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T R I B U N A L D E J U S T I Ç A R S LPO Nº 70043316579 2011/CÍVEL 1 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA APELAÇÃO CÍVEL. ACIDENTE DO TRABALHO. AUXILIO-DOENÇA ACIDENTÁRIO. DOENÇA OCUPACIONAL. DORT. SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO. RUPTURA ESPONTÂNEA DE OUTROS TENDÕES. BURSITES DO COTOVELO E OMBRO. RESTABELECIMENTO DO BENEFÍCIO A PARTIR DA ALTA ATÉ O MOMENTO EM QUE A SEGURADA PERMANECEU COM INCAPACITAÇÃO PARA O TRABALHO. NEXO CAUSAL. COMPROVAÇÃO DO PERÍODO. CORREÇÃO MONETÁRIA. HONORÁRIOS REDUZIDOS. - Auxílio-Acidente - Os requisitos legais do auxílio-acidente estão previstos no artigo 86 da Lei nº 8.213/91. A redução da capacidade para o trabalho é requisito fundamental, a ser constatado mediante a realização de prova pericial. Caso em que está comprovado que a partir da cessação do benefício (31.05.2006) até a data de 04.01.2007, a parte autora permaneceu incapacitada para o trabalho, razão por que faz jus ao restabelecimento do benefício de auxílio- doença acidentário nesse período. - Correção Monetária - A correção monetária incidente sobre as parcelas vencidas será pelo INPC desde 01.04.2006 até a vigência da Lei n° 11.960/09, quando tanto a correção monetária quanto os juros moratórios serão atualizados uma única vez e pelos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança. - Honorários Advocatícios - Tratando-se de ação buscando a concessão de benefícios previdenciários, o entendimento consolidado nesta Câmara é de que a verba honorária seja fixada em 10% sobre as parcelas vencidas até a prolação da sentença, nos termos da Súmula 111 do STJ. APELAÇÃO DA AUTORA DESPROVIDA. APELAÇÃO DO INSS PARCIALMENTE PROVIDA. UNÂNIME. APELAÇÃO CÍVEL NONA CÂMARA CÍVEL Nº 70043316579 COMARCA DE PORTO ALEGRE

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LPO Nº 70043316579 2011/CÍVEL

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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

APELAÇÃO CÍVEL. ACIDENTE DO TRABALHO. AUXILIO-DOENÇA ACIDENTÁRIO. DOENÇA OCUPACIONAL. DORT. SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO. RUPTURA ESPONTÂNEA DE OUTROS TENDÕES. BURSITES DO COTOVELO E OMBRO. RESTABELECIMENTO DO BENEFÍCIO A PARTIR DA ALTA ATÉ O MOMENTO EM QUE A SEGURADA PERMANECEU COM INCAPACITAÇÃO PARA O TRABALHO. NEXO CAUSAL. COMPROVAÇÃO DO PERÍODO. CORREÇÃO MONETÁRIA. HONORÁRIOS REDUZIDOS. - Auxílio-Acidente - Os requisitos legais do auxílio-acidente estão previstos no artigo 86 da Lei nº 8.213/91. A redução da capacidade para o trabalho é requisito fundamental, a ser constatado mediante a realização de prova pericial. Caso em que está comprovado que a partir da cessação do benefício (31.05.2006) até a data de 04.01.2007, a parte autora permaneceu incapacitada para o trabalho, razão por que faz jus ao restabelecimento do benefício de auxílio-doença acidentário nesse período. - Correção Monetária - A correção monetária incidente sobre as parcelas vencidas será pelo INPC desde 01.04.2006 até a vigência da Lei n° 11.960/09, quando tanto a correção monetária quanto os juros moratórios serão atualizados uma única vez e pelos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança. - Honorários Advocatícios - Tratando-se de ação buscando a concessão de benefícios previdenciários, o entendimento consolidado nesta Câmara é de que a verba honorária seja fixada em 10% sobre as parcelas vencidas até a prolação da sentença, nos termos da Súmula 111 do STJ. APELAÇÃO DA AUTORA DESPROVIDA. APELAÇÃO DO INSS PARCIALMENTE PROVIDA. UNÂNIME.

