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2014 MICROECONOMIA Prof. Jurandir Domingues Júnior

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Page 1: Prof. Jurandir Domingues Júnior

2014

MicroeconoMia

Prof. Jurandir Domingues Júnior

Page 2: Prof. Jurandir Domingues Júnior

Copyright © UNIASSELVI 2014

Elaboração:

Prof. Jurandir Domingues Júnior

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

UNIASSELVI – Indaial.

Impresso por:

338.5J95m Junior, Jurandir Domingues Microeconomia / Jurandir Domingues Júnior. Indaial : Uniasselvi, 2014.

219 p. : il ISBN 978-85-7830-825-4

1. Microeconomia. 2. Economia. 3. Mercado. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

Page 3: Prof. Jurandir Domingues Júnior

III

apresentação

Caro(a) acadêmico(a)! Seja bem-vindo(a) ao estudo da disciplina de Microeconomia.

Teremos no decorrer deste Caderno de Estudos a oportunidade de perceber quanto a economia faz parte do cotidiano de nossas vidas e das empresas onde trabalhamos ou somos sócios, mesmo quando nem percebemos isso!

Um dos mais importantes economistas de nossa história, Alfred Marshall (1842 – 1924), definiu de forma bem clara e direta o que é Economia: “A economia é o estudo do homem nos negócios diários da sua vida”.

Cada ciência tem uma forma própria de descrever o mundo real com o objetivo de contribuir para o sucesso e o desenvolvimento da sociedade. Por exemplo, a Geografia – na sua perspectiva tradicional – busca interpretar a relação da sociedade com o mundo real através da conformação do meio ambiente, notadamente dos aspectos físicos (clima, relevo, hidrografia, solo).

No caso da Economia, pode-se dizer que é uma ciência que busca interpretar o mundo real através de uma visão econômica.

Na concepção dos autores Megginson, Mosley e Pietri Junior (1998), no estudo da administração pode-se dividir o ambiente onde as empresas estão inseridas basicamente em três partes: o ambiente interno, o ambiente de tarefas e o macroambiente, conforme podemos observar na Figura 1.

FIGURA 1 – OS AMBIENTES DE UMA ORGANIZAÇÃO

FONTE: MEGGINSON, Leon C; MOSLEY, Donald C; PIETRI JUNIOR, Paul H. Administração: conceitos e aplicações. 4. ed. São Paulo: Harbra, 1998, p. 68.

MACROAMBIENTE

AMBIENTE DE TAREFASLegal/

Político

Tecnológico Econômico

InternacionalClientes

InteresseEspecial

Concorrentes

Fornecedores

AgênciasReguladoras

EstruturaTecnologia

PessoalCultura

Diretrizes

AMBIENTEINTERNO

Social

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IV

No macroambiente, o mais distante do centro da figura, podemos identificar variáveis e agentes que a empresa não pode gerenciar, ou seja, estão fora de seu controle direto. É composto basicamente por variáveis de grande amplitude e que afetam todas as organizações de uma economia, dentre elas destacam-se: variáveis econômicas, sociais, tecnológicas, legais, políticas e internacionais.

No ambiente de tarefas, que está à meia distância do centro, são relacionados fatores que interagem diretamente com a organização quando a mesma é posta em funcionamento: clientes, fornecedores, concorrentes, agências reguladoras (um exemplo no caso do Brasil: ANS – Agência Nacional de Saúde), sindicatos.

E por último o ambiente interno, mais próximo do centro da figura, em que podemos identificar a presença dos seguintes componentes: colaboradores, instalações industriais, máquinas, produção, cultura, contabilidade. São componentes que a empresa pode administrar diretamente.

A figura é um modelo do mundo real – ambiente – de uma empresa, vista sob a perspectiva da administração, e busca relacionar as variáveis e/ou agentes que têm alguma influência no dia a dia desta organização.

Este ambiente também é chamado de mercado, ou seja, um local onde compradores, vendedores e outros agentes, como o governo, interagem.

De forma resumida, o sucesso dessa empresa está diretamente ligado à sua capacidade de interagir com este mercado, fornecendo aos seus clientes bens e serviços de qualidade e a um preço competitivo, que tenham alguma utilidade, respeitando as leis, seus colaboradores, fornecedores e o meio ambiente.

E é exatamente deste modo que a Economia pode contribuir de forma muito importante para a formação de um administrador: ajuda a entender como os agentes econômicos interagem em um determinado mercado, às vezes sob a supervisão do governo, colaborando na idealização de estratégias para o sucesso de uma empresa em termos econômicos.

Portanto, você como futuro administrador ou administradora, terá neste Caderno de Estudos a oportunidade de manter contato com os principais conceitos da Economia, o que ela estuda, de que ferramentas ela se utiliza, e também dominar um de seus ramos: a Microeconomia.

Bons estudos!

Prof. Jurandir Domingues Júnior

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V

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos!

NOTA

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VI

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VII

UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA ................................................................1

TÓPICO 1 - CONCEITO DE ECONOMIA .......................................................................................31 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................32 CONCEITO DE ECONOMIA ..........................................................................................................33 LEI DA ESCASSEZ .............................................................................................................................7

3.1 NECESSIDADES HUMANAS .....................................................................................................73.2 RECURSOS PRODUTIVOS OU FATORES DE PRODUÇÃO .................................................103.3 ESCASSEZ .......................................................................................................................................15

LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................17RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................20AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................21

TÓPICO 2 - A ECONOMIA COMO CIÊNCIA ................................................................................231 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................232 SURGIMENTO DA ECONOMIA COMO CIÊNCIA ..................................................................243 TEORIAS E MODELOS ....................................................................................................................254 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO .......................................................................27

4.1 MERCANTILISTAS .......................................................................................................................284.2 FISIOCRATAS.................................................................................................................................294.3 ESCOLA CLÁSSICA .....................................................................................................................29

4.3.1 Escola Neoclássica ou Marginalista ...................................................................................314.3.2 Teoria Keynesiana .................................................................................................................324.3.3 Abordagens alternativas: ideologias socialistas, Marxismo ...........................................33

5 RELAÇÃO DA ECONOMIA COM OUTRAS CIÊNCIAS SOCIAIS .......................................34RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................37AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................38

TÓPICO 3 - SISTEMAS ECONÔMICOS .........................................................................................391 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................392 ATIVIDADE ECONÔMICA .............................................................................................................39

2.1 SETORES ECONÔMICOS ............................................................................................................412.2 BENS E SERVIÇOS ........................................................................................................................43

3 AGENTES ECONÔMICOS ..............................................................................................................443.1 AS FAMÍLIAS OU UNIDADES FAMILIARES ..........................................................................443.2 EMPRESAS .....................................................................................................................................453.3 O ESTADO – SETOR PÚBLICO ...................................................................................................463.4 RESTO DO MUNDO .....................................................................................................................47

4 MERCADOS ........................................................................................................................................495 PROBLEMAS FUNDAMENTAIS ...................................................................................................506 CONCEITO DE SISTEMA ECONÔMICO ....................................................................................51

6.1 FUNCIONAMENTO DE UM SISTEMA ECONÔMICO CAPITALISTA ..............................55LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................58RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................62AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................63

suMário

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VIII

TÓPICO 4 - O MUNDO DA ECONOMIA .......................................................................................651 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................652 MICROECONOMIA E MACROECONOMIA .............................................................................653 ECONOMIA POSITIVA E ECONOMIA NORMATIVA ............................................................674 POR QUE ESTUDAR MICROECONOMIA? ................................................................................68RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................70AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................71

UNIDADE 2 - TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR .................................73

TÓPICO 1 - TEORIA DO CONSUMIDOR OU DEMANDA .......................................................751 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................752 CONCEITO DE VALOR ....................................................................................................................773 A QUESTÃO DA UTILIDADE ........................................................................................................79

3.1 UTILIDADE TOTAL E UTILIDADE MARGINAL ...................................................................814 DEMANDA DE BENS E SERVIÇOS ..............................................................................................87

4.1 REPRESENTAÇÃO DA DEMANDA .........................................................................................88LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................94RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................98AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................100

TÓPICO 2 - A QUESTÃO DAS PREFERÊNCIAS DO CONSUMIDOR ....................................101 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1012 CURVA DA INDIFERENÇA.............................................................................................................1023 TAXA MARGINAL DE SUBSTITUIÇÃO – TMS ........................................................................1054 SUBSTITUTOS PERFEITOS E COMPLEMENTOS PERFEITOS .............................................107RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................110AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................111

TÓPICO 3 - A QUESTÃO DA RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA ................................................1131 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................113LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................120RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................121AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................122

TÓPICO 4 - A QUESTÃO DA ESCOLHA ........................................................................................1231 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1232 TEORIA DA ESCOLHA ....................................................................................................................1243 A ESCOLHA ÓTIMA .........................................................................................................................125RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................127AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................128

TÓPICO 5 - A QUESTÃO DA ELASTICIDADE .............................................................................1291 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1292 ELASTICIDADE-PREÇO DA PROCURA .....................................................................................1303 FATORES QUE INFLUENCIAM A ELASTICIDADE-PREÇO DA PROCURA .....................1314 REFLEXOS NA GESTÃO DE EMPRESAS ....................................................................................1325 ELASTICIDADE-PREÇO CRUZADA DA PROCURA ...............................................................133

5.1 EMPREGO DA ELASTICIDADE-PREÇO CRUZADA DA PROCURA ................................1346 ELASTICIDADE-RENDA DA PROCURA (DEMANDA) ..........................................................135RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................136AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................137

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IX

UNIDADE 3 - TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA ..............................................139

TÓPICO 1 - TEORIA BÁSICA DA OFERTA ...................................................................................1411 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1412 TEORIA BÁSICA DA OFERTA .......................................................................................................142

2.1 ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS ..............................................................................................1443 TEORIA DA PRODUÇÃO – A EMPRESA E A PRODUÇÃO ...................................................1474 A CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO ......................................................................1495 FUNÇÃO DE PRODUÇÃO ..............................................................................................................152

5.1 PRODUÇÃO NO CURTO PRAZO .............................................................................................1535.2 PRODUÇÃO NO LONGO PRAZO ............................................................................................157

6 REPRESENTAÇÃO DA OFERTA ....................................................................................................1597 ELASTICIDADE-PREÇO DA OFERTA .........................................................................................164RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................166AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................168

TÓPICO 2 - TEORIA DOS CUSTOS .................................................................................................1691 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1692 CUSTO DE OPORTUNIDADE........................................................................................................170

2.1 CUSTOS EXPLÍCITOS E CUSTOS IMPLÍCITOS ......................................................................1713 CUSTOS DE PRODUÇÃO................................................................................................................171

3.1 CUSTO DE PRODUÇÃO NO CURTO PRAZO ........................................................................1723.1.1 Custo unitário de curto prazo .............................................................................................175

3.2 CUSTO DE PRODUÇÃO NO LONGO PRAZO .......................................................................1803.2.1 Economia de escala ...............................................................................................................180

4 RENDIMENTOS E MAXIMIZAÇÃO DOS LUCROS DA EMPRESA ....................................1824.1 MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO NO CURTO PRAZO ...............................................................182

5 PONTO DE EQUILÍBRIO OU BREAK-EVEN POINT ................................................................185RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................187AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................189

TÓPICO 3 - EQUILÍBRIO DO MERCADO ......................................................................................1911 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1912 PREÇO DE EQUILÍBRIO ..................................................................................................................191RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................195AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................196

TÓPICO 4 - ESTRUTURAS DE MERCADO ....................................................................................1971 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1972 CONCORRÊNCIA ..............................................................................................................................198

2.1 CONCORRÊNCIA PERFEITA OU PURA .................................................................................1992.2 CONCORRÊNCIA IMPERFEITA ................................................................................................200

2.2.1 Monopólio ..............................................................................................................................2002.2.2 Competição monopolística ..................................................................................................2032.2.3 Oligopólio ..............................................................................................................................204

LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................210RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................212AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................213REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................215

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UNIDADE 1

INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir desta unidade, você será capaz de:

• diferenciar os vários entendimentos da palavra economia;

• identificar quais são os fatores de produção e como eles podem ser com-binados pelas empresas com o objetivo de produzir bens e serviços que atenderão as necessidades e desejos dos consumidores;

• identificar os diferentes sistemas econômicos que organizam as economias de diferentes nações, suas características e seu funcionamento;

• diferenciar a microeconomia da macroeconomia;

• identificar como a microeconomia pode contribuir para o sucesso das em-presas e nas atividades de um administrador.

Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada um deles você encontrará um resumo do conteúdo e atividades que o(a) ajudarão a fixar os conhecimentos estudados.

TÓPICO 1 – CONCEITO DE ECONOMIA

TÓPICO 2 – A ECONOMIA COMO CIÊNCIA

TÓPICO 3 – SISTEMAS ECONÔMICOS

TÓPICO 4 – O MUNDO DA ECONOMIA

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TÓPICO 1UNIDADE 1

CONCEITO DE ECONOMIA

1 INTRODUÇÃO

A economia é um tema bastante complexo e extenso, cheio de conceitos abstratos, e que se utilizada normalmente de um linguajar próprio, que já foi classificado muitas vezes como “economês”, e que por esse motivo assusta no primeiro contato.

Nesta unidade estaremos abordando alguns desses conceitos iniciais de forma bem clara, para que você, acadêmico(a), possa se sentir seguro para enfrentar os desafios que vem pela frente com o estudo da Microeconomia. Para que isso realmente aconteça, estaremos utilizando exemplos do dia a dia de nossas vidas para ilustrar como a economia faz parte das muitas decisões que somos forçados a tomar todos os dias, em virtude, por exemplo, de não termos recursos financeiros na quantidade que sempre desejamos, o que claramente nos impede de comprar o que realmente gostaríamos de ter e atender aos nossos desejos.

Recorrendo às principais publicações sobre o tema economia, veremos que muitas são as maneiras de definir esta ciência. Porém, basicamente todas dizem a mesma coisa. Uma das mais difundidas é a de que a Economia é o estudo da alocação de recursos escassos considerando as necessidades infinitas da sociedade formada por nós, seres humanos.

Interessante não? Então vamos lá!

2 CONCEITO DE ECONOMIA

Mesmo sendo um assunto que requer algum conhecimento, a economia é um tema que está sempre em discussão nas mais variadas esferas da sociedade moderna: desde o nosso lar, no ambiente escolar, no ambiente de trabalho, nas mesas dos restaurantes e bares etc.

Junto com outras notícias, como as sobre futebol, não se passa uma única noite sem que os telejornais das diversas estações de televisão brasileiras e também do mundo, abordem a economia quando apresentam notícias ligadas à inflação, ao desemprego, às taxas de juros, ao salário.

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA

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Nesse momento vale lembrar que muitas vezes estas discussões não estão baseadas em conhecimento teórico ou científico, mas sim no senso comum, ou seja, em nossas experiências pessoais, que por sua vez, em muitos aspectos não servem para as outras pessoas e vice-versa. E isto na verdade é o que na maioria das vezes nos impede de ver e entender o mundo real como ele é, além de gerar medo e desconfiança!

É muito importante entender que não é a mesma coisa discutir futebol e economia! As discussões de assuntos da vida econômica de uma sociedade, como a sociedade brasileira, não podem ser simplificadas demasiadamente. Vejamos: se o seu time ou o meu perder um jogo ou até o campeonato, o reflexo negativo disso em sua vida e na minha será muito pequeno e passageiro! Basicamente, esse momento negativo fica restrito à torcida de cada time. Entretanto, se o nosso governo tiver que aumentar os impostos e/ou os juros em função da inflação, por exemplo, toda a sociedade sofrerá as consequências por um longo tempo!

Portanto, não é difícil de entender o motivo que leva esse assunto a ser polêmico e a despertar tanto a curiosidade das pessoas.

Vamos relembrar alguns acontecimentos do nosso dia a dia, que envolvem decisões que por sua vez se refletem no lado econômico: ir trabalhar utilizando o transporte coletivo ou usar nosso automóvel/motocicleta; decidir a compra de produtos nos supermercados/farmácias/lanchonetes conforme sua utilidade; necessidade de abastecer com combustível nosso carro ou motocicleta; recarga de créditos nos telefones celulares; usar o limite do cheque especial (considerando os juros) oferecido pelo banco onde possuímos uma conta corrente; optar por fazer nosso almoço em casa ou ir a um restaurante.

Todos esses atos têm uma estreita relação com a economia, pois além de afetarem a nossa própria vida, afetam a vida das outras pessoas, das empresas e também do Estado (governo), através do recolhimento de impostos ou na obrigação de oferecer um serviço de transporte público de qualidade para que as pessoas possam se deslocar de casa para o restaurante ou trabalho, por exemplo.

Vamos adotar como exemplo, para introduzir a economia como objeto de nossos estudos, a decisão que uma determinada pessoa, que mora sozinha no centro da cidade de São Paulo – SP, e tem de tomar cotidianamente a seguinte decisão: fazer o almoço em casa ou ir a um restaurante.

O primeiro ponto que podemos lembrar é que morando no centro de uma cidade tão grande não é possível para esta pessoa produzir seu próprio alimento, ou seja, não pode plantar arroz, feijão, farinha ou tampouco criar galinhas ou porcos. O segundo ponto é certamente bastante óbvio: se não se alimentar essa pessoa não poderá sobreviver! Em outras palavras, se alimentar é uma necessidade fisiológica, ou seja, é uma necessidade básica para o funcionamento

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TÓPICO 1 | CONCEITO DE ECONOMIA

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do nosso corpo. Assim, uma decisão de onde, quando e como consumir alimentos também é inevitável!

Deste modo, se optar por fazer a refeição em casa, a pessoa deve inicialmente dispor de tempo para isso, deixando de lado outros afazeres, como por exemplo, assistir a um programa na televisão. Por não ter a condição de produzir seu próprio alimento, deve comprar de produtores ou de alguma empresa especializada, o que é necessário. Em um supermercado é possível se comprar todos os itens necessários para fazer um almoço completo. O que também demanda tempo, que é limitado a 24 horas por dia. Além de todos os ingredientes, é necessário também ter gás de cozinha e todos os utensílios à disposição: panelas, pratos, talheres, frigideiras e principalmente um fogão.

É bom considerar também a quantidade de comida que vai fazer para que não haja desperdício. Não podemos esquecer também de um ponto muito importante: a disponibilidade de recursos financeiros para a aquisição de tudo isso (nosso salário também é limitado). No final da refeição ainda é importante lavar toda a louça que foi utilizada, e então: detergente, esponja, água... Ufa! Realmente é bastante coisa para um simples almoço.

Então o mais fácil seria almoçar no restaurante mais próximo, certo? Inicialmente a pessoa deve economizar tempo e possivelmente dinheiro. Será?

Para fazer todas essas tarefas que a pessoa considera trabalhosas demais, um pequeno empresário, o dono do restaurante, precisa ter à sua disposição uma equipe composta por cozinheiros, ajudantes de cozinha, garçons e atendentes. Como ele produz alimentos em uma quantidade maior, certamente não compra os ingredientes em um supermercado, mas sim em um distribuidor, de certa forma conseguindo um melhor preço. O que é um fator positivo para seu negócio.

Por outro lado, ele precisa se preocupar com o aluguel do lugar onde está o restaurante, pagar os impostos, pagar o salário de seus funcionários, qual a variedade de pratos que vai oferecer aos seus clientes (como consumidor esta pessoa não vai querer ir a um restaurante e comer todos os dias a mesma coisa!), a quantidade a ser produzida, pois é bom que não falte nem sobre muita comida, organizar muito bem o ambiente – meses, pratos, talheres, copos etc.

Além de tudo isso, é necessário ter as autorizações necessárias para ter o restaurante: alvará da vigilância sanitária, da prefeitura, dos bombeiros. Agora é a vez do dono do restaurante dizer: UFA! São muitas coisas para levar em consideração. Resultado: é provável que esta pessoa gaste muito mais dinheiro decidindo almoçar em um restaurante. Mas nem por isso os restaurantes estão vazios! Existe uma procura constante por este tipo de serviço.

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA

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Fica fácil com este exemplo perceber como uma simples decisão afeta todo o dia a dia de famílias, produtores, consumidores e do governo. As perguntas começam a surgir:

- Do lado das famílias e consumidores: O que consumir? Quando consumir? Fazer ou comprar pronto? Qual a quantidade a consumir? Tenho dinheiro para consumir quais produtos/serviços? Compro importado ou nacional? Quais são minhas necessidades? Quanto devo pagar por um determinado produto?

- Do lado dos produtores: O que produzir? Quando produzir? Tenho recursos (ingredientes, pessoas, dinheiro) para produzir? Que quantidade produzir? Para que tipo de clientes? Quais são as necessidades dos meus clientes? Quais são meus custos? Que preço cobrar?

- Do lado do governo: que serviços públicos são necessários? Quem deve fiscalizar os produtores de alimentos? Quem é o órgão responsável por liberar as autorizações necessárias ao funcionamento das empresas? Todos os empregos são formais, ou seja, com a carteira de trabalho assinada? Qual é a riqueza total do país? Quanto contribui cada trabalhador ou empresário para o crescimento econômico do país?

Este tipo de decisão acontece todos os dias com a grande maioria dos habitantes do nosso país, com uma infinidade de empresas instaladas e com os três níveis de governo no Brasil: federal, estadual e municipal.

Deste exemplo podemos identificar a primeira definição para a palavra economia. Segundo diversos estudiosos, dentre eles Oliveira (2006, p. 153) expõe que “o termo economia é originário da palavra oikosnomos (oikos = casa e nomos = lei), e significa a administração de uma casa”. Então, baseados em nosso exemplo, estamos exercendo os princípios econômicos quando administramos os recursos (salários, nossa força de trabalho, nossa disponibilidade de tempo, utensílios domésticos, alimentos etc.) que estão à nossa disposição para fazer frente às necessidades da nossa vida cotidiana.

Outra definição é a dos autores Samuelson e Nordhaus (2004, p. 3) que apontam que a “Economia é o estudo de como as sociedades usam recursos escassos para produzir bens úteis e distribuí-los entre pessoas diferentes”.

Se formos um pouco mais fundo, pensando no que dizem essas duas definições, chegaremos à conclusão de que isto envolve tomar decisões, ou seja, se decidirmos consumir alguma coisa (bem e/ou serviços) ou ainda fazer alguma poupança será necessário abandonar o consumo de outra.

Aqui aparece então, outro importante termo da economia: a racionalidade. As decisões requerem uma racionalidade. Em nosso exemplo, se a pessoa decidir

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TÓPICO 1 | CONCEITO DE ECONOMIA

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por almoçar no restaurante, está agindo de forma racional para aproveitar melhor o seu tempo. Porém, nem sempre agimos de forma racional. Muitas vezes agimos por impulso ou por hábito. E isso também será levado em conta pela economia.

Outro consenso entre muitos estudiosos do tema é o de que a Economia é uma ciência social, podendo ser definida como:

[...] uma ciência social que estuda como o indivíduo e as sociedades decidem (escolhem) empregar recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas da melhor maneira possível. (PINHO; VASCONCELLOS, 2006, p. 2).

Analisando as palavras que formam esta definição, surgem dois termos que necessariamente precisam ser abordados devido à sua importância no contexto econômico, são eles: escassez (na definição acima = recursos produtivos escassos) e necessidades (no nosso caso = necessidades humanas).

Da união destes dois termos surge o principal foco de estudos da Economia como ciência: “A Lei da Escassez”, que será abordada no próximo item.

3 LEI DA ESCASSEZ

Para Hall e Lieberman (2003) a fonte de todos os problemas que a economia procura entender e sugerir soluções visando a um futuro melhor para a sociedade como um todo é a escassez de recursos. Deste ambiente de escassez surgem as escolhas que produtores, consumidores, empresários e governo são forçados a fazer cotidianamente para atender aos seus objetivos.

Para entender melhor como a escassez se tornou o principal foco da Economia vamos inicialmente abordar alguns conceitos básicos, começando pelas necessidades humanas.

3.1 NECESSIDADES HUMANAS

Pode-se entender uma necessidade humana como a percepção de que alguma coisa está faltando, gerando então um desejo, uma busca por satisfação.

Oliveira (2006) amplia o entendimento de necessidade, identificando que a necessidade pode ser entendida como uma exigência tanto individual como coletiva, que deverá ser satisfeita mediante o consumo de um bem e/ou serviço.

Considerando o entendimento deste mesmo autor, as necessidades humanas podem ser classificadas como:

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA

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• Individuais absolutas ou universais: são comuns a todos os indivíduos de todas as sociedades, em todos os momentos e normalmente associadas a nossa condição humana, ou seja, necessidades básicas de origem natural ou biológica, como por exemplo: comer, beber, vestir etc.;

• Individuais relativas: são diferentes para cada indivíduo ou sociedade e influenciadas por uma série de fatores, dentre eles: valores, costumes, região onde moram, gosto etc. Exemplos: habitantes do litoral que têm sua alimentação baseada em frutos do mar precisam dos apetrechos de pesca para capturar peixes.

• Coletivas: são aquelas que a sociedade como um todo deseja e ligadas ao bem-estar comum. Exemplos: saúde, segurança, educação, empregos, saneamento básico etc.

Vale ressaltar que não importa, nesta disciplina de Microeconomia, aprofundar a discussão acerca das necessidades: se são fruto da nossa própria condição humana, se são aspirações de toda uma sociedade ou se ainda criada através de estratégias de marketing. O ponto principal é de que elas existem! São uma realidade e por consequência, sentimos uma vontade de satisfazê-las em busca de um sentimento de bem-estar.

Outra realidade é que nós, seres humanos, essencialmente somos diferentes. Isto quer dizer então que, se percebemos diferenças entre os indivíduos, as necessidades também serão diferentes e portanto, em busca da satisfação o comportamento de cada pessoa e de cada sociedade será diferente.

Lembram-se do nosso exemplo inicial? Não há dúvidas de que nós todos precisamos nos alimentar para sobrevivermos. Contudo, algumas pessoas decidem consumir sua refeição em um restaurante – preparada em maior quantidade e com variedade – e outras preferem prepará-la em casa, por gostarem de uma refeição no estilo “caseiro”, pouca variedade, mas com um sabor mais apurado.

Muitas são as teorias que buscam explicar como se dá o processo de surgimento e satisfação das necessidades humanas. Uma das teorias largamente empregada nos cursos de administração, basicamente nas disciplinas voltadas à gestão de pessoas e de teoria da administração, e que permite entender de forma bastante clara este processo, é a que foi apresentada pelo psicólogo americano Abraham Maslow e ficou conhecida como “hierarquia de necessidades de Maslow” ou “pirâmide de Maslow”.

A Figura a seguir apresenta esta teoria sobre as necessidades humanas.

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TÓPICO 1 | CONCEITO DE ECONOMIA

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FIGURA 2 – HIERARQUIA DE NECESSIDADES DE MASLOW

FONTE: O autor

Dedicando-se ao estudo do comportamento humano, Maslow identificou os seguintes níveis de necessidades:

1. Necessidades básicas: são as necessidades que todo ser humano possui. Também são conhecidas como necessidades fisiológicas, são as necessidades que, se não saciarmos, teremos um desconforto e isto nos impedirá de tal forma que não teremos outras necessidades. Necessidade de alimentação, repouso, sexo, abrigo e outras necessidades orgânicas.

2. Necessidades de segurança: esta necessidade está relacionada ao nosso bem estar. Precisamos da segurança de um lar, segurança pessoal e financeira para nos sentirmos bem. O ser humano tem a tendência natural de querer se sentir protegido e resguardar sua vida.

3. Necessidades sociais: sentir-se aceito em um grupo é o que a maior parte dos seres humanos deseja. Temos a necessidade de contato e interação social e isto engloba desde o relacionamento no trabalho até um relacionamento amoroso e intimidade sexual.

4. Necessidade de estima: ser respeitado, reconhecido e bem recebido. Esta necessidade está ligada ao fato dos outros reconhecerem nossa capacidade frente ao que realizamos.

NECESSIDADES DE

REALIZAÇÃO

NECESSIDADES DE ESTIMA

NECESSIDADES SOCIAIS

NECESSIDADES DE SEGURANÇA

NECESSIDADES BÁSICAS

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA

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5. Necessidade de realização: a última etapa das necessidades humanas, a autorrealização remete ao indivíduo que está satisfeito com seu posto alcançado e com a vida que leva.

Este postulado é interpretado da seguinte forma: um ser humano tende a satisfazer suas necessidades primárias (mais baixas na pirâmide), antes de buscar as do nível mais alto. Como se estivesse subindo os degraus de uma escada.

É importante destacar que esta teoria recebe algumas críticas: 1) considera que todos os seres humanos são iguais, não considera que o que pode ser necessidade para uma pessoa, pode não ser para outra; 2) não há flexibilidade, ou seja, a estrutura se apresenta sem a possibilidade de inversão ou troca de necessidades.

3.2 RECURSOS PRODUTIVOS OU FATORES DE PRODUÇÃO

Dando continuidade ao nosso esforço de entender a lei básica da economia, é necessário agora definir o que são recursos produtivos ou fatores de produção e, posteriormente a sua situação de escassez.

Como já foi abordado anteriormente, a Economia é definida como ciência social, já que estuda as ações e/ou comportamentos dos seres humanos – que por sua vez formam uma sociedade – principalmente no que se refere a decisões que visam atender suas necessidades. Uma das características básicas de uma sociedade é estar em constante mudança, portanto é muito dinâmica. Assim, da mesma forma, a economia deve evoluir constantemente com a sociedade.

Santos (apud PINHO; VASCONCELLOS; GREMAUD, 2006) aponta que os fatores de produção tradicionais descritos pelo economista Adam Smith em 1790, em sua obra denominada “A Riqueza das Nações”, foram: terra, trabalho e capital. Durante muitos anos os economistas apontaram estes fatores como os principais responsáveis por toda a geração de riquezas da sociedade.

Com a evolução da sociedade, levando consequentemente à evolução do estudo da economia, foi necessário expandir estas três categorias para cinco categorias, considerando: o surgimento da informática, novas técnicas de gestão de empresas, globalização da economia, ampliação do conhecimento etc.

Para Sandroni (2005, p. 235) estas cinco categorias seriam:

Elementos indispensáveis ao processo produtivo de bens materiais. Tradicionalmente, desde Say, são considerados fatores de produção a terra (terras cultiváveis, florestas, minas), o homem (trabalho) e o capital (máquinas, equipamentos, instalações, matérias-primas). Atualmente, costuma-se incluir mais dois fatores: organização

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TÓPICO 1 | CONCEITO DE ECONOMIA

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empresarial e o conjunto de ciência/técnica (pesquisa). De modo geral, os fatores de produção são limitados e, por isso, eles se combinam de forma diferente conforme o local e a situação histórica.

Deste modo, atualmente são reconhecidos como recursos produtivos ou fatores de produção os seguintes insumos:

• Terra: abrange todos os recursos naturais fornecidos pela natureza. Nesta categoria temos como exemplos: água, minerais, madeiras, peixes, florestas, petróleo, espaços físicos para a instalação de fábricas e construção de prédios comerciais e habitacionais, terra fértil para a plantação de cereais, legumes e frutas.

• Trabalho: é o conjunto de recursos humanos e seu esforço físico ou mental; a mão de obra qualificada ou não: operários de fábricas, técnicos administrativos, motoristas, pilotos de avião, trabalhadores que realizam a colheita de café ou laranjas, pedreiros, carpinteiros, serventes, atendentes de lanchonetes, técnicos industriais, engenheiros, gerentes, e muitos outros profissionais que trocam a sua força de trabalho por uma remuneração.

• Capital: nesta categoria além dos recursos financeiros (dinheiro), que podem ser obtidos também através de empréstimos e/ou financiamentos nos bancos, temos um conjunto de bens e serviços bastante amplo, formado por todos os tipos de máquinas e equipamentos, estradas, ferrovias, aeroportos, portos, sistemas de telecomunicações, navios, aviões, prédios e instalações industriais, robôs, computadores que são necessários para a produção de outros bens e serviços.

• Capacidade empresarial: um dos primeiros economistas a apontar a capacidade empresarial como um insumo foi o economista austríaco Joseph A. Schumpeter. Estudando o desenvolvimento econômico da sociedade, ele apontou a importância da inovação através do “ato empreendedor”, efetivada pelo “empresário empreendedor”. Empregando sua capacidade de gestão, este empreendedor está disposto a assumir riscos calculados (previamente conhecidos) de perder seu capital (ou de terceiros – empréstimos bancários) quando decide dar início a um negócio. O empreendedor certamente visa obter lucro com o empreendimento e para tanto reúne os recursos produtivos necessários à fabricação de bens e/ou serviços destinados a atender o desejo/necessidade dos consumidores.

• Tecnologia: também denominado de técnicas de produção. Representado pelo conjunto de conhecimentos e habilidades que dão sustentação ao processo de produção, ou seja, que permitam que a combinação dos outros insumos resulte em bens e serviços para a satisfação das necessidades e desejos de toda a sociedade. É o elo entre os fatores de produção: terra, trabalho e capital

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(ROSSETTI, 2002). Este componente é que permite o aumento da oferta de bens e serviços. Exemplo: uso de robôs para a fabricação de automóveis, conforme exemplo da figura a seguir.

FIGURA 3 - USO DA TECNOLOGIA NA FABRICAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS

FONTE: Disponível em: <http://revistaautoesporte.globo.com/Revista/Autoesporte/foto/0,,47283823,00.jpg>. Acesso em: 24 nov. 2013.

Para Mendes (2004) uma importante característica desses insumos é a sua versatilidade, ou seja, sua capacidade de ser utilizado na produção de diferentes produtos. Um exemplo bem prático dado por este autor é o caso da farinha de trigo, que pode ser utilizada tanto para fazer pão, como na produção de macarrão ou bolachas.

Aproveitando esse exemplo do macarrão, também fica fácil de imaginar que para a produção da maioria dos bens e serviços que desejamos ou temos necessidade, é indispensável a combinação destes insumos.

Então, os recursos produtivos ou fatores de produção podem ser empregados de forma individual ou combinada, no processo de criação e fabricação de outros bens e serviços – também conhecidos como produtos – destinados por sua vez a atender as necessidades e desejos dos consumidores que formam uma sociedade.

A próxima figura nos ajuda a memorizar este conceito.

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FIGURA 4 – COMBINAÇÃO DOS FATORES DE PRODUÇÃO PARA A PRODUÇÃO DE UM BEM OU SERVIÇO

FONTE: O autor

Todo esse processo é denominado de atividade econômica.

Quando um desses fatores de produção é empregado, de forma combinada ou isolada na produção de algum bem ou serviço, deve receber em troca alguma forma de remuneração.

Sendo assim, para Nogami e Passos (2003), estas remunerações são:

• Para o fator de produção terra, a remuneração auferida receberá o nome de aluguel.

TERRA

TRABALHO

CAPITAL

CAPACIDADE EMPRESARIAL

TECNOLOGIA

BENS E SERVIÇO

Use a sua imaginação e procure relacionar numa folha de papel tudo o que é necessário para que um pacote de seu macarrão preferido esteja à disposição na prateleira do supermercado.

UNI

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• Para o fator de produção trabalho, a remuneração auferida receberá a designação de salário.

• O capital recebe sua remuneração sob a forma de juros.

• A tecnologia utilizada na produção de mercadorias recebe a remuneração em forma de direito à propriedade, também conhecida por royalties.

• A capacidade empresarial é remunerada pelos lucros obtidos nas atividades econômicas.

O quadro a seguir ilustra estas relações.

QUADRO 1 – OS FATORES DE PRODUÇÃO E SUA RESPECTIVA REMUNERAÇÃO

FONTE: O autor

No Tópico 3, desta unidade, aprofundaremos a discussão dobre a atividade econômica, incluindo também como as sociedades estão organizadas para produzir estes bens, ou seja, qual é o sistema econômico que predomina em uma determinada nação, como o Brasil.

Por hora, iremos nos focar no conceito de economia.

Deste modo, para finalizar, precisamos entender o termo escassez!

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3.3 ESCASSEZ

Vamos considerar que você tem uma ocupação remunerada, ou seja, um emprego pelo qual, através do seu esforço pessoal, recebe uma quantidade mensal de dinheiro que simplesmente chamamos de salário, e que a Teoria Econômica chama de renda. Essa sua renda, seja em que quantidade ela for, é empregada mensalmente para atender a todas as suas necessidades.

Algumas de suas necessidades, como já estudamos antes, não podem ser simplesmente deixadas de lado por motivos óbvios, como comer! Outras não são de primeira necessidade, mas você também não pode deixar de lado: aluguel da casa ou parcela do financiamento imobiliário, fatura do cartão de crédito, a mensalidade da faculdade (muito importante!), dinheiro para o transporte coletivo etc.

Ainda existem outras que você pode e deve administrar muito bem: conta da luz, conta da água, conta do celular, comprar roupas, consumir bebidas alcoólicas etc. No final, vamos supor, sua renda cobre as suas necessidades mensais. Ótimo!

Mas, se em função de seu emprego você precisar comprar um carro ou uma motocicleta? Sem recursos disponíveis para comprar à vista, ou somente com parte deles, certamente você poderia fazê-lo através de um financiamento bancário! Resolvido? Não é bem assim.

Mesmo assim, depois de alguns dias você teria um novo compromisso financeiro: a parcela do financiamento do carro ou da moto! E, portanto, teria de deixar de lado ou pelo menos reduzir um de seus compromissos anteriores para pagar esse novo.

Resultado: sua renda (salário) não é suficiente para fazer frente a mais esta necessidade! Em outras palavras ela é escassa!

Não se desespere, todos os brasileiros que são assalariados estão na mesma situação e precisam tomar a mesma decisão!

E as empresas? Será que enfrentam o mesmo problema?

Com certeza! Imagine o dono do restaurante em nosso exemplo inicial. Ele precisa tomar decisões que envolvem a combinação dos fatores de produção. Uma delas, vamos dizer mais estratégica pode ser: devo investir meus recursos financeiros na ampliação da capacidade de atendimento, ou seja, número de lugares do restaurante ou devo investir a mesma quantidade de recursos na qualidade do ambiente, como por exemplo, a instalação de novos aparelhos de ar-condicionado? Qual dessas duas decisões vai gerar um melhor resultado financeiro?

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Como ele não possui recursos financeiros infinitos precisa fazer uma escolha.

Esta mesma conclusão pode então ser estendida a todos os recursos produtivos ou fatores de produção que vimos anteriormente: tudo o que a natureza coloca à nossa disposição é finito, mais cedo ou mais tarde vai acabar. A quantidade de pessoas bem formadas e treinadas – mão de obra qualificada – também é finita, principalmente se considerarmos uma determinada cidade ou região; além disso, o número de empresários/empreendedores dispostos e aptos a concretizar novos negócios; e por fim, toda a tecnologia é um dia substituída por outra mais eficiente e torna-se obsoleta!

Agora, para finalizar este tópico, podemos então recordar a principal definição de economia, sabendo exatamente o que significa e tirar uma conclusão sobre como a economia pode contribuir com a sociedade.

Definição de Economia como ciência:

[...] uma ciência social que estuda como o indivíduo e as sociedades decidem (escolhem) empregar recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas da melhor maneira possível (PINHO; VASCONCELLOS, 2006, p. 2).

Uma conclusão que podemos tirar é que a principal contribuição da economia como ciência é auxiliar as pessoas, as famílias, as empresas e o governo em seu processo de tomar uma decisão: como alocar seus recursos que são escassos em diferentes alternativas de como satisfazer suas necessidades que são ilimitadas.

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LEITURA COMPLEMENTAR

ÁGUA: O RECURSO NATURAL ESTÁ ESCASSO

Países do norte da África e do Oriente Médio já vivem com poucos recursos hídricos, mas desenvolvem técnicas que ajudam a economizar.

População mundial precisa saber administrar bem recursos hídricos para economizar para o futuro (Foto: Divulgação/UNESCO © Edson Fogaça)

As perspectivas para o planeta são alarmantes. De acordo com a Unesco, até 2050 cerca de 60% da população mundial irá viver em condições de estresse hídrico, e uma proporção semelhante ficará sem saneamento básico adequado. Alguns países do norte da África e do Oriente Médio já vivem com oferta de água insuficiente para suas populações. E, se não forem tomadas medidas emergenciais, a previsão é de que não seja possível mais a presença humana na região.

De acordo com o coordenador de Ciências Naturais da Unesco Celso Schenkel, isso é um alerta e não exatamente a previsão do futuro. “Os dados inspiram medidas para que estes países mudem esta tendência”, explica. No norte da África, por exemplo, cerca de 90% dos recursos hídricos são usados para a agricultura, o que está bem acima da média mundial, que é de 70%. “Nestes

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países com oferta pequena de água, quanto menor é a oferta, melhor é a qualidade da água e melhor é o cuidado no uso dela”, conta. Ou seja, há redução das formas de desperdício e busca por novas fontes de investimento de água.

Os países da região acabam procurando água de aquíferos subterrâneos, a água tem qualidade, há um combate incessante ao desperdício, e novos acordos sobre o uso da água são elaborados.

Um exemplo do uso consciente da água em países do Oriente Médio e do norte da África é a utilização de técnicas específicas para cada tipo de plantação. Entre elas está a irrigação por gotejamento, que permite que a planta receba a quantidade de água exata. Nem mais, nem menos. A técnica, que nasceu nos desertos de Israel, também ganha espaço nas lavouras brasileiras.

Apesar das tentativas de preservar o pouco de recurso hídrico que existe nestes países, a dificuldade de encontrar água causa migração humana, e também da fauna silvestre. “Por exemplo, se os gnus se mudam para um local com agricultura, haverá conflito. Os conflitos não são necessariamente entre povos apenas”, conta Celso.

Segundo a Unesco, desde 1870 existem 450 acordos bilaterais sobre compartilhamento de recursos hídricos. Muitos deles estão em regiões entre países que estão em guerra ou conflito. Mas eles não quebram a palavra por nada. O conceito é: ninguém pode sair perdendo. “É preciso fazer um acordo ganha-ganha”, conta Celso.

Com os rios secando, países podem enfrentar problemas na pesca, no transporte e em energia (Foto: Divulgação/UNESCO © Edson Fogaça)

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Para que o mundo continue tendo água é preciso combater o desperdício, seja ele nas indústrias, na agricultura ou no uso diário de cada um. A tecnologia pode ajudar bastante. “Os sistemas de abastecimento de água em si já desperdiçam muito. Há a captação da água, o tratamento dela e a distribuição. Neste momento, perde-se, em média, entre 40 e 50% da água. Isso acontece por causa da má qualidade dos sistemas, que são obsoletos. Fora os gatos, os vazamentos”, conta coordenador de Ciências Naturais da Unesco.

O Brasil ainda precisa avançar muito quando o assunto é preservar seus recursos hídricos. Mas há ações animadoras: em São Paulo, por exemplo, algumas indústrias promovem o reúso da água. Trata-se da “água bruta de qualidade”, que não é potável, mas perfeita para ser usada nas indústrias.

