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Revista de Administração da Unimep E-ISSN: 1679-5350 [email protected] Universidade Metodista de Piracicaba Brasil Peinado, Jurandir; Pontes, Carlos André; Martins dos Santos, Daniela Linke; Segatto, Andréa Paula PARCERIA ESTRATÉGICA: UMA ANÁLISE SOBRE PARCERIAS COM FORNECEDORES NA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA NO BRASIL Revista de Administração da Unimep, vol. 10, núm. 1, 2012, pp. 145-164 Universidade Metodista de Piracicaba São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=273723618007 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Revista de Administração da Unimep

E-ISSN: 1679-5350

[email protected]

Universidade Metodista de Piracicaba

Brasil

Peinado, Jurandir; Pontes, Carlos André; Martins dos Santos, Daniela Linke; Segatto, Andréa Paula

PARCERIA ESTRATÉGICA: UMA ANÁLISE SOBRE PARCERIAS COM FORNECEDORES NA

INDÚSTRIA AUTOMOTIVA NO BRASIL

Revista de Administração da Unimep, vol. 10, núm. 1, 2012, pp. 145-164

Universidade Metodista de Piracicaba

São Paulo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=273723618007

Como citar este artigo

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Sistema de Informação Científica

Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal

Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Revista de Administração da UNIMEP. v.10, n.1, Janeiro / Abril – 2012

ISSN: 1679-5350

Revista de Administração da UNIMEP – v.10, n.1, Janeiro / Abril – 2012. Página 145

PARCERIA ESTRATÉGICA: UMA ANÁLISE SOBRE PARCERIAS COM FORNECEDORES NA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA NO BRASIL

STRATEGIC PARTNERSHIP: ANALYSIS OF PARTNERSHIPS WITH SUPPLIERS IN

THE AUTOMOTIVE INDUSTRY IN BRAZIL

Jurandir Peinado (Universidade Positivo) [email protected] Carlos André Pontes (Universidade de Pernambuco) [email protected] Daniela Linke Martins dos Santos (Universidade Federal do Paraná) [email protected]

Andréa Paula Segatto (Universidade Federal do Paraná) [email protected] Endereço Eletrônico deste artigo: http://www.raunimep.com.br/ojs/index.php/regen/editor/submission/369 Resumo:O principal objetivo deste artigo é avaliar a percepção de profissionais das áreas logísticas e de operações sobre aspectos do relacionamento com seus principais fornecedores tais como confiança, credibilidade, comunicação e operações eficazes.O estudo enfoca um grupo de empresas do setor automotivo, reconhecido pelo alto grau de organização de suas operações logísticas, e suas conclusões podem beneficiar tanto empresas do setor quanto organizações similares. Contribui ainda com os estudos sobre o nível de adoção de novas práticas de logística, tema pouco investigado em relação às indústrias de países emergentes.Foi realizada uma pesquisa survey junto aos gerentes industriais e de logística em88 empresas. Os dados foram coletados por meio de questionários com escala Likert e submetidos à análise fatorial.Entre outras constatações, destacaram-se dois fatores: (1)os respondentes concordam apenas ligeiramente em relação aos aspectos de credibilidade e confiança nas transações com seus fornecedores; e (2) os respondentes não têm opinião formada quanto à efetividade dos aspectos operacionais dessas transações. Em outras palavras, conclui-se que estas empresas aparentemente teriam um longo caminho a percorrer para atingir os níveis de parceria estratégica prescritos pelas atuais filosofias de gestão da cadeia de suprimentos. Palavras-chave:Parceria estratégica. Logística.Inovação e tecnologia.Indústria automotiva. Abstract: Main purpose of this paper is to evaluate how professionals of logistics and operations areas perceive characteristicsas trust, credibility, communication and effective operations in the relationship with their suppliers. This study focuses a group of automotive sector companies, recognized by the high degree of organization of the logistic operations, and its conclusions may benefit companies within the sector as well as similar organizations. It also contributes to the studies about the adoption level of new logistic practices, a subject which is not usually researchedin studies about the emerging countries. A survey has been conducted amongindustrial and logistic managers of 88 companies.Likert scale questionnaires have beenused to collect data which has been submitted to a factor analysis. Among other findings, two factors highlighted: (1) respondents slightly agree about the aspects of credibility and trust in the transactions with their suppliers; and (2) respondents have no definite opinion about the effectiveness of the operational aspects of these transactions. In

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other words, study concludes that these companies still have a long way ahead to reach the strategic partnership levels recommended by the current philosophy of supply chain management. Keywords: Strategic partnership. Logistics.Innovation and technology.Automotive industry.

