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ESTRATÉGIA DE GESTÃO PARA O SUCESSO: O CASO DO GRÊMIO
RECREATIVO CULTURAL SOCIAL ESCOLA DE SAMBA VAI - VAI
Autora: Julyana Moreira Santos
Filiação Acadêmica: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar se a estratégia de gestão de
pessoas para obtenção de vantagem competitiva, no Grêmio Recreativo Cultural Social
Escola de Samba Vai-Vai, contribuiu para a conquista dos quatorze títulos de escola de
samba que mais vezes venceu o carnaval de São Paulo. Este artigo utilizou o método de
pesquisa qualitativa exploratória através de um estudo de caso. Para isso, foi elaborado
um questionário com 16 questões, que foram distribuídos individualmente para
trabalhadores do Vai-Vai.
Com a análise dos questionários identificou-se que o líder no Vai-Vai é
acima de tudo um convocador, treinador, orientador e coordenador, corroborando a
hipótese dele ter um papel fundamental para a conquista dos títulos. Concluiu-se que o
segredo do sucesso da gestão no Vai-Vai é saber gerenciar pessoas, é chegar a um alto
grau de cooperação e de comprometimento. Fazer mais do que gerenciar pessoas, e sim
gerenciar com pessoas.
Palavras-chave: Gestão de Pessoas, Carnaval, Escola de Samba, Estratégia.
ABSTRACT
This study aims to analyze the strategy of managing people to achieve
competitive advantage, in Gremio Recreativo in Social Cultural Escola de Samba Vai-
Vai, contributed to the achievement of the fourteen titles of the samba school that most
often won the São Paulo Carnival. This article used the method of qualitative research
through a case study. For this, we developed a questionnaire with 16 questions, which
were distributed to individual workers in Vai-Vai.
With the analysis of questionnaires showed that the leader Vai-Vai is above
all a convener, trainer, supervisor and coordinator, supporting the hypothesis he had a
key role in winning the titles. It was concluded that the secret of management success
in Vai-Vai is how to manage people, is to reach a high degree of cooperation and
commitment. Do more than manage people, but manage with people.
Key-words: People Management, Carnival Samba School, Strategy.
1.INTRODUÇÃO
Atualmente um dos resultados que as empresas mais procuram na sua forma
organizacional de gestão continua sendo uma fórmula para encantar e atrair clientes e ao
mesmo tempo criar um modelo interno de união do grupo e consiga comprometer seus
colaboradores de maneira criativa e com entusiasmo. Ou seja, justapondo interesses
coletivos.
Dentro da realidade brasileira existe um setor que alia todos os
questionamentos expostos no parágrafo anterior: a escola de samba. E ela pode ser vista
como um processo de estruturação coletiva e individual da alegria que nos enche de
encantamento.
O Carnaval é um grande empreendimento cujos objetivos convergem para a
obtenção de resultados tal qual uma organização tradicional. A aplicação de um modelo
de gestão eficaz é prioritária neste ambiente inovador, oferecendo vantagens
competitivas para o resultado do desfile.
Trata-se de uma festa popular que se tornou marca do Brasil. A preparação
do Carnaval, desde a escolha do samba-enredo de uma Escola de Samba até a sua
apresentação final, que é o desfile, percorre um extenso caminho em que são utilizados
diversos princípios da moderna administração.
As agremiações possuem um diferencial que muitas empresas tentam
buscar, que é uma gama de profissionais altamente motivados, com criatividade e
espírito de equipe. O Carnaval, por meio das Escolas de Samba, gera lucros, estrutura,
empregos e alegria. Percebe-se a existência de várias lideranças comprometidas com
desafios e resultados, tornando a Escola de Samba uma grande empresa. Em todas estas
instituições são encontrados objetivos estratégicos, estruturas organizacionais,
tecnologia e recursos humanos que são fatores essenciais à formação de qualquer
empresa.
A escola de samba não é mais vista como um lugar onde as pessoas se
encontram, no mês de fevereiro, para cantar e dançar nos pequenos bairros. A marca de
gente atrasada como a que compõe os estratos inferiores da sociedade brasileira. Gente
que não sabe economizar, que gasta o seu dinheiro na compra de custosas fantasias a
serem utilizadas uma só vez. Hoje, a escola de samba, pode ser vista como um processo
de estruturação coletiva e individual, que gera empregos, desenvolve sistemas, estimula
a criatividade, conseqüentemente, exige um grau de gerenciamento e estruturação.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Para conquistar títulos do Carnaval, cada vez mais as escolas de samba
necessitam de uma administração com funções descentralizadas, participativas,
interdependentes e integradas.
Com o objetivo de tomar decisões e resolver problemas, a administração
participativa aprimora e motiva as relações de trabalho. Os funcionários contribuem
com suas experiências e conhecimentos, buscando agregar valores às funções e demais
integrantes de sua equipe, contribuindo para o melhor desempenho do trabalho.
(STONER, 1992)
Uma organização como esta tem como orientação um modelo de gestão
participativo que promove a integração entre todos os atores envolvidos no processo,
sobretudo os segmentos que visam liderança, disciplina e autonomia. Dessa forma, os
trabalhadores se sentem parte integrante do processo produtivo, pois se envolvem com
os objetivos e resultados da empresa. (JOHANN, 1996).
Para se conseguir uma gestão participativa eficiente, é fundamental ter em
mente alguns pontos essenciais: aprender a aprender, inovar, criar visão compartilhada,
planejar a transição, a análise organizacional, para que a gestão seja uma soma de
esforços individuais e grupais em busca do aperfeiçoamento permanente da organização
e de seus recursos humanos. (DRUMOND, 1991).
2.1 – Competências na Gestão de Pessoas
O modelo de gestão estratégica é norteado pelos princípios de
incentivos,valorização ao desenvolvimento e comprometimento das pessoas com a
contrapartida da elevação crescente dos resultados.
