estado de natureza. fato: vivemos num mundo institucionalizado
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ESTADO
DE
NATUREZA
FATO:
VIVEMOS NUM MUNDO
INSTITUCIONALIZADO
[1] Há instituições políticas:
[a] governo central;
[b] governo local;
[c] policia;
[d] tribunais.
[2] As instituições:
[a] Distribuem e administram o poder político;
[b] Colocam pessoas em cargos de responsabilidade;
[c] Tais pessoas reivindicam o direito de nos mandar agir de determinadas
maneiras;
[d] Se desobedecemos, somos punidos.
[3] Nossa vida:
[a] É parcialmente estruturada e controlada por decisões
alheias.
QUESTÕES:
[i] Até que ponto essa interferência em nossa vida é tolerável?
[ii] Como seria nossa vida num sem governo, sem Estado?
[iii] Como seria nossa vida num ‘Estado de Natureza’?
ESTADO DE NATUREZA:
Situação hipotética possível na qual o Estado não existe e
ninguém é detentor do poder político.
DUAS PERSPECTIVAS:
Positiva:‘A Ilha dos corais’ – R. M. Ballantyne
Negativa:‘O Senhor das moscas’ – William Golding
THOMAS HOBBES
Por que não é aceitável viver num Estado de Natureza?
OBRA: Leviatã
Males da guerra civil;
Anarquia;
Defesa de um governo forte.
OBJETIVO:
Evitar a guerra de todos contra todos.
ESTADO DE NATUREZA
[i] Estado de guerra iminente;
[ii] Medo e suspeita constante;
[iii] Risco de morte violenta.
RACIOCÍNIO:
AUSÊNCIA DE GOVERNO
A NATUREZA HUMANA NOS CONDUZ INEVITAVELMENTE AO CONFLITO
GRAVE.
FILOSOFIA POLÍTICA DE HOBBES
ESTUDO DA NATUREZA HUMANA.Compreender a natureza humana é:
[a] uma empresa de auto conhecimento – introspecção;
[b] conhecimento dos princípios gerais da Física.
BASE: Materialismo mecanicista
[1] Para compreender o cidadão (isto é, o indivíduo na sociedade política) é
preciso compreender a natureza humana.
[2] Para compreender a natureza humana, é preciso, primeiro,
compreender o ‘corpo’ – a matéria da qual somos compostos.
FONTE DA ANÁLISE:
PRINCÍPIO DE CONSERVAÇÃO DO MOVIMENTO DE GALILEU.
APLICAÇÃO:
FÍSICA --------- HUMANO
TRADIÇÃO: Buscava saber o que mantinha os
objetos em movimento.
GALILEU: Há erro na pergunta, ou seja, no foco.
ERRO: Não é preciso perguntar por que as coisas continuam a se moverem.
PRESSUPOSTO:
Os objetos continuam a se movimentarem em direção constante até serem afetados por outra força.
PERSPECTIVA CORRETA:
Explicar por que os objetos mudam de direção e param.
HOBBES:
MOVIMENTO HUMANO: CONTINUO
CONTRA-MOVEMENTO: CANSAÇO
SERES HUMANOS:
São animados através do movimento.
[1] SENSAÇÃO: ‘PRESSÃO’ SOBRE UM ÓRGÃO;
[2] IMAGINAÇÃO: ‘VESTÍGIO ENFRAQUECIDO DA SENSAÇÃO’;
[3] DESEJO: ‘MOVIMENTO INTERNO EM DIREÇÃO A UM OBJETO’.
Os seres humanos estão sempre em movimento, isto é, estão sempre a procura
de algo.
[1] Buscam sempre a felicidade;
[2] Felicidade: busca continua do objeto do desejo.
[3] Busca da felicidade conduz à guerra – Estado de Natureza.
FELICIDADE
IMPLICA NA BUSCA DO PODER
FONTES DO PODER:
RIQUEZA
REPUTAÇÃO
AMIGOS
Os seres humanos têm um desejo insaciável de poder que cessa, somente, com a morte.
MOTIVOS:
[a] satisfação completa – inatingível;
[b] Adquirir mais para manter o que tem.
A busca incessante do poder conduz para a competição.
PASSAGEM:
COMPETIÇÃO
GUERRA
PRESSUPOSTOS
DE
HOBBES:
[1] IGUALDADE:
Há uma igualdade natural entre os homens:
[a] nível de força física;
[b] nível das capacidades intelectuais.
[2] ESCASSEZ:
No Estado de Natureza há escassez de bens.
[3] VULNERABILIDADE:
Todos os indivíduos estão expostos ao ataque e a morte violenta.
[i] Quer por que tenha bens;
[ii] Quer por que não tenha bens, pois pode ser uma ameaça futura.
