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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC - SP Edinéia Ramos Fernandes O Envelhecimento do Doente Mental Crônico Institucionalizado MESTRADO EM GERONTOLOGIA SÃO PAULO 2008

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Page 1: O Envelhecimento do Doente Mental Crônico Institucionalizado Ramos... · O Envelhecimento do Doente Mental Crônico Institucionalizado. Dissertação (mestrado em Gerontologia) –

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC - SP

Edinéia Ramos Fernandes

O Envelhecimento do Doente Mental Crônico Institucionalizado

MESTRADO EM GERONTOLOGIA

SÃO PAULO 2008

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC - SP

Edinéia Ramos Fernandes

O Envelhecimento do Doente Mental Crônico Institucionalizado

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Univer- sidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Gerontologia, sob orientação do Prof. Dr. Paulo Renato Canineu.

SÃO PAULO 2008

Page 3: O Envelhecimento do Doente Mental Crônico Institucionalizado Ramos... · O Envelhecimento do Doente Mental Crônico Institucionalizado. Dissertação (mestrado em Gerontologia) –

Banca Examinadora

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Dedicatória

Dedico este trabalho à memória do

doutor Abel Francisco Vieira Job,

e a todos os portadores de transtornos

mentais crônicos do Instituto de Reabilitação

e Prevenção em Saúde Indaiá

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Agradecimentos

Manifesto a minha gratidão a todas as pessoas que de forma

direta ou indireta colaboraram para realização deste trabalho e em

particular:

Aos meus pais, Aparecido e Maria a quem devo meu existir.

Ao meu querido esposo Márcio, pela compreensão nos momentos

de minha ausência.

Ao meu amigo Alex, que esteve sempre presente, me

incentivando nos momentos de dificuldade.

Ao prof. dr. Paulo Renato Canineu, pela orientação e apoio na

elaboração deste estudo.

À minha família e em especial às minhas irmãs Zenaide, Simone

e Deneise, pelo incentivo.

A todas as professoras do Programa de Estudos Pós-Graduados

em Gerontologia, pelas valiosas contribuições.

À profa. dra. Beltrina que mudou meu paradigma de ciência.

À Albertina (Tina), pela disponibilidade e dedicação.

À Eliana, administradora do Instituto, e ao doutor Paulo de Tarso

Ubinha, por acreditarem neste trabalho e autorizarem minha

entrada na instituição.

À Marleide e a todos os funcionários do Instituto, por contribuirem

direta ou indiretamente.

À Fernanda Bravo, à Léia, à enfermeira Fátima Maia e à dra.

Maria Lúcia, pelo apoio e auxílio.

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Fechado no navio, de onde não se escapa, o louco é entregue

ao rio de mil braços, ao mar de mil caminhos, a essa grande

incerteza exterior a tudo. É um prisioneiro no meio da mais

livre, da mais aberta das estradas: solidamente acorrentado

à infinita encruzilhada. É o Passageiro por excelência, isto é,

o prisioneiro da passagem. E a terra à qual aportará não é

conhecida, assim, como não se sabe, quando desembarca, de que

terra vem. Sua única verdade e sua única pátria são essa

extensão estéril entre duas terras que não lhe podem pertencer.

(FOUCALT, apud SILVA, 2003:23)

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RESUMO

FERNANDES, E.F. (2008). O Envelhecimento do Doente Mental Crônico

Institucionalizado. Dissertação (mestrado em Gerontologia) – Pontíficia

Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.

Este trabalho é resultado de pesquisa realizada no Instituto de Reabilitação e

Prevenção em Saúde Indaiá, na cidade de Indaiatuba, interior do Estado de São

Paulo, com 13 sujeitos, idosos, doentes mentais crônicos, moradores dessa

instituição. O estudo teve como objetivo traçar o perfil sociodemográfico do

indivíduo que envelhece em uma instituição psiquiátrica, identificando o motivo de

permanecer institucionalizado após movimento da reforma psiquiátrica, e verificar

como o doente mental percebe seu processo de envelhecimento e como

compreende o vínculo familiar. O estudo seguiu a abordagem qualitativa, e a linha

geral que caracterizou o estudo foi a pesquisa descritiva. Para o delineamento do

perfil sociodemográfico utilizou-se procedimento técnico de pesquisa bibliográfica

de coleta de dados. Os demais dados foram coletados por meio de entrevista com

um roteiro semi-estruturado, gravadas, com consentimento do diretor clínico da

Instituição e transcritas para análise. Os dados foram agrupados em categorias,

compostas a partir dos objetivos traçados. Constatou-se idade média de 62,3

anos, a maioria na faixa de 60-69 anos; 69,2% do sexo feminino, tendo a

confirmação da feminização na velhice; verificou-se que 84,61% dos sujeitos

foram institucionalizados antes dos 60 anos; a esquizofrenia e a psicose orgânica

foram às doenças psiquiátricas de maior prevalência, com grave

comprometimento cognitivo entre os sujeitos. Na análise qualitativa percebeu-se a

ruptura das biografias pela falta de vínculo familiar e contato com o mundo

exterior, um diálogo não seqüencial, com falas breves. Muitas instituições

psiquiátricas que permaneceram em funcionamento ainda abrigam doentes

mentais crônicos (são os moradores), por causa da falta de amparo político, social

e familiar para essas pessoas.

Palavras-chave: envelhecimento, doentes mentais crônicos, institucionalização.

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ABSTRACT

FERNANDES, E,F (2008). The aging of hospitalized individuals who suffer from

chronic mental disease. (Master in Gerontology) – Pontíficia Universidade Católica

de São Paulo, São Paulo.

This work is the result of a study among thirteen old individuals with chronic

mental disease who are residents at the Institution of Rehabilitation and

Prevention in Health Indaia – located in Indaiatuba city, São Paulo state. The

objective of this study was to delineate the social and demographic profiles of

patients who get old as interns in Psychiatric Clinics, identifying the reasons for

being hospitalized and checking if they are able to understand their aging process

and the family itself. The study followed the qualitative approach and its main line

was the descriptive research. A bibliographical research to gather information

about the patients and delineate them into their social and demographic profiles

was done. Additional information was got from structured interviews made with

them. These interviews were all recorded and transcribed for further analysis. The

information was grouped into categories according to the delineated objectives

which led us to some conclusions. The patients were between 60 to 69 years old

but the average was between 62 to 63 years old. Most of them were women,

making 69,2% of them. About 84,01% of them turned residents before the age of

sixty. The schizophrenia and the organic psychoses were the psychiatric disease

that predominated among them.

In the qualitative analysis we noticed a rupture in their bibliographies because of

being living far from their families and being far from the real life, so It was noticed

short dialogues with no meanings and brief speeches. Nowadays many

Psychiatric Institutions maintain people with chronic mental disease as residents,

because themdon´t have politica, social an familiar support.

Key-words: aging, chronic mental disease, hospitalized.

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LISTA DE FIGURAS e TABELAS Figuras

Figura 1 – Distribuição por sexo na idade em que foram institucionalizados ....... 54

Figura 2 – Distribuição das doenças psiquiátricas ............................................... 55

Figura 3 – Distribuição por sexo das comorbidades ............................................. 56

Figura 4 – Distribuição dos escores totais dos idosos no MEEM ......................... 57

Figura 5 – Pontuação da Escala de Katz ............................................................. 58

Tabelas

Tabela 1 – Caracterização Sociodemográfica ...................................................... 53

Tabela 2 – Distribuição dos anos de institucionalização em relação às visitas .... 59

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SUMÁRIO

I - Introdução .................................................................................................... 1

II - Abordagens Conceituais: a Reforma Psiquiátrica e o Doente Mental Crônico Institucionalizado ............................................................ 9

1. Desospitalização ..................................................................................... 9

2. Saúde, saúde mental e doença mental ................................................. 14

3. O doente mental crônico ....................................................................... 17

4. Envelhecimento ..................................................................................... 20

5. As principais doenças em idosos de hospitais psiquiátricos ................. 23

5.1. Esquizofrenia .................................................................................. 24

5.2. Transtornos mentais orgânicos ...................................................... 25

5.3. Transtornos mentais e comportamentais por causa do uso de

substância psicoativa ..................................................................... 27

5.4. Epilepsia ......................................................................................... 28

III – Objetivos .................................................................................................. 30

IV – Metodologia ............................................................................................ 31 1. A realização da pesquisa de campo e os procedimentos metodológicos ... 31

2. O Instituto .............................................................................................. 33

3. Coleta de dados .................................................................................... 35

V – Resultados, Discussão e Análise dos Depoimentos dos Entrevistados ......................................................................................... 39

1. A identificação dos sujeitos ................................................................... 40

2. Caracterização sociodemográfica ......................................................... 53

3. Caracterização por sexo na idade em que foram institucionalizados ... 54

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4. Distribuição das doenças psiquiátricas ................................................. 55

5. Distribuição das comorbidades ............................................................. 56

6. Resultado da avaliação pelo mini-exame do Estado Mental de Folstein

(Folstein et al., 1975), modificado segundo critérios de Brucki (2003) . 57

7. Resultado da avaliação da capacidade funcional dos idosos por

intermédio da Escala de Capacidade Funcional de Katz ...................... 58

8. Relação tempo de institucionalização e o recebimento ou não de visitas ... 59

9. Análise dos depoimentos dos entrevistados ......................................... 60

9.1. Definir velho, velhice e envelhecimento ......................................... 60

9.2. A percepção que o doente mental tem sobre seu processo de

envelhecimento ............................................................................... 63

9.3. O que considera família, e se sente falta de família ...................... 65

9.4. Percebe os demais internos como alguém da família? .................. 68

10. Qual a razão para os indivíduos com transtorno mental crônico

não serem acolhidos por seus familiares? ............................................ 70

VI – Considerações Finais ............................................................................. 72

VII – Fontes Bibliográficas ............................................................................. 77

VIII – Anexos ................................................................................................... 85

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Edinéia Ramos Fernandes O envelhecimento do doente mental crônico institucionalizado

1

I – INTRODUÇÃO

“... Toda minha vida se tornou uma viagem e começo a sentir que meu

único lar, o único lugar familiar para onde sempre retorno, é minha

doença” (YALOM, 2005:76).

Quando iniciei o mestrado em Gerontologia meu objetivo era pesquisar

sobre o idoso acometido pela doença de Parkinson. Porém, havia grande

frustração por não conseguir desenvolver o mestrado na área da saúde mental,

com a qual sempre tive muita afinidade, e por questões diversas não fora possível

concretizar. No segundo semestre, ao cursar a disciplina “Aspectos Médicos do

Envelhecimento”, cujo enfoque proposto era oferecer informações a respeito das

doenças que podem ocorrer durante o processo de envelhecimento, com suas

repercussões no indivíduo, na família e na sociedade, compreendemos melhor a

problemática das demências e discutimos sobre saúde mental e reabilitação. Foi

então que me senti motivada a direcionar o tema de pesquisa para outra

abordagem. Considerei importante, partindo dessas ponderações, pensar como

envelhece o doente mental crônico, institucionalizado.

A escolha também se apoiou na minha inquietação, surgida anteriormente

ao mestrado, quando, ao trabalhar em uma instituição psiquiátrica, no município

de Indaiatuba, observei um número relevante de idosos institucionalizados e sem

vínculo familiar. A reflexão sobre a questão do envelhecimento, em uma

instituição psiquiátrica, e a perda do vínculo familiar, instigaram a formulação de

um projeto de pesquisa.

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De acordo com Turato (2003:119):

“... Um tema problema eleito para um projeto de investigação científica

atende a indagações pessoais do investigador, que parte de motivadores

próprios, interesse e/ou experiências anteriores no campo abordado;

mas também deve ser de relevância para a sociedade, de forma mais ou

menos ampla, e para o conhecimento científico específico sobre o tema,

podendo ainda contribuir com a estruturação de conceitos mais

abrangentes no campo da ciência.”

O crescimento da população idosa é fenômeno mundial, especialmente nos

países em desenvolvimento. O crescimento explosivo do número da população

idosa provoca aumento de pessoas com risco de doenças neurológicas e

psiquiátricas. O envelhecimento pode resultar na presença de múltiplos prejuízos

e incapacidade, com conseqüente deterioração da saúde dos idosos (MAIA,

2004).

O envelhecimento não leva inevitavelmente à doença e à incapacidade.

Muitas pessoas idosas permanecem funcionalmente independentes apesar da

crescente prevalência da doença crônica. Entretanto, a doença mental aumenta a

vulnerabilidade do idoso ao declínio funcional (POTTER & PERRY, 2005).

Nos dias de hoje, muitos problemas que afetam a saúde mental dos idosos

devem-se a fatores de ordem social, porém, mais especificamente, ordem

econômica. Os problemas de infra-estrutura socioeconômica, pessoal e familiar,

implicam e predispõem, muitas vezes, os idosos a processos patológicos.

Destaca-se cada vez mais o impacto desses fatores nas manifestações da

doença mental, impacto que, provavelmente, se potencializa no envelhecimento,

por causa do conjunto de perdas que se avolumam nessa fase da vida, tais como:

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diminuição das funções físicas e intelectuais, perda da beleza do corpo, queda no

prestígio social, dependência econômica dos familiares, são vivenciadas com

sentimento de pesar (FIGUEIREDO et al., 2002). As alterações estruturais e

funcionais produzidas pelo envelhecimento estabelecem modificações fisiológicas

importantes nos sistemas orgânicos, que têm como resultado uma cascata de

efeitos indesejáveis aos aparelhos e órgãos nobres. As condições neuropsíquicas

também podem sofrer alterações: orientação, humor, concentração, alteração da

memória. As enfermidades psíquicas possuem base biológica, porém, o fato de

serem vivenciadas em contextos sociais e culturais diferentes torna os sintomas e

sua evolução específicos. As respostas individuais às agressões sofridas ao longo

da existência são fatores que determinam a velocidade com que o

envelhecimento acontece. A influência de condições desfavoráveis de vida

aumenta a probabilidade de desencadeamento de distúrbios psiquiátricos.

