mensalão do pt - recebimento da denúncia

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Seção de Processos Diversos do Plenário

TERMO DE ABERTURA

Em de de , fica formado o , - volume dos presentes autos (a) &i.,& &&(1Y que se

inicia a folha noi /1/1.95A . Seção de Processos Diversos do Plenário Eu, *&p/ , AnalistaJTécnico Judiciário, lavrei este termó. /

Page 5: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

c&g.+ Q3ZU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

011951 Corrupção passiva

Art. 317 - S o l i c i t a r ou receber, para s i ou

para outrem, d i r e t a ou ind ire tamente , ainda que fora

da função ou a n t e s de assumi- la , mas em razão de la ,

vantagem indev ida , ou a c e i t a r promessa de t a l

vantagem :

Pena - rec lusão , de 2 ( d o i s ) a 12 (doze)

anos, e mul ta .

( . . . )

O pagamento da propina t e r i a ocorr ido , como af irmou o

PGR, sem qualquer r e g i s t r o formal , ainda que rudimentar, d a

movimentação do numerário, que era pago em e s p é c i e , de acordo

com a denúncia.

In i c ia lmen te , com relação ao enquadramento t í p i c o do

d e l i t o p r e v i s t o no a r t i g o 317 do Código Penal, passo a f a zer

algumas breves observações.

A d e f e s a do denunciado Valdemar d a Costa Neto f a z a

seguin te alegação acerca da imputação do d e l i t o do a r t i g o 317 do

Código Penal (Apenso n0123, f l s . 2 4 - 2 7 ) :

,, ( - - - I

De acordo com a i l a ç ã o que se e x t r a i do

r e f e r i d o d i s p o s i t i v o l e g a l , para a configuração do

crime de corrupção passiva é ind ispensáve l que a

s o l i c i t a ç ã o , recebimento ou ace i tação de promessa de

vantagem indevida pe lo funcionário públ ico se dê em

razão do e x e r c í c i o de sua função, ainda que fora dela

e a n t e s de seu i n í c i o .

Page 6: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&* B&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 0 1 1 9 5 2

Como s e vê, é ind ispensáve l "a e x i s t ê n c i a

de nexo de causal idade e n t r e a conduta do funcionário

e a rea l i zação de a t o funcional de sua competência",

conforme, a l i á s , j á dec id iu o Supremo Tribunal Federal

na Ação Penal n o 307/DF, movida pe lo M i n i s t é r i o

Público Federal contra Fernando Col lor de Mello e

ou t ros .

A demonstração dessa relação é necessária

porque o t i p o p r e v i s t o no a r t i g o 317 do Código Penal

t r a t a da mercancia do cargo púb l i co , que somente pode

ocorrer s e o a t o de o f í c i o que incumbe ao serv idor

p r a t i c a r f o r pos to à dispos ição do p a r t i c u l a r mediante

o recebimen t o de vantagem indevida . Há que se apontar na denúncia, por tanto , a

ocorrência de um a t o - ação ou omissão -

necessariamente l i gado ao e x e r c í c i o da função.

No caso dos au tos , e n t r e t a n t o , o Min i s t é r io

Público Federa1 deixou de e s p e c i f i c a r na peça

acusatória qual a t o funcional t e r i a s ido t e r i a s ido

prat icado pe lo denunciado Valdemar da Costa Neto em

troca de alguma vantagem indev ida .

Com e f e i t o , a única evidência que s e aponta

na denúncia é o apoio p o l í t i c o que t e r i a s ido dado

pe lo denunciado ao Governo Federal na aprovação da

reforma da previdência ( PEC n o 40/2003) e da reforma

t r i b u t á r i a (PEC 41/2003) , o que, data ven ia , não se

q u a l i f i c a como a t o func ional . "

De sa ída , entendo que o precedente firmado por e s t a

Corte quando do julgamento da ação penal no 3 0 7 , em nada

inva l ida o que é apresentado na denúncia ora em a n á l i s e .

Page 7: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&e fl&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

Transcrevo a seguir importante t r e c h o do vo to condutor

do Minis t ro Ilmar Galvão, r e l a t o r d a Ação Penal no 307, quando

do julgamento f i n a l d a ação penal:

"Assim, para configuração do crime do a r t .

3 1 7 , do Código Penal, a a t i v i d a d e visada pe lo suborno

há de encontrar-se abrangida nas a t r i b u i ç õ e s ou na

competência do funcionário que a r e a l i z o u ou s e

comprometeu a r e a l i z á - l a , ou que, ao menos, s e

encontre numa relação funcional imediata com o

desempenho do r e s p e c t i v o cargo, assim acontecendo

sempre que a r ea l i zação do a t o subornado caiba no

âmbito dos poderes de f a t o i n e r e n t e s ao e x e r c í c i o do

cargo do agente . ( f l s . 2 2 0 3 ) "

Do t recho acima t r a n s c r i t o é poss íve l v e r i f i c a r que,

no caso da Ação Penal no 307, e s t a Corte conclu iu que o a t o de

o f í c i o a s e r prat icado, ou omi t ido , a t o e s t e que deveria e s t a r

dentro das a t r i b u i ç õ e s do então Presidente da República, não

havia s ido demonstrado.

É o que consta do seguin te t r echo do v o t o do eminente

Minis tro Celso de Mello, na r e f e r i d a ação penal:

"Por t a i s razões , o eminente Minis t ro

Revisor conclu iu , com acer to , o seu v o t o , absolvendo,

com fundamento no a r t . 386, I I I , do Código de Processo

Penal, Fernando A f fonso Col lor de Mello e Paulo César

Cavalcante F a r i a s da imputação de corrupção passiva

p e r t i n e n t e ao ep i sód io VASP/PETROBRÁS, Por

simplesmente não c o n s t i t u i r e s s e f a t o in f ração penal

Page 8: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@+kzw &&&& Inq 2 .245 / MG

011954

t i p i f i c a d a em l e i , consideradas a s razões

anteriormente mencionadas p e r t i n e n t e s à ausência, no

caso, de r e q u i s i t o t í p i c o e s s e n c i a l : a r e f e r ê n c i a

obje iva e concreta, na denúncia, a um e s p e c i f i c o a t o

funcional per tencente à e s f e r a de competência do

Pres idente da República.

Quanto ao ep i sód io M E R C E D E S - B E N Z / C U R I ~ ,

constatou-se que o M i n i s t é r i o Público em sua denúncia,

ao deduz ir a imputação penal pe lo crime de corrupção

pass i va , nenhuma r e f e r ê n c i a f e z a qualquer a t o de

o f i c i o imputável à esfera de a t r i b u i ç õ e s func ionais do

Pres idente da República."(fls.2676-2677)

Ocorre que, no caso ora em a n á l i s e , a denúncia é

pródiga em demonstrar que a expressão "apoio po l i t i co" r e f e r e - s e

d i r e t a e concretamente a atuação dos denunciados na qualidade de

parlamentares, remetendo-se as votações em plenário.

É o que se l ê nos seguin tes t rechos d a denúncia:

" I l u s t r a n d o o apoio p o l í t i c o do grupo de

parlamentares do Partido Liberal ao Governo Federal,

na s i s t emát i ca acima narrada, destaca-se a atuação do

parlamentar Valdemar Costa Neto na aprovação da

reforma da previdência (PEC 40 / 2003 na sessão do dia

27/08/2003) e da reforma t r i b u t a r i a (PEC 41/2003 na

sessão do dia 24/09/2003) . " ( f l s . 5.273)

" P a r a i l u s t r a r o apoio p o l i t i c o do grupo de

parlamentares do Partido Progressis ta ao Governo

Federal, na s i s t emát i ca acima narrada, destacam-se as

Page 9: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

cAg&%m c22ZLmd&a Inq 2 . 2 4 5 / MG

011955 a t u a ç õ e s d o s p a r l a m e n t a r e s Pedro C o r r e a , Pedro Henry e

J o s é J a n e n e na a p r o v a ç ã o da r e f o r m a da p r e v i d ê n c i a

(PEC 40 /2003 na s e s s ã o d o d i a 2 7 / 0 8 / 2 0 0 3 ) e da r e f o r m a

t r i b u t a r i a (PEC 4 1 / 2 0 0 3 na s e s s ã o d o d i a

2 4 / 0 9 / 2 0 0 3 ) 1 5 8 . " ( f l s . 5714 )

"Para i l u s t r a r o a p o i o p o l í t i c o d o g rupo d e

p a r l a m e n t a r e s d o P a r t i d o L i b e r a l a o Governo F e d e r a l ,

na s i s t e m á t i c a acima n a r r a d a , p o n t u a - s e a a t u a ç ã o d o

Parlamen t a r C a r l o s R o d r i g u e s na a p r o v a ç ã o da r e f o r m a

da p r e v i d ê n c i a (PEC 40 /2003 na s e s s ã o do d i a

2 7 / 0 8 / 2 0 0 3 ) e da r e f o r m a t r i b u t a r i a (PEC 41/2003 na

s e s s ã o d o d i a 2 4 / 0 9 / 2 0 0 3 ) . " ( f l s . 5 . 7 2 4 )

"Para i l u s t r a r o a p o i o p o l í t i c o d o g rupo d e

p a r l a m e n t a r e s d o P a r t i d o T r a b a l h i s t a B r a s i l e i r o a o

Governo F e d e r a l , na s i s t e m á t i c a acima n a r r a d a ,

d e s t a c a m - s e a s a t u a ç õ e s d o s P a r l a m e n t a r e s R o b e r t o

J e f f e r s o n , Romeu Q u e i r o z e J o s e C a r l o s M a r t i n e z S a n t o s

na a p r o v a ç ã o da r e f o r m a da p r e v i d ê n c i a (PEC 40 /2003 na

s e s s ã o d o d i a 2 7 / 0 8 / 2 0 0 3 ) e da r e f o r m a t r i b u t a r i a (PEC

41 /2003 na s e s s ã o do d i a 2 4 / 0 9 / 2 0 0 3 ) . " ( f l s . 5 . 729)

Por o u t r o l a d o , é i m p o r t a n t e s a l i e n t a r que a

r e f e r ê n c i a f e i t a p e l a d e f e s a d o d e n u n c i a d o Va ldemar da C o s t a

N e t o a o p r e c e d e n t e d o Caso C o l l o r (Ação Pena l n o 3 0 7 ) , d i z

r e s p e i t o a o j u l g a m e n t o do m é r i t o d a q u e l a a ç ã o p e n a l , f a s e a que

a i n d a não chegamos n e s t e p r o c e s s o . Em o u t r a s p a l a v r a s , n a q u e l e

c a s o , embora no j u l g a m e n t o f i n a l a C o r t e t e n h a s e encaminhado no

Page 10: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

sen t ido da absolvição por f a l t a do chamado a t o de o f í c i o , na

f a s e correspondente aquela em que nos encontramos n e s t e

Inquér i to 2 2 4 5 , a denúncia f o i in tegralmente recebida com

relação aos d e l i t o s do a r t i g o 317 do Código Penal.

Sobre o a questão, t rago à colação o t r echo i n i c i a l do

v o t o de mér i to sobre as imputações de corrupção passiva,

p ro fe r ido pelo eminente m i n i s t r o Celso e Mello, no julgamento da

Ação Penal no 307:

" O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO - Ao

votar no Plenário des ta Suprema Corte , em 2 8 / 0 4 / 9 3 ,

mani fes te i -me no s e n t i d o do i n t e g r a l recebimento da

denúncia o f e rec ida pe lo Min i s t é r io Público Federa1

contra os ora acusados, fazendo-o por d o i s motivos

fundamentais: pr imeiro , porque, a meu v e r , a peça

acusatória apresentava condições mínimas de

admiss ib i l idade que j u s t i f i c a v a m , naquela fa se

prel iminar do processo penal de conhecimento - e a

p a r t i r de um j u í z o prov i sór io de mera del ibação -, o

acolhimento da denúncia formalizada pe lo Procurador-

Geral da República; segundo, porque, com a ins tauração

do procedimento penal em j u i z o , p o s s i b i l i t a r - s e - i a ,

sempre com a e s t r i t a e necessária observância dos

postulados c o n s t i t u c i o n a i s que regem a a t i v idade

persecutór ia do Estado, a plena e cabal apuração da

verdade r e a l . "

Em suma, Sra. Presidente , entendo que a discussão

acerca da e x i s t ê n c i a ou não de um a t o de o f i c i o , sem o qual não

Page 11: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&e NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 011957

estaria configurado o crime de corrupção passiva, é

absolutamente extemporânea nessa fase de averiguação da presença

de elementos indiciários mínimos suscetíveis de autorizar a

instauração da ação penal.

No momento processual adequado, o assunto virá

seguramente a tona, trazendo inclusive novamente ao debate o

magnífico e levemente irreverente voto do ministro Sepúlveda

Pertence sobre o tema.

3) Além das imputações concernentes ao delito de

corrupção passiva, narra a denúncia que os parlamentares

denunciados teriam se utilizado de terceiras pessoas,

desconhecidas do grande público, de modo que permanecesse oculta

a propriedade dos valores supostamente recebidos.

Assim, os fatos, tal como narrados, se enquadram no

tipo penal do crime de lavagem de dinheiro, que dispõe:

Art. 1°, Lei n o 9 . 6 1 3 / 9 8 - Ocultar ou

dissimular a na tureza , origem, local i zação,

d ispos ição, movimentação ou propriedade de bens,

direitos ou valores provenientes, direta ou

indiretamente, de crime:

( . . . I

V - contra a Administração Pública,

inclusive a exigência, para si ou para outrem, direta

ou indiretamente, de qualquer vantagem, como condição

ou preço para a prática ou omissão de atos

administra tivos;

Page 12: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R* fl&&& Inq 2.245 / MG

(e. . )

V I I - praticado por organização criminosa

Pena: reclusão, de três a dez anos, e

m u l t a .

4) Por fim, e ainda de acordo com este resumo feito

pelo PGR, em alguns partidos teriam se formado quadrilhas

autônomas, para viabilizar o cometimento dos crimes de corrupção

passiva e lavagem de capitais aqui denunciados, o que configura,

em tese, o tipo do art. 288 do Código Penal.

Assim, reconhecendo a tipicidade, em tese, das

condutas narradas pelo Ministério Público Federal, passo a

análise dos fatos em si, tal como descritos neste capitulo da

denúncia, para verificar se há ou não indícios suficientes para

o seu recebimento.

Page 13: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&* fl&&& Inq 2.245 / MG

VI.l. PARTIDO PROGRESSISTA.

O i t e m V I . l da denúncia imputa a Deputados Federais do

Partido Progressis ta ( P P ) e a pessoas a e l e s l igadas a prát ica

de crimes de corrupção pass iva , lavagem de d inhe i ro e formação

de quadri lha, nos seguin tes termos (denúncia, f l s . 5707 e

segu in tes , volume 2 7 ) :

"Os denunciados José Janene, Pedro Corrêa,

Pedro Henry, João Cláudio Genú, Enivaldo Quadrado,

Breno Fischberg e Carlos Alberto Quaglia montaram uma

estrutura criminosa voltada para a prática dos crimes

de corrupção passiva e branqueamento de capitais.

O recebimento de vantagem indevida,

motivada pela condição de Parlamentar Federal dos

denunciados José Janene, Pedro Corrêa e Pedro Henry,

t inha como contraprestação o apoio p o l í t i c o do Partido

Progressis ta - PP - ao Governo Federal.

Nessa l i n h a , ao longo dos anos de 2003 e

2004, José Janene, Pedro Corrêa, Pedro Henry e João

C1 á udi o Gen ú receberam aproximadamente quatro milhões

e cem mil reais a titulo de propina.

Após formalizado o acordo criminoso com o

PT (José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino e S í l v i o

Pere i ra ) , os pagamentos começaram a s e r efetuados pelo

núcleo publicitário-financeiro.

(. . .! Ciente de que os va lores procediam de

organização criminosa dedicada à prát ica de crimes

contra a administração pública e contra o sistema

Page 14: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&*H&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 011960

f i n a n c e i r o n a c i o n a l , os d e n u n c i a d o s engendraram

mecanismo para d i s s imu lar a origem, natureza e d e s t i n o

dos montantes a u f e r i d o s .

( . . . I D e n t r o d o organograma da q u a d r i l h a , J o s é

J a n e n e , Pedro Corrêa e Pedro Henry ocupavam o t o p o da

sua e s t r u t u r a , p o s s u i n d o o d o m í n i o d o s e u d e s t i n o .

O Deputado F e d e r a l José Janene sempre

i n t e g r o u a E x e c u t i v a N a c i o n a l d o P P , t endo fechado o

acordo f inance i ro com o PT e assumido postura a t i v a no

recebimento da propina.

Nesse s e n t i d o , i n c l u s i v e , f o i o responsável

pe la aproximação do núc leo p u b l i c i t á r i o - f i n a n c e i r o com

a parceira BÔnus Banval.

O Deputado F e d e r a l Pedro Corrêa e ra o

Pres idente do PP, sempre ocupando a l t o s cargos na

agremiação p a r t i d á r i a em t e l a .

Já o Deputado Federa l Pedro H e n r y e ra o

l í d e r da bancada do PP na Câmara Federal.

E n f i m , os d e n u n c i a d o s J o s é J a n e n e , Pedro

Corrêa e Pedro Henry representavam o comando r e a l do

ppl4.

F i n a l m e n t e , João C l á u d i o Genú, c u j o

p a t r i m ô n i o é i n c o m p a t í v e l com sua r enda i n f o r m a d a , e r a

o homem d e c o n f i a n ç a da c ú p u l a d o PP ( J o s é J a n e n e ,

Pedro Corrêa e Pedro H e n r y ) , t r a b a l h a n d o com o

Deputado F e d e r a l J o s é Janene d e s d e j u l h o d e 2003.

Em s e u d e p o i m e n t o na P o l í c i a F e d e r a l , João

Cláudio Genú admi t iu que recebeu quant ias em e s p é c i e

l 4 E, assim, orientavam, segundo o PGR, a bancada do partido a votar a favor do Governo Federal nos temas objeto de acordo com o denominado "núcleo partidário" da suposta quadrilha.

Page 15: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

, Inq 2 . 2 4 5 / MG

,em nome do PP. R e l a t o u , a inda , que sua atuação

de l i tuosa era sempre precedida do aval dos Deputados

Federais José Janene e Pedro Corrêa.

As p r i m e i r a s operações d e recebimento dos

valores foram implementadas pessoalmente por João

Cláudio Genú, intermediário dos lideres da q u a d r i l h a ,

José Janene, Pedro Corrêa e Pedro H e n r y .

Depois , buscando s o f i s t i c a r a s manobras d e

encobrimento da origem e natureza dos express ivos

montantes aufer idos pela quadrilha, José Janene, Pedro

Corrêa, Pedro H e n r y e João Cláudio Genú passaram a se

u t i l i z a r d e forma re i terada e pro f i s s iona l dos

s e rv i ços criminosos d e lavagem de c a p i t a i s o ferecidos

no mercado pelas empresas BÔnus Banval e Natimar.

Com e f e i t o , após apresentação d e José

Janene, Marcos Va lé r io i n i c i o u o repasse da propina

determinada p e l o PT ( Jo sé Dirceu, Delúbio Soares , José

Genoíno e S í l v i o P e r e i r a ) a quadr i lha i n t egrada por

José Janene, Pedro Corrêa, Pedro Henry e João Cláud io

Genú, valendo-se d e modo pro f i s s iona l dos serv iços da

BÔnus Banval, cu j o s p r o p r i e t á r i o s são Enivaldo

Quadrado e Breno Fischberg.

Nessa emprei tada de r epas se de vantagem

i n d e v i d a , a Bônus Banval, em uma primeira fase ,

rea l i zou a l t o s saques em espécie , repassando

pos t e r io rmen te o s montantes aos d e s t i n a t á r i o s

i n d i c a d o s p e l o n ú c l e o do PT ( f l . 1 4 6 1 ) .

Depois , por q u e s t õ e s o p e r a c i o n a i s , valeu-se

dos serv iços espúrios da empresa Natimar, que tem como

sócio Carlos Aiber to Quaglia.

Page 16: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

0s v a l o r e s o r i u n d o s d o n ú c l e o Marcos

V a l é r i o eram d e p o s i t a d o s na c o n t a da empresa Bônus

B a n v a l , q u e os d i r e c i o n a v a i n t e r n a m e n t e para a c o n t a

da Na t imar j u n t o à p r ó p r i a BÔnus B a n v a l , s e n d o

t r a n s f e r i d o s , em s e g u i d a , p o r C a r l o s A l b e r t o Q u a g l i a ,

E n i v a l d o Quadrado e Breno F i s c h b e r g a o s d e s t i n a t á r i o s

r e a l s d o esquema.

Essa segunda forma fraudulenta de repasse,

com o emprego das empresas Bônus Banval e Natimar,

resultou em transferências no valor total de um milhão

e duzentos mil reais ao PP.

A s s i m , como profissionais do ramo de

branqueamento de capitais, Enivaldo Quadrado, Breno

Fischberg e Carlos ALberto Quaglia associaram-se, de

modo permanente, habitual e organizado, à quadrilha

originariamente integrada por José Janene, Pedro

Corrêa, Pedro Henry e João Cláudio Genú.

O s r e c u r s o s d o n ú c l e o Marcos V a l é r i o ,

r e p a s s a d o s para as empresas BÔnus Banval e N a t i m a r ,

t i n h a m p o r origem predominante as empresas 2s

Participações Ltda. e Rogerio Tolentino Associados,

&as do seu grupo empresarial.

Em d e c o r r ê n c i a d o esquema c r i m i n o s o

a r t i c u l a d o , J o s é J a n e n e , Pedro C o r r ê a , Pedro Henry e

João C l á u d i o Genú receberam como contraprestação do

apoio politico negociado ilicitamente, no mínimo, o

montante de guatro milhões e cem mil reais.

Desse t o t a l , o valor aproximado de R$

2.900.000,OO foi entregue aos parlamentares acima

mencionados pela sistemática de saques efetuados por

Simone Vasconcelos na agência do Banco Rural em

Page 17: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

d$ktmw &&@& Inq 2.245 / MG

0 1 1 9 6 3

B r a s í l i a , que repassava o dinheiro a João Cláudio Genú

e m m a l a s ou s a c o l a s d e n t r o da p r ó p r i a a g ê n c i a , n o

q u a r t o do h o t e l Grand B i t t a r onde se hospedava e na

sede d a empresa SMP&B e m B r a s í l i a .

A s s i m , d e a c o r d o com a a c u s a ç ã o , o s d e n u n c i a d o s

mencionados acima t e r i a m r e c e b i d o , i n d e v i d a m e n t e , v u l t o s a s

q u a n t i a s d o n ú c l e o formado p e l o s também d e n u n c i a d o s J o s é D i r c e u ,

D e l ú b i o S o a r e s , J o s é Genoíno e S í l v i o P e r e i r a , como

c o n t r a p r e s t a ç ã o i l í c i t a a o a p o i o p o l í t i c o p a r a fo rmar a b a s e d e

s u s t e n t a ç ã o d o Governo F e d e r a l .

A l é m d i s s o , g r a n d e p a r t e d e s t a q u a n t i a t e r i a s i d o

r e p a s s a d a p e l o denominado " n ú c l e o p u b l i c i t á r i o " (MARCOS VALÉRIO,

SIMONE VASCONCELOS, GEISA DIAS, ROGÉRIO TOLENTINO, RAMON

HOLLERBACH e CRISTIANO PAZ), m e d i a n t e um s i s t e m a d e lavagem d e

d i n h e i r o , minuc iosamen te d e s c r i t o no i t e m I V d a d e n ú n c i a , a n t e s

a n a l i s a d o , do q u a l e x t r a i o o s e g u i n t e t r e c h o e x p l i c a t i v o d o

"mecanismo" d e lavagem d e n u n c i a d o ( f 1s. 5 6 8 7 / 5 6 8 9 ) :

"A s i s t e m á t i c a c r i a d a pelos d i r i g e n t e s d o

Banco R u r a l , a p r i m o r a d a a p a r t i r d o i n í c i o d o a n o d e

2003, p o s s i b i l i t o u a t r a n s f e r ê n c i a , e m espécie, d e

g r a n d e s somas e m d i n h e i r o com a o c u l t a ç ã o e

d i s s i m u l a ç ã o da n a t u r e z a , o r igem, movimentação e

d e s t i n o f i n a l .

Alguns b e n e f i c i á r i o s a p e n a s foram

i d e n t i f i c a d o s p o r q u e , valendo-se do elemento surpresa,

a P o l i c i a F e d e r a l e f e t u o u busca e a p r e e n s ã o n a s

Page 18: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

GqgkeZm H&&& Inq 2.245 / MG

0 1 1 9 6 4

a g ê n c i a s d o Banco R u r a l , l o g r a n d o a p r e e n d e r documen tos

i n t e r n o s , não o f i c i a i s ( f a c - s í m i l e s e e - m a i l s ) , com

indicação das pessoas que efetivamente receberam os

valores sacados por meio de cheques endossados pelos

próprios emitentes.

Para a i m p l e m e n t a ç ã o d o s r e p a s s e s d e

d i n h e i r o , Marcos Valér io era informado, por Delúbio

Soares, do des t ina tár io e do respect ivo montante. A

p a r t i r d a i , o próprio Marcos Valér io , Simone

Vasconcelos ou GEISA Dias entravam em contato com o

bene f i c iá r io da quantia.

Com o o b j e t i v o d e n ã o d e i x a r q u a l q u e r

r a s t r o da sua p a r t i c i p a ç ã o , esses b e n e f i c i á r i o s

i n d i c a v a m um t e r c e i r o , a p r e s e n t a n d o o s e u nome e

q u a l i f i c a ç ã o para o r e c e b i m e n t o d o s v a l o r e s em

e s p é c i e .

( . . . )

F u n c i o n á r i o s da a g ê n c i a A s s e m b l é i a d o Banco

R u r a l i n fo rmavam a o s da a g ê n c i a em q u e se r e a l i z a r i a o

s a q u e a i d e n t i f i c a ç ã o da p e s s o a c r e d e n c i a d a para o

r e c e b i m e n t o d o s v a l o r e s , disponibil izados em espécie,

mediante a simples assinatura ou rubrica em um

documento informal, d e s t i n a d o a p e n a s a o controle

in terno de Marcos Valér io , q u e , o b v i a m e n t e ,

n e c e s s i t a v a d e alguma comprovação m a t e r i a l d o

pagamento e f e t u a d o . "

Em s u a s r e s p o s t a s , os acusados alegam que a denúncia

não descreveu, rigorosamente, a conduta a e l e s imputada, em

afronta ao a r t . 41 do Código de Processo Penal. A s s i m , a f i r m a m

Page 19: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&e NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 0 1 1 9 6 5

ser inepta a inicial acusatória, uma vez que essa singeleza

descritiva impede o adequado exercício do direito de defesa.

Alegam, também, que não há prova de que os acusados

receberam qualquer vantagem ilicita, para si ou para terceiros.

Assim, a inicial estaria lastreada em meras suposições.

Salientam, para reforçar o argumento acima, que a

bancada do PP nem sempre votou alinhada com o governo, dando

liberdade a seus parlamentares para votarem de acordo com suas

consciências.

Sobre a imputação de lavagem de dinheiro, todas as

defesas também afirmam que a origem e destinação do dinheiro

eram regulares (pagamento de honorários advocaticios do Dr.

Paulo Goyaz, para a defesa do Deputado Ronivon Santiago, que

vinha respondendo a inúmeros processos perante o TSE, o TRE/AC e

este Tribunal). Assim, se a origem e destinação dos montantes

recebidos do PT não foram objeto de dissimulação, seria atipica

a conduta imputada pelo Procurador-Geral da ~e~ública. Para a

defesa de PEDRO CORRÊA, ainda, o recebimento de dinheiro

configuraria, no máximo, exaurimento do crime de corrupção, e

não lavagem de dinheiro.

Por fim, quanto a imputação de formação de quadrilha,

as defesas afirmam que esta perde sua sustentação, na medida em

que não foram praticados os crimes para os quais a quadrilha se

teria articulado.

Page 20: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&e &&H& Inq 2.245 / MG

0 1 1 9 6 6

Ademais, não estaria configurado o elemento subjetivo

do tipo do art. 288 do CP, já que os acusados tinham

relacionamento de natureza pessoal e política, fazendo parte do

mesmo partido e com posições de destaque na estrutura

partidária, não se podendo vislumbrar em sua atuação o crime de

quadrilha ou bando.

Salientam, além disso, que o Procurador-Geral da

República incluiu o acusado JOÃO CLÁUDIO GENÚ apenas para que se

completasse o número legal de quatro acusados, forjando, assim,

a formação de quadrilha. Isto porque GENÚ seria apenas um

funcionário que atende à liderança do PP "e foi, neste caso,

mero emissário para o recebimento dos valores pagos pelo PT para

o custeio da defesa do Deputado Ronivon Santiago" (fls. 18).

As defesas de PEDRO CORRÊA e JOÃO CLÁUDIO GENÚ

destacam que não se pode confundir concurso de agentes com

formação de quadrilha. Se a denúncia trata de um só crime,

praticado por várias pessoas, haveria concurso de pessoas, sendo

que, no caso em questão, haveria autores mediato e um autor

imediato. Para a formação de quadrilha, é necessário o elemento

estabilidade, bem como a finalidade especifica de cometer vários

crimes, o que não seria o caso dos autos.

Por fim, as defesas dos acusados PEDRO HENRY e PEDRO

CORRÊA afirmam que o Procurador-Geral da República, na denúncia,

atribuiu responsabilidade objetiva aos denunciados, pelo simples

Page 21: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

fato de serem líder da bancada do Partido Progressista na Câmara

e Presidente do Partido Progressista, respectivamente.

Sustenta, ainda, a defesa de PEDRO HENRY, que teria

ficado exaustivamente comprovado durante a instrução da CPMI dos

Correios que nunca existiu qualquer participação do denunciado

em operações de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de

quadrilha15, razão pela qual foi absolvido. Assevera que JOÃO

CLÁUDIO GENU pedia autorização apenas para PEDRO CORRÊA e JOSÉ

JANENE antes de efetuar os saques e determinar a destinação dos

recursos sacados

Por sua vez, afirma a defesa de PEDRO CORRÊA (fls. 18

do Apenso 99) :

( . . . ) foi o Partido, do qual o Acusado é

Presidente, quem a cordou no recebimento dos valores

destinados ao pagamento dos honorários do Dr. Paulo

Goyaz, e não o acusado aglndo por conta próprla.

Por esta razão, ao receber o telefonema do

Sr. João Cláudio Genu, informando que iria buscar

valores encaminhados pelo PT, o Acusado aquiesceu com

sua conduta.

Esta a única partlclpação sua em todo o

evento.

A defesa destaca, ainda, que PEDRO CORRÊA não tem

qualquer relação com as empresas Bõnus Banval e a Natimar, nem

l5 Neste ponto, a defesa destaca trechos dos depoimentos de Pedro Corrêa, João Cláudio Genú e do próprio denunciado.

Page 22: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

dgkaem fl&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

011963

conhece os co-denunciados Enivaldo Quadrado, Breno Fischberg e

Carlos Quaglia. Também não possuiria qualquer relação com os

supostos recebedores das quantias depositadas por aquelas

empresas.

Estes os pontos das defesas dos denunciados que

merecem destaque.

Em primeiro lugar, considero que os fatos narrados na

denúncia, e que transcrevi acima, configuram, em tese, os crimes

de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de

quadrilha, como, aliás, já analisei na introdução a este item.

O fato de o PP ter destinado o numerário recebido para

pagar honorários advocaticios, como afirmaram as defesas, não

enfraquece a imputação de corrupção passiva.

Isto porque o Procurador-Geral da República acusou os

Deputados de terem recebido dinheiro, em razão de seu cargo.

Este é, aliás, o tipo legal do art. 317 do CP, que torno a citar

apenas para ficar mais clara a presença dos elementos tipicos:

Art. 317. S o l i c i t a r ou receber, para si ou

para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora

da função ou antes de assumi-la, mas em razão de la ,

vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal

vantagem.

Ora, a destinação que, depois, foi conferida ao

dinheiro recebido não altera em nada a classificação dos fatos.

Page 23: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R- fl&d53& Inq 2 . 2 4 5 / MG

0 1 1 9 6 9

O Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, em seu voto na AP no 307/DF,

esclareceu com muita propriedade esta questão:

Vantagem indevida é toda e qualquer

vantagem, à qual o funcionário não tenha direito, o

que, no ponto, é indiscutivel.

( . . . I

De qualquer sorte, é irrespondível o

argumento das alegações finais do Ministério Público

de que, para a caracterização da corrupção passiva, - o

des t ino f ina l do numerário, obt ido d i r e t a ou

indiretamente pelo funcionário, em razão da função, é - de todo i r r e l evan te . Seja ele nobre ou ignóbil, licito

ou ilícito.

Aliás, consta do Relatório Final da CPMI dos Correios

uma acurada análise, na qual se verifica que os repasses de

dinheiro pelo PT se deram justamente as vésperas de votações

importantes para o partido. Isto, contudo, não merece relevo

nes te momento, em que se buscam, apenas, ind íc ios da prática do

crime definido no art. 317 do CP.

Relativamente a lavagem de dinheiro, também considero,

com base no que foi narrado na inicial, que não merece ser

acolhido o argumento da defesa de PEDRO CORRÉA, segundo o qual,

em realidade, o recebimento do dinheiro teria configurado mero

exaurimento do crime de corrupção passiva.

Na verdade, o modus operandi narrado na denúncia

revela que, ao menos em tese, houve uma sistemática dissimulação

Page 24: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+ &&&& Inq 2 .245 / MG

011970

da movimentação de valores, recebidos em espécie e através de

diferentes pessoas, físicas e juridicas. Assim, é possível

visualizar, nos fatos como narrados, a prática, em tese, de

crime de lavagem de dinheiro, que foi elevado a categoria de

crime autônomo na década de oitenta, justamente com objetivo, na

época, de se impedir a ut i l ização dos produtos dos crimes

antecedentes. É o que ocorre, também, na receptação, apontada

como uma das origens históricas do crime de lavagem.

Assim, a alegação de que teria havido mero exaurimento

do crime antecedente não é compatível com a narrativa contida na

denúncia nem com a tipificação da lavagem de dinheiro, que é

crime autônomo em relação aos crimes antecedentes imputados.

Por fim, entendo caracterizada a conformação típica

dos fatos narrados ao crime de quadrilha. Em primeiro lugar, o

Procurador-Geral da República não imputa a prática de apenas um

crime, mas de vários (corrupção passiva e lavagem de dinheiro,

por diversas vezes).

Ademais, e examinarei melhor esta questão a seguir, a

inclusão de JOÃO CLÁUDIO GENÚ não foi, como pretende a defesa,

apenas uma tentativa inidônea do Procurador-Geral da República

de completar o número legal exigido no art. 288 do Código Penal.

Isto porque o delito de formação de quadrilha é

imputado não apenas a JOSÉ JANENE, PEDRO HENRY, PEDRO CORRÊA e

JOÃO CLÁUDIO GENÚ, mas, também, aos representantes das empresas

Page 25: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

Bônus Banval e Natimar ENIVALDO QUADRADO, BRENO FISCHBERG e

Carlos ALBERTO QUAGLIA. Portanto, o número legal se conformaria

ainda que se excluísse o acusado JOÃO GENÚ.

Além do mais, a narrativa dos fatos conduz, sim, ao

enquadramento, em tese, da conduta como formação de quadrilha,

tendo em vista que, na qualidade de assessor parlamentar, GENÚ

teria contribuído ativa e conscientemente para a prática dos

crimes de lavagem de dinheiro.

Passo, portanto, ao exame dos indícios apontados na

denúncia como suficientes para instaurar ação penal contra os

acusados.

Sobre a corrupção passiva, o Procurador-Geral da

República afirma que os denunciados solicitaram e receberam

dinheiro do PT, via "núcleo publicitário", em razão de seu cargo

(Deputados Federais e assessor parlamentar).

Há indícios neste sentido.

Assinalo, inicialmente, que as próprias defesas

reconhecem ter havido o repasse de R$ 700 mil reais pelo PT aos

denunciados, alegadamente para pagar honorários de advogado do

partido (v. Apensos 98 - Pedro Henry; 99 - Pedro Corrêa; e 113 -

José Janene) .

Ocorre que não havia qualquer razão para esse "favor"

do PT, senão, aparentemente, o fato de os denunciados ocuparem

os cargos públicos que ocupam.

Page 26: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

fie fl&&& Inq 2 .245 / MG 0 1 1 9 7 2

Além d i s s o , os depoimentos juntados aos autos reforçam

a t e s e d a denúncia, em in tens idade s u f i c i e n t e para a instauração

de ação penal. C i t o , de i n í c i o , o depoimento do Deputado Vadão

Gomes, c i t a d o na p rópr ia denúnc ia , acostado as f l s . 1718/1722

(volume 8) :

"Que é Deputado Federal pe lo Partido

Progressis ta de SJo Paulo; ( . . . ) Que e x i s t e n o t ó r i a

i n c o m p a t i b i l i d a d e i d e o l ó g i c a entre o P a r t i d o

P r o g r e s s i s t a e o P a r t i d o dos Trabalhadores n o Es tado

d e São Paulo; ( . . . ) Que conhece DELÚBIO SOARES, tendo

s i d o apresentado a e s se ~ n d i v í d u o no d i a em que

part ic ipava do v e l ó r i o do v ice-pres idente do Banco

Rural JOSÉ AUGUSTO DUMONT, na cidade de Belo

Horizonte/MG; ( . . . ) Que nunca chegou a t r a t a r nenhum

t i p o de assunto com Delúbio Soares, esclarecendo que

p re senc iou uma conversa hav ida em B r a s i l i a entre o

t e s o u r e i r o d o P a r t i d o dos Trabalhadores e o p r e s i d e n t e

d o mesmo p a r t i d o , JOSE GENUINO, com o s Deputados PEDRO

HENRY e PEDRO CORREIA, ambos d o P a r t i d o P r o g r e s s i s t a ;

Que nessa conversa com os p o l í t i c o s dos do i s par t idos

t en tavam a c e r t a r d e t a l h e s d e uma p o s s í v e l a l i a n ç a em

âmbi to n a c i o n a l ; Que no decorrer do r e f e r i d o diálogo,

escutou gue o s i n t e r l o c u t o r e s mencionaram a

n e c e s s i d a d e d e a p o i o f i n a n c e i r o d o P a r t i d o dos

Trabalhadores para o P a r t i d o P r o g r e s s i s t a em algumas

r e g i õ e s do P a i s ; Que, e n t r e t a n t o , não tomou

conhecimento de de ta lhes como va lores e formas pe las

quals e s t e aporte f lnance l ro ser ia e f e t i v a d o ; Que,

provave lmente , maiores d e t a l h e s de s sa t r a t a t i v a

t i v e r a m a f r e n t e o s Deputados Pedro Corrêa e Pedro

Page 27: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

Henry, p r e s i d e n t e nacional e l i d e r da bancada do

Par t ido Progress i s ta , respect ivamente; Que tomou

conhecimento, a t r a v é s de conversas de corredor, de uma

reunião ocorrida na sede do Par t ido Progress i s ta , com

o o b j e t i v o de se f irmar um p o s s i v e l acordo de

col igações e n t r e o Partido Progressis ta e o Partido

dos Trabalhadores em âmbito nac ional , mas não chegou a

p a r t i c i p a r desta reunião; ( . . . )

Por sua v e z , o denunciado JOÃO CLÁUDIO GENÚ afirmou o

seguin te ( f l s . 5 8 0 , volume 3 dos a u t o s ) :

Que conhece DELÚBIO SOARES das re lações

p o l í t i c a s de trabalho; Que acred i ta que DELÚBIO SOARES

não conheça o dec laran te , apesar de terem trocado

cumprimentos; Que acompanhou JOSÉ JANENE em encontros

que este teve com DELÚBIO SOARES; Que nesses encontros

sempre f icava aguardando na s a l a de recepção ou em

ou t ras s a l a s ; Que nunca presenciou qualquer conversa

e n t r e DELÚBIO SOARES e JOSÉ JANENE, bem como qualquer

outro parlamentar ou p o l í t i c o s ; ( . . . I Que já l i g o u

v á r i a s v e z e s para a sede do Par t ido dos Trabalhadores

em Brasíl ia/DF e São Paulo/SP a procura de DELÚBIO

SOARES; Que t a i s l i g a ç õ e s sempre foram f e i t a s a pedido

do Deputado JOSÉ JANENE; Que nunca ouviu nenhuma

conversa ao t e l e f o n e e n t r e JOSÉ JANENE e D E L ~ B I O

SOARES; Que acompanhava a s vo tações que ocorriam na

Câmara dos Deputados, sendo este seu p r i n c i p a l

trabalho; Que também acompanhava a s dec isões das

Comissões Permanentes da Câmara dos Deputados; ( . . . )

Que acompanhou o Deputado JOSÉ JANENE em algumas

v i s i t a s que e s t e f e z na CORRETORA BÔNUS-BANVAL; Que a

Page 28: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

f i l h a do Deputado JOSE J m trabalhava na corre tora

BÔNUS-BANVAL, sendo que o Deputado comparecia à sede

da empresa para v i s i t á - l a ; ( . . . )

Ainda como i n d í c i o d a prá t ica do crime de corrupção

passiva, temos o depoimento de ROBERTO J E F F E R S O N ( f l s .

4219/4227, volume 19), especialmente ( f l s . 4226):

Que, em julho ou agosto de 2003, t e v e uma

conversa com JOSÉ Carios MARTINEZ, que informou ao

dec larante do repasse de recursos aos par t idos da base

a l iada ao Governo, com i n t u i t o de s u s t e n t a r a s

vo tações em p lenár io em favor dos p r o j e t o s do Governo,

tendo o dec larante rechaçado a i d é i a do recebimento de

t a l t i p o de recurso , p o i s s e a s s l m o f i z e s s e o PTB

f i c a r i a refém do governo; Que, após essa conversa

mantida com JOSÉ CARLOS MARTINEZ, o dec larante af irma

ter tomado conhecimento d e uma reunião ocorrida na - r e s i d ê n c i a do Deputado PEDRO HENRY, do PP, na qual

estavam presen tes VALDEMAR DA COSTA XETO, BISPO

RODRIGUES e JOSÉ MÚCIO, l í d e r da bancada do PTB na

Câmara dos Deputados; Que, nessa reunião, PEDRO HENRY

t e r i a questionado JOSÉ MÚCIO o motivo de o PTS não

a c e i t a r o recebimento d e recursos mensais para

g a r a n t i r a sus ten tação do Governo do Congresso; Que

JOSÉ &CIO d i s s e ao dec larante ter comunicado a PEDRO

HENRY que t i n h a s i d o o dec laran te que colocara ób ices

no recebimento de t a i s r ecursos ; ( . . . )

C i t o , por f i m , o depoimento do acusado JOSÉ J A N E N E

( f l s . 1703):

Page 29: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&gfkxw ez2f&d&& Inq 2.245 / MG 011975

Que, no i n i c i o do a tua l Governo Federal, o

Partido Progressis ta r ea l i zou com o Partido dos

Trabalhadores um acordo de cooperação f inanceira; Que

não par t i c ipou diretamente d e s t e entendimento, tendo

tomado c iênc ia do mesmo pos ter iormente; Que, por este

acordo d e cooperação f inanceira , o Partido dos

Trabalhadores f i ca r ia encarregado de repassar ao

Part ido Progressis ta recursos para a sua estruturação,

visando à formação de al ianças para a s e l e i ções

fu turas , bem como para fazer frente a d ív idas

contraídas pe lo Part ido Progressis ta; Que este acordo

de cooperação f lnanceira não t inha valor e s p e c i f i c o

po i s s e r ia implementado d e acordo com o andamento das

eventuais a l ianças en t r e o s d o i s part idos; Que o

acordo de cooperação f lnance lra e n t r e o PT e o PP f o i

d l s c u t l d o e dec id ido pe las respectivas cúpulas

p a r t i d á r i a s ; Que não sabe especificar quais os membros

dos par t ldos que participaram de t a i s negociações, mas

com cer teza o s pres identes t lveram participação

d e c i s i v a ; Que, s a l v o engano, o Partido Progressis ta

f o i representado por seu pres iden te PEDRO CORRÊA e

pe lo l í d e r na Câmara dos Deputados à época, o Deputado

F e d e r a l PEDRO HENRY; ( . . . )

Este depoimento do acusado JOSÉ JANENE r e v e l a ,

portanto, que o "acordo" e n t r e P P e PT f o i sendo executado

periodicamente, " d e acordo com o andamento d a s even tua i s

a l ianças e n t r e os d o i s par t idos" . Ou s e j a , encontra respaldo, ao

menos i n d i c i á r i o , nes te depoimento, a suspei ta d e que havia

Page 30: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

8- fl&&& Inq 2 .245 / MG

011976 repasses mensais de d i n h e i r o - o denominado "mensalão" - para

Deputados do P P , em t roca de seu apoio ao PT

O denunciado PEDRO C O R R Ê A , em suas declarações a

Pol ic ia Federal, a f irmou o segu in te ( f l s . 1992/1995, volume 10

dos a u t o s ) :

Que, no i n í c i o do Governo LULA, foram

rea l i zadas algumas reun iões entre a cúpula do PP e a

cúpula do PT no s e n t i d o de que fossem costuradas

a l ianças e n t r e e s s e s par t idos para a formação da base

de sus ten tação do governo f edera l ; Que, apesar do

acordo que vinha sendo e f e t i v a d o em n í v e l nacional com

o o b j e t i v o de compor a base de sus ten tação p o l í t i c a do

Governo no Congresso Nacional, no Estado do Acre uma

f o r t e d i spu ta e x i s t i a e n t r e o Par t ido dos

Trabalhadores e o Par t ido Progress i s ta , que e1 egeu

d o i s deputados f e d e r a i s ; Que e s s e s Deputados eram

RONIVON SANTIAGO e NARCISO MENDES; Que o Deputado

NARCISO MENDES perdeu o mandato; Que o Deputado

Ronivon Santiago f o i acionado na Jus t i ça E l e i t o r a l e

no Supremo Tribunal Federal pe lo M i n i s t é r i o Público e

por populares , bem como por sup len te s ; Que para

de fender RONIVON SANTIAGO f o i contra tado pe lo próprio

Deputado o Advogado PAULO GOYAZ; Que o va lor cobrado

pe lo Advogado PAULO GOYAZ montou em R$ 900.000,OO

(novecentos m i l r e a i s ) ( . . ) ; Que Ronivon Sant iago

s o l i c i t a v a que o PP arcasse com o s honorários do

Advogado; Que o Deputado Federal JOSE JAhlTNE t i n h a

informado ao dec larante que o Par t ido dos

Trabalhadores e s t a r i a d i s p o s t o a arcar com esses

v a l o r e s , já que a s d i f i c u l d a d e s p o l í t i c a s geradas no

Page 31: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@*NU&& Inq 2.245 / MG

011977

Estado do Acre eram incompatíveis com a al iança

existente em âmbito nacional entre o s do i s part idos;

( . . . ) Que nega a a f i r m a ç ã o d e JOSÉ JANENE n o s e n t i d o

d e q u e o d e c l a r a n t e t e r i a p a r t i c i p a d o d e r e u n i ã o e n t r e

o P a r t i d o P r o g r e s s i s t a e o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s ,

com a p r e s e n ç a d o s Depu tados JOSÉ GENUÍNO e PEDRO

HENRY, o b j e t i v a n d o e s t a b e l e c e r uma c o o p e r a ç ã o

f i n a n c e i r a em t r o c a d o a p o i o p o l í t i c o ; Q u e , como j á

d i s s e , f o i o Deputado JOSÉ JAhWNE quem informou ao

declarante sobre o aporte de recursos f inanceiros

oriundos do PT, t ra tado com DELÚBIO SOARES; Que

d e s c o n h e c e d e t a l h e s d e s t a s t r a t a t l v a s h a v i d a s e n t r e

JOSÉ JANENE e D E L ~ B I O SOARES; Que f i c o u sabendo

p o s t e r i o r m e n t e , a t r a v é s d o p r ó p r l o Deputado JANENE,

q u e o PT repassaria R$ 700.000,OO (se tecentos m i l

r e a i s ) ao Part ido Progressis ta; ( . . . ) Que t em

c o n h e c i m e n t o d e q u e o s i n t e r locu to re s des ta negociação

eram o Deputado JOSÉ JAhWNE, pelo Partido

Progressis ta, e o então tesoureiro do Partido dos

Trabalhadores, DELÚBIO SOARES; Que JOÃO CLÁUDIO GENÚ,

então assessor do Deputado JOSÉ J . , ho j e lo tado na

l iderança do Partido Progress is ta , f o i quem buscou os

recursos f i n a n c e i r o s r e p a s s a d o s p e l o P a r t i d o d o s

T r a b a l h a d o r e s a o P a r t i d o P r o g r e s s i s t a , no Banco Rural,

agência do Bras i l ia Shopping, e uma vez no Hotel Gran

B i t t a r ; Que tem c o n h e c i m e n t o d e q u e JOÃO CLÁUDIO GENÚ

e n t r e g o u d u a s p a r c e l a s d e R$ 300.000,OO a o c h e f e da

a s s e s s o r i a j u r í d i c a d o P a r t i d o P r o g r e s s i s t a , S r .

