estrategia e industria de defesa

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  • 8/10/2019 Estrategia e Industria de Defesa

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    DOCUMENTO DE TRABALHO - NO CITARv. 1 - 9/8/2009

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    SumrioINTRODUO ....................................................................................................... 2

    Propsito e abordagem ...................................................................................... 4

    Estrutura do Livro .............................................................................................. 5

    CAPTULO 2 - SEGURANA E DEFESA .............................................................. 7

    Regimes internacionais e cenrios de planejamento de defesa ........................ 8

    Dimenses de Segurana e Ameaas ............................................................... 10MATRIZ DE CORRELAES ..................................................................... 13

    CAPTULO 3 - O PROBLEMA DA DEFESA ........................................................ 15

    Poder Nacional e Poder Militar ....................................................................... 17Hard Power & Soft Power ............................................................................ 19

    Polticas de Defesa ........................................................................................... 21CAPTULO 4 - PROJETO DA FORA ................................................................. 24

    Capacidades de Defesa ..................................................................................... 25

    Modelo de Capacidades ................................................................................... 27ESTRUTURA DE FORAS .......................................................................... 28

    ESTRATGIA E CONCEITO DE EMPREGO ............................................. 36

    Elementos Derivativos .................................................................................... 43

    FATORES REGULADORES ......................................................................... 44

    Tecnologia e Projeto de Fora .......................................................................... 55Algortimos Lgicos do Projeto de Fora .................................................... 56

    ALTERNATIVAS DE DEFESA .................................................................... 57

    CAPTULO 5 - INDSTRIA DE DEFESA ........................................................... 61

    Indstria de Defesa no Brasil ........................................................................... 68

    DEFESA E INDSTRIA DE DEFESA ............................................................. 73Inacessibilidade Jurdica ............................................................................. 76

    Inacessibilidade tecnolgica ........................................................................ 77

    Segurana e Indstria de defesa .................................................................. 79

    Tratamentos Especiais na Formao de Preos ............................................. 80

    Base Tecnolgica e Industrial de Defesa ......................................................... 81Comrcio Internacional de Produtos de Defesa. ......................................... 83

    Contribuio da Indstria na construo do poder nacional .......................... 84CAPTULO 6 - ECONOMIA E NEGCIOS DE DEFESA ................................... 88

    Metodologias de Planejamento ....................................................................... 91

    Tipos e modalidades de contratos na indstria de defesa .............................. 95

    Controle e Superviso ...................................................................................... 98

    Referencial de poltica industrial e tecnolgica ............................................. 101

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    INTRODUO

    A defesa de um pas consiste, basicamente, no conjunto das capacidades

    sistemicamente organizadas, necessrias para dar consecuo aos propsitos de

    segurana sob uma ponderao de custos e riscos. Essa determinao da defesa passa

    pela qualificao e mensurao das capacidades que possibilitam a construo e

    manuteno do aparato institucional para dar consecuo aos interesses estratgicos

    nacionais, sob o entendimento de que esse aparato, ao contribuir para os propsitos de

    segurana, tambm contribui para a produo de uma ordem poltica estvel mantida

    para benefcios do prprio pas e reforada pela criao de novos produtos e mtodos

    de produo, pela abertura de novos mercados, pela identificao de novas

    competncias, pela inovao tecnolgica, e pela atualizao das formas de organizao

    social e comercial que caracterizam o desenvolvimento nacional.

    Defesa e desenvolvimento no so termos que se opem, mas so duas

    variedades de um mesmo gnero que se explicam mutuamente. O princpio de

    causalidade entre eles se apresenta quando voltam a se encontrar identicamente e sem

    exceo alguma nas alternativas de segurana que instruem. Por outro lado, no se

    deve presumir a contnua validade da natureza convencional das prticas que instruem

    a transformao e alocao de recursos para a defesa, sob o risco de que as idias que

    dominam essas prticas possam adquirir autoridade que rejeitem contestao.

    Cada Estado, em cada momento histrico particular, configura a converso de

    seus recursos em capacidades de defesa que materializam escolhas associadas s suas

    estratgias. Essas capacidades, sistemicamente agregadas nas Foras Armadas,

    possibitam e condicionam mltiplas, simultneas e diferentes formaes operacionais

    sob diferentes formas de coordenao, expressando um dado enfoque intelectual de

    conduta ttica e da prpria natureza da defesa e da guerra.

    A reflexo, deciso e ao que leva construo dessas capacidades da defesa

    no se d de maneira emancipada das formas como empresrios, instituies e

    agencias civis relacionadas ao tema enquadram os problemas, projetam respostas,

    gerenciam projetos e operam as cadeias produtivas que contribuem para o desenho,

    construo e gesto da Fora. Ao contrrio, as alternativas de defesa construdas

    expressam entendimentos e determinam aes que conformam tanto a percepo de

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    prioridades governamentais para a defesa como modelam conceitos e planos de

    negcios que iro gerar as capacidades instrumentais para essas prioridades.

    A disponibilidade de conceitos estruturados sobre o projeto da fora o que

    assegura que o processo de deciso sobre as alternativas de defesa gere propostasconsistentes, permitindo consideraes tcnicas e a integrao dos planos de negcios

    empresariais no exerccio da direo estratgica das indstrias alojadas na cadeia de

    valor dos produtos de defesa. Dois aspectos conexos se apresentam para uma

    atualizao do pensamento e ao brasileiros no contexto das consideraes sobre o

    papel da indstria na defesa. O primeiro diz respeito capacitao concreta do

    empresariado para participar no exerccio da gesto superior da defesa. O segundo diz

    respeito construo do sistema de conceitos que conduz reflexo e ao sobre aformao do poder militar no nvel hierrquico adequado.

    O planejamento de defesa enfoca o horizonte dos anos vindouros a partir de

    uma estrutura conceitual que busca estabelecer as bases pelas quais a ameaa ou o uso

    da fora pode servir como fio condutor para o entendimento da insero de segurana

    do Brasil. Mas isso tem um custo.

    Do final da Segunda Guerra Mundial at a Guerra da Coria, as despesas

    militares dobraram a cada trs anos. Desde ento, outros 50% de aumento foramincorporados a cada 5 anos. Atualmente, as despesas globais de armamento so

    calculadas em cerca de U$ 1.5 bilhes por ano, absorvendo cerca de 7% de toda a

    produo global.

    O Brasil detm o 140 oramento de defesa do mundo, com despesas totais

    projetadas para 2009 em R$ 52.1 bilhes. Esse montante trinta vezes menor que os

    dos EUA. Apesar das diferenas de metodologias na composio das rubricas

    oramentrias, nosso oramento ainda maior do que o do Canad e praticamente o

    dobro do de Israel. Mas em defesa no geram nada sem a vontade de lutar de um povo,

    sem o convencimento de sua populao da importancia da defesa, da solidez das

    instituies militares e sua cultura institucional, assim como do empreendedorismo e

    inovao industrial que assegura os meios que sero utilizados, quando necessrio,

    para manter a paz que se deseja e a expectativa de prover a seus filhos um futuro

    melhor.

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    Propsito e abordagem

    Esse livro foi elaborado com o propsito de auxiliar o entendimento dos

    criterios, procesos e ferramentas que os Estados possuem para identificar, construir e

    manter a defesa que necessitam e que pode almejam.

    Embora dedicado, prioritariamente para profissionais alojados na cadeia

    produtiva da defesa, sua estrutura e contedo temtico tambm considera aqueles que

    intencionam fazer parte dessa cadeira produtiva ou cadeias produtivas correlatas, e

    para os que ainda no sabem que, seja aonde se alojem, profissional e intelectualmente,

    sero sempre, de uma forma ou de outra, partcipes do proceso de construir a

    segurana da nao.

    Este no um livro doutrinrio, mas tambm no pode dizer-se completamento

    isento de no exercitar entendimentos de valor na seleo e tratamento dos temas que

    aborda. O filtro analtico empregado desdobra-se da Teoria Clausewitziana, que afirma

    a subordinao da guerra poltica e da Sistemtica Geral do Projeto de Fora, que

    define e explica logicamente como os elementos do poder nacional so combinados e

    transformados para produzir o sistema de capacidades militares que define a defesa de

    um pas.

    As concluses e recomendaes so sintetizadas desde uma perspectiva que

    reconhece um fundamento terico na Teoria das Escolhas Coletivas, da Teoria do

    Principal-Agente, e da Teoria dos Custos de Transao, s quais se h agregado ainda

    elementos de um enfoque ainda em formao, denominado Nova Administrao

    Pblica, ou Gesto por Capacidades e Desempenhos, que vem se desenvolvendo

    simultaneamente com o impacto da tecnologia da informao nos processos decisrios.

    Este enfoque procura transladar para o setor militar princpios e prticas de

    gerenciamento prprias do setor privado.

    A aplicao de todas esas teorias foi efetuada em alguns casos de forma

    intencional, em outros de forma implcita. Reconhecendo que no seria possivel ser

    inclusivo de todos os temas com todas suas ramificaes, optou-se por aqueles que

    auxliassem na construo de entendimentos sobre os critrios de formao das

    alternativas brasileiras de defesa e da formao correlata de oportunidades na cadeia

    produtiva da defesa.

    Os temas conduzidos desenvolvem questes crticas, tratadas desde seu ponto

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    de vista mais geral, at o da identificao de prticas e ferramentas gerenciais de alto

    nvel, oferecendo subsdios reflexivos capazes de instruir a tomada de deciso sobre as

    demandas colocadas para a indstria de defesa no provimento das foras necessrias

    aos propsitos e aes governamentais nacionais orientadas para o esforo de dotar o

    pas de uma fora armada moderna, de uma indstria de defesa robusta, e de uma

    estratgia militar que estabelea vnculos de consistncia entre elas no exerccio da

    fora, se e quando esta se fizer necessria, para que o pas possa dar consecuo seus

    legtimos direitos e aspiraes.

