je 1937 18052018 - leitor.jornaleconomico.pt

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EDP vai defender prémio de controlo de 20% a 30% na OPA chinesa Com a pressão dos acionistas, apurou o JE, a administração da empresa liderada por António Mexia vai defender subida da oferta para entre 3,60 euros e 3,90 euros por ação. Energética pronuncia-se sobre OPA da CTG até 8 de junho. P18 ey.com BARÓMETRO EY PUB Página 33 ADVISORY “Lei exige ao mercado intuição sobre o que pode ser lavagem de dinheiro” P34 INDÚSTRIA ALIMENTAR Nestlé vai investir 80 milhões de euros em Portugal este ano P20 Após anos de espera, os suinicul- tores portugueses vão passar a po- der exportar para o mercado chi- nês. P23 EXPORTAÇÕES China vai abrir mercado de 200 milhões para a carne portuguesa PUB Crise inédita coloca Sporting a um passo do colapso Bruno de Carvalho não se demite, apesar do coro de críticas e da perda de confiança generalizada Saída dos jogadores colocaria dívida do Sporting em 190% do ativo, afirma especialista Álvaro Sobrinho e José Maria Ricciardi dizem ao JE que a direção deve ser substituída com urgência, para salvar o clube Os possíveis candidatos à liderança. P3, 4 e 5 POLÍTICA Os quatro desafios de António Costa para o Congresso do PS P6 PETRÓLEO Dependência externa deixa o país à mercê da subida do preço P30 “Se Governo não cumprir, avançamos para greves” Em entrevista, Mário Nogueira, secretário-geral da FENPROF, acusa o ministro da Educação de ter “desaparecido” e ameaça com greves no periodo de avaliações finais. P10

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Page 1: JE 1937 18052018 - leitor.jornaleconomico.pt

EDP vai defender prémiode controlo de 20%a 30% na OPA chinesaCom a pressão dos acionistas, apurou o JE, a administração da empresa liderada por António Mexia vai defender subidada oferta para entre 3,60 euros e 3,90 euros por ação. Energética pronuncia-se sobre OPA da CTG até 8 de junho. ● P18

ey.com

BARÓMETRO EY

PUB

Página 33

ADVISORY

“Lei exige ao mercadointuição sobre o quepode ser lavagemde dinheiro” ● P34

INDÚSTRIA ALIMENTAR

Nestlé vai investir80 milhõesde euros em Portugaleste ano ● P20

Após anos de espera, os suinicul-tores portugueses vão passar a po-der exportar para o mercado chi-nês. ● P23

EXPORTAÇÕES

China vai abrirmercado de 200milhões para acarne portuguesa

PUB

Crise inéditacoloca

Sportinga um passodo colapso

Bruno de Carvalho não se demite, apesar do coro de críticas e da perda de confiança generalizada ● Saída dos jogadorescolocaria dívida do Sporting em 190% do ativo, afirma especialista ● Álvaro Sobrinho e José Maria Ricciardi dizem ao JE

que a direção deve ser substituída com urgência, para salvar o clube ● Os possíveis candidatos à liderança. ● P3, 4 e 5

POLÍTICA

Os quatro desafiosde António Costapara o Congressodo PS ● P6

PETRÓLEO

Dependênciaexterna deixao país à mercê dasubida do preço ● P30

“Se Governo não cumprir,avançamos para greves”Em entrevista, Mário Nogueira, secretário-geral da FENPROF, acusa o ministro da Educaçãode ter “desaparecido” e ameaça com greves no periodo de avaliações finais. ● P10

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2 | O Jornal Económico, 18 maio 2018

PERSPETIVA

As incógnitasna OPA à EDP

Os chineses são um povo admi-rável, com uma civilização decinco mil anos. Nos negócios,não brincam em serviço: pen-sam a longo prazo e, à boa ma-neira de Sun Tzu, fazem porvencer as guerras antes mesmode as iniciar. “A suprema arteda guerra é derrotar o inimigosem lutar”, escreveu o autor de“A Arte da Guerra”.

Foi isso que a China ThreeGorges (CTG) fez na EDP, aolongo dos últimos anos. O gru-po, que é detido pela RepúblicaPopular da China, construiuaos poucos as condições parapassar a controlar a EDP. Senãovejamos: mais do que acionista,a CTG tornou-se a grande par-ceira estratégica da EDP, levan-do a cabo projetos conjuntos eajudando a energética portu-guesa a reduzir a sua elevada dí-vida. Quando a recondução deAntónio Mexia esteve tremida,a CTG apoiou o emblemáticoCEO. E, ao mesmo tempo, foinamorando o Governo, de ma-neira a garantir o necessárioaval político ao negócio.

Tudo isto foi feito à luz dodia, mas a teia chinesa foi urdi-da de forma tão consistenteque, mesmo que queira, a EDPaté pode dizer que o preço ébaixo, mas nunca poderá alegarque a OPA é hostil. E qualquerestratégia de defesa que, even-tualmente, venha a ser imple-mentada com a ajuda de uma“minoria de bloqueio” acionis-ta, nunca poderá ser assumidacomo tal, ao contrário do quesucedeu na outra grande OPAdo século em Portugal, quandoa PT se defendeu da Sonae comum generoso plano anti-OPA.

Por outro lado, ainda queprevisível, a OPA da CTG foiuma eficaz jogada de antecipa-ção, fixando um valor mínimopara negociar, tanto nestacomo numa eventual ofertaconcorrente. Oferta esta queteria o caminho muito dificul-tado: da mesma forma que a

FILIPE ALVESDiretor

CTG terá de convencer os fun-dos donos de 25% da EDP, umeventual concorrente só teriasucesso se convencesse Pequima desistir dos seus objetivos es-tratégicos no setor mundial daenergia, o que não seria fácil. Éque, ao contrário dos fundos, aChina não está neste jogo ape-nas para ganhar alguns milhõese, com 28% da EDP nas mãos,consegue travar qualquer rival.

Esta é uma negociação entre,por um lado, fundos sem esta-dos de alma, que vendem aomelhor preço e, por outro, umpoderoso estado soberano quenão se rege por metas de curtoprazo. Neste jogo desigual, aRepública Popular da China sóprecisa de duas coisas: paciên-cia q.b. e bolsos fundos parasubir o preço até este ser acei-tável para aqueles acionistas.

Tal não significa, porém,que a OPA esteja ganha à parti-da, pois persistem pelo menosduas incógnitas que poderãodificultar a estratégia chinesa.

Em primeiro lugar, na Euro-pa é cada vez maior a pressãopara levantar entraves ao in-vestimento chinês em setoresestratégicos. Merkel e Macronestão de acordo em criar essesmecanismos de proteção e,com o Brexit à vista, a Comis-são abandonou a sua cruzadacontra as golden share, como seviu no recente volte-face naoposição às blindagens no se-tor energético em Espanha.Face à OPA chinesa, que farãoBruxelas e os reguladores dospaíses onde a EDP opera?

Em segundo lugar, a OPAterá de passar em Washington,devido à operação da EDP nopaís, numa altura em que naCasa Branca vive um senhorque não só abriu uma guerracomercial com a China, comonão é propriamente um entu-siasta das renováveis. Mesmocom o lobby do Merrill Lynch,poderá não ser fácil ter o ‘OK’.

Face a estas variáveis, quenão controla, a CTG deixoumargem para uma revisão dascondições de sucesso da OPA,se necessário adiando algumasetapas da sua estratégia (in-cluindo o controlo de mais de50% do capital), de modo a aco-modar eventuais contratempose “remédios”. Mas será isto sufi-ciente? É que Sun Tzu nunca odisse, mas o diabo costuma es-tar escondido nos detalhes. ●

AVENIDA DA LIBERDADE

6ECONOMIA & POLÍTICA

Os quatro desafiosde António Costa parao Congresso do PS

8 Abrandamentoeconómico:foi chato mas amanhãé outro dia

10PROTAGONISTA

Na véspera da “grandemanifestação nacionalde professores”,o secretário geralda FENPROF, MárioNogueira, acusa oministro da Educaçãode ter “desaparecido”e ameaça com grevesno período deavaliações finais

36 ISEG tem únicocurso do paísem ciências atuariais

18EMPRESAS

EDP vai defender prémiode controlo de 20% a 30%

20 Nestlé investe80 milhões em Portugaleste ano

30MERCADOS & FINANÇAS

Dependência do crudeexterno deixa Portugalvulnerável à subidado preço

22 Semana da Economiamostra potencialde inovação

Sem apoio dos notáveis,Bruno de Carvalho tornou-se tóxicopara o clube. SAD afunda na bolsa,ativos em risco, patrocinadoresrepensam apoios.4 PRIMEIRA MÃO

UNIVERSIDADES & EMPREGO

NESTA EDIÇÃO DO JORNAL ECONÓMICO

Esta semana não perca mais uma edição do Et Cetera e aindao Especial Fraude e Corrupção, sobre as melhores formas de combateresses riscos nas organizações, com o seu Jornal Económico.

14MUNDO

Entrevista a ArdaErmut, presidente daAgência de Promoçãoe Apoio aoinvestimentoda Turquia

24 Como as baixas taxasnos aeroportos não serefletem nos bilhetes

26 Maior consciência,mais e melhorproteção dos ativos

34ADVISORY

“Lei exige ao mercadointuição sobre o que podeser lavagem de dinheiro”

ESPECIAL

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O Jornal Económico, 18 maio 2018 | 3

António Horta Osório lamentaque Manuel Pinho “não venha apúblico dizer claramente aos por-tugueses se houve ou não houve,por parte dele recebimento doGrupo Espírito Santo ou de qual-quer outra empresa enquanto go-vernante”.

Em declarações ao Jornal Eco-nómico, o presidente do conselhode administração do banco Lloydscondenou a atitude do antigo mi-nistro da Economia: “É inaceitávelde uma pessoa que representou opaís ao mais alto nível”.

Em causa está a notícia de queManuel Pinho recebeu cerca de 1,8milhões de euros do antigo GrupoEspírito Santo, antes, durante edepois de ter exercido funções noGoverno liderado por José Sócra-tes. O antigo ministro da Econo-mia, que antes da entrada para oGoverno foi administrador doBanco Espírito Santo, é um dos ar-guidos no caso das chamadas ren-das energéticas da EDP.

António Horta Osório marcoupresença na conferência ontem

realizada na sociedade Abreu Ad-vogados, sobre as “PerspectivasEconómicas para Portugal e a zonaEuro – os desafios do Brexit” econsidera que Manuel Pinho deviadar respostas sobre o caso GES.

“É uma pergunta clara que deveser respondida de forma inequívo-ca e uma questão a que os portu-gueses exigem e merecem ter res-posta”, defendeu.

Na mesma ocasião, o banqueirofalou também da crise no Spor-ting, defendendo que “responsabi-lidades sejam apuradas rapida-mente”.

” O Sporting é uma grande insti-tuição nacional e vejo isto commuita preocupação e só espero queas responsabilidades sejam apura-das rapidamente e que haja as de-vidas consequências, para ficar cla-ro que estes comportamentos sãoinaceitáveis e não refletem a maio-ria dos sportinguistas, nem amaioria dos portugueses”, referiuHorta Osório.

Na terça-feira, um ataque levadoa cabo por 50 adeptos do Sportingà Academia de Alcochete provo-cou ferimentos em vários jogado-res do clube. O clube está tambémenvolvido em suspeitas de corrup-ção em alguns jogos de futebol docampeonato nacional. Esta quinta--feira todos os membros da As-sembleia Geral apresentaram a de-missão em bloco e foi colocado umprocesso disciplinar a Bruno deCarvalho, de forma a provocar asua demissão.

Horta Osório veio a Lisboa paraparticipar em duas conferências.Além do encontro da Abreu Ad-vogados, é um um dos oradoresque participam na conferênciaque a EY e o “Dinheiro Vivo” pro-movem hoje sobre o sistema fi-nanceiro. ●

Horta Osório criticaManuel Pinho

CASO BES

Banqueiro veio a Lisboa para participar em duas conferências e defendeuque Manuel Pinho deve explicar se recebeu ou não verbas do GES.

ANTÓNIO [email protected]

“É uma pergunta claraque deve serrespondida de formainequívoca e umaquestão a que osportugueses exigeme merecem terresposta”, disse HortaOsório

RATING DA SEMANA

A Sonae apresentou ontem os resultados do primeiro trimestre, como resultado líquido no período a mais do que duplicar para 20milhões de euros. Este crescimento do lucro reflete o aumento dovolume de negócios, numa altura em que as empresas do gruporetalhista beneficiam do aumento do consumo tanto em Portugalcomo noutros países onde o grupo está presente. A Sonae crioudois mil postos de trabalho no último ano. Outlook positivo.

Ste

fan

Wer

mut

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Por Ricardo Santos Ferreira

A+PAULO AZEVEDOPresidente da Sonae

RATING:

A multinacional anunciou um investimento de 90 milhões de eurosem Portugal. Em entrevista ao Jornal Económico, a primeira a umapublicação portuguesa, o responsável italiano revelou os objetivosdos investimentos nas duas fábricas, no Porto e em Avanca (verpágina 20). É uma boa notícia para o país, que se segue a uminvestimento de 94 milhões da empresa suiça em Portugal, nosúltimos seis anos. Outlook positivo.

A+PAOLO FAGNONIDiretor Geral da Nestle Portugal

RATING:

O CEO da EDP continua a dar mostras de uma notável capacidadede sobrevivência. O último dos “gestores estrela” do PSI20,sobreviveu ao fim de uma era, sendo reconduzido pelos acionistaspara um novo mandato. A posição de Mexia não está, no entanto,segura. Se a OPA da CTG triunfar, tudo muda. Por um lado, Mexiapode não querer ficar numa empresa que passará a ser umasubsidiária do estado chinês. Por outro, os chineses poderão querermudar de CEO. Mas a OPA ainda não está ganha... Outlook estável.

B+ANTÓNIO MEXIAPresidente-executivo da EDP

RATING:

O presidente do Sporting conduziu o clube e a SAD a um nível deconfusão e caos nunca antes visto. Bruno de Carvalho arrisca-se aficar na História como o líder que presidiu à falência do clube, noseguimento de um êxodo em massa do plantel e da equipa técnica,após um lamentável e aterrador episódio em Alcochete quemanchou para sempre o nome do Sporting. É espantoso como,apesar do coro de críticas e da perda de confiança generalizada,Bruno de Carvalho continua agarrado ao cargo. Outlook negativo.

DBRUNO DE CARVALHOPresidente do Sporting

RATING:

D C- C+ B- B+ A- A+

D C- C+ B- B+ A- A+

D C- C+ B- B+ A- A+

D C- C+ B- B+ A- A+

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4 | O Jornal Económico, 18 maio 2018

PRIMEIRAMÃO

Crise no Sportingcoloca clubea um passodo colapso

O Sporting Clube de Portugalatravessa uma crise profunda, coma própria sobrevivência do clubeem risco. Ao longo do dia de on-tem, multiplicaram-se as críticas àdireção liderada por Bruno deCarvalho, não só por causa dasagressões em Alcochete, que abri-ram uma crise inédita que poderálevar à saída de todo o plantel, mastambém devido ao escândalo dealegada corrupção desportiva queenvolve o diretor do futebol doSporting, André Geraldes.

À hora de fecho da edição,aguardava-se uma comunicaçãodo conselho diretivo do Sporting,na qual, segundo apurou o JornalEconómico, Bruno de Carvalhoiria recusar a demissão. Embora ademissão em bloco de grande partedos órgãos sociais do clube e da re-tirada de apoio de ‘pesos pesados’como Álvaro Sobrinho e José Ma-ria Ricciardi abalem a liderança deBruno de Carvalho.

Em declarações exclusivas aoJornal Económico, Álvaro Sobri-nho, segundo maior acionista daSporting SAD, defendeu que “a di-reção não merece confiança e deveapresentar a demissão”. TambémJosé Maria Ricciardi afirmou ao JEque Bruno de Carvalho “não temcondições” para continuar no car-go. O ex-presidente do Haitongdefende que o Sporting precisa deuma “comissão de gestão” para sal-var o clube. Ricciardi consideraque só dessa forma se consegueevitar a saída dos jogadores.

A maior crise da história doSporting, um clube com 111 anosde vida, está a causar repercussõesno valor de mercado da institui-ção, nas relações com patrocinado-res, investidores e, sobretudo, na

imagem dos ‘leões’ no mundo dofutebol devido à possibilidade dosjogadores agredidos em Alcochetequererem rescindir.

Que futuro para aquele que é umdos ditos três grandes do futebolnacional? “Os impactos são tre-mendos”, explica Luís Vilar, coor-denador pedagógico de Desportona Universidade Europeia, que in-dica a possíbilidade do Sportingpoder brevemente enfrentar umcenário de colapso financeiro. “Noúltimo relatório e contas , o Spor-ting diz ter reavido os valores mo-biliários obrigatóriamente conver-tíveis (VMOCs), mas se contar-mos só com o plantel, avaliado em202,5 milhões, diria que 95% dessevalor está assente em nove ou dezjogadores de relevo”. Mas, a perdados atletas - ativos intangíveis -pode representar “uma perda de60% do património” no seu todo.“O Sporting tem uma dívida de110% daquilo que vale em termosde ativo, se estes jogadores saíssema dívida iria ficar a 190% [do ati-vo]”, nas contas de Vilar.

Além disso, há a imagem que oclube está a transparecer junto dospatrocinadores. A NOS e Altice jáse pronunciaram, afastando a hi-pótese da retirada imediata de pa-

trocínios ao Sporting. “Não se es-perava uma rescisão [de patrocí-nios] a quente. Mas apesar de nãoo afirmarem publicamente, por se-rem empresas conscientes, estãoseriamente a pensar a continuida-de dos apoios ao clube”, afirma Da-niel Sá, diretor do IPAM e especia-lista em Marketing Desportivo.Para Daniel Sá, estão em causaquestões de associação de marcas evalores e , futuramente pode sur-gir um cenário de desequilibriopela falta de interesse de patrocí-nadores no Sporting.

Ontem, a crise do Sporting re-fletiu-se em bolsa, com apenas 18transações (11.006 ações). A SADleonina afundou 17,11%, para 0,63euros. E apesar da cotada ser debaixa liquidez, entre a sessão dequarta-feira e a de ontem, a Spor-ting SAD perdeu 5,075 milhões novalor de mercado, caindo de 29,68milhões para 24,60 milhões. Noacumulado do ano o resultado dosleões é negativo (-5,97%). E háainda a questão do reembolso daemissão obrigacionista, que vencedia 25 de maio.

Está marcada uma assembleiageral de obrigacionistas para dia20, domingo, a fim de adiar o pa-gamento por mais seis meses. Asfontes do mercado ouvidas peloJornal Económico consideram quea eventual saída de cena de Brunode Carvalho facilitaria a aprovaçãodo prorrogamento do prazo parareembolsar os obrigacionistas.Caso a prorrogação não seja apro-vada, adiando o reembolso para 26de novembro, a SAD entra em in-cumprimento.

Em teoria, por já estar a atrasaro reembolso, a SAD poderia estarem incumprimento. Mas como aa entidade que gere este exercí-cio, ISDA não se pronunciou pu-blicamente, ainda não há incum-primento. ● Com L.M.F, F.A e R.R

Sem apoio dos notáveis, Bruno de Carvalho tornou-se tóxico para o clube.SAD afunda na bolsa, ativos em risco, patrocinadores repensam apoios.

JOSÉ VARELA [email protected]

DESPORTO

“A imagem dainstituição vai levarmuito tempo arecuperar. Será umarecuperação a médioe longo-prazoe dependerá dequanto tempo maisa crise vai durar”,disse Daniel Sá

Bruno de Carvalho está debaixo defogo de todos os quadrantes. Umagrande parte dos órgãos sociais já sedemitiu e o próprio Presidente daRepública poderá não assistir à finalda Taça, no domingo. Mas o presi-dente dos ‘leões’ recusa demitir-se e,à hora de fecho da edição, aguarda-va-se uma nota do conselho direti-vo do Sporting.

A Holdimo, do empresário ango-lano Álvaro Sobrinho, pediu a de-

missão de Bruno de Carvalho por-que “está a pôr em risco os ativos” e“não merece a confiança do segundomaior acionista” da Sporting SADcom cerca de 30% do capital, a seguirà Sporting SGPS com 37,26%.

A revelação foi feita ao Jornal Eco-nómico por Álvaro Sobrinho, no diaem que a Mesa da Assembleia-Geraldo Sporting anunciou a demissão embloco nesta quinta-feira, 17 de maio,numa decisão que foi acompanhadapor cinco membros do ConselhoFiscal e Disciplinar. E antecedida deun processo disciplinar a Bruno deCarvalho com o objetivo é forçá-lo a

Demissão afastada,apesar de corode críticasPresidente do Sporting não se demite, apóssegundo maior acionista retirar apoio a direção.E apelos de Ricciardi, sócio do clube, e Eduardobarroso, apoiante de Bruno de Carvalho.

LÍGIA SIMÕES E FÍLIPE [email protected]

CRISE NO SPORTING

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O Jornal Económico, 18 maio 2018 | 5

É, talvez, o nome mais consensualentre os sócios e adeptos doSporting CP. O advogado goza deuma excelente imagem junto dosleões e beneficia ainda de fortesligações ao mundo político efinanceiro, além de já ter sidopresidente da Mesa da Assembleia--Geral no clube ‘verde e branco’, ouseja, preenche o requisito deexperiência em cargos dirigentes nainstituição. “O Sporting não vai deixarde ter quem se candidate àpresidência”, garantiu em entrevistarecente à RTP. Rogério Alves temsido muito cauteloso quandoquestionado sobre uma eventualcandidatura. No entanto, e numcenário de eleições antecipadas. oadvogado poderá não resistir àspressões de alguns ‘notáveis’.

ROGÉRIOALVES“o consensual”

Para José Maria Ricciardi, e deacordo com entrevista à SICNotícias, Rogério Alves é umaalternativa válida para assumir apresidência do Sporting CP. Noentanto, e na mesma entrevista,Ricciardi não fechou a porta aoprojeto de assumir os destinos doseu clube do coração, emblema ondetem colaborado em alguns aspetosda gestão do clube nos últimosmandatos. Mesmo que não avance,o economista e banqueiro tem umaexcelente relação com Jorge Jesus,com quem reuniu várias vezes nasúltimas semanas. Esse aspeto nãopode ser descurado: o treinador temcontrato por mais um ano.

JOSÉ MARIARICCIARDI“o presidente--sombra”

Foi o único adversário eleitoral queBruno de Carvalho enfrentou naúltima corrida aos órgãos sociais doSporting CP, em 2017. Perdeu aseleições, mas nunca deixou decriticar o comportamento e asmedidas de Bruno de Carvalho.Antes da crise, afirmou que vê com“agrado” o número de críticos deBruno de Carvalho a aumentar. “Omais importante é que o tempo daspalavras passou e é preciso agir”,afirmou o gestor que, por estes dias,deverá ter ganho mais algunsapoiantes. Uma eventual candidaturaao cargo de líder máximo do clubede Alvalade poderá estar dependentede quem avança e caso RogérioAlves ou José Maria Ricciardi (ou umcandidato de consenso) avancem,não deverá dar o passo em frente.

PEDROMADEIRARODRIGUES“o repetente”

demitir-se da presidência do clube.Mas esta decisão foi ontem afastadapelo presidente do Sporting, apósuma reunião de emergência ao inícioda tarde e que se estendeu até à noite.

Sobrinho prometeAG da SAD para pedir demissãoApós retirar o apoio ao presidentedo Sporting, o empresário angolanodeixa um aviso à direção lideradapor Bruno de Carvalho: “Iremos to-mar todas as medidas legais para ga-rantir a estabilidade da gestão daSAD”. Questionado sobre o tipo demedidas, Álvaro Sobrinho esclareceque, caso o presidente do Sportingnão se demita, avançará com umaAssembleia Geral da Sporting SADpara esse efeito.

Isto porque, diz, Bruno de Carva-lho “está a pôr em risco os ativos daempresa, que é cotada, e isto nãopode acontecer”. Sobrinho asseguraainda: “a Holdimo já não tem con-fiança na direcção e nos órgãos so-ciais da Sporting SAD”.

O empresário manifesta, porém,“todo o apoio” da Holdimo aos joga-dores e equipa técnica, nomeada-mente o treinador Jorge Jesus. Eavalia como “lamentável” os aconte-cimentos que têm envolvido Brunode Carvalho, desde o episódio dos

dentes em Alcochete levaram a 23detenções com o Ministério Públicoa indiciar os suspeitos de práticas quepodem configurar crimes de seques-tro, ameaça agravada e terrorismo,entre outros.

Para presidente executivo doLloyds, António Horta Osório, oque aconteceu na Academia doSporting “é vergonhoso” e as “res-ponsabilidades devem ser apuradasrapidamente”.

Também Álvaro Sobrinho diz queos últimos acontecimentos “têmcausado imensos problemas e danosreputacionais”. Em jeito de recado aBruno de Carvalho, sublinha que “asempresas têm de ser geridas profis-sionalmente e não por emoção”.

A Sporting SAD descapitalizou,ontem, quase seis milhões de eurosdepois dos acontecimentos dos últi-mos dias: as agressões à equipa doSporting na Academia em Alcoche-te, bem como a investigação sobreviciação de resultados que levou àdetenção de André Geraldes, dire-tor para o futebol do clube que semanteve ontem em silêncio em tri-bunal; Gonçalo Rodrigues, funcio-nário do Sporting; e João Gonçal-ves, o intermediário. Geraldes saiuem liberdade mediante uma cauçãode 60 mil euros.

Paulo Silva, o intermediário quedenunciou às autoridades um alega-do esquema de corrupção no andeboldo Sporting, é outro dos detidos queconfessou, ontem, perante a juíza doTribunal de Instrução do Porto quecorrompeu ou tentou corromper jo-gadores adversários. Em causa estãoem oito jogos de futebol do Sporting,disputados na temporada que se en-cerrou no último domingo, segundoo Correio da Manhã.

Segundo Álvaro Sobrinho, “a Hol-dimo é accionista e regista os factosque têm ocorrido”, avançando o em-presário que “está imensamentepreocupada” e que “vai fazer absolu-tamente tudo para preservar os seusprincipais activos, os jogadores”.

Também José Maria Ricciardi,banqueiro e sócio do Sporting, de-fendeu ao JE que Bruno de Carvalho“não tem absolutamente nenhumacondição” para continuar na presi-dência. Sobre a crise em Alvaladedispara: “É uma situação muito gra-ve, que pode pôr em causa a situaçãopatrimonial do clube“.

Eduardo Barroso, um dosapoiantes do presidente do Spor-ting, defendeu ontem também quea demissão deve ser o caminho:”Bruno de Carvalho não tem con-dições para continuar”. ●

ÁLVARO SOBRINHOAcionista da Sporting SADatravés da Holdimo

ANTÓNIO HORTA OSÓRIOPresidente executivodo Lloyds e simpatizante do SCP

Ant

ónio

Cot

rim/L

usa

posts no facebook após o jogo com oAtlético Madrid, e a decisão de sus-pensão dos jogadores (não concreti-zada) até aos incidentes em Alcoche-te. As agressões aos jogadores e equi-pa técnica, segundo Sobrinho, foram“motivadas pelo mau ambiente cria-do à volta da equipa técnica”. Os inci-

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6 | O Jornal Económico, 18 maio 2018

ECONOMIA & POLÍTICA

Os quatro desafiosde António Costapara o Congressodo PS

Alterações climáticas, demografia,sociedade digital e desigualdades.Estes são os “quatro desafios fun-damentais” inscritos na moção deorientação estratégica com a qualAntónio Costa se apresentará no22º Congresso Nacional do Parti-do Socialista (PS), agendado paraos dias 25 a 27 de maio, na Batalha.Contudo, despachada a formalida-de das eleições diretas e tendo Cos-ta obtido uma vitória esmagadora,com 96% dos votos e 1.768 delega-dos eleitos (frente a Daniel Adriãoque obteve 4% dos votos e 35 dele-gados eleitos), as atenções deverãofocar-se noutros desafios, incógni-tas, sinais para o futuro próximo.

Lista de candidatos às eleiçõespara o Parlamento EuropeuAna Catarina Mendes ou CarlosCésar? Persiste a dúvida sobrequem será o escolhido por Costapara encabeçar a lista de candida-tos do PS às eleições para o Parla-mento Europeu que deverão reali-zar-se em maio de 2019. O nomede Fernando Medina chegou a sersondado como alternativa, umaespécie de terceira via, mas o atualpresidente da Câmara Municipalde Lisboa já colocou de parte essahipótese, prometendo cumprir omandato autárquico até ao fim.Pelo que a decisão se resume aMendes (secretária-geral adjuntado PS e vice-presidente do GrupoParlamentar do PS) ou César (pre-sidente do PS e presidente do Gru-po Parlamentar do PS). De acordocom várias fontes do partido, Cos-ta veria com bons olhos a candida-tura de César, o qual tem geradoalguns problemas políticos e anti-corpos ao nível do Grupo Parla-mentar. Mas precisamente esses

problemas, ou as controvérsias emque se tem envolvido (desde osempregos públicos de familiaresaté aos reembolsos de viagens Lis-boa-Açores), poderão ter um efei-to negativo no resultado eleitoraldo PS. Não é líquido que a dúvidase desfaça já na Batalha. Por outrolado, o Jornal Económico apurouque Manuel Pizarro, vereador sempelouro na Câmara Municipal doPorto, deverá integrar a lista decandidatos às eleições para o Parla-mento Europeu. Tal como osatuais eurodeputados Carlos Zor-rinho e Maria João Rodrigues.