WALMOR GIAVARINA, e uma p a r c e l a d e R$ 100.000,OO (cem

m i l r e a i s ) a o f u n c i o n á r i o da T e s o u r a r i a d o P a r t i d o

P r o g r e s s i s t a , S r . VALMIR CREPALDI; ( . . . )

Page 32: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@ g NU&& Inq 2.245 / MG

E n t r e t a n t o , o S r . VALMIR CREPALDI a f i r m o u , em s e u

d e p o i m e n t o ( f l s . 1 8 3 5 / 1 8 3 8 , vo lume 9 d o s a u t o s ) que e r a

s u b o r d i n a d o a o a c u s a d o PEDRO CORRÊA, e a s s i n a l o u o s e g u i n t e

( f l s . 1836 ) :

Q u e , e m s e t e m b r o d e 2003, f o i chamado p e l o

D r . VALMOR GIAVARINA para q u e comparecesse a

Presidência do Partido Progressista, n o 17Oandar d o

Anexo I d o Senado F e d e r a l ; Q u e , a o c h e g a r a o l o c a l , o

D r . VALMOR p e d i u a o d e c l a r a n t e q u e se d i r i g i s s e para a

s a l a d e r e u n i õ e s ; Que VALMOR, em nenhum momento, f a l o u

para o d e c l a r a n t e p o r q u a l m o t i v o s o l i c i t a r a sua

p r e s e n ç a ; ( . . . ) Que p r e s e n c i o u quando VALMOR r e t i r o u

d e sua m a l e t a três e n v e l o p e s p a r d o s , que foram

e n t r e g u e s a o advogado PAULO GOYAZ; Que PAULO GOYAZ

a b r i u os e n v e l o p e s , quando e n t ã o o d e c l a r a n t e v i u q u e ,

n o i n t e r i o r , h a v i a v á r i a s n o t a s d e d i n h e i r o ; ( . . . )

Que, p a s s a d o s aprox imadamen te 8 d i a s , o D r . VALMOR

l i g o u novamen te para o d e c l a r a n t e , pedindo que

novamente comparecesse a sede da Presidência do

Partido Progressista; Q u e , da mesma forma r e l a t a d a

a n t e r i o r m e n t e , d i r i g i u - s e para a s a l a d e r e u n i õ e s ,

quando e n t ã o compareceu a o l o c a l o advogado PAULO

GOYAZ; Que o D r . VALMOR r e p a s s o u para o advogado PAULO

GOYAZ 3 e n v e l o p e s c o n t e n d o d i n h e i r o ; ( . . . ) Que o

d i n h e i r o r e p a s s a d o p e l o D r . VALMOR a o advogado PAULO GOYAZ n ã o p a s s o u p e l a t e s o u r a r i a d o P a r t i d o

P r o g r e s s i s t a nem f o i c o n t a b i l i z a d o ; ( . . . )

Page 33: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

& $ fl&&& Inq 2.245 / MG

01'1979

Como se vê, os repasses eram feitos na sede da

Presidência do PP, onde atuava o acusado PEDRO CORRÊA.

Aliás, é de se ressaltar que, em 18 de agosto de 2005,

o acusado PEDRO CORRÊA assinou um documento em que declarou,

atendendo a solicitação de GENÚ, qué este havia comparecido a

agência do Banco Rural em Brasilia, nos dias 17/09/2003,

24/09/2003 e 14/01/2004, para buscar, respectivamente, os

valores de R$ 300.000,00, R$ 300.000,OO e R$ 100.000,00, sob

orientação do Partido dos Trabalhadores, na implementação dos

auxílios financeiros negociados com aquele partido e o Partido

Progressista, afirmando, ainda, que ele entregou os valores na

sede do partido, no 17O andar do anexo I do Senado Federal (v.

documento de fls. 1919, volume 9 dos autos principais). É

interessante notar que não foi feita, naquele momento, qualquer

menção ao alegado pagamento de honorários ao advogado de Ronivon

Santiago

De todo modo, embora uns acusados queiram jogar a

responsabilidade pelo acordo de "apoio financeiro" sobre os

outros, isto não tem relevância. O que importa é que os

acusados, aparentemente, receberam as quantias fornecidas pelo

PT (cujo valor, de acordo com a lista fornecida por MARCOS

VALÉRIO - fls.602/608 - totaliza quatro milhões e cem mil

reais), em razão do cargo que ocupam, o que é suficiente, por

ora, para a caracterização da tipicidade da conduta.

Page 34: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

Assim, parece-me haver justa causa para o recebimento

da denúncia contra JOSÉ JANENE, PEDRO HENRY, PEDRO CORRÊA

(Deputados Federais) e JOAO CLÁUDIO GENÚ (assessor parlamentar

ocupante de cargo público na presidência do PP), pela suposta

prática do crime definido no a r t . 317 do Código Penal, conforme

narrado na denúncia.

Há, também, fortes indícios no sentido do recebimento

de quantias em espécie, pelos acusados, através de um suposto

esquema de lavagem de dinheiro disponibilizado, primeiro, pelo

núcleo publicitário-financeiro - conforme visto no capitulo 4 -

e que, depois, através de uma organização própria dos

denunciados (e da aparente formação de quadrilha para tal

finalidade), passou a ser supostamente realizada pelas empresas

Bônus-Banval e Natimar.

Na lista de fls. 605/608, MARCOS VALÉRIO afirmou ter

repassado R$ 4,l milhões ao Partido Progressista, informação por

ele ratificada no depoimento de fls. 1454/1465 (volume 7 dos

autos), verbis:

Que gostaria de fazer novos esclarecimentos

relacionados aos repasses de recursos realizados a

pedido do Partido dos Trabalhadores; Que confirma ter

realizado pagamentos à s pessoas relacionadas na l i s t a . constante à s fls. 605/608; ( . . . )

Page 35: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

B u & u Inq 2 . 2 4 5 / MG

0 1 1 9 8 1 I n i c i a l m e n t e , d e s t a c o trecho d o d e p o i m e n t o d e ELIANE

ALVES LOPES, o c u p a n t e d o c a r g o d e D i r e t o r a d e O p e r a ç õ e s d a SMPLB

em B r a s í l i a ( f l s . 6 1 5 / 6 1 8 , v o l u m e 3 d o s a u t o s ) :

Q u e n ã o p r e s e n c i a v a o r e c e b i m e n t o d e

p e s s o a s por p a r t e d e S i m o n e V a s c o n c e l o s n a

S M P & B / B r a s í l i a ; Que se recorda de ter v i s t o , uma Única

vez, JOÃO CLÁUDIO GENÚ na empresa SMP&B, no edif icio

da CNC; Q u e , n e s t a o p o r t u n i d a d e , JOÃO CLÁUDIO GENÚ

t e r i a uma reunião com MARCOS VALÉRIO ( . . . )

O a c u s a d o JOÃO CLÁUDIO DE CARVALHO G E N Ú e s c l a r e c e u o

s e g u i n t e ( f l s . 5 7 6 / 5 8 3 ) :

( . . . ) Que realmente recebeu quantias em

dinheiro a pedido da Direção do Partido Progressista;

Que t a i s r e c e b i m e n t o s e r a m r e a l i z a d o s c o n f o r m e

o r i e n t a ç ã o d o T e s o u r e i r o d o P a r t i d o P r o g r e s s i s t a , d e

nome BARBOSA; Q u e n ã o s a b e d i z e r o nome c o m p l e t o d e

BARBOSA; Q u e , n a v e r d a d e , n ã o s a b e d i z e r se BARBOSA é

t e s o u r e i r o o u s o m e n t e t r a b a l h a n a t e s o u r a r i a ; Q u e

BARBOSA l i g a v a p a r a o d e c l a r a n t e a v i s a n d o d a

n e c e s s i d a d e d e i r receber o d i n h e i r o ; Que recebia as

l igações de BARBOSA no gabinete do Deputado JiWENE, no

gabinete da Comissão de Minas e Energia ou,

provavelmente, no gabinete da liderança do Partido

Progressista; QUE a o receber a o r i e n t a ç ã o d e BARBOSA,

o declarante confirmava com os Deputados Federais JOSÉ

JANENE e PEDRO CORRÊA a p r o c e d ê n c i a d o p e d i d o d e

BARBOSA; (. . . ) Que também faz ia parte da Direção do PP

o Deputado Federal PEDRO HENRY; Que, cer ta ve z , ao

Page 36: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+ @5z&md&& Inq 2 .245 / MG

receber o pedido d e BARBOSA para receber v a l o r e s ,

conforme r o t i n a r e l a t a d a , procurou a confirmação da

ordem junto ao Deputado JOSÉ JANEhT3, que, por sua v e z ,

pediu ao dec laran te que l i g a s s e para o Deputado PEDRO

COR&; Que o Deputado JOSÉ JANENE d i s s e que s o m e n t e o

Deputado PEDRO CORRÊA p o d e r i a c o n f i r m a r a n e c e s s i d a d e

d e i r b u s c a r o d i n h e i r o ; Que não sabe d i z e r por qual

mot ivo BARBOSA não l i g a v a d ire tamente para JOSE JANEhT3

ou PEDRO CORRÊA para determinar que o dec larante fosse

receber o dinheiro; ( . . . ) Que BARBOSA falava para o

dec larante l i g a r para SIMONE VASCONCELOS para combinar

o r e c e b i m e n t o d a s q u a n t i a s ; ( . . . ) Que g e r a l m e n t e se

e n c o n t r a v a com SIMONE na s e d e d o Banco Rura l e m

B r a s í l i a , l o c a l i z a d o n o 9" a n d a r d o B r a s í l i a Shopp ing ;

QUE a o se e n c o n t r a r com SIMONE e n t r e g a v a para e l a uma

p a s t a , t i p o 007 , quando a mesma c o l o c a v a em s e u

i n t e r i o r a q u a n t i a a ser e n t r e g u e ; Que não con fer ia o

v a l o r recebido; Q u e , na v e r d a d e , n ã o s a b i a q u a n t o

SIMONE d e v e r i a e n t r e g a r a o d e c l a r a n t e ; Que não se

lembra p a n t a s v e z e s recebeu quant ias 'em d inhe i ro de

SIMONE no i n t e r i o r da agência do Banco Rural em

~ r a s i l i a ' ~ ; Q u e , c e r t a v e z , a o se d i r i g i r à a g ê n c i a

B r a s í l l a d o Banco R u r a l , para se e n c o n t r a r com SIMONE,

e s s a n ã o se e n c o n t r a v a n o l o c a l ; Q u e , a o p e r g u n t a r p o r

SIMONE para os empregados da a g ê n c i a , l h e f o i

i n f o r m a d o q u e SIMONE n ã o e s t a v a , e havia deixado

recado para o dec larante se d i r i g i r ao Hotel Gran

B i t t a r para se encontrar com a mesma; Que n ã o se

r e c o r d a d o nome d o empregado d o Banco R u r a l que l h e

d e u esse r e c a d o ; Que também n ã o s a b e d i z e r qua l c a r g o

16 O que, por s i s ó , é i n d í c i o de que i s t o não o c o r r e u poucas v e z e s .

207

Page 37: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

czhgkzw &&&& Inq 2 .245 / MG

011983

e s s e funcionário ocupava no Banco Rural; Que não tem

condições de descrever o empregado do Banco Rural que

deu o recado para o dec larante s e encontrar com Simone

no Hotel Gran B i t t a r ; Que não sabe d i z e r se SIMONE era

conhecida dos empregados da agência do Banco Rural;

Que o dec larante não e ra conhecido pe los empregados da

agência B r a s i l i a do Banco ~ u r a l " ; Que foi ao encontro

de SIMONE no Hotel Gran B i t t a r , tendo se d i r i g i d o ao

apartamento que a mesma ocupava; Que não s e recorda o

número do apartamento ocupado por SIMONE; Que não

anunciou sua presença na por tar ia do Hote l , tendo se

d i r i g i d o d ire tamente para o apartamento em que se

encontrava SIMONE; Que o própr io empregado do Banco

Rural que deu o recado ao dec larante informou em qual

apartamento SIMONE e s t a v a , bem como o horárlo do

encontro; ( . . . ) Que SIMONE entregou ao dec larante um

envelope contendo d l n h e l r o , cula quantia desconhece;

Que e s s e envelope era de tamanho grande; Que acred i ta

ter assinado um ou d o i s r e c i b o s na agência B r a s i l i a do

Banco Rural , r e f e r e n t e à entrega de va lores em

d inhe i ro , c u j o v a l o r e x a t o não se recorda; Que, ao

chegar ao Banco Rural , procurava por SIMONE, que

f i cava aguardando na p a r t e amninis t r a t i v a da agência;

( . . . ) Que, mostrado ao dec larante os fac - s ími l e s

cons tantes à s f l s . 354 e 412 do Apenso 06 dos autos do

Inquér i to 2245, reconhece como s u a s a s rubr icas

cons tantes dos mesmos; ( . . . ) Que, na época dos

recebimentos , sabia que SIMONE trabalhava para MARCOS

" Se Genú não era conhecido dos empregados do Rural, isto indica que o recado possivelmente foi dado, por SIMONE, para alguém que o conhecia; e que GENU também conhecia, provavelmente, embora negue o fato em seu depoimento, recusando-se a revelar a identidade da pessoa que lhe deu o recado para ir receber o dinheiro no Hotel Gran Bittar.

Page 38: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

VALÉRIO; ( . . . ) Que desconhece qualquer serviço

pres tado p e l a s empresas de MARCOS VALÉRIO para o

Par t ido Progress i s ta ; ( . . . I Que conheceu MARCOS

vA.LÉRIo em uma v i s i t a que este f e z ao Gabinete do

Deputado Federal JOSE J-; Que n ã o s a b e d i z e r q u a l

a s s u n t o MARCOS VALÉRIO f o i t r a t a r com o Deputado JOSÉ

JANENE; Que f i c o u na ante-sa la do Gabinete do Deputado

Federal JOSÉ JANENE, jun to com o advogado ROGÉRIO

TOLENTINO, que e s t a v a acompanhando MARCOS VALÉRIO;

( . . . ) Que n ã o s a b e d i z e r q u a l o d e s t i n o d o d i n h e i r o

q u e e n t r e g a v a para BARBOSA; Que não tem conhecimento

se a s quant ias que entregou para BARBOSA foram

repassadas para parlamentares ou qualquer as ses sor de

Deputados ou Senadores; Que p o s s u i , como p a t r i m ô n i o ,

um apartamento na Quadra 104, setor Sudoeste -

B r a s i l i a / D F , uma casa no Park Way, um v e í c u l o Honda

'J C i v i c , ano 2003, um v e i c u l o Crys ler , ano 1 9 9 7 / 9 8 , e um

Honda A c c o r d , ano 2004; Que a d q u i r i u o a p a r t a m e n t o da

Q D . 104 d o S e t o r S u d o e s t e p e l o v a l o r d e R$ 250.000,OO

( d u z e n t o s e c i n q u e n t a m i l r e a i s ) , d e uma p e s s o a q u e

a n u n c i o u a venda n o s c l a s s i f i c a d o s d e um j o r n a l ; Que

não sabe d i z e r o v a l o r a t u a l d e mercado do r e f e r i d o

apartamento; Que n ã o s a b e d i z e r em q u a l j o r n a l f o i

a n u n c i a d o o a p a r t a m e n t o , que adquir iu em agos to de

2004; Que a d q u i r i u o r e f e r i d o a p a r t a m e n t o a p ó s v e n d e r

um a p a r t a m e n t o que p o s s u í a na AOS 0 4 , B l o c o F , a p t o

3 1 0 , p e l o v a l o r d e R$ 200.000,OO ( d u z e n t o s m i l r e a i s ) ,

t e n d o c o m p l e t a d o o r e s t a n t e com os r e c u r s o s q u e

p o s s u i a e m c a d e r n e t a d e poupança; Que a c a s a n o Park

Way f o i a d q u i r i d a no ano d e 2 0 0 0 , p e l o v a l o r , s a l v o

e n g a n o , d e R$ 130.000,OO ( c e n t o e t r i n t a m i l r e a i s ) ;

Page 39: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

cz?.5$- NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

011985

Q u e , a t u a l m e n t e , p o s s u i a r enda m e n s a l l i q u i d a d e

aprox imadamen te R$ 20.000,OO (v in te m i l r e a i s ) ; Que

recebe l í q u i d o da Câmara d o s Deputados e d o M i n i s t é r i o

da A g r i c u l t u r a o s a l á r i o d e aprox imadamen te R$

8.000 ,00 ( o i t o m i l r e a i s ) ; Que o r e s t a n t e d e sua r enda

m e n s a l é compos ta por t r a b a l h o s d e c o n s u l t o r i a na á r e a

econômica e f i n a n c e i r a , q u e p r e s t a para e m p r e s a s

Por sua v e z , o a c u s a d o JOSÉ JANENE e s c l a r e c e u , em s e u

d e p o i m e n t o a P o l í c i a F e d e r a l (fls. 1704 e s e g u i n t e s , vo lume 8

d o s a u t o s ) :

Que, após receber a informação da

d isponibi l i zação dos recursos do PT, o declarante,

juntamente com o Presidente do P P , PEDRO CORRÊA,

decid iu que JOÃO CLÁUDIO GENÚ f i c a r i a encarregado

de receber t a i s valores; ( . . . ) Que f icou sabendo

que o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s n ã o i r i a r e a l i z a r

uma t r a n s f e r ê n c i a b a n c á r i a , mas efe tuar pagamentos

em espéc ie , em uma reunião ocorrida na sede do

Part ido Progress is ta , l o c a l i z a d a n o 1 7 O a n d a r d o

Anexo I d o Senado F e d e r a l ; Que os p r e s e n t e s à

r e u n i ã o foram i n f o r m a d o s d e s t a forma d e r e p a s s e da

v e r b a d o PT p e l o f u n c i o n á r i o da t e s o u r a r i a d o PP,

S r . VALMIR; Que VALMIR r e c e b e u t a l i n f o r m a ç ã o da

s e d e n a c i o n a l d o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s ,

p r o v a v e l m e n t e d o t e s o u r e i r o , DELÚBIO SOARES; Que

se lembra q u e participavam da reunião vár ios

Deputados do Partido ~ r o g r e s s i s t a ~ ~ , dentre e l e s

18 O que, aliás, pde em dúvida a tese dos outros acusados do PP, no sentido de que o PT só repassou dinheiro para pagar honorários de RONIVON SANTIAGO. Ora,

Page 40: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&* G!~ZU&U Inq 2 .245 / MG

011 9 8 6

PEDRO HENRY e PEDRO CORRÊA; Que n ã o se r e c o r d a d o s

o u t r o s d e p u t a d o s p r e s e n t e s à r e u n i ã o s u p r a c i t a d a ;

Que DELÚBIO SOARES, em nenhum momento, c o n v e r s o u

com o d e c l a r a n t e sobre a forma d o s r e p a s s e s d a s

v e r b a s d o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s a o P a r t l d o

P r o g r e s s i s t a ; Que JOAO CLÁUDIO GENÚ recebeu a

incumbência d e se d i r i g i r à agência do BANCO RURAL

l o c a l i z a d a no e d i f í c i o B r a s i l i a Shopping, para

receber o v a l o r d i s p o n i b i l i z a d o p e l o Par t ido dos

Trabalhadores; ( . . . ) Que r e a l m e n t e a u t o r i z o u GENÚ

a se d l r i g i r à s e d e d o BANCO RURAL em B r a s í l i a / D F ,

para e f e t u a r o r e c e b i m e n t o c u j o v a l o r d e s c o n h e c i a ;

Que também determinou que GZNÚ l e v a s s e o v a l o r a

ser recebido d ire tamente para a sede do PP; Que

GENÚ e n t r e g o u o v a l o r r e c e b i d o , s a l v o engano , n o

d e p a r t a m e n t o j u r í d i c o ; ( . . . ) Que GENÚ contou ao

dec larante que de ixou na sede do PP a quant ia de

R$ 300 mil; Que GENÚ informou ao dec larante que,

ao receber o v a l o r de R$ 300 m i l , ass inou o r e c i b o

correspondente; ( . . . ) Q u e , ainda no mês de

setembro d e 2003, o Par t ido dos Trabalhadores

comunicou a Direção do Par t ido Progress i s ta da

d i spon ib i l idade de outra parce la dos va lores

des t inados; ( . . . ) Que G73NÚ e f e t u o u ou t ro saque de

R$ 300 mil na agência B r a s i l i a do BANCO RURAL e

e n t r e g o u a q u a n t i a na sede do Par t ido

Progress i s ta; ( . . . ) Q u e , em jane iro de 2004, o

Par t ido Progress i s ta recebeu nova comunicação de

d i s p o n i b i l i z a ç ã o de recursos do PT; Q u e , p e l o q u e

s a b e d i z e r , GENÚ f o i à Agência B r a s í l i a do BANCO

isso não seria do interesse de vários Deputados do PP, a ponto de convocar-se

Page 41: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&e H&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 011987

RURAL receber o o u t r o r e p a s s e , quando e n t ã o f o i

informado de que deveria se d i r i g i r a um h o t e l , d e

c u j o nome n ã o se r e c o r d a , para receber a q u a n t i a

d i s p o n i b i l i z a d a ; Que s o m e n t e a o c h e g a r a o h o t e l ,

GENÚ t e r i a c o n h e c i m e n t o d e q u e e s t a v a m d i s p o n í v e i s

R$ 100 m i l ; ( . . . ) Q u e , apesar de ter achado

estranha aquela forma d e pagamento, o declarante

não f e z nenhum questionamento a qualquer membro do

PT; ( . . . ) Que conheceu MARCOS WLLÉ.RIO ZZRNANDES DE - SOUZA no f i n a l de 2002; Que MARCOS VALÉRIO sempre

f r e q u e n t a v a a Câmara d o s D e p u t a d o s , já tendo f e i t o

algumas v i s i t a s ao G a b i n e t e do declarante; ( . . . )

Que MARCOS VALÉRIO e s t eve no gabinete do

declarante por cerca de duas ocasiões; ( . . . ) Que

p r o v a v e l m e n t e j á r e c e b e u ou f e z l i g a ç õ e s para

MARCOS VALÉRIO, n ã o sabendo e s p e c i f i c a r o número

e x a t o ; Que n ã o se lembra d e q u a i s o s t e m a s

t r a t a d o s em t a i s l i g a ç õ e s ; ( . . . ) Que já manteve

vár ios contatos pessoais ou v i a t e l e f o n e com

DELÚBIO SOARES; Que t a i s c o n t a t o s foram r e a l i z a d o s

com o i n t u i t o de d i s c u t i r assuntos par t idár ios;

Que nunca d i s c u t i u r e p a s s e d e v e r b a s com DELÚBIO

SOARES; Que D E L ~ B I O SOARES f o i s e u i n t e r l o c u t o r em

r e u n i õ e s em q u e eram a n a l i s a d a s p o s s í v e i s a l i a n ç a s

m u n i c i p a i s e n t r e o P a r t i d o P r o g r e s s i s t a e o

P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s ; Que , dentre a s

reuniões, pode c i t a r uma em que estiveram

presentes, além de DELÚBIO SOARES, S í l v i o Pereira

e Marcelo Sereno; ( . . . )

reunião com eles . . .

Page 42: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

Veja-se, a inda , depoimento de SIMONE VASCONCELOS, no

qua l há i n d í c i o s de que estes não foram o s únicos repasses

f e i t o s a JOÃO cLÁUDIO GENÚ ( f l s . 588/595, volume 3 dos a u t o s ) :

Q u e , no f i n a l de 2002, recebeu o p r i m e i r o

ped ido de MARCOS VALÉRIO p a r a r e a l i z a r um t r a b a l h o

d i f e r e n t e do que e s t ava acostumada; Que MARCOS

VALÉRIO, no f i n a l de dezembro de 2002, pediu à

dec laran te que r e a l i z a s s e um saque na agência B r a s i l i a

do BANCO RüRAL e repassasse o s v a l o r e s para algumas

pessoas; Que, na verdade, este pr imeiro saque a ped ido

d e MARCOS VALERIO ocorreu em j ane i ro de 2003; ( . . . )

Que, c e r t a vez, s o l i c i t o u que um carro f o r t e fo s se

l e v a r s e i s c e n t o s e cinquenta mil r e a i s para o prédio

da Confederação Nacional do Comércio, l o c a l onde

funcionava a f i l i a l da SMP&B em Brasí l ia /DF; Que e s s e s

v a l o r e s foram entregues aos d e s t i n a t á r i o s f i n a i s no

h a l l de entrada do préd io da CNC; Que par te dos

va lores transportados p e l o c a r r o - f o r t e também foi

entregue ao Assessor Parlamentar JOÃO CLÁUDIO GENÚ, e m

um encont ro oco r r ido no h a l l do h o t e l c u j o nome não se - recordalg; ( . . . )

Es te depoimento encont ra r e spa ldo nos documentos

c o n s t a n t e s do Apenso n o 05 , f l s . 9 e 11 ( s ã o e l e s : 1 - f ac -

s í m i l e au to r i zando o t r a n s p o r t e de R$ 650 m i l r e a i s , r e f e r e n t e s

a d o i s da SMP&B, a t r a v é s de c a r r o f o r t e , para o E d i f í c i o da

Confederação Nacional do Comércio, onde o numerário deve r i a s e r

Page 43: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@+NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

011989

en t r egue a SIMONE VASCONCELOS; 2 - emai l de GEIZA D I A S ,

s o l i c i t a n d o o t r a n s p o r t e do numerário por car ro f o r t e e sua

en t r ega a S I M O N E no E d i f í c i o C N C ) .

Ademais, o s r e p a s s e s ao P P não foram f e i t o s , apenas,

diretamente a JOÁO CLÁUDIO GENÚ.

De acordo com o Procurador-Geral da Repúbl ica , foram

f e i t o s também o u t r o s r e p a s s e s , a t r a v é s das empresas Bônus Banval

e Natimar. No ponto, n e c e s s á r i o l e r a crono log ia dos f a t o s ,

conforme narrados na denúncia ( f l s . 5712/5714, volume 2 7 ) :

Em duas o c a s i õ e s , 17/09/2003 e 24/09/2003,

o próprio João Cláudio Genú rubricou o documento fac-

s M l e ( f l s . 222/225 do Apenso 05, e 354 e 412 do

Apenso 06) que a u t o r i z a v a o s saques da importância de

R$ 300.000,OO em cada uma d e s s a s s i t u a ç õ e s , tendo

confirmado, em seu depoimento ( f l s . 576/584) o

recebimento dos valores acima mencionados e de vár ios

outros saques efetuados por SIMONE VASCONCELOS ( . . . )

Segundo a documentação que c o n s t i t u i o s

Apensos 05 e 06 , r e f e r e n t e aos f a c - s i m i l e s e o u t r o s

me ios d e comunicação u t i l i z a d o s por GEISA D i a s , Simone

Vasconce los e o s f u n c i o n á r i o s do Banco Rural para

i d e n t i f i c a ç ã o dos sacadores do d i n h e i r o

d i s p o n i b i l i z a d o p e l o grupo d e Marcos V a l é r i o , também

constam a s s e g u i n t e s in formações de saques por p a r t e

de João Cláud io Genú: 13.01.2004 - R$ 200.000,OO ( f l .

'' Diferentemente, o outro encontro de GENÚ com SIMONE teria ocorrido, nas palavras do próprio GENÚ, não no h a l l , mas num quarto de hotel, ao qual o mesmo se dirigiu sem sequer precisar se anunciar.

Page 44: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

55 e v e r s o do Apenso 05) ; 20.01.2004 - R$ 200.000,OO

( f l . 75 e v e r s o do Apenso 05) . O v a l o r aproximado d e R$ 1.200.000,OO f o i

t r a n s f e r i d o aos parlamentares Pedro Corrêa, Pedro

H e n q e José Janene pe la s i s t e m á t i c a de lavagem de

d i n h e i r o operacional izada pe la BÔnus Banval

Par t ic ipações e BÔnus Banval Commodities Corretora de

Mercadoria, valendo-se da conta da empresa Natimar.

Enivaldo Quadrado, s ó c i o das empresas acima

mencionadas, apresen tando j u s t i f i c a t i v a s i n v e r o s s í m e i s

para o receb imento d e d i n h e i r o do grupo empresar ia l d e

Marcos V a l é r i o , confirmou a rea l i zação de v á r i o s

saques a pedido de Simone Vasconcelos e Marcos

V a l é r i o , em, no mínimo, quatro oportunidades,

t o t a l i z a n d o R$ 605.000,OO.

O montante acima f o i sacado, em março de

2004, por i n t e r p o s t a s pessoas, a saber: Áureo Marcato,

que e f e t u o u d o i s saques de R$ 150.000,OO cada ( f l s .

155 e 160 do Apenso 05) ; Lui z Carlos Masano ( f l . 173

do ApenS0 0 5 ) , que recebeu R$ 50.000,00, e Benoni

Nascimento de Moura ( f l . 2 0 0 ) . que recebeu R$

255.000,OO.

Enivaldo Quadrado, Breno Fischberg e Car los

Quaglia também se valeram da empresa Natimar Negócios

L tda . , empregada para a p r á t i c a de lavagem de

d i n h e i r o , a fim de que o grupo de Marcos V a l é r i o ,

e spec ia lmen t e por meio das empresas 2 s Par t ic ipações

Ltda. e Rogério Lanza To len t ino & Associados,

e f e t u a s s e a t r a n s f e r ê n c i a d e , no mínimo, R$ 500 mil ,

por i n t e r m é d i o da conta da empresa Natimar mantida na

Page 45: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

C o r r e t o r a BÔnus B a n v a l para os parlamentares do PP

Pedro Corrêa , Pedro Henry, José Janene . J á foram i d e n t i f i c a d a s a s s e g u i n t e s

o p e r a ç õ e s d e b r a n q u e a m e n t o d e c a p i t a i s ' v i a Na t i m a r :

G i s e l e Merol l i Miranda e R e g i n a Merolli M i r a n t e (R$

12.000,OO em 1 3 / 0 9 / 2 0 0 4 ) ; A p a r i c i o d e J e s u s e S e l m o

A d a l b e r t o d e C a r v a l h o (R$ 10.000,OO em 1 3 / 0 9 / 2 0 0 4 ) ;

F r e d e r i c o C l i m a c o S c h a e f e r , Mar iana C l i m a c o S c h a e f e r e

A d o l f o L u i z d e S o u z a G ó i s (R$ 25.000,OO em

0 7 / 0 7 / 2 0 0 4 ) ; Emerson R o d r i g o B r a t i e D a n i e l l y C í n t i a

C a r l o s (R$ 7.900,OO em 0 2 / 0 9 / 2 0 0 4 ) ; V a l t e r C o l o n e l l o

( d o i s d e p ó s i t o s d e R$ 10.000,OO em j u l h o d e 2004 e

1 3 / 0 9 / 2 0 0 4 ) ; L a u r i t o D e f a i x Machado (R$ 11.000,OO em

0 2 / 0 9 / 2 0 0 4 ) ; e J o s é René d e L a c e r d a e F e r n a n d o C é s a r

Moya (R$ 1 1 . 4 0 0 , 0 0 em 0 2 / 0 9 / 2 0 0 4 ) .

Para ilustrar o apoio político do grupo de

parlamentares do Partido Progressista ao Governo

Federal, na sistemática acima narrada, destacam-se as

atuações dos parlamentares Pedro Corrêa, Pedro Henry e

José Janene na aprovação da reforma da previdência

(PEC 40/2003 na sessão do dia 27/08/2003) e da reforma

tributária (PEC 41/2003 na sessão do dia 24/09/2003).

O P r o c u r a d o r - G e r a l d a R e p ú b l i c a i m p u t a , a i n d a , a o s

d e n u n c i a d o s J O S É JANENE, PEDRO C O R R Ê A , PEDRO HENRY, JOÃO C L Á U D I O

G E N Ú , ENIVALDO QUADRADO, BRENO FISCHBERG e C a r l o s ALBERTO

QUAGLIA, o d e l i t o d e formação de quadrilha, dada a e s t a b i l i d a d e

e a o r g a n i z a ç ã o d e s u a s a t i v i d a d e s , s u p o s t a m e n t e v o l t a d a s para a

Page 46: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

prática dos crimes de lavagem de dinheiro antes narrados, bem

como de corrupção passiva, pelos quatro primeiros.

A análise dos autos revela a ex i s t ênc ia d e inúmeros

i n d i c i o s que corroboram estas imputações (corrupção passiva,

lavagem de dinheiro e formação de quadrilha para a finalidade de

cometer aqueles crimes, ao longo do tempo, de forma estável)

Em primeiro lugar, cito, mais uma vez, trecho do

depoimento de JOÃO CLÁUDIO GENÚ, demonstrando que, não raro,

eram feitas visitas a corretora Bõnus Banval (fls. 582):

Que acompanhou o Deputado JOSÉ JANENE em

algumas v i s i t a s que e s t e f e z na CORRETORA BÔNUS-

BANVAL; Que a f i l h a do Deputado JOSÉ JANENE trabalhava

na CORRETORA BONWS-BANVAL, sendo que o Deputado

comparecia à sede da empresa para visitá-la; ( . . . )

No depoimento de JOSÉ JANENE, é possível constatar a

"intimidade" que ele e os demais denunciados tinham com os

empresários e co-denunciados da corretora em questão (fls.

1707/1708, volume 8 dos autos), dando indicios também da prévia

associação criminosa:

Que já se encontrou com MARCOS VALÉRIO, em

um encontro casual de um ho t e l em São Paulo,

provavelmente Hotel In tercont inental ; Que, neste

encontro casual, nenhum assunto f o i d i scu t ido entre

ambos; Que conheceu a corretora BÔNUS BANVAL após sua

filha, Michele Janene, ter conseguido um estágio nesta

empresa; Que faz ia v i s i t a s eventuais ao l oca l de

Page 47: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&&?k?w f l2&z&d&a Inq 2 . 2 4 5 / MG

0113!3,^:

trabalho de Michele Janene, quando então f o i

apresentado ao propr ie tár io da empresa, ENIVALDO

QUADRADO; Que chegou a f a z e r a l g u n s invest imentos em

a ç õ e s indicadas pela própria corretora BÔNU~ BANVAL,

no primeiro semestre do ano de 2 0 0 4 ~ ' ; Que n ã o se

r e c o r d a o valor d e r e f e r i d a s a p l i c a ç õ e s , mas p o d e

a f i r m a r q u e f o i firmado um contrato de inves t imento

com a BÔNUS BANVAG no valor máximo de R$ 1 milhão, com

g a r a n t i a h i p o t e c á r i a ; Que comentou com ENIVALDO

QUADRADO que MARCOS KALÉRIo s e r i a um bom c l i e n t e em

potencial para a corretora BÔNUS BANVAL, t e n d o e m

v i s t a sua c a p a c i d a d e f i n a n c e i r a ; Que p r o c u r a v a , na

v e r d a d e , a u x i l i a r sua f i l h a em s e u n o v o emprego, uma

v e z q u e a mesma t i n h a por uma d e s u a s i n c u m b ê n c i a s a

c a p t a ç ã o d e n o v o s c l i e n t e s para a c o r r e t o r a ; ( . . . ) Que

c o n h e c e a p e n a s d e nome a empresa NATIMAR, que s e r i a

uma empresa e s p e c i a l i z a d a em i n v e s t i m e n t o s e m o u r o ;

Que nunca f e z nenhuma n e g o c i a ç ã o diretamente com a

NATIMAR; Que a c r e d i t a t e r se encontrado, casualmente,

com algum d i r igen t e ou funcionário da NATIMAR, cujo

nome não se recorda; Que e s t e e n c o n t r o o c o r r e u na

BÔNU~ BANVAL, sendo que o próprio ENIVALDO QUADRADO

informou que t a l pessoa era funcionário da NATIMAR;

Q u e , a p r e s e n t a d a a o d e c l a r a n t e a relação de pessoas

que receberam recursos a t r a v é s d e t r a n s f e r ê n c i a s

b a n c á r i a s d e t e r m i n a d a s pela NATIMAR, a f i r m a conhecer,

apenas, ROSA ALICE VALENTE, sua secre tár ia pessoal , e

DANIELLE KEMMER JANEZVE, sua f i l h a ; ( . . . ) s o l i c i t o u q u e

a BÔNUS BANVAL r e a l i z a s s e o r e s g a t e d e a lgumas

a p l i c a ç õ e s em b e n e f i c i o d e ROSA ALICE JANENE e

20 Coincidentemente ou não, época em que os crimes narrados na denúncia e

218

Page 48: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

DANIELLE KEMMER JANENE; Que não sabe d i z e r por qual

mot ivo a BÔNUS BANCaL tenha determinado que t a i s

t r a n s f e r ê n c i a s fossem r e a l i z a d a s a t r a v é s da NATIMAR;

( . . . ) Que nunca verificou qualquer sinal de

incompatibilidade entre o patrimônio e os rendimentos

de JOÃO CLAÚDIO GENÚ.

A afirmação de JANENE, no sentido de que encontrou,

uma vez, casualmente, com MARCOS VALÉRIO no Hotel

Intercontinental, em São Paulo, está em dissonância com o

depoimento de ENIVALDO QUADRADO a Policia Federal, no qual o

proprietário da BÔNUS BANVAL afirmou (fls. 1 7 0 7 ) :

Que no i n i c i o do ano d e 2004, provavelmente

no mês d e fevereiro, no Hotel I n t e r c o n t i n e n t a l em São

Paulo, f o i apresentado p e l o Deputado JOSÉ JANENE ao

p u b l i c i t á r i o MARCOS VALÉRIO FERNANDES; Que, num

primeiro momento, MARCOS VALÉRIO demonstrou interesse

em adquirir a corretora BÔNUS BANVAL, avaliada em

aproximadamente R$ 4 milhões; Que MARCOS VALÉRIO

passou a frequentar a BÔNUS BANVAL com a finalidade de

conhecer a carteira de clientes e a saúde financeira

da empresa; Que MARCOS VALÉRIO comparecia à BÔNUS

BANVAL acompanhado do advogado ROGÉRIO TOLENTINO; Que

o negócio da aquisição da empresa BÔNUS BANVAL com

MARCOS VALÉRIO acabou não se concretizando; ( . . . ) Que,

em março d e 2004, a Sr" SIMONE VASCONCELOS,

funcionária de MARCOS vALÉRIo, l i g o u para o

r e i n q u i r i d o s o l i c i t a n d o um favor , no s e n t i d o de

e f e t u a r uma r e t i r a d a em e s p é c i e na agência do Banco

imputados aos parlamentares do PP foram, supostamente, praticados.

Page 49: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@+ fl&&& Inq 2.245 / MG

0 1 1 9 9 5

Rural , na Av. P a u l i s t a , em São Paulo; ( . . . ) Q u e , a

p a r t i r d e s t e momento, SIMONE f e z d i v e r s o s con ta tos ,

s o l i c i t a n d o o recebimento de v a l o r e s em e s p é c i e ,

conforme o depoimento anter ionuente prestado; ( . . . ) Que, na m a i o r i a d a s v e z e s , o p r ó p r i o MARCOS VALÉRIO

b u s c a v a os v a l o r e s r e t i r a d o s na a g ê n c i a d o Banco R u r a l

da Aven ida P a u l i s t a / S P , com e x c e ç ã o da r e t i r a d a

e f e t u a d a p o r VIVIAN, d e c u j a s f e i ç õ e s n ã o se r e c o r d a ;

Que MARCOS VALÉRIO n ã o comentava sobre o d e s t i n o d o

d i n h e i r o r e t i r a d o ; Que o r e i n q u i r i d o n ã o e s t r a n h a v a a

forma a t í p i c a com q u e MARCOS VALÉRIO p r o c e d i a os

s a q u e s ( ; Que JOSÉ JANENE f i z um ú n i c o

i n v e s t i m e n t o na BÔNUS BANVAL n o p e r í o d o em que sua

f i l h a se e n c o n t r a v a e s t a g i a n d o na empresa ; ( . . . ) Que

MARCOS VALÉRIO se mostrou i n t e r e s s a d o em f a zer alguns

inves t imen tos por in termédio da BÔNUS BANVAL; Que o

r e i n q u i r i d o i n d i c o u a MARCOS VALÉRIO a empresa NATIMAR

NEWCIOS INTERMEDIAÇ~ES LTDA; ( . . . ) Que a NATIMAR é

c l i e n t e da BÔNUS BANVAL desde o ano d e 2002, s e n d o s e u

p r i n c i p a l r e p r e s e n t a n t e C a r l o s QUAGLIA, r e s i d e n t e em

F l o r i a n ó p o l i s , S a n t a C a t a r i n a ; Que n ã o se r e c o r d a como

a NATIMAR se aprox imou da BÔNUS BANVAL, mas a c r e d i t a

q u e f o i p o r i n d i c a ç ã o d e um c l i e n t e ; ( . . . I Que MARCOS

VALÉRIO, p o r m e i o d a s empresas ROGÉRIO LANZA TOLENTINO

& ASSOCIADOS e 2 s PARTICIPAÇÕES m a n t i n h a i n v e s t i m e n t o s

q u e eram g e r e n c i a d o s p e l a NATIMAR NOGÓCIOS

INTERMEDIAÇÕES; Que t a i s empresas efetuavam depós i tos

na conta corren te que a NATIMAR mantinha na BÔNUS

BANVAL ( . . . ) Que mantém em arquivos a re lação dos

b e n e f i c i á r i o s dos r e s g a t e s das apl icações r e a l i z a d a s

por MARCOS VALÉRIO a t r a v é s da NATIMAR; ( . . . ) Que a s

Page 50: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&- 8&&& Inq 2.245 / MG 0 1 1 9 9 6

empresas de MARCOS VALERIO depositavam os recursos na

BÔNUS BANVAL, que os direcionava internamente para uma

conta-corrente em nome da NATIMAR; ( . . . ) Que era a

NATIMAR que determinava, por meio de ordem escrita,

para quem os recursos seriam direcionados; Que as

ordens de resgate dos valores de MARCOS VALÉF~IO eram

direcionadas à NATIMAR; Que, no entanto, todas as

contabilizações eram feitas por meio da conta-corrente

da corretora BÔNUS BANVAL; Que não se recorda dos

nomes das pessoas que foram beneficiadas pelos

resgates dos investimentos realizados por MARCOS

VALÉRIO; ( . . . )

Também aí é po,ssivel colher indícios da prévia

associação criminosa, que exclui a existência de mero concurso

de agentes.

