

imersas

em

uma

autntica

mar

de

compromissos

e

diverses

por

causa

do

jubileu.

Leda

fechou

os

olhos

cansados

e

piscou

de

novo

enquanto

ela

e

a

chefa

da

oficina

tiravam

da

cesta

o

enorme

vulto

de

tecido.

Estava

esgotada;

todas

o

estavam,

mas

o

nervosismo

e

a

iluso

eram

contagiosos.

Quem

pudesse

levar

algo

assim,

to

belo!

Fechou

os

olhos

uma

vez

mais

e

se

separou

do

vestido

de

baile,

um

pouco

tonta

pela

fome

e

a

agitao.

V

procurar

um

po-doce

lhe

disse

a

primeira

costureira.

Certo

que

no

terminou

com

isto

antes

das

duas

da

manh,

no

verdade?

Tome

um

ch

se

quiser,

mas

date

pressa.

H

uma

reunio

a

primeira

22 Tipo de pssaro.

hora.

Uma

das

delegaes

estrangeiras

estar

aqui

s

oito

em

ponto

e

tem

que

ter

prontas

as

sedas

de

cores.

Estrangeiros?

Orientais,

acredito.

Tero

o

cabelo

negro.

E

claro,

no

seria

boa

idia

ressaltar

sua

pele

amarela.

Leda

se

apressou

a

ir

outra

habitao,

tragou

depressa

uma

taa

de

ch

aucarado

junto

com

o

po-doce,

e

a

seguir

correu

escada

acima

e

foi

saudando

o

passar

s

aprendizes

internas.

Ao

chegar

ao

terceiro

piso,

introduziu-se

em

uma

pequena

habitao,

tirou

a

singela

saia

azul

marinho

e

a

blusa

de

algodo,

lavou-se

no

lavabo

de

porcelana

com

a

gua

morna

de

um

balde

de

lato

e

ps-se

a

andar

pelo

corredor

de

camisa

e

cales.

Uma

das

aprendizes

lhe

saiu

ao

encontro

a

meio

caminho.

J

escolheu

sob

medida

disse

a

moa.

O

de

seda

com

xadrez,

em

honra

ao

carinho

que

sua

majestade

sente

pelo

castelo

de

Balmoral.

Leda

soltou

um

pequeno

grito

de

irritao.

Veja!

Mas

eu

Se

deteve

quando

estava

a

ponto

de

dizer

algo

to

vulgar

quanto

no

podia

permitir-se

de

nenhuma

forma

o

novo

traje.

Mas

esse

ia

ser

o

uniforme

do

salo

durante

o

resto

do

jubileu;

deduziriam-lhe

o

custo

obrigatoriamente

de

seu

salrio.

A

perda

da

senhorita

Myrtle

lhe

tinha

posto

as

coisas

muito

difceis.

Mas

Leda

no

ia

ficar

a

chorar,

obvio

que

no,

por

muito

que

tivesse

que

rebaixar-se.

O

que

lhe

acontecia

era

que

tinha

dormido

muito

pouco,

que

seu

descanso

no

tinha

sido

completo

e

que

se

despertou

tarde

e

de

mal

humor.

Sentia

mais

ganha

de

pegar

patadas

que

de

chorar,

porque

a

senhorita

Myrtle

tinha

planejado

o

futuro

com

cuidado,

e

tinha

redigido

legalmente

sua

ltima

vontade

e

testamento,

no

que

deixava

a

posse

de

sua

casa

de

Mayfair

a

um

sobrinho

vivo,

a

ponto

de

cumprir

os

oitenta

anos,

com

a

condio

de

que

permitisse

que

Leda

seguisse

vivendo

nela

e

se

encarregasse

de

lhe

levar

a

casa,

e

de

que

sua

habitao

continuasse

sendo

dela,

se

assim

o

desejava,

e

ela

o

desejava

com

toda

sua

alma.

O

vivo

tinha

mostrado

sua

conformidade

em

privado,

e

no

escritrio

do

advogado

tinha

chegado

a

dizer

que

seria

toda

uma

honra

que

a

jovem

dama

de

companhia

da

senhorita

Myrtle

estivesse

frente

de

sua

casa.

E,

quando

tudo

parecia

haver-se

resolvido

a

satisfao

de

ambos,

foi

questo

de

muito

m

sorte

que

ele

se

colocou

no

caminho

de

um

nibus

sem

deixar

testamento

nem

herdeiros

e

sem

to

sequer

ter

expressado

sua

opinio

sobre

o

assunto.

Mas

assim

eram

as

coisas,

e

assim

os

homens.

Um

sexo

do

mais

insensato,

ao

fim

e

ao

cabo.

A

casa

de

Mayfair

tinha

ido

parar

ento

a

uma

prima

longnqua

da

senhorita

Myrtle

que

no

tinha

nenhuma

inteno

de

ocup-la.

Nem

de

manter

a

Leda

para

que

se

ocupasse

dos

novos

inquilinos.

Leda

era

muito

jovem

para

ser

um

ama

de

chaves

como

devido;

no

era

o

adequado.

No,

nem

sequer

apesar

de

que

a

prima

Myrtle,

uma

Balfour,

tivesse

criado

a

Leda

em

South

Street.

Aquele

assunto

tinha

sido

uma

temeridade:

tirar

uma

menina

do

rio

e

situ-la

por

cima

do

que

era

sua

posio

natural.

A

prima

duvidava

muito

de

que

fosse

apropriado,

v

se

o

fazia.

Mas,

bom,

a

prima

Myrtle

sempre

tinha

sido

um

tanto

peculiar

-toda

a

famlia

sabia,

em

que

pese

a

que

em

uma

poca

esteve

prometida

com

um

visconde.

