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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE ESTADO NOVO (1937-1945): CULTURA E EDUCAÇÃO EM PERSPECTIVA Por: Marta de Azevedo Ferreira Orientador Profª. Ms. Dina Lucia Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

ESTADO NOVO (1937-1945): CULTURA E

EDUCAÇÃO EM PERSPECTIVA

Por: Marta de Azevedo Ferreira

Orientador

Profª. Ms. Dina Lucia

Rio de Janeiro

2010

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR

ESTADO NOVO (1937-1945): CULTURA E

EDUCAÇÃO EM PERSPECTIVA

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Docência do

Ensino Superior.

Por: Marta de Azevedo Ferreira.

3

AGRADECIMETOS

Agradeço a Deus por todas as minhas conquistas. A conclusão da especialização em Docência do Ensino Superior é uma é uma delas.

4

DEDICATÓRIA

Á memória de meus pais que deram o máximo de si para a minha Educação.

5

RESUMO

Este trabalho monográfico tem como objetivo central contribuir com os

demais trabalhos de pesquisas sobre Educação e Cultura durante o período da

História do Brasil conhecido como Estado Novo (1937-1945). A sociedade

brasileira vivenciou em seu cotidiano forte centralismo político, sob o governo

de Getúlio Vargas, constituindo, em seu todo, um novo tipo de cultura que

perpassou pelo sistema de ensino daquela época.

Diferentes tipos de ferramentas foram utilizadas como propaganda

política do governo estadonovista. O teatro, o cinema, programações

radiofônicas, letras de samba e os conteúdos pedagógicos do ensino primário

ao ensino universitário sofreram transformações para adequarem a população

a uma nova realidade política que estavam vivendo: tipo de ditadura que não

se iguala à sofrida durante o período militar (1964-1985).

Getúlio Vargas era uma figura carismática, segundo algumas

bibliografias especializadas em sua história política. Ele conduziu a nação

cercando-se de todos instrumentos políticos-ideológicos possíveis: uma nova

Constituição que lhe dava amplos poderes, uma legislação trabalhista para

conquistar a massa, incentivo à industrialização beneficiando a crescente

burguesia industrial, alem de órgãos institucionais totalmente organizados por

uma camada seleta de intelectuais que colaboraram para a aceitação e

divulgação da ideologia política de Vargas fundada no trabalhismo.

6

METODOLOGIA

Foram utilizadas, para o desenvolvimento e enriquecimento deste

trabalho, uma bibliografia especializada composta por autores conhecidos no

mundo acadêmico. Foi feita uma pesquisa minuciosa em periódicos na

Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e na Biblioteca do Centro Cultural do

Banco do Brasil em periódicos que circularam na sociedade brasileira durante o

Estado Novo, o que possibilita-nos uma maior compreensão do tipo de cultura

e de educação que eram propostas pela ideologia política do governo, bem

como as transformações pelo qual a sociedade brasileira passou tendo como

ponto de referência a cidade do Rio de Janeiro, capital da República durante

aquele período.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A Centralização, a Manipulação e a Divulgação do

Projeto Político-ideológico estadonovista 14

CAPÍTULO II - Um Breve Histórico da Sociedade Carioca na

Segunda Metade do Século XX 24

CAPÍTULO III – Intelectuais, Nação e Poder 35

CONCLUSÃO 48

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 53

NOTAS 58

ÍNDICE 62

FOLHA DE AVALIAÇÃO 63

8INTRODUÇÃO

A história do Brasil, desde sua independência, é marcada por diferentes

momentos, cujas características tornam-se importantes de serem estudas para

que compreendamos suas singularidades e, de certa forma, comparamo-las

com o tempo presente, sem querermos, com isso, cometer um anacronismo,

antes, compreender as manifestações ideológicas que estão intrínsecas aos

projetos políticos na Cultura e Educação para a Nação.

A abordagem de História Cultural utilizada neste trabalho se apropria do

termo “cultura” de forma ampla, em seus aspectos cotidianos, ou seja, numa

abordagem próxima a da visão de cultura antropológica, que busca estudar

costumes, valores e modo de vida onde a Educação está inserida. Esse tipo de

abordagem metodológica passou a ser utilizado de 30 anos para cá com a

Nova História Cultural (NHC), surgida com a chamada terceira geração dos

Annales. Com a NHC, o termo cultura antes utilizado sob uma visão clássica

que o designava para se referir à alta cultura, centrado nas artes e nas

ciências, foi sendo substituído, gradualmente, de forma extremamente

interdisciplinar.1 O que nos propicia ao desenvolvimento deste trabalho que tem

como objeto de pesquisa a cultura e a educação desenvolvidas por uma gama

de intelectuais a serviço de um Estado autoritário, entre os anos de 1937 e

1945, datas que marcam, respectivamente, o início e o fim do Estado Novo no

Brasil.

Segundo uma grande parte da historiografia que trata sobre o tema em

questão, expõe as manifestações culturais e a escola como uma ferramentas

políticas utilizadas para a divulgação e estabelecimento do projeto nacionalista

que esteve presente durante todo o Governo de Getúlio Vargas. O cinema, o

rádio, livros escolares, revistas e jornais estiveram sob censura durante o

período do Estado Novo, que contou com o órgão fiscalizador chamado DIP-

Departamento de Imprensa e Propaganda.

9O governo patrocinava os eventos culturais e cívicos, que de acordo

com a historiadora Eli Diniz2, o Estado Novo regulamentou um sistema

ideológico e cultural em moldes corporativos que representariam os interesses

de industriais em ascensão e a repressão aos grupos economicamente

desfavorecidos, sendo estes, em sua maioria, os trabalhadores das fábricas e

indústrias, como classe portadora de mensagem de transformação.

Outra estudiosa do período estadonovista, Sônia Regina de Mendonça,

ao discutir a construção da nação pela incorporação da classe trabalhadora,

através de maior ou menor controle do Estado, aponta o papel do nacionalismo

varguista como pano de fundo para os debates em torno de suas políticas

econômicas, como também servindo para a elaboração de um conceito de

"cultura brasileira"3. Tais estudos nos suscitam como problemática a

adequação por parte da sociedade, principalmente a classe trabalhadora, a

postura de um governo autoritário, antiliberal, nacionalista e centralizador em

sua vertente ideológica norteando os princípios de soberania do Estado sobre a

sociedade4.

O presente trabalho tem como principal objetivo contribuir com os

trabalhos de pesquisa que tratam sobre a cultura e a Educação durante o

Estado Novo. Desse modo, se faz necessário identificar a área cultural, ou as

áreas, de maior alcance dos objetivos políticos e ideológicos estadonovista,

bem como, perceber o comportamento da sociedade frente as mudanças

impostas pelo regime autoritário. Sua elaboração justifica-se por ter sido o

Estado Novo um período cuja presença do Governo foi marcante nos diversos

segmentos da sociedade, causando-lhes, em suas mentalidades, em seus

modos de se expressar: na fala, nos gestos, em fim, em seus modos de vida,

significativas transformações na cultura e educação plausíveis de serem

estudadas

Para o prosseguimento da pesquisa em busca do cumprimento dos

objetivos propostos, serão analisados a Constituição de 1937 que deu toda

base legal para as ações intervencionistas de Getúlio Vargas; o Decreto-Lei

1.949 que veio regulamentar a Carta Magna com a criação do Departamento

10de Imprensa e Propaganda (DIP) em 1939; periódicos O dia, por

proporcionarem, à pesquisa, o cotidiano e as tendências culturais vividas no

país por meio dos classificados e artigos da época, como o “espetáculo” da

queima das bandeiras dos estados brasileiros encenados por Getúlio Vargas.

O que nos faz compreender que o poder durante a ditadura Vargas fez da

cidade do Rio de Janeiro o principal pólo dinâmico da vida do país, pois este

ato pressupõe rupturas com as realidades locais e regionais. Por isso, o recorte

espacial escolhido para a pesquisa foi esta cidade, sede do governo durante o

Estado Novo, localizada no Palácio Catete.

Desde o início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro se constituiu

como um eixo central servindo de espelho para todo o país. Durante o Estado

Novo a cultura carioca foi o modelo de cultura nacional5, sem levar em

consideração a existência de uma pluralidade cultural existente nessa cidade.

A cultura foi direcionada para a educação das massas, irradiando-se por todo o

país. O sistema educacional passou por significativas reformas, principalmente

o Ensino Secundário, a fim de atender as novas exigências da economia pelo

qual passava o país.

O primeiro capítulo nos possibilitará um maior conhecimento do contexto

histórico cultural vivenciado pela sociedade carioca durante a década de 30

para melhor compreendermos o poder de persuasão e coerção da enorme

máquina de propaganda política no Estado Novo, o DIP, que censurou meios

de comunicação, cooptou intelectuais e produziu livros, revistas, cinejornais e

programas de rádio para promover a imagem do regime de Getúlio Vargas. É

nesse sentido que a ideologia nacionalista passou a fazer parte dos discursos

governamentais de Getúlio Vargas, a partir do golpe de 1937, servindo para

justificar as ações intervencionistas em diversas áreas da sociedade, onde o

autoritarismo varguista esteve presente também no sistema educacional.

Para exemplificar a atuação do Governo na Educação durante o Estado

Novo, foi posto um quadro com um breve histórico das principais mudanças

ocorridas nessa área.

11A leitura do artigo 122 da Constituição de 1937, bem como, artigos do

Decreto-Lei nº 1949 de 30/12/1939, nos será de grande importância para a

comprovação do autoritarismo vigente que se seguiu durante todo o Estado

Novo, embutido em idéias nacionalistas que vieram direcionar o

comportamento da sociedade como um todo.

Sem perder o foco do recorte temporal a que se propõe este trabalho,

examinaremos, no segundo capítulo, um breve histórico da sociedade carioca

desde o início do século XX, dando ênfase para os hábitos culturais vividos

naquele momento. Importante para o cumprimento dos objetivos específicos,

aos quais se propõem esta pesquisa monográfica.

Não deixaremos de por em relevância o poder do radio como ferramenta

de propaganda do regime estadonovista, pois é sabido que o programa Hora

do Brasil chegava aos lares brasileiros de segunda a sexta, a partir das

19horas. Este programa era transmitido por todas as rádios divulgando os

feitos do governo e elogios políticos ao mesmo. Não podemos nos esquecer

que as rádios eram controladas pelo DIP.

A ênfase dada ao samba é justificada na medida que o capítulo é

desenvolvido trazendo informações históricas a respeito da camada menos

abastada da sociedade carioca que buscaram em suas raízes africanas, modos

de se expressar por meio da música; ou melhor, por meio do samba,

constituindo uma cultura urbana. Letras de samba da época farão parte de

nossa leitura para uma melhor compreensão da mentalidade e do contexto

histórico cultural vivido em inícios do século XX.

Também no segundo capítulo, será abordada a cultura escolar

produzida pelo Governo Vargas, com o auxílio dos intelectuais orgânicos que

compunham o Ministério da Educação e da Saúde, e aceita por grande parte

da população. A educação escolar tinha por finalidade construir uma identidade

nacional coletiva, sendo assim, fazia parte do projeto político ideológico do

Estado Novo

No terceiro capítulo, iremos trabalhar com um clássico, Intelectuais e

Classe Dirigente no Brasil (1920-1945) de Sérgio Miceli, que trata da ocupação

12de intelectuais como administradores oficiais da cultura estadonovista tanto em

postos de direção de instituições propriamente culturais - como por exemplo o

Museu Histórico Nacional, a Biblioteca Nacional e o Serviço do Teatro, como

na produção intelectual em instituições de difusão cultural, de propaganda e

censura6.