Aspectos multidimensionais do envelhecimento são fatores que concorrem para a

inquietação psicossocial do indivíduo idoso.

Cabe destacar que, dentro dos diversos níveis de intervenção em saúde

mental, se constata o surgimento de uma nova cultura de cuidados, que cada vez

mais vem ocupando espaço. Ainda assim, se observa que os vários avanços, em

especial os tecnológicos e, entre esses, os ocorridos na área médica (vacinas,

medicações), não são observados na área da saúde mental. Há o aumento de

casos de depressão, esquizofrenia, demência, outras formas de doenças mentais

crônicas, além de alcoolismo, abuso de drogas e suicídio, assim como a violência

contra pessoas idosas (FREITAS, 2002).

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No fim da década de 1980, inicia-se no Brasil o movimento da Reforma

Psiquiátrica, a partir das transformações sociais e políticas que vinham

acontecendo, no campo da psiquiatria, em países da Europa e nos Estados

Unidos (BRASIL, 2001). O Brasil tem, hoje, movimento de desinstitucionalização

significativo inserido na reforma psiquiátrica brasileira.

A doença mental passa a ser reconhecida como fruto também do processo

de marginalização e exclusão social, e a luta da Reforma Psiquiátrica

fundamenta-se na construção da cidadania dos indivíduos em sofrimento psíquico

e na promoção da saúde mental.

A luta antimanicomial se refere a processo de transformação dos serviços

psiquiátricos. Nos últimos anos o problema da instituição psiquiátrica tem sido

discutido por diversos setores da sociedade brasileira. Tendo se iniciado com um

posicionamento dos trabalhadores de saúde mental, em 1987 nasce o Movimento

Nacional da Luta Antimanicomial, negar o manicômio como forma de tratamento

e propor novas alternativas terapêuticas ao indivíduo portador de transtornos

psíquicos.

O processo de redução de leitos em hospitais psiquiátricos e de

desinstitucionalização de pessoas com longo histórico de internação passa a

tornar-se política pública no Brasil a partir dos anos 90, e ganha grande impulso

em 2002, com uma série de normatizações do Ministério da Saúde, que instituem

mecanismos claros, eficazes e seguros para a redução de leitos psiquiátricos a

partir dos macro-hospitais (BRASIL, 2005).

Assim, o mecanismo para redução de leitos no país ocorre por meio de

serviços substitutivos aos hospitais psiquiátricos, como a instituição do Programa

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de Volta para Casa, expansão de serviços como os Centros de Atenção

Psicossocial (CAPs) e as Residências Terapêuticas.

Nossa sociedade não está preparada para o desafio de acolher e cuidar

das pessoas que adoecem mentalmente com gravidade. Segundo Melman

(2006), ainda predomina visão preconceituosa em relação ao fenômeno da

doença mental, o que acaba resultando na marginalização afetiva e social de

grande número de pessoas que necessitam de atenção psiquiátrica.

A sociedade, ao longo de sua história, sempre isolou os doentes mentais.

Em conseqüência, têm ficado fora do alcance dos olhos, ou seja, distante da

convivência com os “sadios”. O isolamento, que se caracteriza como forma de

tratamento por meio de longas internações, acarreta a quebra do vínculo familiar

(WAIDMAN, 2001).

Sociologicamente, a família é definida como um sistema social, dentro do

qual podem ser encontrados subsistemas, dependendo do seu tamanho e da

definição de papéis. Por meio das relações familiares os acontecimentos da vida

recebem seu diagnóstico e, a partir dele, são entregues à experiência individual

(OSINAGA, 2004).

A família é construção sociocultural na qual o vínculo biológico é apenas

um dos elementos. A concepção de família varia no tempo e de acordo com as

culturas, assim como mudam suas características. No Brasil, as famílias são

nucleares, mas o modelo de família extensa ainda continua: é bilateral (conta-se

pelos dois lados: paterno e materno), engloba parentes ditos “consangüíneos” e

afins. Vive-se processo de mudança significativa no modelo de família.

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O adoecimento de um membro da família representa, em geral, um forte

abalo. Para a maioria das pessoas a enfermidade significa grande ruptura na

trajetória existencial. A enfermidade mental desafia o poder familiar, gera muita

tensão, estimula sentimentos de impotência e vitimização, alimenta amarguras.

Naqueles casos em que a gravidade do quadro é maior e a duração dos sintomas

se prolonga por muito tempo, os repetidos fracassos sociais dos pacientes, as

dificuldades de comunicação e interação, e os freqüentes insucessos nos

tratamentos produzem mais frustração e desespero, são convite a um progressivo

isolamento da vida comunitária. A própria vida fica esvaziada, muito aquém das

possibilidades existenciais. A institucionalização desse membro doente mental se

torna alternativa viável e cômoda, muitas vezes porque os familiares dele não

podem ou não querem cuidar (MELMAN, 2006).

Na introdução de seu livro clássico, Manicômios, prisões e conventos,

Goffman (2007) descreve os dispositivos comuns às diversas instituições totais:

as atividades cotidianas se desenvolvem em contato com grande número de

pessoas, tratadas do mesmo modo e obrigadas a fazer as mesmas coisas; todas

as dimensões da vida acontecem no mesmo lugar e são reguladas por uma única

autoridade; as diversas fases das atividades do dia-a-dia são rigorosamente

organizadas segundo ritmo preestabelecido e de acordo com um plano racional,

cuja finalidade é precisamente cumprir a função social da instituição. O aspecto

central das instituições totais pode ser descrito com a ruptura das barreiras que

comumente separam as esferas da vida.

No hospital psiquiátrico, o desejo de normatização é explícito,

escancarado: a arquitetura, a separação entre sexos, a onipresença do

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regulamento, a ruptura dos laços familiares e de vizinhança, o controle rígido do

tempo, as relações de poder, tudo está a serviço da reprogramação completa da

existência, em virtude das exigências da ordem e da disciplina (FOUCAULT, 1991).

O isolamento do sujeito doente é a peça-chave do dispositivo institucional

que, além de neutralizar o recluso, estabelecendo relação pedagógica e

disciplinadora, circunscreve-o em uma espécie de laboratório social e sanitário.

Lugar zero de trocas sociais, deserto humano, ético e material (MELMAN, 2006).

Goffman (2007) ressalta que entre os internados de muitas instituições

totais existe o intenso sentimento de que o tempo passado no estabelecimento é

perdido, destruído ou “tirado” da vida; é tempo que precisa ser “apagado”; é algo

que precisa ser “cumprido”, “preenchido” ou “arrastado” de alguma forma. Nas

prisões e nos hospitais para doentes mentais uma afirmação geral quanto à

adaptação da pessoa à instituição pode ser apresentada por meio da maneira de

“passar o tempo”: se é algo penoso ou leve.

Na atual política de saúde mental, que visa a desinstitucionalizar o doente

mental, os profissionais têm tentado envolver a família no tratamento, pois vários

autores, como Bandeira (1994), Koga (1997), Waidman (1998), apud Osinaga

(2004), enfatizam que somente assim será possível manter o doente

desinstitucionalizado, pois, sem preparo e acompanhamento, a família não tem a

infra-estrutura necessária para manter o doente mental no domicílio.

Dois dos principais desafios para o processo de consolidação da Reforma

Psiquiátrica brasileira são a formação de recursos humanos capazes de superar o

paradigma da tutela do “louco e da loucura”, e o resgate do vínculo familiar, que

muitas vezes pela longa internação se perdeu.

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A formação de recursos humanos implica interesses e incursões

financeiras do Estado, por meio de incentivo ao aprimoramento profissional,

campanhas de conscientização da população etc. A recuperação do vínculo

familiar é questão que escapa às decisões governamentais e implica

multiplicidade de fenômenos (desde a existência de uma família ao afastamento

da mesma por causa do tempo de institucionalização).

Inúmeros problemas o país enfrenta. E para eles há de serem encontradas

soluções. Entre eles, as repercussões sociais e de saúde do envelhecimento

populacional. A compreensão da interface dos aspectos biopsicossociais do

envelhecimento, com vistas ao atendimento da saúde mental e do adoecer

psíquico das pessoas idosas, ainda se apresenta como grande desafio para o

qual tem-se que encontrar respostas.

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II – ABORDAGENS CONCEITUAIS: A REFORMA PSIQUIÁTRICA

E O DOENTE MENTAL CRÔNICO INSTITUCIONALIZADO

1. Desospitalização

“...Loucura é um nome popular carregado de discriminação e de falsos

medos. O nome científico é psicose. Há vários tipos de psicoses que se

apresentam com vários graus de intensidade e, conseqüentemente, com

vários níveis de superação.” (CURY, 2005:51).

A luta antimanicomial começou no Brasil há 20 anos, quando ganhou corpo

na esquerda mundial o debate sobre o fim dos hospícios e o tratamento dos

pacientes fora dos hospitais. A inspiração foi o modelo definido pelo italiano

Franco Basaglia que, em 1961, assumiu a direção do Hospital Psiquiátrico de

Gorizia e transformou o manicômio em comunidade terapêutica, com princípios

humanistas.

A desinstitucionalização italiana tem, em seus fundamentos jurídicos,

medidas efetivas que viabilizam a execução, tendo como pontos cardeais:

• A proibição de construir novos hospitais psiquiátricos e internar novos

pacientes nos já existentes;

• O estabelecimento de serviços territoriais responsáveis pelo

atendimento de saúde mental em áreas geográficas determinadas,

dotados das estruturas necessárias para prestar assistência

psiquiátrica adequada às necessidades da população. Entre essas

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estruturas mencionam-se especificamente os hospitais gerais, nos

quais haverá o máximo de 15 leitos destinados ao atendimento de

pacientes psiquiátricos;

• A abolição das tutelas jurídicas e do “status” de periculosidade social do

doente mental, que passa a ser reconhecido como cidadão em plena

posse de direitos civis e sociais.

Traço fundamental que distingue a Reforma Italiana e a diferencia das

demais reformas psiquiátricas é não oferecer solução institucional acabada ou um

quadro normativo. Processo dinâmico, em que os conflitos e transformações

mantêm aberto um espaço de incertezas, no qual continuam sendo relevantes as

ações concretas, a experimentação e a aprendizagem (OPS, 1990).

A luta antimanicomial, histórica, ganhou força a partir dos anos 70, quando

a sociedade começou a questionar o tratamento dado aos pacientes com

problemas mentais. Há 19 anos, o então deputado Paulo Delgado (PT-MG)

apresentou projeto de lei propondo o fechamento dos hospícios (o projeto foi

rejeitado).

O movimento antimanicomial, também conhecido como Luta

Antimanicomial, se refere a um processo mais ou menos organizado de

transformação dos serviços psiquiátricos, derivado de uma série de eventos

políticos nacionais e internacionais. Na sua origem, esse movimento está ligado à

Reforma Sanitária Brasileira, da qual resultou a criação do Sistema Único de

Saúde (SUS).

O início do processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil é contemporâneo à

eclosão do “movimento sanitário”, em favor da mudança dos modelos de atenção

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e gestão nas práticas de saúde, defesa da saúde coletiva, eqüidade na oferta dos

serviços e protagonismo dos trabalhadores e usuários dos serviços de saúde nos

processos de gestão e produção de tecnologias de cuidado. A nova política de

saúde foi oficialmente estabelecida em 1988, com a Constituição Federal, que

originou a lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, instituindo a Reforma do Modelo de

Assistência em Saúde Mental no Brasil, conhecida como “reforma psiquiátrica”,

que prevê a redução do número de leitos para internação e a criação de Centros

de Atenção Psicossocial (CAPs), que promoveriam tratamento sem internação

(BRASIL, 2004).

Pesquisa realizada pelo Ibope, e encomendada pela Associação Brasileira

de Psiquiatria (ABP), relata que cerca de 1,3 milhões dos brasileiros sofrem

transtornos mentais graves (BEOLCHI, 2008). Segundo dados da Organização

Mundial de Saúde (OMS), mais de 30% da população, independentemente de

classe social, credo ou raça, necessitam de algum atendimento psiquiátrico. Ainda

conforme o Fórum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos (2006), o

Ministério da Saúde, sem política adequada ao atendimento ao doente mental,

vem praticando uma “reforma psiquiátrica”, editando portarias sem levar em conta

as reais necessidades da população. Um quarto dos leitos psiquiátricos do país

foi fechado, sem que fossem criados serviços substitutos suficientes.

A política antimanicomial só se estabeleceu legalmente em 2001. Seis

anos depois o país vive uma encruzilhada: fechou parte dos desumanos

manicômios, mas não criou atendimento suficiente para os doentes saídos dos

hospitais. O Brasil tem 16,5 milhões de doentes mentais que precisam de

internações eventuais, além de tratamento ambulatorial. De 2002 a 2007, o total

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de leitos psiquiátricos caiu de 51.393 para 38.842. O governo se comprometeu a

criar leitos em hospitais gerais e uma rede de atendimento comunitário, além de

residências terapêuticas para pacientes. Mas até hoje só foram instalados 2.400

leitos em hospitais gerais. No lugar de 12.551 leitos fechados, foi montada uma

rede com 1.123 CAPs (LARANJEIRA, 2008).

Logo no seu início, portanto, as ações de desinstitucionalização no Brasil

depararam-se com uma questão: o que fazer com pessoas que poderiam sair dos

hospitais psiquiátricos, mas que não contavam com suporte familiar ou de

qualquer outra natureza (BRASIL, 2004).

Após estudo realizado no Brasil, em 2002, estimou-se que um terço dos

pacientes internados nos hospitais psiquiátricos é crônico, e residentes nesses

locais, pois perderam completamente o vínculo familiar (BRESSAN, 2002).