Em

vez

de

seguir

com

ele,

atou-se

com

aquele

homem

inominvel,

o

que

a

tinha

colocado

em

uma

situao

absolutamente

inaceitvel,

e

sem

to

sequer

uma

aliana

matrimonial

que

poder

mostrar

em

troca,

verdade

que

no?

Tampouco

via

a

prima

nenhuma

maneira

de

que

Leda

continuasse

na

casa

em

outra

posio

por

muito

que

trabalhasse,

por

muito

boa

que

fosse

costurar

ou

para

confeccionar

elegantes

objetos;

tampouco

podia

em

conscincia

escrever

uma

carta

de

recomendao

para

que

Leda

solicitasse

um

posto

de

datilgrafa.

A

prima

o

sentia

muito,

de

verdade

que

o

sentia,

mas

no

sabia

nada

da

senhorita

Leda

toile,

exceto

sua

me

era

francesa,

e

do

que

serviria

escrever

algo

assim

como

referncia?

E,

como

Leda

tinha

descoberto

muito

em

breve,

era

certo

que

s

havia

dois

tipos

de

estabelecimentos

nos

que

uma

jovem

dama

de

maneiras

refinados

e

duvidosa

origem

francesa

era

bem-vinda,

e

o

salo

de

uma

costureira

de

moda

era

o

nico

que

se

podia

nomear.

Leda

tomou

ar

com

fora.

Bom,

pois

vamos

parecer

todas

autnticas

habitantes

das

Terras

Altas

da

Esccia

com

os

trajes

quadriculados,

no?

disse

a

aprendiz.

Est

preparado

o

meu?

A

moa

assentiu.

S

me

falta

subir

a

prega.

Voc

tem

um

passe

s

oito.

Estrangeiros.

Orientais

-disse

Leda

enquanto

seguia

moa

de

avental

branco

a

uma

estadia

em

que

o

tapete

e

a

larga

mesa

estavam

salpicadas

de

recortes

de

tecido

de

todo

tipo

e

cor.

Enquanto

Leda

colocava

o

espartilho

e

ajustava

os

aros

de

metal

das

anquinhas

por

detrs

dos

quadris,

a

moa

agarrou

um

vulto

de

tecido

xadrez

azul

e

verde.

Leda

levantou

os

braos

para

que

o

vestido

se

deslizasse

sobre

sua

cabea.

Ento

so

orientais,

n?

murmurou

a

moa

com

a

boca

cheia

de

alfinetes.

Foi

tirando

e

colocando

com

destreza.

So

desses

que

retorceram

o

pescoo

dos

frangos

no

hotel

Langham?

Claro

que

no

-reps

Leda.

Acredito

que

foi

um

sulto

o

que

bom,

que

originou

o

desafortunado

incidente

com

as

aves.

No

era

apropriado

que

uma

dama

falasse

de

retorcer

o

pescoo

dos

frangos.

Consciente

disso,

fez

um

esforo

por

lhe

esclarecer

as

idias

moa.

Os

orientais

so

do

Japo.

Ou

Nipnico,

que

o

nome

correto.

E

isso

onde

fica?

Leda,

sem

muita

segurana

em

seus

conhecimentos

de

geografia,

franziu

o

cenho.

A

senhorita

Myrtle

tinha

sido

uma

grande

defensora

da

educao

feminina;

mas,

como

carecia

dos

meios

adequados

-de

uma

esfera

terrquea,

por

exemplo,

algumas

das

lies

repartidas

por

ela

no

tinham

deixado

mais

que

um

leve

rastro.

difcil

de

descrever

-respondeu,

tratando

de

ganhar

tempo,

teria

que

lhe

mostrar

isso

em

um

mapa.

A

agulha

da

moa

entrava

e

saa

com

rapidez

do

tecido

de

seda.

Leda

torceu

o

nariz

ao

ver

refletido

o

traje

xadrez

no

espelho

rachado

embutido

na

parede.

Esses

tecidos

to

chamativos

no

eram

de

seu

agrado,

e,

pior

ainda,

aquele

tecido

to

rgido

no

se

ajustava

bem

aos

contornos

das

anquinhas.

Note

em

como

fica

avultada

por

detrs

-disse

enquanto

tratava

de

esmagar

o

enorme

vulto

que

lhe

formava

depois

dos

quadris.

O

que

pareo

uma

galinha

escocesa.

Vamos,

no

para

tanto,

senhorita

toile.

O

verde

vai

muito

bem

a

seus

olhos.

Faz

que

destaque

sua

cor.

A,

sobre

a

mesa,

est

o

distintivo

que

tem

que

levar

no

cabelo.

Leda

se

aproximou

e

agarrou

o

adorno;

provou

a

colocar-se

o

de

distintas

formas

sobre

o

cabelo

cor

mogno

escuro

at

ficar

completamente

satisfeita

com

o

efeito.

O

verde

escuro

do

xadrez

do

distintivo

quase

no

destacava

entre

a

intensa

cor

de

seu

cabelo,

assim

que

o

colocou

com

uma

inclinao

que

lhe

dava

um

ar

desenvolto.

A

senhorita

Myrtle,

depois

de

uma

olhada,

haveria

dito

que

o

efeito

resultava

muito

coquete

para

ser

elegante.

Alm

disso,

teria

aproveitado

a

circunstncia

para

mencionar

que

em

certa

ocasio

tinha

quebrado

seu

compromisso

com

um

visconde,

esta

ao

do

mais

imprudente,

tinha

que

reconhecer;

mas

as

jovens

de

dezessete

anos

cometem

imprudncias

freqentemente.