De acordo com Dutra (2004), o conceito de competência foi proposto de
forma estruturada pela primeira vez em 1973, por David McClelland, na busca de uma
abordagem mais efetiva que os testes de inteligência nos processos de escolha de
pessoas para as organizações. A competência, segundo este autor, é uma característica
subjacente a uma pessoa que pode ser relacionada com desempenho superior na
realização de uma tarefa ou em determinada situação. Ele diferenciava, assim,
competência da tríade aptidões/habilidades/conhecimentos. De aptidões, porque estas
seriam um talento natural das pessoas, que podem vir a ser aprimoradas. De habilidades,
porque estas seriam a demonstração de um talento particular na prática, e de
conhecimentos, porque representam o que a pessoa precisa saber para desempenhar uma
tarefa.
Há também a afirmação de que o sentido da palavra competência tem a sua
origem associada às mudanças ocorridas a partir da década de 80, que levaram ao
aumento da complexidade do trabalho e à necessidade crescente de se lidar com as
contingências. Para Ducci (1996), o conceito de competência refere-se à capacidade de
enfrentamento e de resolução de problemas com sucesso em situações de incerteza na
vida do trabalho, sendo que é justamente essa imprevisibilidade que faz a diferença
entre os conceitos de competência e qualificação.
Conforme Dutra e Hipólito e Silva (1998), competência é um conjunto de
qualificações que permite que um indivíduo tenha um desempenho superior em situação
de trabalho. Levy-Leboyer (1997), defende que as competências estão vinculadas a uma
tarefa, uma atividade determinada ou a um conjunto de atividades. Estas são
conseqüências da experiência e constituem saberes articulados, integrados entre elos e,
de alguma forma, automatizados, na medida em que a pessoa competente mobiliza este
saber no momento oportuno, sem ter necessidade de consultar regras básicas nem de
perguntar sobre as indicações de tal ou qual conduta. Para essa autora, contudo, estas
características das competências fazem com que seja difícil descrevê-las, uma vez que
as representações que servem de guia ao indivíduo na atividade e que servem para
integrar os diferentes saberes e atitudes estão implícitas.
Chiavenato (2003),define competências como as características das pessoas
que dão a sustentação de vantagens competitivas, relacionadas ao trabalho gerencial e
profissional, elas ajudam na organização e no objetivo estratégico do negócio. Para
Barato (1998), competência não se confunde com desempenho, sendo que este pode ser
utilizado como uma forma de se aferir à competência. Nesse sentido, a competência
refere-se à capacidade do sujeito e serve como guia dos desempenhos. Para esse autor,
competências:
“... são saberes que compreendem um conhecimento capaz de produzir
determinados desempenhos, assim como de assimilar e produzir informações
pertinentes”.(BARATO,1998,p.16).
Para Fleury e Fleury (2004), competência é uma palavra do senso comum,
utilizada para designar pessoa qualificada para realizar algo. Seu oposto ou antônimo
não apenas implica a negação dessa capacidade, mas também guarda um sentimento
pejorativo, depreciativo. Chega a sinalizar que a pessoa encontra-se ou se encontrará
brevemente marginalizada dos circuitos de trabalho e de reconhecimento social.
3. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
Para classificação da pesquisa, toma-se como base a taxionomia apresentada
por Vergara (2006), que a qualifica em relação a dois aspectos : quanto aos fins e
quanto aos meios.
Quanto aos fins, a pesquisa será exploratória e empírica, pois Segundo
Vergara (2006), a investigação exploratória é realizada em área na qual há pouco
conhecimento acumulado e sistematizado que, por sua natureza de sondagem, não
comporta hipóteses que, todavia, poderão surgir durante ou ao final da pesquisa.
Exploratória porque, embora o Vai-Vai seja uma instituição com tradição e alvo de
pesquisas em diversas áreas de investigação, não se verificou a existência de estudos
que abordem a gestão de pessoas como sendo o diferencial para a conquista dos
quartoze títulos do Vai-Vai, como escola de samba de São Paulo, que mais vezes
ganhou o Carnaval.
Quanto à finalidade das pesquisas exploratórias, Gil (1999) apresenta que
elas buscam desenvolver, esclarecer e modificar idéias, tendo em vista a formulação de
problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores
Quanto aos meios, a pesquisa será um estudo de caso, pois trata-se de um
circunscrito da organização, escola de samba, Vai - Vai. Foi um estudo realizado em
campo e tem caráter de profundidade e detalhamento.
De acordo com a concepção de Yin (2010) o estudo de caso é uma
investigação empírica de um fenômeno contemporâneo, que trata da definição do
problema de pesquisa, do projeto, da coleta e análise de dados à elaboração das
considerações finais. Portanto, nesse caso a fundamentação da pesquisa ocorreu em três
fases, à primeira através de pesquisa bibliográfica, a partir de matérias já publicadas e
coleta de dados no site oficial da Escola e periódicos (jornais e revistas).
A segunda fase tratou do levantamento de dados, que ocorreu por meio da
distribuição de 100 questionários, com 16 questões, que pretendia identificar qual a
relação entre gestão de pessoas e os títulos de campeã do Carnaval de São Paulo.
Segundo Quivy e Campenhoudt (1998), as leituras e entrevistas exploratórias ajudam a
elaborar a problemática da investigação, as leituras fazem o balanço do conhecimento
teórico relevante ao problema de partida. Já a entrevista exploratória é útil para revelar
aspectos do objeto, que o investigador não tinha consciência e assim complementar as
idéias de trabalho sugeridas pela leitura.
As informações foram obtidas pelas respostas aos questionários que foram
distribuídos individualmente para trabalhadores dos barracões, componentes de ala e
para a comunidade do Bixiga. Também por observações assistemática e conversas
informais, nos momentos que precediam os ensaios na quadra ou no Anhembi.
E por fim, a terceira fase do estudo de caso, consiste na análise dos
resultados e consideração finais. Visando realizar uma investigação pouco usual na área
dos estudos organizacionais, a pesquisa segue com uma análise das características no
âmbito da vida real do Grêmio Recreativo Cultural Social da Escola de Samba Vai-Vai.
