racismo e xenofobia no futebol
DESCRIPTION
Palestra apresentada na SEMUR - Secretaria de Reparação, em Salvador - Bahia e na Escola Nacional de Direito - UFRJ no Rio de Janeiro.TRANSCRIPT
Racismo e
xenofobia no
futebol
Prof. Dr. Carlos Alberto Figueiredo da Silva
Palestra apresentada na Faculdade Nacional de Direito/UFRJ, Rio de Janeiro,
em 12 de junho de 2013 e na Secretaria Municipal de Reparação – Salvador,
em 10 de junho de 2013.
A li
nguagem
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fute
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rasi
leir
o
Metáforas que discriminam, que humilham, que marcam
uma existência.
.
A linguagem racista no futebol brasileiro. In: Congresso Brasileiro de História do Esporte, Lazer e Educação Física, 1998, Rio de Janeiro. In: Anais do VI Congresso Brasileiro de História do Esporte, Lazer e Educação Física. Rio de Janeiro, 1998. p. 394-406
Refe
renci
al
teóri
coHabitus
Representações sociaisEtnometodologia
Moacy
r B
arb
osa
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ode
expia
tóri
o
“No Brasil, a pena maior por um crime é de trinta anos. Há quarenta e três pago por um crime que não cometi”
“Sem fibra,
os brasileiros
não
souberam
enfrentar a
flama de um
adversário
corajoso”
(Correio da
Manhã,
18/07/1950:1,
2º caderno);
“(...) deixaram-
se levar pelo
nervosismo e
jogaram abaixo
da crítica,
inclusive Jair,
acovardado
com a
marcação
severa do
velho Obdulio
Varela” (O
Diário do Povo,
18/7/1950:6).
“Deve-lhes uma
derrota
punjante,
gerada dos
flancos
sombrios da
covardia. Por
mêdo a
contusões e a
sôcos perdemos
o campeonato
mundial de foot-
ball” (Diário do
Povo,
18/07/1950:2, 2º
caderno)
Barbosa,
realmente um
grande quíper,
grande
tremedor
porém. Tremeu
tanto num jogo
contra os
argentinos em
45 que teve de
mudar o calção
quando acabou o
primeiro tempo
(Mario Filho no
livro O sapo de
Arubinha”
Barbosa, em entrevista a
Geneton Moares Neto, apesar de
ter interpretado que Mário Filho
escrevera que “trememos
porque éramos pretos”, de
fato, ratifica a dimensão que a
derrota alcançou no Brasil e a
culpa atribuída aos negros. Neto
retifica a fala de Barbosa dizendo
que “Mário Filho apenas constata
que a culpa foi jogada nos
jogadores negros; não os acusa”.
A confusão de Barbosa é
plausível porque, realmente, no
livro O Sapo de Arubinha,
Barbosa foi acusado de tremedor
pelo próprio Mário Filho.
Luis
Fern
ando
Verí
ssim
o
“Cresci ouvindo dizer que o
melhor goleiro do Brasil era o
Veludo. Reserva do Castilho no
Fluminense e tão bom que
também era reserva do Castilho
na seleção. Só não era o titular,
diziam, porque era negro. (...)
Estereótipos racistas sobre
agilidade e elasticidade até
favoreciam uma tese inversa, a
de que negro é mais confiável do
que branco no gol. Mas quando o
Barbosa deixou passar aquela
bola de Ghiggia, em 50, o
preconceito, até então disfarçado,
endureceu e virou superstição” (O
Globo, 20/7/1999:7).
José
Ilan
“Eu já ouvi
muitas vezes
esse tipo de coisa
que goleiro negro
não é bom, eu já
ouvi isso muitas
vezes. Até que
ponto...eu acho
que não cabe até
que ponto. Só o
fato de haver o
comentário, já,
no mínimo, há no
mínimo uma
resistência, que
já é uma
diferença em
relação ao goleiro
branco(...)”.
“O goleiro negro
não vai dar certo,
goleiro negro não
é bom, esse
comentário
baseado em
nada, baseado
no, no factóide,
numa historinha
folclórica, isso, na
minha opinião, é
uma forma de
racismo, sem que
haja uma forma
clara de se
expressar ou
porque há uma
razão”.
Sérg
io N
oro
nha
“O que houve é que depois da Copa de 50,
dizem, eu não tenho
como provar isso, que
havia um documento
aconselhando a não convocação de goleiros
negros porque eles se
acovardariam na hora da
decisão. Não sei se esse
documento existe, se
existe já foi destruído
(...)”.
