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Estimativa do peso de referência em adultos na prática clínica Ideal body weight estimation in adults in clinical practice Marcos Filipe de Aguiar Rodrigues Orientadora: Isabel Dias Trabalho de Investigação 1.º Ciclo em Ciências da Nutrição Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto Porto, 2012

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Estimativa do peso de referência em adultos na prát ica clínica

Ideal body weight estimation in adults in clinical practice

Marcos Filipe de Aguiar Rodrigues

Orientadora: Isabel Dias

Trabalho de Investigação

1.º Ciclo em Ciências da Nutrição

Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto

Porto, 2012

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Resumo

Introdução: O estabelecimento de valores de peso de referência (PR) surgiu da

procura pelo peso ideal associado a menor mortalidade, através da publicação de

tabelas estatura-peso. Atualmente esta associação é estudada através do Índice

de Massa Corporal (IMC), mas o PR permanece como uma estimativa usada na

interpretação do peso corporal. Objetivo: Analisar o comportamento da estimativa

do PR numa amostra de indivíduos acompanhados na consulta de nutrição em

regime de ambulatório, atendendo às variáveis estatura, sexo e idade,

comparando com a abordagem baseada no IMC. Metodologia: Estudo

observacional transversal. A amostra totalizou 360 pacientes. Foram recolhidos

dados sobre peso, estatura, género e idade. Foi selecionada uma fórmula de

cálculo do PR e avaliada a sua estimativa na amostra em comparação com o

IMC. Resultados: A estimativa do PR segundo a fórmula testada apontou para

valores que se enquadram dentro do intervalo de peso normal segundo os

critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS) e, em média, superiores a 22,0

Kg/m2. Verificou-se também que o PR aumenta com a estatura e com a idade até

aos 45 anos, em ambos os sexos. Conclusão: Os resultados confirmam que o

PR apresenta limitações importantes, além da sua fundamentação, na sua

capacidade de estimar um peso adequado, sobretudo para os indivíduos mais

velhos e mais altos. Deve preferir-se o uso do IMC para a avaliação e

classificação do peso corporal pois representa o atual conceito de peso saudável

e recomendado.

Palavras-Chave: peso ideal, peso de referência, índice de massa corporal

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Abstract

Introduction: Weight standards developed with the quest for the ideal body

weight (IBW) associated with the lowest mortality, through the publication of

height-weight tables. Today this association is studied using Body Mass Index

(BMI), but weight standards remain as estimation used in body weight evaluation.

Objective: The aim of this study was to analyse the behaviour of the IBW

estimation in a group of nutrition outpatients, regarding variables such as height,

sex and age, comparing it with the estimation based on BMI.

Methods: Cross-sectional descriptive study. The sample consisted of 360

patients. Data on weight, height, age and sex was obtained. An IBW formula was

selected for this study and its estimation on the sample was evaluated in

comparison with the BMI.

Results: The ideal body weight estimation fit in the normal weight range of BMI

defined by the World Health Organization (WHO), the values were statistically

higher than 22.0 Kg/m2, and statistically different between men and women. The

IBW estimate increases with height and with age, until the 45 years-old mark, in

both sexes.

Conclusion: The results confirm that the evaluated IBW formula, based on height-

weight tables, presents important limitations, besides its argumentation, on its

capacity to estimate an adequate body weight, especially in older and taller

people. BMI should be preferred when assessing and classifying body weight and

it represents the present concept of desirable and healthy weight.

