mensalão do pt - recebimento da denúncia
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Seção de Processos Diversos do Plenário
TERMO DE ABERTURA
Em de de , fica formado o , - volume dos presentes autos (a) &i.,& &&(1Y que se
inicia a folha noi /1/1.95A . Seção de Processos Diversos do Plenário Eu, *&p/ , AnalistaJTécnico Judiciário, lavrei este termó. /
c&g.+ Q3ZU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
011951 Corrupção passiva
Art. 317 - S o l i c i t a r ou receber, para s i ou
para outrem, d i r e t a ou ind ire tamente , ainda que fora
da função ou a n t e s de assumi- la , mas em razão de la ,
vantagem indev ida , ou a c e i t a r promessa de t a l
vantagem :
Pena - rec lusão , de 2 ( d o i s ) a 12 (doze)
anos, e mul ta .
( . . . )
O pagamento da propina t e r i a ocorr ido , como af irmou o
PGR, sem qualquer r e g i s t r o formal , ainda que rudimentar, d a
movimentação do numerário, que era pago em e s p é c i e , de acordo
com a denúncia.
In i c ia lmen te , com relação ao enquadramento t í p i c o do
d e l i t o p r e v i s t o no a r t i g o 317 do Código Penal, passo a f a zer
algumas breves observações.
A d e f e s a do denunciado Valdemar d a Costa Neto f a z a
seguin te alegação acerca da imputação do d e l i t o do a r t i g o 317 do
Código Penal (Apenso n0123, f l s . 2 4 - 2 7 ) :
,, ( - - - I
De acordo com a i l a ç ã o que se e x t r a i do
r e f e r i d o d i s p o s i t i v o l e g a l , para a configuração do
crime de corrupção passiva é ind ispensáve l que a
s o l i c i t a ç ã o , recebimento ou ace i tação de promessa de
vantagem indevida pe lo funcionário públ ico se dê em
razão do e x e r c í c i o de sua função, ainda que fora dela
e a n t e s de seu i n í c i o .
&* B&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 0 1 1 9 5 2
Como s e vê, é ind ispensáve l "a e x i s t ê n c i a
de nexo de causal idade e n t r e a conduta do funcionário
e a rea l i zação de a t o funcional de sua competência",
conforme, a l i á s , j á dec id iu o Supremo Tribunal Federal
na Ação Penal n o 307/DF, movida pe lo M i n i s t é r i o
Público Federal contra Fernando Col lor de Mello e
ou t ros .
A demonstração dessa relação é necessária
porque o t i p o p r e v i s t o no a r t i g o 317 do Código Penal
t r a t a da mercancia do cargo púb l i co , que somente pode
ocorrer s e o a t o de o f í c i o que incumbe ao serv idor
p r a t i c a r f o r pos to à dispos ição do p a r t i c u l a r mediante
o recebimen t o de vantagem indevida . Há que se apontar na denúncia, por tanto , a
ocorrência de um a t o - ação ou omissão -
necessariamente l i gado ao e x e r c í c i o da função.
No caso dos au tos , e n t r e t a n t o , o Min i s t é r io
Público Federa1 deixou de e s p e c i f i c a r na peça
acusatória qual a t o funcional t e r i a s ido t e r i a s ido
prat icado pe lo denunciado Valdemar da Costa Neto em
troca de alguma vantagem indev ida .
Com e f e i t o , a única evidência que s e aponta
na denúncia é o apoio p o l í t i c o que t e r i a s ido dado
pe lo denunciado ao Governo Federal na aprovação da
reforma da previdência ( PEC n o 40/2003) e da reforma
t r i b u t á r i a (PEC 41/2003) , o que, data ven ia , não se
q u a l i f i c a como a t o func ional . "
De sa ída , entendo que o precedente firmado por e s t a
Corte quando do julgamento da ação penal no 3 0 7 , em nada
inva l ida o que é apresentado na denúncia ora em a n á l i s e .
&e fl&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
Transcrevo a seguir importante t r e c h o do vo to condutor
do Minis t ro Ilmar Galvão, r e l a t o r d a Ação Penal no 307, quando
do julgamento f i n a l d a ação penal:
"Assim, para configuração do crime do a r t .
3 1 7 , do Código Penal, a a t i v i d a d e visada pe lo suborno
há de encontrar-se abrangida nas a t r i b u i ç õ e s ou na
competência do funcionário que a r e a l i z o u ou s e
comprometeu a r e a l i z á - l a , ou que, ao menos, s e
encontre numa relação funcional imediata com o
desempenho do r e s p e c t i v o cargo, assim acontecendo
sempre que a r ea l i zação do a t o subornado caiba no
âmbito dos poderes de f a t o i n e r e n t e s ao e x e r c í c i o do
cargo do agente . ( f l s . 2 2 0 3 ) "
Do t recho acima t r a n s c r i t o é poss íve l v e r i f i c a r que,
no caso da Ação Penal no 307, e s t a Corte conclu iu que o a t o de
o f í c i o a s e r prat icado, ou omi t ido , a t o e s t e que deveria e s t a r
dentro das a t r i b u i ç õ e s do então Presidente da República, não
havia s ido demonstrado.
É o que consta do seguin te t r echo do v o t o do eminente
Minis tro Celso de Mello, na r e f e r i d a ação penal:
"Por t a i s razões , o eminente Minis t ro
Revisor conclu iu , com acer to , o seu v o t o , absolvendo,
com fundamento no a r t . 386, I I I , do Código de Processo
Penal, Fernando A f fonso Col lor de Mello e Paulo César
Cavalcante F a r i a s da imputação de corrupção passiva
p e r t i n e n t e ao ep i sód io VASP/PETROBRÁS, Por
simplesmente não c o n s t i t u i r e s s e f a t o in f ração penal
@+kzw &&&& Inq 2 .245 / MG
011954
t i p i f i c a d a em l e i , consideradas a s razões
anteriormente mencionadas p e r t i n e n t e s à ausência, no
caso, de r e q u i s i t o t í p i c o e s s e n c i a l : a r e f e r ê n c i a
obje iva e concreta, na denúncia, a um e s p e c i f i c o a t o
funcional per tencente à e s f e r a de competência do
Pres idente da República.
Quanto ao ep i sód io M E R C E D E S - B E N Z / C U R I ~ ,
constatou-se que o M i n i s t é r i o Público em sua denúncia,
ao deduz ir a imputação penal pe lo crime de corrupção
pass i va , nenhuma r e f e r ê n c i a f e z a qualquer a t o de
o f i c i o imputável à esfera de a t r i b u i ç õ e s func ionais do
Pres idente da República."(fls.2676-2677)
Ocorre que, no caso ora em a n á l i s e , a denúncia é
pródiga em demonstrar que a expressão "apoio po l i t i co" r e f e r e - s e
d i r e t a e concretamente a atuação dos denunciados na qualidade de
parlamentares, remetendo-se as votações em plenário.
É o que se l ê nos seguin tes t rechos d a denúncia:
" I l u s t r a n d o o apoio p o l í t i c o do grupo de
parlamentares do Partido Liberal ao Governo Federal,
na s i s t emát i ca acima narrada, destaca-se a atuação do
parlamentar Valdemar Costa Neto na aprovação da
reforma da previdência (PEC 40 / 2003 na sessão do dia
27/08/2003) e da reforma t r i b u t a r i a (PEC 41/2003 na
sessão do dia 24/09/2003) . " ( f l s . 5.273)
" P a r a i l u s t r a r o apoio p o l i t i c o do grupo de
parlamentares do Partido Progressis ta ao Governo
Federal, na s i s t emát i ca acima narrada, destacam-se as
cAg&%m c22ZLmd&a Inq 2 . 2 4 5 / MG
011955 a t u a ç õ e s d o s p a r l a m e n t a r e s Pedro C o r r e a , Pedro Henry e
J o s é J a n e n e na a p r o v a ç ã o da r e f o r m a da p r e v i d ê n c i a
(PEC 40 /2003 na s e s s ã o d o d i a 2 7 / 0 8 / 2 0 0 3 ) e da r e f o r m a
t r i b u t a r i a (PEC 4 1 / 2 0 0 3 na s e s s ã o d o d i a
2 4 / 0 9 / 2 0 0 3 ) 1 5 8 . " ( f l s . 5714 )
"Para i l u s t r a r o a p o i o p o l í t i c o d o g rupo d e
p a r l a m e n t a r e s d o P a r t i d o L i b e r a l a o Governo F e d e r a l ,
na s i s t e m á t i c a acima n a r r a d a , p o n t u a - s e a a t u a ç ã o d o
Parlamen t a r C a r l o s R o d r i g u e s na a p r o v a ç ã o da r e f o r m a
da p r e v i d ê n c i a (PEC 40 /2003 na s e s s ã o do d i a
2 7 / 0 8 / 2 0 0 3 ) e da r e f o r m a t r i b u t a r i a (PEC 41/2003 na
s e s s ã o d o d i a 2 4 / 0 9 / 2 0 0 3 ) . " ( f l s . 5 . 7 2 4 )
"Para i l u s t r a r o a p o i o p o l í t i c o d o g rupo d e
p a r l a m e n t a r e s d o P a r t i d o T r a b a l h i s t a B r a s i l e i r o a o
Governo F e d e r a l , na s i s t e m á t i c a acima n a r r a d a ,
d e s t a c a m - s e a s a t u a ç õ e s d o s P a r l a m e n t a r e s R o b e r t o
J e f f e r s o n , Romeu Q u e i r o z e J o s e C a r l o s M a r t i n e z S a n t o s
na a p r o v a ç ã o da r e f o r m a da p r e v i d ê n c i a (PEC 40 /2003 na
s e s s ã o d o d i a 2 7 / 0 8 / 2 0 0 3 ) e da r e f o r m a t r i b u t a r i a (PEC
41 /2003 na s e s s ã o do d i a 2 4 / 0 9 / 2 0 0 3 ) . " ( f l s . 5 . 729)
Por o u t r o l a d o , é i m p o r t a n t e s a l i e n t a r que a
r e f e r ê n c i a f e i t a p e l a d e f e s a d o d e n u n c i a d o Va ldemar da C o s t a
N e t o a o p r e c e d e n t e d o Caso C o l l o r (Ação Pena l n o 3 0 7 ) , d i z
r e s p e i t o a o j u l g a m e n t o do m é r i t o d a q u e l a a ç ã o p e n a l , f a s e a que
a i n d a não chegamos n e s t e p r o c e s s o . Em o u t r a s p a l a v r a s , n a q u e l e
c a s o , embora no j u l g a m e n t o f i n a l a C o r t e t e n h a s e encaminhado no
Inq 2.245 / MG
sen t ido da absolvição por f a l t a do chamado a t o de o f í c i o , na
f a s e correspondente aquela em que nos encontramos n e s t e
Inquér i to 2 2 4 5 , a denúncia f o i in tegralmente recebida com
relação aos d e l i t o s do a r t i g o 317 do Código Penal.
Sobre o a questão, t rago à colação o t r echo i n i c i a l do
v o t o de mér i to sobre as imputações de corrupção passiva,
p ro fe r ido pelo eminente m i n i s t r o Celso e Mello, no julgamento da
Ação Penal no 307:
" O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO - Ao
votar no Plenário des ta Suprema Corte , em 2 8 / 0 4 / 9 3 ,
mani fes te i -me no s e n t i d o do i n t e g r a l recebimento da
denúncia o f e rec ida pe lo Min i s t é r io Público Federa1
contra os ora acusados, fazendo-o por d o i s motivos
fundamentais: pr imeiro , porque, a meu v e r , a peça
acusatória apresentava condições mínimas de
admiss ib i l idade que j u s t i f i c a v a m , naquela fa se
prel iminar do processo penal de conhecimento - e a
p a r t i r de um j u í z o prov i sór io de mera del ibação -, o
acolhimento da denúncia formalizada pe lo Procurador-
Geral da República; segundo, porque, com a ins tauração
do procedimento penal em j u i z o , p o s s i b i l i t a r - s e - i a ,
sempre com a e s t r i t a e necessária observância dos
postulados c o n s t i t u c i o n a i s que regem a a t i v idade
persecutór ia do Estado, a plena e cabal apuração da
verdade r e a l . "
Em suma, Sra. Presidente , entendo que a discussão
acerca da e x i s t ê n c i a ou não de um a t o de o f i c i o , sem o qual não
&e NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 011957
estaria configurado o crime de corrupção passiva, é
absolutamente extemporânea nessa fase de averiguação da presença
de elementos indiciários mínimos suscetíveis de autorizar a
instauração da ação penal.
No momento processual adequado, o assunto virá
seguramente a tona, trazendo inclusive novamente ao debate o
magnífico e levemente irreverente voto do ministro Sepúlveda
Pertence sobre o tema.
3) Além das imputações concernentes ao delito de
corrupção passiva, narra a denúncia que os parlamentares
denunciados teriam se utilizado de terceiras pessoas,
desconhecidas do grande público, de modo que permanecesse oculta
a propriedade dos valores supostamente recebidos.
Assim, os fatos, tal como narrados, se enquadram no
tipo penal do crime de lavagem de dinheiro, que dispõe:
Art. 1°, Lei n o 9 . 6 1 3 / 9 8 - Ocultar ou
dissimular a na tureza , origem, local i zação,
d ispos ição, movimentação ou propriedade de bens,
direitos ou valores provenientes, direta ou
indiretamente, de crime:
( . . . I
V - contra a Administração Pública,
inclusive a exigência, para si ou para outrem, direta
ou indiretamente, de qualquer vantagem, como condição
ou preço para a prática ou omissão de atos
administra tivos;
R* fl&&& Inq 2.245 / MG
(e. . )
V I I - praticado por organização criminosa
Pena: reclusão, de três a dez anos, e
m u l t a .
4) Por fim, e ainda de acordo com este resumo feito
pelo PGR, em alguns partidos teriam se formado quadrilhas
autônomas, para viabilizar o cometimento dos crimes de corrupção
passiva e lavagem de capitais aqui denunciados, o que configura,
em tese, o tipo do art. 288 do Código Penal.
Assim, reconhecendo a tipicidade, em tese, das
condutas narradas pelo Ministério Público Federal, passo a
análise dos fatos em si, tal como descritos neste capitulo da
denúncia, para verificar se há ou não indícios suficientes para
o seu recebimento.
&* fl&&& Inq 2.245 / MG
VI.l. PARTIDO PROGRESSISTA.
O i t e m V I . l da denúncia imputa a Deputados Federais do
Partido Progressis ta ( P P ) e a pessoas a e l e s l igadas a prát ica
de crimes de corrupção pass iva , lavagem de d inhe i ro e formação
de quadri lha, nos seguin tes termos (denúncia, f l s . 5707 e
segu in tes , volume 2 7 ) :
"Os denunciados José Janene, Pedro Corrêa,
Pedro Henry, João Cláudio Genú, Enivaldo Quadrado,
Breno Fischberg e Carlos Alberto Quaglia montaram uma
estrutura criminosa voltada para a prática dos crimes
de corrupção passiva e branqueamento de capitais.
O recebimento de vantagem indevida,
motivada pela condição de Parlamentar Federal dos
denunciados José Janene, Pedro Corrêa e Pedro Henry,
t inha como contraprestação o apoio p o l í t i c o do Partido
Progressis ta - PP - ao Governo Federal.
Nessa l i n h a , ao longo dos anos de 2003 e
2004, José Janene, Pedro Corrêa, Pedro Henry e João
C1 á udi o Gen ú receberam aproximadamente quatro milhões
e cem mil reais a titulo de propina.
Após formalizado o acordo criminoso com o
PT (José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino e S í l v i o
Pere i ra ) , os pagamentos começaram a s e r efetuados pelo
núcleo publicitário-financeiro.
(. . .! Ciente de que os va lores procediam de
organização criminosa dedicada à prát ica de crimes
contra a administração pública e contra o sistema
&*H&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 011960
f i n a n c e i r o n a c i o n a l , os d e n u n c i a d o s engendraram
mecanismo para d i s s imu lar a origem, natureza e d e s t i n o
dos montantes a u f e r i d o s .
( . . . I D e n t r o d o organograma da q u a d r i l h a , J o s é
J a n e n e , Pedro Corrêa e Pedro Henry ocupavam o t o p o da
sua e s t r u t u r a , p o s s u i n d o o d o m í n i o d o s e u d e s t i n o .
O Deputado F e d e r a l José Janene sempre
i n t e g r o u a E x e c u t i v a N a c i o n a l d o P P , t endo fechado o
acordo f inance i ro com o PT e assumido postura a t i v a no
recebimento da propina.
Nesse s e n t i d o , i n c l u s i v e , f o i o responsável
pe la aproximação do núc leo p u b l i c i t á r i o - f i n a n c e i r o com
a parceira BÔnus Banval.
O Deputado F e d e r a l Pedro Corrêa e ra o
Pres idente do PP, sempre ocupando a l t o s cargos na
agremiação p a r t i d á r i a em t e l a .
Já o Deputado Federa l Pedro H e n r y e ra o
l í d e r da bancada do PP na Câmara Federal.
E n f i m , os d e n u n c i a d o s J o s é J a n e n e , Pedro
Corrêa e Pedro Henry representavam o comando r e a l do
ppl4.
F i n a l m e n t e , João C l á u d i o Genú, c u j o
p a t r i m ô n i o é i n c o m p a t í v e l com sua r enda i n f o r m a d a , e r a
o homem d e c o n f i a n ç a da c ú p u l a d o PP ( J o s é J a n e n e ,
Pedro Corrêa e Pedro H e n r y ) , t r a b a l h a n d o com o
Deputado F e d e r a l J o s é Janene d e s d e j u l h o d e 2003.
Em s e u d e p o i m e n t o na P o l í c i a F e d e r a l , João
Cláudio Genú admi t iu que recebeu quant ias em e s p é c i e
l 4 E, assim, orientavam, segundo o PGR, a bancada do partido a votar a favor do Governo Federal nos temas objeto de acordo com o denominado "núcleo partidário" da suposta quadrilha.
, Inq 2 . 2 4 5 / MG
,em nome do PP. R e l a t o u , a inda , que sua atuação
de l i tuosa era sempre precedida do aval dos Deputados
Federais José Janene e Pedro Corrêa.
As p r i m e i r a s operações d e recebimento dos
valores foram implementadas pessoalmente por João
Cláudio Genú, intermediário dos lideres da q u a d r i l h a ,
José Janene, Pedro Corrêa e Pedro H e n r y .
Depois , buscando s o f i s t i c a r a s manobras d e
encobrimento da origem e natureza dos express ivos
montantes aufer idos pela quadrilha, José Janene, Pedro
Corrêa, Pedro H e n r y e João Cláudio Genú passaram a se
u t i l i z a r d e forma re i terada e pro f i s s iona l dos
s e rv i ços criminosos d e lavagem de c a p i t a i s o ferecidos
no mercado pelas empresas BÔnus Banval e Natimar.
Com e f e i t o , após apresentação d e José
Janene, Marcos Va lé r io i n i c i o u o repasse da propina
determinada p e l o PT ( Jo sé Dirceu, Delúbio Soares , José
Genoíno e S í l v i o P e r e i r a ) a quadr i lha i n t egrada por
José Janene, Pedro Corrêa, Pedro Henry e João Cláud io
Genú, valendo-se d e modo pro f i s s iona l dos serv iços da
BÔnus Banval, cu j o s p r o p r i e t á r i o s são Enivaldo
Quadrado e Breno Fischberg.
Nessa emprei tada de r epas se de vantagem
i n d e v i d a , a Bônus Banval, em uma primeira fase ,
rea l i zou a l t o s saques em espécie , repassando
pos t e r io rmen te o s montantes aos d e s t i n a t á r i o s
i n d i c a d o s p e l o n ú c l e o do PT ( f l . 1 4 6 1 ) .
Depois , por q u e s t õ e s o p e r a c i o n a i s , valeu-se
dos serv iços espúrios da empresa Natimar, que tem como
sócio Carlos Aiber to Quaglia.
Inq 2.245 / MG
0s v a l o r e s o r i u n d o s d o n ú c l e o Marcos
V a l é r i o eram d e p o s i t a d o s na c o n t a da empresa Bônus
B a n v a l , q u e os d i r e c i o n a v a i n t e r n a m e n t e para a c o n t a
da Na t imar j u n t o à p r ó p r i a BÔnus B a n v a l , s e n d o
t r a n s f e r i d o s , em s e g u i d a , p o r C a r l o s A l b e r t o Q u a g l i a ,
E n i v a l d o Quadrado e Breno F i s c h b e r g a o s d e s t i n a t á r i o s
r e a l s d o esquema.
Essa segunda forma fraudulenta de repasse,
com o emprego das empresas Bônus Banval e Natimar,
resultou em transferências no valor total de um milhão
e duzentos mil reais ao PP.
A s s i m , como profissionais do ramo de
branqueamento de capitais, Enivaldo Quadrado, Breno
Fischberg e Carlos ALberto Quaglia associaram-se, de
modo permanente, habitual e organizado, à quadrilha
originariamente integrada por José Janene, Pedro
Corrêa, Pedro Henry e João Cláudio Genú.
O s r e c u r s o s d o n ú c l e o Marcos V a l é r i o ,
r e p a s s a d o s para as empresas BÔnus Banval e N a t i m a r ,
t i n h a m p o r origem predominante as empresas 2s
Participações Ltda. e Rogerio Tolentino Associados,
&as do seu grupo empresarial.
Em d e c o r r ê n c i a d o esquema c r i m i n o s o
a r t i c u l a d o , J o s é J a n e n e , Pedro C o r r ê a , Pedro Henry e
João C l á u d i o Genú receberam como contraprestação do
apoio politico negociado ilicitamente, no mínimo, o
montante de guatro milhões e cem mil reais.
Desse t o t a l , o valor aproximado de R$
2.900.000,OO foi entregue aos parlamentares acima
mencionados pela sistemática de saques efetuados por
Simone Vasconcelos na agência do Banco Rural em
d$ktmw &&@& Inq 2.245 / MG
0 1 1 9 6 3
B r a s í l i a , que repassava o dinheiro a João Cláudio Genú
e m m a l a s ou s a c o l a s d e n t r o da p r ó p r i a a g ê n c i a , n o
q u a r t o do h o t e l Grand B i t t a r onde se hospedava e na
sede d a empresa SMP&B e m B r a s í l i a .
A s s i m , d e a c o r d o com a a c u s a ç ã o , o s d e n u n c i a d o s
mencionados acima t e r i a m r e c e b i d o , i n d e v i d a m e n t e , v u l t o s a s
q u a n t i a s d o n ú c l e o formado p e l o s também d e n u n c i a d o s J o s é D i r c e u ,
D e l ú b i o S o a r e s , J o s é Genoíno e S í l v i o P e r e i r a , como
c o n t r a p r e s t a ç ã o i l í c i t a a o a p o i o p o l í t i c o p a r a fo rmar a b a s e d e
s u s t e n t a ç ã o d o Governo F e d e r a l .
A l é m d i s s o , g r a n d e p a r t e d e s t a q u a n t i a t e r i a s i d o
r e p a s s a d a p e l o denominado " n ú c l e o p u b l i c i t á r i o " (MARCOS VALÉRIO,
SIMONE VASCONCELOS, GEISA DIAS, ROGÉRIO TOLENTINO, RAMON
HOLLERBACH e CRISTIANO PAZ), m e d i a n t e um s i s t e m a d e lavagem d e
d i n h e i r o , minuc iosamen te d e s c r i t o no i t e m I V d a d e n ú n c i a , a n t e s
a n a l i s a d o , do q u a l e x t r a i o o s e g u i n t e t r e c h o e x p l i c a t i v o d o
"mecanismo" d e lavagem d e n u n c i a d o ( f 1s. 5 6 8 7 / 5 6 8 9 ) :
"A s i s t e m á t i c a c r i a d a pelos d i r i g e n t e s d o
Banco R u r a l , a p r i m o r a d a a p a r t i r d o i n í c i o d o a n o d e
2003, p o s s i b i l i t o u a t r a n s f e r ê n c i a , e m espécie, d e
g r a n d e s somas e m d i n h e i r o com a o c u l t a ç ã o e
d i s s i m u l a ç ã o da n a t u r e z a , o r igem, movimentação e
d e s t i n o f i n a l .
Alguns b e n e f i c i á r i o s a p e n a s foram
i d e n t i f i c a d o s p o r q u e , valendo-se do elemento surpresa,
a P o l i c i a F e d e r a l e f e t u o u busca e a p r e e n s ã o n a s
GqgkeZm H&&& Inq 2.245 / MG
0 1 1 9 6 4
a g ê n c i a s d o Banco R u r a l , l o g r a n d o a p r e e n d e r documen tos
i n t e r n o s , não o f i c i a i s ( f a c - s í m i l e s e e - m a i l s ) , com
indicação das pessoas que efetivamente receberam os
valores sacados por meio de cheques endossados pelos
próprios emitentes.
Para a i m p l e m e n t a ç ã o d o s r e p a s s e s d e
d i n h e i r o , Marcos Valér io era informado, por Delúbio
Soares, do des t ina tár io e do respect ivo montante. A
p a r t i r d a i , o próprio Marcos Valér io , Simone
Vasconcelos ou GEISA Dias entravam em contato com o
bene f i c iá r io da quantia.
Com o o b j e t i v o d e n ã o d e i x a r q u a l q u e r
r a s t r o da sua p a r t i c i p a ç ã o , esses b e n e f i c i á r i o s
i n d i c a v a m um t e r c e i r o , a p r e s e n t a n d o o s e u nome e
q u a l i f i c a ç ã o para o r e c e b i m e n t o d o s v a l o r e s em
e s p é c i e .
( . . . )
F u n c i o n á r i o s da a g ê n c i a A s s e m b l é i a d o Banco
R u r a l i n fo rmavam a o s da a g ê n c i a em q u e se r e a l i z a r i a o
s a q u e a i d e n t i f i c a ç ã o da p e s s o a c r e d e n c i a d a para o
r e c e b i m e n t o d o s v a l o r e s , disponibil izados em espécie,
mediante a simples assinatura ou rubrica em um
documento informal, d e s t i n a d o a p e n a s a o controle
in terno de Marcos Valér io , q u e , o b v i a m e n t e ,
n e c e s s i t a v a d e alguma comprovação m a t e r i a l d o
pagamento e f e t u a d o . "
Em s u a s r e s p o s t a s , os acusados alegam que a denúncia
não descreveu, rigorosamente, a conduta a e l e s imputada, em
afronta ao a r t . 41 do Código de Processo Penal. A s s i m , a f i r m a m
&e NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 0 1 1 9 6 5
ser inepta a inicial acusatória, uma vez que essa singeleza
descritiva impede o adequado exercício do direito de defesa.
Alegam, também, que não há prova de que os acusados
receberam qualquer vantagem ilicita, para si ou para terceiros.
Assim, a inicial estaria lastreada em meras suposições.
Salientam, para reforçar o argumento acima, que a
bancada do PP nem sempre votou alinhada com o governo, dando
liberdade a seus parlamentares para votarem de acordo com suas
consciências.
Sobre a imputação de lavagem de dinheiro, todas as
defesas também afirmam que a origem e destinação do dinheiro
eram regulares (pagamento de honorários advocaticios do Dr.
Paulo Goyaz, para a defesa do Deputado Ronivon Santiago, que
vinha respondendo a inúmeros processos perante o TSE, o TRE/AC e
este Tribunal). Assim, se a origem e destinação dos montantes
recebidos do PT não foram objeto de dissimulação, seria atipica
a conduta imputada pelo Procurador-Geral da ~e~ública. Para a
defesa de PEDRO CORRÊA, ainda, o recebimento de dinheiro
configuraria, no máximo, exaurimento do crime de corrupção, e
não lavagem de dinheiro.
Por fim, quanto a imputação de formação de quadrilha,
as defesas afirmam que esta perde sua sustentação, na medida em
que não foram praticados os crimes para os quais a quadrilha se
teria articulado.
&e &&H& Inq 2.245 / MG
0 1 1 9 6 6
Ademais, não estaria configurado o elemento subjetivo
do tipo do art. 288 do CP, já que os acusados tinham
relacionamento de natureza pessoal e política, fazendo parte do
mesmo partido e com posições de destaque na estrutura
partidária, não se podendo vislumbrar em sua atuação o crime de
quadrilha ou bando.
Salientam, além disso, que o Procurador-Geral da
República incluiu o acusado JOÃO CLÁUDIO GENÚ apenas para que se
completasse o número legal de quatro acusados, forjando, assim,
a formação de quadrilha. Isto porque GENÚ seria apenas um
funcionário que atende à liderança do PP "e foi, neste caso,
mero emissário para o recebimento dos valores pagos pelo PT para
o custeio da defesa do Deputado Ronivon Santiago" (fls. 18).
As defesas de PEDRO CORRÊA e JOÃO CLÁUDIO GENÚ
destacam que não se pode confundir concurso de agentes com
formação de quadrilha. Se a denúncia trata de um só crime,
praticado por várias pessoas, haveria concurso de pessoas, sendo
que, no caso em questão, haveria autores mediato e um autor
imediato. Para a formação de quadrilha, é necessário o elemento
estabilidade, bem como a finalidade especifica de cometer vários
crimes, o que não seria o caso dos autos.
Por fim, as defesas dos acusados PEDRO HENRY e PEDRO
CORRÊA afirmam que o Procurador-Geral da República, na denúncia,
atribuiu responsabilidade objetiva aos denunciados, pelo simples
Inq 2.245 / MG
fato de serem líder da bancada do Partido Progressista na Câmara
e Presidente do Partido Progressista, respectivamente.
Sustenta, ainda, a defesa de PEDRO HENRY, que teria
ficado exaustivamente comprovado durante a instrução da CPMI dos
Correios que nunca existiu qualquer participação do denunciado
em operações de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de
quadrilha15, razão pela qual foi absolvido. Assevera que JOÃO
CLÁUDIO GENU pedia autorização apenas para PEDRO CORRÊA e JOSÉ
JANENE antes de efetuar os saques e determinar a destinação dos
recursos sacados
Por sua vez, afirma a defesa de PEDRO CORRÊA (fls. 18
do Apenso 99) :
( . . . ) foi o Partido, do qual o Acusado é
Presidente, quem a cordou no recebimento dos valores
destinados ao pagamento dos honorários do Dr. Paulo
Goyaz, e não o acusado aglndo por conta próprla.
Por esta razão, ao receber o telefonema do
Sr. João Cláudio Genu, informando que iria buscar
valores encaminhados pelo PT, o Acusado aquiesceu com
sua conduta.
Esta a única partlclpação sua em todo o
evento.
A defesa destaca, ainda, que PEDRO CORRÊA não tem
qualquer relação com as empresas Bõnus Banval e a Natimar, nem
l5 Neste ponto, a defesa destaca trechos dos depoimentos de Pedro Corrêa, João Cláudio Genú e do próprio denunciado.
dgkaem fl&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
011963
conhece os co-denunciados Enivaldo Quadrado, Breno Fischberg e
Carlos Quaglia. Também não possuiria qualquer relação com os
supostos recebedores das quantias depositadas por aquelas
empresas.
Estes os pontos das defesas dos denunciados que
merecem destaque.
Em primeiro lugar, considero que os fatos narrados na
denúncia, e que transcrevi acima, configuram, em tese, os crimes
de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de
quadrilha, como, aliás, já analisei na introdução a este item.
O fato de o PP ter destinado o numerário recebido para
pagar honorários advocaticios, como afirmaram as defesas, não
enfraquece a imputação de corrupção passiva.
Isto porque o Procurador-Geral da República acusou os
Deputados de terem recebido dinheiro, em razão de seu cargo.
Este é, aliás, o tipo legal do art. 317 do CP, que torno a citar
apenas para ficar mais clara a presença dos elementos tipicos:
Art. 317. S o l i c i t a r ou receber, para si ou
para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora
da função ou antes de assumi-la, mas em razão de la ,
vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal
vantagem.
Ora, a destinação que, depois, foi conferida ao
dinheiro recebido não altera em nada a classificação dos fatos.
R- fl&d53& Inq 2 . 2 4 5 / MG
0 1 1 9 6 9
O Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, em seu voto na AP no 307/DF,
esclareceu com muita propriedade esta questão:
Vantagem indevida é toda e qualquer
vantagem, à qual o funcionário não tenha direito, o
que, no ponto, é indiscutivel.
( . . . I
De qualquer sorte, é irrespondível o
argumento das alegações finais do Ministério Público
de que, para a caracterização da corrupção passiva, - o
des t ino f ina l do numerário, obt ido d i r e t a ou
indiretamente pelo funcionário, em razão da função, é - de todo i r r e l evan te . Seja ele nobre ou ignóbil, licito
ou ilícito.
Aliás, consta do Relatório Final da CPMI dos Correios
uma acurada análise, na qual se verifica que os repasses de
dinheiro pelo PT se deram justamente as vésperas de votações
importantes para o partido. Isto, contudo, não merece relevo
nes te momento, em que se buscam, apenas, ind íc ios da prática do
crime definido no art. 317 do CP.
Relativamente a lavagem de dinheiro, também considero,
com base no que foi narrado na inicial, que não merece ser
acolhido o argumento da defesa de PEDRO CORRÉA, segundo o qual,
em realidade, o recebimento do dinheiro teria configurado mero
exaurimento do crime de corrupção passiva.
Na verdade, o modus operandi narrado na denúncia
revela que, ao menos em tese, houve uma sistemática dissimulação
&+ &&&& Inq 2 .245 / MG
011970
da movimentação de valores, recebidos em espécie e através de
diferentes pessoas, físicas e juridicas. Assim, é possível
visualizar, nos fatos como narrados, a prática, em tese, de
crime de lavagem de dinheiro, que foi elevado a categoria de
crime autônomo na década de oitenta, justamente com objetivo, na
época, de se impedir a ut i l ização dos produtos dos crimes
antecedentes. É o que ocorre, também, na receptação, apontada
como uma das origens históricas do crime de lavagem.
Assim, a alegação de que teria havido mero exaurimento
do crime antecedente não é compatível com a narrativa contida na
denúncia nem com a tipificação da lavagem de dinheiro, que é
crime autônomo em relação aos crimes antecedentes imputados.
Por fim, entendo caracterizada a conformação típica
dos fatos narrados ao crime de quadrilha. Em primeiro lugar, o
Procurador-Geral da República não imputa a prática de apenas um
crime, mas de vários (corrupção passiva e lavagem de dinheiro,
por diversas vezes).
Ademais, e examinarei melhor esta questão a seguir, a
inclusão de JOÃO CLÁUDIO GENÚ não foi, como pretende a defesa,
apenas uma tentativa inidônea do Procurador-Geral da República
de completar o número legal exigido no art. 288 do Código Penal.
Isto porque o delito de formação de quadrilha é
imputado não apenas a JOSÉ JANENE, PEDRO HENRY, PEDRO CORRÊA e
JOÃO CLÁUDIO GENÚ, mas, também, aos representantes das empresas
Inq 2.245 / MG
Bônus Banval e Natimar ENIVALDO QUADRADO, BRENO FISCHBERG e
Carlos ALBERTO QUAGLIA. Portanto, o número legal se conformaria
ainda que se excluísse o acusado JOÃO GENÚ.
Além do mais, a narrativa dos fatos conduz, sim, ao
enquadramento, em tese, da conduta como formação de quadrilha,
tendo em vista que, na qualidade de assessor parlamentar, GENÚ
teria contribuído ativa e conscientemente para a prática dos
crimes de lavagem de dinheiro.
Passo, portanto, ao exame dos indícios apontados na
denúncia como suficientes para instaurar ação penal contra os
acusados.
Sobre a corrupção passiva, o Procurador-Geral da
República afirma que os denunciados solicitaram e receberam
dinheiro do PT, via "núcleo publicitário", em razão de seu cargo
(Deputados Federais e assessor parlamentar).
Há indícios neste sentido.
Assinalo, inicialmente, que as próprias defesas
reconhecem ter havido o repasse de R$ 700 mil reais pelo PT aos
denunciados, alegadamente para pagar honorários de advogado do
partido (v. Apensos 98 - Pedro Henry; 99 - Pedro Corrêa; e 113 -
José Janene) .
Ocorre que não havia qualquer razão para esse "favor"
do PT, senão, aparentemente, o fato de os denunciados ocuparem
os cargos públicos que ocupam.
fie fl&&& Inq 2 .245 / MG 0 1 1 9 7 2
Além d i s s o , os depoimentos juntados aos autos reforçam
a t e s e d a denúncia, em in tens idade s u f i c i e n t e para a instauração
de ação penal. C i t o , de i n í c i o , o depoimento do Deputado Vadão
Gomes, c i t a d o na p rópr ia denúnc ia , acostado as f l s . 1718/1722
(volume 8) :
"Que é Deputado Federal pe lo Partido
Progressis ta de SJo Paulo; ( . . . ) Que e x i s t e n o t ó r i a
i n c o m p a t i b i l i d a d e i d e o l ó g i c a entre o P a r t i d o
P r o g r e s s i s t a e o P a r t i d o dos Trabalhadores n o Es tado
d e São Paulo; ( . . . ) Que conhece DELÚBIO SOARES, tendo
s i d o apresentado a e s se ~ n d i v í d u o no d i a em que
part ic ipava do v e l ó r i o do v ice-pres idente do Banco
Rural JOSÉ AUGUSTO DUMONT, na cidade de Belo
Horizonte/MG; ( . . . ) Que nunca chegou a t r a t a r nenhum
t i p o de assunto com Delúbio Soares, esclarecendo que
p re senc iou uma conversa hav ida em B r a s i l i a entre o
t e s o u r e i r o d o P a r t i d o dos Trabalhadores e o p r e s i d e n t e
d o mesmo p a r t i d o , JOSE GENUINO, com o s Deputados PEDRO
HENRY e PEDRO CORREIA, ambos d o P a r t i d o P r o g r e s s i s t a ;
Que nessa conversa com os p o l í t i c o s dos do i s par t idos
t en tavam a c e r t a r d e t a l h e s d e uma p o s s í v e l a l i a n ç a em
âmbi to n a c i o n a l ; Que no decorrer do r e f e r i d o diálogo,
escutou gue o s i n t e r l o c u t o r e s mencionaram a
n e c e s s i d a d e d e a p o i o f i n a n c e i r o d o P a r t i d o dos
Trabalhadores para o P a r t i d o P r o g r e s s i s t a em algumas
r e g i õ e s do P a i s ; Que, e n t r e t a n t o , não tomou
conhecimento de de ta lhes como va lores e formas pe las
quals e s t e aporte f lnance l ro ser ia e f e t i v a d o ; Que,
provave lmente , maiores d e t a l h e s de s sa t r a t a t i v a
t i v e r a m a f r e n t e o s Deputados Pedro Corrêa e Pedro
Inq 2 .245 / MG
Henry, p r e s i d e n t e nacional e l i d e r da bancada do
Par t ido Progress i s ta , respect ivamente; Que tomou
conhecimento, a t r a v é s de conversas de corredor, de uma
reunião ocorrida na sede do Par t ido Progress i s ta , com
o o b j e t i v o de se f irmar um p o s s i v e l acordo de
col igações e n t r e o Partido Progressis ta e o Partido
dos Trabalhadores em âmbito nac ional , mas não chegou a
p a r t i c i p a r desta reunião; ( . . . )
Por sua v e z , o denunciado JOÃO CLÁUDIO GENÚ afirmou o
seguin te ( f l s . 5 8 0 , volume 3 dos a u t o s ) :
Que conhece DELÚBIO SOARES das re lações
p o l í t i c a s de trabalho; Que acred i ta que DELÚBIO SOARES
não conheça o dec laran te , apesar de terem trocado
cumprimentos; Que acompanhou JOSÉ JANENE em encontros
que este teve com DELÚBIO SOARES; Que nesses encontros
sempre f icava aguardando na s a l a de recepção ou em
ou t ras s a l a s ; Que nunca presenciou qualquer conversa
e n t r e DELÚBIO SOARES e JOSÉ JANENE, bem como qualquer
outro parlamentar ou p o l í t i c o s ; ( . . . I Que já l i g o u
v á r i a s v e z e s para a sede do Par t ido dos Trabalhadores
em Brasíl ia/DF e São Paulo/SP a procura de DELÚBIO
SOARES; Que t a i s l i g a ç õ e s sempre foram f e i t a s a pedido
do Deputado JOSÉ JANENE; Que nunca ouviu nenhuma
conversa ao t e l e f o n e e n t r e JOSÉ JANENE e D E L ~ B I O
SOARES; Que acompanhava a s vo tações que ocorriam na
Câmara dos Deputados, sendo este seu p r i n c i p a l
trabalho; Que também acompanhava a s dec isões das
Comissões Permanentes da Câmara dos Deputados; ( . . . )
Que acompanhou o Deputado JOSÉ JANENE em algumas
v i s i t a s que e s t e f e z na CORRETORA BÔNUS-BANVAL; Que a
Inq 2 . 2 4 5 / MG
f i l h a do Deputado JOSE J m trabalhava na corre tora
BÔNUS-BANVAL, sendo que o Deputado comparecia à sede
da empresa para v i s i t á - l a ; ( . . . )
Ainda como i n d í c i o d a prá t ica do crime de corrupção
passiva, temos o depoimento de ROBERTO J E F F E R S O N ( f l s .
4219/4227, volume 19), especialmente ( f l s . 4226):
Que, em julho ou agosto de 2003, t e v e uma
conversa com JOSÉ Carios MARTINEZ, que informou ao
dec larante do repasse de recursos aos par t idos da base
a l iada ao Governo, com i n t u i t o de s u s t e n t a r a s
vo tações em p lenár io em favor dos p r o j e t o s do Governo,
tendo o dec larante rechaçado a i d é i a do recebimento de
t a l t i p o de recurso , p o i s s e a s s l m o f i z e s s e o PTB
f i c a r i a refém do governo; Que, após essa conversa
mantida com JOSÉ CARLOS MARTINEZ, o dec larante af irma
ter tomado conhecimento d e uma reunião ocorrida na - r e s i d ê n c i a do Deputado PEDRO HENRY, do PP, na qual
estavam presen tes VALDEMAR DA COSTA XETO, BISPO
RODRIGUES e JOSÉ MÚCIO, l í d e r da bancada do PTB na
Câmara dos Deputados; Que, nessa reunião, PEDRO HENRY
t e r i a questionado JOSÉ MÚCIO o motivo de o PTS não
a c e i t a r o recebimento d e recursos mensais para
g a r a n t i r a sus ten tação do Governo do Congresso; Que
JOSÉ &CIO d i s s e ao dec larante ter comunicado a PEDRO
HENRY que t i n h a s i d o o dec laran te que colocara ób ices
no recebimento de t a i s r ecursos ; ( . . . )
C i t o , por f i m , o depoimento do acusado JOSÉ J A N E N E
( f l s . 1703):
&gfkxw ez2f&d&& Inq 2.245 / MG 011975
Que, no i n i c i o do a tua l Governo Federal, o
Partido Progressis ta r ea l i zou com o Partido dos
Trabalhadores um acordo de cooperação f inanceira; Que
não par t i c ipou diretamente d e s t e entendimento, tendo
tomado c iênc ia do mesmo pos ter iormente; Que, por este
acordo d e cooperação f inanceira , o Partido dos
Trabalhadores f i ca r ia encarregado de repassar ao
Part ido Progressis ta recursos para a sua estruturação,
visando à formação de al ianças para a s e l e i ções
fu turas , bem como para fazer frente a d ív idas
contraídas pe lo Part ido Progressis ta; Que este acordo
de cooperação f lnanceira não t inha valor e s p e c i f i c o
po i s s e r ia implementado d e acordo com o andamento das
eventuais a l ianças en t r e o s d o i s part idos; Que o
acordo de cooperação f lnance lra e n t r e o PT e o PP f o i
d l s c u t l d o e dec id ido pe las respectivas cúpulas
p a r t i d á r i a s ; Que não sabe especificar quais os membros
dos par t ldos que participaram de t a i s negociações, mas
com cer teza o s pres identes t lveram participação
d e c i s i v a ; Que, s a l v o engano, o Partido Progressis ta
f o i representado por seu pres iden te PEDRO CORRÊA e
pe lo l í d e r na Câmara dos Deputados à época, o Deputado
F e d e r a l PEDRO HENRY; ( . . . )
Este depoimento do acusado JOSÉ JANENE r e v e l a ,
portanto, que o "acordo" e n t r e P P e PT f o i sendo executado
periodicamente, " d e acordo com o andamento d a s even tua i s
a l ianças e n t r e os d o i s par t idos" . Ou s e j a , encontra respaldo, ao
menos i n d i c i á r i o , nes te depoimento, a suspei ta d e que havia
8- fl&&& Inq 2 .245 / MG
011976 repasses mensais de d i n h e i r o - o denominado "mensalão" - para
Deputados do P P , em t roca de seu apoio ao PT
O denunciado PEDRO C O R R Ê A , em suas declarações a
Pol ic ia Federal, a f irmou o segu in te ( f l s . 1992/1995, volume 10
dos a u t o s ) :
Que, no i n í c i o do Governo LULA, foram
rea l i zadas algumas reun iões entre a cúpula do PP e a
cúpula do PT no s e n t i d o de que fossem costuradas
a l ianças e n t r e e s s e s par t idos para a formação da base
de sus ten tação do governo f edera l ; Que, apesar do
acordo que vinha sendo e f e t i v a d o em n í v e l nacional com
o o b j e t i v o de compor a base de sus ten tação p o l í t i c a do
Governo no Congresso Nacional, no Estado do Acre uma
f o r t e d i spu ta e x i s t i a e n t r e o Par t ido dos
Trabalhadores e o Par t ido Progress i s ta , que e1 egeu
d o i s deputados f e d e r a i s ; Que e s s e s Deputados eram
RONIVON SANTIAGO e NARCISO MENDES; Que o Deputado
NARCISO MENDES perdeu o mandato; Que o Deputado
Ronivon Santiago f o i acionado na Jus t i ça E l e i t o r a l e
no Supremo Tribunal Federal pe lo M i n i s t é r i o Público e
por populares , bem como por sup len te s ; Que para
de fender RONIVON SANTIAGO f o i contra tado pe lo próprio
Deputado o Advogado PAULO GOYAZ; Que o va lor cobrado
pe lo Advogado PAULO GOYAZ montou em R$ 900.000,OO
(novecentos m i l r e a i s ) ( . . ) ; Que Ronivon Sant iago
s o l i c i t a v a que o PP arcasse com o s honorários do
Advogado; Que o Deputado Federal JOSE JAhlTNE t i n h a
informado ao dec larante que o Par t ido dos
Trabalhadores e s t a r i a d i s p o s t o a arcar com esses
v a l o r e s , já que a s d i f i c u l d a d e s p o l í t i c a s geradas no
@*NU&& Inq 2.245 / MG
011977
Estado do Acre eram incompatíveis com a al iança
existente em âmbito nacional entre o s do i s part idos;
( . . . ) Que nega a a f i r m a ç ã o d e JOSÉ JANENE n o s e n t i d o
d e q u e o d e c l a r a n t e t e r i a p a r t i c i p a d o d e r e u n i ã o e n t r e
o P a r t i d o P r o g r e s s i s t a e o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s ,
com a p r e s e n ç a d o s Depu tados JOSÉ GENUÍNO e PEDRO
HENRY, o b j e t i v a n d o e s t a b e l e c e r uma c o o p e r a ç ã o
f i n a n c e i r a em t r o c a d o a p o i o p o l í t i c o ; Q u e , como j á
d i s s e , f o i o Deputado JOSÉ JAhWNE quem informou ao
declarante sobre o aporte de recursos f inanceiros
oriundos do PT, t ra tado com DELÚBIO SOARES; Que
d e s c o n h e c e d e t a l h e s d e s t a s t r a t a t l v a s h a v i d a s e n t r e
JOSÉ JANENE e D E L ~ B I O SOARES; Que f i c o u sabendo
p o s t e r i o r m e n t e , a t r a v é s d o p r ó p r l o Deputado JANENE,
q u e o PT repassaria R$ 700.000,OO (se tecentos m i l
r e a i s ) ao Part ido Progressis ta; ( . . . ) Que t em
c o n h e c i m e n t o d e q u e o s i n t e r locu to re s des ta negociação
eram o Deputado JOSÉ JAhWNE, pelo Partido
Progressis ta, e o então tesoureiro do Partido dos
Trabalhadores, DELÚBIO SOARES; Que JOÃO CLÁUDIO GENÚ,
então assessor do Deputado JOSÉ J . , ho j e lo tado na
l iderança do Partido Progress is ta , f o i quem buscou os
recursos f i n a n c e i r o s r e p a s s a d o s p e l o P a r t i d o d o s
T r a b a l h a d o r e s a o P a r t i d o P r o g r e s s i s t a , no Banco Rural,
agência do Bras i l ia Shopping, e uma vez no Hotel Gran
B i t t a r ; Que tem c o n h e c i m e n t o d e q u e JOÃO CLÁUDIO GENÚ
e n t r e g o u d u a s p a r c e l a s d e R$ 300.000,OO a o c h e f e da
a s s e s s o r i a j u r í d i c a d o P a r t i d o P r o g r e s s i s t a , S r .