(Nesse

momento

da

histria

sempre

dirigia

a

Leda

um

olhar

cheio

de

significado,

tanto

se

maturao

Leda

tinha

doze

anos,

como

se

tinha

vinte.)

A

prpria

senhorita

Myrtle

tendia

a

ser

mesurada

e

comedida

no

que

ao

aspecto

se

refere.

Que

essa

tendncia

to

refinada

tivesse

algo

que

ver

com

a

escassez

de

meios

para

adquirir

adornos

excessivos

e

outras

frivolidades

da

moda

era

um

fato

que

amavelmente

passava

por

cima

o

crculo

ntimo

de

amizades

da

senhorita

Myrtle:

damas

criadas

na

elegncia,

de

circunstncias

parecidas,

que

se

mostravam

de

total

acordo

nesse

ponto.

Mas

a

senhorita

Myrtle

havia

falecido

e,

por

muito

que

Leda

a

honrasse

em

sua

memria,

esses

gostos

to

singelos

no

se

adequavam

ao

que

se

esperava

de

uma

jovem

modelo

de

salo

no

estabelecimento

de

madame

Elise,

costureira

da

casa

real

por

designao

de

sua

alteza

real

a

princesa

de

Gales.

Tinha

que

resignar-se

com

o

traje

escocs,

e

a

metade

do

dinheiro

do

preo

do

delicado

e

elegante

chapu

com

o

que

Leda

tinha

sonhado

(j

confeccionado

e

com

o

casto

adorno

de

um

pssaro

embalsamado)

estava

claro

que

desapareceria,

sem

ir

mais

longe,

com

to

s

pagar

o

medalho

dourado

que

adornava

o

distintivo

a

quadros.

A

senhora

Isaacson,

personalidade

que

se

escondia

depois

do

pseudnimo

de

madame

Elise,

desaparecida

longo

tempo

atrs,

entrou

com

celeridade

na

oficina

onde

se

cortavam

os

trajes.

Ps

nas

mos

de

Leda

um

punhado

de

cartes,

jogou-lhe

uma

breve

olhada

sem

dizer

uma

palavra

e

fez

um

leve

gesto

de

assentimento.

Muito

bem.

O

adorno

do

cabelo

conta

com

minha

aprovao,

aposto.

Se

no

lhe

importar,

ajude

senhorita

Clark

a

ficar

o

com

a

mesma

graa.

Ela

o

tem

cado.

Fez

um

gesto

com

o

dedo

indicando

os

cartes.

Haver

damas

inglesas

entre

o

grupo

de

estrangeiros.

Acredito

que

lady

Ashland

e

sua

filha

so

tambm

de

pele

escura.

Modelos

de

dia

e

de

noite,

o

enxoval

completo.

Concentre-se

nos

tons

fortes

e

pode

ser

o

rosa,

e

assegure-se

de

que

no

haja

nem

rastro

de

amarelo

em

nenhum

objeto,

embora

o

marfim

possa

ser

que

sirva;

j

veremos.

Quando

estiverem

todos

aqui

ser

um

grupo

numeroso,

uns

seis

ou

sete.

Conforme

tenho

entendido,

todos

querero

que

lhes

faam

as

recomendaes

de

uma

vez.

Voc

ter

que

dar

uma

mo

se

a

necessitar.

obvio,

senhora

-disse

Leda

e,

depois

de

uma

hesitao,

obrigou-se

a

si

mesmo

a

acrescentar:

Poderia

falar

com

voc

em

privado,

senhora,

se

dispuser

de

uns

minutos?

A

senhora

Isaacson

lhe

dirigiu

um

olhar

cheio

de

acuidade.

Agora

mesmo

no

tenho

tempo

para

falar

em

privado

com

voc.

Trata-se

do

novo

traje

para

o

salo

de

exibies?

Vivo

fora,

senhora.

Neste

momento,

-Era

horrvel

ver-se

forada

a

falar

assim.

Minhas

circunstncias

so

muito

difceis

na

atualidade,

senhora.

Naturalmente,

o

custo

pode

deduzir-se

de

seu

salrio.

Em

seu

contrato

acordamos

que

seriam

seis

xelins

semana.

Leda

manteve

a

vista

baixa.

que

me

impossvel

viver

com

o

que

fica,

senhora.

A

senhora

Isaacson

permaneceu

uns

instantes

em

silncio.

Sua

obrigao

se

vestir

de

acordo

com

o

posto

que

ocupa.

Tem

que

entender

que

no

posso

consentir

que

se

altere

o

contrato.

Explicaram-lhe

com

total

claridade

as

condies

quando

veio

trabalhar

conosco.

Seria

um

precedente

que

no

posso

me

permitir

aceitar.

No,

senhora

-disse

Leda

com

um

fio

de

voz.

Produziu-se

de

novo

outro

silncio,

quase

insuportvel.

Verei

o

que

se

pode

fazer

-disse

por

fim

a

senhora

Isaacson.

Uma

sensao

de

alvio

se

apoderou

de

Leda.

Obrigada,

senhora.

Eu

agradeo.

E

fez

uma

leve

reverencia

enquanto

a

senhora

Isaacson

recolhia

o

vo

da

saia

para

partir.

Leda

leu

os

cartes.

Tal

como

era

habitual

naquele

ano

de

visitantes

exticos,

algum

do

Ministrio

de

Assuntos

Exteriores

se

encarregou

de

lhes

fazer

chegar

conselhos

teis

no

referente

ao

protocolo.

Sob

a

data

apareciam

as

entrevistas

agendadas.

Representao

japonesa,

8

da

manh

Sua

alteza

real

a

princesa

imperial

Terute-No-Miya

do

Japo.

Tratamento

de

sua

alteza

muito

serena.

