especial - os nomes do mensalão correio braziliense

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CORREIO B RAZILIENSE 38 RÉUS, 11 JUÍZES E O MAIOR JULGAMENTO DA REPÚBLICA Napróximasemana,chegaráaofimumaesperaque já dura sete anos. Os 38 réus do maior escândalo polí- tico da história recente do país começam a ser julga- dos pelo envolvimento no mensalão. Os 11 ministros doSupremoTribunalFederalgarantiramque,até meados de setembro, o país saberá os nomes de ino- centesedosculpados,alémdotamanhodaspenas decorrentes de crimes de formação de quadrilha, pe- culato, corrupção ativa e passiva, gestão fraudulenta, lavagemdedinheiroeevasãodedivisas. Oescândaloquecontaminouofimdoprimeiroman- datodoex-presidenteLuizInácioLuladaSilvacomeçou em2005,quandoumaguerrainternaentreoministro daCasaCivilàépoca,JoséDirceu,eodeputadofederal RobertoJefferson(PTB-RJ)porfatiasdepodernogover- noresultounadenúnciadoparlamentarsobreoquesu- postamente acontecia nos bastidores da relação do Pla- naltocomsuabasenoCongressoedoPTcomosparti- dosquegravitavamemtornodeLula.Emumaentrevis- tamarcanteedoisdepoimentoshistóricos—naComis- sãodeConstituiçãoeJustiçadaCâmaraenaCPIdos Correios —, Jefferson apontou Dirceu como mandante deumesquemadecompradevotosedistribuiçãodere- cursosparapagamentodecontasdecampanha. Aolongodosegundosemestredomesmoano,Jeffer- son,Dirceueoex-presidentedoPPPedroCorrêa(PE)ti- veramseusmandatosdedeputadofederalcassados. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito foi criada e sugeriu o indiciamento de políticos, publicitários e do- nos de instituições financeiras. Aliado ao relatório das investigações feitas pela Polícia Federal, o texto da CPI embasou a peça acusatória feita pela Procuradoria Ge- ral da República e acatada pelo ministro-relator do ca- sonoSTF,JoaquimBarbosa. Aolongode12páginas,o Correio apresenta um re- sumo das 50 mil páginas do processo, as perguntas do escândaloaindaemaberto,asacusaçõescontraos réus e as defesas elaboradas pelos principais escritó- riosdeadvocaciacriminaldopaís.Oleitorterátam- bémàsuadisposiçãoumainfografiadoplenáriodo STF,mostrandocomoseráojulgamentodocaso,além dosperfisdos11juízesqueconduzirãooprocesso maisaguardadodosúltimosanos. Alémdemobilizarpersonalidadesdapolíticaedouni- versojurídico,avotaçãodocasoatraiaatençãodoscida- dãoscomuns.Apesardenãoconhecerdetalhesdocaso nemalistaextensadeacusados,apopulaçãojásedivide naantecipaçãodeculpadosedeinocentes.Independen- tementedassentenças,ojulgamentodomensalãoévis- tocomoumdivisordeáguasdahistóriapolítica.Oes- cândalo reacendeu importantes debates sobre o finan- ciamentodecampanhasemotivoumudançasnarela- çãodogovernocomagênciasdepublicidadeeatémes- moentreospartidos. ESPECIAL Maurenilson/CB/D.A Press Brasília,quinta-feira,26dejulhode2012

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Especial - Os nomes do mensalão Correio Braziliense

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Page 1: Especial - Os nomes do mensalão Correio Braziliense

CORREIO BRAZILIENSE

38RÉUS,11JUÍZESEOMAIORJULGAMENTO

DAREPÚBLICANa próxima semana, chegará ao fim uma espera que

já dura sete anos. Os 38 réus do maior escândalo polí-

tico da história recente do país começam a ser julga-

dos pelo envolvimento no mensalão. Os 11 ministros

do Supremo Tribunal Federal garantiram que, até

meados de setembro, o país saberá os nomes de ino-

centes e dos culpados, além do tamanho das penas

decorrentes de crimes de formação de quadrilha, pe-

culato, corrupção ativa e passiva, gestão fraudulenta,

lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

O escândalo que contaminou o fim do primeiroman-

dato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou

em 2005, quando uma guerra interna entre o ministro

da Casa Civil à época, José Dirceu, e o deputado federal

Roberto Jefferson (PTB-RJ) por fatias de poder no gover-

no resultou na denúncia do parlamentar sobre o que su-

postamente acontecia nos bastidores da relação do Pla-

nalto com sua base no Congresso e do PT com os parti-

dos que gravitavam em torno de Lula. Emuma entrevis-

tamarcante e dois depoimentos históricos—naComis-

são de Constituição e Justiça da Câmara e na CPI dos

Correios—, Jefferson apontou Dirceu comomandante

deumesquemade comprade votos e distribuiçãode re-

cursos para pagamento de contas de campanha.

Ao longo do segundo semestre domesmo ano, Jeffer-

son, Dirceu e o ex-presidente do PP Pedro Corrêa (PE) ti-

veram seus mandatos de deputado federal cassados.

Uma Comissão Parlamentar de Inquérito foi criada e

sugeriu o indiciamento de políticos, publicitários e do-

nos de instituições financeiras. Aliado ao relatório das

investigações feitas pela Polícia Federal, o texto da CPI

embasou a peça acusatória feita pela Procuradoria Ge-

ral da República e acatada pelo ministro-relator do ca-

so no STF, Joaquim Barbosa.

Ao longo de 12 páginas, o Correio apresenta um re-

sumo das 50 mil páginas do processo, as perguntas do

escândalo ainda em aberto, as acusações contra os

réus e as defesas elaboradas pelos principais escritó-

rios de advocacia criminal do país. O leitor terá tam-

bém à sua disposição uma infografia do plenário do

STF, mostrando como será o julgamento do caso, além

dos perfis dos 11 juízes que conduzirão o processo

mais aguardado dos últimos anos.

Alémdemobilizar personalidades da política e douni-

verso jurídico, a votaçãodo caso atrai a atençãodos cida-

dãos comuns. Apesar de não conhecer detalhes do caso

nema lista extensa de acusados, a população já se divide

na antecipaçãode culpados ede inocentes. Independen-

temente das sentenças, o julgamento domensalão é vis-

to como um divisor de águas da história política. O es-

cândalo reacendeu importantes debates sobre o finan-

ciamento de campanhas emotivoumudanças na rela-

ção do governo com agências de publicidade e atémes-

moentre os partidos.

ESPECIAL

Maurenilson/CB/D.APress

Brasília, quinta-feira, 26 de julhode 2012

Page 2: Especial - Os nomes do mensalão Correio Braziliense

OMAIOR JULGAMENTODAREPÚBLICAEspecial

» PAULO DE TARSO LYRA

Às vésperas do julgamentono SupremoTri-bunal Federal, os principais réus domensalãoaguardamosdesdobramentos jurídicos do es-cândalo que estourou em junho de 2005 e jádeixou sequelas políticas em alguns deles.Apesar da onda de absolvições no plenário daCâmara, três parlamentares, dois deles consi-derados caciquespolíticos, tiveram seusman-datos cassados: José Dirceu (PT-SP), RobertoJefferson (PTB-RJ) ePedroCorrêa (PP-PE).Ou-tros, como o ex-presidente do PT José Genoi-no, passaram a ter uma atuação política bemmais discreta da dopassado.Cotado comoumdos principais nomes pa-

ra suceder Luiz Inácio Lula da Silva em 2010 e

homem forte do governo nos três primeirosanos demandato do petista, Dirceu passou aatuar, após a cassação, nos bastidores do PT.Tornou-se também consultor empresarial,aproveitando a expertise de seus tempos dechefe daCasaCivil. Apesar depublicar umblogcom suas opiniões políticas e econômicas,começouaservistocomressalvaspor integran-tesdecargospúblicos, queoptaramporencon-trar-se comele demaneira reservada para nãoseremvistosao ladodaquelequeéconsideradopeloMinistério Público Federal como o“chefedaquadrilhadoesquemadomensalão.”Roberto Jefferson, que a exemplo de Dir-

ceu também teve seus direitos políticos cas-sados, seguiu conduzindo as principais ne-gociações políticas do PTB. Mas perdeu di-versas batalhas internas no partido, que op-tou por permanecer ao lado do governo doPT — tanto com Lula quanto com Dilma.Responsável pela célebre frase “Sai daí, Zé,para não tornar réu um homem inocente”,Jefferson tem dito que seu destino está liga-do ao do ex-chefe da Casa Civil. E ameaçou:“Se o Dirceu quiser politizar o julgamento,quem se darámal é o Lula”.

Presidente do PT e responsável por autori-zar os empréstimos feitos pelo partido peranteos bancos Rural e BMG— intermediado peloempresário MarcosValério — José Genoinomergulhou em depressão após o escândalo.Amigos relataramaoCorreio a dificuldade queoantes falanteparlamentar tinhade sair de ca-sa. Elegeu-se deputado federal em 2006, masnão conseguiu reeleger-se em 2010. Nomeadosecretário especial do Ministério da Defesa,trilhaumcaminhomais discreto e apagado.

Em silêncio

Tesoureiro do PT e apontado como umdosprováveis condenados no julgamento do Su-premoTribunal Federal, Delúbio Soares foi ex-pulso do PT emanteve o silêncio sepulcral so-bre o assunto. Ameaçou filiar-se ao PMDB,mas Lula acalmou-o e elemanteve-se sem li-gação partidária. Em 2011, foi refiliado ao PT,sendo elogiado por sua disciplina político-partidáriademanter-sequieto sobreomensa-lão. Cogitou candidatar-se a vereador, porém,uma vez mais, Lula mandou-o ficar quieto,evitandoholofotes empleno ano eleitoral.

» MARCELO DA FONSECA

Omaior escândalo de corrupção envol-vendo a compra de votos parlamenta-res poderia não ter vindo à tona se nãofosse uma suposta quebra de acordo

entre um empresário e um funcionário públi-co. A insatisfação de umdos envolvidos no es-quema que fraudava licitações para os Cor-reios o levou a armar uma prova contra seusantigos parceiros no desvio de recursos públi-cos. Quando o caso chegou àmídia, novos no-mes foramenvolvidos na fraude. As denúnciasse tornaram uma verdadeira bola de neve,

passandodeumplanomais simples arquiteta-do para que algumas empresas levassem van-tagemna venda demateriais a órgãos públicospara uma ação organizada que envolvia maisde 100 pessoas, entre parlamentares, minis-tros, empresários e presidentes nacionais departidos políticos.A partir da denúncia feita em junho de 2005

pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson(PTB-RJ), de que seu partido teria recebidouma oferta emdinheiro por parte do ex-tesou-reirodoPTDelúbioSoarespara votar a favordogoverno alguns projetos no Congresso, as acu-sações se tornaram rotina e, a cada dia, novos

nomes apareciam nos jornais. Duas CPMIs fo-ram criadas para apurar as denúncias e trêsparlamentares perderamas vagas naCâmara.Umano depois de deflagrado o esquema, a

denúncia chegou ao SupremoTribunal Federal(STF), e cresceuaexpectativadequeocaso teriafim. No entanto, na maior casa de Justiça dopaís, os adiamentos se tornariam frequentes e oprocesso judicial passoua searrastar.Na semana que vem, o esquema que apare-

ceu graças a uma gravação de um empresárioenvolvido emnegociações fraudulentas chegafinalmente ao plenário do Supremo e o fim danovela ficará nasmãos de 11ministros.

Odestinode cadaum

200510demaioRevelada filmagem feita emmarçomostra o chefe doDepartamento de Contratação e Administração deMaterial da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos,MaurícioMarinho, negociando propina com empresáriosinteressados emparticipar de uma licitação do órgão. Asimagens foramgravadas por Joel Santos Filho,advogado curitibano que, a pedido do empresário ArthurWasheckNeto, umdos donos da ComamComercialAlvorada deManufaturados Ltda. e apontado pelaPolícia Federal (PF) como umdos cabeças da quadrilhaespecializada em fraudar licitações dos Correios. Omotivo que levou o próprio empresário a armar agravação seriam problemas nos acordos que estariam oprejudicando. No vídeo, o funcionário dos Correiosafirma ter o respaldo do deputado federal RobertoJefferson (PTB-RJ) nas negociações.

6dejunhoNo centro das denúncias do escândalo que atingiu osCorreios, o deputado federal Roberto Jefferson (PTB) trazà tona a existência de umoutro esquemade corrupçãoque envolvia a compra de votos de parlamentares noCongressoNacional. Ementrevista, Jefferson denunciaque, desde 2003, seu partido teria recebido umaofertapara recebermesada de umesquema coordenado porDelúbio Soares, tesoureiro doPT.

9dejunhoMesmo com pressão contrária de parte da bancadagovernista no Congresso, a CPMI dos Correios éinstalada. No calendário de trabalho do grupo, sãomarcadas entrevistas da presidente do Banco Rural,Kátia Rabelo; do secretário do Núcleo de AssuntosEstratégicos da Presidência da República, LuizGushiken; do dirigente do BMG, Rogério Tolentino; edos empresários Marcos Valério e Daniel Dantas. Nomesmo dia, a PF prende quatro suspeitos departicipar da gravação envolvendo o servidorMaurício Marinho, flagrado recebendo propina.

12dejunhoRoberto Jefferson volta a acusar integrantes do governofederal de conhecer omensalão e citaMarcos Valériocomo articulador financeiro para a compra dosparlamentares. O parlamentar afirma que a verba doesquema viria de empresas estatais e do setor privado.

16dejunhoCitado por Roberto Jefferson como uma das pessoaspróximas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva queconhecia o esquema, José Dirceu renuncia ao cargode ministro-chefe da Casa Civil, 10 dias após arevelação do mensalão. O petista reassume a cadeirana Câmara dos Deputados.

8dejulhoÉpresono aeroporto deCongonhas JoséAdalberto Vieira,assessor do deputado estadual José Nobre Guimarães(CE), irmão do presidente nacional do PT, José Genoino,comR$ 200mil namala e US$ 100mil na cueca.

20dejulhoCriada comissão parlamentarmista de inquéritopara apurar as denúncias de pagamento derecursos amembros do Congresso com finalidadede aprovarmatérias do interesse do Executivo.

12deagostoOpresidente Lula afirma que foi “traído” e que ogoverno e oPT têmde pedir desculpas pelos “erros”cometidos.

31deagostoPF indicia Delúbio Soares,Marcos Valério,José Genoino e omarqueteiro DudaMendonça porpráticas criminosas relacionadas aomensalão.Entre as acusações, estão crimes contra o sistemafinanceiro e lavagemde dinheiro.

14desetembroOplenário da Câmara aprova a cassação domandato do deputadoRoberto Jefferson por quebrade decoro parlamentar, por 313 votos. Alémdoenvolvimento comomensalão, o parlamentartambémé citado comoparticipante ematos decorrupção emempresas como a Eletronorte e oInstituto de Resseguros doBrasil (IRB).

16denovembroACPI doMensalãoé concluída semumrelatório finalaprovado. O relator do processo, deputado IbrahimAbi-Ackel (PP-MG), demonstra irritação como fimdos trabalhos. “É como se a investigação não tivesseexistido. Vira tudo pizza”, disse o deputado.

1ºdedezembroJoséDirceu (PT) temomandato de deputadofederal cassado por quebra de decoro parlamentar.Dos 495 deputados que participaramda votação,293 optampela perda domandato. Dirceu ficainelegível até 2015.

20065deabrilACPMI dos Correios apresenta o resultado de novemeses de trabalho. O relatório final foi aprovadocom 17 votos favoráveis, entre os 31 que integraramogrupo, sendo quatro parlamentares contrários aotexto. A investigação apontou a existência depropinas pagas a parlamentares e pediu aoMinistério Público quemais de 100 pessoas fossemindiciadas. Alémde integrantes do governo federal,outros 18 deputados são citados comenvolvimentono esquema.

11deabrilOprocurador-geral da República, Antonio Fernandode Souza, apresenta denúncia ao SupremoTribunalFederal contra 40 pessoas envolvidas no esquemadomensalão. A lista inclui os ex-ministros JoséDirceu (Casa Civil), Luiz Gushiken (Secretaria deComunicação) e AndersonAdauto (Transportes).

2deoutubroOito acusados de ligação com o esquema do mensalãosão eleitos para a Câmara dos Deputados: João PauloCunha (PT-SP), José Mentor (PT-SP), Vadão Gomes(PP-SP), Sandro Mabel (PL-GO), Pedro Henry (PP-MT),Paulo Rocha (PT-PA), Valdemar Costa Neto (PL-SP) eJosé Genoino (PT-SP).

6dedezembroSempunição para amaioria dos envolvidos, termina a sériede julgamentos de parlamentares citados nomensalão.Dos 19 deputados acusados, 12 foramabsolvidos, quatrorenunciaram—PauloRocha (PT-PA), José Borba(PMDB-PR), Valdemar Costa Neto (PL-SP) e CarlosRodrigues (PL-RJ) — e três foram cassados pelaCâmara de Deputados — José Dirceu, RobertoJefferson e Pedro Corrêa (PP-PE). O último a escaparda cassação por quebra do decoro parlamentar foiJosé Janene (PP-PR), absolvido pelos colegas.