WALMOR GIAVARINA, e uma p a r c e l a d e R$ 100.000,OO (cem
m i l r e a i s ) a o f u n c i o n á r i o da T e s o u r a r i a d o P a r t i d o
P r o g r e s s i s t a , S r . VALMIR CREPALDI; ( . . . )
@ g NU&& Inq 2.245 / MG
E n t r e t a n t o , o S r . VALMIR CREPALDI a f i r m o u , em s e u
d e p o i m e n t o ( f l s . 1 8 3 5 / 1 8 3 8 , vo lume 9 d o s a u t o s ) que e r a
s u b o r d i n a d o a o a c u s a d o PEDRO CORRÊA, e a s s i n a l o u o s e g u i n t e
( f l s . 1836 ) :
Q u e , e m s e t e m b r o d e 2003, f o i chamado p e l o
D r . VALMOR GIAVARINA para q u e comparecesse a
Presidência do Partido Progressista, n o 17Oandar d o
Anexo I d o Senado F e d e r a l ; Q u e , a o c h e g a r a o l o c a l , o
D r . VALMOR p e d i u a o d e c l a r a n t e q u e se d i r i g i s s e para a
s a l a d e r e u n i õ e s ; Que VALMOR, em nenhum momento, f a l o u
para o d e c l a r a n t e p o r q u a l m o t i v o s o l i c i t a r a sua
p r e s e n ç a ; ( . . . ) Que p r e s e n c i o u quando VALMOR r e t i r o u
d e sua m a l e t a três e n v e l o p e s p a r d o s , que foram
e n t r e g u e s a o advogado PAULO GOYAZ; Que PAULO GOYAZ
a b r i u os e n v e l o p e s , quando e n t ã o o d e c l a r a n t e v i u q u e ,
n o i n t e r i o r , h a v i a v á r i a s n o t a s d e d i n h e i r o ; ( . . . )
Que, p a s s a d o s aprox imadamen te 8 d i a s , o D r . VALMOR
l i g o u novamen te para o d e c l a r a n t e , pedindo que
novamente comparecesse a sede da Presidência do
Partido Progressista; Q u e , da mesma forma r e l a t a d a
a n t e r i o r m e n t e , d i r i g i u - s e para a s a l a d e r e u n i õ e s ,
quando e n t ã o compareceu a o l o c a l o advogado PAULO
GOYAZ; Que o D r . VALMOR r e p a s s o u para o advogado PAULO
GOYAZ 3 e n v e l o p e s c o n t e n d o d i n h e i r o ; ( . . . ) Que o
d i n h e i r o r e p a s s a d o p e l o D r . VALMOR a o advogado PAULO GOYAZ n ã o p a s s o u p e l a t e s o u r a r i a d o P a r t i d o
P r o g r e s s i s t a nem f o i c o n t a b i l i z a d o ; ( . . . )
& $ fl&&& Inq 2.245 / MG
01'1979
Como se vê, os repasses eram feitos na sede da
Presidência do PP, onde atuava o acusado PEDRO CORRÊA.
Aliás, é de se ressaltar que, em 18 de agosto de 2005,
o acusado PEDRO CORRÊA assinou um documento em que declarou,
atendendo a solicitação de GENÚ, qué este havia comparecido a
agência do Banco Rural em Brasilia, nos dias 17/09/2003,
24/09/2003 e 14/01/2004, para buscar, respectivamente, os
valores de R$ 300.000,00, R$ 300.000,OO e R$ 100.000,00, sob
orientação do Partido dos Trabalhadores, na implementação dos
auxílios financeiros negociados com aquele partido e o Partido
Progressista, afirmando, ainda, que ele entregou os valores na
sede do partido, no 17O andar do anexo I do Senado Federal (v.
documento de fls. 1919, volume 9 dos autos principais). É
interessante notar que não foi feita, naquele momento, qualquer
menção ao alegado pagamento de honorários ao advogado de Ronivon
Santiago
De todo modo, embora uns acusados queiram jogar a
responsabilidade pelo acordo de "apoio financeiro" sobre os
outros, isto não tem relevância. O que importa é que os
acusados, aparentemente, receberam as quantias fornecidas pelo
PT (cujo valor, de acordo com a lista fornecida por MARCOS
VALÉRIO - fls.602/608 - totaliza quatro milhões e cem mil
reais), em razão do cargo que ocupam, o que é suficiente, por
ora, para a caracterização da tipicidade da conduta.
Inq 2 . 2 4 5 / MG
Assim, parece-me haver justa causa para o recebimento
da denúncia contra JOSÉ JANENE, PEDRO HENRY, PEDRO CORRÊA
(Deputados Federais) e JOAO CLÁUDIO GENÚ (assessor parlamentar
ocupante de cargo público na presidência do PP), pela suposta
prática do crime definido no a r t . 317 do Código Penal, conforme
narrado na denúncia.
Há, também, fortes indícios no sentido do recebimento
de quantias em espécie, pelos acusados, através de um suposto
esquema de lavagem de dinheiro disponibilizado, primeiro, pelo
núcleo publicitário-financeiro - conforme visto no capitulo 4 -
e que, depois, através de uma organização própria dos
denunciados (e da aparente formação de quadrilha para tal
finalidade), passou a ser supostamente realizada pelas empresas
Bônus-Banval e Natimar.
Na lista de fls. 605/608, MARCOS VALÉRIO afirmou ter
repassado R$ 4,l milhões ao Partido Progressista, informação por
ele ratificada no depoimento de fls. 1454/1465 (volume 7 dos
autos), verbis:
Que gostaria de fazer novos esclarecimentos
relacionados aos repasses de recursos realizados a
pedido do Partido dos Trabalhadores; Que confirma ter
realizado pagamentos à s pessoas relacionadas na l i s t a . constante à s fls. 605/608; ( . . . )
B u & u Inq 2 . 2 4 5 / MG
0 1 1 9 8 1 I n i c i a l m e n t e , d e s t a c o trecho d o d e p o i m e n t o d e ELIANE
ALVES LOPES, o c u p a n t e d o c a r g o d e D i r e t o r a d e O p e r a ç õ e s d a SMPLB
em B r a s í l i a ( f l s . 6 1 5 / 6 1 8 , v o l u m e 3 d o s a u t o s ) :
Q u e n ã o p r e s e n c i a v a o r e c e b i m e n t o d e
p e s s o a s por p a r t e d e S i m o n e V a s c o n c e l o s n a
S M P & B / B r a s í l i a ; Que se recorda de ter v i s t o , uma Única
vez, JOÃO CLÁUDIO GENÚ na empresa SMP&B, no edif icio
da CNC; Q u e , n e s t a o p o r t u n i d a d e , JOÃO CLÁUDIO GENÚ
t e r i a uma reunião com MARCOS VALÉRIO ( . . . )
O a c u s a d o JOÃO CLÁUDIO DE CARVALHO G E N Ú e s c l a r e c e u o
s e g u i n t e ( f l s . 5 7 6 / 5 8 3 ) :
( . . . ) Que realmente recebeu quantias em
dinheiro a pedido da Direção do Partido Progressista;
Que t a i s r e c e b i m e n t o s e r a m r e a l i z a d o s c o n f o r m e
o r i e n t a ç ã o d o T e s o u r e i r o d o P a r t i d o P r o g r e s s i s t a , d e
nome BARBOSA; Q u e n ã o s a b e d i z e r o nome c o m p l e t o d e
BARBOSA; Q u e , n a v e r d a d e , n ã o s a b e d i z e r se BARBOSA é
t e s o u r e i r o o u s o m e n t e t r a b a l h a n a t e s o u r a r i a ; Q u e
BARBOSA l i g a v a p a r a o d e c l a r a n t e a v i s a n d o d a
n e c e s s i d a d e d e i r receber o d i n h e i r o ; Que recebia as
l igações de BARBOSA no gabinete do Deputado JiWENE, no
gabinete da Comissão de Minas e Energia ou,
provavelmente, no gabinete da liderança do Partido
Progressista; QUE a o receber a o r i e n t a ç ã o d e BARBOSA,
o declarante confirmava com os Deputados Federais JOSÉ
JANENE e PEDRO CORRÊA a p r o c e d ê n c i a d o p e d i d o d e
BARBOSA; (. . . ) Que também faz ia parte da Direção do PP
o Deputado Federal PEDRO HENRY; Que, cer ta ve z , ao
&+ @5z&md&& Inq 2 .245 / MG
receber o pedido d e BARBOSA para receber v a l o r e s ,
conforme r o t i n a r e l a t a d a , procurou a confirmação da
ordem junto ao Deputado JOSÉ JANEhT3, que, por sua v e z ,
pediu ao dec laran te que l i g a s s e para o Deputado PEDRO
COR&; Que o Deputado JOSÉ JANENE d i s s e que s o m e n t e o
Deputado PEDRO CORRÊA p o d e r i a c o n f i r m a r a n e c e s s i d a d e
d e i r b u s c a r o d i n h e i r o ; Que não sabe d i z e r por qual
mot ivo BARBOSA não l i g a v a d ire tamente para JOSE JANEhT3
ou PEDRO CORRÊA para determinar que o dec larante fosse
receber o dinheiro; ( . . . ) Que BARBOSA falava para o
dec larante l i g a r para SIMONE VASCONCELOS para combinar
o r e c e b i m e n t o d a s q u a n t i a s ; ( . . . ) Que g e r a l m e n t e se
e n c o n t r a v a com SIMONE na s e d e d o Banco Rura l e m
B r a s í l i a , l o c a l i z a d o n o 9" a n d a r d o B r a s í l i a Shopp ing ;
QUE a o se e n c o n t r a r com SIMONE e n t r e g a v a para e l a uma
p a s t a , t i p o 007 , quando a mesma c o l o c a v a em s e u
i n t e r i o r a q u a n t i a a ser e n t r e g u e ; Que não con fer ia o
v a l o r recebido; Q u e , na v e r d a d e , n ã o s a b i a q u a n t o
SIMONE d e v e r i a e n t r e g a r a o d e c l a r a n t e ; Que não se
lembra p a n t a s v e z e s recebeu quant ias 'em d inhe i ro de
SIMONE no i n t e r i o r da agência do Banco Rural em
~ r a s i l i a ' ~ ; Q u e , c e r t a v e z , a o se d i r i g i r à a g ê n c i a
B r a s í l l a d o Banco R u r a l , para se e n c o n t r a r com SIMONE,
e s s a n ã o se e n c o n t r a v a n o l o c a l ; Q u e , a o p e r g u n t a r p o r
SIMONE para os empregados da a g ê n c i a , l h e f o i
i n f o r m a d o q u e SIMONE n ã o e s t a v a , e havia deixado
recado para o dec larante se d i r i g i r ao Hotel Gran
B i t t a r para se encontrar com a mesma; Que n ã o se
r e c o r d a d o nome d o empregado d o Banco R u r a l que l h e
d e u esse r e c a d o ; Que também n ã o s a b e d i z e r qua l c a r g o
16 O que, por s i s ó , é i n d í c i o de que i s t o não o c o r r e u poucas v e z e s .
207
czhgkzw &&&& Inq 2 .245 / MG
011983
e s s e funcionário ocupava no Banco Rural; Que não tem
condições de descrever o empregado do Banco Rural que
deu o recado para o dec larante s e encontrar com Simone
no Hotel Gran B i t t a r ; Que não sabe d i z e r se SIMONE era
conhecida dos empregados da agência do Banco Rural;
Que o dec larante não e ra conhecido pe los empregados da
agência B r a s i l i a do Banco ~ u r a l " ; Que foi ao encontro
de SIMONE no Hotel Gran B i t t a r , tendo se d i r i g i d o ao
apartamento que a mesma ocupava; Que não s e recorda o
número do apartamento ocupado por SIMONE; Que não
anunciou sua presença na por tar ia do Hote l , tendo se
d i r i g i d o d ire tamente para o apartamento em que se
encontrava SIMONE; Que o própr io empregado do Banco
Rural que deu o recado ao dec larante informou em qual
apartamento SIMONE e s t a v a , bem como o horárlo do
encontro; ( . . . ) Que SIMONE entregou ao dec larante um
envelope contendo d l n h e l r o , cula quantia desconhece;
Que e s s e envelope era de tamanho grande; Que acred i ta
ter assinado um ou d o i s r e c i b o s na agência B r a s i l i a do
Banco Rural , r e f e r e n t e à entrega de va lores em
d inhe i ro , c u j o v a l o r e x a t o não se recorda; Que, ao
chegar ao Banco Rural , procurava por SIMONE, que
f i cava aguardando na p a r t e amninis t r a t i v a da agência;
( . . . ) Que, mostrado ao dec larante os fac - s ími l e s
cons tantes à s f l s . 354 e 412 do Apenso 06 dos autos do
Inquér i to 2245, reconhece como s u a s a s rubr icas
cons tantes dos mesmos; ( . . . ) Que, na época dos
recebimentos , sabia que SIMONE trabalhava para MARCOS
" Se Genú não era conhecido dos empregados do Rural, isto indica que o recado possivelmente foi dado, por SIMONE, para alguém que o conhecia; e que GENU também conhecia, provavelmente, embora negue o fato em seu depoimento, recusando-se a revelar a identidade da pessoa que lhe deu o recado para ir receber o dinheiro no Hotel Gran Bittar.
Inq 2 . 2 4 5 / MG
VALÉRIO; ( . . . ) Que desconhece qualquer serviço
pres tado p e l a s empresas de MARCOS VALÉRIO para o
Par t ido Progress i s ta ; ( . . . I Que conheceu MARCOS
vA.LÉRIo em uma v i s i t a que este f e z ao Gabinete do
Deputado Federal JOSE J-; Que n ã o s a b e d i z e r q u a l
a s s u n t o MARCOS VALÉRIO f o i t r a t a r com o Deputado JOSÉ
JANENE; Que f i c o u na ante-sa la do Gabinete do Deputado
Federal JOSÉ JANENE, jun to com o advogado ROGÉRIO
TOLENTINO, que e s t a v a acompanhando MARCOS VALÉRIO;
( . . . ) Que n ã o s a b e d i z e r q u a l o d e s t i n o d o d i n h e i r o
q u e e n t r e g a v a para BARBOSA; Que não tem conhecimento
se a s quant ias que entregou para BARBOSA foram
repassadas para parlamentares ou qualquer as ses sor de
Deputados ou Senadores; Que p o s s u i , como p a t r i m ô n i o ,
um apartamento na Quadra 104, setor Sudoeste -
B r a s i l i a / D F , uma casa no Park Way, um v e í c u l o Honda
'J C i v i c , ano 2003, um v e i c u l o Crys ler , ano 1 9 9 7 / 9 8 , e um
Honda A c c o r d , ano 2004; Que a d q u i r i u o a p a r t a m e n t o da
Q D . 104 d o S e t o r S u d o e s t e p e l o v a l o r d e R$ 250.000,OO
( d u z e n t o s e c i n q u e n t a m i l r e a i s ) , d e uma p e s s o a q u e
a n u n c i o u a venda n o s c l a s s i f i c a d o s d e um j o r n a l ; Que
não sabe d i z e r o v a l o r a t u a l d e mercado do r e f e r i d o
apartamento; Que n ã o s a b e d i z e r em q u a l j o r n a l f o i
a n u n c i a d o o a p a r t a m e n t o , que adquir iu em agos to de
2004; Que a d q u i r i u o r e f e r i d o a p a r t a m e n t o a p ó s v e n d e r
um a p a r t a m e n t o que p o s s u í a na AOS 0 4 , B l o c o F , a p t o
3 1 0 , p e l o v a l o r d e R$ 200.000,OO ( d u z e n t o s m i l r e a i s ) ,
t e n d o c o m p l e t a d o o r e s t a n t e com os r e c u r s o s q u e
p o s s u i a e m c a d e r n e t a d e poupança; Que a c a s a n o Park
Way f o i a d q u i r i d a no ano d e 2 0 0 0 , p e l o v a l o r , s a l v o
e n g a n o , d e R$ 130.000,OO ( c e n t o e t r i n t a m i l r e a i s ) ;
cz?.5$- NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
011985
Q u e , a t u a l m e n t e , p o s s u i a r enda m e n s a l l i q u i d a d e
aprox imadamen te R$ 20.000,OO (v in te m i l r e a i s ) ; Que
recebe l í q u i d o da Câmara d o s Deputados e d o M i n i s t é r i o
da A g r i c u l t u r a o s a l á r i o d e aprox imadamen te R$
8.000 ,00 ( o i t o m i l r e a i s ) ; Que o r e s t a n t e d e sua r enda
m e n s a l é compos ta por t r a b a l h o s d e c o n s u l t o r i a na á r e a
econômica e f i n a n c e i r a , q u e p r e s t a para e m p r e s a s
Por sua v e z , o a c u s a d o JOSÉ JANENE e s c l a r e c e u , em s e u
d e p o i m e n t o a P o l í c i a F e d e r a l (fls. 1704 e s e g u i n t e s , vo lume 8
d o s a u t o s ) :
Que, após receber a informação da
d isponibi l i zação dos recursos do PT, o declarante,
juntamente com o Presidente do P P , PEDRO CORRÊA,
decid iu que JOÃO CLÁUDIO GENÚ f i c a r i a encarregado
de receber t a i s valores; ( . . . ) Que f icou sabendo
que o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s n ã o i r i a r e a l i z a r
uma t r a n s f e r ê n c i a b a n c á r i a , mas efe tuar pagamentos
em espéc ie , em uma reunião ocorrida na sede do
Part ido Progress is ta , l o c a l i z a d a n o 1 7 O a n d a r d o
Anexo I d o Senado F e d e r a l ; Que os p r e s e n t e s à
r e u n i ã o foram i n f o r m a d o s d e s t a forma d e r e p a s s e da
v e r b a d o PT p e l o f u n c i o n á r i o da t e s o u r a r i a d o PP,
S r . VALMIR; Que VALMIR r e c e b e u t a l i n f o r m a ç ã o da
s e d e n a c i o n a l d o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s ,
p r o v a v e l m e n t e d o t e s o u r e i r o , DELÚBIO SOARES; Que
se lembra q u e participavam da reunião vár ios
Deputados do Partido ~ r o g r e s s i s t a ~ ~ , dentre e l e s
18 O que, aliás, pde em dúvida a tese dos outros acusados do PP, no sentido de que o PT só repassou dinheiro para pagar honorários de RONIVON SANTIAGO. Ora,
&* G!~ZU&U Inq 2 .245 / MG
011 9 8 6
PEDRO HENRY e PEDRO CORRÊA; Que n ã o se r e c o r d a d o s
o u t r o s d e p u t a d o s p r e s e n t e s à r e u n i ã o s u p r a c i t a d a ;
Que DELÚBIO SOARES, em nenhum momento, c o n v e r s o u
com o d e c l a r a n t e sobre a forma d o s r e p a s s e s d a s
v e r b a s d o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s a o P a r t l d o
P r o g r e s s i s t a ; Que JOAO CLÁUDIO GENÚ recebeu a
incumbência d e se d i r i g i r à agência do BANCO RURAL
l o c a l i z a d a no e d i f í c i o B r a s i l i a Shopping, para
receber o v a l o r d i s p o n i b i l i z a d o p e l o Par t ido dos
Trabalhadores; ( . . . ) Que r e a l m e n t e a u t o r i z o u GENÚ
a se d l r i g i r à s e d e d o BANCO RURAL em B r a s í l i a / D F ,
para e f e t u a r o r e c e b i m e n t o c u j o v a l o r d e s c o n h e c i a ;
Que também determinou que GZNÚ l e v a s s e o v a l o r a
ser recebido d ire tamente para a sede do PP; Que
GENÚ e n t r e g o u o v a l o r r e c e b i d o , s a l v o engano , n o
d e p a r t a m e n t o j u r í d i c o ; ( . . . ) Que GENÚ contou ao
dec larante que de ixou na sede do PP a quant ia de
R$ 300 mil; Que GENÚ informou ao dec larante que,
ao receber o v a l o r de R$ 300 m i l , ass inou o r e c i b o
correspondente; ( . . . ) Q u e , ainda no mês de
setembro d e 2003, o Par t ido dos Trabalhadores
comunicou a Direção do Par t ido Progress i s ta da
d i spon ib i l idade de outra parce la dos va lores
des t inados; ( . . . ) Que G73NÚ e f e t u o u ou t ro saque de
R$ 300 mil na agência B r a s i l i a do BANCO RURAL e
e n t r e g o u a q u a n t i a na sede do Par t ido
Progress i s ta; ( . . . ) Q u e , em jane iro de 2004, o
Par t ido Progress i s ta recebeu nova comunicação de
d i s p o n i b i l i z a ç ã o de recursos do PT; Q u e , p e l o q u e
s a b e d i z e r , GENÚ f o i à Agência B r a s í l i a do BANCO
isso não seria do interesse de vários Deputados do PP, a ponto de convocar-se
&e H&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 011987
RURAL receber o o u t r o r e p a s s e , quando e n t ã o f o i
informado de que deveria se d i r i g i r a um h o t e l , d e
c u j o nome n ã o se r e c o r d a , para receber a q u a n t i a
d i s p o n i b i l i z a d a ; Que s o m e n t e a o c h e g a r a o h o t e l ,
GENÚ t e r i a c o n h e c i m e n t o d e q u e e s t a v a m d i s p o n í v e i s
R$ 100 m i l ; ( . . . ) Q u e , apesar de ter achado
estranha aquela forma d e pagamento, o declarante
não f e z nenhum questionamento a qualquer membro do
PT; ( . . . ) Que conheceu MARCOS WLLÉ.RIO ZZRNANDES DE - SOUZA no f i n a l de 2002; Que MARCOS VALÉRIO sempre
f r e q u e n t a v a a Câmara d o s D e p u t a d o s , já tendo f e i t o
algumas v i s i t a s ao G a b i n e t e do declarante; ( . . . )
Que MARCOS VALÉRIO e s t eve no gabinete do
declarante por cerca de duas ocasiões; ( . . . ) Que
p r o v a v e l m e n t e j á r e c e b e u ou f e z l i g a ç õ e s para
MARCOS VALÉRIO, n ã o sabendo e s p e c i f i c a r o número
e x a t o ; Que n ã o se lembra d e q u a i s o s t e m a s
t r a t a d o s em t a i s l i g a ç õ e s ; ( . . . ) Que já manteve
vár ios contatos pessoais ou v i a t e l e f o n e com
DELÚBIO SOARES; Que t a i s c o n t a t o s foram r e a l i z a d o s
com o i n t u i t o de d i s c u t i r assuntos par t idár ios;
Que nunca d i s c u t i u r e p a s s e d e v e r b a s com DELÚBIO
SOARES; Que D E L ~ B I O SOARES f o i s e u i n t e r l o c u t o r em
r e u n i õ e s em q u e eram a n a l i s a d a s p o s s í v e i s a l i a n ç a s
m u n i c i p a i s e n t r e o P a r t i d o P r o g r e s s i s t a e o
P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s ; Que , dentre a s
reuniões, pode c i t a r uma em que estiveram
presentes, além de DELÚBIO SOARES, S í l v i o Pereira
e Marcelo Sereno; ( . . . )
reunião com eles . . .
Inq 2 .245 / MG
Veja-se, a inda , depoimento de SIMONE VASCONCELOS, no
qua l há i n d í c i o s de que estes não foram o s únicos repasses
f e i t o s a JOÃO cLÁUDIO GENÚ ( f l s . 588/595, volume 3 dos a u t o s ) :
Q u e , no f i n a l de 2002, recebeu o p r i m e i r o
ped ido de MARCOS VALÉRIO p a r a r e a l i z a r um t r a b a l h o
d i f e r e n t e do que e s t ava acostumada; Que MARCOS
VALÉRIO, no f i n a l de dezembro de 2002, pediu à
dec laran te que r e a l i z a s s e um saque na agência B r a s i l i a
do BANCO RüRAL e repassasse o s v a l o r e s para algumas
pessoas; Que, na verdade, este pr imeiro saque a ped ido
d e MARCOS VALERIO ocorreu em j ane i ro de 2003; ( . . . )
Que, c e r t a vez, s o l i c i t o u que um carro f o r t e fo s se
l e v a r s e i s c e n t o s e cinquenta mil r e a i s para o prédio
da Confederação Nacional do Comércio, l o c a l onde
funcionava a f i l i a l da SMP&B em Brasí l ia /DF; Que e s s e s
v a l o r e s foram entregues aos d e s t i n a t á r i o s f i n a i s no
h a l l de entrada do préd io da CNC; Que par te dos
va lores transportados p e l o c a r r o - f o r t e também foi
entregue ao Assessor Parlamentar JOÃO CLÁUDIO GENÚ, e m
um encont ro oco r r ido no h a l l do h o t e l c u j o nome não se - recordalg; ( . . . )
Es te depoimento encont ra r e spa ldo nos documentos
c o n s t a n t e s do Apenso n o 05 , f l s . 9 e 11 ( s ã o e l e s : 1 - f ac -
s í m i l e au to r i zando o t r a n s p o r t e de R$ 650 m i l r e a i s , r e f e r e n t e s
a d o i s da SMP&B, a t r a v é s de c a r r o f o r t e , para o E d i f í c i o da
Confederação Nacional do Comércio, onde o numerário deve r i a s e r
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en t r egue a SIMONE VASCONCELOS; 2 - emai l de GEIZA D I A S ,
s o l i c i t a n d o o t r a n s p o r t e do numerário por car ro f o r t e e sua
en t r ega a S I M O N E no E d i f í c i o C N C ) .
Ademais, o s r e p a s s e s ao P P não foram f e i t o s , apenas,
diretamente a JOÁO CLÁUDIO GENÚ.
De acordo com o Procurador-Geral da Repúbl ica , foram
f e i t o s também o u t r o s r e p a s s e s , a t r a v é s das empresas Bônus Banval
e Natimar. No ponto, n e c e s s á r i o l e r a crono log ia dos f a t o s ,
conforme narrados na denúncia ( f l s . 5712/5714, volume 2 7 ) :
Em duas o c a s i õ e s , 17/09/2003 e 24/09/2003,
o próprio João Cláudio Genú rubricou o documento fac-
s M l e ( f l s . 222/225 do Apenso 05, e 354 e 412 do
Apenso 06) que a u t o r i z a v a o s saques da importância de
R$ 300.000,OO em cada uma d e s s a s s i t u a ç õ e s , tendo
confirmado, em seu depoimento ( f l s . 576/584) o
recebimento dos valores acima mencionados e de vár ios
outros saques efetuados por SIMONE VASCONCELOS ( . . . )
Segundo a documentação que c o n s t i t u i o s
Apensos 05 e 06 , r e f e r e n t e aos f a c - s i m i l e s e o u t r o s
me ios d e comunicação u t i l i z a d o s por GEISA D i a s , Simone
Vasconce los e o s f u n c i o n á r i o s do Banco Rural para
i d e n t i f i c a ç ã o dos sacadores do d i n h e i r o
d i s p o n i b i l i z a d o p e l o grupo d e Marcos V a l é r i o , também
constam a s s e g u i n t e s in formações de saques por p a r t e
de João Cláud io Genú: 13.01.2004 - R$ 200.000,OO ( f l .
'' Diferentemente, o outro encontro de GENÚ com SIMONE teria ocorrido, nas palavras do próprio GENÚ, não no h a l l , mas num quarto de hotel, ao qual o mesmo se dirigiu sem sequer precisar se anunciar.
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55 e v e r s o do Apenso 05) ; 20.01.2004 - R$ 200.000,OO
( f l . 75 e v e r s o do Apenso 05) . O v a l o r aproximado d e R$ 1.200.000,OO f o i
t r a n s f e r i d o aos parlamentares Pedro Corrêa, Pedro
H e n q e José Janene pe la s i s t e m á t i c a de lavagem de
d i n h e i r o operacional izada pe la BÔnus Banval
Par t ic ipações e BÔnus Banval Commodities Corretora de
Mercadoria, valendo-se da conta da empresa Natimar.
Enivaldo Quadrado, s ó c i o das empresas acima
mencionadas, apresen tando j u s t i f i c a t i v a s i n v e r o s s í m e i s
para o receb imento d e d i n h e i r o do grupo empresar ia l d e
Marcos V a l é r i o , confirmou a rea l i zação de v á r i o s
saques a pedido de Simone Vasconcelos e Marcos
V a l é r i o , em, no mínimo, quatro oportunidades,
t o t a l i z a n d o R$ 605.000,OO.
O montante acima f o i sacado, em março de
2004, por i n t e r p o s t a s pessoas, a saber: Áureo Marcato,
que e f e t u o u d o i s saques de R$ 150.000,OO cada ( f l s .
155 e 160 do Apenso 05) ; Lui z Carlos Masano ( f l . 173
do ApenS0 0 5 ) , que recebeu R$ 50.000,00, e Benoni
Nascimento de Moura ( f l . 2 0 0 ) . que recebeu R$
255.000,OO.
Enivaldo Quadrado, Breno Fischberg e Car los
Quaglia também se valeram da empresa Natimar Negócios
L tda . , empregada para a p r á t i c a de lavagem de
d i n h e i r o , a fim de que o grupo de Marcos V a l é r i o ,
e spec ia lmen t e por meio das empresas 2 s Par t ic ipações
Ltda. e Rogério Lanza To len t ino & Associados,
e f e t u a s s e a t r a n s f e r ê n c i a d e , no mínimo, R$ 500 mil ,
por i n t e r m é d i o da conta da empresa Natimar mantida na
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C o r r e t o r a BÔnus B a n v a l para os parlamentares do PP
Pedro Corrêa , Pedro Henry, José Janene . J á foram i d e n t i f i c a d a s a s s e g u i n t e s
o p e r a ç õ e s d e b r a n q u e a m e n t o d e c a p i t a i s ' v i a Na t i m a r :
G i s e l e Merol l i Miranda e R e g i n a Merolli M i r a n t e (R$
12.000,OO em 1 3 / 0 9 / 2 0 0 4 ) ; A p a r i c i o d e J e s u s e S e l m o
A d a l b e r t o d e C a r v a l h o (R$ 10.000,OO em 1 3 / 0 9 / 2 0 0 4 ) ;
F r e d e r i c o C l i m a c o S c h a e f e r , Mar iana C l i m a c o S c h a e f e r e
A d o l f o L u i z d e S o u z a G ó i s (R$ 25.000,OO em
0 7 / 0 7 / 2 0 0 4 ) ; Emerson R o d r i g o B r a t i e D a n i e l l y C í n t i a
C a r l o s (R$ 7.900,OO em 0 2 / 0 9 / 2 0 0 4 ) ; V a l t e r C o l o n e l l o
( d o i s d e p ó s i t o s d e R$ 10.000,OO em j u l h o d e 2004 e
1 3 / 0 9 / 2 0 0 4 ) ; L a u r i t o D e f a i x Machado (R$ 11.000,OO em
0 2 / 0 9 / 2 0 0 4 ) ; e J o s é René d e L a c e r d a e F e r n a n d o C é s a r
Moya (R$ 1 1 . 4 0 0 , 0 0 em 0 2 / 0 9 / 2 0 0 4 ) .
Para ilustrar o apoio político do grupo de
parlamentares do Partido Progressista ao Governo
Federal, na sistemática acima narrada, destacam-se as
atuações dos parlamentares Pedro Corrêa, Pedro Henry e
José Janene na aprovação da reforma da previdência
(PEC 40/2003 na sessão do dia 27/08/2003) e da reforma
tributária (PEC 41/2003 na sessão do dia 24/09/2003).
O P r o c u r a d o r - G e r a l d a R e p ú b l i c a i m p u t a , a i n d a , a o s
d e n u n c i a d o s J O S É JANENE, PEDRO C O R R Ê A , PEDRO HENRY, JOÃO C L Á U D I O
G E N Ú , ENIVALDO QUADRADO, BRENO FISCHBERG e C a r l o s ALBERTO
QUAGLIA, o d e l i t o d e formação de quadrilha, dada a e s t a b i l i d a d e
e a o r g a n i z a ç ã o d e s u a s a t i v i d a d e s , s u p o s t a m e n t e v o l t a d a s para a
Inq 2 .245 / MG
prática dos crimes de lavagem de dinheiro antes narrados, bem
como de corrupção passiva, pelos quatro primeiros.
A análise dos autos revela a ex i s t ênc ia d e inúmeros
i n d i c i o s que corroboram estas imputações (corrupção passiva,
lavagem de dinheiro e formação de quadrilha para a finalidade de
cometer aqueles crimes, ao longo do tempo, de forma estável)
Em primeiro lugar, cito, mais uma vez, trecho do
depoimento de JOÃO CLÁUDIO GENÚ, demonstrando que, não raro,
eram feitas visitas a corretora Bõnus Banval (fls. 582):
Que acompanhou o Deputado JOSÉ JANENE em
algumas v i s i t a s que e s t e f e z na CORRETORA BÔNUS-
BANVAL; Que a f i l h a do Deputado JOSÉ JANENE trabalhava
na CORRETORA BONWS-BANVAL, sendo que o Deputado
comparecia à sede da empresa para visitá-la; ( . . . )
No depoimento de JOSÉ JANENE, é possível constatar a
"intimidade" que ele e os demais denunciados tinham com os
empresários e co-denunciados da corretora em questão (fls.
1707/1708, volume 8 dos autos), dando indicios também da prévia
associação criminosa:
Que já se encontrou com MARCOS VALÉRIO, em
um encontro casual de um ho t e l em São Paulo,
provavelmente Hotel In tercont inental ; Que, neste
encontro casual, nenhum assunto f o i d i scu t ido entre
ambos; Que conheceu a corretora BÔNUS BANVAL após sua
filha, Michele Janene, ter conseguido um estágio nesta
empresa; Que faz ia v i s i t a s eventuais ao l oca l de
&&?k?w f l2&z&d&a Inq 2 . 2 4 5 / MG
0113!3,^:
trabalho de Michele Janene, quando então f o i
apresentado ao propr ie tár io da empresa, ENIVALDO
QUADRADO; Que chegou a f a z e r a l g u n s invest imentos em
a ç õ e s indicadas pela própria corretora BÔNU~ BANVAL,
no primeiro semestre do ano de 2 0 0 4 ~ ' ; Que n ã o se
r e c o r d a o valor d e r e f e r i d a s a p l i c a ç õ e s , mas p o d e
a f i r m a r q u e f o i firmado um contrato de inves t imento
com a BÔNUS BANVAG no valor máximo de R$ 1 milhão, com
g a r a n t i a h i p o t e c á r i a ; Que comentou com ENIVALDO
QUADRADO que MARCOS KALÉRIo s e r i a um bom c l i e n t e em
potencial para a corretora BÔNUS BANVAL, t e n d o e m
v i s t a sua c a p a c i d a d e f i n a n c e i r a ; Que p r o c u r a v a , na
v e r d a d e , a u x i l i a r sua f i l h a em s e u n o v o emprego, uma
v e z q u e a mesma t i n h a por uma d e s u a s i n c u m b ê n c i a s a
c a p t a ç ã o d e n o v o s c l i e n t e s para a c o r r e t o r a ; ( . . . ) Que
c o n h e c e a p e n a s d e nome a empresa NATIMAR, que s e r i a
uma empresa e s p e c i a l i z a d a em i n v e s t i m e n t o s e m o u r o ;
Que nunca f e z nenhuma n e g o c i a ç ã o diretamente com a
NATIMAR; Que a c r e d i t a t e r se encontrado, casualmente,
com algum d i r igen t e ou funcionário da NATIMAR, cujo
nome não se recorda; Que e s t e e n c o n t r o o c o r r e u na
BÔNU~ BANVAL, sendo que o próprio ENIVALDO QUADRADO
informou que t a l pessoa era funcionário da NATIMAR;
Q u e , a p r e s e n t a d a a o d e c l a r a n t e a relação de pessoas
que receberam recursos a t r a v é s d e t r a n s f e r ê n c i a s
b a n c á r i a s d e t e r m i n a d a s pela NATIMAR, a f i r m a conhecer,
apenas, ROSA ALICE VALENTE, sua secre tár ia pessoal , e
DANIELLE KEMMER JANEZVE, sua f i l h a ; ( . . . ) s o l i c i t o u q u e
a BÔNUS BANVAL r e a l i z a s s e o r e s g a t e d e a lgumas
a p l i c a ç õ e s em b e n e f i c i o d e ROSA ALICE JANENE e
20 Coincidentemente ou não, época em que os crimes narrados na denúncia e
218
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DANIELLE KEMMER JANENE; Que não sabe d i z e r por qual
mot ivo a BÔNUS BANCaL tenha determinado que t a i s
t r a n s f e r ê n c i a s fossem r e a l i z a d a s a t r a v é s da NATIMAR;
( . . . ) Que nunca verificou qualquer sinal de
incompatibilidade entre o patrimônio e os rendimentos
de JOÃO CLAÚDIO GENÚ.
A afirmação de JANENE, no sentido de que encontrou,
uma vez, casualmente, com MARCOS VALÉRIO no Hotel
Intercontinental, em São Paulo, está em dissonância com o
depoimento de ENIVALDO QUADRADO a Policia Federal, no qual o
proprietário da BÔNUS BANVAL afirmou (fls. 1 7 0 7 ) :
Que no i n i c i o do ano d e 2004, provavelmente
no mês d e fevereiro, no Hotel I n t e r c o n t i n e n t a l em São
Paulo, f o i apresentado p e l o Deputado JOSÉ JANENE ao
p u b l i c i t á r i o MARCOS VALÉRIO FERNANDES; Que, num
primeiro momento, MARCOS VALÉRIO demonstrou interesse
em adquirir a corretora BÔNUS BANVAL, avaliada em
aproximadamente R$ 4 milhões; Que MARCOS VALÉRIO
passou a frequentar a BÔNUS BANVAL com a finalidade de
conhecer a carteira de clientes e a saúde financeira
da empresa; Que MARCOS VALÉRIO comparecia à BÔNUS
BANVAL acompanhado do advogado ROGÉRIO TOLENTINO; Que
o negócio da aquisição da empresa BÔNUS BANVAL com
MARCOS VALÉRIO acabou não se concretizando; ( . . . ) Que,
em março d e 2004, a Sr" SIMONE VASCONCELOS,
funcionária de MARCOS vALÉRIo, l i g o u para o
r e i n q u i r i d o s o l i c i t a n d o um favor , no s e n t i d o de
e f e t u a r uma r e t i r a d a em e s p é c i e na agência do Banco
imputados aos parlamentares do PP foram, supostamente, praticados.
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0 1 1 9 9 5
Rural , na Av. P a u l i s t a , em São Paulo; ( . . . ) Q u e , a
p a r t i r d e s t e momento, SIMONE f e z d i v e r s o s con ta tos ,
s o l i c i t a n d o o recebimento de v a l o r e s em e s p é c i e ,
conforme o depoimento anter ionuente prestado; ( . . . ) Que, na m a i o r i a d a s v e z e s , o p r ó p r i o MARCOS VALÉRIO
b u s c a v a os v a l o r e s r e t i r a d o s na a g ê n c i a d o Banco R u r a l
da Aven ida P a u l i s t a / S P , com e x c e ç ã o da r e t i r a d a
e f e t u a d a p o r VIVIAN, d e c u j a s f e i ç õ e s n ã o se r e c o r d a ;
Que MARCOS VALÉRIO n ã o comentava sobre o d e s t i n o d o
d i n h e i r o r e t i r a d o ; Que o r e i n q u i r i d o n ã o e s t r a n h a v a a
forma a t í p i c a com q u e MARCOS VALÉRIO p r o c e d i a os
s a q u e s ( ; Que JOSÉ JANENE f i z um ú n i c o
i n v e s t i m e n t o na BÔNUS BANVAL n o p e r í o d o em que sua
f i l h a se e n c o n t r a v a e s t a g i a n d o na empresa ; ( . . . ) Que
MARCOS VALÉRIO se mostrou i n t e r e s s a d o em f a zer alguns
inves t imen tos por in termédio da BÔNUS BANVAL; Que o
r e i n q u i r i d o i n d i c o u a MARCOS VALÉRIO a empresa NATIMAR
NEWCIOS INTERMEDIAÇ~ES LTDA; ( . . . ) Que a NATIMAR é
c l i e n t e da BÔNUS BANVAL desde o ano d e 2002, s e n d o s e u
p r i n c i p a l r e p r e s e n t a n t e C a r l o s QUAGLIA, r e s i d e n t e em
F l o r i a n ó p o l i s , S a n t a C a t a r i n a ; Que n ã o se r e c o r d a como
a NATIMAR se aprox imou da BÔNUS BANVAL, mas a c r e d i t a
q u e f o i p o r i n d i c a ç ã o d e um c l i e n t e ; ( . . . I Que MARCOS
VALÉRIO, p o r m e i o d a s empresas ROGÉRIO LANZA TOLENTINO
& ASSOCIADOS e 2 s PARTICIPAÇÕES m a n t i n h a i n v e s t i m e n t o s
q u e eram g e r e n c i a d o s p e l a NATIMAR NOGÓCIOS
INTERMEDIAÇÕES; Que t a i s empresas efetuavam depós i tos
na conta corren te que a NATIMAR mantinha na BÔNUS
BANVAL ( . . . ) Que mantém em arquivos a re lação dos
b e n e f i c i á r i o s dos r e s g a t e s das apl icações r e a l i z a d a s
por MARCOS VALÉRIO a t r a v é s da NATIMAR; ( . . . ) Que a s
&- 8&&& Inq 2.245 / MG 0 1 1 9 9 6
empresas de MARCOS VALERIO depositavam os recursos na
BÔNUS BANVAL, que os direcionava internamente para uma
conta-corrente em nome da NATIMAR; ( . . . ) Que era a
NATIMAR que determinava, por meio de ordem escrita,
para quem os recursos seriam direcionados; Que as
ordens de resgate dos valores de MARCOS VALÉF~IO eram
direcionadas à NATIMAR; Que, no entanto, todas as
contabilizações eram feitas por meio da conta-corrente
da corretora BÔNUS BANVAL; Que não se recorda dos
nomes das pessoas que foram beneficiadas pelos
resgates dos investimentos realizados por MARCOS
VALÉRIO; ( . . . )
Também aí é po,ssivel colher indícios da prévia
associação criminosa, que exclui a existência de mero concurso
de agentes.
Outro ponto de discordância nos autos é o desse
suposto "interesse" de MARCOS VALÉRIO na aquisição da BÔNUS
BANVAL, que justificaria, nos termos dos depoimentos acima (de
ENIVALDO QUADRADO e JANENE), a presença do publicitário na
empresa, os ALEGADOS "investimentos" e seus encontros com o dono
da corretora, o acusado ENIVALDO QUADRADO.