Outro exemplo veio de uma montadora de automóveis que fez um investimento de 30 milhões de dólares em otimização dos recursos hídricos, reusando a água. “Eles esperavam um retorno financeiro em 5 anos, mas tiveram em 3, o que mostrou que é um bom investimento. Ela pagaria pela água, mas agora devolve para a natureza talvez até com uma qualidade melhor de quando ela foi captada”, diz Celso.

FONTE: Disponível em: <http://redeglobo.globo.com/globoecologia/noticia/2013/05/agua-o-recurso-natural-esta-escasso.html>. Acesso em: 1 set. 2013.

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RESUMO DO TÓPICO 1

Caro(a) acadêmico(a), neste tópico você viu que:

• A economia faz parte de nossas vidas mesmo quando não percebemos.

• Economia é o estudo da alocação de recursos escassos considerando as necessidades infinitas da sociedade formada por nós, seres humanos.

• Pode-se entender uma necessidade humana como a percepção de que alguma coisa está faltando, gerando então um desejo, uma busca por satisfação.

• Atualmente os fatores de produção ou recursos produtivos (insumos) são: terra, trabalho, capital, capacidade empresarial e tecnologia.

• Os recursos produtivos ou fatores de produção podem ser empregados de forma individual ou combinada, no processo de criação e fabricação de outros bens e serviços, destinados por sua vez a atender então as necessidades e desejos dos consumidores que formam uma sociedade.

• A principal contribuição da Economia como ciência é auxiliar as pessoas, as famílias, as empresas e o governo em seu processo de tomar uma decisão: como alocar seus recursos que são escassos em diferentes alternativas de como satisfazer suas necessidades que são ilimitadas.

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AUTOATIVIDADE

1 Complete as lacunas da sentença a seguir e obtenha a definição básica de Economia:

A economia é uma ciência__________, pois estuda como o indivíduo e a sociedade__________ empregar os recursos produtivos que são ____________ na produção de __________ e serviços a fim de satisfazer as___________________ dos seres humanos que são ___________________.

2 Além do exemplo da água como insumo escasso, que foi citada no texto da leitura complementar, cite outros 5 (cinco) insumos que claramente possuem uma quantidade finita.

3 Utilizando como exemplo um produto que você costuma consumir no seu dia a dia, relacione os fatores de produção ou insumos, com os componentes que são utilizados na fabricação deste produto.

4 É possível produzir algum bem ou serviço sem utilizar os fatores de produção?

5 Qual dos fatores de produção a seguir é considerado o elo, ou seja, que liga os demais fatores de produção?

a) ( ) Trabalho.b) ( ) Terra.c) ( ) Recursos financeiros.d) ( ) Tecnologia.e) ( ) Capacidade empresarial.

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TÓPICO 2

A ECONOMIA COMO CIÊNCIA

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

No tópico anterior, com o esforço pessoal de cada um de vocês, foi construída a primeira parte de uma base teórica para entender mais profundamente o que significa economia.

Identificando cada um dos termos que formavam um conceito previamente apresentado, alcançamos nosso objetivo de perceber a Economia como uma ciência social que tem por objetivo estudar como é possível atender as necessidades humanas – ditas ilimitadas – levando em conta que os recursos produtivos disponíveis para este fim são escassos.

Na apresentação deste Caderno de Estudos foi dito a você que a Economia, assim como as outras ciências, busca explicar o mundo real como forma de contribuir com o processo de desenvolvimento e de sucesso da sociedade.

Esse processo de explicar o mundo real é definido como método de investigação, que no nosso caso torna-se um método de investigação econômica. Na verdade, isto é uma tarefa bastante complicada, pois o mundo real é muito complexo com muitos fatos, comportamentos humanos diferentes e variáveis a considerar.

Mas nem por isso os economistas desistiram!

Para que seja possível contribuir com a interpretação do mundo real, os economistas utilizam algumas ferramentas, dentre elas estão os modelos e de estatística.

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA

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2 SURGIMENTO DA ECONOMIA COMO CIÊNCIA

Na tentativa de explicar o mundo que o cerca, o ser humano ao longo do tempo e ainda hoje, emprega diversas formas de conhecimento como: a tradição, as crenças/mitos, a religião, a arte, a ciência e até o bom senso.

Após um grande domínio da religião – basicamente até os anos 1700 – sobre as outras formas de conhecimento, o surgimento do Renascimento (que pode ser entendido como uma renovação da civilização) no século XVII, trouxe como novidade o emprego da ciência em substituição à religião. Os estudiosos passaram a contestar as explicações baseadas exclusivamente na fé, e passaram a observar com mais critério o mundo real que estava à sua volta, como forma de interpretar os acontecimentos.

É atribuído a Galileu Galilei o emprego de critérios mais racionais – uso da razão e não da fé – desenvolvendo um método inovador de enxergar o mundo real, hoje conhecido como método científico, que se baseava em alguns passos, a saber: 1) observação dos fenômenos do mundo real; 2) tentar recriar esses fenômenos via experimentação, 3) representar estes fenômenos por meio de equações matemáticas.

O escopo deste método era descobrir as leis naturais, universais e eternas por meio da regularidade dos fenômenos. Prevendo os fenômenos e não apenas descrevendo-os, a sociedade poderia dominar a natureza e fazê-la trabalhar em benefício próprio. Apesar de inicialmente se restringir ao campo das ciências naturais, mais tarde serviria de modelo para as ciências sociais, sob os princípios de racionalidade, objetividade e neutralidade (COSTA; FLÁVIO, 2005).

Portanto, como aponta Bêrni (2002), o surgimento da Ciência Econômica está intimamente ligada às profundas transformações pelas quais a sociedade ocidental passou a partir do século XV, tendo seu ápice nos séculos XVII e XVIII.

Vasconcellos e Garcia (2010, p. 17) apontam que “Existe consenso de que a teoria econômica, de forma sistematizada, iniciou-se quando foi publicada a obra de Adam Smith ‘A Riqueza das Nações’, em 1776”. Inclusive este economista foi posteriormente agraciado com o título de Pai da Economia, em virtude da amplitude de seu trabalho.

Neste sentido, Costa e Flávio (2005, p. 5) apontam que:

A história da ciência econômica é bastante recente. Sendo portanto, uma das ciências mais jovens das ciências sociais. Na verdade, sua história enquanto ciência, ou enquanto um conjunto coerente de reflexões sobre as relações econômicas, só começou há cerca de duzentos anos, na era moderna.

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TÓPICO 2 | A ECONOMIA COMO CIÊNCIA

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E completam esta afirmação com o seguinte argumento:

Embora as atividades econômicas de que a ciência econômica se ocupa – produção, distribuição, circulação e consumo – estivessem presentes em todas as sociedades e em todas as épocas, muito tempo se passou até que se pudessem levantar questões relevantes acerca da produção material da sociedade. Até este momento as preocupações em torno da produção material da sociedade foram marginais, não havendo necessidade de uma área específica do conhecimento, ou seja, de uma ciência econômica para estudar tal assunto (COSTA; FLÁVIO, 2005, p. 5-6).

Deste modo, podemos concluir que antes deste período histórico conhecido como Idade Moderna, em termos econômicos, a vida dos seres humanos em grupo era marcada por um estilo de vida mais simples, que buscava atender as suas necessidades mais básicas e de satisfação imediata (comer, estar protegido, se reproduzir).

3 TEORIAS E MODELOS

Como em outras Ciências Sociais, a Economia se baseia na possibilidade de interpretar os acontecimentos do mundo real econômico como forma de gerar respostas a perguntas que intrigam a sociedade.

Contudo, a Economia tem de lidar com um importante obstáculo ao empregar o método científico: é praticamente nula a possibilidade de experimentos laboratoriais, ou seja, é quase impossível de se realizar experiências de laboratório referente à vida econômica das pessoas devido ao grande número de variáveis econômicas envolvidas e à própria dinâmica da sociedade.

Para contornar esse obstáculo os economistas empregam o método científico, em nosso caso: método de investigação econômica!

A Figura 5 apresenta um esquema da sequência de passos do método de investigação econômica, geralmente empregado.

Uma variável econômica é algo que influencia nas decisões relacionadas com os problemas econômicos fundamentais (os problemas econômicos fundamentais serão abordados no próximo tópico) ou algo que descreve os resultados dessas decisões. Uma variável tem como característica básica a possibilidade de assumir diferentes valores. Exemplo: valor da renda de um consumidor.

UNI

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FIGURA 5 - ESQUEMA DO MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO ECONÔMICA

FONTE: Baseado em: Mochón (2006)

Partindo da observação do mundo real o investigador, ou seja, o interessado em explicar algum fenômeno econômico, idealiza uma teoria.

A teoria permite esquematizar – em outras palavras, colocar em uma determinada ordem, organizar – o que o investigador observou no comportamento econômico do mundo real, com a finalidade de explicar o porquê de certos acontecimentos ou justificar a relação entre duas ou mais coisas ou variáveis. Sem a criação de uma teoria, a única coisa que o investigador pode fazer é observar e descrever o que vê no mundo real (MOCHÓN MORCILLO, 2006).

Tendo idealizado uma teoria, o investigador cria um modelo.

Modelos são representações do mundo real de forma resumida, com uma quantidade reduzida de variáveis, consideradas principais para o entendimento do fenômeno que o modelo pretende explicar. Em outras palavras, um modelo é a “representação das principais características dos componentes de uma teoria” (RIZZIERI, 2006, p. 4).

Desta forma, um modelo pode ser entendido como uma simplificação da realidade, no caso da Economia, da realidade dos agentes econômicos e dos mercados nos quais eles interagem (BERNI, 2002; MORCILLO, 2006).

As teorias econômicas são apresentadas, de modo geral, sob a forma de equações matemáticas. Portanto, no decorrer deste caderno estaremos empregando a matemática como uma ferramenta para facilitar nosso entendimento sobre determinado assunto do mundo real que queremos explicar.

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Continuando nosso esquema do método de investigação, depois da construção de um modelo o investigador passa a tarefa de coletar dados. Na ciência econômica os dados estão ligados diretamente às atividades econômicas. Estes dados podem ser obtidos através da base de dados já existentes, construídas por outros investigadores – que são chamadas de fontes secundárias – ou através de instrumentos – entrevistas, questionários – com a participação direta do investigador. No prêmio Nobel de Economia, em 1976, Milton Friedman justificava que somente através da confrontação com dados, uma teoria e seu respectivo modelo podem se revelar úteis para analisar uma determinada classe de problemas concretos.

Por último, cabe ao investigador como última etapa desse processo, comparar os dados obtidos com o modelo construído anteriormente. Assim, o investigador tem a possibilidade de verificar se a teoria elaborada após a observação do evento do mundo real tem validade ou não, e se o modelo elaborado explica esse mesmo evento e pode ser utilizado para que um administrador ou pelo Estado, por exemplo, possa tomar alguma decisão baseada nele.

Vale ressaltar que este processo de investigação não termina nunca e o investigador deve voltar ao ponto inicial, ou seja, a observar o mundo real constantemente, em busca de teorias e modelos que explicam cada vez melhor os acontecimentos da realidade. Caso uma teoria, com seu respectivo modelo, não conseguir explicar satisfatoriamente a realidade, deve ser abandonada em favor de uma teoria mais adequada (RIZZIERI, 2006).

4 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO

Como vimos anteriormente, assim como as demais ciências sociais, a economia evolui à medida que a sociedade se desenvolve no contexto histórico, ou seja, a ciência econômica acompanha a evolução da própria humanidade, pois analisa a evolução do comportamento humano e da tecnologia em função das atividades econômicas da sociedade.

Assim, é natural que ao longo da história do pensamento econômico possa-se distinguir a coexistência de diferentes linhas de pensamento. Para entendermos melhor o cenário atual da Economia como ciência, precisamos voltar no tempo para entender de que forma evoluiu a Teoria Econômica no contexto das transformações históricas, dando origem a diferentes formas de interpretação da economia.

O esquema exposto na Figura 6 apresenta um apanhado geral da evolução do pensamento da Economia como ciência – considerando os principais expoentes e seu tempo – dando maior ênfase para o período histórico a partir do século XVI, já que como vimos anteriormente, trata-se do período onde as interações entre os membros da sociedade tornaram-se mais voltadas para o lado econômico.

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FIGURA 6 – ESQUEMA DA EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO

FONTE: TROSTER, Roberto Luís; MOCHON MORCILLO, Francisco. Introdução à economia. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 1994, p. 18.

A seguir vamos abordar brevemente as principais escolas.

4.1 MERCANTILISTAS

Vasconcellos e Garcia (2010) apontam que esta primeira escola econômica surgiu a partir do século XVI, e tinha como foco entender o processo de acumulação de riquezas de uma nação.

Dentre suas principais características temos: forte presença do Estado na condução dos assuntos econômicos; direcionamento da economia para o comércio entre as nações com posterior acumulação dos resultados deste comércio; e avidez por estocagem de metais preciosos com símbolo de poder, o que resultou em constantes conflitos armados.

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TÓPICO 2 | A ECONOMIA COMO CIÊNCIA

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4.2 FISIOCRATAS

A escola francesa da Fisiocracia – que significa “regras da natureza” – surgiu no século XVIII em uma clara oposição ao mercantilismo.

Vasconcellos e Garcia (2010) apontam como suas principais características:

• Liberdade econômica, ou seja, pregava que não deveria haver o intervencionismo do estado em favor do mercantilismo. Seriam competência do estado apenas as funções de manutenção da ordem econômica e da propriedade privada.

• Adoção de imposto único que incidiria sobre a propriedade de bens.

• A riqueza tem como única origem a produção com base na terra (natureza), que em sua visão possuía a capacidade de gerar excedentes, riquezas. Portanto, o foco da sociedade seria a agricultura em detrimento do comércio e das finanças.

4.3 ESCOLA CLÁSSICA

Os clássicos dos quais destacamos Adam Smith (1723-1790), David Ricardo (1772-1823), Thomas Malthus (1766-1834) e John Stuart Mill (1806-1873), não concordavam com seus antecessores fisiocratas na questão relativa à centralidade da terra como única geradora de riquezas.

Segundo os pensadores dessa escola, a geração de riqueza está diretamente relacionada com a produtividade da mão de obra, e esta produtividade é sempre incremental e baseada na especialização das tarefas produtivas e da divisão do trabalho.

Vasconcellos e Garcia (2010) assinalam como características da obra de Adam Smith:

• Livre concorrência: sem interferência do estado o equilíbrio econômico seria causado pela própria atuação dos agentes econômicos, que movidos por ideais individualistas – busca da maximização do lucro – promoveriam o bem estar de toda a sociedade. Esta teoria ficou conhecida como a Teoria da Mão Invisível.

• A causa da riqueza das nações é o trabalho humano, sendo que a moeda tem somente a função de meio de troca.

• Os mercados de consumo e a iniciativa privada devem ser ampliados para que a produtividade e a riqueza sejam ampliadas.

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• O papel do Estado estaria restrito apenas à proteção da sociedade e à manutenção de obras e instituições necessárias.

David Ricardo é outro importante pensador do período clássico. Usando como ponto de partida as ideias de Adam Smith, desenvolveu modelos econômicos para analisar os problemas econômicos de sua época. A obra mais importante deste pensador foi Princípios de economia política e tributação, que gerou duas importantes teorias:

• Teoria das vantagens comparativas: aplicada ao comércio internacional. Em resumo argumenta que cada nação deve se especializar em produzir aquilo – matérias-primas, bens – em que são relativamente melhores e comprar de outras nações aquilo em que são relativamente piores na produção.

• Lei dos rendimentos decrescentes: resumidamente aponta que considerando um determinado processo produtivo em que se empregam uma variedade de insumos ou fatores de produção, se a quantidade de um insumo for aumentada e a quantidade dos outros insumos permanecer constante, a produção total por insumo irá cair.

Adicionalmente, Vasconcellos e Garcia (2010, p. 20) apontam que:

A maioria dos estudiosos considera que os estudos de Ricardo deram origem a duas correntes antagônicas: a neoclássica, por suas abstrações simplificadoras, e a marxista, pela ênfase dada à questão distributiva e aos aspectos sociais na repartição da renda da terra.

O economista e filósofo John Stuart Mill é outro membro da Escola Clássica. Reconhecidamente um liberal, tem como obra mais importante o livro Princípios de Economia Política, de 1848, que é considerado o primeiro grande manual de Economia.

Vasconcellos e Garcia (2010, p. 21) apontam ainda que:

Seu trabalho foi o principal texto utilizado para o ensino de Economia no fim do período clássico e no início do período neoclássico. Sua obra consolidou o exposto por seus antecessores e avançou, por incorporar mais elementos institucionais, definindo melhor as restrições, vantagens e funcionamento de uma economia de mercado.

Além de economista, Thomas Malthus também era estatístico, demógrafo e sacerdote da Igreja Anglicana na Grã-Bretanha. Preocupado com as possíveis consequências negativas – principalmente a falta de alimentos – do crescimento desordenado da população, elaborou uma teoria que ficou conhecida como Teoria Neomalthusiana.

Em termos gerais, para este economista existia um grande potencial de que em determinado momento a população humana excederia em muito

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TÓPICO 2 | A ECONOMIA COMO CIÊNCIA

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o potencial da terra na produção de alimentos. O que certamente teria como consequências a fome e a pobreza. Ele defendia que as nações deveriam implantar medidas de controle populacional de controle da natalidade, como por exemplo a limitação voluntária de nascimentos nas famílias pobres. Aceitava sem receios que as guerras seriam uma solução para interromper o crescimento populacional. Entretanto, Malthus não previu o ritmo e o impacto do progresso tecnológico, nem as técnicas de limitação da fertilidade humana que se seguiram (VASCONCELLOS; GARCIA, 2010).

Após essa breve abordagem, podemos concluir que a Escola Clássica através de seus pensadores, lançou as bases para que a Ciência Econômica se desenvolvesse a partir de um referencial teórico próprio com foco nas questões econômicas (VASCONCELLOS; GARCIA, 2010).

Dessas bases surgiu a Escola Neoclássica.

4.3.1 Escola Neoclássica ou Marginalista

Vasconcellos e Garcia (2010) apontam que a Escola Neoclássica ou Marginalista refere-se ao período histórico que iniciou na década de 1870 e desenvolveu-se até as primeiras décadas do século XX.

Segundo Vasconcellos e Garcia (2004, p. 22),

Destacam-se os aspectos microeconômicos da teoria, pois a crença na economia de mercado e em sua capacidade autorreguladora fez com que não se preocupassem tanto com a política e o planejamento macroeconômico. Os neoclássicos sedimentaram o raciocínio matemático explícito inaugurado por David Ricardo, procurando isolar os fatos econômicos de outros aspectos da realidade social.

Troster e Morcillo (1994, p. 110) complementam que os membros desta escola dão atenção especial ao indivíduo, ou seja, “em vez de considerar a economia globalmente, os marginalistas centravam suas análises nas decisões dos sujeitos econômicos individuais e nas condições e preços do mercado”.

Outro ponto que identifica claramente os membros desta linha de pensamento é sua especial preocupação pela determinação dos preços de mercado.

Um dos destaques dessa linha de pensamento é o economista e matemático francês León Walras (1831 – 1910), que dedicou-se a interpretar e a expor a Economia com uma visão matemática, com o objetivo de ampliar o caráter científico desta ciência, igualando-a às ciências físicas (TROSTER; MORCILLO, 1994).

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA

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Algumas de suas contribuições são:

• Buscou provar que os resultados de um mercado de livre concorrência (que estipulou como concorrência perfeita) são benéficos para a sociedade.

• A concorrência perfeita se origina de uma situação de mercado na qual os compradores e os vendedores se reuniam em um leilão coletivo, de forma que as condições de cada troca seriam conhecidas. Procedendo assim, os vendedores deste mercado teriam a oportunidade de reduzir seus preços conforme os compradores receberiam suas ofertas (TROSTER; MORCILLO, 1994).

• Idealizou a Teoria do Equilíbrio Geral: inter-relação entre todas as atividades econômicas.

Outro importante pensador dessa corrente foi o economista inglês Alfred Marshall (1842 – 1924), considerado por muitos o fundador da moderna economia. A obra mais notável desse pensador foi Princípios de economia, publicada em 1890, e que serviu de linha mestra da economia até a metade do século XX.

Algumas de suas contribuições são:

• Formalização matemática dos conceitos econômicos.

• Emprego do conceito de equilíbrio parcial: em função das incontáveis variáveis as quais o estudo da economia está sujeito, se faz necessária a utilização de uma análise parcial dos problemas econômicos. Portanto, o termo ceteris paribus (tudo mais permanecendo constante) é introduzido na abordagem matemática econômica.

• “O comportamento do consumidor é analisado em profundidade; o desejo do consumidor de maximizar sua utilidade (satisfação no consumo) e o do produtor de maximizar seu lucro são a base para a elaboração de um sofisticado aparato teórico” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2004, p. 22).

4.3.2 Teoria Keynesiana

Dentro da Escola Neoclássica surge a figura do economista inglês John Maynard Keynes (1883 – 1946). Suas obras provocaram um impacto tão forte no estudo da economia que sua contribuição ficou conhecida como a Revolução Keynesiana. Sua obra mais importante é Teoria geral do emprego, dos juros e da moeda de 1936.

O momento histórico em que Keynes construiu seu pensamento é marcado por uma economia que atravessa uma grave crise, e que ficou conhecida como a Grande Depressão de 1929. Nesta época havia um grande desemprego tanto na

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TÓPICO 2 | A ECONOMIA COMO CIÊNCIA

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Europa como nos Estados Unidos, este último marcado pela quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929 (VASCONCELLOS; GARCIA, 2010).

Considerando esse cenário, Keynes buscava identificar através desta obra quais os motivos ou variáveis que o governo de cada país deveria controlar com o objetivo de reduzir o desemprego.

Alguns pontos de destaque da teoria de Keynes são:

• Estabeleceu a necessidade da intervenção do Estado através de uma política de gastos públicos. O Estado deve assumir assim um papel ativo e decisivo na promoção da atividade econômica mesmo em um sistema capitalista.

• Busca constante pelo crescimento e ao pleno emprego (uma situação especial onde só não está empregado quem realmente não quer), e não à estabilidade monetária e à competitividade externa.

• Emprega o conceito de economia monetária de produção, onde os recursos financeiros – o dinheiro – tem papel fundamental como um elo entre o presente e o futuro em condições de incerteza, ou seja, a decisão de manter recursos financeiros guardados pode influenciar os investimentos e consequentemente o nível de emprego. Os investimentos por parte dos empresários só aconteceriam se houvesse procura por seu produto ou serviço; desta forma para Keynes, o emprego só pode aumentar em função do incremento de investimentos.

4.3.3 Abordagens alternativas: ideologias socialistas, Marxismo

Nós vimos antes que há um consenso entre os que estudam economia que os pensamentos de David Ricardo, que acabaram por influenciar também uma corrente do pensamento econômico que possui um enfoque diferenciado.

Descontentes com a sociedade que havia se formado em torno de uma economia industrial, o que acabou gerando uma série de desigualdades, diversos pensadores com ideologia socialista começaram a criticar a nova forma de organização da produção, por deixar de lado o bem estar de uma grande parcela da população de trabalhadores assalariados.

Os defensores da ideologia socialista rejeitam a ideia de uma sociedade baseada na livre concorrência (base do pensamento dos clássicos), ou seja, do livre mercado, pois submete os mais fracos – no caso dos trabalhadores das industriais, conhecidos como proletariado – ao poder dos capitalistas que centralizavam o poder, já que detinham o capital (aqui representados por recursos financeiros, máquinas, instalações industriais etc.).

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA

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Os marxistas, ou seguidores das ideias de Karl Marx (1818 – 1883), compartilham desses pensamentos, e sua forma de pensar se estabeleceu com base na mais importante obra de Marx O Capital de 1867. Nesta obra ele analisava criticamente as “leis do movimento” da sociedade capitalista. Pregava que uma sociedade justa sem a imensa diferença entre proletários e capitalistas ocorreria através de uma sociedade em que não existissem classes sociais diferenciadas (TROSTER; MOCHÓN, 1994).

Essas são, portanto as principais escolas do pensamento econômico que influenciaram e continuam influenciando o pensamento econômico moderno.

5 RELAÇÃO DA ECONOMIA COM OUTRAS CIÊNCIAS SOCIAIS

Vimos claramente no Tópico 1, que a Economia tem seu objeto de estudo bem definido: A Lei da Escassez.

Contudo, na visão de Oliveira (2006, p. 164) é preciso ser mais abrangente, pois:

Para Troster e Mochón Morcillo (1994, p. 129) o contexto histórico que promoveu o surgimento dessas ideologias pode ser assim descrito:

O novo industrialismo trouxe consigo as grandes fábricas, cujos trabalhadores viviam em ruidosos e pestilentos subúrbios, onde a fome e a miséria constituíam algo habitual, pois os salários situavam-se ao nível da subsistência. Os acidentes de trabalho ocasionavam a escassez ou a ausência para a família do acidentado. Não havia direitos políticos para os assalariados e os sindicatos estavam proibidos. Nessas circunstâncias, quando aparecia uma crise, a queda da produção e a do emprego acentuavam a miséria do proletariado.

Pode-se elencar como as principais características da forma de pensamento socialista:

• Defesa dos interesses dos trabalhadores.

• Formar uma sociedade onde não existam meios de produção privados, que estes sejam da coletividade, ou seja, de todos os membros da sociedade.

• A coordenação da economia se dá através de governo central, não existe diferença entre classes sociais, ou seja, todos são iguais independentemente de sua riqueza ou de sua posição social.

• A distribuição dos bens e serviços que no capitalismo são determinados pelo mercado aqui é determinada pelo Estado.

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TÓPICO 2 | A ECONOMIA COMO CIÊNCIA

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QUADRO 2 – RELAÇÕES DA ECONOMIA COM OUTRAS CIÊNCIAS

CIÊNCIAS RELACIONADAS RELAÇÕES

ECONOMIA e SOCIOLOGIA

Analisa a interação social, os comportamentos entre os grupos, sua mobilidade e estratificação (formação

de classes sociais), condições de vida, níveis de organização e cultura da sociedade. “As políticas salariais ou de gastos sociais (educação, saúde,

transportes, alimentação e outros) são exemplos que direta ou indiretamente influenciam essa

mobilidade” (RIZZIERI, 2006, p. 9).

ECONOMIA e DIREITO

Os sujeitos da economia (indivíduos, empresas e governo) são ajustados e limitados pelas leis; buscam maior interdependência entre as áreas; e são ligados à estrutura jurídica do sistema. Compete à lei situar o homem, a empresa e a sociedade diante do poder

político e da natureza (OLIVEIRA, 2006).

ECONOMIA e CIÊNCIAS EXATAS – MATEMÁTICA e

ESTATÍSTICA

A Matemática e a Estatística são instrumentos ou ferramentas de análise necessárias para testar as proposições teóricas com os dados da realidade. Além disso, a matemática torna possível escrever

de forma resumida importantes conceitos e relações de Economia e permite análises econômicas na

forma de modelos analíticos, com poucas variáveis estratégicas, que resumem os aspectos essenciais

da questão em estudo (OLIVEIRA, 2006; RIZZIERI, 2006).

ECONOMIA e POLÍTICA

A Economia e a política são áreas muito interligadas, tornando-se difícil estabelecer uma relação de

causalidade (causa e efeito) entre elas. A política fixa as instituições sobre as quais se desenvolverão as atividades econômicas. Nesse sentido, a atividade

econômica se subordina à estrutura e ao regime político do país (se é um regime democrático ou autoritário) (OLIVEIRA, 2006; RIZZIERI, 2006).

Seria uma falha bastante significativa tratar das questões de economia sem verificar sua relação com outras ciências [...] que lhe dão suporte tanto para mensurar certos comportamentos dos agentes econômicos quanto para entender certos aspectos quantitativos e qualitativos.

O quadro a seguir foi elaborado com base nas interpretações de Oliveira (2006); Vasconcellos e Garcia (2009); e Rizzieri (2006), e tem como objetivo apresentar a relação entre a Economia e as outras ciências.

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA

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ECONOMIA e HISTÓRIA

“A pesquisa histórica é extremamente útil e necessária para a Economia, pois facilita a

compreensão do presente e ajuda nas previsões. As guerras e revoluções, por exemplo, alteraram o comportamento e a evolução da Economia. Por outro lado, também os fatos econômicos afetam o

desenrolar da História. Alguns importantes períodos históricos são associados a fatores econômicos, como os ciclos do ouro e da cana-de-açúcar no

Brasil, e a Revolução Industrial, a quebra da Bolsa de Nova York (1929), a crise do petróleo, que

alteraram profundamente a história mundial. Em última análise, as próprias guerras e revoluções

são permeadas por motivações econômicas” (VASCONCELLOS e GARCIA, 2009, p. 14).

ECONOMIA e GEOGRAFIA

“A Geografia não é o simples registro de acidentes geográficos e climáticos. Ela nos permite avaliar fatores muito úteis à análise econômica, como as condições geoeconômicas dos mercados, a

concentração espacial dos fatores produtivos, a localização de empresas e a composição setorial da

atividade econômica. Atualmente, algumas áreas do estudo econômico estão relacionadas diretamente

com a Geografia, como a economia regional, a economia urbana, as teorias de localização industrial

e a demografia econômica” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2009, p. 14).

ECONOMIA e BIOLOGIA

A Economia se comporta como um órgão vivo. Daí utilizam-se termos como órgãos, funções, circulação

e fluxos na teoria econômica. FONTE: Elaborado pelo autor com base em: OLIVEIRA (2006), RIZZIERI (2006),

VASCONCELLOS; GARCIA (2009).

Portanto, de um ponto de vista prático, o investigador que se dedica através de teorias e modelos a explicar o mundo real, não pode em hipótese nenhuma desconsiderar as relações entre estas ciências, sob pena de criar interpretações que não têm aplicabilidade na realidade.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, vimos que:

• O surgimento da Ciência Econômica está intimamente ligado às profundas transformações pelas quais a sociedade ocidental passou a partir do século XV, tendo seu ápice nos séculos XVII e XVIII.

• A principal ferramenta empregada na Economia são os modelos, ou seja, representações da realidade de forma abreviada, com uma quantidade reduzida de variáveis.

• Uma variável tem como característica básica a possibilidade de assumir diferentes valores. É algo que influencia nas decisões relacionadas com os problemas econômicos fundamentais da economia ou algo que descreve os resultados dessas decisões.

• A teoria permite organizar o que o investigador observou no mundo real, com a finalidade de explicar o porquê de certos acontecimentos ou justificar a relação entre duas ou mais coisas ou variáveis. Sem a criação de uma teoria, a única coisa que o investigador pode fazer é observar e descrever o que vê no mundo real (MOCHÓN MORCILLO, 2006).

• Vasconcellos e Garcia (2010, p. 17) apontam que “existe consenso de que a teoria econômica, de forma sistematizada, iniciou-se quando foi publicada a obra de Adam Smith ‘A riqueza das nações’, em 1776”. Inclusive este economista foi posteriormente agraciado com o título de Pai da Economia, em virtude da amplitude de seu trabalho.

• A Economia, como ciência, interage com outras ciências como, por exemplo, a Geografia, a História e a Matemática, que se diferencia delas por interpretar o mundo real através de uma visão exclusivamente econômica.

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AUTOATIVIDADE

1 No mundo antigo não havia a necessidade de uma ciência que explicasse os fenômenos econômicos devido ao grau de simplicidade em que viviam as sociedades. Na era moderna, o que provocou o surgimento de uma CIÊNCIA ECONÔMICA?

2 O que é uma TEORIA?

3 Descreva a utilidade de um MODELO.

4 Descreva brevemente os passos da etapa do MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO ECONÔMICA.

5 Escolha uma CIÊNCIA SOCIAL, utilizando o Quadro 1, e explique a ligação que ela tem com a economia, se possível apresentando um exemplo prático.

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TÓPICO 3

SISTEMAS ECONÔMICOS

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

No Tópico 1 item 3.2 nós identificamos e definimos os recursos produtivos como sendo um conjunto de insumos básicos necessários para a fabricação de bens e serviços destinados a satisfazer as necessidades humanas, e que para isso eles precisam ser empregados de forma individual ou combinada.

Mas como é possível organizar estes insumos básicos de forma que tudo funcione corretamente, ou seja, como é possível que um produto como o macarrão – que é a combinação de vários componentes (água, farinha, sal, ovos + o trabalho dos operários + embalagem etc.) seja produzido nas indústrias de massas e chegue até a nossa casa?

Portanto, é interessante dar uma olhada nisso!

Uma forma de entender a sociedade em que vivemos, ou seja, como as pessoas, as empresas de um modo geral (indústrias, comércios, prestadores de serviços) e o Estado estão organizados socialmente, politicamente e economicamente, é identificando o Sistema Econômico que predomina nesta sociedade.

Antes porém, de entender o que é um Sistema Econômico, vamos abastecer nosso conhecimento com alguns conceitos básicos necessários: atividade econômica, agentes econômicos e mercado.

2 ATIVIDADE ECONÔMICA

No início desta unidade, no Tópico 1, nós utilizamos um fato do cotidiano – uma pessoa precisava decidir se preparava seu almoço em casa ou se iria consumi-lo em um restaurante – para exemplificar como a economia faz parte de nossas vidas.

Vamos retomar esse exemplo, mas olhando agora especificamente o lado do dono do restaurante. Nós descrevemos alguns aspectos/ações com que o proprietário do restaurante precisava se preocupar para que sua atividade tivesse sucesso.

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA

QUADRO 3 – COMBINAÇÃO DOS FATORES DE PRODUÇÃO OU INSUMOS

INSUMOS / FATORES DE PRODUÇÃO Descrição dos Fatores/Insumos

TERRA Arroz, feijão, carnes, legumes, água, farinha, temperos, gás de cozinha, eletricidade etc.

TRABALHO Chefe de cozinha, cozinheiro, garçom, atendente, atendente do caixa.

CAPITALEquipamentos de cozinha, geladeiras, recursos financeiros para comprar os ingredientes, prédio, mesas e cadeiras, ar-condicionado.

CAPACIDADE EMPRESARIAL Administração do negócio (proprietário).

TECNOLOGIA Receitas = forma de combinar os ingredientes, por exemplo, para fazer uma feijoada.

FONTE: O autor

O resultado: uma feijoada!

Agora então podemos definir atividade econômica: um conjunto de tarefas organizadas com o objetivo de gerar bens e/ou serviços necessários à satisfação das necessidades da sociedade através da combinação racional e eficiente dos recursos produtivos disponíveis.

A palavra atividade significa uma ação. Neste nosso exemplo, se traduz em um conjunto de ações por parte do empresário para atender à necessidade ou desejo de uma pessoa que tem vontade (e precisa) consumir alimentos sem muito esforço, e para tanto não se importa de pagar.

Esse conjunto de ações por parte do proprietário do restaurante é o que a economia chama de atividade econômica! Este conjunto de atividades é classificado como econômica pelo fato de que o empresário visa obter lucros.

Mas vamos analisar nosso exemplo mais a fundo!

Para atingir seu objetivo de servir alimentos de qualidade, satisfazendo o desejo ou a necessidade dos consumidores e sendo remunerado por seus serviços, o proprietário do restaurante combina os diversos fatores de produção ou insumos que estão à sua disposição.

O quadro a seguir mostra um exemplo desse processo.

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TÓPICO 3 | SISTEMAS ECONÔMICOS

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2.1 SETORES ECONÔMICOS

As diversas atividades econômicas que existem na economia de um país e que ocorrem simultaneamente, costumam ser organizadas por setores econômicos.

Para Mendes (2004) essa maneira de organizar estes setores leva em consideração a intensidade de utilização dos fatores de produção.

Assim, o setor primário é aquele que utiliza de forma intensiva o fator terra; o secundário utiliza de forma intensiva o fator capital; e o terciário relaciona-se ao uso intensivo do fator trabalho (MENDES, 2004). Em todos eles a tecnologia e a capacidade empresarial são indispensáveis para o sucesso da atividade econômica.

A seguir, evidenciamos como Mendes (2004) apresenta a composição resumida de cada um desses setores:

1. O setor primário: não introduzem transformações substanciais em seus produtos. Abrange todas as atividades produtivas envolvidas com a agricultura, a pecuária e o extrativismo (mineral, animal e vegetal), que por sua vez, estão relacionados à exploração dos recursos naturais e à produção de matéria-prima, que será absorvida por outro setor da economia (secundário).

2. O setor secundário: integra basicamente atividades voltadas para a indústria em geral, a produção de bens de consumo, a construção civil e a geração de energia. A indústria, por exemplo, é responsável pela transformação dos recursos naturais e da matéria-prima (proveniente do setor primário) em bens de consumo e produtos industrializados, que serão comercializados em outro setor da economia (terciário).

3. O setor terciário: se diferencia dos demais já que seus produtos não são tangíveis.Representa as atividades ligadas à prestação de serviços e ao comércio. Entre elas, pode-se citar o comércio (como as atividades relacionadas à compra e à venda de diversos tipos de mercadorias) e a prestação de serviços (como as atividades relacionadas aos serviços públicos, às empresas de prestação

Podemos concluir ainda que na intenção de satisfazer suas necessidades os membros de uma sociedade são obrigados a se ocuparem de determinadas atividades econômicas voltadas à produção de bens.

Essas atividades econômicas são organizadas em Setores Econômicos.

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA

de serviços, à distribuição de mercadorias, às financeiras e aos profissionais liberais, como médicos, advogados, professores, engenheiros, entre outros).

É importante ressaltar que alguns autores criaram uma nova classificação: o setor quaternário: onde está alocada a informação. Neste Caderno de Estudos vamos considerar que a informação está alocada na prestação de serviços, ou seja, no setor terciário.

O Gráfico a seguir apresenta a participação de cada setor econômico na soma do total de riquezas produzidas no Brasil. Este somatório é conhecido como PIB, que significa Produto Interno Bruto.

GRÁFICO 1 – PRODUTO INTERNO BRUTO BRASILEIRO EM 2012 POR SETOR ECONÔMICO

FONTE: Elaborado pelo autor com base nos dados do IBGE

Produtos/Bens Tangíveis: são os objetos físicos que podemos ver, tocar, estocar, manusear. Exemplos: carros, camisas, cerveja, alimentos, móveis.

Produtos Intangíveis/Serviços: são os que não podem ser vistos, provados, sentidos, ouvidos ou cheirados antes da compra. Basicamente são serviços. Exemplos: serviços bancários, serviços de hotelaria, de advocacia, de dentista, motorista de táxi.

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TÓPICO 3 | SISTEMAS ECONÔMICOS

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2.2 BENS E SERVIÇOS

QUADRO 4 – TIPOS DE BENS

TIPOS DE BENS

SEGUNDO SEU CARÁTER

Livres: são ilimitados em quantidade ou muito abundantes e não precisam de esforço humano para serem produzidos, não são apropriáveis, não têm preço. Exemplo: energia solar e ar.

Econômicos: são escassos em quantidade e apropriáveis, exigem esforço humano para serem produzidos, comercializados e distribuídos na sociedade, têm preço. É o objeto de estudo da economia. Exemplo: alimentos, roupas, computadores.

SEGUNDO SUA FUNÇÃO

Intermediários: devem sofrer novas transformações antes de se converterem em bens de consumo ou de capital: Exemplo: cimento.

Finais: já sofreram as transformações necessárias para seu uso ou consumo. Exemplos: eletrodomésticos, roupas.

Das diversas atividades econômicas organizadas em setores de produção, surgem então os bens e serviços que serão destinados à distribuição e posterior consumo pelos membros da sociedade, a fim de que estes satisfaçam suas necessidades.

Troster e Morcillo (1994) definem os serviços como aquelas atividades que, sem criar ou gerar objetos materiais (tangíveis), se destinam de forma direta ou indireta a satisfazer as necessidades humanas. As atividades econômicas que se encaixam nesta categoria são inúmeras: serviços de distribuição de produtos alimentícios, serviços de profissionais de arquitetura, serviços de engenharia, agências de turismo, serviços de pedreiro, artistas de cinema, serviços de transporte coletivo – ônibus, metrô – etc.

Os serviços possuem algumas características diferenciadas: não podem ser estocados (serviço de transporte coletivo), são criados e consumidos simultaneamente (exemplo: dentista), são feitos conforme o pedido de cada consumidor, ou seja, geralmente o consumidor participa diretamente de sua produção (exemplo: pacote turístico).

Os bens são todos os produtos tangíveis que visam diretamente ou indiretamente satisfazer as necessidades e desejos dos consumidores.

No mundo da economia esses bens são chamados de bens econômicos. Os economistas costumam classificar esses bens conforme o esquema apresentado no quadro a seguir.

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA

SEGUNDO SUA NATUREZA

De capital: não atendem diretamente as necessidades. São utilizados no processo de produção de outros bens e serviços. Exemplos: um computador ou uma máquina de fabricação de peças para carros.

De consumo: destinam-se à satisfação direta das necessidades das pessoas. Dividem-se em duráveis: permitem o uso prolongado. Exemplo: geladeira; e não duráveis: uso não prolongado ou de curto prazo. Exemplo: alimentos industrializados como o leite e bolachas.

SEGUNDO SUA PROPRIEDADE

Privados: são os produzidos que possuídos privadamente: Exemplo: um apartamento construído por uma construtora e da propriedade de uma pessoa física ou jurídica.

Públicos: São os bens públicos ou coletivos: Exemplo: um hospital público ou um parque público.

FONTE: Adaptado de: TROSTER, Roberto Luís; MOCHON MORCILLO, Francisco. Introdução à economia. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 1994, 401 p.

3 AGENTES ECONÔMICOS

Do tópico anterior podemos concluir que a atividade econômica concretiza-se com a produção de uma grande variedade de bens e serviços cujo objetivo final é a satisfação das necessidades dos seres humanos. Também fica claro que são os seres humanos, que utilizando sua capacidade de trabalho e inteligência, combinam os fatores de produção e ainda executam a produção.

Os agentes econômicos são pessoas de natureza física, jurídica ou ainda um conjunto de organizações que, através de suas ações, contribuem para o funcionamento do sistema econômico, interagindo entre si.

Comumente esses agentes são classificados em empresas, famílias, estados e o resto do mundo.

Estas empresas ou unidades de produção combinam os fatores de produção – terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial – com o objetivo de obter bens e serviços.

Contudo, as empresas não surgiram por elas mesmas. As empresas são criação de um ser humano ou de alguns seres humanos (em alguns casos com ligação de parentesco – família –, e em outros casos não).

3.1 AS FAMÍLIAS OU UNIDADES FAMILIARES

Neste Caderno de Estudos vamos considerar as famílias ou unidades familiares como o primeiro agente econômico.

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TÓPICO 3 | SISTEMAS ECONÔMICOS

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As famílias ou unidades familiares também são conhecidas na economia como unidades de consumo.