Keywords: ideal body weight, weight standards, body mass index

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Lista de Abreviaturas

IMC – índice de massa corporal

OMS – Organização Mundial de Saúde

PR – peso de referência

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Índice

Resumo ............................................................................................................... i

Abstract ............................................................................................................... ii

Lista de Abreviaturas .......................................................................................... iii

Índice .................................................................................................................. v

Introdução .......................................................................................................... 1

Objetivos ............................................................................................................ 5

Participantes e métodos ..................................................................................... 5

Resultados ......................................................................................................... 7

Discussão e Conclusões .................................................................................. 12

Referências Bibliográficas ................................................................................ 16

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Introdução

A massa (peso) corporal é uma das medidas mais importantes na avaliação do

estado nutricional, por ser fácil de obter e muito informativo. O verdadeiro papel

do peso na saúde está em discussão desde o século XIX, quando se procurou

associar o peso com a mortalidade e surgiram as primeiras tentativas de definir o

peso ideal(1).

O peso ideal associado a menor mortalidade e maior longevidade é um conceito

que sofreu alterações ao longo do tempo. Um conceito paralelo, o de peso de

referência (PR), surgiu com a elaboração de tabelas estatura-peso, que

procuravam definir os valores de peso recomendado para a idade, estatura e

sexo, tornando-se assim a referência de peso para as populações(1, 2).

Um referencial de peso é expectável, em primeiro lugar, por razoes biológicas.

Todo o genótipo tem o potencial de se manifestar num fenótipo apresentando

determinadas características que, no caso de parâmetros antropométricos como a

estatura e o peso, têm nas populações um intervalo de valores esperado, dentro

de limites bem definidos.

O conceito atual de PR tem na sua génese as tabelas estatura-peso. O

estabelecimento de valores de referência foi baseado em estudos que

relacionavam os parâmetros antropométricos com a mortalidade, sendo que

inicialmente a maior evidência resultou de estudos sobre as causas de morte

prematura desenvolvidos pelas instituições seguradoras, que compilaram essa

informação e publicaram as tabelas estatura-peso(2).

A Metropolitan Life Insurance Company publicou as Ideal Weight Tables em

1942(3) e 1943(4) e as Desirable Weight Tables em 1959(5). Foram elaboradas para

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adultos do sexo feminino e masculino com idade entre os 25 a 59 anos para

descrever um intervalo de pesos, para uma determinada estatura, associados a

maior longevidade ou menor mortalidade por diabetes mellitus e doenças renais,

cardíacas ou hematológicas. Estas tabelas foram extensamente revistas para a

publicação de 1983, em que foi retificado o conceito de tamanho do esqueleto a

partir do diâmetro bicondiliano do úmero(6).

Para além da informação atuarial, as tabelas incluíram dados demográficos

baseados em amostras da população dos Estados Unidos da América (EUA),

representando assim uma descrição transversal da população. No entanto, as

tabelas foram aplicadas no sentido de refletir o peso desejável, sugerindo que os

valores são ideais ou objetivos associados com a máxima saúde e longevidade(7).

Depressa as tabelas que sistematizavam informação sobre médias nacionais de

peso se transformaram em guias para o peso ideal, dando origem aos padrões a

que chamamos PR(8-10).

Os valores de referência que constam nas tabelas estatura-peso podem ser

estimados através de fórmulas aritméticas. O desenvolvimento das tabelas

estatura-peso foi acompanhado pela publicação de fórmulas para estimativa do

PR. A primeira publicação surge em 1871 por Broca(11) mas a popularização do

seu uso só se deu no século XX a par das tabelas estatura-peso da Metropolitan

Life Insurance Company. Estas tabelas precederam e influenciaram a maioria das

fórmulas atuais para o cálculo do PR, o que explica a boa associação entre si(9).

De uma forma geral as equações têm uma construção semelhante, com duas

variáveis, a estatura e o sexo, e algumas têm ainda em consideração a idade(12).

Estão também descritas combinações de duas ou mais fórmulas.

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Para além de historicamente constituir um padrão de peso desejável, a utilidade

do PR foi descrita para o cálculo de dosagem de fármacos, e na estimativa das

necessidades energéticas aplicando um fator de atividade (kcal.Kg-1)(13-15). Na

rotina clínica, o PR é uma das abordagens usadas na avaliação do peso corporal,

a par do peso relativo e do índice de massa corporal (IMC).