Muitos leitos em hospitais psiquiátricos são ocupados, ainda hoje, por

pacientes de longa permanência. O quadro psiquiátrico não justifica a internação,

apesar de apresentarem prognósticos sombrios. A condição social em que se

encontram é, em sua maioria, de miséria e ausência das condições mínimas de

bem-estar. O tempo e o “tratamento” a que foram submetidos em instituições,

psiquiátricas ou não, são determinantes para os considerarmos pacientes

institucionalizados (RANGEL, 2006).

Sério problema enfrentado por instituições psiquiátricas é o processo de

desospitalização de indivíduos portadores de transtorno mental crônico, que

passaram muitos anos institucionalizados. Por causa do longo tempo de

institucionalização, ambiente pouco estimulante e excesso de medicação podem

ser os causadores de déficits cognitivos (LACKS, et al., 2000).

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Embora o processo de desinstitucionalização tenha trazido resultados

positivos e oportunidade de recuperação e ressocialização aos pacientes

psiquiátricos, uma parcela não se beneficiou desse processo, em virtude de

dificuldades e equívocos na implantação e no desenvolvimento de centros

comunitários, que acabaram priorizando o tratamento de pacientes menos graves

e mais jovens. Muitos pacientes retornaram para as instituições psiquiátricas e

permaneceram internados cronicamente, e outros nem chegaram a sair de lá.

Constituem os chamados “crônicos” ou “moradores”: lá envelheceram e hoje se

encontram em situação diferente daquela que apresentavam quando internados

anos atrás. Muitos foram perdendo os vínculos com o mundo exterior, pelas

rupturas familiares e abandono (CANINEU, 2001).

Existe ainda outro paradoxo. Os usuários de instituições psiquiátricas são

encaminhados, em grande parte dos casos, pela própria equipe da rede pública

de atendimento social e de saúde, ou pelos hospitais conveniados com o Sistema

Único de Saúde. Encontram nessas instituições a solução, no que se refere à

moradia e proteção, para as pessoas incapazes de ter vida autônoma, sem

vínculos familiares ou que, mesmo os tendo, “não se adaptam ao convívio

doméstico” (MEDEIROS, 2006).

O Brasil dispõe, hoje, de arcabouço legal que assegura ao portador de

transtorno mental a garantia do acesso ao melhor tratamento do sistema de

saúde. Porém, essas prescrições e determinações legais são, ainda, uma utopia

para grande parte da população portadora de transtorno mental (MEDEIROS,

2006).

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2. Saúde, saúde mental e doença mental

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2003), saúde é um

estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas ausência de

distúrbios ou doenças. É estado de equilíbrio humano entre o organismo e o seu

ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo

dentro dos limites normais, de forma particular, e dentro do seu ciclo vital.

Há dois tipos de perspectivas em relação à saúde: analítica e holística. Na

visão analítica de saúde, existe doença se a função de um órgão se desvia, de

maneira anormal, da função típica da espécie. A pessoa está doente se tem órgão

que funciona subnormalmente. Na visão holística, a saúde é definida como a

habilidade da pessoa em alcançar seus objetivos vitais. Portanto, se algum objeto

vital o individuo não pode alcançar, então está carecendo de saúde, em algum

nível (OSINAGA, 2004).

Segundo Birman apud OSINAGA (2004), a saúde está na ordem do

simbólico e da significação. O simbólico mostra-se tão concreto quanto os

distúrbios do corpo. Pelo fato de o homem ser um ente simbólico, desenhará em

sua mente significados e sentidos de acordo com os códigos culturais e relações

sociais. Isso poderá alterar o funcionamento biológico, psicológico, emocional e

afetivo.

Saúde mental, segundo a OMS, é o estado relativamente persistente, no

qual um indivíduo logra integrar as suas tendências instintivas de maneira

razoavelmente satisfatória para si mesmo, refletida em sua alegria de viver, na

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sensação de auto-realização, como também de adaptação ao ambiente social, e

na satisfação de relações interpessoais e realizações.

A definição de doença mental deriva do que se acredita serem os seus

fatores causais. É difícil definir um conceito universal de doença mental, por

causa dos fatores culturais que influenciam a definição. Na DSM–IV1 (American

Psychiatric Association [APA], 1994), a APA , apud Townsend (2002:15), define

doença mental ou um distúrbio mental como:

“...uma síndrome ou padrão comportamental ou psicológico clinicamente

significativo que ocorre em uma pessoa e se associa no presente a

sofrimento (um sintoma doloroso) ou incapacidade (distúrbio numa ou

mais áreas importantes do funcionamento), um aumento significativo no

risco de vir a apresentar morte, dor, incapacidade ou uma perda de

liberdade importante... e não simplesmente uma resposta esperada a um

evento específico.”

O processo de adoecer envolve algumas fases, iniciando-se por tensão

emocional, com repercussões psicológicas, afetivas e sociais (OSINAGA, 2004).

As representações sociais da doença são construídas da experiência com

a enfermidade, que se traduz em expressões diretas do sofrimento. Essas

expressões necessitam ser organizadas em uma totalidade dotada de sentido,

dando a ela significados.

Escrever sobre transtornos mentais é tarefa aflitiva. Tentar descrever aquilo

que, em última análise, é indescritível.

A publicação do DSM-III, em 1980, introduziu na psiquiatria o termo mental

disorder como nomenclatura mais adequada do que mental illness, em

1 DSM: Manual Diagnóstico e Estatístico das Desordens Mentais.

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concordância com sua abordagem descritiva e a tentativa de neutralidade quanto

às teorias etiológicas. No Brasil, segundo Mari apud Osinaga (2004), essa

orientação determinou a substituição gradual do uso do termo doença por

distúrbio, transtorno ou desordem.

A publicação do CID 102 propôs o uso do termo transtorno em toda a

classificação, numa tentativa de padronização da nomenclatura, visando dessa

maneira evitar “problemas ainda maiores inerentes ao uso de termos, tais como

doença ou enfermidade”.

Afinal, doença mental e adaptação-inadaptação são conceitos distintos.

Cada uma existe em um contínuo separado. O contínuo saúde-doença deriva de

uma visão do mundo do ponto de vista médico. O contínuo adaptação-

inadaptação origina-se de visão de mundo do ponto de vista da enfermagem.

Assim, uma pessoa considerada doente do ponto de vista médico – físico ou

psiquiátrico -, pode estar bem adaptada a esse modelo. Em contrapartida, a

pessoa que não tem doença clinicamente diagnosticada pode apresentar muitas

respostas de inadequação. Esses dois contínuos refletem como os modelos da

prática de enfermagem e da prática médica se complementam. (SOUSA, 2006).

2 Código Internacional de Doenças.

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3. O doente mental crônico

A desinstitucionalização do doente mental crônico se iniciou na década de

1970, e começou a acontecer rapidamente e sem planejamento suficiente para as

necessidades dessas pessoas, conforme retornavam à sua comunidade. Aquelas

que eram felizes o bastante por ter sistemas de apoio para lhes proporcionar

ajuda com as adaptações de vida, em sua maioria receberam tratamento como

paciente externo, conforme precisavam. Todavia, as sem apoio adequado tinham

que gerenciar a sobrevivência em uma existência pobre, ou forçadas a se juntar a

grupos de desabrigados. Alguns terminariam em asilos destinados à prestação de

cuidados para pessoas com incapacidade física (TOWNSEND, 2005).

A complexidade e a seriedade das doenças mentais requerem, em seu

atendimento, prevenção e reabilitação, a cooperação sistemática dos quatro tipos

de protagonistas que intervêm no processo: o indivíduo, a família, a rede ou

conjunto de serviços de saúde mental e a comunidade, todos em cooperação com

os órgãos públicos de saúde.

Grandes parcelas de nossa população, com problemas de doença mental

crônica, são deixadas sem tratamento: idosos, o trabalhador pobre e o

desabrigado. Essas circunstâncias provocaram no doente mental crônico maior

número de crises, sendo obrigados a se dirigir às consultas no serviço de

emergência e admissões hospitalares, além de repetidas confrontações com a

polícia.

O estigma social ainda existe, a despeito das atitudes em relação à doença

mental. O fato infeliz é que estar com câncer é considerado mais apropriado

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socialmente, comparado a ter um transtorno mental. Essas pessoas sentem-se

em permanente estado de confusão, como se não tivessem identidade própria,

suficientemente constituída, que as sustente. Há uma constante instabilidade

emocional, espécie de montanha-russa. Vivem constantemente nos extremos,

passando da euforia à depressão, da ingênua credulidade à desconfiança

paranóide, do amor ao ódio. Conforme Goffman (2007), os doentes mentais são

pessoas que, no mundo externo, provocaram o tipo de perturbação que fez com

que as pessoas próximas a elas as obrigassem, física, se não socialmente, à

ação psiquiátrica. Muitas vezes essa perturbação estava ligada ao fato de o “pré-

paciente” ter praticado impropriedades situacionais de algum tipo e apresentado

conduta fora de lugar no ambiente. Essa “má conduta” traduz a rejeição moral das

comunidades.

A política de saúde ignora os aspectos biopsicossociais da doença. O

corpo e a mente não podem ser separados, ainda que o sistema não seja

adequadamente preparado para atender ao cuidado geral de saúde necessário

em um nível holístico.

Uma série de pesquisas foi realizada, basicamente em grandes áreas

urbanas, abordando os tipos mais comuns de doença mental identificados entre

os desabrigados: a esquizofrenia foi descrita como diagnóstico mais comum,

seguida do uso de substâncias psicoativas3 (drogas e álcool), distúrbios mentais

orgânicos e depressão (TORREY apud TOWNSEND, 2005). Muitos apresentam

sintomas psicóticos, e outros foram residentes formais de instituições de cuidado

de longo prazo para doença mental.

3 Consideram-se como psicoativas as substâncias que provocam estado de alteração em nosso funcionamento mental (aumentando, diminuindo ou distorcendo sua atividade) e causam dependência.

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A desinstitucionalização está freqüentemente implicada como fator para o

desabrigo do doente mental. A desinstitucionalização começou com uma

preocupação expressa, por profissionais de saúde mental e outros, que

descreveram as “condições deploráveis” nas quais as pessoas com transtorno

mental estavam abrigadas. Na realidade, porém, a desinstitucionalização não

fracassou por completo. Em torno de 50% da população doente mental – aqueles

com compreensão sobre sua doença e a necessidade de medicamento – têm

estado razoavelmente bem, desde que deixaram o hospital. Todavia, existem

outros fatores que influenciam a adaptação do indivíduo fora da instituição: a

pobreza; o mercado de trabalho é vetado para as pessoas cujo comportamento

mostra-se incompreensível ou mesmo ameaçador; e o estigma e a discriminação

associados à doença mental podem diminuir lentamente, porém são altamente

visíveis para aqueles que sofrem seus efeitos. Outro fator é a escassez de

residências terapêuticas (TOWNSEND, 2002).

Muitas instituições psiquiátricas que permaneceram em funcionamento

ainda abrigam doentes mentais crônicos. São os moradores. Não lhes é oferecido

amparo político, social e familiar.

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4. Envelhecimento

“Envelhecimento é um processo seqüencial, individual, acumulativo,

irreversível, universal, não patológico, de deterioração de um organismo

maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o

tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio

ambiente e, portanto, aumente sua possibilidade de morte”.

(ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE – OPAS, 1994:54).

O envelhecimento da população mundial, motivado pelo aumento da

expectativa de vida, revela, por um lado, uma conquista da humanidade. Por

outro, representa um de seus grandes desafios, haja vista a necessidade de se

envidarem esforços sociais e econômicos para possibilitar, a essa população,

uma longevidade saudável, do ponto de vista fisiológico, psicológico e social

(CARVALHO et al., 2007).

Define-se como idosa a pessoa que tem 60 anos ou mais, nos países em

desenvolvimento, e em países desenvolvidos acima dos 65 anos (OMS, 2003). A

população brasileira de idosos representa um contingente de quase 18 milhões de

pessoas, com 60 anos ou mais, quase 10% da população (IBGE, 2006). Segundo

projeções do IBGE (2000), nos próximos 20 anos a população idosa no Brasil

poderá ultrapassar 30 milhões de pessoas, e deverá representar 13% da

população ao final deste período, o sexto país com maior número de idosos.

Mesmo com o aumento dessa população, a sociedade não tem demonstrado

significativo interesse pelo idoso. No Brasil, só muito recentemente surgiram

políticas sociais dirigidas a essa população4.

4 A Lei nº. 10.741, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso, foi sancionada em 1/10/2003.

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O envelhecimento humano é fenômeno complexo, com dimensões

objetivas e subjetivas, construídas cultural e historicamente. O bem-estar da

pessoa na velhice depende de mais fatores sociais e ambientais do que

determinações genéticas (CRAVEN, 2002).

Tendo em vista o crescimento populacional de pessoas idosas e as

alterações externas de ordem física, química e biológica que sofrem no cotidiano,

nas atividades pessoais e profissionais, é essencial o conhecimento em relação

às mudanças fisiológicas, fisiopatológicas e psicológicas do processo de

envelhecimento dessa parcela de população, bem como a compreensão das

especificidades e vulnerabilidades do idoso. Os profissionais de saúde podem e

devem atuar de maneira humanizada, sistematizada e individualizada,

valorizando-o e assistindo-o melhor, no contexto social e no contexto

institucionalizado, preparando as pessoas para envelhecer de modo mais

equilibrado, consciente, e com melhor qualidade de vida.

O estudo sobre o envelhecimento como processo que faz parte do ser vivo

de forma satisfatória contribui para o reconhecimento do idoso sob sua ótica e na

ótica de outras pessoas (CRAVEN, 2002).

Segundo o oitavo estágio de vida de Erik Erikson, apud Craven (2002:194):

“... À medida que o processo de envelhecimento cria as perdas físicas e

sociais, o adulto também pode sofrer a perda do estado e da função,

como através da aposentadoria ou da doença. Muitos idosos revisam

suas vidas com uma sensação de satisfação, mesmo com os erros

inevitáveis, outros se vêem como fracassados, com acentuado desgosto

e desonra...”