200728deagostoO Supremo Tribunal Federal (STF) aceita denúncia contraos 40 suspeitos de envolvimento nomensalão. Norelatório de denúncia, oministro Joaquim Barbosa apontacomo operadores do núcleo central do esquema o ex-ministro José Dirceu, o ex-deputado e presidente do PT,José Genoino, o ex-tesoureiro do partidoDelúbio Soares, e o ex-secretário-geral Silvio Pereira.Todos foram denunciados por formação de quadrilha.

200824dejaneiroSílvio Pereira assina acordo comaProcuradoria Geral daRepública para não sermais processado no inquérito sobreo caso. Ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitárioematé três anos e deixou de ser umdos 40 réus.

201014desetembroJosé Janene, ex-deputado do PP, morre e também deixade figurar na denúncia. O parlamentar tinha sidoabsolvido no processo de cassação na Câmara, mas erasuspeito de se beneficiar demais de R$ 4milhões dasempresas do publicitário Marcos Valério.

20117dejulhoO procurador-geral da República, Roberto Gurgel,entrega ao STF as alegações finais do caso do mensalão.No processo, pediu que o tribunal condenasse 36 dos 38réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro daComunicação Social Luiz Gushiken e o irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas,Antônio Lamas, ambos por falta de provas.

CRONOLOGIA DOMENSALÃO

Efeitoboladeneve

PUBLICITÁRIO

O publicitárioCristiano Paz, um dosmais consagradosprofissionais do país,na época do chamadomensalão, nãotrabalhava na gestão daempresa SMP&B. Hoje,ele é dono da Filadélfia,a mais premiadaagência de Minas Gerais,e só trabalha comclientes privados.

Deputados

Presidente da Câmaradurante os dois primeiros

anos do governo Lula, JoãoPaulo Cunha (PT-SP) escapou

da cassação, mas viuminguarem os seus planos dese tornar governador de São

Paulo. Hoje, concorre aprefeito de Osasco. Já

Valdemar Costa Neto (PR-SP)segue dando as cartas no

partido e com relativo poderem pastas estratégicas daEsplanada, como a dos

Transportes

PaulodeAraujo/CB/D.APress/ReproducaodeTV

J.F.Diorio/AE-9/7/05

SergioLima/FolhaImagem

-17/10/05

DanielFerreira/CB

/D.APress-23/5/06

JoseVarella/CB

/D.APress-30/11/05

JarbasOliveira/AE-12/7/05

CarlosMoura/CB/D.APress-14/6/05

CarlosMoura/CB/D.APress-11/8/05

Entenda como uma briga política por fatias de poder na Esplanada contaminou o fim doprimeiromandato de Luiz Inácio Lula da Silva e custou o posto de deputados do alto escalão

Page 3: Especial - Os nomes do mensalão Correio Braziliense

CORREIO BRAZILIENSE

Brasília,quinta-feira,26 de julho de 2012 12OMAIOR JULGAMENTODAREPÚBLICAEspecial

» ALESSANDRA MELLO

Aguardado com expectativa pelo Parti-do dos Trabalhadores e mais aindapelos seus adversários, o julgamentodo mensalão pelo Supremo Tribunal

Federal (STF) não deve influenciar as elei-ções deste ano. Pelo menos essa é a análisede cientistas políticos ouvidos pelo Correio.É que, nas disputas municipais, o que maisinteressa ao eleitor são propostas mais con-vincentes para melhorar a vida do cidadão.Mesmo assim, os analistas são unânimes emafirmar que, independentemente do desfe-cho, o mensalão — para desgosto dos envol-vidos — já entrou para a história da políticabrasileira, do Partido dos Trabalhadores e doimaginário da população.

Para Malcom Camargos, cientista políticoe professor da Pontifícia Universidade Católi-ca deMinas Gerais (PUC-MG), o maior efeitodomensalão foi “tornar o PTumpartido igualaos outros”. “Até então, a legenda carregava abandeira da ética e o discurso de que era dife-rente dos outros no modo de fazer política.Comomensalão, a imagemmudou. Isso é ne-gativo, pois, para a população, do ponto devista simbólico, fica a impressão de que todasas legendas são iguais nas práticas. O que nofim acaba sendo uma verdade”, comenta Ca-margos. Doponto de vista eleitoral, para ele, oefeito é pequeno. “Como todos são iguais,ninguém pode levantar a bandeira da ética. Oeleitor vai escolher aquele que ele acha quepode ajudar amelhorar a sua vida.”

Para o analista político e consultor de comu-nicaçãoGaudêncioTorquato, omensalão repre-sentaummodode fazerpolíticanoBrasil.“Éumevento que, de certa forma, denota a política dopaísdecooptaçãodeparlamentaresparavotar afavordogoverno, tendoportrásadistribuiçãodefavores de toda a natureza. Essa compra deapoio é umadasmazelas da nossa cultura que,no caso domensalão, ganhou uma expressãomais escandalosaporqueenvolveu figurasdeal-to coturnodogoverno federal, comoministros eparlamentarespoderosos.Tambémganhoudes-taquepor ternocentrodelaoPartidodosTraba-lhadores, legenda que sempre defendeuna so-ciedadeoconceitodeéticanapolítica”, analisaoconsultorpolíticoGaudêncioTorquato.

Torquato não arrisca umprognóstico sobreo resultado do julgamento pelo STF,mas, inde-pendentemente do que acontecer, alguém vaisair insatisfeito. “Condenando ou absolvido, omensalão ficará gravadonahistória política co-mo umdosmaiores julgamentos do Supremo,seja pelo número volumoso de páginas do pro-cesso, umdosmaioresdahistória daCorte, sejapelo escândaloprovocadopelo caso”, garante.

Política vulnerável

Para o sociólogoMarcos Coimbra, o caso éum episódio “traumático” com características

que apopulação avalia como sendopermanen-tesdanossaculturapolítica.“Comoarrecadaçãoilegal de recursos e toma lá dá cá entre Legis-lativo e Executivo.” Segundo ele, o mensalãoé um fato marcante, pois expôs a vulnerabili-dade do sistema político brasileiro. “Mas nãofoi o começo nem o fim dessas práticas”, sen-tencia. O negativo, para ele, é a ideia de quesempre existe um ilícito sendo praticado napolítica. “E com uma certa razão.”

Apesar desse descrédito, de acordo com

Coimbra, o mensalão não tem poder de in-fluenciar no resultado das eleições, como es-peram partidos que polarizam com o PT. “Fa-tores externos à política da cidade influenciamquase nada nessas eleições. Isso faz parte doamadurecimento do eleitorado que diferenciaos diversos assuntos. Ninguém votará emquem acredita ser mau prefeito só porque opartido desse candidato nunca participou deumato ilícito. Até porque, se for usar esse crité-rio, todos serão excluídos.”

»HELENAMADER

Otermo“mensalão” entroupara odicionáriopopular e se transformou emumneologismousado semparcimônia emqualquer denúnciade corrupção emque autoridades desviam re-cursospúblicosou recebemvantagenspessoais.A expressão está na boca dopovo e, às vésperasdo início do julgamento no SupremoTribunalFederal, a pressãopopular pela condenaçãodosréussócresce.Masamaioriadosbrasileirosdes-conhece detalhes doprocesso ouos nomes dosprincipais acusados. Entre eles, há apenas umconsenso: a dequepolíticos corruptos devem irparaatrásdasgrades.

OCorreio conversou combrasileiros de vá-rios estados e classes sociais para saber qual é aexpectativa da população com relação ao caso.Todos os entrevistados já ouviram falar sobre omensalão,mas poucos se lembramdos desdo-bramentosdoescândalo. Entreos réus, JoséDir-ceu e Roberto Jefferson são osmais lembradospelos brasileiros. Apesar dodiscurso emprol dacondenação dos réus, poucos cidadãos acredi-tamnessapossibilidade.

“Issoaí vaidar empizzacomcerteza”,decreta

adomésticaMeireCarvalhodosSantos, 32anos,moradora de São Sebastião. “Nunca vi políticocorrupto ser condenadoneste país e, desta vez,nãovaiserdiferente”,acrescenta.Amicroempre-sária Rosinete DiasMedeiros, 46 anos, contouque já ouviu falarmuito nomensalão,mas ad-mitiunãoconhecerdetalhessobreocaso.“Sóseique teve roubalheira de dinheiro, eu acompa-nho o noticiário quando dá tempo”, justificou.“De qualquer forma, só pobre vai para a cadeianestepaís”, finalizouamoradoradeSamambaia,queédonadeumbuffet.

Já o sergipanoRoberto Paes, 51 anos, auditorda Fazenda, revelamais intimidade como temadomensalão. Apesar de não se lembrar dos no-mes dos réus, ele torce pela condenação dosacusados. “O Brasil precisa de um lampejo demoralidade, ninguémaguentamais tanta rou-balheira.”Ele émaisotimistaquantoaumapos-sível condenação.“Euachoquea Justiça será fei-ta. E sei quemeuconterrâneo teráumpapel im-portantenesse julgamento”, comentouRoberto,referindo-se ao presidente do STF, Carlos AyresBritto.“Ele foimeuprofessor dedireito constitu-cionalnopassadoeseiqueémuitocompetente.Achoque vai fazer história”, acrescentouo audi-

tor, que veio a Brasília com amulher, ÂngelaPaes,paraparticipardeumencontro religioso.

O também sergipano José Alves Cardoso,bancário de 59 anos, defendemaior rigor naapuraçãodecasosdecorrupção,comoomensa-lão. “Poucas acusações chegama esse ponto deseremanalisadaspeloSTF.Amaioriaseperdenocaminho e nemchega a ser julgada”, comenta.“Não conheçobemahistória domensalão,maslembroqueenvolveuo (José)Dirceu.Époressase por outras que abandonei a política. Há 25anos,mecandidatei a vereadoreperdi. Foibom,porquepercebi quenessemundo só tempodri-dão”, revelaJoséAlves,quehámaisdeduasdéca-das concorreuaumavaganaCâmaraMunicipaldeAquidabã,a100kmdeAracaju.

Oanalista de sistemasEduardoEspíndola, 41anos, émoradordoGuaráecontaquevai acom-panhar de perto o julgamento domensalão.“Leio bastante as notícias de política, especial-mentedesse caso.” Para ele, JoséDirceudeve serpunido.“Ele tinhamuita influência na épocadomensalão e ganhou dinheiro comos conheci-mentosque tinhasobreogoverno”, justifica.“In-felizmente,quemtembonsadvogadosnãoépu-nido.Eachoquevai serassimcomomensalão.”

Manifestantes pedemaaprovação da Lei da

Ficha Limpa: depois doescândalo, iniciativas

demoralização

Ética redescoberta

Areticênciadoeleitor

INFELIZMENTE,QUEM TEM BONSADVOGADOS NÃOÉ PUNIDO. E ACHOQUE VAI SER ASSIMCOMOMENSALÃO”

Eduardo Espíndola,analista de sistemas

NÃO CONHEÇOBEM AHISTÓRIA DOMENSALÃO. É POR

ESSAS E POR OUTRASQUE ABANDONEIA POLÍTICA”

José Alves Cardoso,bancário e ex-candidato a

vereador em Sergipe

Dissidências

Na esteira do escândalo domensalão, o PT assistiu auma diáspora na legenda.Devido às denúncias de

pagamento demesadas aparlamentares da base ecaixa dois de campanha,deixaram a legenda ou

foram expulsos osdeputados federais Babá(PA), Ivan Valente (SP),Chico Alencar (RJ) e a

senadora Heloísa Helena(AL). Os quatro acabaram

fundando o PSol.

Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press - 4/5/10

Janine Moraes/CB/D.A Press Janine Moraes/CB/D.A Press

Diretor de Redação: Josemar Gimenez ([email protected]);Editora-chefe:Ana Dubeux ([email protected]);Editores executivos:CarlosAlexandre ([email protected]) ePlácido Fernandes ([email protected]);Editor de Política: Leonardo Cavalcanti ([email protected]);Editor deArte:Amaro Júnior ([email protected]);Editor de Fotografia:LuísTajes ([email protected]); Subeditor: Ivan Iunes; Reportagem:Alessandra Mello,DiegoAbreu,Helena Mader, Isabella Souto,Karla Correia, Larissa Leite,Marcelo da Fonseca,Maria Clara Prates, Paulo deTarso Lyra eTereza Cruvinel;Diagramação e concepção gráfica: Itamar Balduino e Roberto de Sousa;Revisão:GabrielaArtemis;

Expediente

Especialistas apostamqueoescândalonão influenciaránopleitomunicipal e apresenta comomaior impactoparao jogoeleitoral abaixa credibilidadedospartidosno imaginário popular

Page 4: Especial - Os nomes do mensalão Correio Braziliense

CORREIO BRAZILIENSE

Brasília,quinta-feira,26 de julho de 2012 10/11

Revisor da ação penal domensalão, oministro EnriqueRicardo Lewandowski, de 64 anos, experimentou noprimeiro semestre do ano uma enormepressão para liberar a revisão do processo. Emmenos de seismeses,concluiu o processo no fimde junho a tempo de o julgamento sermarcado para o começo de agosto. Emabril, aotérmino de seumandato de presidente do TSE, Lewandowski renunciou à cadeira deministro daquela Corte parase dedicar em tempo integral aomensalão.Mobilizou seu gabinete para revisar asmais de 50mil páginas doprocesso e disse ter feito “das tripas coração para respeitar o que foi estabelecido pela SupremaCorte”.Atencioso comadvogados e jornalistas, Lewandowski deixou de lado a sua habitual tranquilidade ao se verpressionado por colegas e por parte da opinião pública para concluir rapidamente o trabalho de revisão. Tendo apaciência comoumadas principais características, oministro dá lugar às vezes a uma certa inquietação quandonão vê seus votosmais emblemáticos prosperarem. Carioca criado emSãoPaulo e comsotaque paulistano,Lewandowski liderou no Supremoa defesa pela validação da Lei da Ficha Limpa. Enquanto presidente do TSE,abriu pela primeira vez as urnas eletrônicas para testes de segurança externos.Bacharel emdireito pela Faculdade deDireito de SãoBernardo do Campo, Lewandowski iniciou a carreira, em1974, comoadvogado. Foi secretário de Assuntos Jurídicos de SãoBernardo e consultor jurídico daAssembleiaLegislativa de SãoPaulo antes de se tornar juiz, em 1990. Sete anos depois, foi nomeado desembargador doTribunal de Justiça paulista. Lewandowski éministro do STF desdemarço de 2006, quando foi nomeado peloentão presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a vaga doministro aposentado Carlos Velloso.

RICARDO LEWANDOWSKI (revisor)

Mineira de Montes Claros, a ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, de 58 anos, acumula o cargo deministra do Supremo com a função de presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em pleno períodode eleições municipais. Ela é a primeira mulher a ocupar o principal cargo da Justiça Eleitoral brasileira.Magistrada do Supremo desde 2006, quando foi indicada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silvapara a vaga deixada por Nelson Jobim, Cármen é especialista em direito administrativo e se destaca porlutar pelo espaço da mulher na sociedade. A ministra iniciou a carreira na advocacia privada, em 1978, eatuou como procuradora do estado de Minas Gerais antes de chegar à Suprema Corte.Cármen Lúcia é a terceira de seis irmãos. Na infância, em Belo Horizonte, estudou em um colégio internoantes de se graduar em direito pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas. Poliglota, a ministrafala com fluência alemão, espanhol, francês, inglês e italiano. Cármen é solteira e não tem filhos. Nosjulgamentos, costuma falar com firmeza somente o essencial sem se prolongar nos votos.Com hábitos simples, ela viaja sempre que possível para Minas, onde tem parentes e mantém suas raízes.A ministra gosta de contar “causos” para as pessoas próximas. Uma das boas estórias é um episódioocorrido na entrada da garagem do STF. Em certa ocasião, Cármen foi ao tribunal dirigindo o próprio carroparticular. Sem crachá, foi impedida de entrar por um segurança. Ela relata que chegou a dizer que é“juíza” do Supremo, mas o funcionário rebateu dizendo que o Supremo “não tem juízes, mas ministros”,duvidando que Cármen fosse de fato integrante da Suprema Corte.

