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Esperança Ano VII – nº 18 – 2º semestre de 2018 Revista Quando os turistas não são bem-vindos Os muros do capitalismo Entre duas Américas uma barreira

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EsperançaAno VII – nº 18 – 2º semestre de 2018

Revista

Quando os turistas não são bem-vindos

Os muros do capitalismo

Entre duas Américas uma barreira

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Revista espeRançapublicação semestral das irmãs Missionárias

de são Carlos Borromeo – scalabrinianas província nossa senhora aparecida

setembro de 2018

Diretorair. sandra Maria pinheiro, mscs

Superiora Provincial

Coordenação Geralir. eva Lecir Brocco, mscs

Conselheira e Secretária Provincial

Direção de RedaçãoRosinha Martins, mscs

ir. eva Lecir Brocco, mscs

Colaboradorespe. alfredo J. Gonçalves, cs

pe. antônio César seganfredo, csCláudio novaes pinto Coelho

Daniel nunes Gonçalvesir. erta Lemos, mscs

ir. Lídia Mara silva de souza, mscsnayá Fernandes

pablo GodoyRosinha Martins, mscsir. Rosita Milesi, mscs

ir. sandra Maria pinheiro, mscs

Jornalista ResponsávelRosinha Martins, mscs

Reg. profissional – 10693/DF

Revisão GeralRosinha Martins, mscs

Imagensarquivo scalabrinianas

Google imagensRosinha Martins, mscs

Diagramação e Arteinês Ruivo – Hi Design

Impressão e Acabamentoedições Loyola

Rua 1822, nº 34704216-000 – são paulo – sp

tel (55 11) 3385-8500

Tiragem1000 exemplares

Contatoprovíncia nossa senhora aparecida

praça nami Jafet, 96 – 04205-050 – ipirangasão paulo – sp – Brasil

tel (11) 2066-2900www.mscs.org.br

e-mail: [email protected]

EsperançaAno VII – nº 18 – 2º semestre de 2018

Revista

Quando os turistas não são bem-vindos

Os muros do capitalismo

Entre duas Américas uma barreira

Caros Leitores ...................................................................1

Emergência do conceito de fronteira .................................2

Entre duas Américas uma barreira – implicações práticas ..........................................................5

Os muros do capitalismo ...................................................8

Quando os turistas não são bem-vindos ........................... 10

Quando os muros inspiram uma poesia urbana ............... 14

Poder do muro ................................................................ 16

Cristo Jesus destruiu o “muro de separação” (Ef 2,14) ...... 18

Os fundadores como protagonistas de um mundo sem fronteiras ................................................................. 20

Imigração e fronteiras legais ........................................... 22

Os vínculos corporais perdidos pelas fronteiras do refúgio ....................................................... 24

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Grafite no Muro de Berlim

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Caros Leitores“O migrante será para vocês um concidadão. Você o amará como a si mesmo, porque vocês foram migrantes na terra do Egito. Eu sou o Senhor, vosso Deus” (Lv 19,34)

nos últimos anos, nas suas diversas edições, a Re-vista Esperança vem manifestando preocupação pela situação de sofrimento de tantos migrantes

e refugiados que têm que cruzar fronteiras para fugir das guerras, das perseguições, dos desastres naturais e da pobreza no mundo. O fenômeno das migrações trata-se, sem dúvida, de um “sinal dos tempos” que, temos procu-rado apresenta-lo aos nossos leitores, expressando nossa preocupação com a dignidade destes irmãos a caminho.

Nesta ediçãao o tema tratado é sobre “os muros que dividem o mundo!” O sistema capitalista incentiva a exis-tência de muros, tanto físicos como simbólicos, entre os seres humanos. Em pleno século XXI inúmeros são os muros físicos, sócio-políticos, legais, psíquicos, imaginá-rios e étnicos que continuam a existir e a dividir países, sociedades e culturas. As motivações por detrás destes muros e barreiras variam. Muitas podem ter origens mui-to longínquas, outras vezes hodiernas, mas normalmente a intenção é clara: separar e isolar territórios e povos.

Conforme nos ensina o Papa Francisco, como cristãos somos chamados a construir pontes, a superar frontei-ras e vencer os muros e as barreiras que são criadas em nossa sociedade. Nossas ações e respostas devem ser ar-ticuladas entorno de quatro verbos fundados sobre os princípios da doutrina da Igreja: “acolher, proteger, promo-ver, e integrar os migrantes e refugiados”, pois, em Cristo Jesus já não há mais barreiras que proíbam a comunhão! Ele destruiu o “muro de separação” mediante a sua cruz e “criou um ser humano novo”. Esta realidade que colhe-

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mos na fé, todavia, está longe de ser uma realidade na nossa compreensão humana. Mas não podemos desistir de continuar trabalhando para este fim.

Cada forasteiro que bate à nossa porta é uma oca-sião de encontro com Jesus Cristo, que se identifica com o migrante e refugiado que é acolhido ou rejeitado em cada época (cf. Mt 25,35.43). O Senhor confia à nossa solidariedade e ao amor materno da Igreja, cada ser hu-mano que é forçado a deixar a sua pátria à procura de um futuro melhor. Isso já nos dizia o Bem-aventurado Scalabrini, há mais de um século, o qual nos alertava em relação à responsabilidade e compromisso de solidarie-dade de cada pessoa para com estes nossos irmãos.

Os cristãos são chamados a ser protagonistas de um mundo sem fronteiras. A trabalhar para construir pon-tes, comunhão, unidade e solidariedade entre os povos, valorizando e respeitando sempre a diversidade de dons, de cultura, de religião, de etnias, conscientes de sua res-ponsabilidade social, e de que sua ação há de concorrer sempre para o bem dos povos e de seu direito inalienável de concidadãos do mundo.

Confiamos as esperanças de todos os migrantes e re-fugiados do mundo; e as aspirações das comunidades que os acolhem e que buscam construir pontes e superar os muros da diversidade, da xenofobia e da intolerância en-tre os povos, sob a intercessão materna de Maria, a Mãe de Deus, que também experimentou a dureza do exílio e acompanhou amorosamente seu Filho até o Calvário.

A todos(as) boa leitura!

Sandra Maria Pinheirosuperiora provincial das irmãs Missionárias de são Carlos Borromeo – scalabrinianas.

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Muita coisa tem sido escrita recentemente sobre o con-ceito de fronteira. Entre os

estudiosos do tema, destaca-se o eco-nomista português Boaventura de Souza Santos. A partir de seus estu-dos, constata-se que a restrição cres-cente à migração legal faz aumentar a pressão dos migrantes sobre os li-mites entre os diversos países – vale dizer sobre a fronteira. Esta se con-verte numa espécie de espelho in-vertido das políticas migratórias. Já o sociólogo paraguaio Tomaz Palau, ainda nos anos 80, dizia que “o mo-vimento e o dinamismo intenso nas fronteiras constitui um dos retratos

Emergência do conceito de fronteira

e Brasil, entre Filipinas e Malásia!... Evidente que os exemplos poderiam ser multiplicados pelos quatro can-tos do planeta. As fronteiras se con-vertem em verdadeiras “panelas de pressão” prestes a explodir, como ao norte da Líbia, na Turquia, no nor-te do México e em alguns pontos da Ásia. Sonhos e pesadelos aí travam uma batalha sem fim e quase sem-pre sem horizonte.

Num exemplo mais concreto, recentemente a União Europeia fez um acordo primeiro com a Turquia, depois com a Líbia, para o bloqueio às migrações que se direcionavam ao velho continente. Significava, respec-

mais vivos do processo de globaliza-ção”. Com isso o fenômeno migrató-rio torna-se mais dramático e con-temporaneamente mais visível.

Entretanto, mesmo a olho nu, é bem notório a emergência da frontei-ra como lugar de “alegrias e esperan-ças, tristezas e angústias”, para citar a frase de abertura da já citada Cons-tituição Pastoral Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II. Bastam alguns exemplos: limite entre México e Es-tados Unidos, entre México e Gua-temala, entre África do Norte e sul da Europa, entre Turquia e Grécia, entre Peru, Chile e Bolívia, entre Co-lômbia e Venezuela, entre Venezuela

Muro na fronteira entre EUA e México

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“O movimento e o dinamismo intenso nas fronteiras constitui um dos retratos mais vivos do processo de globalização”

Tomaz Palau

tivamente, bloquear a rota balcânica e a rota mediterrânea. Em troca da contenção dos migrantes nos respec-tivos territórios, Turquia e Líbia re-cebem investimentos regulares dos países da Europa. O acordou trouxe um resultado duplamente nefasto: de um lado, os migrantes se amon-toam em acampamentos improvi-sados, em condições extremamente precárias, chegando a ser colocados à venda (Líbia); de outro lado, os investimentos europeus caem nas mãos de governos instáveis e cor-ruptos, acabando muitas vezes por chegar às mãos dos guerrilheiros – o que aumenta a violência e a fuga de refugiados.