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A forma como as pessoas constroem sua história é singular, assim como a

experiência e a vivência, influenciando o modo de perceber e viver o presente e o

futuro. A vivência do hoje depende de como o idoso elaborou e/ou elabora a

percepção do mundo, do “eu” e do outro (CRAVEN, 2002).

Pode-se perceber na literatura uma revolução demográfica. Os brasileiros

estão vivendo mais, e dia a dia tem aumentado o número de idosos que não

podem mais caminhar sozinhos em sua trajetória de vida. Nesse momento de

angústia e transformação no cotidiano familiar, desponta o impasse: quem cuidará

do idoso?

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5. As principais doenças em idosos de hospitais psiquiátricos

A presença de idosos em instituições psiquiátricas é uma realidade: há os

que foram internados jovens e, por diversas razões, lá envelheceram. Há os que

passaram por várias unidades psiquiátricas e para lá retornaram por não mais se

adaptarem a viver em sociedade. E há os que foram internados já idosos (em

proporção menor).

O envelhecimento é processo natural e não sinônimo de doença. O idoso

tem maior vulnerabilidade às agressões do ambiente e às doenças clínicas e

psiquiátricas. Conforme Canineu (2001), essa vulnerabilidade pode ser

compensada parcialmente por meio da retaguarda familiar e rede de amigos.

Quando o idoso encontra-se institucionalizado, isso desaparece totalmente, e ele

tende a ficar mais isolado e sujeito a relações mais superficiais e transitórias,

estabelecidas com os outros internos e com a equipe terapêutica.

De maneira geral, os indivíduos internados em unidade psiquiátrica não

recebem tratamento diferenciado e orientado segundo a faixa etária, visando de

alguma forma compensar o aumento da fragilidade ocasionada pelo

envelhecimento.

Entre os diagnósticos psiquiátricos mais freqüentes encontrados em

pacientes idosos residentes em hospitais psiquiátricos tem-se esquizofrenia,

transtornos mentais orgânicos, transtornos mentais e comportamentais em

decorrência do uso de substância psicoativa e epilepsia. Vê-se, pois, que a

maioria desses internos é de esquizofrênicos, cujo quadro em idade avançada

assume aspectos particularmente diferentes dos apresentados pelos pacientes

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esquizofrênicos mais jovens. Muitos deles, bem como portadores de outras

doenças psiquiátricas que permaneceram longo tempo internados, evoluem para

deterioração cognitiva grave e progressiva, juntamente com distúrbios de

comportamento (CANINEU, 2001).

5.1. Esquizofrenia

A esquizofrenia é transtorno mental grave e persistente que resulta em

comportamentos psicóticos, pensamento concreto e dificuldades no

processamento das informações, relacionamentos interpessoais e resolução de

problemas.

A esquizofrenia, pela grande variedade de sintomas, é psicose5 de difícil

diagnóstico, podendo ser reconhecida apenas por apresentar característica

comum: a dissociação da personalidade, característica que originou o nome

(psicose de dissociação = esquizofrenia).

Para Bion (1988:48), no paciente esquizofrênico:

“...o contato com a realidade é mascarado pelo predomínio, na mente e

na conduta do paciente, de uma fantasia onipotente que visa destruir não

só a realidade, mas a consciência da mesma e, assim, atingir um estado

que não é vida, nem tampouco morte”.

A esquizofrenia é distúrbio da personalidade que leva, repentina ou

lentamente, à perda de contato com o mundo normal, até então familiar, e à

irrupção num mundo psicótico e estranho.

5 Psicose é a alteração significativa das funções psíquicas, fazendo o indivíduo perder a avaliação do real. Ocorre perda de contato com a realidade, emite juízos falsos (delírios), podendo também apresentar alucinações, distúrbio de conduta, o que leva à impossibilidade de convívio social, além de outras formas bizarras de comportamento.

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De acordo com Townsend (2002), conforme os sintomas predominantes, a

esquizofrenia subdivide-se em catatonia (sintomas motores); desorganizada

(comportamento extravagante); esquizofrenia paranóide (idéias delirantes,

alucinações) e esquizofrenia residual (embotamento afetivo, isolamento social);

esquizofrenia indiferenciada (apresenta sintomas esquizofrênicos que não

preenchem critérios diagnósticos para nenhum dos subtipos).

O paciente, quando está na fase aguda, se sente perseguido e arrebatado

pelas alucinações6, idéias delirantes7 repentinas, interceptações e aceleração do

pensamento. Na fase crônica, os sintomas esquizofrênicos perdem o caráter

agudo, estabelecendo-se a tranqüilidade e nova estabilização da personalidade.

A esquizofrenia é também a doença que causa maior medo e repulsa nas

pessoas, por causa da desorganização e alterações importantes de

comportamento. Outro aspecto significativo é o rompimento das amarras da

concordância cultural: o indivíduo menospreza a razão e perde a liberdade de

escapar às suas fantasias.

5.2. Transtornos mentais orgânicos

Aparecem com enorme gama de sintomas, inclusive idênticos a outros

transtornos, mas sua causa é comprovadamente orgânica, seja por doença

degenerativa, seja por lesão ou doença sistêmica que levam a uma disfunção

cerebral (SOUSA, 2006).

6 Alucinação é percepção sensorial falsa na ausência de estímulo externo real. Entre as alucinações mais comuns encontram-se as auditivas, visuais, olfativas e táteis. 7 Delírio é falsa crença ou falso julgamento. A pessoa age de modo coerente com o seu delírio ou aquilo que julga ser verdade, porém necessita de estímulos externos. Podem se manifestar de várias formas, sendo mais comuns os de perseguição, grandeza, hipocondríaco, místico e erótico.

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Para Stuarte e Laraia (2002), as respostas cognitivas são, em geral, o

resultado de ruptura biológica no funcionamento do sistema nervoso central

(SNC). Os fatores que predispõem o indivíduo a desenvolver os distúrbios

cognitivos compreendem:

• Interferência com o aporte de oxigênio, glicose e outros nutrientes

básicos essenciais para o cérebro;

• Degeneração associada ao envelhecimento;

• Coleção de substâncias tóxicas no tecido cerebral;

• Doença de Alzheimer;

• Vírus da imunodeficiência humana (HIV);

• Hepatopatia crônica;

• Nefropatia crônica;

• Deficiência de vitaminas (principalmente tiamina);

• Desnutrição;

• Anormalidades genéticas.

As condições de distúrbio cognitivo afetam todas as faixas etárias, mas são

mais comuns em pessoas em idade avançada.

Fatores psicossociais podem afetar a gravidade dos sintomas associados

às condições de distúrbio cognitivo, e incluem perdas sofridas por pessoas

idosas, associadas a sintomas depressivos; retraimento e isolamento social;

pobreza e má nutrição; uso incorreto, abuso e dependência de drogas.

O estado confusional é distúrbio cognitivo agudo de inicio rápido; e

reversível se o tratamento for imediato.

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Entre os quadros mentais orgânicos, os demenciais merecem atenção

especial, por causa da sua freqüência. De acordo com o CID-10, a demência é

caracterizada como conjunto de sinais e sintomas, isto é, síndrome causada por

alguma doença cerebral, em que há perturbações de vários aspectos do

funcionamento mental - da memória, pensamento, compreensão, cálculos,

capacidade de aprendizagem, orientação, linguagem e do julgamento. Observa-

se também diminuição progressiva de comportamento de adaptação, como

controle de esfíncteres, os hábitos de higiene e de alimentação, e do próprio

controle emocional, o que leva a maioria das pessoas a dizer que a pessoa está

“voltando a ser criança”.

5.3. Transtornos mentais e comportamentais por causa do

uso de substância psicoativa

Há séculos as pessoas têm usado álcool e outras substâncias psicoativas8

– aquelas que afetam o SNC – para induzir alterações na percepção, humor,

cognição ou comportamentos. Essas substâncias produzem um estado de

consciência que o usuário considera agradável, positivo ou eufórico.

Poucas pessoas tomariam voluntariamente uma droga na expectativa de

ter experiência desagradável. No entanto, substâncias psicoativas

freqüentemente produzem resultados negativos, comportamentos não adaptativos

e até mesmo psicoses prolongadas (WILKINS & WILLIAMS, 2005).

8 Substâncias psicoativas provocam estado de alteração em nosso funcionamento mental (aumentando, diminuindo ou distorcendo sua atividade) e causam dependência. Exemplos: cigarro, substâncias ilegais (drogas), até as prescritas pelo médico, como os ansiolíticos e os hipnóticos.

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O abuso9 dessas substâncias envolve complicadas causas e

conseqüências em nível físico, social e emocional. É possível que uma pessoa

desenvolva outro transtorno mental mais grave a partir do seu uso. Com os níveis

de substâncias alteradas no organismo, ocorrem intoxicação aguda – causada

pela embriaguez - coma alcoólico e convulsões.

Quando o uso contínuo de alguma substância está causando algum dano à

saúde física ou mental do indivíduo é considerado nocivo. O indivíduo pode

apresentar quadro com alterações de comportamento semelhante ao de outros

transtornos psicóticos, induzidos pelo uso de substâncias psicoativas.

5.4. Epilepsia

A epilepsia, doença neurológica crônica, também é encontrada em

instituições psiquiátricas. No entanto, crises convulsivas ocorrem mesmo em

pacientes não-portadores, desencadeados por outros fatores, como falência

orgânica, desequilíbrio eletrolítico, medicamentos, abstinência10 de drogas e

encefalopatia hipertensiva (CANINEU, 2001). O problema básico é considerado

distúrbio elétrico (disritmia) nas células nervosas em uma seção do cérebro,

levando-as a emitir descargas elétricas anormais, recorrentes e incontroláveis. A

convulsão epiléptica é manifestação dessa descarga neuronal excessiva.

As epilepsias são um complexo de sintomas de diversos distúrbios da

função cerebral, caracterizados pela recorrência de convulsões. Estão associadas

à perda de consciência, excesso de movimentos ou perda do tônus muscular, ou

a movimentos e distúrbios comportamentais, do humor, sensibilidade e

9 Uso abusivo de substância refere-se ao uso continuado mesmo depois da ocorrência de problemas. 10 Resulta de necessidade biológica da substância.

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percepção. Portanto, a epilepsia não é doença, mas sintoma. Dependendo da

localização da descarga neuronal, as convulsões variam de simples fixação do

olhar a movimentos convulsivos prolongados, com perda da consciência.

Segundo as variações, as convulsões foram classificadas internacionalmente de

acordo com a área do cérebro envolvida, identificadas como parciais,

generalizadas e sem classificação. As convulsões parciais11 têm origem focal e

afetam somente parte do cérebro; as convulsões generalizadas12 são de origem

inespecíficas e afetam todo o cérebro simultaneamente; as convulsões sem

classificação são assim denominadas porque os dados são incompletos

(BRUNNER & SUDDARTH, 2004).

Distintas razões colocaram sempre, e em qualquer parte do mundo, o

paciente epiléptico em condição de isolamento psicológico e social de sua

comunidade.

Saraceno (1997) enfatiza que o medo ante a “crise” por parte da população

e a falta de medidas terapêuticas até poucos anos são a base desse rechaço. Os

aspectos psicopatológicos que às vezes caracterizam a conduta não dependem

tanto de sua enfermidade “neurológica”, mas do destino de isolado, rejeitado e

temido. A debilidade da capacidade intelectual desse tipo de paciente não

depende de sua enfermidade, mas do fato pelo qual tenha sido excluído da

grande parte das possibilidades de crescimento e capacitação.

A tarefa dos serviços de saúde mental e da atenção primária é sensibilizar

a população e o próprio paciente a fim de que cesse essa absurda rejeição.

11 Convulsões parciais são simples ou complexas. Simples: sintomas elementares, sem comprometimento da consciência. Complexas: sintomas complexos, com comprometimento da consciência. 12 Referidas como convulsão de grande mal, envolvem os dois hemisférios cerebrais, rigidez intensa de todo o corpo, seguida por contrações que se alternam com relaxamento muscular.

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III – OBJETIVOS

• Este estudo teve como objetivo traçar o perfil sociodemográfico do

indivíduo que envelhece em uma instituição psiquiátrica.

• Identificar o motivo de permanecerem institucionalizados, mesmo

após movimento da reforma psiquiátrica, que visa à desospitalização.

• Verificar, por meio de entrevistas semi-estruturadas, qual percepção

tem o doente mental sobre o envelhecimento, e como vivencia o seu

processo de envelhecimento.

• Compreender o processo de perda do vínculo familiar.

• Avaliar o estado atual da saúde mental e capacidade funcional para

Atividades da Vida Diária (AVDs) dos sujeitos, a partir da aplicação

de uma escala de avaliação cognitiva, Miniexame do Estado Mental

(MEEM), e avaliação funcional de atividades, por meio da escala de

Katz.

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IV – METODOLOGIA

1. A realização da pesquisa de campo e os procedimentos metodológicos

Trata-se de um estudo de natureza qualitativa porque se pauta em

entrevistas semi-estruturadas, utilizando o método descritivo.

O método descritivo analisa mediante descrição e aplicação de escalas e

parâmetros.

“... de modo geral, só é possível decidir se convém usar uma abordagem

qualitativa depois de definir claramente qual (ais) a(s) pergunta(s) de

pesquisa e os objetivos do estudo. As pesquisas qualitativas têm caráter

exploratório, abordam os fenômenos de maneira holística e procuram

compreendê-los em profundidade. São mais afeitas a descrever

processos do que resultados. Uma vez que buscam perceber o

significado das decisões e ações dos indivíduos envolvidos, essas

abordagens são mais interativas, e entendem os sujeitos como

participantes do processo de pesquisa. Portanto, sempre que a(s)

pergunta(s) e os objetivos de uma pesquisa se traduzem nos “Por quês?”

“Como?” “Sob quais condições?” em relação aos comportamentos e

ações das pessoas, existe uma forte indicação de que uma abordagem

qualitativa é adequada” (OSIS, 2005:122).