CÁRMEN LÚCIA

Aos 44 anos, José Antonio Dias Toffoli é omais novoministro do STF em idade, embora tenhamais tempo de Cortedo que os colegas Luiz Fux e RosaWeber. Paulista deMarília, Toffoli é colecionador de armações de óculos e temcomo principal especialidade o direito eleitoral. Graduado emdireito pela Universidade de São Paulo (USP), em1990, Toffoli iniciou a carreira três anos depois, na função de consultor jurídico da CentralÚnica dos Trabalhadores(CUT). Ele também foi assessor parlamentar da Assembleia Legislativa Paulista antes de se tornar assessorjurídico do PT na Câmara dos Deputados, em 1995.Homemde confiança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Toffoli trabalhou como advogado do PT naseleições de 1998, 2002 e 2006. Em 2003, exerceu a função de subchefe para assuntos jurídicos da Casa Civil,comandada na época por José Dirceu. No segundomandato de Lula, Toffoli se tornou advogado-geral daUniãoantes de ser nomeado, no fim de 2009, para o cargo deministro do Supremo em substituição a Carlos AlbertoMenezes Direito. Toffoli tambémémembro titular do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).Emplenário, costuma cobrar provas cabais para condenar umacusado. Em 2010, no julgamento que resultou naprimeira condenação de umpolítico pelo Supremo desde que a Constituição foi editada, Toffoli manifestou-se pelaabsolvição do ex-deputado José Gerardo (PMDB-CE). Mais recentemente, oministro foi relator de uma ação contrao deputado Asdrúbal Bentes (PMDB-PA) e, embora tenha votado pela condenação do parlamentar— acusado detrocar laqueaduras por votos—, Toffoli sugeriu a substituição da pena de três anos pelo pagamento de umamultade 100 saláriosmínimos,mas acabou vencido no julgamento.

DIASTOFFOLI

Magistrado de carreira, o carioca Luiz Fux, de 59 anos, não é um especialista em direito penal, mas, há trêsdécadas namagistratura, acumula participações em dezenas de julgamentos dematérias criminais. Adeptode votos longos quando o temamerece destaque, Fux participa com frequência dos debates de assuntos maispolêmicos julgados pelo STF, não se atendo apenas ao voto. Ex-surfista, lutador de jiu-jítsu, guitarrista ecantor nas horas vagas, ele aproveita os momentos de folga no Rio de Janeiro para ficar com a família econhecidos. Um dosmais ilustres amigos de Fux é o cantor Zeca Pagodinho. Oministro atribui à prática do jiu-jítsu sua calma e concentração para tomar decisões importantes no dia a dia.Luiz Fux é judeu e filho de um romeno naturalizado brasileiro. Casado e pai de dois filhos, ele iniciou a carreirajurídica em 1976, como advogado da Shell Brasil, nomesmo ano em que se graduou em direito pelaUniversidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Desde 1995, Fux é professor titular de processo civil dauniversidade. Em 1979, foi aprovado em primeiro lugar no concurso para promotor de Justiça do Rio. Oministro também passou pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro antes de ser nomeado para o SuperiorTribunal de Justiça (STJ), em 2001, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Fux chegou ao Supremoemmarço de 2011, após ser escolhido pela presidente Dilma Rousseff para substituir Eros Grau.Em entrevista ao Correio em novembro do ano passado, o ministro afirmou que a imprensa foi a responsávelpor catalogar omensalão como um processo emblemático. Na ocasião, Fux alertou que “juiz com vocaçãopara esse sacerdócio não condena inocente nem absolve culpado”.

LUIZ FUX

Há apenas oito meses no cargo de ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), a gaúchaRosa Maria Weber Candiota da Rosa, de 63 anos, carrega uma bagagem de 35 anos namagistratura. Especializada em direito do trabalho, tem pouca experiência emjulgamentos de matérias criminais, mas desde que assumiu a cadeira deixada porEllen Gracie na Suprema Corte, vem se dedicando ao estudo do regimento internoe do Código Penal.Discreta, Rosa costuma ser incisiva e sucinta em seus votos. Na maioria dos julgamentosdos quais participou, a ministra posicionou-se em prol de temas defendidos pelasociedade, como na análise relativa às cotas raciais e sociais de universidades públicas.Primeira juíza de carreira a integrar o Supremo, e terceira mulher nomeada para oórgão, Rosa já está ambientada no plenário. Prefere não fazer comentários ouinterromper os votos dos colegas, mas quando tem a palavra, costuma ser didática efundamentar bem os votos.Graduada em direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rosa Weber inicioua carreira no serviço público, em 1975, como inspetora do Ministério do Trabalho. Doisanos depois, ingressou na magistratura na função de juiza do Trabalho no Rio Grande doSul. Ela presidiu o Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, com sede em PortoAlegre, antes de ser nomeada ministra do Tribunal Superior do Trabalho (TST), em 2006.No fim do ano passado, a presidente Dilma Rousseff indicou Rosa para a vaga deixada noSTF por Ellen Gracie, que se aposentou.

ROSAWEBERIano Andrade/CB/D.A Press - 11/4/12

Carlos Moura/CB/D.A Press - 15/2/12Marcello Casal Jr/ABr - 1/2/12

Nelson Jr./SCO/STF - 2/2/12

Carlos Moura/CB/D.A Press - 15/2/12Fellipe Sampaio /SCO/STF

Humberto/SCO/STFPaulo de Araújo/CB/D.A Press - 27/4/11

Paulo de Araújo/CB/D.A Press - 27/4/11 Carlos Humberto/SCO/STF /Divulgação

Prestes a se aposentar, Cezar Peluso pode antecipar o voto para não deixar a Corte coma composição incompleta

Page 5: Especial - Os nomes do mensalão Correio Braziliense

OMAIOR JULGAMENTODAREPÚBLICAEspecial

OsonzedoSupremo

Presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional deJustiça, o ministro Carlos Ayres Britto, 69 anos, teve um papelfundamental para que o julgamento do mensalão começasse na próximaquinta-feira. Por diversas vezes, ele cobrou pressa do revisor do processo,o ministro Ricardo Lewandowski, na entrega de suas considerações finais.O grande temor era de que eventuais atrasos atrapalhassem aparticipação do ministro Cezar Peluso no julgamento, já que ele completa70 anos em 3 de setembro e terá que deixar a Corte.

O próprio Ayres Britto também se aposentará este ano. Ele sairá doSTF em 18 de novembro, depois de nove anos como integrante doSupremo. Durante quase uma década, o ministro teve sua trajetóriamarcada por votos em que destilou a sua linguagem poética e carimbou oseu perfil liberal. Um dos mais marcantes foi o relatório no julgamento arespeito da legalidade das uniões civis entre pessoas do mesmo sexo.“Pede-se que este tribunal declare que qualquer maneira de amar vale apena”, declarou o ministro.

Indicado em 2003 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, eletambém se destacou como relator de outros importantes processos, comoo que liberou as pesquisas com células-tronco no Brasil e é descrito comoummagistrado de perfil apaziguador — jamais se envolveu emdiscussões consideradas ofensivas com outros ministros. Sergipano, domunicípio de Propriá, Britto integra a Academia de Letras de seu estado eé autor de seis livros.

Decano do Supremo Tribunal Federal, foi nomeado para a principal Corte brasileira em 1989 pelo entãopresidente José Sarney. Será o último voto proferido no julgamento do mensalão, mas, por sua

respeitabilidade e capacidade jurídica expressa em seus votos, não raro consegue alterar opiniõesanteriores expressas pelos seus pares. Para ele, o sistema de Justiça deve "servir às pessoas para

solucionar os seus problemas, não alimentar a si próprio".Já foi capaz de rever umadecisãomeramente jurídica apósumaanálise detalhadado caso. Certa feita, havia negadoopedido deumdetento que solicitava transferência para receber atendimentosmédicos.Negoupor achar queoSTF

não era o tribunal competente para julgar a causa. Voltou atrás ao saber que opreso era vítimade câncer eAids ecompletou afirmandoque "ignorar o pedido de transferência equivaleria a umasentençademorte".

Também foi um precursor na tese da fidelidade partidária. Esperou exatos 18 anos para conseguir formarmaioria em torno do argumento de que o parlamentar que muda de legenda perde o direito à vaga. "O

ato de infidelidade quer à agremiação partidária, quer, sobretudo, aos eleitores, traduz um gesto deintolerável desrespeito à vontade soberana do povo", proferiu em voto firmado em 2007.

Foi decisivo também no julgamento em que aplicou à esfera pública a mesma lei de greve do setorprivado. E concedeu um habeas corpus a um preso acusado de furtar um botijão de gás no valor de R$ 20.

Como justificativa o fato de que, em julho de 2004, data do furto, o objeto furtado equivalia a 7,69% dosalário mínimo então vigente no país.

» DIEGO ABREU

OSupremoTribunal Federal (STF) é composto por 11ministros,

que se reúnem em plenário tradicionalmente duas vezes por

semana para julgar os processos mais importantes da Corte.

Eclético, o tribunal é integrado por quatro juristas comorigem

noMinistério Público, quatro oriundos da advocacia e trêsmagistrados

de carreira. Trêsministros são paulistas, três cariocas, doismineiros, um

sergipano, ummato-grossense e umagaúcha.

Conformeestabelece aConstituição, todososministros sãode livre in-

dicação do presidente da República, embora tenham que ser aprovados

pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado, após sabatina, e pelo

plenáriodaCasaLegislativa, antesdanomeação.Daatual composiçãodo

Supremo,maisdametadedos integrantes foi indicadapelo ex-presidente

Luiz InácioLuladaSilva, quenomeouseisministros.DilmaRousseff indi-

cou dois dos atuais magistrados, enquanto os demais foram escolhidos

por José Sarney, FernandoCollor e FernandoHenriqueCardoso.

Antes de iniciados os julgamentos, osministros costumam se encon-

trar em uma área restrita reservada para o lanche deles. Por lá, conver-

sam, trocam ideias,masnão costumamcombinar votos.Háquemdefen-

da umadiscussão prévia dos processos a serem julgados para que osma-

gistrados evitem polêmicas durante as sessões.Mas isso não é realidade.

São raros os acordos feitos aportas fechadas, comooqueocorreunocaso

dadefinição do cronogramadomensalão.

Três dosministros doSupremoacumulamocargo coma funçãode in-

tegrante doTribunal Superior Eleitoral (TSE). O presidente do Supremo é

escolhido pelo critério da antiguidade. Aqueles que tomaram posse há

mais tempo chegam ao comando do tribunal para ummandato de dois

anos.O atual presidente, Carlos Ayres Britto, assumiu emabril,mas ficará

no cargo por apenas sete meses, pois terá que pedir aposentadoria em

novembro, quando completará 70 anos.Opróximopresidente do STF se-

rá JoaquimBarbosa.

CELSODEMELLO

Um dosmais abertos e polêmicosministros do Supremo, Marco Aurélio, 66 anos, jamais se furtou amantersuas convicçõesmesmo que elas não sejam seguidas ou compreendidas por seus pares. Tanto que ficouconhecido como "senhor voto vencido", por não terem sido raras as vezes em que seu voto destoou do

entendimento damaioria. É primo do ex-presidente Fernando Collor.Uma dasmarcas de Marco Aurélio é o respeito ao processo legal. Essa postura já lhe rendeu diversas críticas,

já que, em vários momentos, concedeu habeas corpus em casos polêmicos, por entender que "a prisão antes dotrânsito em julgado da condenação, salvo em casos excepcionais, viola o princípio da presunção de inocência".

Um dos beneficiados pelo habeas corpus foi o ex-banqueiro Salvatore Cacciola, em 2000, acusado de ter sebeneficiado com informações privilegiadas da desvalorização cambial de 1999.

Libertado, o banqueiro, proprietário do falido banco Marka, fugiu para a Itália e só foi preso novamenteem 2007, em Mônaco. Por ter cidadania italiana, não podia ser extraditado. Também votou a favor do

habeas corpus para Susane von Ritchthofen e o para o explorador de máquinas de caça-níqueis AntonioKhalil, o Turcão.

A paixão pelo processo legal rivaliza com o amor por seu time de coração, o Flamengo. É conhecida a históriade uma tarde de domingo, quandoMarco Aurélio interrompeu uma entrevista por telefone para gritar, em

êxtase: "Vai, Obina". Na época, a torcida rubro-negra achava que o centroavante eramelhor do que ocamaronês Samuel Eto’o, então jogador do Barcelona.

MARCOAURÉLIOMELLO

De todos os ministros do Supremo Tribunal Federal que começarão a julgar o mensalão a partir dapróxima quinta, 2 de agosto, Gilmar Ferreira Mendes foi o que se envolveu na maior polêmica

recente sobre o caso: a famosa reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no escritóriodo ex-presidente do STF Nelson Jobim. Nela, Gilmar Mendes garante que Lula pediu o adiamento

do julgamento do mensalão para depois das eleições municipais de outubro em troca de blindagemna CPI do Cachoeira.

A relação de Gilmar com Lula sempre alternoumomentos de aproximação com outros de confrontoexplícito. Gilmar chegou a afirmar que o país vivia um estado policialesco e um suposto grampo deuma conversa entre ele e o ex-senador Demóstenes Torres, em 2008 — desmentido posteriormente

por perícias da Polícia Federal —, levou à queda do então diretor da Agência Brasileira de Inteligência(Abin), Paulo Lacerda. Para ele, por exemplo, as mais de 407mil interceptações telefônicas autorizadas

pelamagistratura em 2007 são uma prova da "fragilidade do Poder Judiciário."Mendes é tido como criterioso e defensor explícito do fim das algemas nos casos de prisão, poracreditar que essa medida fere a integridade dos réus. Ex-advogado-geral da União durante ogoverno Fernando Henrique Cardoso, o mato-grossense Mendes tem 56 anos e acredita que ojulgamento do mensalão é importante para "desmistificar a ideia de que foro privilegiado rima

com impunidade".

GILMARMENDES

Primeiro e único ministro negro da história do Supremo Tribunal Federal (STF), JoaquimBarbosa, de 57 anos, é o protagonista do processo do mensalão na Corte. Sorteado relator docaso do mensalão em 2006, coube a ele conduzir a mais extensa e importante ação da política

recente brasileira. Há cinco anos, o voto de Joaquim, favorável à abertura da ação penal domensalão, prevaleceu no julgamento em que o Supremo aceitou a denúncia apresentada pelo

então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, contra 40 réus.O ministro Joaquim não se furta de criticar a imoralidade durante julgamentos em plenário. Foifavorável à Lei da Ficha Limpa e chegou a ser criticado por advogados de réus do mensalão quealegam cerceamento de defesa no processo — os defensores de Marcos Valério tentaram, semêxito, tirar Joaquim da relatoria do mensalão. Polêmico, Joaquim Barbosa coleciona desafetos.

Já bateu boca em plenário com os colegas Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes. Brigou nocafezinho do Supremo com o ex-ministro Eros Grau e, mais recentemente, acusou o colega Cezar

Peluso de manipular resultados de julgamentos.Mineiro de Paracatu, Joaquim estudou em um colégio estadual em sua cidade natal antes de semudar para Brasília, onde cursou o segundo grau no Colégio Elefante Branco. Graduou-se em

direito pela Universidade de Brasília (UnB). Estudou línguas estrangeiras no Brasil, naInglaterra, nos Estados Unidos, na Áustria e na Alemanha. O ministro iniciou a carreira jurídicacomo advogado. Depois, exerceu as funções de oficial de chancelaria e de membro do Ministério

Público Federal, de 1984 a 2003, quando foi nomeado ministro do Supremo pelo entãopresidente Luiz Inácio Lula da Silva.

JOAQUIMBARBOSA (relator)

O mensalão será o último julgamento de Cezar Peluso como ministro do Supremo Tribunal Federal.Em 3 de setembro, ele se aposentará da principal Corte do país, onde entrou em 2003. Essa

movimentação já gera polêmica, uma vez que Peluso, possivelmente, terá que adiantar o seu votoantes de aposentar-se por atingir 70 anos.

O primeiro ministro nomeado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a fidelidadepartidária e a extensão da Lei de Greve do serviço público à iniciativa privada. Envolveu-se em uma

polêmica feroz com a corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, que denunciou a existência de"bandidos de toga".

Logo após a declaração de Eliana, Peluso, que na época presidia o CNJ, disse que o conselhorepudiava "acusações levianas que, sem identificar pessoas, nem propiciar qualquer defesa, lançam,sem prova, dúvidas sobre a honra de milhares de juízes". Também criou um mal-estar com o Palácio

do Planalto ao pressionar a presidente Dilma Rousseff pelo reajuste dos servidores do Judiciário.Outra marca de Peluso é colocar-se contra situações de violação das garantias

constitucionais. Certa feita, elaborou um voto de 28 páginas considerando nulo o interrogatóriopor videoconferência, especialmente quando não existe citação ao réu. Para ele, essa prática"limita o exercício da ampla defesa, além de ser um insulto às garantias constitucionais da

igualdade e publicidade".

CEZARPELUSO

CARLOSAYRESBRITTO (presidente)

Nelson Jr./SCO/STF

Conheça osministros responsáveis por definir os destinos dos 38 réus domensalão a partir de agosto.

Page 6: Especial - Os nomes do mensalão Correio Braziliense

» TEREZA CRUVINEL

Muitas já foram as CPIs instaladas peloCongresso para apurar escândalos de cor-rupção depois da redemocratização. Asconsequências: cassações de mandatos,processos judiciais, prisões e algumas mu-

danças legais e institucionais destinadas aevitar a repetição de práticas antiéticas eelevar a qualidade da política. Já o escânda-lo do mensalão, a CPI dos Correios e o pro-cesso em curso no STF, apesar do impactoperante a opinião pública, até agora nãoproduzirammedidas nesse sentido.