Outro ponto de discordância nos autos é o desse

suposto "interesse" de MARCOS VALÉRIO na aquisição da BÔNUS

BANVAL, que justificaria, nos termos dos depoimentos acima (de

ENIVALDO QUADRADO e JANENE), a presença do publicitário na

empresa, os ALEGADOS "investimentos" e seus encontros com o dono

da corretora, o acusado ENIVALDO QUADRADO.

Em seu depoimento, MARCOS VALÉRIO nega que tivesse

interesse em investir na BÔNUS BANVAL, e explica como se deu a

utilização desta empresa na suposta prática de lavagem de

dinheiro pelos denunciados (fls. 1459/1461, volume 7) :

Page 51: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&- N&&& Inq 2.245 / MG

011997

Que f o i apresentado ao S r . ENIVALDO

QUADRADO p e l o Deputado Federal JOSÉ JANENE, que p o r

sua v e z f o i a p r e s e n t a d o a o d e c l a r a n t e por DELÚBIO

SOARES; Que JOSÉ JANENE indicou a corre tora BÔNUS

BANVAL para receber repasses de verbas do Par t ido dos

Trabalhadores; Q u e , em nenhum momento, cog i tou ou

demonstrou interesse em a d q u i r i r a corre tora BONU~

BANVAL; Que JANENE a f i r m o u a o d e c l a r a n t e que gos tar ia

que os recursos a serem repassados em nome do Par t ido

dos Trabalhadores para o Par t ido Popular fossem

encaminhados para a corre tora BÔNUS BANVAL; Que

c a b e r i a à BÔNUS BANVAL e f e t u a r , p o s t e r i o r m e n t e , o

r e p a s s e d a s v e r b a s para a s p e s s o a s i n d i c a d a s p e l o

Deputado F e d e r a l JOSÉ JANENE; Que também pode a f i rmar

que DELÚBIO SOARES determinou o repasse de recursos

para ou t ros p a r t i d o s , bem como para Dire tór ios

Regionais do Par t ido dos Trabalhadores, a t r a v é s de

depós i tos r e a l i z a d o s em nome da corretora B Ô W S

BAFNAI;; Que, a t r a v é s da BÔNU.5 BANCaL, foram

encaminhados ao Par t ido L iberal R$ 900 mil; ao PT/RJ,

R$ 750 m i l ; ao PT/DF, R$ 120 m i l ; ao PT Nacional, R$

945 mil, e ao PP, R$ 1,200 milZ1; Que repassou

recursos para a BÔNU~ BANVAL a t r a v é s de depós i to on-

l i n e ou cheques nominais; Que os r e c u r s o s encaminhados

à BÔNUS BANVAL p a r t i r a m d a s c o n t a s d a s empresas 25

PARTICIPAÇÔES e ROGÉRIO LANZA TOLENTINO ASSOCIADOç;

Que a TOLENTINO ASSOCIADOS t r a n s f e r i u para a BÔNUS

BANVAL o t o t a l d e R$ 3.460.850,00, s e n d o que a 2s PARTICIPAÇÔES t r a n s f e r i u o v a l o r d e R$ 6.322.159,33;

Que todos esses recursos t i ve ram origem nos

21 Um milhão e duzentos mil reais.

Page 52: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&- fl&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

011998

empréstimos obtidos junto aos bancos BMG e RURAL;

( . . . ) Que part icipou de três reuniões, salvo engano,

com ENIVALDO QUADRADO e DELÚBIO SOARES, real izadas na

sede nacional do Partido dos Trabalhadores em São

Paulo/SP ( d o i s e n c o n t r o s ) e em uma lanchonete no p i so

superior do Aeroporto de Congonhas/SP (um e n c o n t r o ) ;

Que, n e s s a s r e u n i õ e s , eram d i scu t idos o s repasses para

o Partido Progressis ta e demais bene f i c iá r io s ; Que o

repasse dos recursos para a s pessoas indicadas p o r

DELÚBIO SOARES eram d e responsabilidade da BÔNUS

BANVAL, a p ó s a d i s p o n i b i l i z a ç ã o d o s v a l o r e s p e l o

d e c l a r a n t e ; Que e s t eve na sede da BÔNUS BANVAL em t r ê s

ou quatro oportunidades, senrpre para t ra ta r de

assuntos relacionados aos repasses ; Que os

in ter locu tores d o d e c l a r a n t e junto à BÕNV.5 BANVAL eram

os S r s . ENIVALDO QUADRADO e BRENO [FISCHBERG]; Que

também já part icipou de reuniões na BÔNUS BANVAL em

que estava presente o Deputado Federal JOSÉ JANENE,

juntamente com seu assessor d i r e t o , JOÃO CLÁUDIO GENÚ;

Que d i s c u t i u com ENIVALDO QUADRADO e o Deputado

F e d e r a l JOSÉ JANENE sobre o s pagamentos a s e rem

encaminhados a o P a r t i d o P r o g r e s s i s t a ; ( . . . ) Que

r e p a s s o u r e c u r s o s à BÔNUS BANVAL através de cheques

sacados pelos empregados da corretora; Que o s nomes d e

L U I Z CARLOS MAZANO, BENONI NASCIMENTO DE MOURA e ÁUREO

MARCATO foram repassados pelo próprio ENIVALDO

QUADRADO, sendo que os mesmos foram autorizados a

receber cheques emit idos em nome da SMP&B na agência

Avenida Paulista/SP do BANCO RURAL; Que o s r e c u r s o s

r e c e b i d o s p e l o s empregados da BÔNUS BANVAL fazem p a r t e

Page 53: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

do t o t a l repassado à BÔNUS BANVAL, conforme j á

mencionado ( . . . )

A testemunha ÁUREO MARCATO confirmou, em seu

depoimento, t e r rea l i zado d o i s saques, no va lor de R$ 150 m i l

r e a i s cada um, em e s p é c i e , a pedido de ENIVALDO QUADRADO. Para

i s t o , seguiu o mesmo procedimento já narrado inúmeras vezes na

denúncia: d i r i g i u - s e ao BANCO RURAL, onde o d inhe i ro já es tava

separado para ser - lhe entregue ( f l s . 818/820, volume 3 ) .

Por sua v e z , L U I Z CARLOS MASANO af irmou o seguinte

( f l s . 6 4 5 / 6 4 8 , volume 3 ) :

Que desempenha a função de Diretor

Financeiro da empresa BÔNUS BANVAL CCTVM; Que, na

época dos f a t o s i n v e s t i g a d o s , era Gerente de custódia

da mesma empresa; Que, c e r t o d i a , o p r o p r i e t á r i o da

empresa, ENIVALDO QUADRADO, pediu ao dec larante que

fosse a t é a agência do Banco ~ u r a l / S P , loca l i zada na

Av. P a u l i s t a , para r e t i r a r importância de c inquenta

mil r e a i s ; Que o S r . ENIVALDO QUADRADO não comentou

com o dec larante qual a origem do recurso ou tampouco

a natureza daquele recebimento; Que ENIVALDO apenas

pediu ao dec laran te que se i d e n t i f i c a s s e a - um

empregado do Banco Rural , tendo fornecido o nome

desse ; Que não se recorda qual o nome do empregado do

Banco Rural ind icado pe lo S r . ENIVALDO QUADRADO; Que

f o i deixado na agência do Banco Rural na Av. Pau l i s ta

p e l o mo tor i s ta da BÔnus Banval, BENONI NASCIMENTO DE

MOURA; Que procurou o funcionário indicado por

ENIVALDO QUADRADO; Que se apresentou como sendo o

Page 54: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@- B&&& I n q 2.245 / MG

012000

e n v i a d o d e ENIVALDO QUADRADO, t e n d o i n f o r m a d o a o

d e c l a r a n t e q u e o p r o c e d i m e n t o i r i a demorar; Que o

empregado do Banco Rural/SP i n f o n n o u a o d e c l a r a n t e que

a demora s e r i a causada p e l a neces s idade d e aguardar o

envio d e um documento; Que n ã o f o i d i t o a o d e c l a r a n t e

q u a l s e r i a o documen to q u e e s t a v a f a l t a n d o para

a u t o r i z a r o s a q u e ou quem s e r i a o r e s p o n s á v e l p o r s e u

e n v i o ; ( . . . ) Que , a p ó s ter aguardado p o r

aprox imadamente uma h o r a e m e i a , o empregado d o Banco

R u r a l / S P e n t r e g o u a q u a n t i a d e c i n q u e n t a m i l r e a i s

para o d e c l a r a n t e ; Que a s s i n o u um documento

comprovando o recebimento dos v a l o r e s ; Que reconhece

como sua a a s s i n a t u r a apos ta no documento d e f l . 172

do apenso 05; Que,' d e p o s s e do d i n h e i r o , r e t o r n o u à

sede da empresa BÔNUS BANVAL, e en tregou a quan t ia

para o S r . ENIVALDO; Que e s t a f o i a ú n i c a v e z que

r e c e b e u v a l o r e s a p e d i d o d e ENIVALDO QUADRADO; ( . . . )

O m o t o r i s t a da empresa BÔNUS BANVAL, BENONI NASCIMENTO

DE MOURA, também r e c e b e u v a l o r e s n o Banco R u r a l , a p e d i d o do

a c u s a d o ENIVALDO QUADRADO ( d e p o i m e n t o d e f l s . 655/657, vo lume 3

d o s a u t o s ) :

( . . . ) d e t e r m i n a d o d i a , o S r . ENIVALDü

QUADRADO s o l i c i t o u a o d e c l a r a n t e que f o s s e e f e t u a r uma

r e t i r a d a na agência do Banco Rural l o c a l i z a d a na Av.

P a u l i s t a em São Paulo/SP; Que n ã o f o i i n f o r m a d o p e l o

S r . ENIVALDO QUADRADO q u a l o v a l o r a ser r e t i r a d o na

a g ê n c i a d o Banco R u r a l / S P ; Que o S r . ENIVALDO a p e n a s

p e d i u q u e o d e c l a r a n t e se d i r i g i s s e à r e f e r i d a a g ê n c i a

b a n c á r i a e f o s s e c o n v e r s a r com um empregado c u j o nome

Page 55: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

d$fkz- B&&& Inq 2 .245 / MG

012nO!

n ã o se r e c o r d a ; Que o Sr . ENIVALDO não forneceu ao

declarante qualquer documento a ser u t i l i z a d o no

saque; Q u e , a o se a p r e s e n t a r a o empregado da a g ê n c i a

d o Banco R u r a l / S P , f a l o u para o mesmo que e s t a v a a l i

para r e t i r a r o d i n h e i r o d o S r . ENIVALDO; Que o

empregado d o Banco R u r a l / S P j á s a b i a do q u e se

t r a t a v a , t e n d o f a l a d o a o d e c l a r a n t e q u e a g u a r d a s s e p o r

um i n s t a n t e ; Que o empregado f a l o u q u e i a s e p a r a r o

d i n h e i r o ; Que f i c o u aguardando p o r aprox imadamente uma

hora e m e i a , quando e n t ã o o empregado da a g ê n c i a d o

Banco R u r a l p e d i u para q u e o d e c l a r a n t e e n t r a s s e em

uma s a l a ; Q u e , a o c h e g a r n e s s a s a l a , o dinheiro estava

em cima de uma mesa; Que o empregado do banco colocou

o dinheiro na bo l sa que o declarante estava portando;

Que e s t a bolsa f o i fornecida ao declarante pe lo S r .

ENIVALDO; Que n ã o chegou a c o n f e r i r o v a l o r guardado ,

mas a c r e d i t a q u e era uma grande quantia; Q u e , d e p o s s e

d o d i n h e i r o , r e t o r n o u i m e d i a t a m e n t e para a s e d e da

empresa BÔNUS BANVAL; Que n ã o se l embra d e ter

a s s i n a d o nenhum documento como recibo na a g ê n c i a d o

Banco R u r a l / S P ; Que, mostrado ao declarante o

documento de f l . 119 do apenso 05 dos presentes autos ,

reconhece como sua a assinatura constante no canto

i n f e r i o r esquerdoz2; ( . . . ) Que se recorda de ter

levado da sede da BÔnus Banval ao Aeroporto de

Congonhas/SP o s srs. JOAO CLÁUDIO DE CARVALHO GENÚ e

JOSÉ J W N E , e m d u a s ou três o p o r t u n i d a d e s ; Que todas

a s vezes em que levou JOAO CLÁUDIO DE CARVALHO GENÚ e

JOSÉ JANENE para o Aeroporto d e Congonhas/SP, - os

mesmos haviam acabado d e ter uma reunião com o S r .

22 Consta do documento em questão que foi entregue a BENONI o valor de R$

2 2 6

Page 56: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+ @5iz&=d&& Inq 2.245 / MG

o 121.02 ENIVALDO QUADRADO; Que, da mesma forma, quando levou

MARCOS VALÉRIO ao Aeroporto de Congonhas/SP, o mesmo

tinha se encontrado com o Sr. ENIVALDü QUADRADO ( . . . )

Colhe-se, deste depoimento, informações importantes no

sentido da prática, em tese, de crime de lavagem de dinheiro

pelo acusado ENIVALDO QUADRADO. Em primeiro lugar, porque enviou

o motorista de sua empresa à Agência do Banco Rural munido de

uma bolsa, na qual seria guardado o numerário a ser recebido. Ou

seja, ele aparentemente conhecia o procedimento que se adotava

no repasse de valores.

Além disso, o motorista não levou qualquer documento

de identificação do acusado, que seria o real beneficiário do

dinheiro, fato que também revela sua consciência de que os

valores não seriam recebidos através de um procedimento normal

de saque. As reuniòes de ENIVALDO QUADRADO com os acusados JOSÉ

JANENE, JOÃO CLÁUDIO GENÚ e MARCOS VALÉRIO reforçam essa

suspeita.

Assim, há indícios suficientes da prática dos crimes

de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, razão pela qual

voto pelo recebimento da denúncia contra ENIVALDO QUADRADO.

O envolvirnento de CARLOS ALBERTO QUAGLIA teria se dado

através da empresa NATIMAR, da qual é sócio-gerente e

administrador, sendo sua filha a outra sócia da empresa.

2 5 5 . 0 0 0 , O O (duzentos e cinquenta e cinco mil reais).

Page 57: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R+ &a&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

Em seu depoimento, CARLOS QUAGLIA esc lareceu o

seguin te ( f l s . 2 0 9 4 / 2 1 0 1 ) :

Que, para operar na B . M . & F . ~ ~ , a NATIMAR

necess i tava da intermediação de uma corre tora , que, no

caso, somente s e recorda do nome da corretora BÔNUS

BANVAL; Que se compromete a apresentar documentos que

revelam os inves t imen tos por meio de ou t ras corre toras

a s quais no presen te momento nâo sabe d e c l i n a r ; Que

i n v e s t i u , por in termédio da corretora BÔNUS BANVAL, no

mercado de fu turo de ouro e câmbio, além de ouro à

v i s t a ou f í s i c o ; Que, no f i n a l de 2003 ou i n í c i o de

2004, f o i apresentado ao senhor ENIVALDO QUADRADO,

sóc io da BÔNUS BANVAL . . . ) ; Que encontrou com o D r .

QUADRADO em seu e s c r i t ó r i o , na cidade de São Paulo,

oportunidade em que o dono da BÔNUS BANVAL o f e receu

d i v e r s o s a t r a t i v o s para que o dec larante a p l i c a s s e os

recursos em sua empresa; ( . . . ) Que acred i ta que

apl icou na BÔNUS BANVAL aproximadamente s e t e milhões

de r e a i s durante o ano de 2004; Que, salvo engano, no

mês de junho de 2004 , o declarante percebeu um

deposi to desconhecido na conta da NATIMAR, não sabendo

precisar quanto havia s i d o depositado equivocadamente;

Que recebia pe los c o r r e i o s , semanalmente, o e x t r a t o da

conta da NATIMAR junto à corretora BÔNUS BANVAL; Que,

d i a n t e d i s s o , entrou em conta to com ENIVALDO QUADRADO,

informando a s i t uação , oportunidade em que e s t e t e r i a

d i t o que t a i s recursos haviam s ido deposi tados por

engano, em v i r t u d e de "er ro de l o g í s t i c a de caixa";

Que o declarante pediu para ENIVALDO estornar t a l

va lor da sua conta, o que fo i negado pelo dono da

Page 58: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

fggkww &&H& Inq 2 .245 / MG 0 1 2 0 0 4

BÔNVS BANVAL, alegando imposs ib i l idade de fa zê - lo ante

a e x i s t ê n c i a de uma a u d i t o r i a ex terna em sua

Corretora; Que nega que a NATIMAR tenha recebido

recursos de ROGÉRIO LANZA TOLFNTINO e da empresa 2s PARTICIPAÇÕES LTDA.; Que os d e p ó s i t o s f e i t o s por e s t a s

pessoas são aqueles que foram cred i tados erroneamente

na conta da NATIMAR, conforme disse em l i n h a s a t r á s ;

Que não conhece e não tem a mínima i d e i a de quem sejam

a s pessoas j u r i d i c a s que depositaram aproximadamente

seis mi lhões e meio de r e a i s por equívoco na conta-

corren te da NATIMAR; Que não sabe in formar se esses

v a l o r e s foram apl icados em i nves t imen tos p e l a

c o r r e t o r a BÔNUS BANVAL; Que, se houve algum

inves t imen to , este não se deu por determinação do

dec larante; Que ENIVALDO QUADRADO s o l i c i t o u a o

d e c l a r a n t e q u e a s s i n a s s e algumas t r a n s f e r ê n c i a s de

recursos para contas-correntes de t e r c e i r o s , o que f o i

fe i to p e l o dec larante; Que nega q u e t e n h a r e a l i z a d o

e s t a s t r a n s f e r ê n c i a s por ind icação d o p u b l i c i t á r i o

MARCOS V2iIJh10; Que a s s i n o u , aprox imadamen te , dez

c a r t a s de t r a n s f e r ê n c i a d e recursos para t e r c e i r o s

desconhecidos; Que também a s s i n o u c e r c a d e c i n c o

c a r t a s de t r a n s f e r ê n c i a com d e s t i n a t á r i o s "em branco",

p r e e n c h i d o s p o r ENIVALDO QUADRADO; Q u e , n e s t e momento,

é dada c i ê n c i a ao dec laran te de que foram

apresentadas, pe la BÔNUS BANVAL, cerca de c inquenta

c a r t a s de t r a n s f e r ê n c i a de recursos assinadas p e l o

dec larante; Q u e , i n d a g a d o se s a b e d i z e r a s r a z õ e s d e

tamanha d i s c r e p â n c i a e n t r e o q u e d i s s e l i n h a s a t r á s e

o s documen tos a p r e s e n t a d o s p e l a BÔNUS BANVAL,

23 Bolsa de Mercadorias e Futuros.

Page 59: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+ NU&& Inq 2.245 / MG

0 1 2 0 0 5 r e s p o n d e u q u e , a l é m d a s que a s s i n o u a p e d i d o d e

ENIVALDO QUADRADO, é p o s s í v e l que a í e s t e j a m

computadas a s t r a n s f e r ê n c i a s q u e e f e t i v a m e n t e r e a l i z o u

em nome da NATIMAR; Q u e , após a s s i n a r t a i s

t r a n s f e r ê n c i a s , os d e p ó s i t o s equivocados permaneceram

sendo cred i tados na conta-corrente da NATIMAR, o que

motivou ENIVALDO QUADRADO a s o l i c i t a r que o dec larante

a s s i n a s s e novos documentos de Trans ferênc ias em v á r i a s

oportunidades, o que foi negado p e l o dec larante ( . . . ) Que reconhece como tendo p a r t i d o de seu punho a s

as s ina turas lançadas nas car tas supostamente enviadas

à BÔNUS BAhVAL, onde constam o s nomes e dados dos

b e n e f i c i á r i o s das t r a n s f e r ê n c i a s de recursos da conta

da NATIMAR na BÔNUS BANVAL; ( . . . )

J á o acusado BRENO FISCHBERG a f i r m o u o s e g u i n t e em s e u

d e p o i m e n t o ( f l s . 4215/4217, vo lume 19):

Que c o n f i r m a a v e r s ã o r e l a t i v a a o s

d e p ó s i t o s d e t e r m i n a d o s p e l a NATIMAR para terceiros,

c o n f o r m e l i s t a a p r e s e n t a d a n o a n e x o 05-A da p e r í c i a

e x t r a j u d i c i a l encaminhada à P o l í c i a F e d e r a l ; Que a

NATIMAR mov imen tou aprox imadamen te 1 4 m i l h õ e s d e r e a i s

n o a n o d e 2004 j u n t o à BÔNUS BANVAL; Que CARLOS

ALBERTO QUAGLIA periodicamente t e l e fonava para

ENIVALDO QUADRADO, ou mesmo para algum funcionário da

área admin i s t ra t i va da BÔNUS BANVAL e s o l i c i t a v a que

fossem f e i t a s t r a n s f e r ê n c i a s de recursos da NATIMAR

para t e r c e i r o s por ele indicados; Q u e , e m v i r t u d e d e

CARLOS ALBERTO QUAGLIA r e s i d i r f o r a d o E s t a d o d e São

P a u l o , a s s o l i c i t a ç õ e s mencionadas eram red ig idas em

formato de car ta e , nas oportunidades em que o mesmo

Page 60: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&-NU&& Inq 2.245 / MG

0120CI%

se d i r i g i a a c a p i t a l p a u l i s t a , eram todas assinadas de

uma v e z só ; Q u e , p o r t a n t o , nega veementemente, a

versão decl inada por CARLOS ALBERTO QUAGLIA d e q u e a s

t r a n s f e r ê n c i a s d o s r e c u r s o s da NATIMAR foram

e f e t i v a d a s a p e d i d o da p r ó p r i a BÔNUS BANVAL; Q u e ,

i n c l u s i v e , a BÔNUS BANVAL reteve a BMF referente a s

operações s o l i c i t a d a s por CARLOS num v a l o r t o t a l de

aproximadamente 30 mil r e a i s , devidamente informado à

Rece i ta Federal, e cons tante da declaração anual de

rendimentos da empresa NATIMAR; Que esse f a t o a f a s t a a

v e r s ã o d e CARLOS ALBERTO QUAGLIA, j á q u e n inguém

p a g a r i a 3 0 m i l r e a i s d e i m p o s t o para o u t r a p e s s o a ;

( . . . ) Que, e m r e l a ç ã o a MARCOS VALÉRIO, o d e c l a r a n t e o

c o n h e c e u a p r e s e n t a d o p o r ENIVALDO QUADRADO como um

p o s s í v e l comprador da Corretora de C o m d i t i e s BÔNU~

BANVAL, gue e s t a v a a venda; Que MARCOS VALÉRIO n ã o

c o n c r e t i z o u a compra; ( . . . ) Que se encontrou com

MARCOS VALÉRIO cerca de quatro v e z e s , todas

acompanhadas de ROGÉRIO TOLENTINO; Que MARCOS VALÉRIO

acompanhava mensalmente o r e s u l t a d o da corre tora para

d e c i d i r se fechava ou não o negócio; Q u e , em r e l a ç ã o

ao Deputado JOSÉ JANENE, o dec larante conheceu o

parlamentar a t r a v é s da f i l h a d e s t e , senhora MICHEm

JANENE, ex -e s tag iár ia da BÔNU.9 BANVAL; Que JOSÉ JANENE

s o m e n t e r e a l i z o u uma ú n i c a o p e r a ç ã o d e d a y t r a d e na

c o r r e t o r a BÔNUS BANVAL; Q u e , s a l v o e n g a n o , o l u c r o d e

JOSÉ JANENE f o i da ordem d e aprox imadamente 30 m i l

r e a i s ; ( . . . ) Que nega a versão apresentada por MARCOS

VALÉRIO de que a BÔNU~ BANVAL tenha s i d o u t i l i z a d a

para t r a n s f e r i r recursos de ca ixa 2 para JOSÉ J-

ou qualquer o u t r o p o l í t i c o ; q u e a s operações da

Page 61: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R+ flu&u Inq 2.245 / MG

012067

NATIMAR sempre foram comandadas por CARLOS ALBERTO

QUAGLIA; Que, entretanto, realmente a filha do

Deputado JOSÉ JANENE recebeu um crédito de 15 mil

reais, remetido por ordem da NATiMAR; ( . . . )

É de se destacar que o Relatório de Análise no

792/2006 (Apenso no 85, fls. 463/765) também contém fortes

indícios no sentido do enunciado pelo Procurador-Geral da

República na denúncia, corroborando, assim, as acusações de

lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

Constatou-se, ali, que a empresa BÔNUS BANVAL recebeu,

comprovadamente, da firma ROGÉRIO LANZA TOLENTINO a quantia de

R$ 3.460.850,OO.

Relativamente a NATIMAR, "cliente" da BÔNUS BANVAL,

constatou-se a existência de um documento intitulado

"autorização de operações", em que o acusado BRENO FISCHBERG

autorizava operações em nome da NATIMÃR.

A NATIMAR procedeu, então, nos termos do R.A.

792/2006, a transferência dos valores depositados por TOLENTINO

e pela 2s PARTICIPAÇÔES a terceiros, os quais, entretanto, não

puderam ser identificados em sua totalidade, tendo em vista que

a mesma conta corrente continha também recursos próprios da

NATIMAR, que eram também utilizados para outras finalidades

(como aplicações financeiras na BM&F e transferências de valores

a terceiros). Assim, a solução foi rastrear todas as

Page 62: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

movimentações, a partir de janeiro de 2004, até o último

movimento, em 13 de setembro de 2004, com as dificuldades

inerentes a tal procedimento.

Aliás, isto também demonstra, a o menos

indiciariamente, que os denunciados se organizaram em nível

elevadissimo para evitar a persecução penal e, assim, viabilizar

a prática dos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva

narrados na denúncia, razão pela qual considero que há indícios

da prática de crime de formação de quadrilha por estes acusados.

Do exposto, Senhora Presidente, tendo em conta os

documentos constantes dos autos, os depoimentos que li

anteriormente, e o fato de os denunciados fazerem trocas de

acusações entre si, considero haver indícios suficientes da

prática dos crimes narrados na denúncia pelas pessoas

denunciadas neste tópico, razão pela qual voto pelo recebimento

da denúncia, contra :

a) JOSÉ JANENE, PEDRO CORRÊA, PEDRO HENRY e JOAO

CLÁUDIO GENÚ, pela suposta prática dos crimes de formação de

quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro, nos termos

narrados na denúncia;

b) ENIVALDO QUADRADO, BRENO FISCHBERG e CARLOS ALBERTO

QUAGLIA, pela suposta prática dos crimes de formação de

quadrilha e lavagem de dinheiro, tal como narrado pelo

Procurador-Geral da República na inicial acusatória.

Page 63: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R- B&&& Inq 2 .245 / MG

Page 64: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&,$ks-o B a & u Inq 2 . 2 4 5 / MG

VI.2 - PARTIDO LIBERAL

No item VI.2, tal como no item anterior, é narrada a prática de crimes de

corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, desta .feita envolvendo o

Partido Liberal.

Eis o ligeiro resumo dos fatos com o qual o Procurador-Geral da República

introduziu o item da denúncia em análise (fls.5716):

" O s d e n u n c i a d o s Va ldemar C o s t a Neto,

J a c i n t o Lamas e A n t ô n i o Lamas, j u n t a m e n t e com L ú c i o

Funaro e J o s é C a r l o s B a t i s t a , montaram uma e s t r u t u r a

c r i m i n o s a v o l t a d a para a p r á t i c a d o s c r i m e s d e

c o r r u p ç ã o p a s s i v a e l avagem d e d i n h e i r o .

O r e c e b i m e n t o d e van tagem i n d e v i d a ,

m o t i v a d a p e l a c o n d i ç ã o d e p a r l a m e n t a r f e d e r a l d o

d e n u n c i a d o Va ldemar C o s t a Neto, t i n h a como

contraprestação o apoio p o l í t i c o do Partido Liberal - PL ao Governo Federal".

Destaco, de plano, que o crime de corrupção passiva foi imputado aos

denunciados VALDEMAR COSTA NETO, JACINTO LAMAS e BISPO RODRIGUES.

Imputou-se, também, a prática do crime de lavagem de dinheiro a estes

mesmos denunciados, bem como a ANTONIO LAMAS, na forma do art. 29 do CP.

Por fim, VALDEMAR COSTA NETO, JACINTO LAMAS e ANTONIO

LAMAS foram, ainda, acusados da prática do crime de formação de quadrilha, para o qual

teriam concorrido, de acordo com a denúncia, os donos da empresa GUARANHUNS, LUCIO

Page 65: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@+ fl&&& Inq 2 .245 / MG

6 1 2 0 1 1

FUNARO e JOSÉ CARLOS BATISTA. Estes últimos, entretanto, não foram denunciados,

por força de acordo de colaboração firmado com o Procurador-Geral da República.

Dito isto, inicio a analise pelo crime de corrupção passiva, que foi imputado a

VALDEMAR COSTA NETO, JACINTO LAMAS e BISPO RODRIGUES.

DA IMPUTAÇÃO DE CORRUPÇÃO PASSIVA - Valdemar Costa Neto,

Jacinto Lamas e Bispo Rodrigues

De acordo com a denúncia, "o recebimento de vantagem indevida, motivada

pela condição de parlamentar federal do denunciado Valdemar Costa Neto, tinha como

contraprestação o apoio político do Partido Liberal - PL ao Governo Federal"

E prossegue o Procurador-Geral da República (fls. 5 176):

"Nessa L i n h a , a o l o n g o d o s a n o s d e 2003 e

2 0 0 4 , o s d e n u n c i a d o s Va ldemar C o s t a N e t o , J a c i n t o

Lamas e A n t ô n i o Lamas r e c e b e r a m aprox imadamente d e z

m i l h õ e s e o i t o c e n t o s m i l r e a i s a t í t u l o d e p r o p i n a .

O a c o r d o c r i m i n o s o com os d e n u n c i a d o s

J o s é D i r c e u , D e l ú b i o S o a r e s , J o s é Geno íno e S í l v i o

P e r e i r a f o i a c e r t a d o na época da campanha e l e i t o r a 1

para P r e s i d ê n c i a da R e p ú b l i c a em 2002 , quando o PL

p a r t i c i p o u da chapa v e n c e d o r a " .

Neste ponto, destaca o Procurador-Geral da República, na nota de rodapé no

V i d e , e n t r e o u t r o s , d e p o i m e n t o s d e J a c i n t o

Lamas ( f l s . 6 1 0 / 6 1 4 ) , Va ldemar C o s t a Neto ( f l s .

1376 /1385 , e s p e c i a l m e n t e : "QUE mesmo a s s i m , i n s i s t i u

com s e u s c o r r e l i g i o n á r i o s q u e a s o l u ç ã o s e r i a a

Page 66: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+ flu&u Inq 2 .245 / MG 0 1 2 0 1 2

v i t ó r i a da coligação para que o PL pudesse crescer ,

participando do Governo. ") . D e s t a q u e - s e q u e o

d e n u n c i a d o J o s é D i r c e u era p r e s i d e n t e d o PT n a é p o c a . "

Os repasses de recursos feitos pela empresa SMP&B ao Partido Liberal teriam

sido acordados na época da eleição de 2002, conforme se deduz do termo de depoimento do

denunciado Valdemar da Costa Neto (fls.1376/1385):

. . ) QUE as r e u n i õ e s p a r a t r a t a r d e

a s s u n t o s p o l í t i c o s o c o r r i a m com a p r e s e n ç a d o

DECLARANTE e JOSÈ ALENCAR, p e l o PL, e JOSÉ DIRCEU,

DELÚBIO SOARES, JOÃO PAULO CUNHA E LUIZ DULCI pelo PT,

s e m p r e n a r e s i d ê n c i a d e JOSÉ DIRCEU; QUE os a c o r d o s

p o l í t i c o s e d e recursos p a r a a campanha e l e i t o r a 1

f o r a m a m p l a m e n t e d i v u l g a d o s p e l a m í d i a à é p o c a ; QUE em

m e a d o s d e j u n h o d e 2 0 0 2 , em v i r t u d e d o i m p a s s e

r e f e r e n t e a o s v a l o r e s q u e s e r i a m d e s t i n a d o s à campanha

d o PL, o DECLARANTE, j u n t a m e n t e com JOSÉ DIRCEU,

r e d i g i u uma n o t a à i m p r e n s a e a o s p a r t i d o s p o l í t i c o s

c o m u n i c a n d o a i n v i a b i l i d a d e d a a l i a n ç a PT/PL, em

v i r t u d e d a v e r t i c a l i z a ç ã o ; QUE n e s t a o c a s i ã o o S e n a d o r

JOSÈ ALENCAR t e l e f o n o u p a r a o DECLARANTE, q u e l he

i n f o r m o u o teor da n o t a ; QUE o s e n a d o r JOSE ALENCAR

s o l i c i t o u a o DECLARANTE q u e a g u a r d a s s e , po is v o l t a r i a

a l i g a r em 10 m i n u t o s ; QUE r e t o r n a d a a l i g a ç ã o , JOSÈ

ALENCAR s o l i c i t o u o c a n c e l a m e n t o d a n o t a , uma vez q u e

o c a n d i d a t o LULA e s t a r i a se d i r i g i n d o a B r a s í l i a p a r a

d a r p r o s s e g u i m e n t o à s n e g o c i a ç õ e s ; QUE no d i a

s e g u i n t e , n a r e s i d ê n c i a d o D e p u t a d o P a u l o R o c h a ,

PT/PA, f o i r e a l i z a d a uma r e u n i ã o entre LULA, JOSÈ

A L E N C A R , ~ DECLARANTE, JOSÉ DIRCEU, D E L ~ B I O SOARES,

MARIA DO CARMO LARA e NILMÁRIO MIRANDA; QUE o l o c a l d a

Page 67: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&- Inq 2 . 2 4 5 / MG 0 1 2 0 h 3

r e u n i ã o f o i e s c o l h i d o para e v i t a r o a s s é d i o da

i m p r e n s a , s e n d o q u e o a n f i t r i ã o n ã o p a r t i c i p a v a

a t i v a m e n t e d a s n e g o c i a ç õ e s o r a t r a t a d a s ; QUE o

c a n d i d a t o LULA se encaminhou a o DECLARANTE e d i s s e "-

V a l d e m a r , você é o n o s s o prob lema ?", t e n d o r e c e b i d o

como r e s p o s t a que o problema e r a , na v e r d a d e , a

v e r t i c a l i z a ç ã o , e o mesmo n ã o i r i a " m a t a r a bancada d o

PL p o r causa da a l i a n ç a com o PT"; QUE DELÚBIO SOARES

c o n v i d o u o DECLARANTE para uma c o n v e r s a r e s e r v a d a em

um d o s a p o s e n t o s , e o c a n d i d a t o LULA i n f o r m o u a JOSÈ

ALENCAR: "- d e i x a os d o i s conver sarem q u e i s s o é

problema d e p a r t i d o , n ã o é problema n o s s o " , d e c l a r a ç ã o

o u v i d a p o r t o d o s o s p r e s e n t e s ; QUE se r e t i r a r a m e n t ã o

DELUBIO SOARES e o DECLARANTE, t e n d o e s t e d i t o q u e " -

l u t a r a d u r a n t e q u a t r o a n o s para m o n t a r uma chapa para

a t i n g i r o s 5 % , e n ã o s e r i a j u s t o i n v i a b i l i z a r o

p a r t i d o p e l a a l i a n ç a , e a ú n i c a s a í d a s e r i a m

r e c u r s o s " ; QUE D E L ~ B I O SOARES t e n t o u f a z e r com que a

n e g o c i a ç ã o f i c a s s e e m p a t a m a r e s a b a i x o d o s R$ 10

m i l h õ e s s o l i c i t a d o s , p o i s t i n h a p reocupação com a

o b t e n ç ã o d e r e c u r s o s para f i n a n c i a m e n t o da campanha;

QUE o DECLARANTE f i c o u i r r e d u t i v e l q u a n t o a o v a l o r ,

sob pena d e n ã o a c e i t a r a v e r t i c a l i z a ç ã o , l i b e r a n d o o s

c a n d i d a t o s para fecharem a c o r d o s em n i v e l e s t a d u a l ,

q u e p e r m i t i s s e m a t i n g i r a c l á u s u l a d e b a r r e i r a ; QUE em

dado momento d o i m p a s s e , a d e n t r o u JOSÉ DIRCEU, que

p e r g u n t o u a DELUBIO SOARES sobre o andamento d a s

n e g o c i a ç õ e s , t e n d o o b t i d o como r e s p o s t a "- Valdemar

e s t á i r r e d u t í v e l " ; QUE JOSÉ DIRCEU se r e t i r o u , não

f a z e n d o q u a l q u e r o b s e r v a ç ã o ; QUE a p ó s i s s o , DELÚBIO

SOARES d i s s e a o DECLARANTE: " - o l h a , e u vou t e pagar

Page 68: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

& i $ H&&& Inq 2 .245 / MG

G t 2 ~

d e a c o r d o com a e n t r a d a d o s r e c u r s o s . Eu n a o p o s s o t e

a d i a n t a r n a d a , mas a p a r t e r e f e r e n t e à doação d o JOSÈ

ALENCAR, quando e n t r a r , e s s a e u t e r e p a s s o na

i n t e g r a l i d a d e a t é c o m p l e t a r o s R$ 10 m i l h õ e s " ; QUE

ambos s a í r a m e comunicaram q u e o a c o r d o e s t a v a

f e c h a d o , sem m a i o r e s e x p l i c a ç õ e s ; QUE a d i s c u s s ã o

r e s e r v a d a d u r o u aprox imadamen te 30 m i n u t o s ; ( . . . ) ".

Consta da inicial acusatória que os repasses de recursos se deram em duas fases

(fls. 571 7):

" A p r i m e i r a forma d e r e c o l h i m e n t o d o s

r e c u r s o s c r i m i n o s o s f o i p o r m e i o da empresa Guaranhuns

Empreend imen tos , u t i l i z a d a p e l o s d e n u n c i a d o s d o PL

(Valdemar C o s t a Neto, J a c i n t o Lamas e A n t ô n i o Lamas)

para o c u l t a r a o r i g e m , n a t u r e z a d e l i t u o s a e

d e s t i n a t á r i o s f i n a i s d o s v a l o r e s .

Em um segundo momento, p a s s o u a ser

e f e t u a d a p e l o s i n t e r m e d i á r i o s J a c i n t o Lamas e A n t ô n i o

Lamas, q u e ag iam c o n s c i e n t e m e n t e p o r ordem d e Valdemar

da C o s t a Ne to ."

No que conceme aos repasses em dinheiro por intermédio da denunciada

SIMONE VASCONCELOS, estes são confirmados pela própria SIMONE, conforme consta do

t emo de depoimento de fls. 5881595, especialmente do seguinte trecho:

"QUE r e a l m e n t e pode a f i r m a r t e r entregado

dinheiro para JACINTO LAMAS, JAIR DOS SANTOS, EMERSON

PALMIERI, PEDRO FONSECA, JOÃO CARLOS DE CARVALHO GENU,

JOSÉ LUIZ ALVES, ROBERTO COSTA PINHO; ( . . . ) r,

Page 69: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R- ~ ~ & & Inq 2.245 / MG 0.f.2015

Os depoimentos de Valdemar da Costa Neto e de Jacinto de Souza Lamas

corroboram a denúncia.

O denunciado JACINTO LAMAS afirma em seu depoimento (fls. 6101614):

"QUE a bancada do PL f o i reforçada com a

t rans fe rênc ia de deputados que foram e l e i t o s por

outras legendas; QUE, sa l vo engano, em junho de 2003 o

Deputado Federal Valdemar Costa Neto s o l i c i t o u ao

DECLARANTE que e s t e f i c a s s e a t e n t o para receber uma

l igação de uma pessoa vinculada ao tesoureiro do

Part ido dos Trabalhadores, DELÚBIO SOARES, que i r i a

entregar va lores em dinheiro de um acer to que havia

s i d o rea l i zado en t re o s d o i s na campanha de 2002".

VALDEMAR COSTA NETO, por sua vez, reconheceu, ao prestar depoimento,

o recebimento de expressiva quantia, dando a seguinte explicação sobre o destino que teria dado

ao dinheiro (fls.137611385):

( ) QUE perguntado quanto à s i s temát ica

de pagamento a fornecedores e prestadores de

serv içosZ4, O DECLARANTE a f i r m a que e fe tuava t a i s

pagamentos pessoalmente, em B r a s i l i a ou em São Paulo;

QUE, quanto aos comprovantes, o DECLARANTE informa que

as encomendas eram f e i t a s em conf iança , por meio de

representantes do P L , j á que não dispunha de recursos

para pagamento imedia to; QUE, apesar de e f e t u a r

pessoalmente os pagamentos, o DECLARANTE não s e

recorda do nome de qualquer fornecedor ou prestador de

se rv i ços , nem guardou qualquer contro le OU

r ec ibo ; ( . . . ) " . [fls. 1383-13841

'' Não especificados

Page 70: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+ &&&& Inq 2.245 / MG

Ora, ainda que sejam absolutamente verdadeiras as declarações do acusado, é

necessário apurar, no bojo da ação penal, e mediante aprofundada instrução probatória, os fatos

narrados na denúncia, uma vez que, ao menos neste momento, é duvidosa a afirmação de que o

total de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) foram destinados ao pagamento de

fornecedores cujos nomes os acusados desconhecem, e que não forneceram qualquer

comprovante ou recibo de pagamento. Não se pode simplesmente ignorar os indícios existentes

no sentido da materialidade e da autoria delitiva, principalmente porque vigora, nesta fase, o

princípio do in dubio pro societatis.

Por fim, quanto ao acusado BISPO RODRIGUES, há também indícios da

prática do crime de corrupção passiva.

Neste sentido, destaca o Procurador-Geral da República (8s. 572315724):

( . . . ) o ex -Depu tado Federa l B i s p o R o d r i g u e s

também r e c e b e u van tagem i n d e v i d a do n ú c l e o Marcos

V a l é r i o e m t r o c a d e s u p o r t e p o l í t i c o .

O d e n u n c i a d o B i s p o R o d r i g u e s é P r e s i d e n t e

d o PL n o E s t a d o d o R i o d e J a n e i r o e s egundo vice-

p r e s i d e n t e n o â m b i t o n a c i o n a l .

O r e c o l h i m e n t o da p r o p i n a comprovada

materialmente nos autos f o i e f e t u a d o p e l o

i n t e r m e d i á r i o C é l i o Marcos S i q u e i r a , m o t o r i s t a d o

Deputado V a n d e r v a l Lima d o s S a n t o s , d o PL/SP.

( . . . )

Para i l u s t r a r o a p o i o p o l í t i c o d o grupo d e

p a r l a m e n t a r e s d o P a r t i d o L i b e r a l a o Governo F e d e r a l ,

na s i s t e m á t i c a acima n a r r a d a , p o n t u a - s e a a t u a ç ã o d o

p a r l a m e n t a r C a r l os R o d r i g u e s na a p r o v a ç ã o da r e f o r m a

d e p r e v i d ê n c i a (PEC 40 /2003 , na s e s s ã o d o d i a

Page 71: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

27/08/2003) e na r e f o r m a t r i b u t á r i a (PEC 41/2003, NA

s~ssÃo DO DIA 24 /09 /2003) .

Efetivamente, consta dos autos listagem fornecida pelo acusado MARCOS

VALÉRIO, relacionando as pessoas que receberam recursos através de SIMONE

VASCONCELOS, por determinação de VALERIO. Na data de 30-09-2003, teriam sido

entregues R$ 250.000,OO para CÉLIO, sendo destinatário final dos recursos o acusado BISPO

RODRIGUES (v. fls. 608, volume 3). Posteriormente, em 17-12-2003, foram pagos R$

150.000,OO ao mesmo parlamentar, totalizando, assim, um pagamento total de R$400.000,00, de

acordo com VALÉRIO (fls. 608).

Além disso, em seu depoimento de 8s. 3551360 (volume 2), MARCOS

VALÉRIO afirmou terem ocorrido repasses a BISPO RODRIGUES (v. fls. 359). Em outro

depoimento, MARCOS VALÉRIO assinalou que "Bispo Rodrigues é um dos integrantes do PL

indicado pelo próprio DELÚBIO SOARES (fls. 734, volume 3).

Diante do acima exposto, e em face da correta descrição dos fatos típicos e da

existência de prova mínima de autoria e materialidade, voto pelo recebimento da denúncia

neste ponto, para que os acusados VALDEMAR COSTA NETO, JACINTO LAMAS e

BISPO RODRIGUES respondam a ação penal pela suposta prática do crime previsto no artigo

317 do Código Penal (corrupqão passiva)

DAS IMPUTAÇÕES DE LAVAGEM DE DINHEIRO E FORMAÇÁO DE

QUADRILHA

Ainda no item V1.2 da denuncia, constam diversas imputações de crime de

lavagem de dinheiro, através do procedimento descrito no capítulo IV deste voto.

Page 72: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

O Procurador-Geral da República afirma que o denunciado Valdemar Costa

Neto praticou 41 (quarenta e uma) vezes o crime previsto no artigo l0, incisos V, VI e VII, da

Lei no 9.61311998, sendo sete saques via Jacinto Lamas, um saque via Antônio Lamas e

trinta e três operacões via Guaranhuns, estas últimas operacionalizadas, supostamente, por

LÚCIO FUNARO e JOSE CARLOS BATISTA, proprietários da empresa.

Para o Procurador-Geral da República, também aqui, configurou-se o crime

formação de quadrilha, voltada para a prática das operações de lavagem de dinheiro

supracitadas.

Não fazendo parte da suposta quadrilha, o acusado BISPO RODRIGUES

também teria praticado o crime de lavagem de dinheiro, usando, como intermediário, para o

recebimento dos elevados montantes em espécie, o motorista CÉLIO MARCOS SIQUEIRA.

A denúncia, apontando indicios suficientes de autoria e provas da

materialidade dos crimes, assim narrou as condutas típicas em questão (fls. 5718):

" A o b t e n ç ã o d e r e c u r s o s em e s p é c i e também

e r a empreendida p o r Valdemar C o s t a N e t o , que cos tumava

receber a l t a s q u a n t i a s em sua p r ó p r i a r e s i d ê n c i a .