Em vista de uma melhor compre-ensão e do trabalho pastoral, vale a pena, porém, desdobrar o conceito de fronteira em três dimensões: a) fronteira física, geográfica ou terri-torial; b) fronteira político-social; c) fronteira cultural-religiosa.

Na primeira, geográfico-territorial, o migrante tropeça com a polícia ou o exército, as exigências da aduana, portos e aeroportos, dificuldades de documentação. Encontra muros visíveis ou invisíveis, arame farpa-do. Muitas vezes a família se divi-de e muitos podem perder a vida nas areias do deserto, nas ondas do mar ou nas armadilhas de florestas e montanhas. Na segunda, político-so-cial, o migrante tropeça com as leis migratórias do país de destino, o que depende de decisões políticas. Nes-te caso, a fronteira desloca-se para a capital do país, para o Congresso Na-cional e para os gabinetes do gover-no; tropeça igualmente em situações sociais de precariedade e vulnerabi-lidade. Na terceira, cultural-religiosa, o migrante tropeça com mentalida-des, expressões e costumes diversos. “Aqui, até a Igreja e os santos são di-ferentes”, dizem com frequência. As diferenças podem converter-se em

muros: surgem hostilidades recípro-cas, preconceitos e até perseguição. Não raro os distintos povos, nações ou grupos podem criar “guetos” isolados, fechados sobre si mesmo. Aqui a fronteira se ergue nas ruas, bairros, vizinhança, escolas, comuni-dades ou paróquias onde o estrangei-ro se instala. Talvez seja a fronteira mais difícil de cruzar, porque seus muros são muito sutis e invisíveis.

Boa parte dos migrantes conse-guem ultrapassar a dimensão geo-gráfico-territorial da fronteira, mas vêm-se impossibilitados de vencer sua dimensão político-social. Aca-bam permanecendo no país de des-tino na condição de “imigrantes in-documentados”. Isso significa um

estado de permanente vulnerabilida-de diante de uma série de problemas e dificuldades, tais como encontrar trabalho, moradia, escola, saúde, etc. Outros conseguem cruzar as duas primeiras dimensões da fron-teira, mas se vêm barrados na di-mensão cultural-religiosa. Também neste caso tornam-se vulneráveis a todo tipo de preconceito, discrimina-ção e exploração no lugar específico onde resolvem morar (e trabalhar de maneira informal).

Por que separar as diversas di-mensões da fronteira? Antes de tudo, para melhor compreender a dinâmi-ca e os percalços que os migrantes devem enfrentar em cada uma delas. Depois, para identificar com maior

precisão os dis-tintos serviços a ser prestados pe - la solicitude pas - toral e evangéli-ca. Por fim, a partir dessa c ompreen são ampliada e dife-renciada, para me lhor integrar as diversas di-mensões da Pas-toral Migratória num “trabalho orgânico e de conjun-to”, como recomenda o Documento de Medellín. Fazendo um jogo de pa-lavras, não se trata somente de um conjunto de trabalhos, e sim de um trabalho de conjunto.

Trabalho orgânico e de conjunto

Quem atua na fronteira físico-ter-ritorial tem em vista uma série de tarefas. Estas vão desde a acolhida, alimentação e documentação, até a assistência social, jurídica e psico-lógica. Os destinatários podem ser migrantes, prófugos, refugiados, de-portados, marinheiros, itinerantes... É o que se faz, em geral e entre ou-tras coisas, nas Casas e/ou Centros para os Migrantes, no trânsito ou no Apostolado do Mar. Já a atuação na fronteira político-social exige um es-forço de incidência nos organismos e instâncias sociais, eclesiais e gover-namentais, uma parceria com outros atores sociais (igrejas, movimen-tos, organizações não governamen-tais, pastorais, etc.) que trabalham no campo da mobilidade humana. Exige também o conhecimento das leis de imigração e o empenho para modificá-la em favor do respeito ao direito de ir-e-vir, correlato ao direi-to de permanecer com dignidade na própria pátria. Quanto às atividades na fronteira cultural-religiosa, está

Alfredo Gonçalvessacerdote scalabriniano, atua em Roma como vigário Geral da Congregação, poeta e escritor.

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que o acolhe, torna-se fundamental saber que os esforços estão conecta-dos com outras duas instâncias que atuam de forma integrada. No fun-do, as três dimensões da fronteira requerem tarefas distintas, sem dú-

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Não raro os distintos povos, nações ou grupos podem criar “guetos” isolados, fechados sobre si mesmo. Aqui a fronteira se ergue nas ruas, bairros, vizinhança, escolas, comunidades ou paróquias onde o estrangeiro se instala. Talvez seja a fronteira mais difícil de cruzar, porque seus muros são muito sutis e invisíveis.

em jogo o resgate da pessoa, grupo, povo ou cultura. Torna-se indispen-sável promover espaços onde, por um lado, os imigrantes possam ex-pressar seus valores e expressões culturais e religiosas e, por outro, possam ser ajudados a inserir-se na vida do país que os acolhe, em ter-mos familiares, comunitários, ecle-siais, sociais, políticos e culturais.

Aqui o mais relevante é sublinhar a atuação integrada e conjunta, o es-forço de sinergia entre as várias di-mensões da fronteira. O trabalho de uma complementa e reforça as ativi-dades das demais, bem como as lacu-nas de uma dividem e enfraquecem as atividades das demais. Desneces-sário relembrar que o segredo está no trabalho em rede, onde cada tare-fa repercute em todas as dimensões da fronteira. Tanto para o migrante quanto para o agente de pastoral

vida, mas convergentes na defesa da dignidade e dos direitos do migrante.

Convém não esquecer que, de outro lado, quando os problemas das duas primeiras dimensões da fron-teira continuam irresolutos, tudo se acumula nesta última fase, onde as comunidades e paróquias pluricul-turais ou multiétnicas os acolhem. Claro que, na medida do possível, uma ponte pastoral com os países de origem só pode enriquecer o traba-lho sociopastoral. Com todos esses fatores em jogo, permanece o desa-fio de passar de uma convivência pacífica entre migrantes de várias etnias (multiculturalidade) ao diálo-go e confronto reciprocamente en-riquecedor (interculturalidade). Sair de si mesmo e deixar-se interpelar pela presença do outro – diria o Papa Francisco – pavimentando assim o caminho para o totalmente Outro.

Caravana de migrantes chega na fronteira México-EUA.A maioria são imigrantes provenientes de Honduras, Guatemala e El Salvador na segunda quinzena de agosto de 2018, chegaram de ônibus na cidade fronteiriça de Tijuana, México, e diziam ter a intenção de pedir asilo em San Diego, na Califórnia.

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Entre duas Américas uma barreira

Implicações práticas

Historicamente os muros e muralhas são construídos para delimitar território e para a proteção de um povo ou nação.

na Bíblia, relatando todo o contexto histórico do povo de Israel, se encontra a menção a muitos muros, muralhas e portas que serviam para limi-

tar, separar e excluir a mulheres, estrangeiros, leprosos, impuros e pecadores.

Então, a construção de muros não é uma invenção de Estados Unidos, e sim, uma expressão histórica do egoís-mo e desejo de poder de pessoas que se sentem como deuses capazes de controlar a humanidade por meio de muros. Desde a eleição de Donald Trump como presi-dente de Estados Unidos, em 2016, um dos muros mais conhecidos do mundo é aquele que separa Estados Uni-dos do México.

Não! Esse é o muro não é só de Trump. O polêmico muro na fronteira entre México e Estados Unidos come-çou a ser construído em 1994 por iniciativa do presidente Bill Clinton. Teve continuidade com o governo de George W. Bush que, em 2006, promulgou a Ata de Cerca Segura com o apoio de Barack Obama e Hillary Clinton, que eram senadores naquele momento.

A fronteira terrestre entre Estados Unidos e México é de aproximadamente de 3.142 quilômetros, sendo que,

um terço deste território já tem muros ou cercas de ara-me que funcionam como barreiras contra os migrantes.

O Presidente Donald Trump insiste para que o Con-gresso aprove o financiamento necessário para terminar a construção do muro mas, mesmo que consiga termi-ná-lo, a emigração não terminará porque as pessoas mi-grantes são movidas por uma força muito maior chama-da sonho, sonho de uma vida melhor.