Nesta categoria estão incluídos todos os indivíduos e unidades familiares da economia e que, no papel de consumidores, adquirem os mais variados tipos de bens e serviços, com o objetivo de satisfazer suas necessidades e desejos.

Ao mesmo tempo, são estes agentes econômicos como proprietários dos recursos produtivos que fornecem às empresas os diversos fatores de produção, tais como: trabalho, terra, capital e capacidade empresarial. Recebendo como contrapartida o pagamento de salários, aluguéis, juros e lucros, e é com essa renda que adquirem os bens e serviços produzidos pelas empresas.

Rossetti (2002, p. 160) aponta que: o conceito econômico de unidades familiares engloba todos os tipos de unidades domésticas, unipessoais ou familiares, com ou sem laços de parentesco, segundo as quais a sociedade como um todo se encontra segmentada.

Em outras palavras, é a minha família e a sua.

Apesar de todas as mudanças pelas quais as famílias já passaram nestes últimos anos, a maior parte delas ainda é formada por uma ou mais pessoas economicamente ativas, ou seja, que recebem alguma remuneração em troca do fornecimento de seus recursos para os outros agentes econômicos (ROSSETTI, 2002).

3.2 EMPRESAS

Olhando à nossa volta podemos perceber que boa parte das atividades produtivas, que geram os bens e serviços na sociedade moderna, é realizada por meio de uma infinidade de empresas, denominadas na economia de unidades de produção.

Nesta categoria estão classificados todos os agentes encarregados de produzir e comercializar bens e serviços, ligados por sistemas de informação e influenciados por um ambiente de competição (na introdução deste Caderno de Estudos classificamos esse ambiente).

Na visão de Troster e Morcillo (1994, p. 20), o motivo disso deve-se ao fato de que:

Somente as empresas podem reunir grandes quantidades de recursos financeiros e físicos necessários para construir as instalações e os equipamentos que a atualidade exige. Além disso, somente as empresas têm a capacidade de organizar os complexos processos de produção e distribuição exigidos pelas sociedades modernas.

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA

3.3 O ESTADO – SETOR PÚBLICO

Nesta categoria estão incluídas todas as organizações que, direta ou indiretamente, estão sob o controle do Estado, nas suas três esferas: federal, estadual ou municipal.

Como acontece no Brasil, o governo dos países costuma atuar diretamente no sistema econômico, produzindo bens e serviços, muitas vezes essenciais, através de empresas tanto financeiras – Banco do Brasil, por exemplo – como não financeiras como a Petrobrás.

A figura a seguir apresenta um esquema resumido da estrutura do setor público brasileiro.

FIGURA 7 – ESTRUTURA RESUMIDA DO SETOR PÚBLICO BRASILEIRO

FONTE: TROSTER, Roberto Luís; MOCHON MORCILLO, Francisco. Introdução à economia. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 1994, p. 25.

Na visão de Troster e Morcillo (1994), a participação do Estado na vida econômica de uma sociedade pode ser dividida em dois momentos distintos:

Estas empresas ou unidades de produção combinam os fatores de produção – terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial – com o objetivo de obter bens e serviços.

Contudo, as empresas não surgiram por elas mesmas. As empresas são criação de um ser humano ou de alguns seres humanos (em alguns casos com ligação de parentesco – família –, e em outros casos não).

Neste Caderno de Estudos vamos considerar as empresas ou unidades de produção como o segundo agente econômico.

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1. O primeiro momento compreende o período histórico até o início do século XX no qual o governo tinha como funções: a) cuidar fundamentalmente da segurança e defesa de seus cidadãos e de seus direitos de propriedade, e b) deveria garantir as condições para que as atividades puramente econômicas se desenvolvessem sem obstáculos.

2. O segundo momento compreende o período histórico após o início do Século XX, onde o Estado deixa de ser um “mero guardião do bom desenvolvimento da atividade econômica para se converter em um verdadeiro agente econômico” (TROSTER; MOCHÓN, 1994, p. 26). Suas funções ampliaram-se significativamente: a) passa atuar como empresário, principalmente no fornecimento de bens públicos (um exemplo é a defesa do território nacional provida pelas forças armadas); e b) passa a coordenar e regulamentar o mercado, por vezes estabelecendo a política econômica que permitirá que a nação alcance os objetivos almejados por toda a sociedade, como por exemplo: crescimento econômico, geração de empregos, estabilidade de preços (inexistência da inflação), distribuição das riquezas produzidas de forma igualitária.

Outro aspecto relativo à participação do Estado nas relações econômicas, que nós brasileiros conhecemos muito bem, e apresentado por Krugman e Wells (2007) é a cobrança de impostos, ou seja, no mundo real uma quantidade significativa de dinheiro é retirada do fluxo circular de renda na forma de impostos. Posteriormente estes recursos são reinjetados na economia sob a forma de gastos públicos.

Neste Caderno de Estudos vamos considerar o estado ou setor público como o terceiro agente econômico.

3.4 RESTO DO MUNDO

A troca comercial de produtos sempre existiu entre os países do mundo, não é um modo novo de comercializar. Basta lembrarmos que o Brasil foi descoberto em 1500 em função da busca de um novo caminho para as Índias.

Com o fenômeno da globalização e todos os avanços tecnológicos dos últimos 100 anos, este aspecto da economia dos países ficou muito mais forte e mais presente em nosso dia a dia.

Nos dias de hoje são poucas as nações muito fechadas. Poderíamos citar Cuba, Coreia do Norte e Irã, como um exemplo de economias muito fechadas. Mas, mesmo elas estão inseridas no comércio internacional. Cuba exporta para todo o mundo açúcar e seus famosos charutos. O Irã exporta petróleo e importa alimentos de outros países como o Brasil (principalmente carne). A Coreia do Norte é certamente a nação mais fechada do planeta na atualidade e só tem como parceiro comercial a China.

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA

Deste modo, podemos dizer que basicamente a economia de toda nação é ligada ao resto do mundo através do comércio internacional – importação e exportação de bens e serviços –, de fluxo de recursos financeiros – na forma de empréstimos, investimentos diretos ou pagamento/recebimento de juros – cruzando fronteiras nacionais e negócios multinacionais.

Como agente econômico, cumpre dois importantes papéis: 1) escoamento de uma parte da produção nacional (exportação = vender ao exterior) que ultrapassa a capacidade de consumo interno ou de produtos, que devido à procura mundial tem preços mais atrativos em outros países; e 2) possibilita que os outros agentes econômicos tenham acesso a bens e/ou serviços que ou não são produzidos no país, ou são produzidos em quantidades insuficientes para a satisfação da sociedade local.

Neste Caderno de Estudos vamos considerar o resto do mundo como o quarto agente econômico.

Para finalizar este item temos o próximo quadro, que resume a participação de cada agente econômico.

QUADRO 5 – RESUMO DOS AGENTES ECONÔMICOS

AGENTES ECONÔMICOS

ATIVIDADE PRINCIPAL

RECURSOS PRINCIPAIS

Famílias Consumo de bens e servi-ços e fornecem para os ou-tros agentes econômicos diversos fatores de produ-ção: terra, trabalho, capital e capacidade empresarial.

Pelo fornecimento de fatores de produção aos outros agentes econômicos recebem em troca salários, aluguéis, juros e lucros.

Empresas Produzir bens e serviços para atender às necessida-des da sociedade

Receitas oriundas da comercialização dos bens e serviços produzidos.

Estado Além de produzir bens e serviços para atender as necessidades da sociedade, também desempenha o im-portante papel de interme-diar as relações de mercado, entre as empresas e os con-sumidores; gerencia a políti-ca econômica.

Rendimentos oriundos da cobrança de impostos, taxas e contribuições.

Resto do mundo Transações financeiras internacionais, transações comerciais: exportação e importação de bens.

FONTE: O autor

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4 MERCADOS

FONTE: Disponível em: <http://pt.slideshare.net/manudellarocca/mercado-financeiro-brasileiro-artigo>. Acesso em: 3 jan. 2014.

Vamos usar um exemplo!

Quando falamos no mercado do feijão, por exemplo, estamos nos referindo às pessoas – produtores rurais – que produzem e vendem o feijão, àquelas que apreciam e compram esse produto (consumidores finais, incluindo os restaurantes), além de outros que participam de todas as transações que envolvem: os atravessadores, as cooperativas, as indústrias, as empresas de transporte, os fabricantes de embalagens etc.

Além disso, por ser um produto básico da alimentação do brasileiro, o

feijão é um produto que tem sua qualidade constantemente monitorada pelo governo através de uma classificação instituída pelo Ministério da Agricultura. Sendo classificado como commodity, ou seja, um produto básico, de grande procura e que geralmente é comercializado em todo o mundo; tem seu preço estabelecido na Bolsa de Mercadorias e Futuros.

Hall e Lieberman (2003, p. 56) definem o mercado como “grupo de compradores e vendedores que têm potencial para negociar uns com os outros”.

Quando pensamos na palavra mercado, logo imaginamos um lugar real onde as pessoas têm a possibilidade de trocar, comprar ou vender produtos e serviços.

Contudo, este conceito de mercado para a economia, está ligado a períodos históricos anteriores ao surgimento da moeda, quando a principal forma de comprar ou vender era a troca, também conhecida como escambo.

Na verdade alguns mercados ainda são lugares reais onde os agentes econômicos interagem, por exemplo, as pessoas vão comprar bens em um shopping.

Com o passar do tempo, o termo mercado foi evoluindo para um conceito de conjunto de elementos envolvidos no comércio de determinado produto: produtores, consumidores, intermediários, regulamentos, preços etc.

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Uma definição mais ampla é dada por Sandroni (2006, p. 528):

[...] o termo designa um grupo de compradores e vendedores que estão em contato suficientemente próximo para que as trocas entre eles afetem as condições de compra e venda dos demais. Um mercado existe quando compradores que pretendem trocar dinheiro por bens e serviços estão em contato com vendedores desses mesmos bens e serviços. Desse modo, o mercado pode ser entendido como o local, teórico ou não, do encontro regular entre compradores e vendedores de uma determinada economia. Concretamente, ele é formado pelo conjunto de instituições em que são realizadas transações comerciais (feiras, lojas, Bolsas de Valores ou de Mercadorias etc.).

Nesta definição de Sandroni estão implícitos três fatores que contribuíram para que a sociedade atual tenha à sua disposição os chamados mercados virtuais, onde os processos de troca, compra ou a venda de produtos e serviços não exigem a presença das pessoas: o fenômeno da globalização, o desenvolvimento da informática e a evolução das telecomunicações – sendo a evolução a de maior impacto o surgimento da internet.

Neste sentido a questão da proximidade foi substituída pela facilidade das transações feitas por computadores, celulares, tablets e smartphones.

5 PROBLEMAS FUNDAMENTAIS

Você lembra o nosso exemplo do Tópico 1, logo no começo deste Caderno de Estudos?

Depois de termos, através daquele exemplo, analisado a questão das decisões dos dois lados – do consumidor e do dono de restaurante –, começaram a surgir alguns questionamentos: o que consumir? Quando consumir? O que produzir? Etc.

Aquelas dúvidas retornam agora quando abordaremos os problemas fundamentais da economia frente à organização de um sistema econômico.

Para Mendes (2004, p. 19) “Independentemente do tipo de sistema econômico e das tradições culturais e políticas, qualquer economia, ao alocar os recursos escassos, deve considerar três questões ou problemas fundamentais, que se constituem nas funções de um sistema econômico”.

A primeira destas questões é:

a) O que produzir? A questão é que bens e serviços devem ser produzidos, uma vez que, por dispormos de recursos escassos, nenhuma economia pode produzir todas as quantidades de todos os produtos. Uma maior quantidade de um produto, normalmente significa menor produção de outros produtos. Portanto, cada

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sociedade deve escolher exatamente quais os bens e serviços a serem produzidos. Em essência, essa escolha é feita pelos consumidores, quando despendem suas rendas, por meio dos preços que estão dispostos a pagar pelos produtos. Quanto mais acentuado o desejo por certos bens, maiores os preços. As empresas, por sua vez, produzirão aqueles bens que possibilitem maiores lucros (MENDES, 2004, p. 19).

A segunda questão é:

b) Como produzir bens e serviços? Esta segunda questão trata da combinação apropriada dos fatores produtivos para a obtenção de um certo nível de produção ao menor custo disponível [...]. A questão de “como produzir” envolve problemas como a seleção da combinação de recursos e de técnicas a serem empregadas no processo produtivo (MENDES, 2004, p. 19).

Vale apena voltar no item que aborda a atividade econômica e rever os conceitos dos fatores de produção, em caso de dúvidas.

A terceira e última questão é:

c) Para quem produzir? Trata-se de uma questão que diz respeito à distribuição do produto, que depende do nível e da distribuição de renda pessoal. Quanto maior a renda de um indivíduo, maior a parcela de produtos da economia que ele pode adquirir (MENDES, 2004, p. 20).

Diante destes três problemas, cada nação deve organizar e alocar seus recursos produtivos, de forma que se possam atender as necessidades dos membros desta sociedade.

Esta forma de organização é o que chamamos de sistema econômico.

6 CONCEITO DE SISTEMA ECONÔMICODepois de termos olhado com cuidado os conceitos básicos necessários,

vamos entender o que é um sistema econômico e como ele funciona.

Se você olhar à sua volta, e particularmente para um determinado produto, como por exemplo este Caderno de Estudos, perceberá claramente que para que ele esteja à sua disposição no momento de estudar, muitas etapas foram realizadas anteriormente: alguém plantou uma árvore, uma indústria transformou esta árvore em papel, o professor empregou um computador para escrevê-lo, uma gráfica utilizou uma impressora para dar forma aos pensamentos do professor, uma transportadora se encarregou de levar o livro da gráfica até o polo onde você tem os encontros etc.

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Com certeza nós resumimos todo o processo, contudo fica fácil de perceber que todas estas tarefas precisam de uma determinada organização para funcionar perfeitamente. Assim, do mesmo modo, é com a economia de um país.

Basicamente um sistema econômico é a forma pelo qual a economia de um país está organizada, permitindo que os produtos e serviços gerados com a atividade tanto de pessoas como de empresas tenham condições de serem comercializados e gerando riqueza para esta nação (HALL; LIEBERMAN, 2003, p. 33).

Oliveira (2006, p. 154) complementa este conceito identificando que:

Os sistemas econômicos nada mais são do que a forma política, social e econômica de organização da sociedade, ou seja, é uma maneira particular de organizar a produção, a distribuição e o consumo de bens e serviços utilizados pelas pessoas.

Para entender melhor esta complexa rede que organiza a produção nas sociedades modernas, é interessante voltar um pouco atrás no tempo.

Para Nunes (2007, p. 60) “a vida dos homens em sociedade e a sua organização com vista à satisfação das necessidades materiais tem apresentado características diversas ao longo da sua evolução histórica, correspondendo a cada período e a cada lugar um certo sistema de organização econômica e social”.

O mundo que compartilhamos hoje é fruto de um processo histórico de evolução que começou há muito tempo atrás. Mas, para não nos estendermos muito na história, que não é nossa intenção, vamos nos focar nos últimos 300 anos, mais precisamente no período pós Revolução Industrial.

Você deve se lembrar de que esta parte da história moderna foi marcada por grandes transformações na vida das pessoas. Algumas delas foram: 1) o fim de um sistema baseado nas relações servis de produção, com o surgimento de um novo modo de produção baseado na relação salarial; 2) a invenção do motor a vapor, substituindo a força humana em algumas etapas do processo produtivo de tecidos, por exemplo, permitiu a fabricação em grande quantidade e o surgimento de indústrias; 3) o surgimento destas indústrias passou a exigir cada vez mais trabalhadores, que saíram do campo onde praticamente plantavam para sobreviver e passaram a ser operários em cidades que cresciam de tamanho e em número de habitantes; 4) para serem mais eficientes e competitivas, as indústrias passaram a se especializar em produzir determinados produtos, levando seus operários a se tornarem especialistas em determinadas tarefas ligadas à confecção deste produto, o que ficou conhecido na administração como especialização de tarefas ou divisão do trabalho.

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Uma boa dica para entender todo esse processo é assistir ao filme do famoso ator e diretor Charles Chaplin, denominado Tempos Modernos. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=0gY0JR6s38g>.

DICAS

Nós poderíamos então classificar esse momento da história moderna como uma mudança positiva para a sociedade em geral, certo? As pessoas têm agora a oportunidade de deixar o trabalho pesado do campo e trabalhar nas cidades, conquistando um melhor padrão de vida, já que nas cidades industriais toda uma infraestrutura estava sendo criada.

Mas infelizmente nem tudo é um mar de rosas! Junto com este processo de transformação de uma sociedade basicamente agrícola para uma sociedade industrial, surgiu a exploração dos operários.

Como hoje, naquela época a sociedade já era dividida em classes sociais. De um lado estavam os operários – anteriormente agricultores – e de outro os proprietários das indústrias e dos meios de produção. Os operários só tem uma única forma de obter os produtos necessários à sua sobrevivência: vender a sua força de trabalho – seu esforço físico – e através disso receber em troca uma remuneração, conhecida atualmente como salário, e assim comprar alimentos, roupas etc.

Do outro lado, estavam aqueles que atualmente nós chamamos de capitalistas, que eram os donos das máquinas, prédios, da matéria-prima, da capacidade intelectual de gestão de negócios e dos recursos financeiros necessários à fabricação de algum produto. A grande questão é que os operários não têm outra escolha, somente vender sua força de trabalho.

E então começam a ser explorados pelos capitalistas, passando a viver quase em um regime de escravidão. Friedrich Engels, um dos expoentes do Socialismo, descreve em sua obra intitulada “A situação da classe trabalhadora na Inglaterra”, como eram as condições, tanto de trabalho como de vida dos operários nessa época: jornadas de trabalho que chegavam a 16 horas; baixa segurança oferecida pelas máquinas provocando constantes acidentes, que por vezes ocasionavam a perda de membros; moravam na periferia e em lugares inóspitos, consumindo alimentos velhos e degradados e vestindo-se com trapos, pois eram remunerados com salários muito baixos.

Esta situação insustentável onde poucos detinham as riquezas e muitos viviam na extrema miséria, promoveu o surgimento de movimentos e o fortalecimento de ideologias – que já existiam antes da Revolução Industrial –

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que defendiam uma sociedade mais justa e igualitária, onde a distribuição da riqueza fosse uma realidade. Uma dessas ideologias foi o socialismo.

Simpatizantes e estudiosos do socialismo – como, por exemplo, Karl Marx e Friedrich Engels – creditavam a nova ordem econômica, o capitalismo (que tem como base o livre mercado e a propriedade privada dos principais fatores), cenário de extrema desigualdade e o sofrimento da classe trabalhadora, devendo ser, portanto combatido de forma direta, a ponto, se possível, de ser extinto como forma de organização da atividade econômica.

Deste cenário surgiram basicamente três grandes sistemas econômicos, que convivem lado a lado no atual momento histórico da sociedade moderna, e que Oliveira (2006), classifica como:

1. Sistema centralizado ou planificado (economia central ou planificada): é aquele em que as questões básicas da economia e a coordenação das atividades econômicas são resolvidas por um órgão central de planejamento, predominando a propriedade pública – coletiva – dos fatores de produção, com a total interferência do Estado na vida econômica dos indivíduos e empresas. Não há obtenção de lucro por parte dos agentes econômicos. Organização típica dos sistemas socialistas. Exemplo de países onde predomina: China, Coreia do Norte, Cuba e Rússia.

2. Sistema descentralizado (economia de mercado ou capitalista): também chamado de concorrência pura. É aquele regido pelas forças de mercado, onde predominam a livre iniciativa e a propriedade privada. A maioria dos recursos é de propriedade privada. A grande competição entre as empresas e entre os proprietários dos recursos. A obtenção de lucro é a mola propulsora desse sistema econômico. Exemplo de países onde predomina: Estados Unidos da América, Alemanha, Japão, Inglaterra.

3. Sistema misto ou economia mista: forma que combina as características das duas classificações anteriores, que procura solucionar os problemas advindos de cada uma delas, principalmente nas questões referentes à justa distribuição da riqueza (salários mais justos), estabilidade de preços, crescimento econômico. Uma parcela das decisões – exemplo: taxa básica de juros da economia – é tomada pelo Estado, que também é dono de parte dos meios de produção (vamos nos lembrar do exemplo do Brasil onde o governo é o principal sócio de empresas como o Banco do Brasil, Correios e a Petrobrás), enquanto que outras decisões – exemplos: abertura de novos negócios/lançamento de novos produtos – são tomadas livremente pelos capitalistas. Exemplo de países onde predomina: Brasil, México, Espanha e Chile.

Observando com cuidado estas três classificações podemos concluir que o que diferencia cada sistema econômico é o papel que o Estado exerce ou assume na economia de uma nação, ou seja, a forma do Estado intervir na organização econômica de uma sociedade.

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Por fim, é importante elencar as vantagens e desvantagens de um sistema econômico sem a presença do Estado, com o objetivo de entender seus efeitos sobre a sociedade.

Na visão de Oliveira (2006), as vantagens de um sistema econômico de mercado são:

• Alto grau de eficiência.

• Liberdade econômica.

• Estimula os produtores a fabricar e comercializar os bens e serviços que os consumidores desejam.

Por outro lado, cita como limitações ou desvantagens:

• Distribuição de renda não equitativa: concentração da riqueza gerada pelo emprego dos fatores de produção nas mãos de poucos.

• O uso intensivo dos fatores de produção gerando efeitos nocivos ao meio ambiente.

• Emprego de campanhas publicitárias, por parte de grandes empresas, para manipular os desejos e necessidades dos consumidores, podendo levar a um consumo exagerado e ao desequilíbrio econômico, sendo um dos efeitos mais perceptíveis a inflação – que será estudada no caderno de Macroeconomia.

6.1 FUNCIONAMENTO DE UM SISTEMA ECONÔMICO CAPITALISTA

Pelo fato de em nosso país predominar o sistema econômico capitalista, é muito importante verificar como ele funciona.

A próxima figura trata de um modelo – que como vimos antes é representação do mundo real – empregado pelos economistas para explicar o funcionamento de uma economia capitalista ou de mercado.

Este modelo é chamado de fluxo circular de renda.

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O primeiro aspecto que podemos destacar é que este modelo não considera a presença de dois agentes econômicos: o estado e o resto do mundo.

Com a ajuda do Quadro 4, que vimos anteriormente e que apresentava resumidamente cada agente econômico, podemos perceber que as empresas e as famílias interagem livremente, sem a intervenção do Estado.

Na linha contínua na parte de cima da figura, temos o fluxo real, ou seja, o fluxo de bens e serviços (carros, geladeiras, roupas, alimentos, serviços de saúde – médicos, dentistas –, serviços bancários, pacotes de viagens etc.) das empresas para as famílias. Representa o consumo das famílias.

Na linha contínua na parte de baixo da figura, temos o fluxo de fatores de produção das famílias para as empresas.

Na linha pontilhada na parte de cima da figura temos a primeira parte do fluxo monetário: as famílias pagam as empresas pelos produtos e serviços consumidos.

Na linha pontilhada na parte de baixo da figura temos a segunda parte do fluxo monetário: as empresas remuneram – pagamento de salários, aluguéis, juros, dividendos – as famílias pelo fornecimento dos fatores de produção.

FIGURA 8 – FLUXO CIRCULAR DE RENDA DE UMA ECONOMIA SEM A PRESENÇA DO ESTADO

FONTE: TROSTER, Roberto Luís; MORCILLO, Francisco Mochón. Introdução à economia. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 1994, p. 25.

Pagamentos monetários pelos produtosFLUXO MONETÁRIO

FLUXO DE PRODUTOS

Empresas• Fornecem bens

e serviços aos consumidores

• Utilizam fatores produtivos fornecidos pelas famílias

Famílias• Consomem bens

e serviços finais produzidos pelas empresas

• Fornecem fatores produtivos para as empresas

Fluxos reaisFluxos monetários

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Um segundo aspecto importante é que nos dias de hoje o fluxo financeiro está muito bem organizado e conta com a atuação das instituições financeiras, que se ocupam de oferecer à sociedade em geral produtos e serviços que facilitam a troca monetária, ou seja, o fluxo de dinheiro entre os agentes econômicos. O papel dessas instituições será mais bem abordado no próximo Caderno de Estudos de Macroeconomia.

Krugman e Wells (2007) apontam mais dois aspectos interessantes: a) No mundo real, nem sempre é fácil diferenciar as empresas das famílias. Se considerarmos um pequeno negócio familiar: uma fazenda, uma loja, uma padaria; é uma empresa ou uma família? Principalmente naqueles estabelecimentos onde a família do proprietário mora no mesmo prédio do negócio; b) Muitas vendas que as empresas fazem não são para os domicílios (famílias), mas para outras empresas. Em nosso exemplo inicial, do restaurante, os alimentos podem ser fornecidos para outras empresas através de um acordo.

Vale destacar que esta interação entre as famílias e as empresas está limitada a um conceito que já conhecemos bem: a escassez! As famílias têm rendas limitadas, mas necessidades e desejos ilimitados. As empresas também têm restrições de produção, tanto financeiras como de fatores de produção (MENDES, 2004).

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LEITURA COMPLEMENTAR

SOCIALISMO DE MERCADO, ALTERNATIVA REALISTA AO CAPITALISMO

Jordi Corominas, Sant Juliá de Lória e Andorra

Existem muitos movimentos e grupos em todo o mundo, críticos em relação à ordem existente e comprometidos na luta contra a miséria. Inúmeras são as pessoas que, mesmo não participando de grupos ou ações alternativas, reconhecem que o atual sistema econômico nos leva para o abismo. Há, sem dúvida, algo que produz paralisação ou leva simplesmente a posições fatalistas, quando não cínicas: a falta de uma alternativa para a estrutura econômica.

Nos socialismos do século XX se viu que o controle centralizado do mercado, ainda que os dirigentes e os trabalhadores tivessem sido anjos, produzia ineficiências maiores que um mercado capitalista regido por demônios. Então, por mais guerras, deslocamentos de população, catástrofes ambientais e aumento da miséria, que cause o capitalismo, este pode absorver sem problemas toda crítica moral e todo barulho, porque sempre conseguiu se apresentar como o mal menor dos modelos econômicos conhecidos até então. Mas até que ponto é certo que há alternativas que melhoram o capitalismo? E sem ir muito longe? Não é reformável o capitalismo de modo que se possa tirar do umbral da miséria toda a humanidade, sem necessidade sequer de procurar alternativas sistêmicas?

Um sistema econômico é capitalista (independentemente se combina com um regime político democrático ou uma ditadura) se conserva três características essenciais: propriedade privada dos meios de produção, mercado regido pela oferta, e demanda e trabalho assalariado; e deixa de sê-lo quando se altera uma destas três características. Deste modo, controlar por lei certos produtos básicos, nacionalizar algumas empresas, oferecer segurança social, educação e saúde gratuita constituem reformas importantes do sistema, mas não a mudança de regime econômico. De outro lado, o controle estatal do mercado e da propriedade dos meios de produção nos introduz no modelo comunista conhecido no século XX.

Na atualidade, dos quase sete bilhões de pessoas que vivem sob o regime capitalista, a maioria é pobre. Um bilhão de pessoas vivem em uma pobreza extrema, com menos de 1 dólar por dia, um milhão e meio vivem em uma pobreza moderada, com menos de dois dólares por dia, e dois bilhões vivem em pobreza relativa (na Europa o umbral da pobreza está fixado em 752 euros mensais e 80 milhões estão abaixo disto na Comunidade Europeia).

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Existem cenários muito mais catastróficos: presume-se que nos próximos anos, 200 milhões de pessoas podem ser permanentemente deslocadas por causa das inundações, do aumento do nível do mar e por causa das guerras, agora também incentivadas por lutas pelos recursos básicos. Se é impossível crescer permanentemente, é possível um ciclo permanente de crescimento e destruição, com base em guerras periódicas. Ainda que se chegue a supor a morte da terça parte da população mundial, restariam 1,6 bilhões de pessoas, a mesma população que o planeta tinha em 1900.

Felizmente, no mesmo capitalismo verificam-se também cenários de aparência contrária. Ainda que sejam muitos os economistas que defendem que há uma relação essencial entre capitalismo, guerras e aumento da miséria, outros socialdemocratas defendem que uma socialdemocracia mundial poderia humanizar o capitalismo, impondo medidas como renda básica universal para todo cidadão do mundo. Sem dúvida, ainda admitindo que um capitalismo de rosto humano seja possível, e que as guerras não são intrínsecas ao sistema, há algo que não tem solução nem no melhor dos capitalismos possíveis, é que a economia no seu conjunto deve crescer para que seja sã. Sem a taxa de no mínimo 3% de crescimento anual, a social democracia mundial também nos levaria a cenários catastróficos (3% é o que continua crescendo o PIB no mundo, mesmo depois da crise de 2008). Mas o crescimento de 3% anual supõe dobrar o consumo a cada 24 anos e, neste ritmo, consumiremos 16 vezes mais em 2100 do que em 2000. Surpreendentemente, são muitos os economistas que parecem crer nesta utopia: a possibilidade de um crescimento infinito diante de recursos limitados.

Se for impossível perpetuar o crescimento, temos que assumir necessariamente um ciclo de recessões, guerras e destruições, para sanar o capitalismo ou a volta a uma economia comunista? O socialismo de mercado pretende ser uma terceira via entre ambos os sistemas que, para a estabilidade, não depende do crescimento, e que continua favorecendo a eficiência e a renovação dos empreendedores. Neste modelo econômico a propriedade privada dos meios de produção é substituída por uma propriedade democrática, mantendo-se no livre mercado e no trabalho assalariado. Os diretores de empresas não respondem diante dos acionistas, mas diante dos trabalhadores, que escolhem a direção e aprovam as diretrizes básicas. Há suficientes experiências que mostram que empresas produtivas podem ser dirigidas democraticamente sem perder eficiência, sempre que haja um certo grau de autonomia na direção e que os trabalhadores entendam e exercitem a cultura cooperativa.

Para conservar o capital inicial toda empresa é obrigada a manter um fundo de amortização. Os lucros obtidos são repartidos segundo o critério dos trabalhadores, que podem optar por pagar mais a um gerente ou por determinados trabalhos. Em caso de a empresa não produzir os rendimentos mínimos, os trabalhadores têm que fechá-la para procurar trabalho em outro lugar e os

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meios de produção retornam à sociedade. O mercado segue funcionando para conseguir os bens de consumo e bens de capital, conforme as leis de oferta e demanda. Geram-se os fundos de investimento, não oferecendo juros aos que aplicam (mercado de dinheiro), mas investindo bens de capital. Estes fundos são controlados socialmente abrindo diferentes alternativas. Em um extremo estão os parlamentos que planejam o investimento, no outro estão os totalmente livres: os bancos recebem os fundos e os emprestam às empresas que querem expandir a produção ou melhorar a tecnologia, ou aos indivíduos ou organizações que querem investir em novo negócio.

No socialismo de mercado as empresas não precisam crescer compulsoriamente para se manter, o que parece impossível mesmo no melhor dos capitalismos possíveis. A empresa capitalista consegue minimizar o lucro dos investidores, enquanto a empresa democrática procura conseguir lucro para cada trabalhador. Deste modo, os acionistas de uma empresa capitalista podem dobrar o seu lucro, duplicando o tamanho da sua empresa, mas se uma empresa democrática duplica o seu tamanho, duplica também o número dos trabalhadores e o lucro para cada trabalhador não muda demasiadamente. Outra vantagem comparativa a respeito do melhor dos capitalismos possíveis é que, quando uma inovação leva a maior produtividade e ganâncias, os trabalhadores podem optar por tempo livre no lugar de aumentar o consumo.

Nos socialismos do século XX a transição passava necessariamente pela tomada do poder político em um Estado: no socialismo de mercado, a mudança pode ser feita sem alterar profundamente a situação atual: 1) liberando as obrigações das empresas de pagar juros ou dividendos pelas ações; 2) declaração de que a única autoridade legal da empresa são os seus trabalhadores; 3) introdução de um imposto sobre o capital das empresas, cujo montante irá para um fundo social de aplicação; e 4) a nacionalização dos bancos que passaram a administrar os fundos de aplicação.

No dia seguinte a tudo isto as pessoas continuariam indo para os seus lugares de trabalho e levando vida normal. A única mudança drástica seria para os acionistas. Para evitar conflitos com os proprietários anteriores dos meios de produção, uma compensação poderia lhes ser concedida em forma de generoso honorário, que poderiam continuar recebendo durante uma ou duas gerações.

Interessante é que existe já uma ampla base empírica que mostra que este modelo é eficiente, pois são muitas as empresas regidas democraticamente. Atualmente a maior delas, líder do cooperativismo, é a Corporacion Mondragón (País Basco, Espanha). Conta com 83 mil empregados, 9 mil estudantes, tem presença em 20 países e em muitos setores da economia. A Fortuna Magazine a citava em 2003 como uma das melhores companhias para trabalhar na Europa. Esta experiência concreta, competitiva inclusive na área do capitalismo, mostra

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algo muito importante: que, como aconteceu na transição do feudalismo para o capitalismo, as mudanças podem começar a acontecer muito antes da mudança do poder político no Estado.

Tudo o que, em um contexto capitalista, leva a uma maior democratização de todas as áreas e a uma maior participação dos trabalhadores no campo produtivo já é, sem dúvida, um avanço para uma sociedade diferente. O socialismo de mercado depende também do esforço nas lutas pela democratização e transparência econômica de todas as estruturas, empreendidas pelas universidades, ONGs, igrejas, escolas, grupos e partidos que querem contribuir para uma sociedade diferente, e nisto perdem todo o sentido e autoridade as organizações de caráter vertical ou ditatorial, seja ela uma instituição da ONU, como o Conselho de Segurança, ou uma pequena associação de bairro.

FONTE: Disponível em: <http://mundodosocialismo.blogspot.com.br/2013/09/socialismo-de-mercado-alternativa.html>. Acesso em: 20 ago. 2013.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você viu:

• Atividade econômica: um conjunto de tarefas organizadas com o objetivo de gerar bens e/ou serviços necessários à satisfação das necessidades da sociedade através da combinação racional e eficiente dos recursos produtivos disponíveis.

• As diversas atividades econômicas que existem na economia de um país, e que ocorrem simultaneamente, costumam ser organizadas por setores econômicos: primário, secundário e terciário.

• Das diversas atividades econômicas, organizadas em setores de produção, surgem então os bens e serviços que serão destinados à distribuição e posterior consumo pelos membros da sociedade a fim de que estes satisfaçam suas necessidades.

• Os agentes econômicos são pessoas de natureza física, jurídica ou ainda um conjunto de organizações que, através de suas ações, contribuem para o funcionamento do sistema econômico, interagindo entre si. Comumente são classificados em empresas, famílias, Estados e o resto do mundo.

• O mercado pode ser entendido como o local, real ou virtual, de encontro regular entre compradores e vendedores de uma determinada economia, para a troca, compra ou venda de bens e/ou serviços.

• Basicamente um sistema econômico é a forma pela qual a economia de um país está organizada, permitindo que os produtos e serviços gerados com a atividade, tanto de pessoas como de empresas, tenham condições de serem comercializados, gerando riqueza para esta nação (HALL; LIEBERMAN, 2003, p. 33).

• O que diferencia cada sistema econômico é o papel que o Estado exerce na economia de uma nação, ou seja, a forma de o Estado intervir na organização econômica de uma sociedade.

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AUTOATIVIDADE

1 O que é ATIVIDADE ECONÔMICA? Descreva brevemente quais são os recursos produtivos empregados, de forma individual ou combinados, para a produção de um sorvete de frutas.

2 Considerando os três setores em que a atividade econômica costuma ser organizada: primário, secundário e terciário, classifique a atividade profissional remunerada que você desenvolve. Exemplo: advogado => serviços => setor terciário.

3 Por que NÃO podemos considerar que o Brasil está organizado sob um regime descentralizado, também conhecido como Sistema Capitalista ou economia de mercado?

4 Considerando os quatro agentes econômicos (famílias, empresas, governo e o resto do mundo) que interagem dentro de um determinado sistema econômico, relate brevemente sobre o papel de cada um deles.

5 Quais são as duas funções do Resto do Mundo como agente econômico?

6 Por que na sociedade moderna as empresas são as principais responsáveis pela produção da grande maioria de bens e serviços?

7 Qual é o fator que basicamente diferencia cada sistema econômico?

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TÓPICO 4

O MUNDO DA ECONOMIA

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Chegamos ao último tópico desta primeira unidade!

Após um considerável esforço para entender o conceito de economia e sua forma de interpretar o mundo, precisamos fazer um pequeno esforço adicional para fechar com “chave de ouro” nosso embasamento teórico, e partir para nosso foco principal deste caderno que é a microeconomia.

No entendimento de Oliveira (2006), para uma melhor abordagem da ciência econômica, podemos dividi-la em dois enfoques: microeconomia e macroeconomia.

2 MICROECONOMIA E MACROECONOMIA

Apesar de nem todos os autores concordarem com este método de abordar a economia, a grande maioria dos livros publicados costuma dividir o estudo da economia em dois grandes blocos: microeconomia e macroeconomia.

A macroeconomia (macros = grande em grego) que trata de assuntos mais amplos como por exemplo, a soma do total de bens e serviços produzidos pela economia de um determinado país – que conhecemos como PIB (Produto Interno Bruto) –, será alvo de nossos estudos num futuro próximo, através de um caderno específico (BERNI, 2002; MENDES, 2004; OLIVEIRA, 2006).

A microeconomia por sua vez, tem uma ligação bem próxima com o comportamento de pequenos grupos: consumidores, trabalhadores, poupadores, empresários, administradores, agricultores, indústrias, comércios e mercados individuais. Na verdade, o prefixo micro na palavra microeconomia, deriva da palavra grega micros, que significa pequeno (BROWNING; ZUPAN, 2004). Contudo, não devemos confundir a microeconomia com o estudo de pequenos problemas! Ao contrário, a microeconomia aborda importantes questões da organização econômica de uma sociedade, mas mantendo como foco nos participantes – descritos acima – de um sistema econômico (BERNI, 2002; MENDES, 2004; OLIVEIRA, 2006).

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA

Se fôssemos fazer um paralelo com o estudo do corpo humano, a microeconomia estudaria as células, órgãos internos ou os membros e a macroeconomia estaria focada no conjunto do corpo todo. Se escolher observar o funcionamento do corpo como um todo não consigo observar o comportamento de cada célula em especial, e vice-versa.

Nesse sentido, para Hall e Lieberman (2003), observar a economia com os olhos da microeconomia pode ser entendido como se o interessado estivesse olhando através de um microscópio.

Portanto, estudar microeconomia significa estudar o comportamento dos componentes básicos – chamados na teoria econômica de unidades econômicas individuais: produtores, administradores, consumidores individuais, famílias, empresas – que por sua vez formam um sistema maior, numa rede complexa de relações econômicas.

Troster e Morcillo (1994, p. 6) definem a microeconomia como sendo “aquela parte da teoria econômica que estuda o comportamento das unidades, tais como os consumidores, as indústrias e empresas, e suas inter-relações”.

A microeconomia busca explicar como, quando e porque estas unidades individuais tomam decisões econômicas – compra/venda/produção/contratação de operários/lançamento de novos produtos –, e que fatores (necessidades, utilidade, preço, disponibilidade de recursos financeiros ou não, quantidade etc.) influenciam nessas decisões. E ainda, como estas unidades individuais interagem entre si para formarem redes de relacionamentos maiores: mercados, indústrias, cooperativas etc. (PINDYCK; RUBINFELD, 2010).

Um exemplo básico do foco de estudo da microeconomia é entender como um consumidor, ou um conjunto de consumidores de uma determinada classe social escolhem os produtos que irão consumir, considerando sua utilidade e a quantidade de dinheiro que dispõe para comprar esse produto (todo trabalhador assalariado tem uma limitação de renda). Se uma empresa consegue entender como se dá essa decisão de consumo por parte do consumidor ou do conjunto de consumidores, poderá antecipar o volume de produção para atender a essa

De uma maneira muito simplificada, a Microeconomia estuda o comportamento das unidades econômicas e a Macroeconomia o comportamento gerado pelo conjunto das unidades econômicas.

NOTA

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TÓPICO 4 | O MUNDO DA ECONOMIA

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demanda com um preço de venda que seja compatível com a capacidade dos consumidores.

Falando em preço, que como todos nós sabemos, é um importante fator de influência nas nossas decisões individuais de consumo, a microeconomia também é conhecida como a teoria dos preços, por estudar a fundo a relação desta variável com as decisões tomadas pelas unidades individuais (BROWNING; ZUPAN, 2004).

Vale lembrar que este mesmo consumidor ou conjunto de consumidores pode decidir também não consumir. Pensando no seu futuro ou de sua família, ele também pode se decidir por poupar esses recursos financeiros, que para ele são limitados, afetando então o desempenho das empresas (menor consumo = menor faturamento = menor lucro) e do governo, que por sua vez arrecadará menos impostos, reduzindo então o investimento no bem-estar das pessoas afetando toda a sociedade.

3 ECONOMIA POSITIVA E ECONOMIA NORMATIVA

No item anterior vimos que a Economia se divide em duas partes principais: a microeconomia e a macroeconomia. Esta divisão está diretamente ligada a uma questão de detalhamento, ou seja, por um lado micro, se nos focamos nos agentes econômicos, e por outro, se abordamos o conjunto desses agentes econômicos temos a macro.

Outra distinção proposta pela maioria dos autores que estudam a economia é a divisão em economia positiva e economia normativa.

De modo geral, a economia positiva é definida como o estudo de como a economia funciona, ou seja, como foi, como é e como será um determinado comportamento da estrutura da economia. As análises feitas na economia positiva devem estar pautadas pela objetividade científica, ou seja, a partir de certas hipóteses criam-se teorias e modelos que serão posteriormente confrontados com a realidade concreta, através de pesquisas onde são coletados dados.

Já a economia normativa é apresentada como o estudo de como a economia deveria ser, e, portanto, está repleta de juízo de valor que por sua vez é fruto de diferentes opiniões e de interesses distintos, pois as pessoas são diferentes.

Vamos ver uma situação para facilitar o entendimento!

Imagine que aquela pessoa do exemplo inicial desta unidade ainda está indecisa quanto a fazer o almoço em casa ou ir ao restaurante, e procura informações para ajudá-la nessa decisão. Ela abre o jornal pela manhã e lê a seguinte manchete na primeira página: “O preço das refeições fora de casa subiram cerca de 10% no primeiro semestre deste ano”. Opa! Vou ler!

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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA

No interior do jornal, tem-se a explicação dos motivos que levaram a esse aumento: uma combinação do aumento das taxas de juros com o aumento no preço dos legumes em virtude de chuvas não esperadas nas áreas de produção.

Inclusive, é bem provável que possa ocorrer alguma divergência sobre essa explicação. Em outro jornal, outro jornalista pode ponderar que a causa da alta de preços foi um aumento no preço do óleo diesel, por exemplo, onerando o custo de transporte dos alimentos do campo para a cidade. Mesmo com divergências, estamos no campo da economia positiva, da análise das coisas como são.