Composição dos órgãosnacionais do partidoA dança de cadeiras e nomes nosórgãos nacionais do partido, so-bretudo ao nível da Comissão Po-lítica Nacional, é sempre um bomindicador para o futuro próximo.A cerca de um ano da realização deeleições regionais, europeias e le-gislativas, essas movimentaçõestornam-se ainda mais relevantes.Desde logo se houver alguma mu-dança nos cargos ocupados porMendes e César, o que seria umforte prenúncio da decisão de Cos-ta quanto ao cabeça-de-lista paraas eleições europeias. É tambémuma oportunidade para renovar osdirigentes do partido, destacar no-

mes que poderão integrar o próxi-mo Governo ou fazer parte das lis-tas de candidatos às eleições legis-lativas, gerir equilíbrios internos.Em suma, preparar o terreno polí-tico para a próxima legislatura.

Estratégia de aliançascom outros partidosEste é um dos desafios que não sãoabordados na moção de orientaçãoestratégica de Costa, talvez pornão ser conveniente definir umposicionamento rígido antes de sesaber o resultado das eleições le-gislativas. Abrir a porta a entendi-mentos mais sólidos com o PSDteria um efeito de irritação e des-confiança nos partidos mais à es-querda (BE, PCP e PEV), numa al-tura crítica da legislatura em queainda falta um Orçamento do Esta-do para aprovar. Por outro lado,fechar essa mesma porta seria re-duzir o leque de opções pós-eleito-rais em 2019. De resto, Costa temexplicado que não tem interesse naformação de um “Bloco Central”de Governo, mas está disponívelpara firmar acordos com o PSD emtorno de políticas setoriais, de for-ma a assegurar uma componentede médio ou longo prazo. Será umdos temas em debate, embora semgrandes novidades.

O “embaraço mútuo”do elefante na salaAo contrário do que seria expec-tável, a desfiliação de José Sócra-tes aliviou a tensão no partido enão deverá ser um tema muito de-batido. Entre as hostes socialistaspredomina a ideia de que Sócratesfaz cada vez mais parte do passa-do. É provável que o seu nomeseja evocado em algumas inter-venções, mas o guião já está escri-to: é um caso de Justiça; e seráuma “vergonha” se as suspeitas secomprovarem. ●

A caminho de uma tripla jornada eleitoral em 2019, o líder do PS tem decisõesimportantes para tomar. Mas não é líquido que as anuncie já na Batalha.

GUSTAVO [email protected]

Manuel Pizarro,atual vereador sempelouro na CâmaraMunicipal do Porto,deverá integrar alista de candidatosàs eleições para oParlamento Europeu

22º CONGRESSO NACIONAL DO PS

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O Jornal Económico, 18 maio 2018 | 7

Cris

tina

Ber

nard

oPor um Portugalmelhor

No meio desta podridão emque a sociedade portuguesaestá mergulhada, temos pelomenos o bálsamo de constatarque a investigação procurafuncionar. Na política, nomundo empresarial, mesmono até há pouco tempo sagra-do reduto do futebol, a PolíciaJudiciária e o Ministério Pú-blico estão no terreno comuma vontade muito diferentedaquela que animava a investi-gação no passado recente, emque tudo o que era processosensível, importante, inevita-velmente acabava arquivado.

Esta realidade é um grandeconforto para a sociedade por-tuguesa e está associada a umnome: Joana Marques Vidal, aPGR. Os grandes processosdos últimos anos, de José Só-crates, de Ricardo Salgado, deempresas e outros políticos,agora também na área do fute-bol, envolvendo Benfica eSporting, têm a sua marca.

Quer se goste ou não, há umantes e um depois da entradade Joana Marques Vidal para ocomando da investigação – enão há, por isso, como iludir aimportante questão da suacontinuidade no cargo, estejaela também disponível paraisso. Esta tornou-se numa de-cisão política e social da maiorrelevância a partir do momen-to em que a ministra da Justi-ça, Francisca Van Dunem, acolocou na ordem do dia comaquela declaração, em janeiro,que soou a anúncio préviocom dez meses de antecedên-cia: o mandato do PGR é “lon-go” (seis anos) e “único”.

Convém, por isso, recordar.A limitação do tempo de

mandato na PGR (os tais seisanos) é coisa recente, de 1997.Antes não havia tempo defini-do. Cunha Rodrigues perma-neceu 16 anos no cargo, entre1984 e 2000. Mas, depois dele,tanto Souto de Moura (2000--2006) como Pinto Monteiro(2006-2012) cumpriram ape-

nas o período estipulado, deacordo com o artigo 220.º daConstituição, no qual não háqualquer explícita referência auma limitação de mandato.Estes ciclos de seis anos po-dem, portanto, ser renovados.Não o foram no passado, noscasos de Souto de Moura ePinto Monteiro, mas podemsê-lo no presente, porque a leinão o impede. Jorge Miranda,um dos mais notáveis Consti-tucionalistas, é claro nesta in-terpretação.

Sobra, pois, o terreno davontade política e o da apre-ciação que o Governo, nestecaso do PS, faça ao trabalhodesenvolvido pela PGR, semignorar que este assunto sem-pre necessitou de um consensoalargado e que a última palavracabe ao PR. Mas também devehaver, cada vez mais, a afirma-ção da vontade dos cidadãos. Épor isso que saúdo o apareci-mento, nas redes sociais, deum manifesto de apoio à con-tinuação de Joana MarquesVidal. Não me interessa se oprimeiro signatário (PauloGorjão) é militante do PSD(partido no qual Rui Rio aindamantém um incompreensíveltabu sobre o tema). Começa aser hora das pessoas se torna-rem independentes de parti-dos, clubes e seitas e pensarempela sua cabeça.

Pessoalmente, faço umaconstatação: Joana MarquesVidal tem trabalhado em prolde uma sociedade com maishigiene. Tem o meu apoio.Onde é que assino? ●

OBJETIVO

Joana MarquesVidal, na PGR, temtrabalhado em prolde uma sociedademais limpa.É do interesse dacomunidade quecontinue no cargo.Assim ela o queira

Apesar dos votos contra do PSD ea abstenção do CDS-PP, foram on-tem aprovados no Parlamento osdiplomas do Governo e do BE quevisam permitir ao Fisco conheceras contas bancárias de residentescom saldo superior a 50 mil euros.Estas duas propostas, aprovadas nageneralidade, estiveram em debateno durante o agendamento potes-tativo do BE sobre sigilo bancário.

O PSD e o CDS-PP votaram damesma forma em ambos os diplo-mas, isto é, os sociais-democratasrejeitaram e os centristas abstive-ram-se. Quanto aos restantes par-tidos, votaram favoravelmente.

O debate de ontem contou coma presença do secretário de Estadodos Assuntos Fiscais, AntónioMendonça Mendes, que conside-rou que esta proposta não implica“devassa da vida privada” dos cida-dãos, nem “comporta qualquerpresunção de desonestidade”, de-fendendo que é mais uma medidaimportante no âmbito do combateà fraude e evasão fiscal e preven-ção do terrorismo.

“O reporte à Autoridade Tribu-tária e Aduaneira de saldos bancá-rios e aplicações financeiras acimade 50 mil euros não comportaqualquer presunção de desonesti-dade [dos cidadãos], não vale porsi só, antes integrará o cruzamentode dados com várias origens paraidentificação de situações de po-tencial incumprimento que, poste-riormente, têm de ser confirma-das”, declarou Mendonça Mendes.

O governante sublinhou tam-bém que, atualmente, já há reportequando um contribuinte tem umcarro superior a 50 mil euros ouum barco de recreio acima de 25mil, considerando que isso não“coloca ninguém sob suspeita” secorresponder a rendimentos com-patíveis.

Por sua vez, Mariana Mortágua,deputada do BE, considerou quesempre que o “Parlamento esco-lheu proteger o segredo bancário,

dificultou o combate ao crime eco-nómico e os infratores agradece-ram”, acusando o PSD de ter vivi-do bem “com esta cultura de silên-cio e ocultação”.

A mesma deputada recordouque o BE já tinha apoiado um di-ploma no mesmo sentido em 2016,que foi então vetado pelo Presi-dente da República, Marcelo Re-belo de Sousa, e esquecido peloGoverno.

No dia 9 de maio, em pleno de-bate quinzenal no Parlamento, acoordenadora do BE, CatarinaMartins, questionou o primeiro--ministro sobre o facto de a lei nãoter avançado e anunciou o agenda-mento potestativo de ontem, pre-cisamente sobre este tema, tendoentão António Costa dito que oGoverno iria retomar o tema“quando entender que há condi-ções políticas para retomar a legis-lação que foi vetada oportunamen-te pelo Presidente da República”.

Posteriormente, Marcelo Rebe-lo de Sousa emitiu uma nota emque fez saber que deu como ultra-passadas as circunstâncias conjun-turais do veto em 2016, justifica-das pela “situação particularmentegrave vivida então pela banca” e,no dia seguinte, o Governo levouo tema a Conselho de Ministros,onde a sua proposta foi aprovada eenviada ao Parlamento, onde foiontem debatida e votada. ●

Fisco vai poderaceder a contasbancárias acimade 50 mil euros

Foram aprovados os diplomas do Governo e do BEque visam permitir ao Fisco conhecer as contasbancárias com saldo superior a 50 mil euros.

GUSTAVO [email protected]

O reporte àAutoridade Tributáriae Aduaneira de saldosbancários e aplicaçõesfinanceiras acima de50 mil euros nãocomporta qualquerpresunção dedesonestidade”,garantiu o secretáriode Estado dosAssuntos Fiscais

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

JOÃO MARCELINOJornalista

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8 | O Jornal Económico, 18 maio 2018

ECONOMIA & POLÍTICA

Abrandamento económicofoi chato, mas amanhã é outro dia

A desaceleração do PIB verificadano primeiro trimestre não deverápôr em causa o crescimento pre-visto para o conjunto do ano, con-sideram os economistas contacta-dos pelo Jornal Económico, queatribuem o abrandamento a fato-res temporários. A nível de contaspúblicas também não deverá haverimpactos de maior, já que a trava-gem não está a ter reflexos na arre-cadação de receita fiscal e contri-butiva.

O Instituto Nacional de Estatís-tica (INE) revelou esta terça-feiraque o PIB português avançou 0,4%face ao trimestre anterior e 2,1%face ao período homólogo. Emambos os casos, trata-se de umadesaceleração face ao registado noano passado, em larga medida ex-plicada por um desempenho me-nos positivo da procura externa: as

exportações cresceram menos dosque as importações.

Um abrandamento mais pro-nunciado do crescimento econó-mico poderia pôr pressão adicionalno cumprimento das metas do dé-fice público, já que menos ativida-de económica tende a estar ligada amenos arrecadação de receita fiscale contributiva - a Moody’s fez jáesse aviso, alertando que um cres-cimento menor este ano poria odéfice sob pressão.

Contudo, os economistas con-tactados pelo Jornal Económicodesvalorizam esse cenário, para já.“Apesar deste ligeiro abrandamen-to no arranque do ano, prevemosum regresso às acelerações no se-gundo trimestre e, mais importan-te ainda, que o crescimento noconjunto do ano se mantenha nos2.3% que eram já anteriormentepor nós previstos. Neste sentido,não procedemos a qualquer revi-são da previsão de défice orçamen-tal para este ano”, explica ao Jornal

Económico José Miguel Moreira,do Departamento de Estudos Eco-nómicos do Montepio.

O Governo assumiu uma metade 0,7% para o défice e José MiguelMoreira prevê um valor não muitodistante: 0,8%, “atendendo às indi-cações favoráveis dos dados de exe-cução orçamental já conhecidospara 2018”. De facto, as informa-ções já conhecidas da Direção Geraldo Orçamento relativas ao primei-ro trimestre mostram que a arreca-dação de impostos e contribuiçõescontinuou a subir naquele período.O boletim daquele organismo doMinistério das Finanças indica quea receita total da administração pú-blica aumentou 635 milhões de eu-ros face ao período homólogo,“com particular destaque para a re-ceita fiscal e para as contribuiçõespara a segurança social, as quaisapresentaram um crescimento de5,4% e 4,5%, respetivamente”.

A explicação para este desempe-nho – melhor até que antecipava o

Orçamento do Estado para 2018 -assenta em larga medida no ciclopositivo que se vive no mercado detrabalho. Apesar de ter havidouma desaceleração económica emtermos agregados, o país conti-nuou a gerar emprego, o que setraduz em mais descontos para aSegurança Social e mais cobrançade IRS, por exemplo. E tem sidoprecisamente este ciclo virtuosono mercado de trabalho a explicargrande parte da consolidação orça-mental dos últimos anos.

Efeitos temporáriosAlém de as contas públicas não da-rem qualquer sinal de deterioraçãoconjuntural, existe outro motivo agerar perspetivas positivas para oresto do ano. Como explica a Uni-dade de Estudos Económicos doBPI, o abrandamento das exporta-ções em termos homólogos estámuito ligado a uma forte desacele-ração das exportações de combustí-veis, devido a uma paragem cíclica

de produção nas re?narias da Galp.“Este fator tem caráter temporá-

rio, antecipando-se que o seu efei-to ao longo do ano se dilua, peloque as exportações continuarão acontribuir de forma muito positi-va para o crescimento económico”,refere o gabinete liderado pelaeconomista Paula Gonçalves Car-valho. Adicionalmente, frisa, “oanúncio de que a Autoeuropa iráaumentar a sua produção a partirde setembro, tenderá a re?etir-seem reforço das exportações a par-tir do último trimestre do ano”.

A atividade económica da Ale-manha, cujo abrandamento no pri-meiro trimestre é também tidocomo temporário (ver caixa), podetambém ajudar. Assim, para ospróximos trimestres, o BPI esperaque a economia “mantenha umritmo de crescimento forte, na me-dida em que a envolvente externacontinua favorável e porque se es-pera que as condições financeirasse mantenham acomodatícias”. ●

JOÃO [email protected]

Desaceleração deveu-se a fatores temporários e efeito deve dissipar-se. Travagem do PIB não teve impacto nas contas públicas.

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O Jornal Económico, 18 maio 2018 | 9

TRAVAGEMNA ALEMANHADEVE SER PASSAGEIRA

Parte da desaceleração económicado primeiro trimestre estárelacionada com o ambiente externo.Portugal acompanhou oabrandamento da Zona Euro, ondesobressai a travagem da maioreconomia europeia, a Alemanha.O PIB germânico cresceu 0,3% emcadeia e 2,3% em termoshomólogos, o que representa umadesaceleração em ambos osindicadores. Contudo, a maioria dosanalistas considera que oabrandamento do primeiro trimestreteve caráter temporário, sendoapontados fatores tão diversos comoo inverno prolongado e a epidemiada gripe, o número elevado degreves ou de feriados no início desteano, em comparação com outros.“É uma pausa ou uma mudançafundamental? Para nós, a resposta éclara: é apenas um pequeno desviotemporário”, disse à Reuters AndreasScheuerle, analista da DekaBank,sublinhando a forte procura externa eo dinamismo da atividade domésticana Alemanha, que atingiu um nívelde emprego recorde.O BCE, pela voz de François Villeroyde Galhau, membro do Conselho doBCE citado pela Bloomberg,argumentou também que ocrescimento da área do europermanece “sólido” e com uma “baseampla”.

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Mulher incapaz de financiar Capazes

73.856 euros. Este é o valor que aassociação Capazes recebeu noâmbito do Programa OperacionalInclusão Social e Emprego (POI-SE) para fazer quatro (4) ações deformação dedicadas ao tema daigualdade de género. Aqui não setrata ainda de opinião, mas defactos confirmados pela Presi-dente da Associação Capazes, Ri-ta Ferro Rodrigues.

Agora começa a opinião. Não éfácil uma mulher ousar opinarnegativamente sobre “lutas demulheres”. No entanto, sendo tão

mulher como as “Capazes”, arris-co dizer que não me revejo, mi-nimamente, na “luta” de um mo-vimento que elege para o seu sitetemas como “Devem os homensajudar lá em casa?”, ou exibemcrónicas que relacionam o sexoprecoce com “meninos que es-preitam por baixo das saias”, ouainda – o meu preferido – “histó-rias de adormecer para raparigasrebeldes”.

73.856 euros. Sensivelmente18.464 euros por conferência. “Eacho pouco”, palavras de RitaFerro Rodrigues. Ora, convémlembrar que uma conferência nomelhor hotel de Lisboa para omesmo número de pessoas custametade. Ao contrário de RitaFerro Rodrigues e das Capazes,as empresas trabalham com or-çamentos porque os euros queinvestem em marketing e comu-nicação saem dos resultados fi-nanceiros obtidos. E cada euro égasto com ponderação. Bem sa-bemos que, quando o tema é di-

nheiro público, a mesma discipli-na não se aplica. Confesso: comomulher contribuinte isso cha-teia-me.

Ainda assim, foi muito positi-vo termos sabido que a Associa-ção Capazes – que se assumecomo feminista em lugar deigualitária – foi brindada comquase 74 mil euros para organi-zar conferências no Alentejopara discutir o tema da igualdadede género envolvendo youtubersconhecidos e mobilizadores, oque nos pode levar a perguntarse os miúdos “que encheram au-ditórios” lá foram porque quise-ram refletir sobre o tema ou se,simplesmente, foram ver as es-trelas da internet.

Foi bom porque agora pode-mos começar a fazer um debatesério sobre o destino dado aosfundos comunitários que com-participamos com dinheiros pú-blicos – e vários milhões. A per-gunta a fazer, quando vivemosnum contexto de escassez de re-

cursos financeiros, é se temos acerteza que estamos a empregaros recursos públicos nos projetosque mais beneficiam a nossa so-ciedade. Dizer que a Igualdade deGénero é um tema fundamentalninguém discute. Dizer que asCapazes são o embaixador certoe que merece, repito, quase 74mil euros, é altamente questio-nável.

Gastar 74 mil euros num mauprojeto que faz um mau serviçoao desígnio louvável da igualda-de de género é insultuoso paratodos os bons projetos que dei-xam de ser visados nos apoiospúblicos, provavelmente porquesão menos “fancy”. Faz-nos ques-tionar que critérios são usadospara atribuir os milhões que che-gam de Bruxelas, financiadosparcialmente pelo orçamentonacional. O caso da Capazes re-lembra isso mesmo mas, acimade tudo, deve servir de mote paraum escrutínio sério do que anda-mos a apoiar. ●

OPINIÃO

ALEXANDRA ALMEIDAFERREIRAConsultora

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PROTAGONISTA

“Se o Governo nãocumprir compromissosavançamos para greves”

O que motiva e quais são osobjetivos da manifestaçãonacional de professoresagendada para amanhã?Esta é uma manifestação que unetodas as organizações sindicais,portanto, não é apenas aFENPROF. É um momento emque os professores têm que ir paraa rua dizer que “basta”, por umlado, e por outro dizer que exigemser respeitados. Porque nós esta-mos a falar de assuntos que não sãonovos, não surgem agora. Nós co-meçámos logo no início do ano le-tivo, ainda em 2017, com um con-junto de situações, negociaçõesque levaram a que o Governo ti-vesse assumido compromissoscom os professores. No dia 18 denovembro houve uma reunião noMinistério da Educação (ME), queacabou a altas horas da noite, cincoou seis da manhã, em que o Gover-no assumiu com as organizaçõessindicais o compromisso de contaro tempo de serviço dos professoresque esteve congelado durantenove anos, quatro meses e doisdias. O compromisso de contaresse tempo de serviço, de uma for-ma faseada. E também o compro-misso de encontrar respostas paraum problema muito grande queafeta os professores neste momen-to, que é o problema do desgaste. Eé um desgaste que decorre de doisfatores principais. Por um lado, oenvelhecimento. Nós temos umaprofissão em que mais de metadedos profissionais já tem mais de 50anos de idade, uma parte dos quaisjá tem mais de 60 anos. Em cimadeste envelhecimento há uma so-brecarga do horário de trabalho.Os horários dos professores sãoilegais, como trabalhadores dafunção pública têm um horário de35 horas semanais e o certo é que otempo de trabalho médio semanaldos professores está calculado em46 horas e 42 minutos por semana.

Ou seja, esta sobrecarga de traba-lho, com a sobrecarga de tarefasburocráticas a que os professorestambém estão sujeitos, e o enve-lhecimento. O Governo, em 18 denovembro, assumiu os compro-missos de contar o tempo de servi-ço aos professores, de resolver oproblema do envelhecimento,através de medidas como a apo-sentação, e de resolver o problemados horários de trabalho...

E falhou esses compromissos?Zero, até agora zero. Reuniões nãofaltaram, o senhor ministro gostamuito de dizer que já se realizarammuitas reuniões, há dias afirmavaque só este ano já houve 12 reu-niões e eu diria que esse até é ummau sinal, porque quando há solu-ções para os problemas, às vezesbastam uma ou duas reuniões.Quando se realizam muitas é por-que não há soluções, os problemasarrastam-se, vai-se reunindo parafingir que se está a encontrar umasolução e não está. Nós estamos afalar de novembro de 2017 e já va-mos em maio de 2018. Nós procu-rámos até que estas coisas tivessemuma resposta muito cedo, precisa-mente para libertar o final do anoletivo, que é sempre uma alturacomplicada para os alunos, para asescolas, para os professores, mas oGoverno arrastou isto até agorasem cumprir esses compromissos.E portanto é isto que, no final doano letivo, traz os professores paraa rua. E depois, claro, houve maté-rias novas que apareceram, os con-cursos, toda uma confusão lançadapelo ME agora com os concursos.São aspetos adicionais. Mas eu di-ria que o que está na base destamanifestação é sobretudo isto: oscompromissos assumidos em no-vembro que o Governo até hojetem zero de cumprimento.

A FENPROF entregourecentemente um “lembrete”ao ministro da Educação,Tiago Brandão Rodrigues,vincando a necessidade de uma

reunião urgente para debateros problemas do setor. Houveuma mudança de atitude daparte do ministro?Completamente, o senhor minis-tro desapareceu, não existe.

Deixou de se reunir?Sim. Há muitas reuniões semgrande consequência, é verdade.Há muitas reuniões com os secre-tários de Estado, em que o senhorministro deixou de aparecer. Hojesó se vê o ministro quando são ma-téria relacionadas com o desporto,ou então aparece em iniciativasnas escolas, de uma forma fugaz, e

normalmente em matérias quetêm a ver com os alunos. Em rela-ção aos professores, o senhor mi-nistro desapareceu, não existe. Noinício da legislatura foi o senhorministro quem propôs às organi-zações sindicais fazer reuniões tri-mestrais. Nós tínhamos dito queera importante haver reuniões re-gularmente, não de cariz negocialmas algo mais político, para fazeruma avaliação das medidas, dosproblemas, identificar, diagnosti-car, lançar processos negociais. E osenhor ministro, logo no início,disse que sim, que estava de acordoe até propunha que esses contac-tos, essas reuniões fossem trimes-trais. Ora, nós achámos bem, sóque as reuniões começaram porser trimestrais, depois os trimes-tres começaram a ganhar dias, aganhar semanas, e este já vai emoito meses. A última vez que vi-mos o senhor ministro numa reu-nião destas foi em setembro de2017. E portanto está a ter umcomportamento exatamente igualao comportamento, por exemplo,do ministro anterior. O ministroNuno Crato, a certa altura da legis-latura, desapareceu. O ministroatual, Tiago Brandão Rodrigues,fez exatamente o mesmo. Portan-to, não dá a cara. Ele é que é o res-ponsável político pelo ME e deve-ria fazê-lo, dar a cara.

No início da legislatura dizia--se que Mário Nogueira tinhao ministro da Educação nobolso. O ministro escapou-sedo seu bolso?Não, o ministro nunca esteve nomeu bolso, porque eu tenho bolsospequenos, portanto, isso não podiaser. E eu percebo que a direita po-lítica gostasse, ou quisesse, apa-nhar boleia dos professores e daFENPROF para poder desgastar oGoverno. Mas o nosso objetivo ésobretudo obter resultados. E oque aconteceu foi que, no início dalegislatura, até ao segundo ano,houve um conjunto de problemasque foram de facto resolvidos e

Na véspera da “grande manifestação nacional de professores”, o secretário-geral da FENPROF acusao ministro da Educação de ter “desaparecido” e ameaça com greves no período de avaliações finais.

GUSTAVO [email protected]

ENTREVISTA MÁRIO NOGUEIRA secretário-geral da FENPROF

O ministro nuncaesteve no meu bolso,porque eu tenhobolsos pequenos. [...]Eu percebo que adireita políticaquisesse apanharboleia dos professorese da FENPROFpara poder desgastaro Governo

que eram problemas criados peloGoverno anterior, precisamenteos que dizem que o ministro estavano nosso bolso. E eu recordo: aca-baram as bolsas de contratação deescolas, acabou a prova dos profes-sores contratados, acabou aqueleexame da Cambridge, acabou a re-qualificação ou a mobilidade espe-cial onde já havia professores, ossalários foram repostos integral-mente, etc. Em suma, houve umconjunto importante de medidas,as quais eram aliás reivindicaçõesdos professores, e que foram resol-vidas, de facto, pelo ME e o Go-verno. Por exemplo, havia profes-sores que estavam já em requalifi-cação e iriam ter perdas salariais eeventualmente iriam ser despedi-dos, mas acabaram por voltar a serintegrados. Ou seja, nós não iría-mos, com certeza, manifestarmo--nos contra medidas que sempredefendemos.

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Cris

tina

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o

O que mudou entretanto?O que acontece é que a partir demeio da legislatura, quando se che-ga ao miolo dos problemas, àsquestões fundamentais que estãoaqui, como as carreiras, a recupe-ração do tempo de serviço, os ho-rários, o problema da aposentação,o problema da municipalizaçãoque está aí em cima da mesa, com oGoverno e o PSD a entenderem-separa avançar por esse caminho,bom, as coisas alteraram-se pro-fundamente. O que nós afirmámosno início, recordo-me, foi que oME e o Governo estavam a dar si-nais interessantes, agora vamosver é se eles se transformam emmedidas importantes. Os sinais fo-ram interessantes, isso é inegável,mas as tais medidas de fundo im-portantes que os professores e asescolas aguardam, essas não surgi-ram e, pelo contrário, cada vezmais se vai percebendo que não es-

tão para surgir, porque as reuniõessão um vazio completo. Nós tive-mos uma reunião no passado dia 3de maio que foi um vazio comple-to. Não com o ministro, com osdois secretários de Estado, tinha aver com as questões do envelheci-mento, da aposentação, do desgas-te, uma reunião convocada peloME. Sinceramente, nós saímosdessa reunião sem perceber paraque existiu. Ultimamente tem sidoisto. É uma coisa absolutamenteinaceitável e que, evidentemente,está a criar nos professores um cli-ma de grande indignação. A mani-festação surge também por isso.

Contam mobilizar 100 milmanifestantes como em 2008?Isso não é possível. Porque quandonós chegámos em 2008 a 100 mil,de lá para cá, nestes 10 anos, a re-dução do número de professoresno sistema é superior a um terço.

Na altura nós tínhamos 150 a 160mil professores. Nós hoje temosnas escolas, a trabalhar efetiva-mente, cerca de 110 mil professo-res. Há uma quebra enorme, maisde um terço.

A situação é tão gravecomo em 2008?Eu até tenho a ideia de que é maisgrave. O grande problema que osprofessores sentiram em 2008, en-tão com um clima diferente, eraum grande confronto até do pontode vista discursivo da então minis-tra Maria de Lurdes Rodrigues.Isso nunca aconteceu, nem antesnem depois. Ou seja, quando te-mos um ministro ou uma ministraque afirma publicamente que per-deu os professores mas ganhou aopinião pública... Aliás, nessa altu-ra eu lembro-me que os requisitospara a aposentação de professoresagravaram-se, nessa altura a car-

reira foi dividida, nessa altura fo-ram introduzidas várias medidasabsolutamente negativas e, por-tanto, eu diria que foi um momen-to de grande confronto e tambémum momento em que os professo-res foram muito enxovalhados,quer pela ministra quer pelo pri-meiro-ministro de então, José Só-crates. Como é que se mobilizaram100 mil professores? Eu diria atéque metade foram as organizaçõessindicais e a outra metade foi a mi-nistra com a sua forma de estar, deafirmar e de acusar os professores.Essa situação não se viveu antes enão se viveu depois. Do ponto devista das políticas educativas, du-rante os quatro anos do Governoanterior, Nuno Crato, elas forammuito mais negativas, mas este cli-ma de provocação permanente aosprofessores não existia, como nãoexiste hoje. Esta indignação quepor vezes surge da forma como são

tratadas as pessoas, evidentemen-te que por vezes traz muita gentepara a rua. Isso não há. Agora, na-quilo que tem a ver com as medi-das em si, bom, algumas delasvêm desse tempo. A questão doshorários de trabalho, da aposen-tação, do agravamento dos requi-sitos... Repare, até há 10 anos, osprofessores podiam aposentar-seaos 36 anos de serviço. Hoje po-dem aposentar-se, não aos 40,mas aos 40 desde que tenham 66anos e quatro meses de idade. Es-tamos a ver o que é, por exemplo,uma educadora de infância com65 anos com um grupo de 25crianças de três anos, ou um pro-fessor de 64 com turmas de 12ºano, por vezes com problemas ex-tremamente complexos?