IMC é a denominação habitualmente dada ao índice de Quetelet e é o índice

estatura-peso mais usado(1). É obtido pelo quociente do peso, em quilogramas,

pelo quadrado da estatura, em metros. A aplicação generalizada deste índice nos

estudos epidemiológicos só se desenvolveu a partir da década de 60 e os pontos

de corte para a definição de excesso de peso e obesidade só surgiram nos anos

90(16, 17)

Os índices estatura-peso são melhores preditores da obesidade do que as tabelas

estatura-peso ou o peso relativo, contudo o IMC não reflete a distribuição da

massa gorda corporal e não distingue o excesso de peso resultante da obesidade

(aumento de massa gorda) daquele resultante do aumento de massa livre de

gordura. A composição corporal não pode ser determinada simplesmente

avaliando estatura e peso. No entanto, devido à facilidade de efetuar estas

medições e devido às dificuldades técnicas inerentes à avaliação da composição

corporal, a definição de excesso de peso e obesidade é na rotina clínica baseada

no IMC, assumindo que a maioria das pessoas apresenta excesso de peso devido

ao excesso de massa gorda(1, 18).

Dado que o IMC estabelece categorias de peso, a partir do intervalo de peso

normal é possível definir, para cada indivíduo, o seu limite mínimo e máximo de

peso normal. Esta dedução levou à definição de estimativas de peso

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recomendado tendo por base a classificação de IMC da Organização Mundial de

Saúde (OMS), como a descrita por Lemmens e col.(19)

As limitações inerentes à metodologia usada na publicação das tabelas estatura-

peso e no desenvolvimento do conceito de PR estão bem definidas na literatura,

das quais se salienta a qualidade variável da informação recolhida, a inexistência

de ajustes para variáveis confundidoras como o tabagismo, e a não

representatividade da amostra(1, 7, 20). Nesse sentido, a sua aplicação tem vindo a

ser desencorajada, face a uma abordagem baseada no IMC(1, 7). O IMC classifica

um indivíduo de acordo com o seu peso e estatura em categorias de peso que,

por se relacionarem com excesso de massa gorda, refletem riscos diferentes de

mortalidade por diversas doenças como diabetes mellitus, hipertensão, doença

coronária e certos tipos de cancro(1).

Apesar das limitações que têm vindo a ser descritas sobre a aplicação do PR

desconhecem-se estudos que avaliem a prevalência destra prática na rotina

clínica, ou qual o impacto da sua estimativa, em Portugal.

Este estudo pretende contribuir para o corpo de evidência sobre as limitações da

estimativa do PR numa amostra onde esta metodologia é habitualmente aplicada.

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Objetivos

Este trabalho teve como objectivo analisar o comportamento da estimativa do PR

numa amostra de indivíduos acompanhados na consulta de nutrição em regime

de ambulatório, atendendo às variáveis estatura, sexo e idade, comparando com

a abordagem baseada no IMC.

Participantes e métodos

Amostra

Realizou-se um estudo transversal entre os meses de março e junho de 2012. A

amostra consecutiva é constituída por 360 indivíduos com idade igual ou superior

a 18 anos, indivíduos da consulta externa de nutrição do Centro Hospitalar de Vila

Nova de Gaia, E.P.E. Foram excluídos os indivíduos aos quais não foi possível

obter as medições de estatura e peso segundo os critérios definidos na

metodologia.

Este estudo foi aprovado pelo Conselho de Administração do Centro Hospitalar de

Vila Nova de Gaia/Espinho, E.P.E., após parecer positivo da Comissão de Ética

da instituição, sendo respeitada a confidencialidade das informações recolhidas.

Métodos

Foram recolhidas informações sobre sexo e idade dos pacientes. A determinação

da massa corporal (Kg) foi realizada em balança SECA®, modelo 761, com a

menor divisão de escala (d) de 0,1 Kg, sem calçado. A medição da estatura com

recurso a estadiómetro de parede (d=0,001 m), devidamente calibrado com uma

fita métrica. Foram usados sempre os mesmos procedimentos no decorrer do

estudo, segundo as normas internacionais descritas pela International Society for

the Advancement of Kinanthropometry(21).