Colocaremos em relevância o papel desempenhado pelo Ministério de

Educação e Saúde, situado no Rio de Janeiro,atualmente conhecido como

Edifício Capanema, bem como da importância do Ministro , que esteve a frente

desse ministério durante todo o período do Estado Novo, na elaboração de

projetos educacionais para a divulgação e estabelecimento do governo

ditatorial.

Trataremos da cooptação de intelectuais que compunham os órgãos

administrativos e burocráticos do governo estadonovista e do trabalho que

desenvolviam em colaboração aos interesses políticos e econômicos do

Governo. A participação dos intelectuais no Governo de Vargas tornou mais

fácil a assimilação da ideologia nacionalista por parte da camada pobre da

sociedade. Era necessário que ela absorvesse a ideologia do projeto de nação;

colaborasse com o governo trabalhando para o desenvolvimento e

modernização do país por meio da indústria. A missão dos intelectuais seria a

“educação da massa”.

A esse respeito, Diniz em Empresário, Estado e capitalismo no Brasil 7

nos adverte que o Estado Novo regulamentou um sistema ideológico e cultural

em moldes corporativos para representar os interesses de industriais em

ascensão e a repressão aos grupos economicamente desfavorecidos, sendo

estes, em sua maioria, os trabalhadores das fábricas e indústrias, como classe

portadora de mensagem de transformação.

Dentro desse contexto, intelectuais deixaram-se cooptar8 pelo Estado

em troca de patrocínio para seus trabalhos pessoais. Fizeram críticas a cultura

popular, com suas raízes africanas, e foram em busca de uma cultura mais

erudita para a sociedade. O aparelho estatal, imbuído de uma função ética,

visava elevar a população a um nível intelectual, moral e profissional que

13correspondesse aos avanços da industrialização e da urbanização vividos

naquele período. Diante dessa perspectiva, o sistema de valores construídos

pelo Estado Novo, deveria ser incorporado pela sociedade e introjetado na

consciência popular.

A atuação e o espaço ocupado pelos intelectuais para a divulgação do

regime era a revista Cultura Política, que abrigava grandes nomes da

intelectualidade como Francisco Campos, Azevedo Amaral e Almir de Andrade

que tornaram-se mentores e responsáveis pelas coordenadas ideológicas.

Uma segunda publicação mensal, não tão importante como a primeira mas que

também estava integrada ao projeto político ideológico do Estado Novo, foi a

revista Cultura Política. Poderemos fazer uma comparação entre as tipologias

consensuais de discursos expressas nas duas revistas, por meio de um quadro

comparativo entre eles9. Tal comparação nos dará a noção e o devido

conhecimento da ideologia cultural empreendida pelo governo de Getúlio

Vargas que nos serão necessários para a conclusão deste estudo.

14CAPÍTULO 1

A CENTRALIZAÇÃO, A MANIPULAÇÃO E A

DIVULGAÇÃO DO PROJETO IDEÓLOGICO

ESTADONOVISTA

1.1- A máquina de censura chamada DIP

O golpe de Estado de 10 de novembro foi a nossa primeira

revolução construtiva [...]. A obra a ser realizada é

evidentemente imensa (AZEVEDO: 1981, P.161).

A 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas garantiu sua continuidade no

Palácio do Catete, onde estava desde outubro de 1930. Era o início do Estado

Novo, marcado pela centralização política no Executivo. Por meio de um golpe

político, Vargas tratou de abolir o regime Legislativo em todos os níveis,

extinguiu os partidos políticos, cancelou as eleições de 1938 e passou a

controlar a difusão de informação e a ordenação político-institucional do país.

Caracterizado por uma postura antiliberal, nacionalista e centralizadora,

o Estado Novo teve no autoritarismo sua vertente ideológica, manifestando à

sociedade brasileira o desejo da obediência à hierarquia e a passividade

política. Dessa maneira, pensamento político vigente, ao negar a ordem

consensual, pressupunha uma ideologia corporatificada na ação do Estado

que, como estrutura organizacional, situava-se acima da sociedade10.

Getúlio Vargas, ao longo de sua atuação política como presidente do

país, trabalhou a fim de conquistar as massas. Concedeu benefícios aos

trabalhadores e por meio de um discurso nacionalista, em tom paternal,

justificou suas ações intervencionistas em diversas áreas da sociedade a partir

15de 1937. Vargas ditava tais ações como primordiais para o “bem estar da

Nação”.

A atuação política de Vargas durante o Estado Novo fez nascer na

mentalidade da sociedade, a mítica da união entre empresário e operariado em

colaboração com o desenvolvimento econômico do país, estando moldada no

projeto governamentista voltado para a industrialização, integrando as "classes

subalternas" ao mundo do trabalho11.

O autoritarismo do governo, completado pela idéia de nacionalismo que

intencionalmente identificava todos os membros da sociedade a um destino

comum, originado no passado. Apresentava-a como um grupo homogêneo,

onde se igualavam operário e industrial, patrão e empregado, todos os

trabalhadores com um mesmo objetivo primordial: a construção da "Nação".

Nesse sentido, a historiadora Sônia Regina de Mendonça ao discutir a

construção da nação pela incorporação da classe trabalhadora, através de

maior ou menor controle do Estado, aponta o papel do nacionalismo Vargas

servindo não somente de pano de fundo para os debates em torno de políticas

econômicas, ao longo de seu governo, como também servindo para a

elaboração de um conceito de "cultura brasileira"12.

Diante dessa perspectiva, a consulta à Constituição de 1937 se faz

necessária, pois através dela, Vargas encontrou bases legais para uma maior

centralização em todas as esferas político-institucional. Elaborada pelo jurista

Francisco Campos e outorgada por Vargas, a Constituição de 37 contem

artigos que expressam nitidamente a ideologia nacionalista abrangendo a

cultura, por meio da centralização da imprensa, de acordo com os interesses

do governo ditatorial.

a) com o fim de garantir a paz, a ordem e a segurança pública, a

censura prévia da imprensa, do teatro, do cinematógrafo, da

radiodifusão, facultando à autoridade competente proibir a

circulação, a difusão ou a representação;

[...]

16A imprensa reger-se-á por lei especial, de acordo com os

seguintes princípios:

a) a imprensa exerce uma função de caráter público;

b) nenhum jornal pode recusar a inserção de comunicados do

Governo, nas dimensões taxadas em lei (CONSTITUIÇÃO DE

1937: art. 122, parágrafo 15).

��

Ao encaminhar uma cultura nacionalista, o Estado Novo inviabilizou as

formas de expressão autônomas da sociedade. O artigo 122 regulava os

direitos e garantias individuais sob a égide de assegurar a paz, a ordem e a

segurança do país além de considerar a imprensa como um serviço de

utilidade pública, podendo ser utilizada pelo governo como bem quisesse.

O Estado investiu, significativamente, para construir e difundir uma

imagem positiva da nova ordem; a ordem autoritária que exigia a subordinação

dos meios de comunicação de massa: jornais, revistas, cinema e o rádio. Em

dezembro de 1939 foi criado o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP),

cuja instalação era no Palácio do Catete, fruto da ampliação da capacidade do

Estado em intervir nas esferas cultural e ideológica do país por meio de

instituições que garantisse ao aparelho estatal a legalidade, a

institucionalização e a sistematização de sua presença nessas esferas.

Lourival Fontes, profundo conhecedor do Fascismo e simpatizante do

integralismo, esteve a frente da direção do DIP que controlou, coibiu e

centralizou os meios de comunicação de massa, o que fez com que eles

passassem, indiretamente, à tutela do Estado, sendo obrigados a veicular um

discurso emanado do interior do próprio aparelho estatal13. Em moldes

fascistas, a liberdade de expressão era limitada e os atos de infração eram

severamente punidos pelos agentes do poder legalmente dotados.

Com a regulamentação da Constituição de 1937 pelo Decreto-Lei nº

1949, o DIP, teve como incumbência fazer cumprir e fiscalizar todos os

dispositivos legais referentes à imprensa e propaganda no país. Exercia, assim,

17o monopólio dos veículos de informação, procurando garantir a uniformidade

das mensagens e eliminar a contra propaganda. Direcionou não só a imprensa

e o rádio, como também o cinema e o teatro. À época do Estado Novo, só

podiam funcionar os periódicos que fossem registrados nesse órgão, assim

como os jornalistas, fotógrafos, ilustradores e revisores. Vejamos os artigos 6 e

8 deste Decreto-lei:

Art. 6º Todos os correspondentes de jornais do interior deverão

registrar-se no D. I. P.

Art. 8º Todas as empresas jornalísticas de publicidade, bem

como as oficinas gráficas, deverão ser registradas no D. I. P.,

até 30 dias depois da publicação do presente decreto-lei

(DECRETO-LEI Nº 1949, artigos 6 e 7).

O DIP foi o principal responsável pela legitimação de Vargas e do

Estado Novo perante a opinião pública. Ele tornou-se o porta-voz oficial do

regime e o órgão coercitivo máximo de pensamento e de expressão até 1945.

Passou a organizar homenagens a Vargas, tornando-se instrumento de

promoção do chefe do Governo, de sua família e das autoridades14. Tinha

como braço direito a Agência Nacional que era responsável em distribuir, todo

dia pela manhã, à tarde e à noite, noticiários das atividades do governo pelas

as redações que os recebiam gratuitamente. O dia-a-dia do chefe da nação,

reportagens ou artigos assinados por jornalistas oficiais e oficiosos, e dezenas

e dezenas de flagrantes fotográficos onde a imagem de Getúlio era sempre

presente, deveriam ser reproduzidas pelas publicações fossem elas matutinas,

semanárias ou mensárias. As fotos e os textos eram da melhor qualidade, já

que Lourival havia recrutado o que na época havia de melhor no nosso

fotojornalismo15. Vejamos um exemplo desses artigos, numa publicação do

Jornal do Brasil:

Joujoux e Balangandans, hoje em 4 cinemas

A sessão das 22 horas, do São Luis, será honrada com a

presença da Exma. Sra. Dª. Darci Vargas

18

Joujoux e Balangandans é realmente uma adaptação perfeita da

peça que o Rio já admirou no palco do Municipal. Aquele mesmo

grupo de gente fina da nossa sociedade, que, atendendo ao

pedido da Exm. Srª. Darci Vargas, compareceu por dias a fio, por

noites sem conta, em ensaios que redundaram em cinco

espetáculos apoteóticos no Municipal, também ensaiou para o

filme que vai se tornar para o Brasil inteiro, uma exposição da

graça carioca, que comparece a um espetáculo cuja finalidade é

de benevolência. A primeira dama do país tomou para si, a

levantar a Cidade dos Meninos, e dar abrigo aos pequenos

jornaleiros, e Joujoux e Balangandans, serviu no teatro, para fim

especial de levantar os fundos necessários para essas obras [...]

A Exm. Srª Darci Vargas, e quase a totalidade dos artistas que

aparecem em Joujoux e Balangandans estarão no São Luis,

para assistir a sessão das 22 horas, a exibição do filme em que

surge a graça da mulher brasileira, ao lado da arte e do bom

gosto (JORNAL DO BRASIL, 1 de dezembro de 1939, p. 13)

Ao analisarmos periódicos daquela época, constatamos a não existência

de registros de crimes, tragédias ou de algo que pudesse perturbar a ordem e a

paz imposta pelo regime autoritário de Vargas. Tão pouco, notícias de

problemas sociais como a seca do Nordeste que era assunto corrente nos

noticiários anteriores ao golpe de 193716.