    Estrutura do Livro

    O livro est estruturado em em cinco captulos. O primeiro captulo, Segurana

    e Defesa, conceitua e explica a relao de dependncia entre esses conceitos,

    apontando os fatores que condicionam essa relao e em que condies, para ento

    apresentar os conceitos de poder nacional e poder militar. Este captulo define a

    estrutura do ambiente aonde a defesa encontra seu objeto e para o qual produz

    resultados, antecipando o segundo captulo, Poltica e Indstria de Defesa.

    No Segundo Captulo, O Problema da Defesa, ento formalizado em toda sua

    extenso, estabelecendo sua correlao com o poder nacional e o poder militar. As

    questes levantadas so ento sistematizadas para evidenciar de forma lgica a funo

    instrumental da poltica de defesa no cumprimento dos processos que instrui, estando o

    Projeto da Fora alojado dentre esses processos.

    O terceiro Captulo, Projeto da Fora, entra no complexo de relacionamentos

    das variveis que produzem o sistema de capacidades que define a defesa, com uma

    abordagem orientada para que empresrios da indstria de defesa possam no somente

    conhecer a complexidade do que uma Fora Militar, como antecipar e entender como

    seus conceitos e planos de negcios se articulam tanto nos aspectos pragmticos da

    defesa como nos altos propsitos que ela cumpre na segurana.

    Uma vez o problema da defesa qualificado, e a funo instrumental da poltica

    definda, apresentam-se, ento, no Quarto Captulo, a indstria de defesa em todos seus

    detalhes, antecipando sua funo no provimento dos produtos e servios que

    concorrem para produzir as capacidades de defesa identificadas no projeto da fora, e

    que o pas necessita.

    Segue-se um captulo sobre Economia e Negcios de Defesa, como

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    continuao natural do projeto da fora, que apresenta algumas consideraes

    econmicas sobre o impacto das decises da indstria sobre a defesa, para ento

    adentrar na discusso de tipos e modalidades praticadas de contratos e como eles so

    controlados e supervisionados. O livro encerra retomando o tema da segurana e

    defesa, contextualizando um conjunto de aes referenciais e um conjunto de

    ferramentas que o governo e a indstria podem buscar juntos para construir a ponte

    entre a defesa e a segurana.

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    CAPTULO 1 - SEGURANA E DEFESA

    Segurana e defesa so conceitos mutuamente complementares, ambos

    definidos em relao maneira como os pases entendem suas demandas dedesenvolvimento nacional em cada momento histrico. Essa correlao faz com que a

    as ambies de desenvolvimento econmico, social, poltico e tecnolgico sejam uma

    funo das condies de possibilidade que a defesa autoriza no provimento das

    condies de segurana requeridas para que as potencialidades nacionais sejam

    exercitadas.

    Podemos ento afirmar que todo desenvolvimento nacional sempre gerado

    sob condies adequadas de segurana, que a defesa constri e mantm. Mas isso no

    significa que exista apenas uma condio de segurana, nem uma nica alternativa de

    defesa, assim como no existe uma opo determinstica de desenvolvimento.

    O futuro forjado nas decises tomadas no presente. Entender a estrutura de

    fatores de deciso que condicionam as alternativas de defesa torna-se cada vez mais

    relevante na rede global de relacionamentos. O Brasil vem conquistando

    aceleradamente capacidade estruturante da rede de relacionamentos em seu entorno

    estratgico, contribuindo para a construo de uma ordem poltica estvel, mantida

    para benefcios dos prprios pases, e reforada por seus desenvolvimentos

    econmicos de forma socialmente justa e sustentada.

    Somos um povo pacfico. Nossa cultura promove valores democrticos, a

    colaborao e a cooperao internacional, no provimento das condies para que as

    pessoas se realizem individualmente e como grupos organizados. Mas no somos

    imprevidentes. Reconhecemos que o mundo cada vez mais competitivo, que os

    pases defendem seus interesses, mesmo aqueles comercial e estrategicamente

    alinhados conosco. Por outro lado, isso no significa que tenhamos intenes

    agressivas veladas, mas sim que preservaremos nossos ideais, valores, cultura e

    patrimnio nacionais contra agresses e ameaas.

    Esses so, em sntese, os dois pilares conceituais da nossa Poltica Exterior e da

    Estratgia Nacional de Defesa. O primeiro pilar instrui a conquista do estado de

    segurana que desejamos a paz, sustentada por estruturas polticas, econmicas que

    permitam s pessoas exercerem dignamente suas potencialidades na conquista de suas

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    metas individuais e coletivas. O segundo pilar define e d significado s formas que

    estamos dispostos a empregar para conquistar e manter esse estado de segurana,

    inclusive, se necessrio, com o uso da fora. E quando o uso da fora se fizer

    necessrio, na forma dissuasiva ou coercitiva, seu emprego ser instrudo pelas

    estratgias militares que traduzem os objetivos polticos em requisitos operacionais,

    lastreada nas competncias tticas que os meios militares e a doutrina de nossas foras

    armadas possibilitam, e escorada nas capacidades logsticas que nossa indstria de

    defesa cria e sustenta.

    Polticas e estratgias nacionais brasileira so forjadas nas redes de

    relacionamentos que definem a idia de globalizao, exaustivamente tratada em

    incontveis trabalhos, com vises concorrentes e discordantes sobre a problemtica dasegurana e, por conseguinte, da defesa no quadro mais amplo da teoria das

    relaes internacionais, aonde atores atores estatais e no-estatais geram a dinmica de

    funcionamento do mundo contemporneo.

    Regimes internacionais e cenrios de planejamento de defesa

    O fato que o sistema internacional exibe uma ampliao, aprofundamento e

    acelerao da interconexo, em escala mundial, da distribuio multipolar de poder

    poltico e econmico. Dentro dessa complexa estrutura, as opes estratgicas

    disponveis a cada Estado so definidas por sua localizao na hierarquia de poder

    global, mantendo vlida a premissa de que as relaes globais de poder impem

    profundas limitaes sobre as aes de cada estado.

    As concluses desdobradas dessa premissa so instrudas por trs abordagens

    analticas: hiperglobalista, ctica e transformacionalista. Cada uma definir cenrios de

    planejamento de defesa bastante diferentes.

    Hiperglobalistas

    Os hiperglobalistas divididos basicamente em neoliberais e neo-marxistas

    assumem que a dinmica de expanso da economia mundial colapsaria a capacidade

    estatal de definir e regular soberanamente suas prioridades de segurana e defesa,

    transferindo-a para instituies de governana global e regional que absorveriam

    algumas prerrogativas do Estado.

    A progressiva fissura na atual forma estatal como meio de organizao dasrelaes entre estados contribuiria para a criao de alianas regionais de defesa com

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    escopo ampliado, dentro de uma moldura de segurana cooperativa global que

    extirparia a alternativa do uso da fora nos conflitos opondo dois ou mais pases.

    Essa condio aumentaria a sensibilidade das prioridades de segurana dos

    estados s aes econmicas, financeiras e comerciais dos Estados para oenfrentamento de ameaas que s poderiam ser atacadas coletivamente como a

    degradao ambiental, o crime organizado, o trfico de drogas e a proliferao de

    armas de destruio em massa, e as novas dimenses do terrorismo ideolgico. Nesse

    sentido, o prprio conceito tradicional de Estado, centrado no monoplio do uso da

    fora e na autonomia decisria em seu territrio, passaria a ser questionado.

    Evolucionistas

    Os evolucinistas, embora reconheam um aumento nas transaes econmicas

    globais, entendem que o aumento populacional e dos meios de produo, ambos

    impulsionados pela tecnologia de comunicao, no modificaram a estrutura que

    sustenta essas transaes. Para eles, o aumento das transaes globais sem a

    correspondente mudana na arquitetura de premissas do sistema internacional, em vez

    de diminuir, tenderia a exacerbar as desigualdades nas demandas de segurana entre

    pases ricos e pobres, criando a instabilidade sistmica que impediria a recuperao dos

    Estados falidos.

    A acentuao dessas desiqualdades geraria progressiva diferena na formulao

    de interesses nacionais de segurana e na alocao de prioridades de defesa. O

    resultado seria uma forte centralizao nos governos estatais do poder de regulao

    interna, com as questes de segurana e defesa firmemente colocadas como atribuies

    fundamentais do Estado.

    Transformacionistas

    Os transformacionistas entendem que estamos vivendo um perodo de

    acelerado processo de reviso das bases em que se assentam as relaes polticas,

    econmicas, sociais, culturais e tecnolgicas globais, sendo cada vez mais difcil

    estratificar o ambiente interno do internacional. A dificuldade ou quase

    impossibilidadede identificar a fronteira entre esses ambientes estaria modificando

    radicalmente a arquitetura de premissas do sistema internacional, com a criao de

    novos termos para qualificar as ameaas manifestas e potenciais, as oportunidades

    antes no configuradas e as vulnerabilidades at ento desconhecidas.

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    O resultado seria a configurao de camadas sobrepostas de governana que

    relativizariam as hierarquias de deciso interna e externa, alojando a dimenso militar

    do poder dos pases em um estado transiente de ameaas tradicionais e no

    tradicionais, que no poderiam ser qualificadas seno condicional e tentativamente

    frente a cada problema configurado e em articulao com uma gama de atores estatais

    e no-estatais.

    Dimenses de Segurana e Ameaas

    Os trs modelos descritos podem ser criticados dos mais diversos pontos de

    vista, sem que se possa identificar a predominncia de um deles, seno por meio de

    critrios politicamente construdos, dentro de uma envoltria de deciso que seleciona

    a lgica individual de cada estado, ou a lgica regional que agrega interesses deestados vizinhos, ou a lgica global, na determinao de quais so os objetivos vlidos

    e legtimos das questes de defesa a partir da adio, combinao ou recombinao de

    ameaas desdobradas dos fenmenos emergentes em sete dimenses de anlise da

    segurana: ambiental, tecnolgica, energtica, continental, humana, empreendedora e

    informacional.