Em seu depoimento, MARCOS VALÉRIO nega que tivesse
interesse em investir na BÔNUS BANVAL, e explica como se deu a
utilização desta empresa na suposta prática de lavagem de
dinheiro pelos denunciados (fls. 1459/1461, volume 7) :
&- N&&& Inq 2.245 / MG
011997
Que f o i apresentado ao S r . ENIVALDO
QUADRADO p e l o Deputado Federal JOSÉ JANENE, que p o r
sua v e z f o i a p r e s e n t a d o a o d e c l a r a n t e por DELÚBIO
SOARES; Que JOSÉ JANENE indicou a corre tora BÔNUS
BANVAL para receber repasses de verbas do Par t ido dos
Trabalhadores; Q u e , em nenhum momento, cog i tou ou
demonstrou interesse em a d q u i r i r a corre tora BONU~
BANVAL; Que JANENE a f i r m o u a o d e c l a r a n t e que gos tar ia
que os recursos a serem repassados em nome do Par t ido
dos Trabalhadores para o Par t ido Popular fossem
encaminhados para a corre tora BÔNUS BANVAL; Que
c a b e r i a à BÔNUS BANVAL e f e t u a r , p o s t e r i o r m e n t e , o
r e p a s s e d a s v e r b a s para a s p e s s o a s i n d i c a d a s p e l o
Deputado F e d e r a l JOSÉ JANENE; Que também pode a f i rmar
que DELÚBIO SOARES determinou o repasse de recursos
para ou t ros p a r t i d o s , bem como para Dire tór ios
Regionais do Par t ido dos Trabalhadores, a t r a v é s de
depós i tos r e a l i z a d o s em nome da corretora B Ô W S
BAFNAI;; Que, a t r a v é s da BÔNU.5 BANCaL, foram
encaminhados ao Par t ido L iberal R$ 900 mil; ao PT/RJ,
R$ 750 m i l ; ao PT/DF, R$ 120 m i l ; ao PT Nacional, R$
945 mil, e ao PP, R$ 1,200 milZ1; Que repassou
recursos para a BÔNU~ BANVAL a t r a v é s de depós i to on-
l i n e ou cheques nominais; Que os r e c u r s o s encaminhados
à BÔNUS BANVAL p a r t i r a m d a s c o n t a s d a s empresas 25
PARTICIPAÇÔES e ROGÉRIO LANZA TOLENTINO ASSOCIADOç;
Que a TOLENTINO ASSOCIADOS t r a n s f e r i u para a BÔNUS
BANVAL o t o t a l d e R$ 3.460.850,00, s e n d o que a 2s PARTICIPAÇÔES t r a n s f e r i u o v a l o r d e R$ 6.322.159,33;
Que todos esses recursos t i ve ram origem nos
21 Um milhão e duzentos mil reais.
&- fl&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
011998
empréstimos obtidos junto aos bancos BMG e RURAL;
( . . . ) Que part icipou de três reuniões, salvo engano,
com ENIVALDO QUADRADO e DELÚBIO SOARES, real izadas na
sede nacional do Partido dos Trabalhadores em São
Paulo/SP ( d o i s e n c o n t r o s ) e em uma lanchonete no p i so
superior do Aeroporto de Congonhas/SP (um e n c o n t r o ) ;
Que, n e s s a s r e u n i õ e s , eram d i scu t idos o s repasses para
o Partido Progressis ta e demais bene f i c iá r io s ; Que o
repasse dos recursos para a s pessoas indicadas p o r
DELÚBIO SOARES eram d e responsabilidade da BÔNUS
BANVAL, a p ó s a d i s p o n i b i l i z a ç ã o d o s v a l o r e s p e l o
d e c l a r a n t e ; Que e s t eve na sede da BÔNUS BANVAL em t r ê s
ou quatro oportunidades, senrpre para t ra ta r de
assuntos relacionados aos repasses ; Que os
in ter locu tores d o d e c l a r a n t e junto à BÕNV.5 BANVAL eram
os S r s . ENIVALDO QUADRADO e BRENO [FISCHBERG]; Que
também já part icipou de reuniões na BÔNUS BANVAL em
que estava presente o Deputado Federal JOSÉ JANENE,
juntamente com seu assessor d i r e t o , JOÃO CLÁUDIO GENÚ;
Que d i s c u t i u com ENIVALDO QUADRADO e o Deputado
F e d e r a l JOSÉ JANENE sobre o s pagamentos a s e rem
encaminhados a o P a r t i d o P r o g r e s s i s t a ; ( . . . ) Que
r e p a s s o u r e c u r s o s à BÔNUS BANVAL através de cheques
sacados pelos empregados da corretora; Que o s nomes d e
L U I Z CARLOS MAZANO, BENONI NASCIMENTO DE MOURA e ÁUREO
MARCATO foram repassados pelo próprio ENIVALDO
QUADRADO, sendo que os mesmos foram autorizados a
receber cheques emit idos em nome da SMP&B na agência
Avenida Paulista/SP do BANCO RURAL; Que o s r e c u r s o s
r e c e b i d o s p e l o s empregados da BÔNUS BANVAL fazem p a r t e
Inq 2 .245 / MG
do t o t a l repassado à BÔNUS BANVAL, conforme j á
mencionado ( . . . )
A testemunha ÁUREO MARCATO confirmou, em seu
depoimento, t e r rea l i zado d o i s saques, no va lor de R$ 150 m i l
r e a i s cada um, em e s p é c i e , a pedido de ENIVALDO QUADRADO. Para
i s t o , seguiu o mesmo procedimento já narrado inúmeras vezes na
denúncia: d i r i g i u - s e ao BANCO RURAL, onde o d inhe i ro já es tava
separado para ser - lhe entregue ( f l s . 818/820, volume 3 ) .
Por sua v e z , L U I Z CARLOS MASANO af irmou o seguinte
( f l s . 6 4 5 / 6 4 8 , volume 3 ) :
Que desempenha a função de Diretor
Financeiro da empresa BÔNUS BANVAL CCTVM; Que, na
época dos f a t o s i n v e s t i g a d o s , era Gerente de custódia
da mesma empresa; Que, c e r t o d i a , o p r o p r i e t á r i o da
empresa, ENIVALDO QUADRADO, pediu ao dec larante que
fosse a t é a agência do Banco ~ u r a l / S P , loca l i zada na
Av. P a u l i s t a , para r e t i r a r importância de c inquenta
mil r e a i s ; Que o S r . ENIVALDO QUADRADO não comentou
com o dec larante qual a origem do recurso ou tampouco
a natureza daquele recebimento; Que ENIVALDO apenas
pediu ao dec laran te que se i d e n t i f i c a s s e a - um
empregado do Banco Rural , tendo fornecido o nome
desse ; Que não se recorda qual o nome do empregado do
Banco Rural ind icado pe lo S r . ENIVALDO QUADRADO; Que
f o i deixado na agência do Banco Rural na Av. Pau l i s ta
p e l o mo tor i s ta da BÔnus Banval, BENONI NASCIMENTO DE
MOURA; Que procurou o funcionário indicado por
ENIVALDO QUADRADO; Que se apresentou como sendo o
@- B&&& I n q 2.245 / MG
012000
e n v i a d o d e ENIVALDO QUADRADO, t e n d o i n f o r m a d o a o
d e c l a r a n t e q u e o p r o c e d i m e n t o i r i a demorar; Que o
empregado do Banco Rural/SP i n f o n n o u a o d e c l a r a n t e que
a demora s e r i a causada p e l a neces s idade d e aguardar o
envio d e um documento; Que n ã o f o i d i t o a o d e c l a r a n t e
q u a l s e r i a o documen to q u e e s t a v a f a l t a n d o para
a u t o r i z a r o s a q u e ou quem s e r i a o r e s p o n s á v e l p o r s e u
e n v i o ; ( . . . ) Que , a p ó s ter aguardado p o r
aprox imadamente uma h o r a e m e i a , o empregado d o Banco
R u r a l / S P e n t r e g o u a q u a n t i a d e c i n q u e n t a m i l r e a i s
para o d e c l a r a n t e ; Que a s s i n o u um documento
comprovando o recebimento dos v a l o r e s ; Que reconhece
como sua a a s s i n a t u r a apos ta no documento d e f l . 172
do apenso 05; Que,' d e p o s s e do d i n h e i r o , r e t o r n o u à
sede da empresa BÔNUS BANVAL, e en tregou a quan t ia
para o S r . ENIVALDO; Que e s t a f o i a ú n i c a v e z que
r e c e b e u v a l o r e s a p e d i d o d e ENIVALDO QUADRADO; ( . . . )
O m o t o r i s t a da empresa BÔNUS BANVAL, BENONI NASCIMENTO
DE MOURA, também r e c e b e u v a l o r e s n o Banco R u r a l , a p e d i d o do
a c u s a d o ENIVALDO QUADRADO ( d e p o i m e n t o d e f l s . 655/657, vo lume 3
d o s a u t o s ) :
( . . . ) d e t e r m i n a d o d i a , o S r . ENIVALDü
QUADRADO s o l i c i t o u a o d e c l a r a n t e que f o s s e e f e t u a r uma
r e t i r a d a na agência do Banco Rural l o c a l i z a d a na Av.
P a u l i s t a em São Paulo/SP; Que n ã o f o i i n f o r m a d o p e l o
S r . ENIVALDO QUADRADO q u a l o v a l o r a ser r e t i r a d o na
a g ê n c i a d o Banco R u r a l / S P ; Que o S r . ENIVALDO a p e n a s
p e d i u q u e o d e c l a r a n t e se d i r i g i s s e à r e f e r i d a a g ê n c i a
b a n c á r i a e f o s s e c o n v e r s a r com um empregado c u j o nome
d$fkz- B&&& Inq 2 .245 / MG
012nO!
n ã o se r e c o r d a ; Que o Sr . ENIVALDO não forneceu ao
declarante qualquer documento a ser u t i l i z a d o no
saque; Q u e , a o se a p r e s e n t a r a o empregado da a g ê n c i a
d o Banco R u r a l / S P , f a l o u para o mesmo que e s t a v a a l i
para r e t i r a r o d i n h e i r o d o S r . ENIVALDO; Que o
empregado d o Banco R u r a l / S P j á s a b i a do q u e se
t r a t a v a , t e n d o f a l a d o a o d e c l a r a n t e q u e a g u a r d a s s e p o r
um i n s t a n t e ; Que o empregado f a l o u q u e i a s e p a r a r o
d i n h e i r o ; Que f i c o u aguardando p o r aprox imadamente uma
hora e m e i a , quando e n t ã o o empregado da a g ê n c i a d o
Banco R u r a l p e d i u para q u e o d e c l a r a n t e e n t r a s s e em
uma s a l a ; Q u e , a o c h e g a r n e s s a s a l a , o dinheiro estava
em cima de uma mesa; Que o empregado do banco colocou
o dinheiro na bo l sa que o declarante estava portando;
Que e s t a bolsa f o i fornecida ao declarante pe lo S r .
ENIVALDO; Que n ã o chegou a c o n f e r i r o v a l o r guardado ,
mas a c r e d i t a q u e era uma grande quantia; Q u e , d e p o s s e
d o d i n h e i r o , r e t o r n o u i m e d i a t a m e n t e para a s e d e da
empresa BÔNUS BANVAL; Que n ã o se l embra d e ter
a s s i n a d o nenhum documento como recibo na a g ê n c i a d o
Banco R u r a l / S P ; Que, mostrado ao declarante o
documento de f l . 119 do apenso 05 dos presentes autos ,
reconhece como sua a assinatura constante no canto
i n f e r i o r esquerdoz2; ( . . . ) Que se recorda de ter
levado da sede da BÔnus Banval ao Aeroporto de
Congonhas/SP o s srs. JOAO CLÁUDIO DE CARVALHO GENÚ e
JOSÉ J W N E , e m d u a s ou três o p o r t u n i d a d e s ; Que todas
a s vezes em que levou JOAO CLÁUDIO DE CARVALHO GENÚ e
JOSÉ JANENE para o Aeroporto d e Congonhas/SP, - os
mesmos haviam acabado d e ter uma reunião com o S r .
22 Consta do documento em questão que foi entregue a BENONI o valor de R$
2 2 6
&+ @5iz&=d&& Inq 2.245 / MG
o 121.02 ENIVALDO QUADRADO; Que, da mesma forma, quando levou
MARCOS VALÉRIO ao Aeroporto de Congonhas/SP, o mesmo
tinha se encontrado com o Sr. ENIVALDü QUADRADO ( . . . )
Colhe-se, deste depoimento, informações importantes no
sentido da prática, em tese, de crime de lavagem de dinheiro
pelo acusado ENIVALDO QUADRADO. Em primeiro lugar, porque enviou
o motorista de sua empresa à Agência do Banco Rural munido de
uma bolsa, na qual seria guardado o numerário a ser recebido. Ou
seja, ele aparentemente conhecia o procedimento que se adotava
no repasse de valores.
Além disso, o motorista não levou qualquer documento
de identificação do acusado, que seria o real beneficiário do
dinheiro, fato que também revela sua consciência de que os
valores não seriam recebidos através de um procedimento normal
de saque. As reuniòes de ENIVALDO QUADRADO com os acusados JOSÉ
JANENE, JOÃO CLÁUDIO GENÚ e MARCOS VALÉRIO reforçam essa
suspeita.
Assim, há indícios suficientes da prática dos crimes
de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, razão pela qual
voto pelo recebimento da denúncia contra ENIVALDO QUADRADO.
O envolvirnento de CARLOS ALBERTO QUAGLIA teria se dado
através da empresa NATIMAR, da qual é sócio-gerente e
administrador, sendo sua filha a outra sócia da empresa.
2 5 5 . 0 0 0 , O O (duzentos e cinquenta e cinco mil reais).
R+ &a&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
Em seu depoimento, CARLOS QUAGLIA esc lareceu o
seguin te ( f l s . 2 0 9 4 / 2 1 0 1 ) :
Que, para operar na B . M . & F . ~ ~ , a NATIMAR
necess i tava da intermediação de uma corre tora , que, no
caso, somente s e recorda do nome da corretora BÔNUS
BANVAL; Que se compromete a apresentar documentos que
revelam os inves t imen tos por meio de ou t ras corre toras
a s quais no presen te momento nâo sabe d e c l i n a r ; Que
i n v e s t i u , por in termédio da corretora BÔNUS BANVAL, no
mercado de fu turo de ouro e câmbio, além de ouro à
v i s t a ou f í s i c o ; Que, no f i n a l de 2003 ou i n í c i o de
2004, f o i apresentado ao senhor ENIVALDO QUADRADO,
sóc io da BÔNUS BANVAL . . . ) ; Que encontrou com o D r .
QUADRADO em seu e s c r i t ó r i o , na cidade de São Paulo,
oportunidade em que o dono da BÔNUS BANVAL o f e receu
d i v e r s o s a t r a t i v o s para que o dec larante a p l i c a s s e os
recursos em sua empresa; ( . . . ) Que acred i ta que
apl icou na BÔNUS BANVAL aproximadamente s e t e milhões
de r e a i s durante o ano de 2004; Que, salvo engano, no
mês de junho de 2004 , o declarante percebeu um
deposi to desconhecido na conta da NATIMAR, não sabendo
precisar quanto havia s i d o depositado equivocadamente;
Que recebia pe los c o r r e i o s , semanalmente, o e x t r a t o da
conta da NATIMAR junto à corretora BÔNUS BANVAL; Que,
d i a n t e d i s s o , entrou em conta to com ENIVALDO QUADRADO,
informando a s i t uação , oportunidade em que e s t e t e r i a
d i t o que t a i s recursos haviam s ido deposi tados por
engano, em v i r t u d e de "er ro de l o g í s t i c a de caixa";
Que o declarante pediu para ENIVALDO estornar t a l
va lor da sua conta, o que fo i negado pelo dono da
fggkww &&H& Inq 2 .245 / MG 0 1 2 0 0 4
BÔNVS BANVAL, alegando imposs ib i l idade de fa zê - lo ante
a e x i s t ê n c i a de uma a u d i t o r i a ex terna em sua
Corretora; Que nega que a NATIMAR tenha recebido
recursos de ROGÉRIO LANZA TOLFNTINO e da empresa 2s PARTICIPAÇÕES LTDA.; Que os d e p ó s i t o s f e i t o s por e s t a s
pessoas são aqueles que foram cred i tados erroneamente
na conta da NATIMAR, conforme disse em l i n h a s a t r á s ;
Que não conhece e não tem a mínima i d e i a de quem sejam
a s pessoas j u r i d i c a s que depositaram aproximadamente
seis mi lhões e meio de r e a i s por equívoco na conta-
corren te da NATIMAR; Que não sabe in formar se esses
v a l o r e s foram apl icados em i nves t imen tos p e l a
c o r r e t o r a BÔNUS BANVAL; Que, se houve algum
inves t imen to , este não se deu por determinação do
dec larante; Que ENIVALDO QUADRADO s o l i c i t o u a o
d e c l a r a n t e q u e a s s i n a s s e algumas t r a n s f e r ê n c i a s de
recursos para contas-correntes de t e r c e i r o s , o que f o i
fe i to p e l o dec larante; Que nega q u e t e n h a r e a l i z a d o
e s t a s t r a n s f e r ê n c i a s por ind icação d o p u b l i c i t á r i o
MARCOS V2iIJh10; Que a s s i n o u , aprox imadamen te , dez
c a r t a s de t r a n s f e r ê n c i a d e recursos para t e r c e i r o s
desconhecidos; Que também a s s i n o u c e r c a d e c i n c o
c a r t a s de t r a n s f e r ê n c i a com d e s t i n a t á r i o s "em branco",
p r e e n c h i d o s p o r ENIVALDO QUADRADO; Q u e , n e s t e momento,
é dada c i ê n c i a ao dec laran te de que foram
apresentadas, pe la BÔNUS BANVAL, cerca de c inquenta
c a r t a s de t r a n s f e r ê n c i a de recursos assinadas p e l o
dec larante; Q u e , i n d a g a d o se s a b e d i z e r a s r a z õ e s d e
tamanha d i s c r e p â n c i a e n t r e o q u e d i s s e l i n h a s a t r á s e
o s documen tos a p r e s e n t a d o s p e l a BÔNUS BANVAL,
23 Bolsa de Mercadorias e Futuros.
&+ NU&& Inq 2.245 / MG
0 1 2 0 0 5 r e s p o n d e u q u e , a l é m d a s que a s s i n o u a p e d i d o d e
ENIVALDO QUADRADO, é p o s s í v e l que a í e s t e j a m
computadas a s t r a n s f e r ê n c i a s q u e e f e t i v a m e n t e r e a l i z o u
em nome da NATIMAR; Q u e , após a s s i n a r t a i s
t r a n s f e r ê n c i a s , os d e p ó s i t o s equivocados permaneceram
sendo cred i tados na conta-corrente da NATIMAR, o que
motivou ENIVALDO QUADRADO a s o l i c i t a r que o dec larante
a s s i n a s s e novos documentos de Trans ferênc ias em v á r i a s
oportunidades, o que foi negado p e l o dec larante ( . . . ) Que reconhece como tendo p a r t i d o de seu punho a s
as s ina turas lançadas nas car tas supostamente enviadas
à BÔNUS BAhVAL, onde constam o s nomes e dados dos
b e n e f i c i á r i o s das t r a n s f e r ê n c i a s de recursos da conta
da NATIMAR na BÔNUS BANVAL; ( . . . )
J á o acusado BRENO FISCHBERG a f i r m o u o s e g u i n t e em s e u
d e p o i m e n t o ( f l s . 4215/4217, vo lume 19):
Que c o n f i r m a a v e r s ã o r e l a t i v a a o s
d e p ó s i t o s d e t e r m i n a d o s p e l a NATIMAR para terceiros,
c o n f o r m e l i s t a a p r e s e n t a d a n o a n e x o 05-A da p e r í c i a
e x t r a j u d i c i a l encaminhada à P o l í c i a F e d e r a l ; Que a
NATIMAR mov imen tou aprox imadamen te 1 4 m i l h õ e s d e r e a i s
n o a n o d e 2004 j u n t o à BÔNUS BANVAL; Que CARLOS
ALBERTO QUAGLIA periodicamente t e l e fonava para
ENIVALDO QUADRADO, ou mesmo para algum funcionário da
área admin i s t ra t i va da BÔNUS BANVAL e s o l i c i t a v a que
fossem f e i t a s t r a n s f e r ê n c i a s de recursos da NATIMAR
para t e r c e i r o s por ele indicados; Q u e , e m v i r t u d e d e
CARLOS ALBERTO QUAGLIA r e s i d i r f o r a d o E s t a d o d e São
P a u l o , a s s o l i c i t a ç õ e s mencionadas eram red ig idas em
formato de car ta e , nas oportunidades em que o mesmo
&-NU&& Inq 2.245 / MG
0120CI%
se d i r i g i a a c a p i t a l p a u l i s t a , eram todas assinadas de
uma v e z só ; Q u e , p o r t a n t o , nega veementemente, a
versão decl inada por CARLOS ALBERTO QUAGLIA d e q u e a s
t r a n s f e r ê n c i a s d o s r e c u r s o s da NATIMAR foram
e f e t i v a d a s a p e d i d o da p r ó p r i a BÔNUS BANVAL; Q u e ,
i n c l u s i v e , a BÔNUS BANVAL reteve a BMF referente a s
operações s o l i c i t a d a s por CARLOS num v a l o r t o t a l de
aproximadamente 30 mil r e a i s , devidamente informado à
Rece i ta Federal, e cons tante da declaração anual de
rendimentos da empresa NATIMAR; Que esse f a t o a f a s t a a
v e r s ã o d e CARLOS ALBERTO QUAGLIA, j á q u e n inguém
p a g a r i a 3 0 m i l r e a i s d e i m p o s t o para o u t r a p e s s o a ;
( . . . ) Que, e m r e l a ç ã o a MARCOS VALÉRIO, o d e c l a r a n t e o
c o n h e c e u a p r e s e n t a d o p o r ENIVALDO QUADRADO como um
p o s s í v e l comprador da Corretora de C o m d i t i e s BÔNU~
BANVAL, gue e s t a v a a venda; Que MARCOS VALÉRIO n ã o
c o n c r e t i z o u a compra; ( . . . ) Que se encontrou com
MARCOS VALÉRIO cerca de quatro v e z e s , todas
acompanhadas de ROGÉRIO TOLENTINO; Que MARCOS VALÉRIO
acompanhava mensalmente o r e s u l t a d o da corre tora para
d e c i d i r se fechava ou não o negócio; Q u e , em r e l a ç ã o
ao Deputado JOSÉ JANENE, o dec larante conheceu o
parlamentar a t r a v é s da f i l h a d e s t e , senhora MICHEm
JANENE, ex -e s tag iár ia da BÔNU.9 BANVAL; Que JOSÉ JANENE
s o m e n t e r e a l i z o u uma ú n i c a o p e r a ç ã o d e d a y t r a d e na
c o r r e t o r a BÔNUS BANVAL; Q u e , s a l v o e n g a n o , o l u c r o d e
JOSÉ JANENE f o i da ordem d e aprox imadamente 30 m i l
r e a i s ; ( . . . ) Que nega a versão apresentada por MARCOS
VALÉRIO de que a BÔNU~ BANVAL tenha s i d o u t i l i z a d a
para t r a n s f e r i r recursos de ca ixa 2 para JOSÉ J-
ou qualquer o u t r o p o l í t i c o ; q u e a s operações da
R+ flu&u Inq 2.245 / MG
012067
NATIMAR sempre foram comandadas por CARLOS ALBERTO
QUAGLIA; Que, entretanto, realmente a filha do
Deputado JOSÉ JANENE recebeu um crédito de 15 mil
reais, remetido por ordem da NATiMAR; ( . . . )
É de se destacar que o Relatório de Análise no
792/2006 (Apenso no 85, fls. 463/765) também contém fortes
indícios no sentido do enunciado pelo Procurador-Geral da
República na denúncia, corroborando, assim, as acusações de
lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
Constatou-se, ali, que a empresa BÔNUS BANVAL recebeu,
comprovadamente, da firma ROGÉRIO LANZA TOLENTINO a quantia de
R$ 3.460.850,OO.
Relativamente a NATIMAR, "cliente" da BÔNUS BANVAL,
constatou-se a existência de um documento intitulado
"autorização de operações", em que o acusado BRENO FISCHBERG
autorizava operações em nome da NATIMÃR.
A NATIMAR procedeu, então, nos termos do R.A.
792/2006, a transferência dos valores depositados por TOLENTINO
e pela 2s PARTICIPAÇÔES a terceiros, os quais, entretanto, não
puderam ser identificados em sua totalidade, tendo em vista que
a mesma conta corrente continha também recursos próprios da
NATIMAR, que eram também utilizados para outras finalidades
(como aplicações financeiras na BM&F e transferências de valores
a terceiros). Assim, a solução foi rastrear todas as
Inq 2.245 / MG
movimentações, a partir de janeiro de 2004, até o último
movimento, em 13 de setembro de 2004, com as dificuldades
inerentes a tal procedimento.
Aliás, isto também demonstra, a o menos
indiciariamente, que os denunciados se organizaram em nível
elevadissimo para evitar a persecução penal e, assim, viabilizar
a prática dos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva
narrados na denúncia, razão pela qual considero que há indícios
da prática de crime de formação de quadrilha por estes acusados.
Do exposto, Senhora Presidente, tendo em conta os
documentos constantes dos autos, os depoimentos que li
anteriormente, e o fato de os denunciados fazerem trocas de
acusações entre si, considero haver indícios suficientes da
prática dos crimes narrados na denúncia pelas pessoas
denunciadas neste tópico, razão pela qual voto pelo recebimento
da denúncia, contra :
a) JOSÉ JANENE, PEDRO CORRÊA, PEDRO HENRY e JOAO
CLÁUDIO GENÚ, pela suposta prática dos crimes de formação de
quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro, nos termos
narrados na denúncia;
b) ENIVALDO QUADRADO, BRENO FISCHBERG e CARLOS ALBERTO
QUAGLIA, pela suposta prática dos crimes de formação de
quadrilha e lavagem de dinheiro, tal como narrado pelo
Procurador-Geral da República na inicial acusatória.
R- B&&& Inq 2 .245 / MG
&,$ks-o B a & u Inq 2 . 2 4 5 / MG
VI.2 - PARTIDO LIBERAL
No item VI.2, tal como no item anterior, é narrada a prática de crimes de
corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, desta .feita envolvendo o
Partido Liberal.
Eis o ligeiro resumo dos fatos com o qual o Procurador-Geral da República
introduziu o item da denúncia em análise (fls.5716):
" O s d e n u n c i a d o s Va ldemar C o s t a Neto,
J a c i n t o Lamas e A n t ô n i o Lamas, j u n t a m e n t e com L ú c i o
Funaro e J o s é C a r l o s B a t i s t a , montaram uma e s t r u t u r a
c r i m i n o s a v o l t a d a para a p r á t i c a d o s c r i m e s d e
c o r r u p ç ã o p a s s i v a e l avagem d e d i n h e i r o .
O r e c e b i m e n t o d e van tagem i n d e v i d a ,
m o t i v a d a p e l a c o n d i ç ã o d e p a r l a m e n t a r f e d e r a l d o
d e n u n c i a d o Va ldemar C o s t a Neto, t i n h a como
contraprestação o apoio p o l í t i c o do Partido Liberal - PL ao Governo Federal".
Destaco, de plano, que o crime de corrupção passiva foi imputado aos
denunciados VALDEMAR COSTA NETO, JACINTO LAMAS e BISPO RODRIGUES.
Imputou-se, também, a prática do crime de lavagem de dinheiro a estes
mesmos denunciados, bem como a ANTONIO LAMAS, na forma do art. 29 do CP.
Por fim, VALDEMAR COSTA NETO, JACINTO LAMAS e ANTONIO
LAMAS foram, ainda, acusados da prática do crime de formação de quadrilha, para o qual
teriam concorrido, de acordo com a denúncia, os donos da empresa GUARANHUNS, LUCIO
@+ fl&&& Inq 2 .245 / MG
6 1 2 0 1 1
FUNARO e JOSÉ CARLOS BATISTA. Estes últimos, entretanto, não foram denunciados,
por força de acordo de colaboração firmado com o Procurador-Geral da República.
Dito isto, inicio a analise pelo crime de corrupção passiva, que foi imputado a
VALDEMAR COSTA NETO, JACINTO LAMAS e BISPO RODRIGUES.
DA IMPUTAÇÃO DE CORRUPÇÃO PASSIVA - Valdemar Costa Neto,
Jacinto Lamas e Bispo Rodrigues
De acordo com a denúncia, "o recebimento de vantagem indevida, motivada
pela condição de parlamentar federal do denunciado Valdemar Costa Neto, tinha como
contraprestação o apoio político do Partido Liberal - PL ao Governo Federal"
E prossegue o Procurador-Geral da República (fls. 5 176):
"Nessa L i n h a , a o l o n g o d o s a n o s d e 2003 e
2 0 0 4 , o s d e n u n c i a d o s Va ldemar C o s t a N e t o , J a c i n t o
Lamas e A n t ô n i o Lamas r e c e b e r a m aprox imadamente d e z
m i l h õ e s e o i t o c e n t o s m i l r e a i s a t í t u l o d e p r o p i n a .
O a c o r d o c r i m i n o s o com os d e n u n c i a d o s
J o s é D i r c e u , D e l ú b i o S o a r e s , J o s é Geno íno e S í l v i o
P e r e i r a f o i a c e r t a d o na época da campanha e l e i t o r a 1
para P r e s i d ê n c i a da R e p ú b l i c a em 2002 , quando o PL
p a r t i c i p o u da chapa v e n c e d o r a " .
Neste ponto, destaca o Procurador-Geral da República, na nota de rodapé no
V i d e , e n t r e o u t r o s , d e p o i m e n t o s d e J a c i n t o
Lamas ( f l s . 6 1 0 / 6 1 4 ) , Va ldemar C o s t a Neto ( f l s .
1376 /1385 , e s p e c i a l m e n t e : "QUE mesmo a s s i m , i n s i s t i u
com s e u s c o r r e l i g i o n á r i o s q u e a s o l u ç ã o s e r i a a
&+ flu&u Inq 2 .245 / MG 0 1 2 0 1 2
v i t ó r i a da coligação para que o PL pudesse crescer ,
participando do Governo. ") . D e s t a q u e - s e q u e o
d e n u n c i a d o J o s é D i r c e u era p r e s i d e n t e d o PT n a é p o c a . "
Os repasses de recursos feitos pela empresa SMP&B ao Partido Liberal teriam
sido acordados na época da eleição de 2002, conforme se deduz do termo de depoimento do
denunciado Valdemar da Costa Neto (fls.1376/1385):
. . ) QUE as r e u n i õ e s p a r a t r a t a r d e
a s s u n t o s p o l í t i c o s o c o r r i a m com a p r e s e n ç a d o
DECLARANTE e JOSÈ ALENCAR, p e l o PL, e JOSÉ DIRCEU,
DELÚBIO SOARES, JOÃO PAULO CUNHA E LUIZ DULCI pelo PT,
s e m p r e n a r e s i d ê n c i a d e JOSÉ DIRCEU; QUE os a c o r d o s
p o l í t i c o s e d e recursos p a r a a campanha e l e i t o r a 1
f o r a m a m p l a m e n t e d i v u l g a d o s p e l a m í d i a à é p o c a ; QUE em
m e a d o s d e j u n h o d e 2 0 0 2 , em v i r t u d e d o i m p a s s e
r e f e r e n t e a o s v a l o r e s q u e s e r i a m d e s t i n a d o s à campanha
d o PL, o DECLARANTE, j u n t a m e n t e com JOSÉ DIRCEU,
r e d i g i u uma n o t a à i m p r e n s a e a o s p a r t i d o s p o l í t i c o s
c o m u n i c a n d o a i n v i a b i l i d a d e d a a l i a n ç a PT/PL, em
v i r t u d e d a v e r t i c a l i z a ç ã o ; QUE n e s t a o c a s i ã o o S e n a d o r
JOSÈ ALENCAR t e l e f o n o u p a r a o DECLARANTE, q u e l he
i n f o r m o u o teor da n o t a ; QUE o s e n a d o r JOSE ALENCAR
s o l i c i t o u a o DECLARANTE q u e a g u a r d a s s e , po is v o l t a r i a
a l i g a r em 10 m i n u t o s ; QUE r e t o r n a d a a l i g a ç ã o , JOSÈ
ALENCAR s o l i c i t o u o c a n c e l a m e n t o d a n o t a , uma vez q u e
o c a n d i d a t o LULA e s t a r i a se d i r i g i n d o a B r a s í l i a p a r a
d a r p r o s s e g u i m e n t o à s n e g o c i a ç õ e s ; QUE no d i a
s e g u i n t e , n a r e s i d ê n c i a d o D e p u t a d o P a u l o R o c h a ,
PT/PA, f o i r e a l i z a d a uma r e u n i ã o entre LULA, JOSÈ
A L E N C A R , ~ DECLARANTE, JOSÉ DIRCEU, D E L ~ B I O SOARES,
MARIA DO CARMO LARA e NILMÁRIO MIRANDA; QUE o l o c a l d a
&- Inq 2 . 2 4 5 / MG 0 1 2 0 h 3
r e u n i ã o f o i e s c o l h i d o para e v i t a r o a s s é d i o da
i m p r e n s a , s e n d o q u e o a n f i t r i ã o n ã o p a r t i c i p a v a
a t i v a m e n t e d a s n e g o c i a ç õ e s o r a t r a t a d a s ; QUE o
c a n d i d a t o LULA se encaminhou a o DECLARANTE e d i s s e "-
V a l d e m a r , você é o n o s s o prob lema ?", t e n d o r e c e b i d o
como r e s p o s t a que o problema e r a , na v e r d a d e , a
v e r t i c a l i z a ç ã o , e o mesmo n ã o i r i a " m a t a r a bancada d o
PL p o r causa da a l i a n ç a com o PT"; QUE DELÚBIO SOARES
c o n v i d o u o DECLARANTE para uma c o n v e r s a r e s e r v a d a em
um d o s a p o s e n t o s , e o c a n d i d a t o LULA i n f o r m o u a JOSÈ
ALENCAR: "- d e i x a os d o i s conver sarem q u e i s s o é
problema d e p a r t i d o , n ã o é problema n o s s o " , d e c l a r a ç ã o
o u v i d a p o r t o d o s o s p r e s e n t e s ; QUE se r e t i r a r a m e n t ã o
DELUBIO SOARES e o DECLARANTE, t e n d o e s t e d i t o q u e " -
l u t a r a d u r a n t e q u a t r o a n o s para m o n t a r uma chapa para
a t i n g i r o s 5 % , e n ã o s e r i a j u s t o i n v i a b i l i z a r o
p a r t i d o p e l a a l i a n ç a , e a ú n i c a s a í d a s e r i a m
r e c u r s o s " ; QUE D E L ~ B I O SOARES t e n t o u f a z e r com que a
n e g o c i a ç ã o f i c a s s e e m p a t a m a r e s a b a i x o d o s R$ 10
m i l h õ e s s o l i c i t a d o s , p o i s t i n h a p reocupação com a
o b t e n ç ã o d e r e c u r s o s para f i n a n c i a m e n t o da campanha;
QUE o DECLARANTE f i c o u i r r e d u t i v e l q u a n t o a o v a l o r ,
sob pena d e n ã o a c e i t a r a v e r t i c a l i z a ç ã o , l i b e r a n d o o s
c a n d i d a t o s para fecharem a c o r d o s em n i v e l e s t a d u a l ,
q u e p e r m i t i s s e m a t i n g i r a c l á u s u l a d e b a r r e i r a ; QUE em
dado momento d o i m p a s s e , a d e n t r o u JOSÉ DIRCEU, que
p e r g u n t o u a DELUBIO SOARES sobre o andamento d a s
n e g o c i a ç õ e s , t e n d o o b t i d o como r e s p o s t a "- Valdemar
e s t á i r r e d u t í v e l " ; QUE JOSÉ DIRCEU se r e t i r o u , não
f a z e n d o q u a l q u e r o b s e r v a ç ã o ; QUE a p ó s i s s o , DELÚBIO
SOARES d i s s e a o DECLARANTE: " - o l h a , e u vou t e pagar
& i $ H&&& Inq 2 .245 / MG
G t 2 ~
d e a c o r d o com a e n t r a d a d o s r e c u r s o s . Eu n a o p o s s o t e
a d i a n t a r n a d a , mas a p a r t e r e f e r e n t e à doação d o JOSÈ
ALENCAR, quando e n t r a r , e s s a e u t e r e p a s s o na
i n t e g r a l i d a d e a t é c o m p l e t a r o s R$ 10 m i l h õ e s " ; QUE
ambos s a í r a m e comunicaram q u e o a c o r d o e s t a v a
f e c h a d o , sem m a i o r e s e x p l i c a ç õ e s ; QUE a d i s c u s s ã o
r e s e r v a d a d u r o u aprox imadamen te 30 m i n u t o s ; ( . . . ) ".
Consta da inicial acusatória que os repasses de recursos se deram em duas fases
(fls. 571 7):
" A p r i m e i r a forma d e r e c o l h i m e n t o d o s
r e c u r s o s c r i m i n o s o s f o i p o r m e i o da empresa Guaranhuns
Empreend imen tos , u t i l i z a d a p e l o s d e n u n c i a d o s d o PL
(Valdemar C o s t a Neto, J a c i n t o Lamas e A n t ô n i o Lamas)
para o c u l t a r a o r i g e m , n a t u r e z a d e l i t u o s a e
d e s t i n a t á r i o s f i n a i s d o s v a l o r e s .
Em um segundo momento, p a s s o u a ser
e f e t u a d a p e l o s i n t e r m e d i á r i o s J a c i n t o Lamas e A n t ô n i o
Lamas, q u e ag iam c o n s c i e n t e m e n t e p o r ordem d e Valdemar
da C o s t a Ne to ."
No que conceme aos repasses em dinheiro por intermédio da denunciada
SIMONE VASCONCELOS, estes são confirmados pela própria SIMONE, conforme consta do
t emo de depoimento de fls. 5881595, especialmente do seguinte trecho:
"QUE r e a l m e n t e pode a f i r m a r t e r entregado
dinheiro para JACINTO LAMAS, JAIR DOS SANTOS, EMERSON
PALMIERI, PEDRO FONSECA, JOÃO CARLOS DE CARVALHO GENU,
JOSÉ LUIZ ALVES, ROBERTO COSTA PINHO; ( . . . ) r,
R- ~ ~ & & Inq 2.245 / MG 0.f.2015
Os depoimentos de Valdemar da Costa Neto e de Jacinto de Souza Lamas
corroboram a denúncia.
O denunciado JACINTO LAMAS afirma em seu depoimento (fls. 6101614):
"QUE a bancada do PL f o i reforçada com a
t rans fe rênc ia de deputados que foram e l e i t o s por
outras legendas; QUE, sa l vo engano, em junho de 2003 o
Deputado Federal Valdemar Costa Neto s o l i c i t o u ao
DECLARANTE que e s t e f i c a s s e a t e n t o para receber uma
l igação de uma pessoa vinculada ao tesoureiro do
Part ido dos Trabalhadores, DELÚBIO SOARES, que i r i a
entregar va lores em dinheiro de um acer to que havia
s i d o rea l i zado en t re o s d o i s na campanha de 2002".
VALDEMAR COSTA NETO, por sua vez, reconheceu, ao prestar depoimento,
o recebimento de expressiva quantia, dando a seguinte explicação sobre o destino que teria dado
ao dinheiro (fls.137611385):
( ) QUE perguntado quanto à s i s temát ica
de pagamento a fornecedores e prestadores de
serv içosZ4, O DECLARANTE a f i r m a que e fe tuava t a i s
pagamentos pessoalmente, em B r a s i l i a ou em São Paulo;
QUE, quanto aos comprovantes, o DECLARANTE informa que
as encomendas eram f e i t a s em conf iança , por meio de
representantes do P L , j á que não dispunha de recursos
para pagamento imedia to; QUE, apesar de e f e t u a r
pessoalmente os pagamentos, o DECLARANTE não s e
recorda do nome de qualquer fornecedor ou prestador de
se rv i ços , nem guardou qualquer contro le OU
r ec ibo ; ( . . . ) " . [fls. 1383-13841
'' Não especificados
&+ &&&& Inq 2.245 / MG
Ora, ainda que sejam absolutamente verdadeiras as declarações do acusado, é
necessário apurar, no bojo da ação penal, e mediante aprofundada instrução probatória, os fatos
narrados na denúncia, uma vez que, ao menos neste momento, é duvidosa a afirmação de que o
total de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) foram destinados ao pagamento de
fornecedores cujos nomes os acusados desconhecem, e que não forneceram qualquer
comprovante ou recibo de pagamento. Não se pode simplesmente ignorar os indícios existentes
no sentido da materialidade e da autoria delitiva, principalmente porque vigora, nesta fase, o
princípio do in dubio pro societatis.
Por fim, quanto ao acusado BISPO RODRIGUES, há também indícios da
prática do crime de corrupção passiva.
Neste sentido, destaca o Procurador-Geral da República (8s. 572315724):
( . . . ) o ex -Depu tado Federa l B i s p o R o d r i g u e s
também r e c e b e u van tagem i n d e v i d a do n ú c l e o Marcos
V a l é r i o e m t r o c a d e s u p o r t e p o l í t i c o .
O d e n u n c i a d o B i s p o R o d r i g u e s é P r e s i d e n t e
d o PL n o E s t a d o d o R i o d e J a n e i r o e s egundo vice-
p r e s i d e n t e n o â m b i t o n a c i o n a l .
O r e c o l h i m e n t o da p r o p i n a comprovada
materialmente nos autos f o i e f e t u a d o p e l o
i n t e r m e d i á r i o C é l i o Marcos S i q u e i r a , m o t o r i s t a d o
Deputado V a n d e r v a l Lima d o s S a n t o s , d o PL/SP.
( . . . )
Para i l u s t r a r o a p o i o p o l í t i c o d o grupo d e
p a r l a m e n t a r e s d o P a r t i d o L i b e r a l a o Governo F e d e r a l ,
na s i s t e m á t i c a acima n a r r a d a , p o n t u a - s e a a t u a ç ã o d o
p a r l a m e n t a r C a r l os R o d r i g u e s na a p r o v a ç ã o da r e f o r m a
d e p r e v i d ê n c i a (PEC 40 /2003 , na s e s s ã o d o d i a
Inq 2 . 2 4 5 / MG
27/08/2003) e na r e f o r m a t r i b u t á r i a (PEC 41/2003, NA
s~ssÃo DO DIA 24 /09 /2003) .
Efetivamente, consta dos autos listagem fornecida pelo acusado MARCOS
VALÉRIO, relacionando as pessoas que receberam recursos através de SIMONE
VASCONCELOS, por determinação de VALERIO. Na data de 30-09-2003, teriam sido
entregues R$ 250.000,OO para CÉLIO, sendo destinatário final dos recursos o acusado BISPO
RODRIGUES (v. fls. 608, volume 3). Posteriormente, em 17-12-2003, foram pagos R$
150.000,OO ao mesmo parlamentar, totalizando, assim, um pagamento total de R$400.000,00, de
acordo com VALÉRIO (fls. 608).
Além disso, em seu depoimento de 8s. 3551360 (volume 2), MARCOS
VALÉRIO afirmou terem ocorrido repasses a BISPO RODRIGUES (v. fls. 359). Em outro
depoimento, MARCOS VALÉRIO assinalou que "Bispo Rodrigues é um dos integrantes do PL
indicado pelo próprio DELÚBIO SOARES (fls. 734, volume 3).
Diante do acima exposto, e em face da correta descrição dos fatos típicos e da
existência de prova mínima de autoria e materialidade, voto pelo recebimento da denúncia
neste ponto, para que os acusados VALDEMAR COSTA NETO, JACINTO LAMAS e
BISPO RODRIGUES respondam a ação penal pela suposta prática do crime previsto no artigo
317 do Código Penal (corrupqão passiva)
DAS IMPUTAÇÕES DE LAVAGEM DE DINHEIRO E FORMAÇÁO DE
QUADRILHA
Ainda no item V1.2 da denuncia, constam diversas imputações de crime de
lavagem de dinheiro, através do procedimento descrito no capítulo IV deste voto.
Inq 2 . 2 4 5 / MG
O Procurador-Geral da República afirma que o denunciado Valdemar Costa
Neto praticou 41 (quarenta e uma) vezes o crime previsto no artigo l0, incisos V, VI e VII, da
Lei no 9.61311998, sendo sete saques via Jacinto Lamas, um saque via Antônio Lamas e
trinta e três operacões via Guaranhuns, estas últimas operacionalizadas, supostamente, por
LÚCIO FUNARO e JOSE CARLOS BATISTA, proprietários da empresa.
Para o Procurador-Geral da República, também aqui, configurou-se o crime
formação de quadrilha, voltada para a prática das operações de lavagem de dinheiro
supracitadas.
Não fazendo parte da suposta quadrilha, o acusado BISPO RODRIGUES
também teria praticado o crime de lavagem de dinheiro, usando, como intermediário, para o
recebimento dos elevados montantes em espécie, o motorista CÉLIO MARCOS SIQUEIRA.
A denúncia, apontando indicios suficientes de autoria e provas da
materialidade dos crimes, assim narrou as condutas típicas em questão (fls. 5718):
" A o b t e n ç ã o d e r e c u r s o s em e s p é c i e também
e r a empreendida p o r Valdemar C o s t a N e t o , que cos tumava
receber a l t a s q u a n t i a s em sua p r ó p r i a r e s i d ê n c i a .