Artigos como o publicado pelo Jornal do Brasil , onde a Primeira Dama

do país, Darci Vargas, aparece como uma benfeitora de obras sociais ao

mesmo tempo responsável pela elevação do nível cultural da sociedade

carioca por meio da promoção de espetáculos culturais, faz com que

percebamos o poder manipulador do DIP à população

No cinema, a ação do DIP se fazia sentir por meio dos cinejornais,

documentários de curta-metragem exibidos, obrigatoriamente, antes de cada

sessão. A tônica aqui, ainda uma vez, era a exaltação dos atos do poder

19público: festividades inaugurações, visitas viagens e discursos. As imagens

eram cuidadosamente selecionadas, visando retratar o ponto de vista oficial e

esmeravam-se em destacar o apoio popular ao regime, manifestos nas

tomadas do público, sempre aplaudindo seu líder, num clima de unanimidade.

De acordo com o Decreto lei de 1949, nenhum filme poderia ser exibido

ao público sem um certificado de aprovação, fornecido pelo D. I. P. A exibição

de filmes que contivessem cenas consideradas, por este órgão, ofensivas ao

decoro público ou induzissem aos maus costumes foram proibidos de serem

exibidos17. O estabelecimento da subordinação do cinema ao DIP e a

repressão desde órgão sobre as produções cinematográficas que considerasse

imoral ou ofensivo à sociedade e ao Estado, expressam uma a nova ordem

cultural em que o país estava submetido ao poder manipulador das

consciências populares, afligindo diretamente seus costumes culturais.

É imprescindível o papel que o cinema representou para a propugnação

dos conteúdos ideológicos do Estado Novo. O musical, aqui já mencionado,

Joujoux e os Balngandans de Henrique Ponget e Luiz Peixoto, encenado em

1939 e que, a pedido da Srª Darci, transformou-se em sessões

cinematográficas, é apenas um indício do processo de construção cultural que

teve lugar na capital e que deixou marcas profundas na identidade nacional.

1.2 - A Educação como ferramenta de caráter político-ideológico do

Estado autoritário

A ditadura getulista, ou seja: o Estado Novo, marcou profundas

mudanças na sociedade como um todo, passando pela política, cultura e

também pela Educação de forma que ela servisse ao Estado com a divulgação

e defesa das idéias centralizadoras de Vargas. O sistema educacional neste

período foi totalmente controlador, cujos instrumentos pedagógicos serviram

como ferramenta de propaganda do regime.

A ideologia do cidadão trabalhador começava desde cedo, no ensino

primário, sendo disseminada a toda população brasileira durante este período

20Para isso, foram preciso reformas educacionais, chefiadas por Gustavo

Capanema (direcionadas para o ensino técnico e profissionalizante), criação de

órgãos competentes para a fiscalização sobre a formação dos professores e

sobre todo o material didático a ser elaborado - pelo DIP, para que o espírito

cívico e patriota atingisse às crianças, aos jovens e aos adultos em

colaboração ao crescimento e modernização da Nação.

O ufanismo patriótico estava bem presente na Educação possível de se

perceber nas publicações escolares dirigidas ao ensino da época. As riquezas

naturais do Brasil eram ilustradas nas lições, com destaques para o algodão, o

café a s palmeiras.

Verdadeiras cartilhas cívicas eram publicadas sempre expressando a

postura nacionalista do governo de Getúlio Vargas, com símbolos nacionais,

com as cores da bandeira; da natureza brasileira, exaltando a indústria, o

progresso e trabalho. Este último aparece como o maior fator da dignidade

humana.18

Desde que assumiu o governo em 1930, Getúlio Vargas já manifestava

preocupação com a Educação pondo-a como uma prioridade a ser trabalhada

durante sua gestão, pois desde 1920, Governo Federal e Estaduais, como São

Paulo e Minas Gerias, lutavam contra o índice de analfabetismo que era

demasiadamente grande em todo o país. Foi a Constituição de 1934 que pela

primeira vez cita a educação como direito de todos. Neste mesmo ano foram

criadas as primeiras universidades.

O Ministério da Educação e Saúde, criado em seu governo em 1931,

centralizou as ações destinadas a educação de forma doutrinária, começando

do centro para a periferia. A Educação foi posta por Getúlio Vargas como uma

coluna de sustentação para sua imagem de “pai” dos pobres e, assim,

juntamente com a imprensa manipular a opinião pública a favor de seu governo

ditatorial.

A máquina de propaganda do governo, o DiP, com a ajuda dos

intelectuais orgânicos, desenvolveu mecanismos de comunicação onde a

linguagem e as imagens a serem transmitidas nos sistemas educacionais eram

21simples, ufanistas e doutrinárias visando facilitar a assimilação da ideologia

trabalhista do Estado Novo.

Para o favorecimento do cumprimento de sua ideologia, o Estado

mudou a direção do ensino colegial em preparar para o ensino superior, para

preocupar-se com a formação geral do cidadão. Ocorreu, assim, uma baixa em

números de discentes no Ensino Superior e conseqüentemente uma

desvalorização do docente deste nível de ensino, em termos de qualificação e

remuneração.

A formatação do Estado Novo no sistema educacional ocorreu através

de vários Decretos-Leis regulamentando o Ensino Primário, o Ensino

Secundário e o Ensino Profissionalizante no período de 1942 a 1946. Seria a

Reforma Capanema que através de seus oito decretos manteve o dualismo

existente, até então, na Educação.

O grande desenvolvimento industrial e modernizante que a economia do

país vinha passando desde o início da Era Vargas demandava um maior

número de mão-de-obra qualificada. A profissionalização da massa

trabalhadora era iminente.

Aos estudantes das camadas sociais mais abastadas, estava destinado

o curso do primário e em seguida o curso secundário em dois ciclos: ginásio e

colégio. Ao final, a profissionalização dava-se no em qualquer curso do Ensino

Superior (ficava a escolha desses estudantes). Enquanto, os estudantes

pertencentes às famílias mais pobres da sociedade deveriam cursar o primário,

após conseguirem uma vaga dentre as poucas que existiam na escola pública

destinadas para a referida fase escolar. É bom salientarmos que fazia parte do

Ensino Primário o quinto ano, destinado a preparar os alunos para o exame de

admissão no ginásio. Poucos eram os alunos pertencentes às camadas menos

abastadas da sociedade que conseguiam ingressar no ginásio, requisito para a

entrada em qualquer curso do Ensino Superior. A eles restavam o Ensino

Secundário Profissionalizante. Ao término desta etapa, tais alunos poderiam

cursar o Ensino Superior somente no curso que correspondesse a sua

habilitação profissional do Secundário.

22Com a constituição de 1937 ficou estabelecido que as escolas normais,

primárias e secundárias deveriam ter em seus currículos o ensino de trabalhos

manuais. Deixou um marco de separação dos trabalhos intelectual e manual

destinados aos mais favorecidos e aos menos favorecidos, respectivamente.

O quadro, a baixo, sistematiza os principais fatos históricos ocorridos na

Educação durante todo o período do Estado Novo, com o objetivo de

enriquecer este trabalho com dados tão relevantes para o aprofundamento em

estudos sobre a história da Educação de nosso país, por onde perpassa a

cultura da sociedade desde os primórdios de sua existência.

ANO

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO (1937-1945)

1937

O ensino pré-vocacional e profissional é enfatizado na Constituição de

1937, que retira de seu texto que "a educação é direito de todos".

Foram criados o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

(SPHAN) e o Instituto Nacional do Cinema Educativo.

1938

Foram criados a União Nacional dos Estudantes (UNE) e o Instituto

Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP).

1939

Ocorreram a criação do Serviço Nacional de Radiodifusão Educativa e

a extinção da Universidade do Distrito Federal e sua incorporação à

Universidade do Brasil.

1940 Houve a criação do Departamento Nacional da Criança, vinculado ao

Ministério da Educação e Saúde.

1941

Com a finalidade de atender as crianças desassistidas, o Serviço de

Assistência a Menores (SAM) foi criado com vínculos no Ministério da

Justiça e Negócios Interiores.

A Reforma Capanema foi decretada. Dentre os oito decretos que a

compunha, estava o Decreto-lei 4.048, de 22 de janeiro que criou o

231942 Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) existente até

aos dias de hoje.

O curso secundário passou a ser constituído do ginásio, de quatro

anos, e do colegial, de três, dividido em curso clássico e científico e a

legislação recomendava que as mulheres freqüentassem as escolas

exclusivamente femininas.

1943

Foi regulamentado o ensino comercial (Uma das medidas da Reforma

Capanema), houve a criação da Campanha do Ginasiando Pobre

(CGP) que acabou originando a Campanha Nacional de Escolas e

Comunidades (CNEC). Também foi fundada a Universidade Rural do

Rio de Janeiro (UFRRJ) neste mesmo ano.

1944

O Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP) começou a ser

divulgado com a publicação de Revista Brasileira de Estudos

Pedagógicos.

1945 O instituto Rio Branco foi criado a fim de preparação da carreira de

Diplomatas.

A Campanha do Ginasiando Pobre, criada em Recife, passou a ser

denominada como Campanha de Ginásios Populares.

Jean Piaget veio ao Brasil a convite da Unesco.

24CAPÍTULO 2

UM BREVE HISTÓRICO DA SOCIEDADE CARIOCA

NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX

2.1 – O rádio e a música como propriedades do Estado

Novo

A cidade do Rio de Janeiro, no decorrer do início do século XX, passou

por significativas mudanças. Dentre as causas podemos destacar a Reforma

Pereira Passos (1918), fazendo com que a população pobre fosse obrigada a

deixar suas casas próximas ao centro da cidade, para abrigar os primeiros

subúrbios e a subir os morros. Na década de 1940 imensas favelas já estavam

formadas. Na década de 1920, já haviam decaídos os bairros aristocráticos da

zona Norte: São Cristóvão, Tijuca. A Zona Sul passou a acolher a parcela da

população que obtinha a renda mais alta, que construíram as suas mansões de

frente ao mar que, por volta de 1940, tombaram sob o golpe das construtoras

de arranha-céus e surgiu a Copacabana que conhecemos.

Nesse período, a parcela pobre da sociedade carioca, que com seu

trabalho tornou possível todo esse desenvolvimento, em seus barracos

recusou-se ao confinamento e à destruição cultural. Desenvolveu-se uma nova

cultura urbana: novos modos de expressão por meio da fala, da música e da

dança por meio de uma filosofia muito própria de vida desse grupo. As

tradições africanas foram largamente utilizadas nessa síntese de cultura. Dos

ritmos afro-brasileiros provenientes da Bahia nasceria o samba carioca.

Os sambistas dos anos de 1930 retomavam a antiga tradição de luta

pela liberdade existente desde os tempos da escravidão. Para os escravos e

negros libertos, do século XIX, liberdade significava ausência de patrão. No

25século XX, essa idéia ainda era cultivada, por exemplo, por alguns

trabalhadores autônomos que viviam do comércio ambulante. Do mesmo

modo, alguns sambistas se recusavam à dura disciplina da fábrica e

mantinham sua autonomia obtendo dinheiro com a venda de canções.

Como as demais pessoas que sustentavam essa postura de resistência

ao trabalho disciplinado, esses compositores foram chamados de malandros.

Entre eles, alguns souberam fazer do samba e do rádio uma fonte segura de

sobrevivência e cantavam as delícias do ócio e da vadiagem para toda a

cidade. Ismael Silva (1905 – 1979), um dos mais famosos sambistas dos anos

30, é um exemplo dessa tradição de luta pela liberdade. Vejamos, a seguir, um

trecho de uma de suas composições que faz, ao mesmo tempo, uma crítica ao

trabalho e um louvor à vadiagem:

[...] vivo na malandragem

E vida melhor não há

[...]

