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ii

Especialização em

Aprendizagem Motora

(Volume III)

Organizador Luis Augusto Teixeira

Ana Paula Kogake Claudio

Andréa Cristina de Lima

Carla Ferro Pereira

Rosana Machado de Souza

Sylvia Lúcia de Freitas

Victor Hugo Alves Okazaki

Laboratório Sistemas Motores Humanos

Departamento de Biodinâmica MCH

Escola de Educação Física e Esporte

Universidade de São Paulo

iii

Edição: Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo

Capa: Luís Augusto Teixeira

Editoração eletrônica: Carla Ferro Pereira

Reprodução

O livro como um todo ou suas partes poderão ser reproduzidos de forma impressa ou eletrônica,

desde que não se faça uso comercial de seu conteúdo.

Especialização em aprendizagem motora (vol. 3) / org. Luis Augusto Teixeira et al. – São Paulo: Departamento de Biodinâmica do Movimento do Corpo Humano da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, 2010.

v, 218p.

Coletânea de trabalhos do Curso de Especialização em Aprendizagem Motora, organizado por Luís Augusto Teixeira, Ana Paula Kogake Claudio, Andréa Cristina de Lima, Carla Ferro Pereira, Rosana Machado de Souza, Sylvia Lúcia de Freitas e Victor Hugo Alves Okazaki.

1. Aprendizagem motora 2. Controle motor I. Teixeira, L.A., org. III. Título.

vi

SUMÁRIO

Capítulo 1 Variação espacial do arremesso: Efeito da interferência contextual em crianças no Basquetebol Anderli de Oliveira Sabino

1

Capítulo 2 Efeito da observação na aprendizagem de uma tarefa seriada do Handebol em crianças Denise Carelli Vegas

13

Capítulo 3 Inventário de Preferência Lateral Global (IPLAG) Everton de Andrade Marim

26

Capítulo 4 Efeito da prática mental em bloco e intercalada no aprendizado da habilidade estrela Guilhermina Maria Pires

60

Capítulo 5 Efeito da prática sobre o deslocamento aquático em bebês de 6 a 18 meses nascidos a termo Jorge Augusto Barbosa de Sales Dias

70

Capítulo 6 Efeito da interferência contextual associada à prática mental na aprendizagem de uma habilidade motora em crianças Larissa Lopes Martins

81

Capítulo 7 Relação entre erro estimado e frequência de conhecimento de desempenho na aprendizagem de uma habilidade motora em crianças Leandro de Carvalho da Silva

90

Capítulo 8 Efeito da frequência da instrução verbal na aprendizagem do arremesso do basquetebol Michel Fabiano Piemonte

101

Capítulo 9 Variabilidade da prática na aprendizagem de elementos básicos de solo da Ginástica Artística Priscila de Paula de Oliveira

110

Capítulo 10 Assimetrias interlaterais na coordenação de movimentos unimanuais e bimanuais circulares cíclicos em crianças pré-escolares Priscila Regina Barbon Silva

124

Capítulo 11 Análise da coordenação bimanual no drible em jogadores de Handebol Rafael Zimak Figueiredo

136

Capítulo 12 Efeito da frequência auto-controlada de conhecimento de resultado na aprendizagem de uma tarefa motora podal em crianças Raquel Bezerra Ribeiro

145

Capítulo 13 Relação velocidade-precisão em sequências de toques de dedos sobre intervalos e escalas musicais em violão Regina Lafasse

154

Capítulo 14 Relação entre preferência manual e assimetrias intermanuais de desempenho em atletas de alto nível de Kung Fu Rodrigo Silva Maeda

181

Capítulo 15 Influência do feedback aumentado no controle postural durante a execução da pirueta do Ballet Clássico Rogéria Vieira

197

Capítulo 16 Efeito do foco de atenção sobre o desempenho na tarefa de driblar uma bola em uma perspectiva desenvolvimentista Simone Adriana Oelke

210

154

Capítulo 13

Relação velocidade-precisão em sequências de toques de dedos sobre

intervalos e escalas musicais em violão

Autora: Regina Lafasse1

Orientador: Victor Hugo Alves Okazaki

Resumo

O paradigma da relação velocidade-precisão tem sido estudado em diferentes tarefas, resultando na grande consistência da Lei de Fitts. Entretanto, a maioria dos estudos utilizados para analisar esse paradigma não utilizou tarefas motoras complexas. O objetivo deste estudo foi analisar a aplicabilidade da Lei de Fitts em tarefas complexas, em movimentos de sequências de toques de dedos sobre intervalos e escalas musicais em violão. Foram realizados três experimentos: os dois primeiros experimentos foram padronizados, com duas fases de semelhante desempenho, com as diferenças residindo, apenas, na direção do movimento (experimento I – movimento horizontal; experimento II – movimento vertical), com a utilização de tapping, na primeira fase, e tarefa bimanual, com dois dedos, na segunda fase de cada experimento; o experimento III, por sua vez, analisou o efeito de diferentes restrições espaciais combinadas através de escalas musicais desempenhadas em diferentes regiões do violão por meio de movimentos com múltiplos dedos. Os resultados mostraram que a lei de Fitts foi consistente em movimentos de tapping em tarefa de sequência de toques de dedos sobre escalas em violão, conforme revelado nas fases 1 dos experimentos I e II. Entretanto, quando a tarefa foi realizada com dois dedos (fase 2 dos experimentos I e II) e com múltiplos-dedos (experimento III), houve violação da lei de Fitts. Esta violação foi explicada pelo alcance facilitado aos alvos, proporcionando uma distância efetiva inferior à utilizada para calcular o ID, e pelo treinamento específico dos músicos. Termos-chave: Lei de Fitts, Velocidade-precisão; Escalas musicais; Violão.

Introdução

Um dos principais objetivos em qualquer domínio da pesquisa é o estabelecimento de

relações entre as variáveis dependentes e independentes. No comportamento motor, a investigação

sobre o efeito da distância, do tamanho do alvo e do tempo no movimento tem produzido a

formulação de um modelo capaz de explicar a relação entre estas variáveis (Elliott et al., 2001).

Fitts (1954) propôs um modelo matemático baseando-se no teorema 17 de Shannon (1948),

também conhecido como teorema de Shannon-Hartley, ou fórmula de capacidade de Shannon

(McGuffin, 2002), para analisar a quantidade de informação, de ruído, de capacidade de canal e o

grau de transmissão de informação.

O teorema 17 foi expresso pela fórmula:

1 Agradecimentos: ao Dr. Victor Hugo Alves Okazaki, pela dedicação e incentivo, e pela orientação deste trabalho, ao Maestro Antonio Manzione, pelo apoio e aconselhamento, e ao meu marido Carlos Franco de Moraes, pela paciência, compreensão e companheirismo.

155

A noção de sinal, de ruído e de capacidade do canal, foi estendida por Fitts para ser

utilizada no sistema motor humano. Deste modo, o sistema motor foi visto como um transmissor

de informação, no qual a transmissão de um símbolo correspondeu à realização de uma resposta

motora. Assim, se um movimento for repetido muitas vezes, o tempo necessário para completar

sua realização (TM), a distância do movimento (D) e a variabilidade (ou precisão necessária) no

local terminal do movimento, ou alvo (A), seriam análogas a 1 = B, S, e N, respectivamente, o que

detém um nível matemático.

Fitts (1954, 266) chamou a equação “log2 (2D/A)” de índice de dificuldade (ID).

Posteriormente, foi demonstrado que o aumento no ID era linearmente associado com o acréscimo

no tempo de movimento (Fitts, 1954; Fitts e Petersen, 1964). Assim, maiores distâncias entre os

alvos, ou diminuições no tamanho dos alvos, proporcionam um movimento com menor

velocidade. Ou seja, quando as restrições espaciais foram aumentadas, exigindo maior acurácia no

controle do movimento, menor geração de velocidade ocorre para a manutenção da precisão.