Se o Governo não cumpriros compromissos assumidos,tenciona organizar maismanifestações, ou até grevesde professores?Sim, provavelmente ainda esteano. Nós temos estado a fazer ple-nários por todo o país e, de facto,o que os colegas dizem é isso. Estetem que ser um forte sinal para oME e para o Governo, de que têmde resolver os problemas dos pro-fessores. Nós em 2008 tivemosuma grande marcha de indigna-ção, como se chamou na altura. Euacho que esta manifestação deamanhã é a marcha pelo respeitoque é devido aos professores. Masé um respeito que não pode ser sóde conversa, porque de palavras ediscursos estamos nós cheios. Érespeito pelos professores traduzi-do em medidas concretas que so-lucionem os problemas. O que épreciso são as medidas, com asquais, aliás, o Governo se com-prometeu. Há tempos, ainda noprimeiro período, encontrámos osenhor ministro à entrada da Fun-dação Calouste Gulbenkian eabordámo-lo sobre estas questões.E o senhor ministro disse que lu-taria radicalmente pelos professo-res. Foi o que ele nos disse. Eu nãosei se ele lutou radicalmente, masnós não precisamos de ministrosque lutem radicalmente, só preci-samos de ministros que resolvamproblemas, que é uma coisa queele não tem feito. Portanto, mui-tos colegas estão a falar nisso, a se-guir a esta manifestação, se nãohouver uma resposta adequada,iremos fazer rapidamente esse de-bate e eventualmente avançarcom ações, podendo ser greves. Seo Governo não cumprir os com-promissos avançaremos para gre-ves. Nós estamos no final do anoe, a realizarem-se, poderão mes-mo coincidir com o período deavaliações finais. Mas sublinhoque nós não quisemos arrastar atéaqui, porque estes são compro-missos que o Governo assumiuem novembro. Estamos em maio eainda não cumpriu. ●

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OPINIÃO

A paralisia da ONUnas Guerras Frias

Se fosse necessária uma confirma-ção de que estamos imersos numanova Guerra Fria, bastaria olharpara o estado atual das NaçõesUnidas e o seu funcionamentokafkiano como instituição. Aten-tem nas notícias mais recentesvindas do Conselho de Segurança:“EUA bloqueiam na ONU pedidode investigação de massacre emGaza”, “Conselho de Segurança daONU falha e não adota três resolu-ções sobre armas químicas” (porveto da Rússia), “Rússia interrom-pe reunião do Conselho de Segu-rança sobre os Direitos Humanosna Síria”, “Rússia usou sete vezes opoder de veto na ONU em seisanos de guerra na Síria”, “EUA

SAFAA DIBEditora

bloqueiam ação do Conselho daONU sobre o conflito em Gaza”.

Poderia continuar, mas estas sãoas notícias referentes aos últimosseis anos em que as guerras noMédio Oriente escalaram para umnível alarmante, transformando aregião no palco de combate de di-ferentes fações e potências inter-nacionais, sem fim à vista.

Criada em 1945 na sequência daSegunda Guerra Mundial, a ONUsubstituiu a anterior Liga das Na-ções e estabeleceu-se como organi-zação para promover a cooperaçãointernacional e manter a paz mun-dial. O seu Conselho de Segurançaprevê que um dos cinco membrospermanentes – China, França,Rússia, Reino Unido e EstadosUnidos – possa vetar e bloquear aaprovação de qualquer resolução.Quando usados com frequência,estes vetos dão lugar a uma cons-tante inação da parte da comunida-de internacional, que se tem reve-lado impotente para travar os con-flitos e cumprir os objetivos dasNações Unidas.

Olhando para o passado da orga-nização, observamos que, no auge

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da Guerra Fria, as contínuas divi-sões entre EUA e Rússia paralisa-ram o funcionamento da institui-ção. Foi apenas no período pós--Guerra Fria que a ONU voltou adesempenhar um papel mais deci-sivo. O seu historial de missões depaz tem-se pautado por algum su-cesso, mas também fracassos assi-naláveis, como a sua incapacidadede travar o início da Guerra do Ira-que, com consequências fatídicas.Acrescente-se a isso as acusações

de corrupção e gestão ineficienteque têm vindo a minar a sua credi-bilidade.

A eleição de António Guterrescomo Secretário-Geral das NaçõesUnidas inspirou esperança, face aoseu mandato positivo como AltoComissário das Nações Unidas paraos Refugiados. Mas, em um ano demandato, a sua posição como porta--voz da organização revelou-se de-cecionante e demasiado contida emmomentos críticos, sendo incapaz

de se impor em tempos mais hostis.Na nova Guerra Fria – quase

quente – atualmente em curso, osvalores da missão das Nações Uni-das não deixaram de fazer sentido,muito pelo contrário. Para acredi-tarmos de novo na ONU, é funda-mental que a instituição não sedeixe paralisar pelas agendas dosseus membros. Deve, isso sim, darmáxima prioridade a uma reformaque a torne mais eficaz e relevantedo que alguma vez foi. ●

Futebol, um negócioarriscadode emoções

Sou do Benfica. Tentarei que issonão afete a minha capacidade deopinar com isenção, mas não garan-to. O futebol é um desporto fasci-nante, capaz de tirar o melhor e opior de nós. O melhor, por exem-plo, quando um pontapé inesperadocerteiro do “meio da rua” de um he-rói improvável como Éder faz umanação saltar, abraçar-se, rir e chorarde emoção, unir-se como nuncanum orgulho inexplicável. Pareceque fomos dez milhões a dar aquelepontapé! O pior, quando dou pormim, homem adulto em quem ospais acreditam ter investido umaeducação exemplar, a discutir agres-

FRANCISCO PROENÇADE CARVALHO

Advogado

sivamente com os amigos, a vocife-rar do 3.º anel do Estádio da Luz no-mes impróprios contra árbitros oumesmo contra o nosso herói Jonasquando falha penaltis que eu tenhoa certeza que marcaria.

O futebol é democrático, não tempreconceitos, não tem classes so-ciais e não tem idiomas. Mas dá--nos a estranha vontade de abraçardesconhecidos e de bater em ami-gos. Por incrível que pareça a quemtem o azar de não gostar deste des-porto, não é a mesma coisa chegar asegunda-feira com uma vitória donosso clube ou uma derrota.

Por outro lado, o futebol profis-sional é, como sabemos, um negó-cio que movimenta biliões no mun-do inteiro, em que os principais ati-vos são pessoas e em que o simplesfacto de uma bola bater no poste ouentrar na baliza pode significar umlucro ou um prejuízo relevante. Éuma realidade de trabalho, supera-ção, competência e investimento,mas também em que a sorte, o azare o “erro humano” têm uma in-fluência determinante. É, portanto,um negócio de altíssimo risco e que

exige uma sensatez bem acima damédia a quem exerce cargos de dire-ção, pois tem esta equação comple-xa para gerir: negócio e emoções.

Parece assim evidente que quemdirige um clube de futebol, não ten-do que abdicar do entusiasmo, tem,obrigatoriamente, que suspen-der/controlar a sua condição deadepto. E jamais poderá ser um fa-nático ou um “Ultra”. Porque se for,o negócio será consumido pelaemoção e acabará, inevitavelmente,num fracasso. Mas, pior do que isso,torna-se um “Ayatollah” daquiloque de horrível o fanatismo por este

desporto suscita nas pessoas. Mes-mo que não tenha essa intenção.

Não querendo meter a foice emseara alheia, não posso deixar dedizer que o que se passou de vio-lência esta semana no Sportingtem muitos responsáveis criminaisque deverão ser punidos, mas temum evidente grande responsável“político” que se chama Bruno deCarvalho e que, obviamente, nãotem qualquer condição emocionalpara ser Presidente de uma grandeInstituição e muito menos de umaempresa desportiva que tem umbalanço para gerir e que tem que

prestar contas a adeptos, acionistase obrigacionistas.

Todo o clima de guerrilha ab-surda que se está a viver no futebolem Portugal não é só um problemado Sporting. Os recentes aconteci-mentos devem servir de exemplo edar que pensar a todos aqueles que,com relevantes responsabilidadesnos vários clubes, andam por aí ainstigar o pior que a emoção do fu-tebol consegue tirar de nós. Nãopode valer tudo e numa realidadeque mexe tanto com as massas éonde o Estado de Direito tem queestar mais presente. ●

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Batata quente

A expectativa de subida de taxas dejuro por parte da FED está a ter umimpacto substancial nos mercadosde dívida, com a taxa de juro a dezanos a bater máximos de sete anos,ultrapassado já os 3%. Neste mo-mento estamos próximos da inver-são da curva de rendimentos, umavez que a diferença entre os dez e30 anos é quase residual. Normal-mente, quando as taxas no curtoprazo são superiores, isso significaque nos anos mais próximos tere-mos uma recessão.

Ora, a recente subida de taxas dejuro na economia mais endividadado mundo não deixa antever umbom desfecho para os restantes paí-ses. Os EUA acumulam um déficegémeo, ou seja, orçamental e co-

PEDRO LINOEconomista

mercial. Uma forma de financiareste défice e de manter a procurapor dívida americana é aumentar osjuros. No entanto, também a eco-nomia precisa de juros mais altos,uma vez que o dinheiro barato e osmais de 4,5 biliões de dólares injec-tados se traduziram no desperdíciode muito capital em projectos semviabilidade. Parece que regressámosa 1999, período marcado por muitainovação e euforia, mas cujos resul-tados ainda têm de aparecer ou aperda de confiança irá ditar o desin-vestimento e com ele uma recessão.

A subida de taxas de juro para ní-veis de 3,5% ou 4,5% terá um im-pacto devastador para o tesouroamericano. Cada um por cento deaumento traz consigo mais de 200mil milhões de dólares em juros,metade do crescimento económicoprojectado. O impacto desta subidade taxas de juro no crédito automó-vel, ao consumo ou aos estudantes,é imensurável.

O problema da dívida passou demãos em mãos, como uma ‘batataquente’, não fosse o facto desta ficarcada vez maior e de um dia alguémter de lidar com o problema de for-ma séria. A crise do sector privado,

quer em 2001, quer em 2007, foi fi-nanciada pelo sector público, quedepois foi salvo pelas entidades res-ponsáveis pela manutenção da cre-dibilidade dos meios de pagamento,os bancos centrais. A seguir vieramas entidades supranacionais, comoos fundos de resolução, fundos deestabilidade e mecanismos diversosque, sem dinheiro, também prome-teram salvar nações. Finalmente,com taxas de juro negativas, o cré-dito regressa aos mesmos, famílias eempresas, que através do seu con-sumo financiado por dívida anteci-pam impostos aos Estados.

A Europa está mais protegidapor um banco central disposto acomprar a estabilidade política, co-locando dinheiro nos problemascomo se estes se resolvessem por si.Dez anos depois da crise, a Autori-dade Bancária Europeia irá divul-gar recomendações aos bancosacerca da gestão do crédito malpa-rado, que ultrapassa o bilião de eu-ros. A burocracia e inacção acaba-rão por ditar o fim desta Europa defaz de conta. ●

O autor escreve de acordocom a antiga ortografia.

Governo em liberdadecondicional

A ano e meio das próximas eleiçõeslegislativas e a seis meses da apre-sentação do próximo Orçamentodo Estado, adensa-se o ambienteentre os parceiros da maioria de es-querda que suporta e apoia o Go-verno. Começou a representaçãoteatral entre BE e PCP, através deCatarina Martins e Jerónimo deSousa devidamente engalanadosno seu papel de figurinistas de pal-co, numa peça em que na boca decena estará o primeiro-ministro elíder do PS, indissociável da figurade António Costa.

Em cada exercício de orçamentose repetiram os exercícios vocais decrescendo. Depois de falas em que otom se foi modelando ao correntedas ondas entre protestos e júbilo,na estrita dimensão de arrufos, zan-gas e reconciliações, estamos peran-te uma reprise de três anos num fe-

ANTÓNIO RODRIGUESAdvogado

cho de ciclo que se concluirá no fimda legislatura. Uns ameaçam comuma instabilidade crescente de des-file na rua e pausas no trabalho. Asgreves registadas ou anunciadas sãojá em maior número que no mo-mento mais agudo de contestaçãoao governo Passos Coelho. Outros,não tão ameaçadores, espreitam aoportunidade de abrir um acessomais próximo ao poder, pois quepara isso nascem e se desenvolvemos partidos. Ato legítimo para oqual se exige a coragem política deassumir a vontade e a proficiência.

Do exercício orçamental não re-sultará nenhuma crise política. Nofinal, e mais uma vez com algumdramatismo, o Orçamento para2019 será aprovado – seguramentenum momento que alguns hão-deatribuir à capacidade negocial do lí-der do Governo ou do líder do PS,conforme o que estiver disponível.Está escrito assim no guião que nãodeixa margem para criatividade ou“buchas”. E os ensaios começarampara a estreia oportuna, com datamarcada: outubro deste ano. Nãoestranhamos nem o panoramanem o resultado. Mas tal como as-sim será o final feliz anunciado, im-porta que se seja claro em todo opercurso daqui até às legislativas.Dito de outra forma, exige-se aos

partidos da geringonça – PS, PCP,PEV e BE – que assumam em tem-po prévio até às eleições, não ape-nas a sua disponibilidade, mas a suavontade de fazerem parte de umpróximo governo. Claro que antesterão de ganhar as eleições e algunsdesses parceiros irão trabalhar paraimpedir uma maioria absoluta deoutrem, o que aliás parece cada vezmais difícil.

Aos partidos de centro-direitaque nada tiveram a ver com as op-ções deste Governo, impõe-se de-monstrar que as táticas de momen-to e as respostas a protestos não égovernar. Apenas impede os danoscolaterais imediatos na popularida-de, promovendo um crescente no-velo de decisões que mais tarde irãoenrodilhar-se.

Quanto mais aumenta o tom depalco, mais se atropelam as deixasdos protagonistas. Mas a peça não éoriginal. Os personagens não têmimaginação. Só buscam um novoprotagonismo. Vamos ter orça-mento. Continuaremos atergover-no, embora manietado pelas falasdo autor. Com um crescente senti-mento de amarras e de estar em li-berdade condicional até às eleições.Onde se espera que todos tenhamclareza quanto às intenções comque se apresentam às legislativas. ●

Marx, EDP e Pinhoou o mundocomo ele é

Todos sabemos que Marx falhouespetacularmente nas suas previ-sões. Afinal o capitalismo não “ven-deu a corda com que se enforcaria”.Marx não previu que o capitalismose reformaria a si próprio, criandoredes de segurança social, mecanis-mos contra a concentração e mes-mo nacionalizações táticas quandoo tiro sai pela culatra.

Também não pensou que os capi-talistas incluiriam um número cres-cente de proletários na classe médiapelo acesso ao consumo sem barrei-ras. Após a Segunda Grande Guerra,e durante quatro décadas, forammesmo os proletários quem pareciaestar a vencer a “luta de classes”, aoconseguirem para si um quinhãocrescente dos ganhos das sociedades.

Agora, o interesse em Marx reavi-vou-se. Porquê? Porque algumas dassuas previsões, afinal, estavam cor-retas. A globalização do capitalismoque antecipou é hoje uma realidade.As barreiras alfandegárias foramquase todas desmanteladas. Ter umabandeira em cada país é a marca dasmultinacionais. Todos os países es-tão dentro do circuito e os mais po-bres são agora “emergentes”. Tam-bém teve razão quando afirmou queas grandes empresas procurariamincessantemente a garantia de ren-das. Embora, na sua versão, ele con-templasse um tipo de rendas ilegíti-mo obtido através da apropriaçãoindevida da produção alheia.

O que realmente acontece é que,num primeiro momento, o capita-lismo é inovador, criador e demo-cratizador de riqueza. Pensemos nostelemóveis, no comércio online, nasviagens aéreas, etc. Mas Marx não seenganou quanto ao “segundo mo-mento”. Depois da disrupção criado-ra, grandes empresas concentram-seem assegurar rendas. Desde logo osseus CEO são quase todos burocra-tas que, longe de criar riqueza, acu-mulam-na.

Há só que pensar em Steve Jobspor oposição a Tim Cook, ambosCEO da Apple. O primeiro definia aempresa pelo lançamento constantede produtos inovadores. O segundodá à manivela e acumula milhares emilhares de milhões para a própria

RICARDO MONTEIROComentador

empresa sem fazer nada de novo.Tem cerca de 250 mil milhões depo-sitados em dinheiro. A sua renda sãoas patentes que defendem o iPhone.

Estas empresas estão também de-fendidas por um exército de cúmpli-ces. As consultoras, por exemplo,buscam formas de assegurar que ostatu quo se mantém. Os administra-dores não-executivos (full disclosure– eu sou um deles) estão lá para asse-gurar que as regras são cumpridas (afamosa governance) e que tudo é in-cremental, nada radical. Finalmente,há os políticos que se dedicam a re-gular aquele ou aqueles setores emque viverão na sua reforma.

O país debate as rendas excessi-vas da EDP e de como Manuel Pi-nho contribuiu para a sua consti-tuição – as tais que Marx previu eque constituem um ganho ilegíti-mo às custas do povo. E nem o fac-to de o Governo ter anunciado quereduzirá em 1.600 milhões de eu-ros os pagamentos nos próximosdez anos (de uns contratados 2.400milhões) dissuadiu a China ThreeGorges de lançar uma OPA sobre aEDP. Claro. O valor da EDP já nãoestá tanto nas rendas de Pinho, an-tes no Cavalo de Tróia que a EDP éna África lusófona, no Brasil e aténos EUA e na Europa.

Ora aqui está algo que Marx nãopreviu: que seriam comunistas asimbolizar o neocapitalismo rentistasem fronteiras e a contribuir paraque, cada dia, o “proletariado” sejamais “precariado” (*). ●

(*) Partes deste texto são uma adaptação livre

de um artigo publicado em The Economist

Se num primeiromomentoo capitalismoé inovador, criadore democratizadorde riqueza, num“segundo momento”,as grandes empresasconcentram-se emassegurar rendas.Marx tinha razão

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MUNDO

“Estamos interessadosem parcerias paraa reconstrução da Síria”

Quais são os principais setoresque interessam à Turquia emPortugal?A relação económica do nosso paíscom Portugal seguiu uma tendênciade crescimento nos últimos anos. Ovolume do comércio bilateral, quefoi de 231 milhões de euros em 2000,atingiu os 1,26 mil milhões em 2017.As exportações aumentaram 24,6%,para 682,5 milhões de euros, e as im-portações aumentaram 4%, para575,9 milhões, um superavit comer-cial de 106,6 milhões a favor da Tur-quia. Numa base setorial, posso dizerque as empresas que operam nos se-tores dos componentes automóveis,máquinas e equipamentos, energia,agroalimentar e que tenham em vis-ta ampliar as suas operações para no-vos mercados daregião (ÁsiaCentrale Médio Oriente e leste), usando aTurquia como um centro de produ-ção, são de interesse para nós.

A Turquia procura parcerias ouinvestimento direto estrangeirona Turquia?A Turquia oferece oportunidadesabundantes e alguns setores estão acrescer tão rapidamente que a capa-cidade de produção doméstica é in-capaz de responder à procura. Essessetores precisam de mais investi-mentos, especialmente de investido-res estrangeiros. No setor energéti-co, por exemplo, a Turquia tem me-tas ambiciosas até 2023. Mais de 85mil milhões de euros em investi-mentos são necessários no setor napróxima década para satisfazer ascrescentes necessidades. Os investi-dores internacionais também estãoatentos aos megaprojetos. Quase30% das necessidades de investimen-to em infraestruturas na Turquia até2023 deverá ser feita através de me-gaprojetos sob modelos de parceriapúblico-privada. Por exemplo, oGrand Istanbul Tunnel e o Canal Is-tanbul, a construir proximamente. Osetor imobiliário na Turquia tam-

bém tem oportunidades. Houve umcrescimento impressionante naspropriedades habitacionais e comer-ciais no país. Aproximadamente 7milhões de edifícios antigos serãosubstituídos por novos de alta quali-dade no âmbito do projeto de trans-formação urbana. O setor representaum mercado de 80 mil milhões deeuros, com uma taxa de crescimentoanual média de 10% na última déca-da. A Turquia é o 14º maior produ-tor mundial de automóveis e segun-do maior fornecedor de automóveisda União Europeia. As exportaçõesdo setor valem 17 mil milhões porano. No lado financeiro, a banca tur-ca é das mais resilientes do mundo,com 19% de crescimento em ativos e29% de crescimento do lucro líquidoem 2017. Nos setores agroalimentare de bebidas – que valem 60 mil mi-lhões de euros, com taxas de cresci-mento anuais de 8% – cerca de 1.800tipos de produtos são embarcados apartir da Turquia para 190 mercadosexternos, que representam 14,3 milmilhões em 2016. Desde investi-mentos em joint-venture até investi-mentos greenfield (sem parceria), re-cebemos todos os investidores de to-dos os setores.

O que oferece a Turquiaaos que investem no país?A Turquia é uma das economias di-nâmicas do G20, que liga o leste e ooeste de uma forma única. Além de

ser uma das economias que maiscresce no mundo, a Turquia tambémapoia o crescimento de investidoresinternacionais por meio de umaagenda favorável aos negócios, doacesso a um grande mercado internoe a mercados internacionais vizi-nhos. Uma população jovem e dinâ-mica com idade média de 30 anos,uma força de trabalho com forma-ção, taxas crescentes de emprego aolongo dos anos, uma classe médiacada vez mais desenvolvida e uma lo-calização geográfica única, ajudarama transformar a Turquia no país daOCDE que mais cresce. No final de2017, a Turquia é a 13ª maior econo-mia do mundo, com uma taxa médiade crescimento de 5,7% desde 2003.A localização oferece fácil acesso aosmercados da Europa, Médio Orien-te, Norte da África, Ásia Central eGolfo Pérsico. Que compreendemmais de 1,6 mil milhões de pessoas erepresentam um PIB total de 24.000biliões de euros. Mais da metade docomércio mundial ocorre dentro deum raio de quatro horas de voo daTurquia – uma razão fundamentalpara as empresas multinacionais te-rem escolhido a Turquia como umcentro estratégico.

As empresas turcasestão interessadas em investirem Portugal?O interesse das empresas turcas emPortugal aumentou nos últimosanos. As nossas empresas operamprincipalmente nos setores dos por-tos, mineração, turismo, imobiliário,agroalimentar, farmacêutica, tecno-lógico e logístico em Portugal. Asoportunidades de cooperação trilate-ral Portugal-Turquia em diferentesregiões são capazes de abrir novoshorizontes em termos de relaçõeseconómicas. As oportunidades po-tenciais de cooperação nos países delíngua portuguesa (países da CPLP)nas áreas de construção, energia,meio ambiente e infraestrutura, ofe-recem novas oportunidades em ter-mos de diversificação de nossas rela-ções económicas com essas áreasgeográficas.

A Turquia não desiste das relações económicas com o Ocidente. Os empresários portugueses podemvir a ser parceiros privilegiados, diz o presidente do ISPAT, a AICEP turca, em entrevista exclusiva.

ANTÓNIO FREITAS DE [email protected]

ENTREVISTA ARDA ERMUT Presidente da Agência de Promoção e Apoio ao Investimento da Turquia

O setor energéticoturco tem metasambiciosas até 2023;mais de 85 milmilhões de euros eminvestimentos sãonecessários napróxima década

QUE É O ISPAT?

É a Agência de Promoção eApoio ao Investimento daTurquia, uma organizaçãooficial para promover asoportunidades deinvestimento da Turquia noexterior e da comunidadeempresarial global no país.Diretamente subordinado aoprimeiro-ministro, a ISPATopera com uma rede deconsultores locais e ofereceuma ampla gama de serviçosaos investidores por meio deuma abordagem do tipobalcão único, garantindo aobtenção dos melhoresresultados para osinvestimentos na Turquia.Trabalhando numa basetotalmente confidencial, bemcomo combinando aabordagem do setor privadocom o apoio de todos osórgãos governamentais, osserviços gratuitos da ISPATincluem: consultoria deserviços (informaçõescomerciais gerais epersonalizadas para ajudar osinvestidores acompreenderem plenamenteo potencial do mercado turco);serviços de coordenação; efacilitação de negócios. Poroutro lado, a agência nãoapenas organiza reuniõescom a comunidadeempresarial e órgãosgovernamentais, mas tambémplaneia toda a viagem dosinvestidores. Tem aindaserviços de assistência aodesenvolvimento de parceriasjoint-ventures, fusões eaquisições); e serviços pós--assistência: sempre que uminvestidor na Turquia tem umproblema relacionado ainvestimento, o ISPAT ofereceuma ampla gama de serviçosexclusivos de pós-tratamento.

Quais são os países maisimportantes para a Turquiana busca de investimentoestrangeiro?Há um apelo contínuo da Turquia àsmultinacionais, principalmente daEuropa e dos Estados Unidos, quetêm um número crescente de opera-ções no nosso país. Alguns exemplosrecentes são a Coca-Cola, Procter &Gamble, Unilever, Rolls Royce, LMWind Power (General Electric) e aSiemens. Estiveram envolvidas emnovos projetos de investimentogreenfield em 2017 para aumentar asua capacidade ou para introduzirnovas linhas de produtos. Em 2017,as maiores fontes de investimentodireto estrangeiro (IDE) na Turquiaforam a Holanda (1,5 mil milhões deeuros), a Espanha (1,22 mil milhões),o Azerbaijão (850 milhões), a Aus-trália (386 milhões) e a Áustria (274milhões). Por outro lado, vemos uminteresse crescente de empresas doMédio Oriente, da Ásia e das repú-blicas turcas [Azerbaijão, Quirguis-tão, Uzbequistão, Cazaquistão eTurquemenistão], muito atentas aosnegócios de fusões e aquisições, bemcomo investimentos greenfield naTurquia. Um exemplo recente é aparceria da Qatar InvestmentAuthority com a brasileira BRFFoods para adquirir o Banvit, umdos maiores produtores de rações eaves na Turquia.

Alemanha e França estão forada rota de investimento?Não. Depois dos tempos turbulen-tos dos últimos dois anos, as rela-

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A arte e odesenvolvimentoeconómico

As artes e o património nuncaforam tão importantes para asrelações culturais internacio-nais. O intercâmbio culturaltem a capacidade de impulsio-nar o desenvolvimento econó-mico e social, fortalecer os rela-cionamentos e criar oportuni-dades. E o acesso e a exposição àoferta cultural diversificada doReino Unido têm, ao longo dosanos, criado oportunidades eservido de inspiração para artis-tas portugueses.

Uma demonstração colorida,visualmente forte e diversifica-da deste intercâmbio é a exposi-ção “Pós-Pop. Fora do lugar-co-mum”, patente na Galeria Prin-cipal da Fundação CalousteGulbenkian, em Lisboa, queapresenta mais de 200 obras deartistas portugueses e britânicosrealizadas entre 1965 e 1975.Nomes fundamentais do pano-rama artístico britânico, comoAllen Jones, Patrick Caulfield eJeremy Moon, expõem ao ladode portugueses de renomecomo Teresa Magalhães, RuyLeitão, Fátima Vaz e João Cuti-leiro, entre muitos outros.

A cooperação entre o ReinoUnido e Portugal nas artes, edu-cação e ciência, é uma tradiçãocentenária que nos esforçamosintensamente por manter e des-envolver. Este ano de 2018 éparticularmente especial, poiscelebramos os 80 anos do Bri-tish Council em Portugal, bemcomo os 80 anos da Colecção deArte do British Council, assina-lados com uma série de obras dearte desta colecção presentes naexposição “Pós-Pop”. O BritishCouncil, em conformidade como seu compromisso com a edu-cação, acessibilidade e inclusão,trabalhou em estreita colabora-ção com a Gulbenkian para lan-çar um programa de educaçãoenvolvente de visitas guia-

KIRSTY HAYESEmbaixadora do Reino Unido

em Portugal

das/oficinas em inglês destina-das a grupos escolares (“Arteviva! 1, 2, 3”), bem como visitasguiadas com audiodescriçãopara pessoas com deficiência vi-sual.

O sector das galerias de arte emuseus no Reino Unido é umdos mais antigos, mais arrojadose mais diversificados do género.Graças ao investimento em no-vas instituições e a um progra-ma de renovação das já existen-tes, o sector está agora a atraves-sar um período áureo, com umnúmero crescente de visitantes,excelentes instalações com umdesign inovador, executadascom excelência e programadascom imaginação.

Essas organizações têm in-vestido fortemente na diversifi-cação dos seus programas e namelhoria da experiência dos vi-sitantes, sendo o Reino Unidoagora reconhecido como lídermundial num amplo leque decompetências, desde eventoseducacionais e políticas voltadaspara a família, passando por pú-blicos com necessidades espe-ciais, até programas de interac-ção e desenvolvimento de au-diências, alcance digital e boagovernança.

Acredito que a arte tem o po-der de transformar. Do desen-volvimento de competências aoenvolvimento em projectos sus-tentáveis, devemos cultivar rela-cionamentos duradouros com aspessoas e os lugares para deixarum legado positivo e duradouro,digno de nossa rica história decooperação e colaboração. ●

A autora escreve de acordocom a antiga ortografia.

OPINIÃO

A cooperação entreo Reino Unido ePortugal nas artes,educação e ciência,é uma tradiçãocentenária quenos esforçamosintensamentepor mantere desenvolver

ções da Turquia com esses paísesestão num período de reaproxima-ção. As relações da Turquia com aAlemanha e a França floresceramnos últimos 15 anos. Hoje, existemcerca de 1.500 empresas com capi-tal francês e 6.800 com capital ale-mão a operar na Turquia.

Mas as negociaçõesentre a União Europeiae a Turquia estão paralisadas.A Turquia não está a afastar-se doOcidente. Continua a ver a adesão àUE como um objetivo estratégicode importância vital e coerente como ponto de vista da Turquia de queo seu lugar é no Ocidente. A Tur-quia continua a ser membro chaveda NATO e um aliado da EU e nãohá nenhum desejo de que issomude. Como outras grandes eco-nomias, a Turquia está à procura defortalecer relacionamentos e cons-truir novos com economias emtodo o mundo, incluindo econo-mias não ocidentais como a China.Desenvolver esses laços não é umaalternativa às fortes relações econó-micas com as economias ocidentais.A relação da Turquia com a Rússiaé, de há séculos, de importância si-gnificativa para os dois países, masuma política de diversificação dasexportações tem sido particular-mente importante para a Turquiana última década. As exportaçõespara a UE diminuíram significati-vamente, uma vez que as econo-mias europeias foram atingidas pe-las consequências da crise financei-ra global, tornando essencial para a

Turquia obter mercados alternati-vos para os seus produtos.