Luís
Mendes
Eu também ouvi falar,
mas é aquela história,
isso está me parecendo a linha do
equador; todo mundo
sabe que existe mas
ninguém vê.
João M
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Glo
bo, 2000, p. 490-4
91.
Resultou disso um relatório.
Científico, disseram. E nele
pelo menos uma constatação: o jogador
brasileiro era imaturo,
emocionalmente vulnerável,
inseguro. Numa palavra,
“amarelava”. O relatório
apontava, eufemisticamente,
para certas características
raciais que nos faziam sofrer
mais que um anglo-saxão, um
gaulês, um nórdico ou um
tedesco, terríves saudades de
casa, a nostalgia profunda, o
banzo. Não foi por outro motivo
que a seleção brasileira estreou
em Gotemburgo com um time
tão branco quanto possível.
Luís
Mendes
Em 1950 culparam em 1o
lugar o Bigode, em 2o lugar o
Barbosa e em 3o lugar Juvenal.
O próprio técnico da seleção
brasileira culpou o Juvenal,
dizendo que ele não fez a
cobertura do Bigode nos dois
lances que resultaram nos
gols do Uruguai. Bom, depois
em 1958, quando nós fomos
pra Copa do Mundo, houve um
problema muito sério, diziam
que o Brasil amarelava
porque tinha negros no
time, que era uma raça que
tinha complexo de
inferioridade (...).
Luís
Mendes lembro que se falava
muito nisso, "não, tem
que tirar esses negros do time", isso
sem dúvida; “goleiro
negro não serve, goleiro negro tem
reflexo retardado.”
O e
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Caetano Silva
O VELUDO
Did
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Vald
ir Pere
s “VALDIR, UM DIA
DE
INFELICIDADE. O
goleiro começou
culpado e, saiu
sem culpa, pois
na falha de
Valdir Peres,
nesta copa,
havia tempo,
ânimo e futebol
para a
recuperação”
(Folha de São
Paulo,
6/7/1982:22).
“VALDIR NÃO
ACEITA
ACUSAÇÕES E
FALA EM FALTA DE
SORTE
Acusado por
alguns jornalistas
espanhóis de ter
falhado nos gols
marcados pela
Itália, Valdir Peres
riu dos
comentários,
sentado na porta
do “El Corte
Ingles”, esperando
a hora de voltar a
Mas Badó, ao lado
uma mala nova,
comprada por
1.900 pesetas”
(Folha de São
Paulo,
7/7/1982:27).
Zico
“ZICO É UM EXEMPLO
Zico foi muito criticado
pelo pênalti perdido
contra a França e
mostrava-se triste e
desgostoso ontem. Uma
pessoa, porém, resolveu,
por iniciativa, elogiá-lo
como homem e atleta.
Foi o médico da seleção
brasileira, Neylor Lasmar”
(Jornal dos Sports,
23/6/1986:13).
Zic
o
“O ANTI-HERÓI ZICO Devemos respeitar o seu
drama de uma pungência de
tragédia grega. Ninguém fez
mais, lutou mais para ser
tetracampeão e o craque da
Copa. Mas o destino foi
inexorável na punição
inexplicável. Zico despediu-se
da Copa como o anti-herói na
melancolia de uma classificação para a semifinal
atirada pela janela por um
erro que não costuma
cometer” (Jornal do Brasil,
22/6/1986:3).
Dunga
“Já era Dunga. Não deu certo
a tentativa de esquematizar o
futebol brasileiro, abrindo
mão do talento natural e do
improviso, em benefício de
um padrão mais rígido, de
marcação, ao estilo europeu,
acabou na desclassificação
(...) A Era Dunga não chegou
(...) O proveito da derrota
passa pela necessidade do
reexame desses conceitos de
futebol-força” (O Dia,
25/6/1990:3).
Ronald
o “Ronaldinho amarela
antes do jogo e abala
a seleção” (O Dia, 13/07/98:1).
O o
cult
o d
o
apare
nte O literal
A metáforaA metonímiaO oculto
(O Dia, 22/06/2002:1)
Manifest
açõ
es
explíc
itas ETO’OROBERTO CARLOS
EBOUÉNEYMAR
Preco
nce
ito e
dis
crim
inaçã
o
Preconceito é um sentimento, e mesmo
uma atitude. Discriminação, a sua
manifestação (um ato
ou efeito).
Injú
ria
O crime de injúria focaliza
a utilização de elementos
referentes à raça, cor,
etnia, religião, origem ou
a condição de pessoa
idosa ou portadora de
deficiência. Este crime
consiste justamente em
ofender a dignidade, o
decoro de uma pessoal
em relação à sua raça,
etnia, cor.