A pesquisa de campo foi realizada no Instituto de Reabilitação e Prevenção

em Saúde Indaiá, no município de Indaiatuba – SP. A população foi composta por

13 indivíduos, moradores dessa instituição, com 60 anos ou mais, portadores de

transtorno mental crônico, que perderam o vínculo familiar e que não têm

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condições física e psíquica, por causa do grau de dependência, de irem para uma

residência terapêutica.

A expressão “pesquisa de campo” pode lembrar algo ligado à terra, talvez

até soar, em sentido figurado, como algo um tanto grosseiro. Mas é o modo como

a maioria dos pesquisadores, qualitativos ou não, coleta dados. Os cientistas

humanistas vão aonde estão as pessoas a serem estudadas, e despendem tempo

com elas, em seu território (TURATO, 2003).

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2. O Instituto

O Instituto de Reabilitação e Prevenção em Saúde Indaiá, antiga Clínica de

Repouso Indaiá, foi fundado em 1972. Localiza-se no município de Indaiatuba,

interior do Estado de São Paulo. É conhecido no município e na região como

“Telhadão” ou ainda “Teiadão”. Recebeu os apelidos quando o bairro ainda não era

muito habitado, e o prédio era convento da irmandade “Sagrado Coração de Jesus”.

Servia como ponto de referência para o bairro seu grande telhado, daí “Telhadão”.

Na década de 1980 foi ampliado o número de leitos, em decorrência do

fechamento de várias instituições psiquiátricas da região.

Na década de 1990, a partir do movimento da reforma psiquiátrica, as

vagas começaram a ser centralizadas a partir de uma central de vagas. O Instituto

tem capacidade para 234 leitos.

Em 2005 houve redução de 34 leitos. Atualmente foram desativados mais

40 leitos. Hoje, sua capacidade é de 160 leitos.

O Instituto enfrentou o processo da reforma psiquiátrica com sérias

dificuldades, até a formação de uma ONG, em 2005. A partir dessa ONG recebe

auxílio, além da iniciativa privada, maçonaria e Rotary Clube.

Está em construção uma nova concepção de espaço de tratamento, não a

do espaço de exclusão e reclusão. Foram criadas duas casas (residências

terapêuticas), que atendem a 16 usuários. As casas são alugadas pela Instituição

em bairros residenciais. Tem-se consolidado nesses espaços a experiência da

desospitalização de indivíduos que perderam o vínculo familiar e social, depois de

permanecerem reclusos durante anos.

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Em sua estrutura técnica, a equipe do hospital compõe-se de médicos,

enfermeiros, assistente social, psicóloga, terapeuta ocupacional, nutricionista,

farmacêutica, técnicos e auxiliares de enfermagem, monitores e artista plástica.

O hospital oferece um núcleo de oficinas terapêuticas, com atividades de

marcenaria, argila, pintura, artesanatos e oficina de arte culinária.

Como estímulos para socialização existem atividades externas, como

passeios na comunidade, feira livre, shopping center, visita a pesqueiro, passeio

turístico pela cidade de trenzinho. Mensalmente é realizada a festa dos

aniversariantes.

Existe ainda a preocupação com o meio ambiente. Os usuários são

envolvidos na atividade de separação do lixo reciclável. Faz-se a coleta seletiva

do lixo, vendido para uma empresa. O dinheiro arrecadado é convertido em

material para as oficinas terapêuticas.

O Instituto tem, ainda, serviço de apoio: lavanderia, setor de limpeza e

manutenção.

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3. Coleta de dados

Superado a difícil fase, que foi o processo burocrático ao qual me submeti

para conseguir autorização da Instituição para esta pesquisa. Após concordância

do diretor clínico do Instituto e ciência a respeito da pesquisa a partir da

assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), iniciei a coleta

de dados.

Conforme Turato (2003), quando a escolha recai sobre hospital autônomo,

alguns problemas são comuns à entrada em campo. O pesquisador costuma se

defrontar com uma série de dificuldades, que vão de problemas de ordem

institucional (burocráticos) a questões de ordem psicológica (relacionamentos).

Para a coleta de dados foi utilizado um questionário (ver apêndice 01) para

a caracterização do morador do Instituto. Compunha-se de questões objetivas

para o levantamento dos dados sociodemográficos, idade, sexo, raça, grau de

escolaridade, religião, tempo de institucionalização e há quanto tempo não

recebia visitas. Os dados foram coletados a partir da análise dos prontuários pela

pesquisadora, e posteriormente tabulados.

Após traçar o perfil sociodemográfico, os sujeitos foram entrevistados, com

perguntas abertas, para compreender como percebem o processo de

envelhecimento e o que consideram vínculo familiar (ver apêndice 02).

As entrevistas foram gravadas, e as falas transcritas na íntegra.

Posteriormente, analisadas qualitativamente pela pesquisadora.

Em relação ao vínculo familiar, além da investigação com os sujeitos,

também houve uma entrevista com a assistente social do Instituto, para maior

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clareza da pesquisa. Abordou-se o que ocorre nas relações familiares com os

portadores de transtornos mentais.

A condição cognitiva dos sujeitos da pesquisa foi obtida pela aplicação do

teste cognitivo padronizado, o “Miniexame do Estado Mental” – MEEM – (Mini-

Mental State Examination – MMSE) de Fostein, traduzido e adaptado para a língua

portuguesa por Bertulucci et al., 1994, e validado por Brucki et al. (2003). É

provavelmente o mais breve teste usado em gerontologia, e serve para rastreamento

inicial do estado mental, e já foi validado para a população brasileira.

O MEEM fornece informações sobre diferentes parâmetros cognitivos,

contendo questões agrupadas em sete categorias, cada uma delas planejada com

o objetivo de avaliar “funções” cognitivas específicas, como a orientação temporal

(5 pontos), orientação espacial (5 pontos), registro de três palavras (3 pontos),

atenção e cálculo (5 pontos), recordação das três palavras (3 pontos), linguagem

(8 pontos) e capacidade construtiva visual (1 ponto). O escore do MEEM pode

variar de um mínimo de zero pontos, que indica o maior grau de

comprometimento cognitivo dos indivíduos, até o total máximo de 30 pontos, o

qual corresponde à melhor capacidade cognitiva.

O MEEM inclui 11 itens, dividido em duas seções. A primeira exige

respostas verbais à questão de orientação, memória e atenção; a segunda, leitura

e escrita, e cobre habilidades de nomeação, seguir comandos verbais e escritos,

escrever frase e copiar desenho (polígono). Todas as questões obedecem a uma

ordem, e podem receber escore imediato, sendo somados os pontos atribuídos a

cada tarefa completada com sucesso. O escore máximo são 30 pontos. Detalhes

de escore já ocasionaram muita discussão.

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“Não respostas”, em conseqüência de analfabetismo ou cegueira, têm sido

consideradas “erros”, ou cria-se escore geral diferente, retirando os itens do

sistema de escore. Folstein comentou que costumava administrar os itens sem

considerar a causa da falha (surdez etc.), e então, após o escore, comentava as

possíveis causas das falhas. O ponto de corte mais freqüentemente utilizado para

indicar comprometimento cognitivo que merece investigação posterior é 24.

Conforme validação de Brucki (2003), o ponto de corte ajustado para o

nível educacional menor que quatro anos é 17 pontos.

Pontos de corte do MEEM:

<10 = comprometimento grave;

10 – 15 = comprometimento moderado;

17 = comprometimento cognitivo leve, se a escolaridade for < 4 anos;

24 = comprometimento leve, se a escolaridade for > 4 anos.

É importante observar que o MEEM avalia presença de déficits cognitivos e

não de demência, cuja avaliação depende de outros testes e exames (VIEIRA e

KOENIG, 2002:924-925).

Também houve avaliação funcional das atividades básicas.

Atividades básicas são aquelas que se referem ao autocuidado, ou seja, as

atividades fundamentais para a manutenção da independência, como capacidade

para alimentar-se, ter continência, locomover-se, tomar banho, vestir-se e usar o

banheiro. Essas atividades foram denominadas atividades básicas de vida diária,

ou simplesmente atividades de vida diária (AVDs) (FREITAS, MIRANDA e NERY,

2002:613).

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Para a avaliação funcional das atividades básicas de vida diária foi utilizada

a Escala de Atividades Básicas de Vida Diária de Katz.

A escala de Katz está incluída na maioria das avaliações

multidimensionais, e tem mostrado sua validade nos quase 40 anos em que vem

sendo utilizada. Para ser modificada foram acrescentadas outras atividades,

como, por exemplo, andar nos arredores da casa, arrumar-se, subir ou descer

escadas, cortar as unhas dos pés etc.

Escala de Atividades Básicas de Vida Diária (ver apêndice 06). Esse

instrumento foi aplicado e preenchido pela equipe de enfermagem do Instituto. A

equipe de enfermagem foi orientada pela pesquisadora para o preenchimento do

mesmo, e respondeu às perguntas com base nas atividades profissionais

rotineiras com esses sujeitos.

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V – RESULTADOS, DISCUSSÃO E ANÁLISE

DOS DEPOIMENTOS DOS ENTREVISTADOS

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1. A identificação dos sujeitos

PACIENTE 01 – BG Características demográficas: 73 anos, masculino, solteiro, branco, ensino

fundamental completo, católico, jogou futebol pelo Juventude. Foi

institucionalizado aos 59 anos.

Tempo de institucionalização: desde 1994 (14 anos).

Visitas: recebe visita de um irmão a cada dois meses, aproximadamente.

Resultado do Mini-Exame Mental: OT (orientação temporal): 05

OE (orientação espacial): 05

ME (memória recente e de evocação): 10

ET (escore total): 20

Diagnósticos:

1. Principal: demência não especificada; transtorno orgânico de

personalidade

2. Secundário: HAS

Avaliação Funcional (Katz): independente (6).

Medicação atualmente utilizada: captopril 25 mg; digoxina 0,25 mg; cardivelol

3,125 mg; furosemida 40 mg; melleril 25 mg; akineton 2 mg; AAS 100 mg;

complexo B; vitamina C.

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PACIENTE 02 – LC Características demográficas: 76 anos, masculino, solteiro, branco, ensino

fundamental incompleto, católico, nunca trabalhou, veio transferido do Hospital de

Mococa/SP. Estava lá desde 1978, e no Instituto desde 2001. Foi

institucionalizado aos 47 anos.

Tempo de institucionalização: 30 anos

Visitas: nunca recebeu visitas.

Resultado do Mini-Exame Mental: OT (orientação temporal): 0

OE (orientação espacial): 0

ME (memória recente e de evocação): 0

ET (escore total): 0

Diagnósticos:

1. Principal: demência não especificada

2. Secundário: HAS

Avaliação Funcional (Katz): parcialmente dependente (4)

Medicação atualmente utilizada: rivotril 2 mg; captopril 25 mg; venalot.

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PACIENTE 03 – LDM Características demográficas: 60 anos, masculino, solteiro, branco, analfabeto,

católico, recebe benefício de prestação continuada, veio transferido do Hospital

Psiquiátrico Pilar do Sul, está no Instituto desde 1979. Foi institucionalizado aos

31 anos.

Tempo de institucionalização: 29 anos.

Visitas: nunca recebeu visitas.

Resultado do Mini-Exame Mental: OT (orientação temporal): 0

OE (orientação espacial): 0

ME (memória recente e de evocação): 0

ET (escore total): 0

Diagnósticos:

1. Principal: demência em outras doenças não especificadas.

2. Secundário: HAS

Avaliação Funcional (Katz): independente (6).

Medicação atualmente utilizada: melleril 25 mg; captopril 25mg.

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PACIENTE 04 – DA Características demográficas: 75 anos, masculino, solteiro, branco, analfabeto,

católico, auxiliar de produção, recebe benefício de prestação continuada, está no

Instituto desde 2004, é cadeirante. Institucionalizado aos 71 anos.

Tempo de institucionalização: 4 anos

Visitas: recebe visita do irmão.

Resultado do Mini-Exame Mental: OT (orientação temporal): 0

OE (orientação espacial): 4

ME (memória recente e de evocação): 0

ET (escore total): 4

Diagnósticos:

1. Principal: transtorno mental e comportamental em conseqüência do uso

de substância psicoativa (álcool).

2. Secundário: Seqüela de AVE; HAS; cadeirante.

Avaliação Funcional (Katz): dependência total (0).

Medicação atualmente utilizada: captopril 25 mg; lasix 40 mg; carbamazepina

200 mg; fenergan 25 mg.

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PACIENTE 05 – VG Características demográficas: 67 anos, feminino, solteira, branca, analfabeta,

católica, recebe benefício de prestação continuada, veio transferida da Fundação

Espírita Alan Kardec quando fechou. Está no Instituto desde 1998. Foi

institucionalizada aos 57 anos.

Tempo de institucionalização: 10 anos

Visitas: nunca recebeu.

Resultado do Mini-Exame Mental: OT (orientação temporal): 0

OE (orientação espacial): 0

ME (memória recente e de evocação): 0

ET (escore total): 0

Diagnósticos:

1. Principal: epilepsia; transtornos mentais orgânicos.

2. Secundário: artrite reumatóide. Avaliação Funcional (Katz): dependência importante (2).

Medicação atualmente utilizada: carbamazepina 200 mg; neuleptil 10 mg;

diazepan 10 mg; akineton 2 mg.

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PACIENTE 06 – GP Características demográficas: 66 anos, feminina, solteira, branca, analfabeta,

católica. O irmão é seu curador e recebe o benefício de prestação continuada.

Está no Instituto desde 1987. Foi institucionalizada aos 45 anos.

Tempo de institucionalização: 21 anos.

Visitas: uma irmã a visita todo final de semana.

Resultado do Mini-Exame Mental: OT (orientação temporal): 0

OE (orientação espacial): 3

ME (memória recente e de evocação): 5

ET (escore total): 8

Diagnósticos:

1. Principal: esquizofrenia residual.

Avaliação Funcional (Katz): independente (6).

Medicação atualmente utilizada: melleril 50 mg; carbamazepina 200 mg; rivotril

2 mg.

