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Page 1: Estado Moderno

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIADepartamento de HistóriaHistória Medieval IIProfa. Rita de Cássia Mendes Pereira

A FORMAÇÃO DO ESTADO MODERNO

Acima da poeira dos senhorios, das comunidades familiares ou aldeãs, dos grupos vassálicos, elevavam-se, na Europa Feudal, diversos poderes cujo horizonte mais largo teve durante muito tempo como paga uma ação muito menos eficaz, cujo destino, no entanto, foi manter nesta sociedade dividida algum princípio de ordem e unidade. (BLOCH, M. A Sociedade Feudal).

I. Estrutura Política do sistema feudal 1. Conservadorismo jurídico: poder de interpretação e aplicação das leis consuetudinárias.2. Justiça: modalidade central de poder político e forma de exercício do governo secular 3. Justaposição de limites e superposição de direitos e poderes (pluralidade e descompassos na aplicação da justiça entre monarquia, cortes de alta justiça, senhorio territorial, justiça eclesiástica etc.).4. A hierarquia de dependências feudais e a parcelarização das soberanias

A cadeia de posses dependentes se estenderia até o cume do sistema - na maioria dos casos, um monarca - de quem a princípio toda a terra, em última instância, seria o eminente domínio. Típicas ligações intermediárias de tal hierarquia feudal eram a castelania, o baronato, o condado ou o principado

A conseqüência deste sistema era que a soberania política nunca estava enfocada num único centro. As funções do Estado desagregavam-se em concessões verticais sucessivas, e a cada nível estavam integradas as relações econômicas e políticas. Esta parcelarização da soberania seria constitutiva de todo o modo de produção feudal A divisão feudal das soberanias em zonas particularizadas, com limites justapostos e nenhum centro universal de competência, sempre havia permitido a existência de entidades corporativas “alógenas” em seus interstícios (ex. terras aldeãs comunais, lotes camponeses alodiais, cidades)

O monarca era um suserano feudal de seus vassalos, aos quais esta ligado por laços de feudalidade e não um soberano supremo colocado acima de seus súditos. Seus recursos econômicos provinham quase exclusivamente dos seus domínios pessoais enquanto senhor, enquanto aos seus vassalos pediam contribuições de natureza essencialmente militar. (ANDERSON, 1987, p. 144-147).

5. A ambiguidade ou oscilação inerente no vértice das dependências feudais

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O modelo acabado de tal forma de governo, em que o poder político estava estratificado para baixo de tal maneira que seu ápice não detinha nenhuma autoridade qualitativamente separada ou plenipotenciária de forma alguma, jamais existira em parte alguma na Europa medieval [...] uma completa fragmentação da soberania era incompatível com a unidade de classe da nobreza.

Dentro do feudalismo havia uma contradição não-definida, entre sua própria tendência rigorosa à decomposição de soberania e a exigência absoluta de um centro final de autoridade onde poderia ocorrer uma recomposição prática. A monarquia feudal, portanto, jamais foi redutível a uma suserania do rei: ela sempre existiu, em alguma medida, em um âmbito ideológico e jurídico situado além daquele das relações de vassalagem cujos vértices, aliás, poderiam ser ocupados por potentados, duques ou condes, e possuía direitos a que esses últimos não poderiam aspirar (ANDERSON, 1987, p. 147-148)

II. As tradições da realeza

1. As tradições romanas: (auréola divina dos imperadores) e germânica (genealogia divina dos reis)2. Do ritual de exaltação de origem hebraica à sanção cristã: a coroação e a unção como atos de confirmação da marca do sagrado3. As tradições populares na Idade Média: a aura divina, o poder mágico (taumatúrgico e fertilizador), o rei como "chefe do povo".4. Séculos IX a XI: elaboração e difusão do tema da trifuncionalidade social como instrumento de propaganda da ideologia monárquica5. O ideal de soberania monárquica nas concepções eclesiásticas sobre o poder 5.1. Natureza do poder real: caráter teocêntrico e eclesiástico (concessão eclesiástica)5.2. Justiça como elemento norteador da atividade política

A justiça era o elemento norteador de qualquer atividade que nos possamos designar hoje como política. Mas, numa sociedade pensada a partir da ideologia cristã, esta justiça era concebida em termos de propósito, finalidade ou fim da sociedade. Aos governos seculares caberia, nesta perspectiva, a manutenção da paz e o exercício da justiça, necessários à obra de salvação. Decorre daí que a natureza do poder real foi sempre definida em relação ao poder espiritual da Igreja e de seu representante maior: o pontífice romano.