    A tabela abaixo sintetiza os fenmenos que qualificam ameaas tpicas dentro

    dessas dimenses:

    Ambiental Efeitos de curto prazo de mudanas climticasDesastres naturais e provocadosRestrio de fluxo e do acesso a fontes de gua docePoluio dos mares e cursos dagua

    Tecnolgica Limitao de acesso direto e restrio de capacitao em reascrticas para o desenvolvimento nacional, perpetuando uma situaode dependncia.Proliferao das Armas de Destruio em Massa capacitadas portecnologias nucleares, qumicas, biolgicas ou nanotecnolgicas.

    Energtica Restrio do acesso a fontes de energia ou aumento de preos por

    cartis internacionais.Ruptura de matriz energtica nacional por restrio de fluxosinternacionais de matrias primas

    Continental Contestao de limites fronteiriosImigrao ilegal e ocupao territorial fronteiriaIncapacidade de evitar o cascateamento de efeitos de instabilidaderegionais, tal como a do Oriente Mdio e Afeganisto/Paquisto.

    Humana Terrorismo internacional em suas diversas formas e naturezas.Ressurgncia de doenas crnicas supostamente controladas,epidemias de alta virulncia com alcance regional e pandemias.

    Criminalidade urbanaEmpresarial Capilaridade dos efeitos de estados falidos

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    Crises econmicas estruturais com impacto direto e imediato nacirculao global de bens e informaes, limitando violentamente acapacidade dos estados financiarem suas necessidades imediatas.Corrupo e crime organizado

    Informacional Ruptura do tecido social por fluxo de informao de cultura distinta.

    Neutralizao ou ruptura da infraestrutura de comunicao oudestruio de bancos de dados estratgicosTabela 1: Dimenses de Segurana

    Uma das caractersticas que tornou a anlise da segurana em termos de

    dimenses uma prtica comum, que um dado fenmeno pode ser enquadrado

    interpretado segundo os marcos gerais de mais de uma dimenso, auxiliando, na

    qualificao do j antecipar os mecanismos e condies para o enfrentamento das

    ameas desdobradas. Por exemplo, migraes ilegais com fixao fronteirias, tal

    como o fenmeno dos brasilguaios, pode ser interpretada na dimenso humana,

    antecipando a necessidade de polticas sociais e mecanismos policiais repressivos, mas

    tambm pode ser interpretada na dimenso territorial, antecipando a participao das

    foras armadas na contestao futura de fronteiras.

    Outra vantagem prtica das dimenses de segurana que ela estabelece um

    referencial conceitual muito mais consistente para os cortes analticos da avaliao de

    conjuntura. Os tradicionais cortes analticos militar, econmico, poltico,

    psicossocial e tecnolgicono oferecem mais capacidade de produzir concluses no

    nvel de sofisticao requerido para o projeto da fora, principalmente quando se tem

    que passar a incluir as chamadas ameaas assimtricas, como por exemplo:

    Hackers de computadores utilizando vrus para destruir registros pessoais e ossoftwares utilizados para process-los, buscando neutralizar ou retardar ostempos de aprestamento mobilizacional.

    Terrorismo ideolgico de baixa intensidade de violncia contra objetivos

    intangveis. Ataques com armas leves, portteis, contra aeronaves civis e aeronaves

    militares na fase de decolagem ou pouso, quando os sistemas de combate estoou desativados ou saturados pelas necessidades operacionais.

    Foras especiais adversrias operando a partir de instalaes noconvencionais, como barcos pesqueiros.

    Ataques contra a coeso das alianas de defesa por meio da manipulao depercepo de valores sobre etnias e religio.

    Armas qumicas construdas com produtos qumicos comerciais disponveis em

    larga escala.As ameaas desdobradas das dimenses de segurana so definidas em um

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    ambiente internacional definido por entre estados soberanos e autnomos que

    estabelecem alianas, mecanismos de cooperao e compromissos de diversos tipos,

    para assegurar algum grau de neutralizao dessas ameaas, e que no devem ser

    tomados, nem mesmo de forma implcita, como uma ordem jurdica internacional.

    Essas duas caractersticas, um sistema de estados soberanos, sem que nenhum

    deles ou nenhuma instituio possa exercer o mando sem a ameaa de ter que impor

    sua vontade por meio da diplomacia coercitiva, e a ausncia de uma ordem juddica

    internacional superveniente, fazem com que a possibilidade de acomodao de

    interesses tenha como condio de possibilidade algum grau de equilbrio de foras.

    Quando os interesses nacionais forem violentados por um ou uma uma

    combinao dessas ameaas, reemerge sempre a possibilidade dos Estados recorrerems armas para atender s demandas de suas sociedades. Para isso, desenvolvem

    alternativas estratgicas que modelam as escolhas de tticas no sentido de alterar o

    equilbrio de foras no teatro de operaes para alcanar objetivos que concorram para

    os propsitos polticos do conflito.

    Em cada perodo histrico, o equilbrio das relaes internacionais sempre

    responde aos interesses dos pases detentores de poder nacional superior, e no limite,

    de poder militar superior para o enfrentamento das ameaas configuradas.

    Mas isso no significa a continuidade de metodologias de projeto de foras

    tpicas da Guerra Fria, que pressupem a existncia de uma ameaa definida para a

    formulao dos cenrios de planejamento e que exigem uma identificao

    razoavelmente precisa do inimigo e suas intenes provveis. Nada assegura que

    nenhuma das ameaas listadas acima exista. A deciso sobre as ameaas uma deciso

    poltica que precisa anteceder a aplicao da metodologia. Sem o entendimento da

    centralidade das capacidades de defesa no desenho da fora, o risco, nesse caso, seria o

    de induzir a ameaa simplesmente para atender a metodologia.

    O mutuo condicionamento na dinmica de relacionamentos internacionais entre

    a superioridade poltica e as capacidades blicas dos estados explica porque a paz

    sempre o resultado de um determinado equilbrio de foras condicional e

    temporalmente determinado. As crises ou guerras, por mais nefastas que possam ser,

    sero sempre justificadas como instrumentos de trazer de volta o equilbrio que

    definimos como paz, mas a paz nos termos dos vencedores da guerra, aonde eles

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    podem ento impor sua vontade, traduzida em metas e formas de sua consecuo. Essa

    equao pode ser traduzida de forma muito mais elegantes por meio da expresso

    cunhada por Carl von Clausewitz, a guerra a continuao da poltica por outros

    meios. A instrumentalizao da vontade do Estado por meio de aes de fora para

    criar um um novo estado de equilbrio, que agora possibilte a consecuo de suas

    metas sem mais oposio.

    MATRIZ DE CORRELAES

    O ambiente de segurana uma realidade socialmente construda. Os custos de

    transao nesse ambiente variam de acordo com a valorizao dos interesses em conflito

    e a plasticidade de seus atributos de ameaas e oportunidades. A hierarquizao desses

    atributos com critrios de possibilidade e probabilidade de ocorrncia produz a escala

    que serve para medir o limite de aceitabilidade das alternativas de defesa .

    Isso implica em que segurana e defesa detm uma correlao dinmica na

    definio de seus estados para propsitos de formulao de polticas e estratgias. Nesse

    contexto, segurana pode ser definido como sendo um estado de equilbrio entre um

    modo de vida desejado e as ameaas percebidas sua manuteno, e defesa como sendo

    o sistema de capacidades instrumentais para a conquista e manuteno desse estado de

    equilbrio.

    Dentro de cada uma dessas definies operacionais, o estado de segurana e as

    alternativas de defesa podem assumir inmeras posies entre seus extremos lgicos.

    Segurana Larga: descrita como um estado de equilbrio onde os indivduos

    se percebem como possuindo a liberdade de acesso a informao, produtos

    e processos que eles consideram adequados ao seu desenvolvimento;

    capazes de expressar suas preferncias polticas e decidir sobre aorganizao econmica e social requerida para produzi-los, e se perceberem

    satisfeitos com os resultados.

    Segurana Curta: descrita como um estado de equilbrio no limiar da

    guerra, aonde os indivduos ainda no se percebem em conflito aberto,

    concentrando suas preocupaes em evitar que ele ocorra, e para isso

    conscientes das restries autoimpostas s suas escolhas.

    Defesa Larga: abrange todos os recursos humanos, materiais,

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    organizacionais e de informao, enfim tudo que um estado pode lanar

    mo para se proteger de ataques externos e convulses internas, inclusive,

    mas no limitado s Foras Armadas.

    Defesa Curta: circunscreve a capacidade instrumental das foras armadas,apenas, para conduzir aes militares.

    Quanto mais prximas da segurana curta estiverem as ambies de uma pas,

    ou seja, quando maior a preocupao em evitar a prxima guerra, mas o conceito de

    segurana se funde ao de defesa. Quanto mais prximo da segurana larga, maior a

    funo da defesa nos esforos de desenvolvimento nacional e menores as tarefas .

    Quanto mais prximo da defesa larga, ou seja, quanto mais inclusiva for a definio do

    que pode ser utilizado para manter a paz, mais difcil identificar os limites deresponsabilidade da gesto de defesa, j que ela tende a fundir-se ao conceito de

    governana pblica. Quanto mais prximo da defesa curta, menor a prioridade das

    foras armadas para tarefas subsidirias.

    A preferncia coletiva por um estado de equilbrio, um nvel de segurana

    desejado entre os extremos lgicos, sempre uma opo poltica, assim como qual

    alternativa de defesa ser selecionada e mantida para assegurar este nvel de segurana

    tambm sempre uma opo poltica. No h, portanto, uma nica resposta certa ou

    errada sobre qual o nvel de segurana que um pas dever possuir e quanto de defesa

    dever construir. Ser sempre uma soluo de compromisso. Cada soluo ser sempre

    condicional a uma srie de decises e compromissos pblicos alcanados no

    entrechoque da sabedoria, da viso dos estadistas e da liderana genuna com ambies

    e interesses pessoais e corporativos.