HOMENS:
MOVIDOS PELO DESEJO
DESEJO - FELICIDADE
FELICIDADE – PODER
PODER:
RIQUEZA
REPUTAÇÃO
AMIGOS
COMPETIÇÃO
GUERRA
TRÊS PRESSUPOSTOS:
[1] IGUALDADE ( FÍSICA E INTELECTUAL)
[2] ESCASSEZ DE BENS
[3] VULNERABILIDADE AO ATAQUE E A MORTE
CONCLUSÃO:
ESTADO DE NATUREZA
ESTADO DE GUERRA
HOMENS:
[1] Buscam meios para satisfação imediata;
[2] Buscam meios para satisfazer os desejos futuros.
Reputação de poder é poder;
Atacar os outros reforça a reputação de poder;
Imagem: visa a proteção futura.
Para Hobbes há três razões para a agressão no Estado de Natureza:
[1] Lucro;
[2] Segurança;
[3] Reputação.
(p. 25)
QUESTÃO:
Para Hobbes os seres humanos são cruéis ou egoístas?
cruéis não;
egoístas sim.
ORIGEM DA GUERRA:
MEDO
MEDO ---- ATAQUE ----- AUTODEFESA
ESTADO DE GUERRA
Não é o conflito constante;
É prontidão constante para a luta;
Tensão constante de conflito iminente;
Estado de desconfiança e suspeita.
HOBBES NÃO LEVA EM CONTA A MORALIDADE.
DUAS QUESTÕES:
[1] A MORALIDADE FAZ SENTIDO NO ESTADO DE NATUREZA?
[2] O RECONHECIMENTO DO ‘DEVER MORAL’ É SUFICIENTE NA AUSÊNCIA DO
ESTADO?
RESPOSTA DE HOBBES:
NÃO HÁ REGRAS MORAIS NO ESTADO DE NATUREZA
RACIOCÍNIO: (p. 27)
[1] Injustiça – é a violação da Lei;
[2] Existência da Lei – é preciso que alguém a faça e garanta seu cumprimento;
[3] No ‘Estado de Natureza’ não existe um poder formal, e assim, não há Lei;
[4] Portanto, não há violação da Lei e, conseqüentemente, não há injustiça.
Regra:
Todo indivíduo tem direito e liberdade de agir para preservar
a si mesmo.
Direito natural:
É o direito e a liberdade de cada um para usar todo o seu poder – inclusive a força – para preservar a sua vida e satisfazer
seus desejos.
DIREITO NATURAL DE AUTO-PRESERVAÇÃO
No Estado de Natureza é
permitido fazer tudo, mesmo
tirar a vida de outra pessoa, se
se acreditar que isso ajudará na
nossa sobrevivência.
A idéia de auto-preservação parece ser razoável;
Mas, o ‘ataque preventivo’ é razoável?
[1] Direito Natural de Liberdade;
[2] Leis da Natureza (19 Leis).
Lei natural:
É a regra geral, ditada pela razão, que obriga cada um a preservar sua própria
vida e proíbe destruí-la.
Primeira lei:
Todo homem deve buscar a paz, na medida em que tem a esperança de obter;
Quando não a consegue obter, poderá procurar obter e utilizar, todos os recursos
e vantagens da guerra.(p. 28)
“Não faça aos outros o que não farias a ti mesmo”.
Problema:
[i] Se as Leis da Natureza constituem um código moral;
[ii] Então, há um conflito com a condição anterior que exclui a moralidade do Estado
de Natureza.
Hobbes:
Leis da Natureza não são regras morais, mas são deduzidas da racionalidade.
É racional que a obediência às Leis da Natureza forneça a cada indivíduo a
melhor possibilidade de preservar sua própria vida.
Outro problema:
[i] Se no Estado de Natureza, o Estado de Guerra é racional (auto-preservação);
[ii] Então, como pode ser racional buscar a paz?
Paradoxo:
A racionalidade busca simultaneamente a guerra e paz?
RESPOSTA:
DISTINÇÃO ENTRE:
RACIONALIDADE INDIVIDUAL;
RACIONALIDADE COLETIVA.
RACIONALIDADE COLETIVA:
É AQUILO QUE É MELHOR PARA CADA INDIVÍDUO, PARTINDO DO PRESSUPOSTO DE QUE TODOS OS OUTROS INDIVÍDUOS
AGIRÃO DA MESMA MANEIRA.
LEIS DA NATUREZA - COLETIVAMENTE RACIONAIS
EXEMPLO: (P. 29 – 30)
[1] Grupo de camponeses;
[2] Cada um cultiva sua porção de terra;
[3] Ação individual: visa aumentar a própria produção – corte de árvores;
[4] Todos agem do mesmo modo – desmatam;
[5] Tempestade – estraga a terra de todos.