Deixa quem quiser falar

O trabalho não é bom

Ninguém pode duvidar

Oi, trabalhar só obrigado

Por gosto ninguém vai lá

( Ismael Silva, O que será de mim, 1931)

Nesse sentido, a história do samba pode ser refeita a partir de quando

ele começou a divulgar o personagem do malandro nos fins dos anos vinte,

com seu jeito diferenciado de se portar diante da sociedade, sua ginga

corporal que era como uma metáfora dos desvios que fazia dos padrões

impostos pelo sistema. Na década seguinte, sob o Governo Vargas, o

malandro já era uma figura no auge de seu prestígio e significação social.

Um dos objetivos de Vargas, e também a pedra de toque do Estado

Novo a fim de transformar o conceito de homem brasileiro desenvolvido por

alguns intelectuais do século XIX, era substituir qualidades consideradas

26inerentes à "raça" mestiça, como a "preguiça" e a "indolência" por uma

ideologia de trabalho19. Para isso, o governo estadonovista facilitou muito a

vida dos compositores em relação a direitos autorais e divulgação na mídia

(especialmente o rádio), mas é fato que tratou de exigir um conteúdo poético,

em cada canção, que se adaptasse à sua política. Toda produção poético-

musical passava pelo controle e fiscalização do DIP para que fosse evitada

qualquer "homenagem ao malandro".

A política de apologia ao trabalho, instituída pelo Estado Novo, fez com

que a figura do malandro perdesse todo seu glamour, pois não condizia com a

nova ordem social que os chefes políticos impunham. Desse modo, a

malandragem estava chegando ao fim. Aquele malandro do começo da década

de trinta tornava-se até trabalhador, como nos revela a canção A ópera do

malandro, de Chico Buarque. O malandro tornou-se, segundo a letra da

canção, um operário, um membro "respeitável" da sociedade. Vejamos um

trecho:

[...] aquela tal malandragem

Não existe mais

Agora já não é normal

[...]

Aposentou a navalha

Tem mulher e filho e tralha e tal

Dizem as más línguas que ele até

Trabalha mora lá longe e chacoalha

Num trem da Central

(Chico Buarque, A ópera do malandro, 1978)

Todo o trabalho intelectual e material desenvolvido pelos ideólogos do

regime ditatorial de Vargas, para a divulgação e propagação do mesmo,

causou consideráveis mudanças no comportamento e pensamento da camada

mais pobre da sociedade, que podem ser constatadas através das músicas da

27época. O legendário e prestigiado malandro dos anos anteriores, foi sendo

substituído pelo ambíguo "malandro regenerado".

Podemos ainda exemplificar, tais mudanças, citando o samba O bonde

de São Januário20, composto em 1940 por Wilson Batista e Ataulfo Alves,

caracterizando a propensão do sambista em deixar de lado a boemia e dedicar-

se ao trabalho sério, pois o governo assim o exigia e, de certa forma, os

artistas sentiam-se tentados em colaborar. Getúlio Vargas sabia recompensar

aqueles que se integrassem à ideologia do Estado Novo fundada no

trabalhismo.

Os sambistas, ao se integrarem a ideologia trabalhista de Vargas,

colaboraram para que o samba fosse obtendo um maior prestígio diante na

sociedade daquela época.

Entretanto, o malandro não esquecia a antiga crença de que trabalho era

coisa de otário, podendo ser identificada na nas entrelinhas de O bonde de São

Januário. A letra original do samba de Ataulfo Alves e Wilson Batista foi

modificada. Na versão original, a palavra "otário" foi substituída por "operário",

tornando a música uma apologia ao trabalho21. O que não se pode negar, no

entanto, é o poder de persuasão exercido por Vargas pelos canais de

repressão e divulgação do regime ditatorial aos artistas e à população mais

pobre da sociedade.

[...] Associado ao cinema, o rádio e o culto racional dos

desportos, completará o Governo um sistema articulado de

educação mental, moral e higiênica, dotando o Brasil dos

instrumentos imprescindíveis à preparação de uma raça

empreendedora e varonil. (Discurso presidencial, 1941 Apud

SALVADORI: 1995)

Estando localizado no centro da cidade do Rio de Janeiro, o Ministério

da Educação e da Saúde promoveu grandes eventos culturais patrocinados

pelo Estado Novo, a fim de difundir a propaganda ideológica nacionalista do

Governo. Os rádios, os bailes de carnaval, as mensagens musicadas de

28propaganda (os jingles), foram os canais por onde passava a cultura da cidade

carioca que se difundia por todo o país.

Com a revolução de 1930 e a instauração do Estado Novo, as principais

decisões que afetam a política e a cultura nacionais passaram para o país a

partir do Rio. A centralização política e a luta contra todas as formas de

federalismo, vigentes na República Velha reforçaram o papel de posição, do

Rio de Janeiro, de cidade cultural do país.

Para o Rio convergiam cantores, compositores e músicos de todo país,

em busca de gravadora. Alguns compositores ficaram famosos escrevendo e

cantando canções sobre malandragem.

A vida sócio-cultural no Rio de Janeiro, em inícios do século XX, era

intensa. As classes médias e altas desfilavam pela Avenida Rio Branco entre

teatros e cinemas e confeitarias próximas. Os cafés permaneciam como ponto

de encontro dos compositores e cantores "populares".

A música, aos poucos, foi transformada em artigo de consumo nacional

vendido sob a forma de discos, e como atração indispensável para a

sustentação de programas de rádio (inclusive com público presente, no caso

dos programas de auditório) e do ciclo de filmes musicados mais tarde

preconceituosamente conhecidos como "chanchadas carnavalescas". A

"música popular" brasileira iria dominar o mercado durante todo o período do

primeiro governo de Getúlio Vargas.

No que se refere ao plano cultural do Estado Novo, assunto de interesse

deste trabalho, o DIP passou a aproveitar tudo o que considerasse de

qualidade na cultura e sociedade brasileiras, segundo a concepção da

intelectualidade estadonovista que compunha os cargos administrativos

referentes às áreas culturais.

O rádio foi uma valiosa ferramenta utilizada pelo governo estadonovista

para a divulgação e propagação do culto ao trabalho disciplinado e ao

trabalhador, pois na década de 40, o rádio, era o principal meio de

comunicação de massa, aspecto que não passou despercebido pelo governo,

29que o utilizava para veicular discursos, mensagens e notícias oficiais.

Entretanto, o potencial do rádio era imensamente maior do que difundir o

projeto político do executivo, ele poderia ser mobilizado para incentivar

comportamentos, atitudes, hábitos e valores tidos como desejáveis à

construção da "nova nação".

O rádio é um ótimo professor [...] (ele deveria apresentar aulas

de português), pois desse modo veríamos acabar em pouco

tempo esse paradoxo: um povo que fala mal a própria língua

[...] Nossos ouvintes já se acham fatigados de tantas

emboladas, rumbas, fox e sambas, que mais parecem músicas

de negros em dias de candomblé [...] (Declaração de ouvinte,

Idem)

Em 1934, o programa Hora do Brasil foi criado, indo ao ar de segunda a

sexta, das 19 às 20 horas em todas as emissoras de rádio, com o intuito do

governo de Vargas em difundir suas ideias à população, de modo a

homogeneizá-la. Contudo, apesar dos grandes esforços do governo, mesmo

durante o período do Estado Novo, grande parte da população parecia preferir

as programações esportivas e musicais a ouvir os discursos de Vargas na

referida programação que passou a ser também conhecida como "Hora do

Desliga" ou "O Fala Sozinho".

Na Hora do Brasil ouvia-se políticos fazendo elogios ao governo,

artistas cantando músicas "genuinamente nacionais" e discursos do próprio

presidente Vargas. Segundo estudos realizados pela historiadora Salvadori,

muitos não prestavam atenção às propagandas do governo, desligando os

aparelhos radiofônicos.22 O que podemos comprovar com o trecho do

depoimento de Dona Brites em estudo realizado por Ecléa Bosi. Vejamos:

De 37 a 45 foi a hora do silêncio, ninguém falava. Às 7 horas

da noite vinha a Hora do Brasil, todo mundo desligava o rádio,

era a hora em que Getúlio falava. Veio então uma lei: bar,

botequim que tivesse rádio não podia desligar, tinha que ficar

ligado na Hora do Brasil. (Lembrança de Dona Brites, in BOSI,

1983, p. 268)

30

A fonte acima nos leva à análise da utilização dos meios de comunicação

como instrumento político de propaganda do governo estadonovista, em

especial o rádio. O depoimento que nos é apresentado põe-nos uma dúvida da

eficácia de tal instrumento. Apesar da enorme importância que o rádio assumiu

na divulgação da propaganda ideológica do Estado Novo. Estudos a esse

respeito não podem exagerar na importância do rádio no que se refere ao

controle das consciências.23

Podemos dizer que o samba era tradicionalmente um produto das

classes populares, dos indivíduos que estavam na margem da sociedade, nas

incipientes favelas ou nos bairros mais pobres. Com o início da radiodifusão da

música, as classes mais favorecidas passaram a ter acesso ao samba e este,

por sua vez, começou a ser influenciado por ela. Os compositores passaram a

representar a realidade e o cotidiano da cidade, do centro, além da periferia.

O diferencial da política varguista a partir do Estado Novo,

seria a tentativa de "integrar o samba como expressão cultural

da nacionalidade. Para os ideólogos do regime era procurar

converter o samba em instrumento pedagógico [...] o que

Vargas faz é legitimar algo que já esta sendo legitimado pela

própria sociedade. (VELLOSO Apud FenericK)24

Com o tempo, o samba deixará de ser a expressão de um determinado

grupo cultural para se integrar à cidade, à mídia e à influência de outros grupos

da sociedade. Paralelamente a essa transformação, o samba tornar-se-á

instrumento de propaganda política do governo de Getúlio Vargas e à

propagação de suas idéias, pelo intermédio do rádio.

Durante o Estado Novo, o samba passou a ser um produto com valor de

troca, uma mercadoria à venda de acordo com sua qualidade e sujeita às

regras da economia de mercado e da sociedade que outrora o estigmatizava

como coisa de favelado, negro, operário, suburbano e pobre. Essa nova

situação do samba não foi algo que se produziu espontaneamente e sem

31diversos pontos de divergência. A análise que realizamos até aqui, a respeito

do papel do DIP na política cultural do Estado Novo, torna-nos compreensível

que através da manipulação das informações que as emissoras de rádio eram

obrigadas a noticiar, este órgão concretizava o objetivo de fortalecimento do

sentimento de unidade nacional e tornava-se capaz de esconder os conflitos

existentes entre os diversos grupos sociais, culturalmente distintos, ou seja,

com hábitos culturais diversificados.

O DIP era composto por cinco divisões: Divulgação, Turismo, Imprensa,

Cinema-Teatro e Rádio. Essa última tinha por função superintender os serviços

radiofônicos do território nacional, fiscalizando-os e orientando-os em suas

atividades culturais, sociais e políticas. Desse modo, o rádio foi utilizado

amplamente para incutir na cabeça dos brasileiros, idéias nacionalistas e de

amor à pátria.

O DIP tinha um controle absoluto sobre tudo o que se relacionava com a

música popular: concursos, espetáculos, carnaval e também com a

apresentação das escolas de samba cariocas, que passavam a desfilar no

asfalto.