5.3. Funções do poder real: garantir a plenitude da ordem cívica, o equilíbrio, a harmonia e a interdependência entre os estratos sociais (caráter descendente e exemplar)

6. A monarquia na literatura aristocrática6.1. Literatura genealógica: manutenção e difusão de uma concepção particular de poder e do modelo de soberania mais apropriado aos interesses feudais: o modelo da realeza6.2. Cantares de gesta: Carlos Magno como representação ideal do poder soberano

Com o efetivo crescimento do poder real, a partir do século XII, os trovadores, em textos cada vez mais prolixos, empenharam-se na construção de caricaturas de reis débeis e insignificantes. Por contraposição, estas representações de impotência, ao invés de

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favorecer uma postura anti-monárquica, são instrumentos eficazes na defesa dos interesses do Império e da monarquia hereditária... Nos reis débeis e injustos dos cantares do século XII, vislumbra-se, por inversão de valores, o ideal de um rei poderoso, virtuoso, consciente de seus deveres mas investido de uma autoridade legítima.

6.4. Romances de cavalaria: aceitação e difusão do modelo monárquico de poder (monarquia arturiana, heróis cavaleirescos como modelos de atuação monárquica)

III. Pré-condições para o surgimento de novas unidades políticas

1. Fim das migrações2. Difusão do cristianismo (Igreja como modelo de organização hieracrática e

centralizada; difusão do ideal de paz, Reforma Gregoriana); 3. Progressos materiais e reorganização da vida social

A falência do projeto político de reconstrução imperial, o surgimento de comunas urbanas - livres do domínio senhorial e sob o controle de um patriciado local -, a concentração de poderes mais vastos em torno de unidades territoriais mais ou menos definidas, como os principados e os Estados feudais, refletem as modificações mais gerais na distribuição da riqueza material e nos mecanismos de agrupamento das forças sociais... Os monarcas tendiam a se revelar como os mais indicados para atender às reclamações de paz requeridas pelas novas atividades econômicas e, oportunamente, despontarem como chefes de Estado e representantes do poder público.

4. Cisão na estrutura de legitimidade feudal

VI. Os avanços do poder monárquico (Séculos XII ao XV)1. Submissão dos poderes locais: integração da hierarquia feudal

Os monarcas dos Estados renascentes procuraram afirmar-se no vértice da hierarquia feudal e ampliar territorialmente os limites do domínio real, esforçaram-se por reforçar e reverter para si próprios o ideal de fidelidade e instituíram o princípio hereditário da coroa Por outro lado, na condição de chefes e defensores, os monarcas esforçaram-se para afirmar a hereditariedade jurídica da nobreza, transformando-se em ordenadores da cerimônia de investidura e protegendo-a da incursão de novos grupos sociais no conjunto dos seus privilégios nobiliárquicos e cavaleirescos.

2. Solidez de reinos e principados 2.1. definições territoriais por meio de guerras, diplomacia e alianças matrimoniais; 2.2. definição de regras de hereditariedade e política sucessória;2.3. surgimento de governantes e de instituições ligadas às finanças e à defesa;2.4. afirmação de instituições judiciais sobre a justiça privada (afirmação paulatina da idéia de governo, distinta dos costumes da comunidade);2.5. desenvolvimento de instituições financeiras para o funcionamento da guerra e da burocracia;2.6. desenvolvimento paulatino de instituições militares sob o controle da nobreza;

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3. Transformações nas concepções eruditas sobre o poder:3.1. transformações nos mecanismos de atribuição e na definição dos princípios de soberania;3.2. Consenso em relação à necessidade de uma autoridade suprema3.3. Aceitação da idéia de lealdade em relação a essa autoridade em substituição à lealdade a pessoas e instituições religiosas 3.4. Aparecimento de novos conceitos: Estado, poder público, soberania e inalienabilidade de território; lealdade em relação ao Estado e uma noção, ainda imprecisa, de nacionalidade.3.1.

VII. O Estado Moderno 1. Unidade política persistente no tempo e geograficamente estável2. instituições permanentes, impessoais, especializadas e abrangentes 3. arquivos administrativos4. política econômica real5. normas de direito civil

VIII.A definição do mapa político europeu: heterogeneidade étnica, geográfica, demográfica e social da Cristandade Ocidental.

BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICABATISTA NETO, J. Historia da Baixa Idade Média (1066-1453). São Paulo: Ática, 1989.BLOCH, M. O governo dos homens in A sociedade feudal. Lisboa: Edições 70, 1998.BLOCH, M. Os reis taumaturgos. São Paulo: Cia das Letras, 1993.DUBY, G. As três ordens ou o imaginário do feudalismo. Lisboa: Estampa, 1982.KANTOROWICZ, E. H. Los dos cuerpos del rey. Madrid: Alianza editorial, 1985.LE GOFF, J. A civilização do ocidente medieval. 2 v. Lisboa: Estampa, 1983/1984.LE GOFF, J. Nota sobre sociedade tripartida, ideologia monárquica e renovação econômica da cristandade in Para um novo conceito de Idade Média. Lisboa: Estampa, 1980.STRAYER, J. R. As origens medievais do Estado Moderno. Lisboa: Gradiva, s.d.ULMANN, W. Historia del pensamiento político en la Edad Media.