Um dos mais importantes instrumen-tos de moralização da administração pú-blica é a Lei de Licitações. Foi aprovadapouco depois do escândalo que gerou aCPI do PC Farias — que levou à cassaçãode Collor, em 1992. Antes, já existiam regraspara as licitações, mas imperfeitas. A novalei ganhou forma draconiana. Mudanças

importantes na tramitação e na votaçãoda lei orçamentária anual também foramadotadas pelo Congresso em 1994, logodepois da CPI dos Anões do Orçamento.Esses são exemplos de consequências po-sitivas de escândalos.

O mensalão envolveu delitos de váriasnaturezas em áreas que vão da publicidadeà gestão bancária,mas a origemde tudo estáno sistema político e eleitoral brasileiro,que, apesar das muitas propostas de refor-ma política, continua exatamente o mesmo.Os dois principais problemas: a dificuldadede formar coalizões no Congresso e de fi-nanciar as campanhas eleitorais. (HM)

CORREIO BRAZILIENSE

Brasília,quinta-feira,26 de julho de 2012 8/9

A reforma quenão avança

Respostasdonúcleo financeiro» HELENA MADER» MARIA CLARA PRATES

Aconcessão de supostos empréstimosde fachada a empresas deMarcosValé-rio e ao PT é a acusação central contraintegrantes do chamado núcleo finan-

ceiro domensalão. Quatro dos 38 réus ocupa-vamcargosestratégicosnoBancoRural àépocado escândalo. Kátia Rabello era presidente dainstituição, AyannaTenório respondia pela vi-ce-presidência e José Roberto Salgado eVini-cius Samarane eramdiretores.

As defesas dos réus ligados ao Banco Ruraltrazem basicamente osmesmos argumentos.Todos alegam que não recaem sobre eles de-núncias de corrupção, compra de apoio deparlamentares ou desvios de recursos públicos—que são o eixo central da denúncia domen-salão. Entre a extensa documentação usadapela defesa, a peça fundamental é um laudoelaborado pelo Instituto de Criminalística daPolícia Federal em 2009 que atesta a “veracida-de das operações de crédito contratadas pelasduas empresas deMarcosValério”.

Com relação à falta de exigência para liberaro crédito, a defesa dos executivos alega que asgarantias são uma questão subjetiva e que osvalores emprestados não eram significativosem comparação comopatrimônio líquido dasempresas deValério— que somavam à épocaativos superiores a R$ 5 bilhões. Dos R$ 32mi-lhões repassadospeloBancoRural, asduasem-presas deMarcosValério receberamR$ 29mi-lhões e o PT, R$ 3 milhões. O empréstimo doPartidodosTrabalhadores já foi liquidado, aumcustodeR$10milhões. Já adívida comopubli-citário, acusadode serooperadordomensalão,é cobrada até hoje na Justiça. Segundo repre-sentantes do Banco Rural, o débito deMarcosValério já somamais deR$50milhões.

A alegação da denúncia é de que a institui-ção financeira teria entrado no esquema domensalão por ter interesse no processo bilio-nário de liquidação do Banco Mercantil dePernambuco, do qual detinha 17% de partici-pação. A procuradoria afirma que “era inte-resse do Banco Rural que o Banco Central de-finisse a fórmula de calcular o passivo e o ati-vo da massa em liquidação”. A defesa nega aacusação e garante que a questão do BancoMercantil de Pernambuco era estritamentejurídica. “Esse assunto se arrastava desde1996 e não houve nenhum tipo de interferên-cia do governo na solução, que só veio cincoanos depois”, diz a defesa.

Outra acusação que pesa contra os ex-diri-gentes doBancoRural é lavagemdedinheiro. Oobjetivo, segundo a denúncia da ProcuradoriaGeral da República, era “ocultar a origem, a na-tureza e o real destinatário dos altos valores pa-gos em espécie às pessoas indicadas porDelú-bioSoares, amandode JoséDirceu”.

A defesa dos réus assegura que a origemdos recursos é lícita e que o dinheiro sacadono Banco Rural vinha de outros bancos. “Ossaques eram feitos com cheques nominaisendossados. As pessoas que vinham retirar odinheiro assinavam recibo e deixavam umacópia da identidade”, assegura a defesa. OBanco Rural exigia o preenchimento de umformulário de controle de transações em es-pécie, alegam os advogados.

Representantedo réu JoséRoberto Salgado, oadvogadoMárcioThomaz Bastos diz que temboas expectativas com relação ao caso. “As acu-sações formuladas contra ele eosdemais execu-tivos doBancoRural dizem respeito somente àregularidadeeaocumprimentodeprocedimen-tos bancários, que foram realizados de acordocomasnormasvigentesàépocados fatos.”

Já o advogadoTheodomiro Dias Neto, que

representa Kátia Rabello, critica a denúncia doMinistério Público. “A acusação contra os exe-cutivos doRural padece de uma série de fragili-dades técnicas. A acusação de lavagem consis-tiria em suposta ocultação de saques de contadaSMP&BemagênciasdoRural, por funcioná-rios da empresa ou terceiros indicados. Nossadefesa demonstra que o banco não tinha o po-der de negar saques a um cliente, mas adotoutodososprocedimentospara identifica-los.”

Regras respeitadas

Em inquérito remetido ao SupremoTribu-nal Federal (STF), instauradopara apurar a ori-gem dos recursos que alimentaram omensa-lão, a Polícia Federal concluiu que os valoresmovimentados no esquema tinhamcomo fon-te dois empréstimos feitos pelo operadorMar-cosValério com o Banco Rural e o BMG, paraquitar os compromissos com parlamentaresdabase aliada. Entretanto, depoisdeanálisedatransação perante as instituições financeiraspor peritos contábeis, a PF concluiu que osempréstimos com os bancos privados segui-ramas regras estabelecidas pelo BancoCentrale pelas agências de controle.

OBancoRural, segundoaperícia, fez levanta-mento completo de toda amovimentaçãoban-cáriadeMarcosValério, depois doempréstimoaanálise foi entregue aos federais, durante as in-vestigações iniciadasem2005.Foi combasenes-sa documentação que a PF elaborou os laudosque fazemparte da segunda fase das investiga-ções, presididapelodelegado federal Luiz FlávioZampronha, à época, chefe daDivisãodeCom-bate àLavagemdeDinheiro. Apesardoaprofun-damentodas investigações,nãoficoucomprova-doqueosbancos tivessemconhecimentoprévioda finalidadedas transações financeiras suspei-taspromovidaspelooperadordoesquema.

o sistema partidário brasileiro fragmentou-se a partir da Constituição de 1988,que facilitou a criação de legendas. Por outro lado, a mesma Constituiçãotratou de garantir o equilíbrio entre os Poderes, condicionandomuitas açõesdo presidente à aprovação do Congresso. Com amultiplicação dos partidos,tornou-se quase impossível eleger um presidente com uma bancada que, pelomenos, se aproxime damaioria na Câmara e no Senado. Para alcançá-la,todos os presidentes da era democrática atual precisaram formar coalizões.

o presidente eleito terámais chances de eleger a maioria quando onúmero de partidos for menor, o que dependerá de uma reformapolítica que imponha restrições à criação e ao funcionamento departidos com baixa representação.

quando o PT fechou acordo comoPL para ter José Alencar como vice em 2002, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto,exigiu em contrapartida apoio financeiro para a campanha dos candidatos a deputado pelo partido. Já o então presidente doPTB, Roberto Jefferson, declarou à revista Veja, algunsmeses antes de denunciar omensalão, que o PT estava aplicando umcalote em seu partido, ao qual prometeu ajuda de R$ 20milhões para a campanhamunicipal de 2004. O problema dofinanciamento de campanhas é real e está na origemdamaioria dos casos de corrupção já ocorrida nos últimos anos.

em todas as tentativas de reformapolítica, o financiamento público de campanhas é proposto,mas acaba não aprovado. A proposta emdebate na Câmara criminaliza, inclusive comaperda demandato, o recebimento de recursos privados, uma vez aprovada a verba públicaexclusiva. O tema, no entanto, está longe de ser unanimidade. Para a cientista políticaMaria Braga, professora daUniversidade de SãoPaulo (USP), háuma conexão clara entre omensalão e o financiamento de campanhas: "NoMéxico, a adoção dessemétodo não resolveu oproblemada corrupção. Pelo contrário, houve umagravamento dos escândalos quando o financiamento tornou-se totalmente público.Tanto que eles voltaramaadotar umsistemamisto de financiamento", diz a especialista, que defende um teto de doação.

No rastro domensalão //Os principais problemas que levaram ao escândalo permanecem no centro das crises entre Executivo e Legislativo

OS SAQUESERAM FEITOS COMCHEQUES NOMINAISENDOSSADOS.AS PESSOAS QUEVINHAMRETIRARO DINHEIROASSINAVAMRECIBO E DEIXAVAMUMA CÓPIA DAIDENTIDADE. TODOSOS NOMES FORAMINCLUÍDOS NACONTABILIDADEDO BANCO”

trecho da defesado Banco Rural

Carlos Moura/CB/D.A Press - 8/6/05

Sessão de debatesobre a abertura daCPI dos Correios, emjunhode 2005: altoimpacto na opiniãopública e poucas

medidas parafrear a corrupção

Soluçãopossível:

Problema:Governabilidade nopresidencialismo

Problema:Financiamentode campanhas

Soluçãopossível:

Instituições bancárias responsáveis pelos empréstimos que teriam abastecido omensalão apresentam perícia da PF e garantem que as concessões foram legais

Page 7: Especial - Os nomes do mensalão Correio Braziliense

OMAIOR JULGAMENTODAREPÚBLICAEspecial

» PAULO DE TARSO LYRA

Às vésperas do julgamentono SupremoTri-bunal Federal, os principais réus domensalãoaguardamosdesdobramentos jurídicos do es-cândalo que estourou em junho de 2005 e jádeixou sequelas políticas em alguns deles.Apesar da onda de absolvições no plenário daCâmara, três parlamentares, dois deles consi-derados caciquespolíticos, tiveram seusman-datos cassados: José Dirceu (PT-SP), RobertoJefferson (PTB-RJ) ePedroCorrêa (PP-PE).Ou-tros, como o ex-presidente do PT José Genoi-no, passaram a ter uma atuação política bemmais discreta da dopassado.Cotado comoumdos principais nomes pa-

ra suceder Luiz Inácio Lula da Silva em 2010 e

homem forte do governo nos três primeirosanos demandato do petista, Dirceu passou aatuar, após a cassação, nos bastidores do PT.Tornou-se também consultor empresarial,aproveitando a expertise de seus tempos dechefe daCasaCivil. Apesar depublicar umblogcom suas opiniões políticas e econômicas,começouaservistocomressalvaspor integran-tesdecargospúblicos, queoptaramporencon-trar-se comele demaneira reservada para nãoseremvistosao ladodaquelequeéconsideradopeloMinistério Público Federal como o“chefedaquadrilhadoesquemadomensalão.”Roberto Jefferson, que a exemplo de Dir-

ceu também teve seus direitos políticos cas-sados, seguiu conduzindo as principais ne-gociações políticas do PTB. Mas perdeu di-versas batalhas internas no partido, que op-tou por permanecer ao lado do governo doPT — tanto com Lula quanto com Dilma.Responsável pela célebre frase “Sai daí, Zé,para não tornar réu um homem inocente”,Jefferson tem dito que seu destino está liga-do ao do ex-chefe da Casa Civil. E ameaçou:“Se o Dirceu quiser politizar o julgamento,quem se darámal é o Lula”.

Presidente do PT e responsável por autori-zar os empréstimos feitos pelo partido peranteos bancos Rural e BMG— intermediado peloempresário MarcosValério — José Genoinomergulhou em depressão após o escândalo.Amigos relataramaoCorreio a dificuldade queoantes falanteparlamentar tinhade sair de ca-sa. Elegeu-se deputado federal em 2006, masnão conseguiu reeleger-se em 2010. Nomeadosecretário especial do Ministério da Defesa,trilhaumcaminhomais discreto e apagado.

Em silêncio

Tesoureiro do PT e apontado como umdosprováveis condenados no julgamento do Su-premoTribunal Federal, Delúbio Soares foi ex-pulso do PT emanteve o silêncio sepulcral so-bre o assunto. Ameaçou filiar-se ao PMDB,mas Lula acalmou-o e elemanteve-se sem li-gação partidária. Em 2011, foi refiliado ao PT,sendo elogiado por sua disciplina político-partidáriademanter-sequieto sobreomensa-lão. Cogitou candidatar-se a vereador, porém,uma vez mais, Lula mandou-o ficar quieto,evitandoholofotes empleno ano eleitoral.

» MARCELO DA FONSECA

Omaior escândalo de corrupção envol-vendo a compra de votos parlamenta-res poderia não ter vindo à tona se nãofosse uma suposta quebra de acordo

entre um empresário e um funcionário públi-co. A insatisfação de umdos envolvidos no es-quema que fraudava licitações para os Cor-reios o levou a armar uma prova contra seusantigos parceiros no desvio de recursos públi-cos. Quando o caso chegou àmídia, novos no-mes foramenvolvidos na fraude. As denúnciasse tornaram uma verdadeira bola de neve,

passandodeumplanomais simples arquiteta-do para que algumas empresas levassem van-tagemna venda demateriais a órgãos públicospara uma ação organizada que envolvia maisde 100 pessoas, entre parlamentares, minis-tros, empresários e presidentes nacionais departidos políticos.A partir da denúncia feita em junho de 2005

pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson(PTB-RJ), de que seu partido teria recebidouma oferta emdinheiro por parte do ex-tesou-reirodoPTDelúbioSoarespara votar a favordogoverno alguns projetos no Congresso, as acu-sações se tornaram rotina e, a cada dia, novos

nomes apareciam nos jornais. Duas CPMIs fo-ram criadas para apurar as denúncias e trêsparlamentares perderamas vagas naCâmara.Umano depois de deflagrado o esquema, a

denúncia chegou ao SupremoTribunal Federal(STF), e cresceuaexpectativadequeocaso teriafim. No entanto, na maior casa de Justiça dopaís, os adiamentos se tornariam frequentes e oprocesso judicial passoua searrastar.Na semana que vem, o esquema que apare-

ceu graças a uma gravação de um empresárioenvolvido emnegociações fraudulentas chegafinalmente ao plenário do Supremo e o fim danovela ficará nasmãos de 11ministros.

Odestinode cadaum

200510demaioRevelada filmagem feita emmarçomostra o chefe doDepartamento de Contratação e Administração deMaterial da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos,MaurícioMarinho, negociando propina com empresáriosinteressados emparticipar de uma licitação do órgão. Asimagens foramgravadas por Joel Santos Filho,advogado curitibano que, a pedido do empresário ArthurWasheckNeto, umdos donos da ComamComercialAlvorada deManufaturados Ltda. e apontado pelaPolícia Federal (PF) como umdos cabeças da quadrilhaespecializada em fraudar licitações dos Correios. Omotivo que levou o próprio empresário a armar agravação seriam problemas nos acordos que estariam oprejudicando. No vídeo, o funcionário dos Correiosafirma ter o respaldo do deputado federal RobertoJefferson (PTB-RJ) nas negociações.

6dejunhoNo centro das denúncias do escândalo que atingiu osCorreios, o deputado federal Roberto Jefferson (PTB) trazà tona a existência de umoutro esquemade corrupçãoque envolvia a compra de votos de parlamentares noCongressoNacional. Ementrevista, Jefferson denunciaque, desde 2003, seu partido teria recebido umaofertapara recebermesada de umesquema coordenado porDelúbio Soares, tesoureiro doPT.

9dejunhoMesmo com pressão contrária de parte da bancadagovernista no Congresso, a CPMI dos Correios éinstalada. No calendário de trabalho do grupo, sãomarcadas entrevistas da presidente do Banco Rural,Kátia Rabelo; do secretário do Núcleo de AssuntosEstratégicos da Presidência da República, LuizGushiken; do dirigente do BMG, Rogério Tolentino; edos empresários Marcos Valério e Daniel Dantas. Nomesmo dia, a PF prende quatro suspeitos departicipar da gravação envolvendo o servidorMaurício Marinho, flagrado recebendo propina.

12dejunhoRoberto Jefferson volta a acusar integrantes do governofederal de conhecer omensalão e citaMarcos Valériocomo articulador financeiro para a compra dosparlamentares. O parlamentar afirma que a verba doesquema viria de empresas estatais e do setor privado.

16dejunhoCitado por Roberto Jefferson como uma das pessoaspróximas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva queconhecia o esquema, José Dirceu renuncia ao cargode ministro-chefe da Casa Civil, 10 dias após arevelação do mensalão. O petista reassume a cadeirana Câmara dos Deputados.

8dejulhoÉpresono aeroporto deCongonhas JoséAdalberto Vieira,assessor do deputado estadual José Nobre Guimarães(CE), irmão do presidente nacional do PT, José Genoino,comR$ 200mil namala e US$ 100mil na cueca.

20dejulhoCriada comissão parlamentarmista de inquéritopara apurar as denúncias de pagamento derecursos amembros do Congresso com finalidadede aprovarmatérias do interesse do Executivo.