Contudo, se mais à frente faz parte da notícia a opinião de um analista de economia que diz que, diante da subida de preços, o governo deveria subsidiar o preço do óleo diesel ou reduzir as taxas de juros para que não houvesse demissões nos restaurantes em função da redução de procura pelos serviços de alimentação, isso é uma indicação de política; portanto, uma proposição de economia normativa. Deste modo, indicando como as coisas devem ser, e não como são.

Segundo Oliveira (2006), as duas contribuem, cada uma do seu jeito,

para o melhor entendimento do comportamento dos agentes econômicos e estão mescladas de forma quase inseparável quando observamos o mundo real.

4 POR QUE ESTUDAR MICROECONOMIA?

Vimos no decorrer deste tópico que a microeconomia é um ramo da economia que está focado no comportamento dos agentes econômicos.

No desenvolvimento de suas atividades profissionais, o Administrador tem como objetivo primordial o sucesso da empresa onde atua como colaborador ou em seu próprio negócio como empreendedor.

Para Oliveira (2006, p. 181), a grande aplicabilidade da microeconomia na tomada de decisões nas empresas está ligada exatamente ao seu foco de estudo: “buscar interpretar como as empresas e os consumidores interagem na definição de preços e quantidades dos bens, serviços e fatores de produção”.

Desta forma, a microeconomia fornece as bases para a operação eficiente da empresa, na busca de lucros e contribuindo de forma importante para a definição de estratégias e ações que permitirão à empresa obter sucesso, enfrentando, por exemplo, uma economia de mercado.

Contudo, não pode empregar a microeconomia como um manual de receitas ou fórmulas preconcebidas para a tomada de decisão do dia a dia. Fornecendo uma visão do mercado, a microeconomia pode ser sim entendida como uma ferramenta bastante útil para auxiliar os gestores de empresas a definir e estabelecer estratégias dentro de horizonte de tempo de predefinido (OLIVEIRA, 2006).

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TÓPICO 4 | O MUNDO DA ECONOMIA

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Com base no pensamento de Oliveira (2006), podem-se identificar alguns aspectos que mostram como um gestor, empregando a visão microeconômica, ou seja, olhando para o funcionamento de um mercado, pode tomar decisões empresariais:

• Traçar uma política de preços para a empresa.

• Fazer uma previsão de faturamento, considerando uma demanda.

• Decisões de produção: diante do comportamento dos consumidores, ou seja, de como empregam a sua renda para atender as suas necessidades; o que, como, para quem e quanto a empresa deve produzir.

• Escolher qual é a melhor alternativa de produção, isto é, da melhor combinação de fatores de produção.

• Avaliar a estrutura da empresa em termos de capacidade produtiva e oportunidades de mercado.

• Escolher onde instalar geograficamente a empresa, ou seja, se é mais vantajoso para a empresa estar localizada próxima aos principais centros consumidores ou aos fornecedores de seus principais insumos.

• Estratégias de marketing: como uma campanha publicitária pode influenciar o comportamento dos consumidores de modo que suas decisões de consumo beneficiem a empresa?

Portanto, podemos concluir que a microeconomia é uma importante ferramenta para que os futuros administradores possam aumentar a chances de sua organização – empresa – de atingir seus objetivos.

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RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, vimos que:

• A Teoria Econômica é geralmente dividida em dois grandes blocos: microeconomia e macroeconomia.

• A microeconomia se ocupa de interpretar o comportamento dos agentes econômicos: consumidores, trabalhadores, poupadores, empresários, administradores, agricultores, indústrias, comércios e mercados individuais. Na verdade, o prefixo micro na palavra microeconomia deriva da palavra grega micros, que significa pequeno (BROWNING; ZUPAN, 2004).

• A macroeconomia (macros = grande em grego) se ocupa com o comportamento gerado pelo conjunto das unidades econômicas. Aborda assuntos mais amplos como, por exemplo, a soma do total de bens e serviços produzidos pela economia de um determinado país – que conhecemos como PIB (Produto Interno Bruto).

• Economia positiva é definida como o estudo de como a economia funciona, ou seja, como foi, como é e como será um determinado comportamento da estrutura econômica.

• Economia normativa é apresentada como o estudo de como a economia deveria ser, e portanto, está repleta de juízo de valor que por sua vez é fruto de diferentes opiniões e de interesses distintos, pois as pessoas são diferentes.

• A microeconomia fornece as bases para a operação eficiente da empresa, na busca de lucros e contribuindo de forma importante para a definição de estratégias e ações que permitirão à empresa obter sucesso, enfrentando, por exemplo, uma economia de mercado.

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AUTOATIVIDADE

1 Qual é a diferença básica entre microeconomia e macroeconomia?

2 Diferencie a ECONOMIA POSITIVA da ECONOMIA NORMATIVA.

3 Em que campos da vida de um administrador a MICROECONOMIA pode contribuir para o sucesso de uma empresa?

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UNIDADE 2

TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

Nessa unidade vamos:

• entender os conceitos de valor e de utilidade;

• compreender e interpretar o funcionamento da lei da demanda;

• identificar quais são os fatores que influenciam a decisão dos consumido-res no processo de busca pela maximização de suas necessidades;

• compreender o significado do conceito de elasticidade e suas variações.

Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No final de cada um deles, você encontrará um resumo do conteúdo e atividades que o(a) ajudarão a fixar os conhecimentos estudados.

TÓPICO 1 – TEORIA DO CONSUMIDOR OU DEMANDA

TÓPICO 2 – A QUESTÃO DAS PREFERÊNCIAS DO CONSUMIDOR

TÓPICO 3 – A QUESTÃO DA RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA

TÓPICO 4 – A QUESTÃO DA ESCOLHA

TÓPICO 5 – A QUESTÃO DA ELASTICIDADE

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TÓPICO 1

TEORIA DO CONSUMIDOR OU

DEMANDA

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Depois de termos abordado na Unidade 1 os principais conceitos básicos da Economia, chegou o momento de nos focarmos na microeconomia como ferramenta de apoio para os gestores, principalmente no que se refere à compreensão do comportamento dos agentes econômicos.

Como vimos anteriormente, a microeconomia busca explicar como, quando e por que estas unidades individuais tomam decisões econômicas – compra/venda/produção/contratação operários/lançamento de novos produtos –, e que fatores (necessidades, utilidade, preço, disponibilidade de recursos financeiros ou não, quantidade etc.) influenciam essas decisões. E ainda, como estas unidades individuais interagem entre si para formarem redes de relacionamentos maiores: mercados, indústrias, cooperativas etc. (PINDYCK; RUBINFELD, 2010).

A figura a seguir apresenta um esquema das cinco grandes áreas abordadas pela MICROECONOMIA, segundo Vasconcellos (2011).

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UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

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FIGURA 10 – GRANDES ÁREAS ABORDADAS PELA MICROECONOMIA

FONTE: VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de. Economia: micro e macro. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011, p 30.

Nesta Unidade 2 vamos focar os estudos no consumidor, que na Unidade 1 denominamos de Famílias ou Unidades de Consumo. Estudaremos então a Teoria do Consumidor também chamada de Teoria da Demanda.

Com o apoio de um modelo – o Fluxo Circular de Renda – como representação da realidade, percebemos que os consumidores interagem em um ambiente chamado de mercado com as empresas trocando fatores de produção, recursos financeiros e consumindo bens e serviços.

Mendes (2004, p. 30-31) avalia a importância dos consumidores pelo seguinte ângulo:

Os economistas colocam o estudo do comportamento dos indivíduos no centro dos seus modelos porque, numa economia livre, são os desejos dos consumidores, que, fundamentalmente, ditam o tipo e a quantidade de produtos e serviços a serem produtivos, ou seja, o sistema produtivo deve responder aos desejos dos consumidores.

Esse processo de interação, que leva em conta o comportamento dos consumidores, é afetado por uma série de variáveis que acabam por determinar sua amplitude e complexidade. Sendo assim, criar teorias e modelos que representem o comportamento do indivíduo humano não é uma tarefa fácil, contudo essencial para que os administradores tracem estratégias que permitam

Teoria do Consumidor (demanda individual)I - Teoria da Demanda (procura)

Demanda de Mercado

Teoria da ProduçãoOferta individual

II - Teoria da Oferta Teoria dos Custos de ProduçãoOferta de Mercado

Concorrência perfeitaConcorrência monopolística

Mercado de bens e serviçosMonopólioOligopólioIII - Análise das estruturas de mercado

Concorrência perfeMercado de insumos e fatores de produção

itaMonopólioOligopólio

IV - Teoria do equilíbrio geral e do bem-estar

V - Imperfeições de Mercado: Externalidades, Bem Públicos, Informação assimétrica

Teoria do Consumidor (demanda individual)I - Teoria da Demanda (procura)

Demanda de Mercado

Teoria da ProduçãoOferta individual

II - Teoria da Oferta Teoria dos Custos de ProduçãoOferta de Mercado

Concorrência perfeitaConcorrência monopolística

Mercado de bens e serviçosMonopólioOligopólioIII - Análise das estruturas de mercado

Concorrência perfeMercado de insumos e fatores de produção

itaMonopólioOligopólio

IV - Teoria do equilíbrio geral e do bem-estar

V - Imperfeições de Mercado: Externalidades, Bem Públicos, Informação assimétrica

Teoria do Consumidor (demanda individual)I - Teoria da Demanda (procura)

Demanda de Mercado

Teoria da ProduçãoOferta individual

II - Teoria da Oferta Teoria dos Custos de ProduçãoOferta de Mercado

Concorrência perfeitaConcorrência monopolística

Mercado de bens e serviçosMonopólioOligopólioIII - Análise das estruturas de mercado

Concorrência perfeMercado de insumos e fatores de produção

itaMonopólioOligopólio

IV - Teoria do equilíbrio geral e do bem-estar

V - Imperfeições de Mercado: Externalidades, Bem Públicos, Informação assimétrica

Teoria do Consumidor (demanda individual)I - Teoria da Demanda (procura)

Demanda de Mercado

Teoria da ProduçãoOferta individual

II - Teoria da Oferta Teoria dos Custos de ProduçãoOferta de Mercado

Concorrência perfeitaConcorrência monopolística

Mercado de bens e serviçosMonopólioOligopólioIII - Análise das estruturas de mercado

Concorrência perfeMercado de insumos e fatores de produção

itaMonopólioOligopólio

IV - Teoria do equilíbrio geral e do bem-estar

V - Imperfeições de Mercado: Externalidades, Bem Públicos, Informação assimétrica

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TÓPICO 1 | TEORIA DO CONSUMIDOR OU DEMANDA

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às empresas atingir seus objetivos e é claro ter sucesso em mercados altamente competitivos e em constante mudança.

Falando de mercados altamente competitivos, é bom lembrar que a partir desta unidade, estaremos sempre focados em uma economia de mercado, ou seja, uma economia capitalista.

Considerando toda esta complexidade, vamos acrescentar no decorrer deste tópico o emprego de ferramentas propiciadas pela matemática, como os gráficos e equações, para facilitar a compreensão e dar mais vida aos nossos estudos.

Vamos buscar ainda identificar, neste tópico, como os consumidores buscam maximizar suas escolhas – decisão de qual conjunto de bens e serviços irá satisfazer suas necessidades e desejos, que são mutantes e crescentes – perante a sua realidade de contar com uma renda limitada.

2 CONCEITO DE VALOR

Para enfrentar os desafios que vêm pela frente em termos de construir um conhecimento sobre microeconomia, vamos ver primeiramente alguns conceitos básicos.

Os economistas, observando o mundo real, perceberam que em um sistema econômico de mercado (Capitalista) o preço dos produtos e serviços tem um papel muito importante nas interações entre os agentes econômicos.

Isto pode ser traduzido como: que valor os consumidores dão para os diversos produtos e serviços que estão à disposição para serem consumidos?

Na Unidade 1 abordamos a questão das necessidades humanas, ou seja, os membros de uma sociedade, de forma individual, buscam suprir uma sensação de bem-estar, de conforto, na maioria das vezes através de produtos e serviços. É verdade que algumas de nossas necessidades não podem ser supridas somente dessa forma. O amor é um exemplo: é necessário, nos faz muito bem, mas não está disponível de forma comercial, não o verdadeiro!

Voltando à questão do valor, deste modo podemos concluir que, é natural que os consumidores atribuam algum valor aos bens e serviços considerando a sua capacidade de satisfazer as necessidades. Assim, se um bem ou serviço não tem esta capacidade de suprir alguma necessidade ou desejo, não terá valor algum.

Adicionalmente, os bens que estão presentes em uma quantidade superior as necessidades dos seres humanos também estão fora do enfoque econômico. Um desses bens é o ar que respiramos.

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UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

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Sendo assim, a nossa tendência como seres humanos é dar maior valor ainda para as coisas que são pouco abundantes. Por exemplo, que valor você dá para o ar? Você acha que no mundo atual alguém conseguiria vender ar engarrafado? A água doce por outro lado, como um bem muito escasso já é vendida! Mas tanto o ar como a água tem um valor enorme para nossa vida.

Esse comportamento dos seres humanos é conhecido como utilitarismo e representa nossa capacidade de escolha de produtos e serviços conforme nossas necessidades, considerando ainda sua utilidade, valor de aquisição versus disponibilidade.

Vasconcellos (2011, p. 31) apresenta assim a ligação entre valor e utilidade:

A Teoria do Valor Utilidade pressupõe que o valor de um bem se forma por sua demanda, isto é, pela satisfação que o bem representa para o consumidor. Ela é, portanto, subjetiva, e representa a chamada visão utilitarista, em que prepondera a soberania do consumidor, pilar do capitalismo.

Portanto, devemos sempre ter em mente, no decorrer dessa unidade, os seguintes pontos:

• As famílias como unidades consumidoras dispõem de determinada renda para satisfazer suas necessidades e desejos. É o que a economia chama de restrição orçamentária.

Aqui nesse primeiro item é importante termos em mente que consumidores são todos aqueles que possuem renda, mesmo que seja fruto de transferência – como, por exemplo, uma mesada recebida pelo pai ou mãe. Carvalho (2002, p. 19) esclarece esta posição:

O consumidor como uma unidade do setor de consumo, representada tanto por um indivíduo quanto por uma família que possui um orçamento disponível para gastos e tem todas as condições de decidir como utilizá-lo. Assim, é possível afirmar que todas as pessoas que recebem renda monetária seja decorrente somente da contrapartida em oferta de trabalho. Os dependentes, os incapazes e os demais que recebem renda monetária por transferências são participantes da categoria de consumidores. Portanto, a origem da renda não é o fato principal para caracterizar o consumidor; esse fato principal é a despesa em dinheiro com o consumo de bens e serviços (CARVALHO, 2002, p. 19).

• Essas unidades consumidoras têm acesso às informações que caracterizam os bens e serviços disponíveis no mercado e as utilizará para maximizar sua satisfação. É o que a economia chama de racionalidade (ROSSETTI, 2002).

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TÓPICO 1 | TEORIA DO CONSUMIDOR OU DEMANDA

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• Em função da quantidade de sua renda, isto é, a imposição de um limite de gastos; os consumidores vão ao mercado para adquirir determinada quantidade de um conjunto de bens, formando uma cesta de produtos – por vezes chamada também de cesta de mercado, por alguns economistas – e maximizando sua satisfação. É o que os economistas chamam de minimização dos gastos ou custo.

• Essa cesta de produtos também é formada pelos consumidores considerando a utilidade de cada bem e/ou serviço. É o que os economistas chamam de maximização de utilidade. Essa maximização se dá pela soma das utilidades de cada produto consumido para um determinado nível de renda (ROSSETTI, 2002).

Por fim, o objetivo desta Teoria do Consumidor é ter uma explicação sob a ótica da economia, de como as unidades familiares ou consumidores escolhem os bens e serviços, conforme o cenário da figura a seguir, que irão satisfazer suas necessidades e/ou desejos.

FIGURA 11 – COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR DIANTE DAS DISTINTAS OPÇÕES E MERCADOS

FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/XyxmWo>. Acesso em: 21 jan. 2014.

Vamos então começar nossos estudos?

3 A QUESTÃO DA UTILIDADE

Para começar nossa abordagem da Teoria do Consumidor, vamos inicialmente recuperar nosso exemplo da Unidade 1.

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UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

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Em resumo, uma determinada pessoa precisa decidir se vai fazer sua própria refeição, empregando seu tempo, dinheiro, utensílios domésticos ou se considera mais interessante ir a um local especializado nesse tipo de serviço, ou seja, um restaurante.

No exemplo não foi apresentado nem o tipo, qualidade, tamanho ou nome do restaurante. Era um estabelecimento genérico. No mundo real a quantidade de opções de estabelecimentos que oferecem o mesmo tipo de cardápio é muito elevada. Portanto, quando o consumidor se decide pela opção do restaurante, precisa enfrentar outra decisão: em qual dos muitos restaurantes vai?

Para tomar essa decisão ele precisa considerar uma série de fatores: disponibilidade de tempo, disponibilidade de recursos financeiros, qualidade dos alimentos etc. Logicamente o consumidor vai ao estabelecimento que satisfazer da melhor forma sua necessidade ou desejo, dentro de sua capacidade de pagamento.

Todo esse processo decisório é o que chamamos na Microeconomia de Comportamento do Consumidor ou Demanda.

Na visão de Mochón Morcillo (2006, p. 59), “para explicar o comportamento dos consumidores, podemos admitir como ponto de partida que os indivíduos tendem a escolher os bens e serviços que valorizam mais, isto é, aqueles que lhe proporcionam maior utilidade ou satisfação”.

Assim, podemos interpretar que a utilidade é a base da Teoria do Consumidor.

Na visão de diversos autores, dentre eles Rossetti (2002), Mendes (2004) e Mochón Morcillo (2006), pode-se definir utilidade como o sentimento subjetivo de prazer ou satisfação (psicológica) que um consumidor experimenta ao consumir uma ou mais quantidades de um bem ou serviço.

Aqui vale lembrar que o consumidor não gasta sua renda em um único produto, mas sim em uma variedade de produtos e serviços. Esta variedade também é chamada na economia de cesta de produtos.

Os primeiros estudos relacionados com a questão da utilidade datam dos anos 1870, quando o economista britânico – da escola Neoclássica – W. S. Jevons passa a observar o comportamento do consumidor e registra suas conclusões na obra Theory of Political Economy de 1871. Ela é considerada a base do princípio da Teoria da Utilidade Marginal.

Logo à frente, ainda neste tópico, abordaremos essa teoria em detalhes.

Um dos pontos que precisamos entender bem é como os economistas “medem” a utilidade. Por ser um conceito subjetivo, o processo de “medir”

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TÓPICO 1 | TEORIA DO CONSUMIDOR OU DEMANDA

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sempre foi um problema para os economistas que estão mais acostumados com variáveis quantitativas, isto é, que envolvem quantidades, números. Por isso, as divergências entre os economistas são muito significativas nesse campo.

Para contornar esse obstáculo, os economistas desenvolveram duas teorias:

• Utilidade Cardinal – dos anos 1870, defendida pelos seguintes economistas: Jevons, Menger e Walras. Sugere uma medida da satisfação, ou seja, buscava quantificar o bem-estar do indivíduo através da intensidade de suas preferências. Inicialmente alguns economistas propuseram que fosse possível medir a utilidade cardinalmente, isto é, utilizando os números cardinais, e criou-se uma unidade de medida para a utilidade chamada “útile”. Tal abordagem verificou-se inadequada, dado o caráter subjetivo da utilidade (da satisfação) que uma cesta de produtos pode fornecer a um consumidor, por isto, esta abordagem foi abandonada pela Teoria Econômica (ROSSETTI, 2002).

• Utilidade Ordinal – dos anos 1900 em diante, defendida pelos seguintes economistas: Pareto (1906), Slutsky (1912), Samuelson e Hicks (1938). Esta abordagem sugere que não é preciso medir as utilidades fornecidas pelas cestas de produtos, e sim, apenas, ordenar as preferências do consumidor.

Dentro de uma visão mais moderna, Oliveira (2006, p. 173) argumenta que a “utilidade é o grau de adequação de um bem ou serviço à necessidade do consumidor, possuindo ainda caráter individual e subjetivo”.

Oliveira (2006, p. 173) ainda define como características da utilidade:

1) não ser mensurável: não existe uma unidade que a mensure; 2) ser comparável: mesmo não sendo mensurável, frequentemente adquirimos um determinado bem ou serviço em detrimento de outro, por julgarmos que um deles será mais útil; e 3) depender da percepção de cada indivíduo: está ligada ao nível de informação e cultura de cada indivíduo, de forma que determinado bem ou serviço pode ser de grande utilidade para uns e nenhuma para outros.

3.1 UTILIDADE TOTAL E UTILIDADE MARGINAL

Vamos começar essa seção com um exercício de imaginação:

Considere que um determinado consumidor dispõe de uma renda de R$ 500,00 suficiente para consumir diversos bens de consumo, como por exemplo: iogurte, pães, sucos, massas etc. A princípio vamos escolher o iogurte para entender a questão da utilidade.

Nosso objetivo é então analisar o comportamento do consumidor frente a uma decisão de consumo; mais precisamente “descobrir a relação existente

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UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

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entre as quantidades consumidas de um bem e a utilidade que proporcionam” (MOCHÓN MORCILLO, 2006, p. 60).

Aqui, então, vamos abordar dois conceitos que nos ajudaram a entender este cenário que exige uma decisão: utilidade total e utilidade marginal.

Graficamente a utilidade total e utilidade marginal podem ser representadas conforme a figura a seguir.

FIGURA 12 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA UTILIDADE TOTAL E UTILIDADE MARGINAL

FONTE: VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de. Economia: micro e macro. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011, p. 33.

A utilidade total pode ser entendida através da lógica, ou seja, analisando o cenário anterior com nossa experiência como consumidor, parece coerente que quanto mais quantidades forem consumidas de um determinado produto, maior é a nossa satisfação. Em outras palavras, quanto mais iogurte eu consumir, maior é a minha satisfação com esse produto, ou seja, a satisfação vai se acumulando à medida que vai-se consumindo mais uma unidade

Para entender esse conceito vamos concretizar nosso cenário de consumo inicial, contudo mantendo só o consumo do iogurte. Adicionalmente precisamos definir um padrão para medir a satisfação: a máxima satisfação seria 10. Sendo assim, quando consumir um primeiro potinho de iogurte terá um nível de

Utilidade total

Quantidade consumida

Utilidade marginal

Quantidade consumida

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TÓPICO 1 | TEORIA DO CONSUMIDOR OU DEMANDA

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satisfação 10. A partir do primeiro pote a satisfação cairá 1 ponto a cada novo pote consumido.

Para ilustrar temos o quadro a seguir, que ficaria assim:

QUADRO 6 – REPRESENTAÇÃO DA UTILIDADE TOTAL

NÚMEROS DE POTINHOS DE

IOGURTE

GRAU DE SATISFAÇÃO/POTINHO UTILIDADE TOTAL

01 10 --02 09 1903 08 2704 07 3405 06 4006 05 4507 04 4908 03 52

FONTE: O autor

Com base no Quadro 6, podemos verificar que apesar do grau de satisfação ir se reduzindo à medida que o consumo aumenta, a utilidade total é cumulativa ou aditiva.

Podemos representar esta tabela num gráfico e observar o formato da curva gerada pelos dados do quadro anterior.

GRÁFICO 2 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA UTILIDADE TOTAL

FONTE: O autor

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UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

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Vale ressaltar que a mesma lógica acontece se passarmos a considerar um conjunto de produtos: a utilidade total também é aditiva, já que cada produto tem um grau de utilidade. Um exemplo: consumo simultâneo de café e pão. Depois de consumir algumas xícaras de café e de unidades de pão, a utilidade do conjunto também atinge um ponto de saturação.

Por outro lado, também é lógico que à medida que você consome um determinado bem ou serviço, ou ainda uma combinação de produtos de forma sequencial, e fique cada vez mais satisfeito, seu interesse – utilidade – por ele irá diminuir. Em outras palavras, existe um ponto de saturação, isto é, um momento em que o consumo deste bem não lhe traz mais nenhuma satisfação.

Para entender esse processo, vamos adicionar no quadro anterior uma nova coluna com o título de utilidade marginal.

QUADRO 7 – REPRESENTAÇÃO DA UTILIDADE TOTAL

NÚMEROS DE POTINHOS DE IOGURTE

GRAU DE SATISFAÇÃO

UTILIDADE TOTAL

UTILIDADE MARGINAL

01 10 10 1002 09 19 0903 08 27 0804 07 34 0705 06 40 0606 05 45 0507 04 49 0408 03 52 03

FONTE: O autor

A palavra marginal em economia tem o sentido de adicional ou ainda extra, uma quantidade a mais.

Da mesma forma que a utilidade total, podemos representar graficamente a utilidade marginal. Utilizando os dados do quadro anterior temos o gráfico a seguir.

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TÓPICO 1 | TEORIA DO CONSUMIDOR OU DEMANDA

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GRÁFICO 3 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA UTILIDADE MARGINAL

FONTE: O autor

Podemos verificar então que a utilidade marginal mede a satisfação do consumidor a cada unidade adicional consumida.

Oliveira (2006, p. 173) resume a diferença entre a utilidade total e a utilidade marginal como “a utilidade total é o total de utilidade que um determinado bem ou serviço oferece a um consumidor, enquanto que a utilidade marginal constitui o acréscimo de utilidade, decorrente do consumo de uma unidade adicional de um bem ou serviço”.

Então, no que se refere à evolução – incremento – da utilidade de certo bem ou serviço, o Quadro 7 nos mostra que à medida que a quantidade consumida de um bem aumenta, a evolução da utilidade extra ou marginal que ele proporciona é cada vez menor. De outra forma, a satisfação que ele gera no consumidor é inversamente proporcional à quantidade consumida.

Desse conceito de utilidade marginal, surgiu uma importante teoria econômica chamada posteriormente de Princípio da utilidade marginal decrescente.

Em nosso exemplo, se imaginássemos que o consumidor nunca tivesse tido a oportunidade de tomar um iogurte e começasse a consumir diversos potes, logo estaria satisfeito e cada pote de iogurte consumido perderia sua utilidade.

Experimente passar por esse processo utilizando um copo de água. Fique sem beber água por algumas horas, até sentir bastante sede e depois comece a consumi-la em quantidades menores, um copo pequeno por vez; e anote seu grau de satisfação. Veja até quando terá utilidade para saciar a sua sede.

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UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

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Antes mesmo de você fazer a experiência, o resultado é o mesmo do iogurte: naturalmente quanto mais consumimos um bem, menor é a satisfação adicional que cada unidade dele nos proporciona.

Vamos construir um gráfico para ilustrar melhor nosso exemplo?

O gráfico a seguir foi construído com as informações do quadro anterior, e ilustra o Princípio da utilidade marginal decrescente.

GRÁFICO 4 – REPRESENTAÇÃO DO PRINCÍPIO DA UTILIDADE MARGINAL DECRESCENTE

FONTE: O autor

O enunciado do Princípio da utilidade marginal decrescente, segundo Krugman e Wells (2007, p. 202), “quanto mais consumimos um bem ou serviço, tanto mais chegamos perto da saciedade – até chegar ao ponto em que uma unidade adicional do bem não acrescenta nada à nossa satisfação”.

As descobertas que fizemos até agora têm uma característica importante: ajuda a entender o nível de satisfação decorrente do consumo de um bem ou serviço.

Para entender um cenário em que as decisões de consumo envolvem a aquisição de diversos bens e/ou serviços, que chamamos no começo desta unidade de cesta de produtos ou cesta de mercado – faremos emprego de outra teoria: a Teoria da escolha.

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TÓPICO 1 | TEORIA DO CONSUMIDOR OU DEMANDA

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A Teoria da escolha requer que tenhamos alguns conhecimentos adicionais sobre os gostos ou preferências do consumidor, além de sua capacidade de consumir em termos financeiros, ou seja, qual é a renda que tem disponível. Situação que na Economia chamamos de restrição orçamentária.

Porém antes vamos analisar a questão da demanda.

4 DEMANDA DE BENS E SERVIÇOS

No Tópico 3 na Unidade 1, nós estudamos a forma que uma sociedade organiza suas atividades econômicas, que é denominada de sistema econômico. Um modelo que representa um sistema econômico era o FLUXO CIRCULAR DE RENDA.

Vimos que esse modelo foi elaborado para simular o mundo real e que considerava as interações econômicas entre dois agentes econômicos: as unidades familiares ou consumidores e as empresas.

Uma parte desse modelo mostrava que as empresas produzem bens e serviços e os oferecem, através de mercados, para que os consumidores comprem os mesmos com o objetivo de satisfazer suas necessidades e/ou desejos.

É natural que as empresas produzam bens e serviços que tenham utilidade e que sejam então procurados pelos consumidores. Esta procura é denominada pela economia de demanda, também conhecida como procura. Para não haver confusão: demanda = procura.

Demanda significa estar disposto a comprar, isto é, ter uma intenção de adquirir. Implícito nessa afirmação está o fato de que o consumidor quer e pode comprar (MONCHÓN, 2006).

Oliveira (2006, p. 187) define a demanda como: “a quantidade de bens ou serviços que um consumidor deseja e está disposto a consumir (adquirir) num determinado momento e a um determinado preço”.

Este mesmo autor inclui em sua obra um importante comentário e que tem a ver com um dos papéis – planejar – de um administrador:

Observe que a demanda pura e simples é a expressão de uma intenção de consumo, que se manifesta num período de tempo. Esse conceito é fundamental para as empresas planejarem as quantidades que serão disponibilizadas (ofertadas) ao consumidor, bem como para estimarem de quanto serão as suas receitas futuras (OLIVEIRA, 2006, p. 187).

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UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

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É um claro reflexo de Teoria Econômica no cotidiano das empresas onde você será futuramente um(a) administrador(a).

Vista desse modo, a demanda é classificada como individual, por estar considerando “um consumidor”. Se então somarmos a intenção de compra de diversos consumidores teremos um conjunto maior que chamamos de demanda de mercado.

Agora que sabemos o que é demanda, precisamos aprender como representá-la!

Vamos começar com a demanda individual.

4.1 REPRESENTAÇÃO DA DEMANDA

Observando a nossa própria realidade podemos concluir que um dos fatores mais importantes que vai determinar a quantidade consumida de um determinado bem e/ou serviço é o preço.

Com certeza existem outros fatores, que veremos mais à frente, dos quais destacamos o gosto ou preferência, a renda disponível, a utilidade e também o preço de outros bens e serviços relacionados ao bem e/ou serviço que estamos estudando.

Para representar a demanda, vamos fazer uma simplificação da realidade, isto é, vamos considerar hipoteticamente que somente o preço do bem e/ou serviço vai influenciar na decisão! Quando dominarmos a representação da demanda, vamos considerar os outros fatores e ver o que acontece.

Recorrendo ao nosso exemplo do iogurte, podemos elaborar um quadro, onde está representada a intenção de consumir este produto frente à variação do preço.

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TÓPICO 1 | TEORIA DO CONSUMIDOR OU DEMANDA

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QUADRO 8 – REPRESENTAÇÃO DA DEMANDA DE IOGURTE POR UM DETERMINADO CONSUMIDOR

PREÇO DO POTINHO DE IOGURTE em R$

QUANTIDADE DE POTINHOS DE IOGURTE DEMANDADA PELO CONSUMIDOR - unidades

1,00 141,50 122,00 102,50 083,00 063,50 044,00 024,50 00

FONTE: O autor (dados hipotéticos)

Com base nas informações desta tabela podemos então construir o Gráfico 5.

Este gráfico é denominado de Curva da demanda individual.

Segundo Mochón (2006, p. 24), a curva da demanda “é a representação gráfica da relação entre o preço de um bem e a quantidade demandada. Ao desenhar a curva da demanda, supomos que sejam mantidos constantes os demais fatores que possam afetar a quantidade demandada, exceto o preço”.

GRÁFICO 5 – CURVA DA DEMANDA INDIVIDUAL – CONSUMIDOR A

FONTE: O autor

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UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

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A leitura desse gráfico é simples: quanto maior o preço, menor é a quantidade consumida.

Esta relação é conhecida como a Lei da Demanda, que Mochón (2006, p.

23) define como:

A lei da demanda refere-se à relação inversa existente entre o preço de um bem e a quantidade demandada, no sentido de que ao aumentar o preço diminui a quantidade demandada, ocorrendo o contrário quando se reduz o preço.

Como sabemos, o mercado é formado por mais de um consumidor.

Vamos então adicionar ao quadro a seguir mais um consumidor, gerando então uma demanda de mercado para que possamos observar o efeito, e então traçar mais dois gráficos: um relativo à demanda do novo consumidor e outro relativo a demanda de mercado.

QUADRO 9 – REPRESENTAÇÃO DA DEMANDA DE MERCADO

PREÇO DO POTINHO

DE IOGURTE

em R$

QUANTIDADE DE POTINHOS DE IOGURTE

DEMANDADA PELO CONSUMIDOR A -

unidades

QUANTIDADE DE POTINHOS DE IOGURTE

DEMANDADA PELO CONSUMIDOR B -

unidades

DEMANDA DE

MERCADO = A + B,

unidades.

1,00 14 12 261,50 12 10 222,00 10 08 182,50 08 07 153,00 06 06 123,50 04 04 084,00 02 02 044,50 00 00 00

FONTE: O autor (dados hipotéticos)

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TÓPICO 1 | TEORIA DO CONSUMIDOR OU DEMANDA

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GRÁFICO 6 – CURVA DA DEMANDA INDIVIDUAL – CONSUMIDOR B

FONTE: O autor

GRÁFICO 7 – CURVA DA DEMANDA DE MERCADO

FONTE: O autor

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UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

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Então, podemos determinar a demanda de mercado a partir da soma das demandas individuais.

Uma conclusão muito importante, para nós administradores, é que conhecer a demanda de mercado contribui para que as empresas sob nossa gestão possam “determinar melhor suas estratégias de posicionamento nos mercados que atuam” (OLIVEIRA, 2006, p. 192). Essas estratégias podem ser buscando um crescimento de faturamento no caso de uma demanda aquecida, por exemplo, ou se a procura por seus produtos estiver baixa, uma estratégia de redução de produção.

Até agora consideramos apenas o fator preço. Mas sabemos de antemão que existem outros fatores. Vamos dar uma breve explanação.

Seguindo as indicações de Oliveira (2006, p. 192-193), vamos listar os demais fatores que influenciam a demanda, considerando o ambiente empresarial, e não somente a teoria econômica:

• Gosto ou preferência do consumidor: uma mudança na preferência do consumidor afetará o nível de demanda, caso haja renda para efetuá-la.

• Renda dos consumidores: é o poder de compra relacionado à restrição orçamentária de cada consumidor, que, embora não afete sua preferência, com certeza afeta a sua decisão de compra. Quanto maior a renda do consumidor maior é a sua demanda por bens e serviços. Segundo Mochón Morcillo (2006, p. 63), “o efeito-renda mostra o impacto que uma mudança de preço gera na quantidade demanda de um bem em razão do efeito da alteração na renda real do consumidor”.

• Preços (relativos) dos bens ou serviços substitutos, ou ainda complementares: no caso de bens e serviços substitutos (conceito que veremos um pouco mais à frente), haverá provavelmente a troca daqueles que tiverem seus preços aumentados pelos de menor valor. Exemplos: o suco pode ser substituído por refrigerante; a gasolina substituída pelo álcool combustível. Já no caso dos complementares, o preço de um dos produtos pode reduzir a venda do outro. Exemplo: se o preço dos combustíveis aumentar muito, a comercialização de automóveis pode sofrer uma redução.

O efeito substituição é o fator mais significativo para explicar a inclinação decrescente da curva da demanda. Ele nos diz que quando o preço de um bem ou serviço se eleva, os consumidores tendem a substituí-lo por outros, a fim de obter a satisfação desejada de forma mais barata (MOCHÓN, 2005, p. 63).

UNI

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TÓPICO 1 | TEORIA DO CONSUMIDOR OU DEMANDA

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• Qualidade do bem: a baixa qualidade de um bem ou serviço pode determinar sua exclusão da cesta de produtos do consumidor, caso haja renda suficiente para sua substituição; pois, muitas vezes, a questão da aceitação de um bem ou serviço de baixa qualidade está relacionada à baixa renda de um consumidor. Exemplo: lojas de produtos vendidos a R$ 1,99.

• Tributações: a carga tributária imposta pelo Estado pesa sobre o bem e/ou serviço (quantidade vendida), uma vez que reduz a capacidade de consumo do consumidor por suprimir parte de sua renda. Exemplo: Imposto de Renda descontado automaticamente na folha de pagamento dos assalariados reduz o salário bruto.

• Inovação tecnológica: na expectativa de possíveis avanços tecnológicos ou de uma nova linha de produtos, o consumidor pode retardar sua decisão de consumo para adquirir produtos mais atualizados. Esse fator também sofre com a restrição orçamentária dos consumidores, isto é, produtos mais modernos e/ou lançamentos tendem a ter um preço mais elevado que seus antecessores. Automóveis, equipamentos de informática, celulares são ótimos exemplos.

• Expectativa de renda futura do consumidor: bens e serviços que dependem de renda futura para a sua aquisição ou manutenção podem não ser adquiridos em função de seu maior valor unitário (preço) representar muitas vezes a renda mensal do consumidor. Sua aquisição está muitas vezes ligada à contratação de empréstimo ou financiamento. Exemplo: aquisição de um imóvel ou um pacote turístico para países distantes, como Japão ou Rússia. Assim, o consumo só se concretizará se a renda futura do consumidor for compatível com a capacidade de pagamento de liquidar essa obrigação (empréstimo ou financiamento).

• Expectativa de alteração futura de preço: nesse item poderemos ter dois cenários bastante distintos: a) o consumidor antecipa sua decisão de consumo frente à possibilidade de incremento no preço, e b) o consumidor pode deixar de adquirir um bem ou serviço depois de analisar que a elevação de seus preços impediria a sua aquisição ou pagamento futuro. Exemplo: produtos ou serviços ligados à variação de moeda estrangeira, como por exemplo, pacotes turísticos.

• Fatores geográficos ou demográficos: estão relacionados com as condições de clima e solo impostas por fatores demográficos, como regiões desérticas, as cordilheiras (cadeias de montanhas), geleiras etc., ou a dispersão e tamanho da população; e determinam tanto a quantidade vendida quanto o padrão da aquisição dos bens e serviços. Exemplo: pessoas que vivem em climas extremamente frios consomem alimentos muito mais calóricos do que pessoas que moram em climas quentes.

• Despesas com publicidade ou propaganda: aumento da demanda em função da informação passada ao consumidor sobre os benefícios, características, qualidades e vantagens de se adquirir determinados bens e serviços. Isto se aplica tanto a bens e serviços já existentes, quanto aos lançamentos. Nesse último caso, despertando o interesse do consumidor.

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UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

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LEITURA COMPLEMENTAR

CONSUMO BRASILEIRO ENTRA EM NOVO CICLO

APÓS SE ATRAPALHAR COM NOVO PODER DE COMPRA, CONSUMIDOR DA NOVA CLASSE MÉDIA SE DIZ COMEDIDO E RESPONSÁVEL, MAS AINDA QUER SE INCLUIR NA SOCIEDADE E SER MAIS BEM ACEITO PELOS BENS E EXPERIÊNCIAS QUE ADQUIRE, MOSTRA PESQUISA INÉDITA DO SPC.

Após a entrada no mercado de consumo – e as consequentes trapalhadas trazidas pela falta de experiência com o crédito –, o consumidor médio brasileiro está mais maduro. É o que mostra uma extensa pesquisa feita pelo SPC Brasil em outubro, para tentar entender o comportamento do consumidor e, a partir daí, orientar os lojistas sobre tendências e elaborar possíveis campanhas de orientação a esse comprador.

O consumidor passou a comprar novos produtos que não fazia até 2012, porém o fez porque, basicamente, sua vida melhorou nas classes mais altas ou ele passou a ter interesse por algo que até então não o estimulava, como mostram as tabelas abaixo:

FIGURA 1 – O QUE PASSOU A COMPRAR

FONTE: SPC

DE 2012 ATÉ AGORAO que NÃO costumava comprar e PASSOU a comprar?(PRINCIPAL ITEM)

* Percentual de Outros pulverizado

ITENS GERAL CLASSE A/B CLASSE C/D/EEletrodoméstico(geladeira, fogão e máquina, ar condicionado, microondas, máquina de lavar louça)

12% 16% 11%

Eletrodoméstico(tablets, smartphones) 8% 8% 8%Roupas que não sejam de marca 7% 3%* 9%*Alimentação no lar(supermercado e compras de abastecimento) 6% 3%* 7%*Moradia(Reforma da casa, compra de móveis e adornos) 5% 5% 5%Transporte(Manutenção do veículos, combustível, entre outros)

5% 4% 5%

Calçados que não sejam de marca 5% 2%* 6%*Outros 52% 59% 49%

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TÓPICO 1 | TEORIA DO CONSUMIDOR OU DEMANDA

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FIGURA 2 – O QUE MUDOU NA VIDA

FONTE: SPC

Além disso, 58% deles já realizaram sonhos de consumo antes de comprar esses produtos que mais desejam, sendo que mais de 20% deles foram influenciados, sobretudo pela propaganda ou por efeitos do marketing, como desejar a marca ou “se enxergar no produto”.

O fator determinante para a realização do sonho de consumo é preço, para 39% das pessoas das classes A e B e de 56% para as classes C, D e E. Porém, o atendimento apela mais para quem tem mais dinheiro. O sonho de consumo também varia de acordo com o poder de compra. Quem já realizou os desejos mais básicos quer agora experiências, como viagens. Em se tratando de gênero, os homens ainda almejam mais o carro, enquanto as mulheres sonham mesmo com a casa própria e o plano de saúde, como pode ser conferido abaixo:

FIGURA 3 – SONHO DE CONSUMO

FONTE: SPC

O QUE MUDOU NA SUA VIDAPara te levar a consumir estes novos produtos?

PENSANDO EM SEU "SONHO DE CONSUMO" ATUALEm qual categoria se encontra este produto?

CATEGORIAS GERAL CLASSE A/B CLASSE C/D/ECasa própria 18% 17% 19%Reformar casa, comprar móveis e adornos 12% 10% 13%Realizar viagem Internacional/ nacional 12% 18% 8%Comprar carro, moto ou qualquer outro veículo 11% 14% 10%Comprar celular/smartphone, notebook, tablet, entre outros 6% 5% 7%Comprar ar condicionado, microondas, fogão, máquina de lavar entre outros 4% 4% 3%Sair de casa, mesmo que esteja morando de aluguel 3% 5% 1%Realizar/ concluir um curso de graduação 3% 3% 3%Realizar/ concluir um curso de pós-graduação/ mestrado/ doutorado 3% 4% 2%

OUTROS 14% 11% 18%Não tem sonho de consumo no momento 15% 10% 18%

* Percentual de Outros pulverizado

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UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

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FIGURA 4 – CATEGORIAS DOS SONHOS DE CONSUMO

FONTE: SPC

Os brasileiros também se mostram bastante otimistas, acreditando que realizarão seu sonho de consumo.