D e n t r o d o organograma da quadrilha, o
d e n u n c i a d o Valdemar Costa Neto ocupava o topo da sua
es t ru tura , p o s s u i n d o o d o m í n i o d o s e u d e s t i n o .
O ex -Deputado Federa l Valdemar Cos ta ~ e t o ' ~
é o P r e s i d e n t e Nac iona l d o PL, t e n d o f e c h a d o o a c o r d o
f i n a n c e i r o com o PT e delegado a Jacinto Lamas e
Antônio Lamas o recolhimento dos v a l o r e s .
Na c a d e i a p a r t i d á r i a , a l é m d e p r e s i d e n t e da
l e g e n d a , ocupou a t é f e v e r e i r o d e 2004 o p a p e l d e l í d e r
da bancada d o PL na Câmara d o s Depu tados .
Inq 2.245 / MG
Também atuou pessoalmente na montagem da
empresa de fachada Guaranhuns Empreendimentos,
espec ia l i zada em lavagem de d inhe i ro .
Fundador do PL e possuidor de patrimônio
incompatível com sua renda declarada, Jac in to Lamas
era o pr inc ipal homem de conf iança de Valdemar Costa
Neto, tendo por função na quadrilha receber os va lores
encaminhados pe lo núc leo Marcos V a l é r i o , por ordem do
PT (José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno e S í l v i o - Pere i ra ) .
Na e s t ru tura formal da agremiação
p a r t i d á r i a , fo i um dos responsáveis pela indicação da
empresa Guaranhuns Empreendimentos a Marcos Valério,
como mecanismo para v i a b i l i z a r o pagamento seguro de
propina.
Nesse s e n t i d o , i n c l u s i v e , chegou a
confecc ionar , em conjunto com Marcos V a l é r i o , um
con t ra to f i c t í c i o para garan t i r uma aparência formal
de legal idade ao negócio escuso.
Antônio Lamas, irmão de Jac in to L a m a s e
fundador do PL, também r e c o l h i a , de forma habi tual e
r e i t e r a d a , va lores em espéc ie para Valdemar Costa
Neto.
Dentro da e s t r u t u r a p a r t i d á r i a , trabalhava
na Presidência ao lado de Jac in to L a m a s e Valdemar
Costa Neto.
Com e f e i t o , além do Banco Rural em
Bras í l ia , comparecia com frequência a empresa SMP&B em
Belo Horizonte, a f i m de receber importâncias i l i c i t a s
2 5 Que veio a ser eleito para o exercício de mandato na atual legislatura.
@- &&&& Inq 2.245 / MG
012020
por meio d e cheques des t inados a empresa Guaranhuns
Empreendimentos.
A s primeiras operações do recebimento dos
valores foram implementadas de forma re i terada e
p r o f i s s i o n a l por intermédio dos serv iços criminosos de
lavagem de c a p i t a i s o ferec idos no mercado pela empresa
Guaranhuns Empreendimentos.
D e f a t o , após a apresentação de Jacinto
Lamas, Marcos Va lér io i n i c i o u o repasse da propina
determinada pelo PT (José Dirceu, Delúbio Soares, José
Genoíno e S í l v i o Pereira) à quadrilha integrada por
Valdemar Costa Neto, Jacinto Lamas e Antônio Lamas,
valendo-se de modo profissional dos serviços da
Guaranhuns Empreendimentos, cu jos proprietários são
Lúcio Funaro (real) e José Carlos Batista (formal e
a u x i l i a r de Lúcio Funaro) . O relacionamento de Lúcio Funaro e Valdemar
Costa ne to data do mês de setembro de 2002, quando
Lúcio Funaro e seus associados repassaram ao
denunciado Valdemar Costa Neto a importância de R$
3 .000 .000 ,00 , em t r ê s parcelas de R$ 1 .000 .000 ,00 , em
espéc ie , empacotadas e entregues na sede do PL em São
Paulo.
Após o fechamento do acordo p o l í t i c o -
f inanceiro en t re o PT e o P L , j á narrado nesta
pe t i ção , t e v e i n í c i o o repasse, ao grupo de Lúcio
Funaro, de valores dest inados a saldar a quantia
a cima.
Além dessa t rans ferênc ia relacionada ao
empréstimo, a empresa Guaranhuns f o i u t i l i z a d a como
&$ka?w H&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 0 1 2 0 2 1
forma d e d i s s i m u l a ç ã o da o r i g e m e d e s t i n o d e um
m o n t a n t e a d i c i o n a l d e aprox imadamen te R$ 3.100.000,OO.
Essa forma f r a u d u l e n t a d e r e p a s s e , com
emprego da empresa Guaranhuns Empreend imen tos ,
r e s u l t o u em t r a n s f e r ê n c i a s n o v a l o r t o t a l d e
aprox imadamen te se i s m i l h õ e s e q u i n h e n t o s m i l r e a i s a o
PL . Do m o n t a n t e a c i m a , aproximadamente R$
3.450.000,OO foram transferidos pela empresa SMPfiB a
Lúcio Funaro por meio de cheques administrativos da
empresa SMP&B, n a s s e g u i n t e s d a t a s e v a l o r e s : c h e q u e s
d e R$ 500.000,OO (11, 1 9 , 2 6 d e f e v e r e i r o / 2 0 0 3 e 0 6 d e
m a r ç o / 2 0 0 3 ) ; R$ 300.000,OO ( 1 2 , 1 7 , 24 e 31 d e
março /2003) ; e R$ 300.000,OO ( 0 7 / 0 4 / 2 0 0 3 ) . As T r a n s f e r ê n c i a s E l e t r õ n i c a s - TED's -
e n s e j a r a m t r a n s f e r ê n c i a s d a s c o n t a s da empresa SMP&B à
c o n t a da empresa Guaranhuns , n a s s e g u i n t e s d a t a s e
v a l o r e s : R$ 200.000,OO ( 0 4 , 1 1 , 1 8 e 25 d e j u n h o / 0 3 ;
0 2 / 0 7 / 0 3 ) ; R$ 80.000,OO (07 e 09 d e j u l h o / 0 3 ) ; R$
40.000,OO ( 1 0 / 0 7 / 0 3 ) ; R$ 90.000,OO ( 1 5 , 2 2 e 28 d e
j u l h o / 0 3 ) ; R$ 50.000,OO ( 1 6 e 2 3 d e j u l h o / 0 3 ) ; R$
60.000,OO (24 e 31 d e j u l h o / 0 3 ) ; R$ 90.000,OO ( 0 4 , l l e
18 d e a g o s t o / 0 3 ) ; R$ 50.000,OO ( 0 6 e 1 9 d e a g o s t o / 0 3 ) ;
R$ 60.000,OO (07 e 20 d e a g o s t o / 0 3 ) ; R$ 110.000,OO
( 1 4 . 0 8 . 0 3 ) ; e R$ 100.000,OO ( 2 7 . 0 8 . 0 3 ) .
A s s i m , como p r o f i s s i o n a i s d o ramo d e
b ranqueamen to d e c a p i t a i s , L ú c i o Funaro e J o s é C a r l o s
B a t i s t a a s s o c i a r a m - s e d e modo p e r m a n e n t e , h a b i t u a l e
o r g a n i z a d o a Va ldemar C o s t a Neto, J a c i n t o Lamas e
A n t o n i o Lamas na e m p r e i t a d a c r i m i n o s a .
Inq 2.245 / MG
Nos t e r m o s c o n f e s s a d o s p o r L ú c i o Funaro e m
s e u s d e p o i m e n t o s p r e s t a d o s na P r o c u r a d o r i a da
R e p ú b l i c a , a s t r a n s a ç õ e s f i n a n c e i r a s com a empresa
SMP&B t i v e r a m i n í c i o em f e v e r e i r o d e 2003 .
Em uma segunda fase , o s r e c u r s o s foram
a n g a r i a d o s pessoalmente por Jacinto Lamas e Antonio
Lamas, i n t e r m e d i á r i o s d o l í d e r da q u a d r i l h a , Va ldemar
C o s t a N e t o , o q u a l , p o r sua v e z , também r e c e b e u
d i r e t a m e n t e a 1 t o s v a l o r e s em e s p é c i e .
Em d e c o r r ê n c i a d o esquema c r i m i n o s o
a r t i c u l a d o , Va ldemar C o s t a Neto, J a c i n t o Lamas e
A n t o n i o Lamas r e c e b e r a m , como c o n t r a p r e s t a ç ã o d o a p o i o
p o l í t i c o n e g o c i a d o i l i c i t a m e n t e , n o m ín imo , o m o n t a n t e
d e d e z m i l h õ e s e o i t o c e n t o s m i l r e a i s , s e j a p o r
i n t e r m é d i o da empresa Guaranhuns , s e j a p o r i n t e r m é d i o
da s i s t e m á t i c a d e s a q u e s e t r a n s p o r t e e m e s p é c i e d e
n u m e r á r i o s .
O d i n h e i r o , n e s s a segunda f a s e , e r a s a c a d o
p o r S imone V a s c o n c e l o s e e n t r e g u e a J a c i n t o ou A n t ô n i o
Lamas, q u e o r e p a s s a v a a Valdemar da C o s t a N e t o .
J a c i n t o Lamas, como f i c o u m a t e r i a l m e n t e
comprovado n o s a u t o s , r e c e b e u , entre outras ocasiões
não detectadas, em razão da entrega pessoal, v i a
Simone Vasconcelos, n a s s e g u i n t e s da t a s : 1 6 / 0 9 / 2 0 0 3 ,
R$ 200.000,OO ( f l s . 3 7 7 e 393-Apenso 06 ) ; 2 3 / 0 9 / 2 0 0 3 -
R$ 100.000,OO ( f l . 234 - Apenso 0 5 ) ; 1 2 / 1 1 / 2 0 0 3 -
R$100.000,00 ( f l . 462- Apenso 0 6 ) ; 18 .11 .2003 - R$
100.000,OO ( f l s . 261- Apenso 0 5 ) ; 1 7 . 1 2 . 2 0 0 3 - R$
100.000,OO ( f l s . 44 verso - Apenso 0 5 ) ; 20.01.2004 -
R$200.000 ,00 (fl. 87 do Apenso 051 .
Inq 2.245 / MG 0 1 2 0 2 3
Antônio Lamas confirmou o recebimento em
uma única v e z . Embora não tenha informado a data e o
v a l o r , o documento de fl. 49 do Apenso 05 mater ia l i za
o recebimento de R$350.000,00 em 07.01.2004. No
en tan to , Marcos Valério informou que Antônio Lamas
também era um habitual representante de Valdemar da
Costa Neto nos recebimentos de recursos f inance i ros ,
informando que: "... Antônio Lamas, além de receber
recursos na agência Bras í l ia do Banco R u r a l , foi
algumas vezes na sede da SMP&B em Belo Horizonte/MG
buscar cheques nominais a Guaranhuns. " O repasse de d inheiro ao PL t e v e i n í c i o em
janeiro de 2003, por intermédio da conta da empresa
Guaranhuns, u t i l i z a d a para o recebimento de recursos
f inanceiros das empresas de Marcos Va lér io , por meio
de t rans ferênc ias e l e t r ô n i c a s o u cheques
adminis t ra t ivos recebidos , diretamente, por Jacinto ou
Antonio Lamas.
Logo após, junho de 2003, in ic iou-se a
sistemática de repasse de dinheiro pelo mecanismo de
lavagem disponibilizado pelo Banco Rural, a t ravés do
recebimento, em espéc ie , por Jacin to ou Antonio Lamas,
na agência do Banco Rural em B r a s í l i a ; no Hotel
Kubitschek, em B r a s í l i a ; no Hotel Mercure, em
B r a s í l i a ; e na f i l i a l da empresa SMP&B, também
local izada em B r a s í l i a .
I lus trando o apoio p o l í t i c o do grupo de
parlamentares do Partido Liberal ao Governo Federal,
na s i s temát ica acima narrada, destaca-se a atuação do
parlamentar Valdemar Costa Neto na aprovação da
reforma da previdência (PEC 4 0 / 2003 na sessão do dia
@+H&&& Inq 2 .245 / MG
0 1 2 0 2 4
2 7 / 0 8 / 2 0 0 3 ) e da r e f o r m a t r i b u t á r i a (PEC 41 /2003 na
s e s s ã o d o d i a 2 4 / 0 9 / 2 0 0 3 ) .
Além da e s t r u t u r a d e l i t u o s a a r g u i t e t a d a e
imp lemen tada p o r Va ldemar C o s t a Neto, J a c i n t o Lamas,
A n t ô n i o Lamas, L ú c i o Funaro e J o s é C a r l o s B a t i s t a ,
para v i a b i l i z a r a venda d e a p o i o p o l í t i c o d o PL, o e x -
Deputado F e d e r a l B i s p o R o d r i g u e s também r e c e b e u
van tagem i n d e v i d a d o n ú c l e o Marcos V a l é r i o em t r o c a d e
s u p o r t e p o l í t i c o .
( - . . )
O r e c o l h i m e n t o da p r o p i n a , comprovada
m a t e r i a l m e n t e n o s a u t o s , f o i e f e t u a d o p e l o
i n t e r m e d i á r i o Cé l io Marcos S i q u e i r a , m o t o r i s t a d o
Deputado F e d e r a l V a n d e r v a l Lima d o s S a n t o s , d o PL/SP.
D e f a t o , em d e z e m b r o d e 2 0 0 3 , C é l i o Marcos
S i q u e i r a , por ordem d o ex-Deputado Federa1 B i s p o
R o d r i g u e s , compareceu n o Banco R u r a l e m B r a s i l i a ,
a r r e c a d o u e d e p o i s e n t r e g o u a q u a n t i a d e c e n t o e
c i n q u e n t a m i l r e a i s e m e s p é c i e a o r e a l d e s t i n a t á r i o
( d e n u n c i a d o B i s p o R o d r i g u e s ) em sua r e s i d ê n c i a . "
Há, realmente, indícios que corroboram a acusação, alguns, inclusive, citados
pelo Procurador-Geral da República no trecho que acabo de ler.
Inicio a análise deste trecho da denúncia pela imputação de lavagem de dinheiro
ao acusado BISPO RODRIGUES, que não foi denunciado por formação de quadrilha.
BISPO RODRIGUES
O motorista do PL Célio Marcos Siqueira, citado na denúncia, fez as seguintes
afirmações em seu depoimento de fls. 132511328:
Inq 2 .245 / MG
. . . QUE sempre exerceu a função de
m o t o r i s t a ; QUE recebeu uma l i g a ç ã o do Deputado Federal
CARLOS RODRIGüES, en tão coordenador da bancada
evangél ica , no c e l u l a r n o . . . ) , s o l i c i t a n d o que o
dec larante déscesse a t é a garagem dest inada aos
parlamentares; QUE ao encon t rá-1 o o Deputado Federa 1
CARLOS RODRIGüES forneceu o endereço por escrito para
que o dec larante recebesse "uma encomenda"; QUE nesse
endereço fornecido não havia indicação da pessoa que
deveria procurar, porém s e recorda que o Deputado
Federal CARLOS RODRIGUES comentou que uma pessoa i r i a
procurá-lo para en tregar a encomenda; QUE acred i ta que
t a l pessoa o reconheceria por meio da cor da roupa que
es tava t ra jando; QUE s e recorda que nesse dia es tava
trajando um t e rno na cor bege; QUE possuía d o i s ternos
na época; QUE o Deputado Federal CARLOS RODRIGUES-
PL/RJ não f e z qualquer comentário sobre que t i p o de
encomenda que s e r i a entregue ao dec larante; QUE e s s e
f a t o t e r i a ocorrido no horár io do almoço e no mês de
dezembro de 2003, um pouco a n t e s do recesso
parlamentar; QUE após a determinação, deslocou-se
imediatamente a t é o endereço ind icado pe lo Deputado
federal CARLOS RODRIGüES; QUE nunca havia i d o à
Agência B r a s i l i a do Banco Rural em ou t ras
oportunidades; QUE, ao s e des locar ao balcão de
a tendlmen t o , f o i abordado por uma mulher que perguntou
ao dec larante se e r a CÉLIO, que e s t a r i a a mando do
Deputado CARLOS RODRIGüES; QUE nessa ocasião a mulher
s o l i c i t o u ao dec laran te que se i d e n t i f i c a s s e ; QUE não
v i u a mulher proceder qualquer anotação de sua
i d e n t i f i c a ç ã o ; QUE e s s a mulher não e ra funcionária da
R- Inq 2 .245 / MG 0 1 2 0 2 6
Agência B r a s í l i a do Banco Rural, vez que não portava
qualquer iden t l f l c a ç ã o ; ( . . . ) QUE após se i d e n t i f i c a r
pegou a encomenda e encaminhou-se a t e a res idênc ia do
Deputado Federal CARLOS RODRIGUES; ( . . . ) QUE a
encomenda s e r i a um envelope, contendo possivelmente
d inheiro; QUE acreditava q u e o envelope continha
d lnhe i ro por e s t a r no i n t e r i o r de uma agêncla
bancária; ( . . . ) QUE chegando na casa do Deputado
Federal CARLOS RODRIGUES in ter fonou, sendo recebido
p e l o Deputado federal no portão; QUE não chegou a
e n t r a r , apenas entregou a encomenda para o
parlamentar; ( . . . ) "
Em suas declarações (fls. 2 2 5 7 / 2 2 6 1 ) , o ex-Deputado
Federal Bispo Rodrigues afirma:
"QUE mobil izou os noventa e d o i s
p r e s i d e n t e s do Partido Liberal no Estado do Rio de
Janeiro e os Vereadores e l e i t o s , s o l i c i t a n d o que todos
apoiassem a candidatura de LULA a presidência da
repúbl ica; QUE foram e fe tuadas despesas de campanha,
t a i s como: impressão de jo rna i s , f o l h e t o s ,
"sant inhos" , confecção de "botons", aluguel de
caminhão de som e a contratação de empresa
espec ia l i zada na rea l i zação de eventos em praças
públ icas; QUE a pessoa contratada pe lo dec larante para
dar providências e r e a l i z a r a s contratações acima
d e s c r i t a s f o i o sr. VILMAR, não podendo esc larecer seu
sobrenome, comprometendo-se a fornecer os dados desta
pessoa em momento oportuno; QUE VILMAR é propr ie tár io
de uma empresa que costuma promover eventos para
R- &&&& - O 12 O 2 7 Inq 2 . 2 4 5 / MG I
p o l í t i c o s e p a r t i c u l a r e s , não se recordando o nom,e da
empresa; QUE pagou ao S r . VILMAR a quantia de
aproximadamente R$ 60.000,OO ( sessenta M i l Reais) ; QUE
para a s despesas com g r á f i c a s gastou a quantia
aproximada de R$ 90.000,OO (Noventa M i l R e a i s ) ,
t o t a l i z a n d o aproximadamente R$ 150.000,OO (Cento e
cinquenta mil r e a i s ) ; QUE todos o s contratos de
prestação de serv iços acima elencados foram verbais;
QUE não possui notas f i s c a i s comprovando a s r e f e r idas
despesas; ( . . . ) QUE f e i t a s a s despesas, procurou o
pres iden te nacional do P L , S r . VALDEMAR DA COSTA NETO,
por d i ver sas v e z e s , para que o mesmo solucionasse a s
ques tões f i nance i ras pendentes; ( . . . ) QUE a
so l i c i t ação f e i t a na garagem da Câmara a CÉLIO e a
entrega do numerário na casa do declarante e m Brasí l ia
deu-se no mesmo d ia ; QUE guardou os R$ 150.000,OO em
sua res idênc ia e , aos poucos, l evou t a l s recursos para
sua casa no Rio de Janeiro; QUE f e i t o i s s o , pagou as
d í v idas mencionadas no i n i c i o do depoimento para duas
pessoas; QUE um d e l e s é o VILMAR e outro não s e
recorda, esclarecendo que f o i seu motor is ta de nome
~ É R G I O quem levou o d inhe i ro para o segundo credor;
QUE não conhece e nunca .teve qualquer contato com
MARCOS VALÉRIO m E S DE SOUZA; QUE conhece o S r .
DELÚBIO SOARES mas nunca t r a t o u nenhum assunto
r e l a t i v o à área f inanceira com o mesmo. ( . . . ) "
Apesar de o denunciado Bispo Rodrigues mencionar em seu depoimento
unicamente o recebimento da quantia de R$ 150.000-00> por intermédio de Célio Marcos, consta
do documento de fls. 6021608, fornecido por Marcos Valério e já antes citado, que, na verdade,
N $ H&&& Inq 2.245 / MG
012028
houve um repasse no valor total de R$ 400.000,OO (R$ 250.000,OO em 30.09.2003 e R$
150.000,OO em 17.12.2003).
Mais do que isto, os valores citados foram recebidos em espécie, não pelo
próprio destinatário, mas por uma pessoa por ele enviada, utilizando-se, ao menos
aparentemente, do mecanismo de lavagem de dinheiro já antes analisado no capitulo IV,
disponibilizado, supostamente, pelo denominado "núcleo publicitário-financeiro".
Portanto, a conduta do denunciado Carlos Alberto Rodrigues Pinto (Bispo
Rodrigues) reveste-se de aparente tipicidade em relação ao tipo penal previsto no artigo 1" da Lei
no 9.613198, incisos V, VI e VII, na medida em que o mesmo teria participado da movimentação,
de maneira obscura, de valores provenientes dos crimes previstos nos incisos mencionados, o
que é suficiente a instauração da ação penal pertinente.
VALDEMAR COSTA NETO, JACINTO LAMAS, ANTONIO LAMAS -
formação de quadrilha e lavagem de dinheiro
Analiso, agora, os crimes de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, no
que tange aos demais acusados.
Em primeiro lugar, assinalo que. embora os proprietários da empresa
GUARANHUNS não tenham sido denunciados, devido a acordo de colaboração firmado com
os mesmos, LÚCIO FUNARO e JOSÉ CARLOS BATISTA participaram, ao menos em tese,
dos fatos narrados na denúncia. Deste modo. eles teriam integrado, em tese, nos termos da
acusação, a suposta quadrilha que se teria formado no interior do PL. Os fatos, como narrados
pelo Parquet, revelam essa participação de ambos, de modo que a quadrilha seria formada por
Inq 2 .245 / MG
VALDEMAR COSTA NETO, JACINTO LAMAS, JOAO CLAUDIO GENU, LUCIO
FUNARO e JOSÉ CARLOS BATISTA.
As defesas alegam, contudo, que a denúncia não poderia ser recebida em razão
de os dois últimos - LÚCIO FUNARO e JOSÉ CARLOS BATISTA - não terem sido
denunciados. Assim, alegam violação ao principio da indivisibilidade da ação penal
(invocação da aplicabilidade do art. 48 do Código de Processo e ao princípio da
igualdade entre as partes.
O argumento não pode ser acolhido.
Em primeiro lugar, o Procurador-Geral da República requereu, na cota a
denúncia, a homologação de acordo firmado com os envolvidos LÚCIO FUNARO e JOSÉ
CARLOS BATISTA, baseado na colaboração que eles teriam prestado naquele momento das
investigações
Além disso, o Procurador-Geral da República também se comprometeu a
aditar a eventual ação penal ou oferecer nova denúncia contra LÚCIO FUNARO e JOSÉ
CARLOS BATISTA, caso o acordo não seja homologado.
De todo modo, homologado ou não o acordo, observo que esta Corte firmou
entendimento no sentido de que o princípio da indivisibilidade só se aplica às ações penais
privadas. Veja-se trecho do voto inaugural neste sentido, do Ministro RODRIGUES ALCKMIN
no RHC 53005lAL:
" Q u a n t o à inépcia da denúncia, a a l e g a ç ã o é
manifestamente improcedente. A indivisibilidade da
ação penal d i z com a manifestação do direito de queixa
e n a d a t e m com o c a s o dos a u t o s . "
26 Art. 48. A gueixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade.
&+ fl&&U Inq 2 . 2 4 5 / MG
Cito, ainda, os seguintes arestos:
"Inépcia da denúncia, ausência de corpo de
d e l i t o e d e s r e s p e i t o ao p r i n c í p i o da i n d i v i s i b i l i d a d e
da ação penal . Alegações improcedentes. O art. 48 do
CPP diz respeito às queixas em crimes de ação privada,
e não aos crimes de ação pública, onde o Ministério
Público, dominus litis, só está sujeito ao controle
previsto no art. 28 do CPP." (RE n o 93.055/PR, Rel .
Min. Cordeiro Guerra)
"Denúncia que se recebe , v i s t o obedecer aos
r e q u i s i t o s e s tabe lec idos no a r t . 4 1 do Código d e
Processo Penal e no a r t . 4 3 da Lei n o 5 . 2 5 0 , d e 9-2-
67 .
O disposto no art. 48, do Código de
Processo Penal, d i z respeito aos crimes de ação
privada, e não aos de ação pública. Precedente do
Supremo Tribunal Federal. " ( Inq. n o 195/DF, Rel . Min . Octávio G a l l o t t i ) .
"Habeas corpus. A s ques tões r e l a t i v a s a
inépc ia e à l i t i s p e n d ê n c i a não foram o b j e t o da
i n i c i a l , nào tendo s i d o , por i s s o , apreciadas pe lo
acórdão recorr ido . Esta Corte já firniou o entendimento
de que o principio da indivisibilidade da- ação penal
não se aplica a ação penal pública. Recurso ordinár io
conhecido em p a r t e , e , n e l a , não provido." ( H C no
61928/SP, Rel. Min. Moreira A l v e s ) .
"HABEAS-CORPUS. Nulidades. É poss i ve l a
s u b s t i t u i ç ã o de testemunhas, obedecidas a s cau te las
&*8-&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
p r e v i s t a s n o a r t . 397 d o CPP. R e s s a l v a , na
fundamentação da s e n t e n ç a condena t ó r i a , d o v a l o r dado
a e s t a p r o v a . O pr inc ip io da i n d i v i s i b i l i d a d e da ação
penal, a r t . 48 do CPP, r e f e re - s e aos crimes de ação
privada, não alcançando o s de ação pública, eis que o
Minis tér io Público pode denunciar posteriormente o s
demais autores do crime. A e x i s t ê n c i a d e p r o c e d i m e n t o
a d m i n i s t r a t i v o apurando o mesmo c r i m e n ã o compromete o
p r o c e s s o onde f o i p r e s t a d a a t u t e l a j u r i s d i c i o n a l , com
o u s o e x c l u s i v o d o d e v i d o p r o c e s s o l e g a l . 'Habeas-
corpus ' c o n h e c i d o , mas denegado . " (HC 68730/DF, R e l .
Min. Paulo B r o s s a r d ) .
"Habeas C o r p u s . 2. Denúncia p o r i n f r a ç ã o a o
a r t . 1 6 3 , p a r á g r a f o ú n i c o , i n c i s o 11, d o Cód igo P e n a l ,
e a r t . 4 0 , d o Decreto-lei n o 3 6 8 8 , d e 1 9 4 1 , combinados
com o a r t . 6 9 , c a p u t , d o Cód igo P e n a l . 3 . Tumu l to
p rovocado em A s s e m b l é i a L e g i s l a t i v a . 4 . I n é p c i a da
d e n ú n c i a q u e n ã o é d e a c o l h e r - s e , em f a c e d o s a r t s . 41
e 4 3 , d o Cód igo d e P r o c e s s o P e n a l . 5 . Não há c a b i m e n t o
a d e s l o c a r - s e o f e i t o para a c o m p e t ê n c i a d o T r i b u n a l
d e J u s t i ç a , p o r q u e os c o - r é u s n ã o fazem j u s a f o r o
e s p e c i a l p o r p r e r r o g a t i v a d e f u n ç ã o . 6 . Não cabe
invocar o pr incip io da i n d i v i s i b i l i d a d e da ação penal,
em s e cuidando de ação penal públ ica . 7. N u l i d a d e d o
a c ó r d ã o , p o r f a l t a d e f undamen tação , r e j e i t a d a .
C o n s t i t u i ç ã o F e d e r a l , a r t . 9 3 , I X . 8 . H i p ó t e s e em que
n ã o há f a l a r e m o f e n s a a o p r i n c i p i o d o p romo tor
n a t u r a l . Promotor d e J u s t i ç a , Coordenador d a s
P r o m o t o r i a s C r i m i n a i s . P r e c e d e n t e s . 9 . Não é o h a b e a s
c o r p u s m e i o adequado a o exame d e f a t o s e p r o v a s , com
Inq 2.245 / MG
v i s t a s a v e r i f i c a r a e x i s t ê n c i a , ou n ã o , d e d o l o d o s
a g e n t e s . 1 0 . Habeas Corpus d e f e r i d o , e n t r e t a n t o , em
p a r t e , para d e t e r m i n a r , n o J u í z o d e o r i g e m , s e j a
a b e r t a v i s t a d o s a u t o s a o M i n i s t é r i o P ú b l i c o , a o s f i n s
d o a r t . 8 9 , da L e i n o 9099 /1995 , t e n d o e m c o n t a a
p o s s i b i l i d a d e , em p r i n c í p i o , d e a p l i c a ç ã o da r e g r a
l e g a l em r e f e r ê n c i a , n ã o s e n d o , d e s d e l o g o , d e
c o n s i d e r a r , como fundamento b a s t a n t e a a f a s t a r o
b e n e f í c i o , a p a r t e f i n a l da d e n ú n c i a , q u a n t o à
n a t u r e z a d o s f a t o s . 1 1 . Em c o n f o r m i d a d e com a
o r i e n t a ç ã o a s s e n t a d a p e l o P l e n á r i o d o STF, no HC
75 .343 - MG, na h i p ó t e s e d e o Promotor d e J u s t i ç a
r e c u s a r - s e a f a z e r a p r o p o s t a ( L e i n o 9099 /95 , a r t .
8 9 ) , o J u i z , v e r i f i c a n d o p r e s e n t e s o s r e q u i s i t o s
o b j e t i v o s , para a s u s p e n s ã o d o p r o c e s s o , d e v e r á
encaminhar os a u t o s a o Procurador - Gera l d e J u s t i ç a , a
f i m d e q u e es te se p r o n u n c i e s o b r e o o f e r e c i m e n t o ou
n ã o da p r o p o s t a d e s u s p e n s ã o c o n d i c i o n a l d o p r o c e s s o ,
a p l i c a n d o - s e , n o q u e c o u b e r , o a r t . 28 d o Cód igo d e
P r o c e s s o Penal." ( H C 77723/RS, Rel. Min. N é r i da
Silveira) .
"HABEAS CORPUS - TRÁFICO DE ENTORPECENTES -
EXECUÇÃO DA PENA EM REGIME FECHADO -
CONSTITUCIONALIDADE DO ART. Z O , § 1 ° , DA LEI DOS
CRIMES HEDIONDOS - TARDIA ARGUIÇÃO DE INÉPCIA DA
DENÚNCIA - REEXAME DE PROVA - INIDONEIDADE DO WRIT
CONSTITUCIONAL - PEDIDO INDEFERIDO. TRÁFICO DE
ENTORPECENTES - CUMPRIMENTO INTEGRAL EM REGIME FECHADO
- LEI N o 8 . 0 7 2 / 9 0 (ART. 2 " , § 1 " ) -
CONSTITUCIONALIDADE. - O P l e n á r i o d o Supremo T r i b u n a l
~ ~ ~ & & & Inq 2 .245 / MG 012033
Federal proclamou a i n t e i r a val idade jur íd i co -
c o n s t i t u c i o n a l da norma i n s c r i t a no a r t . ZO, § 1 , da
Lei no 8.072/90 que impõe ao t r a f i c a n t e d e
en torpecentes , sem qualquer exceção, o cumprimento
i n t e g r a l da pena em regime fechado. O t r a f i c a n t e de
en torpecentes e s t á s u j e i t o , em face da natureza da
i n f r a ç ã o que p r a t i c o u , ao regime penal fechado imposto
pela Lei n O 8 . O 72/90. ENTORPECENTE - PEQUENA
QUANTIDADE - CONFIGURAÇÃO PENAL DO DELITO. - Não
descarac ter i za o d e l i t o de t r á f i c o de substância
en torpecente o f a t o de a Pol íc ia haver apreendido
pequena quantidade de t ó x i c o em poder do réu .
Precedentes. INÉPCIA DA DENÚNCIA - MOMENTO DE SUA
ARGUIÇÃO. - Eventuais d e f e i t o s da denúncia devem s e r
arguidos pe lo réu a n t e s da prolação da sentença penal ,
e i s que a ausência dessa impugnação, em tempo
oportuno, claramente ev idenc ia que o acusado f o i capaz
de defender-se da acusação contra e l e promovida pe lo
M i n i s t é r i o Público. Doutrina e Precedentes. DEFESA DO
RÉU - IMPUTAÇÃO DE FATO PRECISA E DETERMINADA -
IRRELEVÂNCIA DA CLASSIFICAÇÃO JURÍDICA. - O réu se
d e f e n d e da imputação de f a t o contida na denúncia, e
não da c l a s s i f i c a ç ã o jur íd i ca eventualmente incorre ta
f e i t a pe lo M i n i s t é r i o Público na peça acusatór ia . - A
p o s s i b i l i d a d e de ocorrência de nova d e f i n i ç ã o jur íd ica
do f a t o d e l i t u o s o não j u s t i f i c a a apl icação da norma
i n s c r i t a no a r t . 3 8 4 , parágrafo único, do C P P , desde
que essa nova d e f i n i ç ã o encontre apoio em
c i rcuns tânc ia elementar con t ida , e x p l í c i t a ou
imp l i c i tamen te , na própria denúncia. O PRINCIPIO DA
INDIVISIBILIDADE MO SE APLICA A AÇÃO PENAL PÚBLICA. -
&,!&=amo fl&&& Inq 2.245 / MG
012034
O p r i n c í p i o da i n d i v i s i b i l i d a d e - pecu l iar a ação
penal de i n i c i a t i v a privada - não se a p l i c a a s
h i p ó t e s e s d e persegu ib i l idade mediante ação penal
púb l i ca . Precedentes . REEXAME DA PROVA - MATÉRIA
ESTRANHA AO HABEAS CORPUS. - O habeas corpus c o n s t i t u i
remédio processual inadequado para a a n á l i s e da prova,
para o reexame do m a t e r i a l probatór io produzido, para
a reapreciação da matéria de f a t o e , também, para a
revalor i zação dos elementos i n s t r u t ó r i o s c o l i g i d o s no
processo penal de conhecimento. Precedentes. " ( H C
74661/RS, R e l . Min. Celso de M e l l o ) .
" HABEAS CORPUS. PROVA CONSTANTE DE EXAME
PERICIAL. SENTENÇA C O N D E N A T ~ R I A FUNDAMENTADA.
DENUNCIA. POSSIBILIDADE DE ADITAMENTO PELO M I N I S T É R I O
PÚBLICO. I - Ao con t rar io do que argumenta a
impetração, a au tor ia d e l i t i v a não se l i m i t o u a
s ind icânc ia , m a s baseou-se, também, em outros
elementos de prova, i n c l u s i v e no exame
documentoscópico para v e r i f i c a ç ã o da au ten t i c idade de
manuscritos e ass inaturas dos acusados, a p a r t i r da
c o l h e i t a de mater ia l g r á f i c o . 11 - Inocorrência de
v i c i o de fundamentação, porquanto a sentença e o
acórdão apreciaram todas a s teses da d e f e s a , sem f e r l r
os princípios c o n s t l t u c l o n a l s da ampla de fesa e do
con t r a d i t ó r l o . 111 - No tocan te a alegação p e r t i n e n t e
a even tua1 inobserrrãncia do p r i n c i p i o da
i n d i v i s i b i l i d a d e da ação penal , a jur isprudência d e s t a
C o r t e consagra a or ien tação segundo a qual o p r i n c i p i o
da i n d i v i s i b i l i d a d e não se a p l i c a a ação penal
púb l i ca , podendo o M i n i s t é r i o Públ ico , como dominus
Inq 2 . 2 4 5 / MG
l i t i s , ad i t a r a denúncia, a té a sentença f i n a l , para
inclusão de novos réus, ou ainda oferecer nova
denúncia, a qualquer tempo, s e f i c a r evidenciado que
a s supostas v í t i m a s tinham conhecimento ou poderiam
deduz ir t r a t a r - s e de documento f a l s o . IV - Habeas
corpus inde fer ido . " (HC n o 71538/SP, R e l . Min. I l m a r
Galvão) .
Por estas razões, não há que se falar em rejeição da denúncia, por violação ao
princípio da indivisibilidade previsto para a queixa-crime (art. 48 do Código de Processo Penal).
Quanto ao número mínimo de pessoas exigido pelo art. 288 do CP, resta claro,
como mencionei anteriormente, que os fatos narrados pelo Parqiret obedecem a este requisito,
pois 5 (cinco) pessoas teriam se associado para o fim de cometer crimes. A circunstância de
apenas três, destas cinco pessoas, terem sido denunciadas não altera esta conclusão, pois a
exclusão de LUCIO FUNARO e JOSÉ CARLOS BATISTA se deu por razões somente a eles
aplicáveis (razões pessoais). Assim, os fatos em si, como narrados na denúncia, preenchem,
claramente, o dispositivo em questão. Esta é a obrigação imposta ao Parquef pelo art. 41 do
Código de Processo Penalo que dispõe:
A r t . 41. A denúncia ou queixa conterá a
exposição do fa to criminoso, com todas as suas
circunstâncias, a qua l i f i cação do acusado ou
esclarecimentos pe los quais se possa i d e n t i f i c á - l o , a
c l a s s i f i c a ç ã o do crime e , quando necessár io , o ro l das
testemunhas.
Basta, assim, que o fato narrado pelo Procurador-Geral da República seja
criminoso, para que a ação penal seja viável
Eis o entendimento desta Corte, verbis:
@- &&&& Inq 2.245 / MG
" D E N ~ N C I A S A T I S F A T ~ R I A QUANTO A NARRATIVA
DOS FATOS, INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS E
CLASSIFICAÇÃO LEGAL.
PRESCRIÇÃO DO CRIME DE QUADRILHA NÃO I S E N T A
DE CONTROVÉRSIA COM OS DADOS T R A Z I D O S .
O APERFEIÇOAMENTO DO CRIME DE QUADRILHA, NO
M Í N I M o DE QUATRO COMPONENTES, NÃo SE ELIDE PELO FATO
DE UM OU ALGUNS DELES NÃ0 SEREM PUNIDOS EM VIRTUDE DE
RAZÕES PESSOAIS.
RECURSO IMPROVIDO. "
(RHC n o 66716/RJ, Rel . Min. Djaci Falcão)
"Habeas corpus. - Improcedência das
alegações de nul idade invocadas na impetração: f a l t a
de f ixação, separadamente, das penas cominadas a roubo
consumado e a t e n t a t i v a de roubo, porquanto foram e l e s
considerados como prat icados em continuidade d e l i t i v a ;
ocorrência da mesma ausência quanto aos d e l i t o s
prat icados em concurso m a t e r i a l , o que, no caso
concreto, não s e deu; inexistência de crime de
quadrilha, porque só duas das seis pessoas que o
teriam praticado foram denunciadas por ele (das quatro
restantes, duas não foram capturadas e duas morreram
em confronto posterior com a polícia), o que não
descaracteriza esse crime que se teve como comprovado
em face dos elementos constantes dos autos; e f a l t a de
de fesa formal, que não ocorreu, pois de fesa houve, sem
que se tenha demonstrado sequer a sua d e f i c i ê n c i a com
p r e j u í z o do ora paciente . 'Habeas corpus' i n d e f e r i d o . "
( H C 7 7 5 7 0 / M G , Re l . Min. Moreira A l v e s ) .
Inq 2 . 2 4 5 / MG
Passo, portanto, a análise dos indícios constantes dos autos, quanto aos crimes de
lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
JACINTO LAMAS e VALDEMAR COSTA NETO
O acusado JACINTO LAMAS prestou as seguintes declarações, as fls. 6101614
(volume 3):
"Que recebeu uma l i gação de SIMONE
VASCONCELOS; Que SIMONE f a l o u para o d e c l a r a n t e q u e
e s tava com a encomenda que DELÚBIO havia pedido para
en t regar ao Deputado VALDEMAR COSTA NETO; Que SIMONE
l i g o u para o c e l u l a r d o DECLARANTE, n o . . . , ou para
a s e d e d o p a r t l d o ; ( . . . ) Q u e , s a l v o engano , SIMONE
VASCONCELOS combinou a en trega do d inhe i ro em um
h o t e l ; Q u e , p e l o que se recorda, o h o t e l onde recebeu
pe la primeira v e z va lores d e SIMONE f o i o Kubitscheck
Plaza; Q u e , após receber l i g a ç ã o de SIMONE, d i r i g i u - s e
ao l o c a l do encontro para receber a encomenda; Q u e , a o
c h e g a r ao h o t e l , f o i d i re tamente ao apartamento onde
e s t a v a SIMONE; Que SIMONE h a v l a i n f o r m a d o a o
d e c l a r a n t e o número d o a p a r t a m e n t o onde e s t a v a
hospedada; Que o DECJXRAN!l'E en t rou no quarto d e SIMONE
e recebeu, de suas mãos, um envelope de papel pardo
grande, contendo em seu i n t e r i o r uma quant ia em
d inhe i ro ; Que n ã o c o n t o u q u a n t o h a v i a n o e n v e l o p e ; Que
SIMONE a p e n a s f a l o u q u e a q u e l a encomenda era do D r .