12deagostoOpresidente Lula afirma que foi “traído” e que ogoverno e oPT têmde pedir desculpas pelos “erros”cometidos.

31deagostoPF indicia Delúbio Soares,Marcos Valério,José Genoino e omarqueteiro DudaMendonça porpráticas criminosas relacionadas aomensalão.Entre as acusações, estão crimes contra o sistemafinanceiro e lavagemde dinheiro.

14desetembroOplenário da Câmara aprova a cassação domandato do deputadoRoberto Jefferson por quebrade decoro parlamentar, por 313 votos. Alémdoenvolvimento comomensalão, o parlamentartambémé citado comoparticipante ematos decorrupção emempresas como a Eletronorte e oInstituto de Resseguros doBrasil (IRB).

16denovembroACPI doMensalãoé concluída semumrelatório finalaprovado. O relator do processo, deputado IbrahimAbi-Ackel (PP-MG), demonstra irritação como fimdos trabalhos. “É como se a investigação não tivesseexistido. Vira tudo pizza”, disse o deputado.

1ºdedezembroJoséDirceu (PT) temomandato de deputadofederal cassado por quebra de decoro parlamentar.Dos 495 deputados que participaramda votação,293 optampela perda domandato. Dirceu ficainelegível até 2015.

20065deabrilACPMI dos Correios apresenta o resultado de novemeses de trabalho. O relatório final foi aprovadocom 17 votos favoráveis, entre os 31 que integraramogrupo, sendo quatro parlamentares contrários aotexto. A investigação apontou a existência depropinas pagas a parlamentares e pediu aoMinistério Público quemais de 100 pessoas fossemindiciadas. Alémde integrantes do governo federal,outros 18 deputados são citados comenvolvimentono esquema.

11deabrilOprocurador-geral da República, Antonio Fernandode Souza, apresenta denúncia ao SupremoTribunalFederal contra 40 pessoas envolvidas no esquemadomensalão. A lista inclui os ex-ministros JoséDirceu (Casa Civil), Luiz Gushiken (Secretaria deComunicação) e AndersonAdauto (Transportes).

2deoutubroOito acusados de ligação com o esquema do mensalãosão eleitos para a Câmara dos Deputados: João PauloCunha (PT-SP), José Mentor (PT-SP), Vadão Gomes(PP-SP), Sandro Mabel (PL-GO), Pedro Henry (PP-MT),Paulo Rocha (PT-PA), Valdemar Costa Neto (PL-SP) eJosé Genoino (PT-SP).

6dedezembroSempunição para amaioria dos envolvidos, termina a sériede julgamentos de parlamentares citados nomensalão.Dos 19 deputados acusados, 12 foramabsolvidos, quatrorenunciaram—PauloRocha (PT-PA), José Borba(PMDB-PR), Valdemar Costa Neto (PL-SP) e CarlosRodrigues (PL-RJ) — e três foram cassados pelaCâmara de Deputados — José Dirceu, RobertoJefferson e Pedro Corrêa (PP-PE). O último a escaparda cassação por quebra do decoro parlamentar foiJosé Janene (PP-PR), absolvido pelos colegas.

200728deagostoO Supremo Tribunal Federal (STF) aceita denúncia contraos 40 suspeitos de envolvimento nomensalão. Norelatório de denúncia, oministro Joaquim Barbosa apontacomo operadores do núcleo central do esquema o ex-ministro José Dirceu, o ex-deputado e presidente do PT,José Genoino, o ex-tesoureiro do partidoDelúbio Soares, e o ex-secretário-geral Silvio Pereira.Todos foram denunciados por formação de quadrilha.

200824dejaneiroSílvio Pereira assina acordo comaProcuradoria Geral daRepública para não sermais processado no inquérito sobreo caso. Ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitárioematé três anos e deixou de ser umdos 40 réus.

201014desetembroJosé Janene, ex-deputado do PP, morre e também deixade figurar na denúncia. O parlamentar tinha sidoabsolvido no processo de cassação na Câmara, mas erasuspeito de se beneficiar demais de R$ 4milhões dasempresas do publicitário Marcos Valério.

20117dejulhoO procurador-geral da República, Roberto Gurgel,entrega ao STF as alegações finais do caso do mensalão.No processo, pediu que o tribunal condenasse 36 dos 38réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro daComunicação Social Luiz Gushiken e o irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas,Antônio Lamas, ambos por falta de provas.

CRONOLOGIA DOMENSALÃO

Efeitoboladeneve

PUBLICITÁRIO

O publicitárioCristiano Paz, um dosmais consagradosprofissionais do país,na época do chamadomensalão, nãotrabalhava na gestão daempresa SMP&B. Hoje,ele é dono da Filadélfia,a mais premiadaagência de Minas Gerais,e só trabalha comclientes privados.

Deputados

Presidente da Câmaradurante os dois primeiros

anos do governo Lula, JoãoPaulo Cunha (PT-SP) escapou

da cassação, mas viuminguarem os seus planos dese tornar governador de São

Paulo. Hoje, concorre aprefeito de Osasco. Já

Valdemar Costa Neto (PR-SP)segue dando as cartas no

partido e com relativo poderem pastas estratégicas daEsplanada, como a dos

Transportes

PaulodeAraujo/CB/D.APress/ReproducaodeTV

J.F.Diorio/AE-9/7/05

SergioLima/FolhaImagem

-17/10/05

DanielFerreira/CB

/D.APress-23/5/06

JoseVarella/CB

/D.APress-30/11/05

JarbasOliveira/AE-12/7/05

CarlosMoura/CB/D.APress-14/6/05

CarlosMoura/CB/D.APress-11/8/05

Entenda como uma briga política por fatias de poder na Esplanada contaminou o fim doprimeiromandato de Luiz Inácio Lula da Silva e custou o posto de deputados do alto escalão

Page 8: Especial - Os nomes do mensalão Correio Braziliense

OMAIOR JULGAMENTODAREPÚBLICAEspecial

OsonzedoSupremo

Presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional deJustiça, o ministro Carlos Ayres Britto, 69 anos, teve um papelfundamental para que o julgamento do mensalão começasse na próximaquinta-feira. Por diversas vezes, ele cobrou pressa do revisor do processo,o ministro Ricardo Lewandowski, na entrega de suas considerações finais.O grande temor era de que eventuais atrasos atrapalhassem aparticipação do ministro Cezar Peluso no julgamento, já que ele completa70 anos em 3 de setembro e terá que deixar a Corte.

O próprio Ayres Britto também se aposentará este ano. Ele sairá doSTF em 18 de novembro, depois de nove anos como integrante doSupremo. Durante quase uma década, o ministro teve sua trajetóriamarcada por votos em que destilou a sua linguagem poética e carimbou oseu perfil liberal. Um dos mais marcantes foi o relatório no julgamento arespeito da legalidade das uniões civis entre pessoas do mesmo sexo.“Pede-se que este tribunal declare que qualquer maneira de amar vale apena”, declarou o ministro.

Indicado em 2003 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, eletambém se destacou como relator de outros importantes processos, comoo que liberou as pesquisas com células-tronco no Brasil e é descrito comoummagistrado de perfil apaziguador — jamais se envolveu emdiscussões consideradas ofensivas com outros ministros. Sergipano, domunicípio de Propriá, Britto integra a Academia de Letras de seu estado eé autor de seis livros.

Decano do Supremo Tribunal Federal, foi nomeado para a principal Corte brasileira em 1989 pelo entãopresidente José Sarney. Será o último voto proferido no julgamento do mensalão, mas, por sua

respeitabilidade e capacidade jurídica expressa em seus votos, não raro consegue alterar opiniõesanteriores expressas pelos seus pares. Para ele, o sistema de Justiça deve "servir às pessoas para

solucionar os seus problemas, não alimentar a si próprio".Já foi capaz de rever umadecisãomeramente jurídica apósumaanálise detalhadado caso. Certa feita, havia negadoopedido deumdetento que solicitava transferência para receber atendimentosmédicos.Negoupor achar queoSTF

não era o tribunal competente para julgar a causa. Voltou atrás ao saber que opreso era vítimade câncer eAids ecompletou afirmandoque "ignorar o pedido de transferência equivaleria a umasentençademorte".

Também foi um precursor na tese da fidelidade partidária. Esperou exatos 18 anos para conseguir formarmaioria em torno do argumento de que o parlamentar que muda de legenda perde o direito à vaga. "O

ato de infidelidade quer à agremiação partidária, quer, sobretudo, aos eleitores, traduz um gesto deintolerável desrespeito à vontade soberana do povo", proferiu em voto firmado em 2007.

Foi decisivo também no julgamento em que aplicou à esfera pública a mesma lei de greve do setorprivado. E concedeu um habeas corpus a um preso acusado de furtar um botijão de gás no valor de R$ 20.

Como justificativa o fato de que, em julho de 2004, data do furto, o objeto furtado equivalia a 7,69% dosalário mínimo então vigente no país.

» DIEGO ABREU

OSupremoTribunal Federal (STF) é composto por 11ministros,

que se reúnem em plenário tradicionalmente duas vezes por

semana para julgar os processos mais importantes da Corte.

Eclético, o tribunal é integrado por quatro juristas comorigem

noMinistério Público, quatro oriundos da advocacia e trêsmagistrados

de carreira. Trêsministros são paulistas, três cariocas, doismineiros, um

sergipano, ummato-grossense e umagaúcha.

Conformeestabelece aConstituição, todososministros sãode livre in-

dicação do presidente da República, embora tenham que ser aprovados

pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado, após sabatina, e pelo

plenáriodaCasaLegislativa, antesdanomeação.Daatual composiçãodo

Supremo,maisdametadedos integrantes foi indicadapelo ex-presidente

Luiz InácioLuladaSilva, quenomeouseisministros.DilmaRousseff indi-

cou dois dos atuais magistrados, enquanto os demais foram escolhidos

por José Sarney, FernandoCollor e FernandoHenriqueCardoso.

Antes de iniciados os julgamentos, osministros costumam se encon-

trar em uma área restrita reservada para o lanche deles. Por lá, conver-

sam, trocam ideias,masnão costumamcombinar votos.Háquemdefen-

da umadiscussão prévia dos processos a serem julgados para que osma-

gistrados evitem polêmicas durante as sessões.Mas isso não é realidade.

São raros os acordos feitos aportas fechadas, comooqueocorreunocaso

dadefinição do cronogramadomensalão.

Três dosministros doSupremoacumulamocargo coma funçãode in-

tegrante doTribunal Superior Eleitoral (TSE). O presidente do Supremo é

escolhido pelo critério da antiguidade. Aqueles que tomaram posse há

mais tempo chegam ao comando do tribunal para ummandato de dois

anos.O atual presidente, Carlos Ayres Britto, assumiu emabril,mas ficará

no cargo por apenas sete meses, pois terá que pedir aposentadoria em

novembro, quando completará 70 anos.Opróximopresidente do STF se-

rá JoaquimBarbosa.

CELSODEMELLO

Um dosmais abertos e polêmicosministros do Supremo, Marco Aurélio, 66 anos, jamais se furtou amantersuas convicçõesmesmo que elas não sejam seguidas ou compreendidas por seus pares. Tanto que ficouconhecido como "senhor voto vencido", por não terem sido raras as vezes em que seu voto destoou do

entendimento damaioria. É primo do ex-presidente Fernando Collor.Uma dasmarcas de Marco Aurélio é o respeito ao processo legal. Essa postura já lhe rendeu diversas críticas,

já que, em vários momentos, concedeu habeas corpus em casos polêmicos, por entender que "a prisão antes dotrânsito em julgado da condenação, salvo em casos excepcionais, viola o princípio da presunção de inocência".

Um dos beneficiados pelo habeas corpus foi o ex-banqueiro Salvatore Cacciola, em 2000, acusado de ter sebeneficiado com informações privilegiadas da desvalorização cambial de 1999.

Libertado, o banqueiro, proprietário do falido banco Marka, fugiu para a Itália e só foi preso novamenteem 2007, em Mônaco. Por ter cidadania italiana, não podia ser extraditado. Também votou a favor do

habeas corpus para Susane von Ritchthofen e o para o explorador de máquinas de caça-níqueis AntonioKhalil, o Turcão.

A paixão pelo processo legal rivaliza com o amor por seu time de coração, o Flamengo. É conhecida a históriade uma tarde de domingo, quandoMarco Aurélio interrompeu uma entrevista por telefone para gritar, em

êxtase: "Vai, Obina". Na época, a torcida rubro-negra achava que o centroavante eramelhor do que ocamaronês Samuel Eto’o, então jogador do Barcelona.

MARCOAURÉLIOMELLO

De todos os ministros do Supremo Tribunal Federal que começarão a julgar o mensalão a partir dapróxima quinta, 2 de agosto, Gilmar Ferreira Mendes foi o que se envolveu na maior polêmica

recente sobre o caso: a famosa reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no escritóriodo ex-presidente do STF Nelson Jobim. Nela, Gilmar Mendes garante que Lula pediu o adiamento

do julgamento do mensalão para depois das eleições municipais de outubro em troca de blindagemna CPI do Cachoeira.

A relação de Gilmar com Lula sempre alternoumomentos de aproximação com outros de confrontoexplícito. Gilmar chegou a afirmar que o país vivia um estado policialesco e um suposto grampo deuma conversa entre ele e o ex-senador Demóstenes Torres, em 2008 — desmentido posteriormente

por perícias da Polícia Federal —, levou à queda do então diretor da Agência Brasileira de Inteligência(Abin), Paulo Lacerda. Para ele, por exemplo, as mais de 407mil interceptações telefônicas autorizadas

pelamagistratura em 2007 são uma prova da "fragilidade do Poder Judiciário."Mendes é tido como criterioso e defensor explícito do fim das algemas nos casos de prisão, poracreditar que essa medida fere a integridade dos réus. Ex-advogado-geral da União durante ogoverno Fernando Henrique Cardoso, o mato-grossense Mendes tem 56 anos e acredita que ojulgamento do mensalão é importante para "desmistificar a ideia de que foro privilegiado rima

com impunidade".

GILMARMENDES

Primeiro e único ministro negro da história do Supremo Tribunal Federal (STF), JoaquimBarbosa, de 57 anos, é o protagonista do processo do mensalão na Corte. Sorteado relator docaso do mensalão em 2006, coube a ele conduzir a mais extensa e importante ação da política

recente brasileira. Há cinco anos, o voto de Joaquim, favorável à abertura da ação penal domensalão, prevaleceu no julgamento em que o Supremo aceitou a denúncia apresentada pelo

então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, contra 40 réus.O ministro Joaquim não se furta de criticar a imoralidade durante julgamentos em plenário. Foifavorável à Lei da Ficha Limpa e chegou a ser criticado por advogados de réus do mensalão quealegam cerceamento de defesa no processo — os defensores de Marcos Valério tentaram, semêxito, tirar Joaquim da relatoria do mensalão. Polêmico, Joaquim Barbosa coleciona desafetos.

Já bateu boca em plenário com os colegas Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes. Brigou nocafezinho do Supremo com o ex-ministro Eros Grau e, mais recentemente, acusou o colega Cezar

Peluso de manipular resultados de julgamentos.Mineiro de Paracatu, Joaquim estudou em um colégio estadual em sua cidade natal antes de semudar para Brasília, onde cursou o segundo grau no Colégio Elefante Branco. Graduou-se em

direito pela Universidade de Brasília (UnB). Estudou línguas estrangeiras no Brasil, naInglaterra, nos Estados Unidos, na Áustria e na Alemanha. O ministro iniciou a carreira jurídicacomo advogado. Depois, exerceu as funções de oficial de chancelaria e de membro do Ministério

Público Federal, de 1984 a 2003, quando foi nomeado ministro do Supremo pelo entãopresidente Luiz Inácio Lula da Silva.

JOAQUIMBARBOSA (relator)

O mensalão será o último julgamento de Cezar Peluso como ministro do Supremo Tribunal Federal.Em 3 de setembro, ele se aposentará da principal Corte do país, onde entrou em 2003. Essa

movimentação já gera polêmica, uma vez que Peluso, possivelmente, terá que adiantar o seu votoantes de aposentar-se por atingir 70 anos.

O primeiro ministro nomeado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a fidelidadepartidária e a extensão da Lei de Greve do serviço público à iniciativa privada. Envolveu-se em uma

polêmica feroz com a corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, que denunciou a existência de"bandidos de toga".

Logo após a declaração de Eliana, Peluso, que na época presidia o CNJ, disse que o conselhorepudiava "acusações levianas que, sem identificar pessoas, nem propiciar qualquer defesa, lançam,sem prova, dúvidas sobre a honra de milhares de juízes". Também criou um mal-estar com o Palácio

do Planalto ao pressionar a presidente Dilma Rousseff pelo reajuste dos servidores do Judiciário.Outra marca de Peluso é colocar-se contra situações de violação das garantias

constitucionais. Certa feita, elaborou um voto de 28 páginas considerando nulo o interrogatóriopor videoconferência, especialmente quando não existe citação ao réu. Para ele, essa prática"limita o exercício da ampla defesa, além de ser um insulto às garantias constitucionais da

igualdade e publicidade".