D e n t r o d o organograma da quadrilha, o

d e n u n c i a d o Valdemar Costa Neto ocupava o topo da sua

es t ru tura , p o s s u i n d o o d o m í n i o d o s e u d e s t i n o .

O ex -Deputado Federa l Valdemar Cos ta ~ e t o ' ~

é o P r e s i d e n t e Nac iona l d o PL, t e n d o f e c h a d o o a c o r d o

f i n a n c e i r o com o PT e delegado a Jacinto Lamas e

Antônio Lamas o recolhimento dos v a l o r e s .

Na c a d e i a p a r t i d á r i a , a l é m d e p r e s i d e n t e da

l e g e n d a , ocupou a t é f e v e r e i r o d e 2004 o p a p e l d e l í d e r

da bancada d o PL na Câmara d o s Depu tados .

Page 73: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

Também atuou pessoalmente na montagem da

empresa de fachada Guaranhuns Empreendimentos,

espec ia l i zada em lavagem de d inhe i ro .

Fundador do PL e possuidor de patrimônio

incompatível com sua renda declarada, Jac in to Lamas

era o pr inc ipal homem de conf iança de Valdemar Costa

Neto, tendo por função na quadrilha receber os va lores

encaminhados pe lo núc leo Marcos V a l é r i o , por ordem do

PT (José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno e S í l v i o - Pere i ra ) .

Na e s t ru tura formal da agremiação

p a r t i d á r i a , fo i um dos responsáveis pela indicação da

empresa Guaranhuns Empreendimentos a Marcos Valério,

como mecanismo para v i a b i l i z a r o pagamento seguro de

propina.

Nesse s e n t i d o , i n c l u s i v e , chegou a

confecc ionar , em conjunto com Marcos V a l é r i o , um

con t ra to f i c t í c i o para garan t i r uma aparência formal

de legal idade ao negócio escuso.

Antônio Lamas, irmão de Jac in to L a m a s e

fundador do PL, também r e c o l h i a , de forma habi tual e

r e i t e r a d a , va lores em espéc ie para Valdemar Costa

Neto.

Dentro da e s t r u t u r a p a r t i d á r i a , trabalhava

na Presidência ao lado de Jac in to L a m a s e Valdemar

Costa Neto.

Com e f e i t o , além do Banco Rural em

Bras í l ia , comparecia com frequência a empresa SMP&B em

Belo Horizonte, a f i m de receber importâncias i l i c i t a s

2 5 Que veio a ser eleito para o exercício de mandato na atual legislatura.

Page 74: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@- &&&& Inq 2.245 / MG

012020

por meio d e cheques des t inados a empresa Guaranhuns

Empreendimentos.

A s primeiras operações do recebimento dos

valores foram implementadas de forma re i terada e

p r o f i s s i o n a l por intermédio dos serv iços criminosos de

lavagem de c a p i t a i s o ferec idos no mercado pela empresa

Guaranhuns Empreendimentos.

D e f a t o , após a apresentação de Jacinto

Lamas, Marcos Va lér io i n i c i o u o repasse da propina

determinada pelo PT (José Dirceu, Delúbio Soares, José

Genoíno e S í l v i o Pereira) à quadrilha integrada por

Valdemar Costa Neto, Jacinto Lamas e Antônio Lamas,

valendo-se de modo profissional dos serviços da

Guaranhuns Empreendimentos, cu jos proprietários são

Lúcio Funaro (real) e José Carlos Batista (formal e

a u x i l i a r de Lúcio Funaro) . O relacionamento de Lúcio Funaro e Valdemar

Costa ne to data do mês de setembro de 2002, quando

Lúcio Funaro e seus associados repassaram ao

denunciado Valdemar Costa Neto a importância de R$

3 .000 .000 ,00 , em t r ê s parcelas de R$ 1 .000 .000 ,00 , em

espéc ie , empacotadas e entregues na sede do PL em São

Paulo.

Após o fechamento do acordo p o l í t i c o -

f inanceiro en t re o PT e o P L , j á narrado nesta

pe t i ção , t e v e i n í c i o o repasse, ao grupo de Lúcio

Funaro, de valores dest inados a saldar a quantia

a cima.

Além dessa t rans ferênc ia relacionada ao

empréstimo, a empresa Guaranhuns f o i u t i l i z a d a como

Page 75: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&$ka?w H&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 0 1 2 0 2 1

forma d e d i s s i m u l a ç ã o da o r i g e m e d e s t i n o d e um

m o n t a n t e a d i c i o n a l d e aprox imadamen te R$ 3.100.000,OO.

Essa forma f r a u d u l e n t a d e r e p a s s e , com

emprego da empresa Guaranhuns Empreend imen tos ,

r e s u l t o u em t r a n s f e r ê n c i a s n o v a l o r t o t a l d e

aprox imadamen te se i s m i l h õ e s e q u i n h e n t o s m i l r e a i s a o

PL . Do m o n t a n t e a c i m a , aproximadamente R$

3.450.000,OO foram transferidos pela empresa SMPfiB a

Lúcio Funaro por meio de cheques administrativos da

empresa SMP&B, n a s s e g u i n t e s d a t a s e v a l o r e s : c h e q u e s

d e R$ 500.000,OO (11, 1 9 , 2 6 d e f e v e r e i r o / 2 0 0 3 e 0 6 d e

m a r ç o / 2 0 0 3 ) ; R$ 300.000,OO ( 1 2 , 1 7 , 24 e 31 d e

março /2003) ; e R$ 300.000,OO ( 0 7 / 0 4 / 2 0 0 3 ) . As T r a n s f e r ê n c i a s E l e t r õ n i c a s - TED's -

e n s e j a r a m t r a n s f e r ê n c i a s d a s c o n t a s da empresa SMP&B à

c o n t a da empresa Guaranhuns , n a s s e g u i n t e s d a t a s e

v a l o r e s : R$ 200.000,OO ( 0 4 , 1 1 , 1 8 e 25 d e j u n h o / 0 3 ;

0 2 / 0 7 / 0 3 ) ; R$ 80.000,OO (07 e 09 d e j u l h o / 0 3 ) ; R$

40.000,OO ( 1 0 / 0 7 / 0 3 ) ; R$ 90.000,OO ( 1 5 , 2 2 e 28 d e

j u l h o / 0 3 ) ; R$ 50.000,OO ( 1 6 e 2 3 d e j u l h o / 0 3 ) ; R$

60.000,OO (24 e 31 d e j u l h o / 0 3 ) ; R$ 90.000,OO ( 0 4 , l l e

18 d e a g o s t o / 0 3 ) ; R$ 50.000,OO ( 0 6 e 1 9 d e a g o s t o / 0 3 ) ;

R$ 60.000,OO (07 e 20 d e a g o s t o / 0 3 ) ; R$ 110.000,OO

( 1 4 . 0 8 . 0 3 ) ; e R$ 100.000,OO ( 2 7 . 0 8 . 0 3 ) .

A s s i m , como p r o f i s s i o n a i s d o ramo d e

b ranqueamen to d e c a p i t a i s , L ú c i o Funaro e J o s é C a r l o s

B a t i s t a a s s o c i a r a m - s e d e modo p e r m a n e n t e , h a b i t u a l e

o r g a n i z a d o a Va ldemar C o s t a Neto, J a c i n t o Lamas e

A n t o n i o Lamas na e m p r e i t a d a c r i m i n o s a .

Page 76: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

Nos t e r m o s c o n f e s s a d o s p o r L ú c i o Funaro e m

s e u s d e p o i m e n t o s p r e s t a d o s na P r o c u r a d o r i a da

R e p ú b l i c a , a s t r a n s a ç õ e s f i n a n c e i r a s com a empresa

SMP&B t i v e r a m i n í c i o em f e v e r e i r o d e 2003 .

Em uma segunda fase , o s r e c u r s o s foram

a n g a r i a d o s pessoalmente por Jacinto Lamas e Antonio

Lamas, i n t e r m e d i á r i o s d o l í d e r da q u a d r i l h a , Va ldemar

C o s t a N e t o , o q u a l , p o r sua v e z , também r e c e b e u

d i r e t a m e n t e a 1 t o s v a l o r e s em e s p é c i e .

Em d e c o r r ê n c i a d o esquema c r i m i n o s o

a r t i c u l a d o , Va ldemar C o s t a Neto, J a c i n t o Lamas e

A n t o n i o Lamas r e c e b e r a m , como c o n t r a p r e s t a ç ã o d o a p o i o

p o l í t i c o n e g o c i a d o i l i c i t a m e n t e , n o m ín imo , o m o n t a n t e

d e d e z m i l h õ e s e o i t o c e n t o s m i l r e a i s , s e j a p o r

i n t e r m é d i o da empresa Guaranhuns , s e j a p o r i n t e r m é d i o

da s i s t e m á t i c a d e s a q u e s e t r a n s p o r t e e m e s p é c i e d e

n u m e r á r i o s .

O d i n h e i r o , n e s s a segunda f a s e , e r a s a c a d o

p o r S imone V a s c o n c e l o s e e n t r e g u e a J a c i n t o ou A n t ô n i o

Lamas, q u e o r e p a s s a v a a Valdemar da C o s t a N e t o .

J a c i n t o Lamas, como f i c o u m a t e r i a l m e n t e

comprovado n o s a u t o s , r e c e b e u , entre outras ocasiões

não detectadas, em razão da entrega pessoal, v i a

Simone Vasconcelos, n a s s e g u i n t e s da t a s : 1 6 / 0 9 / 2 0 0 3 ,

R$ 200.000,OO ( f l s . 3 7 7 e 393-Apenso 06 ) ; 2 3 / 0 9 / 2 0 0 3 -

R$ 100.000,OO ( f l . 234 - Apenso 0 5 ) ; 1 2 / 1 1 / 2 0 0 3 -

R$100.000,00 ( f l . 462- Apenso 0 6 ) ; 18 .11 .2003 - R$

100.000,OO ( f l s . 261- Apenso 0 5 ) ; 1 7 . 1 2 . 2 0 0 3 - R$

100.000,OO ( f l s . 44 verso - Apenso 0 5 ) ; 20.01.2004 -

R$200.000 ,00 (fl. 87 do Apenso 051 .

Page 77: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG 0 1 2 0 2 3

Antônio Lamas confirmou o recebimento em

uma única v e z . Embora não tenha informado a data e o

v a l o r , o documento de fl. 49 do Apenso 05 mater ia l i za

o recebimento de R$350.000,00 em 07.01.2004. No

en tan to , Marcos Valério informou que Antônio Lamas

também era um habitual representante de Valdemar da

Costa Neto nos recebimentos de recursos f inance i ros ,

informando que: "... Antônio Lamas, além de receber

recursos na agência Bras í l ia do Banco R u r a l , foi

algumas vezes na sede da SMP&B em Belo Horizonte/MG

buscar cheques nominais a Guaranhuns. " O repasse de d inheiro ao PL t e v e i n í c i o em

janeiro de 2003, por intermédio da conta da empresa

Guaranhuns, u t i l i z a d a para o recebimento de recursos

f inanceiros das empresas de Marcos Va lér io , por meio

de t rans ferênc ias e l e t r ô n i c a s o u cheques

adminis t ra t ivos recebidos , diretamente, por Jacinto ou

Antonio Lamas.

Logo após, junho de 2003, in ic iou-se a

sistemática de repasse de dinheiro pelo mecanismo de

lavagem disponibilizado pelo Banco Rural, a t ravés do

recebimento, em espéc ie , por Jacin to ou Antonio Lamas,

na agência do Banco Rural em B r a s í l i a ; no Hotel

Kubitschek, em B r a s í l i a ; no Hotel Mercure, em

B r a s í l i a ; e na f i l i a l da empresa SMP&B, também

local izada em B r a s í l i a .

I lus trando o apoio p o l í t i c o do grupo de

parlamentares do Partido Liberal ao Governo Federal,

na s i s temát ica acima narrada, destaca-se a atuação do

parlamentar Valdemar Costa Neto na aprovação da

reforma da previdência (PEC 4 0 / 2003 na sessão do dia

Page 78: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@+H&&& Inq 2 .245 / MG

0 1 2 0 2 4

2 7 / 0 8 / 2 0 0 3 ) e da r e f o r m a t r i b u t á r i a (PEC 41 /2003 na

s e s s ã o d o d i a 2 4 / 0 9 / 2 0 0 3 ) .

Além da e s t r u t u r a d e l i t u o s a a r g u i t e t a d a e

imp lemen tada p o r Va ldemar C o s t a Neto, J a c i n t o Lamas,

A n t ô n i o Lamas, L ú c i o Funaro e J o s é C a r l o s B a t i s t a ,

para v i a b i l i z a r a venda d e a p o i o p o l í t i c o d o PL, o e x -

Deputado F e d e r a l B i s p o R o d r i g u e s também r e c e b e u

van tagem i n d e v i d a d o n ú c l e o Marcos V a l é r i o em t r o c a d e

s u p o r t e p o l í t i c o .

( - . . )

O r e c o l h i m e n t o da p r o p i n a , comprovada

m a t e r i a l m e n t e n o s a u t o s , f o i e f e t u a d o p e l o

i n t e r m e d i á r i o Cé l io Marcos S i q u e i r a , m o t o r i s t a d o

Deputado F e d e r a l V a n d e r v a l Lima d o s S a n t o s , d o PL/SP.

D e f a t o , em d e z e m b r o d e 2 0 0 3 , C é l i o Marcos

S i q u e i r a , por ordem d o ex-Deputado Federa1 B i s p o

R o d r i g u e s , compareceu n o Banco R u r a l e m B r a s i l i a ,

a r r e c a d o u e d e p o i s e n t r e g o u a q u a n t i a d e c e n t o e

c i n q u e n t a m i l r e a i s e m e s p é c i e a o r e a l d e s t i n a t á r i o

( d e n u n c i a d o B i s p o R o d r i g u e s ) em sua r e s i d ê n c i a . "

Há, realmente, indícios que corroboram a acusação, alguns, inclusive, citados

pelo Procurador-Geral da República no trecho que acabo de ler.

Inicio a análise deste trecho da denúncia pela imputação de lavagem de dinheiro

ao acusado BISPO RODRIGUES, que não foi denunciado por formação de quadrilha.

BISPO RODRIGUES

O motorista do PL Célio Marcos Siqueira, citado na denúncia, fez as seguintes

afirmações em seu depoimento de fls. 132511328:

Page 79: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

. . . QUE sempre exerceu a função de

m o t o r i s t a ; QUE recebeu uma l i g a ç ã o do Deputado Federal

CARLOS RODRIGüES, en tão coordenador da bancada

evangél ica , no c e l u l a r n o . . . ) , s o l i c i t a n d o que o

dec larante déscesse a t é a garagem dest inada aos

parlamentares; QUE ao encon t rá-1 o o Deputado Federa 1

CARLOS RODRIGüES forneceu o endereço por escrito para

que o dec larante recebesse "uma encomenda"; QUE nesse

endereço fornecido não havia indicação da pessoa que

deveria procurar, porém s e recorda que o Deputado

Federal CARLOS RODRIGUES comentou que uma pessoa i r i a

procurá-lo para en tregar a encomenda; QUE acred i ta que

t a l pessoa o reconheceria por meio da cor da roupa que

es tava t ra jando; QUE s e recorda que nesse dia es tava

trajando um t e rno na cor bege; QUE possuía d o i s ternos

na época; QUE o Deputado Federal CARLOS RODRIGUES-

PL/RJ não f e z qualquer comentário sobre que t i p o de

encomenda que s e r i a entregue ao dec larante; QUE e s s e

f a t o t e r i a ocorrido no horár io do almoço e no mês de

dezembro de 2003, um pouco a n t e s do recesso

parlamentar; QUE após a determinação, deslocou-se

imediatamente a t é o endereço ind icado pe lo Deputado

federal CARLOS RODRIGüES; QUE nunca havia i d o à

Agência B r a s i l i a do Banco Rural em ou t ras

oportunidades; QUE, ao s e des locar ao balcão de

a tendlmen t o , f o i abordado por uma mulher que perguntou

ao dec larante se e r a CÉLIO, que e s t a r i a a mando do

Deputado CARLOS RODRIGüES; QUE nessa ocasião a mulher

s o l i c i t o u ao dec laran te que se i d e n t i f i c a s s e ; QUE não

v i u a mulher proceder qualquer anotação de sua

i d e n t i f i c a ç ã o ; QUE e s s a mulher não e ra funcionária da

Page 80: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R- Inq 2 .245 / MG 0 1 2 0 2 6

Agência B r a s í l i a do Banco Rural, vez que não portava

qualquer iden t l f l c a ç ã o ; ( . . . ) QUE após se i d e n t i f i c a r

pegou a encomenda e encaminhou-se a t e a res idênc ia do

Deputado Federal CARLOS RODRIGUES; ( . . . ) QUE a

encomenda s e r i a um envelope, contendo possivelmente

d inheiro; QUE acreditava q u e o envelope continha

d lnhe i ro por e s t a r no i n t e r i o r de uma agêncla

bancária; ( . . . ) QUE chegando na casa do Deputado

Federal CARLOS RODRIGUES in ter fonou, sendo recebido

p e l o Deputado federal no portão; QUE não chegou a

e n t r a r , apenas entregou a encomenda para o

parlamentar; ( . . . ) "

Em suas declarações (fls. 2 2 5 7 / 2 2 6 1 ) , o ex-Deputado

Federal Bispo Rodrigues afirma:

"QUE mobil izou os noventa e d o i s

p r e s i d e n t e s do Partido Liberal no Estado do Rio de

Janeiro e os Vereadores e l e i t o s , s o l i c i t a n d o que todos

apoiassem a candidatura de LULA a presidência da

repúbl ica; QUE foram e fe tuadas despesas de campanha,

t a i s como: impressão de jo rna i s , f o l h e t o s ,

"sant inhos" , confecção de "botons", aluguel de

caminhão de som e a contratação de empresa

espec ia l i zada na rea l i zação de eventos em praças

públ icas; QUE a pessoa contratada pe lo dec larante para

dar providências e r e a l i z a r a s contratações acima

d e s c r i t a s f o i o sr. VILMAR, não podendo esc larecer seu

sobrenome, comprometendo-se a fornecer os dados desta

pessoa em momento oportuno; QUE VILMAR é propr ie tár io

de uma empresa que costuma promover eventos para

Page 81: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R- &&&& - O 12 O 2 7 Inq 2 . 2 4 5 / MG I

p o l í t i c o s e p a r t i c u l a r e s , não se recordando o nom,e da

empresa; QUE pagou ao S r . VILMAR a quantia de

aproximadamente R$ 60.000,OO ( sessenta M i l Reais) ; QUE

para a s despesas com g r á f i c a s gastou a quantia

aproximada de R$ 90.000,OO (Noventa M i l R e a i s ) ,

t o t a l i z a n d o aproximadamente R$ 150.000,OO (Cento e

cinquenta mil r e a i s ) ; QUE todos o s contratos de

prestação de serv iços acima elencados foram verbais;

QUE não possui notas f i s c a i s comprovando a s r e f e r idas

despesas; ( . . . ) QUE f e i t a s a s despesas, procurou o

pres iden te nacional do P L , S r . VALDEMAR DA COSTA NETO,

por d i ver sas v e z e s , para que o mesmo solucionasse a s

ques tões f i nance i ras pendentes; ( . . . ) QUE a

so l i c i t ação f e i t a na garagem da Câmara a CÉLIO e a

entrega do numerário na casa do declarante e m Brasí l ia

deu-se no mesmo d ia ; QUE guardou os R$ 150.000,OO em

sua res idênc ia e , aos poucos, l evou t a l s recursos para

sua casa no Rio de Janeiro; QUE f e i t o i s s o , pagou as

d í v idas mencionadas no i n i c i o do depoimento para duas

pessoas; QUE um d e l e s é o VILMAR e outro não s e

recorda, esclarecendo que f o i seu motor is ta de nome

~ É R G I O quem levou o d inhe i ro para o segundo credor;

QUE não conhece e nunca .teve qualquer contato com

MARCOS VALÉRIO m E S DE SOUZA; QUE conhece o S r .

DELÚBIO SOARES mas nunca t r a t o u nenhum assunto

r e l a t i v o à área f inanceira com o mesmo. ( . . . ) "

Apesar de o denunciado Bispo Rodrigues mencionar em seu depoimento

unicamente o recebimento da quantia de R$ 150.000-00> por intermédio de Célio Marcos, consta

do documento de fls. 6021608, fornecido por Marcos Valério e já antes citado, que, na verdade,

Page 82: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

N $ H&&& Inq 2.245 / MG

012028

houve um repasse no valor total de R$ 400.000,OO (R$ 250.000,OO em 30.09.2003 e R$

150.000,OO em 17.12.2003).

Mais do que isto, os valores citados foram recebidos em espécie, não pelo

próprio destinatário, mas por uma pessoa por ele enviada, utilizando-se, ao menos

aparentemente, do mecanismo de lavagem de dinheiro já antes analisado no capitulo IV,

disponibilizado, supostamente, pelo denominado "núcleo publicitário-financeiro".

Portanto, a conduta do denunciado Carlos Alberto Rodrigues Pinto (Bispo

Rodrigues) reveste-se de aparente tipicidade em relação ao tipo penal previsto no artigo 1" da Lei

no 9.613198, incisos V, VI e VII, na medida em que o mesmo teria participado da movimentação,

de maneira obscura, de valores provenientes dos crimes previstos nos incisos mencionados, o

que é suficiente a instauração da ação penal pertinente.

VALDEMAR COSTA NETO, JACINTO LAMAS, ANTONIO LAMAS -

formação de quadrilha e lavagem de dinheiro

Analiso, agora, os crimes de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, no

que tange aos demais acusados.

Em primeiro lugar, assinalo que. embora os proprietários da empresa

GUARANHUNS não tenham sido denunciados, devido a acordo de colaboração firmado com

os mesmos, LÚCIO FUNARO e JOSÉ CARLOS BATISTA participaram, ao menos em tese,

dos fatos narrados na denúncia. Deste modo. eles teriam integrado, em tese, nos termos da

acusação, a suposta quadrilha que se teria formado no interior do PL. Os fatos, como narrados

pelo Parquet, revelam essa participação de ambos, de modo que a quadrilha seria formada por

Page 83: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

VALDEMAR COSTA NETO, JACINTO LAMAS, JOAO CLAUDIO GENU, LUCIO

FUNARO e JOSÉ CARLOS BATISTA.

As defesas alegam, contudo, que a denúncia não poderia ser recebida em razão

de os dois últimos - LÚCIO FUNARO e JOSÉ CARLOS BATISTA - não terem sido

denunciados. Assim, alegam violação ao principio da indivisibilidade da ação penal

(invocação da aplicabilidade do art. 48 do Código de Processo e ao princípio da

igualdade entre as partes.

O argumento não pode ser acolhido.

Em primeiro lugar, o Procurador-Geral da República requereu, na cota a

denúncia, a homologação de acordo firmado com os envolvidos LÚCIO FUNARO e JOSÉ

CARLOS BATISTA, baseado na colaboração que eles teriam prestado naquele momento das

investigações

Além disso, o Procurador-Geral da República também se comprometeu a

aditar a eventual ação penal ou oferecer nova denúncia contra LÚCIO FUNARO e JOSÉ

CARLOS BATISTA, caso o acordo não seja homologado.

De todo modo, homologado ou não o acordo, observo que esta Corte firmou

entendimento no sentido de que o princípio da indivisibilidade só se aplica às ações penais

privadas. Veja-se trecho do voto inaugural neste sentido, do Ministro RODRIGUES ALCKMIN

no RHC 53005lAL:

" Q u a n t o à inépcia da denúncia, a a l e g a ç ã o é

manifestamente improcedente. A indivisibilidade da

ação penal d i z com a manifestação do direito de queixa

e n a d a t e m com o c a s o dos a u t o s . "

26 Art. 48. A gueixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade.

Page 84: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+ fl&&U Inq 2 . 2 4 5 / MG

Cito, ainda, os seguintes arestos:

"Inépcia da denúncia, ausência de corpo de

d e l i t o e d e s r e s p e i t o ao p r i n c í p i o da i n d i v i s i b i l i d a d e

da ação penal . Alegações improcedentes. O art. 48 do

CPP diz respeito às queixas em crimes de ação privada,

e não aos crimes de ação pública, onde o Ministério

Público, dominus litis, só está sujeito ao controle

previsto no art. 28 do CPP." (RE n o 93.055/PR, Rel .

Min. Cordeiro Guerra)

"Denúncia que se recebe , v i s t o obedecer aos

r e q u i s i t o s e s tabe lec idos no a r t . 4 1 do Código d e

Processo Penal e no a r t . 4 3 da Lei n o 5 . 2 5 0 , d e 9-2-

67 .

O disposto no art. 48, do Código de

Processo Penal, d i z respeito aos crimes de ação

privada, e não aos de ação pública. Precedente do

Supremo Tribunal Federal. " ( Inq. n o 195/DF, Rel . Min . Octávio G a l l o t t i ) .

"Habeas corpus. A s ques tões r e l a t i v a s a

inépc ia e à l i t i s p e n d ê n c i a não foram o b j e t o da

i n i c i a l , nào tendo s i d o , por i s s o , apreciadas pe lo

acórdão recorr ido . Esta Corte já firniou o entendimento

de que o principio da indivisibilidade da- ação penal

não se aplica a ação penal pública. Recurso ordinár io

conhecido em p a r t e , e , n e l a , não provido." ( H C no

61928/SP, Rel. Min. Moreira A l v e s ) .

"HABEAS-CORPUS. Nulidades. É poss i ve l a

s u b s t i t u i ç ã o de testemunhas, obedecidas a s cau te las

Page 85: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&*8-&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

p r e v i s t a s n o a r t . 397 d o CPP. R e s s a l v a , na

fundamentação da s e n t e n ç a condena t ó r i a , d o v a l o r dado

a e s t a p r o v a . O pr inc ip io da i n d i v i s i b i l i d a d e da ação

penal, a r t . 48 do CPP, r e f e re - s e aos crimes de ação

privada, não alcançando o s de ação pública, eis que o

Minis tér io Público pode denunciar posteriormente o s

demais autores do crime. A e x i s t ê n c i a d e p r o c e d i m e n t o

a d m i n i s t r a t i v o apurando o mesmo c r i m e n ã o compromete o

p r o c e s s o onde f o i p r e s t a d a a t u t e l a j u r i s d i c i o n a l , com

o u s o e x c l u s i v o d o d e v i d o p r o c e s s o l e g a l . 'Habeas-

corpus ' c o n h e c i d o , mas denegado . " (HC 68730/DF, R e l .

Min. Paulo B r o s s a r d ) .

"Habeas C o r p u s . 2. Denúncia p o r i n f r a ç ã o a o

a r t . 1 6 3 , p a r á g r a f o ú n i c o , i n c i s o 11, d o Cód igo P e n a l ,

e a r t . 4 0 , d o Decreto-lei n o 3 6 8 8 , d e 1 9 4 1 , combinados

com o a r t . 6 9 , c a p u t , d o Cód igo P e n a l . 3 . Tumu l to

p rovocado em A s s e m b l é i a L e g i s l a t i v a . 4 . I n é p c i a da

d e n ú n c i a q u e n ã o é d e a c o l h e r - s e , em f a c e d o s a r t s . 41

e 4 3 , d o Cód igo d e P r o c e s s o P e n a l . 5 . Não há c a b i m e n t o

a d e s l o c a r - s e o f e i t o para a c o m p e t ê n c i a d o T r i b u n a l

d e J u s t i ç a , p o r q u e os c o - r é u s n ã o fazem j u s a f o r o

e s p e c i a l p o r p r e r r o g a t i v a d e f u n ç ã o . 6 . Não cabe

invocar o pr incip io da i n d i v i s i b i l i d a d e da ação penal,

em s e cuidando de ação penal públ ica . 7. N u l i d a d e d o

a c ó r d ã o , p o r f a l t a d e f undamen tação , r e j e i t a d a .

C o n s t i t u i ç ã o F e d e r a l , a r t . 9 3 , I X . 8 . H i p ó t e s e em que

n ã o há f a l a r e m o f e n s a a o p r i n c i p i o d o p romo tor

n a t u r a l . Promotor d e J u s t i ç a , Coordenador d a s

P r o m o t o r i a s C r i m i n a i s . P r e c e d e n t e s . 9 . Não é o h a b e a s

c o r p u s m e i o adequado a o exame d e f a t o s e p r o v a s , com

Page 86: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

v i s t a s a v e r i f i c a r a e x i s t ê n c i a , ou n ã o , d e d o l o d o s

a g e n t e s . 1 0 . Habeas Corpus d e f e r i d o , e n t r e t a n t o , em

p a r t e , para d e t e r m i n a r , n o J u í z o d e o r i g e m , s e j a

a b e r t a v i s t a d o s a u t o s a o M i n i s t é r i o P ú b l i c o , a o s f i n s

d o a r t . 8 9 , da L e i n o 9099 /1995 , t e n d o e m c o n t a a

p o s s i b i l i d a d e , em p r i n c í p i o , d e a p l i c a ç ã o da r e g r a

l e g a l em r e f e r ê n c i a , n ã o s e n d o , d e s d e l o g o , d e

c o n s i d e r a r , como fundamento b a s t a n t e a a f a s t a r o

b e n e f í c i o , a p a r t e f i n a l da d e n ú n c i a , q u a n t o à

n a t u r e z a d o s f a t o s . 1 1 . Em c o n f o r m i d a d e com a

o r i e n t a ç ã o a s s e n t a d a p e l o P l e n á r i o d o STF, no HC

75 .343 - MG, na h i p ó t e s e d e o Promotor d e J u s t i ç a

r e c u s a r - s e a f a z e r a p r o p o s t a ( L e i n o 9099 /95 , a r t .

8 9 ) , o J u i z , v e r i f i c a n d o p r e s e n t e s o s r e q u i s i t o s

o b j e t i v o s , para a s u s p e n s ã o d o p r o c e s s o , d e v e r á

encaminhar os a u t o s a o Procurador - Gera l d e J u s t i ç a , a

f i m d e q u e es te se p r o n u n c i e s o b r e o o f e r e c i m e n t o ou

n ã o da p r o p o s t a d e s u s p e n s ã o c o n d i c i o n a l d o p r o c e s s o ,

a p l i c a n d o - s e , n o q u e c o u b e r , o a r t . 28 d o Cód igo d e

P r o c e s s o Penal." ( H C 77723/RS, Rel. Min. N é r i da

Silveira) .

"HABEAS CORPUS - TRÁFICO DE ENTORPECENTES -

EXECUÇÃO DA PENA EM REGIME FECHADO -

CONSTITUCIONALIDADE DO ART. Z O , § 1 ° , DA LEI DOS

CRIMES HEDIONDOS - TARDIA ARGUIÇÃO DE INÉPCIA DA

DENÚNCIA - REEXAME DE PROVA - INIDONEIDADE DO WRIT

CONSTITUCIONAL - PEDIDO INDEFERIDO. TRÁFICO DE

ENTORPECENTES - CUMPRIMENTO INTEGRAL EM REGIME FECHADO

- LEI N o 8 . 0 7 2 / 9 0 (ART. 2 " , § 1 " ) -

CONSTITUCIONALIDADE. - O P l e n á r i o d o Supremo T r i b u n a l

Page 87: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

~ ~ ~ & & & Inq 2 .245 / MG 012033

Federal proclamou a i n t e i r a val idade jur íd i co -

c o n s t i t u c i o n a l da norma i n s c r i t a no a r t . ZO, § 1 , da

Lei no 8.072/90 que impõe ao t r a f i c a n t e d e

en torpecentes , sem qualquer exceção, o cumprimento

i n t e g r a l da pena em regime fechado. O t r a f i c a n t e de

en torpecentes e s t á s u j e i t o , em face da natureza da

i n f r a ç ã o que p r a t i c o u , ao regime penal fechado imposto

pela Lei n O 8 . O 72/90. ENTORPECENTE - PEQUENA

QUANTIDADE - CONFIGURAÇÃO PENAL DO DELITO. - Não

descarac ter i za o d e l i t o de t r á f i c o de substância

en torpecente o f a t o de a Pol íc ia haver apreendido

pequena quantidade de t ó x i c o em poder do réu .

Precedentes. INÉPCIA DA DENÚNCIA - MOMENTO DE SUA

ARGUIÇÃO. - Eventuais d e f e i t o s da denúncia devem s e r

arguidos pe lo réu a n t e s da prolação da sentença penal ,

e i s que a ausência dessa impugnação, em tempo

oportuno, claramente ev idenc ia que o acusado f o i capaz

de defender-se da acusação contra e l e promovida pe lo

M i n i s t é r i o Público. Doutrina e Precedentes. DEFESA DO

RÉU - IMPUTAÇÃO DE FATO PRECISA E DETERMINADA -

IRRELEVÂNCIA DA CLASSIFICAÇÃO JURÍDICA. - O réu se

d e f e n d e da imputação de f a t o contida na denúncia, e

não da c l a s s i f i c a ç ã o jur íd i ca eventualmente incorre ta

f e i t a pe lo M i n i s t é r i o Público na peça acusatór ia . - A

p o s s i b i l i d a d e de ocorrência de nova d e f i n i ç ã o jur íd ica

do f a t o d e l i t u o s o não j u s t i f i c a a apl icação da norma

i n s c r i t a no a r t . 3 8 4 , parágrafo único, do C P P , desde

que essa nova d e f i n i ç ã o encontre apoio em

c i rcuns tânc ia elementar con t ida , e x p l í c i t a ou

imp l i c i tamen te , na própria denúncia. O PRINCIPIO DA

INDIVISIBILIDADE MO SE APLICA A AÇÃO PENAL PÚBLICA. -

Page 88: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&,!&=amo fl&&& Inq 2.245 / MG

012034

O p r i n c í p i o da i n d i v i s i b i l i d a d e - pecu l iar a ação

penal de i n i c i a t i v a privada - não se a p l i c a a s

h i p ó t e s e s d e persegu ib i l idade mediante ação penal

púb l i ca . Precedentes . REEXAME DA PROVA - MATÉRIA

ESTRANHA AO HABEAS CORPUS. - O habeas corpus c o n s t i t u i

remédio processual inadequado para a a n á l i s e da prova,

para o reexame do m a t e r i a l probatór io produzido, para

a reapreciação da matéria de f a t o e , também, para a

revalor i zação dos elementos i n s t r u t ó r i o s c o l i g i d o s no

processo penal de conhecimento. Precedentes. " ( H C

74661/RS, R e l . Min. Celso de M e l l o ) .

" HABEAS CORPUS. PROVA CONSTANTE DE EXAME

PERICIAL. SENTENÇA C O N D E N A T ~ R I A FUNDAMENTADA.

DENUNCIA. POSSIBILIDADE DE ADITAMENTO PELO M I N I S T É R I O

PÚBLICO. I - Ao con t rar io do que argumenta a

impetração, a au tor ia d e l i t i v a não se l i m i t o u a

s ind icânc ia , m a s baseou-se, também, em outros

elementos de prova, i n c l u s i v e no exame

documentoscópico para v e r i f i c a ç ã o da au ten t i c idade de

manuscritos e ass inaturas dos acusados, a p a r t i r da

c o l h e i t a de mater ia l g r á f i c o . 11 - Inocorrência de

v i c i o de fundamentação, porquanto a sentença e o

acórdão apreciaram todas a s teses da d e f e s a , sem f e r l r

os princípios c o n s t l t u c l o n a l s da ampla de fesa e do

con t r a d i t ó r l o . 111 - No tocan te a alegação p e r t i n e n t e

a even tua1 inobserrrãncia do p r i n c i p i o da

i n d i v i s i b i l i d a d e da ação penal , a jur isprudência d e s t a

C o r t e consagra a or ien tação segundo a qual o p r i n c i p i o

da i n d i v i s i b i l i d a d e não se a p l i c a a ação penal

púb l i ca , podendo o M i n i s t é r i o Públ ico , como dominus

Page 89: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

l i t i s , ad i t a r a denúncia, a té a sentença f i n a l , para

inclusão de novos réus, ou ainda oferecer nova

denúncia, a qualquer tempo, s e f i c a r evidenciado que

a s supostas v í t i m a s tinham conhecimento ou poderiam

deduz ir t r a t a r - s e de documento f a l s o . IV - Habeas

corpus inde fer ido . " (HC n o 71538/SP, R e l . Min. I l m a r

Galvão) .

Por estas razões, não há que se falar em rejeição da denúncia, por violação ao

princípio da indivisibilidade previsto para a queixa-crime (art. 48 do Código de Processo Penal).

Quanto ao número mínimo de pessoas exigido pelo art. 288 do CP, resta claro,

como mencionei anteriormente, que os fatos narrados pelo Parqiret obedecem a este requisito,

pois 5 (cinco) pessoas teriam se associado para o fim de cometer crimes. A circunstância de

apenas três, destas cinco pessoas, terem sido denunciadas não altera esta conclusão, pois a

exclusão de LUCIO FUNARO e JOSÉ CARLOS BATISTA se deu por razões somente a eles

aplicáveis (razões pessoais). Assim, os fatos em si, como narrados na denúncia, preenchem,

claramente, o dispositivo em questão. Esta é a obrigação imposta ao Parquef pelo art. 41 do

Código de Processo Penalo que dispõe:

A r t . 41. A denúncia ou queixa conterá a

exposição do fa to criminoso, com todas as suas

circunstâncias, a qua l i f i cação do acusado ou

esclarecimentos pe los quais se possa i d e n t i f i c á - l o , a

c l a s s i f i c a ç ã o do crime e , quando necessár io , o ro l das

testemunhas.

Basta, assim, que o fato narrado pelo Procurador-Geral da República seja

criminoso, para que a ação penal seja viável

Eis o entendimento desta Corte, verbis:

Page 90: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@- &&&& Inq 2.245 / MG

" D E N ~ N C I A S A T I S F A T ~ R I A QUANTO A NARRATIVA

DOS FATOS, INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS E

CLASSIFICAÇÃO LEGAL.

PRESCRIÇÃO DO CRIME DE QUADRILHA NÃO I S E N T A

DE CONTROVÉRSIA COM OS DADOS T R A Z I D O S .

O APERFEIÇOAMENTO DO CRIME DE QUADRILHA, NO

M Í N I M o DE QUATRO COMPONENTES, NÃo SE ELIDE PELO FATO

DE UM OU ALGUNS DELES NÃ0 SEREM PUNIDOS EM VIRTUDE DE

RAZÕES PESSOAIS.

RECURSO IMPROVIDO. "

(RHC n o 66716/RJ, Rel . Min. Djaci Falcão)

"Habeas corpus. - Improcedência das

alegações de nul idade invocadas na impetração: f a l t a

de f ixação, separadamente, das penas cominadas a roubo

consumado e a t e n t a t i v a de roubo, porquanto foram e l e s

considerados como prat icados em continuidade d e l i t i v a ;

ocorrência da mesma ausência quanto aos d e l i t o s

prat icados em concurso m a t e r i a l , o que, no caso

concreto, não s e deu; inexistência de crime de

quadrilha, porque só duas das seis pessoas que o

teriam praticado foram denunciadas por ele (das quatro

restantes, duas não foram capturadas e duas morreram

em confronto posterior com a polícia), o que não

descaracteriza esse crime que se teve como comprovado

em face dos elementos constantes dos autos; e f a l t a de

de fesa formal, que não ocorreu, pois de fesa houve, sem

que se tenha demonstrado sequer a sua d e f i c i ê n c i a com

p r e j u í z o do ora paciente . 'Habeas corpus' i n d e f e r i d o . "

( H C 7 7 5 7 0 / M G , Re l . Min. Moreira A l v e s ) .

Page 91: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

Passo, portanto, a análise dos indícios constantes dos autos, quanto aos crimes de

lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

JACINTO LAMAS e VALDEMAR COSTA NETO

O acusado JACINTO LAMAS prestou as seguintes declarações, as fls. 6101614

(volume 3):

"Que recebeu uma l i gação de SIMONE

VASCONCELOS; Que SIMONE f a l o u para o d e c l a r a n t e q u e

e s tava com a encomenda que DELÚBIO havia pedido para

en t regar ao Deputado VALDEMAR COSTA NETO; Que SIMONE

l i g o u para o c e l u l a r d o DECLARANTE, n o . . . , ou para

a s e d e d o p a r t l d o ; ( . . . ) Q u e , s a l v o engano , SIMONE

VASCONCELOS combinou a en trega do d inhe i ro em um

h o t e l ; Q u e , p e l o que se recorda, o h o t e l onde recebeu

pe la primeira v e z va lores d e SIMONE f o i o Kubitscheck

Plaza; Q u e , após receber l i g a ç ã o de SIMONE, d i r i g i u - s e

ao l o c a l do encontro para receber a encomenda; Q u e , a o

c h e g a r ao h o t e l , f o i d i re tamente ao apartamento onde

e s t a v a SIMONE; Que SIMONE h a v l a i n f o r m a d o a o

d e c l a r a n t e o número d o a p a r t a m e n t o onde e s t a v a

hospedada; Que o DECJXRAN!l'E en t rou no quarto d e SIMONE

e recebeu, de suas mãos, um envelope de papel pardo

grande, contendo em seu i n t e r i o r uma quant ia em

d inhe i ro ; Que n ã o c o n t o u q u a n t o h a v i a n o e n v e l o p e ; Que

SIMONE a p e n a s f a l o u q u e a q u e l a encomenda era do D r .