DELÚBIO SOARES para o Deputado VALDEMAR COSTA NETO;
Que SIMONE e s t a v a s o z i n h a n o h o t e l ; Q u e , d e p o s s e d o
e n v e l o p e , d i r i g i u - s e imediatamente para a re s idênc ia
do Deputado Federal VALDEMAR COSTA NETO, v isando lhe
I n q 2.245 / MG
e n t r e g a r a q u a n t i a ; Que e n t r e g o u n a s mãos d e VALDEMAR
o e n v e l o p e c o n t e n d o os v a l o r e s ; Que VALDEMAR n ã o
c o n f e r i u na f r e n t e d o DECLARANTE q u a n t o h a v i a n o
e n v e l o p e ; Que VALDEMAR a f i r m o u q u e a q u e l e d i n h e i r o se
r e f e r i a a um a c e r t o d e campanha q u e h a v i a f e i t o com
D E L ~ B I O ; Que VALDEMAR c o n t a v a q u e h a v i a r e a l i z a d o um
a c o r d o com D r . DELÚBIO na f o r m a l i z a ç ã o da a l i a n ç a da
chapa formada para d i s p u t a r a P r e s i d ê n c i a da
R e p ú b l i c a ; Q u e , p e l o a c o r d o f i r m a d o , o D r . DELÚBIO
SOARES f i c o u d e c o b r i r g a s t o s r e a l i z a d o s p e l o Deputado
Federa l VALDEMAR COSTA NETO na campanha e l e i t o r a l d e
2002 ; Que o Deputado F e d e r a l VALDEMAR h a v i a f e i t o
compromis sos com p e s s o a s d u r a n t e a campanha d e 2 0 0 2 , e
d e s t a forma p r e c i s a v a d e r e c u r s o s para c u s t e a r t a i s
d e s p e s a s ; Que o Deputado F e d e r a l VALDEMAR não disse a o
DECLARANTE com q u a i s pe s soas h a v i a firmado
compromissos para r e s s a r c i m e n t o d e despesas ; Que
somente o Deputado Federal VALDEMAR pode e x p l i c i t a r
q u a i s compromissos c o b r i u com o s r e c u r s o s repassados
por DELÚBIO SOARES; Que f o i t e s o u r e i r o do P a r t i d o
L i b e r a l a t é fevereiro d e 2005, quando ped iu
a fa s tamen to por m o t i v o s p a r t i c u l a r e s ; Q u e , mesmo sendo
t e s o u r e i r o do P a r t i d o L i b e r a l , não t i n h a qua lquer
r e l a ç ã o com a s de spesas assumidas p e l o Deputado
Federal VALDEMAR COSTA NETO e q u e foram ressarcidas
p e l o s r e c u r s o s r e p a s s a d o s p o r DELÚBIO SOARES; Que o s
v a l o r e s r e c e b i d o s p e l o Deputado Federal VALDEMAR COSTA
NETO não foram lançados na p r e s t a ç ã o d e c o n t a s d o
P a r t i d o L i b e r a l , por se t r a t a r e m d e v a l o r e s repassados
p e l o D r . DELÚBIO SOARES em r a z ã o d o acordo já
mencionado; Que o s v a l o r e s r e p a s s a d o s p o r DELÚBIO
Inq 2 . 2 4 5 / MG
SOARES foram d i r e c i o n a d o s e x c l u s i v a m e n t e para a
q u i t a ç ã o d e d e s p e s a s a s s u m i d a s p e s s o a l m e n t e p e l o
Deputado F e d e r a l VALDEMAR COSTA NETO; Que não sabe
d i z e r se o Deputado Federal VALDEMAR COSTA NETO f e z o
repasse de t a i s v a l o r e s para outros membros do
Par t ido; Q u e , a p ó s o primeiro s a q u e , o c o r r i d o
p r o v a v e l m e n t e em j u n h o d e 2003, recebeu o u t r o s
chamados de SIMONE para receber va lores em e s p é c i e ;
Que a e n t r e g a d e v a l o r e s p o r SIMONE n ã o t i n h a nenhuma
r e g u l a r i d a d e d e d a t a ; Que a e n t r e g a d o s v a l o r e s
o c o r r i a e n t r e p e r í o d o s a l e a t ó r i o s ; Que o Deputado
VALDEMAR i n c l u s i v e comentava que a s r e l a ç õ e s com o
t e s o u r e i r o d o P T , DELÚBIO SOARES, n ã o e s t a v a m b o a s ,
p o i s e s t e n ã o v i n h a cumpr indo o a c o r d o combinado;
( . . . ) Q u e , s a l v o e n g a n o , se encontrou com SIMONE duas
ou t ras vezes no h o t e l Mercure, para receber v a l o r e s - em
dinheiro, confomie or ien tação do Deputado Federal
VALDEMAR COSTA NETO; Que e s s a s d u a s o u t r a s e n t r e g a s
foram r e a l i z a d a s s e g u i n d o o p r o c e d i m e n t o j á r e l a t a d o ,
ou s e j a , o DECLARANTE receb ia l i g a ç õ e s t e l e f õ n i c a s ,
pr imeiro do Deputado VALDEMAR COSTA NETO avisando da
iminência da entrega dos va lores e , em seguida, de
SIMONE VASCONCELOS, informando o horár io e l o c a l da
en trega do dinheiro; Que nunca c o n f e r i a o s va lores que
receb ia de SIMONE; Q u e , da mesma forma, entregou o s
d o i s s a q u e s d i re tamente para o Deputado VALDEMAR COSTA
,NETO, em encontros ocorr idos em sua res idênc ia ; Que ,
p o s t e r i o r m e n t e , o p r o c e d i m e n t o mudou, quando o
DECLARANTE passou a buscar o d inhe i ro encaminhado por
DELÚBIO SOARES d ire tamente na agência B r a s í l i a do
Banco Rural; Que se e n c o n t r o u duas v e z e s com SIMONE na
&+ flu&a Inq 2 .245 / MG Ci12040
Agênc ia B r a s í l i a d o Banco R u r a l , tendo receb ido de
suas mãos pacotes com quant ias em d inhe i ro ; Q u e ,
a lgumas vezes, SIMONE d e i x a v a a n o t a ç õ e s na a g ê n c i a
B r a s í l i a d o Banco R u r a l , com a u t o r i z a ç õ e s para q u e o
DECLARANTE e f e t u a s s e o s a q u e d o s v a l o r e s ; Que t o d o o
d i n h e i r o r e c e b i d o na Agênc ia B r a s í l i a d o Banco R u r a l
f o i repassado d ire tamente para o Deputado VALDEMAR
COSTA NETO; Que também e f e t u o u alguns recebimentos na
Agência B r a s í l i a do Banco Rural com b a s e em
au tor i zações que eram encaminhadas pe la Agência do
Banco Rural de Be lo Horizonte/MG; Que , mesmo n e s s e s
c a s o s , a i n d a r e c e b i a t e l e f o n e m a d e SIMONE i n f o r m a n d o a
d i s p o n i b i l i d a d e d o s r e c u r s o s na Agênc ia B r a s í l i a d o
Banco R u r a l ; Que, d e s s a forma, comparecia na Agência
do Banco Rural , r eceb ia o d inhe i ro e assinava um
r e c i b o in formal ; Que apenas f a z i a uma rubr ica , s e n d o
q u e , a lgumas v e z e s , l h e f o i e x i g i d a a a p r e s e n t a ç ã o d e
documen to d e i d e n t i d a d e ; Que esse r e c i b o in formal e ra
uma t i r a de papel com alguns manuscri tos e carimbos;
Que, a p ó s c e r t o t empo , f i c o u conhecido dos empregados
da Agência, que não mais lhe exigiam a apresentação de
documento d e iden t idade ; Que reconhece como sua a
rubr ica lançada no documento d e f l s . 377 do Apenso 6;
Que, r e a l m e n t e , d e u q u i t a ç ã o d e r e c e b i m e n t o também em
f a c - s í m i l e s encaminhados p e l a Agênc ia d e Belo
H o r i z o n t e d o Banco Rura l para a Agênc ia B r a s í l i a ; Q u e ,
em uma oportunidade, recebeu va lores de SIMONE NA SEDE
DA smp&b EM Brasi l ia/DF, l o c a l i z a d a no E d i f í c i o da
Confederação Nacional do Comércio - CNC, n o s e t o r
b a n c á r i o n o r t e ; Que pode ter recebido uma segunda v e z
va lores na sede da ÇMPbB em Brasil ia/DF; Que o i r m ã o
&- flu&u I n q 2 . 2 4 5 / MG
0120.4?
d o DECLARANTE, d e nome ANTONIO DE PÁDUA DE SOUZA
LAMAS, também recebeu v a l o r e s na Agência B r a s i l i a do
Banco R u r a l , a ped ido d o Deputado Federal VALDEMAR
COSTA NETO; Que t a i s p a g a m e n t o s o c o r r e r a m segu indo o
mesmo procedimento já r e l a t a d o ; Q u e o D e p u t a d o F e d e r a l
VALDEMAR COSTA NETO f e z t a i s p e d i d o s a ANTONIO LAMAS
pois o DECLARANTE não e s t a v a em B r a s i l i a / D F , por
m o t i v o s p r o f i s s i o n a i s ; Q u e t o d o s os v a l o r e s sacados
por seu irmão também foram e n t r e g u e s a o Deputado
Federal VALDEMAR COSTA NETO; Q u e d e s c o n h e c e se o
D e p u t a d o F e d e r a l VALDEMAR COSTA NETO p o s s u i q u a l q u e r
r e l a ç ã o com a e m p r e s a GUARANHUNS EMPREENDIMENTOS,
INTERMEDIAÇÕES E PARTICIPAÇÕES S / C LTDA; Que esteve na
s ede da SMP&B em B e l o Hor i zon t e três ou q u a t r o v e z e s ,
p a r a t r a t a r d e a s s u n t o s r e l a c i o n a d o s a e l a b o r a ç ã o d o
novo m a n u a l d e p r o g r a m a v i s u a l d o P a r t i d o L i b e r a l ;
( . . . ) Que conhece MARCOS VALÉRIO, t endo se encon trado
com o mesmo algumas v e z e s na s e d e d o P a r t i d o L i b e r a l
em Bras i l ia /DF; Q u e , n a s v i s i tas q u e f e z a s e d e d o PL,
MARCOS VALÉRIO p r o c u r a v a pelo D e p u t a d o F e d e r a l
VALDEMAR COSTA NETO; Q u e , pelo q u e se r e c o r d a , n u n c a
c o n v e r s o u com MARCOS VALÉRIO a r e s p e i t o d o s
r e c e b i m e n t o s q u e f a z i a a p e d i d o d o D e p u t a d o F e d e r a l
VALDEMAR COSTA NETO; Q u e , e n t r e t a n t o , pode ter
r e c e b i d o l i g a ç õ e s d e MARCOS VALÉRIO in formando que
SIMONE já e s t a v a em Bras i l ia /DF, para lhe procurar ;
Que a s v i s i t a s que f e z à s ede da SMP&B em B e l o
Horizon t e / M G ocorreram, s a l v o engano, a n t e s do inicio
da e n t r e g a dos v a l o r e s por SIMONE, c o n f o r m e r e l a t a d o ;
Que ficou sabendo da e x i s t ê n c i a da SMP&B a t r a v é s das
v i s i t a s que MARCOS W & R I O f e z à s ede do PL; Q u e
@g&- &&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 6 6 2 0 4 3
MARCOS VALÉRIO se a p r e s e n t o u na s e d e d o PL como
e m p r e s á r i o d o ramo d e p u b l i c i d a d e , que q u e r i a t e r uma
c o n v e r s a com o Deputado Federa l VALDEMAR COSTA NETO,
sobre a propaganda d o P a r t i d o L i b e r a l ; Que n ã o s a b e
a f i r m a r quando tomou c o n h e c i m e n t o d e q u e MARCOS
VALÉRIO p o s s u í a r e l a ç õ e s com DELÚBIO SOARES; Que o
Deputado F e d e r a l VALDEMAR COSTA NETO também nunca
menc ionou q u a l a o r i g e m d o s r e c u r s o s r e p a s s a d o s p o r
DELÚBIO SOARES a t r a v é s d a s e m p r e s a s d e MARCOS VALÉRIO;
Que conheceu SIMONE VASCONCELOS na primeira v i s i t a que
f e z à SMP&B em Belo Horizonte/MG; Q u e , a t é então, não
havia recebido va lores das mãos de SIMONJZ VASCONCELOS;
Que achou c o i n c i d ê n c i a o f a t o d e SIMONE ser a
r e s p o n s á v e l p e l a e n t r e g a d o s v a l o r e s encaminhados p o r
DELÚBIO SOARES para o Deputado F e d e r a l VALDEMAR COSTA
NETO; ( . . . ) Que , s a l v o engano , em t r ê s ou quatro
v i s i t a s que f e z à sede da SMP&B em Belo Horizonte,
recebeu de empregados de MARCOS VALÉRIO envelopes
contendo documentos a serem entregues ao Deputado
Federal VALDEMAR COSTA NETO em São Pau lo /SP; Que n ã o
s a b e d i z e r d e q u e t r a t a v a m t a i s d o c u m e n t o s ; ( . . . ) "
Assim. JACINTO LAMAS admite ter atuado reiteradas vezes como
intermediário de VALDEMAR COSTA NETO no recebimento do dinheiro encaminhado pelo
PT para o PL, via SMP&B e BANCO RURAL.
O depoimento demonstra, ainda, que JACINTO LAMAS agiu de modo
consciente, tendo, inclusive, comparecido a sede da SMP&B em Belo Horizonte e em Brasília,
para reuniões com o próprio MARCOS VALERIO e para o recebimento de alguns dos repasses
de valores em espécie.
Rjz4e.W NU&& I n q 2.245 / MG 0 1 2 0 4 3
Tudo isto demonstra a plausibilidade da acusação de lavagem de dinheiro, ao
menos para dar inicio à persecuqão penal, uma vez que a conduta do acusado preenche o tipo
objetivo do art. 1' da Lei no 9.613198, não estando afastada, de plano, a configuração do dolo
de cometimento do delito.
Relativamente ao acusado VALDEMAR COSTA NETO, seu depoimento de
fls. 137611385 (volume 6) traz os seguintes esclarecimentos:
"Que , em j a n e i r o d e 2003, DELÚBIO SOARES
comunicou ao DECLARANTE que f a r i a um emprést imo para
começas a pagar a s d í v i d a s do P a r t i d o dos
Trabalhadores; Que , em f e v e r e i r o d e 2003, em uma
r e u n i ã o e m São P a u l o , DELÚBIO SOARES i n f o r m o u a o
DECLARANTE: "- Valdemar, dá um p u l o em B e l o Hor i zon te ,
ou manda alguém d e sua con f i ança nesse endereço , na
SMP&B, e procura dona SIMONE"; Q u e o DECLARANTE
perguntou se s e r i a o f i c i a l este r e p a s s e ; Q u e DELÚBIO
SOARES d i s s e : "-Vai l á que eles vão t e e x p l i c a r " , sem
d a r m a i s e x p l i c a ç õ e s ; Q u e o DECLAWINIIE s o l i c i t o u a
JACINTO LAMAS que este se d i r i g i s s e a B e l o
Horizonte/MG, p o i s e s t a v a e m n e g o c i a ç õ e s com DELÚBIO
SOARES p a r a o p a g a m e n t o d a s d í v i d a s c o n t r a í d a s
p e s s o a l m e n t e p e l o DECLARANTE em r a z ã o d o s e g u n d o t u r n o
da campanha p r e s i d e n c i a l ; Que o DECJARANIIE comentou
com JACINTO LAMAS que estes pagamentos eram referentes
à d í v i d a que o DECLARANTE c o n t r a í r a em razão da
campanha do segundo t u r n o das e l e i ç õ e s p r e s i d e n c i a i s
em São Paulo; Q u e JACINTO LAMAS se d i r i g i u à s e d e da
SMP&B em B e l o H o r i z o n t e e f a l o u com SIMONE, q u e l h e
e n t r e g o u um e n v e l o p e ; Q u e o DECLARANTE r e c e b e u a
l i g a ç ã o d e JACINTO LAMAS, i n f o r m a n d o o r e c e b i m e n t o da
Inq 2 . 2 4 5 / MG
encomenda; Que o DECLARANTE p e r g u n t o u se e r a d i n h e i r o
e LAMAS i n f o r m o u q u e se t r a t a v a d e um e n v e l o p e
l a c r a d o ; Que como JACINTO LAMAS i r i a a São P a u l o , o
DECLARANTE s o l i c i t o u q u e e s t e d e i x a s s e o e n v e l o p e em
s e u a p a r t a m e n t o ; Q u e , chegando em São Pau lo , o
DECLARANTE a b r i u o e n v e l o p e , q u e c o n t i n h a um cheque de
R$ 500 m i l da SMP&B em favor da GUARilNMNS; Q u e ,
r e a l m e n t e , tem dúvidas se este primeiro cheque era no
valor de R$ 500 m i l ou R$ 800 mil; ( . . . ) Que o
DECLARANTE n ã o e n t e n d e u , l i g o u para D E L ~ B I O SOARES e
f o i à s e d e d o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s ; Q u e , l á ,
a p r e s e n t o u o c h e q u e a DELÚBIO SOARES, q u e n ã o s o u b e
i n f o r m a r a r e s p e i t o , e se r e t i r o u da s a l a para f a z e r
uma l i g a ç ã o t e l e f ô n i c a ; Que o DECLARANTE n ã o s a b e para
quem f o i a l i g a ç ã o ; Q u e , a p ó s o t e l e f o n e m a , DELÚBIO
SOARES i n f o r m o u q u e i r i a m efetuar o resgate do cheque
com o DECLARANTE no d i a seguinte, em São Pau lo ; Que
não informou quem i r i a efetuar o resgate do cheque,
nem o DECLüRANTE perguntou; Que, no d i a seguinte, no
horário marcado, foram dois cidadãos ao apartamento do
DECLüRANTE, perguntaram pelo cheque e lhe fizeram a
entrega de R$ 500 mil em troca do cheque; Que n ã o s a b e
i n f o r m a r o nome d a s p e s s o a s , porém a c r e d i t a que s e jam
s e g u r a n ç a s ; Q u e , posteriormente, houve o mesmo
procedimento: L A M T G fo i à sede Da W & B , recebeu um
envelope lacrado e telefonou ao DECLARANTE, que
solicitou que o envelope fosse entregue em São Paulo;
Que o e n v e l o p e c o n t i n h a outro cheque de R$ 500 mil
para a GUARilNMN.5; Que LAMAS também n ã o s a b i a que este
n o v o e n v e l o p e c o n t e r i a um c h e q u e nomina l à GUARANHUW;
Que LAMAS e n t r e g o u o e n v e l o p e l a c r a d o para o
&$k=wm Q%i&&& Inq 2.245 / MG
012045 DECLARANTE em s e u f l a t e m São Paulo /SP; Que o
DECLARANTE i n f o r m o u a DELÚBIo SOARES que n ã o f a r i a
s e n t i d o n o v o r e s g a t e , e nem q u e r i a m a i s receber d e s t a
forma; Que, mesmo a s s i m , o resgate foi efetuado da
mesma forma no d i a seguinte; Que, da mesma forma, fo i
efetuado um terceiro pagamento, com um cheque no valor
de R$ 200 mil nominal à GUARANHUNS; Que es te c h e q u e
também f o i b u s c a d o p o r LAMAS na s e d e da SMP&B em B e l o
Horizonte /MG; Que LAMAS r e c e b e u o u t r o e n v e l o p e l a c r a d o
sem s a b e r o q u e h a v i a e m s e u i n t e r i o r ; Que o
DECLARANTE q u e i x o u - s e , n o v a m e n t e , a DELÚBIO SOARES,
q u e i n f o r m o u q u e e s t a s e r i a a ú l t i m a v e z ; Que o
r e s g a t e d o c h e q u e f o i e f e t u a d o da mesma forma n o d i a
s e g u i n t e ; Que o DECLARANTE acredita que os portadores
do numerário não eram sempre os mesmos, apesar de
achar que eram seguranças, possivelmente de casas de
câmbio; Que n ã o t em c o n d i ç õ e s d e d e s c r e v e r t a i s
p e s s o a s , mas a c r e d i t a que o s mesmos p o s s u i a m a p a r ê n c i a
d e p o l i c i a i s ; Q u e , duas semanas após este terceiro
cheque, fo i ao encontro de DELÚBIO SOARES na sede do
PT/SP; Que DELÚBIO SOARES ligou para MARCOS VALÉRIO
diante do DECLARANTE, e mandou que fosse efetuado o
pagamento de R$ 500 mil em dinheiro, diretamente ao
DECLARANTE, em seu apartamento; Que este pagamento em
espécie se repetiu por mais três vezes, num total de
R$ 2 milhões; Que os sete pagamentos supracitados
ocorreram entre fevereiro e a b r i l de 2003, totalizando
R$ 3,2 milhões; Que h o u v e uma i n t e r r u p ç ã o n o s
pagamentos a t é j u l h o d e 2003 ; Que, a p a r t i r d o s egundo
semestre d e 2 0 0 3 , DELÚBIO SOARES i n f o r m o u que v o l t a r i a
a e f e t u a r o s pagamen tos ; Que a s s i m , conforme
&e &&NU Inq 2 . 2 4 5 / MG
or ien tação d e DELÚBIO SOARES, JACINTO LAMAS e f e t u o u
uma l i g a ç ã o para SIMONE, que informou o l o c a l em um
h o t e l em B r a s i l i a , onde este receber ia o v a l o r
informado por DELÚBIO SOARES; ( . . . ) Q u e , d e s t a f o r m a ,
foram e f e t u a d o s três pagamentos a JACINTO LAMAS, em
ho té i s c u j o n o m e o DECLARANTE n ã o s a b e i n f o r m a r ; Que
os três p a g a m e n t o s f o r a m e f e t u a d o s por SIMONE a
JACINTO LAMAS, q u e r e p a s s a v a os e n v e l o p e s , p a c o t e s o u ,
e v e n t u a l m e n t e , s a c o l a s d e l o n a d i r e t a m e n t e a o
DECLARANTE; Q u e JACINTO LAMAS não c o n f e r i a o conteúdo,
apesar de saber do quê se t r a t a v a ; Que houve mais um
pagamento, também em e s p é c i e , da mesma forma, e f e tuado
no apartamento do DECL?iRANIPE em São Paulo, por duas
pessoas que aparentavam ser seguranças; Q u e o
DECLARANTE n ã o s a b e p r e c i s a r o v a l o r d e c a d a um d e s t e s
q u a t r o p a g a m e n t o s , p o r é m a f i r m a q u e o t o t a l d e s t e s f o i
de R$ 1 , 6 mi lhões; Que houve ou t ra s é r i e de pagamentos
e f e tuados na Agência B r a s i l i a do Banco Rural , e n t r e
setembro de 2003 e jane iro de 2004, sempre sob
or ien tação de DELÚBIO SOARES; Q u e , como d e c o s t u m e ,
es te s o l i c i t a v a p a r a e n t r a r em c o n t a t o com SIMONE, q u e
d a r i a os d e t a l h e s d o s a q u e ; Q u e o DECLARANTE s e m p r e
o r i e n t a v a JACINTO LAMAS a e n t r a r em c o n t a t o com
SIMONE; Que a or ien tação de SIMONE e ra a de se d i r i g i r
à Agência B r a s i l i a do Banco Rural , onde o s pagamentos
seriam e fe tuados pessoalmente por e l a ; Q u e o t o t a l
d e s t a série f o i d e R$ 1 , 7 m i l h õ e s ; Q u e a s e n t r e g a s d o s
p a g a m e n t o s s e m p r e f o r a m e f e t u a d a s por JACINTO LAMAS
d i r e t a m e n t e n a r e s i d ê n c i a d o DECLARANTE, n u n c a
r e c e b e n d o em s e u G a b i n e t e n a Câmara d o s D e p u t a d o s o u
n a s e d e d o P a r t i d o L i b e r a l ; ( . . . ) Q u e o t o t a l recebido
&+H&&& Inq 2 . 2 4 5 / M G 012047
f o i d e R$ 6,5 m i l h õ e s , e não o s R$ 10,8 c o n s t a n t e s n a
r e f e r i d a l i s t a ; ( . . . ) Q u e , a época d e t o d o s os
r e p a s s e s d e r e c u r s o s a o PL a t r a v é s da SMPfiB, o
t e s o u r e i r o d o P a r t i d o e r a JACINTO LAMAS; Que,
pergun tado p o r que JACINTO LAMAS, t e s o u r e i r o , não
p a r t i c i p a v a da c o n t a b i l i z a ç ã o d e t a i s v a l o r e s , o
DECL?iR?WTE a f i r m a que, uma vez que desde o p r i m e i r o
momento d e s c o n f i o u da forma como o s r e p a s s e s eram
e f e t u a d o s , não quis e n v o l v e r ninguém do PL; Que o s
pagamentos não foram lançados na p r e s t a ç ã o de c o n t a s
d o PL j u n t o à J u s t i ç a E l e i t o r a l ; Que o DECLARANTE
a l e g a q u e DELÚBIO SOARES lhe in formara que não s a b i a
como d e c l a r a r i a a o r igem dos r e c u r s o s naque le momento;
Que o s R$ 10 m i l h õ e s i n i c i a l m e n t e ace r tados com o PT
por i n t e r m é d i o d e DELÚBIO SOARES s e r i a m d e s t i n a d o s à
b a s e e l e i t o r a l nos Es tados , com a f i n a l i d a d e d e
g a r a n t i r a c l á u s u l a p a r t i d á r i a d e 5%; Que não r e c e b e u
q u a l q u e r q u a n t i a r e f e r e n t e a estes R$ 10 m i l h õ e s ; Que,
n o s egundo t u r n o d a s e l e i ç õ e s , a s s u m i u d i v i d a s n o
m o n t a n t e d e R$ 6,s m i l h õ e s , que p o s t e r i o r m e n t e foram
r e p a s s a d o s a t r a v é s da SMP&B, c o n f o r m e acima r e l a t a d o ;
Que nunca t i n h a o u v i d o f a l a r da GUARANHUNS e não t i n h a
q u a i s q u e r n e g ó c i o s com e s t a empresa ou JOÃO CARLOS
BATISTA; ( . . . )
Entretanto, Marcos Valério; em seu depoimento de fls. 145411465 (volume 7):
"Que a empresa GU-S
E M P ~ ~ ~ ~ O S , INTERMEDIAÇ~ES E PARTICIPAÇ~ES
S/C LTDA f o i i n d i c a d a p e l o D r . JACINTO LAMAS em um
e n c o n t r o o c o r r i d o no i n i c i o d e f e v e r e i r o d e 2003,
na s ede da SMP&B em B e l o Horizonte/MG; Que JACINTO
Inq 2 . 2 4 5 / MG
LAMAS a f i rmou que a empresa GUARAAWVNS e r a d e
c o n f i a n ç a do Deputado Federal VALDEMAR COSTA NETO;
Que JACINTO LAMAS n ã o chegou a m e n c i o n a r quem
s e r i a m os p r o p r i e t á r i o s o u r e s p o n s á v e i s p e l a
empresa GUARANHUNS; Que JACINTO LAMAS n ã o chegou a
m e n c i o n a r quem s e r i a m os p r o p r i e t á r i o s ou
r e s p o n s á v e i s p e l a empresa GUARANHUNS; Que JACINTO
LAMAS s o l i c i t o u a o DECMRANl'E a a s s i n a t u r a d e um
c o n t r a t o com a GUARAhWüNS d e i n t e n u e d i a ç ã o d e
a q u i s i ç ã o d e a t i v o s f i n a n c e i r o s ; Que a s s i n o u
r e f e r i d o c o n t r a t o , c u j a c ó p i a apre sen ta neste
momen.to para ser juntada a o s a u t o s , para
j u s t i f i c a r a en t rada d e r e c u r s o s na c o n t a b i l i d a d e
da GUARAhWüNS; Que f o i r e p a s s a d o o m o n t a n t e d e R$
6.037.500,OO para a GUARANHUNS, s e n d o que o
c o n t r a t o menc ionado t i n h a p o r o b j e t o a
i n t e r m e d i a ç ã o d e c e r t i f i c a d o s d e p a r t i c i p a ç ã o em
r e f l o r e s t a m e n t o s a v a l i a d o s em R$ 10 m i l h õ e s ; Q u e ,
quando a s s i n o u r e f e r i d o c o n t r a t o , j á c o n s t a v a a
a s s i n a t u r a da t e s t e m u n h a RENATO, s e n d o q u e c o u b e à
SMP&B a i n d i c a ç ã o d e FERNANDO PEREIRA para a t u a r
como a segunda t e s t e m u n h a ; Que r e f e r i d o c o n t r a t o
f o i e n t r e g u e à SMP&B p e l o p r ó p r i o JACINTO LAMAS,
j u n t a m e n t e com os t í t u l o s d e r e f l o r e s t a m e n t o q u e
s e r i a m o b j e t o d o c o n t r a t o ; Que e n t r e g a n e s t e
momento o s c e r t i f i c a d o s d e p a r t i c i p a ç ã o e
r e f l o r e s t a m e n t o r e l a c i o n a d o s n a s d u a s l i s t a s q u e
acompanham o c o n t r a t o f i r m a d o com a GUARANHUNS;
Que a p r e s e n t o u o r e f e r i d o c o n t r a t o para o setor
j u r í d i c o da SMP&B, q u e se r e c u s o u a a u t o r i z a r o
l a n ç a m e n t o d o c o n t r a t o na c o n t a b i l i d a d e da
@+ N-&u inq 2.245 / MG 0 1 2 0 4 9
empresa ; Que o se tor j u r í d i c o c o n s i d e r o u q u e
r e f e r i d o c o n t r a t o n ã o p o s s u í a os e l e m e n t o s d e
v e r a c i d a d e , podendo c a u s a r f u t u r o s p rob l emas
f i s c a i s para a SMP&B; Que d e c i d i u q u e os r e p a s s e s
à GUARANHUNS fo s sem con t a b i l i z a d o s na c o n t a
"EMPRÉSTIMOS AO PT"; Que t o d a s a s n e g o c i a ç õ e s q u e
m a n t e v e com JACINTO LAMAS eram r e p o r t a d a s a o
t e s o u r e i r o d o PT, DELÚBIO SOARES; Que a s r e m e s s a s
q u e r e a l i z o u para a empresa GUARANHUNS foram
e f e t i v a d a s a t r a v é s d e t r a n s f e r ê n c i a s b a n c á r i a s ou
p o r c h e q u e s e m i t i d o s n o m i n a l m e n t e à r e f e r i d a
empresa ; Que os c h e q u e s e m i t i d o s em nome da
GUARANHUNS eram e n t r e g u e s a p e s s o a s i n d i c a d a s
p e l o s S r s . VALDEMAR COSTA NETO e JACINTO LAMAS;
( . . . ) Que a p ó s receber a d e t e r m i n a ç ã o d e DELÚBIO
SOARES para r e a l i z a ç ã o d e r e p a s s e a o P L , o
DECLARANTE e n t r a v a em c o n t a t o com JACINTO LAMAS e
i n f o r m a v a da d i s p o n i b i l i z a ç ã o d o r e c u r s o ; Que
geralmente se encontrava com JACINTO LAMAS na sede
do PL no Anexo do Congresso Nacional; Q u e , nos
encontros com JACINTO LAMAS informava a forma de
recebimento dos recursos destinados ao PL por
DEL~BIO SOARES; QUE os c h e q u e s e m i t i d o s em nome da
GUARANHUNS eram e n t r e g u e s a JACINTO LAMAS ou a
e m i s s á r i o s i n d i c a d o s p e l o mesmo q u e compareciam na
s e d e da SMP&B; Q u e , após receberem os cheques
nominais à GUARANEWNS, JACINTO LAMAS ou seus
emissários retomavam imediatamente para São
Paulo/SP; Que, d e n t r e es tes e m i s s á r i o s , pode citar
ANTÔNIO LAMAS; Que ANTÔNIO LAMAS, além de receber
recursos na agência Brasilia do Banco Rural, foi
fl&&& Inq 2 .245 / MG 012059
algumas vezes à sede da SMP&B em Belo Horizonte/MG
buscar cheques nominais à GUARANHüNS; Que não
conhece nenhum sóc io ou representante da
GUARANHUNS; Que nunca e s t e v e ou conversou, mesmo
ao t e l e f o n e , com os S r s . JOSÉ CARLOS BATISTA,
LÚCIO BOLONHA FUNARO ou JOSÉ ROBERTO FUNARO; Que,
do t o t a l repassado ao Par t ido L ibera l , pode
a f i rmar que R$ 6.037.500,OO foram a t r a v é s da
GUARANHüNS; Que o r e s t a n t e dos recursos
encaminhados ao Par t ido L ibera l , confonne re lação
apresentada, foram entregues em d i n h e i r o a
mensageiros da r e f e r i d a agremiação;"
Por sua vez, o colaborador LÚCIO FUNARO confirmou, em seu primeiro
depoimento no Ministério Público Federal, que os repasses a GUARANHUNS foram
determinados por VALDEMAR COSTA NETO, fazendo os seguintes esclarecimentos (Anexo
da denúncia, Apenso 81, fls. 44/55):
Que, no ano de 1992, o depoente c o n s t i t u i u
as seguintes empresas: PLUS INVEST FOMENTO COMERCIAL
LTDA., que apenas f o i u t i l i z a d a no ano de 1992, e
permanece i n a t i v a desde então; TLL AGROPECUÁRIA E
REFLORESTAMENTO, c o n s t i t u í d a em 1992 e que nunca f o i
u t i l i z a d a , também permanecendo na s i tuação de i n a t i v a ;
G U . S EMPREENDIMENTOS, I N ~ R M E D I A Ç Õ E S E
PARTICIPAÇÕES S/C LTDA., c o n s t i t u í d a em 1 9 9 9 , que f o i
t r a n s f e r i d a p e l o depoente ao s ó c i o JOSÉ CARLOS BATISTA
no ano de 2001, que atuou como "laranja" do depoente
desde en tão , sendo que r e f e r i d a empresa não f o i mais
u t i l i z a d a desde novembro de 2003; V I S C A I A COBRANÇAS E
INTERMEDIAÇÕES LTDA., cons t i tu ída no ano de 2000, que
Inq 2 . 2 4 5 / MG
permanece a t i v a a t é a presente d a t a ; ERSTE BANKING
EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES S / C LTDA., a t u a l
STOCOS AVENDIS E . B . EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÓES
LTDA. , cons t i tu ída no ano de 2 0 0 1 , ainda a t i v a ;
ROYSTER SERVIÇOS S / A , cons t i tu ída no ano de 2003,
ainda a t i v a ; ( . . . ) Que, quanto à atuação operacional
do depoente e de suas empresas, esclarece que sempre
teve f a c i l i d a d e para a t u a r no mercado p a r a l e l o ,
sobre tudo em f a ce da r e s t r i ç ã o d e c r é d i t o existente n o
mercado o f i c i a l , em razão das a l t a s taxas de juros
prat icadas pe lo Governo Federal; (. . .) Que sempre
atuou dentro das normas do mercado, a t r a v é s das
c o r r e t o r a s : AGORA, FATOR, TECA, UMUARAMA, FAIR, STOK
MAXIMA, NOVAÇÃO, LAETA, CRUZEIRO DO SUL, SÂO PAULO e
BÔPIUS BANVAL; ( . . . ) Que, no caso da inves t igação em
curso no âmbito da CPMI e do Inquér i to mencionados, o
depoente e s c l a r e c e que, n a meta* d o ano d e 2002, fo i
procurado p o r um empresár io da c idade d e Mogi das
Cruze s , amigo d o depoen te e do Deputado Federal
VALDEUAü COSTA NETO; Que o mesmo s o l i c i t o u se o
depoente t e r i a condições de empres tar a o Deputado a
q u a n t i a d e R$ 3.000.000,00 (três m i l h õ e s d e r e a i s ) ,
com i n t u i t o d e pagar fornecedores da campanha à
P r e s i d ê n c i a d o S r . L u í s I n á c i o Lula da S i l v a ,
c o l i g a ç ã o PL-PT; ( . . . ) Que o depoente não se recorda o
nome desses fornecedores, sabendo que são do ramo,
basicamente, de g r á f i c a , s i l k screen e pessoal para a
boca de urna, mas s e compromete a procurar e s s e s nomes
e apresentar a contabi l idade desses pagamentos; Que
tem cer teza que o Deputado VALDEMAR COSTA NETO só
tomou t a l a t i t u d e por r e s p e i t o a seus fornecedores e
c&- H&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
credibilidade do seu nome, porque o PT não repassou
den t ro do cronograma o s recursos pré-acordados; Que,
no ano de 2003, o mesmo empresário lhe procurou, com o
objetivo de saldar o compromisso do Deputado acima
citado; Que o mesmo pediu para que o depoente
i n d i c a s s e uma conta para se e f e t u a r o s c r é d i t o s e para
emissão de a lguns cheques admin i s t ra t i vos , com o
o b j e t i v o de se q u i t a r o d é b i t o acumulado a t é aquele
momento, já acresc ido de juros , que e r a em t o rno d e R$
4.200.000,OO; Que a sistemática de transferência dos
R$ 3.000.000,00 originários foi a seguinte: o
empresário que intermediou o empréstimo indicava o
endereço para a en trega do d i n h e i r o em e s p é c i e , que o
depoente af irma ser de fornecedores; Que o depoente
informava aos d o l e i r o s mencionados esses endereços,
para que f o s s e e fe tuada a en trega dos recursosz7; Que
o controle desses pagamentos, acredl ta o depoente
esteja sob responsabllldade do PL; ( . . . ) Que o s
c r é d i t o s de pagamento do r e f e r i d o empréstimo foram
e fe tuados na conta da empresa GUARAhWüNS no banco
Sudameris, indicada p e l o depoente , e a t r a v é s de alguns
cheques admin i s t ra t i vos do banco Rural , que foram
endossados ou deposi tados na conta da r e f e r i d a
empresa; Que os cheques chegaram à mão do dec larante
a t r a v é s de portadores , o s qua i s o mesmo desconhece;
Que o total perfaz mais ou menos quatro milhões e meio
de reais; Que, quando o s c r é d i t o s iam ser e fe tuados em
con tas , uma pessoa entrava em con ta to com o S r . José
Carlos B a t i s t a , que informava ao depoente o v a l o r do
21 Ocorre que, como visto no depoimento de VALDEMAR COSTA NETO, anteriormente citado, as entregas de dinheiro em espécie foram feitas para ele, VALDEMAR,
I n q 2 .245 / MG
r e f e r i d o ; Que n u n c a c o n h e c e u MARCOS VALÉRIO nem
nenhuma d e s u a s e m p r e s a s ; Que a c r e d i t a que a pessoa
que e n t r a v a em c o n t a t o com o S r . JOSÉ CARLOS BATISTA
s e j a alguém d o grupo SMP&B ou do PT; ( . . . ) Q u e , após a
e c l o s ã o d o escândalo , o r e p r e s e n t a n t e do S r . MARCOS
KUlh10, denominado FERNANDO, procurou o d e c l a r a n t e
com o o b j e t i v o d e e l a b o r a r um c o n t r a t o para d a r or igem
a s s a í d a s d e r e c u r s o s da SME'&B para a Guaranhuns; Q u e
o mesmo a f i rmou a o depoen t e que o problema e s t a v a
equacionado, pois o S r . MARCOS KUlh10 gozava d e
grande i n f l u ê n c i a em t o d a s a s á r e a s do Governo, em
órgãos como P o l i c i a Federa l , R e c e i t a Federa l , Banco
C e n t r a l ; Q u e o d e p o e n t e t i n h a em s e u p o d e r
c e r t i f i c a d o s d e r e f l o r e s t a m e n t o ( c a u t e l a s o f i c i a i s
c h a n c e l a d a s pe lo B a n c o d o B r a s i l ) , s e m l i q u i d e 2 e d e
d i f í c i l " p r e c i f i c a ç ã o " ; Q u e , e n t ã o , propôs ao mesmo
que, a o invés d e mútuo, f i z e s s e m um c o n t r a t o de
i n t e rmed iação d e compra dos -t í tulos acima, para
j u s t i f i c a r a s a í d a d o c a i x a da SMP&B e a en t rada na
c o n t a da GiJARAiWüNS; Que o S r . FERNANDO, s u p o s t a m e n t e
um c o n t a d o r d e MARCOS VALÉRIO, e l a b o r o u o c o n t r a t o e
e n v i o u j á a s s i n a d o pe lo S r . MARCOS VALÉRIO, p a r a a
a s s i n a t u r a d o r e p r e s e n t a n t e d a GUARANHUNS ( S r . JOSÉ
CARLOS BATIST A)" ; Q u e , p e l o f a t o d e o depoen te
encon t ra r - s e fora d o B r a s i l naque la o c a s i ã o , ou s e j a ,
j u l h o d e 2005, o S r . JOSÉ CA.RL0.S BATISTA recebeu o
c o n t r a t o e, por ordem d o depoen t e , a s s i n o u o r e f e r i d o
c o n t r a t o ; ( . . . ) Q u e , p o r esse c o n t r a t o , a empresa
SMP&B e s t a r i a pagando à GiJARANHüNS 10 m i l h õ e s d e r e a i s
em seu apar tamento, p o r d o i s c i d a d ã o s que e l e a c r e d i t a v a serem seguranças de d o l e i r o s ( v . f l s . 1 3 7 6 ) .
@+ flu&u Inq 2 . 2 4 5 / MG
012?5 f pela suposta intermediação da compra dos t i t u l o s pela
GUARANHUNS no mercado e o repasse das caute las para a
SMP&B; Que, d e p o s s e d a s c a u t e l a s , a SMP&B p o d e r i a
j u s t i f i c a r a s saidas do seu caixa e a GUARAiWUNS, o
recebimento dos respec t i vos T E D ' s e cheques
adminis tra t ivos que to ta l i zaram R$ 4 , 5 milhões; ( . . . ) Que, n o c o n t r a t o d e i n t e r m e d i a ç ã o , c o n s t a o v a l o r d e
aprox imadamen te R$ 10 m i l h õ e s , v a l o r esse p o s t o d e má-
fé p e l o S r . MARCOS VALÉRIO, que j á s a b i a
a n t e c i p a d a m e n t e q u e u t i l i z a r a o nome da empresa
GVARANHUNS i n d e v i d a m e n t e , para j u s t i f i c a r s a í d a s d e
s e u c a i x a ; Q u e , por se t r a t a r d e pessoa simples, e
considerando que o depoente não estava presente, o S r .
JOSÉ CARLOS assinou r e f e r i d o contrato , sem aten tar
para a questão do v a l o g g ; Que a p r o p o s t a d o
i n t e r m e d i á r i o d e MARCOS VALÉRIO e r a a c e l e b r a ç ã o d e um
c o n t r a t o d e mú tuo ; ( . . . ) "
Como se nota, os procedimentos de simulação de contratos foram
constantemente utilizados para ocultar a origem, destino e localização dos valores provenientes,
supostamente, dos ilícitos narrados na denúncia.
Ainda de acordo com FUNARO, os alegados 'cempréstimos" concedidos a
VALDEMAR COSTA NETO teriam seguido o seguinte procedimento (Anexo da denúncia,
Apenso no 81, fls. 13/17 do processo em meio eletrônico):
"Que reafirma ter emprestado, em setembro
d e 2002, R$ 3 . 0 0 0 . 0 0 0 , 0 0 ao ex-Deputado Federal
VALDEMAR COSTA NETO a t e n d e n d o a o p e d i d o d e um
28 Diferentemente, MARCOS VALÉRIO afirmou ter recebido o contrato já assinado pelo representante da GUARANHUNS, só depois lançando sua assinatura.
Inq 2 . 2 4 5 / MG
empresár io comum; Que ter ia r e spa ldo f i n a n c e i r o
s u f i c i e n t e para a r c a r com o Ônus do empréstimo e m caso
d e inad implênc ia do ex-Deputado Valdemar Costa Neto;
Que o emprést imo f o i d i v i d i d o e n t r e t r ê s p e s s o a s , a
saber : o depoen t e , o S r . Richard O t t e r l l o o e o
empresár io Á l varo Assunção; Que o emprést imo f o i
concedido em t r ê s p a r c e l a s d e R$ 1.000.000,00,
en tregues p e l o S r . José Car los B a t i s t a ou algum
l i q u i d a n t e do S r . Richard O t t e r l l o o na sede do Par t ido
L iberal em Mogi das Cruzes/SP ou São Paulo/SP, em
e s p é c i e , empacotados em enve lopes ( . . . ) ; Que, ne s sa
d a t a , o depoen te não conhecia o ex-Deputado VALDEMAR
COSTA NETO; ( . . . ) Que, a p a r t i r de f e v e r e i r o de 2003,
f o i procurado p e l o empresár io , para que o d é b i t o
começasse a s e r qu i t ado ; Que, a p a r t i r dessa d a t a , o
depoen te começou a r eceber cheques a d m i n i s t r a t i v o s
nominais à empresa Guaranhuns Empreendimentos e
P a r t i c i p a ç õ e s para a q u i t a ç ã o do emprést imo; ( . . . ) Que
durante esse período, no ano de 2003, o depoente
repassava um percentual dos pagamentos amortizados com
o s cheques da SMP&B ao Par t ido L ibera l , que var iava
semana a semana . . . ; Que e s s e r epas se era e f e t u a d o
semanalmente à s s e x t a s - f e i r a s , porque era informado ao
depoente que o Deputado VALDEMAR COSTA NETO
necess i tava dos recursos para t ranspor tar para
B r a s i l i a ( . . ) ; Que o s v a l o r e s repassados no ano d e
2003 per fazem o montante aproximado d e R$
3.100.000,00, a uma taxa de 2% para a t roca de cheques
ou T E D ' s o r i g i n á r i o s da SMP&B por d i n h e i r o em e s p é c i e
para o ex-Deputado VALDEMAR COSTA NETO; ( . . . ) Que, na
2 9 Note-se que o depoente , l i n h a s a t r á s , afirmou que J O S ~ CARLOS BATISTA
R+&mw I n q 2.245 / MG
012C55 conta do depoente e em cheques acànin i s t ra t ivos
nominais à empresa Guaranhuns, c i r c u l o u o montante
aproximado d e R$ 6.500.000,00, sendo R$ 3.500.000,00,
aproximadamente, para q u i t a r o emprést imo o r i g i n á r i o
d e R$ 3.100.000,00, f e i to p e l o depoente ao e%-Deputado
VALDEMAR COSTA NETO, e o restante3' f o i passado em
e s p é c i e ao S r . Tadeu Candelár ia na s ede d o PL em Mogi
das Cruzes , na maior ia das v e z e s p e l o S r . José Car los
B a t i s t a . . . ; Que apresenta cópia de e x t r a t o s da
con ta consignada ao empresário, para que o ex-Deputado
VALDEMAR COSTA NETO fizesse os créditos para
abat imento dos emprést imos e q u i t a s s e o s saques
e f e t u a d o s em e s p é c i e no período; Que os v a l o r e s
des tacados em vermelho re ferem-se a t r a n s f e r ê n c i a s
e f e t u a d a s p e l a SMP&B em favor do Deputado VALDEMAR
COSTA NETO na c o n t a b i l i d a d e i n t e r n a do dec laran te ; Que
apresenta também uma plani lha com a indicação de todos
os r e c u r s o s r e c e b i d o s por ordem d o ex-Deputado
*VALDEMAR COSTA NETO na con ta acima c i t a & , por meio de
t rans ferênc ias e l e t r ô n i c a s , to ta l i zando R$
3.172.846,41, no período de 04/06/2003 a 27/08/2003;
Que, nessa p lan i lha , também cons ta a i nd i cação dos
pagamentos e f e t u a d o s por VALDEMAR por meio de cheques
p e foram repassados p e l o depoente aos t e r c e i r o s
i nd i cados na mesma p l a n i l h a ; Que, em s í n t e s e : criou-se
uma conta devedora, no valor de R$ 3.000.000,00 no mês
de setembro de 2002, que f o i acrescida de juros da
ordem de 3% ao mês, con ta e s s a que f o i sendo deb i tada
d e juros e saques em e s p é c i e do ex-Deputado VALDEMAR
COSTA NETO e c r e d i t a d a dos r e p a s s e s e f e t u a d o s na con ta
-~ -
assinou o c o n t r a t o por ordem do própr io depoente.
Inq 2.245 / MG
corren te da empresa Guaranhuns no banco Sudameris e
dos cheques a d m i n i s t r a t i v o s en tregues ao depoente e
endossados p e l o S r . José Car los B a t i s t a e repassados a
t e r c e i r o s ; Que os cheques eram entregues por boys - ou
r e t i r a d o s no escritório da empresa do i n t e r v e n i e n t e ;
Que r e s s a l t a o depoente que pode haver alguma
dlscrepâncla de va lores e m razão da ln tensa
movlmentaçáo f inanceira e da f a l t a de dados para a
v e r l f l c a ç ã o ; Que, ( . . . ) em 2004 f o i s o l i c i t a d o a f a z e r
novo empréstimo de R$ 3.000.000,00 ao ex-Deputado
VALDEMAR COSTA NETO, mas que a metodologia dos
pagamentos f o i a l t e r a d a , ao i n v é s de depós i tos em
conta corren te ou cheques a d m i n i s t r a t i v o s , o S r . Tadeu
Candelária providenciava a entrega dos r e s p e c t i v o s
v a l o r e s em espéc ie ao depoente durante o ano de 2005;
( . . . ) Que conheceu VALDEMAR COSTA NETO no mês de
setembro de 2004, apresentado p e l o empresário que
intermediou o empréstimo, na sede do PL, em São Paulo;
( . . . ) Que manteve contato com o ex-Deputado VALDEMAR
COSTA NETO a t é janeiro de 2006, enquanto t en tava
receber o sa ldo do empréstimo e f e tuado em setembro de
2004; Que, após essa da ta , rompeu com o mesmo, assim
como com o advogado que representava a ambos perante o
S T F , D r . Marcelo Bessa; Que e s t á no aguardo das
ins t ruções de seus advogados c i v i l i s t a s com a in tenção
de en t rar com ação contra o Partido Liberal e o ex-
Deputado VALDEMAR COSTA NETO, a f i m de ser ressarc ido
dos seus pre ju í zos morais e f i nance i ros .