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6

�� =50 + 0,75 × �� − 150� + 0,8 × �� − 100 +

�2�

2

Foi calculado o IMC atual através do quociente do peso atual (Kg) pelo quadrado

da estatura (m2) e classificado de acordo com os critérios da OMS(22). O peso de

referência (PR) foi calculado segundo a fórmula habitualmente usada na prática

clínica, baseada nas tabelas da Metropolitan Life Insurance Company (Figura 1 ).

A partir do PR foi calculado o IMC correspondente, designado por IMC-PR. Foram

ainda calculados os valores de peso para IMC de 18,5, 22,0(19) e 24,9 Kg/m2.

Figura 1 – Fórmula para o peso de referência. E, estatura em cm. I, idade em anos. Para idade superior a 45 anos, idade constante. Para sexo feminino redução de 5% do resultado final.

Análise de dados

A análise de dados descritiva consistiu no cálculo de frequências para as

variáveis ordinais e nominais, e no cálculo de médias e desvios-padrão para as

variáveis cardinais. A distribuição das idades foi dividida em 3 classes: [18;25],

[26;45], e >45 anos. A normalidade das variáveis cardinais foi avaliada pelo teste

Kolmogorov-Smirnov. Foram quantificadas as associações entre variáveis

(coeficiente de correlação de Pearson) e as diferenças entre médias de pares de

variáveis (teste t de Student). A independência de variáveis categóricas foi

testada por Qui-quadrado e a concordância entre variáveis contínuas foi analisada

segundo Bland e Altman(23).

Foi usado um nível mínimo de significância de 95% em todos os testes. A análise

estatística foi realizada com recurso ao programa SPSS® (Statistical Package for

the Social Sciences) para Windows®, versão 20.0.

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Resultados

A amostra compreende dados de 360 indivíduos da consulta externa de nutrição

do Serviço de Nutrição e Dietética, sendo 263 do sexo feminino (73,1%) e 97 do

sexo masculino (26,9%). As idades estavam compreendidas entre os 18 e os 79

anos, com uma média de 46 anos e desvio-padrão de 14,1 anos. A tabela 1

apresenta as características antropométricas da amostra, estratificadas por sexo.

Verificaram-se diferenças com significado estatístico entre os sexos para o peso,

estatura e IMC, mas não para a idade, registando-se valores mais elevados de

estatura e peso no sexo masculino e de IMC no sexo feminino.

Tabela 1 – Caracterização da amostra estratificada por sexo.

Sexo feminino Sexo masculino p

n=263 n=97

Idade , anos 45,1 (13,6) 48,4 (15,4) 0,052

Peso , Kg 82,4 (19,1) 87,7 (21,0) 0,03

Estatura , m 1,58 (0,0639) 1,72 (0,0836) <0,001

IMC, Kg/m2 33,0 (7,77) 29,5 (6,47) <0,001

Resultados em média (desvio-padrão). p para a diferença das médias.

Na tabela 2 encontra-se a distribuição da amostra segundo a classificação do

IMC, estratificada por sexo. Observaram-se diferenças com significado estatístico

para todas as classes exceto para a de baixo peso, sendo esta exclusiva do sexo

feminino.

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Tabela 2 – Distribuição da amostra segundo classes de IMC, estratificada por sexo.

Classes de IMC Total Sexo feminino Sexo masculino

p n=360 n=263 n=97

Baixo peso 4 (1,1) 4 (1,5) 0 (0%) -

Peso normal 66 (18,3) 39 (14,8) 27 (27,8)

<0,001

Excesso de peso 89 (24,7) 56 (21,3) 33 (34,0)

Obesidade grau I 85 (23,6) 65 (24,7) 20 (20,6)

Obesidade grau II 52 (14,4) 44 (16,7) 8 (8,2)

Obesidade grau III 64 (17,8) 55 (20,9) 9 (9,3)

Resultados em n (% de coluna). p para o χ2 para a independência.