APELAÇÃO CÍVEL

NONA CÂMARA CÍVEL

Nº 70043316579

COMARCA DE PORTO ALEGRE

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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

JOCELINA GOMES DA ROSA

APELANTE/APELADO

INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL

APELANTE/APELADO

A CÓ R DÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Nona Câmara

Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento

à apelação da autora e dar parcial provimento à apelação do INSS.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes

Senhores DES.ª IRIS HELENA MEDEIROS NOGUEIRA (PRESIDENTE E

REVISORA) E DES. TASSO CAUBI SOARES DELABARY.

Porto Alegre, 29 de agosto de 2012.

DES. LEONEL PIRES OHLWEILER, Relator.

R E L AT Ó RI O

DES. LEONEL PIRES OHLWEILER (RELATOR)

Trata-se de apelações interpostas por JOCELINA GOMES DA

ROSA e INSS, nos autos da ação previdenciária de restabelecimento de

benefício de auxílio-doença acidentário ou aposentadoria por invalidez, em

face da sentença proferida, cujo dispositivo é o seguinte:

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ISSO POSTO, indeferindo o pedido de tutela antecipada, com fundamento nos artigos 19 a 21 e 59 a 62 daquela mesma Lei de Benefícios, julgo procedente esta ação acidentária movida por JOCELINA GOMES DA ROSA contra o INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, de modo a condenar o réu a restabelecer o auxílio-doença acidentário no período desde a cessação, em 31/05/2006 (fl. 51), até o dia 04/01/2007. As parcelas do benefício restabelecido serão pagas de uma só vez, acrescidas de correção monetária pela variação do IGP-DI, a contar do mês em que cada uma delas seria devida, e juros de 12% (doze por cento) ao ano, mas estes últimos somente a contar da data da citação (Súmula nº 204 do e. STJ). E, ainda, a partir de 30.06.2009 consoante determinado no artigo 5º da Lei 11.960/2009. Outrossim, com fundamento nas Súmulas nºs 110, 111 e 178 do e. STJ e 234 e 236 do e. STF, c/c o artigo 11, "a", da Lei Estadual nº 8.121/85, Lei Estadual nº 12.613/2006 e §§ 3º e 4º do artigo 20 do CPC, arcará o réu com o pagamento das custas e despesas processuais já implementadas ao tempo da edição da Lei Estadual nº 13.471/2010 no percentual de 50% (cinquenta por cento); e, a partir da vigência desta última Lei, responderá unicamente pelas despesas processuais, em igual percentual, posto que tal rubrica compreende gastos a serem reembolsados; bem como com honorários advocatícios aos procuradores da parte autora, que estabeleço no correspondente a 15% (dez por cento) sobre o valor das parcelas do auxílio-doença no interregno em que restou restabelecido. Inocorrendo recurso voluntário, remetam-se os autos ao e. Tribunal de Justiça para reexame necessário diante do novo entendimento, filiando-se ao mais recente posicionamento do e. Superior Tribunal de Justiça, quando se tratar de sentença condenatória ilíquida prolatada contra a Fazenda Pública e mesmo que o valor dado à causa não ultrapasse os sessenta salários mínimos (art. 475 e § 2º, do CPC) – vide 70033996224 e 70033481847.

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A autora, primeira apelante, em razões recursais, alega que

sofre de artrose não especificada (CID 10 19.9), ruptura espontânea de

tendões não especificadas (CID 10 M66-5), síndrome do túnel do carpo (CID

10 G 56.0) e bursite do ombro (CID 10 M 75.5), moléstias ortopédicas

relacionadas ao trabalho, as quais lhe impossibilitam de exercer suas

atividades laborativas. Aduz que não conseguirá ser reabilitada para o

exercício de profissão intelectual ou que demande sequer um mínimo de

instrução, sendo evidente que sua incapacidade afigura-se como total,

impedindo-lhe o exercício de qualquer atividade laborativa que lhe possa

garantir o sustento. Pede que a sua pretensão seja analisada considerando

o conjunto probatório, e não apenas em face do laudo pericial. Requer o

provimento do recurso para que lhe seja restabelecido o benefício de

aposentadoria por invalidez ou auxílio-doença, nos moldes da inicial.

Igualmente pede o deferimento da tutela jurisdicional, pois preenchidos os

requisitos do art. 273 do CPC.