'O Funcionário da tesouraria do PL.
@ . $ &zLLmd&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
012058
Conforme sustentado pelo Procurador-Geral da República, e confirmado pelos
elucidativos depoimentos que acabo de ler, há indícios de que os denunciados - não só do item
ora analisado, mas também de outros itens da denúncia - estavam profundamente
organizados e possuíam relações complexas uns com os outros, o que indica a comunhão de
desígnios entre eles.
Resta claro, portanto, que há indícios da prática dos crimes de lavagem de
dinheiro e formação de quadrilha.
Corrobora esta afirmação o fato de que os donos da empresa GUARANHUNS
e colaboradores do Ministério Público Federal, LÚCIO FUNARO e JOSÉ CARLOS BATISTA,
já conheciam e seriam colegas .de ENIVALDO QUADRADO, dono da empresa BÔNUS
BANVAL, este também denunciado, como vimos no capítulo VIA, por ter, supostamente,
disponibilizado sua empresa para realizar lavagem de dinheiro, em suposto conluio com
parlamentares do PP beneficiados, em tese, pelos recursos encaminhados pelo PT através de
MARCOS VALÉRIO (v. item anterior).
Neste sentido, leio, em primeiro lugar, depoimento de ENIVALDO
QUADRADO (fls. 1430, volume 6), no qual afirma conhecer os colaboradores LÚCIO
FUNARO e JOSÉ CARLOS BATISTA, embora negue ter relação de amizade com os mesmos:
"Que há anos JOÃO CARLOS BATISTA^' aplicou
como investidor na corretora BÔNUS &9NVAL, por um
c u r t o período, como representante da LAETA CORRETORA;
Que não possui r e lações de amlzade ou negocia is com
JOSÉ CARLOS BATISTA, tampouco chegou a conhecê-lo; Que
a empresa ESFORT TRADING AS nunca f o l c l i e n t e ou
manteve quaisquer conta tos negocla is com a corretora
, I n q 2 .245 / MG
BÔNUS BANVAL; Que conhece LÚCIO BOLONHA FUNARO,
r e p r e s e n t a n t e d e duas c o r r e t o r a s em São Paulo/SP; Que
e s t e conhecimento se limita a conhecimento de mercado,
não tendo re lação de amizade; ( . . . ) Que pode i n f o r m a r
que JOSÉ CARLOS BATISTA e LÚCIO FUNARO foram c o l e g a s
d e t r a b a l h o da c o r r e t o r a LAETA; ( . . . ) "
Entretanto, em outro depoimento, LUCIO FUNARO esclarece suas relações
com a BÔNUS BANVAL (Anexo a denúncia, apenso no 81, As. 13/17 - depoimento de
( . . . ) Que, com r e l a ç ã o a BÔNUS BANVAL,
i n fo rma o depoen t e que mant inha r e l a ç ã o d e amizade com
o s S r s . BRENO FISCHBERG, Rlcardo Paiva , Celso Senlse e
ENIVALDO QUADRADO, d i r e t o r e s da empresa que, duran t e o
ano d e 2002, após a empresa aclma t e r t i d o grandes
p r e j u í z o s no mercado de bol com um c l i e n t e , o depoen t e
emprestou r e c u r s o s à empresa; Que, após a venda de
patrimônio dos d i r e t o r e s , f o l qui tado e s s e primeiro
empréstimo; Que, após e s s a d a t a , manteve r e l a ç õ e s
comerc ia i s com a Corre tora acima c i t a d a n a qua l i dade
d e cliente pes soa f í s i c a ou j u r í d i c a , ou na condição
de f i nanc iador d e r e c u r s o s , quando a Corre tora
n e c e s s i t a v a d e empréstimos; Que o s r e p a s s e s
o r i g i n á r i o s da Bõnus Banval nas s u a s c o n t a s t êm ú n i c a
e exc lu s i vamen te d o i s m o t i v o s : a j u s t e s d e p o s i ç õ e s n a
BM&F ou q u i t a ç ã o d e emprés t imos; Que não s a b i a a
or igem i n t e r n a d o s recursos da BÔnus Banva l ,
ac red i t ando que o s r e c u r s o s da c o n t a e r a c a p i t a l
p r ó p r i o da c o r r e t o r a , nunca d e clientes, j á que nunca
31 Na verdade, é JOSÉ CARLOS BATISTA, um dos donos da GUARANHUNS, como será corrigido ao fim pelo depoente.
fl$2&%m Inq 2.245 / MG 0 1 2 0 6 3
intermediou operações entre clientes da Bônus e suas
empresas; ( . . . ) "
Veja-se que alguns recursos teriam sido repassados, através da Guaranhuns e da
Bônus Banval, aos parlamentares supostamente beneficiados. Assim, estes valores recebidos pela
GUARANHUNS provenientes da BONUS BANVAL parecem ainda mais suspeitos,
relativamente a prática do crime de lavagem de dinheiro, por força justamente da época em que
ocorreram os depósitos e da aparente amizade existente entre os donos dessas empresas
ENIVALDO QUADRADO e LÚCIO FUNARO. É. assim. verossimil a acusação neste sentido
da criação de complexos mecanismos para ocultar a movimentação e destinação de valores
bastante significativos, tendo em vista os inúmeros meandros aparentemente seguidos pelo
dinheiro antes de chegar a seus destinatários finais.
As imputações constantes deste item da denúncia (formação de quadrilha e
lavagem de dinheiro) foram instruídas com a prova mínima da autoria e da materialidade do
delito de lavagem de dinheiro, como demonstram os depoimentos citados, além dos documentos
constantes dos apensos 5 e 6, suficientes ao inicio da fase judicial da persecução penal, razão
por que recebo a denúncia com relação a tais imputações.
Resta analisar a conduta de ANTONIO LAMAS, irmão de JACINTO LAMAS.
O denunciado disse o seguinte no depoimento de Os. 9231925 (volume 4):
"QUE em uma Única oportunidade, não sabendo
precisar a data nem valor, o Deputado Federal VALDEMAR
COSTA m T O solicitou que o declarante se deslocasse
até o edifício Brasilia Shopping "buscar alguns
@5q* fl&&& Inq 2.245 / MG
0 1 2 t 6 1
documentos ou encomenda pra ele"; QUE se r e c o r d a q u e o
s e u irmão JACINTO LAMAS e s t a v a em viagem, razão pe la
qual atendeu a determinação do Deputado Federal
VALDEMÃR COSTA NETO, v e z q u e n ã o r e a l i z a v a f u n ç ã o d e
serviços e x t e r n o s ; QUE o Depu tado Federa1 VALDEMAR
s o m e n t e se r e s t r i n g i u a f o r n e c e r o e n d e r e ç o , com
a n d a r , número da s a l a e nome da p e s s o a que d e v e r i a
p r o c u r a r ; QUE e s s a p e s s o a se chamava FRANCISCO; QUE
a p e n a s f i c o u s a b e n d o que se t r a t a v a d e uma a g ê n c i a
b a n c á r i a , m a i s p r e c i s a m e n t e Agênc ia B r a s í l i a d o Banco
R u r a l , quando chegou a o l o c a l ; QUE a o c h e g a r n e s s e
l o c a l p e r g u n t o u n o b a l c ã o d e a t e n d i m e n t o p o r
FRANCISCO; QUE f o i a p r e s e n t a d o a FRANCISCO, que
s o l i c i t o u q u e o d e c l a r a n t e o acompanhasse em uma s a l a
q u e a c r e d i t a ser a t e s o u r a r i a d o Banco Rural /DF; QUE
FRANCISCO lhe e n t r e g o u uma c a i x a e pediu que o
dec larante conferisse o que havia em seu i n t e r i o r ; QUE
o dec larante disse a FRANCISCO que não t i n h a que
c o n f e r i r nada, p o i s t i n h a a incumbência de receber
somente a encomenda; QUE n e s s e momento EPANCISCO abr iu
a ca ixa e o dec larante percebeu que haviam v á r i a s
cédulas de cem r e a i s ; QUE não se recorda de ter
assinado nenhum documento, nem tampouco, ter entregue
seu documento de iden t idade ; QUE a c a l x a f o i f e chada
em s e g u i d a e e n t r e g u e a o d e c l a r a n t e ; QUE, após, por
determinação do Deputado Federal VALDEMAR DA COSTA
NETO, d i r i g i u - s e a t é a re s idênc ia d e s t e e entregou a
referida caixa; QUE o Deputado Federa l VALDEMAR n ã o
a b r i u e s s a c a i x a na p r e s e n ç a do d e c l a r a n t e (. . .) "
t* NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 0 1 2 0 6 2
Embora ANTÔNIO LAMAS afirme ter efetuado o recebimento de valores em
espécie em apenas uma oportunidade, a denúncia destaca que "Antônio Lamas, irmão de
Jacinto Lamas e fundador do PL, também recolhia, de forma lrabitual e reiterada, valores etn
espécie, para Valdemar Costa Neto".
De qualquer modo, a conduta do denunciado ANTÔNIO LAMAS reveste-se de
aparente tipicidade em relação ao tipo penal previsto no artigo 1" da Lei no 9.613198, incisos
V, VI e VII, na medida em que o mesmo participou da movimentação, de maneira obscura,
de valores provenientes dos crimes previstos nos incisos mencionados, o que é suficiente a
instauração da ação penal pertinente.
Está, ainda, minimamente demonstrada a sua possivel partici~ação na suposta
quadrilha que já havia sido anteriormente formada pelos denunciados, e supostos fundadores,
JACINTO LAMAS. VALDEMAR COSTA NETO. LÚCIO FUNARO e JOSÉ CARLOS
BATISTA, dotada, aparentemente, dos elementos estabilidade e finalidade voltada para a pratica
de crimes (in casu, de lavagem de dinheiro).
Veja-se que, ainda que fique provado, no curso da ação penal, que o denunciado
recebeu uma única vez os valores repassados pelo PT ao PL. como ele mesmo afirma, ainda
assim é possível receber a denúncia. no que tange ao delito definido no art. 288 do CP, tendo
em vista tratar-se de delito formal, que independe, inclusive, da efetiva prática dos crimes
para os quais a quadrilha tenha se formado.
Neste sentido, destaco entendimento firmado por esta Corte no HC no 86.630lR.l
(Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, J. em 24-10-2006)
( . ) I I . Denúnc ia: q u a d r i l h a : ~ m p u t a ç ã o
~ d ô n e a . 1 . O c r i m e d e q u a d r i l h a se consuma, em r e l a ç ã o
a o s f u n d a d o r e s , n o momento e m q u e a p e r f e i ç o a d a a
&-H&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 612063
c o n v e r g ê n c i a d e v o n t a d e s e n t r e m a i s d e três p e s s o a s e ,
quanto aqueles que venham posteriormente a in tegrar-se
ao bando já formado, no momento da adesão de cada
qual; c r i m e f o r m a l , nem depende, a formação consumada
de quadrilha, da real ização u l t e r i o r de qualquer
d e l i t o compreendido no âmbito de suas projetadas
a t i v idades criminosas, nem, conseqiientemente, a
imputação do crime c o l e t i v o a cada um dos par t i c ipe s
da organização reclama que se lhe possa a t r i b u i r
part icipação concreta na comissão d e algum dos crimes-
f im da associação. 2 . S e g u e - s e que a aptidão da
denúncia por quadrilha bas tará , a r i gor , a a f i rmat iva
de o denunciado se ter associado a organização formada
por mais de três elementos e destinada a prát ica
u l t e r i o r de crimes; para que se r e p u t e i d ô n e a a
i m p u t a ç ã o a a lguém da p a r t i c i p a ç ã o n o bando n ã o é
n e c e s s á r i o , p o i s , q u e se l he i r r o g u e a c o o p e r a ç ã o na
p r á t i c a d o s d e l i t o s a q u e se d e s t i n e a a s s o c i a ç ã o , a o s
q u a i s se r e f i r a a d e n ú n c i a , a t i t u l o d e e v i d ê n c i a s da
sua formação a n t e r i o r m e n t e consumada. (. . . I "
Por esta razão, e vislumbrando indícios da comunhão de desígnios deste
denunciado com os demais (VALDEMAR COSTA NETO e JACINTO LAMAS), recebo,
também em relação a ANTONIO LAMAS, a denúncia quanto i imputação do crime de
formação de quadrilha
Assim, concluo pelo recebimento da denúncia contra:
a) Bispo Rodrigues, pela suposta prática dos crimes de corrupção passiva (art.
317,CP) e lavagem de dinheiro (art. l0, V, VI1 e VIII, da Lei no 9.613198);
Inq 2.245 / MG
b) Valdemar Costa Neto e Jacinto Lamas, pela suposta pratica dos crimes de
corrupção passiva (art. 317,CP), lavagem de dinheiro (art. 1°, V, VI1 e VIII, da Lei no 9.613198)
e formação de quadrilha (art. 288 do CP);
c) Antônio .Lamas, pela suposta prática dos crimes de lavagem de dinheiro (art.
1°, V, VI1 e VIII, da Lei no 9.613198) e formação de quadrilha (art. 288 do CP).
flig2km.9 NU&& Inq 2.245 / MG
VI.3 - PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO
No item VI.3, a denúncia aborda os f a t o s r e l a t i v o s ao
Partido Traba lh i s ta B r a s i l e i r o - P T B , i n i c iando nos seguin tes
termos:
"VI . 3 - PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO
José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno e
S í l v i o Pereira, mediante pagamento de propina,
adquiriram apoio p o l í t i c o de Parlamentares Federais do
Partido Trabalhis ta B r a s i l e i r o - PTB.
O s pagamentos foram v i a b i l i z a d o s pe lo
núc leo p u b l i c i t á r i o - f i n a n c e i r o da organização
criminosa.
O s parlamentares f e d e r a i s que receberam
vantagem indevida foram José Carlos
Martinez ( f a l e c i d o ) , Roberto J e f f e r s o n e Romeu Queiroz .
Todos contaram com o a u x i l i o d i r e t o na prá t ica dos
crimes de corrupção passiva do denunciado Emersos
Palmieri . "
Nessa parte da denúncia f o i imputado aos denunciados
José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno, S í l v i o Pereira,
Marcos V a l é r i o , Ramon Rollerbach, C r i s t i a n o Paz, Rogério
T o l e n t i n o , Simone Vasconcelos e G E I S A Dias (por t r ê s v e z e s ) o
crime do a r t i g o 333 do Código Penal ( f a t o s r e l a t i v o s aos
@e fl&&& Inq 2.245 / MG 012666
parlamentares Federais José Carlos Martinez, Roberto J e f f e r s o n e
Romeu Q u e i r o z ) .
Segundo é narrado na i n i c i a l acusatór ia , " o esquema de
venda de apoio p o l í t i c o ao Governo f o i in ic ia lmente negociado
pelo f a l e c i d o José Carlos Martinez, ex Presidente do PTB".
E prossegue o Procurador-Geral d a República:
"Nessa Linha, em julho de 2003, Martinez
solicitou a Romeu Queiroz a indicação de uma pessoa
para o recebimento de R$ 50 .000 ,00 , disponibilizados
pelo PT. Essa quantia f o i entregue ao Coordenador do
Partido em Belo Horizonte, José Hertz, que s e deslocou
a t é B r a s i l i a e , depois de pernoi tar na residência do
denunciado Romeu Queiroz, entregou-a a Emerson
Palmieri , Tesoureiro do PTB.
Roberto Jefferson também confirmou o
repasse de R$ 1 .000 .000 ,00 do Partido dos
Trabalhadores, por intermédio do esquema de Marcos
Valério, ao então Presidente do PTB, Deputado José
Carlos Martinez, f a l ec ido em 04.10.2003. Da quantia
acima, R$ 300.000,OO foram entregues por intermédio de
J a i r dos Santos, nas seguin tes datas: 18/09/2003 - R$
200.000,OO (fl. 430 do Apenso 0 6 ) ; e 24/09/2003-R$
100.000,OO ( f l . 609 do Apenso 0 7 ) .
Após o falecimento de José Carlos Martinez,
as tratativas visando ao recebimento do dinheiro
proveniente do Partido dos Trabalhadores passaram a
ser estabelecidas com o denunciado Roberto Jefferson,
Presidente do PTB.
&+&&H& Inq 2.245 / MG
012067
Em dezembro de 2003, Roberto Jefferson
manteve contato com o Romeu Quelroz, Secretário do
PTB, para que este retomasse os mecanismos
estruturados durante a gestão de José Carlos Martinez
para a obtenção de recursos financeiros. Romeu Queiroz
procurou o então Ministro Auderson Adauto, o qual
manteve entendimentos com Delúbio Soares, que se
prontificou a retomar as transferências através da
empresa SMP&B, o que de fato ocorreu, nos termos
abaixo narrados."
No capítulo da denúncia ora em julgamento, são
acusados: ROBERTO JEFEERSON (lavagem de dinheiro e corrupção
passiva); EMERSON PALMIERI (corrupção passiva e lavagem de
dinheiro); ANüERSON ADAUTO (corrupção ativa); e ROMEU QUEIROZ
(corrupção passiva e lavagem de dinheiro), além dos acusados de
corrupção ativa, cujas condutas serão objeto de consideração em
seguida.
Analiso, primeiramente, se há indícios da prática dos
crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, pelos
denunciados EMERSON PALMIERI e ROBERTO JEFEERSON.
Segundo consta da inicial acusatória, em Janeiro de
2004 o denunciado Emerson Palmieri teria participado do repasse,
em duas parcelas, ao PTB, do montante de R$ 200.000,00,
provenientes do grupo de MARCOS V ~ É R I O .
Com efeito, os documentos de fls. 52/52-v e 65/65v do
apenso no 05 trazem a contabilização do pagamento d e duas
parcelas, a primeira de R$ 100.000,OO em 07.01.2004 e a segunda
do mesmo valor, em 14.01.2004, em favor de uma pessoa chamada
Alexandre, que, segundo afirmado pelos denunciados ROBERTO
JEFFERSON e SIMONE VASCONCELOS (depoimentos abaixo transcritos),
é Alexandre Chaves, pai da funcionária do PTB chamada Patrícia.
A autenticidade da assinatura da denunciada SIMONE
VASCONCELOS nos referidos documentos foi confirmada pela própria
denunciada, as fls. 54, in verbis:
. . . QUE reconhece como proveniente de
seu punho os lançamentos constantes no verso da fl. 52
do Apenso 5, à exceção do lançamento em tinta azul;
QUE o ALEXANDRE mencionado em tais lançamentos se
refere a ALEXANDRE CHAVES, pessoa ligada a EMERSON
PALWIERI; (. . .) "
O termo de depoimento prestado pelo Deputado ROBERTO
JEFFERSON (fls. 4219-4227, volume 19) também vai ao encontro da
narrativa constante da denúncia, razão pela qual peço vênia para
citá-lo, ainda uma vez:
( . . . ) que realmente representou o PTB em
tratativas junto à Direção Nacional do PT em abril e
maio de 2004, relativas às campanhas municipais
daquele ano; ( . . . ) Que, nesse acordo, o PTB apoiaria o
PT em São Paulo/SP, Ribelrão Preto/SP, Rio Branco/AC,
Inq 2 . 2 4 5 / MG
R i o d e J a n e i r o / R J , C u r i t i b a / P R , B e l o Horizonte/MG,
G o i â n i a / G O , S a l v a d o r / B A , d e n t r e o u t r a s q u e n ã o se
r e c o r d a n o m o m e n t o ; Q u e , por s u a v e z , o PTB r e c a e r i a
apoio f inanceiro do PT para o financiamento nacional
das candidaturas a P r e f e i t o e V e r e a d o r e s em t o d o o
p a í s ; Q u e o acordo tratado e aprovado f o i de R$ 20
milhões, d iv id idos erú cinco parcelas de R$ 4 milhões;
Que f i c o u c o n v e n c i o n a d o q u e o r e c u r s o s e r i a
t r a n s f e r i d o d a c o n t a c o n t r i b u i ç ã o d o PT p a r a a c o n t a
c o n t r i b u i ç ã o d o PTB; Q u e , i n i c i a l m e n t e , f o i l iberada a
quantia de R$ 4 milhões, em duas parcelas em espécie ,
i s t o n a s e d e n a c i o n a l d o PTB, n a 303 N o r t e ,
B r a s i l i a / D F ; Q u e a primeira parcela compreendeu a
guantia de R$ 2,2 milhões e a segunda, de R$ 1,s mil,
s e n d o q u e a p r i m e l r a a c o n t e c e u d e m e a d o s a o f i n a l d e
j u n h o d e 2004 e a s e g u n d a , a l g u n s d i a s d e p o i s ; Q u e ,
nas duas oportunidades re la tadas , o próprio MARCOS
VALÉRIO f o i quem entregou o dinheiro ao declarante;
Que a s c é d u l a s d e r e a l s e n t r e g u e s , a o d e c l a r a n t e , por
MARCOS VALÉRIO, estavam envol tas com f i t a s que
descreviam o nome do Banco Rural e Banco do Bras i l ;
Q u e , a p e s a r d e o S r . DELÚBIO SOARES, S r . MARCOS
VALÉRIO e o S r . GENOÍNO n e g a r e m h a v e r e n t r e g u e
r e c u r s o s a o PTB, o declarante confirma se r verdade o
repasse de t a i s recursos; Q u e o P r e s i d e n t e da
R e p ú b l i c a LUIZ INÁCIO LULA DA S I L V A n ã o p a r t i c i p o u d e
n e n h u m a c o r d o d e a p o i o f i n a n c e i r o d a s c a m p a n h a s
e l e i t o r a i s d o PTB com r e c u r s o s do PT; Q u e também n ã o
p o d e a f i r m a r se o P r e s i d e n t e LULA teve c o n h e c i m e n t o d o
a c o r d o f i n a n c e i r o com os m i n i s t r o s PALOCCI, GUSHIKEN,
JOSÉ DIRCEU e WALFRIDO MARES GUIA; Q u e o P r e s i d e n t e
&* fla&& Inq 2.245 / MG
012070
LULA p a r t i c i p o u d o a c o r d o p o l í t i c o , mas em nenhum
momento t r a t o u com o d e c l a r a n t e q u a l q u e r a p o l o
financeiro; Que tomaram conhecimento do acordo todos
os companheiros de bancada e do Senado da Repúbl ica, e
os recursos foram par t i lhados entre alguns dos
candidatos à s p r e f e i t u r a s munic ipais do PTB; Q u e o
acordo p o l í t i c o firmado entre o PT e o PTB também
e n v o l v i a cargos na administração; Q u e , p e l o apoio ao
candidato do PT a p r e f e i t u r a de S a l v a d o r / B A , s e r i a o
ex-Deputado BENITO GAMA nomeado diretor do IRB; Q u e ,
p e l o a p o i o em G o i â n i a / G O , s e r i a nomeado o s e c r e t á r i o
d o PTB, ARMANDO p a r a s u p e r i n t e n d e n t e d a SUSEP; Q u e
p e l o a p o i o a o c a n d i d a t o d o PT d e C u r i t i b a / P R , s e r i a
nomeado um i n d i c a d o d o PTB p a r a a d i r e t o r i a d e
a d m i n i s t r a ç ã o da ITAIPU; Q u e , e n t r e t a n t o , nenhum
d e s s e s cargos foram e f e t i v a m e n t e nomeados; Que c o b r o u
v á r i a s v e z e s o c u m p r i m e n t o d o a c o r d o , p r i n c i p a l m e n t e
j u n t o a o s Ministros JOSÉ DIRCEU e PALOCCI e a o
p r e s i d e n t e d o PT JOSÉ G E N O ~ N O ; ( . . . ) Q u e , perguntado
se EMERSON PACMIERI d i s t r i b u i u recursos para deputados
na l iderança do p a r t i d o , nega peremptoriamente; Q u e
g o s t a r i a d e a c r e s c e n t a r q u e EMERSON PALMIERI n ã o
o p e r o u a d l s t r l b u i ç ã o d o s R$ 4 mi lhões recebidos de
.MARCOS VALÉRIO; Q u e o DECLARANIIIE foi o encarregado de
receber e d i s t r i b u i r os recursos repassados p e l o PT;
Que se recusa a i n d i c a r o s b e n e f i c i á r i o s f i n a i s dos R$
4 milhões que d i s t r i b u i u ; Que d i s c u t i u com DELÚBIO
SOARES e JOSÉ GENOINO a r e s p e i t o dos termos l e g a i s da
contr ibuição; Que , q u a n d o f o i r e a l i z a d o o r e p a s s e da
p r i m e i r a p a r c e l a , d e R$ 2,2 m i l h õ e s , c o b r o u d e MARCOS
VALÉRIO o recibo d e d o a ç ã o a o PTB; Q u e MARCOS VALÉRIO
Inq 2 . 2 4 5 / MG
i n f o r m o u que na semana s e g u i n t e e n t r e g a r i a m a i s R$ 1,8
m i l h ã o , quando , e n t ã o , i d e n t i f i c a r i a o d o a d o r , com a
e n t r e g a d o r e c i b o ; Q u e , c o m p l e t a n d o o s R$ 4 m i l h õ e s ,
na semana s e g u i n t e , não f o i iden t i f i cado o doador
m e d i a n t e recibo; Que, d iante d i sso , o DECLARANTE
afirma ter acionado EMERSON PALMIERI para que
loca l i zasse DELÚBIO e MARCOS &RIO, com i n t u i t o d e
conseguir os recibos r e f e r e n t e s a o s r e c u r s o s e n t r e g u e s
a o PTB, o q u e n ã o c o n s e g u i u mesmo t e n d o i n s i s t i d o com
DELÚBIO e MARCOS VALÉRIO; Que d i scu t iu diversas vezes
com os representantes do PT a respe i to do pagamento
dos R$ 16 milhões res tan tes , re feren tes ao acordo
firmado; Que JOSÉ DIRCEU a f i r m o u a o DECLARANTE que o
PT e s tar ia sem recursos para c u m p r i r o a c o r d o , uma v e z
q u e a P o l i c i a Federa l h a v i a prendido 62 dole iros; Q u e ,
d e s s a forma, JOSÉ DIRCEU a l e g o u que ser ia iqposs ivel
in ternar recursos no pais para saldar o acordo; Que
também o M i n i s t r o VALFRIDO MARES GUIA i n t e r v e i o em
nome d o PTB j u n t o a o M i n i s t r o JOSÉ DIRCEU, na
t e n t a t i v a d e receber o s r e c u r s o s comb inados ; Q u e , em
um e n c o n t r o com JOSÉ DIRCEU na Casa C i v i l , o c o r r i d o n o
i n í c i o d e j a n e i r o d e 2005, o e n t ã o M i n i s t r o a f i r m o u
q u e h a v i a r e c e b i d o , j u n t a m e n t e com o P r e s i d e n t e LULA,
um grupo da P o r t u g a l TELECOM e Banco E s p i r i t o S a n t o ,
q u e e s t a r i a m em n e g o c i a ç õ e s com o Governo b r a s i l e i r o ;
Que n ã o s a b e d i z e r q u a i s s e r i a m e s s a s n e g o c i a ç õ e s ; Que
JOSÉ DIRCEU afirmou. que haveria a possibi l idade de que
re f e r ido grupo econõmico pudesse adiantar cerca d e 8
milhões de euros que s e r i a repartidos entre o PT e o
P ; Que esses r e c u r s o s s e r v i r i a m para l i q u i d a r a s
d í v i d a s d e campanha; Que JOSÉ DIRCEU n ã o a f i r m o u a
&- Inq 2.245 / MG
O 1 2 O 7 2 t í t u l o d e q u ê s e r l a t a l adiantamento; Que JOSÉ DIRCEU,
então, s o l i c i t o u ao DECLARANTE que ind icasse alguém do
PTB ao DELÚBIO SOARES para acompanhar a s t r a t a t i v a s em
Portugal; Que concordou com a proposta f e i t a por JOSÉ
DIRCEU e indicou para DELÚBIO SOARES o primeiro
secre tár io do PTB, EMERSON PALMIERI; Que r e t i r o u a s
passagens para EMERSON PALMIERI pe lo PTB no f i n a l de
janeiro de 2005; Que EMERSON PALMIERI, ao embarcar
para Portugal, t e l e fonou para o DECLARANTE informando
que i r i a v i a j a r em companhia de MARCOS VALÉRIO e o
advogado ROC;ÉRIO TOLENTINO; Que a t é e n t ã o desconhecia
quem s e r i a o r e p r e s e n t a n t e d o PT na v iagem a P o r t u g a l ,
s e n d o q u e a c r e d i t a v a q u e s e r l a o p r ó p r i o DELÚBIO
SOARES; Q u e , realmente, EMERSON v ia jou para Portugal
no mesmo v60 de MARCOS VALÉRIO, sendo que os mesmos
sentaram lado a lado; Que EMERSON PALMIERI permaneceu
e m P o r t u g a l 2 ou 3 d i a s ; Q u e , enquanto esteve em
Portugal, EMERSON, em nenhum momento, t e l e fonou ou
.entrou em contato com o DECLARÃNTE; Q u e , a o r e t o r n a r
a o p a í s , EMERSON comentou com o DECLARANTE a r e s p e i t o
da v iagem; Que EMERSON a f i r m o u n ã o ter p a r t i c i p a d o d o
e n c o n t r o o c o r r i d o e n t r e MARCOS VALÉRIO e o P r e s i d e n t e
da P o r t u g a l TELECOM, MIGUEL HORTA, t e n d o permanec ido
na a n t e - s a l a ; Que, s egundo EMERSON, a P o r t u g a l TELECOM
i r i a r e a l i z a r n e g ó c i o s com a TELEMIG, s e n d o q u e
c a b e r i a a MARCOS VALÉRIO f a c i l i t a r o t r â m i t e d o
n e g ó c i o j u n t o a o Governo F e d e r a l ; Q u e , concretizado o
negócio, MARCOS VALÉRIO receberia uma comissão cuja
parcela poderia l i qu idar a s contas dos do i s part idos
(PT e PTB) ; Que, a o o u v i r o r e l a t o , p e r c e b e u que JOSÉ
DIRCEU e r a " p ó l v o r a molhada" , ou s e j a , não i r i a
, Inq 2 . 2 4 5 / MG
cumprlr o acordo; Que determinou que EMERSON PALMIERI
se a fa s ta s se de MARCOS VALÉRIO e dos demais
representantes do PT; Que nunca percebeu qualquer
relação de amizade entre MARCOS VALÉR10 e -0N
PALMIERI; Que o negócio envolvendo a Portugal TELECOM
nunca mais f o i t ra tado com o DECLARANTE ou com EMERSON
PALMIERI; ( . . . ) Que, em março ou abril de 2005,
DELÚBIO SOARES e JOSÉ GENOÍNO ligaram para o
DECLARANTE para que este recebesse MARCOS VALÉRIO; Que
acei tou se reun i r com MARCOS VALÉRIO na sede do PTB,
de cujo encontro também part ic ipou EMERSON PALMIERI;
Que, n e s t e encontro, MARCOS VALÉRIO propôs que o
DEC-TE interferisse junto ao presidente do IRB
para t i r a r o s recursos que o i n s t i t u t o mantinha em um
banco no e x t e r i o r e t r a n s f e r i s s e para o banco Esp í r i t o
Santo, em Portugal; Que e s s e s recursos seriam no
montante de 600 milhões de dólares; Que a aplicação
desses recursos no banco E s p i r i t o Santo renderia uma
comissão para MARCOS :VALÉR10 de 2% ao mês; Que MARCOS
VALÉRIO afirniou que par t e dessa comissão ser ia
repassada para o PT e o PIIB; Que achou estranho todo
aquele recurso que ser ia d i s p o n i b i l i z a d o por MARCOS
VALÉRIO, ou s e j a , "muito d inhe i ro com muita
fac i l idade" ; Que, en tão , l i g o u para JOSÉ GENOÍNO,
afirmando que achava que MARCOS VALÉRIO era um
" v i s i o n á r i o maluco"; Que JOSÉ GENOÍNO respondeu que o
DECLARANTE poderia a c r e d i t a r , p o i s MARCOS VALÉRIO era
" f i rme" ; Que não f e z qualquer gestão no IRB v i s a d o a
concret i zar a t rans ferência de recursos para o banco
E s p í r i t o Santo; Que não t e v e qualquer par t ic ipação no
repasse de recursos do PT para o ex-pres idente do P T B ,
@+ B u & u Inq 2 .245 / MG 0 1 2 0 7 3
JOSÉ CARLOS MARTINEZ; Que somente após o advento do
escândalo do mensalão tomou conhecimento do suposto
repasse de R$ 1 mllhão para JOSÉ CARLOS MARTINEZ,
conforme relação divulgada por MARCOS VALÉRIO; ( . . . ) realmente, ALEXANDRE CHAVES recebeu R$ 145 m i l em Belo
Horizonte para repassar para CACÁ MORENO, publlcitárlo
que prestou serviços para o PTB; ( . . . ) Que esses R$
145 mil repassados a CACÁ MORENO diziam r e s p e i t o a
par te da conta de R$ 520 m i l , contratada pe lo JOSÉ
CARLOS MARTINE2 e autorizada por DELÚBIO SOAREç; ( . . . )
As imputações pelo crime de lavagem de dinheiro
formuladas contra o denunciado Roberto Jefferson se referem a
dois saques realizados por intermédio de José Hertz, três
através de Alexandre Chaves e dois recebimentos de Marcos
Valério, acusado pelo Procurador-Geral da República como um dos
mentores do esquema de lavagem de dinheiro já analisado no
Capitulo IV desta decisão.
Quanto a EMERSON PALMIERI, o crime de lavagem de
dinheiro teria sido perpetrado também através de dissimulação e
ocultação da origem, localização e movimentação de valores
provenientes, supostamente, de crime, utilizando-se, para tal,
de José Hertz (três saques), Jair dos Santos (dois saques),
Alexandre Chaves (três saques) e dois recebimentos diretamente
de Marcos Valério.
@+&&H& Inq 2.245 / MG
0 1 2 0 7 5 N o que diz r e s p e i t o aos saques r e a l i z a d o s por José
Her t z , ele próprio confirmou, em seu depoimento, a narrativa
constante da denúncia, narrando, com detalhes, a sua ida às
agências do Banco do Brasil e do Banco Rural em Belo Horizonte,
bem como à sede da empresa SMP&B na mesma cidade (fls.
1333/1336, volume 6 ) :
"QUE o DECLARANTE é filiado ao Partido
Trabalhista Brasileiro; QUE, n a época dos f a t o s , o
DECLARANTE e r a f unc ionár io d o Gabine te d o Deputado
Federal ROMEU QüEIROZ, Presidente Estadual do PTB/MG e
2" Secretário da Executiva Nacional, tendo trabalhado
de fevereiro de 1999 a 30/06/2004; QUE concorreu à
candidatura de Prefeito Municipal do Município de
Jequitinhonha/MG, pelo PTB, nas eleições de 2004; QUE,
em 05/01/2004, o DECLARANTE recebeu unia l i g a ç ã o d e
EMERSON PALMIERI, e n t ã o S e c r e t á r i o Nacional do PTB, no
t e l e f o n e f i x o d o D i r e t ó r i o Reg iona l do PTB, ( . . . ) para
que procuras se a S r a . SIMONE VASCONCELOS na SMP&B em
B e l o Horizonte/MG; QUE o contato continuou por meio de
seu celular ( . . . ) ; QUE EMERSON PALMIERI comunicou a o
DECLARANTE que já h a v i a conversado com SIMONE
VASCONCELOS e o Deputado Federal ROMEU QüEIROZ; QUE a
finalidade da da do DECLARANTE à SMP&B seria b u s c a r
uma encomenda para o D i r e t ó r i o Nacional do PTB; QUE,
após ter t e l e f o n a d o para o c e l u l a r de SIMONE
VASCONCELOS, o DECLARANTE compareceu a s ede da SMP&B
em Belo Horizon te/MG; ( . . . ) QUE SIMONE VASCONCELOS
o r i e n t o u a o DECLARANTE para que este se d i r i g i s s e a
duas agênc ia s b a n c á r i a s , a saber , uma do Banco do
Inq 2 .245 / MG
Brasi l e outra do Banco Rural, ambas na c i d a d e d e B e l o
H o r i z o n t e / M G ; QUE a s s i m , o DECLARANTE se d i r i g i u
p r i m e i r a m e n t e a o Banco d o B r a s i l , Agênc ia Av.
Amazonas, na Aven ida Amazonas, 3 1 1 , Belo Hor izon te /MG;
QUE o DECLARANTE d e v e r i a p r o c u r a r p o r uma p e s s o a q u e
a c r e d i t a t e r s i d o o g e r e n t e , q u e l h e e n t r e g a r i a uma
encomenda; ( . . . ) QUE a o c h e g a r a o b a n c o , p r o c u r o u p e l o
f u n c i o n á r i o q u e SIMONE VASCONCELOS t e r i a i n d i c a d o para
a e n t r e g a da encomenda; ( . . . ) QUE r e c e b e u d o
f u n c i o n á r i o um e n v e l o p e d o Banco d o B r a s i l , sem
q u a l q u e r ~ n s c r l ç ã o ou r e f e r ê n c i a a v a l o r e s , f e c h a d o
com grampos; ( . . . ) QUE f icou surpreso com o
recebimento do pacote, que percebeu que s e tratava de
dinheiro; QUE, de imediato, te le fonou para EkERSON
PALMIERI em razão de achar estranho o recebimento de
valores em espécie , em envelope, tendo recebido como
resposta que mandaria imediatamente as passagens para
que o DECLARANTE v ia jasse a Brasi l ia para se r entregue
a ele, EMERSON PALMIERI; QUE o DECLARANTE n ã o c o n t o u o
numerário q u e r e c e b e r a d o f u n c l o n á r l o d o b a n c o , em um
p a c o t e f e c h a d o ; QUE deixou o pacote de dinheiro
guardado no Escri tór io Regional do PTB, em um co fre , e
se d i r ig iu a Agência do Banco Rural; ( . . . ) QUE
chegando a a g ê n c i a A s s e m b l é i a d o Banco Rura l , o
D e c l a r a n t e se d i r i g i u a um f u n c i o n á r i o i n d i c a d o p o r
SIMONE VASCONCELOS, t e n d o r e c e b i d o d e s t e um e n v e l o p e
s e m e l h a n t e a o p r i m e i r o , em i m p r e s s o d o Banco R u r a l ,
também l a c r a d o , em tamanho menor q u e o e n v e l o p e
r e t i r a d o n o Banco d o B r a s i l ; ( . . . ) QUE d e p o s s e d o s
d o i s p a c o t e s , tomou o v60 1804 , d e Pampulha /Be lo
Horizonte /MG para B r a s i l i a , h o r á r i o d a s 1 9 : O O h , na
@e &&&& Inq 2.245 / MG
0 1 2 0 7 7 mesma d a t a , ou s e j a , em 05/01/2004; QUE, chegando a
Brasília/DF, foi recebido no aeroporto pelo D r .
EMERSON PALMIERI, que identificou o DECLARANTE pelo
celular, uma vez que não o cõnhecia; ( . . . ) QUE o
DECLARANTE e EMERSON PALMIERI adentraram no v e í c u l o
d e s t e ú l t i m o , conduzido por um motor i s ta ; ( . . . ) QUE,
ainda no v e í c u l o , o DECLARANTE f e z a entrega dos d o i s
pacotes , lacrados , ao S r EMERSON PALMIERI, pe lo espaço
que separa os d o i s bancos d l a n t e l r o s ; QUE o S r .
EMERSON PALMIERI não abriu os pacotes e , de imediato,
ligou para o Deputado Federal ROBERTO JEEFERSON e fez
o seguinte comentário: ' -assunto resolvido' ( . . . ) "
Relativamente aos t r ê s saques de Alexandre Chaves,
e s s e s também e s t ã o respaldados por i n d í c i o s cons tantes dos
au tos , e i s que, como v i s t o , o denunciado Roberto J e f f e r s o n
confirmou que CHAVES e f e t u o u o saque de R$ 145.000,00, datado de
18/12/2003. O seguin te t r e c h o do depoimento de Emerson Eloy
Palmieri também corrobora o t e o r d a i n i c i a l acusatór ia ,
confirmando a e x i s t ê n c i a de d o i s ou tros saques, em e s p é c i e , por
CHAVES , incumbido de repassar o d inhe i ro aos seus r e a i s
b e n e f i c i á r i o s :
( ) QUE o saque referente ao dia
19/12/2003, na verdade se refere a um saque de R$ 145
mil datado de 18/12/2003, recebido por ALEXANDRE
CHAVES em Belo Horizonte/MG, para pagamento de
programa de t e l e v i s ã o do P T B , sendo repassado a CACA
MORENO, responsável pela produção do programa na data
do recebimento, em BH/MG; QUE o terceiro e quarto
Inq 2.245 / MG
valores devem se referir à lista apresentada por
SIMONE VASCONCT~LOS, com um erro de datilografia na
data, sendo datas corretas 07/01/2004 e 14/01/2004,
ambos no valor de R$ 100 mil, recebidos por ALEXANDRE
CHAVES na Agência Brasilia do Banco Rural para sua
filha PATRICIA, conforme ;lá explicado acima; ( . . . ) "
Como se vê, além dos R$ 145.000.00 sacados em
18/12/2003, há fortes indícios do recebimento, por parte dos
acusados ROBERTO JEFFERSON e EMERSON PALMIERI. de duas outras
remessas, no valor de R$ 100.000,OO cada, nos dias 07 e 14 de
janeiro de 2004.
Quanto às duas parcelas de R$ 100.000,00, o
recebimento das mesmas está demonstrado nos documentos de fls.
52v. e 65v, inclusive com a assinatura de Simone Reis Lobo de
Vasconcelos, como já foi anteriormente assinalado.
Relativamente aos saques efetuados por JAIR DOS
SANTOS, com efeito, consta de fls. 423 documento datado de
18.09.2003, consistente em autorização de saque do valor de R$
200.000,00, em nome de Jair dos Santos, sendo certo que as flsf.
424 consta a cópia de seu documento de identidade.
Às fls. 609, consta outra autorização para Jair dos
Santos, inclusive acompanhada do cheque emitido pela SMP&B para
viabilizar o saque da quantia de R$ 100.000,00, na data de R$
23.09.2003.
cdgfkzw B&&& Inq 2.245 / MG
Por fim, no que concerne as duas remessas de dinheiro
feitas diretamente por MARCOS VALÉRIO, além de confirmadas pelo
próprio denunciado ROBERTO JEFFERSON, como já lido, também o
depoimento de Emerson Elloy Palmieri (fls. 3573) corrobora o
teor da denúncia:
8 , ( . . . ) QUE ROBERTO JEEWZRSON recebeu pelo
PTB o valor t o t a l de R$ 4 milhões, em duas parcelas,
sendo a primeira em f i n s de junho, no valor de R$
2.200.000,OO e a segunda na primeira semana de julho
de 2004, no valor de R$ 1.800.000,OO; QUE em ambas as
ocasiões se encontravam na sa la da presidência do PTB,
ROBERTO JEFFERSON e MARCOS VALÉRIO, tendo sido
convidado a par t ic ipar da reunião por ROBERTO
JEFJX'RSON, sendo que, guando entrou na sala do
presidente do PTB, o numerário j á se encontrava sobre
a mesa, envolto em etiquetas do BANCO DO BRASIL e
BANCO RURAL; (. . . ) "
Do teor dos depoimentos acima transcritos, e dos
documentos constantes dos autos, res ta claro que os fatos
relatados na denúncia encontram respaldo nos dados colhidos
durante a s investigações, o que se mostra suficiente a
instauração da ação penal para o prosseguimento da persecuçáo
penal. Neste sentido, é emblemático o fa to de o denunciado
Roberto Jefferson confirmar o recebimento de R$ 4.000.000,00, e
se recusar a dizer quem foram as pessoas beneficiadas com o
recebimento de frações deste valor
@ig?kmw c&z&&U Inq 2.245 / MG
(312080
Por outro lado, ROBERTO JEFFERSON também afirma ter
sido informado pelo Sr. José Carlos Martinez (já falecido)
acerca do repasse de recursos aos partidos da base aliada ao
Governo, embora diga ter recusado a oferta.
O recebimento de enormes quantias em dinheiro de um
partido político (PT), por parlamentares de um outro partido
político (PTB), de origem obscura e destino ignorado, não se
justifica pela simples declaração de que o dinheiro é "para
despesas de campanha"
Aliás, é importante notar que, em todos os casos
descritos nas denúncias de corrupção passiva, os acusados tendem
a afirmar que os valores transferidos aos partidos visavam ao
pagamento de dívidas de campanha, não apontando, contudo, um
fornecedor sequer que teria recebido tais recursos de seus
partidos.
Um indicio de que tal afirmação não pode ser
considerada absolutamente verdadeira, ao menos por ora, é o
depoimento do ex-Tesoureiro do Banco Rural em Brasilia, JOSÉ
FRANCISCO DE ALMEIDA REGO, que salientou o seguinte (fls. 560,
volume 3 dos autos):
Que, outro caso que o reinquirido se
recorda é o de um Deputado, cujo nome não se lembra,
que também foi indicado para receber numerários
advindos da SMP&B, os quais, após sacados, foram
repassados por meio de DOCs (Documento de Crédito)
fl&&& Inq 2.245 / MG
para diversas pessoas cujos sobrenomes eram iguais ao
do Deputado.
De qualquer maneira, entendo que ,este fato não é
relevante para efeitos de recebimento da denúncia,
principalmente porque a destinação dada pelos acusados aos
recursos recebidos seria, ao menos em tese, mero exaurimento dos
crimes anteriores, in casu, crimes ,de corrupção passiva e
lavagem de dinheiro.