Mais preocupante que o muro nesta fronteira é o dis-curso de ódio e a atitude de criminalização, xenofobia, discriminação e exclusão tomadas e motivadas por Do-nald Trump. Esses são os piores muros, porque são invi-síveis, ferem e matam muito mais.

Tanto a Igreja Católica nos Estados Unidos como organizações da Sociedade Civil e as próprias pessoas migrantes declaram nunca ter presenciado tanto ódio e discriminação contra migrantes como veem e sentem no atual governo estadunidense.

Em muitos Estados identificar e deter migrantes ir-regulares não é mais competência só de oficiais de mi-gração. Toda e qualquer instituição de governo que seja autorizada pode fazê-lo, levando muitas pessoas migran-tes a abandonarem seus trabalhos, não permitirem mais seus filhos irem à escola, por medo de que em algum momento sejam detidas e deportadas.

As deportações continuam aumentando, muitas crianças que foram separadas de seus pais desde o iní-cio de abril, ainda não foram reunificadas, e continua

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a separação de pais e filhos no momento da detenção. Muitos pais já foram deportados sem seus filhos e, desde o país origem, será muito mais caro e difícil conseguir a custódia deles.

É cruel e inumano o que historicamente os Estados Unidos faz contra as pessoas migrantes justificando por meio de seu discurso de segurança nacional. Em nome dessa segurança nacional, as violações aos direitos hu-manos e o respeito à dignidade humana facilmente passa para um segundo plano. Por que? Porque para muitas autoridades políticas de Estados Unidos, principalmente do governo Trump, as pessoas migrantes irregulares são criminosas e devem ser tratadas como tal.

A fronteira entre Estados Unidos e México não separa só duas Américas, separa Estados Unidos de todo o resto do mundo, uma vez que pelo México passam milhares de migrantes provenientes de diferentes países dos cinco continentes, com um sonho em comum: chegar a Esta-dos Unidos.

Os muros invisíveis cruzam muitas fronteiras Mesmo que, erroneamente, evidencia-se sempre os

Estados Unidos como o grande vilão contra as pessoas migrantes, as políticas contra migrantes, o ódio, discri-minação e xenofobia já cruzou fronteiras e alcançou Mé-xico, os países de Centro América e continua a caminho nos países da América do Sul.

Em 2014, um acordo entre Estados Unidos e México para impedir que migrantes irregulares cheguem a terras estadunidenses, implementou-se o Plano Fronteira Sul, o qual continua sua ação de identificar, perseguir e depor-tar todas as pessoas que ao entrar em México por Guate-

mala ou sendo identificada em qualquer parte do territó-rio mexicano, sem a documentação adequada, deve ser deportada. Por isso, há maior número de deportações de centro-americanos que Estados Unidos.

Para poder honrar com o acordo e fazer do Plano Fronteira Sul um êxito, México tomou várias medidas: Obriga as empresas de trem a aumentar a velocidade dos mesmos para evitar que migrantes subam ou con-sigam permanecer neles; aumenta o número pontos de verificação para inspeção de veículos nos municípios dos principais pontos fronteiriços de entrada de irregulares; assim como faz Estados Unidos, passa a usar “drones” para identificar migrantes nas partes desertas, de selvas e de difícil acesso; aumenta a militarização em todas as fronteiras terrestres e marítimas.

México é um dos países mais violentos do mundo contra migrantes na travessia. Segundo dados não ofi-ciais é possível que, diariamente, 100 migrantes percam a vida de forma violenta em território mexicano.

A travessia de migrantes pelo México é marcada por sequestros, tráfico de pessoas, massacres, abusos e viola-ções sexuais, perda de membros do corpo ao cair de um trem e mortes. Os autores dos tantos atos violentos não são só os membros de grupos criminais como os Zetas ou diferentes cartéis do narcotráfico, mas, também poli-ciais, militares, segurança privada e outros funcionários públicos de diferentes instituições governamentais.

O discurso de ódio contra migrantes e a criminaliza-ção dos mesmos serve de justificativa para a militarização dos países de Centro América. Em nome da segurança nacional e para combater o terrorismo, narcotráfico e trá-fico de pessoas, a travessia de migrantes irregulares por

estes países se torna cada dia mais difícil. Mais difícil ainda é a travessia de pes-

soas provenientes de países islâmicos. São retida por vários dias até que se faça uma exaustiva investigação para confirmar que não se trata de um terrorista.

Como os países centro-americanos não tem programadas de deportação massivas, muitas pessoas creem que é fácil passar por eles, porém, principalmente nos últimos três anos, aumentou as redes de trafico ilícitos de migrantes que usa essa região e com isso a corrupção de policias, militares e oficiais de migração que cobram ilegal-mente somas de dinheiro para que estas pessoas cruzem o pais. Além disso, aumen-tou o número de assaltos contra migrantes e outros tipos de violência.

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Imigrantes da América Central viajando para o Estado de Vera Cruz – México

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Despojadas de seus direitos e desprotegidas

Os milhares de pessoas que cruzam os países de Cen-tro América, México e Estados Unidos ou se estabelecem neles de forma irregular vivem sem nenhuma garantia de proteção. Muitas pessoas migrantes, adultas e me-nores de idade, denunciaram roubos de seus pertences, pagos ilegais, assédio ou abuso sexual por parte de fun-cionários de governo.

Nos centros migratórios não se respeita nem os direi-tos fundamentais. Não tem comida de qualidade e sufi-ciente, o espaço físico é muito pequeno e sem condições de higiene, a assistência à saúde é ineficiente, insuficien-te e, em muitos casos, inexistente.

Outro direito que é violado é o direito a solicitar asilo ou proteção internacional. Refugiados de diferentes paí-ses chegam nesta região com a intenção de solicitar asi-lo principalmente em México e Estados Unidos, porém, mesmo havendo declarado sua necessidade de proteção, o risco que corre sua vida no pais de origem, estas pes-soas são deportadas sem ter o direito de solicitar asilo.

É cada vez mais frequente o testemunho de pessoas migrantes que sofreram tortura psicóloga por parte de funcionários de governos enquanto estavam esperando a gestão dos documentos para a deportação. Diariamente escutam insultos contra seu pais de origem, seu governo e humilhações como ser chamadas de merda, lixo, ca-chorro, delinquente e outras expressões.

Muitas são as personas migrantes detidas e privadas de sua liberdade ilegalmente, acusadas de crimes que não cometeram e, sem ninguém que as defenda e que, injustamente, passam anos na prisão. E mais triste são os casos em que estando dentro do sistema penitenciário, desaparecem. Nunca mais a família consegue falar com elas, o que é qualificado como delito de desaparecimento forçado, sendo o Estado o primeiro responsável.

Na prática, ser migrante irregular nesta região é como não ser pessoa, não ter direitos, estar sujeito a qualquer tipo de abuso e violência. O “sonho americano” rapida-mente se torna pesadelo.

Não mais muros, mas pontesDefinitivamente os muros são uma ação egoísta do

ser humano. Na história da salvação Deus nos ensina a derrubar os muros. Derrubou os muros de Jericó e Jeru-salém. Jesus derrubou os muros do preconceito contra as mulheres, as crianças, os estrangeiros, os pobres, os doentes, os considerados impuros e ladrões.

O Deus do Abraão, a, Jacó, o Deus do cristianismo é o Deus de amor que sonha com a humanidade unida Nele,

sim divisões. “Eu vos retirarei do meio das nações, eu vos reunirei de todos os lugares, e vos conduzirei ao vosso solo… Habitareis a terra de que fiz pre-sente a vossos pais; sereis meu povo, e serei vosso Deus”. (Ez 36, 24 e 28)

E em Jesus Deus realiza sua pro-messa. Em Jesus todos somos filhos amados de Deus, irmãos e irmãs por-que filhos do mesmo Pai. “Tu és dig-no de receber o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste imolado e resgataste para Deus, ao preço de teu sangue, ho-mens de toda tribo, língua, povo e raça.” (Ap. 5,9)

“A prova de que sois filhos é que Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai! 7. Portanto já não és escravo, mas filho. E, se és filho, então também herdeiro por Deus.” (Gal. 4. 6-7).

A herança que Deus dá, através da filiação divina, é o seu amor incondicional que não discrimina e não exclui, que reúne a todas as pessoas numa fraternidade univer-sal sem distinção, sem muros.

O chamado que Deus faz aos cristãos é de vencer to-dos os muros e construir pontes. Pontes de amor, solida-riedade, fraternidade, de justiça e paz.