CEZARPELUSO

CARLOSAYRESBRITTO (presidente)

Nelson Jr./SCO/STF

Conheça osministros responsáveis por definir os destinos dos 38 réus domensalão a partir de agosto.

Page 9: Especial - Os nomes do mensalão Correio Braziliense

» TEREZA CRUVINEL

Muitas já foram as CPIs instaladas peloCongresso para apurar escândalos de cor-rupção depois da redemocratização. Asconsequências: cassações de mandatos,processos judiciais, prisões e algumas mu-

danças legais e institucionais destinadas aevitar a repetição de práticas antiéticas eelevar a qualidade da política. Já o escânda-lo do mensalão, a CPI dos Correios e o pro-cesso em curso no STF, apesar do impactoperante a opinião pública, até agora nãoproduzirammedidas nesse sentido.

Um dos mais importantes instrumen-tos de moralização da administração pú-blica é a Lei de Licitações. Foi aprovadapouco depois do escândalo que gerou aCPI do PC Farias — que levou à cassaçãode Collor, em 1992. Antes, já existiam regraspara as licitações, mas imperfeitas. A novalei ganhou forma draconiana. Mudanças

importantes na tramitação e na votaçãoda lei orçamentária anual também foramadotadas pelo Congresso em 1994, logodepois da CPI dos Anões do Orçamento.Esses são exemplos de consequências po-sitivas de escândalos.

O mensalão envolveu delitos de váriasnaturezas em áreas que vão da publicidadeà gestão bancária,mas a origemde tudo estáno sistema político e eleitoral brasileiro,que, apesar das muitas propostas de refor-ma política, continua exatamente o mesmo.Os dois principais problemas: a dificuldadede formar coalizões no Congresso e de fi-nanciar as campanhas eleitorais. (HM)

CORREIO BRAZILIENSE

Brasília,quinta-feira,26 de julho de 2012 8/9

A reforma quenão avança

Respostasdonúcleo financeiro» HELENA MADER» MARIA CLARA PRATES

Aconcessão de supostos empréstimosde fachada a empresas deMarcosValé-rio e ao PT é a acusação central contraintegrantes do chamado núcleo finan-

ceiro domensalão. Quatro dos 38 réus ocupa-vamcargosestratégicosnoBancoRural àépocado escândalo. Kátia Rabello era presidente dainstituição, AyannaTenório respondia pela vi-ce-presidência e José Roberto Salgado eVini-cius Samarane eramdiretores.

As defesas dos réus ligados ao Banco Ruraltrazem basicamente osmesmos argumentos.Todos alegam que não recaem sobre eles de-núncias de corrupção, compra de apoio deparlamentares ou desvios de recursos públicos—que são o eixo central da denúncia domen-salão. Entre a extensa documentação usadapela defesa, a peça fundamental é um laudoelaborado pelo Instituto de Criminalística daPolícia Federal em 2009 que atesta a “veracida-de das operações de crédito contratadas pelasduas empresas deMarcosValério”.

Com relação à falta de exigência para liberaro crédito, a defesa dos executivos alega que asgarantias são uma questão subjetiva e que osvalores emprestados não eram significativosem comparação comopatrimônio líquido dasempresas deValério— que somavam à épocaativos superiores a R$ 5 bilhões. Dos R$ 32mi-lhões repassadospeloBancoRural, asduasem-presas deMarcosValério receberamR$ 29mi-lhões e o PT, R$ 3 milhões. O empréstimo doPartidodosTrabalhadores já foi liquidado, aumcustodeR$10milhões. Já adívida comopubli-citário, acusadode serooperadordomensalão,é cobrada até hoje na Justiça. Segundo repre-sentantes do Banco Rural, o débito deMarcosValério já somamais deR$50milhões.

A alegação da denúncia é de que a institui-ção financeira teria entrado no esquema domensalão por ter interesse no processo bilio-nário de liquidação do Banco Mercantil dePernambuco, do qual detinha 17% de partici-pação. A procuradoria afirma que “era inte-resse do Banco Rural que o Banco Central de-finisse a fórmula de calcular o passivo e o ati-vo da massa em liquidação”. A defesa nega aacusação e garante que a questão do BancoMercantil de Pernambuco era estritamentejurídica. “Esse assunto se arrastava desde1996 e não houve nenhum tipo de interferên-cia do governo na solução, que só veio cincoanos depois”, diz a defesa.

Outra acusação que pesa contra os ex-diri-gentes doBancoRural é lavagemdedinheiro. Oobjetivo, segundo a denúncia da ProcuradoriaGeral da República, era “ocultar a origem, a na-tureza e o real destinatário dos altos valores pa-gos em espécie às pessoas indicadas porDelú-bioSoares, amandode JoséDirceu”.

A defesa dos réus assegura que a origemdos recursos é lícita e que o dinheiro sacadono Banco Rural vinha de outros bancos. “Ossaques eram feitos com cheques nominaisendossados. As pessoas que vinham retirar odinheiro assinavam recibo e deixavam umacópia da identidade”, assegura a defesa. OBanco Rural exigia o preenchimento de umformulário de controle de transações em es-pécie, alegam os advogados.

Representantedo réu JoséRoberto Salgado, oadvogadoMárcioThomaz Bastos diz que temboas expectativas com relação ao caso. “As acu-sações formuladas contra ele eosdemais execu-tivos doBancoRural dizem respeito somente àregularidadeeaocumprimentodeprocedimen-tos bancários, que foram realizados de acordocomasnormasvigentesàépocados fatos.”

Já o advogadoTheodomiro Dias Neto, que

representa Kátia Rabello, critica a denúncia doMinistério Público. “A acusação contra os exe-cutivos doRural padece de uma série de fragili-dades técnicas. A acusação de lavagem consis-tiria em suposta ocultação de saques de contadaSMP&BemagênciasdoRural, por funcioná-rios da empresa ou terceiros indicados. Nossadefesa demonstra que o banco não tinha o po-der de negar saques a um cliente, mas adotoutodososprocedimentospara identifica-los.”

Regras respeitadas

Em inquérito remetido ao SupremoTribu-nal Federal (STF), instauradopara apurar a ori-gem dos recursos que alimentaram omensa-lão, a Polícia Federal concluiu que os valoresmovimentados no esquema tinhamcomo fon-te dois empréstimos feitos pelo operadorMar-cosValério com o Banco Rural e o BMG, paraquitar os compromissos com parlamentaresdabase aliada. Entretanto, depoisdeanálisedatransação perante as instituições financeiraspor peritos contábeis, a PF concluiu que osempréstimos com os bancos privados segui-ramas regras estabelecidas pelo BancoCentrale pelas agências de controle.

OBancoRural, segundoaperícia, fez levanta-mento completo de toda amovimentaçãoban-cáriadeMarcosValério, depois doempréstimoaanálise foi entregue aos federais, durante as in-vestigações iniciadasem2005.Foi combasenes-sa documentação que a PF elaborou os laudosque fazemparte da segunda fase das investiga-ções, presididapelodelegado federal Luiz FlávioZampronha, à época, chefe daDivisãodeCom-bate àLavagemdeDinheiro. Apesardoaprofun-damentodas investigações,nãoficoucomprova-doqueosbancos tivessemconhecimentoprévioda finalidadedas transações financeiras suspei-taspromovidaspelooperadordoesquema.

o sistema partidário brasileiro fragmentou-se a partir da Constituição de 1988,que facilitou a criação de legendas. Por outro lado, a mesma Constituiçãotratou de garantir o equilíbrio entre os Poderes, condicionandomuitas açõesdo presidente à aprovação do Congresso. Com amultiplicação dos partidos,tornou-se quase impossível eleger um presidente com uma bancada que, pelomenos, se aproxime damaioria na Câmara e no Senado. Para alcançá-la,todos os presidentes da era democrática atual precisaram formar coalizões.

o presidente eleito terámais chances de eleger a maioria quando onúmero de partidos for menor, o que dependerá de uma reformapolítica que imponha restrições à criação e ao funcionamento departidos com baixa representação.

quando o PT fechou acordo comoPL para ter José Alencar como vice em 2002, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto,exigiu em contrapartida apoio financeiro para a campanha dos candidatos a deputado pelo partido. Já o então presidente doPTB, Roberto Jefferson, declarou à revista Veja, algunsmeses antes de denunciar omensalão, que o PT estava aplicando umcalote em seu partido, ao qual prometeu ajuda de R$ 20milhões para a campanhamunicipal de 2004. O problema dofinanciamento de campanhas é real e está na origemdamaioria dos casos de corrupção já ocorrida nos últimos anos.

em todas as tentativas de reformapolítica, o financiamento público de campanhas é proposto,mas acaba não aprovado. A proposta emdebate na Câmara criminaliza, inclusive comaperda demandato, o recebimento de recursos privados, uma vez aprovada a verba públicaexclusiva. O tema, no entanto, está longe de ser unanimidade. Para a cientista políticaMaria Braga, professora daUniversidade de SãoPaulo (USP), háuma conexão clara entre omensalão e o financiamento de campanhas: "NoMéxico, a adoção dessemétodo não resolveu oproblemada corrupção. Pelo contrário, houve umagravamento dos escândalos quando o financiamento tornou-se totalmente público.Tanto que eles voltaramaadotar umsistemamisto de financiamento", diz a especialista, que defende um teto de doação.

No rastro domensalão //Os principais problemas que levaram ao escândalo permanecem no centro das crises entre Executivo e Legislativo

OS SAQUESERAM FEITOS COMCHEQUES NOMINAISENDOSSADOS.AS PESSOAS QUEVINHAMRETIRARO DINHEIROASSINAVAMRECIBO E DEIXAVAMUMA CÓPIA DAIDENTIDADE. TODOSOS NOMES FORAMINCLUÍDOS NACONTABILIDADEDO BANCO”

trecho da defesado Banco Rural

Carlos Moura/CB/D.A Press - 8/6/05

Sessão de debatesobre a abertura daCPI dos Correios, emjunhode 2005: altoimpacto na opiniãopública e poucas

medidas parafrear a corrupção

Soluçãopossível:

Problema:Governabilidade nopresidencialismo

Problema:Financiamentode campanhas

Soluçãopossível:

Instituições bancárias responsáveis pelos empréstimos que teriam abastecido omensalão apresentam perícia da PF e garantem que as concessões foram legais

Page 10: Especial - Os nomes do mensalão Correio Braziliense

OMAIOR JULGAMENTODAREPÚBLICAEspecial

Osnomesdomensalão

NO GOVERNO

AndersonAdautoCargo: ministro dos TransportesAcusação: praticar lavagem de dinheiro aoreceber vantagem indevida de Marcos Valérioe intermediar o apoio dos deputados do PTBCrimes: corrupção ativa e lavagem de dinheiro(24 anos de prisão)

JoséDirceuCargo: ministro-chefe da Casa CivilAcusação: chefiar a quadrilha que tinhaobjetivo de comprar o apoio político deagremiações e financiar campanhas eleitoraisdo PTCrimes: formação de quadrilha e corrupçãoativa (15 anos de prisão)

José Luiz AlvesCargo: chefe de gabinete do ministro dosTransportesAcusação: receber dinheiro em espécievalendo-se de engrenagem de lavagem decapitaisCrime: lavagem de dinheiro (12 anos de prisão)

Luiz Gushiken*Cargo: secretário de Comunicação do governo(2005)Acusação: desviar recursos do Fundo deInvestimento Visanet para beneficiar o grupode Marcos ValérioCrime: peculato (12 anos)

NO CONGRESSO NACIONAL

Anita LeocádiaCargo: chefe de gabinete do deputado Paulo RochaAcusação: intermediar o recebimento de dinheiropara o deputado Paulo Rocha (PT)Crimes: lavagem de dinheiro (12 anos de prisão)

Antônio Lamas*Cargo: assessor da liderança do PL na Câmara dosDeputadosAcusação: repassar a deputados da legenda dinheirodas empresas de Marcos ValérioCrimes: formação de quadrilha e lavagem de dinheiro(15 anos de prisão)

CarlosAlbertoRodrigues (BispoRodrigues)Cargo: deputado federal (PL)Acusação: ter recebido “altos valores” oferecidos epagos por José Dirceu para formar ilicitamente abase do governo federalCrimes: corrupção passiva e lavagem de dinheiro(24 anos de prisão)

JoãoCláudioGenuCargo: filiado do PP, era assessor do então deputadofederal José JaneneAcusação: distribuir recursos aos deputados dabancada do PPCrimes: formação de quadrilha, corrupção passiva elavagem de dinheiro (27 anos de prisão)

JoãoMagnoCargo: deputado federal (PT)Acusação: receber vantagem indevida, utilizando-sede dois intermediáriosCrime: lavagem de dinheiro (12 anos de prisão)

João Paulo CunhaCargo: deputado federal (PT)Acusação: receber dinheiro para contratar uma dasagências de Marcos Valério para a Câmara, sendobeneficiado com o desvio de recursosCrimes: corrupção passiva, lavagem de dinheiro epeculato (36 anos de prisão)

JoséBorbaCargo: deputado federal (PMDB)Acusação: receber dinheiro para articular o apoio doPMDBCrimes: corrupção passiva e lavagem de dinheiro(24 anos de prisão)

Luiz Carlos da Silva (Professor Luizinho)Cargo: deputado federal (PT) e líder do governo naCâmara dos DeputadosAcusação: receber vantagem indevida, incumbindo oassessor José Nilson dos Santos de receber dinheirono Banco RuralCrime: lavagem de dinheiro (12 anos de prisão)

Paulo RochaCargo: deputado federal, líder da bancada do PT naCâmara dos DeputadosAcusação: receber dinheiro de Marcos Valério,valendo-se dos mecanismos disponibilizados peloBanco RuralCrime: lavagem de dinheiro (12 anos de prisão)

PedroCorrêaCargo: presidente do PP e deputado federalAcusação: receber dinheiro do PT em troca de votaremmatérias do interesse do governo federalCrimes: formação de quadrilha, corrupção passiva elavagem de dinheiro (27 anos de prisão)

Pedro HenryCargo: deputado federal (PP) e líder do partido naCâmaraAcusação: receber dinheiro do PT em troca de votarfavoravelmente emmatérias de interesse do governofederalCrimes: formação de quadrilha, corrupção passiva elavagem de dinheiro (27 anos de prisão)

Roberto JeffersonCargo: deputado federal (PTB)Acusação: articular o mensalão para os deputados doseu partido, foi o responsável pela denúncia doesquema do mensalãoCrimes: corrupção passiva e lavagem de dinheiro(24 anos de prisão)

RomeuQueirozCargo: deputado federal (PTB)Acusação: ajudar a articular a "venda" de deputadosdo PTBCrimes: corrupção passiva e lavagem de dinheiro(24 anos de prisão)

Valdemar Costa NetoCargo: deputado federal (PL)Acusação: montar o esquema de lavagem de dinheiropor meio da empresa fantasma GaranhunsEmpreendimentos para o PL (atual PR)Crimes: formação de quadrilha, corrupção passiva elavagem de dinheiro (27 anos de prisão)

NOS PARTIDOS

Delúbio SoaresCargo: tesoureiro do PTAcusação: elo entre os núcleos políticooperacional e financeiro; indicava para Valérioos valores e os beneficiários dos recursosCrimes: formação de quadrilha e corrupçãoativa (15 anos de prisão)

EmersonPalmieriCargo: secretário nacional do PTBAcusação: intermediar o pagamento dosdeputados do PTBCrimes: corrupção passiva e lavagem dedinheiro (24 anos de prisão)

Jacinto LamasCargo: tesoureiro do PL e assessor deValdemar Costa-Neto (PL-SP)Acusação: articular contrato fictício que"legalizava" o pagamento de propina aosdeputados do PLCrimes: formação de quadrilha, corrupçãopassiva e lavagem de dinheiro (27 anos deprisão)

JoséGenoinoCargo: presidente do PTAcusação: negociar com os líderes partidárioso apoio aos projetos de interesse do governo ea consequente vantagem financeira, atuandocomo interlocutor político do grupo criminosoCrimes: formação de quadrilha e corrupçãoativa (15 anos de prisão)

NÚCLEO POLÍTICO

* A procuradoria pede absolvição por falta de provas.** A punibilidade de José Mohamed Janene foi extinta, tendo em vista o falecimento do réu em 14 de setembro de 2010. Já o réu Sílvio Pereira aceitou proposta de suspensão condicional do processo; assim, a ação não foi iniciada contra ele.