É certo que -há, ainda, muitos pontos obscuros, mas
estes, a meu ver, devem ser elucidados no curso da ação penal a
ser instaurada, mediante a competente instrução probatória e
observando ao devido processo legal. Isto porque, a gravidade
dos fatos narrados na inicial, aliada à presença de fortes
indicios corroborando as imputações, aponta no sentido da
necessidade de prosseguimento da persecução penal, agora na sua
fase judicial, a fim de que seja apurada a ocorréncia, ou não,
dos ilícitos penais sob exame.
Do exposto, Senhora Presidente, é ,possível, com base
nos depoimentos antes citados, afirmar a existência de indícios
das práticas criminosas narradas na denúncia, por parte de
ROBERTO JEFFERSON e EMERSON PALMIERI, tanto no que diz respeito
a corrupção passiva como em relação a Lavagem de dinheiro, uma
vez que foram utilizados, supostamente, os mecanismos que o
Procurador-Geral da República afirma terem sido disponibilizados
@$2k7.?w &&&& Inq 2.245 / MG 0 1 2 0 8 2
por integrantes da SMP&B e pelo Banco Rural, para viabilizar a
ocultação e dissimulação da origem, localização e movimentação
de valores em espécie.
ANDERSON ADAUTO - corrupção ativa
Ao denunciado ANDERSON ADAUTO foi imputada a prática
do delito previsto no artigo 333 do Código Penal (corrupção
ativa), por duas vezes. Sua conduta foi narrada nos seguintes
termos (fls. 5727, vol. 27):
"Em dezembro de 2003, Roberto JefferSon
manteve contato com Romeu Queiroz, Secretário do PTB,
para que este retomasse os mecanismos estruturados
durante a gestão de José Carlos Martinez para obtenção
de recursos financeiros. Romeu Queiroz procurou o
então Ministro Anderson Adauto, o qual manteve
entendimentos com Delúbio Soares, que se prontificou a
retomar as transferências através da empresa W & B , o
que de fato ocorreu, nos termos abaixo narrados.
Registre-se que o denunciado Anderson
Adauto, como será descrito no tóplco seguinte, tlnha
pleno conhecimento do esquema de compra de apoio
.político pelo PT, razão pela qual intermediou o acerto
criminoso (corrupção) com os Deputados Federais
Roberto Jefferson e Romeu Queiroz do PTB."
Em seu depoimento, o denunciado Anderson Adauto
confirma o contato feito com Romeu Queiroz, negando, porém, que
&- &&NU Inq 2 .245 / MG
012083
t enha in termediado o acordo de r epas se de r ecur sos pe lo PT ao
P T B ( £ 1 ~ . 3565-3567, volume 16):
" (. . .) QUE conheceu MARCOS VALÉRIO na
campanha d e 1998; Que a agência de p u b l i c i d a d e SMP&B
f o l a responsáve l pe la c r i a ç ã o d e ma t e r i a 1 g r á f i c o nas
campanhas para Deputado Es tadua l , e m 1998, e Deputado
Federa l , e m 2002; ( . . . ) Que s a i u da campanha d e 2002
com uma d í v i d a que não se recorda o v a l o r no momento
( . . . ) ; Que, ao assumir o Ministério dos Transpor t e s e m
j a n e i r o de 2003, t e n d o c o n t r a í d o d í v i d a não sa ldada d e
campanha e l e i t o r a l , r e s o l v e u p rocurar o T e s o u r e i r o d o
P a r t i d o M a j o r i t á r i o n a c o l i g a ç ã o para a judá - lo n a
q u i t a ç ã o d o d é b i t o e l e i t o r a l penden te ; Que e s t e v e com
D E L ~ B I O SOARES pessoa lmente , em Brasi l ia-DF; ( . . . )
comentou com o Deputado Federal do PTB/MG ROMEU
QüEIROZ d o c o n t a t o r e a l i z a d o com DELÚBIO SOARES no
s e n t i d o de s a l d a r os d é b i t o s c o n t r a í d o s n a campanha
e l e i t o r a l d e 2002; QUE ROMEU QUEIROZ f e z menção de
procurar DELÚBIO SOARES para r e s o l v e r suas pendências
e l e i t o r a i s , não sabendo s e o Deputado rea lmente o
procurou ou se conseguiu r e s o l v e r o problema que t i n h a
encaminhado ao d e c l a r a n t e como M i n i s t r o dos
Transpor t e s ; QUE a f i rmou ao Deputado ROMEU QUEIROZ que
não poder ia e nem t e r i a como a judá - lo na r e so lução das
d i v i d a s e l e i t o r a i s do PTB m i n e i r o ; Que o deputado
f e d e r a l ROMEU QUEIROZ era p r e s i d e n t e do PTB em Minas
Gera i s ; ( . . . ) "
Por sua v e z , o Deputado Federal ROMEU QUEIROZ, acusado
da p r á t i c a dos cr imes de corrupção p a s s i v a e lavagem de
fl 'i'
&+ flu&u Inq 2 .245 / MG
012084
dinhe i ro , corroborou, em seu depoimento, os termos da imputação
feita contra Anderson Adauto na denúncia, in verbis (fls. 2126,
volume 10 dos autos):
,\ ( . . . ) QUE em dezembro de 2003, f o i
contactado pe lo então Presidente do PTB, Deputado
Roberto Je f f e r son , na condlção de segundo secretário
do Partido, para que angariasse recursos para a
agremlação política; QUE dlante do pedldo do Deputado
Roberto Jefferson, procurou o então Ministro dos
transportes ANDERSON ADAUTO em seu gabinete, para quem
formulou a so l i c i t ação de recursos; QUE cerca de do i s - ou três d ia s após e s t a reunião, o ex-Ministro entrou
em contato com o declarante esclarecendo que t inha
mantido entendimentos com o então Tesoureiro do PT,
Sr . DELÚBIO SOARFç, e que este por sua vez se colocou
a disposição para d i spon ib i l i za r recursos do PT
através da empresa SMP&B PUBLICIDADE; Que estes
recursos seriam liberados em janeiro do ano seguinte,
ou seja, em Ianelro de 2004; Que o ex-Ministro
ANDERSON ADAUTO d i s s e , na oportunidade, que o s valores
l iberados seriam na ordem de R$ 300.000,OO (trezentos
mll reais); ( . . . ) " .
Com efeito, merecem apuração mais profunda os fatos
descritos no subitem b do item VI.3, em face da existência de
indícios de que o denunciado Anderson Adauto teria, realmente,
participado do oferecimento ou promessa de vantagem indevida a
funcionários públicos (parlamentares federais Roberto Jefferson
&+ fl&@U Inq 2.245 / MG
OiSOSr,
e Romeu Queiroz), para determiná-los a praticar ato de oficio
(votar a favor de projetos de interesse do governo federal).
Desta forma, presente a prova mínima de autoria e
materialidade do delito do artigo 333 do CP, recebo a denúncia
formulada contra ANDERSON ADAUTO.
ROMEU QUEIROZ - corrupção passiva e lavagem de
dinheiro
O denunciado Romeu Queiroz teria, igualmente,
utilizado o suposto esquema de transferência de valores do grupo
de Mãrcos Valério para o PTB, assim praticando, em tese, os
delitos de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, através do
recebimento, especificamente, da quantia de R$ 102.812,76, na
data de 31/08/2004, conforme demonstrado pelos documentos de
fls. 196/197 do Apenso 05.
Há, nos autos, fortes indícios da ocorrência de tais
delitos.
Ao prestar depoimento, o denunciado Romeu Queiroz,
além de admitir os saques realizados por José Hertz, esclarece
como teria ocorrido o saque realizado por Paulo Leite:
. . . QUE em agosto de 2004 recebeu um
contato telefônico do Sr. CRISTIANO PAZ, sócio de
Marcos Valério na SMPbB PüBLICIDADE; QUE CRISTIANO PAZ
era o presidente da empresa; QUE neste contato
I
Inq 2.245 / MG
CRISTIANO PAZ disse ao dec larante que a empresa
USIMINAS t i n h a d i s p o n i b i l i z a d o R$ 150.000,OO (Cento e
Cinqüenta M i l Reais ) de doação para d i v e r s a s campanhas
e l e i t o r a i s mun ic ipa i s , de i n t e r e s s e do PTB; QUE esses
r e c u r s o s foram d e s t i n a d o s para d i v e r s o s c o o r d e n a d o r e s
d e campanhas p o l í t i c a s e m v i n t e municípios d o E s t a d o
d e Minas G e r a i s ; QUE esses recursos não foram
con tab i l i zados p e l o PTB, j á q u e foram t r a n s f e r i d o s
d i r e t a m e n t e da SMP&B para os c a n d i d a t o s d o s d i v e r s o s
m u n i c í p i o s d e Minas G e r a i s ; QUE n ã o u t i l i z o u nenhuma
q u a n t i a da doação da USIMINAS; QUE, n a q u e l a é p o c a , n ã o
d i s p u t a v a q u a l q u e r manda to e l e t i v o , a g i n d o a p e n a s como
um d i r i g e n t e partidário; QUE d o s R$ 150.000,OO doados
p e l a USIMINAS, foram d e s c o n t a d o s p e l a SMP&B a
~ m p o r t â n c l a d e R$ 47 .187 ,24 ( Q u a r e n t a e se te m l l e
c e n t o e o i t e n t a e se te R e a i s e v i n t e e q u a t r o
c e n t a v o s ) , a t í t u l o d e i m p o s t o s e t a x a s ; QUE, p o r t a n t o
o S r . PAULO LEITE MINES recebeu no Banco Rural a
quant ia de R$ 102.812,76; QUE f o i o dec larante que
d e c i d i u a des t inação dada aos recursos sacados p e l o
S r . PAULO LEITE MINES, doados pe la USIMiNAS; ( . . . ) Que
PAULO L E I m NUNES se d i r i g i u ao Banco Rural or ien tado
p e l o dec larante , d e posse d e uma l i s t a g e m parc ia l de
pessoas que receberiam p a r t e dos v a l o r e s sacados,
e n t r e g u e p e l a s e c r e t á r i a do d e c l a r a n t e ; Que PAULO
LEITE NUNES r e c e b e u o s v a l o r e s n o Banco e , em v i r t u d e
d e n ã o d e s e j a r l e v a r o d i n h e i r o para o e s c r i t ó r i o d o
PTB, p o r m o t i v o d e s e g u r a n ç a , d e c i d i u , n a q u e l a mesma
o p o r t u n i d a d e , e f e t u a r o s T E D s a ra o s b e n e f i c i á r i o s
c o n s t a n t e s da l i s t a g e m que p o s s u i a ; Que PAULO LEITE
n ã o p o s s u í a a l i s t a g e m c o m p l e t a d o s b e n e f i c i á r i o s que
&+feno fl&&& Inq 2 .245 / MG O12087
deverlam receber t a i s recursos , razão pela q u a l en t rou
em con ta to com a s e c r e t á r i a do dec laran te e s o l i c i t o u
o número da conta c o r r e n t e do mesmo; Que, sem sua
aquiescência , PAULO depos i tou R$ 50.000,OO (cinqúenta
mil r e a i s ) , a t r a v é s do TED no 0902033 na conta
c o r r e n t e pessoal do dec laran te no Banco Bradesco
. . . ) ; Q u e , perguntado o por quê de o S r . PAULO LEITE
NUNES ter levado ao e s c r i t ó r i o do dec larante o v a l o r
de R$ 18.000,OO ( d e z o i t o m i l r e a i s ) em e s p é c i e ao s a i r
do Banco Rural , não deposi tando t a l quant ia como f e z
com o s R$ 50.000,00, que não sabia para onde deveriam
ser encaminhados, respondeu que PAULO LFI'iZ NUNES i r i a
d e p o s i t a r esses R$ 18.000,OO em um ou t ro banco
próximo, c u j o nome não se recorda, o que não ocorreu,
mot ivo p e l o qual o mesmo r e t o m o u ao e s c r i t ó r i o do PTS
levando o r e c i b o do d e p ó s i t o de R$ 50.000,OO e cerca
de R$ 18.000,OO em e s p é c i e ; Que, melhor esclarecendo,
PAULO LEITE NUNES e f e t u o u TEDs no Banco Rural no
montante de R$ 34.500,00, depos i tou R$ 50.000,OO na
conta pessoal do dec larante , pagou taxas de TEDs e
DOCs ao Banco Rural na quant ia de R$ 96,OO e s a i u da
agência com R$ 18.000,OO -para serem deposi tados em
ou t ras agências próximas, o que não foi fe i to naquela
oportunidade; Que a secretária do dec larante , ao
receber as TEDs e os recursos em espéc ie , complementou
as t rans ferênc ias dadas pe lo declarante; ( . . . ) Que é
amigo de PAULO LEITE NUNES, tendo o conhecido quando
trabalhava no banco MINAS CAIXA, há mais de t r i n t a
anos; Que PAULO LEITE NUNES não é funcionário do PTB
nem do dec larante , mas é um colaborador do par t ido e
constantemente p r e s t a colaboração aos f i l i a d o s do PTS
@ g &&&& Inq 2.245 / MG 0 1 2 0 8 8
em Minas Gerais; Que indicou a pessoa de PAULO LEITE
NUNES para receber os valores mencionados acima, no
Banco Rural, ao Sr. CRISTIANO PAZ; ( . . . ) Que deseja
consignar, por fim, que o TED efetuado pelo Sr. PAULO
LEX!l'E NUNES para o declarante teve como emitente a
empresa SMP&B, em virtude de o Sr. PAULO LEITE não ser
cliente do Banco Rural, o que o impossibilitaria de
emitir o TED, e que, instruído por um funcionário do
Banco Rural, preencheu o formulário utilizando o nome
da SMP&B como emitente daqueles recursos."
A comprovação material do saque no valor de R$
102.812,76, efetuado por Paulo Leite Nunes, consta as fls. 196-
197 do apenso no .05.
Às fls. 197, consta cópia do cheque de R$ 102.812,76,
nominal a SMP&B Comunicação L'i'DA, assinado por Cristiano de Me10
Paz, na qualidade de representante legal da emitente (SMPLB
Comunicação Ltda.) bem como a cópia da cédula de identidade de
Paulo Leite Nunes.
Assim, considero que o depoimento acima transcrito
demonstra a existência de indícios minimos a corroborarem os
termos da denúncia, no sentido da prática, em tese, pelo
denunciado ROMEU QUEIROZ, dos crimes de corrupção passiva e
lavagem de dinheiro.
&e NU&& Inq 2.245 / MG 612C89
Do exposto, Senhora Presidente, também em relação a
este acusado, considero que a denúncia deve ser recebida, dando,
assim, inicio a competente ação penal.
Em resumo a este capitulo, destaco que constam nos
autos, além dos depoimentos transcritos nesta decisão, diversos
documentos contendo autorizações de saques e cheques da SMP&B
Comunicações (apensos 05 a 07), o que demonstra a existência de
prova minima no sentido do recebimento de valores (corrupção
passiva) e da utilização de artifícios para dissimular o
destino, movimentação e origem dos recursos postos em circulação
pelo suposto esquema de corrupção (utilização de intermediários
e de pagamentos em espécie), em atitude em tese tipica de
lavagem de capitais.
Do exposto, recebo a denúncia em relação aos seguintes
denunciados:
- Roberto Jefferson, pela suposta prática dos crimes
de corrupção passiva (art. 317 do CP, e lavagem de dinheiro
(artigo I", incisos V, VI e VII, da Lei no 9.613/1998, 7 [sete]
vezes, sendo dois saques de José Hertz, três de Alexandre Chaves
e dois recebimentos de Marcos Valéria);
- Emerson Palmieri, pela suposta prática dos crimes de
corrupção passiva (art . 317 do CP) e lavagem de dinheiro (artigo
1°, incisos V, VI e VII, da Lei no 9.613/1998, 10 [dez] vezes,
sendo três saques de José Hertz, dois saques de Jair dos Santos,
@ $ . fl&&& Inq 2 .245 / MG 0 1 2 0 9 0
três saques de Alexandre Chaves e dois recebimentos de Marcos
Valério)
- Romeu Queiroz, pela suposta prática dos crimes de
corrupção passiva (art. 317 do C P ) e lavagem de dinheiro (artigo
l0, incisos V, VI e VII, da Lei no 9.613/1998, 4 [quatro] vezes,
sendo três saques de José Hertz e um de Paulo Leite);
- Anderson Adauto, pela suposta prática do crime de
corrupção ativa (art. 333 do CP).
c&gf@mw NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
VI.4 - PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO - DEPUTADO JOSÉ BORBA
No i t e m V I . 4 , a denúncia aborda o s . f a t o s r e l a t i v o s ao
Par t ido Movimento Democrático B r a s i l e i r o , i n i c i a n d o nos
s e g u i n t e s t e rmos :
Por meio de acordo f irmado com José Dirceu ,
Delúbio Soares , José Genoíno e S í l v i o Pere i ra , o e n t ã o
Deputado Federal José Rodrigues Borba, no ano de 2003,
também i n t e g r o u o esquema de corrupção em t roca de
apo io p o l í t i c o .
L í d e r da bancada do PMDB na Câmara dos
Deputados, [BORBA] mantinha c o n s t a n t e s c o n t a t o s com
Marcos V a l é r i o por cons ide rá - lo "uma pessoa i n f l u e n t e
no Governo Federa l" , a quem r e c o r r i a para r e f o r ç a r
s e u s p l e i t o s de nomeação d e cargos j un to à
admin i s t ração p ú b l i c a .
Segundo in formação d e Marcos V a l é r i o , José
Borba f o i b e n e f i c i a d o com v a l o r e s na ordem de 3 2.100.000,00, med ian te pagamentos e f e t u a d o s , no
esquema d e lavagem j á narrado , nas s e g u i n t e s d a t a s :
16/09/2003 - R$ 250.000,OO; 25/09/2003 - R$
250.000,OO; 20/11/2003 - R$ 200.000,OO; 27/11/2003 -
R$ 200.000,OO; 04/12/2003 - R$ 200.000,OO; e
05/07/2004 - R$ 1.000.000,00.
Ciente da origem ilícita dos recursos
(organização cr iminosa vo l t ada para a p r á t i c a d e
cr imes con t ra a admin i s t ração púb l i ca e contra o
s i s t ema f i n a n c e i r o n a c i o n a l ) , bem como dos mecanismos
B&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
de lavagem empregados para a transferência dos
va lores , José Borba atuou para não receber diretamente
o dinheiro, de forma a não deixar qualquer r a s t r o de
sua part icipação no esquema.
N o e n t a n t o , f i c o u comprovado o pagamento d e
uma d a s p a r c e l a s d i s p o n i b i l i z a d a s p e l o grupo d e Marcos
V a l é r i o , n o v a l o r d e R$ 2 0 0 . 0 0 0 , 0 0 , a o e x Deputado
Federa l J o s e Borba , que r e c e b e u esse d i n h e i r o d a s mãos
d e S imone V a s c o n c e l o s .
Nessa o c a s i ã o , o p r ó p r i o J o s é Borba
compareceu na a g ê n c i a d o Banco R u r a l em B r a s i l i a e
p r o c u r o u o e n t ã o T e s o u r e i r o d o Banco Rura l em
B r a s í l i a , J o s é F r a n c i s c o d e A lme ida para a e n t r e g a d o
d i n h e i r o , o q u e f o i c o n f i r m a d o p o r Simone V a s c o n c e l o s .
T o d a v i a , José Borba recusou-se a assinar
qualquer documento que comprovasse o recebimento da
i q o r t â n c i a acima, f a z e n d o com q u e Simone V a s c o n c e l o s
se d e s l o c a s s e a t é e s s a a g ê n c i a , r e t i r a s s e , m e d i a n t e a
sua p r ó p r i a a s s i n a t u r a , a q u a n t i a acima i n f o r m a d a , e
e f e t u a s s e a e n t r e g a d e s s e n u m e r á r i o a o e n t ã o
p a r l a m e n t a r .
Para i l u s t r a r o a p o i o p o l í t i c o d o grupo d e
p a r l a m e n t a r e s d o P a r t i d o Movimento Democrá t i co
B r a s i l e i r o a o Governo. F e d e r a l , na s i s t e m á t i c a acima
n a r r a d a , d e s t a c a m - s e a s a t u a ç õ e s d o Par lamen tar J o s é
Borba na a p r o v a ç ã o da r e f o r m a da p r e v i d ê n c i a (PEC
40 /2003 , na s e s s ã o d o d i a 2 7 / 0 8 / 2 0 0 3 ) e da r e f o r m a
t r i b u t á r i a (PEC 4 1 / 2 0 0 3 , na s e s s ã o d o d i a 2 9 / 0 9 / 2 0 0 3 ) .
@- Ba&& Inq 2.245 / MG
Tais fatos serviram de base para a imputação do crime
de corrupção passiva (artigo 317 do Código Penal), contra o
denunciado José Borba
Conforme consta da inicial acusatória, o denunciado
José Borba teria recebido recursos do grupo do denunciado Marcos
Valério, sendo certo que em determinada ocasião o denunciado
teria recebido a quantia de R$ 200.000,OO em dinheiro, das mãos
da também denunciada Simone Vasconcelos.
O recebimento de tais valores teria como contrapartida
a concessão de apoio político nas matérias de interesse do
Governo Federal.
O tesoureiro da agência Brasília do Banco Rural, JOSÉ
FRANCISCO DE ALMEIDA REGO, citado na denúncia, prestou
depoimento nos seguintes termos (fls. 559 /560 , volume 3)
"Que o reinquirido saiu para almoçar e
somente retornou por volta das 1 3 : 3 0 horas; QUE, neste
momento, solicitou a identificação da pessoa que ia
sacar os valores para confrontar com os dados contidos
no fax recebido na Agenda Assembléia do Banco Rural,
oportunidade em que o mesmo apresentou a carteira
funcional de Deputado Federal, sendo solicitado,
então, o documento para extração de cópia, porém o
Deputado Federal, de nome JOSÉ BORBA, não permitiu a
extração de cópia e se recusou a assinar o rec ibo do
va lo r a e l e destinado; Que, diante da negativa do
Deputado JOSÉ BORBA em permitir a extração da cópia do
documento de identificação, fez contato com a Agência
&*&&H& Inq 2 .245 / MG
01203
A s s e m b l é i a d o Banco R u r a l , em B e l o H o r i z o n t e , e f a l o u
com o G e r e n t e d a q u e l a a g ê n c i a e l h e e x p ô s o f a t o ; Que
o G e r e n t e d i s s e q u e o r e i n q u i r i d o t e r i a tomado a
d e c i s ã o c o r r e t a d e n ã o e f e t u a r o pagamento e que i r i a
e n t r a r em c o n t a t o com a empresa SMP&B para t r a t a r d o
a s s u n t o ; Q u e , l o g o a p ó s , o g e r e n t e r e t o r n o u a l i g a ç ã o ,
d i z e n d o q u e uma pessoa e s t a r i a i n d o à agênc ia d o Banco
R u r a l / B r a s í l i a r e s o l v e r o problema, o r i e n t a n d o o
r e i n q u i r i d o a r a s g a r o f a x anteriormente r e c e b i d o em
nome do S r . JOSÉ BORBA, p o i s s e r i a mandado um o u t r o
f a x em nome da p e s s o a q u e s e r l a a r e s p o n s á v e l pelo
s a q u e ; Que t a l pessoa chegou após o encerramento d o
e x p e d i e n t e b a n c á r i o para o p ú b l i c o , permanecendo o S r .
José Borba na Agência , aguardando o de senro la r d o s
f a t o s ; QUE compareceu na agenda para e f e t u a r o saque a
S r a . SIMONE VASCONCELOS, que a s s i n o u o recibo e
a u t o r i z o u a e n t r e g a d o numerário ao ~ r . JOSÉ BORBA;
QUE o v a l o r ~ n d i c a d o n o f a x da SMP&B e r a d e
R$200.000,00, porém não se recorda se o v a l o r f o i
en t r e g u e i n t e g r a l m e n t e ao Deputado Federal JOSE
BORBA; QUE não f i c o u nada r e g i s t r a d o da operação em
nome d o deputado JOSÉ BORBA, v is to que f o i env iado
novo f a x i nd i cando como re sponsáve l p e l o saque a Sr.'
Simone Vasconce los ; Q u e , o u t r o c a s o que o r e l n q u i r i d o
se r e c o r d a é o d e um Deputado, c u j o nome não se
lembra, que .também f o i i n d i c a d o para receber
numerários adv indos da SMP&B, os q u a i s , após sacados ,
foram repassados por me io d e DOCs (Documento d e
C r é d i t o ) para d i v e r s a s pe s soas c u j o s sobrenomes eram
i g u a i s a o do Deputado.
@*&a&& Inq 2.245 / MG
Para além d i s t o , a funcionária da S M P & B , ELIANE ALVES,
in formou, em seu depoimento de f l s . 615/618 (volume 3 ) que "tem
conhecimento de que o D e p u t a d o F e d e r a l JOSÉ BORBA esteve na
empresa SME'&B c o m MARCOS ~ V U J ~ I O " .
Por sua v e z , ROBERTO BERTHOLDO, ex-Assessor do acusado
na l iderança do PMDB e seu advogado por mais de o i t o anos,
af irmou em seu depoimento ( f l s . 4556/4561, volume 2 1 ) :
Que, nega a acusação de que era o "homem da
m a l a " do PMDB; Que, de f a t o , o grupo de deputados que
s is tematicamente apoiava os p r o j e t o s de i n t e r e s s e do
governo era de aproximadamente 57 deputados; Que o
apoio d e s t e s parlamentares era obt ido mediante
ar t i cu lação p o l í t i c a do ex-Deputado JOSÉ BORBA,
a t ravés da democratização da par t ic ipação de todos os
parlamentares nas dec i sões da l iderança do par t ido ;
(. . .) Que, em relação a DELUBIO SOARES, conheceu t a l
t e s o u r e i r o em loca l que não s e recorda, apresentado
por JOSÉ BORBA; Que se encontrou com D E L ~ B I O SOARES
quatro ou c inco v e z e s , t a n t o em B r a s í l i a como em São
Paulo; (. . . ) Que todas a s ve zes que s e encontrou com
DELÚBIO, o ex-Deputado JOSÉ BORBA também estava
presente; Que, na verdade, o dec larante acompanhava
JOSÉ BORBA nesses encontros por s e r seu assessor;
I - .!
Em seu depoimento, o acusado J O S É BORBA af irmou o
seguin te ( f l s . 3548/3551, volume 1 6 ) :
Que se recorda de t e r conversado com MARCOS
VALLÉRIO na Câmara dos Deputados, em um encontro
ocorrido ocasionalmente; Que e s t e encontro durou
aproximadamente 5 minu t o s , oportunidade em que MARCOS
ViILlh10 af irmou que poderia a judar o DECLARANTE em
ques tões no Governo Federal; (. . . ) Que, n e s t e
encontro, MARCOS VALÉRIO afirmou que possuía bons
relacionamentos no Governo Federal ; Que MARCOS VALÉRIO
não e s p e c i f i c o u e m qual s e t o r ou área possuía
i n f l u ê n c i a s , bem como quais membros do Governo Federal
conhecia; Que o dec larante também não f e z qualquer
questlonamento a e s t e r e s p e i t o ; Que tomou conhecimento
de que MARCOS VALÉRIO era uma pessoa i n f l u e n t e no
Governo Federal a t r a v é s d e conversas comuns com
parlamentares; Que não sabe prec i sar qua i s o s
parlamentares que lhe informaram das re lações que
MARCOS vALÉRIo possu ia no Governo Federal; ( . . . ) Que
procurava a C a s a C i v i l para t r a t a r dos espaços no
Governo Federa1 a serem ocupados nos Estados; Que,
como i n t e g r a n t e da base aliada, buscava nomear
corre l ig ionár ios para cargos de confiança de órgãos do
Governo Federal, t a i s como FUNASA, ANATEL, DNIT,
ELETROSUL, den t re ou t ros ; Que percebeu que o Governo
Federa1 t lnha por p o l í t l c a nomear para os cargos de
confiança somente i n t e g r a n t e s do Partldo dos
Trabalhadores; ( . . . ) Que, tendo em v i s t a o não
atendimento de seus p l e i t o s p e l o Governo Federal, o
DECL?IR?LNZ'E começou a buscar ou t ros canais de
negociação; Que, d e n t r e esses canais , pode c i t a r o
própr io MARCOS vALÉRIo; Que procurou MARCOS VALÉRIO
para t e n t a r r e f o r ç a r os p l e l t o s de nomeação junto ao
Governo Federal; Que r e a l i z o u algumas l igações
t e i e f ô n i cas para MARCOS VALÉRIO, para r e f o r ç a r os
@+NU&& I n q 2.245 / MG 6 1 2 0 9 7
p e d i d o s d e nomeação; ( . . . ) Que a c r e d i t a v a q u e MARCOS
VALÉRIO p o d e r i a a j u d a r o DECLARANTE n e s t e s e n t i d o ; Que
n ã o t i n h a c o n h e c i m e n t o d a s a t i v i d a d e s e m p r e s a r i a i s
d e s e n v o l v i d a s p o r MARCOS VALÉRIO; Que desconhec ia
q u a i s empresas eram v i n c u l a d a s a MARCOS VALÉRId2; Que
somente após a d i vu lgação d o escândalo do "Mensalão"
f o i que o DECLARANTE tomou conhecimento d a s empresas
v i n c u l a d a s a MARCOS KUÉRIO; Que também procurou por
DELÚBIO SOARES para t e n t a r ver a t e n d i d o s s e u s p l e i t o s
n o Governo F e d e r a l ; Que f i c o u c l a r o para o DECLARANTE
q u e DELÚBIO SOARES e r a uma p e s s o a q u e p o s s u í a g r a n d e
i n f l u ê n c i a n o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s ; Que sempre se
encon trava com MARCOS -10 n a Câmara dos Deputados;
( . . . ) Que já esteve na a g ê n c i a d o Banco Rura l
l o c a l i z a d a n o E d i f í c i o B r a s í l i a Shopp ing em d u a s
o c a s i õ e s ; Que f o i à agênc ia B r a s i l i a d o Banco Rural
para t e n t a r se e n c o n t r a r com MARCOS VALÉRIO; Que o
p r ó p r i o MARCOS VALÉRIO a f i r m o u para o DECLARANTE q u e
p o d e r i a ser e n c o n t r a d o na a g ê n c i a B r a s i l i a d o Banco
R u r a l n a s d a t a s e m q u e o DECLARANTE esteve a l i
p r e s e n t e ; ( . . . ) Q u e , e n t r e t a n t o , não se encon trou com
MARCOS KUÉRIO quando esteve na Agência B r a s i l i a d o
Banco r u r a l ; ( . . . ) Que não conhece SIMONE REIS LOBO DE
VASCONCELOS; Que nunca se encon trou com SIMONE REIS
LOBO DE VASCON(3ELOS n o interior da Agência B r a s i l i a d o
-Banco Rura l ; ( . . . ) ".
Por fim, o Deputado Federal JOSÉ BORBA c o n s t a da
l i s t a g e m d e MARCOS VALÉRIO como um dos b e n e f i c i á r i o s do supos to
32 Esta afirmação é contrária ao depoimento de ELIANE ALVES, empregada da SMP&B, que afirmou que JOSÉ BORBA já havia comparecido a sede da SMP&B.
3 2 2
c?kgh?- &-&a Inq 2 .245 / MG 0 1 2 0 2 8
esquema narrado na denúncia, sendo que t e r i a r e c e b i d o , a t r a v é s
d e i n t e r p o s t a s p e s s o a s , o mon tan te d e R$ 2.100.000,00 (dois
milhões e cem m i l r e a i s ) , r e p a s s a d o s n a s s e g u i n t e s d a t a s e
v a l o r e s ( f l s . 607, volume 3 ) :
A s s i m , há , nos a u t o s , dados que apontam no s e n t i d o da
p o s s í v e l p r á t i c a dos crimes narrados na i n i c i a l pelo acusado
E s p e c i f i c a m e n t e em r e l a ç ã o a lavagem d e d i n h e i r o ,
repito o s termos da denúncia ( f l s . 5 7 3 1 ) :
"Segundo in fo rmação de Marcos V a l é r i o , José Borba f o i beneficiado com valores na ordem de R$ 2.100.000,00, mediante pagamentos efetuados, no esquema de lavagem já narrado, nas seguintes datas:
16 /09 /2003 - R$ 250.000,OO; 25/09/2003 - R$ 250.000,OO; 20 /11 /2003 - R$ 200.000,OO; 27 /11 /2003 - R$ 200.000,OO; 04/12/2003 - R$ 200.000,OO; e 05/07/2004 - R$ 1 .000 .000 ,00 .
C i e n t e da or igem i l í c i t a d o s r e c u r s o s ( o r g a n i z a ç ã o c r i m i n o s a v o l t a d a p a r a a p r á t i c a de crimes c o n t r a a a d m i n i s t r a ç ã o p ú b l i c a e c o n t r a o s i s t e m a f i n a n c e i r o n a c i o n a l ) , bem como d o s mecanismos
Inq 2 . 2 4 5 / MG
& lavagem empregados para a transferência dos va lores , Jose Borba a tuou para não receber diretamen t e o d inhe i ro , de forma a não de ixar qualquer r a s t r o de sua par t ic ipação no esquema.
No en tan to , f i c o u comprovado o pagamento de uma das parce las d i s p o n i b i l i z a d a s pe lo grupo de Marcos V a l é r i o , no va lor de R$ 200.000,OO ao ex-Deputado Federal Jose Borba, que recebeu e s s e d inhe i ro das mãos de Simone Vasconcelos.
Nessa ocas ião , o próprio José Borba compareceu na agencia do Banco Rural em B r a s i l i a e procurou o en tão Tesoureiro do Banco Rural em B r a s í l i a José Francisco de Almeida para a entrega do d i n h e i r o , o que f o i confirmado por Simone Vasconcelos.
Todavia, José Borba recusou-se a ass inar qualquer documento que comprovasse o recebimento da importância acima, fazendo com que Simone Vasconcelos se des locasse a t é essa agência, r e t i r a s s e , mediante a sua própria as s ina tura , a quantia acima informada, e e f e t u a s s e a entrega desse numerário ao então parlamentar.
E fe t ivamente , o acusado t e r i a se u t i l i z a d o do mesmo
esquema de lavagem de dinheiro d i s p o n i b i l i z a d o para os outros
denunciados no c a p i t u l o d a denúncia ora em a n á l i s e , recebendo,
em e s p é c i e , e levados va lores em e s p é c i e , buscando, com i s s o ,
ocu l tar a propriedade e movimentação desses v a l o r e s . I s t o porque
o recebimento, em dinheiro, de mais de d o i s milhões de r e a i s , é
prát ica completamente a t i p i c a , e s e deu no mesmo contex to dos
anteriormente v i s t o s n e s t e p lenár io , como consta dos depoimentos
que l i n e s t e c a p i t u l o .
Portanto, entendo haver ind íc ios su f i c i en t e s a
instauração da ação penal contra o denunciado JOSÉ BORBA, pela
suposta prát ica dos d e l i t o s previs tos nos ar t igos 317 do Código
Penal e a r t . 1 ° , V , V I e V I I , da Lei no 9.613/98, razão pela
R- NU&& Inq 2.245 / MG
qual recebo a denúncia ( i t e m VI.4, b .1 e b.2, d a i n i c i a l
a c u s a t ó r i a ) .
Corrupção Ativa - itens VI.l, VI.2, VI.3 e VI.4 da
Denúncia
S r a . Pres idente , passo a ana l i sar a s imputações
r e f e r e n t e s ao d e l i t o de corrupção a t i v a (ar t .333 do Código
Pena l ) , d i r i g i d a s contra os denunciados JOSÉ DIRCEU, DELÚBIO
SOARES, JOSÉ GENOÍNO, SÍLVIO PEREIRA, MARCOS VALÉRIO, RAMON
HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ, ROGÉRIO TOLENTINO, SIMONE VASCONCELOS
e GEIZA DIAS.
As condutas são d e s c r i t a s no item VI d a denúncia e , de
maneira mais detalhada, nos itens VI.l, VI.2, VI.3 e VI.4.
Consta d a denúncia ( f l s . 5 7 0 6 / 5 7 0 7 ) :
"Toda a e s t r u t u r a montada por José Dirceu,
De1 úbio Soares, José Genoino e S i l v i o Pereira t inha
e n t r e seus o b j e t i v o s angariar i l i c i t a m e n t e o apoio de
outros par t idos p o l í t i c o s para formar a base de
sustentação do Governo Federal.
Nesse s e n t i d o , e l e s ofereceram e ,
poster iormente , pagaram v u l t o s a s quant ias a d i ver sos
parlamentares f e d e r a i s , pr incipalmente os d i r i g e n t e s
p a r t i d á r i o s , para receber apoio p o l í t i c o do Partido
Progressis ta - PP, Partido Liberal - PL, Partido
Trabalhis ta B r a s i l e i r o - PTB e par te do Partido do
Movimento Democrático B r a s i l e i r o - PMDB.
&- fl&&U inq 2 .245 / MG
C'IZI01
P a r a a execuçáo dos pagamentos de propina,
José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno e S í l v i o
Pereira valeram-se dos s e r v i ç o s criminosos prestados
por Marcos V a l é r i o , Ramon Hollerbach, Cr i s t iano Paz,
Rogério To len t ino , Simone Vasconcelos e Geiza D i a s .
Portanto, na forma do a r t i g o 29 do Código
Penal, o s denunciados ind icados deverá0 responder em
concurso m a t e r i a l por todos o s crimes de corrupção
a t i v a que praticaram, os quais serão devidamente
narrados em tóp icos ind iv idua l i zados para cada p a r t i d o
p o l í t i c o . "
Dispõe o ar t . 333 do Código Penal:
Corrupção a t i v a
A r t . 333 - Oferecer ou prometer vantagem
indevida a funcionário púb l i co , para determiná-lo a
praticar, o m i t i r ou re tardar ato de of íc io:
Pena - rec lusão , de 2 ( d o i s ) a 12 (doze)
anos, e m u l t a .
Parágrafo único - A pena é aumentada de um
t e r ç o , se, em razão da vantagem ou promessa, o
funcionário retarda ou omite a t o de o f í c i o , ou o
pra t ica i n f r i n g i n d o dever func ional .
Como é poss í ve l perceber a p a r t i r do t recho d a
denúncia que l i há pouco, o ato de of ic io , no que concerne ao
t i p o penal do a r t i g o 3 3 3 do C P (corrupção a t i v a ) , ser ia o de
votar a favor do Governo Federal nos assuntos do seu interesse.
Inq 2.245 / MG
Apesar de alguns dos denunciados alegarem, em suas
defesas, que o fornecimento de apoio financeiro de um partido
político ao outro é conduta licita, ressalto que a denúncia ora
analisada não cuida do simples fornecimento de apoio financeiro
a partidos políticos aliados.
Os fatos narrados na denúncia descrevem a existência
de uma suposta organização criminosa, que se utilizaria de um
sofisticado esquema de lavagem de capitais para o oferecimento
de dinheiro a alguns parlamentares de partidos da base aliada no
Congresso, de modo a convencê-los a votar favoravelmente a
aprovação dos projetos de interesse do Governo Federal. Tudo,
segundo o Procurador-Geral da República, com o intuito de
perpetuar no poder os Partidos Políticos em tese envolvidos.
A conduta narrada pelo Procurador-Geral da República
configura, ao menos em tese, o delito de corrupção ativa, pois
estariam presentes todos os elementos necessários a realização
do tipo penal do artigo 333 do Código Penal.
Conforme leciona Cezar Roberto Bitencourt:
"3. Tipo objetivo: adequação típica
A conduta típica alternativamente prevista
consiste em oferecer (apresentar, colocar à
disposiçâo) ou prometer (obrigar-se a dar) vantagem
indevida (de qualquer natureza: material ou moral) a
funcionário público, para determiná-lo a praticar
(realizar), omitir (deixar de praticar) ou retardar
Inq 2 . 2 4 5 / MG
(atrasar) ato de oficio (incluido na esfera de
competência do funcionário). A oferta ou promessa,
ainda que feitas indiretamente, admitem vários meios
de execução. " (in, BiteJIcourt, Cezar Roberto - Código
Penal Comentado, São Paulo: Saraiva 2002.)"
No caso em análise, a narrativa constante denúncia, em
relação aos crimes de corrupção ativa, constante do item VI e
seus subitens, amolda-se, de forma aparente, ao tipo do artigo
333 do Código Penal, pois o oferecimento das vantagens
ilícitas teria ocorrido nas reuniões entre os lideres dos
partidos envolvidos, sendo que "vantagem indevida" seriam as
enormes quantias em dinheiro supostamente distribuídas por meio
do sistema de lavagem de dinheiro descrito na denúncia.
Aliás, apenas para ilustrar esta alegada distribuição,
vale citar um depoimento bastante emblemático constante dos
autos, que traz i n d í c i o s de que realmente teria havido
distribuição do denominado "mensalão". Trata-se do depoimento
prestado por EMERSON PALMIERY (fls. 3574, volume 16):
"Que ROBERTO JEFFERSON recebeu pelo PTB o
valor t o t a l de R$ 4 milhões, em duas parcelas, sendo a
primeira em fins de junho, no valor de R$
2.200.000,00, e a segunda na primeira semana de julho
de 2004, no valor de R$ 1.800.000,00; Que, em ambas as
ocasiões, se encontravam na sala da Presidência do
PTB, ROBERTO JEFFERSON e MARCOS VALÉRIO, tendo sido
convidado a participar da reunião por ROBERTO
Inq 2 . 2 4 5 / MG
JEFFERSON, sendo que, quando entrou na sala do
presidente do PTB, o numerário j á se encontrava sobre
a mesa, envolto com etiquetas do BANCO DO B R A S I L e
BANCO RURAL; I . . . ) Que em &as as ocasiões o
declarante conferiu o numerário, tendo separado, por
orientação de ROBERTO JEZFERSON, valores de R$ 200 mil
e R$ 150 mil, tendo, após isso, guardado o numerário
no cofre da sa la da presidência do partido".
Ora, neste momento, em mero juizo prelibatório, não se
pode descartar a hipótese de que es t a separação do dinheiro
recebido em montantes de R$ 200 m i l e R$ 150 m i l poderia ter se
prestado a ulterior distribuição dos valores aos parlamentares
supostamente corrompidos.
Quanto aos atos de oficio, estes se consubstanciariam
na votação em plenário, cujos episódios mais significantes foram
mencionados na denúncia.
Os documentos anexados a denúncia (apenso no. 81)
corroboram o teor da i n i c i a l acusatória, demonstrando os votos
proferidos em votações importantes, ocorridas durante o mesmo
periodo dos fa tos narrados na denúncia.
Segundo a referida documentação, na sessão ordinária
do dia 27/08/2003, quando do julgamento da reforma da
Previdência, votaram a favor do projeto os deputados Pedro
Henry, Pedro Corrêa, José Janene (todos do PP), Valdemar Costa
Neto e Bispo Rodrigues (ambos do PL), José Carlos Martinez,
&- &&&& Inq 2.245 / MG
G12d05
Roberto J e f f e r s o n e Romeu Queiroz ( P T B ) , além de José Borba
( P M D B ) .
Vale lembrar que o mesmo padrão se manteve na votação
da reforma tributária, conforme o PGR informa na denúncia e
apontam os documentos constantes dos autos (apenso n081), a
exceção do denunciado Pedro Corrêa, que não participou da
r e f e r i d a votação.
Obviamente, a votação a favor de proje tos de i n t e r e s s e
do Governo Federal, por si só, não implica a automática
responsabilidade penal dos denunciados.
Porém, t a i s f a t o s , associados a indícios da presença
dos demais elementos do tipo descrito no artigo 333 do Código
Penal (oferecimento de vantagem indevida), podem ensejar a
instauração d a ação penal competente.
Com e f e i t o . af irma o PGR na denúncia:
"Para i l u s t r a r o apoio p o l í t i c o do grupo de
parlamentares do Partido Progressis ta ao Governo
Federal, na s i s t emát i ca acima narrada, destacam-se as
atuações dos parlamentares Pedro Correa, Pedro Henry e
José Janene na aprovação da reforma da previdência
(PEC 40/2003 na sessão do d i a 27/08/2003) e da reforma
t r i b u t a r i a (PEC 41/2003 na sessão do d i a 24/09/2003).
P a r a i l u s t r a r o apoio p o l í t i c o do Grupo de
parlamentares do Partido Liberal ao Governo Federal,
na s i s temát ica acima narrada, pontua-se a atuação do
Parlamentar Carlos Rodrigues na aprovação da reforma
&e NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 3 1 3 1 ,r r r L 6
da p rev idênc i a (PEC 40/2003 na s e s s ã o do d ia
27/08/2003) e da re forma t r i b u t á r i a (PEC 41/2003 na
s e s s ã o do d i a 27 /08 /2003) .
(. - . I
P a r a i l u s t r a r o apo io p o l í t i c o do grupo de
par lamentares do Par t i do T r a b a l h i s t a B r a s i l e i r o ao
Governo f e d e r a l , na s i s t e m á t i c a acima narrada,
destacam-se a s a t uações dos Parlamentares Roberto
J e f f e r s o n , Romeu Que i ro z e José Car los Mart inez San tos
na aprovação da reforma da p rev idênc ia (PEC 40/2003 na
s e s s ã o do d i a 27/08/2003) e da reforma t r i b u t á r i a (PEC
41/2003 na s e s s ã o do d i a 24/09/2003) "
Inicialmente, importa ressaltar que as condutas de corrupção ativa estão
descritas no item V1 e nos seus subitens VI.1, VI.2, VI.3 e VI.4. Tal procedimento, inclusive,
não poderia ser diferente, uma vez que o suposto modus operandi da corrupção ativa encontra,
do outro lado, a prática de corrupção passiva pelos parlamentares supostamente envolvidos,
sendo que as pequenas variações fáticas referentes a cada partido político constam
separadamente de cada um dos subitens mencionados.
