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SIMPÓSIO DE INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E GERENCIAIS 03 a 06 de Setembro de 2001 34 ESTRATÉGIA DE CONTROLE DO ÁCARO DA NECROSE DO COQUEIRO, Aceria guerreronis, NO ESTADO DO CEARÁ. Raimundo Braga Sobrinho 1 , Márcio José Alves Peixoto 2 , Raimundo Nonato Lima 1 , Antônio Lindemberg M. Mesquita 1 , Joana Maria S. Ferreira 3 1 EMBRAPA-Agroindústria Tropical. Av. Dra. Sara Mesquita, 2270, Pici, 60.511-110 – Fortaleza – Ceará. [email protected] 2 Estagiário–EMBRAPA-Agroindústria Tropical 3 EMBRAPA-Tabuleiros Costeiros. Caixa Postal 44, 49001-970 – Aracaju – Sergipe INTRODUÇÃO O coqueiro, Cocos nucifera L., é uma cultura largamente difundida nas regiões tropicais. A sua importância se deve aos múltiplos usos e finalidades, constituindo-se

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SIMPÓSIO DE INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS E GERENCIAIS03 a 06 de Setembro de 2001

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ESTRATÉGIA DE CONTROLE DO ÁCARO DA NECROSE DO

COQUEIRO, Aceria guerreronis, NO ESTADO DO CEARÁ.

Raimundo Braga Sobrinho1, Márcio José Alves Peixoto2, Raimundo Nonato Lima1,

Antônio Lindemberg M. Mesquita1, Joana Maria S. Ferreira3

1EMBRAPA-Agroindústria Tropical. Av. Dra. Sara Mesquita, 2270, Pici, 60.511-110 –

Fortaleza – Ceará. [email protected]ário–EMBRAPA-Agroindústria Tropical3EMBRAPA-Tabuleiros Costeiros. Caixa Postal 44, 49001-970 – Aracaju – Sergipe

INTRODUÇÃO

O coqueiro, Cocos nucifera L., é uma cultura largamente difundida nas regiões

tropicais. A sua importância se deve aos múltiplos usos e finalidades, constituindo-se

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portanto, em um importante produto agro-industrial para o Brasil. O Nordeste brasileiro é

responsável por mais de 90% do cultivo de coco do Brasil. No estado do Ceará, essa cultura

encontra-se em elevada expansão, apresentando atualmente uma área cultivada sob irrigação

superior a 5.000 hectares. Entre os fatores limitantes desta cultura no Estado do Ceará,

destaca-se a ocorrência de uma praga conhecida como ácaro da necrose do fruto do coqueiro,

Aceria guerreronis Keifer, 1965 que apresenta como conseqüência de seu ataque a redução do

peso, tamanho e deformação dos frutos, tornando-os impróprios para a comercialização.

CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA E SUA IMPORTÂNCIA

No Brasil ocorrem quatro espécies de ácaros fitófagos em coqueiros: Aceria

guerreronis, Tetranychus mexicanus, Retracrus johnstoni e Amerineus cocofolius. A espécie

A. guerreronis é considerada séria praga do coqueiro em todos os países onde a cocoicultura é

importante. É um tipo de ácaro, como os demais Eriophidae, microscópico, de corpo

vermiforme de colaração branco leitosa, apresentando somente quatro patas. A propagação

natural desta praga pelo vento é muita rápida. Entretanto, o principal veículo de distribuição é

o próprio homem em suas atividades agrícolas, conduzindo mudas ou sementes infestadas.

Em plantas jovens, a presença deste ácaro pode ser constatada pelo aparecimento de leve

clorose nas folhas centrais. É uma sintomatologia típica, caracterizada pelo escurecimento do

tecido foliar, próximo à nervura central da folha, desenvolvendo, posteriormente, lesões

castanho escuras no sentido longitudinal da nervura e morte do broto terminal. Nos frutos,

o ácaro se desenvolve sob as brácteas dos cocos novos, sugando a seiva da epiderme,

causando estrias e posterior necroses longitudinais partindo do perianto do coco. As cloroses

apresentam, inicialmente, um formato triangular, com a base do triângulo nas brácteas. Com o

crescimento do fruto e também, avanço do dano, as manchas tornam-se marrons, juntam-se e

vão aumentando de tamanho, sempre em direção à extremidade final do fruto. A área lesada

torna-se cada vez maior à medida que o fruto aumenta de tamanho, apresentando áreas

necrosadas com rachaduras superficiais e longitudinais de cor marrom escura com exudação e

malformação dos frutos, conforme Figura 1. As perdas ocasionadas por esta praga são

superiores a 35%, situação esta que vem ocorrendo em várias zonas produtoras do Nordeste

do Brasil. O controle utilizando produtos sintéticos, biológicos e práticas culturais não está

ainda estabelecido e definido, necessitando portanto, de estudos e testes de campo para

manter esta espécie em níveis populacionais aceitáveis.