Era possível sentir os efeitos da política social do regime de Vargas nos

diversos tipos de manifestações culturais, notadamente, em grande medida

em composições, ainda no início do período ditatorial varguista. A Ideologia do

culto ao trabalho e uma política simultaneamente paternalista e repressiva

"convidaram" os compositores a louvarem os méritos e as recompensas do

trabalhador, ao mesmo tempo em que censuravam as letras que faziam

apologia aos casos e as façanhas do malandro.25

Segundo Ângela de Castro Gomes, o próprio Getúlio Vargas instituiu a

prática de convidar cantores e músicos populares para recepções que dava no

Palácio do Catete, com a intermediação do DIP, a fim de reforçar sua figura

paternalista em meio a esses artistas, fazendo chegar à voz destes o primado

do trabalho. De acordo com os estudos realizados por essa historiadora, “o

contato direto povo/Presidente mais uma vez se realizava sob os auspícios da

32personalidade paternal de Vargas e com a intermediação programática

eficiente do DIP”.26

O paternalismo de Vargas fazia com que as relações entre governo e

população se assemelhassem às relações familiares. Apesar da repressão aos

movimentos sociais, que também era uma marca de sua política social, Vargas

se colocava como o grande chefe da família brasileira, que na definição de

Azevedo Amaral, influente ideólogo do período estadonovista, Getúlio Vargas

seria “supernormal” devido sua tamanha capacidade de prever situações e

agilizar providências em prol da coletividade.27

Para Marcondes Filho, ministro do Trabalho e, também fiel escudeiro de

Vargas, as classes trabalhadoras deveriam dividir a história do Brasil em dois

capítulos antes e depois de Getúlio Vargas. A Justificativa desse procedimento

se vincula, sobretudo à "doação" da legislação social, marca registrada do

ditador, reiteradamente enaltecido como "amigo", "estadista insigne", "excelso

presidente", sem falar de sua condição de homem "milagroso" e "clarividente",

dono, segundo o ministro, "de uma vontade de aço, a serviço de um coração de

veludo".28

A imagem de Getúlio Vargas descrita acima, e divulgada pelos ideólogos

de seu governo, contribuía para a manipulação das massas a favor de uma

política cultural que o exaltasse e que as despertassem para o sentimento

patriota. Foi durante o Estado Novo que pela primeira vez a letra de um samba

foi modificada a pedido do governo por fazer parte de uma política cultural do

Estado. No final da década de 1930 nasceu uma nova modalidade de samba.

Era o samba cívico ou samba exaltação.

Além da vigilância sobre tudo o que era produzido pelos artistas, o Estado

Novo também buscava por meio do poder coercitivo de sua agência

governamental, o DIP, transformar a música dita como popular "numa

testemunha do 'Brasil Grande' proposto pela ideologia dominante".29 Podemos

exemplificar com o trabalho desenvolvido por Villa-Lobos, sob o getulismo, de

educação das massas, segundo paradigmas do canto coral e do ensino

musical, culminado na formação do Conservatório Nacional de Canto

33Orfeônico. Villa-Lobos encontrou, no Estado Novo, condições políticas para

desenvolver o seu trabalho na música: a desfolclorização da tradição popular,

tomando os temas para composições coerentes com as tendências mais

modernas. 30

A nova modalidade de samba, referido anteriormente, se projetou com

muita força, num viés mais sinfônico e monumental, a partir de Aquarela do

Brasil, que Ari Barroso compôs em 1939. As letras patrióticas e ufanistas

ressaltam as maravilhas do país e têm acompanhamento pomposo de

orquestra. Vejamos alguns trechos:

Brasil! Brasil! Pra mim! Pra mim!

Brasil, terra boa e gostosa

Da moreninha sestrosa

De olhar indiferente

Ô Brasil, verde que dá

Para o mundo admirar

Ô Brasil, do meu amor

Terra de Nosso Senhor

Brasil! Brasil! Pra mim! Pra mim

Ô, esse coqueiro que dá coco

[...]

É o meu Brasil Brasileiro

Terra de samba e pandeiro,

Brasil!... Brasil!

(Ari Barroso, Aquarela do Brasil, 1939),

Muita das vezes, a integração dos sambistas ao programa ideológico

estodonovista acontecia devido a ajuda pecuniária que recebiam do governo

para se submeterem às regras do Estado ditatorial que valorizava o trabalho e

os “bons modos” que iriam modernizar o Brasil em meio a industrialização. Se

antes os compositores vendiam seus sambas por alguns réis, agora venderiam,

também, suas idéias.

34Se pensarmos que Getúlio Vargas, quando deputado em 1926, elaborou

um projeto que determinava o pagamento de direitos autorais para os músicos,

talvez possamos crer que essa submissão do pensamento de alguns cantores

e compositores para a proliferação da ideologia do Estado Novo fosse

merecida.

2.2 – O autoritarismo presente na cultura escolar��

Não poderíamos deixar de mencionar a cultura escolar vivida por

crianças, jovens e professores durante o Estado Novo, por ter sido o período

onde o Estado exerceu um maior controle sobre as práticas escolares, fazendo

parte do projeto político ideológico da construção de Nação, pretendido pelo

governo em formar cidadãos dispostos a trabalhar pela Pátria.

Entendemos que o uso de diferentes ferramentas para a divulgação e

estabelecimento do autoritarismo varguista - como vimos anteriormente: o

rádio, a música, o teatro, a imprensa e o cinema - não teria alcançado tamanha

proporção na condução das massas, se o DIP tivesse deixado de atuar dentro

das escolas fiscalizando a obrigatoriedade dos desfiles cívicos, cantos,

hasteamento da bandeira, o uso de material didático (principalmente o de

História) que deveria exaltar figuras de “heróis” brasileiros.

Os desfiles cívicos estiveram presentes na vida dos estudantes, não

somente na capital da República, como também em todo o território nacional

sendo utilizados como propaganda política do Estado Novo. A participação dos

estudantes nesses eventos era obrigatória que, segundo Maria Celina D’

Araújo31, essa obrigatoriedade era local e nacional, de acordo com as

recomendações do Departamento de Educação.

As festividades promovidas e orientadas pelo Estado Novo constituíram

uma nova vivencia da sociedade sobre o seu referencial e simbologia nacionais

construídos e difundidos pela escola para a formação de uma identidade

coletiva.

35

CAPÍTULO 3

ITELECTUAIS, AÇÃO E PODER

3.1 – Intelectuais a serviço do Estado autoritário

Em plena época de ascensão do fascismo no mundo, com

uma ditadura instalada aqui a 10 de dezembro de 1937, deu-se

um fenômeno quase que paradoxal de florescimento cultural. E

não apenas isto. Á frente desses órgãos recém-criados,

encontravam-se intelectuais de primeiríssima ordem. Todos, ou

quase todos eram poetas – e poetas cultos, a exemplo de

Manuel Bandeira, que colaborou com Capanema [...]

(RESENDE: 1998, 6-3)

O Estado Novo representou um marco da política autoritária no Brasil,

tendo uma farta literatura especializada que trata desse período enfatizando a

importância de uma classe seleta de intelectuais a serviço do Estado,

trabalhando de forma organizacional em prol da cultura nacionalista em

continuidade do projeto empreendido pelos modernistas32. Também é durante

o Estado Novo que podemos falar de intelectuais e poder num momento da

história do Brasil em que a cultura e a política se imbricaram a ponto de conferir

à política uma dimensão inteiramente distinta.

Por meio da criação de aparelhos burocráticos, o Estado Novo

regulamentou um sistema ideológico e cultural em moldes corporativos que

representavam os interesses de industriais em ascensão. É nesse contexto que

intelectuais estiveram a serviço do Estado para a implantação de uma cultura

sob o viés ideológico nacionalista, onde trabalhadores das fábricas e indústrias

36serviriam de classe portadora de mensagem de transformação, em meio à

repressão que o regime ditatorial impunha a ela.

De acordo com historiadora Sonia Regina Mendonça em estudo

apresentado na obra organizada por Maria Yedda Linhares, História Geral do

Brasil33, Getúlio Vargas, nos anos em que teve a cargo da presidência do país,

tanto no Estado Novo quanto no período democrático, utilizou-se da ideologia

nacionalista como pano de fundo para os debates em torno de suas políticas

econômicas e também como eixo para a elaboração de um conceito de "cultura

brasileira". Mendonça adverte-nos que embora o nacionalismo empreendido

por Vargas ao longo se seus mandatos tenha sofrido redefinições, ocultou o

real processo em curso, que era o da "construção da Nação" pela incorporação

da classe trabalhadora , através de maior ou menor controle do Estado".

Ainda, de acordo com a autora, os projetos nacionalistas

governamentais do Estado Novo visavam a exclusão e a recusa do pluralismo

tanto no campo cultural quanto no político. No que se refere ao campo cultural

ela escreve que o governo estadonovista tentou, simbolicamente, domesticar

as massas superestimando a uniformização e a padronização cultural. As

formas de expressão autônomas da sociedade procuraram ser inviabilizadas

pela política cultural deste período.34

Na corrente ideológica defensora do regime autoritário Vargas,

encontramos o intelectual, talvez o maior como representante desta corrente

após a Revolução de 30, Azevedo Amaral que tinha como base a crítica às

instituições político-liberais, sob o ponto de vista das reais condições do país.

Dessa forma, o pensamento autoritário que permeou o primeiro governo de

Vargas, tomará como necessária, a implantação de um Estado "forte" e

intervencionista na economia nacional que, segundo essa corrente ideológica,

era a saída da crise pela qual o país se encontrava por causa das instituições

vigentes de idéias capitalistas com princípios democráticos, exógenas, que em

nada beneficiavam o coletivo, prejudicando os interesses da Nação.35

Azevedo Amaral via de bom grado o papel da elite intelectual, a qual

fazia parte, a serviço do Estado em prol de uma "cultura nacional" que,

37segundo ele, deveria ser compatível com o desenvolvimento modernizante do

Estado. Diante disso, cabia aos intelectuais do organismo orientar o Estado na

realização da missão educativa na qual lhe estava reservada, ou seja, a missão

de integração do povo na “órbita” do regime.36

De acordo com o pensamento autoritário de Azevedo Amaral, o papel da

elite intelectual não seria o de “impor à coletividade nacional um certo número

de doutrinas e de tendências ideológicas”, antes, a sua função seria bem mais

sutil do que “citar uma tábua de valores que sirva de normas à conduta cívica

e às atividades sociais e políticas das massas”. Os intelectuais do organismo

deveriam tornar compreensível o quê de certa forma era aspiração do povo, só

que ainda não o era perfeitamente consciente em seu espírito.37

Emergidos da coletividade como expressões mais lúcidas do

que ainda não se tornou perfeitamente consciente no espírito

do povo, os intelectuais são investidos da função de retransmitir

às massas, sob forma clara e compreensível, o que nelas é

apenas uma idéia indecisa e uma aspiração mal definida.

Assim, a elite cultural do país torna-se, no Estado Novo, um

órgão necessariamente associado ao poder público como

centro de elaboração ideológica e núcleo de irradiação do

pensamento nacional que ela sublima e coordena. (AZEVEDO,

1981, P. 158-159)

Havia um grupo seleto de intelectuais comprometido, em absoluto com o

regime, no cumprimento de seu objetivo em consolidar a nacionalidade; em

expandir suas forças econômicas e em afinar sua cultura. Para tanto, era

preciso por em prática o projeto do Estado Novo em divulgar suas idéias para o

maior número de pessoas possível, utilizando o maior número de ferramentas

material ou imaterial à sua disposição.