    Conforme cada alternativa de defesa construda, mantida e se torna obsoleta,

    percorrendo a curva do ciclo de vida dos sistemas de armas, ela impacta nas

    expectativas de segurana por modificar os patamares de risco. O planejamento da

    defesa tem como propsito identificar essa curva, antecipando as aes e programas

    necessrios para evitar que os patamares de risco atingam nveis inaceitveis.

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    CAPTULO 2 - O PROBLEMA DA DEFESA

    As questes crticas relacionadas defesa, em suas varias formas e prioridades,

    possuem uma hiptese comum e um propsito.

    A hiptese comum que a paz emerge quando o efeito potencial desse sistema

    de capacidades for percebido como equivalente ou superior aos danos que o complexo

    de ameas do ambiente de segurana pode provocar. O propsito a identificao de

    um sistema de capacidades blicas que conecte as possibilidades fiscais do presente s

    demandas operacionais do futuro com grau aceitvel de risco. Esse propsito enseja

    quatro segmentos de escolhas crticas:

    1. Quais decises devem ser tomadas para resolver os problemas reais e

    prioritrios em defesa relativas a:2. Qual contingente o pas deve manter. Como elas devem ser organizadas.

    Sob qual estrutura de mando e coordenao.

    3. Com quais equipamentos o contingente de defesa deve ser armado, em quecondies esses equipamentos devem ser mantidos.

    4. Que tipo de treinamento as foras devem receber. Quais so os eixos dadoutrina estratgica. Qual o grau de interoperabilidade desejado e comodeve ser atingido e mantido.

    5. Que grau de prontidao deve ser mantido e para que. Qual o estoque

    estratgico de combustveis, munio e sobressantes. Qual o esforo demanuteno e reparo deve ser mantido em tempo de paz para sustentar osesforos em tempo de crise ou guerra.

    6. Quem deve tomar essas decises. Como elas so produzidas na estruturaorganizacional.

    7. Como os recursos sero alocados para harmonizar e integrar os diversosciclos e nveis de aprestamento das foras singulares e integradas.

    8. Quais investimentos devem ser efetuados e em que reas estratgicas.

    Todo o processo de tomada de deciso nesses tpicos perigosamente

    complicado. Qualquer erro ou omisso, seja qual for o pas ou sua dimenso, pode

    levar a corridas armamentistas e mobilizaes de foras com enorme poder de

    destruio.

    Qualquer um que j adentrou a esfera das decises superiores em defesa pode

    atestar a existncia de uma complexidade de idias muitas vezes concorrentes,

    complementares e contraditrias, gerando propostas igualmente vlidas, sem que sepossa afirmar antecipadamente quais delas oferecem a melhor resposta ao problema

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    formulado. Mas tambm pode atestar que no caudal das propostas tambm se alojam

    sugestes derivadas de simples pontos de vista construdos de forma voluntarista,

    outras so vagas ou no levam a nenhuma concluso, vagando em um universo de

    generalizaes e platitudes.

    Decises estratgicas em defesa, independentemente de ideologias, ameaas ou

    hipteses de emprego, so alimentados pela continuada tentativa de reduo dos

    diferenciais de poder militar gerados pela progresso assimtrica de capacidade que as

    tecnologias geram, e da conseqente ameaa de ruptura do equilbrio dissuasrio que

    sustenta a paz. Mas a busca de superioridade, ou pelo menos paridade, de capacidades

    militares , em si mesmo, um objetivo no quantificvel, j que a equao quanto ser

    suficiente ter sua resposta sempre politicamente construda, no sendo possvel de

    reduo mera contagem do nmero de navios, avies ou soldados.

    Essa indeterminao traz um duplo risco. Pode levar um projeto de fora

    insuficiente. Muito aqum das tarefas na paz e das necessidades efetivas em conflitos,

    motivado seja por legtimas prioridades sociais na alocao dos sempre escassos

    recursos, ou seja por interesses poltico-partidrios alienados do complexo de ameaas

    que sempre pesa sobre o pas. Mas tambm poderia levar a um projeto de fora muito

    superior s potenciais necessidades do pas, seja pela injeo de recursos para darconta de uma percepo distorcida do entorno de ameaas, ou seja, pela injeo de

    recursos com propsitos de alavancar o desenvolvimento social. Nesse caso, a defesa

    cresceria acima do que precisa para gerar resultados sociais, fugindo de sua destinao

    e funo precpuas.

    No h nem uma soluo nica, nem uma soluo que se possa afirmar a priori

    que a melhor. Para cada posio que o pas se encontra na matriz de correlao da

    segurana e defesa, ou seja, para cada condio de equilbrio desejado, cada escolhaimplica tanto na afirmao de uma inteno para a defesa como no abandono de outras

    possibilidades.

    Dentre essas condies dicotmicas, alojam-se duas questes chave definidoras

    de como ser a defesa que se deseja:

    Alianas versus independncia estratgica.

    H vrios tipos e estruturas de alianas, mais ou menos abrangentes em termos

    de estar condicionada a uma demanda especfica de defesa comum ou mais abrangente

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    at o ponto de definir requisitos amplos de segurana. Todas buscam reduzir o preo

    da defesa e criam vnculos que reduzem a possibilidade de que um membro torne-se

    uma ameaa a outro. Mas elas tendem a aumetar muito o tempo de deciso em

    situaes em que um dos pases tenha que agir frente a uma ameaa percebida como

    urgente por ele, mas no pelos outros membros.

    Alguns pases membros que vo auferir da segurana que a aliana gera no

    querem pagar sua parcela do custo de produzi-la; e mesmo quando houver a

    concordncia, sempre difcil obter consenso sobre as contribuies individuais.

    Finalmente, as alianas trazem sempre o risco de atrelhar os pases a compromissos ou

    condies contrrias seus interesses. Note-se que as alianas esto em uma categoria

    superior e distinta da cooperao, que tem um carter mais limitado e especfico, semgerar o tipo de comprometimento que as alianas geram.

    Autonomia versus independncia tecnolgico-industrial.

    Cada vez mais, torna-se difcil levar a cabo projetos de sistemas de armas

    autonomamentedevido aos elevadssimos custos de pesquisa e desenvolvimento e

    necessidade de obteno de insumos em terceiros pases. Se isto verdade para o

    mundo desenvolvido, o ainda mais para o mundo em desenvolvimento. A concepo

    de autonomia estratgica perde gradualmente substncia, tendo em vista aimpossibilidade prtica de produo local de todos os componentes necessrios

    montagem de armamentos crescentemente complexos.

    tendncia anteriormente mencionada se somar o fato de que muitas das

    tecnologias hoje disponveis possuem carter dual. Os avanos tecnolgicos

    observados na indstria geram oportunidades de aproveitamento tanto pelo setor civil

    quanto pelo militar, o que faz com que a interdependncia aumente ainda mais entre os

    Estados levando em considerao que os grandes conglomerados privados fazemlargo uso da fragmentao das cadeias produtivas. Solucionar estes problemas esbarrra

    na necessidade de grandes recursos financeiros e de pessoal, mas tambm esbarra em

    convices diversas sobre os mais diferentes assuntos, que a Poltica de Defesa

    portadora nas suas instrues.

    Poder Nacional e Poder Militar

    A compreenso das ameaas que envolvem aos interesses dos Estados a

    questo critica que instrui a definio das competncias militares que esses Estados

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    deveriam assegurar em seu relacionamento com os demais. Sendo que a escala e

    escopo pretendido para essas competncias devem estar lastrados na avaliao

    consciente e pragmtica das seguintes capacidades:

    Capacidade de Financiar programas para a Defesa, que traduz a prpria vontadepoltica de alocar recursos oramentrios para equipar e manter as foras armadas,

    associada noo de poder econmico.

    Capacidade de Inovao, com impacto direto na estrutura de produo de

    conhecimentos do Estado e na estrutura de converso de tecnologias em produtos e

    processos, associada noo de poder tecnolgico.

    1. Capacidade de reaparelhar e manter as foras, como funo direta da

    disponibilidade de matrias primas e das cadeias de produo alojadas na

    Indstria de Defesa Nacional, associada noo de poder industrial, aqui

    utilizado em um sentido mais amplo para abranger todos os elementos

    produtivos que atendem s necessidades de logstica de gerao da fora, seu

    abastecimento e manuteno assegurando os nveis de aprestamento desejados.

    2. Capacidade de mobilizao, que reflete a estrutura demogrfica nacional em

    sua habilidade de prover os recursos humanos necessrios para instrumentalizar

    as estratgias de ao antecipadas e de gerar as lideranas nacionais que

    permitam assegurar expectativas de sucesso no enfrentamento de dificuldades

    no antecipadas em condies no previstas, associado noo de potencial

    humano, que em si mesmo abrange os aspectos psicosociais do povo.

    3. Capacidade de gesto, como funo direta da maturidade dos processos de

    planejamento, programao, oramentao, controle e avaliao da defesa,

    associada ao poder poltico na construo das categorias de necessidades e dos

    critrios de alocao de prioridades entre outras prioridades competitivas do

    Estado.

    4. Capacidade de articular decises, como espelho do grau de sofisticao e

    integrao dos sistemas conceituais praticados agencias, sistemas

    organizacionais e sistemas de sistemas de deciso que integram a defesa

    nacional, associado ao sistema de concepo, estocagem, transformao e

    recuperao de conhecimentos teis.

    Um dos desafios mais difceis da anlise de ameaas de nosso tempo diz

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    respeito avaliao do estado atual e potencial dessas capacidades e como integralas

    para gerar as competncias militares requeridas.

    evidente as prticas e mtodos selecionados para isso refletem opes

    polticas, perspectivas institucionais, e at mesmo posies ideolgicas. Quaisquerconsideraes que se desejem teis para a discusso do espectro de ameaas sobre o

    Estado tm que iniciar por um esclarecimento detalhado das bases sobre as quais se

    assentam o projeto de fora.