Aliás, os crimes de corrupção passiva e compção ativa podem ser bilaterais,
como ocorre no caso dos autos, em que, supostamente, a vantagem indevida foi oferecida pelos
acusados no item ora em análise e percebida por aqueles denunciados por corrupção passiva, nos
subitens que vimos anteriormente.
Resta claro, de todo modo, que a denúncia deve ser analisada de uma
maneira global, pois os fatos estão de tal forma entrelaçados que não seria possível ao
Ministério Público Federal fazer, a todo tempo, a descrição isolada das condutas dos
denunciados. Principalmente considerando que, mesmo os crimes de corrupção ativa, de acordo
&-NU&& Inq 2.245 / MG
U121C7 com a denúncia, teriam sido praticados em concurso de agentes, na forma do artigo 29 do
Código Penal.
É claro que esta complexidade fática não pode importar na admissão de
imputação genérica, que subtrairia ao denunciado a possibilidade de aferir exatamente o que lhe
está sendo imputado.
Nesse particular, é importante perceber que a denúncia se baseia, sempre, na
teoria do domínio do fato, principalmente em razão do amplo concurso de agentes narrado pelo
Procurador-Geral da República. Assim, cada denunciado teria, em maior ou menor escala, de
acordo com o papel a ele atribuído, o d~míniofinal. '~ dos fatos tipicos e ilícitos a eles imputados.
Com efeito, as condutas tipificadas no artigo 333 do Código Penal, supostamente
praticadas pelos denunciados José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno, Silvio Pereira, Marcos
Valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz, Rogério Tolentino, Simone Vasconcelos e Geiza
Dias teriam sido praticadas mediante uma divisão de tarefas, detalhadamente narrada na
denúncia, de modo que cada suposto autor praticasse uma fraqão dos atos executórios do iler
criminis.
De acordo com a definição elaborada por esta teoria, que é a mais aceita hoje na
doutrina, não é necessário, .para que alguém seja co-autor de um crime, que ele tenha
efetivamente praticado a ação (verbo) descrita no tipo legal - in casu, oferecer vantagem
indevida.
É como ensina CÉZAR ROBERTO BITENCOURT~~, verbis:
" 5 . 3 . T e o r i a do domín io do f a t o
( . . . ) A u t o r , segundo e s t a t e o r i a , é quem
tem o poder de decisão sobre a real i zação do f a t o . É
3 3 De acordo com a Teoria Final da Ação.
&-&a&& Inq 2.245 / MG ( 3 1 2 1 ~ 8
não s ó o que executa a ação t í p i c a como também aquele
que s e u t i l i z a de outrem, como instrumento, para a
execução da i n f r a ç ã o penal (autor ia media t a ) 35.
Conseqüências da t e o r i a do dominio do f a t o
A t e o r i a do dominio do f a t o tem as
segu in te s conseqüências: 1 ") a real ização pessoal e
plenamente responsável de todos o s elementos do t i p o
fundamentam sempre a autor ia; 2 " ) é autor quem executa
o f a t o u t i l i z a n d o outrem como instrumento (autor ia
med ia ta ) ; 3" ) é autor o co-autor que r ea l i za uma par te
necessária do plano global ("domínio funcional do
f a to" ) , embora não se ja um a t o t í p i c o , desde que
integre a resolução d e l i t i v a cormrm.''
Veja-se, ainda, a lição de Damásio E. de Jesus na obra "Teoria do Domínio do
fato no Concurso de Pessoas":
" 4.3 .2 . Co-autoria parcial ou funcional
Há d iv i são d e t a r e f a s executorias do
d e l i t o . Trata-se do chamado "domínio funcional do
fa to" , assim denominado porque alude à repart ição de
a t i v idades ( funções) en t r e o s s u j e i t o s . O s a t o s
executór ios do i t e r c r imin i s são d i s t r i b u í d o s e n t r e os
d i ver sos au tores , de modo a que cada um é responsável
por uma par te do f a t o , desde a execução a t é o momento
consumativo. As colaborações são d i f e r e n t e s ,
34 Código Penal Comentado. 3 = ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 119/120. 35 In casu, como é claro, não há hipótese de autoria mediata, que é aquela em que o agente imediato é mero instrumento da vontade de outrem, o denominado "homem de trás". As hipóteses mais citadas de autoriza mediata decorrem de erro, coação irresistivel e inimputabilidade do agente imediato. No caso em questão, todos os acusados tinham, em tese, plena consciência de seus atos e, portanto, poder de decisão sobre a sua realização.
@+ Inq 2 .245 / MG
constituindo partes e dados de união da açáo coletiva,
de forma que a ausência de uma faria frustrar o
delito. É por isso que cada um mantém o dominio
funcional do fato." (in, Teoria do dominio do fato no
concurso de pessoas/ Damásio E. de Jesus. - 2. ed.
Ver. - São Paulo: Saraiva, 2001. p. 22-23)
Portanto, o que deve ser exposto na denúncia, em
atendimento ao que determina o artigo 4 1 do Código de Processo
penal, é de que forma cada um dos denunciados teria contribuido
para a suposta consumação do delito, ou seja, qual papel cada um
t e r i a desempenhado na execução do crime.
Apenas para introduzir o tema, transcrevo trecho do
depoimento do acusado ROMEU QUEIROZ (suposta prática do crime de
corrupção passiva), justamente porque revela o modus operandi
que aparentemente era adotado na prática dos crimes narrados na
inicial (fls. 2 1 2 7 , volume 10):
"Que, em agosto de 2004, recebeu um contato
telefônico do Sr. CRISTIANO PAZ, sócio de Marcos
Valério na SMPbB PUBLICIDADE; Que CRISTIANO PAZ era o
presidente da empresa; Que, neste conta to, CRISTIANO
PAZ disse ao declarante que a empresa USIMINAS tinha
disponibilizado R$ 150.000,OO (cento e cinquenta mil
reais) de doação para diversas campanhas eleitorais
municipais de interesse do PTB; (. . .) Que dos R$
150.000,OO doados pela USIMINAS, foram descontados
pela SMP&B a importância de R$ 4 7 . 1 8 7 , 2 4 (quarenta e
Inq 2 . 2 4 5 / MG
se te m i l cento e oitenta e se t e reais e v inte e quatro
centavos), a t i t u l o de irnpostos e taxas ( . . . ) "
Ou seja, enquanto o denominado "núcleo político
partidário" teria interesse na compra do apoio político que
daria condições para que o grupo majoritário nas eleições se
perpetuasse no poder, os denunciados do dito "núcleo
publicitário" se beneficiariam de um percentual do numerário que
seria entregue aos beneficiários finais do suposto esquema de
repasses.
Passo, pois, a analisar se a inicial acusatória
atende, suficientemente, aos requisitos do artigo 41 do Código
de Processo Penal, quanto a imputação do crime de corrupção
ativa aos denunciados José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno,
Sílvio Pereira, Marcos Valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz,
Rogério Tolentino, Simone Vasconcelos e GEISA Dias (alínea a do
item V I . , de modo a possibilitar, assim, a plenitude de
defesa.
Analisarei, também, neste item, se está presente a
justa causa para a propositura da ação penal por corrupção
ativa. contra os denunciados antes mencionados.
Inq 2.245 / MG
Já no i t e m I1 da denúncia o Procurador-Geral da
República aponta JOSÉ DIRCEU como a pessoa que autorizava os
denunciados José Genoino, Delúbio Soares e Sílvio Pereira a
selarem os acordos nas reuniões com os líderes dos partidos, i n
v e r b i s ( f l s . 5 . 6 3 2 ) :
"Roberto J e f f e r s o n , com o conhecimento de
quem vendia apoio p o l í t i c o à organização d e l i t i v a ora
denunciada, e m todos os depoimentos pres tados , apontou
José Dirceu como o cr iador do esquema do 'mensalão'.
Segundo e l e , José Dirceu reunia-se com o
pr inc ipa l operador do esquema, Marcos Va lér io , para
t r a t a r dos repasses de d inhe i ro e acordos p o l í t i c o s
ou, quando não se encontrava presen te , era previamente
consul tado por José Genoíno, Delúbio Soares ou S í l v i o
Pereira sobre as de l iberações e s tabe lec idas nesses
encontros . "
Vale r e s s a l t a r que, conforme consta do depoimento de
Sandra Rodrigues Cabral, Assessora especial do denunciado José
Dirceu a época dos f a t o s , era comum que os l i d e r e s par t idár ios
frequentassem a Casa C i v i l , para resolução de assuntos
p o l í t i c o s , como a indicação de pessoas para a ocupação de cargos
públicos :
9, (. . . ) QUE não conhece Jac in to de Souza
Lamas; QUE JOÃO CLÁUDIO DE CARVALHO GENU j á e s t e v e no
gabinete da DECLARANTE na Casa C i v i l por duas ou t r ê s
v e z e s , sempre acompanhando do Deputado Federa1 JOSÉ
JANENE; QUE não conhece EMERSON PALMIERI, t e soure i ro
@+&&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 012112
informal do PTB; QUE não se recorda quantas vezes JOSÉ
JANENE esteve no gablnete da DECLARANTE; QUE era comum
l i d e r e s e presidentes de part idos p o l í t i c o s s e
d ir ig irem à Casa C i v i l , sem prévio agendamento, para
d i s c u t i r nomeações de pessoas indicadas conforme
discussão anter ior nos respec t i vos min is tér ios ou
órgãos; ( . . . ) "
No mesmo sentido, as declarações de Marcelo Sereno
(fls. 4233/4234), ex-Chefe de Gabinete do então Ministro José
Dirceu, no período entre 23 de novembro de 2002 a 13 de maio de
"QUE sua principal função como chefe de
gabinete era de cuidar da agenda de compromissos do
Ministro J O S E DIRCEU; QUE o ministro, além de cuidar
dos assuntos referentes a sua pasta, tinha também a
responsabilidade de coordenação politica do Governo do
Presidente Lula;"
Entretanto, a acusação feita pelo Procurador-Geral da
República tem base, dentre outros indícios, em depoimento de
ROBERTO JEFFERSON, indicado na nota de rodapé no 18 da i n i c i a l
acusatória, no qual referido acusado asseverou, com veemência
(fls. 4219/4227):
"QUE JOSÉ GENOÍNO não possuia autonomia
para "bater o martelo" nos acordos, que deveriam s e r
r a t i f i c a d o s na Casa C i v i l pelo Ministro JOSÉ DIRCEU."
I n q 2.245 / MG
Roberto J e f f e r s o n Monteiro Francisco, em depoimento
prestado a Pol ic ia Federal, as f l s . 4219-4227, forneceu de ta lhes
dessa função supostamente desempenhada pelo denunciado José
Dirceu, em relação ao P T B :
. . q u e realmente representou o PTB em
t r a t a t l v a s junto à Dlreção naclonal do PT em abrll e
mal0 de 2004, relativas à s campanhas munlclpals
daquele ano; Que, nessas t r a t a t l v a s , p a r t i c i p a r a m p e l o
PTB o d e c l a r a n t e , como presidente da legenda, o lider
da bancada na Câmara dos Deputados JOSÉ &CIO
MONTEIRO, e o p r i m e i r o s e c r e t á r i o nac iona l d o PTB, D r .
EMERSON PALMIERI; Que, pelo PT, par t i c i param JOSÉ
GENOINO, o Tesoure i ro Nacional DELÚBIO SOARES, o
s e c r e t á r i o MARCELO SERENO, e o e n t ã o M i n i s t r o JOSÉ
DIRCEU, que homologava t o d o s os acordos daque le
p a r t i d o ; Que JOSÉ GENOÍNO não pos su ía autonomia para
" b a t e r o marte lo" nos acordos, que deveriam s e r
r a t i f i c a d o s na Casa C i v i l p e l o M i n i s t r o JOSÉ DIRCEU;
I . . . I "
Importante des tacar , ainda, t r echo do depoimento do
denunciado Roberto J e f f e r s o n no Conselho de Ét ica e Decoro
Parlamentar, que é c i t a d o em nota de rodapé na denúncia, às f l s .
5.617 dos autos do presente i n q u é r i t o :
"Conselho de Ét ica e Decoro Parlamentar -
02 de agosto de 2005
DEPOENTE/CONVIDADO: JOSÉ DIRCEU - Deputado
Federal
SUMÁRIO: Tomada de depoimento
~ q f k e o Inq 2.245 / MG 012114
O S R . DEPUTADO ROBERTO JEFFERSON - S r .
P r e s i d e n t e , S r . R e l a t o r , S r s . D e p u t a d o s , S r a s .
D e p u t a d a s , povo d o B r a s l l , c l d a d ã o d o B r a s i l , c i d a d ã
d o B r a s i l , depois de ouv i r o e%-Ministro José Dirceu,
o Deputado José Dirceu, eu cheguei a conclusão de que
f o i ele quem tre inou o S i l v inho Pereira, o Delúbio e .o
Marcos Va lér io a mentirem. Não tem mensalão no Bras i l .
É conversa da imprensa. Todos o s jornais mentem. Todas
a s r e v i s t a s mentem. Todo o povo b r a s i l e i r o prejulga o
Ministro José Dirceu, esse inocente e humilde que aqui
e s t á , porque não tem mensalão. Todos o s ges tos do
Delúbio não são do conhecimento d e l e . Todos o s ges tos
do S i l v i o Pereira não são do conhecimento d e l e . Todas
a s a t i t u d e s do Marcos Va lér io , que f o i 12 vezes à Casa
C i v i l - 12, não foram 7 não, Relator , 12 -, ele não
v i u l á o Marcos Va lér io , a l i á s , uma figura que passa
despercebida, (. . .) . E a i eu quero separar o jo io do
t r i go ; não vou acusar o PT, mas a cúpula do PT, gente
d e l e - Genoíno, S í l v i o Pereira, Delúbio -, g e n t e d e l e ,
q u e e l e f e z q u e s t ã o d e d e f e n d e r a t e o ú l t i m o m o m e n t o ,
q u a n d o c o n v e r s o u c o m i g o . "Eu q u e r o p r o t e g e r o S i l v i n h o
e o D e l ú b i o , q u e e s t ã o s e n d o e n v o l v i d o s n i s s o " . (. . . )
Esquece d e se referir a saques mi l ionários do Marcos
Va lér io f e i t o s um dia an tes de i r ao seu gabinete na
Casa C i v i l . O j o r n a l O G l o b o h o j e f e z a l i g a ç ã o d a s
d a t a s . Mas o D e p u t a d o J o s é D i r c e u n ã o s a b i a d e n a d a
d i s s o q u e a c o n t e c i a n o B r a s i l . . . . , e u r a t i f i c o , e u
r e i t e ro , e u r e a f i r m o , S r . R e l a t o r . José Genoino era o
vice-presidente do PT. O Presidente d e f a to era o José
Dirceu. T u d o q u e n ó s t r a t á v a m o s no p r é d i o da VARIG,
S r . R e l a t o r , t u d o q u e t r a t a m o s a l i , n a s e d e n a c i o n a l
c&$'+ &&H& Inq 2.245 / MG
do PT, t i n h a que ser fechado e homologado depo i s , na
Casa C i v i l , p e l o M i n i s t r o Jose Dirceu. Tudo. (. . . ) . Aliás, V.Exa. que construiu, é o arquiteto desse
modelo adm~nistratlvo do Governo, e u não consigo
compreender como é que V.Exa. f e z na SECOM esse modelo
de jun tar l á com o ex-Ministro Gushiken a s agências de
publ ic idade e os fundos de pensão. Eu não se1 que
engenharia V.Exa. conseguiu urdir para botar juntos na
SECOM, na Comunicação Soc ia l do Governo, a s agências
d e market ing, aliás, que foram bem aquinhoadas aqui no
ca ixa 2 - 15 mi lhões e meio para o Duda Mendonça no
ca ixa 2, e s t á aqui na mesma re lação a qual se refere
V.Exa. ., e consegue jun tar o s fundos de pensão na
SECOM para a adminis tração do Ministro Gushiken. Ele
fazia o marketlng, a propaganda do Governo e fazla os
fundos de pensão. "
Quanto ao Partido Progressista, e elucidativo o
depoimento prestado pelo Deputado Federal Vadão Gomes, que
demonstra a existência de um acordo de "cooperação financeira",
firmado entre o PP e o PT (fls. 1719), acordo este nos mesmos
moldes do firmado com os demais partidos referidos na denúncia,
e no qual teriam ingerência também os denunciados JOSÉ GENOÍNO e
DELÚBIO SOARES:
"QUE nunca chegou a tratar nenhum tipo de
assunto com Delúbio Soares, esclarecendo que
presenciou uma conversa havida em B r a s i l i a entre o
t e s o u r e i r o do Par t ido dos Trabalhadores e o pres iden te
do mesmo par t ido , JOSÉ GENOINO, com o s Deputados PEDRO
Inq 2.245 / MG
R ' Y e PEDRO CORREIA, ambos do Partido Progressista;
QUE, nessa conversa, os politlcos dos dols partldos
tentavam acertar detalhes de uma possivel aliança em
âmbito nacional; QUE, no decorrer do referido diálogo,
escutou que os interlocutores mencionaram a
necessidade de apoio financeiro do Parti do dos
Trabalhadores para o Partido Progressista em algumas
regioes do pais."
De acordo com a denúncia (v. itens VI.2, VI.3 e VI.41,
além do PTB, acordos semelhantes foram celebrados pelo PT com o
Partido Liberal, com o PTB e com o Deputado JOSÉ BORBA, do PMDB.
Com efeito, os elementos coligidos na fase
investigatória estão a indicar que o modus operandi do repasse
de recursos avençado entre PT e PP, PL e PTB não prescindia da
ciência e do aval do denunciado José Dirceu.
Há indícios no sentido de que as grandes decisões
politicas do partido dos trabalhadores eram todas avalizadas
pelo denunciado José Dirceu, inclusive no que concerne a acordos
político-financeiros com outros partidos.
É bem verdade que, perante a autoridade policial, José
Dirceu negou ter relacionamento político, empresarial ou de
amizade com Marcos Valério, in verbis (fls.3552-3556):
"QUE conheceu Marcos Valério em uma
atividade social, da qual não se recorda; QUE não se
lembra o local onde ocorreu tal atividade, nem
tampouco quem eram os demais participantes; QUE MARCOS
Inq 2 . 2 4 5 / MG
VZUÉRIO lhe foi apresentado como sendo um
publicitário; QUE não possui nenhum relacionamento com
MARCOS WILÉRIO FERNANDES DE SOUSA, quer seja político,
empresarial ou de amizade; QUE, posteriormente, se
encontrou com MARCOS VALÉRIO três ou quatro vezes na
Casa Civil da Presidência da República; QUE, em todos
e s s e s encontros, MARCOS VALÉRIO estava acompanhando
representantes das empresas USIMINAS, BANCO RURAL e
BANCO DE INVESTIMENTO ESPÍRITO SANTO; (. . . ) QUE, nesta
época, era de seu conhecimento que MARCOS VZUÉRIO
possuía relacionamento com DELÚBIO SOARES; QUE DELÚBIO
SOARES nunca f e z qualquer comentário especia l a
r e s p e l t o de MARCOS VALÉRIO, dando a entender que eram
apenas amigos; QUE s a b i a de t a l relacionamento tendo
em v i s t a que, no primeiro encontro com MARCOS VALÉRIO,
o tesoureiro do PT DELÚBIO SOARES estava presente; QUE
DELÚBIO SOARES nunca f e z qualquer comentário com o
DECLARANTE sobre as relações f inanceiras que mantinha
com MARCOS VALÉRIO; QUE, e n t r e t a n t o , desconhecia qual
era a natureza ou o grau de relacionamento que DELÚBIO
SOARES mantinha com MARCOS VALÉRIO; QUE não sabia que
DELÚBIO SOARES estava realizando tratativas
financeiras com MARCOS VALÉRIO; QUE não era do seu
conhecimento que MARCOS VALÉRIO estava auxi l iando o
Partido dos Trabalhadores na obtenção de empréstimos
bancários; ( . . . ) QUE f i cou sabendo da atuação de
MARCOS VALÉRIO na operacionaiização dos empréstimos ao
Partido dos Trabalhadores somente quando t a i s f a t o s
vieram a públ ico; (. . . ) QUE desconhece quem eram as
pessoas que tinham conhecimento das relações
f inanceiras mantidas en t re o Partido dos Trabalhadores
R+k?m H&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 012118
e MARCOS VALÉRIO; QUE também n ã o s a b e d i z e r q u a i s
p e s s o a s t i n h a m c o n h e c i m e n t o da u t i l i z a ç ã o d a s empresas
v i n c u l a d a s a MARCOS VALÉRIO para m o v i m e n t a r r e c u r s o s
d o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s ; QUE não sabe d i z e r por
qua i s mot ivos o Par t ido dos Trabalhadores recebeu
recursos t r a n s f e r i d o s de empresas v inculadas a MARCOS
VALÉRIO; QUE não t i n h a conhecimento d e que DELÚBIO
SOARFS u t i l i z a v a empresas v inculadas a MARCOS VALÉRIO
para t r a n s f e r i r r ecursos a d i r e t ó r i o s do Par t ido dos
Trabalhadores e para p a r t i d o s a l i a d o s ; QUE também
nunca s o u b e q u e o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s
u t l l l z a v a a c o r r e t o r a BÔnus Banval para t r a n s f e r l r
r e c u r s o s s o b o r i e n t a ç ã o d e DELÚBIO SOARES; ( . . . ) QUE
não sabia dos acordos firmados entre o Par t ido dos
Trabalhadores e o Par t ido L iberal nos anos de 2 0 0 3 e
2004 que resu l taram na t r a n s f e r ê n c i a de recursos por
meio de empresas v inculadas a MARCOS VALÉRIO; QUE
somente com a divulgação dos f a t o s f i c o u sabendo que
DELÚBIO SOARES t r a n s f e r i u recursos para o Par t ido
Liberal a t r a v é s de empresas de Marcos V a l é r i o ; QUE
d e s c o n h e c i a t o t a l m e n t e a s l s t e m á t l c a utilizada p o r
DELUBIO SOARES para t r a n s f e r l r r e c u r s o s para p a r t l d o s
a l l a d o s e d l r e t ó r l o s r e g l o n a l s d o PT; I . . .) QUE nunca
p a r t i c i p o u de qualquer acordo com o PTB que envolvesse
a t r a n s f e r ê n c i a de recursos a este par t ido ; QUE também
não p a r t i c i p o u d e nenhum acordo f inance i ro com o
Par t ido Progress i s ta ; QUE, a p e s a r d e n ã o t e r
p a r t i c i p a d o d a s d i s c u s s õ e s , sabia da e x i s t ê n c i a de um
acordo e l e i t o r a l entre o PT, PP e PTB para a campanha
e l e i t o r a l de 2004; QUE d e s c o n h e c e q u a l q u e r a c o r d o d e
cooperação f i n a n c e i r a f i r m a d o e n t r e o P a r t i d o d o s
fla&& Inq 2.245 / MG 012119
T r a b a l h a d o r e s e o P a r t i d o P r o g r e s s i s t a ; QUE n ã o s a b e
d i z e r q u a i s membros da d i r e t o r i a e x e c u t i v a d o P a r t i d o
d o s T r a b a l h a d o r e s o u d o Governo Federa1 sab iam da
t r a n s f e r ê n c i a d e r e c u r s o s para o PP, PL e PTB; QUE
também nunca s o u b e da t r a n s f e r ê n c i a d e r e c u r s o s d o
P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s para q u a l q u e r membro d o
PMDB; QUE, como membro d o Diretório Nac iona l d o
P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s , t i n h a c o n h e c i m e n t o d a s
a l i a n ç a s e l e i t o r a i s formadas em 2004, a p e s a r d e n ã o
p a r t i c i p a r d i r e t a m e n t e da e x e c u ç ã o d o s a c o r d o s , uma
v e z q u e n ã o e r a m a i s membro da E x e c u t i v a N a c i o n a l ;
QUE, na Casa C i v i l da P r e s i d ê n c i a da R e p ú b l i c a , t i n h a
como a t r i b u i ç õ e s p r i n c i p a i s a coordenação d o g o v e r n o ,
s a l a d e i n v e s t i m e n t o , s a l a d e i n f r a - e s t r u t u r a ,
c o o r d e n a ç ã o d e Câmaras e C o n s e l h o s , d e n t r e o u t r a s
a t i v i d a d e s v i n c u l a d a s a P r e s i d ê n c i a da R e p ú b l i c a ;
(. . .) QUE d e s c o n h e c e q u a l q u e r i n f l u ê n c i a ou p o d e r n o
Governo Federa l d e s f r u t a d o s p o r MARCOS VALÉRIO em
d e c o r r ê n c i a d a s r e l a ç õ e s q u e man t inha com membros da
D i r e t o r i a E x e c u t i v a d o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s ; QUE
a s a u d i ê n c i a s q u e m a n t i n h a com DELÚBIO SOARES t i n h a m
p o r o b j e t o d i s c u s s õ e s s o b r e a s i t u a ç ã o p o l í t i c a d o
p a i s , d o Governo e d o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s , bem
como s u a s r e l a ç õ e s com o Governo e d e m a i s p a r t i d o s ;
QUE tomou c o n h e c i m e n t o da s u p o s t a e x i s t ê n c i a d o
denominado "Mensalão" quando d a s p r i m e i r a s n o t i c i a s
p u b l i c a d a s p e l o J o r n a l d o B r a s i l ; QUE t o d a s a s
p r o v i d ê n c i a para a a p u r a ç ã o d e t a i s d e n ú n c i a s foram
tomadas p e l o p r e s i d e n t e da Câmara d o s Depu tados ; QUE
nunca f o i a l e r t a d o p e l o ex -Deputado F e d e r a l ROBERTO
JEFFERSON a r e s p e i t o da e x i s t ê n c i a d o s u p o s t o
@$kww flu&u Inq 2 . 2 4 5 / MG
'312120
"Mensalão"; QUE acred i ta que ROBERTO JEFFERSON f e z
t a i s declarações em decorrência das denúncias de
investigaçí3es que foram i n i c i a d a s em seu
des favor . I . . . ) "
Apesar das negat ivas ca tegór icas do denunciado José
Dirceu, há nos autos i nd í c io s da concessão de favores pelo
denunciado Marcos V a l é r i o a sua ex-esposa, notadamente em
relação a compra de um imóvel , conforme se e x t r a i do seguin te
t r echo do depoimento de Marcos V a l é r i o ( f l s . 7 2 7 - 7 3 5 ) :
7, ( . . . ) Que, indagado sobre o empréstimo à
ex-esposa do ex-Ministro José Dirceu, chamada Ângela,
o depoente confirmou que e fe t ivamente houve o
empréstimo do Banco Rural e a colocação com emprego no
Banco BMG; Que, o dec larante f o i procurado por S í l v i o
Pereira para a u x i l i a r o e x Ministro José Dirceu na
resolução de um problema pessoal com sua ex-esposa,
que pretendia t rocar d e apartamento e não t inha
recursos f inanceiros; Que, desta forma, fo l conseguido
o empréstimo e o emprego, e , também, o sócio do
declarante, ROGÉRIO TOLÉNTINO, para reso lver o
problema, l á que o c r é d l t o lrnobi l lárlo dependia do
pagamento de recursos em dinheiro, comprou o
apartamento da Sra. Ângela, pagou à v i s t a e declarou a
aquisição no seu iniposto d e renda; (. . .) "
Entendo, Sra Presidente , que o favor prestado por
Marcos V a l é r i o a .Rogério Tolent ino a ex-esposa do denunciado
Inq 2.245 / MG
J o s é Dirceu constitui indício da existência de relação entre
esses três denunciados.
A esse r e s p e i t o , é i n t e r e s s a n t e o t e o r d o d e p o i m e n t o
p r e s t a d o p e l o S r . R i c a r d o G u i m a r ã e s , p r e s i d e n t e d o B a n c o BMG,
p r e s t a d o p e r a n t e a C o m i s s ã o P a r l a m e n t a r Mis ta d e I n q u é r i t o d o s
C o r r e i o s , d e p o i m e n t o e s t e c u j a t r a n s c r i ç ã o f o i j u n t a d a como
a n e x o d a d e n ú n c i a e se encontra no a p e n s o n o 8 1 d o s p r e s e n t e s
a u t o s :
. . . ) O SR . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t .
PSDB - PR) - A p r i m e i r a p e r g u n t a - e e u q u e r i a
p e r g u n t a r d e s t a c o i n c i d ê n c i a : no dia 20 de fevereiro
de 2003, houve uma reunião da diretoria do BMG com o
Ministro-Chefe da Casa Civil, José Dirceu.
O S R . RICARDO GUIMARÃES- - Sim.
O SR . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)
- Q u a l f o i o o b j e t o d e s s a r e u n i ã o ?
O S R . RICARDO GUIMARÃES- O o b j e t o f o i uma
i n a u g u r a ç ã o q u e nós . . . d e uma e m p r e s a a l i m e n t í c i a d e
p r o d u t o s e n l a t a d o s q u e a m i n h a f a m í l i a t e m n a c i d a d e
d e L u z i â n i a . A g e n t e i a f a z e r uma i n a u g u r a ç ã o , e f o i a
o p o r t u n i d a d e p a r a c o n v i d a r o Minis t ro J o s é D i r c e u p a r a
e s t a r p r e s e n t e .
O SR . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)
- E o M a r c o s V a l é r i o e o D e l ú b i o acompanharam e s s a
a u d i ê n c i a ?
O SR . RICARDO GUIMARÃES- S i m . Os d o i s .
O S R . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)
- Os d o i s . E comentaram sobre esse empréstimo? Há
&ig?ew &&&a Inq 2 . 2 4 5 / MG
0 1 2 1 2 2
coincidência de um empréstimo t e r s i d o três d i a s
an tes , e o outro , quatro d i a s depois?
O S R . RICARDO GuIMARÃES- N ã o .
O S R . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)
- E quem marcou a audiência na Casa C i v i l ?
O S R . RICARDO GUIMARÃES- Marcos V a l é r i o .
O S R . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)
- Também nessa l i n h a , só p a r a f e c h a r essas relações: o
senhor Conhece a Sra Maria Ângela Saragoza?
O S R . RICARDO GUIMARÃES- Sim.
O S R . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)
- E l a f o i e s p o s a d o ex-Ministro José D l r c e u . E l a
t r a b a l h a no BMG.
O S R . RICARDO GuIMARÃES- S i m .
O S R . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)
- Em q u a l f u n ç ã o e l a t r a b a l h a ?
O S R . RICARDO GuIMARÃES- E l a é p s i c ó l o g a n a
c i d a d e d e S ã o P a u l o . E l a a t e n d e os f u n c i o n á r i o s d o BMG
d e S ã o P a u l o e t a m b é m os nossos c o r r e s p o n d e n t e s e
a g e n t e s b a n c á r i o s .
O S R . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)
- Ela f o i contratada quando?
O S R . RICARDO GUIMARÃES- E l a f o i c o n t r a t a d a
em novembro de 2003.
O S R . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)
- Como é que e l a f o i a p r e s e n t a d a ? Quem s o l i c i t o u a
c o n t r a t a ç á o d a S r a M a r i a  n g e l a ?
O S R . RICARDO GuIMARÃES- Quem p e d i u f o i o
S r . M a r c o s V a l é r i o .
Inq 2.245 / MG
O S R . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)
- E l e p e d i u q u a n d o ? O senhor se l e m b r a ? F o i nesse
p e r í o d o t a m b é m ?
O S R . RICARDO GUIMARÃES- F o i p r ó x i m o ... O S R . PRESIDENTE ( G u s t a v o F r u e t . PSDB - PR)
- F o i p r ó x i m o , f o i p r ó x i m o d e s s a é p o c a d e n o v e m b r o d e
O e p i s ó d i o r e l a t a d o no t recho a c i m a t a m b é m f o i
m e n c i o n a d o p e l o d e n u n c i a d o M a r c o s V a l é r i o , no d e p o i m e n t o
p r e s t a d o p e r a n t e o P r o c u r a d o r - G e r a l d a R e p ú b l i c a , à f l s . 268 d o
i n q u é r i t o 2245:
. . . O d e c l a r a n t e f r e q u e n t a v a a s e d e d o
PT t a n t o e m S ã o P a u l o c o m o em B r a s í l i a , n ã o tendo
n u n c a c o n v e r s a d o com o e x - p r e s i d e n t e d o P T , José
G e n o i n o , sobre os e m p r é s t i m o s , mas o e x - s e c r e t á r i o -
Geral S i l v i o P e r e i r a t i n h a conhecimento dos
empréstimos que es tavam n o nome das empresas d o
d e c l a r a n t e e também que S í l v i o h a v i a d i to a o
d e c l a r a n t e que o e n t ã o M i n i s t r o José Dirceu t i n h a
conhecimento dos emprés t imos . J a m a i s t r a t o u d e s s e s
e m p r é s t i m o s em d e p e n d ê n c i a s d a A d m i n i s t r a ç ã o P ú b l i c a
F e d e r a l . E s c l a r e c e q u e esteve somente duas v e z e s n a
C a s a C i v i l , com o Min i s t ro J o s é D i r c e u , uma d a s vezes
acompanhando a d i r e t o r i a d o .BMG p a r a c o n v i d a r o
Ministro p a r a i n a u g u r a ç ã o d e uma f á b r i c a d e a l i m e n t o s
em L u z i â n i a / G O e o u t r a com a d i r e t o r i a d o Banco Rura l ,
q u e t e m uma e m p r e s a d e m i n e r a ç ã o , p a r a c o m u n i c a r os
&e NU&& Inq 2 .245 / MG
investimentos que a empresa mineradora vinculada ao
Banco faria no Estado do Amazonas. (. . . ) "
Da análise dos elementos contidos nos autos, é
possível colher indícios contra os denunciados Marcos Valério e
José Dirceu, principalmente tendo em conta a natureza das
relações estabelecidas entre eles e o fato de terem se
aproximado justamente no início de 2003, quando JOSÉ DIRCEU
assumiu a Casa Civil. Aliás, o fato de as reuniões terem sido
realizadas justamente com os dirigentes dos Bancos BMG e RURAL,
que teriam participado dos supostos ilícitos narrados na
inicial, corrobora a conclusão no sentido da existência de prova
mínima a permitir a instauração de ação penal contra os
denunciados antes citados.
Conforme consta do depoimento de Ricardo Guimarães a
CPMI dos correios, Marcos Valério figuraria como uma espécie de
interlocutor entre o Governo e o BMG (Apenso no 81):
" ( . . . ) O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT- AM) - só uma
curiosidade: se o Sr. Marcos Valério não era membro do
Governo, não era filiado ao Partido do Governo, por
que um banco como o seu precisava do Sr. Marcos
Valério para um encontro com o Ministro-Chefe da Casa
Civil?
O SR. RICARDO GUIMARÃES- Não.. . não.. .Um
banco, o nosso banco, talvez, não precisasse, não.
Acho que.. . . mas.. . .
&- fla&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 6 1 2 1 2 5
O S R . JEFFERSON PÉRES (PDT- AM) - Por que
então? Ele s e o fereceu?
O S R . RICARDO GUIMARÁES- E le falou que
poderia, t a l v e z , marcar uma agenda pra nós .
O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT- AM) - Ele s e
i n t i t u l a v a uma pessoa i n f l u e n t e no Governo?
O SR. RICARDO GUIMARÃES- Não s e i , Senador.
Para i s s o e l e falou que poderia t e n t a r marcar e
conseguiu, e f e t i v a m e n t e , marcar.
( . . . ) ".
Também em sen t ido con t rár io ao depoimento do
denunciado José Dirceu, que negou qualquer relação com MARCOS
V A L É R I O , t rago a colação excer tos do depoimento prestado a CPMI
dos corre ios pela Sra Renilda Maria Santiago de Souza, cu jo
termo f o i juntado pelo PGR em anexo a denúncia e se encontra no
apenso n o 81 dos presentes au tos :
,, ( . . . I A SRa RENILDA MARIA SANTIAGO FE.WWNDES DE
SOUZA - Não, e l e me fa lou que vantagem nenhuma e que
e l e se preocupou só em não t e r desvantagens. O medo
d e l e ser la perder a s contas que já possuía há anos com
o Banco do B r a s i l , como acabou perdendo. Quer d i z e r ,
não adiantou nada.
E a única coisa que e l e me falou f o i que o
Dr. - na época Ministro - José Dirceu sabia dos
empréstimos. E eu perguntei como e l e sabia. E l e falou
que houve uma reunião da direção do Banco Rural, em
B e l o Horizonte, no Hotel Ouro Minas, com o então
Inq 2 . 2 4 5 / MG
Ministro José Dirceu, para r e so l ve r sobre o pagamento
desses financiamentos f e i t o s no Banco Rural. E que
houve uma reunião em B r a s i l i a , da direção do BMG, não
s e i o s nomes, e l e só me d i s s e a s s i m , uma reunião em
B r a s i l i a , não s e i onde essa, para acertar o pagamento
das contas, porque o banco também quer receber.
E o que sempre me preocupa é i s t o : como v a i
ser pago? Porque, uma vez o Marcos f o i a v a l i s t a . Me
preocupa, porque a minha f a m i l i a e s t á envolvida n i s s o ,
e eu não quero que prejudiquem meus f i l h o s em momento
nenhum.
( . . . )
o SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES NETO (PFL - BA) - Dona Reni lda, uma coisa que me chamou atenção e
que cons idere i de maior importância é que a senhora
reve lou a q u i a preocupação com o f a t o de o seu esposo
t e r par t ic ipado de negócios ju r id i cos com o P T , como
emprestador de um montante s i g n i f i c a t i v o e , com i s s o ,
obviamente colocar em r i s c o a segurança do patrimônio
da sua f a m í l i a . Essa f o i uma formulação categórica da
senhora. Eu queria e sc larecer um f a t o que, t a l v e z ,
tenha s i d o c i t a d o pe lo Rela tor , mas não f o i mui to
expressamen t e en tendido , pe lo menos por e s t a Comissão
A senhora t l n h a , de f a t o , conhecimento de
que o DelÚbio Soares havia dado a seu marido, Marcos
Va lér io , como garantia em caso d e inadimplemento
desses negócios com o P T , justamente o f a to d e que o
então Ministro da Casa C i v i l José Dirceu e o
Secre tár io do PT, S í l v i o Pereira, tinham conhecimento
de todas as transaçôes?
Inq 2.245 / MG
A SRa RENILDA MARIA SANTIAGO E'ERNWDES DE
SOUZA - Eu não posso f a l a r sobre S í l v i o Pereira.
o SR. ANTONIO m o s MAGAL&S NETO (PFL - BA) - M a s sobre José Dlrceu a senhora pode f a l a r .
A SRa RENILDA MARIA SANTIAGO ZZIWZNDES DE
SOUZA - Sobre José Dlrceu posso f a l a r , como eu v o l t o a
conf irmar para o senhor o f a t o . Vou v o l t a r um
pouqulnho a t r á s quando o senhor falou da minha
preocupação do d é b i t o em re lação ao patrimônio da
minha f a m í l i a . A minha preocupação bole É em re lação à
segurança da minha f a m í l i a , à segurança f í s i c a e à
i n t egr idade .
O SR. ANTONIO =OS MAGWIÃES NETO (PFL - BA) - Propriamente, com re lação à par t ic ipação do
então Min i s t ro José Dirceu . . . A SRa RENILDA MARIA SANTfnGO EZRhTWDES DE
SOUZA - O então Minis t ro José Dirceu, depois que f o i
divulgado i s s o , a minha preocupação f o i "como v a i ser
pago, Marcos?". Foi quando ele me revelou que houve
uma r e u n i ã o da d i r e ç ã o d o Banco Rura l . Eu não sei
p r e c i s a r d a t a .
O S R . ANTONIO CARLOS MAGALHÃES NETO (PFL -
BA) - Certo.
A SRa RENILDA MARIA SANTIAGO E'ERNANDES DE
SOUZA - Acho que f o i ano passado. Reunião da d i r e ç ã o
d o Banco ,Rural com o e n t ã o Ministro Jose Dirceu para
a c e r t a r sobre pagamento d o emprés t imo. I s s o f o i em
Belo Horizonte e , em B r a s í l i a , [reunião d a d i reção] da
BMG .
Inq 2.245 / MG
o SR. ANTONIO CARLOS MAOILI;HÃES NETO (PFL - BA) - C e r t o . E n t ã o , f o i uma r e u n i ã o com os dirigentes
d o B a n c o R u r a l e d o BMG com o Ministro J o s é D i r c e u .
A SR" RENILDA MARIA SANTIAGO FERNANDES DE
SOUZA - Mas o M a r c o s V a l é r i o n ã o p a r t i c i p o u .
O SR . ANTONIO CARLOS MAGALHÃES NETO (PFL -
BA) - C e r t o , m a s o Min i s t ro J o s é D i r c e u p a r t i c i p o u .
A SRa RENILDA MARIA SANTIAGO FERNANDES DE
SOUZA - S i m .
O SR . ANTONIO CARLOS MAGALHÃES NETO (PFL -
BA) - Para a c e r t a r o p a g a m e n t o d o s e m p r é s t i m o s .
A SRa RENILDA MARIA SANTIAGO FERNANDES DE
SOUZA - S i m .
(. - .) A SRa RENILDA MARIA SANTIAGO FERNANDES DE
SOUZA - E l e f a l o u : "O q u e e u posso t e f a l a r é o
s e g u i n t e : esse f o i um e m p r é s t i m o f e l t o a o PT e o e n t a o
M l n i s t r 0 J o s é D i r c e u s a b i a . " E m e c o n t o u d e s s e s d o l s
encontros . Nada m a i s q u e i s s o , e l e me i n f o r m o u . "
I g u a l m e n t e i m p o r t a n t e é o t e o r d o d e p o i m e n t o d o
d e n u n c i a d o V a l d e m a r C o s t a Neto à p o l i c i a f e d e r a l (fls. 1 3 7 8 ) :
,, (. . . ) QUE, no d i a s e g u i n t e , na res idência
do deputado PAULO ROCHA, PT/PA, f o i real i zada uma
reunião en t re LULA, JOSÉ ALENCAR, o D E C J Z R A N ~ , JOSÉ
DIRCEU, DELÚBIO SOARES, MARIA DO CARMO LARA e NILMÁRIO
MIRANDA; QUE o l o c a l d a r e u n l ã o f o i escolhido p a r a
ev i tar o a s s é d i o d a imprensa, s e n d o que o a n f i t r i ã o
n ã o p a r t i c i p a v a a t i v a m e n t e d a s n e g o c i a ç õ e s o r a
t r a t a d a s ; QUE o c a n d i d a t o LULA se e n c a m i n h o u a o
DECLARANTE e d i s s e "- V a l d e m a r , você é o n o s s o
Inq 2.245 / MG
prob lema ?", t e n d o r e c e b i d o como r e s p o s t a q u e o
p rob l ema e r a , na v e r d a d e , a v e r t i c a l i z a ç ã o , e o mesmo
n ã o i r i a " m a t a r a bancada d o PL p o r causa da a l i a n ç a
com o PT": QUE DELÚBIO SOARES c o n v i d o u o DECLARANTE
para uma c o n v e r s a r e s e r v a d a em um d o s a p o s e n t o s , e o
c a n d i d a t o LULA i n f o r m o u a JOSÉ ALENCAR: " - d e i x a os
d o i s c o n v e r s a r e m q u e i s s o é prob lema d e p a r t i d o , n ã o é
prob lema n o s s o " , d e c l a r a ç ã o o u v i d a p o r t o d o s o s
p r e s e n t e s ; QUE se r e t i r a r a m e n t ã o DELÚBIO SOARES e o
DECLARANTE, t e n d o es te d i t o q u e "- l u t a r a d u r a n t e
q u a t r o a n o s para m o n t a r uma chapa para a t l n q i r os 58,
e não s e r i a j u s t o i n v i a b i l i z a r o p a r t i d o pe la a l iança ,
e a única saida seriam recursos"; QUE DELÚBIO SOARES
t e n t o u f a z e r com que a negociação f i c a s s e empatamares
abaixo dos R$ 10 mi lhões s o l i c i t a d o s , p o i s t i nha
preocupação com a obtenção de recursos para
f inanciamento da campanha; QUE o DECLARAN!ZE f i c o u
i r r e d u t i v e l quanto ao v a l o r , sob pena de não a c e i t a r a
v e r t i c a l i z a ç ã o , l i b e r a n d o os c a n d i d a t o s para fecharem
a c o r d o s em n í v e l e s t a d u a l , que permitissem a t i n q l r a
c l á u s u l a d e b a r r e i r a ; QUE em dado momento do *asse,
adentrou JOSÉ DIRCEU, que perguntou a DELÙBIO SOARES
sobre o andamento das negociações, tendo o b t i d o como
respos ta " - Valdemar e s t á i r r e d u t i v e l " ; QUE JOSÉ
DIRCEU se r e t i r o u , n ã o f a z e n d o q u a l q u e r o b s e r v a ç ã o ;
Q U E , a p ó s i s s o , DELÚBIO SOARES d l s s e a o DECLARANTE: "
- o l h a , e u vou t e p a g a r d e a c o r d o com a e n t r a d a d o s
r e c u r s o s . E u n ã o p o s s o t e a d i a n t a r n a d a , mas a p a r t e
r e f e r e n t e a doação d o JOSÉ ALENCAR, quando e n t r a r ,
e s s a e u t e r e p a s s o na ~ n t e q r a l i d a d e , a t é c o m p l e t a r o s
R$ 1 0 m i l h õ e s " ; (. . .) "
Seção de Processos Diversos do Plenário
TERMO DE ENCERRAMENTO DE VOLUME
Em de hQw?mh& de 0 , fica encerrado o &' volume dos presentes autos do (a) h à folha no /$ .A&9 , Seção de Processos Diversos do Plenário. Eu,
, AnalistaITécnico Judiciário, lavrei o p&sente ~er&o.