A Turquia está atentaà reconstrução da Síria,do ponto de vista económico?Sim, absolutamente. A Turquiaperde apenas para a própria Síriaem termos da devastação causadapela Guerra Civil Síria. Quase qua-tro milhões de civis buscaram refú-gio na Turquia, e o vazio de autori-dade no norte da Síria deu origem aatividades terroristas, tanto pelochamado Estado Islâmico quantopelo YPG-PYD afiliado ao PKK[partido curdo]. Foi por causa disso,acrescido das preocupações com oscivis que sofrem sob o regime [cur-do] do YPG, que a Turquia decidiuintervir militarmente, com a coope-ração das unidades anti-Assad doExército Sírio Livre. Com um pla-neamento cuidadoso, a Turquialimpou a área centímetro a centí-metro, certificando-se de que ne-nhum alvo civil fosse prejudicado.A firme e determinada abordagemda Turquia ao combate ao terroris-mo e a demonstração da vontadeem proteger as suas fronteiras e osseus aliados por todos os meios ne-cessários, incluindo a intervençãomilitar, prova que nenhum equilí-brio na região pode ser alcançadosem a participação e o consenti-mento da Turquia. A Operação‘Ramo de Oliveira’ alcançou os seusobjetivos e terminou em vitória, jáque a área de Afrin foi limpa de ter-roristas. Os sírios livres, verdadei-ros senhores da região, voltaram a

estabelece-se. E a Turquia fará omelhor para ajudá-los no processode reconstrução.

Estão interessados em parceriasquando essa altura chegar?Claro. A Turquia tem 911 quilóme-tros de fronteira com a Síria e nãopode deixar de preocupar-se com odesenvolvimento da região. Emboraos países europeus sejam o maiormercado de exportação e o maiorparceiro comercial da Turquia, o co-mércio com outros mercados temsido um elemento essencial da nossaestratégia de diversificação. Comopaís com deficit comercial, a Turquiatem-se empenhado em desenvolveruma estratégia para diversificar osseus mercados e produtos de expor-tação. Nos últimos 15 anos, as expor-tações para o Médio Oriente aumen-taram sete vezes, enquanto as expor-tações totais da Turquia triplicaramdurante o mesmo período. Foi umpasso fundamental para a economiaturca, já que enfrentava uma procuraexterna em queda relativamente aosseus parceiros comerciais tradicio-nais durante a crise financeira globalde 2008-2009. Como resultado daspolíticas de diversificação, o peso dasexportações para o Oriente Médioaumentou de 12% em 2002 para 26%em 2016. Da mesma forma, o volu-me de comércio da Turquia com aregião MENA [Médio Oriente, Pe-nínsula Arábica e Norte de África]aumentou significativamente. Comoator importante na região, estare-mos interessados em tais parceriasquando chegar a hora. ●

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EMPRESAS

EDP vai defenderprémio de controlode 20% a 30%

A China Three Gorges (CTG), donade 23% da EDP, terá de negociar comos outros acionistas de referência daelétrica, para conseguir que a suaOferta Pública de Aquisição (OPA)seja registada e tenha sucesso. A ne-gociação estará centrada no preço daoferta, dado que os fundos e outrosacionistas internacionais apoiam atomada de posição da gestão lideradapor António Mexia, que na segunda--feira defendeu, em comunicado,que os 3,26 euros por ação oferecidospelos chineses “não reflectem ade-quadamente o valor da EDP” e que o“prémio implícito na oferta é baixo”.O objetivo, sabe o Jornal Económi-co, é conseguir uma subida da ofertapara entre 3,6 e 3,9 euros por ação.

A CTG fez o anúncio preliminarda OPA no dia 11 de maio e até aofinal do mês deverá entregar àCMVM o pedido de registo e oprospeto da operação. Já a EDP de-verá pronunciar-se sobre a OPA noprazo de oito dias após receber oprospeto, o que significa que o cha-mado relatório da visada será divul-gado até 8 de junho.

Ao que o Jornal Económico apu-rou junto de fontes do núcleo acio-nista da EDP, a administração deverádefender a incorporação de um pré-mio de controlo de entre 20 a 30%sobre o valor médio atribuído àsações antes da OPA, que era de 3 eu-ros. O que projeta a contrapartida daOPA para o intervalo entre os 3,6 eos 3,9 euros por ação.

“Este prémio de controlo é o ha-bitualmente pago em transações se-melhantes”, defendeu uma fonte daestrutura acionista, que pediu paranão ser identificada.

“Os chineses não conseguemavançar abrindo duas frentes de di-ficuldades: o preço oferecido aosacionistas, que não incorpora nemum prémio de controlo, nem a par-tilha de sinergias e as evidentes difi-culdades regulatórias nas váriasgeografias”, disse a mesma fonte. “AChina Three Gorges vai ter de che-

gar a um entendimento com os ou-tros acionistas”, defendeu.

No relatório da visada, em cujaelaboração conta com o apoio dobanco de investimento UBS, a admi-nistração da EDP deve zelar pelos in-teresses de todos os acionistas. O pa-recer do Conselho Geral e de Super-visão é, por isso, fundamental para aargumentação da administração,porque reflecte a posição dos váriosacionistas de referência.

Além da CTG e da CNIC, quecontrolam 28% do capital da EDP esão detidas pela República Popularda China (RPC), a energética temcomo acionistas qualificados o Capi-tal Group, a BlackRock, o OppidumCapital, o BCP, o Norges Bank, a ar-gelina Sonatrach e os fundos sobera-nos do Qatar e do Abu Dhabi, entreoutras entidades que, em conjunto,têm quase 30% da energética (ver in-fografia). No conselho geral e de su-pervisão, estão representados osacionistas CTG (com cinco elemen-tos, incluindo Eduardo Catroga), oBCP (através de Nuno Amado), oOppidum Capital (dois elementos) eainda a Sonatrach e o Mubadala (dogoverno de Abu Dhabi), com um re-presentante cada.

A contrapartida de 3,26 euros poração representa um prémio de 4,82%face ao valor de mercado da altura eavalia a empresa em cerca de 11,9 milmilhões de euros. Assim, se a contra-partida fosse revista em alta para 3,6euros por ação, a EDP ficaria avalia-da em 13,1 mil milhões de euros.

“Minoria de bloqueio”pode impedir desblindagemAssim, além de superar vários desa-fios regulatórios e políticos na Eu-ropa (ver página seguinte), a ChinaThree Gorges terá de negociar comos acionistas que têm assento noconselho geral de supervisão e comos fundos internacionais que têmparticipações qualificadas. Sem oaval desses investidores, a CTG nãoconsegue ver cumprida uma condi-ção sine qua non para o registo daOPA: a desblindagem de votos emassembleia geral (AG). Segundo osestatutos da EDP, são necessários

dois terços dos votos emitidos emAG para que o limite estatutário devotos a 25% caia.

A CTG, a CNIC e o BCP (interme-diário financeiro da operação) só têm30,69%. Tendo em conta as últimaspresenças em AG da EDP, que oscila-ram entre 70% e 78% do capital, e fa-zendo o cálculo com base numa mé-dia esperada de 74% de votos presen-tes e emitidos (sem abstenções), se-riam precisos dois terços de votosemitidos a favor da desblindagem, ouseja. cerca de 50% do capital. Os chi-neses precisam assim de 19,3% para,juntando aos 30,69%, ver aprovada adesblindagem (que está também con-dicionada ao sucesso desta OPA).

É de esperar, no entanto, que osacionistas qualificados se unampara criar uma minoria de bloqueiocaso o preço da OPA não seja revis-to. Até porque dificilmente umfundo quer ser minoritário numasociedade controlada por uma em-presa do Estado chinês, disse fontefamiliarizada com o assunto. Por-tanto, o caminho da CTG deveráser o do entendimento com os acio-nistas qualificados da EDP, comuma subida do preço da OPA.

Chineses querem manter Mexia,mas Mexia quer ficar?“Os órgãos sociais da EDP foramaprovados na última AG em abril,para os próximos três anos, peloque não está em cima da mesa qual-quer alteração aos órgãos sociais”,disse ao “Dinheiro Vivo” fonte ofi-cial da CTG. O Jornal Económicoconfirmou que o representante doschineses disse ao board da EDP estasemana, que depois da OPA conta-vam com a actual administraçãopara gerir a empresa.

Se António Mexia fica ou não é noentanto uma incógnita, porque oCEO da EDP pode optar por não fi-car numa empresa dominada total-mente pela CTG, pois a EDP vai seruma empresa diferente e vai reque-rer um líder com um perfil diferente.Até ao fecho da edição, não foi possí-vel obter comentários de fontes ofi-ciais da EDP e dos seus principaisacionistas. ● Com F.A. e S.L.

EDP pronuncia-se sobre a OPA até ao dia 8 de junho. Com a pressão dos acionistas para que haja umprémio de controlo, a administração vai defender subida da oferta para entre 3,6 e 3,9 euros por ação.

MARIA TEIXEIRA [email protected]

OPA DA CHINA THREE GORGES

UMA OPA CONCORRENTE?

Parece ser já claro que não hágrande espaço para uma OPAconcorrente à EDP,essencialmente por causa dolimite de votos a 25% e por aChina Three Gorges (CTG) ter23,27% e a chinesa CNIC ter4,98% do capital, o que junto comos 2,44% do Grupo BCPformarem uma minoria debloqueio que impede a mudançade estatutos sem o seu acordo.Ninguém quer comprar a maioriade uma empresa que tem osvotos limitados a 25%.A CTG) procedeu a váriasalterações ao anúncio preliminarda oferta pública de aquisição(OPA) lançada sobre a EDPanunciada a 11 de maio, porimposição da CMVM.Na adenda publicada ontem, aCTG esclarece que a “oferentereserva-se o direito de, por sualivre e discricionária decisão,renunciar” à eficácia da ofertaatingir os 50% “nos termoslegalmente admissíveis”.Isto significa que o prazo edemais termos para que a CTGpossa “deixar cair a condição”constarão do prospecto da ofertae serão conhecidos dosdestinatários quando a oferta forlançada.Simultaneamente, a CMVM vemtambém traçar uma linha entre asparticipações acionistas daRepública Popular da China naEDP. A CTG conta com 23,27%da eléctrica, enquanto a CNICtem 4,98% da EDP.“De acordo com o entendimentoda CMVM”, as duas participaçõessão “imputáveis à RepúblicaPopular da China”, pode-se ler naadenda. No entanto, os direitosde voto da CNIC na EDP “nãosão, contudo também de acordocom o entendimento da CMVM,imputáveis” à CTG.A CTG lançou OPA sobre a EDPRenováveis que só avança casoseja lançada a oferta sobre aEDP, ou seja, depois decumpridas todos requisitos eautorizações a que está sujeita.A CMVM esclarece também emadenda que os votos da EDP naEDP Renováveis (82%) sãoimputáveis à CTG que é aOferente. MTA

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Sem chegar a acordo com os outrosacionistas qualificados da EDP, aChina Three Gorges (CTG) veráampliadas as oposições dos regula-dores dos quatro cantos do mundo:de Bruxelas, Espanha, dos EstadosUnidos, de França e de Inglaterra(devido às centrais eólicas maríti-mas “offshore” da EDP Renová-veis), do Canadá e até dos regula-dores do Brasil, apesar de aqui be-neficiarem de um apoio tácito doactual governo, defendem as fontesouvidas pelo Jornal Económico.

Espanha é um dos mercadosmais sensíveis. Ontem, o ministroda Energia de Espanha garantiuestar a acompanhar a OPA chinesasobre a EDP. Citado pela imprensado país vizinho, Álvaro Nadal afir-mou que os chineses estão metidos“num vespeiro regulatório”.

O sucesso da OPA da China ThreeGorges sobre a EDP depende do “de-ferimento de todas as aprovações eautorizações administrativas neces-sárias” em Portugal e no estrangeiro,refere o texto do anúncio preliminarque elenca 16 entidades diferentesem oito países, e esquece-se pelo me-nos da ERSE em Portugal.

A ERSE pode vir a impor remé-dios pelo facto de a holding estatalchinesa SAC ser a dona da StateGrid que tem 25% da REN, e donado grupo China Three Gorges(que detém a EDP), tendo em con-ta que desde 2000 é obrigatória aseparação entre a produção e otransporte de electricidade.

A CTG tem a garantia de nãooposição do Governo português,mas não tem a garantia da aprova-ção doutros reguladores, nomea-damente da ERSE. A presidente daEntidade Reguladora dos ServiçosEnergéticos, Cristina Portugal,disse no Parlamento esta semanaque “A ERSE só terá de se pronun-ciar num momento posterior”, istoé após o registo da oferta.

A CTG conta ainda com a difi-culdade de obter a aprovação dosEstados Unidos (pela Comissão deInvestimento Estrangeiro dos Es-tados Unidos e pela FERC – Co-missão Federal Reguladora de

Energia dos Estados Unidos), umavez que a EDP Renováveis é oquarto maior produtor eólico dosEUA, e como é público as relaçõesentre os Estados Unidos e a Chinanão têm sido pacíficas desde oanúncio das tarifas comerciais porDonald Trump.

Os chineses enfrentam outro obs-táculo de peso: em março passado, aComissão Europeia finalmente acei-tou a regulamentação espanhola queprotege os operadores das redes deeletricidade e gás de investidores es-trangeiros de fora da União Euro-peia, fornecendo mecanismos deproteção contra investidores indese-jados em setores estratégicos.

O medo do colosso asiático pairasobre outros países e empresas eu-ropeias. Bruxelas, tradicionalmen-te relutante a essas restrições, re-centemente aceitou os pedidos dachanceler alemã, Angela Merkel, edo presidente francês, EmmanuelMacron, no sentido de restringir aentrada de capital ligado ao setorpúblico de países estrangeiros, emparticular, a China.

O anúncio preliminar da OPA àEDP diz expressamente que a ofer-ta só avança com “uma decisão daAutoridade da Concorrência ou daComissão Europeia declarando acompatibilidade da transação coma Lei da Concorrência ou com oRegulamento das ConcentraçõesComunitárias”.

Portanto, a China Three Gorgestem tudo a ganhar se tiver comoaliados os outros acionistas da EDPoriundos destes países onde precisade obter autorizações cruciais parao registo da OPA. ● Com F.A. e S.L.

Chineses têm pelafrente um “vespeiroregulatório”

CTG terá de superar importantes obstáculosregulatórios em Espanha, numa ComissãoEuropeia mais protecionista e, ainda, nos EUA.

MARIA TEIXEIRA [email protected]

Bruxelas,tradicionalmenterelutante a essasrestrições, aceitouo pedido de Merkele Macron pararestringir a entradade capital chinês emalguns setoresestratégicos

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EMPRESAS

Nestlé investe80 milhõesem Portugaleste ano

A multinacional suíça continua aapostar forte no mercado nacional.Só este ano está previsto o investi-tmento de cerca de 80 milhões de eu-ros, entre o investimento operacio-nal na modernização das linhas deprodução das fábricas de Avanca (ce-reais) e do Porto (cafés) e o investi-mento em campanhas de ‘marketing’e de publicidade (cerca de 51 milhõesde euros). Só nos últimos seis anos, aNestlé investiu em Portugal 94 mi-lhões de euros, que se somam, parajá, mais 90 milhões de euros previs-tos para este e para o próximo ano.

Em entrevista ao Jornal Económi-co, o novo diretor-geral da Nestléem Portugal explica como se irãoprocessar esses novos investimentose quais os objetivos pretendidos (vertexto ao lado). Segundo este respon-sável, o investimento operacionalem causa irá ser aplicado ao longodos próximos 18 a 20 meses, peloque deverá estar concluído em 2020.

Paolo Fagnoni adiantou no iníciodesta semana que cerca de 70% a 80%desse montante de investimento de-verá ser concretizado ainda este anoe explicou que os projetos de investi-mento nas duas unidades fabris daNestlé em Portugal serão na ordemdos 30 milhões de euros, sendo o res-tante aplicado em planos paralelos demanutenção.

“Este investimento é para moder-nizar as linhas de produção das duasfábricas da Nestlé em Portugal, as deAvanca para os cereais, e a do Porto,para o café. Mas também servirápara reduzir as emissões das duasunidades”, sublinhou Paolo Fagnoni.

Na fábrica de Avanca, o destaquevai para um upgrade na linha de pro-dução de bebidas de cereais e paraaumento de capacidade, bem como

para apoiar conceitos de inovaçãoem nutrição infantil. Na fábrica doPorto, a Nestlé está a aumentar a suacapacidade de fabrico, com a produ-ção do café Nescafé Roast & Ground,uma novidade mundial para estamarca de café solúvel tostado.

A Nestlé Portugal assegura aindaque “está a trabalhar para reduzircontinuamente os impacto ambien-tais das suas operações”, acrescentan-do que nos últimos cinco anos “redu-ziu a captação de água em 62%, asemissões de CO2 em 7,5% e os resí-duos enviados para aterro em 58%, oque correspondeu a 261 toneladas”.

“Em 2018, temos a ambição demelhorar ainda mais todos os indica-dores: captação de água (m3/ton) em-2%; energia (GJ/ton) em -1%; emis-sões de CO2 (Kg/ton) em -1% e zeroresíduos enviados para aterro. Nesteprimeiro trimestre, a Nestlé reduziuem 85,2% os seus resíduos enviadospara aterro e também a captação deágua (m3/ton) foi reduzida em 5%”,destaca a referida nota.

“É mais que um compromisso, éuma obsessão nossa”, admitiu PaoloFagnoni na passada segunda-feira,referindo que a empresa iniciou ago-

ra um compromisso forte na recicla-gem de plásticos e prometendo re-sultados neste capítulo para o final de2018.

Faturação em 2018 na barreirados 500 milhões de eurosA Nestlé poderá superar a barreirados 500 milhões de euros de fatura-ção em Portugal durante o presenteexercício. Paolo Fagnoni revelouainda nessa ocasião que “as pespeti-vas para este ano apontam para umcrescimento da faturação entre 2% e4% em relação a 2017”.

Recorde-se que a Nestlé Portugalatingiu um volume de vendas de 486milhões de euros no ano passado,mais 4,7% que no ano precedente. Seas perspetivas se concretizarem jun-to do intervalo superior hoje enun-ciado por Paolo Fagnoni, a NestléPortugal irá superar esta ano o limiardos 500 milhões de euros de fatura-ção anual.

Deste montante, que representouum crescimento de 4,7% face ao anoprecedente, 77 milhões de euros res-peitaram a exportações.

No primeiro trimestre deste ano, aNestlé Portugal acelerou o ritmo decrescimento, atingindo vendas de117 milhões de euros, 6% acima doperíodo homólogo de 2017.

“Estes resultados foram impulsio-nados por um sólido crescimento emvolume e por variações de preço po-sitivas em todas as principais catego-rias. Os negócios de ‘petfood’ [comi-da para animais de estimação] e‘health science’ [nutrição clínica]voltaram a ser os mais dinâmicos, as-sim como o negócio de café, queapresentou um crescimento orgâni-co acima dos 9% em todos os seg-mentos (R&G [Roast & Ground, outorrado], solúvel e cápsulas) e em to-dos os canais (retalho, direto ao con-sumidor e fora do lar)”, destaca aNestlé Portugal. ●

Entre o investimento efetuado desde 2012 e o anunciado esta semana, amultinacional suíça aplicou e vai aplicar no nosso país perto de 200 milhões.

NUNO MIGUEL [email protected]

INDÚSTRIA ALIMENTAR

“Vamosaumentar acapacidadedas nossasfábricas”O novo diretor-geral da Nestlé dáuma entrevista ao Jornal Económi-co explicando como é que multina-cional suíça vai investir no merca-do nacional e quais os objetivosque se pretendem.

Qual foi o valor de investimento

ENTREVISTA PAOLO FAGNONIDiretor-geral da Nestlé Portugal

da Nestlé nos últimos anos emPortugal?Nos últimos seis anos a Nestléinvestiu em Portugal um total de 94milhões de euros.

Em que projetos?São investimentos feitos nas nossasfábricas e repartidos por rubricaspontuais e contínuas. Dentro destaúltima insere-se, entre outras, a ino-vação nos nossos produtos - comprojetos de otimização nutricionalde receitas (redução de açúcar) – oapoio de ‘marketing’ às marcas, o in-vestimento em equipamentos desti-nados à introdução de aumentos deeficácia nas linhas de produção dasnossas fábricas, em segurança dasnossas pessoas, em equipamentospara melhoria dos nossos KPI [‘KeyPerformance Indicators’, ou Indica-dores-Chave de Desempenho] deambiente, na introdução de melho-rias contínuas do nosso equipamen-to destinado ao negócio fora do lar,nomeadamente café, e na nossa sede.Nas pontuais é exemplo o projeto, adois anos (2017/2018) no valor deseis milhões de euros, de ampliação emodernização do nosso centro dedistribuição de Avanca.

O investimento anunciado esta

Dos 486 milhõesde euros de faturaçãoda Nestlé Portugalno ano passado,77 milhões de eurosforam destinadosa mercadosde exportação

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A TRIBUNA SOCIAL

Reduzir o ‘gap’empreendedorentre UE e EUA

Em 2016, o mercado de capitalde risco europeu investiu cercade 6,5 mil milhões de euros,enquanto nos EUA esta moda-lidade de financiamento atin-giu os 39,4 mil milhões. Acres-ce que os fundos de capital derisco têm montantes pouco ex-pressivos na UE, 56 milhões deeuros em média, por compara-ção com os 156 milhões nosEUA. Não é, por isso, de estra-nhar que muitos projetos euro-peus migrem para outros ecos-sistemas. Tanto assim que, em2017, a UE registou 26 unicór-nios contra 109 americanos.

Os números são da Comis-são Europeia que, para miti-gar este flagrante gap entre osdois lados do Atlântico, lan-çou recentemente o Ventu-reEU. Trata-se de um fundopan-europeu de capital de ris-co para incentivar o investi-mento em empresas inovado-ras em fase de arranque ou deexpansão. Fundo, esse, quedeverá mobilizar 2,1 mil mi-lhões de euros de investimen-tos públicos (410 milhões daprópria UE) e privados.

O VentureEU vem ao en-contro da principal debilidadedo ecossistema europeu: a di-mensão do mercado de capitalde risco. As empresas de capi-tal intensivo europeias que de-sejam escalar os seus negóciostêm muitas vezes de procurarfinanciamento nos EUA, jus-tamente porque o mercado decapital de risco na UE (fundospúblicos e privados) não de-monstra capacidade de alavan-cagem deste tipo de projetos.Esta situação verifica-se, so-bretudo, nas fases de expansão(laterstage) das empresas.

O problema do mercado decapital de risco europeu nãodeve, contudo, ser imputadoao setor privado, pois sabe-mos que há projetos que, pelo

ADELINO COSTA MATOSPresidente da ANJE

seu elevado risco, dificilmentesão alavancados por investi-dores. A grande diferença en-tre a UE e os EUA nesta maté-ria reside nos fundos públicos,que na liberal América se re-velam bem mais generosos. Oapoio público ao empreende-dorismo e à inovação na UEainda depende muito das dife-rentes políticas nacionais, nãohavendo, como devia, um en-velope financeiro considerá-vel ao nível comunitário.

Acresce que o mercado úni-co digital europeu tarda emconsolidar-se e em produziros efeitos esperados. Ora, nosEUA, as empresas tecnológi-cas têm à partida acesso a umgrande mercado interno. Pelocontrário, na UE, os em-preendedores tech ainda sãoforçados a lidar com os dife-rentes regimes regulatóriosdos 28 Estados-membros. Im-porta, pois, agilizar o mercadoúnico digital, de forma a po-tenciar o talento, conheci-mento, especialização e proxi-midade à indústria tradicionaldo setor tecnológico europeu.

Mas o gap empreendedorentre a UE e os EUA dificil-mente diminuirá sem umamudança de paradigma no en-sino europeu, de molde a in-cutir nas novas gerações umacultura empreendedora. Des-envolver este mindset, assimcomo as competências digitaisdos jovens, parece-me funda-mental para preparar a socie-dade europeia para a revolu-ção tecnológica em curso, aqual exige mais iniciativa,mais criatividade, mais versa-tilidade e mais mobilidade. ●

OPINIÃO

Só umamudançade paradigmano ensino europeu,para incutir nasnovas geraçõesuma culturaempreendedora,poderá alteraro ‘gap’ atual

A fábrica destinada à produção que aNestlé Portugal opera no Porto po-derá vir a fabricar produtos da Star-bucks, na sequência da parceria esta-belecida entre as duas multinacionaise anunciada publicamente no passa-do dia 7 de maio. O responsável daNestlé Portugal, Paolo Fagnoni, ad-mitiu essa possibilidade esta semana,num encontro com jornalistas, em-bora sublinhe que se trate de uma hi-pótese ainda não trabalhada.

No entanto, a fábrica da Nestléno Porto é uma das quatro fábricasda Nestlé na Europa que podem vira produzir a nova gama de produ-tos Starbucks que a Nestlé passou apoder comercializar após o a referi-do acordo. E o facto de esta unidadeindustrial da Nestlé Portugal ter re-cebido e ir continuar a receber in-vestimentos na modernização daslinhas de produção é um sinal posi-tivo. Além disso, esta fábrica passoua produzir desde o ano passado ocafé com marca Nescafé ‘Roast &Ground, uma novidade mundialpara esta marca de café solúvel, quecoloca esta unidade na liderança dainovação tecnológica dentro dogrupo suíço e confirma a apostacrescente da multinacional no mer-cado nacional.

Paolo Fagnoni revelou no iníciodesta semana que o segmento do caférepresenta 45% do valor do negócioda Nestlé em Portugal.

Recorde-se que a parceria entre amultinacional suíça e a gigante dascafetarias determina que 500 em-pregados da Starbucks transitampara a Nestlé, de forma a impulsio-nar o desempenho e a expansãoglobal das marcas. E o acordo pelosdireitos de venda do café DolceGusto e Nespresso, marcas daNestlé, abrange apenas os pontosde venda fornecidos ou detidos pelamultinacional suíça.

“Esta aliança global de café trará aexperiência da Starbucks para as ca-sas de milhões de pessoas em todo omundo através do alcance e da repu-tação da Nestlé”, afirmou Kevin

Johnson, presidente e diretor execu-tivo da Starbucks quando a parceriafoi anunciada publicamente.

Já Mark Schneider, CEO daNestlé, sublinhou na mesma ocasiãoque “as duas empresas têm verdadei-ra paixão pelo café excelente e estãoorgulhosas de serem reconhecidascomo líderes globais por seus res-ponsáveis”. “Este é um ótimo diapara os amantes do café em todo omundo”, afirmou o porta-voz damultinacional suíça.

A Nestlé espera que este acordocontribua para o objetivo de lucro ecrescimento da empresa já a partir de2019. No entanto, ainda falta a habi-tual autorização da autoridade daconcorrência, algo que deverá acon-tecer até ao final deste ano. A empre-sa suíça diz que a parceria firmadavale seis mil milhões de euros para aStarbucks, cuja operação mundial,segundo o comunicado da empresasuíça, vale anualmente dois mil mi-lhões de dólares (cerca de 1,7 mil mi-lhões de euros), só em facturação.

A dimensão das empresas e do se-tor de atividade poderá justificar ovalor em causa. De acordo com a“Forbes”, as 25 maiores companhiasdo mundo especialistas em venda dealimentos e bebidas geraram mais de620 mil milhões de euros em receitasem 2016, dos quais mais de 72 milmilhões correspondiam a lucro.Tanto a Nestlé e a Starbucks são gi-gantes mundiais, nos respectivossectores, por isso os quase seis milmilhões de euros compreendem-se,a partir dos resultados financeiros decada empresa.

Ainda de acordo com a “Forbes”, aStarbucks é uma das dez maioresmarcas mundiais de fast-foodcujo va-lor é estimado em mais de 24,5 milmilhões de euros. Para se ter umaideia da dimensão desta multinacio-nal, em 2017 a receita líquida conso-lidada da Starbucks foi superior a18,7 mil milhões de euros. A Star-bucks está presente em 75 países,com mais de 27 mil pontos de venda.Quanto à Nestlé, a empresa suíça al-cançou mais de 75,4 mil milhões deeuros em receitas, segundo o índiceGlobal 2000 de 2017 da revista “For-bes”, que elenca as maiores compa-nhias agro-industriais do mundo. ●

Unidade do Portona corrida parafabricar produtosStarbucksEsta fábrica é uma das quatro da Nestléna Europa que pode produzir a gamade cafés do grupo norte-americano.

CAFÉ

JOSÉ VARELA RODRIGUESE NUNO MIGUEL [email protected]

semana de 40 milhões de eurosnas fábricas da Nestlé emPortugal para os próximos 20meses vão concretizar-se em queprojetos e quais os objetivos?Este montante será direcionado, so-bretudo, para aumento de eficiênciana linha de produção das bebidas decereais da Nestlé – Mokambo, Brasa,Bolero, Tofina, Pensal – nomeada-mente num equipamento a instalarna fábrica de Avanca, que permitiráum aumento da capacidade de pro-dução e simultaneamente uma redu-ção no gasto energético, em linhacom um dos nossos objetivos em ter-mos de KPI ambientais para 2018 –consumir menos -2% de energia portonelada de produto terminado(GJ/Ton). Será também aplicado nodesenvolvimento de projetos de ino-vação na nossa gama de produtos denutrição infantil, fabricados tambémna fábrica de Avanca.

Além disso, a Nestlé vai investirmais 50 milhões em Portugal em‘marketing’. Essa verba refere-seapenas ao presente ano?Sim, em 2018 a Nestlé Portugal espe-ra reforçar, entre 2% a 3%, o investi-mento de 50 milhões de euros reali-zado em 2017 em comunicação e‘marketing’ das suas marcas. ●

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22 | O Jornal Económico, 18 maio 2018

EMPRESAS

Semanada Economiamostra potencialde inovação

O evento envolve o tecido empre-sarial e industrial de Braga, startupse entidades parceiras e será, acimade tudo, “uma mostra do potencialeconómico e de inovação de Braga,com base no que tem sido atingidoe realizado e não só em ideias”, re-feriu Carlos Oliveira, presidenteda InvestBraga.