No

fala

ingls.

Consorte

imperial

Okubo

Otsu

do

Japo.

Tratamento

de

sua

alteza

muito

serena.

No

fala

ingls.

Lady

Inouye

do

Japo.

Em

representao

de

seu

pai

o

conde

Inouye,

ministro

japons

de

Assuntos

Exteriores,

tratamento

diplomtico

de

sua

excelncia.

Ingls

fluido,

educada

na

Inglaterra,

no

ter

dificuldades

para

fazer

de

intrprete.

Representao

do

Hava

(ilhas

Sandwich),

10

da

manh

Sua

majestade

a

rainha

Kapiolani

das

ilhas

Hava.

Tratamento

de

sua

majestade.

Fala

muito

pouco

ingls,

ser

necessrio

um

intrprete.

Sua

alteza

real

a

princesa

Liliyewokalani,

princesa

herdeira

das

ilhas

Hava.

Tratamento

de

sua

alteza.

Ingls

fluido,

se

far

de

intrprete

sem

problemas.

Lady

Ashland,

marquesa

de

Ashland,

e

sua

filha

lady

Catherine.

Com

residncia

atual

nas

ilhas

Hava.

Intima

da

rainha

e

a

princesa

do

Hava.

Leda

olhou

uma

e

outra

vez

os

cartes,

memorizando

os

ttulos,

enquanto

a

aprendiz

terminava

de

lhe

costurar

a

prega.

Encontrava-se

em

seu

elemento.

A

senhorita

Myrtle

Balfour

tinha

posto

todo

seu

empenho

na

misso

de

educar

Leda

para

que

observasse

as

normas

de

etiqueta

adequadas

que

tm

que

seguir

quem

so

acolhidos

pela

boa

sociedade.

E

era

certo

que

Leda

tinha

sido

recebida

com

toda

cordialidade

pelas

vivas

e

solteironas

de

South

Street.

O

halo

de

agradvel

escndalo

que

ainda

rodeava

a

senhorita

Myrtle

da

poca

daquele

homem

inominvel,

face

aos

mais

de

quarenta

anos

que

levava

de

vida

tranqila

e

retirada

na

casa

de

seus

pais,

era

um

passaporte

seguro

para

qualquer

desdobramento

de

comportamento

estranho.

A

uma

Balfour

terei

que

lhe

permitir

ter

suas

prprias

excentricidades,

inclusive

anim-la

a

isso;

isso

proporcionava

certo

ar

de

aventura

e

atrevimento

a

fechada

e

recatada

sociedade

de

South

Street.

Assim

que

as

damas

de

South

Street

tinham

fechado

filas

e

repreendido

de

forma

muito

direta

a

qualquer

que

se

atrevesse

a

pr

em

interdio

o

bom

sentido

da

senhorita

Myrtle

por

ter

tomado

a

deciso

de

dar

proteo

em

seu

lar

filha

pequena

de

uma

francesa,

e

tinham

acolhido

a

Leda

em

seu

bem

alimentado

seio;

e

por

isso

tinha

alcanado

a

plenitude

de

sua

feminilidade

entre

as

flores

murchas

da

aristocracia

de

Mayfair

e

contava

entre

suas

amizades

mais

ntimas

com

ancis

filhas

de

condes

e

alhadas

irms

de

bares.

Todas

estas

majestades

e

altezas,

entretanto,

tinham

um

pouco

mais

de

categoria

que

aquelas

pessoas

s

que

estava

acostumada

a

tratar,

e

o

Ministrio

de

Assuntos

Exteriores

era

muito

atento

e

amvel

ao

esclarecer

adiantado

as

distintas

relaes

e

dissipar

assim

qualquer

medo

a

incmodas

intromisses.

Tudo

transcorreria

sem

problemas,

tal

como

tinha

acontecido

na

semana

anterior

com

a

visita

da

maharan

e

as

damas

do

Sio,

acompanhadas

por

uma

dama

da

China.

Com

a

prega

terminada,

Leda

se

dirigiu

a

escolher

os

tecidos

e

agarrou

um

pesado

cilindro

atrs

de

outro

de

brocados,

veludos

e

sedas,

e

foi

empilhando

depois

do

mostrador

do

salo

de

exibies.

Os

altos

espelhos

que

recobriam

os

painis

da

parede

refletiam

com

toda

sua

opulncia

os

tons

violeta

e

mbar

do

tapete

que

cobria

o

cho

da

enorme

estadia.

Outras

jovens

empregadas

faziam

o

mesmo,

preparando-se

para

receber

aos

clientes

habituais,

que,

em

sua

maioria,

tinham

entrevista

agendada

para

mais

tarde,

h

horas

mais

civilizadas.

Justo

no

momento

em

que

terminava

de

colocar

o

ltimo

cilindro

de

tecido

de

seda

a

raias

sobre

a

pilha,

entrou

o

lacaio

no

salo

em

companhia

de

sua

alteza

muito

serena

do

Japo.

Madame

Elise,

ou

Isaacson,

apressou-se

a

fazer

uma

reverncia

ante

as

quatro

delicadas

damas

orientais,

que

ficaram

ao

lado

da

porta

como

assustados

cervos.

Mantinham

o

olhar

cravado

nas

pontas

de

seus

sapatos

de

estilo

ocidental

e

as

mos

apoiadas

nas

saias.

A

raia

que

dividia

seus

cabelos

negros

como

o

azeviche

era

uma

linha

perfeita,

de

um

branco

nveo

como

seus

rostos

de

porcelana.

Madame

Elise

lhes

deu

as

boas

vindas

com

seu

melhor

sotaque

francs

e

lhes

rogou

que

a

acompanhassem.