    A centralidade do entendimento das bases do poder nacional traduzidas em

    termos objetivos dessas capacidades o que permite ao Ministrio da Defesa projetar e

    propor ao poder poltico os recursos oramentrios requeidos para produzir e manter

    uma fora armada adequada consecuo da estratgia pretendida. E tambm o quepermite aos altos comandantes militares conceitualizarem com rigor o alcance das

    possibilidades operacionais, conscientes das particularidades da presena da poltica

    nas tticas, seja na circunscrio dos objetivos vlidos e legtimos, seja no controle das

    formas e intensidade do uso autorizado da fora por meio das normas de

    comportamento, seja por meio da determinao de cessar as aes, mesmo quando a

    lgica militar mandasse prosseguir.

    Essa condio desafia tentativas de separao da poltica da estratgia e dattica como instncias de mando. Em todo o espectro das possibilidades das aes

    blicas apresentam-se elementos tticos, estratgicos e polticos, todos eles herdeiros

    de uma histria comum que constroi a identidade nacional e define as prioridades

    polticas na consecuo de seus interesses. Evidenciando as razes porque, para dar

    conta de um espectro de ameaas em continua evoluo diante de um ambiente

    internacional e de particularidades regionais tambm em constante mutao, todos os

    pases tm que constantemente atualizar suas prioridades de defesa, rever as misses eo dimensionamento das foras, revalidarem os posicionamentos e disposio

    estratgicas dessas foras e dos meios de apoio, bem como dos nveis de estoque

    estratgicos, justificando-os luz das metas polticas e dos recursos que estas

    disponibilizam.

    Hard Power & Soft Power

    Essas atualizaes, revises, redimensionamentos, revalidaes e justificativas,

    dependem de uma medida de adeso para qualquer deciso, sendo essa, em ltima

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    instncia, uma deciso governamental. dizer que a deciso sobre formas e funes

    das foras armadas no deve se restringir nem anlises tcnicas nem se obrigar

    agendas poltico partidrias, mas aloja-se no dinmica difusa mas claramente marcada

    pela convico da liderna poltica sobre as vantagens e desvantagens das alternativas

    postas para deciso do Estado.

    Nesse processo de deciso existe um dilogo intrnseco entre as formulaes

    governamentais manifestadas na diplomacia coercitiva, entendida como o conjunto de

    prticas exercitadas pelo Estado para utilizar o potencial nacional para influenciar

    posturas e aes em sua rea de influncia estratgica.

    Evidentemente diversas dimenses do poder nacional so exercitadas nessas

    prticas, desde o poder forte, envolvendo o uso ou ameaa do uso efetivo da fora

    militar, at o poder brando (Soft Power), como sendo a capacidade de influenciar a

    preferncia de outros atores, de liderar e de atrai-los pelo exemplo para alcanar

    objetivos comuns.

    Uma economia robusta prov os recursos para sanes e pagamentos, mas

    tambm pode ser um atrator de negcios. Na poltica internacional, os recursos que

    produzem o poder brando emergem, em grande medida, dos valores e organizao do

    pas, expressa em sua cultura, em exemplos de prticas internas e polticas. Mas issono implica em na prtica governamental em uma segregao do poder brando em

    distintas dimenses de ao, mas sim que cada uma delas instrui as formas pelas quais

    o contedo de cada uma delas influi na diplomacia coercitiva.

    Essas formas assumem a configurao de dissuaso ou deterrencia e coero ou

    compelencia. Os efeitos dissuasrios podem ser alcanados de duas maneiras:

    1. Por negao, quando orientados para prevenir conflitos pela induo no

    adversrio de que o eventual uso da fora enfrentar a oposio de uma

    poderosa defesa, que ir gerar danos suficiente na fora atacante para

    enfraquec-la, sugeitando-a a um contrataque que neutralizar sua

    capacidade de sucesso.

    2. Por retaliao, quando a inteno prevenir o incio da ao de um

    oponente pela percepo de que, aps o ataque, a fora na defensiva ainda

    dispor de capacidade suficinte para contra-atacar impondo um grau de

    destruio inaceitvel parte atacante.

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    J a coero ou compelncia induz a reverso de um ataque j iniciado de volta

    ao estado anterior, ou uma outra situao ainda aceitvel. Dissuaso e coero so

    como os dois lados de uma moeda, unidas pela lgica internalizada na relao entre

    credibilidade e plausibilidade das capacidades militares.

    O dilogo entre as alternativas de ao internacional instruda pelo poder forte

    ou poder brando reflete a unidade dos relacionamentos de ao poltica de defesa

    alojados e desenvolvidos em uma esfera de influncia estratgica. Dentro dessa esfera,

    uma rea de ao especfica a da diplomacia comercial de defesa, orientada para o

    fomento e a viabilizao do fluxo de material de defesa entre governos e entre

    empresas e governos.

    Com a publicao da Poltica de Defesa Nacional, O Brasil passou a terformalmente um documento de convergncia da defesa com a poltica externa,

    preservando a autonomia institucional na formulao das estratgias setoriais. Ela

    representou importante marco para a coordenao de esforos e o estabelecimento de

    metas para o planejamento da Defesa.

    Polticas de Defesa

    As polticas de defesa so portadoras das opes efetuadas sobre os problemas

    e alternativas que a defesa enfrenta em cada momento histrico na defesa dos

    interesses do Estado.

    O conceito de Estado altamente complexo, de acordo com a estrutura

    conceitual que se utilize para definir suas dimenses e o contexto em que est alojado.

    Embora se possa aceitar que h vrios tipos de Estados, todos apresentam trs

    elementos interdependentes: a soberania, existncia de um territrio mnimo que

    configure uma base fsica, e uma expresso institucional.Em conjunto, esses elementos instruem a noo de interesses nacionais

    permanentes que a defesa ir proteger: a integridade fsica, intelectual e moral da

    populao, a preservao da integridade territorial e nela a proteo de seus recursos

    naturais, a utilizao dos benefcios das riquezas derivadas do trabalho, a preservao

    do estado de direito que assegura a continuidade e sustentao da institucionalidade, e

    a capacidade de autodeteminar seus destinos que a soberania confere.

    As formas e valores que esses elementos assumem diferenciam Estados Fortes

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    dos Fracos. No h critrios precisos para essa distino, mas de forma geral se

    incluem dentre esses critrios a coeso e estabilidade scio-poltica interna, as

    capacidades produtivas instaladas e as tecnologias nelas instaladas, e o grau de

    desenvolvimento institucional. Esses elementos definem contingencialmente os

    interesses de governo, cujas formas e prioridades variam de acordo com as

    caractersticas polticas que o definem, sua legitimidade institucional e sua capacidade

    de formular e exectuar polticas pblicas.

    Na proteo dos objetivos desdobrados dos interesses permanentes e de

    governo, uma poltica de defesa, em termos conceituais, possui duas funes primrias,

    intimamente relacionadas. A primeira clarificar e priorizar decises que respondam

    ao problema de defesa, removendo confuses e dubiedades. A segunda a de unificare reconciliciar todos os aspectos da administrao interna, de todos estes interesses da

    defesa diante dos outros setores dos Estados, dentro de seu escopo de competencias .

    Em sua formulao, tem se que lidar com multiplicidade de consideraes que

    determinam ameaas, riscos e oportunidades do uso de fora no projeto da composio

    da diversidade das especialidades das Foras Singulares no aparato capaz de dar

    materialidade ao exerccio da vontade nacional em defesa de seus interesses, na prtica

    concreta de sua institucionalidade.Depois de formulada, a poltica de defesa passa a ser a portadora das instrues

    normativas capazes de dar prioridade, articular e orientar as atividades das Foras

    Armadas, incluindo misses diplomticas, miiltares e constabulares, aonde se alojam

    os vrios tipos de Misses de Paz e, quando oportuno, a garantia da lei e da ordem.

    S uma ferramenta com esta abrangncia pode incluir o tratamento dos

    pressupostos que instruem o Projeto da Fora, dando conseqncia cotidiana a

    diretrizes ministeriais para a defesa que integre todas as despesas, mudanas

    organizacionais e a da gesto concreta da defesa como parte integrante dos assuntos

    pblicos nacionais internos e das dimenses poltica, coercitiva e comercial da

    diplomacia.

    A Estratgia Nacional de Defesa quarda todas as caractersticas conceituais do

    que seja um documento de poltica e avana no terreno das praticalidades que definem

    as opes estratgicas para a modernizao da estrutura nacional de defesa em trs

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    eixos: reorganizao das Foras Armadas, reestruturao da indstria brasileira de

    material de defesa e poltica de composio dos efetivos das Foras Armadas.

    1. O primeiro eixo trata das atribuies, organizao, preparo e emprego das Foras

    Armadas, especificando o eixo de desenvolvimento tecnolgico a ser seguido e

    as reas de atuao prioritrias. .

    2. O segundo eixo trata da estruturao, incentivos e desenvolvimento da indstria

    de defesa, enfatizando o domnio nacional de tecnologias, em apoio ao projeto

    da fora.

    3. O terceiro eixo define a estrutura, composio desejada dos efetivos, enfatizando

    a opo pela conscrio univesal que leve a socializao da defesa.

    A consecuo desses trs eixos definidos na Estratgia Nacional de Defesa colocar

    desafios e construir oportunidades para a indstria de defesa nacional. Ser uma

    questo de poltica, instrudo por questes tcnicas e estratgicas, o grau de

    nacionalizao e o tempo de maturao aceitvel das alternativas construdas, cada uma

    delas construda e justificada no projeto da fora.

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    CAPTULO 3 - PROJETO DA FORA

    A lgica poltica do sistema internacional depende de um equilbrio de poder,

    no qual o poder militar uma de suas dimenses. Essa dimenso militar do poder de

    um Estado no uma traduo instantnea ou automtica de ndices econmicos,psicosssociais ou tecnolgicos. Mas sim depende de mecanismos capazes de antecipar

    a necessidade e gerenciar os processos para a aquisao fornecer, tempestivamente, os

    recursos militares necessrios para o empreendimento de aes de fora com

    expectativa razovel de sucesso.