DELÚBIO SOARES para o Deputado VALDEMAR COSTA NETO;

Que SIMONE e s t a v a s o z i n h a n o h o t e l ; Q u e , d e p o s s e d o

e n v e l o p e , d i r i g i u - s e imediatamente para a re s idênc ia

do Deputado Federal VALDEMAR COSTA NETO, v isando lhe

Page 92: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

I n q 2.245 / MG

e n t r e g a r a q u a n t i a ; Que e n t r e g o u n a s mãos d e VALDEMAR

o e n v e l o p e c o n t e n d o os v a l o r e s ; Que VALDEMAR n ã o

c o n f e r i u na f r e n t e d o DECLARANTE q u a n t o h a v i a n o

e n v e l o p e ; Que VALDEMAR a f i r m o u q u e a q u e l e d i n h e i r o se

r e f e r i a a um a c e r t o d e campanha q u e h a v i a f e i t o com

D E L ~ B I O ; Que VALDEMAR c o n t a v a q u e h a v i a r e a l i z a d o um

a c o r d o com D r . DELÚBIO na f o r m a l i z a ç ã o da a l i a n ç a da

chapa formada para d i s p u t a r a P r e s i d ê n c i a da

R e p ú b l i c a ; Q u e , p e l o a c o r d o f i r m a d o , o D r . DELÚBIO

SOARES f i c o u d e c o b r i r g a s t o s r e a l i z a d o s p e l o Deputado

Federa l VALDEMAR COSTA NETO na campanha e l e i t o r a l d e

2002 ; Que o Deputado F e d e r a l VALDEMAR h a v i a f e i t o

compromis sos com p e s s o a s d u r a n t e a campanha d e 2 0 0 2 , e

d e s t a forma p r e c i s a v a d e r e c u r s o s para c u s t e a r t a i s

d e s p e s a s ; Que o Deputado F e d e r a l VALDEMAR não disse a o

DECLARANTE com q u a i s pe s soas h a v i a firmado

compromissos para r e s s a r c i m e n t o d e despesas ; Que

somente o Deputado Federal VALDEMAR pode e x p l i c i t a r

q u a i s compromissos c o b r i u com o s r e c u r s o s repassados

por DELÚBIO SOARES; Que f o i t e s o u r e i r o do P a r t i d o

L i b e r a l a t é fevereiro d e 2005, quando ped iu

a fa s tamen to por m o t i v o s p a r t i c u l a r e s ; Q u e , mesmo sendo

t e s o u r e i r o do P a r t i d o L i b e r a l , não t i n h a qua lquer

r e l a ç ã o com a s de spesas assumidas p e l o Deputado

Federal VALDEMAR COSTA NETO e q u e foram ressarcidas

p e l o s r e c u r s o s r e p a s s a d o s p o r DELÚBIO SOARES; Que o s

v a l o r e s r e c e b i d o s p e l o Deputado Federal VALDEMAR COSTA

NETO não foram lançados na p r e s t a ç ã o d e c o n t a s d o

P a r t i d o L i b e r a l , por se t r a t a r e m d e v a l o r e s repassados

p e l o D r . DELÚBIO SOARES em r a z ã o d o acordo já

mencionado; Que o s v a l o r e s r e p a s s a d o s p o r DELÚBIO

Page 93: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

SOARES foram d i r e c i o n a d o s e x c l u s i v a m e n t e para a

q u i t a ç ã o d e d e s p e s a s a s s u m i d a s p e s s o a l m e n t e p e l o

Deputado F e d e r a l VALDEMAR COSTA NETO; Que não sabe

d i z e r se o Deputado Federal VALDEMAR COSTA NETO f e z o

repasse de t a i s v a l o r e s para outros membros do

Par t ido; Q u e , a p ó s o primeiro s a q u e , o c o r r i d o

p r o v a v e l m e n t e em j u n h o d e 2003, recebeu o u t r o s

chamados de SIMONE para receber va lores em e s p é c i e ;

Que a e n t r e g a d e v a l o r e s p o r SIMONE n ã o t i n h a nenhuma

r e g u l a r i d a d e d e d a t a ; Que a e n t r e g a d o s v a l o r e s

o c o r r i a e n t r e p e r í o d o s a l e a t ó r i o s ; Que o Deputado

VALDEMAR i n c l u s i v e comentava que a s r e l a ç õ e s com o

t e s o u r e i r o d o P T , DELÚBIO SOARES, n ã o e s t a v a m b o a s ,

p o i s e s t e n ã o v i n h a cumpr indo o a c o r d o combinado;

( . . . ) Q u e , s a l v o e n g a n o , se encontrou com SIMONE duas

ou t ras vezes no h o t e l Mercure, para receber v a l o r e s - em

dinheiro, confomie or ien tação do Deputado Federal

VALDEMAR COSTA NETO; Que e s s a s d u a s o u t r a s e n t r e g a s

foram r e a l i z a d a s s e g u i n d o o p r o c e d i m e n t o j á r e l a t a d o ,

ou s e j a , o DECLARANTE receb ia l i g a ç õ e s t e l e f õ n i c a s ,

pr imeiro do Deputado VALDEMAR COSTA NETO avisando da

iminência da entrega dos va lores e , em seguida, de

SIMONE VASCONCELOS, informando o horár io e l o c a l da

en trega do dinheiro; Que nunca c o n f e r i a o s va lores que

receb ia de SIMONE; Q u e , da mesma forma, entregou o s

d o i s s a q u e s d i re tamente para o Deputado VALDEMAR COSTA

,NETO, em encontros ocorr idos em sua res idênc ia ; Que ,

p o s t e r i o r m e n t e , o p r o c e d i m e n t o mudou, quando o

DECLARANTE passou a buscar o d inhe i ro encaminhado por

DELÚBIO SOARES d ire tamente na agência B r a s í l i a do

Banco Rural; Que se e n c o n t r o u duas v e z e s com SIMONE na

Page 94: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+ flu&a Inq 2 .245 / MG Ci12040

Agênc ia B r a s í l i a d o Banco R u r a l , tendo receb ido de

suas mãos pacotes com quant ias em d inhe i ro ; Q u e ,

a lgumas vezes, SIMONE d e i x a v a a n o t a ç õ e s na a g ê n c i a

B r a s í l i a d o Banco R u r a l , com a u t o r i z a ç õ e s para q u e o

DECLARANTE e f e t u a s s e o s a q u e d o s v a l o r e s ; Que t o d o o

d i n h e i r o r e c e b i d o na Agênc ia B r a s í l i a d o Banco R u r a l

f o i repassado d ire tamente para o Deputado VALDEMAR

COSTA NETO; Que também e f e t u o u alguns recebimentos na

Agência B r a s í l i a do Banco Rural com b a s e em

au tor i zações que eram encaminhadas pe la Agência do

Banco Rural de Be lo Horizonte/MG; Que , mesmo n e s s e s

c a s o s , a i n d a r e c e b i a t e l e f o n e m a d e SIMONE i n f o r m a n d o a

d i s p o n i b i l i d a d e d o s r e c u r s o s na Agênc ia B r a s í l i a d o

Banco R u r a l ; Que, d e s s a forma, comparecia na Agência

do Banco Rural , r eceb ia o d inhe i ro e assinava um

r e c i b o in formal ; Que apenas f a z i a uma rubr ica , s e n d o

q u e , a lgumas v e z e s , l h e f o i e x i g i d a a a p r e s e n t a ç ã o d e

documen to d e i d e n t i d a d e ; Que esse r e c i b o in formal e ra

uma t i r a de papel com alguns manuscri tos e carimbos;

Que, a p ó s c e r t o t empo , f i c o u conhecido dos empregados

da Agência, que não mais lhe exigiam a apresentação de

documento d e iden t idade ; Que reconhece como sua a

rubr ica lançada no documento d e f l s . 377 do Apenso 6;

Que, r e a l m e n t e , d e u q u i t a ç ã o d e r e c e b i m e n t o também em

f a c - s í m i l e s encaminhados p e l a Agênc ia d e Belo

H o r i z o n t e d o Banco Rura l para a Agênc ia B r a s í l i a ; Q u e ,

em uma oportunidade, recebeu va lores de SIMONE NA SEDE

DA smp&b EM Brasi l ia/DF, l o c a l i z a d a no E d i f í c i o da

Confederação Nacional do Comércio - CNC, n o s e t o r

b a n c á r i o n o r t e ; Que pode ter recebido uma segunda v e z

va lores na sede da ÇMPbB em Brasil ia/DF; Que o i r m ã o

Page 95: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&- flu&u I n q 2 . 2 4 5 / MG

0120.4?

d o DECLARANTE, d e nome ANTONIO DE PÁDUA DE SOUZA

LAMAS, também recebeu v a l o r e s na Agência B r a s i l i a do

Banco R u r a l , a ped ido d o Deputado Federal VALDEMAR

COSTA NETO; Que t a i s p a g a m e n t o s o c o r r e r a m segu indo o

mesmo procedimento já r e l a t a d o ; Q u e o D e p u t a d o F e d e r a l

VALDEMAR COSTA NETO f e z t a i s p e d i d o s a ANTONIO LAMAS

pois o DECLARANTE não e s t a v a em B r a s i l i a / D F , por

m o t i v o s p r o f i s s i o n a i s ; Q u e t o d o s os v a l o r e s sacados

por seu irmão também foram e n t r e g u e s a o Deputado

Federal VALDEMAR COSTA NETO; Q u e d e s c o n h e c e se o

D e p u t a d o F e d e r a l VALDEMAR COSTA NETO p o s s u i q u a l q u e r

r e l a ç ã o com a e m p r e s a GUARANHUNS EMPREENDIMENTOS,

INTERMEDIAÇÕES E PARTICIPAÇÕES S / C LTDA; Que esteve na

s ede da SMP&B em B e l o Hor i zon t e três ou q u a t r o v e z e s ,

p a r a t r a t a r d e a s s u n t o s r e l a c i o n a d o s a e l a b o r a ç ã o d o

novo m a n u a l d e p r o g r a m a v i s u a l d o P a r t i d o L i b e r a l ;

( . . . ) Que conhece MARCOS VALÉRIO, t endo se encon trado

com o mesmo algumas v e z e s na s e d e d o P a r t i d o L i b e r a l

em Bras i l ia /DF; Q u e , n a s v i s i tas q u e f e z a s e d e d o PL,

MARCOS VALÉRIO p r o c u r a v a pelo D e p u t a d o F e d e r a l

VALDEMAR COSTA NETO; Q u e , pelo q u e se r e c o r d a , n u n c a

c o n v e r s o u com MARCOS VALÉRIO a r e s p e i t o d o s

r e c e b i m e n t o s q u e f a z i a a p e d i d o d o D e p u t a d o F e d e r a l

VALDEMAR COSTA NETO; Q u e , e n t r e t a n t o , pode ter

r e c e b i d o l i g a ç õ e s d e MARCOS VALÉRIO in formando que

SIMONE já e s t a v a em Bras i l ia /DF, para lhe procurar ;

Que a s v i s i t a s que f e z à s ede da SMP&B em B e l o

Horizon t e / M G ocorreram, s a l v o engano, a n t e s do inicio

da e n t r e g a dos v a l o r e s por SIMONE, c o n f o r m e r e l a t a d o ;

Que ficou sabendo da e x i s t ê n c i a da SMP&B a t r a v é s das

v i s i t a s que MARCOS W & R I O f e z à s ede do PL; Q u e

Page 96: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@g&- &&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 6 6 2 0 4 3

MARCOS VALÉRIO se a p r e s e n t o u na s e d e d o PL como

e m p r e s á r i o d o ramo d e p u b l i c i d a d e , que q u e r i a t e r uma

c o n v e r s a com o Deputado Federa l VALDEMAR COSTA NETO,

sobre a propaganda d o P a r t i d o L i b e r a l ; Que n ã o s a b e

a f i r m a r quando tomou c o n h e c i m e n t o d e q u e MARCOS

VALÉRIO p o s s u í a r e l a ç õ e s com DELÚBIO SOARES; Que o

Deputado F e d e r a l VALDEMAR COSTA NETO também nunca

menc ionou q u a l a o r i g e m d o s r e c u r s o s r e p a s s a d o s p o r

DELÚBIO SOARES a t r a v é s d a s e m p r e s a s d e MARCOS VALÉRIO;

Que conheceu SIMONE VASCONCELOS na primeira v i s i t a que

f e z à SMP&B em Belo Horizonte/MG; Q u e , a t é então, não

havia recebido va lores das mãos de SIMONJZ VASCONCELOS;

Que achou c o i n c i d ê n c i a o f a t o d e SIMONE ser a

r e s p o n s á v e l p e l a e n t r e g a d o s v a l o r e s encaminhados p o r

DELÚBIO SOARES para o Deputado F e d e r a l VALDEMAR COSTA

NETO; ( . . . ) Que , s a l v o engano , em t r ê s ou quatro

v i s i t a s que f e z à sede da SMP&B em Belo Horizonte,

recebeu de empregados de MARCOS VALÉRIO envelopes

contendo documentos a serem entregues ao Deputado

Federal VALDEMAR COSTA NETO em São Pau lo /SP; Que n ã o

s a b e d i z e r d e q u e t r a t a v a m t a i s d o c u m e n t o s ; ( . . . ) "

Assim. JACINTO LAMAS admite ter atuado reiteradas vezes como

intermediário de VALDEMAR COSTA NETO no recebimento do dinheiro encaminhado pelo

PT para o PL, via SMP&B e BANCO RURAL.

O depoimento demonstra, ainda, que JACINTO LAMAS agiu de modo

consciente, tendo, inclusive, comparecido a sede da SMP&B em Belo Horizonte e em Brasília,

para reuniões com o próprio MARCOS VALERIO e para o recebimento de alguns dos repasses

de valores em espécie.

Page 97: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Rjz4e.W NU&& I n q 2.245 / MG 0 1 2 0 4 3

Tudo isto demonstra a plausibilidade da acusação de lavagem de dinheiro, ao

menos para dar inicio à persecuqão penal, uma vez que a conduta do acusado preenche o tipo

objetivo do art. 1' da Lei no 9.613198, não estando afastada, de plano, a configuração do dolo

de cometimento do delito.

Relativamente ao acusado VALDEMAR COSTA NETO, seu depoimento de

fls. 137611385 (volume 6) traz os seguintes esclarecimentos:

"Que , em j a n e i r o d e 2003, DELÚBIO SOARES

comunicou ao DECLARANTE que f a r i a um emprést imo para

começas a pagar a s d í v i d a s do P a r t i d o dos

Trabalhadores; Que , em f e v e r e i r o d e 2003, em uma

r e u n i ã o e m São P a u l o , DELÚBIO SOARES i n f o r m o u a o

DECLARANTE: "- Valdemar, dá um p u l o em B e l o Hor i zon te ,

ou manda alguém d e sua con f i ança nesse endereço , na

SMP&B, e procura dona SIMONE"; Q u e o DECLARANTE

perguntou se s e r i a o f i c i a l este r e p a s s e ; Q u e DELÚBIO

SOARES d i s s e : "-Vai l á que eles vão t e e x p l i c a r " , sem

d a r m a i s e x p l i c a ç õ e s ; Q u e o DECLAWINIIE s o l i c i t o u a

JACINTO LAMAS que este se d i r i g i s s e a B e l o

Horizonte/MG, p o i s e s t a v a e m n e g o c i a ç õ e s com DELÚBIO

SOARES p a r a o p a g a m e n t o d a s d í v i d a s c o n t r a í d a s

p e s s o a l m e n t e p e l o DECLARANTE em r a z ã o d o s e g u n d o t u r n o

da campanha p r e s i d e n c i a l ; Que o DECJARANIIE comentou

com JACINTO LAMAS que estes pagamentos eram referentes

à d í v i d a que o DECLARANTE c o n t r a í r a em razão da

campanha do segundo t u r n o das e l e i ç õ e s p r e s i d e n c i a i s

em São Paulo; Q u e JACINTO LAMAS se d i r i g i u à s e d e da

SMP&B em B e l o H o r i z o n t e e f a l o u com SIMONE, q u e l h e

e n t r e g o u um e n v e l o p e ; Q u e o DECLARANTE r e c e b e u a

l i g a ç ã o d e JACINTO LAMAS, i n f o r m a n d o o r e c e b i m e n t o da

Page 98: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

encomenda; Que o DECLARANTE p e r g u n t o u se e r a d i n h e i r o

e LAMAS i n f o r m o u q u e se t r a t a v a d e um e n v e l o p e

l a c r a d o ; Que como JACINTO LAMAS i r i a a São P a u l o , o

DECLARANTE s o l i c i t o u q u e e s t e d e i x a s s e o e n v e l o p e em

s e u a p a r t a m e n t o ; Q u e , chegando em São Pau lo , o

DECLARANTE a b r i u o e n v e l o p e , q u e c o n t i n h a um cheque de

R$ 500 m i l da SMP&B em favor da GUARilNMNS; Q u e ,

r e a l m e n t e , tem dúvidas se este primeiro cheque era no

valor de R$ 500 m i l ou R$ 800 mil; ( . . . ) Que o

DECLARANTE n ã o e n t e n d e u , l i g o u para D E L ~ B I O SOARES e

f o i à s e d e d o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s ; Q u e , l á ,

a p r e s e n t o u o c h e q u e a DELÚBIO SOARES, q u e n ã o s o u b e

i n f o r m a r a r e s p e i t o , e se r e t i r o u da s a l a para f a z e r

uma l i g a ç ã o t e l e f ô n i c a ; Que o DECLARANTE n ã o s a b e para

quem f o i a l i g a ç ã o ; Q u e , a p ó s o t e l e f o n e m a , DELÚBIO

SOARES i n f o r m o u q u e i r i a m efetuar o resgate do cheque

com o DECLARANTE no d i a seguinte, em São Pau lo ; Que

não informou quem i r i a efetuar o resgate do cheque,

nem o DECLüRANTE perguntou; Que, no d i a seguinte, no

horário marcado, foram dois cidadãos ao apartamento do

DECLüRANTE, perguntaram pelo cheque e lhe fizeram a

entrega de R$ 500 mil em troca do cheque; Que n ã o s a b e

i n f o r m a r o nome d a s p e s s o a s , porém a c r e d i t a que s e jam

s e g u r a n ç a s ; Q u e , posteriormente, houve o mesmo

procedimento: L A M T G fo i à sede Da W & B , recebeu um

envelope lacrado e telefonou ao DECLARANTE, que

solicitou que o envelope fosse entregue em São Paulo;

Que o e n v e l o p e c o n t i n h a outro cheque de R$ 500 mil

para a GUARilNMN.5; Que LAMAS também n ã o s a b i a que este

n o v o e n v e l o p e c o n t e r i a um c h e q u e nomina l à GUARANHUW;

Que LAMAS e n t r e g o u o e n v e l o p e l a c r a d o para o

Page 99: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&$k=wm Q%i&&& Inq 2.245 / MG

012045 DECLARANTE em s e u f l a t e m São Paulo /SP; Que o

DECLARANTE i n f o r m o u a DELÚBIo SOARES que n ã o f a r i a

s e n t i d o n o v o r e s g a t e , e nem q u e r i a m a i s receber d e s t a

forma; Que, mesmo a s s i m , o resgate foi efetuado da

mesma forma no d i a seguinte; Que, da mesma forma, fo i

efetuado um terceiro pagamento, com um cheque no valor

de R$ 200 mil nominal à GUARANHUNS; Que es te c h e q u e

também f o i b u s c a d o p o r LAMAS na s e d e da SMP&B em B e l o

Horizonte /MG; Que LAMAS r e c e b e u o u t r o e n v e l o p e l a c r a d o

sem s a b e r o q u e h a v i a e m s e u i n t e r i o r ; Que o

DECLARANTE q u e i x o u - s e , n o v a m e n t e , a DELÚBIO SOARES,

q u e i n f o r m o u q u e e s t a s e r i a a ú l t i m a v e z ; Que o

r e s g a t e d o c h e q u e f o i e f e t u a d o da mesma forma n o d i a

s e g u i n t e ; Que o DECLARANTE acredita que os portadores

do numerário não eram sempre os mesmos, apesar de

achar que eram seguranças, possivelmente de casas de

câmbio; Que n ã o t em c o n d i ç õ e s d e d e s c r e v e r t a i s

p e s s o a s , mas a c r e d i t a que o s mesmos p o s s u i a m a p a r ê n c i a

d e p o l i c i a i s ; Q u e , duas semanas após este terceiro

cheque, fo i ao encontro de DELÚBIO SOARES na sede do

PT/SP; Que DELÚBIO SOARES ligou para MARCOS VALÉRIO

diante do DECLARANTE, e mandou que fosse efetuado o

pagamento de R$ 500 mil em dinheiro, diretamente ao

DECLARANTE, em seu apartamento; Que este pagamento em

espécie se repetiu por mais três vezes, num total de

R$ 2 milhões; Que os sete pagamentos supracitados

ocorreram entre fevereiro e a b r i l de 2003, totalizando

R$ 3,2 milhões; Que h o u v e uma i n t e r r u p ç ã o n o s

pagamentos a t é j u l h o d e 2003 ; Que, a p a r t i r d o s egundo

semestre d e 2 0 0 3 , DELÚBIO SOARES i n f o r m o u que v o l t a r i a

a e f e t u a r o s pagamen tos ; Que a s s i m , conforme

Page 100: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&e &&NU Inq 2 . 2 4 5 / MG

or ien tação d e DELÚBIO SOARES, JACINTO LAMAS e f e t u o u

uma l i g a ç ã o para SIMONE, que informou o l o c a l em um

h o t e l em B r a s i l i a , onde este receber ia o v a l o r

informado por DELÚBIO SOARES; ( . . . ) Q u e , d e s t a f o r m a ,

foram e f e t u a d o s três pagamentos a JACINTO LAMAS, em

ho té i s c u j o n o m e o DECLARANTE n ã o s a b e i n f o r m a r ; Que

os três p a g a m e n t o s f o r a m e f e t u a d o s por SIMONE a

JACINTO LAMAS, q u e r e p a s s a v a os e n v e l o p e s , p a c o t e s o u ,

e v e n t u a l m e n t e , s a c o l a s d e l o n a d i r e t a m e n t e a o

DECLARANTE; Q u e JACINTO LAMAS não c o n f e r i a o conteúdo,

apesar de saber do quê se t r a t a v a ; Que houve mais um

pagamento, também em e s p é c i e , da mesma forma, e f e tuado

no apartamento do DECL?iRANIPE em São Paulo, por duas

pessoas que aparentavam ser seguranças; Q u e o

DECLARANTE n ã o s a b e p r e c i s a r o v a l o r d e c a d a um d e s t e s

q u a t r o p a g a m e n t o s , p o r é m a f i r m a q u e o t o t a l d e s t e s f o i

de R$ 1 , 6 mi lhões; Que houve ou t ra s é r i e de pagamentos

e f e tuados na Agência B r a s i l i a do Banco Rural , e n t r e

setembro de 2003 e jane iro de 2004, sempre sob

or ien tação de DELÚBIO SOARES; Q u e , como d e c o s t u m e ,

es te s o l i c i t a v a p a r a e n t r a r em c o n t a t o com SIMONE, q u e

d a r i a os d e t a l h e s d o s a q u e ; Q u e o DECLARANTE s e m p r e

o r i e n t a v a JACINTO LAMAS a e n t r a r em c o n t a t o com

SIMONE; Que a or ien tação de SIMONE e ra a de se d i r i g i r

à Agência B r a s i l i a do Banco Rural , onde o s pagamentos

seriam e fe tuados pessoalmente por e l a ; Q u e o t o t a l

d e s t a série f o i d e R$ 1 , 7 m i l h õ e s ; Q u e a s e n t r e g a s d o s

p a g a m e n t o s s e m p r e f o r a m e f e t u a d a s por JACINTO LAMAS

d i r e t a m e n t e n a r e s i d ê n c i a d o DECLARANTE, n u n c a

r e c e b e n d o em s e u G a b i n e t e n a Câmara d o s D e p u t a d o s o u

n a s e d e d o P a r t i d o L i b e r a l ; ( . . . ) Q u e o t o t a l recebido

Page 101: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+H&&& Inq 2 . 2 4 5 / M G 012047

f o i d e R$ 6,5 m i l h õ e s , e não o s R$ 10,8 c o n s t a n t e s n a

r e f e r i d a l i s t a ; ( . . . ) Q u e , a época d e t o d o s os

r e p a s s e s d e r e c u r s o s a o PL a t r a v é s da SMPfiB, o

t e s o u r e i r o d o P a r t i d o e r a JACINTO LAMAS; Que,

pergun tado p o r que JACINTO LAMAS, t e s o u r e i r o , não

p a r t i c i p a v a da c o n t a b i l i z a ç ã o d e t a i s v a l o r e s , o

DECL?iR?WTE a f i r m a que, uma vez que desde o p r i m e i r o

momento d e s c o n f i o u da forma como o s r e p a s s e s eram

e f e t u a d o s , não quis e n v o l v e r ninguém do PL; Que o s

pagamentos não foram lançados na p r e s t a ç ã o de c o n t a s

d o PL j u n t o à J u s t i ç a E l e i t o r a l ; Que o DECLARANTE

a l e g a q u e DELÚBIO SOARES lhe in formara que não s a b i a

como d e c l a r a r i a a o r igem dos r e c u r s o s naque le momento;

Que o s R$ 10 m i l h õ e s i n i c i a l m e n t e ace r tados com o PT

por i n t e r m é d i o d e DELÚBIO SOARES s e r i a m d e s t i n a d o s à

b a s e e l e i t o r a l nos Es tados , com a f i n a l i d a d e d e

g a r a n t i r a c l á u s u l a p a r t i d á r i a d e 5%; Que não r e c e b e u

q u a l q u e r q u a n t i a r e f e r e n t e a estes R$ 10 m i l h õ e s ; Que,

n o s egundo t u r n o d a s e l e i ç õ e s , a s s u m i u d i v i d a s n o

m o n t a n t e d e R$ 6,s m i l h õ e s , que p o s t e r i o r m e n t e foram

r e p a s s a d o s a t r a v é s da SMP&B, c o n f o r m e acima r e l a t a d o ;

Que nunca t i n h a o u v i d o f a l a r da GUARANHUNS e não t i n h a

q u a i s q u e r n e g ó c i o s com e s t a empresa ou JOÃO CARLOS

BATISTA; ( . . . )

Entretanto, Marcos Valério; em seu depoimento de fls. 145411465 (volume 7):

"Que a empresa GU-S

E M P ~ ~ ~ ~ O S , INTERMEDIAÇ~ES E PARTICIPAÇ~ES

S/C LTDA f o i i n d i c a d a p e l o D r . JACINTO LAMAS em um

e n c o n t r o o c o r r i d o no i n i c i o d e f e v e r e i r o d e 2003,

na s ede da SMP&B em B e l o Horizonte/MG; Que JACINTO

Page 102: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

LAMAS a f i rmou que a empresa GUARAAWVNS e r a d e

c o n f i a n ç a do Deputado Federal VALDEMAR COSTA NETO;

Que JACINTO LAMAS n ã o chegou a m e n c i o n a r quem

s e r i a m os p r o p r i e t á r i o s o u r e s p o n s á v e i s p e l a

empresa GUARANHUNS; Que JACINTO LAMAS n ã o chegou a

m e n c i o n a r quem s e r i a m os p r o p r i e t á r i o s ou

r e s p o n s á v e i s p e l a empresa GUARANHUNS; Que JACINTO

LAMAS s o l i c i t o u a o DECMRANl'E a a s s i n a t u r a d e um

c o n t r a t o com a GUARAhWüNS d e i n t e n u e d i a ç ã o d e

a q u i s i ç ã o d e a t i v o s f i n a n c e i r o s ; Que a s s i n o u

r e f e r i d o c o n t r a t o , c u j a c ó p i a apre sen ta neste

momen.to para ser juntada a o s a u t o s , para

j u s t i f i c a r a en t rada d e r e c u r s o s na c o n t a b i l i d a d e

da GUARAhWüNS; Que f o i r e p a s s a d o o m o n t a n t e d e R$

6.037.500,OO para a GUARANHUNS, s e n d o que o

c o n t r a t o menc ionado t i n h a p o r o b j e t o a

i n t e r m e d i a ç ã o d e c e r t i f i c a d o s d e p a r t i c i p a ç ã o em

r e f l o r e s t a m e n t o s a v a l i a d o s em R$ 10 m i l h õ e s ; Q u e ,

quando a s s i n o u r e f e r i d o c o n t r a t o , j á c o n s t a v a a

a s s i n a t u r a da t e s t e m u n h a RENATO, s e n d o q u e c o u b e à

SMP&B a i n d i c a ç ã o d e FERNANDO PEREIRA para a t u a r

como a segunda t e s t e m u n h a ; Que r e f e r i d o c o n t r a t o

f o i e n t r e g u e à SMP&B p e l o p r ó p r i o JACINTO LAMAS,

j u n t a m e n t e com os t í t u l o s d e r e f l o r e s t a m e n t o q u e

s e r i a m o b j e t o d o c o n t r a t o ; Que e n t r e g a n e s t e

momento o s c e r t i f i c a d o s d e p a r t i c i p a ç ã o e

r e f l o r e s t a m e n t o r e l a c i o n a d o s n a s d u a s l i s t a s q u e

acompanham o c o n t r a t o f i r m a d o com a GUARANHUNS;

Que a p r e s e n t o u o r e f e r i d o c o n t r a t o para o setor

j u r í d i c o da SMP&B, q u e se r e c u s o u a a u t o r i z a r o

l a n ç a m e n t o d o c o n t r a t o na c o n t a b i l i d a d e da

Page 103: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@+ N-&u inq 2.245 / MG 0 1 2 0 4 9

empresa ; Que o se tor j u r í d i c o c o n s i d e r o u q u e

r e f e r i d o c o n t r a t o n ã o p o s s u í a os e l e m e n t o s d e

v e r a c i d a d e , podendo c a u s a r f u t u r o s p rob l emas

f i s c a i s para a SMP&B; Que d e c i d i u q u e os r e p a s s e s

à GUARANHUNS fo s sem con t a b i l i z a d o s na c o n t a

"EMPRÉSTIMOS AO PT"; Que t o d a s a s n e g o c i a ç õ e s q u e

m a n t e v e com JACINTO LAMAS eram r e p o r t a d a s a o

t e s o u r e i r o d o PT, DELÚBIO SOARES; Que a s r e m e s s a s

q u e r e a l i z o u para a empresa GUARANHUNS foram

e f e t i v a d a s a t r a v é s d e t r a n s f e r ê n c i a s b a n c á r i a s ou

p o r c h e q u e s e m i t i d o s n o m i n a l m e n t e à r e f e r i d a

empresa ; Que os c h e q u e s e m i t i d o s em nome da

GUARANHUNS eram e n t r e g u e s a p e s s o a s i n d i c a d a s

p e l o s S r s . VALDEMAR COSTA NETO e JACINTO LAMAS;

( . . . ) Que a p ó s receber a d e t e r m i n a ç ã o d e DELÚBIO

SOARES para r e a l i z a ç ã o d e r e p a s s e a o P L , o

DECLARANTE e n t r a v a em c o n t a t o com JACINTO LAMAS e

i n f o r m a v a da d i s p o n i b i l i z a ç ã o d o r e c u r s o ; Que

geralmente se encontrava com JACINTO LAMAS na sede

do PL no Anexo do Congresso Nacional; Q u e , nos

encontros com JACINTO LAMAS informava a forma de

recebimento dos recursos destinados ao PL por

DEL~BIO SOARES; QUE os c h e q u e s e m i t i d o s em nome da

GUARANHUNS eram e n t r e g u e s a JACINTO LAMAS ou a

e m i s s á r i o s i n d i c a d o s p e l o mesmo q u e compareciam na

s e d e da SMP&B; Q u e , após receberem os cheques

nominais à GUARANEWNS, JACINTO LAMAS ou seus

emissários retomavam imediatamente para São

Paulo/SP; Que, d e n t r e es tes e m i s s á r i o s , pode citar

ANTÔNIO LAMAS; Que ANTÔNIO LAMAS, além de receber

recursos na agência Brasilia do Banco Rural, foi

Page 104: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

fl&&& Inq 2 .245 / MG 012059

algumas vezes à sede da SMP&B em Belo Horizonte/MG

buscar cheques nominais à GUARANHüNS; Que não

conhece nenhum sóc io ou representante da

GUARANHUNS; Que nunca e s t e v e ou conversou, mesmo

ao t e l e f o n e , com os S r s . JOSÉ CARLOS BATISTA,

LÚCIO BOLONHA FUNARO ou JOSÉ ROBERTO FUNARO; Que,

do t o t a l repassado ao Par t ido L ibera l , pode

a f i rmar que R$ 6.037.500,OO foram a t r a v é s da

GUARANHüNS; Que o r e s t a n t e dos recursos

encaminhados ao Par t ido L ibera l , confonne re lação

apresentada, foram entregues em d i n h e i r o a

mensageiros da r e f e r i d a agremiação;"

Por sua vez, o colaborador LÚCIO FUNARO confirmou, em seu primeiro

depoimento no Ministério Público Federal, que os repasses a GUARANHUNS foram

determinados por VALDEMAR COSTA NETO, fazendo os seguintes esclarecimentos (Anexo

da denúncia, Apenso 81, fls. 44/55):

Que, no ano de 1992, o depoente c o n s t i t u i u

as seguintes empresas: PLUS INVEST FOMENTO COMERCIAL

LTDA., que apenas f o i u t i l i z a d a no ano de 1992, e

permanece i n a t i v a desde então; TLL AGROPECUÁRIA E

REFLORESTAMENTO, c o n s t i t u í d a em 1992 e que nunca f o i

u t i l i z a d a , também permanecendo na s i tuação de i n a t i v a ;

G U . S EMPREENDIMENTOS, I N ~ R M E D I A Ç Õ E S E

PARTICIPAÇÕES S/C LTDA., c o n s t i t u í d a em 1 9 9 9 , que f o i

t r a n s f e r i d a p e l o depoente ao s ó c i o JOSÉ CARLOS BATISTA

no ano de 2001, que atuou como "laranja" do depoente

desde en tão , sendo que r e f e r i d a empresa não f o i mais

u t i l i z a d a desde novembro de 2003; V I S C A I A COBRANÇAS E

INTERMEDIAÇÕES LTDA., cons t i tu ída no ano de 2000, que

Page 105: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

permanece a t i v a a t é a presente d a t a ; ERSTE BANKING

EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES S / C LTDA., a t u a l

STOCOS AVENDIS E . B . EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÓES

LTDA. , cons t i tu ída no ano de 2 0 0 1 , ainda a t i v a ;

ROYSTER SERVIÇOS S / A , cons t i tu ída no ano de 2003,

ainda a t i v a ; ( . . . ) Que, quanto à atuação operacional

do depoente e de suas empresas, esclarece que sempre

teve f a c i l i d a d e para a t u a r no mercado p a r a l e l o ,

sobre tudo em f a ce da r e s t r i ç ã o d e c r é d i t o existente n o

mercado o f i c i a l , em razão das a l t a s taxas de juros

prat icadas pe lo Governo Federal; (. . .) Que sempre

atuou dentro das normas do mercado, a t r a v é s das

c o r r e t o r a s : AGORA, FATOR, TECA, UMUARAMA, FAIR, STOK

MAXIMA, NOVAÇÃO, LAETA, CRUZEIRO DO SUL, SÂO PAULO e

BÔPIUS BANVAL; ( . . . ) Que, no caso da inves t igação em

curso no âmbito da CPMI e do Inquér i to mencionados, o

depoente e s c l a r e c e que, n a meta* d o ano d e 2002, fo i

procurado p o r um empresár io da c idade d e Mogi das

Cruze s , amigo d o depoen te e do Deputado Federal

VALDEUAü COSTA NETO; Que o mesmo s o l i c i t o u se o

depoente t e r i a condições de empres tar a o Deputado a

q u a n t i a d e R$ 3.000.000,00 (três m i l h õ e s d e r e a i s ) ,

com i n t u i t o d e pagar fornecedores da campanha à

P r e s i d ê n c i a d o S r . L u í s I n á c i o Lula da S i l v a ,

c o l i g a ç ã o PL-PT; ( . . . ) Que o depoente não se recorda o

nome desses fornecedores, sabendo que são do ramo,

basicamente, de g r á f i c a , s i l k screen e pessoal para a

boca de urna, mas s e compromete a procurar e s s e s nomes

e apresentar a contabi l idade desses pagamentos; Que

tem cer teza que o Deputado VALDEMAR COSTA NETO só

tomou t a l a t i t u d e por r e s p e i t o a seus fornecedores e

Page 106: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

c&- H&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

credibilidade do seu nome, porque o PT não repassou

den t ro do cronograma o s recursos pré-acordados; Que,

no ano de 2003, o mesmo empresário lhe procurou, com o

objetivo de saldar o compromisso do Deputado acima

citado; Que o mesmo pediu para que o depoente

i n d i c a s s e uma conta para se e f e t u a r o s c r é d i t o s e para

emissão de a lguns cheques admin i s t ra t i vos , com o

o b j e t i v o de se q u i t a r o d é b i t o acumulado a t é aquele

momento, já acresc ido de juros , que e r a em t o rno d e R$

4.200.000,OO; Que a sistemática de transferência dos

R$ 3.000.000,00 originários foi a seguinte: o

empresário que intermediou o empréstimo indicava o

endereço para a en trega do d i n h e i r o em e s p é c i e , que o

depoente af irma ser de fornecedores; Que o depoente

informava aos d o l e i r o s mencionados esses endereços,

para que f o s s e e fe tuada a en trega dos recursosz7; Que

o controle desses pagamentos, acredl ta o depoente

esteja sob responsabllldade do PL; ( . . . ) Que o s

c r é d i t o s de pagamento do r e f e r i d o empréstimo foram

e fe tuados na conta da empresa GUARAhWüNS no banco

Sudameris, indicada p e l o depoente , e a t r a v é s de alguns

cheques admin i s t ra t i vos do banco Rural , que foram

endossados ou deposi tados na conta da r e f e r i d a

empresa; Que os cheques chegaram à mão do dec larante

a t r a v é s de portadores , o s qua i s o mesmo desconhece;

Que o total perfaz mais ou menos quatro milhões e meio

de reais; Que, quando o s c r é d i t o s iam ser e fe tuados em

con tas , uma pessoa entrava em con ta to com o S r . José

Carlos B a t i s t a , que informava ao depoente o v a l o r do

21 Ocorre que, como visto no depoimento de VALDEMAR COSTA NETO, anteriormente citado, as entregas de dinheiro em espécie foram feitas para ele, VALDEMAR,

Page 107: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

I n q 2 .245 / MG

r e f e r i d o ; Que n u n c a c o n h e c e u MARCOS VALÉRIO nem

nenhuma d e s u a s e m p r e s a s ; Que a c r e d i t a que a pessoa

que e n t r a v a em c o n t a t o com o S r . JOSÉ CARLOS BATISTA

s e j a alguém d o grupo SMP&B ou do PT; ( . . . ) Q u e , após a

e c l o s ã o d o escândalo , o r e p r e s e n t a n t e do S r . MARCOS

KUlh10, denominado FERNANDO, procurou o d e c l a r a n t e

com o o b j e t i v o d e e l a b o r a r um c o n t r a t o para d a r or igem

a s s a í d a s d e r e c u r s o s da SME'&B para a Guaranhuns; Q u e

o mesmo a f i rmou a o depoen t e que o problema e s t a v a

equacionado, pois o S r . MARCOS KUlh10 gozava d e

grande i n f l u ê n c i a em t o d a s a s á r e a s do Governo, em

órgãos como P o l i c i a Federa l , R e c e i t a Federa l , Banco

C e n t r a l ; Q u e o d e p o e n t e t i n h a em s e u p o d e r

c e r t i f i c a d o s d e r e f l o r e s t a m e n t o ( c a u t e l a s o f i c i a i s

c h a n c e l a d a s pe lo B a n c o d o B r a s i l ) , s e m l i q u i d e 2 e d e

d i f í c i l " p r e c i f i c a ç ã o " ; Q u e , e n t ã o , propôs ao mesmo

que, a o invés d e mútuo, f i z e s s e m um c o n t r a t o de

i n t e rmed iação d e compra dos -t í tulos acima, para

j u s t i f i c a r a s a í d a d o c a i x a da SMP&B e a en t rada na

c o n t a da GiJARAiWüNS; Que o S r . FERNANDO, s u p o s t a m e n t e

um c o n t a d o r d e MARCOS VALÉRIO, e l a b o r o u o c o n t r a t o e

e n v i o u j á a s s i n a d o pe lo S r . MARCOS VALÉRIO, p a r a a

a s s i n a t u r a d o r e p r e s e n t a n t e d a GUARANHUNS ( S r . JOSÉ

CARLOS BATIST A)" ; Q u e , p e l o f a t o d e o depoen te

encon t ra r - s e fora d o B r a s i l naque la o c a s i ã o , ou s e j a ,

j u l h o d e 2005, o S r . JOSÉ CA.RL0.S BATISTA recebeu o

c o n t r a t o e, por ordem d o depoen t e , a s s i n o u o r e f e r i d o

c o n t r a t o ; ( . . . ) Q u e , p o r esse c o n t r a t o , a empresa

SMP&B e s t a r i a pagando à GiJARANHüNS 10 m i l h õ e s d e r e a i s

em seu apar tamento, p o r d o i s c i d a d ã o s que e l e a c r e d i t a v a serem seguranças de d o l e i r o s ( v . f l s . 1 3 7 6 ) .

Page 108: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@+ flu&u Inq 2 . 2 4 5 / MG

012?5 f pela suposta intermediação da compra dos t i t u l o s pela

GUARANHUNS no mercado e o repasse das caute las para a

SMP&B; Que, d e p o s s e d a s c a u t e l a s , a SMP&B p o d e r i a

j u s t i f i c a r a s saidas do seu caixa e a GUARAiWUNS, o

recebimento dos respec t i vos T E D ' s e cheques

adminis tra t ivos que to ta l i zaram R$ 4 , 5 milhões; ( . . . ) Que, n o c o n t r a t o d e i n t e r m e d i a ç ã o , c o n s t a o v a l o r d e

aprox imadamen te R$ 10 m i l h õ e s , v a l o r esse p o s t o d e má-

fé p e l o S r . MARCOS VALÉRIO, que j á s a b i a

a n t e c i p a d a m e n t e q u e u t i l i z a r a o nome da empresa

GVARANHUNS i n d e v i d a m e n t e , para j u s t i f i c a r s a í d a s d e

s e u c a i x a ; Q u e , por se t r a t a r d e pessoa simples, e

considerando que o depoente não estava presente, o S r .

JOSÉ CARLOS assinou r e f e r i d o contrato , sem aten tar

para a questão do v a l o g g ; Que a p r o p o s t a d o

i n t e r m e d i á r i o d e MARCOS VALÉRIO e r a a c e l e b r a ç ã o d e um

c o n t r a t o d e mú tuo ; ( . . . ) "

Como se nota, os procedimentos de simulação de contratos foram

constantemente utilizados para ocultar a origem, destino e localização dos valores provenientes,

supostamente, dos ilícitos narrados na denúncia.

Ainda de acordo com FUNARO, os alegados 'cempréstimos" concedidos a

VALDEMAR COSTA NETO teriam seguido o seguinte procedimento (Anexo da denúncia,

Apenso no 81, fls. 13/17 do processo em meio eletrônico):

"Que reafirma ter emprestado, em setembro

d e 2002, R$ 3 . 0 0 0 . 0 0 0 , 0 0 ao ex-Deputado Federal

VALDEMAR COSTA NETO a t e n d e n d o a o p e d i d o d e um

28 Diferentemente, MARCOS VALÉRIO afirmou ter recebido o contrato já assinado pelo representante da GUARANHUNS, só depois lançando sua assinatura.

Page 109: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

empresár io comum; Que ter ia r e spa ldo f i n a n c e i r o

s u f i c i e n t e para a r c a r com o Ônus do empréstimo e m caso

d e inad implênc ia do ex-Deputado Valdemar Costa Neto;

Que o emprést imo f o i d i v i d i d o e n t r e t r ê s p e s s o a s , a

saber : o depoen t e , o S r . Richard O t t e r l l o o e o

empresár io Á l varo Assunção; Que o emprést imo f o i

concedido em t r ê s p a r c e l a s d e R$ 1.000.000,00,

en tregues p e l o S r . José Car los B a t i s t a ou algum

l i q u i d a n t e do S r . Richard O t t e r l l o o na sede do Par t ido

L iberal em Mogi das Cruzes/SP ou São Paulo/SP, em

e s p é c i e , empacotados em enve lopes ( . . . ) ; Que, ne s sa

d a t a , o depoen te não conhecia o ex-Deputado VALDEMAR

COSTA NETO; ( . . . ) Que, a p a r t i r de f e v e r e i r o de 2003,

f o i procurado p e l o empresár io , para que o d é b i t o

começasse a s e r qu i t ado ; Que, a p a r t i r dessa d a t a , o

depoen te começou a r eceber cheques a d m i n i s t r a t i v o s

nominais à empresa Guaranhuns Empreendimentos e

P a r t i c i p a ç õ e s para a q u i t a ç ã o do emprést imo; ( . . . ) Que

durante esse período, no ano de 2003, o depoente

repassava um percentual dos pagamentos amortizados com

o s cheques da SMP&B ao Par t ido L ibera l , que var iava

semana a semana . . . ; Que e s s e r epas se era e f e t u a d o

semanalmente à s s e x t a s - f e i r a s , porque era informado ao

depoente que o Deputado VALDEMAR COSTA NETO

necess i tava dos recursos para t ranspor tar para

B r a s i l i a ( . . ) ; Que o s v a l o r e s repassados no ano d e

2003 per fazem o montante aproximado d e R$

3.100.000,00, a uma taxa de 2% para a t roca de cheques

ou T E D ' s o r i g i n á r i o s da SMP&B por d i n h e i r o em e s p é c i e

para o ex-Deputado VALDEMAR COSTA NETO; ( . . . ) Que, na

2 9 Note-se que o depoente , l i n h a s a t r á s , afirmou que J O S ~ CARLOS BATISTA

Page 110: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R+&mw I n q 2.245 / MG

012C55 conta do depoente e em cheques acànin i s t ra t ivos

nominais à empresa Guaranhuns, c i r c u l o u o montante

aproximado d e R$ 6.500.000,00, sendo R$ 3.500.000,00,

aproximadamente, para q u i t a r o emprést imo o r i g i n á r i o

d e R$ 3.100.000,00, f e i to p e l o depoente ao e%-Deputado

VALDEMAR COSTA NETO, e o restante3' f o i passado em

e s p é c i e ao S r . Tadeu Candelár ia na s ede d o PL em Mogi

das Cruzes , na maior ia das v e z e s p e l o S r . José Car los

B a t i s t a . . . ; Que apresenta cópia de e x t r a t o s da

con ta consignada ao empresário, para que o ex-Deputado

VALDEMAR COSTA NETO fizesse os créditos para

abat imento dos emprést imos e q u i t a s s e o s saques

e f e t u a d o s em e s p é c i e no período; Que os v a l o r e s

des tacados em vermelho re ferem-se a t r a n s f e r ê n c i a s

e f e t u a d a s p e l a SMP&B em favor do Deputado VALDEMAR

COSTA NETO na c o n t a b i l i d a d e i n t e r n a do dec laran te ; Que

apresenta também uma plani lha com a indicação de todos

os r e c u r s o s r e c e b i d o s por ordem d o ex-Deputado

*VALDEMAR COSTA NETO na con ta acima c i t a & , por meio de

t rans ferênc ias e l e t r ô n i c a s , to ta l i zando R$

3.172.846,41, no período de 04/06/2003 a 27/08/2003;

Que, nessa p lan i lha , também cons ta a i nd i cação dos

pagamentos e f e t u a d o s por VALDEMAR por meio de cheques

p e foram repassados p e l o depoente aos t e r c e i r o s

i nd i cados na mesma p l a n i l h a ; Que, em s í n t e s e : criou-se

uma conta devedora, no valor de R$ 3.000.000,00 no mês

de setembro de 2002, que f o i acrescida de juros da

ordem de 3% ao mês, con ta e s s a que f o i sendo deb i tada

d e juros e saques em e s p é c i e do ex-Deputado VALDEMAR

COSTA NETO e c r e d i t a d a dos r e p a s s e s e f e t u a d o s na con ta

-~ -

assinou o c o n t r a t o por ordem do própr io depoente.

Page 111: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

corren te da empresa Guaranhuns no banco Sudameris e

dos cheques a d m i n i s t r a t i v o s en tregues ao depoente e

endossados p e l o S r . José Car los B a t i s t a e repassados a

t e r c e i r o s ; Que os cheques eram entregues por boys - ou

r e t i r a d o s no escritório da empresa do i n t e r v e n i e n t e ;

Que r e s s a l t a o depoente que pode haver alguma

dlscrepâncla de va lores e m razão da ln tensa

movlmentaçáo f inanceira e da f a l t a de dados para a

v e r l f l c a ç ã o ; Que, ( . . . ) em 2004 f o i s o l i c i t a d o a f a z e r

novo empréstimo de R$ 3.000.000,00 ao ex-Deputado

VALDEMAR COSTA NETO, mas que a metodologia dos

pagamentos f o i a l t e r a d a , ao i n v é s de depós i tos em

conta corren te ou cheques a d m i n i s t r a t i v o s , o S r . Tadeu

Candelária providenciava a entrega dos r e s p e c t i v o s

v a l o r e s em espéc ie ao depoente durante o ano de 2005;

( . . . ) Que conheceu VALDEMAR COSTA NETO no mês de

setembro de 2004, apresentado p e l o empresário que

intermediou o empréstimo, na sede do PL, em São Paulo;

( . . . ) Que manteve contato com o ex-Deputado VALDEMAR

COSTA NETO a t é janeiro de 2006, enquanto t en tava

receber o sa ldo do empréstimo e f e tuado em setembro de

2004; Que, após essa da ta , rompeu com o mesmo, assim

como com o advogado que representava a ambos perante o

S T F , D r . Marcelo Bessa; Que e s t á no aguardo das

ins t ruções de seus advogados c i v i l i s t a s com a in tenção

de en t rar com ação contra o Partido Liberal e o ex-

Deputado VALDEMAR COSTA NETO, a f i m de ser ressarc ido

dos seus pre ju í zos morais e f i nance i ros .