Comeou

a

afastar-se.

Depois

de

apenas

trs

passos,

estava

claro

que

nenhuma

das

damas

japonesas

a

seguia.

Continuavam

em

silncio,

sem

mover-se,

com

a

vista

cravada

no

cho.

Madame

Elise

olhou

ao

lacaio

e,

ao

tempo

que

arqueava

as

sobrancelhas,

perguntou

formando

as

palavras

com

os

lbios:

Lady

Inouye?

O

homem

respondeu

encolhendo

os

ombros

de

forma

quase

imperceptvel.

A

madame

no

ficou

mais

remedeio

que

recorrer

soluo

extrema

de

dizer

em

voz

alta,

esta

vez

em

ingls

sem

sotaque

francs

algum:

Lady

Inouye,

permite-me

ter

a

imensa

honra,

excelncia?

Ningum

respondeu.

Uma

das

duas

damas

japonesas

que

ficava

meio

oculta

pelas

outras

duas

fez

um

leve

gesto

para

a

silueta

diante

dela.

Madame

Elise

deu

um

passo

em

direo

dama.

Sua

excelncia?

A

jovem

japonesa

levou

a

mo

aos

lbios

e

sorriu,

para

depois

soltar

uma

tmida

risada.

Com

uma

bela

voz

de

menina

disse

algo

incompreensvel,

quase

entre

sussurros,

que

soou

como

se

tratasse

de

cantar

com

a

boca

cheia

de

gua.

Inclinou-se

ligeiramente,

assinalou

a

porta

s

suas

costas

e

fez

uma

nova

inclinao.

Deus

nos

ampare

-disse

madame

Elise.

Acreditava

que

sua

excelncia

falava

ingls.

A

jovem

voltou

a

indicar

a

porta.

Logo

levou

a

mo

garganta,

tossiu

teatralmente

e

assinalou

novamente

a

porta.

Todos

os

pressente

guardaram

silncio

entre

dvidas.

Madame

Elise

-aventurou

Leda,

possvel

que

Lady

Inouye

no

tenha

vindo?

Que

no

tenha

vindo?

A

voz

de

madame

Elise

estava

tinta

de

pnico.

Leda

deu

um

passo

adiante.

Sua

excelncia

-disse

com

lentido

e

claridade

e,

continuando,

levou

a

mo

garganta,

tossiu

como

tinha

feito

a

outra

jovem

e

assinalou

a

porta.

As

quatro

damas

japonesas

fizeram

uma

reverncia

de

uma

vez;

as

saudaes

foram

de

uma

inclinao

profunda,

dobrando

a

cintura,

a

um

ligeiro

gesto

com

a

cabea.

Deus

nos

ampare

-disse

madame

Elise.

Produziu-se

outro

silncio.

Mademoiselle

toile

-disse

madame

Elise

de

repente,

encarregue-

se

destas

clientes.

Agarrou

a

Leda

pelo

brao

e

a

empurrou

para

diante,

apresentando-a

como

se

de

um

presente

se

tratasse,

e

logo

se

retirou

fazendo

reverncias

at

afastar

do

grupo.

Leda

respirou

fundo.

No

tinha

idia

das

quais

eram

a

princesa

nem

a

imperatriz

consorte,

mas

intua

que

se

tratava

das

duas

que

estavam

diante,

as

que,

em

lugar

de

fazer

uma

reverncia,

logo

que

tinham

realizado

um

gesto

de

assentimento.

Com

um

amplo

gesto

do

brao,

tratou

das

levar

a

todas

para

os

assentos

dispostos

junto

ao

mostrador

de

maior

tamanho.

Como

um

pequeno

grupo

de

gansos

obedientes,

dirigiram-se

a

pequenos

passos

para

as

cadeiras.

Duas

tomaram

assento,

e

as

outras

duas

se

fincaram

com

graa

de

joelhos

no

cho

e

mantiveram

o

olhar

baixo.

Bom,

estava

claro

que

as

duas

das

poltronas

pertenciam

realeza,

e

as

outras

duas

eram

algum

tipo

de

damas

de

companhia.

Leda

agarrou

uma

revista

de

moda

do

mostrador.

Como

no

estava

segura

de

qual

das

damas,

a

uma

princesa

e

a

outra

consorte,

tinha

preferncia,

ofereceu

a

que

aparentava

ter

mais

idade.

A

dama

se

apartou

com

um

gesto

negativo

e

moveu

a

palma

da

mo

ante

seu

rosto

como

se

fosse

um

leque.

Leda

se

desculpou,

fez

uma

profunda

reverncia

outra

dama

e

lhe

ofereceu

a

revista.

Tambm

esta

declinou

agarrar

a

publicao

ilustrada.

Enquanto

Leda

permanecia

com

ela

entre

as

mos,

olhou

desesperada

s

que

estavam

no

cho.

No

era

possvel

que

em

seu

pas

a

posio

mais

baixa

era

signo

de

superioridade?

No

ficava

outra

alternativa:

ofereceu-lhe

a

revista

dama

mais

prxima

das

duas

que

estavam

ajoelhadas.

Era

a

que

tinha

gesticulado

antes

para

indicar

que

Lady

Inouye

se

encontrava

indisposta.

Agora,

levantou

a

mo

para

rechaar

a

revista.

Virou-se

se

dirigiu

em

voz

baixa

a

mais

jovem

das

damas

sentadas,

quem

a

sua

vez

respondeu

com

outro

sussurro.

Leda

estava

sumida

na

confuso.

A

jovem

ajoelhada

girou,

inclinou

o

corpo

at

roar

o

cho

com

a

frente

e

disse:

So

gis.

Leda

mordeu

os

lbios

e

em

seguida

comps

de

novo

o

gesto.