Diversas áreas da sociedade - como por exemplo a Educação, a Cultura

e o Patrimônio - sofreram ações políticas empreendidas por intelectuais do

organismo que trabalharam com afinco para a formulação de todo o sistema

doutrinário de legitimação do Estado Novo e na definição de um grande projeto

de propaganda que passou pelos diversos canais de difusão: imprensa, rádio,

38cinema e teatro . Nomes como o de Gustavo Capanema, Carlos Drummond de

Andrade, Mario de Andrade, Rodrigo Mello de Franco de Andrade, Abgar

Renault, Oscar Niemeyer, Portinari, entre outros, faziam parte do grupo oficial

do regime.

Os intelectuais que faziam parte do regime estodonovista justificavam a

doutrina do Estado Novo com a crítica à prática liberal anterior à Revolução de

30. Segundo suas justificativas, no liberalismo era aceitável que o intelectual

fosse inimigo do Estado porque este não representava o verdadeiro Brasil.

Diferentemente do Estado Novo onde o governo tornava-se tutor; pai da

intelectualidade, pois este se identificava com as forças sociais. Sendo assim,

não existiriam motivos para a manutenção da antiga posição de oposicionistas

ou de insistência na marginalidade política. Tendo no Estado o financiamento

necessário para o desenvolvimento de seus trabalhos intelectuais, restavam a

eles servirem como seus colaboradores em dever com a pátria.38

Otto Lara Resende, jornalista e escritor, que durante o Estado Novo

serviu com funcionário público e manteve laços de amizades com a

intelectualidade estadonovista, em artigo publicado na Folha de São Paulo, faz

lembrar daqueles anos como renascentistas e sai em defesa desse grupo:

Ao se propor organizar a sociedade, a cultura, a economia e o

direito modernos, o Estado Novo procura ganhar intelectuais,

oferecendo-lhes as condições para a satisfação das exigências

gerais que pode oferecer um governo, um partido no governo...

[acolhendo] os intelectuais, mostrando um caminho seguro,

evidentemente com seu assentimento, para a realização de

seus ideais e de suas utopias [...]

Os anos renascentistas de Capanema são um exemplo e um

estímulo para o Brasil estável e democrático de hoje, tal como

desejamos. O mutirão que mobilizou a "intelligentsia" daquele

momento não deixou ninguém de fora, do universal Villa-lobos

ao humanista Lucio Costa. [...] (RESENDE. op. cit. p.6-3.)

39 De acordo com os estudos realizados por Sergio Miceli39, os intelectuais

tentavam justificar sob o viés ideológico nacionalista a dependência material e

institucional criada durante o Estado Novo. O governo deixava cargos postos a

disposição daquele que desejasse colaborar com o regime. Além disso

recebiam subsídios, benefícios e uma promissora carreira no mais alto escalão

dos serviços públicos, dependendo do grau de disposição e colaboração de

cada um. Quanto mais afinado no regime, mais participação no poder.

Em muitos postos oferecidos pelo Estado aos intelectuais, o serviço era

estritamente burocrático, o que não os impedia de desenvolver, paralelamente

às atividades do funcionalismo, seu trabalho intelectual. Uma vez que o

mercado nem sempre estava disponível para sustentar as iniciativas na área de

produção intelectual, gerava a dependência, já mencionada, que passou a

determinar as relações que as clientelas intelectuais mantinham com o poder

público de onde provinham os subsídios que sustentavam tais iniciativas.40

Ainda de acordo com Miceli, o ingresso nas fileiras do serviço público,

representava aos intelectuais a salvação das oscilações de prestígio e a

imunização às sanções de mercado. O mecenato oficial guardava-lhes de

sofrerem tais riscos, mesmo, que pra isso tivessem que se encontrar em

situação contraditória perante a produção intelectual. Ele cita como exemplo a

complexidade político-ideológica em que viviam os escritores do Estado

Cartorial, se comparada com a de seus antecessores. Durante o Estado Novo,

a perspectiva da elaboração duma obra pessoal era negociada em troca de

colaboração no trabalho de “'construção institucional' em curso, silenciando

quanto ao preço de obra que o Estado indiretamente financiava".41

Sob a alegação de estarem dando continuidade ao legado que os

modernistas haviam deixado, os intelectuais cooptados pelo Estado estariam

produzindo obras que tomassem pulso de Nação, expressando por meio delas

o anseio de uma coletividade e não das demandas feitas por qualquer grupo

dirigente.

Diante desse contexto de debates, por parte dos intelectuais, onde havia

o dilema do motivo que os levariam a se filiarem ao regime autoritário,é que

40tomou corpo as concepções de cultura brasileira, seqüenciando assim, a

postura inaugurada pelos modernistas, o que de certa forma, minimizava os

favores da cooptação.

O artigo publicado pela historiadora Helena Bomeny, Infidelidades

eletivas: intelectuais e política, em obra organizada por ela42, cita o período do

Estado Novo como sendo, indiscutivelmente, de mecenato da política

brasileira.põe em relevância que o período do Estado Novo foi de indiscutível

mecenato da política brasileira, tendo com epicentro um conjunto de

intelectuais das mais diversas áreas de atuação e da mais variada extração

social. No entanto, justifica a participação intelectual, no governo de Vargas,

como uma oportunidade encontrada pela gentillisia de poder dar continuidade à

tendência modernista de uma cultura nacional com os recursos oferecidos pelo

governo, assim como os próprios intelectuais se justificavam.

Helena Bomeny vê o nacionalismo varguista como um estabelecimento

de políticas de proteção para as esferas importantes da vida social estendida à

educação, à cultura, à saúde, às artes e à arquitetura, ao patrimônio, à

administração etc. o que torna compreensível à demanda por especialistas de

diversas áreas do saber. Assim, intelectuais, como Mario de Andrade, que se

lançaram em carreiras postas as suas disposições, teriam, primordialmente, o

interesse na defesa da construção de uma cultura nacional de preservação do

patrimônio cultural brasileiro. De acordo com Bomeny, somente eles, os

intelectuais, estariam dotados dessa capacidade e eram sabedores que

somente o Estado poderia reunir recursos suficientes para a implementação de

uma política nacional de preservação da memória e do patrimônio histórico

nacionais.43

No artigo A cooptação dos intelectuais,44 a historiadora Mônica Pimenta

Veloso escreve visão tutelar do Estado sobre a cultura põe termo a qualquer

ilusão de participação e autonomia intelectual. O agir, o pensar e o criar

passariam a ser considerados como uma permissão da política.

Existem autores, como Milton Lauerta, que discordam das análises da

participação de intelectuais, durante o estado Novo, baseadas na cooptação.

41Para Lauerta, podemos entender que durante o período estudado, o que

houve foi a 'conquista' de intelectuais para a formação de um bloco de poder,

com uma simultânea perspectiva autoritária e modernizadora que buscou

consenso entre a intelectualidade, chamando-a para participar do processo

realizador de fusão da modernidade e do projeto nacional.45

3.2 – O intelectual Capanema e a Educação brasileira

Nascido em 1900 na cidade de Pitangui, em Minas Gerais, Gustavo

Capanema Filho teve uma trajetória política marcada por grandes realizações

na cultura e na Educação. Aos 27 anos, Capanema deu início a sua vida

pública como vereador em sua cidade natal. Esteve apoiando a eleição de

Getúlio Vargas em 1930, a qual ele perdeu, e posteriormente, esteve apoiando

o golpe que pôs Getulio Vargas no poder: a Revolução de 1930.

Desde os tempos em que era estudante de Direito, manteve em seus

relacionamentos profissionais e de amizade, laços com personalidades das

letras e da política no Brasil que estiveram ao seu lado na construção de

projetos durante o período em que esteve a frente do Ministério da Educação, a

saber, de 1934 a 1945. A atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

é fruto de sua gestão, construída na época como Universidade do Brasil, além

da reforma ocorrida no Ensino Secundário (conhecida como Reforma

Capanema) que, com o apoio de entidades privadas para a promoção do

ensino técnico e profissionalizante, originaram-se o Serviço Nacional de

Aprendizagem Industrial (SENAI) e Serviço Nacional de Aprendizagem

Comercial (SENAC).

Em se tratando do Estado Novo, período do governo de Vargas que este

trabalho se pôs em analisar, podemos dizer que Gustavo Capanema foi o

intelectual que representou a política e os ideais, deste governo, na cultura e

na Educação. Trabalhou, juntamente com outros intelectuais, em inúmeros

projetos de relevância para reorganização do Ensino e também de

reorganização do Ministério da Educação possível de ser percebida na forma

42atual que ela se encontra. Apoiou a arquitetos, a artistas plásticos que

passaram a pertencer ao grupo de intelectuais orgânicos, responsáveis em dar

a sua gestão ares de modernidade na esfera educacional.

Dentre as metas dos intelectuais que cercavam Gustavo Capanema

durante o regime autoritário de Vargas, além de modernizar a Educação,

estavam a de incentivo a pesquisa e a de preservação das raízes culturais

brasileiras nos moldes do ideário nacionalista. A Educação, além da Cultura e

da Saúde, serviria de pilar para a execução deste ideário durante o Estado

Novo, por meio de Políticas Públicas implementadas pelo ministério de

Capanema.

Recebendo o apoio da Igreja ao seu ministério, Gustavo Capanema

mostrou-se favorável à abertura das Faculdades Católicas (dando origem a

criação da Pontifícia Universidade Católica - PUC), em meio aos que

defendiam a centralização do Ensino Superior laico pelo Estado. Ainda na área

educacional, ele implementou órgãos de grande importância como o Instituto

do Livro e a Secretaria de Patrimônio Histórico e Artístico.

Sua gestão pode ser simbolizada com o edifício-sede do Ministério da

Educação situado no Rio de Janeiro e que foi construído entre os anos de 1937

a 1945, um marco da arquitetura, produzido por um grupo seleto de

intelectuais, o qual faziam parte Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Roberto Burle

Marx, entre outros. Devido sua importância, aos três anos do final de sua

construção, este edifício foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e

Artístico Nacional (Iphan).

3.3 – Revistas Cultura Política e Ciência Política: importantes

instrumentos de trabalhos intelectuais

As revistas Cultura Política e Ciência Política foram importantes

publicações para a divulgação e doutrinação, respectivamente, da ideologia do

Estado Novo nos campos cultural, político e social. No que se refere ao campo

cultural, intelectuais de diversos campos do saber se reuniam em centros de

43estudos e debates sobre a brasilidade, comprometidos com a elaboração de

idéias e conceitos para a criação de uma cultura nacional que seriam

transformados em artigos publicados na Cultura Política e na Ciência Política.

Podemos dizer que era o grau de vinculação com a ideologia política do

regime ditatorial que definia as funções que cada especialista assumiria no

campo intelectual.

A revista Cultura Política no editorial de seu lançamento, em março de

1941, declarava aceitar qualquer tipo de colaboração intelectual, independente

do seu cunho ideológico, afirmando que a identidade nacional deveria

sobrepor-se às diferenças. Sua importante publicação mensal atraiu

intelectuais identificados com a reflexão crítica e que não dispunham de

recursos financeiros, nem de espaço, para expor os seus projetos.

Esta revista funcionava como um órgão divulgador do regime, era

vendida em todas as bancas do Rio e também de São Paulo. Pagava aos seus

colaboradores o dobro das demais publicações.

Segundo Nelson Saldanha em Histórias das idéias políticas no Brasil,46a

revista Cultura Política foi a mais importante publicação daqueles tempos,

mesclando o propósito cultural com a propaganda do regime ditatorial em que a

sociedade brasileira estava vivendo durante o chamado Estado Novo. Ela

procurava rever o processo histórico brasileiro que deveria desembocar na

solução apresentada pelo Governo Vargas: fim das liberdades individuais

visando o “bem estar” da coletividade.