'O Funcionário da tesouraria do PL.

Page 112: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@ . $ &zLLmd&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

012058

Conforme sustentado pelo Procurador-Geral da República, e confirmado pelos

elucidativos depoimentos que acabo de ler, há indícios de que os denunciados - não só do item

ora analisado, mas também de outros itens da denúncia - estavam profundamente

organizados e possuíam relações complexas uns com os outros, o que indica a comunhão de

desígnios entre eles.

Resta claro, portanto, que há indícios da prática dos crimes de lavagem de

dinheiro e formação de quadrilha.

Corrobora esta afirmação o fato de que os donos da empresa GUARANHUNS

e colaboradores do Ministério Público Federal, LÚCIO FUNARO e JOSÉ CARLOS BATISTA,

já conheciam e seriam colegas .de ENIVALDO QUADRADO, dono da empresa BÔNUS

BANVAL, este também denunciado, como vimos no capítulo VIA, por ter, supostamente,

disponibilizado sua empresa para realizar lavagem de dinheiro, em suposto conluio com

parlamentares do PP beneficiados, em tese, pelos recursos encaminhados pelo PT através de

MARCOS VALÉRIO (v. item anterior).

Neste sentido, leio, em primeiro lugar, depoimento de ENIVALDO

QUADRADO (fls. 1430, volume 6), no qual afirma conhecer os colaboradores LÚCIO

FUNARO e JOSÉ CARLOS BATISTA, embora negue ter relação de amizade com os mesmos:

"Que há anos JOÃO CARLOS BATISTA^' aplicou

como investidor na corretora BÔNUS &9NVAL, por um

c u r t o período, como representante da LAETA CORRETORA;

Que não possui r e lações de amlzade ou negocia is com

JOSÉ CARLOS BATISTA, tampouco chegou a conhecê-lo; Que

a empresa ESFORT TRADING AS nunca f o l c l i e n t e ou

manteve quaisquer conta tos negocla is com a corretora

Page 113: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

, I n q 2 .245 / MG

BÔNUS BANVAL; Que conhece LÚCIO BOLONHA FUNARO,

r e p r e s e n t a n t e d e duas c o r r e t o r a s em São Paulo/SP; Que

e s t e conhecimento se limita a conhecimento de mercado,

não tendo re lação de amizade; ( . . . ) Que pode i n f o r m a r

que JOSÉ CARLOS BATISTA e LÚCIO FUNARO foram c o l e g a s

d e t r a b a l h o da c o r r e t o r a LAETA; ( . . . ) "

Entretanto, em outro depoimento, LUCIO FUNARO esclarece suas relações

com a BÔNUS BANVAL (Anexo a denúncia, apenso no 81, As. 13/17 - depoimento de

( . . . ) Que, com r e l a ç ã o a BÔNUS BANVAL,

i n fo rma o depoen t e que mant inha r e l a ç ã o d e amizade com

o s S r s . BRENO FISCHBERG, Rlcardo Paiva , Celso Senlse e

ENIVALDO QUADRADO, d i r e t o r e s da empresa que, duran t e o

ano d e 2002, após a empresa aclma t e r t i d o grandes

p r e j u í z o s no mercado de bol com um c l i e n t e , o depoen t e

emprestou r e c u r s o s à empresa; Que, após a venda de

patrimônio dos d i r e t o r e s , f o l qui tado e s s e primeiro

empréstimo; Que, após e s s a d a t a , manteve r e l a ç õ e s

comerc ia i s com a Corre tora acima c i t a d a n a qua l i dade

d e cliente pes soa f í s i c a ou j u r í d i c a , ou na condição

de f i nanc iador d e r e c u r s o s , quando a Corre tora

n e c e s s i t a v a d e empréstimos; Que o s r e p a s s e s

o r i g i n á r i o s da Bõnus Banval nas s u a s c o n t a s t êm ú n i c a

e exc lu s i vamen te d o i s m o t i v o s : a j u s t e s d e p o s i ç õ e s n a

BM&F ou q u i t a ç ã o d e emprés t imos; Que não s a b i a a

or igem i n t e r n a d o s recursos da BÔnus Banva l ,

ac red i t ando que o s r e c u r s o s da c o n t a e r a c a p i t a l

p r ó p r i o da c o r r e t o r a , nunca d e clientes, j á que nunca

31 Na verdade, é JOSÉ CARLOS BATISTA, um dos donos da GUARANHUNS, como será corrigido ao fim pelo depoente.

Page 114: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

fl$2&%m Inq 2.245 / MG 0 1 2 0 6 3

intermediou operações entre clientes da Bônus e suas

empresas; ( . . . ) "

Veja-se que alguns recursos teriam sido repassados, através da Guaranhuns e da

Bônus Banval, aos parlamentares supostamente beneficiados. Assim, estes valores recebidos pela

GUARANHUNS provenientes da BONUS BANVAL parecem ainda mais suspeitos,

relativamente a prática do crime de lavagem de dinheiro, por força justamente da época em que

ocorreram os depósitos e da aparente amizade existente entre os donos dessas empresas

ENIVALDO QUADRADO e LÚCIO FUNARO. É. assim. verossimil a acusação neste sentido

da criação de complexos mecanismos para ocultar a movimentação e destinação de valores

bastante significativos, tendo em vista os inúmeros meandros aparentemente seguidos pelo

dinheiro antes de chegar a seus destinatários finais.

As imputações constantes deste item da denúncia (formação de quadrilha e

lavagem de dinheiro) foram instruídas com a prova mínima da autoria e da materialidade do

delito de lavagem de dinheiro, como demonstram os depoimentos citados, além dos documentos

constantes dos apensos 5 e 6, suficientes ao inicio da fase judicial da persecução penal, razão

por que recebo a denúncia com relação a tais imputações.

Resta analisar a conduta de ANTONIO LAMAS, irmão de JACINTO LAMAS.

O denunciado disse o seguinte no depoimento de Os. 9231925 (volume 4):

"QUE em uma Única oportunidade, não sabendo

precisar a data nem valor, o Deputado Federal VALDEMAR

COSTA m T O solicitou que o declarante se deslocasse

até o edifício Brasilia Shopping "buscar alguns

Page 115: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@5q* fl&&& Inq 2.245 / MG

0 1 2 t 6 1

documentos ou encomenda pra ele"; QUE se r e c o r d a q u e o

s e u irmão JACINTO LAMAS e s t a v a em viagem, razão pe la

qual atendeu a determinação do Deputado Federal

VALDEMÃR COSTA NETO, v e z q u e n ã o r e a l i z a v a f u n ç ã o d e

serviços e x t e r n o s ; QUE o Depu tado Federa1 VALDEMAR

s o m e n t e se r e s t r i n g i u a f o r n e c e r o e n d e r e ç o , com

a n d a r , número da s a l a e nome da p e s s o a que d e v e r i a

p r o c u r a r ; QUE e s s a p e s s o a se chamava FRANCISCO; QUE

a p e n a s f i c o u s a b e n d o que se t r a t a v a d e uma a g ê n c i a

b a n c á r i a , m a i s p r e c i s a m e n t e Agênc ia B r a s í l i a d o Banco

R u r a l , quando chegou a o l o c a l ; QUE a o c h e g a r n e s s e

l o c a l p e r g u n t o u n o b a l c ã o d e a t e n d i m e n t o p o r

FRANCISCO; QUE f o i a p r e s e n t a d o a FRANCISCO, que

s o l i c i t o u q u e o d e c l a r a n t e o acompanhasse em uma s a l a

q u e a c r e d i t a ser a t e s o u r a r i a d o Banco Rural /DF; QUE

FRANCISCO lhe e n t r e g o u uma c a i x a e pediu que o

dec larante conferisse o que havia em seu i n t e r i o r ; QUE

o dec larante disse a FRANCISCO que não t i n h a que

c o n f e r i r nada, p o i s t i n h a a incumbência de receber

somente a encomenda; QUE n e s s e momento EPANCISCO abr iu

a ca ixa e o dec larante percebeu que haviam v á r i a s

cédulas de cem r e a i s ; QUE não se recorda de ter

assinado nenhum documento, nem tampouco, ter entregue

seu documento de iden t idade ; QUE a c a l x a f o i f e chada

em s e g u i d a e e n t r e g u e a o d e c l a r a n t e ; QUE, após, por

determinação do Deputado Federal VALDEMAR DA COSTA

NETO, d i r i g i u - s e a t é a re s idênc ia d e s t e e entregou a

referida caixa; QUE o Deputado Federa l VALDEMAR n ã o

a b r i u e s s a c a i x a na p r e s e n ç a do d e c l a r a n t e (. . .) "

Page 116: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

t* NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 0 1 2 0 6 2

Embora ANTÔNIO LAMAS afirme ter efetuado o recebimento de valores em

espécie em apenas uma oportunidade, a denúncia destaca que "Antônio Lamas, irmão de

Jacinto Lamas e fundador do PL, também recolhia, de forma lrabitual e reiterada, valores etn

espécie, para Valdemar Costa Neto".

De qualquer modo, a conduta do denunciado ANTÔNIO LAMAS reveste-se de

aparente tipicidade em relação ao tipo penal previsto no artigo 1" da Lei no 9.613198, incisos

V, VI e VII, na medida em que o mesmo participou da movimentação, de maneira obscura,

de valores provenientes dos crimes previstos nos incisos mencionados, o que é suficiente a

instauração da ação penal pertinente.

Está, ainda, minimamente demonstrada a sua possivel partici~ação na suposta

quadrilha que já havia sido anteriormente formada pelos denunciados, e supostos fundadores,

JACINTO LAMAS. VALDEMAR COSTA NETO. LÚCIO FUNARO e JOSÉ CARLOS

BATISTA, dotada, aparentemente, dos elementos estabilidade e finalidade voltada para a pratica

de crimes (in casu, de lavagem de dinheiro).

Veja-se que, ainda que fique provado, no curso da ação penal, que o denunciado

recebeu uma única vez os valores repassados pelo PT ao PL. como ele mesmo afirma, ainda

assim é possível receber a denúncia. no que tange ao delito definido no art. 288 do CP, tendo

em vista tratar-se de delito formal, que independe, inclusive, da efetiva prática dos crimes

para os quais a quadrilha tenha se formado.

Neste sentido, destaco entendimento firmado por esta Corte no HC no 86.630lR.l

(Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, J. em 24-10-2006)

( . ) I I . Denúnc ia: q u a d r i l h a : ~ m p u t a ç ã o

~ d ô n e a . 1 . O c r i m e d e q u a d r i l h a se consuma, em r e l a ç ã o

a o s f u n d a d o r e s , n o momento e m q u e a p e r f e i ç o a d a a

Page 117: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&-H&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 612063

c o n v e r g ê n c i a d e v o n t a d e s e n t r e m a i s d e três p e s s o a s e ,

quanto aqueles que venham posteriormente a in tegrar-se

ao bando já formado, no momento da adesão de cada

qual; c r i m e f o r m a l , nem depende, a formação consumada

de quadrilha, da real ização u l t e r i o r de qualquer

d e l i t o compreendido no âmbito de suas projetadas

a t i v idades criminosas, nem, conseqiientemente, a

imputação do crime c o l e t i v o a cada um dos par t i c ipe s

da organização reclama que se lhe possa a t r i b u i r

part icipação concreta na comissão d e algum dos crimes-

f im da associação. 2 . S e g u e - s e que a aptidão da

denúncia por quadrilha bas tará , a r i gor , a a f i rmat iva

de o denunciado se ter associado a organização formada

por mais de três elementos e destinada a prát ica

u l t e r i o r de crimes; para que se r e p u t e i d ô n e a a

i m p u t a ç ã o a a lguém da p a r t i c i p a ç ã o n o bando n ã o é

n e c e s s á r i o , p o i s , q u e se l he i r r o g u e a c o o p e r a ç ã o na

p r á t i c a d o s d e l i t o s a q u e se d e s t i n e a a s s o c i a ç ã o , a o s

q u a i s se r e f i r a a d e n ú n c i a , a t i t u l o d e e v i d ê n c i a s da

sua formação a n t e r i o r m e n t e consumada. (. . . I "

Por esta razão, e vislumbrando indícios da comunhão de desígnios deste

denunciado com os demais (VALDEMAR COSTA NETO e JACINTO LAMAS), recebo,

também em relação a ANTONIO LAMAS, a denúncia quanto i imputação do crime de

formação de quadrilha

Assim, concluo pelo recebimento da denúncia contra:

a) Bispo Rodrigues, pela suposta prática dos crimes de corrupção passiva (art.

317,CP) e lavagem de dinheiro (art. l0, V, VI1 e VIII, da Lei no 9.613198);

Page 118: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

b) Valdemar Costa Neto e Jacinto Lamas, pela suposta pratica dos crimes de

corrupção passiva (art. 317,CP), lavagem de dinheiro (art. 1°, V, VI1 e VIII, da Lei no 9.613198)

e formação de quadrilha (art. 288 do CP);

c) Antônio .Lamas, pela suposta prática dos crimes de lavagem de dinheiro (art.

1°, V, VI1 e VIII, da Lei no 9.613198) e formação de quadrilha (art. 288 do CP).

Page 119: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

flig2km.9 NU&& Inq 2.245 / MG

VI.3 - PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO

No item VI.3, a denúncia aborda os f a t o s r e l a t i v o s ao

Partido Traba lh i s ta B r a s i l e i r o - P T B , i n i c iando nos seguin tes

termos:

"VI . 3 - PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO

José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno e

S í l v i o Pereira, mediante pagamento de propina,

adquiriram apoio p o l í t i c o de Parlamentares Federais do

Partido Trabalhis ta B r a s i l e i r o - PTB.

O s pagamentos foram v i a b i l i z a d o s pe lo

núc leo p u b l i c i t á r i o - f i n a n c e i r o da organização

criminosa.

O s parlamentares f e d e r a i s que receberam

vantagem indevida foram José Carlos

Martinez ( f a l e c i d o ) , Roberto J e f f e r s o n e Romeu Queiroz .

Todos contaram com o a u x i l i o d i r e t o na prá t ica dos

crimes de corrupção passiva do denunciado Emersos

Palmieri . "

Nessa parte da denúncia f o i imputado aos denunciados

José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno, S í l v i o Pereira,

Marcos V a l é r i o , Ramon Rollerbach, C r i s t i a n o Paz, Rogério

T o l e n t i n o , Simone Vasconcelos e G E I S A Dias (por t r ê s v e z e s ) o

crime do a r t i g o 333 do Código Penal ( f a t o s r e l a t i v o s aos

Page 120: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@e fl&&& Inq 2.245 / MG 012666

parlamentares Federais José Carlos Martinez, Roberto J e f f e r s o n e

Romeu Q u e i r o z ) .

Segundo é narrado na i n i c i a l acusatór ia , " o esquema de

venda de apoio p o l í t i c o ao Governo f o i in ic ia lmente negociado

pelo f a l e c i d o José Carlos Martinez, ex Presidente do PTB".

E prossegue o Procurador-Geral d a República:

"Nessa Linha, em julho de 2003, Martinez

solicitou a Romeu Queiroz a indicação de uma pessoa

para o recebimento de R$ 50 .000 ,00 , disponibilizados

pelo PT. Essa quantia f o i entregue ao Coordenador do

Partido em Belo Horizonte, José Hertz, que s e deslocou

a t é B r a s i l i a e , depois de pernoi tar na residência do

denunciado Romeu Queiroz, entregou-a a Emerson

Palmieri , Tesoureiro do PTB.

Roberto Jefferson também confirmou o

repasse de R$ 1 .000 .000 ,00 do Partido dos

Trabalhadores, por intermédio do esquema de Marcos

Valério, ao então Presidente do PTB, Deputado José

Carlos Martinez, f a l ec ido em 04.10.2003. Da quantia

acima, R$ 300.000,OO foram entregues por intermédio de

J a i r dos Santos, nas seguin tes datas: 18/09/2003 - R$

200.000,OO (fl. 430 do Apenso 0 6 ) ; e 24/09/2003-R$

100.000,OO ( f l . 609 do Apenso 0 7 ) .

Após o falecimento de José Carlos Martinez,

as tratativas visando ao recebimento do dinheiro

proveniente do Partido dos Trabalhadores passaram a

ser estabelecidas com o denunciado Roberto Jefferson,

Presidente do PTB.

Page 121: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+&&H& Inq 2.245 / MG

012067

Em dezembro de 2003, Roberto Jefferson

manteve contato com o Romeu Quelroz, Secretário do

PTB, para que este retomasse os mecanismos

estruturados durante a gestão de José Carlos Martinez

para a obtenção de recursos financeiros. Romeu Queiroz

procurou o então Ministro Auderson Adauto, o qual

manteve entendimentos com Delúbio Soares, que se

prontificou a retomar as transferências através da

empresa SMP&B, o que de fato ocorreu, nos termos

abaixo narrados."

No capítulo da denúncia ora em julgamento, são

acusados: ROBERTO JEFEERSON (lavagem de dinheiro e corrupção

passiva); EMERSON PALMIERI (corrupção passiva e lavagem de

dinheiro); ANüERSON ADAUTO (corrupção ativa); e ROMEU QUEIROZ

(corrupção passiva e lavagem de dinheiro), além dos acusados de

corrupção ativa, cujas condutas serão objeto de consideração em

seguida.

Analiso, primeiramente, se há indícios da prática dos

crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, pelos

denunciados EMERSON PALMIERI e ROBERTO JEFEERSON.

Segundo consta da inicial acusatória, em Janeiro de

2004 o denunciado Emerson Palmieri teria participado do repasse,

em duas parcelas, ao PTB, do montante de R$ 200.000,00,

provenientes do grupo de MARCOS V ~ É R I O .

Page 122: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Com efeito, os documentos de fls. 52/52-v e 65/65v do

apenso no 05 trazem a contabilização do pagamento d e duas

parcelas, a primeira de R$ 100.000,OO em 07.01.2004 e a segunda

do mesmo valor, em 14.01.2004, em favor de uma pessoa chamada

Alexandre, que, segundo afirmado pelos denunciados ROBERTO

JEFFERSON e SIMONE VASCONCELOS (depoimentos abaixo transcritos),

é Alexandre Chaves, pai da funcionária do PTB chamada Patrícia.

A autenticidade da assinatura da denunciada SIMONE

VASCONCELOS nos referidos documentos foi confirmada pela própria

denunciada, as fls. 54, in verbis:

. . . QUE reconhece como proveniente de

seu punho os lançamentos constantes no verso da fl. 52

do Apenso 5, à exceção do lançamento em tinta azul;

QUE o ALEXANDRE mencionado em tais lançamentos se

refere a ALEXANDRE CHAVES, pessoa ligada a EMERSON

PALWIERI; (. . .) "

O termo de depoimento prestado pelo Deputado ROBERTO

JEFFERSON (fls. 4219-4227, volume 19) também vai ao encontro da

narrativa constante da denúncia, razão pela qual peço vênia para

citá-lo, ainda uma vez:

( . . . ) que realmente representou o PTB em

tratativas junto à Direção Nacional do PT em abril e

maio de 2004, relativas às campanhas municipais

daquele ano; ( . . . ) Que, nesse acordo, o PTB apoiaria o

PT em São Paulo/SP, Ribelrão Preto/SP, Rio Branco/AC,

Page 123: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

R i o d e J a n e i r o / R J , C u r i t i b a / P R , B e l o Horizonte/MG,

G o i â n i a / G O , S a l v a d o r / B A , d e n t r e o u t r a s q u e n ã o se

r e c o r d a n o m o m e n t o ; Q u e , por s u a v e z , o PTB r e c a e r i a

apoio f inanceiro do PT para o financiamento nacional

das candidaturas a P r e f e i t o e V e r e a d o r e s em t o d o o

p a í s ; Q u e o acordo tratado e aprovado f o i de R$ 20

milhões, d iv id idos erú cinco parcelas de R$ 4 milhões;

Que f i c o u c o n v e n c i o n a d o q u e o r e c u r s o s e r i a

t r a n s f e r i d o d a c o n t a c o n t r i b u i ç ã o d o PT p a r a a c o n t a

c o n t r i b u i ç ã o d o PTB; Q u e , i n i c i a l m e n t e , f o i l iberada a

quantia de R$ 4 milhões, em duas parcelas em espécie ,

i s t o n a s e d e n a c i o n a l d o PTB, n a 303 N o r t e ,

B r a s i l i a / D F ; Q u e a primeira parcela compreendeu a

guantia de R$ 2,2 milhões e a segunda, de R$ 1,s mil,

s e n d o q u e a p r i m e l r a a c o n t e c e u d e m e a d o s a o f i n a l d e

j u n h o d e 2004 e a s e g u n d a , a l g u n s d i a s d e p o i s ; Q u e ,

nas duas oportunidades re la tadas , o próprio MARCOS

VALÉRIO f o i quem entregou o dinheiro ao declarante;

Que a s c é d u l a s d e r e a l s e n t r e g u e s , a o d e c l a r a n t e , por

MARCOS VALÉRIO, estavam envol tas com f i t a s que

descreviam o nome do Banco Rural e Banco do Bras i l ;

Q u e , a p e s a r d e o S r . DELÚBIO SOARES, S r . MARCOS

VALÉRIO e o S r . GENOÍNO n e g a r e m h a v e r e n t r e g u e

r e c u r s o s a o PTB, o declarante confirma se r verdade o

repasse de t a i s recursos; Q u e o P r e s i d e n t e da

R e p ú b l i c a LUIZ INÁCIO LULA DA S I L V A n ã o p a r t i c i p o u d e

n e n h u m a c o r d o d e a p o i o f i n a n c e i r o d a s c a m p a n h a s

e l e i t o r a i s d o PTB com r e c u r s o s do PT; Q u e também n ã o

p o d e a f i r m a r se o P r e s i d e n t e LULA teve c o n h e c i m e n t o d o

a c o r d o f i n a n c e i r o com os m i n i s t r o s PALOCCI, GUSHIKEN,

JOSÉ DIRCEU e WALFRIDO MARES GUIA; Q u e o P r e s i d e n t e

Page 124: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&* fla&& Inq 2.245 / MG

012070

LULA p a r t i c i p o u d o a c o r d o p o l í t i c o , mas em nenhum

momento t r a t o u com o d e c l a r a n t e q u a l q u e r a p o l o

financeiro; Que tomaram conhecimento do acordo todos

os companheiros de bancada e do Senado da Repúbl ica, e

os recursos foram par t i lhados entre alguns dos

candidatos à s p r e f e i t u r a s munic ipais do PTB; Q u e o

acordo p o l í t i c o firmado entre o PT e o PTB também

e n v o l v i a cargos na administração; Q u e , p e l o apoio ao

candidato do PT a p r e f e i t u r a de S a l v a d o r / B A , s e r i a o

ex-Deputado BENITO GAMA nomeado diretor do IRB; Q u e ,

p e l o a p o i o em G o i â n i a / G O , s e r i a nomeado o s e c r e t á r i o

d o PTB, ARMANDO p a r a s u p e r i n t e n d e n t e d a SUSEP; Q u e

p e l o a p o i o a o c a n d i d a t o d o PT d e C u r i t i b a / P R , s e r i a

nomeado um i n d i c a d o d o PTB p a r a a d i r e t o r i a d e

a d m i n i s t r a ç ã o da ITAIPU; Q u e , e n t r e t a n t o , nenhum

d e s s e s cargos foram e f e t i v a m e n t e nomeados; Que c o b r o u

v á r i a s v e z e s o c u m p r i m e n t o d o a c o r d o , p r i n c i p a l m e n t e

j u n t o a o s Ministros JOSÉ DIRCEU e PALOCCI e a o

p r e s i d e n t e d o PT JOSÉ G E N O ~ N O ; ( . . . ) Q u e , perguntado

se EMERSON PACMIERI d i s t r i b u i u recursos para deputados

na l iderança do p a r t i d o , nega peremptoriamente; Q u e

g o s t a r i a d e a c r e s c e n t a r q u e EMERSON PALMIERI n ã o

o p e r o u a d l s t r l b u i ç ã o d o s R$ 4 mi lhões recebidos de

.MARCOS VALÉRIO; Q u e o DECLARANIIIE foi o encarregado de

receber e d i s t r i b u i r os recursos repassados p e l o PT;

Que se recusa a i n d i c a r o s b e n e f i c i á r i o s f i n a i s dos R$

4 milhões que d i s t r i b u i u ; Que d i s c u t i u com DELÚBIO

SOARES e JOSÉ GENOINO a r e s p e i t o dos termos l e g a i s da

contr ibuição; Que , q u a n d o f o i r e a l i z a d o o r e p a s s e da

p r i m e i r a p a r c e l a , d e R$ 2,2 m i l h õ e s , c o b r o u d e MARCOS

VALÉRIO o recibo d e d o a ç ã o a o PTB; Q u e MARCOS VALÉRIO

Page 125: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

i n f o r m o u que na semana s e g u i n t e e n t r e g a r i a m a i s R$ 1,8

m i l h ã o , quando , e n t ã o , i d e n t i f i c a r i a o d o a d o r , com a

e n t r e g a d o r e c i b o ; Q u e , c o m p l e t a n d o o s R$ 4 m i l h õ e s ,

na semana s e g u i n t e , não f o i iden t i f i cado o doador

m e d i a n t e recibo; Que, d iante d i sso , o DECLARANTE

afirma ter acionado EMERSON PALMIERI para que

loca l i zasse DELÚBIO e MARCOS &RIO, com i n t u i t o d e

conseguir os recibos r e f e r e n t e s a o s r e c u r s o s e n t r e g u e s

a o PTB, o q u e n ã o c o n s e g u i u mesmo t e n d o i n s i s t i d o com

DELÚBIO e MARCOS VALÉRIO; Que d i scu t iu diversas vezes

com os representantes do PT a respe i to do pagamento

dos R$ 16 milhões res tan tes , re feren tes ao acordo

firmado; Que JOSÉ DIRCEU a f i r m o u a o DECLARANTE que o

PT e s tar ia sem recursos para c u m p r i r o a c o r d o , uma v e z

q u e a P o l i c i a Federa l h a v i a prendido 62 dole iros; Q u e ,

d e s s a forma, JOSÉ DIRCEU a l e g o u que ser ia iqposs ivel

in ternar recursos no pais para saldar o acordo; Que

também o M i n i s t r o VALFRIDO MARES GUIA i n t e r v e i o em

nome d o PTB j u n t o a o M i n i s t r o JOSÉ DIRCEU, na

t e n t a t i v a d e receber o s r e c u r s o s comb inados ; Q u e , em

um e n c o n t r o com JOSÉ DIRCEU na Casa C i v i l , o c o r r i d o n o

i n í c i o d e j a n e i r o d e 2005, o e n t ã o M i n i s t r o a f i r m o u

q u e h a v i a r e c e b i d o , j u n t a m e n t e com o P r e s i d e n t e LULA,

um grupo da P o r t u g a l TELECOM e Banco E s p i r i t o S a n t o ,

q u e e s t a r i a m em n e g o c i a ç õ e s com o Governo b r a s i l e i r o ;

Que n ã o s a b e d i z e r q u a i s s e r i a m e s s a s n e g o c i a ç õ e s ; Que

JOSÉ DIRCEU afirmou. que haveria a possibi l idade de que

re f e r ido grupo econõmico pudesse adiantar cerca d e 8

milhões de euros que s e r i a repartidos entre o PT e o

P ; Que esses r e c u r s o s s e r v i r i a m para l i q u i d a r a s

d í v i d a s d e campanha; Que JOSÉ DIRCEU n ã o a f i r m o u a

Page 126: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&- Inq 2.245 / MG

O 1 2 O 7 2 t í t u l o d e q u ê s e r l a t a l adiantamento; Que JOSÉ DIRCEU,

então, s o l i c i t o u ao DECLARANTE que ind icasse alguém do

PTB ao DELÚBIO SOARES para acompanhar a s t r a t a t i v a s em

Portugal; Que concordou com a proposta f e i t a por JOSÉ

DIRCEU e indicou para DELÚBIO SOARES o primeiro

secre tár io do PTB, EMERSON PALMIERI; Que r e t i r o u a s

passagens para EMERSON PALMIERI pe lo PTB no f i n a l de

janeiro de 2005; Que EMERSON PALMIERI, ao embarcar

para Portugal, t e l e fonou para o DECLARANTE informando

que i r i a v i a j a r em companhia de MARCOS VALÉRIO e o

advogado ROC;ÉRIO TOLENTINO; Que a t é e n t ã o desconhecia

quem s e r i a o r e p r e s e n t a n t e d o PT na v iagem a P o r t u g a l ,

s e n d o q u e a c r e d i t a v a q u e s e r l a o p r ó p r i o DELÚBIO

SOARES; Q u e , realmente, EMERSON v ia jou para Portugal

no mesmo v60 de MARCOS VALÉRIO, sendo que os mesmos

sentaram lado a lado; Que EMERSON PALMIERI permaneceu

e m P o r t u g a l 2 ou 3 d i a s ; Q u e , enquanto esteve em

Portugal, EMERSON, em nenhum momento, t e l e fonou ou

.entrou em contato com o DECLARÃNTE; Q u e , a o r e t o r n a r

a o p a í s , EMERSON comentou com o DECLARANTE a r e s p e i t o

da v iagem; Que EMERSON a f i r m o u n ã o ter p a r t i c i p a d o d o

e n c o n t r o o c o r r i d o e n t r e MARCOS VALÉRIO e o P r e s i d e n t e

da P o r t u g a l TELECOM, MIGUEL HORTA, t e n d o permanec ido

na a n t e - s a l a ; Que, s egundo EMERSON, a P o r t u g a l TELECOM

i r i a r e a l i z a r n e g ó c i o s com a TELEMIG, s e n d o q u e

c a b e r i a a MARCOS VALÉRIO f a c i l i t a r o t r â m i t e d o

n e g ó c i o j u n t o a o Governo F e d e r a l ; Q u e , concretizado o

negócio, MARCOS VALÉRIO receberia uma comissão cuja

parcela poderia l i qu idar a s contas dos do i s part idos

(PT e PTB) ; Que, a o o u v i r o r e l a t o , p e r c e b e u que JOSÉ

DIRCEU e r a " p ó l v o r a molhada" , ou s e j a , não i r i a

Page 127: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

, Inq 2 . 2 4 5 / MG

cumprlr o acordo; Que determinou que EMERSON PALMIERI

se a fa s ta s se de MARCOS VALÉRIO e dos demais

representantes do PT; Que nunca percebeu qualquer

relação de amizade entre MARCOS VALÉR10 e -0N

PALMIERI; Que o negócio envolvendo a Portugal TELECOM

nunca mais f o i t ra tado com o DECLARANTE ou com EMERSON

PALMIERI; ( . . . ) Que, em março ou abril de 2005,

DELÚBIO SOARES e JOSÉ GENOÍNO ligaram para o

DECLARANTE para que este recebesse MARCOS VALÉRIO; Que

acei tou se reun i r com MARCOS VALÉRIO na sede do PTB,

de cujo encontro também part ic ipou EMERSON PALMIERI;

Que, n e s t e encontro, MARCOS VALÉRIO propôs que o

DEC-TE interferisse junto ao presidente do IRB

para t i r a r o s recursos que o i n s t i t u t o mantinha em um

banco no e x t e r i o r e t r a n s f e r i s s e para o banco Esp í r i t o

Santo, em Portugal; Que e s s e s recursos seriam no

montante de 600 milhões de dólares; Que a aplicação

desses recursos no banco E s p i r i t o Santo renderia uma

comissão para MARCOS :VALÉR10 de 2% ao mês; Que MARCOS

VALÉRIO afirniou que par t e dessa comissão ser ia

repassada para o PT e o PIIB; Que achou estranho todo

aquele recurso que ser ia d i s p o n i b i l i z a d o por MARCOS

VALÉRIO, ou s e j a , "muito d inhe i ro com muita

fac i l idade" ; Que, en tão , l i g o u para JOSÉ GENOÍNO,

afirmando que achava que MARCOS VALÉRIO era um

" v i s i o n á r i o maluco"; Que JOSÉ GENOÍNO respondeu que o

DECLARANTE poderia a c r e d i t a r , p o i s MARCOS VALÉRIO era

" f i rme" ; Que não f e z qualquer gestão no IRB v i s a d o a

concret i zar a t rans ferência de recursos para o banco

E s p í r i t o Santo; Que não t e v e qualquer par t ic ipação no

repasse de recursos do PT para o ex-pres idente do P T B ,

Page 128: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@+ B u & u Inq 2 .245 / MG 0 1 2 0 7 3

JOSÉ CARLOS MARTINEZ; Que somente após o advento do

escândalo do mensalão tomou conhecimento do suposto

repasse de R$ 1 mllhão para JOSÉ CARLOS MARTINEZ,

conforme relação divulgada por MARCOS VALÉRIO; ( . . . ) realmente, ALEXANDRE CHAVES recebeu R$ 145 m i l em Belo

Horizonte para repassar para CACÁ MORENO, publlcitárlo

que prestou serviços para o PTB; ( . . . ) Que esses R$

145 mil repassados a CACÁ MORENO diziam r e s p e i t o a

par te da conta de R$ 520 m i l , contratada pe lo JOSÉ

CARLOS MARTINE2 e autorizada por DELÚBIO SOAREç; ( . . . )

As imputações pelo crime de lavagem de dinheiro

formuladas contra o denunciado Roberto Jefferson se referem a

dois saques realizados por intermédio de José Hertz, três

através de Alexandre Chaves e dois recebimentos de Marcos

Valério, acusado pelo Procurador-Geral da República como um dos

mentores do esquema de lavagem de dinheiro já analisado no

Capitulo IV desta decisão.

Quanto a EMERSON PALMIERI, o crime de lavagem de

dinheiro teria sido perpetrado também através de dissimulação e

ocultação da origem, localização e movimentação de valores

provenientes, supostamente, de crime, utilizando-se, para tal,

de José Hertz (três saques), Jair dos Santos (dois saques),

Alexandre Chaves (três saques) e dois recebimentos diretamente

de Marcos Valério.

Page 129: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@+&&H& Inq 2.245 / MG

0 1 2 0 7 5 N o que diz r e s p e i t o aos saques r e a l i z a d o s por José

Her t z , ele próprio confirmou, em seu depoimento, a narrativa

constante da denúncia, narrando, com detalhes, a sua ida às

agências do Banco do Brasil e do Banco Rural em Belo Horizonte,

bem como à sede da empresa SMP&B na mesma cidade (fls.

1333/1336, volume 6 ) :

"QUE o DECLARANTE é filiado ao Partido

Trabalhista Brasileiro; QUE, n a época dos f a t o s , o

DECLARANTE e r a f unc ionár io d o Gabine te d o Deputado

Federal ROMEU QüEIROZ, Presidente Estadual do PTB/MG e

2" Secretário da Executiva Nacional, tendo trabalhado

de fevereiro de 1999 a 30/06/2004; QUE concorreu à

candidatura de Prefeito Municipal do Município de

Jequitinhonha/MG, pelo PTB, nas eleições de 2004; QUE,

em 05/01/2004, o DECLARANTE recebeu unia l i g a ç ã o d e

EMERSON PALMIERI, e n t ã o S e c r e t á r i o Nacional do PTB, no

t e l e f o n e f i x o d o D i r e t ó r i o Reg iona l do PTB, ( . . . ) para

que procuras se a S r a . SIMONE VASCONCELOS na SMP&B em

B e l o Horizonte/MG; QUE o contato continuou por meio de

seu celular ( . . . ) ; QUE EMERSON PALMIERI comunicou a o

DECLARANTE que já h a v i a conversado com SIMONE

VASCONCELOS e o Deputado Federal ROMEU QüEIROZ; QUE a

finalidade da da do DECLARANTE à SMP&B seria b u s c a r

uma encomenda para o D i r e t ó r i o Nacional do PTB; QUE,

após ter t e l e f o n a d o para o c e l u l a r de SIMONE

VASCONCELOS, o DECLARANTE compareceu a s ede da SMP&B

em Belo Horizon te/MG; ( . . . ) QUE SIMONE VASCONCELOS

o r i e n t o u a o DECLARANTE para que este se d i r i g i s s e a

duas agênc ia s b a n c á r i a s , a saber , uma do Banco do

Page 130: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

Brasi l e outra do Banco Rural, ambas na c i d a d e d e B e l o

H o r i z o n t e / M G ; QUE a s s i m , o DECLARANTE se d i r i g i u

p r i m e i r a m e n t e a o Banco d o B r a s i l , Agênc ia Av.

Amazonas, na Aven ida Amazonas, 3 1 1 , Belo Hor izon te /MG;

QUE o DECLARANTE d e v e r i a p r o c u r a r p o r uma p e s s o a q u e

a c r e d i t a t e r s i d o o g e r e n t e , q u e l h e e n t r e g a r i a uma

encomenda; ( . . . ) QUE a o c h e g a r a o b a n c o , p r o c u r o u p e l o

f u n c i o n á r i o q u e SIMONE VASCONCELOS t e r i a i n d i c a d o para

a e n t r e g a da encomenda; ( . . . ) QUE r e c e b e u d o

f u n c i o n á r i o um e n v e l o p e d o Banco d o B r a s i l , sem

q u a l q u e r ~ n s c r l ç ã o ou r e f e r ê n c i a a v a l o r e s , f e c h a d o

com grampos; ( . . . ) QUE f icou surpreso com o

recebimento do pacote, que percebeu que s e tratava de

dinheiro; QUE, de imediato, te le fonou para EkERSON

PALMIERI em razão de achar estranho o recebimento de

valores em espécie , em envelope, tendo recebido como

resposta que mandaria imediatamente as passagens para

que o DECLARANTE v ia jasse a Brasi l ia para se r entregue

a ele, EMERSON PALMIERI; QUE o DECLARANTE n ã o c o n t o u o

numerário q u e r e c e b e r a d o f u n c l o n á r l o d o b a n c o , em um

p a c o t e f e c h a d o ; QUE deixou o pacote de dinheiro

guardado no Escri tór io Regional do PTB, em um co fre , e

se d i r ig iu a Agência do Banco Rural; ( . . . ) QUE

chegando a a g ê n c i a A s s e m b l é i a d o Banco Rura l , o

D e c l a r a n t e se d i r i g i u a um f u n c i o n á r i o i n d i c a d o p o r

SIMONE VASCONCELOS, t e n d o r e c e b i d o d e s t e um e n v e l o p e

s e m e l h a n t e a o p r i m e i r o , em i m p r e s s o d o Banco R u r a l ,

também l a c r a d o , em tamanho menor q u e o e n v e l o p e

r e t i r a d o n o Banco d o B r a s i l ; ( . . . ) QUE d e p o s s e d o s

d o i s p a c o t e s , tomou o v60 1804 , d e Pampulha /Be lo

Horizonte /MG para B r a s i l i a , h o r á r i o d a s 1 9 : O O h , na

Page 131: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@e &&&& Inq 2.245 / MG

0 1 2 0 7 7 mesma d a t a , ou s e j a , em 05/01/2004; QUE, chegando a

Brasília/DF, foi recebido no aeroporto pelo D r .

EMERSON PALMIERI, que identificou o DECLARANTE pelo

celular, uma vez que não o cõnhecia; ( . . . ) QUE o

DECLARANTE e EMERSON PALMIERI adentraram no v e í c u l o

d e s t e ú l t i m o , conduzido por um motor i s ta ; ( . . . ) QUE,

ainda no v e í c u l o , o DECLARANTE f e z a entrega dos d o i s

pacotes , lacrados , ao S r EMERSON PALMIERI, pe lo espaço

que separa os d o i s bancos d l a n t e l r o s ; QUE o S r .

EMERSON PALMIERI não abriu os pacotes e , de imediato,

ligou para o Deputado Federal ROBERTO JEEFERSON e fez

o seguinte comentário: ' -assunto resolvido' ( . . . ) "

Relativamente aos t r ê s saques de Alexandre Chaves,

e s s e s também e s t ã o respaldados por i n d í c i o s cons tantes dos

au tos , e i s que, como v i s t o , o denunciado Roberto J e f f e r s o n

confirmou que CHAVES e f e t u o u o saque de R$ 145.000,00, datado de

18/12/2003. O seguin te t r e c h o do depoimento de Emerson Eloy

Palmieri também corrobora o t e o r d a i n i c i a l acusatór ia ,

confirmando a e x i s t ê n c i a de d o i s ou tros saques, em e s p é c i e , por

CHAVES , incumbido de repassar o d inhe i ro aos seus r e a i s

b e n e f i c i á r i o s :

( ) QUE o saque referente ao dia

19/12/2003, na verdade se refere a um saque de R$ 145

mil datado de 18/12/2003, recebido por ALEXANDRE

CHAVES em Belo Horizonte/MG, para pagamento de

programa de t e l e v i s ã o do P T B , sendo repassado a CACA

MORENO, responsável pela produção do programa na data

do recebimento, em BH/MG; QUE o terceiro e quarto

Page 132: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

valores devem se referir à lista apresentada por

SIMONE VASCONCT~LOS, com um erro de datilografia na

data, sendo datas corretas 07/01/2004 e 14/01/2004,

ambos no valor de R$ 100 mil, recebidos por ALEXANDRE

CHAVES na Agência Brasilia do Banco Rural para sua

filha PATRICIA, conforme ;lá explicado acima; ( . . . ) "

Como se vê, além dos R$ 145.000.00 sacados em

18/12/2003, há fortes indícios do recebimento, por parte dos

acusados ROBERTO JEFFERSON e EMERSON PALMIERI. de duas outras

remessas, no valor de R$ 100.000,OO cada, nos dias 07 e 14 de

janeiro de 2004.

Quanto às duas parcelas de R$ 100.000,00, o

recebimento das mesmas está demonstrado nos documentos de fls.

52v. e 65v, inclusive com a assinatura de Simone Reis Lobo de

Vasconcelos, como já foi anteriormente assinalado.

Relativamente aos saques efetuados por JAIR DOS

SANTOS, com efeito, consta de fls. 423 documento datado de

18.09.2003, consistente em autorização de saque do valor de R$

200.000,00, em nome de Jair dos Santos, sendo certo que as flsf.

424 consta a cópia de seu documento de identidade.

Às fls. 609, consta outra autorização para Jair dos

Santos, inclusive acompanhada do cheque emitido pela SMP&B para

viabilizar o saque da quantia de R$ 100.000,00, na data de R$

23.09.2003.

Page 133: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

cdgfkzw B&&& Inq 2.245 / MG

Por fim, no que concerne as duas remessas de dinheiro

feitas diretamente por MARCOS VALÉRIO, além de confirmadas pelo

próprio denunciado ROBERTO JEFFERSON, como já lido, também o

depoimento de Emerson Elloy Palmieri (fls. 3573) corrobora o

teor da denúncia:

8 , ( . . . ) QUE ROBERTO JEEWZRSON recebeu pelo

PTB o valor t o t a l de R$ 4 milhões, em duas parcelas,

sendo a primeira em f i n s de junho, no valor de R$

2.200.000,OO e a segunda na primeira semana de julho

de 2004, no valor de R$ 1.800.000,OO; QUE em ambas as

ocasiões se encontravam na sa la da presidência do PTB,

ROBERTO JEFFERSON e MARCOS VALÉRIO, tendo sido

convidado a par t ic ipar da reunião por ROBERTO

JEFJX'RSON, sendo que, guando entrou na sala do

presidente do PTB, o numerário j á se encontrava sobre

a mesa, envolto em etiquetas do BANCO DO BRASIL e

BANCO RURAL; (. . . ) "

Do teor dos depoimentos acima transcritos, e dos

documentos constantes dos autos, res ta claro que os fatos

relatados na denúncia encontram respaldo nos dados colhidos

durante a s investigações, o que se mostra suficiente a

instauração da ação penal para o prosseguimento da persecuçáo

penal. Neste sentido, é emblemático o fa to de o denunciado

Roberto Jefferson confirmar o recebimento de R$ 4.000.000,00, e

se recusar a dizer quem foram as pessoas beneficiadas com o

recebimento de frações deste valor

Page 134: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@ig?kmw c&z&&U Inq 2.245 / MG

(312080

Por outro lado, ROBERTO JEFFERSON também afirma ter

sido informado pelo Sr. José Carlos Martinez (já falecido)

acerca do repasse de recursos aos partidos da base aliada ao

Governo, embora diga ter recusado a oferta.

O recebimento de enormes quantias em dinheiro de um

partido político (PT), por parlamentares de um outro partido

político (PTB), de origem obscura e destino ignorado, não se

justifica pela simples declaração de que o dinheiro é "para

despesas de campanha"

Aliás, é importante notar que, em todos os casos

descritos nas denúncias de corrupção passiva, os acusados tendem

a afirmar que os valores transferidos aos partidos visavam ao

pagamento de dívidas de campanha, não apontando, contudo, um

fornecedor sequer que teria recebido tais recursos de seus

partidos.

Um indicio de que tal afirmação não pode ser

considerada absolutamente verdadeira, ao menos por ora, é o

depoimento do ex-Tesoureiro do Banco Rural em Brasilia, JOSÉ

FRANCISCO DE ALMEIDA REGO, que salientou o seguinte (fls. 560,

volume 3 dos autos):

Que, outro caso que o reinquirido se

recorda é o de um Deputado, cujo nome não se lembra,

que também foi indicado para receber numerários

advindos da SMP&B, os quais, após sacados, foram

repassados por meio de DOCs (Documento de Crédito)

Page 135: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

fl&&& Inq 2.245 / MG

para diversas pessoas cujos sobrenomes eram iguais ao

do Deputado.

De qualquer maneira, entendo que ,este fato não é

relevante para efeitos de recebimento da denúncia,

principalmente porque a destinação dada pelos acusados aos

recursos recebidos seria, ao menos em tese, mero exaurimento dos

crimes anteriores, in casu, crimes ,de corrupção passiva e

lavagem de dinheiro.