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PACIENTE 7 – AMSA Características demográficas: 60 anos, feminina, casada, branca, ensino

fundamental completo, católica, recebe benefício de prestação continuada, está

no Instituto desde 1994. Foi institucionalizada aos 46 anos.

Tempo de institucionalização: 14 anos.

Visitas: ex-marido a visita a cada dois meses.

Resultado do Mini-Exame Mental: OT (orientação temporal): 5

OE (orientação espacial): 5

ME (memória recente e de evocação): 5

ET (escore total): 15

Diagnósticos:

1. Principal: esquizofrenia residual

Avaliação Funcional (Katz): independente (5)

Medicação atualmente utilizada: haldol 5 mg; carbamazepina 200 mg; fenergan

25 mg; tryptanol 25 mg.

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PACIENTE 8 – AMP Características demográficas: 60 anos, feminina, casada, branca, ensino

fundamental incompleto, católica, doméstica. Recebe benefício de prestação

continuada, está no Instituto desde 1986. Foi institucionalizada aos 38 anos.

Tempo de institucionalização: 22 anos.

Visitas: uma vez por mês o filho mais novo.

Resultado do Mini-Exame Mental: OT (orientação temporal): 3

OE (orientação espacial): 4

ME (memória recente e de evocação): 6

ET (escore total): 22

Diagnósticos:

1. Principal: esquizofrenia residual

2. Secundário: HAS

Avaliação Funcional (Katz): independente (6)

Medicação atualmente utilizada: captopril 25 mg; neozine 100 mg; rivotril 2 mg;

akineton 2 mg.

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PACIENTE 9 – OSS Características demográficas: 60 anos, feminina, desquitada, branca, ensino

fundamental incompleto, católica, cozinheira, recebe benefício de prestação

continuada, veio transferida do Hospital Várzea Paulista, está no Instituto desde

1996. Foi institucionalizada aos 48 anos.

Tempo de institucionalização: 12 anos.

Visitas: nunca recebe visitas.

Resultado do Mini-Exame Mental: OT (orientação temporal): 0

OE (orientação espacial): 1

ME (memória recente e de evocação): 4

ET (escore total): 9

Diagnósticos:

1. Principal: transtornos mentais orgânicos.

2. Secundário: HAS, DM, seqüela de AVE.

Avaliação Funcional (Katz): dependência total (0)

Medicação atualmente utilizada: captopril 25 mg; daonil; amplictil 25 mg;

fenergan 25 mg.

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PACIENTE 10 – MAT Características demográficas: 60 anos, feminina, solteira, branca, analfabeta,

crente, tem curadora que recebe benefício de prestação continuada, está no

Instituto desde 1994. Foi institucionalizada aos 46 anos.

Tempo de institucionalização: 14 anos.

Visitas: recebe visita semanal da curadora.

Resultado do Mini-Exame Mental: OT (orientação temporal): 0

OE (orientação espacial): 0

ME (memória recente e de evocação): 0

ET (escore total): 0

Diagnósticos:

1. Principal: esquizofrenia residual

Avaliação Funcional (Katz): dependência parcial (4)

Medicação atualmente utilizada: diazepan 10mg; rivotril 2mg; melleril 25mg;

omeprazol.

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PACIENTE 11 – CF Características demográficas: 67 anos, feminina, solteira, branca, analfabeta,

católica, recebe benefício de prestação continuada, veio transferida da Fundação

de Saúde de Americana, está no Instituto desde 1990. Foi institucionalizada aos

49 anos.

Tempo de institucionalização: 18 anos

Visitas: não recebe visitas.

Resultado do Mini-Exame Mental: OT (orientação temporal): 0

OE (orientação espacial): 0

ME (memória recente e de evocação): 0

ET (escore total): 0

Diagnósticos:

1. Principal: transtorno mental orgânico.

2. Secundário: hipotireoidismo

Avaliação Funcional (Katz): independente (5)

Medicação atualmente utilizada: puran T4 75mg; complexo B; fenergan 25mg.

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PACIENTE 12 – LBRP Características demográficas: 83 anos, feminina, viúva, negra, alfabetizada,

católica, recebe benefício de prestação continuada, teve 21 internações

psiquiátricas, está no Instituto desde 1991. Foi institucionalizada aos 66 anos.

Tempo de institucionalização: 17 anos.

Visitas: não recebe visitas.

Resultado do Mini-Exame Mental: OT (orientação temporal): 0

OE (orientação espacial): 0

ME (memória recente e de evocação): 0

ET (escore total): 0

Diagnósticos:

1. Principal: esquizofrenia residual, demência de Alzheimeir.

2. Secundário: HAS

Avaliação Funcional (Katz): independente (5).

Medicação atualmente utilizada: captopril 25mg; higroton 25mg.

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PACIENTE 13 – MAA Características demográficas: 63 anos, feminina, solteira, branca, ensino

fundamental incompleto, católica. Foi institucionalizada aos 47 anos.

Tempo de institucionalização: 16 anos.

Visitas: não recebe visitas.

Resultado do Mini-Exame Mental: OT (orientação temporal): 0

OE (orientação espacial): 0

ME (memória recente e de evocação): 0

ET (escore total): 0

Diagnósticos:

1. Principal: transtorno mental orgânico.

Avaliação Funcional (Katz): independente (6).

Medicação atualmente utilizada: carbamazepina 200mg; diazepan 10mg; haldol

5mg.

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2. Caracterização sociodemográfica

Ante os sujeitos estudados, constatou-se idade média de 62,3 anos; a

maioria na faixa de 60-69 anos (69,23%); há a confirmação da feminização da

velhice, 69,2% do sexo feminino; 69,23% solteiros, casados 15,3%, viúvos 7,69%

e separados também 7,69%; predomínio da cor branca - 92,31%. Observou-se

que 46,15% dos sujeitos são analfabetos; alfabetizados são 7,69%; com ensino

fundamental incompleto 30,8%; 15,3% concluíram o ensino fundamental (Tabela 1).

Tabela 1. Caracterização Sociodemográfica

nº % Idade 60-69 9 69,2 70-79 3 23,1 >80 1 7,7

Sexo feminino 9 69,2 masculino 4 30,8 Estado civil

solteiro 9 69,2 casado 2 15,4 viúvo 1 7,7 separado 1 7,7 Cor branco 12 92,3 negro 1 7,7

Escolaridade analfabeto 6 46,2 alfabetizado 1 7,7 fund. incompleto 4 30,8 fund. completo 2 15,3

Total dos sujeitos 13 100

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3. Caracterização por sexo na idade em que foram institucionalizados

A maioria dos sujeitos foi institucionalizada antes dos 60 anos - total de 11

sujeitos (84,61%). Apenas dois sujeitos foram institucionalizados após os 60 anos

(15,84%), e desses sujeitos, 7,69% são do sexo masculino e 7,69% do sexo

feminino, sendo igual a proporção para ambos os sexos. Há os que foram

institucionalizados na faixa etária dos 30 aos 40 anos, na mesma proporção para

ambos os sexos, em um percentual de 15,84%. Dos 41 aos 50 anos há o

predomínio do sexo feminino (46,15%), e 7,69% do sexo masculino. Entre 51 a 60

anos houve igual proporção para ambos os sexos: 15,84%.

0

1

2

3

4

5

6

7

30-40 41-50 51-60 61-70 >70

MulheresHomensTotal

Figura 1. Distribuição por sexo na idade em que foram institucionalizados

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4. Distribuição das doenças psiquiátricas

A Figura 2 permite saber que entre as doenças psiquiátricas de maior

prevalência entre os idosos estão a esquizofrenia e a psicose orgânica, cuja

freqüência foi igual. Mas a esquizofrenia tem prevalência neste estudo apenas no

sexo feminino, 38,46%; a psicose orgânica teve proporção de 46,15% no total,

sendo 15,38% nas mulheres e 23,07% nos homens. A psicose alcoólica aparece

apenas no sexo masculino, com prevalência de 7,7%; a epilepsia aparece

somente no sexo feminino, com prevalência de 15,4%.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

5

Esquizofrenia Psicoseorgânica

Psicosealcoólica

Epilepsia

MulheresHomensTotal

Figura 2. Distribuição das doenças psiquiátricas

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5. Distribuição das comorbidades

Em relação às comorbidades, o estudou revelou a HAS (hipertensão

arterial sistêmica) com maior prevalência 53,85%; seqüela de AVE, 15,38%;

diabetes mellitus, 7,7%; hipotireoidismo, 7,7%; e sem comorbidades, 30,8%

(Figura 3).

0

1

2

3

4

5

6

7

HAS DM AVE Hipotireoidismo Sem comorbidades

MulheresHomensTotal

Figura 3. Distribuição por sexo das comorbidades

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6. Resultado da avaliação pelo Mini-Exame do Estado Mental de Folstein

(Folstein et al., 1975), modificado segundo critérios de Brucki (2003)

O resultado do Mini-Exame do Estado Mental demonstra um alto índice de

comprometimento cognitivo entre os sujeitos estudados. Nenhum dos sujeitos

obteve moderado comprometimento cognitivo e baixo índice entre os sujeitos,

com comprometimento cognitivo leve. Na seguinte proporção: 76,92% dos

sujeitos com comprometimento cognitivo grave e 23,08% dos sujeitos com

comprometimento cognitivo leve.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

0 a 10grave

17 a 21leve

0 a 10 grave11 a 16 moderado17 a 21 leve

Figura 4. Distribuição dos escores totais dos idosos no MEEM

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7. Resultado da avaliação da capacidade funcional dos idosos por

intermédio da Escala de Capacidade Funcional de Katz

Todos os idosos foram submetidos a uma avaliação com a escala de Katz,

cujos resultados variam de zero (maior dependência funcional) a 6 pontos (maior

independência funcional).

Os achados mostraram que uma proporção de 61,54% dos sujeitos é

independentes no autocuidado; 15,30% apresentam grau de dependência parcial

para o autocuidado e 23,08% apresentam importante dependência para o

autocuidado.

23,08%

15,38%61,54%

Dependência importanteDependência parcialIndependente

Figura 5. Pontuação da Escala de Katz

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8. Relação tempo de institucionalização e o recebimento

ou não de visitas

Observamos que o tempo em relação aos anos de institucionalização não

interfere no fato de receber ou não visitas. A tabela 2 mostra que sujeitos

institucionalizados por um período menor que 10 anos apresentaram neste estudo

o mesmo percentual para os que recebem visitas em relação aos que não

recebem visitas, 7,7%; para o período de institucionalização entre 11 a 20 anos,

23,1% dos sujeitos recebem visitas e 30,1% não recebem; para o período entre

21 a 30 anos o resultado foi a mesma proporção - 15,4% recebem visitas e 15,4%

não recebem visitas.

Tabela 2. Distribuição dos anos de institucionalização em relação às visitas

anos de Institucionalização recebe visita (nº) não recebe visita (nº)

<10 anos 1 1

11 a 20 3 4

21 a 30 2 2

Total 6 7

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9. Análise dos depoimentos dos entrevistados

9.1. Definir velho, velhice e envelhecimento

“... A única diferença entre um louco e eu, é que eu não sou louco.” Salvador Dali

A visão de velho, velhice e envelhecimento aparece muito associada ao

tempo cronológico e pouco referida no aspecto psicológico.

“(...) Ela é velha”, disse um dos sujeitos apontando para outra

cliente, idosa.

“(...) Depois dos 47 anos a idade é crítica, já é velho”.

“(...) Velhice é ficar desanimado”.

“(...) 70 anos já é velho, já sou velho”.

“(...) Velho tem 5 anos, quem tem 50 anos é Deus”.

“(...) Velhos a partir de 48 anos até 60 anos, depois dos 60 anos é

mais velho ainda”.

“(...) Tem bastante velho”.

“(...) A pessoa tem que esperar a velhice, a idade que Deus

quiser, eu acho que não vou ficar velha, vou encontrar com o pai

que tá no céu. Eu quero uma bíblia, você me dá uma bíblia?”

“(...) Nossos velhos, Deus, Nossa Senhora Aparecida, a mãe de

Deus. Tô véia, tenho 800 anos”.

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Os idosos doentes mentais têm percepção do envelhecimento relacionada

ao lado espiritual. Falam muito de Deus e relacionam o envelhecimento a Deus.

”... o eterno é sem tempo. Deus é sem tempo. O tempo é coisa só dos

homens, porque eles começam e terminam. São finitos. A condição

humana da morte instaura a contagem da nossa duração neste mundo e

inaugura o tempo. Temos tempo porque morremos” (CRITELLI,

2007:11).

“(...) Velho é o homem bom, os velhinhos são bons”.

A percepção de que os velhos são bons está atrelada à imagem do

velhinho de cabelos brancos, pessoas incapazes de praticar o mal. Parafraseando

Nietzsche, a velhice confere ao velho certa brandura e indulgência (NIETZSCHE,

1844).

“(...) Pessoa que depois de certa idade vai deixando de se

alimentar, cria ruga na cara, vai para o asilo ou fica com os pais.

Se os seres humanos se alimentarem não vão ficar velhos,

podem viver a vida tranqüilamente”.

Analisando a frase acima, entende-se que o sujeito percebe a importância

da alimentação adequada para uma melhor qualidade de vida. É enfatizado

também a velhice como dependência física. A velhice traz a necessidade de ser

auxiliado por outrem, de uma forma ou de outra o indivíduo precisa de outras

pessoas.

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“(...) Velhice é o cabelo, meu cabelo é velho, quando morre

alguém é velhice”.

“(...) Não sei se foi o remédio, eu sou médium, eu fiquei com ruga.

Velhice é uma coisa boa, conforme o relacionamento do marido

com a esposa é como se fosse novo”.

A percepção da imagem corporal do velho, refletida no doente mental,

manifestada pelas rugas, cabelos brancos e inapetência.