Iano Andrade/CB/D.A Press - 16/5/12

Marcos Vieira/EM/D.A Press - 21/1/08

Valter Campanato/ABr - 29/9/05

Jose Cruz/Agência Senado - 20/9/05

Brizza Cavalcante/Agência Câmara

Joedson Alves/AE - 1/3/05

PauloH. Carvalho/CB/D.APress - 14/3/06

Marcelo Ferreira/CB/D.APress - 25/8/10

Saulo Cruz/Agência Câmara

PauloH. Carvalho/CB/D.APress - 22/3/06

Marcio Fernandes/AE - 17/3/08

Daniel Ferreira/CB/D.APress - 5/10/05

José Varella/CB/D.A Press - 28/9/05

MoniqueRenne/CB/D.APress - 18/12/07

Iano Andrade/CB/D.A Press - 1/2/12

Daniel Ferreira/CB/D.A Press - 8/12/05

Carlos Moura/CB/D.A Press - 27/10/05

Ivaldo Cavalcante/Agência Câmara

LeonardoPrado/AgênciaCâmara-14/7/10

Daniel Ferreira/CB/D.A Press - 14/12/05

» LARISSA LEITE

Page 11: Especial - Os nomes do mensalão Correio Braziliense

CORREIO BRAZILIENSE

Brasília,quinta-feira,26 de julho de 20124/5

Conheça as acusações a que respondem os personagens domaior escândalo da era Lula, doex-ministro José Dirceu aos deputados João Paulo Cunha (PT-SP) e Valdemar Costa Neto (PR-SP)

NÚCLEOOPERACIONAL

NÚCLEOFINANCEIRO

Ayanna TenórioCargo: vice-presidente do Banco Rural (2004)Acusação: viabilizar as etapas de financiamento edistribuição do esquema ilícitoCrimes: formação de quadrilha, lavagem dedinheiro e gestão fraudulenta de instituiçãofinanceira (27 anos de prisão)

Kátia RabelloCargo: presidente do Banco RuralAcusação: viabilizar as etapas de financiamento edistribuição do esquema ilícitoCrimes: formação de quadrilha, lavagem dedinheiro, gestão fraudulenta de instituiçãofinanceira e evasão de divisas (33 anos de prisão)

José Roberto SalgadoCargo: diretor do Banco RuralAcusação: viabilizar as etapas de financiamento ede distribuição do esquema ilícitoCrimes: formação de quadrilha, lavagem dedinheiro, gestão fraudulenta de instituiçãofinanceira e evasão de divisas (33 anos de prisão)

Vinicius SamaraneCargo: presidente do Comitê de Controles Internosdo Banco RuralAcusação: viabilizar as etapas de financiamento ede distribuição do esquema ilícitoCrimes: formação de quadrilha, lavagem dedinheiro, gestão fraudulenta de instituiçãofinanceira e evasão de divisas (33 anos de prisão)

OUTROSACUSADOS

Henrique PizzolatoCargo: diretor de Marketing do Banco do BrasilAcusação: transferir recursos para a DNAPropaganda sem a comprovação dos serviçosCrimes: corrupção passiva, lavagem de dinheiro epeculato (36 anos de prisão)

Breno FischbergCargo: sócio-proprietário da corretora BônusBanvalAcusação: lavar o dinheiro para os réus do PP,desvinculando os recursos recebidos pela prática decrime de corrupção passiva da origem criminosaCrimes: formação de quadrilha e lavagem dedinheiro (15 anos de prisão)

Carlos Alberto QuagliaCargo: dono da corretora NatimarAcusação: lavar o dinheiro para os réus do PP,desvinculando os recursos recebidos pela prática decrime de corrupção passiva da origem criminosaCrimes: formação de quadrilha e lavagem dedinheiro (15 anos de prisão)

Enivaldo QuadradoCargo: sócio-proprietário da corretora BônusBanvalAcusação: lavar o dinheiro para os réus do PP,desvinculando os recursos recebidos pela prática decrime de corrupção passiva da origem criminosaCrimes: formação de quadrilha e lavagem dedinheiro (15 anos de prisão)

Daniel Ferreira/CB/D.A Press - 11/8/05

Carlos Moura/CB/D.A Press - 27/9/05

Daniel Ferreira/CB/D.A Press - 11/8/05

RenatoWeil/EM

/D.APress

-2/12/11

NÚCLEOPUBLICITÁRIO

CristianoPazCargo: sócio-presidente dasempresas SMP&B e GraffitiAcusação: integrar rede societáriaestruturada para mesclar atividadeslícitas do ramo de publicidade comatividades criminosas

GeizaDiasCargo: gerente financeira da SMP&BAcusação: entrega das propinas

RamonHollerbachCargo: sócio das empresas deMarcos ValérioAcusação: integrar rede societáriaestruturada para mesclar atividadeslícitas do ramo de publicidade comatividades criminosas

SimoneVasconcelosCargo: diretora financeira da SMP&BAcusação: entrega das propinas

DudaMendonçaJosé Eduardo de Mendonça (DudaMendonça)Cargo: responsável pela campanha vitoriosade Lula em 2002Acusação: receber valores com indícios doconhecimento da origem criminosa dosrecursos, transferindo parte do dinheiroilegalmente para o exteriorCrimes: evasão de divisas e lavagem dedinheiro (18 anos de prisão)

MarcosValérioCargo: sócio nas agências DNA Propagandae SMP&B ComunicaçãoAcusação: viabilizar o esquema ilícito dedesvio de recursos públicosCrimes: formação de quadrilha, peculato,lavagem de dinheiro, corrupção ativa eevasão de divisas (45 anos de prisão)

Rogério TolentinoCargo: sócio das empresas de MarcosValérioAcusação: integrar rede societáriaestruturada para mesclar atividades lícitasdo ramo de publicidade com atividadescriminosasCrimes: formação de quadrilha, lavagem dedinheiro e corrupção ativa (27 anos de prisão)

Zilmar FernandesCargo: sócia do marqueteiro DudaMendonçaAcusação: receber valores com indícios doconhecimento da origem criminosa dosrecursos, transferindo parte do dinheiroilegalmente para o exteriorCrimes: evasão de divisas e lavagem dedinheiro (18 anos de prisão)

Page 12: Especial - Os nomes do mensalão Correio Braziliense

CORREIO BRAZILIENSE

Brasília,quinta-feira,26 de julho de 2012 6/7OMAIOR JULGAMENTODAREPÚBLICAEspecial

Os grandes casosConfira cinco dos mais importantes julgamentos doSupremo Tribunal Federal nos últimos anos:

CollorO Supremo Tribunal Federal absolveu o ex-presidente Fer-nando Collor de Mello do crime de corrupção passiva. Emjulgamento de 1994, dois anos depois dele ter renunciadoao cargo de presidente da República momentos antes de oCongresso Nacional votar o processo de impeachment, osministros julgaram improcedente a denúncia da Procura-doria-Geral da República na Ação Penal nº 307. A acusaçãoapresentou gravações e registros de movimentação finan-ceira que comprovariam um suposto esquema de corrup-ção capitaneado pelo tesoureiro da campanha de Collor,PC Farias. Os ministros, no entanto, absolveram o já ex-presidente, por cinco votos a três, sob o argumento de faltade provas.

Células-troncoEm maio de 2008, a Suprema Corte liberou as pesquisascom células-tronco embrionárias (foto). Por seis votos acinco, os ministros consideraram que o procedimento nãoviola os direitos à vida e à dignidade da pessoa humana. Adecisão foi tomada durante o julgamento de uma ação di-reta de inconstitucionalidade protocolada pelo ex-procura-dor-geral da República Cláudio Fonteles contra o trecho daLei de Biossegurança que permite o uso de células-troncode embriões para pesquisas científicas e terapias. Os minis-tros Carlos Ayres Britto, Ellen Gracie, Cármen Lúcia, Joa-quim Barbosa, Marco Aurélio e Celso de Melo formaram amaioria contrária a qualquer reparo ao artigo 5º da lei.

Raposa Serra do SolPor 10 votos a um, o Supremo confirmou a validade do de-creto homologado em 2005 pelo então presidente Luiz Iná-cio Lula da Silva que definiu a demarcação contínua da re-serva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. No julga-mento, concluído em dezembro de 2008, os ministros fixa-ram que a área é de usufruto exclusivo dos indígenas e de-terminaram a saída imediata dos produtores de arroz e to-dos os não índios que ocupavam a reserva. O STF, porém,estabeleceu 19 restrições sobre o uso da área pelos indíge-nas, como o veto à comercialização de recursos hídricos eenergéticos. O entendimento serviu de parâmetro para asdemais reservas do país.

UniãohomoafetivaO Supremo reconheceu, em julgamento realizado emmaiode 2011, a possibilidade de pessoas do mesmo sexo firma-rem união estável. A decisão foi tomada durante a análisede duas ações, propostas pela Procuradoria-Geral da Re-pública e pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral(PMDB). Por unanimidade, os ministros admitiram os di-reitos dos casais homossexuais serem reconhecidos comoum núcleo familiar. Prevaleceu o voto do ministro AyresBritto, segundo o qual a Constituição veda qualquer discri-minação em virtude de sexo, raça, cor e que, nesse sentido,ninguém pode ser diminuído ou discriminado em funçãode sua orientação sexual.

Ficha LimpaUm ano e oito meses depois de a Lei da Ficha Limpa ser pu-blicada, o STF considerou a legislação constitucional, emjulgamento realizado em fevereiro deste ano (foto). Por se-te votos a quatro, os ministros decidirammanter a validadeintegral da norma, que é aplicada nas eleições municipais.O julgamento selou o entendimento definitivo do Supremodiante do tema. Em três ocasiões anteriores, a validade dalei chegou a ser apreciada em plenário, mas sem o quórumcompleto de 11 ministros. A Corte chegou a validar a lei em2010, mas, no ano seguinte, voltou atrás ao entender que anorma não poderia ter entrado em vigor no mesmo ano desua publicação. A regra proíbe a candidatura de políticoscondenados por órgão colegiado e daqueles que renuncia-ram para escapar da cassação.

Carlos Vieira/CB/D.A Press - 29/5/08

Carlos Moura/CB/D.A Press - 15/2/12

Como o processo será analisado» DIEGO ABREU

Oprocesso do mensalão mudou a rotina doSupremoTribunal Federal (STF) antes mes-mo de o julgamento começar. Desde o rece-bimento da denúncia, em 2007, cerca de 500

testemunhas foram ouvidas por juízes designadospara tomar depoimentos durante a fase de oitivas.JoaquimBarbosa, o relator do caso, entregou seu rela-tório no fimdo anopassado.

O primeiro semestre de 2012 foi demuita pressãointerna e externa no Supremo para que o julgamentofosse rapidamente iniciado. Tanto que o presidenteda Corte, Carlos Ayres Britto, convocou reuniões ad-ministrativas para debater o cronograma domensa-lão antesmesmo de o revisor, Ricardo Lewandowski,

concluir seu voto. Britto queria julgamentos diáriosaté o fim da análise. Prevaleceu, porém, a sugestão deJoaquim, que preferiu apenas três sessões semanaisapós a fase de sustentações orais.

Em plenário, os ministros dedicaram tempo dassessõespromovidasnosúltimos semestrespara resol-ver questões de ordemrelativas àAçãoPenal nº 470 (omensalão). Emmaio, por exemplo, o STF aumentoude uma para cinco horas o prazo para que o procura-dor-geral da República, Roberto Gurgel, sustente asacusações contra os 38 réus. O julgamento paralisaráa apreciação das principais ações do tribunal, umavez que as sessões plenárias serão reservadas exclusi-vamente para omensalão. Somente a 1ª e a 2ªTurmasdo Supremo funcionarão normalmente, uma vez porsemana, para a análise de outros processos.

Na próxima quinta-feira, o julgamento será inicia-do coma expectativa de durarmais de ummês. Algu-mas tentativas demanobra das defesas podem atra-sar aindamais o desfecho de umdos principais julga-mentos da história do Supremo. Outro fator que po-derá adiar o términoda análise é o cálculo dadosime-tria da pena emcasode condenações.

Entre os sete crimes apontados pela acusação,cinco estarão prescritos caso os ministros apli-quem a pena mínima no julgamento. No entanto,se as punições foremmaiores, não há qualquer ris-co de prescreverem. Conforme o Código Penal, ochamado prazo prescricional varia de acordo como tamanho da pena.

Às vésperas do julgamento, ainda não se sabe seo processo será apreciado diante de um plenário

completo com 11 ministros. A participação do mi-nistro Cezar Peluso até o fim do julgamento aindanão está confirmada. Ele se aposentará compulso-riamente até 3 de setembro, quando completará 70anos,mas pode pedir para antecipar seu voto, caso ojulgamento se estenda até setembro. José AntonioDiasToffoli tambémnão decidiu se julgará omensa-lão. Ele foi advogado do PT e assessor da Casa Civildurante a gestão de José Dirceu. A tendência é deque ele esteja sim emplenário no julgamento.

Na hipótese de um desses dois ministros não vo-tar, surgirá o risco de um eventual empate em cincovotos. Nesse cenário, os réus seriam beneficiados,pois em matérias penais prevalece o in dubio proreo, o que significa que, na dúvida, a decisão é favo-rável ao réu.

Page 13: Especial - Os nomes do mensalão Correio Braziliense

» PAULO DE TARSO LYRA

Apeçadeacusaçãoqueapontaaexistên-cia de um esquema de pagamento demesadas à base aliada do então gover-no Lula em troca de votos no Congres-

soNacional foi costurada a quatromãos. Ama-téria começaráaser julgadaapartirdapróximaquinta-feira, 2 de agosto, no SupremoTribunalFederal, e é fruto de um trabalho elaboradopelo ex-procurador-geral da República Anto-nio Fernando de Souza e o atual, Roberto Gur-gel. O texto aponta a existência de um“planocriminoso voltado para a compra de votosdentro do Congresso Nacional”, tendo comocomandante o ex-chefe da Casa Civil ministroJosé Dirceu. “Trata-se damais grave agressãoaos valores democráticos que se possa conce-ber”, afirmouGurgel, em suas alegações finais.O processo, que conta 50 mil páginas, no en-tanto, ainda não responde a várias das per-guntas que cercam um caso ainda envolto pe-la névoa (leia noquadro ao lado).

A primeira denúncia doMinistério Públicoelaborada por Antonio Fernando, em 2007, jáapontava a formação de quadrilha, na épocacom 40 nomes. Ela foi baseada em investiga-ções da Polícia Federal e nas conclusões do re-lator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio(PMDB-PR), instalada para apurar as denún-cias do ex-deputado Roberto Jefferson, de queo PT, pormeio do empresárioMarcosValério, esob o comando de José Dirceu e de DelúbioSoares, tesoureiro da legenda, transferia recur-sos ao PP e ao PL (atual PR) para a compra devotos no Congresso commesada de R$ 30milpor deputado. Antes, Jefferson havia falado emrecursos para o financiamento de campanhas,o que caracterizaria o crime menor de caixadois—corrente napolítica nacional.

Segundo Fernando, havia elementos quecomprovavam a existência de um “eficientesistemade repasse de valores, especialmente aintegrantes de diversos partidos políticos, quese utilizavam demecanismos altamente sus-peitos, de que são exemplos o desprezo pelosprocedimentos bancários regulares, a entregade quantias elevadas em espécie e em locaisinadequados (recepção e quartos de hotéis, ebancas de revistas) e a preocupação de invia-bilizar a identificação do destinatário”, com-pletou o procurador.

Financiamento

Empossado, Gurgelmanifestou inteira con-cordância comadenúncia aoapresentar as ale-gações finais aoSTF, em julhode2011.Mantevee reforçou todas as acusações do antecessor—as exceções foramos pedidos de absolvição doex-ministro da Secretaria de Comunicação daPresidência Luiz Gushiken e do ex-assessorparlamentar Antonio Lamas. Explorou bastan-te o envolvimento de instituições bancárias fi-nanciadorasmaiores do valerioduto,mas nadaacrescentou para demonstrar a compra de vo-tos ou identificar deputados aliciados. Apontou

como indício da cooptação a proximidade dedatas entre saques e votações.

Gurgel, no entanto, foi bem incisivo em ou-tros pontos da denúncia. “As provas colhidasno curso da instrução, aliadas a todo o acervoque fundamentou a denúncia, comprovam aexistência de uma quadrilha, constituída pelaassociação estável e permanentedos seus inte-grantes, com a finalidade da prática de crimescontra o sistema financeiro, contra a adminis-tração pública, contra a fé pública e de lava-gem de dinheiro”, explicitou o procurador. Aolongo do processo, alguns nomes ficarampelocaminho.Oex-secretário-geral doPTSilvio Pe-reira fez umacordo comoMinistério Público epassou a prestar serviços comunitários. O ex-líder doPPnaCâmara José Janene (PP)morreuem2010 vítimadeproblemas cardíacos.

A ênfase de Gurgel levou o PT a buscar ou-tros caminhos para diminuir o impacto do jul-gamento domensalão no partido. Aproveitan-do-se da criação da CPI para investigar as rela-ções do bicheiro Carlinhos Cachoeira com en-tidades públicas e privadas, os petistas tenta-ramconvocar o procurador-geral para explicarpor que ele não iniciou as investigações contrao bicheiro em 2009, quando foi deflagrada aOperaçãoVegas. “Foi umamaneira de tentarmostrar a inconsistência jurídica do procura-dor. Desconstruindo o acusador do partido noinquérito domensalão, tentou-se desmontar aacusaçãoquepesava contra a legenda”, confes-sa umparlamentar doPT comassento naCPI.