4. ESTUDO DE CASO
4.1 O BIXIGA – CONTEXTO HISTÓRICO.
[...]O Bixiga balançou
Iluminou toda cidade (a bateria)
Arrepia da um show
Vai-Vai é luminosidade[...]1
A origem dos campos e matos do Bixiga remontam à Sesmaria do Capão
(que significa mata isolada no meio do campo), dotadas a Antonio Pinto em 1559,
passando desde então às mãos de diferentes proprietários, que ressaltam a antiguidade
de seu passado em nomes como Antônio Rodrigues de Almeida, Fernão Dias Pais
Leme, Pedro Taques, entre tantos outros.
A região, portanto, era parte de uma área mais extensa, bastante antiga e
com posição estratégica para ocupação nos primórdios da Vila de Piratininga. A cidade
se expandiu primeiramente para oeste, na direção do Anhangabaú, rumo ao espigão do
Caaguaçú (hoje Av. Paulista), pois seu vale era mais fácil de se transpor do que o rio
Tamanduateí, e a pequena várzea inundável do Anhangabaú era muito menor,
facilitando sua superação. O centro foi se desenvolvendo nesse sentido, trazendo a
presença de todas as classes sociais até a terceira parte do século XIX. As principais
estradas da época tinham seu ponto de confluência para a região, no Largo do Piques: o
Caminho do Piques (atual Rua da Consolação), e as estradas que iam para Santo Amaro
e para Santos.
Nessa área de abrangência do Bixiga Antigo, ficavam ainda os mais
significativos pontos de abastecimento de água da cidade: o Tanque Reúno, formado
pelas águas do riacho Saracura, os de Santa Tereza e o do Matadouro. Também o
abastecimento de gêneros de São Paulo teve seus primórdios no Bixiga: entre
1773/1774 o Matadouro Público (ou Curral do Conselho) ficava na Rua Santo Antônio,
além do curtume pertencente a J.A.Coelho, da família Sertório, e daí vem uma das
explicações para a origem do nome, pois no matadouro comercializar-se-iam bexigas de
boi.
Outra referência ao lugar vem de um decreto municipal de 1793, indicando
que proprietários deveriam carrear camadas de pedra do Bixiga para o Chafariz da
Misericórdia. Registros de venda de terras de Capitão Melchior Pereira para Antonio
Soares Cavalheiro Gomes e Abreu registram pela primeira vez o nome campos do
Bixiga em fevereiro de 1794.
O registro mais preciso é de 1819, dando conta que existia por esses campos
uma hospedaria para tropeiros, de propriedade de um homem conhecido como Antonio
Bixiga, no Largo do Piques, onde o historiador francês Saint Hillaire quis se alojar
quando esteve em SP, e ficou bem incomodado ao perceber que o alojamento na 1 Samba Enredo: O Caminho da Luz a Paz Universal. Disponível em:
http://www.vaivai.com.br/exibesamba.asp?id=30. Acesso em 14 março 2011.
verdade era para os animais das tropas descansarem e pastarem, e para isso pagavam
vintém; os proprietários dos animais nada pagavam e dormiam em cubículos que davam
frente ao terreiro lamacento dos animais. Desse personagem, predecessor de hoteleiro,
vem à suposição da segunda origem para o nome Bixiga: teria o tal Antonio marcas
indeléveis no rosto, da epidemia que desde 1700 tanto assustava e assolava SP, a
varíola, também conhecida por bexiga; o que teria alcunhado o tal hospedeiro, e,
conseqüentemente, todas as terras e campos que o pertenciam.
Em 1878 os campos tornam-se lotes, que são comercializados pela
Companhia Antonio J.L.Braga, dando a partida para a formação do bairro mais
emblemático de uma São Paulo que se tornava cosmopolita: o Bixiga. O bairro tem uma
onda de crescimento sem precedentes, quando imigrantes europeus, portugueses e
principalmente italianos calabreses, pequenos artesãos, comerciantes e de ofícios
independentes se estabeleceram em massa nas novas terras, que já eram ocupadas na sua
parte baixa, próximas ao Riacho do Saracura, pelos ex-escravos e descendentes, além de
mulheres e homens pobres oriundos da zona rural, constituindo uma urbanidade
cosmopolita de moradia e sociabilidade sem precedentes.
[...] O Bixiga evoluiu dentro de São Paulo como um bairro de características
bem definidas. Relações de vizinhanças muito estreitas, marcadas por uma
forte identidade étnica-nacional de italianidade. Um lugar onde as profissões
artesanais imprimiram sensíveis marcas no seu perfil cultural. A
possibilidade de associar residência e oficina permitia a este tipo de
trabalhador dispor do seu tempo da maneira que melhor lhe provesse. Desta
forma, este habitante podia dividir seu dia em horários bem marcados: a hora
do trabalho na oficina, da sesta, novamente do trabalho e finalmente, no
término da jornada, o convívio com a família. Nestas oficinas trabalhavam,
geralmente, quase todos os membros da família. Assim, regulados pelo
mesmo horário de trabalho, podiam compartilhar conjuntamente de todas as
atividades, desde as refeições ao lazer [...]2
Essa diversidade étnica dos moradores, atuando muitas vezes em atividades
de trabalhos autônomas, desenvolveram uma multiplicidade de tradições, práticas,
costumes e símbolos, presentes na identidade do Bixiga atual, bairro da festa da
Achiropita, dos artistas e do teatro, das cantinas italianas, da boemia e da escola de
samba Vai-Vai.
4.2 - O Surgimento do Cordão
Como opção de lazer, os moradores do Bixiga tinham a festa em louvor a
Nossa Senhora da Achiropita, realizada no dia 15 de agosto. As comemorações em
homenagem à padroeira do bairro eram marcadas pelas brincadeiras como o “pau de
sebo” e o “quebra potes”.3
Os moradores traziam sua contribuição tocando o “samba de bumbo”. O
futebol era a alternativa de lazer, praticado nas várzeas do Saracura. Um desses clubes,
2 SCARLATO , Francisco Capuano (1988). O Real e o Imaginário no Bexiga. Tese de doutorado,
FFLCH-USP, p. 65. São Paulo. 3 BRITTO, Iêda Marques de. Samba na Cidade de São Paulo. São Paulo: EDUSP,1986.
o Cae-Cae tinha como símbolo, as cores preto e branco, influência direta do Sport Club
Corinthians Paulista.