Estes resultados foram consistentes em três tarefas experimentais: toques em placas paralelas,

transferência de discos e transferência de pinos (Fitts, 1954). Essa relação inversa entre

velocidade e precisão ficou conhecida, posteriormente, como Lei de Fitts, sistematizada através da

equação:

TM = a + b log2(2D/A) (1.2)

na qual, “a” e “b” são constantes empíricas determinadas em análises de regressão linear, D é

igual à distância entre os centros dos alvos e A é o tamanho dos alvos.

Experimentos posteriores, referentes à Lei de Fitts, demonstraram que o modelo

matemático acima exposto aplica-se a diferentes tipos de tarefas, tais como: toques sucessivos

(Fitts e Petersen, 1964; Mackenzie e colaboradores, 1987; Marteniuk e colaboradores, 1987),

transferência de objetos (Raouf e Tsui, 1978), arremessos de dardo (Kerr e Langolf, 1977),

utilizando mouse de computador (Accot e Zhai, 2003; Okazaki e colaboradores, 2008; Pereira e

Okazaki, 2008), extensão de cotovelo (Kerr e Langolf, 1977; Khan e colaboradores, 1999), flexão

de cotovelo (Corcos e colaboradores, 1988), rotação de punho (Meyer e colaboradores, 1988;

Write e Meyer, 1983), movimento dos pés (Hoffman, 1991) e movimento da cabeça (Andres e

Hartung, 1989; Jagacinski e Mok, 1985). Entretanto, o conhecimento atual sobre movimentos

rápidos e precisos está, praticamente, restrito às tarefas de contato suave entre alvos espaciais

planares imóveis dos estudos conduzidos dentro do paradigma de Fitts (Elliott et al., 2001). Assim

a maioria dos estudos utilizados para analisar o paradigma da relação inversa velocidade-precisão

não utilizou tarefas motoras complexas, deixando ainda diversas lacunas não contempladas no

paradigma da relação velocidade-precisão (Okazaki, 2009).

156

Em se tratando de tarefas motoras complexas, tocar instrumentos musicais destaca-se pela

necessidade de grande demanda na precisão (espacial e temporal) e na velocidade de movimento,

concomitantemente (Peretz e Zatorre, 2005). Ademais, os movimentos usados para produzir

sequências de ações, precisamente definidos no tempo (como escalas musicais), podem ser

influenciados por vários tipos de restrições específicas a um determinado instrumento musical

(Loehr e Palmer, 2009). O violão, instrumento musical bastante popular no Brasil, por exemplo,

possui 6 cordas e 19 casas, que combinadas através de pressão dos dedos sobre as cordas, mais as

cordas soltas, pode emitir um total de 120 sons. Devido às características vibracionais das cordas,

as frequências de onda de cada som das escalas da música ocidental são encontradas em

subdivisões do comprimento das cordas, resultando em casas de larguras progressivamente

menores, para adequação à afinação temperada (Juliani, 2003; Silva Neto, 2002; Peralta, 2003).

A quantidade de sons emitidos pelo violão, contados do som mais grave até o mais agudo,

entretanto, é de apenas 26, sendo o restante constituído de repetições dos mesmos sons, em cordas

diversas. Essa característica de construção, comum aos instrumentos de corda que possuem bojo e

braço, produz um número quase infinito de combinações de sons, fato que incide em várias

formas de desempenho das sequências de sons, e em enorme variação da distância entre as notas,

no braço do instrumento. Dessa forma, em sequências de toques de dedos sobre escalas de violão

surgem alterações da largura do alvo (casa) e da distância entre os alvos a serem atingidos pelos

dedos do violonista. Por outro lado, a fim de emitirem seu som fundamental, as cordas possuem

diferentes espessuras e comprimentos, de forma que na altura da pestana natural do instrumento,

estão mais próximas do que na altura de sua inserção no cavalete. Estas restrições espaciais se

assemelham às encontradas no paradigma de Fitts e podem auxiliar na análise de movimentos

sequenciais rápidos e precisos em violonistas, pois, no paradigma de Fitts as tarefas são realizadas

por um único efetor final, através do movimento de um segmento do corpo (Fitts, 1954; Fitts &

Petersen, 1964). Ao passo que, no violão, tem-se uma sequência de alvos para serem alcançados e

um membro com múltiplos apêndices (mão), com um aumento exponencial do número de formas

pelas quais os dedos podem satisfazer aos objetivos da tarefa. Tais características peculiares

permitem o entendimento de porque, muitas vezes, um violonista experiente pode ser tanto

preciso quanto rápido, ou seja, ele pode até mesmo violar a lei de Fitts. Entretanto, estudos que

analisassem violonistas em tarefas musicais, como realizar diferentes sequências melódicas, não

tem sido foco de estudo no paradigma da relação inversa velocidade-precisão.

Do acima exposto, a escolha de diferentes formas de dedilhado das escalas representa uma

forma potencial de manipular o ID da tarefa de realizar sequências em violão. Por conseguinte, ao

modificar a região do braço do violão na qual a escala é realizada, ou ao escolher um dedilhado

que exija maior abertura dos dedos, pode-se, na realidade, manipular a distância entre casas

(distância entre os alvos) e a largura das casas (tamanho dos alvos), porém, dentro de uma tarefa

157

bastante complexa (sequência de escalas musicais no violão). Da mesma forma, ao escolher em

quais cordas o violonista realizará a sequência, estará, ao mesmo tempo, alterando a largura do

alvo (espessura da corda) e a distância entre os alvos (distância entre as cordas). Ademais, a

generalização destes resultados é grande, uma vez que a diferença entre o violão e os demais

instrumentos de corda dedilhada, com bojo e braço (guitarra, cavaquinho, banjo, bandolim, etc.),

estaria no comprimento de corda de cada instrumento. Assim, a diferença entre estes instrumentos

pode ser analisada por comparação matemática ou através do entendimento na manipulação

realizada experimentalmente, pois compartilham de restrições espaciais com características muito

parecidas (bojo e braço).

O objetivo geral deste trabalho foi analisar a funcionalidade da Lei de Fitts em

circunstâncias pouco usuais, tal como no desempenho de escalas musicais realizadas em violão.

Para tanto, foram realizados três experimentos que atenderam aos seguintes objetivos específicos:

(Experimento I) analisar as diferentes restrições espaciais fornecidas pelo tamanho e pela

distância das casas no violão (restrições espaciais horizontais ao longo do braço do violão);

(Experimento II) analisar as diferentes restrições espaciais fornecidas pela espessura e pela

distância entre as cordas no violão (restrições espaciais verticais ao longo do braço do violão), e

(Experimento III) analisar a realização de diferentes escalas musicais. Foi assumida a hipótese de

que a Lei de Fitts obteria suporte em todas as circunstâncias apresentadas nos experimentos, ou

seja, em função das restrições espaciais manipuladas no braço do violão (horizontais e verticais).

Métodos

O presente estudo foi composto de dois experimentos (I e II) que analisaram a adaptação

da tarefa de Fitts para o violão, e um experimento (III) que investigou a utilização de diferentes

escalas musicais no violão.

Amostra

Participaram do estudo 8 violonistas destros, sendo 6 do sexo masculino e 2 do feminino,

que não reportaram nenhum tipo de comprometimento físico que pudesse interferir nas tarefas

realizadas, todos de nível avançado, com idades entre 25 e 36 anos (~31 anos). Do experimento

III, participaram somente 7 violonistas do total da amostra, sendo 5 do sexo masculino e 2 do

feminino. Para a determinação do nível de habilidade dos sujeitos foram considerados avançados,

sujeitos com formação compatível com 7º ano de conservatório ou a partir de 1º ano de faculdades

de bacharelado em violão erudito, e que fossem aptos a tocar, de forma memorizada, no mínimo,

um dos “Cinco Prelúdios” de Heitor Villa-Lobos (1940). Todos os sujeitos preencheram e

assinaram os formulários de consentimento e participação do estudo.

158

Instrumentos

Um único violão foi utilizado para todos os sujeitos para padronizar as restrições espaciais

nos três experimentos. Esse violão possuiu tamanho padrão, marca Giannini, modelo Abreu,

AWNC7, 1984, sem cut-away (isto é, sem recorte do bojo do violão, para facilitar o alcance das

casas menores). O encordoamento utilizado foi o Giannini Clássico Nylon (GENWPM), de tensão

média, revestimento dos bordões em bronze 65/35, e comprimento de escala de 650 mm. Para não

modificar a tensão de corda, a afinação foi mantida em 440Hz, medidos por diapasão eletrônico

Micon Guitar Tuner PIGGY® HU-9000. O quadro 1 apresenta os diâmetros de cada corda. Para

maior conforto, uma só cadeira sem braços, um banco ajustável para apoio do pé e uma estante

para apoio das partituras, foram utilizados, de acordo com a preferência de acomodação (alturas

ajustáveis) do sujeito. Para a medição das larguras das casas do violão, da largura dos trastes e das

distâncias entre as cordas, foi utilizado um paquímetro Messen de aço, de 200mm/8” 0,05mm. Na

medição da largura das casas e dos trastes foram realizadas três medições pela borda superior do

braço do instrumento e três pela borda inferior, e na medição das distâncias entre as cordas, três

medições na altura do traste de separação com a casa seguinte à casa medida. Foi utilizada, como

medida final de largura de casas, trastes e da distância entre as cordas a média entre as diversas

medições. O quadro 2 apresenta as medidas realizadas para as aferições da largura das casas do

braço do violão, o quadro 3, as medidas da distância entre as cordas, nas casas 1 e 5, e a Figura 1

ilustra as médias representativas das medidas finais utilizadas para as respectivas casas do violão.

Quadro 1 – Diâmetro das cordas GENWPM (GIANNINI S/A, 2006).

Diâmetros em �.E �.B �.G �.D �.A �.E

Polegadas 0,028 0,032 0,040 0,028 0,033 0,041

Milímetros 0,71 0,81 1,02 0,71 0,84 1,04

Para quantificar o tempo de movimento foram realizadas filmagens das sequências das

escalas musicais analisadas nas diferentes condições dos experimentos. As filmagens foram

realizadas por meio de uma câmera filmadora digital Multilaser CR518, frequência de

amostragem de 30 frames por segundo (fps), com shutter-speed de (1/10.000) e foco automático,

direcionada à captura das imagens da mão esquerda do violonista. A captura das imagens foi

realizada através do software Skillcapture (1.3.0). Para a análise das imagens filmadas foi

utilizado o software VirtualDub (1.9.5) para contagem do número de quadros registrados dos

movimentos (frames).

159

Quadro 2 – Medições de largura das casas do braço do violão, em centímetros.

Pela borda superior do braço (acima da corda �) Pela borda inferior do braço (acima da corda �)

Medições Medições Casas 1 2 3 1 2 3

Média

1 3,53 3,53 3,53 3,50 3,50 3,50 3,52

2 3,25 3,25 3,25 3,24 3,24 3,24 3,25

3 3,05 3,05 3,05 3,05 3,05 3,05 3,05

4 2,88 2,88 2,88 2,87 2,87 2,87 2,88

5 2,69 2,69 2,69 2,70 2,70 2,70 2,70

6 2,51 2,51 2,51 2,50 2,50 2,50 2,51

7 2,40 2,40 2,40 2,40 2,40 2,40 2,40

8 2,24 2,24 2,24 2,24 2,24 2,24 2,24

9 2,14 2,14 2,14 2,14 2,14 2,14 2,14

10 1,95 1,95 1,95 1,95 1,95 1,95 1,95

11 1,87 1,86 1,87 1,88 1,88 1,88 1,87

12 1,76 1,76 1,76 1,77 1,77 1,77 1,77

13 1,59 1,59 1,59 1,60 1,60 1,60 1,60

14 1,57 1,57 1,57 1,57 1,57 1,57 1,57

15 1,40 1,40 1,40 1,40 1,40 1,40 1,40

16 1,35 1,35 1,35 1,36 1,36 1,36 1,36

17 1,26 1,26 1,26 1,26 1,26 1,26 1,26

18 1,20 1,20 1,20 1,23 1,23 1,23 1,22

19 1,10 1,10 1,10 1,10 1,10 1,10 1,10

Trastes 0,18 0,18 0,18 0,18 0,18 0,18 0,18

Quadro 3 – Medições das distâncias entre as cordas do violão, em centímetros.

Medições Casa 1 Medições Casa 2 Medições Casa 3 Entre cordas

1 2 3 Média 1 2 3 Média 1 2 3 Média

�-� 0,76 0,75 0,76 0,76 0,78 0,78 0,78 0,78 0,78 0,79 0,80 0,79

�-� 0,76 0,76 0,76 0,76 0,76 0,77 0,77 0,77 0,78 0,78 0,77 0,78

�-� 0,76 0,75 0,73 0,75 0,76 0,76 0,75 0,76 0,78 0,78 0,78 0,78

�-� 0,76 0,75 0,76 0,76 0,76 0,77 0,77 0,77 0,78 0,78 0,79 0,78

�-� 0,75 0,76 0,76 0,76 0,78 0,78 0,77 0,78 0,78 0,77 0,78 0,78

Medições Casa 4 Medições Casa 5 Medições Casa 6 Entre cordas 1 2 3 Média 1 2 3 Média 1 2 3 Média

�-� 0,78 0,79 0,80 0,79 0,81 0,81 0,80 0,81 0,81 0,81 0,80 0,81

�-� 0,79 0,79 0,78 0,79 0,79 0,79 0,78 0,79 0,79 0,81 0,79 0,80

�-� 0,78 0,78 0,78 0,78 0,79 0,78 0,79 0,79 0,82 0,81 0,82 0,82

�-� 0,78 0,79 0,79 0,79 0,79 0,80 0,80 0,80 0,85 0,84 0,84 0,84

�-� 0,80 0,80 0,79 0,80 0,80 0,80 0,79 0,80 0,83 0,83 0,83 0,83

Medições Casa 7 Medições Casa 8 Medições Casa 9 Entre cordas 1 2 3 Média 1 2 3 Média 1 2 3 Média

�-� 0,81 0,82 0,82 0,82 0,83 0,83 0,82 0,83 0,84 0,83 0,84 0,84

�-� 0,84 0,84 0,84 0,84 0,84 0,84 0,84 0,84 0,86 0,86 0,86 0,86

�-� 0,83 0,83 0,82 0,83 0,83 0,84 0,84 0,84 0,83 0,84 0,84 0,84

�-� 0,85 0,86 0,86 0,86 0,85 0,86 0,86 0,86 0,85 0,86 0,86 0,86

�-� 0,84 0,83 0,84 0,84 0,84 0,83 0,84 0,84 0,84 0,85 0,86 0,85

Medições Casa 10 Medições Casa 11 Medições Casa 12 Entre cordas 1 2 3 Média 1 2 3 Média 1 2 3 Média

160

�-� 0,87 0,87 0,87 0,87 0,88 0,88 0,88 0,88 0,90 0,90 0,91 0,90

�-� 0,87 0,86 0,87 0,87 0,89 0,89 0,9 0,89 0,9 0,89 0,90 0,90

�-� 0,84 0,87 0,86 0,86 0,87 0,87 0,86 0,87 0,91 0,90 0,89 0,90

�-� 0,87 0,87 0,86 0,87 0,87 0,87 0,89 0,88 0,90 0,91 0,90 0,90

�-� 0,89 0,87 0,88 0,88 0,89 0,89 0,88 0,89 0,90 0,89 0,90 0,90

Medições Casa 13 Entre cordas 1 2 3 Médi

a

�-� 0,92 0,92 0,91 0,92

�-� 0,91 0,91 0,90 0,91

�-� 0,91 0,92 0,93 0,92

�-� 0,92 0,92 0,92 0,92

�-� 0,91 0,92 0,92 0,92

Figura 1 - Medidas de casas e distâncias entre cordas do braço do violão.

Tarefas

No experimento I, os sujeitos foram solicitados a realizar a tarefa de alternar movimentos

de tapping (bater com o dedo sobre a corda, produzindo som sem o uso da mão direita), na

primeira fase, com o dedo indicador da mão esquerda, nas 10 sequências de casas especificadas

no quadro 4, realizando 10 toques consecutivos, sobre cada distância entre casas. Cada tentativa

correspondeu à realização da série de 10 toques. Cada sujeito realizou 3 tentativas de cada série.

Na segunda fase, foram utilizados, na mão esquerda, os dedos 1-2 sobre as casas contíguas (1-2,

5-6, 9-10), e 1-4 sobre as demais. Nessa fase, as notas foram tocadas com os dedos indicador (i) e

médio (m), alternadamente. Nas duas fases, foram considerados erros: (a) o fato de não atingir os

alvos (adiantar ou exceder às casas demarcadas); e/ou (b) o fato de não emitir som. Foram

161

eliminadas as tentativas nas quais houve mais de dois erros, sendo permitida, então, nova

tentativa. O esquema do experimento é apresentado na figura 2.

Quadro 4 – Especificações do Experimento I.

Sequências Casas Intervalos

A 1-2 fa-fa# (2ª menor)

B 1-4 fa-lab (3ª menor)

C 1-6 fa-sib (4ª justa)

D 1-10 fa-re (6ª Maior)

E 5-6 la-sib (2ª menor)

F 5-8 la-do (3ª menor)

G 5-10 la-re (4ª justa)

H 9-10 do#-re (2ª menor)

I 9-12 dol#-mi (3ª menor)

J 9-14 do#-fa# (4ª justa)

Figura 2 - Tapping alternado sobre as casas utilizadas (1-2, 1-4, 1-6, 1-10, 5-6, 5-8, 5-10, 9-10, 9-12 e 9-14).

A forma de manipulação dos IDs, no experimento I, são apresentados na tabela 1 Foram

considerados nas medições das distâncias, os pontos centrais dos alvos estipulados, e como

largura dos alvos, a média entre as larguras dos alvos iniciais e finais.

Tabela 1 – Índices de Dificuldade do Experimento I.

Sequências Casas D A ID

A 1-2 3,57 3,39 1,07

B 1-4 10,04 3,20 2,65

C 1-6 15,80 3,02 3,39

D 1-10 25,53 2,74 4,22

E 5-6 2,79 2,61 1,1

F 5-8 7,92 2,47 2,68

G 5-10 12,52 2,33 3,43

H 9-10 2,23 2,05 1,12

I 9-12 6,32 1,96 2,69

J 9-14 9,95 1,86 3,42

162

No experimento II, os sujeitos foram solicitados, inicialmente, a realizar a tarefa de alternar

movimentos de toque, com o dedo indicador da mão esquerda, sobre as casas 1 e 5, nas sequências de

cordas especificadas no quadro 5 e apresentadas na figura 2, por 10 vezes consecutivas. Cada tentativa

correspondeu à realização da série de 10 toques. Cada sujeito realizou 3 tentativas de cada série. Foram

considerados erros: (a) o fato de não atingir os alvos (adiantar ou exceder a corda correta, sobre a casa

determinada), e (b) o fato de não emitir som. Foram eliminadas as tentativas nas quais houve mais de

dois erros, sendo permitida, então, nova tentativa. Numa segunda fase, o mesmo experimento foi

repetido, com alternância dos dedos 1 e 2, 1 e 3, 1 e 4, estando o dedo 1, sempre na corda superior e os

dedos 2, 3 e 4, nas cordas indicadas no esquema da figura 3. Nessa fase, o toque de direita foi feito com

polegar (P), sempre na corda superior; e indicador (i) ou médio (m), alternados, nas cordas indicadas no

quadro 5 e na figura 3.

Quadro 5 – Especificações Experimento II.

Casas Cordas Sequências

� - � 1

� - � 2

� - � 3

� - � 4

� - � 5

� - � 6

� - � 7

� - � 8

� - � 9

� - � 10

� - � 11

1 e 5

� - � 12

A forma de manipulação dos IDs, no experimento II, são apresentados na tabela 2. Foram

considerados nas medições das distâncias, os pontos centrais dos alvos estipulados (ponto central

diâmetro da corda) somado à distância entre as cordas envolvidas na sequência, e se presentes, aos

diâmetros das cordas existentes entre as cordas alvos; como largura dos alvos, foi considerada a

média entre os diâmetros das cordas envolvidas.

163

Figura 3 – Esquema da Tarefa do Experimento 2.

No experimento III, os sujeitos realizaram escalas musicais mais complexas, tais como

cromática, maior e pentatônica. A escala cromática segue uma sequência em que as notas evoluem

de ½ em ½ tono, ou seja, nesta condição, serão utilizadas casas vizinhas no braço do violão. A

escala maior baseia-se no modo grego Jônico, evoluindo numa sequência definida como: tono,

tono, ½ tono, tono, tono, tono, ½ tono, na qual, tono, refere-se a uma mudança do posicionamento

do dedo, de uma casa à outra, localizada duas à direita, no braço do violão. Ou seja, a primeira e a

terceira casas do violão, considerando-se a mesma corda, estão a um tono de distância, enquanto a

primeira e a segunda casas do violão estão à ½ tono de distância, considerando-se a mesma corda.

A escala pentatônica utiliza apenas cinco notas musicais formando 3 tonos e duas terças menores.

A ilustração das três escalas musicais utilizadas no experimento III está apresentada na figura 4,

com as especificações apresentadas no quadro 6.

164

Tabela 2 – Índices de Dificuldade do Experimento II.

Sequências Cordas D1 A1 ID1 D5 A5 ID5

A � - � 0,76 0,09 4,02 0,80 0,09 4,09

B � - � 1,60 0,09 5,20 1,684 0,09 5,27

C � - � 2,43 0,10 5,56 2,545 0,10 5,63

D � - � 3,29 0,09 6,15 3,437 0,09 6,22

E � - � 4,13 0,09 6,56 4,328 0,09 6,63

F � - � 0,76 0,08 4,29 0,80 0,08 4,37

G � - � 1,58 0,09 5,09 1,661 0,09 5,16

H � - � 2,44 0,08 5,89 2,553 0,08 5,95

I � - � 3,28 0,08 6,41 3,284 0,08 6,41

J � - � 0,75 0,09 4,12 0,79 0,09 4,19

K � - � 1,61 0,08 5,41 1,612 0,08 5,41

L � - � 2,45 0,07 6,11 2,453 0,07 6,11

Figura 4 – Esquemas de Padrões das escalas utilizadas. 1 - indicador; 2 - médio; 3 - anular; 4 -

mínimo; � - 1ª corda; � - 2ª corda; � - 3ª corda; � - 4ª corda; � - 5ª corda; � - 6ª corda.

A tarefa foi desempenhar cada uma das escalas, iniciando pelo dedo da mão esquerda

indicado na numeração dos esquemas da figura 4, que esteja posicionado na corda mais grave, isto

é, a corda de maior número. Deve terminar na corda �, na nota mais aguda da escala, com o dedo

da mão esquerda indicado pela numeração. A numeração dos dedos foi 1, 2, 3 e 4,

correspondendo aos dedos indicador, médio, anular e mínimo da mão esquerda, respectivamente,

enquanto a numeração das cordas foi �, �, �, �, � e �.

165

Quadro 6 – Especificações do Experimento III

Região 1 Região 5 Região 9 Região 1 Região 5 Região 9 Escalas

Casas Casas Casas Escalas

Casas Casas Casas

1 - 2 5 - 6 09 - 10 1 - 2 5 - 6 09 - 10

2 - 3 6 - 7 10 - 11 1 - 3 5 - 7 09 - 11

3 - 4 7 - 8 11 - 12 2 - 4 6 - 8 10 - 12

Cromáticas a e b

4 - 5 8 - 9 12 - 13

Maior a

3 - 4 7 - 8 11 - 12

Oblíqua na

horizontal 2 - 1 6 - 5 10 - 09

1 - 4 5 - 8 09 - 12 1 - 2 5 - 6 09 - 10 Pentatônica a

1 - 3 5 - 7 09 - 11 1 - 3 5 - 7 09 - 11

1 - 4 5 - 8 09 - 12 2 - 4 6 - 8 10 - 12

2 - 4 6 - 8 10 - 12 3 - 4 7 - 8 11 - 12 Pentatônica b

2 - 5 6 - 9 10 - 13

Maior b

4 - 5 8 - 9 12 - 13

Oblíqua na

horizontal 1 - 2 6 - 5 10 - 09

No desempenho da escala cromática padrão “a”, o sujeito foi instruído a realizar um

pequeno deslocamento da mão esquerda para o lado esquerdo (MVE, movimento transversal

esquerdo), da casa 2 para a 1, para que o dedo 1 possa tocar as duas primeiras casas na corda �,

na qual foi realizado um movimento de arraste ou slide (passar de uma casa a outra sem perder o

contato do dedo com a corda). Na cromática padrão “b”, o sujeito foi instruído para deslocar a

mão, quando da passagem da corda � para a � (MVE). No desempenho das escalas Maior e

Pentatônica, ambas em padrão “a”, que abrangem apenas 4 casas, cada um dos quatro dedos

ocupou uma das casas, em sequência. Já no padrão “b” dessas mesmas escalas, o sujeito foi

instruído a deslocar a mão esquerda, para o lado direito (MVD, movimento transversal direito),

nas passagens da corda � para a �. As escalas foram desempenhadas na região 1 do braço do

violão que abrange as casas 1 a 5; na região 5, que abrange as casas 5 a 9; e, na região 9, que

abrange as casas 9 a 13.

Os esquemas de padrões das três escalas (Figura 4) foram apresentados aos participantes,

como forma de familiarização, 15 minutos antes do início do experimento. Foram realizadas três

tentativas de desempenho de cada escala; entre uma e outra realização da tarefa, o participante

pôde descansar por 2 minutos. Em todas as escalas, a mão direita tangeu a corda que estava sendo

pressionada, com os dedos indicador e médio, alternados.

A forma de manipulação dos IDs, no experimento III, foram apresentados no quadro 7.

Foram considerados nas medições das distâncias, os pontos centrais dos alvos estipulados, e como

largura dos alvos, a média entre as larguras dos alvos iniciais e finais de cada intervalo da escala.

Na medida das distâncias transversais, foi utilizado o teorema de Pitágoras, com o cateto b

166

determinado da mesma forma que as distâncias entre cordas do experimento II, e o cateto c,

através dos pontos centrais das casas envolvidas, acrescidos da largura do traste existente entre

essas casas (figura 5); como largura dos alvos, foi considerada a média entre as larguras dos alvos

iniciais e finais de cada intervalo da escala.

Figura 5 – Cálculo das distâncias de movimentos transversais.

A seguir, foram somados, para cada escala, os IDs das sequências de dedos de cada corda

e, posteriormente, somados os IDs do total de cordas utilizadas na escala.

Quadro 7 – Índices de Dificuldade do Experimento III na Região 1 do Braço do Violão.

Região 1

Cordas Seqs/escala ∑∑∑∑ ID / corda Cordas Seqs/escala ∑∑∑∑ ID / corda Seq IDs em

cm � 1-2; 2-3; 3-4 3,24 � 1-2; 2-3; 3-4 3,24

1 2 1,07 � 1-2; 2-3; 3-4; 4-

5

4,33 � 2-3; 3-4; 4-5 3,26

2 3 1,08 � 2-3; 3-4 2,17 � 2-3; 3-4; 4-5 3,26

3 4 1,09 ID Cromática a 9,74 ID Cromática b 9,75

4 5 1,09 � 1-2; 2 a 4 3,15 � 0 0

2 a 4 2,08 � 1-2; 2 a 4 3,15 � 2 a 4; 4-5 3,17

1 a 3 2,07 � 1 a 3 2,07 � 1 a 3; 3-4 3,15

1 a 4 2,65 � 1 a 3; 3-4 3,15 � 1-2; 2 a 4 3,15

2 a 5 2,67 � 0 0,00 � 2 a 4 2,08

ID Maior a 11,53 ID Maior b 11,56

� 1 a 4 2,65 � 2 a 4 2,08

� 1 a 4 2,65 � 2 a 5 2,67

� 1 a 3 2,07 � 1 a 4 2,65

� 1 a 3 2,07 � 2 a 4 2,08

� 1 a 3 2,07 � 2 a 4 2,08

� 1 a 4 2,65 � 2 a 4 2,08

ID Pentatônica a 14,16 ID Pentatônica b 13,63

Nas Regiões 5 e 9 do braço do violão, os cálculos foram realizados de forma similar, com

os seguintes resultados:

167

Quadro 8 – Índices de Dificuldade do Experimento III nas Regiões 5 e 9 no Braço do Violão.

Região 5 Região 9

ID Cromática a 9,94 ID Cromática a 10,19

ID Cromática b 9,95 ID Cromática b 10,21

ID Maior a 11,70 ID Maior a 11,86

ID Maior b 11,74 ID Maior b 11,92

ID Pentatonica a 14,31 ID Pentatonica a 14,39

ID Pentatonica b 13,82 ID Pentatonica b 13,99

Procedimentos

Os sujeitos foram avaliados pelo experimentador, através de escolha e apresentação, de

memória, de um dos Cinco Prelúdios de Villa-Lobos (1940), ou obra musical de nível

correspondente, com preferência pelos Prelúdios 2 e 5. Foram eliminados os sujeitos que

apresentaram velocidade de desempenho incompatível com a obra musical e/ou os que

apresentaram erros técnicos, sonoridade baixa e/ou erros em mais de 2% do total de notas

musicais da obra escolhida. Para a determinação da velocidade compatível de cada obra, foram

utilizadas as medidas de tempo, quando indicadas na obra, ou a marcação de metrônomo, quando

não indicadas, medidas pelo metrônomo eletrônico do software Finale (versão 2008.r2). Os

sujeitos foram informados de que deveriam realizar os movimentos dos intervalos e escalas

musicais dos experimentos com a maior velocidade possível sem violar a ordem das notas nos

intervalos, bicordes e escalas, e a qualidade do som emitida pelo violão.

Variáveis de estudo

A análise do paradigma da relação inversa velocidade-precisão em sequência de toques de

dedos em escala musical no violão foi realizada a partir da manipulação do ID (cf. Fitts, 1954) e

da quantificação do tempo de movimento (TM). A manipulação do ID foi realizada a partir de

diferentes configurações de escalas musicais para serem desempenhadas em violão. Estas escalas

possuíam diferentes tamanhos de alvos (casas e espessura das cordas) e de distâncias entre os

alvos (distância de movimento entre as casas ou cordas), as quais permitiram calcular diferentes

IDs, conforme a fórmula original proposta por Fitts (1954): TM = a + b log2 (2D/A). Entretanto,

como as dimensões das casas no violão diminuem progressivamente em direção ao corpo do

instrumento, e a espessura das cordas também apresentam dimensões diferentes, os tamanhos de

alvo não foram constantes entre as condições, sendo necessário o cálculo da média do tamanho do

alvo para determinar o ID. Nas escalas do experimento III, também foi estabelecida a média das

distâncias e dos tamanhos dos alvos para determinar um ID médio entre as diferentes condições.

168

Análise estatística

A análise descritiva foi realizada a partir da média e do desvio padrão dos dados de tempo

de movimento nas diferentes condições experimentais. A relação entre a velocidade e a precisão

do movimento foi realizada através de uma Análise de Regressão Linear Simples entre as

variáveis TM e ID. As análises estatísticas foram realizadas no software Statistica (7.0) com nível

de significância estabelecido em p = 0,05.

Resultados

A análise de regressão linear apresentou uma associação TM x ID com r = 0,916 e R2 =

0,84 (F1,8 = 42,0; p = 0,0002) na fase 1 (figura 6, painel A). Por conseguinte, na realização da

tarefa de alternar movimentos de tapping o TM pôde ser predito pelo ID, como a lei de Fitts

propôs. Por outro lado, na fase 2, a análise de regressão linear demonstrou r = 0,533 e R2 = 0,285

(F1,8 = 3,09; p = 0,112), ou seja, sem associação significante TM x ID (figura 6, painel B). A

tabela 3 apresenta os valores médios do TM, em função das restrições espaciais (casas e seus

respectivos IDs) utilizadas na fase 1 e 2 do experimento I.

Tabela 3 – ID x TM dos sujeitos no Experimento I.

Casas

ID em bits

Fase 1 em ms

Fase 2 em bits

1-2 1,07 2166,63 1316,75

1-4 2,65 2616,63 1324,13

1-6 3,39 2995,88 1687,63

5-6 1,1 2395,75 1608,38

5-8 2,68 2524,88 1345,88

1-10 4,22 3570,88 2841,38

5-10 3,43 2837,75 1412,50

9-10 1,12 2112,50 1383,38

9-12 2,69 2608,38 1349,75

9-14 3,42 3012,38 1391,63

A análise de regressão linear do experimento II apresentou uma associação TM x ID com r

= 0,927 e R2 = 0,859 (F1,8 = 61,25; p = 0,000014) na fase 1, casa 1 (painel A da figura 7), e r =

0,944 com R2 = 0,892 (F1,8 = 83,23; p = 0,000004) na fase 1, casa 5 (painel B da figura 7). Por

conseguinte, na realização da tarefa de alternar movimentos de tapping o TM pôde ser predito

pelo ID, como a lei de Fitts propôs. Por outro lado, na fase 2, a análise de regressão linear

demonstrou na casa 1 valores de r = 0,261 e de R² = 0,068 (F1,8 = 0,733; p = 0,412; painel C da

figura 7), e na casa 5 valores de r = 0,156 e de R2 = 0,0243 (F1,8 = 0,2494; p = 0,628; painel D da

figura 7), ou seja, sem associação significante TM x ID. A tabela 4 apresenta os valores médios do

169

TM, em função das restrições espaciais (casas e seus respectivos IDs) utilizadas na fase 1 e 2 do

experimento II.

Figura 6 - Regressão linear (TM x ID) do experimento I na fase 1 (Painel A) e na fase 2 (Painel

B).

Tabela 4 – Média do TM (ms) e ID (bits), nas casas 1 e 5, nas fases 1 e 2 do Experimento II.

Casa 1 Casa 5

Cordas ID Fase 1 Fase 2 ID Fase 1 Fase 2 � - � 6,11 2321,00 1595,75 6,11 1988,89 1363,00

� - � 5,41 2154,25 1558,25 5,41 1911,11 1392,67

� - � 4,12 2045,75 1541,75 4,19 1785,22 1359,22

� - � 6,41 2433,25 1574,88 6,41 2085,22 1263,11

� - � 5,89 2220,88 1570,75 5,95 1985,11 1381,33

� - � 5,09 2187,50 1567,00 5,16 1870,33 1377,67

� - � 4,29 2054,25 1600,00 4,37 1807,33 1377,78

� - � 6,56 2487,50 1633,25 6,63 2177,89 1407,33 � - � 6,15 2341,50 1591,63 6,22 2148,11 1389,00 � - � 5,56 2333,25 1583,38 5,63 2003,89 1411,11

� - � 5,20 2187,50 1591,63 5,27 1918,56 1377,78

� - � 4,02 2087,50 1608,13 4,09 1770,44 1381,44

170

Figura 7 - Análise de regressão linear (TM x ID) no Experimento II, em função das diferentes

fases e casas. Fase 1, casa 1; Painel B � fase 1, casa 5; Painel C � fase 2, casa 1; Painel D �fase 2,

casa 5.

A análise de regressão linear do experimento III apresentou, quando comparadas às seis

escalas agrupadas, na região 1, uma associação TM x ID com r = 0,421 e R2 = 0,177 (F1,8 = 0,863;

p = 0,405; painel A da figura 8); na região 5, r = 0,286 e R2 = 0,082 (F1,8 = 0,355; p = 0,583)

(painel B da figura 8); na região 9, r = 0,336 e R2 = 0,113 (F1,8 = 0,508; p = 0,515) (painel C da

figura 8). Por conseguinte, na realização das escalas, o TM não pôde ser predito pelo ID, com

violação na lei de Fitts, pois não houve associação significante. Na análise de regressão linear,

considerando as escalas individualmente, em função da região do experimento III (figura 9), foi

verificada na escala ‘cromática a’ r = 0,606 e R2 = 0,367 (F1,8 = 0,58; p = 0,586) (painel A da

figura 9); na escala ‘cromática b’, demonstrou r = 0,897 e R2 = 0,805 (F1,8 = 4,123; p = 0,291;

painel B da figura 9); na escala ‘maior a’ r = 0,744 e R2 = 0,553 (F1,8 = 1,236; p = 0,5466) (painel

C da figura 9); na escala ‘maior b’, r = 0,555 e R2 = 0,309 (F1,8 = 0,5446; p = 0,625) (painel D da

figura 9); na escala ‘pentatônica a’, r = 0,517 e R2 = 0,267 (F1,8 = 0,364; p = 0,654) (painel E da

figura 9); na escala ‘pentatônica b’, r = 0,032 e R2 = 0,001 (F1,8 = 0,001; p = 0,98) (painel F da

171

figura 9). Por conseguinte, houve violação da lei de Fitts nas escalas analisadas neste

experimento, pois não houve associação significante. A tabela 5 apresentou os valores médios do

TM, em função das médias das restrições espaciais (casas e seus respectivos IDs) da análise de

regressão linear das escalas agrupadas. A tabela 6 apresentou os valores médios do TM, para cada

escala, individualmente, em função da região no braço do violão.

Tabela 5 - Relação TM x ID das escalas agrupadas para cada região no braço do violão no Experimento III.

Região 1 Região 5 Região 9

ID em bits

TM em ms

ID em bits

TM em ms

ID em bits

TM em ms

9,74 1937,86 9,94 2023,86 10,19 1995,29

9,75 1776,43 9,95 1857,14 10,21 1871,57

11,53 1961,86 11,7 1971,43 11,86 1923,86

11,56 1947,57 11,74 1909,57 11,92 1995,29

14,16 1876,00 14,31 1847,71 14,39 1933,29

13,63 2033,29 13,82 1962,00 13,99 2033,29

Tabela 6 – Relação TM x ID dos sujeitos para cada escala, em função da região no braço do violão no Experimento III.

Cromática a Cromática b Maior a Maior b Pentatônica a Pentatônica b ID TM ID TM ID TM ID TM ID TM ID TM

em bits em ms em bits em ms em bits em ms em bits em ms em bits em ms em bits em ms

9,74 1937,86 9,75 1776,43 11,53 1961,86 11,56 1947,57 14,16 1876 13,63 2033,29 9,94 2023,86 9,95 1857,14 11,7 1971,43 11,74 1909,57 14,31 1847,71 13,82 1962

10,19 1995,29 10,21 1871,57 11,86 1923,86 11,92 1995,29 14,39 1933,29 13,99 2033,29

172

Legenda: Painel A � região 1; Painel B � região 5; Painel C � região 9.

Figura 8 - Análise de regressão linear das escalas agrupadas para cada região no braço do violão no Experimento III.

173

Figura 9 – Análise de regressão linear de cada escala, individualmente, no experimento III. Escala

cromática a; Painel B � escala maior a; Painel C � escala maior b; Painel D � escala pentatônica

a; Painel E � escala pentatônica b; Painel F � escala cromática b.

Discussão

Nos últimos anos vem aumentando o número de estudos relacionados aos movimentos de

mão, com utilização da Lei de Fitts, devido a diversos fatores, tais como: estudos de interação

homem computador (HCI, do inglês human-computer interaction) (Guiard e colaboradores, 2001;

McGuffin, 2002; Barcelos, 2005); robótica e bioengenharia (Micire e colaboradores, 2009; Gentry

e Feron, 2005; Reed e colaboradores, 2004; Amirabdollahian e colaboradores, 2005). Entretanto,

raros são os trabalhos sobre a Lei de Fitts, em tarefas motoras mais complexas, tais como as

174

utilizadas em música e, especificamente, em violão, não foi encontrado qualquer estudo referente

a esse paradigma. Neste ínterim, o presente estudo analisou o paradigma de Fitts em tarefa de

sequência de toques de dedos sobre intervalos e escalas musicais em violão. Para tanto, os dois

primeiros experimentos foram padronizados, com duas fases de semelhante desempenho, com as

diferenças residindo, apenas, na direção do movimento (experimento I – movimento horizontal;

experimento II – movimento vertical). Em ambos os experimentos, a fase 1 consistiu de toques

repetitivos e unimanuais de tapping realizado com um só dedo, enquanto a fase 2, de toques de i-

m (indicador e médio) de mão direita, e uso de dois dedos da mão esquerda constituindo-se,

portanto, em tarefa bimanual com múltiplos dedos. O experimento III, por sua vez, analisou o

efeito de diferentes restrições espaciais combinadas através de escalas musicais desempenhadas

em diferentes regiões do violão por meio de movimentos com múltiplos dedos.

Em função da grande consistência verificada no paradigma de Fitts (Plamondon e Alimi,

1997; Soukoreff & Mackenzie, 2004; Teixeira, 2000) era esperada uma relação direta entre o ID e

o TM nos experimentos analisados. Na fase 1, tanto do experimento I quanto do experimento II,

houve suporte para a associação TM x ID. Explicação para esta corroboração com as predições da

lei de Fitts foi realizada através da semelhança compartilhada entre as tarefas de ponteira (cf.

experimentos realizados no trabalho original de Fitts, 1954) e a tarefa com movimentos de

tapping na fase 1 dos dois primeiros experimentos. O primeiro experimento de Fitts (1954)

utilizou “duas tarefas de tapping recíproco” (Fitts, 1954, 263), na qual os sujeitos deveriam

atingir, alternadamente, com uma ponteira, duas placas de metal, com a tolerância e a amplitude

do movimento, controladas pela largura das placas (alvos), e da distância entre elas. No presente

estudo, na fase I dos experimentos I e II, realizados no violão, os toques de tapping foram

desempenhados com os dedos sobre as cordas, e a tolerância e amplitude do movimento,

controlados pelas diferenças de largura das casas (experimento I) e das cordas (experimento II), e

das distâncias naturais existentes entre diferentes casas e cordas do instrumento (respectivamente,

experimento I e II). Fitts (1954) utilizou 16 combinações de A e D, enquanto o presente estudo

utilizou 10 combinações no experimento I, e 12 combinações no experimento II. A diferença entre

os estudos encontra-se na necessidade de toque mais forte dos dedos sobre as cordas do violão,

para obtenção de som audível, enquanto nas tarefas utilizadas por Fitts os sujeitos deviam apenas

alcançar os alvos tocando-os levemente. A despeito da diferença na intensidade do toque, os

resultados de nosso estudo foram semelhantes aos de Fitts.

A relação inversa TM x ID foi inicialmente explicada pela capacidade limitada em

processar informações (Fitts, 1954; Fitts & Petersen, 1964). A hipótese de Fitts (1954) explica que

há um canal de capacidade constante associado tanto a um dado grupo de músculos e a uma dada

tarefa motora, e que esta capacidade é independente da distância entre os alvos e do tamanho dos

mesmos. Em termos físicos, isto significa, por exemplo, que um alvo ‘X’ e um alvo ‘Y’ (que seja

175

duas vezes mais distante e duas vezes mais largo que o alvo ‘X’) necessitam o mesmo tempo para

ser atingido. Pois, embora exista uma distância maior para se atravessar no alvo ‘Y’, também há

uma distância maior para acelerar o movimento e maior margem de erro. Todavia, Fitts em seus

estudos (1954; Fitts e Petersen, 1964) propôs que a restrição imposta sobre o movimento poderia

ser mensurada por meio de um índice de dificuldade (ID). O ID representaria o fluxo de

informações necessário para a realização do movimento em máxima velocidade dentro do canal

de capacidade constante e limitada do processamento de informações para a regulação do

movimento. Em movimentos desempenhados com velocidade máxima e com IDs mais baixos,

haveria a possibilidade de menor tempo de movimento (TM), em decorrência do menor fluxo de

informações que transitariam no canal de processamento. Ao passo que, IDs mais altos para

movimentos realizados com máxima velocidade levariam a menores TMs. Por conseguinte, a

hipótese de Fitts (1954) baseia-se em concepções fundamentadas no processamento de

informações, na qual o canal de capacidade constante seria o fator determinante para a relação

inversa entre a geração de velocidade e a manutenção da precisão no movimento. Dentro desta

abordagem, o aumento no ID, manipulando-se a distância de movimento e/ou o tamanho do alvo,

deveria acrescer o tempo de resposta, independentemente do sistema efetor. Ou seja, mesmo nas

condições em que foram utilizados mais dedos para realizar a tarefa (fase 2 dos dois primeiros

experimentos e o terceiro experimento), a restrição espacial fornecida pelo ID deveria ter o

mesmo efeito sobre a regulação do movimento. Todavia, tais suposições não foram verificadas

integralmente no estudo.

Nas tarefas bimanuais com dois dedos (fase 2 dos experimentos I e II), a mão direita foi

utilizada nos toques de i-m (indicador e médio), no experimento I, e alternância de toques de P-i-

m (polegar, indicador e médio), no experimento II, enquanto a mão esquerda utilizou, sempre,

alternâncias de apenas dois dedos (os dedos da mão esquerda demarcados para o desempenho das

tarefas podem ser vistos no item ‘tarefa’ da metodologia). Nessas segundas fases não se observou

associação entre as variáveis TM e ID, demonstrando violação na lei de Fitts. No experimento I,

observamos que, dada a distensibilidade interdigital dos sujeitos, todos alcançaram a distância

entre as casas 1 e 6, na qual foi observado o segundo maior ID. Nesta condição houve a

manutenção do dedo indicador fixo em uma das posições e a realização da tarefa somente com

movimentos de alcance com o dedo mínimo, de forma que a própria abertura de dedos permitiu o

alcance dos alvos. Assim, somente no ID obtido entre as casas 1 e 10 houve real aumento da

dificuldade de alcance dos alvos, o que justificou a falta de associação entre as variáveis TM x ID.

Suporte para tal justificativa para a violação na lei de Fitts pode ser encontrada com base nos

conceitos do ID efetivo.

Alguns pesquisadores (Zhai et al., 2004) têm defendido a utilização de um ID efetivo (IDe)

para determinar a restrição espacial sobre o movimento. O ID efetivo é utilizado porque as

176

medidas espaciais do tamanho e da distância entre os alvos podem não ser a restrição espacial real

da tarefa, em função de fatores, tais como: tendências comportamentais dos sujeitos

(proporcionando maior ênfase à precisão ou à velocidade; Zhai et al., 2004); variabilidade

inerente ao impulso na aceleração do movimento (Schmidt et al., 1978); e, por ajustes de erros ou

variabilidade espacial das respostas (MacKenzie e Ware, 1993). Por exemplo, na realização da

tarefa do paradigma de Fitts, os toques alternados podem ser realizados sobre as regiões mais

próximas aos bordos mediais dos alvos. Assim, ao invés de uma distância de movimento

delimitada pela medida espacial entre o centro dos dois alvos, ocorre, na verdade, uma distância

de movimento reduzida. Esta distância de movimento efetiva (De), assim como o tamanho do alvo

efetivo calculado a partir da dispersão (desvio padrão) real dos pontos finais do movimento (We),

são utilizados para a determinação do IDe (Kulikov, 2005).