Numa edição dedicada à Inova-ção e Investimento, a InvestBragaquer afirmar a visão para o modeloeconómico da região: passar doconceito made in Braga, para o in-vented/designed in Braga, uma es-pécie de novo slogan.

O evento apresenta um progra-ma desenhado para mostrar os fa-tores atrativos da região para acaptação de investimento, contan-do com as presenças, entre outros,do ministro da Economia, ManuelCaldeira Cabral, do ministro doAmbiente, João Pedro Matos Fer-nandes e da secretária de Estado daIndústria, Ana Teresa Lehmann,para além de Luís Marques Men-des.

A InvestBraga preparou umprograma diversificado que inte-gra vários open days em empresasde referência na região (com o ob-jetivo de dar a conhecer os bonsexemplos empresariais do conce-lho), mas também várias talks,conferências, jornadas e, princi-palmente, o Fórum Económico,considerado o ponto alto desta Se-mana da Economia.

O evento realiza-se no próximodia 23, no Forum Braga, a partirdas 14h30 horas, sob o tema “Ino-vação e Investimento”. Nesta oca-sião, além de um balanço de toda aatividade da InvestBraga e da apre-sentação da atualização do PlanoEstratégico de DesenvolvimentoEconómico de Braga 2014-2026,haverá um painel dedicado aotema Inovação e Investimento,que conta com a participação dokeynote speaker Doug Hart, doMIT, e, no debate, Luis CastroHenriques (presidente da AICEP),Carlos Ribas (administrador daBosch em Portugal) e António Cu-nha (Universidade do Minho). Ha-verá também espaço para a discus-são de temas macro do presente efuturo do país, numa conversacom o comentador político, LuísMarques Mendes.

“Vamos apresentar e prestar con-tas do que tem sido feito, naquiloque tem sido o compromisso da In-vestBraga com a cidade, com a re-gião e o país. Vamos fazer o balançodo trabalho feito, uma atualizaçãoalavancada naquilo que é o planoestratégico para o desenvolvimentoeconómico de Braga”, refere CarlosOliveira.

Adianta que, volvidos quasequatro anos, a organização decidiufazer uma atualização ao plano,

para incorporar as evoluções con-junturais e estruturais, mas man-tendo a sua ambição ao nível dacriação de postos de trabalho e depeso no PIB.

“Acabamos por ter também nestaatualização do plano, uma atualiza-ção de números e trabalho feito”,acrescenta, lembrando que outrodos grandes destaques será a confe-rência “Supercomputação e DataScience... de Braga para o Mundo”.

“Num altura em que Universida-de recebe o maior supercomputa-dor nacional, Braga quer afirmar-secomo centro de competências e ex-celência para a Supercomputação eData Science”, explica.

O evento terá três momentos: ‘Ofuturo da supercomputação e dadata science’, um segundo momentodedicado à ‘Supercomputação edata science na economia’ e um últi-mo onde algumas empresas nacio-nais apresentarão o seu testemunhosobre o advanced computing.

Para o dia 23 de maio está pre-vista a inauguração do novo Cen-tro de Engenharia da APTIV (an-tiga Delphi), um investimento quemarcará uma nova fase da multi-nacional, com a contratação de 150engenheiros nos próximos doisanos. Segundo o presidente da In-vestBraga, “esta inauguração émais um sinal da capacidade deBraga para atrair investimento emcentros de engenharia e inovação,e uma prova do dinamismo econó-mico que se vive na cidade”.

Destaque também para outrosquatro eventos que decorrerão naSemana da Economia. No dia 24de maio vai realizar-se uma confe-rência intitulada “Turismo de Ne-gócios: Uma aposta no Futuro”,que pretende mostrar como Bragaestá a posicionar-se para ser umacidade de referência no país e naGaliza para a realização de grandeseventos.

No mesmo dia, as grandes ques-tões sobre o mundo dos impostosserão debatidas nas Jornadas daFiscalidade, que contarão com apresença de Rui Leão Martinho,Bastonário da Ordem dos Econo-mistas, de vários responsáveis daconsultora PwC, bem como de di-versos especialistas na área do di-reito fiscal. Ainda no mesmo diarealiza-se o Demo Day da StartupBraga, onde as startups que fazemparte da 5.ª edição do Programa deAceleração da Startup Braga irãofazer os seus pitchs.

Dia 25 realiza-se a conferência“Evolução Digital na Construção enas Cidades”, que vai trazer a Bra-ga um painel de prestigiados con-vidados nacionais e internacionaispara abordar os temas relaciona-dos com a construção na era do di-gital, a economia circular e assmartcities, num evento que conta-rá com a presença do ministro doAmbiente, João Pedro Matos Fer-nandes, que se centrará no tema daEconomia Circular. ●

A terceira edição da Semana da Economia, organizada pela InvestBragaentre 21 e 25 de maio, assinala quatro anos de atividade e apresenta o trabalhonas áreas de atuação: Dinamização Económica, Startup Braga e Forum Braga.

EDUARDO [email protected]

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O Jornal Económico, 18 maio 2018 | 23

António Mexia enfrenta uma ‘chinese wall’

Há pelo menos quatro reaçõesconsensuais sobre a investidachinesa para dominar a EDP. Aprimeira é que o preço é baixo. Asegunda que não vai ser umaoperação fácil, há muitos obstá-culos. A terceira que a OPA eraesperada, e até inevitável, dada aembrulhada político-jurídica naqual a empresa se encontra. Fi-nalmente, tendo isso tudo emconta, que António Mexia en-frenta uma situação complicada.

A última é a mais interessante.O CEO da energética vê-se for-çado a viver nos dois lados deuma espécie de ‘chinese wall’,uma barreira erguida para evitar

conflitos de interesse. Por umlado, foi recentemente recondu-zido no cargo com o apoio daChina Three Gorges (CTG), amaior acionista da empresa. Poroutro, tem de tentar obter a me-lhor solução para os outros acio-nistas, seja por via de um aumen-to do preço pela CTG, seja deuma OPA concorrente, que, ape-sar de muito difícil, não é impos-sível. Tudo isto sem poder cha-mar a OPA de hostil (dado quevem de um atual acionista) e semcomprometer a sua própria rela-ção com os chineses, cujo apoiocolhe... por enquanto.

Isto conduz-nos ao pontotrês. Uma das explicações para aOPA é que surge num contextode fusões no setor da eletricida-de na Europa. Os movimentosde consolidação são, claro, for-ças contagiosas onde ninguémcom fundos e ambição quer ficarde fora. O objetivo costuma sercomprar algo desejável, mas aum bom preço. Essa é uma des-crição quase perfeita da EDPneste momento: tem um negó-

cio internacional invejável, compresença significativa e crescen-te em vários mercados relevan-tes. No mercado doméstico en-frenta, no entanto, várias tor-mentas e isso torna a empresavulnerável. O líder da empresa éarguido num caso de corrupçãono âmbito de contratos entre aempresa e o Estado. Se vier a seracusado, terá grande dificuldadeem manter o cargo. Mais im-portante, a empresa já reconhe-ceu que as alterações regulató-rias, nomeadamente em relaçãoaos CMEC, estão a castigar osresultados.

Nada disto acontece por acaso.A reação de António Costa, quedisse, mesmo antes da formaliza-ção da oferta, que o Governo nãotem de se opôr à OPA, revelamuito. O Partido Socialista está,por estes dias, a apagar-se dopassado – uma espécie de exfolia-ção para chegar às eleições de2019 com um ar fresco e sem asimpurezas do passado. A frentemais é óbvia é a repentina ‘ver-gonha’ sobre o comportamento

de José Sócrates. A outra é aEDP. O Governo quer distan-ciar-se da noção das ‘rendas ex-cessivas’, criadas durante os tem-pos de Sócrates em São Bento eque coincidiram com a chegadade Mexia à liderança da EDP.Para os chineses, é uma oportu-nidade de fazer um negócio: ob-têm uma ‘não oposição’ do Exe-cutivo, acatam as decisões regu-latórias e ganham controlo deuma empresa chave para os pla-nos globais. Quanto a Mexia, de-pois decidem, dependendo doque se passar na Justiça.

O percurso da OPA chinesa atéao sucesso não é, no entanto,isento de obstáculos. Antes pelocontrário. As autorizações regu-latórias necessárias são múltiplase complicadas. O mapa da opera-ção da EDP estica-se por váriospaíses e alguns deles dificilmenteverão com bons olhos a entradade capital chinês num setor tãocrucial como o da energia. Os Es-tados Unidos, por exemplo, es-tão em plena guerra comercialcom a China, enquanto os regu-

ladores europeus têm já um lon-go historial de tornar a entradade investidores chineses uma ta-refa quase impossível. Outrogrande desafio dos chineses é, noentanto, conseguir desblindar osestatutos e eliminar o limite dedireito de voto por acionista, queé atualmente de 25%. Para issoprecisa de dois terços dos votosem reunião magna. Conscientedestas dificuldades, a CTG afir-mou que poderá deixar cair algu-mas das condições às quais aoferta está sujeita.

A possibilidade de surgir umaOPA concorrente existe, mas élimitada pela força de bloqueioque a CTG representa. Os chine-ses querem não só ficar na EDP,mas também aumentar a partici-pação. Para o conseguir, sabemque provavelmente terão de me-lhorar o preço da oferta, pois osrestantes acionistas querem re-ceber um prémio adicional paradeixar o controlo. É com essaferramenta que os próprios chi-neses vão ter de derrubar a mu-ralha para conquistar a EDP. ●

OPINIÃO

SHRIKESH LAXMIDASDiretor Adjunto

Depois de alguns meses de nego-ciações (desde julho do ano passa-do) por parte da tutela e das asso-ciações setoriais, os suinicultoresportugueses estão prestes a conse-guir entrar no gigantesco mercadochinês – que logo no primeiro anopode absorver cerca de 200 mi-lhões de euros da produção nacio-nal do setor.

Este valor, avançado ao JornalEconómico por Vítor Menino,presidente da Federação Portu-guesa de Associações de Suinicul-tores (FPAS), permitirá ao sectorum poderoso salto nas exporta-ções, dado que os negócios que seesperam com a China representamcerca de 30% da faturação do con-junto do setor – cerca de 670 mi-lhões de euros.

A entrada na China – o maiorimportador do mundo de carne deporco – permitirá ao setor ultra-passar algumas dificuldades senti-das, por razões exógenas, ao níveldas exportações. De facto, os últi-mos meses foram de enorme retra-ção nos mercados de Angola e daVenezuela, que praticamente desa-pareceram, e que continuam a nãodar mostras de rearrancar, segun-do disse Vítor Menino.

A abertura das portas da China –que logo no primeiro ano poderáabsorver 1,2 milhões de porcos‘portugueses’ – permite compensarlargamente o quase desapareci-mento daqueles mercados e au-mentar de forma exponencial asexportações – que neste momentovalem apenas 10% a 15% da produ-ção e têm como mercado principalde destino a Espanha.

A decisão final sobre a aberturado mercado da China aos produtos

da suinicultura portuguesa – estádependente da visita das autorida-des sanitárias chinesas – que está adecorrer por estes dias e que nadaindica venha ser problemática.Como disse Vítor Menino, os res-ponsáveis chineses estão particu-larmente interessados em visitar asunidades de abate de gado e a pro-dução.

Depois disso, a China estará aoalcance dos cerca de quatro milprodutores nacionais de suínos,“dependendo de cada um investirpara aumentar a sua exposição aomercado, que até podia comprartoda a produção nacional sem queisso chegasse para abastecer a tota-lidade do consumo”, disse VítorMenino.

Há mais de duas décadas que ossuinicultores nacionais preten-diam obter a aprovação das autori-dades chinesas para entrar naquelemercado – que tem como um dos

seus pratos mais típicos o chopsuey de porco.

Recorde-se que, no final do anopassado, o presidente da Venezue-la, Nicolás Maduro, acusou os sui-nicultores portugueses de “sabota-rem” o fornecimento do típicoprato de Natal venezuelano, o per-nil, envolvendo a questão em ava-tares políticos, quando, segundo olado português, o que se passavaera que as empresas portuguesasreclamam 40 milhões de euros dospagamentos referentes aos negó-cios de 2016. De então para cá, oproblema nunca chegou a ser re-solvido.

No caso de Angola, o problemadeu-se quando o país africano dei-xou, há cerca de dois anos, de ter di-visas para cumprir as suas obriga-ções com os fornecedores externos– naquele que foi um dos períodosmais difíceis das relações económi-cas entre as duas nações. ●

Suinicultura: mercadochinês vale 200 milhões por ano

EXPORTAÇÕES

Após anos de espera, as autoridades chinesas estão prestes a abrir o mercado aos produtos nacionais. O potencial é gigantesco.

ANTÓNIO FREITAS DE [email protected]

A aberturadas portas da Chinavai compensarlargamente o quasedesaparecimento dosmercados angolanoe venezuelanoe aumentaras exportações deforma exponencial

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EMPRESAS

Como as taxas baixasdos aeroportos não serefletem nos bilhetes

Por mais baixas que sejam as taxascobradas pelos aeroportos a nívelglobal, as companhias aéreas nãorefletem essas benesses no preçofinal que os passageiros pagam pe-los bilhetes de avião. Essa é a prin-cipal conclusão de estudo enco-mendado pelo ACI - AirportsCouncil International Europe àconsultora ICF, designado “Identi-ficando os Fatores Determinantesdas Tarifas Aéreas”, a que o JornalEconómico teve acesso.

“A ICF concluiu que mesmo queas taxas aeroportuárias influenciemo comportamento das companhias

aéreas quando se chega ao ponto detomar decisões em termos do des-envolvimento da rede de rotas e deconcretização da sua capacidade,não existe uma correspondência di-reta entre as tarifas aeroportuárias -e qualquer mudança no seu nível - eos preços dos bilhetes aéreos. Poroutras palavras, taxas aeroportuá-rias mais baixas não são geralmenterepassadas para os passageiros atra-vés de preços mais baixos de bilhe-tes aéreos”, defende Kata Cserep,vice-presidente da consultora ICF.

A análise da ICF sublinha que anatureza estática das taxas aeropor-tuárias, que são definidas com muitaantecedência e que não variam du-rante longos períodos de tempo,contrasta com as técnicas de ‘pri-

cing’ extremamente dinâmicas utili-zadas pelas companhias aéreas paraestabelecer as tarifas dos bilhetes aé-reos. Segundo o ACI Europe, istoresulta em constantes e significati-vas variações dos preços dos bilhe-tes de avião, que podem chegar a os-cilações de 700% para o mesmo pro-duto.

O estudo da ICF vai mais longe edescobriu que os preços dos bilhetesde avião para rotas que são explora-das em regime de monopólio sãoconsistentemente mais caros do queos praticados nas rotas servidas porduas ou mais companhias aéreas.Uma prova complementar da nãocorrespondência entre as taxas ae-roportuárias e os preços finais dosbilhetes aéreos pagos pelos passa-

Um estudo da consultora ICF, encomendado pelo Airports Council International Europe, conclui queas companhias aéreas não refletem no preço final do bilhete as tarifas mais baixas dos aeroportos.

NUNO MIGUEL [email protected]

TRANSPORTES

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ters geiros, segundo a opinião do ACI

Europe. E esta conclusão leva a con-sultora ICF a alertar para o perigode o processo de consolidação do se-tor das transportadoras aéreas naEuropa, em curso e previsível de seintensificar nos próximos anos, po-der gerar riscos inerentes ao factode haver cada vez menos compa-nhias aéreas, cada uma delas a tentarexpandir as respetivas quotas demercado.

“O novo estudo da ICF expressade forma bem clara que a procurasubjacente e o nível de concorrênciaentre as companhias aéreas numadeterminada rota aérea são os fato-res determinantes nos preços dosbilhetes de avião. Isto significa queas companhias aéreas terão semprecomo objetivo exercer o seu poderde estabelecer os preços indepen-dentemente dos custos subjacentesdo fornecimento do serviço”, desta-cou Michael Kerkloh, presidente doACI Europe e CEO do aeroporto deMunique.

Por seu turno, Olivier Jankovec,diretor-geral do ACI Europe, cons-tata que, “há dois anos, algumas dasmais poderosas companhias aéreasda Europa montaram esta campa-nha contra as taxas aeroportuárias,enquanto foram registando lucrosrecorde”. Em Portugal, a questãodas taxas aeroportuárias cobradaspela Vinci, desde que ganhou a pri-vatização da ANA, também tem ge-rado polémica.

“Respondemos com análisestransparentes e construtivas: 1) so-bre o investimento dos aeroportos eo que com isso se conseguiu dispo-nibilizar aos consumidores; 2) sobrea concorrência no setor aeroportuá-rio e como ela está a evoluir agora eem linha com as novas dinâmicas domercado; e 3) sobre as tarifas aéreas,com a prova de que as mudanças nastaxas aeroportuárias não são trans-feridas para os consumidores fi-nais”, resumiu Olivier Jankovec.

A procura pelo transporte aéreona Europa deverá continuar a cres-cer nos tempos próximos. A estima-tiva do ACI Europe prevê que o trá-fego nos aeroportos do Velho Con-tinente passem de 1.930 milhões depassageiros em 2015 para 4.780 mi-lhões de passageiros em 2040.

O ACI é a única associação profis-sional de âmbito global que repre-senta os operadores aeroportuários.A secção europeia do ACI, o ACIEurope, representa mais de 500 ae-roportos em 45 países. Os seusmembros representam mais de 90%do tráfego aéreo comercial na Euro-pa, com mais de dois mil milhões depassageiros, 20 milhões de toneladasde carga aérea e 23,7 milhões de mo-vimentos de aeronaves registadosno ano de 2016. Segundo o ACI Eu-rope, os aeroportos por si represen-tados contribuíram para o empregode 12,3 milhões de pessoas, gerando675 milhões de euros por ano, isto é,cerca de 4,1% do PIB - Produto In-terno Bruto da Europa. ●

Enquanto as taxasaeroportuáriasnão variam durantelongos períodosde tempo, os preçosdos bilhetes de aviãopodem oscilar 700%para o mesmo serviçooferecido

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Martin Gruschka, CEO daSpringwater e o seu partner Igna-cio Casanova estiveram em Ma-drid a anunciar a importância domercado português para gestorade private equity de origem suíçaque detém as agências de viagensTop Atlântico e Geostar.

A Springwater Capital investeem média 100 milhões de eurospor ano na compra de empresas devários setores, entre eles o turis-mo, e quer destinar 20% a 30% des-se valor a Portugal. Segundo reve-laram ao Jornal Económico os só-cios da empresa, na mira estãoaquisições na área do turismo,como o incoming - DMC (Destina-tion Management Company), ahotelaria e agências de viagens.

Outros setores, como no auto-móvel e na produção da alimenta-ção, também poderão ser inclui-dos. Martin Gruschka especificouque a Springwater está a sobretudopara empresas de incoming ou sejaoperadores de turismo recetivo emPortugal.

O grupo faturou neste setor emPortugal e Espanha em 2017 umtotal de 1.000 milhões de euros. OEBITDA é de 20 milhões e os lu-cros totalizam 15 milhões.

O CEO da Springwater prevê umcrescimento da faturação de 25%para 2018. Neste momento a tem15 investimentos, revelam os gesto-res da empresa de private equity.

A Springwater Tourism (nomedo grupo em Portugal) detida pelogrupo espanhol Wamos, é um dostop players no setor do Turismona Península Ibérica, e pretendeexpandir o negócio em Portugal.

A Wamos, que ultrapassou umrelevante processo de reestrutura-ção em 2014, atingiu o breakevenem 2015 e um EBITDA de 20 mi-lhões de euros em 2017, ano emque as receitas atingiram os milmilhões de euros&

A Wamos antecipa um grandepotencial de crescimento para ospróximos anos, altamente poten-ciado pela sua abordagem integra-

da - marketing e vendas, aviação egestão de destinos - que reforça aeficiência operacional do grupo eda sua capacidade de venda cruza-da, diz o grupo.

Em Espanha. a Springwater Ca-pital tem uma empresa de aviação(Wamos Airlines), uma compa-nhia de cruzeiros Pullmantur, aagência de viagens Nautalia e aNuba (agência de viagens de luxo).

O grupo tem uma operação alar-gada com quatro marcas a operarem cinco países, num total de maisde 2.200 funcionários. “Espanha éo segundo maior destino de turis-tas em todo o mundo e Portugaltem o mais rápido crescimento daEuropa. Há um espaço a ser ocupa-do no turismo do sul da Europa,que está fragmentado e precisa deser consolidado”, afirma MartinGruschka.

Em Portugal, o grupo Wamos de-tém a Springwater Tourism, com asagências de viagens Top Atlântico ea Geostar desde 2015, que comprouatravés do fundo Springwater Capi-tal. Em conjunto possuem mais de90 lojas e subsidiárias em Angola,Moçambique e Itália. A curto prazo,e no que diz respeito às agências deviagens, o objetivo é aumentar a pe-netração no segmento corporativoem Espanha e expandir a divisão delazer em Portugal e em destinoscomo Cuba e Guatemala, o que vaitrazer novas possibilidades de negó-cio. A Wamos tem como acionistaso fundo Springwater Capital (81%) ea Royal Caribbean (19%). Na Pull-mantur, a Royal Caribbean tem 49%e a Wamos 51%. ●

A jornalista viajou a conviteda Springwater

Springwater Capitalquer investir20 a 30 milhõesem PortugalA empresa de private equity que comproua Espírito Santo Viagens está empenhadaem reforçar o investimento no país.

MARIA TEIXEIRA [email protected]

O grupo tem umaoperação alargadacom quatro marcasa operar em cincopaíses, num totalde mais de 2.200funcionários

TURISMO

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ESPECIAL

As empresas portuguesas mostramestar cada vez mais despertas paraa relevância da Propriedade Inte-lectual (PI) na sua estratégia dedesenvolvimento e competitivida-de. Por outro, o sistema de prote-ção da PI dá mostras de estar jábastante difundido. Ainda assim, oque devem fazer as empresas para,de facto, proteger as suas marcas epatentes?

Para César Bessa Monteiro Jr, daAbreu Advogados, as empresasdevem identificar “corretamenteos ativos intangíveis para poderemassegurar uma proteção correta eum retorno adequado, rentabili-zando, assim, todo o esforço con-centrado na produção desses bensintangíveis”. A proteção através dedireitos de PI permite que as em-presas obtenham o retorno devidodos novos produtos e serviços quecriam, quer através da sua explora-ção direta, quer através do seu li-cenciamento a terceiros.

Atendendo a que a inovaçãocada vez menos se restringe àsáreas limítrofes da empresa, tendoalargado a busca de inovações noambiente externo (especialistasexternos, universidades, laborató-rios, centros de pesquisas e, até, apessoas criativas que queiram ex-por as suas ideias sob um determi-nado problema a ser solucionado),o especialista sublinha que as em-presas devem verificar regulamen-te o estado da técnica para avaliar oestado da inovação no mercado e oseu grau de proteção, de modo apoderem desenvolver criaçõespróprias e/ou encontrar parceirospara projetos conjuntos.

Quanto aos grandes desafios quese colocam a curto e médio prazo,realça que, para serem competiti-vas, têm que inovar, ter novasideias. Contudo, adverte, não bastater novas ideias. “A empresa deveser capaz de convertê-las em pro-

dutos e serviços a entegar aosclientes. As novas ideias, produtoda criatividade humana, só setransformarão em invenções se fo-rem organizadas para atingir umdeterminado fim. As invenções sóserão “inovação” na medida emque resultem em aplicações úteispara a sociedade, se tiverem umaaplicação prática”.

Apesar de corroborar a leiturade que o tecido empresarial portu-guês começa já a dar sinais depreocupação com a proteção da PI,“como forma não só de combater aconcorrência desleal, mas tambémcomo medida de proteção dos con-sumidores e de valorização de ati-vos empresariais”, Tatiana Mari-nho, advogada associada da NunoCerejeira Namora, Pedro MarinhoFalcão & Associados, realça: “Exis-te um longo caminho a percorrer

para a consciencialização da neces-sidade dessa proteção”.

Em seu entender, as marcas e aspatentes podem ser protegidas anível nacional através de registojunto do Instituto Nacional daPropriedade Industrial. Podemainda ser protegidas em toda aUnião Europeia, em bloco, juntodo Instituto da Propriedade Inte-lectual da União Europeia e doInstituto Europeu de Patentes. Éainda possível proteger estes direi-tos a nível internacional em todosos países que façam parte do Pro-tocolo de Madrid, sendo o pedidode registo efetuado junto da Orga-nização Mundial da PropriedadeIntelectual.

Filipe Mayer, sócio e coordena-dor de TMT&PI da CCA Ontier,atribui a maior consciência do ladodas empresas, em parte, ao quechama “advento do empreendedo-rismo e das startups”, que tem con-tribuído para que haja um maiorawareness. As empresas de hoje,conclui, “têm já bem presente queuma ideia excelente ou uma marcafortíssima não tem qualquer ex-pressão – principalmente econó-mica – se não forem objeto de pro-teção em sede de propriedade in-dustrial”.

Por outro lado, considerandoque uma marca ou uma patentesão direitos de PI, o especialistasublinha que estes direitos têmuma especificidade muito impor-tante e que os distingue de outros,nomeadamente do seu parente“direito de autor”: só existem seforem registados. Contrariamen-te a um livro ou a um filme, queuma pessoa escreve ou realiza, queexiste materializado nessa mesmaobra, uma marca ou uma patentesó o são depois de serem regista-dos nos locais próprios. Assim,acrescenta, “a única maneira de seproteger uma marca ou patente éatravés do seu registo, cujos con-tornos poderão variar quer emtermos territoriais, quer em ter-mos materiais. ●

A única maneira de se proteger uma marca ou uma patente é atravésdo seu registo, cujos contornos poderão variar quer em termos territoriais,quer em termos materiais.

MAIOR CONSCIÊNCIA,MAIS E MELHORPROTEÇÃO DOS ATIVOS

SÓNIA [email protected]

As invenções só serão“inovação” na medidaem que resultemem aplicações úteispara a sociedade,se tiverem umaaplicação prática

ESPECIAL PROPRIEDADE INTELECTUAL

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nas ferramentas de ID & Takedownmeasures)”, remata.

Num registo igualmente crítico,Manuel Lopes Rocha, sócio coor-denador da PI na PLMJ, elencacomo maiores barreiras “as leismal feitas, a falta de conhecimen-tos e especialização por parte dasautoridades administrativas e, in-felizmente, de alguns magistrados,acompanhada de carências váriasquanto aos meios necessários”. Emseu entender, é fundamental queas autoridades estejam bem asses-soradas e que os magistrados se es-pecializem, “mas que lhes sejamdadas condições para fazer carreirana área”, frisa. Na Inglaterra, re-corda, há anos que ouvimos falardo Juiz Richard Arnold, cá os juí-zes do Tribunal de PI, ao fim depoucos anos, vão-se embora. Tem

de haver estabilidade. “Temos óti-mos magistrados jovens que sa-bem imenso desta área. Conheçomagistrados de norte a sul do paísque seriam, ou são, magistradostão bons como os seus congéneresinternacionais nos países que con-tam nesta área. Mas sem uma pers-

petiva de carreira, é difícil que sequeiram especializar e permanecerneste segmento do Direito”, eluci-da ainda.

Considerando que o problemanão está só no Estado, entendeainda que muitas das entidades dasociedade civil “são fracas, nãoparticipam, não sugerem alternati-vas fundamentadas, não estudam,não atraem os melhores, e são,muitas vezes, associações poucoprofissionalizadas, em que unsquantos dirigentes se perpetuam,fazendo do dirigismo carreira. En-fim, é redutor atribuir todas as cul-pas ao Estado. Veja-se os proces-sos legislativos na AR e quantoscontributos escritos, com qualida-de, lá estão e de quem tinha o de-ver de se pronunciar, de propor,de intervir”, conclui. ●

É fundamentalque as autoridadesestejam bemassessoradase que os magistradosse especializem

Na certeza de que continuam aexistir barreiras à salvaguarda dosdireitos de PI, Leonor Chastre, ad-vogada especialista em PI, salienta,desde logo, o facto de, muitas ve-zes, a proteção parecer ter custoselevados para aquilo que as empre-sas estão preparadas para investir,“o que não é de todo verdade”, afir-ma, acrescentando que “proteger éassegurar a valorização e a poten-cial transação de valores intangí-veis no mercado com terceiros”.Defendendo que a grande barreiraé a educação, alerta para a necessi-dade de educar as empresas e osempresários “para perceberem ovalor do devido registo dos seusdireitos, para proteção e enforce-ment. Em Portugal existe uma“grande produção teórica” no di-reito, mas poucos juristas abor-dam, de um ponto de vista prático,os principais temas que preocu-pam o tecido empresarial e o ecos-sistema de inovação. Existe umagrande dificuldade dos juristas emadaptar a sua linguagem à lingua-gem dos seus clientes e deixar cairo ‘advogadês’”, reforça.

Assim, em seu entender, osgrandes desafios num futuro pró-ximo são os que resultam do digi-tal. “A evolução tecnológica, o fer-vor do imediatismo, do consumis-mo e a frustração do delay fazemcom que, por vezes, a ponderação eavaliação estratégica das empresas,no que respeita à obtenção da me-lhor proteção e sua valorização,seja adiada, ou que, no outro ladoda moeda, as empresas usuárias dePI descurem os licenciamentos einfrinjam direitos de titulares acre-ditando que não existirão conse-quências ou que, existindo, a análi-se custo/benefício sairá a seu favore que infringir compensa”, explica.Ainda assim, dá nota do quanto éfundamental “uma aplicação (quealguns tribunais portugueses já co-meçaram a fazer) dos punitive da-mages em sede de cálculo de indem-nização”. A verdade, acrescenta, éque o digital, no enfoque da pirata-ria e contrafação, cria grandes peri-gos e grandes desafios, mas pensoque na área da propriedade indus-trial, assim como na da proprieda-de intelectual, certas estratégiaspodem inverter o tabuleiro, as ten-dências, e reverter o mercado a fa-vor de um maior licenciamento,maior proteção de direitos e capa-cidade de monitorização de con-teúdos infratores (e claro, aposta

”PROTEGER É ASSEGURAR A VALORIZAÇÃOE A POTENCIAL TRANSAÇÃO DE VALORES INTANGÍVEIS”

Os especialistas alertam para a necessidade de educar as empresas e os empresáriosa fim de compreenderem o valor do registo dos seus direitos, para proteção e ‘enforcement’.