Esse chamado, essa missão o Papa Francisco recorda na sua mensagem para o Dia Mundial do Migrante e Re-fugiado de 2014: “...é preciso que todos mudem a atitude em relação aos migrantes e refugiados; é necessário pas-sar de uma atitude de defesa e de medo, de desinteresse ou de marginalização – que, no final, corresponde pre-cisamente à “cultura do descartável” – para uma atitude que tem por base a “cultura do encontro”, a única capaz de construir um mundo mais justo e fraterno, um mundo melhor.

[…] Todo ser humano é um filho de Deus! Nele está im-pressa a imagem de Cristo! Trata-se, então, de o vermos, nós, em primeiro lugar, e de ajudar os outros a verem no migrante e no refugiado não só um problema para lidar, mas um irmão e uma irmã a serem acolhidos, respeitados e ama-dos; trata-se de uma oportunidade que a Providência nos ofe-rece para contribuir na construção de uma sociedade mais justa, de uma democracia mais completa, de um país mais inclusivo, de um mundo mais fraterno e de uma comunidade cristã mais aberta, de acordo com o Evangelho. As migra-ções podem criar possibilidades para a nova evangelização; abrir espaços para o crescimento de uma nova humanidade, preanunciada no mistério pascal: uma humanidade em que toda terra estrangeira é uma pátria, e em que toda pátria é uma terra estrangeira”.

Lídia MaraMissionária scalabriniana, coordenadora da pastoral da Mobilidade Humana em Honduras.

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Os muros do capitalismoA existência do capitalismo seria impossível sem a construção de muros. Como se trata de uma sociedade baseada na propriedade privada dos meios de produção, os muros separam os proprietários dos não proprietários.

Os que têm o poder de cons-truir os muros definem sob que condições aqueles que

não são proprietários das fábricas, das fazendas, dos bancos, dos estabe-lecimentos comerciais, das escolas, etc. podem ou não entrarem nessas propriedades que não lhes perten-cem. De modo geral, esse acesso é permitido aos que possuírem a con-

dição de trabalhadores ou de consu-midores; a presença dos não proprie-tários será sempre objeto de controle e de vigilância.

Mas, no capitalismo não são ape-nas os proprietários os possuidores do poder de construir muros, o Esta-do, detentor da soberania sobre um território específico, constrói muros também, delimitando quem pode ou não entrar no seu território. A per-manência no território será também alvo de controle e vigilância: cida-dãos e não-cidadãos (estrangeiros) normalmente recebem um trata-mento diferenciado.

Se uma sociedade é capitalista, o Estado tenderá a agir de acordo com o interesse dos capitalistas, ou seja, dos proprietários dos meios de pro-dução. Assim a entrada de estran-geiros em um país na condição de turistas (consumidores) geralmente é valorizada, mas não necessaria-mente a entrada, por exemplo, de refugiados.

Tudo dependerá do interesse ou não em incorporar esses refugia-dos como mão de obra. Caso exista o interesse na incorporação como mão de obra, esse interesse pode ser contestado pelos trabalhadores (pelo menos por alguns setores dos traba-lhadores) se eles se sentirem ameaça-dos de perderem os seus empregos, de continuarem desempregados, ou de terem os seus salários rebaixados devido ao aumento da oferta de mão de obra.

Por se tratar de uma sociedade baseada na propriedade privada, o capitalismo incentiva a competi-ção. Antes de mais nada, a compe-tição entre os proprietários, para ver quem acumula mais propriedades, mas também a competição entre os trabalhadores para ver quem conse-gue obter maiores salários e, dessa forma, poder realizar o “sonho” de se tornar também um proprietário.

Ao transformar a competição no princípio básico das relações sociais,

Cena do filme Tempos Modernos de Charlie Chaplin

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dições dos trabalhadores, retirando direitos, ou uma reforma da previ-dência social, que torna mais difícil o acesso aos benefícios. Nesses mo-mentos há uma ruptura dos muros que separam os seres humanos.

O individualismo é deixado de lado quando, por exemplo, trabalhadores que exercem funções diferentes, com remunerações diferentes, (…) se unem em prol de uma causa comum, como um protesto contra uma legislação trabalhista. Nesses momentos há uma ruptura dos muros que separam os seres humanos.

o capitalismo incentiva e existência de muros, tanto físicos como sim-bólicos, entre os seres humanos. O individualismo predomina, os outros seres humanos passam a ser instru-mentos para o objetivo individual de acúmulo de propriedades.

Se em uma sociedade capitalista o princípio da competição domina os seres humanos, isso não quer dizer que ela seja o único valor que circula socialmente. A humanidade não vi-veu sempre no capitalismo, valores presentes em outras formas de vida social, como a solidariedade, perma-necem vivos.

Ainda que não seja o valor pre-dominante, a solidariedade é a base para a existência dos movimentos sociais. O individualismo é deixado de lado quando, por exemplo, traba-lhadores que exercem funções dife-rentes, com remunerações diferen-tes, com nacionalidades diferentes, que vivem em lugares diferentes, se unem em prol de uma causa comum, como um protesto contra uma legis-lação trabalhista, que piora as con-

Não por aca-so, o capitalismo divulga os seus valores sociais, voltados para a competição e o acúmulo de bens, através de mensagens atra-entes, que cir-culam nos mais variados meios de comunicação de maneira per-manente, com uma quantidade sempre crescente, e que são elaboradas para atrair a nossa atenção, e esvaziar o nosso in-teresse de participar de movimentos sociais, e de praticar a solidariedade social. É difícil, mas não impossível, resistirmos, em algum grau, a essas mensagens, e reconhecermos que a valorização da competição e do acú-mulo de bens é uma visão limitada do que nós seres humanos podemos fazer com as nossas vidas. Os muros sempre podem ser destruídos.

Cláudio Novaes Pinto CoelhoDoutor em sociologia pela Usp. Docente do programa de pós-Graduação em Comunicação da Faculdade Cásper Líbero.

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comoda cada vez mais os moradores desses destinos clássicos, começa-ram a pulular mundo afora especial-mente a partir do verão europeu de 2017. Batizada de turismofobia, essa nova onda negativa de incômodo com a presença do outro tem levado governantes, profissionais da área e movimentos populares a questionar: afinal, para onde caminha o turismo?

Um das maiores fontes de recei-ta econômica do planeta, o turismo sempre foi estimulado de forma ili-mitada como um negócio positivo, que proporciona a interação entre os povos, o desenvolvimento das cida-des, a cultura de cada região. “Venha navegar nas gôndolas de Veneza” e “Visite a Barcelona de Gaudí” dizem as publicidades das agências de via-gem, hotéis e companhias aéreas.

O crescimento da classe média em países em desenvolvimento, como Brasil e China, multiplicou o núme-ro de turistas e globalizou ainda mais a cultura do “must-see”: “você preci-sa conhecer Miami, Paris, os coffee shops de Amsterdã”. Mas o mundo tem 7 bilhões de pessoas. Com cada vez mais gente na estrada, as ruas, as gôndolas e as cafeterias das cidades turísticas lotaram. Os moradores, com razão, reagiram.

As razões para o rechaço não são as mesmas que têm feito vários paí-ses, especialmente os europeus, a se recusarem a receber refugiados e imigrantes vindos de países em con-flito – gente humilde que viaja para outras terras involuntariamente. Dessa vez, a xenofobia se dá contra outros tipos de forasteiros “invadin-

Quando os turistas não são bem-vindosPara acabar com a turismofobia, hostilidade dos moradores das cidades muito visitadas às excursões de massa, precisamos reaprender a viajar.

“t uristas, voltem para casa” e “Turista, sua viagem de luxo é minha miséria diá-

ria” são algumas das mensagens que têm sido vistas recentemente em pi-chações e manifestações de protesto em Veneza, Barcelona, Amsterdã e outras das cidades mais amadas por viajantes do mundo todo. As reações hostis ao turismo de massa, que in-

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do terras alheias: os endinheirados, que viajam porque querem. Eles inflacionam os mercados locais ao aceitarem pagar fortunas por alu-guéis de casas de temporada e por menus caríssimos dos restaurantes. Não por acaso, antigos bairros resi-denciais “revitalizados” pela especu-lação imobiliária para turistas tem expulsado moradores e comercian-tes tradicionais. Saem as quitandas da esquina, o armarinho da Dona Maria e o boteco do Seu Zé. Entram a loja de grife, o bar hipster, o restau-rante estrelado que só magnatas de fora podem pagar.