Paralelamente aos jogos de futebol, existia um grupo musical que, por ser
muito participativo, ficou conhecido como a turma que "vai a qualquer lugar”. De uma
intriga entre os membros do clube Cae-Cae, surgiu um grupo dissidente que,
provocativamente, adotou o nome de “Vai-Vai” e logo se transformaria em cordão
carnavalesco.
Em 1º de Janeiro de 1930, nas proximidades do rio Saracura, que hoje
corresponderia à área situada entre as ruas Rocha e Rui Barbosa, um grupo de jovens
fundou o cordão carnavalesco Vai-Vai, que herdou do antigo Cae-Cae, as cores branco
e preto, o Vai-Vai então resolveu adotar as cores preta e branca (nesta ordem).
Dentre os fundadores, destacaram-se: Benedito Sardinha, Frederico
Penteado, dona Casturina, dona Iracema, Tino, Guariba, Livinho e Henricão.4
O símbolo escolhido foi uma coroa adornada por dois ramos de café:
Figura 1 – (Pavilhão)
Em relação ao significado do símbolo, conhecido como pavilhão do Vai-
Vai. Foi criado na década de 30 por Fredericão, Sr. Livinho e Dona Iracema.
Fredericão teve a idéia da coroa baseado no fato de que naquela época era comum que
os negros se abordassem usando os termos de "meu rei" ou "minha rainha". Este tipo de
tratamento vinha desde a chegada dos escravos da África até a década de 60. Era uma
maneira cordial de se referir ao próximo. Sr. Livinho , fez o primeiro desenho da coroa,
que foi baseado na coroa imperial. Junto à coroa, vieram os ramos de café, que foram
incluídos devido ao fato de que na época os avós destes senhores trabalhavam como
quituteiras e arrumadeiras para os Barões do Café, que residiam no alto do Caraguaçu
(hoje avenida Paulista).
4 MORAES , Wilson Rodrigues de. Escolas de Samba de São Paulo. São Paulo: Secretaria da Cultura
Ciência e Tecnologia, 1978.
Nesta época, os Barões contribuíam para o Vai-Vai com recursos que
possibilitava a realização do carnaval, sem obter nada em troca.
Os primeiros ensaios, assim como as reuniões, eram realizados na casa de
um dos fundadores, Seu Benedito Sardinha, na Rua Rocha. Em dois cômodos grandes, o
grupo podia trocar de roupas, guardar os instrumentos, fazer as evoluções e realizar
bailes.
No primeiro desfile, o cordão foi composto por um contingente entre 100 e
150 pessoas, desfilando pelas ruas do Bixiga indo até o bairro de Pinheiros (Clube
Rebouças). O tema escolhido homenageava a Marinha Nacional.
[...]É nóis ia assim, os pessoal gostava, aí tinha aquelas casa que dava
comida, punha aquelas mesa de doce, o Cordão entrava, aquelas moça tudo
entrava, comia, bebia, depois saía tocando e agradecia e ia noutra casa a
mesma coisa, de tanto que eles gostava, aquelas italianada ali da Bela Vista
tudo (...) passava com o cordão lá na porta, já tava avisando “é em tal lugar
(...) tem mesa de doce” (...) Nóis entrava tudo direitinho (...) as moças na fila
e entrava, cantava e eles batia palma (...) ali comia, tomava guaraná,doce,
tudo o que tinha, depois cabava, agradecia aí o apitador, que era meu
compadre Livinho, tocava o apito, todo mundo já se punha no lugar e saía no
cordão já ia no outro, aquele povo atrás, uma coisa maravilhosa [...] 5
No desfile, o cordão era estruturado da seguinte forma: inicialmente, vinha o
abre-alas, folião que executava coreografias específicas, seguido do clarin, cuja função
era chamar a atenção do público para o início do desfile e os balizas, que faziam
acrobacias com um pequeno bastão.
Após os balizas, aparecia a porta-estandarte, protegida pelo guarda-
estandarte e a “comissão de frente”. Na seqüência, os “amarra-fila” marchavam
formando filas laterais para que o centro ficasse livre para os integrantes evoluir.
O desfile era finalizado pelo batuque que tinha, à frente, o apitador, cuja
função era coordenar o canto, o ritmo e a dança.6
Ao contrário do que ocorre atualmente, não existia um local fixo para o
cortejo. Além do Bixiga, a escola aceitava convites para desfilar em outros bairros,
como a Lapa e Penha, e em outras cidades, como Santo André e Guarulhos.
Paralelamente ao cordão, a turma do Vai-Vai colocava o Bloco dos
Esfarrapados nas ruas do Bixiga no sábado de carnaval, que era um dia normal de
trabalho já que os desfiles aconteciam aos domingos. Os Esfarrapados saíam às ruas
vestindo roupas velhas, rasgadas ou com os homens travestindo-se de mulher. O desfile
não tinha caráter competitivo; como o bloco desfilava isoladamente, existia uma maior
espontaneidade por parte dos seus integrantes.
Na década de 1960, os cordões paulistanos começaram a transformar-se em
escolas de samba. Em 1966, o Vai-Vai mudaria sua estrutura e passaria a ser dividido
em alas, com carros alegóricos, mestre-sala e porta-bandeira.
Em 1972, o cartunista Otávio cria para o Vai-Vai a mascote Criolé:
5 Depoimento da Srª Iracema, cedido à pesquisadora Alba Figuerôa, em 1978.
6 Grêmio Recreativo e Cultural Escola de Samba Vai-Vai. História. Disponível em:
http://www.vaivai.com.br. Acesso em 07março 2011.
Figura (Criolé)
Em uma das reuniões de quadra, em um bate papo descontraído, o chargista
começou a fazer uma caricatura baseada nas pessoas que estavam presentes na quadra.