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ESPECIAL

FÓRUM O NOVO CÓDIGODA PROPRIEDADE INDUSTRIAL

1. A atual legislação, embora tenhasofrido algumas atualizações, datade 2003, ou seja, tem mais de 15anos. A realidade de há 15 anos erasubstancialmente distinta. Aevolução – ou antes, revolução –tecnológica pode e deve impor umaadequação da lei em conformidade.E essa adequação da lei só poderácaminhar no sentido da simplificação.De conceitos e de processos. Nesseaspeto penso que, do que éconhecido, deteta-se um meritórioesforço no sentido da atualização esimplificação de processos, quer noque respeita às marcas quer no queconcerne às patentes.

2. Esta resposta só poderá ser dadaquando todas as alterações entraremem vigor. Mas eu diria, desde já, queseria mais importante ir mais além noprocesso de simplificação dosregistos e seria também importanteacabar com figuras e conceitos quesão verdadeiramente do séculopassado e que hoje estão em francodesuso.

FILIPE MAYERSócio e Coordenadorde TMT&PI da CCA Ontier

1. No novo Código da PropriedadeIndustrial houve melhorias ao nívelde alguns procedimentos práticospara a proteção de direitos dePropriedade Industrial, mas hámudanças que colocam algumasreservas como o novo sistema depedidos de declaração de nulidade epedidos de anulação do registo demarcas junto do INPI – InstitutoNacional da Propriedade Industrial.

2. A definição mais clara e objetivade alguns preceitos legais,nomeadamente quanto aos efeitosda declaração de nulidade ou daanulação de direitos de propriedadeindustrial (novo artigo 35.º do Códigoda Propriedade Intelectual).

3. Os pedidos de registo de marcasda União Europeia serão maiseficazes, na medida em que há umaaproximação das legislações dosEstados-membros nessa matéria.Quanto aos segredos comerciais oude negócio, a sua proteção eoponibilidade a terceiros fica maisaproximada do regime da proteção eoponibilidade de direitos depropriedade industrial, o que traz,naturalmente, vantagens para osdetentores de know-how e deinformações confidenciais queestejam protegidas no âmbitodaqueles segredos comerciais ou denegócio.

ANTÓNIO ANDRADESócio da VdA - Vieira de Almeida1

QUE LEITURA FAZDO NOVO CÓDIGODA PROPRIEDADEINDUSTRIAL?

2O QUE FALTOUASSEGURAR NESTENOVO CÓDIGOE QUE URGE SERCOLMATADO?

3O QUE VAI MUDAREM PORTUGALCOM A TRANSPOSIÇÃODAS DUAS DIRETIVASEUROPEIAS?

2. Um aspeto muito importante asalientar, é que vamos ter umaespécie de novo direito de PI queprotege os chamados segredos denegócio, absolutamente vital para asempresas, sobretudo PME. Mas,como sempre, ao que parece, olegislador desatende os conselhosde quem anda na vida prática e láopta pela solução (fácil) de maiscontraordenações na lei. A diretiva

MANUEL LOPES ROCHASócio Coordenador PLMJ Prop.Intelectual, Marcas e Patentes

1. O novo Código da PropriedadeIndustrial, aprovado em Conselho deMinistros de 26 de abril de 2018, vaiproceder à transposição para aordem jurídica interna de duasdiretivas comunitárias: a Diretiva(EU) 2015/2436 que aproxima aslegislações em matéria de marcas ea Diretiva (EU) 2016/943, relativa aossegredos comerciais. Destacaria atransposição da Diretiva dossegredos comerciais. Teremos, nonovo Código, conceitos, definições esanções claras, com identificação doobjeto de proteção, definição de atoslícitos e ilícitos, sendo dado umavanço no tratamento e proteçãodesta matéria.

2. Julgo que a principal crítica que sepoderá fazer é a de que a revisão selimitou (quase) a cumprir a obrigaçãode transposição, mas que se poderiater ido mais longe na modernizaçãodo sistema, designadamente: poder--se-ia ter repensado a figura domodelo de utilidade e estendê-la aosprodutos farmacêuticos; poder-se-iater repensado os atos em que éindispensável (e deveria serobrigatória) a intervenção deprofissionais qualificados, de modo aassegurar que o agente económicoque utiliza o sistema recebe oaconselhamento devido enecessário; poder-se-ia termodernizado a figura do logotipo, demodo a evitar confusões com outrosdireitos; poder-se-ia ter repensado osistema de taxas das marcas, demodo a que um requerente que vejao seu pedido de registo de marcarecusado, não pague o mesmo queum requerente que tenha sucesso nopedido de registo de marca.

3. Em termos gerais, aproxima-se euniformiza-se a legislaçãoportuguesa (e dos restantes EstadosMembros) da legislação europeianestas matérias. Contudo, na partedos segredos comerciais, é dado umforte avanço no tratamento eproteção desta matéria.

CÉSAR BESSA MONTEIRO, JRSócio Contratado da AbreuAdvogados

ESPECIAL PROPRIEDADE INTELECTUAL

UE 2016/943 do PE, sobre segredosde negócio, que agora se transpõe,fala em sanções efetivas,proporcionadas e dissuasivas. Aqui,vamos ter a habitual lei bifurcada, emque há infrações de segredospunidas como crime, pois estão noCódigo Penal com as ridículasmolduras penais de prisão até 1 ano,e contraordenações no futuro CPI, sese mantiver o proposto. O Estadoconsidera que é mais grave a venda,numa feira, de meia dúzia de jogos,muitas vezes por pessoas semproteção, punindo-as até 3 anos deprisão, do que alguém se apropriar eusar de um segredo de negócio quepode liquidar empresas. A ICCPortugal, que tem na comissão de PIjuristas, agentes de PI eempresários, alertou para o efeito.Como sempre, não se dão ouvidos aquem conhece a prática. Mais valianão “ouvirem” as entidades quepretensamente consultam, poupava--se tempo a todos.

3. As leis, em si, nada mudam se nãohouver políticas claras materializadasna alocação de meios. Estasmatérias são assaz complexas, aquicomo em todo o lado, nos EUA ou naChina, hoje a grande potênciamundial de direitos de PI. Por isso, éincompreensível que os tribunais nãodisponham de meios como, porexemplo, assessores especializados.Como é que um juiz sozinho podeabarcar a jurisprudência de doistribunais superiores da UE, dascâmaras de recurso do InstitutoEuropeu de Patentes, das câmarasde recurso do Instituto da PI da UE,esteja atualizado na principaljurisprudência dos tribunaissuperiores dos EUA, fundamentalpara entender a evolução tecnológicado Direito, acompanhar a produçãonormativa da União Europeia, julgarprocessos.Talvez estejam aantecipar a entrada dos robôs naJustiça, quem sabe...Finalmente, temos as opçõespolíticas que nunca são claras. Osextremos, também aqui se tocam. E,curiosamente, quem tanto defendeua PI, em tempos idos, quando aindahavia Neo-Realismo, é hoje quemdela menos gosta, só que não oassume, por enquanto, às claras. Osoutros, andam sempre ocupadoscom coisas mais importantes e nãoreparam. Por isso, não há, comonoutros países, um combate salutar,aberto, para todos sabermos quem équem e quem pensa o quê. Discute--se, atualmente, em França, umapolitica geral de proteção e fomentode startups, patrocinada pelo PMEdouard Philippe e um dos seusprincipais capítulos é, obviamente,como proteger a PI…

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O Jornal Económico, 18 maio 2018 | 29

O novo Código da Propriedade Industrial, aprovado em Conselho de Ministros de 26 de abrilde 2018, vai proceder à transposição de duas diretivas comunitárias para a ordem jurídica interna.O Jornal Económico ouviu alguns dos principais especialistas em Portugal para ajudara compreender o que muda para as empresas nacionais. Conheça as principaisalterações e as suas implicações para as empresas e para a economia portuguesa.

1. Creio que, na sua generalidade, sedeverá elogiar o esforço conjuntorealizado para que o novo Código daPropriedade Industrial esteja emlinha com a nova Diretiva eRegulamento Europeus e para que,em simultâneo, se tentem manteraplicáveis os princípios estruturantesda nossa mecânica nacional(designadamente no que respeita àmanutenção do sistema de exameoficioso de marcas).

2. Entre outras matérias, entendo quedeveria ser revisto o atual regimeaplicável aos desenhos ou modelos namedida em os respetivos pedidos deregisto apenas são sujeitos a examesubstancial por parte do INPI no casode ser apresentada reclamação contraos mesmos. A facilidade de concessãodestes direitos (em contraposição comos exigentes requisitos de concessãoaplicáveis aos restantes direitos depropriedade industrial) deveria serobjeto de ponderação.

3. Pretende-se que haja uma maioraproximação entre os sistemasaplicáveis ao registo de marcaseuropeias e nacionais (no querespeita designadamente aosprocedimentos de registo e requisitospara a concessão do registo).

LÍDIA NEVESAdvogada da Miranda & Associadose Agente Oficial da Prop. Industrial

1. Fazia falta uma revisão, e em boahora (mas com atraso, a atual é de2003, já lá vão 15 anos) chega, muitoimposta pela necessidade detransposição da normativa europeiano que respeita a direito de marcas -Diretiva 2015/2436 - e segredocomercial - Diretiva 2016/943. Estenovo código, se o podemos chamarassim (de verdade) é ainda muitotradicionalista, ou se quiser, muitoportuguês, pois falta-lhe “ganas” dequerer ir mais longe, limita-se a umseguir o ‘by the book’ , e se em boaverdade tem o arrojo de ser novo emais adaptado aos novos tempos esobretudo às necessidades atuais domercado (empresas e empresários),podia ter sido futurista, e capitalintelectual e stakeholders de pesoem Portugal não faltam quepoderiam ter chegado um bocadinho

LEONOR CHASTREAdvogada, Especialistaem Propriedade Intelectual

1. O novo Código da PropriedadeIndustrial constitui mais um passo nosentido da atualização e melhoria dosistema legal de apoio à lealdade daconcorrência, num plano de

GONÇALO MOREIRA RATOSócio SRS Advogados, responsáveldepartamento de Prop. Intelectual

1. Ficou um pouco aquém dasexpectativas ou do que seriadesejável, afigurando-se quedeveriam ter sido corrigidos algunserros do passado quando seprocedeu à Revisão do Código de2008 e designadamente com aeuforia do Simplex. Em nome daacessibilidade, agilização esimplificação de procedimentosatropelam-se algumas garantiasfundamentais. Vejo com preocupaçãoa retirada dos tribunais das ações deanulação e declaração de nulidade deregistos para o INPI. Na verdade, adesjudicialização não trará qualquervantagem (à exceção do valor dastaxas a pagar) face à especializaçãodo TPI e celeridade do mesmo. Comoexemplo, fica desde logo prejudicadaa produção de prova testemunhal epericial que em muitos casoscomplexos é essencial para a boadecisão da causa. Contudo, o novoCPI trouxe alteraçõesimportantíssimas a nível das recusas

MARGARIDA M. DO ROSÁRIOAdvogada & Agente Oficial de Prop.Industrial da Gastão Cunha Ferreira

1. A leitura que posso fazer é daproposta das alterações do Códigoda Propriedade Industrial de quetomei conhecimento através dasassociações profissionais de quefaço parte, a ACPI e a AIPPI. Deacordo com a dita proposta, asalterações ao Código podem serresumidas em três grandes pontos:harmonização do Código à Diretivade Marcas e à Diretiva relativa àproteção dos chamados “trade

GONÇALO PAIVA E SOUSAAssociado Sénior, responsável PropIntelectual da GA_P em Portugal

progressivo aperfeiçoamento dosistema. Todavia, ainda aguardamosa versão final do Código que foiaprovada em Conselho de Ministrospara podermos fazer uma avaliaçãoem detalhe das alteraçõesintroduzidas.

2. Conforme referido na respostaanterior ainda aguardamos a versãofinal do Código que foi aprovada emConselho de Ministros parapodermos fazer uma avaliação emdetalhe das alterações introduzidas.Todavia, um dos temos por nósindicado para ser incluído nestarevisão foi assegurar a relação entreas marcas e as Denominações deOrigem e Indicações Geográficas,aspeto totalmente omisso no atualCódigo embora existamRegulamentos Comunitários que otratam, situação capaz de provocarfortes embaraços à salvaguardadesses direitos de interesse coletivoem Portugal.

3. Pouco se vai alterar em termos defundo com a transposição das duasdiretivas. A do Enforcement já estavapraticamente transposta no códigoatual. Quanto à dos Segredos deNegócio tratou-se de regulamentaruma matéria de relevante interessena prática comercial.

mais longe. Não querendo sernegativista parece-me que estecódigo já está mais adaptado ànossa realidade, mas, como não,com resquícios de “poeira”.

2. Existe um ponto que não consigodeixar de sublinhar e que mepreocupa desde há muitos anos.Trabalhei durante muitos anos emEspanha, enquanto advogada daárea de Propriedade Intelectual, enas melhores legislações, como é ocaso da Espanhola, existe umaautonomização do regime da“concorrência desleal”, em diplomapróprio o que desde logo implica umreconhecimento mais forte e maisefetivo e uma muito maior percepçãopor parte dos titulares dapossibilidade de proteção e doenforcement. Para quando emPortugal, dar o devido destaque aesta modalidade tão importante naproteção, para mais naquelesquadros que fogem aos tãoapertados cânon es tipicamenteassociados à constituição,manutenção e defesa destes direitosintangíveis? A ver vamos o que ofuturo nos reserva.

provisórias de pedidos de registo enas reclamações, ao introduzir apossibilidade dos requerentes dasmarcas exigirem aos titulares dasmarcas obstativas que demonstremque estão a utilizar as suas de formaséria. No caso de não conseguiremdemonstrar esse uso, os pedidos deregisto não podem ser recusadoscom base nessas marcas. Na prática,esta alteração será muito vantajosapois existe uma crescente dificuldadeem encontrar nomes de marcasdisponíveis face ao crescente númerode marcas em vigor mas que não sãoutilizadas e impedem o registo deoutras semelhantes.

3. De forma geral, existirá umaagilização no processo de registo demarcas face à diminuição dosentraves comuns. As alteraçõesmotivadas pela transposição dasdiretivas irão proporcionar umprocesso de limpeza de registos demarcas “adormecidas”, que podemnunca ter sido utilizadas, o titular jáse encontrar insolvente ousimplesmente ter perdido o interessenas mesmas. Esse processo delimpeza advém também do facto dese tornar mais fácil e acessível apossibilidade de anulação oudeclaração de registos. Existiráprevisivelmente uma redução donúmero de processos no Tribunal daP.I. A nível dos SegredosComerciais, prevê-se o reforço dadefesa do know-how, segredos denegócio e informações confidenciaisem resultado da criação da definiçãoeuropeia de segredo comercial e demecanismos legais de reacçãocontra a obtenção, utilização oudivulgação ilegal por terceiros.

secrets”; adaptação do Código aoregime da patente europeia de efeitounitário; reforço dos meios derepressão dos ilícitos do domínio dapropriedade industrial. Para além dasalterações propostas ao Código, estáem cima da mesa a proposta dealteração da Lei 62/2011, de 12 dedezembro, a Lei da arbitragemnecessária em matéria demedicamentos de referência egenéricos. De acordo com o quetenho conhecimento, o que sepretende é revogar o regime daarbitragem necessária, cabendo àsempresas inovadoras (detentoras depatentes ou de certificadoscomplementares de proteção) ainstauração da competente açãopara defesa dos seus direitos, emalternativa, no Tribunal daPropriedade Intelectual (TPI) ou emtribunal arbitral (desde que a partedemandada queira aderir àarbitragem). Quanto à forma como osreferidos pontos foram tratados, diriaque também na área da PI Portugalsofre da “síndrome do bom aluno”,indo mais além do que é exigido nasreferidas Diretivas. Exemplos dissosão o encurtamento do prazo paraimplementação da invalidaçãoadministrativa dos direitos depropriedade industrial e oalargamento dessa competência doINPI a outros direitos não abrangidospela Diretiva (logótipos, desenhos oumodelos, denominações de origementre outros)

3. No que respeita à Diretiva demarca as alterações maissignificativas no nosso CPI podemser resumidas nos seguintes pontos:atribuição de competência exclusivado INPI para conhecimento depedidos de invalidação administrativade direitos de propriedade industrial(com exceção de patentes, modelosde utilidade e topografia de produtossemicondutores), subtraindo-se essacompetência do TPI; abolição dorequisito da suscetibilidade derepresentação gráfica (abrindo-se aporta para novos tipos de marca,como por exemplo a marca olfativa, amarca de movimento ou a marcamultimédia); introdução do regime deinvocação da falta de uso sério demarca em processo de reclamação ecomo meio de defesa em processosde infração. No que respeita àchamada Diretiva dos “trade secrets”o novo Código irá autonomizar estamatéria face ao instituto daconcorrência desleal. O que querdizer que o regime de proteção dos“trade secrets” passará igualmente aser aplicável a não concorrentes, oque não acontecia no anteriorregime.

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30 | O Jornal Económico, 18 maio 2018

MERCADOS & FINANÇAS

Dependência docrude externo deixaPortugal vulnerávelà subida do preço

O Governo quer reduzir depen-dência, mas por agora a situação éclara - um recurso total ao petró-leo externo que deixa a economiaportuguesa à mercê das flutuaçõesdos preços nos mercados interna-cionais. Com o valor da matéria--prima a subir, produto internobruto (PIB) e poder de compra dosconsumidores estão na linha dafrente como principais vítimas.

“Hoje, Portugal importa e utiliza78 milhões de barris de petróleopor ano”, afirmou o ministro doAmbiente, esta quarta-feira quan-do o Governo anunciou que aprospeção de petróleo no Algarvevai avançar sem estudo de impactoambiental. João Pedro Matos Fer-nandes explicou que o objetivo édiminuir a dependência, eventual-mente por via de exploração na-cional, sendo que a estimativa é deuma redução do uso de petróleo,na Europa em 28% até 2050.

“O que está a acontecer é caso seencontre petróleo e, haja condi-ções para ser explorado, substituiruma fatia das importações, quehoje são feitas e que são tenden-cialmente menores até 2050, porpetróleo que venha a ser exploradoa 46 quilómetros costa portugue-sa”, afirmou o ministro. O consór-cio Eni/Galp espera que o furo es-teja pronto no final do ano, mas apossível utilização de petróleoportuguês ainda não está próxima.

Até essa altura, o país continua ater de importar todo o petróleoque necessita. “A face mais visívelda subida dos preços do petróleopara a economia nacional está re-lacionada diretamente com a de-pendência do ponto de vista ener-gético, nomeadamente dos hidro-carbonetos”, explicou Ângelo Cus-tódio, trader do Banco Best.

O aumento dos preços irá, deacordo com o trader, agravar a ba-lança comercial no setor, assimcomo aumentar o preço dos pro-dutos destilados, o que tem umefeito direto negativo no consumoe investimento nacional.

“O impacto é brutal porque Por-tugal é dirigido pelo pensamento‘politicamente correto’ que signifi-ca negligência em relação ao fun-cionamento da economia e demis-são na busca de outros motores daeconomia que não os existentes esuperprotegidos”, afirmou Antó-nio Costa Silva, chairman da PartexOil & Gas, empresa detida pelaFundação Calouste Gulbenkian eque tem participações em projetospetrolíferos em várias geografias.Costa Silva acusa o país de abdicarde inventariar e desenvolver os re-cursos endógenos que possui, in-cluindo o petróleo e gás.

Segundo o gestor, a importaçãodo exterior representa uma faturaenergética superior a 8.000 mi-lhões de euros anuais, sendo quecada aumento de 15 a 20 dólaresno preço do petróleo significa umcusto adicional de 1.200 a 1.500milhões de euros e uma reduçãodo crescimento do PIB nacional.

O presidente da Partex antecipaque o valor dos combustíveis suba“consideravelmente, traduzindo os

aumentos de preços do petróleonos mercados internacionais einaugurando um novo ciclo de di-ficuldades para a economia dopaís, para as pessoas e as empresas,que são sempre as vítimas da mio-pia política vigente”.

Marco Wagner, economista sé-nior do Commerzbank, apontapara o impacto nas famílias. Se-gundo os cálculos de Wagner, umasubida de 10 dólares no preço mé-dio do petróleo causa uma perdade 0,25% na paridade do poder decompra dos portugueses. “No en-tanto, os consumidores tendem aamortecer essa perda de poder decompra diminuindo a taxa de pou-pança”, afirmou.

Nos consumidores, o preço doscombustíveis não depende apenasdo valor da matéria-prima, comolembra o secretário-geral da Asso-ciação Portuguesa de EmpresasPetrolíferas (Apetro), AntónioComprido. Só os impostos repre-sentam uma fatia de mais de meta-de do preço no consumidor (55%para o gasóleo e 63% para a gasoli-na). “Os preços de venda dos com-bustíveis tendem a refletir a cota-ção do crude, embora não imedia-tamente pois dependem de outrosfatores como as variações sazonaisdo consumo, a eventual indisponi-bilidade de algumas refinarias eoutras situações locais ou regio-nais”, defendeu o engenheiro querepresenta as empresas do setor.

“Atendendo ao peso que as cota-ções dos produtos refinados têmno preço final dos combustíveis,atualmente cerca de 30% na gasoli-na e 34% no gasóleo, o impacto davariação das cotações do crudeserá sempre inferior a estes valo-res, devido às margens de refina-ção e custos de transporte, peloque deverá andar à volta dos 25%.Isto é, em termos aproximados, eadmitindo que não haverá grandesvariações no valor do euro face aodólar”, acrescentou. ●

Prospeção no Algarve avança e o Governo quer cortar importações. Atéentão, PIB e poder de compra são penalizados pelo valor da matéria-prima.

LEONOR MATEUS FERREIRAE SHRIKESH [email protected]

PETRÓLEO

Há quatro anos que o barril deBrent não valia 80 dólares. Voltoua tocar este preço esta quinta-feira,acentuando um movimento de su-bida que já acumula uma valoriza-ção de 20% este ano e que os ana-listas concordam ser sustentado. Aameaça de sanções dos EstadosUnidos ao Irão e a crise na Vene-

zuela, a par do acordo de cortes naprodução da Organização de Paí-ses Exportadores de Petróleo(OPEP) sustentaram o aumento.No entanto, o equilíbrio do merca-do ainda não é garantido.

“O atual momento do mercadode petróleo espelha um aumentodo prémio de risco via reinicio dassanções norte-americanas ao Irão,quebra do volume de produção naVenezuela e os efeitos do corte deprodução em 1,8 milhões de barrispor dia decidido pela OPEP e Rús-

Mercado petrolíferocoloca EUA nocentro da incerteza

Sanções norte-americanas ao Irão, crise naVenezuela e acordo da OPEP impulsionam o valordo petróleo, mas excesso de oferta persiste.

LEONOR MATEUS FERREIRAE SHRIKESH [email protected]

SUBIDA DOS PREÇOS

Presidente da Partexalerta que os preçosdos combustíveis vãosubir, “inaugurandoum novo ciclode dificuldades”para a economiadevido à “miopiapolítica vigente”

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O Jornal Económico, 18 maio 2018 | 31

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Argentinaà mercêdo sentimento

A eleição de Mauricio Macricomo Presidente da Argentinaa Dezembro de 2015 trouxe aopaís, pela primeira vez emmais de uma década, um Pre-sidente ciente da urgência dereformas estruturais em prolde uma economia de mercadoe da disciplina orçamental.Um discurso novo para opovo de uma economia quepor várias décadas foi molda-da por fixação de preços, con-trolos de fluxos de capital, ma-nipulação cambial e uma ges-tão relaxada de política orça-mental. Mas esta economiatambém passou por sucessivascrises financeiras e económi-cas, o que talvez tenha sido ofactor que levou o eleitoradoargentino a votar numa retó-rica completamente diferenteda que estavam habituados.

As promessas de Macri apela-ram não só ao eleitorado argen-tino, mas também à comunida-de de investidores internacio-nais. Assim que eleito, o novoPresidente conseguiu chegar aacordo com antigos credores in-ternacionais (que sofreram como incumprimento do anteriorGoverno) e atrair novos inves-tidores para uma história de re-forma estrutural profunda daeconomia Argentina. Um feitonotável mas, ao mesmo tempo,talvez demasiado precoce…

Não é por acaso que os eco-nomistas dão tanta atenção a“balanços” e a “equilíbrios”. Oestado de equilíbrio é o maissustentável, para onde normal-mente tendem as economias demercado no longo prazo (!),mas tentar chegar a ele de for-ma quase instantânea é ingé-nuo. Como tentar equilibraruma balança (um processo gra-dual de tentativa e erro) comum só gesto. Que foi o que Ma-cri fez ao deixar voar tanto capi-tal estrangeiro para a economia

BERNARDO SILVA CÂNCIOBiG – Banco de Investimento Global

Argentina. Ao abrir a balançade capital de forma tão abrupta,a Argentina ficou à mercê dosentimento dos investidores.

A direcção do Governo deMacri é apreciada pelos investi-dores internacionais mas a exe-cução das reformas tem sido de-sengonçada. A reforma do sec-tor público praticamente nãoviu a luz do dia e a consolidaçãoorçamental também tardou emchegar. Isso em conjunto comuma má colheita agrícola, comuma imposição de um impostosobre investimentos em activosfinanceiros e com uma valori-zação do dólar, foi suficientepara fazer os investidores fugirda Argentina. O que, dados osdesequilíbrios da balança de ca-pitais, levou a uma forte desva-lorização do peso argentino.

Macri devia ter primeiroatacado os problemas estrutu-rais da economia, nomeada-mente o imparável crescimen-to da oferta monetária, antesde abrir a balança de capital daforma que o fez. Arrisca-seagora a perder a confiança quetanto custou a recuperar, por-que geriu mal a reabertura daeconomia Argentina. A direc-ção das medidas é a correta,mas os equilíbrios demoram oseu tempo a atingir-se. Espere-mos que os investidores inter-nacionais percebam isso edêem uma segunda oportuni-dade ao Governo de Macri… ●

O autor escreve de acordocom a antiga ortografia.

OPINIÃO

O novo Presidenteconseguiu umacordo com antigoscredores e atrairnovos investidorespara uma históriade reformaestruturalprofunda. Um feitonotável mas, talvez,precoce…

sia (aprovado no inicio de 2017 eque se estenderá, pelo menos, atéfinal de 2018)”, explicou Carlos Je-sus, diretor-adjunto do CaixaBI.

O acordo de corte de produçãolevado a cabo por um grupo deprodutores dentro e fora do cartelcriou suporte para um equilíbriono mercado, através da redução doexcesso de oferta face à procura.Esse efeito foi amplificado pela de-cisão da administração de DonaldTrump de abandonar o acordo nu-clear e reintroduzir sanções aoIrão, bem como pela quebra deprodução devido à crise política eeconómica na Venezuela.

Nos últimos 12 meses, o preçoda matéria-prima mais que dupli-cou devido às tensões geopolíticas(primeiro com a Coreia do Norte eagora com o Irão) e outros eventospontuais (como a purga na ArábiaSaudita), mas também sustentadopela aceleração da economia e doconsumo a nível global e diminui-ção abrupta do investimento nosetor ao longo de 2017.

A expetativa é que a tendência semantenha. Ainda assim, Jesus con-sidera que o comportamento dopreço do petróleo irá principal-

mente depender do desfasamentoentre a evolução da oferta e daprocura. “O atual cenário é de quea oferta poderá superar a procurano segundo semestre de 2018,muito por culpa do aumento deprodução nos EUA”, explicou o di-retor-adjunto do CaixaBI, cuja es-timativa para o preço médio dobarril se mantém em 65 dólarestanto este ano como no próximo.

Ângelo Custódio, trader do Ban-co Best partilha a visão de que ospreços irão continuar a subir elembra que o último relatório da

OPEP aponta para uma aproxima-ção do fim do excedente.

A organização estima que a pro-cura mundial cresça em 2018 cercade 1,65 milhões de barris por dia,“pelo que será a evolução econó-mica mundial conjugada com a di-nâmica entre a procura e a oferta aditar o interesse sobre o petróleo”.Nas contas da Agência de EnergiaInternacional a procura irá conti-nuar a aumentar e uma redução si-gnificativa não deverá acontecerantes de 2040.

No entanto, a subida dos preçostorna mais atrativa a exploração depetróleo de xisto, especialmentepelos produtores norte-america-nos, aumentando a produção dopaís e pondo em causa os esforçosde equilíbrio do mercado.

“A política energética dos EUApoderá ser um dos principais fato-res para uma inversão na atualtendência de subida dos preços dopetróleo, incentivando a um au-mento da exploração de petróleode xisto e levando a um aumentoefetivo das reservas de crude nor-te-americanas, que têm recuadonestas ultimas semanas”, alertaCustódio. ●

“O atual cenário éde que a oferta poderásuperar a procurano segundo semestrede 2018, muito porculpa do aumento deprodução nos EUA”,explicou Carlos Jesus,diretor-adjuntodo CaixaBI

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32 | O Jornal Económico, 18 maio 2018

MERCADOS & FINANÇAS

As praças europeias vivem atual-mente um momento positivo, de-pois da correção em baixa acentuadaregistada no início de 2018.