É certo que -há, ainda, muitos pontos obscuros, mas

estes, a meu ver, devem ser elucidados no curso da ação penal a

ser instaurada, mediante a competente instrução probatória e

observando ao devido processo legal. Isto porque, a gravidade

dos fatos narrados na inicial, aliada à presença de fortes

indicios corroborando as imputações, aponta no sentido da

necessidade de prosseguimento da persecução penal, agora na sua

fase judicial, a fim de que seja apurada a ocorréncia, ou não,

dos ilícitos penais sob exame.

Do exposto, Senhora Presidente, é ,possível, com base

nos depoimentos antes citados, afirmar a existência de indícios

das práticas criminosas narradas na denúncia, por parte de

ROBERTO JEFFERSON e EMERSON PALMIERI, tanto no que diz respeito

a corrupção passiva como em relação a Lavagem de dinheiro, uma

vez que foram utilizados, supostamente, os mecanismos que o

Procurador-Geral da República afirma terem sido disponibilizados

Page 136: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@$2k7.?w &&&& Inq 2.245 / MG 0 1 2 0 8 2

por integrantes da SMP&B e pelo Banco Rural, para viabilizar a

ocultação e dissimulação da origem, localização e movimentação

de valores em espécie.

ANDERSON ADAUTO - corrupção ativa

Ao denunciado ANDERSON ADAUTO foi imputada a prática

do delito previsto no artigo 333 do Código Penal (corrupção

ativa), por duas vezes. Sua conduta foi narrada nos seguintes

termos (fls. 5727, vol. 27):

"Em dezembro de 2003, Roberto JefferSon

manteve contato com Romeu Queiroz, Secretário do PTB,

para que este retomasse os mecanismos estruturados

durante a gestão de José Carlos Martinez para obtenção

de recursos financeiros. Romeu Queiroz procurou o

então Ministro Anderson Adauto, o qual manteve

entendimentos com Delúbio Soares, que se prontificou a

retomar as transferências através da empresa W & B , o

que de fato ocorreu, nos termos abaixo narrados.

Registre-se que o denunciado Anderson

Adauto, como será descrito no tóplco seguinte, tlnha

pleno conhecimento do esquema de compra de apoio

.político pelo PT, razão pela qual intermediou o acerto

criminoso (corrupção) com os Deputados Federais

Roberto Jefferson e Romeu Queiroz do PTB."

Em seu depoimento, o denunciado Anderson Adauto

confirma o contato feito com Romeu Queiroz, negando, porém, que

Page 137: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&- &&NU Inq 2 .245 / MG

012083

t enha in termediado o acordo de r epas se de r ecur sos pe lo PT ao

P T B ( £ 1 ~ . 3565-3567, volume 16):

" (. . .) QUE conheceu MARCOS VALÉRIO na

campanha d e 1998; Que a agência de p u b l i c i d a d e SMP&B

f o l a responsáve l pe la c r i a ç ã o d e ma t e r i a 1 g r á f i c o nas

campanhas para Deputado Es tadua l , e m 1998, e Deputado

Federa l , e m 2002; ( . . . ) Que s a i u da campanha d e 2002

com uma d í v i d a que não se recorda o v a l o r no momento

( . . . ) ; Que, ao assumir o Ministério dos Transpor t e s e m

j a n e i r o de 2003, t e n d o c o n t r a í d o d í v i d a não sa ldada d e

campanha e l e i t o r a l , r e s o l v e u p rocurar o T e s o u r e i r o d o

P a r t i d o M a j o r i t á r i o n a c o l i g a ç ã o para a judá - lo n a

q u i t a ç ã o d o d é b i t o e l e i t o r a l penden te ; Que e s t e v e com

D E L ~ B I O SOARES pessoa lmente , em Brasi l ia-DF; ( . . . )

comentou com o Deputado Federal do PTB/MG ROMEU

QüEIROZ d o c o n t a t o r e a l i z a d o com DELÚBIO SOARES no

s e n t i d o de s a l d a r os d é b i t o s c o n t r a í d o s n a campanha

e l e i t o r a l d e 2002; QUE ROMEU QUEIROZ f e z menção de

procurar DELÚBIO SOARES para r e s o l v e r suas pendências

e l e i t o r a i s , não sabendo s e o Deputado rea lmente o

procurou ou se conseguiu r e s o l v e r o problema que t i n h a

encaminhado ao d e c l a r a n t e como M i n i s t r o dos

Transpor t e s ; QUE a f i rmou ao Deputado ROMEU QUEIROZ que

não poder ia e nem t e r i a como a judá - lo na r e so lução das

d i v i d a s e l e i t o r a i s do PTB m i n e i r o ; Que o deputado

f e d e r a l ROMEU QUEIROZ era p r e s i d e n t e do PTB em Minas

Gera i s ; ( . . . ) "

Por sua v e z , o Deputado Federal ROMEU QUEIROZ, acusado

da p r á t i c a dos cr imes de corrupção p a s s i v a e lavagem de

fl 'i'

Page 138: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+ flu&u Inq 2 .245 / MG

012084

dinhe i ro , corroborou, em seu depoimento, os termos da imputação

feita contra Anderson Adauto na denúncia, in verbis (fls. 2126,

volume 10 dos autos):

,\ ( . . . ) QUE em dezembro de 2003, f o i

contactado pe lo então Presidente do PTB, Deputado

Roberto Je f f e r son , na condlção de segundo secretário

do Partido, para que angariasse recursos para a

agremlação política; QUE dlante do pedldo do Deputado

Roberto Jefferson, procurou o então Ministro dos

transportes ANDERSON ADAUTO em seu gabinete, para quem

formulou a so l i c i t ação de recursos; QUE cerca de do i s - ou três d ia s após e s t a reunião, o ex-Ministro entrou

em contato com o declarante esclarecendo que t inha

mantido entendimentos com o então Tesoureiro do PT,

Sr . DELÚBIO SOARFç, e que este por sua vez se colocou

a disposição para d i spon ib i l i za r recursos do PT

através da empresa SMP&B PUBLICIDADE; Que estes

recursos seriam liberados em janeiro do ano seguinte,

ou seja, em Ianelro de 2004; Que o ex-Ministro

ANDERSON ADAUTO d i s s e , na oportunidade, que o s valores

l iberados seriam na ordem de R$ 300.000,OO (trezentos

mll reais); ( . . . ) " .

Com efeito, merecem apuração mais profunda os fatos

descritos no subitem b do item VI.3, em face da existência de

indícios de que o denunciado Anderson Adauto teria, realmente,

participado do oferecimento ou promessa de vantagem indevida a

funcionários públicos (parlamentares federais Roberto Jefferson

Page 139: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+ fl&@U Inq 2.245 / MG

OiSOSr,

e Romeu Queiroz), para determiná-los a praticar ato de oficio

(votar a favor de projetos de interesse do governo federal).

Desta forma, presente a prova mínima de autoria e

materialidade do delito do artigo 333 do CP, recebo a denúncia

formulada contra ANDERSON ADAUTO.

ROMEU QUEIROZ - corrupção passiva e lavagem de

dinheiro

O denunciado Romeu Queiroz teria, igualmente,

utilizado o suposto esquema de transferência de valores do grupo

de Mãrcos Valério para o PTB, assim praticando, em tese, os

delitos de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, através do

recebimento, especificamente, da quantia de R$ 102.812,76, na

data de 31/08/2004, conforme demonstrado pelos documentos de

fls. 196/197 do Apenso 05.

Há, nos autos, fortes indícios da ocorrência de tais

delitos.

Ao prestar depoimento, o denunciado Romeu Queiroz,

além de admitir os saques realizados por José Hertz, esclarece

como teria ocorrido o saque realizado por Paulo Leite:

. . . QUE em agosto de 2004 recebeu um

contato telefônico do Sr. CRISTIANO PAZ, sócio de

Marcos Valério na SMPbB PüBLICIDADE; QUE CRISTIANO PAZ

era o presidente da empresa; QUE neste contato

Page 140: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

I

Inq 2.245 / MG

CRISTIANO PAZ disse ao dec larante que a empresa

USIMINAS t i n h a d i s p o n i b i l i z a d o R$ 150.000,OO (Cento e

Cinqüenta M i l Reais ) de doação para d i v e r s a s campanhas

e l e i t o r a i s mun ic ipa i s , de i n t e r e s s e do PTB; QUE esses

r e c u r s o s foram d e s t i n a d o s para d i v e r s o s c o o r d e n a d o r e s

d e campanhas p o l í t i c a s e m v i n t e municípios d o E s t a d o

d e Minas G e r a i s ; QUE esses recursos não foram

con tab i l i zados p e l o PTB, j á q u e foram t r a n s f e r i d o s

d i r e t a m e n t e da SMP&B para os c a n d i d a t o s d o s d i v e r s o s

m u n i c í p i o s d e Minas G e r a i s ; QUE n ã o u t i l i z o u nenhuma

q u a n t i a da doação da USIMINAS; QUE, n a q u e l a é p o c a , n ã o

d i s p u t a v a q u a l q u e r manda to e l e t i v o , a g i n d o a p e n a s como

um d i r i g e n t e partidário; QUE d o s R$ 150.000,OO doados

p e l a USIMINAS, foram d e s c o n t a d o s p e l a SMP&B a

~ m p o r t â n c l a d e R$ 47 .187 ,24 ( Q u a r e n t a e se te m l l e

c e n t o e o i t e n t a e se te R e a i s e v i n t e e q u a t r o

c e n t a v o s ) , a t í t u l o d e i m p o s t o s e t a x a s ; QUE, p o r t a n t o

o S r . PAULO LEITE MINES recebeu no Banco Rural a

quant ia de R$ 102.812,76; QUE f o i o dec larante que

d e c i d i u a des t inação dada aos recursos sacados p e l o

S r . PAULO LEITE MINES, doados pe la USIMiNAS; ( . . . ) Que

PAULO L E I m NUNES se d i r i g i u ao Banco Rural or ien tado

p e l o dec larante , d e posse d e uma l i s t a g e m parc ia l de

pessoas que receberiam p a r t e dos v a l o r e s sacados,

e n t r e g u e p e l a s e c r e t á r i a do d e c l a r a n t e ; Que PAULO

LEITE NUNES r e c e b e u o s v a l o r e s n o Banco e , em v i r t u d e

d e n ã o d e s e j a r l e v a r o d i n h e i r o para o e s c r i t ó r i o d o

PTB, p o r m o t i v o d e s e g u r a n ç a , d e c i d i u , n a q u e l a mesma

o p o r t u n i d a d e , e f e t u a r o s T E D s a ra o s b e n e f i c i á r i o s

c o n s t a n t e s da l i s t a g e m que p o s s u i a ; Que PAULO LEITE

n ã o p o s s u í a a l i s t a g e m c o m p l e t a d o s b e n e f i c i á r i o s que

Page 141: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+feno fl&&& Inq 2 .245 / MG O12087

deverlam receber t a i s recursos , razão pela q u a l en t rou

em con ta to com a s e c r e t á r i a do dec laran te e s o l i c i t o u

o número da conta c o r r e n t e do mesmo; Que, sem sua

aquiescência , PAULO depos i tou R$ 50.000,OO (cinqúenta

mil r e a i s ) , a t r a v é s do TED no 0902033 na conta

c o r r e n t e pessoal do dec laran te no Banco Bradesco

. . . ) ; Q u e , perguntado o por quê de o S r . PAULO LEITE

NUNES ter levado ao e s c r i t ó r i o do dec larante o v a l o r

de R$ 18.000,OO ( d e z o i t o m i l r e a i s ) em e s p é c i e ao s a i r

do Banco Rural , não deposi tando t a l quant ia como f e z

com o s R$ 50.000,00, que não sabia para onde deveriam

ser encaminhados, respondeu que PAULO LFI'iZ NUNES i r i a

d e p o s i t a r esses R$ 18.000,OO em um ou t ro banco

próximo, c u j o nome não se recorda, o que não ocorreu,

mot ivo p e l o qual o mesmo r e t o m o u ao e s c r i t ó r i o do PTS

levando o r e c i b o do d e p ó s i t o de R$ 50.000,OO e cerca

de R$ 18.000,OO em e s p é c i e ; Que, melhor esclarecendo,

PAULO LEITE NUNES e f e t u o u TEDs no Banco Rural no

montante de R$ 34.500,00, depos i tou R$ 50.000,OO na

conta pessoal do dec larante , pagou taxas de TEDs e

DOCs ao Banco Rural na quant ia de R$ 96,OO e s a i u da

agência com R$ 18.000,OO -para serem deposi tados em

ou t ras agências próximas, o que não foi fe i to naquela

oportunidade; Que a secretária do dec larante , ao

receber as TEDs e os recursos em espéc ie , complementou

as t rans ferênc ias dadas pe lo declarante; ( . . . ) Que é

amigo de PAULO LEITE NUNES, tendo o conhecido quando

trabalhava no banco MINAS CAIXA, há mais de t r i n t a

anos; Que PAULO LEITE NUNES não é funcionário do PTB

nem do dec larante , mas é um colaborador do par t ido e

constantemente p r e s t a colaboração aos f i l i a d o s do PTS

Page 142: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@ g &&&& Inq 2.245 / MG 0 1 2 0 8 8

em Minas Gerais; Que indicou a pessoa de PAULO LEITE

NUNES para receber os valores mencionados acima, no

Banco Rural, ao Sr. CRISTIANO PAZ; ( . . . ) Que deseja

consignar, por fim, que o TED efetuado pelo Sr. PAULO

LEX!l'E NUNES para o declarante teve como emitente a

empresa SMP&B, em virtude de o Sr. PAULO LEITE não ser

cliente do Banco Rural, o que o impossibilitaria de

emitir o TED, e que, instruído por um funcionário do

Banco Rural, preencheu o formulário utilizando o nome

da SMP&B como emitente daqueles recursos."

A comprovação material do saque no valor de R$

102.812,76, efetuado por Paulo Leite Nunes, consta as fls. 196-

197 do apenso no .05.

Às fls. 197, consta cópia do cheque de R$ 102.812,76,

nominal a SMP&B Comunicação L'i'DA, assinado por Cristiano de Me10

Paz, na qualidade de representante legal da emitente (SMPLB

Comunicação Ltda.) bem como a cópia da cédula de identidade de

Paulo Leite Nunes.

Assim, considero que o depoimento acima transcrito

demonstra a existência de indícios minimos a corroborarem os

termos da denúncia, no sentido da prática, em tese, pelo

denunciado ROMEU QUEIROZ, dos crimes de corrupção passiva e

lavagem de dinheiro.

Page 143: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&e NU&& Inq 2.245 / MG 612C89

Do exposto, Senhora Presidente, também em relação a

este acusado, considero que a denúncia deve ser recebida, dando,

assim, inicio a competente ação penal.

Em resumo a este capitulo, destaco que constam nos

autos, além dos depoimentos transcritos nesta decisão, diversos

documentos contendo autorizações de saques e cheques da SMP&B

Comunicações (apensos 05 a 07), o que demonstra a existência de

prova minima no sentido do recebimento de valores (corrupção

passiva) e da utilização de artifícios para dissimular o

destino, movimentação e origem dos recursos postos em circulação

pelo suposto esquema de corrupção (utilização de intermediários

e de pagamentos em espécie), em atitude em tese tipica de

lavagem de capitais.

Do exposto, recebo a denúncia em relação aos seguintes

denunciados:

- Roberto Jefferson, pela suposta prática dos crimes

de corrupção passiva (art. 317 do CP, e lavagem de dinheiro

(artigo I", incisos V, VI e VII, da Lei no 9.613/1998, 7 [sete]

vezes, sendo dois saques de José Hertz, três de Alexandre Chaves

e dois recebimentos de Marcos Valéria);

- Emerson Palmieri, pela suposta prática dos crimes de

corrupção passiva (art . 317 do CP) e lavagem de dinheiro (artigo

1°, incisos V, VI e VII, da Lei no 9.613/1998, 10 [dez] vezes,

sendo três saques de José Hertz, dois saques de Jair dos Santos,

Page 144: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@ $ . fl&&& Inq 2 .245 / MG 0 1 2 0 9 0

três saques de Alexandre Chaves e dois recebimentos de Marcos

Valério)

- Romeu Queiroz, pela suposta prática dos crimes de

corrupção passiva (art. 317 do C P ) e lavagem de dinheiro (artigo

l0, incisos V, VI e VII, da Lei no 9.613/1998, 4 [quatro] vezes,

sendo três saques de José Hertz e um de Paulo Leite);

- Anderson Adauto, pela suposta prática do crime de

corrupção ativa (art. 333 do CP).

Page 145: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

c&gf@mw NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

VI.4 - PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO - DEPUTADO JOSÉ BORBA

No i t e m V I . 4 , a denúncia aborda o s . f a t o s r e l a t i v o s ao

Par t ido Movimento Democrático B r a s i l e i r o , i n i c i a n d o nos

s e g u i n t e s t e rmos :

Por meio de acordo f irmado com José Dirceu ,

Delúbio Soares , José Genoíno e S í l v i o Pere i ra , o e n t ã o

Deputado Federal José Rodrigues Borba, no ano de 2003,

também i n t e g r o u o esquema de corrupção em t roca de

apo io p o l í t i c o .

L í d e r da bancada do PMDB na Câmara dos

Deputados, [BORBA] mantinha c o n s t a n t e s c o n t a t o s com

Marcos V a l é r i o por cons ide rá - lo "uma pessoa i n f l u e n t e

no Governo Federa l" , a quem r e c o r r i a para r e f o r ç a r

s e u s p l e i t o s de nomeação d e cargos j un to à

admin i s t ração p ú b l i c a .

Segundo in formação d e Marcos V a l é r i o , José

Borba f o i b e n e f i c i a d o com v a l o r e s na ordem de 3 2.100.000,00, med ian te pagamentos e f e t u a d o s , no

esquema d e lavagem j á narrado , nas s e g u i n t e s d a t a s :

16/09/2003 - R$ 250.000,OO; 25/09/2003 - R$

250.000,OO; 20/11/2003 - R$ 200.000,OO; 27/11/2003 -

R$ 200.000,OO; 04/12/2003 - R$ 200.000,OO; e

05/07/2004 - R$ 1.000.000,00.

Ciente da origem ilícita dos recursos

(organização cr iminosa vo l t ada para a p r á t i c a d e

cr imes con t ra a admin i s t ração púb l i ca e contra o

s i s t ema f i n a n c e i r o n a c i o n a l ) , bem como dos mecanismos

Page 146: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

B&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

de lavagem empregados para a transferência dos

va lores , José Borba atuou para não receber diretamente

o dinheiro, de forma a não deixar qualquer r a s t r o de

sua part icipação no esquema.

N o e n t a n t o , f i c o u comprovado o pagamento d e

uma d a s p a r c e l a s d i s p o n i b i l i z a d a s p e l o grupo d e Marcos

V a l é r i o , n o v a l o r d e R$ 2 0 0 . 0 0 0 , 0 0 , a o e x Deputado

Federa l J o s e Borba , que r e c e b e u esse d i n h e i r o d a s mãos

d e S imone V a s c o n c e l o s .

Nessa o c a s i ã o , o p r ó p r i o J o s é Borba

compareceu na a g ê n c i a d o Banco R u r a l em B r a s i l i a e

p r o c u r o u o e n t ã o T e s o u r e i r o d o Banco Rura l em

B r a s í l i a , J o s é F r a n c i s c o d e A lme ida para a e n t r e g a d o

d i n h e i r o , o q u e f o i c o n f i r m a d o p o r Simone V a s c o n c e l o s .

T o d a v i a , José Borba recusou-se a assinar

qualquer documento que comprovasse o recebimento da

i q o r t â n c i a acima, f a z e n d o com q u e Simone V a s c o n c e l o s

se d e s l o c a s s e a t é e s s a a g ê n c i a , r e t i r a s s e , m e d i a n t e a

sua p r ó p r i a a s s i n a t u r a , a q u a n t i a acima i n f o r m a d a , e

e f e t u a s s e a e n t r e g a d e s s e n u m e r á r i o a o e n t ã o

p a r l a m e n t a r .

Para i l u s t r a r o a p o i o p o l í t i c o d o grupo d e

p a r l a m e n t a r e s d o P a r t i d o Movimento Democrá t i co

B r a s i l e i r o a o Governo. F e d e r a l , na s i s t e m á t i c a acima

n a r r a d a , d e s t a c a m - s e a s a t u a ç õ e s d o Par lamen tar J o s é

Borba na a p r o v a ç ã o da r e f o r m a da p r e v i d ê n c i a (PEC

40 /2003 , na s e s s ã o d o d i a 2 7 / 0 8 / 2 0 0 3 ) e da r e f o r m a

t r i b u t á r i a (PEC 4 1 / 2 0 0 3 , na s e s s ã o d o d i a 2 9 / 0 9 / 2 0 0 3 ) .

Page 147: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@- Ba&& Inq 2.245 / MG

Tais fatos serviram de base para a imputação do crime

de corrupção passiva (artigo 317 do Código Penal), contra o

denunciado José Borba

Conforme consta da inicial acusatória, o denunciado

José Borba teria recebido recursos do grupo do denunciado Marcos

Valério, sendo certo que em determinada ocasião o denunciado

teria recebido a quantia de R$ 200.000,OO em dinheiro, das mãos

da também denunciada Simone Vasconcelos.

O recebimento de tais valores teria como contrapartida

a concessão de apoio político nas matérias de interesse do

Governo Federal.

O tesoureiro da agência Brasília do Banco Rural, JOSÉ

FRANCISCO DE ALMEIDA REGO, citado na denúncia, prestou

depoimento nos seguintes termos (fls. 559 /560 , volume 3)

"Que o reinquirido saiu para almoçar e

somente retornou por volta das 1 3 : 3 0 horas; QUE, neste

momento, solicitou a identificação da pessoa que ia

sacar os valores para confrontar com os dados contidos

no fax recebido na Agenda Assembléia do Banco Rural,

oportunidade em que o mesmo apresentou a carteira

funcional de Deputado Federal, sendo solicitado,

então, o documento para extração de cópia, porém o

Deputado Federal, de nome JOSÉ BORBA, não permitiu a

extração de cópia e se recusou a assinar o rec ibo do

va lo r a e l e destinado; Que, diante da negativa do

Deputado JOSÉ BORBA em permitir a extração da cópia do

documento de identificação, fez contato com a Agência

Page 148: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&*&&H& Inq 2 .245 / MG

01203

A s s e m b l é i a d o Banco R u r a l , em B e l o H o r i z o n t e , e f a l o u

com o G e r e n t e d a q u e l a a g ê n c i a e l h e e x p ô s o f a t o ; Que

o G e r e n t e d i s s e q u e o r e i n q u i r i d o t e r i a tomado a

d e c i s ã o c o r r e t a d e n ã o e f e t u a r o pagamento e que i r i a

e n t r a r em c o n t a t o com a empresa SMP&B para t r a t a r d o

a s s u n t o ; Q u e , l o g o a p ó s , o g e r e n t e r e t o r n o u a l i g a ç ã o ,

d i z e n d o q u e uma pessoa e s t a r i a i n d o à agênc ia d o Banco

R u r a l / B r a s í l i a r e s o l v e r o problema, o r i e n t a n d o o

r e i n q u i r i d o a r a s g a r o f a x anteriormente r e c e b i d o em

nome do S r . JOSÉ BORBA, p o i s s e r i a mandado um o u t r o

f a x em nome da p e s s o a q u e s e r l a a r e s p o n s á v e l pelo

s a q u e ; Que t a l pessoa chegou após o encerramento d o

e x p e d i e n t e b a n c á r i o para o p ú b l i c o , permanecendo o S r .

José Borba na Agência , aguardando o de senro la r d o s

f a t o s ; QUE compareceu na agenda para e f e t u a r o saque a

S r a . SIMONE VASCONCELOS, que a s s i n o u o recibo e

a u t o r i z o u a e n t r e g a d o numerário ao ~ r . JOSÉ BORBA;

QUE o v a l o r ~ n d i c a d o n o f a x da SMP&B e r a d e

R$200.000,00, porém não se recorda se o v a l o r f o i

en t r e g u e i n t e g r a l m e n t e ao Deputado Federal JOSE

BORBA; QUE não f i c o u nada r e g i s t r a d o da operação em

nome d o deputado JOSÉ BORBA, v is to que f o i env iado

novo f a x i nd i cando como re sponsáve l p e l o saque a Sr.'

Simone Vasconce los ; Q u e , o u t r o c a s o que o r e l n q u i r i d o

se r e c o r d a é o d e um Deputado, c u j o nome não se

lembra, que .também f o i i n d i c a d o para receber

numerários adv indos da SMP&B, os q u a i s , após sacados ,

foram repassados por me io d e DOCs (Documento d e

C r é d i t o ) para d i v e r s a s pe s soas c u j o s sobrenomes eram

i g u a i s a o do Deputado.

Page 149: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@*&a&& Inq 2.245 / MG

Para além d i s t o , a funcionária da S M P & B , ELIANE ALVES,

in formou, em seu depoimento de f l s . 615/618 (volume 3 ) que "tem

conhecimento de que o D e p u t a d o F e d e r a l JOSÉ BORBA esteve na

empresa SME'&B c o m MARCOS ~ V U J ~ I O " .

Por sua v e z , ROBERTO BERTHOLDO, ex-Assessor do acusado

na l iderança do PMDB e seu advogado por mais de o i t o anos,

af irmou em seu depoimento ( f l s . 4556/4561, volume 2 1 ) :

Que, nega a acusação de que era o "homem da

m a l a " do PMDB; Que, de f a t o , o grupo de deputados que

s is tematicamente apoiava os p r o j e t o s de i n t e r e s s e do

governo era de aproximadamente 57 deputados; Que o

apoio d e s t e s parlamentares era obt ido mediante

ar t i cu lação p o l í t i c a do ex-Deputado JOSÉ BORBA,

a t ravés da democratização da par t ic ipação de todos os

parlamentares nas dec i sões da l iderança do par t ido ;

(. . .) Que, em relação a DELUBIO SOARES, conheceu t a l

t e s o u r e i r o em loca l que não s e recorda, apresentado

por JOSÉ BORBA; Que se encontrou com D E L ~ B I O SOARES

quatro ou c inco v e z e s , t a n t o em B r a s í l i a como em São

Paulo; (. . . ) Que todas a s ve zes que s e encontrou com

DELÚBIO, o ex-Deputado JOSÉ BORBA também estava

presente; Que, na verdade, o dec larante acompanhava

JOSÉ BORBA nesses encontros por s e r seu assessor;

I - .!

Em seu depoimento, o acusado J O S É BORBA af irmou o

seguin te ( f l s . 3548/3551, volume 1 6 ) :

Que se recorda de t e r conversado com MARCOS

VALLÉRIO na Câmara dos Deputados, em um encontro

Page 150: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

ocorrido ocasionalmente; Que e s t e encontro durou

aproximadamente 5 minu t o s , oportunidade em que MARCOS

ViILlh10 af irmou que poderia a judar o DECLARANTE em

ques tões no Governo Federal; (. . . ) Que, n e s t e

encontro, MARCOS VALÉRIO afirmou que possuía bons

relacionamentos no Governo Federal ; Que MARCOS VALÉRIO

não e s p e c i f i c o u e m qual s e t o r ou área possuía

i n f l u ê n c i a s , bem como quais membros do Governo Federal

conhecia; Que o dec larante também não f e z qualquer

questlonamento a e s t e r e s p e i t o ; Que tomou conhecimento

de que MARCOS VALÉRIO era uma pessoa i n f l u e n t e no

Governo Federal a t r a v é s d e conversas comuns com

parlamentares; Que não sabe prec i sar qua i s o s

parlamentares que lhe informaram das re lações que

MARCOS vALÉRIo possu ia no Governo Federal; ( . . . ) Que

procurava a C a s a C i v i l para t r a t a r dos espaços no

Governo Federa1 a serem ocupados nos Estados; Que,

como i n t e g r a n t e da base aliada, buscava nomear

corre l ig ionár ios para cargos de confiança de órgãos do

Governo Federal, t a i s como FUNASA, ANATEL, DNIT,

ELETROSUL, den t re ou t ros ; Que percebeu que o Governo

Federa1 t lnha por p o l í t l c a nomear para os cargos de

confiança somente i n t e g r a n t e s do Partldo dos

Trabalhadores; ( . . . ) Que, tendo em v i s t a o não

atendimento de seus p l e i t o s p e l o Governo Federal, o

DECL?IR?LNZ'E começou a buscar ou t ros canais de

negociação; Que, d e n t r e esses canais , pode c i t a r o

própr io MARCOS vALÉRIo; Que procurou MARCOS VALÉRIO

para t e n t a r r e f o r ç a r os p l e l t o s de nomeação junto ao

Governo Federal; Que r e a l i z o u algumas l igações

t e i e f ô n i cas para MARCOS VALÉRIO, para r e f o r ç a r os

Page 151: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@+NU&& I n q 2.245 / MG 6 1 2 0 9 7

p e d i d o s d e nomeação; ( . . . ) Que a c r e d i t a v a q u e MARCOS

VALÉRIO p o d e r i a a j u d a r o DECLARANTE n e s t e s e n t i d o ; Que

n ã o t i n h a c o n h e c i m e n t o d a s a t i v i d a d e s e m p r e s a r i a i s

d e s e n v o l v i d a s p o r MARCOS VALÉRIO; Que desconhec ia

q u a i s empresas eram v i n c u l a d a s a MARCOS VALÉRId2; Que

somente após a d i vu lgação d o escândalo do "Mensalão"

f o i que o DECLARANTE tomou conhecimento d a s empresas

v i n c u l a d a s a MARCOS KUÉRIO; Que também procurou por

DELÚBIO SOARES para t e n t a r ver a t e n d i d o s s e u s p l e i t o s

n o Governo F e d e r a l ; Que f i c o u c l a r o para o DECLARANTE

q u e DELÚBIO SOARES e r a uma p e s s o a q u e p o s s u í a g r a n d e

i n f l u ê n c i a n o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s ; Que sempre se

encon trava com MARCOS -10 n a Câmara dos Deputados;

( . . . ) Que já esteve na a g ê n c i a d o Banco Rura l

l o c a l i z a d a n o E d i f í c i o B r a s í l i a Shopp ing em d u a s

o c a s i õ e s ; Que f o i à agênc ia B r a s i l i a d o Banco Rural

para t e n t a r se e n c o n t r a r com MARCOS VALÉRIO; Que o

p r ó p r i o MARCOS VALÉRIO a f i r m o u para o DECLARANTE q u e

p o d e r i a ser e n c o n t r a d o na a g ê n c i a B r a s i l i a d o Banco

R u r a l n a s d a t a s e m q u e o DECLARANTE esteve a l i

p r e s e n t e ; ( . . . ) Q u e , e n t r e t a n t o , não se encon trou com

MARCOS KUÉRIO quando esteve na Agência B r a s i l i a d o

Banco r u r a l ; ( . . . ) Que não conhece SIMONE REIS LOBO DE

VASCONCELOS; Que nunca se encon trou com SIMONE REIS

LOBO DE VASCON(3ELOS n o interior da Agência B r a s i l i a d o

-Banco Rura l ; ( . . . ) ".

Por fim, o Deputado Federal JOSÉ BORBA c o n s t a da

l i s t a g e m d e MARCOS VALÉRIO como um dos b e n e f i c i á r i o s do supos to

32 Esta afirmação é contrária ao depoimento de ELIANE ALVES, empregada da SMP&B, que afirmou que JOSÉ BORBA já havia comparecido a sede da SMP&B.

3 2 2

Page 152: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

c?kgh?- &-&a Inq 2 .245 / MG 0 1 2 0 2 8

esquema narrado na denúncia, sendo que t e r i a r e c e b i d o , a t r a v é s

d e i n t e r p o s t a s p e s s o a s , o mon tan te d e R$ 2.100.000,00 (dois

milhões e cem m i l r e a i s ) , r e p a s s a d o s n a s s e g u i n t e s d a t a s e

v a l o r e s ( f l s . 607, volume 3 ) :

A s s i m , há , nos a u t o s , dados que apontam no s e n t i d o da

p o s s í v e l p r á t i c a dos crimes narrados na i n i c i a l pelo acusado

E s p e c i f i c a m e n t e em r e l a ç ã o a lavagem d e d i n h e i r o ,

repito o s termos da denúncia ( f l s . 5 7 3 1 ) :

"Segundo in fo rmação de Marcos V a l é r i o , José Borba f o i beneficiado com valores na ordem de R$ 2.100.000,00, mediante pagamentos efetuados, no esquema de lavagem já narrado, nas seguintes datas:

16 /09 /2003 - R$ 250.000,OO; 25/09/2003 - R$ 250.000,OO; 20 /11 /2003 - R$ 200.000,OO; 27 /11 /2003 - R$ 200.000,OO; 04/12/2003 - R$ 200.000,OO; e 05/07/2004 - R$ 1 .000 .000 ,00 .

C i e n t e da or igem i l í c i t a d o s r e c u r s o s ( o r g a n i z a ç ã o c r i m i n o s a v o l t a d a p a r a a p r á t i c a de crimes c o n t r a a a d m i n i s t r a ç ã o p ú b l i c a e c o n t r a o s i s t e m a f i n a n c e i r o n a c i o n a l ) , bem como d o s mecanismos

Page 153: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

& lavagem empregados para a transferência dos va lores , Jose Borba a tuou para não receber diretamen t e o d inhe i ro , de forma a não de ixar qualquer r a s t r o de sua par t ic ipação no esquema.

No en tan to , f i c o u comprovado o pagamento de uma das parce las d i s p o n i b i l i z a d a s pe lo grupo de Marcos V a l é r i o , no va lor de R$ 200.000,OO ao ex-Deputado Federal Jose Borba, que recebeu e s s e d inhe i ro das mãos de Simone Vasconcelos.

Nessa ocas ião , o próprio José Borba compareceu na agencia do Banco Rural em B r a s i l i a e procurou o en tão Tesoureiro do Banco Rural em B r a s í l i a José Francisco de Almeida para a entrega do d i n h e i r o , o que f o i confirmado por Simone Vasconcelos.

Todavia, José Borba recusou-se a ass inar qualquer documento que comprovasse o recebimento da importância acima, fazendo com que Simone Vasconcelos se des locasse a t é essa agência, r e t i r a s s e , mediante a sua própria as s ina tura , a quantia acima informada, e e f e t u a s s e a entrega desse numerário ao então parlamentar.

E fe t ivamente , o acusado t e r i a se u t i l i z a d o do mesmo

esquema de lavagem de dinheiro d i s p o n i b i l i z a d o para os outros

denunciados no c a p i t u l o d a denúncia ora em a n á l i s e , recebendo,

em e s p é c i e , e levados va lores em e s p é c i e , buscando, com i s s o ,

ocu l tar a propriedade e movimentação desses v a l o r e s . I s t o porque

o recebimento, em dinheiro, de mais de d o i s milhões de r e a i s , é

prát ica completamente a t i p i c a , e s e deu no mesmo contex to dos

anteriormente v i s t o s n e s t e p lenár io , como consta dos depoimentos

que l i n e s t e c a p i t u l o .

Portanto, entendo haver ind íc ios su f i c i en t e s a

instauração da ação penal contra o denunciado JOSÉ BORBA, pela

suposta prát ica dos d e l i t o s previs tos nos ar t igos 317 do Código

Penal e a r t . 1 ° , V , V I e V I I , da Lei no 9.613/98, razão pela

Page 154: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R- NU&& Inq 2.245 / MG

qual recebo a denúncia ( i t e m VI.4, b .1 e b.2, d a i n i c i a l

a c u s a t ó r i a ) .

Corrupção Ativa - itens VI.l, VI.2, VI.3 e VI.4 da

Denúncia

S r a . Pres idente , passo a ana l i sar a s imputações

r e f e r e n t e s ao d e l i t o de corrupção a t i v a (ar t .333 do Código

Pena l ) , d i r i g i d a s contra os denunciados JOSÉ DIRCEU, DELÚBIO

SOARES, JOSÉ GENOÍNO, SÍLVIO PEREIRA, MARCOS VALÉRIO, RAMON

HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ, ROGÉRIO TOLENTINO, SIMONE VASCONCELOS

e GEIZA DIAS.

As condutas são d e s c r i t a s no item VI d a denúncia e , de

maneira mais detalhada, nos itens VI.l, VI.2, VI.3 e VI.4.

Consta d a denúncia ( f l s . 5 7 0 6 / 5 7 0 7 ) :

"Toda a e s t r u t u r a montada por José Dirceu,

De1 úbio Soares, José Genoino e S i l v i o Pereira t inha

e n t r e seus o b j e t i v o s angariar i l i c i t a m e n t e o apoio de

outros par t idos p o l í t i c o s para formar a base de

sustentação do Governo Federal.

Nesse s e n t i d o , e l e s ofereceram e ,

poster iormente , pagaram v u l t o s a s quant ias a d i ver sos

parlamentares f e d e r a i s , pr incipalmente os d i r i g e n t e s

p a r t i d á r i o s , para receber apoio p o l í t i c o do Partido

Progressis ta - PP, Partido Liberal - PL, Partido

Trabalhis ta B r a s i l e i r o - PTB e par te do Partido do

Movimento Democrático B r a s i l e i r o - PMDB.

Page 155: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&- fl&&U inq 2 .245 / MG

C'IZI01

P a r a a execuçáo dos pagamentos de propina,

José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno e S í l v i o

Pereira valeram-se dos s e r v i ç o s criminosos prestados

por Marcos V a l é r i o , Ramon Hollerbach, Cr i s t iano Paz,

Rogério To len t ino , Simone Vasconcelos e Geiza D i a s .

Portanto, na forma do a r t i g o 29 do Código

Penal, o s denunciados ind icados deverá0 responder em

concurso m a t e r i a l por todos o s crimes de corrupção

a t i v a que praticaram, os quais serão devidamente

narrados em tóp icos ind iv idua l i zados para cada p a r t i d o

p o l í t i c o . "

Dispõe o ar t . 333 do Código Penal:

Corrupção a t i v a

A r t . 333 - Oferecer ou prometer vantagem

indevida a funcionário púb l i co , para determiná-lo a

praticar, o m i t i r ou re tardar ato de of íc io:

Pena - rec lusão , de 2 ( d o i s ) a 12 (doze)

anos, e m u l t a .

Parágrafo único - A pena é aumentada de um

t e r ç o , se, em razão da vantagem ou promessa, o

funcionário retarda ou omite a t o de o f í c i o , ou o

pra t ica i n f r i n g i n d o dever func ional .

Como é poss í ve l perceber a p a r t i r do t recho d a

denúncia que l i há pouco, o ato de of ic io , no que concerne ao

t i p o penal do a r t i g o 3 3 3 do C P (corrupção a t i v a ) , ser ia o de

votar a favor do Governo Federal nos assuntos do seu interesse.

Page 156: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

Apesar de alguns dos denunciados alegarem, em suas

defesas, que o fornecimento de apoio financeiro de um partido

político ao outro é conduta licita, ressalto que a denúncia ora

analisada não cuida do simples fornecimento de apoio financeiro

a partidos políticos aliados.

Os fatos narrados na denúncia descrevem a existência

de uma suposta organização criminosa, que se utilizaria de um

sofisticado esquema de lavagem de capitais para o oferecimento

de dinheiro a alguns parlamentares de partidos da base aliada no

Congresso, de modo a convencê-los a votar favoravelmente a

aprovação dos projetos de interesse do Governo Federal. Tudo,

segundo o Procurador-Geral da República, com o intuito de

perpetuar no poder os Partidos Políticos em tese envolvidos.

A conduta narrada pelo Procurador-Geral da República

configura, ao menos em tese, o delito de corrupção ativa, pois

estariam presentes todos os elementos necessários a realização

do tipo penal do artigo 333 do Código Penal.

Conforme leciona Cezar Roberto Bitencourt:

"3. Tipo objetivo: adequação típica

A conduta típica alternativamente prevista

consiste em oferecer (apresentar, colocar à

disposiçâo) ou prometer (obrigar-se a dar) vantagem

indevida (de qualquer natureza: material ou moral) a

funcionário público, para determiná-lo a praticar

(realizar), omitir (deixar de praticar) ou retardar

Page 157: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

(atrasar) ato de oficio (incluido na esfera de

competência do funcionário). A oferta ou promessa,

ainda que feitas indiretamente, admitem vários meios

de execução. " (in, BiteJIcourt, Cezar Roberto - Código

Penal Comentado, São Paulo: Saraiva 2002.)"

No caso em análise, a narrativa constante denúncia, em

relação aos crimes de corrupção ativa, constante do item VI e

seus subitens, amolda-se, de forma aparente, ao tipo do artigo

333 do Código Penal, pois o oferecimento das vantagens

ilícitas teria ocorrido nas reuniões entre os lideres dos

partidos envolvidos, sendo que "vantagem indevida" seriam as

enormes quantias em dinheiro supostamente distribuídas por meio

do sistema de lavagem de dinheiro descrito na denúncia.

Aliás, apenas para ilustrar esta alegada distribuição,

vale citar um depoimento bastante emblemático constante dos

autos, que traz i n d í c i o s de que realmente teria havido

distribuição do denominado "mensalão". Trata-se do depoimento

prestado por EMERSON PALMIERY (fls. 3574, volume 16):

"Que ROBERTO JEFFERSON recebeu pelo PTB o

valor t o t a l de R$ 4 milhões, em duas parcelas, sendo a

primeira em fins de junho, no valor de R$

2.200.000,00, e a segunda na primeira semana de julho

de 2004, no valor de R$ 1.800.000,00; Que, em ambas as

ocasiões, se encontravam na sala da Presidência do

PTB, ROBERTO JEFFERSON e MARCOS VALÉRIO, tendo sido

convidado a participar da reunião por ROBERTO

Page 158: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

JEFFERSON, sendo que, quando entrou na sala do

presidente do PTB, o numerário j á se encontrava sobre

a mesa, envolto com etiquetas do BANCO DO B R A S I L e

BANCO RURAL; I . . . ) Que em &as as ocasiões o

declarante conferiu o numerário, tendo separado, por

orientação de ROBERTO JEZFERSON, valores de R$ 200 mil

e R$ 150 mil, tendo, após isso, guardado o numerário

no cofre da sa la da presidência do partido".

Ora, neste momento, em mero juizo prelibatório, não se

pode descartar a hipótese de que es t a separação do dinheiro

recebido em montantes de R$ 200 m i l e R$ 150 m i l poderia ter se

prestado a ulterior distribuição dos valores aos parlamentares

supostamente corrompidos.

Quanto aos atos de oficio, estes se consubstanciariam

na votação em plenário, cujos episódios mais significantes foram

mencionados na denúncia.

Os documentos anexados a denúncia (apenso no. 81)

corroboram o teor da i n i c i a l acusatória, demonstrando os votos

proferidos em votações importantes, ocorridas durante o mesmo

periodo dos fa tos narrados na denúncia.

Segundo a referida documentação, na sessão ordinária

do dia 27/08/2003, quando do julgamento da reforma da

Previdência, votaram a favor do projeto os deputados Pedro

Henry, Pedro Corrêa, José Janene (todos do PP), Valdemar Costa

Neto e Bispo Rodrigues (ambos do PL), José Carlos Martinez,

Page 159: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&- &&&& Inq 2.245 / MG

G12d05

Roberto J e f f e r s o n e Romeu Queiroz ( P T B ) , além de José Borba

( P M D B ) .

Vale lembrar que o mesmo padrão se manteve na votação

da reforma tributária, conforme o PGR informa na denúncia e

apontam os documentos constantes dos autos (apenso n081), a

exceção do denunciado Pedro Corrêa, que não participou da

r e f e r i d a votação.

Obviamente, a votação a favor de proje tos de i n t e r e s s e

do Governo Federal, por si só, não implica a automática

responsabilidade penal dos denunciados.

Porém, t a i s f a t o s , associados a indícios da presença

dos demais elementos do tipo descrito no artigo 333 do Código

Penal (oferecimento de vantagem indevida), podem ensejar a

instauração d a ação penal competente.

Com e f e i t o . af irma o PGR na denúncia:

"Para i l u s t r a r o apoio p o l í t i c o do grupo de

parlamentares do Partido Progressis ta ao Governo

Federal, na s i s t emát i ca acima narrada, destacam-se as

atuações dos parlamentares Pedro Correa, Pedro Henry e

José Janene na aprovação da reforma da previdência

(PEC 40/2003 na sessão do d i a 27/08/2003) e da reforma

t r i b u t a r i a (PEC 41/2003 na sessão do d i a 24/09/2003).

P a r a i l u s t r a r o apoio p o l í t i c o do Grupo de

parlamentares do Partido Liberal ao Governo Federal,

na s i s temát ica acima narrada, pontua-se a atuação do

Parlamentar Carlos Rodrigues na aprovação da reforma

Page 160: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&e NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 3 1 3 1 ,r r r L 6

da p rev idênc i a (PEC 40/2003 na s e s s ã o do d ia

27/08/2003) e da re forma t r i b u t á r i a (PEC 41/2003 na

s e s s ã o do d i a 27 /08 /2003) .

(. - . I

P a r a i l u s t r a r o apo io p o l í t i c o do grupo de

par lamentares do Par t i do T r a b a l h i s t a B r a s i l e i r o ao

Governo f e d e r a l , na s i s t e m á t i c a acima narrada,

destacam-se a s a t uações dos Parlamentares Roberto

J e f f e r s o n , Romeu Que i ro z e José Car los Mart inez San tos

na aprovação da reforma da p rev idênc ia (PEC 40/2003 na

s e s s ã o do d i a 27/08/2003) e da reforma t r i b u t á r i a (PEC

41/2003 na s e s s ã o do d i a 24/09/2003) "

Inicialmente, importa ressaltar que as condutas de corrupção ativa estão

descritas no item V1 e nos seus subitens VI.1, VI.2, VI.3 e VI.4. Tal procedimento, inclusive,

não poderia ser diferente, uma vez que o suposto modus operandi da corrupção ativa encontra,

do outro lado, a prática de corrupção passiva pelos parlamentares supostamente envolvidos,

sendo que as pequenas variações fáticas referentes a cada partido político constam

separadamente de cada um dos subitens mencionados.