So

gis

-repetiu.

Moda?

acrescentou,

aproximando

de

novo

a

revista

ilustrada.

A

negativa

foi

firme.

Leda

fez

uma

nova

reverncia

e

se

foi

depois

do

mostrador,

levantou

duas

peas

de

veludo

e

as

levou

at

as

damas.

Possivelmente

o

que

queriam

era

comear

pelas

malhas.

O

intento

fracassou.

As

damas

japonesas

olharam

os

veludos

sem

a

mais

mnima

inteno

de

toc-los,

e

comearam

a

falar

entre

elas

com

suavidade.

So

gis

-repetiu

a

acompanhante

de

joelhos.

I

as

So

gis.

Sinto-o

muitssimo

-disse

Leda

com

impotncia,

mas

no

compreendo.

Provou

com

uma

seda

de

cor

verde

lima.

Possivelmente

procurassem

tecidos

mais

leves.

I

as

So

gis

-foi

a

resposta

suave,

insistente.

I

as

So

gis.

Ah!

exclamou

Leda

de

repente.

Refere-se

s

ilhas

Sandwich?

A

jovem

de

joelhos

entrechocou

as

mos

e

se

inclinou.

Sangis!

repetiu

com

alegria.

Todas

as

damas

japonesas

soltaram

uma

risada.

A

de

mais

idade

tinha

os

dentes

enegrecidos,

o

que

fazia

que

sua

boca

parecesse

um

espao

vazio

ao

abri-la,

efeito

estranho

e

desconcertante

de

uma

vez.

Desejam

esperar

a

que

chegue

sua

majestade

a

rainha

das

ilhas

Sandwich?

perguntou

Leda.

A

dama

de

companhia

respondeu

com

uma

corrente

de

palavras

em

japons.

Leda

fez

uma

inclinao

e

se

ergueu

sem

saber

o

que

fazer.

As

damas

colocaram

suas

plidas

e

diminutas

mos

no

colo

e

baixaram

a

vista.

Durante

duas

horas,

at

a

entrevista

das

dez

com

a

rainha

das

ilhas

Sandwich,

permaneceram

na

mesma

postura

enquanto

Leda,

de

p,

fazia

companhia

a

aquele

reduzido

e

paciente

grupo

de

damas,

que

no

moviam

a

vista

nem

direita

nem

esquerda,

mas

que,

de

vez

em

quando,

falavam-se

em

sussurros.

A

nica

pausa

naquela

tortura

deliciosa

foi

quando

madame

Elise

teve

a

presena

de

nimo

de

enviar

uma

bandeja

de

ch

e

bolos

da

que

as

damas

deram

conta

com

discreto

entusiasmo

e

em

meio

de

mais

risadas.

Pareciam

bonecas

sorridentes,

pequenas

e

cheias

de

acanhamento.

Havia

tal

silncio

no

salo

que

todos

puderam

ouvir

a

carruagem

quando

por

fim

se

deteve

a

entrada,

assim

como

as

vozes

em

ingls

na

porta.

Leda

sentiu

um

alvio

tal

que

se

esqueceu

da

dor

de

costas

que

sofria

e

fez

uma

profunda

reverncia.

As

ilhas

Sandwich

-disse

esperanada,

indicando

as

janelas.

Todas

as

damas

japonesas

levantaram

a

vista,

sorriram

e

fizeram

distintas

inclinaes.

Depois

de

uns

momentos,

apareceu

na

porta

o

grupo

do

Hava.

Uma

dama

de

aspecto

imponente,

que

se

movia

com

lentido,

entrou

no

salo

em

primeiro

lugar,

embelezada

com

um

vestido

matinal

de

seda

morada

que

lhe

sentava

como

uma

luva

e

que

seu

amplo

busto

enchia

com

opulncia.

Depois

dela

ia

uma

dama

igual

de

elegante

e

volumosa,

um

pouco

mais

jovem

e

bela,

de

pele

escura

e

largas

bochechas,

de

aparncia

majestosa.

Madame

Elise

se

adiantou

e

fez

uma

profunda

reverncia.

A

segunda

dama

daquele

impressionante

casal

disse

em

um

ingls

agradvel

e

perfeitamente

compreensvel:

Bom

dia.

Com

um

gesto

da

cabea

indicou

dama

vestida

de

seda

Esta

minha

irm,

sua

majestade

a

rainha

Kapiolani.

Depois

de

exalar

um

suspiro

de

alvio

perfeitamente

audvel,

madame

Elise

retomou

seu

sotaque

francs.

A

humilde

casa

de

madame

Elise

se

honra

com

a

presena

de

sua

majestade

-disse

com

lisonja,

ao

tempo

que

indicava

s

damas

que

a

acompanhassem.

Depois

das

damas

havaianas,

o

resto

do

grupo

ficou

na

porta.

Leda

levantou

a

vista

e,

por

um

breve

instante,

esqueceu-se

de

suas

maneiras

e

lhes

dedicou

um

olhar

de

aberta

admirao.

Junto

soleira

estavam

as

duas

mulheres

mais

belas

que

Leda

tinha

visto

no

mesmo

lugar

e

ao

mesmo

tempo.

Com

as

mesmas

mas

do

rosto

bem

definidos,

a

mesma

pele

deliciosa,

o

mesmo

cabelo

escuro

e

reluzente

e

idnticos

olhos

maravilhosos,

me

e

filha

formavam

uma

imagem

fascinante.

Vestiam

com

simplicidade.

Lady

Ashland,

de

azul

escuro,

levava

uma

armao

mnima

e

evitava

assim

o

exagerado

perfil

de

ave

de

curral

que

conferia

a

Leda

o

traje

xadrez.