Ação individual: não causa problema coletivo;
Ação coletiva: causa um desastre para todos.
PORTANTO:
Ação coletiva racional: não desmatar.
Questão:Quando há divergência?
NO MODELO DE HOBBES:
NO ESTADO DE NATUREZA OS INDIVÍDUOS ADOTAM UM
COMPORTAMENTO INDIVIDUALMENTE RACIONAL, ISTO É, ATACAM PARA SE
AUTO-PRESERVAR, O QUE CONDUZ AO ‘ESTADO DE GUERRA’.
Leis da Natureza propõem a adoção da racionalidade coletiva;
Esta é a possibilidade de evitar a guerra.
PRIMEIRA QUESTÃO:
Não há moralidade no Estado de natureza;
Leis as Natureza propõem uma racionalidade coletiva para evitar a guerra.
SEGUNDA QUESTÃO:
TEMOS UM ‘DEVER MORAL’ DE SEGUIR ÀS LEIS DA NATUREZA?
RESPOSTARESPOSTA:
AS LEIS DA NATUREZA: (p. 31)
[I] Sujeitam no âmbito do foro íntimo;
[ii] Mas, nem sempre no foro público.
ESTADO DE NATUREZA
[1] Obedeço quando sei que os outros obedecem;
[2] Mas, numa situação de insegurança, não obedeço.
Qual é a solução de Hobbes para o ‘Estado de Natureza’?
CRIAR A FIGURA DE UM SOBERANO QUE PUNA COM SEVERIDADE
AQUELES QUE DESOBEDECEM ÀS LEIS.
[i] Se o soberano for eficaz em obrigar o povo a obedecer às leis;
[ii] Então, e só então, ninguém poderá ter uma suspeita razoável de que os
outros o atacarão.
VANTAGEM DO ESTADO:
Garantir a segurança
JOHN LOCKE
OBRA: Segundo Tratado sobre o Governo
HOBBES:
Estado de natureza --- Estado de guerra
LOCKE:
É possível viver uma vida aceitável mesmo na ausência de governo.
O QUE É O ESTADO DE NATUREZA PARA LOCKE?
[1] É UM ESTADO DE PERFEITA LIBERDADE;
[2] É UM ESTADO DE IGUALDADE;
[3] É REGIDO POR UMA LEI DA NATUREZA.
QUANTO AO PRINCÍPIO DE IGUALDADE
HOBBES:
A igualdade diz respeito tanto as capacidades físicas quanto as
capacidades intelectuais.
LOCKE:
A igualdade diz respeito aos direitos: nenhuma pessoa tem o direito natural
de subjugar outra,
Ninguém tem ‘naturalmente’ o direito de governar;
Ninguém é nomeado por Deus.
DIFERENÇA:
HOBBES – LOCKE
Quanto a natureza da Lei da natureza;
Quanto ao conteúdo da Lei da Natureza.
QUANTO A LEI DA NATUREZA
HOBBES:
Lei da Natureza Fundamental:
[a] Buscar a paz;
[b] Fazer uso das vantagens da guerra.
LEIS DA NATUREZA - SURGEM DA RACIONALIDADE
LOCKE:
[i] A Lei da Natureza é discernível pela razão;
[ii] Possui um aspecto teológico:
“Somos todos criaturas de Deus”
LEI DA NATUREZA
Temos obrigação;
[1] auto-preservação;
[2] preservar a humanidade.
(p. 34)
IDÉIA GERAL:
A humanidade deve ser preservada na medida do possível.
PORTANTO:
[1] No Estado de Natureza, temos o dever de ajudar os outros, exceto para fins
restritos de autodefesa.
[2] Temos o dever de os ajudar, sem nos prejudicar.
PORTANTO, HÁ DIFERENÇAS
SUBSTANCIAIS ENTRE HOBBES E LOCKE
QUANTO AO TEOR DAS LEIS DA
NATUREZA.
QUANTO A LIBERDADE NATURAL
HOBBES:
Liberdade natural significa que muitas vezes pode ser completamente
racional e não passível de critica moral, fazermos o que for necessário
para assegurar nossa própria sobrevivência, mesmo atacar um
inocente.
LOCKE:
Embora o Estado de Natureza seja um Estado de Liberdade, não é um Estado de indisciplina. Temos liberdade para
fazer o que a Lei Natural permite, isto é, o que é moralmente permitido. Mesmo no Estado de natureza temos o dever
moral de refrear nosso comportamento (p. 35).
HOBBES:
Todos têm direito a tudo;
LOCKE: Não é assim.
QUESTÃO:
Isso é suficiente para discordar que o Estado de Natureza é um Estado de Guerra?
LOCKE:
[1] O Estado de Natureza se submete à avaliação moral;
[2] Os indivíduos se sentirão motivados para agir em conformidade com a Lei da Natureza.
HOBBES:
A motivação humana é buscar a satisfação contínua de seus desejos.
LOCKE:
É preciso um executor da Lei.
HOBBES:
A Lei da Natureza pode fracassar, isto é, ser ineficaz.
LOCKE: Há um Direito Natural de punir o transgressor.
(p. 37) – A Lei da Natureza pode ser implementada.
LOCKE:
Pensa que mesmo no Estado de Natureza há uma Lei Moral eficaz e se pode obrigar a
cumprir, por meio do Direito Natural de punir.
Hobbes discorda, pois há uma escassez de bens.
Para Locke, ao contrário, a natureza é pródiga, isto é, há uma abundância natural.
PROBLEMA: (p. 41)
Os homens se desentendem:
[a] por causa dos bens;
[b] quanto a justiça;
[c] interpretação da Lei da Natureza.
Conforme Locke:
A tentativa de administrar a justiça – mesmo entre os cumpridores da Lei – é, em si mesma, uma fonte poderosa de discórdia. É este o fato
principal do inconveniente do Estado de Natureza.
A única coisa que evita problemas maiores é o pensamento de que, dada a abundância inicial da terra, as disputas seriam evitadas. Mas a
abundância inicial acaba por tornar-se escassez.
Assim, temos a seguinte seqüência: abundância;
crescimento demográfico; acumulação;
escassez; dinheiro; posse.
SOLUÇÃO DE LOCKE:
GOVERNO CIVIL
JEAN JACQUES ROUSSEAU
Adota uma teoria diferente quanto:
[1] a natureza humana;
[2] a motivação humana.
Hobbes:
[1] Busca incessante da Felicidade;
[2] Poder para satisfazer os desejos;
[3] Situação de medo e desconfiança constante;
[4] Situação de escassez de bens.
RESULTADO: ESTADO DE GUERRA
ROUSSEAU:
Pressuposto:
Os indivíduos desejam ajudar-se mutuamente, sempre que o podem fazer.
Agem em prol do conforto dos outros;
Visão – certa bondade natural.
Rousseau concorda com Hobbes e Locke: os seres humanos são motivados pelo desejo de
auto-preservação.
MOTIVAÇÕES PRINCIPAIS:
[a] piedade;
[b] compaixão
Temos uma repugnância inata ao sofrimento.
COMPAIXÃO: Limitadora dos impulsos.
ERRO DE HOBBES E LOCKE:
Projetaram as qualidades do homem civilizado – pertencente à sociedade –
no homem selvagem.
Consideraram traços socializados como se fossem naturais.
‘HOMEM SELVAGEM’: é o homem no Estado de Natureza.
Motivações:
[1] auto-preservação;
[2] piedade
Afirmação (p. 43):
Em certos aspectos o Estado de Natureza é preferível a uma condição
mais civilizada.
Critica à civilização (p. 44):
Pessimismo ao progresso humano;
Certa nostalgia.
ROUSSEAU:
No Estado de Natureza não há moralidade (discordância de Locke);
Tendemos a não prejudicar os outros, não em função de uma Lei Moral;
Por que temos uma aversão natural a fazer o mal;
O sofrimento e a dor são naturalmente perturbadores para nós.
Conflito entre:
[i] auto-preservação
[ii] compaixão
Exemplo:
situação de escassez (p. 45).
SELVAGEM: Ser solitário; Vida solitária;
Dotado pela natureza.
NECESSIDADE: Comida;
Satisfação sexual;Sono.
TEMOR:
Fome
Dor
ESTRATÉGIAS EVOLUTIVAS:
[1] Estado Natural:
O homem:
[a] livre-arbítrio;
[b] capacidade de auto-aperfeiçoamento;
[c] Inova: diante da escassez;
[d] desenvolve instrumentos;
[e] noção de cooperação;
[f] tempo livre.
[2] Estágio intermediário entre:
[a] estupidez natural do selvagem;
[b] orgulho do civilizado.
[3] Civilização:
[a] Leis;
[b] Governo.
ANARQUISMO
TESE:É possível viver sem a figura do Estado.
Argumento 1:
Apela para a noção de cooperação natural entre as criaturas.
Argumento 2:
Os seres humanos são naturalmente bons.
Argumento 3:
Mesmo no estado de natureza é possível estruturas e regras sociais e políticas –
não um Estado – para corrigir os defeitos do estado de natureza.
FONTE:
Jonathan WOLFF.
Introdução à Filosofia Política.