Relativamente à estimativa do PR, a tabela 3 resume os resultados obtidos. A

estimativa de PR apresentou um mínimo de 47 Kg (IMC-PR de 20,7 Kg/m2) no

sexo feminino e na classe de idades [26;45] anos, e um máximo de 91 Kg (IMC-

PR de 24,1 Kg/m2) no sexo masculino e na classe de idades mais elevada.

Em média, a estimativa de IMC-PR situou-se nos 22,8 Kg/m2 para ambos os

sexos, sendo a média no sexo feminino de 22,5 Kg/m2 e no sexo masculino de

23,7 Kg/m2. O valor mínimo de 20,7 Kg/m2 encontrou-se no sexo feminino e na

classe de idades mais baixa, e o valor máximo de 24,1 Kg/m2 no sexo masculino

e classe de idades mais elevada.

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Figura 2 – Gráficos de dispersão da estimativa do PR (em Kg) para o sexo feminino (à direita) e masculino

(à esquerda). Ο – PR , + – IMC = 22 Kg/m2 , □ – IMC = 24,9 Kg/m2 , ◊ – IMC = 18,5 Kg/m2

Tabela 3 – Estimativa do peso de referência, estratificada por sexo e classes de idade.

Peso de Referência

Mínimo Máximo Média D.p.

Total n=360 PR (kg) 47 91 60,1 7,98

IMC-PR (Kg/m2) 20,7 24,1 22,8 0,77

Sexo F PR (kg) 47 68 56,3 4,46

n=263 IMC-PR (Kg/m2) 20,7 22,9 22,5 0,56

M PR (kg) 53 91 70,2 6,42

n=47 IMC-PR (Kg/m2) 22,2 24,1 23,7 0,58

Idade [18;25] PR (kg) 48 81 59 8,08

n=32 IMC-PR (Kg/m2) 20,7 22,6 21,6 0,62

[26;45] PR (kg) 47 80 60,2 7,19

n=138 IMC-PR (Kg/m2) 21,5 24,0 24,5 0,62

>45 PR (kg) 47 91 60,2 8,51

n=190 IMC-PR (Kg/m2) 22,6 24,1 23,2 0,53

Resultados de PR expressos em Kg (valor em cima) e de IMC-PR em Kg/m2 (valor em baixo). F, feminino. M, masculino. D.p., desvio padrão.

A figura 2 mostra a relação entre estatura e PR. Nos gráficos de dispersão foram

incluídos os limites do intervalo de peso normal, correspondentes ao IMC de 18,5

e 24,9 Kg/m2, bem como a estimativa de peso para o IMC de 22,0 kg/m2. O PR e

a estatura apresentaram uma correlação muito forte, quer no sexo feminino

(r=0,950 p<0,001), quer no sexo masculino (r=0,968 p<0,001).

Pes

o de

ref

erên

cia

Pes

o de

ref

erên

cia

Estatura Estatura

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Figura 3 – Gráfico de Bland e Altman para as estimativas de PR e de peso para IMC de 22,0 Kg/m2.

A tabela 4 apresenta a comparação entre as estimativas de PR e de peso para o

IMC de 22,0 Kg/m2. As estimativas apresentam uma correlação muito forte para o

sexo feminino (r=0,950; p <0,001) e masculino (r=0,968; p <0,001). O PR

mostrou-se em média superior ao peso para o IMC de 22,0 Kg/m2 em ambos os

sexos, com significado estatístico, sendo a diferença maior no sexo masculino

que no feminino.