Artigo recebido em: 05/07/2011 Artigo aprovado em: 17/04/2012

1 Introdução O aumento sem precedentes das atividades de outsourcinge offshoring ocorrido nas

últimas duas décadas foi um dos principais fatores que direcionaram o foco das atenções para

as atividades ligadas ao Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos - SCM (LORANDI e

BORNIA, 2008; JABBOUR e ALVES FILHO, 2009).Jean, Sinkovics e Kim (2010),

consideram que o principal desafio das empresas consiste em obter um relacionamento efetivo

e eficaz com seus fornecedores, clientes e distribuidores internacionais. A respeito da atual

relevância que o relacionamento com fornecedores da cadeia de suprimentos

representa,Chanet al.(2007) também reconhecem que os critérios de seleção destes têm

despontado como uma das mais importantes estratégias na era da globalização e que tais

critérios devem levar em conta tanto aspectos tangíveis como aspectos intangíveis.

Dentre estas novas práticas de gestão corporativas, um grande número de trabalhos

científicos destaca a importância e vantagens de se estabelecer parcerias estratégicas e

relações de confiança com fornecedores, em lugar das antigas parcerias suportadas por

aspectos meramente comerciais e operacionais no SCM. A esse respeito, Kim, Banerjee e

Burton (2008) examinaram as reduções de custo que podem ser obtidas por meio da parceria

comprador-fornecedor no planejamento dos lotes de produção e suas preparações (setups).

Segundo os autores, é necessário que ambos os membros abram mão de certos ganhos

individuais para permitir um ganho maior ainda na cadeia de suprimentos. Teague (2006)

afirma que reuniões face a face entre fornecedores e compradores são fundamentais tanto para

descobrir novos meios de trabalhar em parceria como para alcançar objetivos comuns. O autor

ressalta ainda que os fornecedores devem alertar a empresa cliente sobre eventuais problemas

antes que seja muito tarde para agir.A literatura tradicional abundantemente utilizada para

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formação dos conceitos de SCM em cursos tanto ao nível de graduação como os

MBAtambém manifesta a importância da parceria fornecedor-comprador. Dentre

outros,Bowersox e Closs (2001) destacam que a ideia de desenvolver parcerias e alianças

com fornecedores se tornou um fator essencial para a prática logística; Chopra e Meindl

(2003) também alertam sobre a necessidade de medidas gerenciais orientadas pelo

relacionamento que incluem a criação de uma cultura de cooperação e confiança, com maior

compartilhamento de informações detalhadas entre fornecedor e cliente; nesta mesma linha,

Ritzman e Krajewski (2004) apresentam duas formas de se relacionar com os fornecedores, a

antiga orientação competitiva onde o poder de compra determina o poder de barganha de uma

empresa e a atual orientação cooperativa que é um relacionamento com o fornecedor no qual

o comprador e o vendedor são parceiros, cada um ajudando o outro o máximo possível.

Como exposto, a visão tradicional das práticas de aquisição e compras mudou

substancialmente nas últimas décadas. O foco moderno na gestão da cadeia de suprimentos,

com ênfase nos relacionamentos entre compradores e vendedores, elevou a gestão de compras

a uma atividade de nível superior e estratégico (BOWERSOX; CLOSS; COOPER, 2006).

Esta nova forma de relacionamento das empresas com seus principais fornecedores, agora na

forma de parceria estratégica baseada em confiança mútua, credibilidade e operações

impecáveis, demanda profundas mudanças culturais no anterior modelo de gestão de

suprimentos no que tange ao relacionamento com os fornecedores.

O principal objetivo da pesquisa aqui relatada foi avaliar a percepção dos profissionais

ligados às áreas logísticas e de operações de empresas ligadas ao setor automotivo em relação

à forma de relacionamento com seus principais fornecedores. Pretendeu-se levantar o quanto

tais empresas consideram as parcerias com fornecedores como um relacionamento com base

na confiança, credibilidade, comunicação e operações eficazes como parte inerente de suas

estratégias organizacionais, considerando que tais práticas fazem parte do receituário

prescritivo das modernas técnicas de gestão.Os respondentes da pesquisa foram profissionais

em cargos no nível de gerência ou diretoria nas áreas de compras, operações ou logística. As

indústrias objetos desta pesquisa têm planta no Brasil e atuam como fornecedoras das grandes

montadores da indústria automotiva. Tal amostra se justifica, principalmente, por se entender

que o setor automotivo apresenta operações logísticas altamente organizadas e pela

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viabilidade da coleta de dados considerando a facilidade de realização da survey conduzida

pelos próprios autores deste trabalho.

A justificativa prática para o desenvolvimento da pesquisa pode ser representada pela

divulgação dos resultados obtidos e sua análise, tanto para as organizações participantes como

para outras similares que possam refletir e beneficiar-se das conclusões e recomendações

oferecidas. O valor prático da pesquisa independia dos eventuais resultados obtidos uma vez

que o referencial teórico aponta nas duas direções: por um lado ressalta-se a importância e

benefícios que se pode obter de fortes parcerias com fornecedores, e por outro lado o alerta

para o fato que muitas empresas precisam ainda avançar nesta área para obter os benefícios

prometidos pela integração deste aspecto da cultura organizacional.

A partir de uma perspectiva teórica, a realização da pesquisa também se justifica

facilmente mediante a constatação de que, embora trabalhos enfocando as novas práticas de

gestão logística estejam em evidência, tanto em trabalhos acadêmicos como na prática

empresarial ainda são poucos os estudos práticos sobre seu nível de adoção pela indústria em

países de economia emergente (GLASER-SECURA; ANGHEL, 2003; SHIMONISHI;

MACHADO-DA-SILVA, 2003).

Este estudo não teve a pretensão de avaliar ou julgar qualquer aspecto específico ou

particular a respeito da qualidade da estratégia organizacional das empresas participantes.

Apenas se pretendeu avaliar a percepção dos respondentes sobre o nível de aderência da

cultura e práticas empresariais quanto à adoção prática de parcerias estratégicas ou comerciais

com seus principais fornecedores. Nas seções seguintes, após esta introdução, são

apresentados alguns estudos que enfocam a importância atual de parcerias estratégicas com

fornecedores e considerações sobre sua real utilização prática. Depois se discute a

metodologia utilizada, a coleta e a análise dos dados, seguida da sua apresentação e discussão.

Encerra-se o artigo com as conclusões, algumas recomendações e considerações finais.

2 Referencial Teórico

O referencial teórico inicia com a apresentação de alguns trabalhos que ressaltam a

importância das parcerias estratégicas entre empresas e seus fornecedores de primeira

camada. Em seguida são apresentados outros trabalhos demonstrando que, apesar da

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importância teoricamente atribuída ao trabalho em parceria entre empresas e seus

fornecedores, o tema nem sempre encontra respaldo na prática.Encerra-se o quadro teórico

com uma abordagem do relacionamento organizacional, mais especificamente aspectos do

relacionamento relevantes à questão das parcerias estratégicas.

2.1 A importância atribuída às parcerias estratégicas com fornecedores

Nas últimas décadas, muitas publicações científicas enfatizaram a importância

estratégica e as vantagens que poderiam ser obtidas pelo trabalho em parceria das empresas ao

longo da cadeia de suprimentos. Entre tais trabalhos, é possível distinguir maior atenção nas

parcerias que compreendem a empresa (cliente) e seus fornecedores de primeira camada,

sendo que várias publicações se alinham a esta afirmação. Dedhia (1990)alerta a importância

de considerar os fornecedores de primeira camada como “membros de uma mesma família” e

enfatiza a necessidade de sua participação em qualquer reunião que os possa afetar.Nesta

mesma linha de pensamento, Lorandi e Bornia (2008) afirmam que o processo de

desenvolvimento de produtos não pode ocorrer de forma isolada, ele deve ser integrado na

cadeia de suprimentos e quanto mais cedo se der esta integração nas fases de desenvolvimento

do produto, melhores os resultados obtidos.Em um estudo de caso,Jabbour e Alves Filho

(2009) levantaram que,a existência de forte cooperação entre os fornecedores de primeira

camadae a empresa estudada,ao complementar os processos de negócios,ajudaram-na a

executar sua estratégia de produção. Além destes estudos que destacam a importância e as

vantagens do trabalho em parceria com fornecedores de primeira camada, outros estudos

trazem outras abordagens sobre o tema como, por exemplo,uma pesquisa de Hilsdorf,

Rotondaro e Pires (2009) conclui que o desempenho do serviço ao cliente na cadeia estudada

estava relacionado não apenas com a integração com clientes, mas também com os

fornecedores-chave ou outra pesquisa de Piato, Silva e Paula (2008),onde os autores

demonstram que o processo de seleção e avaliação dos fornecedores é essencial para a

eficácia da estratégia de marcas próprias, não só porque este seja um elemento crítico, mas

porque a escolha da fonte de suprimento influencia o gerenciamento de outros elementos que

compõem esta estratégia.

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As recentes práticas de Gestão de Operações, como o just-in-time e a produção enxuta,

também contribuíram para catalisar a necessidade de medidas gerenciais orientadas pelo

relacionamento que incluem a criação de uma cultura de cooperação e confiança, com maior

compartilhamento de informações detalhadas entre fornecedor.Nesta linha de raciocínio, Lima

e Marx (2008) estudaram o trabalho do comprador na indústria automotiva analisando seu

perfil profissional e as qualificações assumidas a partir da década de 90,os autores concluem

que as novas relações de fornecimento e a aplicação das filosofias de produção enxuta, além

de aumentar o escopo e a importância da área de compras, modificaram a atuação do

comprador, induzindo-o a exercer um papel mais proativo na condução do relacionamento

entre montadora e fornecedores. Arkader (1998) apresenta uma pesquisa para verificar as

percepções de benefícios e problemas decorrentes dos novos padrões de relações de

fornecimento a partir da adoção de práticas da produção enxuta. Segundo a autora, os

resultados indicam uma atitude estratégica e positiva dos fornecedores brasileiros em face das

maiores exigências impostas pelas práticas de fornecimento enxuto.Paulo, Bianco e Salerno

(2001) discutem programas de gestão pela Qualidade Total (TQM) disseminados na indústria

brasileira, buscando identificar quais as mudanças organizacionais que introduzem. O estudo

indicou que as empresas têm procurado envolver os fornecedores em seus programas e

promovem também a certificação dos principais fornecedores para evitar inspeções constantes

e agilizar o recebimento. Outro trabalho, exposto por Rachid, BrescianiFilho e Gitahy (2001)

analisou a influência de grandes empresas de autopeças na introdução de práticas de gestão da

produção em pequenas empresas fornecedoras,os autores concluem que certas práticas, como

just-in-time, certificação e técnicas para qualidade, são mais adotadas por imposição dos

clientes; outras práticas, como o just-in-time interno, as células de manufatura e a mão-de-

obra polivalente são normalmente adotadas por iniciativa das próprias pequenas empresas

fornecedoras.

2.2 O real alinhamento com as novas práticas de parceria

Na diagonal oposta, apesar da abundante literatura e trabalhos que enfatizam a

importância de alimentar fortes laços de parceria entre uma empresa e seus fornecedores,

mostra-se também elevado o número de pesquisas apontando que a prática nem sempre se

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alinha com a teoria. Em um estudo realizado na indústria automotiva da região de Curitiba

(PR), Munhoz e Vieira (2009) concluíram que a colaboração da cadeia de suprimentos ainda

é, para grande parte das empresas pesquisadas, um objetivo ainda a ser alcançado. Em outra

pesquisa para identificar os fatores-chave de retenção de clientes, no setor metal mecânico,

Souza, Moori, e Marcondes (2004) concluíram que apenas a "qualidade dos produtos"

evidenciou-se como o fator principal. Segundo os autores, a ênfase principal é dada ao

produto, muito mais que às questões de confiabilidade, velocidade e flexibilidade, mostrando

não haver ainda visão ampla e integrada do processo do negócio. Em outra pesquisa que

abordou a configuração em rede como recurso estratégico para a competitividade das

pequenas e médias empresas (PME) da indústria de confecções, Balestrin e Vargas (2004)

sinalizaram que a configuração em rede permite às PME alcançarem diversos benefícios, mas

em relação aos fornecedores destacou-se apenas a "barganha de preço".

No mesmo sentido, Vasconcelos, Milagres e Nascimento (2005) discutem a estratégia

de relacionamento entre os membros da cadeia produtiva no Brasil. Os resultados comparados

com um caso de sucesso de cadeia produtiva do setor automobilístico mostram que existe

ainda um longo percurso a ser perseguido pela maioria das empresas para se inserirem na

chamada sociedade em rede.Em um artigo que avalia a percepção de profissionais de logística

sobre a eficácia de uma ferramenta de avaliação do desempenho logístico - MMOG-LE1,

Peinado e Graeml (2008) constataram que o impacto da recomendação MMOG-LE é maior

nas atividades que ainda não haviam sido motivo de atenção das normas da qualidade.

2.3 Aspectos do relacionamento interorganizacional

Um dos elementos centrais para assegurar a distribuição equitativa de valor em firmas

que trabalham em rede, segundo Dhanaraj e Parkhe (2006), é através da confiança, de

relações sociais com parceiros usando a confiança e a reciprocidade, a troca de informações

valiosas e a solução de problemas em conjunto, pois em um ambiente de inovações, devido a

sua natureza incerta e de compartilhamento de conhecimento principalmente tácito, o

elemento crucial é a construção de níveis de confiança e de comunicação transparente,

preestabelecendo inclusive sanções à violação dessa confiança.

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No mesmo sentido, Cheng, Yeh e Tu (2008) demonstraram que a confiança influencia

positivamente o compartilhamento de conhecimento interorganizacional corroborando os

resultados obtidos em estudos anteriores, por eles citados, de Morgan e Hunt (1994),

Davenport e Prusak (1998),Dyer e Nobeoka (2000),Soekijad e Andriessen (2003), Moller e

Svahn (2004). No caso da cadeia de suprimentos verde (greensupplychain) analisada no

estudo, os autores apontam que os membros devem ampliar os relacionamentos baseados na

confiança para alcançar um efetivo compartilhamento de conhecimento.

Johanson e Vahlne (2009), baseando-se nos trabalhos de Nahapiet e Ghoshal (1998),

Granovetter (1985, 1992), Madhok (1995), entre outros, concluem que a confiança é um

importante ingrediente para um aprendizado de sucesso e para o desenvolvimento de novos

conhecimentos. Afirmam também que a confiança é um pré-requisito para o

comprometimento, que a confiança estimula as pessoas ao compartilhamento de informações,

promove a construção de expectativas em conjunto e é especialmente importante em situações

de incerteza. Segundo os autores, a confiança é crucial nos estágios iniciais de relacionamento

e sua importância poderá ser permanente se os relacionamentos requererem esforços

contínuos para a criação e exportação de oportunidades.

De acordo com Madhok (1995), como citado emJohansson e Vahlne (2009, p. 1418), a

confiança “induz a reciprocidade e coordena as ações”. Citando Morgan e Hunt (1994, p. 22)

os autores afirmam ainda que “quando ambos, comprometimento e confiança estão presentes,

eles produzem resultados que promovem eficiência, produtividade e efetividade”. No entanto,

para Madhok (2006, p. 7, apud JOHANSSON; VAHLNE, 2009, p. 1418) “a construção da

confiança é um processo que custa caro e que consome tempo”.

Poppo, Zhou e Ryu (2008) defendem que o efeito de eventos passados e as

perspectivas futuras estão interligados para explicar o surgimento da confiança

interorganizacional. Ao contrário de autores como Zaheer e Harris (2005,

apudPOPPO;ZHOU; RYU, 2008), que veem esses dois fatores como explicações separadas, o

estudo demonstra que enquanto a perspectiva de continuidade futura tem um papel crítico e

central na geração da confiança interorganizacional, os eventos passados têm um papel

facilitador, mesmo que indireto, de produzir confiança por fortalecer o efeito da continuidade

da confiança. Os eventos passados não aumentam diretamente a confiança, o relacionamento

positivo entre estas duas variáveis é mediado pela expectativa de continuidade. Porém, quanto

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mais longo for o histórico de eventos entre as organizações, mais forte será o efeito sobre a

continuidade da confiança.

Por outro lado, Tubin e Levin-Rozalis (2008) ponderam que a confiança é um traço

humano traduzido em uma ação organizacional. Sendo assim, a confiança não pode ser

unicamente uma característica das relações humanas ou um atributo organizacional e

necessita desses dois aspectos para existir. É necessária uma estrutura organizacional para

criar, suportar e manter a confiança de modo a torná-la independente do mero critério pessoal

dos membros da organização.

De modo semelhante, Jiang, Henneberg e Naudé (2010) concluíram em estudo sobre a

indústria da construção no Reino Unido que,se por um lado,o desenvolvimento de normas

sociais e confiança é importante para as relações interorganizacionais aoencorajar trocas

eficientes entre parceiros, este não é o aspecto chave para a continuidade de um

relacionamento de negócios. Não se deve perder de vista que acima disso é necessário que o

relacionamento atenda as expectativas do parceiro, assim os fornecedores devem sempre se

manter competitivos fornecendo os melhores produtos e/ou serviços ou reduzindo os custos

de transação. A pesquisa identificou ainda que, em casos de alta dependência de um

fornecedor, o relacionamento será mantido independentemente de relacionamentos

interpessoais não satisfatórios.

3 Procedimentos Metodológicos

Conforme mencionado anteriormente, o objetivo deste estudo foi avaliar a percepção

dos profissionais ligados às áreas logísticas e de operações de empresas ligadas ao setor

automotivo em relação à forma de relacionamento com seus principais fornecedores.

Pretendeu-se levantar o quanto tais empresas consideram as parcerias com fornecedores como

um relacionamento com base na confiança, credibilidade, comunicação e operações eficazes.

Um questionário com 116 afirmações em escala Likert de sete pontos variando entre

“discordo totalmente” e “concordo totalmente” foi utilizado como instrumento decoleta de

dados ocorreu por meio de O número impar de alternativas permitiu que os respondentes sem

opinião formada sobre a afirmação pudessem externar essa situação.

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Para este trabalho foram selecionadas 38 das 116 afirmações do questionário aplicado.

Os 38 itens selecionados destinavam-se a identificar as práticas e relacionamentos adotados

entre a empresa e seus fornecedores principais. O questionário aplicado foi uma réplica

traduzida para o idioma português, do adotado por Glaser-Secura e Anghel (2003) que teve

sua origem nos constructos propostos por Flynn, Schroeder e Flynn (1999). Por se tratarem de

culturas diferentes, a técnica backtranslation, que consiste em traduzir para o novo idioma e

depois traduzir novamente ao idioma original para verificar se as questões resultantes ainda

apresentam o significado original, foi utilizada com o objetivo de assegurar a equivalência dos

conceitos e a validade das escalas (RIORDAN; VANDERNBERG, 1994).

Com vistas a assegurar a boa qualidade das respostas coletadas, foram selecionados

respondentes que tivessem bom conhecimento dos assuntos abordados no questionário,

ligados a práticas de manufatura (indústria) e relacionamento com fornecedores e clientes,

entre outros. Assim, priorizou-se a participação de gerentes ou diretores industriais de

logística, de qualidade ou de compras que fazem parte de um cadastro formado a partir de

empresas fornecedoras de uma grande montadora de veículos automotivos da cidade de

Curitiba-PR. Muitos deles já haviam participado de pesquisas anteriores em estudos de

tendências logísticas conduzidos por um dos pesquisadores.

As empresas objeto desta pesquisa têm planta industrial no Brasil e todas atuam como

fornecedoras das montadoras de veículos automotores instaladas no país. Tal amostra se

justificou, por duas razões, em primeiro lugar por se achar que a cadeia de suprimentos da

indústria automotiva pode ser considerada como uma das mais amadurecidas na prática do

conceito de parcerias estratégicas às quais se pretende levantar neste estudo, e em segundo

lugar pela viabilidade da coleta de dados, considerando a facilidade de realização da survey,

que foi conduzida pelos próprios autores do trabalho.

3.1 Procedimentos de coleta de dados

O questionário foi enviado no início de fevereiro de 2009, via e-mail, contendo o

convite para participar da pesquisa e um link para a survey hospedada no site SurveyMonkey.

O convite foi feito para os integrantes de uma base de dados com cerca de setecentos

profissionais qualificados que trabalham em empresas industriais do ramo automotivo no

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Brasil. A aplicação da survey resultou na obtenção de 138 questionários, dos quais 88 haviam

sido totalmente preenchidos.

A validade do tamanho da amostra foi realizada por meio da análise de estudos

anteriores que utilizaram conceitos, metodologias e bases teóricas similares (FLYNN;

SAKAKIBARA; SCHROEDER, 1995; WAGNER III, 1995; GLASER-SECURA; ANGHEL,

2003). Com base nestes estudos, calculou-se o tamanho mínimo necessário da amostra em

aproximadamente 60 organizações. Porém, ao final da pesquisa, maiores quantidades de

respondentes foram obtidas.

3.2 Procedimentos de tratamento e análise dos dados

Os dados obtidos na pesquisa foram analisados estatisticamente com o auxílio do

softwareStatisticalPackage for the Social Sciences(SPSS), versão 15. Inicialmente procedeu-

se uma análise descritiva de cada uma das 24variáveis por meio da AED (Análise

Exploratória de Dados), que consiste basicamenteem explorar os dados por meio de técnicas

gráficas como recomendado por Dancey e Reidy (2006). A identificação das dimensões sobre

o relacionamento e tipo de parcerias com fornecedores pretendidas ocorreu por meio da

análise fatorial, cujo método de extração foi análise dos componentes principais. Avaliou-se a

adequação fatorial por meio dos testes Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e esfericidade de Bartlett.

Como havia vários fatores que apresentavam eigenvaluesmaior que um, optou-se por definir

seu número por meio do método screeeplot. Gobaraet al. (2008) e Rossoni e Crubellate

(2008), apenas para citar alguns pesquisadores que adotaram esta orientação.

Com os fatores definidos os dados foram submetidos novamente á análise fatorial,

complementando-se com o método de rotação varimax, objetivando melhorar a interpretação

das cargas fatoriais (DANCEY; REIDY, 2006; HAIRet al.2005). Variáveis com cargas

fatoriais menores que 0,4 foram excluídas. As variáveis que apresentaram valores negativos

de carga fatorial foram invertidas. Após a definição de quais variáveis enquadravam-se em

cada fator, avaliou-se a confiabilidade por meio do teste alfa de Cronbach = 0,5, em função de

se tratar de uma pesquisa exploratória (GLASER-SECURA; ANGHEL, 2003; NUNNALLY,

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1967), embora diversos autores prefiram trabalhar com ± > 0,7 (DANCEY; REIDY, 2006;

HAIRetal., 2005). As variáveis que diminuíam a confiabilidade da escala foram descartadas.

O passo seguinte consistiu em obter as médias das notas das perguntas relacionadas a

cada constructo identificado pela análise fatorial.

4 Resultados Obtidos

A análise dos histogramas de frequências e caixa de bigodes (boxplots) gerados não

provocou a exclusão de nenhuma variável do conjunto. A Tabela 1 expõe os resultados da

análise fatorial exploratória. O teste de esfericidade de Bartlett mostrou-se significativo (p-

value< 0,001) e o teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) também se mostrou adequado (KMO

>0,7), tais resultados possibilitam o uso da análise fatorial como técnica de exploração para o

estudo pretendido.

Das 38 variáveis originalmente sugeridas, descartaram-se 14, pois apresentaram cargas

fatoriais inferiores a 0,4 ou contribuíam negativamente para a confiabilidade do fator,

restando somente 24 itens, identificados na Tabela 1. De acordo com os critérios de

interpretação e rotação varimax, optou-se pela adoção de apenas dois fatores com o total de

variância explicada de 30,44%. A Tabela 1 mostra detalhadamente a estrutura fatorial, bem

como suas comunalidades, média dos fatores e eigenvalues (valores próprios).

Adicionalmente apresenta a variância explicada e acumulada dos fatores, além do

índice de consistência interna por meio do alfa de Cronbach. Em síntese, dois agrupamentos

sobressaíram da análise fatorial, um primeiro que remete às parcerias com base na

credibilidade e idoneidade; e um segundo agrupamento que remete aos fatores operacionais

da transação.

TABELA 1Fatores de Confiança e de Comunicação

Variável Fatores de

Credibilidade Fatores

Operacionais

P1 Nosso principal fornecedor sempre nos diz a verdade. 0,631

P2 Nosso principal fornecedor respeita os acordos negociados. 0,784

P3 Nosso principal fornecedor é confiável. 0,694

P4* Nosso principal fornecedor busca o sucesso "pisando nos outros". 0,529

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P5* Nosso principal fornecedor procura sempre levar vantagem. 0,597

P6* Nosso principal fornecedor tira vantagem de nossos problemas. 0,557

P7 Nosso principal fornecedor é honesto ao negociar conosco. 0,597

P8 Nosso principal fornecedor mantém sua palavra. 0,665

P11 Nosso principal fornecedor negocia as expectativas mútuas de modo justo.

0,669

P12* Nosso principal fornecedor tira vantagem de pessoas vulneráveis. 0,573

P19 Fornecemos apoio técnico aos nossos fornecedores quando acontece algum problema de produção ou qualidade.

0,521

P38* Preferimos oferecer ao nosso fornecedor contratos de curto prazo. 0,465

P13 Nossos fornecedores estão conectados aos nossos sistemas de informática.

0,535

P16 Os fornecedores abastecem nossos contentores por kanban sem necessidade de ordens de compra.

0,663

P17 Os fornecedores nos entregam em contentores kanban sem utilizar outro tipo de embalagem.

0,704

P18 Fornecemos treinamento sobre qualidade aos nossos fornecedores. 0,633

P20 Compartilhamos informações proprietárias com nosso fornecedor para facilitar o fluxo eficiente de materiais.

0,446

P27 Reunimo-nos com a alta gerência de nosso fornecedor a intervalos regulares de tempo.

0,655

P28 Solicitamos informações sobre nosso desempenho ao nosso fornecedor.

0,639

P31 Nosso fornecedor possui certificação (ou qualificação) em qualidade. 0,443

P32 Nosso fornecedor nos disponibiliza informações confidenciais. 0,534

P33 Disponibilizamos informações confidenciais para nosso fornecedor. 0,531

P34 Trabalhamos com nosso fornecedor para ajudá-lo a identificar e reduzir seu custo total.

0,657

P35 O contrato com nosso fornecedor prevê cobertura de todos os possíveis riscos.

0,595

Média 4,99 4,20

Valor próprio (eigenvalues) 5,98 5,59

Variância acumulada 15,74% 30,44%

Alfa de Cronbach 0,863 0,851

Fonte: dados da pesquisa (2011).

* Escala invertida A primeira dimensão, denominada “credibilidade”, é composta de 12 itens que

traduzem convicções ligadas a aspectos relacionados às relações de confiança, crédito e

transparência nas relações consolidando um processo que busca vantagens mútuas dos

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potenciais de ambas as empresas. Este fator apresentou um índice de consistência interna, alfa

de Cronbach, igual a 0,863, e itens com carga fatorial variando entre 0,465 a 0,784. A média

deste fator foi de 4,99indicandoque os respondentes concordam ligeiramente quanto a esses

comportamentos e práticas em suas organizações.O primeiro fator indicou que o trabalho em

parceria entre a empresa e seus principais fornecedores é importante e é, pelo menos

minimamente, praticado pelas organizações pesquisadas. Este resultado corrobora em parte

com o exposto na primeira parte do referencial teórico que enfatizou a importância estratégica

e as vantagens que poderiam ser obtidas pelo trabalho em parceria das empresas ao longo da

cadeia de suprimentos, apresentadas nos trabalhos de: Dedhia (1990);Lorandi e Bornia

(2008); Jabbour e Alves Filho (2009);Hilsdorf, Rotondaro e Pires (2009); Piato, Silva e Paula

(2008); Lima e Marx (2008); Arkader (1998); Paulo,Bianco e Salerno (2001); e Rachid,

BrescianiFilho e Gitahy (2001). Pode-se concluir ainda, que se trata de uma corroboração

parcial em decorrência da média obtida neste fator, que indicou um nível de ligeira

concordância, trazendo indícios que a colaboração da cadeia de suprimentos é, para grande

parte das empresas pesquisadas, um objetivo ainda a ser alcançado, o que se alinha com os

resultados obtidos por Munhoz e Vieira (2009) em um estudo similar também realizado na

indústria automotiva da região de Curitiba (PR).

A segunda dimensão, denominada “operacionalidade”, é composta por outros 12 itens

que traduzem, em sua maioria, convicções ligadas àsatividades operacionais e troca de

informações entre a empresa e seus principais fornecedores. Este fator (ou dimensão)

apresentou um índice de consistência interna, alfa de Cronbach, igual a 0,851que foi

considerado satisfatório para a continuidade da pesquisa, e itens com carga fatorial variando

entre 0,443 a 0,704. A média deste fator foi de 4,20indicandoque os respondentes não têm

opinião formada quanto a esses comportamentos e práticas, o que pode contribuir para

asserção anterior e, talvez, possa ser justificado por meio da declaração de Madhok (2006, p.

7, apud JOHANSSON; VAHLNE, 2009, p. 1418) “a construção da confiança é um processo

que custa caro e que consome tempo”.

Buscando-se distinguir diferenças entre as duas dimensões estabelecidas pela análise

fatorial construiu-se o gráfico do intervalo de confiança das médias obtidas, apresentado na

Figura 1.

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FIGURA 1 - Barras de Erro das Médias Obtidas das Dimensões.

Fonte: dados da pesquisa (2011).

Observa-se na Figura 1, que respostas com médias próximas a cinco indicam um

posicionamento dos respondentes com tendência aconcordarem ligeiramente com a afirmação

contida na questão enquanto que respostas com média próxima a quatro indicam uma

tendência a posição neutra, sem opinião formada. Embora não haja distribuição que se

aproxime de uma curva normal para as respostas (o que seria praticamente impossível ao se

utilizar uma escala Likert), o tamanho da amostra é suficientemente grande para se poder

utilizar a estatística t de studentpara o cálculo de intervalos de confiança para a média das

respostas da população, a partir dos dados da amostra. Os intervalos de 95% de confiança

obtidos das duas dimensões enquadram-se ou totalmente próximas à média5 ou totalmente

próximas à média 4,2. Os resultados também estabelecem nítida distinção entre as médias

obtidas das duas dimensões encontradas na análise fatorial.

5. Conclusões

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Partindo-se do objetivo de verificar os aspectos práticos de parceria com fornecedores

de primeira camada adotados por empresas do ramo automotivo com planta no território

nacional, foi possível chegar a algumas contribuições interessantes tanto para a academia

como para as empresas. A primeira delas consistiu na revelação empírica de dois fatores, um

ligado à credibilidade e outro aos aspectos operacionais, a partir da utilização da análise

fatorial.

Talvez possa existir uma preocupação de tornar a relação entre a organização e seus

fornecedores mais baseada na confiança e parceria, como apontado na literatura, mas, se tal

intenção existe, ela parece ainda não ter se transformado em plena prática nas organizações.

Nesse sentido, considera-se que a discussão realizada neste trabalho sobre a prática de

parcerias estratégica na cadeia de suprimentos, tenha sido importante não só pelos resultados

que se pôde obter, mas por estimular o debate sobre práticas de negociação, propiciando uma

oportunidade a mais para refletir sobrea importância estratégica e as vantagens que poderiam

ser obtidas pelo trabalho em parceria das empresas ao longo da cadeia de suprimentos.

Apesar dos resultados interessantes obtidos, este estudo apresenta algumas limitações

que reduzem o alcance das suas conclusões. A principal delas, na avaliação dos autores, é que

alguns participantes podem ter se sentido inclinados a respondernão com base no que

realmente percebem, mas naquilo que imaginam que os pesquisadores gostariam de ver nas

respostas ou no que acreditam fornecer uma "boa imagem" de si mesmos ou de suas

organizações, independentemente de representar realmente o que pensam. Outra limitação se

refere ao fato dos respondentes não estarem todos situados no mesmo nível hierárquico dentro

das suas organizações, embora a maior parte deles tenha função gerencial e,

consequentemente, autonomia para a tomada de decisões, ainda que no nível tático de suas

empresas.

Notas

1MMOG/LE – Materials Management OperatingGuideline/LogisticsEvaluation – é um conjunto de recomendações de práticas e procedimentos referentes à gestão de materiais e logística criado por membros da indústria automobilística para aplicação nessa indústria (HARRINGTON, 2005), mas com possibilidade de utilização nos mais variados ramos industriais.

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