A comunicação dos sujeitos apresenta tendência ao monólogo e

interrupções súbitas, havendo também autenticidade e sensibilidade nas falas, às

vezes absoluto silêncio (mutismo). E em outros momentos a fala é desordenada e

frenética, havendo também repetição de palavras e frases sem sentido.

“(...) Envelhecimento é a pessoa velha, é o passar do tempo,

passar da vida, isso é velhice”.

Nessa fala o individuo faz uma referência ao tempo vivido, a temporalidade

e a finitude. Tudo no mundo humano é submisso e marcado por esse tempo finito

da existência, prazos de validade, períodos históricos, aniversários, estações do

ano, relógios, tudo é demarcado pelo nosso tempo de ser (CRITELLI, 2007).

Os idosos doentes mentais têm percepção do envelhecimento vinculado ao

lado espiritual. Falam muito de Deus, e relacionam o envelhecimento a Deus.

Pesquisas demonstram que as pessoas, na velhice, apresentam maior

busca pela espiritualidade.

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“... O ponteiro de horas da vida – A vida consiste em raros

momentos da mais alta significação e de incontáveis intervalos,

em que, quando muito, as sombras de tais momentos nos

rondam. O amor, a primavera, toda melodia, a Lua, as montanhas,

o mar – apenas uma vez tudo fala plenamente ao coração: se é

que atinge a plena expressão. Pois muitos homens não têm de

modo algum esses momentos, e são eles próprios intervalos e

pausas na sinfonia da vida real” (NIETZSCHE, 1844:48).

9.2. A percepção que o doente mental tem sobre seu processo de

envelhecimento

As falas dos entrevistados mostram que sempre enxergamos o velho como

o outro. O ser humano tem dificuldade de ver o seu próprio envelhecimento e se

perceber idoso. Vê o outro como velho e não se considera velho.

Um sujeito de 60 anos deu o seguinte depoimento:

“(...) Sabendo que a gente é velho tratam a gente bem, não sou

velha. Eu ainda estou quarentona, a partir de 100 anos é velho”.

Uma das idosas ao responder qual a sua percepção sobre o

envelhecimento, abraçou a psicóloga e começou a cantar:

“(...) Índia, seus cabelos negros...

E chorou, após cantar.

O depoimento leva à reflexão sobre os sentimentos expressos ao cantar

uma música. Muito provavelmente é lembrança de tempo vivido, sem as marcas

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profundas da doença e o anonimato da institucionalização. Conforme Goffman

(2007), os indivíduos vivem o ócio forçado, a identidade e a subjetividade são

massificadas, há perda de contato com o mundo exterior.

“(...) Vou ficar velhinho, cabelo branquinho, barba branquinha,

tenho 44 anos e sou velho”.

“(...) Vou envelhecer, todos nós envelhecemos, vai de cuidar da

pele, pintar cabelo, pintava as unhas. Se não se cuidar fica feia,

ninguém quer ser velho. A Toscana, a Letícia são velhas, a

Virgínia não tem ruga. A pessoa quando passa dos 80 anos a

cabeça não ajuda, antes disso fica em forma, vai da alimentação

da pessoa, carne, vitamina, queijo, leite”.

A pessoa não se torna idosa repentinamente, mas passa por um processo

de envelhecimento. As estruturas psíquicas se constituem no início da vida e

acompanham o individuo durante toda existência. Os princípios são os mesmos

para todos, mas a forma de percorrê-los é singular.

Ao envelhecer, o indivíduo é forçado a se deparar com alterações físicas e

psicológicas, em si próprio, e também com mudanças nas possibilidades de

atuação no mundo, especialmente no que se refere ao seu lugar na estrutura

familiar e social. Quando esse indivíduo não tem núcleo familiar, e vive

institucionalizado, o processo se torna muito mais doloroso (GOLDFARB e

LOPES, 2006 ).

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“(...) Eu posso viver vida normal, não vou chegar tomar o último

suspiro de vida, evidentemente vou permanecer na terra, serei

cuidado por Jeová Deus”.

“(...) Eu acho que não vou envelhecer porque eu não tenho

estudo, não sei uma rua, esqueço fácil as coisas”.

Há a associação velhice/sabedoria. O tempo vivido, talvez pelas ausências

de vivências significativas e o tempo prolongado de institucionalização.

Tememos ficar velhos. Apesar de cada vez mais se apregoar a “boa

velhice”, exemplificada com figuras públicas poderosas e sábias, o “velho doente

e dependente” faz parte do nosso cotidiano e povoa assustadoramente o nosso

imaginário.

9.3. O que considera família, e se sente falta de família

De modo geral, a instituição oferece apenas os serviços de moradia,

alimentação, lavanderia, cuidados diários e administração de medicamentos,

quando necessário. Há algumas atividades socioocupacionais. Não há, porém,

um programa continuado de estímulo à reintegração social ou de

desenvolvimento da autonomia para as atividades domésticas. Até mesmo a

relação intra-instituição não é incentivada. Cada pessoa vive em seu mundo

individual e privado. Os diálogos são escassos e predomina uma vida silenciosa e

introspectiva.

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“(...) Eu vivo sozinho”.

“(...) Quem cuida da gente e quem mais dá atenção é minha irmã.

As pessoas internas são famílias, mas vou deixá-las, a família

vem me ver, a internação finda”.

“(...) Sou solteiro velho, meu irmão não vem me ver, sinto falta

dele”.

“(...) Acho que as pessoas daqui não são minha família, sinto falta

da família, na minha família todos têm os olhos esverdeados,

como os meus”.

“(...) As enfermeiras que cuida da gente é nossa família, quem dá

roupa limpa pra gente é família, os internos não são família”.

Para alguns, a percepção de família está relacionada aos laços

sangüíneos. Não vêem outros arranjos como forma de família. Outros enxergam a

família como alguém que cuida e que tem laços afetivos, mesmo que não seja

alguém com laços sangüíneos, mas que convive no dia-a-dia.

“(...) Eu sei, moça, meu pai, minha mãe, eu quero ir embora, meu

pai me mandou embora com 17 anos, eu era sem educação com

meu pai, agora sou bom”.

“(...) Eu gosto da minha mãe”.

“(...) Família é a mulher da gente, o tio, a tia, o primo Valter”.

“(...) Meu pai, meu sobrinho é minha família”.

“(...) Eu gosto da minha mãe”.

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“(...) Minha família só tenho Julinha, minha filhinha adorável, tive

infância trágica, minha mãe não me dava comida”.

“(...) Eu não tenho família, eu fui abandonado pela família a partir

do momento que eu comecei a existir”.

A narrativa é emblemática: “Fui abandonado pela família a partir do

momento que eu comecei a existir”. A história desse indivíduo foi radicalmente

influenciada pela doença. Os acontecimentos que envolveram sua família

constituem exemplo das vivências familiares em torno das doenças mentais.

Conforme Melman (2003), o surto psicótico de um membro da família rompe e

desorganiza o convívio domiciliar. O evento representa, de certa forma, o colapso

dos esforços, o atestado da incapacidade de cuidar adequadamente do outro, o

fracasso de um projeto de vida, o desperdício de muitos anos de investimento e

dedicação. No imaginário social, predomina visão de medo e rechaço frente a

qualquer experiência humana que se afaste dos padrões de racionalidade e

normalidade hegemônicos. Talvez para essa família, a institucionalização tenha

sido a alternativa para lidar com o fracasso.

“(...) Família é o pai, a mãe, vô, vó, tio, tia, filho, sobrinho, primo,

prima, minha família mora em Santos, sinto falta, mas eles vêm

me ver”.

Fato interessante é que a maior parte dos sujeitos se reporta à família

como alguém que conviveu no passado. Sempre citam algum grau de parentesco:

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mãe, tia, irmão. Poucos se referem à família como alguém que cuida. Não

vinculam o cuidado à noção de família.

9.4. Percebe os demais internos como alguém da família?

“(...) São meus amigos”, aponta para outro paciente e diz que é

seu filho.

“(...) Os internos não são minha família, são companheiros, são

tudo bom, mas não é família”.

“(...) Considero as pessoas daqui como família”.

“(...) Os pacientes não são família, são velhinhas, eu acho que

elas não são família”.

“(...) Os outros pacientes não são minha família, porque não

conversam comigo para saber, todo mundo prejudica eu, eu quero

ir embora, meu pai não vem me buscar e tão vendo que eu estou

sofrendo”.

Conforme Osinaga (2004), acredita-se que o transtorno mental é a

patologia da liberdade, a perda da realidade interior. O que infelizmente se pode

constatar pela experiência é que o distúrbio mental vem acompanhado da perda

da realidade exterior, como do direito de ir e vir, assim como de ter opinião, ser

ouvido, ter trabalho, como também ser tratado com respeito e dignidade.

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“(...) Eu não moro aqui, estou fazendo tratamento, minha filha não

vem há seis anos, eu acho que ela me abandonou. Os

funcionários são minha família, me dão cigarro, eu devo cigarro”.

“(...) Os pacientes são estranhos, só aceito conversa com aqueles

que me aceitam também, eu posso ter comunicação com eles, por

exemplo, assunto particular tem encontrar um amigo e não é fácil

encontrar um amigo. A gente tenta descobrir quem tem o mesmo

pensamento, idéias da gente, se você é amigo dele ele é seu

amigo. Eu nunca tive um amigo para compartilhar minhas idéias”.

A fala refere-se a um sentimento de desconfiança ou de falta de afetividade

para poder compartilhar idéias, sentimentos e pensamentos. Segundo Nietzsche,

tememos a disposição hostil do próximo porque receamos que, graças a esta

disposição, ele chegue aos nossos segredos.

De certo modo, nomear um relacionamento parental traz atribuição de

estabilidade e força. Por outro lado, os vínculos não familiares apresentam caráter

mais transitório e flexível, independentemente de quão persistentes demonstrem ser.

Não há dúvida quanto à necessidade de as pessoas possuírem vínculos estáveis e

confiáveis, que possam servir de apoio e sustentação (MELMAN, 2006).

“(...) Os pacientes são praticamente minha família, porque eles

dão cigarro um para outro, acende o cigarro. Aqui não tem

velhinho. Os funcionários são tia, conversa muito, os funcionários

são da TV”.

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A percepção de família é algo relacionado aos laços consangüíneos e não

ao convívio do dia a dia (dia-a-dia), e nem ao convívio de meses e anos.

Raramente citam como família alguém que cuida ou dá atenção.

10. Qual a razão para os indivíduos com transtorno mental crônico não

serem acolhidos por seus familiares?

Questionou-se a assistente social do Instituto para tentar-se compreender o

porquê de os sujeitos permanecerem institucionalizados, mesmo após o

movimento da reforma psiquiátrica.

Na coleta de dados constatou-se que 46,15% dos sujeitos recebem visitas,

e desses, 66,66% das visitas são de pessoas com laços consangüíneos (mãe,

filhos e irmãos); 33,34% recebem visitas de pessoas sem vínculo consangüíneo

(curador e ex-marido).

Conforme resposta obtida da assistente social, muitos sujeitos, quando

transferidos para a instituição, estavam em outros hospitais psiquiátricos. Em

relação àqueles que possuem algum tipo de vinculo familiar, houve esforço para

retornarem ao domicílio. Mas muitos apresentam dificuldade de adaptação ao

ambiente externo à instituição.

Um dos sujeitos tem um irmão que esporadicamente o visita, e houve

tentativa de alta, mas o irmão, também idoso, teve dificuldade em lidar com o

comportamento delirante de seu familiar. Ele afirmou: “Ele recusa alimentação

quando está em casa, diz que tem veneno na refeição, que quero matá-lo. E

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71

também não aceita o remédio, diz que quero dar a ele um “sossega leão13”...”.

Segundo a assistente social, é comportamento típico de quem tem delírio

persecutório14.

Há outro sujeito deste estudo cuja mãe o visita todos os finais de semana.

Mas não o leva para casa por causa do quadro de agitação psicomotora. Em casa

fica “agressivo”, e torna-se muito difícil conter essa agressividade.

Houve relatos de famílias em cujo domicílio moram outros doentes, não

existindo condições de cuidar de um doente mental.

Em algumas famílias há um ou mais doentes mentais, o que elimina a

possibilidade da vinda de mais um doente, e doente mental, por esse motivo não

tem condições econômicas e psíquicas para cuidar em casa de mais alguém,

também doente e dependente.

13 Dito popular para um medicamento cujo efeito é sedativo, ou seja, um ansiolítico (medicação que age no sistema nervoso central, causa relaxamento muscular e induz ao sono). 14 Falsas crenças pessoais, não condizentes com a inteligência, de que está sendo perseguido.

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72

VI – CONSIDERAÇÕES FINAIS

A gerontologia, ciência que estuda o envelhecimento, considera de modo

global o processo, abarcando os aspectos biológicos, psicológicos, sociais e

econômicos. Segundo Potter & Perry (2004), é o “estudo de todos os aspectos do

envelhecimento e suas conseqüências”.

O envelhecimento é fenômeno inexorável. Não deve ser considerado,

entretanto, causa primária de doença ou morte, mas declínio funcional do

organismo humano. Envelhecer é fase da vida.

A rápida ascensão da longevidade da população brasileira não foi

acompanhada pela melhoria na qualidade de vida. O acesso aos serviços de

saúde ainda é grande problema para a maioria da população, que carece de

educação e de saúde (a prevenção continua a ser o melhor remédio).

Segundo dados da OMS, mais de 30% da população, independentemente

de classe social, credo ou raça, necessitam de algum atendimento psiquiátrico.

Conforme o Fórum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos (2006), o

Ministério da Saúde, sem implementar política adequada ao atendimento do

doente mental, promove uma reforma psiquiátrica, pois edita portarias sem levar

em conta as reais necessidades de quem espera por esse atendimento.

A pesquisa revelou que, apesar do movimento de desinstitucionalização

psiquiátrica ocorrido nos últimos anos em todo o mundo, ainda é grande a prevalência

de moradores no Instituto de Reabilitação e Prevenção em Saúde Indaiá.