Daquela reunião saiu o primeiro esboço do Criolé. Uma semana depois, ele retornou a
quadra já com a imagem do Criolé em definitivo. Aquela que conhecemos hoje de um
homem negro beiçudo, com um cigarro na boca e com um tamborim na mão.
Durante um bom tempo o Criolé foi usado no carro abre alas da escola nos
desfiles de carnaval. Os vaivaienses costumavam tocar a imagem do Criolé antes de
entrar na avenida como algo que lhes traria sorte ao desfile.
Em 1998, o Criolé virou personagem central do enredo da escola de samba.
Atualmente, a coroa e o Criolé são os dois símbolos oficiais que representam o Vai-Vai.
Em conseqüência do grande investimento financeiro e do crescimento do
número de associados, houve a necessidade de um maior controle da direção sobre a
base, com uma maior ênfase na estrutura hierárquica, ao mesmo tempo, a escola
necessitou da presença de brancos de classe média, devido ao aumento de custos com o
carnaval.
A partir da oficialização do carnaval, um novo fenômeno ocorreria no
samba paulistano: o surgimento de escolas dirigidas por brancos, sendo a Rosas de Ouro
e a Mocidade Independente as que mais se destacaram.
As novas escolas tinham um contingente significativo de brancos.
Entretanto, como havia necessidade de integrantes para os setores estratégicos como a
bateria, a ala de compositores e passistas, houve a contratação de negros das escolas
tradicionais.
Apesar da concorrência das novas escolas de samba, na década de 1970, o
Vai-Vai firmou-se como uma das principais escolas de samba da cidade, sempre se
classificando entre as três melhores no desfile, aumentando o número de associados,
bem como de simpatizantes.
5. O GERNCIAMENTO DAS PESSOAS
“[...]Quem nunca viu o samba amanhecer
Vai no Bixiga pra ver, vai no Bixiga pra ver.
O samba não levanta mais poeira,
Asfalto hoje cobriu nosso chão
Lembranças eu tenho da Saracura
Saudade tenho do nosso cordão
Bixiga hoje é só arranha-céu
E não se vê mais a luz da Lua
Mais o Vai-Vai está firme no pedaço
É tradição e o samba continua[...]”7
O processo de mercantilização das escolas de samba paulistanas que teve
seu início na década de 1970 exigiu que essas agremiações tivessem uma estrutura
organizacional cada vez mais complexa, pois passaram a mobilizar um número
crescente de atores e um grande volume de capitais para realização do espetáculo
carnavalesco.
Em termos de organização interna da agremiação, tomamos como referência
as subdivisões ocupacionais para estabelecer a seguinte classificação: setor
administrativo, composto pela diretoria executiva;setor de produção musical, que inclui
a ala dos compositores e a bateria; setor de produção humana do desfile, formado pelas
alas coligadas, a harmonia e o setor de produção material coordenado pelo carnavalesco,
que engloba o barracão8 e o atelier de costura.
9
Para compreender a administração no contexto de uma escola de samba
pretendemos analisar neste trabalho um aspecto determinante e crucial: o gerenciamento
das pessoas que trabalham e ajudam a agremiação no seu desenvolvimento, quando
falamos em gerenciamento de pessoas queremos nos referir à maneira pela qual as
pessoas são administradas dentro da escola de samba. Sabemos que a administração das
pessoas é uma responsabilidade de linha e uma função de staff. Isso significa que as
pessoas são dirigidas por uma constelação de chefes de ala que adotam diretrizes e
práticas administrativas. O presidente reparte com cada gestor de ala a tarefa de lidar
com as pessoas da escola de samba. Como responsabilidade linear, cada chefe de ala
deve cuidar pessoalmente de sua equipe de trabalho. É ele que deve escolher a sua
equipe, desenhar o trabalho a ser realizado, preparar a equipe, liderá-la, motivá-la,
avaliá-la e recompensá-la adequadamente. Assim, como nas escolas de samba, nas
empresas o gerente é o responsável pela sua equipe de trabalho. Para poder gerenciá-la e
dela obter eficiência e eficácia, o gerente precisa selecionar, treinar,liderar,motivar e
avaliar seu pessoal. O gerenciamento de pessoas implica, portanto, fazer todas essas
coisas como meios para alcançar eficiência e eficácia e, com isso, alcançar igualmente a
satisfação dos objetivos da agremiação.
7 Samba de exaltação: Tradição. Disponível em: http://www.vaivai.com.br/exibesamba.asp?id=30.
Acesso 14 março 2011. 8 Local onde são produzidos os carros alegóricos. Por questões operacionais, fica localizado próximo ao
local do desfile. 9 No atelier de costura são confeccionadas as fantasias utilizadas no desfile.
Não é uma tarefa simples lidar com pessoas é uma atividade altamente
complexa. É, sobretudo, gratificante para quem souber fazê-lo de maneira a enaltecer o
trabalho e dignificar o ser humano.
Desde a virada do século, o interesse pela eficiência tem sido enorme.
Um pouco antes, Adam Smith se preocupara com ela. Mas foi com Taylor e com os
chamados engenheiros da administração científica que a eficiência alcançou a posição
que hoje desfruta no campo da administração e da engenharia.
A eficiência é o meio: baseia-se no método, no procedimento, na rotina e
no caminho para se chegar a alguma coisa. O bom método, a boa rotina e o
procedimento adequado levam ao aumento da eficiência. O caminho adequado para se
chegar a alguma coisa aumenta a eficiência. Fazer bem as coisas, utilizar métodos,
procedimentos e rotinas conduzem à eficiência.
A eficácia é o resultado: baseia-se no alcance dos objetivos propostos e
na conseqüência final do trabalho.
Contudo, nem sempre a eficiência e a eficácia andam juntas. Como
exemplo, a perda do titulo do Carnaval pela Vai-Vai no ano de 2010, ano em que a
escola desfilou de forma fantástica contando a história dos seus 80 anos. Porém o
objetivo deste trabalho não é ressaltar as falhas das escolas em determinados anos de
seus desfiles, o intuito é entender o papel do líder para que a escola se tornar-se a com
mais títulos em São Paulo. Porém este assunto deve ser abordado, pois faz parte do
contexto empresarial em que a escola de samba está inserida. Não há empresa que se
desenvolva bem, sem que haja eficiência e eficácia.