Sua

filha,

Lady

Catherine

segundo

a

ficha

protocolar,

vestia

cor

rosa

plido

de

debutante

e

sob

a

saia

levava

um

meio

mirinhaque

que

lhe

dava

uma

aparncia

mais

moderna

e

um

pouco

mais

de

amplitude.

Madame

Elise

seguia

ocupada

tratando

de

estabelecer

comunicao

entre

a

rainha

das

ilhas

Sandwich

e

as

damas

japonesas,

assim

Leda

se

adiantou

a

receber

Lady

Ashland

e

a

sua

filha.

Lady

Ashland

lhe

dirigiu

um

sorriso

amvel

que

mostrou

as

linhas

que

o

sol

tinha

deixado

em

torno

de

seus

olhos

e

que

sua

filha

no

tinha.

Deve

estar

muito

ocupada

-disse

com

naturalidade.

No

a

entreteremos

muito

tempo:

a

rainha

queria

um

vestido

matinal

especialmente

feito

por

madame

Elise.

Pediu-nos

que

lhes

digamos

que

no

necessrio

que

tenham

pressa

em

confeccion-lo.

Leda

sentiu

ao

ponto

o

desejo

de

dar

preferncia

s

amizades

daquela

dama

to

agradvel

e

as

passar

por

diante

das

demais.

uma

honra

e

um

prazer

servir

a

sua

majestade,

senhora.

E

nos

sentiremos

agradados

de

ajudar

a

sua

senhoria

em

tudo

o

que

deseje.

Para

ns

no

representa

problema

algum.

Lady

Ashland

ps-se

a

rir

e

encolheu

os

ombros.

Bom,

eu

no

sou

nenhuma

louca

pela

moda,

mas

possivelmente

-e

dirigiu

um

olhar

interrogante

a

sua

filha.

Leda

descobriu

que

mechas

prateadas

salpicavam

o

cabelo

negro

como

asas

de

corvo

da

dama.

Gostaria

de

algo

para

voc,

Kai?

Ai,

mame!

No

seja

boba

-disse

lady

Catherine

com

um

marcado

sotaque

americano

.

Sabe

que

eu

gosto

dos

espartilhos

tanto

quanto

como

voc.

Inclinou

a

cabea

e

sorriu

a

Leda

com

confiana.

que

no

suporto

essas

coisas

horrveis.

No

usavam

espartilho?

Lady

Catherine

tinha

a

fortuna

de

contar

com

uma

silueta

que

resultaria

elegante

at

com

um

saco

de

farinha

em

cima,

mas

no

usar

espartilho?

Leda

sentiu

que

a

senhorita

Myrtle

se

revolvia

em

sua

tumba.

Temos

um

algodo

suo

muito

fino

em

rosa

claro

-disse

em

voz

alta,

com

o

que

se

poderia

fazer

um

vestido

matinal.

Muito

cmodo

e

leve,

ao

mesmo

tempo

elegante.

A

mais

jovem

das

duas

mulheres

lhe

dirigiu

um

olhar

por

debaixo

das

pestanas

em

que

havia

um

sutil

brilho

de

interesse

que

Leda

reconheceu

imediatamente.

Sorriu

e

indicou

os

mostradores

com

a

mo.

Lady

Tess

A

voz

doce

e

profunda

da

princesa

havaiana

deteve

seu

avano.

Parece

que

h

um

problema

com

o

cortejo

imperial.

Toda

esperana

de

que

a

rainha

das

ilhas

Sandwich

se

comunicasse

com

as

damas

japonesas

parecia

haver-se

esfumado.

Madame

Elise

dava

amostras

de

sentir-se

curvada

no

meio

do

grupo

de

estrangeiras;

algumas

das

japonesas

se

empenhavam

em

desenhar

no

ar

forma

vagas

que

pareciam

no

ter

significado

algum

para

a

rainha

e

sua

irm.

No

temos

intrprete

explicou

Leda

a

lady

Ashland,

mas

parecem

insistir

em

algo

que

nenhuma

de

ns

capaz

de

compreender.

Samuel!

disseram

de

uma

vez

lady

Ashland

e

sua

filha.

Ele

j

partiu?

gritou

lady

Catherine,

ao

tempo

que

corria

para

a

janela,

abria-a

de

repente

e

aparecia.

Samuel!

gritou

em

tom

muito

pouco

prprio

de

uma

dama.

Man

Kane,

espera!

A

voz

adquiriu

um

tom

carinhoso

.

Necessitamos

que

venha,

Man,

e

que

nos

tire

de

outro

apuro.

Lady

Ashland

ficou

imvel

e

no

fez

o

mnimo

gesto

para

impedir

a

amalucada

exibio

de

sua

filha.

Lady

Catherine

voltou

da

janela.

Encontrei-o

a

tempo!

O

senhor

Gerard

se

encarregar

de

traduzir

disse

lady

Ashland.

Claro

que

o

far,

fala

um

japons

perfeito

afirmou

Lady

Catherine

ao

tempo

que

fazia

gestos

de

nimo

ao

grupo

de

damas

orientais.

Que

sorte

que

tenha

vindo

conosco

esta

manh!

A

Leda

a

circunstncia

pareceu

incrivelmente

afortunada,

j

que

supunha

que

no

podia

haver

muita

gente

com

um

dom

to

singular

como

era

falar

japons

perfeitamente,

e

que,

alm

disso,

coincidisse

em

andar

por

Londres

nesses

momentos

acompanhando

a

umas

damas

a

uma

casa

de

modas.

Mas,

claro,

lady

Ashland

e

sua

filha

viviam

mais

perto

do

Japo.