Os impactos não param por aí, como mostra o professor espanhol Claudio Milano, doutor em antropo-logia social e cultural pela Univer-sidade Autônoma de Barcelona, em seu estudo Overtourism e Turismofo-bia: tendências globais e contextos lo-cais, de 2017. Além da privatização do espaço público e do aumento do custo de vida que reduz o poder aquisitivo dos moradores, cidades como Veneza ficam intransitáveis ta-manho o congestionamento que so-frem quando chegam excursões em massa e navios de cruzeiro – alguns despejam perto de 7.000 pessoas em

cidades minúsculas, o que multiplica a produção de lixo e agride o meio ambiente de lugares frágeis que não podem receber tamanho impacto. A lista de agressões provocadas pelo chamado turismo predatório inclui a exploração do turismo sexual, até mesmo infantil, e o desrespeito dos turistas que querem fazer selfies em lugares considerados sagrados por seus habitantes.

Alguns destinos têm tentado limi-tar o “overtourism”. Machu Picchu restringiu o número de visitantes permitidos. A Noruega criou uma campanha para incentivar os turis-tas a visitarem os lugares menos ób-

A lista de agressões provocadas pelo turismo predatório inclui a exploração do turismo sexual, até mesmo infantil, e o desrespeito dos turistas que querem fazer selfies em lugares considerados sagrados por seus habitantes.

vios e sem filas. Mas os próprios viajantes preci-sam aprender a viajar melhor. Mais que cli-car um cartão--postal, o prazer de conhecer um lugar novo pode estar na simples interação feliz e respeitosa com o anfitrião. Via-jar em baixa temporada, além de mais econômi-co, permite que se conheça a rotina de um lugar como ele é de verdade, sem maquiagens-para-gringo-ver. E em vez de fazer jornadas com hordas de turistas, podemos empreender nossas viagens a dois, em pequenos grupos e até sozinhos. Praticando tu-rismo de mínimo impacto, interagi-mos de forma mais genuína com o outro, aprendendo com as diferen-ças culturais e colaborando de forma orgânica com a economia de cada destino. Só assim voltaremos a ser bem-recebidos quando estivermos viajando pelo simples ímpeto natu-ral de conhecer o mundo.

Daniel Nunes GonçalvesMestrando em comunicação na contemporaneida-de e professor do curso livre de jorna-lismo de viagem da Faculdade Cásper Líbero – sp.

Barcelona – Espanha

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Chamadas a construir pontes

Centro Vocacional São CarlosRua Vereador Osvaldo Elache, 7112570-000 Aparecida – SPTel: (12) 3105-1008E-mail: [email protected]

Venha fazer esta experiência conosco!

Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo – Scalabrinianas

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Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo – Scalabrinianas

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Irmã Neide Lamperti, mscs, missionária em Golfe, Luanda – Angola, com criança angolana em visita à

Missão Scalabriniana no bairro do Pari – SP.

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A provisoriedade não combina com o muro. O muro, de concreto,

feito para cercar, impedir, – proteger

talvez – sustentar, delimitar. Muros,

como o de Berlim ou o Das Lamentações,

ficaram na história como símbolos de

algo que as teorias mais complexas ainda

tentam explicar. Humanos muros que

escodem jardins e cessam cachoeiras.

Altos, urbanos demais e, às vezes,

desejados por quem confia mais neles do

que na solidez da solidariedade.

não fosse a astúcia da tinta, os muros, estes espaços estáti-cos de concreto não se trans-

formariam em arte. Se pensarmos nas representações pré-históricas, chegaremos à conclusão que o ho-mem sempre quis ir além das som-bras vistas de dentro da caverna, como bem disse Platão em seu mito.

A arte urbana, que vemos pelos muros das cidades, nasceu na década de 1970, em Nova York e, junto com

Quando os muros inspiram uma poesia urbana

ela, uma série de movimentos cultu-rais na música e em outras artes. Os grafites que estão espalhados, sobre-tudo, nas metrópoles, são considera-dos obras de arte, mas nem sempre são tratados tão bem. Basta lembrar os inúmeros atos de apagar os grafi-tes na cidade de São Paulo, em 2017, cobrindo tudo de cinza; como acon-teceu também no Rio de Janeiro, na década de 1970 e 1980, com as inscrições do Profeta Gentileza, que

além de declamar frases de amor e paz pela cidade, escrevia-as nos mu-ros e viadutos da capital carioca. Uma de suas profecias mais conhe-cidas é: “Gentileza gera gentileza”.

Durante o Carnaval 2018, o pai-nel inaugurado na Avenida Augusta avisava: “É proibido proibir”. Mi-lhões de pessoas reuniram-se para festejar e ouvir Maria Rita cantar “Como nossos pais”, música de Bel-chior eternizada na voz de Elis Regi-

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na. Ali, naquele momento de grito e, poderíamos dizer de uma espécie de catarse, o muro, pintado, simboliza bem mais que um muro, ele tornou--se um lugar de encontro entre pas-sado e futuro e, ao mesmo tempo, de desejos que não tem tempo, nem idade: a utopia de dias melhores.

Utopia de felicidade. Mas afinal, onde mora “essa tal felicidade?”. Se

pensarmos do ponto de vista do mer-cado – esse monstro invisível que a tudo governa – um grafite é total-mente inútil. Ele não protege como o muro, ele não impede que aconteça os roubos, nem é capaz de transfor-mar, por si só, uma realidade ruim em boa. Ele simplesmente existe e, para quem o fez e para quem vê, ele cumpre um papel, o de gerar felici-dade.

Quando estamos diante de uma obra de arte, vivemos instantes de felicidade, nossa mente abstrai-se da realidade e o muro ou a parede deixam de sê-lo, tornando-se espaço para que nossa imaginação produza o invisível, o irreal, o desejado, o inesperado, o sonhado, o que pode ou não ser um dia. Assim, a felici-dade que começa aqui e agora conti-nua lá onde não existam mais muros e eles não sirvam senão para acolher formas e cores que juntos, nos fazem imaginar e sermos felizes.

Quando as pessoas na Anti-guidade começa-ram a desenhar nas cavernas, o fizeram a partir do fato da exis-tência da morte, ou melhor, do desejo de desco-brir o que existe após a morte. A arte é um fa-zer viver aquilo que parece morto. Talvez por isso, o profeta gentileza escrevia nos muros cinzas e feios de um Rio de Janeiro sofrido. Provavelmente é o que que-rem dizer os inúmeros artistas, pin-tores e grafiteiros que transformam o cinza urbano naquilo que nossas mãos não são capazes de tocar, senão com a imaginação.

Em um texto sobre pintar pare-des, Sergio Ricciuto Conte, pintor e artista plástico, disse que “Conhe-cer bem uma parede podemos, mas não podemos conhecer bem uma imagem: não podemos entrar num bosque pintado, por isso o achamos lindo, por isso o idealizamos. A arte sobre uma parede é inútil, não serve para nada, a não ser para nos lem-brar que existe outro lugar em que se possa ter felicidade infinita”.

Só assim os muros da cidade são capazes de incluir e não dividir, quando tornam-se espaço para que os artistas exponham ali seus so-nhos, repletos de todas as cores. Só assim podemos começar a imaginar um mundo melhor e mais bonito, que ao existir na nossa imaginação pode também existir a partir das nos-sas mãos. Um mundo onde os muros – por nós construídos – sejam mais coloridos do que altos, sejam mais vividos do que vigiados, sejam lugar de encontro e sendo, assim, sejam metros e metros de felicidade.

Nayá Fernandes Jornalista literária, bacharel em teologia e mestranda em literatura e crítica literária pela pUC-sp.

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Exemplos de algumas pichações e grafites característicos de São Paulo.

nesta direção, compreender ou explicar tal temática não parece uma atividade sim-

ples, tampouco uma verdade absolu-ta e incontestável, desse modo pichar é uma forma de registro que expres-sa de maneira efêmera a realidade de seus executores, como a violência e as frustrações que vivem devido à sua realidade. A sociedade não ob-serva com bons olhos os jovens que

picham, vistos muitas vezes como delinquentes, percebendo-se um enorme preconceito, causado pelo senso comum e disparidade social.

Um componente importante nes-te processo de criação do picho são os muros. Necessários quando pen-samos que é preciso marcar territó-rio, nos defender ou lutar por algo que julgamos correto. Assim, os mu-ros criados para separar também são

Poder do muroA pichação causa polêmica por diversos motivos: seja pelas marcas de tinta deixadas pela cidade, seja pelos jovens que arriscam suas vidas e desafiam a lei para espalhar suas grafias pela capital. E tudo o que envolve a cidade afeta, de alguma forma, a todos os cidadãos.

utilizados para expressar, abrindo portas e janelas e criando conexões com o mundo de fora.

No livro “Pichação não é Pixa-ção”, o autor Gustavo Lassala mos-tra o prazer que esses jovens sentem ao visualizar seus nomes grafados em muros altos ou em grandes edifí-cios afronta a sociedade e consolida a ação desses grupos. Muito além de expressar-se esteticamente ou reali-zar uma obra artística aceitável pela sociedade, buscam deixar marcas e grafar a existência daqueles que são submetidos a um sistema e não são aceitos por não se encaixarem às normas e ao andamento da socieda-de que se ajusta apenas às vontades dos privilegiados.