    Isto significa que a construo e manuteno em diversos estados de prontido

    de meios de fora, capazes de oferecer a gama adequada de resultados blicos para um

    determinado conjunto de cenrios prospectivos, tem um tempo de preparo, e um custo

    de sustentao, inescapveis. Significa, tambm, que h que se considerar no

    planejamento da defesa tanto os efeitos da capacidade futura de agir quanto a

    necessidade de ao concreta tempestiva em termos de fora, isto , a sustentao da

    possibilidade de ao e da prpria ao no tempo.

    Quando uma instituio se acomoda em um mesmo modelo consistente por

    muito tempo, h muita resistncia a mudanas, ainda que se percebam alteraes e

    evolues a sua volta. Embora instituies, agencias e indivduos possam oferecer

    recomendaes, prerrogativa e funo da defesa estruturar e oferecer as propostas de

    mudanas em resposta s ameaas desdobradas nas dimenses de segurana.

    Isso implica na responsabilidade por desenhar e avaliar diversas arquiteturas de

    fora, cada uma delas distintas o suficiente nas formas e prioridades com que explora

    as capacidades dadas pelo poder nacional para sua construo, cada uma delas

    associada a uma estratgia dominante em portflio de possibilidades. Juntos, a

    arquitetura de foras, a estratgia dominante, e os elementos reguladores da relao

    entre ambas, os requisitos de doutrina, as normas de comportamento, e os nveis de

    aprestamento desejados, definem o Projeto da Fora.

    O Projeto da Fora documentado mais importante referencial do

    planejamento e da gesto superior da Defesa por trs funes interligadas. Sendo aqui

    que reside a maior parte das discusses e questionamentos!

    A primeira que ele o portador para aprovao do poder poltico dascapacidades julgadas necessrias para a defesa dos interesses do Estado, como essas

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    capacidades sero organizadas e distribudas terriotorialmente, quais programas sero

    necessrios para produzir os meios, doutrina e organizaes que atendam aos

    requisitos estratgicos e operacionais, qual o nvel de prontido a ser sustentado e em

    que condies, quais tecnologias devero ser desenvolvidas ou incorporadas, quanto

    esses programas ir custar, e como tudo isso ser avaliado.

    A segunda que ao apresentar essas propostas, ele assegura a consistncia

    interna entre a Estratgia de Defesa e o potencial nacional da Indstria de Defesa e,

    simultaneamente, a consistncia externa entre as alternativas que a Fora ir

    disponibilizar e os requisitos antecipados pela Diplomacia Coercitiva, quando Defesa e

    Relaes Exteriores estabelecem a vinculao de metas, prioridades e formas de

    atuao.A terceira funo a de normatizar prioridades sob a mediana de consensos

    possveis dentro e fora da Defesa, sobre qual a arquitetura de capacidades dominante e

    que ser implementada, qual o compartilhamento de responsabilidades entre a indstria

    nacional e internacional no provimento dos meios, como financiar os custos

    decorrentes e qual a estrutura de responsabilidades para a gesto superior de todo esse

    processo.

    A definio das alternativas elaboradas sob essas trs funes sero aindacondicionadas pelos horizontes de tempo estabelecidos como referencia para a

    consecuo dos resultados antecipados pelos objetivos de defesa.

    No existem tcnicas ou metodolgicas especficas que possam assegurar

    cientificidade na criao dos objetivos de defesa que sero atendidos pelo projeto da

    fora. O contexto das escolhas sempre pautado pela estrutura e fluxo decisrio

    poltico organizacional, assim como pelas regras de relacionamento entre o resultado

    dos objetivos a serem alcanados e os propsitos de segurana so politicamente

    construdas e dinamicamente modificadas.

    Capacidades de Defesa

    Os diferentes arranjos de armas, tropas, as diferentes estruturas operacionais, o

    arsenal das tticas praticadas, expressam uma determinada proposta de uso da fora,

    ponderando o deslocamento e a proteo necessrios em diversos ambientes possveis

    de combate. em funo do combate, nas suas diversas formas, intensidades e estilosque os Estados constroem suas alternativas de defesa.

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    Cada alternativa de defesa proposta ou desenvolvida no projeto da fora define

    um complexo arranjo condicional de variveis, mantido em equilbrio por um fluxo de

    tecnologia, doutrina e normas de comportamento que regulam e estabilizam

    dinamicamente a relao entre a estrutura de fora e as modificaes contingenciais

    dos elementos que determinam o conceito estratgico.

    Essa construo lgica, um constructo, na forma de um modelo de referencia,

    define trs sistemas de variveis: Estrutura de Fora, Conceito Estratgico e Fatores

    Reguladores. Cada uma deles necessrio e suficiente para a construo das alternativas

    de defesa. Entender como eles se definem e se relacionam fundamental para o projeto

    de fora e, tambm, para os desdobramentos gerados para os diversos segmentos

    nacionais articulados com a defesa. Um deles sendo a Indstria de Defesa.Esse construto tem o propsito de auxiliar na compreenso do relacionamento

    das variveis que produzem os sistemas de capacidades de defesa, dando forma ao que

    ainda desconhecido, mas que dever espelhar a vocao das escolhas polticas.

    A natureza desse sistema expressa no conjunto da defesa tomada como um

    todo, e no em termos de meios militares, ou pessoal, ou doutrina, individualmente.

    Isso significa que a defesa no pode ser concebida como partes isoladas, mas sim como

    o trao definidor de um conjunto de capacidades sistemicamente concebido; sob umaponderao de custos e riscos das partes avaliada por critrios construdos sobre o

    desempenho do todo, guiado pelos objetivos de defesa que essas capacidades servem.

    Ao produzir essa sntese, o projeto da fora integra as possibilidades

    antecipadas de ao militar sob uma nica e suprema vontade poltica, tornando cada

    uma das foras singulares, Exrcito, Marinha e Aeronutica, partes indivisveis do

    todo, parte da fora, embora possam vir a atuar isolada ou coordenadamente .

    Para integrar-se nesse constructo, o termo capacidade de defesa deve ser

    definido como sendo a qualidade potencial ou efetiva de um sistema ou subsistema de

    defesa produzir um efeito antecipado para cumprir com determinado grau de eficincia

    uma cadeia de tarefas sob determinadas condies especificadas.

    O valor que uma determinada capacidade de defesa agrega ao projeto da fora

    somente pode ser medido pela antecipao do sucesso no cumprimento de um objetivo

    de defesa; sendo esse valor a a poltica que define o quanto necessrio (How much is

    enough?) na especificao dos requisitos quantitativos no dimensionamento das

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    variveis que, quando integradas, produziro a fora desejada pelo pas.

    equivocado, dessa forma, comparar macro sistemas de armas, na fase de

    aquisio, em termos puramente monetrios. As foras armadas sabem disso, e

    desenvolveram sofisticados procedimentos integrados de qualidade do produto,

    confiabilidade da fonte, preo e desempenho operacional integrado no projeto da fora.

    A indstria de defesa, os fornecedores desses macro-sistemas, precisam aprender a

    integrar todos esses elementos em seu plano de negcios, adequando tanto a linguagem

    como seus critrios de marketing tecnolgico, preparando-se para apresentar propostas

    que atendam aos quesitos solicitados de forma competente e competitiva, explicitando

    como seu produto pode contribuir para maximizar um ou conjunto de relaes definidos

    pelas variveis do constructo de defesa.

    Para auxiliar nesse processo, utiliza-se o Modelo de Capacidades, descrito a

    seguir. Como todo modelo, ele abstrai as caractersticas essenciais da realidade para

    representar um dado fenmeno, mas no a prpria realidade. Assim, o modelo

    somente pode ser julgado por sua contribuio a um determinado propsito analtico.

    Modelo de Capacidades

    As capacidades de defesa emergem da combinao funcional entre os

    componentes da estrutura de fora com o conceito de emprego desenhado, em uma

    relao mediada pelos elementos reguladores. A figura abaixo apresenta esses

    subsistemas e seus elementos componentes.

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    Graus de

    Prontido

    Normas deComportamento

    Elem.Habilitadores

    Equipamentos

    Perssoal

    Protocolos de Operao

    Meios Militares

    Combate

    Apoio

    Estrut.Operacionais

    C4

    Tarefas

    Interoperabilidade

    Estrutura de Foras Fatores de

    RegulacoConceito de

    Emprego

    DoutrinaElem.

    Condicionantes

    Operaes

    IV - R

    reas de Misses

    ObjetivosOperacionais

    Fig.1Modelo Lgico do Constructo de Defesa

    ESTRUTURA DE FORAS

    A estrutura de foras formada pela integrao dos meios militares nas

    estruturas operacionais de combate e apoio, contingeciado pela interoperabilidade dos

    meios e do alcance do subsistema de C4 (comando, controle, comunicaes ecomputao) que tornaro as tticas e estratgias possveis.

    Meios Militares

    Cada meio militar uma agregao de equipamentos e equipagens (hardware),

    procedimentos operacionais de operao (hardware) e seus operadores qualificados

    (peopleware) segundo critrios de eficincia. Esse um ponto importante. Os meios

    militares so selecionados para integrar as capacidades de defesa por meio de umconjunto de variveis de desempenho em tarefas especficas, tais como velocidade,

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    consumo, taxa mdia de falhas, conforme praticado pelas normas padronizadas de

    avaliao de desempenho de cada instituio, que normalmente incluem:

    Mobilidade e permanncia: habilidade dos meios militares serem destacados e,

    aps alcanarem a rea definida no teatro de operaes sustentarem o esforode combate com a mesma taxa de desempenho.

    Ofensiva e proteo: habilidade dos meios militares destruir, netralizar ou

    manter a capacidade combatente de um adversrio, e quando atacado, impedir,

    limitar ou controlar danos.

    Flexibilidade e versatilidade: habilidade dos meios militares mudarem de uma

    ao ttica em curso para outra, rapidamente, assegurando o desempenho

    operacional requerido em ambas, em mltiplos e distintos ambientes de

    combate.