Tabela 4 – Correlação e diferença entre valores de PR e de peso para o IMC de 22,0 Kg/m2

Sexo PR

Peso para Correlação

Diferença entre PR e

IMC=22,0 kg/m2 peso para IMC=22,0 kg/m2

Kg Kg r p Kg p

Feminino 56,3 (4,5) 55,2 (4,5) 0,950 <0,001 1,14 (0,087) <0,001

Masculino 70,2 (6,4) 65,3 (6,4) 0,968 <0,001 4,84 (0,164) <0,001

Total 60,1 (7,8) 57,9 (6,8) 0,968 <0,001 2,14 (2,202) <0,001

Resultados em média (desvio padrão). r - coeficiente de correlação de Pearson.

Da avaliação da concordância pela representação gráfica de Bland e Altman na

figura 3 verifica-se que as estimativas de PR e de peso para o IMC de 22,0 Kg/m2

para ambos os sexos apresentam uma diferença média superior a zero, e uma

dispersão considerável dos valores.

Média das estimativas

Dife

renç

a da

s es

timat

ivas

2,14

-2,18

6,54

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IMC

- P

R

IMC

- P

R

Estatura Estatura

Figura 4 – Gráfico de dispersão para a estatura e IMC estimado do PR, para o sexo feminino (à direita) e

masculino (esquerda), segundo classes de idades. Ο – [18;25] , □ – [26;45] , x >45 anos.

A figura 4 ilustra a dispersão do IMC-PR em relação à estatura, para o sexo

feminino e masculino, segundo classes de idades. Os resultados demonstram

uma estimativa de IMC-PR mais baixo nos indivíduos mais jovens, e mais elevado

nos indivíduos mais velhos. Para a classe de idade superior a 45 anos, nos

indivíduos mais altos a estimativa de PR aponta para IMC progressivamente mais

baixos, sendo este resultado mais notório no sexo masculino que no feminino.

A figura 5 mostra a distribuição da estimativa do PR em relação à idade, sem

correção para a estatura. A correlação não tem significado estatístico (r=0,037,

p=0,482) e o PR apresenta valores tendencialmente menores para o sexo

feminino que para sexo masculino, em todas as idades. A figura 6 mostra a

distribuição da estimativa do IMC-PR em relação à idade. Em ambos os sexos a

estimativa do peso de referência apontou para um IMC progressivamente maior

quanto maior a idade dos indivíduos, com uma correlação positiva mas fraca

(r=0,292, p <0,001). A estimativa torna-se constante a partir dos 45 anos, tal como

descrito na fórmula testada.

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Figura 6 – Gráfico de dispersão para a idade e IMC-PR,

segundo o sexo. Ο – feminino , □ – masculino.

Figura 5 – Gráfico de dispersão para a idade e PR,

segundo o sexo. Ο – feminino. □ – masculino. IM

C-P

R

Idade Idade

PR

Discussão e Conclusões

Neste estudo avaliou-se o comportamento da estimativa do PR numa amostra de

indivíduos acompanhados em regime de ambulatório, segundo as suas variáveis

mais importantes, o sexo, a estatura, e a idade.

A estimativa do PR segundo a fórmula testada apontou para valores de IMC que

se enquadram dentro do intervalo de peso normal segundo os critérios da OMS,

isto é, entre 18,5 e 24,9 Kg/m2.

A estimativa do PR mostrou-se em média superior ao valor de peso para um IMC

de 22,0 Kg/m2 em ambos os sexos, sendo a média de IMC-PR no sexo feminino

de 22,5 Kg/m2 e no sexo masculino de 23,7 Kg/m2.

O valor de IMC de 22,0 Kg/m2 foi proposto por Lemmens e col. (2005) para o

cálculo do peso ideal demonstrando que a estimativa enquadra-se bem, para

ambos os sexos, quer no intervalo de peso normal da classificação de IMC, quer

em comparação com as quatro das fórmulas aritméticas mais usadas para cálculo

do peso ideal. Este valor foi reportado como a média do intervalo de peso normal

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na população Americana(20). Ainda, no estabelecimento das Dietary Reference

Intakes foi usada a referência de 21,5 Kg/m2 para o sexo feminino e 22,5 Kg/m2

para o sexo masculino, por corresponderem ao percentil 50 de IMC nos indivíduos

de 19 anos de idade(24).