Raci
smo
O crime de racismo é
direcionado a um grupo específico. No
caso dos negros, o racismo é direcionado
à comunidade negra.
Já a injúria racial é direcionada a uma pessoa especificamente e não
é considerado racismo.
Raci
smo e
Injú
ria
O racismo refere-se à
prática de privar e proibir
determinada pessoa de
algo em decorrência da
sua raça. Este fato, além
de ofender o indivíduo,
ofende também a coletividade. A injúria não é classificada
como racismo, uma vez
que na tipificação deste
crime não há proibição ou
privação de algo.
Penas
O racismo não prescreve e é inafiançável.A injúria tem fiança
arbitrada pelo delegado, que estipula
o valor e se a pessoa
puder pagar, responde
o processo em liberdade.
Franci
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1923/1
924
Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.
Ofício nr. 261
Exmo. Sr. Dr. Arnaldo Guinle M.D.
Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos
As resoluções divulgadas hoje pela imprensa, tomadas em reunião de ontem pelos altos poderes
da Associação a que V.Exa tão dignamente preside, colocam o Club de Regatas Vasco da Gama
numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada nem pela
deficiência do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta
de grande número dos nossos associados.
Os privilégios concedidos aos cinco clubes fundadores da AMEA e a forma por que será exercido o
direito de discussão e voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso
protesto contra as citadas resoluções.
Quanto à condição de eliminarmos doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve
por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se
conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos
consócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.
Estamos certos que V.Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno da nossa
parte sacrificar ao desejo de filiar-se à AMEA alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre
outras vitórias a do campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro de 1923.
São esses doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de sua carreira e o ato
público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa
que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias.
Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V.Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA.
Queira V.Exa. aceitar os protestos de consideração e estima de quem tem a honra de se
subscrever, de V.Exa. At. Vnr. Obrigado
(a) Dr. José Augusto Prestes
Presidente
Gra
fite
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Desá
bato
Racismo para fora e para dentro
Lula Pereira
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SILVA, C. A. F. ; QUEIROZ FILHO, O. M. .
Brancos, negros e pardos: um estudo sobre
o mercado de trabalho
do treinador de futebol.
In: 20º Congresso Internacional de Educação Física, 2005,
Foz do Iguaçu. Fiep Bulletin. Foz do Iguaçu:
Fiep, 2005. v. 75. p. 126-
126.
A m
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? Caminhos para a
emancipação.
Justiça Retributiva Justiça Restaurativa
Fonte: Tania AlmeidaDelito Infração da norma Conflito entre pessoas
Responsabilidade Individual Individual e social
Controle Sistema penal Sistema penal / Comunidade
Protagonistas Infrator e o Estado Vítima , vitimário e comunidade
Procedimento Adversarial Diálogo
Finalidade Provar delitosEstabelecer culpasAplicar castigos
Resolver conflitosAssumir responsabilidadesReparar o dano
Tempo Baseado no passado Baseado no futuro
Os
4 p
ilare
s da
educa
ção Aprender a conhecer
Aprender a fazerAprender a conviverAprender a ser
RA
CIS
MO
Não basta conhecer o
problema é necessário
enfrentá-lo.
Eco
s do ra
cismo
Moacyr
Barbos
a
Joaquim
Barbosa
De
a
Abdia
s N
asc
imento
Para o fundador do Teatro
Experimental do Negro,
em 1944, a presença de
Joaquim Barbosa no STF
causa desconforto aos
colegas. Ex-deputado
federal e ex-senador,
Abdias conta que foi
"esmagado" no Congresso.
"Sempre quando ele (o
negro) ergue a voz, já é
um crime", afirma. "Há um
racismo na Justiça brasileira."
Legisla
ção
Lei nº 1.390/1951 – Lei Afonso
Arinos
Lei nº 7.437/1985
Lei nº 7.716/1989
Lei nº 8.081/90
Lei nº 8.882/94
Lei nº 9.459/97
Artigo 140, § 3o, do Código Penal
Artigo 96, Lei 10.741/2003 -
Estatuto do Idoso
Educa
ção
As escolas focalizam os
conteúdos conceituais,
deixando de lado os
procedimentais e os atitudinais.
Os objetivos são formulados
em função do comportamento
do aluno, quando, de fato,
todos deveriam apreender;
professores, organizações e
sociedade
Educa
ção
O professor deve
aprender mais e
ensinar menos.
Are
nas
da F
IFA
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esp
aço
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ou in
clusã
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OBRIGADO!http://www.carlosfigueiredo.org