A pichação pode ser caracteriza-da como escritas ou desenhos reali-zados em muros feitas com spray ou rolo de pintura. Difundida no Brasil, sobretudo, a partir da cidade de São

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Pablo GodoyMestrando em Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero, especialista em teorias e práticas da Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero, graduado em Jornalismo pela Faculdades integradas teresa D’avila (Fatea).

que faz com que o cidadão rejeite essa manifestação e queira repelir uma cultura diferente da sua sem ao menos compreender sua intenção, fazendo-o compreender o ato de pi-char como sinônimo de vandalismo.

As pessoas podem pichar pelos mais variados motivos, muitas vezes visando uma mensagem nem sem-pre dirigida à pessoa que está pas-sando na rua e que observa aquele grafismo. Tal liberdade de motivos, de significados e de expressão visual colabora para que a visão sobre a pi-chação restrinja-se a julgar a imagem como sujeira e vandalismo, fato que

contribui para interpretações preconceituosas, afir-ma Lassala em seu livro.

Deste modo, pichar é uma forma de marcar a cidade e de demarcar es-paços, de modo que a pichação pode ser vista como um ato político, um protesto social, uma forma de anar-quia, ou ainda como um manifesto daqueles que são normalmente im-pedidos de ultrapassar as fronteiras que dividem a sociedade.

Em meio a um universo complexo e caótico, cheio de desarmonia e har-monia simultâneas, somos convida-

dos a mergulhar nessa realidade que parece estar distante, mas bate à porta e é registrada nos muros de tantos cida-dãos. Ninguém está ileso à essa realidade, não possibilitan-do escolha, ou seja, não é possível simplesmente aceitar ou não o ato de pichar, uma vez que se convive em apa-rente igualdade com aqueles que “poluem” ou incremen-tam ainda a “cidade cinza”. Assim, discutir sobre pichação é mergulhar em uma atmosfera de embates e debates, crí-ticas e aceitações, reprovação e validação de atos margi-nais ou de puramente maneiras diversas de comunicar-se.

Ou seja, a sociedade não tem um consenso definido em relação à pichação, assim como talvez não se tenha da arte, em um modo geral; a pichação também é incom-preendida por muitos. Caminhar pelas ruas, estar sem-pre em contato com pichações e sentir repulsa por essas expressões escritas acaba sendo uma reação comum dos cidadãos da cidade, que não deslumbram sua represen-tação e manifestação como parte de um contexto, queira ou não, artístico.

A pichação pode ser vista como um ato político, um protesto social, uma forma de anarquia, ou ainda como um manifesto daqueles que são normalmente impedidos de ultrapassar as fronteiras que dividem a sociedade.

Paulo em meados dos anos 1980, a pichação utiliza-se de signos convexos e côncavos, de ângulos agudos, de improvisadas acelerações, com subidas e descidas dos signos. Tal estilo, de acordo com um estudo realizado por Luciano Spinelli (2007), agrega uma linguagem co-mum entre os pichadores, uma linguagem que “serve de senha, de signo de reconhecimento, e permite fora dos limites do seu território (bairro, escola, relações amigá-veis) de, se agregar a grupos que compartilham o mesmo ‘estilo tipo’”.

Pode-se considerar o ato de pichar como produto das primeiras manifestações da expressão visual humana, visto que o ser humano, por meio de sua necessidade de se expressar, usou como primeiro suporte a parede. Con-sidera-se por esse prisma que a origem da pichação está ligada ao surgimento do interesse pela comunicação en-tre indivíduos de diferentes grupos.

Assim como o grafite, a pichação não é reconhecida como prática le-gal, a menos que o local usado seja cedido por seu proprietário. Caso isso não ocorra, o pichador pode ser autuado pelo artigo 163 do código penal brasileiro sobre o “dano ao pa-trimônio público”.

A pichação em si tem como prin-cipal objetivo a comunicação interna entre os grupos, sendo que cidadãos comuns não costumam compreen-der o que está escrito pela dificul-dade causada pela grafia das letras e pelo conteúdo das mensagens. Isso é proposital, uma vez que cria uma nova linguagem de comunicação e que praticamente apenas é entendido entre seus integrantes. A produção dos pichadores é sempre destinada àque-les que compreendem a linguagem da pichação e suas simbologias. Todo pichador possui uma assinatura, e na maioria das vezes seu principal objetivo é divulgar o seu nome o máximo possível através dessa prática, propor-cionando assim uma “disputa interna sobre quem possui mais assinaturas na cidade. Quanto mais assinaturas um determinado pichador possuir, maior será o respeito ob-tido dentro da comunidade”.

O ato de pichar se espalha pela cidade sobre os mais diversos suportes, tanto em monumentos e museus, quanto em árvores e os mais diversos espaços urbanos que permitam a visualização de mensagens. Os locais nunca são cedidos ou autorizados, situação que abre es-paço para que os pichadores afrontem a lei e provoquem reações diversas nas pessoas. Esse é um dos motivos

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Na Carta aos Efésios, em 2,14, encontramos uma metáfora referente a um “muro de separação”.

É sobre esta metáfora que queremos discorrer nes-te pequeno artigo, no contexto desta revista que procura refletir sobre os “muros físicos, sócio-po-

líticos, legais, psíquicos, imaginários e étnicos”. Para nós cristãos a luz que vem da Palavra de Deus, de fato, é fundamental!

Primeiramente, como introdução, sublinhamos que, segundo nossas pesquisas, o autor da Carta aos Efésios é um discípulo do apóstolo Paulo, que escreveu a vá-rias pequenas comunidades cristãs localizadas em Éfe-so e também na região mais ampla de influência desta grande cidade, que na época era a capital da Ásia Menor (província do Império Romano), sendo considerada a ter-ceira maior cidade do Império. De fato, se analisamos as palavras empregadas, o modo de construir as frases e alguns temas teológicos, percebemos que o autor não é o próprio Paulo, embora o discípulo que escreveu quis colocá-la sob a autoridade do apóstolo (cfr. Ef 1,1; 3,1).

O texto de Efésios 2,11-22Continuando a nossa análise e chegando mais perto

da metáfora que nos interessa, isto é, o “muro de separa-ção”, constatamos que ela se encontra dentro do texto de

Cristo Jesus destruiu o “muro de separação” (Ef 2,14)

Ef 2,11-22. Nesse sentido, se quisermos chegar ao signi-ficado da metáfora, é necessário começar pelo texto onde ela está localizada.

A organização de Ef 2,11-22 não é de difícil compreen-são: trata-se de três períodos (2,11-13; 2,14-18 e 2,19-22), onde há uma clara contraposição entre o primeiro e o terceiro. Ora, a mudança que se percebe entre estes dois períodos é provocada pela ação de Cristo Jesus, narrada no período central. É por isso que dizemos que a organi-zação de Ef 2,11-22 é do tipo ABA’.

Dizendo a mesma coisa com as palavras do texto, AN-TES os Gentios eram estrangeiros sem Cristo (excluídos da cidadania de Israel e das alianças da promessa, sem esperança e sem Deus). AGORA, ao invés, não são mais nem estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos (dos demais batizados) e parte da família de Deus. Utilizando a nossa metáfora, antes havia um “muro de separação” entre Gentios e judeus, que determinava que os Gentios fossem “distantes”, e os judeus, por sua vez, fossem “próximos”; agora, este muro foi destruído. Tra-tava-se realmente de um “muro de separação”! Nesse sentido, o texto de Efésios 2,11-22 trabalha com várias categorias que expressam contraposição e separação: “nós e vós”, próximos e distantes”, “antes e depois”, “ci-dadãos e estrangeiros”, “paz e inimizade”. É Cristo Jesus quem destruiu o “muro de separação”, e o fez mediante a sua cruz. Ele destruiu a inimizade e promoveu a recon-ciliação, que no texto é chamada de paz. Esta palavra, de fato, é repetida 4 vezes no período central do texto (vv.

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14-18). Se lançamos um olhar atuali-zante e comparamos os nossos dias com esta obra pacificadora de Cris-to Jesus, soa irônico que as nações queiram construir a paz através da construção de muros.

Por fim, um último elemento do texto que gostaríamos de sublinhar é que a destruição do “muro de se-paração” entre Gentios e judeus não torna os Gentios “novos judeus”, mas torna tanto Gentios como ju-deus “seres humanos novos”. Dito de outro modo, em Cristo Jesus todo o ser humano, independente da sua condição anterior, é tornado uma nova pessoa, e logo desafiado a abra-çar essa nova condição!