    Confiabiliade: habilidade dos meios militares manterem a integridade de seus

    sistemas em nveis padronizados em todos os ambientes de combate para os

    quais foram desenhados.

    Sustentabilidade: habilidade dos meios militares manterem o desempenho

    ttico at o cumprimento ou reviso das tarefas.

    Permanncia, sustentabilidade, permanncia e confiabilidade podem parecer

    redundantes, mas cada um desses requisitos, embora complementares, diz respeito a

    aspectos especficos.

    Em termos prticos, a confiabilidade assegura que um carro de combate no vai

    quebrar durante o combate, permanncia assegura que ele possui combustvel e

    munio para cumprir a tarefa, e a sustentabilidade assegura que ele possui curva de

    giro e ascelerao suficiente para mudar de uma ttica para outra, em um mesmo

    enfrentamento, assegurando a projeo do mesmo esforo sobre um adversrio que

    tambm evolui de tticas durante o engajamento.

    Elementos Integradores

    Os Elementos Integradores interoperabilidade e C4 criam as condies de

    possibilidade para esses meios desenvolvam suas caractersticas seletivas e

    combinadas de mobilidade, permanncia, ofensiva, proteo, flexibilidade,versatilidade, confiabilidade e sustentabilidade.

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    Interoperabilidade

    A interoperabilidade define o grau de compatibilidade tcnica e ttica entre

    meios que os permitem desenvolver manobras, simultaneamente, de forma conjunta,

    com os mesmos desempenhos de projeto.

    Esse requisito muito importante principalmente quando os diversos meios

    possuem fabricantes nacionais e estrangeiros diferentes ou possuem uma defasagem

    substantiva no tempo em que encontram em servio. Um navio de um pais que no

    pode abastecer em um tanque de outro pas porque os equipamentos de um e de outro

    no encaixam no detm interoperabilidade tcnica. Se possuem frequncias de

    comunicao diferentes, tambm no detm interoperabilidade tcnica. E se, alm

    disso, possuem curvas de giro e velocidades muito diferentes, impedindo que possam

    manobrar em sincronia, ento no detm interoperabilidade ttica.

    A interoperabilidade fundamentalmente uma funo da tecnologia empregada

    em resposta a uma doutrina comu. Ela depende de um conjunto de conhecimentos e

    instrues sistemicamente integrados que atendem ou criam demandas especficas ao

    projeto da fora e instruem a possibilidade de produo de produtos de defesa por meio

    das tcnicas apropriadas.

    Tecnologia difere de tcnica em que ela est continuamente se reconstruindo e

    transformando, tomando como referencia todo conhecimento anterior; enquanto que

    ss tcnicas so conhecimentos especficos, circunscritos no tempo e espao,

    orientados para o uso ou produo de determinado produto ou processo. A tecnologia

    o que d a expectativa de certeza de que as variveis que definem a fora iro produzir

    os resultados esperados, determinando as regras de transformao do conhecimento

    imbutido nessas variveis em capacidades.

    Comando, Controle, Comunicaes e Computao (C4)

    As variveis integradas de comando, controle, comunicaes e computao,

    quando combinadas, definem um fenmeno maior que a soma das partes.

    Isoladamente, em termos objetivos, comando diz respeito a mandar e ser obedecido no

    cumprimento de um determinado objetivo; controlar diz respeito a monitorar e

    reorientar o fluxo de aes e decises mandadas executar para alcanar o objetivo;

    comunicaes diz respeito habilidade de fazer com que uma ordem ou instruo de

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    controle transmitida e as respostas produzidas fluam entre os corretos transmissores e

    receptores sem distoro de contedo, no tempo determinado; e computao diz

    respeito a capacidade de capturar, processar, estocar e recuperar sinais e informaes

    recebidos do ambiente ou do fluxo de comunicaes em apoio ao processo de deciso.

    Em conjunto, C4 habilita a lgica das transaes flurem pelas estruturas

    operacionais para gerarem as tticas, cujos resultados sero integrados nas estratgias,

    para o cumprimento das metas polticas. Sem C4, no existem capacidades de defesa.

    No h ao.

    O papel operacional do C4 pode ser sumarizado em dois pontos principais:

    1. Reduzir os ciclos de deciso, atuando em todas as suas fases de observao,

    orientao, deciso e ao, para aumentar a eficcia militar empregando um

    conjunto menor ou menos sofisticado de recursos que seriam necessrios

    sem ele para alcanar os mesmos resultados.

    2. Aumentar o nmero de destaques simultaneos de meios para cumprirem um

    maior nmero de tarefas e aumentar a taxa mxima de modificaes

    tempestivas que podem ser efetuadas.

    Combinados, esses dois pontos geram a capacidade de reduzirem-se os

    requisitos de interoperabilidade, que so caros e muitas vezes muito difceis de serem

    alcanados, por necessidade de o pas efetuar compras de oportunidade para poder

    assegurar um nmero mnimo de meios, ou ainda pela falta de projeto de fora que

    oriente os projetos de aquisio, de todas as foras singulars, em consonncia com

    todos as dimenses do poder nacinal para enfrentar o complexo de ameaas emergente

    em todas as sete dimenses de segurana.

    Essas explicaes devem concluir explicitando a concluso lgica: C4 no um equipamento, mas uma habilidade de comandar, controlar, coordenar e computar

    nascida da integrao de mltiplos hardwares e softwares tendo como centralidade o

    elemento humano.

    O atual estado do desenvolvimento tecnolgico ainda no permite transferir a

    deciso de combate para sistemas de C4. No final, ainda o comandante o responsvel

    pelo sucesso ou fracasso da misso, embora que sem seu sistema de C4 ele

    simplesmente no possa exercer sua inteno.

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    Integrao Jointness Conjuntez

    A integrao das foras singulares, nas seis dimenses interface (estratgica,

    operacional, ttica, tcnica, processual, tecnolgica e cognitiva), para produzir aes e

    efeitos sinrgicos, com a capacidade de antecipar aes da outra fora, ou seja paraproduzir o que se denomina como jointnes em ingls e conjuntez em espanhol, ou

    foras integradas, em portugus, com potencial combatente para alm do que a

    coordenao pode oferecer, depende antes de tudo, no projeto de fora, que se

    considere os fatores de interoperabilidade e C4.

    Ambos, amalgamados, tornam-se o centro da integrao das foras armadas. O

    que abre uma discusso importante e inconclusa. O modelo de jointness praticado em

    vrios locais do mundo, principalmente nos EUA e por influncia de sua doutrina,

    prev que jointness a condio definidora do desenho da estrutura de fora. Outro

    modelo entende que a sinergia da integrao um resultado de um desenho de fora

    bem elaborado, com nfase nos seus elementos de C4 e interoperabilidade. Essa no

    uma discusso trivial.

    O primeiro modelo condiciona que a integrao ocorra na produo do poder

    combatente, no segundo modelo, a integrao ocorre no seu emprego. Um exige a

    convergncia administrativa e de planejamento, com a reduo da autonomia das

    foras armadas singulares, alm de uma forte convergncia doutrinria, outro permite

    maximizar desempenhos especficos em teatros de operaes aonde seus meios

    especficos de uma das foras possue praticamente a totalidade dos esforos. Cada um

    com custos, estrutura de autoridade e autonomias diferentes.

    Embora o segundo modelo tenha um trajetria histrica maior, e tenha

    oferecido bons resultados, o primeiro modelo ganha cada vez mais projeo tendencial,

    principalmente com a digitalizao do espao de combate dentro de sistemas de

    capacidades organizadas em redes.

    A opo brasileira pelo modelo de redes, conforme a Estratgia Nacional de

    Defesa implicar em uma reforma na estruturas operacionais de combate e apoio alm

    de implicar na reviso dos requisitos de interoperabilidade e C4 em associao com os

    requisitos operacionais dos meios. Sem esses ajustes o modelo em rede no funciona.

    Esses ajustem so difceis de desenhar, custam caro, e possui um alto custo de

    transao poltica, pois alteraro o grau de autonomia estratgica e oramentria, alm

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    da estrutura de deciso das foras singulares no provimento da defesa nacional.

    Estruturas Operacionais

    As estruturas operacionais geram a habilidade dos meios militares executarem

    as operaes e aes necessrias para a consecuo de uma determinada tarefa. Para

    isso, elas so as condutoras do fluxo de C4. Para propsitos analticos essas estruturas

    se dividem em Estruturas de Combate e Estruturas de Apoio

    As estruturas de combate permitem que partes dos meios militars sejam

    destacadas para tarefas especficas, permitindo a expanso do nmero de tarefas que

    podem ser simultaneamente executadas. A sincronizao do destaque e reincorporao

    dessas partes maximizam a habilidade potencial do cumprimento de estratgias mais

    complexas e abrangentes, reduzindo a necessidade de mais meios.

    Dependendo do tamanho do segmento destacado, ele recebe a denominao de

    unidade-tarefa, grupo-tarefa, fora-tarefa, cada um deles com configurao,

    autnonomia, responsabilidades e mecanismos de controle ditados pela doutrina para

    cumprir tarefas subordinadas s regras de comportamento.

    Quanto maior o nmero de destaques simultneos, maiores os requisitos de

    comando e controle, at o ponto de saturao dessa capacidade. A determinao desseponto um dos requisitos fundamentais do projeto da fora.

    As estruturas de apoio so projetadas para prover o esforo logstico necessrio,

    ai incluindo todas as suas dimenses, conforme segmentada pela doutrina de cada pais,

    como as logsticas de manuteno, abastecimento, transporte, etc.

    Seu propsito manter o adequado fluxo de suprimentos, armamentos,

    munio e pessoal pra assegurar o nvel de aprestamento requerido e o desempenho

    ttico das foras, conforme seus requisitos de mobilidade e permanncia, ofensiva e

    proteo, flexibilidade e versatilidade, e sustentabilidade para cumprir o conjunto das

    tarefas priorizadas na estratgia militar.