O mesmo acontece com as empresas, pode-se encontrar uma equipe
altamente eficiente, mas pouco eficaz. Ou uma equipe altamente eficaz, porém
desamorniosa no seu desempenho. O pior é quando a equipe não consegue eficiência
nem eficácia. O desejável é otimizar o desempenho fazendo as coisas com arte e
elegância, para alcançar objetivos por meio excelentes. A excelência nos meios e nos
fins.
Para enfrentar o mundo dos negócios em constante mudanças e ebulição, a
empresa precisa desenvolver sua capacidade de migrar e mudar estratégias, de criar e
alavancar novas habilidade, atitudes e competências, de inovar incessantemente seus
produtos e serviços, de melhorar seus processos e incrementar seu desempenho, ou seja,
mudanças fundamentais e constantes nas estruturas internas da empresa, nos
comportamentos dos seus membros, nos processos internos, nos sistemas e nas
tecnologias utilizadas, nos produtos e serviços.
Arduz Blass (2007, p.135):
“A produção de um desfile de carnaval passa longe das características de uma
produção industrial. Em primeiro lugar, o enredo renova-se todos os anos,
impossibilitando qualquer padronização de uma linha de montagem e, por
conseguinte, da produção de em massa, um dos aspectos fundamentais no
funcionamento de uma fábrica nos moldes fordistas, visando o consumo em
massa e o processo de acumulação de capital. Em segundo lugar, os desfiles
resultam do trabalho coletivo no barrracão, na quadra e nas oficinas, sendo
sempre produtos únicos nos quais atuam o carnavalesco, as equipes de
trabalhadores e trabalhadoras no barracão na construção dos carros alegóricos
e as das oficinas que confeccionam fantasias e adereços, além dos brincantes
que narram um enredo na avenida, durante o tempo regulamentar do desfile
de Carnaval.”[grifo do autor]
Como nas agremiações, sem inovação não haverá encantamento na avenida.
Conforme Chiavenato (2003), é necessário a cada novo ano, aumentar o tamanho dos
carros alegóricos, deixar as fantasias mais glamurosas, tornar a equipe mais motivada e
com enredos mais cativantes. Tudo isso trata-se de aprendizado organizacional, que é o
requisito fundamental para a existência e o sucesso das empresa.
O moderno gestor de uma escola de samba deve estar sempre procurando
métodos e estratégias que possam aperfeiçoar suas funções gerenciais dentro da idéias
de planejamento, organização e controle. Seu planejamento deve ser com uma visão
ampla de planejamento a longo prazo. Mudanças repentinas podem levar ao fracasso
total As conquistas devem ser gradativas, sem queimar etapas. Essas etapas devem
seguir um planejamento estratégico de etapas tais como: definição da missão, análise do
contexto social, definição de objetivos, definição de estratégias e elaboração de um
plano de ação. O gestor moderno deve seguir a linha de ser eficaz e eficiente. Para isso
ele deve contar com profissionais que sejam capazes de atingir os objetivos propostos
pela escola de samba.
Nas escolas de samba de hoje, não há mais lugar para amadores. Não
adianta manter pessoas em determinadas funções apenas por serem antigos na
agremiação sem, entretanto possuírem mérito para tal. Hoje as agremiações possuem
carnavalescos, figurinistas, aderecistas, coreógrafos, arquitetos, todos profissionais. As
escolas de samba como misto de executores de projetos culturais e de entretenimento de
massa, precisam de gestores competentes e que tenham as habilidades e conhecimentos
necessários. Precisam ser dirigidas por administradores e gestores culturais devidamente
gabaritados. Se não dirigidas ao menos que seus diretores tenham assessoria e
consultoria de profissionais.
É necessário planejar a produção. O número de profissionais necessários,
negociar com fornecedores e realizar pesquisa de preço. Precisa-se estudar soluções
para redução de desperdício, enfim, precisamos de gestores capazes de fazer com uma
escola de samba que gaste menos e propicie espetáculos maravilhosos e projetos
culturais que apresentem resultados.
Um dos resultados que as empresas mais procuram na sua forma
organizacional de gestão continua é uma fórmula para encantar e atrair clientes e ao
mesmo tempo criar um modelo interno de união do grupo que consiga comprometer
seus colaboradores de maneira criativa e com entusiasmo. Ou seja, justapondo
interesses coletivos.
É necessário que se entenda que uma escola de samba não funciona apenas
no período do carnaval. Ela gera empregos, desenvolve sistemas, estimula a
criatividade, conseqüentemente, exige um grau de gerenciamento e estruturação. O
espetáculo que vemos durante os desfiles, é o resultado de muito trabalho, competência
e estruturação.
Dentro de uma escola de samba não deve haver lugar para a valorização do
ego. A estrela principal do espetáculo é a agremiação e, essa idéia deve ser passada para
todos os componentes. O trabalho coletivo é fortemente valorizado. Isto, no entanto, não
significa que o talento individual será ignorado.
Na visão de um dos chefes de ala, em conversa informal, ele argumenta :
“Há uma motivação muito grande no sentido de que cada
componente desenvolva talentos específicos. Por isso, cada ala possui
autonomia para trabalhar da forma que acredita ser melhor. A centralização
das atividades é moderada, de forma que a liderança seja compartilhada por
todos os integrantes”.
No universo de uma escola de samba para atingir um bom resultado na
avenida é necessário saber administrar riscos. As pessoas precisam aprender com os
próprios erros. Errar naquilo que se conhece é imperdoável, mas errar à procura do novo
é bom, e deve ser incentivado. Porque se você não arriscar, nunca conseguirá, melhorar
seus resultados.
5.1 - A atuação da Escola de Samba Frente à Comunidade e Público Interno.
Atender a todos os parceiros (stakeholders) adequadamente, dentro do
conceito de Responsabilidade Social, e ao mesmo tempo atingir um desempenho
excelente, como sabemos, constitui um requisito fundamental para as escolas de samba
atualmente, mas representam, também, grandes desafios para elas.