Atualizando com um exemplo esta verdade que vem da Palavra de Deus, um estrangeiro que entra no Brasil não irá tornar-se simplesmen-te um novo brasileiro. Também o brasileiro é convidado a uma evolu-ção através da acolhida daquele que antes era estrangeiro, e assim haverá um “novo brasileiro”. Todavia, aquilo que o exemplo apresenta como desa-fio para cada um de nós, do ponto de vista da fé já aconteceu para aqueles que são renovados em Cristo Jesus!

A metáfora do muro de separação

Na riqueza de metáforas presen-tes em Ef 2,11-22, queremos anali-sar agora mais de perto, finalmente, a metáfora do “muro de separação”. Qual seria este “muro” e qual seria a sua referência?

Procurando responder à primei-ra questão, de nossa pesquisa resul-ta que o “muro de separação” entre Gentios e judeus era a Lei, isto é, aquilo que o v. 15 define “a lei dos mandamentos em decretos”. Tratava-se da Lei de Moisés. O próprio após-tolo Paulo tinha sublinhado que, em Cristo, a Lei já não tinha mais a im-portância de antes (cfr. as Cartas aos

Romanos e aos Gálatas). Algumas décadas mais tarde, todavia, o clima já estava mais sereno e, assim, o seu discípulo que escreveu Efésios sen-tiu-se mais à vontade para declarar a Lei abolida, utilizando para tanto a metáfora do “muro” derrubado.

Sobre a segunda pergunta, uma das hipóteses mais sublinhadas so-bre a referência da metáfora, embora não possamos ter certeza, refere-se à barreira construída no Templo de Jerusalém e que separava os judeus dos Gentios. Estes últimos podiam adentrar até um certo ponto do Tem-plo, onde então havia uma barreira de cerca um metro e meio que lhes limitava a entrada sob pena de morte. (cfr. o testemunho do escritor judeu Flávio José, nas Antiguidades Judai-cas 15,417). Uma inscrição em grego e latim, colocada em mais lugares da barreira, deixava a proibição ex-plícita (um exemplar dessa inscrição foi descoberto em 1871 por M. Cler-mont-Ganneau, e está conservado em Istambul).

Antônio César Seganfredo Missionário scalabriniano e doutorando em teologia bíblica.

Em Cristo Je - sus já não há mais barreiras que proíbam a comunhão! Ele destruiu o “mu-ro de separação” mediante a sua cruz e “criou” um “ser humano novo”. Esta rea-lidade que co - lhe mos na fé, todavia, está longe de ser uma realidade na nossa com-preensão humana.

De fato, se em 2001 havia 17 grandes “muros de separação”, pas-samos hoje a 70 (Folha de São Pau-lo: https://arte.folha.uol.com.br/mundo/2017/um-mundo-de-muros/). Nesse contexto, mais uma vez somos convidados a deixar-nos iluminar pela Palavra de Deus, para então tor-nar-nos testemunhas daquele que “é a nossa paz, o que fez de dois um só, derrubando o muro de separação que estava entre eles”!

Papa Francisco em visita à Palestina, no muro de separação levantado pelo Estado de Israel (maio de 2014).

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As fronteiras ajudam a organizar os países, mas limita o direito humano de ir e vir quando e onde quiser. O sonho de ter a liberdade de buscar melhores condições de vida cresce a cada dia no coração da pessoa que anseia por uma vida cheia de alegria, paz e satisfação de viver. Trabalhar colocando todos os seus dons a serviço dos outros, em troca da realização pessoal, como filho de Deus e irmão de todas as pessoas de boa vontade.

“Eu era migrante e você me acolheu” (Mt 25,35).

Os fundadores como protagonistas de um mundo sem fronteiras

Scalabrini e os emigrantesQuando alguém vive em sintonia

com Deus, vê, ouve, sente à manei-ra divina, isto é, com misericórdia, com empatia, com amor. Scalabrini era íntimo de Deus e extremamente devoto a Jesus Eucarístico. Esta de-voção fazia dele uma pessoa interio-rizada, compenetrada, sábia e plena-mente disposta à acolhida do outro. E este outro, quanto mais pobre, ex-plorado e sofrido, mais sua atenção era atraída por ele.

Scalabrini, homem eucarístico, trabalhou toda a vida para construir unidade valorizando e respeitando a diversidade. Diversidade de dons, de cultura, de religião, de partidos polí-ticos, de status social. Ele dizia que “o bem está dentro do ser humano, só é necessário dar condições para que se desenvolva”. Por esse jeito de ser e agir foi capaz de movimentar

seu país a fim de torná-lo consciente da situação dos emigrantes durante a segunda metade do século IXX.

Sua visão de mundo é aquela que compreende e respeita a soberania das nações, porém é consciente da sua responsabilidade social. Tudo deve concorrer para o bem do povo e este povo tem o direito inalienável de ir e vir.

Marchetti e os imigrantesPe. Marchetti, como Scalabrini,

teve os mesmos sentimentos em re-lação aos emigrantes italianos que se sentiam obrigados a migrar para não se perderem. Ele entendia que era um direito buscar melhores con-dições de vida em outras terras, uma vez que a própria terra não lhe dava o pão de cada dia. Este direito básico de ir e vir para manter um mínimo da própria dignidade de pessoa hu-

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mana, filha de Deus. Este jeito de ver a vida e o movimento que este jeito cria diz claramente que Marchetti era um jovem dinâmico, compreen-sivo, empático e cheio de esperança.

Para Marchetti a imigração era apenas um meio de melhorar de vida através do trabalho suado sim, mas honrado e portador de progres-so à terra de acolhida, sem perder a esperança de voltar à terra natal. Uma vez ele expressou isso com muita clareza falando a respeito da missão scalabriniana o seguinte: “Re-cebe os migrantes, encaminha-os, acompanha-os na travessia do ocea-no, acolhe afetuosamente os órfãos, tem um sorriso de conforto para os doentes; leva-os ao trabalho, e volta a visitá-los, enxuga-lhes as lágrimas e os reconduz ao solo nativo. Assim, nossa missão será completa”.

Erta Lemos Missionária scalabriniana, atua junto aos seringueiros em Fernandópolis – sp.

Esse modo de pensar, faz-nos ver quão grande é sua luz projetada no horizonte de nossas vidas. O ser hu-mano pode, pela liberdade dos filhos de Deus, ir e vir segundo suas neces-sidades básicas de sobrevivência e de partilha de bens materiais, físicos, psicológicos, sociais e espirituais. A vocação do ser humano é construir a fraternidade universal, num ho-rizonte em que todos seremos UM como o Pai e o Filho são UM no Es-pírito Santo.

Madre Assunta, a missionária scalabriniana

Madre Assunta, em sua profun-da humildade, soube entender o Se-nhor e na obediência ativa confiou ao Sagrado Coração todos os pro-jetos de sua vida e de sua missão. Seu conhecimento de Deus fez dela

uma mulher de todos os povos e de todas as classes sociais, no entanto seu horizonte era ser para os mais pobres, necessi-tados e vulnerá-veis no mundo dos migrantes. Seu olhar terno e materno a todos encorajava, sua presença trazia a paz que todos almejavam quando esta-vam em dificuldades ou em grande sofrimento.

Madre Assunta não conhecia fronteiras, ela dizia: “O mesmo Deus daqui é o Deus de lá”. Esse modo de pensar, de acreditar, de viver deu a ela uma capacidade monumental de se adaptar, de compreender e de amar pessoas, lugares, trabalhos. Uma das suas grandes virtudes foi a resiliência, capacidade de recuperar--se rapidamente depois de uma gran-de dificuldade ou decepção. Não co-nhecia o mau humor, era especialista em restabelecer o clima de otimismo em qualquer âmbito que estivesse.

Podemos afirmar que Madre As-sunta é modelo de missionária scala-briniana, sem fronteiras, porque seu horizonte era a pessoa em necessi-dade. Seu coração é de todos e por todos vela como Mãe atenta e amo-rosa, segundo o coração de Deus e de Maria Santíssima.

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a maior parte dos venezuelanos que chega ao país permanece no estado de Roraima, o menos po-puloso do Brasil, com aproximadamente 500 mil

habitantes. Dessa forma, este fluxo migratório intenso e localizado representou para o estado um aumento popu-lacional em torno de 10% desde 2016, concentrando-se principalmente na capital, Boa Vista. Trata-se, portanto, de uma situação bastante desafiadora. As estruturas esta-duais e municipais, bem como a população local, neces-sitam de apoio para poder atender a esta migração que chega em situação de grande vulnerabilidade.