Núcleos de atuação

O documento de Gurgel divide os réus emtrês núcleos. O político, composto pelo ex-mi-nistro José Dirceu, o ex-tesoureiro do PTDelú-bio Soares, o ex-secretário-geral Silvio Pereira,e o ex-presidente do PT José Genoino. “O obje-tivo era negociar apoio político ao governo noCongresso Nacional, pagar dívidas pretéritas,custear gastos de campanha e outras despesasdoPT”, diz a denúncia.

O segundo núcleo, identificado como nú-cleo operacional, seria integrado por MarcosValério, Rogério Tolentino e outros profission-ais do meio publicitário. Na visão de Gurgel,coube a esse grupo “oferecer a estrutura em-presarial necessária à obtenção dos recursosque seriam aplicados na compra do apoio par-lamentar”.Valério teria concordadoempartici-par do esquema porque desejava “aproximar-se do governo federal”.

Já o terceiro núcleo, chamado de núcleo fi-nanceiro, era integradopelosdirigentesdoBan-coRural àépoca.“Visandoàobtençãodevanta-gens indevidas, consistentes no atendimentodos interessespatrimoniaisda instituição finan-ceira que dirigiam, proporcionaramaos outrosdoisnúcleosoaportede recursosqueviabilizoua prática dos diversos crimes objetos da acusa-ção, obtidosmediante empréstimos simulados,além de viabilizarem osmecanismos de lava-gemque permitiram o repasse dos valores aosdestinatários finais”, conclui as alegações.

OMAIOR JULGAMENTODAREPÚBLICAEspecial

(O MENSALÃO SE CONSTITUI EMUM)EFICIENTE SISTEMA DE REPASSE DEVALORES ESPECIALMENTE A INTEGRANTESDE DIVERSOS PARTIDOS POLÍTICOS”

Antonio Fernando de Souza, ex-procurador-geral da República

TRATA-SE DAMAIS GRAVEAGRESSÃO AOS VALORESDEMOCRÁTICOSQUE SE POSSA CONCEBER”

Roberto Gurgel, procurador-geral da República

Pilaresdadenúncia

Sessões

O julgamento domensalãopelo Supremo Tribunal

Federal terá pelo menos 22sessões transmitidas ao vivo

por rádios e televisões. Oprocurador-geral da

República, Roberto Gurgel,terá cinco horas para ler a

acusação sobre a qualtrabalhou durante todo o

recesso de julho.Diferentemente do

ministro-relator JoaquimBarbosa, que resumirá seurelatório em 15minutos,embora dispondo de trêshoras, Gurgel já disse quepossivelmente fará uso de

todos os 300minutos de seutempo para a leitura do

libelo acusatório.

Sob pressão

Roberto Gurgel enfrentouduas saias justas este ano.Com a instalação da CPI doCachoeira, descobriu-seque poderia ter denunciadoo senador cassadoDemóstenes Torres em2009, com base naOperação Vegas, da PolíciaFederal, o que só veio aacontecer dois anos depois,na Operação Monte Carlo.Quandomembros da CPIameaçaram convocá-lopara explicar o ocorrido,afirmou que se tratava demanobra dos que temiam ojulgamento domensalão.

MUITASPERGUNTAS,POUCASRESPOSTAS

lQuemmontou a cena sobre pagamento de propinanos Correios pretendia eliminar o servidor MaurícioMarinho de algum esquema ou atingir o deputadoRoberto Jefferson, a quem ele seria ligado?

l Por que Roberto Jefferson denunciou a existência depagamentos mensais (mensalão) a deputados paravotar a favor do governo, correndo o risco de sercassado por ter recebido recursos para o PTB?

l Antes de denunciar o mensalão, Jefferson haviacobrado publicamente uma ajuda de campanhaque o PT teria prometido ao PTB, mas não haviacumprido. Seriam os recursos recebidos pelo PTBapenas para financiar campanhas e somente os deoutros partidos para garantir votações no Congresso?

l Entre os réus, 11 eram deputados na épocada denúncia, sendo quatro do PT e oito de outrospartidos. Os três do PT também recebiampara votar a favor do governo do próprio partido,para enriquecimento próprio ou para saldardívidas de campanha, como alegam?

lOs oito deputados não petistas estão longe degarantirem, sozinhos, a maioria parlamentar.O PT tinha 80 deputados e, com a ajuda dosaliados de esquerda PCdoB e PSB não chegavaa 120 votos. Se PTB, PP e PL recebiam dinheiropara garantir votos ao governo, quais eramentão os outros votantes cooptados?Por que seus nomes nunca foram revelados?

l É sabido que quem coordena votações são oslíderes de bancadas e não os presidentes departidos. Mas, entre os réus não-petistas, apenasum era líder e os outros, presidentes de partidos.Por que os líderes de outras bancadas nãoparticiparam dessas negociações?

l Por que os bancos Rural e BMG estão cobrando naJustiça o pagamento dos empréstimos feitos ao PTpor meio de Marcos Valério se, de acordo com aacusação, tais empréstimos eram fictícios, criadosapenas paramascarar o desvio de recursos públicos?

lUma das fontes de recursos públicos desviadosseria o Banco do Brasil, por meio do contrato depublicidade com a agência DNA, de MarcosValério. O TCU decidiu recentemente que ocontrato era correto e legal. Como a acusaçãoresponderá à decisão do TCU?

lQuais eram os interesses dos bancos no processode concessão de empréstimos a partidos epolíticos? Eles foram atendidos em seus pleitos?

l Como se deu, concretamente, a participaçãodo ex-chefe da Casa Civil ministro José Dirceuno esquema de corrupção?

l Até que ponto o ex-presidente Luiz Inácio Lula daSilva conhecia e tinha participação no esquema?

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 22/6/07 Marcello Casal Jr/Agência Brasil

50MIL

Quantidade depáginas do processo

domensalão

O texto que sustenta a responsabilidade dos 38 réus nomensalão teve a participação dedois procuradores. Emcomum,o registro sobreagravidadedocasoparao futurodademocracia

Page 14: Especial - Os nomes do mensalão Correio Braziliense

CORREIO BRAZILIENSE

Brasília,quinta-feira,26 de julho de 2012 2/3

É NATURALQUE PESSOASACUSADAS COMFLAGRANTEREJEITEM OSFATOS. MASHÁ RECIBO EIMPRESSÕESDIGITAIS NO CASODOMENSALÃO”

Luiz Francisco CorrêaBarbosa, advogado deRoberto Jefferson

APÓS CINCO ANOSDE PROCESSO EMAIS DE 500TESTEMUNHASOUVIDAS, NÃOEXISTE QUALQUERDOCUMENTO,REUNIÃO OUINDÍCIO QUEPOSSA INCRIMINARO JOSÉ DIRCEU”

José Luís Oliveira Lima,advogado de José Dirceu

» ISABELLA SOUTO

Mais do que julgar omaior escândalo políti-co da história recente do país— o suposto es-quemadepropina a parlamentares em troca devotos a favor de projetos de interesse doPaláciodo Planalto—, os 11ministros do SupremoTri-bunal Federal (STF) terãoque sedesdobrarparamostrar aos brasileiros, entidades da sociedadecivil, juristas emídia a adoção única e exclusivade critérios técnicos para absolver ou condenaros 38 réus doprocesso. A ProcuradoriaGeral daRepública denunciou políticos, empresários ebanqueiros, cujas participações no esquemasãodetalhadas em50mil páginas. Juristas ouvi-dospeloCorreioadmitemumagrandeexpecta-tiva em relação à decisão damais alta instânciado Judiciário brasileiro, mas divergem sobre aposturaque seráadotadanoplenário.

A maior discussão entre eles se dá em rela-ção a uma possível pressão política sobre osministros: apenas três deles não foram indi-cados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula daSilva (PT) ou pela presidente Dilma Rousseff

(PT) — Celso de Melo, Marco Aurélio Mello eGilmarMendes. Alguns deles ainda foram ad-vogados de partidos políticos antes de chegarao Supremo. Para o presidente em exercícioda Associação dos Magistrados Brasileiros(AMB), Raduan Miguel Filho, não há dúvidade que os ministros vão se apegar a questõestécnicas e provas incluídas nos autos e não seintimidarão por pressão de qualquer lado.“Talvez seja difícil para a população entendercondenações diferentes que acontecerão nomesmo processo, mas é por causa das pecu-liaridades de cada caso”, avalia.

O presidente da Associação Nacional dosMembros do Ministério Público (Conamp),Cesar Mattar Júnior, ressalta que este será umjulgamento emblemático para a sociedade.“Não esperamos que inocentes sejam puni-dos nem que culpados sejam inocentados,mas que seja feita justiça. E prefiro acreditarque osministros não deixarão esse julgamen-to comprometer a sua história”, argumenta.Baseado nas acusações e provas apresentadaspela PGR, na avaliação dele, a maioria dos

réus deverá ser condenada—aúnica dúvida ésobre a dosagem e a aplicação da pena. Issoporque, em cada caso, deverão ser avaliados oconjunto de crimes, atenuantes e agravantes.

Ex-juiz e ex-promotor de Justiça, o jurista eprofessor de direito penal Luiz Flávio Gomesacredita que haverá um forte controle sobre aatuação dosministros. “É impossível que essejulgamento seja somente técnico. A socieda-de já politizou o caso e todomundo tem umaopinião a respeito. É preciso que eles tenhamargumentos razoáveis para evitar a desmora-lização e também para que não se deixem le-var pela pressão popular e damídia”, opina.

Mauro César Bullara Arjona, professor dedireito penal da PUC de São Paulo, não crêem prisão para os condenados. “Nos últimosanos, vem-se adotando a corrente de que pri-são é para crimes muito graves, como o ho-micídio, ou com penas muito longas”, argu-menta. Outro problema em relação ao caso,segundo ele, é o risco de prescrição de algunscrimes em razão do longo tempo de esperapara o julgamento.

» HELENA MADER» PAULO DE TARSO LYRA

Adenúncia contra os réus domensalãoinclui indiciamentospor lavagemdedi-nheiro, peculato, corrupção passiva eativa e evasão de divisas. Mas não im-

porta qual dessas acusações pese sobre seusclientes, os advogados de defesa têmpelome-nos uma tese emcomum: a de que omensalãonunca existiu. Emmeio a esse coro quase unís-sono dos réus, existe umaúnica voz dissidente.O ex-deputado Roberto Jefferson vai insistir noargumentodequedeputados federais recebiamumamesada do governo para votar de acordocomos interessesdoPaláciodoPlanalto.E,maisuma vez, o pivô do escândalo domensalão vaibaterna tecladequeoex-presidenteLuiz InácioLuladaSilva foi alertado sobreoesquema.

Apesar da tese comum de que omensalãonão teria passado de uma invenção de RobertoJefferson, as defesas dos acusados são extensase trazem centenas de outros argumentos paratentar livrar os réus da condenação—que emvários casospoderá levá-los diretamentepara acadeia. A concordância dos advogados quantoà suposta inexistência domensalão se restringea esse tema. As peças entregues pelas defesastrazem acusaçõesmútuas entre os réus, alémde sucessivas tentativas de desqualificar a de-núncia da Procuradoria Geral da República. Omarqueteiro DudaMendonça acusa MarcosValério de ter feito variadas remessas de recur-sos ao exterior. Já o ex-ministro José Dirceuacusa Roberto Jeffersonde ser umapessoa semcredibilidade para figurar como denuncianteprincipal do esquema. Jefferson, por sua vez,dispara contra todos e ainda tenta trazer o ex-presidente Lulaparaomeiodo furacão.

O advogadoMarcelo Leonardo, que repre-sentaMarcosValério, diz que as denúncias le-vantadas contrao seuclientenão terão reflexosno julgamento. “Essas acusações feitas por al-gunsdos réusnão são relevantes enão influen-ciam emnada. Portanto, não nos preocupam”,comenta o criminalista. Sobre a tese de que o

mensalão não existiu, ele explica que a afirma-ção se repete em todas as defesas porque nãohá provas nos autos que demonstrem o paga-mento de mesada a parlamentares. “A únicapessoa que fala emmensalão é o Roberto Je-fferson,mais ninguém. Foramouvidas 500 tes-temunhas ao longo do processo e nenhumadelas confirmaaversão. Ele (Roberto Jefferson)ficou isolado”, comentaMarcelo Leonardo.

Segundo a denúncia da PGR, o empresárioMarcosValério seria o operador de repasses derecursos financeiros a partidos, agindo sob aorientação do ex-tesoureiro Delúbio Soares. Adefesa deValério rebate a acusação e, assim co-moRoberto Jefferson, questiona por que o ex-presidenteLulanãoapareceentreos réus.“É ra-ríssimo caso de versão acusatória de crime emqueo intermediárioaparececomoapessoamaisimportante da narrativa, ficandomandantes ebeneficiários emsegundoplano, alguns inclusi-ve de fora da imputação, comoo ex-presidenteLula”, dizumtrechodadefesadopublicitário.

Para tentar emplacar a tese do mensalãopropagada por Jefferson, seu advogado, LuizFranciscoCorrêa Barbosa, diz que há, sim, pro-vas do pagamento demesada. “É natural quepessoas acusadas com flagrante rejeitemos fa-tos.Mashá recibo e impressões digitais no casodomensalão”, diz o advogado, referindo-se àsimagens divulgadas à época de deputados eempresários sacando recursos do Banco Rural,emumshoppingdacidade. “Adenúnciacontraele diz respeito ao recebimento de R$ 4 mi-lhões. Mas essa transferência foi para o paga-mento de campanhas das eleiçõesmunicipaisde 2004 e foi, portanto, umrepasse lícito.”

Quadrilha

Apontado como“o chefe da quadrilha” pelaProcuradoriaGeral da República, o ex-ministrodaCasaCivil JoséDirceu segue a linhadequeomensalão não existiu e também adota o dis-curso de desqualificar Roberto Jefferson. “Anossa avaliação é de que, após cinco anos deprocesso emais de 500 testemunhas ouvidas,

nãoexistequalquerdocumento, reuniãoou in-dício que possa incriminar o JoséDirceu”, diz oadvogado do ex-ministro, José Luís Oliveira Li-ma. As principais alegações do réu são de que,na Casa Civil, ele não teria ingerência sobre oPT nemmantinha vínculos com o empresárioMarcosValério. “A denúncia feita peloMinisté-rio Público não tem qualquer consistência.Não existe possibilidade de contaminação po-lítica do julgamento, estamos tranquilos quan-to a isso porque osministros são experientes.”

Oex-presidentedoPT JoséGenoino é acusa-do de participação nas negociações relativas aorepasse de recursos a partidos políticos aliados.O réu, hoje assessor doMinistério da Defesa,nega a existência domensalão e chama essaacusaçãode“fantasiosa”.OadvogadodeGenoi-no, Luiz Fernando Pacheco, acredita que seucliente será absolvido e que o julgamento servi-rápara“limparonome”deGenoino.“Depoisdesete anos, teremos a oportunidade de limpar onome de um homem público honesto e comconduta irrepreensível.Não existe omínimo in-dício de qualquer pagamento demesada paraqueosdeputadosvotassemcomogoverno.”

O advogado tentaminimizar a influência deGenoino no PT e diz que o ex-presidente nãofoi eleito, mas assumiu involuntariamente ocargoquando JoséDirceuvirouministrodaCa-saCivil. “Genoino tornou-sepresidentedeumadiretoria já eleita. O PT não tinha crédito napraça eDelúbio conseguiu noBMGenoBancoRural. Os empréstimos são legítimos”, asseguraLuiz Fernando.

O ex-presidente do Partido Progressista (PP)Pedro Corrêa foi umdos três deputados cassa-dos à época do escândalo domensalão, ao ladodeRobertoJeffersonedeJoséDirceu.Eleéacusa-dodereceberR$4,1milhõesdoesquema.“Odi-nheiro foi totalmenteusadoparapagardespesasde campanha. Parte dos recursos foi repassadoparaoJoãoCláudioGenu(queeraassessordeJo-sé Janene), que assinou até recibo. Como é quevãodizer que era propina se tem recibo?”, ques-tiona o advogadoMarcelo Leal, do escritórioEduardoFerrãoadvogadosassociados.

Estratégia definida

Nas entrelinhas dosmemoriais de defesaentregues nomês passado aoSupremo também é possívelencontrar formas sutis depressionar osministros daCorte. Os advogados dedefesa dos réus fizeramumminucioso estudo dojulgamento de outras açõespenais que foram analisadaspelo plenário do STF. Elespegaram trechos de votosdosmagistrados comargumentos que possam seencaixar em prol da defesade alguns réus.

Memoriais e encontros

Em setembro de 2011, osadvogados entregaram ao

Supremo Tribunal Federal asalegações finais da defesa.

Nomês passado, vários delesvoltaram ao STF para deixar

memoriais mais sucintossobre as mesas dos

ministros. O presidente daCorte, Carlos Ayres Britto, e

outros magistradosreceberam em seus

gabinetes advogados dealguns réus. Os encontros

foram divulgados nasagendas públicas dos

ministros.

Ummarcopara juristas

Oúltimoround

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Press

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/AE-8/8/05

Os réus do processo repetem amesma nota: omensalão nunca existiu. Todos,menos um:Roberto Jefferson, que deve trazer de volta a guerra travada como ex-ministro José Dirceu