Não há preparo ante a gratuidade da justiça (fl. 42).

Por sua vez, o INSS, segundo apelante, em razões recursais,

alega que a perícia não afirma a incapacidade laborativa da autora, razão

por que a sentença não poderia ter restabelecido o benefício no período de

31.05.2006 a 04.01.2007. Salienta que o ato administrativo não pode ser

preterido por atestado de médico particular, que não só carece de análise

sob a ótica do direito previdenciário, como também foi produzida de forma

unilateral. Pleiteia o desacolhimento do pedido; contudo, subsidiariamente,

requer a reforma da sentença quanto ao índice de correção monetária,

dizendo que o IGP-DI não encontra respaldo legislativo. Pede a incidência

do INPC, como índice de correção monetária a partir de 01.04.2006; ainda,

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subsidiariamente, requer a minoração da verba honorária, devendo as

parcelas devidas ser limitadas até a data da sentença, nos termos da

Súmula n.º 111 do STJ.

A autarquia está isenta do preparo (art. 511, § 1º, do CPC).

Intimada, a parte recorrida oferece contrarrazões.

Sobem os autos a esta Corte, tendo o Ministério Público

emitido parecer pelo desprovimento da apelação da autora e parcial

provimento do recurso do INSS.

Na sequencia, a autora em petição acostada às fls. 195-197,

acompanhada dos documentos das fls. 198-200, informou que teria havido o

agravamento do seu quadro clínico, requerendo a aplicação do art. 462 do

CPC, bem como reiterando a antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional

de que trata o art. 273 do CPC.

Ainda vieram aos autos a petição da autora da fl. 212 e os

documentos das fls. 213-216. O INSS manifestou-se a respeito, requerendo

o reconhecimento da coisa julgada, em face de acordo homologado entre as

partes perante a Justiça Federal nos autos do processo eletrônico n.º

5004456-44.2011.404.7122 (fls. 224-232). Já, o Ministério Público reiterou o

parecer anteriormente exarado (fls. 234-237).

Após, vieram-me conclusos para o julgamento.

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É o relatório.

V O TO S

DES. LEONEL PIRES OHLWEILER (RELATOR)

I – PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE.

Os apelos são tempestivos; a autora está dispensada do

preparo ante a gratuidade da justiça concedida na origem (fl. 52); ao passo

que a autarquia está isenta do preparo, por força do art. 511, § 1º, do CPC.

Presentes os demais pressupostos de admissibilidade, conheço dos

recursos.

II – MÉRITO.

A Constituição Federal e a Configuração do Acidente do

Trabalho.

A Constituição Federal de 1988 oferece uma gama de

princípios e regras importantes para bem compreender a relevância da

proteção social do trabalhador, pois uma das dimensões do Estado é

exatamente o chamado Estado Social, ou seja:

“aquel Estado que alberga un conjunto de instituciones que garantizan el ejercicio de ciertos derechos sociales por la inmensa mayoria de los cidadanos – universalismo protector – desarrollados a través de políticas y programas de caracter redistributivo a partir de la solidaridad intergeneracional y apoyados en la

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idea básica de ciudadano trabajador, sujeto derechos sociales y, potencialmente, ciudadano necesitado”1

Com efeito, parte-se do princípio da dignidade da pessoa

humana (artigo 1º, III, CF) como elemento estruturante das relações sociais

e, de forma mais específica, do conjunto de direitos e deveres que integram

a Seguridade Social, culminando, por exemplo, com o princípio in dúbio pro

misero.

Por esta razão, o direito à previdência social é um direito

constitucional social, nos termos do artigo 6º da Constituição Federal. Assim,

o Direito Social integra um conjunto de prestações positivas da sociedade e

da Administração Pública para os trabalhadores, como a previsão do artigo

7º, inciso XXII, no qual está disciplinado o direito à redução dos riscos

inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene e segurança2.

Desta forma, é possível adotar os seguintes elementos

integrantes da idéia de acidente de trabalho, que há algum tempo foram

indicadas por Pontes de Miranda:

“Temos de chamar acidentes do trabalho todos os acidentes que a lei especial considera vinculantes do empregador à reparação, ou indenização ao empregado. (...)

1 Garrigues Walker, Antonio. In Prólogo. Administración Pública y Estado de Bienestar. Madrid: Thomson/Civitas, 2004, p. 25. 2 Celso Ribeiro Bastos, ao comentar o dispositivo constitucional, refere: “O empregador deve assegurar ao empregado um ambiente de trabalho que, pela sua situação, aeração, luminosidade, temperatura adequada, máquinas e utensílios, entre outros aspectos, permita ao trabalhador, o cumprimento da prestação e não acarrete nenhum prejuízo à sua saúde e integridade física”( Comentários à Constituição do Brasil, 2º Vol. São Paulo: Saraiva, p. 470-471).

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“O acidente do trabalho é o acidente que causa dano ao corpo físico ou à saúde física ou psíquica do empregado, oriundo de fato que se prenda a atribuições de trabalho, conforme o lugar e o tempo em que esse haja de ser exercido.”3

No plano infraconstitucional, o artigo 19 da Lei nº 8.213/91

disciplina a seguinte noção:

Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

Portanto, como elemento objetivo para a caracterização do

acidente do trabalho típico destaca-se a existência de lesão corporal ou

perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução,

permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. Relativamente ao

elemento subjetivo, é irrelevante para a sua configuração a existência de

culpa do segurado, eis que se trata da aplicação da Teoria do Risco Social,

segundo a qual a sociedade tem o ônus do indivíduo incapacitado,

independente de quem causou o infortúnio, como bem referem Carlos

Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari4.

3 Tratado de Direito Privado. Parte Especial. Tomo LIV. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editor Borsoi, 1967, p. 83. 4 Manual de Direito Previdenciário. 9ª ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2008, p. 493. Vale ressaltar, mais recentemente, a compreensão de Hertz Jacinto Costa: “Podemos dizer que o acidente tipo, ou acidente modelo se define como um ataque inesperado ao corpo humano ocorrido durante o trabalho, decorrente de uma ação traumática, violenta, subitânea, concentrada e de conseqüências identificadas” ( in Manual de Acidente do Trabalho, 4ª ed. Curitiba: Juruá Editora, 2009, p. 74.

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Além desta noção de acidente tipo, faz-se mister referir o artigo

20 da Lei nº 8213/91, in verbis:

Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas: I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social; II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I. § 1º Não são consideradas como doença do trabalho: a) a doença degenerativa; b) a inerente a grupo etário; c) a que não produza incapacidade laborativa; d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho. § 2º Em caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída na relação prevista nos incisos I e II deste artigo resultou das condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente, a Previdência Social deve considerá-la acidente do trabalho.

Ao examinar as doenças profissionais ou tecnopatias como

doenças decorrentes das condições de trabalho, Hertz Jacinto Costa referiu:

“A legislação em vigor equiparou a doença profissional à doença do trabalho, conforme incs. I e II do art. 20 da Lei nº 8213/91. São as moléstias de evolução lenta e progressiva, originária de uma causa igualmente gradativa, vinculada às condições de trabalho. As moléstias laborativas subdividem-se em tecnopatias e ergopatias (doenças profissionais), inerentes a alguns

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trabalhos peculiares ou a determinadas atividades laborativas, com nexo causal presumido, razão apela qual o infortunado fica dispensado de comprovar o nexo causal. As mesopatias, ou doenças do trabalho, também denominadas ‘moléstias profissionais atípicas’, normalmente decorrentes das condições de agressividade existentes no local de trabalho, que agiram, decididamente, seja para acelerar, eclodir ou agravar a saúde do trabalhador”.5

Por fim, a caracterização do acidente do trabalho, exige o

exame profundo do nexo causal, quer dizer, do vínculo de natureza fática

que liga a incapacidade para o trabalho ou morte à causa, isto é, o acidente

do trabalho ou doença ocupacional. Trata-se de análise técnica que deverá

ser realizada por médico perito ou junta médica; ressaltando-se a hipótese

do nominado nexo técnico epidemiológico previdenciário, introduzido com o

advento da Lei nº 11.430/06. Com esta alteração, houve significativa

modificação na identificação do nexo de causalidade que também pode ser

feita por meio da constatação do elemento epidemiológico, ou seja, aferindo-

se o grau de incidência da doença em determinadas atividades

empresariais.

A Situação Fática do Caso Concreto

A autora sustenta que, em meados de abril de 2004, quando

então exercia suas atividades de rotina, ficou constatado ser portadora de

moléstias do trabalho, classificadas como DORT – Distúrbios

Osteomusculares Relacionados ao Trabalho. São elas: síndrome do túnel

do carpo; ruptura espontânea de outros tendões; outras bursites do cotovelo

e bursite do ombro.

5 Manual de Acidente de Trabalho, p. 75.

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Gozou de auxílio-doença acidente entre 28.04.2004 a

31.05.2006, quando então foi cancelado o benefício pela autarquia, na via

administrativa.

Requer, nesta demanda, a concessão de auxílio-doença por

acidente do trabalho ou aposentadoria por invalidez, desde a cessação

indevida 31.05.2006, porquanto estaria comprovada nos autos sua

incapacidade laborativa.

O feito foi julgado procedente, pelo fato de a perícia ter sido

inconclusiva quanto à capacidade laborativa da autora na data da alta, de

modo que o INSS restou condenado a restabelecer o auxílio-doença

acidentário no período de 31.05.2006 até o dia 04.01.2007.

O artigo 59 e seguintes da Lei nº 8.213/91 disciplinam o

benefício auxílio-doença:

“Art. 59. O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos. Art. 60. O auxílio-doença será devido ao segurado empregado a contar do décimo sexto dia do afastamento da atividade, e, no caso dos demais segurados, a contar da data do início da incapacidade e enquanto ele permanecer incapaz. (Redação dada pela Lei nº 9.876, de 26.11.99) § 1º Quando requerido por segurado afastado da atividade por mais de 30 (trinta) dias, o auxílio-doença será devido a contar da data da entrada do requerimento.

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§ 2º O disposto no § 1º não se aplica quando o auxílio-doença for decorrido de acidente do trabalho. (Revogado pela Lei nº 9.032, de 1995) § 3º Durante os primeiros 15 (quinze) dias consecutivos ao do afastamento da atividade por motivo de doença, incumbirá à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário integral ou, ao segurado empresário, a sua remuneração. § 3o Durante os primeiros quinze dias consecutivos ao do afastamento da atividade por motivo de doença, incumbirá à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário integral. (Redação dada pela Lei nº 9.876, de 26.11.99) § 4º A empresa que dispuser de serviço médico, próprio ou em convênio, terá a seu cargo o exame médico e o abono das faltas correspondentes ao período referido no § 3º, somente devendo encaminhar o segurado à perícia médica da Previdência Social quando a incapacidade ultrapassar 15 (quinze) dias. Art. 61. O auxílio-doença, inclusive o decorrente de acidente do trabalho, consistirá numa renda mensal correspondente a 91% (noventa e um por cento) do salário-de-benefício, observado o disposto na Seção III, especialmente no art. 33 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995) Art. 62. O segurado em gozo de auxílio-doença, insusceptível de recuperação para sua atividade habitual, deverá submeter-se a processo de reabilitação profissional para o exercício de outra atividade. Não cessará o benefício até que seja dado como habilitado para o desempenho de nova atividade que lhe garanta a subsistência ou, quando considerado não-recuperável, for aposentado por invalidez.”

A aposentadoria por invalidez, por seu turno, requer a

constatação de incapacidade definitiva, conforme previsão legal do benefício

contida na regra do art. 42 da Lei 8.213/91:

Art. 42. A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o caso, a carência exigida, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de

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auxílio-doença, for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nesta condição.

Com efeito, o trabalhador acidentado ou acometido de doença

decorrente das condições de trabalho deverá submeter-se,

necessariamente, à perícia médica da Previdência Social, sob pena de

suspensão do benefício. A perícia realizada deverá aferir a existência do

nexo técnico epidemiológico entre o trabalho e o infortúnio, nos termos do

art. 21-A, da Lei 8.213/91 (com redação dada pela Lei 11.430, de

16/12/2006).

No caso dos autos, a perícia médica realizada concluiu o

seguinte (fls. 111-113):

No presente exame, confrontados com os exames complementares que a Autora traz consigo, constatamos que a Autora apresentou alteração degenerativa no Manguito Rotador dos ombros, cujo tendão supra-espinhoso direito foi motivo de tratamentos cirúrgico, obtendo-se ótimo resultado funcional. Apresentou também, Síndrome do Túnel do carpo bilateral, sendo que no punho direito, se submeteu a tratamento cirúrgico e no punho esquerdo realizou tratamento conservador, obtendo ótimo resultado funcional. Não há sequela de doença de origem laboral, podendo a Autora voltar a trabalhar.

Contudo, em resposta ao quesito complementar, no qual a

autora questionou o expert no seguinte: “Qual o período em que o segurado

permaneceu incapacitado para o exercício laboral?”; nestes termos foi dada

a resposta (fl. 126):

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Não há incapacidade laboral, atualmente. Da mesma forma, podemos precisar que quando incapacitada para o trabalho, a parte Autora percebeu Auxílio Doença, ou seja, de abril de 2004 a maio de 2006 e, quando de sua alta pelos peritos da autarquia, estes possivelmente a avaliaram e observaram que a mesma já estava capacitada para o trabalho.

Diante disso, a perícia demonstrou que a autora atualmente se

encontra em condições para o trabalho e que esteve incapacitada no

período em que recebeu o auxílio-doença acidentário, qual seja, abril de

2004 a maio de 2006. Já, quanto ao momento da alta, a resposta dada pelo

perito foi inconclusiva sobre a capacidade laborativa da autora, na medida

em que respondeu ao quesito somente com base no laudo pericial elaborado

pela autarquia demandada.

Além disso, pelo exame da prova documental acostada aos

autos, percebe-se que os atestados médicos constantes das fls. 61 e 63

demonstraram que no período de novembro de 2006 a janeiro de 2007 a

autora permaneceu inabilitada para o trabalho, indicando a realização de

cirurgia nesse período, o que é confirmado pelo atestado juntado à fl. 85; em

tal atestado verifica-se que a autora necessitou de realização de ato

cirúrgico. Inclusive, o documento médico acostado à fl. 64, demonstra que a

demandante ainda no mês de setembro de 2006 continuava com os

sintomas da doença.

Nessas condições, observa-se que, quando da alta do

benefício (31.05.2006), a demandante ainda permanecia incapacitada para

retornar ao trabalho, pois igualmente teve de submeter a procedimento

cirúrgico no período, após a cessação do benefício previdenciário.

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Diante disso, está correta a douta sentença que determinou o

restabelecimento do benefício auxílio-doença acidentário sob n.º

508.194.401-3, em favor da autora, desde a sua cessação, em 31.05.2006,

até a data de 04.01.2007; e, ao contrário do que alega a autora, não há

prova capaz que possa dar respaldo ao acolhimento integral da sua

pretensão pela insuficiência de elementos probatórios acerca do direito

afirmado.

De outro lado, quanto ao pedido de concessão de

aposentadoria por invalidez acidentária, igualmente nenhum reparo deve ser

feito na sentença recorrida; como a perícia médica não atestou a

incapacidade total e permanente da autora para qualquer tipo de trabalho,

não há cogitar sobre aposentadoria por invalidez, a teor do art. 42 da Lei de

Benefícios, mesmo porque a pretensão a esse título é de caráter alternativo,

o que não conduz ao acolhimento parcial do pedido.

Da mesma forma, em razão do resultado do julgamento, resta

mantido o indeferimento do pedido de antecipação da tutela reiterado em

razões recursais (fl. 156).

Outrossim, entendo que não incide na espécie o disposto no

art. 462 do CPC, pois a circunstância trazida pela autora de que haveria o

agravamento do seu quadro clínico, conforme petitório das fls. 195-197 e

documentos que o acompanham (fls. 198-200), inclusive os demais

documentos acostados às fls. 213-216, não constituem fato novo no

presente processo na forma do preceituado no art. 397 do CPC.

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Assim preconiza o art. 397 do CPC:

Art. 397. É lícito às partes, em qualquer tempo, juntar aos autos documentos novos, quando destinados a fazer prova de fatos ocorridos depois dos articulados, ou para contrapô-los aos que foram produzidos nos autos.

Ocorre que a documentação juntada posteriormente, na fase

recursal, quando já houve o encerramento da instrução processual, não

pode ser utilizada como meio de prova para o total acolhimento da pretensão

inicial, notadamente porque tais documentos, que constituiriam o fato novo,

não têm a força probatória para reverter o resultado do julgamento nos

termos em que agora é mantido por esta decisão judicial.

Ademais, não há como se valer do laudo médico pericial,

elaborado pela Justiça Federal, constante das fls. 213-215, pois o perito é

taxativo no sentido de dizer que a incapacidade da autora diagnosticada em

tal laudo pericial não é decorrente de acidente de trabalho (item II, quesito

“c”, fl. 213); assim, tal perícia médica produzida pela Justiça Federal não

poderá ser aproveitada nestes autos, porque aqui diz respeito

exclusivamente com benefício de natureza acidentária, e não previdenciária.

Por conseguinte, diversamente do que alega o INSS na petição

das fls. 224-225, não ocorre a situação de coisa julgada, tanto é que a causa

de pedir deste feito difere completamente daquela deduzida nos autos do

processo eletrônico n.º 5004456-44.2011.404.7122, o qual tem a ver com a

aposentadoria por invalidez de cunho previdenciário. O documento da fl.

216, emitido pela autarquia, dá conta de que a autora, já está percebendo a

aposentadoria por invalidez, de natureza previdenciária, situação esta que

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vem confirmada pela documentação posteriormente anexada pela autarquia

federal às fls. 226-232. Daí que não tem lugar a extinção do presente

processo, o qual deve prosseguir normalmente, porque é diverso o fato

gerador tanto desta demanda, quanto daquela ajuizada na Justiça Federal.

Em assim sendo, deve ser mantido o restabelecimento do

benefício de acordo com o período reconhecido na douta sentença.

Correção Monetária

A autarquia pede que seja adotado o INPC, como índice de

correção monetária.

A sentença determinou que as parcelas do benefício

restabelecido devem ser pagas de uma só vez, acrescidas de correção

monetária pela variação do IGP-DI, a contar do mês em que cada uma delas

seria devida, sendo que a partir de 30.06.2009, conforme determinado pelo

art. 5º da Lei n.º 11.960/2009.

Com efeito, no que se refere à correção monetária, deve ser

aplicado o INPC (Lei n.° 8.213/91, art. 41-A, com a redação da Lei n°

11430/06), desde 01.04.2006, até a vigência da Lei n° 11.960/09.

A Lei nº 11.960/09, de 30.06.2009, alterou o texto do art. 1º-F

da Lei nº 9.494/97, passando a dispor o seguinte:

Art. 1º-F. Nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua natureza e para

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fins de atualização monetária, remuneração do capital e compensação da mora, haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança.

Logo, a contar da vigência da nova lei, a atualização monetária

e a compensação da mora sofrerão atualização na forma do artigo citado, ou

seja, de “uma única vez” e pelos “índices oficiais de remuneração básica e

juros aplicados à caderneta de poupança”.

Quanto ao ponto, os seguintes precedentes da Câmara:

APELAÇÃO CÍVEL. ACIDENTÁRIA. INSS. AUXÍLIO-ACIDENTE. PERDA DO PODER DE PINÇA DO POLEGAR. TERMO INICIAL. JUROS. CORREÇÃO MONETÁRIA. CUSTAS PROCESSUAIS. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. 1. Tendo o conjunto probatório demonstrado ter resultado, do evento lesivo, seqüela que exige dispêndio de maior esforço, por parte do segurado, para a realização de suas atividades laborais, considera-se ocorrida a hipótese do art. 86 da Lei n 8.213/91 e, por isso, devido o benefício de auxílio-acidente . 2. Nos termos do § 2° do art. 86 da Lei n° 8.213/91, o auxílio-acidente será devido a partir do dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença. 3. Os juros de mora deverão ser fixados em 12% ao ano, a contar da citação válida nos termos da súmula 204 do STJ. 3. As parcelas vencidas apuradas devem ser corrigidas, a contar da data de vencimento de cada uma delas, pelo IGP-DI até março de 2006 e, a partir de abril de 2006, pela aplicação do INPC. Dada a vigência imediata e o caráter público de nova norma - Lei n° 11.960, de 29.06.2009, que entrou em vigor na data de sua publicação, em 30.06.2009, e alterou a redação no artigo 1°-F da Lei n° 9.494/97 -a incidência de juros e de correção monetária se dará, a partir de sua entrada em vigor, conforme os "índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança". 4. Fixados os

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honorários advocatícios, em favor do patrono da parte autora, em 10% do valor das parcelas vencidas até a prolação deste Acórdão, nos termos da Súmula 111 do STJ e dos §§ 3 e 4 do art. 20 do CPC. 5. Diante da redação conferida ao art. 11 da Lei 8.121/85 pela Lei nº 13.471/2010, as Pessoas Jurídicas de Direito Público são isentas do pagamento de custas, despesas judiciais e emolumentos no âmbito da Justiça Estadual de Primeiro e Segundo Graus. APELAÇÃO PROVIDA. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70038442885, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Iris Helena Medeiros Nogueira, Julgado em 29/09/2010) (grifei) APELAÇÃO CÍVEL. ACIDENTE DE TRABALHO. INSS. CÁLCULO DO BENEFÍCIO. VALOR DO BENEFÍCIO. O cálculo do benefício deve ser realizado de acordo com as disposições legais vigentes na data do fato gerador do acidente. A lei vigente ao tempo do infortúnio laboral há de reger o ato (tempus regit actum). Destarte, na espécie o acidente de trabalho ocorreu no ano de 1993. Assim aplica-se o dispositivo no art. 86, inciso II, § 1º da Lei nº 8.213/1991 (redação original), razão pela qual o auxílio-acidente é devido ao segurado no percentual de 40% do salário de contribuição, haja vista que com a redução da capacidade de trabalho o segurado foi reabilitado para exercer função diversa daquela em que sofreu o acidente. CORREÇÃO MONETÁRIA. JUROS. As parcelas vencidas deverão ser corrigidas monetariamente pelo IGP-DI até março de 2006 (Lei nº 9.711/1998) e pelo INPC a partir de abril/2006, nos termos do art. 41-A, da Lei 8.213/1991, desde quando deveriam ter sido pagas, e acrescidas de juros de mora de 1% ao mês, desde a citação. Precedentes desta Corte e STJ. CONSECTÁRIOS LEGAIS. A partir da vigência da Lei nº 11.960/2009 incidem sobre as parcelas vencidas, tão-somente, os consectários legais previsto nessa alteração legislativa. DERAM PROVIMENTO AO APELO E, EM REEXAME NECESSÁRIO CONFIRMARAM A SENTENÇA. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70036360592, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Tasso Caubi Soares Delabary, Julgado em 15/09/2010) (grifei)

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Honorários Advocatícios.

No que diz respeito à verba honorária, conforme o

entendimento pacífico nesta Câmara, em casos como o presente, deve ser

fixada em 10% sobre as parcelas vencidas até a prolação desta decisão, nos

termos da Súmula 111 do STJ.

III – DISPOSITIVO.

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO À APELAÇÃO DA

AUTORA; E DOU PARCIAL PROVIMENTO À APELAÇÃO DO INSS, em

reformando a sentença, alterar o critério de correção monetária, desde o

vencimento de cada parcela, pelo INPC a partir de 1º.04.2006 até a entrada

em vigor da Lei nº 11.960/09 (30.06.2009), sendo após tanto a correção

monetária quanto os juros moratórios atualizados uma única vez e pelos

índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de

poupança. Também a verba honorária sucumbencial resta modificada para

reduzir o percentual arbitrado (fl. 146), fixando-o em definitivo em 10% sobre

o valor das parcelas vencidas até a data da prolação da sentença, nos

termos da Súmula n.º 111 do STJ.

DES.ª IRIS HELENA MEDEIROS NOGUEIRA (PRESIDENTE E

REVISORA) - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. TASSO CAUBI SOARES DELABARY - De acordo com o(a)

Relator(a).

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DES.ª IRIS HELENA MEDEIROS NOGUEIRA - Presidente - Apelação Cível

nº 70043316579, Comarca de Porto Alegre: "NEGARAM PROVIMENTO À

APELAÇÃO DA AUTORA E DERAM PARCIAL PROVIMENTO À

APELAÇÃO DO INSS. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: LUSMARY FATIMA TURELLY DA SILVA