A atuação e o espaço dos intelectuais, no corpo da revista, eram

totalmente distintos. Existia uma verdadeira divisão do trabalho intelectual

orgânico. Francisco Campos, Azevedo Amaral e Almir de Andrade eram os

"mentores" e responsáveis pelas coordenadas ideológicas. Campos foi o

reformador do sistema de ensino nacional, das instituições jurídicas e políticas.

Almir de Andrade, professor da Universidade do Brasil, era diretor da Agencia

Nacional e da Cultura Política. Já a Azevedo Amaral cabia o controle das

atividades jornalísticas.

44Enquanto isso, intelectuais como Gilberto Freyre, Nelson Werneck Sodré

e Graciliano Ramos ocupavam lugar mais modesto. Colaboravam nas páginas

da Revista Cultura Política, inventariando traços da nacionalidade na literatura,

no folclore, na música e nas artes em geral.

O Estado liberal era difundido pela Cultura Política como o grande vilão

do Brasil, por separar o que nunca deveria ter sido separado: o homem, cujo

domínio é a cultura, e o cidadão no domínio da política.

Não tão importante quanto a Cultura Política, a revista Ciência Política,

igualmente a primeira, abrigava uma verdadeira divisão do trabalho intelectual.

Enquanto a Cultura Política foi o órgão divulgador do regime e reunia as elites

intelectuais, a Ciência Política concentrava nomes de pouca projeção. Cabia a

primeira elaborar idéias e conceitos, ficando a cabo da segunda difundi-los

através da educação cívica e militar. Assim se constituíam em elaboração

conceitual e prática propagandista como faces da mesma moeda.

Voltada para a doutrinação, como inicialmente já foi mencionada, a

revista Ciência Política defendia a intervenção do Estado em quase todos os

domínios da sociedade civil, como por exemplo na educação sexual, na

eugenia, no lazer, no alcoolismo e na higiene. Nesse quadro de intervenção, a

cultura passaria a ser instrumento de doutrinação e controle, onde intelectuais

de visão mais critica teriam cada vez mais restrito o seu raio de ação.

Comparando o discurso das duas revistas, poderemos perceber que,

tanto um quanto o outro, estão integrados numa mesma totalidade: no projeto

ideológico do Estado Novo. No entanto, é possível particularizarmos-os,

sistematizando os dados de cada um deles. Segue abaixo um quadro adaptado

de Cultura e poder político: Uma configuração do Campo Intelectual, da

historiadora Mônica Pimenta Velloso47, a fim de pormos em ordenamento suas

especificidades ou propriedades que deveriam assegurar a eficácia do projeto

ideológico do Estado Novo.

45

Cultura Política Ciência Política

-Grandes intelectuais: Almir

de Andrade, Azevedo

Amaral, Francisco Campos,

Lourival Fontes.

-Intelectuais de pouca

projeção: Pedro Vergara,

Paulo Filho, Humberto

Grande, Renato Travassos,

Benjamim Vieira, Sabóia

Lima.

Ouvinte Elites intelectuais Público geral

Natureza das publicações

-Revista oficial do regime,

publicada pelo DIP.

-Revista publicada pelo

INCP, funcionamento como

boletim de divulgação de

suas atividades. Segue

orientação do DIP.

Proposta das publicações

-Constituir-se em um centro

de estudos brasileiros

voltado para a definição e o

esclarecimento do rumo das

transformações políticas e

sociais por que passa o país

-Constituir-se em uma

"escola de patriotismo" para

a difusão da educação

cívica e militar junto ao

povo, e para educação

política das elites.

- Promover o "movimento

idealista", despertando o

"patriotismo consciente e

cultural" voltado para a

ação.

Concepção de cultura

- Apresenta a cultura como

conjunto de manifestações

populares que devem se dar

sob a tutela do Estado

- Defende a "socialização da

cultura" enquanto expansão

da educação cívica e militar

ao conjunto da sociedade.

46- Defende o estabelecimento

da "cultura pan-americana"

(síntese no pragmatismo

norte-americano e do

idealismo latino) como

garantia da hegemonia

brasileira no pós-guerra.

Concepção do homem

novo

- Configura o homem novo

como fruto das esferas

política e social.

- Apresenta a uma tipologia

hierarquizada para o

homem novo.

Concepção de intelectual

- Defende o bacharelismo,

nomeando o bacharel como

"agente de cultura" mais

apto a compreender a

problemática nacional.

- Defende o "culto à

ciência", defendendo a

"revalorização das mãos".

- Critica o trabalho

intelectual como herança

negativa do passado

escravista.

Imagem de Vargas

- Culto ao seu pensamento

e realizações.

- Culto extremado do mito:

reprodução minuciosa de

sua história de vida e

genealogia da família.

-A apresentação de Vargas

como a personificação do

ideal positivista

47As duas revistas apresentam discursos consensuais objetivando a

propagação e o estabelecimento de uma cultura nacional de acordo com os

preceitos de Vargas.

O sociólogo Renato Ortiz em Cultura Brasileira & Identidade Nacional,48

esclarece que o objetivo do discurso ideológico de uma cultura nacional visa

acabar com a heterogeneidade da cultura popular. Ele age para a cimentação

da diferenciação social.

De acordo com Ortiz, os intelectuais aparecem como mediadores

simbólicos entre o nacional e o popular. Ele explica que, culturalmente, o mito é

encarnado pelo grupo que procura preserva suas tradições, enquanto a

ideologia se estende à sociedade como um todo, por isso, a memória nacional

que opera uma transformação simbólica da realidade social não coincide com a

memória particular dos grupos populares. "O discurso nacional pressupõe

necessariamente valores populares e nacionais concretos, mas para integrá-los

em uma totalidade mais ampla". O Estado, através de seus intelectuais, se

apropria das práticas populares para apresentá-las como sendo expressões da

cultura nacional, por meio de um mecanismo de reinterpretação das mesmas. 49

O dossiê preparado pelo CPDOC, Diretrizes do Estado Novo (1937-

1945): Educação, Cultura e Propaganda, traz uma frase que nos chama

atenção: “O povo era considerado uma espécie de matéria bruta a ser

elaborada pelo saber das elites." Esta frase diz respeito do apoio ao projeto

orfeônico de Villa-Lobos, cujo objetivo era incentivar as manifestações cívicas,

que segundo o próprio dossiê apresentado pela Fundação Getúlio Vargas, tal

raciocínio fundamentava o controle e fiscalização do governo “sobre as mais

diversas expressões culturais. Até mesmo a linguagem popular era alvo desse

controle”.50

Seguindo essa linha de pensamento e diante do que foi apresentado,

neste trabalho, fica evidente o interesse do governo estadonovista em querer

difundir e inculcar a ideologia de uma cultura nacional ao maior número de

pessoas possíveis, a fim de obter uma massa homogênea e, por que não

48dizermos, domesticada, como pressuposto pra fazer cumprir seus objetivos de

modernizar e desenvolver a economia brasileira através da industrialização.

Contudo, existem autores, como Maria Helena Capelato, que em

trabalhos já publicados, mencionam que as teses que defendem a onipotência

da propaganda política não levam em conta o fato que ela só reforça

tendências já existentes na sociedade e que a eficácia de sua atuação

depende da capacidade de captar e explorar os interesses predominantes num

dado momento. A afirmação, que parte daí, é que mesmo os regimes que

levaram esse controle ao extremo não conseguiram atingir o objetivo de

uniformizar a "opinião pública".51

49Conclusão:

O presente trabalho teve como principal objetivo contribuir com os

trabalhos de pesquisa que tratam da cultura e da educação durante o período

ditatorial que ficou conhecido como Estado Novo, no Brasil. Seu recorte

espacial esteve focado na cidade do Rio de janeiro por ter sido esta cidade

centro do poder durante este período.

Uma vasta historiografia especializada no período estadonovista foi

utilizada para a elaboração deste trabalho monográfico. Conclui-se, com este

trabalho, que o governo Getúlio Vargas durante os anos de 1937 a 1945

utilizou-se de várias ferramntas de propaganda para a divulgação e aceitação

de sua imagem e da ideologia nacionalista que cercou todo o seu governo.

De acordo com o projeto ideológico do governo, era preciso haver a

construção duma identidade nacional por meio da cultura e da educação na

sociedade brasileira. Alguns autores consideram que tal projeto foi de

homogeneização e manipulação da massa trabalhadora, pois ela era portadora

da transformação e do desenvolvimento econômico do país por meio da

crescente industrialização, que também caracterizou o governo de Getúlio

Vargas.

Indiscutivelmente, não podemos negar o legado material e imaterial que

o governo de Getúlio Vargas deixou para a sociedade brasileira. Considerado

por alguns como um dos maiores presidentes que o Brasil já teve, sua

perspicácia em governar era evidente em suas ações que procuraram acabar

com os conflitos ideológicos existentes nas diversas camadas sociais.

No que tange a Educação e Cultura do país, o seu legado foi, sobretudo,

a construção de uma institucionalidade inédita, ao mesmo tempo que tratou da

elaboração ideológica do patrimônio voltado para a construção de uma

identidade coletiva nacional.

Durante o Estado Novo, os brasileiros deixaram de ser soltos na história

para estarem aderidos a uma matriz étnica na qual se procurou igualar as

50raízes do passado indígena, negro e branco que constituiram o povo brasileiro.

Por meio de projetos educacionais e culturais desenvolvidos por intelectuais de

várias áreas do conhecimento e que deixaram sua marca na sociedade, Vargas

difundiu amplamente sua ideologia nacionalista que acompanhou toda a sua

história política.

Quando em 10 de novembro de 1937 foi instaurado o Estado Novo, por

meio de um golpe político, Vargas cercou-se de todos os instrumentos

políticos-institucionais capazes de centralizar todo o poder em suas mãos, até

o ano de 1945 quando foi deposto pelas Forças Armadas.

Embora este período tenha sido de autoritarismo e de centralismo na

política brasileira, de acordo com alguns autores, o povo brasileiro não perdeu

o brilho que sempre existiu em suas manifestações culturais. Muito pelo

contrário, tais manifestações tomaram corpo de civilidade e autenticidade

nacional. Verdadeiros espetáculos foram montados na Semana da Pátria a fim

de engrandecer a Nação, por meio dos desfiles cívicos que conquistaram a

sociedade. A propaganda política de Vargas entrou na esfera do sistema

educacional proporcionando uma nova cultura escolar voltada para a

construção de uma coletividade nacional.

As transformações na educação e na cultura não estiveram presentes

somente na capital federal, mas de igual modo em todo o território brasileiro,

que contaram com o empreendimento de uma camada seleta de intelectuais

financiada pelo Estado.

O trabalho de intelectuais capacitados era de grande valia para a

promoção do governo estadonovista, que procurou se estabelecer

conquistando a nação, principalmente a classe trabalhadora das fábricas e

indústrias, passando a ela a imagem de um “grande pai”; de um “pai amoroso”.

Durante este período, criou uma nova Constituição, em 1937, que lhe

dava amplos poderes. Foi criado, também, o Departamento de Imprensa e

Propaganda (DIP) que era uma agência ligada diretamente ao Governo que

tinha, dentre suas competências, o dever de coordenar, fiscalizar, censurar

letras de músicas, produções cinematográficas, programações radiofônicas,

51espetáculos teatrais, jornais, revistas, livros didáticos e todo o programa

pedagógico desenvolvido pelo sistema educacional que, porventura, fossem

considerados perturbadores da moral e da ordem pública.

O DIP também servia de ponte entre os compositores de samba e o

governo estadonovista, criando condições da exaltação da imagem de Vargas

e de sua ideologia política fundada no trabalhismo nas letras dos sambas. Pois,

o samba tinha grande aceitação entre a camada popular da sociedade,

servindo assim de um valioso instrumento de propaganda governamental.