Dois desses stakeholders que estão assumindo um papel cada vez mais
intenso e, em alguns negócios, crucial, são: a comunidade de entorno, e que se relaciona
de uma ou outra forma com a escola; e os integrantes da escola, freqüentemente
chamados de público interno.
O atendimento das demandas das comunidades que sofrem o impacto da
atuação da escola de samba, mesmo que apenas em virtude de existirem na mesma
localidade, e das necessidades de seus integrantes. Cada um desses parceiros tem
demandas e expectativas diferentes e que podem, em um determinado momento,
convergir. Obviamente que não é tarefa fácil atender às demandas de dois parceiros tão
importantes e, assim mesmo, continuar tendo competitividade o carnaval.
O atendimento à comunidade não para no Vai-Vai, diariamente a
responsável pelo atendimento do DASC - Depto de Assistência Social, Niltes Lopes,
recebe pessoas interessadas em integrar e participar dos projetos sociais da escola.
Projetos esses que são : Acompanhamento psicológico, aulas de Capoeira, aulas de
percussão,aulas de inglês, aulas de dança, aulas de leitura, Brasil alfabetizado, oficina
ler e ouvir, SP Estados dos leitores, viva leite criança e viva leite idoso
A atuação das agremiações relativamente às comunidades que estão à sua
volta, ou que têm algum tipo de relação com a atividade da agremiação, sofreu algumas
modificações ao longo do tempo.
No início, quando um número maior de escolas de samba passou a se
preocupar com as comunidades, o caráter dessa preocupação era eminentemente
filantrópico, apesar de ter dado visibilidade a muitas agremiações e, ter, de fato, trazido
benefícios para alguns dos parceiros, em alguns casos específicos.
Ao longo da última década do século XX e no início do século XXI, no
entanto, essa atuação foi sendo objetivo de regulamentações, guias de sustentabilidade,
acordos, prêmio e muito mais. As escolas de samba têm, à sua disposição, portanto,
“guias das melhores práticas”, tornando essa atuação mais profissionalizada e menos
empírica e intuitiva. Esses “guias” estão disponíveis para serem usados como
ferramentas de gestão na escola de samba, e alguns deles também promovem a
agremiação para a sociedade, tornando pública sua atuação.
Em adição, temos também o entendimento por parte de um número razoável
de agremiações, número que tende a aumentar, de que pode haver benefícios de
mercado para quem tem programas de Responsabilidade Social. O grande resultado é a
demonstração que boa gestão não é sacrificada pela ação cidadã da escola de samba.
Pelo contrário, agremiações com forte atuação nos focos socioambientais podem ter, e
algumas têm, forte desempenho.
5.2 - Liderando a equipe
As coisas acontecem e são realizadas na sociedade devido à convicção de
algumas pessoas. A mesma coisa ocorre nas escolas de samba. Os gestores são os
responsáveis diretos pela sobrevivência e pelo sucesso pela sobrevivência e pelo
sucesso da agremiação. Cada sucesso da empresa é o sucesso de um ou mais gestores.
Cada fracasso é o fracasso de um ou mais gestores.
A visão, a dedicação e a integridade dos gestores são os principais
determinantes do sucesso da escola de samba. As principais habilidades e ferramentas
gerenciais quase sempre se resumem em uma característica fundamental: a liderança.
Cada pessoa tem aspirações pessoais, os seus objetivos, as suas preferências,
as suas características de personalidade, os seus talentos e as suas habilidades. Cada
pessoa é única e ímpar. Ao constituírem uma equipe de trabalho, as pessoas se destacam
pelas diferenças individuais. Para que as pessoas possam trabalhar satisfatoriamente em
equipe elas precisam de liderança. A liderança constitui uma necessidade típica do
trabalho em equipe. Para fazer a equipe funcionar e produzir resultados, os chefes de
ala, que são os gestores precisam desempenhar muitas funções ativadoras. Dentre essas
funções, sobressai à liderança. O gestor de ala deve saber como conduzir as pessoas e
administrar as diferenças entre elas.
A liderança não deve ser confundida com direção ou com gerencia. Um
bom dirigente ou gerente deve ser necessariamente um bom líder. O líder nem sempre é
um dirigente ou gerente. Na realidade, os líderes devem estar presentes em todos os
demais níveis da agremiação. A escola de samba precisa de líderes em todos os níveis
hierárquicos e em todas as suas áreas de atuação. Contudo, é na gerencia que reside o
ponto mais critico de liderança. É nesse nível que são decodificados e traduzidos os
objetivos e as necessidades da agremiação e transformados em metas e em esquemas de
trabalho para serem implementados e realizados pelo outros níveis da hierarquia da
escola de samba.
Ao traduzir os objetivos fixados e convertê-los em programas de ação, os
gestores assumem o papel de direcionar e conjugar esforços, comunicar, liderar, motivar
e avaliar as pessoas dentro da agremiação. É por intermédio das pessoas que os gestores
consegue a execução das tarefas, a alocação dos recursos materiais e financeiros, a
produção de bens ou serviços, bem como o alcance dos objetivos organizacionais. Daí
decorre a sobrevivência e o sucesso da escola de samba.
A liderança é o processo dinâmico de exercer influência sobre o
indivíduo ou grupo de indivíduos para aglutinar e impulsionar esforços em função do
alcance de objetivos em uma determinada situação. Dessa definição, segue-se que o
processo de liderança é uma função de três variáveis: o líder, o grupo e a situação em
que se encontram. Essa não é uma habilidade nata, nem privativa de alguns poucos
superdotados. Ela tem de ser aprendida e incorporada ao comportamento do gestor de
ala para fazer parte do seu cotidiano de trabalho.
Há uma enorme diferença entre o líder relacionador e o líder renovador.