Ou,

pelo

menos,

assim

acreditava

Leda.

Tampouco

tinha

muito

clara

a

situao

das

ilhas

Sandwich.

Virou-se

para

o

vestbulo,

esperando

ver

um

desses

bigodudos

homens

de

negcios

ianques

que

pareciam

ter

estado

em

todas

as

partes

com

seus

elegantes

coletes

e

suas

vozes

muito

altas.

O

lacaio

entrou

no

salo

e,

com

aquele

tom

de

voz

prodigioso

no

que

madame

Elise

insistia

porque,

segundo

ela,

causava

o

efeito

majestoso

adequado,

anunciou:

O

senhor

Samuel

Gerard!

A

estadia

cheia

de

mulheres

guardou

um

silncio

pouco

corrente

quando

o

senhor

Gerard

apareceu

na

porta

Houve

uma

tira

de

ar

coletiva

das

fmeas

ante

sua

presena:

a

de

um

dourado

arcanjo

Gabriel,

o

cabelo

ligeiramente

alvoroado

pelo

vento,

que

tivesse

descendido

a

terra,

e

ao

que

s

lhe

faltavam

as

asas.

O

moo

Hava,

1869

(dezoito

anos

antes)

Justo

ao

lado

da

passarela,

que

retumbava

e

corredor

baixo

as

pegadas

dos

outros

passageiros

ao

descer,

estava

ele

no

mole,

em

silncio.

As

pessoas

passavam

ao

seu

lado

e

corria

para

outras

pessoas

com

as

que

formavam

grupos

nos

que

as

lgrimas

e

as

risadas

passavam.

Ele

moveu

os

ps,

machucados

pelos

sapatos

novos

que

tinha

reservado

na

escola

em

Londres.

Morria

de

vontade

de

morder

um

dedo.

Para

impedi-lo,

teve

que

agarrar

as

mos

com

fora

s

costas.

Viu

mulheres

com

chamativos

trajes

de

cor

amarela

e

vermelho

escarlate,

com

largas

grinaldas

de

folhas

escuras

em

torno

do

pescoo,

e

homens

que

s

se

cobriam

com

calas

e

colete

ou

um

chapu

de

palha.

Entre

a

multido

havia

jovens

montadas

sobre

cavalos:

moas

de

pele

escura,

sorridentes,

com

longas

cabeleiras

negras

e

coroas

de

flores

na

cabea,

que

moviam

as

morenas

pernas

sobre

suas

montarias

e

saudavam

com

gritos

e

com

as

mos

aos

cavalheiros

que

passavam

nas

carruagens

e

s

damas

com

seus

guarda-sis.

Detrs

de

tudo

estavam

as

verdes

montanhas,

que

se

elevavam

entre

a

bruma

e

um

arco

ris

duplo

que

se

estendia

por

todo

o

cu.

Quando

estava

a

bordo,

tinha

tido

medo

de

sair

do

camarote.

Durante

toda

a

viagem,

no

tinha

movido

daquele

espao

estreito,

mas

dele,

nas

profundidades

da

nave,

ali

onde

as

mquinas

de

vapor

vibravam

e

reinava

o

fedor

a

carvo,

e

o

garom

lhe

levava

toda

a

comida

que

podia

comer.

Ali

tinha

estado

escondido

at

essa

manh,

quando

tinham

ido

dizer

lhe

que

se

vestisse

com

suas

melhores

roupas,

porque

o

navio

j

tinha

dobrado

o

cabo

Diamond

e

tinha

posto

proa

para

o

porto

de

Honolulu.

Agora

o

ar

cheirava

bem,

tinha

um

aroma

estranho

e

fresco,

limpo

como

o

cu

e

as

rvores.

Aquelas

rvores

eram

estranhas,

no

se

pareciam

com

nenhum

que

tivesse

visto

at

ento,

coroados

por

exticos

penachos

que

reluziam

e

ondeavam

sobre

os

altos

troncos

nus.

Nunca

na

vida

tinha

cheirado

um

ar

to

limpo,

nem

havia

sentido

um

sol

to

brilhante

e

to

quente

nos

ombros.

Estava

ali

sozinho,

tratando

de

passar

inadvertido

e

de

fazer-se

notar

de

uma

vez,

e

aterrorizado

de

que

se

esqueceram

dele.

Sammy?

Era

uma

voz

doce,

como

a

brisa

que

lhe

alvoroava

o

cabelo

e

lhe

metia

nos

olhos

as

douradas

mechas.

Deu-se

a

volta

ao

tempo

que,

com

rapidez,

umedecia-se

os

dedos

para

pr

em

seu

lugar

a

mecha

rebelde.

Ela

estava

a

to

somente

uns

passos

e

levava

sobre

o

brao

uma

grinalda

de

alegres

flores.

O

moo

olhou

aquele

rosto.

No

ar

ressonavam

os

gritos

e

o

bate-

papo

incompreensvel

dos

meninos

nativos.

Algum

passou

atrs

dele

e,

ao

faz-lo,

empurrou-o

meio

passo

para

ela.

A

dama

ficou

de

joelhos,

rodeada

da

ampla

saia

da

cor

da

lavanda,

e

lhe

abriu

os

braos.

Lembra-te

de

mim,

Sammy?

Ficou

olhando-a

com

impotncia.

Que

se

lembrava

dela?

Ao

longo

de

todos

aqueles

dias

solitrios

e

de

suas

odiosas

noites;

em

todas

as

lbregas

estadias

onde

lhe

tinham

posto

as

mos

e

tinham

feito

o

que

gostava

com

ele;

durante

cada

um

daqueles

dias,

daquelas

semanas,

daqueles

anos

de

sofrimento

em

solido,