O índice francês CAC 40 atingiuagora máximos de mais de dez anos,enquanto o alemão DAX encontra--se muito próximo de atingir máxi-mos históricos (13.596 pontos), ne-gociando nesta altura acima dos13.000.

Contudo, o índice italiano FTSEMIB atingiu mínimos de um mês,após as notícias alarmantes prove-nientes de Itália. Segundo se sabe, ospartidos populistas Movimento Cin-co Estrelas de Luigi di Maio e a LigaNorte de Matteo Salvini teriam rea-lizado um princípio de acordo para aefetivação de uma coligação a nívelgovernativo. O principal motivopara o receio dos mercados surgiu do

facto de ambos os partidos terem in-cluído no esboço do acordo um pos-sível pedido de perdão de dívida aoBanco Central Europeu no valor de250 mil milhões de euros. No entan-to, na reunião entre ambas as partesna passada quinta-feira ficou postode parte a hipótese de se efetivar oreferido perdão de dívida. O FTSEMIB recuou mais de 3% em poucomais de uma semana, depois de atin-gir máximos de outubro de 2009 nos2.4544 pontos.

Nos EUA, os principais índices deWall Street recuaram ligeiramenteem resposta ao aumento das yieldsdas T-Bonds norte-americanas, sen-do que no caso dos títulos a 10 anosos rendimentos atingiram os 3,1%, ovalor mais alto desde julho de 2011.Tal facto provocou um fluxo de saídade investimento das bolsas norte--americanas para as TreasuryBonds.

Em Portugal, as últimas duas se-manas permitem fazer alguns desta-ques. Desde logo, assume especialimportância, pela dimensão da em-

presa, a Oferta Pública de Aquisição(OPA) da China Three Gorges àEDP que levou a uma subida de maisde 10% do título após o anúncio. Par-te considerável do mercado acreditana necessidade de uma revisão emalta do preço oferecido para que aOPA tenha sucesso, embora esse nãoseja o único caminho possível.

Em termos de valorizações, a ‘es-trela’ do PSI 20 este mês tem sido aAltri que subiu mais de 20% esta se-mana e acumula cerca de 40% de ga-nhos nos últimos 30 dias. A empresaestá a beneficiar de um contextomuito positivo na evolução do dólar,dos preços da pasta de papel nosmercados internacionais e de movi-

mentações de consolidação no setor.Ainda que com menor expressão, asações da Semapa e Navigator têmtambém registado ganhos significa-tivos.

Tecnicamente, o PSI20 quebrouem alta a consolidação que estava emvigor. Enquanto acima de 5.200pontos, o índice permanecia comperspetiva construtiva em alta, quese concretizou. Está agora a apontarpara os 5.800 pontos – zona de máxi-mos do ano - e é já dos que mais sobeem 2018, apenas perdendo na com-paração com o FTSE MIB italianoque ainda lidera os ganhos na Euro-pa, mesmo após a queda recente liga-da à formação de governo no país. ●

Euro fraco ajudaperformance dasbolsas europeias

O PSI 20 parece apontar para novos máximosdo ano, com a OPA sobre a EDP e a valorizaçãoda Altri a constituírem os destaques principais.

FILIPE GARCIAEconomista da IMF, Informaçãode Mercados Financeiros

Cris

tina

Ber

nard

oFECHO DA SEMANA

CAMBIALEUR/USD

O euro/dólar tem vindo a cairno último mês, apesar de no início de

maio ter tentado corrigir para próximo de1,20. O dólar tem seguido um rally face ao

euro, suportado pelo um aumento das yieldsdas T-Bonds dos EUA. No entanto, a queda do

euro deveu-se principalmente às notíciasprovenientes de Itália. Tecnicamente, a

perspetiva mantém-se de queda, com a MACDa dar sinais claros de venda. Contudo, é

necessária alguma precaução com aformação da cunha descendente que

está presente no par, que poderáindicar uma alteração do viés

descendente.

AÇÕESEDP

As ações da elétrica chegarama valorizar mais de 12,5%, desde o

anúncio da OPA da CTG, tendo atingidomáximos de outubro de 2015 nos 3,495

euros. A chinesa ofereceu 3,26 euros poração, gerando a maior valorização dos títulos

da EDP em 10 anos. O aumento na cotação levaa crer que os investidores vêem o valor da oferta

como demasiado baixo. A nível técnico, acotação apresenta níveis overbought no RSI

de 14 períodos no gráfico diário. O MACDapresenta um movimento ascendente,

numa altura em que os volumes detransação e a volatilidade são

bastante mais elevados.

COMMODITIESCACAU

O cacau tem tido um ano doce,com uma valorização de 43% em

apenas quatro meses e meio, o que podecausar uma subida dos preços do chocolate.A elevada produção de cacau em África em

2017 levou à acumulação de posições curtas equeda dos preços. No entanto, este ano espera-

-se que a produção seja incapaz de manter oritmo, levando à liquidação de posições curtase a um disparo nos preços. A expectativa de

que o consumo de chocolate continue asubir, especialmente na China, levou a

que as fábricas aumentassem ascompras de cacau,suportando o preço.

21 DE MAIOCRÉDITO À HABITAÇÃOTaxas de Juro Implícitas noCrédito à Habitação relativasa abril publicadas pelo INE

COMÉRCIO JAPONÊSPublicação de dadosda balança comercialdo Japão em abril

22 DE MAIOCAUSAS DE MORTEEM PORTUGALINE apresenta estatísticassobre Causas de Morteem Portugal em 2016

DÍVIDANORTE-AMERICANALeilão de dívida de curtoprazo nos Estados Unidos,incluindo Treasuriesa dois anos

BANCO DE PORTUGALBanco de Portugal publicaBoletim Estatístico

23 DE MAIODESEMPREGO FRANCÊSDivulgação de dados da taxade desemprego de França noprimeiro trimestre do ano

ECONOMIA EUROPEIAMarkit divulga estimativarápida do índice PMICompósito na zona euroe UE em maio

INFLAÇÃO BRITÂNICAPublicação de dadosno Índice de Preçosno Consumidorno Reino Unido em abril

POLÍTICA MONETÁRIANORTE-AMERICANAReserva Federal norte--americana publica minutasda última reunião de políticamonetária do FOMC

24 DE MAIOECONOMIA ALEMÃPublicação do Índice GfK deConfiança dos Consumidoresna Alemanha relativo a junho

RETALHO BRITÂNICOPublicação de dadosdas vendas do retalhono Reino Unido em abril

25 DE MAIOEMPRESAS ALEMÃSInstituto Ifo publicaindicadores de clima,expetativas e condiçõesatuais das empresas naAlemanha, relativos a maio

ECONOMIA BRITÂNICACrescimento do ProdutoInterno Bruto (PIB) do ReinoUnido no primeiro trimestredo ano

EM AGENDA

Com o apoio de

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BARÓMETROO Jornal Económico, 18 maio 2018 | 33

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rsÀ medida que a sociedade vai desen-volvendo a sua faceta digital, muitasempresas vêem-se confrontadas com anecessidade de integrar na sua opera-ção as inovações que desenvolveramad-hoc.

Como passar então da teatralidadeda disrupção digital para um processomaduro de inovação, desde a melhoriaincremental ao desenvolvimento deprodutos e à transformação do negó-cio?

Numa tentativa de emular os gigan-tes tecnológicos, nascidos digitais, fo-ram criados na última década muitoslaboratórios digitais, separados deamarras burocráticas e convençõescorporativas, ágeis para atrair talentoe canalizar recursos para repensar onegócio e testar novas tecnologias.

Quando as inovações que daí emer-

giram são integradas no negócio prin-cipal, colidem com diversas barreiras,desde a canibalização de produtosexistentes à dificuldade de integraçãona tecnologia corporativa, passandotambém pela preocupação com riscosassociados à privacidade e proteçãodos dados, entre outros requisitos re-gulatórios.

Muitas vezes é mais fácil cancelar oprocesso de inovação, rejeitando asnovas ideias, produtos e serviços, doque acelerá-lo, integrando-os e esca-lando-os até ganharem momentum.

Atualmente vai crescendo a cons-ciência de que é fundamental ir maislonge, tão ubíqua e inevitável é a pro-

funda digitalização da vida das pessoase das organizações, e as perguntas vãotomando também a forma de «o quê»e «como» em vez de se limitarem ao«porquê» original.

Este movimento é saudável e neces-sário, porque o «porquê» está relativa-mente claro para todos: a quarta revo-lução industrial irá reformular a cadeiade valor da maioria dos setores da eco-nomia e com esta transformação ma-terializar-se-ão importantes oportuni-dades, bem como outros tantos riscos.

Já o «o quê» exige que se pense digi-tal desde o primeiro momento. Nota--se que em vez de as equipas de inova-ção envolverem os advogados e oscontabilistas no final, pedindo-lhesaprovação para a sua ideia concreta,antes os envolvem desde o início, ain-da na fase de geração de ideias, paraque essa perspetiva seja integrada des-de o desenho inicial.

Quanto ao «como» é fulcral que seencontre um equilíbrio adequado en-tre a segregação e a integração com onegócio principal, bem como que seavalie a inovação num horizonte tem-poral alargado, que se tenha o adequa-do apetite ao risco, que se mantenha oslaços a todas as funções críticas do ne-gócio desde o início e que se obtenha acolaboração de terceiros, externos àorganização. ●

Como industrializara inovação?

BRUNO PADINHAPartner, EY

Quando as inovações sãointegradas no negócioprincipal, colidemcom diversas barreiras,desde a canibalizaçãode produtos existentesà dificuldadede integração natecnologia corporativa.

A aprendizagem automática (machine learning) ga-nha um espaço cada vez maior nas soluções desoftware adotadas pelas organizações com o objetivode mitigar novas ameaças.

Na área da cibersegurança os fabricantes desoftware têm investido muito no desenvolvimento eintegração de algoritmos de aprendizagem automá-tica nos seus produtos. Têm surgido novos progra-mas que prometem a deteção de ciberataques combase na análise de padrões de tráfego e o comporta-mento dos utilizadores nas suas sessões de trabalho,permitindo respostas mais rápidas por parte dasequipas de segurança. Têm também surgido moto-res de análise de código fonte que conseguem identi-ficar erros de programação e escreverem automati-camente um programa que os explore.

Uma das questões que se levanta para a adoçãodestas novas tecnologias está relacionada com a de-pendência do ser humano para treinar os algoritmosa fim de evitar taxas altas de falsos positivos. Umavez que as deteções são feitas com base na aprendi-zagem de padrões, cria-se um desafio para quemdesenvolve e para quem explora as vulnerabilidadesdos sistemas. Por um lado os hackers têm hoje umnovo desafio que poderá passar pela criação de téc-nicas que permitam enganar os algoritmos, atravésda injeção de padrões (low and slow) e para quemdesenvolve a criação de estratégias que permitam aoalgoritmo identificar que algo ou alguém lhe está atentar alterar o comportamento.

Numa altura em que se debate o Regulamento Ge-ral sobre a Proteção de Dados (RGPD) e o direito àprivacidade, o mesmo desafio é colocado a quem tra-ta grandes volumes de dados com recurso a algorit-mos de aprendizagem. Assistimos recentemente aum caso paradigmático sobre os dados extraídos deuma das maiores redes sociais em que a análise deações aparentemente inofensivas como a atribuiçãode likes, permitiu através de técnicas de psicometria(ciência que estuda técnicas de medição psicológica)identificar perfis psicológicos mais vulneráreis àpartilha de informação falsa, sem que ninguém seapercebesse. A exploração desta falha algorítmicateve um impacto muito significativo na organizaçãoe corrigi-la levará cerca de três anos de acordo comos responsáveis.

Os dados da aprendizagem automática estão lan-çados e cabe agora aos fabricantes e organizaçõestrabalharem em conjunto para terem cada vez me-lhor informação e algoritmos para a tratar. ●

AprendizagemAutomática naCibersegurança

Com o apoio de

Uma das questões que se levantana adoção de novas tecnologiasestá relacionada com adependência do ser humano paratreinar os algoritmos a evitartaxas altas de falsos positivos.

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ADVISORY

“Lei exige ao mercado umaintuição sobre o que podeser lavagem de dinheiro”

Descoordenação e complexidadeestão no ADN da nova lei de pre-venção do branqueamento de capi-tais e financiamento para os advo-gados Paulo de Sá e Cunha e PauloCosta Martins. O coordenador dePenal Económico da Cuatrecasasconsidera que a lei portuguesa foialém da europeia no limite dos pa-gamentos em dinheiro, enquanto osócio de Bancário e Financeiroacredita que se vai “começar o tra-balho pelo telhado” se a quinta revi-são da diretiva avançar sem regula-mentação das moedas virtuais.

Quão longe está Portugal de teruma lista pública de PessoasPoliticamente Expostas (PEP)?

Paulo Costa Martins (PM) – Achoque das PEP estamos bastante maislonge, quando comparado com oregisto central dos beneficiários efe-tivos. Essa é uma das medidas posi-tivas da nova lei, apesar de eu serbastante cético quanto ao timing dasua implementação. Não faz sentidocolocar o ónus nas empresas e te-rem de ser elas a identificar quemsão os beneficiários. É melhor queseja um serviço providenciado peloEstado para o mercado e não o in-verso. Ainda irá demorar algumtempo até que as empresas consi-gam aceder de forma imediata.

Há quem defenda que os vistosgold podem aumentar o risco.Devem colocar-se entravesao investimento em funçãodeste controlo?PM – Não me parece que tenhamos

de impor qualquer tipo de proibi-ção ou mesmo limitações excessi-vas em função de uma determinadajurisdição. É verdade que um doselementos a ter em conta quando sefaz a avaliação de risco de bran-queamento de capitais tem a vercom a nacionalidade do cliente. Háum ponto que acho interessante, odo risk-based approach, a possibili-dade que o legislador dá às entida-des de poderem, elas próprias, ava-liar se uma determinada relaçãocom um cliente apresenta um graude risco mais baixo e, nesse contex-to, aplicarem as medidas simplifica-das. Faz sentido, mas cria algumadiferença de tratamento entre enti-dades perante situações iguais.

Houve uma transposiçãoharmoniosa da 4ª Diretiva?PM – Notou-se alguma descoorde-

nação no processo legislativo. Éuma lei cujo prazo transitório de-correu em agosto, muito curto. Pa-rece que houve muita pressa paraque entrasse em vigor mas depois,no setor financeiro, estamos emmaio e ainda não temos um aviso doBanco de Portugal a regulamentaras matérias da lei para estas institui-ções. O alargamento das entidadesobrigadas ao cumprimento dos no-vos requisitos em sede de prevençãodo branqueamento foi a grande al-teração. Muitas das obrigações jáexistiam no setor financeiro no an-tigo regime jurídico. Não houveuma grande revolução ao nível decompliance no setor financeiro.

Foram alémdos requisitos exigidos?Paulo de Sá e Cunha (PC) – Fomosalém, por exemplo, no limite dos

Paulo de Sá e Cunha e Paulo Costa Martins, sócio da Cuatrecasas, Gonçalves Pereira, afirmamque houve “pressa” para que a lei da prevenção do branqueamento de capitais entrasse em vigor.

MARIANA [email protected]

ENTREVISTA PAULO DE SÁ E CUNHA E PAULO COSTA MARTINS Sócios Cuatrecasas, Gonçalves Pereira

ADVOGADOS, CONSULTORES E BANCOS DE INVESTIMENTO

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pagamentos em dinheiro. Optámospor mexer num conjunto de leis(Lei Geral Tributária e o RegimeGeral das Infrações Tributárias) e assoluções legislativas adotadas nãosão fáceis de entender. Em vez de seestabelecer um limite generalizado,há vários limites aplicados em váriassituações. Um estrangeiro em Por-tugal que vá a uma ourivesaria ecompre um relógio de 7.000 euros,pode pagá-lo em dinheiro porque olimite é de 10.000 euros. Se for umcidadão nacional não pode. A ques-tão é o destinatário desta lei: o co-merciante com um conjunto de li-mites com que vai ter de trabalhar.

Como é que prejudicao comerciante?PC – Quem vai ter competênciapara fiscalizar esta matéria é ASAE,que não tem tradição de atuação emmatéria de prevenção do branquea-mento. É mais uma competênciaque a vai sobrecarregar. Há aindauma cláusula geral que vai levantarproblemas práticos e que consagrao dever de comunicação de opera-ções suspeitas pela natureza do in-terveniente, operação e proveniên-cia dos fundos, independentementedo valor. Exige-se a quem está nomercado que tenha uma espécie deintuição daquilo que pode ser umaoperação de branqueamento ou fi-nanciamento do terrorismo.

Compreende as críticasque a Ordem dos Advogados fez?PC – Até acho que foi muito come-dida nas críticas que fez. Há outrosaspetos da lei que não foram muitofelizes. Quando tivermos de fazer atal comunicação, a mesma será feitajunto do bastonário, mas o bastoná-rio tem o dever de, sem nenhumacondição ou filtro, fazer a comuni-cação à unidade de informação fi-nanceira e ao Departamento Cen-tral de Investigação e Ação Penal. Obastonário está a funcionar comouma caixa de correio dos advoga-dos. É mais uma vez um mecanismoestritamente formal. De que serveenviar ao bastonário e o bastonáriodepois estar obrigado a comunicarde imediato? Muito pouco.

A quinta revisão foca-senas moedas virtuais. Qual aprincipal mudança no regime?PM – O grande tópico é abrangeressas novas realidades. É engraçadoque acabámos de transpor a 4ª háuns meses e já estamos a discutir a5ª. Acho que vai ser um verdadeirodesafio porque as moedas virtuaisou a blockchain ainda não têm qual-quer tipo de regulamentação emPortugal e em muitos países daUnião Europeia. Ainda não há se-quer um consenso sobre como sepode qualificar este tipo de instru-mentos. Enquanto não tivermosum quadro jurídico estável, parece--me complicado que se consiga pro-duzir trabalho. Se não parece queestamos a começar pelo telhado. ●

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É isto umprograma parao Território?

Está em discussão pública, até 15de Junho de 2018, a proposta dealteração do Programa Nacionalda Política de Ordenamento doTerritório (PNPOT).

Apesar de o lance ter passadopraticamente despercebido napraça pública, o momento é cru-cial. Ou melhor, pela importân-cia do que está em causa, deviaser crucial: o PNPOT é, nadamenos, que o instrumento que,sob a forma de lei da Assembleiada República, concretiza as op-ções tomadas nos instrumentosestratégicos de âmbito nacional edefine o modelo de organizaçãoespacial para todo o territórionacional.

Estranhamente, e ainda me-nos do que na versão do PNPOTde 2007 em vigor, a proposta emdiscussão pouco ou nada diz so-bre o que devia dizer. Estamosperante um documento perdidonuma tecnicidade cheia de “coe-são”, “inovação”, “valorização”,“incrementos” de coisas boas e“reduções” de coisas más, queevita calcular meios, quantifi-car/datar metas e oferecer solu-ções concretas para os problemas(bem) diagnosticados. Enfim,propõe-se ao país um programapraticamente vazio. Veja-se trêsde muitos exemplos:

(i) A remissão genérica parauma concretização ao “nível po-lítico” e ao ProgramaNacional deInvestimentos 2030, fugindo-seàquilo que deve ser o próprioPNPOT;

(ii) A omissão sobre os objecti-vos que o Estado quer assumirsobre a localização dos grandesinvestimentos públicos, de onderessalta a eliminação das referên-cias ao novo aeroporto de Lisboae ao TGV que estavam (estão) noPNPOT de 2007 (adivinha-seporquê, mas uma justificação,curta que fosse, era o mínimo);

(iii) As saídas para a trágicaperda demográfica que enfrenta-

JOSÉ DIOGO MARQUESAdvogado, Cuatrecasas

mos são reduzidas ao “aumentoda atratividade residencial, eco-nómica, ambiental, cultural e delazer das áreas rurais e dos terri-tórios de baixa densidade”, semque se enunciem quaisquer me-canismos ou metas palpáveis.

Em cima disso, há umas “di-rectrizes de conteúdo” para osplanos de nível inferior (sobre-tudo para Programas Regionaise PDM), mais ou menos razoá-veis, mas sem uma articulaçãoexplicada com o diagnóstico fei-to ou com as ditas medidas quese propõem.

Este enorme vazio é sintomá-tico de um tempo em que pou-cos ousam atravessar-se. Em queas forças políticas e administrati-vas não se atrevem a superar oimediatismo da nossa vida colec-tiva e de contrariar a obsessãocom gestões mediáticas e com atrama de supostos combates po-líticos (que, na maior parte doscasos, nem passam de confron-tos estéreis de egos).

O resultado é uma propostade Programa sem rasgo, que seresume à sistematização do dia-gnóstico dos problemas terri-toriais e à compilação de medi-das ultra abstractas que even-tualmente podem um dia pro-duzir efeito. Talvez, se calhar,não se sabe bem quando oucomo. Mas se é assim, para quêmanter um PNPOT no nossosistema de gestão territorial?Ou sequer rever o que está emvigor? Talvez valha a pena par-ticipar, nem que seja só paraperguntar isto mesmo. ●

O autor escreve de acordocom a antiga ortografia.

OPINIÃO

O resultadoé uma propostasem rasgo,que se resumeà sistematizaçãodo diagnósticodos problemasterritoriaise à compilaçãode medidas ultraabstratas

Congressode auditores fiscaisarranca a 28 de maio

A Associação dos Profissionais daInspecção Tributária (APIT), a Fe-deração Brasileira de Associaçõesde Fiscais de Tributos Estaduais(Febrafite), a Rede de AuditoresFiscais de Língua Portuguesa(RAF-LP) e a Law Academy, assu-miram o desafio de organizar o 3.ºCongresso Luso-Brasileiro de Au-ditores Fiscais e Aduaneiros, dedi-cando o evento ao tema “Em Buscade Justiça Fiscal”. Ainda a duas se-manas do início do evento, que serealiza nos 28, 29 e 30 de maio, esteconta já com mais de 200 congres-sistas, entre os quais mais de 100brasileiros.

Esta edição, que conta com o Jor-nal Económico como MediaPartner, propõe-se “a trazer algu-ma luz não apenas sobre as ques-tões atuais em termos de fiscalida-de e alfândegas, mas também dis-cutir as futuras soluções perante osdesafios que as sociedades enfren-tam, por efeito da globalização, di-gitalização, entre outros”. O objec-tivo é sinalizado por Nuno Barro-so, presidente da APIT, acrescen-tado que “existe na sociedade, emtodas as sociedades, uma exigênciaabsoluta e ainda não satisfeita, deesclarecimento fiscal”.

O evento reunirá, em três dias deprogramação técnica, profissionaisdo Fisco, autoridades tributárias epalestrantes especialistas em políti-ca, economia e área fiscal da Euro-pa e do Brasil, no Centro de Con-gressos da Alfândega do Porto.

“Estamos diante de mais umgrande evento internacional quenasceu com o espírito de promovera integração, o intercâmbio, a qua-lificação e debater temas atuais noâmbito desta fundamental ativida-de do fisco para o Estado, envol-vendo os inspetores tributários eaduaneiros das administrações fis-cais do Brasil e de Portugal”, salien-ta Nuno Barroso, dando conta quetrata-se de um evento que é já umareferência mundial “por pautarpela exigência, independência eprofissionalismo”.

O presidente da APIT sinalizaque este congresso envolve profis-sionais que partilham a mesma

língua e o mesmo desejo de servira sociedade em busca de justiça so-cial através de justiça fiscal, pre-tende-se promover momentos dediscussão, reflexão, troca de expe-riências e enriquecimento sobre oconhecimento de temáticas rele-vantes para o exercício das nossasprofissões.

“Tão ou mais importante é oenvolvimento neste evento deprofissionais do setor privado(professores, investigadores, ju-ristas, advogados, contabilistas eoutros profissionais), procuran-do-se assim ir ao encontro das ex-pectativas na criação de sinergiascom o envolvimento dos váriosintervenientes”, acrescenta NunoBarroso. Este responsável realçaque só com esta abertura e dispo-nibilidade, “as nossas sociedadespodem avançar na certeza de quetodos os envolvidos em matériasfiscais ou aduaneiras estão imbuí-dos de um inquebrantável espíri-to de Justiça”.

Marcelo Rebelo de Sousae CPLP apoiam 3º CongressoO presidente da APIT salienta ain-da que é para os organizadores “ésinónimo de reconhecimento daqualidade e relevância do evento, aconcessão do Alto Patrocínio deSua Excelência o Presidente da Re-pública Portuguesa, e o Apoio Ins-titucional (entre outros) da CPLP –Comunidade de Países de LínguaPortuguesa”.

Em debate estarão termas como“Que caminhos para alcançar a Jus-tiça Fiscal”, “ Os Desafios da Inves-tigação Criminal Fiscal”, “A Tribu-tação do Futuro e o Papel dos Ins-petores/Auditores”, bem como “OsDesafios da Globalização para aÁrea Aduaneira” e “As Prerrogati-vas destes Profissionais na sua rela-ção com os Contribuintes”

Nesta terceira edição do Con-gresso está prevista a participaçãoda directora geral da AutoridadeTributária (AT), Helena Borges,bem como do secretário de Estadodos Assuntos Fiscais, AntónioMendonça Mendes; o ex-secretá-rio de Estado de Assuntos Fiscais,Fernando Rocha Andrade; e ex--ministros do Governo PSD/CDS, Maria Luís Albuquerque e PedroMota Soares. ●

Evento promovido pela APIT, Febrafite,RAF-LP e Law Academy, é referência mundialdas administrações tributárias e aduaneiras.

LÍGIA SIMÕ[email protected]

3ª EDIÇÃO DE CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO

BREVES

SRS Advogadoslança aceleradorde startups

A SRS Advogados acaba delançar o Startup Lab bySRS, “o primeiro acelera-dor de startups desenvolvi-do por uma Sociedade deadvogados portuguesa, emconjunto com parceiros es-pecializados, e vocacionadopara o desenvolvimento deprodutos e soluções paraempresas de serviços”, re-feriu a firma. O acelerador“tem como foco as startupsde base tecnológica nasáreas de Legaltech, Fin-tech, Insuretech, Regtech eConsultech”, frisou.

11,9É o valor, em milhares demilhões de euros, em que aOPA da China Three Gorges,a 3,26 euros por ação, avaliaa EDP. A Linklaters e a SerraLopes-Cortes Martins apoiamos chineses, enquanto a EDPconta com a Morais Leitão.

Estoril recebeCongresso da FIDEnos dias 23 a 26

A Associação Portuguesade Direito Europeu(APDE) que preside,atualmente, à FédérationInternationale pour le DroitEuropéen (FIDE) vai pro-mover, entre os próximosdias 23 e 26 de maio, noCentro de Congressos doEstoril, o XXVIII Con-gresso FIDE. “Trata-se doevento com maior noto-riedade e prestígio sobredireito europeu, consti-tuindo um fórum privile-giado para a reflexão práti-ca e o debate”, frisou.

A China ThreeGorges entrounum vespeiroregulatório.Álvaro Nadal, ministroda Energia de Espanha,citado pelo “El Economista”

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36 | O Jornal Económico, 18 maio 2018

UNIVERSIDADES & EMPREGO

ISEG tem únicocurso do país emciências atuariais

Integralmente lecionado em lín-gua inglesa e com a maioria de es-tudantes estrangeiros. O mestradode Ciências Atuariais do ISEG, quecomeçou por ser uma pós-gradua-ção em 1990, é a única oferta for-mativa de ensino superior portu-guês nesta área, depois de ter dei-xado de funcionar a licenciatura naFCT da Universidade Nova de Lis-boa. O mestrado extravasa emmuito as fronteiras nacionais.“Posso dizer que, no primeiro ano,há uma relação de dois estrangei-ros para um português”, revelaMaria de Lourdes Centeno, pro-fessora catedrática do ISEG, daUniversidade de Lisboa, coorde-nadora do mestrado em CiênciasAtuariais ao Jornal Económico.

O curso é reconhecido pelo Ins-titute and Faculty of Actuaries noReino Unido, que apenas acreditaum número muito reduzido deUniversidades. “Ao fazê-lo está aconceder-nos credibilidade inter-nacional”, acrescenta a professora.O ISEG surge também na lista dasuniversidades com ProgramasAtuariais da Society of Actuariesna América do Norte. Para alémdisso, o mestrado ocupa a posição18 entre os 50 melhores Mestradosem Seguros e Gestão de Risco doEDUNIVERSAL.

O mestrado do ISEG tem 25 va-

gas. Com a duração de dois anos, oúltimo semestre dos quais destina-do à elaboração do trabalho finalde mestrado, que pode tomar aforma de dissertação, projeto ouestágio, o curso permite a aquisi-ção de conhecimentos sólidos nasáreas de Probabilidades, Estatísti-ca, Finanças e Atuariado propria-mente dito. “As unidades curricu-lares são lecionadas tendo semprepresente que o estudante vai apli-car essas matérias na área dos se-guros”, acrescenta.

Pelo Quelhas passaram já licen-ciados em Matemática, Estatística,Ciências Atuariais, Economia,Gestão e Engenharia, alguns vin-dos da casa, outros licenciados deoutras escolas nacionais e interna-cionais. Faz parte do sistema por-tuguês de ensino aceitar candida-

tos com licenciaturas de outras es-colas. “A única condição específicaconsiste na exigência de formaçãosólida em Análise Matemática eEstatística”, especifica Maria deLourdes Centeno.

Soft skills, como facilidade de co-municação e de interacção comoutros profissionais, são dispensá-veis a quem quer frequentar o cur-so, mas são importantes paraquem o faz tendo o exercício daprofissão como meta. “Têm de sercapazes de transmitir oralmentedetalhes complexos a audiênciasque, por vezes, não detêm forma-ção técnica e estatística elevada.Têm de ter capacidade de comuni-cação escrita, de modo que os seusrelatórios e memorandos sejamentendidos”, explica.