FIGURA 5 - QUAIS PRODUTOS SONHADOS VAI COMPRAR?

FONTE: SPC

PENSANDO EM SEU "SONHO DE CONSUMO" ATUALEm qual categoria se encontra este produto?Por sexo

PENSANDO EM SEU "SONHO DE CONSUMO" ATUALVOCÊ ACREDITA QUE IRÁ COMPRAR ESTE PRODUTO?

CATEGORIAS GERAL FEMININO MASCULINOCasa própria 18% 24%* 12%*Reformar casa, comprar móveis e adornos 12% 13% 11%Comprar carro, moto ou qualquer outro veículo 11% 7%* 16%*Realizar viagem Internacional/ nacional 12% 10% 13%Comprar celular/smartphone, notebook, tablet, entre outros 6% 7% 6%Realizar/ concluir um curso de graduação 3% 4% 2%Realizar atividades esportivas 2% 3% 1%Ter plano de saúde/ seguro de vida 2% 3%* 0%*Comprar ar condicionado, microondas, fogão, máquina de lavar entre outros 4% 3% 3%Realizar/ concluir um curso de pós-graduação/ mestrado/ doutorado 3% 2% 4%Sair de casa, mesmo que esteja morando de aluguel 3% 2% 3%Comprar determinado acessório (joia, relógio, cinto, bolsa, gravata, etc.) 2% 2% 2%Dedicar-se aos cuidados de beleza e estética 1% 2%* 0%*Comprar roupas de marca 1% 2%* 0%*

OUTROS 5% 3%* 10%*Não tem sonho de consumo no momento 15% 10% 17%

* Percentual de Outros pulverizado

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TÓPICO 1 | TEORIA DO CONSUMIDOR OU DEMANDA

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Eles também acreditam ter um comportamento comedido quando o assunto é compras. Quase 40% disseram fazer muitas pesquisas antes de consumir e se consideram econômicos e controlados. Outros 51% se dizem moderados, sem ceder a impulsos consumistas. Porém, 12% confessaram que comprar é seu ponto fraco e que não consegue resistir a seus desejos. Nas classes C e D, 24% afirmaram que costumam acompanhar amigos e familiares a lugares que não cabem em seu bolso para não fazer feio. Nas classes A e B, o percentual cai para 15%.

Além disso, 62% pensam nas compras do mês antes mesmo de receber o salário e 59% já ficaram no vermelho por causa de compras e lazer não planejado e que não precisavam ter realizado. Além disso, 59% já compraram por indulgência, mesmo sem condições de fazer a compra.

A pesquisa do SPC foi feita com 610 consumidores das 27 capitais brasileiras. Desse total, 53% eram mulheres e 68% tinham entre 25 e 49 anos. Dos entrevistados das classes A e B, 70% eram solteiros ou separados bem como 50% dos representantes das classes C, D e E. Além disso, mais da metade dos entrevistados são empregados de empresas privadas ou autônomos/profissionais liberais. Mais de 70% dos entrevistados ganham entre R$ 679 a R$ 3 mil. Em 36% das casas havia crianças, idosos e enfermos, que comprometem parcialmente a renda.

FONTE: BARBIERI, Cristiane. Consumo brasileiro entra em novo ciclo. Época Negócios, Rio de Janeiro, 21 out. 2013. Disponível em: < http://epocanegocios.globo.com/Informacao/noticia/2013/10/consumo-brasileiro-entra-em-novo-ciclo.html>. Acesso em: 16 jan. 2013.

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RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico você viu que:

• O estudo do comportamento dos consumidores para uma economia de mercado aborda as variáveis que influenciam sua decisão, o que, fundamentalmente, dita o tipo e a quantidade de produtos e serviços a serem produtivos, ou seja, o sistema produtivo deve responder aos desejos dos consumidores.

• Os consumidores atribuem valor aos bens e serviços considerando sua capacidade de satisfazer necessidades e/ou desejos. Assim, se um bem ou serviço não tem esta capacidade de suprir alguma necessidade ou desejo, não terá valor algum.

• Oliveira (2006, p. 173) resume a diferença entre a utilidade total e a utilidade marginal como: “a utilidade total é o total de utilidade que um determinado bem ou serviço oferece a um consumidor, enquanto que a utilidade marginal constitui o acréscimo de utilidade, decorrente do consumo de uma unidade adicional de um bem ou serviço”.

• O princípio da utilidade marginal decrescente, segundo Krugman e Wells (2007, p. 202) aponta que “quanto mais consumimos um bem ou serviço, tanto mais chegamos perto da saciedade – até chegar ao ponto em que uma unidade adicional do bem não acrescenta nada à nossa satisfação”.

• Demanda pode ser entendida como a intenção do consumidor em adquirir uma quantidade de bens ou serviços num determinado momento e a um determinado preço.

• A demanda é representada por uma curva que considera variável apenas o preço dos produtos e serviços, ou seja, uma simplificação da realidade que pondera que somente o preço do bem e/ou serviço vai influenciar na decisão do consumidor.

• Segundo Mochón (2006, p. 24), a curva da demanda “é a representação gráfica da relação entre o preço de um bem e a quantidade demandada”.

• A lei da demanda relaciona o preço e a quantidade de um bem e/ou serviço demandado: conforme o preço de um bem ou serviço aumenta, a quantidade da demanda diminui e vice-versa.

• Demanda de mercado é a soma das demandas individuais.

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• Outros fatores que afetam a demanda: gosto ou preferência do consumidor; renda dos consumidores; preços (relativos) dos bens ou serviços substitutos ou ainda complementares; qualidade do bem; tributações; inovação tecnológica; expectativa de renda futura do consumidor; expectativa de alteração futura de preço; fatores geográficos ou demográficos e despesas com publicidade ou propaganda.

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AUTOATIVIDADE

1 Considerando o exemplo do consumo de iogurte, aponte a diferença entre a UTILIDADE TOTAL e UTILIDADE MARGINAL.

2 Complete as lacunas da sentença a seguir e obtenha a definição básica de Economia:

A lei da ______________ refere-se à relação ________ existente entre o preço de um bem e a quantidade demandada, no sentido de que ao ___________ o preço diminui a _______________ demandada, ocorrendo o contrário quando se reduz o preço.

3 Além do preço existem outros fatores que podem influenciar a DEMANDA. Cite e comente três deles, considerando um exemplo do seu dia a dia.

4 Explique porque é tão importante para as empresas entenderem a DEMANDA.

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TÓPICO 2

A QUESTÃO DAS PREFERÊNCIAS

DO CONSUMIDOR

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Basta olharmos para nosso cotidiano que podemos perceber que os consumidores têm preferências diferentes. Tomando como base nosso exemplo do restaurante, é fácil de constatar que cada indivíduo tem uma preferência por determinado tipo de alimentação, ou ainda de uma combinação de certos alimentos.

Alguns consumidores gostam da tradicional “comidinha caseira”, outros mais sofisticados preferem os sabores da comida francesa! Alguns tomam refrigerante durante a refeição, outros tomam suco de frutas, e ainda há os que bebem somente água. Poderíamos aprofundar ainda mais: certos consumidores gostam de comidas bem temperadas, outros preferem apenas o tempero básico.

A Teoria da Preferência do Consumidor está baseada no pressuposto básico de que os indivíduos como consumidores agem de modo racional em busca de seu objetivo de maximizar a sua satisfação; e para isso vão adquirir em algum momento uma determinada combinação de bens e serviços.

Já podemos notar, então, que tratar de preferências, ou gostos como apontam alguns autores, não é um assunto limitado.

Mas como a economia vai lidar com algo tão subjetivo? Afinal, os consumidores são diferentes e gostam de coisas diferentes!

Para enfrentar tal desafio os economistas elencaram três pressupostos básicos sobre a preferência do consumidor típico:

• Integralidade (as preferências são completas): todo consumidor tem a capacidade (racionalidade) de ordenar suas preferências. Isto quer dizer o seguinte: entre a possibilidade de escolher comida caseira ou comida francesa, alguns preferem comida caseira e outros escolhem a comida francesa, ou ainda alguns são indiferentes. A economia considera que o consumidor é indiferente quando as duas opções são igualmente satisfatórias.

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UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

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• Transitividade ou lógica consistente: existe consistência na capacidade de ordenar as preferências. Exemplo: se um determinado consumidor prefere comida caseira mais do que comida francesa, e de comida francesa mais do que comida italiana, é lógico pensar que ele prefere comida caseira à comida italiana.

• Monotonicidade ou não saciedade (aspiração): todas as mercadorias são boas e desejáveis. Mais de um bem é melhor que menos. Em outras palavras: “se tivermos acesso a mais de um bem ou serviço e nada mais nos for tirado, nós nos sentiremos geralmente melhor” (HALL; LIEBERMAN, 2003, p. 150). Exemplo: se o consumidor puder escolher entre uma viagem de turismo ao exterior ou duas viagens de turismo ao exterior; ele escolherá a última opção. Aqui vale lembrar, como contraponto, do conceito de utilidade marginal decrescente que vimos anteriormente. Pois, não são poucos os bens que um consumidor pode realmente querer de forma indeterminada.

Tendo considerado estas premissas básicas sobre a preferência, ou gosto, dos consumidores com relação à existência de cestas de produtos, é importante que conheçamos como representar estas preferências.

Para isso vamos conhecer a curva da indiferença.

2 CURVA DA INDIFERENÇA

Uma curva de indiferença nada mais é do que a representação gráfica de um conjunto de cestas de consumo indiferentes para o consumidor, ou seja, cestas que trazem a mesma satisfação.

Sendo assim, é correto interpretar que a curva da indiferença identifica as várias combinações de bens e/ou serviços aos quais o consumidor é indiferente (BROWNING; ZUPAN, 2004).

Vasconcellos (2011, p. 34) define assim a curva da indiferença:

A curva de indiferença é um instrumental gráfico que serve para ilustrar as preferências do consumidor. E o lugar geométrico de pontos que representam diferentes combinações de bens que dão ao consumidor o mesmo nível de utilidade. Dessa forma, estamos analisando diferentes cestas de bens que o consumidor está disposto a adquirir, dado determinado nível de utilidade ou bem-estar.

Ainda na visão desse mesmo autor e de outros, como Browning e Zupan (2004) a curva da indiferença apresenta algumas características básicas:

• Inclinação negativa: devido à necessidade de manter o mesmo nível de bem-estar, ao aumentar o consumo de um bem determinado, necessitamos reduzir

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TÓPICO 2 | A QUESTÃO DAS PREFERÊNCIAS DO CONSUMIDOR

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o consumo de outro, que assim é substituído. Por isso, a inclinação da curva de indiferença recebe o nome de Taxa Marginal de Substituição (TMS) e representa a taxa de troca de um bem por outro que mantém o mesmo nível de bem-estar.

• Convexidade em relação à origem: a taxa marginal de substituição vai diminuindo à medida que aumenta a quantidade de um bem e reduzimos a quantidade do outro bem. Isso é consequência da menor capacidade de substituir um bem pelo outro quando diminuímos as primeiras e aumentamos a segunda. Isso é devido à lei da utilidade marginal decrescente, mostrada anteriormente.

• As curvas de indiferença mais distantes da origem do gráfico representam cestas de mercadorias mais desejadas, e curvas de indiferença mais próximas à origem representam cestas de mercadorias menos desejadas.

Vamos utilizar um exemplo do nosso restaurante para ilustrar a curva da indiferença.

Vamos supor que um consumidor do restaurante se mostre indiferente entre diversas combinações de salada de frutas e sorvete. O quadro a seguir apresenta uma amostra das diversas combinações possíveis.

QUADRO 10 – ALTERNATIVAS DE CESTAS DE PRODUTOS QUE O CONSUMIDOR PODE ADQUIRIR.

CESTA DE PRODUTO SORVETE (litros) SALADA DE FRUTAS (potes de

200 gramas)

A 1 33

B 1,5 19

C 2 12,5

D 2,4 9

E 3,3 6,5

F 3,6 4,3

G 6 3,3

H 7 2,1

I 8 1,5

FONTE: O autor

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UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

104

Com base nas informações do quadro anterior, podemos traçar o gráfico a seguir, onde podemos visualizar melhor as alternativas de cestas de produtos que o consumidor pode adquirir.

GRÁFICO 8 – CURVA DA INDIFERENÇA

FONTE: O autor

No eixo vertical temos a quantidade de salada de frutas. No eixo horizontal temos a quantidade de sorvete.

Cada ponto da curva representa uma possível combinação entre quantidades de sorvete e salada de frutas que satisfariam o desejo do consumidor.

Retomando a terceira característica básica da curva de indiferença, que aponta que curvas mais distantes da origem do gráfico representam cestas de mercadorias (produtos) mais desejadas, poderíamos construir uma série de outras curvas no mesmo gráfico, que representassem esse desejo dos consumidores, ou seja, um maior nível de satisfação.

Esse conjunto de curvas é chamado de mapa de curvas de indiferença.

Rossetti (2002, p. 450) define o mapa de curvas de indiferença como “um conjunto de curvas de indiferença definidas pela insaciabilidade do consumidor, onde presumivelmente a utilidade total de cada novo conjunto de combinações é superior às anteriores”.

A representação gráfica de um mapa de curvas de indiferença, do nosso exemplo de sorvetes e salada de fruta, está ilustrada no próximo gráfico.

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TÓPICO 2 | A QUESTÃO DAS PREFERÊNCIAS DO CONSUMIDOR

105

GRÁFICO 9 – REPRESENTAÇÃO DE UM MAPA DE CURVAS DE INDIFERENÇA

FONTE: O autor

Com base nas informações do gráfico anterior, podemos identificar mais uma característica das curvas de indiferença que ainda não tínhamos como verificadas: elas nunca se cruzam! Isto ocorre porque cada combinação de conjunto de bens tem um único nível de utilidade total.

A seta que aponta da origem do gráfico para a parte mais alta, indica exatamente o conceito de Rossetti apresentado anteriormente, onde as curvas de indiferença mais altas apresentam uma utilidade total superior às suas antecessoras.

Também com base no mapa de curvas de indiferença, Krugman e Wells (2007) introduzem o conceito de bens ordinários.

Bens ordinários são os pares de bens cuja representação gráfica de sua utilidade através da curva da indiferença satisfaz as quatro propriedades básicas da curva de indiferança. No mundo real são vastos a maioria dos bens com alguma utilidade para os consumidores.

3 TAXA MARGINAL DE SUBSTITUIÇÃO – TMS

Vimos que uma das características básicas da curva da indiferença é a sua inclinação negativa, ou seja, a curva está sempre no sentido descendente.

Esta inclinação negativa da curva da indiferença ao longo de qualquer um dos seus segmentos (A – B; B – C, por exemplo) nos informa qual é a taxa pela

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UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

106

qual o consumidor está disposto a trocar um bem pelo outro e ainda permanecer satisfeito, ou indiferente (HALL; LIEBERMAN, 2003).

O valor absoluto dessa inclinação é chamado de taxa marginal de substituição, e utilizamos a sigla TMS para identificá-la.

Vamos acrescentar no quadro anterior três colunas para ilustrar o conceito e também calcular a TMS. Chamaremos de novo quadro.

QUADRO 11 – CÁLCULO DA TAXA MARGINAL DE SUBSTITUIÇÃO (TMS)

CESTA DE PRODUTO

SORVETE(litros)

SALADADE FRUTAS

(potes de 200 gramas)

VARIAÇÃO NA QUANTIDADE

DESORVETE

VARIAÇÃO NA QUANTIDADE

DESALADA DE

FRUTAS

TMS

A 1 33 --- ---- ----B 1,5 19 0,5 - 14 28C 2 12,5 0,5 - 6,5 13D 2,4 9 0,4 - 3,5 8,75E 3,3 6,5 0,9 - 2,5 2,77F 3,6 4,3 0,3 - 2,2 7,33G 6 3,3 2,4 - 1 0,4H 7 2,1 1 - 0,9 0,9I 8 1,5 1 - 0,6 0,6

FONTE: O autor

Os cálculos do quadro anterior são feitos da seguinte forma:

• O cálculo da variação da quantidade de cada bem resulta da diferença entre cada ponto. Exemplo: no ponto A temos 1 litro de sorvete e posteriormente no ponto B 1,5 litros, ou seja, houve um incremento de consumo de 0,5. Também no ponto A, só que para a salada de fruta, temos 33 potes e no ponto B esse valor foi reduzido para 19, isto é uma redução de 14 unidades.

• A TMS é calculada dividindo-se o valor da variação da quantidade de salada de frutas pela variação da quantidade de sorvete: 14 / 0,5 = 28

Empregando o gráfico a seguir, podemos então visualizar o significado da TMS.

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TÓPICO 2 | A QUESTÃO DAS PREFERÊNCIAS DO CONSUMIDOR

107

GRÁFICO 10 – IDENTIFICAÇÃO DA TMS NA CURVA DA INDIFERENÇA

FONTE: O autor

Resumindo, a TMS nos informa a redução necessária da quantidade de salada de frutas necessária para que possa ocorrer um incremento no consumo de sorvete, a fim de manter o consumidor indiferente – satisfeito – à alteração.

4 SUBSTITUTOS PERFEITOS E COMPLEMENTOS PERFEITOS

Um dos empregos da técnica de análise da preferência do consumidor através da curva da indiferença é a de obter a percepção entre bens substitutos perfeitos e bens complementares perfeitos.

Segundo Browning e Zupan (2004. p. 39), “o formato da curva de indiferença em geral indica a disposição dos consumidores por substituir um bem por outro e permanecer igualmente satisfeito”.

A substituição de um bem pelo outro se dá basicamente em função da questão do preço, ou seja, a demanda (procura) de um bem é afetada pela variação de preço de outro.

Vejamos um exemplo:

Considerando apenas o preço, você pode facilmente substituir o consumo de suco de laranja por suco de pêssego, se o preço do suco de laranja ultrapassar sua expectativa. O mesmo é verdadeiro se o suco de pêssego ficar muito mais caro

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UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

108

do que o suco de laranja. Então, o suco de laranja e o suco de uva são substitutos perfeitos.

Nesse caso as curvas de indiferença são retas, pois existe apenas um único preço relativo que o consumidor está disposto a pagar para adquirir ambos os bens. A TMS nesse caso é constante (BESANKO; BRAEUTIGAM, 2004).

A representação gráfica da curva de indiferença seria:

FIGURA 13 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA CURVA DE INDIFERENÇA PARA SUBSTITUTOS PERFEITOS

FONTE: VARIAN, Hal R. Microeconomia: princípios básicos. Rio de Janeiro: Campus, 2003. xxvi, 778 p, il.

Contudo, se você somente consome café com leite, e o preço do leite aumentar muito, por qual outro bem ele poderá ser substituído? Nenhum! Então nesse caso, café e leite são complementares perfeitos.

Quando dois bens são complementares perfeitos, o consumidor deseja consumir os dois bens na mesma proporção – ou em proporções muito parecidas –, como por exemplo, a famosa média com leite.

x2

x1

Curvas de indiferença

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TÓPICO 2 | A QUESTÃO DAS PREFERÊNCIAS DO CONSUMIDOR

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FIGURA 14 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA CURVA DE INDIFERENÇA PARA COMPLEMENTARES PERFEITOS

FONTE: VARIAN, Hal R. Microeconomia: princípios básicos. Rio de Janeiro: Campus, 2003. xxvi, 778 p, il.

x2

x1

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110

RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico você viu que:

• A teoria da preferência do consumidor está baseada no pressuposto básico de que os indivíduos como consumidores agem de modo racional em busca de seu objetivo de maximizar a sua satisfação; e para isso vão adquirir em algum momento uma determinada combinação de bens e serviços.

• A curva de indiferença é um instrumental gráfico que serve para ilustrar as preferências do consumidor frente a uma combinação de bens e serviços.

• As curvas de indiferença de um consumidor exibem as cestas de bens que fornecem o mesmo nível de satisfação. Assim, todos os pontos sobre elas são cestas que o consumidor considera indiferente.

• Os três pressupostos básicos sobre a preferência do consumidor típico são: 1) Integralidade ou completa: todo consumidor tem a capacidade (racionalidade) de ordenar suas preferências; 2) Transitividade ou lógica consistente: existe consistência na capacidade de ordenar as preferências; e 3) Monotonicidade ou não saciedade: mais de um bem é melhor que menos. Em outras palavras: “se tivermos acesso a mais de um bem ou serviço e nada mais nos for tirado, nós nos sentiremos geralmente melhor” (HALL; LIEBERMAN, 2003, p. 150).

• As características básicas da curva de indiferença são: nunca se cruzam, inclinação negativa, convexidade em relação à origem: a taxa marginal de substituição vai diminuindo à medida que aumenta a quantidade de um bem e reduzimos a quantidade do outro bem, e as curvas de indiferença mais distantes da origem do gráfico representam cestas de mercadorias mais desejadas, e curvas de indiferença mais próximas à origem representam cestas de mercadorias menos desejadas.

• Considerando uma cesta com dois produtos, a TMS nos informa a redução necessária da quantidade de um desses bens necessária para que possa ocorrer um incremento no consumo do outro bem, a fim de manter o consumidor indiferente – satisfeito – à alteração.

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AUTOATIVIDADE

1 Defina o que representa a CURVA DE INDIFERENÇA.

2 Descreva brevemente os três pressupostos básicos sobre a preferência do consumidor típico.

3 Dentre as quatro características básicas das CURVAS DE INDIFERENÇA, podemos identificar:

a) ( ) Nunca se cruzam e apresentam inclinação negativa.b) ( ) Cruzam-se na origem e apresentam inclinação neutra.c) ( ) Apresentam inclinação positiva e as mais próximas da origem

representam as combinações mais desejadas.d) ( ) Nunca se cruzam e apresentam inclinação positiva.e) ( ) Côncava em relação à origem e apresentam inclinação neutra.

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TÓPICO 3

A QUESTÃO DA RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Vamos começar esse tópico de uma forma diferente!

Para entendermos a questão da restrição orçamentária, que é uma realidade da grande maioria dos brasileiros, vamos ver alguns dados de um público nada comum: os milionários. Esse púbico movimenta um mercado bastante específico chamado de mercado de luxo.

O professor Fernando Nogueira da Costa, um dos mais respeitados economistas do Brasil, em seu blog Cidadania & Cultura, apresentou um artigo que nos proporciona entender um pouco desse mercado de luxo.

Vamos ver alguns dados?

As primeiras informações que estão sintetizadas na Figura 3 apresentam um perfil dos consumidores que compõe o mercado de luxo: quem são eles, onde estão, quanto é a sua renda, onde costumam comprar, qual é a média de consumo mensal.

Algumas constatações:

• 80% têm entre 26 e 55 anos.• O público feminino representa a maioria dos consumidores deste mercado, 58%.• A maior parte desses consumidores prefere comprar no exterior.• O gasto médio por produto ultrapassa de longe R$ 1.000,00.• A renda média desses consumidores ultrapassa facilmente os R$ 10.000,00/mês.

Já a figura a seguir, ilustra a evolução do faturamento do mercado de luxo no Brasil entre os anos de 2006 e 2010. O crescimento é muito representativo! Se compararmos 2010 com 2006 o incremento de mercado foi de aproximadamente 195%.

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UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

FIGURA 15 – PERFIL DOS CONSUMIDORES DO MERCADO DE LUXO NO BRASIL, NOS ANOS DE 2009 E 2010

FONTE: MCF Consultoria.

Cidades mais promissoras fora do eixo Rio-São Paulo (em %)

Cidades onde o mercado mais se expandiu e vai se expandir (em %)

Perfil do consumidor de luxo

Quantos anos tem? (em%)

Quanto em média gasta por produto (em%)

Quanto ganha por mês em média (em%)

Onde costuma comprar (em %) Sexo (em %)

53% Brasília7% Curitiba7% Porto Alegre6% Salvador4% Recife4% Belo Horizonte3% Ribeirão Preto10% Nenhuma Outra

33% entre 26 e 35 anos30% entre 36 e 45 anos17% entre 46 e 55 anos15% até 25 anos5% 56 anos ou mais

24% de R$ 501 a R$ 1 mil23% de R$ 1.001 a R$ 2 mil21% até R$ 50020% mais de R$ 3 mil12% de R$ 2.001 a R$ 3 mil

31% acima de R$ 16.60026% até R$ 6.22524% de R$ 10.376 a R$ 16.60019% de R$ 6.226 a R$ 10.375

200969562211

55% exterior45% Brasil

58% mulher42% homem

São PauloRio de JaneiroBrasíliaBelo Horizonte

201054393031

O MERCADO DE LUXO NO BRASIL

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TÓPICO 3 | A QUESTÃO DA RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA

115

Finalmente no gráfico a seguir, nos informa a motivação para as compras em percentuais. Você notou que o menor percentual é exatamente a questão do preço? Incrível não é?

GRÁFICO 11 – EVOLUÇÃO DO FATURAMENTO DO MERCADO DE LUXO NO BRASIL ENTRE OS ANOS DE 2006 E 2010

FONTE: MCF Consultoria e GFK Brasil.

GRÁFICO 12 – MOTIVAÇÃO PARA AS COMPRAS

FONTE: MCF Consultoria e GFK Brasil.

Observando as informações acima, podemos claramente perceber que é um mercado diferente!

O que nos interessa nesse tópico é a questão da renda, que por sua vez vai determinar a capacidade de consumo das unidades familiares.

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116

UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

Então vamos à realidade? A renda média do brasileiro em 2010, segundo o IBGE, era de R$ 1.400,00/mês, ou seja, R$ 16.800,00/ano. Trata-se de uma diferença enorme, não é? O que uma minoria ganha no mês de renda, a grande maioria leva 01 ano para conseguir.

O mercado de luxo é impressionante com seus US$ 7,6 bilhões (cerca de R$ 15 bilhões, se considerarmos US$ 1.00 = R$ 2,00) de faturamento em 2010. Contudo, o faturamento de todos os mercados no Brasil, no mesmo período, foi de R$ 3,675 trilhões, segundo o IBGE.

Sendo assim, é muito importante para as empresas saberem lidar com o problema da restrição orçamentária, que impede que a maioria dos consumidores comprem os produtos e serviços que têm necessidade ou desejo.

O efeito da restrição orçamentária sobre a demanda é direto.

Nós vimos anteriormente a curva da indiferença. Se os consumidores pudessem escolher livremente quanto comprar de cada mercadoria, que compõe uma cesta de produtos, escolheriam consumir uma quantidade infinita de cada uma. Contudo, não existe a possibilidade disto ocorrer, já que cada mercadoria tem seu preço e os consumidores têm uma renda limitada. Essa renda limitada impossibilita o consumidor de adquirir as quantidades que ele desejaria de cada mercadoria.

Bensanko e Braeutigam (2004, p. 75) apontam que a restrição orçamentária “define o conjunto de cestas (cestas de produtos) que um consumidor pode comprar com um montante limitado de renda”.

Portanto, as decisões que os consumidores venham a tomar geram um forte impacto sobre toda a economia e sobre a riqueza gerada por empresas e instituições. Em nosso exemplo inicial, o do restaurante, a decisão do consumidor em almoçar fora ou não, tem efeitos sobre a viabilidade financeira do restaurante, sobre o emprego dos funcionários do restaurante, sobre a arrecadação de impostos do município etc.

Desse modo, é muito importante verificarmos quais são os efeitos da restrição orçamentária sobre a demanda.

A microeconomia usa um modelo matemático simplificado para debater este assunto que é considerado de bastante complexidade: considerando sua renda ou (orçamento), como as unidades familiares – consumidores – elegem os bens e/ou serviços que desejam ou necessitam consumir?

Antes de ver o modelo, devemos considerar que a questão proposta acima tem na verdade dois lados: o primeiro relativiza as preferências individuais – o que eu necessito ou desejo consumir? –; e o segundo que avalia a renda (orçamento), isto é, levando em consideração sua renda, o que é possível aos consumidores comprar?

Nesse tópico vamos considerar apenas a questão da disponibilidade de renda.

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TÓPICO 3 | A QUESTÃO DA RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA

117

Nosso intuito é então entender como a renda do consumidor e os preços que devem ser pagos por vários bens limitam as escolhas.

O modelo matemático que utilizaremos para entender o efeito da restrição orçamentária considera a existência de apenas dois bens na cesta de produtos.

Vamos manter os mesmos produtos do exemplo da curva da indiferença – sorvete e salada de frutas – mas vamos agora alterar os dados de quantidade. O cardápio do restaurante aponta que o preço de cada sorvete é de $ 6,00 e o preço da salada de frutas é de $ 2,00.

A renda hipotética do consumidor é de $ 60,00.

O quadro a seguir apresenta a combinação de consumos alternativos de sorvete e salada de frutas considerando a renda do consumidor.

QUADRO 12 – CONSUMOS ALTERNATIVOS DE SORVETE E SALADA DE FRUTAS

CESTA DE PRODUTOS

QUANTIDADE DE SORVETE

DESPESA COM

SORVETE $

QUANTIDADE DE SALADA DE FRUTAS

DESPESA COM

SALADA DE FRUTAS $

DESPESA TOTAL

A 10 60,00 0 0,00 60,00B 8 48,00 6 12,00 60,00C 6 36,00 12 24,00 60,00D 4 24,00 18 36,00 60,00E 2 12,00 24 48,00 60,00F 0 0,00 30 60,00 60,00

FONTE: O autor

O gráfico a seguir ilustra a linha ou reta de orçamento.

GRÁFICO 13 – REPRESENTAÇÃO DA LINHA OU RETA DE ORÇAMENTO

FONTE: O autor

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118

UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

No eixo vertical temos a quantidade de sorvete, e no eixo horizontal a quantidade de salada de frutas.

Assim, a restrição orçamentária pode ser analisada, segundo Mochón Morcillo (2006), mediante a linha ou reta de orçamento, que mostra as combinações máximas de sorvete e salada de frutas que o consumidor pode comprar, considerando sua renda e os preços dos bens.

Pode-se notar que o consumidor precisa decidir a combinação que deseja, sacrificando um bem ou outro para manter-se dentro de sua renda. Por exemplo, no ponto B, o consumidor sacrificou duas unidades de sorvetes para ter o direito de consumir 6 unidades de saladas de frutas.

Ocorrendo variação na renda do consumidor, seja ela um incremento de renda ou uma redução, a linha ou reta de orçamento teria um novo desenho, com uma nova inclinação.

Vamos testar? Hipoteticamente a renda do consumidor sofre um incremento e passa então de $ 60,00 para $ 120,00. Os preços dos produtos ficam mantidos.

QUADRO 13 – CONSUMOS ALTERNATIVOS DE SORVETE E SALADA DE FRUTAS

CESTA DE PRODUTOS

QUANTIDADE DE SORVETE

DESPESA COM

SORVETE $

QUANTIDADE DE SALADA DE

FRUTAS

DESPESA COM SALADA DE FRUTAS $

DESPESA TOTAL

A 20 120,00 0 0,00 120,00B 16 96,00 12 24,00 120,00C 12 72,00 24 48,00 120,00D 8 48,00 36 72,00 120,00E 4 24,00 48 96,00 120,00F 0 0,00 60 60,00 120,00

FONTE: O autor

A nova linha ou reta de orçamento fica assim dimensionada.

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TÓPICO 3 | A QUESTÃO DA RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA

119

GRÁFICO 14 – REPRESENTAÇÃO DA LINHA OU RETA DE ORÇAMENTO COM NOVA RENDA

FONTE: O autor

Conclusão: qualquer alteração na renda do consumidor ou nos preços causará um deslocamento na reta orçamentária.

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UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

CRESCIMENTO DA RENDA AUMENTA DEMANDA POR ALIMENTOS

Nos últimos cinco anos a renda aumentou em 8,6%. População está consumindo mais produtos, como carnes e derivados do leite.

A renda dos brasileiros aumentou nos últimos cinco anos 8,6% e como consequência disso houve o crescimento da demanda por alimentos. De acordo com o levantamento da Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) a população está consumindo mais alimentos com maior valor agregado, como carnes e derivados do leite, além de bebidas, como cerveja e vinho.

Segundo o coordenador de Planejamento Estratégico da pasta, José Garcia Gasques, a tendência é de que o aumento do consumo continue na próxima década.

“Produtos básicos, como arroz e feijão, devem ter o crescimento do consumo associado ao aumento da população. Essa demanda tem crescido por volta de 1% ao ano, pouco abaixo do crescimento populacional do país. No entanto, outros com maior valor agregado serão ainda mais buscados no mercado devido ao maior poder aquisitivo dos brasileiros”, explica.

Entre os alimentos industrializados que ampliaram as vendas nos últimos cinco anos estão: carne de frango, com alta de 1,87% ao ano (a.a.); carne bovina, 2,77% a.a.; leite de vaca, 2,29% a.a.; iogurte, 2,97% a.a.; azeite, 3,06% a.a.; e queijo, 3,52% a.a. Entre as bebidas, destaque para a cerveja (3,85% a.a.), vinho (3,2% a.a.) e cachaça (2,11% a.a.).

“A continuidade do aumento da renda dos brasileiros na próxima década deve manter a média de crescimento do consumo desses produtos”, destaca Gasques. Segundo dados do Ipeadata, a renda per capita dos brasileiros tem aumentado a uma taxa anual de 1,72% em cinco anos, passando de US$ 10,69 mil em 2008 para US$ 11,61 mil em 2012.

FONTE: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 14 out. 2013. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2013/10/crescimento-da-renda-aumenta-demanda-por-alimentos>. Acesso em: 15 jan. 2014.

LEITURA COMPLEMENTAR

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico você viu que:

• Os economistas apontam que a restrição orçamentária, ou seja, um valor limitado de renda acaba por definir o conjunto de cestas que um determinado consumidor pode adquirir com vistas a satisfazer suas necessidades e/ou desejos.

• As decisões que os consumidores venham a tomar geram um forte impacto sobre toda a economia e sobre a riqueza gerada por empresas e instituições.

• Linha ou reta de orçamento mostra as combinações máximas de bens e serviços que o consumidor pode comprar, considerando sua renda e os preços desses bens e serviços.

• Qualquer alteração na renda do consumidor ou nos preços causará um deslocamento na reta orçamentária.

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AUTOATIVIDADE

1 Explique com suas palavras como a restrição orçamentária afeta a escolha do consumidor.

2 Utilizando o exemplo do caderno, que envolve a aquisição de sorvete e porções de salada de frutas, reconstrua a tabela e o gráfico da RETA DE ORÇAMENTO, considerando que o consumidor teve a sua renda reduzida para $ 40,00.

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TÓPICO 4

A QUESTÃO DA ESCOLHA

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Agora que adquirimos conhecimento a respeito da utilidade, dos gostos ou preferências dos consumidores e da restrição orçamentária, podemos aprofundar nossos estudos verificando como estes fatores podem influenciar no processo de decisão de consumo de um indivíduo ou unidade familiar.

Em outras palavras, vamos combinar nossos conhecimentos a respeito das preferências do consumidor como a restrição orçamentária com o intuito de determinar e interpretar as escolhas do consumidor, isto é, como as pessoas decidem o que comprar.

Esse ato de combinar preferências e restrição orçamentária advém do fato de que isoladamente, nem uma nem outra são capazes de explicar por que os consumidores fazem certas escolhas.

Portanto, os instrumentos que vamos utilizar nesse processo são:

• As curvas de indiferença que representam as preferências do consumidor, considerando a existência de várias combinações de produtos dentro de uma cesta.

• A linha ou reta de orçamento que mostra quais cestas de produtos o consumidor pode adquirir em virtude de sua renda limitada.

Esta é a teoria da escolha.

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124

UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

2 TEORIA DA ESCOLHA

Basicamente, esta teoria aborda e examina a situação de conflito de escolhas em que todas as pessoas, como consumidores, se encontram diariamente. Em economia essa situação é conhecida por uma expressão específica na língua inglesa: tradeoff.

Assim, os tradeoffs que o consumidor enfrentará no seu dia a dia podem ser traduzidos como uma decisão que implicará, necessariamente, deixar de lado uma situação em favor de outra que gerará maior satisfação.

Nosso exemplo da Unidade 1, o exemplo do restaurante, é uma situação de tradeoff.

Suponhamos que o consumidor, por questões de maximizar seu tempo, decidiu ir almoçar no restaurante. Chegando lá, nosso consumidor já se depara com um novo tradeoff: o garçom lhe entrega o cardápio para que escolha o prato. Mesmo que não queiramos reconhecer, o que olhamos em primeiro lugar é o preço! Todos nós somos assim, independentemente de nossa renda. Para decidir racionalmente o consumidor precisa de informações: composição/descrição do que vem no prato e o preço! Mesmo que o restaurante seja no formato de buffet a decisão de quanto colocar no prato precisa ser feita, inclusive em função da variedade de comidas à disposição.

No caso de escolhermos pelo cardápio, fica claro que o preço do prato é um fator decisivo, mas também o consumidor fará comparações de preço entre as diversas opções. Além disso, o consumidor tem suas preferências ou gostos.

Mesmo ponderando que nós todos somos diferentes uns dos outros com relação a gostos ou preferências e restrições orçamentárias, no geral somos todos muito semelhantes. Em primeiro lugar todos nós, como consumidores, queremos obter um nível ótimo de satisfação quando temos alguma necessidade, desejo. Em segundo lugar, no momento de satisfazer nossas necessidades ou desejos, todos nós enfrentamos restrições, sejam elas orçamentárias ou de falta de tempo.

Deste modo, podemos identificar como sendo o centro conceitual da teoria do consumidor o princípio de que a decisão dos agentes econômicos resulta de uma comparação entre o benefício da sua ação - o ganho de bem-estar que origina – com o custo de concretizá-la – o dispêndio de recursos escassos disponíveis.

Com relação ao ganho de bem-estar, Oliveira (2006, p. 176) argumenta que “a questão da utilidade nos permite mensurar o nível de satisfação que um consumidor alcança, em decorrência do consumo de um determinado bem ou serviço”.

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TÓPICO 4 | A QUESTÃO DA ESCOLHA

125

Esta afirmação de Oliveira desperta uma curiosidade natural: o conceito de utilidade foi basicamente traçado com base em apenas “um determinado bem ou serviço”, ou seja, é uma simplificação do mundo real. Contudo, é notório que no mundo real o consumidor pode ter a sua necessidade satisfeita com outros produtos ou serviços.

Portanto, é adequado que consideremos a disponibilidade de outras opções, isto é, um conjunto de mercadorias. O conjunto de mercadorias – bens e serviços – que cada consumidor está disposto a adquirir com o objetivo se maximizar sua satisfação é denominado de cesta de produtos ou cesta de mercado.

3 A ESCOLHA ÓTIMA

Na visão de Besanko e Braeutigam (2002, p 79), considerando que as escolhas do consumidor são racionais, é plausível que “se conhecemos as preferências e a restrição orçamentária do consumidor, podemos determinar a quantidade ótima de cada bem que deve ser comprado”.

A quantidade ótima que o consumidor tem a intenção de adquirir reflete então uma escolha ótima.

Besanko e Braeutigam (2002, p. 79) argumentam que a escolha ótima “significa que o consumidor escolhe uma cesta de produtos que maximiza sua satisfação (utilidade) e, ao mesmo tempo, permite que ele viva dentro de sua restrição orçamentária”.

Lembrando-se da formatação da linha ou reta orçamentária e da curva da indiferença, essa definição de Besanko e Braeutigam aponta para um encontro ou intersecção entre as duas figuras.

Utilizando nosso exemplo, do sorvete e da salada de fruta, podemos então encontrar a escolha ótima traçando a combinação da reta orçamentária e a curva da indiferença – representada em gráficos anteriormente.

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UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

GRÁFICO 15 – REPRESENTAÇÃO DA ESCOLHA ÓTIMA

FONTE: O autor.

No eixo vertical temos a quantidade de sorvete, e no eixo horizontal a quantidade de salada de frutas.

O ponto A mostra exatamente o cruzamento da linha orçamentária e a curva da indiferença, e localiza no gráfico a escolha ótima.

Para efeito de comparação, o ponto B sobre a curva da indiferença, também representa um ponto de satisfação do consumidor, contudo não respeita a limitação orçamentária do mesmo.

Se o consumidor maximiza a satisfação (utilidade) obedecendo a sua restrição orçamentária, ele escolherá a cesta que lhe permite alcançar a parte mais alta da curva da indiferença sobre a linha de restrição orçamentária.

Por último, quando abordamos a curva da indiferença nós aprendemos que na verdade temos um mapa de curvas de indiferença, e isso nos permite identificar vários conjuntos de combinações dos mesmos bens que satisfazem o consumidor.

Assim, se houver uma variação na renda do consumidor, o que afetará sua linha orçamentária, uma nova escolha ótima será identificada, pois o deslocamento desta linha para cima ou para baixo acabará por tangenciar uma dessas curvas de indiferença.

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RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico você viu que:

• A teoria da escolha aborda e examina a situação de conflito de escolhas em que todas as pessoas, como consumidores, se encontram diariamente. Em economia essa situação é conhecida por uma expressão específica na língua inglesa: tradeoff.

• Para interpretar as escolhas dos consumidores podemos combinar dois instrumentos: 1) As curvas de indiferença que representam as preferências do consumidor considerando a existência de várias combinações de produtos dentro de uma cesta e a linha ou reta de orçamento que mostra quais cestas de produtos o consumidor pode adquirir em virtude de sua renda limitada.

• Escolha ótima representa uma cesta de produtos, escolhida pelo consumidor, que reflete a maximização de sua satisfação (utilidade), ao mesmo tempo em que respeita a sua restrição orçamentária.

• A escolha ótima pode ser identificada graficamente pela combinação das representações gráficas das curvas de indiferença e da linha ou reta de orçamento, sendo localizada na intersecção de ambas.

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AUTOATIVIDADE

1 O que significa em Economia a expressão TRADEOFF.

2 Enumere algumas escolhas que você precisa fazer diariamente e para cada uma delas aponte em termos numéricos a combinação dos bens envolvidos e a sua restrição orçamentária.

3 O que representa a ESCOLHA ÓTIMA?

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TÓPICO 5

A QUESTÃO DA ELASTICIDADE

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Nós podemos observar, no decorrer dessa unidade, que a demanda por um determinado bem é sensível ao seu preço.

Na verdade, nossa primeira aproximação da curva da demanda considerava apenas a variação de preço como causa da variação das quantidades procuradas, conforme afirma a lei da demanda.

Contudo, nós não consideramos que os diferentes tipos de bens e serviços apresentam sensibilidades diferentes à variação de preço.

Rossetti (2002) chama a nossa atenção para esta questão argumentando que, na realidade, cada produto, ou pelo menos cada família de produto, tem uma curva da demanda que lhe é própria ou característica, diferindo da curva de outros produtos em virtude de sua sensibilidade da quantidade procurada em relação ao preço.