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73

Na época deste estudo havia 33 sujeitos considerados “moradores” ou

“crônicos” (20,6% dos internados), dos quais foram estudados apenas os idosos,

13 moradores (8,2% dos internados). Por razões diversas, não obtiveram alta

hospitalar e não foram transferidos para outros serviços. Alguns em virtude de

doenças crônicas, com deterioração progressiva da capacidade cognitiva, como

apresentado pelo MEEM, levando a distúrbios mais graves de comportamento:

76,9% dos sujeitos obtiveram pontuação menor que 10, o que indica

comprometimento cognitivo grave, e apenas 23,1% dos sujeitos obtiveram

pontuação entre 17 a 21, com comprometimento cognitivo leve; outros

apresentaram comprometimento acentuado da capacidade funcional,

ocasionando alto grau de dependência, verificado por meio da escala de Katz,

para avaliação funcional das atividades básicas de vida diária: conforme essa

escala, 38,46% dos sujeitos apresentam dificuldade nas atividades funcionais,

sendo 23,08% com comprometimento importante, 15,38% com comprometimento

parcial, além do abandono e rejeição familiar.

A média de institucionalização foi de 17 anos. A pesquisa mostrou que,

apesar do longo tempo de institucionalização, muitos sujeitos ainda recebem

visitas, mesmo esporadicamente. A proporção dos que recebem visitas para os

que não recebem visitas não é muito divergente: 46,2% dos sujeitos recebem

visitas e 53,8% não recebem visitas.

Em relação ao sexo há predomínio do sexo feminino: 69,3% para 30,7% do

sexo masculino, o que confirma a feminização da velhice.

Entre as doenças mentais, a psicose orgânica é a de maior proporção -

46,15%, seguida pela esquizofrenia - 38,46%, epilepsia - 15,4%, e psicose

alcoólica - 7,7% dos sujeitos.

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Edinéia Ramos Fernandes O envelhecimento do doente mental crônico institucionalizado

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Nem sempre o meio familiar é o mais indicado para uma pessoa com

transtornos mentais. Produzir e multiplicar projetos de moradia, de sociabilidade e

de familiaridade para os pacientes com transtornos mentais ajuda a superar

impasses, gerando nichos comunitários nos quais os sujeitos usufruam a sua

subjetividade com mais autonomia e liberdade (MELMAN, 2006).

Sennett (2006) ressalta que o caráter parece formado pela história e suas

voltas imprevisíveis. Uma vez estabelecida, uma rotina não permite muita coisa

em termos de história. Para desenvolvermos o caráter temos de fugir da rotina.

Os sujeitos deste estudo, institucionalizados, seguem a mesma rotina, e

apresentam ruptura em sua biografia. O isolamento típico de uma instituição

corrói o caráter, sobretudo as qualidades que ligam os seres humanos uns aos

outros, e dão a cada um o senso de identidade.

Para reflexão evidencio a importância, para o cenário científico brasileiro

atual, de estudos como este, que teve a finalidade de compreender o processo de

envelhecimento de pessoas portadoras de transtornos mentais. O Brasil, apesar

do movimento da reforma psiquiátrica iniciado na década de 1970, ainda tem

considerável contingente de pessoas que vivem em instituições psiquiátricas.

Envelhecer em instituição psiquiátrica é significativamente diferente, pois cada

pessoa responde singularmente à situação que vivencia. A falta de estímulos

sociais e de cuidados individualizados faz com que haja perda de identidade.

Rompe-se a linearidade de cada uma das biografias.

A pesquisa também apresentou pontos considerados frágeis:

- As dificuldades enfrentadas por pesquisadores no Brasil (no que me

incluo) em arcar com a própria sobrevivência, sendo obrigados ao trabalho

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cotidiano. E concomitantemente ao trabalho haver a dedicação à pesquisa, tarefa

árdua. Um pesquisador não avança sem determinação, coragem e persistência.

- Outra dificuldade encontrada foi conseguir autorização para entrar na

instituição, na condição de pesquisadora. Há grande resistência por parte dos

administradores em ver o pesquisador positivamente, e não alguém que

interferirá, atrapalhará ou fiscalizará o cotidiano da instituição;

- Saliento, ainda, como ponto frágil para esta pesquisa, as dificuldades

enfrentadas no manejo com os sujeitos, em decorrência dos comprometimentos

cognitivos e limitações de comunicação, embotamento afetivo e isolamento social.

Tudo isso faz com que os discursos sejam de difícil entendimento.

A pesquisa mergulhou nesse universo institucional e buscou compreender

como envelhece o portador institucionalizado de transtornos mentais, e como

vivencia o afastamento familiar e social.

Compartilho com os leitores o desejo de continuar a pesquisar o tema, com

foco nos profissionais que trabalham com as pessoas que envelhecem com

transtornos mentais, se realmente estão preparados para atender as

peculiaridades dessas pessoas tão carentes de cuidados e afeto. O tema não se

esgota, e outros pesquisadores poderão se debruçar em enfoques distintos.

Elenco algumas sugestões:

- avaliação da assistência de enfermagem no cuidar de idosos com

transtorno mental;

- implementação da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE)

em uma residência terapêutica;

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- políticas públicas de obtenção e aplicação dos recursos financeiros para a

prática de uma reforma psiquiátrica.

Fica o desejo de que esta pesquisa sirva de incentivo a novos

pesquisadores, tema ainda carente de reflexão científica.

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VIII – ANEXOS

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ANEXO 01:

Informações colhidas no prontuário: 1. Identificação:

Nome: _________________________________________________________

Sexo: 1. ( ) feminino 2. ( ) masculino

Data de nascimento: ___/___/______

Estado civil:

1. ( ) casado(a) 2. ( ) solteiro(a) 3. ( ) viúvo(a) 4. ( ) separado(a)

5. ( ) outro

Data da admissão:___/__/____

Cor: negro ( ) branco ( ) amarelo ( )

2. Informações adicionais

2.1- Grau de escolaridade

1. ( ) analfabeto

2. ( ) alfabetizado

3. ( ) ensino fundamental incompleto (antigo primário)

4. ( ) ensino fundamental completo (antigo ginásio ou 1º grau)

5. ( ) ensino médio incompleto (antigo normal, científico ou 2º grau)

6. ( ) ensino médio completo ( antigo normal, científico ou 2º grau)

7. ( ) superior incompleto

8. ( ) superior completo

7. ( ) Outras, quais?_____________________________________________.

3. Antecedentes pessoais:

1. Em que idade começaram os primeiros sintomas da doença?

______________________________________________________________

2. Antes de vir para esta instituição esteve internado em outra instituição?

______________________________________________________________.

3. Há quanto tempo não recebe visita de familiares?

______________________________________________________________.

4. CID (DSM IV) da doença.

______________________________________________________________.

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ANEXO 02:

Roteiro da entrevista semi-estruturada:

1. Definição de velho, velhice e envelhecimento.

2. Quem são os velhos?

3. O que considera como família? Sente falta da família?

4. Percebe os demais internos como alguém da família?

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ANEXO 03:

Miniexame do Estado Mental:

Instruções para aplicação e pontuação do Miniexame do Estado Mental:

Comece explicando que vai fazer um teste rápido de memória e orientação, o que

servirá como preparo para o paciente em relação ao conteúdo do teste.

Orientação Temporal:

Pergunte “Qual é a data?”. Provavelmente serão ditos o dia do mês e o mês.

Pergunte pelo dia da semana e ano. Certifique-se que nenhum relógio está visível

e pergunte “Sem olhar no relógio, que horas são?”. Considere correto até uma

hora a mais ou a menos em relação à hora real. Um ponto para cada resposta

correta.

Orientação Espacial:

Pergunte “Que lugar é este?”, apontando com o indicador para baixo, indicando o

local específico (consultório, enfermaria etc.). Em seguida pergunte “Que lugar é

este?”, fazendo um gesto circular, para indicar o local genérico (clínica, hospital,

etc.). Na seqüência, pergunte pelo bairro ou uma rua próxima ao local do exame,

cidade e Estado. Um ponto para cada resposta correta.

Memória Imediata:

Diga “vou falar três palavras que o sr (sra.) vai repetir em seguida e repetir

novamente daqui a pouco”. Diga três palavras não relacionadas (p. ex.: vaso,

carro e tijolo) no ritmo de uma palavra por segundo. Dê um ponto para cada

palavra repetida. Caso não sejam repetidas as três, diga novamente e peça para

repetir, mas sem contar pontos dessa vez.

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Atenção e Cálculo:

Pergunte “Quanto é 100 – 7. Se a resposta for correta peça para subtrair 7 do

resultado. Caso seja incorreta, aguarde um momento em silêncio. Se houver

correção espontânea considere como certo e vá em frente. Se não houver corrija

e continue até completar cinco subtrações. Um ponto para cada resposta correta.

Alternativamente diga “Gostaria que dissesse a palavra MUNDO letra por letra,

mas de trás para diante, começando pela letra O”. Um ponto para cada letra na

posição correta.

Memória de Evocação Imediata

Memória de Evocação Recente

Diga “Lembra daquelas três palavras que foram repetidas? Gostaria que fossem

repetidas novamente”. Um ponto para cada palavra correta.

Linguagem:

Mostre um relógio e uma caneta e pergunte o nome. Um ponto para cada

resposta correta.

Diga “Repita comigo – Nem aqui, nem ali, nem lá”. Um ponto se corretamente repetido.

Diga “Faça exatamente como eu falar – pegue este papel com a mão direita,

dobre-o ao meio e coloque-o no chão”. Em seguida coloque a folha de papel

sobre a mesa em frente ao paciente. Um ponto para cada etapa correta.

Diga “Vou mostrar uma coisa para o sr. (sra.) ler e fazer. Estou pedindo uma coisa

por escrito”. Mostre a frase: “feche os olhos”. Um ponto se os olhos forem

fechados.

Diga “Quero que escreva uma frase. Tem que ter começo, meio e fim. Pode ser

um pensamento, alguma coisa que o sr. (sra.) fez hoje, o que quiser, mas tem que

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ter começo, meio e fim”. A explicação é necessária porque a resposta a um

simples “escreva uma frase, pode ser escrever o nome”. Um ponto se a frase for

inteligível. Não considere erros na ortografia ou concordância.

Diga “Copie este desenho” e mostre dois pentágonos superpostos. Um ponto se

duas figuras com cinco ângulos que se sobreponham por um deles.

Miniexame do Estado Mental

Orientação Pontos Pontos dia do mês 1 ano 1 dia da semana 1

Qual é a data?

hora 1 Local específico 1 Local genérico 1 Bairro 1

Que lugar é este?

Cidade 1 Estado 1 Memória imediata Vaso, Carro e Tijolo 3 Atenção e cálculo 100 – 7 (sucessivos) ou

Mundo 5

Memória de evocação recente

Recordar os 3 objetos anteriores

3

Nomeação (relógio e caneta) 2 repetir “Nem aqui, nem ali, nem lá”

1

Pegue o papel com a mão direita, dobre-o ao meio e coloque-o no chão

3

Ler e executar: “Feche os olhos”

1

Escrever uma frase 1

Linguagem

Copiar um desenho 1 Pontuação total 30

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ANEXO 04:

Escala de Atividades Básicas de Vida Diária (KATZ):

Atividade Independente Sim Não

1. Banho

Não recebe ajuda ou somente para uma parte do corpo

2. Vestir-se Pega as roupas e se veste sem qualquer ajuda, exceto

para amarrar os sapatos.

3.Higiene

pessoal

Vai ao banheiro, veste-se e retorna sem qualquer ajuda

(pode usar andador ou bengala).

4. Transferência Consegue deitar na cama, sentar na cadeira e levantar

sem ajuda (pode usar andador ou bengala).

5. Continência Controla completamente urina e fezes.

6. Alimentação Come sem ajuda (exceto para cortar carne ou passar

manteiga no pão).

O escore total é o somatório de respostas “sim”. Total de 6 pontos significa independência para AVD; 4 pontos, dependência parcial; 2 pontos, dependência importante. Modificado de Katz S., Downs TD, Cash HR et al. Gerontologia, 1970; 10:20-30.

Page 103: O Envelhecimento do Doente Mental Crônico Institucionalizado Ramos... · O Envelhecimento do Doente Mental Crônico Institucionalizado. Dissertação (mestrado em Gerontologia) –

Edinéia Ramos Fernandes O envelhecimento do doente mental crônico institucionalizado

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Consentimento Livre e Esclarecido

Prezado Dr. Paulo de Tarso Ubinha

Solicito o seu consentimento para que os paciente que são moradores

participem da nossa pesquisa, cujo nome é: “O Envelhecimento do Doente

Mental Crônico Institucionalizado”, que está sendo realizada no Programa de

Estudos Pós-Graduados em Gerontologia da Pontifícia Universidade Católica de

São Paulo (PUC-SP). Esta pesquisa tem como objetivos traçar o perfil

sociodemográfico do indivíduo que envelhece em uma instituição psiquiátrica;

identificar como foi perdido o vínculo familiar; verificar a percepção que o doente

mental tem sobre o processo de envelhecimento. As informações de seus dados

gerais e de sua saúde, necessárias para o preenchimento dos questionários,

serão obtidas através dos prontuários. Para preenchermos o questionário que

avalia a percepção do envelhecimento faremos uma entrevista diretamente com

os pacientes. Todas essas informações são absolutamente sigilosas, serão

mantidas comigo e seus nomes jamais serão mencionados na divulgação dos

resultados da pesquisa.

A participação é absolutamente voluntária, podendo desistir de

participar do estudo e solicitar a suspensão do seu consentimento mesmo após

ter sido realizada a entrevista.

Agradeço-lhe a atenção e deixo o meu telefone para contato.

Edinéia Ramos Fernandes Fone: (19) 3835-5144; (19)96139348

Pesquisadora e-mail: [email protected]

Prof. Dr. Paulo Renato Canineu Fone: (15) 3221-5454

Orientador e-mail: [email protected]

Indaiatuba, __/ __/ __ Consentimento: ______________________