Aliás, os crimes de corrupção passiva e compção ativa podem ser bilaterais,

como ocorre no caso dos autos, em que, supostamente, a vantagem indevida foi oferecida pelos

acusados no item ora em análise e percebida por aqueles denunciados por corrupção passiva, nos

subitens que vimos anteriormente.

Resta claro, de todo modo, que a denúncia deve ser analisada de uma

maneira global, pois os fatos estão de tal forma entrelaçados que não seria possível ao

Ministério Público Federal fazer, a todo tempo, a descrição isolada das condutas dos

denunciados. Principalmente considerando que, mesmo os crimes de corrupção ativa, de acordo

Page 161: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&-NU&& Inq 2.245 / MG

U121C7 com a denúncia, teriam sido praticados em concurso de agentes, na forma do artigo 29 do

Código Penal.

É claro que esta complexidade fática não pode importar na admissão de

imputação genérica, que subtrairia ao denunciado a possibilidade de aferir exatamente o que lhe

está sendo imputado.

Nesse particular, é importante perceber que a denúncia se baseia, sempre, na

teoria do domínio do fato, principalmente em razão do amplo concurso de agentes narrado pelo

Procurador-Geral da República. Assim, cada denunciado teria, em maior ou menor escala, de

acordo com o papel a ele atribuído, o d~míniofinal. '~ dos fatos tipicos e ilícitos a eles imputados.

Com efeito, as condutas tipificadas no artigo 333 do Código Penal, supostamente

praticadas pelos denunciados José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno, Silvio Pereira, Marcos

Valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz, Rogério Tolentino, Simone Vasconcelos e Geiza

Dias teriam sido praticadas mediante uma divisão de tarefas, detalhadamente narrada na

denúncia, de modo que cada suposto autor praticasse uma fraqão dos atos executórios do iler

criminis.

De acordo com a definição elaborada por esta teoria, que é a mais aceita hoje na

doutrina, não é necessário, .para que alguém seja co-autor de um crime, que ele tenha

efetivamente praticado a ação (verbo) descrita no tipo legal - in casu, oferecer vantagem

indevida.

É como ensina CÉZAR ROBERTO BITENCOURT~~, verbis:

" 5 . 3 . T e o r i a do domín io do f a t o

( . . . ) A u t o r , segundo e s t a t e o r i a , é quem

tem o poder de decisão sobre a real i zação do f a t o . É

3 3 De acordo com a Teoria Final da Ação.

Page 162: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&-&a&& Inq 2.245 / MG ( 3 1 2 1 ~ 8

não s ó o que executa a ação t í p i c a como também aquele

que s e u t i l i z a de outrem, como instrumento, para a

execução da i n f r a ç ã o penal (autor ia media t a ) 35.

Conseqüências da t e o r i a do dominio do f a t o

A t e o r i a do dominio do f a t o tem as

segu in te s conseqüências: 1 ") a real ização pessoal e

plenamente responsável de todos o s elementos do t i p o

fundamentam sempre a autor ia; 2 " ) é autor quem executa

o f a t o u t i l i z a n d o outrem como instrumento (autor ia

med ia ta ) ; 3" ) é autor o co-autor que r ea l i za uma par te

necessária do plano global ("domínio funcional do

f a to" ) , embora não se ja um a t o t í p i c o , desde que

integre a resolução d e l i t i v a cormrm.''

Veja-se, ainda, a lição de Damásio E. de Jesus na obra "Teoria do Domínio do

fato no Concurso de Pessoas":

" 4.3 .2 . Co-autoria parcial ou funcional

Há d iv i são d e t a r e f a s executorias do

d e l i t o . Trata-se do chamado "domínio funcional do

fa to" , assim denominado porque alude à repart ição de

a t i v idades ( funções) en t r e o s s u j e i t o s . O s a t o s

executór ios do i t e r c r imin i s são d i s t r i b u í d o s e n t r e os

d i ver sos au tores , de modo a que cada um é responsável

por uma par te do f a t o , desde a execução a t é o momento

consumativo. As colaborações são d i f e r e n t e s ,

34 Código Penal Comentado. 3 = ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 119/120. 35 In casu, como é claro, não há hipótese de autoria mediata, que é aquela em que o agente imediato é mero instrumento da vontade de outrem, o denominado "homem de trás". As hipóteses mais citadas de autoriza mediata decorrem de erro, coação irresistivel e inimputabilidade do agente imediato. No caso em questão, todos os acusados tinham, em tese, plena consciência de seus atos e, portanto, poder de decisão sobre a sua realização.

Page 163: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@+ Inq 2 .245 / MG

constituindo partes e dados de união da açáo coletiva,

de forma que a ausência de uma faria frustrar o

delito. É por isso que cada um mantém o dominio

funcional do fato." (in, Teoria do dominio do fato no

concurso de pessoas/ Damásio E. de Jesus. - 2. ed.

Ver. - São Paulo: Saraiva, 2001. p. 22-23)

Portanto, o que deve ser exposto na denúncia, em

atendimento ao que determina o artigo 4 1 do Código de Processo

penal, é de que forma cada um dos denunciados teria contribuido

para a suposta consumação do delito, ou seja, qual papel cada um

t e r i a desempenhado na execução do crime.

Apenas para introduzir o tema, transcrevo trecho do

depoimento do acusado ROMEU QUEIROZ (suposta prática do crime de

corrupção passiva), justamente porque revela o modus operandi

que aparentemente era adotado na prática dos crimes narrados na

inicial (fls. 2 1 2 7 , volume 10):

"Que, em agosto de 2004, recebeu um contato

telefônico do Sr. CRISTIANO PAZ, sócio de Marcos

Valério na SMPbB PUBLICIDADE; Que CRISTIANO PAZ era o

presidente da empresa; Que, neste conta to, CRISTIANO

PAZ disse ao declarante que a empresa USIMINAS tinha

disponibilizado R$ 150.000,OO (cento e cinquenta mil

reais) de doação para diversas campanhas eleitorais

municipais de interesse do PTB; (. . .) Que dos R$

150.000,OO doados pela USIMINAS, foram descontados

pela SMP&B a importância de R$ 4 7 . 1 8 7 , 2 4 (quarenta e

Page 164: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

se te m i l cento e oitenta e se t e reais e v inte e quatro

centavos), a t i t u l o de irnpostos e taxas ( . . . ) "

Ou seja, enquanto o denominado "núcleo político

partidário" teria interesse na compra do apoio político que

daria condições para que o grupo majoritário nas eleições se

perpetuasse no poder, os denunciados do dito "núcleo

publicitário" se beneficiariam de um percentual do numerário que

seria entregue aos beneficiários finais do suposto esquema de

repasses.

Passo, pois, a analisar se a inicial acusatória

atende, suficientemente, aos requisitos do artigo 41 do Código

de Processo Penal, quanto a imputação do crime de corrupção

ativa aos denunciados José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno,

Sílvio Pereira, Marcos Valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz,

Rogério Tolentino, Simone Vasconcelos e GEISA Dias (alínea a do

item V I . , de modo a possibilitar, assim, a plenitude de

defesa.

Analisarei, também, neste item, se está presente a

justa causa para a propositura da ação penal por corrupção

ativa. contra os denunciados antes mencionados.

Page 165: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

Já no i t e m I1 da denúncia o Procurador-Geral da

República aponta JOSÉ DIRCEU como a pessoa que autorizava os

denunciados José Genoino, Delúbio Soares e Sílvio Pereira a

selarem os acordos nas reuniões com os líderes dos partidos, i n

v e r b i s ( f l s . 5 . 6 3 2 ) :

"Roberto J e f f e r s o n , com o conhecimento de

quem vendia apoio p o l í t i c o à organização d e l i t i v a ora

denunciada, e m todos os depoimentos pres tados , apontou

José Dirceu como o cr iador do esquema do 'mensalão'.

Segundo e l e , José Dirceu reunia-se com o

pr inc ipa l operador do esquema, Marcos Va lér io , para

t r a t a r dos repasses de d inhe i ro e acordos p o l í t i c o s

ou, quando não se encontrava presen te , era previamente

consul tado por José Genoíno, Delúbio Soares ou S í l v i o

Pereira sobre as de l iberações e s tabe lec idas nesses

encontros . "

Vale r e s s a l t a r que, conforme consta do depoimento de

Sandra Rodrigues Cabral, Assessora especial do denunciado José

Dirceu a época dos f a t o s , era comum que os l i d e r e s par t idár ios

frequentassem a Casa C i v i l , para resolução de assuntos

p o l í t i c o s , como a indicação de pessoas para a ocupação de cargos

públicos :

9, (. . . ) QUE não conhece Jac in to de Souza

Lamas; QUE JOÃO CLÁUDIO DE CARVALHO GENU j á e s t e v e no

gabinete da DECLARANTE na Casa C i v i l por duas ou t r ê s

v e z e s , sempre acompanhando do Deputado Federa1 JOSÉ

JANENE; QUE não conhece EMERSON PALMIERI, t e soure i ro

Page 166: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@+&&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 012112

informal do PTB; QUE não se recorda quantas vezes JOSÉ

JANENE esteve no gablnete da DECLARANTE; QUE era comum

l i d e r e s e presidentes de part idos p o l í t i c o s s e

d ir ig irem à Casa C i v i l , sem prévio agendamento, para

d i s c u t i r nomeações de pessoas indicadas conforme

discussão anter ior nos respec t i vos min is tér ios ou

órgãos; ( . . . ) "

No mesmo sentido, as declarações de Marcelo Sereno

(fls. 4233/4234), ex-Chefe de Gabinete do então Ministro José

Dirceu, no período entre 23 de novembro de 2002 a 13 de maio de

"QUE sua principal função como chefe de

gabinete era de cuidar da agenda de compromissos do

Ministro J O S E DIRCEU; QUE o ministro, além de cuidar

dos assuntos referentes a sua pasta, tinha também a

responsabilidade de coordenação politica do Governo do

Presidente Lula;"

Entretanto, a acusação feita pelo Procurador-Geral da

República tem base, dentre outros indícios, em depoimento de

ROBERTO JEFFERSON, indicado na nota de rodapé no 18 da i n i c i a l

acusatória, no qual referido acusado asseverou, com veemência

(fls. 4219/4227):

"QUE JOSÉ GENOÍNO não possuia autonomia

para "bater o martelo" nos acordos, que deveriam s e r

r a t i f i c a d o s na Casa C i v i l pelo Ministro JOSÉ DIRCEU."

Page 167: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

I n q 2.245 / MG

Roberto J e f f e r s o n Monteiro Francisco, em depoimento

prestado a Pol ic ia Federal, as f l s . 4219-4227, forneceu de ta lhes

dessa função supostamente desempenhada pelo denunciado José

Dirceu, em relação ao P T B :

. . q u e realmente representou o PTB em

t r a t a t l v a s junto à Dlreção naclonal do PT em abrll e

mal0 de 2004, relativas à s campanhas munlclpals

daquele ano; Que, nessas t r a t a t l v a s , p a r t i c i p a r a m p e l o

PTB o d e c l a r a n t e , como presidente da legenda, o lider

da bancada na Câmara dos Deputados JOSÉ &CIO

MONTEIRO, e o p r i m e i r o s e c r e t á r i o nac iona l d o PTB, D r .

EMERSON PALMIERI; Que, pelo PT, par t i c i param JOSÉ

GENOINO, o Tesoure i ro Nacional DELÚBIO SOARES, o

s e c r e t á r i o MARCELO SERENO, e o e n t ã o M i n i s t r o JOSÉ

DIRCEU, que homologava t o d o s os acordos daque le

p a r t i d o ; Que JOSÉ GENOÍNO não pos su ía autonomia para

" b a t e r o marte lo" nos acordos, que deveriam s e r

r a t i f i c a d o s na Casa C i v i l p e l o M i n i s t r o JOSÉ DIRCEU;

I . . . I "

Importante des tacar , ainda, t r echo do depoimento do

denunciado Roberto J e f f e r s o n no Conselho de Ét ica e Decoro

Parlamentar, que é c i t a d o em nota de rodapé na denúncia, às f l s .

5.617 dos autos do presente i n q u é r i t o :

"Conselho de Ét ica e Decoro Parlamentar -

02 de agosto de 2005

DEPOENTE/CONVIDADO: JOSÉ DIRCEU - Deputado

Federal

SUMÁRIO: Tomada de depoimento

Page 168: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

~ q f k e o Inq 2.245 / MG 012114

O S R . DEPUTADO ROBERTO JEFFERSON - S r .

P r e s i d e n t e , S r . R e l a t o r , S r s . D e p u t a d o s , S r a s .

D e p u t a d a s , povo d o B r a s l l , c l d a d ã o d o B r a s i l , c i d a d ã

d o B r a s i l , depois de ouv i r o e%-Ministro José Dirceu,

o Deputado José Dirceu, eu cheguei a conclusão de que

f o i ele quem tre inou o S i l v inho Pereira, o Delúbio e .o

Marcos Va lér io a mentirem. Não tem mensalão no Bras i l .

É conversa da imprensa. Todos o s jornais mentem. Todas

a s r e v i s t a s mentem. Todo o povo b r a s i l e i r o prejulga o

Ministro José Dirceu, esse inocente e humilde que aqui

e s t á , porque não tem mensalão. Todos o s ges tos do

Delúbio não são do conhecimento d e l e . Todos o s ges tos

do S i l v i o Pereira não são do conhecimento d e l e . Todas

a s a t i t u d e s do Marcos Va lér io , que f o i 12 vezes à Casa

C i v i l - 12, não foram 7 não, Relator , 12 -, ele não

v i u l á o Marcos Va lér io , a l i á s , uma figura que passa

despercebida, (. . .) . E a i eu quero separar o jo io do

t r i go ; não vou acusar o PT, mas a cúpula do PT, gente

d e l e - Genoíno, S í l v i o Pereira, Delúbio -, g e n t e d e l e ,

q u e e l e f e z q u e s t ã o d e d e f e n d e r a t e o ú l t i m o m o m e n t o ,

q u a n d o c o n v e r s o u c o m i g o . "Eu q u e r o p r o t e g e r o S i l v i n h o

e o D e l ú b i o , q u e e s t ã o s e n d o e n v o l v i d o s n i s s o " . (. . . )

Esquece d e se referir a saques mi l ionários do Marcos

Va lér io f e i t o s um dia an tes de i r ao seu gabinete na

Casa C i v i l . O j o r n a l O G l o b o h o j e f e z a l i g a ç ã o d a s

d a t a s . Mas o D e p u t a d o J o s é D i r c e u n ã o s a b i a d e n a d a

d i s s o q u e a c o n t e c i a n o B r a s i l . . . . , e u r a t i f i c o , e u

r e i t e ro , e u r e a f i r m o , S r . R e l a t o r . José Genoino era o

vice-presidente do PT. O Presidente d e f a to era o José

Dirceu. T u d o q u e n ó s t r a t á v a m o s no p r é d i o da VARIG,

S r . R e l a t o r , t u d o q u e t r a t a m o s a l i , n a s e d e n a c i o n a l

Page 169: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

c&$'+ &&H& Inq 2.245 / MG

do PT, t i n h a que ser fechado e homologado depo i s , na

Casa C i v i l , p e l o M i n i s t r o Jose Dirceu. Tudo. (. . . ) . Aliás, V.Exa. que construiu, é o arquiteto desse

modelo adm~nistratlvo do Governo, e u não consigo

compreender como é que V.Exa. f e z na SECOM esse modelo

de jun tar l á com o ex-Ministro Gushiken a s agências de

publ ic idade e os fundos de pensão. Eu não se1 que

engenharia V.Exa. conseguiu urdir para botar juntos na

SECOM, na Comunicação Soc ia l do Governo, a s agências

d e market ing, aliás, que foram bem aquinhoadas aqui no

ca ixa 2 - 15 mi lhões e meio para o Duda Mendonça no

ca ixa 2, e s t á aqui na mesma re lação a qual se refere

V.Exa. ., e consegue jun tar o s fundos de pensão na

SECOM para a adminis tração do Ministro Gushiken. Ele

fazia o marketlng, a propaganda do Governo e fazla os

fundos de pensão. "

Quanto ao Partido Progressista, e elucidativo o

depoimento prestado pelo Deputado Federal Vadão Gomes, que

demonstra a existência de um acordo de "cooperação financeira",

firmado entre o PP e o PT (fls. 1719), acordo este nos mesmos

moldes do firmado com os demais partidos referidos na denúncia,

e no qual teriam ingerência também os denunciados JOSÉ GENOÍNO e

DELÚBIO SOARES:

"QUE nunca chegou a tratar nenhum tipo de

assunto com Delúbio Soares, esclarecendo que

presenciou uma conversa havida em B r a s i l i a entre o

t e s o u r e i r o do Par t ido dos Trabalhadores e o pres iden te

do mesmo par t ido , JOSÉ GENOINO, com o s Deputados PEDRO

Page 170: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

R ' Y e PEDRO CORREIA, ambos do Partido Progressista;

QUE, nessa conversa, os politlcos dos dols partldos

tentavam acertar detalhes de uma possivel aliança em

âmbito nacional; QUE, no decorrer do referido diálogo,

escutou que os interlocutores mencionaram a

necessidade de apoio financeiro do Parti do dos

Trabalhadores para o Partido Progressista em algumas

regioes do pais."

De acordo com a denúncia (v. itens VI.2, VI.3 e VI.41,

além do PTB, acordos semelhantes foram celebrados pelo PT com o

Partido Liberal, com o PTB e com o Deputado JOSÉ BORBA, do PMDB.

Com efeito, os elementos coligidos na fase

investigatória estão a indicar que o modus operandi do repasse

de recursos avençado entre PT e PP, PL e PTB não prescindia da

ciência e do aval do denunciado José Dirceu.

Há indícios no sentido de que as grandes decisões

politicas do partido dos trabalhadores eram todas avalizadas

pelo denunciado José Dirceu, inclusive no que concerne a acordos

político-financeiros com outros partidos.

É bem verdade que, perante a autoridade policial, José

Dirceu negou ter relacionamento político, empresarial ou de

amizade com Marcos Valério, in verbis (fls.3552-3556):

"QUE conheceu Marcos Valério em uma

atividade social, da qual não se recorda; QUE não se

lembra o local onde ocorreu tal atividade, nem

tampouco quem eram os demais participantes; QUE MARCOS

Page 171: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

VZUÉRIO lhe foi apresentado como sendo um

publicitário; QUE não possui nenhum relacionamento com

MARCOS WILÉRIO FERNANDES DE SOUSA, quer seja político,

empresarial ou de amizade; QUE, posteriormente, se

encontrou com MARCOS VALÉRIO três ou quatro vezes na

Casa Civil da Presidência da República; QUE, em todos

e s s e s encontros, MARCOS VALÉRIO estava acompanhando

representantes das empresas USIMINAS, BANCO RURAL e

BANCO DE INVESTIMENTO ESPÍRITO SANTO; (. . . ) QUE, nesta

época, era de seu conhecimento que MARCOS VZUÉRIO

possuía relacionamento com DELÚBIO SOARES; QUE DELÚBIO

SOARES nunca f e z qualquer comentário especia l a

r e s p e l t o de MARCOS VALÉRIO, dando a entender que eram

apenas amigos; QUE s a b i a de t a l relacionamento tendo

em v i s t a que, no primeiro encontro com MARCOS VALÉRIO,

o tesoureiro do PT DELÚBIO SOARES estava presente; QUE

DELÚBIO SOARES nunca f e z qualquer comentário com o

DECLARANTE sobre as relações f inanceiras que mantinha

com MARCOS VALÉRIO; QUE, e n t r e t a n t o , desconhecia qual

era a natureza ou o grau de relacionamento que DELÚBIO

SOARES mantinha com MARCOS VALÉRIO; QUE não sabia que

DELÚBIO SOARES estava realizando tratativas

financeiras com MARCOS VALÉRIO; QUE não era do seu

conhecimento que MARCOS VALÉRIO estava auxi l iando o

Partido dos Trabalhadores na obtenção de empréstimos

bancários; ( . . . ) QUE f i cou sabendo da atuação de

MARCOS VALÉRIO na operacionaiização dos empréstimos ao

Partido dos Trabalhadores somente quando t a i s f a t o s

vieram a públ ico; (. . . ) QUE desconhece quem eram as

pessoas que tinham conhecimento das relações

f inanceiras mantidas en t re o Partido dos Trabalhadores

Page 172: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R+k?m H&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 012118

e MARCOS VALÉRIO; QUE também n ã o s a b e d i z e r q u a i s

p e s s o a s t i n h a m c o n h e c i m e n t o da u t i l i z a ç ã o d a s empresas

v i n c u l a d a s a MARCOS VALÉRIO para m o v i m e n t a r r e c u r s o s

d o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s ; QUE não sabe d i z e r por

qua i s mot ivos o Par t ido dos Trabalhadores recebeu

recursos t r a n s f e r i d o s de empresas v inculadas a MARCOS

VALÉRIO; QUE não t i n h a conhecimento d e que DELÚBIO

SOARFS u t i l i z a v a empresas v inculadas a MARCOS VALÉRIO

para t r a n s f e r i r r ecursos a d i r e t ó r i o s do Par t ido dos

Trabalhadores e para p a r t i d o s a l i a d o s ; QUE também

nunca s o u b e q u e o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s

u t l l l z a v a a c o r r e t o r a BÔnus Banval para t r a n s f e r l r

r e c u r s o s s o b o r i e n t a ç ã o d e DELÚBIO SOARES; ( . . . ) QUE

não sabia dos acordos firmados entre o Par t ido dos

Trabalhadores e o Par t ido L iberal nos anos de 2 0 0 3 e

2004 que resu l taram na t r a n s f e r ê n c i a de recursos por

meio de empresas v inculadas a MARCOS VALÉRIO; QUE

somente com a divulgação dos f a t o s f i c o u sabendo que

DELÚBIO SOARES t r a n s f e r i u recursos para o Par t ido

Liberal a t r a v é s de empresas de Marcos V a l é r i o ; QUE

d e s c o n h e c i a t o t a l m e n t e a s l s t e m á t l c a utilizada p o r

DELUBIO SOARES para t r a n s f e r l r r e c u r s o s para p a r t l d o s

a l l a d o s e d l r e t ó r l o s r e g l o n a l s d o PT; I . . .) QUE nunca

p a r t i c i p o u de qualquer acordo com o PTB que envolvesse

a t r a n s f e r ê n c i a de recursos a este par t ido ; QUE também

não p a r t i c i p o u d e nenhum acordo f inance i ro com o

Par t ido Progress i s ta ; QUE, a p e s a r d e n ã o t e r

p a r t i c i p a d o d a s d i s c u s s õ e s , sabia da e x i s t ê n c i a de um

acordo e l e i t o r a l entre o PT, PP e PTB para a campanha

e l e i t o r a l de 2004; QUE d e s c o n h e c e q u a l q u e r a c o r d o d e

cooperação f i n a n c e i r a f i r m a d o e n t r e o P a r t i d o d o s

Page 173: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

fla&& Inq 2.245 / MG 012119

T r a b a l h a d o r e s e o P a r t i d o P r o g r e s s i s t a ; QUE n ã o s a b e

d i z e r q u a i s membros da d i r e t o r i a e x e c u t i v a d o P a r t i d o

d o s T r a b a l h a d o r e s o u d o Governo Federa1 sab iam da

t r a n s f e r ê n c i a d e r e c u r s o s para o PP, PL e PTB; QUE

também nunca s o u b e da t r a n s f e r ê n c i a d e r e c u r s o s d o

P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s para q u a l q u e r membro d o

PMDB; QUE, como membro d o Diretório Nac iona l d o

P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s , t i n h a c o n h e c i m e n t o d a s

a l i a n ç a s e l e i t o r a i s formadas em 2004, a p e s a r d e n ã o

p a r t i c i p a r d i r e t a m e n t e da e x e c u ç ã o d o s a c o r d o s , uma

v e z q u e n ã o e r a m a i s membro da E x e c u t i v a N a c i o n a l ;

QUE, na Casa C i v i l da P r e s i d ê n c i a da R e p ú b l i c a , t i n h a

como a t r i b u i ç õ e s p r i n c i p a i s a coordenação d o g o v e r n o ,

s a l a d e i n v e s t i m e n t o , s a l a d e i n f r a - e s t r u t u r a ,

c o o r d e n a ç ã o d e Câmaras e C o n s e l h o s , d e n t r e o u t r a s

a t i v i d a d e s v i n c u l a d a s a P r e s i d ê n c i a da R e p ú b l i c a ;

(. . .) QUE d e s c o n h e c e q u a l q u e r i n f l u ê n c i a ou p o d e r n o

Governo Federa l d e s f r u t a d o s p o r MARCOS VALÉRIO em

d e c o r r ê n c i a d a s r e l a ç õ e s q u e man t inha com membros da

D i r e t o r i a E x e c u t i v a d o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s ; QUE

a s a u d i ê n c i a s q u e m a n t i n h a com DELÚBIO SOARES t i n h a m

p o r o b j e t o d i s c u s s õ e s s o b r e a s i t u a ç ã o p o l í t i c a d o

p a i s , d o Governo e d o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s , bem

como s u a s r e l a ç õ e s com o Governo e d e m a i s p a r t i d o s ;

QUE tomou c o n h e c i m e n t o da s u p o s t a e x i s t ê n c i a d o

denominado "Mensalão" quando d a s p r i m e i r a s n o t i c i a s

p u b l i c a d a s p e l o J o r n a l d o B r a s i l ; QUE t o d a s a s

p r o v i d ê n c i a para a a p u r a ç ã o d e t a i s d e n ú n c i a s foram

tomadas p e l o p r e s i d e n t e da Câmara d o s Depu tados ; QUE

nunca f o i a l e r t a d o p e l o ex -Deputado F e d e r a l ROBERTO

JEFFERSON a r e s p e i t o da e x i s t ê n c i a d o s u p o s t o

Page 174: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@$kww flu&u Inq 2 . 2 4 5 / MG

'312120

"Mensalão"; QUE acred i ta que ROBERTO JEFFERSON f e z

t a i s declarações em decorrência das denúncias de

investigaçí3es que foram i n i c i a d a s em seu

des favor . I . . . ) "

Apesar das negat ivas ca tegór icas do denunciado José

Dirceu, há nos autos i nd í c io s da concessão de favores pelo

denunciado Marcos V a l é r i o a sua ex-esposa, notadamente em

relação a compra de um imóvel , conforme se e x t r a i do seguin te

t r echo do depoimento de Marcos V a l é r i o ( f l s . 7 2 7 - 7 3 5 ) :

7, ( . . . ) Que, indagado sobre o empréstimo à

ex-esposa do ex-Ministro José Dirceu, chamada Ângela,

o depoente confirmou que e fe t ivamente houve o

empréstimo do Banco Rural e a colocação com emprego no

Banco BMG; Que, o dec larante f o i procurado por S í l v i o

Pereira para a u x i l i a r o e x Ministro José Dirceu na

resolução de um problema pessoal com sua ex-esposa,

que pretendia t rocar d e apartamento e não t inha

recursos f inanceiros; Que, desta forma, fo l conseguido

o empréstimo e o emprego, e , também, o sócio do

declarante, ROGÉRIO TOLÉNTINO, para reso lver o

problema, l á que o c r é d l t o lrnobi l lárlo dependia do

pagamento de recursos em dinheiro, comprou o

apartamento da Sra. Ângela, pagou à v i s t a e declarou a

aquisição no seu iniposto d e renda; (. . .) "

Entendo, Sra Presidente , que o favor prestado por

Marcos V a l é r i o a .Rogério Tolent ino a ex-esposa do denunciado

Page 175: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

J o s é Dirceu constitui indício da existência de relação entre

esses três denunciados.

A esse r e s p e i t o , é i n t e r e s s a n t e o t e o r d o d e p o i m e n t o

p r e s t a d o p e l o S r . R i c a r d o G u i m a r ã e s , p r e s i d e n t e d o B a n c o BMG,

p r e s t a d o p e r a n t e a C o m i s s ã o P a r l a m e n t a r Mis ta d e I n q u é r i t o d o s

C o r r e i o s , d e p o i m e n t o e s t e c u j a t r a n s c r i ç ã o f o i j u n t a d a como

a n e x o d a d e n ú n c i a e se encontra no a p e n s o n o 8 1 d o s p r e s e n t e s

a u t o s :

. . . ) O SR . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t .

PSDB - PR) - A p r i m e i r a p e r g u n t a - e e u q u e r i a

p e r g u n t a r d e s t a c o i n c i d ê n c i a : no dia 20 de fevereiro

de 2003, houve uma reunião da diretoria do BMG com o

Ministro-Chefe da Casa Civil, José Dirceu.

O S R . RICARDO GUIMARÃES- - Sim.

O SR . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)

- Q u a l f o i o o b j e t o d e s s a r e u n i ã o ?

O S R . RICARDO GUIMARÃES- O o b j e t o f o i uma

i n a u g u r a ç ã o q u e nós . . . d e uma e m p r e s a a l i m e n t í c i a d e

p r o d u t o s e n l a t a d o s q u e a m i n h a f a m í l i a t e m n a c i d a d e

d e L u z i â n i a . A g e n t e i a f a z e r uma i n a u g u r a ç ã o , e f o i a

o p o r t u n i d a d e p a r a c o n v i d a r o Minis t ro J o s é D i r c e u p a r a

e s t a r p r e s e n t e .

O SR . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)

- E o M a r c o s V a l é r i o e o D e l ú b i o acompanharam e s s a

a u d i ê n c i a ?

O SR . RICARDO GUIMARÃES- S i m . Os d o i s .

O S R . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)

- Os d o i s . E comentaram sobre esse empréstimo? Há

Page 176: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&ig?ew &&&a Inq 2 . 2 4 5 / MG

0 1 2 1 2 2

coincidência de um empréstimo t e r s i d o três d i a s

an tes , e o outro , quatro d i a s depois?

O S R . RICARDO GuIMARÃES- N ã o .

O S R . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)

- E quem marcou a audiência na Casa C i v i l ?

O S R . RICARDO GUIMARÃES- Marcos V a l é r i o .

O S R . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)

- Também nessa l i n h a , só p a r a f e c h a r essas relações: o

senhor Conhece a Sra Maria Ângela Saragoza?

O S R . RICARDO GUIMARÃES- Sim.

O S R . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)

- E l a f o i e s p o s a d o ex-Ministro José D l r c e u . E l a

t r a b a l h a no BMG.

O S R . RICARDO GuIMARÃES- S i m .

O S R . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)

- Em q u a l f u n ç ã o e l a t r a b a l h a ?

O S R . RICARDO GuIMARÃES- E l a é p s i c ó l o g a n a

c i d a d e d e S ã o P a u l o . E l a a t e n d e os f u n c i o n á r i o s d o BMG

d e S ã o P a u l o e t a m b é m os nossos c o r r e s p o n d e n t e s e

a g e n t e s b a n c á r i o s .

O S R . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)

- Ela f o i contratada quando?

O S R . RICARDO GUIMARÃES- E l a f o i c o n t r a t a d a

em novembro de 2003.

O S R . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)

- Como é que e l a f o i a p r e s e n t a d a ? Quem s o l i c i t o u a

c o n t r a t a ç á o d a S r a M a r i a  n g e l a ?

O S R . RICARDO GuIMARÃES- Quem p e d i u f o i o

S r . M a r c o s V a l é r i o .

Page 177: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

O S R . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)

- E l e p e d i u q u a n d o ? O senhor se l e m b r a ? F o i nesse

p e r í o d o t a m b é m ?

O S R . RICARDO GUIMARÃES- F o i p r ó x i m o ... O S R . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)

- F o i p r ó x i m o , f o i p r ó x i m o d e s s a é p o c a d e n o v e m b r o d e

O e p i s ó d i o r e l a t a d o no t recho a c i m a t a m b é m f o i

m e n c i o n a d o p e l o d e n u n c i a d o M a r c o s V a l é r i o , no d e p o i m e n t o

p r e s t a d o p e r a n t e o P r o c u r a d o r - G e r a l d a R e p ú b l i c a , à f l s . 268 d o

i n q u é r i t o 2245:

. . . O d e c l a r a n t e f r e q u e n t a v a a s e d e d o

PT t a n t o e m S ã o P a u l o c o m o em B r a s í l i a , n ã o tendo

n u n c a c o n v e r s a d o com o e x - p r e s i d e n t e d o P T , José

G e n o i n o , sobre os e m p r é s t i m o s , mas o e x - s e c r e t á r i o -

Geral S i l v i o P e r e i r a t i n h a conhecimento dos

empréstimos que es tavam n o nome das empresas d o

d e c l a r a n t e e também que S í l v i o h a v i a d i to a o

d e c l a r a n t e que o e n t ã o M i n i s t r o José Dirceu t i n h a

conhecimento dos emprés t imos . J a m a i s t r a t o u d e s s e s

e m p r é s t i m o s em d e p e n d ê n c i a s d a A d m i n i s t r a ç ã o P ú b l i c a

F e d e r a l . E s c l a r e c e q u e esteve somente duas v e z e s n a

C a s a C i v i l , com o Min i s t ro J o s é D i r c e u , uma d a s vezes

acompanhando a d i r e t o r i a d o .BMG p a r a c o n v i d a r o

Ministro p a r a i n a u g u r a ç ã o d e uma f á b r i c a d e a l i m e n t o s

em L u z i â n i a / G O e o u t r a com a d i r e t o r i a d o Banco Rura l ,

q u e t e m uma e m p r e s a d e m i n e r a ç ã o , p a r a c o m u n i c a r os

Page 178: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&e NU&& Inq 2 .245 / MG

investimentos que a empresa mineradora vinculada ao

Banco faria no Estado do Amazonas. (. . . ) "

Da análise dos elementos contidos nos autos, é

possível colher indícios contra os denunciados Marcos Valério e

José Dirceu, principalmente tendo em conta a natureza das

relações estabelecidas entre eles e o fato de terem se

aproximado justamente no início de 2003, quando JOSÉ DIRCEU

assumiu a Casa Civil. Aliás, o fato de as reuniões terem sido

realizadas justamente com os dirigentes dos Bancos BMG e RURAL,

que teriam participado dos supostos ilícitos narrados na

inicial, corrobora a conclusão no sentido da existência de prova

mínima a permitir a instauração de ação penal contra os

denunciados antes citados.

Conforme consta do depoimento de Ricardo Guimarães a

CPMI dos correios, Marcos Valério figuraria como uma espécie de

interlocutor entre o Governo e o BMG (Apenso no 81):

" ( . . . ) O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT- AM) - só uma

curiosidade: se o Sr. Marcos Valério não era membro do

Governo, não era filiado ao Partido do Governo, por

que um banco como o seu precisava do Sr. Marcos

Valério para um encontro com o Ministro-Chefe da Casa

Civil?

O SR. RICARDO GUIMARÃES- Não.. . não.. .Um

banco, o nosso banco, talvez, não precisasse, não.

Acho que.. . . mas.. . .

Page 179: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&- fla&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 6 1 2 1 2 5

O S R . JEFFERSON PÉRES (PDT- AM) - Por que

então? Ele s e o fereceu?

O S R . RICARDO GUIMARÁES- E le falou que

poderia, t a l v e z , marcar uma agenda pra nós .

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT- AM) - Ele s e

i n t i t u l a v a uma pessoa i n f l u e n t e no Governo?

O SR. RICARDO GUIMARÃES- Não s e i , Senador.

Para i s s o e l e falou que poderia t e n t a r marcar e

conseguiu, e f e t i v a m e n t e , marcar.

( . . . ) ".

Também em sen t ido con t rár io ao depoimento do

denunciado José Dirceu, que negou qualquer relação com MARCOS

V A L É R I O , t rago a colação excer tos do depoimento prestado a CPMI

dos corre ios pela Sra Renilda Maria Santiago de Souza, cu jo

termo f o i juntado pelo PGR em anexo a denúncia e se encontra no

apenso n o 81 dos presentes au tos :

,, ( . . . I A SRa RENILDA MARIA SANTIAGO FE.WWNDES DE

SOUZA - Não, e l e me fa lou que vantagem nenhuma e que

e l e se preocupou só em não t e r desvantagens. O medo

d e l e ser la perder a s contas que já possuía há anos com

o Banco do B r a s i l , como acabou perdendo. Quer d i z e r ,

não adiantou nada.

E a única coisa que e l e me falou f o i que o

Dr. - na época Ministro - José Dirceu sabia dos

empréstimos. E eu perguntei como e l e sabia. E l e falou

que houve uma reunião da direção do Banco Rural, em

B e l o Horizonte, no Hotel Ouro Minas, com o então

Page 180: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

Ministro José Dirceu, para r e so l ve r sobre o pagamento

desses financiamentos f e i t o s no Banco Rural. E que

houve uma reunião em B r a s i l i a , da direção do BMG, não

s e i o s nomes, e l e só me d i s s e a s s i m , uma reunião em

B r a s i l i a , não s e i onde essa, para acertar o pagamento

das contas, porque o banco também quer receber.

E o que sempre me preocupa é i s t o : como v a i

ser pago? Porque, uma vez o Marcos f o i a v a l i s t a . Me

preocupa, porque a minha f a m i l i a e s t á envolvida n i s s o ,

e eu não quero que prejudiquem meus f i l h o s em momento

nenhum.

( . . . )

o SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES NETO (PFL - BA) - Dona Reni lda, uma coisa que me chamou atenção e

que cons idere i de maior importância é que a senhora

reve lou a q u i a preocupação com o f a t o de o seu esposo

t e r par t ic ipado de negócios ju r id i cos com o P T , como

emprestador de um montante s i g n i f i c a t i v o e , com i s s o ,

obviamente colocar em r i s c o a segurança do patrimônio

da sua f a m í l i a . Essa f o i uma formulação categórica da

senhora. Eu queria e sc larecer um f a t o que, t a l v e z ,

tenha s i d o c i t a d o pe lo Rela tor , mas não f o i mui to

expressamen t e en tendido , pe lo menos por e s t a Comissão

A senhora t l n h a , de f a t o , conhecimento de

que o DelÚbio Soares havia dado a seu marido, Marcos

Va lér io , como garantia em caso d e inadimplemento

desses negócios com o P T , justamente o f a to d e que o

então Ministro da Casa C i v i l José Dirceu e o

Secre tár io do PT, S í l v i o Pereira, tinham conhecimento

de todas as transaçôes?

Page 181: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

A SRa RENILDA MARIA SANTIAGO E'ERNWDES DE

SOUZA - Eu não posso f a l a r sobre S í l v i o Pereira.

o SR. ANTONIO m o s MAGAL&S NETO (PFL - BA) - M a s sobre José Dlrceu a senhora pode f a l a r .

A SRa RENILDA MARIA SANTIAGO ZZIWZNDES DE

SOUZA - Sobre José Dlrceu posso f a l a r , como eu v o l t o a

conf irmar para o senhor o f a t o . Vou v o l t a r um

pouqulnho a t r á s quando o senhor falou da minha

preocupação do d é b i t o em re lação ao patrimônio da

minha f a m í l i a . A minha preocupação bole É em re lação à

segurança da minha f a m í l i a , à segurança f í s i c a e à

i n t egr idade .

O SR. ANTONIO =OS MAGWIÃES NETO (PFL - BA) - Propriamente, com re lação à par t ic ipação do

então Min i s t ro José Dirceu . . . A SRa RENILDA MARIA SANTfnGO EZRhTWDES DE

SOUZA - O então Minis t ro José Dirceu, depois que f o i

divulgado i s s o , a minha preocupação f o i "como v a i ser

pago, Marcos?". Foi quando ele me revelou que houve

uma r e u n i ã o da d i r e ç ã o d o Banco Rura l . Eu não sei

p r e c i s a r d a t a .

O S R . ANTONIO CARLOS MAGALHÃES NETO (PFL -

BA) - Certo.

A SRa RENILDA MARIA SANTIAGO E'ERNANDES DE

SOUZA - Acho que f o i ano passado. Reunião da d i r e ç ã o

d o Banco ,Rural com o e n t ã o Ministro Jose Dirceu para

a c e r t a r sobre pagamento d o emprés t imo. I s s o f o i em

Belo Horizonte e , em B r a s í l i a , [reunião d a d i reção] da

BMG .

Page 182: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

o SR. ANTONIO CARLOS MAOILI;HÃES NETO (PFL - BA) - C e r t o . E n t ã o , f o i uma r e u n i ã o com os dirigentes

d o B a n c o R u r a l e d o BMG com o Ministro J o s é D i r c e u .

A SR" RENILDA MARIA SANTIAGO FERNANDES DE

SOUZA - Mas o M a r c o s V a l é r i o n ã o p a r t i c i p o u .

O SR . ANTONIO CARLOS MAGALHÃES NETO (PFL -

BA) - C e r t o , m a s o Min i s t ro J o s é D i r c e u p a r t i c i p o u .

A SRa RENILDA MARIA SANTIAGO FERNANDES DE

SOUZA - S i m .

O SR . ANTONIO CARLOS MAGALHÃES NETO (PFL -

BA) - Para a c e r t a r o p a g a m e n t o d o s e m p r é s t i m o s .

A SRa RENILDA MARIA SANTIAGO FERNANDES DE

SOUZA - S i m .

(. - .) A SRa RENILDA MARIA SANTIAGO FERNANDES DE

SOUZA - E l e f a l o u : "O q u e e u posso t e f a l a r é o

s e g u i n t e : esse f o i um e m p r é s t i m o f e l t o a o PT e o e n t a o

M l n i s t r 0 J o s é D i r c e u s a b i a . " E m e c o n t o u d e s s e s d o l s

encontros . Nada m a i s q u e i s s o , e l e me i n f o r m o u . "

I g u a l m e n t e i m p o r t a n t e é o t e o r d o d e p o i m e n t o d o

d e n u n c i a d o V a l d e m a r C o s t a Neto à p o l i c i a f e d e r a l (fls. 1 3 7 8 ) :

,, (. . . ) QUE, no d i a s e g u i n t e , na res idência

do deputado PAULO ROCHA, PT/PA, f o i real i zada uma

reunião en t re LULA, JOSÉ ALENCAR, o D E C J Z R A N ~ , JOSÉ

DIRCEU, DELÚBIO SOARES, MARIA DO CARMO LARA e NILMÁRIO

MIRANDA; QUE o l o c a l d a r e u n l ã o f o i escolhido p a r a

ev i tar o a s s é d i o d a imprensa, s e n d o que o a n f i t r i ã o

n ã o p a r t i c i p a v a a t i v a m e n t e d a s n e g o c i a ç õ e s o r a

t r a t a d a s ; QUE o c a n d i d a t o LULA se e n c a m i n h o u a o

DECLARANTE e d i s s e "- V a l d e m a r , você é o n o s s o

Page 183: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

prob lema ?", t e n d o r e c e b i d o como r e s p o s t a q u e o

p rob l ema e r a , na v e r d a d e , a v e r t i c a l i z a ç ã o , e o mesmo

n ã o i r i a " m a t a r a bancada d o PL p o r causa da a l i a n ç a

com o PT": QUE DELÚBIO SOARES c o n v i d o u o DECLARANTE

para uma c o n v e r s a r e s e r v a d a em um d o s a p o s e n t o s , e o

c a n d i d a t o LULA i n f o r m o u a JOSÉ ALENCAR: " - d e i x a os

d o i s c o n v e r s a r e m q u e i s s o é prob lema d e p a r t i d o , n ã o é

prob lema n o s s o " , d e c l a r a ç ã o o u v i d a p o r t o d o s o s

p r e s e n t e s ; QUE se r e t i r a r a m e n t ã o DELÚBIO SOARES e o

DECLARANTE, t e n d o es te d i t o q u e "- l u t a r a d u r a n t e

q u a t r o a n o s para m o n t a r uma chapa para a t l n q i r os 58,

e não s e r i a j u s t o i n v i a b i l i z a r o p a r t i d o pe la a l iança ,

e a única saida seriam recursos"; QUE DELÚBIO SOARES

t e n t o u f a z e r com que a negociação f i c a s s e empatamares

abaixo dos R$ 10 mi lhões s o l i c i t a d o s , p o i s t i nha

preocupação com a obtenção de recursos para

f inanciamento da campanha; QUE o DECLARAN!ZE f i c o u

i r r e d u t i v e l quanto ao v a l o r , sob pena de não a c e i t a r a

v e r t i c a l i z a ç ã o , l i b e r a n d o os c a n d i d a t o s para fecharem

a c o r d o s em n í v e l e s t a d u a l , que permitissem a t i n q l r a

c l á u s u l a d e b a r r e i r a ; QUE em dado momento do *asse,

adentrou JOSÉ DIRCEU, que perguntou a DELÙBIO SOARES

sobre o andamento das negociações, tendo o b t i d o como

respos ta " - Valdemar e s t á i r r e d u t i v e l " ; QUE JOSÉ

DIRCEU se r e t i r o u , n ã o f a z e n d o q u a l q u e r o b s e r v a ç ã o ;

Q U E , a p ó s i s s o , DELÚBIO SOARES d l s s e a o DECLARANTE: "

- o l h a , e u vou t e p a g a r d e a c o r d o com a e n t r a d a d o s

r e c u r s o s . E u n ã o p o s s o t e a d i a n t a r n a d a , mas a p a r t e

r e f e r e n t e a doação d o JOSÉ ALENCAR, quando e n t r a r ,

e s s a e u t e r e p a s s o na ~ n t e q r a l i d a d e , a t é c o m p l e t a r o s

R$ 1 0 m i l h õ e s " ; (. . .) "

Page 184: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Seção de Processos Diversos do Plenário

TERMO DE ENCERRAMENTO DE VOLUME

Em de hQw?mh& de 0 , fica encerrado o &' volume dos presentes autos do (a) h à folha no /$ .A&9 , Seção de Processos Diversos do Plenário. Eu,

, AnalistaITécnico Judiciário, lavrei o p&sente ~er&o.