O autor adicionalmente expõe que para certos produtos uma pequena variação no preço pode provocar alterações bastante acentuadas na demanda. Já para outros produtos pode ocorrer exatamente o contrário, isto é, mesmo que ocorram variações expressivas no preço, não se registram modificações acentuadas nas quantidades procuradas. Além disso, é lógico que ocorram variações diretamente proporcionais entre o preço e a quantidade procurada.

Sendo assim, podemos entender a questão da elasticidade como um grau de reação ou sensibilidade de um produto ou de uma família de produtos à variação de seu preço.

O conceito de elasticidade é de suma importância para a previsão de faturamento e de resultados para as empresas, pois permite, sob certas circunstâncias, estimar as prováveis reações dos consumidores frente à variação de preço de bens e serviços.

Neste tópico vamos então entender como se dá esse processo.

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UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

2 ELASTICIDADE-PREÇO DA PROCURA

A elasticidade-preço da demanda é a variação percentual de quantidade da demanda de um determinado bem ou serviço, para cada unidade de variação percentual no preço desse mesmo bem ou serviço.

Vasconcellos e Garcia (2010) argumentam que os economistas costumam classificar as curvas de demanda de acordo com o grau de elasticidade, podendo ser basicamente de três tipos: demanda elástica, demanda inelástica e elasticidade unitária.

Matematicamente, define-se elasticidade-preço da demanda como:

Variação percentual da quantidade procuradaƐ = ------------------------------------------------------------------------

Variação percentual do preço

Considerando esta fórmula matemática, podemos ter alguns resultados esperados:

• Se o resultado da equação for Ɛ = |1,0|, ou seja, hipoteticamente se a redução do preço de um bem ou serviço for de 20% e o incremento da quantidade procurada for de 20%, então se diz que este bem ou serviço apresenta uma elasticidade-preço de demanda unitária.

• Se o resultado da equação for inferior, Ɛ = |1,0|, ou seja, hipoteticamente se a redução real do preço de um bem ou serviço for de 20% e o incremento da quantidade procurada for de 15% - gerando um Ɛ = 0,5 –, então se diz que este bem ou serviço apresenta uma procura inelástica.

• Se o resultado da equação for Ɛ = 0, a alteração de preço não provoca nenhuma alteração na quantidade demandada. Neste caso, a curva da demanda está na vertical: não importa o preço, a quantidade demandada é a mesma. Dificilmente temos exemplos práticos deste cenário. Neste caso temos demanda perfeitamente inelástica. O gráfico a seguir nos traz a representação deste caso particular.

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TÓPICO 5 | A QUESTÃO DA ELASTICIDADE

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GRÁFICO 16 – REPRESENTAÇÃO DA DEMANDA PERFEITAMENTE INELÁSTICA.

FONTE: O autor.

• Por último, se o resultado da equação for Ɛ = |1,0|, ou seja, hipoteticamente se a redução real do preço de um bem ou serviço for de 20% e o incremento da quantidade procurada for de 35% - gerando um Ɛ = 1,5 –, então se diz que este bem ou serviço apresenta uma procura elástica.

3 FATORES QUE INFLUENCIAM A ELASTICIDADE-PREÇO DA PROCURA

Segundo Rossetti (2002) e Oliveira (2006), os principais fatores que influenciam o comportamento da elasticidade-preço da procura (demanda) são:

• Essencialidade do bem ou serviço: Refere-se ao grau de necessidade do bem ou serviço, isto é, quanto mais essencial for este bem ou serviço, menor é sua sensibilidade às alterações dos preços. Exemplo: medicamentos de uso contínuo, como, por exemplo, para cardíacos. Mesmo que o preço do remédio aumente, sua demanda deve se manter estável: procura inelástica.

• Disponibilidade de bens ou serviços substitutos: quanto maior a disponibilidade de bens ou serviços substitutos em relação aos bens e serviços analisados, mais elástica se tornará sua demanda. Isto se deve ao fato de que variações positivas no preço dos produtos analisados farão com que os consumidores os substituam por outros bens e serviços de menor preço, provocando então uma redução, mais que proporcional, de sua procura. Não havendo substitutos, a demanda tende a ser mais inelástica. Exemplo de produtos com substitutos: carnes – a bovina pode ser substituída por carne de frango, peixe ou carne suína, ou ainda por cortes de carne bovina mais baratos (carne de primeira pode ser substituída por carne de segunda). A manteiga pode ser substituída por margarina, requeijão ou geleias. Exemplos de bens sem substitutos: o sal de cozinha, óleo diesel. O sal de cozinha, além de não possuir substitutos, é também essencial.

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UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

• Importância participativa do bem ou serviço no orçamento do consumidor: quanto maior for a participação de um bem ou serviço no total do orçamento do consumidor, mais sensível ele será às alterações de preço, portanto, mais elástica ela será. Exemplo: a elasticidade-preço da demanda para a carne é maior que a do sal, pois o gasto em termos financeiros com a aquisição de carne é muito maior do que com o sal. Baixa importância torna a procura inelástica.

Segundo Rossetti (2002, p. 416), pode-se considerar o hábito como um fator também significativo, pois “a rigidez ou a flexibilidade de hábitos de consumo é também forte fator determinante da elasticidade-preço da demanda. No limite, a sustentação de hábitos que se transformam em vícios praticamente independe do preço dos bens que os satisfazem. Ex.: cigarro, hábito de leitura (inelástica)”.

4 REFLEXOS NA GESTÃO DE EMPRESAS

Com os conhecimentos adquiridos nesse Tópico 5, podemos ampliar nossa análise para as empresas, conforme sugere Oliveira (2006), abordando notadamente a questão da receita total ou faturamento.

Considerando que a receita total de uma empresa é dada pela multiplicação do preço de venda unitário de cada bem e/ou serviço comercializado vezes a quantidade comercializada desses bens ou serviços; e como vimos que a quantidade da demanda está relacionada com a elasticidade do preço do bem ou serviço, podemos concluir que a receita das empresas também será influenciada pela elasticidade.

A fórmula da Receita Total pode ser assim representada:

RECEITAL TOTAL = PREÇO DE VENDA DO BEM OU SERVIÇO X QUANTIDADE COMERCIALIZADA

De um modo geral, quanto mais consideramos um bem ou serviço necessário, mais difícil é encontrarmos um substituto e menos elástica é a demanda por este bem ou serviço.

UNI

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TÓPICO 5 | A QUESTÃO DA ELASTICIDADE

133

• Demanda de Elasticidade Unitária: ocorre quando aumentos ou reduções nos preços não alteram a receita total, uma vez que em termos percentuais a variação de preço é idêntica à variação da quantidade. Assim, um aumento de preço provoca uma diminuição na mesma proporção da demanda.

• Demanda Inelástica: uma evolução no preço, dos bens e serviços inelásticos, provocará simultânea elevação na receita, enquanto que uma redução de preço acarretará em uma redução de receitas.

• Demanda Elástica: quando uma redução no preço provoca uma elevação na receita total, considerando que o crescimento das quantidades comercializadas será maior que a redução do preço, enquanto que aumentos de preços provocarão a queda nas receitas.

5 ELASTICIDADE-PREÇO CRUZADA DA PROCURA

A elasticidade-preço cruzada da procura mede a sensibilidade do consumo de um bem a uma variação do preço de outro bem relacionado. Em outras palavras, mede a variação percentual na quantidade demandada de um bem dada uma variação percentual no preço de outro bem substituto. Por exemplo, de quanto seria o aumento na quantidade demandada de carne suína se hipoteticamente houvesse um aumento no preço da carne bovina?

Matematicamente, define-se elasticidade-preço cruzada da demanda (procura) como:

Variação percentual na quantidade procurada do bem XƐxy = ------------------------------------------------------------------------------------

Variação percentual no preço do bem Y

Com base nos possíveis resultados da relação matemática exposta acima, pode-se classificar os bens por sua relação:

• Se Ɛxy > 0 (positiva), a quantidade demandada de X acompanha a mesma direção que uma variação no preço de Y. Então X e Y são bens substitutos. Exemplo: carne bovina e carne de frango.

• Se Ɛxy < 0 (negativa), o aumento no preço de um produto diminui a demanda pelo outro, ou seja, X e Y “se movem juntos”. Os bens são complementares. Exemplo: impressoras e folhas de papel.

• Se Ɛxy = 0 (próximo de zero), os dois produtos são não relacionados. Os bens são independentes. Exemplo: automóveis e computadores.

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UNIDADE 2 | TEORIA DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

Vamos ver um exemplo?

Suponha que a quantidade demandada de um determinado bem X aumenta de 2 para 4, isto é, 100%. Paralelamente, o preço de um determinado bem Y sofreu uma variação de R$ 10,00 para R$ 15,00, ou seja, 50%.

Aplicando na fórmula:

Variação percentual na quantidade procurada do bem X 100%Ɛxy = ------------------------------------------------------------------------ = --------------- = 2

Variação percentual no preço do bem Y 50%

Portanto, os bens X e Y são substitutos.

5.1 EMPREGO DA ELASTICIDADE-PREÇO CRUZADA DA PROCURA

Na visão de Oliveira (2006), o conceito de Elasticidade-Preço Cruzada da Procura encontra grande aplicabilidade nas organizações empresariais, pois permite determinar a intensidade e os efeitos da concorrência por meio de produtos substitutos ou dos produtos complementares sobre a demanda da empresa, e assim permite traçar estratégias de mercado mais apropriadas aos objetivos estratégicos da organização.

Outra situação apontada por este autor em que o emprego da Elasticidade-Preço Cruzada da Procura tem aplicabilidade prática é que ela “permite delimitar a real participação de mercado de uma empresa em relação à cadeia de produtos ou serviços que possua substitutos” (OLIVEIRA, 2006, p. 219).

Nesse sentido, os órgãos de regulação dos países, como o Conselho Administrativo de Defesa do Consumidor (CADE) no Brasil, podem identificar a verdadeira magnitude da participação efetiva de uma empresa na cadeia produtiva ou de distribuição em um mercado. Com esse dado, esses órgãos responsáveis por julgar pedidos de aquisição e fusão podem evitar que os consumidores de um determinado mercado possam ser prejudicados, em função do surgimento de monopólios com consequente falta de concorrência; o que a priori pode significar uma política de preços mais altos para os produtos fabricados pelas empresas dominantes.

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TÓPICO 5 | A QUESTÃO DA ELASTICIDADE

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6 ELASTICIDADE-RENDA DA PROCURA (DEMANDA)

Segundo Besanko e Braeutigam (2002), a Elasticidade-renda da Procura (Demanda) mede a taxa de variação percentual da quantidade demandada com respeito à renda, mantendo-se constantes todos os demais determinantes da demanda.

De uma forma bem prática, ela mede quanto a demanda de um bem é afetada por mudanças na renda dos consumidores.

Através dela pode-se também determinar se um bem é normal – cuja demanda aumenta quando a renda aumenta –, ou inferior – cuja demanda cai quando a renda aumenta.

Sua representação matemática é dada pela fórmula:

Variação percentual na quantidade demandadaƐr = ------------------------------------------------------------------------------------

Variação percentual da renda

Para Krugman e Wells (2007), temos:

• Ɛr > 1 e positiva => Bem superior (ou bem de luxo): considerando uma variação da renda, o consumo varia mais que proporcionalmente. Exemplo: joias, casacos de pele.

• Ɛr < 1 e positiva => Bem normal: o consumo aumenta quando a renda aumenta. Exemplos: alimentos em geral, eletroeletrônicos, vestuário.

• Ɛr < 0 e negativa => Bem inferior: a demanda cai quando a renda aumenta. Exemplos: feijão e queijos.

• Ɛr = 0 => Bem de consumo saciado: variações na renda não alteram o consumo do bem. Exemplos: insulina e medicamentos de uso contínuo.

Ainda segundo esses mesmos autores, Krugman e Wells (2007), uma das aplicações da Elasticidade-renda da Procura (Demanda) é quando os economistas, empregando estimativas desta elasticidade, buscam identificar quais indústrias crescerão mais rapidamente à medida que a renda dos consumidores aumentar com o passar do tempo.

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RESUMO DO TÓPICO 5

• Diferentes tipos de bens e serviços apresentam sensibilidades diferentes à variação de preço.

• Cada produto, ou pelo menos cada família de produto, tem uma curva da demanda que lhe é própria ou característica, diferindo da curva de outros produtos em virtude de sua sensibilidade da quantidade procurada em relação ao preço.

• A elasticidade-preço da demanda é a variação percentual da quantidade da demanda de um determinado bem ou serviço, para cada unidade de variação percentual no preço desse mesmo bem ou serviço.

• Demanda Elástica: a expansão relativa das quantidades procuradas é mais do que proporcional à redução relativa dos preços.

• Demanda Unitária: a expansão relativa das quantidades procuradas é rigorosamente proporcional à redução relativa dos preços.

• Demanda Inelástica: a expansão relativa das quantidades procuradas é menos do que proporcional à redução relativa dos preços.

• O conceito de elasticidade é de suma importância para a previsão de faturamento e de resultados para as empresas, pois permite, sob certas circunstâncias, estimar as prováveis reações dos consumidores frente à variação de preço de bens e serviços.

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AUTOATIVIDADE

1 Defina Elasticidade-preço da procura e apresente a sua representação matemática.

2 O que significa um determinado bem apresentar Elasticidade-preço da procura Ɛ = 0,4?

3 O que significa um determinado serviço apresentar Elasticidade-preço da procura Ɛ = 2,5?

4 Quais são os três principais fatores que influenciam a Elasticidade-preço da demanda?

5 Qual é a importância para as empresas saberem interpretar a relação entre a receita total/faturamento e o conceito de Elasticidade-preço da demanda?

6 O coeficiente Elasticidade-renda da Procura (Demanda) de um bem é Ɛr = 1,8. Portanto podemos concluir que:

a) Trata-se de um bem de CONSUMO SACIADO.b) Trata-se de um bem INFERIOR.c) Trata-se de um bem INDESEJADO.d) Trata-se de um bem SUPERIOR.e) Trata-se de um bem NORMAL.

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UNIDADE 3

TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir desta unidade você será capaz de:

• entender os principais conceitos que envolvem a produção de bens e ser-viços;

• compreender como os custos influenciam o comportamento das unidades produtoras – empresas;

• reconhecer e interpretar a situação de Equilíbrio, e seu entorno, entre ofer-ta e demanda;

• reconhecer e diferenciar as estruturas de mercado conforme suas caracte-rísticas básicas.

Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada um deles você encontrará um resumo do conteúdo e atividades que o(a) ajudarão a fixar os conhecimentos estudados.

TÓPICO 1 – TEORIA BÁSICA DA OFERTA

TÓPICO 2 – TEORIA DOS CUSTOS

TOPICO 3 – EQUILIBRIO DE MERCADO

TÓPICO 4 – ESTRUTURAS DE MERCADO

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TÓPICO 1

TEORIA BÁSICA DA OFERTA

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Com base no esquema apresentado pela Figura 9 da unidade anterior, o estudo da Microeconomia, segundo Vasconcellos (2011), pode ser dividido em cinco grandes blocos:

I. Teoria da Demanda (procura): onde são abordadas a Teoria do Consumidor e a Demanda;

II. Teoria da Oferta: onde são abordadas a Teoria da Produção e a Teoria dos Custos de Produção;

III. Análise das estruturas de mercado;IV. Teoria do equilíbrio geral;V. Imperfeições de Mercado: Externalidades, Bens públicos, Informação

Assimétrica.

O bloco I – Teoria do Consumidor – já foi alvo de nossa atenção na Unidade 2 deste caderno, permitindo que obtivéssemos conhecimento sobre seu comportamento através do estudo das preferências ou gostos e da restrição orçamentária. Foram empregadas representações matemáticas – gráficos, fórmulas, equações – que como vimos fornecem informações relevantes para que gerentes e/ou empresários possam tomar decisões empresarias.

Portanto, precisamos dar conta dos outros quatro blocos nesta última unidade. Vamos começar pela Teoria Básica da Oferta que estuda basicamente como as empresas utilizam com eficiência os Fatores de Produção disponíveis e fornecem bens e serviços aos consumidores; e evoluir paulatinamente até atingir nosso objetivo.

Vale a pena ressaltar que no mundo real temos ainda mais dois agentes econômicos: o Estado e o resto do mundo. A inclusão desses dois agentes no fluxo circular de renda se dará quando estudarmos Macroeconomia, em outro caderno de estudos.

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

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Individual e Oferta de Mercado. Dentro da análise da oferta da firma, são abordadas a Teoria da Produção, que analisa as relações entre quantidades físicas entre o produto e os fatores de produção, e a Teoria dos Custos de Produção, que incorpora, além das quantidades físicas, os preços dos insumos.

A análise das estruturas de mercado: a partir da demanda e da oferta de mercado, são determinados o preço e a quantidade de equilíbrio de um dado bem ou serviço. O preço e quantidade, entretanto, dependerão da particular forma ou estrutura desse mercado, ou seja, se ele é competitivo, com muitas empresas produzindo um dado produto, ou concentrado em poucas ou em uma única empresa.

FONTE: <http://passeidireto.com/arquivo/964503/apostila-empresas-e-negocios/4>. Acesso em: 14 jan. 2014.

2 TEORIA BÁSICA DA OFERTA

Na primeira unidade deste caderno de estudos nós tivemos a oportunidade de conhecer um modelo empregado pela Economia para entender o mundo real chamado de fluxo circular de renda, que está representado na Figura 8 da Unidade 1.

Neste modelo, considerando uma economia fechada e sem governo, verificamos que dois agentes econômicos interagiam: as unidades familiares ou consumidores e as empresas ou produtores.

Os consumidores nós estudamos na Unidade 2 com a Teoria do Consumidor.

Portanto, agora nos resta abordar as empresas ou produtores. E isso se dará através da Teoria da Oferta, também chamada de Teoria da Produção e do Custo.

Para Oliveira (2006, p. 224) de forma resumida podemos distinguir essas duas teorias da seguinte forma:

Teoria da Produção: preocupa-se com a relação técnica ou tecnológica entre os fatores de produção e a quantidade física de produtos finais. Teoria dos Custos: preocupa-se em relacionar a quantidade física com os preços dos fatores de produção [...] preços dos insumos envolvidos.

Assim, podemos dizer que nosso foco estará direcionado para o comportamento das empresas como entidades ou organizações cujo principal objetivo é obter lucro – considerando um sistema econômico capitalista, (Duvidas? Rever na Unidade 1 o Tópico 3 intitulado Sistemas Econômicos)

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TÓPICO 1 | TEORIA BÁSICA DA OFERTA

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através da combinação dos fatores de produção, que por sua vez gerarão bens e serviços demandados (procurados) pelos consumidores.

Você lembra que na Unidade 2 estudamos que os consumidores decidem o que e quanto comprar com suas rendas limitadas. Nesta Unidade veremos como os produtores – empresas – decidem o que, quanto e como produzir com seus recursos limitados.

Portanto a oferta representa os planos das empresas em oferecer bens e serviços ao mercado em função dos preços de mercado. Considera-se que, como os consumidores, as empresas são racionais, isto é, produzem e buscam o lucro máximo, dentro da restrição de custos de produção.

Rossetti (2002, p. 420) define assim a oferta: “A oferta de determinado produto é determinada pelas várias quantidades que os produtores estão dispostos e aptos a oferecer no mercado, em função de vários níveis possíveis de preços, em dado período de tempo.”

Nosso exemplo inicial do restaurante agora até um novo enfoque:

passaremos a olhar o lado do proprietário do restaurante. Ele que é chamado por muitos ramos da Ciência Social – Administração, Direito, Ciências Contábeis etc. – de empresário.

Assim como os consumidores, este empresário como proprietário de um agente econômico – no caso uma empresa de fornecimento de alimentos – também enfrenta cotidianamente tradeoffs: o restaurante deve servir para seus clientes só comida caseira ou deve combinar com comida italiana ou francesa? Deve ter preços mais em conta e atrair um público com maior restrição orçamentária ou atender clientes de uma classe social mais abastada? Que tipo de estrutura deve montar para atender: uma que possibilite o atendimento conhecido como a la carte, isto é, o cliente olha o cardápio e escolhe um prato específico ou utilizar o sistema de buffet?

São muitas decisões não é? Parece muito complicado administrar um negócio. E na verdade é mesmo, pois as possibilidades tanto de sucesso, como de insucesso são muitas.

Quando olhamos a representação do fluxo circular de renda parece tão simples: a empresa paga para utilizar os fatores de produção fornecidos pelas famílias, desenvolve e comercializa bens e serviços e recebe em troca um pagamento. Mas sabemos que não é bem assim!

Então, para entender os desafios de ser empresário e constituir uma empresa para explorar determinado mercado, e como isso posteriormente afeta a Economia, vamos começar com uma série de conceitos básicos.

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

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2.1 ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS

Lembrando-nos da interação entre Economia e Direito, vamos recorrer em primeiro lugar ao ramo das Ciências Jurídicas que aborda a questão das organizações empresarias – o Direito Empresarial – para obter conceitos formais de o que é um empresário.

Desde o ano de 2002 o ramo do Direito que aborda o Empresário e a Empresa denomina-se Direito Empresarial. O conjunto de normas que regem esse assunto no direito brasileiro está aglutinado no Código Civil (CC).

Nesse conjunto de normas, no artigo 966 do Código Civil, temos uma definição bastante clara do que é empresário “Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”.

Segundo Coelho (2013), o Código Civil aponta também três características básicas de um empresário:

• Profissionalismo – pessoa natural ou jurídica que exerce com habitualidade, em nome próprio, uma atividade, extraindo dela as condições necessárias para se estabelecer e desenvolver. Pessoalidade.

• Exerce Atividade econômica – o empresário visa ao lucro. O elemento que é essencial à caracterização do empresário é a intenção de lucro e não o lucro propriamente dito, pois, caso contrário, não seriam empresariais as sociedades que tivessem resultado negativo.

• Atividade Organizada – os fatores de produção (capital, mão de obra, insumos e tecnologia) são articulados, combinados pelo empresário para atingir seus objetivos.

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TÓPICO 1 | TEORIA BÁSICA DA OFERTA

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FIGURA 16 – PRODUÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://envolverde.com.br/economia/artigo-economia/o-grito-da-industria/>. Acesso em 14 jan. 2014.

FIGURA 17 – TRABALHADORES NA INDÚSTRIA

FONTE: Disponível em: <http://envolverde.com.br/economia/artigo-economia/o-grito-da-industria/>. Acesso em 14 jan. 2014.

Genericamente podemos definir então o empresário como o sujeito que estabelece estrategicamente os objetivos de uma empresa, negocia com os fornecedores os diversos fatores de produção necessários ao desenvolvimento de suas atividades e coordena todas as relações, sejam elas entre pessoas ou financeiras, no contexto da organização.

Além disso, a figura do empresário pode estar caracterizada por duas classificações:

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

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• Individual: Pessoa Física

• Sociedade Empresária: Pessoa Jurídica. São as organizações que exercem atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços. Incluem a indústria, o comércio e o setor de prestação de serviços (art. 966 CC), podendo abranger também a atividade rural (art. 971 CC). A sociedade empresária deve constituir-se, via de regra, segundo um dos seguintes tipos societários: Sociedade Limitada e Sociedade Anônima.

Aqui temos então um conceito bem claro do que é uma empresa ou firma como unidade econômica.

Para Cabral e Yoneyama (2008, p. 111) “uma firma é, pois, uma entidade pessoa jurídica que compra fatores de produção, transforma-os em produtos acabados e vende-os com objetivos lucrativos. Ela é motivada pelo desejo de obter o maior lucro possível da venda de seus produtos”.

No conceito acima, a expressão “com objetivos lucrativos” nos faz lembrar novamente que em um sistema econômico de livre mercado ou capitalista, um dos objetivos econômicos essenciais da empresa é a maximização do lucro, que em termos de custos quer dizer o melhor resultado possível entre a receita total com a venda de um bem ou serviço e o custo total com sua fabricação.

Vamos ver isso na prática? O proprietário do restaurante de nosso exemplo tem como objetivo o lucro, isso é um fato. Para tanto, precisa que o preço de venda de uma feijoada seja superior ao custo somado dos componentes da feijoada.

Deste modo, se o custo dos componentes da feijoada – feijão, farinha, arroz, carnes, água, mão de obra (cozinheiro), gás, sal, etc. – for hipoteticamente de R$ 15,00 e o preço de venda for de R$ 30,00, ele terá um lucro de R$ 15,00, certo? Agora, será que os consumidores estão dispostos a pagar esse valor? Como vimos, a restrição orçamentária pode influenciar a decisão do consumidor. Mas vamos considerar que sim, os consumidores consideram justo o preço e tem preferência pela feijoada. Então, com o objetivo de maximizar seu lucro, seria interessante que o dono do restaurante conseguisse um menor custo de produção de uma feijoada. Vamos supor que, se ele conseguisse reduzir seu custo total para digamos R$ 12,00 e mantivesse o preço de venda – já que o mercado consumidor aceita como plausível esse nível de preço – seu lucro passaria de R$ 15,00 para R$ 17,00.

Por isso a questão dos custos é muito importante. E será vista com cuidado mais a frente num Tópico específico.

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TÓPICO 1 | TEORIA BÁSICA DA OFERTA

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3 TEORIA DA PRODUÇÃO – A EMPRESA E A PRODUÇÃO

Desde o advento da Revolução Industrial na Europa nos séculos XVIII e XIX, as empresas tornaram-se entidades de grande projeção nas sociedades, principalmente nas que organizam seu sistema econômico com base no livre mercado.

A Revolução Industrial marcou a transição do sistema de produção artesanal para um sistema produtivo que empregava máquinas e mão de obra assalariada.

Atualmente, é notória a contribuição das empresas (firmas) de todos os tipos, tamanhos, forma de constituição etc., para a difusão do bem-estar da sociedade em geral, pois elas são os agentes econômicos que são encarregados de combinar os fatores de produção para a geração de bens e serviços.

No sistema econômico de livre mercado, também conhecido como capitalismo, as empresas privadas são as organizações responsáveis por produzir e colocar à disposição dos consumidores a maior parte dos bens e serviços necessários a sua satisfação.

Se compararmos a variedade de bens e serviços que a sociedade contemporânea tem a sua disposição com a disponibilidade de 100 anos atrás, veremos que foi a produtividade que permitiu o cenário atual. A produtividade pode ser entendida como a quantidade de bens e serviços produzidos por um trabalhador em uma hora de atividade.

Vamos definir então o que se entende por produção:

Produção é a aquisição e transformação de bens e serviços em outros bens e serviços, ou seja, é a forma pela qual uma empresa adquire insumos de produção e os transforma, via utilização de determinado processo produtivo – tecnologia –, criando assim determinados bens e serviços que tenham valor para os consumidores finais (indivíduos) ou intermediários (empresas) (OLIVEIRA, 2006, p. 225).

Com essa definição surgem dois conceitos que precisamos conhecer:

• Processo Produtivo: é a forma pela qual será concretizada a produção dos bens e serviços. É um conjunto de etapas – uma sequência lógica – previamente conhecidas pela empresa que emprega alguma tecnologia. A escolha de determinado processo produtivo está ligada a dois princípios de eficiência: 1) Eficiência tecnológica: surge quando entre dois ou mais processos de produção permite-se produzir a mesma quantidade utilizando a menor quantidade física de fatores de produção, e 2) Eficiência Econômica: surge quando a escolha recai sobre um processo – considerando que temos diversas formas de produzir o

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

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mesmo bem ou serviço – que permite produzir a mesma quantidade com o menor custo de produção (OLIVEIRA, 2006).

• Tecnologia: atualmente este conceito é confundido com a questão de automação ou informatização. Em economia, tecnologia tem um conceito mais amplo e significa um método que envolve conhecimentos técnicos, pelo qual os insumos são combinados para produzir um bem ou serviço. Geralmente, existe mais de uma maneira – método – de se produzir determinado bem/serviço. Esse método inclusive pode ser mecânico, sem envolver equipamentos eletrônicos. Envolve sim o uso de computadores, mas não é somente isso! O empresário irá optar por aquele que considerar mais eficiente economicamente, ou seja, a obtenção do mesmo nível de produção com o menor custo possível.

A figura a seguir apresenta o esquema de um processo de produção genérico.

FIGURA 18 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DE UM PROCESSO PRODUTIVO GENÉRICO

FONTE: Elaborado pelo autor.

Uma forma de classificar o processo produtivo é considerar o nível de mão de obra empregado nas diversas etapas do processo produtivo:

• Intensivos de mão de obra: Quando se utiliza uma quantidade maior de trabalhadores que de máquinas, equipamentos ou insumos nas diversas etapas do processo produtivo. Exemplos: construção civil, indústria de calçados e propriedades agrícolas familiares.

• Extensivos: Quando se utiliza mais máquina, equipamentos e insumos do que mão de obra nas diversas etapas do processo produtivo. Exemplos: indústria de artefatos de plástico e indústria de parafusos.

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TÓPICO 1 | TEORIA BÁSICA DA OFERTA

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Este mesmo conceito de classificação pode ser estendido ao uso dos outros fatores de produção, isto é, os processos produtivos podem ser classificados como intensivo ou extensivo em capital – financeiro ou não – exemplos: Instituições Financeiras com capital financeiro e montadoras de automóveis com grande quantidade de máquinas e equipamentos; em terra: pequenos produtores ou grandes latifundiários de soja.

Nós já conhecemos os fatores de produção da Unidade 1. Vamos apenas acrescentar que eles podem ser:

• Fatores primários: são encontrados na natureza, não dependem de um processo de produção anterior. Exemplos: água e frutos do mar.

• Fatores secundários: são derivados da produção – transformação – ou da atividade produtiva anterior. Exemplo: fios de algodão para fazer peças de vestuário.

Mas como o gestor pode ter uma noção de quanto produzir considerando seu estoque de fatores de produção?

A curva de possibilidade de produção é uma saída.

4 A CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO

Observando os produtos a nossa disposição nas prateleiras dos comércios de varejo, percebemos que a maioria das empresas produz mais de uma espécie de produto com os fatores de produção que pode adquirir nos diversos mercados.

No exemplo que estamos utilizando desde o começo do caderno, o do restaurante, a variedade de produtos é inclusive primordial para o bom andamento do negócio: feijoada, vários tipos de carnes e saladas, muitos tipos de pratos quentes, sobremesas diversas etc.

Quando uma empresa produz mais de um tipo de produto a produção é denominada de produção múltipla.

Deste modo, considerando que o restaurante tenha em um determinado momento uma quantidade finita de fatores de produção, é primordial que o gestor desta empresa saiba quais as possibilidades que têm, com esse limitado estoque de fatores, de produzir os diversos produtos que são demandados pelos consumidores.

Uma ferramenta gráfica empregada pela Economia para explicar as alternativas de escolha que a empresa pode ter é denominada de curva de possibilidade de produção ou curvas de transformação.

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

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A curva de possibilidade de produção é definida por Carvalho (2006, p. 181) como “a linha na qual todos os pontos revelam as diferentes possibilidades de dois produtos serem fabricados de forma combinada em um determinado período com a quantidade de fatores que a firma possui”.

Para verificar o emprego desta ferramenta vamos considerar hipoteticamente que uma determinada empresa fabrica apenas dois produtos.

Vamos supor que as alternativas, para nosso restaurante, de produção de dois pratos diferentes – PRATO A e PRATO B – estejam expostas no quadro a seguir.

QUADRO 14 – ALTERNATIVAS DE PRODUÇÃO DE DOIS PRATOS DIFERENTES – PRATO A e PRATO B

Alternativas de Produção PRATO A – em unidades PRATO B – em unidades

1 35 02 25 353 20 534 15 615 10 656 0 70

FONTE: Elaborado pelo autor.

O gráfico a seguir foi construído com as informações do quadro anterior.

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GRÁFICO 17 – CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO DO RESTAURANTE

FONTE: Elaborado pelo autor.

No eixo vertical temos as quantidades do PRATO B, e no eixo horizontal temos as quantidades do PRATO A.

Com base nos dados do quadro e expostos no gráfico, podemos verificar que cada vez que resolvemos aumentar a produção de uma opção de prato teremos que fazer uma redução cada vez maior no número da outra opção.

Os economistas enxergam a curva de possibilidade de produção como uma fronteira (CARVALHO, 2006). No nosso exemplo ela mostra o máximo, o limite superior de produção de PRATOS A e de PRATOS B, para o gestor do restaurante.

Carvalho (2006), abordando a questão de custos incorridos na aquisição dos fatores de produção, evidencia que a curva de possibilidade de produção também revela as possibilidades de produzir dois bens com o mesmo custo total.

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5 FUNÇÃO DE PRODUÇÃO

Independente do bem ou serviço oriundo de um processo produtivo de uma determinada empresa, o empresário deverá diariamente tomar uma série de decisões sobre a atividade produtiva: que fatores produtivos empregar, em qual quantidade, como combina-los, que processo produtivo empregar, para que mercados esses produtos estão direcionados, etc.

Nesta seção focaremos nossa atenção na quantidade de bens que a empresa deve produzir para maximizar os lucros, dado uma combinação de diversos fatores de produção.

Para entender melhor a relação entre os fatores de produção e os bens ou serviços produzidos, vamos resgatar novamente nosso exemplo do restaurante.

Os fatores de produção serão: as matérias-primas (verduras, carnes, água, sal, cereais, etc.), os colaboradores que participam do processo produtivo (cozinheiro, atendente, garçom), o capital financeiro e as instalações e máquinas e equipamentos (panelas, fogão, forno etc.), e também a tecnologia (receitas dos pratos, tempo de cozimento, quantidade perfeita de temperos etc.).

Todo esse processo de decisão é denominado de função de produção.

Mochón Morcillo (2006, p. 83) define a função de produção como “a relação que especifica a quantidade de fatores de produção utilizados para produzir um bem ou serviço e a quantidade produzida desse bem ou serviço”.

Passos e Nogami (2005, p. 223) ampliam o conceito acima definindo função de produção como “a relação que indica a quantidade máxima que se pode obter de um produto, por unidade de tempo, a partir da utilização de uma determinada quantidade de fatores de produção e mediante a escolha do processo produtivo mais adequado”.

É lógico então, no caso do restaurante, que o empresário procurará produzir a quantidade máxima de refeições com determinada quantidade de fatores produtivos, empregando as melhores técnicas gastronômicas ao menor custo possível.

E é essa informação que a função de produção fornecerá.

Antes de interpretarmos a função de produção, precisamos entender como se dá a visão de tempo para a produção.

Olhando novamente para os fatores produtivos podemos identificar algumas diferenças com relação ao tempo:

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• Alguns desses fatores produtivos são fáceis de incrementar ou reduzir sua utilização no processo produtivo num curto espaço de tempo. O empresário pode rapidamente e com relativa facilidade comprar mais verduras, legumes, contratar mais colaboradores. Esses fatores são denominados de fatores ou insumos variáveis. Exemplos: combustíveis, energia elétrica, água, etc.

• Por outro lado, outros fatores não são assim tão fáceis de incrementar nem tampouco de reduzir, como por exemplo, ampliar a área de atendimento aos clientes do restaurante através de uma reforma nas instalações ou a melhora do ambiente através de um novo sistema de ar-condicionado. Esses fatores são denominados fatores ou insumos fixos.

Entender essa classificação nos permite definir então o horizonte de tempo para a tomada de decisão por parte do empresário:

Curto prazo: é um período – horizonte – de tempo durante o qual pelo menos um dos fatores produtivos da empresa não pode variar. As empresas podem ajustar a sua produção mudando os fatores variáveis.

Longo prazo: é um período – horizonte – de tempo longo o suficiente para uma empresa poder variar – ajustar – todos os fatores produtivos. O longo prazo é diferente para cada tipo de empresa.

Para Hall e Lieberman (2003), podemos pensar nesses dois horizontes de prazo – curto e longo – como duas lentes diferentes pelas quais um administrador de uma empresa deve olhar para tomar decisões de produção: a lente de longo prazo serve para direcionar a empresa para o futuro; a lente de curto prazo é a melhor ferramenta para ajudar o gestor a determinar o que a empresa precisa fazer nas próximas semanas.

5.1 PRODUÇÃO NO CURTO PRAZO

A análise da produção no curto prazo aponta que pelo menos um insumo da empresa não pode ser mudado, isto é, é fixo.

Para facilitar nossa análise vamos considerar que a empresa possui apenas dois insumos: capital e trabalho.

A função da produção no curto prazo é então dada pela seguinte relação matemática:

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

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Sendo o fator de produção K fixo, a variação da quantidade produzida será diretamente proporcional a redução ou incremento do emprego de mão de obra no curto prazo, considerando que as demais variáveis envolvidas fiquem constantes.

Vamos construir um quadro para verificar esse cenário, supondo a seguinte situação: no restaurante temos dez conjuntos de utensílios de cozinha (panelas, fogão, geladeiras, talheres, frigideiras e matérias-primas em geral). Esses conjuntos são fixos. Trabalharemos então com a variação da mão de obra empregada no processo produtivo. Nossos produtos serão os pratos prontos para consumo. Sendo assim, quanto maior o número de cozinheiros maior o número de pratos, certo?

QUADRO 15 – PRODUÇÃO DE PRATOS COM UM FATOR DE PRODUÇÃO VARIÁVEL (MÃO DE OBRA)

QUANTIDADE DE CONJUNTOS DE UTENSÍLIOS

UNIDADES DE MÃO DE OBRA

(homem/hora)

PRODUTO TOTAL(pratos/homem)

PRODUTO MÉDIO =

Q/N

PRODUTO MARGINAL = variação da

quantidade / variação da mão de obra

10 0 0 ---- ----10 01 10 10 1010 02 22 11 1210 03 39 13 1710 04 52 13 1310 05 60 12 0810 06 60 10 010 07 56 08 (04)10 08 48 06 (08)

FONTE: Elaborado pelo autor (dados hipotéticos).

A coluna que apresenta os dados do produto total indica a produção máxima de pratos que pode ser obtida com as diferentes quantidades de mão de obra, sempre considerando que a quantidade do fator conjuntos de utensílios permaneça constante. Nesse exemplo, a produção ou quantidade máxima é igual a 60 pratos.

Vamos traçar um gráfico para nos ajudar a interpretar melhor.

Q = f (K, N), onde:Q = Quantidade Produzida do BemK = Quantidade Empregada do Insumo Fixo de CapitalN = Quantidade Empregada do Insumo Variável Trabalho

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GRÁFICO 18 – CURVA DE PRODUÇÃO TOTAL DE PRATOS NO RESTAURANTE

FONTE: Adaptado de: PASSOS, Carlos Roberto Martins; NOGAMI, Otto. Princípios de economia. 5. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2005, 658 p.

No eixo vertical temos a quantidade de pratos produzida. No eixo horizontal temos a quantidade de mão de obra empregada no processo produtivo.

É natural que quando o fator de produção mão de obra é zero, o volume de produção também é zero.

Pode-se constatar que à medida que se empregam sucessivas quantidades incrementais de mão de obra a produção inicialmente cresce, até atingir um valor máximo a partir do quinto colaborador. O sexto trabalhador já não consegue acrescentar unidades de produto final à produção total. Desse ponto em diante a situação da produção passa a declinar.

Resumindo, a medida que o empresário combina unidades adicionais de um fator de produção variável – aqui mão de obra – a uma dada quantidade de fatores de produção fixos, a produção total inicialmente cresce, em seguida atinge um valor máximo e depois decresce.

Vamos construir outro gráfico com as curvas do produto médio e do produto marginal (marginal em economia significa adicional, você lembra desse significado?) para fazer uma análise geral.

• Produto médio (ou produtividade média): é obtido a partir da divisão da produção total pela quantidade de fator de produção variável empregada para atingir esse nível de produção. Em nosso exemplo, será o resultado da divisão do número de pratos produzidos pela respectiva quantidade de mão

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de obra. Por exemplo: na quarta linha de dados do quadro 15 a produção foi de 39 pratos para 03 unidades de mão de obra, Pme = 39 / 3, resultando em um produto médio de 13.

• Produto marginal (ou produtividade marginal): é definido como a variação na produção total decorrente da variação de uma unidade no fator de produção variável. Em nosso exemplo, será o resultado da divisão da variação no número de pratos pela respectiva variação da quantidade de mão de obra. Por exemplo: vamos pegar as linhas de dados 02 e 03: Calculamos a variação do número de pratos => 22 – 10 = 12; calculamos a variação da quantidade de mão de obra => 2 -1 = 1; e fazemos a divisão, então o Pmg = 12 /1 = 12.

O gráfico a seguir representa então as curvas do produto médio e do produto marginal.

GRÁFICO 19 – CURVAS DO PRODUTO MÉDIO E DO PRODUTO MARGINAL

FONTE: Adaptado de: PASSOS, Carlos Roberto Martins; NOGAMI, Otto. Princípios de Economia. 5. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2005, 658 p.

Observando os gráficos podemos concluir que ao adicionar cada vez mais colaboradores ao seu processo produtivo, o dono do restaurante passa, no começo, a ampliar sua produção. Contudo, em determinado momento essa tendência se inverte.

Essa alteração se dá pelo fato de que cada unidade adicional de mão de obra disporá cada vez mais de menos de fatores de produção fixos para trabalhar. No nosso exemplo teremos cada vez mais colaboradores para os mesmos conjuntos. E ainda, considerando um espaço físico limitado, esses colaboradores estão tão próximos uns dos outros que acabaram por atrapalhar o serviço um do outro.

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TÓPICO 1 | TEORIA BÁSICA DA OFERTA

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Essa constatação é baseada na Lei dos Rendimentos Decrescentes, também conhecida como Lei das Proporções Variáveis ou LEI DA PRODUTIVIDADE MARGINAL DECRESCENTE.

A LEI DOS RENDIMENTOS DECRESCENTES descreve a taxa de mudança na produção de uma empresa quando se varia a quantidade de apenas um dos fatores de produção envolvidos no processo produtivo.

Segundo Passos e Nogami (2005, p. 234) ela é assim enunciada:

Aumentando-se a quantidade de um fator de produção variável em iguais incrementos por unidade de tempo, enquanto a quantidade dos demais fatores se mantém fixa, a produção total aumentará, mas a partir de certo ponto, os acréscimos resultantes no produto se tornarão cada vez menores, continuando o aumento na quantidade utilizada do fator variável, a produção alcançará um máximo, podendo, então, decrescer.

5.2 PRODUÇÃO NO LONGO PRAZO

Mantendo a condição da existência de dois fatores de produção, vamos analisar a produção considerando um horizonte de tempo diferente: em longo prazo.

A característica básica da produção em longo prazo é a condição de que todos os fatores de produção são variáveis, isto é, em nenhuma hipótese existem fatores de produção fixos.

A função da produção no longo prazo é então dada pela seguinte relação matemática:

Como todos os fatores de produção são variáveis, o empresário pode combiná-los de diversas formas, segundo seus objetivos, buscando acima de tudo a forma mais eficiente no processo de produção.