    Esse no somente um requisito quantitativo, mas tambm da arquitetura da

    distribuio fsica desses elementos no espao. Quanto mais prxima dos centros

    tecnolgicos industriais, maior a economia de escala, maior o grau de adestramento

    conjunto, maior o potencial de combate unificado, mas menor o tempo de resposta e

    maiores os requisitos logsticos.

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    Quanto mais descentralizada a arquitetura, quanto mais as bases estiverem

    prximas das rea de fronteiras, por exemplo, menor o tempo de resposta, maior o

    adestramento em relao ao ambiente de operaes, maior o grau de disponibilidade

    tcnica dos equipamentos, e maior a ao de presena. Quanto mais prxima das

    fronteiras, maior o grau de ameaa percebida pelos vizinhos, mas tambm quanto

    maior o potencial de combate, tambm maior o grau de insegurana deles.

    A alternativa entre uma e outra arquitetura, ou uma combinao delas, o que

    normalmente a prtica, mas no a opo mais eficiente, implica e condiciona a

    seleo das estratgias. Mas a seleo da arquitetura nunca puramente tcnica. Uma

    arquitetura descentralizada transfere recursos econmicos e aumenta o grau de

    desenvolvimento e integrao das areas aonde as bases se alojam, seja no cumprimentode tarefas especificamente militares, seja nas subsidirias.

    No h equvoco em dispor pequenos destacamentos nas fronteiras

    geopolticas. Alm de sua ao de presena, fundamental para assegurar a percepo

    de integrao da territorialidade, assim como a de levar desenvolvimento, esses

    destacamentos tambm exercem uma funo militar, na prpria ao de presena. As

    duas funes so indissociveis, s uma questo de prioridade temporal para uma ou

    outra. Entretanto, e isso fundamental e pouco entendido, essa a opo por umaarquitetura descentralizada, somente ganha significado e justificativa se o conceito de

    defesa assumido e praticado for o de defesa larga. Transferindo os questionamentos

    para outra dimenso: qual o conceito de defesa adequado ao pas. Os pelotes de

    fronteira so apenas efeito de uma causa anterior, evidenciando que, em defesa,

    conceitos importam!

    Alm disso, note-se, portanto, que a definio dos meios militares, navios,

    aeronaves, unidades terrestres, enfim, todos eles, dependem da estrutura de apoio jexiste ou projetada. Essa uma das justificativas para inclurem-se bases, depsitos de

    suprimentos, parques de reparo, etc., no poder militar. Eles asseguram o esforo de

    combate no tempo. Sem eles, a autonomia dos meios to limitada a ponto de

    restringir seriamente ou mesmo inabilitar as estratgias desejadas.

    H alguns exemplos de aquisies tempestivas desvinculadas desse requisito

    que levaram, em curto espao de tempo, que esses meios simplesmente ficassem

    paralizados em portos, aeroportos e bases. Mas h muitos exemplos na histria decombates e guerras perdidos porque essa estrutura foi ou neutralizada ou destruda.

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    Em alguns pases, como os EUA, por exemplo, essa estrutura de apoio define a

    funo das foras armadas singulares, removendo a funo de combate para uma

    organizao permanente distinta. Em outros pases, como o Brasil, a opo por uma

    nica organizao, que evoluem algumas de suas partes para funes de combate,

    mantendo outras no segmento apoio, conforme necessrio para atender tarefas

    especficas de tempo de paz e tempo de guerra.

    Como tudo no projeto da fora apresenta vantagens e desvantagens que devem

    ser consideradas luz das necessidades, possibilidades e prioridades, o modelo

    americano prov maior grau de apresntamento mantido (menor tempo de reao),

    antecipa a definio da cadeia de autoridade operacional e adestra melhor seus

    integrantes para contingncias antecipadas. J o modelo brasileiro mais barato e maisflexvel.

    As desvantagens esto em oposio s vantagens de cada modelo. No caso

    brasileiro, as devantagens so que o tempo de transio para a estrutura de combate,

    mesmo que bem planejado, possa ser maior que o tempo de reao necessrio nas

    guerras modernas. Ainda associado a esta desnvantagem, e como agravante, alm do

    planejamento da transio, tambm se necessita de um planejamento da estrutura de

    deciso quem e como toma as decises e que critrios sero empregados paraconvocar os responsveis pela deciso.

    Esses agravantes, claramente, no so tcnicos, uma questo de engenharia

    organizacional, mas sim polticos. Desta forma, diz-se que o modelo brasileiro

    transfere as decises difceis, que sero tomadas no nvel poltico-estratgico, para

    quando elas forem necessrias; enquanto o modelo americano aloja as decises difceis

    no nvel estratgico-operacional reduzindo, em certa medida, a capacidade poltica de

    deciso, alm de ter que enfrentar a guerra com o comandante operacional existente,que no necessariamente o melhor qualificado para o tipo de guerra que se est

    enfrentando.

    O desenho do sistema de C4 a definio dos requisitos operacionais dos

    meios, e a especificao das estruturas de combate e apoio so mutuamente

    condicionados no projeto de fora. Quanto mais alto o ponto de saturao do sistema

    de C4, maior a flexibilidade dos meios nas estruturas de combate, diminuindo o tempo

    de resposta, aumentando o nmero de tarefas e otimizando o potencial combatente.Quanto melhor as estruturas de apoio, maior o nvel de proficincia tcnica e

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    operacional dos meios, menor os custos de interoperabilidade, e maior a capacidade de

    descentralizao das bases de estacionamento e operao, tambm concorrendo para

    aumentar o potencial combatente.

    ESTRATGIA E CONCEITO DE EMPREGO

    O termo estratgia vem do grego strategos, que significa lder do exrcito.

    Estratgia nesse sentido era a arte da conduta da guerra, incluindo a escolha do campo

    de batalha e as formaes tticas. O contedo militar da estratgia diz respeito

    capacidade de produzir efeitos com expectativa razovel de sucesso nos

    enfrentamentos de foras em um teatro de operaes, onde atuam a incerteza e as

    foras morais.

    Ao longo do tempo, os lderes militares descobriram que o planejamento para a

    guerra aumentaria suas chances de sucesso e que estratgias inovadoras poderiam

    oferecer-lhes vantagens sobre foras oponentes muito maiores, como as vitrias de

    Alexandre o Grande sobre os Persas. A arte da guerra evoluiu muito, com novas

    estratgias inventadas continuamente para dar conta de adversrios cada vez mais

    sofisticados, mais capacitados, bons e maus, como os Marechais de Napoleo, os

    Generais de Hitler, os comandantes japoneses no incio da Segunda Guerra Mundial. A

    arte da estratgia no est esgotada. Sempre haver espao para adaptao de padres e

    criatividade educada nos exemplos do passado.

    Um dos registros histricos mais conhecidos o livro A Arte da Guerra, de

    Sun-tzu, provavelmente escrito no sculo IV A.C., contendo muito dos padres que as

    estratgias modernas iriam incorporar, sendo o mais marcante o de ganhar a guerra

    sem derramamento de sangue, explorando as fraquezas psicolgicas do adversrio,

    induzindo-o a confuso e erros at que ele venha a render-se. Dessa forma, alem da

    vitria implicar em poucas vidas perdidas, ela poderia ser alcanada a um baixo custo,

    transferindo os recursos da guerra para a paz que a sucederia. Nem todas as estratgias

    obedeceram a essa racionalidade, mas aquelas que o fizeram ficaram marcadas na

    histria, como as vitrias de Cipio o Africano na Espanha, Napoleo em Ulm, e

    Lawrence nas campanhas do deserto na Primeira Guerra Mundial.

    A evoluo da estratgia acompanha a evoluo das formas de guerra, que por

    sua vez acompanha a evoluo do contexto poltico social aonde ela se desenvolve e

    das armas que a tecnologia possibilita. Quando a defesa exercita estratgias para

  • 8/10/2019 Estrategia e Industria de Defesa

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    DOCUMENTO DE TRABALHO - NO CITARv. 1 - 9/8/2009

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    conquistar a paz, o faz em nome da sociedade, e no divorciada dela, refletindo as

    demandas de segurana que essa sociedade coloca para ela.

    O conceito de emprego a forma como se pretende utilizar as foras armadas

    em caso de necessidade. Embora direto e simple, esse entendimento limitado. Emtermos formais, o conceito de emprego circunscreve com um propsito um conjunto de

    decises articuladas sobre quais objetivos sero atendidos pela combinao dos efeitos

    resultantes das tarefas executadas por meio de operaes tpicas em um ambiente

    definido por elementos de inteligncia, vigilncia e reconhecimento.

    Nos EUA, por exemplo, o termo guerra centrada em rede (Network-centric

    Warfare) define um conceito estratgico orientado para o enfrentamento de uma ou

    duas ameaas de grande envergadura simultneas e uma ou duas crises de altaintensidade em qualquer local do globo (o nmero de enfrentamento simultaneos varia

    de acordo com as revises do projeto da fora, mas todas essas revises tm mantido a

    mesma lgica).

    As foras singulares se integram nesse conceito, com a Fora Area

    contribuindo com operaes de bombardeio estratgico e apoio operaes de

    projeo de poder, os Fuzleiros Navais com enfase em operaes especiais, o Exrcito

    com a fora expedicionria de grande envergadua e a Marinha com controle de reamartima, projeo de poder e transporte estratgico, todos contribuindo para a

    capacidade de rapidamente deslocar foras praticamente em qualquer do mundo para

    conduzir operaes de forma efetiva e rpida em ambientes agressivo com o mnimo

    de custos (polticos, fiscais e sociais) e reduzido dano colateral populao civil que

    no esteja diretamente envolvida no conflito .

    Para se compreender o conceito estratgico da defesa brasileira na descrio

    dos conceitos de emprego das foras singulares, assegurando a convergncia com o

    contido na Estratgia Nacional de Defesa, torna-se necessrio entender algumas

    distines conceituais entre conceito estratgico, conceito de emprego, estratgia e

    concepo estratgica. Embora paream redundantes, eles denotam fenmenos

    distintos importante no projeto da fora, sendo definidos