Se a programação Hora do Brasil , por meio do rádio, não foi capaz de

convencer grande parte da população com os discursos governamentais de

Vargas, os compositores de samba que aderiram aos benefícios e subsídios do

governo, contribuíram e muito para a divulgação e aceitação do regime

ditatorial junto a grande maioria do povo brasileiro. Até letras de suas

composições foram modificadas a pedido do DIP.

Através da radiodifusão, logo o samba "comportado" ganhou espaço na

vida urbana dos cariocas. O que antes estava restrito aos morros, aos pobres e

aos negros agora fazia parte até das camadas mais ricas da sociedade.

Vargas também contou, para a divulgação de seu projeto ideológico

estadonovista, com as revistas Cultura Política e Ciência Política. A primeira,

reuniu renomados intelectuais responsáveis pela elaboração dos projetos

governamentais. Enquanto, a segunda foi responsável pela divulgação dos

projetos às camadas menos favorecidas da sociedade. Era dirigida a um

grande público e não contava com intelectuais de prestígio social como a

Cultura Política, direcionada a um público mais seleto, porem, ambas tinham

discursos consensuais.

O governo lançou mão de várias ferramentas políticas para o seu

fortalecimento junto ao povo. Utilizou-se da propaganda pessoal e de sua

família e de uma legislação trabalhista que beneficiou em grande medida a

burguesia industrial. Seus discursos eram em tom paternal. Dessa forma

procurava colocar sob o mesmo prisma patrão e empregado, industrial e

52operariado, ou seja, uma ilusória união e colaboração entre dois grupos

antagônicos.

A pesar da ditadura presente no Estado Novo que retirou os direitos

democráticos da população, foi possível perceber, através deste trabalho de

pesquisa, a admiração que o povo tinha pelo governo de Getúlio Vargas. É

certo que existiram aqueles que por um motivo ou outro não se enquadraram

nos em seus projetos políticos, aos quais mexiam diretamente no cotidiano da

sociedade como um todo. No entanto, o que mostra a pesquisa, é que a

maioria da sociedade brasileira o apoiava A maioria o aprovava. O que nos faz

refletir sobre até que ponto a democracia e a ditadura podem beneficiar ou

prejudicar o desenvolvimento de uma nação, e que serviria para um outro tema

de pesquisa.

Longe de aprovarmos atos que tolhem os direitos individuais das

pessoas que as tornam cidadãs transformadoras de sua própria realidade na

construção da História, podemos perfeitamente compreender que o

comportamento da passividade do povo em prol da ditadura varguista, era

consciente e não alienante como preferem enfatizar alguns historiadores. Para

tanto, podemos refletir nas palavras de José Murilo de Carvalho:

A primeira República em seus 41 anos de existência,

não fez jus às promessas da propaganda, de promover a

participação política, o autogoverno do povo. Não unificou os

três povos, não os incorporou. Não transformou em cidadãos o

jeca doente de Monteiro Lobato e dos higienistas, o áspero

sertanejo de Euclides, os beatos de Canudos e do Contestado,

o bandido social do cangaço, o anarquista do movimento

operário.

A ausência do povo, eis o pecado original da República.

Esse pecado deixou marcas profundas na vida política do país.

Quando em meio à crise de nossos dias, assistimos o aumento

da descrença nos partidos, no Congresso, nos políticos, que se

trata se não da incapacidade que demonstra até hoje a

53República de produzir um governo representativo de seus

cidadãos? (CARVALHO: 2005, P. 24)

Com o referido texto que deixamos para a reflexão dos leitores e que

também serviu-nos para o embasamento desta conclusão, chegamos ao final

com a sensação de que há muito mais para ser conhecido e discutido, o que

não coube neste pequeno trabalho de pesquisa.

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58VELLLOSO, Mônica Pimenta. A cooptação dos intelectuais. Revista BrHistória. nº 5, 2007.

.Cultura e poder político: Uma configuração do Campo Intelectual. In:. LIPPI, Lucia. et al. Estado Novo: Ideologia e Poder. Rio de Janeiro: Zahar Ed. , 1982 p.101-103 (Política e Sociedade)

59Notas

1 Cf. BURKER, Peter. O que é história cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005, PP. 07-66. 2 Cf. DINIZ, Eli. A modernização e seus suportes ideológicos. In: Empresário, Estado e capitalismo no Brasil: 1930-1945. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. (Coleção Estudos Brasileiros; v. 27). 3 Cf. MENDONÇA, Sonia Regina de. As bases do Desenvolvimento Capitalista Dependente. In; LINHARES, Maria Yedda (org.). História Geral do Brasil. 9ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 1990, p. 344. 4 Cf. GOULART, Silvana. Sob a verdade oficial. Ideologia, propaganda e censura no Estado Novo. São Paulo: Marco Zero, 1990, p.17. 5 Cf. OLIVEIRA, Lucia Lippi. Cultura urbana no Rio de Janeiro. In: Rio de Janeiro: uma cultura na história. Marieta de Moraes Ferreira (coord.). Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getúlio Vargas, 2000. p.140-149. 6 Cf. MICELI, Sérgio. Os Intelectuais e o Estado. In: Intelectuais e classe dirigente no Brasil (1920-1945). São Paulo: DIFEL.1979, p.153. (Coleção Corpo e Alma do Brasil). 7 DINIZ. op. Cit. 8 MICELI. op. cit. p. 129-148. 9 Quadro adaptado da obra de Mônica Pimenta Velloso. In:. LIPPI, Lucia, VELOSSO, Mônica P., GOMES, Ângela M. Castro. Estado Novo: Ideologia e Poder. Rio de Janeiro: Zahar Ed. , 1982 p.101-103 (Política e Sociedade) 10 Cf. Autores em bibliografia citada: Eli Diniz (1978) adverte-nos que o nacionalismo foi utilizado durante o governo estadonovista como uma ideologia econômica; Silvana Goulart (1990) põe em pauta que nação brasileira, segundo o governo, deveria estar acima das divisões de classes sociais e de interesses particulares; José Nilo Tavares (1991) escreve que Vargas, à frente do Estado Novo, ao tentar assegurar a soberania nacional irá constituí-la como um dos elementos básicos da ideologia estadonovista e da ideologia varguista: o nacionalismo 11 DINIZ. op. cit. 12 MENDONÇA. op.cit. p. 344. 13 GOULART, op. cit. p.19. 14 Cf. BRAND, Paulo. Vargas. Da vida para a História. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1985, p. 141. 15 Cf. SILVEIRA, Joel, apud. LUCA, Tânia Regina. Coerção e Persuasão no Estado Novo. Revista BrHistória. nº 5, 2007, p.28. 16 LUCA, op. cit. p.23. 17 Artigos 14 e 15 do Decreto-Lei 1949 18 Os aspectos educacionais do Estado Novo podem ser visualizados nos livros escolares que fazem parte do Acervo Histórico do Livro Didático Escolar (AHLE).

60 19 Cf. ORTIZ, Renato. Cultura Brasileira & Identidade Nacional. 4ª edição. São Paulo: Brasiliense, 1994, pp.42-43 (1ª edição: 1985). 20 A letra do samba Bonde de São Januário pode ser lida na íntegra no endereço eletrônico: http://www.mpbnet.com.br/musicos/ataulfo.alves/letras/o_bonde_sao_januario.htm. Último acesso em 19/02/2010. 21 MATOS apud Moby op. cit. p. 113. 22 Ibidem. p. 19. 23 Cf. Capelato, Maria Helena. Propaganda política e controle dos meios de comunicação in: Repensando O Estado Novo / Dulce Pandofi (org.). Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getúlio Vargas, 1999, pp. 177-178. 24 Cf.VELLOSO, M. apud FENERICK, José Adriano. Nem do morro, nem da cidade: as transformações do samba e da industria cultural – 1920-1945. Tese (doutorado em História). Disponível em: <htpp://www.teses.usp.br/teses>. Acesso em: 14/10/2007. 25 Ibidem. 26 Cf. GOMES, Ângela Maria de Castro. et. al. A construção do homem novo: o trabalhador brasileiro. In: Estado Novo: Ideologia e Poder. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 1982, p. 159. 27 Cf. AMARAL apud PARANHOS, Adalberto. O Culto a Getúlio Vargas: um "santo secular"? Revista Espaço Acadêmico, n} 39, (8), 2004 p. 2. 28 FILHO, apud PARANHOS, Ibidem. 29 Cf. MOBY, Alberto. A música popular sob censura durante o Estado Novo. In: Sinal Fechado: a música popular brasileira sob censura (1937-45/1969-78). Rio de Janeiro: Obra Aberta, 1994, p.106. 30 Cf. DÓRIA, Carlos Alberto, Cultura, Brasil e Estado Novo. Ensaio disponível em: http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2390,1.shl. Acesso em 19/02/210.

31 Cf. D’ARAÚJO. Maria Celina Soares. O Estado Novo. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 2000, pp. 35-36.

32 VELLOSO Apud FENERICK op. cit. 33 MENDONÇA. op. cit., 344-347. 34 Ibidem. 35 DINIZ. op. cit. 36 AZEVEDO, op. cit. p. 158-159. 37 Idem. 38 MOBY, op. cit. p. 40 a 46-47. 39 MICELI. op. cit.

61 40 "[...], os laços entre uma e outra atividade permeiam a própria definição do trabalho intelectual" . Idem, p.158). 41 Ibidem. 42 Cf. BOMENY, Helena. Infidelidades eletivas: intelectuais e política. In: Helena Bomeny (org). Constelação Capanema: intelectuais e políticas. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getúlio Vargas; Bragança Paulista (SP): Ed. Universidade de São Francisco, 2001. 43 Idem, p.18. 44 Cf. VELLOSO, Mônica Pimenta. A cooptação dos intelectuais. Revista BrHistória. nº 5, 2007, p. 33. 45 Cf. JUNIOR,Edson B. Citado em bibliografia. 46 Cf. SALDANHA, Nelson. Histórias das idéias políticas no Brasil. Recife. UFP: Imprensa Universitária, 1968. p.298 47 Cf.LIPPI, Lucia. et. al. Estado Novo: Ideologia e Poder. Rio de Janeiro: Zahar Ed. , 1982 p.101-103 (Política e Sociedade) 48 ORTIZ, Renato. op. cit. 49 Ibidem. p136-139. 50 Conferir o dossiê Cultura, Educação e Propaganda, na integra no endereço eletrônico: www.cpdoq.gov.br. Acesso em 19/02/2010. 51 Capelato. op.cit.

62

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

A CENTRALIZAÇÃO, A MANIPULAÇÃO E A DIVULGAÇÃO DO PROJETO

IDEOLÓGICO DE ESTADO NOVO 14

1.1 – A máquina de censura chamada DIP 14

1.2 – A Educação como ferramenta de caráter político-ideológico de Estado

autoritário 19

CAPÍTULO II

UM BREVE HISTÓRICO DA SOCIEDADE CARIOCA NA PRIMEIRA METADE

DO SÉCULO XX 24

2.1 – O rádio e a música como propriedades do Estado 24

2.2 – O autoritarismo presente na cultura escolar 34

CAPÍTULO III

INTELECTUAIS, NAÇÃO E PODER 35

3.1- Intelectuais a serviço do Estado autoritário 35

3.2 – O intelectual Capanema e a Educação Brasileira 41

3.3 – Revistas Cultura Política e Ciência Política: importantes instrumentos de

trabalhos intelectuais 42

CONCLUSÃO 49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 54

NOTAS 59

ÍNDICE 62

63

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: