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Boletim 792/2015 – Ano VII – 14/07/2015 Especialistas divergem sobre efeitos das mudanças no crédito consignado O governo editou ontem a Medida Provisória 681, que elevou de 30% para 35% o limite do desconto do crédito em folha de pagamentos; 5% devem ser somente para dívida em cartão Paula Salati São Paulo - Especialistas estão divergindo quanto aos impactos da Medida Provisória (MP) 681, editada ontem pelo governo federal, e que elevou o limite do desconto do crédito consignado em folha de pagamento de 30% para 35%. A nova regra estabelece que, do limite de 35%, 5% serão reservados exclusivamente para amortização de despesas contraídas por meio de cartão de crédito. Para o diretor executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira, a decisão do governo é contraditória com o atual momento econômico. "De um lado, o Banco Central (BC) está aumentando a taxa de juros para reduzir a demanda. Mas, de outro, está abrindo espaço para um endividamento maior das pessoas. A renda das famílias já está sendo afetada com o aumento dos impostos, retração da economia, alta taxa de juros e inflação. E você ainda lia tudo isso com o endividamento", diz Oliveira. "Um dos lados negativos da MP 681 é que a pessoa, ao adquirir a linha de crédito consignado, corre o risco de não conseguir arcar com outros compromissos financeiros. Tendo comprometido 35% da sua renda, sobra 65% para gastar com alimentação, moradia, transporte, em um momento de alta inflação. Portanto, há um risco grande da pessoa não conseguir pagar as outras dívidas. Não podemos esquecer que, nesse tipo de empréstimo, não se tem poder de barganha. Todo o mês é descontado em folha de pagamento", acrescenta. Para Oliveira, o lado positivo da medida é que as pessoas vão poder trocar "uma dívida mais cara por uma dívida mais barata", já que a taxa de juros do rotativo do cartão em crédito é, em média, de 13,57% ao mês, enquanto no consignado, de 2%, também ao mês.

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Boletim 792/2015 – Ano VII – 14/07/2015

Especialistas divergem sobre efeitos das mudanças n o crédito consignado O governo editou ontem a Medida Provisória 681, que elevou de 30% para 35% o limite do desconto do crédito em folha de pagamentos; 5% devem ser som ente para dívida em cartão Paula Salati São Paulo - Especialistas estão divergindo quanto aos impactos da Medida Provisória (MP) 681, editada ontem pelo governo federal, e que elevou o limite do desconto do crédito consignado em folha de pagamento de 30% para 35%. A nova regra estabelece que, do limite de 35%, 5% serão reservados exclusivamente para amortização de despesas contraídas por meio de cartão de crédito. Para o diretor executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira, a decisão do governo é contraditória com o atual momento econômico. "De um lado, o Banco Central (BC) está aumentando a taxa de juros para reduzir a demanda. Mas, de outro, está abrindo espaço para um endividamento maior das pessoas. A renda das famílias já está sendo afetada com o aumento dos impostos, retração da economia, alta taxa de juros e inflação. E você ainda lia tudo isso com o endividamento", diz Oliveira. "Um dos lados negativos da MP 681 é que a pessoa, ao adquirir a linha de crédito consignado, corre o risco de não conseguir arcar com outros compromissos financeiros. Tendo comprometido 35% da sua renda, sobra 65% para gastar com alimentação, moradia, transporte, em um momento de alta inflação. Portanto, há um risco grande da pessoa não conseguir pagar as outras dívidas. Não podemos esquecer que, nesse tipo de empréstimo, não se tem poder de barganha. Todo o mês é descontado em folha de pagamento", acrescenta. Para Oliveira, o lado positivo da medida é que as pessoas vão poder trocar "uma dívida mais cara por uma dívida mais barata", já que a taxa de juros do rotativo do cartão em crédito é, em média, de 13,57% ao mês, enquanto no consignado, de 2%, também ao mês.

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Melhor aos bancos O diretor da empresa de gestão e risco de crédito GoOn, Eduardo Tambellini, diz que o aumento do limite do consignado traz também uma vantagem para os bancos: "as instituições financeiras vão poder trocar uma inadimplência maior por uma menor. Vai ficar mais fácil garantir uma quitação de dívida", diz ele. Ao citar dados do BC, Tambellini afirma que o grau de endividamento da linha de crédito consignado costuma ser baixo. "A inadimplência acima de 90 dias do consignado INSS [Instituto Nacional do Seguro Social], por exemplo, está estável desde 2012. Em dezembro daquele ano era de 1,76%, e em março deste ano, registrou 1,8%", informa. Esse é um dos motivos que leva o diretor da GoOn a acreditar que a MP 681 pode minimizar o risco de elevação do grau de endividamento do País. "Além do consignado ter um nível mais baixo de inadimplência do que outras linhas, estabelecer 5% do crédito somente para pagamento de despesas em cartão de crédito, garante que esse empréstimo não será utilizado para contrair uma outra dívida, mas, sim, para quitar um débito já existente", afirma Tambellini. "Se o governo autorizasse aumentar o limite de desconto, sem estabelecer direcionamento, isso causaria um problema maior de endividamento. Mas como há uma regra, creio que pode até minimizar o aumento da inadimplência". Ponto nebuloso Para o diretor da GoOn, contudo, o governo não deixou claro na MP 681 como será comprovado o direcionamento de 5% do crédito consignado para quitação de dívidas em cartão. "A MP não esclarece como as instituições financeiras vão garantir que 5% vai efetivamente para dívida em cartão de crédito. Um aposentado, por exemplo, que tem um cartão de crédito do banco X, mas vai pegar empréstimo de um banco Y. Como essa operação vai ser feita e comprovada? Isso ainda está nebuloso", considera Tambellini. Em maio deste ano, a presidente Dilma Rousseff vetou lei que aumentava o limite de desconto do consignado de 30% para 40% do rendimento. Na época, a presidente afirmou que, "sem a introdução de contrapartidas que ampliassem a proteção ao tomador do empréstimo, a medida proposta poderia acarretar em um comprometimento da renda das famílias para além do desejável e de maneira incompatível com os princípios da atividade econômica".

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Sobre a mudança de posição após quase dois meses, Oliveira diz que, nessa MP, há uma "certa contrapartida": o direcionamento exclusivo de 5% do consignado para dívidas em cartão. "A contrapartida é que a MP vincula a dívida ao cartão de credito rotativo. Antes se ampliava o limite, sem especificar o uso", considera ele. Faz sentido Para o economista Fábio Silva, do Conselho Federal de Economia (Cofecon), "faz sentido" o governo ter elevado o limite do consignado para 35%. "Parece que a desaceleração do crédito está sendo mais rápida do que o governo esperava", opina o especialista. "Os indicadores econômicos têm mostrado, cada vez mais, que vamos enfrentar uma recessão. Isso está consolidado. Não dúvidas de que a expansão do crédito vai ser muito menor do que no ano passado. No entanto, é legitimo que o governo tome medidas para compensar e aliviar as condições de empréstimos. Creio que é isso que está sendo feito", complementa ele. O novo limite de renda estabelecido é válido para empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aposentados, pensionistas e servidores públicos. Segundo o BC, divulgado em junho, o endividamento das famílias chegou a 46,3% em abril, o maior percentual desde o início da pesquisa, em 2005. A conta considera o total das dívidas em relação à renda acumulada nos 12 meses.

Vega indeniza gari atropelado - Um varredor de ruas da cidade de São Paulo que fo i atropelado durante o exercício de suas atividades vai ser indenizado em R$ 50 mil por danos morais pela Vega Engenharia Ambiental, decidiu o Tribunal Superior d o Trabalho (TST). Para o TST, independentemente da culpa pelo acidente, a empresa tem o dever de indenizar o trabalhador por causa do risco da atividade.

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Por entender que o acidente foi provocado por terceiros e que o trabalhador recebeu treinamentos sobre segurança no trabalho, a 30ª Vara do Trabalho de São Paulo não atribuiu nenhuma responsabilidade à empresa, indeferindo o pedido de indenização. Já o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (SP) reformou a sentença com o entendimento de que as atividades de varrição de rua comportam maiores riscos de atropelamento e aplicou a teoria da responsabilidade objetiva, prevista no artigo 927 do Código Civil. Para se isentar da condenação, a Vega alegou ao TST que para existir condenação, é necessária a comprovação da culpa ou dolo do empregador. Mas para o ministro Cláudio Brandão, a decisão adotada pelo TRF foi certa. /Agências

ABCD quer evitar demissões São Paulo - O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, disse ontem que a estimativa é manter até 3 mil empregos com o Programa de Proteção ao Emprego (PPE). Segundo ele, o montante é significativo, mas poderia ser ainda maior. "A Fazenda lutou muito contra esse programa", disse, ao lado do ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Miguel Rossetto. "Se tivesse saído antes protegeria mais do que os três mil que estimo." Segundo Marques, a expectativa de adesão é positiva e diversas empresas da cadeia já procuraram o sindicato para conhecer melhor o programa. "Seguramente as empresas vão aderir", disse. O Programa de Proteção de Emprego permite a redução da jornada de trabalho em até 30%, com uma complementação de 50% da perda salarial pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). O sindicalista citou a Mercedes como exemplo. "Se já houvesse o PPE talvez poderíamos ter chegado a um acordo", disse. No início do mês, trabalhadores da Mercedes-Benz de São Bernardo não aceitaram a proposta feita pela empresa de redução da jornada de trabalho em 20% e dos salários em 10% por um ano. Paula Cristina e Agências (Fonte: DCI 14-07-2015).

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O Uber e a regulação do trabalho José Pastore O que há de errado com um consumidor que busca comprar um serviço por um preço menor? Nada, pois, como todos os seres humanos, os consumidores procuram maximizar os seus interesses. No campo do transporte urbano e interurbano abriu-se uma grande polêmica com a chegada do Uber. Trata-se de um aplicativo que oferece serviços de transporte em mais de 300 cidades do mundo. São motoristas particulares que prestam serviços por conta própria. O Uber provocou protestos dos taxistas em vários países. França, Alemanha e Coreia do Sul proibiram o seu uso. No Brasil também a Câmara Municipal de São Paulo promete proibir. Nos EUA e na China, é amplamente usado. Já se instala naqueles países uma verdadeira "guerra de aplicativos" desse tipo de serviço. O Uber é mais um exemplo da grande revolução que ocorre nos mercados de trabalho do mundo inteiro. Em documento recente, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) indicou que só 40% dos europeus trabalham em empregos convencionais - assalariados por prazo indeterminado. A maioria exerce atividades "atípicas" - trabalho por prazo determinado, em tempo parcial, por tarefa, etc. (OIT, The changing nature of jobs, Genebra, 2015). O mesmo ocorre nos EUA, onde 35% dos americanos trabalham por conta própria. No Brasil são 21%. Voltando ao caso do Uber, o número de interessados nos seus serviços cresce freneticamente. A segurança também. Os prestadores dos serviços são cadastrados e checados quanto à sua idoneidade moral e passado profissional e criminal. A reação dos taxistas espelha a visão dos que acham ter direitos de defender reservas de mercado como se para transportar uma pessoa fosse necessário ter outra capacitação além da garantida pela carteira de habilitação oficial. Ocorre que no Brasil a Lei n.º 12.468/2011 estabelece ser privativa dos taxistas a utilização de veículo para transporte remunerado de passageiros. Mas essa lei foi uma modificação da Lei n.º 6.094, que é de 1974. Ora, de 1974 para cá (41 anos!), a tecnologia

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digital revolucionou o mundo do trabalho. Com ela vieram os robôs, os drones, a inteligência artificial, os computadores que corrigem seus próprios erros e outros recursos que criaram novas formas de trabalhar. Estamos no limiar dos carros autodirigíveis. Está provado que as tecnologias avançam mais depressa do que as leis do trabalho e que nada vai estancar as mudanças daqui para a frente, em especial as que facilitam a vida dos trabalhadores e dos consumidores. A revolução está instalada. É imperioso ajustar as leis à nova realidade e não bloquear as tecnologias para defender reservas de mercado. A regulamentação das profissões deveria ser limitada às atividades que demandam formação muito específica, como, por exemplo, advogado, aeronauta, engenheiro, médico, etc. Estamos longe disso. No Brasil, há mais de 50 profissões regulamentadas, entre as quais lembro as de ascensorista, faxineiro, lavador de veículos, repentista e peão de rodeio... Não se pode sacrificar eternamente os consumidores com base nos exclusivos interesses dos taxistas. Essa modalidade de serviço vai crescer. Por isso, há que se buscar um meio-termo, inclusive no campo tributário, pois não se pode criar uma concorrência desleal entre os prestadores de serviço do Uber, que não pagam impostos, e os taxistas, que são tributados. Esse é o desafio para o legislador. Acertada essa parte, a competição entre Uber e taxistas terá de ocorrer no campo dos preços e da qualidade dos serviços, ficando para o consumidor escolher o que lhe parece mais conveniente. Se os serviços de táxi foram revolucionados com a chegada de novas tecnologias, isso não é exclusividade da profissão de taxista, porque várias outras passaram e continuam passando por profundas transformações, e estão se ajustando. * José Pastore é professor da FEA-USP, presidente d o Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio-SP e membro da A cademia Paulista de Letras

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Governo eleva limite do crédito consignado de 30% p ara 35% Decisão foi avaliada como política, uma forma de co nseguir apoio do Congresso para a aprovação de medidas ligadas ao ajuste fisca l, como a desoneração da folha de pagamento; economistas fazem ressalvas à ampliaç ão do endividamento RACHEL GAMARSKI, MURILO RODRIGUES ALVES - O ESTADO DE S. PAULO BRASÍLIA - A decisão do governo de ampliar o limite do crédito consignado - com desconto em folha de pagamento - de 30% para 35% foi mais uma forma de amealhar o apoio do Congresso para a aprovação de medidas ligadas ao ajuste fiscal, como o projeto que reduz a desoneração da folha de pagamento. De acordo com a Medida Provisória (MP) publicada nesta segunda-feira, o valor máximo que as pessoas podem comprometer da renda com crédito consignado subiu para 35%, desde que os novos 5% sejam usados para quitar dívidas com cartão de crédito. Para usar o limite maior, não é preciso entrar no rotativo do cartão. Basta ter contraído alguma despesa por meio do cartão. A medida foi antecipada pelo Estado na edição de sábado. A iniciativa, que estimula o consumo, é um afago ao Congresso após a presidente Dilma vetar emenda com teor semelhante em maio. O texto publicado nesta segunda-feira e assinado pelo vice-presidente, Michel Temer, pelo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, e pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, faz parte das negociações de Temer com os parlamentares para aprovação das medidas de ajuste fiscal. O objetivo da articulação política é que, com o envio da MP, o Senado aprove o projeto de lei das desonerações, última matéria do ajuste fiscal que ainda está em tramitação. Em maio, a presidente vetou, com o apoio de Levy, uma emenda semelhante da Câmara dos Deputados. Na ocasião, o texto previa um limite ainda maior do que o enviado pelo Executivo. Os parlamentares sugeriram que o endividamento pudesse chegar a 40% do rendimento. A presidente argumentou na ocasião que a medida poderia comprometer a renda familiar. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) divulgou nota para ressaltar a importância do consignado. “O crédito, quando usado com prudência, pode ser uma alavanca poderosa para melhorar a vida da população”, diz o texto. No entanto, o Estado apurou que os grandes bancos são contrários à medida, porque temem o efeito negativo de atrelar uma dívida cara, como a do cartão, com outra, mais barata e segura para a população. Já a Associação Brasileira de Bancos (ABBC), que reúne as instituições bancárias de médio porte, muito atuantes em crédito consignado, afirmou, em nota, que considera

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“saudável” a medida para os consumidores e positiva para os bancos, pois vai permitir ofertar mais crédito com reduzido nível de inadimplência. Avaliação. O Ministério da Fazenda se pronunciou em nota afirmando que a MP suaviza os efeitos do ajuste em curso na economia e reduz os custos do endividamento do trabalhador. “A elevação da margem de consignação autorizada pela MP 681 tem como objetivo elevar a margem de manobra do trabalhador para que ele possa suavizar os impactos do ajuste ora em curso na economia. Além disso, consignar em folha os pagamentos ao cartão de crédito reduzirá a taxa média dessa modalidade de crédito na medida em que a operação se torna mais segura para as instituições financeiras. Reduzindo, portanto, o custo do endividamento do trabalhador.” Para o coordenador de estudos econômicos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, é vantajoso trocar uma dívida mais cara, como a do cartão, que cobra 13% ao mês, por outra mais barata, como o consignado, cuja taxa está em torno de 2% ao mês. No entanto, ele alerta que comprometer 35% da renda com empréstimos é perigoso nesse momento de inflação e juros elevados. “Significa dizer que vai sobrar só 65% da renda para pagar todas as outras contas: alimentação, aluguel, entre outras.” Segundo a economista-chefe do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) Brasil, Marcela Kuwaiti, a ação do Executivo é contrária ao aumento sucessivo de juros pelo Banco Central. “Quando o BC aumenta os juros, ele reduz o crédito e esse aumento do consignado é um incentivo ao crédito.”. Ainda segundo ela, a medida não é suficiente para suprir as dívidas com cartão de crédito. “Nosso maior medo é incentivar um endividamento maior”, afirmou. “As pessoas usam o cartão para comprar sapatos, roupas e eletrônicos.” De acordo com o SPC Brasil, 4,3 milhões de aposentados estão em listas de devedores. Segundo a entidade, esse número tem crescido mais entre aposentados do que entre jovens. “O endividamento dos aposentados é preocupante”, ponderou Kuwauti. Carlos Ortiz, presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados ligado à Força Sindical vê também com preocupação aumentar ainda mais o comprometimento do benefício para o pagamento de empréstimo, ainda mais quando o crédito é contratado por pressão de algum familiar, e não pela real necessidade do aposentado.

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AGÊNCIAS DE EMPREGO ENCOLHEM Com a crise, caiu a oferta de vagas e a receita das agências também, apesar do crescimento da procura de trabalhadores por emprego Márcia De Chiara O salto no desemprego, que atinge mais de 8 milhões de trabalhadores no País, e que, à primeira vista, poderia ser favorável às agências de emprego, na prática, não está se confirmando. Diante da menor oferta de vagas e da maior exigência das poucas empresas contratantes em busca de trabalhadores mais qualificados, mas por um salário bem menor, as agências têm dificuldades para recolocar os profissionais. Para se adequar aos tempos de crise, também as agências de empregos estão fazendo ajustes. Há aquelas que deslocaram recrutadores de áreas menos ativas, como indústria, para comércio e serviços, que têm algum fôlego nas contratações por conta de trabalhos temporários. Outras optaram por fechar filiais que não davam lucro. "Eu ganho dinheiro empregando pessoas. Se não tem vaga, como posso ganhar dinheiro", questiona Vera Freitas, sócia da agência de empregos Vero RH. No fim de 2014, a empresa fechou a filial e concentrou os negócios na matriz. Ela conta que a agência vem registrando o encolhimento do mercado há algum tempo. Hoje o número de vagas é 50% menor em relação a 2014. Em contrapartida, houve um aumento também de 50% no número de candidatos. Vera ilustra a redução do mercado de trabalho com o movimento feito por um grupo de concessionárias de veículos, que é seu cliente. O último pedido de contratação do grupo ocorreu após o 1º turno das eleições, mas, logo depois do 2º turno, o pedido foi cancelado. A sócia da agência observa que, além de o número de vagas ter diminuído, as empresas, que ainda contratam, demandam profissionais mais qualificados, mas querem pagar menos. Isso dificulta o trabalho de recolocação. "Eles querem uma Brastemp, mas por preço de uma Enxuta", compara Vera, fazendo alusão às marcas de lavadoras de qualidade reconhecida e de preço mais baixo, respectivamente. Um ano atrás, por exemplo, pagava-se R$ 4 mil para uma secretária. Hoje a oferta é R$ 2,5 mil para a mesma vaga. A queda nos salários oferecidos pelas empresas que contratam é confirmada por Angela Queiróz, coordenadora de RH da agência de empregos NVH. Ela diz que o menor valor oferecido, em média, no ano passado era R$ 880. Neste ano, a oferta gira em torno do salário mínimo, que é de R$ 780.

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A agência também registrou um aumento no número de currículos recebidos diariamente. Atualmente são 400, ante 300 um ano atrás. Com a queda do emprego na indústria, a agência, que tem três escritórios, realocou funcionários da unidade de Santo André (SP) e que atendia o setor automobilístico para os outros escritórios, voltados para o comércio e serviços. Por causa das datas sazonais, há contratações de trabalhadores temporários no varejo. Segundo a coordenadora, os setores que ainda admitem são os de fast-food, artigos para casa (home centers) e de telecomunicações. "São aqueles nos quais as pessoas não param de gastar, apesar da crise", diz. Enquanto a crise no emprego afeta os trabalhadores e as agências de recolocação, o aposentado Jonas dos Santos, de 65 anos, faz a festa. Na última sexta-feira, ele estava mais do que satisfeito com os ganhos obtidos com a venda de uma brochura que reúne endereço, telefone, e-mail e site de cerca de 300 agências de emprego na cidade de São Paulo. Na sua barraquinha instalada no meio da rua Barão de Itapetininga, no centro da capital paulista, um dos redutos das agências de empregos da cidade, Santos trabalha num negócio próspero. "Antes vendia entre 50 a 60 brochuras por dia. Agora vendo de 80 a 100", contou. Animado com o crescimento da procura, o preço do catálogo também foi reajustado em 50%: antes custava R$ 2 e agora sai por R$ 3. Iago Carnevalli, de 20 anos, que concluiu no fim de 2014 o curso técnico de contabilidade, sentiu na pele a mudança de humor do mercado de trabalho. Em junho do ano passado, ele pediu demissão da locadora onde trabalhava e recebia R$ 1 mil para concluir com mais tranquilidade os estudos. Agora faz seis meses que ele procura, sem sucesso, um novo trabalho. "Não aparece mais emprego como aparecia quando eu estava estudando", reclamou. Na última sexta-feira, Carnevalli foi à agência de emprego para se candidatar a uma vaga de aprendiz, mesmo já tendo passado por dois empregos. "Foi a única coisa que apareceu." Faz quatro meses que Fernando Klaus dos Santos Ribeiro, de 25 anos, está desempregado. "Antes eu sempre arrumava emprego fácil. Ficava, no máximo, um mês desempregado", contou ele, que na última sexta-feira, foi à agência de emprego.