As respostas por parte do Governo Federal tardaram, adquirindo maior robustez apenas a partir de fevereiro de 2018, com a criação do Comitê Federal de Assistên-cia Emergencial e o início da “Operação Acolhida”, que envolve, entre outras medidas, a federalização da gestão dos abrigos em Roraima e o processo de interiorização

Imigração e fronteiras legais

Nos últimos anos, a Venezuela vem enfrentando uma forte crise econômica, política e de desabastecimento de produtos básicos, com graves consequências humanitárias. Como resultado, centenas de milhares de pessoas estão abandonando o país em busca de proteção, indo, principalmente, para Colômbia, Equador e Panamá. O Brasil também está sendo um país de destino e trânsito para os venezuelanos. Estima-se que, até dezembro de 2017, mais de 40 mil haviam entrado no Brasil e, em 2018, o fluxo de chegada se intensificou ainda mais, com uma entrada diária média de 350 a 400 imigrantes pela cidade fronteiriça de Pacaraima – RR.

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para outros locais do país. Estas me-didas ainda são incipientes e insufi-cientes para a gestão do fluxo migra-tório venezuelano.

Neste contexto, em 13 de abril, o governo de Roraima entrou com uma ação no Supremo Tribunal Fe-deral (STF), na qual solicita que a União seja obrigada a assumir efe-tivamente o controle policial e sani-tário da fronteira com a Venezuela, inclusive com o fechamento tempo-rário da mesma, limitando a entrada de venezuelanos no Brasil. O pedido gerou fortes reações contrárias por parte de entidades que atuam na de-fesa dos direitos de migrantes e refu-giados, organismos internacionais e também do Governo Federal.

De fato, restringir a entrada de venezuelanos no Brasil no atual con-texto seria ilegal, por violar diversos compromissos internacionais assu-midos pelo país enquanto signatário da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), da Convenção so-bre o Estatuto dos Refugiados (1951), da Declaração de Cartagena (1984), entre outros dispositivos, bem como legislações nacionais como as Leis de Refúgio (Lei 9.474/1997) e de Mi-gração (Lei 13.445/2017).

Seria também logisticamente im-possível. A rodovia que liga Pacarai-ma a Santa Elena de Uairén é o prin-cipal corredor de circulação entre os dois países e a “porta de entrada regular”, porém, a fronteira Brasil-

-Venezuela se estende por 2.199km, sendo majoritaria-mente marcada por serras e rios. Na prática, as experi-ências de outros países mostram que medidas voltadas a restringir a migração regular não só falham no objetivo de conter a mobilidade humana, como também servem de estímulo ao tráfico de pessoas e ao contrabando de migrantes, fortalecendo redes criminosas e expondo aqueles que já se encontram em situação vulnerável a riscos ainda maiores.

Estes efeitos negativos são potencializados em casos de migração forçada, em que migrar é, mais do que uma estratégia, uma necessidade para garantir a sobrevivên-cia e não uma escolha voluntária. A situação na Vene-zuela vem sendo amplamente reconhecida como uma situação de grave e generalizada violação de direitos humanos. Impor barreiras à migração venezuelana seria desumano, podendo custar a vida a milhares de pessoas que, na Venezuela, já não conseguem alimentação, aces-so a serviços de saúde e condições de atender necessida-des básicas.

É importante destacar que apesar de terem pretensão de parecer como naturais, atemporais e inquestionáveis, as fronteiras são criações humanas, resultado de proces-sos históricos e interesses muito específicos. Mais do que instrumentos de exclusão, as fronteiras ope ram como zonas amórficas que po dem ser permeadas ou ultrapas-sadas e funcionar como pontos de encontro e in-tercâmbio. Fechar as fron-teiras, no contexto descrito acima, seria assim, priorizar uma ficção em detrimento da dignida-de humana.

Rosita Milesi

Impor barreiras à migração venezuelana seria desumano, podendo custar a vida a milhares de pessoas que, na Venezuela, já não conseguem alimentação, acesso a serviços de saúde e condições de atender necessidades básicas.

Paula Coury

Julia Rovery

instituto Migrações Direitos

Humanos – Brasília – DF.

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sophie de apenas 9 anos de ida-de, não fala, não come, não anda, não sente dor, simples-

mente vegeta. Porém, todos os seus órgãos, de acordo com relatos da me-dicina, funcionam normalmente. Há mais de 20 meses os pais de Sophie, vivem na esperança de que um dia ela volte ao normal.

Esse fenômeno, denominado por especialistas da Suécia de síndrome da resignação acontece somente com crianças da União Soviética, dos Balcãs, crianças ciganas e yazidis e, mais especificamente, com crianças e adolescentes em situação de refú-gio, específicas daquela cultura.

Os vínculos corporais perdidos pelas

fronteiras do refúgio

A síndrome tem causado espanto e ao mesmo tempo fascínio. Diante de uma situação de refúgio, insegu-rança, medo de perder os pais, crian-ças de 0 a 17 anos simplesmente per-dem os movimentos do corpo.

A medicina sueca, já chegou à conclusão que a cura de muitas des-tas crianças se dá quando os pais re-cebem visto de permanência no país. No caso de Sophie, seus pais espe-ram que ao receberem o visto de 13 meses, a filha volte à vida normal.

Especialistas de uma das casas que tratam crianças, a Solsidan, creem que os vínculos com a reali-dade são perdidos quando a criança

vê seus pais passarem, durante o percurso migratório, por situações de violência, o que pode produzir nela tamanha insegurança e medo de perdê-los. No caso de Sophie os médicos acreditam que para que ela acorde, ela e os pais precisam se sen-tir seguros.

Esse dado novo na história da imigração e do refúgio (salva-se o único caso que aconteceu, também na Suécia por volta de 1998 e, so-mente agora publicado), ajuda a pen-sar no lugar do corpo e seus sentidos no contexto das migrações.

A situação de refúgio obriga o corpo migrante a passar por mudan-

As duas irmãs refugiadas Djeneta e Ibadeta, diagnosticadas com a síndrome da resignação.

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ças sociais, biológicas, culturais, que acontecem ao longo do percurso e que levam o indivíduo a fazer novas ex-periências, se adaptar e se inserir, ou não, em uma nova cultura. É nesse sentido que o neurologista, etologista e psiquiatra francês, Boris Cyrulnik, enfatiza que mudando ou não de ambiente o corpo estará disponível a receber informações diversas. Ele assegura que “um corpo vivo, nunca é passivo dentro de um meio estruturado”. Ou seja, o corpo está sempre em processo de transformação e estará sempre sensível a informações diferenciadas. É esse dinamismo do corpo, sempre aberto a acolher, que permitirá a adaptação ou não ao novo ambiente.

Para Cyrulnik as primeiras relações de vínculos se dão entre a criança e mãe, por meio do ventre e do seio. A partir dessas relações o ser humano adquire uma certa estrutura para todas as outras relações humanas. Outros pensadores como a professora e doutora em Comunica-ção e Semiótica pela Pontifícia Uni-versidade Católica de São Paulo, Ma-lena Segura Contrera, afirmam que nenhum ser humano vive sem essa conexão com o outro, sem estabele-cer uma relação de vínculo, sem afe-tar e ser afetado.

O caso das crianças refugiadas da Suécia nos ajudam a confirmar essa tese, uma vez que até onde a medi-

cina daquele país conseguiu avançar em relação à ‘síndrome da resignação’, as crianças, ainda em processo de crescimento e de formação da perso-nalidade, se desvinculam pelo medo de perder seu principal vínculo, que até então lhes dão segurança: os pais.

Por outro lado, a resignação pode ser uma forma “estranha” de fazer permanecerem os vínculos com os pais, uma vez que, tomada a cons-ciência de que estes estão em situa-ção de segurança, a criança tende a se reestabelecer.

Ainda, de acordo com o Doutor em Ciências da Comunicação pela Uni-versidade de São Paulo e coordenador

da Pós-gradua-ção na Fun dação Cásper Líbero, José Eugênio Menezes os vínculos podem ser construtivos ou prejudiciais. Neste sentido, as ex-periências de violência, de não aco-lhida, de rejeição no país de destino, se tornaram vínculos tão prejudiciais que as levaram a criar barreiras e a se desvincularem da realidade.

Rosinha Martins Missionária scalabriniana, mestranda em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, Bacharel em teologia pelo instituto são Boaventura – Roma e Licenciada em Filosofia pela Universidade salesiana de Lorena (UnisaL).

Diante de uma situação de refúgio, insegurança, medo de perder os pais, crianças de 0 a 17 anos simplesmente perdem os movimentos do corpo.

Sophie, há 20 meses em estado de letargia

bbc.

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