Desse cenário temos uma situação muito importante: decisões de produção de longo prazo não são facilmente revertidas. Exemplo: se o proprietário do restaurante decidir ampliar, dobrando a capacidade, e a demanda por seus serviços cair em função de fatores como, por exemplo, redução de renda; o investimento feito pode se tornar a causa de problemas de falta de recursos financeiros.

Q = f (K, N), onde:Q = Quantidade Produzida do BemK = Quantidade Empregada do Insumo Variável de CapitalN = Quantidade Empregada do Insumo Variável Trabalho

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

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A função produção no horizonte de longo prazo é representada por uma curva chamada de Isoquanta de produção.

A palavra Isoquanta significa quantidade igual.

E na teoria da produção a Isoquanta é uma linha ao longo da qual é possível relacionar, a cada conjunto de produtos, diferentes combinações de fatores de produção, desde que determinem uma mesma quantidade de produção, isto é, independentemente da combinação de fatores escolhidos pelo empresário, a quantidade produzida sempre será a mesma.

Na figura a seguir temos a representação de uma Isoquanta.

GRÁFICO 20 – ISOQUANTA DE PRODUÇÃO

FONTE: OLIVEIRA, Jayr Figueiredo de (Org.). Economia para administradores. São Paulo: Saraiva, 2006, 432 p.

A interpretação para essa curva é bastante simples: considerando uma produção total de 5.000 unidades, para aumentar a quantidade de um dos fatores, o empresário deverá reduzir a quantidade do outro e vice-versa, já que os dois são necessariamente variáveis.

No ponto mais alto da curva, para uma produção de 5.000 unidades, o empresário poderá combinar 8 unidades de Capital com 40 unidades de mão de obra. No ponto mais baixo da curva, o mesmo empresário para produzir as mesmas 5.000 unidades, poderá combinar 2 unidades de Capital com 250 de mão de obra.

Oliveira (2006) aponta que seguindo a mesma interpretação podemos ter para diferentes quantidades de produção diferentes Isoquanta, formando famílias de Isoquanta de produção ou mapa de produção.

A figura a seguir ilustra esse conceito de mapa de produção.

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TÓPICO 1 | TEORIA BÁSICA DA OFERTA

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GRÁFICO 21 – MAPA DE PRODUÇÃO

FONTE: OLIVEIRA, Jayr Figueiredo de (Org.). Economia para administradores. São Paulo: Saraiva, 2006, 432 p.

6 REPRESENTAÇÃO DA OFERTA

Quando falamos em oferta estamos nos referindo a intenção das empresas em produzir e comercializar seus produtos ou serviços, na a sua venda propriamente dita. Vasconcellos (2011, p. 66) argumenta que a oferta representa (assim como a demanda) uma intenção e não a venda efetiva.

É muito importante, para que possamos entender bem o assunto abordado nessa unidade, que passemos a pensar com a cabeça de um empresário. Não podemos nesse momento, em hipótese nenhuma, pensar como consumidores nesse momento.

Já no primeiro conceito da oferta isso é necessário, imperativo para ser mais direto. O motivo é evidente: o empresário visa à maximização de seu lucro, enquanto que o consumidor visa à maximização de sua satisfação com o menor custo.

Vejamos o que diz a lei da oferta: expressa a relação direta que existe entre o preço e a quantidade ofertada: ao aumentar o preço, eleva-se a quantidade ofertada.

Vamos resgatar nosso exemplo do iogurte para verificar como a oferta é representada.

O quadro a seguir apresenta a intenção de uma determinada empresa – que chamamos de EMPRESA A – de ofertar ao mercado potes de iogurte considerada uma variação de preço.

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

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QUADRO 16 – REPRESENTAÇÃO DA OFERTA DE POTES DE IOGURTE POR UMA EMPRESA DE LATICÍNIOS

PREÇO DO POTINHO DE IOGURTE em R$

QUANTIDADE DE POTINHOS DE IOGURTE OFERTADA PELA EMPRESA A – em unidades

1,00 01,50 022,00 042,50 063,00 083,50 104,00 124,50 14

FONTE: Elaborado pelo autor.

Com base nas informações deste quadro podemos então construir o gráfico a seguir.

No eixo vertical temos o preço de venda de cada potinho de iogurte. No eixo horizontal temos a quantidade de potinhos de iogurte ofertada pela empresa A – em unidades.

GRÁFICO 22 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA INTENÇÃO DA EMPRESA A – DE OFERTAR AO MERCADO POTES DE IOGURTE CONSIDERADA UMA VARIAÇÃO POSITIVA DE PREÇO

FONTE: Elaborado pelo autor (dados hipotéticos).

A leitura desse gráfico é simples: quanto maior o preço, maior é a disposição da empresa A em ofertar seus produtos ao mercado consumidor, pois cresce sua possibilidade de aumentar seus lucros.

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TÓPICO 1 | TEORIA BÁSICA DA OFERTA

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Este gráfico é a curva de oferta. Ela tem uma inclinação positiva, ou seja, com o sentido oposto da curva da demanda.

Morcillo (2006, p. 28) define a curva da oferta como:

É a representação gráfica da relação entre o preço de um bem e a quantidade ofertada. Ao traçar a curva de oferta, supomos que se mantém constantes todas as demais variáveis diferentes do preço do bem que possam afetar a quantidade ofertada, como os preços dos fatores produtivos.

Sabemos que o mercado é composto por mais produtores de iogurte, então vamos acrescentar mais uma coluna no quadro anterior e criar um novo quadro com a oferta de mercado. Logo depois, vamos traçar mais dois gráficos: relativo a oferta da empresa B e relativo a oferta de mercado.

O quadro a seguir representa a oferta de mercado com dois produtores.

QUADRO 17 – REPRESENTAÇÃO DA OFERTA DE MERCADO

PREÇO DO POTINHO

DE IOGURTE em R$

QUANTIDADE DE POTINHOS DE IOGURTE

OFERTADOS PELA EMPRESA A - em unidades

QUANTIDADE DE POTINHOS DE

IOGURTE OFERTADOS PELA EMPRESA B - em

unidades

OFERTA DE MERCADO

= A + B, unidades.

1,00 0 0 01,50 02 03 052,00 04 05 092,50 06 07 133,00 08 09 173,50 10 11 214,00 12 14 264,50 14 16 30

Fonte: Elaborado pelo autor – dados hipotéticos.

O gráfico a seguir nos ajuda a visualizar melhor os dados contidos no quadro 17.

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

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GRÁFICO 23 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA INTENÇÃO DA EMPRESA B – DE OFERTAR AO MERCADO POTES DE IOGURTE CONSIDERADA UMA VARIAÇÃO POSITIVA DE PREÇO.

FONTE: Elaborado pelo autor (dados hipotéticos).

A curva de oferta de mercado (ou da Indústria) é obtida somando-se as quantidades ofertadas por todas as empresas individuais a cada nível de preço.

GRÁFICO 24 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA OFERTA DE MERCADO

Fonte: Elaborado pelo autor (dados hipotéticos).

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TÓPICO 1 | TEORIA BÁSICA DA OFERTA

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No eixo vertical temos o preço de venda de cada potinho de iogurte. No eixo horizontal temos a quantidade de potinhos de iogurte ofertados pela soma das intenções das empresas A e B – em unidades.

Assim como a demanda a oferta pode ser influenciada por um conjunto de fatores, além do preço que determina a quantidade ofertada.

Rossetti (2002, p. 426-427) elenca uma série de fatores que podem influenciar a oferta:

• Capacidade Instalada: a capacidade instalada das empresas aptas a produzir é um dos mais importantes fatores determinantes da oferta de qualquer produto. Nesse caso, o deslocamento da curva de oferta para mais ou para menos está diretamente ligado a investimentos (ampliação) na capacidade produtiva das empresas já instaladas e da entrada de novos fornecedores no mercado.

• Condição de oferta de fatores de produção: Na definição da capacidade de oferta de um produto qualquer, os investimentos em instalações produtivas complementam-se pela condição de oferta dos fatores de produção. A oferta de fatores é uma das forças determinantes de seus níveis de remuneração. Se a disponibilidade dos fatores de produção empregados for baixa a tendência é de aumento de sua remuneração, ou seja, aumento de custos para as empresas, o que em último caso afeta a disposição dos empresários em ofertar mais bens e serviços ao mercado consumidor. Exemplos: falta de mão de obra qualificada em determinada região por motivos de migração; aumento das taxas de juros em função de uma política de crédito restritiva imposto pelo Banco Central visando reduzir a inflação;

• Preços dos insumos: os movimentos que se observam no mercado e no preço dos insumos (bens e serviços intermediários empregados na produção de bens finais: Exemplo: madeira tratada, porcas, parafusos, tintas etc. para a indústria de móveis de madeira) redefinem a sensibilidade das empresas. No caso do exemplo acima, uma redução no preço dos insumos pode induzir as empresas a ampliar a oferta de produtos acabados de madeira.

• Tecnologia: o surgimento de novas tecnologias modificam os padrões de produtividade e de produção e podem transferir-se para as curvas da oferta. Deste modo, o efeito mais expressivo das novas tecnologias é a capacidade de aumentar a produção. Avanços na produção significam que as empresas podem produzir mais bens e serviços a um custo mais barato. Produzir mais barato significa para empresas e consumidores a possibilidade de encontrar um preço de equilíbrio mais baixo.

• Expectativas: as expectativas dos empresários em relação ao nível futuro de preços transmitem-se para sua intenção de ofertar bens e serviços. Se eles estimam que a demanda estará em expansão e os preços poderão elevar-se em relação aos praticados na atualidade, sua decisão é de aproveitar o momento futuro antecipando-se com um aumento de produção.

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

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7 ELASTICIDADE-PREÇO DA OFERTA

O conceito de elasticidade-preço que estudamos no final da Unidade 2 também se aplica à oferta. Só para relembrar, a elasticidade é o conceito que está ligado a sensibilidade, isto é, a diversos graus de sensibilidade.

Elasticidade no sentido mais amplo é a alteração percentual em uma determinada variável (como o preço), dada uma variação percentual em outra (como a quantidade), mantendo-se as demais variáveis estáveis.

No caso da oferta, esta sensibilidade está ligada a intenção dos produtores em ofertar bens e serviços no mercado em função dos preços.

Matematicamente, define-se elasticidade-preço da oferta como:

Variação percentual na quantidade ofertadaη = ----------------------------------------------------------

--------------------------Variação percentual do preço

Considerando esta fórmula matemática, podemos ter alguns resultados esperados:

• η = 1: Oferta de Elasticidade Unitária => as variações das quantidades ofertadas são rigorosamente proporcionais às variações nos preços;

• 0 < η < 1: Oferta Inelástica => as quantidades ofertadas são basicamente insensíveis a alteração nos preços.

• η > 1: Oferta Elástica => as quantidades ofertadas são basicamente sensíveis a alterações nos preços

• η = 0: Oferta Anelástica => as quantidades ofertadas são dadas e não reagem as variações de preço.

Podemos notar que o resultado é sempre positivo, pois existe uma relação direta entre o preço e a quantidade, isto é, quanto maior o preço maior será a disposição das empresas em contribuir para a oferta, mantendo-se as outras condições inalteradas.

Na visão de Rossetti (2002), Oliveira (2006) e Vasconcellos (2011) os dois principais fatores que determinam a elasticidade-preço da oferta são:

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TÓPICO 1 | TEORIA BÁSICA DA OFERTA

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• Disponibilidade dos fatores de produção: esses economistas argumentam que apesar de que os empresários possam ficar sensibilizados com o fator preço para ampliar a oferta, eles esbarram em algumas dificuldades. Uma delas é a disponibilidade dos fatores de produção. Um exemplo clássico apontado por Rossetti (2002) é a disponibilidade de energia elétrica: se a geração de energia for por meio de usinas hidroelétricas a disponibilidade está intimamente ligada à quantidade de água nos reservatórios.

• Tempo: o fator tempo se refere no caso da elasticidade-preço da oferta ao tempo necessário para a produção de certos bens. Mesmo que haja ampla disponibilidade de fatores de produção e o mercado consumidor esteja disposto a adquirir este bem por preços cada vez mais vantajosos para o empresário, o tempo de produção pode frear a elasticidade. Por outro lado, a caso de resposta mais rápida. Um exemplo muito interessante é o das proteínas animais, produtos de origem animal como as carnes, vejamos: a carne bovina => 18 meses do nascimento do terneiro até o abate; carne suína => 120 dias do nascimento do leitão até o abate; carne de frango => 45 dias do nascimento do frango até o abate.

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RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico vimos que:

• No sistema econômico de livre mercado, também conhecido como capitalismo, as empresas privadas são as organizações responsáveis por produzir e colocar à disposição dos consumidores a maior parte dos bens e serviços.

• Empresa ou firma é uma entidade pessoa jurídica, individual ou coletiva, que compra fatores de produção para transformá-los em produtos acabados, posteriormente vende-os com objetivos lucrativos, tanto para produtores finais, como para outras empresas.

• As três características básicas de um empresário são: Profissionalismo => pessoa natural ou jurídica que exerce com habitualidade, em nome próprio, uma atividade, extraindo dela as condições necessárias para se estabelecer e desenvolver. Pessoalidade; Exerce Atividade econômica => O empresário visa ao lucro. O elemento que é essencial à caracterização do empresário é a intenção de lucro e não o lucro propriamente dito, pois, caso contrário, não seriam empresariais as sociedades que tivessem resultado negativo; e Atividade Organizada => Os fatores de produção (capital, mão de obra, insumos e tecnologia) são articulados, combinados pelo empresário para atingir seus objetivos.

• Oferta representa os planos das empresas em oferecer bens e serviços ao mercado em função dos preços de mercado. Considera-se que, como os consumidores, as empresas são racionais, isto é, produzem e buscam o lucro máximo, dentro da restrição de custos de produção.

• A Teoria da Oferta engloba dois aspectos: 1) Teoria da Produção: preocupa-se com a relação técnica ou tecnológica entre os fatores de produção e a quantidade física de produtos finais, e 2) Teoria dos Custos: preocupa-se em relacionar a quantidade física com os preços dos fatores de produção, preços dos insumos envolvidos.

• Além do preço, que determina a quantidade ofertada, outros fatores ampliam ou reduzem a própria oferta: capacidade instalada, condição de oferta de fatores de produção (incluindo o preço), a tecnologia, o número de produtores participantes do mercado, as expectativas futuras do mercado, os preços de outros produtos que podem ser produzidos com os mesmos recursos, a política econômica e o clima.

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• A função de produção específica é a relação entre a quantidade de fatores de produção utilizados para produzir um bem ou serviço e a quantidade produzida desse bem ou serviço.

• A Lei dos Rendimentos Decrescentes descreve a taxa de mudança na produção de uma empresa quando se varia a quantidade de apenas um dos fatores de produção envolvidos no processo produtivo.

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AUTOATIVIDADE

1 Complete as lacunas da frase a seguir:

____________ é a aquisição e transformação de bens e serviços em outros bens e serviços, ou seja, é a forma pela qual uma _________________ adquire insumos de produção e os transforma, via utilização de determinado __________________ – tecnologia –, criando assim determinados bens e serviços que tenham valor para os consumidores finais (indivíduos) ou intermediários (empresas). (OLIVEIRA, 2006, p. 225).

2 Utilizando o exemplo genérico do caderno de estudos, esquematize um PROCESSO PRODUTIVO para a fabricação de um pão de trigo. Descreva os insumos necessários.

3 Descreva a diferença entre CURTO PRAZO e LONGO PRAZO.

4 A escolha de determinado processo produtivo está ligada a dois importantes princípios e EFICIÊNCIA, quais são eles?

5 A teoria que se encarrega de interpretar qual é a relação técnica ou tecnológica entre os fatores de produção e a quantidade física de produtos finais, é denominada de:

a) Teoria da Produçãob) Teoria da Maximização dos Custosc) Teoria dos Custosd) Teoria do Equilíbrio Gerale) Nenhuma das alternativas.

6 Considerando a fórmula matemática que representa a Elasticidade-preço da OFERTA – representado por η –, quais são seus possíveis comportamentos?

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TÓPICO 2

TEORIA DOS CUSTOS

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Na unidade anterior quando abordamos a Teoria da Produção percebemos que ela está diretamente ligada às questões de tecnologia, processo produtivo, fatores de produção, quantidade de produtos finais etc.

Nesse Tópico 2 vamos abordar a questão dos custos de produção diante das decisões que as empresas devem obrigatoriamente tomar visando seus objetivos.

Sabemos que o objetivo básico de qualquer empresa é o lucro, isto é, a maximização dos resultados oriundos de sua atividade econômica. E todo o esforço de gestão dos administradores de empresas que atuam no livre mercado está focado nisso.

Para Oliveira (2006) este cenário se dará de duas formas:

• Maximização da produção diante de um patamar de custos.

• Pela minimização dos custos totais para um determinado volume de produção.

Em termos de gestão de empresas a questão dos custos recebe uma importante contribuição de Porter com seu conceito de estratégias competitivas.

Segundo Porter (1992), de forma genérica, as empresas podem adotar três estratégias competitivas:

• Estratégia de liderança em custos: visa obter vantagens competitivas pela oferta de produtos e serviços (em geral padronizados) a custos mais baixos do que os concorrentes.

• Estratégia de diferenciação: busca alcançar vantagens pela introdução de um ou mais elementos de diferenciação nos produtos e serviços, que justifiquem preços mais elevados.

• Estratégia de foco: objetiva obter vantagens competitivas ou pela oferta de produtos e serviços com menores custos, ou pela diferenciação dos mesmos, mas em um segmento de mercado mais localizado ou restrito.

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

Porter (1992, p. 11) argumenta ainda que:

[...] a liderança no custo é a mais clara das três estratégias genéricas. Se uma empresa pode alcançar e sustentar a liderança no custo total, então ela será um competidor acima da média de seu mercado. [...] Com preços equivalentes ou mais baixos que seus rivais, a posição de baixo custo de um líder no custo traduz-se em retornos (lucros) mais altos.

Portanto, é de suma importância para o administrador reconhecer e interpretar os custos envolvidos no seu negócio visando à sustentabilidade da empresa em longo prazo.

2 CUSTO DE OPORTUNIDADE

Como aprendemos na primeira unidade, os recursos produtivos disponíveis são escassos, e por esse motivo forçam os seus usuários a uma escolha: dentre várias alternativas ou oportunidades de emprego dos mesmos, como aplicá-los na melhor alternativa? Escolher uma opção significa sacrificar as outras oportunidades.

Os agentes econômicos – empresa, governo e unidades familiares – enfrentam constantemente este problema: as empresas devem decidir se investem em equipamentos novos ou em pesquisa e desenvolvimento (novos produtos); o governo, através de seus representantes, deve decidir se constrói novas escolas e hospitais ou compra aviões de combate para a defesa nacional, e as famílias devem decidir se compram uma casa própria ou um carro novo.

Isto é o que a Economia chama de custo de oportunidade.

Oliveira (2006, p. 238) define custo de oportunidade como “os custos relacionados às oportunidades deixadas de lado por determinado indivíduo ou empresa, num espaço de tempo específico”.

Na visão de uma indústria este custo representa a quantidade de recursos que terá que ser renunciado na produção de um bem para que outro possa ser produzido.

Portanto o conceito de custo em economia pode ser entendido como “o valor das oportunidades sacrificadas” (BESANKO; BRAEUTIGAM, 2004, p. 177).

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TÓPICO 2 | TEORIA DOS CUSTOS

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2.1 CUSTOS EXPLÍCITOS E CUSTOS IMPLÍCITOS

Para Passos e Nogami (2005) o custo de oportunidade também é definido pelos economistas como o resultado da soma dos custos explícitos e dos custos implícitos.

• Custos explícitos: consistem nos pagamentos explícitos realizados pela firma para adquirir ou contratar fatores de produção. Como exemplos práticos desses custos, podemos citar os salários pagos aos colaboradores pelos seus serviços (fator de produção: trabalho); os pagamentos realizados pela utilização de energia elétrica, água, telefone, aluguel das instalações industriais; juros pela captação de empréstimos bancários destinados à aquisição de máquinas e equipamentos. Pagamentos como esses fazem parte do custo de oportunidade da empresa já que poderiam estar sendo empregados pelo empresário em outras coisas de valor, como, por exemplo, aplicações no mercado financeiro.

• Custos implícitos: correspondem ao custo de oportunidade pela utilização dos recursos de propriedade da própria empresa. O fato é que, por pertencerem à empresa, nenhum pagamento monetário é feito pela utilização desses recursos. Na verdade tais custos são estimados a partir do que poderia ser ganho no seu melhor emprego alternativo. Um exemplo prático: imagine que o proprietário do restaurante do nosso exemplo inicial, além de ser dono do restaurante é também dono do prédio onde ele está instalado. Sendo assim, a princípio ele não cobraria aluguel de si mesmo! Porém, em termos econômicos o proprietário do restaurante está incorrendo em um custo, pois poderia ter locado o imóvel para outra pessoa e cobrado aluguel pela utilização. O valor do aluguel é um custo implícito e faz parte do custo de produção do restaurante, da mesma forma que, se ele não fosse dono do imóvel e tivesse de pagar pela utilização do espaço.

3 CUSTOS DE PRODUÇÃO

Já que agora dominamos o entendimento do conceito de custo para a economia, podemos analisar com mais propriedade os custos econômicos em que uma empresa incorre.

Primeiro é interessante recapitular os conceitos de prazo na visão econômica: curto prazo foi definido como um período de tempo durante o qual pelo menos um dos fatores produtivos da empresa não pode variar. As empresas podem ajustar a sua produção mudando os fatores variáveis; e o longo prazo foi definido como um período – horizonte – de tempo longo o suficiente para que uma empresa possa variar – ajustar – todos os fatores produtivos.

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

Passos e Nogami (2005, p. 240) assinalam que:

Os períodos para classificação dos custos de produção estão associados ao emprego dos fatores produtivos. Se existir pelo menos um fator de produção fixo, então estaremos fazendo referência aos custos no curto prazo. Se todos os fatores de produção forem variáveis, então estaremos nos referindo aos custos de produção no longo prazo.

Vamos começar então pelo curto prazo, pois é conceitualmente o período onde as empresas desenvolvem suas atividades de produção.

3.1 CUSTO DE PRODUÇÃO NO CURTO PRAZO

Passos e Nogami (2005, p. 244) apontam que “da mesma forma que os recursos produtivos podem ser divididos em fixos e variáveis, no curto prazo os custos de produção também podem ser divididos em custos fixos e variáveis”.

Rossetti (2002); Passos e Nogami (2005); Oliveira (2006) subdividem os custos no curto prazo da seguinte forma:

a) Custos fixos (CF): estão associados ao emprego dos fatores de produção fixos. Os custos fixos referem-se às despesas nas quais a empresa terá de incorrer (pagar, desembolsar financeiramente), quer ela produza ou não, isto é, são independentes do volume de produção. Em outras palavras, se o restaurante produzir 1.000 refeições ou 500 refeições, os custos fixos serão os mesmos. Nessa categoria temos: aluguéis, pagamentos de seguros, certos tipos de remunerações, impostos como o IPTU, custos de manutenção de conservação das instalações industriais. Incluem também os custos implícitos.

b) Custos variáveis (CV): os custos variáveis dizem respeito aos pagamentos que a empresa terá de efetuar pela utilização dos fatores de produção variáveis. A característica marcante dessa categoria é que esses custos variam conforme o volume de produção da empresa, isto é, são dependentes do volume de produção. Incluem as despesas com matéria-prima, energia elétrica, mão de obra etc.

Os conceitos seguintes são muito importantes! Por isso peço a sua atenção no pleno entendimento dos mesmos, pois como futuro(a) administrador(a) o reconhecimento desses conceitos será de suma importância para a condução das atividades operacionais da organização onde você será o(a) gestor(a). Se você optar por ser um(a) empreendedor(a) esses conceitos são uma das chaves de sucesso financeiro de uma nova empresa.

IMPORTANTE

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TÓPICO 2 | TEORIA DOS CUSTOS

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c) Custo Total (CT): é o custo de produção associado a cada possível nível de produto. Ele é dado pela soma dos custos fixos mais os custos variáveis. Se a produção em um determinado período for nula, o custo total será igual aos custos fixos. A fórmula do custo total é CT = CF + CV.

Em relação a esta classificação usual dos custos incorridos por uma empresa durante suas atividades operacionais, Cabral e Yoneyama (2008) apontam duas considerações importantes:

• No mundo real distinguir os custos fixos dos custos variáveis, pode ser uma tarefa não muito simples, pois em alguns casos pode haver no mesmo custo uma parcela fixa e uma variável, como é o caso de despesas com promoção e publicidade.

• Um custo fixo é aquele invariante para um determinado produto da empresa. Contudo, ele pode mudar em função de outras operações ou decisões da empresa.

Vamos considerar as informações do quadro a seguir e traçar os gráficos dos custos para melhor visualização dos conceitos de custos.

QUADRO 18 – CUSTOS HIPOTÉTICOS DE CURTO PRAZO DE UMA EMPRESA

QUANTIDADE PRODUZIDA

CUSTO FIXO – em R$

CUSTO VARIÁVEL – em R$

CUSTO TOTAL – em R$

0 200,00 0,00 200,001 200,00 80,00 280,002 200,00 130,00 330,003 200,00 142,00 342,004 200,00 180,00 380,005 200,00 200,00 400,006 200,00 260,00 460,007 200,00 390,00 590,00

FONTE: O autor (dados hipotéticos)

O gráfico a seguir nos mostra a representação gráfica do custo fixo.

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

GRÁFICO 21 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO CUSTO FIXO

FONTE: O autor

O gráfico a seguir nos mostra a representação gráfica dos custos variáveis.

GRÁFICO 26 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO CUSTO VARIÁVEL

FONTE: O autor

O gráfico a seguir nos mostra a representação gráfica dos custos totais.

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TÓPICO 2 | TEORIA DOS CUSTOS

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GRÁFICO 27 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO CUSTO TOTAL

FONTE: O autor

3.1.1 Custo unitário de curto prazo

Além do correto entendimento dos custos totais, no curto prazo; precisamos conhecer as curvas de custo unitário, pois o empresário precisa tomar decisões considerando o custo por produto.

Usualmente, os economistas, como, por exemplo, Passos e Nogami (2005), classificam os custos unitários como:

a) Custo fixo médio (CFme): é o rateio das despesas fixas pelas quantidades produzidas, ou seja, a média do custo fixo em relação ao volume de produção efetuado num instante qualquer de produção. Fórmula matemática: CFme = Custo Fixo / Quantidade Produzida. Utilizando dados do quadro a seguir, terceira linha de dados, temos como exemplo: CFme = R$ 200,00 / 2 = R$ 100,00. O custo fixo médio diminui à medida que a quantidade produzida aumenta, isto é, a cada unidade de produto responde por uma parcela menor de custo fixo.

Vamos utilizar o Quadro e adicionar uma coluna para o custo fixo médio.

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

QUADRO 19 – CUSTO FIXO MÉDIO (CFme) DE UMA EMPRESA

QUANTIDADE PRODUZIDA CUSTO FIXO – em R$ CUSTO FIXO MÉDIO (CFme):

– em R$0 200,00 0,001 200,00 200,002 200,00 100,003 200,00 66,674 200,00 50,005 200,00 40,006 200,00 33,337 200,00 28,57

FONTE: O autor

O gráfico a seguir nos mostra a representação gráfica do custo fixo médio (CFme).

GRÁFICO 28 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO CUSTO FIXO MÉDIO (CFme) DE UMA EMPRESA

FONTE: O autor

a) Custo variável médio (CVme): é o valor, em média, que é gasto em despesas variáveis para se produzir uma quantidade num determinado nível de produção. Fórmula matemática: CVme = Custo Variável / Quantidade Produzida. Utilizando dados do próximo quadro, terceira linha de dados, temos como exemplo: CVme = R$ 130,00 / 2 = R$ 65,00. A representação gráfica desta variável tem uma característica particular. A forma característica da Curva deste custo é em formato de “U” (Veja a linha de tendência, isto é, linha não pontilhada).

Vamos novamente nos utilizar do mesmo quadro e adicionar uma coluna para o custo variável médio.

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TÓPICO 2 | TEORIA DOS CUSTOS

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QUADRO 20 – CUSTO VARIÁVEL MÉDIO (CVme) DE UMA EMPRESA

QUANTIDADE PRODUZIDA

CUSTO VARIÁVEL– em R$

CUSTO VARIÁVEL MÉDIO (CVme): – em R$

0 0,00 0,001 80,00 80,002 130,00 65,003 142,00 47,334 180,00 455 200,00 406 260,00 43,337 390,00 55,71

FONTE: O autor

O gráfico a seguir nos mostra a representação gráfica do custo variável médio (CVme).

GRÁFICO 29 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO CUSTO VARIÁVEL MÉDIO (CVme) DE UMA EMPRESA

FONTE: O autor

a) Custo total médio (Cme): representa o resultado da divisão do custo total pela quantidade produzida, isto é, representa o quanto custa para se produzir uma unidade em um dado momento de nível de produção. É o rateio de todas as despesas (custo fixo + custo variável) pelas quantidades que estão sendo produzidas num determinado instante de tempo. Fórmula matemática: Cme = (custo fixo + custo variável) / Quantidade Produzida. Utilizando dados do quadro a seguir, terceira linha de dados, temos como exemplo: Cme = R$ 330,00 / 2 = R$ 115,00. Também apresenta um formato aproximado de “U” (Veja a linha de tendência, isto é, linha não pontilhada), devido à eficiência com a qual os fatores de produção fixos e variáveis são utilizados. Passos e Nogami (2005, p. 252-253) explicam esse efeito da seguinte forma:

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

De início, enquanto a produção aumenta, tanto a eficiência dos fatores fixos quanto dos fatores variáveis está aumentando. Isso se reflete na diminuição dos custos fixos médios e dos custos variáveis médios trazendo, em decorrência disso, uma diminuição no custo médio. A partir de determinado instante, entretanto, o custo variável médio começa crescer. Entretanto, o decréscimo nos custos fixos médios mais do que compensa os aumentos nos custos variáveis médios, e os custos médios continuam decrescendo. Finalmente, o aumento no custo variável médio mais do que compensa a diminuição no custo fixo médio. O custo médio, então, atinge um mínimo para aumentar em seguida.

Mais uma vez vamos empregar o mesmo quadro e adicionar uma coluna para o custo total médio.

QUADRO 21 – CUSTO TOTAL MÉDIO (Cme) DE UMA EMPRESA

QUANTIDADE PRODUZIDA CUSTO TOTAL – em R$ CUSTO TOTAL MÉDIO

(Cme) – em R$0 200,00 -----1 280,00 280,002 330,00 115,003 342,00 114,004 380,00 95,005 400,00 80,006 460,00 76,677 590,00 84,29

FONTE: O autor

O gráfico abaixo nos mostra a representação gráfica do custo total médio (Cme).

GRÁFICO 30 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO CUSTO TOTAL MÉDIO (Cme) DE UMA EMPRESA

FONTE: O autor

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TÓPICO 2 | TEORIA DOS CUSTOS

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Conforme explicação anterior de Passos e Nogami (2005), podemos ver que o Cme decresce, em nosso exemplo, até o mínimo de R$ 76,67 e depois volta a crescer.

a) Custo marginal (Cmg) ou incremental: é o acréscimo no custo total resultante do acréscimo de uma unidade na produção. Ele mede a proporcionalidade em que o custo total varia quando se provoca variação de uma única unidade no nível em que se está produzindo uma mercadoria. Esse custo é o único que não possui contrapartida com os custos totais. Fórmula matemática: Cmg = variação custo total / variação de uma unidade na quantidade produzida. Utilizando dados do quadro a seguir, segunda e terceira linha de dados, temos como exemplo: Cmg = R$ 330,00 - 280,00/ 2 - 1 = R$ 50,00, ou seja, para passar a produção de 1 unidade para 2 unidades, o incremento de custo – custo marginal – é de R$ 50,00.

QUADRO 22 – CUSTO MARGINAL (Cmg) DE UMA EMPRESA

QUANTIDADE PRODUZIDA CUSTO TOTAL – em R$ CUSTO MARGINAL

(Cmg)– em R$0 200,00 -----1 280,00 80,002 330,00 50,003 342,00 12,004 380,00 38,005 400,00 20,006 460,00 60,007 590,00 130,00

FONTE: O autor

O gráfico a seguir nos mostra a representação gráfica do custo marginal (Cmg).

GRÁFICO 31 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO CUSTO MARGINAL (Cmg) DE UMA EMPRESA

FONTE: O autor

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

Para encerrar, vamos verificar quais fatores poderiam deslocar as curvas de custo de sua posição original.

Para Cabral e Yoneyama (2008, p. 135) temos duas razões básicas:

• Mudanças Tecnológicas: com o emprego de melhores tecnologias, as mesmas combinações de insumos podem produzir maiores quantidades de produtos com menores custos.

• Mudanças nos preços dos fatores ou recursos produtivos: Quando o preço de um fator fixo de produção aumenta as curvas de custos fixos se deslocam para cima, tanto o custo fixo total quanto o custo fixo médio. Se os preços das matérias-primas usadas na fabricação de um produto são majorados, os custos variáveis desse produto sobem.

3.2 CUSTO DE PRODUÇÃO NO LONGO PRAZO

Aqui, na análise do custo de produção no longo prazo, vamos proceder da mesma forma que na análise da produção no longo prazo.

Como vimos antes, o longo prazo é um período de tempo em que todos os insumos são variáveis.

Assim, Oliveira (2006, p. 243) aponta que:

No longo prazo, os custos totais serão iguais aos custos variáveis, pois, durante esse tempo, a empresa tem a oportunidade de variar todos os seus insumos, e dessa forma ela poderá escolher qual combinação desses insumos é capaz de minimizar os custos de produção de um determinado produto. O comportamento do custo total e médio de longo prazo está relacionado ao tamanho ou dimensão da planta da empresa.

Portanto, considerando o que já vimos no curto prazo, podemos concluir que o empresário opera a produção no curto prazo e planeja suas atividades no longo prazo.

Podemos pensar do seguinte modo, como nosso exemplo do restaurante: o proprietário do restaurante começou com um carrinho de lanches, depois devido ao sucesso estabeleceu uma pequena lanchonete, posteriormente decidiu por servir refeições mais completas, evoluiu para um pequeno restaurante e no longo prazo atingiu um patamar de negócios maior e transformou seu pequeno negócio em um grande restaurante. Ele empregou além de sua capacidade empresarial os demais fatores de produção em uma proporção sempre crescente.

3.2.1 Economia de escala

Outro conceito importante que está ligado à teoria da produção e à teoria de custos é o de economias de escala.

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TÓPICO 2 | TEORIA DOS CUSTOS

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Gomes (1992, p. 60) aponta que:

Entende-se por economias de escala, associadas a um bem em particular, a redução do custo médio de longo prazo (de produção e de distribuição), à medida que se eleva o nível de produção. É basicamente uma relação entre custos médios e nível ou volume de produção, entendidos os dois últimos como escala ou tamanho de produção.

Considerando o enunciado acima fica claro que o surgimento de economias de escala só é possível quando apresentam alguma capacidade para expandir a quantidade total produzida sem incrementar na mesma proporção o custo médio de produção. E isso pode se dar pela melhor utilização dos fatores de produção já à disposição da empresa ou através de uma nova aquisição, incluindo a aquisição de concorrentes, de fornecedores ou clientes.

Passos e Nogami (2011); Oliveira (2006) apontam os seguintes aspectos que contribuem para o surgimento de economias de escala:

• Divisão e especialização do trabalho: programas de treinamento constante para os colaboradores resultam no aumento da destreza, permitindo a redução de tempo necessário à execução de cada atividade e também a eliminação da perda de tempo decorrente da mudança de uma atividade para outra. Redução de tempo se reflete no aumento da produtividade.

• Preços dos fatores de produção: é possível obter economia por meio da aquisição de grandes lotes de matérias-primas e de outros fatores produtivos, uma vez que encomendas maiores propiciam a obtenção de descontos financeiros mais atrativos.

• Indivisibilidade de operações financeiras: empresas de maior porte têm melhores condições de acesso a empréstimos e financiamentos, com juros mais baratos.

• Indivisibilidade de equipamentos: certos tipos de máquinas e equipamentos só são economicamente viáveis após determinados tamanhos mínimos.

• Vantagens ligadas ao marketing e à promoção de vendas: é muito comum que grandes empresas possuam seu próprio pessoal e até mesmo o próprio veículo de divulgação para seus produtos.

• Economia de escopo: benefícios de menores custos ao se produzir dois ou mais produtos em conjunto, em virtude da tecnologia empregada, em vez de separados. Exemplos: a empresa produzir smartphones e tablets.

• Vantagens de produção e distribuição: quando a empresa possui diversas unidades produtivas, são vários os benefícios relacionados à logística da produção e distribuição, originados por essas múltiplas operações.

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

4 RENDIMENTOS E MAXIMIZAÇÃO DOS LUCROS DA EMPRESA

No começo desta unidade nós passamos a olhar o exemplo inicial, o exemplo do restaurante, sob o enfoque do empresário.

Nós vimos também que assim como os consumidores, o empresário deve tomar uma série de decisões constantemente para obter sucesso em seu negócio/empresa. Essas decisões envolvem o processo produtivo, atender as demandas dos clientes, administrar custos, decidir volume de produção etc. Tudo isso dentro do ambiente de uma empresa e para satisfazer os desejos e necessidades dos consumidores.

Então é justo que diante de todo esse esforço a empresa de sua propriedade receba uma compensação. Essa compensação é que chamamos de receita.

A receita, uma determinada quantia financeira por cada unidade de produto das empresas, reflete além do esforço do empresário a melhor combinação de recursos – fatores de produção – e os custos de oportunidade.

Segundo Oliveira (2006), as receitas da empresa são:

• Receita total (RT): representa a quantidade total de produtos vendida multiplicada pelo preço unitário do produto. Sua representação matemática é: RT = Preço unitário do produto X Quantidade Vendida.

• Receita média (Rme): é a receita que a empresa receberá por unidade vendida de produtos, isto é, é o resultado do quociente entre a receita total e a quantidade vendida. Sua representação matemática é: Rme = Receita Total / Quantidade Vendida.

• Receita marginal (Rmg): é definida como a variação na receita total decorrente do acréscimo de uma unidade na quantidade vendida do produto. Sua representação matemática é: Rmg = Variação na Receita Total / Variação de uma Unidade na Quantidade Vendida.

4.1 MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO NO CURTO PRAZO

Nós sabemos que no horizonte de tempo conhecido como curto prazo o empresário pode tomar a decisão de incrementar ou reduzir a produção do seu negócio, mediante a maior ou menor utilização dos fatores de produção variáveis (PASSOS; NOGAMI, 2011).

• Vantagens provenientes de inovações tecnológicas: é natural que grandes empresas tenham mais recursos disponíveis para investir na criação de novos produtos e/ou processos produtivos do que empresas menores.

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TÓPICO 2 | TEORIA DOS CUSTOS

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QUADRO 23 – QUADRO DE DADOS DE RECEITA, CUSTOS E LUCRO PARA UMA EMPRESA EM UM MERCADO COMPETITIVO

FONTE: PASSOS, Carlos Roberto Martins; NOGAMI, Otto. Princípios de economia. 5. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011, p. 295.

Porém, o empresário pode decidir também ajustar o seu nível de produção buscando como objetivo maximizar o seu lucro.

Resumidamente, o lucro é definido como a diferença entre a Receita Total (RT) de vendas e o Custo Total (CT) de produção.

Segundo Passos e Nogami (2011, p. 295), no curto prazo, considerando um mercado competitivo, “maximizará o seu Lucro Total (LT) no nível de produção em que a diferença entre a Receita Total (RT) e o Custo Total (CT) for máxima”.

Vamos aproveitar o exemplo apresentado por esses autores para ilustrar essa situação.

A figura a seguir apresenta a tabela de dados proposta por Passos e Nogami, e apresenta informações de receita, custos e lucro para uma empresa em um mercado competitivo.

(1) Preço de Mercado

P($)

(2) Nível de Produçao e Vendas

Q

(3) Receita Total

(1) x (2)

RT ($)

(4)Custo Fixo

CF($)

(5)Custo

Variável

CV($)

(6)Custo Total

CT($)

(7)Lucro Total

(3) - (6)

LT($)10,00 0 0 30,00 0 30,00 -30,0010,00 1 10,00 30,00 4,00 34,00 -24,0010,00 2 20,00 30,00 7,00 37,00 -17,0010,00 3 30,00 30,00 9,00 39,00 -9,0010,00 4 40,00 30,00 11,50 41,50 -1,5010,00 5 50,00 30,00 14,50 44,50 5,5010,00 6 60,00 30,00 18,50 48,50 11,5010,00 7 70,00 30,00 25,00 55,00 15,0010,00 8 80,00 30,00 35,00 65,00 15,0010,00 9 90,00 30,00 51,00 81,00 9,0010,00 10 100,00 30,00 75,00 105,00 -5,00

Observando a tabela apresentada acima, podemos verificar que:

• A obtenção de lucro começa a partir da produção de 5 unidades.

• O lucro máximo é de R$ 15,00 e que ocorre com uma produção de 7 ou 8 unidades.

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184

UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

GRÁFICO 31 – GRÁFICOS DA MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO

FONTE: PASSOS, Carlos Roberto Martins; NOGAMI, Otto. Princípios de economia. 5. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011, p. 296.

• A empresa retorna ao prejuízo quando passa a produzir 10 unidades (Lei dos Rendimentos Decrescentes).

A figura a seguir apresenta os gráficos construídos com os dados propostos anteriormente e permite uma melhor visualização do que foi constatado através da tabela de dados.

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TÓPICO 2 | TEORIA DOS CUSTOS

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5 PONTO DE EQUILÍBRIO OU BREAK-EVEN POINT

O ponto de equilíbrio é um importante indicador quantitativo, utilizado por empresários e empreendedores para estabelecer estratégias empresariais de volume de produção/vendas frente a seus custos totais.

É definido como o nível de produção e vendas em que todos os custos fixos e variáveis são cobertos pela receita, ou seja, representa o ponto em que o lucro é igual a zero. Pode ser interpretado também como o nível de produção e vendas mínimo para que uma empresa opere sem prejuízo, ou seja, Receita Total = Custo Total.

Considerando os conceitos que já conhecemos, representados pelas fórmulas a seguir:

• CT = CF + CV => Custo Total é igual à soma dos Custos Fixos mais os Custos Variáveis.

• RT = P X Q => Receita Total é igual à multiplicação do Preço de Venda pela Quantidade Total Produzida.

• LT = RT – CT => Lucro Total é a diferença entre a Receita Total e os Custos Totais.

• CVme = CV – Q => Custo Variável Médio é igual à divisão do Custo Variável pela Quantidade Produzida.

A representação matemática que determina o Ponto de Equilíbrio é:

CF Q = ------------------------- P – CVmeOnde:P = Preço de VendaQ: Quantidade ProdutivaCF = Custos FixosCVme = Custo Médio Variável

Como exemplo vamos considerar que uma determinada empresa têxtil produza uma camiseta com o preço de venda de R$ 50,00. Os Custos Fixos dessa indústria são de R$ 100.000,00 e o Custo Variável por unidade produzida é de R$ 25,00.

Substituindo os valores na fórmula acima teremos que:

Q = R$ 100.000,00 / (R$ 50,00 – R$ 25,00)Q = 4.000 camisetas.

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186

UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

Com a produção de 4.000 camisetas a receita se iguala aos custos.

Resumindo, acima de 4.000 camisetas a empresa começará a ter lucro e abaixo deste patamar a empresa apresentará prejuízo.

Vamos construir um quadro como exemplo e posteriormente ver como fica graficamente o Ponto de Equilíbrio.

QUADRO 24 – DADOS DE CUSTOS, RECEITAS, RESULTADOS

PREÇO DE

VENDA (R$)

QUANTIDADE CUSTO FIXO (R$)

CUSTO VARIÁVEL

(R$)

CUSTO TOTAL

(R$)

RECEITA TOTAL

(R$)

LUCRO OU (PREJUÍZO)

(R$)

50,00 500 100.000,00 12.500,00 112.500,00 25.000,00 (87.500,00)50,00 1000 100.000,00 25.000,00 125.000,00 50.000,00 (75.000,00)50,00 2.000 100.000,00 50.000,00 150.000,00 100.000,00 (50.000,00)50,00 3.000 100.000,00 75.000,00 175.000,00 150.000,00 (25.000,00)50,00 4.000 100.000,00 100.000,00 200.000,00 200.000,00 0,0050,00 4.500 100.000,00 112.500,00 212.500,00 225.000,00 12.500,0050,00 5.000 100.000,00 125.000,00 225.000,00 250.000,00 25.000,00

FONTE: O autor (dados hipotéticos)

GRÁFICO 32 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO PONTO DE EQUILÍBRIO DE UMA EMPRESA

FONTE: O autor

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico você viu que:

• O objetivo básico de qualquer empresa é o lucro, isto é, a maximização dos resultados oriundos de sua atividade econômica. E todo o esforço de gestão dos administradores de empresas que atuam no livre mercado está focado nisso. Para Oliveira (2006) este cenário se dará de duas formas: maximização da produção diante de um patamar de custos, ou pela minimização dos custos totais para um determinado volume de produção.

• O conceito de custo em economia pode ser entendido como “o valor das oportunidades sacrificadas” (BESANKO; BRAEUTIGAM, 2004, p. 177).

• O custo de oportunidade está relacionado com as escolhas que todos os agentes econômicos têm de enfrentar constantemente. Para Oliveira (2006, p. 238) são “os custos relacionados às oportunidades deixadas de lado por determinado indivíduo ou empresa, num espaço de tempo específico”.

• Custos Fixos (CF): estão associados ao emprego dos fatores de produção fixos e referem-se às despesas nas quais a empresa terá de incorrer (pagar, desembolsar financeiramente), quer ela produza ou não, isto é, são independentes do volume de produção.

• Custo de Variáveis (CV): a característica marcante dessa categoria é que esses custos variam conforme o volume de produção da empresa, isto é, são dependentes do volume de produção.

• As medidas de custo unitário no curto prazo são: Custo Fixo médio (CFme); Custo Variável médio (CVme); Custo total médio (Cme) e Custo marginal (Cmg) ou Incremental.

• Dois fatores que influenciam os custos em curto prazo são basicamente: mudanças tecnológicas e mudanças nos preços dos fatores ou recursos produtivos.

• Economias de escala somente são possíveis quando a empresa dispõe de capacidade para expandir a quantidade total produzida sem incrementar na mesma proporção o custo médio de produção. E isso pode se dar pela melhor utilização dos fatores de produção já à disposição da empresa ou através de uma nova aquisição, incluindo a aquisição de concorrentes, de fornecedores ou clientes.

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• Ponto de equilíbrio é o nível de produção e vendas em que todos os custos fixos e variáveis são cobertos pela receita, ou seja, representa o ponto em que o lucro é igual a zero.

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AUTOATIVIDADE

1 Os ______________ referem-se às despesas nas quais a empresa terá de incorrer (pagar, desembolsar financeiramente), quer ela produza ou não, isto é, são independentes do volume de produção. A alternativa que completa essa sentença de forma CORRETA é:

( ) Custo Marginal ( ) Custo Médio Total Ponderado ( ) Custos Fixos ( ) Custos Variáveis

2 Conceitue e exemplifique: a) Custos Variáveis e b) Custo Total.

3 Defina o que é CUSTO DE OPORTUNIDADE e exemplifique com um acontecimento de seu cotidiano.

4 Preencha o quadro a seguir:

QUANTIDADE PRODUZIDA

CUSTO FIXO – em

R$

CUSTO VARIÁVEL

– em R$

CUSTO TOTAL –

em R$

CUSTO FIXO

MÉDIO (CFme)

CUSTO VARIÁVEL

MÉDIO (CVme)

CUSTO TOTAL

MÉDIO (Cme)

0 180,00 0,001 180,00 90,002 180,00 120,003 180,00 135,004 180,00 165,005 180,00 225,006 180,00 360,00

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TÓPICO 3

EQUILÍBRIO DO MERCADO

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Considerando as Unidades 1 e 2 e o tópico anterior deste Caderno de Estudos, tivemos nosso foco voltado para explicar como através da atividade econômica, os agentes econômicos interagem em determinados mercados.

Abordamos a questão da racionalidade tanto por parte dos consumidores como por parte das empresas, em busca de seus objetivos.

No lado da oferta, descobrimos que as empresas tomarão decisões de ofertar bens e serviços ao mercado que satisfaçam os desejos e necessidades dos consumidores dentro de um conjunto de opções que permitam maximizar seus resultados financeiros.

No lado da demanda, descobrimos que os CONSUMIDORES tomarão decisões de adquirir bens e serviços, que satisfaçam seus desejos e necessidades, em função de suas preferências e restrição orçamentária.

Fica claro, portanto, um conflito de interesses entre esses dois agentes econômicos.

Será que este conflito tem solução?

2 PREÇO DE EQUILÍBRIO

Quando consumidores – com sua intenção de maximizar (satisfazer) suas necessidades e desejos dentro de sua capacidade de pagamento (restrição orçamentária) – e produtores – com sua intenção de maximizar seus lucros minimizando seus custos – interagem em um determinado mercado é provável que aconteça uma situação de conflito.

Rossetti (2002) aponta que preços baixos são pouco atraentes para os empresários e portanto, eles se disporiam a produzir menos, obviamente reduzindo a oferta. Já os consumidores estão em posição oposta: os preços baixos é que os estimulam a adquirir maiores quantidades de bens e serviços, aumentado assim a demanda.

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

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Logicamente o inverso também é um cenário de conflito: preços mais atrativos geram maior oferta de produtos por parte das empresas, contudo desestimulam os consumidores a consumir quantidades maiores.

Mas na realidade a interação entre esses dois agentes econômicos acaba gerando um cenário possível de equilíbrio.

Se analisarmos as duas representações gráficas tanto da demanda – uma reta com a inclinação negativa – como da oferta – uma reta com a inclinação positiva – veremos que há um ponto de intersecção, isto é, elas se cruzam.

Nesse ponto onde elas se cruzam temos o preço de equilíbrio.

Rossetti (2002, p. 428) aponta que este nível de preço “ajusta os interesses dos que realizam a oferta e dos que exercem a procura (demanda)”.

É preciso ressaltar que estamos tratando de um mercado, chamado pela economia de competitivo, que tem como principal característica a interação entre muitos compradores e vendedores, sendo assim, nenhum deles tem a capacidade de influenciar sozinho o preço e a quantidade de mercado. Os conceitos de estruturas de mercado veremos mais à frente no Tópico 4.

Mochón Morcillo (2006, p. 28) define preço de equilíbrio e quantidade de equilíbrio como:

O preço de equilíbrio ou o preço que esvazia o mercado é aquele para o qual a quantidade demandada é igual à ofertada. Essa quantidade é a quantidade de equilíbrio. O equilíbrio encontra-se na intersecção das curvas da oferta e da demanda. No equilíbrio, como a quantidade ofertada e a demanda se igualam, não há nem escassez nem excedente.

Para compreender melhor esse cenário, vamos resgatar o quadro de demanda do consumidor A da Unidade 2 e combiná-la com o quadro de oferta da empresa A do Tópico 1 desta unidade, gerando o quadro a seguir.

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TÓPICO 3 | EQUILÍBRIO DO MERCADO

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QUADRO 25 – DADOS DE OFERTA E DEMANDA PARA POTINHOS DE IOGURTE

PREÇO DO POTINHO DE IOGURTE em

R$

QUANTIDADE DE POTINHOS DE IOGURTE OFERTADA

PELA EMPRESA A - em unidades

QUANTIDADE DE POTINHOS DE IOGURTE DEMANDADA PELO CONSUMIDOR A - em

unidades1,00 0 141,50 02 122,00 04 102,50 06 083,00 08 063,50 10 044,00 12 024,50 14 0

FONTE: O autor (dados hipotéticos)

Com base somente no quadro anterior, não conseguimos obter diretamente o preço de equilíbrio.

Então vamos resgatar também nossas curvas de demanda da Unidade 2 e combiná-las com a curva de oferta que traçamos no tópico anterior e verificar uma possível situação de equilíbrio.

GRÁFICO 33 – OBTENÇÃO DO PREÇO DE EQUILÍBRIO

FONTE: O autor

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

194

Agora sim é possível visualizar com clareza o preço de equilíbrio: R$ 2,75 para uma quantidade de equilíbrio de sete unidades, ou seja, ocorreu uma situação na qual os interesses tanto as empresas como dos consumidores foram harmonizados, ou seja, coincidiram. Assim, nesse mercado, nesse momento está ocorrendo uma relação de troca equilibrada entre produtores e consumidores.

No equilíbrio não há nem excesso nem escassez de mercadorias no mercado.

É importante também aprofundar nossa interpretação desse gráfico, considerando o que acontece fora do preço de equilíbrio. As duas possibilidades são:

• Escassez: abaixo do equilíbrio as quantidades procuradas (demandadas) são maiores do que as quantidades ofertadas. Vamos ver a linha de preço de R$ 2,00: a oferta é de 04 unidades, porém a demanda – linha pontilhada – é de 10 unidades. Nesse cenário, haverá uma disputa natural entre os consumidores para adquirir o produto, o que estimulará os produtores a aumentar a oferta, além de forçar a elevação do preço.

• Excesso: acima do equilíbrio as quantidades procuradas são menores do que as quantidades ofertadas. Vamos ver a linha de preço de R$ 3,50: a oferta é de 10 unidades, porém a demanda – linha pontilhada – é de 04 unidades. Nesse cenário, haverá uma disputa natural entre os produtores para ofertar o produto, o que estimulará os produtores a reduzirem a oferta, além de forçar a redução do preço.

Desses dois cenários surge a famosa Lei da Oferta e da Demanda. A Lei da Oferta e da Demanda estabelece que o preço de um bem ou

serviço se ajuste para equilibrar a oferta e sua demanda. Em outras palavras: há uma tendência ao nível de equilíbrio.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico você viu que:

• No lado da oferta, descobrimos que as empresas tomarão decisões de ofertar bens e serviços ao mercado que satisfaçam os desejos e necessidades dos consumidores, dentro de um conjunto de opções que permitam maximizar seus resultados financeiros.

• No lado da demanda, descobrimos que os consumidores tomarão decisões de adquirir bens e serviços que satisfaçam seus desejos e necessidades, em função de suas preferências e restrição orçamentária.

• O preço de equilíbrio é aquele para o qual a quantidade demandada é igual à ofertada. O equilíbrio encontra-se na intersecção das curvas da oferta e da demanda. No equilíbrio, como a quantidade ofertada e a demanda se igualam, não há nem escassez nem excedente.

• A quantidade de equilíbrio é aquela representada pela igualdade entre as quantidades da oferta e da demanda no ponto de equilíbrio.

• No equilíbrio não há nem excesso – quantidades procuradas são menores do que as quantidades ofertadas, nem escassez – as quantidades procuradas (demandadas) são maiores do que as quantidades ofertadas – de mercadorias no mercado.

• A lei da oferta e da demanda estabelece que o preço de um bem ou serviço se ajusta para equilibrar a oferta e sua demanda. Em outras palavras: há uma tendência ao nível de equilíbrio.

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AUTOATIVIDADE

Agora:

a) Defina PREÇO DE EQUILÍBRIO.

b) Represente graficamente uma situação de equilíbrio deste mercado.

c) Informe o PREÇO DE EQUILÍBRIO.

d) Informe a QUANTIDADE DE EQUILÍBRIO.

e) Informe um ponto no gráfico onde temos uma situação de EXCESSO.

f) Informe um ponto no gráfico onde temos uma situação de ESCASSEZ.

1 Considere o seguinte quadro com informações da oferta e demanda de um determinado produto X em seu mercado de consumo.

PREÇO DO PRODUTO

X em R$

QUANTIDADE DE PRODUTO X OFERTADA PELA EMPRESA

A - em unidades

QUANTIDADE DE PRODUTO X DEMANDADA PELO CONSUMIDOR A - em

unidades1,00 02 142,00 04 123,00 06 104,00 08 085,00 10 066,00 12 047,00 14 02

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TÓPICO 4

ESTRUTURAS DE MERCADO

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Todos os dias um número praticamente incontável de empresas, no mundo todo, ofertam a um número ainda maior de consumidores seus bens e serviços para consumo, ou seja, atendem a uma demanda de um determinado mercado. As empresas buscam maximizar seus lucros frente aos seus custos e os consumidores buscam maximizar a sua satisfação frente à sua restrição orçamentária.

Esta interação em um determinado mercado entre consumidores e produtores, entre demanda e oferta, resulta na determinação do preço dos bens e serviços e pode ser abordada através de diferentes estruturas de mercado (MENDES, 2004).

Para Mendes (2004, p. 124) “o termo estrutura de mercado refere-se às características organizacionais de um mercado, as quais determinam as relações entre: vendedores no mercado; compradores no mercado; vendedores e compradores; vendedores estabelecidos e novos vendedores”.

Riani (1998, p. 147) acrescenta que “dependendo das características dos bens e serviços que serão produzidos as firmas irão atuar num sistema de mercado cujas características irão influenciar significativamente as decisões dos produtores sobre quantidade, qualidade, variedade, preço de venda etc.”

Riani (1998) lista ainda uma série de fatores que dimensionam e dão forma às estruturas de mercado:

Mercado é o meio pelo qual os agentes econômicos interagem entre si, na compra e na venda de fatores de produção e de bens e serviços, satisfazendo suas necessidades.

UNI

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

198

• Número de empresas que atuam no mercado.• A capacidade de produção das instalações das empresas.• Quantidade e Tipo de consumidor a ser atingido.• As diferenciações ou as similaridades entre as empresas e os bens e serviços

que as empresas produzem.• Facilidade ou não de acesso às tecnologias de produção.• Emprego de estratégias de marketing para a comercialização dos bens e serviços

produzidos.• Informações tanto dos compradores quanto dos vendedores quanto às

condições de mercado.• Renda dos consumidores e o segmento de mercado (idade, sexo, classe social,

pessoa física ou jurídica etc.) a ser atingido pela produção.

A grande maioria dos autores que abordam a questão da estrutura de mercado apontam que o critério mais frequente para classificar as diferentes estruturas de mercado é o que faz referência ao número de participantes que interagem neste mercado.

Desta forma podemos reconhecer três estruturas:

• Muitos compradores e muitos vendedores = > concorrência perfeita• Número reduzido de vendedores frente a muitos compradores = > oligopólio• Um só vendedor frente a muitos compradores => monopólio

Antes de estudar a concorrência perfeita vamos ver o conceito de concorrência, pois em economia este conceito não tem o mesmo significado daquele que estamos geralmente habituados a ouvir no dia a dia.

2 CONCORRÊNCIA

Quando ouvimos o termo concorrência logo o associamos à ideia de competição, de rivalidade entre dois sujeitos ou entidades – empresas – em busca de um objetivo. Exemplo: dois acadêmicos estão concorrendo ao prêmio de melhor aluno do semestre.

Contudo, como apontam Troster e Mochón Morcillo (1994, p. 155) “em economia, essa concepção foi complementada por outra que considera a concorrência um mecanismo da organização dos mercados, isto é, uma forma de determinar os preços e as quantidades de equilíbrio”.

Essa concepção da concorrência para a economia se dá pelo fato de que os economistas consideram que há um grande número de agentes econômicos interagindo nos mercados, e por isso uma empresa não vê outra como um concorrente.

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TÓPICO 4 | ESTRUTURAS DE MERCADO

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2.1 CONCORRÊNCIA PERFEITA OU PURA

A primeira estrutura a ser analisada denomina-se concorrência perfeita ou pura.

É uma estrutura idealizada – um modelo como a economia denomina – do mercado de bens e serviços, isto é, visa descrever o funcionamento ideal de uma economia, servindo de parâmetro para o estudo das outras estruturas de mercado. Apesar disso, algumas aproximações dessa situação de mercado poderão ser encontradas no mundo real, como é o caso dos mercados de vários produtos agrícolas.

Nessa estrutura a interação da oferta e da demanda determina o preço.

Troster e Mochón Morcillo (1994), Hall e Lieberman (2003) e Mansfield e Yohe (2006) apontam que a definição de concorrência perfeita se dá pela união simultânea de quatro condições:

1) Homogeneidade do produto ou padronização: requer que o produto de um determinado vendedor seja o mesmo que o produto de qualquer outro vendedor: esta condição garante que os compradores não se importem de comprar o produto de qualquer um dos dois vendedores, desde que o preço seja o mesmo. Os produtos são considerados substitutos perfeitos (Dúvidas? Rever o item 1.3 da Unidade 2).

2) Atomicidade: requer que cada participante de um determinado mercado seja um comprador ou um vendedor, e seja tão pequeno em relação a este mercado como um todo que não possa afetar o preço do produto. Em outras palavras: nenhum comprador pode ser grande o bastante para que com seu poder de barganha possa conseguir um melhor preço dos vendedores; e da mesma forma, nenhum vendedor pode ser tão grande a ponto de influenciar o preço.

3) Liberdade de entrada e saída (Mobilidade): requer que todos os recursos tenham completa mobilidade: que cada recurso utilizado na produção de bens e serviços possa entrar e sair do mercado com facilidade e também ser empregado em outro uso sem complicações. Um exemplo seria a mão de obra, os colaboradores de uma empresa, que tenham liberdade para além de trocar de emprego possam se mudar de uma região para outra buscando melhores remunerações. Outro exemplo seria o trigo, que pode ser empregado tanto para fazer macarrão, como para fazer pão, como para fazer bolachas.

4) Transparência do mercado: requer que os consumidores, empresas e proprietários de recursos tenham conhecimento perfeito dos dados econômicos e tecnológicos relevantes. Os consumidores precisam conhecer os preços

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

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dos bens e serviços desejados. As empresas devem conhecer os preços dos insumos utilizados na produção de seus produtos e a tecnologia empregada no processo produtivo. Os proprietários de recursos, como por exemplo, os bancos (CAPITAL FINANCEIRO) devem saber quanto seus recursos irão render e todos os seus possíveis usos – no exemplo dos bancos: financiamento da casa própria, financiamento de carros, empréstimos pessoais, crédito consignado etc.

Observando essas quatro condições, que precisam ser cumpridas ao mesmo tempo, realmente dá para entender o porquê de ser considerada uma estrutura idealizada.

Como exemplo de um mercado que se encaixa nessa estrutura temos os mercados de produtos agrícolas, onde há uma série de pequenos e médios produtores espalhados por uma grande área geográfica e, no caso do Brasil, mais de 200 milhões de consumidores.

2.2 CONCORRÊNCIA IMPERFEITA

Como citamos anteriormente, no mundo real é pouco comum nos depararmos com mercados em concorrência perfeita, isto é, na maioria dos casos os mercados não apresentam uma das quatro condições que já estudamos.

Para Mochón Morcillo (2006, p. 121) “um mercado em concorrência imperfeita existe quando as empresas que o integram tem a capacidade de influir no preço de mercado atuando de maneira individual”.

Uma das características básicas deste mercado é a presença de uma série de barreiras de entrada de novas empresas.

As três estruturas de concorrência imperfeita que vamos abordar nesse caderno são: monopólio, competição monopolística e oligopólio.

2.2.1 Monopólio

Podemos considerar o monopólio como o oposto da concorrência perfeita.

Revisitando nosso exemplo do restaurante, onde um consumidor já fez sua escolha de almoçar fora de casa em virtude da maximização do seu tempo, considerando ainda suas preferências e restrição orçamentária, podemos acrescentar mais uma questão: o mercado de refeições é disputado por vários restaurantes, isto é, existem mais vendedores disputando pelo dinheiro e preferência do consumidor.

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TÓPICO 4 | ESTRUTURAS DE MERCADO

201

Em muitos mercados essa situação se repete: vestuários, vinhos, bolachas, laticínios etc.

Contudo, em alguns mercados, principalmente locais, o consumidor não tem escolha: alguns casos bem típicos são o fornecimento de energia elétrica e o fornecimento de água. Existem outros casos: em cidades médias o serviço de televisão a cabo está ao encargo de uma única empresa. O mesmo acontece com os jornais impressos. Em cidades menores, pode haver um único posto de gasolina, um único supermercado, apenas uma farmácia. Todos esses são exemplos de monopólios.

Resumidamente, uma determinada empresa é a única fornecedora (ofertante) de bens e serviços no mercado e obviamente é ela que estabelece o preço de venda desses produtos.

Sendo assim, fica caracterizada pela total ausência de competição (RIANI, 1998).

Oliveira (2006, p. 272-273) descreve as três hipóteses a serem cumpridas para um monopólio ser definido:

• Unicidade: quando o setor ou segmento é constituído por uma única empresa produtora.

• Imobilidade: quando são criadas barreiras para inibir a entrada de outras empresas, sendo que essas barreiras podem ser empregadas isoladamente ou em conjunto.

• Insubstituibilidade: quando não existem substitutos próximos para os bens e serviços produzidos pela empresa monopolista.

Um exemplo claro de monopólio para nós brasileiros é o serviço prestado pelos Correios. Leia este pequeno texto que fala sobre o assunto:

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

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Decisão garante rentabilidade dos Correios, diz Custódio

O presidente da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), Carlos Henrique Custódio, afirmou hoje que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de manter o monopólio da estatal na captação e entrega de correspondências garante a rentabilidade econômica atual da empresa. Ele informou que a estimativa para 2009 é de que os Correios tenham um faturamento de R$ 11,6 bilhões com o total dos serviços. Desse valor, 50% (R$ 5,8 bilhões) vêm dos serviços de correspondência, que Custódio chama de "monopólio postal".

Segundo o presidente da ECT, permanecerão exclusivamente com a estatal os serviços de captação e entrega de telegramas, cartões postais, cartas simples e correspondências agrupadas (entrega de cobranças de taxas ou tarifas de serviços públicos, talões de cheques, cartões de crédito e boletos bancários). Continuarão sendo exploradas em regime de livre concorrência (ECT e empresas privadas) as remessas de mercadorias, encomendas e impressos em geral (malas diretas, folhetos de publicidade, livros, catálogos e revistas e jornais).

Custódio comemorou a decisão do Supremo, mas destacou que ela torna mais urgente o desafio da modernização dos Correios. “O monopólio nos garante o presente, mas não o futuro”, declarou. Acrescentou que um grupo interministerial formado para propor modificações na Lei Postal já concluiu um relatório, que foi entregue à Presidência da República. Segundo Custódio, entre as alternativas de mudanças da lei estão autorização para o Banco Postal ampliar seus serviços e melhor utilização da empresa aérea que presta serviços aos Correios.

Oliveira (2006), Troster e Mochón (1994), Mansfield e Yohe (2006) e Mochón (2006) destacam os seguintes fatores, comumente chamados de barreiras naturais e/ou legais, para o surgimento de monopólios:

• O controle exclusivo de um fator produtivo: se uma determinada empresa possui o domínio das fontes mais importantes de matéria-prima indispensáveis para a produção de um determinado bem.

FONTE: SOBRAL, Isabel. Decisão garante rentabilidade dos correios, diz custódio. O Estado de São Paulo, São Paulo, 05 ago. 2009. Economia & Negócios. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/economia,decisao-garante-rentabilidade-dos-correios-diz-custodio,414156,0.htm>. Acesso em: 15 jan. 2014.

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TÓPICO 4 | ESTRUTURAS DE MERCADO

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• Barreiras por patentes e direitos autorais: a concessão de uma patente, seja ela de um novo produto ou de um novo processo de fabricação, faz surgir um direito de exploração exclusivo para seu inventor por um determinado tempo.

• Barreiras legais: o controle estatal da oferta de determinados serviços origina monopólios estatais, como são parte dos serviços de correio, captação e distribuição de água etc. A ocorrência desta situação está comumente vinculada a setores ou atividades estratégicas.

• Economias de escala ou monopólios naturais: um monopólio natural surge porque, sendo a única empresa, pode oferecer um bem ou serviço a todo um mercado com menos custos do que duas ou mais empresas. Ocorre nas operações com elevada escala de produção, onde uma nova empresa deve despender uma elevada quantia de capital, enquanto que um monopólio já estabelecido leva a vantagem de possuir um custo menor de operação. Exemplo: investimento em uma nova fábrica de produção de aço.

• Tradição de mercado: ocorre quando uma determinada empresa está há muito tempo em um determinado mercado e por esse motivo, domina-o de forma monopolista.

2.2.2 Competição monopolística

Até o momento vimos duas estruturas que podemos considerar extremas no mercado: concorrência perfeita e monopólio.

A concorrência monopolística guarda certa semelhança com a concorrência perfeita em três aspectos básicos: presença no mercado de muitos compradores e vendedores, alta mobilidade.

A principal diferença está no fato de que na concorrência perfeita os produtos são iguais, enquanto que na monopolística os produtos são diferenciados.

Oliveira (2006, p. 286-287) descreve as quatro hipóteses a serem cumpridas para que uma estrutura do tipo concorrência monopolística seja caracterizada:

• Heterogeneidade/Diferenciação: acontece quando os produtos, apesar de diferentes e heterogêneos, guardam uma importante relação entre seus “similares” de mercado. Essa característica de heterogeneidade confere um determinado grau de monopólio à empresa, o que lhe proporcionará alguma liberdade para fixar o preço de seu produto. Essa diferenciação na maioria

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

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das vezes é fruto da alteração de elementos dos produtos como embalagem, design, cor, textura ou reputação da empresa.

• Mobilidade: trata-se da elevada mobilidade das empresas dentro de cada grupo de produto, em função do lucro econômico auferido. Essa é, sem dúvida, uma das características que separa a concorrência monopolista da estrutura de oligopólio, já que no oligopólio não há mobilidade em função das barreiras limitando a entrada de outras empresas em um determinado setor.

• Numerosidade: cada grupo de produtos terá um grande número de empresas que concorrem entre si e, portanto, dividem o poder de monopólio amplo, ou seja, cada uma tem um poder limitado para determinar tanto o preço quanto a sua curva de demanda individual.

• Exclusividade: cada empresa produz sua própria marca, apesar das semelhanças entre os produtos.

2.2.3 Oligopólio

O oligopólio é uma estrutura de mercado que se situa entre concorrência perfeita e os monopólios.

Em alguns setores da economia verifica-se uma alta concentração do capital, ou seja, são caracterizados por grandes corporações que atendem os desejos e necessidades de um grande número de consumidores, e têm a capacidade de controlar o preço dos bens e serviços ofertados.

Troster e Mochón (1994, p. 164) apontam que um mercado está configurado como oligopólio quando “existe um número reduzido de vendedores ofertantes, diante de uma grande quantidade de compradores, de forma que os vendedores podem exercer algum tipo de controle sobre o preço”.

Alguns exemplos dessa estrutura são os bancos, montadoras de automóveis, companhias aéreas, serviços de telecomunicação, comércio varejista, empresas de comunicação, petroquímicas, produtos de higiene e limpeza, e indústria de cimento.

Na visão de Rossetti (2002), Mendes (2004), Browning e Zupan (2004) e Oliveira (2006) as principais características dessa estrutura são:

a) O mercado é dominado por um número reduzido de grandes corporações.

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b) Na maioria dos casos, muito embora possa haver diferenciação entre os produtos das diversas empresas, eles são perfeitos substitutos entre si, como é o caso do setor de eletrodomésticos, sabão em pó, automóveis, cimento etc.

c) O pequeno número de empresas favorece um relativo controle de preços por estas firmas, através de acordos ou conluios.

d) As empresas do setor tentam ganhar mercado através de uma massiva publicidade, e nunca através de redução de preços.

e) A ação de uma firma afeta as demais, tornando-as interdependentes, apresentando, geralmente, uma firma maior que se comporta como líder das demais.

Oliveira (2006) destaca os seguintes fatores, comumente chamados de barreiras naturais e/ou legais, para o surgimento dos oligopólios:

' • Barreiras por patentes e direitos autorais: nos dois casos, elas protegem a propriedade intelectual, seja da tecnologia desenvolvida, seja de conhecimento em determinada área. Exemplo: as patentes são muito empregadas para medicamentos e máquinas e equipamentos; e os direitos autorais para softwares de computadores e livros.

• Economias de escala ou monopólios naturais: nas operações com elevada escala de produção, um nono investidor deve despender um montante muito alto de capital, enquanto que o oligopólio já estabelecido leva a vantagem de possuir um menor custo médio de operação. Exemplo: no mercado de telefonia celular uma nova empresa terá de instalar uma rede completamente nova de antenas, ou pagar elevados preços para utilizar a estrutura das outras firmas já estabelecidas neste mercado.

• Tradição de mercado: ocorre quando existem empresas que já estão há muito tempo explorando o mesmo mercado e por esse motivo, têm amplo domínio do mesmo.

• Controle de fonte de matéria-prima: se somente algumas empresas possuírem significativo volume de um determinado recurso, então apenas elas poderão fornecer o produto ou seus derivados.

Leia este texto que exemplifica a questão dos oligopólios:

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

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Multinacionais do veneno fazem oligopólio bilionário no Brasil

Foram mais de 1 milhão de toneladas de agrotóxicos nas lavouras agrícolas do Brasil na safra 2011/2012, uma boa parte com uso proibido nos Estados Unidos e nos países da União Europeia. Outra parte proibida aqui mesmo, dependendo da cultura em que seja aplicado. Para os fabricantes desses produtos químicos, isso representou um faturamento de US$ 8,9 bilhões somente no Brasil em 2011, em 2000 foi de US$ 2,5 bilhões, tornando o mercado da produção/comércio de veneno um dos mais rentáveis do Brasil.

A falta de informação e fiscalização faz com que, em muitos campos agrícolas, o próprio comerciante indique e receite qual veneno o agricultor deve usar. A venda compete diretamente com os riscos.

O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Agronegócio (5,73% em 2011) e da participação deste no PIB nacional comprovam a importância do setor que, para produzir, precisa dos agrotóxicos. O setor da agricultura teve alta de 5,57%, conforme o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP).

O que espanta muitos especialistas é a intensidade no uso dos produtos químicos. Em 2002, o Brasil consumiu 599,5 milhões de litros de agrotóxicos. Em 2011, a quantidade foi de 852,8 milhões de litros. Na média nacional, aumentou de 10,5 litros para 12 litros por hectare. E não só a quantidade, mas a toxicidade também tem aumentado. Vários fatores contribuem para o crescimento no uso de agrotóxicos, como o aumento do crédito agrícola, facilitando a compra de produtos cada vez mais potentes, e mesmo a isenção fiscal (alguns agrotóxicos têm 60% de isenção de ICMS).

Mas a dependência do produto pela cultura é outro mantenedor de sua aquisição. É o caso do glifosato, cuja demanda é cada vez maior, sobretudo nas lavouras de soja transgênica no Estado de Mato Grosso. Trocando em miúdos, a lavoura mantém dependência do veneno quanto mais ele é utilizado.

Oligopólio

As 11 maiores empresas mundiais detêm 90% do mercado no Planeta e praticamente todo o mercado brasileiro. Essas fabricantes praticamente não concorrem entre si, cada uma com uma variedade de

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FONTE: JÚNIOR, Melquíades. Multinacionais do veneno fazem oligopólio bilionário no Brasil. Diário do Nordeste, Ceará, 17 abr. 2013. Regional. Disponível em: <http://ongcea.eco.br/?p=39402>. Acesso em: 15 jan. 2014.

O texto acima confirma o entendimento de Rossetti (2002, p. 529) com relação aos oligopólios no sentido de que:

Os oligopólios são, de longe, a estrutura de mercado dominante nas modernas economias industriais. São raras as atividades não sujeitas a algum tipo de oligopólio e são ainda mais raros os setores não oligopolizados. As grandes empresas dominam a maior parte dos mercados.

Este mesmo autor, baseado nos estudos de outros economistas, propõe um modelo de classificação dos oligopólios, separando-os em subclasses:

ingredientes ativos para combater uma cultura diferente, num evidente caso de oligopólio.

Embora represente apenas 4% da área agrícola cultivada entre os 20 maiores países agrícolas, o Brasil responde por 20% do consumo de todos os agrotóxicos comercializados no mundo. Os produtos químicos usados na lavoura do Brasil vêm de um grupo de dez grandes empresas, por ordem decrescente de participação – Syngenta (Suíça), Bayer (Alemanha), Basf (Alemanha), FMC (EUA), Du Pont (EUA), Dow Química (EUA), Monsanto (EUA), Makhteshim-Agan (Israel) e Nufarm (Austrália). Em 2010, o Brasil respondia por 18,7% de todo o faturamento da Syngenta no mundo, de U$ 8,8 bilhões.

O rápido crescimento e pujança dos fabricantes de veneno fez esse segmento econômico tão forte que o lobby, nas mais diversas formas, acaba prejudicando a informação sobre o uso mais correto (ou menos prejudicial) do veneno. O resultado é a aplicação de produtos em culturas para as quais ele não é orientado, a falta de obediência à carência entre uma aplicação e outra e uma medida ilegal e letal comum, tanto entre agricultores, quanto entre grandes empresas multinacionais: a produção de coquetéis (mistura de vários ingredientes ativos de herbicidas, fungicidas e inseticidas). Tudo para dar maior garantia de que a produção ficará livre de pragas.

[...]

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

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QUADRO 26 – RESUMO DAS ESTRUTURAS DE MERCADO

ESTRUTURA DE MERCADO

NÚMERO DE

EMPRESAS

DIFERENCIAÇÃO DE PRODUTO

BARREIRAS DE ENTRADA E

SAÍDA

INFLUÊNCIA SOBRE O

PREÇO

CONCORRÊNCIAPREFEITA ELEVADO HOMOGÊNEO

MOBILIDADE: NÃO HÁ

BARREIRASNÃO HÁ

MONOPÓLIO UNITÁRIOPRODUTO ÚNICO SEM SUBSTITUTO

PRÓXIMO

IMOBILIDADE: BARREIRAS AO ACESSO DE NOVAS EMPRESAS

FORTE INFLUÊNCIA

• Oligopólio concentrado: tem como característica básica a homogeneidade nos bens e serviços ofertados, isto é, não há diferenciação. Geralmente, está ligado às indústrias de base e de produtos padronizados, que exigem altos investimentos financeiros e com prazo de maturação (maturação pode ser entendida como o período de tempo necessário ao retorno financeiro do investimento) longo. Barreiras de entrada de novos competidores: elevados montantes financeiros, necessidade de modernas tecnologias de produção e controle de aquisição de insumos. Exemplo: siderúrgicas – fabricação de aço plano e geração de energia elétrica.

• Oligopólio diferenciado: disputam o mercado usando como estratégia a diferenciação dos produtos. A concorrência via estratégia de preços, embora não descartada, não é comum. A competição se dá basicamente através de: investimentos em pesquisa e desenvolvimento, inovação de produtos e processos, gastos com publicidade e qualidade. Vê o mercado consumidor através de segmentos, utilizando como classificador: renda, hábitos de consumo e aspirações sociais. Exemplo: fábricas de automóveis de luxo e aeronaves.

• Oligopólio diferenciado-concentrado: resulta na combinação de elementos dos dois tipos descritos anteriormente. Exemplos: Grandes conglomerados financeiros e indústrias bélicas (armamentos).

• Oligopólio competitivo: é marcado pela competição via estratégia de preços, também conhecida como “guerra de preços”. O objetivo é ampliar suas fatias de participação no mercado competindo diretamente com empresas de menor porte, mas de difícil eliminação do mercado (devido à sua estrutura de custos enxuta). Exemplo: indústria de refrigerantes.

Por fim, para ajudar a fixar os conceitos, temos o quadro a seguir com o resumo das características das estruturas de mercado.

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TÓPICO 4 | ESTRUTURAS DE MERCADO

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FONTE: O autor

CONCORRÊNCIA MONOPOLÍSTICA ELEVADO DIFERENCIADO

MOBILIDADE: NÃO HÁ

BARREIRASLIMITADA

OLIGOPÓLIO REDUZIDO HOMOGÊNEO OU DIFERENCIADO

IMOBILIDADE: BARREIRAS AO ACESSO DE NOVAS EMPRESAS

FORTE INFLUÊNCIA

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UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA OU TEORIA DA EMPRESA

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FUSÕES: COMO O CADE GARANTE A LIVRE CONCORRÊNCIA NO PAÍS

Fusões entre grandes empresas viraram rotina. Toda associação, entretanto, exige uma aprovação prévia. Assim como em um casamento, alguém precisa abençoar a união para que ela obtenha sucesso e não prejudique as partes envolvidas – nem a livre concorrência no País. Dentro da conjuntura brasileira, essa função cabe ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da Justiça.

Advogado da área de Direito Concorrencial do escritório Barbosa, Müssnich & Aragão (BM&A), José Carlos Berardo define que o órgão tem atuação preventiva no controle de estruturas de mercado. O Cade foi formado na década de 60 e, ao longo dos anos, sofreu algumas modificações até firmar seu funcionamento atual. Berardo lembra que, a partir de 1994, o órgão se consolidou como forma de defesa da concorrência moderna – e, ainda em 2012, foram feitas mudanças na sua atuação.

A ação preventiva do Cade ocorre na análise e na tomada de decisões sobre os atos de concentração – as incorporações e as aquisições de controle, mas principalmente a fusão entre empresas. O especialista em Direito Concorrencial explica que a observação feita pela autarquia tem por objetivo garantir que a operação não gere aumento de preços ou piora da qualidade de produtos ou serviços oferecidos. Entretanto, o conselho procura olhar não só o que acontece dentro do mercado.

O seu foco também está no olhar do consumidor. “O Cade não analisa pura e simplesmente o aspecto privado, mas também o aspecto social das fusões, na medida em que os benefícios dessas sinergias sejam repassados para a sociedade de alguma forma”, explica Berardo.

Empresas precisam justificar as operações

O processo em busca da aprovação começa com a submissão do projeto ao Cade. Uma série de informações e justificativas é apresentada ao conselho, que analisa estes dados. “Se concluir que está diante de um caso que merece uma análise mais profunda, vai procurar informações com clientes, concorrentes e fornecedores, de modo a construir um conjunto de dados que permita tomar uma conclusão a respeito”, esclarece Berardo.

O nível de concentração de mercado, ou seja, qual a porcentagem de participação da empresa dentro de determinado nicho, a capacidade de outras companhias de rivalizar com ela e a existência de barreiras para entrada de novos concorrentes são pontos observados pelo conselho. “Na última parte, ele vai

LEITURA COMPLEMENTAR

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TÓPICO 4 | ESTRUTURAS DE MERCADO

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examinar se a operação pode levar a redução de custos e de que forma a empresa pretende repassar isso para os consumidores”, reforça.

Se depois da coleta de dados, o Cade identificar algo que possa prejudicar a livre concorrência de mercado, ele pode recusar a operação ou estipular restrições. “Isso varia muito de acordo com o mercado e o problema em potencial que o Cade identifica”, afirma Berardo. As restrições podem ser, por exemplo, comportamentais, como no caso da fusão entre as companhias Tim e Telefônica. “A Telefônica não pode participar das reuniões do conselho de administração da Tim, na Itália, que digam respeito ao Brasil”, explica.

O advogado especializado em Direito Concorrencial esclarece que a Constituição Brasileira não faz nenhuma diferenciação entre a fusão de empresas nacionais e estrangeiras. Por isso, a análise do Cade não pode ser realizada de forma diferenciada. Berardo ressalta, entretanto, que alguns setores têm regras específicas, como a área de comunicação e rural. “São medidas constitucionais, que não necessariamente refletem na análise do Cade”, afirma.

FONTE: Disponível em: <http://economia.terra.com.br/operacoes-cambiais/operacoes-empresari ais/fusoes-como-o-cade-garante-a-livre-concorrencia-nopais,ca7eda2755e6d310VgnVCM3000009acceb0aRCRD.html>. Acesso em: 15 jan. 2014.

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RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico você viu que:

• Concorrência é uma forma de organizar os mercados que permite determinar os preços e as quantidades de equilíbrio.

• Concorrência perfeita é uma estrutura idealizada de um mercado real, isto é, como um mercado deveria funcionar de maneira ideal. Para ocorrer, necessita que quatro condições sejam obedecidas simultaneamente: 1) Homogeneidade do produto ou padronização; 2) Atomicidade; 3) Liberdade de entrada e saída (Mobilidade); e 4) Transparência do mercado.

• O monopólio se caracteriza pelo fato de que uma determinada empresa é a única fornecedora (oferta) de bens e serviços no mercado e obviamente é ela que estabelece o preço de venda desses produtos.

• As prováveis causas do surgimento de monopólios são:

- Sob um cenário de concorrência imperfeita, as empresas têm poder para influenciar o nível de preços. O monopólio surge como um caso extremo da concorrência imperfeita, pois somente há uma empresa fornecedora de bens e/ou serviços.

- O oligopólio é uma estrutura de mercado que se situa entre concorrência perfeita e os monopólios.

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AUTOATIVIDADE

1 A estrutura de mercado que se caracteriza pela presença de apenas um único fornecedor de bens e/ou serviços é:

( ) Concorrência perfeita.( ) Oligopólio.( ) Monopólio.( ) Reserva de mercado.

2 A estrutura de mercado que se caracteriza pela presença de grandes corporações como fornecedoras de bens e/ou serviços é:

( ) Concorrência perfeita.( ) Oligopólio.( ) Monopólio.( ) Reserva de mercado.

3 Defina CONCORRÊNCIA PERFEITA.

4 Defina MONOPÓLIO e faça uma pesquisa em sites da internet com o objetivo de identificar pelo menos três monopólios em atuação no Brasil na atualidade.

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ANOTAÇÕES

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