O primeiro está preocupado em melhorar continuamente o relacionamento com e entre
os melhores da equipe. O segundo está focado na mudança e na renovação constante das
pessoas e da organização. Isto significa que ele atua como um agente de mudança e de
melhoria continua. O líder renovador procura antes conhecer o contexto em que está
situado. Para tanto, ele se baseia em três aspectos organizacionais básicos para apoiar
seu trabalho coma equipe: Missão da agremiação, visão e valores. A partir dessa
plataforma o líder renovador apresenta as seguintes características: Focalização nos
objetivos, Orientação para a ação, autoconfiança, habilidade no relacionamento,
criatividade, inovação, flexibilidade, tomada de decisões e alto padrão de desempenho.
E o que o líder renovador poderá fazer pela comunidade / pessoas da
escola? Muito. O líder renovador deve proporcionar as seguintes condições para os
membros de sua equipe: Fazê-los abraçar a mudança, aprender a conviver com
incertezas, aprender a ampliar a rede de relacionamento, aproveitar todas as
oportunidades de aprendizado, adicionar valor e estar atento para a tecnologia.
Com toda a certeza, a liderança renovadora incentiva, impulsiona e
alavanca o trabalho da equipe atingindo padrões de desempenho nunca antes
alcançados. Tanto nas empresas ou nas escolas de samba.
5.3 - Motivando a Equipe de Trabalho
Qual empresa que não está interessada em ter funcionários? Na realidade,
funcionários motivados são avidamente procurados pelas empresas. Mas são ainda
criaturas raras. Quase uma raça em extinção, mais não nas escolas de samba. E a ação
organizacional nem sempre cria condições motivacionais suficientes para melhorar a
qualidade de vida das pessoas e trazer interesse e satisfação no trabalho. As empresas
querem empregados motivados. Mas não sabem como motivá-los. Nem sempre a ação
organizacional corresponde ao discurso ou à intenção. Por quê? De um lado, porque
ainda não se sabe distinguir entre o que é a causa e o que é o efeito no comportamento
motivado. E também ainda não se descobriu se o comportamento é causado por fatores
intrínsecos ou extrínsecos ao individuo ou ai grupo. Fica no ar a razão pela qual, certas
pessoas são impulsionadas por um forte desejo de realizar um ótimo trabalho e por que
mantêm ao longo do tempo esse impulso de fazê-lo cada vez melhor.
Por outro lado, as diferenças individuais entre as pessoas dificultam
enormemente a definição de parâmetros universais que as empresas podem utilizar para
motivar as pessoas em igualdade de condições. O que é bom para as pessoas pode não
sê-lo necessariamente para outra. O que interessa a uma pessoa em determinada época
pode não interessá-la depois de algum tempo. Há sempre um componente subjetivo na
motivação que provoca uma enorme complicação.
O gerente tem um papel fundamental na motivação das pessoas. Aliás, a
motivação é uma das principais responsabilidades gerenciais. A influência gerencial
sobre os subordinados exige liderança eficaz e uma continua motivação da equipe. A
motivação funciona como um dinamizador, um impulsionador do comportamento
humano. Para compreender a motivação humana, o primeiro passo é o conhecimento do
que a provoca e dinamiza. A motivação existe dentro das pessoas e se dinamiza com as
necessidades humanas. Todas as pessoas têm suas necessidades próprias, que podem ser
chamadas de desejos, aspirações, objetivos individuais ou motivos.
As necessidades humanas ou motivos são forças internas que
impulsionam e influenciam cada pessoa determinando seus pensamentos e
direcionamento o seu comportamento frente às diversas situações da vida. As
necessidades ou motivos constituem as fontes internas de motivação da pessoa. Cada
pessoa possui seus próprios e específicos motivos ou necessidade. Daí resulta que os
motivos ou necessidade são pessoais e individuais, pois são determinantes pelos fatores
que formam a personalidade, pelos traços biológicos e psicológicos e pelas
características adquiridas pela experiência pessoal e aprendizagem de cada pessoa.
Ademais, cada pessoa pode sentir e perceber seus motivos e necessidades de maneira
diferente, em diferentes épocas ou situações.
E como as escolas de samba conseguem motivar tão bem os sua
comunidade e as empresas não? Pois na realidade a motivação está contida dentro das
próprias pessoas e pode ser amplamente influenciada por fontes externas ao individuo
ou pelo seu próprio trabalho na escola de samba. A motivação intrínseca e a motivação
extrínseca devem se complementar por meio do trabalho dos gestores da escola de
samba. Ambas não podem ser deixadas ao acaso, simplesmente à mercê dos
acontecimentos. Elas podem e devem ser perfeitamente compreendida pelos gestores da
escola e utilizadas como ponto de apoio para potencial interno de motivação de cada
pessoa e deve saber como extrair do ambiente as condições externas para elevar para
elevar a satisfação na participação do carnaval.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de uma das limitações do trabalho ser a dificuldade de compreensão, do
questionário, pelos participantes, analisando as respostas, pode-se observar que não há
um forte segredo que faça o Vai-Vai diferente das outras agremiações.
Com os estudos e análise conclui-se que o sucesso deve-se a união entre a
comunidade e agremiação, excelente administração dos gestores da escola de samba,
que exerce muito bem o papel de liderança, de tal forma que conseguem exercer uma
liderança 360°.
Antes da elaboração desta tese imaginávamos que havia um forte segredo para o
sucesso do Vai-Vai, porém após estudo identificou-se que não há grandes segredos ou
fórmulas mágicas. No Vai-Vai há uma gerência participativa que exige muito
planejamento, implantação cuidadosa e monitoramento constante para que funcione
bem.
As palavras mágicas do sucesso do Vai-Vai são cooperação e
comprometimento. Gerenciar pessoas é chegar a um alto grau de cooperação e de
comprometimento, e isso é mais do que gerenciar pessoas é gerenciar com pessoas. Esse
é o caminho a ser ensinado ou escondido das outras agremiações. São essas as
características que fazem do Vai-Vai a escola que mais conquistou títulos em São Paulo.
O relato abaixo apresentado por um dos participantes sintetiza:
“Pelo Vai-Vai ser uma escola de chão, de verdadeiros sambistas. O amor e a
paixão ao pavilhão e essa comunidade que supera qualquer problema. Na
verdade os problemas se tornam pequenos, perto da garra da comunidade”.
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