Dentro deste escopo, os movimentos dos dedos utilizados nos experimentos: (a) 1-2

(indicador e médio da mão esquerda), sobre as casas 1-2, 5-6 e 9-10, ou seja, alvos separados por

apenas um traste, podem ser tocados com a mão em posição funcional; (b) 1-4 (indicador e

mínimo da mão esquerda) sobre as casas 1-4, 5-8 e 9-12, alvos com distâncias de 4 casas, também

factíveis de serem tocados com a mão em posição funcional; (c) 1-4, também sobre as casas 1-6,

5-10 e 9-14, alvos com distâncias maiores do que a abrangida pelos dedos na posição funcional da

mão, mas que, com a abertura entre os dedos, podem sem alcançados sem a movimentação do

dedo indicador, o movimento desempenhado seria de aproximação do dedo livre [dedo 2, no caso

(a), e dedo 4, nos casos (b) e (c)] da corda, para subsequente pressão sobre a mesma. Essa

distância efetiva, em violonistas de nível avançado, costuma ser de poucos milímetros, já que a

manutenção dos dedos da mão esquerda próximos à corda facilita o alcance das mesmas. Tal

estratégia faz parte da técnica inerente ao manuseio do instrumento, havendo menor variabilidade

entre um violonista avançado e outro e, ainda, proporcionando a possibilidade do ruído

estocástico se sobrepor às pequenas variações entre as distâncias dos alvos. Além disso, na

sequência 1-10, a ser tocada pelos dedos 1-4, ainda que o sujeito não possuísse boa

distensibilidade interdigital (considerando-se que o alcance do dedo mínimo fosse apenas até a

casa 4), a distância entre os alvos seria a medida referente à distância entre a casa 4 e a casa 10, e

não entre as casas 1 e 10, conforme a padronização utilizada no experimento. Por conseguinte, a

utilização da distância do centro dos alvos (casas no experimento I e III, e cordas no experimento

II), ao invés do IDe, foi um dos principais fatores utilizados para explicar a violação na lei de Fitts.

Outro fator que pode ter contribuído para a violação da lei de Fitts nos experimentos I e II

(fase 2), e no experimento III, diz respeito às características ímpares da tarefa. Para músicos, a

velocidade de movimento é menos importante do que a produção de eventos no ponto correto no

tempo. Músicos podem criar pequenas variações de tempo expressivo, mas as suas produções têm

de refletir as categorias de eventos de duração especificadas em uma partitura musical. O

177

desempenho é considerado deficiente se não respeitar essas categorias de duração (Drake e

Palmer, 2000). Músicos podem replicar os seus padrões de expressão de tempo e dinâmica para

uma dada peça musical com alta precisão (Drake e Palmer, 2000), e as tentativas de tocar sem

expressão diminuem, significativamente, esses padrões, mas não os remove completamente

(Drake e Palmer, 2000), o que sugere que algumas variações são intencionais. Assim, após terem

identificado o ritmo (elemento musical dependente de tempo, velocidade e acentuação dos sons)

em tarefas anteriores de tapping, os sujeitos, aparentemente, padronizaram, auditivamente, o ritmo

a ser executado, passando a reproduzi-lo (casa 1), mesmo sem as restrições espaciais. Desta

forma, este fator rítmico-perceptivo também pode ter contribuir para que não houvesse a relação

entre o TM e o ID

No experimento III, foi utilizado, em todas as regiões, tarefas bimanuais com múltiplos

dedos. Foram utilizadas combinações de três dedos na escala ‘pentatônica a’ e de quatro dedos nas

demais escalas. Tanto na análise do conjunto das seis escalas por região, quanto na análise das

escalas individuais, não se apresentou associação significante entre TM e ID. Estes achados

corroboram os estudos de Drake e Palmer (2000) com pianistas, que não observaram trocas de

velocidade por precisão no desempenho musical em qualquer nível de prática, e que é consistente

com estudos prévios. Heijink e Meulenbroek (2002) postularam que três fatores biomecânicos

determinam a complexidade dos movimentos dos dedos da mão esquerda, no violão: (a) a posição

da mão sobre o braço do violão, verificando-se que as posições de mão, nos dois extremos do

braço do violão, são presumivelmente as mais complexas; (b) a abertura dos dedos, causada por

distâncias maiores entre casas, do que a extensão abrangida pela posição natural da mão; e, (c) o

reposicionamento da mão, através de saltos ou arrastes. Observa-se que: (a) os sujeitos do

experimento III possuem, todos, nível violonístico de excelência, de modo que problemas de

postura de mão não foram encontrados, em qualquer das regiões do braço do violão; (b) as escalas

utilizadas nesse experimento não provocaram nenhuma abertura excessiva dos dedos; (c) para

desempenhar essas escalas houve necessidade de realização de pequenos deslocamentos de mão,

MVD e MVE, com distâncias de no máximo uma casa, que não chegaram a constituir-se em

saltos, e somente na escala ‘cromática a’ houve um movimento de slide (deslizamento do dedo

sobre a corda transferindo de uma casa para outra) de distância, também de uma casa, isto é,

extremamente curto e de fácil desempenho. Em vista do exposto, sugere-se que essas escalas não

teriam provocado grande dificuldade para o desempenho da tarefa neste experimento por parte

dos sujeitos. Entretanto, como foi solicitado o desempenho com maior velocidade possível, mas

respeitando níveis de acurácia sonora e espacial específicas da tarefa, as pequenas variações

encontradas com o aumento do ID podem ser relativas às variações intencionais de velocidade,

determinadas pelos sujeitos, ou, em alguns casos, à fadiga muscular e/ou ao perfeccionismo

178

natural dos músicos que, para obterem um som nítido e agradável, realizaram diversas repetições

das escalas, mesmo em situações em que o experimentador não detectou mais do que dois erros.

Ainda, em relação ao experimento III, diferente do que ocorre nas tarefas normalmente

analisadas no paradigma de Fitts (tarefas laboratoriais simples), em habilidades motoras do

cotidiano, recreativas e esportivas, existe uma combinação de restrições espaciais que atuam sobre

o movimento. Ou seja, tarefas mais complexas, na verdade, apresentam mais de um único ID que

atua como restrição sobre o movimento. No experimento III, esta combinação de IDs foi

contemplada por meio da análise de movimentos seriados, cada qual impondo uma restrição

espacial diferente sobre a regulação do movimento. Estudos que analisaram a combinação de dois

movimentos de toques discretos direcionados a alvos espaciais demonstraram que, quando há uma

combinação entre duas restrições espaciais, a regulação do movimento ocorre em função da maior

restrição imposta sobre o sistema (Short et al., 1996; Yao et al., 2007). No presente estudo, porém,

não foi verificado efeito apenas da maior restrição nos movimentos realizados nas escalas.

Aparentemente, em movimentos seriados, existe uma relação mais complexa entre as variáveis

espaciais que interagiram para restringir o movimento. Todavia, tais interações não demonstraram

ser expressas de forma simplificada por meio da representação média aritmética do ID de cada

movimento. Por conseguinte, mais estudos são sugeridos para analisar esta interação entre

diferentes restrições espaciais (e, também, temporais) sobre a regulação de movimentos rápidos e

precisos.

Conclusão

A lei de Fitts demonstrou ser consistente em movimentos de tapping em tarefa de

sequência de toques de dedos sobre escalas em violão, conforme demonstrado nas fases 1 dos

experimentos I e II. Na utilização de dois dedos, entretanto, o alcance dos alvos torna-se facilitado

pela abertura (fase 2 do experimento I) ou pela fixação dos dedos (fase 2 do experimento II),

violando a lei de Fitts nesta tarefa realizada em violão. Nas escalas musicais desempenhadas em

violão (experimento III), o uso de múltiplos dedos, associado ao treinamento específico dos

músicos também demonstrou a violação na lei de Fitts.

Para futuros estudos, sugere-se a análise do paradigma da relação inversa velocidade-

precisão, com movimentos de escalas musicais em violão, considerando fatores, tais como: os

movimentos realizados pela mão direita, técnicas com e sem utilização do implemento de palheta,

integração entre as duas mãos no controle do movimento, diferentes técnicas de postura da mão

que realiza as escalas (esquerda), combinação de restrições (espaciais e/ou temporais), fadiga

muscular e nível de experiência.

179

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