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Figura 1. Diferentes formas de dano do Ácaro da Necrose do Coqueiro

Atualmente, não existe nenhuma medida eficiente recomendada para o controle do

ácaro da necrose do coqueiro, assim como, poucos trabalhos têm sido desenvolvidos a nível

de Brasil sobre este problema. Portanto, é de fundamental importância a realização de

trabalhos de pesquisa que visem a associação de práticas integradas de controle para o ácaro

do coqueiro, de forma racional, eficiente e econômica, viabilizando desta forma a

continuidade de expansão dessa importante frutífera em áreas irrigadas dos pólos de

desenvolvimento de agricultura irrigada do Nordeste do Brasil.

DESCRIÇÃO DA SOLUÇÃO TECNOLÓGICA PROPOSTA

Estudos de prospeção de pragas do coqueiro e testes de alternativas tecnológicas para o

controle do ácaro da necrose do fruto foram conduzidos no período 1999 a 2001, em áreas

irrigadas de produção comercial de coco verde no perímetro irrigado de Curu-Paraipaba,

município de Paraipaba, Ceará.

Levantamentos preliminares realizados em 1999 mostraram o grande potencial que esta

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praga representa para a cultura, podendo provocar perdas superiores a 35% da produção. O

pomares comerciais utilizados no teste de produtos contra o ácaro da necrose do coqueiro

estavam com 5 anos de idade e em plena produção comercial de coco verde Os testes

constaram de seis tratamentos e sete repetições com um delineamento em blocos ao acaso. Os

produtos utilizados foram: Acanat (citronela + nim=150ml), Beauveria bassiana (80g), calda

de mandioca raspada (manipueira=2000ml), carbosulfan (10ml) e Metarhizium anisopliae

(160g), todos diluídos em 10 litros de água. Para este experimento foram marcadas 42 plantas

e selecionados 4 cachos por planta com as seguintes idades: 120, 90, 60 e 30 dias após a

abertura da inflorescência. Foram realizadas três aplicações dirigidas aos cachos com um

pulverizador costal manual com um intervalo de 15 dias.

Os resultados dos testes realizados mostraram que o produto biológico Metarhyzium na

dosagem de 160g do produto comercial diluídos em 10 litros de água apresentou uma

eficiência relativa de 98,0% quando comparado com os outros produtos, Tabela 1.

Tabela 1 – Média total de cocos, percentagem de cocos infestados pelo ácaro da necrose docoqueiro e a %eficiência de controle. Paraipaba, CE. 2001.

Pré - Avaliação Avaliação finalTratamento Total de

cocos% de cocosinfestados

Total decocos

% de cocosinfestados

%Eficiência

ACANAT 427 8,9 225 8,0 92,0BOVERIL 353 5,9 209 10,0 89,9MANIPUEIRA 475 9,4 219 14,1 83,5

MARSHAL 334 4,7 211 16,6 83,4METARRIL 297 5,5 199 2,0 98,0

TESTEMUNHA 457 3,9 243 8,1 -

VANTAGENS EM RELAÇÃO A SITUAÇÃO ATUAL

De um modo geral, os produtores de coco não dispõem de uma recomendação

padronizada para o controle do ácaro da necrose do coqueiro. As pulverizações com

diferentes produtos e suas misturas são feitas de forma sistemática (semanal ou quinzenal)

sem levar em consideração a seletividade dos produtos, problemas residuais no fruto e o

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custo final. O uso do produto biológico Metarhizium anizopliae na dosagem de 320g do

produto comercial por cada pulverizador de 20 litros, com intervalo de 15 dias a partir da

abertura da inflorescência, representa um avanço no controle desta praga, em termos de

segurança alimentar pelo uso de um produto biológico, preservação de inimigos naturais,

ausência de risco para o meio ambiente e baixo custo.

PÚBLICO ALVO

O público alvo deste avanço tecnológico são preferencialmente os produtores de cocoanão precoce das áreas irrigadas do Nordeste brasileiro, extensionista, pesquisadores eagroindustriais.

IMPACTOS E COMO ACESSAR TECNOLOGIAS E PRODUTOS

A utilização deste avanço tecnológico, quando comparado com os agrotóxicos

convencionais, poderá trazer uma substancial elevação na qualidade do produto (água de

coco), por não apresentar resíduos químicos nocivos à saúde humana, preservação dos

inimigos naturais e do meio ambiente em geral e baixo custo. Para acessar e conhecer de

forma mais detalhada este avanço tecnológico, deve-se procurar a EMBRAPA –

Agroindústria Tropical. Av. Dra. Sara Mesquita, 2270 – Pici. 60.511.110 – Fortaleza – Ceará.

Tel. 085 299-1800. Fax.: 085 299 1803. E-mail: [email protected].