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Segundo ele, a situação agora está mais difícil para se recolocar profissionalmente. "Eles falam para aguardar e acabam não chamando." O seu último emprego foi de auxiliar de instalações elétricas. Ele ganhava R$ 1.145 por mês. Mas com a crise, a empresa, de pequeno porte, demitiu Ribeiro e outros funcionários. Agora ele procura um emprego na área de vendas. A ex-operadora de caixa Naiara Fernanda de Freitas, de 25 anos, que está há um mês desempregada, já mandou 30 currículos para trabalhar como promotora de vendas, mas o índice de sucesso foi muito baixo. Na sexta-feira, ela foi a uma agência para a única entrevista para a vaga de promotora de vendas que ela foi chamada até agora. As demais convocações foram para operadora de caixa. A vaga na área de vendas tem salário de R$ 950, menor do que ela ganhava como caixa, que era de R$ 1.16o. Mas levando em conta, os benefícios, ela diz que compensa. "Como eu pago aluguel, eu não posso ficar muito tempo desempregada."

‘Cegonheiros’ da Volks fazem protesto na Anchieta Montadora abriu licitação para contratar novos pres tadores de serviço; de acordo com sindicato, cerca de 5 mil transportadores de ve ículos temem perder o emprego CLEIDE SILVA - O ESTADO DE S. PAULO Transportadores de veículos - chamados de cegonheiros -, que fazem o transporte de carros novos da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, realizaram nesta segunda-feira, 13, protesto na via Anchieta, em frente aos portões da empresa. Eles temem a suspensão de contratos pois a montadora avalia abrir uma licitação para buscar outras opções de fornecedores do serviço de logística. De acordo com Sindicato Nacional dos Cegonheiros, há cerca de 5 mil caminhoneiros que atuam no transporte dos modelos da marca na região do ABC. Eles são ligados às transportadoras Brazul, Tegma, Transauto e Transzero.

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Em nota, a Volkswagen informou que “está realizando uma ação regular, que serve para a verificação e análise do posicionamento de preços de um serviço dentre as opções disponíveis no mercado”. Disse ainda que “respeita os contratos com seus fornecedores”. Cerca de 100 carretas, segundo o sindicato, permaneceram estacionadas próximas à fábrica, no km 23 da Via Anchieta, a partir de 7h desta segunda. No início da tarde, os cegonheiros realizaram uma carreata na via, voltaram aos portões da fábrica por volta das 18h e depois dispersaram. Apenas um grupo de motoristas permaneceu no local de plantão. Os cegonheiros prometem retornar nesta terça-feira com as carretas, a partir das 7h, e avisam que vão manter o protesto até que a empresa os receba. O sindicato informou que cerca de mil veículos deixaram de ser recolhidos ontem dos pátios das transportadoras para serem entregues em diversos Estados. O protesto ocorre num momento em que as vendas de estão em queda e os pátios das fábricas e revendas de todas as marcas estão lotados. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), no início do mês havia 338,8 mil carros em estoque nas fábricas e concessionárias, o equivalente a 47 dias de vendas. Acampamento. Outro protesto realizado ontem no ABC ocorreu nos portões da General Motors, em São Caetano do Sul. Um grupo de funcionários fez um acampamento em frente à empresa para protestar contra demissões. Na semana passada a GM demitiu cerca de 400 funcionários, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano. Eles estavam em lay-off desde o fim do ano passado e deveriam ter voltado ao trabalho ontem. Um grupo de 400 trabalhadores que também está em lay-off teve o programa estendido por mais dois meses. A GM tem outros 1,4 mil trabalhadores com contratos suspensos em São Caetano e em São José dos Campos. A empresa não comentou o assunto. No primeiro semestre as vendas de veículos caíram 20,7% em relação ao mesmo período de 2014 (para 1,318 milhão de unidades). A produção recuou 18,5%, para 1,276 milhão de unidades. Ao todo, as montadoras demitiram 7,6 mil trabalhadores neste ano. (Fonte: Estadão 14-07-2015).

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