O curso é o passaporte para oexercício de uma das profissõesmais globais, mas que em Portugalpassa por ser uma ilustre desconhe-cida. Afinal, o que faz um atuário?

“Gere o risco e a incerteza, dese-nhando soluções que visam reduzira verosimilhança de acontecimen-tos indesejados e mitigar as conse-quências de tais acontecimentos,quando ocorrem”, explica a coorde-nadora do mestrado do ISEG. Otrabalho desenvolvido pelo atuáriodepende do tipo de função que ocu-pa. Se se falarmos de um atuárioque trabalhe em seguros de saúde,tem de, por exemplo, ser capaz demodelar o risco de apólices que cu-bram doenças graves. ●

O mestrado da Universidade de Lisboa está classificado em 18º lugarentre os 50 melhores mestrados em Seguros, a nível mundial.

ALMERINDA [email protected]

MESTRADO

“Maioria dos alunosencontra empregoantes de se graduar”

A profissão de atuário é relativamen-te desconhecida em Portugal.

O que temde estudar e onde?

Tem de ter formação sólida nas áreasgeneralistas de Matemática, Estatís-tica, Finanças e Economia, e na áreaespecífica do Atuariado.

A empregabilidade do mestrado é um dos seuspontos fortes, destaca a coordenadora.

MARIA DE LOURDES CENTENO

A única condiçãoespecífica parafrequentar o mestradoconsiste na exigênciade formação sólidaem AnáliseMatemáticae Estatística

M. LOURDESCENTENOProfessora catedrática doISEG, preside ao departamen-to de Matemática. Licenciou--se em Matemática pelaFaculdade de Ciências daUniversidade de Lisboa edoutorou-se pela Heriot-WattUniversity com tese de douto-ramento sobre AspectosMatemáticos do Resseguro.No ISEG foi presidente dodepartamento de Matemática,membro do Conselho deEscola, membro da comissãocoordenadora do ConselhoCientífico e coordenadoracientífica do CEMAPRE.

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O Jornal Económico, 18 maio 2018 | 37

DICAS

O que torna umprofissional único

O tema do ano de 2018 para asorganizações é, sem sombra dedúvida, as pessoas! É certo quetemas como o equilíbrio davida pessoal e profissional, de-safios geracionais, novas for-mas de trabalho, entre outros,têm agitado o debate entre osprofissionais de gestão de pes-soas nos últimos anos. Contu-do, a atração e a retenção de ta-lento têm assumido um papelde destaque, não apenas entreos profissionais da área, bemcomo na generalidade do mun-do empresarial.(...) Assistimosa uma nova abordagem de mer-cado por parte dos perfis alta-mente qualificados – “paraquem vou trabalhar, onde voutrabalhar e que tipo de trabalhoirei desenvolver”.

O que o torna únicoe como é visto pelasempresas/pessoas com asquais gostaria de trabalhar?Esta é a altura para apostar nodesenvolvimento pessoal e decompetências que irão possibi-litar a diferenciação e valoriza-ção do seu percurso. Identificare potenciar aquelas que o po-derão colocar, não só no topoda sua indústria nos próximosanos, mas também em setoresonde as mesmas sejam transfe-ríveis, é sem dúvida um bominvestimento.

Estabeleça ou reavalieo seu plano de carreira.A sua rede de contactose competências estãoalinhadascom os seus objetivos?

Planeie e prepare-se para apro-veitar esta altura favorávelpara criar bases para o futuro, aantecipação é recompensadapelo mercado e sentir-se-á pre-parado para enfrentar poten-ciais desafios decorrentes deuma mudança profissional oudas condições de mercado.

E qual o significadopara as organizações?Para as empresas significamaior competição pelo talento.As compensações continuarão aser um fator importante, masnovos pontos cruciais emergemno horizonte. A globalidade doprocesso de recrutamento temcada vez mais impacto no can-didato, sendo que, fatores comoemployer branding serão chavepara a valorização da empresacomo marca empregadora. Aexperiência do candidato, nummundo onde tudo está online,será escrutinada, incluindo todoo processo desde a atração, sele-ção e integração. A rapidez doprocesso torna-se relevante e,por vezes, determinante. Ten-do que gerir candidatos envol-vidos em diversos processos, acapacidade de antecipação eparticipação de todos os envol-vidos para um desfecho positi-vo do processo, resultará numamelhor experiência para todasas partes. Novas tendênciascomo a utilização de analytics einteligência artificial serão po-derosos aliados dos gestores depessoas para os próximos anos– os quais serão sinónimo dedesafios e oportunidades para agestão de pessoas. ●

Diogo Amaral, consultor da Michael Page,explica como ser bem-sucedido nummercado ‘Talent-driven’.

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Emque tipo de empresaspode trabalhar umatuário?Pode trabalhar na indústria segura-dora, em empresas de consultadoria,em sociedades gestoras de fundos depensões, na banca ou nas Autorida-des de Supervisão.

Qual é a procura de atuáriosno mercado português?A procura continua a ser elevada. Amaioria dos nossos alunos encontraemprego muito antes de se graduar,o que acaba por ser um contratempopara o nosso mestrado. Não conhe-cemos detentores do nosso mestradoque estejam desempregados.

Para exercer a profissão épreciso ter carteira profissional?Nos países anglo-saxónicos sim, em

Portugal não. O Instituto dos Atuá-rios Portugueses tem vindo a diligen-ciar junto do Parlamento nesse senti-do, mas ainda não o conseguiu. Porexemplo, no Reino Unido tem de sepertencer ao Institute and Faculty ofActuaries (IFoA), na América doNorte à Society ofActuaries ou à Ca-sualty Actuarial Society. Existemacordos entre estas entidades, demodo a que um membro de umapossa exercer a profissão no país daoutra. A qualidade de associado oumembro dessas organizações faz-sepor exames, podendo os detentoresde alguns cursos, como seja o mestra-do em Ciências Atuariais do ISEG, fi-car isentos de alguns módulos, e porexigência de um número mínimo deanos na função atuarial. O mestradodo ISEG foi acreditado pelo Institute

and Faculty ofActuaries, pelo que osalunos que o terminem com médiade acreditação superior ou igual a65% ficarão isentos da maioria dosexames para associado do IFoA.

Como remunera a profissão?Internacionalmente remunera bem.É sistematicamente uma das carrei-ras mais bem pagas nos EUA, segun-do o estudo levado a cabo pelo Ca-reercast, com um salário médioanual de 97.312 dólares em 2017. EmPortugal remunera bem, quandocomparada com outras profissões.Os nossos alunos podem optar porfazer estágio em vez de dissertação.A maioria das instituições onde éefetuado estágio concede uma bolsaao estudante, que pode ultrapassar os1.000 euros por mês. ●

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ÚLTIMA

Se a vaidade é o pecado preferido dodiabo, a corrupção é certamente opecado preferido do populismo.

A democracia e o populismo sãoinimigos íntimos. Caminham lado alado há muitos anos, mas sempre serecearam mutuamente. Onde está aprimeira, lá anda o segundo a ciran-dar, à direita e à esquerda, à procurade uma fraqueza, de uma enfermi-

OPINIÃO

dade, que possa ser utilizada comoporta de entrada para o aparelho dopoder. Tal como as bactérias, a de-magogia populista precisa de umambiente favorável para se desen-volver, para causar dano, para to-mar conta do aparelho do Estado.Por isso, regra geral, as democraciasfortes e saudáveis pouco têm a re-cear dos ataques populistas.

Já era assim na Grécia antiga,continua a ser assim nas democra-cias contemporâneas, no Ocidenteou em quaisquer outras paragens domundo em que os governantes se-jam escolhidos por meio de eleições.

O populismo não é propriamenteuma ideologia, mas uma estratégiade acesso ao poder que assentanuma visão dicotómica do mundo:os puros e os corruptos; os nacio-nais e os estrangeiros; os cidadãosindefesos e os refugiados terroris-tas; o povo e as elites; as famílias tra-

balhadoras e os burocratas de Wa-shington ou Bruxelas. Enfim, nós,que falamos a verdade ao povo, eeles, os políticos, que apenas pen-sam nos seus próprios interesses.

Dizia-me há poucos dias umprofessor húngaro que Portugalteve muita sorte por ter saído dabrutal crise económica que atra-vessou sem que, no seu sistemapartidário, tivessem surgido líde-res ou partidos claramente popu-listas. Daqueles que, partindo des-tas visões do mundo a preto ebranco, oferecem sempre soluçõesfáceis para problemas complexos.

É verdade, foi quase um milagreo sistema partidário português –apesar de mais extremado – tersaído da crise mais ou menos comoentrou. As taxas de desempregogalopantes, a insegurança no em-prego, a fortíssima austeridade emsalários e pensões, o colapso do

JORGE PEREIRA DA SILVAProfessor da Escola de Lisboa da

Faculdade de Direito da UniversidadeCatólica

A corrupção é o pecadopreferido do populismo

RES PUBLICA

FICHA TÉCNICA

Publicado semanalmente à sexta-feira. Propriedade – Megafin Sociedade Editora SA. Registo na ERCS nº 223731. NIPC 507657551 º Estatuto Editorial disponível em www.jornaleconomico.pt N.º de Depósito Legal: 245365/06- Sede – Avenida Casal Ribeiro, n.º 15, 3.º, 1000-090 Lisboa. Morada da redacção – Rua Vieirada Silva, 45, 1350-342, Lisboa. Tel. 217 655 300. Diretor – Filipe Alves. Diretor Adjunto – Shrikesh Laxmidas. Subdiretor – Ricardo Santos Ferreira. Diretor de Arte – Mário Malhão. Redatora Principal – Lígia Simões Grandes Repórteres – António Sarmento, Nuno Miguel Silva e Maria Teixeira AlvesRedação – Almerinda Romeira, Ana Pina (coordenadora de Opinião), Ânia Ataíde, António Freitas de Sousa (delegação do Porto), Fernanda Pedro (Imobiliário), Gustavo Sampaio, Joana Almeida, José Carlos Lourinho (coordenador do Online), Leonor Mateus Ferreira, Mariana Bandeira, Rita Paz (coordenadora do Online) eSónia Bexiga Correspondentes Regionais – Eduardo Varanda (Minho), Joaquim Lopes (Centro), Patrícia Gaspar e Ruben Pires (Económico Madeira) Paginação e Produção – Rute Marcelino (coordenadora e designer) e Fábio Gomes (tratamento de imagem). Fotografia – Cristina Bernardo. Diretor Geral – Vítor NorinhaInovação e Marketing – Joel Saraiva Informática – Pedro Gonçalves. Área Comercial – Cláudia Sousa (diretora), Ana Catarino, Cristina Marques, Elsa Soares, Isabel Silva, Joel Saraiva (Analista de Media), Luis Medeiros (Branded Content) e Maria João Pratas (conferências) Recepção e portaria – Luís Oliveira.Área Financeira – Florbela Rodrigues, Pedro Madeira e Sérgio Araújo (operações). Administração – Luís Figueiredo Trindade – Impressão – Empresa Gráfica Funchalense SA, R. Capela Nossa Senhora da Conceição, 2715-511 Morelena. Distribuição – Vasp – Distribuidora de Publicações, SA – Quinta do Grajal, VendaSeca, 2739-511 Agualva, Cacém. Assinaturas: [email protected] Tiragem – 15 mil exemplares. Nenhuma parte desta publicação, incluindo textos, fotografias e ilustrações, pode ser reproduzida por quaisquer meios sem prévia autorização do editor.

A OPA elétrica e...hostil

Presença em 14 países, terceiramaior empresa de produção de ele-tricidade, dez milhões de clientes deenergia elétrica, 1,2 milhões depontos de ligação de gás, 12 mil co-laboradores, principal investidor nonosso país e um dos motores da eco-nomia e do desenvolvimento nacio-nal. A EDP tem uma importânciavital para Portugal e para as suasempresas e cidadãos, que dependemda sua rede de distribuição, e tam-bém para os seus clientes interna-cionais distribuídos por quatro con-tinentes.

Não admira, pois, que seja umadas empresas mais cobiçadas pelosgrandes investidores estrangeiros,nomeadamente os chineses, que en-contram nela uma via rápida parachegar a mercados europeus comoEspanha, França e Itália ou outroscomo os EUA e Brasil.

Já presente na EDP com 23,27%do capital social, a China ThreeGorges, tutelada diretamente pelogoverno chinês e consequentemen-te pelo Partido Comunista, nuncaconseguiu disfarçar o interesse emir mais além na sua participação,

EDUARDO TEIXEIRAEconomista, Antigo Deputado

da Comissão Parlamentarde Economia e Finanças na AR

concretizando agora o seu desejocom uma OPA, que, a acontecer, lhepermitirá a aquisição de controlo daelétrica.

Obviamente que se trata de umnegócio vantajoso para o gigantechinês, que reforça a sua posição nopoderoso mercado mundial das uti-lities. A questão é se o é para Portu-gal. A resposta não é óbvia e deveser ponderada. Contrariamente àreação precipitada do nosso Gover-no – que, horas depois do anúncio,já estava a declarar o seu apoio àoperação, sem ter em conta que nãopodia nem devia reagir antes domercado, uma vez que não é acio-nista, optando antes pelo direito dereserva –, é preciso ter em conta al-gumas fragilidades da proposta e ocontexto em que foi apresentada.

O grande ponto crítico é, desdelogo, o preço. A China Three Gor-ges oferece uma contrapartida de3,26 euros por cada ação, um valorinferior à atual cotação de mercado.O Conselho de Administração daEDP já se pronunciou, consideran-do que o preço “é baixo e não refleteadequadamente o valor da EDP”,posição também assumida por ana-listas e investidores. De registar queAntónio Mexia, CEO reeleito emabril último (apenas há um mês),afastou na altura cenários de altera-ção à estrutura accionista.

Exige-se, pois, ponderação e bomsenso na análise a este negócio, queimplica o aval de Bruxelas e de paí-ses como Espanha, Polónia, Romé-nia e EUA (neste último, a operaçãodependerá da aprovação da Comis-são para o Investimento Externo,que tem impedido vários negóciosque envolvem empresas chinesas).

Da parte do Governo, é de espe-rar alguma contenção, sobretudoquando é conhecida a ligação indi-reta do ministro adjunto do primei-ro-ministro, Pedro Siza Vieira aoprocesso da OPA, já que foi o escri-tório de advogados do qual é sócio aassessorar os chineses no anúnciojunto da CMVM.

Veremos, nos próximos dias, osdesenvolvimentos deste negócio viaOPA sobre a maior empresa nacio-nal, um dos motores da nossa eco-nomia, e se o desfecho final é ounão, em poucos anos, passar dasmãos do Estado português para asmãos do Estado chinês. ●

O Governo,uma vez que nãoé acionista, deveriater optado pelodireito de reserva,em vez deprecipitar-se

A TRIBUNA SOCIAL

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O Jornal Económico, 18 maio 2018 | 39

OS CONVOCADOSPARA O MUNDIAL 2018O selecionador nacional FernandoSantos divulgou ontem aconvocatório dos 23 que vãorepresentar Portugal no Campeonatodo Mundo, que se realiza na Rússiaentre 14 de Junho e 15 de Julho. Anovidade é o central benfiquistaRúben Dias, que não soma qualquerinternacionalização. Os campeõeseuropeus Éder e Nani ficaram defora. Os homens de Santos são osguarda-redes Anthony Lopes (Lyon),Beto (Goztepe) e Rui Patrício(Sporting); na defesa estão BrunoAlves (Rangers), Cédric(Southampton), José Fonte (DalianYifang), Mário Rui (Nápoles), Pepe(Besiktas), Raphaël Guerreiro(Borussia Dortmund), Ricardo Pereira(FC Porto) e Rúben Dias (Benfica);Adrien Silva (Leicester), BrunoFernandes (Sporting), João Mário(West Ham), João Moutinho(Mónaco), Manuel Fernandes(Lokomotiv Moscovo) e WilliamCarvalho (Sporting) são os médios;entre os avançados contam-se AndréSilva (AC Milan), Bernardo Silva(Manchester City), Cristiano Ronaldo(Real Madrid), Gelson Martins(Sporting), Gonçalo Guedes(Valência) e Ricardo Quaresma(Besiktas). Do 35 pré-convocados,ficaram de fora Nélson Semedo eAndré Gomes, João Cancelo,Antunes, Rolando, Luís Neto, RúbenNeves, Sérgio Oliveira, Paulinho eRony Lopes.

E se Brunode Carvalhonão existisse?

A soma dos sócios de clubes defutebol dá um número incri-velmente mais elevado do quea soma de todos os filiados nospartidos políticos. Isto signifi-ca que os partidos têm respeitoe admiração por organizaçõespoderosas e focadas. Claques eaficionados arrastam multi-dões e estes fenómenos popu-listas estão longe de abarcarapenas os chamados “grandes”do futebol, mas envolve todauma miríade de clubes.

As televisões, as rádios, ossites e a generalidade da comu-nicação vive de futebol. Nadiscussão pública o espaçoocupado pelo futebol é avassa-lador e a forma de conquistar aatenção é “semear ventos e co-lher tempestades”, com ou semBruno de Carvalho. As claquesviolentas reproduzem mode-los populistas da política equase imitam os modelos fas-cistas, o que em teoria poderialevar à dissolução das claques edas associações que apelam àviolência, pois são proibidaspelo texto fundamental daConstituição.

Quem participa em ações deviolência é cobarde, e para osbandidos os discursos deixa-ram de chegar. É necessário fa-zer alguma coisa ou os orga-nismos internacionais do fute-bol fazem-no por nós. Chegade pensarmos que a estóriaque aconteceu no Sportingcom a invasão da Academia, adivulgação de escutas e oanúncio de processos com aoperação Cashball, ou a meraindiciação dos assaltantes porassociação criminosa, é sufi-ciente.

As declarações de Marcelo,de Ferro Rodrigues, de minis-tros, de dirigentes desportivose de várias personalidades éclaramente insuficiente peran-te aquilo que pode vir a ser o

hooliganismo no futebol por-tuguês, destruindo o evento deeleição das famílias, mas tam-bém a indústria melhor orga-nizada e com melhores resul-tados que Portugal jamais teve.

Cânticos de apelo à morte eoutras frases semelhantes, fei-tas por claques dos vários clu-bes, não são admissíveis. Ecomo os discursos não chegam,é necessário atuar ao nível daeducação cívica para eliminarqualquer tipo de favorecimentoà violência e aproveitar a futuraautoridade nacional contra aviolência no desporto paracriar uma blacklist onde os in-tervenientes nos distúrbios se-jam erradicados destes eventosdurante muitos anos.

Não podemos destruir osclubes que historicamente fo-ram as instituições onde sepraticava a democracia, mes-mo no Estado Novo. Mais.Não podemos chegar ao níveldo que aconteceu durante al-gumas semanas no “verãoquente” do PREC, quando seacabou com os relatos de fute-bol ao domingo. As Forças Ar-madas quiseram educar o pro-letariado e quase levaram osgrandes a criar um pacto para,eventualmente, mudarem asequipas para o Brasil.

Não queremos que os clubesvoltem a ter a sua democraciaem risco. O que é preciso é er-radicar os bandidos, e as Auto-ridades policiais e judiciais têma oportunidade de levar a teia arevelar-se. Este é um momen-to de dor, não apenas para ossportinguistas, mas para todosos adeptos de futebol. ●

IRONIA E MAIÊUTICA

VÍTOR NORINHADiretor Geral da Megafin

Empresassem pessoas?

Apesar de há bastantes anos serpossível antever o “inverno demo-gráfico” em que a Europa, e espe-cialmente Portugal, estão a entrar,a sociedade e os seus principaisresponsáveis foram tomando umaatitude de faz-de-conta. Haveriasempre um qualquer tema maisimportante e momentoso.

Do omnipresente futebol a algu-ma intriga política de segundo pla-no, de um qualquer escândalo quedura o tempo de o ler, às paixõesrelatadas na imprensa cor-de-rosa,tudo se sobrepõe às discussões so-bre o que é estrutural no nosso fu-turo enquanto país.

As questões da população sãouma delas. De facto, basta ler os es-tudos disponibilizados pelo INEpara ficarmos a saber, pelo menos,o seguinte: nos próximos 50 anos,a população portuguesa diminuicerca de 25%; os idosos passarão arepresentar 40% da população, ouseja, passaremos a ter 137 pessoasem idade activa por cada 100 ido-sos; quanto aos jovens, descere-mos abaixo do milhão.

Um povo que não assegura a suacontinuidade, que, consequente-mente, não assegura a ocupação doseu território, e que dificilmenteconsegue sustentar e cuidar dosseus idosos, não será seguramenteum povo soberano.

A alteração desta situação hámuito deveria ter sido encarada, epromovida a sua inversão. Infeliz-mente, assim não vem acontecen-do e a dramática realidade está aimpor-se. É por isso que vejo comespecial simpatia a posição claraque o Ministro Eduardo Cabritaassumiu sobre esta matéria.

Disse o Dr. Eduardo Cabrita: “ Aposição de Portugal é a de que asmigrações são globalmente positi-vas para a Europa e o país está a as-sumir, na preparação do Portugal2030, que o país precisa de maisimigrantes e quer que tal seja feitode forma planeada e regular. Por-tugal precisa de mais migrantespara combater o problema da de-mografia (…) para termos um sal-do demográfico positivo, os mi-grantes são uma solução”

LUÍS PARREIRÃOGestor

FAMÍLIA & COMPANHIA

Ora, esta posição clara pressu-põe migrações legais, integraçãodas pessoas, trabalho com direi-tos e deveres e respeito integralpelos direitos fundamentais doscidadãos.

E é neste particular que as em-presas familiares poderão desem-penhar um papel muito relevante.É sabida a importância que estasempresas dão às relações com osseus colaboradores, a sua integra-ção com bastante proximidade àsfamílias detentoras das empresas,o especial cuidado com acções deresponsabilidade social interna eexterna e a tendência para umamaior perenidade dos vínculos la-borais.

Por isto, talvez pudesse ser inte-ressante o MAI desafiar as Empre-sas Familiares para construíremem conjunto um projecto nestedomínio. Projecto responsabiliza-dor e inclusivo, que poderia, a serbem-sucedido como estou certoque será, representar um exemploe um ensaio para adopção de medi-das a uma mais larga escala.

Fica a sugestão e o desafio – paratodos. Porque não há empresassem pessoas! ●

Talvez fosseinteressanteo MAI desafiar asEmpresas Familiarespara construírem emconjunto um projetoresponsabilizadore inclusivono domínioda integração

sistema bancário, seriam ingre-dientes de sobra para alimentarum forte movimento populista.

Outros países, por bem menos,viram os seus sistemas políticostomados de assalto por populis-mos de vária natureza, que nal-guns casos se instalaram no podere lá permanecem.

Não tenho uma explicação cientí-fica para Portugal ter escapado a essapeste, apenas com umas quantasmazelas. Mas ocorre-me que faltouum ingrediente fundamental: a cor-rupção. A bancarrota teria resultadoda crise internacional e não da cor-rupção do governo que nos levouaté ela; o governo que nos conduziuatravés dos anos de austeridade, ape-sar de incapaz de reformar o Estado,não seria ele próprio corrupto.

Pois bem, parece que alguém seenganou: a corrupção aí está, rele-vada pelo Ministério Público epela comunicação social, com umamagnitude que ninguém verdadei-ramente julgava possível há pou-cos anos.

É um grito de alerta. Mas cuida-do que assacar unicamente ao sis-tema de justiça a responsabilidadepelo combate à corrupção – pormuito que se reforcem os meios aoseu dispor ? equivale a dizer que oproblema dos incêndios deve serrevolvido pelos bombeiros quandoa floresta já está a arder. A corrup-ção ? tal como os fogos florestais ?ou se previne com uma profundareforma do sistema político outorna-se incontrolável. ●

Não queremosque os clubesvoltem a tera sua democraciaem risco.As Autoridadespoliciais e judiciaistêm atuar

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Lucro da Sonae mais do queduplicou no primeiro trimestre

O grupo Sonae atingiu, no primei-ro trimestre do ano um volume denegócios consolidado de 1.342 mi-lhões de euros, mais 8,7% que emigual período do ano passado eEBITDA, em termos agregados, de1,8 mil milhões (mais 6,7%). Con-siderando as restantes empresassob influência de controlo, queigualmente apresentaram evolu-ção favorável, o volume de negó-cios e o EBITDA, em termos agre-gados, atingiram 1,8 mil milhões(mais 6,7%) e 230 milhões de euros(mais 6%), respetivamente.

O grupo realça, num comunicadoontem divulgado, que, a par destesresultados, concretizou, no início defevereiro, a constituição da ISRG(Iberian Sports Retail Group) resul-tante da integração das operações daSport Zone, da Sprinter e da JD Ibé-ria, cujo impacto se começará a rele-var a partir do próximo trimestre.

O volume de negócios consoli-dado beneficiou especialmentedo bom desempenho da SonaeMC e da Worten. O EBITDAconsolidado da Sonae melhorouno trimestre, devido a umEBITDA subjacente que aumen-tou 11% em termos homólogospara 57 milhões, e a um maior re-sultado obtido pelo método deequivalência patrimonial, no-meadamente os originados pelaNOS e pela Sonae Sierra.

O resultado direto da Sonae as-cendeu a 14 milhões de euros,crescendo 15,6% face ao homólogodo ano passado, e o resultado indi-reto situou-se em 7 milhões.

O resultado líquido atribuível aacionistas mais do que duplicouem comparação com o primeirotrimestre do ano passado, de 8para 20 milhões de euros.

Em comunicado, o grupo enfati-za que “continua a reforçar a suasolidez financeira, tendo a dívidalíquida diminuído 8,2% ou 113 mi-lhões de euros em comparação

com o homólogo do ano passado.O rácio da dívida líquida face aocapital investido situou-se em38,0%, melhorando 2,9 pontospercentuais.

No período em referência, “aSonae manteve uma estrutura decapital sólida, otimizando os cus-tos de financiamento e mantendoreservas de liquidez e um perfillongo de maturidade da dívida,cuja média permaneceu estável,próxima de quatro anos. A Sonaecontinuou a cumprir a prática denão possuir necessidades de refi-nanciamento para os 18 meses se-guintes tendo, simultaneamente,melhorado as suas condições ge-rais de financiamento”.

A Sonae terminou o primeirotrimestre do ano com mais de 45mil colaboradores, tendo criadomais de dois mil postos de trabalhonos últimos 12 meses, “que tradu-zem o crescimento das várias áreasde negócios em Portugal e a nívelinternacional”, defendeu o grupoem comunicado. ●

ANTÓNIO FREITAS DE [email protected]

RESULTADOS

Holding liderada por Paulo Azevedo teve um resultado líquido de 20milhões de euros entre janeiro e março, face a oito milhões há um ano.

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O consórcio Eni/Galp afirmou on-tem que vai desenvolver atividadesde planeamento para iniciar a pes-quisa de petróleo dentro das con-dições estabelecidas pela AgênciaPortuguesa do Ambiente (APA),que na quarta-feira dispensou oprojeto de avaliação de impacteambiental.

Um dia depois do anúncio da de-cisão da APA, o consórcio lideradopela petrolífera italiana avançou àLusa que “irá agora desenvolver asatividades de planeamento parainiciar os trabalhos de forma segu-ra dentro das condições estabeleci-das pela APA”.

“O poço irá realizar-se com o re-curso às tecnologias mais avança-das e às práticas operacionais maisexigentes, assegurando as condi-ções máximas de segurança”, refe-re o consórcio à Lusa.

O consórcio realça que “o objeti-vo deste poço é confirmar a possí-vel presença de hidrocarbonetosneste setor do ‘offshore’ portu-guês, que se localiza a mais de 46quilómetros do ponto mais próxi-mo da costa e a uma profundidadede cerca de 1.000 metros, e quenão é visível a partir de terra”, re-ferindo que as empresas responde-ram escrupulosamente todas asexigências colocadas pela legisla-ção aplicável, bem como às solici-tações levantadas pelas várias ins-tituições públicas envolvidas noprocesso.

De acordo com elementos reme-tidos pela Eni à Agência Portugue-sa do Ambiente (APA) para apre-ciação prévia e decisão de sujeiçãoa Avaliação de Impacte Ambiental

(AIA), de que foi dispensada naquarta-feira, o consórcio prevêiniciar a pesquisa de petróleo nabacia do Alentejo entre setembro eoutubro, após uma preparaçãocom uma duração estimada de trêsmeses.

“A data de início da perfuraçãoestá estimada entre o fim do ter-ceiro trimestre e o início do quartotrimestre de 2018, a duração dasatividades de perfuração está esti-mada em 46 dias (incluída a mobi-lização)”, lê-se no documento.

Antes da atividade de perfuraçãodaquele que será o primeiro furode pesquisa de hidrocarbonetosem Portugal, há uma fase de pre-paração durante a qual “todos osmateriais necessários para a perfu-ração serão fornecidos e prepara-dos na base logística, em Sines”, si-tuada a aproximadamente 88 qui-lómetros do local da sondagem,com duração aproximada de trêsmeses.

Entretanto, o navio-sonda (Sai-pem 12000) terá de ser mobilizadopara o local da sondagem e, só de-pois, começa a perfuração do furocom uma profundidade de 1.070metros (nível médio da água domar), com uma duração de aproxi-madamente 43 dias. Depois a des-mobilização levará cerca de três dias.

“Esta é uma atividade muito es-pecífica que requer profundos co-nhecimentos técnicos e uma vastaexperiência pelo que o navio seráequipado com uma tripulação al-tamente especializada de aproxi-madamente 150 pessoas”, refere odocumento da petrolífera italianaEni.● Lusa

Consórcio Eni/Galpavança com pesquisade petróleono Alentejo

O objetivo deste poço é confirmar a possívelpresença de hidrocarbonetos neste setor do‘offshore’ português, referiu o consórcio.

PETRÓLEO