Analisando em relação à idade, o PR apontou para um IMC maior quanto maior a

idade, em ambos os sexos, até aos 45 anos. Os valores máximos de IMC-PR

encontram-se na classe de idades mais elevada, porém mantêm-se sempre

abaixo do ponto de corte de 25,0 Kg/m2.

A relação entre IMC e idade está bem estudada nas idades mais jovens mas

pouco esclarecida para os adultos mais velhos(25). Apesar de não estar

estabelecido um ponto de corte específico para classificação de excesso de peso

em idosos, o Nutrition Screening Initiative(26) usa o ponto de corte de 27,0 Kg/m2.

É reconhecido que o peso tende a aumentar com a idade e há alguma evidência

que o intervalo de [18,5;24,9[ Kg/m2 pode ser demasiado restrito para os adultos

mais velhos(7, 27, 28).

A fórmula testada estabelece que o PR se torne constante a partir dos 45 anos

para ambos os sexos. A partir dos 45 anos, a estimativa do PR continua a

acompanhar a estatura de um modo diretamente proporcional, mas o mesmo não

acontece com o IMC-PR. Os resultados mostraram que nos indivíduos mais altos

a estimativa de PR aponta para IMC progressivamente mais baixos. Este

resultado foi mais evidente no sexo masculino do que no sexo feminino, devido às

características da amostra, uma vez que foi no sexo masculino que se

encontraram, em média, valores mais elevados para a estatura.

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O uso do IMC está descrito na literatura como sendo a alternativa às tabelas

estatura-peso para a avaliação e classificação do peso corporal.

Simultaneamente, o conceito de peso ideal continua a ser utilizado na definição

de recomendações, por exemplo, para a estimativa das necessidades

energéticas(29) , proteicas(30, 31), ou mesmo avaliação do estado nutricional(32),

mostrando que em determinadas situações da prática clínica há necessidade de

se calcular um valor individualizado que traduza o peso indicado para um

indivíduo.

O cálculo de um peso ideal a partir de fórmulas como a de Lemmens e col. (2005)

traduz uma abordagem diferente na interpretação do peso ideal visto que tem por

base o IMC. Nas diversas situações clínicas o peso ideal pode ser aquele cujo

IMC está descrito como tendo o melhor resultado em termos de saúde. No

entanto é necessário acautelar que o resultado de uma fórmula constitui apenas

um valor, dentro de um intervalo amplo, que pode ser considerado desejável.

Além disso, um valor específico de IMC pode ter interpretações diferentes uma

vez que este tende a variar com a idade, o sexo e as populações.

Este estudo apresenta algumas limitações. Os dados foram recolhidos por

diferentes investigadores, e em aparelhos diferentes, pelo que não é de excluir o

erro intermedição. Também não foi feita uma análise das estimativas tendo em

conta o ajuste para variáveis como a idade ou a estatura.

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Em conclusão, a equação testada para o cálculo do PR, derivada de tabelas

estatura-peso, apresenta limitações importantes, na sua fundamentação e na sua

capacidade de estimar um peso adequado, sobretudo para os indivíduos mais

velhos e mais altos.

O uso de fórmulas baseadas em tabelas estatura-peso está desaconselhado e

deve ser substituído pelo IMC na avaliação e classificação do peso corporal. O

intervalo de peso normal definido pelo IMC representa o atual conceito de peso

saudável e recomendado.

O IMC é atualmente usado nos estudos epidemiológicos sobre a relação entre

peso e saúde. Estes estudos poderão esclarecer melhor qual o verdadeiro papel

do peso na saúde, atendendo às especificidades das populações, do sexo, da

idade, das diferentes patologias, e dos estilos de vida.

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